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    RESUMO

    A passagem de planto um importante instrumento de trabalho para a organizao e planejamento dos cuida-dos de enfermagem. O objetivo deste estudo foi descrever como a atividade de passagem de planto realizadaem algumas unidades de um hospital universitrio de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e o conhecimento que osenfermeiros, tm em relao s diversas maneiras de sistematiz-la. Trata-se de uma pesquisa qualitativa queutilizou dois mtodos de coleta de dados: a observao e um questionrio respondido pelo profissional enfermei-ro. Utilizou-se anlise de contedo do tipo temtica para analisar as informaes. A organizao da passagem deplanto acontece com uma reunio da equipe de enfermagem para troca de informaes em todas as unidades,embora os enfermeiros conheam outras formas. Muitos fatores interferem, tanto positivamente quanto negativa-mente, no transcorrer da atividade de passagem de planto, cabendo ao enfermeiro buscar melhorias para que essemomento seja tranqilo, sistemtico e efetivo.

    Descritores: Comunicao. Trabalho em turnos. Troca de informaes. Continuidade da assistncia ao paciente.

    RESUMEN

    El cambio de guardia es un importante instrumento de trabajo para la organizacin y la planificacin de los cuidados deenfermera. El objetivo de este estudio es describir como se viene realizando la actividad de cambio de guardia en algunasunidades de un hospital universitario de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, as como el conocimiento que los enfermerostienen en relacin con las diferentes maneras de sistematizar esta accin. Se trata de una investigacin cualitativa que utilizados mtodos de toma de datos: la observacin y un cuestionario respondido por el enfermero. Se utiliz un anlisis de contenidos

    de tipo temtico para analizar las informaciones. La organizacin del cambio de guardia ocurre mediante una reunin delequipo de enfermera para intercambiar informacin de todas las unidades, a pesar de que los enfermeros conozcan otrasformas de hacerlo. Muchos factores interfieren, tanto positiva como negativamente en el transcurso de la actividad de cambiode guardia, y cabe al profesional de enfermera buscar mejorar ese momento para que sea tranquilo, sistemtico y efectivo.

    Descriptores: Comunicacin. Trabajo por turnos. Intercambio de informacin. Continuidad de la atencin al paciente.Ttulo: Cambio de guardia: un recurso estratgico para la continuidad del cuidado en enfermera.

    ABSTRACT

    Shift reporting is an important tool for organizing and planning nursing care. The purpose of this study was to describehow shift reporting is conducted in some wards of a teaching hospital in Porto Alegre, Rio Grande do Sul,Brazil, and toidentify the nurses knowledge on how to systematize this activity. Two data collection methods were used in this qualitativestudy: observation of shift report; and a questionnaire answered by nurses. Data were submitted to thematic content analysis.In all wards, shift report happened during a nurses meeting, when information was exchanged, although nurse knew otherform of shift reporting. Several positive and negative factors affect shift reporting, and the nursing staff should try to makethis activity as easy, systematic, and effective as possible.

    Descriptors: Communication. Shift work. Information exchange. Continuity of patient care.Title: Shift reporting: a strategic resource for the continuity of nursing care.

    Kelly Magnus PORTALb

    Ana Maria Mller de MAGALHESc

    a Trabalho extrado da monografia apresentada em 2003ao Curso de Graduao em Enfermagem da Escola de Enfermagem da UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul (EEUFRGS), Brasil.

    b Especialista em Centro Cirrgico. Enfermeira do Bloco Cirrgico do Hospital de Clnicas de Porto Alegre (HCPA). Professora substitu-ta do Departamento de Assistncia e Orientao Profissional (DAOP) da EEUFRGS, Rio Grande Sul, Brasil.

    c Enfermeira.Mestre em Educao. Doutoranda em Enfermagem do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da EEUFRGS. Profes-

    sora Assistente do DAOP da EEUFRGS. Membro do Ncleo de Estudos Sobre Gesto em Enfermagem. Coordenadora do Grupo deEnfermagem do HCPA. Rio Grande Sul, Brasil.

    ARTIGOORIGINAL

    Portal KM, Magalhes AMM. Passagem de planto: um recurso estratgico para a continui-dade do cuidado em enfermagem. Rev Gacha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 jun;29(2):246-53.

