518587_resenha de divulgação e temática

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A resenha de divulgação nos orienta sobre o que escolher entre as muitas nos mantém atualizados sobre os vários lançamentos de livros, filmes, CDs, peça A RESENHA DE DIVULGAÇÃO é um gênero textual que combina a apresentação das cara dada obra (filme, livro, peça de teatro etc.) com comentários e avaliações crít Os resenhistas, além de caracterizar sucintamente a obra analisada, apresen procuram oferecer, ao leitor, uma avaliação mais geral da qualidade e da valida resenhas são textos predominantemente argumentativos, uma vez que os juízos de argumentos que os sustentem. JUÍZO DE VALOR é um conceito filosófico e se refere a um julgamento que express uma interpretação sobre a realidade. Os juízos de valor se opõem aos juízos de como são e porque são. Se dizemos “Está chovendo”, estamos enunciando um aconte Manifestamos, portanto, um juízo de fato. Se, porém, dizemos “A chuva interpretação de um fato, porque o avaliamos subjetivamente. Manifestamos, ness Em diferentes situações somos solicitados a manifestar uma opinião avaliati lembrar que essa opinião será constituída por alguns juízos de valor cuja valid interlocutor. Caso isso não seja feito, corremos o risco de ter a nossa opinião Atualmente, encontramos resenhas de divulgação em diversos contextos de ci por exemplo, há sempre uma seção dedicada à avaliação de lançamentos de filmes, culturais são os responsáveis por essas resenhas. O mesmo acontece nos suplemen ainda, publicações com muitas de suas páginas destinadas a resenhas, como é o c “Entrelivros”. Grandes portais da internet, como UOL, Globo e Terra, também apresentam seç que costumam ser incrementadas pelos recursos tecnológicos que permitem ao inte ouvir trechos das músicas de um CD apresentado (observe que isso acontece na re Veja online do disco do Pear Jam). As histórias em quadrinhos também chamam a atenção de resenhistas. Sites dos últimos lançamentos, como o Universo HQ (www.universohq.com.br\quadrinhos\ resenhas, que, em alguns casos, são indicadas pelo termo inglês review . Ainda no universo virtual, é comu resenhas feitas em blogs pessoais. Nesse caso, o autor do blog indica para seus recentemente e das quais gostou. Ou faz recomendações negativas, sugerindo que um determinado livro, assistindo a um filme ou ouvindo as novas músicas lançada O perfil dos leitores de resenhas varia tanto quanto as obras resenhadas. P pessoas que gostam de ler e procuram informações mais detalhadas sobre os lança caso de filmes, músicas, shows, histórias em quadrinhos, peças de teatro, expos apresentam uma característica em comum: desejam não só uma descrição de uma det opinião sobre a sua qualidade. Se confiam nos autores das resenhas, podem se ba vale ou não a pena conhecer tal obra. Os resenhistas, por sua vez, devem conhec poderá variar, dependendo do contexto de circulação de seus textos. Revistas vo serem resenhadas levando em consideração esse público leitor. 1 As discussões desenvolvidas aqui sobre o funcionamento da resenha de divulgação na esfe Fernanda P. Barros.

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Resenha de divulgao: definio e usos 1A resenha de divulgao nos orienta sobre o que escolher entre as muitas produes culturais que nos cercam e nos mantm atualizados sobre os vrios lanamentos de livros, filmes, CDs, peas de teatro, programas de TV, shows. A RESENHA DE DIVULGAO um gnero textual que combina a apresentao das caractersticas essenciais de uma dada obra (filme, livro, pea de teatro etc.) com comentrios e avaliaes crticas sobre sua qualidade. Os resenhistas, alm de caracterizar sucintamente a obra analisada, apresentam uma srie de juzos de valor que procuram oferecer, ao leitor, uma avaliao mais geral da qualidade e da validade dessa obra. Por esse motivo, as resenhas so textos predominantemente argumentativos, uma vez que os juzos de valor devem vir acompanhados de argumentos que os sustentem. JUZO DE VALOR um conceito filosfico e se refere a um julgamento que expressa uma apreciao, uma avaliao ou uma interpretao sobre a realidade. Os juzos de valor se opem aos juzos de fato, que dizem o que as coisas so, como so e porque so. Se dizemos Est chovendo, estamos enunciando um acontecimento constatado por ns. Manifestamos, portanto, um juzo de fato. Se, porm, dizemos A chuva triste, passamos da constatao interpretao de um fato, porque o avaliamos subjetivamente. Manifestamos, nesse caso, um juzo de valor. Em diferentes situaes somos solicitados a manifestar uma opinio avaliativa sobre uma obra. importante lembrar que essa opinio ser constituda por alguns juzos de valor cuja validade deve ser demonstrada para nosso interlocutor. Caso isso no seja feito, corremos o risco de ter a nossa opinio desconsiderada.

Contexto de circulao1. Esfera jornalstica Atualmente, encontramos resenhas de divulgao em diversos contextos de circulao. Nas revistas semanais, por exemplo, h sempre uma seo dedicada avaliao de lanamentos de filmes, CDs, DVDs e livros. Os reprteres culturais so os responsveis por essas resenhas. O mesmo acontece nos suplementos culturais dos jornais dirios. H, ainda, publicaes com muitas de suas pginas destinadas a resenhas, como o casos das revistas Bravo! e Entrelivros. Grandes portais da internet, como UOL, Globo e Terra, tambm apresentam sees de resenhas de divulgao, que costumam ser incrementadas pelos recursos tecnolgicos que permitem ao internauta ver um trailer do filme ou ouvir trechos das msicas de um CD apresentado (observe que isso acontece na resenha de Veja online do disco do Pearl Jam). As histrias em quadrinhos tambm chamam a ateno de resenhistas. Sites dedicados apresentao e avaliao dos ltimos lanamentos, como o Universo HQ (www.universohq.com.br\quadrinhos\), tm sees especficas para as resenhas, que, em alguns casos, so indicadas pelo termo ingls review. Ainda no universo virtual, comum encontrar resenhas feitas em blogs pessoais. Nesse caso, o autor do blog indica para seus leitores as obras que conheceu recentemente e das quais gostou. Ou faz recomendaes negativas, sugerindo que as pessoas no percam tempo lendo um determinado livro, assistindo a um filme ou ouvindo as novas msicas lanadas por uma banda ou cantor.

