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7 – AVALIAÇÃO AMBIENTAL PRELIMINAR DA CADEIA PRODUTIVA E DISTRIBUIÇÃO DO BIODIESEL A Avaliação Ambiental Preliminar utilizada na análise da cadeia produtiva do biodiesel tem como base referencial o método de listagem de controle, onde se procura estabelecer a relação causa/efeito das principais atividades previstas na cadeia de produção, especialmente no que se refere à implantação e manutenção das culturas agrícolas e as relacionadas à implantação e operação dos empreendimentos industriais de produção do biodiesel. A análise compõe uma listagem, onde são relacionadas as principais ações e/ou atividades a serem desenvolvidas por um empreendimento de biodiesel e os fatores ambientais, subdivididos em componentes ambientais, que, interrelacionados, poderão gerar impactos positivos ou negativos ao meio ambiente. Para dimensionar os possíveis impactos na cadeia de distribuição do biodiesel utilizou-se o método da análise preliminar de risco, que envolve a construção de uma matriz baseada no grau de severidade conjugada à magnitude. Na matriz são relacionados os principais riscos, causas e efeitos ao ambiente. Os principais aspectos relacionados à inclusão social proporcionada pelo “Selo Combustível“ são discutidos no Estudo de Caso (anexo I). Nesse relatório, estão disponíveis os dados, conclusões e recomendações do levantamento de campo realizado em maio de 2.006, nos Estados do Piauí e Mato Grosso, com o objetivo de ampliar os conhecimentos sobre a etapa de diagnóstico e que serviram de base para a análise ambiental deste item. 7.1 – Identificação dos Impactos Ambientais na Produção Agrícola Os impactos ambientais são classificados em função da fase de ocorrência (planejamento, implantação e operação), por seu efeito (positivo ou negativo) e causa principal. 7.1.1 – Impactos Ambientais no Planejamento da Atividade Agrícola As principais atividades envolvidas no planejamento de um empreendimento agrícola compreendem: a seleção e aquisição de áreas para cultivo (que podem, por conseqüência, promover o incremento da atividade agrícola e a expansão da fronteira produtiva), a seleção de culturas e a mobilização das frentes de trabalho. Para tanto, na fase de planejamento, para definir qual prática será necessária para cada área de cultivo são necessários estudos de caracterização para cada gleba, envolvendo a geomorfologia, o solo de ocorrência, mapeamento da rede de drenagem, o planejamento agrícola (a cultura implantada, técnicas de preparo do solo, manejo cultural etc.). Os principais efeitos do processo de Planejamento são apresentados na tabela 7.01.

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7 – AVALIAÇÃO AMBIENTAL PRELIMINAR DA CADEIA PRODUTIVA E DISTRIBUIÇÃO DO BIODIESEL

A Avaliação Ambiental Preliminar utilizada na análise da cadeia produtiva do biodiesel tem como base referencial o método de listagem de controle, onde se procura estabelecer a relação causa/efeito das principais atividades previstas na cadeia de produção, especialmente no que se refere à implantação e manutenção das culturas agrícolas e as relacionadas à implantação e operação dos empreendimentos industriais de produção do biodiesel. A análise compõe uma listagem, onde são relacionadas as principais ações e/ou atividades a serem desenvolvidas por um empreendimento de biodiesel e os fatores ambientais, subdivididos em componentes ambientais, que, interrelacionados, poderão gerar impactos positivos ou negativos ao meio ambiente.

Para dimensionar os possíveis impactos na cadeia de distribuição do biodiesel utilizou-se o método da análise preliminar de risco, que envolve a construção de uma matriz baseada no grau de severidade conjugada à magnitude. Na matriz são relacionados os principais riscos, causas e efeitos ao ambiente.

Os principais aspectos relacionados à inclusão social proporcionada pelo “Selo Combustível“ são discutidos no Estudo de Caso (anexo I). Nesse relatório, estão disponíveis os dados, conclusões e recomendações do levantamento de campo realizado em maio de 2.006, nos Estados do Piauí e Mato Grosso, com o objetivo de ampliar os conhecimentos sobre a etapa de diagnóstico e que serviram de base para a análise ambiental deste item.

7.1 – Identificação dos Impactos Ambientais na Produção Agrícola Os impactos ambientais são classificados em função da fase de ocorrência (planejamento, implantação e operação), por seu efeito (positivo ou negativo) e causa principal.

7.1.1 – Impactos Ambientais no Planejamento da Atividade Agrícola

As principais atividades envolvidas no planejamento de um empreendimento agrícola compreendem: a seleção e aquisição de áreas para cultivo (que podem, por conseqüência, promover o incremento da atividade agrícola e a expansão da fronteira produtiva), a seleção de culturas e a mobilização das frentes de trabalho.

Para tanto, na fase de planejamento, para definir qual prática será necessária para cada área de cultivo são necessários estudos de caracterização para cada gleba, envolvendo a geomorfologia, o solo de ocorrência, mapeamento da rede de drenagem, o planejamento agrícola (a cultura implantada, técnicas de preparo do solo, manejo cultural etc.).

Os principais efeitos do processo de Planejamento são apresentados na tabela 7.01.

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

Tabela 7.01 – Principais Impactos na Fase de Planejamento da Atividade Agrícola

ATIVIDADE COMPONENTE AMBIENTAL

IMPACTO

POSITIVO NEGATIVOINDICADOR MEDIDAS MITIGADORAS

Seleção de áreas para aquisição Socioeconomia Pressão sobre as terras e propriedades na região Ordenamento Territorial (ZEE)

Planejamento e ordenamento territorial;

Medidas e programas fundiários.

Identificação das culturas potenciais Socioeconomia Intensificação das

pesquisas agronômicas Produção científica

Identificação da cadeia de produção local Socioeconomia Incentivo das parcerias

público-privadas

Indicadores socioeconômicos (% de novos negócios a partir da cadeia produtiva do biodiesel)

Elaboração: STCP, 2006

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda7.2

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

7.1.1.1 – Seleção e Aquisição de Áreas com Incremento da Atividade Agrícola e Expansão da Fronteira Produtiva

• Impacto Negativo: Pressão sobre as Terras e Propriedades da Região

Com a possibilidade de incremento da atividade agrícola e a expansão da fronteira produtiva agrícola, motivada pela produção de matéria-prima para biodiesel, sem um adequado planejamento prévio, deverá ocorrer um aumento na pressão sobre terras e propriedades privadas e públicas, podendo afetar as terras indígenas, de ocupação tradicional, terras quilombolas e áreas protegidas, representadas pelas Unidades de Conservação da Natureza.

7.1.1.2 – Identificação das Culturas Potenciais

• Impacto Positivo: Intensificação das Pesquisas Agronômicas

Com o incremento da atividade agrícola para fins de produção do Biodiesel, há necessidade de realização de pesquisas científicas para incrementar a produtividade das culturas permanentes e temporárias, haja vista, a diversidade de clima, solos, processo de irrigação, etc, demandando investimentos em infra-estrutura de pesquisa, envolvendo centros de pesquisa, universidades, órgãos de fomento ligados à iniciativa privada e ao poder público, podendo atrair recursos financeiros, técnicos e humanos para a região.

7.1.1.3 – Identificação da Cadeia de Produção Local

• Impacto Positivo: Incentivo ao Estabelecimento das Parcerias Público-Privadas para Fins de Produção de Biodiesel

Um aspecto positivo relevante do Programa Biodiesel, diz respeito à possibilidade de estabelecimento das parcerias público-privadas para fins de produção de biocombustíveis, envolvendo o poder público, a iniciativa privada, a agricultura familiar, as entidades representativas dos agricultores, da indústria, comércio, serviços, órgãos de fomento, financiamento etc.

7.1.2 – Impactos Ambientais na Implantação da Atividade Agrícola

Na tabela 7.02 são apresentadas as principais atividades e conseqüentes impactos da fase de implantação da atividade agrícola.

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 7.3

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

Tabela 7.02 – Principais Impactos na Fase de Implantação da Atividade Agrícola

ATIVIDADE COMPONENTE AMBIENTAL

IMPACTO

POSITIVO NEGATIVOINDICADOR MEDIDAS MITIGADORAS

Planejamento do Uso e Ocupação do Solo(Sistematização da propriedade)

Flora Alteração na Composição de Espécies da Flora

Presença de APP e RL averbada

Programa de Revegetação de Superfícies Expostas; Zoneamento Ambiental.

Clima / Fauna / Flora

Alterações no microclima, nas espécies e populações; alteração de microhabitats

Fisionomia e conservação dos habitats naturais (% da área da propriedade)Corredores de fauna (área em ha e número e proximidade de fragmentos)

Manter áreas de preservação permanente e reserva legal de forma intercalada nas áreas de cultivo

Seleção das culturas

Socioeconomia Implantação de monoculturas

Grau de utilização das terras (GUT)

Implementação de política fundiária eficiente para a região;Adoção de política agrícola sustentável para a região.

Socioeconomia Diminuição da pressão sobre os recursos naturais com o uso de culturas perenes

Monitoramento da qualidade ambiental

SocioeconomiaAbandono das culturas de subsistência da agricultura familiar

Diversidade produtiva (Índice de Shannon-Wiener*)Indicadores de Produtividade Agrícola

Monitoramento e orientação da população, com assistência técnica;Apoio institucional através do cooperativismo, associativismo, integração comunitária.

*Índice utilizado para mensurar a diversidade ecológica, no qual baseia-se na abundância relativa das espécies.

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda7.4

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

ATIVIDADE COMPONENTE AMBIENTAL

IMPACTO

POSITIVO NEGATIVOINDICADOR MEDIDAS MITIGADORAS

Mobilização de frentes de trabalho

Socioeconomia Criação de postos de trabalho

Monitoramento da % de postos de trabalho; Censo Demográfico - IBGE

Socioeconomia Fortalecimento da agricultura familiar

% da criação de cooperativas, associações, sindicatos representativos; Censo Demográfico - IBGE

SocioeconomiaDiminuição do fluxo migratório p/ centros urbanos

Monitoramento do fluxo migratório. Censo Demográfico - IBGE

Socioeconomia Dinamização da Economia local

Monitoramento do aumento de receitas públicas e de circulação de recursos financeiros na região. IBGE

Socioeconomia Incremento das receitas públicas

Monitoramento das receitas públicas.

SocioeconomiaMelhoria das condições gerais de vida da população

Monitoramento dos índices de exclusão social na região (mapa de exclusão social no Brasil)

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda7.5

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

ATIVIDADE COMPONENTE AMBIENTAL

IMPACTO

POSITIVO NEGATIVOINDICADOR MEDIDAS MITIGADORAS

Preparo do Solo

Solos / Recursos hídricos

Evitar o desencadeamento de processos erosivos na área agrícola

Monitoramento da evolução dos processos erosivos (% da área da propriedade)

Solos/Recursos hídricosAlteração das propriedades físicas do solo

Monitoramento da evolução dos processos erosivos (% da área da propriedade)

Programa de Controle de Processo Erosivos.

Flora Interrupção da Regeneração Natural

Regeneração de áreas degradadas (% da área da propriedade)

Zoneamento Ambiental;Programa de Controle da Aplicação e Manuseio de Produtos Químicos.

Elaboração: STCP, 2006

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda7.6

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

7.1.2.1 – Planejamento do Uso e Ocupação do Solo (Sistematização das propriedades)

• Impacto Negativo: Alteração na Composição de Espécies da Flora

A vegetação nativa das áreas de expansão agrícola está adaptada às condições hídricas e nutricionais presentes nos solos de origem. Culturas agrícolas que necessitam de fertilização, aumentam a disponibilidade de nutrientes, não só na área de plantio propriamente dito, mas também na área do entorno, como resultante da lixiviação ou carreamento pelas águas das chuvas ou irrigação. Espécies que antes não conseguiam se estabelecer nessas áreas, devido as limitações nutricionais podem ser beneficiadas e provocar alteração nos padrões de regeneração e na composição florística, configurando-se assim um impacto negativo sobre a flora local.

• Impacto Negativo: Alterações no Microclima, nos Microhabitats, nas Espécies e Populações

A introdução de culturas anuais, semi-perenes ou perenes, em uma área originalmente ocupada por um ecossistema complexo, poderá acarretar em alterações no microclima da região explorada, de forma localizada, a cada período de crescimento e retirada da biomassa (colheita).

Promovendo a cobertura temporária do solo, com a implantação das culturas e as práticas de manejo adotadas, o efeito no microclima se dará positivo, particularmente em regiões de cerrado, ocorrendo redução da temperatura local durante o dia, reduzindo a amplitude de temperatura, associado a um aumento da umidade relativa do ar, melhorando o microclima local. É difícil determinar esses benefícios individualizados para cada cultura, porém sabe-se que para as culturas perenes este efeito é mais prolongado e só interrompido nas áreas de reforma de cultivo (operações de replantio).

Ao contrário da implantação das culturas, todo o período de colheita ocasionará a exposição do ambiente, refletindo localmente no aumento da temperatura durante o dia e redução durante a noite, provocando uma pequena variação diária da temperatura, associada ainda a uma redução local da umidade relativa do ar.

