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    SEGUNDA CARTADE PEDRO

    COMENTRIO ESPERANA

    autor

    Uwe Holmer

    Editora Evanglica Esperana

    Copyright 2008, Editora Evanglica EsperanaPublicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitos reservados pela:

    Editora Evanglica EsperanaRua Aviador Vicente Wolski, 353

    82510-420 Curitiba-PRE-mail: [email protected]: www.esperanca-editora.com.br

    Editora afiliada ASEC e a CBLTtulo do original em alemoDer Briefe des Petrus und der Brief des JudasCopyright 1983 R. Brockhaus Verlag

    Dados Internacionais da Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Holmer, UweCartas de Tiago, Pedro, Joo e Judas / Fritz Grnzweig, Uwe Holmer, Werner de Boor / traduo WernerFuchs. -- Curitiba, PR : Editora Evanglica Esperana, 2008.Ttulo original: Der Briefe des Jakobus, Die Briefe des Petrus und der Brief des Judas, die Briefe des Johannes. ISBN 978-85-7839-004-4 (brochura)

    ISBN 978-85-7839-005-1 (capa dura)

    1. Bblia. N.T. Joo - Comentrios 2. Bblia. N.T. Judas - Comentrios 3. Bblia. N.T. Pedro - Comentrios 4.Bblia. N.T. Tiago - Comentrios I. Holmer, Uwe. II. Boor, Werner de.III. Ttulo.08-05057 CDD-225.7

    ndice para catlogo sistemtico:1. Novo Testamento : Comentrios 225.7

    proibida a reproduo total ou parcial sem permisso escrita dos editores.O texto bblico utilizado, com a devida autorizao, a verso Almeida Revista e Atualizada (RA) 2 edio, da Sociedade Bblicado Brasil, So Paulo, 1993.

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    SumrioORIENTAES PARA O USURIO DA SRIE DE COMENTRIOSNDICE DE ABREVIATURAS

    Introduo segunda carta de Pedro e carta de Judas

    IA questo da autenticidadeIIpoca de redao, destinatrios, motivo da carta, tradio eclesisticaIIIA carta de JudasIVIndicaes bibliogrficas

    Saudao inicial2Pe 1.1sAs ddivas de Deus e nossas tarefas2Pe 1.3-11A fiana da grande expectativa futura da igreja2Pe 1.12-21O surgimento de hereges2Pe 2.1-3O juzo certo sobre todos os mpios, a redeno segura para os devotos2Pe 2.4-13a

    Dura caracterizao dos hereges2Pe 2.13b-22Est em jogo a expectativa de futuro2Pe 3.1-13Exortao final2Pe 3.14-18

    ORIENTAESPARA O USURIO DA SRIE DE COMENTRIOS

    Com referncia ao texto bblico:O texto de 2Pedro est impresso em negrito. Repeties do trecho que est sendo tratado tambm esto impressas

    em negrito. O itlico s foi usado para esclarecer dando nfase.

    Com referncia aos textos paralelos:A citao abundante de textos bblicos paralelos intencional. Para o seu registro foi reservada uma coluna

    margem.

    Com referncia aos manuscritos:Para as variantes mais importantes do texto, geralmente identificadas nas notas,foram usados os sinais abaixo, que

    carecem de explicao:

    TM O texto hebraico do Antigo Testamento (o assim-chamado Texto Massortico). A transmisso exata do textodo Antigo Testamento era muito importante para os estudiosos judaicos. A partir do sculo II ela tornou-seuma cincia especfica nas assim-chamadas escolas massorticas (massora = transmisso).Originalmente o texto hebraico consistia s de consoantes; a partir do sculo VI os massoretasacrescentaram sinais voclicos na forma de pontos e traos debaixo da palavra.

    Manuscritos importantes do texto massortico:

    Manuscrito: redigido em: pela escola de:Cdice do Cairo (C) 895 Moiss ben AsherCdice da sinagoga de Aleppo depois de 900 Moiss ben Asher(provavelmente destrudo por um incndio)Cdice de So Petersburgo 1008 Moiss ben AsherCdice n 3 de Erfurt sculo XI Ben NaftaliCdice de Reuchlin 1105 Ben Naftali

    Qumran Os textos de Qumran. Os manuscritos encontrados em Qumran, em sua maioria, datam de antes de Cristo,portanto, so mais ou menos 1.000 anos mais antigos que os mencionados acima. No existem entre elestextos completos do AT. Manuscritos importantes so:

    O texto de Isaas

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    O comentrio de Habacuque

    Sam O Pentateuco samaritano. Os samaritanos preservaram os cinco livros da lei, em hebraico antigo. Seusmanuscritos remontam a um texto muito antigo.

    Targum A traduo oral do texto hebraico da Bblia para o aramaico, no culto na sinagoga (dado que muitos judeusj no entendiam mais hebraico), levou no sculo III ao registro escrito no assim-chamado Targum (=traduo). Estas tradues so, muitas vezes, bastante livres e precisam ser usadas com cuidado.

    LXX A traduo mais antiga do ATpara o grego chamada de Septuaginta (LXX = setenta), por causa da histriatradicional da sua origem. Diz a histria que ela foi traduzida por 72 estudiosos judeus por ordem do reiPtolomeu Filadelfo, em 200 a.C., em Alexandria. A LXX uma coletnea de tradues. Os trechos maisantigos, que incluem o Pentateuco, datam do sculo III a.C., provavelmente do Egito. Como esta traduoremonta a um texto hebraico anterior ao dos massoretas, ela um auxlio importante para todos ostrabalhos no texto do AT.

    Outras Ocasionalmente recorre-se a outras tradues do AT. Estas tm menos valor para a pesquisa de texto, porserem ou tradues do grego (provavelmente da LXX), ou pelo menos fortemente influenciadas por ela (oque o caso da Vulgata):

    Latina antiga por volta do ano 150 Vulgata (traduo latina de Jernimo) a partir do ano 390 Copta sculos III-IV Etope sculo IV

    NDICE DE ABREVIATURAS

    I. Abreviaturas gerais

    AT Antigo Testamentocf confiracol coluna

    gr Gregohbr Hebraicokm Quilmetroslat LatimLXX SeptuagintaNT Novo Testamentoopr Observaes preliminarespar Texto paralelop. ex. por exemplopg. pgina(s)qi Questes introdutriasTM Texto massorticov versculo(s)

    II. Abreviaturas de livros

    Bl-De Grammatik des ntst Griechisch, 9 edio, 1954. Citado pelo nmero do pargrafoCE Comentrio EsperanaKi-ThW Kittel: Theologisches WrterbuchNTD Das Neue Testament DeutschRadm Neutestl. Grammatik, 1925, 2 edio, RademacherSt-B Kommentar zum Neuen Testament aus Talmud und Midrasch, vol. I-IV, H. L. Strack, P. Billerbeck

    W-B Griechisch-deutsches Wrterbuch zu den Schriften des Neuen Testaments und der frhchristlichen Literatur, WalterBauer, editado por Kurt e Barbara Aland

    III. Abreviaturas das verses bblicas usadas

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    O texto adotado neste comentrio a traduo de Joo Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada no Brasil, 2 ed.(RA), SBB, So Paulo, 1997. Quando se fez uso de outras verses, elas so assim identificadas:BLH Bblia na Linguagem de Hoje (1998) BJ Bblia de Jerusalm (1987)BV Bblia Viva (1981)NVI Nova Verso Internacional (1994)RC Almeida, Revista e Corrigida (1998)TEB Traduo Ecumnica da Bblia (1995)VFL Verso Fcil de Ler (1999)

    IV. Abreviaturas dos livros da Bblia

    ANTIGO TESTAMENTO

    Gn Gnesisx xodoLv LevticoNm NmerosDt DeuteronmioJs Josu

    Jz JuzesRt Rute1Sm 1Samuel2Sm 2Samuel1Rs 1Reis2Rs 2Reis1Cr 1Crnicas2Cr 2CrnicasEd EsdrasNe NeemiasEt EsterJ JSl SalmosPv ProvrbiosEc EclesiastesCt Cntico dos CnticosIs IsaasJr JeremiasLm Lamentaes de JeremiasEz EzequielDn Daniel

    Os OsiasJl JoelAm AmsOb ObadiasJn JonasMq MiquiasNa NaumHc HabacuqueSf SofoniasAg AgeuZc Zacarias

    Ml MalaquiasNOVO TESTAMENTO

    Mt MateusMc Marcos

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    Lc LucasJo JooAt AtosRm Romanos1Co 1Corntios2Co 2CorntiosGl GlatasEf EfsiosFp FilipensesCl Colossenses1Te 1Tessalonicenses 2Te 2Tessalonicenses 1Tm 1Timteo2Tm 2TimteoTt TitoFm FilemomHb HebreusTg Tiago

    1Pe 1Pedro2Pe 2Pedro1Jo 1Joo2Jo 2Joo3Jo 3JooJd JudasAp Apocalipse

    OUTRAS ABREVIATURAS

    O final do livro contm indicaes de literatura.(A 25) Apndice (sempre com nmero)

    Tradues da Bblia (sempre entre parnteses, quando no especificada, traduo prpria ou Revista de Almeida(A) L. Albrecht(E) Elberfeld(J) Bblia de Jerusalm(NVI) Nova Verso Internacional(TEB) Traduo Ecumnica Brasileira (Loyola)(W) U. Wilckens(QI 31) Questes introdutrias (sempre com nmero, referente ao respectivo item)Past cartas pastoraisZTK Zeitschrift fr Theologie und Kirche

    ZNW Zeitschrift fr neutestamentliche Wissenschaft und die Kunde der lteren Kirche[ver: Novo Dicionrio Internacional de Teologia do NT (ed. Gordon Chown), Vida Nova.]

    INTRODUO SEGUNDA CARTA DE PEDRO E CARTA DE JUDAS

    IA QUESTO DA AUTENTICIDADE

    1) Ser mesmo que a carta, que nos propomos a ler em conjunto, representacomo diz o ttulo do presente volumeum escrito do discpulo e apstolo Pedro? Atualmente isso contestado pela maioria dos telogos. As razes dissopodem ser melhor expostas por algum como o Dr. A. Schlatter, de cuja submisso crente Bblia ningum podeduvidar. Ele no questiona a autenticidade da carta por prazer em criticar a Bblia. Com liberdade e franqueza eleexpe aos leitores da Bblia, para os quais interpreta todos os escritos do NT em suas Erluterungen zum NT

    (Elucidaes do NT), logo nos dois versculos iniciais de 2Pe, o seguinte: Pela maneira como essa carta repete aepstola de Judas, e pela diferena na linguagem que a separa da primeira carta de Pedro, resulta nitidamente que aquino Pedro quem fala pessoalmente igreja, mas outro cristo. Ele escreveu para dizer aos cristos em que consiste overdadeiro cristianismo, e escolheu essa forma para sua exortao porque no se trata de sua prpria opinio einteno pessoal, mas daquilo que os apstolos legaram igreja e que torna slida sua participao na graa de Deus,

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    e correto seu servio a Deus. No precisamos admitir a suposio de que, procedendo assim, o autor tivesse uma mconscincia e pretendesse incorrer em uma fraude qualquer. Escolheu essa forma para falar aos cristos porque seempenha com sinceridade e convico para que a igreja no se desvie da trajetria que os apstolos lhe indicaram,mas para que preserve o que deles recebeu. Por isso tambm no escreveu no topo da carta o nome de outro apstolo,mas o de Pedro, porque Jesus fez de Pedro o primeiro de seus mensageiros e porque a igreja surgiu a partir dotestemunho dele. Por isso ela permanecer no caminho de Jesus, tal como lhe foi mostrado desde o comeo, se noperder o que Pedro lhe anunciou.

