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brasil de 10 a 16 de novembro de 2011 6 Brasil gente A distância entre o Brasil potência econômica e o Índice de Desenvolvi- mento Humano continua inalterada. De acordo com a ONU, o país está em 84º lugar no ranking do IDH, em pior situação que a maioria dos vizinhos da América Latina, entre os quais o Chile (44º), Argentina (45º), Uruguai (48º), Cuba (51º), México (57º), Panamá (58º), Costa Rica (69º), Venezuela (73º), Peru (80º), Equador (83º). Es- tá provado: propaganda não muda a realidade! Baixa escolaridade Um dos quesitos para a denição do IDH é o tempo médio de escolaridade, que também coloca o Brasil na rabeira de muitos países da América Latina. Na contagem de anos de escola de cada população, o ranking ca assim: Chile (9,7), Argentina (9,3), Peru (8,7), México (8,5), Uruguai (8,5), Venezuela (7,6), Equador (7,6), Co- lômbia (7,3) e o Brasil (7,2). É preciso investir muito mais em educação para alcançar a vizinhança! Guerra comercial Na acirrada disputa pelo mercado chinês de celulose, as transnacionais que fabricam o produto no Brasil querem aumentar a produção de 13,4 milhões para 20 milhões de toneladas por ano. Essas empresas, mesmo acu- sadas de dumping (vendem na China a preços mais baixos do que no mer- cado brasileiro), devem dobrar a área de plantio de eucalipto nos próximos cinco anos. Sobra para o povo o preço alto e o deserto verde! Golpe caloteiro Dados da Caixa Econômica Fede- ral revelam que o valor do calote das empresas no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) dobrou nos últimos dez anos, está na ordem de R$ 16 bilhões e causa prejuízos a aproximadamente cinco milhões de trabalhadores. Como se sabe, muitas empresas sonegam o FGTS, esperam a abertura de processos e depois ne- gociam novos prazos de recolhimento. Um golpe típico da ganância do capi- tal! Desastre escolar Os cursos de engenharia das uni- versidades públicas e privadas abrem 180 mil vagas por ano, mas se matri- culam nesses cursos no máximo 150 mil alunos, já que a maior parte das vagas está em escolas privadas. Do total de matriculados, apenas 25% concluem os cursos. A grande maioria (75%) abandona os cursos por falta de dinheiro ou por não conseguir acom- panhar o conteúdo ministrado. Por isso falta engenheiro no mercado de trabalho. Ameaça mortal O deputado estadual Marcelo Frei- xo, do Rio de Janeiro, é um cidadão muito sério. Todo mundo sabe disso. Desde que presidiu a CPI das milí- cias – e denunciou os crimes dessas organizações –, ele tem sido sistema- ticamente ameaçado de morte. Não é brincadeira. Todo mundo sabe que o crime está enraizado até a medula do sistema capitalista, em todos os pode- res e todas as instâncias. Freixo tem o direito de proteger sua família e sua própria vida. Crise diferenciada Os países da Europa estão vivendo uma crise econômica gravíssima, mas, lá, a taxa de juro básica é de 1,25% ao ano e a inação anual deve car em torno dos 3%. O Brasil, que está longe da crise – segundo todos os discursos ociais –, tem atualmente uma taxa de juro básica de 10,5% ao ano, que é uma das mais altas do mundo, e tem a previsão de uma inação anual de 6% a 7,5%. A inação não tem a ver com o custo do dinheiro? Direitização Algumas lideranças estaduais do PT têm transmitido a dirigentes locais do partido, em alguns municípios do Estado de São Paulo, que eles devem estreitar relação com os integrantes do grupo Canção Nova, que é uma corrente ultraconservadora da Igre- ja Católica e à qual está vinculado o deputado federal Gabriel Chalita, do PMDB, um dos candidatos a candi- dato para a Prefeitura de São Paulo, em 2012. Mais um passinho para a direita! Pós modernidade O que mais tem hoje em dia é o falso regime democrático, com eleições ro- tineiras determinadas pelo poder eco- nômico e discursos demagógicos que quase nunca são cumpridos pelos elei- tos, já que atuam dentro dos poderes do Estado conforme os interesses das elites nacionais e das grandes corpo- rações transnacionais. É diferente da época em que os políticos pelo menos tentavam manter alguma coerência com as demandas populares. fatos em foco Hamilton Octavio de Souza Leonardo Severo Garantir direitos e demarcação de terras INDÍGENAS Encontro Nacional dos Trabalhadores Indígenas defendeu a reformulação da Funai e cobrou do MTE projetos de profissionalização e qualificação para mão de obra indígena de Sidrolândia (MS) Uma das grandes injustiças contra a população indígena que salta aos olhos na cidade que sediou o evento é o não pa- gamento pelas empresas das