51219446 entre memoria e historia a problematic a dos lugares pierre nora

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1993

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10

HISTORIAprojeto r

N"10

Dezembro/93

REVISTA DO PROGRAMA DE ESTlJDOS POS-GRADlJADOS EM HISTORlA

E DO DEPARTAMENTO DE H1STORIA

PllC/SP

ISSN 0102-4442

Proj lhstotin S ao P au lo p .I - 1 71 -: Dc/cmbrof'}3

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PROJETO HISTORlA: Revista doPrograma de Estudos Pos-Graduados em Historia e do

Departamento de Historia da PUC-SP. (Pontificia Universidade Catolica de SiloPaulo). S§oPaulo, SP - Brasil, 1981.

Pu b li c ac a o s em cs t ra l a p a rt i r de 1985.

1981-1985,0-4

1986,5,6

1987,7

1992,8,9

1993, IO

ISSN 0102-4442

Projeto Histori.

Editora

Maria Antonieta Antonacci

Conse lho Edi toria l

Antonio Pedro Tota

FemandoLondoflo

Marcia Mansor D 'Alessio

Maria Amotlieta Antonacci

Maria lzilda Matos

Mana deLourdes Monaco Jonotttfara Aun Klwury

fvone Dias Aveline

Edue - Edi tora d . PUC-SP

Dir~o

Man'a do Canna Guedes

Prod~iio

Eveline Bouteiller Kavakama

Rcvisso

Berenice Haddad Aguerre

Editora~o EletrOnica

lI'aldir AntOf1ioAlves

Capa

Vista Produ~iJes Grr.ificas

Educ- Editora da PUC-SP

~7.o n te A l eg re , 9 8 4. C a ix a P o s ta l 7 9 82 - CE P 0 5 01 4 -« ) Ie .. 873- 3359 - PABX 263 -0 2 1 1 -R. 350 - S ao P au lo _ S P

suMAruo

Apres en ta cao .. . . . . . .. 5

TRADU(:OES

ENfRE MEMORIA E HISTOR1A A PROHL EMA T ICA oos LUGARESPierre Nora. Traducao: Yara Aun Khoury .. , ' . , , , , . , . , , 7

M lTOB100RAFIA EM HISTORlA ORAL

LUisa Passerini Tradu.;:ao: Maria Therezinha Jamne Ribeiro. . . ' . 29

SONHOS UCRONICOS. MEMORLAS E POSSIVEIS MUNOOS DOS

TRABALHAOORES

A le ssa ndr o P or tell i T raduc ao: Ma na The rezi nha Ja nine R ibe ir o, . , , . . , . , . .. 4 1

ARTIGOS

PRODUc: ;: J\O ACADEMICA DA POS-GRADIJACA.O EM HISH)RIA DA PUC-SP

Maria de Lourdes Monaco Janot ti eMarcia Mansor D' Alessio .

CULTURA E HISTORlA SOCIAL: HISTORIOGRAFIA E PESQUISA

Dca Ribeiro Fenelon, , , , , , ... , , , , , , , . ' .. , , . . . , ..... , . , . 73

HTSrORIA, CULfURA E REPRESENTACAo . 91

ASPAl.AVRAS E OS HOMENS: ORAH)RIA, CR()NICA E NOVELA NA

sAo PAULO DE 32

Elias Thome Sal iba

HISTOR1A EM CA1v1PO MINAOO (SUBTERRANE OS DA VIOLENCIA)

Antonio Torres Montenegro, .. , , , , , , .... , , . , , ,. 115

59

, . .. 103

ENTREVlSTA

MICHELLE PERROT. Ent revi stada po r I I ermet es R eis de A ra ujo. , . , . . .. . , , . , . 125

PESQUISASHISTORlA SCX::IAL DA SAUDE, D A O O EN (,::A E D A M OR TE E SUAS

REPRESENT AC;OES NA CIDADE DE sz,o PAUlO (1830-1940)

Yvone Dias Avelino , , , , . . , , , , .. , """""'" 139

rRABALHO, CULTURA, EDUCAC;Ao ESCOLA NOVA E CINEMA EDUCATIVO

NOS ANOS 192011930

Mana Antonieta Antonacci . 147

RESENHASC ill .TURA E CIDADE EM AS C IDADE I , ' /A'VlsivElS

Eliane Ordunha Coelho 167

oCOTIDIANO E 0 EXTRAORDINARIO EM A . \ .f ORTE f' [ lM A F E ST A

Rairnundo Donato de Prado Ribeiro 171

LINGlJAGEM UTERARIA E I 1I SrORlA EM ( ) CAAIPOEll CIDADE: NAHl.STORIA E NA LlTERATURACarlos Alberto Alves de Souza 175

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APRESENTA(:AO

Produ . .. .r rcg is tros C , para h is tonadorcs formados no corpo a corpo com 0

dialogo C as evidcncias de sujcuos SOCl,US dcsrc e de outros tempos/espacos, questao

de reccssi dadc c de compronusso soc ia l Ass im . quando dol redcfi ni cao de nossas

l inhas de pcsquisa ern dl~:lo a Historia e Cultura. colocou-se 0 imperauv 0 de

registrar 11. Revista ProJCIO Histona angulos des sa trajetona. subjacerue a mtercao

d e t orn a- la u rn m ci o de cornunicacao mars scnsivcl is demandas do atual perfil das

pcSqUlS3S CI11 andamcntoo interesse pclo cstudo da cul tura advern de rcflexoes da pratica de ensino/pes-

quisa em 10010 da Histona SOCIaL apa r ti r d e recortcs s o br c l ut as h is to n ca s, a r es p eu o

da orgaruzacao do trabalbo. sobre difercmcs formas de lutas socia is urbanas. sobre

const ituicao/reconsutuicao de podercs e sabcres. assirn como sobre const rucao da

memoria e das represcruacoes nas suas rnuluplas intcrferencias nas cstraregias dos

grupos socials

Def inmdo ncstcs t crmos as t crnancas em 10010 de Cullum e Trabalho. Cul tura

e Cidadc. Cul tu ra e Rcprcscmacao. prc tc rdcmos contcmplar rccor tes. abordagcns e

suponcs documcntais que deem eonta da dinanuca das prat icas sociais c das questocs

historiograficas recerscmentc colocadas, q ua nt o ,1 C0 m pa nh cm f lO S SO Salunos. que.

egresses dc difercnlcs movirncntos sociais c cxpencncias profissionais. instigam este

repcnsar c refazer de caminhos de ens ino c pesquisa historica

N es sa i nt cn ca o c q ue a R cv is ta e xp rc ss e e st a e nfa se q ue e sta rn os dando acuitum. cnicndida como sistemas de valorcs, crcncas. habitos. t radicoes. 110 contexte

dos quais os suj ei tos l us to ri cos cxpcr imcntam suas rel acoes soc ia is e a tr ibuern s ig-

nificado a s ua s ao;ocs. considcracocs c cxp rcssocs Q ue sc concretize como um canal

a r na is n o s enudo d e enf rc nta r o s s il cn cio s em rcl~ao a r cf le xo es sob re mode s d e

v id a g lo bal . a pr cc n< 1i do s co mo m od es d e l ut a, ): 1 q ue s cm pr e corulitantes e contra-

dit6rios

Como da inte~:lo a reah7A1\'<lointermciam-sc OS possiveis, 0 que conseguimos

p ub hc ar . n o scntidc de tornar publi co c d isponivc l a l im campo mai s ampli ado de

interlocutorcs. foram instantaneos desta trsjctcna. A empre it ada conti nua abert a a

espera de out ras t en ta ti vas . suj ei ta a out ros oomeros do Pro je to His t6ri a ou a out ros

meios de divulgacao, mesmo porque as l inhas de pesquisa est ao em const rucso e a

lustona continua.

Maria Antonieta Anlonacci

Editoro

 

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TRADU(:OES

ENTRE MEMORIA E HISTORIA"

A problematica dos lugares

Pierre Nora··

Traducao: YaraAun Khouryssv

1. 0fim da historia-memoria

Acclcracao da his to ri a. Para a lcm da metafora, e p re cis o te r a n0l ,( 30do que

a expressao s igni fi ca : uma osc il acao cada vez mai s rap ida de urn passado def in it i-

v ar nente mor to , a p er ce pc ao g lo ba l d e qua lq ue r c oi sa c omo des ap ar ec id a - uma

ruptura de equil ib ri o. 0 arrancar do que a inda sobrou de viv ido no cal or da tradicao,

no mut ismo do costume, na repet icao do ances tral , sob 0 impulso de urn sentimento

historico profundo. A ascensao it consc ie rc ia de s i mesmo sob 0 signa do tenninado,

o run de aIguma coisa desde sempre comecada Fala-se tanto de memoria porque

cia MO existe mais.

A cur io sid ad e p el os l ug ar es ond e a memor ia s e c ris ta liz a e s e r ef ug ia e st a

ligada a este momento part icular da nos s a h i s to r ia , Momento de articulacao onde a

con sc ie nc ia d a r up tu ra c om 0 p as sa do s e con fund e com 0 s en timent o d e uma

memoria esfacel ada, mas oIXIe 0 esfacelamento despcrta ainda mem6ria suficiente

para que se pos sa coloca r 0 p roblema de sua enc amacao . 0 s en tim en to d e con -

t inui dade t orna-se res idua l aos l ocai s. Ha loeai s de memoria porque MO ba mai s

meios de mem6ria.

Pensemos nessa mutilacao scm retorno que represcntou 0 fim dos camponeses,

esta colet ividade-memoria par excelercia cuja voga como objeto da hist6ria coincidiu

com a apogeu do crcsc imemo industr ia l. Esse desmoronamento cen tral de nossa

• In: Les lieux de memoire. I La Republique, Paris. Gallimard. 19&4.pp. XVIII· XLII. Tradu'ilio autorizada

pelo Editor . C Edit ions Gall imard 1984.

. . D ir et or d e e st udos na "Eco le d eHa ut es E tude s e nS ci en ce s S oc ia le s " .

•· ·Depar tamento deHistor ia , P tJC·SP

Pm]. Hi.lona, Silo Paulo. {I01.dez.1993

 

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memoria 56 C . no en ta n to , um exernplo E 0 mundo inteiro que cntr ou n a danca,

pclo fcnomeno bern conhecido ci a mundial izacao, da dernocratizacao da massifi-

cacao , da mcdia ti zacao. Na pcr ifer ia , a mdepcndenci a das novas nacoes conduziu

para a h is to ri ci dade as soc iedades j a despert adas de seu sono etnol cg ico pel a v io-

lcntacao colonial. E pelo mesrno movimento de descolonizacao interior. todas as

ctnias, grupos, farnil ias, com forte bagagem de memoria e fraca bagagem historica.

Fim das sOCicdades-mcmoria, como todas aquelas que asseguravam a conservacao

c a t ransmi ssao dos val ores , i grej a ou escol a, famil ia ou Estado Fim das i dcolo-

gias-mcmorias. como todas aqucJas que asseguravam a passagem regular do passado

para 0 futuro. au indicavam 0 que sedeveria reter do passado para prcparar 0 futuro:

qucr se trail ' da reacao, doprogresso ou mesmo da revolucao Ainda mai s: e 0 modomesmo da pe - hi"

, , rcepcao stonca que, com a ajuda da midia, dilatou-se

prodi~losamente. substituindo um a memoria voltada para a h e ra nc a de sua propr ia

lIltmudadc pcla pelieula efemera da atualidade

Aceleracao 0 que 0 fen6meno acaba de nos revelar bruscamcnte e toda a

distancia entre a memoria verdadeira social intocada, aq I . , dad d't' '. - ,,' ue a cUJas socle es Ias

Plllnll~vas. ou a,rc3Jcas,represcntaram 0 modelo c guardaram consi go a scgredo _ea h is to ri a q ue e 0 que nos sa s s oc ' d ad d '

ie e s COn enadas ao csquecrmento f azem dopassado, porque lev ada s pela m dan E ,. . '., . , u ~a, ntre tuna meUlOna mtegrada, ditatorial einconscrente de SI mesilla, organi sad da .

za ora e to e-pcderosa, espontaneamente atuaii-/ .adora urna memoria sem passado q nd .

. ue reeo uz etemamente a hcranca, conduzindoo anlIgamente dos ancestrais ao t . dif ., empo III erenClado dos her6i s das ori gens e do

m ilo - e a nossa, que so e histo ' , '. '..' na, VeSUglOe trilha Distancia que s6 se aprofundoua I ll ed ida em que os homens fora nb c

III reco c endo como seu u rn pod er e me smo u rndever de mudanca, sobret d 'I . u 0 a par ti r dos t empos modemos. D is tanc ia que chegalOJCnum ponte convulsive

Esse aITancar d a ,. b .memona so 0 impulso conquistador e erradicador da historia

rem como que u rn efeuo d I

antigo n o f im d ao ui e .~ve 3trao : a ruptura de um e lo de i dent idade mui toe cia' , . oaqUl l

Oque viviamos COmolima evidencla. a adequar;ao da hist6ria

menlOna_ fate que 56 . t,- td - . exis a uma palavrd em frances para designar a historia\ 1\1 a e a Operar;ao lIltelectual " ,c . que a l ama mtehglvel ( ° que os alemaes distinguem

por ,esch,cltte e Hi.\1or;e) enfc .& d d .. ,mu " C e Itnguagem muitas vezes sal ientada, for-nece aqlll sua p rofunda v d d - .

tu er a e 0 mOVlmento que nos transporta e da mesmana reza que aqucl e que 0 rep res ta r •

n ao tc ri amo s n ee id d d en p ar a no s, S eh ab lta sSCI llOSa in da nos sa memo ri a.eSSI ace Ihe c onsagr ar III N"-' _

haven" memo , gares. dU havena lugares porque nao" na transportada p ela I ' " ,

, 'id ' ustoria Cad a ges to , a te 0 rnais cot idiano, sena\ 1\I 0 como lima rcpclll;i!o reli i d _

g osa aquil o que sernprc sefez, nurna i dent if icacao

carna l do a10 e do sen ti do . Dcsdc que haj a ras tro, d is tanc ia . mcdiacao, MO estamos

mai s den tro da verdadeira memoria ma s dentro da hisroria. Pensemos nos judeus,

confi nados na f idel idade cot id iana ao r it ua l da t radi cao Sua const it ui cao em "povo

da memoria" exc lu ia urna preocupacao com a his to ri a, a te que sua abert ura para 0

mundo modemo lhes impos a necessi dade de his to ri adores .

Memoria , h is to ri a: l ange de serem sin6nimos, t omamos consc ienc ia que t udo

opoe urna a outra. A memoria c a v ida. semprc earregada por grupos v ivos e , nesse

sen ti do , e la est a em pcrmancnt e cvolucao, abcrt a a d ia le ti ca d a lcmbr an ca e do

csquecimento, i nconsc ient c de suas dcforrnacocs succssi vas, vul nerave l a t odos os

usos c manipulacocs. succptivcl de longas latcncias e de repcntinas revi talizacoes.

A h is to ria e a r ec on st ru cso s cmp rc problernatica e in comp le ta do que HaO cxistc

rnais. A memoria c urn fcnomcno s er np r e a r ua l. 1 1 1 1 1 elo vivido no eterno prescnte;a h is to ri a, uma represent acao do passado . Porquc e afc ti va c magica, a memoria nao

s e a comoda a d et alh cs que a con fo rt am: c ia s c a lir nc nta d e lemb ranc as v ag as ,

telescopicas, gJobais ou flutuantcs, particularcs Oll s imboli cas, sensi ve l a t odas as

transferencias, cenas, censura 011 projccocs. A historia, porquc operacao intelectual

e l ai ci zant c, demanda anali se e d iscurso cri ti co . A memoria i ns ta ls a Iembranca 110

s ag ra do , a h is to ria a lib er ta , c a lo rn a s er np re p ro sa ic a. A memo ri a eme rg e d e um

grupo que ela une , 0 que qucr dizcr, (;OIllO Halbw achs 0 fez . que M tantas mcmorias

quantos grupos exi st en t; que c ia C, por natureza, multipla e dcsacelerada, colct iva,

p lu ra l c in di vid ua li za da A h is to ri a, a o con tr ar io , p er te nc e a t odos e a n in gu em, 0

que I he da uma vocacao para 0 uni ve rs al . A memor ia s c enr aiz a no con cr et o, n o

espaco, no ges to , na imagem, no obj et o. A historia so se liga a s continuidades tern-

porais, a s e vo lu co es e as rclacoes das coisas. A memoria e wn absoluto e a hist6ria

so conhccc 0 relative.

No coraeso da his to ri a t raba lha wn cri ticismo destrutor de memoria espon-

tanea. A memoria e sempre suspe it a para a h is to ri a, cuj a verdadeira missao e des-

t ru i- la e a r ep eIir. A historia e des li gi timacao do passado viv ido. No hor izon te das

soc iedades de his to ri a, nos l irni tes de urn mundo compl et amente h is to ri ci zado ,

haveria dessacralizacao ult ima e defirutiva. 0 movimcnto da historia, a arnbicao

historica n a o s a o a cxaltacac do que verdadeiramente aconteeeu, mas sua anulacao,

Sem duvida urn crit icismo generalizado conservaria museus, medalhas e monumen-

lOS, isto e . 0 arsenal necessario ao seu proprio trabalho. mas esvaziando-os daqui lo

que , a nosso ver , os faz l ugarcs de memoria . Uma sociedade que vivesse i nt egra l-

mente sob 0 s igno da his to ri a nao conheceri a, a fi na l, mai s do que uma sociedadc

tradicional , lugares onde ancorar sua memoria.

I'm), Histona, Sa" / /0 (10),dez. /193Prr1J ;H is fona. SO O P,..lo. (1OJ, th:. 199J 9

 

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, U rn dos s inai s mai s t angive is desse arrancar da h is to ri a da memoria e. talvez,o l ni ci o de urna historia da historia, 0 despertar recente. na Franca, de urna cons-

ciencia historiognifica. A h i st o ri a e , m a is p r e ci s ar n enr e , aquela do cesenvolvrmeruo

nacional, con stit uiu a ma is f or te d e oossas tradil;Oes coletivas: nosso meio de

memoria, por excelencia, Dos cronistas da Idade Media aos historiadores corucrn-

poraneos da hist6ria "total", toda a tradi~ilo hist6rica desen\'olveu-se como excrcicio

regulado da memoria e seu aprofundamento espontaneo, a reconstituicao de urn pas-

sado sem lacuna e sem fal ha . Nenhum dos grandes h is to ri adores desde Fro issart .

tinha.. sem duvida , 0 sentimento de so representar uma memO r ia p a rt ic u la r. C omyn e s

nao tinha consciencia de rccolher s6 uma memOria dinastica L P I" ,memoria france So ' . '. .' a ope uuere wna

sa, ssuet um a memona monarqUica e crista. \bl taire a memoria

d?Sprogres~os do genero human e , Mi che l er unicamenle aquela do " po vo " c Lavissc

s o a mem6na d a ~ao, Muito pelo contnirio, eles estavam imbuidos do seraimentoque seu pape l consistia e stabelecer . . . . ,

'. urna memona ma rs p o si u va do que as preceden-tes, mars globahzante e mais explicativa. 0arsenal cJ' cn li fi d I hi . ' foidotada 'l ICO 0 qua a istcna 01

r • no secu 0 passado so serviu para reforcar poderosamentc 0 estabelecimentocnt ico de urna memoria verdadeira Todos os grandes '

. . 'n rcrnane]amenlos historicosCOTlSlstlrnmem alargar 0 campo d a memoria coleu

va.Nu m pais como a F r an c a a hi t" d hi .,

. • Sona a stona nao pode ser uma opcracaomocente, Ela traduz a subversao interior de urna hi I' ' ,' , ", ' S ona-Il lcmona por uma historia-

cnuca, e todos os historiadores pretendcram d . '. ,seus predeces M ,enUIlCIar as r nitotogias merairosas de

sor es . a s a lguma cor sa f undament al s e i nic ia q uando a h is to ria

e .om: a ~a ze r s~~ p r6pr ia h is to ria . 0 n as cim en lo d e uma p reocup ec so h is to -nog lea, e a his tona que se empenha em bopropria, descobrindo ' . em SCar em si mesma 0 que nao e cia

-se como vruma cia memoria e faz nd fdela, Num pais q _<_ dari 'h ' . ' _e 0 urn c s o rc o p ar a s e l iv ra r

ue "alJ a a IS10na lim I dinaeional a histo'ri d hi ' . pape iretor e foonador ci a conscieneia

, a a stona nao se encar re . dEstados Urud . . gana csse conteUdo polemico. Nos

o s, p or exemplo pars de memO' I I '

a disciplina foi ' na p l ira e de conlnbui<;oes multiplas,da . . I sempre praticad~. As diferenlcs inlcrpreta<;Oes da Inde ndencia ouguerra CIV1l, apesar de SuasIrnp li cac; oes r n . , pe

nao quest ionam a T--1J·,..;J· ,Po t ars pcsadas que sej am as t ramas,

.au ..,...0 ameneana seja porqt .ou nilo passe princ' I ' ie, own certo sentJdo, ela Mo exista,. , lpa mente pela historia. A o centrario . .e Iconoclasta e irreverente EI' ' na Franca a histonografia

. a consrste em tomar p . 00'tuidos da tradicao ~uma batalha ha am Sl o s ~e to s melb er c on su -

C ve como BOllVine • .o pequeno Lavisse _ para d ' . s, urn manual canoruco, como

emonstrar 0 mecarusmo e . , .condi<;Oes de sua claborn"'! E'·. reconstltmr ao maximo as. .,....0. IOtrodullf a duvida '" _.arvore da memoria e a c d hi :. no coracao, a lanuna entre a

asca a lstona F hi. azer a Istonogr afia da Revolucao

Francesa, reconst it ui r sel ls mit es e suas i nt erpret acocs, s igni fi ca que nOs nao nos

ident ificamos mais complctamcnte com sua beranca . Int cr rogar uma t radi cao, por

mai s veneravel que e la scj a, c nao mai s sc reconhecer como seu uni co por tador.

Ora , n il o sao uni cament e os obj et os mai s sagrados de nossa t radi cao nac iona l que

se propoe urna h is to ri a da h is to ri a; i nt er rogando-se sobre seus meios mat er ia is e. :

conce it ua is , sobre os procedimentos de sua propr ia producao e as e tapas soc ia is de

sua d ifusao , sobre sua propr ia const it ui cao em t radi cao, t oda a h is to ri a ent rou em

sua idade his to ri ografi ca , consumindo sua des iden ti fi cacao com a memoria . Uma

memoria que se t ornou, e la mcsma. obj et o de uma his to ri a possl vc l.

Houv e Ul ll tempo em que , a tr av es d a h is to ri a e em to rno da Nacao , uma

tradicao de memoria parecia ter achado sua cristalizacao na sintese da III Republica.

Desde Lettres sur l 'bis toire de France, de Augustin Thierry (1827) a le a Histoire

sincere de la nation francoise . de Charles Seignobos, adotando uma larga crorolo-

gia. Historia, memoria. Nacao mautivcram, entao, mais do que urna circulacao natu-

raI: wna circularidade complcmcruar, uma simbiose em todos os niveis, cient ifico e

pedagogico, t eori co e prauco A defin icao nac iona l do present e charnava i rnpe-

riosamente sua justi ficativa pela i luminacao do passado. Presente fragi lizado pelo

traumatismo revolucionario que impunha l ima reavaliacao global do passado monar-

qui co ; f ragi li zado t ambem pel a derro ta de 1870 que so tornava mai s urgen te , com

relacao a ciencia alerna como ao instrutor alemao, 0 verdadeiro vencedor de Sadowa,

o d es envo lv iment o d e uma e rudi ca o document ar ia e d a t ra nsmi ss ao e scola r da

memoria. Nada se equipara ao 10mde responsabil idade nacional do historiador, meio

padre, meio soldado: ele rnarufesta-se, por exemplo, noedi torial do primeiro numero

da Revue historique (1876) onde Gabriel Monod podia lcgit imamente ver a "inves-

t igacao cient ifica, doravante lenta, colet iva e metodica" trabalhar de uma "maneira

secreta e segura para a grandeza tanto da patna quanto do genero humane". Lendo-se

urn t al t ex to como cern out ros semelhant es , pergunt a-se como se pode acred it ar na

ideia que a historia posit ivista nao era cumulat iva. Na perspectiva final izada de uma

consntuicao nacional, 0 politico, 0 militar, 0 bibhograficc e 0 diplomatico sao, ao

contrano, os pil ares da conti nu idade. A derro ta de Azincourt ou 0 punhal de Ra-

vailIac, 0 dia dos Dupes OU uma tal clausula adicional dos tralados de Westphalia

sobressaem de uma contabi li dade escrupulosa . A erudi cao a mai s aguda soma ou

subtrai urn detaIhe ao capital da nacao. Unidade poderosa desse espaco de memoria:

de I1OSSO berco greco-romano ao imperio colonial da III Republica, n a o mais cesura

do que ent re a a li a erudi cao que anexa ao pat rimonio novas conquis tas e 0 manual

escol ar que impOe a vulga ta . H is tona san ta porque ~a o santa. E pel a nacao que

nossa memoria se manteve no sagrado .

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Pro. Htstorra; goo Pauto. ( /0 ), dez . I f J ) 3Proj. Historia; So o Paulo, ( IOJ, dez. 1993 1/

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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. Cornp re cnde r p or qu e a conjuncao s e d e sfe z s ob u m n ov o im pu ls o d es sa cra Ii -zante r cs u lt ar ia e m mo st ra r C O l ll 0 n . d . . . .

, a cnsc o s a Il O S tnnta, subsntuiu-se progressi-vamente a d up la E st ad o- Na c; :a o p cl a d up la E st ad o Sociedade E- . como, ao m esmotempo e p or r az O es 'd ' ti hi . .

, .. I en leas , a i st ona, q ue s e t in ha to ma do t ra dic ao d e memoria,

sc f ~z , d e manei ra espetacula r n a F r an ca , s ab er d a s oc ie da de sobre s i m es ma . N es se

scntido, eia pede multiplicar, Scm duvida, o s l an ce s d e projetores sobre memorias

p ar tl cu ia rc s e s c t ra ns fo nn ar e n! l ab t" d .. . ora ono as m en ta hd ad es d o p as sa do ; mas li-

berando-se da iden tificacao nacional cia deixou de ser hab itad . '1tad ,. I a por urn SU JC I0 por-

or C, n o m esm o lance cia perdcu Sua vo caca o peda ' . . ~ d.' ya gogica na transm issao e

v al or es : a cnse da escola esta a i p a ra d emons t ra - Io A n a c a o nao e dunitario ., . . ...... 0 e m als 0 qua ro

q ue e nc err av a a c on sc re nc ia d a c ole tiv id ad e. S ua d efi ni cao n ao e st a m aisem qucstao, e a paz a P rosperidad d

, ' e e sua re ucao de poder f izeram 0 re st o: e la s oesta anteac;ada pcla ausencia d e C ., . 'ameacas. om a emergencia da socicdadc n o l ug ar

e e spaco da Nacao a l egitimaca I d'I " ' ~ 0 pc 0 passa 0 p or ta nt o p cl a h is to ri a, c ed eu l ug ara egiumacao p e lo f ut ur o 0 passad '. ,N a . '. ' . 0, s o s en a possi vc l conhece-l o e venera- to , e aac 0, sen i-la; 0 f ut ur o, e p re ci se p re pa ra .l o. Os t res t

autononua A n a c a o n .' I' . ennos recuperaram sua.,: . 0 e n13IS um c omo at e, mas um dado; a h i st o ri a t o rn ou -s e

urna crencia SOCi a l; e a memo ri a urn f , .

tern sido a u ltim a " . ~ n?meno puramente pnvado. A na cao -memo r iaenca rna 'Yi tO da hls tona-mcm6r ia .

o cstudo dos lugares encontra-s' ..que lhe dao hoi e , a ss im , n a e n cn l Zl ll 13 d a d e d ai s movirnentos

, ~e na Franca seu lugar e idpuramente historiogcifi' seu senti 0: de u m lad e u rn m ovim ento

I CO ,0 m om en ta d e mn reto flexi , ,. .mesm a de outro l ado ' mo re exrvo da h istona sob re 51

, , urn mOVlme n to p r o pr i a me t hi "de m emoria 0 tempo din e stonco, 0 f im d e u m a t ra di ca o

. as ugares e esse m 'imenso c ap i ta l q u e no's . • ' o me nto p rec is o o nd e d es ap are ce u rn

v rv ia mo s n a in ti .dad deo o Ula r d e uma histon . nu e u ma m em oria, pam s6 viver sob

a r e col lS l l tu ida Aprof d . .hist6ria. por u rn l ado •. . un amento decisive do t ra ba lh o d a

, emergencla de uma he 'in tem a do principio critico rar.;a consohdada, por outro . Dinamica

. ' esgotam ento de nosso d hi " , 's l If i cl e nt emen t e p od er o so ind _ q ua ro s to nco p olftico e m en tal,

sistente para sO . a r a p ar a n ao n os d ei xar i nd ife re nte s, b ern p ou co c on -. se Impor por u r n r e to r n o b '. .

do IS lI Iovimentos se combi so re seus mars evidentes simbolos. Os;/. nam para nos remeter de '( an , aos I ll Sl nu n cn to s d e ba d um a SO vez, e com 0 rnesmo

se 0 lrabalro lu ,.de nossa m em or ia ' o s Arquiv d istonco e a os o bj et os m ai s s im b 6l ic os

. . . \OS a mesm a f orma 'os d lc lo na ri os e o s museu, co . que as T r es C o re s, as bibliotecas,P , m 0 m es mo a tn bu to

o antheon ou 0 A rc o d o T' c.: " q u e a s c ome m o~ o es , as festas,n l ll l lO . 0 d lC lo n a ri o L

Os lugares de memori _ a ro us se e 0 m um dos Federados,. b . a sao . alltes d e 11 dsu slste lima conscicncia come I o, restos A forma extrema onde

·.1ll0rall\,a numa lust' .ona que a cham a. porque cIa a

ignora. E a desritualizacao d e n oss o m un do q ue faz aparcccr a nocao. 0 q u e s e cr e ta .

veste, estabelece, constroi, decreta. mantcrn pcl o art if ic io e pela vontade um a

coletividade fundamentalmentc cnvolvida em sua t ransformacao e sua renovacao.

Va l oriza n do . p or n at ur ez a. ma is a novo do que 0 a nt ig o, m ai s 0 jovern do que 0

velho, mais 0 fu tu ro do qu e 0 passado, Muscus, arquivos, cerni tcrios c colecoes,

fes tas, ani vcrsar ios, t ra tados, p rocessos verba i s . monumcntos, san tuar ios, asso-

ciacocs, s li o o s m ar co s testemunhas d e u ma outra era, das i lusocs de e te rn id ad e . D a i

o a sp ec to nostalgico desses emprecndimentos d e p i ed a de , patcticos e glaciais Sao

o s n tu ais d e u ma s oc ic da de s cm ri tu al; s ac ra liz ac oe s p as sa gei ra s n um a s oci ed ad e

que dessacraliza; fidclidadcs particulares de uma s oc ie da de q ue a pia i na o s particu-

larisrnos; diferenciacoes efctivas n um a s oc ie da de q ue n iv ela p or principio: sinais de

reconhecimento e d e p er te nci me nto d e grupo n um a s oc icd ad e q ue so tend e a reco-

n he cer i nd iv id uo s i gu ais e identicos,

Os lugares d e m e m or ia nascem e vivem do sentimento q ue nao M memor ia

espontanea, que e preciso criar arquivos, que e preciso manter aniversarios, organizar

celebracoes, p ro n un c ia r e lo g io s funebres, notariar atas, porque essas operacocs nao

s a o n a tu r ai s , E por isso a defesa, p ela s m in or ia s, d e u ma m em ori a re fu gia da s ob re

focos privilegiados e enciumadamente guardados nada rnais faz do que levar a in-

candescencia a verdade de todos os Iugares d e m em oria. S em vigilancia cornemo-

r at iv a, a h is t6 ri a d ep re ss a o s v arr er ia . S ao b as ti oe s s ab re o s q ua is s e e sc or a. M as s e

o q ue e le s d ef en de m 1130 estivesse arneacado, nao se teria, tampouco, a n e ce s si d ad e

de construi-los. Se vivessemos verdadeiramente as lembrancas q u e c 1e s e nv o lv em ,

e le s s er ia m inuteis. Ese, em compensacao. a historia nao s e a po der as se d el es p ara

d efo rm s- lo s, t ra ns fo rm a-l os , s ov a- lo s e p etr if ic a-l os e le s n ao s e t om ar ia m l ug are s

d e m e m or ia . E este vai-e-vem q ue os constitui: mementos de historia a rr an ca do s d o

m ov im en to d a historia, mas que the sao devolvidos. N ao m ai s intciramente a vida,

nem mais i nt eir am en te a m ort e, c om o as c on ch as n a p ra ia q ua nd o 0 m ar se retira

d a m em ori a v iv a.

A Marselhesa ou os m o nu rn en to s a os mottos vivem, assim, cssa vida arnbigua,

s ov a da d o s en ti m en to mixto d e p cr te n ci m en to e d e d es p re n di m en to . Em 1790, 0 14

d e j ul ho ja era e ainda n ao u m l ug ar d e m em or ia , Em 1880, sua instituicao e m f es ta

nacio nal em lug ar de m em oria oficial. m as 0 espirito da R ep ub lic a fa zia d el e u rn

r e cu r so v e rd a de i ro . E hoje? A p ro pr ia p er da d e nossa m em or ia n ac io na J v iv a n os

impoe sob re ela um o lh ar qu e n a o e m ais n em ingenue, n em i n di fe re n te . M e m or ia

que nos pressiona e que ja nao e m ais a no ssa, entre a dessacraliz acao rap ida e a

sacralizacao provisoriamente reconduzida A peg o visceral q ue no s mantem ainda

devedores daquilo que nos engcndrou, mas distanciamento historico q ue n os o br ig a

Proj. H,slona. So o Paulo. 1101.de: 1'1')3 I"!YO Histono. sao Paulo. I IOJ.dez. 1993

 

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a consi dcrar com um olhar fri o a heranca C it inventaria-la. Lugares salvos de Hilla

memoria na qual nao m ai s h ab it am os . s cm i- of ic ia is e i ns ut uc io na is , s cm i- af ct iv os c

s e n time nt a is ; l u g ar e s de unanimidade scm u na ni nii sm o q ue n ao c xp rn nc m m ai s n em

conviccao militante nem participacao apaixonada, mas ond c p alp ita a in da a lg o d e

l im a v id a s imb6l ic a. Os cil ac ao do memo ri al a o h is to ric o, d e u rn mundo ond e s c

t inham ancestrais a um mundo da relacao contingcntc com aquilo que 110S cngcndrou,

passagem de uma h i st o ri a t o te r ni c a para l ima h i st o ri a c r it i ca : c 0 memento dos 11I -

gares de memoria. N ao s e c er eb ra mais a n ac ao . m as s e c st ud am s ua s c cl eb ra co es

ou 0 desaparecimento daqui lo que nos pennitiria saber, para mo cair na mesma

recrimlnacao por parte de nossos sucessores? A lembranca e passado compl et o em

sua reconsti tuicao a mais minuciosa. E uma memoria reg is tradora, que del ega ao

arquivo 0 cuidado de se l embrar por e la e desacel era os s inai s onde e la se deposit a,

c omo a s er pent e s ua p el e mor ta . C ole ci on ador es . e ru dit os e b en ed it in os con -

sagravam-se antigamente a a c umula c a o doc ument a ri a , como margina i s de um a so-

c ie dade que avanc av a s em e le s e d e uma h is t6 ria q ue e ra e sc ri ta s em e le s, P oi s a

hist6ria-mem6ria havia colocado esse tesouro no centro de seu trabalbo erudito para

difundir 0 resultado pelas mil etapas sociais d e sua p er et ra cao, Ho je ond e o s his-

t or iadores se desprenderam do cul to documenta l, t oda a soc iedade vive na rel ig iao

conservadora e no produtivismo arquivist ico. 0 que n6s chamamos de memoria e,

de fat o, a const it ui cso g igan tesca e ver ti gi nosa do est oque mat er ia l daqui lo que nos

e impossivel lembrar, repert6rio insondavel daquilo que poderiamos ter necessidade

d e nos lemb ra r. A "mem6r ia d e p ap el" d a qual falava Leibniz tornou-se uma insti-

t u ic a o a u to n oma de museus, bibliotecas deposi tos , centros de documentacao, bancos

d e d ados . S omente para os arquivos publicos, o s e sp ec ia lis ta s a va liam que a

revolucso quant itat iva, em algumas decadas, t raduziu-se numa multipl icacao por mil.

Nenhuma epoca foi t ao volun tari amente produtora de arquivos como a rossa , na os omen te p elo vol ume que a soc ie dade mode rn a e spon ta ne ament e p ro du z, na o

somente pelos meios tecnicos de reproducao e de conservacao de que dispoe, mas

pela supersticao e pelo respei to ao vest igio. A medida em que desaparece a memoria

t radicional , nOs nos sent imos obrigados a acumular rel igiosamente vestigios, teste-

munhos, documentos, imagens , d iscursos , s inai s v is ivei s do que foi , como se esse

dossi e cada vez mai s pro li fe ro devesse se t ornar prova em nil o se sabe que t ri bunal

cia his t6 ri a. 0 sagrado inves ti u-se no ves tl gi o que e sua negacao . Impossi ve l de

prejulgar aquilo de que se devera lembrar. Da l a i ni bi cao em destrui r, a consutuicao

de tudo em arqutvos, a d il at acao ind iferenci ada do campo do memoravel , 0 inchaco

hipertrofico da fu~ao da memoria , l igada ao pr6pr io sen timento de sua perda e 0

reforco corre la to de t odas as i ns ti tu icoes de memoria . Urna est ranha vira-vo lt a

operou-se ent re os profi ss iona is . a quem se reprovava ant igamente a mania censer-

vadora, e os produtores nat urai s de arquivos. sa o hoje a s emp re sa s p riv ad as e a s

administ racoes pUblicas que engajam arquivistas com a recomendal; :: lo de guardar

t udo, quando os profi ss iona is aprenderam que 0 essencial do oficio e a arte da

destruicoo controlada.

Ass im , a mat er ia li zacao da memoria, em poucos anos , dilatou- se

prodigiosamente, desacelerou-se, descentralizou-se, democrat izou-se. Nos tempos

classicos, os t res grandes produtores de arquivos reduziam-se a s grandes familias, a

11.A memoria tomada como historic

Tudo 0 que e chamado hoj c de memoria 11(10 e , p or ta nt o, memona , m as ja

historia. Tudo 0 que e chamado de clarno de memoria e a f inal izacao de sel l desa-

parecimento no fogo da historia. A necessidadc de memoria c uma necessi dade dahist6ria.

S er n d u vi da e i mp os si ve l n ao se precisar dcssa p ala vr a. A cc it cm os i ss o, m as

com a consc ienc ia c la ra da d ifercnca ent re memoria verdadeira. hoj e abr igada no

g es to e no habito, nos oflcios oode se transnl itcm as sabercs do silencio, nos saberes

do corpo, as memorias de impregnacao e os sabercs ref lexes e a memoria t ransfor-

mada por sua passagem em historia, que e quase 0 contrario: voluntaria e deliberada,

vivida COIllO urn dever e nao mais csponti inea; psicologica, individual e subjetiva C

nilo mais social , coletiva. globalizante. Da primeira, imcdiata, a segunda, indireta.

o que aconleceu? Pode-se apreender 0que acont cceu , no porno de chegada da met a-mOlfose conlemponlnea.

. E , l 'I~tes de tudo, l ima memoria, diferentemcllIe da outra, arquivist ica, Ela se

apoia mteiramenre sobre 0 que M de mais prec iso no trac o . mais ma ter ial no

v es ti gi a. m ai s concret o no rcg is tro . mai s v is ivcl na imagcm. 0 moviment o que

come~~u ~o ln .a e sc ri ta tc nn in a n a a lta f id cl id ad e e n a f il a m agnc tic a, Menos amemoria e vrv ida do interior, mais ela tcm nccessidade de suportcs exteriores e der ef er en ci as t an gi ve is d e uma . : t" ,. . , _

e x is e n ci a que so vive atraves dc1as. DaJ a obscssao

pel~ arquivo que marca 0 cOlltempor.1.neo c qu e a lc ta , ao mesmo t empo. a preser-

vacao rnt egra] de t odo 0 prcsente e a preselva.;ao integral de todo 0 passado . 0senumento de um dcsapareci t inid fi ". _

cunen 0 rapt 0 c de IIlJtlVO combina-se a preocupacao

com 0 cxato s igni fi cado do present e e com a incer tezs do fut uro pard d ar a o maismodes to dos ve stigios ao Ill' I ild '"

. ' a rs 1l I1 ll1 C testemunho a dignida de virtual dom em or av e] J a 1 1 < 1 0 l"111CI1'" b: . _

. " ...mos 0 , lS t, ll lt C . e m nossos prcdcccssores. a destruicao

.'~

Pro). Hisr(;ria. SIIaP",,1o. (10), dez . 1993 IJ

 

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Igrej a e ao Est ado. Quem nao se cre a u t or iza do ho j c a consignar s ua s l emb ra nc as ,

a es c rever suas Mem6rias, 1 1 3 0 somente os pequenos atores da historia, como tambern

as testemunhos de s se s a t o re s , s ua e spos a e s eu medic o? Menos 0 t es temunho e

extraordinario, rna is e le parece d igno de i lust ra r urna mentaJi dade media . A l iqui -

dacao da memoria foi sol dada por uma vontade geral de reg is tro. Nurna geracao. 0

museu imaginario do arquivo enriqueceu-se prodigiosamente. 0 ano do patrimonio,

em 1980, fomeceu urnexemplo evidente, levando a n a t ; a o ate a s fronteiras do incerto.

Dez anos ma i s c e do, 0Larousse de 1970 hmitava ainda 0 patrimonio ao " be rn que

vern do pai ouda mae". 0 "Petit Robert" de 1979 faz "da propriedade transrnitida

pelos ancestrais, 0 palrim6nio cultural de urn pais". Passou-se, muito bruscamentc,

de urna concep4;ao muito restritiva dos rnonumentos historicos, com a convencao

sobre os sitios de 1972, a urna concep4;ao que , t eori cament e, n il o poder ia dei xarnada escapa r .

Nao somente tudo guardar, tudo conservar dos sinais indicatives de memoria,

mes~o sem se saber exa tament e de que memoria sao i nd icadores . Mas produzi rarquivo e 0 imperat ivo da ' 'Ii

epoca . e rn-se 0 exemplo per tu rbador com os arquivosda Seguranca Social - SO d aJ .

• A rna acument scm equrvalente, representando, hoje, t rezen-tos quJlometros lineares d ' .

. .. . ' massa e mcmona bruta cujo inventario pelo computadorpermiuna, IdeaJment e l er t udo b

. ' SO re 0 normal e sabre 0 patologico da soeiedade,desde os regimes ali rnenta t . .

res a e os modos de Vida, por regioes e por profissoes;

:as'l : mes~ tempo, I l I3Ssacuja conservacso, tanto q ua nt a a e xp lo ra ca o c on ce -

ive ernandanam escolhas drasticase, portanto, impraticaveis Arquive-se arquive-SC, s emp re sob ra ra a lg uma . I N'" . .,

hecorsai ao e out re exemplo gri tant e 0 resul tado a que

c ga, de fato, a muito legiti 'I I ima preocupa~o das enquetes orals recentes? Ha atu-a mente, somente na Franc . dlhi" ..ca, mars e treze ntas equipes ocupadas com 0 reco-mento destas v ozes d

quand que vern 0 passado" (Phil ippe Joutard). Muito bern. Maso s e pensa por urn i nstant '

especial. .' e, que at se trata d e a rq ui vo s d e u rn g en ero muit o. cUJo estabelecimento '. .cuia utiliz"''''l ' exige t nnta e s eis h ora s p or u ma h ora de g ra va ca o e

~ A> . O so pode ser pontual·. . .tegral .t impo . I ' POlS que elas uram seu sen ti do da audl~o ID-

, c sSlve nO O se inda bvontade de ' . gar so re as possi bi li dades de sua exploraeao. Que

melUOna elas testemunham d .o arquivo muda d' ,a osentrevistados ou ados entrevistadores?

e sentJdo e de "statu'" I .tmais 0 saldo m ars . s sim p esrnente po r seu peso. Ele n ao . .

. .. . ou menos tntenci naJ dvoluntil1ia C orgaru'zada d 10 e uma me rn6r ia v iv id a, ma s a s ec re cso

e urna me ,. .volve, rnuitas veze fu mona perdida, Ele dubla 0 viv ido, que se desen-

s. em llI;ii.ode se roeri . .de outra coisa? _ d .. u P pno fegJstro - as atualidades sa o feitas

. . e um a memona sec "...1"-' dUl lUdna, e uma memo ri a - p ro te se , A p ro -

i nd cf in id a do a rqui vo e 0 e fc it o a gu cado d e uma nova con sc ic nc ia , a ma is c la ra

expressao do terrorismo da memoria historicizada.

E que e st a m emor ia nos vem do e xt er io r c nos a i n te r io r izamos como um a

obngacao ind iv idua l. poi s que e la 11.10 e mai s uma pra ti ca soc ia l.

A p as sa gem da memor ia p ar a a h is to ria o br ig ou c ad a gmpo a r ed cf in ir s ua

id en ti da de p cl a r ev ita li za cao d e sua p ropr ia h is to ria . 0 d ev cr d e memo ri a f az d e

cada um 0 his to ri ador de s i mesmo. 0 imperat ive da his tona u lt rapassou mui to ,

assim, 0 circulo dos historiadorcs profissionais. Nao 5<10sornente os ant igos rnargi-

nal izados da his to ri a ofi ci al que s :' Ioobsccados pcl a neccssi dade de recupcrar seu

passado cnterrado Todos os corpos const iruidos. inrclcctuais Oil rulo. sabios ou nao,

a pc sa r d as e tn ia s e d as m inor ia s s oc ia is , s cn tem a ncc es sid ad e d e ir em bus ca d e

sua propr ia const it ui cao. de encontrar suas ori gcns Nao M mai s nenhuma famil ia

na qual pel o menos urn mernbro 11.'10 se tcnha recenterncnte lancado a reconstituicao

mais complcta possivel das existencias furtivas de onde a suaernergiu. 0 crescimento

das p es qu is as g en ea to gi ca s e u rn f en or nc no r ec cn te c m ac ic o: 0 relatorio anual dos

Arquivos nacionais 0 c if ra em 43% em 1982 ( contr a 38% da f re qu en ci a uni ve r-

sitaria), Fato surpreendente: nao devemos a historiadores profissionais as historias

mais significativas da biologia, da flsica, da medicina, ou da musica, mas a biologos,

fisicos, medicos c musicos , Sao as proprius educadores que t omaram em maos a

his to ri a da educacao. a cornecar pel a educacao f ls ica, a le 0 ensino da filosofia. Com

o abalo dos saberes const it ui dos, cada d isci pJ ina se COIOCOl l 0 dever de veri ficar

seus fundamentos pel o caminho ret rospec ti ve dc sua propr ia const it ui cao. A socio-

lo gi a p an e em bus ca d e s eu s p ais f undado re s, a e tn ol og ia , d esde a s c ro ni sta s d o

seculo XVI ate os admin is tradores colon ia ls se pOe a explorar seu propr io passado ,

A te mesmo a cnt ica l it crar ia ded ica-se a reconst it ui r a genese de suas cat egor ias e

d e sua tr ad ic ao . A h is to ria to da pos iti vis ta , me smo a " ch ar ti sta " n o moment o em

que os h is to ri adores a abandonaram, encontra nessa urgenci a e nessa necessi dade

urna d ifusao e urna penet racao em profundidade que e ta a inda n a o havia conhecido.

o f im da his to ri a-memori a mul ti pl ieou as memorias par ti cu la res que rec lamam sua

propria historia.

Esta dada a ord cm de sc lembr ar, mas ca bc a mim me lembr ar e sou eu que

me l embro. 0 preco da met amorfose h is to ri ca da memoria foi a conversao def in it iva

a psicologia individual, Os dois fenornenos estao ta o estreitamente l igados que nilo

se pode impedir de sal ient ar a te sua cxata coinc idenci a cronologi ca . Nao e no f im

do seculo passado, quando se sentem os abalos decisivos dos equit ibnos tradicionais.

particularrnente 0 desaoamenro do rnundo rural . que a memo ria f az sua apa ric ao no

centro da ref lexao f il osof ica. com Bergson . no cen tro da personali dade psi qu ica.

Pro). HUIOn<l Siio Pr1IIln.(I OJ . de:. '(193 r:Pro). Hufana. SiioPOllio. (101.de:. 1993

 

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com Freud, no centro da l iteratura autobiognifica, com Proust? A violacao d o q ue

f oi , p ar a nos . a propria imagem da memoria enc ar nada e a b ru sc a e rn er genc ia d a

memor ia no coracao das identidades individuais sao co mo as duas faces da mesma

cisao, 0 corncco do processo que e x pl ode ho j e. N a o dcvemos efe ti vament e a Freud

e a Proust os doi s l ugares de memor ia i nt imos e ao mesmo t empo universai s que< t o . . .s a c en a p nn ut rv a e a c ele bre p eq ue na m ad ale na? Deslocamento d ec is iv e q ue se

t ra n sf e re da memoria: d o h is to ri co a o p s ic o lo gi co , d o social ao individual do tran-

sissivo ao subjetivo, da repcticao a rememorac;ao. l naugurn-se urn novo reg ime de

memoria, ~uestao daqui por diante privada, A psicologizacgo integral da memoria

cO l ll e ~pora nea l e vou a uma cconomia s ingularmente nova da ident idade do eu, dos

rnecamsmos da memor ia e da r el ~ ao Co m 0 passado.

Porque a coercao ci a memoria pesa def init ivamenle sobre 0 individuo e somente

sobre 0 ind~vi~uo,c om o s ua revilali7~ao possivel rcpousa s ob re s ua r c la c ;: a ope s soa lco m seu propno passado A atomizacao de ' , ,.

• , . yd uma I11emona geraJ em memor ia pnvadada a lei d a l emb ra n ra u rn inte d d " .

y n so p o er e c o er sa o l nt cn o r. Ela obnga cada urn a

Eserelembrar. e a reenconlrar 0 pertencimento, principio e segredo da identidade.sse pertencimento em tro . . .. ' ca, 0 engaja mter rameme, Quando a memoria MO esta

mats em todo lugar ela rulo csta . I. ' na em ugar nenhum se UOlaconsc ienc ia individual

numa oec tsao sol i ta r i n a de idi '. ,a, 0 CI i sse del a seencarregar . Menos a memoria c v iv ida

Col cl lVamenl e ma rs ela tern id d' recessi a e d e homens particulares que fazem de si

mesmos homens-mem6ria E c '.d ,,' om ~ uma voz interior que dissesse aos Corsos: "Voceeve ser Corso e a o Bretoe ' "E .

co chamad d ' d ,. s . p re ci se s er Br eta o! ", Para compreender a forcaoeste eSlgruo talvez fosse ' .

. ' necessano voltar-se para a memoria judaica,q ue conhe ce hoJ e em t an to s . d desi .tradi iL " JU eus eSJudaizados, uma r e c e nt e r e at i va < ;: a o. Nesta

19. . . . . que so tern como hi t' . ,.s er ju deu, ma s e sta I mb s o ~a s ua propna memOria, ser judeu, e s e lemb ra r d ev ez m ai s M m6 ' dee r a n c a Irrefut<ivel, uma vez interiorizada, 0 aprisiona cada

. . e na que? Em tilti . • . , . ,.gizacao da me-.(.na· d ma Instancla, memona da mem6na. A psicolo-

"IV eu a c ar la urn 0 se ti

naJmente, do qui tar uma dl ida . , n men to que sua s aJva~ d ep ende ri a, fi-, . IVI Imposslvel.

MenK lna arquivo mem6ria dey e .esse quadro de meta 'rfi er, p reciso u m terceiro t ra eo p a ra completar

mo oses : mcrnOr ia-dis t lnc iaPorquc rossa rel~oo c om 0 .

auaves das produ<'"()cshi I' . passado, ao menos do modo como e le s e r ev el ay s o nc as a s mats . nifi .

daquela que se espera de ,. Slg rcativas, e completamente diferentcurna memona Nao' . , .

ma s 0 colocar a descontin 'dad' . rnais uma COn1lnmdade retrospecuva,UI e a luz do dia P hi , , . .

g am e ru e, a vcrdadeira p c ~ . ara a Ist ona-memona de ann-r c e~ o do passado " .

em vcrdadciramentc passad U COnslStJa em consi derar Que ete n a oo. m e sforc o de lb'

.,. em ranca poderia ressucua-lo; 0 pre-

sen te t ornando-se . e le propr io . a sua manei ra . UIll passado reconduzido. atualizado,

conjurado cnquanto prcscnt e por essa sol da e por essa ancoragern. Scm duvida. para

que h aja um sen time ruo do p as sa do . c n cc cs sa rio que o co rr a lim a b re ch a ent re 0

present e e 0 passado, que apareca llll1 "an tes" e l im "depois " . Mas t ra ta -se menos

de uma separacao viv ida no campo da difcrcnca rad ical do que um int erva lo v iv ido

no modo da f il iacao a ser res tabe lcci da . Os doi s grandes t emas de i nt el ig ib ihdade

da historia, ,10 menos a parti r dos Tempos modernos. progresso e decadencia, ambos

exprimi am bern esse cul to da continuidadc. a ccrtcza de saber a quem e ao qu e

deviamos 0 que somos. Donde a imposicao da ide ia das "or igens" , forma j a profana

d a n ar ra ti va mi to lo gic a. m as que con tr ib uia p ar a d ar a uma soc ie dadc em v ia d e

Iai ci zacao nac iona l seu scn ti do c sua neccssi dadc do sagrado . Mai s as ori gens cram

grandes . mai s e las nos cngrandec iam. Porque veneravarnos a nos rncsmos a traves

do passado. E est a rel acao que se qucbrou . Da mesil la forma que 0 futuro visivel,

prcvisivcl, manipulavcl , bal isado, projecao do presente. tornou-se invisivcl , impre-

v is ivcl . i ncorurol avel : chcgamos. s imet ri camcnt e. da i de ia de um passado vis ivel a

urn passado inv is ivel ; de um passado coeso a um passado que vivemos como rom-

pimento; de wn a his to ri a que em procurada nacont inui dadc de uma memoria a lima

memoria Que Sf pro je ta na desconl inui dade de uma his to ri a. Nao se fal ara mai s de

"or igens" , mas de "nasc imcnto". 0 passado nos e dado como rad icalment e out re .

clc c esse mundo do qual estamos dcsligados para sempre. E colocando em evidencia

to da a exte ns ao que d el e nos s ep ar a que nos sa memo ria c on fe ss a s ua v erdade , -

c omo na ope ra cao que , d e urn golpe, a suprime.

Porqu e n ao s e d ev cr ia c re r qu e 0 scnt imento da descont inuidade se satisfaz

com 0 v ago e 0 difuso da noire. Paradoxalmente. a distancia exige a reaproximacao

que a conjura e Iheda , ao mesmo t empo, sua v ibracao Nunca se desej ou de manei ra

tao sensual 0 peso da term s obre a s botas, a mao do Diabo do ano mil, e 0 fedor

d as c id ad cs no s eculo XVI II . Mas a a lu ci na cao artificial do passado so e pre-

cisarnente concebivcl num r eg im e d e descontinuidade. Toda a d in ami ca d e nos sa

relacao com 0 passado reside nesse j og o s ut il do impen et ra vc l e do abo l id o. No

sentido inicial da pal avra. t ra ta -se de uma represent acao rad ical rnen te d iferen te

daquela t razi da pel a aru iga ressurrei cao. Tao int egra l quanto e la se qui s, a ressur-

rcicao implicava, com efeito, numa hierarquia da lembraoca habil em ajeitar as sorn-

bras e a luz para ordenar a pcrspec ti va do passado sob 0 olhar de urn present e

final izado. A perda de t im priocipio explicauvo uruco precipi iou-nos num universe

fragmentado , ao mesmo t empo em que prornoveu todo obj et o, sej a ° mais humildc.o mai s improvavel. 0 mars inacessivcl. a d ig ni dadc do mi st cr io h is to ri co Nos

sabiarnos. ant igamcnte . de quem eramos f il hos C hojc somes filhos de ninguem e

/.\,'I

Pro; .HUlima. Silo Paulo. (101,dez.1993

 

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de todo murdo . Se ninguem sabe do que 0 passado e feito, urna inquieta incerteza

t~fonna tudo em vestigio, indicio possivel, suspeita de historia com a qual con-tammamos a inocercia das COI'sa N '

s , ossa pcrcepcao do passado e a apropnacaoveemente daqui lo que sabemos na '

, os 11£10mars nos pertencer. Ela exige a acornodacaoprecisa sobre urn obieto p erdid A '

• ,J I 0, representacao exclui 0 afresco, ° fragmento, 0

quadro de con~unto; ela p ro ce de a tr av es d e ilumina<;iio p on tu a l, mu l ti p li c ac a o detomadas sel et ivas amost ras s ig ifi t' . .,'

, ru lea rvas. Memona m te n sa m er ue r e ti ni an a epodcrosamenle televisual Co n a f I'" , " ' 010 0 azer a rgacao, por exemplo , ent re 0 famosoretorno da narranva que pudemo ta 'hi ., s no r nas mars recentes manciras de se escrevcr

a stona e 0 poder total da image d ', m e 0 cinema na cul tura contemporanea? Nar-

raLtva, na verdade bern diferente da ' , , ', , narranva tradlCIOnaJ,fechada sobre s i r n es m a

e com se u recorte smcopado Como n a r '

de a rq , I .,'0

igar0

respeuo escrupuJoso pelo docurnentowvo - co oear a propna pe"a b ', y so seus 0 11 10 5 - , 0 particular avanco da oralidade

- c it ar os a tores, fazer ouvir suas voz ' , ,habituad ? C ~ es - , a autentlcldade do direto ao qual fomos

os: omo nao ver nesse go I I '.de nos restituir I u ...; d . so pe 0 c ot id ia no n o p as sa do , 0 u ni co m ei o

a en oao os dias e 0 bo da 'anonimos 0 meiod I sa r s coisas? E nessas biografias de

, enos evar a apreendemassifieada Como ns I r que as m as sa s n ao s c formam de maneira

, 11£10r nessas bulas d dde micro-rust6ria ad . 0 passa 0 que oos fornecem tantos estudos

, a VOn! e de tgua lar a hi f' , ,vivemos? Memoria-espelho dir-se-i S ona que reconstnumos a historia que

, r-se-13 se os e Ih . . 'imagem Quando ao co t " " spe os na o rcf le ti ssem a propna

, n rano, e a diferen "espet :: iculodessa diferen<;a b ilha ,'Vaque p ro cu ramo s a r d es cobnr ; c n o

eneontrada Nao m ai ' 0, n r repentmo de um a ident idade impossivel de ser, IS um a genese mas 0 d if

nao somos mais. ,eel ramento do Que somos a lu z do que

Esta alquimia do essenc:ialcon! ib ' "da hist6ria, cujo irnpulso brutal di U de maDeira bizarra, para fazer 0 excrcicio

cionar, 0 dcpositario dos d em I~<;ao a o futurn deveria tender a nos propor-

menos pela historia do q:;repeIOShid? c : sente. Alias, a opera<;ao traurnatica realiza-se. 0 stona dor Estr anho d .Simples antigamente e seu lu . .' estrno 0 s eu . S eu p ap el e ragar lllScnto na soC'edade b alllueiro do f uturo Nesse id I e: s e fazer a palavra do passado

. . senlI 0 Suapecabla-lhe ser apenas UDla t " ssoa contava mellOS do que seu servi ce :

d ' rnnsparellCI3 erudita, ,e uruao 0 rnais leve po . I Urnvetculo de t ransmissao urn trace, SSlve entre a m t ' I'd 'lllscrit;:ao na m emoria Em 'II" a ena Iade bruta da do cumenta cao e a

. U una Instanc:ia .,D a expl os ii o d a r u st6 ri a- rn emo' , ' uma aus enc la obs es siv a d e obj eti vid ad e.dif na emerge urnIerent emente de seus p cd novo personagem pronto a eonfessar

, I ecessorcs, a Ii a ",' ,mantem com seu sujeito Ou II gac 0 est re lt a, Int ima e pessoal que e le

b ' . me lOr a proclama Io 0 st.1culo. mas a alavanea d' - 0, a aprofunda -I o e a f az er , na o

e sua compreensa p0, o rque e ss e suj eit o d ev e tu do a

sua subjeuvidade, sua criacao, sua recriacao. E cle 0 instrurnento do metabolismo,

que da senti d o c vida a quem, em si e scm clc, nao teria nem sentido nem vida,

Imaginemos uma soeiedadc intei ramente absorvida pclo sent imento de sua propria

historicidade; ela estaria impossibilitada de produzir historiadores, Vivendo integral-

mente sob 0 signo do futuro, ela se contentaria de processes de gravacao automaticos

d e s i m csma e s c s at is fa ria c om maqu in as d e s c aut o eon ta bil iz ar , mand ando d e

volt a p ar a u rn futu ro in de fir udo a t ar ef a d e s e compr ecnd cr a s i me sma. Em con -

trapart ida. nossa sociedade, certamente arrancada de sua memoria pela ampli tude de

suas rnudancas , mas a inda mai s obcecada por sc compreender h is toncamente , est a

condenada a fazer do his to ri ador um personagern cada vez mai s cen tral , porque nel e

s e ope ra aqu il o d e que e la gos ta ria ma s rulO podc dispensar: 0 historiador e aquelcque imped e a historia de ser soment e historia,

Da mesma forma que d ev emos a distancia panoramica 0 g ra nde p la no e ao

est ranhamento def in it ive uma hiperveraci dadc art if ic ia l do passado , a mudanca do

modo de pcrcepcao rcconduz obstinadamenrte 0 historiador aos objetos tradicionais

dos quais ele se havia desviado, os usuais de nossa memoria naeional. Vejam-na

nov amen te na sole ir a d a c as a n ata l. a v elh a mor ad a nua , ir re conh ec iv el . C om os

mesmos movei s de famil ia . mas sob uma 110valuz . D iant c da mesma ofi ci na , mas

p ar a uma outm obr a. Na mes rn a p ec a, m as p ar a u rn outr o p ap el. A hi sto rio gr af ia

inevi tavclmcnte ingressada em sua era cpistcmologica, fceha definit ivamentc a era

da ident idade, a memoria inelutavelmcnte tragada pela historia, ril lo existe mais um

homern-mcmori a, em si mcsmo, mas um lugar de memoria .

Ill. Os lugares de memoria, uma outra historia

Os lugares de memoria per tencem a doi s donunios, que a t omam int eressant e,

mas tambern complexa: simples e arobiguos, naturais e arti ficiais, imediatamenteoferecidos a mai s sensi ve l exper ienc ia e , ao mesmo t empo, sobressai ndo da mai s

abstrata elaboracao,

S ao l ug ar es , c om e fe it o nos t re s s en ti do s d a p ala vr a, ma te ri al, s imb6li eo e

furcional, simultaneamentc. somente em graus diversos. Mesmo urn lugar de aparen-

c ia puramente mat erial, como um deposit o de arquivos, sO e l uga r d e memo ria s e

a imaginacao 0 i nves te de uma aura s irnbol ica. Mesmo um lugar puramente fun-

c iona l, como urn manual de aul a, um tes tamento. wna associacso de ant igos com-

b at en te s, s o ent ra n a c at egor ia s c f or o bje to d e um r it ua l, Mesmo u rn minut o d e

silencio, que parece 0 exemplo extremo de uma significacao simbolica, e ao mesmo

]0

frO, HlSlona. SiioPaulo, (101, dez. /<)J3Pro), H.sJ6na. sao Paulo. (101, dez. IWi 21

 

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tempo 0 r ec ort e m at er ia l d e u ma u ni da de t em po ra l e s er ve , p er io d ic am e nt e, p a ra

um a c ha m ad a c on c en tr ad a d a lembrarca Os I re s a sp ec to s c oe xi st cm s em p re . T ra ta -s e

d e u rn lugar d e m em or ia ta o a bs tra to q ua nto a no t ;ao de geracao? E m at er ia J p or

s eu c on te ud o d em og ra fic o; fu nc io na l p or h ip ct es e, p oi s g ar an te , a o m es mo t em po .

a c ri st al iz a. yi io d a l em br an ca e s ua t ra ns m is sa o; m as s im b 6l ic a p or d ef in ic ao v is to

q u e c ar ac te ri za p o r urn a co nt ec im en to o u u rn a experiencia v iv id os p or u rn p eq ue no

numero u m a m ai or ia q ue d el es Mo participou,

o q u e o s c on s ti tu i e urn jogo da m em oria e da h is to ri a, u m a i nt er ac ;a o d os

dois f at or es q ue l ev a a s ua sobredeterminacao r e ci p ro c a l n ic i aJme n te , e p re ci se t er

v on ta dc d e m em or ia . S e 0 p ri nc ip i o d e ss a p ri or id a de f os se a ba nd o na do , r ap id am e nt e

derivar-se-ia de urna d e fi n ir r ao e s t r e i ta , a r na is r ic a e m p o te n ci al id ad c s, p ar a u ma

d e fi n it y ao p a ss i ve ) , ma i s ma i ea v el , susceptivel d e a dm .i t ir na c at eg or ia t od o o bj et o

d i~ de urna lembrat1l;a. Urn p ou co com o as b oas regras d a c ri ti ca h is t6 ri ca d e

a nt ig am ~ nt e, q ue d is ti ng ui am s ab ia me nt e a s "fontes diretas", isto e, a qu ela s q ue

u~ a sociedade v c lu n ta r iame nt e p r o du z i u p a ra s er em r ep ro du zi da s c om o tal - um a

l ei, u ma o bra d e a rt e, p or e xe mp lo - e a m as sa in de fi nid a d e " fo nt es indiretas", isto

e tod os os testem unh os d eix ado s p or um a ep oca sem d uv id ar de s u a u t il i za c ao

futura pelos hisloriadores Na f It d . . ._ . a a essa m ten.;ao de memoria os l ug ar es d e memona

s er ao l ug are s d e historia,

. E m c on tr ap art id a, es ta c la ro q ue , s e a h is to ria , 0 t em p o, a m ud an ca 1 1 < 1 0 inter-viessem, seria necessario . .L se coraentar com urn s im pl es h is t6 ric o d os m em on al s.

du ~r es p ort an to , m as lu ga res m ix to s, h Ib ri do s e m ut an te s i nti ma rn en te cn lac ad ose Vida e de m orte de I d' ' . .

vidual d .' empo e e eterrudade; numa espiral do coletivo e do indi-

ob' . 0 p ro sa ic o e d o s ag nl do , d o irnove] e d o m ov el . A ne is de Mo eb iu s e n ro la do s

s re S l me smo s Porq r

d ,.,' ue, se e v erdade que a r azao fundamental de ser de urn lugare m e mo na e parar 0 tempo i l d

d . . . ,e oquear 0 trabalho do e sq ue ci me nt o fi xa r u rn e st a 0e COISas, lmortalizar a mort . . " .

m emo' do di e , ma t en a h 7. a r 0 im at er ia l p ar a - 0 ouro e a UIUca

na ln ilelro - prender ~,('. ,e e . 0 maximo de sentido nurn rninimo de sinais, e c l ar o ,ISSO que os toma apaixonant

aptidao es: qu e os l ug ar es d e m em O ri a sO vivem de suapara a metamorfose no . .

imprevisiv Ie .' IIICeSsante ressanar de seus significados e no silvadoe suas ramific~Oes.

D ois exemplos em ' . .sc C lugar de :. ~glstros d i fe r en t es . Ve j a- s e 0 c al en d ar io r ev o lu ci on ano :

quadros a . medmona , visto q ue , e nq ua nl o ca le nd ar io el e d ev eri a f or ne ce r o sprlOt"I e toda ' . ,

POr ia p or s ua n o Imemon a p o ss iv e l e enquanto e r ev ol uc io na ri o, e le s e p ro -. , . menc alum e po . . . .

11iS loria" c om o ambo . r s ua slmbolog13, a " ab ri r u rn oovo livro para a

f ra n c es e s p a ra 51' IClosamellle diz s eu o rg an iz a do r, e " tr an s po rt er i nt ei ra m en te OS

mestnos" se . ., gu nd o u rn o utro d e s eu s relatores. E , nesse obJe t I vO ,

p ara r a h is to ri a n o m om en to d a R ev olu ca o, i nd ex an do 0 f ut ur o d os m es es , d os d ia s,

dos seculos , e dos anos sabre a im agem da epopeia revolucionaria, Titulos ja sufi-

cierues! 0 q ue, no eruanto, 0 c on s ti tu i a in d a mais COIllO Iugar d e m em oria. aos

nossos olhos, e sua derrota em se tomar aquilo que quiseram s eu s fu nd ad ore s. E s-

tivessernos, a in d a h o je . vivcndo sob scu r itmo. e le t cr ia se no s tornado t a o f am il i ar .

com o um calcndario grcgoriano, que tcria perdido sua virtude d e l ug ar d e m em o ri a.

E le t er ia se fundido a oossa paisagern memorial e so serviria para compatibilizar

t od os o s o utr os lu gar cs d e m em or ia i ma gi na ve is . M as s ua d erro ta r ul o e t o ta l : d a ta s -

c have s , a c on t e cimcnt os c me rg em p ar a s em p re a d e l ig a do s . Vendemiatre, Thermidor;

Brumaire. E os motives d e m em o ri a viram-se so brc si mcsmos, d up li ca m- se e m

esp clho s d efo rm antes q ue sao su a verd ade. N cnh um lug ar de m em oria es cap a aos

seusa r ab e sc o s f u nd a d or c s.

T om em o s, d es ta vez, 0 c el eb re c as o Tour de la France par deux enfants: lugar

d e m em o ri a i gu aJ m en te indiscutivel, pois q ue . d a m es ma forma que 0 "Petit Lavisse",

form ou a m em oria de m ilbo es d e j oven s F ran ceses, no tem po em qu e u rn m in istro

da instrucao p u bl ic a p o di a tirar seu relogio d e s eu b olso para declarar de manha, a so ito h ora s e c in co m i nu t es : " To d as a s n o ss as criancas passam o s A lpes." L ugar de

memoria. tambem, p oi s q ue inventario do q ue e preciso saber sob re a Franca, nar-

racao identificadora e v ia ger n i ni cia do ra. M as a s co is as s e c om pl ica m: u ma l ei tu ra

a te nt a l og o m os tra q ue , d es de 0 s eu a pa re ci me nr o, e m 1877, Le Tour esteriotipa um a

Franca q ue n ao e xi st e mais e q ue . n es se ano do 16 de maio, que ve a solidificacao

da Repuhlica. t ir a s ua seducao d e u rn sutil encantarnento p elo p as sa do . L iv ro p ara

criancas cujo sucesso se deve, e m p ar te , a m em ori a d os a du lt os , co mo sernpre. Eis

para 0 m ontante d a m em oria, e para 0 s e u j u sa n te ? T ri nt a e cin co aoo s ap 6s su a

p ub li cac ao , q ua nd o a o br a a in da r ei na a s v es pe ra s d a g uer ra , e la c c er ta me nt e l id a

c om o c ha m ad a. t radicao ja nostalgica: prova d is so , ap es ar d e s eu remanejarnento e

d e sua atualizacao, a e di ~a o antiga parece vend er m elh or do qu e a o ova. D ep ois 0

l iv ro f ic a m ai s raro, so e u ti li za do n os m ei os residuals. IW fundo de campos distantes;

ele e esquecido. Le Tourde laFrance t on 13 -S C a os p ou co s r ar id ad e, t es ou ro d e s ot ao ,

o u do cu mento para os histo riado res. E le d eixa a m em or ia c ol et iv a p ar a c nt ra r na

m em ori a h is to ri ca , d ep oi s n a m em or ia p ed ag og ic a P ara 0 s el l c en te na ri o, e m 1977,

no m om en to em q ue Le Cheval d'Orgueil aicanca urn mil hao d e e xe mp la re s e q ua nd o

a F ra nc a g is ca rd ia na e i nd us tri al. m as j a a tin gi da p ela c ris e ec on om ica , d es co bre

su a m em oria o ral e su as raizes cam pon esas. ele e r ei mp re ss o, e Le Tour e n I ra n o-

v am en te n a m em or ia c ol et iv a. na o a r ne sm a, e nq ua nt o e sp er a n ov os e sq uc ci me nt os

e novas reincarnacoes 0 que paterneia essa vcdete d o s l ug ar es ci a m em ori a. s ua

Pro) . Histona; SrioPaulo. (/0). dez. 1'193

 

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i n tc n y ao i n ic i al 01 1 0 reto rn o scm fim d os ciclo s d e sua m em oria? E \ i dcn tcm eruc

o s d oi s: t od os a s l ug arc s d e memoria s ao o bj cro s n o abismo

E ss e m es mo p ri nci pi o d e d up le p ert cn cim cn io q ue pcrnute 0 IX T dr . n a m u lt i-

p li ci da d e d o s l ug ar es . u m a h ie ra rq u ia . I I I I I a d el im it aca o d e sell campo. 11111 rcpcrtorio

d e s ua s e sc al as . S e v cm o s efenvamenre a s g ra nd es c at eg or ia s d e o bJ C1 0S q ue s ob rc s-

s ae ll ~ d o g en er o - t ud o ° que vem do culto dos m ortos. tudo que sobrcssai do pa-tnrnonio tudo 0 dmi .

. que a urustra a prcsenca do passado no prcscnte -. csta portanto

~ Ia ro q ue a lg un s. q ue n ao e nt ra m na est rita dcf in icao . podcm i sso pre tender c que .

I n:'e r~ a~ 1C nt e. m ui to s. a m ai or p art e rn cs rn o d aq ucl es q ue d ele f az cru p ar te p or

pnncipio, dcvern, d e f at o ser excluidos 0 q u e c on st i tu i ccrtos s i t ios pr c -h is tor icos .geogrMicos 0 I' . , .

u arqueo og icos em lugares. e m es mo e m lugares de d es ta qu e. e munas

vezes 0 q ue d ev en s p re ci sa me nt e I he s s er p ro ib id o, a au sc nc ia a bs olu ta d e v on ta dc

d e m em o ~~ , c om p en sa da p el o p es o csmagador de que 0 tempo. a ciencia, 0 sonho

e a m e~ ona d?s h om eI lS o s carregou Em c on tr ap ar ti da , q ua lq ue r l im it e qu e tcm amesma unponancla que 0 Rh i "F' . , ., n, ou 0 u ustcrc", esse "fim de terra". as quais as

c e le b :c s p a g in a s de Michelet, p o r e x e rn p l o, deraiu SCIIS t it ul os d e n ob re za. T od aCO llSlltuic;:ao todo tratad d ' I ,. , ' ._d

. 0 r p o r n an c o s<'io l ug ar es d c m em or ia , m a s a c on su tu ic aoe 1793. nao da mesn f . .