    PASSAGEM DE PLANTO:um recurso estratgico para a continuidade do cuidado em enfermagema

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    INTRODUO

    O termo passagem de planto tem sido utili-zado para referir-se ao momento em que a equipe

    de enfermagem transmite informaes na troca deturnos de trabalho(1). Esse momento ainda pode serutilizado para discutir questes administrativas ecomo um momento de desenvolver a educao con-tinuada com todos os membros da equipe (2,3).

    A comunicao essencial no processo de tra-balho da enfermagem e representa mais de 70% dotrabalho dos profissionais que atuam nessa rea,sendo a passagem de planto fundamental para atransferncia de informaes atualizadas acercado cliente e da unidade em geral(3-5).

    A passagem de planto uma atividade din-mica e cabe ao enfermeiro coordenar e planejar amesma, pois se trata de uma forma rpida de trans-mitir, receber e delegar atribuies, podendo tam-bm levar o grupo a funcionar cooperativamente,contribuindo para um melhor atendimento de en-fermagem(6). A passagem de planto representa altocusto no processo de assistncia ao cliente, sendouma atividade sistematizada na instituio e, por-tanto, deve ser organizada dentro do tempo pre-visto pela mesma. Por exemplo, no Hospital de Cl-nicas de Porto Alegre (HCPA) ela acontece com oencontro das duas equipes de dois turnos de traba-lho que se renem durante 15 minutos, para reali-zar a troca de informaes. Este tempo foi estipu-lado para se adequar s questes legais trabalhis-tas quanto jornada de trabalho de seis horas, comquinze minutos de intervalo.

    Existem diferentes maneiras de organizara atividade de passagem de planto: atravs defita cassete, de relatrio verbal oral/escrito e deroundsou rondas beira do leito(4,6).

    O uso de relatrio gravado em fita cassete tem

    a vantagem de poder ser reproduzido quantas ve-zes forem necessrias, mas no permite que se fa-am perguntas ao enfermeiro que procedeu a gra-vao. Outro mtodo, considerado mais tradicio-nal, a apresentao de um relatrio verbal, ondeo enfermeiro relata as informaes sobre os clien-tes assistidos pelos membros da equipe. A desvan-tagem desse mtodo que a informao transmiti-da para o enfermeiro que ir assumir o planto feita por uma segunda pessoa, ou seja, o enfermei-ro que no prestou, diretamente, o cuidado(4).

    As rondas constituem outra modalidade depassagem de planto e so realizadas beira do

    leito o que permite maior integrao entre a en-fermeira que passa o planto e a enfermeira querecebe o planto, oportunizando esclarecimentosde dvidas e discusso sobre o estado de sade do

    cliente.Alm das modalidades de passagem de plan-

    to descritas anteriormente, podemos destacar autilizao da linguagem visual no momento da pas-sagem de planto, atravs da utilizao de um pai-nel com figuras que retratem procedimentos in-vasivos/no-invasivos e com situaes tcnico-administrativas que atendam s peculiaridades dainstituio(7).

    Estudos recentes indicam a necessidade demodificaes e adequaes nas formas de passagem

    de planto, incorporando novas tecnologias comoa informatizao das informaes e reorganizaodas rotinas de trabalho(8,9).

    A passagem de planto constitui-se em umaatividade legitimada pela maioria das instituieshospitalares e reconhecida dentro do processo detrabalho do enfermeiro. No entanto, tal atividadepode ser caracterizada como um ritual de subal-ternidade prtica mdica devido preocupaoem implementar as determinaes mdicas, crian-do condies para que as mesmas possam ser reali-zadas, reforando, dessa maneira, a hegemoniamdica e sua dominao sobre as aes de enfer-magem(10).

    As diferenas entre os discursos de enfermei-ras e de auxiliares de enfermagem, quanto ao cui-dado do cliente durante a passagem de planto,j foram estudadas e, podem ser percebidas con-forme relata o autor, por um lado em [...] um, dis-curso, sobretudo concentrado num fazer ligado aoauxiliariado mdico (o da auxiliar) e, por outro, na-quele que tenta escapar para a autonomia, cons-truindo uma outra relao com o paciente (o da en-

    fermeira), tentando integrar o tcnico com o re-lacional(11).Os achados bibliogrficos mostram que a pas-

    sagem de planto um importante instrumentode trabalho para a organizao e para o planeja-mento dos cuidados de enfermagem, asseguran-do a continuidade da assistncia e a atualizao dasinformaes que retro-alimentam o processo tera-putico(1-4).