horas extras in itinere, ou seja, em percurso, como previsto em lei. Pudemos presenciar na chegada dos ônibus que trazem centenas de operários das aldeias Córrego do Meio e Lagoinha (cerca de 30 km de Sidrolân- dia) para o frigoríco de abate de frangos da Seara Marfrig. Joelma e Alessandra chegaram ao ser- viço às 12h26 para começar a trabalhar Leonardo Severo de Sidrolândia (MS) COM A PRESENÇA de 152 representan- tes de todas as regiões do país, foi reali- zado nos dias 4 e 5, em Sidrolândia, inte- rior do Mato Grosso do Sul, o 1º Encon- tro Nacional dos Trabalhadores Indíge- nas. Organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), o evento armou o compromisso de ampliar o nível de orga- nização e consciência das comunidades e entidades sindicais, para, a partir da mo- bilização da sociedade, pressionar as au- toridades a m de ampliar direitos e con- solidar conquistas. “Defendemos a urgente e inadiável de- marcação das terras indígenas como ele- mento fundamental para garantir a tra- dição, a cultura e a sobrevivência dos nossos povos, bem como investimentos que possibilitem sua autossutentação por meio de políticas públicas voltadas à xação em condições dignas da nossa população”, armou o índio terena José Carlos Pacheco, membro do Coletivo In- dígena da CUT-MS, um dos organizado- res do evento. José Carlos Pacheco acredita que é necessário que o Ministério do Traba- lho atue de forma mais efetiva, não ape- nas na scalização das relações de traba- lho, mas no estímulo à prossionalização e qualicação dos indígenas, elementos chave para a superação das diculdades a que estão submetidos. Com a expulsão dos povos originários das suas aldeias, pelo avanço do latifún- dio e do agronegócio, alertou Pacheco, “o capital se utiliza da força de trabalho das comunidades como mão de obra barata, precarizada ou escrava, fazendo com que se multipliquem os abusos contra os in- dígenas, das mais variadas formas”. Violência Em Miranda (MS), recentemente um ônibus escolar com indígenas da Aldeia Cachoeirinha foi atacado com bomba in- cendiária. Além de uma vítima fatal, vá- rios índios caram gravemente feridos. A suspeita recai sobre fazendeiros contra- riados com uma possível “demarcação”. Na própria cidade de Sidrolândia, em março de 2007, Marcos Antônio Pedro, trabalhador da Seara morreu triturado enquanto limpava uma máquina em pés- simas condições de segurança. Conforme denúncia do Sindicato dos Trabalhado- res da Alimentação de Sidrolândia (Sin- daves), a empresa – então controlada pe- la transnacional estadunidense Cargill – após adulterar completamente o local do acidente, tentou culpar a vítima, um jovem operário indígena, pai de três - lhos. Segundo os laudos iniciais da Car- gill, Marcos havia se suicidado. Poste- riormente, por pressão da Confedera- ção Nacional dos Trabalhadores na Ali- mentação (Contac) e do Sindicato local, a empresa assumiu a culpa e indenizou a família. O presidente do Sindaves, Sérgio Bol- zan, resgatou a rica trajetória dos indíge- nas no movimento sindical da cidade, em especial na categoria. “Na histórica greve de 2007, os companheiros foram os mais atuantes, mais ativos e participativos, marcando presença sempre em grande número nas assembleias com o espírito coletivo que lhes caracteriza”. Convenção 169 Outro ponto destacado como priorida- de pelo encontro foi a efetivação da Con- venção 169 da Organização Internacio- nal do Trabalho (OIT). Conforme o se- cretário de Políticas Sociais da CUT Na- cional, Expedito Solaney, este é um pon- to central no debate e dele deriva a de- marcação das terras indígenas e a garan- tia de direitos trabalhistas e sociais para todos. “Precisamos de terra e condições dignas de trabalho, com salário, saúde, educação e justiça, sem o que não efeti- varemos cidadania à população indíge- na brasileira, que é uma das maiores do mundo”, acrescentou. De acordo com Solaney, a CUT vê na ação unitária a única forma de ampliar a pressão sobre as autoridades competen- tes, em particular sobre o governo fede- ral e a Fundação Nacional do Índio (Fu- nai), que precisa rever sua política in- digenista. “Os índios encontram-se de- samparados de uma política consisten- te de preservação da sua cultura, da sua língua, da sua saúde e sem qualquer se- gurança diante do avanço dos latifundi- ários e do capital, que têm multiplicado suas práticas de trabalho infantil, escra- vo e degradante”, ressaltou. O presidente da Contac, Siderlei de Oliveira, denunciou que há casos de co- munidades no Rio Grande do Sul onde a distribuição de mil hectares