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Simbiótica, Ufes, v.único, n.5. dezembro - 2013 Revista Simbiótica - Universidade Federal do Espírito Santo - Núcleo de Estudos e Pesquisas Indiciárias. Departamento de Ciências Sociais - ES - Brasil - [email protected] 86 As Ciências Sociais e os Estudos Pós-Coloniais: entre a crítica e o enriquecimento epistêmico Recebido em 28-06-2013 Aceito para publicação em 20-12-2013 Edison Romera Junior 1 Resumo: O artigo tem como objetivo apresentar sinteticamente a crítica epistemológica dos Estudos Pós-Coloniais destinada ao conhecimento elaborado nas Ciências Sociais hegemônicas ocidentais, com pretensões universalizantes, mais especificamente europeia e norte-americana, caracterizando fundamentalmente um denominado colonialismo do saber. Destaca-se que concomitantemente com a referida crítica, é possível alcançar um enriquecimento epistêmico ao saber sociológico por meio de um diálogo respeitoso e responsável, valorizando de igual modo os saberes, teorias, discursos e hermenêuticas elaboradas em outras geografias consideradas “subalternas”, e mais especificamente do continente latino-americano. Apresentando, portanto, uma hipótese viável de hibridez do conhecimento. Palavras-chave: Ciências Sociais; estudos pós-coloniais; crítica epistêmica; conhecimento. 1 Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: [email protected]

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  • Simbitica, Ufes, v.nico, n.5. dezembro - 2013

    Revista Simbitica - Universidade Federal do Esprito Santo - Ncleo de Estudos e Pesquisas Indicirias.

    Departamento de Cincias Sociais - ES - Brasil - [email protected]

    86

    As Cincias Sociais e os Estudos Ps-Coloniais: entre a crtica e o enriquecimento epistmico

    Recebido em 28-06-2013 Aceito para publicao em 20-12-2013

    Edison Romera Junior 1

    Resumo: O artigo tem como objetivo apresentar sinteticamente a crtica epistemolgica dos Estudos

    Ps-Coloniais destinada ao conhecimento elaborado nas Cincias Sociais hegemnicas ocidentais,

    com pretenses universalizantes, mais especificamente europeia e norte-americana, caracterizando

    fundamentalmente um denominado colonialismo do saber. Destaca-se que concomitantemente com

    a referida crtica, possvel alcanar um enriquecimento epistmico ao saber sociolgico por meio de

    um dilogo respeitoso e responsvel, valorizando de igual modo os saberes, teorias, discursos e

    hermenuticas elaboradas em outras geografias consideradas subalternas, e mais especificamente

    do continente latino-americano. Apresentando, portanto, uma hiptese vivel de hibridez do

    conhecimento.

    Palavras-chave: Cincias Sociais; estudos ps-coloniais; crtica epistmica; conhecimento.

    1 Graduando em Cincias Sociais pela Universidade Federal do Esprito Santo. E-mail: [email protected]

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    1. Introduo

    Em uma entrevista realizada com o pensador criativo e intelectual polmata brasileiro, Darcy

    Ribeiro, no ano de 1978, este que considerado de importncia fundamental no debate

    concernente a constituio do campo das Cincias Sociais no Brasil 2, refere-se aos cientistas

    brasileiros e aos cientistas sociais em particular como Cavalo-de-Santo3, ou seja, como

    meros receptculos e reprodutores das teses construdas e fornecidas por intelectuais de

    outras geografias consideradas como centros hegemnicos de produo do conhecimento.4

    Pelo que sugere a perspectiva dos debates ps-coloniais na Amrica Latina, o cenrio

    nacional ainda se encontra com poucas mudanas. Levando em considerao que a

    predominncia do referencial terico e epistmico estudado em nossas universidades

    pblicas ou privadas ainda , com rarssimas excees, de contedos eurocntricos e norte-

    americanos. digno questionar at mesmo quais autores, textos e teorias so conferidos e

    legitimados como clssicos perante a sociologia brasileira.

    Cogita-se, portanto, se possvel elaborar uma cincia, ou mais especificamente, uma

    sociologia para alm destes centros hierrquicos de conhecimento. Segundo Walter D.

