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RAQUEL DO CARMO SANTOS [email protected] Como uma roseira Nasceu essa heroína Eternamente Øs lembrada Por seu valor e sua sina Sua vida Ø uma mensagem Doce e amada Regina poema acima estÆ numa mol- dura sem retoque pendurada no corredor que dÆ acesso ao sa- guªo da Escola Estadual Professora Regina Dias Antunes da Silva, no centro do município paulista de Apiaí, a 330 quilômetros de Campi- nas. Trata-se de um dos muitos es- critos de autoria de alunos em ho- menagem à professora que dÆ o nome à escola. AlØm dos poemas, redaçıes e mensagens, um vaso com flores artificiais foi colocado ao lado de um retrato da homenageada. Um desavisado poderia ver ali um pe- queno altar. É quase isso. Para dar aulas em escolas rurais, a professo- ra Regina Dias Antunes da Silva cumpria uma rotina diÆria de lon- gas caminhadas mata nativa aden- tro. Numa de suas idas e vindas, fi- cou no meio do caminho em 1968, foi assassinada numa trilha. Passados 36 anos da tragØdia, seria razoÆvel imaginar que muita coisa mudou. Nªo foi o que aconteceu. O crime nªo foi esclarecido e o exercício do magistØrio na regiªo continua a ser, na maioria dos casos, um sacerdó- cio. Cerca de 50% das escolas ficam na mata. Sªo estradas abandonadas e precÆrias. Professoras saídas da ado- lescŒncia, com 22 anos em mØdia, fa- zem sozinhas o trajeto. É preciso co- ragem, vocaçªo e ousadia. É a outra realidade do Estado de Sªo Paulo, atesta o diretor de ensino de Apiaí, Pedro Paulo de Almeida Galvªo. Apiaí Ø conhecida como o Portal da Mata Atlântica. Exuberâncias na- turais à parte cavernas cinematogrÆ- ficas, por exemplo , a cidade Ø tam- bØm a porta de entrada do Vale do Ribeira, regiªo que concentra os mu- nicípios mais pobres do Estado mais rico do país. Nªo deixa de ser em- blemÆtico que, na escola cujo nome evoca uma mulher tratada como he- roína na cidade, funcione o QG do Projeto Teia do Saber. Desde julho, o estabelecimento re- cebe docentes e doutorandos da Uni- camp. A missªo: ministrar cursos de formaçªo continuada, atØ dezembro, para 356 professores da Rede Estadu- al de Ensino. Na verdade, o papel da Unicamp no projeto financiado pela Secretaria Estadual de Educaçªo Ø bem mais amplo. Docentes da Univer- sidade integram o projeto em outras regiıes do Estado ao todo, sªo 13 diretorias de ensino, atingindo qua- se 2.500 professores (veja quadro a- baixo) , mas Ø em Apiaí e em outras sete cidades vizinhas que a tarefa ga- nha contornos humanitÆrios (leia tex- to na pÆgina 8). Universidade Estadual de Campinas – 4 a 10 de outubro de 2004 6 Unicamp tece a teia do conh O Docentes e doutorandos da Universidade ministram curso de formaçªo c Depoimentos dos personagens lo- cais revelam que, ali, o exercício do magistØrio Ø uma profissªo de fØ. Cí- cero Martins Vieira Ø um desses abne- gados. Era de se imaginar que basta- riam para ele suas tarefas à frente da Paróquia Bom Jesus, em Ribeira cidade com quatro mil habitantes, margeada pelo rio Ribeira de Iguape. Vieira, porØm, quis mais. Divide seu tempo exercendo dois ofícios que, garante, se complementam: o de pa- dre e de professor. Minha missªo Ø formar