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  • 7/29/2019 55391494 Fascinacao 017 Tess Oliver Rosas Da California

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    Srie Fascinao n 17

    Rosas da CalifrniaTtulo original: "Red, Red Rose"

    Tess Oliver

    Por ser mulher, Sarahenfrentava problemas para conseguiremprego como jardineira. No lheadiantavam os anos de estudo e oaprendizado com um dos melhoresprofissionais da regio. Por isso, elaagradeceu aos cus a chance de cuidardas rosas da famlia Ramsey. Oproblema era lidar com ossentimentos que o patro despertavanela. Ainda mais porque ele nuncaentenderia a liberdade que ela sempre

    viveu e as causas que defendia. Apesarda forte concorrncia, poderia haveralgo real entre patro e empregada?

    .

    Projeto Revisoras de fs para fs sem fins lucrativos.

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    Srie Fascinao n 17

    CAPTULO I

    Sarah Halston engatou a marcha do carro e seguiu em frente. Estavaquinze minutos adiantada para o encontro marcado com Kight Ramsey.

    Tencionando ser bem-sucedida no encontro afinal, o emprego eramuito importante , tinha sado com tempo de sobra para viajar ostrinta quilmetros que separavam Sacramento daquela pequena fazenda,s margens do rio Americano e aos ps de Sierra Nevada. Mais algunsquilmetros e estaria bem no corao da Califrnia de mame Lode,onde, em 1849, havia comeado a grande corrida em busca do ouro.

    No topo de uma subida, avistou as curvas graciosas de umaestradinha que levava casa e isso a fez sorrir, aliviada. Ela parecia umforte, toda circundada por uma cerca-viva de hibiscos e tendo ao fundouma fileira de altos cedros.

    A estrada continuava at a porta de entrada da casa, onde fazia umacurva. Sarah estacionou no gramado em frente porta da garagemespaosa, onde j estavam um grande Lincoln Continental branco e umPorsche preto, alm de vrios instrumentos de jardinagem. Ao descer docarro, olhou o relgio e viu que estava no horrio.

    Embora fosse um dia chuvoso e quente de janeiro, a paisagem daCalifrnia era agreste e parecia abandonada, como a maioria das terraspor ali. A cerca-viva crescia sem tratos e, mesmo distncia, via-semuitos ramos j secos. Por alguns minutos ficou observando, com olhoscrticos, o terreno que descia at l embaixo, no vale.

    Tudo bem, mas prefiro flores silvestres e gramado, em vez destecapinzal todo!, pensou.

    Olhou ao redor, para ver se algum havia notado a sua chegada;como no percebeu nenhum sinal de vida, atravessou o ptio em direoa um grande canteiro de rosas.

    Nunca, em seus trs anos como jardineira, tinha visto um canteiroto malcuidado! Havia moitas de capim crescendo entre as roseiras, quepareciam nunca ter sido podadas. As folhas pendiam, amareladas,enquanto as hastes dos botes vergavam para baixo. Se aqueles botesno fossem colhidos logo, se perderiam.

    Sarah examinou com ateno um grosso ramo de roseira. Notou queestava quebrado entre dois ns de brotos. Se ningum podasse aquelegalho, acabaria secando. Mas claro que aquilo no era de sua conta! Ouseria? Ser que algum ia achar ruim se ela apanhasse uma tesoura ecortasse o galho, sem compreender que ela estava apenas sendo bondosapara com as plantas?

    Deu nova olhada para a casa. Em seguida, foi garagem e pegou atesoura de podar entre os instrumentos de jardinagem, que estavamnuma pequena maleta de lona. Voltando at o galho quebrado, sentiuque os espinhos das roseiras ao redor espetavam-se em sua cala jeans ena jaqueta; mas podou as plantas com tamanha concentrao, que scaiu em si quando ouviu uma voz masculina s suas costas:

    Esta propriedade famosa por ter uma vista linda! Se vocinsistir em deixar tudo mais bonito, teremos de colocar uma cerca

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    Srie Fascinao n 17eltrica, para impedir que o pblico invada o recinto!

    Surpresa, Sarah voltou o rosto para ver de onde vinha a voz, mas osespinhos prenderam-lhe o cabelo. Aflita, tentou livrar-se com ummovimento brusco, e um deles feriu-lhe a testa. Quanto mais se mexia,mais se emaranhava no meio dos galhos espinhosos!

    Ei, sossegue, moa, que eu vou dar um jeito de soltar voc disseo homem.

    E entrou no canteiro, afastando os galhos e conseguindo libertarSarah. Em seguida, segurando-a pela mo, fez com que se pusesse de p,levando-a para fora.

    Voc est bem? perguntou. Oh, no, voc est ferida!Sarah procurou endireitar a roupa e o cabelo. Soltou-se das mos

    dele e deu um passo para trs. Estou bem, no se preocupe. Est tudo em ordem!O estranho parecia um gigante, principalmente para Sarah, que era

    baixinha e estava acostumada a conversar com homens cujos olhosestavam sempre ao nvel dos seus. Agora, para ver aqueles profundosolhos negros, precisava at inclinar a cabea para trs. Sentia-se ligei-ramente tonta, pelo susto e pelo ferimento.

    O homem sua frente a observava com ateno. Usava uma malhade l preta e vermelha, cala jeans desbotadas e botas. Naquele instante,tirando um leno do bolso, segurou o queixo dela, obrigando-a a encar-lo, e limpou-lhe o sangue da testa. Sentindo uma onda de rubor subir-lheao rosto, Sarah afastou-se e suspirou.

    No foi nada, acredite! disse, com firmeza. No se preocupe!Ele deu um passo para trs. Desculpe, senhorita, mas eu me sinto responsvel por tudo o que

    lhe aconteceu. Bem, voc deve mesmo sentir-se responsvel concordou ela.

    Vai chegando assim sem avisar e assustando as pessoas...Sarah estava nervosa, por isso respondeu daquele modo agressivo.

    Normalmente teria admitido que a culpa havia sido apenas dela. Bem... que eu achei o canteiro to abandonado continuou ela.

    Agora entendo por que o sr. Ramsey mandou buscar outro jardineiro.Por que o senhor o jardineiro daqui, no ?

    Os olhos dele se arregalaram. Voc uma jardineira? Inclinando o corpo para trs, ele caiu

    na risada.Sarah sentiu mais raiva ainda. De todas as reaes que as pessoas

    tinham quando explicava que era jardineira, a que mais a irritava era ade acharem graa. Era como se a chamassem de tola! Admitia quepudessem desaprovar a escolha de tal profisso... mas que rissem? No,no era fcil vencer tantos preconceitos!

    Quando ele parou de rir, Sarah observou que tinha pescoo e feitofortes, ombros bem desenhados, deixando transparecer os msculosdebaixo da malha de l. O cabelo negro caa-lhe pela testa, quaseescondendo um dos olhos. Quando ele ergueu a mo para afastar amecha rebelde, Sarah viu que as mos dele eram muito bem tratadas.Sentiu-se envergonhada, com as prprias mos, de unhas curtas e sem

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    Srie Fascinao n 17esmalte, para poder lidar na terra. Talvez fosse mesmo melhor trabalharcom luvas, para no passar um vexame daqueles!

    No, no sou o jardineiro daqui respondeu ele finalmente. Um bom jardineiro sempre um artista, e eu no tenho jeito para isso concluiu, com outro largo sorriso.

    Est bem, vamos esquecer tudo concordou ela, tambm forandoum sorriso.

    timo! falou o rapaz, com um tom grave. Bem, uma vez que voc no o jardineiro, posso saber qual o

    seu servio por aqui? Fao um pouco de tudo respondeu ele, encolhendo os ombros. Oh, ento voc uma espcie de mandachuva? Tentava

    analisar aquele sujeito provocador, que teria de enfrentar, caso o sr.Ramsey a contratasse.

    mais ou menos isso. Ele disse caminhando em direo casa.Quando Sarah percebeu que se dirigiam porta da frente, parou e

    deu uma olhada no relgio. Estava atrasada j para a entrevista. Quantacoisa tinha acontecido em to poucos minutos!

    Eu... bem, no quero que o sr. Ramsey fique me esperando disse, hesitante. Mas voc no acha que eu deveria me arrumar umpouco antes? Tinha de causar uma boa impresso ao sr. Ramsey. Seriamuito desagradvel chegar despenteada, com os joelhos das calas sujosde terra e a testa manchada de sangue. O sr. Ramsey muito formal? perguntou, preocupada.

    Oh, no muito respondeu o rapaz. Por que quer saber? Ser que ele no est esperando algum gordo, vestido com

    roupas de l e muito elegante? Acho que ele jamais esperaria que um jardineiro se vestisse to

    bem respondeu, pensativo.Sarah suspirou, aliviada. Ento, est bem. Sabe, sou uma trabalhadora e preciso executar o

    meu servio como qualquer outro... homem. Aprendi que, no primeiroencontro com algum, devo estar vestida com roupas de trabalho; causauma impresso melhor. A pessoa logo percebe que quero mesmotrabalhar como jardineira e no comea a pensar que, apenas porque soumulher, no vou dar conta do trabalho.

    O rapaz olhou de lado. Parecia desinteressado e levou a mo boca,para esconder um bocejo. Mais uma vez Sarah ficou magoada com opouco caso dele.

    Voc quer que eu acredite que uma simples roupa faz os homensse afastarem de voc?

    Embora o lado feminino de Sarah recebesse aquela pergunta comoum elogio, sua conscincia profissional a fez responder com muitadignidade:

    Todos os meus patres sempre entenderam que, quando pego umservio e vou para o jardim, vou para trabalhar e no passear como umaprincesa! Caso no entendam isso, tenho um remdio infalvel: vouprocurar um novo emprego!

    Ele fez um movimento afirmativo com a cabea.

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    Srie Fascinao n 17 Est bem, voc j me convenceu.Chegaram porta da frente. Sarah esperava que ele fosse apertar a

    campainha, mas em vez disso ele a segurou pelo brao e obrigou-a aolh-lo de frente. Sarah estremeceu, mas desta vez no teve vontade dese afastar, como havia feito h poucos minutos. Caso nunca mais voltassea v-lo depois daquele incidente, caso ele nunca mais a tocasse, seria

    bom guardar na lembrana as sensaes provocadas por aqueles dedosfortes em sua pele delicada.

    Ele se inclinou para a frente, examinando a testa dela, ferida. Sarahsentiu um aperto na boca do estmago quando a respirao quenteacariciou-lhe o rosto.

    Acho melhor cuidar o ferimento que voc recebeu na guerra dasrosas brincou ele. Pedirei sra. Mole para dar um jeito. No sepreocupe se o sr. Ramsey tiver de esperar mais um pouco. Afinal, ele noest preparado para receber uma... jardineira. E acho que voc tambmno est preparada para conhecer o sr. Ramsey!

    Meu Deus! Ento foi por isso que voc veio conversar comigo,antes de eu ser apresentada a ele?

    Vamos, entre ele convidou, sem lhe dar resposta.Diante de uma Sarah espantada abriu a porta sem tocar a

    campainha e entraram na casa. Bem, os californianos eram mesmo beminformais.

    A entrada do hall era verdejante, com mil plantas tropicais, algumaspendendo desde o teto, outras em grandes vasos. Sarah olhava,admirada, quando apareceu uma mulher de expresso sria, como setivesse misteriosamente brotado do cho. No mesmo instante, aquelerapaz genioso que a havia recebido no jardim tornou-se frio, reservado e,num tom arrogante, disse:

    Sra. Mole, esta a srta. Halston. Ela veio fazer uma entrevistapara o servio de jardineira, mas como a senhora pode ver, acaba desofrer um pequeno acidente. Por favor, mostre-lhe o banheiro e veja tudode que ela precisa. Em seguida, leve-a at meu escritrio.

