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#76 EDIÇÃO OÁSIS E ELA SURGIU NA ÁFRICA SÓ EXISTE UMA RAÇA DINOS EMPLUMADOS Como as aves de hoje, dinossauros tinham penas ÁRVORE DO MAR A nova Arca de Noé CALOR DE RACHAR NOS EUA Foi o mês mais quente da história

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oásis . Rumos1/11

#76

Edição Oásis

E Ela surgiu na áfrica

SÓ EXISTE UMA RAÇA

DinosemplumaDoscomo as aves de hoje, dinossauros tinham penas

ÁRVoRe Do maRa nova arca de noé

CaloR De RaChaR nos euafoi o mês mais quente da história

oásis . Rumos1/11

Dependendo do caso, o genoma de um africano pode ter mais

semelhanças com o de um norueguês do que com alguém de sua própria

cidade na África

por

luis pellegRini

Editor

a cada dia que passa, a evolução da pesquisa genética confirma algo que hoje já é certeza científ ica: na face da terra existe uma única

raça, a humana. Todos nós, sem distinção, fazemos par-te dela. Essa raça surgiu na África oriental, na região hoje conhecida como Vale do Rift. Assim sendo, e para desespero dos racistas, não mais existe choro nem vela: somos todos africanos.

A primeira comprovação genética importante disso se deu em 2002, quando uma equipe de sete pesquisa-dores dos Estados unidos, França e Rússia comparou 377 partes do DNA de 1056 pessoas originárias de 52 populações de todos os continentes. o resultado mos-trou que entre 93% e 95% da diferença genética entre os humanos é encontrada nos indivíduos de um mesmo grupo e a diversidade entre as populações é respon-sável por 3% a 5%. ou seja, dependendo do caso, o genoma de um africano pode ter mais semelhanças com o de um norueguês do que com alguém de sua própria cidade na África! o estudo também mostrou que não existem genes exclusivos de uma população, nem grupos em que todos os membros tenham a mes-ma variação genética.

Dizer, hoje em dia, que existem raças humanas, implica em demonstrar a existência de grupos distintos, possui-

oásis . Rumos1/11

Dependendo do caso, o genoma de um africano pode ter mais

semelhanças com o de um norueguês do que com alguém de sua própria

cidade na África

por

luis pellegRini

Editor

dores de traços “comuns” entre si e de particularidades que não se encontraram em nenhum outro grupo. É claro que entre um senegalês, um cambojano e um ita-l iano existem, evidentemente, diferenças f ís icas visíveis: cor da pele e dos olhos, tamanho, textura dos cabelos etc. mas hoje em dia já sabemos que o patrimônio genético dos três é extremamente próximo. A desco-berta dos grupos sanguíneos, da variação das enzimas, das sequências de DNA, dos anticorpos e tantas outras, puseram em evidencia o parentesco dos homens entre si, assim como sua extraordinária diversidade. uma combinação de genes, frequente numa população e rara em outra, é, assim mesmo, potencialmente pre-sente em toda parte.

Esse e vários outros mistérios relacionados às nossas origens são abordados no fascinante artigo de capa des-ta semana, escrito pela jornalista maria Ignez Teixeira França.

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SÓ EXISTE UMA RAÇA E ela surgiu na África

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á alguns anos o racismo vol-tou a assombrar o mundo e a encontrar expressão política, justamente na Europa, onde

não se imaginaria que poderia ressurgir. Na França, as idéias racistas professadas pela Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen e sua filha, Marine Le Pen, atraíram parcela considerável do eleitorado. Em vários outros países europeus, partidos da direita, e até mesmo de movimentos ne-

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Nem branca, nem negra, amarela ou vermelha. Na face da Terra existe uma única raça: a humana.Todos nós fazemos parte delaPor Maria ignez Teixeira França

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http://goo.gl/6a3FV

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ofascistas conquistaram numerosas cadeiras nos parlamentos. Na mesma medida em que aumenta o número de refugiados e de imigrantes vindos de nações do Terceiro Mundo, aumenta o sentimento de ancestral xenofobia de muitos europeus, que rapidamente encontra seus canais de expressão política.