cidadªos. Fazer as pessoas se sentirem gente, importantes e ama- das. Tudo isso posso conciliar no aten- dimento às famílias e em sala de aula. Para completar a jornada obrigató- ria de 27 horas semanais, ele dÆ aulas de História em Ribeira e em outras duas cidades da regiªo Guapiara e Itapirapuª Paulista este tido como o município mais pobre do Estado, de acordo com o ˝ndice de Desenvolvi- mento Humano (IDH). Um dos traje- tos percorridos por Vieira Ø cercado de armadilhas. Em Guapiara, por exemplo, a escola fica próxima a uma mineradora e a estrada nªo Ø asfalta- da. O fluxo intenso de caminhıes Ø um perigo para os motoristas, conta. Realidade semelhante Ø vivida pe- las professoras Marina CorrŒa Camar- go Santos, Elisabete dos Santos Lima Mendes e DØbora Prado de Almeida Pereira. A precÆria estrada que liga os 22 quilômetros entre Apiaí e Itaoca segunda cidade mais pobre do Estado, segundo o IDH Ø o caminho obriga- tório das professoras. Apiaí Ø o local mais próximo para se lançarem na em- preitada de recolher revistas e jornais em consultórios mØdicos da cidade a fim de municiar a Escola Estadual Pro- fessora NØsia Morim Martins de ma- terial de consulta. Os alunos nªo tŒm acesso a livros e jornais. Sªo poucos os que possuem televisªo, diz DØbora. Para as aulas de Biologia, Elisabe- te nªo conta sequer com uma lupa ou microscópio. Seus alunos, a maior parte oriunda da zona rural e de co- munidades quilombolas, aprendem apenas com o conteœdo dos livros didÆticos. Nªo tenho condiçıes de mostrar ao menos uma levedura ou fungo, reclama. Na falta de materi- al para ensinar alguns conceitos bÆsi- cos da sua disciplina, Elisabete recorre à diversidade natural da regiªo. Aos sÆbados, quando os professo- res da Unicamp estªo em Apiaí, as professoras deixam de lado os afaze- res domØsticos e os momentos de la- zer. Um sacrifício que, de acordo com elas, vale a pena. Para Marina, os assuntos ensinados reforçam a segu- rança em sala de aula. Como mora- mos em um lugar carente de conhe- cimento, temos que agarrar a oportu- nidade, diz. Encomendas Ser professor nesta regiªo Ø ser herói, desabafa Valter Martins de Oliveira, que sente na pele a falta de recursos para ensinar Filo- sofia, disciplina que exige acesso à bibliografia atualizada. Caso eu pre- cise de um livro, tenho de encomendÆ- lo ou viajar atØ Sorocaba ou Sªo Pau- lo para obtŒ-lo, afirma. Para o profes- sor, seus alunos sªo os maiores preju- dicados com a falta de acesso ao ma- terial adequado. Outro problema colocado por Oliveira, um ex-padre, Ø a falta de cursos de atualizaçªo na regiªo, vista por ele como nitidamen- te discriminada. Por isso o progra- ma estÆ sendo fantÆstico. Ele abre um espaço para tirar nossas dœvidas, a- lØm de nos revelar novas metodolo- gias. TambØm Ø um momento impor- Maria José Pedroso dos Santos, auxiliar de direção da escola do bairro rural Encapoeirado, em Apiaí, e a quadra construída em m Elizabeth Martinez, diretora da escola Profa. Júlia Ribeiro Bretãs: adesão maciça A chegada da Unicamp em Apiaí é um marco na história da educação da região. Não foram poucas as tentativas realizadas pela Diretoria de Ensino para que os professores