    O que nos cabe dizer diante disso?

    2) A diferena na linguagem e no estilo entre as duas epstolas de Pedro chamar ateno de todo leitor atento.Ser possvel que a mesma pessoa escreva de maneiras to diversas? Pois bem, para ns , em qualquer ponto, semprearriscado dizer que isso ou aquilo no pode ser. Algum como o aps tolo Paulo capaz de falar de muitas maneirasdistintas, como em sua carta aos Romanos e em 2Co! A razo simples para isso reside na diversidade das pessoas aque o apstolo se dirigia com as cartas, e na considervel diferena dos temas de que era preciso tratar. No entanto,no seria esse tambm o caso das duas cartas de Pedro? Uma carta de consolo e encorajamento a cristos perseguidos algo muito diferente da spera e irritada defesa contra perigosos falsificadores e sedutores que, no sem xito, seintroduziram em igrejas. Ademais, cumpre recordar mais uma vez que Pedro escreve a primeira carta expressamentepor meio de Silvano, o fiel irmo. Esse destaque explcito da fidelidade de Silvano me parece ser um claro indciode que Silvano no foi mero escrevente que ouviu um ditado, mas que, aps dialogar com Pedro e de acordo com asinstrues do apstolo, tinha certa liberdade estilstica para confeccionar a carta. No presente caso a carta seria de

    certo modo muito antes um escrito do prprio apstolo, uma vez que em seu final falta qualquer referncia a umautor. A aspereza e dureza na condenao e rejeio dos hereges seriam condizentes com o pescador singelo, com ohomem do povo, que Jesus escolheu e convocou de acordo com a orientao do Pai.

    3) Nesse caso tambm seria menos marcante a forte semelhana de vrios trechos em 2Pe e da carta de Judas.Homens como Pedro e Judas esto muito prximos no que tange origem e ao contexto humano. Considerando que otelogo crtico da Bblia freqentemente bastante ousado ao levantar hipteses e construes, ns talvez tambmpossamos s-lo aqui. No seria possvel que Pedro e Judas falassem com preocupao comum sobre a invaso defalsos mestres em igrejas apostlicas, afinando sua avaliao conjunta e combinando uma ajuda epistolar para aigreja? Agora ressoam nas duas cartas muitos pontos que marcaram seus dilogos.

    A exegese detalhada das duas cartas evidenciar que no se pode afirmar que uma carta foi copiada da outra. Aspassagens e frases semelhantes das duas cartas tambm apresentam diferenas to caractersticas que um escrito

    independente com base em dilogos conjuntos de fato ofereceria a melhor explicao para esse quadro. Ento aobjeo de que algum como o apstolo Pedro no poderia ter se baseado na carta de uma pessoa menos significanteperder sua fora.

    4) Mas, ento, ser que a pergunta a respeito da autenticidade, ou seja, da autoria importa tanto assim? Vimosque Schlatter comenta 2Pe, a qual no considera autntica, com a mesma seriedade e a mesma dedicao e atenocom que teria analisado uma carta autntica de Pedro. Ser que no importa simplesmente o contedo do escrito emsi?

    Entretanto, como fica a questo da delimitao do NT? A igreja antigaainda que depois de um tempo deindecisoacolheu a carta no cnon do NT porque a considerou uma carta do apstolo Pedro. Esse fato no alteradoem nada pela observao, sem dvida correta, de que na Antigidade a redao de escritos sob o nome de uma pessoafamosa pode ser observada em vrios casos como forma admitida de literatura. De maneira alguma isso era entendidocomo desonesto ou at mesmo como fraude. Apesar disso ningum pode duvidar de que seguramente noteramos 2Pe em nosso NT se a igreja antiga tivesse reconhecido em seu autor um cristo de poca posterior, queapenas falava s congregaes em nome do apstolo Pedro. Afinal, h uma considervel diferena entre algumescrever sob o codinome de um homem famoso ou ento desempenhar, at mesmo em toda a vida pessoal, a funode um apstolo determinante. Apesar de um entendimento diverso na Antigidade, as igrejas certamenteconsideravam isso uma usurpao inadmissvel. Tambm o apstolo Paulo d mxima importncia ao fato de quesomente cartas realmente originrias dele mesmo tenham prevalncia nas igrejas (2Ts 2.2).

    5) Entretanto, no podemos deixar de indagar se o Esprito Santo, o Esprito da verdade, teria concedido suaorientao e sua autoridade a uma pessoa que falava s igrejas expressamente como Pedro, sem contudo de fato serPedro? Por mais honesta que tivesse sido a inteno desse homem, buscando preservar as igrejas na doutrina de Pedro

    atravs dessa carta, seu procedimento sempre carecer de uma retido ltima e de lmpida transparncia, que oapstolo Paulo valorizava de forma to determinada. O Esprito Santo no diz sim a algo assim.Nesse caso, porm, a pergunta a respeito do autor desta carta muito importante. No cristianismo primitivo

    existiram muitas obras boas e instrutivas, redigidas com a iluminao do Esprito Santo, mas isso no as qualificou

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    para serem acolhidas na Bblia. No presente captulo, leremos 2Pe como uma carta do prprio apstolo, sabendo que,com isso, estamos em sintonia com a igreja primitiva.

    IIPOCA DE REDAO, DESTINATRIOS, MOTIVO DA CARTA, TRADIO ECLESISTICA

    1) A poca da redao

    Somos informados pela prpria carta sobre a poca da redao de 2Pe, a saber, que ela foi escrita no melhor tempode vida do apstolo, antes de sofrer o martrio na perseguio dos cristos pelo imperador Nero.

    2) Os destinatrios

    Os destinatrios so caracterizados apenas pelo estado de sua f, no segundo o local de moradia. Obviamentetambm so destinatrios da primeira carta. Mas igualmente 1Pe tem a forma de uma carta circular, queprovavelmente tambm chegou a outras igrejas que no faziam parte das regies da sia Menor. a esse crculo maisamplo de igrejas que os apstolos se dirigem em 2Pe.

    3) O motivo

    O motivo que levou tanto Pedro como Judas a escrever evidenciado com muita clareza nas prprias cartas. Houveuma investida sobre as congregaes por parte de hereges e sedutores, que conquistavam cada vez mais influnciasobre a igreja. Estaremos corretos ao incluir essas novas pessoas no grande movimento do gnosticismo, que naquela

    poca se alastrava como forte enxurrada, e por isso incontrolvel, por todas as regies, tentando penetrarconsistentemente nas religies e nos sistemas de pensamento. Existia o gnosticismo gentlico no judasmo e havia,como vemos nestas duas cartas, fortes investidas gnsticas no sentido de apoderar-se tambm do jovemcristianismo. No sabemos muito sobre o gnosticismo. As pessoas que haviam penetrado nas igrejas sem dvidadesejavam ser crists, do contrrio nem teriam conseguido exercer influncia. Sim, pretendiam trazer umcristianismo superior, mais livre. Isso j ficara patente em Corinto (1Co 5.6).

    Na presente Introduo no tentaremos oferecer uma viso geral do gnosticismo. O TheologischesBegriffslexikon descreve o gnosticismo dessa forma:

    Gnosticismo (do grego gnsis = conhecimento) uma designao genrica para movimentos religiosos quefazem a redeno e libertao do ser humano depender do conhecimento sobre natureza, origem e destino domundo, da vida humana e das esferas divinas. Por gnosticismo e gnose em sentido estrito entende-se uma linhano judasmo, helenismo e cristianismo do sc. I a.C. at o sc. IV d.C. (auge no sc. II d.C.), que tentava chegara um conhecimento de Deus e cujo alvo era a divinizao das pessoas espirituais (pneumticas) pelacontemplao da divindade e, com freqncia, pela unificao com ela pelo xtase.

    Fazem parte do sistema doutrinrio gnstico o dualismo teolgico entre criao e redeno, teoriasemanatistas sobre o fluir do divino sobre o mundo, conceitos de redeno que asseveram a libertao do cristoda matria, e o retorno ptria divina de origem, bem como a doutrina sobre a eficcia fsica dos sacramentoscomopharmaka athanasias, remdios que conduzem imortalidade. No gnosticismo cristo a f dissociadade sua contextualizao histrica, nega-se a encarnao real de Cristo (docetismo) e restringe-se a obedinciade f. Os adeptos desse movimento so chamados de gnsticos, e os conceitos correlatos so adjetivados comognsticos (op. cit., p. XVIII).

    Quem desejar obter mais informaes encontrar material suficiente em qualquer compndio de HistriaEclesistica e tambm na coletnea de J. Leipoldt/W. Grundmann, Umwelt des Urchristentums (vol. I, 2 ed., Berlim1967, especialmente p. 371-415). No comentrio assinalaremos os respectivos pontos, que pareciam to perigosos aosapstolos e aos quais combatiam com muita dureza e determinao. Essa situao tambm permite compreender aveemncia de seu linguajar nas cartas.

    4) A tradio eclesistica

    A presente carta disseminou-se aos poucos na igreja, at ser reconhecida como escrito do apstolo Pedro e acolhidano cnon. Orgenes (185-254) atesta-a, Jernimo (340-420) considera-a autntica, e ela pertence ao cnon desde a 39carta pascal de Atansio no ano de 367 d.C.

    IIIA CARTA DE JUDAS1) O autorse apresenta como Judas, um escravo de Jesus Cristo e irmo de Tiago (v. 1). Com isso aponta

    indubitavelmente para Tiago, irmo do Senhor. Ele prprio, portanto, tambm um dos irmos de sangue de Jesus,

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    citados em Mc 6.3. Sobre sua vida no h maiores informaes. Provavelmente ele tambm no fazia parte do grupode seguidores quando Jesus era vivo.

    2) A poca de redao da carta pode ser situada no ltimo tero do sc. I. Do contedo da carta depreende-se queJudas escreveu em uma poca em que o gnosticismo estava invadindo a igreja, que ainda no a detectava nemexpelia como uma heresia comumente reconhecida.

    3) Nada sabemos sobre o lugar da redao.

    4) A autenticidade da carta foi vrias vezes questionada. Para isso recorre-se sobretudo aos v. 17s, dos quais sedepreende que os apstolos j anunciavam tempos em que surgiriam zombadores. Tambm Judas fazia parte dessesapstolos. O autor estaria se ocultando por trs desse Judas, a fim de para combater, recorrendo a tradiesapostlicas, os hereges gnsticos e sua influncia.

    Essa concepo, no entanto, no passa de mera suposio, incapaz de ser realmente compromissiva (a esserespeito, cf. o comentrio aos v. 17s).

    5) A tradio da primeira igreja (Tertuliano, cnon Muratori) j conhece a carta e em momento algum questiona aautoria de Judas.

    IVINDICAES BIBLIOGRFICAS

    Schlatter, A. Die Briefe des Petrus, Judas, Jakobus, der Brief an die Hebrer, Erluterungen zum NT, vol. 9.

    Hauck, F. Die Kirchenbriefe,NTD, vol. 10.

    Schelkle, K. H. Die Petrusbriefe, der Judasbrief, Benno-Verlag Leipzig e Herder-Verlag Freiburg.

    COMENTRIO

    SAUDAO INICIAL2PE 1.1S

    1Simo Pedro, servo e apstolo de Jesus Cristo, aos que conosco obtiveram f igualmentepreciosa na justia do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo:

    2graa e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nossoSenhor.

    Assim como em sua primeira carta, aqui Pedro segue o costume de seu tempo colocando oremetente no comeo da missiva, em seguida caracterizando os destinatrios, e por fim ligando aambos por meio de uma saudao.

