54925930 sergipe cultura e diversidade

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  • Cultura e Diversidade

    Conhecer Reconhecer Valorizar

  • Cultura e Diversidade

  • Aracaju 2010

    Cultura e Diversidade

  • Governador do Estado

    Vice-Governador do Estado

    Secretria de Estado do Planejamento, Habitao e do Desenv. Urbano

    Secretrio de Estado da Comunicao Social

    Secretria de Estado da Cultura

    Secretrio de Estado do Desenvolvimento Econmico, da Cincia e Tecnologia e do Turismo

    Diretor-Presidente da Empresa de Desenvolvimento Sustentvel do Estado de Sergipe

    Diretor-Presidente da Empresa Sergipana de Turismo

    MARCELO DDA CHAGAS

    BELIVALDO CHAGAS SILVA

    MARIA LCIA DE OLIVEIRA FALCN

    CARLOS ROBERTO DA SILVA

    ELOSA DA SILVA GALDINO

    JORGE SANTANA DE OLIVEIRA

    CARLOS HERMNIO DE AGUIAR OLIVEIRA

    JOS ROBERTO DE LIMA ANDRADE

    COMISSO ORGANIZADORA DA IJORNADA SERGIPANA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

    GOVERNO DE SERGIPE

    Secretria Adjunta do Planejamento, Habitao e do Desenvolvimento Urbano

    Superintendente de Desenvolvimento, Captao de Recursos e Programas Especiais

    Gerente do Projeto Identidade, Cultura e Desenvolvimento dos Territrios Sergipanos

    Secretrio Adjunto da Cultura

    Coordenadora de Marketing da Empresa Sergipana de Turismo

    Gerente da Unidade de Atendimento Coletivo Indstria Servio Brasileiro de Apoio s Empresas Sebrae/SE

    Diretor do Teatro Tobias Barreto

    ANA CRISTINA DE CARVALHO PRADO DIAS

    GLEIDENEIDES TELES DOS SANTOS

    MARCEL DI ANGELIS SOUZA SANDES

    MARCELO RANGEL LIMA

    CAROLINE PORTUGAL

    PAULO AFONSO MARQUES DE SOUZA

    LINDOLFO AMARAL

  • COMISSO ORGANIZADORA DA IJORNADA SERGIPANA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

    GOVERNO DE SERGIPE

    ANA CRISTINA DE CARVALHO PRADO DIAS

    GLEIDENEIDES TELES DOS SANTOS

    MARCEL DI ANGELIS SOUZA SANDES

    MARCELO RANGEL LIMA

    CAROLINE PORTUGAL

    PAULO AFONSO MARQUES DE SOUZA

    LINDOLFO AMARAL

  • Apresentao dos Lambe-sujos e Caboclinhos em Laranjeiras. Ao fundo, a Igreja Matriz.

  • Sumrio

    Sergipe: conhecer, reconhecer e valorizar

    A cultura como vetor estratgico do desenvolvimento e da incluso social

    Diversidade e riqueza Receita da identidade e beleza do povo sergipanoManifestaes tradicionais

    Tradies religiosas

    Artesanato

    Espetculos e Danas

    Msica

    Literatura popular

    Folguedos de Guerra, Luta e Libertao

    Manifestaes contemporneas

    Festas e Eventos

    Teatro e msica

    Artesanato

    Territorios de Identidade

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  • Grande Aracaju

    Encontro Cultural de Laranjeiras

    Chegana

    Lambe-sujos e Cabloclinhos

    Taieiras

    Cacumbi

    So Gonalo

    Ciclo da folia

    Procisso do Fogaru

    Procisso do Encontro

    Ciclo junino

    P-de-Serra

    Caceteira do Rindu

    Samba de Pareia

    Samba de Coco

    Candombl/Umbanda

    Nag

    Mamulengo

    FASC

    O Mercado

    Caranguejada

    Alto Serto

    Cavalhada

    Casamento do Matuto

    Rendas

    Artesanato em Madeira

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    Presena Indgena

    Tor

    Cangao

    Artesanato em Couro

    O Vaqueiro, o Boiador e o Berrante

    Cordel

    Violeiros e Cantadores

    Festa do Leite e Semana da Vaca Leiteira

    Festa do Quiabo

    Pituzada

    Mdio Serto

    Procisso do Madeiro

    Festa do Boi

    Festival de Jegues

    Bonequeiras

    Galinha de Capoeira com Fava

    Baixo S. Francisco

    Bom Jesus dos Navegantes

    Pastoril

    Banda de Pfanos

    Guerreiro

    Z Pereira

    Maracatu

    Cavalgada

    Queima de Judas

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  • Centro Sul

    Grupo Parafuso

    Silibrina

    Tecelagem

    Bordado

    A Capoeira e o Berimbau de Boca

    Maculel

    Festival da Mandioca e a Manioba

    Lombo em Panela de Barro

    Leste Sergipano

    Reisado

    Sarandagem ou Sarandaia

    Batalho/Bacamarteiros

    Festa do Mastro

    Samba de Aboio

    Renda Irlandesa

    Festival de Arte Arthur Bispo do Rosrio

    Robalo do Molho de Camaro

    Referncias Bibliogrficas

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    Bordadeiras

    Artesanato em Cermica

    Artesanato em Palha/Cip

    Festa da carne do Sol

    Peixada em panela de barro

    Sul Sergipano

    Quadrilha Junina

    Batucada Pisa Plvora

    Barco de Fogo

    Encontro de Carros-de-boi

    Festa da Laranja

    Refogado de Aratu

    Agreste Central

    Feiras

    Os Caretas

    Embeleco

    Penitentes

    Trezenrio de Santo Antnio e Festa do Caminhoneiro

    Brinquedos Artesanais

    Filarmnicas

    Buchada de Carneiro

  • Integrantes da religiosidade afro Nag de Laranjeiras, aguardando a passagem dos Lambes- Sujo e Caboclinhos.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 15

    em cultura no h desenvolvimento. E esse fato tem sido negligenciado durante dcadas de poltica desenvolvimentista. Se observarmos a histria, veremos que durante cinco sculos, o Brasil buscou caminhos monocromticos para a trama da sua histria.

    Como diria Srgio Buarque de Holanda, ns ficamos como caranguejos, arranhando o litoral.

    Sem dvidas, um estado como Sergipe, cujo litoral foi abenoado com cinco grandes barras fluviais, que juntamente com a cana de acar foram por dcadas os motores da economia sergipana, alm da disponibilidade de recursos minerais e da existncia de um significativo plo de comrcio e servios como Aracaju, deve valoriz-lo como estratgia de desenvolvimento. Por outro lado, esquecer o seu interior significa inviabilizar um projeto de desenvolvimento mais justo, equitativo e sustentvel, que garanta a incluso dos seus cidados pelo direito e pela renda.

    Interiorizar, mais na alma que no territrio, dar sustentabilidade ao desenvolvimento, mas isso no uma ao simples. Ela passa pela observao da diversidade que se formou entre os rios So Francisco e Real, entre o Oceano Atlntico e o serto nordestino. Para isso, necessrio delicadeza ao tratar de elementos sensivelmente entrelaados, a saber: cidadania, cultura e economia.

    Felizmente, em Sergipe, o progresso econmico no sufocou a diversidade. Alm do turismo de sol e mar e das manifestaes da cultura de massa, existem por todo o nosso territrio belas representaes feitas do nosso mais genuno barro, original deste valioso cho. Essa uma das caractersticas mais marcantes aos olhos de quem nos visita e isso que o leitor ver ao longo deste livro Sergipe: Cultura e Diversidade.

    Se somos muito diversos, isso se deve ao fato de que a natureza de um espao formado por tantas diversidades ambientais e trocas culturais o imuniza em relao ao risco de homogeneizao. Desta forma, devemos aproveitar as oportunidades que o nosso espao nos oferece e criar, a partir das nossas mais sinceras vocaes, possibilidades de negcios, de gerao de emprego e renda e de melhoria da qualidade de vida dos sergipanos, buscando a integrao na diversidade e o aporte do fator cultural equao do desenvolvimento.

    Um rpido exame nos mostra que, no raro, os pases mais desenvolvidos tambm so aqueles que mantm mais vivos os elementos importantes da sua cultura, aqueles traos que os une enquanto conjunto singular. Nesse sentido, Sergipe d um passo frente ao realizar um primeiro levantamento para melhor conhecer esse patrimnio que, muitas vezes, no material, mas to importante quanto nosso patrimnio fsico-ambiental.

    Sergipe: conhecer, reconhecer e valorizar

    Em Sergipe, o progresso econmico no sufocou a diversidade. Alm do turismo de sol e mar e das manifestaes da cultura de massa, existem por todo o nosso territrio belas representaes feitas do nosso mais genuno barro.

  • 16 Sergipe: Cultura e Diversidade

    Com o Planejamento Participativo, criamos em Sergipe uma imensa gora onde a cultura foi incorporada poltica de desenvolvimento territorial, tornando real um compromisso assumido em nosso Plano Estratgico de Governo. E se a nova forma de governar para o futuro de Sergipe d voz ao nosso colorido vrio, cabe ento aos sergipanos contriburem, em parceria com o seu governo, para a construo dos seus caminhos, exaltando e preservando toda a sua diversidade, construindo, juntos e efetivamente, um Sergipe Para Todos.

    Tenho, por tudo isso, no apenas a honra, mas um inegvel orgulho em poder compartilhar com o maior nmero possvel de pessoas o acesso a essa demonstrao da beleza, grandeza e criatividade da gente sergipana. Entrego ao povo de Sergipe um registro daquilo que somos e da fora e originalidade da imaginao popular no mundo do trabalho, da religio e das festas. E se imaginarmos, ao longo dos 500 anos de histria brasileira, os milhares de sergipanos que construram e reconstroem nossa cultura, posso dizer que este livro tem milhares de autores e centenas de anos de vivncia.

    Que seja de utilidade e de prazer ldico a todos quantos o lerem.

    Marcelo Dda Chagas Governador do Estado de Sergipe

    Ao lado, Cheiroso, o Mateus do Reisado do Balde de Laranjeiras. Abaixo, pintura sobre cermica, de Ismael Pereira.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 19

    Ao ler este livro, o leitor ser arrastado para um domnio onde governam a emoo e o encantamento com a beleza e a diversidade cultural sergipanas. A riqueza das ilustraes e cartografias e a sutileza dos estudiosos que descreveram as

    manifestaes selecionadas para esta publicao, transportaro o leitor por alguns momentos para o mundo daqueles que fazem a nossa Cultura.

    Cultura e desenvolvimento. O global, igual, padronizado e enlatado versus o local, diferenciado e nico. Dois temas cuja relao tem sido h muito explicitada, emergem com fora mais uma vez no incio do sculo XXI. Desta vez, o foco so os pases em desenvolvimento e a pergunta que se pe : existe possibilidade de gerar desenvolvimento a partir do fortalecimento da cultura?

    A resposta ainda est sendo construda. So muitas as experincias, os caminhos, e o debate rico. Nesse sentido que vrios pases passaram a criar rgos e institutos com a finalidade de conceder ao tema um tratamento especfico. Desse movimento so ilustrativas as criaes de Institutos de Pesquisa, autnomos ou vinculados a Universidades, em sua maioria visando dar um tratamento cientfico ao tema, especialmente na vertente da economia da cultura e da economia criativa.