Os leitores das resenhas de divulgao da esfera jornalsticaO perfil dos leitores de resenhas varia tanto quanto as obras resenhadas. Procuram ler resenhas de livros aquelas pessoas que gostam de ler e procuram informaes mais detalhadas sobre os lanamentos na rea. O mesmo ocorre no caso de filmes, msicas, shows, histrias em quadrinhos, peas de teatro, exposies etc. Todos os leitores de resenha apresentam uma caracterstica em comum: desejam no s uma descrio de uma determinada obra, mas tambm uma opinio sobre a sua qualidade. Se confiam nos autores das resenhas, podem se basear em seus textos para decidirem se vale ou no a pena conhecer tal obra. Os resenhistas, por sua vez, devem conhecer o perfil de seus leitores, porque ele poder variar, dependendo do contexto de circulao de seus textos. Revistas voltadas para jovens selecionam as obras a serem resenhadas levando em considerao esse pblico leitor.

Estrutura1

As discusses desenvolvidas aqui sobre o funcionamento da resenha de divulgao na esfera jornalstica so de autoria da Prof Fernanda P. Barros.

A necessidade de trazer uma caracterizao resumida da obra analisada e tambm de apresentar uma opinio sustentada por argumentos traduzida, na estrutura das resenhas, pela presena de alguns trechos destinados a cumprir tais funes. Observe:Ttulo e olho: representam o 1. contato do leitor com a obra analisada. Devem inform-lo sobre o tema dessa obra, como feito aqui. O olho j pode trazer algum juzo de valor. A identificao do resenhista , em geral, feita logo no incio. 1. pargrafo: introduo que apresenta o contexto no qual a obra resenhada se insere. Nesse caso, trata-se de um livro de divulgao do pensamento dos filsofos. O autor da resenha tambm traz as informaes bsicas (ttulo, autor, editora, nmero de pginas, preo, exemplares vendidos) sobre o livro que ser analisado. Dentre essas informaes, merece ateno especial a descrio resumida do contedo da obra. O autor da resenha explicita alguns dos seus juzos de valor.

O francs Luc Ferry ps a filosofia nas listas de livros mais vendidos e sem baratear suas ideias Jernimo TeixeiraFilosofo fundamental do pensamento moderno, o alemo Immanuel Kant complexo nas ideias e rido no estilo. O franc Luc Ferry, no entanto, leu a Crtica da razo pura quando tinha 15 anos. No entendi rigorosamente nada, mas tive a impresso de que aquele era um pensador importante, de que havia ali uma espcie de tesouro escondido, disse a VEJA o filsofo e ex-ministro da Edcuao da Frana, hoje com 56 anos. Ferry autor de Aprender a viver (traduo de Vera Lcia dos Reis; Objetiva; 304 pginas; 38 reais), um livro de divulgao filosfica que discute, de forma acessvel mas sria, autores como Nietzche, Husserl e Heidegger. A obra vendeu impressionantes 230.000 exemplares na Frana e respeitveis 14.000 no Brasil. J aparece h mais de seis semanas na lista de mais vendidos de Veja. Feito talvez mais extraordinrio do que a precocidade de sua formao filosfica, Ferry transformou a filosofia em best-seller. [...] claro que Ferry no nem o nico nem o primeiro popularizador da filosofia. O noruegus Jostein Gaarder foi bestseller mundial ao recontar a histria da filosofia com uma simptica moldura ficcional em O mundo de Sofia. O suo radicado na Inglaterra Alain de Botton tem se firmado como um filsofo popular embora no tenha ainda frequentado as listas de mais vendidos , recorrendo a Sneca ou Schopenhauer para consolar o leitor que sofre uma desiluso amorosa ou inveja o sucesso do vizinho. Nenhum dos dois, porm, vem de uma carreira acadmica, como Ferry, que estudou nas tradicionais universidades de Sorbonne, na Frana, e Heidelberg, na Alemanha. Nos livros de Botton, em particular, a filosofia reduzida a uma coletnea de citaes cosmticas. Aprender a viver, pelo contrrio, explica sistematicamente o pensamento dos autores abordados. [...] Salvao a palavra-chave do livro. A filosofia, na viso de Ferry, uma alternativa laica religio: busca respostas para a angstia fundamental que todo ser humano tem ao tomar conscincia de sua irremedivel finitude. Aprender a viver investiga as respostas que diferentes escolas filosficas deram a esse problema [...], encerrando-se com a alternativa do prprio Ferry, sua proposta talvez excessivamente otimista de um novo humanismo secular, que supere os becos sem sada construdos pela dvida radical de pensadores como o alemo Friedrich Nietzsche. So ideias que o autor j apresentou, de forma mais tcnica, em livros anteriores, como O homem deus e especialmente O que uma vida bemsucedida, publicados no Brasil pela Difel. Aprender a viver, porm, voltado especificamente para o leigo, e em particular para o leitor jovem. O ttulo, com certo jeito de auto-ajuda, tem um apelo inegvel, que talvez responda por parte do sucesso da obra e talvez prometa mais do que este ou qualquer livro pode dar. A busca da vida boa, virtuosa, de fato uma ambio ancestral dos filsofos. Qualquer resposta, porm, ser sempre provisria e insuficiente. O entusiasmo de Ferry por seu humanismo secular no basta para matar a charada dessa esfinge antiga.

Aprender a viver

2. pargrafo: h uma expanso do contexto mais geral no qual se insere o livro resenhado. O autor do texto informa seus leitores sobre outras obras semelhantes publicadas no Brasil. Esse tipo de comparao comum nas resenhas. Pode ser feito de duas formas: confrontando a obra resenhada com outras do mesmo tipo (caso do exemplo citado), ou comparando diferentes obras de um mesmo autor (o que ser feito no prximo pargrafo). A informao sobre outras obras do mesmo tipo utilizada como base para a explicitao do juzo de valor que fecha o pargrafo: o livro de Ferry mais srio do que os de Botton, porque explica sistematicamente o pensamento dos autores abordados. O argumento para sustentar essa avaliao apresenantado antes e tambm traduz um juzo de valor implcito: o livro de Ferry melhor porque ele estudou em tradicionais universidades europeias e fez carreira acadmica. 3. Pargrafo: o autor concentra-se na anlise do livro. Parte de um breve resumo do enfoque que a obra d s questes filosficas, para introduzir mais alguns juzos de valor, agora voltados para a avaliao da obra resenhada. Uma nova comparao feita, nesse caso com livros anteriores de Ferry, considerados mais tcnicos. Toda a parte final desse pargrafo constituda por juzos de valor que procuram orientar o leitor sobre a qualidde da abordagem que Ferry faz da filosofia e sobre a possibilidade de o livro cumprir sua promessa implcia no ttulo: os leitores aprenderiam, com a filosofia, a viver melhor. importante observar que as comparaes feitas ao longo do texto tm valor argumentativo, porque ajudam o resenhista a validar suas opinies, fazendo com no paream juzos de valor emitidos sem qualquer referncia mais concreta. A concluso do autor sobre livros desse tipo , na verdade, uma reafirmao da avaliao feita sobre a obra resenhada: ela promete mais do que pode dar, porque, por melhores que sejam os livros de divulgao da filosofia, sempre sero insuficientes para garantir uma vida boa, virtuosa.

