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57 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE AS FALÁCIAS SOBRE O “DESENGESSAMENTO” DA JUSTIÇA: RECURSOS REPETITIVOS Por: Juliana Vieira de Castro Orientador: PROF. JEAN ALVES Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AS FALÁCIAS SOBRE O “DESENGESSAMENTO” DA

JUSTIÇA: RECURSOS REPETITIVOS

Por: Juliana Vieira de Castro

Orientador: PROF. JEAN ALVES

Rio de Janeiro

2011

57

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AS FALÁCIAS SOBRE O “DESENGESSAMENTO” DA

JUSTIÇA: RECURSOS REPETITIVOS

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau na

pós- graduação em Processo Civil

Por: Juliana Vieira de Castro.

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AGRADECIMENTOS

A todos os meus mestres, sem exceção, principalmente do

instituto “A Vez do Mestre”, com o carinho que eles merecem,

ao se permitirem transferir os ensinamentos por eles adquiridos

em anos de experiência de sagrado magistério, necessários e

indispensáveis ao desempenho das nossas profissões.

Ao professor Jean Alves, pelos ensinamentos.

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DEDICATÓRIA

Aos meus amados pais que ensinaramm a educação e o

respeito ao próximo, e proporcionaram as condições materiais

necessárias aos meus estudos.

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RESUMO

Este trabalho foca os entraves com relação à admissibilidade do Recurso Especial,

impedindo sua apreciação pela Suprema Corte. Vários são os obstáculos. Desse

modo, um desses obstáculos é o juízo de admissibilidade dos recursos.

Considerando o fato de que o juízo de admissibilidade funciona como uma espécie

de “filtragem dos recursos”, apreciando preliminarmente se estão presentes os seus

requisitos e, tentando-se, com isso, evitar um posterior prejuízo no julgamento do

seu próprio mérito. Assim sendo, compete ao juízo a quo, a apreciação e análise da

efetividade de sua atuação e demonstra que esse julgador excede os seus limites,

penetrando no âmbito de competência do Superior Tribunal de Justiça. A doutrina

não é unânime, porém grande parte dos doutrinadores entende se tratar de uma

usurpação do papel do juízo ad quem, tendo em vista que julga antecipadamente a

questão de mérito, onde a mesma deveria ser matéria exclusiva dos Tribunais

Superiores. No entanto reformas processuais vêm sido feitas com o objetivo de

desafogar o Judiciário e, só assim, conseguir respeitar princípios constitucionais e

atender os interesses gerais e a finalidade maior das instâncias superiores.

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Palavras-chave:

Recurso especial; Recursos repetitivo; Engessamento; Justiça.

METODOLOGIA

A pesquisa utilizada destina-se a apoiar os estudantes de direito, no que

se refere ao direito processual civil, sobretudo, no que tange à aplicação dos

recursos processuais, especialmente o recurso especial e os recursos repetitivos,

bem como a vivência jurídica nos outros ramos do direito, com o propósito de ir ao

encontro do próprio mercado de trabalho, tornando o assunto mais atraente e

compreensível para o educando.

Assim sendo buscou-se utilizar de uma bibliografia, cujos autores são

conhecidos, polêmicos e, didáticos, a fim de fazer com que o leitor possa ter o gosto

pela leitura e, com isso, adquirir mais experiência no campo de atuação.

Portanto, o presente trabalho tem como proposta a valorização do direito

processual pátrio, objetivando uma dissertação acadêmica adequada ao

conhecimento jurídico, no sentido de que seja reconhecida a importância da teoria

na prática e no mercado de trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................08

CAPÍTULO 1 - DOS RECURSOS..........................................................11

CAPÍTULO 2 - DOS PRESSUPOSTOS GERAIS SUBJETIVOS E

OBJETIVOS............................................................................................21

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CAPÍTULO 3 - DA INCIDÊNCIA DE SÚMULAS PARA

OBSTACULIZAR SUBIDA DE RECURSO ESCPECIAL AO SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA.......................................................................35

CAPÍTULO 4 - DOS RECURSOS REPETITIVOS - LEI 11.672/08........42

CONCLUSÃO.........................................................................................46

REFERÊNCIAS......................................................................................49

ANEXOS.................................................................................................53

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho se propõe a demonstrar os obstáculos para a

utilização do Recurso Especial, com enfoque nos pressupostos constitucionais e os

entendimentos jurisprudenciais que configuram verdadeiro óbice para sua

interposição.

Inicialmente cumpre entender os motivos acerca das dificuldades de

quem atua nos tribunais de segunda instância em conseguir fazer chegar ao

Superior Tribunal de Justiça o Recurso Especial.

Há algum tempo, argumenta-se que o excesso de recursos interpostos

pelas partes têm sido uma das causas de morosidade do Judiciário. As “reformas”

processuais têm sido feitas de maneira quase que permanente, principalmente em

matéria recursal.

Podemos destacar algumas teorias adotadas por essa reforma: a teoria

da causa madura na apelação; a baixa do processo para correção de nulidade

sanável no âmbito da apelação; as súmulas impeditivas de recursos; o agravo, tendo

como regra a forma retida e sua possibilidade de conversão de agravo de

instrumento em retido; à impossibilidade de recurso que defere liminar em agravo, o

julgamento prima facie. Ou seja, todas as mudanças que possuem um impacto de

forma direta de recursos que são dirigidas à segunda ou superior instância.

Existe uma barreira formal contra os pressupostos necessários e

essenciais de admissibilidade do Recurso Especial, sem falar no entendimento

pessoal de cada ministro e a negativa de responder ao pedido de

prequestionamento das partes, via Embargos de Declaração, o que dificulta ainda

mais o trabalho de quem advoga e o escopo de se alcançar justiça.

Os recursos ditos como extraordinários ou, também chamados de

essenciais, talvez até pela dificuldade de atender aos requisitos constitucionais

necessários de admissibilidade, dentre eles: o prequestionamento da matéria de

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direito; a existência de diversas súmulas que impedem a subida às instâncias

superiores para o julgamento pelo colegiado, e ainda a decisão monocrática do

tribunal a quo que obstaculizam a sua subida às instâncias superiores.

A interposição de um Recurso Especial para o Superior Tribunal de

Justiça somente para este se manifestar acerca de prequestionamento efetuado

pela parte e por ele ignorado, ou seja, somente após essa manifestação acerca do

prequestionamento seria possível o inicio da contagem do prazo para a interposição

do Recurso Especial, dessa vez atacando o mérito, acarretando desta forma, uma

morosidade ainda maior no Poder Judiciário. A interposição de um Recurso Especial

decorrente da inadmissibilidade do Recurso Especial interposto face ao mérito da

lide principal acarreta grande morosidade à prestação jurisdicional, pois enquanto os

tribunais tentam barrar a subida desenfreada de milhares de recursos, por via

oblíqua geram hipóteses para a interposição de mais recursos, postergando ainda

mais o seu julgamento.

Desta forma, qualquer recurso interposto pela parte inconformada

submete-se necessariamente ao juízo de admissibilidade, primeiramente o juízo a

quo e em seguida pelo juízo ad quem. Com isso, em regra, a admissibilidade do

recurso passa pelo crivo do juízo ou tribunal que prolatou a decisão recorrida ( juízo

a quo) que decidirá a respeito da satisfação dos pressupostos de recorribilidade e,

caso ultrapasse essa primeira avaliação, ainda será revisto pelo tribunal de destino (

juízo ad quem) , que vai examinar os fundamentos do recurso, fazendo a sua própria

apreciação, sem qualquer vínculo coma decisão anterior, podendo confirmar a

admissibilidade do recurso ou recusar o seu recebimento.

A utilidade do juízo de admissibilidade, especialmente nos tempos atuais,

quando é grande o movimento no sentido de se evitar os recursos meramente

protelatórios, é indiscutível e muito bem fundamentada na doutrina, mas há quem

questione o fato de que o juízo de admissibilidade é exercido no juízo que recebe o

recurso e também no tribunal de destino.

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Assim sendo, esses instrumentos já não se têm mostrado suficientes para

barrar a subida desenfreada de milhares de recursos, o que gera de forma quase

que permanente, modificações no Processo Civil brasileiro e constantes criações de

súmulas impeditivas para a subida do Recurso Especial ao Superior Tribunal de

Justiça.

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CAPÍTULO 1

DOS RECURSOS 1.1 ESCORÇO HISTÓRICO

A origem do Recurso Especial encontra-se estritamente ligada à origem

do Recurso Extraordinário. O Recurso Extraordinário surgiu em razão da

necessidade de se garantir a supremacia da Lei Federal e da Constituição, em toda

a federação, inspirado no writ of error, dos Estados Unidos da América pelo Judiciary

Act, de setembro de 1789. Desse modo, inspirado nesse sistema norte americano no

momento histórico em que estruturava juridicamente o Estado Brasileiro, instaurou-

se o regime federativo, logo após a Proclamação da Republica, através do Decreto

de 848 de 11/10/1890 surgindo o nosso Recurso Extraordinário

Esse recurso passou a constar expressamente da Constituição de 1891,

nossa primeira Constituição, em seu artigo 59, §1º, letras “a” e “b”, embora, ainda,

sem a denominação de Recurso Extraordinário, somente recebendo essa

denominação, pela primeira vez, através do Regimento Interno do Supremo Tribunal

Federal de 1891.

A Lei nº. 221 de 1984 denominou este recurso de apelação, tendo,

posteriormente, a Lei nº. 1.939 de 1907, alterado novamente seu nome para

Recurso Extraordinário.

Somente a partir da Constituição de 1934 esse nome foi definitivamente

adotado, em nível constitucional, onde disciplinava o Recurso Extraordinário em seu

art. 76, 2, II.

Ao longo do tempo, desde sua criação até a promulgação da Constituição

de 1988, tinha o Recurso Extraordinário, através do Supremo Tribunal Federal, a

função de garantir a supremacia da Constituição Federal e assegurar a inteireza, a

autoridade, a validade e a uniformidade de interpretação de Lei Federal.

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Porém, não tardou para que se percebesse a impossibilidade de ser

exercido o controle de constitucionalidade das decisões proferidas por todos os

demais Tribunais do país por poucos juízes, denominados de ministros, razão pela

qual é possível o controle de constitucionalidade difuso, sendo realizado pelos juízes

e tribunais, o qual gera efeitos inter-partes.

Mister consignar que no nosso sistema jurídico a competência legislativa

da União é muito abrangente, restando um campo muito pequeno para os Estados-

membros legislarem.