para cem fa- mílias indígenas acaba convertendo-se numa “falácia”, pois, destes, apenas 50 hectares são agricultáveis, o que resta é pura pedra, terra da pior qualidade. Para ele, é essencial neste momento levar for- mação e informação para dentro das fá- bricas, a m de que o enorme contingen- te de trabalhadores indígenas se organi- ze nos sindicatos e amplie a luta por di- reitos, seus e da classe. Deliberações Entre as deliberações do encontro es- tá a orientação aos sindicatos de que as Convenções Coletivas de Trabalho incor- porem cláusulas especícas para os tra- balhadores indígenas, a m de que sejam resguardados seus costumes e tradições e também que o conjunto das entidades sindicais, além de estimular a participa- ção indígena nas direções, façam do 19 de abril, Dia do Índio, uma data de ree- xão e mobilização. A plenária também reiterou que as es- colas indígenas devem manter vivo o idioma nativo, garantindo aprendizado bilingue, com o pleno conhecimento da nossa tradição e cultura, bem como da compreensão do papel heroico desempe- nhado pelos nossos antepassados na re- sistência à aniquilação. Diante do grande contingente de tra- balhadores indígenas nas cidades, o en- contro defendeu a necessidade de que o Programa Minha Casa, Minha Vida, con- tenha projetos especícos de moradia popular que levem em conta a realidade das aldeias urbanas e rurais. Os presentes também reiteraram que a Funai deve reformular urgentemen- te a sua política indigenista, priorizan- do a atuação junto às aldeias e comuni- dades, reduzindo o atual distanciamen- to, que tantos prejuízos têm trazido. O fechamento dos postos indígenas nas aldeias, advertiram, bem como a exces- siva burocratização do órgão, tem com- prometido a sua função primeira que é a de defender o índio, abrindo espaço pa- ra muitas ONGs que nada têm a ofere- cer para as comunidades senão a repro- dução de relações de dependência que os interessam. Entre outras lideranças, participa- ram do evento o presidente da CUT- MS, Jeferson Borges; o cacique da Al- deia Tererê, Maioque; a primeira caci- que feminina de aldeia de Sidrolândia, Dona Nair; o superintendente regional de Trabalho e Emprego, Anísio Perei- ra Tiago; o presidente da Câmara Mu- nicipal de Sidrolândia, Jean Nazareth, secretários municipais, e os deputados estaduais Cabo Almi e Pedro Kemp, ambos do PT. como “desossadoras de coxa” somen- te às 13h10. Como o ônibus havia saído da aldeia às 11h40, há uma hora e trin- ta minutos a serem computados – e pa- gos – como esclarece a lei, pois são “ho- ra extra”. As duas voltam para casa às 22h, tendo saído da linha de produ- ção às 21h30. Como chegam na aldeia às 23h, têm mais uma hora e trinta mi- nutos a receber de hora extra, num to- tal de três horas diárias – de segunda a sábado. Obviamente, Joelma, Alessan- dra e nenhum indígena viram a cor des- se dinheiro. Conforme a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), alerta Sérgio Bolzan, presidente do Sindaves, uma vez con- guradas as horas in itinere e computa- do este período na jornada de trabalho, as horas que excederem a jornada nor- mal deverão ser remuneradas como ex- tras. O Sindicato está na briga. Lenta, a Justiça foi informada, mas ainda não se pronunciou. (LS) de Sidrolândia (MS) O Encontro Indígena condenou a perseguição pra- ticada pela transnacional estadunidense ALL (Amé- rica Latina Logística) contra o companheiro da etnia terena, Evanildo da Silva, funcionário da ex-RFFSA. Como diretor do Sindicato dos Ferroviários de Bauru, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Evanildo vinha denunciando as péssimas condições de traba- lho e segurança no transporte, o que foi o suciente para a direção da empresa privatizada demiti-lo em fevereiro de 2009. Os participantes rechaçaram a prática antissindi- cal da ALL e defenderam a imediata reintegração de Evanildo, solicitando às autoridades competentes o equacionamento do problema. (LS) Seara não paga hora extra Empresa não paga horas in itinere ou seja, em percurso, como previsto em lei Indígenas denunciam perseguição da ALL Transnacional estadunidense demite dirigente sindical A plenária também reiterou que as escolas indígenas devem manter vivo o idioma nativo, garantindo aprendizado bilingue, com o pleno conhecimento da nossa tradição e cultura Os presentes também reiteraram que a Funai deve reformular urgentemente a sua política indigenista, priorizando a atuação junto às aldeias e comunidades Entre as deliberações, a incorporação de cláusulas específicas para os indígenas nas convenções trabalhistas