7.1.2.2 – Seleção das Culturas

• Impacto Negativo: Implantação de Monoculturas

Considerando a demanda crescente de oleaginosas para fins de produção de Biodiesel e a falta de culturas perenes com capacidade para substituir a soja, há tendências de estabelecimento de monoculturas em extensas áreas territoriais, particularmente, em áreas mais sensíveis do ponto de vista ambiental, a exemplo da Amazônia Legal, onde as monoculturas podem comprometer de forma intensa e negativa, os ecossistemas existentes, provocando a degradação e fragmentação da vegetação, diminuição de populações da fauna, expulsão de comunidades tradicionais e tensões sociais, havendo, portanto, necessidade de implantação de políticas fundiárias, agrícolas, sociais, ambientais de responsabilidade dos governos municipais, estaduais e do próprio Governo Federal, procurando coibir ações predatórias, impactantes e que coloquem em risco a frágil sustentabilidade socioambiental das diversas regiões do País.

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

• Impacto Positivo: Diminuição da Pressão sobre os Recursos Naturais com o Uso de Culturas Perenes

Considerando o baixo impacto ambiental de culturas perenes como o babaçu, dendê, entre outras, quando comparada com o plantio de anuais (soja, algodão, girassol) há tendência positiva para a diminuição dos impactos ambientais em determinadas regiões, haja vista, os tratos culturais, manejo do solo, uso intensivo e inadequado de defensivos agrícolas, extensão territorial, mão-de-obra envolvida.

• Impacto Negativo: Abandono das Culturas de Subsistência da Agricultura Familiar em Face da Produção de Biodiesel

Com o incremento da produção do Biodiesel em território nacional, há tendência para o estabelecimento de grandes áreas de plantio de oleaginosas (culturas temporárias e permanentes), havendo possibilidade de abandono de culturas tradicionais de subsistência, podendo ocorrer impactos negativos diversos na sustentabilidade das famílias acostumadas com o trato de culturas tradicionais, como feijão, a mandioca, o milho, o arroz, entre outros.

7.1.2.3 – Mobilização de Frentes de Trabalho

• Impacto Positivo: Criação de Postos de Trabalho

Na fase de implantação e manutenção de sistemas agrícolas, haverá possibilidade de geração de empregos diretos e indiretos no meio rural, considerando o envolvimento da população, não apenas de áreas de assentamentos, mas, de parcelas da população que devem participar da produção agrícola dos biocombustíveis em propriedades privadas, cooperadas, ou de forma autônoma, em atividades ligadas ao trato da terra, plantio, colheita, armazenamento, transporte, entre outros.

• Impacto Positivo: Fortalecimento da Agricultura Familiar

Com a perspectiva de implantação de áreas agrícolas voltadas à produção dos biocombustíveis, há tendência positiva de fortalecimento dos mecanismos de associativismo, produtividade agrícola, diversificação de culturas, inclusão social, diminuição do êxodo rural, uso consorciado com culturas de subsistência, valorização da agricultura familiar, da diversidade social, cultural, dinamização da economia local, aumento de empregos, renda e melhoria das condições de vida da população.

• Impacto Positivo: Diminuição do Fluxo Migratório para Centros Urbanos

Com a perspectiva de implantação de áreas agrícolas voltadas à produção dos biocombustíveis, com a conseqüente geração de emprego e renda e melhores condições de vida para a população rural, há tendência para a diminuição do fluxo migratório rumo aos centros urbanos, fator positivo, se considerar os impactos sociais causados à grande maioria dos municípios pela pressão antrópica em torno dos serviços básicos de saúde, educação, infra-estrutura, empregos etc.

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

• Impacto Positivo: Dinamização da Economia Local

Com as atividades previstas na fase de implantação do Programa Biodiesel em território nacional, haverá um intenso fluxo de recursos financeiros circulando nos municípios envolvidos, fator que poderá propiciar a contratação de mão-de-obra, geração de emprego, renda extra para a população local. Conseqüentemente, com o fluxo de recursos financeiros e materiais, produtos, novas atividades poderão ser desenvolvidas na região, nos setores primário, secundário e terciário.

• Impacto Positivo: Incremento das Receitas Públicas

Com a implantação e operação das atividades relacionadas à produção do Biodiesel, há tendência para o aumento da arrecadação de impostos, taxas, receitas públicas, tributos diversos advindos de diversas fontes, desde a agricultura familiar até o consumidor final, melhorando as condições financeiras dos municípios beneficiados, bem como, da população usuária dos principais serviços públicos e com tendência a melhoria no atendimento da demanda local.

• Impacto Positivo: Melhoria das Condições Gerais de Vida da População

Com a implantação do Programa Biodiesel nos diversos municípios brasileiros, há uma tendência positiva para a geração de emprego e renda e a conseqüentemente melhoria das condições gerais de vida da população, particularmente, dos agricultores familiares, considerando a possibilidade de desenvolvimento humano e social, acesso à educação, saúde pública, infra-estrutura, saneamento básico, moradia etc, fator já evidenciado em algumas regiões aonde o Biodiesel vem se constituindo numa alternativa de melhoria das condições gerais de vida da população envolvida, a exemplo da agricultura familiar do Estado do Piauí, podendo ainda, contribuir para criar nos trabalhadores, a consciência ambiental acerca da proteção do patrimônio natural, como a recuperação de áreas degradadas, instituição de reserva legal, a preservação das matas ciliares, rios, córregos, nascentes, cursos d’água, enfim, preceitos de preservação ambiental, no cotidiano da população.

7.1.2.4 – Preparo do Solo

• Impacto Positivo: Evitar o Desencadeamento de Processos Erosivos na Área Agrícola

Várias atividades que antecedem a instalação da cultura poderão interferir negativamente no meio físico, através de processos erosivos e conseqüente assoreamento de corpos d'água. Nesta etapa, a adoção de práticas agrícolas conservacionistas busca prevenir ou diminuir a presença de interferências ambientais e estabelecer um quadro futuro menos impactante e, portanto, com menor risco ambiental. Práticas agrícolas conservacionistas são ações preventivas imprescindíveis para garantir o controle das erosões e escorregamentos, porém é preciso ter conhecimento das diferentes potencialidades dos solos, face aos diferentes usos e as diferentes susceptibilidades à erosão.

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 7.9

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

• Impacto Negativo: Alteração nas Propriedades Físicas do Solo e Desencadeamento de Processos Erosivos

Sem o conhecimento prévio do tipo de solo que ocorre na propriedade agrícola e das potencialidades que este apresenta, tratos culturais mal dimensionados podem levar ao processo de compactação dos solos. O solo é considerado compactado quando a proporção de macroporos em relação à porosidade total é inadequada para o desenvolvimento do sistema radical das plantas.

As propriedades físicas do solo mais afetadas pela compactação estão associadas ao teor e transmissão de água, ar, calor, nutrientes, gases e aumento da resistência do solo. Essas condições desfavoráveis, aliadas à chuva, são promotoras de modificações do relevo e das drenagens, diminuição da infiltração, aumento do escoamento superficial e dos processos erosivos, sedimentação, assoreamento dos corpos d’água e a intoxicação ou eliminação de parte da microfauna do solo.

Poderá ocorrer compactação do solo nas atividades que envolvam a utilização de determinados veículos e máquinas, como caminhões e tratores, nas atividades de limpeza do terreno (trator de esteira, grade de limpeza), manutenções, preparo do solo (gradagem aradora e niveladora).

Em conseqüência à compactação da camada superficial do solo está o processo conhecido como run off, ocasionado pela dificuldade de infiltração da água das chuvas. A infiltração é considerada um processo chave no comportamento dos solos, já que determina a formação do escoamento superficial e sub-superficial. A água infiltrada e retida nas partículas do solo constitui a umidade do solo, que é absorvida pelas raízes das plantas e envolvida, em grande parte, para a atmosfera mediante o processo de evapotranspiração. A água infiltrada que não fica retida nas partículas do solo, se move através do solo atingindo os aqüíferos, rios ou drenos superficiais.

Assim, quando a estrutura física do solo é alterada e o processo de infiltração e retenção de água diminuído, o processo de erosão passa a ocorrer de forma acelerada. Os efeitos resultantes normalmente são expressos por sulcos, ravinas e voçorocas, estas últimas responsáveis por situações extremas de impactos.

• Impacto Negativo: Interrupção da Regeneração Natural

Práticas agrícolas que envolvem o revolvimento de até 40 cm da camada do solo e a retirada do horizonte orgânico do solo, promovem a exposição da sementeira de espécies florestais presentes na área no processo de expansão da fronteira agrícola.

Com a exposição destas aos fatores climáticos, a capacidade de germinação e instalação das espécies florestais é prejudicada a ponto de comprometer o processo de regeneração natural.

7.1.3 – Impactos Ambientais na Operação (Manutenção) da Atividade Agrícola

Os principais impactos que podem ser esperados na fase de manutenção da atividade agrícola são apresentados na tabela 7.03.

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda7.10

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

Tabela 7.03 – Principais Impactos na Fase de Operação (Manutenção) da Atividade Agrícola

ATIVIDADE COMPONENTE AMBIENTAL

IMPACTO

POSITIVO NEGATIVOINDICADOR MEDIDAS MITIGADORAS

Plantio das Oleaginosas

Flora/Fauna Contaminação biológica % da área afetadaPrioridade para o Manejo Integrado de Pragas e Doenças;Programa de Controle da Aplicação e Manuseio de Produtos Químicos.

Solos/Recursos hídricos Incremento da Biomassa Monitoramento dos solos

Socioeconomia Uso de Transgênicos Indicadores de Produtividade Agrícola e socioeconômicos

Monitoramento e orientação da população, com assistência técnica;Apoio institucional através do cooperativismo, associativismo, integração comunitária.

Tratos Culturais (Uso de insumos; fertilizantes e agrotóxicos)

Solos Manutenção dos níveis de fertilidade do solo Indicadores de qualidade dos solos

Fauna/Flora

Efeito de Borda nos Remanescentes dos Ambientes Naturais e seus Reflexos na Fauna

Monitoramento BiológicoDar prioridade para o Manejo Integrado de Pragas e Doenças;Programa de Controle da Aplicação e Manuseio de Produtos Químicos.

Recursos Hídricos / Solos

Contaminação do Solo e Recursos Hídricos por Metais Pesados e seus Reflexos no Meio Biológico

Monitoramento Qualidade da Água

Programa de Controle de Processo Erosivos;Prioridade para o Manejo Integrado de Pragas e Doenças;Programa de Controle da Aplicação e Manuseio de Produtos Químicos.

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

ATIVIDADE COMPONENTE AMBIENTAL

IMPACTO

POSITIVO NEGATIVOINDICADOR MEDIDAS MITIGADORAS

Tratos Culturais (Uso de insumos) Socioeconomia

Ocorrência de Acidentes de trabalho e doenças ocupacionais

Indicadores de qualidade de vida e saúde

Monitoramento das condições de trabalho, com assistência técnica e apoio institucional.

Abandono dos Sistemas Tradicionais de Produção Agrícola

Indicadores de produtividade agrícola e econômica

Monitoramento e orientação da população, com assistência técnica;Apoio institucional através do cooperativismo, associativismo, integração comunitária.

Tratos Culturais (Irrigação do Plantio)

Recursos hídricos Alteração na disponibilidade hídrica

Indicadores de qualidade dos recursos hídricos

Monitoramento da qualidade da água; Respeito à Outorga de direito de uso ou interferência de recursos hídricos.

Solos Risco de salinização Indicadores de qualidade dos solos Monitorar os parâmetros fisico-químicos do solo agrícola.

Elaboração: STCP, 2006

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

7.1.3.1 – Impactos Ambientais no Plantio das Oleaginosas

• Impacto Negativo: Contaminação Biológica

O processo de contaminação biológica por uma espécie exótica ocorre quando é introduzida qualquer espécie não natural de um ecossistema e se naturaliza, passando a se dispersar e a alterar esse ecossistema.

O potencial de espécies exóticas de alterar sistemas naturais pode ser considerado uma ameaça à biodiversidade. Parte dos problemas ambientais é absorvido pelo ecossistema e seus impactos são amenizados com o tempo. A principal conseqüência desse processo é a perda de biodiversidade causada por impactos que alteram a cadeia trófica. Assim, juntamente com a instalação de um agroecossistema, as espécies exóticas e/ou pioneiras encontram um ambiente favorável para o seu estabelecimento, modificando os ciclos e características naturais dos ecossistemas atingidos, além da alteração fisionômica da paisagem natural.

• Impacto Positivo: Incremento na Biomassa

Com o incremento da biomassa e, conseqüentemente, da matéria orgânica no solo, através da mineralização dos restos culturais, aumenta-se a superfície coloidal para a adsorção de bases trocáveis na solução do solo, que são lentamente disponibilizadas para as plantas. A contribuição da matéria orgânica pode significar um incremento de até 80% no total de cargas elétricas negativas do solo (através dos grupos carboxílicos, fenólicos, alcoólicos e metoxílicos, presentes na superfície das moléculas dos ácidos húmicos).