    A necessidade de se conhecer melhor o setor cultural j se imps, a partir dos anos 1970, em pases europeus principalmente a Frana, um dos primeiros a incluir a cultura no plano de metas nacional nos Estados Unidos e em outros pases-membros da Unesco que incorporaram o conceito de cultura em suas estratgias de desenvolvimentos social e econmico1.

    Alm dos pioneirismos europeu e americano, as iniciativas de pases da Amrica Latina no mbito do Convnio Andrs Bello2 merecem destaque, especialmente o caso do Mxico, que elaborou, no espao delimitado do seu Sistema de Informaes Culturais, alm do seu Atlas de Infraestrutura Cultural e das pesquisas de costumes e consumos culturais, um levantamento de carter qualitativo, assemelhado ao que agora apresentamos, descrevendo as suas principais manifestaes, a abrangncia geogrfica e a periodicidade da ocorrncia, grupos envolvidos, as funes sociais e culturais que cada manifestao exerce no interior do grupo que a pratica, alm dos riscos que enfrentam e as possveis medidas de salvaguarda que permitiriam proteg-las e promov-las.

    A cultura como vetor estratgico do desenvolvimento e da incluso social

    A publicao deste livro, que tem como fonte principal o levantamento cultural, uma mostra panormica de toda a beleza e riqueza das manifestaes culturais do povo sergipano.

  • 20 Sergipe: Cultura e Diversidade

    No Brasil, foram publicadas duas edies do Sistema de Informaes e Indicadores Culturais, fruto do convnio entre o Ministrio da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) para o desenvolvimento de uma base contnua de informaes relacionadas ao setor cultural e construo de indicadores culturais. Essa base de dados parte integrante do Sistema Nacional de Cultura que, a exemplo dos Sistemas de Sade e Assistncia Social, prev o estabelecimento de princpios e diretrizes comuns, diviso de atribuies e responsabilidades entre os entes da federao, compartilhamento de recursos e criao de instncias de controle social das polticas do setor, bem como um compartilhamento pblico e transparente e a integrao de dados e indicadores coletados pelos municpios, os estados e o governo federal, para gerar informaes e estatsticas da realidade cultural brasileira.

    A reconhecida capacidade do IBGE e a implementao do Sistema Nacional de Cultura levam-nos a entrever um caminho promissor a respeito das pesquisas na rea cultural em todo o Brasil, uma vez que estados e municpios, ao se associarem ao sistema, devem criar instrumentos de gesto para acompanhamento e avaliao das polticas pblicas de cultura, ou seja, seus Sistemas Estaduais e Municipais de Informaes e Indicadores Culturais.

    No entanto, o recorte dado pelo IBGE s atividades culturais deixa de fora grande parte das produes da cultura popular, pois estas, por sua vez, no podem computar dados para as contas nacionais, em virtude do seu alto grau de informalidade, o que faz com que seu acompanhamento preciso seja uma tarefa difcil.

    As classificaes atualmente existentes, sem dvida, no delineiam fielmente o que compe o setor cultural, o que no uma falha dos pesquisadores que sobre o assunto se debruam, mas um desafio posto pela natureza do prprio objeto pesquisado: a fluidez da cultura.

    Foi com a disposio de compreender a diversidade cultural de Sergipe e torn-la fonte de auto-estima, emprego e renda para os seus habitantes que a experincia do Planejamento Participativo incorporou, alm da economia e da infraestrutura, a cultura. A metodologia da territorialidade, implementada pelo Governo sergipano, baseada nos territrios de identidade do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, pressupe 5 dimenses: a social, a poltico-institucional, a ambiental, a econmico-produtiva e a cultural, que tambm se constituem como bases do Programa Mais Cultura.

    Os Territrios da Cidadania do Governo Federal estimulam a Sociedade Civil a se auto-organizar para buscar o desenvolvimento. O Ministrio da Cultura passou a ver a cultura no apenas como fenmeno restrito s manifestaes artsticas, ampliando o conceito para o campo mais vasto da criao humana no seu sentido histrico-antropolgico, fato que teve grande importncia no que se refere incorporao da contribuio popular ao processo de formao da sociedade brasileira.

    O Governo de Sergipe, em uma ampla consulta popular realizada em 2007, estabeleceu oito Territrios de Planejamento baseados na sua identidade cultural. Em 2008, trabalhou com os delegados do Planejamento Participativo

    Artesanato em cermica inspirado nas gravuras dos cordis.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 21

    (PP) os smbolos-cones e as festas mais representativas de cada territrio. Em 2009, aprofundando ainda mais nessa direo, trabalhou o tema cultura nas conferncias do PP, fazendo um primeiro levantamento das manifestaes culturais existentes em todos os teritrios, com destaque para a escolha dos principais elementos da gastronomia de cada um deles.

    Sergipe: Cultura e DiversidadeProduzir este livro significa registrar e divulgar para um pblico amplo aquilo que mais nos representa e singulariza, com base em uma abrangente pesquisa emprica e bibliogrfica e preenchendo uma lacuna dos registros e levantamentos acerca da cultura no estado de Sergipe. Trata-se, portanto, de um primeiro levantamento do nosso acervo cultural do ponto de vista qualitativo e especializado.

    Antes deste livro, em 1977, a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro realizou pesquisas para elaborao do Atlas Folclrico do Brasil, onde o Estado de Sergipe foi a grande surpresa, por contar, naquela ocasio, com 220 grupos populares em atividade. Um resultado que fez de Sergipe, poca, a maior reserva de folclore de todo o Pas.

    Na realidade, a novidade deste material que publicamos agora reside em trs aspectos: a arquitetura do processo de pesquisa e do seu aperfeioamento, a atualidade do levantamento e a idia de registrar o grau de dinamismo em que se encontram as manifestaes. Essa informao de extrema importncia para todos, especialmente para algumas secretarias, como a Secretaria de Estado do Planejamento, Habitao e do Desenvolvimento Urbano (Seplan), que tem como misso coordenar o planejamento das polticas pblicas no Estado de Sergipe; a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), que tem trabalhado para promover a Poltica Cultural do Estado de forma territorializada e integrada, de modo a assegurar a produo e o acesso aos bens e servios culturais e garantir a diversidade cultural sergipana buscando

    As classificaes atualmente existentes, sem dvida, no delineiam fielmente o que elas vm a ser, o que no uma falha dos pesquisadores que sobre o assunto se debruam, mas um desafio posto pela natureza do prprio objeto pesquisado: a fluidez da cultura.

    Igreja de Bom Jesus dos Navegantes em Laranjeiras.

    Mosteiro das Carmelitas em So Cristvo.

  • 22 Sergipe: Cultura e Diversidade

    desenvolver a cultura em seus aspectos social, humano e econmico, e como a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econmico, da Cincia e Tecnologia e do Turismo (Sedetec), que responsvel pela poltica de desenvolvimento econmico e turismo.

    Por se tratar de uma obra que se pretende acessvel a um pblico que deseja conhecer Sergipe, especialmente aos empresrios da rea da economia da cultura e do turismo e queles que nos visitam e aos nossos estudantes, futuros responsveis pelos rumos de Sergipe, esta publicao no registra exaustivamente tudo aquilo que foi levantado na pesquisa de campo, mas, apenas os eventos mais importantes de todos os territrios, tanto do ponto de vista sociocultural quanto da sua capacidade de gerar renda e benefcios para os seus agentes e afins.

    O fato de no incluirmos nele informaes que so altamente mutveis, certamente, conceder-lhe- maior tempo de representatividade do que Sergipe, o que no quer dizer que ignoremos o movimento contnuo da cultura. Desta forma, o nosso rol de informaes no inclui dados acerca da produo (oferta) e demanda de bens e servios culturais, nem aspectos relativos gesto cultural no nvel municipal ou informaes sobre os gastos pblicos com cultura e o perfil socioeconmico da mo-de-obra ocupada em atividades culturais, pesquisas que j so sistematicamente elaboradas e atualizadas pelo IBGE e que podem ser encontradas nos sites www.ibge.gov.br ou www.cultura.gov.br.

    Mercado Antnio Franco, construdo em 1926, foi restaurado para servir de espao de comercializao do artesanato sergipano em Aracaju.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 23

    importante, tambm, ressaltar que o objetivo deste livro no foi criar um Guia ou Catlogo Cultural, e sim registrar a diversidade da cultura sergipana. Apesar disso, para os leitores que tenham interesse em visitar ou entrar em contato com os indivduos e grupos que fazem a cultura sergipana, esto disponveis no site www.seplan.se.gov.br, no link Programas - Planejamento Participativo, os Relatrios das Conferncias Municipais do Planejamento Participativo Ciclo 2009-2010, que contm informaes sobre onde encontr-los, assim como est disponvel em meio digital esta e outras publicaes.

    Cabe destacar, ainda, que os resultados do nosso levantamento indicam forte correlao com as informaes do Suplemento de Cultura da Pesquisa de Informaes Bsicas Municipais MUNIC 2006, do IBGE, no tocante s atividades artsticas e artesanais existentes nos municpios sergipanos, revelando que este primeiro levantamento, que agora apresentamos, ser de grande valia aos diversos fins a que se prope.

    O caminho percorrido

    A necessidade da produo deste livro nasceu durante o Planejamento Participativo. Essa enriquecedora experincia, acontecida em Sergipe a partir de 2007, mobilizou milhares de participantes em todos os municpios e escolheu as prioridades de investimentos que devem integrar a ao governamental e o oramento pblico. A deciso de conhecer melhor a cultura de cada territrio do nosso Estado decorre da deciso preliminar de tornar a cultura um vetor do desenvolvimento local, do fortalecimento da cidadania e da melhoria da qualidade de vida da populao. Alm da riqueza emprica quando do contato proporcionado pelo Planejamento Participativo com mais de 35 mil sergipanos nos 3 primeiros anos de Governo, o Plano Estratgico da Administrao Estadual, que preconiza a necessidade de incluso pelo direito e pela renda, bem como o Desenvolver-SE (Plano Estadual de Desenvolvimento Econmico para 10 anos), ao definir a economia da cultura como um dos pilares do desenvolvimento sustentvel em um horizonte de longo prazo, foram os fundamentos documentais dessa deciso.

    O Projeto Identidade, Cultura e Desenvolvimento dos Territrios Sergipanos foi elaborado e o primeiro passo foi a realizao de um seminrio, reunindo grandes nomes da antropologia, economia, geografia, histria, planejamento e polticas pblicas e representantes de vrias reas governamentais e da sociedade civil brasileira e sergipana.

    Resultou dele um quadro referencial para tratar o tema cujas contribuies esto publicadas em uma Coletnea, facultando o acesso de um pblico mais amplo ao contedo das exposies e dos debates. Desse encontro, resultou tambm a recomendao tcnica da realizao de um levantamento do acervo da cultura com vistas a conhecer melhor o universo a ser trabalhado, da elaborao de uma interpretao de fundo histrico e antropolgico da formao cultural do nosso Estado e de medidas de promoo e fortalecimento de nossas expresses.

    Imagem de Santa Catlica em artesanato de fibra de coqueiro.

  • 24 Sergipe: Cultura e Diversidade

    Nesse sentido que o II Ciclo do Planejamento Participativo, com o tema Construindo Parcerias para o Desenvolvimento Territorial, forneceu a base institucional para a realizao de um levantamento inicial durante as conferncias municipais. Na mesa temtica: Cultura, Desenvolvimento e Incluso foram identificadas as manifestaes culturais dos municpios, principais dificuldades e aes complementares para o seu desenvolvimento, informaes consolidadas em relatrios entregues aos delegados do Planejamento Participativo e gestores municipais com a finalidade de proporcionar aos habitantes dos municpios o conhecimento mais acurado da sua realidade, alm de subsidiar a formulao dos Planos Plurianuais dos municpios sergipanos3.