É interessante se observar como, ao longo da história, as políticas racistas nunca deixaram de pedir à ciência que legitimasse sua hierarquiza-ção social, seus preconceitos e exclusões. Muitos foram os cientistas que prontamente se puseram a conceber teorias, instrumentos de medição, critérios e teses que supostamente definiam as

Nos últimos anos, a palavra raça, aliás, de-sapareceu discretamente dos livros escolares e as antigas classificações foram desacreditadas. Isso aconteceu graças às descobertas da paleon-tologia, da genética, da etnologia. Mesmo assim, ainda existem alguns pesquisadores isolados que professam a existência de raças. Quando, em 1994, os psicólogos Charles Murray e Richard Herrns-tein publicaram nos Estados Unidos The bell curve, com 800 páginas de gráficos e análises que “demonstravam” que o QI de negros era inferior ao dos brancos, a obsessão racista que inspirou o livro não deixou margem para dúvidas. Seu objetivo político foi claramente percebido: abolir os programas sociais, colocados em prática há 30 anos por Washington, em favor dos mais pobres.

O que se pergunta, nos dias de hoje, é se um cientista pode se interessar por “raças” humanas sem procurar demonstrar sua desigualdade. Na verdade, cada um de nós tem sua própria defini-ção do termo, assim como os ideólogos do racismo sempre encontram defensores para proclamar que o “politicamente correto” é cientificamente incorreto.

A evolução No século 18, o botânico sueco Carl von Linné

criou o sistema de classificação dos seres vivos – ainda hoje utilizado – e estabeleceu o nome cientí-fico de Homo sapiens para a espécie humana. Mas, sem contrariar o pensamento dominante na época,

“Ao longo da história, as políticas racistas nunca deixaram de pedir à ciência que legitimasse sua hierarquização social, seus preconceitos e exclusões”

características das diferentes “raças” humanas e formulavam a base de sustentação de uma série de eventos que marcaram a história do homem, da expansão colonial europeia ao apartheid sul--africano, do segregacionismo norte-americano ao nazismo.

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dividiu a humanidade em subespécies de acordo com a cor da pele, o tipo físico e pretensos traços de caráter: os vermelhos americanos, “geniosos, despreocupados e livres”; os amarelos asiáti-cos, “severos e ambiciosos”; os negros africanos, “ardilosos e irrefletidos”; e os brancos europeus, “ativos, inteligentes e engenhosos”. Essa classifi-cação da diversidade humana em “grandes raças” não só foi totalmente aceita como também serviu de base para classificações futuras, que alteravam a de Linné e oscilavam entre uma variedade que ia de três a 400 raças.

No século 19, as descobertas arqueológicas destruíram explicações simplistas para a origem do homem na Terra, a origem do planeta que ha-bitamos. Em A origem das espécies, Charles Da-rwin formulou a teoria da mutação das espécies. Observou que, por meio da mutação, as espécies se adaptam ao meio natural, geram criaturas diferentes de si mesmas e dão origem a novas espécies. Concluiu, então, que algumas espécies se extinguiam dando lugar a outras: esse processo

seria o da seleção natural. Mais tarde, Darwin es-tendeu essa teoria para o surgimento do homem, classificando-o como descendente dos antropói-des. A comunidade científica e outros setores da sociedade opuseram-se a essa conclusão, pois não podiam admitir que o homem branco, “superior”, descendesse de macacos. Na verdade, sabe-se hoje que o homem é parente do macaco e não seu des-cendente. As descobertas de Darwin foram muito importantes, mas não definitivas, pois as pesqui-sas continuam, lançando sempre novas luzes sobre as origens do homem.

A mais antiga espécie de hominídeo foi o Aus-tralopithecus, que surgiu no sul da África há cerca de 3 milhões de anos. Este nosso provável ances-tral tinha algumas características semelhantes ao homem moderno e criou o primeiro instrumento.