    Mignolo5, o horizonte pedaggico estabelecido pela hierarquia epistmica colonial na

    modernidade caracterizado, entre outros, pela lngua nacional e pelo lugar hierrquico que

    ocupam estas linguagens na estrutura epistmica de poder. A ampliao destas formas de

    conhecimento, a partir do sculo XIX, e a prpria organizao das cincias sociais resultou na

    desconcertante e radical hiptese de que, las lenguas adecuadas para las ciencias sociales

    fueron, principalmente, el francs, el ingls y el alemn.6

    Catherine Walsh7 caracteriza esta formao e articulao epistemolgica como colonialidade

    do saber, e explica que este o posicionamento do eurocentrismo como a nica perspectiva

    de conhecimento, descartando concomitantemente a existncia e viabilidade de outros

    2 Bomeny, 2001.

    3 A expresso Cavalo-de-Santo utilizada na religio do candombl e em outras religies afro-brasileiras, em

    que a filha ou filhos-de-santo incorporam ou recebem em seu prprio corpo uma entidade espiritual que os controlam em absoluto. 4 Ribeiro, 2010.

    5 Mignolo, 2001.

    6 Ibid., 2001, p.176.

    7 Walsh, 2008.

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    saberes e racionalidades epistmicas, assim como outros conhecimentos que no sejam da

    mesma matriz dos homens brancos europeus ou europeizados.

    2. Da crtica ao enriquecimento epistmico

    Esta forma de ocidentalizao, que segundo alguns intelectuais, foi atravs do colonialismo

    e da emancipao das colnias de povoamento, [que] a ocidentalizao do mundo marca a

    nova era planetria8, emancipao esta que encontra seu modelo, suas normas e suas

    concepes sob o imperialismo europeu ocidental, ou em outras palavras, segundo Serge

    Latouche, ocorre justamente um etnocdio.9

    Porto-Gonalves10 explicita esta problemtica ao sinalizar que a produo do conhecimento

    aqui nos trpicos, referindo-se de modo significativo s teses ps-coloniais, no devem ser

    tratadas como um marco das cincias sociais latino-americanas, no incorrendo assim, na

    mesma falcia de reproduo geopoltica de conhecimento, sedimentada sob a gide do

    eurocentrismo, que caracteriza o conhecimento elaborado em outras fontes, que no s dos

    centros hegemnicos e, desenvolvidas e escritas em outras lnguas que no-hegemnicas,

    configurariam meros saberes locais ou regionais. E assim, torna grfica a questo

    esclarecendo que:

    como se houvesse um saber atpico, um saber-de-lugar-nenhum, que se quer

    universal, e capaz de dizer quais saberes so locais ou regionais. Assim como cada

    um, de cada lugar do mundo, tem de assinalar em seu endereo eletrnico o pas

    onde mora e de onde fala .br (Brasil) ou .ve (Venezuela); ou .mx (Mexico) ou .cu

    (Cuba) ou .ar (Argentina) ou .co (Colombia) aquele que fala a partir dos EUA no

    precisa por .us ao seu endereo e, assim, como se falasse de lugar-nenhum

    tornando familiar que cada qual se veja, sempre, de um lugar determinado,

    8 Morin, 2005, p.24.

    9 Quando duas culturas entram em contato (...) [e] o contato no se traduz numa troca equilibrada e sim em

    um fluxo massivo de mo nica, a cultura receptora invadida, ameaada em sua prpria existncia e pode ser considerada vtima de uma verdadeira agresso. Se a agresso for, alm disso, fsica, trata-se do desaparecimento puro e simples, ou genocdio. Se a agresso for simblica, o genocdio apenas cultural, o etnocdio. O etnocdio o estgio supremo da desculturao (Latouche, 1994, p. 63). 10

    Porto-Gonalves, 2005.

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    enquanto haveria aqueles que falam como se fossem do mundo e no de nenhuma

    parte especifica. No Brasil, h o nordestino, o sulista e o nortista, mas no h o

    sudestino, nem o centro-oestista (Referente regio Centro-Oeste, hoje dominada

    pelos grandes capitais agronegcios, sobretudo e, portanto, extenso do

    Centro). Afinal, o sudeste o centro e, como tal, no parte. o todo! E a melhor

    dominao, sabemos, aquela que, naturalizada, no aparece como tal. J houve

    poca em que se ps o verbo ao. Todavia, a palavra, se verbo, indica ao.11

    A crtica ao eurocentrismo uma crtica elaborada sua episteme e sua lgica que se

    desenvolve por essencialismos, sucessivas separaes e reducionismos diversos. O interesse

    fundamental no trata de uma busca por privilgios, seno por um direito epistemolgico,

    como sugere Mignolo12, no permitindo sucumbir diante da diferena colonial, mas sim,

    pelo contrrio, capitaliz-la.