O texto exemplifica de modo claro como a estrutura de uma resenha de divulgao associa informaes, argumentos e juzos de valor de modo a convencer o leitor de que a opinio do autor sobre a obra avaliada (destacada na concluso) justa. A preocupao com a contextualizao necessria, porque ajuda o leitor a situar a obra no conjunto maior a que ela pertence. Esse procedimento essencial para que ele acompanhe os juzos de valor que so apresentados ao longo do texto. Pela mesma razo, as comparaes so parte da estratgia argumentativa caracterstica das resenhas. Elas promovem o confronto entre a obra que est sendo avaliada e outras (boas ou ruins), que passam a servir de parmetro para o juzo que est sendo formado.

LinguagemA linguagem utilizada em uma resenha ser influenciada pelo pblico-leitor a que ela se destina. Assim, as resenhas divulgadas em revistas de grande circulao ou portais da internet, que tm um pblico-alvo de perfil mais geral, devem manter um uso mais formal da linguagem, respeitando as regras do portugus escrito culto. O texto analisado um exemplo disso. Resenhas escritas para publicaes voltadas ao pblico jovem, porm, admitem um uso mais coloquial da linguagem, caracterstico de seus leitores. Observe o trecho abaixo, extrado de uma resenha de um show da banda de rock Aerosmith. Aerosmith O perigoso circo do rocknroll. Ricardo Franca Cruz *** Estdio do Morumbi So Paulo, 12 de abril de 2007 Megabandas com megarrepertrios recheados de megaclssicos s podem fazer o que fez o Aerosmith: um megashow, com tudo o que isso traz de bom e ruim. De bom, o vocalista Steven Tiler desmonstrou forma fisica e vocal surpreeendente para um senhor mas nada que um Mick Jagger, outro megatio, no faa igual. O vov berrou bea, agitou e ainda pagou de gato em diversos momentos. As mulheres berravam, ensandecidas, como deve ser no bom rocknroll e da se ele tem 59 anos? Melhor ainda estava o guitarrista Joe Perry, um dos reis dos riffs roqueiros entre os mais legais de todos os tempos. [...] O setlist do Aerosmith passeou pelos bons e melhores tempos da banda, com clssicos como Sweet Emotion, Dream On, a sensacional Draw the Line, Walk this Way e uma bela verso semi-acstica de Seasons of the Weather. [...] O uso que se faz, no texto, do prefixo mega- ilustra bem a escolha de um tom coloquial, porque tal prefixo, que aparece reiteradas vezes, utilizado para frmar palavras que expressem o carter hiperblico do show resenhado. Nesse caso, alm de marcar a informalidade, o prefixo tambm explicita a avaliao que o autor do texto fez da apresentao do Aerosmith: um megashow. Outras expresses, destacadas no texto, confirmam o investimento em um texto to coloquial, que recorre at a grias (pagou de gato) para promover uma maior identificao como pblico-leitor. A presena constante de adjetivos valorativos uma caracterstica esperada das resenhas em geral. So eles que, na maior parte dos casos, introduzem os juzos de valor que definem esse gnero textual. 2. Esfera acadmica A resenha de divulgao na esfera acadmica tem por finalidade principal comentar, avaliar, validar uma obra, uma publicao. Por esse motivo produzida por especialistas da rea e publicada em peridicos especializados para divulgar uma obra aos especialistas da rea ou aos interessados naquela rea especfica (estudantes, professores, pesquisadores, etc.). Segundo Motta-Roth (2002), a resenha responde s necessidades de avaliao e validao da literatura cientfica e os critrios que orientam esse processo variam de uma rea para outra (qumica, economia, lingstica). A resenha apresenta, de acordo com Machado (2003), a seguinte estrutura: Apresentao geral da obra, do ttulo, do autor e do tema global, que so explicitados logo no incio, no topo do texto. Esses dados so geralmente retomados no primeiro pargrafo. Ao final da resenha devem constar o nome do resenhista, funo e instituio a que pertence. Caso ocorram, referncias bibliogrficas devem ser citadas de acordo com a ABNT. Contextualizao da obra, geralmente com carter avaliativo. Deve-se especificar a situao da obra resenhada no contexto cientfico em relao a obras semelhantes de outros autores ou em relao prpria obra de seu autor, apontando-se para qual ramo da cincia ou para qual temtica o texto resenhado contribui. Apresentao do tema global da obra, tal como em: Neste livro, o autor prope analisar os traos lingsticos das piadas... (De Andrade, 2001, p. 353). Descrio global da estrutura da obra analisada (partes, captulos, sees; presena de epgrafes etc.).

Apresentao dos contedos das diferentes partes e/ou captulos, com a descrio das aes de diferentes tipos que o produtor da resenha atribui ao autor da obra . Existem diferentes procedimentos de atribuio de autoria: Neste artigo, o autor avalia/questiona/prope...; Segundo a articulista ,... ; Para o lingista ,...; Em sua obra, o poeta ... ). Avaliao global da obra, que pode no aparecer em uma parte bem delimitada ou no aparecer explicitamente. Indicao dos leitores a quem mais interessaria a leitura do livro e/ou por que interessaria, com carter avaliativo, como no trecho abaixo:

...til para lingistas interessados em geral na linguagem e seus mecanismos, pois ele mostra que as piadas representam um material valioso para a compreenso de certos mecanismos lingsticos (De Andrade, 2001, p. 354).Todos os aspectos acima so importantes, mas a sustentao imprescindvel. Observe o que diz Machado (2003) a esse respeito: dos argumentos apresentados