O fato é que o excesso de trabalho em pouco tempo assoberbou o

Supremo Tribunal Federal, optando-se pela adoção de medidas restritivas ao

cabimento do Recurso Extraordinário.

Apesar de todos os problemas nunca se discutiu uma solução de revisão

constitucional a respeito da competência legislativa da União e dos Estados, de

forma a que certas matérias deixassem de ser reguladas por Lei Federal,

transferindo tal competência aos estados, o que obviamente reduziria enormemente

o número de questões federais cujo controle da legalidade competiria ao Supremo

Tribunal Federal.

Efetivamente, este não foi o caminho adotado, preferindo as Constituições

Brasileiras seguir a trilha das restrições ao cabimento desse recurso, até que a

Constituição Federal de 1988 optou pela criação do novo Tribunal, especialmente

para tratar desse controle de constitucionalidade infraconstitucional.

Com a criação, pela Constituição Federal de 1988, coube a esse novo

Tribunal a função de absorver parte da competência que até então era afeta ao

Supremo Tribunal Federal, em matéria de Recurso Extraordinário.

Assim, o Recurso Especial nada mais é do que uma derivação do antigo

recurso extraordinário, de competência do Supremo Tribunal Federal, previsto no

artigo 105, III da Constituição Federal de 1988.

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Em relação ao histórico dos recursos, podemos concluir então que o

Recurso Especial encontra sua origem no antigo Recuso Extraordinário, sofrendo

com a Constituição Federal de 1988 um desdobramento, onde passou toda a

matéria infraconstitucional para a competência do Superior Tribunal de Justiça, pela

a via do Recurso Especial, ficando na competência do Supremo Tribunal Federal,

através do Recurso Extraordinário, apenas para matéria constitucional.

1.2 CONCEITO DE RECURSO ESPECIAL

Recurso Especial é o ato interposto contra decisões proferidas em única

ou última instância que tenham contrariado tratado ou Lei Federal, ou negando-lhe

vigência ao validar ato de governo local ou de lei que lhe deu interpretação

divergente da de outro tribunal. Desse modo, resulta o Recurso Especial de um ato

de inconformismo, onde a parte pede por uma decisão diferente daquela que lhe foi

dada e a mesma lhe desagrada.

É natural ao conceito de recurso, no direito brasileiro, o seu cabimento no

mesmo processo, mesma relação processual, em que houver sido proferida a

decisão impugnada.

Podem ser objeto de Recurso Especial as decisões ou os acórdãos de

última ou única instância, ou seja, contra as quais não é mais cabível qualquer outro

recurso ordinário, proferidos pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais

dos Estados, Distrito Federal e territórios, conforme dispõe a Constituição Federal de

1988.

Decisões de primeiro grau, ainda que de última instância, ou mesmo de

segundo grau ainda passíveis de ser impugnadas por outros recursos não

comportam Recuso Especial nem tampouco aquelas decisões proferias pelas

Turmas dos Juizados Especiais, sob pena de ocorrer supressão de instancias.

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Também não estão sujeitas ao Recurso Especial aquelas decisões

proferidas pelos Tribunais das Justiças Especializadas, que possuem Tribunais

Superiores próprios como Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Eleitoral

e o Superior Tribunal Militar.

Sendo ainda cabível algum recurso ordinário contra tal decisão deverá ser

esgotado todos os recursos ordinários cabíveis para tão somente uma posterior

interposição do Recurso Especial, pois como dito anteriormente, o Recurso especial

é utilizado em situações específicas, quando não cabe mais nenhum tipo de recurso,

privilegiando assim, o princípio da unirrecorribilidade.

A interposição de um recurso instaura no processo um novo

procedimento, o procedimento recursal, destinado à produção de novo julgamento

sobre a matéria impugnada. O processo não se duplica nem se cria uma nova

relação processual, conforme afirmam alguns doutrinadores, quando questionados

sobre a natureza jurídica do recurso. Novo curso se instaura, ou nova caminhada,

em prolongamento à relação jurídica processual pendente, e daí falar-se em recurso.

O procedimento dos recursos compõe-se de atos ordenados segundo determinados

critérios e em vista do objetivo de cada espécie recursal, sendo que cada um dos

atos sucessivamente realizados nesse procedimento vai produzindo seus efeitos e

impulsionando a demanda do recorrente ao julgamento pelo órgão destinatário. Daí

falar-se em efeitos da interposição do recurso, do recebimento ou indeferimento pelo

juízo a quo, da negativa de seguimento pelo relator nos Tribunais, do conhecimento

ou não-conhecimento pelo órgão destinatário, do provimento ou improvimento do

recurso, do provimento para reformar a decisão ou anulá-la.

1.3 DA ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS ESPECIAIS

O direito de recorrer à atividade jurisdicional está sujeito a certa disciplina

legalmente estabelecida. São requisitos necessários, os pressupostos de

admissibilidade, que precisam ser satisfeitos para o exercício desse direito.

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Numa conceituação simplificada, poder-se-ia dizer que o juízo de

admissibilidade é uma varredura, como dito anteriormente, feita no recurso,

primeiramente pelo juiz ou tribunal que o recebe e depois pelo relator do tribunal de

destino, com o objetivo de identificar nele os requisitos primários para possibilitar o

seu conhecimento e conseqüente apreciação do mérito pelo juízo ad quem.

Em regra, a admissibilidade dos recursos é apreciada por duas vezes,

uma vez pelo juízo a quo e a outra pelo juízo ad quem. Isso por que, normalmente

os recursos são interpostos no órgão prolator da decisão recorrida, mas são dirigidos

ao tribunal imediatamente superior hábil para julgá-lo, gerando a bipartição do juízo

de admissibilidade, no entender de Nelson Luiz Pinto1.

No que concerne a admissibilidade dos recursos, como regra, a mesma é

apreciada por duas vezes, uma vez pelo juízo a quo e a outra pelo juízo ad quem.

Isso por que, normalmente os recursos são interpostos no órgão prolator da decisão

recorrida, mas são dirigidos ao tribunal imediatamente superior hábil para julgá-lo,

gerando a bipartição do juízo de admissibilidade, conforme o entendimento de

Nelson Pinto Martins2.

Dessa forma, enquanto o mérito dos recursos é, em regra, objeto de

admissibilidade submete-se, em regra, a duplo controle.

O recurso especial submete-se ao duplo juízo de admissibilidade: no

tribunal a quo e no tribunal ad quem, este como dito anteriormente, inteiramente

desvinculado daquele, porem ambas as decisões fundamentadas3.

Sobre a questão podemos citar o Enunciado da Súmula 123 do Superior

Tribunal de Justiça: ”A decisão que admite, ou não, o Recurso Especial deve ser

fundamentada, com exame dos seus pressupostos gerais e constitucionais".

1 PINTO, Nelson Luiz. Recurso Especial para o Superior Tribunal de Justiça. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1996. 2 PINTO, Nelson Luiz. op. cit. 3 Súmula 123 do STJ: A decisão que admite, ou não, o recurso especial deve ser fundamentada, com o exame dos seus pressupostos gerais constitucionais.

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Desse modo, a referida súmula é expressa no sentido de que a decisão

do juiz deve ser sempre fundamentada.

Nas duas oportunidades em que o recurso é apreciado, a apreciação de

admissibilidade pode resultar em juízo negativo ou juízo positivo, ou seja, o Vice-

Presidente do Tribunal que recebeu o recurso pode confirmar o seu cabimento,

entendendo estarem presentes os seus requisitos para subida ao Tribunal Superior

e apreciação de seu mérito. Tais requisitos de admissibilidade podem ser

classificados como o preparo, interesse em recorrer, legitimidade, tempestividade,

além de regularidade formal do recurso. Da decisão que admite o recurso à mesma

não é passível de nenhum outro meio recursal uma vez que Código de Processo

Civil, somente prevê o cabimento de recurso de agravo para decisão que inadmite o

Recurso Especial, isso porque a inadmissibilidade do recurso é matéria de ordem

pública e deve ser examinado ex oficio pelo juiz. Conseqüentemente, se o relator do

tribunal ad quem entender estar ausente um dos requisitos de admissibilidade, não

estará obrigado a conhecê-lo.

No entanto, entendendo o juízo a quo estarem ausentes nos recursos os

pressupostos de sua admissibilidade, ficando o mesmo inabilitado ao conhecimento

do mérito, impedirá a sua subida ao Tribunal Superior expressando o juízo de

admissibilidade negativo. Essa decisão encontra óbice no agravo permitido pelo

Código de Processo Civil, inscrito no artigo 544, que forçará a apreciação pelo juízo

ad quem.

Importante observar que, embora apreciação da admissibilidade do

recurso em ambos os juízos seja feita do mesmo jeito, o modo pelo qual o julgador

irá expressar o seu resultado é diferente, tendo em vista que o órgão de interposição

do recurso diz se recebe ou não, admite ou inadmite o recurso, já o órgão que

recebe o recurso conhece ou não o conhece e, em o conhecendo, adentra no mérito

apreciando-o. Desse modo, o recurso só será provido ou não se for conhecido. E só

será conhecido se for recebido, tanto pelo juízo a quo quanto pelo juízo ad quem.

Em síntese, a admissibilidade do Recurso Especial passa por duas fases

que seriam equivalentes ao conteúdo e ao método de análise, antes do

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enfrentamento do mérito. No exame de sua admissibilidade, efetuado pelo

presidente do Tribunal a quo, se procede a um fundamentado exame de seu

cabimento, incentivada pelo Superior Tribunal de Justiça. E na segunda fase, onde

ocorre o denominado "exame do cabimento" efetuado pelo Ministro relator e pela

Turma julgadora, além dos pressupostos genéricos se verifica a adequação do apelo

às hipóteses descritas no texto constitucional (Constituição Federal, art. 105, III, "a",

"b" e "c"), pressuposto específico do cabimento.

1.4 DA LIMITAÇÃO DE ATUAÇÃO DO JUIZO A QUO NA APRECIAÇÃO DO JUIZO

DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS ESPECIAIS

Questão difícil é a delimitação da atuação do juízo de admissibilidade e

de mérito em face do Recurso Especial.

No que tange ao Recurso Especial, como exemplo, uma decisão que

aprecia a questão federal controvertida, não pode a mesma ser considerada uma

questão de não-conhecimento por ingressar no mérito do recurso.