    A lgica desta colonizao, de conquista e domnio em diversas esferas, um ato de grande

    violncia. O que no Brasil denominou-se por descobrimento equivaleu de fato a um

    encobrimento, ou de modo mais incisivo, a um apagamento do outro, tanto da histria dos

    povos originrios do Brasil e da frica, quanto das capacidades de se fazer, se colocar

    hermeneuticamente no mundo e de ser na contemporaneidade. J foi diligentemente

    desmentido que tal, concomitantemente, no significou um encontro de culturas, como

    outrora j desejaram escamotear a violncia de sua invaso; pois, o que de fato ocorreu, foi

    um imenso desencontro, um verdadeiro choque de civilizaes13. Assim en esa visin y en

    esa historia, es lgico que la colonialidad fuera pasada por alto o disfrazada de injusticia

    necesaria en nombre de la justicia14.

    A colonizao implica que uma nao com sua diversidade cultural, memria, histria e

    religio submeta-se outra, perdendo inevitavelmente seu carter histrico. Ao aderir

    lgica do outro, assumiu formas polticas, hbitos culturais e expresses religiosas e a lngua

    11

    Porto-Gonalves, 2005, p.9. 12

    Mignolo, 2001. 13

    Boff, 2000, p.15-6. 14

    Mignolo, 2007, p.33. Grifo nosso.

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    do dominador. Aim Csaire15 questiona se, dentre todas as formas possveis de contato,

    teria sido esta operada pelo europeu a mais apropriada? Ele responde categoricamente que

    no. Por causa deste processo os povos colonizados apresentam, ainda que posteriormente

    a colonizao, uma enorme dificuldade em elaborar sua prpria identidade. So forados a

    se ver segundo a perspectiva do outro. Neste processo no h contato humano, existem

    apenas relaes de dominao e de submisso, transformando o colonizador numa espcie

    de vigilante, superior, suboficial inquestionvel, em contrapartida, ao que sofre a

    colonizao, em instrumento de produo. Segundo Csaire, a equao est formulada,

    colonizao = coisificao.16

    O pensamento legitimatrio de auto-absolvio, como afirmou Albert Memmi17, impingido

    pelo europeu como portador de um conhecimento civilizacional e histrico superior,

    galgando, como misso e por mrito, iluminar as trevas caractersticas e latentes do

    colonizado. Esta sua feitura permitiria com que vivesse com certa harmonia cognitiva e

    emocional como benfeitor. Enquanto que, ao subalterno, resta-lhe ser reconhecido no

    obscurantismo e mltiplas defasagens que lhe so devidas e assim, inscreve-se aqui a

    surpreendente atitude mental chamada paternalista.18 Est construda, desta forma, a

    noo de protetorado, afirmado pelo que colonializa, em sua linguagem e construes

    ideolgicas de domnio, que o subalterno seja encarado como dbil, sugerindo, com isso,

    que tal deficincia reclama proteo.19 Diante deste cenrio, A. Csaire declara com grande

    contundncia: esta Europa, citada ante o tribunal da razo e ante o tribunal da

    conscincia, no pode justificar-se; e se refugia cada vez mais em uma hipocrisia ainda mais

    odiosa, porque tem cada vez menos probabilidade de enganar. A Europa indefensvel20.

    A questo ps-colonial de que este artigo se ocupa trata da crtica s Cincias Sociais, e mais

    propriamente Sociologia, que sustenta esta lgica relacional nas reflexes de suas teses e

    preocupaes epistmicas. A acusao proposta por Darcy Ribeiro ainda parece pertinente,

    15

    Csaire, 2010. 16

    Ibidem, p.32. 17

    Memmi, 1977. 18

    Ibidem, 1977, p.72,grifo do autor. 19

    Memmi, 1977, p.79. 20

    Csaire, 2010, p.15.