    1 Simo Pedro, escravo e apstolo de Jesus, do Cristo: Diferentemente da primeira carta, Pedro citaseu nome original Simo, escrevendo-o na forma verbal hebraica Symeon. Provavelmentepodemos depreender disso que a carta se dirige a grupos cristos judeus que se alegram por ouvir seunome no tom original. Pedro o cognome que lhe foi dado pelo prprio Jesus, que boa parte docristianismo primitivo ainda usava em sua forma aramaica, Cefas. Ele caracteriza sua posio peranteJesus de duas maneiras. De plena e livre vontade ele escravo de Jesus, o Messias de Israel,desejando sofrer e agir como algum que pertence integralmente a Jesus, vivendo em totaldependncia dele e agindo em inteira obedincia a ele. Essa atuao, porm, resulta de sua vocaode apstolo, de emissrio autorizado do Cristo, i. , do rei Jesus. deste que ele escravo. Naordem social daquele tempo, um escravo perdia qualquer deciso autnoma sobre si mesmo e eraservo cativo de seu senhor: No podia fazer nada por iniciativa prpria, mas sempre tinha de acatar

    a instruo do senhor. Do mesmo modo Pedro queria pertencer a seu Senhor Jesus, o Cristo deDeuscontudo por espontnea vontade!e servir-lhe, particularmente em profunda gratido pelofato de este t-lo adquirido e conquistado como propriedade com o empenho da prpria vida, tendo-o

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    por isso arrancado do pecado e da morte. Seu servio para Jesus, porm, determinado por suavocao. o que os destinatrios da carta devem ponderar quando ouvem o que lhes diz.

    Quem so esses ouvintes? Ao contrrio da primeira carta no se cita a regio em que residem. Nosabemos a razo que Pedro tinha para no faz-lo. Contudo, por ser sua segunda carta a eles (cf. 2Pe3.1!), devem ser os mesmos destinatrios endereados em 1Pe 1.1.

    Agora, porm, so caracterizados de outro modo, a saber, como pessoas que receberam conoscoa f de igual valor, por meio da justia de nosso Deus e (do) Redentor Jesus Cristo. Em funodisso a f constitui a caracterstica decisiva de todo verdadeiro cristo.

    F, na Bblia, significa a confiana da entrega a Deus, que se revela em sua palavra, em seus atossalvadores e por fim na pessoa do Cristo. Esse tipo de confiana no pode ser produzida por nsmesmos, ainda que no se forme sem nossa participao pessoal e sem nossa prpria vontade. recebida no encontro com o Deus vivo, ao qual nos conduzem os emissrios autorizados.

    Trata-se da f de igual valor, que eles receberam conosco (os apstolos). Isso algo espantoso!Por natureza tendemos a pensar que os grandes apstolos, afinal, tinham um cabedal interior muitodiferente dos posteriores membros da igreja. Mas no: naquilo que era essencial, decisivo peranteDeus, na f, os membros no esto em desvantagem diante dos apstolos. Possuem algo de igualvalor. Sim, na f de igual valor daqueles que nunca viram pessoalmente a Jesus acontece algo aindamais admirvel do que aquilo que Jesus disse a Tom (Jo 20.29) e que Pedro repercute nas palavras

    de seu Senhor (1Pe 1.7-9).Como, porm, chegam a essa f de igual valor, que os une com o apstolo Pedro em umapreciosa igualdade? Agora fica cabalmente explcito que ela no feitura deles, mas a obra de Deusneles: receberam a f por meio da justia de nosso Deus e (do) Redentor Jesus Cristo. Pairamdvidas se nesta frase temos de inserir o artigo do antes de Redentor, que no constaexpressamente no texto grego, ou se Pedro de fato queria definir Jesus como nosso Deus eRedentor. Sem dvida todo o NT est convicto da dignidade divina de Jesus, mas apenas raramenteele designado expressamente como Deus. Permanece em aberto se isso ocorre tambm aqui. Oversculo seguinte, no entanto, imediatamente diferencia entre Deus (o Pai) e Jesus Cristo, nossoSenhor.

    Muito mais relevante a pergunta de como devemos entender que nos foi concedida uma f de

    igual tipo e valor com os apstolos por meio da (ou: na)justia de Deus. Uma srie decomentaristas localiza essa justia apenas na circunstncia de que, ao repartir a f, Deus no fazdiferenas, mas concede a cada crente o presente igualmente precioso. Contudo, ainda que Pedro noqueira afirmar mais, precisamos perguntar: por que Deus faz isso assim? Somente por causa de umajustia exterior, formal, sem um motivo interior e essencial? J no AT a justia de Deus narealidade algo muito diferente daquilo que ns concebemos a partir do pensamento jurdico epoltico. a justia que concede direitos, que estabelece e outorga o direito do afligido. No NT ela setorna a justia justificadora de Deus (Rm 1.17!), que se revela no evangelho e confere ao pecadorum novo direito e a paz com Deus (Rm 5.1). Nisso se requer de nossa parte somente uma coisa, euma nica situao pode ocorrer: aceitar com f o presente extraordinrio que Deus nos oferece peloato redentor de Jesus (Rm 3.21-26). Nesse aspecto, porm, situamo-nos exatamente no texto sob

    anlise. Realmente existe apenas essa uma f, atravs da qual cada pessoa encontra a vida nessajustia justificadora e redentora de Deus, a qual igualmente salvadora e por isso igualmentepreciosa, seja em um apstolo, seja em um dos mais humildes cristos da sia Menor, seja naqueletempo, seja em qualquer recanto do mundo atual. somente por meio do Redentor Jesus Cristo, deseu ato de reconciliao, que Deus se torna nosso Deus que est presente para ns (Rm 8.31ss).

    Contudo, exatamente pelo fato de todos que realmente foram redimidos viverem dessamaravilhosa justia de Deus, Pedro dirige-se aqui involuntariamente a todos, no estabelecendonenhuma delimitao geogrfica dos destinatrios.

    2 Graa e paz vos sejam ricamente concedidas pelo conhecimento de Deus e de Jesus, nossoSenhor. O voto de graa e paz conhecido por ns de muitas cartas do NT. Mas enquanto Tiago secontenta com o costumeiro e breve Alegria primeiro, Pedro ampliou o voto de bnos de forma

    peculiar. No apenas aponta de forma geral como Paulo para Deus e Jesus como fonte de graa epaz, mas deseja que essas ddivas nos sejam ricamente concedidas pelo conhecimento de Deus ede Jesus, nosso Senhor. Por que esse adendo? Talvez o olhar de Pedro j esteja direcionado para osgnsticos. Eles classificam mera f como um estgio inferior do relacionamento com Deus, e

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    pstico = pessoa de f era em seus lbios um termo pejorativo. Fosse como fosse, eles seconsideravam muito acima disso atravs da gnose = conhecimento. Agora Pedro estabelece aligao viva entre f e conhecimento. exatamente apenas no encontro com Deus em Jesus, nossoSenhor, gerador de f, que conhecemos verdadeira e corretamente. Todos os conhecimentos,porm, que pensamos obter apenas com nossos pensamentos ou sistemas filosficos passam longe daverdadeira natureza de Deus, de sua graa e sua paz. Para Pedro o conhecimento decorre dorelacionamento fundamental com Deus ao recebermos a preciosa f. No texto j se sugere aosdestinatrios da carta algo da afirmao posterior do grande mestre da igreja Anselmo de Canturia:credo ut intelligam= creio para entender, como defesa interior contra o gnosticismo.

    AS DDIVAS DE DEUS E NOSSAS TAREFAS2PE 1.3-11

    3Visto como, pelo seu divino poder, nos tm sido doadas todas as coisas que conduzem vidae piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua prpriaglria e virtude,

    4pelas quais nos tm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que porelas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupo das paixesque h no mundo:

    5por isso mesmo, vs, reunindo toda a vossa diligncia, associai com a vossa f a virtude;com a virtude, o conhecimento,

    6com o conhecimento, o domnio prprio; com o domnio prprio, a perseverana; com aperseverana, a piedade,

    7com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.8Porque estas coisas, existindo em vs e em vs aumentando, fazem com que no sejais nem

    inativos, nem infrutuosos no (pleno) conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.9Pois aquele a quem estas coisas no esto presentes cego, vendo s o que est perto,

    esquecido da purificao dos seus pecados de outrora.10Por isso, irmos, procurai, com diligncia cada vez maior, confirmar a vossa vocao e

    eleio; porquanto, procedendo assim, no tropeareis em tempo algum.11Pois desta maneira que vos ser amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso

    Senhor e Salvador Jesus Cristo.

    3 Pedro inicia o escrito com exortaes graves e abrangentes. Nossa vida crist e eclesial no seprocessa simplesmente de forma automtica, pelo contrrio, requer-se para ela nosso engajamentodecisivo (v. 10). Mas mesmo ao exortar Pedro evanglico e no legalista, partindo das ddivasespontneas e generosas de Deus. Visto que seu poder divino nos presenteou com tudo o queserve vida e devoo. Para presentear consta no grego uma palavra que designa a plenaliberdade da doao divina. Ningum fez por merecer de Deus, de forma livre e gratuita nos advmtudo do poder divino.

    Quando, porm, o poder de Deus nos presenteia, somos rica e eficazmente agraciados. Nesseprocesso a inteno de Deus muito maior do que conceder uma srie de bens terrenos. Sem dvidao presentear de Deus serve nossa vida. Mas vida divina que se revela como devoo. Devoono tem nada a ver com beataria. Conhecer realmente a Deus Pedro falar disso em seguidahonrar e amar a Deus, estar disponvel para Deus, isso tambm constitui a verdadeira vida que jnos foi preparada na criao (Gn 1.27). Para isso Deus nos presenteia ricamente com tudo o quecontribui para ela. No nos falta nada do que necessitamos. Uma vida assim no se resume a umideal distante, mas temos o privilgio de realmente possu-la. Isso evangelho.

    Por sua natureza, porm, ela no pode ser passada a ns como uma propriedade formal. Cada umde ns precisa abra-la de maneira muito pessoal atravs do conhecimento daquele que noschamou atravs de sua prpria glria e eficincia. Novamente Pedro emprega a palavra

    conhecimento. Certamente porque toda a nossa propriedade interior chega ao nosso corao somentepela via do conhecer. Provavelmente Pedro quisesse precaver os ouvintes mais uma vez diante dognosticismo. Tambm ns temos conhecimento, e tambm para ns ele fundamental. Mas nose trata daquele conhecer falso, com o qual o ser humano tenta se apoderar de Deus em todo tipode sistemas intelectuais e especulaes. Em total contraste com isso, o conhecimento genuno de

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    Deus no est fundamentado sobre o esforo do ser humano, mas sobre o chamado de Deus, que daeternidade penetra em nossa vida, procurando, acertando e atraindo-nos para si. Ento se revela aoser humano a prpria glria e eficinciade Deus. Ou seja, no se trata da eficincia do serhumano em qualquer disposio religiosa, de um esforo estrnuo, mas exclusivamente daeficincia de Deus. Em consonncia com sua natureza divina, a eficincia de Deus algo muitodiferente da nossa. Por meio dela ele realiza milagres, sobretudo o milagre de conduzir pessoas daperdio e morte (v. 4) vida verdadeira.

