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Page 1: 7° Congresso de Pós-Graduação ESPIRITUALIDADE DO · PDF file7° congresso de pós-graduação espiritualidade do trabalho e nas empresas : uma reflexÃo para a gestÃo de pessoas

7° Congresso de Pós-Graduação

ESPIRITUALIDADE DO TRABALHO E NAS EMPRESAS : UMA REFLEXÃO PARA A GESTÃODE PESSOAS

Autor(es)

DANIELA CRISTINA DOS SANTOS

Co-Autor(es)

MARCELA HIPÓLITO DE SOUZA SILVA

Orientador(es)

DALILA ALVES CORREA

1. Introdução

Diante das rápidas mudanças que a sociedade tem passado nestes últimos anos, observa-se um movimento de questionamento eresgate de valores e de sentido da vida, diante de uma sociedade individualizada e desumanizante. A busca pela espiritualidade e suasdiferentes formas de mediação e expressão têm ainda que discretamente, emergido como possibilidade de resposta nesta busca desentido. O mundo do trabalho também passa por esta crise de valores e de sentido, de modo que são retratados por diversos sinais, taiscomo: aumento das doenças ocupacionais relacionadas à saúde mental (ex. estresse, depressão, burnout), o aumento do desemprego edo subemprego, a obsessão pelo desempenho e o lucro, bem como pelo maior interesse da área de Gestão de Pessoas por práticascomo qualidade de vida no trabalho, estratégias de humanização de gestão, responsabilidade social, preocupação com satisfação notrabalho, entre outras.A Espiritualidade nas Empresas é um assunto que de maneira discreta tem aparecido na literatura nacional acadêmica e profissionalcomo solução para o aumento de produtividade, porém com sentido para o trabalhador. Está também relacionada como meio de sepropiciar a felicidade do individuo em seu trabalho e em sua organização.Apesar de em termos quantitativos ser baixa a produção nacional de pesquisas na área de Gestão de Pessoas sobre o tema, o tipo depublicações encontradas são suficientes para fornecer pistas de reflexão enquanto lacunas conceituais a serem mais bem exploradas,para análise e criação de estratégias de pesquisas empíricas, e oferecem um mínimo de material de apoio para diálogo formal emsituação de ensino. Também apontam a necessidade da Gestão de Pessoas dialogar com outras áreas de conhecimento como asciências da religião, a teologia, a sociologia e a filosofia, no sentido de se sair de uma visão periférica do tema para melhorcompreensão com profundidade do sentido transcendente do homem, seu trabalho e o sentido da existência das empresas para ahumanidade. A literatura ligada a sociologia, filosofia e teologia traz interessantes conceitos como o mundo pós-humano, onde atecnologia se iguala ao ser humano enquanto status e o homem vai perdendo a noção de seu papel social e a noção de si mesmo(CADERNOS IHU EM FORMAÇÃO, 2008); a hipermodernidade que tem como princípios a valorização do indivíduo e doindividualismo, a promoção do mercado como sistema absoluto de regulação econômica; e o desenvolvimento técnico-científico,concebido como solução para todos os anseios da humanidade; tudo isso inserido numa sociedade do hiperconsumo que leva aomesmo tempo a aparente felicidade e conseqüente decepção (RAUPP, 2008); e a busca pela espiritualidade porémdesinstitucionalizada (não aceitação doutrinaria) e individualista (SIQUEIRA, 2008). Estas áreas de conhecimento ajudam a entenderque se o ambiente organizacional carece de sentido é porque o homem está perdido enquanto humano, sem saber o que fazer comtodos os excessos conquistados (autonomia, consumo, poder, etc). E ajuda também a analisar qual é a contribuição do mundo