tivessem acesso a uma formação continuada. A iniciativa é inédita e abre as portas para que os profissionais não precisem se deslocar para outras regiões em busca de atualização. “Eles nunca haviam tido um curso de formação na região. Era uma luta antiga”, destaca o assistente técnico da Diretoria de Ensino de Apiaí, José Manoel Costa Hernandez. A Diretoria consegue oferecer apenas oficinas pedagógicas. Neste caso, aqueles professores que se destacam por sua atuação na região são convidados a participar do projeto. “Os profissionais viajam para São Paulo, passam por treinamento e depois retornam. São pessoas que tiveram a mesma formação que os outros”, afirma Hernandez. Desde julho, o programa Teia do Saber tem permitido aos professores o contato com novas metodologias de ensino e conteúdos atualizados, que dificilmente conseguiriam sem viajar mais de uma centena de quilômetros. “Quando surgiu a possibilidade de se trazer a Unicamp para o Ribeira, ficamos entusiasmados. Queríamos uma universidade de excelência”, lembra Hernandez. O sucesso foi tão grande que, dos 800 professores ligados à rede de ensino local, 45% estão participando do programa. Segundo o dirigente de Ensino de Apiaí, Pedro Paulo de Almeida Galvão, os problemas na formação dos educadores são inúmeros. Desde a graduação, os professores da Rede de Ensino enfrentam vários obstáculos para atuarem no mercado. “Em primeiro lugar, temos uma lacuna na formação desses professores por conta da qualidade do ensino nas universidades mais próximas. Muitos professores universitários não são mestres”, afirma o dirigente. Este fator faz com que os conteúdos sejam dados de forma superficial, prejudicando o desempenho em sala de aula. A distância é outro problema enfrentado. “Muitos saem de Apiaí para Itapetininga – cidade que possui uma das universidades mais próximas –, onde chegam às 19h30, retornando por volta de meia-noite. No dia seguinte, precisam trabalhar às 7 horas. É assim que se faz a formação por aqui”. Apenas cerca de 2% dos professores, justamente aqueles que possuem um padrão de vida melhor, conseguem estudar em Sorocaba, São Paulo ou Curitiba. (R.C.S. Abrindo as portas Hernandez: “Luta antiga” A UNICAMP NA TEIA DO SABER 2004 Turmas Matriculados Módulos Carga horária 10 356 28 120 2 80 4 160 4 95 16 640 3 98 6 240 4 102 9 360 1 27 2 80 9 285 18 720 13 345 26 1040 18 607 36 1440 3 129 6 240 3 103 6 240 2 41 4 160 7 194 14 560 79 2462 175 7000 Diretoria Regional Apiaí Capivari Bragança Paulista Miracatu Jundiaí Itapetininga Sumaré Campinas Leste Campinas Oeste Limeira Americana Pindamonhangaba Piracicaba Total Geral A UNICAMP NA TEIA DO SABER 2004 TEMAS ABORDADOS nContextualização dos conhecimentos; nnvestigação, experimentação, os trabalhos de campo na aprendizagem dos conhecimentos; nUso dos materiais pedagógicos constantes do acervo da escola; nUtilização e produção de textos; nUtilização de novas tecnologias voltadas para a aprendizagem; nAvaliação da aprendizagem – instrumento de acompanhamento do trabalho do professor; nRelação professor e aluno – construção de valores éticos e de atitudes cooperativas, so- lidárias e responsáveis TEMAS ABORDADOS