    4 precisamente por meio dessa glria e perfeio que ele nos presenteou com as preciosas egrandes promessas, para que atravs delas vos torneis participantes da natureza divina, tendoescapado da perdio que existe no mundo por meio da concupiscncia. Por natureza todos nssomos refns da perdio, que existe no mundo por meio da concupiscncia. No precisoexplicar isso em pormenores. Afinal, aquele cujos olhos se abriram para isso, que em dores travou aluta ardente e v contra a concupiscncia, e que passou pelo sofrimento de Rm 7.14s, est cientedisso, e para ele agora um fato maravilhoso ter escapadoda perdio. Contudo, a questo no serestringe a este escapar. Indissoluvelmente ligado a isso sendo simultaneamente premissa econseqnciaexiste um ganho inaudito: tornamo-nos participantes da natureza divina. Aqui defato nos deparamos com preciosas e magnas promessas. Devemos ter parte na prpria vida santa deDeus. O contedo, porm, o mesmo que j foi exposto aos membros das igrejas em 1Pe 1.15s e

    que, de acordo com muitas passagens do NT, se concretiza pela habitao do Esprito Santo em ns. assim que pessoas anteriormente opostas a Deus e refns da perdio se tornam santas (cf. 1Co1.2). Pedro expressa isto neste texto com termos helenistas e religiosos que a Bblia no emprega emoutras passagens. Talvez mais uma vez tenha recorrido conscientemente a afirmaes gnsticas, paramostrar s igrejas de forma encorajadora em sua confrontao: aquilo que a nova doutrina tenta lhesdar por seus prprios mtodos, ns j possumos a partir de Deus e em uma realidade bem diferente.

    No entanto Pedro afirma que ainda haveremos de nos tornar participantes da natureza divina.Alis, importa que tenhamos o cuidado para que a presente frase dirija nosso olhar para as preciosase grandes promessas, associando-se assim caracterstica bsica escatolgica de toda a Bblia. Comtoda a certeza as grandes promessas de Deus valem tambm para nossa vida atual, porque salvos porJesus Cristo escapamos desde j da perdio no mundo (cf. tambm 1Ts 1.10), sob a condio de que

    obedeamos constantemente exortao Tu, porm, homem de Deus, foge destas coisas (1Tm6.11; 2Tm 2.22). Teremos escapado definitivamente apenas depois de chegar ao alvo eterno.Contudo a participao na natureza divinacomea logo que Cristo est em ns e vive em mim(Jo 17.23; Gl 2.20) e ns somos santos e membros do corpo de Cristo. Contudo isso serfragmentrio e imperfeito at o momento em que seremos iguais a ele, quando o veremos comoele (1Jo 3.2; Rm 8.29)! Realmente, essas so preciosas e grandes promessas que nos franqueia mum futuro indescritivelmente maravilhoso. Possivelmente Pedro reala tanto essa conotaoescatolgica desde o incio porque havia uma certa dvida quanto esperana futura ter penetradonas igrejas. Em 2Pe 3.1-13 a carta ainda tratar expressamente disso.

    5 Pedro contempla tudo o que apresentou como grandiosa ddiva de Deus, chegando s conclusescabveis. Afinal, a longa frase comeou com um Visto que. A conseqncia : justamente por issoaplicai todo o zelo No NT, sempre decorre da poderosa promessa essencialmente uma exignciacorrespondente, da ddiva decorre a incumbncia, do ser que nos foi dado decorre sua concretizaoem nosso fazer. Os dons de Deus no nos foram concedidos para uma fruio devota, nem as grandespromessas de futuro, para a contemplao interessante. Somos chamados ao engajamento pessoalsrio, e nesse engajamento experimentamos a vida e a participao na natureza divina.

    Pedro parte do fundamento de vida de toda a nossa existncia crist, de nossa f. Ele sabe que fno opinio terica, no aceitar algo intelectualmente como verdadeiro, mas uma coisa viva,atuante, ativa, poderosa. A f tampouco pergunta se existem boas aes a serem feitas, mas antes deperguntar j as realizou e realiza constantemente. Aqui consta com a mxima brevidade e ofereceiem vossa f a operosidade: se Deus operoso em suas faanhas, tambm ns, como crentes e

    pertencentes a Deus pela f, podemos ser operosos em um agir frutfero. Para isso careceremos deuma percepo clara da vontade de Deus (cf. Rm 12.1s): uma perspiccia dada por Deus para arespectiva situao e um julgamento correto como experincia crescente (Fp 1.9s). Por isso: ofereceina operosidade o conhecimento.

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    6 No entanto, se nossa atuao no mundo deve ser frutfera, preciso associar imediatamente ocomedimento (ou: autocontrole, autodomnio) ao conhecimento. Somente com ele vencemos asnumerosas sedues externas e internas que tentam nos deter no agir em favor de Deus. E mais: nocomedimento, porm, a resistncia. Toda vida autntica e atuante em prol de Deus se confrontacom a poderosa oposio do mundo e de seu terrvel prncipe. Cabe, pois, agentar e suportar muitascoisas. Por isso o NT repetidamente aponta para a resistncia (na traduo de Lutero, pacincia;inclusive em Gl 5.22). A princpio poderia causar espcie que Pedro, na seqncia, insira naresistncia, porm, a devoo. Por acaso o v. 3 no citou a devoo como algo abrangente efundamental? Por que, pois, ela surge aqui em meio a essa srie? Talvez para que no percebamos ocomedimento e a resistncia como algo duro e pesado, mas que os esperemos, para que ao renunciara sedues, ao nos controlar e ao suportar com constncia o sofrimento para Deus cresam a alegriano Senhor e a entrega a ele. Sobretudo, porm, provavelmente porque verdadeira confraternidade eamor genuno somente se tornam possveis em nosso relacionamento com Deus. Sempre Deusquem ama primeiro e que por meio da entrega de Jesus morte nos traz da morte de nosso desamorpara a vida de amor.

    7 Portanto, o olhar retorna de Deus para os seres humanos, entre os quais vivemos e atuamos. Osgnsticos e as grandes pessoas espirituais entre eles carecem dessa inflexo do olhar, que tornapossvel ver o ser humano sob a luz do amor de Deus. Falta de amor, apesar de todos os enlevos

    intelectuaisesta a acusao fundamental que Paulo e Joo lanavam contra o gnosticismo.Certamente tambm Pedro percebeu isso nas igrejas s quais se dirige com esta carta. Por isso asexorta: na devoo, porm, a confraternidade, na confraternidade, porm, o amor. Obviamentetambm podemos traduzirphiladelphia com amor fraterno, mas nesse caso temos de acrescentar

    palavra subseqente amor a palavra em geral, que no consta no texto grego. Philein tem amesma raiz dephilos= amigo, designando por isso a atitude amistosa, cordial diante do irmo,ou seja, a confraternidade. Amor = gape, porm, refere-se ao amor nico e incondicional de Deuscom que nos deparamos em Jesus. Precisamente esse amor de Deus foi derramado em nossoscoraes por meio do Esprito Santo, e constitui o fruto bsico do Esprito (Rm 5.5b; Gl 5.22).Evidentemente pode e deve valer tambm para o irmo (1Jo 3.14). Mas ele indivisvel eabrangente, a ponto de amar o inimigo.

    Foi-nos apresentada uma srie de manifestaes da nova vida. significativo que essa sriecomece pela f e se encerre com o amor. Tudo est abarcado pela f e pelo amor. F e amorconservam todo o resto com vida, e um no existe sem o outro.

    8 Na seqncia Pedro faz reluzir a vantagem dessa vida de oferecimento de uma operosidade outra: Porque, se essas coisas existirem e crescerem entre vs, no vos apresentaro inativosnem infrutferos para o (pleno) conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. O se desta frase nodever ser entendido de forma diferente do que em Fp 2.1. Pedro no tem dvidas de que tudo o queele arrola de fato pode ser encontrado nos ouvintes da carta. Entretanto, precisa ser atendida tambma segunda condio: que cresa como tudo que vivo (cf. 1Ts 4.10b-11). Ento tambmexperimentaro que sua vida crist e eclesial no inativa nem infrutfera. Todas essasoperosidades os fazem avanar no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Como no v. 2,tambm aqui o prefixo epi antes de gnosis pode sublinhar a penetrao mais profunda noconhecimento. Ao mesmo tempo a frase dirige-se novamente contra as novas tendncias, queexaltam seu conhecimento, jogando-o na balana contra a mera f. No, juntamente pela viados gnsticos que no chegamos ao conhecimento genuno. Somente as atuaes prticas da vidacrist, enraizadas na f (v. 5), nos conduzem mais profundamente ao conhecimento de nosso SenhorJesus Cristo. Afinal, no se trata de captar intelectualmente certas verdades, mas de conhecer umapessoa, de um conhecimento direto por meio do qual se constitui a comunho pessoal. Afinal, aluta contra o gnosticismo no deve desvalorizar o conhecimento, mas pelo contrrio: a igreja devevaloriz-lo em sua relevncia plena. Mas precisa ser o conhecimento do qual o prprio Jesusdeclarou: Ora, a vida eterna que eles te conheam a ti, o nico verdadeiro Deus, e quele que

    enviaste, Jesus Cristo (Jo 17.3 [TEB]). Para isso, porm, uma igreja de crentes no deve serimprestvel e tampouco infrutfera para o conhecimento de Jesus Cristo.

    9 No, Pedro visualiza o dano com muito maior profundidade! O contrrio do verdadeiroconhecimento cegueira, e no desconhecimento. No existe ningum na igreja que nosoubesse muito sobre Jesus. Porque aquele em quem no esto essas coisas cego em sua miopia,

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    tendo deixado cair no esquecimento a purificao de seus antigos pecados. Como assim, cego emsua miopia? Ora, ningum ser totalmente cego se ainda estiver vivendo em e com a igreja. Contudo possvel ser muito mope, ou seja, ver apenas o que est mais perto, porm captar at mesmo issode maneira imprecisa. Ento no estaremos muito distantes da carncia de um cego. O gnosticismodeve ter notado e trazido luz do dia os grandes danos que esse tipo de miopia gera nas igrejas. Essacircunstncia, porm, pode ter levado cristos srios e zelosos daquele tempo a se abrir para ummovimento que prometia remedi-la. Por isso preciso apontar para a verdadeira causa do mal. Porque existem membros da igreja cegos em sua miopia? Todos carecem daquelas manifestaesprticas vivenciais de f operosa at o verdadeiro amor, mais precisamente porque deixaram cair noesquecimento a purificao de seus antigos pecados. Isso pode ser entendido de duas maneiras:uma que no avanaram para a purificao de todos os seus pecados, ainda que a tenham iniciadoao se tornarem cristos. Por se esquecerem de como necessria uma purificao total e plena, levamboa parte de sua velha natureza e vida para dentro da nova condio de cristos. A outra quefizeram cair no esquecimento a purificao experimentada na converso no passado, no vivendomais do perdo e da purificao, e assim deixando ressurgir dentro de si antigos pecados. As duascoisas podem ter sido favorecidas pelo gnosticismo, com suas trajetrias s alturas. Ento faltoutudo o que Pedro descreveu como vida prtica da f, e as pessoas se tornam cegas. Aos poucospassamos a ver Jesus, o Crucificado, apenas atravs de uma nvoa, por mais orgulhosamente que nos

    gloriemos de nosso conhecimento.10 Pedro escreve tudo isso porque v esse perigo penetrar nas igrejas. As igrejas tm de precaver-sediante dele. Quem tiver ouvidos, deve ouvir o alerta: Tanto mais, irmos, sede diligentes emconsolidar vossa vocao e eleio!Como j foi constatado no v. 3, so pessoas chamadas porDeus que se abriram ao chamado e com admirao e gratido reconheceram nessa vocaosimultaneamente sua eleio eterna. Porventura ento essa vocao e eleio por Deus no geroutudo o que era preciso, visto que Deus no pode se arrepender de sua vocao? (Rm 11.29). Sim, masa vocao e eleio no nos transformam em tteres na mo de Deus. Ele permite que continuemossendo pessoas com responsabilidade prpria. Por essa razo temos de responder eleio evocao dele, aceitando pessoalmente a ambas na hora de nossa converso, e consolidando-assempre mais. Esse consolidar passa por toda a nossa vida at as ltimas tribulaes na hora da

    morte. Nossa diligncia faz parte disso em qualquer situao da nossa vida, porque na verdade nosencontramos na correnteza de um mundo que por fortes empuxos tenta nos arrancar de Deus e denossa vocao e eleio.