Assim ensina o mestre Barbosa Moreira:

Nos casos e que um Tribunal não conhece de determinado recurso

na acepção própria da expressão, forçosamente fica por examinar

parte da matéria suscitada pelo recorrente (o mérito do recursos, ao

passo que, quando se utiliza a formula do “ não conhecimento” para

negar censuram, na realidade já se examinou tudo que comportava o

exame: nada sobrou- o que suscita a pergunta irrespondível: que é,

então, que se passaria ainda a examinar, se do recurso se

conhecesse?4

Portanto, o entendimento dos Tribunais Superiores é no sentido de que é

lícito a Corte se pronunciar sobre o mérito do recurso tendo em vista que muitas

4 BARBOSA MOREIRA, Jose Carlos. Julgamento do Recurso especial ex artigo 105, III, a, da Constituição da Republica: sinais de uma evolução auspiciosa. In: Temas de Direito processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 96-97.

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vezes não é possível se fazer à exata distinção entre o mérito e o juízo de

admissibilidade do recurso. Desse modo:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTÁRIO.

RECURSO ESPECIAL.

TRANSCRIÇÃO DE EMENTAS. INSUFICIÊNCIA PARA A

CARACTERIZAÇÃO DO DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. IPI.

PRINCÍPIO DA NÃO-CUMULATIVIDADE.

CRÉDITO. PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. CRÉDITOS

ESCRITURAIS. NÃO INCIDÊNCIA DA CORREÇÃO MONETÁRIA.

PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. INTELIGÊNCIA DAS

DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS E LEGAIS QUE REGULAM A

NÃO-CUMULATIVIDADE E AS ISENÇÕES DO IPI (ART. 153, § 3º,

II, DA CF/88 E ART. 49 DO CTN). ART. 557 DO CPC. DECISÃO

MONOCRÁTICA DO RELATOR RESPALDADA EM

JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL A QUE PERTENCE.

1. A simples transcrição de ementas não é suficiente à comprovação

do dissídio pretoriano, nos moldes previstos pelo art. 255, do RISTJ.

È indispensável à realização do cotejo analítico entre os acórdãos

paradigmas e o recorrido com a finalidade de demonstrar a adoção

de soluções diversas a mesma matéria.

2. Nas ações que visam ao recebimento do crédito-prêmio do IPI, o

prazo prescricional é de 5 anos, sendo atingidas as parcelas

anteriores à propositura da ação. Precedentes do STJ.

3. A correção monetária incide sobre o crédito tributário devidamente

constituído, ou quando recolhido em atraso.

Diferencia-se do crédito escritural, técnica de contabilização para a

equação entre débitos e créditos, a fim de fazer valer o princípio da

não-cumulatividade.

4. Não havendo previsão, falece ao aplicador da lei autorizar, ou

mesmo aceitar, sejam os saldos de créditos relativos ao IPI

corrigidos monetariamente. Se assim o fizesse, estaria a oficiar

acima e além dos ditames legais que norteiam sua função pública. 5.

O Supremo Tribunal Federal vem reiteradamente decidindo que a

correção monetária não incide sobre os créditos escriturais.

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6. A aplicação do art. 557 do CPC supõe que o julgador, ao

isoladamente, negar seguimento ao recurso, confira à parte,

prestação jurisdicional equivalente à que seria concedida acaso o

processo fosse julgado pelo órgão colegiado.

7. Agravo regimental improvido.5

Em oposição ao entendimento das Cortes Superiores inúmeros são os

entendimentos de que ainda que presentes os requisitos de admissibilidade

necessários para o processamento do Recurso Especial, não é da competência do

Tribunal a quo manifestar-se acerca do mérito recursal, uma vez que a matéria é

reservada com exclusividade ao tribunal ad quem, a quem cabe verificar a existência

ou não de contrariedade e negativa de vigência de Lei Federal, dar ou não

provimento ao recurso interposto. No entanto tem decidido a jurisprudência sobre a

possibilidade do juízo de admissibilidade adentrar no mérito recursal, na medida em

que o julgamento do Recurso Especial, pela alínea a, envolve o próprio mérito da

controvérsia.

No entanto a doutrina entende que para a admissão do Recurso Especial

bastaria a alegação de contrariedade a dispositivos de lei federal ou de uma norma

constitucional sendo, portanto, papel dos Tribunais Superiores o julgamento do

mérito recursal, conforme ensina o professor José Carlos Barbosa Moreira:

Para que o recorrente tenha razão, e, por conseguinte o recurso

mereça provimento, já se assinalou, é preciso que exista realmente a

contrariedade; para que o órgão ad quem possa legitimamente

averiguar essa existência, e, portanto o recurso mereça

conhecimento, é suficiente que a contrariedade seja alegada.6

O debate sobre o assunto gira em torno do fato de que muitas vezes o

Tribunal a quo adentra no mérito dos recursos, extrapolando seus limites e,

analisando o próprio conteúdo da decisão recorrida, quando a mesma deveria ser

5 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGRG nos EDCL no RESP 504065/PR. Rel. Ministro Luiz Fux. 1ª Turma. Julgado em 27 abr 2004. Publicado no DJ 24 maio 2004. 6 BARBOSA MOREIRA, Jose Carlos. Julgamento do Recurso especial ex artigo 105, III, a, da Constituição da Republica: sinais de uma evolução auspiciosa. In: Temas de Direito processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 133-134.

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analisada pelos tribunais superiores. Assim, é função do Tribunal ad quem examinar

tanto a admissibilidade dos recursos quanto o mérito dos mesmos.

Se for unânime que o juízo de admissibilidade não deve ser deduzido a

apreciação do tribunal ad quem, com muito mais rigidez não poderia suprimir das

instâncias superiores o juízo de mérito. Desse modo, o juízo de mérito não é objeto

de apreciação pelo órgão a quo, mas, se assim o faz, é em desrespeito a natureza

dos recursos.

Entende a doutrina dominante que a questão supracitada consiste em

uma questão de competência onde cabe ao juízo a quo analisar a admissibilidade do

recuso, para tão somente, encaminhar ao juízo ad quem. Como regra somente o

juízo de admissibilidade passa pelo duplo controle, não passando pela mesma via o

mérito, cabendo a este ser apreciado pelo órgão ad quem.

Sobre o assunto entende Barbosa Moreira:

Não compete ao presidente ou vice- presidente examinar o mérito

dos Recursos Extraordinário ou Especial, nem lhe é licito indeferi-lo

por entender que o recorrente não tem razão: estaria, ao fazê-lo

usurpando a competência do STF ou do STJ. 7

Conforme o preceito constitucional a função de uniformizar os

entendimentos da jurisprudência e interpretação de norma federal compete

exclusivamente ao Superior Tribunal de Justiça, fazendo-se valer a atividade dessa

suprema corte.

A possibilidade de invasão de competência das instancias superiores por

parte do tribunal a quo com o pretexto de conter o enorme número de recursos

nessas instancias fere o princípio constitucional da uniformidade de julgados e,

principalmente, a dignidade da justiça e da pessoa humana.

7 BARBOSA MOREIRA, Jose Carlos. Julgamento do Recurso especial ex artigo 105, III, a, da Constituição da Republica: sinais de uma evolução auspiciosa. In: Temas de Direito processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 133-134.

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CAPÍTULO 2

DOS PRESSUPOSTOS GERAIS SUBJETIVOS E

OBJETIVOS

2.1 PRESSUPOSTOS GERAIS SUBJETIVOS DOS RECURSOS

Primeiramente, cumpre falar que os pressupostos subjetivos dizem

respeito à pessoa do recorrente, ou seja, a capacidade processual e legitimidade

processual.

Os pressupostos de validade subjetivos em relação ao juízo se dividem

em: competência e ausência de impedimento.

Por competência, temos a “inexistência de competência absoluta e na

ausência de impedimento, a imparcialidade do juízo”. Por inexistência de

competência absoluta, entendemos que não há um juízo específico para julgar

aquela determinada lide, ou seja, caso a ação seja proposta em um juízo com

competência relativa, esta será prorrogada, se não argüida no prazo determinado

pela lei e se a ação tiver juízo específico, a ação poderá ser anulada, face a

incompetência absoluta. Já a ausência de impedimento se subdivide em suspeição e

impedimento.

Desse modo tem interesse em recorrer aquele a quem a decisão,

sentença ou acórdão lhe foi desfavorável, sendo, portanto, a parte vencida.

Os pressupostos gerais subjetivos são formados pelas condições em

recorrer, ou seja, as condições da ação.

2.1.1 Legitimidade recursal

Do mesmo modo que a legitimidade de agir é requisito para o regular

exercício do direito de ação, a legitimação ao recurso é requisito de admissibilidade

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deste. Assim sendo, a legitimidade recursal é condição indispensável para a

interposição do recurso, sob pena de carência.

A admissibilidade do recurso está ligada ao preenchimento de

determinados pressupostos processuais, o pressuposto subjetivo do recurso é

aquele que ele deve ser interposto por quem quer que esteja legitimado.

Tal pressuposto é designado às partes no processo, Ministério Público e

ao terceiro prejudicado, conforme dispõe o artigo 499 do Código de Processo Civil,

sempre que a parte for vencida, podendo ser no todo ou em parte. Vale ressaltar

que o conceito de partes deve ser entendido como as partes no processo, tanto no

pólo ativo quanto passivo, não se tratando apenas do demandante ou demandado,

mas também todos aqueles que participem do contraditório, abrangendo não

somente o autor e réu, mas todos aqueles que atuem como litisconsortes, os

intervenientes e os sucessores processuais.

No que tange ao Ministério Público podemos dizer que ele atua não

somente como fiscal da lei, mas também naqueles em que é parte.

Discute-se na doutrina a possibilidade de o Ministério Público intervir nos

processos em que há interesse de incapaz, recorrer contra decisão favorável ao

mesmo. Não se pode admitir que o Ministério Público se mantenha inerte quando

diante de uma inadequação da vontade concreta da lei, onde o mesmo foi chamado

para intervir como fiscal da lei. Assim, sua função primordial não é a defesa dos

interesses individuais, mas sim sociais, razão pela qual lhe é dado o direito de

impugnar se à parte assim não o fizer. 8

Mister consignar que a atuação do Ministério Público no processo não

está condicionada a sua prévia atuação bastando apenas que haja tal possibilidade.

8 DONIZETTI, Elpídio. O Ministério Público. In: Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 156-159.

57

Porém, a parte vencida deixa de ter legitimidade para recorrer em duas

hipóteses: quando renuncia seu direito em recorrer ou quando aceita, ainda que de

forma tácita, a decisão, sentença ou acórdão.

Na renúncia existe a declaração de vontade de não recorrer antes da

interposição do recurso, independendo, da concordância da outra parte. Podendo

igualmente assumir a forma tácita ou expressa, a exemplo da desistência.