Outro aspecto positivo do incremento da matéria orgânica no solo é sua contribuição para o aumento da densidade e riqueza da macrofauna do solo, devido à manutenção constante da cobertura, a qual serve de abrigo e alimento para a comunidade invertebrada.

A macrofauna do solo é responsável pelo aumento e manutenção da macroporosidade do solo e da taxa de mineralização da matéria orgânica (juntamente com bactérias e fungos). A macroporosidade é responsável pela rápida drenagem do excesso de água após chuvas intensas.

Em resumo, o incremento da biomassa é um impacto positivo, pois evita-se assim o esgotamento da matéria orgânica no solo, influência na densidade e riqueza da macrofauna, evita a lixiviação de nutrientes (adubos químicos) e melhora o aproveitamento da água no perfil do solo.

• Impacto Negativo: Uso de Transgênicos

Com o incremento da produção de oleaginosas para fins de produção de Biodiesel, há possibilidade de estabelecimento de áreas de plantio com o uso de sementes geneticamente modificadas, particularmente da soja, já difundida em diversas regiões do País, podendo ocorrer impactos diversos no meio biológico que ainda não foram mensurados adequadamente.

No entanto, o impacto do uso de sementes geneticamente modificadas no meio socioeconômico, principalmente na agricultura familiar, pode ser evidenciado em algumas regiões do país. Sem a intervenção do Estado, o produtor rural é submetido ao compromisso de adquirir os insumos de

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

grandes empresas que monopolizam essa tecnologia e, conseqüentemente, interferindo negativamente na sobrevivência das pequenas propriedades.

7.1.3.2 – Tratos Culturais Durante o Plantio, Cultivo e Colheita (Uso de Insumos)

• Impacto Positivo: Manutenção dos Níveis de Fertilidade do Solo

Os solos brasileiros são, em sua maioria, altamente intemperizados, com predomínio de minerais de argila 1:1, como a caulinita e sesquióxidos de ferro e alumínio, conferindo um caráter ácido ao solo e apresentando baixa capacidade de reter bases adsorvidas, sendo mais susceptíveis as perdas de nutrientes por lixiviação.

Através de práticas para a correção do solo, como a calagem e a adubação química, essas propriedades podem ser revertidas a fim de que esse meio apresente as condições essenciais para o atendimento das necessidades das espécies vegetais introduzidas no novo sistema, garantindo assim a plena germinação e o crescimento das culturas escolhidas.

Além do mais, com a retirada da vegetação natural, o sistema de reposição de nutrientes pode ser afetado de maneira tal que a ciclagem dos nutrientes é reduzida, interferindo no nível de fertilidade e acidez do solo.

• Impacto Negativo: Efeito de Borda nos Remanescentes dos Ambientes Naturais e seus Reflexos na Fauna

A provável dispersão ou derramamento acidental de herbicidas e outros insumos utilizados na fase de manutenção da produção agrícola nas Áreas de Proteção Permanente (APP) e Reserva Legal poderá provocar modificações resultantes da eliminação de espécies no ambiente natural e/ou em regeneração, como por exemplo, alterações nos níveis de doenças, por redução dos hospedeiros alternativos e modificação no microclima do sub-bosque. Essas modificações acabam por interferir nas taxas de germinação, mortalidade e recrutamento, podendo inclusive comprometer os processos de preservação e conservação ambiental.

Outro aspecto diz respeito à presença de poeira/fuligem sobre a superfície foliar, que leva a redução da taxa fotossintética e a capacidade de trocas gasosas entre os tecidos das plantas e a atmosfera, bem como pode prejudicar o processo de reprodutivo (polinização), podendo levar à perda de indivíduos ou até de espécies, além de comprometer o aspecto estético da vegetação. As áreas de vegetação mais próximas às áreas agrícolas, principalmente daquelas de grande fluxo de veículos, são as mais atingidas por este impacto e acabam funcionando como barreira para a vegetação adjacente.

As alterações no ambiente promovidas também diminuem os recursos disponíveis para a alimentação da fauna. Essas alterações, somadas à redução da população de determinados táxons, causam interferências na cadeia alimentar como um todo.

Como exemplo dessas interferências, pode-se dizer que a redução do número de indivíduos de espécies herbívoras, pela diminuição dos recursos alimentares (supressão da vegetação) deverá gerar impactos imediatos sobre os predadores, consumidores de segunda ordem, aumentando a competição entre eles por alimento (presa), o que terá reflexos sobre os consumidores de segunda ordem (que se alimentam destes predadores), que, por sua vez, gera os mesmos efeitos

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nos consumidores de terceira ordem, atingindo desta forma, através de um ciclo vicioso, toda a cadeia alimentar, desde os herbívoros até os predadores que estão no topo da cadeia alimentar.

• Impacto Negativo: Risco de Contaminação do Solo e Recursos Hídricos por Metais Pesados e seus Reflexos no Meio Biológico

Os problemas ambientais gerados pela agricultura, relativos à contaminação de solo e dos recursos hídricos por metais pesados e também relacionados ao fenômeno da biomagnificação, decorrem do uso intensivo de agrotóxicos e adubos químicos. Os metais pesados mais relevantes utilizados nas formulações dos insumos agrícolas são o Cd, Pb, Ni, Zn, Cu, Cr e Mn.

Os metais pesados presentes no solo podem ser de origem litogeoquímica, associados à composição dos materiais de origem, e/ou de origem antrópica em zonas agrícolas. A redistribuição dos metais ao longo das vertentes por erosão e/ou por ação de soluções constituem processos que podem explicar as concentrações elevadas em metais nos pedoambientes associados às zonas mineralizadas. O efeito danoso dos metais pesados depende basicamente da quantidade acumulada e de suas formas químicas no solo. A ocorrência dos metais pesados em formas solúveis, trocáveis, oclusas, precipitadas ou complexas é que define o potencial poluidor e o impacto na qualidade do solo e água e toxicidade para plantas e outros organismos.

A presença de elementos tóxicos com diferentes biodisponibilidades pode induzir um gradiente de pressão que vai influenciar a biodiversidade ou a capacidade do desenvolvimento pleno das plantas, em ambientes naturais ou agrossistemas (tabela 7.04 e 7.05).

Tabela 7.04 – Efeito Toxicológico dos Principais Metais Pesados Encontrados em Áreas Agrícolas

ELEMENTO AÇÃO NO ORGANISMO / EFEITO TOXICOLÓGICO

NÍVEL MÁX. PERMITIDO EM ÁGUAS DOCES

Chumbo (Pb)Acumula-se no sangue e nos ossos. Danos hepáticos, renais e no trato intestinal; causa alterações no metabolismo de DNA e RNA; pode inibir o transporte intracelular.

0,03 mg/l

Cobre (Cu) Acúmulo no fígado, cérebro e rins. Pode causar problemas hepáticos e renais 0,02 mg/l

Cromo (Cr) Alto poder oxidante e fácil permeação em membranas biológicas

0,5 mg/l para Cr (III)0,05 mg/l para CR (IV)

Manganês (Mn) Efeito tóxico no sistema nervoso 0,1 mg/l a 3mg.

Níquel (Ni) Alergia e distúrbio no trato respiratório 0,025 mg/l

Zinco (Zn) Efeito no sistema reprodutivo 0,18 mg/l

Cádmio (Cd) Acumulo nas branquias (peixes), fígado e rins. Envenenamento progressivo 0,05 mg/l

Fonte: Marques (2003), adaptado por STCP

Independente da forma de aplicação, na maioria dos casos, os insumos agrícolas atingem o solo. No solo, a molécula do seu ingrediente ativo pode seguir diferentes rotas, ser retida pelos colóides minerais e orgânicos, passando a formas indisponíveis, ou ser novamente liberada à 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 7.15

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solução do solo, processo conhecido como dessorção. A molécula também pode ser transformada em outros metabólicos ou produtos de degradação.

Entre os processos de transformação biológica, o metabolismo microbiano é a principal forma na degradação das moléculas, envolvendo mecanismos aeróbicos, anaeróbicos e metabolismo quimilitotróficos, fermentação e metabolismo via enzimas extracelulares.

A biomagnificação é o impacto negativo do uso dos insumos agrícolas na cadeia trófica. Esse termo é utilizado para expressar o acúmulo dos ingredientes ativos/metais pesados nos diversos níveis tróficos das cadeias ecológicas dos ecossistemas, sendo que a concentração deles normalmente é muito maior nos organismos que se encontram no topo da cadeia. Outros aspectos negativos da biomagnificação nos organismos referem-se à redução da resistência a outros estresses e infecções.

Outro impacto ambiental associado ao risco de contaminação dos recursos hídricos pelo uso de insumos agrícolas é a eutrofização das águas superficiais, que está associada à possibilidade de carreamento de nutrientes (adubos ou matéria orgânica) para os cursos d’água, que facilitam o desenvolvimento de plantas aquáticas com características de espécies pioneiras, gerando impactos negativos sobre os fatores e componentes ambientais que mantêm algum tipo de dependência com estes recursos. O monitoramento dos cursos d’água, através de análises laboratoriais, pode indicar se há um equilíbrio na Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e na Demanda Química de Oxigênio (DQO).

Tabela 7.05 – Fatores Analisados para Determinar o Comportamento Ambiental dos Insumos Agrícolas

PROCESSOS FÍSICOS PROCESSO BIOLÓGICO

TRANSPORTE PERSISTÊNCIA DEGRADAÇÃO / BIOMAGNIFICAÇÃO

Solubilidade Hidrólise Metabolismo Microbiano

Mobilidade Fotólise Potencial para Bioacumulação*

Adsorção Decomposição Química Fator de Bioacumulação (FBC)**

*Coeficiente de partição octanol/água (log Kow) - OECD Test Guideline 106 ou 117**Representa a razão entre o teor do elemento no organismo e o teor deste mesmo elemento na água

• Impacto Negativo: Ocorrência de Acidentes de Trabalho e de Doenças Ocupacionais

Com a mudança no perfil agrícola das regiões envolvidas na produção dos biocombustíveis, há uma tendência para a ocorrência de acidentes envolvendo os trabalhadores rurais e suas famílias, especificamente no manuseio de produtos químicos utilizados nas fases de plantio, monitoramento e colheita, podendo ocorrer intoxicações, doenças ocupacionais, patologias associadas a movimentos repetitivos, ingestão de produtos químicos, poeira, calor intenso, explosões em silos, acidentes com animais peçonhentos, fraturas, atropelamentos, problemas respiratórios, entre outros, notadamente, senão houver assistência técnica permanente, apoio institucional, assistência médica e de saúde pública, considerando que boa parte da população envolvida no meio rural, tem pouca instrução e muitos não possuem experiência no meio rural, necessitando, portanto, implantar medidas educativas, orientativas, abrangendo a população

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local, empreendedores privados, entidades de classe, sindicatos representativos, prefeituras municipais e o próprio Estado.

• Impacto Negativo: Abandono dos Sistemas de Produção Agrícola

Devido à falta de uma política condizente com a realidade sociocultural de muitas comunidades rurais estabelecidas em território nacional, vários projetos agropecuários foram literalmente abandonados pelos pequenos agricultores, assentados do INCRA e de vários institutos de colonização e reforma agrária estaduais, deixando impactos socioambientais de magnitudes diversas, provocando desequilíbrios na população, fluxo migratório e pressão sobre a infra-estrutura de atendimento social.

Em determinadas regiões, a produtividade de culturas perenes como a mamona ou do próprio pinhão manso, ainda pouco estudado, considerando as condições climáticas, de solo e até de falta de aptidão agrícola da população local, não representam garantia de produtividade, ganhos e de melhoria das condições de qualidade de vida da população. Muitos produtores ainda se encontram entregues “a própria sorte” sem apoio, financiamento, assistência técnica, etc. Havendo, portanto, necessidade de apoio, acompanhamento, assistência técnica permanente do poder público e da iniciativa privada, a fim de evitar impactos socioambientais mais severos para as diversas regiões onde o Biodiesel começa a se estruturar.

7.1.3.3 – Tratos Culturais Durante o Plantio e Cultivo (Irrigação do Plantio)

• Impacto Negativo: Alteração na Disponibilidade Hídrica

A alteração na disponibilidade das águas configura-se como um impacto negativo e pode ser causada por uma intervenção de retirada de água dos corpos hídricos próximos, na necessidade de irrigação das culturas. Nesse processo, a ocorrência de assoreamento pode agravar o aspecto negativo dessa atividade, devido ao aumento da superfície de evaporação dos cursos d'água.

A captação de água para irrigação, para a maioria das espécies agrícolas cultivadas em ambientes adversos deve ser prevista nas fases de plantio, a fim de se obter uma germinação homogênea e prossegue até a fase de florescimento/enchimento de grão (figura 7.01 e tabela 7.06).

Figura 7.01 – Períodos Críticos de Disponibilidade Hídrica nas Espécies Cultivadas

Fonte: IAPAR, 2006

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Tabela 7.06 – Demanda Hídrica de Algumas Oleaginosas

CULTURA PERÍODO NECESSIDADE HÍDRICA

Soja

Dois períodos críticos de desenvolvimento: germinação-emergência e floração-enchimento dos grãos.