    Tendo em vista os diversos aspectos que en-volvem a atividade de passagem de planto, a pre-sente pesquisa torna-se relevante no momento emque essencial conhecer como esse momento vem

    Portal KM, Magalhes AMM. Passagem de planto: um recurso estratgico para a continui-dade do cuidado em enfermagem. Rev Gacha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 jun;29(2):246-53.

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    sendo conduzido em diferentes unidades de ummesmo servio de enfermagem de um hospital uni-versitrio de Porto Alegre, pois a qualidade desteprocesso ter um impacto direto na preciso das

    informaes transmitidas e na continuidade dasaes de cuidado.

    METODOLOGIA

    A Pesquisa realizada de natureza qualitativafoi decarter exploratrio descritivo. Esse tipo depesquisa tem o propsito de observar, descrever eexplorar aspectos de uma situao(12). A pesquisafoi realizada nas sete unidades de internao quecompem o Servio de Enfermagem Cirrgica do

    Hospital de Clnicas de Porto Alegre (3 Sul, 3Norte, 7 Sul, 8 Sul, 8 Norte, 9 Norte e 9 Sul).Os participantes desta pesquisa foram en-

    fermeiros das unidades de internao. A escolhados participantes foi aleatria, a partir da dispo-nibilidade dos enfermeiros em participar da pes-quisa.

    A tcnica utilizada para obteno do materialemprico foi a observao sistemtica, empregan-do uma estrutura determinada para a anotao dosfatos ocorridos, atravs de um instrumento de ob-servao. Logo aps, foi entregue um questionrioaos profissionais enfermeiros, composto por duasquestes abertas.

    As informaes obtidas atravs das observa-es seguiram um roteiro pr-estabelecido de modoque permitisse uma sistematizao e uma padroni-zao dos elementos observados. A utilizao deuma observao sistemtica e uma tabela de ob-servao padronizada permite observar os indiv-duos da mesma forma(13).

    Quanto aos questionrios, os mesmos foramentregues aps o trmino da atividade de passa-

    gem de planto e preenchidos conforme disponibi-lidade do enfermeiro. Ao total, foram entregues 32questionrios para os enfermeiros dos quais 29 fo-ram devolvidos preenchidos.

    As informaes foram analisadas qualitati-vamente, atravs de anlise de contedo do tipotemtica, com base nas etapas: pr-anlise, explo-rao do material, tratamento dos dados atravsde inferncias e interpretaes, seguido do agru-pamento dos dados em categorias(14).

    Na inteno de proporcionar uma melhorvisualizao e explanao a essas questes, foramelaborados quadros demonstrativos contendo as

    categorias construdas e seus indicadores, bemcomo o coeficiente de dominncia dos mesmos.A apresentao de quadros-sntese de ncleos desentidos uma estratgia usada por Bardin(14)que

    permite visualizar os temas levantados. O coefi-ciente de dominncia retrata o nmero de vezesque a idia ou fala repete-se nos discursos dos di-ferentes sujeitos.

    O presente projeto foi enviado Comissode tica do Hospital de Clnicas de Porto Alegre(HCPA) e aprovado sob o nmero 03-149. Foi for-necido Termo de Consentimento Livre e Esclare-cido aos participantes.

    ANLISE DAS INFORMAES

    Em todas as unidades observadas h um es-pao reservado para que a atividade de passagemde planto acontea. comum em vrias delas afalta de espao fsico para acomodar todos os par-ticipantes. O ambiente superlotado d margem paraum trnsito intermitente de funcionrios na sala,prejudicando a concentrao na atividade. Muitosauxiliares ficam de p, outros preferem ficar noposto de enfermagem aguardando, onde conversasparalelas so inevitveis. Apenas em uma unidadefoi possvel observar a presena de todos nessemomento e inclusive confirmado no depoimentode um dos enfermeiros:

    Considero muito boa a passagem de planto desta uni-dade, com a participao de todos os funcionrios(E3).