    A sra. Mole mordeu os lbios em sinal de desaprovao. Emseguida, murmurando qualquer coisa, deu meia-volta com tanta rapidezque Sarah mal teve tempo de olhar para trs, em direo ao rapaz. Se noandasse depressa, perderia de vista a empregada de expresso azeda.

    Foram at um elegantssimo banheiro, prximo ao hall de entrada.L dentro, a empregada silenciosamente estendeu-lhe uma caixa comcurativos e uma toalha de rosto; em seguida fechou a porta, retirando-see deixando Sarah vontade para arrumar-se e finalmente ir conhecer osr. Ramsey.

    Olhou o ferimento pelo espelho e viu que no havia necessidade defazer curativo. Limpou o fio de sangue que escorrera no rosto,imaginando que horrvel aparncia tinha mostrado ao... ao... Como sechamava ele mesmo? Sentiu um estremecimento s de pensar que, seno conseguisse o emprego ali e no o visse mais, nem ao menos saberiao nome dele. Claro que no iria perguntar sra. Mole. Por nada destemundo deixaria aquela velha perceber alguma fraqueza sua.

    A verdade que estava meio triste com a hiptese de no ver mais

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    Srie Fascinao n 17aquele homem. Por que tinha de ser to sensvel assim? Sempre sedeixava dominar pelas emoes! Mas no podia! Afinal, no fazia nem

    vinte minutos que tinha conhecido o rapaz, e j estava se derretendotoda, como se o conhecesse h anos!

    Ridculo!, pensou enquanto abria a sacola de lona e retirava aescova de cabelo.

    Escovou com fora os cabelos castanhos, endireitando as pontas, atconseguir um belo efeito que lhe emoldurou o rosto de menina. Noaplicou batom. Afinal, era uma jardineira, no um modelo desfilando.

    Guardou a escova de volta, respirou fundo e abriu a porta. Topoucom a sra. Mole de p, vigilante como uma sentinela, do lado de fora.Com um ligeiro aceno de cabea, a empregada fez com que ela aacompanhasse.

    Sarah foi conduzida a uma espaosa sala envidraada, quedescortinava um panorama maravilhoso, uma cena que dava quelaparte da Califrnia a fama de ser a regio mais bonita do Estado. Dooutro lado dos vidros de correr havia um terrao de tijolos vista, commoblia toda branca. Mais adiante, uma piscina muito azul, um pequenoconjunto residencial, e, mais alm, um campo de tnis. Porm, o mais

    bonito de tudo era a vista direta para o rio Americano que corria,majestoso, cortando a mata. Sarah logo imaginou que aquela vistamaravilhosa deveria ficar muito mais bonita noite, quando as luzes dacidade de Sacramento, bem l atrs, piscariam como se as estrelastivessem descido terra.

    Todas as paredes do cmodo eram recobertas por estantes demadeira cheias de livros. Os mveis eram modernos: havia um sof delinhas retas, mesas de acrlico colorido e uma escrivaninha encimada porum foco de luz pendente do teto. O carpete bege era alto, macio, e tinhaao centro desenhos em tons escuros de marrom, em estilo indgena.

    Em algumas prateleiras havia modelos de construes, alguns dosquais pareciam familiares a Sarah. Curiosa, j estava se aproximandopara v-los de perto, quando sentiu que algum entrava na sala.

    Ao voltar-se, reconheceu o rapaz que tinha pensado nunca mais ver,e seu corao bateu, alegre. Ele havia mudado de roupa; agora usavacalas de camura e malha bege de cashmere, com decote em "V" e, nopescoo, um leno de seda cinzento. Havia tambm substitudo as botaspor carssimos sapatos de cromo.

    Com um sorriso alegre, Sarah caminhou at ele. Sabe de uma coisa? Estive pensando que nem fomos

    apresentados. Eu sou Sarah Halston e voc ... De repente, as coisascomearam a parecer-lhe mais claras. O sorriso desapareceu-lheimediatamente do rosto. Voc sabia quem eu era... gaguejou ela.

    Voc me apresentou sra. Mole e entrou nesta casa sem tocar acampainha. Voc deve ser...

    Sim, eu sou Kight Ramsey concordou ele, com a risada de umgaroto apanhado fazendo traquinagens.

    Sarah tentou manter-se to fria quanto possvel. Intimamente,estava envergonhada pelo que havia, h pouco, sentido por ele. Umaonda de calor queimava-lhe o rosto ao lembrar que o rapaz a havia feito

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    Srie Fascinao n 17de tola, humilhando-a e rindo-se s suas custas porque ela o haviaconfundido com outra pessoa. Ele falou:

    O lugar aqui muito grande, talvez grande demais para umanica pessoa... cheque em branco para todas as despesas extras que vocfizer...

    Sarah mal o ouvia, paralisada por uma terrvel emoo.De repente, ele perguntou diretamente. Como voc vai conseguir controlar tudo? O tom da pergunta

    era o de quem realmente no acreditava na capacidade dela. Aps algunsmomentos de exasperante silncio, olhou-a direto nos olhos e pediu, comhumildade: Desculpe. Claro que no devia ter enganado voc! Masacontece que no percebi logo quem voc era. Depois, quando percebi, jera tarde.

    Tarde, como? retrucou Sarah. Tarde demais para desfazerum mal-entendido sem ferir o seu precioso ego? Tarde demais paraassumir o seu papel de digno empregador, depois de ter agido como umgarotinho de rua?

    Ei, espere um minuto, srta. Halston, voc no pode... No tenho mais nada a conversar com voc, sr. Ramsey!

    respondeu ela, irritada, caminhando rpido at a porta. Por nada deste mundo voc vai sair desta sala proibiu ele,

    segurando-a com firmeza, quando Sarah passou por perto. Cuidado,Sarah Halston, acusadora e juza ao mesmo tempo! Ora, estounovamente deduzindo coisas s de ver sua expresso! disse, comironia.

    Sarah tentou afastar a mo que a segurava, mas no conseguiumov-la um centmetro. Maldizendo-se porque havia desejado sentirnovamente aquelas mos em seu corpo, tentou defender-se, usando umtom de insulto:

    Sr. Ramsey, no se envaidea por tomar o lugar do ru! Aconteceapenas que suas desculpas, so sem sentido! Caso eu estivesse mecandidatando ao cargo de modelo profissional, ento minha aparncia

    viria ao caso. Mas pretendo apenas ser a jardineira da casa, por isso, elano tem a menor importncia. Agora, como j falei, nada mais tenho adizer-lhe. Portanto, por favor, queira tirar suas mos de cima de mim!

    Em vez de responder, ele apertou ainda mais, at que Sarahcomeou a sentir medo. E se ele fosse um manaco?

    S porque voc nada tem a dizer, no quer dizer que eu no tenhanada a falar com voc, srta. Halston! Alm disso, no estou acostumado alidar com candidatos que me digam quando uma entrevista j terminou!

    Pois lhe assenta muito bem o papel de reizinho! S que, no caso,sua lei no me atinge, porque no estou mais interessada no emprego!Saiba que eu no trabalharia para voc nem que estivesse morrendo defome!

    Para quem no tem mais nada a dizer, at que voc fala demais insistiu ele, irnico. Mas, considerando-se que sou mais forte do que

    voc, pretendo ainda dizer mais algumas coisas, apesar de sua crisenervosa. Primeiro: voc no completamente inocente nisso tudo. No

    verdade que escondeu sua identidade de mim, logo no comeo, no me

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    Srie Fascinao n 17dizendo que era uma jardineira? Como que eu poderia adivinhar se, nacarta que me mandou, voc assinou apenas S. Halston?

    Acho que voc bem capaz de adivinhar que ningum meconcederia uma entrevista, se soubesse que sou mulher! respondeu elairritada. Mas acho tolice, agora, tentar explicar que sou to boa

    jardineira como qualquer outro homem! Voc generaliza bem as coisas, no ? outro preconceito seu? -

    indagou ele. Pois ento me responda, sr. Ramsey: se, por carta, voc tivesse

    sabido que eu era mulher, teria me chamado para fazer a entrevista?Um olhar de incerteza substituiu a expresso zangada nos olhos

    escuros dele. Respondeu, pensativo: Honestamente, no sei! Mas agora podemos ficar sabendo, no

    podemos?As palavras, ditas num tom suave, atingiram Sarah profundamente.

    Ser que, depois de tudo o que havia acontecido ali, eles ainda teriamchances de descobrir coisas, ficar sabendo um do outro? Ento, devagar,como se no quisesse perder o contato, ele foi soltando o brao dela. Airritao de Sarah foi sendo substituda por uma tristeza, uma sensaode perda. Sem saber como reagir, foi caminhando devagar at a porta.

    Nesse momento, ele voltou a falar. O tom de voz era maisconvincente do que a fora de suas mos:

    Posso dizer apenas uma ltima coisa, srta. Halston?Ela hesitou, de costas para ele. Finalmente, deixando de lado as

    ltimas preocupaes a respeito de seu amor-prprio ferido, fez umligeiro movimento afirmativo com a cabea.

    Eu j admiti que meus modos foram rudes e lhe pedi desculpas disse ele, em voz baixa. Agora, peo-lhe que esquea estedesentendimento que tivemos. Talvez voc no saiba que faz poucotempo que comprei este rancho. Foram os proprietrios anteriores quedeixaram as coisas to mal conservadas por a. Como pode ver, elesprecisavam mesmo de um bom jardineiro... e eu tenho certeza de que

    voc uma boa profissional, porque sexo no conta, no caso. Alm domais, no era exatamente isto o que queramos, desde o comeo? Euprecisava de um jardineiro, e voc queria um emprego. Ento, por favor,diga que aceita o emprego!

    Aquela mudana inesperada no tratamento, no a enganava! Sefosse homem que estivesse ali, pedindo o emprego, a entrevista no serianaqueles termos. J estava acostumada, j conhecia todas as desculpasdos homens quando mencionavam sua feminilidade. Mas de queadiantava pensar naquilo agora? Contudo... devia-lhe mesmo uma boaexplicao que, se no servisse para faz-lo mudar o jeito de ver ascoisas, talvez ao menos lhe fizesse bem ao esprito.

    Respirando fundo, deu meia-volta e encarou-o. O sorriso maliciosodele deu-lhe uma grande vontade de dizer "sim", porque j estava quaseperdendo as foras. Mas, no queria ser novamente levada na conversa.Nada de bom aconteceria a um relacionamento que havia comeado tomal!

    Obrigada por seu pedido de desculpa, sr. Ramsey, mas lamento

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    Srie Fascinao n 17dizer-lhe que no adianta. Voc me fez; sentir como uma idiota, e tenhocerteza de que no ia gostar de empregar uma jardineira tola.

    A resposta valeu como um bofeto, e o rosto dele ficou vermelho.Ento, voltando-lhe as costas, num gesto que indicava o encerramentoda entrevista, ele disse em voz baixa, como se no quisesse que elaouvisse:

    Tem razo, mais do que certo de que nesta sala existe pelomenos um tolo!

    Sarah caminhou at a porta e s ento viu a sra. Mole parada ali. SDeus sabia quanto da conversa a empregada teria ouvido! Ela seguravauma bandeja com caf, bolo e po torrado. Ou pelo menos parecia isso,pois Sarah no pde ver direito por causa das lgrimas que lheembaavam a viso. A nica coisa que viu foi que a expresso carrancudada sra. Mole havia se iluminado com um largo sorriso de contentamento.