    Essas informaes serviram de orientao para, em uma segunda fase, realizarmos um levantamento cultural qualificado dos oito territrios de identidade sergipanos, ratificando ou atualizando as informaes obtidas durante o PP, a partir de uma pesquisa de campo encomendada pela Seplan e realizada em agosto de 2009 por professores dos Departamentos de Geografia e Cincias Sociais da Universidade Federal de Sergipe, coordenados pelos professores Maria Augusta Mundim Vargas e Paulo Srgio da Costa Neves.

    Nessa segunda etapa, o auxlio institucional das Prefeituras e das pastas responsveis pela poltica cultural nos municpios foi de grande importncia ao nos receberem para a realizao de entrevistas. Ao todo, foram realizadas 349 entrevistas nos 75 municpios sergipanos, entre temas gerais, com representantes de rgos municipais ligados cultura, historiadores e intelectuais dos municpios e entrevistas de foco especfico, realizadas com os grupos responsveis pela realizao das manifestaes.

    Dessa forma, as informaes sobre as manifestaes foram em seguida alvo de um trabalho interpretativo que possibilitou um entendimento mais aprofundado sobre suas origens, evoluo, situao atual, significado e importncia em suas dimenses mais relevantes.

    Para fins do registro e mapeamento, a tcnica escolhida foi a matriz lugar/atributo que possibilitou a produo de mapas coroplticos, onde foram registradas mais de 500 manifestaes/expresses segundo os municpios, de acordo com a nomenclatura original dada pelos entrevistados, o que sublinha o valor desse registro inicial que esperamos incluir no nosso futuro sistema de informaes e indicadores culturais. Aps essa fase, procedeu-se o agrupamento das informaes em tipologias e categorias para facilitar o trabalho interpretativo e de mapeamento.

    A matriz se estrutura da seguinte forma: nas linhas esto as tipologias e as manifestaes que compem cada uma delas e nas colunas esto os municpios e os territrios.

    Alm de indicar a ocorrncia da manifestao, as matrizes contaram com o uso da varivel cor, que permitiu uma leitura rpida do grau de dinamismo das manifestaes, em um gradiente definido da seguinte forma:

    Imagem de anjos em barro confeccionados em Santana do So Francisco.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 25

    Cor EspecificaoExpressam, mobilizam, so a imagem do municpio.So muito importantes para os grupos que as produzem.Manifestaes que no acontecem mais.Eventos cvicos.Realizadas pelas Prefeituras.

    Por exemplo:

    No grupo das Manifestaes Tradicionais, a Cavalhada apresentou forte ocorrncia no territrio do Alto Serto Sergipano, indicando sua ocorrncia regionalizada.

    Situado tambm no grupo Manifestaes Tradicionais, o Bordado apresenta forte ocorrncia em todos os territrios exemplificados, revelando ser uma manifestao disseminada em todo o Estado de Sergipe.

    Grandes Grupos Territrio Alto Serto Sergipano

    de Manifestaes Municpio Canind do So Francisco Poo Redondo Monte Alegre de SergipeManifestaes Cavalhada No foi encontradaTradicionais Bordado

    Grandes Grupos Territrio Baixo So Francisco Sergipano

    de Manifestaes Municpio Malhada dos Bois Muribeca TelhaManifestaes Cavalhada No foi encontrada No foi encontrada No foi encontradaTradicionais Bordado

    Grandes Grupos Territrio Mdio Serto Sergipano

    de Manifestaes Municpio Nossa Senhora das Dores Feira Nova CumbeManifestaes Cavalhada No foi encontrada No foi encontrada No foi encontradaTradicionais Bordado

    Com efeito, a maior densidade de determinada manifestao na linha sinaliza sua ocorrncia generalizada no espao e as cores colaboram para identificar o grau de importncia, seja para o municpio, seja para o territrio e at mesmo para Sergipe (como no caso do bordado). J a maior densidade de manifestaes nas colunas, indica a diversidade de manifestaes existentes em um mesmo municpio ou territrio4.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 27

    Afinal, nossa abordagem passa pelo entendimento de que a produo cultural formadora do espao e, como tal, o seu mapeamento , tambm, uma construo social (Martinelli, 1991)5.

    Para a produo deste livro as informaes foram extradas da matriz e reclassificadas em trs novas categorias: trabalho, f e festa. Portanto, so estas categorias que o leitor encontrar ao longo da publicao, junto com a indicao da sua ocorrncia geogrfica atravs do uso de cones.

    Outras agregaes de informaes foram produzidas para fins interpretativos, mas o leitor no as encontrar neste livro, assim como as matrizes utilizadas para o mapeamento, pois entendemos ser uma informao que ter mais valor para fins de poltica pblica e atualizao da pesquisa, o que no significa dizer que no ser disponibilizada para o pblico. As informaes que aqui no foram contempladas pela limitao deste material sero disponibilizadas no portal dos territrios assim que se definirem as estruturas do Sistema de Informaes Geogrficas de Sergipe e do Sistema Estadual de Informaes e Indicadores Culturais.

    Acreditamos, tambm, na continuidade do Planejamento Participativo, canal institucionalizado de dilogo entre Estado e Sociedade, como forma de promover novos estudos, bases estatsticas e polticas pblicas, no sucesso do Projeto Economia da Cultura e Turismo de Sergipe como norte de desenvolvimento e constante discusso e nas iniciativas que tm sido desenvolvidas pela Sudene e pelo Minc no sentido do mapeamento e sistematizao dessas informaes.

    Cabe ressaltar que, pela natureza da pesquisa (foi entrevistada apenas uma pequena amostra das pessoas que fazem a cultura sergipana), algumas informaes deixaram de ser captadas, especialmente pelos vieses que a subjetividade dos entrevistados imprimia s entrevistas. Portanto, se este trabalho pode ser considerado indito, no significa dizer que seja definitivo ou imune a falhas, pelo contrrio, o universo levantado nos impe o imenso desafio de continuar a identificar e compreender toda a dinmica da diversidade cultural sergipana.

    Dessa forma, a produo do material visual dessa pesquisa insere-se no esforo recente e ainda em processo de discusso e construo de uma cartografia cultural. Apresentamos diferentes maneiras de perceber, compreender e representar a cultura, dentre mapas, matrizes e quadros, mas, sobretudo, com a certeza de que se constitui obra aberta a novas medies e traos representativos da cultura sergipana6. Enfim, trata-se de uma obra incompleta e cuja construo coletiva permitir que levemos frente este primeiro ensaio.

    Personagem confeccionado pelo arteso Liu Filho, em Simo Dias.

  • 28 Sergipe: Cultura e Diversidade

    Roteiro de ViagemO contedo deste livro est agrupado em trs captulos: Manifestaes Tradicionais, Manifestaes Contemporneas e Territrios de Identidade.

    Os dois primeiros captulos representam as interpretaes proporcionadas pela pesquisa. As manifestaes culturais foram organizadas em dois grandes grupos: as tradicionais/enraizadas, que so aquelas herdadas e mantidas tal como apropriadas no passado, saberes transmitidos de gerao a gerao, conservando suas razes, e as ressignificadas/contemporneas aquelas cuja evoluo apresenta variaes na composio e estrutura, incorporando novos elementos e tambm o novo, recentemente apropriado, sem razes no passado7.

    No terceiro, um perfil sumrio de cada territrio, situando o quadro geogrfico, ecolgico, econmico, histrico e humano do contexto tratado abre cada separatriz para que o leitor possa compreender, com clareza, o significado de cada manifestao catalogada e sua relao com o espao e a cultura onde est implantada.

    Mapas, iconografias, fotografias e legendas explicativas ilustram o livro, alm das descries das manifestaes culturais mais significativas em seus territrios de identidade, redigidas como verbetes didticos para mais fcil entendimento dos leitores.

    Foto A: Quadrilheira se apresentando com vestimenta em apologia ao cangao.Foto B: Confeco de bolsas em palha de tabua ou toboa, em Pacatuba.Foto C: Boneca de pano confeccionada em aluso ao Pastoril.

    Pgina ao lado:Foto A: Msico integrante do Samba de Pareia tocador de ona.Foto B: Artesanato de barro em aluso ao cangao.

    ao cangao.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 29

    Cabe destacar que o fato de uma manifestao estar representada em um dos territrios no significa dizer que ela no ocorra nos demais. A ocorrncia geral das manifestaes est representada na forma de cones no quadro Principais Manifestaes que abre cada territrio, onde estaro informadas as principais manifestaes de cada municpio de Sergipe. J a distribuio das manifestaes na forma de verbete indica o territrio onde elas tm maior importncia. Nesse sentido, a publicao visa tambm reforar os elementos de identidade dos territrios sergipanos.

    No conjunto, um amplo mosaico do que h de mais relevante, dinmico e representativo na cultura em Sergipe e, potencialmente, capaz de promover a melhoria da qualidade de vida do seu povo. O livro preenche uma lacuna e pe disposio de quantos tenham interesse no tema, um livro de qualidade, consistente, altura do patrimnio pesquisado.

    A todos, uma boa leitura e uma boa viagem pelo universo da cultura sergipana!

    Elosa da Silva Galdino Secretria de Estado da Cultura

    Jorge Santana de Oliveira Secretrio de Estado do Desenvolvimento Econmico, da Cincia e Tecnologia e do Turismo

    Maria Lcia de Oliveira Falcn Secretria de Estado do Planejamento, Habitao e do Desenvolvimento Urbano

    1 IBGE, Sistema de Informaes e Indicadores Culturais 2003-2005.2 O Convnio Andrs Bello de Integrao da Educao, Cincia, Tecnologia e Cultura uma organizao internacional intergovernamental institudo no mbito do tratado assinado em Bogot em 31 de janeiro de1970, substitudo em 1990, que goza de personalidade jurdica internacional e cujo objetivo contribuir para alargar e reforar o processo dinmico de integrao dos Estados no mbito educativo, cientfico, tecnolgico e cultural.3 As informaes encontram-se disponveis no link do Planejamento Participativo, no endereo eletrnico: www.seplan.se.gov.br.4 NEVES, Paulo S. da C. & VARGAS, Maria A. M.. Levantamento Cultural dos Territrios Sergipanos. Aracaju, 2009.5 MARTINELLI apud NEVES, Paulo S. da C. & VARGAS, Maria A. M.. Levantamento Cultural dos Territrios Sergipanos. Aracaju, 2009, p. 15.6 NEVES, Paulo S. da C. & VARGAS, Maria A. M.. Levantamento Cultural dos Territrios Sergipanos. Aracaju, 2009.7 Ibid.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 31

    rabalho, f e festa. Dimenses da vida social em torno das quais surgiram, transformaram-se e permanecem vivas as manifestaes culturais do nosso povo. O artesanato, que vai do bordado a peas em madeira, cermica, palha, cip, couro, pedra.