I ia orm a qu e a de 1 79 1. co m a D eclaracao dos d ir ei to s d oiornern, lugar fundador d ' . . .._

e memoria: c a paz de N im cguc nao da m esilla form a queas duas eXlrem idades da I . t' " d . .' • .Y , us ona a Europa. a divisao de V erdun e a confercncia dealta.

t racao do f im d a R es ta ur ac ao i nt ro du z bruscamente a concepcao moderna de historia:

as Lettres sur I'histoire de france, d e A u gu st in Thierry (1820) constituindo 0 inicio

e sua publicacao defin itiv a em v olu me, em 1827 coincidindo, p ro xim o d e alguns

m es es , c om 0 verdadeiro primeiro I iv ro d e u m i lu st re d eb ut an te , 0 Precis d'histoire

moderne d e M ic he let , e 0 co rn eco d o c ur so d e G uiz ot s ob re " a h is to ri a da civilizacao

d a E ur op a e da Franca". E nfim , a historia n ac io na l p os it iv a c uj a Revue historique

represents 0 manifesto (1876) c cuja Histoire de France de Lavissc, em vin tc e sete

v o lu m es . c o ns ti tu i 0 monumento . 0 m es rn o a s m em or ia s q ue , p or s eu p ro pri o n om e,

p o de ri ar n p ar ec er l ugares de m em oria: ou m esm o as autobiografias o u o s j om ai s

intimos, As Memoires d'outre-tombe, a Viede Henry Brulard, ou 0 Journal d'Amiel

s ao l ug arc s d e m em or ia . 1 1 < 1 0 po rqu c sao m elh ores o u m aio res, m as po rq uc eles

complicam 0 simples exercicio da m em or ia c om urn jogo de i nt er rogacso sabre a

p ro pr ia m em or ia . P od c-s e d iz er 0 me smo das Memor ias de hom ens de Estado. De

Sully a de G aulle, do Testament d e R ic be lie u a o Memorial de Sainte-Helene e ao

Journal d e P oi nc ar e. i nd ep en de nt cm en tc d o v al or d es ig ua J d os t cx to s, 0 g cn cr o t er n

s ua s co ns ta nte s e s ua s e sp ec ifi ci da de s: im pli ca u um s ab er d e o ut ra s M er no ri as , n um

desd ob ram ento do ho mem de escrita e do h om em de a~ao , na id en tificacao de u m

d is eu rs o i nd iv id ua l c om o ut ro co le ti vo e n a i ns crc ao d e u ma ra za o p ar ti cu la r n um a

r azao d e E st ad o: t an to s m oti ve s q ue o bri ga m, BUill p an or am a d a m em o ri a n ac io na l,

a c on si de ra -I os c om o l ug ar es .

E o s g ra nd es ac on te cim en to s? S om en tc d ois tipos dentre des s a o r e le v an t cs ,

qu e nao dep end em , em nad a, d e seu tam an ho . D e urn lado os acon tecim en to s, po r

vezes infimos, a pc na s n ot ad os n o m em en to , m as ao s q ua is , e m c on tr as te , 0 futuro

re tro sp ec ti va me nte co nf eri u a g ra nd io si da dc d as o ri ge ns , a s ol en id ad e d as rupturas

inaug urals. D e o utre lado , os acon tecim en tos o nd e, n o lim ite, nad a acon tece, m as

q ue ~ o im ed iat am en te e arr eg ad os d e u rn s en tid o s im bO li co e q ue s ao e le s p ro pri os ,

n o i ns ta nt e d e s eu d es en vo lv im en to , s ua p ro pr ia comemoracao a nt ec ip ad a. ; a h i st or ia

c on te mp or an ea , i nt er po st a p el a m id ia , m ul ti pl ic an do t od os a s d ia s t en ta ti va s d e n at i-

m ort os . D e u rn l ad o, p or ex em pl o, a e 1e ~a o d e H ug o C ap et o, in cid en te s em d es ta qu e

ma s ao q ua l u ma p os te rid ad e d e d ez s ec ul os t en nin ad a n o c ad afa lco a tri bu i u rn p es o

q ue ele nao tinha n a o r ig em . De o u tr o l ad o , 0 v a ga o d e R e th o nd es . 0 a pe rt ar a m ao

d e M ontoire o u a descida d os C ham ps E lysees n a Liberacso. 0 a co nt ec im en to f un -

d ad or o u 0 a co nt ec im en lo e sp et ac ul o, M as e m n en hu m c as o 0 p r op r io a c on t ec imen t o ;

admit i - Io dentm da nocao s ig n if ic ar ia n eg a r a e sp ec if ic id ad e . E , a o c o nt ra n o, sua

exclusao que a delim ita: a m em oria pendura-se em lugares, com o a his toria em

acontecimentos.

N a m i s tu r a c a IJI ,. '. , .d .. . , emona que dita e a h is toria que cscrcvc, E por isso que doisonuruos merecem que d I . ..

n os e te n i am os , o s a co nt cc im en ro s C o s l iv ro s d e h is to na.p o rq u e, n ao sendo mixtos d ' . '. '. •" da ' , . e m cn lO na e h is to ri a, m as o s rn st ru mcn to s, p ar cx cel en -

Cia, m e m on a e m hi I ' . , .ob h i .. Son a , p e n lU t cm dclimiiar nlliaamcnle 0 d on un io . T od a g m nd e

ra stonca e 0proprio gene I ' .. , . ?T d nero ustoru-o BaO s ao l im a fo rm a d e lu ga r d a m ern on a.o 0 grande acontccime I " _ . __

filii - I n 0 e a propria nocao de acontccunento nao sao. por de-~<lO. ugarcs de memo ' ') Ad. _ . .

. na. S l ias questoes cxigcm uma resposta prccrsa

E nt re o s l iv ro s d e h t " - ,fund, IS o na sao u nrcam cn tc Iu garcs de m em oria aqu elcs qu e scam num remanejame I feti r , • . , •

peda ' . no e cn v a da llIem ona 011 q ue c ou st it ue m o s b rc via no sgOglCOS O s g r an d es 11 dc fi _ ,. ..' _

sao t- lomentos e Iixacao d e l im a n ov a memoria h is to ri ca n ao<1 0 I llllnerosos na Fra N ' . ~

cord nca 0 seculo XIII . as Grandes Chroniques de Francecnsam a m em oria dn . ti . .

b al ho h i t '· ' ias l e a e c S la b c le c cm 0 mode 10 de v aries secu lo s de tra-IS oneo. E no sec I XVI .

"h istc . ,.:' u a , d urante as guerras de rcligiao . a cscola d ita daona perrelta deSlro i' I d d .

a am i g lJ i da d , 11 en a as on gen s tro ian as da m on arqu ia e restab clece( e gaulesa: as Reche~'h' I I . . (I" 90)

consur '. ., ( . £o s (I( a France. de Etienne Pasqu ier _ ,,,.uem , na propna mod .A d ' .

emma e do tlllllo. Hilla ilustracao cmblcmatica. A i lu s-

. : "J

Pro). H.s.ona, Siio Paulo. ( 10 / , de z . IWJ 25

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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Nada impede. em contrapar ti da , no i nt er io r do campo. que se imaginem todas

as d is tr ib ll i~6es possi ve is e t odas as c lass if icacoes necessari as . Desde as l ugares

mai s nat urai s, o fcreci dos pel a expcr icnc ia concret a, como as cemit er ios, os IIlUSClIS.

e os aniversar ios. a te os l ugares mai s i nt el ec tualment e e laborados. dos quais ninguem

s e p riv ar a; n ao sorncnt e a noc ao d e g er ac ao . ja e vo cada , d e li nh ag em, d e " re gia o-

memoria". mas aquela de " pa rt il ha s " , sabre as quais estao fundadas todas as IXr·

c ep co es do espaco frances . ou as de "paisagcm COIllO pintura", imediatamciue

inteligivel, se p en sa mo s p ar uc ul ar me nt e e m Corot ou ern Sainte-Victoire de Cezanne.

Se i ns is timos sobrc 0 a sp ec to mate ri al d os l ug ar cs . d es p ro pr ios s e d is po em n um

vas to degrade , Vej a-se , p rimeiro. os por ta tc is , nao os menos important es v is to que

a povo da memoria da urn exemplo maior com as tabuas da lei: veja-se 0

t op og ra fic o, q ue d ev em t udo a sua lo ca liz ac ao exa ta e a s eu enr aiz amen to ao solo :assim, por exemplo, todos os Jugares turisticos, assirn a Biblioteca nacional tao l igada

ao hot el Mazar in quanto as Arquivos nac iona is ao hot el Soubi se . Vej a-se os lugarcs

monul11cntais, que na o saberiarnos confundir com os lugarcs arquiteturais. Os pr imei -

ros , est at uas ou mOl1umentos aos monos , conservarn seu s igni fi cado em sua existen-

c ia in tr in se ca ; me smo se Sua lo ca liz ac ao e sta l onge d e s er in di fe re nt e, uma outr a

encontrar ia sua jus uficac ao sem alterar a dclcs. 0 mesrno na o acont ece com as

conjuIl los const nt idos pel o t empo. e que t irarn sua s igni fi cacao das rcl aeoes com-

p le xa s entr e s eu s e lemento s: e sp el ho s do mundo ou d e uma epo ca , c omo a e alc dr al

de Chartres ou 0 palacio de Vcrsalhes.

Apegar-nos-emos, ao contrario a dorninanre funcional? Dcsdobrar-se-a a Icque

dos lugares nit idarnenre consagrados it manut cncao de uma exper ienc ia i nt rans-

mi ~s lv el e que d cs apa re cc ll l c om aquel es que 0 viveram, como as assoc iayoes de

antJgos combalenles, aquelcs cuja razao de ser; tarnbcm passageira. e de ordel:~

pedagogica, COmo os manuals , os d ic ionari os , os t est amcntos au os " Ii vros derazao

que, rut epo ca c1a ss ic a. o s c he fe s d e f ami li a r ed ig iam par a 0 uso de seus descen-

den tes Scremo 'ill . ,. . b' I' 01 oporemos.. s nos. e r l in , m ar s s en si ve rs ao componcnte sim O IC .por exempl I' .' . s espelacu-

. o. os ugares dominantes aos lugares donunados. Os pnmelTO ,lares e triunf t . . toridade na-. an es, imponentes e gcra.lmente rmpostos, quer por uma au

CI?rutl. que r por u rn corpo con st it utd o, ma s s cmp re d e c ima , t er n. nmit as v ezes a

f ri ez a ou a sol en id ad e d as c er imon ia s o fi cia is . Mai s n os d eix amos l ev ar d o que

vamos a eles Os d ' . ,. da fidell'dades espon-, . segun os sa o os lugares refugio, 0 santuano S Itancas e das . -, ,. De urn lado

peregnnaeocs do sil enci o, E 0 coracao vivo da memona .

o S~cre-Coeur.de outro, a peregrinacso popuJar a Lourdes: de urn lado. os funerJl~nac iona j, de PI' r. I' 'd urn lado a

. au va ery, de outro, ° entcrro de Jean-Paul Sartre. e .

cenmoni a fUnebre de De Gaull e em Not re Dame. de out ro . 0cemiterio de CoIOJllbe~.

Poderiamos refinar infinitamcruc as classificacocs. Opor os lugarcs publicos

aos l ugares pri vados, os l ugarcs de memoria puros , que csgot am int ci ramcnt e sua

fUrK;~ocomemorativa - como os elogios funcbres, Douaumont 011 0 muro dos Fe -

d era do s -. e a qu ele s cuja d ir nc ns ao d e memoria C lima so entre ° feixe de suas

signiflcacoes simbolicas. bandcira nacional, circuito de fcsta, pcrcgrinacoes, etc. 0

i nt eresse dcssc csboco de t ipol og ia nao cst a ncm em seu r igor ncm em sua exaustao

Nem mesmo em sua riqucza cvocadora. Mas no fato que cia se ja possivel. Ela

mostra que 1 1 1 1 1 fio invisivcl l iga objetos scm ulna relacao cvidcnt e, e que a reuni ao

sob a mc smo chc fe do Pcr c-La ch ai se c d a E st ati sti ca g er al d a F ra nc a rulo e 0 en-c on tr o sur rc al is ta d o gua rd a chuva c do f er ro d e p as sa r Ha uma r cde a rt ic ula da

dcssas idcntidadcs difcrcrucs, uma organizacao inconscicnte da memoria colet iva

quc nos c ab e t or na r c on sc ie nt c d e s i mc sma.

aslugarcs 5<10 nos so momcnt o d e

historia nacional.

UIIla carac tc ri st ica s impl es . mas dcc is iva, os coloca rad icalment e a par te de

t odos os t ipos de his to ri a, ant igos e novos . aos quais est amos habit uados Todas as

aproximacocs historicas e cient ificas d.a memoria. scj am elas d ir ig idas a da nacao

ou a d as menta lid ad cs s oc ia is . ti nh am a ver c om a realia, COIll as proprias coisas

cuj a rea li dade em sua maior v ivac idade c las sc csforcavam por apreendcr . D ifercn-

t ementc de t odos os obj et os da h is to ri a, as l ugares de memoria mlo tcrn rcfcrcntcs

na rca li dadc . Ou melhor, e les 5<10. c les mesmos. seu propr io referen te , s inai s que

devolvem a si rnesmos, s inai s em cst ado puro. Nao que ml0 t enham contcudo, pre-

senca fisica ou historia: ao contrario. Mas 0 que os faz l ugarcs de memoria e aquilopelo que. exatarnente . elcs cscapam da historia. Templum: recorte no indctcnninado

do p ro fa ne - e sp aco ou t empo , e sp aco c tempo - d e u rn c ir cu lo no in te rio r d o qua l

tudo coma. tudo sirnbol iza, tudo significa. Nesse sentido, 0 lugar de memoria e urnl ugar duplo ; urn l ugar de excesso , fechado sobre s i mesmo, fechado sobre sua i den-

t idade, e rccolhi do sobre seu nome, mas const an temcnt e abcrt o sobre a ext ensao de

suas significacoes.

E 0 que faz sua l us tori a a mai s banal e a menos comum. Assumes evident es ,

material 0 mai s c lass ico, fon tes d isponive is , os mctodos menos sof is ti cados.

Ter iamos a impressao de ret ornar a his to ri a de anl eont em. Mas t ra la -se de out ra

coisa. Esses objetos so s a o apreens ivei s na empir ia a mai s imedi at a, mas 0 meca-

nismo. a trama esta em outro lugar, inapto para se exprirnir nas categorias da historia

tr ad ic io naL Cn tic a h is t6 ric a tomada to da h is tc ria c rit ic a, e n ao soment e d e s eu s

propr ios i ns trumentos de t raba lho Dcspert ada de s i mesma para v iver no segundo

grau. Hist6ria puramenle transferercial que. como a guerra. e l ima art e de execucao,

feita ci a felicidade fragil da relacao com 0 objeto refrescado e do envolvimento do

Pro}. HulOn." Slit:>Paulo. (10), des:IWJ ]7

 

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historiador com seu sujei to. Uma historia que sO repousa, afinal das comas, sobre

o ,que ela mobiliza, ur n l a co f i rme , impal pave l, a pena s dizivel, 0 que pennanccc em

~s, de. a pe go c a rna l de s en r ai zave l a esses s imbolos, no entanto, ja murchos. Re-

vivcocra de uma h i st o ri a a moda Mi c he l et , que faz invencivelmente pensar nesse

a eo r~ . do l uto do amor do qual Proust falou t1l0 bern, esse momento quando a

I,nflueoclaobsess iva d a p ai xa o s e Ievan ta , e n fim , mas quando a verdadeira tristeza

e de r na m ai s sofrer daquilo que nos f ez t an to sof re r e qu e s o p as samos a com.

preender com as raWcs da cabeca e mai s 0 i rracional do coracsoReferencia be lit ,. 0 .

m Ierana. eve-se l ameraa-l a ou ao contrar io j us ti fi ca-l a com-pletamente? Ela a conserva .,' , ,

uma vez mat s da epoca A memo ria , c om e fe ito , s oconheceu duas fonnas de 1 '.; 'dad ',.

. eginnu e : h is tonca ou l it erar ia . E las Coram,a li as ,exercidas paralelamente te k~

e sob mas, a e UOjC, separadamcntc A frontcira hoje desaparecere a morte quase simultanea' da hi ' . . .. d ',. stona-memona e da historia-ficcao, nasce

urn upo e histona que d ' .eve seu prest igio e sua legit imidade a sua nova rel acao

Com 0 passado, urn outre pa d A hi ,. ,R . ssa o . stona e nosso imaginario de substituicao.enaSClmentodo roman; hi ,. . .

Z3(':<- II't .. do e s to nco. moda do document o p er so na liz ado r ev ita li-y<N - erana dram hi ,. '. '.

explicado ":<_ a s tonco, succsso da narratrva de hist6ria oral. como scnams se uau como a eta p d fi

onde se anc a a Ic<;aa enfraquecida? 0 interesse pelos lugarcsora, se condensa e se·' , .

coletiva ressalt d . . expnme 0 Capital esgotado de nossa memonaa essa sensiblhdade H' ,.

de sua Profundidad . tstoria, profundidade de uma epoca arrancada

Memoria promo 'd ae,romance verdadciro de uma epoca sem romance verdadeiro.

, VI ao centro da hi t" ,s ona: e 0 luto manifesto da literatura.

MITOB10GRAFIA EMHISTORIA ORAL'"

Luisa Passerini**

Traduciio: Maria Therezinha Janine Ribeiro

A primeira v is ta , a rcl<w;aoentre mit o e h is to ri a parece ser a rna is adequadapara descrever 0 eomplexo espaco da historia oral. Sao dois poles, urn rnais vol tado

para 0 simbolico, 0 outro para 0 anaJi ti co , ent re os quais a h is to ri a ora l se move

continuamente. Contudo, quando urn tende a se aprofundar, esta relacao sedestabi liza

c o s dois pOl os p ar ec em se aprox im ar . A exp re ss ao "mit o e h is to ria " e ng lo ba u rn

ser ie enorme de s igni fi cados, que obr iga quem qui ser fal ar a respe it o a i nd icar qua is

os significados escolhidos em cada caso,

Ini ci alment e. l embremos que ambos os t ermos, em grego ant igo, compart i-

lhavam pclo menos urn significado: mythos e istoria t inham em comum 0 sentido

d e d is cu rs o ou n ar ra cao, embor a c ad a u rn r emete ss e a imp li ca co es d is tin ta s. 0

primciro, a empreendimento, t rama, conto; 0 segundo, a busca, interrogacao, cxame.

E sabido que Tucididcs, ao conceituar a historia, faz uma disrincso clara entre

sua c icnc ia , baseada em anali ses cui dadosas, e 0 akoal, t radicoes orais, sempre

conectadas com 0 rei no do fabuloso, os mythodes. A posicao de Tucidides e urn

exemplo daquele escdndalo que Marcel Det ienne considerou urn componente deci-

sivo cia a ti tude oci dent al em rel acao aos mit os . 0 probl ema. desde ent ao , est eve em

como l idar com est a sensacao de escandalo e encontrar urn l ugar ace it avel para os

conteudos que e la l evan tou, As front ei ras ~ nit idas t racadas por Tucid ides foram

abaladas com frequenci a, mas raramente sev i ram negadas em sua propr ia essenci a.

EscAndalo em que sentido? Escandalo da mentc rac iona l em confron to com 0

Outro, 0 div ino ou 0 alem, 0 sobrenaturaI ou 0 i nexphcavel . Em sua ori gem. os

m it os , d if er en temente d a h is to ri a, e ram ~Oes que t en ta vam exp rir nic e ss as d i-

• In: S AM UE L . R a ph a el e mOMPSON. Paul- The m~hJ we I I I~ by. L o n d on a n d New YO I 1 t, R ou t le d g e,

1990 .

•• Professors deMetodologia de P«qutU HistOric. naUniversidade deTurim. Texto produaido para 0Sixty

Interna tiona l Ora l History Confe rence. Oxford. Sept. 1987. Tr.du~o autor izad. pelos editores.

Pro}.HWona, saoPallia. (10), d.z. /99J

Proj. Hmtma. SiloP",,1o.(I0), HZ. IW3 29

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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mensOesde urn modo agradavel , Mai s agradavel , segundo Pla tao, do que os logos,

fer rament a da f il osof ia . Ass im sendo , os mit os t inham urn accsso p ropr io ao co-

nhecimento do S e r, e i st o era t ao i m po rt an t e p a ra Platao que e le s e d is pu nh a, s e os

mitos se desgastassem ou se mostrassem i r no r ai s , a propor outros, simultaneamente

b e lo s e c o rr e to s para a n o va c omW l id ad e ideal de sua RepUblica. A s c o is as em Platao

a p ar e c em ma is complicadas, no plano p o li ti co , d o q u e e ram no esquema de Tucidides

E a memor ia de s te conteudo t ra n sc en d en te q u e, m e sn o hoj e apes l ongos pro-

cessos de s e cu l ar i za c ao , c on ti nua vagamen te p r es s upos t a quando falamos d e m i to s .

Esse c on te udo eme rg e pa li damen t e: 0 mito e, por de fi n ic a o, c o le t ivo , c ompar t il h ado

po r muitas p e ss o as , s u pr a- in d iv i du al e i nt er -g en e ra ci on a l, v e nc ed o r d o s Iimites do

t c~po e do e sp aco. Ai nd a hoj e, d ec ad as apo s a mor te d e deus para a f iJosof ia

OCld~nt~, 0 ~:o pretende ser urn discurso que dispensa demonstracso, bastando-lhe

a propna evidercia, urn ultimo r e rna nes c en t e da san ti dade apos urn l ongo ecl ipsedo sagrsdo.

Tern havido s inai bi ,,~s , a m IguOS e mno ra , d e a lg uma volta ao sagrado. Mas, para

a.s mentes contemporaneas , as relacoes que outr or a f or am exp re ss as em t ermo s d a

hga~o ent re a human ida de e Deus, entre a hist6ria e 0 mito entre a busca e arevelacao, passaram a se form I I ' . '

.• , u ar como r e a c ;O e s entre mveis de compreensao ouconscleocla humana: os dife t ,. d . -

. , - ren es ruvelS e slgnificac;ao e sentido estudados pelos

semiologos, as diferclll;as apontadas pelos psicanalistas entre 0 consc ient e e 0 in-

c onsc i en t e, 0 a pa re n te e 0 oculto, 0 pa te n te e 0 latente. E ao longo da s l inhas pro-postas por estas d' 'I'

ISCIPmas qu e a conexao e 0 c o nt ra st e entre 0 mito e a historiar e ce b er am nova s definii '(i Pod ' . .d ' . 'I es. emos d iscemir pe lo menos t : r e s definicoes possiveise serem uteis a hist6ria oral.

A . , ,_ ~m~1Clrae a do m i to c omo expressao de alienacao. Para Roland Bartbes,isto constJtUJaa essencia do .. rmto - num sentido duplo, Ha a alienacso de sua propria

ongem, a recusa do mil oe nhecmas filt- t p m reco er seu carater hist6rico - de ser t al vez ant igo,

IIG\l e emo ara a hi ' '

falsidade' stona, a p retensso do m it o a o etemo MO passa de um aa rr og ar se : e B ar th e s ampl ida lingua' ia essa acusacao. 0 mito rouba os significados

em nature~m. transf~rm:'-O~ em forma e atraves des ta convert e 0 tempo hist6ricoe a c on tm ge nc la e m etemida d 0

p er de u a mem6ria- e. resultado e urna falsa n a tu re z a q u e, -Mo quer se lembrada do trabalho de sua propr ia cri aeao .

Ha ahef\3f;ao tambem d 'Greta G arbo e B - itt B 0 s eu c on te ud o. O s m it os anali sados por Bar thes - de

n gi e ard ot ao vin ho Itintencionais de aliena~ eel. e, e 0 do m e com fri tas - s il o formas

se-ia suspeitar que t~ : expressas prefereocialmente em narrativas acriticas. Pader-

o Ser a tualment e ~~e l~ de mitoconservou a possibi lidade de relevar 0 Ser, mas

rnou se a neg~ao do capital ismo tardio. Essa perspectiva

marxi st a em Barthes , nes te caso, t ern urna j us ti fi ca ti va : quando escreveu Mytholo-

g ie s , nos anos 50, acred it ava cst ar fazcndo uma cri ti ca da d irei ta cap it al is ta c cscrc-

vendo s ob d ete rmi nado pon to d e v is ta p ol it ic o Vi nte a no s ma is t ar de , B ar th es

dec1arou que a arrogancia mudara de l ade; partia agora da e sq ue rd a, a despeito de

seus mit os sercm pobres c pouco consi st cn tcs.

As i de ias de Bar thes me pareceram imeressan tes, ao tentar interpretar urn con-

junto de entrevistas, fruto de urna pesquisa realizada com trabalhadores da industria

autornobilistica em Coventry e Turirn, t raba lbo coordcnado por Paul Thompson c

por mim. Do l ado i ta li ano, os t cs temunhos sempre se referem ao que elcs mcsmos

dcnominam 0 " rn it o F ia t" ; a cspcranca de urn cmprego estavcl "mais seguro que

o publi co " , uma bo a carrci ra, mclhora tanto social quanto financcira.

Out ros e lementos a mai s se combinam neste t ema (seus mit emas , poder-se- ia

dizer, ou mitol ogemas): a prornessa de i gual dade e abundinci a s imooli zada pel o

carro , sob duple enfoque de producao c propr icdade; 0 scntido de prestlgio proprio

atribuido a diferentes t ipos de carros - diferencas que dizem respei to a transformacoes

de caracteristicas ant igas, existentes apenas em marcas especiais com transformacoes

cul tu ra is dcv idas a conteudos rea is • como a importanc ia dada a p rodu cao d e um

Lancia, rnais rcfinado, IUXllOSO, mais avancado tecnicarncnte do que u rn Fiat; e,

final mente, 0 carro como um simbolo de avanco e capac idade pcssoai s, a lgumas

v ez es l ig ado a u rn ponto de vista politico progressista, como, por cxcmplo, 0 dos

trabalhadorcs-fundadores da n ov a o rd em de Grarnsc i, em oposicao aos que ant i-

gamente nao questionavam ° patemalismo c a exploracao.

Um mito masculioo? Sim e dizcndo respei to principalmente a homens nascidos

ant es de 1950, Isto e confirmado por uma analise feita por Edgar Morin, mostrando,

que no que conceme ao consume, 0 carro podcr ser urn simbolo de mulher-mae-casa,

gerardo a ti tudes de cuidado ou ave rs ao , t an to d e exc es so d e d ecor ac ao como de

negligencia, Em certos casos, e interessante notar como homens mais j ov en s e mu-

lheres de diferentes idades podem part ilhar do mito do carro, dcixando-se influenciarou reagindo contra e le .

Tcntando cst udar t udo i st o e comparar as a ti tudcs em relac;ao a uma complexi-

dade de imagens e sen timeraos , e m d ua s cidades e d oi s p ar se s diferentes, pode-se

l evan tar a lgumas suges toes a par ti r da perspec ti va de Barthes Nes te c aso, uma

historia baseada em fontes orais reconheceria a presenca de expressoes de anenacso

e as t ra ta ri a como se fossem mut il acoes de personali dade . A his t6 ri a niIo se uniria

ao mito exaltando nosta ig icamente urn mundo de carros e operari os da indUstria

automobilistica.

30 Pro}.Histona; Silo P.... o; (10), MZ - /9!iJ 31

P ro f. HUlQr ia . S60Pa.do. (10 ), _ 1993

 

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Por outre lado, a historia na o pode assumir a ti tude pol emica e se l ancar comforca t ot al con tra 0 mit o como se ti . , .

osse urn nunugn. Certamente 0 mito exerceu

uma f ~Ao . co~nsando a c u lt u ra d e u rn c er ta c la ss e d e tr aba l~o re s, r ee qu il i-

brando sua ident idade quando do processo de perda d e h a bi J id a d e lheatinentes e d s que s eram

, e seu papel politico, Ate ceno ponto, 0 mito teve iguaJ aceitacao porparte tanto de opresssores d "lhad como e opr imidos , de propr ie ta ri es como de t raba-

ores, e d eu -l he s u m a l inall!lg A"c- em comum, his to ri a ora l pode a judar ava li ando

os custos, as vantagens e a ambivalencia desses feoomenos cul turais.

Na verdaoe, a ~st6ria pode esdarecer duvidas apontadas pela semiologia dosanos 50 sobre os "mi tes de ho'''' ,.de t "E ~e , mais percepuveis agora que se tornaram "mitos

de hio~te~: stam~s aptos, desdc que vivemos em urn epoca de desindustnalizacaos onc tzar 0m no e seu im ' de" '

nali " pacto : scobr ir suas ongens, est udar suas t ra je t6 ri asa isar o s sm ai s de seu fim A ru 6' ,. 'historicizar esse ti d lie st na ora] esta partIcula nnente bern situada par a

po e a eM ;: oo percebendo suas mi . . .(por exemplo os t da " uas nus tu r as pos u rva s e negauvas

, aspec os emancl~llo I' adpequena e mp re sa e m u ma r an de i ,Y"'I, 19 o s ~ om a t ra n s fo rmac ao de um a

materiais e 0 disc b g . indUstria) e 0 relaclonamento entre as condiceesurso so re ahenacao,

A segunda perspectiva diz ' .imaginario, Evelyne P tl re~lIo ao nuto como parte da historia do

a agean defiruu o I ._J; • "

semacoes que vai alem do li ' .fnagludno como 0 c ampo de r ep re -s m ites de experie . r

a c ia ligadas" 0 I . encia tactual e das associacoes dedutivas, ugar do nuto e evident e1 : I his ' ,

construiria urn inventario d' ,a tona, cia forma mais simples,e penodos e t em as : r na tambe . if

reraes t ipos de mit os se I . ' s, oem mostrana como di e-. re ac lOnam com Context " .,...

o objetivo historico "'';r bi os soclo-cultuTais e msntucronars.. ......., am IC IOSO seria t d das

frontelrn5 entre 0 im agin~~ 0 es U 0 mudancas no tempo, das' . . < 1 . 1 10 e 0 real co '

gern~Oes de seres humal1Q •.:: .' rna I 1QS o s conhc cemo s hoje : d e como. s ....n contnbuido' , .

real)(iade. I s t o f ome ce ' 'uha p ar a c na r nos sas propnas ~Oes den a S1 m n eam en te

do passado, a compreensao de nossa propria cul tu ra e a

. Pat lagean adverte-l1Qsque tal obi ,tradlr;ao insoltivel"" jetrvo envolve para 0 rustoriador uma "con-

, senamos capazes de 'o real e 0 imagincirio. Mas _t . ,trar;ar pam nos me smos a f r on t ei r a e n t reT idi lidO nutnnamo .UCI ides a separar 0 fab I . s mars a auto-segu~a que levou

u GSO do clentific Esp~lernas envolvidos em tais defini ,0, t amos consc ient es de que a lguns dos

o mc ol"tic ien le e S ua e me rge " ,,~ tern algo a ve r com uma " a r e a limite, entre

b n ei a n o tUvel c ult I "em aralhar de c a n a s entre ", , ur n. e que esta questao envolve urn

a b ' a s C leJ lC la s socio h is t6 'ca am , na o sabemo 'nda • n ca s e a p si ca na lis e Como 0J'ogo

s at Cer tame f .. nte arernos parte deste jogo.

Pense ser t udo i st o par ti cu lannenle rel evan te para urn t ipo de his to ri a ora l, na

qual me encont ro mais e ma is e nvolv id a, e que d iz r cs pe it o a p es soa s d e m inha

propr ia geracao e cul tu ra . 0 hab it o de ent rcvi st ar pessoas de mai s i dade da camada

ope ra ria , em cer ta medi da d eix a como exp er ie nc ia - p elo meno s foi 0 sucedido

corni go - urn numero de rel cvan tes aspec tos metodol6g icos : a reacao dos depoentcs

sabre as reproducoes de suas fal as - nossos contemporaneos cuidam e se preocupam

muito com a s t ra ns cr ic oe s e chegam a cor ri gi- la s o u r ef az e- la s; p ro blema s men-

c ionados quando se refercm a out rem, de muda r nomes de l ug ar cs e d e p es so as , s c

as ent revi st as se des ti narcm a arquivos publi cos; e espec ia lment e a d if icul dade de

avaliar 0 sentido hist6rico de eventos receraes. Est e u lt imo ponto i nc lu i a quest ao

da fronteira entre 0 imaginario e 0 real.

Darei agora meu proprio exemplo de pesquisa, quando colhi testemunhos orais

de ant igos component es de organ izacees t er rori st as dos anos 70 e dos p timeiros

a no s d e SO, n a I ta lia . No momento , uma g rand e p esqu is a c ole tiv a s e encon tr a em

andamento , incluindo terrotismo vermelho e negro, de esquerda e de direi ta . Mas ,

t ra ta re i aqu i somente do ati nent e a urn serni nari o, que abrange mulheres de organ i-

Z390es de esquerda como a Bri gada Vermelha e a Prima Linea (Linha de Frent e) .

o seminar io rea li zou-se c , 1987, semanalment e, em duas sessoes , uma na cadei a e

a out ra na Univers idade em Turirn, para mulhcres que deixaram a pri sao t ot alment e

l iv res, apos t erem cumprido suas penas , ou sob pal avra . Pat ri zi a Guerra, B ianca

Guidett i Serra e eu conduzimos 0 seminario.

Est a pesquisa foi resul tado de urn pedido fei to pel as propr ias mulheres, qu e

conheci am nosso t raba lho em his t6 ri a ora l e nos escreveram suger indo a col et a de

suas reminiscencias, Todas haviam abandonado suas ant igas posicoes na medida em

que reconheceram, enquanto det idas, suas responsabil idades pela violencia, sem en-

volver nominalment e out ras pessoas . A maior ia nasceu em tomo de 1950. A lgumas

delas tern mats de uma condenacao perpetua. Outras silo est udantes de nossa Uni -

versidade, promotora deste seminano. Obtivemos permissao especial do Ministerio

da Justica para usar gravador.

o enfoque principal deste t rabalbo diz respeito naturalmente a s relacoes entre

seres humanos e . mui to espec ia lmente , ent re mulberes. Ademais , as ent revi st as Mo

se d cr am da maneir a h ab it ua l a tr av es do d ia lo go entr e dua s p es so as , ma s s im de

modo grupal (cada mulher, ent re tant o, responder ia a apenas urn ent revi st ador en-

quanto as demais pennaneceria em silencio durante 0 depoimento); as entrevistadas.

elas proprias discuti ram. analisaram e modificaram as entrevistas. ap6s urn per iado

de "si lenc io " , em que adi an tamos nossas observacoes sobre suas narra ti vas.

)2

Pmi Hi$tMa. SlIo P.,lo, (10),<k:, If/I))Proj. HI.r16ritJ, S80 PDII/o,(10), <kz. 1093 J3

 

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N a o p o ss o d e sc re v er a q ui t o da s a s d ram a ti ca s c o nf ro n ta co e s a s quais 0 pro-

c ~ ss o n o s levou Quem, tarnbem, s er m u it o c u id a do s a ao f al ar s o br e u r n s em i na ri o

a~nda 1 1 3 0 c on clu i~ o. ~ ~ m d et alh e e r el ev a nt e n a p r es e nt e d is c us s ao : a i m po r ta n -

Cia d o m u n do d o lm ag ma no - d e s o nh os imag it r:' '. ., en s, rm o s, ran tas ra s - n a exp en en cla

~ ,d ~z r nu lh ere s c u ja s h is to ri as d e v id a r ec olh em os . S em e ss e m un do ta nto s ua shistonas de v id a n il o t er ia t id o I f

.._ . m aque a s onnas, aque le desenvolvim ento ou aquelasconscque l1Clas ,como tambem, b o je , n il o s e ri am c omprcendidas.

o que ente rdo pel' '" .o i m ag m an o a qu i? A q u e m it os e st ou m e r ef er in do ? E st ou

pensando s~re uma mistura de ideias e imagens, diferenciadas para cada individuo,ma s c am c te n za d ag p e la rec • . de .r: ' orrercia temas como: mterpretacso da resistencia aolaSC lsm o com o urn t rab alh o .

,. opresslvam ente c1andestino e de l u ta a rm a d a' h is to r ia sheroicas de revo l . .. ,

. . uc ionanos em ou tros paises e outras epocas; a lenda do h er oi o uheroina que deixa a c asa . dar ..

uandpara aju os opnnud os contra os opresso res m csm o

q 0 a q ue le s 0 00 tern consct - . da' 'dade ida l eO C la o p re ss ao ; 0 Idea l de u m a p eq ue na c om u ni -

um con tra 0 mundo ainda al . da " , .. ,em separa;:ilo induzida pelo exi lio e cadeia,

m es mo a le m d a m o rt e' fa bu ! d a Iderrotadas ,as eak lade d e m k s qu e 1 ' 1 3 ' 0 a b an d o nam s u as f il ha s

e e st ao prontas a sacrifi .N"" rear a Vida p or e la s, e m sustenta-las c o nt ra t u doao e s to u d l ze n do q u e 0 i '.. .

o s c am i nh o s da . I " .. m ag Jn an o e x-p hc a p or qu e e st as m ulb ere s e sc ol hc ra mVI Oencia pohtlca edt '

trevistas 0 I 0 erronsmo. Nilo Mevidenc ia d is to nas en-, que e as mostram e com . '..

q u an d o e s ta v a ada ' 0 0 rmaginano Ie-Ia<i c o nt in u ar n a r n esm a trilhaC v ez m ar s c la ro 1 1 < 1 0 ha

seriam inatingive ' ver espcra~as para suas m etas. EssasIS , n o g er al por se ba . .

i m po s si v el e no aru I' s e ar em em p rO j e to s f ra c os de ur na r e vol uc ao" P cu a r quando t

qucs tao de m ese d se ornou claro que para elas sua prisao era um as o u e sem an as.

Paradoxalmente 0 ima . .,a medida q '. gJnano passou a d esempenhar urn papel c ad a v ez m a ie r

ue a empr el t ada se todos fossem pessoa I ' m aya m enos real. I sso niIo s ig n if ic a q u e o s e n vo l vi -

s a u cm ad as o u del' . .. .Nas hist6rias que I nantes, como os j omais disseram na epoea.

c o e la mo s a s dec on tin ua r e n fre nta ..... '. poente, de s cr c ve r am c l ar ament e s ua opc ao porIUO e s t as S I~5 es d

lem bral"ll;as de d is cu ss a . es esp erad oras , S uas d iferen tcs his tonas e s uaU So >v esO l1Ju ntas d '

tizaram ma i s t a rde F . I contra IZCrn a a le g~ i lo de que se conscien-. UI e va da a crer

da r e al i da de porque c rtiI q u e e st as p e ss o as p e rs is ti am c o nt ra 0 principioompa havam urn im a . ..

Aqueles da .nh a glnano.E nu ge~ ao q ue estive I· .s qu erd a - c n ao s om t' . ram po iucameme envolvidos com a N ov a

, en enos, aceltavarno .r ea ll da de q ue n il o c O n se . s esta mesma vrsao do imaginario. Era a

gU lamos compartilhar ~ "'_ ' .'tarde. nos anos 70 tom ' . ' '' ''''' a pUnhamos em pratica. E m ars

. ou-se eV ldente .. p a m m wto s d e n os, q ue 0 imag ina r io l e vava

a c am in ho s " cr ra do s" c on tra ria nd o a c on ex ao e ss en cia l e ntr e s oc ia lis mo e d em o-

c ra ci a, P or s er a na cr on ic o, i ss o e ra t ri st e.

A acen acao d o m ito em determinado ponto p od e s e to m ar u rn ato d e c urn -

plicidade c o ns c ie n te o u i n co n sc ie n te . Derrotadas as s ua s e xp ec ta tiv as d e f az er

historia e c ri ar u m f ut uro i de al, e sta s m ul he re s buscararn u rn m u nd o imaginario

c om um p ar a s us te nt ar s ua o pc ao p cl a a ca o. C la ra m en te 0 l im it e e n tr e 0 imaginario

e 0 real, d o r ne sm o m od o q ue e nt re 0 consciente e 0 inconsciente, e urn problema

c ru c ia l p a ra a historia contemporanea, Estas historias de v i da a j uda r n -nos a explicar

t a l s i tua c ao .

A t er ce ir a r et ac ao e nt re m i to e h is to ri a e a qu ela d e h ist6ria v is ta c om o a

rcalizacao de um mito mais g er al , m a s tambem arquetipico.

Cog it a re i a g o ra de uma out ra forma a re a d e p es qu is a n a q ua l e st ou tambern

e nv ol vi da , s ob re a g er a! ;i lo d e 1968. E st e c or po d oc um e nt al c on ta c om c er ca de 60

historias d e v i da , oriundas d e e nt re vi st as f ei ta s c om h om e ns e m u lh er es q u e partici-

param do m o vi m en to e st ud an ti l n a Italia,

Comen t ar is ta s c o nt emp o ra n eo s , a m ig a ve is o u h o st is , d c st ac ar am u r n milo par-

t ic u la r c omo decisive na explosao do movimento. 0 filosofo conservador D el N o ce

a cu so u o s e st ud an te s r ev ol to so s n o v er so de 1968 de " s ust e nt a re r n 0 m it e d o n ov o

a q u al qu e r preco", Urn aIKJ mais tarde, 0 psicoterapeuta M ar io M o re no p ub li co u

u rn a " an a li se f en om en o l6 gi ca " d o mov ir ne n to estudaruil, de pa r ti c u la r i n te r es s e para

o n os so p ro po si to . E le e p ol em ic o e m r el 3' O ao a o r ed u ci on is m o p si co lo gi co d es se

c ar at er d e i n te rp r et ac o es : " [o v en s contestatori s a: o m o ti va do s p el a h o st il id ad e e m

rellll;oo a figura do pai". Ele n ao c on co rd a q ue "eles e s te ja m e xp o st os , n a situacao

cultural. a influencia d e u r n c 1em en t o d o i ns c on s ci en te colet ivo". Da ma i s p r o funda

c am a da , u r n a rq u et ip o e a tiv ad o e e me rg e e m n os sa m od ern a c ul tu ra : e 0 m it o d o

puer aeternus, a crianca e te m a, q u e a ss um e a ti tu de antipatriarcal, anti-autoritaria,

a nt it ra di ci on al n o m o vi me nt o d e 68.

S ig am os M ore no p or u rn m om en to o es te c am in ho . P ar a e le a e me rg en cia do

puer d em o ns tr a a n ec es si da de d e regressao, a n ec es si da de d e i nt eg ra r e le m en to sexcluidos p e lo d e se n vo l vi m en t o d e n o ss a sociedade, que g ua rdou na s omb ra a s pec t o s

e ss en ci ai s d a v id a, c om o e m oc oe s, i ns ti nt o, f em in il id ad e, s ex ua li da de . A rebeliao

dos e s tuda n te s nilo f oi s ir np le sm e nt e u rn e ve ra o p o li ti co o u s oc ia l: f oi u m a g ui na da

na h i s t6 r ia cia cui lura, 0 a nu rc io d e u rn a n o va f as e, q ua nd o a s o po si co es e nt re j ov em

e v el bo , c ri at iv o e c on se rv ad or , c ri an ca e p ai , t ud o s er ia r ed ef in id o.

Os a n te ce d en t es d e st a i n te rp r et a~ o f or am c la ram en t e e st ab e le ci d os por Erich

N eum an n , M a ri e L ou is e \ \" >n F r a nz e , naturalmente, Karoly Kereny i e C a rl G u st av

l un g L em bre mo s q ue m ais da metade da o b ra d o s u l ti m os d a is a u to re s , Einfuhrung

Proj . f f is tcm( l, S i lo Paulo , ( 10), dez . 1993 .H

Pro}, His tor ia ; SiloPa,; lo, ( /0) , d.z, JflfiJ

 

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in das Wesender Mythologie, c d ed ic ad a a o m i to o u a rq u et ip o da " c r ia nc a d i v ina " .

C o m v as to e p ro fu nd a c on h ec im e nt o, l un g e K e re ny i e xp lo ra m o s u n iv er so s d as

c u lt u ra s o c id e nt al e o r ie n ta l e e n co n tr am a c ri an c a, 0 p ri nc ip io d o n o vo a in d a indi-

f er en c ia d o e o r ap o te n te , a d e sp e it o d e s u a f ra q ue z a, n a s s a ga s f in l ar d es as , n o s c a nt o s

xamanistas d a I n d ia , n a s t r ad i co e s religiosas hungaras, nas dou t ri na s bud i s ta s . E 0p e qu e no 6 rf ao d o s t a rt ar o s, e 0 r ec em - na sc id o P an a ba Id o na do p cl a m a c e p el a a m a

e s al vo por Hermes , e 0 p r inc i p io que vive e m F a u st o .

G r an d io s o e i n st ru t iv o c omo e s te I i vr o e, taJvez 0 h i st o ri ad o r s e s in t a p e rt u r-

b ad o a o s eg ui r s ua s a na li se s, 0 m e to d o e - p r ec i sa m e nt e - d e a s so c ia c ao e i n ve rs a o,

o s c am i n ho s s e gu i do s p e la l in g ua g em c p e lo i n co n sc ie n te . Uma p a la v ra c h am a o u tr a,

ma s tamoern 0 s e u r ev e rs o . T u d o e p as si ve l d e u m a mudanca total. 0 m un do d e

n:pe~~e aparece de p e rn as p ar a 0 ar e , u rn segundo apos, de novo se poe de pe. A

d ia le ti ca s e a pr es en ta e m t od a a m pl it ud e; r is os e b ri nc ad ei ra s, b er n c om o t ra ge di ae ~ ne. 0 p~lema da a n al is e h i st 6 ri ca - de t od as a s a na lis es _ e acompanhar 0

mov n ne n to , CU l da OOOara n a o c o ng e la -l o e m c o nc e it o s r ig id o s.A I' .

. . esco a jungurana parece n av eg ar e nt re u rn p ro f u nd o e nt en d im e nt o d a cultura

d ia le ti ca e u rn s ub it o e nr ig ec im en to e m a lg un s d os s eu s a sp ec to s. E m te mp os re -

centes , 0 e x emp l o m a i s e x tr ao r di n ar io s e e n co n tr a n o t ra b al b o de J am es H i ll m an .

Sua b~I~\3n~eanalise d a p o la ri d ad e e n tr e 0 jo ve m e 0 v el ho e m Puer Papers pO e

e m e vi de nc ia a rn ba s a s t en d en ci as . P o r o u tr o l ad o na o p o de m os d ei xa r d e a dm ir ar

e a pr en de r c om s ua d es cr i~ o d o arquetipo da "criarca divina":

o h ~ 6~ , a s f ig u re s d e E ro s, 0 fi lho d o r ei , 0 f il ho d a grande mae, 0 Psicopompos,

M e r cun o -He n n es , T r ic k s te r e o Me s si a s, N e l es n 6 s v emo s u r n e n c a de amen t o i n con s ta n t edestas "personalidades '" .. . . .

. . . n arcisista, m spirada, afem inada, falica, inquisitiva, inventiva,pensallva, passiva, orgulhosa e capr ichosa

o u lt im o i mp as se p od e s ug er ir d ai s c am i nh o s. U m t eo ri co c on si st in do n u ma

r ei nt er pr et ac ao d o j u n gu ia ru sm o , v en d o o s a rq uc ti po s n ao c om o f un co es a priori do

in co ns ci en te c ole tiv o, m as c om o p ro du to s c ul tu ra is fo na do s n a longue duree do

tempo. Os t ra ba lh o s d e M a ri o T re vi s eg ue m d es ta d ir et ri z, p or e xe rn pl o, Per uno

junghismo critico. 0 outro, q u e e u e sc ol hc ri a, s eg ue u m a s ug es ta o d o s ed ut or Hill-

m a n: r ed es co b ri r a h is to ri a c om o r eg is tr o d o s ig ni fi ca do . " Pa ra M S , r ep re se nt ar ia

l em b ra r p ri me ir o d e n o ss a historia irdivisual da alma" . "Historia da a lm a" q ue r

dize r uma historia qu e "digeriu" eventos, "movendo-os d o c as o m at er ia l p ar a u m a

ma t e ri a s u t il " , pard s cu s s ig ni fi ca do s n o p la no p si co lo gi co . E st a r ec om e nd ac ao d iz

p a rt ic u Ja rr n en t e r es p ei to a a d ep t os d a historia oral.

A lg o m e p er tu rb a q u an do p ro cu ro a rq u et ip o s n o c on ju n to d as e nt re vi st as q u e

r ea li ze i c om a g er ac ao d e 68. Ccrtamerue encontro nestas historias d e v i da e le m e nt o s

c a ra ct e ri st ic o s d o m i to d a c ri an c a d i vi n a. D e ix e -r n e s it u ar b r ev em en t e 0 lema.P ri me ir o, a insistencia cont inua c om r cJ ar ya o a c ap ac id ad e d e i no va r s ej a n o

t ra ba lh o , n a p o li ti ca a u n a v id a p es so al . A s p es so as d em o ns tr am i st o d es cr ev en d o

c omo i n ve n ta ram urn n o vo t ip o d e c oo p er at iv a o u u rn a d if er en te forma d e v i aj ar ;

c om o e xp cr im c nt ar am o u tr o m o do d e c ns in ar c, em consequencia, p r od u z ir am n o v os

livros; c omo estabelecerarn uma relacao mais democratica co m 0 c he fe d o escritorio;

c omo t ra n sf er ir am h a bi li d ad e s a p re n di d as no d e se n ro l ar d o mo vi m en to p ar a a cnacaod e n ov as m an ei ra s d e t ra ba lh o n o s eto r d as c om u ni ca co es . O s c nt rc vi sta do s, u rn

apos outro, enfat izaram suas contribuicoes originais pa r a mod i f ic a r 0 m u nd o, n ao

somente 0m u nd o d o m o vi m en to e st ud an ti l c om o t am b em s ua s p ro p ri as v id as . T od o s

o s t ip o s d e m u da nc as s e e nc on tr am at r ep re se nt ad o s: r ef or m a e i nt eg ~a o d e e st ru -

t ur as e xi st en te s e v al or es d e u m a i no v ac ao r ad ic al .

S eg un d o, a r el ac ao c om 0 passado e retratada de f o rm a e x tr em ame nt e amb i-

v a le n te . C omumen t e a l ig a t; :o o c om v a lo r es e a ti tu d e s ci a a n ti ga s o ci ed a de - t ai s c omo

a r es is te nc ia a nt if as ci st a o u , p or o u tr o l ad o, c om 0 c o ns u rn i sr n o, a mass media e a

c ul tu ra d e m a ss a - a pr es en ta -s e a rn b ig ua , e ng lo b an d o c on ti nu id ad e e d es co nt in ui -

dade . Os m a is p ro fu n do s v al o r es i mp li ci to s n a r es is te nc ia s ao m a nu d os , m a s c om -b at id o s q u an d o s us te nt ad o s p el as a u to ri da de s. 0 consumismo e b en vi nd o c om o

fonna de e m an ci pa ca o d e h ab it os p at em o s, m a s t am b em e e xe cr ad o p or s ua im o -

ra li da de . A le m d is so , e m c er to s c as os , a s fa se s d a v id a sa o a ss in al ad as p el a p re -

v alen cia d e u m o u o utro d estes d ois ex trem os. E nq uan to em u rn a das rases M

c o nt in u id a de , n a s e gu i nt e c ia e r ompi d a.

T er ce ir o, e m ais c om pl ic ad o, a in cl in a~ o p ar a 0 novo n a o s e a pre se nt a e m

t en n os s ex ua li za do s. T ip ic am e nt e 0 c ar at er d o h en n af ro d it is m o e p re se rv ad o:

"afeminado e fal ico" como Hil lman escreveu. 0 espirito de 1968 na o e apresentado

.O s q u e t e rn f am i li ar id ad e c om o s t ip o s e a ti tu d es d if un di do s e m t om o d e 1968a p re c ia r ao a s s u ge s to e s i m p lk i ta s n e st a l is t a

P o r o u tm lado contudo Hill ., ,I ma n a c en t ua a t en d en c ia j u ng u ia n a de cons iderar

os eventos da h is t6ria" .ete "p merameme c om o r ef le xO O d e uma ex pe r ie nci a mitol6glca

rna. or e ss a r az a o p ro "" "" c I "hi .d da ". 't""" 0 Dear a st6na e xt em a d en tr o d o m it o d a p si qu ee ca u rn , m ve rte nd o a t radi c i ona l re la ~o e ntr e m it o e h ls t6 ri a S e isso signifi-

c a s se c onc eb e r 0 "si ifi ad " .f at es m ui to s b is t i ad or i c 0 c o~ o bje to c en tr al da h i st 6r ia , e na o u rn a s er ie d e

, on ores Concordar iam Ma s I d .' ,,~.q ue a hi t" e . . e e s i sc or da ri am de o u tr a Im p h c~ a v .rnemor ia S o na slm ples ~~ nce u ma trad~lio d e u rn a rq o et ip o r n it o l6 gi co o r ig in a l,

. .. u ma m er a r emmlscenc ia de ......:. . . . . .para toda . ioeras pnmordiais uma imag inacao a priOri

s as epocas. '

Prof. HisrOnt>,S60 P",,1c, (10).dn. 1993

p,oj. Histona; SiloPaulo; (10). a e z : 1WJ

 

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como viril na maioria dos casos (por favor, regist re: na maioria e nao em todos),

mas sim como ambival en te , enquanto a t ra i~ao a favor do macho chauvin is ta econsignada a urn periodo posterior, a partir do final de 1968,

A excecao para a "maioria" e represent ada pel o numero de his t6 ri a de v ida

de mulheres n as q ua is s e apresentam traces deoutro mite: 0 de Sofia-Pi tia de origem

g nost i ca ( c or e xoe s com tradicoes hebraicas t amber n c s ta o p r es e nt e s) . Ela e a face

f em in in a d e Deus , a filha s ab ia que , p or e xc es so d e a rn or a o P ai, f ic a lo uc a e eseduzida pel os demOnios da escur idao dando ori gem ao murdo . E la e condenada a

varias ercarnacees, de Helena de Troia it prosti tuta de Ritos redimida por Sirnao, 0

Mago, do sublime para 0 abjecto. Padeccndo todos os sofrimentos possiveis, a

hist6ria do retorno de Sofia-Pit ia ao Pai, atraves da sol idao e desespero , e a mesma

historia da vol ta do mundo para Deus, com a e s per a nca do descanso na a r uqu i la c a o

[mal Sofia m o e mile rem esposa; e sempre a filha, 0 simbolo do conlecurento e in-

telectualidade femininas, etemamente jovem e intacta apesar das vicissitudes enfrentadas.

Ha t races des te mit e em var ias h is to ri as de v ida de mulhcrcs aqui rel at adas ,

Uma que nao quis contar a idade usou estas expressoes para descrever a sua infarcla:

"Eu s empr e me s en ti ma l. E u s empr e sof ri. E u me sen tia s o" ; e , p ar a r ec orda r s ua

militancia no movimcnto estudantil: "Desde ° i nl ei o eu sab ia que e le era v io lent o

e contra as coisas que eu mais amava, como cstudar muito sozinha. Eu podia perceber

aonde 0 movimento desembocaria; quando 0 terrorismo surgiu mais tarde, MO me

surpreendi. Prossegui , mesmo ass im , a despe it o de sensacoes est ranhas e descon-

fortaveis". 0 r es to d a h is t6 ri a d e v id a d es ta muJhe r d iz r es pe it o a p er io do s d e

aventuras e infortunios, durante os quais aprendeu a "reconhecer" 0 que c ia d e f ato

queria. Quando leu p c la p ri m ei ra v ez u rn l ivro sobre filosofia oriental mo s e c hocou

por algo novo; reconheccu 0 seu teor e exclamou: " Is to C 0 que scmpre pensei",

Ser ia rel at ivamente fac i! mostrar como as arqueti pos est ao present es nes ta

geracao de 1968, Entretanto, penso que estaria desconfortavel na e x ec uc ao d a em-

preitada, Sentiria COmo se estivesse usando uma daquelas chaves aptas a abrir rnui tas

portas, dando corpo a uma o p er ac a o m e ca n ic a , urn tanto quanto detenninista, wna

historia desprovida de atores auto-detenninados, scm escolha a na o ser a de t raduzi r

uma imagern e tema em tennos present es A his t6 ri a gos ta de proceder na t ri lha

o~sta, de preferencia do concreto para 0 colet ivo, mais que do prot6tipo para in-

dividual Isto rue contradiz a mais profunda inspi~oo do junguianismo, mesmo sc

desaco.nsel,hada pelo proprio Jung. Como Mario Moreno afirmou: "0 qu e e realmente

cssencial e a suOOrdi~oo d a p es so a a o seu des ti no i nd iv idua l" , Isso l eva-nos de

vol ta ao reverse metodologico proposto por Hil lman e nos introduz a mitobiografia.

o t enno foi i nven tado par Ernst Berhard (1896-1965) , um pedia tra nasci do

em Ber lim , que s e subme te u a uma ana lis e f rc ud ia na c d epois a uma junguia na .

Ob rig ado a d eix ar Bedim , e le s e r ef ig io u em Ro rn a, m as em 1958 a s le is r ac is ta s

o impedi ram de p ro ss eguir em seu tr ab al ho como psicanalista, Em 1940 e 1941,

est eve em WIl campo de concentracao 113 Calabria, Dcixou urn l ivro de not as pu-

blicado sob 0 titulo de Mi f ob i og ra fi a , Com est a pal avra , Bernhard qucri a d izer "mi -

to lo gema", q ue e a b as e do d es tin o de urn individuo. Com ela pode-se interpretar

a heranca comum de diversas manei ras: cegamente , com os germani cos, c ri adores

do m it o d e Hagen que ma tou 0 heroi Siegfried ("cega lealdade, trai~:lo ao espirito

individual, inveja, Icaldade que sc torna obediencia usque ad cadaver"), ou COIlS-

c ie ntement e, B ernh ard d iz que sua p ropr ia v id a e sp el ha a l enda do povo j ud eu ,

expulso para 0 deser to e depoi s ret omando para corqu is ta r uma nova posicao . Est a

similitude aparc ce tanto em fat os c omo em s onhos. M as a mudanca nes te caso

estabeleceu uma rel;:v;ao dialetica, trazcndo 0 mi to p ar a a con sc ic nc ia : " a bola d e

neve se inicia deste ponto e se estende para a transformacao da consciencia coletiva",

Suficiente e Jernbrar a descricso de Bernhard de sua a ti tude em relacao aos guardas

do campo de concent racso. E le se preocupava em salva-l os , N a o se submetia aimagem de vit ima, mas promoveu-se a de salvador,

Como carni nharemos? Eu sugiro que a necessi dade essenci al e segui r por

perspectivas que permitem ao individual prcvalcccr sobre 0 col et iv o, A analise dcve

s er in ve rti da . S e volt armo s a nos sa s h is to ria s d e v id a d e 1968, . ..c reme s que o s

arqueti pos est ao present es em todas e las, mas em caminhos uni cos e d ifercn tcs. A

hist6ria esta interessada precisamente em tais diferencas. Somente a par ti r des tas

diferencas podernos entcnder que 0 suicidio n a o era inevi tavel, nem no plano racional

nem no imaginario. As pessoas podiam ter seguido out ras d irecoes, podiam ter de-

c id ido nut ri r-se de out ros mit os ou alt era- los, podiam ter opt ado por det enninado

mit o de out ra manei ra . As his to ri as de v ida podem ser v is tas como construcoes de

mitobiografias singulares, usando OP'rIXS de recursos d iversos, que i nc luem mitos ,

combinando 0 no vo e 0 antigo em expressoes (micas,

Creio que n6s, adeptos da rust6ria oral. temos novamente chance especial, a

de rever te r vel hos procedimentos e de na o ma is u sa r mi to s do p as sa do p ar a l er 0

present e, e s im usar 0 presente para reinterpreta-los. Noo existem chaves universals.

A o cor sr ar io , a f ec hadu ra s e tr an sf orma em chave e v ic e- ve rs a. E ste e 0 principio

d e u ma interpretacao que opta por envolver-se n a s ua propria genese,

N,A, Para detalhes das relevantes publicatrcks dos autores citados oeste estudo, ver a bibho-

grafiageraldo livre, Tenhotambem meba8eadoemG,P' CaprettinietaL, "Mythosllogos"

eM Detienne, "Mito/rito" In :(1980) Enciclopedia, Turim:Eiraudi, v, IX,pp. 660-89

j/l Praj, HiIIOrler. SiIoP(ffI /.o, (10) , .z . 1993 39

Prt>j.HISlbria. SiloPaulo, (J0). 1hz . 1993

 

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e 348-63. A versaoitaliana deste estudo foipublicada emminha colccao de ensaios( 1988)

Storia e soggettivita Lefonti orali la memoria, Florenca: La Nuova Italia. Os resultados

do serninario foram publicados como "ldentita femminile e violenza politica", numero

especial da Rivista di storia contemporaneaA (1988).

SONHOS UCRONICOS

MEMORIAS E POSSiVEIS MUNDOS DOS TRABALHADORES·

Alessandro Portelli"

Traducao de Maria Therezinha Janine Ribeiro

Se me fosse possivel, se eu t ivesseside 0 Pai, eu nilo teria pennitido

que Ele morresse, pendurado

naquela cruz.

Maddalena, trabalhadom textil,

Terni, Italia,

o testernunho oml tern side amplamente discut ido como fonte de informacao

sob re evento s h is to ri co s. El e pod c s er e nc ar ado como u rn event o em s i m esmo e ,

como t al , submcti do a uma anali se i ndependent e que permi ta recuperar n so apenas

os aspec tos mat er ia is do suced ido como t ambem a ati tude do narrador em rel acao

a eventos, a subjetividade, a imag inacao e ao desej o, que cada i nd iv iduo inves te em

sua r el a. ;a o com a historia Discu ti ri a, aqu i, u rn " imaginar io", u rn "erraoo", urn

"hipoteticc" motivo que e encontmdo nas narra ti vas da c lasse operari a, em rnuit as

partes da I ta li a, con tudo enfat izando mai s profundamente suas ocorrenci as em urn

grupo espec if ico: os a ti vi st as e quadros dos ant igos t raba lhadores comunis tas doset or naval de fundi~oo de aco , da c idade de Temi, a mai s ant iga c idade i ndustr ia l

da I ta li a c en tr al . A maio r p ar te d es ta p esqu is a d e c ampo t ev e l ug ar a p ar ti r da

segunda mct ade dos anos 70, quando a pol it ica do Par ti do Comunis ta a trel ava-se ao

"compromi sso his to ri co" e a "unidade nac iona l" . A imaginacao da c lasse t raba-

• I n: SAMUEL, R apha el e THOMPSON, P au l- The myths we live by Loodr-es e Nova York. Routledge,

1990.

. . P rofessor de li te ra tura americana na Universidade deRoma. Texto produz ido para 0Sixty International

Ora l History Confe rence, Oxford, Sept . 199? Tndu~io autorizad. pelos editores,

Pro}.Hutona; S/loPlIIlo, (101.de:. 1993 <I)

Pro}. HislOria. Siio Paulo, (10).dez. /99J

 

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lhadora incorporada ao testemunho deve ser inserida portanto no contexto das pol it i-

cas do part ido e nas explica¢es oficiais de seu passado hist6rico e de seus precedentes.

Levarei em consideracao, a pri rcipio, uma hist6ria que abrange 0 assunto em

sua contormacso mais completa. 0 narrador e Alfredo Fil ipponi, ant igo ope ra r io ,

condutor de bonde , negociant e de carvao - t amoem secre ta ri o da res is te rc ia comu-

nista clandestina durante 0 fascismo e comandante da brigada "Antonio Gramsci"

dos partigiani, em 1943-44. A entrevista teve lugar em 1973; Fil ipponi ja se encon-.'" . Itrava, emao, senamente doent e e morreu l ogo depoi s . E le fal ou em respost a a uma

questao levantada por mim: "Durante a res is tenc ia , voce pensava apenas na liberdade

nacionaJ ou desejava alguma coisa mais?"

momenta: nos atacamos e construimos 0 sccialismo.' Togliatti eoloeou a s ua mocao e a

minha emvntacao ea deleo btevequatro votosamaisqueaminha, eassim foiavencedora.

Mas eles retiverarn 0aviso e , r na is tarde, tiverarn de admitir que e u c s t a va c e rt o .

- B er n, pens8v~O~ na l ibe rtac ao nacional do f as ci sm o e , a p6 s i ss o tinhamos esperanca

de alcancar 0 socialismo, 0 qua l a inda nio haviamos atingido. Naquela epoca, com a luta~ospanigiani quase haviamos chegado hi. Depois que a gue r ra deles t er m in o u _ Terni foi

h b e rt a da on z e r n e s es ma i s c e d o que 0r e st o do p a is - , 0 c amar a da Tog li a tt i d i ri g iu - se a nos.

Convocou, ~. uma reunillo, todos os comandantes partigiani e l id eres d o partido de

~~dasasprovmc~as e reglOcs da I t a l ia , Discursou e adiantou-oos que haveria uma cleit;iio.

Voce~m prestigio, Omega (este erameucodinome nopartido: 0proprio Gramsci assirnme apelidara Meu nome no grupo : ..... p .

. ptJlLgano era asquale); te convoquei para quetrabalhes para ganharmos a el . 00 "Qua .

eicao. tro ou CInco outras pessoas tambern discursaram

eho~ve un~midadeem relaeao aoexposto. Eu levanteiminha milo: "Camarada Togliatti,ell discordo "Porq u e Ome ga ?" "1Jj rdo

,. . sco porque, como Lenine disse: quando 0 tordovoa, e 0 momento de atirar n ele Se • " "'- fio rtun.i . .. voce un" 0 IZCI",e n tAo , t a l ve z n un ca ma i s tenha outrapo. dade. HOJe0 t o rd o e s ta v o an d o : t o d os o s c h e f es f a sc i st a s e s ti i o s e e s co n d en d o oufugindo, tanto em Terni como I

em qua quer outro lugar. Todos os demais companheiros

con~ 0mesmo sobre suas regii5es.Assim, este e 0memento: sobre a sa rma s n il o h 3necessuiadede falar a respeito bern d '

, sa os on e elas estao (nos as esconderamos), Es tc e 0

I. Alfredo Fil ipponinasceuem 1897 emFe m .deTemi, Esta e nt re vi st a f oi '. _~ r en n 0 umaaldelano vale do rio Nera (valnerina). ala milhas

. .. o r gra.... aemsuacasa,emTemi 7dunh d 1973Sua hislona n ecessita ser ente dida ' em e Joe .

. ... n I em seucoetexto hist6ri A.M -'_- b d I adSICIlia, e mj ul bo d e 1 9 43 M us s I . & 0 .. . • co.. .. . .. . ' 0 eesem arque os a I o s n a• 0 11II101o ry a ci o • remma.. . I' .

mas 0 exerc ito a lemlo !utou co Ira leo novo govemo Ita IBrIO assmou apaz ;. nee e restUeleceu Mr __.1_

regl3es do Norte. Alnis das linh I . uuo IIlI no .. .. . .. . . ' po! a1gurn tempo, naslinhadefrente,sustentaram _ as a erndeisl·.bripdaspar1igia"i. nu quail oscomunistas est.vam n.

~ . . a gue r r a Iberta.;:10 c Ira' . . .dos combatentes sentiam que a '. . on os nllZlS1aI eseus abMOB fllSCYw. MUlt05

and guerra osgUianadin:tllme te . I'qu 0 TogiiaUi vo1toude SCI! exili R'. n .,.,-a 0 lOCI. limo. Eles se capantaraJl1

em U).emSale rno; que oscomunis~ ~ U : 1a,.em tnaIVO de 1944, .. , . , -a. . unc i. u rn . svo lra (curva

·democraci. progress iva". 0 Par tido em:un~am cO.m~ part lOOsdemocr it ic(}s para cri.,- urna

umpa rt ido demusa nae iona l c or nma is d e do~ ItalWlO fOl, IUbsequentemmte , transfonnado em

forca cleilOra) da e sq uer da ' . ch eg an do • 1 $m ll h3 ea d e m emb ro s - pot quarenta MlOIa maior

cento em 1988. Embora viessemex ~ 36 por centodo total eperfazcnclo, ainda, 22 porgoveno de c oa li sl o e m 1 94 7 o s c «c. 0 0 po de r local em mui1as c idades, ap6s sua ex:pulslo do

, ,(}munllt. permanecenm excluidos do goveno nacional.

Est a corfron tacso ent re F il ipponi e Palmi ro Togli at ti , Secre ta ri o do Par ti do

Comunis ta no pes-guerra, nunea t eve l ugar F il ipponi , ao ser ent revi st ado, oferec ia

sua versao imaginari a de urn evento cruci al do movimento comunis ta i ta li ano, 0

qual passou para a h is to ri a como svolta di Salerno. Trata-se da "curva pol lt ica em

U" , q uando Tog li att i ( re cem-ch eg ado d e s eu exi li o n a Rus sia ) a nunc io u p ar a o s

quadros do par ti do , em uma reuni ao em Sal erno , que 0 social ismo nao constava da

agend a, e que 0 par ti do cooperari a com as forcas ant i- fasc is tas na cri acao de uma

republi ca dernocrat ica (e "progress iva" ) de est il o oci dent al2. Em face desta re-

solucso, houve reacees que iam da oposicso a increduHdade e ativistas veteranosa in da hoje d eb at em se a li nh a de Togli at ti est ava corre ta , F il ipponi sugere que a

his t6 ri a podia t er s ido difererae se out ro fosse 0 carninho escolhido.

A narra ti va depende de fat ores pessoai s e col et ivos . F il ipponi era urn homem

vel ho e doent e, q uando foi e nt re vi st ad o; f az ia t empo que ti nh a s id o a fa st ad o cia

li de ra nc a a tiv a do p ar ti do , c on tr a s eu d es ej o e apo s u rn con fr on to d rama tic o. A

medida que a conversa ent re nO s prosscguia, seu est ilo de descrever sua experiencia

partigiana*, no ini ci o epi co e det al hado (embora fac tualment e impreci se), decai a

gradual rnen te e e le des li zava cada vez mai s profundamente para 0 reino cia fantasia

e da f a bul a . P r ime i ro , ele reivindicou urnpapel central na c onvenc ao que deu origem

ao Part ido Comunista (Livomo, 1921), a qual, na realidade, ele Me c om p ar ec cr a; a

segui r, con tou uma his t6 ri a det al hada de como escapou da pri sao jun to com 0 fun-

dador do par ti do , Anton io Gramsci , e como ambos se esconderam nas montanhas

(0 que, tambem, nunca sucedeu); finalmente concluiu a sua hist6ria com 0 confronto

imaginario com Togliatti. 3

I sto se deu como s e a fraque za da idade, a doerea e a f adig a da longa e n-

t revista erodissem seus controles conscientes e sua censura racionaJ sobre os sonhose desejos M muito enterrados no inconsciente, num processo altamente reminiscente

de devaneio. Essa d ivagacao deu curso a ansei os e frust racoes pessoai s do ent revi s-

ta do . E rnbo ra te nh a d ado mu ito d e su a vida ao partido, Filliponi sentiu nunca t er

s ido suf ic ient emente reconheci do e recompensado por i st o. Ass im , e le col ocou a s i

2. Palmiro Toglia tt i (1979) . Opere, v.S (1944-55) ed, Luc iano Gruppi, Rome: Riunit i.

3 . C f A . P or te ll i ( 1979 ). "Gr am sc i e va se c on meda l c ar ce re , c i n as condemmo per s ei m es i s ui mon ti .. ;"

Tutti ipvadossi del la "storia ora le " , IImanifesto; 11demaio; Collet ivo dir icerca del Circolo Gianni

Bosio (1981) "Observazioni del folckJorc su Gramsci". I Giom: Caf'lall I: 32-43.

Proj. HulOrlo, S80Poulo; (10). iUz. 1993Pro). Historia; Sd? Paul", (I0). d ez : I Pli3 43

 

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Entre os mil itan tes, h it u rn desapontarnento , amplamente d ifundido , concemente aos

rumos que a dcmocracia tomou. Devemos reconhecer que confiamos mui to na~o legal

e insti tucional , esperando solucoes superiores, e n ilo oferecemos aos t rabalhadores

responsabilidade suficiente para a so lm,:aode seuspr6prios problemas.'

"querela"entre este pol it ico e Togliat ti sobre a l inha de Salerno: "Tivcssc. Toglia~~i

scguido 0 conse lho de Giovanni, as coi sas t cr iam tornado urn caminho difercn te ,

diz sua sobrinha6 Tai s coufl it os nao sucederam apenas na memoria e imaginacao:

na Cal abri a, os d ir igen les l oeai s do par ti do recusararn-se a ercr em seus pr6pr ios

documcntos, que descreviam UIIJ.a nova l inha, c acrcditava tercm sido estes forjados

d,,7

por "provoca or es .

Dois outros aspectos engrandeccm 0 significado da historia de Filipponi. Urn

C 0 relacionamcnto estrutural dos episodios sobre Togliat ti e Gramsci. Historias sobre

o segundo sao scrnpre mai s comuns do que sabre 0 primeiro, 0 que C comprccnslvc l

dado 0 status de ant igo fundador. Mit icamcnte. a maioria destas historias associa 0

depoent e c 0 l ug ar a onde a h is to ri a s e p as sa com a p re sc nc a do h eroi f undado r.

As sim, elas tern muito em couium COlli his to ri as sobre out ro heroi fundador,

Garibaldi. Par outr e l ado, mui ta s h is tor ias s obr c T ogli at ti te ndem a opor 0 narrador

a clc. C o mo f un da do r, G ra rn sc i o fe re ce m ai er n um cr o de razoes ideais pam a i de n-

t idade mai s profunda com 0 par ti do ; Togli at li , por sua vcz , C l embrado mai s como

u m a rg ut o tatico e politico. Conseqtientcrncntc, 0 papcl de Gramsci nas v~rs6cs

popularcs da historia C 0 d e r ef or ca r a idcntificacao com a s ong cn s do p ar ti do : 0

de Togli at ti , a lgumas vezcs , C para exprcssar 0 dcsapontamcnro com sua a~ao

historica. 0 testemunho de Filipponi Curn perfci to excrnplo deste pmcesso.

o segundo aspec to de sel l rel at e e a presenca de conteudos corre la tos. as

historias 00 periodo de pos-l ibertacao: a pratica mcncionada por Fil ipponi e difundida

nos anos 40 - de esconder as armas usadas na res is tenc ia na expec ta ti va de usa-l as ,

de novo, mai s cedo ou mai s t arde , na revolucao (ou , como alguns rel at orcs d izern,

para defender a dernocrac ia contra esperados a taqucs da reacao) As ar rnas ficararn

escondidas em fabricas de Terni a te 1949: um infonnant e mecontou que c le guardou

a s ua ate 0 f inal dos anos 70. 0 fat o de e les conservarern as armas s igni fi cava que

a empreitada anti-fascista na o est ava compl ct a e t er iam que f inal iza- la urn d ia . Dum

certo modo, 0 desejo revolucionario, enterrado no subconsciente dos ativistas COIIIO

Fil ipponi , e out ra anna escondida , enferro jada pel a fal ta de usa .