    Na seqncia vem a assero: porque, se fizerdes isso, jamais tropeareis. Evidentemente essetropear tambm pode se referir a deslizes ticos isolados. Contudo na correlao do presente textoseu principal significado : cair em uma heresia e deixar-se desencaminhar. Muitas vezes o cristo seapresenta aparentemente indefeso diante de correntes sedutoras, quando os desencaminhadoresparecem conduzir a um cristianismo superior e mais esplendoroso. Contudo, quem consolidou suavocao e eleio originais cada vez mais e desenvolve sua f a partir de toda a srie explicitada nov. 5 no ser abalado pelo torvelinho de correntes variadas.

    11 Ele chegar ao grande alvo. No surpreendente que Pedro designe esse alvo com a locuooriginal do reinado de Deus presente na proclamao de Joo Batista e do prprio Senhor Jesus.Obviamente agora j no reinado dos cus ou reinado de Deus. Afinal, este re inado tornou-se,pelos eventos da histria da salvao (a saber, o envio de Jesus, sua morte na cruz, sua ressurreio,sua exaltao), o reinado de nosso Senhor e Salvador Jesus que, como o Cristo, o concretiza emsua pessoa. O acesso ou entrada para esse glorioso reinado simultaneamente uma questofutura e presente. Na realidade at mesmo nos discursos e nas parbolas do prprio Jesus esse reinodos cus algo que ainda est por chegar, e no obstante tambm algo que de certo modoacontece j neste momento. chegado, atuando da forma mais intensa aqui e agora. Contudo ainda

    precisa chegar de fato e criar aquele novo cu e a nova terra dos quais se falar em 2Pe 3.13. Oacesso a esse reino, porm, agora j foi viabilizado para ns em nosso Senhor e Salvador Jesus e

    por meio da redeno consumada por ele como Messias. E ningum realmente escapar da perdiodo mundo se no tiver entrado j aqui no reino de Deus (v. 4). Podemos estar certos de que esseacesso nos oferecido em abundncia. Tambm aqui Pedro pensa de forma totalmenteevanglica e no legalista. Afinal, esse acesso no precisa ser conquistado, adquirido peloesforo, nem de alguma maneira merecido. Ele presente da graa. Mas ele somente oferecido aos

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    que realmente crem e demonstram a realidade de sua f naquela operosidade de que fomoslembrados recentemente nos v. 5-7.

    Ao mesmo tempo, porm, esse eternoreinado de nosso Senhor e Salvador Jesus tambm paraPedro necessariamente uma realidade futura, da qual passar a falar a palavra proftica (v. 19) e quese manifestar somente no dia do Senhor com glria plena e preenchendo a tudo (2Pe 3.8 -13).Contudo nesse dia do Senhor tudo depende de que o acesso a esse reinado eterno nos sejaoferecido de modo livre e abundante. Algum como Pedro v diante de si com extrema gravidadetudo o que o prprio Senhor outrora afirmara sobre a porta fechada e de ficar de fora (Mt 25.10-13;Lc 13.25-27). Em consonncia, tambm o bloco subseqente est integralmente direcionado aofuturo.

    A FIANA DA GRANDE EXPECTATIVA FUTURA DA IGREJA2PE 1.12-21

    12Por esta razo, sempre estarei pronto para trazer-vos lembrados acerca destas coisas,embora estejais certos da verdade j presente convosco e nela confirmados.

    13Tambm considero justo, enquanto estou neste tabernculo, despertar-vos com essaslembranas,

    14certo de que estou prestes a deixar o meu tabernculo, como efetivamente nosso Senhor

    Jesus Cristo me revelou.15Mas, de minha parte, esforar-me-ei, diligentemente, por fazer que, a todo tempo, mesmo

    depois da minha partida, conserveis lembrana de tudo.16Porque no vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo

    fbulas engenhosamente inventadas (ou: maquinadas), mas ns mesmos fomostestemunhas oculares da sua majestade

    17pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glria, quando pela Glria Excelsa lhe foienviada a seguinte voz: Este o meu Filho amado, em quem me comprazo.

    18Ora, esta voz, vinda do cu, ns a ouvimos quando estvamos com ele no monte santo.19Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra proftica, e fazeis bem em atend-la, como

    a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, at que o dia clareie e a estrela da alva nasaem vosso corao.

    20sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provm de particularelucidao (arbitrria).

    21porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens(santos) falaram da parte de Deus, movidos pelo Esprito Santo.

    12 No primeiro bloco desta carta Pedro descreveu a vida da igreja de Jesus e de todos os verdadeirosmembros, e como ela se desenvolve a partir de sua f ao longo daquela srie de atitudes e aes at aentrega do amor (v. 5-7). Nesse sentido toda a vida da igreja se encontrava para ele sob a luz dagrande expectativa futura. Escreve de forma muito ponderada e consciente: Por essa razo estarei

    sempre atento para vos lembrar dessas coisas, embora as conheceis e estejais fortalecidos pelaverdade presente (para vs). Em suas cartas os apstolos dirigem-se a igrejas que conhecem amensagem, cuja verdade est presente nas igrejas, fortalecendo os membros da igreja. Foi isso queexperimentaram de muitas maneiras. Esse fortalecer um solidificar e apoiar, tambm nastribulaes a que a igreja est exposta. No entanto, por se tratar de questes to importantes, Pedropretende sempre estar atento para vos lembrar dessas coisas. Todos ns precisamos desselembrar, j que no est em jogo um saber natural, evidente em si mesmo. A verdade de Deus uma contraposio fundamental a tudo que o ser humano pensa e deseja aps a queda no pecado. Aeste mundo, a mensagem de Deus parece uma tolice, assim como inversamente este mundo tolicediante de Deus (1Co 1.21; 3.18-20). Nessa situao corremos constantemente o risco de atenuar, e atmesmo esquecer, a verdade de Deus, adaptando-nos a este mundo. Conseqentemente, lembrar

    constitui uma tarefa essencial dos escritos apostlicos, como tambm de toda proclamao que jaconteceu na igreja do Ressuscitado.

    13s A necessidade dessa tarefa sublinhada por Pedro na frase seguinte: Considero, porm, justo,enquanto viver nesta tenda, manter-vos acordados atravs de lembrana, porque sei que estprximo o desmonte (ou: o despir) de minha tenda, conforme tambm nosso Senhor Jesus

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    Cristo me revelou.A igreja e seus membros precisam ser constantemente mantidos acordados, etambm ser despertados por meio de uma lembrana viva e poderosa de tudo eles j conhecem(1Co 15.1s). Esquecemos em funo de cansao, entorpecimento, dormncia, tambm em vista daexpectativa futura (cf. Rm 13.11; 1Ts 5.6-8).

    No lembrar recai sobre os apstolos uma tarefa singular. Eles so as testemunhas originais doSalvador Jesus Cristo e portadores da primeira proclamao fundadora de igrejas. Dificilmente outrapessoa seria capaz de falar de Jesus, de seu ensino, atuao, padecimento, morte e ressurreio comoPedro, a rocha sobre quem Jesus queria construir sua igreja. At ento isso ocorrera de formapredominantemente oral. Mas isso somente era possvel enquanto vivia nesta tenda. Esse tempoagora se aproxima do fim: Sei que o desmonte (ou: o despir) de minha tenda est prximo. Otermo usado aqui para estar prximo tambm pode designar que o acontecimento repentino. Deonde Pedro sabe que sua morte se aproxima e pode vir repentinamente? Sua prpria situao tornaisso evidente para ele. Afinal, est em Roma. L se intensifica o perigo. E seu Senhor, Jesus Cristo,lhe havia explicado pessoalmente com que morte ele haveria de exaltar a Deus (Jo 21.18s). Serum fim realmente violento o desmonte da tenda em que agora ainda se encontra.

    15 Em funo disso Pedro escreve a seus ouvintes: Mas pretendo me esforar para que depois deminha partida tambm tenhais, a qualquer hora, a possibilidade de vos recordar dessas coisas. para isso que lhes serve a carta, por ser para eles, a qualquer hora, inclusive depois de sua

    partida, o meio da recordao daquilo sobre o que est testemunhando.16 Trata-se precisamente desse testemunho da histria, de uma histria vivenciada pessoalmente,no de mitos imaginados com sapincia. Mitos e estranhas narrativas religiosas dos primrdios dospovos existem em todas as religies e culturas. O termo usado para designar os mitos, maquinados,no precisa ter conotao depreciativa. Nestes mitos o ser humanodependendo do nvel cultural, deforma mais grosseira ou refinadaexpressa sua viso de mundo, seu pensamento sobre vida e morte,seu anseio religioso, seu entendimento de Deus. Logo podem muito bem ser profundos e movernosso ntimo. Contudo possuem todos o mesmo defeito: foram imaginados por seres humanos. Noh necessidade de testemunhas oculares para eles. No falam de fatos histricos que podem e

    precisam ser testemunhados. Migram pelo mundo, acolhidos e repetidamente reconfigurados,falando por si mesmos. Mas o testemunho de Jesus tudo menos um mito. Por essa razo possvel

    destacar enfaticamente: Porque no foi seguindo mitos imaginados com sapincia (ou:maquinados) que vos anunciamos o poder e a parusia de nosso Senhor Jesus Cristo, mas porquenos tornamos testemunhas oculares de sua majestade. Para um mito no existem testemunhasoculares, mas para o poder e a parusia de nosso Senhor Jesus Cristo, sim. Na pessoa de Pedrouma dessas testemunhas oculares se apresenta igreja. Enfatiza isso porque para as pessoas daqueletempo (e de hoje!) o evangelho tambm se parece facilmente com um mito. Falava-se muito dedeuses que morrem e ressuscitam. Mitos dessa espcie eram usados simbolicamente tambm porfilsofos. Contudo jamais foi possvel ver e testemunhar historicamente um desses deuses quemorrem e ressuscitam. Esse morrer e ressuscitar nem sequer era compreendido como acontecimento,mas somente como figurao para o ciclo de fenecimento e novo despertar da vida na natureza.Acerca de Jesus, porm, Joo atesta para todos os apstolos: Vimos a sua glria (Jo 1.14; 1Jo1.1,3).

    Para essa realidade Pedro usa a expresso o poder e a parusia de nosso Senhor Jesus Cristo.Essa uma constelao curiosa. Igualmente peculiar que na seqncia Pedro no relacione suacondio de testemunha ocular em relao aos milagres com os quais Jesus comprovou seu poder.Sim, ele nem mesmo cita a ressurreio de Jesus e o fato de ter visto o ressuscitado, mas concentra oolhar em uma experincia extraordinria: na transfigurao de Jesus no alto do monte (Mt 17.1-9).Por que faz isso? Conforme j pudemos observar, importa-lhe na carta o futuro, que vem ao encontroda igreja. Por isso estabelece involuntariamente uma firme conexo entre poder e parusia. Somentena nova vinda, que transformar e consumar tudo, Jesus evidenciar publicamente seu poder, suamajestade, atingindo o alvo de sua obra. Na transfigurao sobre o monte, porm, Pedro identificou

    a irrupo deste futuro no presente. Nessa transfigurao Jesus um dia se apresentar em suaparusia. Jesus no apareceu aos discpulos com essa glria depois de sua ressurreio. Nenhum relatoda Pscoa descreve o Ressuscitado dessa forma.