A desistência e a renúncia se constituem em aceitação do ato judicial.

Impedem, portanto, o conhecimento do recurso, em face de não mais se verificar o

interesse de recorrer, requisito de admissibilidade do mesmo.

2.1.2 Interesse recursal

No momento da interposição do recurso deverá estar presente como

requisito o interesse da parte em recorrer.

Sobre tal requisito autores como Vicente Greco Filho9, entendem que o

interesse em recorrer se identifica com a sucumbência, que é a situação de prejuízo

causado pela decisão. Há nisso, um paralelo entre necessidade e utilidade.

Assim sendo, nessa segunda condição dos recursos se faz necessária à

presença do binômio necessidade/utilidade, sob pena de extinção do processo sem

julgamento do mérito. Por isso, o recurso deve ser viável, útil e necessário para

melhora da situação jurídica do recorrente.

O interesse em recorrer gera da interposição do recurso contra sentença,

que para o demandado, lhe resultou uma situação jurídica desfavorável. Dessa

sentença, nasce a possibilidade de ser reformada tal decisão. Desse modo, o

recurso será o único meio de se alcançar uma situação jurídica mais favorável para

o demandado.

9 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. v.2.13.ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 262.

57

Para o interesse-necessidade não basta que se caracterize o interesse

em recorrer, mas que a interposição do recurso seja o único meio à disposição do

demandado para alcançar uma situação jurídica mais favorável.

Também se faz necessário que seja feito por um recurso cabível, vale

dizer que o mesmo seja adequado para o tipo de provimento impugnado.

No que tange a adequação dos recursos, poderá ser aplicado o Princípio

da fungibilidade dos recursos, sendo esta a possibilidade de se utilizar um recurso

por outro caso haja dificuldade de distinguir se o provimento proferido seria uma

sentença ou decisão interlocutória, não sendo hipótese de erro grosseiro ou má-fé.

Assim, havendo dúvidas entre uma decisão interlocutória ou sentença, qual recurso

seria cabível o agravo de instrumento ou a apelação.

No que tange a necessidade podemos falar que a mesma se faz

necessária sempre que o recorrente não dispuser de outro meio processual para

modificar sua situação jurídica.

No tocante a utilidade será útil o recurso que versar em uma situação

jurídica mais vantajosa para o recorrente independentemente da situação ser

voltada para o direito material ou processual.

Desse modo, há necessidade tanto do interesse em recorrer como

também que a interposição de que o recurso se faça necessária. Podemos concluir

assim, que somente haverá necessidade em recorrer quando o recurso for o único

meio disponível para alcançar dentro do processo a situação jurídica mais favorável.

2.1.3 Possibilidade jurídica do recurso

No que diz respeito ao terceiro requisito de admissibilidade recursal, far-

se-á primeiramente a definição de pedido juridicamente possível.

57

Um pedido juridicamente possível é aquele que corresponde à previsão

legal do recurso. Só há possibilidade de utilização da via recursal quando o

ordenamento contempla certo meio de impugnação para atacar a decisão. Desse

modo, a possibilidade jurídica de recorrer prende-se à recorribilidade da decisão.

Significa isto dizer que será juridicamente impossível o recurso interposto contra

decisão irrecorrível.

Assim, podemos dizer que se considera juridicamente impossível uma

ação na qual o ordenamento jurídico proíbe que um de seus elementos deduzido em

juízo, havendo uma vedação, estabelecida em caráter abstrato e genérico.

2.2 DOS PRESSUPOSTOS GERAIS OBJETIVOS

Os pressupostos gerais objetivos estão ligados ao modo pelo qual o

recurso foi interposto, referindo-se a fatores externos da decisão recorrida e às

formalidades inerentes ao ato recursal como tempestividade, regularidade formal,

inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer e o preparo.

Assim, os pressupostos gerais objetivos são aqueles necessários para

que o processo nasça e tenha validade, caso contrário, deverá ser extinto o

processo sem resolução do mérito.

2.2.1 Do Órgão Investido de Jurisdição Recursal

O juízo ou o órgão jurisdicional é, pois, um pressuposto processual de

existência a investidura, um pressuposto processual de validade; e a competência

não é propriamente um pressuposto processual, já que sua ausência não faz com

que se tenha processo inexistente ou inválido.

Assim sendo, a observância das regras de investidura de jurisdição,

estabelecidas em sede constitucional, é essencial para que o processo possa se

desenvolver regularmente, devendo ser extinto sem resolução do mérito o processo

que se instaure perante juízo não-investido de jurisdição. Consiste, pois, a

57

investidura de jurisdição na observância das regras constitucionais de distribuição de

trabalho entre os diversos organismos jurisdicionais que, reunidos, compõem o

Poder Judiciário.

Este pressuposto processual se manifesta em sede de recurso, surgindo

daí o primeiro pressuposto recursal: o juízo ad quem investido de jurisdição. Trata-se

de pressuposto de fácil verificação, já que normalmente o órgão ad quem investido

de jurisdição será integrante do mesmo organismo do juízo a quo, ou seja, do juízo

que proferiu a decisão recorrida. Assim sendo, o juízo ad quem investido de

jurisdição para os recursos interpostos, no caso, contra decisões proferidas pelo

Juízo Federal de primeira instância é o Tribunal Regional Federal. Do mesmo modo,

o Tribunal de Justiça está investido de jurisdição para conhecer dos recursos

interpostos contra decisões proferidas pelos juízos estaduais. Há, porém, alguns

aspectos que precisam ser examinados com cuidado. O primeiro é o da distinção

entre investidura e competência, podendo ocorrer de certo tribunal estar investido de

jurisdição para conhecer de certo recurso, mas não ser o competente para fazê-lo.

2.2.2 Da Recorribilidade das Decisões Judiciais

Neste ponto se faz de suma importância determinar que só serão objeto

de recursos àqueles atos decisórios que possuem grande valor ou relevância.

Entretanto, dos despachos de “mero expediente” não cabe recurso.

Na mesma linha de raciocínio, são cabíveis recursos de sentenças,

definitivas ou terminativas, as decisões dos juizes de primeiro grau, os acórdãos

proferidos de apelação ou ação rescisória, os embargos de declaração em todos

seus tipos decisões e a decisão do relator que indefere plano de embargos

infringentes.

2.2.3 Da Tempestividade

Importante analisar neste requisito se o recurso foi interposto dentro do

prazo, fixado em lei. Para que o processo não perdure indefinidamente, são

previstos prazos para a prática dos atos processuais. Desse modo diz-se que um

57

recurso é tempestivo quando o mesmo é interposto respeitando seus prazos legais

e, será intempestivo caso haja violação ao prazo do recurso, cabendo a autoridade

que o recebe negar seguimento. No tocante ao Recurso Especial esse prazo será

de 15 dias Assim sendo: “Diz-se tempestivo o recurso quando oferecido dentro do

prazo estabelecido em lei, sendo prazo processual uma distancia temporal entre

atos do processo, cujos marcos são o inicio do prazo (dies a quo) e seu termino (

dies ad quem)”.10

Na contagem recursal o termo inicial é a intimação da decisão contra a

qual se pretende recorrer, inserido no artigo 506, do Código de Processo Civil. O

Recurso possui, conforme a regra disposta no artigo 508 do Código de Processo

Civil, possui prazo fatal e improrrogável não sendo passível de prorrogação

mediante acordo entre as partes.

Neste diapasão, ocorrerá a preclusão quando tal prazo, imposto pela lei

processual e pelo qual deve ser observado, não for respeitado ocorrendo

conseqüentemente o trânsito em julgado do provimento judicial irrecorrível.

O prazo para interposição do recurso é idêntico para ambas às partes,

exceção à regra são os casos em que havendo litisconsórcio os litisconsortes

tiverem patronos diversos, quando a parte for a Fazenda Pública ou Instituição

Financeira sujeita a intervenção e a liquidação extrajudicial.

Faz-se importante destacar as hipóteses de suspensão ou interrupção de

prazos processuais estabelecendo uma exceção à regra supra citada.

Haverá suspensão no curso do prazo e a mesma terá prosseguimento

finda a causa que a originou. São hipóteses de suspensão aqueles casos previstos

em lei como superveniência de férias, perda da capacidade processual de qualquer

das partes, bem como suspeição ou impedimento do juiz entre outras.

10 GRINOVER, Ada Pelegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarance. Recursos no processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p.107.

57

Na interrupção o prazo começará a contar novamente. Portanto, uma vez

iniciado tal prazo restabelecendo-se por inteiro em proveito da parte. São hipóteses

de interrupção o falecimento de seu advogado da parte vencida, ocorrência de força

maior, que suspenda o curso do processo entre outros.

2.2.4 Da Singularidade do Recurso

Interessa nesta ocasião, destacar o Princípio da singularidade dos

recursos. Este princípio estabelece que para cada ato judicial recorrível há um único

recurso previsto pelo ordenamento, sendo vedada à interposição simultânea ou

cumulativa de mais outro visando à impugnação do mesmo ato judicial. Exceção a

esta regra apenas na hipótese de haver sucumbência recíproca ou quando da

interposição de Recurso Especial e Recurso Extraordinário quando a decisão

impugnada violar, simultaneamente, normas de base federal e constitucional.

Vedada está, portanto, a impugnação simultânea de uma mesma decisão com

recursos diferentes.

2.2.5 Da Adequação do Recurso

Conforme se trate de decisão, acórdão ou sentença deverá ser

empregado o recurso adequado para cada tipo de ato decisório. O recurso deve ser

adequado para sua impugnação e cabível a espécie deste, não se fazendo a

impugnação de atos decisórios de forma indiferente por qualquer recurso. Não se

admitindo recurso inadequado e incabível.

Com todo seu caráter absoluto do Código Civil de 1939 aquele recurso

inadequado era incabível e sua inadequação não era passível de conhecimento

levando a perda de seu prazo pela parte.

Rompendo com esse formalismo excessivo, o legislador do Código de

Processo Civil admite o recurso inadequado desde que ausentes à má-fé ou erro

grosseiro vigorando o Principio da fungibilidade.

57

Do exposto, verificamos que o Princípio da fungibilidade encontra-se

presente no nosso ordenamento, muito embora sem disciplinamento normativo, pois

se trata de um Princípio implícito.

Importante requisito de admissibilidade do princípio é aquele que exige a

ocorrência de dúvida objetiva sobre qual o recurso a ser interposto. Existirá dúvida

objetiva quando a doutrina ou jurisprudência divergirem no tocante ao recurso

cabível contra determinada espécie de ato judicial.