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Page 1: 6 de 10 a 16 de novembro de 2011 Garantir direitos e ... · ônibus escolar com indígenas da Aldeia Cachoeirinha foi atacado com bomba in-cendiária. Além de uma vítima fatal,

brasilde 10 a 16 de novembro de 20116

Brasil genteA distância entre o Brasil potência

econômica e o Índice de Desenvolvi-mento Humano continua inalterada. De acordo com a ONU, o país está em 84º lugar no ranking do IDH, em pior situação que a maioria dos vizinhos daAmérica Latina, entre os quais o Chile (44º), Argentina (45º), Uruguai (48º),Cuba (51º), México (57º), Panamá (58º), Costa Rica (69º), Venezuela (73º), Peru (80º), Equador (83º). Es-tá provado: propaganda não muda a realidade!

Baixa escolaridadeUm dos quesitos para a defi nição do

IDH é o tempo médio de escolaridade, que também coloca o Brasil na rabeira de muitos países da América Latina. Na contagem de anos de escola de cada população, o ranking fi ca assim: Chile (9,7), Argentina (9,3), Peru (8,7), México (8,5), Uruguai (8,5), Venezuela (7,6), Equador (7,6), Co-lômbia (7,3) e o Brasil (7,2). É preciso investir muito mais em educação para alcançar a vizinhança!

Guerra comercialNa acirrada disputa pelo mercado

chinês de celulose, as transnacionais que fabricam o produto no Brasil querem aumentar a produção de 13,4 milhões para 20 milhões de toneladas por ano. Essas empresas, mesmo acu-sadas de dumping (vendem na China a preços mais baixos do que no mer-cado brasileiro), devem dobrar a área de plantio de eucalipto nos próximos cinco anos. Sobra para o povo o preço alto e o deserto verde!

Golpe caloteiroDados da Caixa Econômica Fede-

ral revelam que o valor do calote das empresas no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) dobrou nos últimos dez anos, está na ordem de R$ 16 bilhões e causa prejuízos a aproximadamente cinco milhões de trabalhadores. Como se sabe, muitas empresas sonegam o FGTS, esperam a abertura de processos e depois ne-gociam novos prazos de recolhimento. Um golpe típico da ganância do capi-tal!