A demanda total de água na cultura da soja varia entre 450 a 800 mm/ciclo.

Mamona Período crítico: fase vegetativa até a floração

A demanda mínima de água na cultura da mamona varia entre 600 a 750mm/ciclo

Dendê Período crítico: implantação da cultura e floração

A demanda total de água durante o ano varia entre de 1.800 a 2.000 mm, com a distribuição superior a 100 mm mensais

Girassol

Dois períodos críticos de desenvolvimento: germinação-emergência e floração-enchimento dos grãos.

A demanda hídrica do girassol ainda não está perfeitamente definida, existindo informações que indicam desde menos de 200 mm até mais de 900 mm por ciclo (média de 500 a 700 mm de água ao longo do ciclo).

Algodão Períodos críticos de desenvolvimento: floração.

Dependendo do clima e da duração do ciclo, o algodoeiro necessita de 700 a 1.300 mm/ciclo para atender sua demanda de água.

Fonte: EMBRAPA (2006); IAPAR (2006)

Deve-se atentar que a demanda hídrica das culturas considera os seguintes parâmetros: a evapotranspiração de referência (ETo), o coeficiente de correção do consumo de água pela cultura (kc), e o coeficiente de redução da evapotranspiração da cultura (kr) e a área efetivamente disponível para cada cultura (A)*. Portanto os valores indicados acima (tabela 7.05) variam de acordo com a região, devido aos fatores climáticos que interferem na taxa de evapotranspiração, do manejo agrícola adotado e os aspectos físico-hídricos do solo tais como a disponibilidade de água no perfil do solo e a umidade.

O montante de água retirado ainda depende do sistema de irrigação implantado na propriedade (sistema de irrigação por aspersão ou localizado).

• Impacto Negativo: Risco de Salinização do Solo

Salinização é o termo utilizado para se designar o processo de acúmulo de sais na camada superficial do solo, sendo estes prejudiciais para as espécies vegetais que nele crescem, tanto cultivadas como nativas. Os principais íons que podem formar sais são Ca, Na, Mg, K, entre outros.

O processo de acumulação de sais no solo pode ocorrer em áreas onde a drenagem da água de irrigação é deficiente, devido ao mal dimensionamento do sistema de irrigação implantado, à formação de crostas ou compactações superficiais ou nível do lençol freático muito superficial aliados a altos índices de evapotranspiração.

*O volume diário de água requerido pela cultura é calculado pela equação: V= ETo.Kc.Kr.A2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda7.18

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7.2 – Identificação dos Impactos Ambientais Durante a Fase Industrial

O Programa Biodiesel, em termos econômicos e sociais resulta em efeitos positivos, tais como:

• fortalecimento do agronegócio – investimentos.

• fortalecimento do setor secundário - desenvolvimento regional sustentado.

São previstas várias linhas de crédito e fontes de financiamento para o Programa Biodiesel, tanto no apoio a agricultura familiar como no desenvolvimento de tecnologias relacionadas ao processamento do biodiesel.

O BNDES aprovou o Programa de Apoio Financeiro a Investimentos em Biodiesel estabelecendo condições mais favoráveis a projetos que possuam o chamado “Selo Combustível Social”, a ser outorgado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário aos projetos que priorizem a utilização de matéria prima proveniente da agricultura familiar. Os financiamentos são destinados a todas as fases de produção do biodiesel, entre elas a agrícola, a de produção de óleo bruto, a de armazenamento, a de logística, a de beneficiamento de subprodutos e a de aquisição de máquinas e equipamentos homologados para o uso deste combustível.

Os investimentos em projetos industriais proporcionarão uma dinamização na economia local e regional, com reflexos para o fortalecimento do agronegócio, considerando o aprimoramento de técnicas de produção, pesquisas e a garantia de comercialização.

A descrição da etapa industrial para produção do biodiesel foi realizada no Capítulo 4 deste estudo, com a descrição dos processos e atividades; entretanto, para uma melhor compreensão dos impactos ambientais, uma abordagem sucinta dos principais componentes da fase industrial é apresentada na tabela 7.07.

Tabela 7.07 – Principais Etapas e Sub-etapas da Industrialização

ETAPA SUB–ETAPA

Planejamento Captação de Recursos Financeiros (estudos de viabilidade econômica e técnica) e Licenciamento Ambiental

Implantação

Operações de preparo do terreno para obras civis e infra-estrutura

Transporte e manuseio de combustíveis nas atividades de implantação

Obras civis e infra-estrutura

Operação

Industrialização da Matéria Prima (Moagem, Refino, Geração de energia)

Processo de Produção de Biodiesel (transesterificação, separação, recuperação do álcool, lavagem e secagem)

Estocagem do B100, insumos, matérias-primas e sub-produtos

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7.2.1 – Impactos na Fase de Planejamento da Indústria

A fase de planejamento do empreendimento envolve as atividades de financiamento do projeto técnico e o Licenciamento Ambiental para estabelecimento da indústria e da infra-estrutura necessária. O efeito dessas atividades terá reflexos principalmente no meio socioeconômico. Os principais efeitos do processo são apresentados na tabela 7.08 e detalhados a seguir.

7.2.1.1 – Pré-seleção de Fornecedores

• Impacto Positivo: Fortalecimento do Agronegócio para Obtenção da Matéria-Prima

Na fase de planejamento do projeto, o empreendedor deverá levantar cadastro prévio dos fornecedores vinculados à agricultura familiar, encaminhando-o ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), objetivando a obtenção de financiamento para as atividades industriais.

Assim, há tendência positiva para geração de emprego e renda no setor de agronegócios nos municípios envolvidos, com a conseqüente dinamização dos setores da economia local.

A demanda por matéria-prima (oleaginosas) para o abastecimento da indústria terá reflexos positivos no setor primário de algumas regiões, contribuindo para a diversificação da sua base produtiva, pois há interesse na inclusão da agricultura familiar da região no processo produtivo de oleaginosas como matéria-prima.

7.2.1.2 –Verticalização da Produção

• Impacto Negativo: Exploração da Agricultura Familiar e Concentração da Produção

Caso não continue a intervenção do Estado para priorizar as políticas para as pequenas propriedades, para a agricultura familiar, a tendência é as grandes empresas ocuparem esse mercado, que é promissor economicamente. Como essas empresas têm como objetivo principal o lucro, poderá ocorrer a verticalização da produção de oleaginosas para fins de biocombustíveis.

Essa tendência é observada em outras cadeias produtivas, como a do fumo, a suinocultura e avicultura. As grandes empresas implantam sistemas de integração, onde os agricultores assinam contrato e se comprometendo a adquirir todos os insumos das mesmas, muitas vezes com preço acima do mercado, e com o dever de entregar toda a produção para as empresas. Caso a cadeia de produção de biocombustível caminhe neste rumo dos sistemas integrados, a agricultura familiar correrá o risco de perder a diversidade produtiva e, conseqüentemente, a sobrevivência das pequenas propriedades.

7.2.2 – Impactos na Fase de Implantação da Indústria

Na fase de implantação de uma usina de biodiesel, os impactos a serem gerados são decorrentes das atividades de preparo de terreno e obras de engenharia para estabelecimento da indústria e da infra-estrutura necessária. O efeito dessas atividades terá reflexos no meio físico, biológico e ainda, pelo fato de ser uma atividade produtiva que integra o setor agrícola, a indústria de processamento de biodiesel terá grande influência no meio socioeconômico.

Os principais efeitos do processo, tanto ambientais como socioeconômicos, são apresentados na tabela 7.09 e detalhados a seguir.

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Tabela 7.08 – Principais Impactos na Fase de Planejamento da Indústria

ATIVIDADE COMPONENTE AMBIENTAL

IMPACTO

POSITIVO NEGATIVOINDICADOR MEDIDAS MITIGADORAS

Pré-seleção de fornecedores Socioeconomia Fortalecimento do

AgronegócioMonitoramento da Dinamização da Economia Local e Regional

Verticalização da Produção Socioeconomia

Exploração da agricultura familiar e concentração da produção

N° de Empresas de Biodiesel possuidoras do “Selo Combustível Social”

Monitoramento das condições de trabalho, com assistência técnica e apoio institucional;Monitoramento dos índices de exclusão social.

Elaboração: STCP, 2006

Tabela 7.09 – Principais Impactos na Fase de Implantação da Indústria

ATIVIDADE COMPONENTE AMBIENTAL

IMPACTO

POSITIVO NEGATIVOINDICADOR MEDIDAS MITIGADORAS

Operação de preparo de terreno para obras civis e infra-estrutura

Solos Desencadeamento de Processos Erosivos

Monitoramento da evolução dos processos erosivos (% da área da propriedade)

Programa de controle de processos erosivos.

Vegetação Pressão sobre as comunidades bióticas

Diversidade biológica (Índice de Shannon-Wiener)

Recompor áreas naturais degradadas no entorno da área de plantio;

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ATIVIDADE COMPONENTE AMBIENTAL

IMPACTO

POSITIVO NEGATIVOINDICADOR MEDIDAS MITIGADORAS

Operação de preparo de terreno para obras civis e infra-estrutura

Recursos hídricos Poluição e Assoreamento de Recursos Hídricos

Padrões de qualidade físico-química da água

Medidas gerais de minimização de processos erosivos e de alteração da qualidade da água na fase de implantação

Socioeconomia Danos ao patrimônio arqueológico

Indicadores socioculturais (Estudos arqueológicos)

Projeto Arqueológico de Salvamento e Programa de Preservação dos Bens Culturais Arqueológicos - devolução social

Tráfego de Veículos e Máquinas Pesados

ArEmissão de ruídos e emissões atmosféricas de gases e partículas

Padrões de qualidade do ar Programa de monitoramento das emissões de poluentes e de material particulado

FaunaAfugentamento da fauna e atropelamento de animais silvestres

Número de observações realizadasAdotar medidas adequadas para a implantação da rede viária, Programa de Educação Ambiental;Medidas de controle de tráfego.

Transporte e manuseio de combustíveis

Recursos hídricosRisco de contaminação e alteração da qualidade da água superficial

Padrões de qualidade físico-química da água

Programa de monitoramento dos efluentes e da qualidade das águas superficiais

Elaboração: STCP, 2006

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7.2.2.1 – Operações de Preparo do Terreno para Obras Civis e Infra-estrutura

• Impacto Negativo: Exposição do Solo aos Processos Erosivos

As ações de preparo do terreno para as construções civis e a implantação de estradas e vias de acesso poderão deflagrar processos erosivos. A causa principal refere-se às operações de terraplenagem, envolvendo movimento de máquinas e equipamentos pesados na área de implantação da indústria e ao longo do traçado das estradas e vias de acesso, reduzindo as taxas de infiltração de água no solo e promovendo alterações da direção e velocidade do fluxo de escoamento superficial das águas.

Os efeitos resultantes normalmente são expressos por sulcos, ravinas e voçorocas, estas últimas responsáveis por situações extremas de impactos ambientais. Outro efeito a citar é a alteração de geoformas por cortes, aterros, cavidades de extração de materiais de construção e formação de áreas de bota-fora, que promovem exposição do solo e desencadeiam processos erosivos.

Poderá ocorrer compactação do solo nas atividades que envolvam a utilização de determinados veículos e máquinas, como por exemplo: caminhões, tratores. As superfícies onde serão construídas estradas, pátios de estocagem e demais obras civis vinculadas ao empreendimento, também serão alvo deste efeito.

Além dos impactos descritos acima, a terraplenagem pode promover a modificações nas calhas de córregos da área de influência direta do empreendimento.

• Impacto Negativo: Pressão sobre Comunidades Bióticas

Os reflexos no meio biótico, dos impactos ambientais ocorrentes no meio físico, principalmente aqueles relacionados às modificações nas drenagens (córregos) das áreas de influência direta do empreendimento, serão sentidos na alteração da composição e dinâmica da vegetação ribeirinha (caso houver), com a morte de árvores adultas (muitas vezes porta-sementes), essenciais para a manutenção da biodiversidade da área de influência direta, considerando especialmente as espécies de baixa freqüência, assim como alguns elementos do sub-bosque, intolerantes a solos encharcados prolongadamente.

O suprimento de água para indústria, tanto na fase de implantação como na fase de operação, pode ser realizado através da captação direta em corpos d'água. Caso sejam feitos dutos de captação, a abertura destes corredores no meio da vegetação arbórea ciliar representaria um impacto adverso no processo de residência, de sucessão e dispersão das espécies vegetais e da fauna. Pode representar uma redução considerável na biodiversidade local.

• Impacto Negativo: Poluição e Assoreamento de Recursos Hídricos

A possível entrada de material particulado nos corpos d’água, decorrente das obras a serem realizadas para a implantação da fábrica, poderá provocar o assoreamento dos mesmos.