    A organizao da atividade de passagem deplanto entre os turnos de trabalho acontece damesma maneira em todas as unidades observadas.O enfermeiro que ir receber o planto chama o

    nmero do leito e o nome do cliente, fato que bus-ca desenvolver a humanizao do atendimento. Oauxiliar responsvel pelo cliente em questo des-creve como o mesmo passou durante seu turno detrabalho e o enfermeiro complementa quando jul-ga necessrio. Quando se trata de uma internaorecente, o enfermeiro que passa o planto narra ahistria completa do motivo da internao. O en-fermeiro que recebe o planto confere a checagemdas medicaes nas prescries mdicas que foramadministradas aos clientes, a checagem dos cuida-dos na prescrio de enfermagem e a folha de d-bito de enfermagem.

    Portal KM, Magalhes AMM. Passagem de planto: um recurso estratgico para a continui-dade do cuidado em enfermagem. Rev Gacha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 jun;29(2):246-53.

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    No geral, percebe-se que a falta das pastasno momento da passagem de planto bem como osregistros incompletos, atrapalham o decorrer daatividade e, em alguns casos, gera um clima desa-

    gradvel entre a equipe. A solicitao freqentede pastas pela equipe mdica tambm represen-

    ta um ponto negativo e interfere na dinmica damesma.

    O enfermeiro, em todas as unidades observa-das, utiliza o chamado caderninho de pacientes,

    onde so anotadas informaes sobre o pacienteem cada turno de trabalho.

    13h01min13h13h13h13h13h01min

    13h04min

    Observao Tarde (13h) Noite (19h)

    Unidade Incio Trmino Total Incio Trmino Total

    123456

    7

    13h19min13h23min13h17min13h22min13h10min13h13min

    13h15min

    18 min23 min17 min22 min10 min12 min

    11 min

    18h59min19h02min19h03min19h07min19h19h03min

    19h01min

    19h18min19h23min19h19min19h26min19h12min19h21min

    19h09min

    19 min21 min16 min19 min12 min18 min

    08 minQuadro 1 Horrio de incio, trmino e durao da atividade de passagem de planto nas unidades de internao cirrgica.

    Na maioria das unidades observadas, os en-fermeiros iniciam pontualmente a atividade de pas-sagem de planto e tentam no ultrapassar o tem-po preconizado.

    As unidades que conseguem realizar a ativi-dade de passagem de planto em menos de 15 mi-nutos, unidades de n 5, 6 e 7, contam com um n-mero menor de clientes internados, como revela o

    depoimento de um enfermeiro dessas unidades:

    A passagem de planto gil, rpida devido ao pouconmero de pacientes (E5).

    A unidade de n 4 representa o incio maistardio da passagem de planto no horrio das 19h,em funo do atraso do profissional enfermeiro, fatoque atrasa toda a atividade.

    Um fato que merece destaque aexplicaodos enfermeiros ao trmino da passagem de plan-to quando a atividade estava mais conturbada, jus-tificando que o planto havia sido agitado e que a

    atividade no acontecia sempre daquela maneira,como pode ser confirmado no relato de um dosenfermeiros:

    No dia de hoje a passagem est bastante conturbada,pois o planto estava bastante agitado (E8).

    Quanto atividade de passagem de planto

    ser considerada um ritual de subalternidade pr-tica mdica(10), as observaes do presente estudoevidenciam que a atividade de passagem de plan-to auxilia a organizao e o planejamento da equi-pe de enfermagem para dar continuidade assis-tncia e s especificidades de cada cliente, indomuito alm do cumprimento das prescries m-dicas.

    A anlise da resposta da primeira questo de-monstrou que vinte enfermeiros conhecem outrasformas da atividade de passagem de planto e novedesconhecem outras maneiras de organizar tal ati-vidade, como mostra o quadro abaixo.

    Passagem de planto beira do leito do pacienteEnfermeiro passa para enfermeiro e auxiliar de enfermagem paraauxiliar de enfermagem (separadamente)Enfermeiro passa para enfermeiro e auxiliar de enfermagem paraauxiliar de enfermagem sem as pastas.Atravs de livro de passagem de planto (relatrios escritos)Momento para revisar tcnicasEnfermeiro passa para o grupo o caso

    Formas de passagem de planto Coeficiente de dominncia

    10

    08

    04030101

    Quadro-sntese 1 Conhecimento dos enfermeiros quanto s formas da atividade de passagem de planto.