    Objetos utilitrios, decorativos, verdadeiras obras de arte. A religiosidade, que se traduz em festas, rituais, cantos e danas. Espetculos e festejos que celebram os Ciclos Junino e Natalino. As danas, representaes de guerra, luta, libertao. A msica, o canto, a literatura. Um conjunto rico e diversificado que mostra toda a fora e beleza da imaginao, criatividade e capacidade de realizao da nossa gente, ao longo de sua histria. Foi esse universo que a pesquisa levantou e qualificou em todos os 75 municpios dos oito territrios de identidade sergipanos e que est apresentado neste livro, com suas imagens mais expressivas e representativas.

    Diversidade e riqueza Receita da identidade e beleza do povo sergipano

    Um conjunto valioso e diversificado de manifestaes culturais que mostra toda a fora e beleza da imaginao, criatividade e capacidade de realizao do povo sergipano, ao longo de sua histria.

    Artista popular Csar Leite.

  • Reisado do povoado Balde de Laranjeiras.

  • Tradies religiosas A religiosidade dos sergipanos marcada pela predominncia da matriz catlica. As procisses, novenas, trezenas, romarias, quermesses e leiles acompanham os festejos dos padroeiros, reforando a religiosidade que se expressa nos preparativos, arrecadao de fundos, na ornamentao de altares e andores. Alm das festas, ocorrem em alguns municpios peregrinaes, romarias e rituais, entre os quais os Penitentes, a Queima de Judas, Cosme e Damio, lavagem das

    Manifestaes tradicionais

    escadarias da igreja Senhor do Bomfim e Paixo de Cristo.

    A presena das religies afro observada em municpios de todos os territrios, com expresso mais forte no territrio Grande Aracaju, onde se destacam os municpios de Aracaju, Laranjeiras e Riachuelo.

    Ao lado, comemorao religiosa, dia da Santa Cruz, Divina Santa Cruz da Serra Grande em Poo Verde.

    Abaixo, grupo de Penitentes do povoado Cabea da Vaca em Nossa Senhora da Glria.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 35

    Artesanato

    BordadoO Bordado, em suas diferentes variantes, considerado emblemtico. Essa disseminao do bordado confere-lhe uma importncia muito grande entre as prticas culturais dos sergipanos.

    Madeira, cermica, couroEssas outras variantes de artesanato encontram-se presentes em vrios territrios do Estado, sendo um elemento definidor da imagem de municpios importantes: Aracaju, Estncia, Santa Luzia do Itanhi, Ribeirpolis, Frei Paulo, Divina Pastora, Brejo Grande, Santana do So Francisco e Cedro de So Joo.

    Palha e CipEmbora menos difundidos, so destaque nos municpios de Estncia e Santa Luzia do Itanhi (no Sul Sergipano), Riacho do Dantas (no Centro Sul Sergipano), Pacatuba, Brejo-Grande e Nepolis (no Baixo So Francisco Sergipano) e Pirambu (no Leste Sergipano).

    A arte do barro de Beto Pezo.

  • Espetculos e danas

    A decorao, os trajes e os pratos tpicos acompanharam o movimento, ritmados pelas danas ao som da sanfona, zabumba e tringulo.

    Os Santos homenageados so trs: Santo Antnio, So Joo e So Pedro. So Joo, o mais reverenciado, comemorado efusivamente com comidas tpicas, fogos e muita msica. Entre as manifestaes das festas juninas, a quadrilha a que mais se destaca, todavia, vem passando por mudanas significativas em sua coreografia, com a transferncia dos arraiais de ruas e praas para espaos de grandes eventos.

    Outros entretenimentos singularizam municpios como Estncia, pelos

    Ciclo JuninoA pluralidade e a relevncia das manifestaes culturais do Ciclo Junino no Nordeste decorrem da conjuno entre ciclo de chuvas e a absoro das culturas indgena, afro e europia, resultando numa produo que envolve parte da comunidade em muitos municpios. Em Sergipe, as festas, danas e rituais do ciclo junino esto presentes com muita fora em praticamente todo Estado.

    As chuvas cadas no dia de So Jos, 19 de maro, animam os agricultores para o plantio. E, no ms de junho, a colheita, principalmente do milho, agradecida e festejada. Assim, a ambincia dos festejos rurais migrou para povoados e cidades.

    Cidade cenogrfica no Forr Caju.

    36 Sergipe: Cultura e Diversidade

  • barcos de fogo, arraiais, produo de fogos alm de folguedos como o Pisa Plvora. Carmpolis com os Bacamarteiros. Capela, Muribeca e Japaratuba com a Sarandagem. Boquim com o pau de fita. Tomar do Geru com a Dana de So Joo. O casamento do matuto realiza-se com importncia significativa em vrios municpios.

    Como expresso da cultura de origem africana, o Samba de Coco e o Samba de Pareia mantm suas heranas mais fortes na regio do Cotinguiba, que corresponde maioria dos municpios do territrio Grande Aracaju. O Samba de Coco o mais difundido em variadas comunidades.

    Bares e lojas de artesanato no Arrai do Povo. Abaixo, quadrilha junina se apresentando no centro de artes da orla de Aracaju.

    Sergipe: Cultura e Diversidade 37

  • 38 Sergipe: Cultura e Diversidade

    Cacumbi do Seu Deca em frente Igreja de Nossa Senhora da Conceio dos Pardos, em Laranjeiras.

  • Ciclo NatalinoOs festejos do Ciclo Natalino traduzem, como aqueles do Ciclo Junino, a religiosidade dos nordestinos e a capacidade de produo de rituais pagos associados s bnos, novenas, trezenas e procisses. Entretanto, sem a mesma animao e participao popular. O perodo natalino caracterizado por manifestaes mais restritas e familiares de iniciativa das comunidades catlicas.

    As danas do Ciclo Natalino esto mais presentes no territrio Grande Aracaju. O Reisado a manifestao mais cultivada, presente em vrias cidades. Maracatu, Taieiras, Pastoril, Cacumbi e Guerreiro permanecem em atividade em outros municpios. O So Gonalo preservado em alguns municpios, com destaque para Campo do Brito (Agreste Central) e Laranjeiras (Grande Aracaju).

    As procisses realizadas em diversas cidades de Sergipe encerram o ciclo natalino. Um das procisses mais conhecida deste ciclo a procisso de So Benedito e Nossa Senhora do Rosrio, em Laranjeiras.

  • 40 Sergipe: Cultura e Diversidade

    MsicaAs manifestaes dos Ciclos Junino e Natalino, como tambm as tradies religiosas so responsveis pela ocorrncia e permanncia das zabumbas, localizadas em alguns povoados do Estado. Os tocadores de pfano ou pife esto presentes em vrios municpios. O instrumento aprendido de ouvido por seu tocador e incorporado aos ternos de zabumba que se apresentam em cerimnias religiosas e festas. Os aboiadores so representativos no Alto Serto, principalmente nos municpios de Porto da Folha, Poo Redondo e Canind de So Francisco.

    Literatura popularOs poetas, escritores e contadores de estrias resistem e so considerados importantes figuras em mais de quinze municpios.

    Folguedos de Guerra, Luta e LibertaoSo importantes manifestaes de alguns territrios, com destaque para Laranjeiras e Itaporanga DAjuda, ambos da Grande Aracaju.

    A Capoeira a mais difundida, sendo praticada em diversos municpios. As danas afro so significativas em Amparo do So Francisco, Japoat (Baixo So Francisco), Aracaju e Laranjeiras (Grande Aracaju). O Maculel est presente em Japaratuba (Baixo So Francisco), Tobias Barreto, Lagarto (Centro Sul), Riachuelo (Grande Aracaju). A Chegana mais expressiva nos municpios de Divina Pastora (Leste), Itabaiana (Agreste Central) , So Cristvo e Laranjeiras (Grande Aracaju). Os Lambe-sujos e Caboclinhos so destaques da cidade de Laranjeiras. Os Parafusos

    conferem singularidade ao municpio de Lagarto.

    As Cavalhadas representam uma tradio que remete s lutas entre cristos e mouros.

    Em Sergipe, permanecem vivas em Canind do So Francisco e Poo Redondo (Alto Serto). A corrida de argola, parte integrante das Cavalhadas, foi registrada em outros municpios, com destaque para Muribeca (Baixo So Francisco), Pinho e So Miguel do Aleixo (Agreste Central) e Cumbe (Mdio Serto). J a corrida de mouro valorizada em Canind de So Francisco e Poo Redondo (Alto Serto) e Pacatuba (Baixo So Francisco.

    Mestre Jove liderando o grupo Guerreiro Treme-Terra de Japaratuba.

    Xilogravura de Helton Henrique Projeto Gravura de Inverno sob a coordenao de Elias Santos.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 41

    Integrantes de grupo de Samba de Coco em cortejo folclrico.

  • Grupo Teatral Imbuaa, criado em 1977, encenando o espetculo Senhor dos Labirintos em homenagem a Arthur Bispo do Rosrio.

  • 44 Sergipe: Cultura e Diversidade

    Manifestaes contemporneas

    Festas e Eventos

    ForrUma retrospectiva histrica do deslocamento dos arraiais juninos para espaos de grandes eventos aponta a dcada de 1990 como um perodo de transio do convvio comunitrio exploso de massa. Em vrios municpios sergipanos ocorrem forrs, todavia, devido aos poucos recursos econmicos, as festas vm sendo assumidas pelas prefeituras, com apoio do Governo do Estado.

    MicaretasOs carnavais fora de poca, tal como ocorrem em diversos municpios do Estado, derivam da popularidade das micaretas e trios eltricos baianos, disseminados em todo o pas.

    As micaretas so poucos representativas nos territrios do Baixo So Francisco, Leste e Sul, mas chama a ateno o grau de mobilizao onde elas ocorrem.

    Os festejos tornam-se complexos: apoios, patrocinadores, logstica, marketing, apresentaes paralelas. Tudo tem sido programado com antecedncia, envolvendo um nmero cada vez maior de pessoas responsveis pela organizao e realizao do evento. Alm do Forr-Caju e do Arrai do Povo, na capital, realiza-se uma vasta programao nos municpios que promovem a festa no perodo junino.

    Forrozeiros no Arrai do Povo na Orla de Aracaju.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 45

    Comemoraes CvicasCivismo e patriotismo so nitidamente incorporados ao calendrio comemorativo dos sergipanos. Embora sem alcanar a representatividade das festas religiosas, o 7 de Setembro e a data da emancipao poltica dos municpios so comemoradas com muito entusiasmo e grande participao da populao em todo o Estado. O ritmo das fanfarras, a definio das alas, das coreografias, das roupas de gala s vestes temticas, os ensaios caprichados, tudo preparado para o grande dia, no qual uma rede de atores, que extrapola os diretamente envolvidos, alcana os controladores do trnsito, os montadores de palanques, os vendedores de lanches, at bandeiras, sombreiros e bons.Cavalgadas, vaquejadas e outros

    As cavalgadas e as vaquejadas vm passando por modificaes significativas, sobretudo a partir da dcada de 1970. Elas permanecem populares e mantm a essncia da tradio do passeio cavalo a cavalgada e da exposio das virtudes de fora, coragem e competio dos vaqueiros sertanejos a vaquejada. Entretanto, os passeios se distanciaram dos fins religiosos, predominando os percursos para simples diverso, e as vaquejadas afastaram-se das matas, da caatinga, para as arenas. Outros elementos verificados nos dias de hoje so a introduo de concursos para cavaleiros, amazonas e cavalos, nas cavalgadas, com a distribuio de camisas promocionais e o trmino com shows.

    Nas vaquejadas, introduziram premiaes em dinheiro, ingressos, pagamento de inscries. Assim

    so as cavalgadas de So Domingos, Macambira e Riacho do Dantas e as vaquejadas de Frei Paulo e Pinho.