Desastre escolarOs cursos de engenharia das uni-

versidades públicas e privadas abrem 180 mil vagas por ano, mas se matri-culam nesses cursos no máximo 150 mil alunos, já que a maior parte das vagas está em escolas privadas. Do total de matriculados, apenas 25% concluem os cursos. A grande maioria (75%) abandona os cursos por falta de dinheiro ou por não conseguir acom-panhar o conteúdo ministrado. Por isso falta engenheiro no mercado de trabalho.

Ameaça mortalO deputado estadual Marcelo Frei-

xo, do Rio de Janeiro, é um cidadão muito sério. Todo mundo sabe disso. Desde que presidiu a CPI das milí-cias – e denunciou os crimes dessas organizações –, ele tem sido sistema-ticamente ameaçado de morte. Não é brincadeira. Todo mundo sabe que o crime está enraizado até a medula do sistema capitalista, em todos os pode-res e todas as instâncias. Freixo tem o direito de proteger sua família e sua própria vida.

Crise diferenciadaOs países da Europa estão vivendo

uma crise econômica gravíssima, mas, lá, a taxa de juro básica é de 1,25% ao ano e a infl ação anual deve fi car em torno dos 3%. O Brasil, que está longe da crise – segundo todos os discursos ofi ciais –, tem atualmente uma taxa de juro básica de 10,5% ao ano, que é uma das mais altas do mundo, e tem a previsão de uma infl ação anual de 6% a 7,5%. A infl ação não tem a ver com o custo do dinheiro?

DireitizaçãoAlgumas lideranças estaduais do PT

têm transmitido a dirigentes locais do partido, em alguns municípios do Estado de São Paulo, que eles devem estreitar relação com os integrantes do grupo Canção Nova, que é uma corrente ultraconservadora da Igre-ja Católica e à qual está vinculado o deputado federal Gabriel Chalita, do PMDB, um dos candidatos a candi-dato para a Prefeitura de São Paulo, em 2012. Mais um passinho para a direita!

Pós modernidadeO que mais tem hoje em dia é o falso

regime democrático, com eleições ro-tineiras determinadas pelo poder eco-nômico e discursos demagógicos que quase nunca são cumpridos pelos elei-tos, já que atuam dentro dos poderes do Estado conforme os interesses das elites nacionais e das grandes corpo-rações transnacionais. É diferente da época em que os políticos pelo menos tentavam manter alguma coerência com as demandas populares.

fatos em focoHamilton Octavio de Souza

Leonardo Severo

Garantir direitos e demarcação de terrasINDÍGENAS Encontro Nacional dos Trabalhadores Indígenas defendeu a reformulação da Funai e cobrou do MTE projetos de profi ssionalização e qualifi cação para mão de obra indígena

de Sidrolândia (MS)

Uma das grandes injustiças contra a população indígena que salta aos olhos na cidade que sediou o evento é o não pa-gamento pelas empresas das horas extras in itinere, ou seja, em percurso, como previsto em lei. Pudemos presenciar na chegada dos ônibus que trazem centenas de operários das aldeias Córrego do Meio e Lagoinha (cerca de 30 km de Sidrolân-dia) para o frigorífi co de abate de frangos da Seara Marfrig.

Joelma e Alessandra chegaram ao ser-viço às 12h26 para começar a trabalhar

Leonardo Severode Sidrolândia (MS)

COM A PRESENÇA de 152 representan-tes de todas as regiões do país, foi reali-zado nos dias 4 e 5, em Sidrolândia, inte-rior do Mato Grosso do Sul, o 1º Encon-tro Nacional dos Trabalhadores Indíge-nas. Organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), o evento afi rmou o compromisso de ampliar o nível de orga-nização e consciência das comunidades e entidades sindicais, para, a partir da mo-bilização da sociedade, pressionar as au-toridades a fi m de ampliar direitos e con-solidar conquistas.

“Defendemos a urgente e inadiável de-marcação das terras indígenas como ele-mento fundamental para garantir a tra-dição, a cultura e a sobrevivência dos nossos povos, bem como investimentos que possibilitem sua autossutentação por meio de políticas públicas voltadas à fi xação em condições dignas da nossa população”, afi rmou o índio terena José Carlos Pacheco, membro do Coletivo In-dígena da CUT-MS, um dos organizado-res do evento.