    17 Soma-se a isso um segundo aspecto. Para Pedro, a testemunha de Jesus, importa o testemunhoidntico de Deus em favor de Jesus. Pressupe na igreja o conhecimento da histria em si. No se

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    detm naquilo que se tornou visvel no prprio Jesus, nem em Moiss nem em Elias. Pelo contrrio,para a f em Jesus e para a expectativa de sua parusia o importante : porque de Deus, o Pai, elerecebeu honra e glria, quando partiu para ele a seguinte voz da excelsa glria: Meu Filhoamado este, do qual me agradei. para esse aspecto que o prprio Deus chamou a ateno dosdiscpulos. Quando os discpulos ergueram os olhos, no viram ningum seno apenas Jesus, mas otestemunho de Deus, que haviam ouvido, ficou com eles. isso que Pedro, como testemunha,tambm expe igreja agora.

    18 Essa voz que ouvimos pessoalmente vinda do cu quando estvamos junto dele no sagradomonte. Pedro deseja ser testemunha do testemunho de Deus. Por mais que ele seja uma testemunhaoriginal imprescindvel que fixa seu testemunho por escrito para que continue existindo tambmaps sua morteo testemunho decisivo acerca de Jesus somente pode ser dado pelo prprio Deus.Foi precisamente isso que ele fez: l no alto do monte, que assim se tornou um monte sagrado.

    Para ns seres humanos de hoje uma argumentao dessas a princpio soa estranha. Desejamosexperimentar o poder de Jesus diretamente em ns mesmos: na transformao de coraeshumanos ou em curas e dons especiais. No entanto, a sua divindade essencial menos interessantepara ns. Tornamo-nos cada vez mais antropocntricos. O ser humano, com sua vivncia e atuao,ocupa o centro da nossa ateno. Conseqentemente, tambm o verdadeiro anseio pela parusia deJesus tem pouca vitalidade no cristianismo. Ns mesmos queremos, atravs de nosso engajamento

    ainda que com premissa crist e de alguma maneira tambm com foras de amor que emanam deJesuslevar o mundo a uma existncia melhor. A Bblia, porm, teocntrica, nela Deus de fato oAlfa e o mega, o comeo e o fim. Unicamente ele profere a palavra decisiva e realiza os feitosdeterminantes. Somente ele capaz de transformar o mundo e tornar novas todas as coisas (Ap21). Foi de Deus, o Pai, que Jesus, o Filho, recebeu honra e glria, e somente nisso se fundamentaseu poder e sua parusia, motivo pelo qual podemos ter certeza deles.

    19 A marca de toda a proclamao do NT que para ela imprescindvel o recurso ao AT, ou seja, aao de Deus com o povo da aliana e seu falar na palavra dos profetas. Tanto nos evangelhos comonos discursos de Atos dos Apstolos e nas cartas dos apstolos todo leitor da Bblia depara-seconstantemente com palavras citadas do AT. E o livro proftico do NT, o Apocalipse de Joo, viveinteiramente da palavra dos profetas do AT. Por conseguinte, a igreja tambm imediatamente

    remetida a ela: E tanto mais slida a palavra proftica que temos; fareis bem se a observardescomo uma lmpada que ilumina um lugar escuro. Que servio presta uma lmpada na noiteescura! Como imprescindvel para ns, e como ansiamos pela luz! Por isso Pedro afiana tambm igreja de Jesus que ela far bem se observar a luz da palavra proftica, porque por muito tempo aindaest escuro no mundo, porque poder e parusia, honra e glria de Jesus, embora atestados porDeus, ainda no se tornaram visveis. A igreja de Jesus uma igreja que aguarda e que, apesar detudo o que pode vivenciar, continua dependente da luz da palavra at raiar o dia e nascer a estreladalva em vossos coraes. O dia de Deus irrompe com a parusia de Jesus. Ento a igrejaexperimentar algo inconcebivelmente grandioso. Todo o esplendor e toda a beleza do mundo atual,que de fato existem, parecero como mera parcela da noite, porque, afinal, tudo est deformado eobscurecido por pecado, sofrimento e morte. somente sobre o novo mundo de Deus que repousa obrilho do dia radiante. Entretanto, no ser apenas em torno de ns que o dia de Deus irromper.

    No, ento tambm surgir em ns mesmos, em nossos coraes,o radiante sinal do dia, a estreladalva. Recordamos que o Senhor exaltado se apresenta em Ap 22.16 como radiante estrela damanh. Ele, que j agora habita em ns pela f (Ef 3.17), brilhar em ns com luz radiante.

    20 A palavra proftica representa uma grande ajuda para a igreja, mas ela obviamente precisa fazer usocorreto dessa ajuda. Afinal, a palavra dos profetas fala do grande futuro de Deus, ou seja, de glriasque transcendem milhares de vezes nossa concepo atual. Fala necessariamente atravs deilustraes que requerem ser compreendidas corretamente, de sorte que a palavra proftica carece deexplicao, algo que percebido por todo leitor da Bblia. ento que surge o perigo dainterpretao prpria e autocrtica. Esse perigo aumenta quando somos impelidos por um anseio

    sincero e ardente de reconhecer o futuro a partir da palavra proftica. Por isso a igreja advertidaneste ponto: Reconhecei, porm, primeiro isto: que nenhuma profecia da Escritura admiteinterpretao (autocrtica). Cumpre que nos contentemos com a luz da lmpada assim como nos foidada, no tentando fazer brilhar autocraticamente essa lmpada a longas distncias, para sondarprematuramente os caminhos de Deus no futuro. Afinal, a palavra proftica ilumina o presente e

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    aquilo que a igreja experimenta no respectivo momento da atualidade. Em 2Pe 3 o prprio Pedro faruso desse modo da palavra proftica.

    21 Esse comedimento e esta humildade na interpretao so necessrios porque no estamos lidandocom palavras produzidas pela inteligncia humana e que, por ns mesmos, somos capazes decompreender e expor, mas de palavras vindas de Deus: Porque jamais foi dada qualquer profeciapela vontade humana, mas, impelidas pelo Esprito Santo, pessoas falaram a partir de Deus.

    Ns, pessoas modernas, corremos o risco de enxergar nos profetas da Bblia somente grandes

    personagens religiosas que tiravam as mensagens das suas profundezas intelectuais, sem seremmuito diferentes de outras pessoas notveis da histria universal. Por essa razo a palavra de Pedrovigora seriamente para ns. Por mais nobre e religioso que seja, o esprito humano jamais poder serEsprito Santo, Esprito de Deus. Em contraposio, os profetas de Deus eram pessoas muitosingelas, para as quais no importavam os pensamentos, as opinies e os alvos prprios. Pelocontrrio, acima do falar deles pairava com grande certeza: Assim diz o Senhor. Era o Esprito deDeus que os impelia. Tinham de falar, at mesmo quando no queriam e quando isso os precipitavaem grandes aflies e sofrimentos. Agora, porm, temos de honrar a palavra deles como essa palavravinda de Deus, lidando com ela em reverncia santa.

    O SURGIMENTO DE HEREGES2PE 2.1-31Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim tambm haver entre vs

    falsos mestres, os quais introduziro, dissimuladamente, heresias destruidoras, at aoponto de renegarem (ou: negarem) o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre simesmos repentina destruio.

    2E muitos seguiro as suas prticas libertinas, e, por causa deles, ser infamado o caminhoda verdade.

    3Tambm, movidos por avareza, faro comrcio de vs, com palavras fictcias; para eles ojuzo lavrado h longo tempo no tarda, e a sua destruio no dorme.

    1 Depois que alertou contra a interpretao autocrtica da palavra proftica, Pedro passa a falar de umadeturpao muito mais perigosa da profecia: Mas se apresentaram tambm profetas mentirosos aopovo, assim como tambm haver entre vs mestres mentirosos que introduziro dissidnciasgeradoras de perdio. De fato: em Israel foi necessrio travar uma luta permanente contrapseudoprofetas, que eram profetas mentirosos, pois no apenas o contedo do que anunciavam erainverdico e desencaminhador, mas j a prpria reivindicao de ser profeta era mentira. Peculiar,

    porm, a concluso que Pedro tira dessa circunstncia: no fala como Joo (1Jo 4.1ss) de falsosprofetas nas igrejas, mas depseudodidaskaloi = mestres mentirosos, sendo que tambm aquidevemos ter em mente a mesma dupla mentira: arvoram-se em mestres sem terem sido chamadospor Deus como tais, e no contedo, trazem heresia. Aparentemente o carisma da profecia no tinhamuita importncia nas igrejas s quais a carta se dirige. Importantes, no entanto, eram os mestres e

    a doutrina trazida por eles igreja. Tambm as grandes dificuldades em Corinto no remontavam auma profecia falsa no sentido estrito, mas a uma proclamao e doutrina desencaminhadoras. Deforma bem tpica, exatamente como Pedro est advertindo, aconteceram tambm em Corintodissidncias (1Co 1.10-17). No NT a doutrina desempenha um papel muito importante,constituindo o alicerce para a edificao de uma igreja. Por isso ela tambm foi confiada por Deuscomo ddiva e tarefa para certos mestres (cf. 1Tm 2.7; 1Co 12.28; Ef 4.11; Tg 3.1). Quem, noentanto, ensina na igreja sem vocao genuna no apenas insolente em termos humanos, mas j

    por isso se torna mentiroso contra Deus. Arvora-se em mestre ao tentar abrirespao para umaconcepo divergente da mensagem que, no entanto, vem a ser um evangelho diferente (Gl 1.6s).

    Inicialmente Pedro no afirma nada acerca do contedo da nova doutrina; mas um efeito dela ficadiretamente visvel para a igreja: os mestres mentirosos introduzem dissidncias geradoras de

    perdio. O termo grego hairesis = dissidncia designa, a princpio de forma neutra, a formao dedeterminados grupos e equivale nossa palavra partido. Mas partidos facilmente se transformamem dissidncias e cises que dilaceram uma igreja, introduzindo nela brigas e discrdias, como j seevidenciara claramente em Corinto (1Co 1.10-13; 3.1-4). Aqui se trata de cises geradoras deperdio. o que Pedro sublinha mediante o termo apoleias = perdio, acrescentado expressamente.

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    Simultaneamente a palavra para introduzir, pelo prefixoparei, possui a conotao traioeira decontrabandear.

    peculiar que Pedro escreva todo o trecho na forma futura. Ser que ele constata que os heregesesto por chegar, enquanto Judas descreve em sua carta o cumprimento desse anncio? Porventuraisso comprova que a carta de Judas foi escrita depois de 2Pe? No entanto, no decurso do captulo,Pedro fala a respeito deles seguramente como de perturbadores atuais da igreja. Por isso deve terusado o futuro de forma no-intencional, porque viu esses pseudomestres prenunciados nospseudoprofetas de Israel. Na perspectiva do AT eles estaro presentes de forma anloga, assimcomo tambm o juzo h muito prenunciado se descarregar sobre eles. Portanto no podemosdepreender nenhuma indicao cronolgica neste versculo em relao carta de Judas. Na seqncia dito algo, de forma sucinta mas marcante, sobre o contedo do ensino deles: Negando (ou:renegando) o Senhor que os remiu, ho de trazer sobre si perdio sbita. Com essas palavrassituamo-nos diretamente no ponto que tambm Joo indica como caracterstica dos profetasmentirosos em 1Jo 4.2s; 5.6. Tambm o gnosticismo cristo empregava termos bblicos centrais.Pois do contrrio dificilmente teria obtido acesso s igrejas. E precisamente neste mau uso dostermos habituais reside o contrabandear que repercute aqui. Mas para os gnsticos a mensagemcentral do Cristo que veio na carne e nos remiu com seu sangue era secundria, se noconstrangedora. No consideravam o ser humano como algum realmente perdido que por isso de

    fato precisasse ser resgatado, mas dissolvem a Jesus, como diz Joo, negando aquele que se tornounosso Senhor, porque ele nos adquiriu por alto preo (1Co 6.19s). Ainda veremos que decorrnciasprticas isso tinha de acarretar e de fato acarretou. Inicialmente Pedro apenas constata que essaspessoas, que com certeza se portavam com grande orgulho (v. 18), no apenas ameaavam a igrejacom cises para a perdio, mas trazem sobre si mesmas repentina perdio. Isso no significaobrigatoriamente que em breve sero acometidas de um infortnio qualquer, porque a palavra paraapoleia= perdio sempre designa a perdio eterna. Verdade que pode at ingi-lasrepentinamente, seja por ocasio da parusia do Senhor ou ao morrerem, independentemente domomento.