“Essa classificação da diversidade humana em “grandes raças” não só foi totalmente aceita como também serviu de base para classificações futuras”

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Quando um dos nossos ancestrais passou a andar sobre os dois pés, ficou com as mãos livres para fazer e usar objetos. O trabalho com as mãos foi sofisticando a sua capacidade de manipular, estimulando o crescimento do seu cérebro e a sua capacidade intelectual e dotou-o de cultura, diferenciando-o dos animais.

A expANsãoO homem começou a se diversificar muito

cedo, lá pelos 2,5 milhões de anos, quando saiu de seu lugar de nascimento, a África oriental. Ele se propagou através de todo o mundo antigo, isto é, África, Europa e Ásia. Mas as glaciações produzi-ram dois isolados pontos geográficos: a Europa, na qual o norte foi inteiramente recoberto por glaciares; e a Indonésia, que era unida ao con-tinente asiático e dele foi separada no final das glaciações. Esses dois isolamentos levaram a um “derivado genético” e moldaram dois grupos: o Pitecantropo na Indonésia e o homem de Nean-dertal na Europa, muito diferentes anatomica-mente de nosso ancestral, o homem moderno que já vivia algures. Este, o Homo sapiens sapiens, há 500 mil anos expandiu suas fronteiras em todas as direções, a partir de uma segunda onda de povoamento na Europa, na Ásia, na Austrália e na América.

Segundo o paleontólogo Yves Coppens, dire-tor do Laboratório de Antropologia do Museu de História Natural de Paris, “o Neandertal e nosso

Homo sapiens, ou se extinguiu.” Para o paleontólogo, “talvez seja essa a única

questão sobre raça que hoje interessa à ciência. Em um século de descobertas, vimos se delinea-rem outras fronteiras no seio da humanidade. Se retomarmos o sentido zoológico do termo – uma subespécie diferenciada mas que se ‘inter-fecunda’ com outras subespécies –, não existe na superfície da terra senão uma única ‘raça’ humana conheci-da, a do Homo sapiens sapiens.”

A pesquisa paleontológica e seu prolongamento antropológico tentam estabelecer, dentre outras coisas, quais são as filiações, os laços de paren-

“O trabalho com as mãos foi sofisticando a sua capacidade de manipular, estimulando o crescimento do seu cérebro e a sua capacidade intelectual”

ancestral, o Cro-Magnon, ao que se sabe consti-tuíram na Europa duas raças distintas. Mas ainda não sabemos se essas populações se ‘inter-fecun-daram’, isto é, se geraram descendência fecunda. Também não sabemos se o homem de Neandertal, desaparecido há uns 30 mil anos, como o pitecan-tropo indonésio, se fundiu com a população de

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tesco que unem esses humanos. Mas, para Pierre Darlu, geneticista no Laboratório de Epidemio-logia Genética de Paris, “todas as classificações tentadas até hoje tiveram como ponto comum a ocultação do caráter evolutivo do homem”.

André Langanney, diretor do Laboratório de Antropologia biológica do Museu do Homem, Paris, acredita que “existem dois conceitos dife-rentes de ‘raça’ humana: um inclui as particulari- dades imediatamente perceptíveis entre os indiví-

duos (língua, cultura, aparência física), devido às diferenças de suas populações de origem; outro é o conceito ‘científico’, igualmente empírico, aque-le que foi estabelecido por Linné no século 18, o das quatro raças. Essa formulação foi contestada, algumas décadas mais tarde, pelo filósofo ale-mão Johann Gottfried Herder, que afirmava não existirem ‘nem quatro nem cinco raças humanas’, ao contrário, havia a continuidade da variação nas populações”.

umA só espécieDizer, hoje em dia, que existem raças humanas,

implica em demonstrar a existência de grupos distintos, possuidores de traços “comuns” entre si e de particularidades que não se encontraram em nenhum outro grupo. É claro que entre um sene-galês, um cambojano e um italiano existem, evi-dentemente, diferenças físicas visíveis: cor da pele e dos olhos, tamanho, textura dos cabelos etc. Mas hoje em dia já sabemos que o patrimônio genético dos três é extremamente próximo. A descoberta

“Todas as classificações tentadas até hoje tiveram como ponto comum a ocultação do caráter evolutivo do homem”

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dos grupos sanguíneos, da variação das enzimas, das sequências de DNA, dos anticorpos e tantas outras, puseram em evidencia o parentesco dos homens entre si, assim como sua extraordinária diversidade. Uma combinação de genes, frequente numa população e rara em outra, é, assim mesmo, potencialmente presente em toda parte.