José Carlos Pacheco acredita que é necessário que o Ministério do Traba-lho atue de forma mais efetiva, não ape-nas na fi scalização das relações de traba-lho, mas no estímulo à profi ssionalização e qualifi cação dos indígenas, elementos chave para a superação das difi culdades a que estão submetidos.

Com a expulsão dos povos originários das suas aldeias, pelo avanço do latifún-dio e do agronegócio, alertou Pacheco, “o capital se utiliza da força de trabalho das comunidades como mão de obra barata, precarizada ou escrava, fazendo com que se multipliquem os abusos contra os in-dígenas, das mais variadas formas”.

ViolênciaEm Miranda (MS), recentemente um

ônibus escolar com indígenas da Aldeia Cachoeirinha foi atacado com bomba in-cendiária. Além de uma vítima fatal, vá-rios índios fi caram gravemente feridos. A suspeita recai sobre fazendeiros contra-riados com uma possível “demarcação”. Na própria cidade de Sidrolândia, em março de 2007, Marcos Antônio Pedro, trabalhador da Seara morreu triturado enquanto limpava uma máquina em pés-simas condições de segurança. Conforme denúncia do Sindicato dos Trabalhado-

res da Alimentação de Sidrolândia (Sin-daves), a empresa – então controlada pe-la transnacional estadunidense Cargill – após adulterar completamente o local do acidente, tentou culpar a vítima, um jovem operário indígena, pai de três fi -lhos. Segundo os laudos iniciais da Car-gill, Marcos havia se suicidado. Poste-riormente, por pressão da Confedera-ção Nacional dos Trabalhadores na Ali-mentação (Contac) e do Sindicato local, a empresa assumiu a culpa e indenizou a família.

O presidente do Sindaves, Sérgio Bol-zan, resgatou a rica trajetória dos indíge-nas no movimento sindical da cidade, em especial na categoria. “Na histórica greve de 2007, os companheiros foram os mais atuantes, mais ativos e participativos, marcando presença sempre em grande número nas assembleias com o espírito coletivo que lhes caracteriza”.

Convenção 169Outro ponto destacado como priorida-

de pelo encontro foi a efetivação da Con-venção 169 da Organização Internacio-nal do Trabalho (OIT). Conforme o se-cretário de Políticas Sociais da CUT Na-cional, Expedito Solaney, este é um pon-to central no debate e dele deriva a de-marcação das terras indígenas e a garan-tia de direitos trabalhistas e sociais para todos. “Precisamos de terra e condições dignas de trabalho, com salário, saúde, educação e justiça, sem o que não efeti-varemos cidadania à população indíge-na brasileira, que é uma das maiores do mundo”, acrescentou.

De acordo com Solaney, a CUT vê na ação unitária a única forma de ampliar a pressão sobre as autoridades competen-tes, em particular sobre o governo fede-ral e a Fundação Nacional do Índio (Fu-nai), que precisa rever sua política in-digenista. “Os índios encontram-se de-samparados de uma política consisten-te de preservação da sua cultura, da sua língua, da sua saúde e sem qualquer se-gurança diante do avanço dos latifundi-ários e do capital, que têm multiplicado suas práticas de trabalho infantil, escra-vo e degradante”, ressaltou.

O presidente da Contac, Siderlei de Oliveira, denunciou que há casos de co-munidades no Rio Grande do Sul onde a distribuição de mil hectares para cem fa-mílias indígenas acaba convertendo-se numa “falácia”, pois, destes, apenas 50 hectares são agricultáveis, o que resta é pura pedra, terra da pior qualidade. Para ele, é essencial neste momento levar for-mação e informação para dentro das fá-bricas, a fi m de que o enorme contingen-te de trabalhadores indígenas se organi-ze nos sindicatos e amplie a luta por di-reitos, seus e da classe.