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    a uma sociologia que permanece vinculada, ou pior, subordinada, s leituras e teses de outra

    geopoltica desvinculada de nossas questes fundamentais e diretrizes hermenuticas.

    Com certa ironia elucidativa, Frantz Fanon, compreende que a empreitada colonizatria

    desenvolveu uma violncia no somente casa, mas tambm, ao crebro do

    colonizado.21 O que se subentende, que os esforos dos pesquisadores e intelectuais

    latino-americanos opem-se transformar nossa criatividade interpretativa e as nossas ricas

    elaboraes cientficas, semelhana do que produzem europeus ou norte-americanos.

    Segundo este pensador martinicano, para que se concretize a possibilidade de avanar e

    elevar-se a um nvel distinto em detrimento do que imposto pelo europeu, necessria

    uma conscincia inventiva, necessrio descobrir. O imperativo de responder s perguntas

    que se colocam entre latino-americanos no encontrar paralelo no pensamento j fixado

    pela Europa ou Norte-America. A resoluo das inquietaes tropicais encontra-se no

    desenvolvimento de um pensamento novo, no entendimento de que aqui se fez uma nova

    civilizao.

    Fanon no ignora a Europa, se assim o fizesse continuaria sustentar uma intrnseca

    subordinao; pelo contrrio, acusa sua existncia, mas clarificando tratar de outro mundo,

    de outras expresses do humano. Sendo que este outro humano no precisa ser seguido

    pelo resto da humanidade. Pelo contrario, melhor afastar-se de seu caminho. O que

    significativo para Fanon que os povos no-europeus assumam o lugar que lhes

    corresponda como povos e naes entre povos e naes; como homens e mulheres entre

    homens e mulheres. O enfrentamento, em outras palavras, , como um homem, exigindo

    para si o mesmo que o colonizador exigiu para ele, considerando-se como homem. No

    mais, nem tampouco menos.22 A leitura de Leopoldo Zea sobre a obra de Fanon

    esclarecedora e merece sua meno:

    o colonizador diz Fanon quem fez e continua fazendo o colonizado. E em

    funo deste feito que criou no mundo uma ordem que naturalmente, no

    prpria do colonizado. A descolonizao, realmente, criao de homens novos.

    Mas esta criao no recebe a sua legitimidade de nenhuma potncia sobrenatural;

    21

    Fanon, 1979, p.28. 22

    Zea, 2005, p.467.

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    a coisa colonizada converte-se em homem no mesmo processo pela qual se

    liberta. Este processo inclui no s o enfrentamento, mas o resultado do mesmo,

    isto , a dupla conscincia da qual falamos aqui: o colonizado toma conscincia da

    sua humanidade, ao mesmo tempo em que o colonizador toma de sua

    inumanidade. Um sente que se eleva ao nvel de homem, enquanto que o outro

    sente que com seu ato vai rebaixando o seu nvel. Um sente-se impelido a construir

    um mundo novo, enquanto o outro, a destruir o que criou. Um se v como uma

    sada aberta a todas as possibilidades; o outro como uma rua sem sada. O

    colonizado sente-se impelido a continuar sua ao libertadora para passar

    criadora; enquanto que o colonizador, como quem reconhece uma culpa, busca

    apagar esta e comear, se possvel, como se nada tivesse feito, partindo do zero.

    Um ponto de partida que no pode ser do colonizado que tem em seu haver a

    conscincia de sua subordinao e os esforos realizados para pr-lhe fim. [...] O

    importante criar um mundo novo no qual, talvez, queira ou possa incorporar-se o

    homem ocidental; mas um mundo que no poder ser o que ele criou ainda que

    originado de ao subordinadora. Por isso, diz Frantz Fanon, sem rancores, sem

    dios: Pela Europa, por ns mesmos e pela humanidade, companheiros, temos de

    trocar de p, desenvolver um pensamento novo, tratar de criar um homem novo.

    Fazer o que o europeu no foi capaz de fazer, evitar a desumanizao na qual caiu

    o seu humanismo limitado, s assim, diz o filsofo africano, poderemos responder

    mesma esperana dos europeus23

    .