A comprovação se deu em 2002, quando uma equipe de sete pesquisadores dos Estados Unidos, França e Rússia comparou 377 partes do DNA de 1056 pessoas originárias de 52 populações de todos os continentes. O resultado mostrou que entre 93% e 95% da diferença genética entre os humanos é encontrada nos indivíduos de um mesmo grupo e a diversidade entre as populações é responsável por 3% a 5%. Ou seja, dependendo do caso, o genoma de um africano pode ter mais semelhanças com o de um norueguês do que com alguém de sua própria cidade na África! O estudo também mostrou que não existem genes exclusi-vos de uma população, nem grupos em que todos os membros tenham a mesma variação genética.

muiTAs difereNçAsNa sua longa evolução até atingir a sua forma

humana final, nosso ancestral foi se adaptando fisicamente às condições ambientais. Perdeu os pelos do corpo, provavelmente há pouco menos de 2 milhões anos, por que começou a fazer longas caminhadas e precisava esfriar o corpo. Sem pelo, ficou com o corpo exposto e as células que produ-

ziam melanina se espalharam por toda a pele. A mudança na coloração da pele foi descoberta em 1991 pela antropóloga Nina Joblonski, da Acade-mia de Ciências da Califórnia, Estados Unidos, ao encontrar estudos que mostravam que pessoas de pele clara expostas à forte luz solar tinham níveis muito baixos de folato. Como a deficiência dessa substância em mulheres grávidas pode levar a gra-ves problemas de coluna em seus filhos, e como o folato é essencial em atividades que envolvam a proliferação rápida de células, tais como a produ-ção de espermatozóides, a antropóloga concluiu que nos ambientes próximos à linha do Equador, a pele negra era uma boa forma de manter o nível de folato no corpo, garantindo assim a descendên-cia sadia. Para provar suas teorias a respeito de cor da pele, Nina Joblonski usou um satélite da NASA e criou um mapa de padrões de radiação ultravioleta em nosso planeta, mostrando que o homem evoluiu com diferentes cores de pele para se adaptar aos diferentes meio-ambientes.

Assim, o homem saiu da África e chegou à Ásia,

“Uma combinação de genes, frequente numa população e rara em outra, é, assim mesmo, potencialmente presente em toda parte”

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e de lá foi para a Oceania, a Europa e por fim para a América. Nas regiões menos ensolaradas, a pele negra começou a bloquear demais os raios ultra-violeta, sabidamente nocivo mas essencial para a formação da vitamina D, necessária para manter o sistema imunológico e desenvolver os ossos. Por isso, as populações que migraram para regiões menos ensolaradas desenvolveram uma pele mais clara para aumentar a absorção de raios ultra-violeta. Portanto, a diferença de coloração da pele, da mais clara até a mais escura, indicaria simplesmente que a evolução do homem procurou encontrar uma forma de regular nutrientes.

Ao se espalhar pelo mundo, os humanos só ti-nham uma arma para enfrentar uma grande varie-dade de ambientes: sua aparência. Para enfrentar o calor excessivo, a altura ajuda a evaporar o suor, como é o caso dos quenianos. O cabelo encarapi-nhado ajuda a reter o suor no couro cabeludo e a resfriá-lo; o oposto vale para as populações das regiões mais frias do planeta. O corpo e a cabe-ça dos mongóis, que se desenvolveram por lá,

tendem a ser arredondados para guardar calor, o nariz, pequeno para não congelar, com narinas estreitas para aquecer o ar que chega aos pulmões, e os olhos, alongados e protegidos do vento por dobras de pele.