    Os outros eventos agrupados com vaquejadas no se assemelham necessariamente sua estrutura de competio, mas sobretudo, por tratarem de apresentaes envolvendo o boi e o vaqueiro que atualmente ocorrem com shows de bandas eletrnicas, carros de sons, camisetas, propagandas, entre outros. So os casos das festas do boi, do Encontro de Carros de Boi de Tomar do Geru, das corridas de jegue e at de pega do boi no mato, presentes em vrios municpios dos territrios Alto Serto, Mdio Serto, Agreste Central e Centro Sul.

    Esses eventos so mobilizadores das populaes das sedes e do entorno dos municpios, movimentando o comrcio e gerando renda.

    Cavalgada de Brejo Grande.

    Banda Marcial de Escola Pblica Estadual do municpio de Nossa Senhora do Socorro em desfile pela avenida Baro de Maruim em Aracaju.

  • 46 Sergipe: Cultura e Diversidade

    Eventos agropecuriosOriginalmente de carter estritamente econmico, esses eventos passaram a incorporar folguedos e grupos tradicionais em sua programao. As exposies agropecurias e as diversas festas (do milho, mandioca, laranja, quiabo, da vaca leiteira) so momentos de negcios, mas tambm de exibio de grupos folclricos e artistas regionais, assim como de corridas e brincadeiras. Em muitas cidades j so declaradamente eventos do municpio, nos casos de Boquim, Lagarto, Pinho, Cumbe e Nossa Senhora da Glria, j se traduzem em importantes festas de mobilizao local e territorial. Dessa forma, alm de geradores de renda, funcionam tambm como veculos difusores das manifestaes tradicionais.

    Outros eventosExistem eventos dissociados daqueles mais conhecidos (forr, micareta, cavalgada, vaquejada), mas que so mobilizadores no territrio onde ocorrem.

    Entre eles esto as festas e festivais do Mastro, da Cabacinha, do Caranguejo, da Mangaba e o Cantamutumba, esta, um concurso de msicos no povoado de igual nome, no municpio de Pedrinhas. Alm de outros: Corrida da Cidade de Monte Alegre de Sergipe, Jogos Abertos, Rveillon da Orla de Aracaju, Mostra Junina, Frum do Forr, Projeto Freguesia, Festa dos Bairros, Rock Serto, em Nossa Senhora da Glria, Festa do Caminhoneiro, em Itabaiana, Garoto e Garota Estudantil e at Miss Gay, em Umbaba.

    Festa do Boi em Nossa Senhora das Dores.

    Cartaz de divulgao do Rock Serto, festival que ocorre em Nossa Senhora da Glria. Artista: Jeferson Melo.

  • Teatro e msicaA diversidade de grupos e tipos de manifestaes de teatro e msica uma realidade em todo o Estado. Ocorrem grupos com ntida funo pedaggica gestados nas escolas e em associaes com temticas predominantemente ligadas s tradies do lugar e da regio. Alm disso, inmeros grupos de teatro e msica desenvolvem atividades relacionadas arte contempornea demarcando a heterogeneidade das produes artsticas de Sergipe.

    Ao lado, Grupo de teatro popular em apresentao na praa Fausto Cardoso em Aracaju.

    Abaixo, Mamulengo de Cheiroso em apresentao no teatro Atheneu em Aracaju.

    Sergipe: Cultura e Diversidade 47

  • ArtesanatoO aspecto artstico tambm est presente no artesanato, seja pela diversidade, seja pelo interesse que o trabalho desperta em seus conterrneos.

    O artesanato em madeira mais diversificado e consagrado pelos mestres desse ofcio, como Vio (Nossa Senhora da Glria), Tonho (Poo Redondo) e Manoel de Maroto (Tomar do Geru), destaque na arte de carros de boi.

    Em Santana do So Francisco a cermica representativa, nos estilos tradicional e contemporneo, sendo emblemtica para a cidade e principal fonte de renda de seus produtores.

    Tambm significativa em nosso Estado a produo de escultura em pedra e em barro, tapearia, pintura em tecido e porcelana.

    Pintura de Damio Gmeos, Ateli Gmeos Arte, Estncia.

    Acima, cavalo em cermica pintado por Ismael Pereira. Ao lado, retirantes talhados em madeira por Mestre Tonho de Poo Redondo.

    48 Sergipe: Cultura e Diversidade

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 49

    Artesanato em barro de Beto Pezo em homenagem ao reisado.

  • BAHIA

  • Tomar do Geru

    Umbaba

    Cristinpolis

    Itabaianinha

    Tobias Barreto

    Riacho do Dantas

    Lagarto

    So Cristovo

    Barra dosCoqueiros

    CapitalSede municipalHidrografiaLimite municipal

    Santo Amarodas Brotas

    Maruim

    ARACAJU

    Nosa Senhorado Socorro

    Laranjeiras

    Riachuelo

    Malhador

    MoitaBonita Santa Rosa

    de Lima

    DivinaPastora

    Itabaiana

    Siriri

    Capela

    Muribeca

    Pacatuba

    NepolisJapoat

    Propri

    Canhoba

    Itabi

    Porto da Folha

    Poo Redondo

    Canind do So Francisco

    Graccho Cardoso

    Nossa Senhora da Glria

    Monte Alegre de Sergipe

    Gararu

    Telha

    Amparo doSo Francisco

    Nossa Senhorade Lourdes

    SoFrancisco

    Cedro de So Joo

    Malhada dos Bois

    Brejo GrandeIlha das Flores

    Santana do So Francisco

    Japaratuba

    Carmpolis

    PirambuGeneralMaynard

    Rosriodo Catete

    Campo do Brito

    So Domingos

    Ribeirpolis

    Frei PauloPinho

    Carira CumbeNossa Senhora

    Aparecida

    So Migueldo Aleixo

    Nossa Senhoradas Dores

    Feira NovaAquidab

    Macambira

    PedraMole

    AreiaBranca

    Simo DiasPoo Verde

    Boquim

    Salgado

    ItaporangadAjuda

    Arau

    Sul Sergipano

    Centro Sul SergipanoGrande Aracaju

    Agreste Central Sergipano

    Leste Sergipano

    Baixo So Francisco Sergipano

    Mdio Serto Sergipano

    Alto Serto Sergipano

    BAHIA

    OCEANO ATLNTICO

    BAHIA

    ALAGOAS

    Estncia

    Indiaroba

    Santa Luziado Itanhi

    Pedrinhas

    Estado de SergipeTerritrios Sergipanos

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 53

    Grande Aracaju

    ormado por nove municpios, o territrio da Grande Aracaju concentra quase a metade da populao, dos postos de trabalho e dos investimentos

    pblicos e privados de Sergipe, e muito da cultura tambm. Tradio e modernidade completam-se nesse rico espao, onde verdadeiras jias arquitetnicas do passado, como So Cristvo e Laranjeiras, convivem com uma capital, fruto de um experimento urbano inovador. Inaugurada em 1855, Aracaju abre um novo captulo na vida da ento provncia. Sob o signo do progresso, da construo de um porto e do planejamento geomtrico, ela surge como concreo civilizadora.

    Do legado do antigo Vale do Cotinguiba ficaram, alm do patrimnio histrico e arquitetnico gerados pela riqueza do acar, as manifestaes culturais e religiosas com grande diversidade e forte tom afro-brasileiro. O desenvolvimento no abafou a tradio, nem a moderna Capital sufocou as manifestaes interioranas. Ao contrrio, aqui elas encontraram acolhimento, estmulo e meio de fortalecimento. E o Mercado Thales Ferraz uma mostra inegvel de como Aracaju uma vitrine vistosa de tudo quanto a cultura de Sergipe produz no artesanato, na culinria, na msica popular.

    E de quanto a populao do litoral, do agreste, do serto e do So Francisco orgulha-se de viver nesse Estado.

    Museu de Arte Sacra de So Cristvo Instalado na area da antiga Ordem Terceira, no Convento de So Cristvo, o museu rene obras da mais pura representao artstico-religiosa dos sculos XVII, XVIII, e XIX, sendo o primeiro monumento tombado no estado pelo IPHAN em 1941.

  • Terri

    trio

    Gra

    nde A

    raca

    ju

    Riachuelo

    Laranjeiras

    Maruim

    Santo Amarodas Brotas

    Aracaju

    So Cristvo

    Itaporanga DAjuda

    Nossa Senhora do

    SocorroBarra dos

    Coqueiros

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 55

    Principais Manifestaes

    Feira/Mercado

    Poesia/Cordel/ Pregoeiros Populares

    Contadores de Estrias

    Renda Irlandesa

    Renda Fil

    Croche

    Bordado (Pronto Cruz, Ponto Cheio e Vagonite)

    Retalhos

    Artesanato em Palha/Cip

    Artesanato em Cermica

    Artesanato em Madeira

    Artesanato em Jornal

    Fogueteiros

    Artes Plsticas

    Santos Festejados

    Nag

    Candombl/Umbanda

    Penitentes

    Fogaru

    Paixo de Cristo

    Queima de Judas

    Lavagem

    Peregrinaes/Romarias

    Rezas e Benzimentos

    Dana de So Gonalo

    Reisado

    Pfanos

    Trios p de serra

    Violeiros

    Msica (Filarmnicas e/ou Grupos Musicais)

    Carnaval

    Micareta

    Festa Junina

    Casamento do Matuto

    Cavalgada

    Eventos Agropecurios

    Festival da Mangaba

    Festival do Caranguejo

    Encontro Cultural

    Festival de Arte

    Artes Cnicas

    Batalho

    Batalho de Bacamarteiros

    Sarandagem ou Sarandaia (Cortejo da Baiana)

    Samba de Coco

    Samba de Pareia

    Chegana

    Lambe-sujos e Caboclinhos

    Capoeira (Puxada de Rede, Dana Guerreira, Ritual do Fogo e Maculel)

    Taieiras

    Cacumbi

    Guerreiro

    TRABALhO

    RELiGiO

    FESTA / ENTRETENiMENTO

    Festa da Cruz de Bela (Maruim)

  • 56 Sergipe: Cultura e Diversidade

    Encontro Cultural de LaranjeirasNo dia 28 de maio de 1976, teve incio a primeira edio do Encontro Cultural de Laranjeiras, que se estendeu at o dia 30 do mesmo ms. O evento nasceu do resultado das pesquisas referentes cultura popular, realizadas por uma equipe de estudiosos e pesquisadores oriundos de diversas partes do pas. Foi na histrica cidade de Laranjeiras que a diversidade cultural chamou a ateno dessa equipe, que logo despertou para a realizao de uma festividade popular que evidenciasse as manifestaes culturais ali existentes.

    Reunindo representantes dos Estados de Sergipe, Alagoas, So Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia, o 1 Encontro Cultural de Laranjeiras teve em sua primeira edio uma

    Em sua 35 edio, o Encontro Cultural de Laranjeiras rene grupos folclricos e artsticos de Sergipe e do Brasil nas ruas da cidade histrica,

    platia de 5.573 admiradores, que contemplaram seu xito. Entre os preparativos do evento, destacou-se o curso sobre folclore, realizado no auditrio do Colgio Estadual Atheneu Sergipense, na cidade de Aracaju, ministrado pela professora Maria de Lourdes Borges Ribeiro, poca, Assessora da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro.