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RAQUEL DO CARMO [email protected]

Como uma roseiraNasceu essa heroína

Eternamente és lembradaPor seu valor e sua sina

Sua vida é uma mensagemDoce e amada Regina

poema acima está numa mol-dura sem retoque pendurada nocorredor que dá acesso ao sa-

guão da Escola Estadual ProfessoraRegina Dias Antunes da Silva, nocentro do município paulista deApiaí, a 330 quilômetros de Campi-nas. Trata-se de um dos muitos es-critos de autoria de alunos em ho-menagem à professora que dá onome à escola. Além dos poemas,redações e mensagens, um vaso comflores artificiais foi colocado ao ladode um retrato da homenageada. Umdesavisado poderia ver ali um pe-queno altar. É quase isso. Para daraulas em escolas rurais, a professo-ra Regina Dias Antunes da Silvacumpria uma rotina diária de lon-gas caminhadas mata nativa aden-tro. Numa de suas idas e vindas, fi-cou no meio do caminho � em 1968,foi assassinada numa trilha.

Passados 36 anos da tragédia, seriarazoável imaginar que muita coisamudou. Não foi o que aconteceu. Ocrime não foi esclarecido e o exercíciodo magistério na região continua aser, na maioria dos casos, um sacerdó-cio. �Cerca de 50% das escolas ficamna mata. São estradas abandonadas eprecárias. Professoras saídas da ado-lescência, com 22 anos em média, fa-zem sozinhas o trajeto. É preciso co-ragem, vocação e ousadia. É a outrarealidade do Estado de São Paulo�,atesta o diretor de ensino de Apiaí,Pedro Paulo de Almeida Galvão.

Apiaí é conhecida como o �Portalda Mata Atlântica�. Exuberâncias na-turais à parte � cavernas cinematográ-ficas, por exemplo �, a cidade é tam-bém a porta de entrada do Vale doRibeira, região que concentra os mu-nicípios mais pobres do Estado maisrico do país. Não deixa de ser em-blemático que, na escola cujo nomeevoca uma mulher tratada como he-roína na cidade, funcione o QG doProjeto Teia do Saber.

Desde julho, o estabelecimento re-cebe docentes e doutorandos da Uni-camp. A missão: ministrar cursos deformação continuada, até dezembro,para 356 professores da Rede Estadu-al de Ensino. Na verdade, o papel daUnicamp no projeto financiado pelaSecretaria Estadual de Educação ébem mais amplo. Docentes da Univer-sidade integram o projeto em outrasregiões do Estado � ao todo, são 13diretorias de ensino, atingindo qua-se 2.500 professores (veja quadro a-baixo) �, mas é em Apiaí e em outrassete cidades vizinhas que a tarefa ga-nha contornos humanitários (leia tex-to na página 8).

Universidade Estadual de Campinas – 4 a 10 de outubro de 20046

Unicamp tece a teia do conh

O

Docentes e doutorandos da Universidade ministram curso de formação c

Depoimentos dos personagens lo-cais revelam que, ali, o exercício domagistério é uma profissão de fé. Cí-cero Martins Vieira é um desses abne-gados. Era de se imaginar que basta-riam para ele suas tarefas à frente daParóquia �Bom Jesus�, em Ribeira �cidade com quatro mil habitantes,margeada pelo rio Ribeira de Iguape.Vieira, porém, quis mais. Divide seutempo exercendo dois ofícios que,garante, se complementam: o de pa-dre e de professor. �Minha missão éformar cidadãos. Fazer as pessoas sesentirem gente, importantes e ama-das. Tudo isso posso conciliar no aten-dimento às famílias e em sala de aula�.

Para completar a jornada obrigató-ria de 27 horas semanais, ele dá aulasde História em Ribeira e em outrasduas cidades da região � Guapiara eItapirapuã Paulista � este tido comoo município mais pobre do Estado, deacordo com o Índice de Desenvolvi-mento Humano (IDH). Um dos traje-tos percorridos por Vieira é cercadode armadilhas. �Em Guapiara, porexemplo, a escola fica próxima a umamineradora e a estrada não é asfalta-da. O fluxo intenso de caminhões é umperigo para os motoristas�, conta.

Realidade semelhante é vivida pe-las professoras Marina Corrêa Camar-go Santos, Elisabete dos Santos LimaMendes e Débora Prado de AlmeidaPereira. A precária estrada que liga os22 quilômetros entre Apiaí e Itaoca �segunda cidade mais pobre do Estado,segundo o IDH � é o caminho obriga-tório das professoras. Apiaí é o localmais próximo para se lançarem na em-preitada de recolher revistas e jornaisem consultórios médicos da cidade afim de municiar a Escola Estadual Pro-fessora Nésia Morim Martins de ma-terial de consulta. �Os alunos não têmacesso a livros e jornais. São poucos osque possuem televisão�, diz Débora.

Para as aulas de Biologia, Elisabe-te não conta sequer com uma lupa oumicroscópio. Seus alunos, a maiorparte oriunda da zona rural e de co-munidades quilombolas, aprendemapenas com o conteúdo dos livros

didáticos. �Não tenho condições demostrar ao menos uma levedura oufungo�, reclama. Na falta de materi-al para ensinar alguns conceitos bási-cos da sua disciplina, Elisabete recorreà diversidade natural da região.