Este impacto adverso poderá ocorrer durante a fase de implantação (construção das obras civis e implantação da infra-estrutura), a partir da retirada da vegetação, nos caminhos de serviço e nos acessos temporários, na implantação dos canteiros de obra e alojamentos, na abertura de valas para implantação de sistemas de drenagem superficial e profunda, bem como durante a

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construção da estação para tratamento de efluentes e dos sistemas de captação de água e descarregamento de efluentes.

Caso esse tipo de impacto ocorra, a magnitude do assoreamento irá variar conforme o tipo e porte dos processos erosivos, o volume de material carreado, as condições climáticas na ocasião da realização das obras e do grau de compactação do solo (podendo alterar a relação entre a quantidade de água infiltrada e escoada superficialmente).

A situação mais crítica relativa a este impacto passa por algumas condições prévias, quais sejam: solos expostos, período de exposição prolongado, grau de compactação baixo, grau de coesão baixo, grau de consistência baixo, declividade do terreno de média a alta e intensa precipitação.

Caso ocorra o cenário apresentado acima, a retirada de material terroso e disponibilidade do mesmo no sistema será elevada, pois passam a ocorrer transferências de energia e matéria do sistema vertente para o sistema hidrográfico ou fluvial, através de aporte de material nas microbacias inseridas na Área de Influencia Direta do empreendimento.

Outro fator que pode influenciar na magnitude do impacto refere-se ao tamanho e tipo do corpo d’água receptor, bem como sua vazão, pois disto dependerá o volume de material que poderá ser transportado ou sedimentado.

Caso haja a deposição de material no leito do corpo hídrico, não ocorrerá de forma homogênea, pois dependerá da granulometria do material carreado, bem como da dinâmica das águas correntes. As areias e materiais mais grosseiros serão logo depositados e os materiais mais finos; os siltes e argilas poderão ser carreados por distâncias mais longas, sendo depositados à jusante, em locais com baixa correnteza.

Os processos de assoreamento poderão ocorrer quando for feita a remoção da vegetação na área onde será implantada a indústria e a infra-estrutura associada, por conta da execução das operações de terraplenagem, das operações de exploração de caixas de empréstimo, bem como daquelas necessárias à implantação de dispositivos de drenagem.

As alterações da qualidade das águas superficiais durante a Fase de Implantação, num primeiro momento, poderão ser constatadas através da turbidez e da cor dos corpos hídricos.

A implementação das instalações que darão apoio à construção da unidade industrial, tais como os alojamentos, restaurantes, cantinas, instalações sanitárias, áreas de depósito de materiais, combustíveis e oficinas, também poderá produzir alterações na qualidade da água. Nesse caso, a magnitude do impacto estará condicionada ao tipo de resíduo (dejetos humanos, querosene, óleo diesel, gasolina, óleos lubrificantes, graxas) e volume de material presente no corpo d’água, bem como a época do ano e características do corpo hídrico, como tamanho e vazão.

Os efeitos deste impacto também serão sentidos em outros componentes e fatores ambientais que guardam algum tipo de relação direta com os recursos hídricos superficiais, principalmente a flora aquática, a fauna de um modo geral e, também, a população da região que, de alguma forma, depende da boa qualidade dos recursos hídricos superficiais.

• Impacto Negativo: Danos ao Patrimônio Arqueológico

A movimentação de terras para a implantação da indústria, associada à abertura de estradas de serviço, em regiões onde se evidencia a ocorrência ocupação histórica, poderá causar exposição e destruição de estruturas arqueológicas superficiais e enterradas, devido às operações necessárias, por exemplo, a terraplenagem.

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Cortes de terreno e aterros também poderão causar destruição ou soterramento de estruturas arqueológicas. Operações ligadas à obtenção de material natural de empréstimo, principalmente durante o preparo do terreno, causarão a destruição de fontes pretéritas de matéria-prima.

A implantação da indústria propriamente dita, com as obras civis e a implantação da infra-estrutura, também ocasionará danos a estruturas arqueológicas, devido a:

• descaracterização do território pretérito de captação de recursos;

• destruição das estruturas arqueológicas sob o ponto de vista estratigráfico; e,

• exposição e destruição do material arqueológico superficial e enterrado.

7.2.2.2 – Trafego de Veículos e Máquinas Pesados

• Impacto Negativo: Poluição e Assoreamento de Recursos Hídricos; Emissão de Ruídos, Material Particulado e Poluentes Atmosféricos

As emissões atmosféricas na fase de implantação deverão consistir especialmente de material particulado, proveniente das operações de movimentação de terra, tráfego de veículos, especialmente em locais sem pavimentação. A construção de prédios poderá gerar pó de cimento e de madeira, além de fumos e poeiras metálicas da montagem eletromecânica.

As emissões de material particulado variam conforme as operações e ritmo desenvolvidos na implantação do empreendimento, bem como das condições meteorológicas. O material particulado normalmente emitido durante as obras (fase de implantação) consiste de partículas menores que 100 µm. Destas, as de granulometria próxima de 100 µm serão prontamente sedimentadas na área de geração; as partículas entre 30 e 100 µm sedimentam no raio de 100 metros da geração e as partículas menores que 30 µm poderão sedimentar ou permanecer suspensas no ar, dependendo das condições meteorológicas.

A emissão de ruídos pelas máquinas, equipamentos e veículos (de passeio e de carga), tanto na fase de implantação quanto na de operação, também se configura em um impacto negativo sobre a atmosfera da área de influência direta do empreendimento.

Há possibilidade de que a emissão de ruídos não cause impacto direto significativo a população em geral, caso não haja um contingente populacional nas proximidades do empreendimento. Sobre os trabalhadores, que poderão estar expostos a níveis de ruídos inadequados, tal impacto será direto.

Indiretamente, poderá haver alterações na qualidade ambiental pela geração de ruídos, considerando-se o início ou o aumento da intensidade de diversas atividades vinculadas ou dependentes do empreendimento, como, por exemplo, a intensificação do tráfego de caminhões e veículos.

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• Impacto Negativo: Afugentamento da Fauna e Atropelamento de Animais Silvestres

O atropelamento é uma conseqüência do fluxo de veículos. Quanto mais intenso o fluxo, maior a possibilidade de ocorrência do impacto. A falta de orientação dos motoristas leva a atropelamentos desnecessários, às vezes até propositais. O próprio fluxo e ruído dos veículos levam à fuga e dispersão dos animais, desestruturando populações locais.

7.2.2.3 – Transporte e Manuseio de Combustíveis

• Impacto Negativo: Risco de Vazamento Acidental de Combustíveis, Óleos e Graxas

Durante o transporte e manuseio de combustíveis, há a possibilidade de se lançar acidentalmente combustíveis, óleos e graxas (operações de transporte e manuseio de combustíveis) sobre as águas superficiais, especialmente sobre os corpos d'água inseridos nas áreas de intervenção.

7.2.3 – Impactos na Fase de Operação da Indústria

Na fase de operação da indústria, os impactos a serem gerados são decorrentes das atividades de industrialização da matéria-prima (moagem, refino) e da produção do biodiesel propriamente dito.

Grande parte do rejeito do processo de produção pode ser reutilizada e os subprodutos do processo são comercializáveis, como é o caso da glicerina, ou poderão servir para produção de ração, energia, adubo, entre outros subprodutos (tabela 7.10).

Tabela 7.10 – Entradas e Saídas do Processo Industrial do Biodiesel

REJEITO PROCESSO COMPOSIÇÃO

Preparo da Matéria-prima

Farelo*Moagem de grão, bagas e amêndoas

Extração do óleo

Proteína, fibras e celulose, com teor de umidade de 40-60%

Particulados* Moagem de grão, bagas e amêndoas Limpeza e preparação dos grãos, bagas e amêndoas

Efluente* Extração do óleo com solvente Baixa DBO, farelo dissolvido em suspensão e traços do solvente (normalmente n-Hexano)

Processo produção de B100

Borras Processo de refino de óleo vegetal e/ou matéria graxa Rico em fosfatos

Efluente Processo de refino de óleo vegetal e/ou matéria graxa

Efluente rico em fosfatos, sabões, metais, leticinas, ceras e substâncias coloidais.

Gomas Processo de refino de óleo vegetal Leticinas

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REJEITO PROCESSO COMPOSIÇÃO

Processo produção de B100

Ácido GraxoProcesso de refino de óleo vegetal e/ou matéria graxa e do tratamento da glicerina

Liquido oleoso, de coloração levemente amarelada

Glicerina Processo de transesterificação reação com álcool anidro e catalisadores 1,2,3-Propanotriol

Efluente Destilação, neutralização e lavagem do éster, entrada de Água desmineralizada e H2SO4

Sabão, resíduo de catalisadores e água acidificada

Água dos condensadores e água condensada nos evaporadores

Processo de secagem (óleo vegetal, glicerina e biodiesel) e da destilação da glicerina e do éster

Água de processo

Sal Filtragem Resíduos do dessecante utilizado, NaOH ou KOH

Tratamento da Glicerina

Efluente do tratamento da Glicerina** Tratamento da glicerina Água glicerinosa

*Esses Resíduos / Efluentes só ocorrem quando há a unidade de esmagamento na indústria de produção de biodiesel** Essa etapa ocorre somente quando houver tratamento de glicerina. A glicerina bruta produzida pode ser comercializada.Elaboração: STCP, 2006

Os principais efeitos do processo, tanto ambientais como socioeconômicos, são apresentados na tabela 7.11 e detalhados a seguir.

7.2.3.1 – Demanda por Matéria-prima

• Impacto Positivo: Dinâmica Positiva no Sistema de Ocupação da Terra

A demanda por matéria-prima para a produção de biodiesel promoverá uma dinâmica positiva de ocupação do solo na área de influência direta e indireta do empreendimento. A causa principal será a mudança no sistema de utilização da terra, que passará a ser utilizada com maior intensidade. O impacto será benéfico ao fator ambiental “Estrutura Fundiária”, uma vez que, serão utilizadas, prioritariamente, áreas que estão à margem do processo produtivo do setor primário (Plano Nacional de Agroenergia, 2005). Indiretamente, esse impacto causará um incremento na renda dos produtores que não obtêm rentabilidade com a produção agrícola.

Considerando a demanda potencial pela matéria-prima, esta atividade se manifestará, em princípio, nas áreas de influência direta e indireta; posteriormente poderá se expandir até para outras regiões.

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Tabela 7.11 – Principais Impactos na Fase de Operação da Indústria

ATIVIDADE COMPONENTE AMBIENTAL

IMPACTO

POSITIVO NEGATIVOINDICADOR MEDIDAS MITIGADORAS

Operação da Indústria (Demanda por Matéria – Prima)

SocioeconomiaDinâmica positiva no processo de ocupação da terra

Socioeconomia Pressão sobre a infraestrutura de transportes Indicadores de tráfego

Programa de avaliação do adensamento viário, controle de velocidade e de carga (caminhões);Programa de incentivos à melhoria da estrutura de transporte hidroviário e ferroviário.

SocioeconomiaSinergia entre o complexo de óleo vegetal ealcooleiro

Indicadores Econômicos

Socioeconomia Reutilização de rejeitos (óleos residuais)

Percentual de reutilização de material de descarte

Socioeconomia

Incentivo à pesquisa para solução de problemas relativos à processos industriais

Indicadores de viabilidade técnico-científica (monitoramento dos processos industriais)

Operação da Indústria (Demanda por Mão de Obra)

Socioeconomia Geração de empregos e renda

Indicadores socioeconômicos Monitoramento do fluxo migratório (histórico)

Socioeconomia Implantação de cursos de capacitação profissional Indicadores sociais

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

ATIVIDADE COMPONENTE AMBIENTAL

IMPACTO

POSITIVO NEGATIVOINDICADOR MEDIDAS MITIGADORAS

Operação da Indústria (Demanda por materiais, insumos e equipamentos, serviços gerais)

Socioeconomia

Fortalecimento, estruturação e diversificação do setor secundário e terciário

Indicadores econômicos

SocioeconomiaDinamização da economia regional/ arrecadação de impostos

Indicadores econômicos

Mudanças de ordem social e econômica

SocioeconomiaInfluência na cultura de populações indígenas e tradicionais

Indicadores socioculturais (diagnóstico socioeconômico)

Campanha de esclarecimento sobre o empreendimento junto às instituições que representam os índios e comunidades tradicionais.

Socioeconomia Déficit no Atendimento de Serviços Básicos Indicadores sociais Fortalecimento dos planos de infra-estrutura urbana e

acompanhamento da população.

Lançamento de resíduos/ efluentes

Solos/Recursos Hídricos/Ar/Fauna/ Flora

Risco de contaminação dos recursos hídricos e do solo

Indicadores de qualidade do ar, recursos hídricos e solos

Gerenciamento dos resíduos sólidos e de óleos e combustíveis; tratamento de efluentes;Programa de monitoramento dos efluentes e da água.

Estocagem da matéria-prima, insumos, subprodutos e biodiesel

Solos/Recursos hídricos/Ar/Fauna/ Flora

Risco de vazamento e contaminação

Indicadores de qualidade do ar, recursos hídricos e solos% da área potencialmente afetada

Gerenciamento dos resíduos sólidos e de óleos e combustíveis; tratamento de efluentes;Programa de monitoramento dos efluentes e da água.