    Nessa trajetria, relevantes estudos foram realizados de modo a honrar os compromissos firmados no tocante s finalidades do evento.

    possvel compreender porque na atualidade o Encontro ainda uma

    prova inequvoca de respeito, valorizao e defesa cultura sergipana. explorando cada segmento que compe a nossa

    diversidade cultural que segue a histrica e acolhedora

    Laranjeiras, bero das mais fortes expresses culturais. Motivo de muito orgulho para os sergipanos. (Encontro Cultural de Laranjeiras 20 anos. Governo do Estado de Sergipe, Secretaria Especial da Cultura).

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 57

  • CheganaAuto popular de origem portuguesa, ligado ao Ciclo Natalino.

    Constitui-se de diversas jornadas independentes entre si. Resulta de uma promessa feita por tripulantes de uma nau que foram salvos de uma tempestade durante uma viagem. No dia 6 de janeiro, a embarcao ancorou e seus tripulantes, em terra firme, cumpriram com a promessa, visitando a primeira igreja que encontraram. Era a igreja de So Benedito. L contaram encantos e coreografias, todos os perigos que passaram no mar. Esse fato inclui a chegana no segmento dos grupos de louvor a So Benedito e Virgem do Rosrio, santos protetores dos negros.

    Usam trajes de acordo com aqueles utilizados pela Marinha de Guerra do Brasil. So personagens de destaque: Piloto, Tenente, Capito, Capito-patro e General. Geralmente usam pandeiros como nico instrumental, alm de um apito utilizado pelo Piloto ou pelo General para o comando das evolues e mudanas de marchas.

    A coreografia bsica acontece em fileiras. Quase sem sair do lugar eles movimentam o corpo de um lado para o outro, imitando o balano de uma embarcao ao mar.

    58 Sergipe: Cultura e Diversidade

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 59

  • Manifestao de luta e libertao encenada nas ruas de Laranjeiras pelos Lambe-Sujos e Caboclinhos, reafirmando a influncia dos negros e dos indgenas na cultura sergipana.

    Lambe-sujos e CaboclinhosSo dois grupos, num folguedo, ligados numa manifestao guerreira e rtmica. O folguedo se baseia em episdio de destruio dos quilombos. Representa a rivalidade entre negros e ndios brasileiros.

    O Lambe-Sujos formado por homens e meninos pintados de preto, usando short e gurita vermelha. Formado por Rei, Princesa

    e a Me Suzana, eles saem s ruas tocando pandeiros, cucas, reco-recos e tamborins.

    O Caboclinhos pinta-se de roxo e traja penas maneira indgena.

    O enredo consiste na captura da Rainha dos Caboclinhos pelos Lambe-Sujos. Em sequncia, ocorre a batalha com a vitria dos Caboclinhos. Os negros so aprisionados e levados de porta em porta para pedir dinheiro e assim conseguirem a liberdade. A apresentao sempre marcada pela melao de parte das pessoas presentes.

  • Cortejo das Taieiras subindo a escadaria da Igreja So Benedito Laranjeiras

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 63

    TaieirasFolguedo popular de carter religioso, tem como objetivo a louvao. A dana das Taieiras acompanhada por um tambor e por querequexs sutilmente sacudidos pelas danarinas, e ainda bastes utilizados durante a apresentao.

    O cortejo sai anualmente da residncia da lder do grupo, seguindo pelas ruas da cidade, em direo igreja, diante da qual os integrantes danam e cantam. Entram no templo sagrado sem parar de danar e cantar, depois o cortejo volta a percorrer a cidade, cumprindo um ritual tradicional e emocionante. Saem s ruas na Festa de Reis. Os santos so louvados com muito respeito e devoo: Nossa Senhora do Rosrio e So

    Benedito. Os personagens que integram a manifestao so: Taieiras (danarinas), Guias, Contra Guias, Lacraia, Capacetes, Ministro, Patro, Rei e Rainhas.

    O visual das Taieiras infinitamente rico e belo. Elas vestem blusa vermelha e saia branca, enfeitada com fitas multicoloridas. Os dois cordes so diferenciados por faixas amarradas na cintura, de forma e cores diferentes. Cada personagem usa uma indumentria especfica e diferenciada. Muitos adornos e adereos completam o visual.

    As Taieiras podem se apresentar em festas profanas, desde que o grupo tenha cumprido as obrigaes com os santos de devoo.

    Rainha perptua das Taieiras.

    Abaixo, cortejo pelas ruas de Laranjeiras em direo igreja de So Benedito para louvar aos santos So Benedito e N. Sra do Rosrio.

  • 64 Sergipe: Cultura e Diversidade

    CacumbiFolguedo popular que uma variao de autos e bailados como: Congada, Guerreiro e Reisado. uma manifestao coreogrfica de bailado rico e brejeiro. Tem como objetivo a louvao aos padroeiros dos africanos, So Benedito e Nossa Senhora do Rosrio. Geralmente, o grupo dana nos dias de Reis e na Procisso de Bom Jesus dos Navegantes.

    As msicas so selecionadas de acordo com o carter da apresentao. Umas so prprias para o cortejo nas ruas, outras para apresentao nas igrejas.

    Os participantes tm idades que variam entre 15 e 50 anos. E todos so do sexo masculino.

    Instrumentos musicais usados: cuca, pandeiro, reco-reco, caixa e ganz. O Ritmo forte e contagiante.

    A dana do Cacumbi significa um dos mais belos quadros do folclore sergipano.

    Grupo de louvor composto exclusivamente por homens, apresenta-se principalmente na Procisso de Bom Jesus dos Navegantes e no Dia de Reis em homenagem aos padroeiros dos negros, So Benedito e N. Sra. do Rosrio.

  • So GonaloEsta dana sem dvida um dos ritos mais difundidos do catolicismo popular brasileiro.

    Conta a lenda de origem portuguesa que So Gonalo, ainda um jovem frade, viveu na cidade de Amarante. Por ser farrista, tocava viola e danava com as prostitutas, no intuito de impedi-las de pecar. Dizem que um dia chegou a realizar um parto de uma delas. Comenta-se ainda ter sido marinheiro e, aps a sua morte, tornou-se santo.

    A dana criada por ele continua presente nos folguedos que lhe fazem homenagem, por intermdio de um rito tradicional que tem por objetivo o pagamento de promessas.

    Em Sergipe, a Dana de So Gonalo tem um aspecto marcante no povoado Mussuca, Laranjeiras: os dez danadores usam saias, chales

    Ao lado, Mestre Sales mestre do folguedo So Gonalo.

    enfeitados de fita e colares, como parte da indumentria.

    A dana inclui um ritual com ensaios, almoo oferecido pelo pagador da promessa aos participantes, cortejo e dana. Sempre enfileirados, na procisso, a imagem do Santo, ornamentada em um barco pequeno, conduzida por uma mulher, a mariposa, nica integrante feminina entre os dez danadores. No interior da igreja eles apresentam as suas danas.

    O patro, o chefe, tira o canto e comanda as apresentaes. Outros componentes so os tocadores (dois violes e dois cavaquinhos.

    Sergipe: Cultura e Diversidade 65

  • 66 Sergipe: Cultura e Diversidade

    Ciclo da foliaMais da metade dos municpios do Estado faz a festa da micareta. E muitos tambm fazem o carnaval. Mas, sem dvida, a manifestao mais importante desse ciclo o Pr-Caju, que tambm conta com o Vero Sergipe, realizado em vrios municpios da Grande Aracaju. Nele, Aracaju tomada pelo clima momesco e os turistas, sobretudo jovens, invadem a cidade para curtir, em pleno vero, a contagiante alegria desse carnaval fora de poca que mobiliza a populao, lota os hotis, gera empregos e leva para Aracaju as principais bandas de trios do ax music. A profissionalizao do evento, presente em seus vrios segmentos, desde o bloco de cordas aos pacotes tursticos, a economia do ldico que gera, contribuindo para o ganho de grandes e micros negcios, o apoio institucional em torno, expresso na participao de vrias instituies governamentais, fortalecem, a cada ano, a prvia carnavalesca de Aracaju.

    Uma das mais importantes festas do estado, o Pr-Caju rene folies de todo o nordeste, contagiados pela alegria e a forma com que o sergipano organiza e celebra essa prvia do carnaval brasileiro, gerando emprego e renda em diversos segmentos.

  • Procisso do FogaruA Procisso do Fogaru um ritual que acontece a cu aberto durante a quinta-feira da Semana Santa em meio aos casares coloniais de So Cristvo. realizado por homens que saem pelas ruas escuras da cidade, com tochas, encenando a perseguio a Jesus Cristo. So cinco os principais acontecimentos que marcaram a historia de Jesus: a entrada do menino Jesus, a orao no Horto das Oliveiras, a ltima Ceia, a sua priso e a Ressurreio.

    Ritual tradicional que acontece h mais de 100 anos nas ruas da cidade de So Cristvo encenado, atualmente, pelo grupo de teatro amador religioso, chamado G12. A procisso organizada pelos devotos e cidados de So Cristvo em parceria com a Igreja Catlica. Tem durao aproximada de 90 minutos, incluindo trajeto e encenaes de placo, tendo como personagens Jesus, o Tentador, Madalena, escribas, farizeus, soldados da Guarda Romana, matracas e Apstolos. A manifestao encerra importante significado simblico para os devotos e grupos religiosos de Sergipe.

    Procisso do Fogaru pelas ruas da cidade histrica de So Cristvo, realizada pelo Grupo religioso G 12.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 69

    Saindo de igrejas distintas, as procisses dos santos N. Sr. dos Passos e N. Sra. Das Dores, em So Cristovo, culminam no Encontro na praa So Francisco, onde celebrada ao final da procisso uma missa campal.

    Procisso do EncontroTradio do sculo XIX ou talvez mais antiga, a manifestao acontece com trs procisses. Apesar de ter data mvel, acontece sempre na primeira quinzena da quaresma. Muitos romeiros comeam a chegar cidade na sexta-feira e no sbado para a procisso do domingo. A cidade fica cheia de devotos, que vm pagar promessa e tentam chegar ao andor do Senhor dos Passos. Evento organizado pela igreja catlica, com apoio de grupos de orao e devotos, a primeira procisso noturna e acontece no sbado quando so cantados os sete primeiros passos da Paixo. Os cantos so realizados em locais prefixados e mantidos segundo a tradio, onde so erguidos pequenos altares com uma tela representando o passo a ser cantado (em latim). Os

    do Convento do Carmo. Milhares de fiis ganham as ruas e a Praa So Francisco para escutar o sermo e o canto da Vernica que enredam a comovente liturgia do catolicismo colonial. (Thiago Fragata, Procisso dos Passos em So Cristvo/SE. In: Senhor dos Passos em todos os passos, Mrcio Jos Garcez Vieira)

    fiis carregam velas acesas, muitos dos ex-votos so deixados na igreja nesta noite. O cortejo sai da igreja de Nossa Senhora do Carmo, antecedido pelos Frades, cantores, msicos e promesseiros. A imagem do Senhor dos Passos sai encoberta por uma caixa forrada com tecido de cor roxa, e dirige-se at a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitria de onde sair somente no domingo, ao final da tarde. No domingo, acontecem missas em vrias igrejas: Vias Sacras e Romeiros, com 4 horas de sermo, e a Procisso do Encontro. O pice do ato o encontro das imagens de Nosso Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores. Seguindo percursos distintos, a primeira sai da igreja matriz, ao tempo que a segunda sai

  • Ciclo juninoO So Joo a festa que melhor representa a alma sergipana. No h cidade que no tenha seus festejos juninos. Na Grande Aracaju, a festa dura um ms inteiro. O Forr-Caju e o Arrai do Povo, em Aracaju e o Forr-Siri, em Nossa Senhora do Socorro, so os trs eventos de massa mais significativos desse ciclo. Shows, arrasta-ps, muita comida

    tpica, licores e msica nordestina embalam dias seguidos de festa que em nada atrapalha o cotidiano da populao aficionada pelo forr. Alm de festa tradicional, o So Joo hoje importante atrativo turstico,

    segmento econmico a formar um complexo que envolve centenas de atividades e

    gera divisas para o Estado. O sucesso da

    O So Joo de Sergipe destaque na representao dos festejos juninos no Brasil, pela preservao das tradies musicais, comidas tpicas e pelo esprito festivo do povo sergipano. Acima, Quadrilha junina Unidos em Asa Branca, campe do Festival de Quadrilhas do Nordeste.

    festa se deve preservao de suas caractersticas: msica regional, danas tpicas e um ambiente alegre, tranqilo e acolhedor para o lazer cultural.