Aos sábados, quando os professo-res da Unicamp estão em Apiaí, asprofessoras deixam de lado os afaze-res domésticos e os momentos de la-zer. Um sacrifício que, de acordo comelas, �vale a pena�. Para Marina, osassuntos ensinados reforçam a segu-rança em sala de aula. �Como mora-mos em um lugar carente de conhe-cimento, temos que agarrar a oportu-nidade�, diz.

Encomendas � �Ser professor nesta

região é ser herói�, desabafa ValterMartins de Oliveira, que sente na pelea falta de recursos para ensinar Filo-sofia, disciplina que exige acesso àbibliografia atualizada. �Caso eu pre-cise de um livro, tenho de encomendá-lo ou viajar até Sorocaba ou São Pau-lo para obtê-lo�, afirma. Para o profes-sor, seus alunos são os maiores preju-dicados com a falta de acesso ao ma-terial adequado. Outro problemacolocado por Oliveira, um ex-padre,é a falta de cursos de atualização naregião, vista por ele como �nitidamen-te discriminada�. �Por isso o progra-ma está sendo fantástico. Ele abre umespaço para tirar nossas dúvidas, a-lém de nos revelar novas metodolo-gias�. Também é um momento impor-

Maria José Pedroso dos Santos, auxiliar de direção da escola do bairro rural Encapoeirado, em Apiaí, e a quadra construída em m

Elizabeth Martinez, diretora da escola Profa. Júlia Ribeiro Bretãs: adesão maciça

A chegada da Unicamp em Apiaí éum marco na história da educação da

região. Não foram poucas astentativas realizadas pela Diretoria de

Ensino para que os professorestivessem acesso a uma formação

continuada. A iniciativa é inédita eabre as portas para que os

profissionais não precisem sedeslocar para outras regiões em

busca de atualização. “Eles nuncahaviam tido um curso de formação naregião. Era uma luta antiga”, destaca

o assistente técnico da Diretoria deEnsino de Apiaí, José Manoel Costa

Hernandez.A Diretoria consegue oferecer

apenas oficinas pedagógicas. Nestecaso, aqueles professores que se

destacam por sua atuação na regiãosão convidados a participar do

projeto. “Os profissionais viajam paraSão Paulo, passam por treinamento e

depois retornam. São pessoas quetiveram a mesma formação que os

outros”, afirma Hernandez.Desde julho, o programa Teia do

Saber tem permitido aos professores ocontato com novas metodologias deensino e conteúdos atualizados, quedificilmente conseguiriam sem viajarmais de uma centena de quilômetros.“Quando surgiu a possibilidade de se

trazer a Unicamp para o Ribeira,ficamos

entusiasmados.Queríamos umauniversidade de

excelência”, lembraHernandez. O sucessofoi tão grande que, dos

800 professoresligados à rede deensino local, 45%

estão participando doprograma.

Segundo o dirigente de Ensino deApiaí, Pedro Paulo de Almeida

Galvão, os problemas na formaçãodos educadores são inúmeros. Desdea graduação, os professores da Rede

de Ensino enfrentam váriosobstáculos para atuarem no mercado.

“Em primeiro lugar, temos umalacuna na formação desses

professores por conta da qualidadedo ensino nas universidades mais

próximas. Muitos professoresuniversitários não são mestres”,

afirma o dirigente. Este fator faz comque os conteúdos sejam dados deforma superficial, prejudicando o

desempenho em sala de aula.A distância é outro problema

enfrentado. “Muitos saem de Apiaípara Itapetininga – cidade que possui

uma das universidades maispróximas –, onde chegam às 19h30,retornando por volta de meia-noite.

No dia seguinte, precisam trabalharàs 7 horas. É assim que se faz a

formação por aqui”. Apenascerca de 2% dos professores,

justamente aqueles que possuem umpadrão de vida melhor, conseguem

estudar em Sorocaba,São Paulo ou Curitiba.