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organizacional enquanto “vilã” e “vitima” nesta crise de valores atuais.A relevância deste trabalho se deve a busca da humanização das organizações e a espiritualidade estarem aparecendo como umelemento intermediador entre homem–trabalho-empresa, para garantia de felicidade e produtividade nas empresas. Porém há anecessidade de se incentivar que mais pesquisadores e profissionais da área se interessem pelo tema, explorando tanto umaprofundamento conceitual como a inclusão deste tipo de estudo na formação de futuros gestores. Isto porque conforme afirmaPenteado et al (2007) a espiritualidade nas empresas pode estar voltada para o bem, mas também para o mal, quando está voltada parao dinheiro e tem como finalidade principal ou única o bem da empresa. E ainda Vasconcelos (2007) chama a atenção de que é precisodiscernir se a espiritualidade não é mais um tema de modismo na área de administração. E esta colocação tem sentido uma vez que seassocia a espiritualidade ao servir, porém pouco se questiona servir a quem e a quê.

2. Objetivos

A partir de reflexão teórica identificar possibilidades de aprofundamento conceitual sobre a espiritualidade do trabalho e nas empresasdentro da Gestão de Pessoas.

3. Desenvolvimento

Metodologia: ensaio teórico desenvolvido a partir de revisão breve de literatura. O estudo, na qualidade de um ensaio teóricoprocedeu coleta de dados secundários extraídos de obras de autores e pesquisadores atuantes na área de espiritualidade do trabalho enas empresas.

4. Resultado e Discussão

Para se entender a espiritualidade nas empresas é essencial o entendimento dos seguintes conceitos de base: o quê é o espírito, aespiritualidade e a espiritualidade do trabalho.A palavra espírito é originada do latim spiritus e significa sopro, alento, exalação. Se refere a parte imaterial, intelectual e a alma dohomem. (MORA, 2005). Já a espiritualidade envolve questões quanto ao significado da vida e à razão de viver, não limitado a tiposde crenças ou práticas religiosas. Está relacionada com experiências profundas, onde a pessoa entra em contato com o mais profundodo seu ser através de sentimentos que mobilizam o individuo internamente, mexem com sua identidade ,estruturam e redirecionam suavida. É uma experiência subjetiva, muitas vezes compreensível apenas aqueles que a experimentaram e é difícil de expressar. Aexperiência espiritual pode ser comparada a uma forte experiência amorosa e tem como base a vivencia comunitária e a certeza deuma presença (Deus). (GONZÁLES-QUEVEDO, 2008; VASCONCELOS, 2006)A função da espiritualidade é dar sentido para a vida e pode ser cultivada por vários caminhos tanto através de práticas religiosascomo de atividades artísticas, esportes, engajamento em causas sociais, enfim, nas próprias experiências cotidianas.(BARCHIFONTAINE ,2007; VASCONCELOS, 2006). Um ponto que é importante ressaltar é que de acordo com Vasconcelos(2006) mesmo as crises e sofrimentos podem levar a uma experiência espiritual construtiva.A espiritualidade do trabalho é pouco comentada de forma direta nos artigos consultados mas está ligada a importância do papel dotrabalho na vida do homem. Trabalhar é uma necessidade intrínseca do homem, fonte de saúde mental, portanto é importante sempreestar atento em que condições ele acontece e como mudanças sociais e econômicas interferem nas condições em que este trabalho érealizado. (SANTOS, 2006). Por uma perspectiva teológica está relacionado com a dimensão vocacional do ser humano, um sentidoprofundo de missão em relação à humanidade. Através do trabalho o homem e a mulher participam da obra da criação,transformando-se a si mesmos, transformando o mundo, encontrando-se com os outros homens e também com Deus. Através dotrabalho de suas mãos o homem se alimenta do pão do corpo e do espírito (conhecimento, ciência, tecnologia, etc). O trabalho écomposto por ação e repouso, portanto estes dois momentos devem ser contemplados no seu planejamento, pois o repouso permite apessoa a entrar em seu espaço interior. (JOÂO PAULO II, 2005)A espiritualidade nas empresas ou no trabalho/ambiente de trabalho é definida como a tomada de consciência da empresa da razão desua existência e sua missão diante de clientes e funcionários. Para tanto existe uma unanimidade entre os autores consultados que aempresa que vive sua dimensão de espiritualidade tem que rever seus valores morais e éticos estando voltada a serviço da vida. Seurol de valores e crenças que determinam a formulação de suas políticas de gestão.( PENTEADO, et al. 2007; REGO, CUNHA eCOUTO, 2007; BARCHIFONTAINE, 2007) Um destaque especial é dado na relação da empresa com seu funcionário, onde a estetem que ter respeitada sua singularidade, sua vida interior e a organização deve oferecer meios para a vivencia e expressões daespiritualidade dos mesmos, bem como a sua realização vocacional e sentido de vida (PENTEADO, et al, 2007; REGO, CUNHA eCOUTO, 2007). Para que isso seja favorecido Rego, Cunha e Couto (2007) propõem as seguintes dimensões da espirtitualidade:

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sentido de comunidade; alinhamento do indivíduo com os valores da organização; sentido de serviço à comunidade (trabalho comsignificado); alegria no trabalho; oportunidades para a vida interior. Ainda nesta relação com o funcionário. PENTEADO et al. (2007)traz que diferentemente da cultura que vem de fora para dentro, a espiritualidade é algo que parte do interior da pessoa e que se fazimportante o desenvolvimento também da inteligência espiritual que é aquela que ajuda a entender a si próprio e a organizar aquiloque é emocional e racional. Enquanto forma de incentivo da espiritualidade no ambiente de trabalho no que se refere a religião há umconsenso entre os autores consultados de não associá-la a vivencia de religião no sentido confessional/doutrinário, pelo contrário há apreocupação de se delimitar espaços da vivencia religiosa e da espiritualidade no trabalho. No entanto Vasconcelos (2007) afirma queapesar de não ser papel da empresa o desenvolvimento da espiritualidade no seu sentido amplo (cabe as religiões) a empresa tem opoder de mudar para melhor o mundo e a vida das pessoas. O mesmo autor citando Oliveira (2001, p.117) argumenta que a empresa ea religião tem papéis complementares “onde as religiões mostram o caminho, ensinam o respeito e o amor ao próximo e ensinam aorar; as empresas dão a oportunidade de trilhar o caminho, a oportunidade de amar e respeitar o próximo e a oportunidade de arar”,que pode ser entendido no seu sentido literal de arar a terra, ou seja,  ir à prática  e através do trabalho transformar, cultivar efavorecer o surgimento de vida  na  terra potencialmente fértil, que aqui simboliza o funcionário . Nesta mesma direção o Papa JoãoPaulo II em sua Encíclica Laborem Exercens faz afirmação semelhante ao dizer que não cabe a Igreja a análise cientifica dasconseqüências das transformações do mundo do trabalho no convívio humano, porém cabe a ela “fazer com que sejam sempre tidospresentes a dignidade e os direitos dos homens do trabalho, estigmatizar as situações em que são violados e contribuir para orientar asaludidas mutações, para que se torne realidade um progresso autêntico do homem e da sociedade.” (JOÃO PAULO II, 2005, p.9)Quanto ao papel da Gestão de Pessoas nesta temática cabe um olhar direcionado a formação de líderes, como chama a atençãoPenteado et al (2007) e Vasconcelos (2007) considerando tanto as características de espiritualidade presentes no mesmo comotranqüilidade, nível de consciência diferenciado, perfil cooperativo e não competitivos que favorece ambientes de trabalho melhores emais produtivos, bem como entender as estratégias de liderança utilizadas para lidar com a espiritualidade dos funcionários. A base daespiritualidade é a vivencia de valores éticos e considerando que o líder por excelência é quem tem a função de disseminar valores eincentivar condutas éticas no trabalho, este deve ser o primeiro alvo de investimento e atenção quando se pensa no desenvolvimentoda espiritualidade no contexto de trabalho.