Destarte, para a aplicação do Princípio da fungibilidade é imperioso

verificar se o recorrente teria razões para duvidar qual seria o recurso adequado. Tal

análise não se baseará em critérios subjetivos, mas em precedentes judiciais ou

doutrinários.

O último pressuposto de aplicação da fungibilidade recursal reside na

observância do prazo para sua devida tempestividade do recurso. Sempre que o

recurso erroneamente interposto apresentar um prazo maior do que aquele que seria

o adequado, a maioria da doutrina e jurisprudência entende que não se deve

receber o recurso, tendo em vista o fenômeno da preclusão.

Todavia, alguns processualistas de renome, como Tereza Arruda Alvim e

Nelson Nery Júnior11, defendem a tese de que a intempestividade não pode ser

motivo para a rejeição da incidência do Princípio da fungibilidade, pois, se o erro é

justificável, a fungibilidade valida a impugnação segundo os requisitos do recurso

interposto.

2.2.6 Da Motivação do Pedido de Novo Julgamento

É característica formal do pedido de recurso a motivação adequada, que

compreende não só as razões que fundamentam o pedido de determinada resolução

jurisdicional, como ainda aquelas que apontam os motivos pelos quais a nova

11 NERY JÚNIOR, Luiz. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos para o Superior Tribunal de Justiça. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1996.

57

decisão deve ser diversa a decisão recorrida. O recorrente precisa motivar o seu

pedido além de determinar todos os elementos e os fatos justificadores do recurso.

Como se procura, com o recurso, um reexame da questão decidida, o

pedido em que se externa à interposição deve ser determinado em todos os seus

elementos, tal como na instauração do Juízo de primeiro grau, cumprindo ainda

observar que na exposição dos fatos justificativos do recurso, deve ser indicada a

decisão impugnada. Recurso interposto sem motivação é pedido inepto. Impossível,

por isso, admitir-se a instauração de procedimento recursal quando o pedido de

reexame, por não vir fundamentado, apresenta tal deficiência. O recorrente precisa

motivar o pedido de novo exame da questão decidida. É o que se infere da

sistemática do procedimento recursal. Explícita é essa exigência em todos os

recursos, para que assim se delimite, em cada um, o respectivo objeto. É

característica formal do pedido de recurso a motivação adequada, que compreende

não só as razões que fundamentam o pedido de determinada resolução jurisdicional,

como ainda aquelas que apontam os motivos pelos quais a nova decisão deve ser

diversa da decisão recorrida.

Neste diapasão, a viabilidade dos recursos não prescinde da motivação

do pedido de novo julgamento, mas que o recorrente apresente os motivos pelos

quais a decisão recorrida merece reforma, para satisfazer o requisito da regularidade

formal.

2.2.7 Da forma estabelecida na lei

Como qualquer outro ato processual, os recursos devem observar a forma

legal. A regularização do Recurso Especial encontra sua regra inserida no artigo

541, do Código de Processo Civil.

Do texto legal observa-se que, obrigatoriamente, o Recurso Especial e o

Recurso Extraordinário devem ser escrito em petições distintas, contendo a

exposição do fato e do direito, a demonstração do cabimento do recurso e as razões

57

do mérito. Sobre a questão importante destacar a Súmula 126 do Superior Tribunal

de Justiça:

É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta

em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles

suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta

recurso extraordinário.12

Porém em se tratando de interposição do agravo retido contra decisões

interlocutórias proferidas em audiências, onde no mesmo momento o recurso deverá

ser interposto. Assim, a não interposição de agravo retido oral e imediatamente das

decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento importaria

na preclusão temporal, e impossibilitaria que tais matérias voltassem a serem

rediscutidas em outros momentos procedimentais.

Nesse sentido, tem o agravo retido oral interposto na própria audiência a

aplicação do Princípio da economia processual onde tal medida visa economizar

tempo no transcurso do processo. Não obstante, a intenção do legislador era de

agilizar o processo, dando maior relevo aos Princípios da efetividade e celeridade

processual.

Outro aspecto de grande relevância é a sua fundamentação que pode ser

dividida em fundamentação livre ou vinculada. Desse modo serão recursos com

fundamentação livre quando o recorrente puder alegar qualquer matéria, desde que

haja relação com o caso concreto como na apelação, o agravo, o recurso ordinário e

os embargos infringentes.

Já os recursos com fundamentação vinculada só poderão ser alegadas

aquelas matérias argüíveis e expressamente previstas em lei. A fundamentação é

vinculada às hipóteses previstas em lei, como no Recurso Especial e no Recurso

Extraordinário.

12 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 126, de 9 mar 1995.

57

Por fim, podemos destacar o preparo recursal que, o recorrente deve

atender ao pagamento das despesas processuais relativas ao seu processamento.

Na hipótese de não atendimento ao pagamento do preparo segue-se a deserção.

Como regra, estão os recursos sujeitos a preparo com exceção do agravo

retido e dos embargos infringentes dependendo este último de legislação para

isenção ou não de tal requisito. Na legislação estadual no Rio de Janeiro, não estão

sujeitos a preparo os embargos infringentes, porém ocorre variação de acordo com a

legislação de cada estado.

A deserção é a sanção pela falta de preparo no prazo legal. O momento

para efetuação do seu preparo no prazo legal. Onde tal momento coincide com a

interposição do recurso. Portanto, poderão ser considerados desertos se, no

Tribunal de origem no ad quem, for constada à falta de pagamento do porte de

remessa e retorno, conforme dispõe a Súmula nº 187 do Superior Tribunal de

Justiça: “É deserto o recurso interposto para o Superior Tribunal de Justiça, quando

o recorrente não recolhe, na origem, a importância das despesas de remessa e

retorno dos autos”.13

O Recurso Especial não possui preparo, diferentemente do Recurso

Extraordinário. Assim sendo, o Recurso Especial é isento do seu recolhimento. É

devido, contudo o pagamento do porte de remessa e retorno. Os valores do porte de

remessa e retorno são estabelecidos por norma interna do Superior Tribunal de

Justiça. Desse modo:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PORTE DE REMESSA E DE

RETORNO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO.

DESERÇÃO. NÃO-CONHECIMENTO DO RECURSO ESPECIAL.

AGRAVO IMPROVIDO.

1. "É deserto o recurso interposto para o Superior Tribunal de

Justiça, quando o recorrente não recolhe, na origem, a importância

das despesas de remessa e retorno dos autos." (Súmula do STJ,

Enunciado nº 187).

13 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 187, de 21 maio 1997.

57

2. "No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará,

quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo,

inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção."

(Código de Processo Civil, artigo 511).

3. Não se conhece do recurso especial em que a parte deixou de

comprovar o pagamento do porte de remessa e de retorno ou não

comprovou ser beneficiário da assistência judiciária gratuita, sendo

insuficiente a mera declaração do recorrente, já no ato de

interposição do agravo de instrumento, de que não possui condições

para arcar com as custas processuais.

4. Agravo regimental improvido.14

Caso, o recurso seja considerado deserto, se o recorrente provar o justo

impedimento, o juiz atribuirá o prazo para o pagamento do mesmo, conforme dispõe

o artigo 519, do Código de Processo Civil que, a par do capítulo que trata da

apelação, estende a regra nela contida a todos os demais recursos.

Assim, será irrecorrível a decisão que revela a pena de deserção. Isto se

dá por que é decisão positiva de quanto ao juízo de admissibilidade e será

novamente analisado pelo juízo ad quem. Entretanto, se a decisão indeferir o pedido

de absolvição da pena de deserção, cabe recurso, pois nesse caso se trata de

decisão negativa de admissibilidade, a exemplo da decisão que inadmite Recurso

Especial e o Recurso Extraordinário.

Cabe salientar que, aplica-se a pena da deserção não somente quando o

preparo esteja ausente, mas também insuficiente. Essa inovação merece todos os

aplausos porque se fundamenta no Princípio da efetividade do processo, além de se

fundar nos Princípios da instrumentalidade processual, do aproveitamento do

processo e da economia processual. Sendo insuficiente o preparo, a parte será

intimada para, em cinco dias, complementar o valor, ou caso contrário, será julgado

deserto o recurso e conseqüência disso será o seu não conhecimento.

14 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGRG no AG 992.211/RS. Rel. Ministro Hamilton Carvalhido. 1ª Turma. Julgado em 7 ago 2008.

57

No Superior Tribunal de Justiça, não são devidas custas nos processos

de competência originaria ou recursal, porém as despesas de remessa e de retorno

dos autos devem ser recolhidas na origem, pela parte que interpõe o recurso.

RECURSO ESPECIAL - DESERÇÃO

I - NO STJ NÃO SÃO DEVIDAS CUSTAS NOS PROCESSOS DE

SUA COMPETENCIA ORIGINARIA OU RECURSAL (REGIMENTO,

ART. 112), POREM, AS DESPESAS DE REMESSA E DE

RETORNO DOS AUTOS DEVEM SER RECOLHIDAS, NA ORIGEM,

PELA PARTE QUE INTERPÕE O RECURSO. A EXPRESSÃO

CUSTAS NÃO COMPREENDE TAIS DESPESAS - CORTE

ESPECIAL, AGRGAG 30.849-7/GO, DJ DE 07/06/1993.

II - RECURSO NÃO CONHECIDO.15

2.2.8 Da Ausência de Fato Impeditivo ou Extintivo

Na interposição do recurso, existindo fato impeditivo ou extintivo do direito

de recorrer, aquele não será conhecido.

São fatos que impedem ou extinguem o poder de recorrer, acarretando a

não ultrapassagem do juízo de admissibilidade.

O recurso interposto pela parte pode não ser conhecido pelo juízo de

admissibilidade se estiverem presentes alguns fatos que ensejam a extinção ou

impedem o poder de recorrer, tais como renúncia, a aquiescência à decisão,

desistência do recurso, o reconhecimento jurídico do pedido, a renúncia ao direito no

qual se funda a ação.

Desse modo, o artigo 501 a 503, do Código de Processo Civil dispõe

hipóteses exemplificativas de fatos extintivos e impeditivos do poder de recorrer.

15 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 92.331/RJ. Rel. Ministro Waldemar Zveiter. 3ª Turma. Julgado em 10 set 1996.