Eles devem ser estruturados de forma a convencer o leitor da validade dos posicionamentos do resenhista de preferncia de forma argumentativa. Dizer se bom ou ruim, se feio ou bonito no basta o resenhista dever diz-lo e justificar sua opinio.Referncias MACHADO, Ana Rachel et alii. Resenha . Vol. 2. So Paulo: Parbola, 2004b. MOTTA-ROTH, Dsirre. A construo social do gnero resenha acadmica. In: MOTTA-ROTH, Dsirre, MEURER, Jos Luiz. Gneros textuais e prticas discursivas : subsdios para o ensino da linguagem. Bauru, So Paulo: EDUSC, 2002. ATIVIDADE 1 Leia, com ateno a resenha a seguir, publicada em: URL: HTTP://www.revistasociologiaepolitica.org.br/resumo.php.?pidtexto=296 (29/08/04). Leia, tambm, a resenha, produzida por Renato Perim Colistete, disponvel no SGA. As duas resenhas indicadas avaliam a mesma obra. Em seguida, resolva as questes propostas. TRABALHADORES E CIDADOS, de Paulo Roberto Ribeiro Fontes Edilson Jos Graciolli O livro de Paulo Fontes resultado da sua dissertao aprovada junto ao Programa de Mestrado em Histria Social do Trabalho, na UNICAMP debrua-se sobre a histria dos operrios da Nitro Qumica, empresa construda no subrbio paulistano de So Miguel a partir do final de 1935, cuja produo iniciou-se em setembro de 1937. Inserida na tentativa de compreender a dinmica da industrializao no Brasil, a pesquisa elegeu essa unidade produtiva como espao cotidiano e complexo da luta de classes 2 onde, de um lado, a Nitro Qumica (uma espcie de CSN do setor qumico) elaborou um sistema de dominao especfico e, de outro, os trabalhadores construram respostas prprias a ele, vivendo uma tensa e rica experincia, ora de resistncia, ora de relativa integrao quele sistema. No dizer do prprio autor, objetivou-se [...] aprofundar a anlise da montagem, da lgica interna, contradies e legitimao ou no por parte dos trabalhadores de um determinado modelo de dominao e gesto da mo-de-obra criado pela Nitro Qumica ao longo dos anos quarenta e desenvolvido plenamente na dcada seguinte (p. 14). O diagnstico que se apresenta sobre esse modelo indica-o como articulado em torno de vrios aspectos prprios ideologia corporativa3 e ao nacional-desenvolvimentismo, que marcava o Estado brasileiro de ento.2

O conceito de classe tem uma importncia capital na teoria marxista. (...) Marx e Engels admitiram que a classe era uma caracterstica distintiva das sociedades capitalistas (Bottomore, 1983/2001), considerando-se que suas duas principais classes seriam burguesia e a classe operria. Ainda para esses autores, a burguesia seria a classe dos capitalistas modernos, proprietrios dos meios de produo social e empregadores do trabalho assalariado (Marx, Manifesto comunista, 1888). Segundo Marx e Engels, a histria de todas as sociedades existentes at o tempo em que escreveram seria a histria das lutas de classe, que se constituiria como a luta do operariado contra a burguesia. 3 Segundo o Dicionrio Houaiss, corporativista adjetivo referente a corporativismo, que pode ser compreendido como: 1 doutrina que considera os agrupamentos profissionais como uma estrutura fundamental da organizao poltica, econmica e social e preconiza a concentrao das classes produtoras em forma de corporaes tuteladas pelo Estado. (URL: HTTP://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=corporativismo (30/08/04)

O recorte temporal (os anos cinquenta) justifica-se, segundo Paulo Fontes, por ter sido esta a dcada em que o modelo de dominao empresarial gestado nos anos antecedentes viveu o seu pice e, tambm, o incio do seu esgotamento, uma vez que a reciprocidade entre empresa e trabalhadores sofreu enormes desgastes, dado o avano de uma identidade sociocultural prpria entre os operrios, em funo da aguda atuao sindical e poltica nos anos anteriores a 1964. O trabalho se estrutura em cinco captulos. No primeiro, apresenta-se uma anlise do contexto que marcou a trajetria da empresa, desde sua criao at o final dos anos cinquenta. Tal anlise permite ao leitor a inteleco de aspectos, como, por exemplo, as relaes de cumplicidade havidas entre o governo Getlio Vargas e os proprietrios da Nitro Qumica (Jos Ermrio de Moraes e Horcio Lafer), ou, ainda, o lugar que a Segunda Guerra desempenhou no crescimento econmico da empresa. Encontram-se tambm menes ao complemento que o Crculo Operrio Catlico de So Miguel significou ao servio de assistncia fabril, onde capital e trabalho deveriam se harmonizar. At mesmo a origem majoritria dos operrios (fundamentalmente nordestinos) era apropriada pelo discurso empresarial enquanto fator de integrao. A nordestinidade reforaria, assim, a busca da paz social. No obstante tratar-se de uma empresa privada, a Nitro Qumica apresentava-se como instrumento a servio dos interesses nacionais, fator de patriotismo, da mesma forma como, por exemplo, a Companhia Siderrgica Nacional o fazia. A implicao desse elemento de dominao era imediata: ser parte da famlia nitrina significava atender aos interesses da nao e, conseqentemente, fazer greves ou outros movimentos reivindicatrios seria contrapor-se a tais interesses. Para que o patriotismo visado no desse margem a qualquer confuso com o falso nacionalismo dos comunistas, desde cedo a empresa se preocupou em combater o comunismo. E o fez com base em mais dois mecanismos centrais: o esprito pioneiro e desbravador dos pais da famlia nitrina e a constante procura de um capitalismo sadio, humano e progressista. Este ltimo elemento explicitava a especificidade de uma empresa privada a servio da Nao, quando comparada com as firmas estatais. A Nitro Qumica, ainda que pertencente a proprietrios particulares, mantinha-se, ao menos no discurso, aberta s questes sociais. Todavia, essa ideologia era acompanhada de um poderoso e eficaz instrumento prtico, o Servio Social. Para alm das palavras, um conjunto de benefcios (mdico-odontolgico, de abastecimento, cooperativo, recreativo, de segurana) objetivava garantir o disciplinamento no espao extrafabril sobre os operrios. O captulo 4 dedica-se ao estudo da organizao sindical dos operrios da Nitro Qumica e das suas relaes com o Partido Comunista, cuja militncia em So Miguel Paulista era destacada, tanto no mbito sindical quanto em outros aspectos da vida cultural e social do bairro (como, por exemplo, na organizao de festas, bailes, apresentaes teatrais, excurses e palestras). Paulo Fontes faz um bom relato das razes pelas quais os trabalhadores olhavam com muita desconfiana para o Sindicato, uma vez que este atrelava-se poltica da empresa. Em meio a essa discusso, o autor analisa o significado do assistencialismo 4 para os trabalhadores e conclui que este no pode ser visto apenas como um reforo tutela do Estado sobre sindicatos, sendo, tambm, [...] parte da cultura dos trabalhadores e de suas organizaes, tendo provavelmente relaes com as prticas de solidariedade tradicionalmente exercidas por estes (p. 136). Aqui me parece manifestar-se uma das lacunas deste que um bom trabalho. Mais adiante voltarei a isto. O ltimo captulo analisa a greve dos trabalhadores da Nitro Qumica acontecida de 24 a 31 de outubro de 1957, a mais longa da sua histria at ento. Uma nova diretoria no Sindicato dos Qumicos, empossada em novembro de 1956, apresentava uma linha de ao bem diferenciada do que at aquele momento se verificava na entidade. Ao invs de contratos pro empresa, essa diretoria buscava firmar contratos com os sindicatos patronais. A proeminncia do setor jurdico deu lugar ao investimento na participao dos trabalhadores, inclusive com a escolha de delegados sindicais. A greve na Nitro Qumica iniciou-se no mesmo dia em que a famosa greve dos 400 mil trabalhadores chegou ao final. Nesta, seis categorias obtiveram importantes conquistas econmicas e impuseram uma vitria no embate com os respectivos segmentos do empresariado. Neste contexto que, segundo Paulo Fontes, pode-se entender o movimento grevista dos operrios da Nitro que, aps oito dias de confronto com o aparelho repressivo do Estado e a intransigncia patronal, revelou-se vitoriosa, pois a empresa concordou com a reivindicao central (20% de reajuste sobre os salrios vigentes em agosto de 1956), alm de no punir os grevistas. Para Fontes, a greve de outubro de 1957 representou uma inflexo profunda nas relaes de reciprocidade entre a Nitro Qumica e seus trabalhadores. A imagem, j em progressivo desgaste no perodo anterior, de uma grande e poderosa empresa provedora de benefcios para seus trabalhadores, sofreria um forte abalo com a paralisao (p. 163). Tal inflexo se deu porque [...] se os chamados benefcios sociais da Nitro puderam em alguns momentos cumprir o papel de ajudar a evitar que a maioria dos trabalhadores da fbrica aderisse a protestos e movimentos grevistas, em 1957 eles j no tinham mais esta capacidade (p. 164).4