    Esta lgica aplica-se com facilidade produo e colonizao do saber disseminado a partir

    do referencial europeu e, tambm, norte-americano. at mesmo aparentemente

    contraditrio que dois dentre os trs personagens 24 em que se reconhecida e atribuda a

    paternidade do campo de estudos denominado de Sociologia, no caso, Weber e Marx,

    sequer davam-se a si prprios o ttulo de socilogos. Caso alterssemos os nomes, a

    23

    Zea, 2005, p.471-3, grifo do autor. 24

    No Brasil fixado de modo geral, no apenas nas grades curriculares dos cursos de Cincias Sociais e Sociologia, pelas Universidades e Faculdades no territrio nacional, mas tambm, expresso em boa parte da literatura produzida nesta rea de estudos em Cincias Humanas, como sendo os clssicos, a serem estudados, portanto, imperativos dominadores da dedicao em leituras e pesquisas tericas na rea. A ttulo de exemplo, mencionamos o livro do socilogo Carlos E. Sell, Sociologia Clssica: Marx, Durkheim e Weber (2010), e no menos importante, mas emblemtico tambm, como uma referncia para o presente texto, o trabalho das trs socilogas Tania Quintaneiro, Maria L. de O. Barbosa e Mrcia G.M. de Oliveira, intitulado: Um toque de clssicos: Marx, Durkheim, Weber.

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    argumentao de Mignolo permanece pertinente tambm histria do conhecimento

    sociolgico:

    Basta olhar para as biografias dos principais nomes da construo das cincias

    ocidentais (Coprnico, Galileu, Kepler e Newton) para identificarmos a

    configurao geo-poltica (incluindo, claro, a lingustica) do seu pensamento. [...]

    Aconteceu, porm, que a forma universal de conhecer foi promovida, defendida e

    ampliada por um grupo de homens que viviam na Europa, estudavam nas

    universidades prestigiadas de seu tempo, e aconteceu que eram tambm homens

    brancos, embora alguns deles fossem judeus.25

    O que nos leva a conceber que seria incoerente atribuir uma considerao universalizante

    a qualquer autor, teoria ou metodologia cientfica, pois esta postura nada mais que uma

    continuidade de um processo colonizatrio j antigo e no mais disfarvel. Esta uma

    colonizao do saber promovida pelas geopolticas hegemnicas de conhecimento, e

    sustentadas pelos que assim ainda as assimilam. No levando em considerao que, na

    realidade, todo conhecimento situado, portanto, possui uma raiz local, seja esta real ou

    mesmo imaginativa.

    Desta feita, inexiste um saber-de-lugar-nenhum, ou qualquer processo global que possa ser

    desvinculado de seu respectivo contexto scio-histrico, assim como de interesses que o

    produzem e o qualificam como universal. Esta conjuntura reafirma a pertinncia de um

    conceito utilizado por Boaventura de Sousa Santos,26 o qual aplicamos prpria Sociologia

    estudada de modo geral no Brasil, fruto de um localismo globalizado.27 A insistente

    perpetuao, em referncias tericas e epistmicas ou metodolgicas, de autores ocidentais

    designados como sendo os nicos a serem considerados clssicos, assim como

    25

    Mignolo, 2006, p.675-685. 26

    Santos, s/d. 27

    Entende-se como, o processo que cria o global, enquanto posio dominante nas trocas desiguais, o mesmo que produz o local, enquanto posio dominada e, portanto, hierarquicamente inferior (SANTOS, 2001, p.69). A primeira forma de globalizao o localismo globalizado. Consiste no processo pelo qual determinado fenmeno local globalizado com sucesso. [...] A segunda forma de globalizao chamo globalismo localizado. Consiste no impacto especfico de prticas e imperativos transnacionais nas condies locais, as quais so, por essa via, desestruturadas e reestruturadas de modo a responder a esses imperativos transnacionais (Santos, s/d).

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    contemporneos, delineia e transforma, portanto, continuamente a articulao e saber

    sociolgico de outros espaos e contextos em globalismos localizados. Srgio Costa, ao

    generalizar o caso do orientalismo,28 apresentado originalmente pelo palestino Edward Said,

    demonstra que, a polaridade entre o Ocidente e o resto do mundo (West/Rest) encontra-se

    na base de constituio das cincias sociais29.