    CAPTULO II

    Sarah acordou meio tonta na manh seguinte. Por algunsmomentos continuou deitada, pensando que daria o pouco que tinhapara ficar ali o dia inteiro. Sentia-se deprimida e cansada. Mas domingoera dia de passar com ris Millidge e por nada deste mundo haveria dedesapontar a querida amiguinha. Atirou longe as cobertas e caminhoudescala at a cozinha. Ali, como de costume, encontrou Duke sentadodebaixo da mesa, espera de comida. Ele estava impaciente.

    Mil perdes, excelncia, mas acho que perdi a hora disse Sarahabrindo a, geladeira, de onde retirou uma lata de alimento. Abriu-a eserviu a poro para o gato.

    Enquanto o gato amarelo comia tranquilamente a rao, Sarahcolocou a cafeteira para ferver e um ovo para cozinhar. Em seguida foiat a sala e abriu as cortinas que davam para o seu jardim particular. Oconjunto habitacional onde vivia compunha-se de vinte e seis unidadesconstrudas ao redor de um ptio comum, com uma piscina. Na parte dosfundos de cada apartamento havia um pequeno jardim, que o ocupantecuidava a seu gosto. Por tratar-se de uma rea muito pequena, Sarahhavia idealizado um jardim em estilo japons, pequeno e bonito.

    Pela milsima vez naquele ano, desejou que Ben pudesse ver ojardim que ele havia ajudado a desenhar, trs anos atrs. Ben Yashimoto,o jardineiro de tia Elaine, tinha sido o seu amigo mais afetuoso quandoera ela ainda criana. Aos seis anos, ela perdeu os pais num incndio deum hotel na Frana, onde eles tinham ido passear. Desde ento, passou a

    viver com a irm de sua me.Tia Elaine era uma mulher gentil e atenciosa, porm meio distante e

    muito enrgica. Parecia pouco interessada na vida em famlia, preferindopassar a maior parte de seu tempo em reunies ou freqentandoorganizaes culturais e artsticas em Sacramento. Por isso, a educaode Sarah tinha ficado quase exclusivamente aos cuidados dosempregados. Ben Yashimoto era quem mais ficava com a menina quandoela no estava na escola, e era a Ben que ela contava todos os seus

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    Srie Fascinao n 17problemas, como se ele fosse sua prpria me. Tudo foi bem at que,levada por um de seus muitos acessos temperamentais, tia Elainedespediu Ben. Ele nada retrucou. Simplesmente olhou para ela e, depois,dando-lhe as costas, saiu sem abrir a boca... e foi cuidar do jardim, comose no tivesse ouvido uma nica palavra. Tia Elaine no falou mais nada.Sabia que seu jardim era uma obra de arte e que, se Ben fosse embora,ningum seria capaz de substitu-lo. Tia Elaine e Ben eram mesmo tiposestranhos, e foi com eles que Sarah cresceu.

    O belo jardim da tia e mais a influncia de Ben despertaram emSarah o talento e o amor arte da jardinagem. Aos dezessete anos eestando para tirar seu diploma, comeou a pensar firmemente nosplanos para o futuro: queria ser desenhista e supervisora de jardinsresidenciais e comerciais. Isso exigiria diploma por escola de arquiteturae paisagismo. E Sarah jamais se esqueceria da sonora gargalhada que tiaElaine soltou quando ela lhe exps a idia. Foi uma humilhao queduraria para sempre!

    Voc sempre foi uma garotinha horrvel, Sarah, mas agora estsaindo dos limites! respondeu a tia, passado o primeiro momento. Que loucura! Nenhuma garota jamais sonhou com uma profisso dessas,e voc, com o nome que tem, nem pense nessa maluquice! Estencerrado o assunto. Onde j se viu uma idia to ridcula? Ser que vocno v que trabalhei a vida toda para lhe dar uma tima educao e queno posso permitir que acabe num servio prprio de um... servente?Como que voc pode pensar em viver de um trabalho to rude comoesse? Jamais! Para voc, eu sempre sonhei com um diploma de umaEscola de Artes, no leste. Depois que tirar o diploma, voc podertrabalhar em uma companhia publicitria ou num museu, e at arranjarum bom casamento!

    Na verdade, um dos maiores e mais secretos desejos de Sarah eramesmo casar e ter muitos filhos, para am-los e cri-los com a ternuraque ela no havia recebido. Mas porque nunca conseguiu atrair a afeioda tia, inconscientemente acreditava que no merecia amor e que jamaisinspiraria amor a homem nenhum. Como a tia, talvez jamais se casasse.Perdida em conflitos emocionais, no teve foras para enfrentar a reaode tia Elaine com relao a seus planos para o futuro. E, sentindo que lhedevia certas obrigaes, resolveu obedecer. Ou, pelo menos, obedeceuenquanto agentou.

    Mesmo assim, fez um curso de Botnica no colgio e continuoudesenhando paisagens nas aulas de arte. Trocava regularmente cartascom Ben, e as respostas dele eram um verdadeiro curso de jardinagempor correspondncia.

    Na poca em que atingiu a maioridade, tia Elaine vendeu a casa emSacramento e mudou-se imediatamente para Paris, deixando Sarah semter onde morar. Ben estava ento trabalhando para novos patres, e foiele quem Sarah procurou, depois de diplomar-se, recusando os convitesda tia, que insistia para ela ir morar no Bois, elegantssimo bairro nacapital francesa.

    Ben ajudou Sarah a decorar o apartamento que ela alugou econseguiu com o proprietrio do prdio que ela pagasse s a metade do

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    Srie Fascinao n 17preo, trabalhando para a conservao dos jardins comuns.

    Durante dois anos, Sarah executou com perfeio todo o servio,sempre sob a orientao de Ben. Enquanto isso, ia economizando umpouco, porque ainda sonhava em freqentar a escola de arquitetura epaisagismo.

    E ento, um ano atrs, por ocasio do Natal, a desgraa aconteceu:Ben morreu de um ataque cardaco!

    Sarah ficou terrivelmente deprimida, sentindo que no tinha maisningum no mundo, ningum to prximo, que conhecesse sua histria,suas ambies, que pudesse orient-la.

    Sem a ajuda emocional de Ben, sem suas palavras deencorajamento, sentiu que enfraquecia mais e mais. Durante o anoanterior, havia pensado seriamente em encontrar servio como chefe dos

    jardineiros em algum stio. Talvez ento pudesse ser para algum o queBen havia sido para tia Elaine: o mais perfeito e indispensvel jardineiro.Ento, havia dado de cara com o sr. Ramsey!

    Sentou para tomar o desjejum, sem o menor apetite. Lembravaainda da excitao ao ler o anncio de jornal, que a levou entrevista da

    vspera: "Precisa-se de um jardineiro com experincia para cuidar de umstio de dez alqueires, junto s montanhas. Morar no local. Casa e comidagarantidos. Salrio em aberto. Pedimos referncias. Respostas para acaixa postal 900".

    Para Sarah, o anncio parecia uma resposta do cu! Com apermisso de alguns clientes, ps os nomes deles como referncias nocurrculo que enviou no dia seguinte. Na sexta-feira, recebeu umtelefonema da secretria do sr. Ramsey, que marcou o dia para aentrevista e lhe forneceu o endereo e demais informaes para chegarao stio.

    Fosse ela uma garota supersticiosa, ia imaginar que a coisa nohavia dado certo porque era uma oferta boa demais para se concretizar.Quanto a Kight Ramsey... bem, ele tambm era bom demais para darcerto! Se ao menos ela no tivesse sentido tanta atrao por ele! Setivesse simplesmente dado risada, como ele havia feito, no momento emque a chamou de tola! Afinal, as pessoas pelas quais nada sentimos notm fora para nos ferir!

    Ou se pelo menos ela no tivesse se aberto tanto quando no sabiaainda quem ele era, poderia depois manter as aparncias e a cabeaerguida.

    Mas do jeito que tudo tinha acontecido, Sarah demonstrou muitobem, atravs de sua zanga, que estava cada por ele. Ele devia terpercebido. Devia ter desconfiado que s estando envolvida pessoalmenteela reagiria daquele modo. E uma relao daquelas no podia existirentre patro e empregado. Debaixo de tais circunstncias, Sarah jamaisreconquistaria sua dignidade e nem sua prpria independncia. Alm domais, seria muito triste v-lo todos os dias, sabendo que ele aconsideraria sempre como uma simples empregada. E tola, ainda porcima!

    Bem, chega de sonhar! disse a si mesma, levantando-se paralavar a loua.

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    Srie Fascinao n 17As horas foram correndo. Pouco depois do meio-dia, Sarah tinha de

    ir casa de ris, conforme fazia todas as tardes de domingo. Deixou queDuke sasse para respirar um pouco de ar e foi tomar um banho eaprontar-se. Haviam combinado ir at o Forte Sutter, local muitofreqentado pela crianada, mas como o dia estava meio frio, Sarahpretendia fazer a amiguinha mudar de idia e ficar em casa assistindo televiso, enquanto ela fazia uns biscoitos para o caf.

    Vestiu cala de l e uma camisa de algodo listrada em branco epreto. Em seguida, apanhando a capa de chuva, que jogou sobre osombros, saiu em direo porta.

    ris Millidge tambm vivia em Sacramento, mas em outro bairro,no muito distante do apartamento de Sarah, com seus pais adotivos,Mike e Maggie Reilly. A casa era um pequeno bangal alugado em umarea onde nunca batia sol, por causa da presena da grande ponte daestrada Interstate 80; era um colosso de concreto atravs do qualpassavam carros apressados rumo gloriosa Sierra Nevada, a quasecinco quilmetros de distncia.

    Sarah mal havia acabado de estacionar o carro em frente casa,quando ris, descala e sem agasalho, apareceu no alpendre, acenando-lhe. Em seu rostinho havia uma sombra de preocupao.

    Sarah! Sarah! Estou quase pronta! Maggie disse para voc entrar.Sarah entrou na pequena sala onde sentiu o gostoso cheiro de carne

    assada. Imediatamente recebeu um abrao apertado de Mike Reilly.Maggie ficou aborrecida quando viu a cicatriz de sua testa e comentou:

    Voc mesmo uma descuidada! Tem mos e rostos lindos, e notoma o menor cuidado com eles!

    No fique a fazendo sermo para Sarah! resmungou Mike. O que voc espera que acontea quando uma pessoa trabalha firme e honesta em seu servio? V terminar de vestir ris. Sarah no pode ficaresperando a tarde toda.

    Maggie ergueu as mos, suspirou e ps-se a ajudar a menina acalar os sapatos.

    Voc j devia estar pronta, em vez de ficar a correndo de um ladopara o outro disse para a garotinha, que apenas olhava, semresponder.

    Ora, vamos, pare de implicar com todo o mundo! insistiu Mike,de bom humor.

    Os Reilly tinham cabelos grisalhos e estavam na casa dos sessentaanos. Eram casados h tanto tempo, que um havia adquirido ascaractersticas do outro; assim, viviam em perfeita harmonia. Pela estimaque sentiam um pelo outro, e pela grande experincia de vida adquirida,tinham resolvido adotar ris, o que havia resultado em uma experinciamuito gratificante para eles. Quem tivesse visto aquela criana anosatrs, antes dos Reilly e de Sarah terem surgido em sua vida, poderiafalar. Parecia impossvel que aquela magricela de olhar triste pudesse terdesabrochado em uma garotinha to alegre, saudvel e cheia de vida!

