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    X Salo deIniciaoCientficaPUCRS

    Dirio como instrumento para se pensar sobre as condies de possibilidade

    da educao de surdos no Rio Grande do Sul

    Larisa da Veiga Vieira Bandeira1, Adriana da Silva Thoma1(orientadora)

    1Faculdade de Educao, UFRGS

    Resumo

    Este trabalho apresenta reflexes sobre o uso de dirios como instrumento para a

    realizao de coleta de dados na pesquisa. Para isso, utilizamos anotaes feitas durante

    viagens regio do Vale do Rio Pardo, onde visitamos escolas para a aplicao de

    questionrios para a pesquisa A EDUCAO DOS SURDOS NO RIO GRANDE DO

    SUL, a qual tem como objetivo entender as condies lingsticas e de escolarizao na

    educao bsica dos surdos em escolas do Estado do Rio Grande do Sul. A pesquisa est

    sendo realizada em escolas pblicas estaduais, municipais e particulares conveniadas rede

    pblica sob a coordenao do Grupo Interinstitucional de Pesquisas em Educao de

    Surdos (GIPES)1e com financiamento do CNPQ (Edital 50/2006), mas aqui apresentamos

    um recorte das anotaes feitas na regio sob nossa responsabilidade. O registro das visitas

    em dirios complementa as informaes dos questionrios e possibilita detalhar, aprofundar

    e problematizar questes que configuram as condies de possibilidade da educao de

    surdos nos contextos investigados.

    1As pesquisadoras responsveis pela pesquisa so as professoras doutoras Maura Corcini Lopes (coordenaogeral UNISINOS), Adriana da Silva Thoma (UNISC e UFRGS) Lodenir Becker Karnopp (UFRGS), Liliane

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    Introduo

    Quando entrei na iniciao cientfica, em um campo de saberes que desconhecia,

    assisti palestras e eventos dos quais fazia minucioso registro em pequenas cadernetas, onde

    escrevia tambm nomes de livros, autores e filmes sugeridos. Estas cadernetasacompanharam as viagens feitas para escolas que atendem alunos surdos na regio do Vale

    do Rio Pardo, uma das sete regies de abrangncia da pesquisa, a qual est sob a

    coordenao da minha orientadora. Essas anotaes esto registradas em quatro cadernetas

    de 96 folhas e nelas constam registros pessoais sobre as escolas, seu entorno, os

    movimentos causados na escola em funo dos alunos surdos, entre outras impresses.

    Estas cadernetas tornaram-se dirios, instrumentos de coleta de dados, registro de hipteses

    e achados. Mas somente o registro no colabora com a pesquisa; na leitura e no

    intercmbio destes dados com outros integrantes do grupo de pesquisa que pode haver uma

    adequada utilizao destes como elementos relevantes para a pesquisa. Estas informaes

    reunidas sero exploradas posteriormente pelo grupo, podendo gerar novos objetos de

    pesquisa e reflexes sobre as condies de possibilidade para a educao de surdos nos

    contextos visitados.

    Os dirios so instrumentos importantes durante o levantamento de dados na

    pesquisa, pois como escreve Hess (2006, p. 93): "se o dirio de campo capta dia a dia, aspercepes, os eventos vividos, as entrevistas, mas tambm os flashes de compreenso que

    emergem, com um pouco de recuo, a re-leitura do dirio um modo de reflexo sobre a

    prtica.". Ainda para o mesmo autor, o dirio opera sobre dois eixos, durao e

    intensidade (...) e trata-se de um procedimento de acumulao e de uma escrita transversal

    mesmo centrado em nico tema. Ele tambm interroga: "A redao do dirio

    cientfica?, para logo responder: O dirio apenas um instrumento. A arqueologia se

    interroga para saber se um martelo cientfico? No. Ela o utiliza inteligentemente ou no

    no seu trabalho de escavao" (idem).