(R.C.S.

Abrindo as portas

Hernandez:“Luta antiga”

A UNICAMP NA TEIA DO SABER 2004 Turmas Matriculados Módulos Carga horária

10 356 28 120

2 80 4 160 4 95 16 640 3 98 6 240 4 102 9 360 1 27 2 80 9 285 18 720 13 345 26 1040 18 607 36 1440 3 129 6 240 3 103 6 240 2 41 4 160

7 194 14 560

79 2462 175 7000

Diretoria Regional

Apiaí

CapivariBragança PaulistaMiracatuJundiaíItapetiningaSumaréCampinas LesteCampinas OesteLimeiraAmericanaPindamonhangabaPiracicaba

Total Geral

A UNICAMP NA TEIA DO SABER 2004

TEMAS ABORDADOSnContextualização dos conhecimentos;

nnvestigação, experimentação, os trabalhos decampo na aprendizagem dos conhecimentos;

nUso dos materiais pedagógicos constantes doacervo da escola;

nUtilização e produção de textos;

nUtilização de novas tecnologias voltadas paraa aprendizagem;

nAvaliação da aprendizagem – instrumento deacompanhamento do trabalho do professor;

nRelação professor e aluno – construção devalores éticos e de atitudes cooperativas, so-lidárias e responsáveis

TEMAS ABORDADOS

Universidade Estadual de Campinas – 4 a 10 de outubro de 2004 7

hecimento no Vale do Ribeiraontinuada para professores da região mais pobre do Estado de São Paulo

tante de analisar a prática das ativi-dades e aproveitar a assessoria ofere-cida pela Unicamp. Com isso, os alu-nos ganham. �Eles terão o privilégiode ter professores bem-preparados emais seguros em sala de aula�.

O padre Vieira é outro que elogiaa dedicação dos professores da Uni-camp em levar o que chamou de �e-ducação para libertar�. O professorvaloriza os encontros na Teia que, se-gundo ele, têm proporcionado umaabertura em relação a temas ligadosà diversidade. �Temos aprendido aconviver com o diferente. Essa novi-dade tem sido reforçada�, comemo-ra. A sociedade como um todo, em suaopinião, vive uma fase de indefiniçãoque acaba refletindo nas salas de aula.�Os alunos não têm claro o caminhodo futuro, o amanhã. Cabe ao profes-sor dar a orientação necessária�.

O preço a pagar � �Os professoresda Unicamp falam o que queremosouvir�, declara Lúcia de Souza Ma-chado de Ribeirão Branco. Professo-ra de Língua Portuguesa, Lúcia tinhadúvidas quanto a colocações comunsna região em que dá aulas. �Eu nãosabia, por exemplo, se era correto fa-

lar �obrigada eu�. Um professor daUnicamp [Wilmar D�Angelis] disseque é normal essa regra�. Neste pri-meiro momento, Lúcia diz que está noprocesso de �ingerir� o conteúdo;acredita que o �digerir� virá nos pró-ximos meses. Como já está na fina-lização dos programas de aula, Lúciairá empregar todo conhecimento ad-quirido na Teia do Saber já no próximoano letivo. Garante, sem vacilar, queestá valendo a pena ter que percorrer90 quilômetros para enriquecer suabagagem. �Conhecimento não tempreço. Você paga de uma maneira oude outra, em dinheiro ou em cansaço�.

Criatividade � Leila Julieta BarbosaSalturato deixou a filha de um ano e

oito meses em casa com familiarespara poder freqüentar os cursos. �Estávalendo estar aqui�, diz. Leila estámatriculada no curso de Matemáticae sabe bem o quanto deve usar a cria-tividade para ensinar. Para ela, as prá-ticas têm enriquecido bastante. A pro-fessora está �tirando o máximo� dosconceitos passados pelo pessoal daUnicamp. �Vou melhorar cada vezmais�. Ela percebe um efeito positivono modo de enxergar as coisas. �Istoterá um efeito sobre meus alunos, poistorno o aprendizado mais fácil�.