    Algumas semanas depois da morte de Ben, Sarah leu num jornalsobre uma organizao chamada Amigos das Crianas. Para l eramlevadas crianas de toda a cidade, a fim de se encontrarem com pessoas

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    Srie Fascinao n 17que, alm de tempo, tinham amor para dar. Num dia frio e garoento,Sarah foi at l. Viu fotografias e leu muitos casos sobre as crianas. Emhonra memria de Ben Yashimoto, acabou escolhendo ris Millidgecomo nova amiguinha. A situao familiar de ris era das piores e Sarahdeduziu que, em tais circunstncias, ningum mais escolheria amagrelinha.

    Enquanto Maggie ajudava a criana a vestir o casaco, Mikemurmurou em voz baixa para Sarah:

    Bill Blanding veio nos visitar outro dia. Queria ver como estpassando a nossa garotinha...

    Bill Blanding era o assistente social da organizao, a terceirapessoa empenhada em lutar pela felicidade de ris e Sarah sabia disso.

    J faz um ms que ela no tem mais aqueles horrveis pesadelosde todas as noites! concluiu Mike, com um olhar de satisfao.

    Graas a voc e a Maggie respondeu Sarah. S vocs mesmospara conseguirem esse milagre!

    Ora, vamos, voc nos ajudou muito! retrucou Mike, sorrindo. No! Voc deu a ela mais do que comida. Eu s dou doce de vez

    em quando. Seja como for, Sarah, o trabalho ainda no est terminado, pois

    nossa garotinha ainda tem muito o que enfrentar. Fico preocupadoquando penso nisso e, s vezes, perco o sono noite, porque no queropreocupar Maggie com estas coisas. Veja, ris s tem sete anos. O queacontecer a ela quando ficarmos mais velhos e no pudermos maistomar conta dela?

    Ora, Mike! disse Sarah, com firmeza. ... No fique pensandoem bobagens! Voc est cansado de saber que Bill e eu daremos um jeitode cuidar de ris. Seja como for!

    Pois o que me preocupa de fato, Sarah, esse "seja como for"! Emapenas sete anos, essa garotinha j enfrentou problemas que arrasariamat a um homem muito forte! Se tiver de enfrentar outros iguais, no seise ela resistir.

    No havia mais tempo para continuarem naquela conversaparticular porque ris j estava pronta, de agasalho e chapu. Agarrou-se mo de Sarah e, depois de muitos beijos de despedida, entrou com elano carro amarelo.

    Em poucos minutos, afastavam-se. Por que voc estava experimentando tantas roupas, querida?

    perguntou Sarah. Estava difcil escolher a mais bonita?Ela fazia essa pergunta porque sabia que a ajuda financeira da

    assistncia social para custear o sustento de ris era pouca; e os Reillyno podiam gastar muito, pois Mike vivia apenas de sua modestaaposentadoria e de um pequeno seguro.

    Oh, no! respondeu ris, com Sua vozinha infantil. Eu sestava brincando de costureira!

    Bem falou Sarah, aproveitando a idia uma vez que est umdia chuvoso, que tal irmos at minha casa, em vez de ao Forte? Podemos

    brincar de costureira tambm, fazer uns biscoitos... qualquer coisa quevoc quiser.

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    Srie Fascinao n 17 Qualquer lugar est bom para mim, Sarah. O que eu quero

    mesmo ficar com voc respondeu a menina. Eu tambm quero a mesma coisa, queridinha! Sarah sentia o

    corao transbordar de amor.Quando chegaram em frente porta da casa de Sarah, Duke estava

    l, sentado como um rei, o rabo dobrado sobre as patas dianteiras. risdesceu apressada do carro, apanhou o gato no colo e entrou na casa.

    Eu vou ser a me e Duke vai ser o meu nen disse ela. Evoc, Sarah, o que vai ser?

    Procurando evitar brincadeiras que envolvessem posiesfamiliares, Sarah sugeriu que brincassem de circo, e ris concordoualegremente.

    Sarah ficou com o papel do palhao. Com o auxlio de um batom,desenhou sardas enormes nas bochechas e avermelhou a ponta do nariz.Em seguida, alargou e escureceu as sobrancelhas com graxa lquida parasapato. Usou depois sombra branca para desenhar a boca em forma demeia-lua. Tamanha foi a alegria de ris ao ver o resultado que Sarah foicorrendo pedir nadadeiras emprestadas ao vizinho, com as quaisimprovisou os enormes ps de palhao. Finalmente, com o auxlio dedois travesseiros, fez barriga e corcunda, prendeu-os ao peito e s costas.ris ficou to contente, que garantiu: se um circo a visse, seria bem capazde contrat-la.

    ris escolheu o papel de trapezista e vestiu uma roupa branca comaplicaes de cetim vermelho que pertencia a Sarah e que danava emseu corpinho como uma camisola folgada. Depois pediu que Sarahtambm lhe aplicasse maquilagem.

    Quanto a Duke, escolheram para ele o papel de urso treinado.Durante todo o tempo da brincadeira, ele ficou amuado em um canto dasala, enfiado no suter marrom de Sarah, com os olhos sonolentospiscando, como quem no via a hora de poder dormir sossegado.

    Terminada a brincadeira, foram os trs para a cozinha. Dukeplantou-se debaixo da mesa, onde ficou esperando que lhe dessem

    biscoito de chocolate, que era um de seus pratos favoritos.Sarah acabava de colocar a primeira forma no forno, enquanto ris

    colocava os biscoitos na segunda, quando a campainha tocou. ris correuat a porta. Ainda com as nadadeiras nos ps, Sarah correu atrs e, aoentrar na sala, levou o maior choque de sua vida. Ali, bem frente, estavaKight Ramsey, com sua gigantesca figura ocupando quase todo o vo daporta!

    Oh, no! murmurou Sarah, s ento se lembrando de comoestava vestida. E o impacto daquela descoberta a deixou duas vezes maisatrapalhada.

    O pior foi olhar para aqueles lbios de ar malicioso que, pouco apouco, foram-se abrindo num sorriso. ris, de p, olhava ora para um,ora para o outro, at que, com uma corrida, aproximou-se de Sarah eabraou-a nas pernas. Com ar preocupado, perguntou:

    Sarah, quem esse homem?Sarah passou o brao sobre os ombros da menina. Est tudo bem, queridinha, um rapaz que eu conheo. Por que

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    Srie Fascinao n 17voc no volta cozinha, para acabar de colocar os biscoitos naassadeira? Quando o relgio automtico do forno apitar, voc vem medizer. Mas no me abra o forno, est bem?

    ris concordou e saiu correndo para a cozinha.Procurando manter a dignidade e desfazer a m impresso causada

    por sua ridcula aparncia, Sarah ergueu a cabea. Acho que no tnhamos mais nada para conversar disse

    friamente. Mas j que voc insiste em me ver, podia ao menos tertelefonado antes, para saber se eu poderia receb-lo. Mas parece que

    voc no liga muito para os outros, no ? Desculpe, srta. Halston disse ele, depois de alguns momentos

    em silncio. Sinto novamente ter que pedir-lhe desculpas, mas averdade que eu telefonei e at deixei uma mensagem gravada em suasecretria-eletrnica.

    Oh! murmurou Sarah, surpresa. Quer que eu repita a mensagem? Ou prefere ligar o gravador para

    ter certeza de que no estou mentindo? Sei que voc no acredita muitonas coisas que eu digo...

    No seja ridculo! respondeu ela, atrapalhada. Eu no ochamei de mentiroso. Acontece que deixei para ouvir a gravao noite,porque tinha de ir buscar ris.

    Ah, ento a garotinha no sua filha? Claro que no! Por que claro que no? perguntou, franzindo a testa. Acho

    que voc seria uma tima me! Sabe, j faz muito tempo que no vejouma cena domstica como esta: a me brincando com a filha e fazendo

    biscoitos, num lugarzinho gostoso para passar um dia de chuva...Achando que ele estava sendo irnico, Sarah respondeu, com

    irritao: No o convidei para ver nada disso, sr. Ramsey! Voc que

    invadiu minha casa sem ser chamado. Por favor, diga logo qual o motivoque o trouxe aqui e retire-se o mais depressa possvel!

    Pelo jeito de ele olhar, Sarah percebeu, arrependida, que suaspalavras o haviam atingido em cheio. Ao responder, a voz dele saiu fria,sem vida, igual voz com que se dirigia sra. Mole.

    Vim aqui para pedir que voc pensasse novamente na oferta quelhe fiz e aceitasse ser a minha jardineira. Mas acabo de entender que

    voc jamais aceitaria. Portanto, mudo a minha proposta: gostaria quecuidasse, pelo menos, do meu canteiro de rosas, para que as roseirasflorescessem novamente. Sabe, tenho a impresso de que voc capaz deconseguir um milagre; alm disso, j comeou o servio podando aquelaroseira, no comeou?

    Sarah observou-o atentamente, desconfiada de que ele estava sendomais uma vez irnico. Mas no havia o menor trao de caoada naquelesolhos escuros.

    No, sr. Ramsey, no quero trabalhar para voc nem em tempointegral, nem por tarefa!

    Ele encolheu os ombros e fez um ligeiro movimento com a cabea,como se j estivesse esperando aquela resposta. Dando uns passos at a

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    Srie Fascinao n 17porta, ergueu a gola da capa de chuva que lhe cobriu parcialmente ocabelo sedoso, negro e encaracolado.

    Essa foi uma resposta tipicamente feminina retrucou, com umarisadinha. Mas no deixa de ser uma resposta surpreendente, uma vezque partiu da boca de uma jardineira que diz levar seu trabalho to asrio!

    O que voc est querendo dizer? Que as mulheres fazem tempestades por coisas sem importncia.

    Geralmente pensam com as orelhas, em vez de usarem o crebro. Veja:quantos homens continuariam fazendo barulho por causa de umincidente to banal como o que aconteceu entre ns?

    Sarah sentiu-se terrivelmente ofendida. Que afronta! Mas nomomento em que ia abrindo a boca para responder, percebeu que eleestava esperando exatamente aquela reao! No, no ia fazer mais uma

    vez o papel de palhao naquela brincadeira!Em vez de zangar-se, procurou sorrir. Tem toda a razo, sr. Ramsey! Estou absolutamente certa de que

    nenhum homem faria tamanho barulho como o que eu fiz. Em primeirolugar, porque tal incidente nunca teria acontecido entre dois homens; de-pois, porque voc jamais dirigiria a um homem as grosserias que disse amim. Sabe por qu? Porque ele lhe daria um soco no nariz!

    A expresso de Kight Ramsey se transformou e ele explodiu em umarisada alta, sonora, descontrada. Apesar de furiosa, Sarah gostou. O risodele parecia a deliciosa chuva da primavera alegrando os campos.

    Voc acertou em cheio, srta. Halston! concordou ele. Portanto, acaba de ganhar um ponto.