57

CAPÍTULO 3

DA INCIDÊNCIA DE SÚMULAS PARA OBSTACULIZAR SUBIDA DE

RECURSO ESCPECIAL AO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

A origem das súmulas decorre de criação pelo então Ministro Victor

Nunes Leal em 1963, conforme anotações que fazia de julgamentos repetidos e que

passaram a ser seguidas apenas pelo órgão julgador que as consolidou. Desse

modo, ao longo do tempo foram editadas diversas súmulas para admissibilidade do

Recurso Extraordinário. Primeiramente tal tarefa foi gerada pelo Supremo Tribunal

Federal e, posteriormente pelo Superior Tribunal de Justiça.

No tocante as súmulas do Supremo Tribunal Federal, muito embora

tenham sido editadas quanto à admissão do Recurso Extraordinário ainda estava

voltado a matéria de natureza infraconstitucional, somente sendo modificado seu

objeto recursal com a Constituição Federal de 1988 e com a criação do Superior

Tribunal de Justiça, continuam sendo aplicadas e orientando a admissibilidade de

ambos os recursos, sendo eles, o Recurso Especial e Recurso Extraordinário.

É de notório saber jurídico que a função primordial das súmulas é

proporcionar efeito vinculante às sumulas emanadas dos tribunais superiores, para

obstaculizar que uma pendência judicial, em que o seu teor substancial já tenha sido

objeto de discussão e julgamento por parte do Judiciário, em diversos processos,

seja novamente submetida ao crivo do juiz.

57

Com a intenção de resolver a repetição de processos exatamente

idênticos, que se declarou à proposta das súmulas vinculantes ou precedentes de

efeitos vinculantes, que obrigariam os juízes e a Administração Pública a se sujeitar

aos seus enunciados, passando então a ter força de lei.

Em relação às opiniões a respeito das súmulas vinculantes no nosso

sistema judiciário brasileiro a doutrina não é pacifica.

Os defensores da efetividade da súmula vinculante argumentam a

aprovação da implantação de súmulas no direito pátrio, onde acreditam que com a

implantação das mesmas o problema do congestionamento do Judiciário estaria

resolvido ou, no mínimo, atenuado.

Contrários a essa corrente entendem que a implantação da súmula

vinculante argumentando estes que é o trabalho dos juízes das instâncias inferiores,

não devendo, portanto, renunciar a essa atividade conciliatória da sua consciência

jurídica com o objetivo da lei em nome da celeridade da prestação jurisdicional, pois

esta não é o único nem maior valor a ser considerado em matéria judicial.

Torna-se evidente a insegurança social que deriva da demora da

prestação jurisdicional e a adoção da súmula vinculante, desde que bem estudada e

debatida, poderia desafogar o judiciário dos processos repetitivos, contribuindo,

dessa maneira, de modo mais eficaz para desempenhar a celeridade processual e a

função específica das instâncias superiores.

Cumpre salientar que inúmeras são as súmulas que se caracterizam

como óbice tanto de forma direta quanto indireta ao conhecimento do Recurso

Especial ao Superior Tribunal de Justiça. Desse modo, apresentaremos algumas

delas tendo em vista a grande dificuldade em se conseguir expor todas as súmulas

inerentes ao tema.

57

3.1 DA SÚMULA 211 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Conforme dito anteriormente, o prequestionamento é uma das condições

de admissibilidade do recurso e o seu desconhecimento ou a sua inobservância por

parte dos operadores do direito implica no seu não acolhimento pelos Tribunais

Superiores.

No entanto, é necessário que o questionamento acerca da matéria seja

feito de forma preliminar, ou seja, de conhecimento do juiz a quo, porém para que

um Recurso Especial seja devidamente conhecido importante também que haja a

oposição dos embargos declaratórios, para que a condição do prequestionamento

esteja presente.

Manifesto a função dos embargos declaratórios em sanar as omissões,

obscuridades e ambigüidades que porventura podem estar presentes no acórdão

prolatado, para que não incida o Recurso Especial no óbice do Enunciado da

Súmula 211 do Superior Tribunal de Justiça, necessário se faz que a matéria argüida

nos embargos seja ventilada ao Tribunal para que esse pressuposto de

admissibilidade seja cumprido.

Nesta hipótese, sem a oposição de embargos de declaração, e

mantendo-se a decisão, sem versar expressamente acerca da questão, a matéria

não será considerada prequestionada, sendo conseqüentemente o Recurso Especial

prejudicado, por incidência do Enunciado da Súmula 211 do Superior Tribunal de

Justiça.

Com efeito, o Enunciado 211 do Egrégio Tribunal Superior assim dita:

“inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de

embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo”.16

Acerca da matéria cumpre também mencionar o Enunciado das Súmulas

282 e 356, ambas do Supremo Tribunal Federal.

16 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Enunciado n 211.

57

É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na

decisão recorrida, a questão federal suscitada.

O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos

embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso

extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento.17

3.2 DA SUMULA 07 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

O Enunciado nº 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça assim

dispõe: “Pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”.18

Com fundamento neste enunciado é possível concluir que a matéria

objeto de apreciação do Superior Tribunal de Justiça, por meio do Recurso Especial,

será exclusivamente a matéria de direito.

Portanto, não é possível na via excepcional o reexame de fatos e provas,

visto que este exame presume-se dirimido pelas instâncias inferiores e ordinárias,

onde é permitido o amplo debate acerca de fatos e provas.

Neste diapasão em sede de Recurso Especial não se reexamina prova,

haja vista que as instâncias ordinárias decidem, soberanamente, a respeito delas

não cabendo mais voltar a analisar as provas que convenceram o Tribunal de

origem.

No que tange a revisão contratual, matéria muito comum em relação à

aplicação da súmula ora em questão, seria necessário movimentar todo um sistema,

que em sede recursal torna-se inviável, seria preciso que um douto perito contábil

17 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmulas 282 e 356. 18 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Enunciado n 7.

57

analisasse os juros, a forma e as parcelas contratuais para que, só assim, o juízo

chegasse a um novo entendimento acerca da matéria.

Assim sendo, a função do Superior Tribunal de Justiça é reexaminar a

questão de direito e não matéria de fato. E mais, a questão de direito

infraconstitucional.

Nessa mesma linha de raciocínio, vale mencionar jurisprudência sobre o

assunto:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. ANÁLISE DE

DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. IMPOSSIBILIDADE NA VIA

DO ESPECIAL. LEGALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO.

REEXAME DE PROVA. NECESSIDADE. INCIDÊNCIA DO

ENUNCIADO N.º 07 DA SUMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE

JUSTIÇA.

1. A via especial, destinada à uniformização da interpretação da

legislação infraconstitucional, não se presta à análise de possível

violação a dispositivos da Constituição da República.

2. O acórdão recorrido pautou-se em fundamentos de ordem fático-

probatórios para reconhecer a ilegalidade do ato punitivo, razão pela

qual, em face da Súmula n.º 07 desta Corte, mostra-se inviável a

reforma do julgado, em sede de recurso especial.

Precedentes.

3. Recurso especial não conhecido.19

3.3 DO ENUNCIADO DA SÚMULA 05 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

O Enunciado da súmula 05 do Superior Tribunal de Justiça dita o

seguinte: “A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso

especial”.20

19 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Ag 901580 / SP. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 2007/0111089-0 . Rel. Min. Laurita Vaz. Quinta Turma. Julgamento em 25 out 2007. 20 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n 5.

57

O Recurso Especial possui a função primordial de salvaguardar a

legislação federal, devendo sanar aos requisitos que estejam no artigo 105, III da

Carta Magna, quando cometidos.

Portanto, diante disso não há motivos para que um recurso prospere se o

seu alicerce encontra-se pacificado na revisão contratual, pura e simplesmente.

Assim sendo, não pode um Recurso Especial ser conhecido quando seu

fundamento se limita a revisão de cláusulas contratuais, pois tal alicerce ultrapassa a

competência que as instâncias superiores possuem, que é a verificação da aplicação

das leis federais, não cabendo este tipo de argüição em sede recursal.

3.4 DO ARTIGO 557 DO CODIGO DE PROCESSO CIVIL

Constitui o artigo 557, caput, inserido no Código de Processo Civil, como

fundamento válido à negativa de seguimento de recurso em confronto com súmula

ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.

Desse modo, o artigo 557, caput, do Código de Processo Civil estabelece

a primeira hipótese legal de jurisprudência paradigmática, tendo por fundamentos

basilares a pertinência temática da decisão guerreada com a jurisprudência

dominante do Tribunal ad quem.

Na qualidade da matéria tratada pelo juízo a quo a jurisprudência

dominante do respectivo tribunal é, pois, universal, porém, se o tribunal ad quem for

um tribunal local, haja vista que este último irá analisar a questão como um todo,

abrangendo, pois, todas as matérias de direito e de fato.

No que diz respeito a recurso designado ao Tribunal Superior, o

entendimento anterior também é válido, com exceção as questões de fato, a

depender do recurso que estiver sendo interposto.

57

Com efeito, assim preceitua o artigo 557, do Código de Processo Civil:

Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente

inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com

súmula ou jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do

Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.

§ 1º - A. Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com

súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal

Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao

recurso.

§ 1º Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão

competente para o julgamento do recurso, e, se não houver

retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo

voto: provido o agravo, o recurso terá seguimento. (...)21

21 BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Art. 557.

57

CAPÍTULO 4

DOS RECURSOS REPETITIVOS - LEI 11.672/08

Conforme já fora explicitado nos tópicos anteriores de que o Judiciário,

sobretudo nas estâncias superioras, vem sofrendo com os inúmeros recursos

impetrados, é mais que sabido que tal fato acaba por ensejar no engessamento da

produção dos julgamentos.

Com a tentativa desenfreada de obstar a chegada de milhares de

recursos às instâncias superiores, fato este que levou, primeiramente o Supremo

Tribunal Federal a impedir os recursos advindos das Turmas recursais, dos Juizados

Especiais Federais e, mais recentemente a súmula vinculante e a necessidade de

repercussão geral, o Superior Tribunal de Justiça, quase após 20 anos de sua

criação, através da Lei dos Recursos Repetitivos vem tentar obstar e frear a

avalanche de processos que chegam às instancias superiores e em decorrência

disso, gera o congestionamento processual.

Com a chegada da Lei 11.672/08, que acrescenta o artigo 543-C ao

Código de Processo Civil, possui bastante semelhança com a repercussão geral do

recurso extraordinário quanto aos seus efeitos, uma vez que também suspende os

demais recursos especiais interpostos e os seus respectivos agravos de

instrumento, ficando os mesmos paralisados nos tribunais até que Superior Tribunal

de Justiça decida um ou mais recursos que representem a idêntica controvérsia da

questão de direito com múltiplos julgamentos.