    70 Sergipe: Cultura e Diversidade

  • Trio P de Serra JCruz de Laranjeiras em apresentao em frente ao prdio da UFS de Laranjeiras.

    P-de-SerraO So Joo tem em Sergipe uma importncia decisiva e , de longe, a mais caracterstica manifestao ldico-cultural do Estado. O complexo da festa tem na msica um elemento fundamental, e os msicos constituem um segmento dos mais criativos e representativos da vida local. Do tradicionalssimo p de serra sergipano tem se destacado bandas de grande sucesso popular no pas. O que caracteriza os trios p de serra, alm do repertrio junino, a formao musical: uma zabumba, uma sanfona e um

    tringulo metlico, base para a execuo de xotes, xaxados e baies que estimulam a dana agarrada dos pares e a alegria das festas de forr. Se essa modalidade da msica nordestina perdeu importncia ou sofreu transformaes em outros estados brasileiros, em Sergipe, a preferncia de todos, jovens e idosos, continua firme pelo que ali se chama de autntico p de serra. Eles existem em praticamente todas as cidades e esto presentes em todos os eventos e casas especializadas em dana sertaneja.

  • 72 Sergipe: Cultura e Diversidade

    Caceteira do RinduA Caceteira mais uma variante da rvore genealgica do samba. De origem africana, o Samba de Caceteira ritmado por instrumentos de percusso (zabumbas, cucas e ganzs). Em So Cristvo, a tradicional Caceteira de Dona Biu atualmente conhecida como Caceteira do Rindu. Jos Gonalves dos Santos (mestre Rindu) mais um herdeiro dessa manifestao folclrica, centenria e tpica do Ciclo Junino. Existem duas atuaes mais relevantes dessa dana. Uma a Sarandagem, realizada no dia 31 de maio, cujo objetivo receber com muita festa, alegria e fogos, o ms junino. A outra, tambm dedicada a So Joo, realiza-se no dia 24 de junho (dia do citado santo), e consiste em um grande cortejo festivo do referido grupo. Ganhando adeptos pelas ruas onde

    passa, cantando e encantando a todos com suas cantigas tradicionais, a caminhada festiva tem incio na sede do municpio e se estende at o povoado Pinto. L, o Cristo (afilhado de So Joo) festejado com muito Samba de Caceteira, esperana e f. o enlace do sagrado com o profano

    e a forma ao alcance de realizar o maior objetivo da dana. Coragem e perseverana: duas virtudes que impulsionam o mestre Rindu a manter a essa manifestao que refora a amplitude e a identidade cultural dos sergipanos. (Maria Aurelina dos Santos).

    Apresentao da Caceteira de Rindu no Arrai do Povo Aracaju.

    Manifestao folclrica de representao nica em Sergipe, a Caceteira do mestre Rindu ainda utiliza instrumentos musicais tradicionais.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 73

    Apresentao do grupo de Samba de Pareia no Arrai do Povo Aracaju.

    Ao lado, preservado h mais de 300 anos o Samba de Pareia mantm viva a cumplicidade nos passos e o gingado dos remanescentes de quilombolas.

    Samba de PareiaDana de origem africana, com influncia indgena. Sua difuso est ligada a formao dos quilombos. Os pontos mais marcantes so as palmas e o sapateado. No Povoado Mussuca, Laranjeiras, tem um objetivo especfico mantido at o presente: festejar o nascimento de uma criana da comunidade, no seu 15 dia de vida, quando servida uma bebida, denominada meladinha (tambm de origem africana) e os integrantes, durante toda a comemorao, danam na residncia da parturiente.

    Atualmente o grupo composto apenas por mulheres. A indumentria tpica do ciclo junino, ou seja, vestidos estampados de saias rodadas, chapus de palha e tamancos de madeira, cujo percutir do contato com o solo enriquece a sonoridade rtmica dos instrumentos. (Antonio Alves do Amaral e Maria Aurelina dos Santos).

  • Os negros cantavam e tocavam durante o ritual da quebra do coco para a extrao das polpas. A batida do coco dita o ritmo da dana.

    Samba de Coco comum ouvir a palavra coco dentro do universo folclrico. Caracterizada por um sapateado que demonstra todo o vigor do brincante, ele pode ser dana de conjunto, mas sem perder as interferncias dos solos e das umbigadas. O canto, com seu ritmo sincopado, sempre acompanhado de palmas batidas com os braos erguidos e requebros sensuais. Tem samba de coco de vrias formas, mas a raiz sempre a mesma: o batuque africano. (Agla Dvila Fontes de Alencar, Danas e Folguedos).

    74 Sergipe: Cultura e Diversidade

  • Candombl/UmbandaNos primeiros momentos da Cultura dos Orixs no Brasil, a religio africana chamou-se genericamente Candombl. Tratando-se de uma cultura viva, naturalmente, o seu processo de dinamizao deu-lhe a identidade de Umbanda. Implantada em terras brasileiras por negros escravizados, oriundos da Costa dos Escravos e do Daom principalmente, essa confraria teve sua proliferao com a abolio da escravido. Apesar das presses sociais sofridas, esse segmento religioso, preservou sua integridade impulsionada pela crena no culto da divinizao dos orixs. Pela f, os orixs (residentes na costa da frica) so atrados para o ritual da incorporao (dar santo;

    manifestao), em seus instrumentos vivos (mdiuns; cavalo, etc), pelos cantos entoados em sua homenagem.

    Atualmente conquista espao no panorama dos bens imateriais e passa a se integrar ao patrimnio cultural como elemento da poltica governamental de cultura e turismo.Chamando a ateno por sua beleza, misticismo e resistncia, ao longo de mais de quatro sculos dificilmente vividos, um novo horizonte surge, convidando-a a continuar sob o olhar digno e respeitoso dos sergipanos. (Dicionrio do Folclore Brasileiro, Luiz da Cmara Cascudo, extrado e adaptado por Maria Aurelina dos Santos).

    Ritual realizado no dia 8 de dezembro nas areias da praia em homenagem Oxum, que no sincretismo religioso representa N. Sra. da Conceio.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 77

    nica no Brasil, esta Irmandade centenria ainda mantm os seus fundamentos religiosos e ritualsticos originais. O centro do terreiro, por exemplo, de cho de terra batido e os tambores so aqueles advindos com os escravos fundadores da religio em Laranjeiras.

    NagA religio nag chegou em Sergipe, na cidade de Laranjeiras, durante o Perodo Colonial (incio do sculo XVI). O culto difere da Umbanda e do Candombl, por louvar os orixs da Costa, os Santos Pedras. Durante a iniciao ou batismo dos adeptos no se raspa a cabea. Por essa razo, popularmente denominada Nao Cabeluda. Alm disso, o Santo da casa no aceita danar sobre piso de cermica, motivo pelo qual o piso do lugar reservado latada (espao ritualstico do Nag) de cho batido.

    Na cidade de Laranjeiras, a Irmandade Santa Brbara Virgem reconhecida como a nica no Brasil que mantm a originalidade e os fundamentos, a exemplo da frente da Casa Nag, localizada rua Umbelina Arajo (antiga Loxa, j falecida, que deu nome via pblica), que no recebeu o calamento de

    paraleleppedo como as demais residncias da vizinhana.

    Comprova-se a presena da fidelidade s razes religiosas africanas desse seguimento cultural tambm nos instrumentos que usam: Cabaas entrelaadas por

    cordes feitos com lgrimas de Nossa Senhora (pequenas contas camprestres de cor esbranquiada), atabaques Barricas de fabricao caseira, encourados com pele de carneiro ou de boi se este for presenteado vivo Irmandade Santa Brbara Virgem.

    Atualmente, a jovem Brbara Cristina dos Santos chefia essa colnia com muita f, sabedoria e responsabilidade. Ela a mais jovem Loxa (me de Santo) que conhecemos, escolhida pelo Santo da Casa, que nela vislumbrou todos os requisitos indispensveis a uma Mestra do Sagrado.. (Maria Aurelina dos Santos).

  • O Mamulengo de Cheiroso uma atrao que, alm de divertir, resgata a cultura sergipana atravs de suas peas teatrais.

    MamulengoQuer se conhea ou no, o teatro de bonecos soa sempre como algo meio familiar, porque ele remete infncia sem entretanto ser algo infantil. Desperta em todos o desejo de brincar e brincar justamente o que o Mamulengo de Cheiroso faz. Brincando, falam da vida, por mais fantasiosa que parea, falam do povo, da gente inocente e sbia que est escondida dentro de cada um.

    Para o bonequeiro, mais especificamente o mamulengueiro, suas mos molengas ganham a vida prpria do personagem que manipulam, todavia o brincar no tudo. O trabalho desenvolvido pelo grupo Mamulengo de Cheiroso, alm da confeco dos bonecos, cenrios e adereos, est voltado para a pesquisa constante no universo da cultura popular do Nordeste.

    Criado em 1978, no Programa de Extenso da Universidade Federal de Sergipe (UFS), pela dramaturga Agla Dvila Fontes, sergipana, professora da UFS, Especialista em Educao Musical, autora de vrias peas de teatro e de vrios trabalhos sobre Folclore e Educao, tendo uma vida dedicada pesquisa da

    cultura popular. O trabalho do grupo se configura atravs dos espetculos, das oficinas, simpsios, seminrios e demais atividades onde possa expressar o resultado do seu trabalho. (Fonte: Grupo Mamulengo de Cheiroso).

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 79

    Festival de grande repercusso no Brasil, onde se apresentavam grupos de renome no cenrio artstico local e nacional.

    Abaixo, artista: Jorge Luiz Fonseca Barros. Tamanho original: 60 cm x 41 cm.

    Festival de Artes de So CristvoCriado em 1972, o Festival de Artes de So Cristvo teve um papel fundamental na consolidao do cenrio artstico sergipano, projetando a cidade de So Cristvo como a Capital da Arte e da Cultura em Sergipe. O festival teve o seu auge na dcada de 1980 e est suspenso desde o ano de 2005. Sempre organizado pela prefeitura de So Cristvo com apoio do Governo do Estado e da Universidade Federal de Sergipe, contava com a presena de grandes atraes nacionais e grupos de vrios municpios de Sergipe. Com datas variveis, mas sempre acontecendo no segundo semestre, o Festival durava vrios dias e transformava a cidade e os povoados pelo intenso fluxo de turistas que chegavam ao lugar. Parte da populao local se empregava em atividades ligadas recepo

    dos visitantes e organizao do evento, em uma cadeia de gerao de empregos e renda. O FASC foi importante por reconhecer e valorizar o patrimnio cultural de Sergipe, mas, aps as grandes dificuldades encontradas para a realizao do evento, hoje se encontra desativado.