Devoção � O esmero com as plan-tações de couve, berinjela, repolho,alface e outras hortaliças e os enfeitesna parede demonstram o zelo dos di-

rigentes da escola rural ProfessoraJúlia Ribeiro Bretas, localizada nobairro Encapoeirado, distante 15 qui-lômetros de Apiaí. A quadra feita pormutirão de alunos é outro indício deque o lugar é bem-cuidado. �A gran-de maioria dos alunos sobrevive dasafra de tomate. Trabalham na lavou-ra até tarde e estudam à noite. Muitosconseguem chegar apenas na segun-da aula�, conta a diretora, professo-ra Elizabeth de Lourdes Martinez.

Uma das cinco salas da escola deEncapoeirado teve que ser aberta esteano para abrigar estudantes do ensi-no médio que estavam fora da sala deaula. Eles têm entre 20 e 37 anos e che-gam dos mais diversos bairros da re-gião. �Quando termina a safra, o pes-

soal migra para outros locais e depoisretorna para a plantação. Isso impe-de que freqüentem as aulas o ano in-teiro�, explica a diretora.

A escola não tem linha telefônica, eas atribuições dos professores muitasvezes transpõem os muros da escola.Histórias de alunos com várias neces-sidades são comuns. �Visitamos asfamílias de muitos deles para saber osproblemas enfrentados em casa. Exis-tem casos críticos�, conta a auxiliar dadireção, Maria José Pedroso dos San-tos. Adilson Rosa, um garoto de 14anos, matriculado na 7a série, é um dosexemplos. O jovem não apresentavacomportamento adequado e tinha mui-tas dificuldades no aprendizado. A per-severança da diretora fez com que ogaroto se animasse a representar a es-cola nas competições de atletismo daregião. Ele venceu e participará da ro-dada regional. �Se não tiver amor, vocênão faz o trabalho. Temos que nos em-penhar, colocar a mão no bolso paraajudar em alguma coisa. É assim�, res-salta Elizabeth.

Mesmo com tantas tarefas na esco-la, Elizabeth e Maria José não hesita-ram quando surgiu a oportunidadede participar da Teia do Saber. Eli-zabeth, inclusive, já pôde aplicar al-guns dos ensinamentos do curso deLetramento nas reuniões com sua e-quipe. Houve muita procura peloscursos e a escola de Encapoeirado,segundo elas, foi uma das instituiçõesque mais enviou professores. �Nocurso de Letramento, por exemplo,participaram todos os 10 professoresda escola�, festejam.

Continua na página 8

Pedro Paulo Galvão: “É precisocoragem e vocação”

O padre e professor Cícero Vieira:educação libertadora

Valter Oliveira: “Ser professor,aqui, é ser herói”

utirão: visita domiciliar

Alunos cuidam de horta em escola rural: estudantes migram depois da safra do tomate

Alunos em sala de aula: falta deestrutura compromete ensino

A professora Elisabete Lima, de Itaoca:contando com a natureza

Adilson Rosa: de aluno problemáticoa campeão de atletismoCena de bairro rural de Apiaí: região tem municípios mais pobres do Estado

Fotos: Antonio Scarpinetti

OS NÚMEROSTotal de Diretorias de Ensino Interior São Paulo 60Diretorias Atendidas pela Unicamp 13Percentual em relação ao Total 21,67%Total de Módulos 175Total de Turmas 79Número de Alunos Matriculados 2462Carga Horária Total 7000

OS NÚMEROS

nFaculdade de EducaçãonInstituto e Estudos da LinguagemnInstituto de Filosofia e Ciências HumanasnInstituto de BiologianInstituto de QuímicanInstituto de Física “Gleb Wataghin”nInstituto de Matemática, Estatística eComputação CientíficanInstituto de Geociências

UNIDADES ENVOLVIDAS