    Nisso, ela ouviu a voz de ris, que apareceu na porta da cozinha. Sarah, o relgio automtico do forno j apitou. Sinal de que os

    biscoitos esto assados. J vou indo, queridinha! disse ela, voltando a olhar para

    Ramsey. Bem, se voc j disse tudo o que tinha a me dizer... Melhor no deixar os biscoitos queimarem. Posso esperar.Sarah achou melhor agir com serenidade. Entrou na cozinha e tirou

    as nadadeiras dos ps e os travesseiros do corpo. No adianta! murmurou, despejando os biscoitos na travessa.ris, ento, entregou-lhe a segunda forma, que foi colocada no

    forno. Voc fique a sentadinha, esperando que o relgio toque

    novamente disse, sorrindo. J, j, estou de volta.Voltou para a sala mais calma, alegre pelo fato de Kight Ramsey no

    ter ido embora. Mas a verdade continuava sendo uma s. Logo mais eleiria embora e seria o fim de tudo. Ele estava junto janela, olhando o

    jardim dos fundos. Que lindo jardim, to cheio de paz! ele comentou. Por acaso

    foi voc quem o desenhou ou, quando alugou o apartamento, j existia? No, trabalho meu, com a ajuda de um amigo.Realmente, era um jardim muito potico, com pequenos pinheiros

    anes direita e um longo cipreste cinzento do outro lado. Moitas denarcisos aclimatados brotavam em tufos verdejantes, apesar do ar

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    Srie Fascinao n 17chuvoso de janeiro, deixando aparecer aqui e ali as flores amarelas quepareciam cabeas de crianas brincando. Havia uma pequena faixa

    vermelha no centro do jardim, recoberto com musgo e flores. Do ladodireito, uma roseira se abria em botes cor-de-rosa. O restante da reaera coberta com uma grama aveludada, macia, de um verde ligeiramenteacinzentado.

    Voc mesmo uma artista! murmurou Kight, olhando-a firmenos olhos. Sarah, modesta, apenas encolheu os ombros. Sim, umlindo jardim, sem a menor sombra de dvida! repetiu ele.

    Depois de alguns momentos de silncio, Kight sacudiu os ombros,como que para voltar realidade, e afastou-se da janela.

    Bem, j faz tempo que estou invadindo a sua casa disse,caminhando at a porta. No momento em que segurou a maaneta paraabrir o trinco, novamente voltou-se e um grande sorriso iluminou-lhe orosto. Acho que at eu seria capaz de fazer aquelas roseiras sedesenvolverem, no ? Tudo se resume a uma boa poda, acho!

    Horrorizada s ao pensar no mal que um sujeito sem a menorexperincia poderia fazer s roseiras, Sarah deu um grito de protesto:

    No se atreva a fazer isso! Mas recordando-se imediatamentede que as roseiras eram dele e no dela, tratou de remendar: Querodizer, se a poda no for bem-feita, pode causar srios prejuzos splantas. Ser que voc no encontra outra pessoa para fazer o servio?

    Vai ser difcil Kight suspirou. Muitos pretendentes foram meprocurar, mas eu tinha certeza de que voc me serviria. Por isso, canceleio anncio. Agora vou ter de coloc-lo outra vez, para comear tudo denovo. O que vai levar semanas. Enquanto isso, as roseiras definharo.

    Antes que Sarah pudesse dizer alguma coisa, ris entrou na sala,meio envergonhada, trazendo um prato com biscoitos.

    Veja, eu mesma os tirei da forma. Mostrou os biscoitos aRamsey.

    Observando a simplicidade da garotinha, Kight deu um passo frente e estendeu a mo:

    Claro que quero provar um! disse. Para falar a verdade, euestava esperando que voc me oferecesse.

    Ele apanhou um biscoito e nem percebeu quando este se partiu emdois, caindo uma metade ao cho, sobre o carpete, o que fez Dukeavanar depressa. Kight mastigou o biscoito franzindo a testa, em atitudede quem est provando com ateno, mas que, para Sarah, pareceu umacareta irnica. Admirada, ris olhava para ele, emudecida. Depois que eleengoliu a poro, disse a ela, com voz grave:

    Sabe que este foi o biscoito mais delicioso que j provei em toda aminha vida?

    ris deu um sorriso largo. Alm do mais acrescentou ele, pegando sua mozinha e dando-

    lhe uma lambida para tirar as migalhas nunca vi uma padeira toencantadora!

    Envergonhada com o elogio, ris saiu correndo e escondeu o rostocontra o corpo de Sarah. Os dois adultos caram na risada e Kight olhoude modo enternecedor para Sarah.

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    Srie Fascinao n 17 Ela gosta muito de voc disse. E eu tambm gosto muito dela respondeu Sarah, sentindo que

    ruborizava. Com dificuldade, desviou o olhar.Kight, ento, limpou a garganta. Bem, bem, j tomei muito o seu tempo. Ser que j disse isso?

    Agora preciso ir. Acho que demorarei a encontrar outro jardineiro,portanto, se voc mudar de idia, telefone, est bem?

    At parece que voc est mesmo preocupado com as rosas! brincou ela.

    Claro que estou! E talvez resolva eu mesmo pod-las. Ah, apropsito! Meu telefone no consta da lista, mas se voc resolver metelefonar, basta ouvir a gravao que lhe deixei! Depois, com um brevesorriso, foi embora, fechando a porta.

    Sarah olhou para o rosto de ris, que tinha uma expresso alegre. Sarah, voc ouviu o que ele falou dos biscoitos? Ouvi. E voc, ouviu o que ele disse depois? Eu no lhe repito

    sempre que voc uma garotinha linda? No, Sarah respondeu ris, com toda a simplicidade. Quando

    ele disse isso, no foi para mim. Ele estava pensando em voc!

    CAPTULO III

    Como no tinha inteno de trabalhar para Kight Ramsey, Sarahno saberia explicar por que anotou em sua agenda o nmero do telefoneque constava da gravao da secretria-eletrnica. A mensagem tinha umtom puramente comercial, mas s o fato de ouvir de novo aquela voz

    bastou para que ela se sentisse bem mais alegre.A mensagem dizia: "Aqui fala Kight Ramsey, srta. Halston. Tenho

    um assunto urgente para conversar com voc. Irei a Sacramento estatarde e tomarei a liberdade de passar por sua casa, onde esperoencontr-la. Caso queira entrar em contato comigo, estou sempre em mi-nha propriedade". Em seguida, acrescentava o nmero do telefone.

    Assunto urgente... Encontrar um jardineiro podia mesmo ser algode tanta urgncia para um homem como ele? Talvez fosse para algumcomo tia Elaine, para quem at os menores caprichos exigiam urgncia,mas jamais para um sujeito to simptico como Kight Ramsey; ele,certamente, teria assuntos muito mais importantes para tratar.

    Mas alguns homens eram assim mesmo! Decerto Kight estavaacostumado a conseguir tudo o que queria sem lutar muito. Para ele,"urgente" era resolver aquela situao, para no ter que pensar mais nocaso.

    Sarah desejou que ele tivesse a maior sorte do mundo e queconseguisse ajeitar a situao. Se no arrancassem o capim que cresciano canteiro das roseiras, logo ele espalharia muitas outras sementes, queacabariam cobrindo tudo, sufocando as plantas. Pobres rosas! Ser que,apesar do que havia prometido, ele ia se meter a pod-las?

    Durante o resto da tarde, Sarah no conseguiu interessar-se pornenhum programa de televiso, nem por revistas. Sua idia estava fixa

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  • 7/29/2019 55391494 Fascinacao 017 Tess Oliver Rosas Da California

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    Srie Fascinao n 17naquelas rosas ameaadas de morte.

    Foi na manh seguinte que ela decidiu tomar conta do canteiro. Masapenas daquele canteiro e de nenhum outro, porque insistia em notrabalhar para Kight Ramsey em tempo integral, por mais que eleprecisasse de um jardineiro. De certa maneira, percebia agora que elehavia feito chantagem para que ela tomasse aquela deciso, mas a vidadas roseiras era mais importante do que suas antipatias. Qualquerestrago s plantas demoraria para ser reparado, ao passo que, se elaquisesse mesmo, seria capaz de esquecer logo de Kight Ramsey.

    Demorou uma eternidade em frente ao telefone, antes de discar onmero dele. No ntimo, queria ouvir novamente a voz dele. Portanto, foicom alvio e desapontamento que ouviu, do outro lado do fio, a sra. Moleexplicando que o sr. Ramsey no estava.

    Oh, sim... murmurou Sarah, confusa, ignorando se aquele noseria um aviso para que ela esquecesse a deciso tomada.

    Quem est falando? perguntou a sra. Mole. Sarah Halston. Ns nos conhecemos ontem... E voc acha que eu poderia me esquecer? disse, irnica, a

    criada. O sr. Ramsey deixou recado para que a senhorita viessequando melhor lhe parecesse.

    Ento, ele tinha certeza de que ela iria telefonar! Procurandomanter a calma, agradeceu:

    Obrigada. Ainda esta manh darei uma chegada at a. Edesligou o telefone antes que a sra. Mole desligasse primeiro. Sem dvidatinha sido um gesto infantil, mas que direito tinha a criada de trat-laasperamente, se ela no lhe havia feito nada de mal?

    Uma hora depois, Sarah chegou ao stio. Calando um par de luvasgrossas que retirou da caixa de ferramentas, comeou a trabalhar. O diaestava mais bonito do que na vspera, claro e ensolarado, e atemperatura era agradvel. L pelas onze horas, j havia podado ametade das roseiras e no via a hora de comer o lanche que tinha trazido,porque o estmago roncava de fome.

    De repente, o silncio do campo foi quebrado pelo barulho do motorde um carro que se aproximava. Erguendo a cabea, Sarah viu o Jaguarprateado entrando pela alameda, at que parou em frente casa. O carrotinha o sistema ingls, volante ao lado direito, e Sarah viu a mulher loirae bem vestida que estava dirigindo sair do carro e entrar na casa semtocar a campainha. Quem seria aquela moa? Decerto era muito ntimade Kight Ramsey, porque entrava na casa como se fosse dela prpria.Seria parente? Talvez irm. Ou prima. Ah, mas que irritante ser tocuriosa!

    Pensando bem, um homem como Kight Ramsey tinha nascido paracasar com uma mulher daquele tipo, algum to ntimo como se fosse dafamlia... ou talvez at mais ntimo! Sim, havia aquela possibilidade, masSarah tratou de afastar os pensamentos, atirando-se novamente aotrabalho. Afinal, estava ali apenas para executar o servio, e a vida do sr.Ramsey no era absolutamente da sua conta.

    Mas continuava a pensar nele como jamais havia pensado emhomem algum! Havia tido namorados, j, e chegou mesmo a gostar de

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    Srie Fascinao n 17alguns. Atualmente prestava muita ateno em Bill Blanding, oassistente social que estava cuidando do caso de ris. Mas nunca, antes,havia se sentido to tumultuada. Nunca havia ficado to impressionadacom um toque de mos como quando Ramsey a tocou! Nunca haviaimaginado que poderia derreter-se por causa de um homem, muitomenos um homem distante quanto ele! Deus, estava agindo como umaadolescente correndo atrs do cantor favorito de rock! Alm do mais, nogostava do tipo de Kight, o playboy para quem o mundo uma piada e amulher uma brincadeira, um passatempo.

    Passava um pouco do meio-dia quando Sarah viu, satisfeita, aquantidade de galhos empilhados ao lado do canteiro; s ento foi atseu carro, comer o lanche. Devorou o sanduche de galinha e estavadando a primeira mordida em uma ma, quando viu a sra. Mole sairpela porta da frente da casa. O incrvel foi que a criada se aproximou delae, exibindo um ar de desagrado no rosto murcho, disse:

    A sra. Ramsey deseja falar com voc.Uma espcie de dor aguda tomou conta do peito e da garganta de

    Sarah. Que tola tinha sido, acreditando que a falta de uma aliana namo dele poderia significar alguma coisa! Claro que ele era casado!Justamente com aquela mulher que ela tinha visto h pouco.

    Orgulhosa, dominou a emoo e ergueu a cabea. Depois, olhoufirme para a sra. Mole.