    Portal KM, Magalhes AMM. Passagem de planto: um recurso estratgico para a continui-dade do cuidado em enfermagem. Rev Gacha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 jun;29(2):246-53.

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    Essa categoria descreve as diferentes formasde atividade de passagem de planto que os enfer-meiros tm conhecimento. Dez enfermeiros conhe-cem a atividade de passagem de planto realizada

    beira do leito do cliente, modalidade utilizada emreas fechadas e, inclusive, no Centro de TerapiaIntensiva do HCPA. A modalidade de passagem deplanto onde as informaes so passadas entre ascategorias profissionais separadamente no foiencontrada descrita na literatura, porm oito en-fermeiros a descreveram, bem como quatro des-creveram esse mesmo tipo de passagem de plantosem a utilizao das pastas dos clientes.

    O uso de relatrios escritos, sem a reunioentre os profissionais, foi mencionado por trs en-

    fermeiros, dos quais dois ainda acrescentaram queessa maneira:

    [...]gerava perda de informaes e desorganizao dotrabalho (E7).

    Um enfermeiro destacou como modalidade depassagem de planto a utilizao do momento parapromover educao continuada:

    [...]momento para revisar tcnicas (E3).

    A modalidade de passagem de planto na qualo enfermeiro passa as informaes para o grupo

    foi indicada por um participante. Portanto, perce-be-se que algumas das modalidades de passagemde planto citadas no foram encontradas na lite-ratura explorada.

    A organizao da passagem de planto depen-de da instituio a qual o enfermeiro ir exercersuas atividades. Em algumas respostas dos enfer-meiros, percebe-se a aprovao da maneira comoa atividade de passagem de planto organizadanas unidades em questo:

    De todos os hospitais que trabalhei, ainda aqui a mais

    organizada passagem de planto (E9).

    [...]Com este tipo de passagem de planto mais fcildar continuidade aos cuidados de enfermagem (E8).

    A segunda pergunta do questionrio propos-to solicitava ao profissional enfermeiro que des-crevesse como a atividade de passagem de plantoacontecia em sua unidade.

    Dinmica Coeficiente de dominncia

    1209

    07

    0707050403

    Reunio da equipe para troca de informaes que propicia a con-tinuidade da assistnciaObjetividade na transmisso das informaesChecagem dos registros (prescrio mdica, prescrio de enfer-magem e folha de dbito de enfermagem)Preocupao com o tempo de durao da atividade (respeito aohorrio de incio e trmino)Enfermeira complementa informaes quando julga necessrioAuxiliar de enfermagem passa inicialmente as informaesControle de materiaisAtualizao de informaes administrativas

    Quadro-sntese 2 Dinmica desenvolvida durante a atividade de passagem de planto.

    Essa categoria agrupa os temas descritospelos enfermeiros relacionados dinmica e sis-temtica utilizada pelos mesmos durante a ativi-dade de passagem de planto. Conforme expostono quadro acima, doze enfermeiros expressam aatividade de passagem de planto como uma reu-nio da equipe para a troca de informaes quepropicia a continuidade da assistncia. Quanto objetividade do relatrio verbal, nove enfermei-ros descrevem a importncia de se passar infor-maes concisas e objetivas. Tambm podem enfa-

    tizar o plano e condutas a serem realizados du-rante o prximo planto em relao ao cliente emquesto(4).

    Dentro da questo da objetividade das infor-maes importante salientar que a caractersti-ca individual de cada pessoa deve ser considera-da nesse momento. Relatos dos enfermeiros de-monstram esse aspecto:

    [...]tem pessoas que se sobressaem passando os dados

    com clareza, pontos importantes e enfoque em dadosesclarecedores sobre o paciente (E20).

    Portal KM, Magalhes AMM. Passagem de planto: um recurso estratgico para a continui-dade do cuidado em enfermagem. Rev Gacha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 jun;29(2):246-53.

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    [...] agilidade em receber e passar as alteraes queocorrem com os pacientes...nem todas as pessoas tm estacaracterstica, fazendo com que algumas passagens deplanto sejam mais ou menos geis e eficientes (E11).