Elaboração: STCP, 2006

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

• Impacto Negativo: Pressão sobre a Infra-estrutura de Transporte

O transporte de matéria-prima e posteriormente, o escoamento da produção até os locais de distribuição irão aumentar a pressão sobre a estrutura viária local.

Poderão ocorrer danos à estrutura rodoviária (estradas e vias urbanas), e também o aumento do risco de acidentes. Para que tais impactos não ocorram é necessário que sejam tomadas algumas medidas, no sentido de controlar a velocidade de circulação e a carga de caminhões dentro dos parâmetros estabelecidos por lei.

• Impacto Positivo: Sinergia entre o Complexo de Óleo Vegetal e Sucroalcooleiro

O Brasil é hoje o maior produtor mundial de etanol e lidera a produção mundial de cana-de-açúcar (principal matéria-prima do etanol), fato esse que coloca o país em uma situação de menor dependência de petróleo externo, diminuindo substancialmente os gastos com importações. A produção de biodiesel através da rota etílica irá resultar no aumento da demanda da produção de etanol, gerando um impacto positivo na economia regional através da dinamização do setor sucroalcooleiro.

O mesmo pode ocorrer no Complexo de Óleo Vegetal, quando a indústria de biodiesel adquire sua principal matéria-prima das esmagadoras e refinadoras, resultando na dinamização do setor secundário ligado ao agronegócio em diversas regiões brasileiras.

• Impacto Positivo: Reutilização de Rejeitos (Óleos Residuais)

A reutilização de óleos residuais como alternativa de matéria-prima para a produção de biodiesel ainda está em fase de estudos de viabilidade técnica e econômica. Considera-se, no entanto que essa alternativa pode reduzir o impacto ambiental provocados por esses resíduos, que, atualmente são destinados para aterros sanitários, estações de tratamento de efluentes, entre outros.

• Impacto Positivo: Incentivo à Pesquisa Ligada aos Processos Industriais

Com a dinamização do setor industrial para fins de produção do Biodiesel, demanda crescente por matéria-prima, mão-de-obra, assistência técnica, há tendência para o aumento de pesquisas na área industrial, podendo representar investimentos setoriais, mão-de-obra qualificada, utilização de novos processos de transformação da matéria-prima, economia de energia, diminuição dos impactos ambientais etc.

7.2.3.2 – Demanda por Mão-de-obra

• Impacto Positivo: Geração de Empregos e Renda

A produção de biodiesel em escala industrial deverá ser um grande vetor de geração de empregos. Embora o maior contingente de mão-de-obra seja na fase de produção de matéria-prima, a industrialização e transporte também irão gerar empregos diretos e indiretos em 2 momentos: na instalação e na operação.

Na fase de implantação haverá uma demanda de empregos ligados às atividades de engenharia (civil, estrutural e arquitetura) e construção da indústria. A indústria em operação gerará

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empregos na área operacional e administrativa, com o diferencial de serem postos de trabalho especializados.

O aumento da oferta de trabalho irá atrair pessoas de outros locais, ocasionando um aumento do fluxo migratório para os locais onde forem sendo instaladas usinas de produção.

• Impacto Positivo: Implantação de Cursos de Capacitação Profissional

Haverá um impacto positivo sobre a estrutura educacional local, com a demanda por implantação de cursos profissionalizantes para qualificar a mão-de-obra que será absorvida pela industria.

Na educação informal, pode ocorrer a contribuição da empresa na capacitação dos seus funcionários para o desenvolvimento de suas atividades, através de treinamento.

7.2.3.3 – Demanda por Materiais, Insumos, Equipamento, Serviços Gerais e Especializados

• Impacto Positivo: Fortalecimento, Estruturação e Diversificação do Setor Secundário e Terciário

Os setores secundário e terciário são incipientes em grande parte do território nacional, marcados por algumas limitações estruturais e de mercado.

A implantação do empreendimento industrial poderá contribuir para o fortalecimento, a estruturação e a diversificação da base produtiva do setor secundário da região escolhida. Parcela significativa dos materiais, insumos e equipamentos poderá até vir, inicialmente, de outros estados, entretanto poderão se instalar indústrias na região do empreendimento que diminuam esta dependência externa de materiais, insumos e equipamentos, refletindo no fortalecimento, estruturação e diversificação do setor industrial.

As atividades previstas no planejamento, implantação e operação do empreendimento industrial também terão reflexos diretos e indiretos sobre o setor de comércio e serviços da região onde será implantado.

O processo produtivo, considerando-se as características do projeto apresentadas anteriormente neste documento, implica no consumo de diferentes insumos, como materiais de construção, produtos químicos, material de embalagem, material de expediente, entre outros. Parcela significativa destes insumos poderá ser adquirida de empresas da região, proporcionando um estímulo ao comércio local e regional.

A demanda regional por serviços, como hotelaria, bares e restaurantes, agências de viagens, prestadores de serviços técnicos especializados, entre outros, também terá sua dinâmica alterada em função expansão da atividade produtiva proporcionada pela implantação do empreendimento.

Estes serão efeitos propulsores provocados pela instalação de uma atividade produtiva de grande significância, com relação à mobilização de capital, contribuindo para o fortalecimento do setor terciário e melhoras na sua estrutura e diversificação.

Outros benefícios ainda poderão ser sentidos no setor terciário, como o aumento da oferta de empregos locais, contribuindo para o incremento de outras atividades.

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• Impacto Positivo: Dinamização da Economia Regional/Arrecadação de Impostos

As atividades do empreendimento geram renda e recursos que são lançados na economia, com impacto na geração de empregos e renda nos setores primário, secundário e terciário. Tais empregos evoluem para novos empregos e mais renda, em um ciclo virtuoso para a economia regional.

Este impacto é significativo, na medida que uma parcela considerável dos empregos gerados será de famílias que residem na região, bem como poderá ser adquirida na região uma grande quantidade de serviços e bens utilizados pelo empreendimento.

O aumento da atividade produtiva leva ao crescimento econômico, e o crescimento é condição necessária, mas não suficiente, para assegurar o desenvolvimento. Se este crescimento for bem estruturado e canalizado para os setores que contribuem para melhorar o aumento do bem-estar da população o nível de desenvolvimento é alcançado.

O efeito que o empreendimento terá na economia regional pode ser expresso pelos empregos (diretos e indiretos) que serão criados com sua implantação e operação.

Como resultado deste processo, tem-se a dinamização da economia regional, que traz reflexos positivos para toda a economia do Estado e também para a população como um todo.

7.2.3.4 – Mudanças na Ordem Social e Econômica

• Impacto Negativo: Influência na Cultura de Populações Indígenas e Tradicionais

Em alguns Estados do Brasil, uma considerável parcela de indígenas vivem na zona rural ou nas cidades. São índios que abandonaram as malocas e migraram para a cidade. Por conseqüência, muitos de seus valores tribais desapareceram ou amalgamaram-se aos citadinos.

A instalação de um empreendimento nessas regiões irá promover mudanças de ordem social e econômica, principalmente no que se refere ao aumento da densidade demográfica em função da demanda de mão-de-obra.

• Impacto Negativo: Déficit no Atendimento de Serviços Básicos

Com o aumento populacional ocasionado pela implantação do parque industrial, poderá ocorrer um declínio de qualidade no atendimento dos serviços básicos de saúde (atendimento médico, internamentos, medicamentos etc), bem como, na área educacional (possibilidade de falta de vagas para novos estudantes, queda no nível de qualidade do ensino devido ao número acentuado de alunos em sala de aula, falta de escolas urbanas e/ou rurais próximas às áreas industriais etc). Para a população migrante que não conseguir colocação em área do projeto, poderá engrossar as filas no atendimento básico municipal, em torno de trabalho, assistência familiar, bolsa-família, moradia, alimentação, entre outros, sobrecarregando a já deficitária infra-estrutura da maioria dos municípios brasileiros.

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7.2.3.5 – Lançamentos de Resíduos/Efluentes

• Impacto Negativo: Risco de Contaminação dos Recursos Hídricos, Solo, Ar, Flora e Fauna

A emissão de efluentes proveniente do sistema de tratamento da indústria e a deposição inadequada dos resíduos sólidos serão uma fonte de impacto ambiental para a vegetação aquática e ciliar dos corpos hídricos locais. Este impacto poderá ser observado com intensidade significativa apenas na área de influência direta da industria, considerando a extensão da área de dispersão dos efluentes gerados.

Deve ser também considerada a possibilidade de vazamentos superficiais e no lençol freático da lagoa de decantação e de outras dependências da indústria (depósitos de produtos, canalizações). Estas instalações devem ser construídas e impermeabilizadas de acordo com especificações e normas técnicas atualmente em vigência no país.

Deve ser prevista a instalação de um reservatório de emergência para os efluentes, pois qualquer sistema de tratamento apresenta risco de acidentes e vazamentos.

7.2.3.6 – Estocagem de Matéria-prima, Insumos e Biodiesel

• Impacto Negativo: Risco de Vazamento e Contaminação

No transporte e armazenamento dos produtos químicos, existe o risco, ainda que remoto, da ocorrência de acidente ou vazamento desses produtos, que poderão ser carreados para corpos d'água, levando à alteração na qualidade de sua água e afetando a fauna da região.

7.3 – Análise Preliminar de Riscos na Distribuição

7.3.1 - Conceitos

De acordo com o Departamento de Energia dos Estados Unidos (United States Department of Transportation – USDOE), produto perigoso é “qualquer material sólido, líquido ou gasoso que seja tóxico, radioativo, corrosivo, quimicamente reativo, ou instável durante estocagem prolongada em quantidade que representa uma ameaça à vida, à propriedade ou ao meio ambiente”. Essa definição apresenta pouca especificidade para aplicação em transporte.

No Brasil, a classificação de um produto perigoso para transporte, é feita pelo fabricante, junto com a autoridade competente (Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT) para análise e estudos junto ao Fórum do Comitê de Peritos sobre Transporte de Produtos Perigosos das Nações Unidas, tomando como base as características físico-químicas do produto enquadrando-o numa classe de produtos perigosos.

A Análise Preliminar de Risco – APR (Preliminary Hazard Analysis – PHA) é uma análise que faz parte do programa de segurança padrão militar exigido nos Estados Unidos (Departamento de defesa, 1984) e tem objetivo de reconhecer os riscos previamente e, com isso, economizar tempo e gastos no replanejamento de grandes instalações industriais, caso os riscos fossem descobertos em etapa posterior.

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

7.3.2 – Matriz de Avaliação de Riscos

A Matriz de Avaliação Preliminar de Riscos é composta pela severidade conjugada à magnitude. A severidade é a gravidade dos danos que podem ser provocados pelo produto e a magnitude as dimensões do vazamento.

A classificação de severidade adotada, considera quatro categorias tradicionais da Análise Preliminar de Riscos e estabelece as classes conforme os danos que poderão ser provocados pelo incidente:

• Desprezível: Danos restritos ao local, não comprometendo o meio ambiente, se o derrame se restringir a pista pavimentada. Não existe risco de fogo ou explosão. É possível a aproximação sem comprometer à saúde.

• Marginal: Danos materiais são esperados e se restringem ao local. Pode contaminar os recursos hídricos e o solo. Não existe risco de fogo ou explosão. É possível controlar o evento sem comprometer a saúde.

• Crítico: Os danos podem se ampliar rapidamente. Requer a implementação de medidas de controle imediatas. Pode comprometer de forma significativa o ambiente e expor ao perigo a vida da usuários da rodovia. Isolar o local e não permitir a aproximação de terceiro. Afastar-se e solicitar apoio especializado.

• Catastrófico: Danos severos são esperados, emana gases tóxicos. Pode causar mortes e ferimentos graves aos atendentes, aos usuários da rodovia e as populações lindeiras. Isolar e evacuar o local rapidamente, comunicando a emergência ã prefeituras lindeiras.

As categorias de magnitude são distribuídas conforme a tabela 7.12. A avaliação foi realizada para a distribuição do biodiesel e da glicerina, até os mercados consumidores, e para aquisição dos álcoois etílicos e metílicos. As principais características desses produtos consideradas para prever a magnitude foram a densidade e a viscosidade cinemática.

A densidade é a capacidade que uma substância tem de se dissolver em outra, sendo que produtos mais densos oferecem maior resistência na dissolvição e mistura. A viscosidade cinemática é importante na determinação da velocidade que um produto se espalha no meio. Produtos pouco viscosos têm a tendência de se espalharem rapidamente sobre a superfície, dificultando as ações de controle. Portanto, a viscosidade cinemática, que é o quociente da viscosidade dinâmica pela densidade do fluido, expressa a resistência oferecida pela sustância ao escoamento (tabela 7.13).

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Tabela 7.12 – Categorias de Magnitude

MAGNITUDE CARACTERÍSTICAS

DERRAME PEQUENO

Vazamento ou derrame de uma única embalagem;

Pequeno vazamento de um embalagem até 200 litros (55 galões ou de um pequeno cilindro.