Cada um de nós é único, e sabemos disso por que podemos identificar perfeitamente um indivíduo por seu código genético, a não ser que tenha um gêmeo idêntico. Mas, em se tratando de grupos, sabe-se que as diferenças não escondem diferenças genéticas. As populações da África Cen-tral e da Papua-Nova Guiné, parecidos fisicamen-

“Ao se espalhar pelo mundo, os humanos só tinham uma arma para enfrentar uma grande variedade de ambientes: sua aparência”

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te, pois viveram no mesmo tipo de meio ambiente, tem os patrimônios genéticos mais diferenciados no mundo.

Na atual guerra contra o terrorismo, muitos países chegaram a pensar num teste que determi-nasse a origem “magrebina ou européia” de um indivíduo a partir de seu código genético, uma vez que as populações do Maghreb (Tunísia, Ar-gélia, Marrocos, Mauritânia e Líbia), que trocam migrantes entre si desde a pré-história, têm de 85 a 90 % de genes em comum. Mas, para André Langanney, diretor do Laboratório de Antropolo-gia Biológica do Museu do Homem, Paris, a idéia é absurda, “a não ser que se queira chegar a 6 bilhões de categorias, ou o tanto de homens que vivem no planeta”.

rAcismo cieNTíficoA noção de raça foi desacreditada pelos bió-

logos que, bem antes de 1960, determinaram a variabilidade genética nos grupos humanos. Mas um grande número de antropólogos continua-ram, até os anos 1970-1980 (um século depois dos trabalhos antropométricos do neurologista e antropólogo francês Paul Broca, que deu origem à disciplina), a aplicar os cânones descritivos e clas-sificadores herdados da era colonial. Eles acre-ditavam em raça, um conjunto de traços físicos e psicológicos distintos, hereditários.

No século 19, a partir de pseudo-medições de crânios, afirmava-se que os negros da África e os

ao dos brancos. Mas como era abolicionista, foi tachado de “preconceituoso sentimental”.

O “racismo científico” data dessa mesma épo-ca. As idéias reformistas dos iluministas profes-savam a tese de uma grande corrente ininterrup-ta ligando os povos da terra. Os “selvagens” eram considerados aperfeiçoáveis, pois a humanidade caminharia num movimento conjunto em direção à “civilização”.

Claude Blanckaert, historiador da ciência no Museu Nacional de História Natural, Paris, acredita que “a teoria das raças demonstra que a ciência jamais é neutra. A tese da grande corren-te tornou-se, com o tempo, uma escala rígida de raças, dominada pelos europeus.”.

A partir de 1860, as ciências naturais e pré-his-

“ Eles acreditavam em raça, um conjunto de traços físicos e psicológicos distintos, hereditários”

australianos eram “naturalmente” inferiores aos europeus. O fisiologista alemão Friedrich Tiede-mann demonstrou, nos anos 1830, que o tamanho do cérebro dos homens negros era equivalente

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tóricas concordam que o homem tem uma história bem mais antiga do que se supunha até então. Mas as teorias se adaptam às idéias darwinistas: ao se admi-tir que as raças são diferentes quase desde a origem da humanidade, sugere-se que certos povos foram submetidos a uma “interrupção de desenvolvimento”.

No século 20, as mitologias nacionalistas foram dominadas pelos clichês, tudo para justificar as políticas colonialistas. O auge desse pensamento foi a

ideologia da raça “ariana”, uma tremenda enganação científica, que justificava a eliminação da “anti-raça”, o judeu.

O século 21 fez sua estréia sob a sombra da divi-são entre o bem, simbolizado por povos ocidentais (americanos e europeus) e o mal, personificado pelos povos do oriente. Que as idéias racistas não criem mais nenhuma explicação “científica” para provar mais nada!

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DINOS EMPLUMADOS Como as aves de hoje, dinossauros tinham penas

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O esqueleto do Sciurumimus, observado sob luz ultravioleta.