    O profissional enfermeiro deve identificar es-sas pessoas no grupo e trabalhar essa questo in-dividualmente, qualificando o grupo para uma pas-sagem de planto mais efetiva. Em relao che-cagem dos registros, sete enfermeiros destacam asua importncia no momento da atividade de pas-sagem de planto. Da mesma forma, a preocupa-o com o cumprimento do horrio preconizado pe-la instituio para a realizao da atividade de pas-sagem de planto descrita por sete enfermeiros.

    Um fato importante e que merece destaqueso as descries sobre a passagem de planto dosenfermeiros que trabalham nas unidades que com-portam um menor nmero de clientes:

    [...]devido ao nmero reduzido de pacientes, na mi-nha unidade so passadas informaes mais detalha-das sobre os pacientes. Acho a passagem de planto gil(E24).

    A complementao das informaes pelo en-fermeiro, durante a passagem de planto, foi des-

    tacada por sete respondentes. Este aspecto enfatizado relacionado s informaes especficasdo tratamento, novas condutas ou intercorrncias,buscando aperfeioar a atividade quanto preciso

    dos dados e ao cumprimento do horrio. O enfer-meiro o profissional gerenciador do cuidado, sen-do sua participao no momento da passagem deplanto fundamental para complementao das in-formaes transmitidas, solucionando dvidas quepossam surgir, atentando para possveis falhas nacomunicao(1).

    Ao descreverem como a atividade de passa-gem de planto acontece em sua unidade, cincoenfermeiros indicam que a troca de informaesinicia pelo relato dos auxiliares de enfermagem, os

    quais destacam os cuidados diretos prestados aosclientes, o que muito significativo para a elabo-rao de um adequado plano de cuidados ao cli-ente.

    Quanto ao carter das informaes, alm dasassistenciais, quatro enfermeiros descrevem que omomento da atividade de passagem de planto utilizado para a conferncia do nmero de materi-ais e trs enfermeiros ainda descrevem que no in-cio ou trmino da atividade so transmitidos reca-dos administrativos.

    Circulao de auxiliares e ambientes conturbadoConversas paralelasInterrupo pela equipe mdicaInterrupes que atrapalham o fluxo das informaesEspao fsico adequado e ambiente tranqilo

    Quadro-sntese 3 Condies do ambiente para a realizao da atividade de passagem de planto.

    Condies do ambiente Coeficiente de dominncia

    0402020101

    Essa categoria se refere s condies do am-biente que interferem na organizao da ativida-

    de de passagem de planto. Quanto ao ambien-te propcio para a realizao desta atividade, qua-tro enfermeiros destacam a circulao de funcio-nrios neste momento como um ponto negativo,pois torna o ambiente conturbado. Em relao sconversas colaterais, dois enfermeiros destacam aexistncia dessa conduta e dois enfermeiros des-crevem a interrupo da atividade pela equipe m-dica:

    Ocorrem interrupes, entrega de pasta por residente...

    s vezes o rudo atrapalha, como, por exemplo, conver-sa colateral no posto de enfermagem (E17).

    Quanto ao fato das interrupes atrapalha-rem o fluxo das informaes descrito por um en-

    fermeiro. As interrupes durante a passagem deplanto, tanto por conversas paralelas quanto porparte da equipe mdica, atrapalham a atividade, poisdesconcentram os profissionais que dela partici-pam podendo causar um corte no fluxo das infor-maes. O rudo externo dificulta ouvir o que re-almente est sendo falado, e pode provocar umacompreenso errada da mensagem(15).

    Apesar dos enfermeiros indicarem algumascondies do ambiente que prejudicam a passagemdas informaes, somente um enfermeiro destaca

    a importncia do espao fsico adequado e tranqi-lo para a realizao dessa atividade.

    Portal KM, Magalhes AMM. Passagem de planto: um recurso estratgico para a continui-dade do cuidado em enfermagem. Rev Gacha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 jun;29(2):246-53.

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    Essa categoria representa os temas relacio-nados s condutas dos profissionais que visam in-dividualizar os cuidados, buscando uma assistn-cia humanizada. Conforme quadro, um enfermeirodescreveu que ao receber o planto, chama o n-mero do leito e o nome do cliente, no entanto, emtodas as unidades observadas essa conduta rea-

    lizada, porm no destacada nas respostas dosenfermeiros. Em relao s informaes que sotransmitidas, um enfermeiro coloca que:

    [...]eventualmente ocorrem aps a passagem de plan-to reunio entre os enfermeiros descrevendo situaesespecficas de um ou outro paciente, evitando exp-loem grande grupo (E11).