    Alm disso, ao construir esta ideologia colonialista das Cincias Sociais e do fazer

    sociolgico, ao procurar estabelecer a tese de uma suposta superioridade, que

    absolutamente circunstancial e histrica, este pretenso dominador cientfico ou epistmico,

    desdobra-se inevitavelmente em um racismo perverso. Influenciado pelo pensamento de

    Albert Memmi, o filsofo e jurista brasileiro Roland Corbisier afirma que,

    Para justificar, para legitimar o domnio e a espoliao, o colonizador precisa

    estabelecer que o colonializado por natureza, ou por essncia, incapaz, [...]

    em suma, inferior. Incapaz, por exemplo, de educar-se, de assimilar a cincia e a

    tecnologia modernas, bem como de exercer a democracia, de governar-se a si

    mesmo.30

    E assim, o estudo de autores e teses que nascem em nossas terras latino-americanas, e de

    modo especial, no Brasil, so praticamente desconhecidos, ou quando muito, conhecidos

    parcial e tangencialmente. Tal comportamento j por si s uma grave denuncia a que, um

    certo colonialismo faz com que leiamos com ateno os europeus ou norte-americanos, mas

    nunca os latino-americanos31. Como exemplo, poderamos questionar quais de nossos

    estudantes, ou at mesmo j graduados e ps-graduados em cincias sociais dominam pelo

    menos dois ou trs dos autores que seguem como o fazem com os j mencionados clssicos

    ocidentais? Em exemplo, autores como os socilogos: Darcy Ribeiro (Brasil); Nstor Garca

    28

    Entende-se o Oriente do orientalismo, ainda que remeta, vagamente, a um lugar geogrfico, expressa mais propriamente uma fronteira cultural e definidora de sentido entre um ns e um eles, no interior de uma relao que produz e reproduz o outro como inferior, ao mesmo tempo que permite definir o ns, o si mesmo, em oposio a este outro, ora representado como caricatura, ora como esteretipo, e sempre como uma sntese aglutinadora de tudo aquilo que o ns no e nem quer ser (Costa, 2006, p. 86). 29

    Costa, 2006, p.86. 30

    Corbisier, 1978, p.100. 31

    Dussel, 1986, p.15.

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    Canclini (Argentina); Octavio Ianni (Brasil); Orlando Fals Borda (Colmbia); Renato Ortiz

    (Brasil); Anibal Quijano (Peru); Gilberto Freyre (Brasil); Kabengele Munanga (Congo reside

    no Brasil desde 1980); Ruy Mauro Marini (Brasil); ou, Sergio Buarque de Holanda (Brasil),

    entre tantos outros. E mais, entre as socilogas: Nora Garita Bonilla (Costa Rica); Ins

    Izaguirre (Argentina); Lsias Nogueira Negro (Brasil); Raquel Sousa Elzaga (Mxico); Paula

    Monteiro (Brasil); ou Silvia Rivera-Cusicanqui (Bolvia); entre tantas outras que poderiam

    aqui ser tambm mencionadas.

    Deixamos claro aqui, que mile Durkheim, Karl Marx e Max Weber so localizados no tempo

    e no espao, e absolutamente vinculados a estes, tanto quanto qualquer um dos autores

    citados acima. Esta crtica estende-se ainda a outras personalidades de destaque na

    sociologia contempornea ocidental, como Pierre Bourdieu, Edgar Morin, Michel Foucault,

    Anthony Giddens, Jean Baudrillard, Manuel Castells, Jacques Ellul, Jrgen Habermas, Norbert

    Elias, Reinhard Bendix, Robert Castel, apenas para citar alguns. Como forma de poder

    geopoltico, sob o avano da concepo eurocntrica e norte-americanista, a reproduo por

    estes centros hegemnicos de um claro colonialismo do conhecimento, incluindo o

    sociolgico, configurado com consentimento dos subalternos, neste caso, latino-

    americanos. O Brasil foi afligido, em parte, mas no cabalmente, por esta lgica desde sua

    gnese civilizacional, como j bem expressou Srgio B. de Holanda:

    A tentativa de implantao da cultura europeia em extenso territrio de condies

    naturais, se no adversas, largamente estranhas sua tradio milenar, , nas

    origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em consequncias.