A Resolução nº 07 do Superior Tribunal de Justiça, quanto à suspensão

dos processos, estabelece os procedimentos relativos a esta lei, trazendo assim,

que na primeira instância, os processos ficarão suspensos.

Porém, os poderes do Superior Tribunal de Justiça não param por aí, uma

vez que não havendo identicidade de matéria, os ministros Relatores de processos

no Superior Tribunal de Justiça identificando matérias idênticas, de oficio, poderão

57

determinar a suspensão de processos de mesma questão jurídica que se encontrem

nos tribunais inferiores.

Assim sendo, a Lei 11.672/08 teve como a sua maior preocupação a

celeridade desses recursos repetitivos, haja vista que os demais feitos, com exceção

daqueles que envolvam questões penais com réu preso ou do habeas corpus ou

mandado de segurança, só poderão ser apreciados após o julgamento do recurso

especial escolhido para ser o leading case, sendo seu julgamento ser realizado em

60 dias.

Assim sendo, julgado o leading case e publicado seu acórdão, caberá aos

ministros do Superior Tribunal de Justiça, quanto ao julgamento dos demais feitos

com a mesma controvérsia jurídica. Desse modo, dispõe o artigo 557, do Código de

Processo Civil, que os ministros do Superior Tribunal de Justiça poderão julgá-los

monocraticamente ou apenas determinar que as coordenadorias do tribunal

certifiquem nos autos, através da certidão de julgamento, a decisão tomada pela

Seção ou Corte Especial, caso tenha enviado os processos que se encontravam em

seu gabinete para as coordenadorias dos órgãos julgadores.

Portanto, os advogados que atuam em segunda instancia devem tomar

bastante cautela, pois um novo procedimento para contagem de prazo processual foi

criado pela Resolução, qual seja o prazo para recorrer da certidão de julgamento,

terá inicio três dias após a publicação referente ao Recurso Especial afetado.

No que diz respeito aos processos que, por ventura, sejam remetidos ao

Superior Tribunal de Justiça, mesmo após o julgamento definitivo do Recurso

Especial afetado, os mesmos serão julgados pela Presidência do acordo conforme

dispõe a Resolução nº 03 do Superior Tribunal de Justiça.

Em relação aos efeitos do julgamento realizados pelo Superior Tribunal de

Justiça para aqueles processos com idêntica questão de direito que se encontrem

nos tribunais a quo três medidas devem ser tomadas. No primeiro caso, em havendo

divergência em relação aos acórdãos recorridos do julgamento do Superior Tribunal

57

de Justiça, serão estes, novamente submetidos ao órgão julgador competente no

tribunal de origem, competindo-lhe reconsiderar a decisão para ajustá-la à

orientação firmada no acórdão paradigma, sendo incabível a interposição de outro

recurso especial contra o novo julgamento. Em um segundo caso, em havendo

outras questões a serem decididas, alem das já julgadas pelo acórdão paradigma,

serão submetidas ao juízo de admissibilidade. E no terceiro e último caso, em se

tratando do acórdão recorrido estar em consonância com o acórdão do Superior

Tribunal de Justiça, o Recurso Especial não será admitido por entender haver perda

do objeto.

A Resolução nº. 07 do Superior Tribunal de Justiça determina o

julgamento prima facie, conforme dispõe o artigo 285-A e 518, parágrafo 1º, ambos

do Código de Processo Civil, que aos processos suspensos em primeira instancia,

ou seja, consegue impedir a subida ate mesmo do recurso de apelação para a

segunda instancia.

Cumpre ressaltar o preceito que finaliza a Resolução supracitada em

relação ao acréscimo que qualquer manifestação prévia dos tribunais superiores no

que tange a manutenção do acórdão recorrido desafiando o Recurso Especial e

pinçando para o julgamento sob o rito da Lei 11.672/08, repetindo a possibilidade da

figura do amicus curiae.

Necessário se faz observar também o artigo 2º da Lei dos Recursos

Repetitivos. Assim sendo: “Art. 2o Aplica-se o disposto nesta Lei aos recursos já

interpostos por ocasião da sua entrada em vigor”. Assim sendo, todos os recursos

que lá já se encontrem poderão ser afetados as seções ou a Corte Especial para a

aplicação do instituto, ceifando, destarte a oportunidade dos advogados, quiçá, de

prepararem melhor os seus recursos.

No que tange as conseqüências profissionais também devem ser

analisadas. Desse modo, a escolha dos processos que serão enviados, no caso, do

Superior Tribunal de Justiça, ou seja, a cautela deve ser redobrada para a realização

57

das peças que se tornarão leading cases. Em relação à advocacia de massa, como

a advocacia das intuições financeiras, as mesmas serão enxugadas.

Com a diminuição do rejulgamento das teses, os advogados deverão

estar cada vez mais capacitados, não mais existindo espaço para as divergências

dentro do próprio tribunal por pelos tribunais estaduais ou federais, tudo em

homenagem a celeridade, efetividade e a razoável duração dos processos,

desafogando assim, os tribunais superiores para que, só assim, possam cumprir

suas missões constitucionais.

57

CONCLUSÃO

Diante do exposto, torna-se claro a importância do juízo de

admissibilidade dos recursos, ainda que o juízo a quo não se restrinja apenas a

efetuar o juízo de admissibilidade, pois o mesmo vai mais além, extrapolando os

seus limites e penetrando no mérito do recurso, especialmente com a apreciação do

Recurso Especial.

Apesar de, na prática a intenção de conter os recursos excessivos seja

boa, ainda continua a ser ineficaz, haja vista que não resolve o problema, com a

interposição do agravo pela parte insatisfeita, sobe exoneravelmente para aqueles

mesmos tribunais cujo acesso se tentou obstaculizar. Conseqüência disso restam

violados os princípios da celeridade, do duplo grau de jurisdição, da economia e, o

que é mais grave, o respeito da justiça e da pessoa humana, o que deveriam ser

garantias constitucionais, pois a parte continua na espera incansável e permanente

de obter tutela pretendida.

Na busca de uma solução justa e célere, respeitando os princípios, o

direito da parte e a finalidade dos tribunais superiores, vislumbramos duas

alternativas que melhor atenderiam aos interesses gerais.

Uma alternativa para atender tais interesses gerais violados seria uma

tentativa de abolir a apreciação da admissibilidade recursal pelo juízo a quo,

submetendo toda matéria aos tribunais superiores, e deixando ao relator no juízo ad

quem a atribuição especifica e delimitada do prévio exame da admissibilidade, sem

prejuízo da admissibilidade do mérito pelo colegiado.

Manter a apreciação da admissibilidade pelo juízo a quo, mas delimitando

sua atuação de forma que, como constitucionalmente previsto, seja preservada a

apreciação do mérito para os tribunais superiores. Essa alternativa parece a mais

apropriada, pois preserva os tribunais superiores na medida em que faz uma triagem

dos recursos manifestamente inadmissíveis, tais como os intempestivos, sem

preparo, etc., mas não impede a parte de ver o mérito do recurso efetivamente

57

sendo apreciado pelo tribunal de destino, de quem também não se pode suprimir a

possibilidade de inadmitir o recurso, pois quem pode mais pode menos, mas quem

pode menos não deve arvorar no mais.

No que tange as estatísticas relacionadas ao tema, no período de um

ano, dos agravos de instrumento dirigidos ao Superior Tribunal de Justiça, obtivemos

um percentual de 53% das decisões negativas de provimento, 27% de não

conhecimento e, por fim, 23% dos recursos obtiveram êxito, para conhecer do

agravo de instrumento e determinar a subida do Recurso Especial, ou dar

provimento ao agravo e julgar o Recurso Especial, ou, até mesmo, para converter o

agravo de instrumento em Recurso Especial.

Com a entrada da Lei de Recursos Repetitivos houve uma queda

considerável a subida do Recurso Especial as instancias superiores. Desse modo,

chegaram ao Superior Tribunal de Justiça 5.590 Recursos Especiais, volume

40,32% menor do que o volume processual antes da vigência desta lei, quando

foram recebidos 9.454 recursos, queda esta de 40,87%.

Tais estatísticas demonstram um indicativo de desafogamento das

instancias superiores e uma conseqüente reforma do Processo Civil brasileiro onde

a Lei dos Recursos Repetitivos vem revelando provas de sua efetividade e busca

para evitar o tortuoso e inócuo julgamento dos recursos idênticos no Superior

Tribunal de Justiça .

Na busca de uma solução justa e célere, respeitando os princípios, o

direito da parte e a finalidade dos tribunais superiores, vislumbramos alternativas

que devem tão somente atender aos interesses gerais como também não

descaracterizar sua finalidade maiôs das instancias superiores.

O Judiciário tem sofrido enormes prejuízos através de recursos que são

utilizados apenas com objetivo de procrastinar, criando uma massa de recursos com

fundamento em idêntica questão de direito. Assim, o artigo 543-C foi introduzido no

Código de Processo Civil, através da Lei nº 11.672/08 instituindo procedimento

57

particular para o recurso especial, no caso de causas repetitivas que, a prior, têm

logrado êxito em sua proposta, porém, necessário se faz um estudo aprofundado

para verificar se este não é de fato mais um “remendo” criado como tantos outros no

judiciário, que deveria ser re-estruturado desde a sua base para trazer real

celeridade e efetividade em suas funções. Esta reforma tem de ser elaborada

através da legislação, das estruturas de 1ª instância até chegar às últimas instâncias

através de recursos e etc.

As figuras criadas para estancar os problemas de maneira pontual, não

farão mais do que aumentar problemas futuros.

Cumpre destacar que difícil seria conseguir esgotar o tema enfrentando

com profundidade cada óbice processual ao conhecimento do Recurso Especial pelo

Superior Tribunal de Justiça. Desse modo, vislumbrou esta obra apresentar os

obstáculos enfrentados pelo Recurso Especial para chegar às instâncias superiores,

salientando que cada qual poderia gerar um novo tema caso fosse estudado de

maneira mais ampla.

57

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Leonidas Cabral. Admissibilidade do Recurso Especial. São

Paulo: Sérgio Fabris, 1996.

ALVIM, Eduardo Arruda; ALVIM, Angélica Arruda. Notas para uma teoria geral do

processo cautelar. Inovações sobre o direito processual civil: tutelas de urgência. Rio

de Janeiro: Forense, 2003.

ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2008.

BRASIL. Lei n 5.869, de 11 janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil.

CAMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2003.

DONIZETTI, Elpídio. O Ministério Público. In: Curso de direito processual civil. Rio

de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

FERNANDES, Antonio Scarance. Recursos no processo penal. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2009.

GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. v.2. 13.ed. São Paulo:

Saraiva, 1999.

GRINOVER, Ada Pelegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES,

Antonio Scarance. Recursos no processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2009.

LIMA, Alcides Mendonça. Comentários ao CPC. São Paulo: Forense, 1974.

MATTOS, Luiz Norton Baptista de. Súmula vinculante: análise das principais

questões jurídicas no contexto da reforma do Poder Judiciário e do processo civil

brasileiro. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2010.

MEDINA, José Miguel Garcia. Execução civil. 2.ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2004.

MONTEIRO, Samuel. Recurso Especial e Extraordinário. São Paulo: Hemus, 1992.

MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. v.5.

15.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.

________. Julgamento do Recurso especial ex artigo 105, III, a, da Constituição da

Republica: sinais de uma evolução auspiciosa. In: Temas de direito processual civil.

São Paulo: Saraiva, 2001.

57

NERY JÚNIOR, Luiz. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos para o

Superior Tribunal de Justiça. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1996.

PINTO, Nelson Luiz. Recurso Especial para o Superior Tribunal de Justiça. 2.ed.

São Paulo: Malheiros, 1996.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. v.1. 51.ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2010.

INCIDE

FOLHA DE ROSTO...................................................................................................02

AGRADECIMENTO...................................................................................................03

57

DEDICATÓRIA...........................................................................................................04

RESUMO....................................................................................................................05

METODOLOGIA........................................................................................................06

SUMÁRIO...................................................................................................................07

INTRODUÇÃO...........................................................................................................08

CAPÍTULO 1 - DOS RECURSOS..........................................................11

1.1 ESCORÇO HISTÓRICO......................................................................................11

1.2 CONCEITO DE RECURSO ESPECIAL...............................................................13

1.3 DA ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS ESPECIAIS......................................14

1.4 DA LIMITAÇÃO DE ATUAÇÃO DO JUIZO A QUO NA APRECIAÇÃO DO JUIZO

DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS ESPECIAIS............................................17

CAPÍTULO 2 - DOS PRESSUPOSTOS GERAIS SUBJETIVOS E

OBJETIVOS............................................................................................21

2.1 PRESSUPOSTOS GERAIS SUBJETIVOS DOS RECURSOS............................21

2.1.1 Legitimidade recursal........................................................................................21

2.1.2 Interesse recursal..............................................................................................23

2.1.3 Possibilidade jurídica do recurso.......................................................................24

2.2 DOS PRESSUPOSTOS GERAIS OBJETIVOS...................................................25

2.2.1 Do órgão investido de jurisdição recursal..........................................................25

2.2.2 Da recorribilidade das decisões judiciais...........................................................26

2.2.3 Da tempestividade.............................................................................................26

2.2.4 Da singularidade do recurso..............................................................................28

2.2.5 Da adequação do recurso................................................................................;28

2.2.6 Da motivação do pedido de novo julgamento...................................................29

2.2.7 Da forma estabelecida na lei.............................................................................30

2.2.8 Da ausência de fato impeditivo ou extintivo......................................................34

CAPÍTULO 3 - DA INCIDÊNCIA DE SÚMULAS PARA

OBSTACULIZAR SUBIDA DE RECURSO ESCPECIAL AO SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA.......................................................................35

57

3.1 DA SÚMULA 211 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA...............................36

3.2 DA SUMULA 07 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.................................38

3.3 DO ENUNCIADO DA SÚMULA 05 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA....39

3.4 DO ARTIGO 557 DO CODIGO DE PROCESSO CIVIL.......................................40

CAPÍTULO 4 - DOS RECURSOS REPETITIVOS - LEI 11.672/08........42

CONCLUSÃO.........................................................................................46

REFERÊNCIAS......................................................................................49

ANEXOS.................................................................................................53

ANEXO 1 – Lei n.. 11.672, de 8 de maio de 2008.....................................................53

ANEXO 2 - Resolução nº 8, de 7 de agosto de 2008.................................................54

ANEXOS

ANEXO 1 – Lei nº 11.672, de 8 de maio de 2008

Lei nº 11.672, de 8 de maio de 2008

Acresce o art. 543-C à Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil,

57

estabelecendo o procedimento para o julgamento de recursos repetitivos no âmbito do Superior Tribunal de Justiça.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o A Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo

Civil, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 543-C:

“Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento

em idêntica questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste

artigo.

§ 1o Caberá ao presidente do tribunal de origem admitir um ou mais

recursos representativos da controvérsia, os quais serão encaminhados ao Superior

Tribunal de Justiça, ficando suspensos os demais recursos especiais até o

pronunciamento definitivo do Superior Tribunal de Justiça.

§ 2o Não adotada a providência descrita no § 1o deste artigo, o relator no

Superior Tribunal de Justiça, ao identificar que sobre a controvérsia já existe

jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado, poderá

determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais

a controvérsia esteja estabelecida.

§ 3o O relator poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo

de quinze dias, aos tribunais federais ou estaduais a respeito da controvérsia.

§ 4o O relator, conforme dispuser o regimento interno do Superior

Tribunal de Justiça e considerando a relevância da matéria, poderá admitir

manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia.

§ 5o Recebidas as informações e, se for o caso, após cumprido o

disposto no § 4o deste artigo, terá vista o Ministério Público pelo prazo de quinze

dias.

§ 6o Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do

relatório aos demais Ministros, o processo será incluído em pauta na seção ou na

Corte Especial, devendo ser julgado com preferência sobre os demais feitos,

ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.

57

§ 7o Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos

especiais sobrestados na origem:

I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido

coincidir com a orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou

II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o

acórdão recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.

§ 8o Na hipótese prevista no inciso II do § 7o deste artigo, mantida a

decisão divergente pelo tribunal de origem, far-se-á o exame de admissibilidade do

recurso especial.

§ 9o O Superior Tribunal de Justiça e os tribunais de segunda instância

regulamentarão, no âmbito de suas competências, os procedimentos relativos ao

processamento e julgamento do recurso especial nos casos previstos neste artigo.”

Art. 2o Aplica-se o disposto nesta Lei aos recursos já interpostos por

ocasião da sua entrada em vigor.

Art. 3o Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a data de sua

publicação.

Brasília, 8 de maio de 2008; 187o da Independência e 120o da

República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Tarso Genro

Este texto não substitui o publicado no DOU de 9.5.2008

ANEXO 2 - Resolução nº 8, de 7 de agosto de 2008

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RESOLUÇÃO Nº 8, DE 7 AGOSTO DE 2008.

57

Estabelece os procedimentos relativos ao

processamento e julgamento de recursos

especiais repetitivos.

O PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, no uso da

atribuição que lhe é conferida pelo art. 21, XX, do Regimento Interno, “ad

referendum” do Conselho de Administração, e CONSIDERANDO a necessidade de

regulamentar os procedimentos para admissibilidade e julgamento dos recursos

especiais repetitivos, previstos na Lei n. 11.672, de 8 de maio de 2008,

RESOLVE:

Art. 1º Havendo multiplicidade de recursos especiais com fundamento em

idêntica questão de direito, caberá ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal

recorrido (CPC, art. 541) admitir um ou mais recursos representativos da

controvérsia, os quais serão encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça, ficando

os demais suspensos até o pronunciamento definitivo do Tribunal.

§ 1º Serão selecionados pelo menos um processo de cada Relator e,

dentre esses, os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de

argumentos no recurso especial.

§ 2º O agrupamento de recursos repetitivos levará em consideração

apenas a questão central discutida, sempre que o exame desta possa tornar

prejudicada a análise de outras questões argüidas no mesmo recurso.

§ 3º A suspensão será certificada nos autos.

§ 4º No Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais de que trata

este artigo serão distribuídos por dependência e submetidos a julgamento nos

termos do art. 543-C do CPC e desta Resolução.

Art. 2º Recebendo recurso especial admitido com base no artigo 1º, caput,

desta Resolução, o Relator submeterá o seu julgamento à Seção ou à Corte

Especial, desde que, nesta última hipótese, exista questão de competência de mais

de uma Seção.

§ 1º A critério do Relator, poderão ser submetidos ao julgamento da

Seção ou da Corte Especial, na forma deste artigo, recursos especiais já distribuídos

que forem representativos de questão jurídica objeto de recursos repetitivos.

57

§ 2º A decisão do Relator será comunicada aos demais Ministros e ao

Presidente dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais, conforme o

caso, para suspender os recursos que versem sobre a mesma controvérsia.

Art. 3º Antes do julgamento do recurso, o Relator:

I – poderá solicitar informações aos tribunais estaduais ou federais a

respeito da controvérsia e autorizar, ante a relevância da matéria, a manifestação

escrita de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, a serem

prestadas no prazo de quinze dias.

II – dará vista dos autos ao Ministério Público por quinze dias.

Art. 4º Na Seção ou na Corte Especial, o recurso especial será julgado

com preferência sobre os demais, ressalvados os que envolvam réu preso e os

pedidos de habeas corpus.

Parágrafo único: A Coordenadoria do órgão julgador extrairá cópias do

acórdão recorrido, do recurso especial, das contra-razões, da decisão de

admissibilidade, do parecer do Ministério Público e de outras peças indicadas pelo

Relator, encaminhando-as aos integrantes do órgão julgador pelo menos 5 (cinco)

dias antes do julgamento.

Art. 5º Publicado o acórdão do julgamento do recurso especial pela Seção

ou pela Corte Especial, os demais recursos especiais fundados em idêntica

controvérsia:

I – se já distribuídos, serão julgados pelo relator, nos termos do art. 557

do Código de Processo Civil;

II – se ainda não distribuídos, serão julgados pela Presidência, nos termos

da Resolução n. 3, de 17 de abril de 2008.

III – se sobrestados na origem, terão seguimento na forma prevista nos

parágrafos sétimo e oitavo do artigo 543-C do Código de Processo Civil.

Art. 6º A coordenadoria do órgão julgador expedirá ofício aos tribunais de

origem com cópia do acórdão relativo ao recurso especial julgado na forma desta

Resolução.

Art. 7º O procedimento estabelecido nesta Resolução aplica-se, no que

couber, aos agravos de instrumento interpostos contra decisão que não admitir

recurso especial.

57

Art. 8º Esta Resolução entra em vigor em 8 de agosto de 2008 e será

publicada no Diário de Justiça eletrônico, ficando revogada a Resolução nº 7, de 14

de julho de 2008.

Brasília, 7 de agosto de 2008.

Ministro CESAR ASFOR ROCHA