    2 Do mesmo modo como Paulo e Joo so obrigados a presenciar grandes sucessos das novascorrentes, tambm Pedro constata que os mestres mentirosos conquistam numerosas adeses na

    igreja: muitos seguiro suas libertinagens. As teorias religiosas do gnosticismo nem mesmo eram tosedutoras: talvez muitos membros das igrejas nem as tivessem compreendido. Porm, quando algum

    j no quer ser uma pessoa resgatada por sangue, que pertence a um Senhor e tem de obedecer a esseSenhor com gratido e amor, cair em uma liberdade que indisciplina e leva a libertinagens.Afinal, em Corinto tambm foi a palavra de liberdade, mais precisamente da liberdade na reasexual, que conquistou muitos membros da igreja. Pedro v acontecer a mesma coisa nas igrejas squais dirigia a carta. Muitos so atrados por uma forma de cristianismo na qual lcito conduzir-secom liberalidade sexual e ao mesmo tempo manter uma aparncia de cristos progressistas,superiores.

    Entretanto, que perigo esses muitos na igreja representam para o servio do testemunho, do qual,afinal, a igreja foi incumbida! Por causa desses muitos blasfemado o caminho da verdade. Porum lado os cristos que agiam com liberdade desenfreada atraam muitas pessoas, mas por outroescandalizavam outras tantas pessoas srias em sua busca, de modo que eram culpados pelo fato de oevangelho ser blasfemado. No estaremos errados ao supor que com isso Pedro pensaprincipalmente em seus compatriotas israelitas. Eles tinham particular tendncia para blasfemar, noverdadeiro sentido, a mensagem de Jesus. Agora tinham motivo para apontar o dedo: Ora, vocsesto vendo o que resulta dessa f em Jesus! Observem, pois, como vivem esses seguidores deJesus! No entanto, tambm gentios sinceros em sua busca que lutavam por viver uma vida corretasentiam-se obrigados a se afastar com ojeriza de uma doutrina que aparentemente admitialibertinagens de todo tipo. Esse no podia ser o caminho da verdade procurado por eles.

    3 E com avidez eles vos compraro com palavras inventadas. No desejam ser pessoas remidas

    pelo Senhor; mas pretendem comprar para si mesmas os membros da igreja. Aqui aparece outrapalavra, que por isso reproduzimos com comprar. Esta compra dos membros da igreja algocompletamente diferente do remir de Jesus, que empenha seu sangue e sua vida como moeda de trocapara pessoas perdidas, a fim de resgat-las. Abrir mo de algo em favor dos outros: isso algo queessas pessoas no cogitam! Pelo contrrio, querem ganhar algo para si mesmas por meio de seu

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    grande nmero de adeptos, a saber, evidentemente vantagens materiais. Naquele tempo as estradasdo Imprio Romano estavam repletas de pessoas de todo tipo, como artistas, msicos ou tambmpropagandistas de quaisquer cultos religiosos ou filosofias, que tentavam meios fceis para obterdinheiro. Por isso o fato de que tambm pregadores itinerantes do jovem cristianismo aceitavamdonativos ou pagamentos das igrejas (1Co 9.4-11) era algo to natural que Paulo teve de se protegerexpressamente contra a opinio de que obtinha seu sustento pelos mesmos mtodos. Portanto,tambm os novos pseudomestres devem ter recebido e aceito presentes, porque adeptosentusiasmados gostam de dar. Quanto mais membros da igreja os sedutores atrassem, tanto maisfolgadamente podiam viver.

    Eles compram as pessoas com palavras inventadas, por trs de cujo belo som ocultam suaavidez. Os gregos admiravam a arte da oratria e davam enorme valor a palavras sublimes e excelsasabedoria. J Paulo, que conscientemente evitava trazer tais coisas, teve de ouvir em Corinto queseu discurso no tinha peso (1Co 2.1; 2Co 10.10). Conseqentemente, tambm para as igrejas squais Pedro escreveu a proclamao apostlica poderia parecer simples e sria demais, enquanto asespirituosas e altissonantes exposies dos novos pregadores atraam a muitos.

    Ainda que tenham sucesso e encontrem aceitao, de nada lhes adianta: Porque para eles o juzoh muito no sossega, e sua perdio no dorme. Essa uma formulao muito expressiva. Aomesmo tempo em que os falsos mestres se deleitam com o sucesso e vivem uma vida suntuosa, o

    juzo sobre eles h muito j est pronto e atuante. Ainda sorriem diante de todas as advertncias; massua perdio no dorme. Portanto no suspeitam, em sua traioeira segurana, qual sua verdadeiracondio. A parte fiel da igreja, porm, no precisa invej-los secretamente, mas deve v-los comouma caa j cercada pelos caadores, de modo que no h mais como escapar.

    O JUZO CERTO SOBRE TODOS OS MPIOS, A REDENO SEGURA PARA OS DEVOTOS2PE 2.4-13A

    4Ora, se Deus no poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, osentregou a abismos de trevas (ou: com correntes das trevas ao Trtaro), reservando-os

    para juzo;5e no poupou o mundo antigo, mas preservou a No, pregador da justia, e mais setepessoas, quando fez vir o dilvio sobre o mundo de mpios;

    6e, reduzindo a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra, ordenou-as runa completa,tendo-as posto como exemplo (de advertncia) a quantos venham a viver impiamente;

    7e livrou o justo L, afligido pelo procedimento libertino daqueles insubordinados8(porque este justo, pelo que via e ouvia quando habitava entre eles, atormentava a sua alma

    justa, cada dia, por causa das obras inquas daqueles),9 porque o Senhor sabe livrar da provao os piedosos e reservar, sob castigo, os injustos

    para o Dia de Juzo,10especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas paixes e menosprezam

    qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, no temem difamar autoridades superiores, 11ao passo que anjos, embora maiores em fora e poder, no proferem contra elas juzoinfamante na presena do Senhor.

    12Esses, todavia, como brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruio,falando mal daquilo em que so ignorantes, na sua destruio tambm ho de serdestrudos,

    13arecebendo injustia (ou: sofrendo punio) por salrio da injustia que praticam.

    A passagem no de leitura fcil. No texto grego os v. 4-8 formam uma nica frase, introduzidacom se e dominada por esse se, qual no sucede nenhuma frase principal com um subseqenteento. Para facilitar a leitura dissolveremos a frase do se em simples frases afirmativas. Ento

    o v. 9 constituiria a frase principal de encerramento, que tira suas concluses das anteriores, dos v. 4-8. Todo o trecho est repleto de expresses que praticamente no ocorrem em outras passagens doNT e que por isso no podem ser traduzidas com segurana plena.

    No entanto, tambm no contedo h neste bloco vrias coisas difceis de compreender e explicar.De certo modo isso no diferente nas grandes epstolas do NT, simplesmente porque no

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    conhecemos suficientemente a situao em relao qual os apstolos falam. Mas nas breves cartasde Judas e Pedro isso mais perceptvel ainda. Os destinatrios daquele tempo entendiam todas asaluses e, mesmo nas afirmaes obscuras para ns eles viam sentido. Ns, porm, no poderemosreivindicar que estejamos dando a nica explicao correta em um ou outro ponto. Obviamente ficarsuficientemente claro para ns o que o Esprito Santo tem a dizer atravs de Pedro igreja daqueletempo e igreja de todos os tempos.

    Este bloco apresenta uma visvel concordncia com os v. 5-10 de Judas, razo pela qual faremosbem em conferir l esses versculos. O respectivo comentrio p. [263ss] deste captulo permitirque sejamos mais sucintos em vrios pontos da explicao. Na comparao, porm, tambmobservaremos as diferenas essenciais, que se destacam com clareza. Essas passagens das duas cartasno so copiadas uma da outra. A concordncia com diferenas tpicas tambm pode ser facilmenteexplicada de outra maneira.

    4-6 Est em jogo a verdade que tambm Judas defende no v. 4. Ningum consegue escapar do juzo deDeus, independentemente de quais pretensas alturas esteja ocupando. Judas havia destacado que os

    perturbadores da igreja perverteram a graa de Deus em devassido. Por essa razo seu intuito mostrar pelo exemplo bblico que a graa recebida de maneira alguma protege contra o juzo deDeus, mas, pelo contrrio, aumenta a responsabilidade. Para Pedro, porm, importante que alm do

    juzo que seguramente atingir os culpados, prevalece com a mesma segurana a ajuda salvadora e

    preservadora de Deus para os justos fiis. Os membros da igreja que permanecem fiis no devemse deixar intimidar, mas saber com plena certeza que Deus est do lado deles, mesmo que agorasejam desprezados e ridicularizados. Por isso Judas havia trazido como primeiro exemplo bblico odestino da gerao de Israel no deserto, enquanto Pedro o deixa de lado e em troca acolhe a histriado dilvio com a salvao de No, que Judas no traz.

    Ora, Deus no poupou a anjos que haviam pecado, pelo contrrio, baniu-os para astenebrosas cavernas do Trtaro (ou: com correntes das trevas no Trtaro) e os guardou,entregando-os ao juzo.Pedro fala de anjos que haviam pecado, mas tambm Judas o faz.Diferentemente de Judas, no entanto, ele no afirma em que consistia o pecado dos anjos. Comcerteza isso est relacionado com o fato de que ele no queria incluir em suas cartas explicaes daliteratura edificante judaica, o que Judas faz sem preocupao. Diante do termo anjo ns imaginamos

    inicialmente entes bons e puros. Mas justamente por isso importante que aprendamos com aSagrada Escritura que tambm existem exrcitos de anjos cados que se encontram sob o comando deSatans. No sabemos qual a relao desses anjos maus e demnios, que agora ainda atuamlivremente, com aqueles anjos que Deus j baniu para as tenebrosas cavernas do Trtaro. No hcomo ter certeza se neste caso se trata de cavernas ou correntes das trevas, porque no grego as duaspalavras so muito semelhantes. Os gregos chamavam de Trtaro o local de punio do submundouma expresso que j fora acolhida pelo judasmo. Para Pedro, porm, o Trtaro ainda no overdadeiro lugar de punio, mas a escura priso subterrnea na qual so guardados os anjoscados, para serem entregues por Deus ao juzo somente no momento da grande prestao de contasfinal.