P or outm lado , e ste s en tim en to d es ti na va -s c a chcga r a u rn a co rdo com a snecessi dades pessoai s e col et ivas de sob rev ivenc ia , de reconst ru ir , de defender e

expandir os ganhos l imitados mas concretos dos anos pes-guerra, dentro da situacao

mesmo, em t m ag in a ca o, n o centro da historia do par tido e ao lado de seu "pai

fundador", do qual a1egava ter recebido, em uma especie de investidura de bat ismo,

scu codinorne e sua identidade potitica."

Mas M ma is que uma frustracao pessoal resta hist6ria: Filipponi tambem pro-

c la rna urn scn ti do col ct ivo de dcsapontamento a respe it o do rumo que a his to ri a

tomou a p 6s a s g ra rd e s e sp e ra n ca s levantadas quando da l ibera~ao do fascisrno. Uma

not icia de 1947. da federacao Comunista de Temi diz:

Historias de expectativas malogradas, causadas peJa restauracao das relacoesde c1asse nas fabri cas e no Est ado, sa o eomuns na geTal f30doa anos 40. Como 0

descjo e a esperance por urna revolucao e pel o soc ia li srno foram rernovidos da

agenda do partido c cli rninados de discussoes abertas, os mil itantes se enterraram

cada vez mai s profundamente na imaginacao e nas memorias dos a ti vi st as e ree-

mergirarn em fantasia, sonho c folclore. 0depoirncnto "errado" de Fil ipponi resul ta

menos de sua impetfeita rcrnernoracao que. i ronicamente, de uma imaginacao cria-

(iva; e a forma narra ti va do sonho de uma vida pessoal e de uma difcren te h is t6 ri a

coletiva ".

Tais lustoria brotam ocasionalmcrue em diferentes partes do pais. Urn traba-

lhador da area de construcoes, de Subiaco (Lat ium), costumava contar uma hist6ria

sobre e le mesmo, mui to parec ida com a de Fil ipponi ; u rn art esao de San Loure nc o ,

arredores de Roma, t ambem descreveu urn confron to ent re e le e Togli at ti (au urn

"representante" de Togliat ti , como algumas vezes expressava); parentes do exilado

Giovanni Matt ioli , do movirnento anti -fascista de Terni, tambem falam sobre uma

4 F il ipponi t inha , n a r e al id ade, s ido e xpu ls o dopa rt ido em 1949, a pe s u rn oon f1 it o c om 0 see re ta rio de

Terni , Car lo Dar ini. A mai er p ar te d as l es temunhas d iz que a amb i~ io f ru st ra da de F il ipp« Ii

dcsernpcnhou urnpapel nsquele epis6dio. domesrno modo que °f..o de sua rnentalidade partrgonanlo seenquadra r nodirna poli t ico depOs-guer ra Maista rde , e le foi tranquilunente readrnitido, mas

nlo thederam qua lquer responsahil idade. Urn a tivista dizque quando Filipponi foi expulso "houve

urn&~nhmento deperda, como 0constat. \veJ namorte deuma pessoa importante" (Mario Filipponi,

nascido em 1924, sem.rel~*, de par en te soo, 9dem~o de 1982) . 0 " or ne "Omega" e st ev e em ""0nos an~ 20,010 por F il ipponi mas por F il ipo lnnamora ti , urn t ip6grafo daregiio de Foligno, que foi

secreLlrio.regional apOs0advento dafascismo. Filipponi (que trabalhou diretamente sob suas oroens)

s~a pr op rt ~ n lo l om~~ donome doc he fe c omo l a l n 1 > e m de s e upapel d e l i de ra n~L A conex io de

F .hPJXInl com Gramsci e reforcada , tambcm, pelo fato de a brigada ponigiana que etc cornandou,levar 0nome de Antonio Gramsci.

APC (Arquivo Nac iooal do Par tido Comunista. Roma) . 1945.8, pasta numero 142.

6. A hist6r ia de Subiaco foi comunic. ada pOIMire lla Scm emurn sernmar io, em 1978,do lnst!tuto ~to:icoRomano della Resistenza; 0episodio de San Lorence e urna oomunlc~io pessoal de Lid•. Piccioru

e A lf re do Mar ti ni , b as ea da em se us p ropr io . t ra ba lhos de c unpo, nos a no s 70; • e nt re vr st a " om a

sobr inha de Mattioli . Dinane Cole. anti (nase ida em 1903). ",V" l ug a. - emTerm nod . a 4 de a gos to de

1980.

7 . C f. R enzo Del C an ia ( 1970 ). Pro/elan senza nvo/uZlone Milan; oriente. v. I I. p . 337. n" 214.

Pro}. Historia; S60 P""lo, (10). dez. 199345

Pro}. Hinori(J, SIlo P"'' 'o. (10) . dez. 1993

 

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em vigor . Com revolucao ou scm ela , a v ida devia segui r 0 seu caminho, Os l ideres

comunistas decIararam, a epoca , que a revolucao e 0 soc ia li smo est avam fora de

questao, 0 "cornpromisso historico" definido e a classe represenLada pelo partido

ident ificada com as valores e mecarusmos da dcmocracia iLaliana.Por isso, tomou-sc

crescen te a d if icul dade para expressar ou mesmo ent ender os desej os e esperancas

frustrados, 0 resultado foi 0 est ebel ec imento de urn profunda confl it o ent re a ra-

cionalidade do mundo concreto e 0 sonho de urn out re mundo possi ve l.

Fil ipponi tenta rnostrar, de urn modo envolvente, que esse confli to provocou

o desapontamento e uma visao particular de hist6ria acima de tudo porquc, de muitas

manei ras, e le i ncorporou a rel acao ent re a consc ienc ia da vanguarda pol it ica e as

raizes populares da cul tura proletaria, Nascido em Valnerina, a regiao montanhosa

dos trabalhadores na industria de arco de Terni , e le s empr e s e s ai u me lhor c om 0

dia le to do que com 0 i taliano padrao da l inguagern pol it ica (ernbora por haver cur-sado 0 sexto grau escolar, fosse urndos ativistas com melhor escoJaridade na geracao

da c1andes ti ni dade). Quando os fasci st as vascu lharam a sua casa a procura de li-

teratura subversiva, 0 uni co obj et o que encontraram e des trui ram foi lUl organeto,

o p equeno 6 rg ao que a companha a mus ic a e a d an ca popula re s d e sua r eg ia o" .

Mesmo quando descreveu como foi despedido da companhia de bondes, 0 relato

to~ou a form,a de um conto folcl6ric09, e a necessidadc de "encaixar 0 tempo" no

p enodo d e p es -g ue rr a s e apo io u em u rn p rove rb io sob re c ac a, u rn e spor te mu ito

popular na Umbria: "quando 0 to rd o voa , e t empo de a tir ar n ele ". Como outms

t raba lhadores a ti vi st as , que jus ti fi cam suas a ti tudes poHti cas com proverb ios ecancoes pop I FT . ibui , . .. . u ares, I I P PO r u atn Ul seu proverb in a Lemne. numa t en ta ti va de re-

conclha~. a sabedoria popular de sua consciencia de c1asse com 0 prestigio teorico

dos berois fundadores do movimcnto comunista.lO

o exame de h is to ria s s ob re a aus en cia d e r evolu cao nos ano s 40 n ao e urn

caso i so lado . 0 mot ivo da "hi st or ia que poder ia t er prosscguido diferen tement e"

funda-se nas narrat ivas que tratam das maiores crises da historia dos trabalhadores,

t an to l ocal quanto nac ionaJ. Mui tas h is t6 ri as d izem respe it o ao per iodo ent re a I"

Grande Guerra e 0 advento do fascismo. Descrevendo as greves contra 0 alto custo

d e v id a, em 1919, o utr o in fo rm an te d e T em i d iz :

Os lideres daquelas lutas naotinham autoridade sabre a classc trabalhadora; nantinhamos

uma classe precisa que, a despeito detodas as suas falhas, 0 Partido Comunista criou mais

tarde. Sc, entao, tivcsse havido urnPartido Comunista, teria havido uma revolucao.

As asscmblcias nas fabricas, em 1921, sao as oportunidadcs nao aproveitadas

mais comumente citadas:

Teriamos idopam a insurreicao, porque isto era 0que t inhamos em mente - estavamos nos

orientando para uma revolucao, era 0 que costumavarnos dizer. Mas 0 gmpo de lideres

tinha outras ideias em mente, eles naoestavam seencaminhando para nenhuma revolucao.

o Partido Socialista tinha 157 membros no Parlamento; 0poder teria ficado nas maos dos

socialistas. Mas [0 secreta rio socialista Filippo] Turati nao aceitaria a responsabilidade.

Elc tcria ganho 0 poder, mas nao era homem sufic iente para ta1.l1

Quando Giacomo Mat tcot ti , u rn membro soc ia li st a do Par lamento, foi assas-

s inado por fasci st as , em J 925, 0 reg ime sofreu sua primeira (e u lt ima) cri se scr ia :

Os fascistas ficaram aterrotizados, Mas na o tinhamos lideres, 0Partido Comunista ainda

era fraco , e os lideres que tinham seguidores entre 0 povo, [Claudio] Treves, Turati,

cstavam todos exilados forado pais; os nossosestavam na prisao, Se tivcssemos lido,

entao, verdadeiros Iideres, talvez 0 fascinio nao houvesse duradovinte anus, 12

8. Entrevista com Ambroglio Fir . filh d A s: •ipporu, I 0 e h re do (n as cl doem 1930) . I I d emaio de 1979.

'J. Depois de euestar traba lhando [nos bond J ' ..e c ornun] lhe: "De . e~ por rnuuos anos, Musso"m escreveu uma car ta ao gerente

Filippo ICOU- e .. n ~ d e e m.c o d ia s v o ce d ev e d es pe di r 0 famoso chefe comunista Alf redom e m e aVlsar s oore a medida " 0 en d

n lo t enho c or a em t d .,,', c~ga 0mandou me c hamar , l eu a c a rt a e d is se : " Euc he gou' " Eu o~v · l ar a e c ~7d lf . Apo sma rs oumenos uns dez d ia s, u rn aout ra carta de Mussolinidias Id izer ~ue I rppom lunda esta traba lhando. Sevoce nio 0 despedir dentro de tres

,eu mesmo 0 espedire i e tarnbem avoce ' EI andfazer?" "0que t ern d e faze ..' d:.... e. em ou m e chamar e conjecturou: "0 que devodeBranca deNeves SU r I :spon d! Vaemfrente eme despe~a". este a rque tipo vernda hisI6r ia

. a ma v arna rasta e 0cacador encam:gado de malar a princesa.

10.Veja A Portdli (1980). "La storia non 10vedi .Contau, Culrura ooeraria e I" R marcia verso le l iber ta" , In: C ircolo Giani Bosto,! (tjorm

rr con a"ma a oma enetLaz io MI M t.O· dcom urn cantor tradicional d G . . ' Ian: azzo tta, p , - .0 wtl go es creve