    Agora? perguntou. Sim.Sarah colocou a ma de volta no cesto de lanche, imaginando como

    devia estar sua aparncia, depois de ter podado todas aquelas plantas.Mas preferia morrer a demonstrar o menor gesto de fraqueza diante dasra. Mole. Portanto, acompanhou a empregada e entrou na casa. Durantea rpida caminhada, percebeu que as plantas do hall estavam feias emalcuidadas. Elas precisavam de adubos e de tratamento.

    A sra. Mole atravessou o hall, atrs do qual havia um conjunto decmodos ligados entre si, porm separados do corpo da casa. Parandodiante de uma porta fechada, ela bateu cerimoniosamente. Uma vozordenou:

    Entre!A mulher entrou e Sarah, relutante, seguiu-a.Imediatamente sua ateno voltou-se para as duas mulheres

    sentadas, uma em frente outra, nas duas poltronas modernas, diante dalareira. Sobre a mesinha, havia uma bandeja com restos de sanduches. A

    jovem que Sarah tinha visto chegar h pouco tinha olhos azuis, quefaiscavam. A outra, de mais idade, mantinha a espinha ereta e um ar deausteridade. Alguns fios brancos apareciam em meio aos cabelos pretos e

    bem penteados, que emolduravam um rosto bonito. Mas mesmo apresena daquelas duas pessoas desconhecidas pareceu a Sarah menossurpreendente do que a expresso crtica que se estampou no rosto dasra. Mole, quando, graciosamente, anunciou:

    Esta a srta. Halston, senhora.Como se o impacto no tivesse sido suficientemente forte, Sarah

    ficou ainda mais atrapalhada quando a mulher mais velha inclinou-se

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    Srie Fascinao n 17para a frente e estendeu a mo.

    Muito prazer em conhec-la, srta. Halston disse, sorrindo. Esta Vvica Harrington. E indicou a loira, que fez um ligeiro acenocom a cabea. Sra. Mole, penso que a srta. Halston gostaria de tomaruma bebida quente. Prefere ch ou caf, querida?

    Ainda embaralhada na prpria emoo, Sarah retrucou: Obrigada, aceito uma xcara de caf. E voc, Vvica? No, obrigada, Grace. Preciso ir embora. Sinto muito, mas Kight

    ficou de passar em casa hoje tarde para uns drinques, e eu ainda tenhoque fazer umas compras.

    Um grande alvio tomou conta do corao de Sarah. No tinhaimportncia que Kight fosse ntimo daquela loira; pelo menos, ainda noestava casado. No que isso fosse de sua conta, reconsiderou.

    Nesse momento, Vvica Harrington levantou-se graciosamente edeu um rpido beijo no rosto da outra mulher. Depois, voltando-se paraSarah com um largo sorriso, disse:

    Que interessante encontrar uma mulher que goste de trabalhobraal! Mas a vida assim mesmo, no ? Cada um deve fazer o quegosta! E encolheu os ombros.

    Eu a levo at a porta anunciou a sra. Mole, com um sorriso noscantos dos lbios. E, apanhando a bandeja, acompanhou a escultural

    Vvica, fechando a porta. Por favor, sente-se, srta. Halston pediu a sra. Ramsey,

    indicando a poltrona onde Vvica tinha estado sentada. Sarah deu umaolhada volta toda, procurando uma cadeira que sua roupa no sujasse,porm, a sra. Ramsey percebeu sua inteno e disse: No se preocupe,querida, sua roupa est limpa e, em ltimo caso, o revestimento dapoltrona lavvel. Sabe, sou uma mulher muito prtica e jamaiscompraria mveis de cores claras, se no fossem lavveis.

    Sarah sentou-se apressadamente, tentando imaginar o motivo de tersido trazida at ali. Mas aquela mulher haveria de esclarecer tudo, depoisque a sra. Mole chegasse com o caf.

    Sem dvida alguma, voc j notou que esta casa e o terreno somuito grandes comeou a sra. Ramsey. Faz pouco tempo que meufilho comprou esta propriedade, e s me mudei para c na semanapassada. Os antigos donos tinham uma pessoa doente na famlia, o queos impedia de mandar fazer os pequenos consertos, medida em que osestragos iam acontecendo por a. Esta era uma casa onde passavam o fimde semana, mas meu filho e eu resolvemos transform-la em nossa resi-dncia fixa. Agora, voc mesma pode ver como esto as coisas.

    Sarah respondeu afirmativamente e sentiu-se aliviada quando ouviua sra. Mole batendo porta. Delicadamente, a criada colocou a bandejana mesinha. Todas as suas maneiras eram de total respeito pela senhorade cabelos grisalhos. Em seguida, deu um sorriso fingido a Sarah e, tosilenciosa quanto havia entrado, retirou-se.

    Esta casa parece um castelo! observou a sra. Ramsey, enquantodespejava caf na xcara de Sarah. Todo mundo adora ter um casarocheio de pessoas, com toda a famlia ao redor, mas eu devo confessar a

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    Srie Fascinao n 17voc que dei graas a Deus por ter conseguido me separar de minhaantiga casa. Morava em uma daquelas velhas casas que parecemassombradas, perto do Mckinley Park. Conhece o lugar?

    Sim, claro! concordou Sarah, admirada pela coincidncia. Foi l que eu cresci.

    Verdade? Ento voc vai entender por que, aps viver sozinha emum daqueles museus, j velha, eu preferi agora levar uma vida maistranqila no campo. Estou muito contente que Kight tenha insistido paraque eu viesse ficar com ele. Afinal, nem todos os filhos solteiros gostamde ter a me vivendo sob o mesmo teto que eles!

    Sarah no achava a sra. Ramsey idosa, mas concordava em que nemtodos os filhos solteiros gostam de ter a me vivendo em sua companhia.

    Aquela deciso mostrava um outro lado de Kight, que ela nunca poderiaimaginar que existisse. Tinha se enganado, nesse particular.

    Claro que gosto de pensar que minha presena tambm h de sermuito til a meu filho! continuou a educada senhora. Devido a seutipo de servio, Kight tem um apartamento em Sacramento e outro emSan Francisco, mas agora que ele j est na casa dos trinta, acho que hora de ter um verdadeiro lar, voc me entende? Assim, at que se case etenha uma esposa para ser o centro de toda a sua vida, espero poderfazer por ele tudo o que puder.

    Entendo... murmurou Sarah. Decerto a sra. Ramsey a haviachamado ali para dizer que os jardins e todo o terreno da propriedadeprecisavam de cuidados. Devia apreciar a informalidade da nova casa etalvez gostasse de um ambiente descontrado. Aquela enjoada Vvicadevia ser a maior candidata a tornar-se o centro da vida de Kight e, paratanto, merecia uma casa que fizesse justia sua beleza loira. Sarahparou de divagar, quando ouviu a sra. Ramsey dizer:

    Lendo o seu currculo, notei que Ben Yashimoto foi, de certamaneira, um de seus professores. Pois saiba que aqui, em Sacramento,ningum pode ter uma referncia melhor do que essa!

    Oh, a senhora conheceu Ben? perguntou Sarah, admirada aosaber que o nome e a fama do grande amigo ainda continuavam vivos.

    Sim, claro! O jardim de Elaine Lang era o mais comentado detoda Sacramento! As pessoas ofereciam a Ben salrios altssimos parasair do emprego e ir trabalhar para elas, mas ele nunca aceitou nem asmelhores ofertas. Ningum podia entender o motivo dessa recusa, princi-palmente quando todos sabiam que Elaine no gostava muito de Ben.

    Sarah sentiu que o sangue lhe subia ao rosto. O que acabava deouvir era novidade! Achou melhor entrar logo na conversa, antes queaquela senhora dissesse mais coisas a respeito de Elaine, coisas que,talvez, causassem embarao a ambas. Mas antes que pudesse abrir a

    boca, a sra. Ramsey continuou, em tom de quem estava revendo opassado:

    Eu me lembro de uma festa que Elaine deu naquele jardim...Sarah cortou a frase: Elaine Lang era minha tia, sra. Ramsey. Foi ela quem me criou.

    Por isso Ben foi meu professor. E deu um sorriso forado, para provar sra. Ramsey que estava tudo bem.

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    Srie Fascinao n 17A mulher mostrava uma expresso de espanto. Oh, meu Deus, ser que falei algo que no devia? No, claro que no! assegurou Sarah. Eu tambm acho que

    tia Elaine nunca reconheceu o verdadeiro valor de Ben.Porm a sra. Ramsey continuava desnorteada, talvez pensando no

    que poderia ter dito, caso a moa no a tivesse interrompido. Num tomalegre, emendou:

    Sabe, Ben cansava de explicar a tia Elaine que um boto de rosanunca pode ser apanhado seno um palmo abaixo de seu clice, mas ela,muito teimosa, continuava colhendo as flores com o comprimento docabo que melhor combinasse com o vaso onde ia coloc-las. Por isso, Bene eu sempre dvamos um jeito de impedir que ela prpria colhesse asrosas preferidas.

    Um sorriso apareceu no rosto da sra. Ramsey e Sarah sentiu-se mais vontade. Enquanto servia mais caf, a mulher tomou uma expressopensativa.

    Ento, voc a sobrinha que Elaine criou depois da morte dairm?

    Como se procurasse afastar as recordaes, ela olhou para Sarah esorriu.

    Sabe de uma coisa? Acho que ns j nos conhecemos; masnaquela poca voc era muito pequena, por isso, talvez nem lembre.Certa vez, fui visitar Elaine e, no meio da conversa, disse que uma nossaamiga tinha elogiado uma bela rosa, chamada Peace, que Elaine cul-tivava. Pedi que ela me mostrasse a tal roseira e ela me levou ao jardim.Foi nessa oportunidade que vi Ben cavando o cho. Havia umamenininha ao lado dele, ajudando-o. Quando Elaine e eu nosaproximamos do canteiro de rosas, ela ficou olhando para todas asplantas, confusa porque no sabia qual delas era a Peace. Depois,caminhou at uma roseira, que exibia um lindo boto branco aberto.Nesse momento, Ben aproximou-se rapidamente e disse que a pequenaSarah teria o maior prazer em colher as rosas que ela desejasse. Ento,Elaine falou: "A sra. Ramsey quer uma rosa Peace, Sarah". E assim,embora naquela ocasio no tivesse mais que oito anos, voc pegou atesoura de podar das mos de Ben e, sem a menor hesitao, correu at aroseira e colheu trs longas hastes com lindos botes! Lembra disso?

    Sarah deu um pequeno sorriso. No. Infelizmente no me lembro, mas coisas assim aconteciam

    com freqncia. Contudo, o que eu acho mais engraado que tia Elainenunca percebeu que Ben e eu tnhamos armado toda essa conspiraocontra ela.

    No, penso que no! respondeu a sra. Ramsey. Bem, a conversa est muito agradvel, sra. Ramsey, mas acho que

    melhor eu voltar para as minhas rosas, porque tenho de terminar apoda ainda hoje.

    Sim, claro, estou sendo egosta segurando voc aqui. Mas, antesque se v, quero agradecer-lhe por ter escutado toda a minha histria.Posso cham-la de Sarah?

    Por favor, claro que sim!

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    Srie Fascinao n 17 Obrigada, querida. Mas a verdade que eu prometi a uma

    organizao qual perteno que cederia nossos jardins para uma festa decaridade. Ainda no fizemos todos os planos, mas acho que ser em

    junho. Kight tem feito o que pode para conseguir um jardineiropermanente, mas, como voc sabe e nesse ponto os olhos da sra.Ramsey brilharam ele no conseguiu!

    Nesse ponto ela fez uma pausa e seu rosto tomou uma expressoalegre.