    5 E no poupou o velho mundo, mas somente preservou No entre oito (ou seja, ele e sete outros)como arauto da justia, enquanto fez vir o dilvio sobre o mundo dos mpios. Na narrativa dodilvio, como j em 1Pe 3.20, a salvao de pessoas to importante quanto a destruio do velhomundo, o mundo dos mpios, atravs da condenao do dilvio. Na arca redentora estavam,incluindo No, apenas oito pessoas. Esse o significado da expresso entre oito, antiquada parans, que consta no texto. Em oposio a todo o mundo restante daquele tempo, No aparecia comoarauto da justia. No foi expressamente caracterizado em Gn 6.9 como justo e ntegro, algumquem andava com Deus. Mas Hb 11.7 designa tambm a justia de No expressamente como justiada f, desse modo colocando No diretamente ao lado de Abrao, que a personagem exemplarpara a mensagem da justificao de Paulo em Rm 4. No entanto, forosamente tornou-se um arautoquando, por obedincia de f em Deus, ousou construir um grande navio em meio terra firme. Que

    alvoroo certamente causou, com quantas perguntas deve ter sido atormentado! Em sua respostatinha de falar dos pecados em torno dele, bem como da justia de Deus e igualmente do juzovindouro. Pedro deduziu isso corretamente do texto bblico, embora isso no seja expressamentemencionado nele.

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    6s Deus reduziu a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra e condenou-as runa, criando umexemplo (de advertncia) para mpios futuros. Ele livrou o justo L, afligido pela condutadevassa dos sacrlegos. Sobre Sodoma e Gomorra Pedro fala como Judas, embora evidentemente demaneira mais breve e sem especificar seus vcios. Basta que lembre a igreja do acontecido que lheera familiar: um exemplo de advertncia para descrentes. Tambm nas narrativas histricas daSagrada Escritura na realidade no se trata de histrias antigas, mas das revelaes do nico emesmo Deus, que age ainda hoje como outrora.

    8 Diferentemente de Judas, importa para Pedro na seqncia a salvao do L justo, do qual fala maispormenorizadamente. V nele o L justo, afligido pela conduta devassa dos sacrlegos. Acrescentaexpressamente que, vendo e ouvindo, teve de deixar supliciar dia aps dia sua alma justa porobras injustas. Tambm a narrativa da prpria Bblia nos mostra um pouco disso em Gn 19. Pedrotransporta seus pensamentos para os sofrimentos ntimos de L, para fortalecer membros da igrejaque de forma semelhante tm de sofrer com todos os abusos que haviam penetrado na igreja. Eraduro ser considerado estrangeiro (Gn 19) na prpria igreja, ser ridicula rizado como retrgrado eobtuso, e talvez at mesmo ser ameaado pelos novos lderes. Vejam L!, exclama Pedro para essegrupo da igreja. Fortaleam-se com o exemplo dele e considerem como ele foi salvo, enquanto osoutros pereceram de forma terrvel com sua vida desenfreada e seus grandes discursos!

    9 Em seguida Pedro resume o que nos mostram os exemplos bblicos: Portanto o Senhor sabe salvar

    fiis da tentao. Ainda que neste momento os mestres mentirosos triunfem com seus adeptos, suavida e doutrina no deixam de pertencer aos injustos, que so guardados para o dia do juzo. Osfiis membros da igreja, porm, podem e devem considerar sua condio como tentao, comoprovao. Desde que existam pessoas devotadas a Deus essa sua condio normal no mundo. Seurelacionamento com Deus tem de passar por tentaes. Do ponto de vista de Deus so provaes esondagens, para que nelas a f comprove sua autenticidade, como o ouro no fogo. Pedro disse issodetalhadamente igreja em sua primeira carta, confrontando-a com insistncia: 1Pe 1.6s; 3.13-17;4.12-19.

    10 A partir dessa constatao geral ele torna a olhar para os lderes do novo movimento e comea acaracteriz-los. Os juzos de Deus atingem mais aqueles que correm atrs de carne com avidezimunda e desprezam o senhorio. Pedro no usou o adjetivo imundo, mas formulou segundolinguajar hebraico: em avidez da maculao. Isso pode ser entendido como avidez que macula oucomo avidez por maculao. A segunda alternativa, porm, improvvel. Seja como for, estoatrs de carne. Como em Corinto, tambm aqui os inovadores podem ser reconhecidos em suaimoralidade sexual (cf. 1Co 6 e 2Co 12.21). Nessa atitude desprezam o senhorio, como consta aquisucintamente. bem verdade que no NT tambm todo um grupo de anjos pode ser chamado desenhorios, mas nestes casos a palavra ocorre consistentemente no plural. Visto que aqui, porm,kyriotes aparece no singular, o sentido deve ser, como tambm na carta de Judas, do senhorio donico, a saber, do kyrios, do Senhor Jesus. No se importam com ele, o verdadeiro Senhor, e suasinstrues claras e srias, porque no reconhecem nenhum senhor e nenhum senhorio sobre si,mas vivem segundo o princpio: Tudo me lcito (1Co 6.12).

    11 Simultaneamente so atrevidos em uma segunda direo: No tremem para difamar glrias,enquanto anjos, superiores em fora e poder, no apresentam diante do Senhor um julgamentoofensivo. Novamente Pedro concorda com Judas na crtica aos inovadores (Jd 8b-10a). Mas tambmaqui ele evita recorrer a um escrito da literatura edificante judaica, razo pela qual no remete lutade Miguel com Satans pelo corpo de Moiss. Fala bem genericamente de anjos, superiores emfora e poder, que apesar disso no apresentam contra as glrias diante do Senhor um julgamentoofensivo. Tanto mais ressalta o atrevimento dos hereges, que no tremem para difamar glrias.Nem Pedro nem Judas informam o significado concreto disso. To-somente podemos reiterar aqui oque foi exposto sobre a passagem na carta de Judas s p. 461ss.

    12-13a Pedro acolhe a acusao de Judas de que os mestres mentirosos blasfemam onde noentendem nada, evidenciando-se assim como mentirosos atrevidos. Gloriam-se de um conhecimentoespecialmente sublime a respeito do mundo transcendente e apresentam-se como audaciososlutadores que combatem poderes espirituais malignos. Nisso, porm, ignoram que tambm esses

    poderes cados e malignos no so carne e sangue, mas continuam sendo principados epotestades, dominadores deste mundo tenebroso, como Paulo define em Ef 6.10 -13. Enquanto se

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    apresentam como singularmente espirituais na igreja, so na realidade como animais insensatos quecomo seres da natureza nasceram para a captura e o aniquilamento. Assoberbar-se tanto earriscar esse tipo de blasfmia e luta representa uma perfeita insensatez e assemelha-se ao modocomo animais avanam sobre algo que no conhecem. Isso obrigatoriamente leva runa. O sentidoda advertncia no muito ntido: e em sua perdio tambm perecero, prejudicados (ou:sofrendo punio) por meio do salrio da injustia. A locuo em sua perdio somente podereferir-se aos animais que como seres da natureza nascerampara a captura e o aniquilamento.De algum modo o fim dos falsos mestres se parecer com o fim e a runa de tais animais. A primeirafrase do v. 13 apresenta dificuldades lingsticas.Adikeosignifica praticar injustia. Emconsonncia, a voz passiva deveria significar sofrer injustia. Mas Pedro no pretende d izer queesses falsos mestres, to duramente acusados, sofrem injustia. Mas tambm em Ap 2.11 a palavraapenas visa expressar que ao vencedor no acontece nenhum mal, no causado nenhum dano(pela segunda morte). Os hereges, em contrapartida, so prejudicadosexatamente pelo salrio dainjustia ou sofrero punio na qual recebem o salrio da injustia. Tambm poderia significar:sero privados de seu salrio, que agora parecem obter de seu agir injusto e que um dia esperamalcanar definitivamente. Seja como for: por mais atrevidos e autocrticos que paream andar emaltitudes especiais e prometam igreja conduzi-la do cristianismo supostamente estreito e pobre paraessas alturas, na realidade seu fim ser lastimvel. Assim a igreja no precisa se deixar

    desencaminhar por eles.

    DURA CARACTERIZAO DOS HEREGES2PE 2.13B-22

    13bConsiderando como prazer a sua luxria carnal em pleno dia, quais ndoas edeformidades, eles se regalam nas suas prprias mistificaes (ou: em suas gapes),enquanto banqueteiam junto convosco.

    14tendo os olhos cheios de adultrio e insaciveis (ou: incansveis) no pecado, engodandoalmas inconstantes, tendo corao exercitado na avareza, filhos malditos (ou: da maldio).

    15abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balao, filho deBeor, que amou o prmio da injustia,

    16(recebeu, porm, castigo da sua transgresso, a saber, um mudo animal de carga, falandocom voz humana, refreou a insensatez do profeta).

    17Esses tais so como fonte sem gua, como nvoas impelidas por temporal. Para eles estreservada a negrido das trevas,

    18porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixes carnais,por suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro.

    19prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos so escravos da corrupo, pois aqueleque vencido fica escravo do vencedor.

    20Portanto, se, depois de terem escapado das contaminaes do mundo mediante oconhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e so

    vencidos, tornou-se o seu ltimo estado pior que o primeiro.21Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justia do que, apsconhec-lo, volverem para trs, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado.

    22Com eles aconteceu o que diz certo adgio verdadeiro: O co voltou ao seu prpriovmito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaal.

    13b Pedro continua caracterizando e condenando os falsos mestres e seus seguidores. Novamenteocorrem fortes semelhanas com a carta de Judas. Mas tambm aqui fica explcito que as frases de lno foram simplesmente inseridas. Notamo-lo ao comparar Jd 12 com aquilo que consta aqui:Consideram divertimento a luxria em dia (claro), como mculas e imundcies, depravando-seem suas defraudaes (ou: em seus gapes), banqueteando-se convosco. Os orientais tomam a

    refeio principal noite. Apesar de toda a devassido do mundo daquela poca, Paulo podeconstatar como fato: Os que se embriagam, de noite que se embriagam (1Ts 5.7). Da mesmaforma Pedro pode refutar a suspeita de embriaguez do grupo de discpulos no dia de Pentecostes pormeio da simples observao de que, afinal, so apenas nove horas da manh. Os homens da novaliberdade, porm, se divertem ao festejar seus banquetes em plena luz do dia. Se Pedro de fato

  • 7/29/2019 70891769 21 2 Pedro Comentario Esperanca

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    escreve em suas defraudaes, provavelmente pretende dizer que participavam de formafraudulenta das refeies da igreja, embora j nem sequer coubessem ali. Agindo assim, deturpavama singela convivncia em torno da mesa, direcionada para a celebrao da ceia do Senhor, embanquetes e luxria, que assim se tornaram mcula e imundcie.

    14 preciso inserir neste contexto o versculo seguinte: com olhos cheios de adultrio, e insaciveis(ou: incansveis) no pecado, aliciando almas inconstantes, com um corao exercitado naavidez, filhos da maldio. Na refeio comunitria olham em busca de mulheres com as quais seja

    possvel iniciar relacionamentos adlteros, tambm nisso mculas e imundcies, que levam suaimpura sofreguido de maneira contaminadora para dentro das assemblias, sem sossego (ou:incansveis) no pecado. Uma vez que os limites claros foram transpostos e que se d vazo s

    pulses mediante alegao de liberdade, continua-se sem sossego e incansavelmente nessatrajetria. Esse convvio mesa ao mesmo tempo ocasio para aliciar almas inconstantes. Logo jexistia naquele tempo, assim como hoje, almas inconstantes que so agitadas por qualquer vendo dedoutrina. Pedro percebe a misria de forma mais fundamental que Judas. Sem dvida, essas almasinconstantes so bastante ingnuas em todos esses acontecimentos, mas no deveriam s-lo emvirtude de suas experincias com a natureza e o poder do pecado, bem como devido s suas slidasrazes na palavra do Senhor e de seus apstolos. Certamente um