    A necessidade do respeito ao sigilo do clientej foi apontada em outros estudos onde recomen-da-se que: os membros da equipe precisam desses

    dados para dar-lhe assistncia? Se a resposta forsim, eles devem ser includos no relatrio. Se a res-posta for no, devem ser omitidos(4).

    Quanto s orientaes que podem ser da-das durante a atividade de passagem de plantoaos auxiliares de enfermagem, um enfermeiroenfatiza a importncia dessas orientaes, poiselas propiciam um melhor atendimento aos cli-entes.

    CONSIDERAES FINAIS

    A passagem de planto uma atividade quecada vez mais se confirma como fundamental noprocesso de trabalho do enfermeiro, pois a trocade informaes entre a equipe que prestou cuida-dos ao cliente em um turno de trabalho com a equi-pe que ir assumir tais cuidados no turno seguin-te que garantir a qualidade do servio prestado. um momento que permite ao profissional en-fermeiro ter uma viso geral da unidade a qual as-sumir suas atividades.

    A atividade de passagem de planto vem exi-

    gindo de todos os profissionais de enfermagemuma sistematizao em sua dinmica a fim de po-

    der ser realizada no menor tempo possvel, dentrodos limites preconizados pela instituio, sem com-prometer a qualidade das informaes que sotransmitidas.

    Para que a atividade de passagem de plantotranscorra adequadamente necessria uma orga-nizao prvia, concentrao, pontualidade no in-

    cio e trmino. O ambiente para que a passagem deplanto acontea deve ser tranqilo, espaoso, ven-tilado, iluminado, com cadeiras ou bancos para quetodos possam sentar e sentir-se vontade.

    As informaes que so transmitidas durantea atividade de passagem de planto devem ser cla-ras e objetivas, devendo sofrer um processo de fil-trao por parte do profissional que ir transmiti-la, enfatizando informaes assistenciais.

    A passagem de planto um recurso estra-tgico para a organizao do cuidado de enfer-magem, pois a eficincia na troca de informaes

    atualizadas entre os turnos de trabalho propiciaa continuidade da assistncia e o alcance de resul-tados efetivos para a resoluo de problemas rela-cionados aos clientes.

    A atividade de passagem de planto pode serorganizada de diversas maneiras. Alguns profis-sionais enfermeiros desconhecem outras modali-dades, outros conhecem mais de uma. Cada insti-tuio tem sua sistematizao e dinmica para rea-lizar tal atividade. O enfermeiro deve ter em men-te que existem elementos bsicos para que uma ati-

    vidade de passagem de planto possa ser produti-va e eficaz, como, por exemplo, comprometimentoe valorizao dessa atividade.

    Este estudo permitiu descrever como vemsendo realizada a atividade de passagem de plan-to no Servio de Enfermagem Cirrgica do HCPAe identificar qual o conhecimento dos enfermeirosacerca dessa atividade. Contudo, acreditamos queos achados levantados podem contribuir para umareflexo sobre a forma como acontece a passa-gem de planto e quais estratgias poderiam ser

    implementadas para buscar melhorias neste pro-cesso(16) .

    Cuidados durante a passagem das informaes Coeficiente de dominncia

    0101

    01

    Chamar o cliente pelo nomeEvitar expor informaes pessoais ao grande grupo

    Buscar orientar auxiliares de enfermagem para melhoratendimento dos clientes

    Quadro-sntese 4 Humanizao do cuidado durante a passagem de planto.

    Portal KM, Magalhes AMM. Passagem de planto: um recurso estratgico para a continui-dade do cuidado em enfermagem. Rev Gacha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 jun;29(2):246-53.

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    Endereo da autora / Direccin del autor /Authors address:Kelly Magnus PortalRua Xavier de Carvalho, 19591110-440, Porto Alegre, RS

    E-mail: [email protected]

    Recebido em: 24/08/2007Aprovado em: 29/02/2008

    Portal KM, Magalhes AMM. Passagem de planto: um recurso estratgico para a continui-dade do cuidado em enfermagem. Rev Gacha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 jun;29(2):246-53.