e en zan o p ro ximo d e R o edi dIntemacional e da Marselh (A'1 elh . ma, que aCT rtava ser Kar l Marx 0 autor a

~~~ ~a I" arse e:sa ve ~ ~ . .Marx em Manelha ). '. ja voce. 01 assrm charnada por ter sido esc ri ta por

A ult ima formacao est a fac tualment e t oda errada. Duran te a cri se , Mat teot ti ,

os l ideres Turat i e Treves est avam ainda na I talia, e Gramsci na o havia side preso.

Mas a analise pol it ica e seria, Naquele momento extremarnente importante, a classe

operaria nao t inha Jideres.

A s h is to ri as s ab re o s ano s 20 explicam a revotucao MO h av id a por f al ta d e

Iideranca, culpando, assim, 0 Partido Socialista, do qual 0 Par ti do Comunis ta se

separara em 1921. No ent an to a h is t6 ri a <losanos 40 nao po de ser "just ificada" pela

I l . Arnaldo Lippi (nasc ido em 1899). I~de novemhro de1978(entrevistado porAgostino Marcucc i) ; Remo

RigheUi (1902) . 9 de dezembro de 1979~Gildo Bar tolet t i ( IR96). 17de fevereiro de 1974 (entrevisla

de Valentino Paparelli).

12.Arna ldo Lippi (ve ja nota 11) .

PrrJ}.Histona; S( io Paulo, (10) . de:. 199J

P''OJ . Hrslima. S(JoPaulo . (/0). de z . / 9 9 3

 

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[alta de I ' L t ' lid '", urna egi rna eranca co mu IUS a. D ess a m ane ir a, 0 e nf oq ue e p osto n o

p ar ti cu la r, e m d ec is O es individuals , r e i ter ando urn m ot iv e - " ele s pe dir ar n pa ra te r-

~ ~s c alm a" - p ar a d esc re ve r 0 COItra5te impIic i to entre 0 "politico". abordagem

t an c a d a l id er an c a e a disposicao < l as f i le i ra s . 0 significado, p ore m, e 0 me smo. Dec om u m a co rd o a h i st o na de' ..

, sneceSsaflllnlente percorreu urn carni nho errado, van-ando a a pr es en ta ~ o s eg un do cada narrador.

A i nd a n i l o p os se c re r n o 8 d e s et em b ro [ 19 4 3, q u an d o a I ta li a c el eb ro u a s p a z es c om o sa h ad o s ] N a q ue l e d i a pod ' t"~

. '. lam o s er uo:penado os c a be l os d o s asnos d e s a l ema e s, l im p o rurn, nilo havia n ada q ue nil de ,

h0 pu e s se J Il O S t e r f e it o , No lugar d isto - permaneca calmo,

e a n o c al mo E xa ta me nt e[e 1 94 8) " , . . 0 me sr no q u e o e o rr cu q u an d o e le s t cn t ar am m a la r T o gl ia tt i~ . c alm a, calm a, calm a", E o s p o l ic i ai s , mun i do s de a nn as ja ti nh am s eu s

r evolver e sapontados pa r a nos...13 '

Olema da oportunidade perdida, que lena feito cclodir uma hist6ria altemativa,

ocorre em casos contados sobre muitos eventos pas-guerra A reacao dos traba-

l hadores ao fer imenlo provocado em Palmi ro Togli at ti por um jovem democra ta

cri st ae , em 1948; 0 assassinato pela poticia, de Luigi Trast ul li , operari o do set or de

a90 d e T emi , em 1949; a f uz ila ria c on tr a 3 .0 00 tr ab alh ador es do s et or d e a co em

1952-53 e a luta d e ru a que s c s cg ui u. A p es T o gl ia tt i t er sido baleado,

no dia seguintc, ele comecou a falar, d isse poucas palavras e recomendava, sempre, a

mesma coisa - acalmcm-se, acu lmcm-sc, acalrnern-se. Pense , noentanto, ter hav ido um

momenta quando . ..eu posso estar erradc, mas naquele momc nto todos os nossos problc-

mas teriam sido solucionados.

Depois da morte de Trastul li ,

o o pe ra no d e const~oo nt .cidade I' e ca Of popular Amengo Matteucci , prcfci to de uma

na co ina perto de 11 '. .ocasiao da '. . e m, l I1 1p rOV lS OUstorneltt p ar a s er em c an ta do s por

r ec on cl ha ~ o n ac io na l "n; u fasci . .que trinta . . e .....s II aos ascistas, promovidas por Tbrgliatti,

ano s f f ia l s tarde 3 1 0 0 . >

i mp ed i . a s en na e ste f at o c om o h av en do sido um erro poisna a revolu'too:

out ra v ez - 0 p o vo , as trabalhadores podiam ICT desejado fazer algo, mas foram obstados

p cl o s l id e re s, c om o n a o ca si ao d o a te n ta d o a T o gl ia tt i. M a s s e i s t o t i v es se s id o l ev ad o a s

f il ei ra s, s er ia c om o s e e st iv e ss e p a ra e cl od ir u m a r cv c lu ca o a q u al qu er m e m en to .

Da mesma forma. apes a denussao de trabalhadores de 1953:

: ar o c o mp a gn a t e 10 vog l io d i re

I e r ro r e f u l a g e n t e p e r don a rI' ee r rore fu la geniepe rdona r e

E condannato s ia i l l I ad i tore

s e b e n e v o i a v e ' all'umanitane

s e b e n e v o i a v e' a l I' uman i ta n e

Scusateam" .• IC1 n u a s e s t o a s b a gl i ar e10 SOnosempre a l I a r ivoluzione

10 sonGsempre alIa rivoluzione 14

13, Seltimio P' ,l emon t i ( n a sc i d o em 1903

14 Q u . ) . 7de se~mbrQ de 1980, endo C UJlarad •

Ii . .. e u q u em te Cont01 ur ne r r o perd ar,E c o n de aa d . oa r a qu el as pess"as:

o seJa 0 traidorpara 0 b e r n cia hUDlanidadP e t d o e m - Dle ami e .mas ' linda gos se e u estou errado.1m . sou p ela r evolut;:4o .

provlsado par Am . ..'csta no alb mgo lVlatteucci (nascid . 'AI ur n La Va l n e l' i ' 7a lerna U oem 1919). 21ldede :umbrode 1973; . grav~io angma1

esslndro Portelli. Dischi delS "laDS" eJpe"f>m:a di ricerca intervemo ed Valentino paparel l i eo e 5UfJ1, • .

N a t er ce i r a n o it e d a s l ut as d e r u a , °p o vo e st av a p ro n to , c om t an q ue s d e g a s ol in a e o u tr os

artefatos, p ar a a ba te r o s policiais Ma s e lc s p rom et er am q u e e m pr eg a ri am d u zc nt os

ho m e n s e a s c o i s a s s e a c a lmar i am a po s e s t a s p r o r n es s a s. E n t re t an t o, o s t r ab a lh a d or e s n a o

queriarn desistir da luta, Elcs diziam: todos os empregos de v o l ta o u nos l u ta r emo s ; t o d os

O S em p re g os d e v o l ta o u nos lutaremos. Quando a s c o is a s f i na l iz a ram d a q ue l a r n an e ir a , a

classe t rabalhadora perdeu a fe, que nunca rnais foi retornada, porque des ficaram

d e s ap on ta d o s. P a r q u e d e s is t imo s ? P o r qu e a s o u t r as a s so c ia c ce s ( n ii o e s q u e rd i s ta s ) teriam

prosseguido ate u r n c e rt o p on to e , e n t s o , t e ri am no s a b ond on ad o .15

Na noi re seguint e aquel a em que as demissOes f o ram an un c ia d as , assumimos

uma posicao. AmanM de manha, diziamos: "Deixe-nos atuar na fabrica. Deixe-nos

matar cinqi ienta chefes; tudo estava combinado, as mentes estavam preparadas, Tl-nhamos afiado em pontas nossas b ar ra s d e f er ro . O s sindicatos chamaram-nos:

" ol he ", e le s d is se ram, " as c oi sa s e st ao in do b ern e a l uta e st a g anha . Voc es v il a

arruinar tudo, n a o procedam inefletidamente,.," Assim, desistimos de tudo. Penso

que hoje estariam os na cadeia, m as ainda assim acredito que sc naquela manha

est ivessemos agido. . . Nao teriamos parade nos cinquenta, atingiriamos cern, uma

vez que prossegui ssemos; i sso na o far ia qua lquer d iferenca . E urna vez que voce

15.Amerigno Malteuci (nase ido em 1919). 14de dezembro de 1974;Ca lfiero Canali (nasc ido em 1916).30deabr il de 1979; Antonio Antone ll i (nasc ido em 1923), 7 de julho de 1973.

P 1 O , H s lO r a, S i o P""lo. (JOJ. doz. 199j

Pro;. Hrsr';rlll, S40 PaM /a . (O J. <kz . I99J #9

 

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t ives se la c er n c bef es mot tos - ac ho que a s c ois as ter iam s ido dif er ent es , Ta lvez

d epoi s q ue enl er ra ss crn aqu el es c in qi ie nt a, s es sent a che fe s, e Je s p ro sseg ui ss em e

demitissern, d e novo, o s t ra ba lh adores . Mas p el o mcnos , h av er ia c in qi ie nt a v ag as d e

emprego . Admito que, ta lvez, estc fosse 0 caminho er rado; entretanto, es tou con-

v en ci do d e que e le s t er iam reabe rt o a s p or ta s para todos os doi s mil.16

Todos estes relates n ito se refercrn a forma pela qual a hist6ria se descnro lou,

m as c omo e la poder ia te r oco ni do. S eu campo na o incide na realidadc. mas na

possibi lidade. Compreendemos meJhor os Ia tos se os conectamos com a grande

fonna literaria do inconfonnisrno com a realidadc: uc r oni a , U c r on ia e "aque le per-

turbador lema no a1 I' ., qu 0 au or tmaglIla 0que poderia ter succdido s c w n d e te rm i n ad o

evento historico n a o tivesse acontecido"; a representecso de "urn presente alterna-

t rv o, u m a e sp e c ie de un i I I .ver so pam e 0 no qua l s e cog rt a sob re u rn d esdobramen to

de urn evento historico que ~ .. ~ se e fi I .. 17 A hi ' . . '..av e uou , s stonas que estamos discut indoo fe re cem-no s u rn v is lumb re d -..I •.

. . e mUILIO possrvers e a1l emat iv os , q ue pod er iam t erexistido se iideranr"s ade da s ti .

.. .. ,.. . q ua uves scm opta do por di fer entcs direcoes em relacao

a eventos cspccificos ent re 19 19 e 1925 e, de novo, entre 1943 e 19 5 3 . Pondo em

coruraste 0 mundo desei I .. _ jave com 0 eXlstente e reclamando que sO por acidente

aq~lo nao aconteceu, as hip6teses ucromcas pennitem ao narrador "transcender" areahdade como d a d a e rcc .d ntifi 18A tra . d usar a se I e lear e sc satisfazer com a o rdern exis te nte '

yes a uemnia, estes n a d di, . rra ores izem que 0 mai s des ej avel dos mu ndos

p os sr ve rs - 0 que par a el identi. d es era 1 entificado como 0 comunismo - pode ria te r s ido

cna 0, outmra se as hac nces cer tas f os sem ap itadas E " • '1mu it o a dc da rovei . a velha operana tc xu ,

qua me nte cbamada M ddal I ' .ma i s r a d ic a l nd ' . a cna , eva a ucroma para urn ponto u1t en or e

qua 0 d iz q ue l iv es I id ._ '. ,se e a SI 0 Deus - uvcsse Deus sido uma mulher, 0 tnalS crucial evento em hi ' .q ab nossa istona pod ena t er t omado r umo dif er ente . Euern S e ° que 0 mundo teria sido . . .

Poderiamos rejeitar e stas .tantas que apontam . lDterpreta4 ;Bes d izendo que ba, n o m in im o, o ut ra s

para a dlrer;,ao oposta· hist' . . . "e rr ad a s e afi . o n as q u e c o ns id e ram aquclas histonas

rmam que mo soment .e p ro sseg ul lam no caminho pos si ve l, c omo tam-

16.Esta histOria e parte de .. urna e ntreYlsta gravada V In .

enlrevistado nio decline em a enna na p n m ' avera de 1973' para proteger 0, 0s eu nome Os f a t f ,

17 Pie V . . os o ram confmnados por outros informentes.• TTC , ersms, .comenlirios em Jean Tortel e. .

2 7~ . C ol le hvo On' ambigu . U t . 91 ( d. ) ( 1970 ). Emretiens sur fa poralitterature. Pans; P lon, p.opl a 979) Nei lab" . -' •

18 E ( . Inn" "eJlafantuscienza, Milan: Fehrinelli, p. 7~.. n re muuas novelas de fic~Aocientifica b .

Man", IheHig/!Castle. Hannondswon:"adas ~auaonIa . cncontramos Phil ip K. Dick ( l965) TheSt Alban s: P an th er ( ambos des cr e . P e~~~ Books ; Nonna n S pint nd ( 1974 ) The Iron Dream,

Guerra) . e KeithRober to (1970) ;m uma h,stona a1temaliva sabre urna vitOrianaz ista na2' Grande

mglesa da rainha Elizabeth). avaN. Lomlres: Panther (nl qual I armada espanboll der rota a

bern que este era 0 unic o caminh o s at is fato rio. Ma s a r el eva ncia de ur n mot ivo

ir na gina rio n ao podc s er mc dida ape nas s egundo c alc ulos de pr oba bili dade s. Ou-

t ro ss im , d ev emos con si de ra r a q ua Ji dade dos n ar rado re s, Ent re a s t es te rn unha s c it ad as

n o p arag ra fo p re cedent e, n ot a- se u rn g rand e numero d e a ti vi st as , q ue o cupa ram car -

gos de r csponsab il id ad e e p re st ig io n o p ar ti do . n os s in di ca to s e n as admin is tr acoe s

l ocai s. E stas his tor ias na o s ao r esmungos inc or npr ee nsi vei s de ve lhos is ola dos e

desapontados, mas a racionalizacao do passado feita por individuos que foram a

mcdula da c1asse trabalhadora e do movimento comunista n a cid ad c, p or tres

g e ra co e s. T ambem dcvemos considerar 0 lugar da ucronia dentro da historia indi-

vi dual de ca da ur n. Em qua se todos os ca sos , a vol ta da uc ronia e c oloc ada de f orma

a coi nc id ir c om 0 pic o da vi da pes soal do na rr ador ; c om 0 momen ta n o qual c ada

urn desempenhava 0 p ap el mai s rel ev an te o u e st av a, no minimo, mais at ivamcnte

envolvido como participante. Paradoxal rncn tc , 0 tema "inexato" tende a se ligarcom os episodios historicamcnte melhor lembrados: como se a "inexatidao" da

h is to ri a s e t omasse mai s evi dcnt e, q uando v is ta a uma p cquena d is ta nc ia .

A aul obiogr af ia de Fr eder ick Dougl as f or nece -nos dados pa ra cheg annos aseguinte deducao:

As pessoas me perguntam, com Irequencia, sc quando escravo t inha urn senhor genti l e

nao me lembro de jamais terdado uma resposta negativa; nem dando continuidade a este

raciocinio, considero-me false, pois sernpre mcdi a delicadeza de meu dono pelo padrao

de gentileza notado entre os senhorcs de escravos que nos rodeavam.l''

Urn j ul gament o n eg at iv e sob re a condi cao do e sc ravo ro o era apenas perigoso

d e ser exp re sso, c omo t arnb ern d if ic il d e ser con ce it uado . 0 e sc ravo t er ia q ue ava li ar

o dono numa persp ec ti va d iv er sa da o rd em cxi st en te , uma p ersp ec ti va que n em todos

- s enhor es e es cr av os - s er iam f or te s e i mag inat ivos 0 sufic iente para construi-la

Tambcm em situacoes menos dramaticas, a divulgacao da visao critica da experien-

cia p ro pr ia d e uma p e ss o a contra as inte rpre tacoes preponderantes da hist6ria sempre

se de l con tra san co es ext crna s e i nt emas . Esse fat o exi ge u rn i nv es timent o emoci on almai or a o se admi tir que as cois as e st ao er rada s, do que, s implesmente , c oncor da r

com as ver dades conv enci onai s. Duvi das e di ver ge ncia s soment e eme rgem qua ndo

sa o muito intensas; nesse caso aqueles que as exprimem estao, muitas vezes, se

dirigindo a ma ior ia que 030 ous a admi ti r sua s duv idas nem s equer par a s i m esmo.

Entretanto, 0 s ensa c omum da his t6r ia af irma s er e st e 0 unico mundo possivel

e d esej av el . Con tra h is t6 ri as h ip ot et ic as e con fl it uo sa s como a s d e F il ip poni , v ig ora

19.Frederick Douglass (1962). LIfe ami Times. New York: Collier Books. p.64.Re impresso apar tir danova

edi"Aorevista (1892)

Pro). Hi.ana, So o Paulo, (/OJ,de:. jll9j 51

 

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u rn a rg um en to c or re nt e: n ao p od er ia t er h av id o r ev ol u~ ao n a I ta li a n o a no s 4 0, p or qu e

o s a li ad o s 030 teriam p en nitido - v eja 0 q ue su cedeu co m a Grecia "Eles teriarn

os soprado - como gaitas de fole", diz wn en tre vi sta do (q ue - e m D utro context e _

t am b er n r el at a 0 s eu p ro pr io e pi so d ic u cr 6n ic oi o Os m es mo s d ep oe nt es , q ue c on -

s i de r ar am e r ra d o 0 c am in ho t or na do p el a h is to ri a e m m o vi me nt o c ru ci al d e suas vidas.

aceitaram 0 s en sa c om um d a in ve nta bi lid ad e - e fa lt a d e o pc ao - ci a h is to ri a e m o u tr os

aspectos, 0 connuo, de tato, M O s e c ol oc a e nt re r eb el de s i rr ed ut iv ei s e c on fo nn is ta s

p as si vo s, m as p ro ss eg ue d en tr o d e c ad a i nd iv id uo , d e m an ei ra s s er np re m ut av ei s,

o i nt i~ o, a n at ur ez a p es so aI d o c on 1l it o a pr es en ta -s e p el o f re qu en te c on tr as te

entre 0 p ar ti do - s en ho r da razao e do conhecim ento _ e a rebeliao das m assas.

movida p elo instinto e pela ira "E ' I ' . '. ' ramos a penas utadores, 1 1 3 ' 0 detinhamos politicas

d e c on he cI me nt o; q ue ri am os u m a l ut a, q ue 0 p ar ti do s ab ia s er i mp os si ve l s us te nt ar ,

por serm os tao poucos,,21 H ' disti, ' a uma stl~ao entre nbs e 0partido, e e ele, 0 partido,

que, csta ceno e nao m s, Em bora 0 re la to r p re ten da e nfa ti zar s ua f id el id ad e a o

partido de algum a form a a bi ti id d d ., su ~e IVI a e 0 d esejo esta latente sob re a o bjetiv idade

da l 'll71ioe clamores a serern r econhec id C ' , .. nnecs o s. o mo c on ci li ar 0 fato de q ue s ab ia mo s q ue

o partido estava certo com a ,.'..s en sa ca o r rr ep nr ru ve l d e q ue a h is t6 ri a e st av a e rr ad a.

P ar a l id ar C om e st a c oo tr ad ic a '1 " ., .' icao, nu n antes precrsaram relacionar a imagem da

H istoria, por eles absorvida na I. esco a, com aquela que 0 p art id o re fo rco u: u m p ro -

cesso hnear de c rescimento .. '.. e p rogresso em d1teyao a algum fio desejavel. "A

H i s to r ia , v o ce s na o percebe ha .m , m arc em direcao a liberdade diz u ma ca n; ii o co m-

posta p or urn trabalhador ru I ' ' 22. . ra comulUsta de G enzano, perto de R oma . Esta v isao

fO I a rtJculada pelas elites co ..f " m 0 p ro po si to d e l eg iti ma r s eu p ap el e e stra teg ia . I sto

01 subscnto pela l id er an c; a, s oc ia lis ta e , e mao , p ela c om un is ta c om a fin al id ad e d eerguer a esperarea en tre os mernb . . .lide Se hi " ros p art)(iano e legitim ar d e nov o su a p r6pria

C r ra ll¥ t'b ' ~ st ~n ~ e d irig id a p or o ri en ~a o p ro vid en ci al o u p eJa s l uz es d a raz aoorcas 0 ~etlVas soclo-econOm ' '_ ..

. , icas, e nt ao a Sltuaeao presente e s o rn en te u rn e st ag ron ec es sa no n ur n p ro ce ss o

ao ' .,r e iv ind ic a hi" m ~ sm o t em po m ev it av e] e d es ej av el , E rq ua nt o a u cr on iaque a stona seguiu urn .nh o

visao d e histo . canu errado - e foi fetta erradam ente -, an a e sen so com urn ins' t

• e im l' ' IS e em re cl am ar q ue a h is t6 ria niio pode errarp I Cl ta me nl e, q ue 0 q ue e real' be

como aconlecido: como d' e tam m b am . A H is to ria r ev es te 0 desejavel

isse, c en a v ez , R us se l K ir k (a p ro p6 si to ci a mentalidade

20 Call ,. rero C analh [ver nota 0" IS).

2L Arnald« Lippi (ve rnota n° I I )

22. Sil vano Spi nett i ( ver nota nOlO),

c on se rv ad or a) : u rn v er da de ir o e st ad is ta s e d es ta ca p cl o " co nh ec im en to d a t en de nc ia

real das forcas socials da Providencia , , _ 2 3

A svolta di Salerno de Togliatti e urn case conclusive. E mbora a escolha possa

ter s i do i n te i rame nt e sabia, traz ela em si nuancas lendarias na m em or ia d o p ar ti do ,

pois e descrita sim ultaneam ente, com o u ma escolh a livre e com o um a imposicao,

E l a r ep r es e nt a 0 resultado, ao m es mo t em po , da s a be d o ri a s u bj e ti v a de T o gI ia tt i, d o

s eu c on ce it o d e " pa rt id o de massa "e da sua intuicao a re sp eit o d o "caminho I taliano

para 0 socialism o" e, tam bem , d e circu nstancias objetivas - os aliad os -, qu e M O

p cn ni ti ra m o ut ro c ur so ci a histona. 0 h is to ri ad or C la ud io P av on e n ot ou q ue " To gl ia tt i

s cm pr e a pr es en to u c om o i ni ci at iv as v it or io sa s 0 q ue d e fa to er a ~ Oe s d efe ns iv as "

e "isto esta entre su as u ltim as constrib uico cs para a construcao da m en tal id ad e d o

p ar ti do ,, 24 . E st a b er an ca f oi r ef or ca da d ur an te 0 " co mp ro mis so h is to ric o e a "u ni-

d ad e n acio nal ", fase d os ano s 70, quando 0 P ar ti do C om un is ta parecia estar se

a pr ox im an do d o p od er , em p arc er ia c om 0 c 01 lS C j" 'a do r P ar ti do D e mo cr at a C ri st ae .A p rat ic a d e a pre se nt ar d err ot as co mo s e fo ss em v it or ia s e ra m ui to u su al n aq uel cs

a no s. Q uan do o s d ire it os d os t ra ba Ih ad o r es , q ue t in ha m si do a cl ar na do s co mo co n-

q ui st as h is to ri ca s p ou co s a no s a nt es , f or am p re ju di ca do s, L uc ia no L am a, s ec re ta no

da u nia o n ac io nal , d esc re ve u- os c om o i nd es eja ve is " ba rri cas d e cinzas", a s er em

d eix ad as p ara tra s n o ca mi nh o d o p od cr e d a rn od er ni za ca o. E nric o Berlinguer, se-

cr et ar io d o P arti do C om un is ta , h ab iJm en tc tr ac ou a fro nt ei ra e nt re 0 d es eja ve l e 0

passive I, q uando disse q ue "urn goverro d e e sq ue rd a nJo s er ia u ma b oa s ol uc ao

para a d cm ocracia italian a n aq uele m em en to", porque pod ia tcntar as fo rcas coo-

servadoras a um g olp e. T od av ia, am bos, Lam a e B erlingu er, teriam gostado - C 0

q ue p are ce cJ ara men te - de c on ser va r o s d ire it os s in dic ai s e c on qu is ta r u m g ov em o

de esq uerda. m as d esd e qu e sentiram 000 ser isto possivel, ao i nv es d e a dm i ti rc m

a impot e nc i a, declararam ser indesejavel, E c om o 0 P ar ti do C om un is ta , d e m an ei ra

crescente, vin ha se identifican do co mo um a forca polltica "resp onsavel",

"aceitavel", com ecou a assum ir respo nsabilidades M O apenas para com 0 futuro

como, tambem, p ara co m 0 p as sa do . T od os o s e ve nt os h is t6 ri co s p re ce de nt es ai mi ne nt e a sc en si lo a o p od er d ev er ia m s er v is to s, a go ra , c om o r ea lm en te b on s, r ne sm o

se or igina lrnen te 0 P arti do C om un is ta t iv es se s e o po st o a e le s. A ss im B erl in gu erdescreveu a NATO - ant es eocarni cadament e combati da pel o p ar tid o - mo mais

co mo u rn v eic ul o da h eg em on ia im pe ri al ist a, m as c om o u ma "garantia" d a i nd e-

p en de nc ia n ac io n al i ta li an a1S, O lh an do p ar a tras, s ab em o s q ue ao P a rt i do Comun is t a

23. Russel Kirtc (1953), The Conservative MInd. Chicago: Henry Regnery, p. 48.

24, Claudio Pavone (1985) . "Un Togliani mallTallado",/"dlce II (I) (janeiro-fevereiro) 13-14.

25. Luciano Lama, entrevista em La Repubblica; Erico Berlinguer, entrevista em Stern 34 ( agos to 1979) e

Corrten della Sera,

Prof.Hwima. ss.Paulo. rJ OJ.de: /993

 

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n u nc a f oi p er m ui do 0 a ces so a o p od cr , m as 0 p re co i dc ol og ic o, p ag o n a t en ta ti va ,permaneceu

E st a a bo rd ag em fo i re pro du zid a em n iv el l oc al . Enquanto to do s o s traba-

l ha do re s d e T er ni e on si de ra va m a s d em is sO e s d e 1 95 3 c om o u m a i me ns a e d ur ad ou ra

derrota, 0 historiador local e s en ad or c om un is ta R af fa el e R os si descreveu-as quascc omo um a c on q ui st a p er m an en te :

A s g r a nd es d em i ss oe s d e 1 9 52 -5 3 e a s l ut as q u e s e s cg u ir am (das f o rma s ma i l; v a n ad a s,

Comog ra v es l u ta s d e rna, e s ta d od e s i ti o , WlO de armas de fogo, ba r ric adas, muitos feridosc maehucados) p r es e rv a r am e amp l i a ram au n i d a d das Ii ' , ,: ' ' .

, , , -~ .. wuua e o~ass()(:JrusepoulJcas(ocomtle

m~ t lp a r1 J d ar i o d e T e rn i ), suscitaram p es q ui sa s e ideias a r e sp e it o das relacocs dasmdustrias estatais com a ec ' , I. ' onam ia reglona , acclerando urna p rofunda reorganizacao da

fabriea, 0 que sus tou 0 seu fe chament tran f ' ,o e a s ormou, pela pnmeua VCZ, de produtora

dehensde guerra em p r od u t or a d e hens de paz,26

Esta descricao que I iteralment ituabalhad ",', e, Sl em parentesis 0 ac on tec id o c om o s tra-

, o,~s ,~ atnv ui as d en ussO es um a sene de decorren cias _ "p reservaram " "am -pharam aceleraram" "transf " " 'fact I' . o rm ara m -, d ifl Cll me nt e t ern cr ed ib ili da de m ais

ua que 0 s on ho u cro ni co d e F T ·27 Mde . , Ii ppcnr ' . as is to s e e nq ua dr a n a r ec es sid ad e

se Imagmar uma h i st o ri a g r ad u al I '" que eva ao 'compromisso historico" progres-

S i va , a n tc c lp a d o p o r c i rc u ns t ao c ia s decomo forcas anta -', ' . .. COO,PCI'al;< lo en tr e 0 q ue s e co stu ma d cs crc vcr, go rucas, 0 corrute multlpartidario" Esta ..~ de hi ", 'to;

distante da expe '. . dl . VC'SdU Istona c ..,0

ima gi n !V ' il o d o s n i li t an t Ireta d a m aioria da po pulacao qu e 1 1 & 1 0 c cncontrada Ita....... fill I ntes partidanos' 0 Ii' , ,

se trata de event di ' p rocesso urcrona mars afcuvamerae quandoos i st an tes em cscal . I '

dividuais t er n p o uc a 0 " a n ac ro na , c om os quais o s i n fo n n an t es In-

primeira m ao 0 C O nfl 't po rt uru da de s d ~ c on fro nl ar s ua s p ro pri as experiencias de, I 0 e ntre a Im agma1'ao do " " "

nalYiIopopu1ar dos m l'l'tant " y compromtsso histonco c a imagi-I es cna VIS6eS r .

diz 0 industriario AU'e P . u op icas d e u rn p re se nt c t riu nf an te . C om olJ u aganellt:

Todas as n ossas lutas serviram a u m ' .

e le s los componentes da I . p ro PO S Jt o,p or qu e a c l as se t ra ba lh ad or a p re va le ce u ec asse dommante ) t' 'do r.na Camara o u n o Senado I ii " ~ SI IO~S 8 ceder, Eles podem legislar

, e m c u na ; m as a qu i e m ba ix o, d e n tr o d a Italia eles nIomandarn,

26~Raffaele Rossi (I9n) "La t ' 'C he . son. delluhimo t ten' ,r on ac Umb re II (I)Uaneiro): 63-76, ten 10 m Umbria. Gli anni difficili, 1947-1953"

2 7, A reorganiz~iIo 'hi • q u e s eg u lU a s ciemisslles r. . c

I st on ador c ompe te nt e d iz : " a em r ' 01 !l,u~,menos "profuncb" do que IICTeditavaRossi, Urn(Franco Bonelli(1975) L ./ P CIa fOI tnab'.1an nlo """-<n' , , -tidade"E" 0 SV uppodiu"a d. --'- .. -IT en .. urna nova ' . 'maud,. p, 288) , 0 comita !mult iplft idan!"a" e ~mpr?a;~ItaliaLa Tern;del J 8l# al /962. T~:

pouco, (que U1chua ate D1esmoos fascista s) conseguiu multo

S e e l e s q u is e rem gov er n ar , d e v er n pedir d e sc u lp a s aB e r l in gu er e c o l o c a- l o n a p r es i de n ci a

n o l ug ar o nd c a nt es e st av a a c or oa . A go ra e la s e f o i e M u ma f oi ce e u rn m ar te lo n es se, 28

l ug a r e n ad a m a ts ,

E st a v is ao t er n m u it o em c or nu m c om a s h is t6 ri as d e F il ip po ni s ob re G ra ms ci ,

o r e la t or e s ta b el e ce urna rela'Yao entr e d e me smo e 0 heroi, apontando que "nossas

l ut as " a ju da ra rn a e nt ro ni za -l o: e le , a ss im , m an ob ra p ar a d ar s ig ni fi ca do n ao s o m en te

a historia do partido como tambem a sua p ro p ri a h i s t6 ri a, Se 0 passado serve para

jusuficar 0 presente, urna v id a de luta dev e ser vista co mo u m sucesso para da r

sentido d e a ut o- es ti rn a e ident idade pessoal , Na reahdade. a necessidade de reivin-

dicar determinada alYiIopara si rnesmo, em d ef es a d a p ro p ri a dignidade e da presenca

historica, esta scmpre na raiz de urna versao "consensual" da historia: dizendo que

a h is to ria e sta va " cer ta ", a dv og am os . p ar a nos m es mo s, u rn f ei to .

P or o ut ro la do . e nt re ta ra o, ca da v ez que p erg un te i a v el ho s a ti vi st as s e s ua s

atuais vidas co rrespo nd iarn a alg a p clo qu al tivesscm lu tad o, as resp ostas fo ram

relutantes e duvidosas, "Nao, i sso nao se deu; porque t od os o s n os so s li de re s p os -

suem suas pr6pr ias casas e eu a in d a a lu g o uma", d iz urn velho; "nos podemos ainda

p er de r t ud o 0 q ue te mo s", d iz outro - que e st av a v iv en d o p o br er ne nt e, e m bo ra t iv es se

por vinte anos exercido posicoes de podcr na administracao da cidade: "hoje , eu

r ee eb o u rn a pcquena pensao, suf ic ient e para cornprar para mim e para minha velha

m uJh er u rn pedaco d e p ao, d e m odo q ue n ao lenh am os q ue esm olar, M as isto po de

acont ccer a inda , porque as c la ss es g ov er na nt cs e st ao t en ta nd o t ir ar 0 q u e f or ar n

forcadas a dar_29

A experiencia pcssoal, c on co mi ta nt em en te , r ef or ca e l im it a a v is ao p os it iv a d a

h is t6 ria . D e u m la do , is to in ci ta o s n an ad or es a in sis ti re m n a u ti li dad e e s uce ss o d e

suas vidas, a ce nt ua nd o o s aspectos positivos da realidade; do o ut ro , f or ca -o s a aceirar

o c an ce la me nt o o u a di am en to de s ua s u lt im as m et as , co m u rn s en tim en to p es so al

de descontentamento ou perda de s igni fi cado , 0 d iscurso posit ive, no ent an to , es an ci on ad o p el a l id er an ca ; e st a d is po ru ve l, p ro nt o, a rt ic ul ad o. 0 d is cu rs o d e negacso,

p or o ut ro I ad o, d ev e p ro cu ra r re un ir s eu s es bo co s co ns ta ru em era e e e sobrecarregadopelo rnedo de d es ap ro va cs o e p elo i so lam en to , " Eu s in to , ca ma ra das , s e e st iv er

errado" s c d es cu lp a, p ro vo ca do r e t ir ni do , A me ri go M at teu cci , " ma s ai nd a s ou p el a

r evol ucao " .

Ent!o 0 c on fl it o e n tr e 0 i mp ul so n cg at iv o e 0 p o si ti vo s em p re resu1ta em

s il eo ci o, p as si vi da de , a qu ie sc en cia s em p arti cip aca o: " um a p as si va , s em pr e m era -

28, Alfeo Paganell i (nasc ido em 1908).4 de jane iro de 1980,

29, Agamante Androsc ieni (nasc ido em 19(2) 21 de junho de 1982;Arnaldo Lippi (ve r nola n" 11).

54

Prof, Iflsrtwt.., sa o P.. 1o . (10),dn. /99JProj,If,sWna. SikJP.... o, (IO),d.Z. 1993 55

 

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m en te fo rm al co nco rd ancia co m a linh a p artid aria, u rn a ten dencia a d eleg ar ao s

outros, 0 q ue i mp ed e a d is se nc so d e v i r a t on a" , c om o u rn p ain el d e l id er es re un id os

em 1 97730. 0 d is cu rs o d e n eg at ;i io e d is to rc id o, e nt er ra do , d es vi ad o e p en ni ti do a

e me rg ir s om en te e ntr e li nh as , c om o s on ho , m e t af or a, l ap so , d ig re ss ao , e rro , d i-

famacao, u er on ia - t od as a s f on na s q ue permitem ao relato r d ar asas ao s seu s sen-

t im en to s e , nao o bs ta nt e, c on tr ol ar a tensao por intermedio de ur na o r ga n iza ca oformal do discurso.

O s s ig ni fi ca do s d e c on tm le i ns er id os n a n ar ra ti va c or re sp on de m a d oi s m o ti vo s

m ai or es : a t en de nc ia e rr ad a d a h is to ri a e t ra ca da a p a rt ir de u rn e ven to s in gu lar ; o u

a culpa e a tri bu id a a er ro s e fracassos da l iderarca, 0 U1 t imo mo t iv o e freqiiente-

me n t e e n c on t ra d o na historiografia da Nova Esquerda, onde e u ti li za d o p a ra s u st cn ta r

u ma - e no rm em en te i de al - i ma ge m d a c la ss e t ra bal ha do ra re vo lu cio na ri a r eg ul ar-

m en te t ra id a p or M er es r ef or mi st as e " re vi si on is ta s, ,3 1. R el at os u cr on ic os , e mb or a

a pa re nt em en te s em el ha nt es e m s ua r et 6r ic a, d e f at o, e xe cu ta m um a fu ~a o o po sta .

~o se culpar a "inexatidao" da h is t6 ri a s o br e 0 "nosso" lade, percebe-se ai uma

slgnifica

9ao de que e ainda 0 no sso lado q ue faz a h ist6ria. Trata-se da mesma

~ e nl al .i d ad e i ns p ir ad o ra d o milo de Pueblo, 0q u a l a t ri b u i a c r ia c ao d o h om em braneo

~ m ag la negra i nd ig en a, o u 0 m it o n ac io na li st a n eg ro , no qual a raca branca em ve n9 ao d ienti v 32

o cicn ista racub, u rn n eg ro m alu co . E stes mitos reforcam 0 sentido

do grupo , d e s eu papel central na h is to ri a, e s ug er em q ue se 0 grupo t er n p od er p ar a

g e.ra r p o de res d em on ia co s t am be m o s te rn p ar a el im in a~ lo s: " se a m ag ic a i nd ig en a

enou 0 p ov o b ra nc o, u m a c er im O n ia i nd ig en a 0 e on tm la rn ,, 33 . S im il ar me nt e, M at tWit t se refere a urn i n d io n a v aj o :

feito, cntao have. .riaesperanca: talvez elepudesse evitar futuras calarnidades nao repetindo

de novo aqueles erros"

POdeserqueeletenhav iol db.. . . a own ta U,comoquando sereferiuacertas lendas em ocasloesnnpr6pnas. Assim sendo se d st . .

, ega res natunus fossem causados por algo que ele tivesse

D a m es ma f or ma , a fU Il 93 0 d o t em a u cr on ic o e s us te nta r a e sp cr an ca : s e n os so s

lideres d o passad o p erd cram a chan ce de "aurar cnquanto 0 tordo esta voando",

l id e re s m e I h or es , 1)0 fu tu ro . po dcm nao perder a o portu nid ad e. 0 m un do d e !lOSSOS

dcsejos e possivcl: I)jO necessitarnos mudar a magica, mas s o me nt e t ra ba lh ar mais

corretamcnte e, talvez, escolher m el ho r a s liderancas.

N os relates u cro nico s, a lid cran ca ex erce u m pap el sim ilar aq ueles d os m e-

diadores na interprctacao cstrutural d e m i to s d e L e vi -S tr au s s: criaturas ambivalentes

que sustentam posicocs confl itantes, mas igualmcntc nccessarias. Neste caso, a con-

t radi cao - nos , os const ru tores de h is to ri a, deviamos estar certos e n i lo o b s ta n te a

h is to ri a d e u- sc de forma errada - e cx plicad a pcla acao d e individuos qu e estso

conosco (no partido, que eles realmente representam) c nao sao dos nossos (nan

s ao m e mb ro s da classe trabalhadora, em termos de s ta tu s , p o de r, educacao, alguma

r en d a) , A p cs a r de ambivalente, a p os ic ao ta nt o i ru ern a q ua nt o e xt ern a d os Iideres

preserva 0 grup o ao centralizar para si a cu lp a e a censu ra. A leal d ad e ao p artid o

nao sc baseia, co mo e ri ti co s d e fo ra dele sempre apontararn, na fe m it ic a e m s ua in-

f a l i b ilidade, m as s ir n n a h ab il id ad c d e t ra ns po rt ar s eu s f ra ca ss os para a e s fe r a do milo .

E ai que novamente a incxatidso f ac tu al d e muitos relatos ucronicos torna-se

relevante. 0 fato da decisao de Togliatti tcr sobrepujado a oposicao imaginaria de

Filipponi na o foi raz..io suficiente p ar a q ue a I ta li a nao t iv e ss e s e t o rn a do s o ci al is ta

apos a 2a G r an d e G u er ra ; 0 t ri un fo d o fa sc is mo , d ep oi s d a la G ran de G ue rr a, n ao

foi causado pela besitacao de Turatti e m b u sc ar 0 pode?s. 0 motivo ucronico r emove

a presenca de adversaries sociais e p ol it ic os ; r ed uz 0 c om p le xo p ro ce ss o h is t6 ri co

a s im p le s e ve nt os ; s it ua co es c om p le xa s a d il er na s d e s im o u n ao , A ss im ., i st o p re se rv a

a a u to - es t ima do n ar ra do r e 0 sen tid o p or ele d ad o a seu p ro pr io p as sa do , m as l or na

mais dificil avaJiar 0 a tu al p ap el d o p ar ti do , suas l on ga s c ri se s d e id en ti da de , s ua

c ul tu ra e s ua e st ra te gi a T ud o e reconduzido de v o lt a p a ra 0 p l an o s im p le sm e nt e t at ic o.

.,0. Rinascun, 6de janeiro de 1978.

J I . 0 exemplo tipico e Proletan JenZQ ri\lOluzi .Pregava: "a ausencia d . t el . Dole de ~ I Cur ia . op. c it ., muito popular nofun <losalOS 60.

revolu~lo ital iana". (v.~ m 2e;)tu;15 revolUClO nlirios, em uhim. inst incia. • causa da falta da

1972) tambem dizque I n ' P d .: e re my In ch er (Stricke., San Franc isco: S traight Arrow Books,, 0 ge e 'omenlar gRves e It . d' . f ito maximo PIITI conte-l . revo as, SO Icatm eseus hderes t e r n sempre CI 0

. . as, enquanto 0 Impulso 'bpa~ dmlhtanles. 0 queestas leori io p~ ag<.. .. ,. .. ., pa ruu constanlemenl.e do grupo epar ti do s cgui dament e g am~ n c on se guc" :, e xphc ar e porque os mili tantes revollK:ionanos do

er Ietan~as refomllstas ou vendid4s

3 2. L e sl i e M a rm o n S i lk o (19n) c .. eremony N ew Y rk" V'k' .1

Malcolm X. COm a .s sist enci a d AI H O I mg, pp. 139-45; (1968) The Autobiography 0 ,1~ e ex cley, Hannodsworth, Middx: Penguim Books, pp. 2.58ff... . P ao la L ud ov ici (1 98 0) "N ar r· · . d'

1/ .. Iva In lana Contemporin ,. I EI . ., ovecento arnerlcano. Rome: Lucanni. ea . n: enure Zolla (ed.) I contemporanet-

34. Mat t Wit t ( 1979 ). "God' s c ount ry ". I n: Our Blood Four Coal Mining Families. Washington, oc:Highlander Research and Educa tion Cente r, p.76.

3~. Ha urn evento para 0 qua l entre tanto, a hist6r ia "ucronicavpodia ser aplic8ve l: amarcha fascista sobre

Roma em28 deoutubro de 1922 ten . . s ido fac ilmente sustada se 0 r ei e 0 govemo tivessem usado 0

exercito contra ela; talvez ahistoria tivesse sidodiferenle. Nenhum entrevistado, entrelanto, trata este

evento em termos ucronicos: e essencial, realmente, que 0 fracasso esteja do " no sso " I ado e , ,1 0do

das c lasses governantes. Inc identalmente, asversoes ucronicas dahistc ria tambtm sio encontradas

entre os fascista s . Mar io Sassi (nasc ido em 1906,12 de janeiro de 1983) dizque a ltal ia ter ia ganho

a 2' Grande Guerra se Enrico Fermi e outros c ientistas nuclea res nllo t ivessem se bandeado para 0

outre lado.

Pro}. Histona; SiIoP""lo, (10), dez. /993 57

Pro}. Hisl6ria, sa o Pallia, (10).de: . 1993

 

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A s c on se qu en ci as p o de m e st ar , a o m e sm o t em p o, n o n fv el da a t uaJ po l ft i ca

e ao ~ el ~ im agin ac ao p olitic a, P or o utro la do , a m aio r p arte das r ea co es d o s

c or re li gi on ar io s s ob re 0 c om p ro m is so p ol it ic o h is to ri co t en d e a s er r ed ir ig id a e mt er mo s t ar ic o s: " n os lhe d ita libe" s emos muita rdade de m ovim ento e p agarnos por isto

n a_ s el ei co es "; " Be rL in gu er p ro p os u m a a li an ca p o rq ue s ab ia q ue a s d em o cr at as

cn sta os a re cu saria m e en tao a c ulp a n ele s " , "O lh e B I ' _:r. ', ' ,e r mguer lidO e menurosa.E le f ez i st o para alcancar nossas metas rapi..l---n te ,,36 0 'hi "

" UdJIK c om p ro nu ss o s to nc o,~ v er da de , e ra m w to maier: e r a s i n ton i a e c a us a d e p r of u nd a s mudancas na i den-

tidade, n a c om p os io o d e c la ss e e n o papel p ol it ic o d o P ar ti do C om un is ta E st e p ro -

c e ss o ~ a rg in a li z ou mu i to s a ti v is ta s d o s v e l h os t emp o s, c u ja i d en t id a de e ra t ao l ig a daa o p ar ti do q ue e le s s e s el V. i f id bo

ram en os , em ra se recusassem a reconh ecer 0 q uererum en te s ucedeu Um a criti ta ti ' ,

, ' ca ca pernutlU -lhes da r voz a s e os dc s con t e nt amen tos

e , a s sun , a : ~ s u as c au sa s m a is profundas e per turbacoes ,A pnmazia de t a ti ca s c a ;ftJ.~ d

, <Ulk, e m a o e m m ao , c om u ma i ma ge m ci a historiaco mo u ma s en e d e d is cre to " d

, s pontes e mudanca", c r is e s , momen t os cruciais osquais encaram a revolucao ' '

, como uma confrontacao Slflgular: traumatica, violentam ar s q u e c om o u rn I en to e p fund "t

ro 0 p ro ce ss o d e m o dI fi ca ca o s oc ia l. E m bo ra t od ose s e s n a rr ad o re s s o nh a ss e m c omde im amna-I ' urn novo mundo , e les eram pra ticarnente incapazes

b 0, concen travarn ·se na busca I" ,r e vo uc i onana da m an ute nc jo d o p od er

m a s e ra m e xt re m am e nt e v ag os q n do i do 'ua 0 IIlSta s a d e sc rc v er q u e espe c ie d e s o ci cd a de

esperavam com o desfecho 0 m ai "Sov i et i ca _ i s to e ' s ~ r~ xu no q ue c he ga ra m d iz r es pe it o a Uniao

, " a u rn o utro mundo J a existentes,A u n ag tn a !; lI o u c ro n ic a a s si m , I i na b , .

cia tradicional fil ' , ' reve a a ilidade de uma s ig n il lc a ti v a p a rt ee t ra c omur us t a pa r a id

tura e da teoria do P 'do ,COnsl e ra r q u e c a ra c tc ri st ic a s b a si ca s da estru-

es tado n a origem d am ~ om u~ sta -, e d e s ua p r op r ia i de nti da de - p od em t ero c ar nl nh o Illdevldo" ci a hi ~ '

para muito s destes ativ is tas era " ~~na, Revela , tamoem, qu ep artid o e stav a s e to man d I p e~ so ed ifie d ad mitir, e m es mo irn agin ar, q ue 0

o a g um a c or sa total d'e para a qual vinham ' i d m en te iversa do q u e h a vi ar n e o nh e ci d o

VIVI 0, Por ou tro l ad ' ,o f r ac a s so ci a hist6ria fi ial ,0, a I m ag lD a ~o u cr fm i ca t am o em r ev el ao lei ao exphcar a e '.. , , ,

d e m ili ta nt es . A u cr on i a s' xpeneOCIa exlStencial de u r na m a ro n aa, SID1, resguarda a Precl'O sa '.. da i , d

m u nd o e xi st en te m a s fi ., C O I lS C Je I1 C Ja n yu st ll ;a 0, ornecs os mcio d '

e m q u e a vi va a s c h ar na s d de s e re slg~ ao e reco nciliacao. N a m ed id a

e d es ej o. f az CO m q u e e s ta s co n t~ n tam en to a o r ev e la r a c o nt ra d ic ao e n tr e r ea li d ad econtr adl~o na o e c lo d a em c o nf li to a b er to ,

36, V lZliero M'-I ' ( id-vI nasci 0 em 1931), 29de i ,

:::82, Dante Banolini (nascido em 1ge1~~~;odd~ 1980: Amedeo Matteucc i, conversa, 30 de abr il de

atlrucci arevolu\,io: veroola nO 14).' e eVerelro de 1913 (em resposta ao verso deAmerigo

ARTlGOS

Preducao Academica da Pos-Gradua~io em Historla da PUC-SP

Maria de Lourdes Monaco Janotti

Marcia Mansor D 'Alessto+

R e fl et ir s o b re a p r od u ca o a c ad em ic a do Programa de E s t udos P6 s -G r a duadose m H i st o ri a da PUC-SP e r es po n de r a a m pl as e xi ge nc ia s q u e v er n- se i mp o nd o acritica hist6rica contemporanea.

P or e sp ec if ic o q u e p ar ec a, 0 o bj et o e m p au ta n ao d ei xa d e s ec e xp re ss iv e n o

c on ju n to d as i nq u ie ta co es d o p en sa m en to h is to ri og ni fi co b ra si le ir o e de s ua c on .

tribuicao a c ons ci e nci a c on t empora ne a ,

Razoes nOO f al ta ri am p ar a j us ti fi ca r e ss as i nq u ie ta co es , d es de a s de carster

p art ic ul ar - c om o a c ri ac ao d o d ou to ra do e m 1 99 0 e a r efo rm u la ca o do mestrndo

dentm de u ma n ov a co nc ep cao - ate as d e carater m ais g eral, q ue re sp on dern a

i ndagscoes proveni en tes de p r op o s it u ra s t eo r ic a s r ad i c a i s, a n un c ia n do 0 firn do

p ro p ri o p en sa m en to h is to n co . O s t ra ba lh o s d e H is to ri a p o ss ue m e ss as a rm a di lh as ,

P or m ai s d el im it ad o q ue s ej a 0 te rn a do t ex to p ro du z id o, u m a a na li se c ri ti ca s ob re

e le e nv ol ve d es de a s cood icees m a te ri ai s d e s ua prod~ao ate a compreensao da s

r ep r es e nt ac o es i d eo l 6g ic a s s o br e a s q u ai s s e s e di m en t a,

o material de p es qu is a c on su lt ad o f oi a s t es es e d is se rt ac oe s a ca de m ic as p ro -

duzidas de 19 45 a 19 90 q ue , n urn p rim eiro m om en to , in du ziram ao u so d e u ma

me to d o lo g ia q u an t it at iv a e a c o ns tr u ca o d o s t re s q u ad r os -s i nt es e s u t il iz a do s n e st e

a rt ig o . A p a rt ir d e st as c o ns ta ta c oe s i ni ci ai s , e m e rg ir am i n da g ac o es q u al it at iv a s p e r-

tencentes a ur n un i ver s o de c ompone nt e s c i rc un s ta nc ia i s . D e l e eme r gem na t u ra lmcn tc

a s r e la c rOe s i n s ti t uc i onai s , 0 c ot id ia no d as a ti vi da de s a ca de m ic as e a s d im e ns <l es

tangiveis da r ef le xA o h is t6 ri ca n o B ra si l, q u e s e r ef er en ci a n a H is to ri a e la p ro pr ia ,

r ev e la n do a r el a~ h i st 6r ia lb i st or io g ra fi a.

A produr;:oo a ca de m ic a s e c on st it ui e m u rn campo pa r ti c u la r da h i s to r i og r af i a

a me d id a q u e e ri a s eu s p r 6p ri o s p a dr O e s t e m a ti co s , d i sc u rs iv o s, t eo r ic o s, m e to d o l6 g i-

" Depar tamento deHist6ria, PUC-SPIUSP e Dc:pat1amenlo de Hlatori a, PUC.SP. respectivamente,

Proj:HistOria. SiloPOllIo. (10), 1hz.1993Proj, HWi>rid. S60P,.lIo. ( 10 ), d4 1993 59

 

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c o s c c ri ti co s . E n co n tr a- se r es p al d ad a em i ns ti tu i <; o es r ec o nh e ci d as p e la s o ci ed a de

c pclo Estado c omo d e te n to ra s d o s ab e r, t en d o a ss im a s t m iv e rs id a de s conquistado

he g emon i a, embOf ' dna o e x c lus i vi da de , e nquan t o l uga r de p ro d u cs o d o c o nh e ci m en t ohist6rico.

A s a c ad em ia s c o nv e nc io n ar am e n tr e s i n o n na s para a elaboracao e d i vu lg a~ ao

d o c ~n he ei me nt o. I st o, e m bo ra s e c on st it ua e m l im it es p ar a a c ri ac ao i nd iv id ua l.

t ambem r e p re s e nt a um a amplia<raodo proprio c o nh e ci m en to , p o is , a o criar c6digos

c omun s d e c om~r ee n si lo . p e r rn it e, C om n it id e z, v i su a li z ar I i ng u ag en s e s pc ci fi ca s d e

r ec o nh e cm l Cn t o l ll te m ac lO n a J. H a , p o rt an t o, um a c u lt u ra a ca d em i ca n o i nt er io r d a

h i ~ tO r i ogr a fi a , i n t t in . s ec ament e s o l ida r ia a os dema is e l emen t os e onst i tu t ivos da to-tahdade do pe nsamen to h i st " A , . " .

. . oneo . ssrm, a analise da p ro d uc ao a ca de nu ea n ao p od ereSl!inglr-se apenas ao s contend . t· .

. . u os ine mo s, e xp l Jc a- se t am b em p o r a s pe ct o s c o nJ u n-t u ra ~ s e e SUU t ur ru s p r6 p ri os d a s f om l a< r O es h i st 6r ic as n o i nt er io r da s q uais eia sereahza.

Ao e x p re s s ar anseios 'to I'. , en icas, exp icacees sobre 0 p as sa do e 0 p re se nt e d a

sociedade, a his tor iogrnf ia na deri dei .o po ena e ix ar d e s er p ro f un d am e n te compromeuda

c om o s ~ cto s p oli ti co s q ue e nv olv em a p ro du ca o d o s ab er e m t od as s ua s f as es .N e ss a m e d id a , t ra ta n do s e d 'c . - e c ompre e nder 0 conjunto de teses c dissertacoes de -l en d id a s n a PUC -S P de 1945 1990' .di ,a, lm p(jem-se a c ons idera<;ao m omentos politicosIve~s da l ut a p e lo p od er n o E st ad o e s oc ie da de b ra si le ir os d en tr o d o c on fr on to

mun dl al e n tr e a s n a cr es cap'tar . . '. . I I S la s e s o cl ah s ta s . A g lo b al id a de d e t ai s i m pl ic ac o es ,

~ lCmsempre e x ~ li ~ lt ament e ob s e lVave l, r e vel a -s e no r a st r eamen to da historicidadeo mundo a ca de ml co b ra sil eir o p I d nf

universit ol":- d I . e no e e r en la me nt os n o i nte rio r das instituityi.'iesruI<IS e e u tas m an tld as co m 0 t . • .

E id U ras I n st an c m s d o p o de r p u bl ic o e privado.VI c n te m en t e, a p r od ~ ao em foco e u . "

s em p re s in cr on i d d rna p a rc el a d e ss a h is to nC ld a de , n e me n tm r6' za a Com t o o s OS e le m en t os d o c o nj un t o p o ss u in d o e sp e ci fi ci d ad e sos p pnos . '

o quadro a seguir obedece ..a um a d iS p o sl ty ao c r o no l 6g ic a d a p ro d u ca o .

Ha varias r az 6e s q ue j us ti fi ca m a pcriodizacao dessa producao e m d ua s r as es

distintas: de 1945 a 1970 e de 1977 a 1990. Inicialmente, deve-se considerar que 0

e ns in o s up er io r c at ol ic o e m S ao P au lo e ng lo ba va a F a cu ld ad e d e F il os of ia , C ie nc ia s

c Letras "Sedes Sapientiae", f u nd a da em 1932, e a F a cu l da d e de Filosofia Ciercias

e L et ra s d e S .8 en to , fundada em 1908, amb as m i n is tr an d o c u rs o s de bacharelado e

licenciatura e m H i st 6r ia . Sucessivas reformas universitarias d es m cm b ra ra m , e m

1971, e ss as d ua s f ac ul da de s, q ue se r ec o ns ti tu i ra m em n o va s u n id a de s. Desse con-

texto nasceu, n o m e sm o ano, a F ac ul da de d e Ciencias Sociais e Service Social. Em

1976, p or u m a r ef on na d o e st at ut o, houve n o vo d c sm embr am e n to , s u rg in d o a atual

F ac ul da de d e Ciencias S o ci ai s q u e a b ri ga 0 D e pa rt am e n to d e H i st 6r ia .

A producao d a a n ti ga Faculdade de F i l os o f ia , Ciencias e Letras "Sedes Sapi-

entiae" estendeu-se de 1945 a 1970, co m caracteristicas qu e a d is ti ng ue m d a f as e

p o st er io r , e st a l ig ad a a cria<rao do s is te m a f ed e ra l d o s C u rs o s d e P o s- G ra d ua ca o .Cabe aqu i uma indagacao: p or q ue in cl uir a producao de 45 a 70 no corpo

d oc um en ta l d es ta p es qu is a n a m e di da e m q ue ° P r ogr ama de E s t udos Pos -G r a duados

s 6 f o i i n s ti t ui do em 1972? Ponderou-se, principalmente, sobre s e u s ig n if ic ad o c omo

material comparative que confere a producao posterior uma cxpressso muito mais

ampla .

Quadro II

PRODUCAO DE 1945 A 1970

MESTRADO

DOllTORA

HITAL DE

19 45 ~7 60 65 67 69 70/77---78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90S I I I I

.~

- _6 I 5 1 3 3 3 I 6 7 13 12 5oo s i r ] I.,

I..L--L--L:__L.l_L-.L. j_ ,

DEFESAS ~ 74

.---_._-1967 1969 1970EMAS 1945 1957 1960 1965

.-~I . H . MODERNA

.Jansenisrno na 10

Frarn;a

2 .H. ANllGA

1MHabit. Romanas

.Siollia pre·Helenica 1M

.Origens de Roma 1M

.Limites Hist, 1M

Antiguidade.--

3. H. BRASIL

.Re~s Ign:ja 1M

Estado de Sil l Paulo

.Ensino Feminino ID

em SP (ColOnia,

Jmperio)

Quadro J

COR PO DOCUMENTAL'. T E SE S ED I SSE RTA< ;OE S DE FEND IDASD E 1 94 5 A 1 99 0

TOTAL ~ 2 DOU roRAMENTOS 5 MES1 lU \OOS

<I

Pm]. U,.,ima. Si lo Paulo . r I 01 . de z . 1 1 )1 } 3Pro}. Hisloria, SIloPt1llw, (10). dez. 1993

 

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Antes de 1970, n30 havia 00pais uma pol it ica nacional homogeneizadora sobre

a t i tu l a ca o a c ademi ca , As universidadcs estabeleciam seus pmpr ios cri terios de ti-

t ul ac ao - p el o menos a q ue l as q u e possuiam autonomia para tanto -, conseguindo 0

reconhecimento da comunidade cicntifica segundo a reputatyao que desfrutavam. No

que se refere a s universidades oficiais 00 Rio de J an eir o e d e S a o Paulo, a regula-

men t ac a o do doutoramento p re ce d eu a das demais por ter sido intimamente vinculada

a institucionaliz..acOO da carreira universitaria, que t inha por obj et ivo prover cargos

e fww;6es pUblicas de acordo com a legislW;oo.

Essas imt i~Oes, nes tes anos i ni ci ai s, a trai ram doceraes da PUC, que ncJas

se t i tu la ram doutores . 0 rnest rado somente passou a exi st ir a par ti r de 1968, sem

contudo s e co r sun n r em urn passo obrigat6rio da carreira universitana. 1510, entre

outras razoes, esclarece aspectos Iacunares ci a p rodu cao d a PUC de 1945 a 70, poi s

alguns de seus docemes e a1unos titulavam-se em out ras univers idadcs do pai s ou

do exterior, principaIrnente aqueJes que, pertencendo a carreira eclesiastica, encon-

travam acolhida em i~t ituj90es de ensino superior ligadas ao Vaticano.

De qualquer forma, nesse periodo a PUC ainda n.io possula urna pol it ica sOlidI

quanto a seus titulos unlversit irios. Durante vinte anos sO foram registrados dois

dou to r amen t os e dois mestrados. Sal icnta-se, tambem, que quatro trnbal h os , d e urn

total de sete, abordavam lemas de Hisl6ria Antiga c s omerse a partir de 1965 de-tcclOu-se um fluxo mais constante de producao

Hi t, c on tudo , a l guma s tcndencias aparentes quanto a natureza do conjunto, que

~areccm .resultar de inicialivas individuais e de circunstancias aleatorias. Uma delase se rn duvida 0 carate .. d' , r gene nco os trabalhos de Historia Antiga. Exploram temas

de gra.nde ampli tude, presentes em compendios universi tanos c apoiam-se, quasecxcluslvamente em 0 ""I\.. ali . ., .. .' c nce~s inadas a construcao de quadros explicativos de

epocas his toncas . Niloapresentam acrescimos a s q u esM es a te e n ta o p r ob l em a ti z ad a se m e st ud o ft J I' .. . . s 0 oglcos e arqueol6gicos d e auto re s a le rn ks it alia ro s e f ra nc es es doUUCIO do secuJo. •

A unica lese d H' t" M .Fra 1 • e IS ona edema, Influel"lCia do Janseni smo na his to ri a da

n ca , t a m be m s e aventurava em a s s un t o de consider.ivel complexidade e extensso,rccorrente na hi .fi . . SIOnografta francesa da epoca, priocipalmerte em obras deISIOoonua naciO nalista. •

No eraanto os trabalho d H' ,. '. ".. ' 5 e rstona do Brasi l caminharam em sersido diverso.

preclsos sa o seus o bieto .b . J S e m ov ad o- seu corpo documental. Evidentemente, nao seUSCa uma exphcac;ao imediati t .

ci a d' ada s a para a produ.;ao historiogrMica, entretanto, a parti rec de 50 a cultura ad" .

• ca enuca vlnha-se preocupando em explicar a formacao

I. lrineu LeOPQldi l lO de Souz :a ( 1945 ).

historica nacional pela analise de seus aspectos extemos e internos. Elaboravam-se ex-

plicacocs economico-sociais de carater cstrutural, expressas na historiografia por inves-

ugacees baseadas na l1OI;ao de p r oc e ss o h i st o ri c o b r as i le i ro , E s s es trabalhos tinham como

pcrspectiva ideologica desmistificar as versoes anteriores, t idas como n.io cientificas.

Dentro dessa perspectiva de vol ta r-se para a rea li dade do pai s, aparece , em

1960, urn est udo sobre educacao ferni ni na em Sao Paulo2, anunciando obj et os e

abordagem, que so foram retomados nos anos 80. A lese introduz 0 tema da mulher,

t ra ta a questso educacional por ela propria e nao como ref lexo , chegando rnesmo a

int roduzi r a pal avra menta li dade em seu discurso, A lem disso , reforca a pra ti ca da

quaI emerge 0 his to ri ador da PUC naquele memento : a busca e a consulta de fontes

primanas. Atuavam como profess ores oricntadores nesse periodo: Alfeu Domingos

Lopes , G iu li o David Leoni , Leda Maria Perei ra Rodri gues e Pedro Calmon.

o Programa de Estudos Pos-Graduados em Historia, eriado em 1972, inicial -mente se dedicou ao mestrado, i ns ti tu indo apenas em 1990 0 doutorado.

A reguJaridade da p ro d uc ao a parti r de 1977 possibi li tou auto-avaliacoes cons-

tantes, pernrit indo que em 1985, 1990 e 1991 fossem introduzidas rnudancas decor-

rentes da propria dinamica inlema) do Programa.

Ass irn, desde 1972 ale 1991, ° Programa teve como Area de conccntracao

His tori a do Brasi l e como eixo tematico Estado e Sociedade, abrigando duas l inhas

de pesquisa: H is to ri a das Ideolog ias no Brasi l e His tona dos Movimentos Soci~ s

no B ra si l ( 1985 ). Em 1991, 0 recern-criado doutorado (1990) e 0 mestrado ali -

nharam-se em nova Area de concentracao - Historia Social, tendo como eixo

tematico Hist6ria e Cultura, compreendendo . res I inhas de pesquisa: Cui tu ra e Ci-4

dade, Cul tura e Trabalho e Cultura e Representacao.

Dut ra confi guracao eonce it ua l carac te ri za a producao do per iodo de 1977 a

1990 oferecendo a reflexso elementos seriais organizados em conjuntos tematicos,

No s f in s dos aros 70, 0 Programa de Estudos Pos-Graduados comecava, com a

defesa de oit o mestrados , a f ir rnar-se na posicao de cen tro aglutinador de pesquisas

historicas, que se consolidaria na decada seguinte, atingirdo 0 to ta l d e s es se nt a esete mestrados em 1990. (Cf . Quadro III ).

2. Leda Mar ia Pereira Rodrigues. A instrorao femimna em SilD Paulo. Test apresentada n? concurso para

provimento efetivo d Cad<:ira de Hist6r ia do Brasi l . na Faculdade de Filosofia, CJenc las e Letras

"Sedes Sapient i ae".

J. cr. Relaterio do P.£.P.G.H. a CAPES, ano de 1992. ltens: !Toposta do Curse, JU$tifica&ivae Mud~.

4. Embora 0 corpo docmtental (je,te . tigo tenha-se fechado no lIDO de 1990 pelo c.iIter substancial da

reestrut~ do Prognma. nio passou desaperu:bioo~o • .oosde )~) e 199~ IIpI"eICtIIanun elevsdo

nUn te ro de 1es1$ e d~ defendidM vin culadas Is hnhas d e p e sq u t sa q u e Vlgonnm a~ 1991.

62

Proj. HiSrOl"iQ,SiioPallw. (10). J,ez. 1993Pro). Hw6rJ4, S<laPallID, (10). dez. 199j 63

 

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3

Poder ia parecer de imedi at o que uma producao, abarcando apcnas quatorze

anos do Programa. dificilmente se caracterizaria por t races definidos. No entanto, 0

i nt cnso compromisso do Programa com a his to ri ci dade de sua epoca foi capaz de

gerar esta caracterizacao. Ha urn encadeamento tematico, est reitamente vinculado a slinhas de pesquisa escolhidas pelo Colegiado diretor do Programa, compromissado

em int erpret ar a rea l idade soc ia l, e a tuar no serui do de modifica-la

:E possivel imaginar a apreensao cogni tiva do material produzido pcla rcla<;ao

que se estabeleceu entre autorcs, temas e interlocutores d a . i decorrentcs. Nessa re-

Ia.;00, n ota -s e que h3 t ra ba lh os mu ito p r6 ximo s entr e s i, q ue s e d es envol vem no

mcsmo universe conceitual apreensivel na obscrvacao de indicat ivos como: biblio-

grafia e fontes consultadas, escolha e recorte do terna, intencionaJidal ie e vocabulario

conti dos no t ex to . Ha, em suma, urna fonna de conccbcr a propria mvest igacao e a

construcso do discurso, segundo urn universe de reprcsenta<;Oes sobre a contempo-raneidade brasi leira e 0 papel social do historiador, que conccdcm fisionomia propria

a conjuntos de trabalhos no total da producao. Nutrem-se das mesmas rnatrizes teori-

cas envolvidas nas analises sobre uma epoca de ditadura mil itar e de desorganiza.: ;i lo

da sociedade civil . Sao respostas possivcis a uma realidade hosul a vida universitaria

e it producao critica.

o f im da d ecada d e 70 i ni cia u rn p er io do com per fil mui to ni ti do : a g ra nd e

maioria das dissertscocs revela urna pratica historiograflca cujo trace fundamental

e a preocupacao com a total idade fustorica, int roduzida pela abordagem marxista e

pel a Ecole des Annal es . A bib li ografi a revel a uma maior i nf luenci a do marxi smo

pelo numero de autores bmsilei ros ou estrangeiros dessa tendencia mencionada. 0

resul tado sao trabalhos que primam por estabelecer relacoes entre as dimensoes estru-

turais do real, deixando transparecer a exislencia de wn principio analitico localizado

nas "rela.;Oes de producao" , j a que os est udos pat te rn da observacao da s it uac; ao

ecooomico-social para analisar outras instancias.

Uma questAo mui to explorada nesse per iodo - nao poder ia ser d iferen te - e a

questao da s c lasses soc ia ls , A pal avra "cl asse" marca for tement e 0 vocabuIario,datando urn periodo historiogrMico hoje em declinio.

s

Em tennos b ib li ogr3fi cos, exi st e uma predomi ru inci a mui to grande de obras

que tratarn de temas de economia e urn nUmero significative de obras sociol6gicas.

Em qua.setodos os trabalhos. essas obras superam numer icamenle as de historiadores.

QuadroIII

C L AS SI F IC A CA O D A S DlSSERTACOES DEFENDIDAS

NO PROGRAMA DE HISTOR1A

SEGUNDO A T EMAT ICA ESTUDADA - 1 97 7 A 1 99 0

- "~--~_~.--,---,- ,---,_--,--,-~---------T~---

TOTAup~1

I 1 I I

2\

II i

!

10 !

1 2 1 I 1 ..

r ,

. Arte/Autores --t-i-i-+-+-I---+-t-t-~~~~~.-. - - - 1

___~--~~-~~~ __L--~_+-I_+-~ I+-~_3~1- +-_.~65~

S, Economia ---+--1-- -t--I---+---+-+--+-+------+-+-'___ I I I 2

6. Cldade,

'I Modemidade, ['.- _C_o_tidi_an_o_ 2 I 1 4 ,

7 . Im i g ra 91io/

Migranles --+---4---i--_j_- ..---.- --t---+-+--+--~-+-I--- - -1~----~_---~--+_J~~ J I I 4,:8, Igrejas -t--~--+-~-+--+--+---l----~--_I_____+-- I~~---t-+_+-I--~-j- I I 1I 4 i

:9, Ernpresariadol .-t---+---+-4---I---l--+--+-+-------1

1_ Organi~ ( les

: ! OI ;Es:CTal":\lo:s~--i--t---+--t--+-I-+-~l-l-~IJ---~ --

II I. Hisloriog. Brasil: I I 1

TEMAS-.

I.Politica/E s tado 4 I I I-----~.-----~~+_-~~~-t-JL~2. Moviml:llwpenirioJ ---t---I--t--t--

Tr a b al h a do r e s R u r ai s

3 . L u ta s P o pu l ar e s/

Condi~(lcs de Vida

n 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90

I 2 2

3

L Fontes------~-r--t_T.--t-+----+-l---J--J 2 I 3

~~s Sociais -+---+-+--+-+--+----

,13. Memorial ---It--1I-+--i--+-}-+-~--l~'lJ~11-Ll--~2-Comunidade

3. Sabre0ernpreuriado ver Jean Claude Silbe rfeld. 0 gr-~popermanente de t f ob t a~ lJo F"uera ,_oo das

Industr-ia! do Estado de S Paulo (I984).lib Stern Cohen. Em nome das classes cOfuervadoras:

AJsQCa"oo Comercial de S. Paulo (1986), T e re z in h a F e rr a ri . En.Glos de Classe 0 Centro do.•

IndustrialS de Fa,.Jo e Tecelagem deS Paulo 1919·1931 (1988).

PrQ).H $t"na. SJoP"", lo. (10). 1hz. 1993

65

Pro}. Historia; Silo Paulo. (10) . del. 1 ' } 93

 

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A ditad T . . • ..u13 nu itar, insaurada em 1964, e a resistcncia dos parudos de esquerda

a~ava~ 0 interesse pclo estudo do autoritarismo'e da historia do Partido Comunista

no Brasi l. Sobre esses temas incide 0 maior numero de dissertacoes defendidasbuscando compreender as orig d f de ' . . . '. ens 0 racasso mocranco brasi le iro Essa arqueolo-

gia do pesadelo que atonnentava 0 pais levou a concentra~'" d . ..palrne t .....0 C pcsquisas, pnncr-

n.e~ em torno da decada de 30, momento detectado como ger ador d ascontradlifoes contempor.ineas.6

Os estudos sobre 0 pe

b ' . nsarnento conscrvador, tendo como perspectiva maisa rangente a ani lise ideologiPI ' . ICa, cen travam-se ern urna ser ie de autores , ent re e les

uuo Salgado e Gustavo Barre 7 19uaJfi " s o . ment e, e ste r as tr eamento do auto ri ta rismo01 responsavel pela a bertura de .nedit .

. 8 IJI~d 0 campo de Investig~:lo: 0 da extrema direita

:onarqu~sta , precursora da radical organizar;ao Tradi~o, Famil ia e Propriedade,astante lllfluente no governo ditat ialona.

Assim, em 199(} surma 0 " b .de 64' L'" _.J • ' • b p n rn er ro t ra alho vmculado diretamente a Revolucao

. 1 11 lI.e s . .a lm aglnafi fo . dora Ds ,«Geisel 1974-1978.9 c rt a o ra . s d is cu rs ox p ar lament ar es n o Gov er no

A que st s o po I it i ca a pa re c e ta begados ao a utorita . m em em outros temas nao necessariamente Ii-

nsmo e ao Estado e c fexernplo a e n f : . Omoutms onnas de abordagem como, por

balhosv~m aI:~,~ '(mfhto de grupos gerando lutas intemas de poder'". Esses tra-

m as . trod po =endo gcstada nas reJar;5cs sociais e nas re lacoes de producao,III uzem C O ll Ce lt os e v o c b..IA .

lharam ill: . a u ia no encol it Iados em autorcs marxistas que traba-e atlcamente a questao do poder como A1thusser, Grarnsci e Poulantzas,

6.

A vitoria da Revo lu cao Cuban a em 1959 e a ir ra dia cao d e sua s id eia s, p ro -

pos tas e pra ti cas para 0 terceiro mundo, as promessas de fel icidade colocadas pela

" revolucao cul tu ra l chi nesa" e v ivenci adas como sej a fossem a propr ia fel ic idade,

o s movimento s d e ma io d e 68 , a v it or ia d o V ie tni l em 75 for am evento s que moti-

varam a euforia das esquerdas nesse periodo, em funcao da sensacao de que a utopia

social ista pouco a poueo se realizava. Intelectuais, art istas e escri tores reforcam sua

atencao a s classes desfavorecidas, aprofundam sua sensibi lidadc face ao sofrimento

col eti vo , e nf at iz am 0 sen tim enl o d e sol id ar ie dade . R elemb rando a s jtu ar ;~o

brasileira, tem-se 0 aug e e 0 decIinio do milagre ecoromico, periodos marcados por

enonne concent racao de renda , rea li dade nebulosa na fase aurea , ext remament e

visivel no periodo de seu esgotamento. Acirram-se as contradicoes de classe, sur-

g indo movimentos armados no campo e na c idade contra a d it adura mil it ar . T raba-

l hadores se movimeraam, recri ando sua condi~o , sua auto- imagem e colocando a

paJavra trabalho no centro do vocabulario politico nacional'". Provavelmente, todas

e ss as v iv en cia s te nh am uma r el ~ao com 0 l ugar ocupado nas c ienc ias soc ia is e ,

posteriorrnente, na historia pelos temas refercrses as classes t rabalhadoras.

Uma primeira fonna histonografica tomada por esse interesse foi 0 estudo do

movimento operario. 0 impulso em di~oo a c lasse t raba1hadora se reforca e , nos

anos 80, cada s inal de mobil izacao popul ar era a tent amente observado pelos c ien-

t istas sociais. Buscava-sc, ansiosamente, compreender as questoes da c idadania e

l ut ar por c las. Aprofunda-se, a par ti r dai , wn importante campo de reflexao sobre

movimentos sociais. Os estudos anteriores, que davam aos operarios apcnas a func; :ao

de forca produtiva ou eonfinavam a classe trabalhadora nos quadros das organizacoes

formals, foram quest ionados, surgindo a proposta de um novo olhar, suficicntcmcnte

amplo , capaz de cap tar 0 viver plena desses setores da populacao.

Poder-se-ia dizer que, no inicio da decada de 80, a criuca ao leninismo e elementoconst itut ive da nova forca de esquerda que se constr6i no pais. Do ponto de vista do

conhecimento, wn dos aspectos mais fortes dcsta postura critica foi a qucstionamento

da COOCCPifOO de vanguarda, que teve como efeito anaIitico 0 deslocamento das liderancas

(pessoas ou partidos) do lugar privi legiado que ocupavam na feitwa da Hist6ria. 0sujei to histonco passou a ser 0 homem aronimo , 0 lutador a le entOO ignorado.

Embora essa postura t enha a liment ado a const it ui cao do meocionado novo

olhar , em alguns casas , l evou a cons tmcao do "mi to -p ovo" ao homogene iz ar a s

"massas" na condi ifoo de por tadoras de todas as virtudes. Esta e outras ideal izacoes

A lg un s e xe mp l . Vos: era Hercilia F P h

ganes- Gelllbo Vargas . . ac eco Borges. A H is to ri a d e uma e sp er an ca e mut to s d es en -

velTloria.$no Ceara PO I ·e , a Imsprensapaulista 1926-1932 (1978). Frsnc isca S imlo de Souza . Inter-IIcae oCledade (1982) W'I

eo parrldn Comunlsta brasi/elro (1988 Clei . Ison Montagna A alianca Nocional ubertadora30 e a ImprenSQpaultsto (1988). ). Ide Lopes Em ctma do ocontecimento _A r evolu900 de

7 MariadoPil d " ... ar e AraUJO Vieira Em b usca d .

AntonIORago. A critica r' . 0 s.,gma. 0 pensamento polil ico dePlimo Salgado (1978).B ( amantlca a nllSerlQ b tarroso 1989). Foram def didas rasi eira, 0 pensamento truegrali sta de Gustavo

~araldeautOriadeMaria:n I . em 1992 a inda duas dissenal(Oes nesta l inha, sobre Azevedo

J ul is ka R ag a. p are cl da d e Pau la R ag o, e s ob re G uer rei ro Ra mo s d e a ut o ri a d e El is ab et h

8. Tereza Maria Mafalian A a. , . . fllo t mpertal p alrranov/sla (1978).

9. Vllona R od' .. ngues e SIlva. Em 1991.92 e 93 '" _ .

gursa de exemplo confira M .. • vanas dlsser ta"oes foram defendidas sobre esse terna , aLU c il e id e C emonn e Poder: a ,,~ d

osta Cardoso (993). . s crlQ\,,-,,,s memonoumcos e 0 r eg Im e de fA. e

10. Marlv Maria K o " .i 'p..;zmskt E.flrUlliras de ad. .akeYl l 11m outrr, norde!le. 0 a/ ~(j er n7lmaeconormo de subsislencia(l980). Denise Mont.elTo

ApareClda Fomasari. Do l IT o " ,} ,. 0na eConOlnJa do RIO Grande do Nor te (1983). Concel~loBarharo d 0 nop. /0 da propn d J d

o este (1988). e a e a t erra ao monopolio acucareiro em Santa

Ii. Investigawri5e s s ob re a f orm~ do p ro le ta ri ado b ra si le ir o f oc al iu ram sua a te n~ lo sob re 0 Inlbalho

escravo e a imigr~lo: Lucia Helena Gaeta Ale ixo (1980), Mar ia Evilna rdes Petrauskas ( l987) .

Antonia Ter ra deCalazans Fernandes (1989). Mar ia I rani Boldr ini (1989). Mercedes Gassen Kothe

(1987).

Proj. Htstoria: SiioPaulo. (10) , dez. 1'193

 

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a ca ba ra rn p or p ro du zir u rn discurso h is to ri ografi co que poder ia ser chamado de

"rruhtante " e que , geralment e, revel a uma concepcao de His tori a que i ncorpora 0

futuro na analise do passado e do presente, substi tuindo a observacao pela pregacao

dc,l~mautopia. Temas importames de historia politica aparecern despolitizados nesta

prsnca hlstonogr:ifica a med id a que a c re nc a no d es ejo COIllO arti fice da historia

obscurece 0 jogo do poder que nela se coloca incessantcmente.

Nos ano s 80, a procucao his lo ri ogrc if ica da PUC se aproxima mui to da pro-du~ao sociol6gica em I d bi .

, . ermos e 0 jetos, tcmporahdadc trabalhada e procedimentosmetodologlCos Sao anaJisad I • , .

. os Jenomeoos recentlsslmos e ponruars como P O I ' exem-plo 0 ea d . ,

, so e uma dlSse rta<;ao cujo lema se ref ere a de cada d e 80 d ef endic la em86 e, que, segundo 0 autor: '

o ob je t iv o d o , I rahalh - foi de .o ". 0 nao 010 recuperar a historia dos rnovimentos populares em.-,anto Andre mas limit dad ' .' ou-se a e stu r 0comportamento das classes populares de algunse s s~ s m OV ll n en t os . 1 2

o ri en ta do re s do P rogr ama' ? Antoni o P ed ro, Dea R ib ei ro F en elo n, E li as Thome

Sal iba, Est efdn ia Knotz Cangucu Fraga , Hol ien Goncalves Bezerra , Leda Maria

Perei ra Rodri gues , Marci a Mansor D 'A less io , Maria Antonie ta Antonacci , Maria

Ignes Borges Pinto, Yara Aun Khoury, Yvone Dias Aveline.

Auto re s c omo Fouc au lt, Wal te r Benj ami n, Raymond Williams, E. P.

Thompson, Raphael Samuel, os da "nova his t6 ri a f rancesa" e out ros susci tavam

problemas desafiadores para 0 historiador Era 0 fim das explicacoes esquematizantes

e g er ais ; c omecava -s e a v al or iz ar o s p ar ti cu la rismo s, n ele s d es cobr in do novos

espacos de luta e resistencia.

A lem da Socio logi a e cia Ciercia Pol it ica, a Antropologia consorciava-se com

a Hist6ria: 0 i nusi tado c 0 diferente const ituem-se em objeto de conhecimento.

Porem, nao se t ra ta mai s da corcepcso de cul tu ras exoti cas , ob jc tos da antropologia

no passado , mas do diferente dentro do conhc cid o, d o "out re " d en tr o do " no s" . Enovamente ha urn desdobramento de t crnas ant es nao vis it ados A pal avra culni ra e

a melhor sol ucso semanti ca para cobri r u rn universe t ao amplo , t ao ant i-conven-

cional, porem tao hist6rico. Esfacela-se a univocidade que, par vczes, a montagcm

do discurso demonstrative exigiu. Foucaul t e bern vindo ao pulverizar 0 poder P O I '

t odos os poros do t ec ido soc ia l 0 f il osofo-hi st or iador passa a const ar da bibliografia

em dissertacao de 1986.

No impul so em direcao it subjet ividade e it i nt im idade, a mem6ria faz sua

aparicao, passando a ocupar, futuramente, amplos espacos na reflexso.

Lut as popul ares por melhores condi coes de vida emcrgem como temas pri or i-

zados pel as d issert acoes' ", Est es obj et os imbri cam-se em var ies casos com a ~llo

de agentes de movimentos rel igiosos, principal mente os pertencentes a s Comuni-

dades Ecl es ia is de Base, f il hos cia Teologi a da Liber tacao Tambem est c v ies, en-

c on tr a- se imp lic ito em s ig nif ic ati ve nume ro d e tr ab alh os sob re C id ad cs .

Quando Paul Veyne afi rmou que Foucaul t revoloc ionou a His te ri a, sab ia que

os seus trabalhos seriam referencias obrigat6rias em pesquisas sobre 0 saber, 0 co-

tidiano, 0 pensamerao como pratica, 0 higienismo, etc. ISIO sucede exemplarmente

A bibl iog rafi a dos trab lh'C ", . , a os revela 0 extremo parentesco entre a Sociologia.

: 0 J el lC .l aPOhllca e a Historia, bern como a uti lizacao de memorias de militantesmOVlJ1lCnloperano d - 13

' ocument a. ;: ao sobre greve e jorna is como fontes. 'A atcn<;ao d o o lh ar hi tori .

urbano abr I . ,s onografico em d1recao a vida do Lrabalhador r ur al ee u rn c qu e i nf in it o de n b' 14

tcmas com I bi , ovos 0 ~ctos . A historiografia passa a contemplaro 1a Il~ao saude I a: I' . ,

braw'as et R' ' ,zer, re 19lao,al lmenta9i lo, costumes, em oc o es , l em -y , c . e \e la -s e a n ee 'dad d ' , ,

tomalica a '. CSSI e e p esqu rs ar a i ntim id ad e d a H is to ria . E sin-cmergcncla da palavra" tidi " d

da decada de so . co llano nas dissertacoes cia s egund a meta c

o dcseuvolvinlCnto tel ' . ,problemalicas q . . nauco nco em suges toes t eori cas apontou para novas

ue onentanam mudan' . .nhas de pesquisa Cul . cas t nt roduzJdas no Programa em 1990: as h-

Essas nOvas pc 1~lrae CJdade, Cul lura e Trabalho, Cul tura e Representacso.rspcclJvas encontram b .

- se tam em nas p esqu is as dos p rof es so re s11 , \n to fl io d e \1 id

, f me! a.MOIlnJenlosSOCIO/S urbSanto Andre. anas. COntelido SOCia l domovimemo popular nocidade de

I J .C f "T1 Ir . .Olllfa" ) ora!\f . A .,ana un Khourv A . _

operdrla(1978); Helena Pignalan W· sgreves de ]917 em S. Paulo eo processo de orgamzaryaoem Usa.,eo (1980). erner, A greve de 1909 na Vldraria Santa Marina eseus reflexes

I ~C f 1 > 1 . . .. . a na d o R o sa rl < da C h(1987) \ . u n a ..4 classe opera .

. era L uc ia Vieira C _ na,llJna/emporadanoparaiso,RiodeJanelro/923-J924"uulo J /.> . . Oop/orao e resrst . <

. e .,.4j a 50 (1989) L . encta: urnestudo sabre 0movrmento operar/O em .).proc,« .... ~te\an Lu kac s Juni T d

' . ,> rel.,'h'c"'nllrl() () Casode I" (' . ruor erras carregadas de v id as e p e rt pe ct as e Il"OUl¥ncron Peril 195~-6] (1988).

1~.Ha pro{essores que II\ultWtI no Pmgrama de Ima 1983. do eles: Antonio Car lO& Bernardo, Cascmiro do.

Reis Filho, Constan<,:a Mar condes ~ ., Eve ldo Am.., Vieira, JoU ClM.dio Buriguelli. Leon Pomier.

Lee i . .. S ilveira de : Aragio Frotae P .. Io-Edpr Rezende, OI ienudores de WN~; Helena

F.. g.miell o e M auri cio T~ oricrUdorCI dew. e t r e a d in e~ . r ea pc ct iv amen te .

16.Erivaldo Fagundes Neves. imaJ(}es 11mSalvador: lim mOVlme",o de conqul6a do I!JpOOparo morar

J9f6-J950 ( 1985 ); Anton io de A lmeida . MOVme"OI IOCa J IrbortOJ. conreJido socta l do

movimento popular na cidade de Santo Andre (1986): (jeraldo francisco Filho. 0 _ ", en to d os

con ti ngen tes raw/ados no cidad« de S. Powlo de 1975 a J985: opmh/ema da morad ia (1986);

Geraldo Antonio Rodrigues. Lutas populares de laude e 0pastoral catoltca "a Zona Leste

1968- J 988 (1988).

Proi. Histona. S,iaPaula r I 0/. de: 1 < ) 9 3Pro" HI.nMa, s.to P_k>. (10). tin I99J 69

 

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emdi sser tacoes que sevolt am pard 0 desvendamento do universo urbano e da mo.

d e rn id a de , r ee o rr en d o t ar nb em a a u to re s n a ci o na is e e st ra n ge ir os a fi na d os c om i n.terpretacocs socio"-CulturaiS.17

Na configUJ'a¥lO das mudancas do pensamento hi s tor i co , v i io assumindo relevancia

a:-SlIDtosvm:ul~os a s atividades artisucas, sejam elas oriundas da cultura popular, eru-

d it a o u s ca dem ic a e cia industria cultural. Ado rn o , Ba rt h es , Ben jamin, E i se n s te i n. Fran-

castel, ':.. Hauser, Freud, Nievsche. O. paz e R Willi ams com mais f rc qu en ci a queoutros visitam as bibliografi do balho . .

. . Hulas S tra s mars recen tes ao Iado dos moderrustas

brasi1~lroS e de seus criticos Os mestrados debrucam-se sobre Oswald de Andrade,

Adonias Fi lho, Alcantara Machado. na nl l i sica popular, "ar tc cngaiada" . ' X

Den tr o de s se s pa r amen t'·· . "os eoncos , as pesquisadores passaram tarnbcm a uti li -

z ar-se d e d ocu men l~ ao o ral 1'" nd . .. . ~ ...., rea iza 0 cntrevistas com depoent es que l hes POSSI-

b ilitas se m c nlre ve r d if er en t .. _es opnuoes sobre os acontccimentos a u I he s fornecessemas c ha ve s p ar a a cornpreen ~ d . 19

. sao os sen llmentos afl orados pcl as rcnuniscenc ias .Atualmentc J< l e visive] 0 t i " .

" ' pres gio que dcpoimenros orals c on se gu ir am n a prcducaoacademica Incorporados aodi h i " .

. ,. iscurso storico, ainda que de forma polemica relatese hlstonas d e v id a contrib . . ' ., . tal ' uem parJ atribui r-lhc, cada vez mais carater irnedia-IS prescntcisla . '

Nos anos de 1 991 e 1 99 2teve 3& di ' 0 Programa de Estudos Pos-Graduados em Historia

, I sse~6es de m estr d . 20Esses tr b , Ih . . a 0 e aprovada sua primeira tese de doutorarnenlO .

a a os eV ldenclanl .,. . .b. '. perslstenClas temaucas e metodol6gicas incidentes ainda

so re o autonlansmo lutas I, ' ,. .urbanas I ~ , p o pu a re s, s au d e p u bl ic a, h igeruzacao e disciplinanzacae

, r e a < ; ~e s de t ra b al ho e r no d em . iz a ~a o d a p ro dw ;: ao .21

1 7. D en i~ e B er nu zzi d e S an t An na . 0 _

Mascarenhas Dias M 189Pr aLer Iu su fi ca do . Laz er em S ii o P a ul o J 969- 1979 (J 988 ) Ednea. anaus 0 1920 AI ~ ,

relafOesde poder D '. - . Iusao doFausto (1988) Glicia de Carva lho Aragac. AsI em uma Ins/lrulpJo p '. 'itoral Reformus urn . SlqUlatrlca (1988) ; Hermetes Reis AraUjo. A invencdo do