    Sabe, Kight um rapaz muito cheio de vida, e confesso que rarov-lo assim to aborrecido por no conseguir executar uma tarefa.Domingo tarde, pouco depois de eu ter vindo para c, ele chegou comum olhar de quem estava querendo botar fogo no mundo! Ento medisse que tinha descoberto uma jia em meio a tanto cascalho, mas queessa jia no havia aceitado o emprego. "Fiz tudo o que pude!",confessou-me ele. "Agora, a coisa est em suas mos, mame." Ento, euo forcei a dizer-me tudo, e Kight me contou o que aconteceu no dia emque voc veio para ser entrevistada...

    Sarah ficou terrivelmente envergonhada pelo fato de a sra. Ramseyestar sabendo de todos os detalhes do incidente. Procurou ento desfazera m impresso que a sra. Ramsey poderia ter tido a seu respeito,dizendo:

    Foi um mal-entendido sem importncia, sra. Ramsey. Acho queme excedi. Eu no precisava ter ficado to irritada como fiquei.

    Talvez sim, talvez no, querida. Kight tem mesmo o costume de,s vezes, tomar certas liberdades. Mas, seja como for, chegamos seguinte concluso: aceitei como responsabilidade minha encontrar um

    jardineiro para ns. Portanto, ele ser meu empregado e no de Kight.Ser que isso faz alguma diferena para voc... aceitar o emprego?

    Por alguns momentos, Sarah ficou pensativa. At que ponto aquelamudana nas circunstncias poderia favorec-la? O certo era que elaqueria o emprego. Alm do mais, estaria trabalhando para uma mulherque sabia que as rosas no podem ser colhidas de qualquer maneira.

    E, uma vez que no tivesse de ficar debaixo da superviso daquelesujeito...

    Sim, sra. Ramsey, acho que, agora, faz muita diferena para mim! concordou, sorrindo.

    A sra. Ramsey tambm sorriu. Oh, estou to contente, Sarah! Vamos nos divertir muito,

    transformando este lugar em um paraso! Devo ainda dizer que estoumuito feliz por voc ter respondido ao anncio que meu filho ps no

    jornal. Parabns por ser jardineira!Sarah virou o rosto para que a mulher no visse as lgrimas de

    alegria que lhe despontavam nos olhos. Excluindo Ben, a sra. Ramsey eraa nica pessoa no mundo a dar-lhe os parabns por ter escolhido aquelaprofisso.

    Abaixando a voz, em tom de segredo, a sra. Ramsey acrescentou: Voc no fica feliz por ser jovem no mundo atual, quando uma

    moa pode fazer tudo o que deseja? Sabe, se eu fosse jovem hoje, ia serpiloto de avio!

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    Srie Fascinao n 17Sarah caiu na risada: Seria to bom se todas as pessoas vissem as coisas como a

    senhora! Oh, os que vivem falando contra so uns idiotas, sem uma gota de

    imaginao. So to bitolados que, se sarem de seus trilhos, ficaroperdidos. Aprenda a no ligar para esse tipo de gente. Agora, vamos daruma volta pela propriedade.

    Sarah estava muito feliz. O salrio que ela oferecia eracompensador. Com aquele dinheiro, poderia ajudar Mike e Maggie Reillye a pequena ris.

    Quando elas passaram pela espaosa sala de estar, em frente ao hallde entrada e ao trio, a sra. Ramsey disse que, nos dias chuvosos, em vezde trabalhar l fora, Sarah poderia cuidar das plantas tropicais internas.E, enquanto atravessavam o terrao de tijolos vista em direo aoconjunto habitacional, perto da piscina, Sarah comentou:

    Tenho um gato, sra. Ramsey. Espero que a senhora no seincomode se o trouxer comigo.

    Perfeito! concordou a mulher. Eu tambm gosto de gatos.Acho que est tudo bem at aqui, pensou Sarah, admirada por tudo

    estar dando certo. Qual o nome do gato? Duke. Voc deu esse nome a ele porque Duke tambm era o apelido de

    John Wayne perguntou a sra. Ramsey. Exatamente! concordou Sarah, cada vez mais admirada. A sra.

    Ramsey era esperta! Dei esse apelido a ele porque, fora de casa, todometido a valento; dentro, um anjinho!

    Sempre rindo, as duas chegaram at o apartamento junto piscina.Ali, a sra. Ramsey abriu a porta e fez um gesto, indicando que Sarahentrasse. O apartamento era mais ou menos do mesmo tamanho do deSarah, porm muito melhor decorado. Chegava a lembrar o estilo dacasa-grande. O quarto principal era bom e tinha uma grande lareira

    branca, que contrastava com o fundo negro da parede, lambida pelaschamas durante o inverno. As paredes, pintadas em cor-de-creme,faziam um delicado contraste com o carpete cinzento e macio. As janelastinham cortinas e vasos claros que necessitavam de plantas.

    Venha ver a cozinha convidou a sra. Ramsey.Era a cozinha mais bem planejada que Sarah tinha visto, e ali existia

    de tudo: cadeiras, uma mesa revestida de frmica amarela, combinandocom os armrios nas paredes, panelas, tudo novo.

    Gosta de cozinhar? perguntou a sra. Ramsey. Sim e, modstia parte, sou boa cozinheira! Verdade? Ento espero que, qualquer dia, me convide para

    almoar! brincou a mulher.Sarah respondeu que ficaria muito honrada e, uma vez que a sra.

    Ramsey estava se mostrando to liberal, perguntou se poderia ter suaprpria empregadinha. Depois, mudando de assunto, disse:

    Sendo este o apartamento de hspedes, no ser um estorvo queeu fique morando nele, mesmo quando chegar o vero?

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    Srie Fascinao n 17 Oh, no! Do outro lado da casa existem quartos especiais para

    hspedes. O que me preocupa, isso sim, que eles no incomodem voc!Alm do mais, costumamos receber hspedes nos fins de semana e,sendo voc uma garota to bonita, aposto que no passa esses dias emcasa!

    Com expresso vaga, Sarah encolheu os ombros. Oh, mas no pense que voc tem de sair aos fins de semana!

    emendou depressa a sra. Ramsey. Sei que deve ter amigos quequeiram visit-la de vez em quando. Acho que vamos nos dar muito bem.

    Afinal, no somos uma famlia assim to social, que tenhamos a casasempre cheia de hspedes!

    Talvez no, pensou Sarah. Mas apostaria todo o seu salrio que ascoisas haveriam de mudar, quando Vvica, assumindo a liderana,tomasse definitivamente o lugar da sra. Ramsey.

    Depois de acertarem os ltimos detalhes, Sarah despediu-se da sra.Ramsey com um forte aperto de mo e foi terminar de podar as roseiras.Enquanto trabalhava, pensou em tudo o que havia acontecido. Semdvida, tinha sido um dos dias mais felizes em toda a sua vida! Agora,estava sendo dona de seu prprio nariz. Mesmo que nunca tivesse umacasa como aquela, nem uma famlia, o que havia acontecido at ali j lhedava bastante felicidade. Comeava a cair a noite quando Sarah terminoude enfiar o ltimo galho podado dentro do saco plstico de lixo. Emseguida, apanhou as ferramentas e estava abrindo o porta-malas do carroquando, como se surgisse do nada, o Porsche preto entrou na alameda epouco depois parou em frente ao carro dela. Todas as fibras de seu corpo

    vibraram no momento em que viu Kight Ramsey. Naquele instante, nadado que havia acontecido antes pareceu ter a menor importncia. Comoera bom v-lo to forte e cheio de vida, saltando do carro para vir a seuencontro, com aquele mesmo sorriso largo!

    Voc um colrio para meus olhos! cumprimentou ele,aproximando-se. Mesmo apesar de estar com o rosto to vermelho e a

    boca que parece uma cereja!Sarah caiu na risada. Parece que voc no ficou surpreso ao me ver aqui. Eu tinha certeza de que mame haveria de dar um jeito em tudo

    garantiu ele. Ela nunca perdeu uma nica batalha, e foi com ela queaprendi a lutar!

    Mas por que voc tinha tanta certeza de que eu viria? Porque conheo bem os artistas: eles so capazes de enfrentar o

    fogo do inferno por causa de seu trabalho. Acabei percebendo que, paravoc, seria menos horrvel me enfrentar novamente do que ver asroseiras mutiladas por minha mo assassina! brincou. - Alm disso,sabia que, se mame conhecesse voc, seria capaz de mover cus e terraspara convenc-la a ficar.

    As notcias voam por aqui, no ? perguntou Sarah. As boas, sim. Telefonei para mame e ela me contou tudo. Bem, pelo menos agora no vou mais morrer de fome!

    observou ela, encolhendo os ombros enquanto ele ria. Voc parece uma linda rosa em boto! disse ele depois,

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    Srie Fascinao n 17olhando-a firme e serenamente. Sabia disso?

    Envergonhada, Sarah virou o rosto. No, no deixe de olhar para mim! pediu, acariciando-lhe o

    cabelo. Vou apelidar voc de Vermelhinha, se no achar ruim...Sarah nem sabia o que responder. S conseguia ficar olhando para

    aqueles olhos escuros. Sei que voc disse que preferia morrer de fome a trabalhar para

    mim! murmurou ele. Mas agora que est em segurana,trabalhando para mame, posso confessar-lhe uma coisa: eu tambmpreferiria morrer de fome... a ter de trabalhar para um sujeito como eu!

    Sarah abriu a boca, mas no teve tempo de dizer uma nica palavra,porque os lbios dele baixaram, pousando suavemente nos seus. Os

    braos fortes a enlaaram, puxando-a fortemente contra o peito. Quantomais ele comprimia os seus lbios, mais Sarah sentia a vertiginosacorrida do sangue por todo o corpo. Foi como se no existisse mais nadano mundo: eram apenas ele e ela, dois corpos unidos em um nico calor,ela sentindo por dentro uma maravilhosa vertigem.

    De repente uma voz aguda cortou os ares, vinda l da casa: Sr. Ramsey, telefone para o senhor!

    Voltando realidade, Sarah afastou-se dele bem a tempo de avistara sra. Mole plantada porta. Estava escuro e no deu para ver aexpresso dela, mas Sarah ficou preocupada. A sra. Mole j no eramuito amiga dela...

    Ento, de repente, levada pelo medo, Sarah deu um passo para trse olhou Kight friamente.

    O que significa isso? Quem lhe deu o direito de... Foi o direito que todo homem tem diante de qualquer mulher,

    minha querida rosa vermelha respondeu ele. E tem mais: se vocestiver livre hoje noite, pense em mim. Qualquer mulher inteligenteadivinharia o resto.

    Oh, seu animal! gritou ela, enquanto Kight caminhava para acasa. Ele, porm, apenas olhou para trs e acenou. Depois, entrou e foiatender ao telefonema.

    Furiosa, Sarah mordeu os lbios para segurar as lgrimas e,correndo para o carro, ligou a chave de partida. O direito que qualquerhomem tem quando est com uma garota!, repetiu, mortificada, para simesma. A, apertando o acelerador, ps o carro em movimento e partiu,com a velocidade de um foguete.

    CAPTULO IV

    Sarah guiava feito louca, desejando apenas uma coisa: ver-se o maislonge possvel daquele sujeito arrogante. Qualquer um teria logoadivinhado o verdadeiro sentido daquelas palavras cruis. Que ultraje! Edepois, o que Kight teria querido dizer com aquele negcio de quepreferiria morrer, a trabalhar para um sujeito como ele? Seria Kight otipo de macho que temia a caoada dos outros pelo simples fato de tercontratado uma mulher para executar "servio de homem"? Que se

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    Srie Fascinao n 17sentia humilhado, por ter "o melhor" jardineiro do mundo trabalhandoem sua propriedade, se "o melhor" fosse uma mulher? Ser que elenunca assumiria uma situao daquelas? No, claro que no, era maisfcil deixar as coisas por conta da mame!