    Trazendo de pases distantes nossas formas de convvio, nossas instituies, nossas

    ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorvel e

    hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras

    excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar

    perfeio o tipo de civilizao que representamos: o certo que todo o fruto de

    nosso trabalho ou de nossa preguia parece participar de um sistema de evoluo

    prpria de outro clima e de outra paisagem.

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    Assim, antes de perguntar at que ponto poder alcanar bom xito a tentativa,

    caberia averiguar at onde temos podido representar aquelas formas de convvio,

    instituies e ideias de que somos herdeiros.32

    Esta leitura de nosso celebre socilogo brasileiro, capaz de nos imunizar at mesmo

    quanto postura de passividade, a qual poderamos ser entusiasticamente seduzidos.

    Fazendo assim com que absolvssemos o conjunto de correntes analticas e elaboraes

    epistmicas fornecidas pela crtica ps-colonial, cuja gnese se apresenta com

    (ironicamente, j denominados tambm, como clssicos, nesta rea) os pensadores Homi

    Bhabha, Albert Memmi, Gayatri Spivak, Aim Csaire, Dipesh Chakrabarty ou Edward Said; o

    que equivaleria a construir certa historiografia difusa e emblematicamente colonial que,

    ignorando o que a prpria intelectualidade nacional j produziu, atesta o desconhecimento

    de leituras ps-coloniais precoces que se desenvolveram ainda em perodos anteriores, em

    nossos espaos discursivos; sem que tenham alcanado grande visibilidade mundial33.

    Seria este o caso de Caio Prado Junior,34 por exemplo, que de acordo com o que esboou em

    A Formao do Brasil Contemporneo, explicitando assim, que a situao do pas havia sido

    quase totalmente, seno em grande parte, efeito consecutivo do modelo colonial de

    dominao e explorao econmica e ideolgica, que inevitavelmente, permanece de uma

    forma ou outra, vigente. Segundo o pensamento de Prado Junior, a classificao do Brasil

    como uma nao subdesenvolvida, no decorrncia da incompetncia dos colonos

    portugueses, nem mesmo uma justificada preguia dos brasileiros. , em resumo, efeito

    32

    Holanda, 1995, p.31, grifo nosso. 33

    salutar a meno do cientista social brasileiro Darcy Ribeiro, como um de nossos casos mais emblemticos, cuja traduo e importncia de sua obra j alcanaram toda a Amrica Latina e praticamente todos os demais continentes, sendo um autor que desafia com autenticidade um modo singular e hegemonicamente ocidental de imaginao sociolgica em antagonismo s caractersticas ausncias de elaboraes tericas brasileiras, no se deixando guiar por parmetros exgenos elaborados por uma pretensa modernidade que ignora a positividade das experincias autctones existentes, de maneira a ampliar os cnones explicativos da prpria modernidade, ao incluir os povos americanos na histria da humanidade (Miglievich-Ribeiro, 2011[A]; 2011[B]). Darcy Ribeiro num esforo de deslocamento de formas hegemnicas de conhecimento elaborou elementos fundamentais para a crtica descolonizadora, e decolonial, das Cincias Sociais latino-americanas, posteriormente assimiladas e aprofundadas por outro intelectual latino-americano, de considervel importncia nos debates e estudos ps-coloniais e decoloniais, Walter Mignolo em seu pensamento liminar (Miglievich-Ribeiro, 2012). 34

    Prado Junior, 1945.

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    direto da administrao planejada de diversos recursos de nossos trpicos, objetivando a

    incorporao subalterna do pas em um sistema que focaliza exclusivamente o lucro do

    colonizador.

    3. Consideraes finais

    Obviamente que no consta em nossos interesses sugerir alteraes curriculares quanto

    denominada Sociologia Clssica, que inevitvel e aparentemente continuar sendo ainda

    pautada pelas prximas dcadas por Durkheim, Weber e Marx. As pretenses aqui

    sugestionam um intercmbio epistemolgico, um dilogo hermenutico e metodolgico

    mais minucioso e, at mesmo, uma simbiose de tradies tericas e discursivas, de mtuo

    proveito e respeito,pois que, no faria qualquer sentido ignorar, ou no conferir o devido

    valor s contribuies do Ocidente, pelos tericos ps-coloniais. A postura outra, a de um

    confronto com outras narrativas, ampliando assim, as possibilidades enunciativas e

    epistmicas. Inclusive, obviamente, na Sociologia.