11 . anas e reaJustamen/o Ie nnque Lui z P er ei ra 01' . socia emFlonanopolis na primeira republica (1989);..., rveira Osl il ho l daIilh A . • . - d

conUHtasemDeslerro 1828 18 87 . a a. ssistencia a os e xp os to s e r emod el ac do a s

- (1990)18. cr respectivamente M.,.; d I

. ana e .ourdes EI t"( 1984 ), J os eGer al do V inci d M . eu eno (1987). Ela ine Sabra Vie ira (1990) Lea Lopes Mar tins

I e onus (1990) M '19 C • areas Justo Tramontini ( 1989).. om~ e xemp lo ver RecOrle$do imagmGrio S . . . .

{luviais 0casoda colonia d. _- octal de pescadore« proftsslOnau artesanais em aguOsC-- d . epesc""ore~Z_4 a .orrea aCosta (1989). . . com se eemAqUidauna-MS, 1954 de Carlos Fredenco

20. Maria B em ar de te R1 / 1 1 " " amos Flores. Teatra«da v ia .a e Santa C a/anna. a. cenanos da h istoria. A [arra do b ot e oulras f es/as na

21. Cf re~peClivamcnte C' C .Th' I . e 13erquen de Am . ,

re en (1992) Seba<;tilo R .. uJo ( 1991), Pedro Perei ra Torres (199 2) Ed uardo vil el a, ogeno de Barros d P , "

a onte (1992), Eleana Tadeu Terci (199l) .

E m er ge m , n es se g ra nd e conjunto da p ro du cao atu al e com f o rt e p r es e nca ,

tematicas relacionadas a s it uacao femin ina, s it uacao do menor , p ra ti cas e culturas

religiosas, musica popular, imagens do wbano, imprensa infanti l, esporte e lazer de

massa. Essas pesquisas vinculam-se, na sua maioria, a hist6ria das representacoes

qu e concedem lugar begemonico a aMlise22 das manifestacoes culturais.

A pesquisa dos trabalhos academicos d a PUC- SP revel ou a lgo important e a

ser ressal tado, qual seja, a din3mica interna da p r oduy : lo . Tendencias historiograficas

distribuem-se no tempo cronologico e aparecem configurando periodos. Evidente-

mente, os "acasos" ou producoes dispersas existem, porem MO com presence sufi-

ciente para abafar 0 perfi l da epoca dado por uma permanereia de procedimentos,

que tern em geral, a d u ra ca o de um a decada

Const at am-se, por tant o, momentos conjunturai s da producao que a dat am e,

por conseguinte, historicizam-na. Fo i esta realidade temporal qu e permitiu algumas

observacoes sobre a natureza da producso a c ad e mi ca - que se revel a coletiva no

s en ti do d e que o s e stu do s s e r ef er en ciam e s e apo iam UIS nos outros, Cnam-se

especies de e6digos qu e soo uti lizados nos trabalhos de uma epoca, de urn momento.

Podcr-se-ia chama-los matrizes, entendendo por elas formulacoes ou elaboracees

significativas, que passam por urn processo de conso li dacao e sao usadas para ana-

l isar difercntes sit~Oes hist6ricas. Essas elaboracoes bern sucedidas tornam-se ma-

trizes - quase pressupostos - quando sao muito sat isfat6rias enquanto compreensso

do real hist6rico. Por outre lado, pode-se pensar (foucaul tianamentc) no seu surgi-

mento como resul tado natural da d ispu ta de espaco pela hegemonia na arena do

saber. Nesta correlacao de forcas especifica e idiossincratica, interpretacoes vitoriosas

se consol idam. Se estas hip6teses faz.ern sentido, dificilmente uma poderia ser des-

vinculada da outra.

N ao 56 matrizes e metodos revelam 0 carater coletivo da producao academica,

mas t ambem temas e obj et os . A t rarsformacao his to ri ografi ca se da quando ocorre

urna especie d e sa tu r ac a o de reflexoes, ou seja, quando a prodUlfao mostra que sufi-

ciente reflexao je i f oi f eit a n aque le mement o, s ab re aqu ele lerna, com aquel a

abordagem. A parti r dai , matrizes, metodos e objetos passam a compor urn cedigo

q ue d at a historicamente a prodUlfao. 0 impulso "extemo" de transform.acOO da his-

toriogrnfia e dado pela propria Histona, na sua condic;oo de produtora de situal;Oes

de dUJ'aYao conjuntwal. Ou seja. existe uma relay:Io intima entre situayOes rust6ricas

22. cr . respectivMDnlle: Miri. Bueno Bastos (1992), Mari.Jc*Mmczca( t99t) , CIe__ 8e1I Idi Colombo

(1991). VitOIGabriel de AraUjo (1991), Laura Antunes Macie l (1992), Olga BriIC l (1992) , P linio

JO le Labriola de Campos Ncgreirot (1992).

Proj. Histima. &Jo P_1o, (10). tin. 1993 71

Pro) . Historra; Slin Paulo. ( /01. dez. /9Q3

 

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vivid~ e construrr~ de obj et os de i nves ti gacao que se renovam a par ti r do impacto

de vrvercia s colet iva s imediatas_

Outros elementos ident it lcam, ainda, a cul tura hist6rica academics. No que

concerne a .f ase de exposicao, 0 vocaoulano revela c1aramente 0 per iodo em que a

renexso fOI feita; palavras e expressoes aparecem e desaparecem datando 0 conjunto

d a P ro d~ ~ ~ . . Em s e tratando da fase de i n ve st ig a ca o , f on t es e bibliografia dao igual-

mente v i s ib i l id a de a conjunturas inte lec tua is espec i f icas . CULTURA E HIST6RIA SOCIAL:

HISTORIOGRAFIA E PESQUISAIII

Dea Ribeiro Fenelons+

Falar de Cultura e Hist6ria Social elll termos amplos, para poder acentuar mais

especificamente alguns de seus desdobrameraos, seja em temas como 0 t rabalho, acidadc ou a cul tura popular, preocupacoes dominantes e constantes da Historiografia

Brasi le ira, requer a lguns cuidados e a lgumas ponderacoes ant es que nos l ancemos

ao debat e que e aqui nossa inlencao, na esperanca de que se possa discut ir posicoes,

duvidas, t rabalhos em andamento e assirn contribuir para 0 avanco das perspectivas

de todos nos, historiadores do momento.

Com a m i nh a a tWW ; ao nestes debates e, portanto, com longos anos de experien-

c ia docente em acompanha-l os j un to aos IllCUS colegas, alunos e orientandos, creio

s er p os siv el r cc onhe ce r e adm it ir q ue te rr os carninhado b as ta nte , a in da que a

polemica, por exemplo, na o lenha se instaurado ent re nOs como pra ti ca saudavel e

seja sempre encarada como ataques pessoais, desqual ificadores, ou disputa de espaco

e de poder , em ba s es c ompe ti t iv a s .

Em primciro lugar, sera preci se esc la recer nosso reconheci rnen to de que a

discussao cia categoria cultura, pensada como campo de possibi lidades aberto pela

Hist6ria Social, ci a qual pre te rdemos faJar aqui, ass im como de inUmeras outras,

vern se apresentando entre nO s co m nuaeces especificas, em discussoes matizadas

pelas teorias em que se originam, em debates com cient istas socials, principalmente

antrop6logos, soci6logos, educadores, arqui tetos, etc., em grupos de est udos ou

seminaries de pesquisa, naturalmente m A r C 8 I 1 a s pel os interesses dos pesquisadores

• E st e u t igo. que i ni ci alme nt e f oi a pr es en ta do emUIlI& ptlcstra noprosr -ma dePOI ()pd~1o em Histbria

ci a UNESP, As si., em mai o de 1993, • ~t e, rn a. desenvol vid o, n o S emi nVio "Hi$tor;o

Hoje", do progruna de Hil1hr ia , da Univenitlid~ Federal do Rio Grande 60 SuI, em Por to Alegre,

emnovemb ro de 1993 . s e c o rm it ui u, n a v~ • • p ll ft it d e d i tcUQ6c I c n : nc :x li es p .r ti ll l. ld . c om

01a hmoa doC I nO de Dou to rUo em Hiat6ri. <It VlJC-S P(turrlta de 1993).quando realizamOll junto&

um Seminario intitulado "Cultura eHistona Social". dunnk 0 I S emcs tn l et ivo dE1993 .

•• Departamento de HiMri&, PUC-SP.

PIO}.HisIOna. S40P".flo, (10), tin /993 iJ

Proj. Histona: SiioPaulo. (10), de:. 11}93

 

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em suas investigacoes e a parti r das diferentes abordagens de seus objetos especificosde analise

perarca de est annos, de a lguma maoei ra , com nosso trabalho ajudando a construir

o futuro, na pe rs pe ct i va transfonnadora a que s em p re n os propusemos.

Essa posicao , que est amos colocando aqui para discussao , l eva em conta 0

s upos to d e qu e, em se tr at an do da historiografia, estamos fa1ando de uma pratica

inteIectual distinta do movimento da historia, sem desprezar todos os problemas das

relacoes entre teoria e historia,

Ha, ainda, mais algumas questOes a serem assinaladas. Seja qual for a natureza

do trabalho historiografico que realizannos envolvcndo a cul tura, ou as conceituacees

que possamos desenvolver para a cuItura popular, s e r a precise admit ir a impossi-

b il idade de t rs ta -l a (a cul tu ra) no s ingular, pensada como capaz de abarcar em si

mesrna a h is t6 ri a como tot al idade, ou toma-la como fat or det erminant e de t odo 0

processo, a parti r de pontos de v is ta c lass if icat or ios. Fal amos s im de cul tu ras no

plural e nunca poderemos considera-la como campo exclusivo de uma s6 disciplina,s ej a a hist6ria, seja a antropologia ou qua lq ue r o utr o r amo do conhe ciment o do

social.

E , f inalment e, d izer que , no caso brasi le iro, est a d iscussao apenas comecou ,

encontrando-se a inda na busca de espacos para sc const it ui r como preocupacao de

cient istas sociais comprometidos com urna conjuntura de ampla uti lizatyao da cultura

como dominio da investigacso e muito mais da politica. Como ultima questao, quere-

mos destacar, para fins de debate e dedialogo: que posicoes teoricas e metodol6gicas

constituem sempre opcoes politicas para alguns e apenas opcoes intelcctuais para outros,

T ambcm e p re cis o l emb ra r qu e, p or s e tr ata r d e e sp acos mu it o r cs tr ito s d e

d iscussao , os resul tados ou os avances apresen tados como produta f inal . sej a em

teses, monografias, ou em art igos, ou em seminaries de pesquisas e mesas ou cornu-

n icacces em congressos, t ern permaneci do mai s para i nedi tos que postos em cena

para divulga<;ao e avaliacao. Meritorio pois, os esforcos que fizeram surgir, nestcs

u lt imos anos, var ias rcv is tas de His t6ri a, t raduzi ndo expec ta ti vas de que as d i.

ficuldades para divulgacao sejam diminuidas. I

Exi st e a inda uma t endencia a consi derar. 0 fat o de alguns historiadores se

colocarem no debate historiografico, de maneira diversa aos esquernas t eori cos re-

conhecidos e iocorporados po r alguns rnembros da academia e v is to como sigrufi -

cando um a disputa pela hcgemonia das construcoes hist6ricas. Oaf muitos autores

partern para disseminar rotulos tais Como militantcs ou neo-rnil itantcs, querendo com

1510 ~oll.tcstarou desqualificar os resultados e as pesquisas pela perda do seu carater

academlco. Contribuiria ma is p a ra 0 d eb at e se nos d is pu se ss em o s a cnfrentar as

decorrencias politicas das posi<;oes adotadas nos resul tados da his to ri ografi a e . so-b re tu d o, n o e ns in o de Historia.

D~ outre lado, M osque. rcclamando uma postura tcorica mais dcfinida, nunca

~e quesl!?llatn sobre as impticacoes pol it icas das concepcoes que assumem c, com

is to, prancam lima IUst6riaabstrata e intelectual izada. a parti r da qual se colocam

Como defirudores d os c am in ho s m ai s " co rr et os " e d as t cm at ic as e a bo rd ag cn s mais"verdadeiras" para contesta' , ', ,.' r outras posl~oes. defendendo assim urn conhecimentoI ns ta nco emuma s6po . ii ,- __ .

_ sic 0, o u v er sa o, O U posslblhdade. Com is to produzem uma\'ersao autoritana e excludente para a historiogrdfia. '

Ao contra di -,. ano IS10, qlJercmos dizer, que se estamos lutando por algo, seja ern

BOS s a p r au c a social scia demi d• ' J na aca emlca, e pelo reconhecimento da diversi dadc , a

plurahdade. do dire it ode b talha I _ ,. a r pc a construcao de projetos alternatives e. score-

tlldo, de conslderar que a ', , nosso ver est aremos produzindo urna h is to ri a que sera

sempre pohtlca, porqu' id,I e insen a no seu t empo e compromet ida com c1e .Por i sso,\ a e enfrent ar qua lquer d b t

eoate, que leve em considera~ao essa possibi lidade, na es-I.

II

N ao e novidade 0 interesse dos historiadores pela temat ica dacul tura em geral,

p ri nc ipaiment e se pensarmos no vas to campo de inves ti ~ abert o por novas pers-

pectivas de Hist6ria Social. Este foi, c er ta m er se , r un d o s maiores efeitos da Hist6ria

Soc ia l tr ab al hada a p ar ti r d as d ec ad as d e 60 e 80 : 0 de ampliar 0 r na pa do co-

nhecimento hist6rico e legit imar novas a r e a s para investiga.rio.

Essa amplia. ;io fez surgir ou possibi li tou a incorpcracao de inameras tematicas

como 0 urbane, a mulher , a familia, 0 crime, a infarx:ia, a educa!; io e outros, todos

recIamando urn lugar dentro do contexto mais amplo da Hist6ria Social e da tematica

da cul tura. Em geral , os historiadores que se dedicam a essas temat icas consideram

mai s foc il p ra ti car a His t6 ri a Socia l do qu e defini-la, provocando em seu s m ais

acerbos cri ticos a insistencia em acentuar seu carater descrit ivo, reclamando uma

maior explicitaceo teorica e uma local izacao mais precisa no debate existente sobre

a producao historiognifica.

Alem da s revistas mais ant;gas como RANPUH· IIlSTORlk Q a evista de Hw6ria. da IISp; a Revista Brusileira de Histona. da

H,slo ria 'daPUC sr- E Ix: e Debal€ . l , da APAH; ESIIII, / o , ' Historicos, do CPDOC; ProjelOda UFMO' bern - , stu as era.americanos. da PUC·RS,Revisla doDepartamento deHtstoria.

, COrnoaRev is raH,sl d t""E "pe HI;-rorra & Per pecu . aria, a 'l ~SP;Resgate; do Centro de Memo r ia d a U N IC A LV I

S CliVUSe Caderno$ de H· I . ( '" . h dDepar tamento deHist6ri d Uni IS aria expenencla8 e questoes de ensino), am as 0de H,slo rla da Po's G d

aa, nd·versldadede UbefUndia. surgem agora outras revistas como reaos

, ra ua~dO a UNR' A 90 da - - id dF e de ra l d o Rio Grand d S I - ,lias, Po s G r a du i ll i ao em Historia, da UllIver.>I a e

e 0 U e Pas }h~orla, d a UNESP/A s s is _

Proj. Histaria; SiioPau/o, (101,det: /WJ

Prof, HlSfona, S&>PIII/a, (10), de:. 1993 75

 

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Nao M como neg ar , f oi a p ar ti r d e s ua s c onc epc oe s e perspectivas (as da

Historia Social) que o s chamado s ' tema s rna ld it os ' , ou scja, quase todos que tratam

des exclufdos soc ia ls . sej am pobres, vagabundos, prost it ut as , negros, mulheres,

indios, etc., encontrMaITIguarida ncssa historiografia. Tambern hoje as investigacoes

sobre grupos jovens , sua rnusica e s ua s p r a ti c as , a m u si ca p op u la r, a s festas cornu-

nitarias, a cultura popular e n f im , c ons tuucm objetos Icgitimados pela Hist6ria Social.

e desenvolv idos com rigor metol og ico, que os t razem para 0 campo de discussao,ja ins ta ur ado s obr e a cuitum.

Para 0 ensino, a Hist6ria Social ofereceu a possibi lidade de subst itui r perspec-

tivas exclusivamente Iireares de uma hist6ria continua e factual , proporcionando

ocasiao para 0 surgimento de propostas de estudos tematicos, ncm sempre entendidos

e aceitos, mas de reconheci da val idade, pard quantos pre tendam desenvolver , em

seus alunos, habilidades incontestaveis, quanto a f onn~ao do raciocinio e do pensar

hist6ricos. Isso permitiria urn ensino de Hist6ria que 030 fosse apenas ur na s uc es s a o

d e f ato s ou " ar ruma~( je s" d e tema s ou topicos de programa, que consi derasse a

perspectiva de que "afinal ha uma hist6ria tal qua l a cont ec eu " e que precisa ser

ensinada. como a unica capaz de "organizar" 0 conhecimento historico. nos niveis

de 1° e 2° graus. Poderiamos trabalhar de outra maneira, experimentar outras pro-

postas e a par ti r da Historia Social isso s e ri a pos s ive t .

o debat e conti nua e se l orna mai s saudavet na medida em que contribui para

cxplici tar posi90eS e, a parti r dos quest ionamentos apresentados, provocar maiores

retlexoes sobre 0 l rabalho dos historiadores, tanto ncsta area como em outras. Talvez

assirn, nos os historiadores. nos acostumassemos a discussao teorico/rnetodologica

tao ,exigua entre no s e ao me smo tempo t ao n ec es sa ri a, p oi s so assim estaremos

prat lcando a nossa discipl ina e exercitando nossos compromissos.

Alc~ disso, a Hist6ria Social recolocou inumeras questoes no que diz respeito

a uma vanedade bern grande de registros documentais, facilitando invesugacoes an-

te s ~ons lde ra da s impos siv ei s p el a in ex is te nc ia d e fon te s, o u p elo n il o r ec o-

nbcc imenn, deste est.atuto a materiais inexplorados.2

Sobre est as perspec ti vas bas ta acompanhar as ref lexoes de Car lo Ginzburg,para falar apenas de u hi t . d d

. m s ona or, entre muitos, e que no c aso e bastante co-nhecido dos brasileiros A ,. d . .

, , . proposl1o e suas lnvestJg~6es em Arquivos e p rocessesda InqUl sl 9ao e seu int eresse em quest oes de bruxari a e fei ti cari a, G insburg est asempre salientando 0 Carat . di d '

er In I re ta essas fon tes e chama a atenc ;ao para a t enden-

Raphael SAMlJAL "Wh I S . I .

Londres 198R' E' .r., a s octa Ih~ IOry". In: Whals History Today? History Today/Macmillan.. . xts te tradul il o e.panhol a R ' H" . .' S

c ia l t NED \ . I' . . na eVlSta /S/O rla SOCial. lnst ituto de Histor ia 0-. . a encia,n' 10. 1991

era do investigador em conduzir 0 desconhccido ao conhecido e ao f am ili ar e o s

r iscos de ass im dis to rcer e lementos da anali se Traba lhando com processos crune

r ee om e n d a :

Os caminhos do iuiz .:do historiador saocoincidentes durante 11 m certo tempo, mas logo

divergem inevit;vdmente. 0 que tenia reduzir 0 lustoriador ajuiz simplifica e empobrece

. I . ~ to historiografico mas 0 cue tenta reduz ir 0 IUZ a historiador COl1lanun.aCOi l leC lm~n J , -t .

irremediavelmentc 0 exercicio dajustica.. isto supoe passar do plano ci a mera possibili-

dade ao daassercao do fate, do condicional ao indicative. E urn desvario logico parade-

xalmente baseado em limabuse dachamada "prova logica" (que marsjustamente poderia

chamar-se "prova contextual"). Mas a diferenca dos desvarios dos historiadores, ?s.des

juizes tern consequencias imediatas c mais graves, Podem levar a condenacao do individuo

llIocente.3

Se l evarmos em conta alern de outros tipos de fontes t ex tu ai s, o s diferentes

suportes documeraais como a fotografia. 0 cinema, 0 video, a pintura, as artes plast i-

cas. 0 d cs enho , a c ha rg e, c olo cando em cad a u rn d ele s d if ic uld ad es e sol ucoe s

cspec if icas e provocando, para os h is to ri adores . uma inf in idad~ de quest oes que

quase sempre so podem scr desenvolvidas a parti r do contcxto da invesugacao, pode-

mos acompanhar as discussoes dai resultantcs.

Certamente e precise considerar que 0 usa de t odos esses reg is tros como "no-

vas f onte s " his tor ica s a sercm analisadas nos colocam, de imediato, a consideracao

d e que ta l c omo a s fon tes tex tuais, essas precisam ser desvenda~as para delas extrair

o 1130 dito. as entrelinhas e aquilo que potencialmentc pcrrrute olhares e le.lt~ras

d ivcrsas. Por i sso mesmo os t raba lhos a te aqui apresen tados, no caso brasileiro,

indicam um a corajosa exploracao do tema sobre 0 qual ainda e xi st em m ar s i nd a-

gacoes do que p r op ri a rne n te o r ie n ta c oes s e gu r a s a aruilisc.4

. .. 'I alogia e suss implicacoes." In: A Micro-Carlo GINZBURG. "0 inquisidor como a ntropo ogo. urna an '.. ,-. , . I ' bo D '£ , I 1989 T amb e m n a l m ro d uc ao de 0 Queijo e osVermes . SAo

historia e outros ensaios. JIS a. uer, . . . h ." 1993 ( .

P 1 Cia das Letras 1987 e El Juiz y el Historiador. Madnd. Anaya e ManoMuc 01", .: pag.I;~ °So~r~0 assunlo'ver m~is: MilOS, Emblemas. Sinais. Morfologia eHtstorio. SAoP~ulo,C,a. das

Let ra s, 1989 e "More ll i, F re ud a nd She rl oc h Holme s: C lu es a nd SCi en ti fi c Met tod. I n: History

Workshop, I ssue9, Spr ing. 1980.p. 5/36.

, nhec tr ilha aberta per Mir iam Moreia LEITE emseusinumeros a rt igos sobre 0 ssu~to4. Importante reco ecer a . I E[)IJSPfF APESP 1993 Interessante tambem

ea ora seu ult imo livroRelrolo.' deFamiha. Sao Pau o. .,.g d d VI 1 T HIELEN Imagens doSaude 110 Brasil - 0 fotografia na lnstrtuctona-

o t r ab al ho deE uar 0 I ea. - Kh Mestrado de HistiJria daIn; a a d o SOlide Pilblica. sob a orienlwtlo da prot YMB Aun oery. no

• \ S bh Tdad s do histor iador traba lhar com f ilmes como documentosPUC-SP, em 1992' . 0 d

re38Mos~l ·et

e. ANTC>NACCI. "Do c inema mudo ao falado: Cenas da

histor icos vera artrgo e ana om a . 41 70 1991Republic» deWeimar" In: Htstona. Ed. I TNESP. Silo P aulo. v. 10, pags. ., .

Im) . Historia. SiioPaulo. (/0/. dez. I19JPro)_Hs/r na. SiinPaulo. I IO). dez. 1993

 

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A discussao sobre 0 carater documental da fot ografi a vern desde a decada de

30, quando fot6grafos cornecam a usa r a referencia de docurnento para diferencia-la

da fctografia de infomlac;ao, comercial , propaganda ou outras. Para os historiado res,

todas elas, em suas diferentes abordagens ou final idades servirao como Font es a

serern submetidas ao erivo das investigac;oes do pesquisador 5

l' fi, a a onte oral ou a cons t rucao de uma documcntacao ora l, a traves de ent re -

Vistas e depoimentos vern me dc mai . ,, ,recen 0 maJOratencao dos h is to nado re s e colocarnInteressante polemica entre seu ad '. , ' , "

s e pt os , s eja n ad is cu ss ao te on ca sob re a pos sib ili -dade de u ma H is to ri a O ra l n a "t- , d ' - ,

, . ' CXIS enc ia e uma t ra di ca o o ra l a s er c on si de ra da ouIlaS tecrucas de s ua c oncr e ti 7~ ~ N . '" ,

- -, ao . est a perspec ti va 0 CPDOC e pioneiro no Brasi le s eu s trabalhos caracteri ti I ' . . "

· ' s icamente na mha da reconstrucao ci a Historia Politica

do Brasil Contempor.ineo. vern acontecendo M algumas decadas6

, ~ ~ o utra perspectiva, a doeumentac;ao oraJ vern scndo utilizada pa ra rccuperar

possibilidades de trabalhar t ,. -, com ematlcas contemporaneas ou aproximar-se de grupose movune nr o , sociais o od e a 1-' d ' . -" ', ?' OJUca e sua p ra tic a n ao e a e scnt a e 0 analfabctismoe uma eonstante.

Nesta direc;aode Tela ' c i a . , ., . CIOrIaT0 usa s ent revi st as para t raba lhos com a Memona

te,I~p~rado,s ~ atividades ci a Hf.'.TORY WORK.')'HOP. 0 Depar tamento do Pa-nmoruo Hlstonco (DPH) da S ." ' ecretana Municipal de Cultura de Sao Paulo sobnossa dlrec;ao realizou ' d "M. ' C" . ,. ,no peno 0 de 1989/1992, com a ori en tacao da Professoraana eha Paoh Interessa t . ... .

, n es expenencias de rcgistro de depoimentos para retornar

5, James GUIMOND, Amencan Pharo r. .

Press Chape l Hill 199 g aphy and rheAmencan Dream, TheUniversity of Nor th Carolina• I. I que faz tnte t d'

permit s "para es tab I ' ressan e iscus sao sobre a a bordagern cul tural que a f ot ografi aeecerarela~i\oentreasidei ' , .

de ilUstrarem particu] '" as amencanas sobre sua n acao e a s uapropria rnaneiratambem sobre Q tSSU tan:nenlte estas ideias, a traves da fotogra fia en.I re 1899 e 1980" . ExcdenteY n 0 e 0 rvro de Alan TRACHTENBERG Nork, The Noonday Press. 1990, .Reading American Photographs. ew

6. Michael HALL "H .,, I st on a O ra l: o s ri sc o d a i .,,,. . "

e ("dadamo, Sao Paulo PMSP s a mocencta .Jn: 0 Diretto a Memona: Patrimonio HlstOrlCO

a bo rd ag em s im pl is ta d a I ISMC/DPH, 1992. onde 0 h is to ri ador a le rt a p ar a o s r is co s de u rn a· . a ora idaoe Existem ] uncras nuhl: ,. d

Aspa- ' Ia Camargo sob .r> mumcras pu Ica~Oes do CPDOC pri nc ip alme nt e . eo rea orgamza..1iodo Acerv da FGV 0 ' ,

ral: a t:Xpeniincia d CP[)OC ' , 0 . Irabalho de Verena ALBERTI, H,swnae astecnicas deIrahal~o do d- R,o deJaneiro, Edilora da FGV. 1989, sistcmatiz. a asperspec tivas

. a la as naquela InSllIUt~io.

7 b emp lo s i nt er es t· san es" ,ugestivos destas " . ,

de !hst6ria Oral reali d . a" praucas deregrstro oral surgiram no VCol6quio InlemaclonaJV I . 17.30 em Barcelo 1985LANO\A_ £1 Pod, I S n a, e m e q ue r es ul to u n a o hm . org an iz ad a p ar M er ce de s

VIL er e n a ocledad H 'I r. 89ANOVA se l oma drt d ,-0 IIIY.rue.nte oral. Bar ce lona . 1986. A par ti r d e 19

T· e ora e Ulna Rev ' t a II';unhem com grande· n' . IS tstori a y Fuente Oral. Universidade de Barcelona.

P I In uencia en tre '. bau o. Paz e Terra 1992 AI nos e a 0 rade Paul THOMPSON. A Voz do Passado. Sao

House, 1985, Mui;o sug~sti~~ desl~s: DaVId HENIGE, Oral Histonography. New York, Longman

Hwo ryo/ Man ha fa n f ro t h /' 1 Q livre de Jeff KISSELOFF, You Mus t Remember ThIJ. The Ora l

de Joel M rU:OWER' " : : . ., e ,9010 W or ld W .arII. New York. . 1989 Eo mais interessante de lodos. ,"'"uuslock Th0 '

e ral Hmo r) '. New York. Doubleday, 1989.

aspec tos do Movimento do Sindi ca to dos Traba lhadores do Cimento , Cal e Gesso ,

de Pcrus , dos t raba lhadores aposent ados do Sindi ca to de Traba lhadores da Fiacao e

Tc celagcr n, do Movimento de Sande, da Zona Leste de Sao Paulo e de alguns

Movimentos por Morad ia , da Zona Sui de Sao Paulo , Os resul tados foram impor-

t an tes para a i nformacao e est udos do processo de Tombarnento da a r e a da ant iga

Fabr ica de Cimento de P e ru s , p a ra c ompo r e xp o si co e s realizadas na s Casas Histori-

cas da c idade, sob a responsab il idade do DPH e. sobre tudo , s igni fi cou a possj bi li -

d ad e, q ue e ra a fin al 0 obj et ivo maior dos pro je tos, de assessorar os movirnentos

sociais na organizacao C sistematizacao de seus acervos e arquivos, controlados por

c les mesrnos para a necessaria preservacao de sua Memoria.8

No tr ab alh o com a s d if er en te s f on te s e r eg is tr os e vo camo s enti 'io a d is -

cussao sobre a His t6ri a e L i nguag ens , como bcm nos Iembra Marcos A, da

Silva, pois

serevela essencial como uma via deacesso a niveis de historicidade do t rabalho, Falar

sabre a militarizacao dos corpos nolugar dotrabalho, 110 cotidiano familiar e no lazer dos

trabalhadores, por exemplo, requer luna observacao s i st emat i ca a partir do contato dircto

com os grupos estudados - quando isto e possivel - e com documentos que os envolvam e

ou registrem. E 0 caw defo tografia, c inema, desenho , vesti rnen tas, regras e praticas de

lazer (esporte, danca, ctc.) de sexualidade, relacoes dediferentes arnbientes com 0 corpo,

articulacao de tecnicas corporais com maquinarias, etc, A irnportancia de urn trabalbo

dessa natureza com as l inguagens corporais , que necessariamente apela para out ras

linguagens - arquitetonica, fotografica, damoda, daalimentacao - e para aspossibilidades

sociais de s u a r e a li z a ca c p o r d i v e rs o s g r u po s , pode ser avaliada apartir desua contribuicao

para a amplia~o deproblematicas deartes, tecnicas e disciplinas, concretizando-as como

suporte da ideologia, em estado pratico."

Em trabalhos recentes, Marcos Sil va vern rea li zando, como out ros h is to -

riadores, u r na i rc u rs a o bastante proveitosa pelo caminho das charges, do humor

visual, estudando personagens como 0 "Ze Povo" ou 0 "Amigo da Orca", que emsua anali se ganham forca e def inem poi s "0 humor v isua l como uma da s producoes

8. 0 Curso organizado. pelo DPH. para servir deor ientao;: loaosagentes cu! turais , queno irnbito da SMC,

trabalhavam com Memoria epara partjcipantc5 dosmovimentos diversos, exprimindo as concep"lIes

do t r abalho est i. r egistrado na Revista do ArqJ;ivo Municipal, n · 2 00 - M em or ia e A"lo Cultural.

PMSPISMCIDPH. 1992, Tambem a publica" io de SMCIDPH: 0 Direito a Memoria: Patrima"l0Htstorico e Ctdadania. 1992, contem interessantes discuss6es sobre 0,unto,

9 . Mar co s A. da S ILVA. " 0 T ra ba lho da l inguagem ." I n: Sociedode e Traba lho "a His tona . Revuta

Brasiletra de Histone. S il oP a ul o. Ed. Mar co u ro lANP lH, v . 6 . n · I I. p ag s. 4S! 61 . 1986

Pro}. HISIMa. SO O PaII/O,(/0), de; J V9J

Pro). / { 's fona. Siio Pauo, (10),dez.1fJ93

 

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de l inguagem. como pra ti cas concret as da v ida soc ia l que HaOpodem ser i gnoradaspelo historiador",lO

o enriquecimento tematico da Historia Social e . muitas VCL.CS, razao de critica

seve~ . por par te daqueles que vern nes ta expansao urna possi bi li dade for te de cs-

~aeclme~to dos obj et os em anali se pel a ampli tude que os pcsquisadores atribuem

a sua anali se . ou pel a ausenci a de posic ionamenio t eori co para art icul ar est a frag-

m~nta'Yaono que consideram ser essencial manter como objet ivo do historiador, OU

se~~a tot ahdade , pri nc ipalment e das est ru turas e das v isoes g loba is Ass im , out ros

cntlc~ a f ragment~ao do soc ia l, pel o recor te micro d a s t ema ti c as . levando a urua

conscquente perda da perspec ti va geral , A acentuacao exagerada , d izem eles, detcmas nem sernpre consid d . .

, , era os essenciars para a c ompreensao global cia sociedade.

pode contribuir para 0 aprofundamento de aspectos secundanos da historia, que neste

caso,a~ab~ por transformar-se na h i st o ri a do efernero. do particular c muitas vezesde VIVen(:1a indi iduali 'S I IVI u.u17.a<aS perdendo pois 0 sentido cia histona

Podc-se afirmar em r t " ,d ' , espos a , que ISIOpode sun acontecer em virtude de r e-

uClOrusmos e esquematismos de pesquisadorcs, mas nao acontecc, n. a maioria dosestudos que guardam tal . ,. . perspecllVa e que sabem bern como inserir seus obJClos,as vezes micro no conI t I '" , ' ex 0 gera da sociedado ale porquc paruram de t al suposto

teonco E de se lernbrar t b', am em, que Iraba lhos de perspectiva global tern resvalado

por completas abstra('Oe d ' I 0, • y s 0 SOC ia , u sa da catcgoria cultura e SC1L~ desdobra.111cntos

temaucos nao conslituem' ., b o rn rei POlSa r az a o Ifltrinseca destes problemas, Alern disto. scm-

pre e om relterar' nenh ' , . , .t ,. . uma poSlr;ao teonca esta l ivre de carrc gar para suas analises.

eses VICI?Sdos que l ransformam a t eori a e 0 metoda em modelo conccbcndo-ocomo ennquecedor da analise. .

Elltretanto pela c ta -liti ons Ole a trat;:ao da Hisroria Social por temas do debate

po 1 co prcsentc pelas lentati d"bstrar"'es' vas e s e preocupar com a vida real mais que com a s" yV por ver a "hi .. .tratar a expe '" sto~a Vista de baixo" mais que a partir dos dominantcs c

nencia ou as vlVe·. . ..'bilidad d ". ncias m lliS qu e o s c v cr u os s c ns a ci o na i s, pela POSSI-

e e malor Idenlific~ao . ,

estabelece c . . . e empatla COm0 passado, pela relacao int inusta queom os SUjel tos hi t' . .tomaram 0 refe 'I ,. S on co s, p or t udo is to , e nf im. e sta s p er sp ec ti va s s e

rencla leonco ad' , .mesmo dizer que a enram inumeros histonadores. poder-sc-Ia

que p ar a p ad er d es nha 'Historia Social t cmpe r s eu papcl potencialmente s ubver slvo a

em que ser muilo .rcgadas de inccrte' mais perturbadom nas investigacoes, sempre car-

e por i st o mesmo zas , Insegurarx; as e fmgil idades como na cer ta C 0 noSSOpresen1c

um con st an le d es af io p ar a o s que a e la s e d ed ic am .

10 Marcn, A da SILVA C' .P , ancau, Republic Z P 990

e razer eI'oderno AmXo da0 a, e ovo e0Brastl S30 Pa ul o. E d, M ar co Z er o/ CN l q. I .' 1la .Sao Paulo. Ed, Paz e Terra, 1989.

Em sc tratando da cul tura popular, em particular, 0 interesse dos historiadores

e ma is r ec en te , a p ar tic ip ac ao n a d is cus sa o te or ic a e r eduz id a e o s tr ab al ho s d e

investigacao, no caso brasileim, so comecaram a surgir nas U1timas decadas, sendo

muitos ainda inedi tos, pois se tratam de teses e disscrtacoes de pos graduacao apre-

sen tadas e defendidas em programas que t ern a Cul tu ra como area de concent racso

ou em defin icoes de Linhas de pesquisa.

Em mui tos casos ser ia a te possi ve l t racar uma const an te de desdobramentos

t eo ncos e t er na ti co s a p ar tir d as p re ocup acoe s com a s c la ss es s oc ia is em ger al e a

operaria em particular, passando pelos inumeros trabalhos. sobretudo teses e disser-

tacoes sobre 0 movimento operario e depois movimentos sociais urbanos, Estes des-

d obr ament os pod em ser le vant ados e s is tema ti za do s nos c at alo go s d e te se s d as

univers idades e dos cursos de pos-graduacao, onde constam resumos que permitem

avali ar enfases . t endencias e const anci as nas direcoes que estamos reconhecendo,

Isto pode atestar, de uma certa maneira,a relacao entre estes t rabalhos e a conjuntura

h is to ri ca de a lgumas des tas preocupacoes e des tes t cmas , para chegar nas a tuai s

def in icocs de t raba lbo com a cul tu ra popul ar .

Parcc ia nat ural que a par ti r dos quest ionarnen tos envolvi dos na proposi cao

destes cstudos, que sem duvida IIl1nCaignoraram as controversias teoricas ai exis-

tentes, surgissem linhas diversas de inrerpretacoes, Muito importantc c reconheccr

que acompanharam os desdobramentos dos movimentos popul ares ern sua const i-

tui"ao histories no socia l. scm querer com i sl a est abel ecer r ig idos mecanismos ou

correspondencias estreitas,

o que procuro reforcar como linha de raciocinio e que , a o con tr ar io do que

mui tos afi rmam, nao se t ra ta de modismos au simpl es importacao de modelos , ou

adesao apressada a s coi sas "novas" . mas s c t r at a s im de uma correlacao est re it a e

continua com as nuances, t en d en c ia s e rumos que tornaram os movimentos sociais

no curso dos acont ec imentos recen tes. Ist o s igni fi ca d izer que est a h is to ri ografi a

esteve bastante relacionada a s proprias tendencias teoricas e a s praticas sociais destessujeitos historicos em suas vanas man if e st a coe s , o r ga n iza c oe s ou redcfinicoes politi-

cas . A lem dis to , os acont ec imentos pol it icos europeus, a quebra do socialismo, 0

ressurgimento de formas de l ut as "naci onai s" , no Leste Europeu , l evan tam ternas

aparentemente superados e deixam muitos estudiosos ainda surpresos, pam n a o dizer

desoort eados com a derrocada de a lgumas de suas u topi as .

Ser ia important e pam est as d iscussoes que nos preocupassemos t ambem com

as mudancas de enfas e sobre que Historia est amos pmt icando e ensinando , rno

apena s n as e sc ol as d e 1° e 2 ° g ra us , ma s p ri nc ip almentc em nos so s cur so s d e

graduacso . Depoi s de um movimenlo i nt ense de reformulacao dos conteudos esco-

Pro). Hutona, SiioPaulQ,(101,dez. 1 'J9J 81

"mJ Hss tona . S iio Paulo: 1101 , dez . jW5

 

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lares do ensino de Hist6ri diEstados e al .. a, Com versas propost as curri cu la res em quase t odos as

levamar e s:t ianaIises

s~re est es mo~entosl I, c re io ser ia de especial interesse

ensino de , . ' " " " " 'I I . . . . A'AzarSe~ lSCuss.iO.as di~c3es e as teooene ias manifestadas no

6....-ydU ra que comeommos aJ direde her6is, de '. O~. go na ~llo de superar uma Historia

eventos, a Hlst6na oficial, nfi ? Nperceber a nature . . ~ nn a verdade, tem-se feito pouco para

pados que estam za, 0 conteuoo e 0 S)~cado atribuido a estas mudancas, preocu-

o s a go ra C Om a s avaJJa¢es e a produ~o da p6s graduacikl.

Mas voltemos ao 00550 lema. Se' "a francesa, ingle'''' 1'._1: consJderannos a histonograIJa, principalmenle

. .. .. t auana ou mesmo a norte' •g ra nd e . .. .; . . ~, , -amencana , podenamos arrol ar uma

v.. .~e de t ra b a lhos t a nt o ' I .eon;~10 de cultura, a ab ' ene ' mars ~ a a lista quanto ma is ampl a f or a

2.31;00das fonnas de . rang Jados conceltos de popul ar e sobre tudo a valor i-re81stro ou de fontes '.

teresse brasiJeiro basta v e '. para a Investtgacao. Reafmnando 0 in-, r as mumeras tradu O e d .

au coletAneas de art i di ~ s e livros com t emaoc as e s pec i fi c asgos versos que bpertinentes as ultimas produ x., de USC~2 resenhar e apresen tar com anali ses

coes stas a r e a s .Para na o me aJongar nas razOes da "

naram as dtcadas de 60 70 descoberta" da cul tura popular, que dorni-

do nacional e do POPUlare I' CO m seus significados politicos associados a questao

seu artigo13 sobre • va e .ressaItar 0 que Peter Burke ja chamava a ateo;ao emo assunto Identificand .

mOvimento nativista, , . 0 no m te re ss e pe lo povo urn a sp ec to dop a ra r e av lVa r eulturas tradi .

estrange ira. Ud lCIOIlaJS em oposiI;oo a dominacao

No c as e brasileiro esta "descobe .. .calf ik>dos e lementos ci a cultura ul rta se ~u a partir de propostas de idcntifi-

sonhada cullum brasileira CO po~ ar nas decadas de 6? e :0 para f or ja r a ~o

cussOes e projetos com d o f r e s p o ndo aos modelos nacionais, com grandes dis-M' . 0 os CPC ci a VNE· Ann'

usica Viva. de s a o Paulo' 0 C]' • OU onal, do Recife; ou 0 Grupe

de Vianinha, que com ~ d : da Gravura; a discussllo do Teat ro d e Aren a e

grau, sofrenun a influe" . das ere~as e tensOes in te rn as em ma io r o u menor. DCla pro . ' .

destes projetos e destas d i s c u s . s o o POStas do PCB e do realismo sovietico. A maiona

s se fez ent re i nt el ec tuai s e art is tas fora do ambi-II. Selv. O. FONSECA . '

CIMid' . COIII,"hO da H rror u '

Disa~~ ~CCL "na Inten~ ao a e ! : 8 ' ~ c.mpinas, Pllpirus, 1993. TambCm a trabalho de

Mcstrado,Hilt6ria,PUc-SP ' b ~quemno _ina de Hist6ria em Sto Paulo."12.Lynn H U N T . A N OW l H 6 ' ,IQ a onen~1o cia Prof'. MariaAntonieta AntonB'ld.

HItOrQ. SIQ III n o C l t l tlU ' a l. SAo Paul .Cia. da Paulo , Ed. UNESP , 19 9 2, e tam 0 M a rt w F o nt e. , 1 99 2. P e te r B U RK E , A E l l cr it a do

DARNT~ ~ 989. Na.l ie Z. DAVIS. C l tl t ;: ; :u C l t l tu r a PO p l li a r n o I d ad e M o d er n a. SIO paulo,

da s letru t' a~8o:r-do3Gat03. Rio Grul, doPav:" Sio Paulo, paz e Tern, 1990. Rober t

, 9 90 , e l Il um er os QUt ros com~ de 1 98 8, e malS 0 Beifo deLamoureue. SA o P a u lo , C ia .

13,Peter BURKE. Cuhu» p os Cwlo GINZBURG , ja rcferenciados.a oPU /o r" a ldade Mod

emu. Sio Paulo, Cia. du Lctras , ]989.

ente academico. A concepcao de cul tura era a da producao da superestrutura e, ainda

que preocupada em reconhecer manifestacoes e aspectos da cul tura popular, pagou

alt o preco pel a adocao de esquematismos e utopias distanciadas da sociedade.

De outro lado, no mcio academico setentou definir a hist6ria da cul tura popular

como a descr icao e anali se dos gostos, cos tumes, c rcncas e modal idadc de diversao

popular em qualqucr ordcm social, signifieando a cul tura da maioria em oposicao acul tura organizada, pcnsada e transmitida pelas eli tes.

14

Neste momenta queremos apenas reg is trar e i ns is ti r na chegada t ardi a dos

historiadores brasi leiros a estes debates ou a estas investigacoes e portanto M poueo

do que se falar, principalmente considerardo esta aversao pela discussao teorica que

os historiadores. em sua maioria, quase sempre dcmonstram.

Se est ivermos atcntos aos campos de aruacao da Historia Social tal como con-

cebida nas ultirnas decadas, principalmente pcla historiografia inglesa, e aonde, desdej a nos posic ionamos, M que reconhecer, de imcdi at o, que nes ta d irecao falamos de

concepcoes e cat egor ias que susci tam mai s i ndagacoes do que produzem cer tezas e

nao exi st e mesmo a preocupacao com as dcf in icocs.

Ao acentuannos a i de ia de que a his t6 ri a soc ia l t ra ta mai s ci a expenencia do

que da a930 e tem preferencia pelos documentos humanos, reconhecemos os riseos

de nos afastarmos da compreensao da sociedade em seu conjunto para evidenciar 0

ruvel do ind iv iduo , au dos membros de grupos soc ia is em particular, contribuindo

as sim pa ra uma ma io r a prox ir na cao do p sic olo gic o ma is d o qu e do soc ia l. Es te s

r iscos exi st em ass im como out ros, em todas as proposi coes t eoncas , mas ha que

continuar praticando a Hist6ria Social, a parti r dos supostos teorico-metodclogicos

discutidos, para fazer avancar suas possibil idades de cumprir os objet ivos tracados.

Alma! temos insistido em que a inspiracao vindo ci a historiografia de matriz inglesa,

reitera, continuamente: "quando percebemos que os conceitos dos quais participamos

n a o sao conceitos, mas problemas, e nilo problemas anali ticos, mas movimentos

historicos ainda na o definidos".15

Esta ati tude te6rica e bastante significativa: compreender que os supostos teori -

cos silo indicar;6es para a investigacao e MO conceitos fechados para enquadrar 0

real , nunea e demai s repet i- Io , mesmo sabendo que a s impl es af'uma~o ci a ideia

rOO nos torna imunes aos tropecos de urna pratica de investigacao.

A partir dessas discussoes querernos enfat izar, rnais urna vez e como pon to

importante deste debate, a necessidade te6rica de enfrentar a discussao sobre 0 que

14. D.SMITI- I. "Whats History ofPopula r Culture", In: What's HIstory Today') History TQdayfMacmillan.

1988. (v.nOla 2)

IS. Raymond WILLIAMS. Marxitmo e Literatura. Riode J_iro. ZaIw Ed.•1979.

Pro): Hs!o, . ;Q,S40POIo. (10),d.z. J993 P "" ,. HUtma, S40P t o . (J 01.Jel. 199J 81

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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f az em o s, s e u m a H is t6 ri a d a C u lt ur a o u u m a H is t6 ri a C u lt ur al16 , o u s e, p or o ut ro

l ad o , n os a pr of un d am o s n os a va nc es ci a H is to ri a S o ci al , p ar a i mp le rn en ta r w n a

a bo rc la ge .m d a c ul tu ra c om o c at eg or ia e c am p o d e a na li se . S em p er de r de vista a

~ s sf vCI l I lt e~ a o d e e x pl or ar a s c o nt ra d i~ i 5e s d o s o ci al e p a ra d e fi n ir -s e n a p e rs p ec -

nva que assum em hoie as "Estudos CuJtu ." . .• " "J r. us , p nn cl pa lm en te n a I ng la te rra e n os

E st ad o s U ru do s v em -s e c on st it ui nd o p ro gr am a s de estu do s gra du ad os e p as

g r aduados c om e s ta cOn f i gu r ac oo , g a ra n t ida a mul t id i s ci p li n a ri da de de abordagense t r ab a Jho de p r o fi s si onai s .

Antes dessas d is cu ss O es f oi c om um q u e o s h is to ri ad or es u ti li za ss em e m seust ra b al h os o s t er m os "manifest<>r-oo" " .. .

. ....." s, aspectos culturais , tornanda emprestado

c~t:nas ci a a n tr o po l og ia , s c m p r eo c up a r; :O e s d e r ef le xo e s m a is p ro f un d as s o br e s e u

dSlg

ICadO. P ar ec ia n at ur al a po nt ar m a is u m a e sf er a, a u u rn n iv el o u u m a i ns ta nc iae preocupa~ () . ,

. e s, o u S lm pl es me nte c on sid era r d es ne ce ss 3ri o s e e xp Jic are m, ta l acerteza que t mham de e starem b dand .de i . a or 0 m a ts u m a t em a ti ca p o ss iv el e m s e t r at an d oe Inve s tJg ~Oe s do social.

P a r a c ons ide ra r no debat ab . .da H i s t6 r ia ci a Cu i e e n r a d ls cu .S S~ O ,s al ie nta mo s q ue nas propos tas

Nilo se trata d ~ sem pre se dem anda 0 r econhec imento de ob j et o s e s pec i fi c os .e e xammar u rn nlvel da . .

definindo ai ' mas mvesl Igac ;ao realizada como urn todo,s e us t em a s d e i n ve st ig ~ ao N

arti W adas' .. .... . este caso e s ta s a bo rdag ens se consideramc na h i s t6 r ia i n te l ec t ual e la ' .

du~o das coi , . pe propria cOIlCeJX;aode cultura, co mo a p ro -COI5aS do e sptn to e das 'de ' ab

c om a s o ci ed a d I las, a c am por d is ta nc ia r- se d a cor re la ca ee c om o u rn todo Prooo .

e m s ep ar ad o e bo .' p oe m u ma m an erra d e v er a c ul tu ra c om o a lg o. m r a s e vejam exatamenr

para comp letar hi' e ca pa zes de c on tr i bu i r c om seus resultadosoutras st6nas Tal '.

p or b u sc ar u m a e sp e iall . c om o e p ra nc ad a e m a lg um as v er te nte s, a ca baC I I za c; OO cada vez mai I

tal r econhec iment mars a m p a c he ga nd o m e sm o a r ei vi nd ic aro ou e s t at u to de d i s ci p li t-

estas preocupat'oo . na a u o noma. Nos trab alhos realizados comy s , e ntre o s h istoriado' .

Sergio Buarque de H landa res e reconhecl(la a m aroa de autores com o. 0 e O U tros desta .

os v ieses his t6ricos d m esm a natureza. A ss im o s e st ud o s s ab reo s p re co oc ei to s a sre ligi~ e tantas 0 tras . ,q uestiies d o rac ism o, 0 trabalho co m as

u tem atJcas a bordadas _rnatizac;iio destes t em em geral tern pennanecido na proble-'. as em sua re l~ ao com 0 Estade '" alizandmvestlO-....)es . _ e o u t. ra s I n sb tw ~O e s r e 1 0. O"V <I! v ez es s ob re a ~ao

tnbunais . das leis. etc . ' por exemp le da Igreja, da I nqu is i (f i k> e s e us

J a a H is t6 ri a C u lt ur al , p re fe ri da h oj e p el a m a io ri a d os q u e s e e m br en ha ra m

p or e st as tematicas, participa d o d eb at e c om p er sp ec ti va s diversificadas, dcsde

a qu elc s q ue a dm it em tr at ar- se a pe na s d e m ai s u rn a f orm a de trabalhar 0 social,

i gu aJ an d o- se a o p ol it ic o o u a o e co n 6mic o, a te o s q u e b us ca m a ss oc ia -l a s im p le s-

mente a p ro du ca o e sp ir it ua J e m en ta l. N es te u lt im o c as o t ra ta -s e q ua se q ue e xc lu -

s iv am e nt e d e t ra ba lh ar c om a p ro du ca o d o p en sa m en to o u d as o br as d e c ad a p er io d o

identificando-se m ais c om a H is t6 ri a d as I de ia s a u Historia Intelectual, t~ e m v og a

nas decadas de 60 e 70, p r in c ip a Jm c n te n o s E s ta d os U n id o s_ 17

Seria pcssivel incluir tambem nesta discussao a producao de vertente mar-

x is ta q ue t en d e a e nx er ga r n a s up cr es tr ut ur a 0 c am i nh o p a ra d i sc u ti r c o ns c ie n ci a,

ideologia, etc. Em s e t ra ta n do da Historia Cultural tambem acontece 0 debate

sobre 0 conteudo da cultura q ue q ue rem v er tratado, ou por out ra , s e ha qu e

incJuir nesta h nh a d e investigacoes a c ha m ad a c ul tu ra m a te ri al , q ue st ao q u e e n-

v ol ve m uit as n ua nc es a in da n ao d e t od o e nfr en ta da s p or q ua nto s t ra ba lh am c om

a tematica, 18

S ab em os q ue e sta discussao mo se esgota t a o f a ci lmen t e e tentar resolve-fa

c om s i rnp l if i ca c oes n a o f az a va nc ar m u it o 0 d eb at e, m as s em d uv id a d ev em os e n-

frenta-lo e s c la r ec e ndo nos sa s diferenciacoes pard na o igualarmos nossas corcepcoes

f azcndo tabula rasa do s i gn i fi c ado teorico d e c ad a uma delas.

Po r isto me smo querernos afirmar qu e se a do ta nn os a premissa d e, co m a

c a te g or ia c u lt ur a, e x pl o ra r a s cootradicoes s oc ia i s, e s ta mane ir a de p e ns a r, p a ra o ri -

entar as investigacoes n e st e c amp o , nos permitiria, p el o m e no s s up er ar a s c ri ti ca s

d e q ue a fi na l a qu el es q ue s e p re oc up am c om a c ul tu ra p o pu la r s om e nt e c on se gu em

d e sc re v er a s f on n as c u lt u ra is o u i so la -l as p a ra d i fe re n ci a- la s da c u l tu r a d i ta e r udi t a.

E 0 d ep o im c nt o d e u rn h is to ri ad or q ue l id a c om 0 tema e significativo:

E rnais focil perticipar, desfrutar, deplorar ou explorar a cultura popular doque de f in i -l a . .

E u me smo r a ramen te empr eg o 0 tenno "cul tura popular", embora esteja profundamente

i n te re ss a do em s u a h is to r ia e n os diversos significadcs qu e lie relacionam c om e la . ..

Baseando-me em es tudos espec i ficos desenvolvi u r n s e nt id o g er al d o q u e s e j a e d o q u edeveria ser a cultura popular... a cultura popular deve interessar-se tanto pelo conteUdo

como pelo contexto, pelo t rabalho como pelo j og o, pe l o l ug ar como pelo tempo, pela

religiiio c omope l a t e cno l ogi a , pe la c omun ic a c ao como pe la expressao, pela provisao

17. Robert DARNTON. a Beijo deLamourette. Sio Paulo, C ia . dati Letras, 1990. Par te IV: "Como andam

as coisas".

16.Sob~ 0 assUnto ha d- .lscussio mAlt &profu dad .

; a !C I ln J ro sd eHwana. PUC Ri o H ~ .. 4 notexto de Francisco C. FALCON A H t s to r i a C u l tu r a l.

t !I F m d e l a H IS /OH a. Barcelon~ ~5 ~~ 1991.Tambem Joseph FONTANALa Ht s t o r i a £ ) e $pue s_ t ic a, 1992, d ed ic a umc a pi tu lo 4 esta discussio.

18.Muito e lucidst iva desta discusslo edos problemas colocados e 0 texo de Jean-Marie PEREZ. "Historia

dacuhura mater ia l" . ln: LEGOFF. Jacques. A H I Sf O n a N o va . SAoPaulo. MaI1ins Fontes. 1990

Proj . H il lO " . .. S l IoP"" k>, ( 10/ . 1hz. IWJ 85

Proj. Hslo,;a, SiloP", ,1o. (10) , dez: 1993

 

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como pela participa~a:o, como pela atua~ao, pelo visual e 0musical como pelo verbal. ..

Todosestes elementos figuram emminhaspr6priasnotascom vistas aumedefinicao. '?s e nd o e s tc c er ta m c nt e 0 caminho eL1 h i st o ri o gr af ia d e l in g ua i n gl cs a, o n de c o rn e cam

a a p ar cc e r c om c er to d c st aq u e o s h is to r ia d or cs c an a de n se s e a u st ra li an o s. f"

M a s a nt es d e a va nc ar n cs te d eb at e r ct om e mo s 0 f io c o nd u to r d e st e a rt ig o . N a s

p r eo c up a co e s d o s c ie n ti st as s o ci ai s para e s cl ar ec er e st e c am i n ho e fa to q ue o s an -

t ro p ol og os e f il 6s of os s e p re oc up ar am ha m ai s t em po c om a s c on ce iru ac oe s, o s

s ig n if ic a do s e a abrangencia d o c on ce it o d e cul tu ra e dai se dizer qu e avancararn

mai s na d irecao de i d e n ti f ic a r, e nume ra r e classificar os " a s pe c t os " da c u lt u ra p o p u-

lar. Quiros n a id eia d e r e fu t a r o s r c duc i on ismos das relacoes e nt re f at or es f is ic os e

g eo gr af ic os e p ro d uc ao c ul tu ra l p ar a f ic ar a pe na s e m a lg um a s d as c on tr ib ui co es ,

tambem hierarquizaram c estabeleceram padroes e m ed id as p ara m o de la r m od os d e

v id a. S e a nt es a id eia d e c ult ura e ra t id a c om o a s t ec ni ca s, a s a rt es , a s c ie nc ia s, a

religiao, o s co stu mes e visoes d e m un do , n o seculo XIX foi associada tambern a

ideia d e e v ol u c; ;a o , d e t emp o . p a ra c h eg ar f in a lm e n te a ideia de p r ogr e ss o .Ha q u e r ec o nh e ce r n e st e d e se n vo l vi rn e nt o a e n fa s e dada p e lo s e st u do s s o br e

a c ul tu ra , d e i ns pi ra ca o m a rx is ta , a u rn t ip o d e d es ta qu e da h i st 6r ia m a te ri al c omo

d e te rm i n an t e d e urna e s fe ra s u pe re st ru t ur al e n te n di d a c omo c amp o d e ideias, artes,

crencas, c os tu m es . A reducao reforcou concepcoes idealistas, de pens ar a cultura

c omo s e pa ra d a da v id a m a te ri al e c ri ou dificuldades para as p o ss ib i li da d es d e tra-

balhar 0 conceito d e c ul tu ra c om o u rn p ro ce ss o s oc ia l constitutivo de u rn m odo de

v id a. c om o n o s r ef er im o s a nt er io rm e nt e, m a s e nr iq ue ce u a p o le m ic a c ha m an d o p ar a

o c am p o t eo r ic o a qu il o q ue s e c on fi gu ra va , pelo menos no caso ingles, co mo u ma

s im p le s d i sp u ta e n tr e c u lt u ra li sm o e a r ec o nh e ci da e mp ir ia d o s h i st o ri ad o re s .

I ne ga ve l, e nta o, q ue s om en te a p ar ti r d e m ea do s d o s ec ul o X X, c om 0 surgi-

m e nt o d a A n tr op ol og ia S oc ia l e a A n tr op o lo gi a P ol it ic a e xp an de -s e 0 c on ce it o d e

c ul tu ra , m o s em c on te st ac oe s e d eb ate s. N o g era l p as sa a s ec e nt cn di da c om o p ro -

dU 9a o e c ri ac ao da l in g ua gem , d a r el ig ia o , d o s i n st rum e nt o s d e t ra b a1 h o, das formas

d e l az e r, da nuisica, da danca, d os s is te ma s e re la co es s oc ia is e d e p od cr . N es se

c as o, a c ult ura p as sa a s er t arn bc m 0 c am p o n o q u al a s oc ie da de i nt ei ra p ar ti ci pa

e la b or an d o s e us s im b o lo s e s ig n os , s u as p ra ti ca s e s e us v a lo r es , 0 qu e ainda constituid e ba te i rn p o rt an t e e n tr e o s a n tr op 6 lo g os , levantardo questoes conceituais na teori-

. . " '_ 22z a c ; ; a o sobre cul tura em suas invesugac . .. .. .

v id a g ~ ~: ~~ ~~ p ois c om o c ap az d e p o ss ib ili ta r a i nv es tig ac ;a o d e u rn " mo do d e

t. e Importan te a p re n de r q u e ni40 se q u er p en sa r a cultura c omo e le m en t o

e x e n or a c om p le ta r qualq de .. ue r or m SOCIal, ma s ao contrario q ue e la e e lementoI m po rt an lc n a S ua constituicoo . de . ,s ignifical'i'ies" d . e assim po sec m vestlgada com o urn "s is tem a de

y e maneira ampla de m odo . . .'. ' a pernuur a mctusso d e t o da s as pra ticas

e asslm defirur-se com urn " .e sp e ci fi co s mo d o s d e v i da ". 20 p ro c es s o SOCIal c on sti tu ti vo q ue c ria d ife re nt es e

ill

A ba s e de d i s cUSS i 'i oob r e t .

c om o p m ce ss o s ia J a eo na da c u l tu r a vern da d is po si~ o d e aceita-laoc que m odela" odo d .uma l eo ri a d a s art da v ida . m s e Vida g lo ba l" c r no c on si de ra -l a a pe na s

p or ta nt o a i de ia d aese VI l . m te le ct ua l e m s ua s r el ac oe s c om a s oc ie da de . R ef or ca rc om p e xi da de d a c on ce ]t "~d

COmum .Mas acentuar . . Iuacao e c u lt u ra parece ja urn lugaras mtncadas correlal'O e tab eleci .

a esta tarefa co .; . y s es ecidas p o r q u an t os se abram, o su tu i- se e m n ec es sid ad ~:c_.. _

aparecer c om solul'O e '. e, p ara Jd) s lmphf icar os c on ce it os e naoy s mag ic a s a c re d i ta ndo nd .

vez, como corceu e compo 0 a c at eg on a c ul tu ra , o ut raos q ue a tendem a . .

referendal teoric o· quaIsquer mteresses ou a tu do explica scmP r e c I S O .

Apenas C O m o in dic ad or d es t . tc omp i l3 l ;d e s de a r ti d e in e re s se e m d e ba te r 0 t em a b a st ar ia f o lh e ar d u as

. gos e Conferencias J t ... ..d e I llinois (Urban a-C ham . n n e macron als realizadas n a U niversidad e

for Cr i t ic ism and a I nt pat~) em 1983 e em 1990, o rg a ni z ad a p e lo Grupo "Uni te rpretatIVe Theory" .

d e to do 0 murdo sali com a p resenca de ceraenas de i nrelectuaisC ,entando-se Stuart H II F deriary Ne l son , L awr enc e G b a, re nc Jam eson, Peny Anderson ,

p rim ei ra c ol et an ea l e m ,s e rg , T o ny B en ett , e tc . p ara fa la r a pe na s de a lg u ns . A, . vou 0 titulo de U .

pagma s) , pub l ic a da em 1988 arx ism and the interpretat ion o f Cul tu re (738

em 1991 , expr imindo be e. a segunda, Cultural Studies (784 paginas) pool icadaTa b m dois momen t de 'I alhos apresen tad os s te d eb ate . As c o le ta n ea s r eU n em o s, os nes tes encontros fia e xaustao tem as re lac io nad' p or pro issio nais de va r ia s a r ea s , d i s cu t i ndo

o s a c u lt ur a e o s ig n if ic ad o do d eb at e a o l on go d o t em p o,19.ASA BRIGGS "Wh. .

M at s History ofacrnillan, 1988. popular culture", In: What'3 History Today? History Today,

20. NestaParteestam ."" nos nos b aseand .

e alem d .' 0nas dlscussoes de R . . ., .voc ab I esSIIs. tt/Iura e SOCiedade. The L aymond Wlhams sobre a cultura naobra ja Cltada

u ary ofculture and soc ie ty 1976 ong Revolution. P engu in Books 1961 Keyword1 A, e 19&3. ' .

2 1 . C a r y NELSON e Lswrense GROSBERG. Marxism and the In terpretauon of Culture . University of

I ll inois Press, Urbana-Chamapign. 1988, e L GROSBERG, Cary NELSON e Paula TREICHER.

Cultural Studies. New Ycrk-Loedon, Routledge. 1992.

22. Edmund LEACH. 'CulturaiCulturu'. Enciclopedia Einaudi. vol ~. Amhropos/Homem. Imprensa

Naci onall Ca .. da M~ 198~ .

Pro. Histona; 540Pauo:(/0), 1hz . 1993 87

Proj. H is tona; S ilo Paule, ( 10), dez. /993

 

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Me~mo assim, trabalhando ~o proximo cia antropologia, aceitando a ampliacao

do conceuo e ~m fundamenta~o teorica mais apropriada, rnais explici ta para fun-

damentar suas mvestlg~Oes e interpretar;Oes, os historiadores passaram, de uma certa

rnaneira, a lirut.:com 0 supos to de que os "aspectos culturais" podiam ser reunidos

em duas modahdades: as praticas e as representacoes cul turais.

. . ~ensar as praticas como a cultura objet ivada, conjunto de obras, realizacoes,r ns ut ui co es - inclusive s .

u os e costumes - e as representacoes culturais comoresultado de alguma acao sei ..

, ... 0 seja mental, espintual ou ideologica sabre 0 grupohumano ate mesmo no aspe t I ' . . .

23 coco eti vo , permmu descn~oes narracoes e levan-tamentos. '

~ st a ~a~ !ra de abordar a His tori a Cul tu ra l, ado tada e d iscu ti da por RogerChartier, significa a se .. . u ver uma tentativa d e apr es en ta r uma "resposta a in-

sahsfafi:ao sentJda frente Iihist6ria cultural francesa dos anos 60 e 70 entendida

em Sua dupla vertent d hi ,. 'tti " e e s to na d as ment alid ad es e de historia serial quant i-

a Iva. '

A expansao do concc it o de cul tu ra para dci xar de ser apenas compromet ida

com a ant ropologi a e a f il osof ia e ace it ar seu rcconhecimento no campo das a ti vi -

dades de t oda nat ureza, nas i ns ti tu icoes e nas rcpresentacoes abriu espaco para 50-

ciologos, juristas, psicologos, l iteratos e l inguistas e alem do rnais para a discussao

sobre a possibilidade de cul tu ras no plura l a te como resul tado des tas pesquisas e

ainda rnais destas constatacoes empiricas,

Adrni tida a pluralidade de abo rd ag en s e a presenca de outros interesses no

debate, foi passive I a acomodacao de que havia espaco t am b em p a ra outras formas

espec if icas de anali se e sobrava espaco para a His tori a da s Ide ias, a His t6 ri a In-

t el ec tual , a H is t6 ri a da Fil osof ia , a His t6 ri a da Art e e das Cienc ias e as d ifercn tcs

formas de abordagem da cul tu ra .

Era ent ao necessari o j un to com a ide ia de nao exclusi vi dade do his to ri ador .

admit ir t ambem que a cul tu ra nao est a l ocal izada fora da soc iedade como urn todo,

como um campo das set e art es e da abs tracao , pensada a te como refug io derrade iro

do in di vid uo . ameac ado em sua li be rd ad e e n es te c aso con sti tu in do u rn r amo do

t raba lbo dos c ient is tas soc ia is onde ganhava a te uma cer ta aut onorni a. Havia que

"acomodar " a cul tura como campo de investigacao passivel de permiti r a cornpreen-

sao do social dentro destas perspectivas.

Nao podemos deixar de ressal tar aqui as complicadas relacoes ent re as pers-

pec ti vas de uma His t6ri a Cul tu ra l que pre tende ocupar t an to quanto a His tori a das

Mentalidades 0 I ug ar d a I deol og ia . E st ao a l o s deba te s e o s te xto s d e Vovell e,

Darnt on , Mandmu, Duby e out ros para no s darem conta destas perspectivas. Muitas

vezes os historiadores, sem explici tar seus supostos teoricos uti lizam-se destes con-

ceitos de forma simplificada, de maneira a penni ti r uma lei tura de 'ideoI6gico' como

sinonimo de cul tural, 0 que cer tament e nao contr ibui em nada para esc la recer as

relacoes possiveis ai existentes e estao pedindo maiores estudos. Diga-se 0 mesmo

daqueles que se uti lizavam do conceito de mentalidadcs com a mesma superficiali -

dade. Cria-se ai wna confus: lo metodol6gica. pois muitas vezes se cobra dos autorcs

cuidados e precisoes teoricas que nO O fazem parte de seu universo.

No amb it o d a h is to ri ogr af ia in gle sa a te nta tiv a d e tr ab alh ar c om a id eia d ecUItum, como categoria abrangente, para pensar 0 social, esta presente na primeira

obr a d e E.p. Thompson: William Morris - Romantic to Revolutionary, de 1955 e

mais ciaramente em A Formacao da Classe Operaria na Inglaterra, de 1963. Nesta

d irecao a obra de Richard Hoggan. The Uses of Literacy, d e 1957 e a d e Raymond

Williams, The Long Revolution, d e 1961, j un to com a de Thompson, const ituem a

bas e a p ar ti r d a qua l s e a ss en to u t od a a discussao posterior e seus desdobramentos,

p rovardo a r iqueza da propost a e fazendo surgi r urna t radi cao de est udos mul ti d is -

Certamente que esta e diafi urna scussso pennanente entre quantos trabalham estaslflllafi:oesem suas investigl>rOc

d ~... S, mesmo porque este C urn caminho que pode fazeresenvolver a teoria rnedi t . .ta!;a:o com dane a exphcl~ao do dialogo constante entre a confron-

~ OCumentoe os eSclarecimentos metodol6gicos.

E assim Chartier se define:

A hist6riacultural talcomo a .como em d''-:' en tende rnos, te rn por principal objetivo identificar °modo

uerentes lugares e .pensada , dada I U mome nt o s WUa d et e nnma da realidade social e construida,

a er. rn a tarefa deste tipo nX ., . , .apropri~o: ea' d • supoe v anes caminhos ... Representacso, pratlca,

pensa-Ia como~ ' es: ; t resn~oes queest e li vroe construido... Por u m l a do e preciso

constituem, na s;;:;,se rep~sen1alyao , i sto e , das classificacoes e das exclusoes que

um t e m po o u d e r en' r ll r a£hca l , a s config~i'les s o ci a is e c o nc e pt u ai s p r 6p r ia s dee um eSJla\o.A s e s tr u tu r as d und' . .

nilo sa o as cate .. . 0m 0 SOCIalao wn dado objetivo, tal comogonas m telectuals e . I' . .

pelas ......ti·· PS ICOog icas ; todas elas SIlohistoricamente produzldas

y . . . cas artlculadas (polfti '"Silo estas d I eas, SOCialS,lscursivas) que constroem as suas figuras.emarca'r6ese osesquem

hist6ria culturalI ada asque as modelam, que constituem 0 objeto de umaev a repen I

entre 0 social'd'fi sarcomp etamente a rel~oo tradicionalmente postulada,Ienu icando com urn I be .

r epre sen ta ' tOe s supos ta rea m real, e xi st in d o p or si pr6pno, e as. s como repetindo-o oud e l e se desviando.f"

23. FALCON, op. c it . pag.5/6.

2 4 R o g er CHART IER . A H is ro r ia C U ll

e 27 u r al . E n rr e P r l ./ tl c as I!Represen tar; : iJ es. Lisboa, Difel, 1990, pigs. 13

1 1 1 1Pro}.HUona, sacp"",,,," (1m. dlz. 199) 89

Pro}.H stona: Silo P a u lo . ( 1 01 . dez. 1 f}93

 

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ciplinares que vai se configurar como "Estudos Culturais", conforme ja se discutiu

anterionnente.25

Considernndo pois, a cul tura, como capaz de abarcar "modes de vida global",

vida que, r o a c re s cimo de Thompson, representa sempre uma luta, que e de classe

e se d . : i . tambem no campo dos valores e dos intcresses, porque pessoas "experimen-

tam" sua s v ivencia s, s i tuacoes e relacoes produtivas como necessidades e interesses,

mas tambem como antagonismos, tratam essa "experiencia" em sua consc ie rc ia e

s u a c ul tu ra d a s m a is complexas maneiras. Os seres h uman o s e st ao c o ns ta n te m en t e

engaj ados em ref le ti r sobre sua propr ia "experi enci a" , bern como ados out ros e

assim cresce sua compreensso da vida social, s ua cul tu ra , e nf im , a in da que n aoapenas dela.26

'"isteria, Cultura e Representacao

No intuito de ampliar 0 debate sobre 0 controverso l ema das relacoes entre

Historia, Cul lum e Representacao, objeto das Iinhas de pesquisas desenvolvidas no

Programa de Estudos Pos-Graduados em Historia da PUC-SP, os profcssores: EvaJdo

Amaro Vieira (FE-USP), Marcia Mansor D'Alessio (PUC-SP) e Nicolau Sevcenko

(FFCH-USP) foram convidados a pronunciarem-se sobrc os seguintes enunciados:

1- Hoje a palavra representacso e muito utilizada pelos historiadores. Afirma-se

mesmo que apropria Hist6ria e umarepresentacso, elirninando-se a disti~iio entre

Historia e Historiografia. 0 que pensa darelacso ent re Historia, Representacso e

Historiografia,

2- A Hi s to r ic g ra f ia c o n tempo ra n ea v e rn r e co r re n d o a temas ligados a o u n i ve rs e ~

Cultura. Em que medida esta p o s tu r a v e rn influenciando altera¢es no procedi-

mento metodol6gico da pesquisa h ist6 rica e , no l imite, a propria concepcso de

Hist6ria como conhecimento.

2 5. S t u ar t H A L L . " C h i· d lodyQ d <"-_ I U un. Stud, es: two paradigms" . In: Tony Benne t and others (ed.) , CuitJIre. l, eo" """·'aProceu Ulnd Th n.._ .

. on. e '1"'' UnlVenity Press, 1989.

26. E. P. THO MPSON . "O tenn . ._ . .. .. Zahar Ed ..1981. 0 aatsente . a expenenc, a . In: Miseria do Teorta. RIO de J ane i ro .

• E r· b·" ~- di uss 'o de urna Mesa Redonda , coordenada pela Profa . Mar ia de Lourdessse lema 1010~"'O"" ISC it ., 44'Monaco Janott i (PUC-SP) rea lizada emSio Paulo. Campus da \ )SP . como atividade mtegrante da

REUNIAo ANUAL DA SBpC, em 1992.

I (I()) de:. 1993Proj. HIs/ar ia. Silo POll 0. •

Pro).Hinona; Silo Pouk» (J 01. ,uz. J 995 91

 

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o historiador sabe que nao existe superacao pelo esquecimento ...

Evaldo Amaro VIeira·

° bclo, Charles Baudelaire t rata tambcm da historia: 0 pcrmanente e 0 cfemero. °que BaO tern p ri nc lp io n e rn f im e a c o nt in g en c ia do memento.

A original idade ccrtarnente esta nas marcas que 0 tempo deixa nas sensacoes

c . n o c as o d a h is to ri a. es ta nas marcas que 0 t em p o d ci xa nas s e ns a coe s i rnp r es s as

113 historicgrafia. Talvez seja neccssario atcntar para 0 fato de que a historiografia

significa tcxto, que 0 pcsquisador da historia manifesta-se por palavras.

A historiografia remete-se a his to ri a, mas nao a toda a h is to ri a: scrve-se <las

reprcsenracoes, mas nao de todas as represcntacocs: t raz sensacoes, mas as scnsacoes

pecul iares a uma epoca.

o tcxto historiografico revcste-se do caraier de construcao do poetico, Iimedida

que 0 his to ri ador l eva a efe it o urn a to poeti co Alguns t ex tos h is to ri ografl cos se

distinguem dos demais devido a sua qualidadc poctica; confundindo-se a dirnensao

c ient if ica com a dirnensao art is ti ca . a li as mui to abandonada em nossos d ias, e per-

pet uando-se na 1ci tu ra de var ias geracoes Nao c demais recordar Lucien Febvre:

. .. s cm l e o ri a previa, s cm l e o ri a p r ec o n ce b id a , nao ha t r ahalho c ien ti f ico p o ss i ve l ( . . . ) a t e o ri a

c a p r o pr i a e x p er i en c ia da ciencia, C . . ) Toda teor ia c n a tu ra lm e nt e t un d ad a s ob re c st c p o st u la d o

d e q u e a n a t ur ez a e c xp l ic a ve l. ( . .. ) U r n h i st o ri ad o r q u e s e r e cu sa a p e ns ar s ob re ° f a to h u m a ne ,

LUn lustonador q ue p ro fe ss a a submissao p ur a c simples a esses fates, como s c l i li o [ o SS C In de

sua fabricacao, como se030 tivessem sido cscolludos por dc, previam emte, emtodos os sentidos

da palavra "escolhido" (e eles na o podem deixar de ser escolhidos por de ) • e wna ajuda

tecnica. Q ue pode alias ser excelcnte. Mas nao c LUn lustoriador,

De rnaneira geral , a palavra "representacgo" alude a diversos t ipos de aprecn-

sao de urn objeto, e fe tu ad a d e modo int enci onal 0 q u e a co n te ce usualmente e a

conversao do objeto estudado em agrupamento de representacoes pr6prias a deter-

r ni na da e po ca e a detenninada sociedade.

As rcpresenta~Oes elucidam e obl iterarn esta epoca e esta sociedade.

Os homens e os g rupo s humano s d ao exi ste nc ia a apa re nc ia s q ue g en er i-

camente sa o 0 aspecto de urn objeto, a diferenea e a o po sic ao a seu verdadeiro ser.

Porem, tais aparencias podem revelar a verdade e a evidencia do objeto. E nao

c onsi s te em ex ag e ro a f irma r que nas aparencias ja subsiste certo grau de evidencia,

COllCedeooo-lhes a posicao d e mOd a li da d es d a consciencia,Essas representacOes nao estao em COITeS)Xlndencia em todos os seus aspectos

com 0 objeto que e xp re ss am , m a s carregam em si 0 incontrolavel desejo e rnesrno

o or gu l ho de fazerem-se de tOta l i dade.

, Val e-se aqui de exemplar referenci a de Antoi ne Pel le ti er ao imaginar Atenas.

u~c~ente co m 0 Paternon, s cm o s escravos e Roma, 0 consulado sem a ditadura

Sao .1Illagens fonnosas e vai dosas da t ot al idade, nao f iguram a tot al idade, nem sao

a propna totalidade.

As r e pr e se n ta l ;oe s e n tr am na posse de certa l inguagern, apossando-se entso de

certo .vocabulano, de certas fonnul~oes, de cer tos modelos de pensamento, que

COt lS tJ t uemt ambem r node los de f ra se s. A s dificuldades de t ra ns it ar -s e d as r ep re -

sentaCOes a realidade sO O as dificuJdades de t ransitar-se de ceria l inguagem Ii vidados hornelL'>Em suas rel""~~ ideolozi _. "" ....oes com a Ieologia, e born notar que as representac; :oes

cXlbem slmbol icam t f .. en e os atose os interesses, mostrando que a genese delas se

e ncon t ra no U I l lv e rs o b i ol ogi c o.

Destas sucinlas id 'cons i e ra coe s s e d ep re ende que a h is to ri a c on te rn r ep re -

sentaC6es, mas nao se resume a reprcsentar;Oes. Na tao conhecida reflexao de MarcBloch a hist6ria fal "do ho . "Iala ~ con" as .. m:ns no .tempo" e e les sa o 0 seu obj et o. A his to~~

A . tl,nuidadese da s diZJ:'CIS e i rd idve is permanencias "dos homens not empo .

. f ei h i st ona pa re c e expnnur 0 belo nas palavras de Charl es Baudela ire: "0 bel oe euo de um cleme It '. . .,de de' 1 0 etemo, lIl'famlvel, cuja quantidade e excessivamente difici

tenrunar, e de urn elemento relativo circunstanciaJ que s e r a por assim dizer,SUCCSSlvamentc o u a . "

o me sr no tempo, a epoca, a moda, a moral , a pai xao" . Tra tando

• Faculdade deEduc!9Ao. USP.

Nao existe trabalho do historiador scm tcoria e scm tcori a da h is to ri a ! li lo se

compoe a his to ri ografi a Tomando-sc a h i st o ri ogr af i a po r campo de pcsquisa a

historia, pode-se dizer que nao h;i historia sem teoria da historia.

Haveria possivelrnente uma cro ruca? E dificil saber: Fernao Lopes, 0 celebrado

cronista portugues, ja coloca no p a p el d e h i st o ri a do r , ou ao menos e st a d e passagem

da cr6nica para a historiografia. Rcsta investigar 0 que na verdade c este tipo de

estudo, sem teoria da historia

A pesquisa hist6rica necessi ta de meios. decntenos, de procedimentos, capazes

de proporcionar 0 alcance de seus objeuvos, scndo reste caso imprescindlvel a teoria

da h is to ri a ou uma out ra t eori a, furdarnen to da i nt erpret acao .

Hayd en White s er ve p ar a exemp lif ic ar . E tc a dmi te a p re se nc a d e u rn n iv el

ma ni fe st o. 0 nivel da " s upe rf i ci e " , represcntado pelos conceitos teoricos claramente

utilizados pelo bistoriador E urn segundo nlvcl , 0 da subcstrutura "meta-historica",

ondc sc l ocal iza 0 a to poe ti co do h is to ri ad or c onde o co rr e a " pr ef ig ur ac ao" d a

hist6ria. por intermedio de quatro tropes: a metafora. a mctonirnia a sinedoque e a ironia.

PrtIf. H,.rtlma. SiloP<*10. ( 1 0 1 , de:. 199JPro).Hstona. SiioPlIIlo. !1m. dez. /W3 9J

 

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C la ro e st a q ue H ay de n W h il e r ec or re it t eo ri a l in gu is ti ca e p an ic ul ar mc nt e a os

es tu do s d a p oc ti ca p ara fu nd ar a a na li se d o s eg un do n iv cl cia obra h is toriogra fic a .

o d a s u b cs t ru t u ra "meta-his rorica " , relacionando 0 r ep ert ori o h is to ric o a o c xam c d o

seu primeiro nivel, 0 de " superf ic ie " .

N a o s u ce de d if cr en te m en te c om a c u lt u ra : sua i nves t ig a ca o r e cl a rna um a teoria

da c u lt u ra , c om e le me nt os r ef er id os it o rg an iz ac ao g er al d a v id a d os h orn en s. E

sabido 0 q ue fe z R ay mo nd W il lia ms s ob re is to , d ig a- se l og o u rn m od elo fe cu nd o.

sobreludo ao l em b ra r q ue n ao v is a apenas a "distinguir o s s ig n if ic ad o s d as p a la v ra s" .

m as t am be rn a " rel ac io na- lo s c om s ua s o ri ge ns e s eu s e fe it os ",

COl1l0 um m undo de represemacoes, a c ult ura ig ua lm en te s e v olt a a c la s, m asn ao s e li mi ta a e la s.

.• D .c cl in ar t ai s o ric nt ac oe s t eo ric as d a p ro du cao h is to ri og ra fic a s ug erc a e x-

pencncia com a i nv es ti ga ca o m cl ic ul os a d es sa s o ri cn ta co es , s cm s ub st it ui -l as m ai s

ou m enos precip itadam em c pelo ideario do m odism o sob a encantam ento daprovavct n ov id a d e. A r r ed a n do q ua lq ue r p ro pe ns ao p ar a a solucao simploria, para a

s ol uc ao s im p li fi ca do ra , a s m en ci on ad as o ri cn ta co es r og am p or p er se vc ra nt cs , c ri a-

tlVOS e a p ro fu n da do s e st u do s q u e v en h ar n a te a s ob re le va -l as s e f or 0 c as o, a o l on go

d o d c s cn v o lv ime nt o da historiografia.

Infcnsas a experiencias i nc o ns cq u cn t es e irracionalistas, cssas orientacocs tcori-

c as d a p ro du ca o h is to ri og rM ic a a gu ar da m n ov as o br as q ue a s c ul ti vc rn e a s e xp lo re ll l

em seus m ultiples an gu lo s. 0 h istoriad or sabe que nao existe supcra~ao porcsquecimento.

o relativismo d a urnnovo estilo ao conhecimento na hist6ria

Marcia Mansor D: A lessio"

Rcfcrencias

B AR RA DA S D E C AR VA LJ IO J oa q < D h' .. C· ,... ('.. .L' be L' ,Ulm. a ist oria - . ronica 0Historia - . iencta.

IS a , r vr os H o ri z on te , 1972BAUDELAIRE Chari "0 ' '.

F d. ' e s. p mt or da v id a m od ern a" . I n: C HI AM PI , l rl em ar ( Co ord .).

BLOCHunadores doMo1ef~idod~. S ao P au lo , E d. A ti ca , 1 99 I .

FEBVR.E~arc : lntf?duroo a Ills/aria. Lisboa, Publ , Europa-Amer ica, 1965.

LEFEBvREu~~~ (o~lIb.atspour l'histoire. P ar is , A rm an d C o li n, 1 95 3.

1966' n. SoclOlogle deMarx. Pans, P re ss es U n iv er si ta ir es d e F r an c e- PU F ,

PELLETIER A "A - . .i f, ( .',.. rocao de clvlliza~ao". I n: PELLETIER A e G OB LO T, 1.J./ . a e rta IS11I o hi~fr)ric histor) ' -1970 . 0 e Istonn das civtltzacses. Lisboa, E d it or ia l E s ta m pa .

WHITE H~yden A I t H ..EDUSP, 19 ·92 .e (1- tstoria (A imagina9iio historica do seculo XJ).j. Sao Paulo.

WILL IAMS , R a vmo ll d c 1 Edu lura e SOc iednde - 1790 ! 1950. S3-0 Paulo . Com p. .

Naciollal. i%9. - ,

Q u es to es l ig ad as a cultura vern o cu pa nd o u rn e sp ac o r nu it o g ra nd e n os e st ud os

h is t6 ri co s, m as t er n s id o, s ob re tu do , t er re no fc cu nd o d e p ro du ca o d os c ha rn ad os

" mic ro -o bj et os ", co nfi gu ra nd o u rn c am po d e r ef lex ao q ue , a le m d e n ov o, p ro du z

i mp or ta nt es m o di fi ca co es n os p ro ce di me nt os m et od o1 6g ic os p ra ti ca do s n as u lt im as

decadas,

Q ua is o s fa to res q ue t eri am re co nd uz id o a c ul tu ra ao ce nt ro das a te nc oe s d os

h is to ri ad or es , t ra ze nd o c om e la i mp or ta nt es i nq ui et ac oe s r ef er en te s a metodologia?

E st a re fle xa o s era en ca mi nh ad a em d oi s s eru id os : n o n iv el do conhecimento,

examinando 0 significado, para e st as q ue st Oes d o d ia lo go a tu aI e ntr e h is t6 ri a e a n-t ro po lo gi a- et no lo gi a e n o n iv el da h i st 6r ia v iv id a , c ol o ca nd o a lg u ns d o s a co n te ci m en -

tos da U lt im a d ec ad a c om o possfveis p ro du to re s d es ta s t ra ns fo rm ac oe s n os e st ud os

historicos.

Q uan do se p en sa a relacao histo ria-antro polog ia, u ma d as co nstatacoes

pos si ve is e a de que pesquisas antropologicas enfat izam a ideia dc plural idade a

m ed id a q ue d cs ven daram siru acoes h urn an as scm n cn hum a relacao com m od os d e