    E agora, sendo indiretamente empregada dele, Sarah jamaisconseguiria fugir de Kight! Estava cansada de saber que a maioria dospatres tenta se aproveitar de suas empregadas, mas no acreditava queKight fosse daquele tipo! No! Por mais que o detestasse, haveria deprovar-lhe que ela no se submeteria a nenhum tipo de abuso! Precisavado emprego e no ia permitir que Kight estragasse tudo. Ele tinha desaber que ela era empregada da sra. Ramsey e no do sr. Ramsey! Eleque fosse beijar quela pedante da Vvica!

    Quando chegou em casa, na secretria-eletrnica havia umamensagem de Bill Blanding. Telefonou-lhe e ele convidou-a para jantar.

    Bem que eu gostaria mesmo de comemorar, esta noite disseela, feliz da vida. Lembra daquele emprego para o qual mandeicurrculo? Pois acabo de ser contratada!

    Que maravilha! Nesse caso, passo por a e iremos juntos parteantiga da cidade convidou Bill. No todos os dias que uma garotaconsegue realizar o grande sonho de sua vida!

    No existe um amigo mais leal do que Bill, pensou Sarah, aodesligar o telefone.

    Para aquela noite, escolheu um vestido especial. Mas, antes deaprontar-se, resolveu conversar com o dono do apartamento a respeitoda mudana. O sr. Nelson parecia j estar esperando porque, assim queela comeou a explicar, ele concordou, impaciente, movendo a cabea.

    Sim, sim, eu j sei de tudo disse. A sra. Ramsey me telefonouh algum tempo e explicou tudo. Claro que terei muita satisfao emfazer tudo o que ela pediu. A ltima coisa que eu desejaria, Sarah, era seruma pedra em seu caminho. Esta uma grande oportunidade para voc. Sorriu. Com a referncia dos Ramsey para seus empregos futuros,

    voc nunca mais ter problemas! Ora, o senhor parece melhor informado do que eu brincou ela.

    Que tal, ento, me contar o que foi que a sra. Ramsey lhe pediu e que osenhor ter todo o prazer de fazer?

    Ela disse que voc concordou em comear a trabalharimediatamente, mas que voc no poderia mudar daqui antes de trintadias, j que teria de pedir resciso do nosso contrato de trabalho...

    Sim, verdade concordou Sarah. Afinal, tenho um contratocom o senhor para cuidar da manuteno dos jardins do prdio, e nodeixaria de cumprir minha obrigao.

    Nem pense nisso! Afinal, em janeiro, pouco h para se fazer, porcausa das chuvas. E a sra. Ramsey disse que, se chegssemos a umacordo, ela pagaria o aluguel do ltimo ms, para evitar que voc ficasseesperando os trinta dias de aviso-prvio, tendo que viajar todos os diasat a propriedade dela. Com isso, voc poderia mudar imediatamentepara l. Ela muito atenciosa, no acha?

    Sarah concordou. Acertou todos os detalhes com o sr. Nelson, evoltou para o apartamento para vestir-se e sair com Bill.

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    Srie Fascinao n 17Tomou um bom chuveiro, lavou a cabea e sentiu-se bem melhor.

    Vestindo um quimono macio, virou o secador de cabelo na direo deDuke, que estava sentado no gabinete do lavatrio, brincando semcerimnia com o fio eltrico do aparelho.

    Voc vai babar de gosto, quando vir a nova casa onde vamosmorar, Duke disse ela. So muitos e muitos alqueires para vocpassear vontade e uma deliciosa lareira, onde poder dormir quentinhonas longas noites de inverno!

    Depois de escovar o cabelo e virar as pontas, Sarah aplicou no rostouma ligeira maquilagem: blush, um pouco de sombra cor-de-caf nosolhos, um brilho nos lbios.

    Escolheu um vestido especial para a noite, verde-jade, de mangaslongas e gola alta. O tecido macio desceu-lhe pelo corpo, ajustando-se cintura fina e caindo at os joelhos. Calou sandlias de salto alto eestava colocando os brincos que tia Elaine havia lhe dado por ocasio deseu ltimo aniversrio, quando a campainha da porta tocou. Aplicourapidamente um toque de perfume atrs de cada orelha, correu paraabrir a porta.

    Bill Blanding tambm estava elegante, como se tivesse se vestidocom um cuidado especial. Usava cala marrom escuro e um paletesporte que ela nunca tinha visto. Uma gravata escura contrastava com acamisa bege. O cabelo recentemente cortado, loiro-escuro e crespo, co-roava-lhe o rosto sorridente. Tambm sorriam os olhos castanho-escuros.

    Durante o rpido trajeto de automvel at a porta antiga deSacramento, Sarah contou a Bill todos os detalhes do novo emprego,descrevendo a propriedade, as imediaes, o apartamento onde passariaa viver, suas obrigaes. Falava animadamente sobre tudo, menos sobreo que havia acontecido entre ela e Kight, na primeira entrevista. Por qu?Uma semana atrs, teria contado todos os detalhes e os dois dariam boasgargalhadas a respeito do incidente. Mas, agora, de repente, descobriaque no queria compartilhar com ningum, nem mesmo com Bill, ascoisas que haviam acontecido entre ela e Kight Ramsey. Bem, talvezhouvesse uma explicao lgica para aquele silncio: sentia-sehumilhada ainda pela maneira como Kight a havia tratado e no queriapassar por tola aos olhos de Bill.

    Bill estacionou o carro na parte central do que havia sido um velhomercado e dali seguiram, devagar, em direo ao restaurante.

    Parece que esse o trabalho com que voc tanto sonhava disseele, oferecendo-lhe o brao.

    sim, Bill! E minha patroa uma mulher muito agradvel. Sabeque ela entende muito de jardinagem? Ser um prazer trabalhar com ela.

    J eram seis horas e, por ser inverno, a noite havia cado mais cedo.As pedras do calamento da rua, molhadas pelo chuvisco, refletiamromanticamente o brilho das lmpadas coloridas dos postes, e das

    vitrines. Na noitinha de domingo, Sarah chegou a imaginar que, voltandoao passado, estivesse passeando pela velha cidade, que havia comeado asurgir quando a descoberta de ouro no Grande Vale Central tinhaprovocado a chegada de um grande nmero de aventureiros em busca de

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    Srie Fascinao n 17fortuna.

    Ouvia, emocionada, o rudo de seus prprios passos pelas caladas,enquanto eles passavam diante de butiques, bares, restaurantes e lojas,cujas luzes davam nova vida s paredes construdas de tijolos vista emadeira. A maioria dos prdios tinham sido restaurados e pareciamimponentes, como haviam sido por volta de 1850, ano em que foramconstrudos.

    Bem, chegamos disse Bill, guiando Sarah pela porta de umedifcio onde havia funcionado um banco, naqueles tempos de ruaspoeirentas.

    Os sales ficavam no andar de cima. esquerda, havia uma largaescada forrada com passadeira verde-escura.

    Vamos pela escada? sugeriu Bill. Chegaremos mais depressado que naquela gaiola enferrujada disse, apontando para um elevadorparado com porta de ferro trabalhada.

    Subiram com passos rpidos pela escada de madeira escura ebrilhante. Bill conversou com o recepcionista e em seguida dirigiram-seao bar, onde ele pediu para si um Martini e um copo de vinho brancopara Sarah.

    Adoro vir at esta parte da cidade, para ver os prdios antigoscom forros em estilo drico e madeiramento em puro carvalho! observou Sarah, dando uma olhada pelo cmodo. J imaginou quecoisa incrvel isso tudo representa para um europeu que est acostumadocom construes antiqssimas? E estas nossas tm apenas cento epoucos anos...

    Acontece que vivemos em um pas jovem respondeu Bill. E aEuropa um mundo velho.

    D uma olhada no espelho do bar continuou Sarah. Onde,hoje em dia, se encontra um cristal assim to perfeito?

    O garom acabava de trazer os drinques. Sarah ergueu o copo sade de Bill e olhou sua prpria imagem no espelho. De repente, ocorao deu um salto: refletido no mesmo cristal, estava o rosto de KightRamsey, que acabava de entrar com Vvica Harrington.

    Boa noite, srta. Halston! cumprimentou ele, enquanto Vvivafazia cara de fastio. Que prazer encontr-la novamente! emendou,com um tom de voz que era de pura ironia.

    Sarah engoliu em seco e continuou observando-o por mais algunsmomentos atravs do espelho, at que se voltou, devagar. Pelo canto dosolhos, viu que Bill estava surpreso com aquele encontro. Apresentou umao outro, completamente desnorteada. Bill cumprimentou o casal e dissea Kight

    Tenho muito prazer em, conhec-lo, sr. Ramsey! Sarah estavaacabando de admirar o seu trabalho neste local.

    O que Bill est dizendo?, pensou Sarah, sem entender. Bill, porm,continuou:

    Por acaso voc foi o responsvel pela restaurao deste prdio? Sim, estou satisfeito por poder dizer que sim concordou Kight,

    como se fossem velhos amigos. Trabalhei tambm na restaurao deoutros edifcios, na Second Street.

    Projeto Revisoras de fs para fs sem fins lucrativos.

  • 7/29/2019 55391494 Fascinacao 017 Tess Oliver Rosas Da California

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    Srie Fascinao n 17 Pois seu trabalho excelente! Sarah e eu estvamos comentando

    que at parece que demos um mergulho de cento e vinte anos nopassado!

    muito bom ouvir sua opinio, sr. Blanding. Para mim foi umagrande experincia executar esse tipo de servio.

    Enquanto os dois conversavam animadamente, Sarah teveoportunidade de examinar melhor Vviva Harrington. O cabelo loiroestava preso, formando um coque, emprestando-lhe maior beleza aorosto. Usava um elegantssimo vestido azul, com saia de nervurasfinssimas, cuja cor contrastava com sua pele clara e aveludada. O tecidoleve movimentava-se ao menor movimento de Vviva. Sem dvida, elaera uma mulher lindssima, um preo muito difcil de vencer.

    Aborrecida com a conversa dos homens Vviva virou-se para Sarah: Bonito o seu vestido, srta. Harston! Voc est to diferente de

    hoje de manh, que se Kight no tivesse me chamado a ateno, eu nema teria conhecido!

    Voc, ao contrario, est to linda agora quanto estava de manh,srta. Harnngton!

    Vviva ficou vermelha com aquela resposta desconcertante, masSarah sentiu-se perfeitamente bem, porque tinha falado apenas a

    verdade.Salvou a situao a chegada do garom, anunciando que a mesa de

    Sarah e Bill estava pronta. Com isso, eles se afastaram, enquanto Kight eVviva continuaram aguardando sua vez.

    Ao sentar-se, Bill colocou o guardanapo nos joelhos e perguntou: Como foi que voc conheceu Kight Ramsey? Ele filho da mulher para quem vou trabalhar explicou Sarah.

    E voc, como foi que o conheceu?Bill caiu na risada. Voc nunca l as colunas sociais? Todo mundo na Califrnia

    conhece Kight Ramsey. A Construtora Ramsey uma das firmas maisslidas dos Estados Unidos. Eles fazem construes no mundo inteiro.

    Oh, ele esse tal Ramsey? perguntou ela, admirada. Claroque j ouvi falar dessa construtora, vejo propaganda dela por toda aparte! Mas acontece que no leio