Podemos ver claramente traços de protoplumas em toda a cauda desse dinossauro. Foto

de Helmut Tischlinger

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a segunda feira, 6 de agosto, paleontólogos trouxeram à luz mais um dinossauro em-plumado. Batizado Sciurumi-

mus albersdoerferi , trata-se do fóssil de um pequeno terópodo (a mesma família à qual pertencem os tiranossauros) muito bem conservado num pedaço de arenito de cerca 150 milhões de anos encontrado no norte da Bavária, na Alemanha. Os exames do fóssil foram feitos por Mark Norell,

N

o fóssil recém-descoberto de um dinossauro de 150 milhões de anos muda mais uma vez nossa noção de como era a aparência dos dinossauros. sabe-se agora que os ancestrais de todos os dinossauros eram emplumados, e indica que as penas eram uma característica comum de todos os dinossauros que apareceram depois, inclusive os grandes predadores

chefe da Divisão de Paleontologia do Ame-rican Museum of Natural History, junto a pesquisadores do Bayerische Staats-sammlung für Paläontologie und Geologie e a Ludwig Maximilians University.

O achado vem comprovar que a presen-ça de filamentos plumários (protoplumas) na pele dos dinossauros é muito mais co-mum do que se pensava anteriormente. Na verdade, muito provavelmente, os dinos

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“Yutyrannus, um primo próximo dos tiranossauros, era emplumado”

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sauros em sua quase totalidade eram recober-tos de penas.

Os pássaros – a única linhagem sobrevivente de dinossauros – são recobertos por plumagens. Até aqui, nenhuma surpresa. Mas, desde 1996, pa-leontólogos já identificaram cerca de 30 gêneros de dinossauros não aviários dotados de plumas. Muitos desses dinossauros são coelurosauros – o importante grupo de animais pré-históricos do qual faziam parte os temíveis e gigantescos tira-nossauros e também os pássaros. E, esta sim uma grande surpresa, plumas não estavam presentes apenas em pequenos dinossauros assemelhados aos modernos pássaros.

Como revelam pesquisas feitas com restos do enorme Yutyrannus, - um primo próximo dos tiranossauros - inclusive tiranossauros com mais de 10 metros de altura eram emplumados. Pes-quisadores do Instituto de Paleontologia e Paleo-antropologia de Vertebrados de Pequim, China, estudaram três fósseis quase completos dessa nova espécie de tiranossauros, que batizaram de Yutyrannus huali. O nome é sugestivo. Yu, em mandarim, quer dizer pluma. Huali é o adjetivo para belo. Significa que, para os cientistas, esses novos tiranossauros eram emplumados, belos e terríveis. A descoberta permite dizer que toda a família de tiranossauros, incluindo o T. rex, era emplumada. Todos eles eram também ancestrais diretos das aves que, como concordam hoje os paleontólogos, são modernos dinossauros.

O Tyrannosaurus rex era uma verdadeira má-quina mortífera. Com 8 metros de comprimento e pesando mais de 7 toneladas, não era o maior dos dinossauros nem o maior carnívoro. Era, porém, o mais assustador: tinha a mordida mais poderosa

“A descoberta permite dizer que toda a família de tiranossauros, incluindo o T. rex, era emplumada”

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de todos os animais até agora conhecidos. Agora, diferentemente do que sempre se pensou, acredita-se que o T. rex era todo coberto de penas.

comprovAdo: As Aves são diNossAuros

A ideia de que as aves descendem diretamente dos dinossauros é quase tão antiga quanto a teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin. Thomas Huxley, amigo de Darwin, pautou-se na semelhança do esqueleto de aves e dinossauros para, em 1870, sugerir a existência de um elo de parentesco entre eles. Foi necessário esperar 120 anos para comprovar a hipótese. Em 1994, os primeiros fósseis de dinossauros com vestígios de penas começaram a ser desenterrados na China. Eram todos bípedes e carnívoros, como o tira-nossauro, embora muito menores, do tamanho de seriemas. Não tardou para que fossem achados os primeiros fósseis emplumados de velociraptors, celebrizados no filme O parque dos dinossauros, de Steven Spielberg. Quando isso aconteceu, os

paleontólogos acharam que era uma questão de tempo até aparecer um tiranossauro com penas. Os três exemplares recém encontrados de Yuti-rannus vêm preencher essa lacuna evolutiva. Com até 10 metros de comprimento, eles eram grandes, tinham patas semelhantes às das galinhas, e eram cobertos por uma espessa penugem de 15 centí-metros. A imagem das plumas sobreviveu devido ao impressionante estado de preservação dos fósseis. Isso levou os paleontólogos a concluir que outros tiranossauros eram também emplumados, mas que suas plumas não sobreviveram ao proces-so de fossilização.