  • O Mercado A grande feira da cidade realizada nos Mercados Central e Thales Ferraz durante toda a semana. Uma feira de propores gigantescas, uma feira movimentada, onde h fartura e variedade. Voc ver as frutas de minha terra: os cajus, as graviolas, os meles, as mangabas, as melancias, as jaboticabas. Os praieiros traro siris, peixes, aratus, camares e caranguejos. Voc j comeu alguma vez na vida moqueca de maunim? O maunim, amiga, mais saboroso do que o sururu da cidade de Macei. E a carne do sol de Cedro mais

    Nos Mercados Antonio Franco, Thales Ferraz e Albano Franco, em Aracaju, encontra-se de tudo um pouco do que produzido no estado.

    gostosa do que uma fatia de presunto. A feira se divide em outras tantas feiras: aqui esto as bancas de carne verde, carne de porco, carne seca a saborosssima jab, de carne do sol; alia as bancas de peixe fresco e de peixe do So Francisco; acol queijos e requeijes, frutas e verduras, redes e alpercatas, doces de puba e de milho. Mais adiante ainda, a feira de panelas e de cermica popular (...) (Roteiro de Aracaju, Mrio Cabral. Extrado e adaptado).

    80 Sergipe: Cultura e Diversidade

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 81

    nico estado do Brasil que possui uma avenida com bares e restaurantes especializados nesse saboroso crustceo, a Passarela do Caranguejo.

    Caranguejada impossvel contestar o fato de o caranguejo ser o aperitivo mais consumido em todo o territrio da Grande Aracaju. Mais do que uma refeio, comer caranguejo um verdadeiro hobbie para os sergipanos dessa regio do Estado e para os turistas que a visitam.

    Lavado, o caranguejo temperado com cheiro verde e sal. Em seguida, o crustceo cozido na panela por 15 a 20 minutos at ficar vermelho. Quando servido, o caranguejo acompanhado por vinagrete, alm de um kit composto por martelo e tbua de madeira, equipamentos indispensveis para a quebra da sua casca.

    Tambm bastante apreciado o quebrado de caranguejo, seja ele refogado ou em recheios de pastis. (Seplan, Guia Gastronmico dos Territrios Sergipanos, 2010).

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 83

    Alto Serto

    uas maravilhas chamam a ateno de todos para esse espao territorial sergipano composto por sete municpios. A primeira, refere-se aos achados arqueolgicos da sociedade canind, datados de oito

    mil anos atrs. Os fsseis encontrados iluminam nosso passado ancestral e revelam a presena humana na bacia do So Francisco, h milnios. A hidreltrica do Xing, com um lago artificial imenso, de 65 km, a segunda das maravilhas. Atesta a engenhosidade humana e a capacidade de evoluo do homem que dali, na idade da pedra lascada, da pura convivncia com a natureza, saltou para a era das barragens, transformando o ambiente, dominando a natureza. Dos tempos indgenas, restou a mistura racial e cultural que se afirmou sob a influncia da expanso pecuria e a implantao dos currais de gado. A pata do boi abriu o caminho para uma gente mameluca. Junto pecuria, o Alto Serto desenvolveu uma agricultura regular, com nfase no milho e feijo, cultivados nas duras condies climticas locais. Do ponto de vista cultural, tradies ligadas s atividades econmicas regionais se misturam a novos eventos de massa revelando a persistncia das primeiras e a chegada no interior do territrio do Estado de hbitos modernos, que mobilizam principalmente a juventude, a exemplo do Rock Serto. Outro fenmeno local recente a demarcao cultural de recorte tnico. Caso da afirmao espacial quilombola em Poo Redondo e Porto da Folha, onde, alis, esto os Xocs e seu Tor, expresso grupal de canto e dana de remanescentes indgenas. E tambm os sem-terras, milhares deles, socialmente ativos e economicamente produtivos.

    Sob o signo da conquista e da resistncia, os homens fizeram desse territrio o cenrio de construo de um mundo de lutas.

    Cenrio que inclui a presena inesquecvel do Rei do Cangao nordestino, o Lampio. Depois de quase duas dcadas de escaramuas com a polcia, ele tombou na Grota do Angico, em confronto com a volante pernambucana. Mas vive no imaginrio de todos, como um mito, heri para alguns, bandido para outros. Cabra macho, valente, destemido, enfim, o homem de fibra eternizado pela conscincia popular. E que se especializou num ofcio que o territrio conheceu desde muito tempo atrs, alis, desde tempos imemoriais: o combate.

    Cnion de Xing Apesar da interveno humana, a construo da represa compe uma paisagem impressionante sem indcios de artificialidade.

  • Terr

    itrio

    Alto

    Ser

    to

    Nossa Senhora da Glria

    Monte Alegre de Sergipe

    Porto da Folha

    Poo Redondo

    Canind de So Francisco

    Gararu

    Nossa Senhora de Lourdes

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 85

    Principais Manifestaes

    TRABALhO

    Feira/Mercado

    Poesia/Cordel/ Pregoeiros Populares

    Croch

    Renda de Bilro

    Bordado (Pronto Cruz, Ponto Cheio e Vagonite)

    Rendend

    Retalhos

    Bonequeiras

    Artesanato em Palha/Cip

    Artesanato em Cermica

    Artesanato em Madeira

    Artesanato em Couro

    Artes Plsticas

    Pinturas Rupestres

    Bacia Leiteira

    Santos Festejados

    Tor

    Candombl/Umbanda

    Penitentes

    Fogaru (Procisso dos Homens)

    Queima de Judas

    Peregrinaes/Romarias

    Rezas e Benzimentos

    Samba de Coco

    Capoeira (Puxada de Rede, Dana Guerreira, Ritual do Fogo e Maculel)

    Pastoril

    Dana de So Gonalo

    Reisado

    RELiGiO

    FESTA / ENTRETENiMENTO

    Pfanos

    Violeiros

    Aboiadores

    Cavalhada

    Corrida de Argola/ Salto de Argola

    Msica (Filarmnicas e/ou Grupos Musicais)

    Carnaval

    Micareta

    Festa Junina

    Casamento do Matuto

    Cavalgada

    Eventos Agropecurios

    Festa do Quiabo

    Rock Serto

    Festa do Santo Cruzeiro (Gararu)

    Missa do Cangao (Poo Redondo)

    Corrida de Mouro (Canind de So Francisco e Poo Redondo)

  • 86 Sergipe: Cultura e Diversidade

    Representao da luta entre mouros e cristos, que em Sergipe est fortemente ligada ao ciclo natalino. As cavalhadas so disputas entre dois cordes de cavaleiros vestidos com indumentrias coloridas que fazem uma bonita disputa de destreza, mira e cavalgada entre si.

    de vermelho (os mouros). Essa formao remete Batalha de Carlos Magno e Os Doze Pares de Frana. O folguedo est voltado para uma batalha (competio) configurada na Corrida da Argolinha. Esse o momento mais importante da apresentao, que exige excelente domnio eqestre e refinada pontaria, visto que a toda velocidade o cavaleiro retira, com a ponta da lana, a argolinha pendurada no travesso. Vencedores, os cristos convertem os mouros ao cristianismo.

    No final da batalha, as lanas so entregues a parentes e/ou simpatizantes que, agrupados uns prximos aos outros, em

    CavalhadaPertencente ao Ciclo Natalino, a Cavalhada um Folguedo que foi introduzido no Brasil por volta de 1756, pelos portugueses, que viram na ldica uma oportunidade para a concretizao da cataquese.

    As Cavalhadas representam a luta entre cristos e mouros. O grupo composto por doze cavaleiros vestidos de verde (os cristos), que fazem pares com os doze vestidos

    forma de crculo, com as armas suspensas apontando para o alto, so reverenciados com uma corrida em torno de si. Encerrando a competio, a hora do Adeus. Os cavaleiros seguram lenos brancos e, em veloz corrida feita em sentidos contrrios, cristos e mouros sadam-se, sinalizando pacfica unio. O retorno para casa feito em longo e solene cortejo equestre musicado pela Banda de Pfanos (grupo que integra a Cavalhada). Os cavaleiros seguem cantando em trovas, a bravura e a lealdade crist. (Dicionrio do Folclore Brasileiro, Lus da Cmara Cascudo. Extrado e adaptado por Maria Aurelina dos Santos).

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 87

    Casamento do MatutoO espetculo cmico do casamento caipira sofre variaes conforme a imaginao de seus idealizadores. Mas preserva o bordo. uma stira bem humorada sobre os costumes sertanejos tradicionais, cuja moral no permitia a gravidez ou mesmo o intercurso sexual fora do matrimnio. O noivo-tabaru obrigado a casar com a moa que perdeu a virgindade e, muitas vezes, tem que fazer isso bbado para agentar publicamente a maada em que se envolveu.

    Muitas vezes, o casamento do matuto comea com um desfile de carroas onde os dois personagens desfilam. Em seguida, vem o padre, a me da noiva e o pai, armado de espingarda, naturalmente... Na cerimnia realizada em um palco improvisado, uma beata entra em cena tambm. Ali se desenvolve o ato: o noivo tenta fugir, o pai pressiona o noivo, a noiva chora junto me e a beata se escandaliza com o tamanho da barriga da ex-moa. Finalmente, ajudado pela bravata do pai, o padre consegue arrancar um sim do matuto e o espetculo chega ao fim.

    Brincadeira tpica do ciclo junino que faz stira aos antigos casamentos motivados pela obrigao do noivo em se casar com a no mais moa filha de coronel.

  • Arte de tecer utilizando a almofada, o molde de papel, alfinetes, linha e bilro: instrumentos bsicos para a criao da renda.

    RendasA arte de tecer a renda para a mulher sertaneja no somente o complemento da renda familiar, tambm um momento de congregao entre as mulheres e, acima de tudo, um saber que ensinado de me para filha.

    A Renda de Bilro, predominante no territrio do Alto Serto, mais uma manifestao artesanal que ainda sobrevive no territrio. Inserida no Brasil por mos colonizadoras, esse tipo de renda era de uso exclusivo do reisado e da nobreza. Outra vertente aponta para a possibilidade da introduo dessa arte na regio por parte dos holandeses que se estabeleceram no Nordeste por volta do sculo XVII. Perpassando geraes, a produo artesanal dos bilros, espinhos de mandacaru, linhas e almofadas, pontua o artesanato sergipano dando mais visibilidade moda dos tempos atuais. No enlace da modernidade com a tradicionalidade, a renda de bilro enfrenta acirrada concorrncia com as rendas industrializadas.

    Ainda assim, permanece viva graas transmisso informal, mostrando que possvel a convivncia da tradio com a modernidade no mesmo espao social. (Maria Aurelina dos Santos).

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 89

  • 90 Sergipe: Cultura e Diversidade

    Arteso Zeus e sua arte de esculpir imagens sacras em madeira.

  • Sergipe: Cultura e Diversidade 91

    Artesanato em MadeiraA madeira bruta, aos poucos comea a ser desbastada. Calejadas, as mos do artista buscam a forma imaginada,