DERRAME MÉDIO

Pequeno vazamento contínuo (etá 20/hora) proveniente da válvula de fundo de um caminhão tanque;

Derrame de várias embalagens (menores do que 20 litros)

DERRAME GRANDE

Vazamento ou derrame de uma embalagem maior;

Derrames de várias embalagens (maiores do que 20 litros);

Derrame intenso oriundo de um caminhão tanque, de um contêiner ou de um tanque pressurizado.

Fonte: Real (2000); Adaptado por STCP (2006)

Tabela 7.13 – Caracterização da Densidade e da Viscosidade Cinemática dos Fluídos Analisados

FLUÍDOS DENSIDADE (20°C) VISCOSIDADE CINEMÁTICA

Álcool Etílico 0,79 0,174 a 0,182.10-6 m²/s (20°C)

Álcool Metílico 0,79 0,727.10-6 m²/s (20°C)

Glicerina 1,26

8310.10-6 m²/s (0°C)

1180.10-6 m²/s (20°C)

223.10-6 m²/s (40°C)

Biodiesel 0,875 a 0,9 0,37 a 5,8.10-6 m²/s (40°C)

Água 1,0 10.10-6 m²/s (20°C)Fonte: Real (2000); Adaptado por STCP (2006)

Com a combinação das classes de severidade e magnitude resulta a Matriz de Avaliação Preliminar de Riscos, como mostra a tabela 7.14

As características dos produtos utilizadas para determinar a magnitude na Análise Preliminar de Risco foram a toxidade à saúde humana, o graus de insalubridade, a estabilidade química, o ponto de fulgor, a solubilidade em água, a taxa de evaporação, produtos perigosos da decomposição, bioacumulação, persistência/degradabilidade e ecotoxidade (tabela 7.15).

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Tabela 7.14 – Matriz de Avaliação Preliminar de Risco

CATEGORIAS DE SEVERIDADE

CATEGORIAS DE MAGNITUDE

PEQUENO MÉDIO GRANDE

Catastrófico IV IV IV

Crítico III III IV

Marginal II II III

Desprezível I I II

Fonte: Real (2000); Adaptado por STCP (2006)

Tabela 7.15 – Severidades na Análise Preliminar de Risco.

CARACTERÍSTICAS ÁLCOOL ETÍLICO

ÁLCOOL METÍLICO GLICERINA BIODIESEL

Grau de Insalubridade Mínima Máxima --- ---

Estabilidade Química Estável Estável Estável Estável

Ponto de Fulgor 13°C 40°C 176º C 100º C

Solubilidade em água Facilmente dissolvido Solúvel Solúvel Insolúvel

Taxa de Evaporação (acetato de butila=1) 3,4 (éter=1) 5,9 (éter=1)

higroscópico ---

Limite de explosividade (inferior/superior)

3,3/19% 6/36% --- ---

Produtos perigosos da decomposição

Monóxido de carbono e outros vapores tóxicos

Monóxido de carbono, Dióxido de carbono, Formaldeído

---Hidrocarbonetos de menor e maior peso molecular e coque.

Bioacumulação Não esperadoLog Pow –0,82/-0,66 BCF: < 10 (Leuciscus idus)

Não deve causar bioacumulação através das cadeias alimentares

Não deve causar bioacumulação através das cadeias alimentres do meio-ambiente.

Persistência/ Degradabilidade

Boa biodegradabilidade

Possibilidade de ocorrer contaminação do solo e da água por não ser totalmente solúvel. Biodegradabilidade de 1 a 10 dias.

Total biodegradabilidade Biodegradável

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

CARACTERÍSTICAS ÁLCOOL ETÍLICO

ÁLCOOL METÍLICO GLICERINA BIODIESEL

EcotoxidadeAtóxico em pequenas concentrações

LC50 (96h): 10800 mg/l (salmo gaidneri/oncorhynchus mykiss)

EC50 (48h): 24500 mg/l (daphinia magna)

EC50 (72h): 8000 mg/l (algae)

Toxidade aquática à crustáceos, algas e peixes (Tlm96) para glicerol >100mg/l, definido por NIOSHI como insignificante.

Pode formar películas superficiais sobre a água contaminando os cursos d`água. É moderadamente tóxico à vida aquática. Derramamentos podem causar mortalidade de organismos aquáticos, prejudicar a vida selvagem, particularmente as aves. Pode afear o solo e, por percolação, degradar a qualidade das águas do lençol freático.

Fonte: anexo II; Adaptado por STCP (2006)

7.3.2.1 – Análise dos Produtos

• Glicerina

De acordo com a ONU, baseado em UNEP (1995), a Glicerina é enquadrada como produto químico de classe 3 (líquidos inflamáveis) devido às suas propriedades físico-químicas. É composta por uma única substância, o Glicerol, também conhecida como Propanotriol, Trihidroxipropano ou álcool glicílico.

Em eventual exposição humana ao produto, podem ocorrer efeitos adversos à saúde e comprometer a integridade física da vítima. Se ingerida pode causar dor de cabeça, náusea e aumento na produção de urina. Em caso de inalação pode causar irritação nas mucosas e vias respiratórias. O contato direto com a pele por um período prolongado pode causar irritação e em contato com os olhos pode causar irritação e lacrimejamento.

Na ocorrência de vazamentos ou derramamentos no meio ambiente, devido a solubilidade do produto em água, este pode contaminar, rios, córregos e outras correntes de água. Caso grandes quantidades de glicerina entre em contato com corpos d'água, esta pode provocar danos a fauna e flora aquática bem como espécies terrestres. Este produto deve ser armazenado em embalagens fechadas e em local seco e ventilado, conservando longe de fontes de ignição, e não deve ser armazenado com materiais oxidantes. O produto possui total degradabilidade mas em concentrações muito elevadas pode prejudicar a fauna.

Produto extremamente inflamável, que deve ser manuseado com a utilização de equipamentos de proteção individual. O correto armazenamento se dá em local sinalizado e ventilado para líquidos inflamáveis. Deve ser evitado o contato com produtos incompatíveis (ácido acético, oxicloreto de cálcio, óxidos de cromo e hidretos de metal alcalinos) e quando houver a

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necessidade de descarte diluir a Glicerina em solvente combustível, queimar em um incinerador químico equipado com pós-queimador e lavador de gases.

A fim de manter a estabilidade e evitar a reatividade, o produto não deve entrar em contato com materiais oxidantes pois pode reagir violentamente. Deve estar armazenado em temperatura ambiente e em recipiente bem fechado pois a glicerina absorve água.

A Glicerina possui ponto de fulgor elevado (176º C) que dificulta a auto-ignição. É um produto viscoso e de baixa mobilidade o que contribui para reduzir a magnitude do acidente. Devido a estas situações a glicerina é enqüadrada na classe de risco II, nas duas situações apresentadas na tabela 7.16. Informações complementares podem ser encontradas no anexo II.

Tabela 7.16 – Análise de Risco Preliminar no Transporte da Glicerina

RISCO CAUSA EFEITO CATEGORIA DE RISCO

MEDIDAS PREVENTIVAS OU CORRETIVAS

Vazamento de glicerina, durante o transporte rodoviário.

Falha humana na condução do veiculo transportador;

Falha mecânica no veiculo;

Condições precárias de sinalização e no pavimento de rodovias.

Contaminação do solo e recursos hídricos próximos ao local do acidente.

II

Realizar treinamentos contínuos com os motoristas;Revisar periodicamente os veículos utilizados no transporte;Prover o veículo com equipamento adequado para estancar vazamentos do produto transportado;Colocar em ação o Plano de Atendimento à Emergência;Entrar em contato com o órgão ambiental estadual ou municipal, para comunicar a ocorrência do incidente.

Vazamento de glicerina estocado na unidade industrial.

Tanques e área de estocagem inadequadas;

Terreno com solo instável geologicamente.

Contaminação do solo e recursos hídricos.

II

Eliminar, de imediato, o vazamento ou o transbordamento do produto;Retirar ou coletar o produto que vazou, em fase livre;Esvaziar o tanque que apresentou ou que esteja sob suspeita de vazamento;Entrar em contato com o órgão ambiental estadual ou municipal, para comunicar a ocorrência do incidente.

Elaboração: STCP, 2006

• BiodieselDe acordo com a ONU baseado em UNEP (1995) o biodiesel é enquadrado como produto químico de classe 3 (líquidos inflamáveis) devido às suas propriedades físico-químicas. É composto por hidrocarbonetos, enxofre, compostos nitrogenados e oxigenados.

Em eventual exposição humana ao produto, pode comprometer a saúde da vítima. Se o produto for inalado pode irritar as vias aéreas superiores, se ingerido pode causar pneumonia química por aspiração durante o vômito, em contato com a pele pode causar lesões irritantes e em contato com os olhos causa irritação com vermelhidão das conjuntivas.

Na ocorrência de vazamentos ou derramamentos com a possibilidade de atingir rios, córregos e nascentes, a insolubilidade do produto favorece a formação de uma película sobre a água

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda7.38

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prejudicando sua oxigenação transmitindo condições desfavoráveis à vida aquática bem como ao seu uso. O correto armazenamento se dá em local sinalizado e ventilado para líquidos inflamáveis, provido de piso impermeável, isento de materiais combustíveis e com dique de contenção para reter o produto em caso de vazamento.

Como é um produto inflamável, deve ser manuseado com a utilização de equipamentos de proteção individual. No armazenamento deve-se providenciar ventilação local exaustora onde os processos assim o exigirem. Todos os elementos condutores do sistema em contato com o produto devem ser aterrados eletricamente e usar ferramentas anti-faiscantes. Quando houver a necessidade de descarte necessita-se realizar tratamento prévio.

Com objetivo de manter a estabilidade e evitar a reatividade, o produto não deve entrar em contato com sustâncias incompatíveis (oxidantes). Deve-se também evitar contato com hidrocarbonetos de menor e maior peso molecular e coque.

Mesmo sendo um produto biodegradável, é um produto que oferece risco ao meio ambiente por ser insolúvel em água. Sua ecotoxidade é moderada, e derramamentos em corpos d'água podem causar a morte de espécies aquáticas. Possui ponto de fulgor elevado (100º C) o que dificulta a auto-ignição. Devido à sua oleosidade, caso o produto se espalhe pela rodovia, traz riscos aos usuários por reduzir a aderência dos veículos na pista, contribuindo com o aumento do risco de acidentes. É um produto com boa mobilidade e necessita de ações rápidas para conter e minimizar os danos (medidas remediadoras). Devido a estas situações o Biodiesel é enqüadrado na classe de risco III em unidades de mistura do diesel com o óleo vegetal, classe IV em acidentes rodoviários e classe III para vazamentos em unidades industriais (tabela 7.17).

No transporte de biodiesel existe regulamentação específica, que identifica o produto e sua classe de risco. Estas normas seguem um único padrão em todo o território nacional. Informações complementares estão descritas no anexo II.

Tabela 7.17 – Análise de Risco Preliminar no Transporte de Biodiesel

RISCO CAUSA EFEITO CATEGORIA DE RISCO

MEDIDAS PREVENTIVAS OU CORRETIVAS

Vazamento de combustível durante a mistura do diesel com óleo vegetal, para formar o biodiesel.

Falha mecânica no equipamento onde é realizada a mistura do óleo vegetal com óleo diesel;Rompimento ou vazamento no elementos condutores.

Contaminação do solo e recursos hídricos próximos ao local da mistura

III

Revisar periodicamente os equipamentos que realizam as misturas de combustíveis;Acionar a equipe responsável pelo Plano de Atendimento a Emergência.

Vazamento de biocombustível, durante o transporte rodoviário.

Falha humana na condução do veiculo transportador.;

Falha mecânica no veiculo;

Condições precárias de sinalização e no pavimento de rodovias.

Contaminação do solo e recursos hídricos próximos ao local do acidente;

Risco de acidentes com veículos devido ao contato com o óleo na pista.

IV

Realizar treinamentos contínuos com os motoristas;Revisar periodicamente os veículos utilizados no transporte;Prover o veículo com equipamento adequado para estancar vazamentos do produto transportado;Colocar em ação o Plano de Atendimento à Emergência;Entrar em contato com o órgão ambiental estadual ou municipal, para comunicar a ocorrência do incidente.

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

RISCO CAUSA EFEITO CATEGORIA DE RISCO

MEDIDAS PREVENTIVAS OU CORRETIVAS

Vazamento de biocombustível estocado na unidade industrial.

Tanques e área de estocagem inadequadas;

Terreno com solo instável geologicamente

Contaminação do solo e recursos hídricos

III

Eliminar, de imediato, o vazamento ou o transbordamento do produto;Retirar ou coletar o produto que vazou, em fase livre;Esvaziar o tanque que apresentou ou que esteja sob suspeita de vazamento;Entrar em contato com o órgão ambiental estadual ou municipal, para comunicar a ocorrência do incidente.

Elaboração: STCP, 2006

• Álcool Etílico

De acordo com a ONU, baseado em UNEP (1995), o álcool etílico é enquadrado como produto químico de classe 3 (líquidos inflamáveis) devido às suas propriedades físico-químicas. É composto por uma única substância, o Etanol, também denominado por Etanol de Fermentação.