“Eles eram grandes, tinham patas semelhantes às das galinhas, e eram cobertos

por uma espessa penugem de 15 centímetros”

Vídeo:

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na

Tu

Ra

ÁRVORE DO MAR A nova Arca de Noé

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A Árvore do Mar, num desenho do projetista: a parte emersa poderá ser uma torre de 31 metros de altura (equivalente a um prédio de dez andares) e a submersa chegará a 23 metros de profundidade

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reocupado com a crescente densidade urbana e a conse-quente perda de espaço vital para os animais, o arquiteto

holandês Koen Olthuis, do Waterstudio.NL, criou a Sea Tree (Árvore do Mar), uma estrutura para resgatar espaço vital natu-ral nas cidades superpovoadas. A Sea Tree é uma torre flutuante em concreto, feita de várias plataformas superpostas, para ser instalada em baias marítimas,

P

um jardim vertical aquático, para dar abrigo a pássaros, peixes e corais. Bem perto do centro das metrópoles

ProjeTo: archiTecT Koen olThuis oF WaTersTudio.nl

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rios ou lagos situados diante ou nas imediações de cidades grandes. Ela oferecerá uma possibilidade muito maior de sobrevivência para a fauna e a flo-ra locais, sobretudo nas regiões onde os espaços livres disponíveis são escassos.

Pré-fabricadas, essas estruturas são desenha-das e construídas para abrigar vida animal e ve-getal tanto acima quanto abaixo da linha d’água. Um sistema de cabos permite que a árvore flutue e oscile um pouco ante a força do vento, das ondas e das marés. Toda essa tecnologia de construção se inspira na utilizada para as plataforma petrolí-feras offshore.

“A ideia é que grandes empresas patrocina-doras, como as companhias petrolíferas, doem árvores do mar a suas cidades, mostrando sua preocupação para com o meio ambiente”, diz Koen Olthuis. Apesar de jovem, ele é hoje um nome afirmado mundialmente no setor da arquitetura de construções flutuantes.

Cada árvore do mar pode ser vista como parte de uma rede mais extensa, na qual várias dessas árvores são colocadas em lugares escolhidos pró-

ximos a grandes cidades, incrementando dessa forma a qualidade ambiental dessas áreas. “As vantagens do projeto estão ao mesmo tempo na beleza do seu design e no fato de que seu custo é muito pequeno em termos de terra utilizada; sem falar que ele irá afetar positivamente inúmeras espécies que habitam a área”, explica Olthuis.

Cada torre pode ter dimensões e inclinação variáveis segundo as características do fundo marinho, fluvial ou lacustre. Também serão vari-áveis os vãos abertos em seu interior, planejados para permitir uma boa iluminação e ventilação, bem como para a circulação dos animais.

Do projeto fazem parte tecnologias para a cap-tação da água pluvial, com capacidade para suprir as necessidades da população animal e vegetal. Inacessível ao homem, a torre rapidamente se tor-naria um refúgio para pássaros, abelhas, borbole

“Essas estruturas são desenhadas e construídas para abrigar vida animal e

vegetal tanto acima quanto abaixo da linha d’água”

oásis . NATuRA

de cabos, o ecossistema que suportam não seria danificado.