Segundo o Dicionrio Houaiss, Assistencialismo seria, do ponto de vista da sociologia, doutrina, sistema ou prtica (individual, grupal, estatal, social) que preconiza e/ou organiza e presta assistncia a membros carentes ou necessitados de um comunidade, nacional ou mesmo internacional, em detrimento de uma poltica que os tire da condio de carentes e necessitados. Do ponto de vista poltico, com contao pejorativa, sistema ou prtica que se baseia no aliciamento poltico das classes menos privilegiadas atravs de uma encenao de assistncia social a elas; populismo assistencial URL: HTTP://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm? verbete=assistencialismo (30/08/04)

Alm de ser resultado de uma acurada pesquisa sobre as manifestaes cotidianas daquele segmento da classe trabalhadora nos anos cinqenta, o livro de Paulo Fontes aponta para aspectos fundamentais da possibilidade de uma ao ofensiva por parte dos trabalhadores: A ao da militncia comunista e sindical no interior da fbrica pde potencializar este descontentamento operrio para a conquista da direo do sindicato, para a organizao no local de trabalho e para realizar uma campanha salarial na empresa em diferentes moldes no ano de 1957. A nova orientao do sindicato tornava-o aos olhos dos trabalhadores em efetivo instrumento para a conquista de direitos, um porta-voz coletivo de seus representados e, portanto, uma necessidade (p. 164). Porm, teriam, efetivamente, os trabalhadores da Nitro experimentado a greve de outubro de 1957 fundamentalmente em funo de uma intensa organizao interna empresa? Esta uma das principais concluses polmicas que Paulo Fontes apresenta em relao ao que outros autores (notadamente Lenico Martins Rodrigues e Armando Boito Jr.) sustentam a respeito, uma vez que, para estes autores, praticamente inexiste, no perodo, organizao sindical nos locais de trabalho. Rodrigues afirma que as greves so organizadas [...] de dentro para fora das empresas (RODRIGUES, 1966: 76) e Boito Jr. Sustenta que o sindicato de Estado no organiza de modo sistemtico e estvel os operrios e demais trabalhadores (BOITO Jr., 1991: 236), sendo, isto sim, um importante fator para sua frgil presena nos locais de trabalho. Parece-me que falta ao texto de Fontes um tratamento mais detalhado da estrutura sindical oficial 5 (montada sobre a unicidade sindical, as contribuies compulsrias, a carta sindical e a justia trabalhista) e o seu efeito moderador nas lutas reivindicatrias dos trabalhadores. O prprio assistencialismo pode e deve ser analisado enquanto importante complemento a essa forma histrica de enquadramento dos sindicatos. Entend-lo como [...] parte da cultura dos trabalhadores e de suas organizaes [...], relacionando-o [...] com as prticas de solidariedade tradicionalmente exercidas por estes, significa perder de vista as determinaes da totalidade social capitalista sobre esta cultura e no explicitar o resultado ltimo do assistencialismo: reforar a subalternidade, obstando, inclusive, manifestaes mais abrangentes e agudas da conscincia de classe, menos atadas ao contingencial. Desde o ttulo do livro presume-se que a questo da cidadania merecer ateno. De fato, em alguns momentos isto se d, como nos trechos seguintes: O desrespeito da companhia aos direitos adquiridos pelos trabalhadores nas leis do Pas eram outro foco de grande insatisfao. A Nitro redefinia o que era direito do trabalhador no mbito de seu espao (p. 163); Organizados e mobilizados, os trabalhadores nitrinos desenvolveram nesse perodo um srie de lutas, como as reivindicaes pelas taxas de insalubridade e pelo abono de Natal, at hoje fortemente, presentes na memria social daquele grupo operrio. At 1964, a Nitro, vivendo agora um perodo de forte decadncia seria conhecida [...] como uma fbrica quente do ponto de vista da militncia sindical. O Sindicato dos Qumicos de So Paulo foi, a partir de ento, um instrumento vital para a conquista de direitos (p. 173). Todavia, no trabalho no se qualifica cidadania. Esta ausncia dificulta, inclusive, a percepo do projeto de cidadania que, eventualmente, aqueles trabalhadores possuam, se que essa questo (a luta por uma extenso dos direitos) realmente tenha ocupado o centro das suas mobilizaes. Pelo exame dos documentos, entrevistas e outras fontes citadas no livro, percebe-se que o eixo da prpria greve de 1957 foi o combate ao arrocho salarial, ou seja, a rejeio superexplorao da fora de trabalho6, remunerada aqum do seu prprio valor de troca. Naquele momento, tais trabalhadores teriam articulado suas reivindicaes mais imediatas ao menos a um projeto de reformas sociais? A identidade que construram permaneceu no momento econmico-corporativo, estendeu-se minimamente a outros segmentos da classe trabalhadora ou, ainda, tangenciou a necessidade desta diferenciar-se com vistas luta pela hegemonia? O enfrentamento dessas indagaes permitira vislumbrar os contornos do que o autor est entendendo por cidadania e, mais que isto, verificar em que medida aquelas lutas operrias se expressam tambm nessa dimenso. Essas observaes em nada diminuem o vigor do livro. O exaustivo trabalho de pesquisa que se pode perceber e a constante preocupao com o fazer-se dos operrios da Nitro Qumica em suas experincias de resistncia credenciamno com leitura obrigatria aos que se interessam pelo mundo do trabalho, quer pelo ofcio de pesquisador, que pela militncia sindical ou ainda, pela absoluta necessidade de se compreender a realidade brasileira. Recebido para publicao em maro de 1998. Edilson Jos Graciolli ([email protected]) Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Professor da Universidade Federal de Uberlndia (UFU). REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BOITO Jr., A... (1991). O sindicalismo de Estado no Brasil. So Paulo/Campinas, Hucitec UNICAMP. RODIRGUES, L. M. (1996). Conflito industrial e sindicalismo no Brasil. So Paulo, Difel.5

Estrutura dos sindicatos montada pelo governo da poca.