5. Considerações Finais

Conforme os autores pesquisados muito ainda há para se estudar sobre o tema conforme afirma Vasconcelos (2007) em que desafiosda área são os estudos de avaliação de influencia da espiritualidade em temas como absenteísmo, turnouver, burnout (síndrome doesgotamento profissional), satisfação no trabalho, clima. Portanto para o tema ganhar a visibilidade que merece são necessárias muitomais pesquisas. A espiritualidade é um tema que não deve se limitar apenas a esfera intelectual na Gestão de Pessoas, porque é umtema complexo que exige uma leitura sensível da realidade e uma disponibilidade intelectual para leituras acadêmicas complexas,mergulhos profundos na subjetividade e posteriormente questionar seus próprios valores como pessoa e profissional. Neste sentidocabe o desafio de se pensar estratégias para desenvolver os profissionais de Gestão de Pessoas neste tema, para que a espiritualidadedo trabalho e nas empresas ao invés de via de reflexão e crescimento não acabe correndo o risco de se tornar mais um produto deconsumo na área. E ainda questionar se este tema de fato tem aparecido na formação dos profissionais. A falta de pesquisas na áreapode ser inclusive reflexo da ausência do tema na grade curricular dos cursos de formação.Por fim, a espiritualidade no contexto de trabalho é anterior a organização, então cabe refletir quais os valores que permeiam nossasvivências, haja vista que a criação de filhos, vivências familiares, comunitárias, religiosas, entre tantas, alteram, transformam esignificam o sentido do trabalho.

Referências Bibliográficas

BARCHIFONTAINE, C.P. Espiritualidade nas empresas. O Mundo Da Saúde. abr/jun n.31, v.2. 2007, p. 301-305

CADERNOS IHU EM FORMAÇÃO. A sociedade de pós-humana - A superação do humano ou a busca de um novo humano? Ano 4Nº 29 2008Disponível em : http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_publicacoes&Itemid=20&task=edicoes_anteriores&id=3 Acessoem 12/02/2009

GONZÁLES-QUEVEDO, L. O que é o encontro espiritual na vida cotidiana. In: ESPIRITUALIDADE CRISTÃ NAPÓS-MODERNIDADE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS. Palestra. S.Leopoldo: RS. UNISINOS . 2008. Mimeografado

JOÃO PAULO II, PAPA. Carta Encíclica sobre O Trabalho Humano- “Laborem Exercens”. 13ª. Ed. São Paulo: Paulinas. 2005.

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MORA, J.F. Dicionário de Filosofia Tomo II (E-J). 2ª. Ed. São Paulo: Ed. Loyola. 2005 p.887

PENTEADO, J.R.W. et al. Mesa-redonda sobre a espiritualidade nas empresas. . Revista da ESPM. vol 14, ano 13, ed. n. 1 jan/fev2007. p.94-108

RAUPP, S.R. Ser humano cristão nos dias atuais. In: SOTER (org.).21o. Congresso Anual da Sociedade de Teologia e Ciências daReligião – Soter Edição digital – e book Paulinas 2008 , p.470-481REGO A., CUNHA M. P.; SOUTO, S. Espiritualidade nas organizações e comprometimento organizacional. Rae-eletrônica, v. 6, n.2, art. 12, jul./dez. 2007Disponivel em:http://www.rae.com.br/eletronica/index.cfm?FuseAction=Artigo&ID=3840&Secao=ARTIGOS&Volume=6&Numero=2&Ano=2007 Acesso em 09/04/2008

SANTOS, D. C. A promoção da saúde mental no trabalho inserido em processo de gestão de pessoas em uma organizaçãoescolar. Monografia. (Especialização MBA em Gestão Estrategica de Pessoas). Universidade Metodista de Piracicaba. Piracicaba-SP.2006

SIQUEIRA, D. O labirinto religioso ocidental. Da religião à espiritualidade. Do institucional ao não convencional. Sociedade eEstado. Brasília, v. 23, n. 2, p. 425-462, maio/ago. 2008

VASCONCELOS, A. F. Espiritualidade no ambiente de trabalho: muito além do fad-management. Revista da ESPM. vol 14, ano 13,ed. n. 1 jan/fev 2007. p. 110-123

VASCONCELOS, E. M. (org) A espiritualidade no trabalho em saúde. São Paulo: Editora Hucitec, 2006.