O grau de insalubridade do produto é mínima, mas em eventual exposição humana ao produto, pode oferecer risco à saúde da vítima. Se o produto for ingerido em grandes quantidades, pode causar danos ao fígado e rins; em caso de inalação por tempo prolongado, podem ocorrer tosse, deficiência respiratória, vertigens e intoxicação; em contato com os olhos pode causar irritação.

Na ocorrência de vazamentos ou derramamentos no meio ambiente, devido a alta solubilidade do produto em água, este pode contaminar esgotos, rios, córregos, solos, lençóis freáticos e outras correntes de água. Por ser volátil os vapores emitidos do produto são prejudiciais à fauna e uma possibilidade de concentração de vapor pode dar margem a auto ignição desencadeando incêndio no local do derramamento. Na ocorrência de grande quantidade de álcool etílico entrar em contato com corpos d'água este pode provocar grandes danos a fauna e flora aquática, bem como espécies terrestres que dependem deste para sobreviver. Deve-se armazenar o produto em recipientes bem fechados que não sejam constituídos de alumínio. O produto possui boa degradabilidade mas em concentrações muito elevadas pode comprometer a fauna.

Produto extremamente inflamável, que deve ser manuseado com a utilização de equipamentos de proteção individual. Deve-se aliviar a pressão dos compartimentos que contém o produto antes de sua retirada e ventilar o local para a dispersão dos vapores após o alívio de pressão. O correto armazenamento se dá em local sinalizado e ventilado para líquidos inflamáveis, depositando o produto distante de fontes de ignição ou luz solar direta. Deve-se evitar contato com produtos incompatíveis e quando houver a necessidade de descarte realizar tratamento prévio.

A fim de manter a estabilidade e evitar a reatividade, o produto não deve permanecer exposto à luz solar direta, alta temperatura, umidade e fontes de ignição. Deve-se também evitar contato com ácido sulfúrico, alumínio, agentes oxidantes fortes, halogênios, monóxido de carbono e outros vapores tóxicos.

Em relação aos riscos ao meio ambiente, por o álcool etílico apresentar boa mobilidade devido à baixa densidade e baixa viscosidade cinemática, possui alta capacidade de dispersão no meio ambiente tornando o tempo para a tomada de decisões mitigadoras fator decisivo de redução da

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magnitude do dano. Em caso de vazamento ou de derramamento em unidades de armazenamento ou acidentes em rodovias, por se tratar de um produto extremamente inflamável, no momento em que ocorre o acidente o perigo de incêndio é eminente, devido à possíveis fontes de ignição muito próximas do local (faíscas de equipamento elétricos e a alta temperatura de equipamentos e motores). Na ocorrência de ignição deste produto no meio ambiente e que a dispersão não esteja controlada, as conseqüências podem ser sérias, onde o incêndio provocado pode atingir a vegetação, residências etc. Devido a estas situações o álcool etílico é enquadrado na classe de risco IV (tabela 7.18).

Para o transportes de álcool etílico existe regulamentação específica para cada modal de transporte, que identifica o produto e sua classe de risco. Estas normas seguem um único padrão obedecido internacionalmente. Informações adicionais estão disponíveis no anexo II.

Tabela 7.18 – Analise Preliminar de Risco do Transporte do Álcool Etílico

RISCO CAUSA EFEITO CATEGORIA DE RISCO

MEDIDAS PREVENTIVAS OU CORRETIVAS

Vazamento de álcool etílico, durante o transporte rodoviário

Falha humana ou imprudência na condução do veiculo transportador;

Falha mecânica no veiculo;

Condições precárias de sinalização e no pavimento de rodovias.

Contaminação do solo, recursos hídricos e exposição da fauna e flora próxima ao local do acidente à riscos;

Risco de acidentes com veículos devido ao contato com o óleo na pista;

Risco de incêndio no caso de contato com fontes de ignição (faísca, cirgarro).

IV

Realizar treinamentos contínuos com os motoristas;Realizar revisões periódicas nos veículos utilizados no transporte;Prover o veículo com equipamentos adequado para estancar vazamentos atendendo as características do produto transportado;Colocar em ação o Plano de Atendimento à Emergência (se existir);Isolar o vazamento de todas as fontes de ignição;Tomar os cuidados necessários para o produto e a água de lavagem não atinjam fontes de água corrente;Entrar em contato com as autoridades ambientais locais e assistência médica imediata informando a ocorrência do acidente.

Vazamento de álcool etílico estocado na unidade industrial

Tanques e área de estocagem inadequadas;

Terreno com solo instável geologicamente;

Contaminação do solo, recursos hídricos, fauna e flora no local de estocagem na unidade industrial;

Risco de incêndio no caso de contato com fontes de ignição (faísca, cigarro)

IV

Eliminar, de imediato, o vazamento ou o transbordamento do produto utilizando material absorvente;Coletar rapidamente o produto que vazou, com a utilização de material absorvente;Esvaziar o tanque que apresentou ou que esteja sob suspeita de vazamento;Medir e eliminar os riscos de explosões em ambientes fechados;Entrar em contato com as autoridades ambientais locais e assistência médica imediata informando a ocorrência do acidente.

Elaboração: STCP, 2006

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

• Álcool Metílico

De acordo com a ONU, baseado em UNEP (1995), o álcool metílico é enquadrado como produto químico de classe 3 (líquidos inflamáveis) devido às suas propriedades físico-químicas. É composto por uma única substância, o Metanol, também conhecida como álcool colonial, álcool colúmbia ou álcool de madeira.

O grau de insalubridade é máxima, se inalado em grandes quantidades pode ser fatal, afetar o sistema nervoso central e causar cegueira; se ingerido mesmo em pequenas quantidades pode causar danos ao fígado. Causa ressecamento da pele em caso de contato direto. Em contato com os olhos causa irritação e em contínua exposição pode causar lesões.

Na ocorrência de vazamentos ou derramamentos no meio ambiente, devido a solubilidade do produto em água, pode contaminar esgotos, rios, córregos, solos, lençóis freáticos e outras correntes de água. Por ser volátil os vapores emitidos do produto são prejudiciais a fauna e o ponto de fulgor pode dar margem à auto-ignição desencadeando incêndio no local do derramamento. Na ocorrência de o produto entrar em contato com corpos d`água este pode provocar grandes danos à fauna e flora aquática bem como espécies terrestres que dependem deste para sobreviver. Deve-se armazenar o produto em recipientes bem fechados que não tenham em sua composição zinco, cobre e/ou alumínio. Deve-se tomar um cuidado extremo para o produto não contaminar o solo e a água, por não ser totalmente solúvel sendo a biodegradabilidade de 1 - 10 dias.

É um produto inflamável, ao manusear deve-se utilizar de equipamentos de proteção individual, aliviar a pressão dos compartimentos que contém o produto e ventilar o local para a dispersão dos vapores após o alívio de pressão. O correto armazenamento se dá em local ventilado e sinalizado para líquidos inflamáveis, depositando o produto longe de fontes de ignição e/ou luz solar direta. Evitar contato com produtos incompatíveis e não descartar o produto sem tratamento prévio.

Com objetivo de manter a estabilidade e evitar a reatividade, o produto não deve permanecer exposto a luz solar direta, alta temperatura, umidade e fontes de ignição; evitar contato com agentes oxidantes fortes, alguns plásticos, coberturas, alumínio, formaldeído e monóxido e dióxido de carbono.

O álcool metílico apresenta boa mobilidade devido à baixa densidade e baixa viscosidade cinemática, possui alta capacidade de dispersão no meio ambiente tornando o tempo para a tomada de decisões mitigadoras fator decisivo de redução da magnitude do dano. Em caso de vazamento ou de derramamento em unidades de armazenamento ou acidentes em rodovias, ao se tratar de um produto inflamável, no momento em que ocorre o acidente o perigo de incêndio é eminente, devido à possíveis fontes de ignição muito próximas do local (faíscas de equipamento elétricos, alta temperatura de equipamentos e motores). Na ocorrência de ignição deste produto no meio ambiente e a dispersão do produto não esteja controladas as conseqüências podem ser sérias, podendo o incêndio atingir a vegetação, residências, etc. Devido a estas situações o álcool metílico é enquadrado na classe de risco IV (tabela 7.19). Informações complementares podem ser encontradas no anexo II.

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

Tabela 7.19 – Análise de Risco Preliminar no Transporte de Álcool Metílico

RISCO CAUSA EFEITO CATEGORIA DE RISCO

MEDIDAS PREVENTIVAS OU CORRETIVAS

Vazamento de álcool metílico, durante o transporte rodoviário

Falha humana ou imprudência na condução do veiculo transportador;

Falha mecânica no veiculo;

Condições precárias de sinalização e no pavimento de rodovias.

Contaminação do solo, recursos hídricos e exposição da fauna e flora próxima ao local do acidente à riscos;

Risco de acidentes com veículos devido ao contato com o óleo na pista;

Risco de inêndio no caso de contato com fontes de ignição (faísca, cirgarro).

IV

Realizar treinamentos contínuos com os motoristas;Realizar revisões periódicas nos veículos utilizados no transporte;Prover o veículo com equipamentos adequado para estancar vazamentos atendendo as características do produto transportado;Colocar em ação o Plano de Atendimento à Emergência;Isolar o vazamento de todas as fontes de ignição;Tomar os cuidados necessários para o produto e a água de lavagem não atinjam fontes de água corrente;Entrar em contato com as autoridades ambientais locais e assistência médica imediata informando a ocorrência do acidente.

Vazamento de álcool metílico estocado na unidade industrial

Tanques e área de estocagem inadequadas;

Terreno com solo instável geologicamente

Contaminação do solo, recursos hídricos, fauna e flora no local de estocagem na unidade industrial;

Risco de incêndio no caso de contato com fontes de ignição (faísca, cigarro)

IV

Eliminar, de imediato, o vazamento ou o transbordamento do produto utilizando material absorvente;Coletar rapidamente o produto que vazou, com a utilização de material absorvente;Esvaziar o tanque que apresentou ou que esteja sob suspeita de vazamento;Medir e eliminar os riscos de explosões em ambientes fechados;Entrar em contato com as autoridades ambientais locais e assistência médica imediata informando a ocorrência do acidente.

Elaboração: STCP, 2006

7.3.2.2 - Regulamentação no Transporte de Produtos Perigosos.

Desde outubro de 1983, com a entrada em vigor do Decreto nº. 88.821, o Brasil regulamenta o transporte rodoviário de produtos perigosos, utilizando como base as recomendações da ONU.

Devido à imperfeições encontradas no decreto nº. 88.821, o Governo revogou este Decreto e em 18/05/1988 aprovou o Decreto nº 96.044 que, segundo a mesma autoria foi considerado satisfatório pela maioria dos envolvidos com o transporte de produtos perigosos. O novo decreto era complementado com normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Através do Decreto nº 1.797 de janeiro de 1996, Acordo para a Facilitação do Transporte de Produtos Perigosos no Mercosul, foram estabelecidas normas e procedimentos para o transporte destes materiais, entre os países membros do acordo.

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7 – Avaliação Ambiental Preliminar da Cadeia de Produção e Distribuição do Biodiesel

Os itens regulamentados são os seguintes: veículos e equipamentos; acondicionamento da carga; itinerário; estacionamento; pessoal envolvido na operação do transporte; documentação; serviço de acompanhamento técnico especializado; procedimentos em caso de emergência, acidentes ou avaria; fabricante e do importador; transportador; fiscalização; infrações e penalidades.

Tendo em vista a evolução técnica das normas e padrões praticados internacionalmente e com base nas recomendações emanadas do Comitê de Peritos das Nações Unidas, em 2004 foi publicado a atualização das Instruções Complementares ao Regulamento do Transporte Terrestre de Produtos Perigosos (Resolução N°. 420/2004).

A tabela 7.20 mostra regulamentação específica para identificação do produto e sua classe de risco em cada modal de transporte. Esta regulamentação segue um único padrão obedecido internacionalmente.

Tabela 7.20 – Identificação dos Produtos e suas Classes de Risco no Transporte

CARACTERÍSTICAS

PRODUTOS

GLICERINA* BIODIESEL ÁLCOOL ETÍLICO ÁLCOOL METÍLICO

Transporte Terrestre --- Código (MT, res. 420/2004) Código Hazchem 2YE. Código de risco

químico 2PE

Transporte Fluvial --- --- --- ---

Transporte Marítimo --- --- IMGD: 1170 IMGD: 3087

Transporte Aéreo --- --- ICAO/IATA: 1170 ICAO/IATA: 1230

Nº ONU --- 3082 1170 123,

Nome apropriado para embarque ---

Substâncias que apresentam riscos para o meio ambiente, líquidas, N.E.

UN 1170 Etanol (Álcool Etílico) Metanol

Classe de risco --- 9 3 3 (6.1)

Nº de risco --- 90 33 336

Classe de embalagem --- --- II II

* A glicerina não se encontra na relação de produtos perigosos, porém é um produto sujeito à fiscalização pela Polícia Civil (anexo V)Fonte: anexo II; adaptação: STCP (2006)

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