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Para a teoria Marxista, os operrios vendem a sua fora de trabalho aos capitalistas em troca de um salrio em dinheiro. A fora de trabalho uma mercadoria comprada e usada pelo capitalista para obter trabalho e aumentar o valor de outras mercadorias. Ao pagar um valor menor do que o valor que o trabalho por eles extrados acrescenta s mercadorias, estariam superexplorando a fora de trabalho e remunerando abaixo do valor de troca dessa fora de trabalho.

ESTUDO DAS RESENHAS SOBRE O LIVRO TRABALHADORES E CIDADOS 1) Mesmo sem ler o texto escrito por Edlson Graciolli integralmente, possvel identificar algumas informaes: a) livro resenhado: b) autor do livro resenhado: c) tema do livro resenhado: d) autor da resenha: e) rea em que se insere o resenhista: f) veculo em que a resenha foi publicada: g) livros citados nas referncias bibliogrficas: 2) Qual a funo da apresentao de informaes sobre o resenhista para o funcionamento do gnero resenha? 3) No dcimo pargrafo, o resenhista introduz outros autores, citados nas referncias bibliogrficas. Qual a relao desses autores com a obra resenhada? Como o resenhista qualifica essa relao? 4) Em geral, uma resenha de divulgao desenvolve-se em etapas em que so realizadas as seguintes aes: apresentar>descrever>avaliar>recomendar o livro. A resenha em anlise apresenta essas etapas. Justifique com passagens do texto.

5) Identifique os pargrafos em que o resenhistaPargraf o apresenta uma concluso do livro que ele classifica como polmica. Faz um comentrio negativo em relao obra resenhada. 6) Leia o trecho abaixo, extrado do manual Sobre a elaborao e a estruturao dos pareceres , escrito por Egon de Oliveira Rangel, que trata de regras a seguir na elaborao de pareceres. Nesse trecho, o autor cita a ltima mxima conversacional de Grice (1962), filsofo da linguagem americano, preocupado com a eficcia das interaes: Por fim, o parecerista deve obrigar-se a observar a mxima da polidez, deixando de lado as expresses que possam agredir ou desrespeitar os destinatrios. A propsito, outro lgico, Copi (1974), argumentando em direo semelhante, chama a ateno para a neutralidade emocional que deve caracterizar a linguagem tcnico-cientfica e, no nosso caso especfico, a dos laudos. Uma das maneiras de ser polido atenuar as afirmaes negativas, que possam agredir o autor da obra resenhada. Identifique as expresses que atenuam a crtica negativa do resenhista. 7) No 13 pargrafo, o resenhista tambm atenua sua opinio sobre o fato de o autor no ter qualificado cidadania. Ele aponta algumas conseqncias positivas que essa qualificao teria para o leitor. Com que verbo e em que tempo verbal isso feito? 8) No 11 pargrafo, o resenhista d sua opinio sobre como analisar o assistencialismo. Identifique a frase em que isso feito e grife os verbos usados. 9) Identifique, nos pargrafos de 1-10, os verbos usados pelo resenhista para mencionar o que o autor da obra resenhada faz na obra e/ou a prpria obra resenhada. 10) Voc deve ter observado que nem todos os verbos tm o autor da obra como sujeito, embora tenha sido ele quem, de fato, realizou a ao expressa pelo verbo. A partir do que voc fez nas atividades anteriores, tire sua concluso sobre as formas de meno ao dizer do autor do texto-base. 11) Ao longo do texto, o resenhista introduz outros autores, citados nas referncias bibliogrficas. Qual a relao desses autores com a obra resenhada? Como o resenhista qualifica essa relao? 12) Compare as resenhas produzidas por Edilson Jos Graciolli e Renato Perim Colistete. Redija um texto em que voc explicite as caractersticas da obra ressaltadas pelos autores. Atividade adaptada de: MACHADO, Anna Rachel (coord.), LOUSADA, Eliane, ABREU-TARDELI, Llia. Resenha . (Leitura e produo de textos tcnicos e acadmicos; 2) p. 47-58 Resenha temtica So Paulo: Parbola, 2004.

No se restringe a uma s obra e/ou a um s autor. Pode envolver vrios textos-base, uma vez que desenvolve um tema . Pode apresentar a evoluo de determinado conceito em um nico autor (por exemplo, podemos construir uma resenha temtica com o propsito de demonstrar como a noo de cultura evoluiu nas obras do autor X); Pode apresentar e comparar posicionamentos de diferentes autores sobre um mesmo tema (por exemplo, podemos construir uma resenha temtica com o propsito de demonstrar como os autores X, Y e Z definem cultura).

Nas prticas de produo de textos acadmicos, a resenha temtica muito utilizada, uma vez que pode compor a fundamentao terica de projetos ou relatrios de pesquisa, artigos acadmico-cientficos, monografias, teses, dissertaes ou outros gneros do discurso acadmico, em que se discutem os pressupostos tericos que sero utilizados. Na composio da resenha, preciso ter cuidado com os modos de fazer referncia ao discurso do outro. Vejamos alguns exemplos: No entendimento de Machado (2003) /De acordo com Machado (2003)/ Segundo Machado (2003).... Nas ltimas dcadas tem havido crescente interesse pelo estudo de gneros (cf. MARCUSCHI, 2002, MACHADO, 2003, BONINI, 2001). Motta-Roth (2002) discute a funo social da resenha. Outro cuidado importante diz respeito escolha de verbos que atribuem atos de atos de linguagem ao autor do texto-base (a escolha de determinados verbos evidencia que o aluno-retextualizador conseguiu inferir as aes discursivas realizadas pelo autor do texto-base). Exs.: definir, descrever, discutir, confrontar, abordar , etc. Tambm o uso de modalizadores importante na construo do discurso acadmico. Exemplos: Esta pesquisa parece demonstrar... Nosso trabalho busca oferecer algumas contribuies... Vejamos um quadro adaptado de Carvalho (2005), que sintetiza o processo de composio de uma resenha temtica Etapa 2: Produo da resenha temtica 1) Planejamento a) comparao das idias discutidas nos textos-base, com o agrupamento das concordncias e das discordncias; b) articulao do que foi levantado para a constituio do novo texto a resenha temtica. 2) Redao a) apresentao e contextualizao do tema (com nfase na sua relevncia e pertinncia); b) dados breves sobre cada autor e sua obra ou dados sobre cada obra (quando se tratar de uma resenha sobre idias de um mesmo autor); c) apresentao das idias de cada autor (ou texto); d) articulao entre as idias dos diferentes autores (ou textos). 3) Reviso alli. Portugus Instrumental: produo de texto acadmico. So Paulo: PUC - SP, 2005.