    Metodologia

    Ferrari Giordani (FACOS), Madalena Klein (UFPEL), Mrcia Lise Lunardi (UFSM) e Tatiana BolvarLebedeff (UPF e UNIPAMPA)

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    Os dirios de pesquisa acompanharam as visitas e foram teis para as anotaes

    sobre o espao fsico da escola, sobre como percorremos o trajeto at ela, sobre como os

    alunos foram organizados para participar do questionrio, sobre as reaes presena do

    pesquisador surdo que nos acompanhou e sobre as perguntas do questionrio que causaram

    dvidas e necessidade de esclarecimentos etc. No final das visitas, anotava tambm as

    conversas assistidas em sinais entre os alunos surdos e professoras ouvintes, assim como as

    conversas no ptio na hora do recreio.

    Estes registros dirios tambm podem ser tomados como uma escrita de si, dando

    pistas de como vou me constituindo como pesquisadora, sendo uma ferramenta

    metodolgica que pode auxiliar no mapeamento das escolas e tambm na minha formao

    em pesquisa. Fragmentos destes dirios so compartilhados com a orientadora, que verifica

    a pertinncia dos mesmos e orienta a fundamentao terica e leituras de sentidos possveis

    decorrentes do que foi capturado e registrado.

    Resultados (ou Resultados e Discusso)

    Entre outras leituras possveis a partir da escrita dos dirios, ao confrontar as

    respostas dos questionrios com as anotaes feitas possvel perceber que a existncia desalas para alunos surdos em uma escola nem sempre significa que essas estejam localizadas

    em um espao comum aos demais alunos e atividades da escola, podendo as salas para os

    surdos estar localizadas do lado de fora da escola, em local cedido e reformado por

    iniciativa dos pais de alunos, como a exemplo da Escola que atende surdos no municpio de

    Encruzilhada/RS. Nessa escola, h uma valorizao das salas para os surdos pelos pais dos

    alunos, que entendem estes espaos como importantes para a educao de seus filhos

    surdos por neles estar havendo uma efetiva comunicao e aprendizagem de seus filhos

    atravs da Lngua de Sinais, onde as crianas se sentem acolhidas, o que aparece em

    conversas entre pais e professores assistidas por ns e registradas no dirio.

    Destacamos tambm anotaes feitas em visitas a escolas regulares para ouvintes

    que recebem alunos surdos mas no utilizam a lngua de sinais nas comunicaes em todos

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    os espaos da escola freqentados por esses alunos. Nelas, no se organizam atividades que

    possibilitem a participao efetiva dos alunos surdos e as prticas escolares sinalizam para

    processos de in/excluso onde a presena da diferena surda parece no ser reconhecida e

    aceita efetivamente.

    Concluso

    Os dirios so instrumentos que complementam qualitativamente a coleta de dados

    para a pesquisa, contextualiza determinadas situaes e permite a explorao em escritos

    posteriores mais elaborados. Como diz o professor Hess (2006, p. 93): "O dirio uma

    fonte para trabalhar a congruncia entre teoria e prtica".

    Na minha formao como pesquisadora e para um maior entendimento dosprocessos de escolarizao dos surdos nas escolas que visitamos, procurei registrar o que

    via e ouvia nos dirios de pesquisa, alm de outras descries sobre as condies de

    possibilidade para a educao de surdos nessas escolas. Esses registros devero colaborar

    para as problematizaes do relatrio final da pesquisa a ser encaminhado pelo GIPES ao

    CNPq em julho de 2009, oferecendo subsdios para se pensar sobre os processos de

    in/excluso nos diferentes espaos em que a educao de surdos vem acontecendo em

    nosso estado, particularmente, aqui, com contribuies sobre os registros feitos nas visitas

    escolas da regio do Vale do Rio Pardo.

    Referncias

    HESS, Remi. Momento do dirio e dirio dos momentos. In: SOUZA, Elizeu Clementino

    de, ABRAHO, Maria Helena Menna Barreto (orgs.). Tempos, narrativas e fices: a

    inveno de si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.

    LOPES, M. C.; THOMA, A. S.; KARNOPP, L. B.; GIORDANI, L. F.; KLEIN, M.;LUNARDI-LAZZARIN, M. L.: LEBEDEFF, T. B.A Educao dos Surdos no Rio Grande

    do Sul. Pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Educao de Surdos (GIPES)

    com apoio financeiro do CNPQ Edital 50/2006.

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