    No se trata de nos isolarmos do mundo intelectual externo nem de sermos

    xenfobos. Exigi-se o cumprimento de uma necessidade de acumulao de

    conhecimentos congruentes com o nosso crescimento e progresso. [...] A

    acumulao dos pases do Norte e a sua superioridade tcnica no podem negar-

    se. No entanto, podem relacionar-se, de maneira horizontal e respeitosa, com o

    que nos pases do Sul temos aprendido e descoberto no nosso contexto e com a

    nossa cincia popular contextualizada. [...] necessitamos de universidades

    democrticas e altrustas que estimulem a participao criativa dos estudantes na

    procura de novos conhecimentos e, nessa medida, considerem a investigao como

    ferramenta pedaggica do maior valor, como base da autonomia acadmica. Que

    tenham como tarefa prioritria a consolidao de um ambiente cultural que

    propicie a criatividade durante todas as etapas de formao que contribuam para o

    processo de reconstruo social e o bem-estar das maiorias desprotegidas da

    populao. [...] Isto contribuir para substituir as definies discriminatrias entre

    o acadmico e o popular e entre o cientista e o poltico, sobretudo na medida em

    que se enfatizem as relaes complementares. Assim tambm merecemos viver e

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    progredir de forma satisfatria e digna de autoestima, utilizando os nossos grandes

    e valiosos recursos.35

    As consideraes propostas por Mora-Oseja e Borda,36 tratam de expurgar o que h de

    etnocentrismo aceito natural e tradicionalmente dentro das Cincias Sociais e tambm

    para alm delas incluindo a completa superao de qualquer complexo de inferioridade.

    Para tanto, seu projeto epistmico e poltico-pedaggico no se resume em mera

    confrontao ou negao do outro, pratica comparada a xenofobia do que estranho ou

    exterior, mas pela valorizao de construes tericas e polticas autctones, como sendo as

    mais bem elaboradas e salutares para ao e compreenso geopolticas prprias, sendo

    capazes de manter dilogos com outras concepes; se tratando, portanto, da hibridez do

    conhecimento. Isso equivale afirmar que nossa produo intelectual deve, prioritariamente,

    ser julgada ou avaliada segundo sua originalidade, sua pertinncia e, sua aplicabilidade

    dentro de nossa prpria cultura e no por referncias distantes de ns ou por ndices de

    citao ou publicao em lnguas hegemnicas.

    35

    Mora-Osejo; Borda, 2006, p.717-20. 36

    Ibidem., 2006.

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    As Cincias Sociais e os Estudos Ps-Coloniais: entre a crtica e o enriquecimento epistmico

    Abstract: The article aims to present synthetically the epistemological critique of Post-Colonial

    Studies aimed to knowledge produced in the Social Sciences Western hegemonic, universalizing

    claims with, specifically European and American, featuring a fundamentally called colonialism know.

    It is noteworthy that concurrently with such criticism, it is possible to achieve an enrichment to the

    epistemic sociological knowledge through respectful dialogue and responsible, valuing equally the

    knowledge, theories, discourses and hermeneutics developed in other geographies considered

    "menial" and more specifically the Latin American continent. And, thus, one possibility of hybridity

    knowledge.

    Keywords: Social Sciences; post-colonial studies; critical epistemic; knowledge.

    Resumen: El artculo tiene como objetivo presentar brevemente la crtica epistemolgica de los

    estudios poscoloniales destinada al conocimiento producido en el Ciencias Sociales hegemnico

    occidental con pretensiones universalistas especficamente europeas y norteamericanas, ofreciendo

    fundamentalmente un denominado colonialismo de saber. Es de destacar que al mismo tiempo que

    dicha crtica, es posible lograr un enriquecimiento epistmico al conocimiento sociolgico a travs de

    un dilogo respetuoso y responsable, valorando igualmente los conocimientos, teoras, discursos y

    hermenutica desarrollados en otras geografas considerados "de baja categora" y ms

    concretamente, el continente latinoamericano. As, la presentacin de una hiptesis viable de

    hibridez de conocimiento.

    Palabras clave: Ciencias Sociales, estudios poscoloniales; crtica epistmica; conocimiento.