Etapa 1: leitura e estudo dos textos-base a) Leitura e compreenso de diferentes textos-base b) Identificao dos pontos principais de cada um a partir dos objetivos de leitura

Fonte: CARVALHO, E. M. et

Vejamos mais algumas orientaes sobre o funcionamento da resenha temtica na viso de Koche et al (2008): Nesse gnero, o ttulo atribudo pelo resenhista, de acordo com o tema. Por exemplo, em uma resenha de textos que abordem o amor, pode-se escolher o que se julgar mais significativo, ao contrrio da resenha de obra ou de artigo que recebe como ttulo a referncia do texto resenhado, conforme a ABNT. Na escrita de uma resenha temtica, torna-se necessrio situar o leitor a respeito do tema a ser abordado, contextualizando o assunto em um pargrafo introdutrio. Em seguida, expem-se as idias centrais de cada um dos textos resenhados. Se a resenha for crtica, haver a apreciao do resenhador. No final, indicam-se a bibliografia, a assinatura e a identificao do autor da resenha. Leia os textos que seguem, A favor da esmola e Contra a esmola, e observe um exemplo de resenha temtica produzida a partir deles: Texto A A favor da esmola Nunca consigo deixar de dar esmola. Quando vejo uma pessoa na misria absoluta, meto a mo no bolso e dou uma ajuda. Naquele momento em que recebe uma ajuda, a pessoa excluda de um processo social injusto pode comer alguma coisa. Em tese, pode ser correta esta idia de que dar esmola no bom nem para quem d nem para quem recebe. Mas, na prtica, a realidade outra. Quem pede esmola est ou deve estar com fome. Vivo em contradio, e acho que a mesma que, no fundo, todo mundo vive. O ideal seria um mundo sem esmola em que todos tivessem emprego, ganhassem seu salrio, tivessem a sua dignidade, sua cidadania resguardada. Mas, infelizmente, ns vivemos em um pas onde 20% de populao vive na indigncia. Com tanta misria, o que eu vou fazer no momento em que um menino, com fome, descalo, visivelmente fraco, me pede uma esmola? Vou dizer para ele: No, v trabalhar! No posso dizer isso. Estas campanhas como no d esmolas s tero validade se antes for criada uma alternativa verdadeira. Se no, tornam-se perversas. Na situao atual, negar uma esmola a um excludo um ato de insensibilidade. No difcil acabar com a misria no Brasil. Mas no basta apenas o discurso. A comparao entre o que se faz na rea social com o que se faz para salvar bancos

vlida, porque, para algumas coisas no Brasil, somos rpidos e eficientes, mas, para outras, somos lentos e ineficientes, como no trato da questo social. A misria uma vergonha para todos ns e, s vezes, chegamos a nos sentir cmplices. Em alguma medida podemos ter responsabilidade, uns muito mais do que a maioria. A esmola no alienante, a no ser quando a nica ao contra a misria. Eu posso, ao ver uma pessoa cair na rua, dizer, comodamente: um mdico que deve atender voc. Acho que contemplar ou passar por cima a pior coisa que uma pessoa pode fazer (SOUZA, Herbert de. Deve-se dar esmolas? Isto, So Paulo, 19 jun. 1996. Disponvel em: HTTP://www.zaz.com.br/istoe/polemica/139404.htm. acesso em: 28 de fev. 2002). Texto B Contra a esmola Esmola o que se d por caridade a algum que necessita. Deve ser evitada e utilizada em ltimo caso, quando todas as outras alternativas falharam. A todo o ser humano, qualquer que seja a situao em que esteja vivendo, preciso garantir dignidade. Desde o direito privacidade, ao livre-arbtrio, educao, at o direito ao trabalho atravs do qual se entende que a prpria pessoa possa administrar sua vida e obter o que necessita para viver. Quando uma famlia se desestrutura, quando enfrenta alguma tragdia, doena prolongada de seu chefe, ou alguma impossibilidade para o trabalho, deve-se entender que est situao no definitiva e tem que ser encarada como passageira. Neste momento, quando se recorre esmola, leva-se junto com ela tambm a humilhao, o rebaixamento, condio de favor. Ou seja, junto com o ato de caridade est implcito o ato de vontade: dou porque quero, no tenho obrigao. Com a esmola, o direito acaba e o necessitado perde a condio de ser humano sujeito de direitos e passa condio de objeto que vai receber alguma coisa dependendo da vontade de quem d ou de quem a administra. Por no se tratar de direitos, a administrao da esmola tambm no tem critrios objetivos, ou seja, d-se sempre a quem v, a quem est mais perto e nem sempre a quem mais necessita. Uma sociedade quem conta com polticas pblicas para crianas, idosos, doentes e desempregados no precisa lanar mo de esmolas. A manuteno de polticas sociais estveis, alm de garantir direitos, tem tambm de garantir a universalidade do atendimento, ou seja, o servio ou o benefcio tem que atingir a todos que dele necessitam. A esmola s serve para deixar em paz a conscincia de quem a d. Ainda assim, a paz falsa (ANTNIO, Alda Marco. Deve-se dar esmolas? Isto, So Paulo, 19 jun. 1996. Disponvel em: HTTP://www.zaz.com.br/istoe/polemica/139404.htm. acesso em: 28 de fev. 2002). Exemplo de resenha temtica:

A problemtica da esmola O ato de dar ou no esmolas vem sendo objeto de inmeras discusses ao longo dos anos, tendo em vista se tratar de um assunto extremamente delicado e polmico. Souza (1996) defende a idia de que quem pede esmola est passando por necessidades, e, se em nosso pas todos tivessem emprego e dignidade, ela no existiria. O autor afirma que para combater a esmola necessrio uma alternativa verdadeira, com aes rpidas e eficientes no mbito social. Souza acrescenta que a misria, alm de ser uma vergonha para todos ns, tambm de nossa responsabilidade. E conclui dizendo que a esmola s passa a ser alienante ser for a nica ao contra a misria. J Alda Antnio (1996) posiciona-se contrariamente ao ato de dar esmolas, dizendo que s devemos faz-lo em ltimo caso, quando todas as alternativas falharem. Faz uma reflexo acerca do direito dignidade que todo o ser humano possui e que pressupe, entre outros, o direito ao trabalho, atravs do qual toda pessoa possa obter o que necessita para viver. Para ela, todo aquele que recorre esmola perde a condio de ser humano, sujeito de direitos, e passa condio de objeto que vai receber alguma coisa dependendo da vontade de algum. A autora prossegue argumentando que, numa sociedade que conta com polticas pblicas para crianas, idosos, doentes e desempregados, no se faz necessrio lanar mo de esmolas. Porm, salienta que preciso garantir que esses benefcios atingiro a todos que dele necessitem. Alda Antnio finaliza afirmando que a esmola s serve para deixar em paz a conscincia de quem a d e, mesmo assim, essa paz falsa. Acreditamos que essa uma discusso muito valiosa e que deveria ser feita por ns cidados, uma vez que todos esto direta ou indiretamente envolvidos nela. muito importante que cada um encontre a sua maneira de contribuir e se posicionar diante dessa questo, avaliando as conseqncias de suas atitudes. Bibliografia: ANTNIO, Alda Marco. Deve-se dar esmolas? Isto, So Paulo, 19 jun. 1996. Disponvel em: HTTP://www.zaz.com.br/istoe/polemica/139404.htm. acesso em: 28 de fev. 2002). SOUZA, Herbert de. Deve-se dar esmolas? Isto, So Paulo, 19 jun. 1996. Disponvel em: HTTP://www.zaz.com.br/istoe/polemica/139404.htm. acesso em: 28 de fev. 2002). A.S.B Aluna do Curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul CARVIMaterial extrado de:

KOCHE, Vanilda Salton, BOFF, Odete Maria Benetti, PAVANI, Cinara Ferreira. Prtica textual : atividades de leitura e escrita. 5. ed. Petrpolis: Vozes, 2008.

ATIVIDADE 2 Leia, com ateno, os textos extrados do site http://www.diariodepernambuco.com.br/brasil/nota.asp?materia=20100302082937&assunto=21&onde=Brasil, acesso em 20 de maio de 2010. Ponto crtico O sistema de cotas deve ser mantido e ampliado nas universidades brasileiras? SIM Nelson Inocncio No h novidade nenhuma de que a nossa sociedade foi construda a partir de modelo injusto, pois contemplou alguns segmentos e desconsiderou vrios outros. impossvel dizer que as oportunidades aqui no Brasil so as mesmas para os brasileiros. Os indicadores, na prtica, mostram que somos uma sociedade desigual, inclusive no que diz respeito populao negra. Ento, a inteno da poltica de cotas, por exemplo, minimizar o dano provocado por esse modelo injusto de incluso, que foi a base da formao da sociedade. Quando a gente trabalha com indicadores sociais, nos damos conta de que o negro a maioria dos excludos. Estamos num estado democrtico de direito, mas a democracia se constri a todo tempo e quando falamos das relaes raciais, ela no demonstra ser democrtica. A gente v isso na representao dos brancos e a ausncia de negros no poder. Os espaos privilegiados so ocupados 90% pelos brancos. E por que defender as cotas? Pois a educao um caminho para formar cidados e a universidade pblica tambm vive essa contradio, que a de no conseguir contemplar os excludos de um modo geral e por consequncia no conseguir incluir a populao negra de maneira, no mnimo, satisfatria. Ento, a ideia da cota a formao de uma elite negra no Brasil. Poucos ficaram incomodados com a formao da elite branca, no entendo esse desconforto com a elite negra. Vale lembrar tambm que quando falamos de negros e brancos no tem nada a ver com a viso sobre gentica. A discusso que o movimento negro trava em torno da representao das pessoas que so vistas como negras. A nica inteno visar uma sociedade mais democrtica Coordenador do ncleo de estudos afro-brasileiros da UnB. NO Ibsen Noronha O meu ponto de vista se refere a um argumento recorrente dos que esto favorveis s cotas, que a dvida histrica que se tem para com os negros. Ora, quando se fala em dvida histrica se pensa na escravido e ns temos que estudar a escravido com um certo detalhe, pois ela vista de maneira superficial. Isso porque, ns temos negros livres no Brasil desde o sculo 16. No sculo 17 aumentou esse nmero, inclusive alguns se tornaram nobres, por exemplo, na Batalha de Guararapes. No sculo 18 tambm temos muitos negros livres e no 19, tendo em vista que as leis de abolio da escravido foram vrias, aumentou esse nmero, a ponto de em 13 de maio de 1888 termos apenas 5% da populao brasileira de escravos. Ora, se ns racionarmos historicamente, esses negros livres ingressaram na vida social e muitos tiveram escravos. Isso comprovado e documentado pela histria, de maneira que agora o meu raciocnio o seguinte: se ns damos cotas hoje baseadas na raa, ns temos o perigo de cometer uma grande injustia, pois sabemos que podemos dar uma vaga baseada na raa para um descendente de escravocrata. E ns vamos negar vaga para um branco que pode ser imigrante recente, por exemplo, um polons, italiano ou ucraniano, que no tem nada a ver com esse problema histrico e vo ser lesados por ter uma cor. Alm disso, existe um princpio de direito que atravessou sculos, que o seguinte: dar a cada um o que seu e no lesar a ningum. Se ns lesamos algum com essa poltica, no podemos considerar que h justia Professor de histria do direito do Instituto de Educao Superior de Braslia (Iesb). Leia, tambm, os trechos, retirados de matria publicada no jornal O Globo, em 02 de abril de 2004. O ministro da Igualdade Racial, dson Santos, defendeu as cotas: Uma grande nao no se constri em cima de desigualdades. Sem polticas especficas para os negros, segundo Santos, o Brasil precisaria de pelo menos trs dcadas para superar as disparidades raciais, caso fosse mantido o ritmo de crescimento econmico anterior crise. O presidente da comisso, Demstenes Torres (DEM-GO), apresentar voto em separado. Ele contra a reserva de vagas para negros, sob o argumento de que estudantes pobres devem ter direito ao benefcio, independentemente da cor. Demstenes pensa em reduzir o percentual de vagas para cotas: Vamos estudar at que ponto vai a autonomia universitria declarou o senador. http://www.andifes.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1336&Itemid=104] [Acesso em 4/9/2009,

Elabore uma resenha temtica , procurando articular os posicionamentos dos autores dos textos lidos.