v id a c on he ci do s. E m o ut ra s p al av ra s, projetaram u m foco d e lu z m ais forte s ab re 0

"es tranh o " qu e • um a vez q uestion ado 0 eu ro po cen trism o - p as sou a ser reco-

n he ci do m es m o n o i nt er io r das c ul tu ra s o ci de n ta is , q u eb ra nd o um a c er ta h o rn o ge nc i-

~ ao im po st a, p el o c on he ci me nto , a os s uj ei to s s oc iai s.

Alem da acei~ ao do d iferente co mo realid ad e e co mo o bjeto de e stu do , a

p er sp ec ti va a nt m po l6 g ic a c on tn b ui u para u rn a m u da nc a n o t ra ta me nt o m et od ol og ic o

dad o a esse ob jeto , 0 histo riad or H an s M edick , em artigo p ub licad o n a revista

Geneses), faz algumas reflexoes interessaraes sobre e st a p ro bl er na ti ca , S eg un do e st e

autor, 0 o lh ar e tn ol 6g ic o t er n u rn a lc an ce m ai s l on go a m ed id a q ue c on se gu e c ap ta r

f en 6m en os c on si de ra do s m ar gi na is , r ev el an do u m a s cn si bi li da de n ov a para a e sp e-

c if ic idade, a d iversi dade , a est ranheza De out ro l ado, ha nesta postura wn ques-

tionamento <K )S c nf oq u es a u to -c en tr ad o s e u n il at er ai s a medida q u e o s p es q ui sa d or es

niio s e re fe ren ci am e m s ua propria cuhura para analisar 0 difererue de si pr6prios, alem

d e d es ca .r ta re m c at eg o ri as u n iv er sa ls " pa ss e- pa n ou t " q u e, q u an d o u ti li za d as , e m ba ca m

• Depar tamento de lIist6ria, PUC-SP.

I. Medick, Hans. Mtssionaires en can(}(. "Les modes de connaissance e thnologique, un def a I'hisloiresociale?" In:Geneses. Paris. 11. 1, 1990.

Pm,_ Hrstorra. sa o Paulo. (101.de; 1993Pro). Hisuma; SJo Paulo. (10).de•. /993

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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o o l ha r e tn o l6 g ic o , v a le d i z e r , aq uele q ue cap ta a m uJtip lic id ad e em to da a su apleni tude .

A discussao e m t om o da aproxima:;ilo en t re h i st 6r ia e a n tr o po l og ia p a re ce e s ta r

produzindo, airda, u rn n o v o s i g n if ic a do p a ra a p a la v ra c ul tu ra . A o a p on t ar a d if lc ul da de

enfrentada pela hist6ria socia l em articular os e l emen t os h i s t6 l ic o - cu l twai s c om a s p ra ti -

c as d o s s uj ei to s n a h is t6 ri a, M e di ck m o st ra q u e a s im p le s j us ta po si ~ d as d ua s si-

tual; i'ies-estrutwal e individual exclui a cul tura da s es t ruturas soc ials , colocando-a CO IOO

urn s i s tema parcial da sociedOOee niio como "urn fator constitutivo da r e a 1 i d a d e cotidiana

e da mu~a n a s r e la r vO e s s oc i al s , e con6n ti c as e p o li ti c as ,, _2

. E~os vendo , entao, que a cultu ra MO e m ais v ista co mo u rn aspecto cia

Vida SOCial mas c omo c l emen t o c ons ti t u ti vo cia trama t e ci da pe l os s u j ei t os i nd iv i duai s

e da estrnturaflio da s r e la t ;oos s oc ia i s, economicas e pouti cas ' . P or o ut ro l ad o, 0

a u t o r a p r ox ima a ~ d e c u lt u ra cia ~o d e c ot id ia no c ol oc an d o este ul t imo

c om o "c am po d e ten so es o nd e tern lu ga r a m cd ia ~o d a ~ao, cia experiencia, cia

e s tr u tu r a e ci a h i st 6r ia ,, 4, d e o n d e p o demo s i n fe ri r q u e 0 cotidiaoo e p r a ti c a c u l tu r a l

o u , uw er te nd o o s t er m os , a c u lt u ra e 0 c ot id ia no v iv id o . H A q u e s e d es ta ca r t am b er n

o l ug ~ ~ o c o ti di an o e da c u l tum na f e it u r a cia h i st 6r ia s u ge ri d o em toda s ua r e fl e xa oc e x p li c lt a do na r e fe r e~ i a " 0 " '_ ' . , .

a expres~s culturais" c omo forca motriz da Histona,E s ta l in h a de refle a o ' . .

x nos autonza a pensar que 0 c ot id ia no , a pr es cn ta do c om oe s t ru t u ra n t e que s ti ona id ' . d ". ,. .

' a 1 eta e sujeuo coletivo, reforcando a i de ia d e pJuraJ ldauee p o nd o em chAr .ue p r oce d iment d I' . . . h' ,.

'''''f o s m e to 0 o g ic o s q u e u n if ic am situacoes istoncas.Toda s e s t as c ons ide r nr i 'l e s nos t "d ,. d do'. ....... rem e em a I cia e relativism a no cam po dos es tu s

his t6ncos e a panir da i I '., , a gumas lnqweta~oes talvez merecam s er explicitadas : c omo

trabal ,bar com 0 relativismo s e pe nsa rmos 0 c o nh e ci m en t o h i st 6r ic o c omo r es u lt ad odo dIalogo e ntre ref ". ,.. .. erencia t eo n ca -d ad o s e m pi ri co s? M a is p re ci sa m en te : q u al a p o s-

s lb l hd a de d e c o ns tr u ca o d e r ef er en c ia s c o nc e it u ai s e m u r n mome nt o cia h i st 6r ia e mqu e 0 r e la t iv i smo de s pont a COm certa A n £ : ?

e asc.

, P or o u tr e l ad o , a i de ia d e r el at iv is m o ci a u ma n ov a e st at ur a a o acaso . A p a rt ird a i, s e p c ns a nn o

I ,. s 0 acaso c omo elemento c onc ;t i tu t ivo da h i s t6 r ia , continua sendoe g lt lm o p e ns a rmo s a h i st 6r ia -o b je to c omo p ro v id a d e s e nt id o ? Em c o ra ra p ar ti d a. s enegarmos sentid 'hi ,. .

o a s toria, c om o c on ti nu ar a trabalhar c om r e fe re e ci a s conceituais?

E st as p re oc up ac oe s a pa re ce m , s ob v ar ia s f or ma s, n a r ef le xa o a tu al d e a lg un s

h is to ria do re s. 0 m es mo H an s M ed ic k a o a bo rd a- la s d iz q ue 0 p r oc e di m en t o m e to -

dol6gico do etn6logo e 0 da " d es c ri ca o d e ns a ", o u s e ja , um a r ec o ns tr u ca o d e sc ri ti v a

a bu nd an te , p le na , n a qual s e c ons er va 0 novo, 0 es t r anho, 0 de s c onhe c ido c on fi g u -

rando wn a "demarche" o p os ta l Iq u el a n a q u al 0 diferente e r ed u z id o mu it o rapida-

mente ao conheci do e r om p en d o c om a univocidade, a unanimidade e a final idade

d e uma a b or d ag em i n te rp r et ar ae . N a " d es cr ic ao d e ns a ", 0 e tn 6 lo g o f ic a mu i to p e rt o

d a r ea Ji da de e st ud ad a a o r es pe it ar a interpretacao e a auto-explicacso cia cultura

d e sc o nh e ci da . I s to n ao q ue r d iz er r en Un ci a a u m a a na li se sistematica n em t amp o uc o

c on t us s o e n t re a u t o- ime rp r e ta c a o cia c u lt u ra d e sc o nh e ci d a e l ei tu r a d o e tn 6 lo g o ma s ,

s im p l esm e nt e, a b ol ic ao d o d i st an c ia m e nt o r ad i ca l e n tr e t eo r ia e r ea li d ad e .

C a rl S c oo rs k eS, d is cu ti nd o e ss as p ro bl em a ti ca s, v ai f al ar e m p ro li fe ra ca o d e

s ub cu lt ur as e c on se qO e n te p er da , p el a h is to ri a, d e s ua fUn930 s in 6 ti ca e p ro d u to r ade quad ros mac r osc 6 p ic os . 0autor c on s tr 6i s u a r ef le xa o a p ar ti r da retacao Hist6ria-

Progresso.

N o s ec ul o X IX , d iz e le , q u an do a i de ia d e p ro gre ss o m o ld av a a c on ce pc ao d e

Tempo, a diacronia organizava a Hist6ria. A partir do q u es ti o nam e nt o d o s c e ns e r-

v a do r es e u ro p e us ao sistema politico c ons tr u ido pe l a Revolucso Fraocesa, desacredi-

t an d o a q ue la si tuacao c omo urn mome nt o d e p r og re s so , a d i ac ro n ia p a ss a a c o nv i ve r

c om a s in c ro n ia , o u s e ja , a o b se rv a ca o d e a lg u ns h i st o ri ad o rc s d e sl o ca -s e da evolucao

d o s a co nt ec im e nt os n o t em p o para a r ec on st it ui ca o d o s v ar ie s a sp ec to s d a v id a d as

c u l tu r a s. Pode ri amos dizer q ue a a na lis e s e intemaliza.

o seculo XX tambern tern seu m om en ta f or te d e d ec ep cao com a Hist6ria

a p6 s a S e gu n d a .G ue rr a Mun d ia l, q u an d o ha, entao, urna t e rde r ci a da h i s to r i og r af i a

nor te -amer icana em captar 0 d es li za m en to d a d ia cr on ia p ar a a s in cr on ia o co rr id o n o

seculo XIX. 0 que t e rn uma c ors e qee r ci a na c onf i gma ; oo do quadm h i st o ri o g ra t ic o a t ua l .

Co m efeito, a medi da que a h i s t6 r ia de i xa mais urna v ez d e ser identificada

a o p r og re s s o , 0 T em p o p er de s eu s ta tu s d e o rg an iz ad o r cia e xp e ri er ci a c o le ti v a d o s

bomens . A h is t6 ri a q ue v in h a e st ab cl ec en do u rn d ia lo go c om o u tr as a r e a s do co -nhe c imen t o , a g o ra de s ac r ed i t ada , MO e ma i s c ons ide r ada aliada pe l as c i eoc i as s oc ia i s

q ue s e v ol ta m p ar a d en tr o d e s eu s p ro pr io s c am po s d e in ve st ig ac ao , minimi:z.ando

o v al or d a t em p or al id ad e n os e st ud o s das s o ci ed a de s e d a s c u lt u ra s . E s se mov im e n to

a ti ng e a p r op r ia H i st 6r ia q u e s e e s fa c el a i gu a lm e n te , a p oi an d o -s e n a s c ie n ci as s o ci ai s

d e se s to r iz a da s . S e gu n d o S c ho r sk e , ha v i n te a nos a h i s to r iog r n fi a passa p or u m a c ri se

d e i de nt id ad e, c uj o s in al m a is v is iv el e a i nv es ti da e m o b je to s m i cr os co pi co s q u e

2. Ibid. , p, 27.

l. lima interessante disClIsSio sob C '.Scoonke "L hi re ultura e Histona na Historiografia aparece em artigo de Carl E.

. istorre et I'etude d I I" .e a c u t ure. In: Geneses. Par is , n. I , september , 1990.

4 Med ic I; . Han s "u·· .. " .'SSIOlla lre~en c t Le 'h. .

sociale?" In' G _- ' . ano . s modes de co nnaissance eth nolog ique, un deii a I I stOI lC. e "" se s. Pans, n. 1.p.38. 1990. S. Schonkc, C.,.I E. "L'histoirc etI'etudede I.ulture," In:Ge"~ses. Par is, n. I , septembre , 1990.

Pro}.Historia; Silo Pti ilo, (10),de. /993 Proj. Hi&tma, S40Ptiilo, (10),lkt. 1993 97

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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trazcm 0 risco de l ev a -l a a negligenciar 0 binOmio cont inuidade-mudanca , urn dos

p il ar es d e ss a f or m a de conhecimento.

"Nos macrocosmes ont explose et dans l 'espace intergalact ique de notre cul-

ture fragmentee nous fabriquons de microcosmes".6

Esta formulacao de Schorske introduz bern a questao da relac;ao entre a historia

que est amos vivendo e as transformacoes na producao historiografica Nos l imites

desta reflexilo, poder iamos pensar dois feoomems atuais c om o c on st it ut iv os d e urn

impulso geral de ruptura com totaIidades, reais ou sirnb6l icas, que vern fabricando

em nos sa epo ca uma se~ o d e f ra gmen ta~o ci a histona, &18 e uma referenda

ao abalo sofri do pel os Est ados Naciona is e ao dec li ni o do soc ia li smo erquantopratica politica

Os Estados-nacionais, embora menores que 0 universe dos Estados Imperiais

e a referenda universalizante da Igreja Catel ica, alargaram enonnemente as rea li -

dades regionais, tomando-se a referencia grupa1 mais importanle do seculo XX , tanto

por fatos concretes como del imitaejo terri tonal, cenlJalizac;:Io do poder, unificacao

d a m oe da e da l i ngua , organiz .a c;ao intema do mercado de traballlO e consumo, como

po r fatos simbOlicos da i d e co rr en t es , c omo b a nd e ir as , h i no s , r no n um e nt os , a u seja,

cOdigos de referencia que ident ificaram pessoas, grupos, povos.

Embora 0 Estado, expressAo politica da Dal;ao, continue absolutamente intacto,

o fenomeno da mundial izacao, com a internacional izac;ao da econornia e da cul tura,

cria uma teosa, entre simbolos nacionais e universals, as ult imos diluindo os primei-

r os . U rn s inal n it ido des ta rea li dade parece ser a "Uniao Europeia", surgida da

necessidade de enfrentamento, pela Europa, do avanco economico dos Estados Uni-

dos ,e . J a p s o , s ob re tu do a pe s a q ue da d o mundo socialista que funcionava como umaespecie de anteparo aquele avanco,

~ p ro ce ss o g ra du al d e c on so li da ~o da "Uniso Europeia" parece estar mi-

nando Importantes suportes concretos do sistema simb6lico referencial. 0 "Tratado

sob~ a Uni:Io Europeia", assinado em Maastricht peJos Estados7 rnembros, em fe-

vereiro de 1992 preve: elimina~o das barreiras aduaneiras; l ivre circulac;oo de mer-

6 . [ bi d. , p, 20.

7 . H iumavu tiM~a . pr od~lo hoj e, n . F IUJ \&,a r c sp e it v d a Unificll9lo Ewo.,eia. [)estaco alguns artigos:

: ~ougm: OIiVler . "Une Europuam fllltumes?" In:Esprit. Par is , n. 176, 1991.DiSCUSSion e n tr e D e l o rs , J a cq u es ; H _e r P ie rr e' Le Goff J . ~ . Alain "La commu-

naute e''"''''c I '" acqUCII O unul1C, ._C - "Yenne. et es chocs de ' · b i sto i r c . "In: Esprn; Paris, n. 176, 1991. ,.

I. hEau dr o n .pM . a rt ine :Su au d , Char les ; Te r t ra i s Yves. "Us fran.,ais entre c rUmc et desir d'Europe?n, &1"11. a ns . n . 116, 1991. •

- ~ e b lU d , P a ul . " L ' E u ro p e ; c s sa i d'identification'" I . . .-Dlvergcr M . "LE . . m Espnt. Pans,n. 176, 1 991. . .n .S7. I99i . aunce . urope:balbniSf t, communauta ireoudoommee?"b:PouVOIr3. pans,pUF.

cadorias, pessoas, services e capitals; moeda unica; pol it ica extema e de seguranca

comuns e a perspectiva de uma defesa cornum; Banco-central Europeu e a insti tui~Ao

de uma cidadania da Uni ao .

Neste quadro, mesmo os mai s sedutores s imbolos vAo perdendo seu poder de

aglut inacao e a fidel idade a n at r1 0 - entendida como Estado-nacional - vai entrando

para 0 universe das l embrancas. Por out ro l ade, os fat es est ao mostrando urn pro-

cesso d o Jo ro s o: nA oM povo que pa s se impune por este movimento de deslocamento

dos marcos referenciais. 0 sentimento de pertencimento esta de tal modo ameacado

que, na Franca, 0pro je to de l ei aut or izando a rat if i~o do "Trat ado sobre a Uni ao

Europeia", apresentado 80S franceses em 1992, para ser submetido a plebiscite, ter-

m ina com tUn paragrafo que contem a seguint e frase : "a F~a nAo desaparecera

ao ratificar 0 Tratado de Uniao Europeia".

A o m es m o tempo qu e 0 Estado-nac;ao perde su a begemonia como lugar pnvi-

Ieg iado de auto-reconhec imento dos povos , ass is ti rnos a urn for te movimento ,gestado no interior dos agrupamentos humanos, de resga te e reorgan izacao de re-

ferenciais, agora mais int imos, mais proxirnos das caracterist icas e interesses ime-

diatos das pessoas e grupos: os seraimentos de per tenc imento hoj e d izem respe it o

a g ru p os e tn ic o s, de genero, sexuais, etc.

Ao lado da n a r ; o o moderna, a ideologia socialista parece ter side 0outro grande

marco referenci al de nosso seculo. Neste caso, a u topi a e 0desejo aglutinararn mais

que a propr ia rea li dade poHti ca , ja que est a referenci a grupal nao se l im it ava a sf ront ci ras dos Est ados soc ia li st as , mas fonnava urna espec ie de "grande familia"

i nt emaciona l, i dent if icada e i dent if icavel pel a doutr ina mas t amoem pel a v isao de

mundo, vocabul ar io , modo de vida, corcepcso de His t6ri a. A queda do soc ia li srno

esfacel a est a t ot al idade de referercia, A fragmentacao pol it ico-cul tural pela qual

estAo passando reg iOes como a ant iga Yugoslavi a e a ex-URSS8revela 0 impulso

de auto-reconstrueao de agrupamentos anterionnente unificados pelo socialismo e a

esquerda i nventa causas mai s i nt imas pam d epos ita r s eu s s onho s e p ra tic ar s ua

militancia

Assim, 0 recuo das duas grandes total idades do seculo xx, n31;lk: l e socialismo,cer tar nente ter n urn ~l i~~e na ~rce~o, pela his toriografia, dos par ticu-

larismos e raridades da expeneacia coletiva dos homens.

K . S ob re a e x- U RS S v e t: D 'E n ca u ue , H el en e C I II TC re ."La d e O O l lJ P O Si t io nd e l 'Em p ir e s o vi C ti q u e. " h i :

Pouvoe r« . P.-i . . PUF. n. ~7. 1991.

9 . Ap . l. vn nor id ade f o i u s ada por P au lVe yr le no Jamoso texto "Foucault revolucion •• Hilton.". Bruilia,

Edito ra Universidade de Bruflia, 19112.

Proj. HiItOrlo. ss o PIIMI4 (10).dn 19I1J

Proj. Hi.r t6r ia, Silo PaNl4 (10).1hz. I I }9J

 

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. ..talvez a ultima grande batalha e 80mesmo tempo 8ultima

grande fronteira seja afinal a cultura

Nicolau Sevcenko"

Os historiadores. nesses termos, MO diferem grande coisa dos fisicos, dos bi6logos,

dos engenheiros e dos poetas. A vantagem, por outro lado, em entender sua atividade

como urn procedimento de reapresentacao, e que dessa forma, tanto os resul tados

de suas pesquisas quanto os pressupostos da s ua p r o fi s sa o podem e devem ser vistas

em tennos relauvos, em funI; ilodos seus compromissos e predicados pessoais e dos

sistemas de valores vigeraes em seu ambiente cul tural,

***u tenderia a p e ns ar que a pa la v ra r e pr e se n ta c s o e que e p r ob le m at ic a. P e lo

menos no sen ti do em que ela sup()e urn nexo entre algum segmento da real idade e

a sua reproducso em aJguma forma de Iinguagem. Nesse c as o, e conveniente lembrar

que qualquer forma de l inguagem art iculada e, ant es d e mais nada , u rn a c ri ac ao

humana, restrita a urn detenninado meio cultural e circunstancia hist6rica. Por essa

razao, ainda que usemos a expressao representacao, porque e mais coloquial , seria

o caso de t er c la ro na mente que e la se r ef er e a u rn a to d e re-apreseruacso, 0 qual,

posto dessa forma, ja traria consigo a impli ca~o de que e le vern precedido de pelomenos d u as o u tr as ~Oes que ser iam 0 seu p re ss u po s to , Uma , a da percepcao e

recorte daquele segmento especifico da realidade, outra, a da sua inrerpretacao e

tradu~ao nos tennos dos c6digos simb6licos e expressivos peculiares ao meio cultural

ao qual perten~e 0 agent e desse a te de reapresentaeao.

~rossegultldo nessa linha, e ineviulvel admit ir que a propria nocso de hist6ria,

que existe em.~gumas cul turas e em muitas outras nao, e wna complexa construcfo

de a lgumas c lv ih~Oes em algum momento de sua exi st enci a soc ia l. E la def in it i-

e.Denn ruIo e urn dado da r ea li da de no s en ti do em que a agu a s al gada do mar 0

e: ~ntre os povos que ma n te m e s sa complexa c ons tr uc ao c u l tu r a l e habitual dis-nngun entre 0 fluxo de" . •. , evenlOS genencamente percebido como 0 devir h is t6 ri co e

as mumeras praticas discipl' . idas. ,. Ulares exigr para a coneta interpretacao dos sentidosImphcltos nesse fluxo 0 "fi . , . .. .' que signr lea que histona e historiografia necessariamente

: xIst em co~ l ll smncias distintas e corre la tas do complexo sistema de significacao

essa espec if ica const ru .yoo cul tu ra l. Compreendcr esse s is tema como urn a te dereaprcsenta-rao de nenhuma forma li .torio,._,.r. e inuna, portanto, a d istin;oo entre historia e his-

grana,

Nero, por outro lado nd .S nifi , compr ee e r e ss e sistema como urn a to de reapresentacao

~gPUI~tC~queA seu contetido e arb it rano e sua efe ti v~ il o sej a del iberadamente ma-ona. s nonnas disciplina I do

sendo exi t res, regu an as condi.,oes de exercicio desse ato,Xlgenes no sentido de dernandar c " . .

tos e inteligibilidade de . omprov~~. transparencia de procedimen-

pratica, lho enuncla.,ao, tornam 0 aClonamento desse s is tema umano me r d os casos so ial '

, CI mente controlavel e culturalmente consequente.

• Faculdadc de F il osofis, Let ras e C " . HIcnclas umanas. USP .

Para mim essa a p ro x im a cs o c a da vez maior das pesquisas hist6ricas em relac;ikl

ao ambit o da cul tu ra aparece , sobre tudo , como urn enriquecimento tanto te6rico

como metodoJ6gico do conhecimento h is to ri co . Essa persuasso me vern do fat o de

que 0 campo cia cultura sendo wn a vasta a r e a de fusi lo e intercorrencia de efeitos,

o seu est udo s6 pode ser adequadarnent e encarado sob uma perspec ti va mul ti di sc i-

plinar, A pesquisa hist6rica ja e por si mesma urn exercicio que se fundamenta sobre

urn a rd u o e s fo r co de s in tese . Por essa sua carac te ri st ica, a pesquisa hist6rica serevel a a area por excel enci a no int er io r da qual os est udos cul tu ra is podem ati ng ir

a s ua mais in tr in cada e e fe tiv a a rti cu la cao. 0 que colo ca sob re o s omb ro s do his-

t or iador da cul tu ra urna imensa demanda , no sersi do de que e le se famil ia ri za com

a te or ia , o s m eto do s e 0 atua1 estagio dos conhecimentos em inumeras discipl inas

que se tornaram instrumentais e indispensaveis para a sua capacidade de problema-

t izar e compreender os universos da cultura. Essas disciplinas incluem, por exemplo,

a ant ropologi a, a e to logi a, a psi co logi a, a serruolog ia , a t eori a da a rte em t od as a s

suas fonnas. 0 obj et ivo ao se procurar abranger esse fei xe de disci pl inas n a o e

apenas 0 de ampli ar a capac idade de anali se e peret racao do his to ri ador , mas acima

de tudo r e ti n a e s e u enfoque e aumentar a sensibilidade da sua imaginacao, tornando-o

passivel de surpreender-se corsigo mesmo e com 0 aparentemente banal.

Porque, annal da s contas, estudar a cul twa comporta urn evidente ato reflexo.

Somos todos seres cul tu ra is e as categorias s tr av e s d a s quais percebernos, organi-

zamos os dados da nossa pereepcao, imaginamos, pensamos e nos exprimimos, s a o

todas artefatos cul turais. Como conseguir e nt ao u rn e fe it o de desprendimento da

nossa cultura para podennos observa-la de uma perspectiva cri tica? A Unica forma

de se t en tar obt er esse efe it o e procurar perceber a condici'lo inelutavelrnente reJativa

e conti ngen te da oossa cul tura, das nossas categorias, do nosso imaginano, da nossa

percepcao e das nossas linguagens. E urnexercicio dificil, e urn desafio atonnentante

e desestabi lizador para a nossa consciencia Pelo ingente esforco de sintese que e amais pecul iar caracteristica do historiador, talvez nenhum outro especialista dentre

a s human id ad es e st eja ta o p re di sp os to p ar a e ss a ta re fa quanto e le . 0 que col oc a

ainda mais urna responsabil idade, e urgente, sobre seus ombros.

I()() Pro}. HuronlJ. S.JoPaMo.(10), de:. I99J 101

Proj. Hi.rlOna. Silo Pau lo , (l0), de:. 1993

 

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Numa epoca de i nt ensa t ransformacao t ecnol6gi ca , em que se procuram cri ar

meios para a Iiberta.;ao do s homens em rel~: Io a sua tradicional dependencia da s

condicoes impostas pel a nat ureza, dando ass im ori gem a uma t ecnosfera, u rn meio

ambient e art if ic ia l t odo cri ado e c o nt ro la d o p e la e sp ec ie hwnan a, ta lv ez a ultima

g ra nd e p ri sa o e a o mesmo tempo a ult ima front ei ra sej a afi na l a cultura. E assim

que eu t endo a ent ender a importanc ia que vern assumindo os est udos cul tu ra is por

toda parte. Se na o conseguirmos entender os l imites postos por nossa cultura, nao

teremos como aIterar os principios OU avaliar criticamente 0 curso e intensidade

a ss~dos por e ss e s ur to te cnol6 gic o, e st an do obr ig ados a s er t ra gado s por e le a teas ultimas consequencias, como as mariposas 5 . \ 1 0 tragadas pela at~ lrresistivel

ci a I ~: Uma vez ma is , a cho que 0 papel e a fun.;oo do historiador nesse sent ido sao

cruciais, Par i sso cre io que 0 conhecimento h is t6 ri co nunca foi tao relevante comoagora.

As palavra s e oshomens : o rat or ta , c ron ica e novel a na

Sao Paulo de 32

Elias Thome Saliba.

As pa Jav r a s v i vem da mo rt e d o s

homens , eles unem- se a t ra ve s delas;

cada frase que formo, seu sen ti do me

escapa, ele me e roubado.Aspalavras trarsportam para mim os

projetos dooutro e , para a out ro ,

meus pr6prios projetos.

(Jean-Paul Sartre, Critique de la

Raison Dialectique, I,Paris,

GalJimard, 1960, p. 180)

Nossa primeira o b se rv a ca o C mu i to t ri v ia l: na o temos ncnhuma narrativa glo-

balizante sobre os eventos reunidos sob 0 titulo monumental de Revolucdo de 1932.

Mais do que qualquer outro evento do passado brasilei ro, 0 episodic de 32 acumulou

urna massa documenta l enorme e u r n f o rm i d av e l a cu r nu l o verbal. Minha primeira

impressao e, portanto, pela existeocia de urna enonne desproporcso entre os registros e

os acontecimentos; parece que temos urna infinidade de tcstcmunhos para poucas a¢es.

Est e desequi li br io parece-nos, a pri nc ip io , u rn s in toma espur io de como 1932

- para ni lo fa lar de outros eventos da h i s tona b r a si l ei r a - t r aduz i u- s e numa ex per i enc i a

imprevista e iredita para o s p r6pr io s a ge rs es n ele e nvol vid os . 0 g ra u e 0 alcance

desta imprevisibil idade pode ser observado nas imagens, registros e depoimentos,

constantementc fugidios, movedicos, pontuais e reversivos.

Quando Mario de Andrade decide pela suaatuacao no departamento de Cuilura

da P re fe it ur a d e S lI oP au lo . em ]936, ju st if ic a, em car ta a Mur ilo Miranda , com

• Depar tame nto de H is t6 ri a, USP .

102

Prof . Hutana. S40P",, /D. (10). till. 1993

Pro) . Histana: SiloP(1IJ. /o. ( /01. dez. 1993 103

 

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uma f ra se cur tis sim a: " Ia a gir Me embcb ed ar d e a co es . .1 Era uma das f onna s

possiveis para a intel igentsia brasi leira agir n aq u el e m emen to : "domcsticada, mas

fazendo piruetas" num mero cul tural e x tr emamcn t e r a rc f ei t o" . Mas parece que todos

o s p er so nagcns d e 32. d os ma is o bs cu ro s aos ma is a cl amado s. q uenam " se embe-

b ed ar d e a co es " Por i S50, a s \ 'CZCSos reg is tros parecern se rcncgar em fun\30 das

acoes rap idas , os d iscursos se desconcer ta rn face a wna rea li dade cambi an te : dai

talvez 0 porque de urnvocabulario rebuscado, que. diante da eficacia imponderavcl

da acao, abriga inumcros deslizamentos de sentidos, sobreposicocs. fusees, que nunea

se excluern.

A propria palavra magic a da epoca, Revolucao; espcc ie de chavc dos enigmas

i nenarravei s, t ransfonna-se . por momentos. em tal isma de ent rada no universo da

Iinguagem viva. Apenas por mementos, porquc depoi s vol ta a hab it ar 0 annazem

das c aduc id ad es ou, a dquir e u rn e sta tu to s er nc lh an te a o que Ba rth es d is se ra d a

tautologia: uma afasia salutar, uma representacso indignada dos direitos do real con-t ra a Iinguagem

3A carencia acidentaJ da Iinguagem idcntificava-sc magicamente

com uma resistencia natural do objeto.

Por t udo i sso, t al vez e que Pedro Nava c cr ta I eit a, p er gunt ou : " Pa ra quem

e sc re ve mcm6 ri as . o nd e a caba a le rn br an ca c ond e cornc ca a f ic r,: ao ?" E c le na o

h~sitou na rcsposta: "Minha opcao c s er np rc p cla s cgunda ( a f ic ca o) porqu e s6 h a

d~gn~dadena recriacao ,,4. A memo ri a d e 1932 abr ig a uma con fu sao d e voz es , lII11a

dl~<;aofragmenlada, um confl ito sut il pela apropriacao de simbolos e palavras, cuja

s ai da pod e s er a recriacao ou, pelo mcnos, uma t en ta ti va de reconstrur;ao critica.

Minhas reflexoes vol tam-se com algurna insistencia para rcssaltar 0 clima de

cxpe.ctall.va de ade si io total , urn ambicntc psicologico e social de certezas

maruquelstas c tert . dit, a rac enSUeode 1932.Nessa guerra que so admit ia doi s l ados . acre I 0

que todas as forcas I" 1 d 0• . y po rucas em confron to no epi sodi c de 1932passaram pc 0 uraprendizado daquilo q ham . " ,,5. iodas

ue urn a utor c ou de "a linguagem dos cerrutenos .as forcas liti

po Illeas em confronto aprendcriam, urnas rna is rap idamcntc do que as

I. Carta de 11111/36 In' And ad M" . N vaF . '. r e, ano de. Carras a Murilo Miranda /934-1945. Rio de Janeiro. 0ronleml, 1981, p.39. .

A expressoo entre aspas Ii d . " A d - Ican ~ 7 R' e u m a rtrgo de Carlos l.a.cerda,"A [nteligencia ame<lrada . I n: ea em '. , 10 agosto de 1941, pp.21-22.

1 Bar thes. Roland Muoio . 172' 'gas, t rad. R ita Buongennino e Ped ro d e S ou za . S 30 Pa ul o, D lFEL. 1 97 2, p . .

4 Nava, Pedro. 8alao Callvo m ". ., emona s. vot .z . R io de J a ne ir o. J os e O lymp io , 1973. p .288

, A expressao e de Ser 10 II .'. .. . rh SPF .. . g. uarqut deHo la nda ema r tl g( l d e 1926 . e nu tu la do " Pe rspe ct iv as I n, l :I a oranclSl;O deAssi« org R d c-

" ' . .r uuze s e S erg io B uarq ue de Hol and a: Rio. Rocco. 1989. p.66.

outras , a operar com a reversi bi li dade const an te das pal avras, imagens , rne ta foras e

simbolos.

Nos l inut es desse art igo e apenas a t it ul o de cxernplo, vamos exarn inar breve-

mente t res rcg is tros nos quais foi passi ve! cap tar, em graus d iversos de e laboracao

ideologica, aquele clima psicol6gico e social de certezas rnaniqueistas: a oratoria de

Ibrah im Nobre . a croni ca de Mario de Andrade e a novel a de Antonio de Alcan tara

Machado.

Comecemos pelo discurso ma i s r e b ar b a ti v e . a conhecida ora cao Minha Terra,

pobre terra. de Ibrah im Nobre , 0 tribuna da Revolucdo, p ronunc ia da em 25 de

janeiro de 1932. Ela guarda, em primeiro lugar e, dentro dos seus Iimites pecul iares,

l im andamento muito comum a estrutura da oratoria. Possui urn introito purificador,

dcpois organiza-se em eseannento e t c rmi na num c lass ico exor tatc r io. que e. e scm-

pre foi , u rn apelo a a<;30.

No introito purificador, 0 terna principal e 0 passado reavivado, quase sernprepor imagens c ic lopi cas, p rimeiro a Cruz de Anchi et a depoi s, a epopeia dos bandei-

ran tes e . em seguida . a Academia de Direi to - imagcns t odas d ispost as em termos

de um e v i dc n t e l uga r -c omum: a metafora do fogo purificador:

QUI! ronda doeevocacoes vern do Passado! E desgarra, e lev ita, b randamente flutua,

I,6

chorando em cada pedra , emcada rua, 0 ume extinto!

o recitative tacite que vern na sequencia (e que evi tamos citar para nao cansar

o lei tor) parece i nd ic a r que 0 lema principal desta primeira parte e 0d!je redentora,

exposta com i rnagens do passado que se const it uem numa aut en ti ca i do la tr ia da

His tori a. A ido la tr ia da h is to ri a carac te ri za-se por uma empresa de e liminacao e

homogeneizacao do social: Ibrahim Nobre nao faz nenhuma mencao a historia mais

recen te de S a o Paulo , proxima ou passada, por exemplo a chusma de irnigrantes

que l iteralmente vern tumultuar a cena social paul ista durante a I' Republica. Alguns

idola silo simplesmente pincados do passado historico paulista e dispostos segundo

a ordem ret or ica da oracao.No segundo memento da oracao, 0 escarmenro, 0 lema parece-nos muito claro,

e 0 t ema recorrent e da invasdo de sao Paulo:

F i z er am d a n a c io n a li d ad e tun p r et e xt o e invadiram-te Fizeram da l ib e rd a de u rn r ot ul o e

h um i lh a ram- te , F i z er am de Itarare um a gazua e desfizeram-te. (...) E dizem-sc nossos

6 Util iza rnos 0texto da ora"ao de lbrahin Nobre transcr ito , In: Donato, Hernani - ARevoucdo de 1932

Sao Paulo. C irculo do Livro/ Abri l Cultural . I982. encar te espec ia l entre . .s p,. I04 e 105.

J 0 ) d e- / 9' i3Pm; . H i st on a. S il o P au lo , ( . _ .PrQ).Hutoria. Silo Paulo. /10),de: /W3 105

 

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Irmsosl Ramada damesma cepa! Projecao do mesmo plasma! Mentiral Milos fratricidas

s im t ( .. .) M ao s q ue r or np er am n um a i ns an ia t or pe , i nu ti l, t od a a t un ic a i nc on su ti l d osdestines naciouais."

Com tu do i sto , a g en te f ic a imagin ando quem e que ouv ia os d is cu rs os d e

Ibrah im Nobre . poi s f ica d if lc il imaginar a rcacao do audit or io aqucl a peroracao

rebuscada e dificil .

Foi Anton io de Alcantara Machado que , nunca cronica de 1926, diagnosticou

que 0 "Bras il e uma imensa t ri buna" enos fa lava dessa "pa ixao pclo gongonco,

e ss a m a ni a d o b o n it o e do v ib ra nte. () N ao faz m al. BasIC!que os pe rt odos rolem

c om s o no r id a de . Rolam? Acabou-se. E 0 qu e se q uc r" . E completava, com urua

i ronia que antccipava as previsiveis formulas e ornatos:

S em d u vi da , s ao o s t re ch os m ai s a gr es si vo s e i nt im id at or io s da or ar ; ao que .

n o e n ta n to , c o nf or m e s e a p rox ima d a p e ro r ac a o f inal , se acalma e se resolve na

r e af i rr nac a o da un i dade :

Des~a"a-se uma h6stia! Deus permanece WlO indivistvel em cada radiunica particula.

As s im , n i lo s e d e s f az a v i da , a o a b ra c o mo l ec u la r da t r an s to rmac a o. A t e rr a que fo ic a rne ,

rnantem em cada a to m o, e m c ad a g ra nu le , a u n id ad e e 6s m ic a.8

As escolas superiores incurnbcm-se do aperfeicoamento. Na faculdade de Direito de Sao

Paulo (que ja apontei como grande responsavel por todo esse descalabro) n30 ba dia em

que IlllO sc perpetram dais d iscursos pelo menos De alunos e len tes. 0 aluno comeca

iulalivelmente assun.

"\ nimia genti leza de meus colcgas dcve a subida honra que me atemoriza deerguer a

voz neste memento intcrprctando 0 s eu nr u nanime d cs ta moc id ad e que vos c erca ,euunente Mestre, cque e scm duvida aespcTaJH,:a viva da Patria excelsa, 0 alicerce eInque

o patati-patata ", 0 lente responde assirn "Ajuvcntude sempre gcucrosa desta velha casa

de tilo g\oriosas tradicoes, onde Alvares I ll: Azevedo tangeu a sua l ira peregrina c Rui

Barbosa ensaiou as seus primeiros voos de grgante da palavra . Esta lange de ser, eu .111

disse uma vez, esta lonae deser a cri sa lida inconsciente do inseto dourado do porvi r c

tarari..arara ."9

Ec~oso o o er v ar q u e 0 tema da U n id a de , p e ca chave p ar a r ej ei ta r a p ec ha

de s e par a tl s rno e n tr e os Pau li s ta s , e quase sempre v eic ula do c om u ma das imagens

mais uti lizadas na 0....1·· d 32' . " . da" ratona e . a unagem da trincbeira, (Lembre-se, e c lare,

O~ao ante a Ultima t riocheira" de Guilherme de Almeida). Herdada da primeira

guerra ~undial e, de c er ta f orm a, im p os ta p or e la , a im ag er n da trincheira esteves empre l i ga da s " . . .

. as VICIsSitudes partlculares de urn certo tipo de combate , como l inha

de obstaculo, de resistencia, de demarcacgo,

A insistencia e . x.; da .a repetlr;av imagern da trincheira fortcmente ligada ao tema

da unidadc a d .. ., q uin a, p or certo , urn Vies pa r ti c u la r na que le c l ima de avant-guerre

e m S ao Paulo' tratav d . . .'. a-se e exorcizar o s f atores de rompimento oude divergencla,

de 3SSegu ra r a 't" e t a s. VI ona forcas centrifugas, prevenindo as ameacas de r up tu ra e

de d lSCOr d ia No fund ' ... " 0, 0 espinto de avant-guerre, que "L eon Daudet definiu comoaquela epoca de espe da " .

. . ra guerra cornbinava-se , parece, com aquela seqUlOsaansiedade paulis ta ern esc . - .

avar r ai ze s n o passado multo remoto com aque la autentlcarede~obena .. '

. nabvlsta de Sao Paulo. 0 t ra ce monumental de c a da p e dr a forjada pelaIr3(h~<lo poderis s bsu .

.' u tuir, vtcariamente , a unidade s im b ol iz ad a p eI a trincheira.F ln aIm er ue e Ind . ., he ' ' vo t 0 Ii oracao de I br ah im N ob re t em os 0 exortatono, quee c 10 de pon t d '" I os e exclamac; :aoe se d efin e n a verdade nao por a qu ilo qu e ele.10 a . m a s pelo ' . " .and p ro pr io a to d e J a ta r, ele s u bs ti tu i a p e rs u as a o p e la s u ge st ao , sacrifi-

c 0 todos os encad ' . ..... . : 1int'dad e amen tos l ogl c os pelas repeticoes verbais, pela sononl,kNe ee~1 e da declamac;ao.

E clc conclui a croni ca , est igmati zando impiedoso , as doi s grandes mit os as-

sociados Ii epope ia d e 32: a Imp rens a. q ue c le c hama de a q ua r ta t m po t en ci a e a

o p in i ao p u b li ca p a ul is ta que, segundo e lc e ra praticamente recrutada no interior da

Faculdade de Diret to. "Arcadas resistcntes. Puxa!" - dcsabafava 0 escritor,

Diante desta retorica vazia e irnpossivel nao pensar no quanto era forte 0 tom

l it u rg ic o , o ra to ri o, p r os e li ti st a. N o u tr os t er m o s, p a re ci a q u e 0 discur so, mesmo 0 qu e

na o se destinava a a~iio e sua c i rc un s ta nc ia . s e e x e rc i ta va na a u to n eg a ca o , r en u n-

c iando a s i mesmo em funcao dos corni ci os , das marchas , dos pro test os col ct ivos ,

enfim urn discurso que se formava , cada vez mai s. como parte de um a Ofiio. Nesse

sent ido, 1932 foi a epoca da a r ; a o e n il o da paJavra .o que tambem pode ser visual izado, com os devidos rnatizcs, ern ui:s cronicas

d e Mar io d e And rade . n o Diorio Nac i ona l . "Alma Pauli st a" de 3l/l132, "Ri tmo de

Marel la" de 28/2 /32 e "H eroi s d e u rn di a" d e 29/5 /3 2.

. .Alma Paulista" retorna, na prosa amena e quase coloquial da cronica, 0 tema

da invasao de Sil o Paulo :

7 Idem. ibid. . loc. ci t .

II. Idem. ibid.•Inc.cit.

9 . Mac ha do . Anton io deA l ca nt ar a - Prosa Preporatoriu If, ('ovaqlllnhn e Saxofone. OlJr;r;. ""II. RIO de

Janeiro. CivilizlIflio Bn. .i1eiraJll"L. I9RJ. r 163

l O t SPro). Hwma, SJoPDMo. (101. Ik; . 1993 10-

Pro). Histona; SiJoP...,ID.(101.del. 1993

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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De p r ime i ro f o i ~ e s pl e nd o r. E n q ua n to o s h e ro i s da r e vo l u ~a o o c upa v am mi l it a nn e n te 0

nosso E s t a d o (COIS8 que s6 a go ra a g e n t e p e rc e be bern a od io s i da d e f r at e rn a l) . O s p a u li s ta s

cantavam, de b ra ce s a be rt os , p ro d ig al iz an d o g lo ri fi c~ (l es s ub li m es a os h er oi s darevolUl(Ao. . . .) Em comoen . . .. . .oo lpados pauli .. r--Y ,o s cu s p a ul is ta s, h erd ei ro s de tradi~ e riqueza

m~mpa ra ve l n o pais, e ra m e nt re gu es a o p ri m ei ro c iv il is ta i m pr ov is ad o q u e v ir ge m d e

quaisquer n o c ; : 3 e s civis, se dizia sa lvador da nossa t ambem in compa ni v el e i vi l iz ~ oo. 1 0

E x ce to p o r a lg um as 8 tile d .asso de U za s 0 c roni s ta , t emos ai a m e sm a t em an ca da in-

v Sio Pau lo de i dentifi.....,....1!oos ele • adv ,. .Man d ' .......,... m entes ennctos q ue n a c ro nic a d e

Ma s ~e A n d r a d e se resolve pelo emprego de urn oximoro: odiosidade fraternale r a n cce ss a ri o apelar para 0 oxi bastav .

Belmonte da ~ mom, a contemplar um a charge de

guerra contr mesmab,"I"""h, n a. q u al wn bandeirante i nf or ma , c om b on or ni a, q ue a

a 0 em oa a contmua ...

Mas, ao co n t ra no da o~ de Ibrahi Nrevolve pelo triunfal' " . m obre, n a qual 0 tema da i nv a sa o s e

na c r oni e a de Mario ~mo a r ti f ic i al da u ru d ad ~ , v e ic u la d a p e la i m ag cm da trincbeira,

e am ar g do . Andrade , 0 tema da mv a sa o a s sum e a t o na li da d e a n gu s ti ad aa r es se nt im en to 0 que M tal d '

15,d e fo rma sutil '. vez e mats d ra ma uc o n a c ro ru ca de Mario, a n e~ o da u ru da de e m parte licitadade "de<n<lt . , exp ICI no qu e 0 autor chamava

" J " "' n amen to ma l uco do pa i "com que conclw ' •. s e, a te mesmo, na forma suficientemente clara

a croruca:

Tenham .•.pactet1Cm os patriotigeros patnci da ". " .

do incend' CIOS nossa patrial Nos temos que cujdarprimeiroto com que nos e nvilecem E .

dio -,, - sabem u a I . nquanto 1850 e n tr e d e z irnazens da patria q u e n o s, . .au OS q a ve rdade ' . . ~""b

18 Ionge, I o n ' ira. A pAtriaesta feito urna nuvem vaga mdiscernivel,gmqua . A m e a l r a d o r a . Muito &marga . II "

Ma s e "R '• em itmo de Marcha" "H ' . .cadas re!U¥rti e erois d e u rn d ia" d uas cro nicas p ub li-

"Y"" vamente em fevereiro . d 'comkios e as l l lani£ e m aio e 1932, n as q uais M ario d escre ve o s

siedade pela eficaciae:~s de r n a, q u e fica t aI v ez m a is e xp ll ci ta e st a s of re ga a n-a . r i l o q u e r ec u sa a p a la v ra :

Mas entrando na rua D ' .ireita, 0 espet8culo tr

I 'O deroso, num v oluntari. era o u o. Tudo le o r g an i z av a e un i fi c av a n u rn

se d ir igia pro Comic . ~~~ n ~o d e m a re ha d e f o rm id Av el canter. Toda a g e n te da ruat o e .. au se V Ia urna _'-

d e o m b- os e o s n..,,~ba eara " '-',0 que s e v ia e ra a quele ruminante ondular, z-> >VS lebatendo pia

p l i l oque. p l i Ioque-p l i loque . 12 oque-pllJque no r e ve s time nt o c a n> da rna pl4oque-

10 "AmI. • P.uli!lt4", 31/01/32 In' .

S l o Q P a u l . . , . .• • _ ' . Tax; e C ,. 6n ic Q. J DQ0 UMI CidadellSecr CiCri . no, rtoNocionat, org. por Tell! P . Ancon. Lopez-

I I, Idem ibid. . CUTecnologia, 1976, pp.49 1-493.. ,p .493.

1 2. " Ri tm o d e March.", 28/02/32 In' Idem 'b'", . ' ... ,1 I.... p.~04.

Toda a c ir cu n st an c ia d o comicio, 0 imprevisto da marcha , ° arrastar-se da

multidao,o imponderavel do coletivo resolve-sc nao pc l a pa l av r a ambivalente, suges-

tiva e amena da croruca, cheia de significados, mas pela mera justaposicao de

onomatopeias. Na csfcra da acao, parece que 0 q ue n ec es si ta va s er d it o n ao e ra

imprescindivel a Q / yo o, dai a mera justaposicao de ritmo e som. Regressividade a

origem mesma d a l i ngu agem?

D i fi ci l r es p on d er , M a s a r ec u sa da pa l av r a c omoina va -s e , na c r 6n i ca de Mar io,

c om u r na e st m nh a e sp e ci e de recusa do i n di vi d uo , c omo o c or re n a d e sc ri ca o q u e v e rn

a s e gu i r; da s p e ss o as - c o i la d as ! - q u e o u sa v am caminhar em s e n ti do contnirio a marcba:

O s p o uc o s h ome n s q u e v in h am e m s en ti do c o nt ra ri o e st av am m i se ra v ei s, c o m v er go n ha

d e s i mesmos, quem sabe? Um a doencaem casa, algumnegocio imprescindivel. Mas

v in h am m i se rr im o s, b a ix a nd o o s o lh o s pro c h a o, n uma s em ic ons c ie n ci a de e r ro , n um

individualismo bebado, sern nexo, dum ridicule infinite, miseniveis, miseraveis, nem

s a b en d o a n d ar . T i n ham a r d e d a n ca r in c s, e r a h o r r fv e l. E t i nh am de s e e s gu e ir a r, p o rq u e o s

omb ro s , p l 80q u e, Dio d a v am p e s sa g em , q u a dr a do s , d e ci s so , i n ab a la v ei s , f e rr e os , sent

de l ic adeza , p laoque' I 3

"E ; i mpossl vel f a/ or a homens que dancam" - esc reveu em 1907, Silvio

R om er o, e sta e sp ec ie d e ( n ao r e co n h ec i do ) avo intelectual de Mar io de Andrade .

Ma s isto rna v ir ia , n a v er da de , d o nosso avO lusitano?

A ss im , t od a a m o bi li za r; 1' io o u , s ob um aspecto mais amplo, toda a a~o se

resolvia ou no individualismo bebado ou nos plaoques-pljoques, na "indesti~ilo

in telectu al d o ritm o e d o s om " - o u n a propr i a multidilo, n aq u el a p ro j~ o o d e a sp i-

~oes tacitas, i ndef in ivei s, sem medul a e sem projeto. Mas 0 ju iz o d e M ario d e

Andrade sobre a r n ul ti da o e ra u rn p o uc o d if er en t e:

Todas as r n u lt i do e s , - e s cr e ve Mar io de An dr ad e n a c r e ni ca f m al - sa o da me sma f on na

h e r6 i ca s e c o va r de s , c i vi l iz a d as e s e lv a g en s ; tirar a p si co lo gi a d um p ov o p el o q ue e ss e

p ov o m an if es ta q ua nd o e m E ST A OO D E M UL TI DA O , e c ai r e m v er da de s h um an as euniversais.l"

13. Idem, Ibid., p , 503. Anar ra tive dos comtc ies em. .. i fe s~lIes de24102e de23103 de 1932 podc le~cotejada

com ou1ra, como par exemplo • dePaulo Nogueira F ilho, Ideal1 eLutas de 14m 8urguir Progressista,

A Guerra Civica. vol 2: A 1l1Sllrrei¢Q Civd, Rio de JaneUu. J oK OIymp io . 1966, pp. I93- I98. ~

melhores sintaes histitricas sio lIS de Holien 8czma G., 0 jogo do poder.a "eVQlu~60aulssta de 32,

Silo Paulo, Edit- Modema, 191111Capehmo, M.Helena, 0 mOVimell lO de 32: a causa pau/lSla. Silo

Paulo. Brasiliense, 1981.

14. "Herois deurn dia" , 29/05/32, In: Idem. ibid., p,S3S.

108

P ro f Hmo., a, S60 pfJMo, (/0). Mt. 1993

109

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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Cunoso e que a cronica ( . ulurn e ncadeam ent partie armente as de Mario de Andrade) possuem

o qu e se da m en os p or n e ]6' doDai taJvez as . xos gicos que por nexos imaginativos.

, nnagens a l tamente suge ti 'der a su a p en a esco nd n d ,S v as p or t ra s e t a s quais 0 e s cr i to r t e nt a e s con -

, e 0 t am b em s ua puJ .sob forma d e h um il d ad e d " co m siva a t r a . - ; o o , (confes.sada a po s t e ri o r i

a a t; M, o s s en ti do s d as paJa e si lu did a) p ela a ti vi da de e p el a a ~o inebriante. Passada

s em p re v em d en ai v ra s p re sc re ve m . A consciencia t i ng e -s e de tn igi caporquediana. epo t s , po s t - fa c t um ou, "depois do gato m orto " - na trad~l Io macha-

C a b e l emb r ar aindao p e ri od o da f: " q u e, e n tr e 17 d e julho e 25 d e s et em b ro d e 1 93 2, d u ra nt e

(l4;C propnament '1'b lic~ ilo das c r6ni " e rm rtar d e 1 93 2, Mario d e A nd ra de s us pe rd e a pu-

cas, blD Jtando-se apenas' . .surg indo d as lu tas . . a r egis trar 0 m a te ri al p o pu la r q u e Val

Quanto ao ,n~ sene q.~ recebera 0 t it ul o d e F o l cl o re d a C o n sf if u i9 i io .

Brasil" (U2/31) p au s us m o n aU vl st a, v ej a- se a e xp re ss iv a c ri in ic a " s a o Paulo no

p el o a n gu l o do na qua l f i ca pa te n te 0 s i g ni f ic a do ba ir ri s ta das opc oe s poH ti c as , atee st ev e p ro xi mo s a rf me nt os d o P ar ti do O e m oc r. it ic o, do q ua l M ar io d e A nd ra de"C ' pe 0m en os p or alguns m A"'· .omun ismo" pub l' omentos. m ais notave l e a c roruca ,

, icada logo de . ddecretos q u e t an t o' pois os de c re t os do interventor Joclo Alberto -

perceber nesta cm .e s c :i ndal o c a usa r a~ nas f iI ei ra s d o P O e do PRP . E posslvelmea , pa r eos elemento d fe rs . .

quetes ou "bail Sere erencia direta, como os famosos ban-es encam ados" .

Andrade leonina •. ' prom ov ldo s pe la Legiao R evolucion aria, M ario de. a crom ca dizendo' "F ' . .

aqw... Depois de '. . leo If f iagmando urn comunismo implantadoC_ • s e re m q u ei m ad a s d~Vets brasileiros nd a e novo to das as c as as d e jo go d o b ich o, o sda ,rna vam mil .vam urn grande baile".I.5 contos de present c pros orl aos t urcos. Depot s

CUr iosa tnente tod .ar t i st ico, t ing ia.se d'e li"~ . dlSeurso, 000 apenas 0 p o li ti co m a s, ate 0 literario e 0

f LU rgJCO e ID J ' • ,.uso ortem ente instnllne ss io nan o - a p ro pria estetica prestava-se a urn

Mario de Andrade b ntaJ. L embr e- se q u e e d e 1 93 2, a c r6 nic a n a q ua l 0 me smo

tnelhor c on vi nh a ' ,~ r av a p os tu ra s do i nt el ec tu al , d en uo ci an do q u e a i ma ge m q ueMa . a IDtelectualidad b . . .

l lano, a do "Ito e r asileira era aquela extraida de Oleganomem tocand . '

Porque' 0 viola de papa pro a r. ,,16. . a atitude messiam ... .pnvllegio dos l e gi o~ . t_ , c a, q ue v ia e m c ad a homem u r n s o ld a do , na o eravolv 'do 1101.1108, do PD 0 do PR P

I S e m 1 93 2 O s u, m as de todos os interlocutores en-. que podi

n ov o s un o d e g . am falar e tam eem o s que n il o ~ ;" , . .. .falar Qualnpc espanhola . ~ .. .

1.5 'CQ . ' a s in d rom e da " fr en te unic a" a ta cava a to do s. 0. ml inJs mu" 301

But-ges v' 11130.In: Idem, ibid 2 .• av y P .. Te"el1t;~mo e R vd ' p, 83. Sobre ospart idosc aatu~ da Lcgilo Revolucionana,

16. " l nt el cc tl il li s. I" I d ' . e U+lloBr-Q6ileira.Sio Paulo. BllISiliense.1992.. em, Ibid., p.S]S.

vocabulario castrense, de caserna. de guerra mesruo, invade ate mesmo as falas mais

rcconditas dos civis: "Liga de Defesa, Legiao Rcvolucionaria, Exerci to Civil , Lema

cncarnado, PretoJianos, Janizaros, etc. . ." Parecia que a civil izacao paulista t inha

adent rado no sei o da c iv il izacao escot ei ra e homens e mulheres, sern cxcccao , an-

s iavam por rea li zar "boas acoes".

Tudo isso pareeia rei terar aqucle esvaziamento morti fero da palavra pela acao,

no fundo tambern uma linguagem compensatoria para dominar uma realidade pifia.

t ib ia . mesmo para ase l it es : a rmagern do General Klinger. chcgando do Mato Grosso,

com urn " imbati ve l exerc it o " , que n il ocbegava a 30 soldados 17

A sornbra des te aei r ramcnto de mil it anci as e des ta mobil izacao das cons-

ciencias, um tanto a margem destc aprisionamento da l inguagern pela mobil izacao

pcrmanente. nasceu Mana Maria. a Hovda i na cabada d e An ton io d e A lc an ta ra

Machado 18

A personagcm-t itulo era l ima "paul ista de 400 anos" que nao aceitava casar-secom um medico sergipano. Mana Mana t razia os traces esti lizados mas, predorni-

nan tes da ideia felta do pauIista ant igo: taciturna, sobria. energica, quase aspera e

" fa lava scm mostrar as den tes" . Para 0 lema qu e nos i nt eressa , t emos, l ogo de

inicio, l ima ant itese fundamental que pcrcorre toda a narrat iva. 0 Dr. Samuel Pinto,

o medico sergi pano , carac te ri za- se pel a fal a esparramada , marcada por t races de

uma subliteratura grandiloqiienlc. Enquanto Mana Maria e sobria, direta, quase muda,expnmmdo-se com pal avras medidas e duras .

A c ar ta , d e qua tr o pagi na s, q ue 0 medico sergipano dirige a Mana Mar ia e

urn diseurso cheio de rebarbas. Lcmbra, rnuito, mutatis mutandi s , a oracao do tribune

Ibrah im Nobre . A reacao de Mana Maria a leitura daquela arenga rebuscada e uniea:"Mana Maria l eu e pensou: coitado. Foi para 0 quarto, abriu a secretaria e guardou

a car ta ao l ado de out ros papei s. "

Olema da invasao de Sao Paulo reaparece naqui lo q u e s e p od er ia constituir

como 0 foco central da novela: a insubnussao ao recern-chegado, ao "vi torioso das

batalhas de 1932". Mas, t oda a prcocupacao com os advent ic ios. ass im como todas

as ati tudcs que beiram ao paulist ismo exacerbado, n ao t er n quaisquer vinculos com

oreal , nurn dims de profunda vacuidade social, noqual pesava como uma fataJidade.

o crepusculo do universo paterno.

J 7. Curiosamente. 0General Bertoldo Klinger foiurn dos mais aguerndos partidarios de urna simplificacao

ortografica da lingua portuguesa. Conta-se que, interpel ado pOI"urnjornalista sobre as raz3es que 0

l ev avam a e sc re ve r d e s co rdo c om 0 p ropr io s is tema que p re coni za va , K li nger n io vac il ou e .

apanhando 0papel mais proximo. escreveu: Porke Kero. 0 episodic, muito conhecido, foirecontado

por Frederico Branco. In: Postais Paulistas. SaoPaulo. Maltese. 1993.

18 "Mana Mar ia " I n: N O l > e J a . l Paultstanas. 7a.ed.. Rio deJaneiro. Jose Olympic. 1981, pp.107·162.

I/O

P r o f , H i6 l Orl a . S t J o P l l l ll c . ( l O ) .Mz. 199J

PYQ. H,.,ima, SJa Paula. (101. dez. 199J /II

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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T od a a novela parece revelar, por parte do narrador, uma de sp r eoc upa e ao com

a consciencia passada Restabelecer um a mem6ria de traces coloniais tambem pare-

cia um a empresa impossivel, Embora a novela aIcance tres geracoes, apenas os

protagonistas de duas delas silo focaIizados diretamente: Mana Maria e seu pai,

Joaquirn Pereira, amanuense do Service Sanitaria. A ge~ protagonizada pelo avo

de Mana Ma ri a , que assinala 0 inicio da decadencia da es t irpe pat r ia r ca l bandeirnnte,

s u r ge , i nd ir e tamen re , qua ndo 0 autor e vo ca o s eventos o c or ri do s n a j u ve ra u de deJ oa quim Pe r e ir a .

EC et iv am e nt e, s e a lg uma coisa govema a id en tid ad e d as p er so nagens d e

AlcAntara Machado, nlo eo p as sa do , 0 p as sa do a pa re ce n um b re ve e f ug id io relance,

n uma " fo lh a de papel ama re l ec i do e e nca r di do" qu e 0 a v o de Mana Mari a e n tr e gaao m ho Joaquim:

perfeito e a mesma do "presente historico narrative". Este ult imo tambem conhecido

como "presen te dramati co", j a que 0 narrador. ao adota-lo. visuaIiza os eventos do

passado, como s e o s t iv es se presentes e diante de si, ,21. 0 passado e assirn, literal-

mente , t ransmutado em prcscnt e v ivo, urn present c que c quase sempre dramatico,

como se estivessemos nurna representacao teatral.

Ass im , em Mana Maria, 0 lema da i nvasao dos advcnti ci os , i nt ernes ou ex-

t ernos, nao se resol ve pel o " lema da unidadc". Pel o contrar io , 0 que sobressai curn c1i rna de vacuidadc soc ia l, onde so 0 present e t ern forca , so a a r ; a o perdura c a

reconquista de um a identidade comprometida 56 pode nascer, portanto,desse desin-

vestimento da palavra. Talvez por i st o, Mana Maria, est a novel a i nconclusa do

o rgul ho e d a sol id ao , tr an sf or rn e to da a memo ri a e t odo 0 i mpul so dos homens e

das mulheres em direcso ao passado, num imperativo moral.

o poi s a iu s em f ec b ar a porta a chave; Jemquim p e rc o rr e u a f o lh a e n ca r di d a. N a p r ime i rap a gi n a, o t i tu l o do j or na l e 8d a ta : S i o Paulo, 20 de novembro de 1889.0 resto era meio

8~eg~r iCO: u rnamu lher c om b a rr e te f ri g io n a c e be e a s e gl I nl v a u r n r amo decafe com a ma-o

dir ei ta e Com a e sque rda levantava tun f a ch o q u e i lwni n av a t r es medalhOescom os retratos

do eel . Mur sa , P r ud e nt e d e Mo ra i s e Ra n ge l P e st a na . Em v o l ta : l e ee s d e it a do s , p o rn b o s

vOand~, r am al h et e s d e f lo re s c om ~ o s de fita, 0 ze-povinho de c ha pe u e rg ui do . ( )

( J oa q rnm) V i ro u a f o lh a , s e d emor ou nacontemp~io do c or on el M u rs a. E ra a qu el e. S im

s e nh o r. S impa t ic s o. N o d i a s e gu i nt e q u is d e vo l vc r p a ra 0 pai mas a p ai f al ou : _ G u a rd epa ra voce q u e e u t e nh o v a ri e s exemplsresl?

o que s e pode dizer no final desta profusso de narrativas segmentadas, pro-

duzidas nas fimbrias de 19321

Constituicso? Legalidade? Democracia? Scparatismo? Outubrismo? Indiferen-

tismo22? Nos acanhados I im it es desse art igo, poder ia rnos d izer que , menos do que

doutr ina e t al vez menos do que ideolog ia , 1932gerou e foi gerado por urna mis ti ca .

E a mis ti ca , l crnbra-nos urn autor , na o e uma narrativa de carater explicativo mas,

sobretudo, urna potencia mobilizadora23. A oratori a, a croni ca ou a f iccao, produ-

z idas , por ass irn d izer , ao "ca lor dos combat es", const it ui ram par te dcs te d iscurso

fluido, pontual, fragmentado e instavel da mistica de 1932. . ,

Conclui ndo. podemos dizer que foram raras as V07.eS dissonantes desse urus-

sono t ri unfa l e confi rmator io , j a que e le era par te de urn quadro mcntaJ mais ample

de decepcao corn a palavra, gestos e simbolos tradicionais.

Vamos surpreendcr uma dessas raras vozes d iscordan tes, no jovem Sergio

8uarque de Holanda que, seis anos antes, diagnosticava sombrio:

A p al av ra e sc ri ta ou falada so s e c on ci li a c ~m a dificuldade ve~lda, com a e n er g ia

satisfeita ea paz proclarnada depois da guerra. E ernvila que setentara atrair atempestsde,

21 . C f. M ac had o. L uis T oled o - Anl6mo deAlcdntara Machado. eo "!odermsmo. R io o e Janeiro, J05e

01 . 1970 88 0 lerna da mobilinrjo p en na ne ot e e anahsado sob 0 pnsma da urbarl1z~ioymplO. • p. . --. . dad It 1:"'__I· b to m ais a mplo noo desdobramentos da s ocie c e cu ura p au " ......nos anas

pau 151.8 e, so urn aspec • , I c- - P L d d IlUvinte. In: Sevccenko, Nicolau - Orfeu Extatico 170Metropo e.' .00 auo . JOCe a e e cu ra""J

frementes anos vtnte, Sio Paulo,Cia. das Letras, 1992

. . . . _" 1 933 BElMONTE (B en edi to B ast os B _n to) In:A ss,m2 2 . A e x pr e ss & <> mdiferenusmo fOi utiizada em ,por, ". ,"

fi / J P· tos d iver -l idos de uma confUJi1o dramatica. SIo Paulo, CIa. Edit. Na-Ol uea a to . a spec

cional.19~3

2, Girardet., Raoul. Mythes etMyln%gre.1 Poilllqu'?< Pam. Edit ions du Seuil, 1986

As imagens do passado constituem apenas restos simbolicos s cm n en hu m a

f o rc a no p r es e nt e . Elas nilo sao sequer t r az i das a t ra ves do fluxo da mem6ria e cons-Ctencia filiais mas Sll~ deli da

, . tA nea s pelo autor sempre dehors do s personagens, como

que vlsuahzando de fora os seus movirnemos psi co l6gi cos e ext er io res. Na cena da

mo.ne da !Me, r ev el a- ss COmc r ue z a e despido de quaisquer o rn am e rs os , 0 c ar ar ertacltumo de Mana Maria:

Elatinhacoragem e na o precisava de descanso.Elaera a forte,a dominadora, a incorrup-

tive], A.queresistiacontratudo,contra todos,contraela mesma. A servico de q u e ? De suamem6na , r nam i lj e . 2{ )

. , O s interpretes dos processos de compos~ de Am6nio de Alcantara MachadoJ a ob se rv ar ar n que a " ti idad ,. . .

a v e PSlqwca do estilo direto com 0 verba no pretento

19.1dem,pp.1I2_113

2 0 . I d em . p p .1 6 L

II~ Pro). Huuma: Silo P",,1o. (/O),.k:. /99J II)

Pro,: HiIIOnQ, SIIoPc./o, (10). de:. /993

 

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it~vocar 0 demonic OU realizar 0 mi s te r io d e nt r o do cotidiano, q u an d o nAo s e renunciou Ii

virtude ilusoria da linguagem dos cemiterios

E temunava, cOmpungido:

Diante dessa impossibilidade de opor uma resistencia mais eficaz aomiaerio quenossitia

por t odos os lades, d iante do absurdo dessa resistencia nio ha duas atitudes i g u a h n e n l e

leg it imas. Nada mais comedo, e verdade, que conduit pela vaidade de todos os nossos

g es to s e pel& inutilidade de qualquer a ti tu d e _ i d ei a q u e 0Un i ve r se n o s f o rn e ce a t r oc o de

um simples bocejo.'"

Historia em campo minado

(Subterraneos da violencia)

o j o ve m h i st o ri ad o r parecia c ap ta r, c om o h oj e, a c ri se de vacuidade de nos s as

p aJ av ra s. d e iJ l1 )O t en cia d e n os sa s ~ O es e do a Je a t6 ri o d o s n o ss o s destinos, face ad e sc o nc e rt aD e h i st 6r ia b ra s il ei ra .

Antonio TorresMontenegro+

Esquecimento como memoria

"0 cronista que nar ra os acontecimenlos. scm distinguir ent re o s grandcs e

pequenos, l eva em conta a verdade de qu e n ad a 00 que um il ia a con te ceu podc s er

considcrado pe r di do pa r a h i s to r ia " I Essa e urna das afirmacocs do filosofo alcmao

Walter Benjamim em suas tcscs accrca do conceito de historia. A preocupacao central

de Benjarnim e const ru ir a h isto ria numa otica que Illio privi lcgie ap, . .. .5 0 olhar

dos contumazes produtores da hist6ria Mas sua afirmacao aponta pard outros ter-

r it or io s A b re passagem p a ra s e r ec o nh c ce r c omo a f or ca do acoutccimcnto cstabelecc

marcas, que perduram e possi bi li tam l ei tu ras que t ranscendcm a t en ta ti va ou 0 es-

forco em esquece-las, apaga-las.

Nesse sentido, como nilo cstabelecer urn paralelo entre a historia e a psi-

canal ise. au rna is propr ia rnen te ent re Bcnjamim e Freud . quando est c u lt imo, em

u m a p as sa ge m d o a Mal-estar da Cultura afinna:

Habiendo superado 1aconcepcion erronea de quel olvido, tan cornente para nosotros,

signifies ladestrucion 0 aniquilacion del resto menemornco. nos inclinamos II1aconcep-

cion contraria deque en 13 vida psiquica nada de 10 una vez fonnado puede desaparecer

jamas; todo se conserva de alguna manera v puede volver a surgu en circunstancias

favorables, como por ejemplo, mediante una regresion de suficiente profundidade 2

• Prof es sor de Hi5loria cia Univenuiade Federalde Pernambuco Trahalho apresentado no IXCongresso

do Circulo Brasileiro de PSlcwhJC na Me.a Reclonda "V",len<;la" Cultura ,.

Benjarmm. Wa1tet.Ob,,,.1Esu"hldas. MoXrae Tecmca. Arre ePolitica SIo Paulo. Bruihe.ut. 1911~

2 Freud, Sigmund. E f A1a ie ., [u r en f a Cuuura Obra, ( 'ompl~I(" Tom«, III Madn. fAllnnal Hihhotcca

Nueva . Cua tU Edicion. 1981.P 3020

24. Hol.,da, SCrgio Buarquc de, loc.cit., p,66.

Pm) Hrslona. sa, P",,1a (/ OJ . dr.. 1<)93 115

1/4

 

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D es co br em -s e c am p os i de nt ic os q ue s e i nt er re la ci on am e m u rn a mp le xo i m-

pos si vel de de fmir f ron t ei ra s de fi n it i va s pe la p r op ri a f o rma de s c r do c id a da o e do "eu",

E na propria forca do p as sa do c om o a co nt ec im e nt o q ue s e p ro cu ra ra e st ab el e-

c er u rn p a lc o de d rs cu ss so r el at iv o a o t em a " Vi ol en ci a e C ul tu ra ", N o e nt an to , s er a

da p cr sp ec ti va d a r el a. ra o d o a co nt ec im c nt al h is t6 ri co e do imaginario comoc on str uc ar , . I' .

y PSICO o gi ca e m e nt al q ue s e c am in ha ni para a e la oo ra cs o d es te q ua dr o.

N e ss e s eo t id o , t oma re mo s c omo p a ram et ro i ni ci al wna r e fe renc ia emblemat ica ,

p cl o q ue e st a t er n d e r nu lt ip la s s ig ni fi ca t; :O e s: a i nv as ao e ur op ei a n os s ec ul os X V eXVI, n o s a ro s d a c o nq u is ta .

A e ~o lh a m o de ma ou pO s -mo d er na d e atribuir a invasso europeia 0 sentidode conqiusta retrata irito daqo espm to uele que chegava. Os o utro s p ov os , q ue aquie st av a rn , m c smo h o je quando se di hi . . ad

. recupera a imensao stonca de povos atac os,(os nauvos] continuam a s er narrad d . .

'. os e urna perspecuva d e c on qw st a e a ve nt ur aheroica dos mvasores E tho. .

. s e m em europeu que de f o rm a l en ta e q u as e i n co n sc ie ra es e de s ama r ra va dos ditame da I . C ..s greja atohca, construia p ara s i e para os seus a

oshornens u. de urn s emide us. A f ina I , a Terra nao era mais 0 centro do universe;~s m ens tmham a b e rt o a pos si b il i da de de r e inve n t. i -I o . Mas, na o q u al q ue r h om em .pcnas 0 europeu.

As r evolw;Oes no conbe . . , - .c imen to , smommo d e r ev o lu c oe s m e n ta is t I 3ZCm mUI -

las vezes ernbutido . d '. . s, proJetos e nova ordem politica, social economica, Em urn

~lo:l~~nto S lo cr 6n ic o e d ia cr on ic o, 0 u ni ve rs e d o conbecimento intcrage com 0

d~mtono das p r a ti c as s oc ia i s, f a zendo 0 campo de forcas institunxes o cu pa r o s m ai siversos lugares.

Aqui cheo"'''''m .Pnndo

' -0-" os e u r ope us, t e ndo de 51 a representacao q ue e st av am c um -uma nu ssao di '. .....

d e m O Osdadas rv ma e re.al. 0 rei e a religiao ainda c aminhavam f orma Jment e

e mb or a e st a trilha e st iv es se s eo do r ni na da n o proprio cotidiano.E m u rn e sf or co de' .

serU"'~'-;~ Imaglna~ao, e p os si ve l d ec if ra r m in im a me nt e a r ep re -"-,auqu e 0 europeu tinha da .-

redor De mb sua p r opna c ond i~ i lo humana e do mundo a o s eu. se an :a e m uma tra

do poder cat' ,- ou terra, tendo antecipadam ente deiUlido, com 0 a val

o ICO, a s p ar te s a s er e di i di da dasterms s a o ' . rn IVI I S. O S h om en s e a s mu lh e rc s, d o no sc on st i' tu ' l ~t el fa rn en te d es co nh ec id os e m s eu d ir ei to . E ss a r ep re se nt ac ao m e nt al

I T -s e- a e m u r n d o s pa , .rccem-in r amet r os de f imdor es da a~ao i nd iv id ua l e c ol et iv a d os

v a s or es . Es c r a v os de urn - .na nextenninar.lo d '. unagr 0 d e d om in a~ o e e xc lu sa o, o s e u ro pe us

as mars dlversas fonnas 0 . . .. rasg ue rms Con t ra S p ov os n au vo s. N o B ra si l, e nt re as mume

quartet d c l ss e s povos , va le 0 registro da guerra c on tr a o s Tapuyas n o U J ti m oo s ec u 0 XVI I R e su lt a t d .

p o r v a r ia s d ' da . n ee u ma d lsp uta co m as co lo no s, p ro lo ngo u-SCe ca s . D e s ta ca -s e tambe bo

o e rn p o r c n vo lv e r m i lh a re s de guem:iros de am S

o s l ad es , e sobreludo p c la r es is te n ci a d o s T a pu y as F i co u r eg is tr ad a p c la s a u to ri da d es

p or tu gu es as c om o " Gu er ra d os B ar ba ro s " . V al e a i nd a a ss in al ar IIIlI trecho d a c ar ta

de I~ de marco de 1688, n a q ua l Mathias da Cunha, Governador Ge ra l d o B ra si l.

ordena ao c ap it ao -m o r M an oe l d e Abreu Soares que:

Vossa Merce dirija a entrada e guerra que hade Iazer aos barbaros como entendcr que

possa sermais ofensiva degolando-os, e seguindo-os ate osextingurr, demaneira que fique

cxemplo deste castigo a todas asrnais nlllyOCS que confederadas com eles roo t er ni am , IS

annas deSuaMagestade que considero vitoriosas indoa cargo de V Mcree, c de todos os

SlICCSSOS que V Merce t iver me vadando W il la c om t oda a particularidade '

N o entanto a luta , ao nac 5C encerrar ra pi da mc ntc c om o im ag in av am o s

europcus, cvidcncia co mo o s nativos na o cedcram ao imaginario da ocupacao, da

conquista, da descoberta, mas antes resist iram ate a rnort e. Em diversos per iodos.

cstivcram em superioridade n a l u ta como documcnta um a outra c o rr es p on d en c ia d eMathi as da Cunha:

E supostos que para este genera deguerra , nem a infan taria paga nerna daordenanca se

achou nunca sercspaz: de que e bern sabido experiencia a guerra que nesta Capitania da

Bahia fizeram tambem osBarbaros queaoprimiarn: poispor rnaiores queforam 110decurso

de 40 anos,as esforcos de variastropas de infantaria, e ordenancas que pretenderam

opor-se a sua ferocidade, nunca se conseguiu efeito algum e : ;cmprc os moradores do

Rcconcavo padeceram s<' '1TI remedio, mais repetidos estragos em suas vidas, e fazendas

ate mandar este govemo viros paulistas."

E s s es doc umen t os oferecem urn re t ra to representative do s imaginaries que go-

v e rn a ram a s p ra ti ca s e u ro p ei as d o s i n va so re s d a s t er ra s, deste outro lado do mundo.

Sao imaginari es e pra ti cas que se perpe tuam e pro je ta rn-se na historia ao longo des

seculos.

A g ue rra d o P ara gu ai p od e s e c o ns tit uir e m u rn o ut ro r etr ato d a c ap ac id ad e

de violencia e d es tr ui ca o. U rn a g ue rr a de c on qu is ta , d e e xp an sa o, m as q ue s e r aa li m en t ad a n o i m ag in a ri o da t ro p a c omo defesa contra 0 inirnigo invasor.

Um a das u l tima s b a t al has da guerra do Paraguai, conhecida p or A co sta N u,

f ic ou r cg is tr ad a p el a r el ac so d es ig ua l e nt re o s l ad os e m c om b at e, v in te m il h om en s

b ra si le ir os c on tr a t re s m il e q ui nh en lo s s oJ da do s p ar ag ua io s d e n ov e e quinze anos

e q uin he nt os v ete ra no s. c orn an da do s p el o G en era l B ern ar din o C ab all ero . E ss a

3. P ires, Mar ia Ida lina da Cruz. Guerra dos Barbaros. Recife. Fundarpe, 1990. p. 62.

4_ Ibid. p. 66_

1/6Pro). Hufana, Sa, Pl2I<lo.(101.<hi '- IWJ IF

Pro/ . HislDna. S40 PI.do, (10), da 1993

 

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batalha, ocorrida em 16de agosto de 1869, marca 0 massacre as criancas paraguaias

De s cr e ve Ch i ave na to em Genocidio Americana " ap os to do u rn dia d e l ut a, o s para.

g u ai o s f or am dermtados. P ela ta rd e, q ua nd o a s macs v ie ra rn r ec o lh c r a s c ri an c as

feridas ou e n t er r ar os mor tos , 0 C onde D 'Eu m aodo u inceo diar a m acega • no

braseiro, viam-se cnaocas feridas COITCr ale cairem vit imas das chamas.,,5

Esses fragmemos da hist6ria do B r a si l c e rt amen t e n.io r e f1 e tcm a l go proprio

do c a ra t er b r a si J ei r o. Poe er - se - ra e nc ont r nr em outros povos idcnticos relatos histori-cos.

Toda essa pra ti ca de urna a troc idade scm l imit es t ern uma funcao pol it ic a e

militar, Demonstra publicamcnte a fo rca d o poder atraves de urn ritual eminenre-

mente armado. No caso cia Franca, a par ti ci pacao popul ar compoe a cena publi ca

que e nt ao s e c on st ro i gamntindo que a marca do cxemplo, da punicao fisica e do

controle do poder estabelecam padroes de comportamento no imaginario popular.

Em principio, descobre-se a violencia como algo intrinscco a c u tt u ra , s ob rc t udo

porque e la seproj et a nas pra ti cas e nos val ores que def inem cada epoca .

~esse sefIi do , Foucaul t. ao est udar os r it ua is de suplicio que caracterizam

de t enn i nada s p r .i t ic a s pe nai s , associa urn vasto conjunto de fat ores que fazem com

que em cenos p er io do s e 000 em out ros se desenvolvam det enninadas fonnas de

violencia. Em V/giare Punir, descreve de forma detalhada como a pratica do supJicio

~steve presente ate meados 00 secuio XVIII . na Franca, como intrinseco e neces sar i a

a acao penal . 0 corpo exposto publ icamente era 0 a lvo da repressao penal .6

o suplici~ p u bl ic o t er n u r n a f ~ 1 io " ju n di co p o li ti ca " E \UTI cerimonial para reconstituir

a soberania lesade por urn i ns ta nt e A execu~j[opublica por rspida e cotidiana que seja, se

~nSl..' fern toda a s e n e d o s g r a nd e s r i tu a ls do p od er e c l ip sa do e r e st au ra do S ua linaliJadc

c m en os ~ . e st a b el e ce r u r n e q u il i br i o q u e de fazcr func ionar , ate u rn e x tr e me , a disscmetriaentre 0 S Ud il oq ue o us ou . Iar J' - 7

vio a CI eo soberano todo-poderoso que faz valer sua Iorca

Guerra e Ins/into

N~ p r im c i ro d i a, e l e f o i I c v a d o Ii~a ondeencontrou wna c a ld e ir a d 'a g ua f e rv en te o n defOI enfisdo 0 br. . . .o. .

• -y com 0 qual d es fen ra 0 g o lp e . N o d is s eg ui nt e, 0 b r a ro fOI c o r ta d o , etendo caido a seus .... h - . ".a .,..S c u to u- os I Ad e e r ma d o c ad af al so s em pestanejar; no terce i ro , 101

t en a za d o, n a f r e nt e, n os m am il os e n a parte d ia n te ir a d o . .. .. .c o : n o q u ar to f oi iguahnenteatcnazado nos ) , . ., .~ . 1 1 . . . . . , , .m a rt ir iz a do ~ . .. .. .o s e p or tris e.nag ~ as ; e a ss im c on se cu tiv am en te , e ss e h o me m fOI

. pe 0 espe.yo de d e z oi t o d i as , [ No ultimo foiposto na roda eatedo.Ao fundeSCIS ho ras ainda pedi "~ .a ' .

to . 18 '"6-, que nlloUte deram], Finalmente .......l;~ ao maglstrndo queau nzasse liquidh-10 t"""'" . .

pe rd 8 po r es t rangu larn ento para q ue su a a lm a n il o d es es pe ra ss e e s eesse.

Einst ei n, em 1932, escreveu a Freud indagando se cst e concordar ia em t rocar

ideias sobre temas que 0afl igiam. Para surpresa de Freud, ap6s concordar, a questao

colocada n a n se referia a qualquer discussao sobre temas relat ivos as areas do co-

nhecimento a que cada urn se dedicava, mas a urn probl ema his to ri co . (Que podria

hacerse para evi ta r a l os hombres e l des ti no de la guerra?) Nas ref lexoes que de-

senvolve, Freud resgata a propria historia, oode a forca predominou ate 0momento

que o s h om e ns instituern 0 dire i to . N o entanto, a v is ii o d o direi to de Freud e a da

uruao de muitos capaz de veneer 0 rnais forte. "La violencia es vencida por la union;

c l p od cr io d e lo s un id os r ep re se nta a ho ra e l de rcc00, en oposi ci on a la fuerza del

i nd iv iduo ais lado , Vemos, pues, que e l derecho; no es s ino e l poder io de un a cornu-

nidad,,9 Essa corcepcso da origem do direi to, furdado primordialmente na forca,

na o resgata as questoes colocadas pelo acurnulo de riquezas entre alguns poucos

grupos e as formas que estes insti tuem para se relacionarem c govemarem os demais

segmeraos da sociedade. Mesmo na Europa Medieval que rcsgata 0 direito romano,

a i ns ti tuct onal izacao do dire it o se processa como necessi dade dos rei s de gover-

narcm.10

No entamo, h3 wn aspecto da argumentacao freudiana, que remete p ar a a s

ques toes da r e f1exAopsicanaHtica. Nesse sentido e aieda respondendo a perplexidade

de E in st e in , r e su l ta n t e do e n tu s ia smo d o s h om en s em face da possibilidade da guerra,

Freud passa a expor uma par te da t eor ia dos i ns ti nt os . Observa que todos os homens

e mulheres se caracterizariam pelos i ns ti nt os eroucos ( tendem a conservar e uni r)

e o s i ns tin to s d e agr es ss o ( te nd em a des tr ui r e a ma ta r) . A t eo ria d os in sti nto sscm duvida abre urn enonne campo para compreensao das pra ti cas soc ia is . No

enta nto , M a inda u rn a ob se rv ac ao de Fr eud no e stu do da relacao do instinto

G. N es se a spe ct o a d es cr i~: lo dos 5upl ic io s, de que foi alvo 0 assassino deUI l hcrme de Orang fl' .

e , r e etlf-se~la u rn q ua dr o d e e xt re m a c ru el da de .

5 . C hi avenat o j ul io G 'd• . .re noa I DAmeri ~a no Silo Paulo, Brasilien.e, 198~.p.I48.

6. FoucaUlt,Michel Vig) . Puni •. ar e umr. Petropolis , Vozes 1985 p 14

7 Ibid, p. 46. • •..

8. Ibid, p. ~O.

9 . F re ud , S igmund . E I por que de 1a gue rr a. In; Obras Completas. Torno I ll . CLXV. Madri , Editor ia l

Biblioteca Nueva, Cuarta Edicion, 1981, p, 3209.

10.Foucault. Michel. McrD isi~a doPoder. Riode Janeiro. Edi~OesGraal, p. 180.

118

Prof . Hi~nlJ, SIioPauio. (10). iUt . IV9J

p",,; Hi", )ri . . .SI IoP. . . /o, (10),d4 /99J 119

 

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e ro ti co e a gr es sa o, q uenhecimento: r es ga ta e m u lt im a i ns tanc ia a p r op ri a o n to l og ia do co-

Uno cualquiera de estes instintos . '.coniunta tag. es tan unprescuxhble como el otro, y de su accion

~ yan oruca surgen las m anif taci d I a . . .1 es tones e Vida. Ahora ben' p a re c e q u e c a s i

nunca puedeactuar aisladam Ie . . . .. . en u n r ns tr nt o p er te ne ci en te a u na de eSU lS e sp e ci e s p u es

Slempre aparece l ig ad o - como d . . 'originari del . ecunos nosotros [fusionado] - c om cierto componente

o o t ro , q u e modif ica su fi '. . ..ineludibl m y q u e e n c ie rt as circunstancias es eI requisito

e para que este fin pueda ser alcanzedo.!'

m e mo ri a d e que e ra m l iv re s, f or am I iv re s, d es tr ui r a m e mo ri a d a l in gu a, d a d an ca ,

d os t re je it os , d o corpo, e n fi m d a c u lt u ra , e ra 0c aminho pa r a e f et i v amcn t e se trans-

formar a l iberdade em escravidao. A violencia fisica era urn recurso e urn exernplo.

L uis d os S an to s V ilh cn a, p ro fe ss or re gie , d es crc ve u ma c en a d e r na e m S al -

v ad o r d o s ec ul o X Y Jl I, que ilustra cste quad ro . A f i nna 0 e n t ao p r o fe s s or :

A analise d e F re ud , a o r eproieta 0 conhe . sgatar a a l Y o o pennanente e necessaria dos contraries,

'J Clmento para I desimbolo do fo 0 es . urn p a no permanente construcao e mudarca . 0

dade e por e!e~~ ~leCldO p?r Heraclito) como representacso radical da reali-

excluderue sistemat~O c ;~~ento~ pO e d e p on ta cabec;a a logica dualism .ean a e a de H ' I' po Aris tote les . e s tabe lecer 0 paralelo entre a visao freudi-

e ra c I to , e resgatar· fucom a perspe ti hie' . parametros ndantes do conhec imento que rompem

c IV a rarqw ca e atomizadaE no plano d e urna tensa .

se constitui em 0 constante entre contrarios, ond e a ideia de combate

volvida se estrutuUrna

r ep r es e nt a~ a o r ef er en c ia l, q u e a visao hist6rica aqui desen-ra.

, A r ep re se nta~ de resist' . . .'asslm como ad" encia, de luta, de combate, permeia 0 f az e r his tonco,

o U lS tm to e . tihum ano . ro ICO e de agressao, projetam-se como instituintes do

hi t· .Nesse sentido, as formas d e d om in a r-a di . I' , ials o nco se caracterizam r ......, ISCIP inarizacao, controJe SOCI .e

no outro 0 poder de . P ? ~ e s fo ~ o p e nn a ne n te de retirar, enfraquecer, destruir