No momento, os idealizadores do projeto o apresentam para empresas petrolíferas. O custo total de cada torre está estimado em cerca de 4,5 milhão de dólares, envolvendo projeto, material, construção, transporte e instalação. A primeira Sea Tree poderá surgir já em 2014, provavelmen-

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tas e morcegos na sua parte superior. As plataformas situadas abaixo d’água se tornariam habitat adequado para hospedar peixes, algas, crustáceos e, nos lugares de clima adequado, inclusive para a formação de corais. Essas es-truturas flutuantes subiriam e baixariam sob o efeito do vento, das ondas e das marés. Mas, como elas estarão ancoradas no fundo com um sistema

A parte submersa da torre ecológica poderá abrigar peixes, algas, crustáceos e (onde o clima for favorável) inclusive corais. A estrutura foi pensada para ser transportada e ancorada (com um sistema de cabos) nos portos e marinas das cidades costeiras e também ao longo de lagos e rios

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Cli

maJULHO, CALOR DE

RACHAR NOS EUA Foi o mês mais quente da história

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ientistas ligados ao governo dos Estados Unidos infor-mam que julho foi o mês mais quente em 48 Estados

norte-americanos desde que controles meteorológicos começaram a ser efetuados no país em 1895. As médias superaram inclusive os recordes alcançados durante o período que ficou conhecido como Dust Bowl (fenômeno climático de altas tempe-raturas médias e tempestades de areia que

ocorreu nos Estados Unidos na década de 1930 e que durou quase dez anos) durante os anos 1930.

Segundo a National Oceanic and At-mospheric Administration, a temperatura média nos Estados Unidos no mês de julho foi de 25,3 graus centígrados. Isso quebrou em 0,2 graus o recorde anterior, ocorri-do em julho de 1936. Os três recordes de temperaturas médias no país foram três recentes julhos, respectivamente em 2006, 2011 e 2012.

Enquanto no ano passado o calor pare-ceu se concentrar sobretudo nos Estados de Oklahoma e Texas, este verão os epicen-tros das altas temperaturas se deslocaram para todos os lados, atingindo a maior parte dos Estados americanos.

Os efeitos e prejuízos desse prolongado período de seca e forte calor – sobretudo para a agricultura e a pecuária norte-ame-ricana - ainda não podem ser calculados, mas com certeza são altíssimos. O presi-dente Barack Obama apelou ao Congres-so para que aprove uma nova farm bill (pacote de leis) capaz de levar auxílio aos inúmeros produtores que solicitaram “as-sistência por sinistro”. Os Estados Unidos são o maior produtor e exportador mundial de grãos. Essa crise agrícola provocada pela seca e o calor poderá levar a um au

C

No mês passado, a temperatura média nos estados unidos foi de 25,3 graus centígrados – mais alta do que o recorde histórico alcançado em julho de 1936. os prejuízos para a lavoura norte-americana são incalculáveis

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mento de preços dos cereais em nível mundial.

Mais deTalhes quenTes• Nos Estados Unidos, os primeiros sete meses

de 2012 foram os mais quentes da história em toda a nação. O período entre agosto 2011 e julho 2012 foi também o mais quente, batendo todos os recordes anteriores.

• 63% do país experimentou condições de seca. • 2 milhões de acres foram queimados em in-

cêndios, meio milhão acima da média. • 4.420 recordes de altas temperaturas locais

foram batidos durante o mês de julho. • Nenhuma chuva caiu em julho em Norfolk,

Nebrasca, fazendo desse mês o mais seco de todos os tempos.

• O rio Mississsipi, em Mênfis, está 13 pés abaixo do normal, e há previsão de uma baixa ul-terior de mais 2 ½ pés até o dia 22 de agosto.

• Julho bateu todos os recordes de calor em In-dianápolis, com temperaturas médias de 30 graus centígrados durante 28 dias seguidos, chegando a 34 graus durante sete dias seguidos.

• Também a Virgínia experimentou seu mês de julho mais quente, com temperatura 1,5 grau centígrado acima da média. Sete outros Estados norte-americanos também tiveram seu segundo julho mais quente este ano.

• A mais alta temperatura foi registrada no De-ath Valley (Vale da Morte), na Califórnia, no dia 12 de julho: 45 graus centígrados. A temperatura mais baixa foi de 20 graus, em Climax, no Colora-do, no dia 16 de julho.

“O rio Mississsipi, em Mênfis, está 13 pés abaixo do normal, e há previsão de uma baixa ulterior de mais 2 ½ pés até o dia 22 de agosto”