DeliberaçõesEntre as deliberações do encontro es-

tá a orientação aos sindicatos de que as Convenções Coletivas de Trabalho incor-porem cláusulas específi cas para os tra-balhadores indígenas, a fi m de que sejam resguardados seus costumes e tradições e também que o conjunto das entidades sindicais, além de estimular a participa-ção indígena nas direções, façam do 19 de abril, Dia do Índio, uma data de refl e-xão e mobilização.

A plenária também reiterou que as es-colas indígenas devem manter vivo o idioma nativo, garantindo aprendizado bilingue, com o pleno conhecimento da nossa tradição e cultura, bem como da compreensão do papel heroico desempe-nhado pelos nossos antepassados na re-sistência à aniquilação.

Diante do grande contingente de tra-balhadores indígenas nas cidades, o en-contro defendeu a necessidade de que o Programa Minha Casa, Minha Vida, con-tenha projetos específi cos de moradia popular que levem em conta a realidade das aldeias urbanas e rurais.

Os presentes também reiteraram que a Funai deve reformular urgentemen-te a sua política indigenista, priorizan-do a atuação junto às aldeias e comuni-dades, reduzindo o atual distanciamen-to, que tantos prejuízos têm trazido. O fechamento dos postos indígenas nas aldeias, advertiram, bem como a exces-siva burocratização do órgão, tem com-prometido a sua função primeira que é a de defender o índio, abrindo espaço pa-ra muitas ONGs que nada têm a ofere-cer para as comunidades senão a repro-dução de relações de dependência que os interessam.

Entre outras lideranças, participa-ram do evento o presidente da CUT-MS, Jeferson Borges; o cacique da Al-deia Tererê, Maioque; a primeira caci-que feminina de aldeia de Sidrolândia, Dona Nair; o superintendente regional de Trabalho e Emprego, Anísio Perei-ra Tiago; o presidente da Câmara Mu-nicipal de Sidrolândia, Jean Nazareth, secretários municipais, e os deputados estaduais Cabo Almi e Pedro Kemp, ambos do PT.

como “desossadoras de coxa” somen-te às 13h10. Como o ônibus havia saído da aldeia às 11h40, há uma hora e trin-ta minutos a serem computados – e pa-gos – como esclarece a lei, pois são “ho-ra extra”. As duas voltam para casa às 22h, tendo saído da linha de produ-ção às 21h30. Como chegam na aldeia às 23h, têm mais uma hora e trinta mi-nutos a receber de hora extra, num to-tal de três horas diárias – de segunda a sábado. Obviamente, Joelma, Alessan-dra e nenhum indígena viram a cor des-se dinheiro.

Conforme a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), alerta Sérgio Bolzan, presidente do Sindaves, uma vez confi -guradas as horas in itinere e computa-do este período na jornada de trabalho, as horas que excederem a jornada nor-mal deverão ser remuneradas como ex-tras. O Sindicato está na briga. Lenta, a Justiça foi informada, mas ainda não se pronunciou. (LS)

de Sidrolândia (MS)

O Encontro Indígena condenou a perseguição pra-ticada pela transnacional estadunidense ALL (Amé-rica Latina Logística) contra o companheiro da etnia terena, Evanildo da Silva, funcionário da ex-RFFSA.

Como diretor do Sindicato dos Ferroviários de Bauru, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Evanildo vinha denunciando as péssimas condições de traba-lho e segurança no transporte, o que foi o sufi ciente para a direção da empresa privatizada demiti-lo em fevereiro de 2009.

Os participantes rechaçaram a prática antissindi-cal da ALL e defenderam a imediata reintegração de Evanildo, solicitando às autoridades competentes o equacionamento do problema. (LS)

Seara não paga hora extraEmpresa não paga horas in itinere ou seja, em percurso, como previsto em lei

Indígenas denunciam perseguição da ALLTransnacional estadunidense demite dirigente sindical

A plenária também reiterou que as escolas indígenas devem manter vivo o idioma nativo, garantindo aprendizado bilingue, com o pleno conhecimento da nossa tradição e cultura

Os presentes também reiteraram que a Funai deve reformular urgentemente a sua política indigenista, priorizando a atuação junto às aldeias e comunidades

Entre as deliberações, a incorporação de cláusulas específi cas para os indígenas nas convenções trabalhistas