Uma < l a s reSlstencla, de luta, de combate. estrategias fundan d .e fazer com que e t e '. tes e a nula~o e con trole do outro, do corarario,

Pm . S assimila asswn . .PI1a h e g 8 I J a o . Nesse as '. a. r ep r od u z a a q ui lo mesmo que sena a sua

cesso de acuJtural"" pecto, a linguagem como instrumento fundamental do pro-p . . . l . . , _ TaO e por extensao de '.'Q l J\ ; 3Sque s e i n te n t am do ' CODSti tUl~aoe reproducao dos v al or es e

morte. m lllantes teria nesse t er ri t6 ri o m a is u r n pal co de vida e

A escravi,..l;rd ....0, que o c up o u 4 /5 da I..:~' ' .os Processos de do . '~ (o na d o Brasil, poder ia sec uma referellCla

flaSCeram ' nu~ e C ontrole 11e V IVeram ' o rnar e scravos homens e m ul he re s q uees tral' , p ane das duas vida .

e gt a d os s en ho re s e da ' I S c om o h vr es , s e c o ns tit ui e m u ma l ut a, u ma

II Op . s oc le da de p ar a p ro d uz ir e ss a m e ta m or fo se , A p ag ar a. . Cit. p. 3212.

Nao p ar ec e s er m u it o acertoem politica,0 tolerar que pelas mas e terreiros da cidade

facam multidoesde negros, de urn e o u tr o s ex o , o s s eu s b at uq u es b ar ba ro s a t oq u e de

muitos e horrorosos atabaques, dancando desones tamente cancocs gentil icas, falando

linguas diversas e isto com alaridos tAo horreados e dissonantes que causam mcdo e

estranheza ainda a o s r n a is a f ei t os , n a p on d e r ac a o d e c on s e qa e nc i as q u e dali p od em p r ovi r

[ . . . J . S el ia m u it o d e d es ej ar q u e e s t es s e p u s es s em n u rn e st ad o d e s u bo rd in a ca o t al q u e

julgassem quanto ao respeito, q u e q u al q u er brancoera seusenhor,e niioem altivez que

s e v e e m t od o s o s q u e s il o de p e ss o a s q u e f i q u cm porsuas q u a li d ad e s , emp rc go s e h a v er e s,

qu e n a o d u vi da m t ra ta r todos os maisbrancos com aquela displicencia e pouco apreco

com q u e ob s er v am s e rem t r at a do s p o r s e us s e nh o re s ; muito cur tas se r so as luzes de quem

nao conhece r a s uma irnportancia de wn t al r as g o d e p o li ti ca e m um a c id a de p o vo a da d e

escravos, ferozese liIobravos comoferas [...].12

Impedir 0 e nc on tr o, a f al a, a d an ca , a musica e e s ta b el ec e r e s tr at eg ia s d e b l o-

q u ei o a o r cs ga te de uma cul tu ra com out ras ma r ca s , ou t ro s sinais, que estabelecern

e f undam a propria resistencia a dominacao. ao controlc, ao n a o ser.

Batismos dafala

P e ns a r h i st o ri cam c nt e a r ea li d ad e b r as il ei ra , h o je , e r es g at ar s e ss e nt a p o r c e nt o

(60%) da populay i Io sem educacao escolar, sem comida, sem trabalho, scm dircito

a s a ud e , m o ra d ia , t ra n sp o rt e. E m f ac e d e ss e q u ad r o d e e x cl u sa o da propria condi~oo

humana d e v iv er , r es ga ta re m os a qu i urn do s aspectos que oos parece fundamental

para a construcao des caminhos d e r es is te n ci a e mud an c a.

Aprender a l in gu a, 0 c6digo linguistico, e a p ro p ri ar -s e d o s m e io s para i n s e ~ o o

n o u n iv er so s oc ia l, c ri ad o e r ec ri ad o d e f or ma p en na ne nt e a partir das p r 6 pr i as mi c ro

mud an c as c o ti d ia n as . N e ss e s e nt i d o , o b se rv a E d er S a de r:

Como insistem os lingOistas, a linguagernnil.o e urnmere instrumento que serve pam

c omuni c ar a l guma c o is a que j a e x is t is s e i n d ep e nd e n teme nt e d e la . A l i ngu agem [lIZ parte

das institui'tijesculturaiscom quenos encontramosaosennos socializados. E na verdade

a p ri m ei ra d e la s e q u e da 0mo ld e p r imo r di a l a t ra v es do q u al d ar em o s f or m a a q u a lq u er

12.Vilhena, Luis d05Santos. "Noticias 501eporolitmas ebtasilicas". Apud: Reis, Sucly Robles. Escravsddo

negra em Si lo Paulo . Rio de Janeiro. J Olympio, 1976

1]0

Prof.H noria. S60P""Io.(iOl. del, IWJ 1]1

 

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d e n o s s os impu ls o s . E l a e c on d i~ t an t o n o s en t id o de q u e n o s " c on d i ci o n a" , nos inscreve

num sistema j a d a d o, quanto no sentido de que cons t i tu i urnmao de alcancarmos outras

r e al id a de s , a i nd a n ao dadas.13

G ild a d en ot a to da m Il a c or np re en sa o d e q ue h a u ma o ut ra fala, u rn o ut ro j ei to

d e falar, d e scntar, d e sc co rn portar, d e s er, u ma o utra g cog rafia do co rp o, co m

outros desenhos, outra logica r es ta ga nd o o s s in ais d e urn outro saber e de outras

praticas. A consc ienc ia da exi st erci a desse o ut ro l ad o est abel cce t ambem, em

p ri nc ip io , u m a forma d e r cla ca o co m 0 outre m undo que a exclui onde a fala e,i nd ub it av el me nte . a p ort a d e e nt ra da o u n ao ... 16

U m o utro d cp oim en to q ue refo rca a gravid ad e d es se cenario esta n a fala d e

Tala, (A nt on ia V id al ) d o C an al da Ma ca xe ir a. A f in n a a e n tr ev is ta da :

P en s ar um a s oc ie da d e qu e rn o o fe re ce a o c on ju n to da p o pu l ac ao a s c o nd ic oe s

minimas de a ce ss o a o a pr eO O i za do d a l in gu a, e inviabilizar a c onst r uc a o do cidadao

n a m ed id a q ue e st e na o s e r ec on he ce c om o igual n o u ni ve rs e i ma gi na no de direitose d e v er e s.

Um a s o ci ed a de p ro d ut or a e r ep ro d ut o ra de profundas d e si gu a Jd a de s e co n om i -

c a s e s oc ia i s, a o c e rc e a r 0d i re i to a aprender a I er , e sc re ve r, c o nh e ce r o u tr os u n iv er so s

cul turais ( a lem da c u1t u ra de massa, jorrada a cada miooto p el o s m e io s d e c omun i-

cacao) reafirma a e xc lu sa o e a d iscr iminacso. Reifica 0 apartheide socia1, a o n e ga r

o a ce ss o a o i ns tr um en to q ue p oc eo cia liz a a C O ns eI Va cO O o u a m ud an ca , q ue e 0

p r op r io a c e ss o a l in g ua gem e ~ ua n lo c o nj un t o de significacoes estabelecidas, ma s

q ue t am b em o fe re ce p os si bi li da de d e novos campos de signiflCalioo e a~o.14

A pa rt i r d e s se universo de a na li s e pode -s e estabelecer u rn c on tr ap on to c om a

re~lidade it me di da q u e s e c ol he m a lg u ns depoimcntos das carnadas populares. Maria

Gi l da , mo r ad o r a do bairro do R ec ife , e m e nt re vis ta p ara 0 p ro jc to M em 6r ia emMovimenni , observa:

Eu j a f ui b ur ra , e u j a f ui b u n - a que ninguem b o ta va n a da n a m i n h a c ab ec a, m a s a g o ra , rneu

f i lho , cont in~oo do tempo, e u a c h o b o ni to , e u a p r en d i a f al ar , a p r en d i m e e xp r es s er n o s

c an to , c o nv i ve n do C om p e s so as a ss im , s ab e como e ? . . A s p cs so as m ai s. .. Q u an do a s

pesso~. illconve r saOOo assim, quando cu YO U pagor a casa , q ue c u c he go a ss un , h i n o

esc~tono do Dou lo r Rome ro , t e rn a q u eI a s moc a , a q u eJ a s p e ss o a c on ve r sa n d o, ai e u f i co

asSlm prestando aten~ao aos modos, n e ? D e l as conversarem, 0jeito de Ja s conve r sa r em

po rquc . . a i e u b o to n a c e be ca 0jeito de s e s e nt a r, s a be ? DeLas s e s e n ta re m c t al , ai e u f i co

olhando. Elas sabcm se expressar muito bern, a i e u f ic o assim, ne? Olhando . Ai quandoeu chego no cant . . ..

o asslm, a t e u .. . e u l en ho q ue s er a ss im , e u tenho q u e f al ar d o j er to q u e

aqucJa pessoa l av a f al an do . T em g en ie j a v iu e u c on v er sa n do d is s e a s s im : 0 D o na MariaGilda a s en h or a s ab e ~ ._ .' _~ . .P

, " " .. . a """U lU ra sabe ler? Eu digo: 010 sei nAo: p o r q ue a l I C IU J o r 8 " .. .e xp re s s ame l h o r d oq u e a l guma s p e s so a s q u e s a b em Ier: n40 eu nio sci a j un t ar u r n a l e t ra ,e u n ao s e i . .. 15 • ,

A g en te c om ec ou a s e r eu ni r h i n o s p e s da harreira d o B u ri ty , t od o d om in g o. Q u an d o a

gente via 0pessoal tava olhando muito pra gente, a gente semudava daquele pe de barreira

e ia pra outro .A gora , quando e u s a i a, A n t o ni o d i zi a a s s im ( m eu v e lh a n e ra ?) T o ta , m e d i z

uma coisa: pronde tu v a i? e u d i g o: m e u vei, y o u p r a rcuniao. Tota: Quem e que faz essa

reuniao? E um a d o ut or a c . .. u m a enfenneira ainda. T o ta , e ss e n eg o ci o p o de s er a lg um

comunista. Tu n ao t e m e t e nessas coisas, tu sabe que danado essas mulheres con versa,

uma mulher sab ida dessa? Eu digo: elas sao sabida, vao p as sando p ara mim e e u v ou

f i ca n d o s a bi d a tarnbem. P o rq u e q u an d o a g e n te i nv ad i u a q ui , v o ce n i lo q u e ri a v ir p ra q u i,

pagando mocambinho dos outros. Eu invadi, entrei porque a terra e de todo mundo: ell

entrei e Iiquei. Por seu go s to v o c e taria pagando. Com m e do de faJar com oshomens, E

e u q u er o aprender como c que s c fa la cum o shome. Ai e le : ma s fala, tu tern boca para

falar. Eu digo: eu tenho boca pra falar, ma s p r a d iz e r besteira, m as a qu il a q ue M d e d i ze r,

ell n ao t en h o a in d a esse s ab er , t e nh o q u e a p r en d er , A i e le : n o d ia q u e t u t iv er p re sa p o r ai,

eu 11110digo nada. Eu digo: e u m e solto, quando a policia chcgar, que e que ell vou dizer?

Que e l e p c r gunt a r 0que e q u e e u t 6 c o nv er sa n do . A h ! e u t 6 c o nv er sa nd o a ss u nt o d e d e n tr o

de casa: fame, criar me n i no , ma r id o parade, dU<''I1~a.. e 0 q ue e u vou dizer a p o li ci a e. 17ISSO.

13 Sader,Eder.Qu a nd o n o v Ih d .Id G ospersonagem entraram e", CMa erperienclaJ f ol a« e l ut as d os t ra ba a o rea irande SiJoPaulo, /970-1980. RMde J~ci rn , p az c Ter ra , 1988' . p . 57 .

14.Ibid. p. 58.

15.Montenegro, Antonio TOITeI 1Contexto, 1992. p.37. Historia Oral II memOria: a CIIlhIra popular revuitada. S io P au 0,

E ss e d ial og o d ra ma ti co co m 0 m ari do q ue T ot a resgata d u ra n te s u a e n tr ev is ta ,

p ara a F ed era ca o d os M or ad ore s d e C as a A ma rel a, nao e apenas mais um a v~z que

exprime a f u n dame n ta l n e ce s si d a de de cducacao nesse Esta do e n es se P ai s. E t am-

bern a c on sc i en c ia da m ul he r q ue s e t ra ns mu da, e c on st ro i u '- i o ut ro d es en ho da

condicao feminina. A n ec cs si da de d o saber, d o f ala r, d e q uem a n gu s ti ad ame n te n a o

admire v iver e m orrer n o m esm o lu gar, co m 0 m es mo i ma gin ari o q ue a s oc ie da de

e m p ri nc ip io d cf in iu c om o p os si ve l e p en nit id o.

N essa p equ ena fo to grafia, q ue T ota e G ild a rev elam ., p od em os avaliar q ue a

o~ ao p olitica das elites d e m an terem a m aior p arcela da p op ul ac ao s cm e sc ol a, e

16.Ibid. p. 38.

17. [bid. p. 43.

I)] Proj. Histono; Si lo Paulo , ( I OJ . de:. 1993 113

P r o f. H i .r tO r l, . , S i lo P t J II l o. ( 1 0 ). 1hz . 11191

 

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a e st ra te gi a d e c al ar , d e s il en c ia r, d e e x cl ui r p a ra g o vc rn a r, r ep r od u zi nd o o s s ec u la rc sprivilegios.

ENTRE VISTA

M IC HE L LE P ER RO T

Hermetes Reis de Araujo»

Paris , 06 de marfO de 1992

Apresentaciio

No f inal do me s de marco d e 1992 chegou a s livrarias francesas 0 quinto

volume da His/aria das Mulheres (Ed . P ion) . 0 sex to e u lt imo volume da col ecao ,que apresen ta urn est udo sobre as i rnagens da mulher na h is t6 ri a, foi publi cado em

meado s d es te m esmo ano . Coo rd en ad a por Miche l1 e P er ro t e George s Duby, a

His/brio das Mulheres e urna obra monumental: ela engloba desde a Antiguidade

ate 0 seculo xx e envolve 0 trabalho de 70 historiadores de varies paises, Em abri l

do ano passado foi l ancado na Ing la te rra e nos Est ados Unidos 0 primeiro volume,

ja pu blic ado na Ita lia e na Espa nha (as traducoes alema , holande sa e grega

comec ararn a sair no final de 1992 e inicio de 1993). A publ icacao cia edicao

brasileira ainda m o tern data definida,

o d is c ur so s ab r e a diferenca ent re os sexos , quando enunciado a par ti r de urna

pe rs pe ct i va c r it i ca , sempre manteve - salvo r ar as e xc ec o es - 0 sexo mascul ine como

referente universal da DOl;ao de humanidade. Esta Historic das Mulheres toma como

objeto de estudo a relacao entre os sexos, 0 que the penn ite ir rnuito alem de

simplesmente retrancar a hist6ria de uma "ca tegori a dominada" . Dessa forma epossivel ver como a identidade ferninina rnuda at raves da hist6ria, na medida em

que se t ransfonnam as rel acoes ent re homens e rnu lheres . U ti Ji zando 0 "genero"

como conceito-chave, esta Historia das Mulheres procura conferir uma especifici -

dade propria a relatyao entre os sexos na hist6ria ocidental ; relaIJ30 esta que e tao

essencial para cornp re ende r a evo lu cao d es ta s s oc ie dade s quant a a s que s to es

e c on om ic a s, c u lt u ra is e p o li ti ca s .

Michelle Perrot e autora de inumeros trabalhos na a r e a da hist6ria social. Ela

e uma das mai s important es h is to ri adoras da Franca e re m publicados no Brasil ,

• Mestre em Hist6r ia (PUC-SP) edoutorando na Universidade dePar is VII .

124 Pro). msrOr itJ , SiIoP""Io. (JO). del. 1995 J2J

P r o f . H i s t o ri a ; sao P " " , J o . ( 1 0 ) .M r . H/ ,}3

 

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a l er n de vanos a r ti g os, 0 v o lu m e 4 da His/aria da Vida Privada < E d . C i a. d a s L e tr as )

e O s E x cl ul do s d a His/aria (Ed. p a z e T e rr a) . Nes ta ent r evis ta ela n o s f al a da Historia

das Mulheres e d o q u es ti o nam e nt o q u e e s se trabalho representa nas s oc ie da des de s tefim de s e cu lo e m i le n io ,

mc sma forma a maternidade, os filhos, a casa, os t r ab a l hos dornest icos? A partir

destas rcflexoes p c rc eb emos q u e nao, q ue a s relacoes e n tr e o s sexos mudam atraves

d o tem po . E entao foi p o ss iv el d iz er q u e a s m u lh er es t er n u m a h is to ri a. A p ar ti r d ai

c ol oc am o s u m a s eg un d a questao: pode-sc fazer e st a h i st 6r ia ? N o s e n t ao cornecamos

a procurar as fontes, a decodifica-las e a olhar as co is as d e o utra m an eira.

Comecamos a e se re ve r e concluimos qu e sim, q u e p o d er ia mo s fazer h is to ri a das

mulheres.

Em 1984 , alraves de varies t t db'll .e x a s e e a le s, a s en o ra q ue st to nu va a p o ss ib il id ad e

de se construir uma histori d. I'll U., . a as mu eres. ttoje, vemos aparecer este trabalho em

vartos volumes que troca hi t" .

• Y uma JS orta aas mulheres desde a Ant iguidade ale osdias atuais. 0 que se passou po t ht ,.

. ra que e s a tstoria tenh a se t ornado possivel?

M .P - S lm pl es ~n te n O s tr ab al ha mo s m uito , E r no s om en te depots d e 1984 m asa n t es , d e U T I S qum ze ano ' la '

, s para ca, a cumu ram -se trab alhos de todo g e ne ro t ra b al h osmonognU icos ou trabalhos sob b le ' . '

re p ro m as teo nco s. A o m es mo tem po a p esq uis a

:° 1 ~ re ta e a r e~ t eo ric a p ro gre dir am c on si de ra ve lm en te d ura nt e e ste s q ui nz eu lI mo s an os E as sim p ro gre .

. ,. " ssrvam em e, a q uestoo se r csoIveu por ela m csma porquen o f u nd o , ja e s t avamos f a zend hi ,.

ha . 0 storias das m u lh er es . N o c om e co na o sabialllosse V ia algum sen tido em fazer t hi ' .as f t Ma s es a stona, N ii o s ab ia m os s e i ri am o s e nc on tr ar

on es , na realid ade el fcO locass' • as oram sendo localizadas e isto poss ib ilitou queS na e mo s q u es tO e s , p o r qu e em h i st 6n a t u do d e pe n de das q u cs t oe s q u e s e c o lo c a,e 0 s e c o lo ca m q ue st oe s o o b i t de ' do

c ol oe ar a q .;r~ da hi ,. ~e 0 estu na o existe. Ora , n o f un d o , e ra p r ec is oues tao s tona das mulhe .

qu e po de , di res para q ue s c p udesse faze-la. E e u CfCIDn am es iz er 0 mesmo em rel:t· .

obiPtos Por I ' acao a m uitas outras co rsas, a muitos ou tros.J~ exemp 0 hole d i .

Frnnr b .'.J e m i a p ra hc am cn te na o e xis te h is t6 ri a, a o m en os n a- _ . . , . a s o re a s i da de s da vid .

qu i se n no s f az hi" I a , J u v en tu d e, v el hi ce . E 0 q ue s e p er ce be e q ue seJ; er e sta s tona ' d ill '1

de lh ice e t s era le i, p or qu e a s s oc ie da de s rn o fa Ja m e m t er rn osve cc e Juventude M as fi

entao que se a hi t' : da ' n o im , a ca ba -s e e nc on tra nd o a s fo nte s. E u p en so ,, s ona s rnulhere • "

q ue sta o. E a pan' d s tomou-se possivel e porque cclocou-se a, IT 0 momen to que a ." '~ 1 i . .

documenta is aft questao 01 c o lo c ad a , f o ram f ei ta s p e sq u 1sas, lI laram -se os co it

quando nos foi I " ncer o s, acum ulararn-se trabalhos e , dessa form a.I s o r c it a do fazer esta ' . , .

pudessem os faze-la . sm tese, haviam anahses sufic ientes para que

Podemos fa/or entiio de urn a .M.P _ Si H madureclmento da questno da hstoria das mulheres?

. uu ouve urn aprofu dah . i st 6 ri a da s mulhe re s t n m ento ~ re flexao, e a partir deste m em ento a

8 4, o u s ej a, e m 1 97 3 o ~u -s e p os sf ve I. E d iv ert id o o bs er va r q ue 1 1 a no s a nte s d e

° titulo "As m ulh e '~ s flz em os u rn cu rso em lu ss ie u co m a lg un s co leg as co I11r es t er n u m a hist6ria?" A .

pergun tavamos se as lhe . '. ssim , num prim eiro momen to n6s nosmu r es lI nham hi' . .

sempre OCOITeram da . u ma stona , S e r a qu e para e la s a s COISasm es rn a m an eu a? A tra ' das da

. yes soc iedades sem prc ocorreram

E os mater ia is para constru ir a h is /a ria das mutheres: ndo sao e les, na sua motor ia ,

oriundos dos instrumentos de conhecimento forjados pelo sexo masculine?

M .P . - V oc e t ern r az ao e m d iz er q ue a d if ic ul da de p ar a e sc re ve r a h is t6 ri a d as m u-

lheres c c v id e nt em e n te a q u cs ta o d a s f o n t es , o u COIllO s c d i z e m h i st o ri a, o s m a te ri ai s.

E i st o e v er da de ir o p ar a t od as a s e po ca s porque o s m a te ri al s d os q ua is s e d is po em

s ao , c om e fe it o, m at er ia is c sc rit os n a m ai or p ar te d os c as as p elo s h om en s. S cj a

h is to ria , h is to ria d a fi lo so fia , d is cu rs o m ed ic o o u a a rt c. au o s r om an ce s, p or

e xe m pl o. D u ra nt e t od o u rn g ra nd e p cr io d o f or am o s h o me ns q u e f i ze ra rn a l it er at ur a.

E 0m es mo s e da em r e la r ;a o a os doe umcn tos admimstrativos. Qua nd o u r n c om i s sa n o

d e p ol ic ia r el at a u m a m a ni fe st ac ao d e m u lh er cs e d iz q u e e la s v o ci fe ra rn , g ri ta m , 0

q ue I Sq ue e le v e? E le v e r ca lm c n tc mu lh e re s q u e g ri ta m 011 s ed q ue e le e preso ai de ia d e q u e a s m u lh cr es s em p rc g ri ta rn ? P o rt an to . e v er da de q u e 0 p ro bl em a d as

fontes e e ss cn ci al . m a s e le c d cs ig ua l d e a co rd o c om a s c po ca s, E xi st er n e po ca s

o n dc o s d o cu m cn to s e m an am s or ne nt e d os h o rn cn s. c om o a A n ti gn id ad e. E m r el ac ao

a antiguidadc g re c o- ro r na n a n o s t iv e mos um a e n on n c d i fi cu l da d e p a ra e n co n tr ar u r n

texto de r nu lh cr N o s a ca ba rn o s 0 p ri me iro v ol um e c om u m te xt o d e u m a m ar tir

c ri st a q u e c s cr ev e a s ua m a e: c ia s er a e m b re ve d ev o ra da p cl os l eo es e s e p re oe up a

com 0 s eu p eq ue no m e ni no . E st e f oi u rn d os r am s t ex to s q u e e nc on tr am o s. P o r o u tr o

l ad o , n a l da de M e di a, c xi st em m u it os t ex to s d e m u lh er es . 0 c ri st ia ni sm o , de um a

c er ta m a ne ir a, f av or iz o u a p al av ra das m u lh er es p ia s A s a ba de ss as q u e d ir ig ia m

c on v en to s, p o r e xe rn p lo , e sc rc ve ra m t ra ta do s e a lg um a s v ez es e la s f al ar am d as m u -

lh ere s. E q uan to m ais 0 t em p o p as sa , m a is a s m u lh er es sa o v i si v ei s n a h i st o ri a

o ci de nt al . C ad a v ez m ai s e ta s e sc re ve m, c ad a v ez m ai s e la s t om am a p aI av ra . Ap al av ra e a e sc nta , e vid en te me nte . A ss im a d ifi cu ld ad e s er np re e xis te , m as e la ed es ig ua l s eg un do a s e po ca s, E xi st em e po ca s o nd e h: i poucos 011 n en h um t ex to

emanando das mu l he re s . A i en t Ao e p re c is o t en t ar l er a h i st o ri a dasmu l be re s n a qu i lo

q u e d iz em o s h o me ns . N e st e c as o e s e mpr c r u n d i s c ur so a d e co d if ic a r. N a a n ti gu i da d e

g re ga e xi st em h is to ri ad ore s q ue fa la m d a v io le nc ia d as m ul he re s n a c id ad e. 0

p ro ble ma e nta o e s ab er s e s e t ra ta d e u rn m ed o q ue e le s tern o u s e i st o f az a lu sa o

126 Pro}. HUima. SifoP""ID. (IO),,uz. 1993 127

Proj . H is tona; S i lo Paulo; ( lO ), l k z. 1993

 

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a acontecimentos que ter iam se passado e que justi ficariam 0 medo de urna emer-

gencia das mulheres na esfera pUblica. Portanto, e sempre bastante dificil. E preciseler urn pouco pelo avesso. Por que se diz que os h om en s t er n medo das mulheres?

Talvez existam razoes objet ivas, de uma certa maneira. E preciso sempre fazer este

desvi o. Ha uma analogi a ent re fazer a h is t6 ri a das mu1her es e f az er a h is t6 ria d e

outras categorias d omi n ad a s q u e tamoem rn o tern acesso a p al av ra e a o e sc ri to , m as

que s e lema, mesmo assim, fazer sua historia: revol ta de escravos, greves de traba-

lhadores. revol tas de eamponeses atraves do tempo; durante 0 seculo XVI e XVII,

e tc . E m geraI estas categorias Mo fal am elas mesmas, mas fal a-se del as . E a traves

daquiJo que se diz delas pode-se tentar compreender aIgurna coisa. E t odo urn t ra -

balho de historiador, que e urn trabalho muito dificil .

com as mulheres isoladamente, 0 que nao tern sent ido. Um sexo so existe ern relacao

ao out re E uma evidcncia , mas t ra ta -se de urna des tas evi denc ias que e preci so

tornar operatoria. Mesmo sc descrevemos grupos de mulhercs isoladas, ° harem, 0

gineceu, 0 convento. is to nao te ri a v er da de ir am en te im po rta nc ia a MO ser que se

reflita sobre 0 l ugar des tcs grupos numa sociedade globa l. Consequenternen te , M

sempre est a i de ia da rel acao ent re os sexos . Por exernplo, 0 que e u rn convento d e

mulheres? Par que cer tas mulberes vao para um convento? Sera que Ulll convento

de mulhcres e como urn convento de homers? S c m que 0 conceito de virgindade e

equival en te ao conce it o de cas ti dade masculi na? Se t raba lharmos dessa forma, as

coisas tomam-se mais interessantes, pais assirn e possivcl sair da descricao e colocar

problemas. E preciso tambem observar que 0 "gencro" cul tural e hist6rico sc opec

ao sexo biologico 0 sexo e uma categoria biologica, anatomica. N6s nascemos

homens e mulheres nos nossos corpos, mas somos i rned ia tament e propulsados num

universo que e aqu cl e d a cult ur a e d a h is to ria , S er h omem c ser mu lh er s ao im e-

diatamente representacoes simbolicas. valores como 0 ma is e 0 menos, 0 branco ea negro . 0 dia e a noi te . Sempre b inar iament e. E 0 que in te re ss a eve r Como a s

rel acoes ent re os sexos se modif icam, rul o e mesrno? Porque exi st em coi sas que

mudam e existem outras que permanecem relat ivarncnte imoveis Tem-se mesmo a

impressao que algumas coisas permaneccm dramaticamcnte imoveis Dessa forma,

o interessante c quest ionar como se const ru iu a rcl acao ent re os sexos em todos os

n ivei s do discurso, da pra ti ca , da t eori a, da v ida cot id iana , do espaco publi co , do

espaco pri vado , do campo, da c idade, da burgues ia , cia nobreza, das classes popu-

l ares , e tc . A ide ia de "genero" e a i de ia de uma cat cgor ia const ru ida pel a cul tu ra

e pela historia c que, consequentcrnente. pode ser analisada enquanto categoria cons-

truida. E uma ideia bastante rica para os historiadores, que no fundo, nao acredi tam

na natureza. N a o mu it o, ao menos. Em deflnitivo, eles pensam que a natureza nos

e imedi at amcnte t ransmi ti da pel as pal avras e pcl a cul tu ra e que est es d iscursos sao

produtos h is to ri cos. Por tant o , coi sas a desconstrui r e a ana li sa r enquanto obj et os

historicos. So existe historicidade. de uma certa mareira.

? que a senhora acaba de faJar que st iona um cer lo habito: aquel e que diz que a

tomada de palavra" pelas mulheres seria 11mdosfenomenos sociais caracleristico

das ultimas decadas quando varia ... .". _-"'.• a s mtnor tas conquis taram seus propr tos metosde expressso.

M:P . - Eu d ir ia q ue s e trata de Urn movirnento que remonta muito mai s l onge . NaofOI somente a pa rt ir das '~l' de

w was e cada s que a s mulh er es c onqu is ta ram a pa1 av ra .

Pode-,se o~servar esta tomada da paIavra ja na l dade Media . Por out re l ado pode-setambem d iz er q ue s e be ul . .., d .

, m que as m heres nO O sejam wna n un on a, p ot s os OISsexes silo numericam nte ] .

e iguars, elas tern u rn e sta tu to d e minoria. Ou seja, nao

tendo o.poder, pois niIo se conbece soc iedades dcsprov idas de poder mascu li ne _

como dizem.os antrop61ogos e os historiadores _as mulberes sao ro plano do poder,uma categona dominada P . . '. .~. . ortanto, uma nunona em re1aclo a l ei e ao direi to . Dessarorma, existem anaIoai

Ia gias entre a tomada da paIavra das minorias e e st a tomada da

pa VIa pelas mulheres. Mas 0 conteUdo das minor ias rnuda no curso do tempo,

de~o q~ a rela.;:ao ent re os doi s sexes atravessa t od a a bist6ria. E deste pontoe Vista existe uma ....."nI_ '.

, I!>· ... OUC continwdade uma ~...L. A.,.... , .oo nesta hist6ria, 0 quea torna, de uma rta. '6· ...- .......,

ce IDan: :ua, mais fundamental .

Nesta Hist6ria < l a s Mulhe ' " . .e / .I . res e utiiizado 0 conceito de "genero". 0 que isto slgnijicaqua e a SUa Importd .

M P . nC1Q para a pesquisa historical. . - 0 COncelto de .. e " , .

amenc ana A pala g nero e de ori gem anglo-saxonica, rot adamente angIo-. vra "ge "

se trata de urna cate . nero nikI e de f o c i ) emprego para oos, em frances, porquerel~iIn gona gramaticaI. Contudo, eIa e uti li zada , mas no sen ti do de. ., ._, entre os sexos de d ifi .

faci] tIad'lI"iIn '. ere~ de sexos. E mesrno que a palavra na o scJa deu....v, 0 conce lt o e m't . -"'alba

UI 0 tmponanle. 0 que que r dizer que nlio se Ual

Desde a Antiguidade 0 r ef er ente unive rsal da noc iio de humantdade sempre fotatribuido 00 s exo masculino. Hoje em dia se ve coda vez mais claramente que isla

prove", de relacoes sociais historicamente estabelecidas. E chegada a hora de des -

viritizar a historia?

M.P. - Eu l eoho vontade de responder s im e nao . S im porque a his to ri a, t endo sido

sempre concebida como sornente historia dos homens, e preciso entao desviriliza-la

Introduzindo 0 conceito de relacao ent re os sexos . nos a desvi ri li zamos. Mas. por

}28

I ro . H IS/m" . sa" Paulo. (101. dez. 1993

 

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01l~0 l a~ o , n a o s e trata de s ob st it ui r u m a h is t6 ri a d o s h om e ns p or u m a h is to ri a q ue

s en a u ru ca rn en te h is t6 ri a d as m u lh er es . T ra ta -s e d e r ef le ti r e m t er mo s d e r el ac so

e n tr e o s s ex o s. A s si m , 0 t e rmo de s vmli za cs o nO O e a qu el e q ue convem, N a o s e t r at a

d e d iz er q ue MO s e q u er m ais o s h om en s e d aq ui p or d ia nt c s e v ai d iz er s om cn te

h i s t6 r ia s da s mulhe re s , E isso 0 q ue q ue m d iz er c om s im , n um c ert o s en ti do , e n ao

n um . ou t ro , F ~ r ~ s am e n t~ , n u rn p r im e ir o mome nt o a s mu l he re s p ri v il eg ia m ° ponto

d e .V ls ta fe min in e q ue m ic ia ra m a s ua p ro pria h is to ria . E xi st e u ma e sp ec ie d e

fenomeno de c ompe n s; w ;~ e a i de ia d e q ue e preciso tomar visivel a lg o q ue , d e

c er ta f o rm a , s emp r e e st ev e e sc o nd id o . M a s 0 o b je ti v o n a o e e n ch e r b ib I io t ec a s c om

um a hist6ria qu e niio seria outra q u e a q ue la das mulberes. Evidentemente n a o .

E a tu a lm c n te e la s e i n te re ss a p o r c s ta h is to r ia . P o rt an t o c is a i, r u lo v c rd a dc ir am e n te

u m o ut ra I il ia ca o, m a s u m a c um p li ci da dc . E c ab e o bs er va r q ue n a F ra nc a n os t cm o s

talvez rnais f a ci l id a de de nos fazer escutar pcla historia dominante d o q ue e m o utr os

paises, onde e a historia politica 011 diplomatica quem reina

E asjil iaroes das quais" t 'b t· . H" ', r t: rt U ar ia esta istona das Mulheres , OU seja , quais sa o

suas Imhagens historicas, as preocupar i Jes onde ela insere?

M P. - E u d in a q ue silo v a n ' 'as P rim eira m 1 ~ "'~ f - h i . - di . Ii. en e,

1k1U 01 a s to n a e n qu a nt o SCIP na,m as a a ntr op ol og ia q ue t ev e u rn p ap cl i mp ort an te , n ota da me nte d ep oi s d e u ns 3 0ou 40 a n os R e fi re -m e a b d U .e. .,' 0 ra e VI -Strauss, m as na o s om en te a ele , q ue fez d ala l1 1l ha a c el ula fu nd am en ta l d a '~ , , s soeledades e re fletiu sob re a h is toria em termos d ela l11 lba ,Ora , desde q I '

, ue se co oca a questao da f am i li a n O s v e r no s h om en s e mu lh e re s,p ais e filhos Assim a an", I 'influenci opo ogia qu e teve, notadamente na Franca uma g ra n deI uel1Cla s ab re a hi to ri , 'di , , s ona, e u ma fih~ ao. Alguem como Georges Duby que co-m ge c orr ug o a Hi 6 ' ,

f ., lsi r ia das Mulheres, MO veio a hist6ria das mu l be re s p e loe nu ru sm o e le n il o tinha ' .cia antro 'I . muua s r az o es para I SSO . E le c he go u a e st a h is t6 ri a atrsves

po ogia E. atualrnente' b 'ob ' e s o re tu do co m o s an tro p6J ogo s q ue se discuteS re a q u es ta o da difere ddisci li E nca e sexos, m uito m ais d o q ue com pess oas de outras

p nas. m segundo lUga! d' -e' , eu In a q ue outra filia~o desta His/aria dasMulhereso mov lm e n to d e mu ll le re N ao ha ' , ,. ,

Sf ! . .. . ' ~ ho " s. v en a h isto na d as m ulh eres c om es ta in ten su lad eIQU uve s se eX l st i do u r n . _

do s na F . mOVlfilento de m ulheres nos anos 70 n o s E s ta d os Urn-. ~a, nos p;nses id '

urn fern - . , OCI c nt ai s. N a m a io r p an e d os p ai se s e nf im , p or qu e e xi st ei r us r no no Bms il q u e e . ,

ferrum he ' rnurto IOteressante, Pe rc e be - se e nU lo qu e o n de b o uv erusmo uve m leTTog~ Oe b

silo a s p nm , s s o re a hist6ria, As mulheres se pergun tam se elase ua s a d lz er 0 que e l .,.~ ,e m m e lh or s'tua"lJ as estao d iz e nd o , c omo e q ue e ra o u tr or a, s e e s r a o

I .....0 agor a ou a ti 'ques& do p ro da ,n ,gam ente, e ass im por diante. Logo coloca-sc a

na F", ,, ,, ,, M agresEscSO

'1 adecadeOC13,a ques tao ci a historicidade. Em terceiro lugar,'-oyu 0 o s A n ai s e 0

que ink ialm ente inte • que um a escola que com ecou nos anos 3 eressou-se pela hi t· , -, .

colocar a ques liio da hi t ' , s o na econom lca e pela his t6ria SOCIal, sem

a qu il o q ue s e c ha ma h is t~ ~ a das mulhcres , Ma s se inte ressando pe las menta l idadeS,

s o na das me n ta li da d es , e la s e a b ri u a h is t6 ri a d a s mu l he re s .

No come co dos anos 70 a senhora defendeu uma l ese que marcou a h is to ri a do

mov imento ope rario no Franca. Ha cerca de l im ano atras a senhora dec larou que

" a c la s se o p er a ri a niio e m ai s n em u m a to r s oc io lo gi co n £' 11 11 11 11t or po l i t i co , Talvez

ela nao s eja nem mesmo ma is 0 pr incipa l problema social", 0 que isla significa

em relacao a s questoes que se colocam os his-tonadores atualmente?

M.P. - De minha p a rt e. c omo e o b se rv a do n c st a questao, eu e om ee e i a t ra b al h ar

s ob re a h is to ri a o pe ra ri a, E d ev o dizer q ue a e st a e po ca e u m e c olo ca va a q ue st ao

d as m ulh ere s. m as e m secundario. Para mim 0 mais i m po r ta n te e m fazer a historia

d a c la s se operaria, que em a classe mais nume ro sa c a ma is p ob re . C o mo d iz ia mos saint-simcnianos, a c a tc g o ri a dominada. P r og re s si v am c n te e u t ome i consciencia

d a c on di ~a o d as mulberes, do fato q ue eu pertenco a csta historia 1510, po nanto ,

me in te r es s ou pessoalmente e eu m e sen ti conccrnida p el o m o vi me nt o d e mulheres.

Po r outro l ad e q u an d o escrevi esta frase, cu c re io q u e exprimo urn POllCO a rcalidadc

Ou seja , c xis te n as nos s as s oc ie da de s ocidcntais, pela evolucao da economia e da

sociedade, 0 fato de que a cia sse operaria s e a f as t a urn pouco no horizonte. E la s e

a fa s ta d e n o ss o s horizontes como ator social, Ela e urna c I as se q u e n .' I ocresce mais.

A s c at eg or ia s q u e r na is crescem sa o os a s sa l ar i ados . E dcntre os assalariados e 0

s ct or t er ci ar io , t od o u m m u rd o i rn en so d e e rn pr eg ad os . H o je e m d ia v e- se q ue m u it as

fabricas fecham e que ro o sc tern t an t a n e cc ss id a de d e operarios porque a produ-

t iv idade das maquinas e absolutamente enorme Entretanto, ve-se qu e e p r ec is o f or -

mar i n te le c lu a lm e n te a s p c ss o as p o rq u e elas p re ci sa m o bt er c ad a vez mais uma

maior capacitacao intelectual , ja que o s s et or es d e e m pr eg o n ii o s ao m a is o s s et or es

o p er ar io s . P o rt an t o, s o ci al m en te , a c 1a ss c o p e r ar ia n a o e a c 1a ss e d o f ut ur o, I st o p od e

p ar ec er e st ra nh o m a s e u c re io q ue e v en ia de ir o. E m s eg un do l ug ar , e xi st e a g ra nd e

c ri se d o c om u ni sm o e t od os o s p ar ti do s r ep re se nt an te s d a c la ss e o pe ra ri a. C ri se e st a

qu e e ligada a r eg re s sa o s o ci o lo g ic a d a c la ss e o p er ar ia , m a s rW a pe na s a i st o, p oi s

ela e I igada it falencia d o c om u ni sm o q ue e um a falencia monumenta l , tragica, ma s

em todo c as o, m uit o e vi de nt e. T ud o is to fa z c om q ue a c la ss e o pe ra ria n olo s ej a °a to r s o ci al d o f u tu r o, n e m s o ci o lo g ic am e n te , ne m po l it i camen te , po r que e x is tem c a t e-

g o ri as m a is i m po r ta n te s , 0 q u e n oa oq u er d iz er , a bs ol ut am e nt e, q ue o s p ro bl em a s

s oc ia is e st ej am r es ol vi do s. m u it o p el o c on tr ar io . H o je v em o s q u e s ao outras figuras,

c om o a s f ig ur as da e xc lu sa o, d o e xi li c, d os i m ig ra nt es . d o d es em p re ga do , q ue s e

130Pro). Hi.ona. SiloPaule. (101,dez. 1\.193 131

Prof . H is tona; S40 P ,. Jo , ( 101, tkt. /'I9J

 

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t om ar am a s m a is i m p or ta n te s nas n o ss a s s o ci cd a de s e nao t an to a f ig ur a d o operario

que t r ab a Jha, qua li f ic a do . tornou-se u m a f ig ura q ue n ao c mais u m a f ig ur a r id er d op o n to d e v i st a s o ci al .

o s p ro b le m as d e i gu al da de . E nf im . c oi sa s q u e t or na rn t al ve z o s h is to ri ad o re s m a is

p re se nt es n o m u nd o a tu al . N ao s e r ec nv ia m a is a s c oi sa s p ar a 0 f u tu ro . E m s e gu n d o

lugar, e u c re io q ue t al vez os h i s to r i ado r e s s e j am mais criticos a tu al me nt e e q u e 0

seu pape l e 0 de serem criticos engajados . Ou seja, q u es ti on ar t ud o a qu il o q u e n o s

d iz em , c ol oc ar e c ri ti ca r a questao da verdade. E ao faze-to. nu m certo scnt ido, 0

h is to ri ad or s e p o si ci on a c m r el ac ao a os p ro b le m as c on te m po ra ne os , j a q ue n o f un d o,

ele sa be q ue a h is to ria q ue e le fa z se re la cio na co m 0 p re se nt e. T o ma nd o c om o

e xe m pl o a h is t6 ri a das m u lh er es , s en te -s e i st o q ue e st ou d iz en d o d e u m a m a ne ir a

mu i to f o rt e, p o rq u e jarnais haveria um a historia d as m u lh er es s e e la s me tivessem

colocado as questoes q ue c olo ca ra m. E oos s a be mo s mu i to bern q ue u rn objeto

h i st o ri co e um ob je to mo r ta l. E p o ss rv e l q u e d a q ui ha 2 0 a n os a h i st o ri a das mulhcres

i n te r e ss e mui t o 11lCIK>S d o q ue a go ra . Nao sc sabe. O s h i st o ri ad o re s t om ar am cons-

ciencia do carater relativamente s ub je ti vo d e s ua s pesquisas. N ao e xi st em o b je to s

h is to ri co s d ef in id os d e u m a v ez p or t od as , A historia e um a re l acao entre 0 presente

e 0 p as sa do . 0 h is to ri ad o r e on st r6 i s ua p ro b lc m at ic a c om a s q u e st oe s q u e l he c ol oc ao p re se nt e. D aq u i M 30, 20 a no s, o u m e sm o a nt es , s e c ol oc ar ao o u tr as q u es to es .

D es te p on to d e v is ta lui ur n de s loc amen to . O s h i st o ri ad o re s d o comeco d o s e cu l o

a c re d it av am q u e c o ns t ru t am a h i st o ri a p a ra a e te rn i da d e. N o s a cr ed i ta mo s t an t o n i ss o .

A hist6ria e mor ta l .

Pode-se associar 0 questionamento das rela{:oes ent re os sexos a UIIl questionamento

mais geral, que diz respeito a uma crise dos valores universais nas sociedades

contempordneas, como crise da ideia de progressao, de verdade, de crise da propriafamilia, etc.?

M.P . - E s ta questao n a o e I ac il . S e v o c e q u er d iz er q ue a c ri se d o s v al or es u n iv er sa ls

na s s oc ie da des c on t empor a nea s e a p e rd a de r ef er en ci as , e u p en so q u e 0 f eminismo,

n o fu nd o, e xp ri me a lg um a c oi sa n ov a. Q ue e a id cia de qu e ate entao nos no s

a ~o m od am o s a u m a s oc ie da de d o mi na da p el os h o me ns . C omo ja d i ss e , a a n tr o po l o-

g ia e a h is to ria n os informam q u e j a rn ai s h ou v e s oc ie da de s q u e na o f o ss e rn d om i-

n a da s p e lo s h om cn s . E i S IO e a c ei ta v el , s e p u d es s er n os f al ar a s si m , q u an d o f u nc io n a

O ~, exrste uma c e rt a f al eo c ia das s o ci ed a de s c o nt emp o ra n ea : c ri se d e a u to r id a de ,

cnse dos va l o re s s oc ia i s , na o se a cr ed i ta m a is t an t o na ideia de progresso indefinido,

~ tc . H o je , p en sa mo s a s c oi sa s m ai s e m te rm os d e d es eq ui lib ri o. E n o m ei o d e t ud o

ISSO u m a q ~ s ti lo q u e s e c o lo ca c a d e t en ta r f az er u m a s oc ie da de o nd e, p or e xe m pl o.o s s ex os setam " alita

~ mars 19u itanos, 0 que a t ualmcn le parece possivel c nq u an to q u eantes seria a l go i nc onc c b l' I H . , .

v e. o Je v ern os tarn be m q ue o s v alo res p riv ad os, as re -I ~d es en tre o s h om cn s e as mu l he re s s a o coisas esscnciais na sociedade. E pode

s c: q ue , ~ q ui se nn os c he ga r a urn m a io r e qu il ib ri o, a u m a d o se m a io r d e felicidade,

s eJ a p rC C ls o ac el ta r c ol oc ar e st a q u es ta o d a i gu al da de e nt re o s s ex os , D it o d e o ut ra

f or ma , e st a q u es ta o t om o u- se v it al n as n o ss as sociedades. E eu penso qu e nos naopodemos e v i ta - la ,

Mesmo empaises onde ainda persistem relacoes conservadoras entre os sexos, como

i: 0 casu do Brasil, ve-se que 0movimento de mulheres cresce. Tendo em conta este

f loresctmento do feminismo em toda parte , pode-se pensar; consequentemente, na

possibilidade do surgimento de uma nova sensibilidade masculina?

M.P. - A r es po st a e s im . E i st o, e u c re io , n ilo e s om en te w na h ip ote se e ja um a

re ali da de , E m p ai se s c om o o s E sta do s U nid os , q ue p re ce de rn m u rn p ou co a t od o

m u nd o n es te d om i ni o da reflexao, existe atua lmente cada v ez m ais h om en s q ue s e

colocam a q u es ti lo d e sua existercia e n qu a nt o s e xo masculine. Existe, a li as , u m a

g ra nd e q ua nt id ad e d e l iv ro s q u e a pa re ce m . N um d o s u lt im o s n u me ro s d o N ew Y o rk

R ev ie w o f B oo k s, e u f iq u ei m u lt o i mp re ss io n ad a a o v er u m a c ro ni ca q ue r es en h av a

u ns 5 o u 6 l iv ro s s ob re a m an ei ra p el a q ua l o s h om en s es cre ve ra m, p en sa m a s i n as oc ie da de e nq ua nt o " ge nd er" , o u s ej a s ob re a d if er en ea e ntr e a s s ex os , m as d es ta

v ez , v isto p elo lad o d os h om en s. E u c re io q ue e um a c oi sa e xc el er se . N a F ra nc a

isto ainda MO e s t a mui t o de s envo l v ido . Aqui e x is te m mu i to s p o u co s l iv r os a r es p ei to ,

m as e u p en so q ue n os p ro xi mo s to a no s c st as q ee st oe s s e d es en v ol ve r. lo . M e sm o

q u e e xi st am p o uc os h om e ns 005 g ru p os q u e s e i nt er ro ga m s ob re a d if er en ca e nt re

o s s ex os , q u e e le s s ej am m i no ri ta ri os , e le s sa o r na is n um e ro so s d o q u e ha alguns

Em wl rio s domi ni . t I . filOS In e ectuais 'ala-seseguidament« do "jim do humanismo ".Neste

COnfexlo qual e s d h' , egun 0 a sen ora , 0 lugar que OCUpa a historia hoje?

M.P . - E u c reio q hi". ,. . ue a stona te rn u ma f ~ ao critiea. 0 qu e na o f oi s emp r e 0 caso.

A histona fO J duran te muit t . . . .

. ' 0 e rn p o, u m a d is ci pl in a q ue a cr ed it av a n o h u ma ru sm o .q ue a cr ed lt av a n o prog SF resso. e p ensarmos na h ist6ria do com eco deste secu lo na

PfaIII;a , por e xe mp lo , v ere rn os q ue n el a e xi st e u rn p ou co a i de ia d a R ev ol u~ aor an c es a . d o s v a lo r es UnN . d h . .. ersais, 0 u m ar us m o, e st as c oi sa s, Nos s om o s m u tt o

mars r es er va do s a go ra N o f nd ~ .deca..l.:! . N . u 0, n ao s e a c re dn a t an to n em n o p ro gre ss o, n em na

uenc ia em na catast fdi . TO e e tampouco IlO p r ogr e s so i nde fi n ido . 0 qu e nilo queri ze r q u e a s C O I 53 5 en h am t do i ... .. . se orna 0 I gu ah m na s. E xi st em n as n os sa s S O C le da de s

CO isas pelas qll3ls e . . .preciso c om b at er , c om o o s v al or es d er no cr at ic os e ss en cl al S e

/31 Pro}. Histona, Silo Paulo. (101.dez.1993 IJJ

Proj. HUIOrla, SiloPaulo. (10). d6Z.1993

 

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anos atras. E sa o eles que dizem: "como c possivel que os homens nao comparecam?Isto nos diz respeito tanto quanto a s rnu lheres". Ass im , eu pense que i st o pode ' levar

a uma nova I m er ro ga ca o r na sc ul in a. C o nt ud o, M um a s cgunda r es po st a a c st a

questao. A cada vez que as mulheres progr idem em igualdade na sociedade, como

e 0 caso das nossas sociedades coraemporaneas e, provavelrnente, 0 c aso d a 50-

ciedade brasilei ra tarnbem, iS10leva algumas vezes a Ulna r e ac a o contraria, de virili-

dade, de supervi ri li dade , porque os homens se scn tem ameacados , Ass im exi st em

aquel es que ref le tem e exi st em aquel es que t ern rnedo . Os homens scmpre t iverarn

urn poueo de medo das mulheres, 0 que pode l evar , ao contrar io da ref lexao, a umare~;}o machista.

cimento da s rel igioes integristas, e nao sornente muculmanas, mas tambern no pro-

testant ismo amerieano e no catol icismo ocidental , Ora, tudo a que e integrista e, em

geral, bastante conse IVador. Portanto, vclcmos pelas coisas, elas silo frageis,

Em relacao a i sto, a senhora e otimista ou pessimista?

M .P . - H a d ia s que eu sou otimi st a e M out ros que eu SOupcssimi st a. Eu cre io que '

as mulheres ganharam mui to nes tes 10ou 20 ult imos anos, 30, t al vez. Mas eupenso

qu~ a s mu lh er es jo vens que conhe co , Ha u rn p re co a p ag ar e e le e a lt o. Eu vejo

muitas ~ulheres j ovens sol it ar ias, t al vez mai s sol it ar ias do que ant es , porque e las

nao a c ei t am mais urn certo nurnero de coisas. Por outro lado, o s homen s s e scntem

desconcer tados por est as j ovens mulheres que querem tudo, que sao bri lharues. e

qu~ Ihes dao a impressao de que e s ta o t o rna ndo 0 lugar deles na sociedade. Quando

vejo tudo isto, e~ me digo que, francamente, nao c simples. Existem alguns estudos,

com~ a ~ socio logo Jean-Cl aude Kaufmann, que C urn espec ia l i sl a da sociologia

da v ida pnvada a tual , o rde sao colocadas est as quest oes. No caso des te soc io logoele faz urn estudo sobre a E ,.

roupa . a traves d is to cle segue as relacoes homemlmulherno casal contemporaneo EI tud'l ' . _

. . e es a a parti ha das t arefas domesti cas as rel acoes aosvalores sImb6licos et E I . b . .

. ,c. e e e astante pessmusts Ele diz que MO se deve pensarque as COISasmudaram muito D sd .

. . . . e e q ue se aborde os problemas de o rganizacao

da vida ~~otJdl ana, percebe-se que exi st e scmpre uma grande des igua ldade e que ,em dcfirull'lo a s coisas ~"da' . .

, nao mu ram tanto assim, Ele c bern mai s pessmusta doque eu. E m todo caso tud . to e . fi" .

. ,0 IS0 e muuo ragaI, 0 que f az com que a s vezes ell santaurn certo pesslmismo. Mas eu prefiro 'liver n a e po ca a tu aJ do que lui cern anos, C

c la ro . E eu p en so que n enh the .uma mu r que vrve atualmente gostaria de retornar

cern anos atras N' . .. os conqUistarnos munas possibil idades de Iiberdade Outrom, asmulhcres possu iam urn de ti " '~ hoi .pode S macao, ~e etas possuem urn destino. Ou s e ja , e ta s

m escolher Mas, em contrapartida a l iberdade h: i 0 risco Quando se colocam

as pessoa~ nos t ri lhos e e las fazem somente aquil o que I ll es 'c d it o n30 M risco,ma s tamoom na o M lib dad B" 'uand

er e. em. isto s so coisas que me tornam otimista. M as,q 0 pe ns o n a fragilidade das .. . coisas no munclo de hoje e u fico urn pouco pes-sinusta Por exemplo 0 fat o d

. e que no rnundo de hoje nOs a ssistimos a um cres-

A Historia da Vida Privada, da qual a senhora participou, foi urn sucesso de publico

na Franca e tambem no Brasi l. No que se ref er e a e sta Htstoria dasMulheres, como

a senhora e sta vendo a sua recepci io pelo publi co?

M.P . - E st a Histaria das Mulheres e s ta t e n do urn grande sucesso . E le es ta tendo

mui to sucesso na I ta li a, onde e la apareceu primeiramente e est a t endo urn enorme

sucesso na Espanha , onde 0 primeiro volume j a foi publi cado . E na Franca e la est a

i ndo mui to bern, 0 que e a lga que eu nilo esperava. Eu pense i que as franceses

seriam bastante indiferentes. E isto foi uma surpresa para mim e para t oda a equipe,

j a q ue sa o l ivros dificeis. E mesmo que nOs tenhamos feito urn esforco para escrever

de maneira clara, estes l ivros nao sao como romances pol iciais. e preciso reconhecer.

A lem disso e les cus tam caro. Mas , mesmo ass im , cada volume t em vendido cerca

de 20 mil exemplares, 0 que n ao o s t or na b es t s elle rs , ma s e a lg o mu ito born, p ois

dernonstra que existe interesse. 0 desconhecido, e i st o sera i nt eressant e, vai ser 0

publi co anglo-saxao , uma vez que a t raducao ing lesa aparecera daqui M urn rues.

Nao e cer to que nos pai ses anglo-saxoes e les facam tan to sucesso . Primeiramente

porque e les j a t ern uma enonnidade de l iv ros sobre mulheres, mesmo que eles nao

possuam esta historia geral que tentamos fazer, da Antiguidade aos nossos dias. Eles

r u 1 0 sao habit uados a est e t ipo de t raba lho de longa duracao, Mas talvez, no fundo,

e le s te nh am a imp re ss ao d e que a r ela cao entr e o s homens e a s mu lh er es n ao lh es

d iz ma is r es pe ito . E no que s e r cf er e a in da aos p ais es que pod er iamo s chama r d e

l au no s, n ao sabemos ainda como sera em Por tu ga l e no B ra sil , o nd c e ste s l iv ro s

tambem serao publicados.

A Hist6ria das Mulheres e urn trabalho monumental. Como e que elefoi organizado?

M.P.• Trata-se de urna encorncnda i ta li na . Foi urn edi to r i ta li ano, que se chama

Late rz a, q ue nos soli cit ou e ste tr ab al ho . I sto r emont a a 1988, f in s d e 1987. Num

primeiro momento n6s hes it amos bas tant e. A propost a foi fei ta pri rnei rament e a

Georges Duby. E le ent ao sed i ri gi u a mim dizendo que se t ra tava de urn bel a pro je toma s que pod er ia f az er s oment e a lg o s ab re a l dade Med ia , j a Que e le n ad a s ab ia

sobre os trabalhos sobre as rnulheres. Por outro lade, eu, evioenternente os conhecia

muito bern. Ent ao eu me d ir ig i a s mu lb er es c om a s qua is e u tr ab alh o h.i quinze

ano s, n 6s convc rs amo s a r es pe it o e ao d is cu tirmo s. p er ce bemo s que estavarnos

dizendo sim a es ta propos ta Ou seja, estavamos j a e laborando est a h is t6 ri a das

rnulheres. Bern. este t rabalho foi organizado do seguinte modo: s,i jocinco volumes,

IJ.

Proj .H r slima. sa o P aI I ", ( JO i. d e: 1 1 93PItJ)-H..uma, SiloP"",lo. (10), rk:. IWJ 13J

 

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t endo cada urn dcl cs uma ou duas orgaruzadoras , as quais const it ui ram suss equipes .

Por exemplo, Pauline Schmitt organizou 0 volume sobre a Antiguidade. e Genevieve

F r ai ss c c c u d ir ig im o s 0 volume sabre 0 s ec ul o X X. e assim por diante. Desta forma

hit por u rn la de o s orgaruzadores da colecao, Dub)" e eu, C de out ro , as organizadoras

de \ oturnc, g rupo que s c encon tr ou s cguid amcnt e e que d is cu tiu muito s todas as

e tapas Alern oes te grupo , ho i todo 0 conjunto dos colaooradores, os quais traoalharam

n ur na r cl a. ;a .J m ar s d ir ct a com as organizadoras de volume. ocorrendo e n tr e ta n to um

g ra nd e colo qu io em Pan s. em j unbo d e 1999. o rd e t odo mundo e sta va p re se nt e,

cerci de ill pessoas FordITI dois dias de discussocs quando e m a o foram decididas

as l inhas gerais . a s e sc olh as . a s rnareiras de escrever, e tc . Dentre as e sc ol ha s q ue

f iz c rn o s p ri m ei ra m en te d e ci di rn o s fazer luna historia de l onga dur sc s o, da Antigui-

dade aos nossos dias Em segundo lugar . opt arnos por ret ornar a penodizacao da

his to ri a oci dcnt al , porque nil o t inhamos mcios de f az er d e ou tr a f orma E a i, n atu -

ralmcni c. se coloca a qocst ao de saber sc est a pcr iodi zacao corresponde a a lguma

COIs;.! Em tercerro l ugar . nos t ra tamos somentc do mundo ocident al . T ra ta -se de uma

histo na das mulhcrcs no ocidcnt e, i st o e bern clar o. E eu dina que na o M prati-

camcntc nada soore a America Lat ina. Exi st cm basta rue coi sas sobre os Est ados

Unidos. mas quasc nada sobrc a Ameri ca Lat ina. No volume espanbol sobrc 0 seeulo

XV I c XVI! [01 acrcsccnt ado a qucst ao do probl ema da cxpor tacso de LUll modelo

ibcrico no 11111000 latiro-arucricaro Ha tambcrn coisas sobrc a Espanha no volume

cspanbol dedicado ao seculo XX. por causa do Iranquismo, mas ha muito pouca. . arte dos

coisa sobre Portugal e 0 Brasil. Isto se deve ao fato de que a maier pUnid E cvidcnte-

trabalbos cram sobre a Europa oc ide ntal c soorc os Estados ru os. -.

mente . a qucst ao da Amer ic a do No rt e s o t cm per tin cn cia a p ar ti r do sCculo XVI.

temente nao lui nenhum mot ivo em reservar urn dominio a uma classe, a urn sexo,

a uma cat egor ia e tn ic a, Mesmo que n a pr ati ca a s c oi sa s c omccem qua se s emp re

des te modo. Sao os i nd ios. evi dent emente , que i ran primeiramente escrever a sua

historia, etc. E normal. Assim, n a a M nenhuma r az ao p ar a qu e e sta h is tor ia s eja

escrita unicamente por mulheres. E mesmo desej avel que c ia nao sej a escri ta uni -

c am e nt e p c la s mulheres.

Para alem do dominio historiografico, a senhora acha que se pode imaginar alguma

ressondncia devido a publicacao da Historia da Vida Privada e da Hist6ria das

Mulhcres? E mai s pr of un dament e s er a q ue e st as h is to ri as n ao r es po nd em a uma

demanda soc ia l, ou seja, a uma mudanca de sub je ttvidade?

M.P. - N o que se refere a primeira pane cia s ua q ue st ao , c u p en so que nonnalmente

est as h is t6 ri as devem ter a lgum efe it o, ou sej a, que e las dever iam contr ibui r para

que se colocasse as questoes de outra maneira e tambem para que se colocasse

out ros t ipos de questOes. Mas i st o sera demorado, porque exi st e uma longa inerc iados Mbi tos menta is . Eu penso , por exemplo , que nao sc podera mai s d izer que em

J 848 na Fl"aIKYa 0 sufragio era universal , j a que e le era somente sufragi o universal

mascu li ne . E se observa efe ti vamcnt e que agora se d iz "sufrag io universal mascu-

l ino". Bern, este e urn pequeno cxcrnplo. De out ra par te , a saber , se est as h is to ri as

corrcspondcm a uma demanda social? Sim, ccrtamente E elas oorrespondcm tambern

a uma mudanca de subjc ti vi dade na medida em que elas respondern a urn desej o

do suj ei to mulher, e p o rt an to , a uma reivindicacao da subjetividade na historia, 0

q ue, d e uma certa mane ira, for ti fi ca a demanda de todas as subjetividades neste

dominio e Iibera energias no dominic da subjctividade.

Fm quantos poises lera traduzi da esta Historia dis Mulheres? .

. E I . duzid . I' f . inglCs a l emao , ho-M P - Ern rove parses . a sera tra un a em Ita lana, ranees, .

l andes. g rego , espanhol, por tugucs e 0 Japao , que a irda na o se clecidiu

. . . sto historiaEx is tem pou co s h omen s ne st a Historia das Mulhcrcs. lsto e porque I'

deve ser escrita unicamente pelas mulheres? A

M.P - N a o . absol utament e. ls to e a exp re ss so d e uma s it ua~o d e . f ~ l O d a ss ab er , q ue for am p rim cir amen te a s mu lh cr es que t ra ba lh ar am sob rc a ~s to n~

rnulbercs porque e las sao t al vcz, pessoal rncn te envolvi das. Mas . na o CXI~le . .. ..al,. . .. E nOI1O '"

e n em ser ia d es ej av el q ue sornente a s r nu lbe rc s e sc re vam e st a h is to na . nlJ I l l l 1

por e xe rn plo que nos E st ados Un idos s cjam p rim eir amen te o s n cg ro s que t e ~il :o, . , e os bflUlCOSJk>

cscri to a h is lo ri a dos negros, e evidente. Mas, na o M raz ao p ar a qu q U e I l -

es crevam a histona dos negr os e da escr avidao, e alias , des 0 fazern Cortse

Que con tr ibuicoes este traba lho pode frazer para aspesquisas sobre a h is to ric das

mulheres no Brasil?

M .P. - E u confesso que nao sei. E u p en so que soment e o s homen s e a s mu lh er es

brasi le iras poderso , no comeco, sobre tudo , escrever a sua propr ia historia E e le s

comecam a faze- lo , i st o e mui to c la ro , Vc-se cada vez mai s h is to ri adores e h is to -

riadoras brasi leiras que se colocam este tipo de quest ao . E t al vez 0 rata de que

existe uma historia das mulheres no ocidentc possa Illes da r legitimidade. Ou seja,

ja que i st o se faz naFranca e em out ros l ugares e que todo murdo aeha i nt eressant e.

i st o nao e, portan1o, fut il , inuti l au ridiculo. Talvez, dianle de a1gum universitario

que d ig a que n ilo e i nt eressant e a h is t6 ri a das mulheres, u rn h is to ri ador au his to -

riadora brasi leira que queira f az er e st a h is t6r ia po ss a r es ponde r que exis te uma

historia das mulheres que nil o t orna 0 B ra si l em con ta , e e precise que facamos

nossa h is t6 ri a enquanto genero. Eu cre io que i st o possa ser urn argumento . A lern

/31.

(10) d t~ 1993P ro f. " ,. rI O" ;o . S i lo p ,. ,l o. •

Prof m.rong, Si lo P"" Io . ( /0 ), dea I ')9J /37

 

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di .• .

IheS S O J 'a expenencia que consta nestes v o lum es p o de t al vez a judar out ras pessoas es evar a colocar questoes po I .

r e as mesmas. E a e tas que compete dar respost a. PESQUISAS

Historia Social da Saude, da Doen~aeda Morte esuas

Representa~oes na Cidade de Sao Paulo (1830- 1940)*

Coo rde nado ra : . lVone Dias A v e/ in o • •

o grupo C or di s s e e on st it ui c om o n uc le o de p e sq u is a e divuJ~. Niicleo

d e H i st or ia S o ci al d a C i da de , t en d o c omo e ix o s t em a ti co s a H is to ri a S oc ia l da Satide,

da Doenca e da Morte (1850 - 1940), p r iv i leg i an d o a s d i v er s as fonnas de repre-s en ~o d os f eo om e no s c on st it ut iv os da a r e a co m 0 intuito de identificar 0 "ethos"

d a p au li su me id ad e e U n iv er si da de e Sociedade: MemO r ia e I d em i da de .

A deno~ Cordi s surgiu como forma de expressar a vitalidade e a eeergia

c om q ue s e e nf re nt a o s p ro ble ma s da p ro du ca o d o s ab er . n as s ua s i nt er se c~ s c om

o pulsar da vida.

N es te s en ti d o " Co rd is ", n os r em et e a p u 1 s a . r a o e a v i ta J id a d e q u e imp regn a 0

processo de ge~ do s ab er e da ~ de l e it ur a s cu jo 10m s e p r et end e delencar.

C o rd is , s e i de n ti fi ea c om c oRi ia li da d e, a fe tu o si da d e, s e nt id o q u e aponta para

a e~ que s e d e ve a ss o ci ar a r az jo . B in O m io q ue r et om a a memoria. identidade.

inveruano, distincikl, r em i ne s c enc i as u t o pi a s.

C or dis e xp re ss a a confluencia d e u rn termo m e d ic o q u e e n co n tr a aJegorias

eS]>eCificas n o d is cu rs o lit er 3r io e p oe tic o e q ue d iz r es pe it o a wn a t en ta ti va d e

e x pl ic ar a b r as il id a de . Essa assoc~ de usos da p aJ av ra c om s ua s c on o~ O es

diferenciadas W i u m t om p ar ti cu la r d en tr o da g en er al id ad e q ue s e i de nt if ic a ~ m o s

P r op 6 si to s d o g ru p o, q u e tern urn ca r at e r t r an s d is c ip l in a r e i n te r - in s ti t uc i o na l . E f a r-

m ad o p or h is to ri ad or es , m e di co s, e co no mi st as , a nt ro p6 lo go s, e du ca do re s e c om u-

nic6Iogos da PUC-SP, da U .S .P . e da U .N .B . d e nt ro da amplitude ci a carreira

u n iv e rs it ar ia q u e v ai do l ic en c ia d o a o t it u la r .

N e st a p eq ue na a pr es en ta ~o a pe na s t ra ta re m os ci a p e s q ui s a H i s t6 r ia Social ci a

SaMe, da D oe ne a e da M or te ( 18 50 - 1 94 0) . E m outras oportunidades apresentare-

• P ea qu is a do Orupo CORDIS. NUcleo de Hii tOr ia Social .s a Cidade.

Apret.'-fIo doO tupo "CORDIS " .

.. ~to de HitlOri .. PUC.SP.13!

PrDJ:HillOna. SI loP"""" (10) . tkz. 19931J9

 

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m os a pe~uisa qu e tern a preocupayoo de e s tu d ar a Universidade na s s ua s i n te r ac oe s

com a s oc ieda de na reconstituicoo da sua memoria Especificamente trata da Hist6ria

da Universidade Cat61ica de s a o Paulo e s u a s rel~t'Ies com a s oc ie da de d o b ai rr ode Perdizes com a c id a de de sa o Paulo.

Florence, Saint-Hilaire, Kidder, Barnslcy, ZaJuar passaram pela capital dos paulistas.

anotando caractcnsticas locais, cspccificando diferencas, apontando tendencias,

Ainda que 0 termo decomparacao tenha sido, quase sernprc, 0 rnais acentuado,

pode-se estabeleeer urn arco que vai de Saint-Hilai re, registrando a simplicidade do

vilarejo, aqueles que ident ificam Silo Paulo a s metropoles do mundo, como Richard

Morse . 0 Ievan tamento de t odos esses v ia jant es e a ana li se desses d iscursos serao

dois dos pontes fundamentals para ambient.ar introdutoriamente 0 projeto.

Paulistas e nao paulistas cuidaram de deixar urn b o rn n um er o de memor ias ,

cronicas e recordacoes que envolvem ques toes urban.as. Estes generos impregnados

pel os condicionamentos ambientais da epoca , constituem-se num polo importante

para a ref lexao sobre os cosmos urbane pauli st a. 0 p lane jarncn to urbano da cap it al ,

suas p lant as . mapas e est udos urban is ti eos permi ti rao dar os t races da "gcografi a

do desenvolv imento urbano" que se const it ui u em etapa bas ica do ent endimento da

questao da "pauhstaneidade". Aliado as percepcoes de viajantcs, a s memorias e as

cronicas 0 estudo da "cartografia urbanistica" pretende estabelecer uma lei tura que

fundarnente 0 espaco ao "ethos" paulistanos.

Nessa fusao, certameote s e r a dada e nf as e a aspectos que mesclararn 0 esta-

bel ec imento de urna soc iedade de c lasses , constituindo-se urn ordenamento social

onde a marginalidade fixou-se. "Cidade composta", plena de contradicoes, 0 bandi-

t ismo e a prost ituicao at se i ns ta la rarn com forca e vel oc idade compati ve is com 0

"progresso ". A reputacao de Sao Paulo se fez na medida em que jun t. amente com

seu comercio f lo rescen te e com su a industria despontantc surgirarn tambern seus

pobres, enjei tados e doentes. todas personagens de urna possivel Historia Social da

Saude , da Doenca e da Morte .

Pouco est udados na his to ri a urbana brasi le ira em geral e , par ti cuIannente na

d e S ao Pau lo , s il o os r omanc es urbanos volt ado s a uma v is ao u t6p ic a de c id ad e.

Dois casos especificos, "Sao Pa ulo no Ano 2000" e "0 Reino de K ia to n o Pai s da

Verdade" sao evidenciados como f u nd am en ta ls p a ra s e considerar sa o Paulo uma

cidade letrada como pretendeu Angel Rama .

Est iveram present es na redef in icao do esp ir it o urbane de Sao Paulo a lgumas

tensoes que fizeram desta capital 0 "lugar" privi legiado para 0 aprofundamento desotucoes locais. Tal e. por exemplo, 0 caso das multiplas avaliacoes fei tas pela im-

prensa pauli st .ana sabre a rea li dade soc lo-cul rura l brasi le ira no per iodo e sobre

posslveis eixos de uatamento e cura.

Os termos e expressoes uti lizados pela l inguagem cient ifica e, em particular.

pela cia c ienc ia medica foram sendo incorporados ao vocabul ano cot id iano da so-

c iedade em boa par te gracas a imprensa peri6dica paulistana (academica no inicio

Relevdncia do Tema

A Hist6ri a da SaiJde, da D o e n c a e da Morte, circunscri ta a c idade de sa oPa~o, pretende apresenear um a leitura dos va r io s aspectos ligados a s concepcoes dasaude, doenca e mor te .

Nao se trata d e p ro p er investiga\iks b ss ea da s n a exclusividade de urn meleo

d~cumental ~fmido. Dacia a aspiral;ao pluralista que envolve a t em a ti ca p ro p os ta ,

Vlsa-~ co~mar fontes, bibliogrnf13 e leituras historiogr.ificas. T udo , p o re m , crivadopelo espmto da cidade".

Nota-se em S 10 P au lo , a partir do s ec ulo X IX , u ma ~ni~o n o e n cam i-

~nto das q u es t~ s r el at iv a s a S.D.M., n o s en ti do da reguJamentacao da ~o~hca na a r e a . Con fi~ va -s e, e rd a, a a s s o c i a r v O O de p rn ti ca s ~ com a s~ s

Estado, como estrategia para a plani fica \<lo urbana e c o ns eq u en te c o nt ro 1 e s o ci al .

Objetivos da Tema t tc a

Os objetivos da pesquisa filtrados I a__ .<1' • , • •

'. p e ananse Sistematica de fontes: imagens ,Imguagens mltos crencas ituai '.1.<

, '''T e n IS, luo;;l3S e conceitos componentes do sistema dere.present~()e~ relativo a Saude, Doe nc a e Morte s ao : 1 ) ( re )i n te rp re ta r a Hist6ria e

dPropofienc:un~nhamento evitando a dicotomia entre 0d is cu rs o e a praxis trabalhandoe onna indi ia I '

" ssoc ve os elementos que compoem 0 lerna; 2) contribuir para ar ef le xao cnti ca s ab re a p rod , ,- hi .

liC<IU stonogrMica contemponinea especifica ao as-sun to , 3pOlUndo para a cri se de i dent idade a que foi submeti do 0 ser humano emsuas rela<;Oescom a nature .as relac;ae da vi ,1.3 e CODSlgO mesmo; 3) procurar entender os cruzamcntos,

di S, VIda pauhstana entre 1850 e 1930, expresses na diversidade dosscursos, propondo um a leitura do "ethos" da idade

c .

E;XQS Temat icos

Diferentes enfoques mostram-se adeq , .aqueles considerados de . •. uados a pesquisa, Eleger.un-se alguns,mando urn co' de g~e ImportancJa por sua aproxi~ com 0 lema, for-

nJunto eixos tematiooS..l% .ampla anatisc da H' 6' ' que uao sustentacrio e condicrOes a uma

Urn d ~s t na da Saude , da DoeD;a e da Mor te em SiD Paulo.o s c an un ho s m ai s O b vi os para t al __.(1'

visitanles Desde <UdJSe remete-se a pereepcao dos. 0 comeCo do seculo, v ia jant es como Humbold , Langadorl f,

140

Proj. HiIt6rld, S I l t : J PI1MIo,(10),.. J 993

Proj.H",;n ... sa o PaIllo. (/01, de•. IWJ I4 J

 

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e n ao a ca dc mi ca p os te ri or me nt e) , a tr av es d os d iv er so s a rt ig os q ue a na li sa va m, c be io s

d e o ti mi sm o, o s avances d e c a da a re a d o s ab er c ie nt if ic o. A peretracao mais a s s idua s

desse tipo de vo ca bulario, pe lo m enos no r neio d a elite intelec tua l d e S a o Paulo.

i ri a a ss um ir d en tr o d a i rn pr en sa a funcao de vetores "clinicos" s ob r e a s q u aJ id a de s

considemdas "sadias" ou "doentias" do "e tho s" soc ia l ou do carater culturalbrasileiro.

Em 1882, 0 periodico "A Luta" (orgao sernanal e v ol uc io n is ta ) c o nd e na v a as

f alh as e xis te nt es n a e du ca ~a o b ra si le ir a p elo f alo d a e du ca ca o f isi ca _ c 1 ass if ic ad a

~ lo p e~ O dic o c om o uma "ci enci a" - est ar relega da a urn plano secundario, COl l i

s en os n sc os p ar a a s au de in di vi du al , f am ili ar e n ac io na l. A lc rta va -se o s le ito re s d e

que ~ educacso f is ic a n ao e ra " um a so nh o " , m a s r ea li da d e c os que "a violaram

em 51 e n os s eu s f il ho s s a o OS resp onsave is, n um fu turo pro xim o o u re mote , p orurn rande ' .

g num cro de defe itos que depreciam a especie",

Em 1918,36 anos d e po is , e m critica ao a rt ig o d e M on te ir o L ob at o " Pr ob le ma

Vital", p ub l ic a do n a "R . ta do Brasi " 'eV IS 0 rasil", A le eu A mo ro so L im a descreveu o s p r ob l e -

m as e st ru tu ra is d a r ea li da de b ra sil ei ra , r ess alt an do a u rg en ci a e m s e p ro rn ov er , a om esm o te "hi . .

mpo, a g iene flsica" e a "higiene m oral" do pais. Para e le , os males

d a e d uc a o; ao e ra m l et ai s ao p ai s e s ob re pu ja va m a s c nf en ni da de s n at iv as , e xa ta me nt cp o r s er em a c au sa d cs ta s.

E stes exem plos com pr· · . d. . '. ovam a nqueza de material que cnvolve a p c S Q U l s a ejornais e revistas P o r m eio del' . .I· . . a e possrvel a coleta de importantes i nd ic e s m f on na -IVOS e f on na tlv os - 0 e .

. nussor, a m e ns ag e m e 0 e nun ciado _ capazcs de dcscrever

~ ~s e ra ~ o ~ m a le s s 6c io -C uI tu ra is d o p ai s, c om o e le s c ra m d ef in id os e c on ce itu ad oss P O SS lv el s p ro gn 6s ti co s e t ra t

a me nt os t er ap eu li co s a pr es en la do s p el a imprensa.Nao era apenas a real'd ad I

d S id ,. I C cu r ur al q ue e xig ia c ui da do s m ed ic os o s r ec la mo sa a u e PUbhca e da medi '. '.

c f ti d ,. cm a prcvenllva tambem c xi gi ra m u rn a a tu ac ;o o maiselva 0 p od e r p ub h co q .

Pudess ' u e s e manifestou atraves da criacao de instituicoes quee m C on tr ol ar d e man . .

. eira mars eficaz q u e a fl ig ia m a popu la c ao paulistana.A Sltua~O geogr.ifi d .

tares conhe . . lea a c idade, a precariedade do a te nd im en lo e o s r ud im e n-c u n en t os h i gi e ni c o s e '. . ;r......~

de sucessivas id . S3 IU ta n o s a c e nt u ar am ainda m ais a dissemu.....,..oe asSllstad ept e nu~ - ~ v ar io la , t ub er cu lo se , f eb re a m ar el a e c o te ra _ com s e r i a s

oras consequeoclas 0 r . dom a io r es c a us ad das .' .C u na ( tr op ic al) s er np re f oi a po nta do c om o u m s

das indU stri' ores epldenuas sobre tudo no centro urbano o nd e a s c ha mi ni sas co m~ ava m a des tar s . '

b e rn c a us ou muir aI . pon . e a industrial~ao trouxe beneficios, t a J l 1 -

o I~ s. m e fic lo s so bre a saud e da popula~o.sab er m edico e m Sao P ul .

respe ito ao aspecto I a ~ trouxe uma m arca diferenciada no que diz

popu a r. A v ul ga nz ar ;: ao d es se c on he ci me nt o p ar a 0 a Ic an ce d os

consumidores fugia, muitas vezes, ao scntido d ado p ela orientacao med ico -

academica. Par outro lado, S ao P au lo n ao e nf rc nt ou suas corcepcoes de Sande elabo-

r ad as p ela e lite e p el os "saberes competentes".

A cultura popular vivenciada e m S ao P aulo se a li rn en to u d e s ab er es alterna-

tivos, r e fe it os a p a rt ir da s a b ed o ri a i n di g en a e a f ri ca na . T o do 0 c o nh e ci m en to m e di co

caseiro, c ul ti va do t an to p el as familias l oc ai s q ua nt o p el as imigradas, e que foi no-

t ic ia do p or artigos de jornais, propagandas medicas, almanaques e volantes, const i-

tui-se em fonte preciosa para 0 e nt en di me nl o d os r ec on di ci on ar ne nt os o fe re ci do s p or

sa o Paulo.

o a lm an aque e ra u rn tip o de pub lic ac ao q ue, alern de traz er ur n c alend ario

complete, c o nt in ha m a te r ia recreativa, humoristica, "cientifica", literaria e infonna-

tiva, Dada sua c ar ac te ri st ic a d e a nu ar io , c ar re ga em suas paginas uma f on te d e p es-

quisa formativa e i nf or ma ti va d es ti na da a f am il i a, n o r rn a ti z an d o 0 seu existir ou

mesmo transformando os habitos e rcvalonzando 0 sentido da vida.

C o ns id e ra n do l it er a tu r a menor a le p el as cxpressoes: " Sab er de almanaque",

"conhecirnentos de almanaquc" - s in o ni rn ia d e conbecimcntos imperfeitos, precarios

e s up er fi ci ai s - transporta justamentc al 0 li do e 0 consumivel pelas c ama d as s oc ia ls

q ue a m an ipu la rn dura nte todo 0 ano. Sabe-se que e sse c onc eito na o e de tod o

verdadeiro pois a vida academica, os doutore s e os bachareis scrviram-se d e su as

paginas para exercitar a s su as l id es cicntifico-literarias.

Do s limites do possivel as praticas medicas s in g ra vam : d a c r en d ic e it cicncia,

d o r ea l a o p ro va ve l, da mezinha a quimica Espacos distantes e proximos naviragern

do seculo.

P or o ut ro lado, surgiram os Guias e M an ua ls M ed ic os c om o vciculos de di-

vulgacao d e u rn saber que estava se instituindo. veiculo de disseminacao d e l e it u ra s

g ab ar it ad as s ob re 0 binomio saude/doenca Emcrgcm esses instrumentos de cornu-

nicacao c o mo e le m en to s de agrcgacao d a n or ma "culta" e "ci vi li zada" ou sej a,

"cientifica" .

Os p ro du to re s d es se tipo de publicacao foram personalidades destacadas no

m eio profissiona l a que per tcn ciam , c om o L uis P ere ir a B arre to e Jose B arb osa

P la cid o, e ntr e o utr os. T al pratica tornou-se usual nao so p ar a a te nd er a o p Ub li cocitadino e rural, ma s tarobem n a p ro pr ia c om u ni da d e m e di co -a c ad e rn ic a , 0 intuito

era orientar, nonnatizar e codificar a I citura do sell o bje to d e conbecimento e de

exercicio profissional - 0 ser humano .

Em contrapanida, as formas trsdicionais d e d ia gn os e e prognose representadas,

principalmente, p elo s d og ma s, c re nc as e p ra ti ca s religiosas, c ap ta ra m p or m uit o

te mp o a s a te nc oe s d os p au li st as , c or sti nn nd o-s e e m im po r1 an tc s in dic io s p ar a q ue

!J]ProJ~Historia; SIftJPwdo, (101.dez. }W3 /43

Pro}. Htstona, Silopaulo, (101.de:. {rJ')J

 

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se contemplem as represent acoes da saude , doenca e morte, Tanto as manifestacoes

rel ig iosas sob commie da Igrej a h ierarqui ca , quanto as expressoes popul ares

auto noma s , numa completa imbric~ilo entre sagrndo e p r of a ne , c ompuse r am. por

t oda a h is to ri a de Sil oPaulo, a pri nc ipal li nguagem para a expressso popul ar .

As represent acoes e laboradas pel os escravos, bern como 0 espirit ismo, a

macona ri a , a s s im como 0 significado hist6rico das organizacoes confessionais como

clubes, hospi tais, escoIas e cemiterios, silo urn campo a inda pouco explorado pela

historiografia.

As fontes silo diversas e 0 l evan tamento a ser fei to devera i r ao encontro de

t oda docwnenfa lj il o que t ra ta do cot id iano da vida pauli st ana em seus mul ti pl es

aspectos. Os rituais de nascimento, inici~i lo e passamento serilo revisitados, na ten-

tat iva de levantar-se paradigmas que esclarecam as formas de representacao rcl igiosa

da saude, da d oe nc a e da morte.

o espirito da c id ad e l er ia q ue s er c ntc nd id o " la tu s en su " n ao como a lg o e s-

t reito, mas como aJguma coisa que mcsclasse fcni'lmcnos universais, como a S.D.M

com 0 e sp ir it o l oc al. Q ue r s e v cr em S il oP au lo uma c id ad e ond e o s c id ad ao s s ao

part icipantes c nM "estrangeiros" c neste sent ido, se implicarn na trama que percebe

os fatos rm como algo que vern de fora, mas que t ern uma expli ca '(ao l ocal .

o problema que atravcssa todo 0 pro jc lO e a busca do ent endimcnto da vida

paunstana, face a s difereraes percepcoes da S,D ,M. pontuadas por suas repre-

sen tacoes cercadas pel as condi coes l ocai s que confi guram a Sao Paul o a ma rc a d e

sua potencial idadc como "ethos" urbano - (re) intcrpretar a Historia e propor visoes,

evi tando a dicotomia entre 0discurso e a praxis, t rabalhando de forma indissociavel

os elementos que compoem 0 t ema; contr ibui r para a ref lexao sobre a pmdu<r: lo

historiografica contempor.inea cspecifica sobre 0 assun to , apont ando para a cri se de

i dent idade a que foi submeti do 0 Ser Humano em sua s r ela co es com seu s s er ne -

l hant es , com a natureza e consi go mesmo,

a Espaco Urbano

Pretendemos fazer uma analise sistematica dessas fontes documentais apon-

t adas sobre a His t6ri a ci a Sande, da Doenca e da Mone (S,D.M.) circunscnta ac ldade de Sil oPaulo no per iodo que medei a os anos de 1850 a 1940.

Sao Paulo desde os meados do seculo XIX comecava a apresentar tenuamente

uma r ed e fi ni <r ~ d as questoes relanvas a S .D.M. no s en ti do d e eoc aminha r e d e

normalizar a at;oo publica na a r e a .N a v ir ad a do . I ., . secu 0 a c idade de Sao Paulo supemva 0 ritmo de crescimento

das c ap u ai s b ra si le ir as e 0 aumento ci a populacao, priocipalmente ci a c l as s e t ra oa -

l~ ~r a, ma rcou a in da ma is 0 desequi li br io soc ia l, acentuando os contras tes nosrove IS e nos estilos de vida.

Conf ig ur av a- se , e nti lo , a a ss oc ia t; il o d e p ra nc as medi ca s c om a s a co es do

E s~, c omo e st ra te gia p ar a p la nif ic a~ o u rb an a e con sequ en te c on tr ole s oc ia l. A

Capital paulista e c idade mui to d iferen te de suas congeneses na Ameri ca Lat ina t ai s

c omo: Mex ic o Havan a, L ima , B Aire, • uenos s e outras; porque apesar de s er u m acidade modema, e tambem "velha", 0 ent endimento desses "corarast es" traz

questoes ingenuas na .', aparencia mas que permitem indagar se Sao Paulo apresentaum a 'ft 'dadespeci lei e ou se e resultado de um genero . . -'- de nhecid

Desde I ' UJuano $CO o .. o~o se lmpu~ rnm os probl emas de ordem metodolOgica, 0 t ra to docu-

mental. as tecrucas de analise 0 projeto d sde .,. ._1 . "'. • J e 0 lnICIO cenu<ulZOu-se no "espmto

u rbano , a p a rur da tnterprel3 r o o do R' • . .. , ...... omanusmo acadenuco que c aractenzou a espe-cificl(iade da "urbe" paulistana,

1#

PfOJ.HiltlwQ, S&> Palo, (J 0 )• • : . 1995

Prof , Hjslima. Silo POllio. (10), de:. I99J/015

 

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Trabalho, cultura, educacso: Escola Nova e

Cinema Educativo nos aDOS 1920/1930

Coordenadora: Maria Antonieta Antonacci"

Em rneio a s discussoes que envolverarn a tentativa de reformulacao do cur-

r ic ul o d e Hi st6 ria n o 10 Grau em Sao Paulo, no periodo de 1986/88, quando foram

propost as mudancas nos modos de t raba lho escol ar e nas forrnas de s is temati zar

experiencias sociais, algumas argumentacoes apontaram para principios e praucasd a Es col a Nova . Da i q ue , para par ti ci par do debat e em torno de quest oes educa-

cionais com pressupostos do conhecimento bistorico, mont.amos urn projeto de pes-

quisa, rcunindo integrantes da ex-equipc de Hist6ria da CENP /SE, ja entao inscri tos

na Pos-Graduacao da PUC-SP, com a1uoos do Departamento de Histori a da PUC

Na procura de caminbos para aprecndcr conexoes h is t6 ri cas ent re l raba1ho c

educacao, partimos de confli tos na sociedadc paul isla nas decadas 1920/30, quando

man if cs ta co es do c scol anov ismo ganha ram for ca em va ria s i ns ta nc ia s Tendo

ati ng ido urna comprecnsao do mundo do t ra oa lb o em Sao Pau lo n es tc p er io do , a

p ar ti r d e i nte rv en co es d e m il it an te s do IDORT. que t ambern p ar tic ip ar am dos

movimentos de renovacao didat ica de ent ao , a rt icul ando a Escol a Nova ent re nos ,

formulamos estudos sabre 0 mundo da educacao e da escolarizacao, Tudo na

pcrspectiva de recuperar suas i~unc;Ocs historicas e entender melhor os cnfrentamcn-

los a praucas pedagogicas que ult rapassam 0 sistema educacional vigente.

Com 0 t itulo "Trabalbo, cul tura, educ~ao: dimensoes dos confli tos sociais em

Sao Paulo nas decadas 1920/30", 0 pro je to recebeu apoio f inance iro do CNPq c

desenvolvcu-se em His I inhas de pesquisa, com bolsistas de Aperfeicoamento e de

lniciacao Cient ifica, alem de bolsistas do CEPE/PUC.··

• Depar tamento deHistOria, PUC·SP.

Suas l inhas de pesquisa recor te ram-se em torno de: Inter locutores da Esc ol a Nova em Sao Paulo,

lnqueritos e legislAl;·Oesescolares, Mareriais didaticos e para·didatico s. Participaram de suas ativi-

dades, nas diferentes fases e recortes tematicos, os segumtes pesquissdores: Anehse Muller de

Carva lho, Cec il ia Hanna Mate, Mar ia Candida Reis .Ana Luc ia Novaes, Sue l] Tereza deOliveira , Nev

Moraes Filho, Angela Telles, Antonio Carlos Mazzili, Marcelo Florio e Parricia Raymundo

Pro]. H,.tbnll, SISoP....o, (10),<Hz./993 147

 

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No seu p er io do d e v ig en cia f or am tr ab alh ados :i ngulo s e d imcns6e s da

Esc?l~ Nova, a partir de regis tros loc aliz ados no Museu Pedag6gico de duas

:~t ltUl~i 'i es de ens ino ent ao model ares (Esco la Normal da Praca , a tual EEPSG

Caetano de Campos" e Escola Prof iss ional Fcminina do Bras atual EEPSG

"Ca rlo s d e Campos ") , n o A rquiv o PUb li co d e S ao Paul o n a edi to ra Melhor a-

mentos (responsave t pel a publi cacao de inumeros t ex tos d idat icos e para-di da ti -

cos naqueles anos) e no A ' Gs rqurvos ustavo Capanema e Lourenco Filho, doacervo do CPDOCIRJ.

Desenvolvendo discusso d d A • •, es e estu os que vern redimensionando as questoese ar11cula~oesentre trabalho d I

, 2 e e u ca cao , a o la do d e I ei tu ra s d a document ac so p es -

q ui sa da , fomos estabcJecendo urna relacao eritiea com a memoria insutucionalizadasabre eduea .; :aoe escol ' x~ N '

, , anzacao. este sentido, foram fundamentais as analises doInquento sobre I n s tn t ri J o Pub li

~...,.ru lea no Estado de Sao Pau lo p romovi do em 1926 porFe rn ando d e Azevedo p ed id do 'd '. ' a I 0 Jamal "0 Est ado de Sao Paulo"; do Manifes to

GOSt.~~nel IOs da Escol a Nova, red ig ido por Fernando de Azevedo sob sugestao dee wlO \ f .lrgas a IV C ~" ' '. '

M " oUlercncla da ASSOCla9aO Brasileira de Educacao; da semonas de Paschoal Lem " , .

fi' me, urueo sobrevivente ent re os signataries deste Maru-esto e atlvo participante d fd Ed asre onnul a~oes pcdagogicas daqucles anos: e do C6digoe ucacao de 1933 que fI u1 d " - . " .. I' ' , orm a 0 sob mspiracao do Man if es to e d as p ra nc as d e

raciona l :zar ;aoenl iIo v ig t, .. ' en es, pretendeu regulamcntar as condicoes e relacoes do

eusmo pnmano ndar i Y

D ' secu 0, normal e profi ss iona l em Sao Paulo .

E I Nentro

da perspectiva de ultrapassar 0 jogo historicamente insti tuido entresco a ova e &cola Tradi , n a t

cet'\{''''~ . ICIO , procuramos trazcr a tona na o sO diferentes con-pcoes e prahcas de ens' bi

diverg- . . mo su ~acentes ao movimento escolanovista, como suas

toenc las e apropn~Oes em rel a~ il o aos encaminhamentos educaci onai s de sc-

res ent iio organizad da .os socledade paulista, como os ligados ao movimento

1. Pan. t al, vern s endo signifi ,Tho rn az Tadeu da S l c at iv a a pubhc ayAo de t e xt os d a s ene "Educ ac ao e C rf ti ca ", s ob d ir e~ ii o d e

p ro gnmu d e p 6 s _ ' ; : : : pela edltor~ Artes MCdicas(PA), assim como a produ~o mais recente de

complcxidadc das rela. ;; : io onde dlsser ta .; ;6es. teses e pesquisllS tern levantado retlelC(les sobre aS SOClocultu ra ls na area de edu~llo.

2. Entre fothelos peri di, no ICOS docurnenlos escol ..aten,~s concenlrar ares e s eries de material pedagogico localizados. nossas

Pr~a ate mais ou . : : - = ~~~oRe: is ta 0 EUimulQ, . qu e a compenhc « a v id a da Esc ol a Nonna l , da

t ra ns pa rec em v in cu lo s t r ' q ~ do p as so u a c tr eu la r a Re vi st a Nosso esforco, onde IMnbem

cseola. A Im destas e : : r e a assoc layAo dea lunos Gremio Normalista 2 de Agosto ea dire tori . da

AssO( :i~io Benef icc: .; dIC~~, traba lhamos corn outra ser ie de revistas , onde art icl l ia ram-se a

PU hl ic a d e S io P au lo c o. e ~s or ad o P Ub li co de Silo Paulo com a Dire toria Geral da Instnl~IlQ

o rg lo d a D ir et or ia ~ ~ ,: R ev ls la d e E ns in o ( de 1 90 2 ale 1917) Revista Escolar (1925 a 1927) ,

Revista Edu",,"pll fa. In~tru~o PUblica que, desde outubro 'de 1927 oassou a denominar -se-, 0 com sels numer tr I . ...~ d

retornou a designa<;:io . os e n e 930/31 denominados Revista Escola Nova, quan 0anter ior com publica~lo a te 1961.

operario, it Igrej a Catol ica, ou a grupos imigran tcs De out ro l ado, d iversi fi camos

nossas abordagens sobre formas de intervencao social construidas neste p e ri o do , n a

area escolar-educacional, atentando para testes de s e le c ao e avaliacao, medidas pro-

grarnat icas e curriculares, nonnas discipl inares, matcriais didat icos e para-didaticos

(Iiteratura infanto-juvenil, bibliotecas escolares, audio-visuais e cinema).

Situando historicamente os discursos, cxercicios e injum;:oes dos grupos e agen -

cias sociais entso voltados para educacao e escolarizacao, foi possivel pensar 0 esco-

la novismo como p ro je to cul tu ra l q ue , d o horizorue do trabalho modemo e da

nacionalizacso da Republica, art iculou formas de reconstrucao social e regeneracao

dos costumes a par ti r da educacao. Recuperando seus interlocutores historicos e

restabelecendo tensoes que marcaram 0 campo educaci onal naqueles anos, a lem de

apreendermos processos de recornpostcao e legitimacao de praticas de control e so-

c ia l, enfrent amos a mem6ria do movimento escol anovis ta . Ide ias em torno de sua

" renovacao" e "democrat izacao " , que assumiam fei coes i ncontest avei s, ao serem

confron tadas com argumentos e proposicoes de outros sujei tos sociais assumiram

conotacoes de expressoes historicas de grupos soc ia is em contl it o no constnuir de

seus projetos educacionais,

Com estes procedimentos, vieram a tona imagens 0.10 propriamente de reno-

vacoes pedagogicas, mas de lutas pela nacionalizacao dos processos de

ens ino/ aprendizagem e pel a moderni zacao do sis tema disci pl inar e produti vo no

mundo escolar.

Dentro da beterogeneidade de proposicoes e atividades que const itui ram 0 que

se conhece como Escol a Nova, quest oes vol tadas para a formacao de habit os , au-

t udes , comport amentos, ges tos e val ores em torno de modes de t raba lho regul ar ,

metodico, constante e pontual emergiram com destaque. Desde a assiduidade e pon-

t ua li dade de a lunos e professores , da moral idade e h ig ieni zacao de s eu s corpo s e

ment es , a te a rormalizacao d e r eg ra s, p ad ro cs d e condu ta e r ne to do s d e ens in o,

surgem evidencias que sobre a concepr ;: ao de escol a, a luno , professor e t raba lho

escolar incidiram perspect ivas de organizacao e controle, em meio a transgressoes

e adaptacoes dos sujei tos envolvidos nas experiencias escolares.

A traves de imbri cados processos , i nt egrando demandas por melhor ens ino e

ampli ll l;oo das vagas escolares com interesses em torno de uma reordenacao socio-

cultural, 0 escolanovismo promoveu pollticas educacionais de sistematizacao e ad-

m in is tr ac ao t ec nic a que r ec al ram sob re to do univ er so e scola r, p ad ro niz ando

programas, curriculos, material escolar. concomitante a tentativas de enquadramento

da formacao do professorado.

148 Pro). HIS/on... SlloP""lo. ( /01. d ez : / WJ /49

Prof. Historia; Sllo PmI/o, ( /01. des: J 993

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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Como a Escol a Nova promoveu ati vi dades em lomo do uso educaci onal de

recursos audiovisuais com destaque para 0 cinema educativo, e dado nosso interesse

em t raba lhar com 0 desenvolvimento ci a linguagem c in e m at o gr af ic a n a s rel~Oes

ensino/aprendizagem*, corcentramos ateBrOes nos seus registros, desdobrando 0pro-

j eto in ic ia l. Em "Esco la Nova " e c in ema edu ca tiv o em Sao Pau lo n a d ec ad a d e

1930: educacao moral e e st eti ca , c on tamo s com bol sa p esqu is a do CNPqu e com

a col abo~o de Angel a Apareci da Tel les e Ney Moraes Fil ho , no l evan tamcnto de

material e de quest oes em lorna de c inema e educacao,

Em suas proposicoes de reorgani7.a~0 sociocultural a parti r da educacao, os

escolanovistas promoveram atividades em torno do cinema educative, na perspect iva

d e produz ir me io s de r eg er er ac ao mo ra l, d e unif ormiz ac jo d a l in gu a p at ria e d e

nacionalizacao de fonnas de vida e de expressao cul turais. Tais encaminhamentos

demandam estudos por parte de profissionais de historia.

Como a s p esqu is as c om bas e no c in ema edu ca ti vo e no INCE p ri vile gi am a

p~dUl;oo cinematognl lca, t razer para 0 campo da Hist6ria analises sobre 0 cinemaeducative, recuperando dimensi 'ies do caminho da educacao para 0 cinema e acorn-

panhando a construcso histories das conex(ies educa~ao/cinemalEstado foram nossas

intencoes. 0 resul tado foi significativo, com local izacao de vasta documentacao 50-

b re a d imens ao edu ca cio na I p re se nte n a c ria ~o dos s er vi ce s d e r ad io dif us ao , a

exemplo do que entao ocorria em outros paises, onde tecnicos e educadores brasi lei-

ros buscaram justi ficativa e orientar;ao. Tambem podcrnos acompanhar a sistcmati -

n v;a o d a a~o gov ernamenta 1 n es ta a re a a te a fu~ao do INCE, em 1936, b er n

como fonna s d e u so do c inema no e s pac o e s c ol a r

Qua~o ao que foi tr ab al hado a te entao, algumas consideracoes podem ser

dese~volv l~ s, para abr irmos dia logo com out ros pesquisadores , mul ti pl icando

caminhos e indaga¢eS na compreensao das l ut as soc ia is no campo ci a educwyAoeda prod~ cinematogrMica.

No to cante a o uso d a lin gu ag em c in ema togn if ic a c omo r ec u rs o d id a nc o -

~g6gi co uti li zado em Sil oPaulo desde os anos 1920, comecamos pereorrendo

canunhos ~ rt os , por out ros pesquisadores , nor teados por ques toes d e nos so in -

t eresse . Ass im , a1emdo t ex to de Maria Rit a Galvao _ Cronica do C inema Pau lis-• A r espe it o d e nos sa e xper ie nc ia em $& J de a I I" . d

a u aCOmBmguagem cUlemato . .. .. .. lCa , vc r"Oo c in ema mu olIO falado' cenas da R ",,'bl de W . . &-

. _,-U lea eimar", m Revista Histona, UNESP, SP, v.IO, 1991.

• • De: g par te , C oma loc al iz ~i o de doi s l et es d e f ra gmen to s c in enWogr if iool c om ~e 6 f ilme s dos a no s

de : O. Bas anb:,~col Nonna l da Prw;a e Escola ProflSSional Feminina do Bnis scm possibilidade

e c :a; :,:~~ a 10 ~::p a n : ~eAPas.su-empor.processes derestaunw;:6es e lelecinagem, foi solicitado

1m pc . q uxil io Pesquisa" para f inanciamento da recueerae jo desle mater ia l,atua ente com c6pla na CEDICIPUC. ..- •...,.

tano -, que apont a p ar a d im ensoe s d a d is pu ta s oc io cu lt ur al n a p rodu cao e no

consumo das imagens filmic as, recorrcmos ao estudo de Teresinha del

Fiorentino3. Em Utopia e realidade: 0 Brasi l no comero do seculo XX, analisando

dais romances esta aurora deixa ver que 0 usa educacionaI dos recursos audiovisuais

esteve presente, entre nos, desde 1909. Se 0 educativo e 0 propagandista confundiarn-

se no "Sao Paulo no ano 2000", de Godofredo Barnsley (1909); em "0 Reino de

Kiato", de Rodolfo Teofi lo (1922), 0 aspecto especificamente pedagogico ja estava

colocado no recurso cinematografico. A explicitacao da referencia ao uso escolar

d o c in ema como in st rument o d e edu ca cao coube a Af ra ni o P ei xo to , em seu li vr o

Marta e Maria onde no capitulo "Urn belo sonho" irnagina como poderia ser uti li -, ·4

zado 0 cinema para a edu ca cao no B ra si l .

Entretanto, os registros destes textos nos possibil itaram outras perspect ivas de

anali se . Enquanto no mat er ia l reunido por Galvao 0 c inema apareceu, em cer tas

passagens, como perturbador da formacao sadia das criarcas, mulheres e adultos em

geral, dado sua producao e projecso indiscrirninadas; na s perspectivas de AfranioPeixo to era pro je tado como agent e de educacao moral , saudavel e pat ri ot ica de ci-

d ad ao s n ac io na is q ue f al ar iam a cor re ta l in gu a por tu gu es a e s e expr es sa ri am de

modo adequado a padroes cul turaJmente em expansao. No sent ido dcsse confronto

de c inemas , a inda podemos acompanhar a pol emica em tome da decisao do Jui z de

Menores do Rio de Janeiro (em 1928 nao cump ri u a o rd em da Supr ema Co rt e d e

Ape1 ac iio e proib iu a entr ad a d e meno rc s nos t ea tr os e no s c inema s do Dis tr ito

Federal), que teve subjaccnte 0 cornbat e a c inemas de bai rro, geralment e nas maos

de imigrantes, desprcocupados com "nossa raca, nossa nacionalidade e 0 futuro das

novas geracoes", conforme referencias do jomal 0 Est ado d e S ao Pau lo em seu s

comentarios sobre este episodic.

Est as sondagens nos remet eram a uma perspectiva de e st ud o q ue na o pode

deixar de ser considerada: a de que os aspectos educacionais e formadores do cinema

foram uma prcocupacao de diversos setores da sociedade e nao so dos escolanovistas.

A lem de a rgumenta co es do p en sament o c ato hco, em que s e a companha u rn r a-

c ioci ni o semelhant c ao do discurso escol anovis ta , t oda uma vasta gama d e pon -

deracoes em torno do cinema como meio de ins trucso e deeducacao san it ar ia foramercontradas na fal a de medicos , h ig ieni st as , psi c61ogos e demai s espec ia li st as em

saude publica.

3 . G al vl o M ar i, Ri ta, Cronica do Cinema Paulistono, Slo Paulo. Atica . 1975. F iorentino, Teresinha del ,

Utopia e realidade: 0Brasil no comefD do seculoXX. SAoPaulo, Cultrix, 1979.

4. Cf Cronologia daCultura Cincmalogrifica no Brasi l, Codernos da Clnemaleca, n" 1 , a c ar go de Ruda

Andrade, SIDPaulo, 1962.

ISO

ProJ. Hi316ria, Silo PIIMW, (10) . dlZ. IW3 P"",. Hl&liml, Sdo PIIMIa,(10).dn 1993 1.51

 

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D i sc u ti nd o o s a sp e ct o s c o rr up to r es d a s c o ns ci en c ia s p o r par te do rnau cinema

e propondo que os cat ol icos "mi li tem na A~o Cat el ica ( .. .) opondo-se a s repre-

sental;Oes contrarias a concep!;oo c ri st a d o m u nd o e a vida inspirada pelos bons

costumes", em 19360 Papa Pio XI exortou os bispos "a uma ¥o positiva e con-

corde a t im de fazer do cinemat6grafo urn instrurnento de educacao sa", em "uma

grande obra em defesa da mora li da de d e s eu povo dur an te a s horns d e d es canso e. " ., 5

recrelo .

A lem de caber ressa lt ar as coi nc idenci as ent re os d iscursos cat 6l ico e esco-

laoovista de Canuto Mendes, Jonat as Serrano e VenSncio Fil ho6, no sentido da

opos~io ersre born e mau cinemas (urn reforcando a incotpOrarroo de posturas etico-

morai s e a cri ar ;i o de Mbi tos saudaveis , enquanto 0 out ro e st imula v iews como a

bebida, a P te~ e a Iuxur ia ) chamou-eos a ten; ao as recorrent es preocupacoes com

o t empo l iv re , com 0 l azer e as diversOes populates,

Alem destas formulacoes , i numeros pronunciamentos a respe it o do cinema

como meio educa ti vo foram encontrados na grande imprensa pauli st a e em revis tas

especia lizadas no campo cia medicina e da e du c ac a o , Assim , enquanto nojornal 0

Estado de Silo Paulo, nos anos 1920 foram const an tes not ic ias sabre "a frequenci a

de menores nos t ea tros e c inemas", com art igos comentando "As cri ancas e 0 ci-

nema" , "Menores nas casas de d iversao" , a lem das referencias a decisao do Jui z

de Menores do DF; no comeco dos anos 1930 a tonica concersrou-se em reportagens

sobre "Cinema e Bducacao" e "Cinema Brasi leiro", Nestas, diferentes especial istas

manifes ta ram-se pel a adap~ iIo do cinema a menta li dade i nfan ti l, em nome das

pernubacoes psi qu icas causadas pel o mau cinema nas cri ancas 7, e pela defes a da

cria~ do c inema naciona l, fei to para ens inar na l ingua nac ionaJ, poi s " sendo urn

i ns trumento de propaganda de habit os , cos tumes e ser ti mentos , na o deve ser es-trangeiro ,,8.

Evidencias da construcao do perfil de urn cinema perturbador da moral, dos

bons c os tu me s e da inteligencia foram e n co n tr ad o s, e m SAo Paulo, desde 1921,

qUMdo Lourenco Filho realizou urn inqueri to com 424 cnancas, de 10 a 15 anos,

na Escola Normal da PI3IYa,conforme suas referencias no art igo "A moral no teatm,

principal mente 00 cincmat6grafo ,,9. Neste e em out ros t ex tos pesquisados , f rent e ao

cinema que devia ser combatido. censurado, fiscalizado em seus espetaculos, erguia-

se 0 que preci sava ser i ncen ti vado e compl ementado com expli cacoes que organ i-

zassem a percepcao dos a lunos. Dai 0 ilustrativo titulo Cinema contra Cinema, onde

Canut o Mende s d e A lmeid a abo rdou , em 1931, n a 6 tic a dos e sc ola novis ta s, o s

probl emas de prodtM; :l oe uso do novo meio de comunicacao soc ia l.

Urn cinema regenerador de costumes, propagador da higiene, auxil iar ci a cien-

cia const ituidor da na~o - que devia ser usado adequadamente -. reunia cspecialistas

em' saude e em educacao, Vendo no cinema urn " inst rumerao efi ci en te do ensino,

s ob re tu do n a d enom in ad a e scol a a tiv a, e sc ol a p ro gr es si va , c omo a chamam nos

Estados Unidos" e "nas pel iculas cinematograficas urn excelente meio de divulgacao

dos selecionados principios educativos e, mui especialmente, dos que se referem ahigiene moderna"lO, medicos e educadores continuaram reatinnando suas co~er-

gendas d e p rop6 sito s e d e r ecur so s, e xp re ss as d esde a funda cao da Associacao

Brasi leira de Educacao, em 1924. Em tomo do cinema, suas aliancas expressaram-seem argumentos de que:

As diversas imagens, milhentas vezesrcpctidas, por talmaneirase fixam nos cerebros das

criancas, que dificilrnente se apagarao inda mesrno decorridos v~os an~s. Compre~de-

se, pois, a u ti lidade veramente notavel dessa arma preciosa a service dainst rucao e, IpSO

facto, da civilizacao brasileira.

Ao lado da instrucao far-se-a, por igual, a educacso sanitaria transmitindo aos alunos as

nocoes mais elemen!ares de hig iene, esta ciencia providencia l que os prepara , ~sde 0

comeco daexistencia, para urnavida sa efeliz, onde a saude e mantida integra pela ngorosaobservancia dos habitos sadios··.

5 . C. u dePio XI,in "EI cine. s u s g r a n de z as e s u s miser iu" , Buenos Aires, Editorial Difusion, 1939,pp,27128.

Nessa ordem de consideracoes, varies educadores vol taram-se para "0 ens ino

do desenho, ,12 e para "A educa;oo pela imagem"l3, construindo a diferenca entre

o c inema educa ti vo e 0 cinema recreativo. Esta foi a tonica da Revista Escola Nova,

que dedicou wn niunero espec ia l ao l ema "Cinema Educati vo", duran te a ges tae

9. Cf. Educayio, 6rgio da Dirctoria Oc ra l da Inl~o PUblica de Slo Paulo, V.I Il , 1928.

10. Dr. Vieira Sobra l- "0 c inema como meio educa tivo " , in Laboratorio ellnico. Revista deMeatcina, ADo

XV, RJ, julho/agosto 193', n· 100.

6. cr. c . . n u t o Mendes, Cinema Contra Cinema,Sio P au lo , C ompUlh ia Ed. Nac iooa J, 1931; S el nno e

Venincio Filho. CinemQ e Etilca~lfo. sa o Paulo, Ed. Melhoramentoa, 1930.

7 . OESP. s ec ~ Med ic in a e H ig ie nc , "As c ri ~a s e o c in ema" , 28n/1933.

8. OESP, Cinemat6gra fos - "A lei contra 0 tilrne falado", 1/12/1929.

11.ldem.

12.Anton io de P a dua Dut ra - "0 ensino do desenbo" . in Educa.lfo, 6rgio da Diretoria ~.I do Ens ino de

Sio Paulo. vol.VnLjunho/julho 1932, O. 6/7.

1 3. U l ys ses F rei re - " A e du c~ io p el . i mag em ", i n Revuta de Edllca.tio. 6rgio do Dcpat1amento de

Educ. ." io doEstado deSio Paulo, vol, I.mar~ 1933. nO L

152PrQ} . H.,ona, SIlo Paul o, (10). M % . / 9 93 J5J

Prof. HlI"na. SiloPaMa, (I 0).d~t. /993

 

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de Loure~o Fil ho na Diret or ia GeraJ do Ensino de s a o Paulo, no imediato pos-ou-

t ubro de 1930. Confonne suas ponderacoes , ao i ns ti tu ir 0 c inema educa ti vo nas

escolas publicas de sa o Paulo como parte da Refonna de Ensino de 1931.

Bern escolhidas, mesma as pel iculas comuns exibidas no ambients escolar, com expli -

ca~iX:sadequadas, poderio dar s a ge s to e s m o r ai s e e s t e ti c a s, a s sim como s e rv i r para apwar

o g o st o pelo arranjo das habi~i5es, do vestu.8rio COTTei;Ao as maneiras ; poderao tomar

conhecidas novas f o rm a s d e t ra b al ho , d e sp er t. an do t en d en c ie s p ro f is si on a is a in da mal

suspeitadas,ou excitando iniciativaspara maiore m~lhorforma de produ~4014.

c at iv o " . Ci nema edu ca tiv o, mo ra l e s ad ie , q ue d ev ia s er p atr io tic o e c ap az d e

"mostrar 0 Brasi l todo a todos os brasi leiros", conforme Canuto Mendesl7.

Num contexte marcado por fortes diret rizes discipl inares, onde as palavras de

o rdem " . ..e preci so dar a cnanca a c inema que lhe convenha, ,18, HE curnpre que

seja para 0 bem,,19 ganhavam varies cspacos e adcpios. as preocupacocs dos esco-

lanovistas dirigirarn-sc das discussocs gerais sobre importancia do cinema na edu-

cacao, dos varies gencros de f ilmcs e do cinema nas d ivcrsas d isc ip li nas, para as

metodos de ens ino com fit as c inematografi cas Ocupando-se com plano de aul a em

tomo de f ilmes como 0 "Do pao ao t ri go" , onde t ra ta rarn do processo de fci tu ra

do pa020; com a " indi spensave l expli cacao " , a traves de " Iegenda cur ta , c la ra e

oport una, ou disco s incron izado ou a propr ia fal a do professor'<': foram deixando

claro que "a apl icacao do cinema ao ensino dcve-se condicionar aos prcceitos gerais

da pedagogia", onde 0 objet ivo era "0 c in ema no ens in o" e n a o "0 ensino pelo

cinema,,22.

Ao mesmo tempo, as diret rizes pam a exibicao de filmes, com detcrminacoessobre 0 qu e d ev e e MOdeve ser fei to ant es , duran te e depoi s das sessoes, pam "0

rnelhor" prove i to dos efeitos da proj~1io sobre os alunos, inseriarn-se nas pretensoes

racionalizadoras que ganhavam forca no pcriodo.

E a par ti r dcs tas perspec ti vas de contra Ie e normati zacao de urn c inema ao

servi ce de urna cducacao, da "co laboracao da c incmatografi a na obra de rerovacao

dos processos de ensioo.,23. que acornpanhamos outro conjunto de documentos 10-

calizados po r esta pesquisa, nos Arquivos Gustavo Capanema e Lourenco Filho, no

CPDOCIRJ.

Conforme est es , se no l imear de 1930 os mil it an tcs do cinema educa ti ve 10u -

varam a "al ta I icao do governo i ta li ano" - que cnara urn Ins ti tu te Int emacionaI de

Cinernatografia Educativa, sob 0 patrocinio da Sociedade das Nacoes -, e m m ea do s

Cient es da " forca suges ti va das imagens", j a ent a~ acopl adas a d imensoes

senoras, e na perspect iva de explorar, na di rec ;oo de seus designios regeneradores,

o pote~ial da linguagem cinematogrMica, os escolanovistas avancaram na adapta~o

educacional de s eu s r ec ur so s t ec mc os , s oc ia lm en te p ro du zi do s e c on su m id os n as

t ensoes do mundo contemponmeo. Em marco de 1931 foi i ns taJado , em escol a deSO O Paulo, 0 primeiro projetor para uso escolar Em ju lb o, e nq ua nto a Folha do

Manhil oot ic iava a aquis i~o de pro je to res para oito escolas e a conclusao do

primeiro nlme produzido em Sio Paulo s eg un do a s n on na s do cinema educativo

(sobre Escot isrno), a Diretoria Geral de Ensina incumbiu uma comissao de organizar

urn "p~ano inicial basico" para sua irnplantal; lio em Sao Paulo. Como apontou 1.0.Orlandi, rnembro desta Comissao,«,

Esta fora de d' '00 . ... . . UVI que 0 cinema e hoje urna forca na fonna~oo mental do individuoe porISSO mflumdo nos movimentos sociai A . . ..

'. 181s. Vva a una g~o, f er e a memor ia, t or nandopennanenles e mdeleveisas impressiles de tudo 0 q ue O s olhosvirarn.

Entretanto, considerando 0 pUblico em geral "mais levado pelo sent irnento doque pelo raciodnio"l~ ..

• POSIClOnava-se pela necessidade de discipl inar e controlare s s e con ta t o com as imag ens16 "....

, 0 qu e COnstitui 0 p n nc ip a l p a pe l do c in em a e du -

• Eata Comisslo e ra fonnada pe lo t p Ii J o s e .

P.ulista; Galaor Na:tareth deAla .~ CSSOfeS de Ohveira Orlandi. do Centro do ProfessoradoUJO epelo pre$ldentc cia Soc iedade deFotognf ia , Venincio de Barros.

14. Lou re nc o F il ho · "Oc in emanae sc I . .. R .oa,m evwaElcolaNova,vol.lIl,juIho1931,no3.

I~.SerT.no e Venincm Filho • CIn~lIIa eEdwcQri10 SZ- P I Ed Mr , ..... au 0, . e!horwnentos. 1930.

16. "tude 0que ete (aluno) v I! e . ...,._de eonsti . .I 'fi"-"-- ........ •....tUI um amontoado de lIDprelS6es que precisam let' ordenadas,c asSI 1-.--. p.... que se lhe tomern, ig I 1e Ide Sen-rio constit· "_1 ua men • It ernentol deCllhura. Esse trabalbo de claslific~io.

....., III 0 PTUICI . . - ~I do cmem. D e l - " . . to'· 1 "in R_.rf4 E3Co/a Nova , op.cit, u..... vo . •. .OrilUldl-"0 cmema na e s c: o a ,

17.Canute Mendes- Cinema centra c inema, op. c it .

18. 0 Estado de SiloPaulo. in "Atraves deRevistas eJorna is " ,Revista Escola Nova. vol. Ill, julho 1931.n "3.

19.Serrano e Venincio Filho, C",,,ma eEducacdo, op. cit.

20: Galaor de AraUjo. ''0inema educativo " Revista Escola Nova, op.cit.

21. Ser rano e VenAncio Filho, op. c it .

22 .J .C .M. de Almeida· "0 c inema naedu~io" . in Revista Escola Nova. op. cit.

2 3 .C f Decreto 2940, de 22/1 1/1928,do governo do Estado do Riode Janeiro. quando Fernando de Azevedo.

como Dire tor do Depar tamento de EducAIiio do Distrito Federal. determieou 0 emprego do cinema

em todas as escolas primarias.

154 Prof. Hu ;".:.. S i l t > Pauo. (101.dez J 993 J55

P"" , HUtDr i<l , S60 Paulo , ( 10) . • z . 1993

 

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da decada, est imulando "este carater de cooperacao internacional" como "0 mais

s ig ni fk a ti vo d a civilizacao contemporanea "24, muitos haviam e n tr ad o n a qu e la"grande obra coletiva",

Nu m contexto em que foram instituidas agencias c inematogrMicas estatais a

p ar tir d o "scntido p ed agog ic o" do c in ema , c omo Ci ne citt a p or Mus so li ni,

Reischsftlmkanuner pelo Ministerio de Propaganda de Goclbbcls e ReichsteUe fur

den Unterric"sfllrn do Min i st e ri o de Educacao <f a A le ma nh a, s em e sq ue ce r a s e x-

p e ri en c ia s d o cinema s ov i enc o , i n t el e ct ua is brasileiros associaram-se a a g en t es d o

Ministerio de Educa.rllo e S au de d e G en il io V ar ga s, articulando 0 Instituto Nacional

do Cinema Educativo(INCE), em conson. incia com seus congeneres internacionais.

Resul tando de interu;os debates em torro da "protecao de menores", sugerido

e elaborado pela Asso c~o B ra si le ir a de Educ a. ;a o, em 1932 0 decreto 21.240

detenninou a cria.rilo da primeira Comissilo de C e n su r a F e d er al , nacionalizando 0

service de Censur a Cinematognif ica, Instalada no Ministeric de Ed~, sob a

presidencia de Roque tt e P i n to , esta comissao centralizou a censura, na perspect ivade transforma-la de po l ic i a] e local, em cultural e po l it i ca Na argumentar;ao de Celso

Kel ly, educador da epoca e adepto do movimento de controle do cinema edecaavo.

" nitiu 0aparecnnento de inumcros filmes nacionais, Iacilitou 0 desenvclvimcnto da~n .,. Iindustria cxibidora c incremcntou 0 numero decasas deespetaculo IlO temtono nacrona .

, 16°.,,,26que a estat istica de 1937estimava em . n _ ' ~

A confcrcncia de Celso Kelly na. ABE, em 1939. a rcspeito do "Cinema na

cducacao de adultos ", pennite rna is a lg un s d ados c aspectos relatives a p~sc~a do

cinema em nossas relacoes socio-cul tu ra is Tratando do " podc r q ue 0 cJllen~a vai

assumindo entre no s e da desfiguracao nacional que cle ja opera 110 clevado publico

que 0 frequenta " , deixou reg istrado:

"Para que seavalie 0 contraste entre 0 que 0 cinema devcria cxibir de brasileiro. de !lOSSO,

de patrimonio moral comum, eo que exibe - basta relembrar duas clfra~ em 1.500000

metros de tilmes censurados no ana de 1937, so 120.000 In,clros saode filmes n3ClOlIaIS

1 ". 7e,destes, quase tudo e de reportagcns para comp ementos

"A um sO tempo, a c e n su r a g a n ha v a u rn plano superior nas suas final idades e revclando

~a compreensiIo exata da influencia social do cinema, operava-se a racionalizacao doorgao e dos processes de controle"_25

Entre as possibilidades de estudo que estes documcntos comportam, no, sentido

de ampliar nossas formas de compreensao a rcspeito das confrontacocs subjacerues

a cxpansao dos meios de comunicacao social entr e nos . a ss un como ~a s muua s

d im e ns oe s e m q u e s uj ei to s de eruao cxper i rncntaram 0 seu fazcr-se historico, intc-

res so u a companha r a s t en sa s rcl acoc s ent re 0 que c dcsorganizado/apagado/esquccido

e 0 que e increrneruado/produzido /pro je tado . Nwn contexte permeado de lutas, CO~l

fon;:as nacionalizantcs e racionalizadoras ganhando cspaco, erucndc-se a decrctacao

da c en s ur a a o l iv r e acesso ao s novos rccursos audio-visuals e a p ro po sic ao d e u ma

edu ca cao dos sen ti do s, d a qual fez parte 0 INCE Tanto que, no rncsmo decreto que

c ri ou a Comissao de Censura Federal f i cou i n s inua do 0 advcnto do INCE , p r e par a do,

no R io d e J an ei ro c em Sao Paulo, por dois outros dccretos:

- 0 decreto 3.763, de fcvereiro de 1933, constituiu no Dis tr it o Federal a Bi-

b li ot cca Central de Educacao, com uma Drvisao de Cinema Educati ve pard reunir

e distribuir filmes a s escolas pUblicas28 ;

- 0 decreto no 5.884, d e abr il d e 1933 , instituiu 0 Codigo de Educacao do

Est ad o d e Sao Pau lo com med id as rel at iv as ao d escnvo lv imen to e con trol e d o c in ema

escol ar . Do art igo 121 ao 138 , cs te Codigo de Educacao ocupou-se em "col oc ar a o

alcanee da cscola a s c onqu is t as da tecnica modema n o c am p o d a c in er na to gr af ia c

Const itujda por Teixeira Freitas, Lourenco Filho, Jonatas Serrano e Venanc io

Filho, sob a presidencia de Roquete Pinto, esta Ccmissao de Censura ainda tornou-se

responsavel pela administra9iIo da "taxa cincrnatogcifica". Estabelecida pelo mesmo

de.scret~ na proporcao de quatrocentos rcis por metro de filme censurado, a verba

foi destinada para edi~o da Revista NacionaI de Educa~, que circulou por dois

anos vei cu lando ide ias e val ores des te grupo no poder .

Para situar mais de perto 0 que reprcsentou este decreto federal _voltado paracensura do ' .. c inema e m g eral e para produ~iIo de um cinema educativo e m p amcu l ar .

Ja que clesencadeou a cri a~o do I NC E -, destacamos duas o rd e ns d e c o ns i de rs co e s

p re se n te s n o s d o cum en t os oficiais pesquisados.Enquanto u rn documen to r ef er e- se a o d ec re to d e 1932 como ma rco para

"eclosilo do cinema nacional", divulgando que:

26. "Historico doCinema Educativo no Rra ., il"_ 1938.CPIXX:. referencia GC, 35 oo (}(}12,

24,Serrano e Venincio Filho, op, cit.

2S. Kelly, Celso Inlro.. l·. .,lo ' 0 . .

00 0 0 0 0: ......., a cinema n a educwyi o de adultos" , 1939. CPDOC. referencia LF. Kelly. pI

2 7. C el so K el ly - o p . c it ,

28. "Legislacao Cinematognifica Brasileira '. 1938 CPDOe. referencia lie 3500 00'2.

1.56Proj. HIS/ana, SooPaolo. riO! , dez. !993

Pro). Hslo,;a, Siio Ptallo, (10), tkt. 1993

 

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do-radio", regulamentando 0 uso de apare lhos , dos f ilmes e as exibi coes , conforme

as disposicoes do decreto federal29

Pelo ma te ria l p esqu is ado, f oi- se c on fig ur ando u rn comp lexo p ro ce ss o d e

obstmcao e absorcao, onde a pro ib icao /i nrenupcao de dct crminadas exper ienc ias

ci~matogr.ificas e/ou rela~oes educacionais foi secundada por mecanismos de ca-

nal lza~ao/enquadramento de outras, que atingiam formas de insti tucional izacao e de

controle das demais

_Deoutra par te , dando a percebcr d imens6cs do jogo de poder no int er io r do

pr6pno Govemo, entao em organizacao, ainda analisamos 0 decreta no 24.6.51, de

1934, que. crio~, no Ministerio da Justica, 0 Departamento de Propaganda e Difusao

~UItU~~d:~IUlndO nas suas a~bui~oes a censura c inerna tograf ica, que faz ia par te

~ ~ .l Iust eno de Edl.lCalYilo. Diante clesta tentativa, os intelectuais l igados ao Mi-

~ ste no d a Educ a~ o e envolv id os com 0 c in ema, p ar a "f az er d o s imp le s me io d e

dlSCUSSaoque ele e, urn aparelho educative", empenharam-se na divisao do Depar-

tame.nlo de P ropagand a em dua s p ar te s. Uma de Pub lic id ad e e P ropagand a, q uef icar ia no Minis le ri o da Jus ti ca ; out ra de Difusao Cul tu ra l l igada ao Minis te ri o deEdoc~oo. '

Conforme documentacao local izada no Arquivo Gustavo Capanema (carimbo

protocolar de abril de 1936), com 0 a traso na t ornada de dec isoes ncs ta a r e a novos

e incisivos argumentos foram dirigidos a Secretaria da Presidencia da Republica,

conforme "Exposi":u. de MO b' " " .". ........ vos que acompanhou 0 projeto de lei para usurucrona-

h~ao do INCE. Pressionardo para criacao de "urn 6rgao sistematizador do cinema

e ~at tv~, abrangendo ao mesrno t empo os dcmai s processos t ecni cos modemos,aphcavels ao ens ino e a ed "'" do " .fi I . '. uca.....o povo, e st e d ocument o d ci xa ve r o utr as di-leudades nesta mstltW'Y~Odo cinema educativo,

"urge dar aosprocesses modernos deregistro da palavra (discos, etc)orientacao e controle,

que venham impedir cdicoes nocivas a boa educacao do povo, aprovei tando-os n .a

divulgacao das li~oes des grandes rnestres, coisa ate agora praticarnente inexistente

Alan disso, 0Govemo amda nao t irou daradiod ifusao quase nada doque ela tem 0dever

de fornecer a educacao publica , A fal ta de fiscalizacao e de orien tacao educative das

transmissoes radiofonicas dopais, salvo raras e honrosas excecoes, equase absoluta".3o

"Portoda parte no terril' . . I .. . ' ono n aciona , os educadores ja s e convenceram das vantagens de

utilizer correnlemente aqueles processes de cultura espiritual",

Este registm articulado COm . ili ", pronunciamentos que procuraram "tranqiii izar

professores em relacao do ci

ub. . y ao u so 0 cmerna educa ti vo , no sen ti do de que MOseri am

s sntuidos pelo seu adv nt . .. . e 0, sugere que MO scm dlSCUSSOeS reacoes a hnguagemcmematogr:ifica se impunha .

. '. no espa!;:o escolar como recurso pedagogico, E ainda

pcml~te evidenciar mais controversias na uti liza'Y30 educacional dos recursos audio-\ ISUaJS ao alertar 0 goverro.

Frent e a est as quest oes foi i ns ta lado em 1936, no Mmist eno de Educacao, sob

a direcao de Roquete P in to , t an to 0 Service de Radiodifusao Educativa quanto 0

Instituto Nacional de Cinema Educauvo No mesmo ano, Jonathas Serrano organizou

o Service de Informacoes Cinematograficas da Acao Cat6lica Brasileira, destinado

a cot ac ao mo ra l d os f ilme s, s endo que u rn ano d epois , em Sao Pau lo , f oi lancada

a "Orient acao Moral dos Espet aculos", por Dom Candido Pardim,

Sob outr o angulo d e ana l is e, n as g cs to cs em tomo do INCE f ic ou evid en te

que sua organ izacao e funci onamenlo ocorrcrarn em meio a for te i ni ercambio com

exper ienc ias s im il ares de out ros pai ses. Conforme documentos des te per iodo , oscrrvo lv idos com a propost a de c inema educa ti vo est avam em sin toni a com tudo que

dizia respcito a insti rucional izacao do controle e da producao de filmes para instrucao

escol ar , ass im como de equiparnentos c incmatografi cos para cscol as primari as ,

sccundarias e universitarias. Acompanhando de perto 0 que vinha sendo fei to, ncsta

area, nos Estados Urudos, na Alcrnanha, Franca, Bclgica, Italia, Japao, seus promo-

t eres rcmct eram ao Mirus te ri o de Educacao cat al ogos de f ilmes da Alcrnanha, TC-

vistas oficiais de cinema educative, prograrnas de encontros internacionais, alern de

recomendarem e/ou prcpararem acordos de cooperac;ao31

Nesse scn ti do , chama atencao a minut a do decre ta 24. 651, que em 1936 cri ou

no Minis teno da Jus ti ca 0 Depar tamento de Propaganda e Difusac Cul tu ra l, onde

consta nota informando que fora "elaborado por Jose Rober to de Macedo Soares,

Encarregado de Neg6cios do Brasi l na I t al i a, de acordo com 0 professor Dr. Luciano

d e F eo , P re si dente do Ins tit ute I ntemacio na l d e Ci re rn at og ra fi a, c om sed e em

Roma". Conforme este documento, ao Departamento de Propaganda e Oifusao Cul-

30. Instituto Nacional de Cinema Educativo, CPDOC.GC 3~ .OO .OO /2 1 · 2 .

29. Cooigo de EduC3~' d E do d30 0 sta e Silo Paulo. 1933. IMESP. Torno XVIII

31. "Na Alemanha, 3Reichste lle fur den Unter richtsf ilm, por inte rmedio de seus a tuais dirigentes, Dr.

Hee lmbr ec ht e B adenhoop , e st .v ia p roms a e nt ra r num ent endime nto d ir et o c om a organiz~ioo

naeional, semdUvida de grande utilidadepara orient. . ..!odo n05SO lnst lnrto. AF~a ofe reee tambem

urn campo eKlraordinanamente vuiado, e pel. propria organiz.."lo 00 Museu Pedagogico epe lo seu

proprio programa de ~o. grande numero def i lmes, damelhor qua lidade. podenam ser enviados II(}

n0550 pais. lmprescmdivel stria, outrossim, manter Wl1 intercambio .illo c om 0 Instituto lnterna-

c iona l d e C in ema Educa ivo, c om sede em Roma, que poder ia f or ne ce r 11 5 mais pro\le itosa. , e

completes intormacees sobre 0 assunto" . "Algumas observacoes sobre 0 c in ema e duca ti ve na

Europa" . Rober to A«un~30 de Araujo. s/d. .CP[x>C. Arquivo Gustavo Capanema, GC 3~.OO.OO/2

1.<8 Pro}. H,slona. sa o PaJlio.(IV). dez.1993 159

Pro). Htstorta; sao Paula (I OJ . dez. 1993

 

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t ur al c om p et ia a c en su ra c in em a to gr af ic a ( at e e r n a o de r es po n sa bi li da de d o M i-

msteno da Educacao), i n c lu i ndo t a n to a fiscal izacao g e ra I d e c in e m as e 0 controle

da abertura de cinemat6grafos 32, quanto

participando da s discussoes e experimentacoes intcmac ionais a respe it o de c inema

educativo", estes seus a de p tos b r a si l ei r os a c l ima t a ram 0 [NeE e a dap ta r am filmes

importados aos chamados "irueresses nacionais", c on f onne e x pL ic i ~Oe . sde Roquete Pinto

.....0 encargo de propor ao Ministerio da Educacao a c~iIo de urn argilo semelhante a

LUCE itatiana, destinado principalmente Ii formacao do filme de educacso, de filmes

cientificos para0ensino, de filmes sabre a criacso de gado, sobre asprincipais culturas e

indUstrias nacionais (...) aspectos das cidades, aspectos da v id a rural ( . .. ) f il rn es d e

propaganda politico-social, propaganda contra as enfennidades (...) e pro higiene, boaa l im en ta c a o, e t c. ,,33

"A vista destas notas ve-se que 0 INCE (...)na o copiou servilmente nenhum dos grandes

modc1os do continente europeu. Procurou outras solucoes praticas correspondentes as

condicoes do Brasil, sern desprezar a experiencia des precursores."

"Para aproveitar os numerosissimos filmes existentcs sobre todos os assuntos, editados

nos Estados Unidos, na lnglaterra, naFranca, na Italia ena Alemanha, consegui U 0 INCE

realizar copias sonoras em l ingua nacionaI. cortando ou ampliando os documentos

originais c dando novo sentido educative brasileiro a tais peliculas ,,37

Mesmo ne s ta d i s put a entre os grupos organizados 00Ministerio da Justica e da

~~o peIa s ub o rd i~ o o d o c i ne m a e d uc a ti vo a s e us r e sp e ct iv o s poderes, os agentes

b~i le lTos n a o e st iv e ram a I he io s a o q u e a c on t ec ia e m ou tr o s p a is e s. T a n to q u e R o q uc te

Pmto, r e a l i z a r o o ur n b a l ar e o ci a "Si~ mundial do c ir em a e d uc a ti v o" f ez f re n te a s

investidas do Min i st e ri o da l u st i ca va l et do -s e de exemplo da Alemanha

"A ~rganiz~o alern4 s eparou 0 c in em a e d uc a ti ve d o c in e ma p r op a ga n da o u i nd us tr ia l.

E nisto andou com acerto. Os interesses da educacao pUblica exigem filmes de meier

smcendade; os da propaganda e os da ar t e . . . nem sempre ." 34

A par d e st a r et 6r ic a q u e e n co b ri u q u es tO e s i n te m as a o g o ve rn o em o r ga n iz a ca o

nos ~s 1930 e das sutilezas em precisar as fronteiras entre 0 educat ivo e 0 propa-

~and.IStiC~,na doc umen ta y ao pe s qui s a da podemos a comp an h ar q u e 0 INeE f o i i n s-

t l tuc lOnahzadc em rneio a intensa troca de intormacoes de tecnicos de equipamentose de d"

p ro u to s com seus congenereS intemac iOnais3.5. E n tr e1 a nl o , v a le r es s al ta r q u e,

32. Tal resolu~io envolvia de de rifi. .ci . do .s ve I~llo dos requisitos < l a s salas de proje~1o Ile dat i coodi . .1Ies socialS e

VIS s quepretendlant agerincia dos cinemaMgrafos.

JJ. Proje to deDecre ta sobre aCensura C '3 4. 00 .0 01 2, p pl /i l. l Il em at og ri fi ca, 1 93 .5 . CP DOC, A rq ui vo G us ta vo C ap an em a, GC

34.0 Instituto NlICionaldoCinema Ed ali .PINTO, 1938. CPDOC Ar . u c v o Pa rt e 1 - "S ~ m un di al d o ci ne ma ed uca ti ve" , R OQUETE

, quivo Gustavo Capanema, GC 3.5.00.00/2, p.8.35. As necessidades 1 1 1 1 termos de recurs .. . . .'

r indo "no moercadomate . I indi os teCOICOS, ~ lh agen s. m at er ia pnma f or am r esol vl da s adqUl.

aedi~lo def i lmes sonon:~, ;de~pensave l aedl~ def i lmes silenciosos~no e~geiro 0 referente

peto principio, 0 INeE solicitou : : · P r o 17.11,confonne outra passagem mall expllClta: "Pan ~e~arindkla,. io de te . fessor De Feo, e rn Roma e ao Dr. Helmbrecht, em B e r ! u n , a

CDiCOl quepudessem serconlralado Ii lavirgem. 0 a1godl o p 61vora u til izado .. ~ para 0e nsmo d a fab ri ~i o n o Brasil~ e pe c ~vanl&josooferecer favores of . . pelo MlI llster ;o daGuerra, ter ia nova aplic~. Sen. wnbern

ICI IUSlispnme iras fib de film . aisAcelul os e, m at er ia p rj d fi .. ncas I e sque e st ab el es sem suc ur sa l$ nop .P INTO . i dem, p .S . r na 0 lime, sera m~s Urndestino da nona produ~io a ll loooe irL" ROQUETE

Ultrapassando explicacoes em torno do transplante de "ideias fora do lugar",

os registros pesquisados possibilitaram compreender qu e n il o s cm medi ac ce s e re-

constituicoes 0 INCE descnvolveu suas atividades. E t ar n bem d e ix ar am e v id e nc ia s

d e q ue , em suas i nt ervercoes no mundo da educacao pelas imagcns . abarcou urnamplo leque de generos cinematograticos, aproximando-se do perfil projetado pelos

agentes do Ministerio da Just ica (vcr n o ta N o 33). Tanto que, seus primeiros filmcs

produzidos foram:

- em ju lh o d e 1936 - 0 preparo da vac ina contra a rai va - dando inicio a sene

de f ilme s ond e a p re venc ao e 0 tratamenlo de enfennidades intercruzararn-sc co m

licoes sobre 0 corpo humano, exercicios fisicos e preceitos higierucos para urna vida

saudave l

- em seternbro de 1936 - 0 Dia da Patria - "documentacao cinernatografica

das f es ti vi da de s r ea li za da s n a E sp la na da d o C a st el o, n o d ia c om e mo ra ti vo d a lnde-

pendencia do B ra si l" , " co rn o s corns i nf an ti s, a s b an da s m i li ta re s e 0 discurso do

Sr. Presidente d a R ep ub li ca ", n um envolvimcnto emocional potcociaIizado pclo

filrne SOllOro38, onde p r oc ur a ram enc ade a r presente/passado.

36. Para l ima no~10das faces deste mte rcambio, local izamos registro deque "uma copia dopr imeiro film.

educative editado pelo !NeE • Li~io pnilica detaxidermia • ficou incorporada a colecao do Insututod. Roma". Idem. p. 13.

37. 0 c inema educanvo no Brasi l . Par te I I _C ' A funda., , ,, do [NeE", ROQUETE PINTO. op. ci t, p ag s. J 3 e

19.

38. Para urnaava lia, io doc lima que estes agenles a tingiam com alf I il iza. ,io dosom noc inema. vale reromar

Roquete Pinto "Basta exibir com some scm ele 0 f ilme documentar io deuma solemdade c ivica ( . ) .

para veneer qualquer resistencia oposta aoc ine-sonoro . " Idem, p.19

/6()Proj. Hrs,ona. 560 Pouio. (101 dez.IIJ9J 161

Proj. Hurona, S8aPOfI /o, (10).d6: . /993

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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Esta celebracao de urnpassado, revivido em homenagens ao chefe do governo,

a s imbolos ou referenci ai s do poder de ent ao 40, marcou os f ilmes sobre epi sodios

e her6is da Histori a Pat ri a, na o ti ca de uma educacao civ ica. Mas a produc, :aodo

INCE nos aoos 1930 ainda pautou-se por var iada edi cao de f ilm es sob re u so s e

cos tume s, p la nt as e av es , r iq ue za s e p ai sa gens do Brasil41, n a p er sp ec ti va d e

"Mostrar 0Brasil todo a todos os brasi leiros", confonne acepcao de Canuto Mendes;

ao l ado de inameras aul as expli ca ti vas sobre montagem e funcionamento de dife-

rentes mecanismos, propriedades e reacoes de substancias e componentes, medidas

de t empo, u ti li zacao de equipamentos e out ros conhecimentos u te is aos metodos

modernos nas artes e oficios industriais42.

Esta producao oficial do Ministerio da Educacao, marcada por urn d ir ig ido

cunho didat ico - 0que e como ensinar - , pe lo apreendido nas expli cacoes que acorn-

p anham a li sta d e f ilr ne s do p rime ir o ano e me io d e a ti vid ad es do INCE, f ic ou a

disposicao de colegios e outras insti tuicoes cul turais desdc 1938. Sua apresentac;:ao

foi concl ui da com urn s in tomati co ., res ta ra que os professores se i nt eressern , defato, pelo filme, nao como processo que subst itui 0mestre, mas como processo que

sernpre cornpleta a l icao. ,,43

Este quase apelo e meio explicacao levou-nos a interrogacoes quanto aos usos

e sen ti dos des tes f ilmes nas rel acoes educaci onai s em vigor no Est ado Novo, ass im

como diante dos Iirni tes das imposicoes governamcntais frente a s recepcoes, me-

diacoes e atribuicoes de significados par parte dos sujeitos - alvo dessas intervenc,:oes:

alutlOSe professores.

Sob 0 prisma ci a difusao do cinema educat ivo em Sao Paulo, outros documen-

l os p ermi tir am nocoe s a r es pe ito d e sua s i rli u~6 cs com a popul ac ao c scol ar n os

anos 193044. Por seu int ermedin, f icamos sabendo que a Comissao nomeada por

.n 0 parafuso, Alavancas, Hidrnstitica, Propriedades Gerais da mater ia, 0 telegra fo, e tc .

4.' . ROQllETE PINTO, op. ci t , p .26.

44 . T r a ta - s e de.n:lalOtioenviado a Diretoria de F.1"6ioode sa o P a ul o e m 1938pelo P r of L u iz d e Mello . enc;uregado

do Servico deCm~a Educ a ti v e d e s d e a pessagern de Fernando de Azevedo pelareferida [ ) ireto ria . quando

d t s .. . a lwu - s e a COfmssio naneada por Lo~ o Filho Sell relato vern aoompanhado de impressOes sobre 0

cmemaedu~vo por parte de diretores de grupos escolsres cpor dois conjumos de trabalhos de alUJ1(~ (1936

e 19~7). rea l izadcs emsalade aula ap6s a exibi~lIode filmes, CPDOC. C . r C 38.00.00il.

Lourenco Filho para organizar 0plano sobre a apl icacao do cinema na escola encarou

o ass unto nao 56 pelos anguJos pedagogic o e educacional, como pelo lado

economico. autorizando e incentivando a compra de projetores pelos proprios esta-

belecimentos escolares a parti r de fest ivais beneficientes patrocinados pelas Asso-

ciacoes de Pais e Mestres. Orientacso que dcve ter despertado razoavel envolvirnemo

nas comunidades , a j ul gar pel o numero de ins ti tu icocs de ens ino com seus respec-

t ivos aparelhos cinematograficos ern 1938: 82 em todo Estado.

A inda const a que , para comprar os pro jc to res. foram rea li zados acordos com

a Kodak , d o R io d e J an ei ro , e c om a Cas a S to lz e S/A, de Sil oPaulo, no sen ti do de

f inanci amento em 10 prest acoes. Mai s important e: para auxil ia r no pagamento dos

equipamentos foram insti tuidas "sessocs rccreativas de cinema",que "tern side uti li -

zadas mesmo depoi s de se compl et ar 0 pagamcnto dos referidos aparelhos. E assim

muitos grupos escolares conseguiram estabelecer fundo pam a Caixa Escolar, auxil iar

as despesas com gabinet e den tari o, cus tear a sopa escol ar e ir ern socorro de outras

insutuicoes peri-escolares. ,,45.

Estas informacoes perrnitem aprecnder os usos de "urn dispositivo do regula.

mento est abel ec ido" e 0 que deve ter significado 0 advento do cinema escol ar .

Avaliando 0 volume de espectadores que afluiram a s sessoes recreativas de cinema.

est e reg is tro l eva a pcnsar nas possi bi li dades de acesso ao mundo da s imagens em

movimento que 0 "c inema educativo" desencadcou entre setores da populacao para

quem tais visoes eram, ate entao, impensaveis.

Emoutra passagem deste relate, enoontramos que a Diretoria de Ensioo dispunha

de acess6rios para 0 conserto de filmes, filmagens, conteccao de letreiros, desenhos e

revisoes, camaras de filmes, alem de "gerador eletnco automatico destinado a mover

os aparelhos projetores em local idades onde Mo haja forea eletrica." Mais wna vez,

em ~ do c inema educa ti vo , col ocaram-se em eircu l~ nos espscos escol ares

equipamentos que potencializaram 0 reaproveitamento de filmes abandonados pelos cir-

cuitos de mercado, 0 conhecimento e manejo destes maquinismos, semcontar na pos-

s ib ili da de d a chegada d es te s r ec ur so s a r eg io es in ac es siv eis m esmo par a a l uz

eletrica,

Para promover e sustentar 0 cinema educativo, destinado aos modemos meto-dos de ens ioo e por tador de t odo urn sen ti do pedagogico vol tado para regeneracso

de cos tumes, correcao da l ingua e nacionalizacao de cidadsos trabalhadores, foram

desencadeados procedimentos que disseminaram a Iinguagem cinerna tograf ica,

atingindo urn publico provavelmente ate entao a margem do cinema eomerci al . Os

40.Confer indo e)(pl ic~es queacompanham lists de f i lmes da sene e sc ol ar do INCE no seu primeiro a110

emeio de atividades, ainda encontramos: "Dia da Bandeira - solenidade naCapital daRepublica sob

o patrocinio da Liga de Defesa Nac iona l" , " Juramento it Sandeira _desfile do Balalhio da Guardaem continencia ao Presidente daRepuhlica", "Dia do Marinheiro _lancamento dapedra fundamental

d estatua do Almirante Tamandarl". etc. .. Idem, pp.20f23.

41. Por exe~plo: Pe. ixes do Rio deJaneiro. Vic t6ria Regia, Papagaio, logos e dancas regionais . 0 ceu do

Bresil, etc. ..•dem, ibidem.

45, Luiz de Mello. relator io aDiretona de Ensino deSI<>Paulo. 1938. CPDOC. C . r C J 8 0 0 0 0 11 P 9

I~

Pro} Historta; sa. 1'",,10, (IOJ . d.z. 1993 165

Proj. Historia; SiJo 1'""1,, , ( I0, dez. 199)

 

5/7/2018 51219446 Entre Memoria e Historia a Problematic A Dos Lugares Pierre Nora - slidepdf.com

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d o cum e nt o s s o br e a expansao d o c in em a educative em S a o P a ul o c o lo c ar am - n os

diante ci a i m p os s ib i li da d e d e d e sp r ez a r e s ta s d ir n en s O e s: p a ra le la m en t e a o s eu p a pc l

i n st ru ti v o/ ed u ca ti v o, t omou v ia v el a c am a d as d a p o pu l ac a o rural e u r ba n a 0 contato

c om o s n ov o s m e io s d e c om u ni ca ca o e c om 0 i nusi t ado p r a ze r das imag ens f l lm i c a s.

N e ss e s e nt id o , c om en t an d o a r ec e pt iv i da d e das cna rc as a o c inema educative, 0 di-

reto r d o 20

G ru pe E sc ol ar d e S an to A n dr e r ef er iu -s e q u e " al em d e s e d el ic ia re mc om a f it a, a p re c ia m a s e xp l ic a 't O e s, ,4 6.

A in d a c ab e p en sa r q u e, c oo co m it an te a a qu is i~ ao e p ro du ca o d e f il me s edu-

c at iv os - 0 q u e t om o u i m pu ls o n a g es ta e d o p ro f. L ut z M o tt a M er ci er n a D ir et or ia

d e E ns in o, q ua nd o f oi i nc lu id a n o o rc am e nt o ci a S ec re ta ri a d e E du ca ca o u rn a v em a

de 1 5 .0 0 0$0 00 para co rnpra d e f il m es e c ri ~ ao de u m a F il mo te ca _ , d e ve m t er s id o

d is tr ib u id o s f il me s d e f ic ca o e d es en h o a ni ma do para o s p ro gr ar na s d as s es so es

r ec rc a ti v as . E s ta p e rs p ec ti v a s e d e li n ei a p o rq u e, n o s l o te s d e f iIm e s q u e l o ca li z ar n os

e m e sc ol as p au li st an as , e nc on tr am o s d oi s d e M ic ke y M o us e, c om s el o d o J NC E .

E , g ra ca s a i nf or me s n es te s d oc um e nt os , p o de m os t er i de ia da p r op o rc a o em

q ue e st es f il m es f or am a ss is ti do s. N a g es ta e de A lm ei da J un io r n a D ir cto ri a d e

Ensino (1936/37) t er n- se r eg is tr o d e q u e 140 a ul as m o de lo s c om c in em a e du ca ti vo

fo ra m d ad as n as 3 a e 4 a s eri es , p ar a " ma is d e 570 s e ss o es r ec re a ti va s n o s g ru p os

e sc ol ar es d o e sta do ". C om e st a m ed ia d e 1 para 4, a p re n de -s e q u e as sessocs re-

c re a ti v as i n st al ar am - se n o c em e d o p r oj et o do c in e m a e d uc a ti v o, t ra n sb o rd a nd o 0

l u ga r q u e l h e f or a a tr ib u id o i n ic ia lm e n te . 0 c i nema e duc at i vo continuava a frente,

c om o m e ta , m a s a s s es so es r ec re at iv as , de p o si lY o o a ce ss o ri a, t om ar am a d i an t ei ra ,

l ev a nd o a l in g ua gem c in c m at o gnU tc a p a ra as escolas. T al ve z p o r isso mesmo, 0

r el at lv o s u ce s so " n a u t il iz a ca o do c in e m a c omo e le m en t o a u xi li ar ci a i ns tr uc ao e d a

e du c~ ao d os e sc ol ar es ", f re nt e a o p o uc o a lc an ;a do p el o t ea tr o e 0 r a d io , c on fo rme

r ef er eo cl as d o P ro f. L ui z d e M e ll o, a o i ni ci ar s eu r el at o.

. " Po r. s e u i nt en ne di o, t arn be m f ic am os s ab en do q ue n o p ert od o d e A lm ei da J u-

ruor 0 c m er na c on tt nu o u l en d o s e e Xp an di do e n ov o s r um o s f or am d ad os ", c om a

comp ra d e m ai s de 1 0 f il me s n os E st ad os U n id os e a e labora csc d e 8 p e la D i re to r iad e E n si no .

Tra tando da E sc ol a M i xt a R u ra l d o S it io ci a S au da de , d o G ru p o E sc ol ar R u ra l

d a F az en da D umo nt , do Gr upo E s c o la r Ru ra l de B a t at a e s, cia celebracao de 7 de

s et em b ro n o G ru po E sc ol ar d e G u ar ul ho s e d e a sp ec to s cia v id a e sc ol ar d e o ut ro s

~ po s - n a p ersp ectiv a da c om wu dad e q ue se filrn a e q ue s e ct a a ver _, e stesIn fonnes pennilem a nlpliar no .

s s a c omp re eJW I o s o br e u s os e s e nt id o s q u e p ro f es s or esc a lu n o s a tr ib u ir an l a o s eq . t .

u ip am en o s e r ec ur so s a lo ca do s n as e sc ol as p au li st as e m

f un ca o d o c in em a e du ca ti ve . N es ta d ir ec ao , a in d a ficaram o s l ote s ~ e. f ilm es q ~e

l oc al iz am o s n a E sc ol a N o rm a l d a P ra ca e n a E sc ol a P ro fi ss io na l F em i ru n a d o B ra s

- m a rc ad o s p o r c en as d e f es ta s e c om c mo ra co es c iv ic o- rc li gi os os o ~ d e a ti vi da ~e s

p romov id a s n o c o ti d ia n o c s co l ar , c omo C on cu r so d e ROb ~ ~ ez I n fa n t. 11e a u la s p r an -

cas d e p u er ic u lt ur a - , a s s im c omo sugestoes feitas no Anuario de Ensino de 1936/37.

"Poder-se-ia ensaiar a f ilmagem de cella, da Historia Patria aproveitandose 0 ~ollc\lrso

de alunos de nossos grupos escolares. Nao sc encontram presentemente tars f i lmes no

mercado e embora a represcn!a~~o fosse jmpcrfeila: ,~~iIo deixar iam, os f ilmes , de ser

grundemente intcressantes, de murto valor educative

C om e st es r el ae io n am e nt os q u e a ccmunidade escolar paulista experirnentou

co m 0 c in e m a e d uc a uv o , r ea v al ia mo s e r ed i m cn s io n amo s o s o b je u vo s c a s p e rg u nt as

c om q u e i n ic ia rn o s e s te s e s tu d os . P am t an t o, f or am f u nd am en t ai s a s l ei tu r as d e t cx ~ os

d e R a ymon d W i ll ia m s , R o ge r C h a rt ie r, N a ta li e Z emon Davis, qu e levantarn q~cstoes

q ua nt o a o p ap cl d o sujeito receptor. 0 proccsso de producao da cultura, a constituicao

d os m od os d e ser d o s a g cn t es s o ci ai s.

N es sa p er sp ec ti va , a s r ela co es e ntr e a fo rm ula ca o d e t ex to sl im ag en s. c ~ s

exercicios d e p o de r na socicdade; as rncdiacocs e n tr e e s te s rneios de comurucacao

e os sujcitos reccptores: as consequencias de estudos pautados sob a otica pass iva

o u a ti va d a r ec cp ca o. g an h ar am c sp ac o e m n o ss as p re oc up ac oe s. D as p er gu nt as q ue

ficaram, tornou-sc perceptivel a necessidade de aprofundarmos e a v an c ;a n no s , n o s

tcrnas da e du ca ca o e das f or ma s d e c or nu ni ca ca o p am d ar mo s c on ta das estratcgias

d e p ro du ca o d e s eu s in str um en to s e das artimanhas da recepcao,

P en sa r o s d is cu rs os e r ec ur so s e du ca ci on ai s c om o e sp ac os p ar a a p ro d uc ao d e

significacoes rnediadas pelas experiencias de sujeitos receptores, qu e nesse processo

modif icam 0 q u e f oi d a do a l er lv e r/ fa z er , constitui outra maneira c om q u e e nt ra m os

e m c or ua to c om 0 p r oc e ss o e d uc ac io n al . E m a lg u ns mome nt o s e s ta s p re o cu p ac ;. O c s

ja h a vi am p e rm e ad o !lOSSOS estudos, ma s as injuncoes a p re e nd i da s n e st e projcto

r ef o rc a ra rn d i me n so e s d e a n al is e da e d uc a ca o d e sd e 0 ~ nto d e v ista d ~ alu no s C

p ro f es s or es , r ec o rt e q u e p r ec is a s e r e xp l ic it ad a e m pesquisas educac ionais .

46. FrancISCO Ramos, diretor. Idem. p.g. 47 Professor Luizde Mello· relatorio it Direterra de Ensino. 1938, op.crt, p.IO

164/~'

Prof. Historia; sa o Paulo , ( /0 ). de :. / .' 793

 

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RESENHAS

CULTURA E CIDADE EM

AS CIDADESINVlSivEIS

Eliana Ordunha Coelho·

CALVINO, halo. As cidades invisiveis. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1993.

° livro As Cidades Invisiveis de halo Calvi no , l ancado no Brasi l pel a Com-

panhi a das Let ras, nos l eva a urn bel issimo cxerc ic io de ref lexao sobre as c idades ,

ao nos colocar diante nao apenas de seus aspectos fisicos, mas tambem ao estabelecer

relacoes com diferentes realidades que as ceream. Assim vislumbramos as cidades

rea is e as c idades imaginari es de Calvi no , i nv is ivei s, t ransparent cs , i deai s ou nao ,

const ru idas l en tament e peJo cot id iano de cada um de seus habit an tes, e que com-

poem, tambem, a trarna de nossas propnas historias.

Que c id ad es s ao e ss as ? Qua is a s im ag en s que e la s n os in vo cam que d eem

conta de seus usos, habitos, crencas, aspiracocs? Estarao representadas em suas ruas.

suas pracas? Fonnas de ver e sen ti r a c idade. Pro jecao dos imaginari es soc ia is no

espar;:o...

J or ge Lu iz Borge s. em 0 Fazedor. dizia:

Um hornem sepropoe atarefa deesbocar 0mundo Ao longo dos anos povoa um espaco

com imagens deprovincias, dereinos, dernontanhas, debaias, denaves,de ilhas, depeixes,

de habitacoes, de instrumentos, de astros, de cavalos ede pessoas. Pouco antes demorrcr,

descobre que esse paciente labirinto de linhas traca a imagern de seurosto.

Da mesma forma Calvi no esboca um mundo, revel ando as nossas propr ias

f ei co cs , c on cent ra ndo em u rn un ic o s ir nbolo , c omo e le me smo d iz ia , n os sa s r e-

flexoes, experiencias, conjeturas. Sao irnagens que 0 homem nao v e e que, scm

perceber, vao sendo const ru idas em sua imag inacao,

Em As Cidades lnvisivets, 0 famoso viajante veneziano Marco Polo descreve

para 0 imperador Kublai Khan, conquistador mongol a quem servia, as incontaveis

c idades de seu imenso imper io . Para cada uma de suas c idades - sempre femin inas :

• Mes tr anda em His to ri a, Pt 'c-sp

PWj. Htstona; sa o Paulo, ( /01. des. IW3

 

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I s au r a, A n a st ac ia , T am ar a, D o ro t ei a, B e re n ic e . .. - um a a b or d ag em , um a s im b o lo g ia .

F a sc in a n te s e est ranhas c idades . . .

Po r na o f al ar a l in gu a d o i mp era do r, M arc o P ol o s e e xp ri mi a de f on n as d i-

v er sa s, a tr av es d e g es to s, g ri to s, l at id os , r ep re se nt ac oe s. e nf im ; o u c om a a ju da d e

o bj et os q ue i a t ir an do d os a lfo rj es e d is po nd o d ia nt e d e s i c om o p ec as d e x ad re z -

p lu m as d e a ve s, z ar ab at an as , e ai xi nh as , . .. - i ni ci an do u rn c ur io sa j og o e nt re u to pi a

e r ea Ii da de . E assim 0 G ra nd e K h an ia i n te rp r et an d o s e us s im b o lo s , c o ns tr u in d o

image ns , s onhando.

E ss a c or nu n ic ac ao , n o e nt an to , p o di a g er ar e nt en di m en to s d iv er so s, d a m e sm a

ma n ei ra c omo nO s entendemos as c idades d e m a ne i ra s d i ve rs as . E d i fe re n te s sa o as

l ei tu ra s q u e s e p od em f az er d a o b ra A i nt er te xt ua li da de , c om o u rn d ia lo go e nt re 0

texto e s ua f on te , n o s f az v ib ra r a ce nt ua nd o a p os si bi li da de d e r nu lt ip la s l ei tu ra s

M arc o P ol o n arr a f at os re ai s, d es cr ev e l ug ar es , rn od os d e v id a, s en sa c;O e s,

i m pr im i nd o s ua v i~ o de e id ad e e de mun d o, e o lo c an d o -s e a tr av e s da t ip o lo g ia d e

suas narrativas, Kubla i Khan s e c on tr ap oe a e s sa r ea li d ad e c o ns t ru i da , c o rn 0 sonbo,

q u e e m s ua o ni po te nc ia r ec ua e a va nc a suas c idades por o n d e q u is e r, v i sl umbr an d o

em sua m e nt e n o va s c on ex oe s e i mp ri rn in do -I h es n ov as c ar ac le ri st ie as . E st am o s

fa la nd o d e c id ad es r ea is e c id ad es i ma gin ar ia s. Q ue c id ad es s ao e ss as ? O n de e la sestao?

. N o s im p 6s io " Se te P erg un ta s a W al te r B en ja mi n" , p ro m ov id o e m 1 99 0 ~ Io

I ns tlt ut o G oe th e d e S ao P au lo , u m a d as q ue st oe s a bo rd ad as f oi s ob re a c id ad e: E a

c id ad e q ue h ab it a o s h om en s o u s ilo e le s q ue m or am n cl a? A p artir d ai t al ve z p os -

s amos c om ec ar a d es co b ri r q ue c id ad es s il o e ss as . S er gi o Pau lo Rou an e t. r es p o n-

d en do a e ss a q u es td o , c ol oc ou q ue

o s h om e ns n l kl habitam ac idade na medida e mq u e e t a e um a c i d a de d e s o n h o e , e n q ua n to

t a l, e l a e s t a s u je i ta ao s dinamismos do i nc o ns ci en te e a li c ia reside. Enos homcns qu e a

cidade mora p o rq u e e parte d e s u a v i d a de sonho,

D a r n es rn a f o rm a q u e K u b la i K h a n c o n st ru i a e s sa s c id a de s e rn s u a i m ag in a ca o ,

e la s t am b em e st ao p re se nt es e m n o ss a c on st ru ca o ci a r ea li d ad e n o c o nt ex to u r ba n e,

e s e m a ni fe st ar u d as m a is variadas fo rm as , s ej a n a m em or ia d o q ue f oi a c id ad e. n a

r ea li d ad e d o s espacos que pe r co r r cmos em busca da realizacao d o s n o ss o s d e se jo s

n o s im p le s o lh ar d e q ue m c am in ha p el as m as b us ca nd o s im b ol os c om o s q ua is s e

identifique.

M ar co P ol o possui u rn d el ic ad o o th ar . c ap az d e m e ta m or fo se ar c id ad es e s-

t ra ng ci ra s e m p ai sa gc ns , t ra ns fo n na nd o- as e m p o es ia . N om os . l uz es , r ui do so c on s-

t ru co es , r ua s, p es so as f az cm c st as e st ra nh as e l in da s c id ad cs s e r ev el ar cm . E a ss ir n

c omo 0 o l ha r d o n a ve g an t e v e n ez i an o e livre. 0 d e K ub la i K ha n ta mb em n ao e st a

c om p ro m et id o c om a h is to ri a d a p ro d uc ao d es sa s c id ad es . e u m o lh ar s cm m ed o.

s e du t or , c omo 0 do jJiineur p elas m as e b cco s d e P aris . n a o b ra d e B en jam in A o

contrario c s o b n o s so olhar de habitantc-usuario da urbe que sofremos as influencias

d o s p r oc e ss o s d e t ra n sf o rm a ca o pelos q u ai s a s c i d ad es p as sa m , e q u e d e ix ar n m a rc as

profunc las no c ot id ia no d as p es so as . T al ve z, p o r i ss o, u m l ei to r desavisado, tenha

dificuldade e rn e nc on t m r a s suas c idadcs i nv is ivei s On nao 1 . . .

N um p r im c ir o mo r ne n to talvez s e ja d i fi ei l r ar er um a l e it u ra d e sc o rn p rom e ti d a

d o s ig ni fi ca do d as c id ad es , p o is p er ce be rn os q u e e la s e st ao a tr cl ad as a os u so s q u e

f az em o s d o s e sp ac os , s en d o a o m es mo t em p o a to re s e c sp ec ta do re s d as a co es , t en d o

co mo p an o d e fu nd o 0 g ra nd e c en ar io , E a ss im , a o c ar ni nh ar pelas ma s , p ra c as ,

avenidas, s omos bombardcados c o nt in u am e n t e c o rn e s ti rn u lo s q u e p o d er ao g er ar , o u

n ao , u so s a rt ic uJ ad o re s d es sa l in gu ag em a m bi en ta l, e q u e, p o r s ua v ez a ca ba ra o p or

i n te r fe r ir . ou n a o , o ut ra v ez s ob re 0 contexte, E l im p ro ce ss o d in am i co q ue da outra

dimensao a historia d o e sp ac o u rb an e, a ss im c om o a o p ro ce ss o d e c on st ru ca o d as

i ma gc ns d o c ot id ia no . T o ma -s e n ec es sa ri o. e ut ao , c or np re en d er a s q u es to cs q u e a s

c id ad es c ol oc am , p oi s s ao o s e sp ac os o nd e a h is to ri a s e d a, e e ss e s en ti do i rn pl ic a

percepcao nao apenas do p a ss a do c omo passado. m a s d o p as sa do e nr ai za do n o p re -

sente.

D e ss a f o rm a , v am os v er q u e n ao i ru er es sa s ab er c om o nos , c i dadaos , r e ce b e -

m o s e ss a l in gu ag em c on te xt ua l u rb an a, m a s a na 1i sa r 0 qu e ocorre c orn e ss a li n-

g ua ge m q u an do , s ai nd o d o s d om i ni os d a p ro d uc ao , a de nt ra 0 m u nd o d a r ec ep cs o.

e o s e sp aco s s e Ia ns fo m la rn , t om a nd o- se e sp ac os d os d es ej os , d as m e mo ri as , d o s

simbolos. d o s s on ho s

T al ve z s ej a e st e 0 p ro ce ss o d e c on st ru ca o d as n o ss as c id ad es i nv is iv ei s q u e

C al vi no t ao b er n s ou b e e ri gi r. C id ad es q u e g ua rd am d cn tr o d e 51 o u tr as c id a dc s , d e

o rig en s d iv cr sa s e c uj a p ais ag er n. c om o n os d es cr cv e M arc o P ol o, t ra z a s m arc as

d es sa s d if er en ca s. q ue n ao s e m a ni fe st am a pe na s n os s cu s e sp ac os f is ic os . N cl as a s

, . M as 0 s on h o p od e s er i nt er pr et ad o , t ra ns fo rm a nd o e m p ra xi s s ua d im e ns aO

u tc pi ca e r ul o r e cu sa nd o- o e m n om e da r e a li da de.

. Despenar as cidades dos sonhos niloparece ser a i nt en ca o d e C al vi ll O . E lecna , Sl.m, c id ad es d e s on ho q u e " ha bu am " a s e id ad es r ea is , c on st ru in do a tr av es d ofantast.Jco r epre t . .

, sen a c o e s d cli ca da s d a s oc ie da de r no de ma . " As c id ad es . c om o o s

so~os, sao c on st ru id as p or d es ej os e m e do s" , d iz ia Marco Polo ao i m pe ra dO [ E

~SS~~ s ao , c nn st ru id as c om m at er ia is d ia fa no s e v ol at ei s _ a m em or ia e 0 d es ej o -

mV.lslvels. S ao c id ad es d a m e m or ia , c id ad es d o s s im b no lo s c id ad es d o s d es ej os . q u ere sl de m e m c ad a u m de . '

nos .

1M

Proj. Historia. sao Paulo. (101.de: . 11)93

Im]. Historia, san """/0 . (10),de: 1993169

 

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pessoas vivern de modos variados, reeriando e reinventando cidades singulares, a svezes superpostas, a s vezes eonfii tantes. Como Kublai Khan.

E i nt eressant e aeresccnt ar , apos t odas essas consi deracoes , que t ambern

tipografieamente, 0 l iv ro t ern doi s aspec tos d iferen tes: apresen ta em i ta li co a asp i-

r ac ao e a d i scu ss a o s obr e a utopia inalcancavel e em redondo, 0 retrato da rca Iidade

imaginada e v iv ida. Pode-se d izer que utopi a e rca li dade nunea se t ocam, ernbora

convivam dramaticamente tanto atraves da desesperada visao que 0 imperador tern

do mundo quanto atraves das narracoes que Marco Polo the faz sabre a possivelsalvacao do mesmo.

Em seu t recho f inal , Kubla i Khan pergunt a a Marco Polo se e le , que era capaz

de i nt erpret ar s irnbolos , sabcr ia d izer "na d ire~ao de qual desses fut uros nos em-

purrarn as ventos propicios", Ante a resposta duvidosa, ele conclui que "tudo e

inutil, se 0 u ltimo por to 56pede s er a c idade in fe rn al, Q ue c sta I ii n o fundo e que

nos suga nurn vortice cada vez mais es t r ei to " . Ao que Marco Polo responde:

o COTIDIANO EO EXTRAODINARIO EM

A MORTE E UMAFESTARaimundo Donato de Prado Ribeiro*

REIS, J030 Jose.A Morte e uma Festa. Ritos Funebres eRevolta Popular no Brasil do

Seculo XIX. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1991.

o inferno dos vivos nao e algo que sera; seexiste, Caquele que ja esta aqui, 0 inferno no

qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras denao

sofrer, A primeira e facil para a maioria das pessoas: aceitar 0 inferno e tornar-se parte

deste ate 0 ponto de deixar de p ercebe -l o. A segunda e a rr is cada e exi ge a te nc ao e

aprendizagcm conttnuas; tentar saber reconhecer quem e 0 que, nomeio doinferno nao einferno, e preserva-lo, e abrir espaco.

Joao Jose Rei s, doutor em His tori a pel a Univers idade de Minneso ta (EUA) e

Professor do Departamento de Hist6ria da Universidade da Bahia, tern se dedicadoa estudos relacionados ao universo cul tural afro-brasi leiro, prescntc em: Rebeliao

escrava no Brasi l: a h is to ria do levan te dos males : Escravidi io e invencao da f iber -

dade: estudos sabre 0 negro no Brasi l (organizador) e Negoc iaci io e Con fl ito: a

resistencta negra no Brasil escravista (co-autor),

Em A Alarie e uma festa, Rei s t rans it a t ambem por est e Universo, mas d ife-

renci a-se quanto ao l ema abordado - na o mais correlate a escravidao - inaugurando,

nas pal avras da h is to ri adora Laura de Mel lo e Souza , 0 estudo das atitudes diante

da morte na nossa historiografia.

A obra de Rei s t ern como refererci a a des trui cao do Cemit er io do Campo

Santo em 1836, que foi const ru ido para abr igar os mortos q ll e a te ent ao eram en-

t er rados em igrej as s it uadas no espaco urbano de Salvador, por uma mul ti dao plu-

rie!assista e multi rracial, que via no cerniterio recem construido a perda de uma dada

o rd em e 0 temor de novos tempos que se avizinhavarn, t razendo questionamento a

algumas praticas do cot idiano da eidadc de Salvador.

Innandades, assoc iacoes corpora ti vi st as de carat er rel ig iose , no i nt er io r das

quais se teciam sol idariedadcs fundadas na hierarquia social,

E a "concretiza~ao" das nossas cidades invisiveis.

festas e procissoes religiosas eram a rnaneirs mais comumde celebracaoda vida entreos

ant ig os b ai an os Por t ra s da producao desses eventos estavam as i rrnandades, que se

contavam ascentenas. Esse catolicismo ludico.espetacular, esse catolicismo barroco, seria

tambern principal veiculode celebracaoda morte. E tambem aqui 0papel <laslrmandades

• Professor dolUNIMEP ernestrando em Histor ia , PUc-sP.

I(I Pro; !t1S/ona, Sii:JPaulo. (l O),<k:. 1993 /71

Prof. H ts tona. Saofaulo . 1 /01 . de : IW3

 

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foi e no n ne , u m a vez que urn de s e us p r in c ip a ls o b j et i vo s e ra u rn f un er al d ig no a seus

assoc iados . ( p . 70)p er ig o a s er ev ita do e c om ba tid o; c 0 s il en ci o, c om o f or ma d e c on tr ap or a os funerais

notumos e r ui do s os . c or n os dobres d os s in os e as cmocoes externadas.

D es sa cra liz an do a m ort e, o s m ed ic os l uta var n p el o s tat us d e c iv ili za do re s d os

c os tu m es . p or ta nt o. r ci vi nd ic av ar n p ar a s i o s c ad av cr cs (011 a m o rt e) e nq ua nt o o bj et o

medico.

A despcit o das res is tcnc ias em amplos setorcs da sociedadc, a mcdicalizacao

d a m ort e v ai g an ha nd o a dc pro s, in clu si ve J un to ao c ler o. V Ill a discussao q ue n ao

era rcccnte ja era m encion ada p or vo lta d o secu lo X VI II e na ed icao d e um a serie

d e leis q ue bus ca va r e gu t amcn t ar os scpultamcntos.

A d ec is ao d a A ss cm b le ia L eg is la ti va P rO \ i n ci al e m 1 8. 15 , r cf lc ti nd o a p rc ss ao

d os c cm ue ri sta s e t en do e m v is ta a m erc ia c re sis te nci a d as l nu an da de s e m c on st ru ir

c er ni te ri os e xt ra mu ro s, c on ce de e g ar an te 0 m on op ol io a u m g ru po p ri va do , a t ar efa

de construir e explora-lo comercialrnente

D etalh an do exaus tivam cn te o s deb ates c ern bates q ue se dao em torno d as

m ud an ca s ch am ad as p el os h ig ie ni st as . R ei s e sm iu ca a p ro po sta d os cm pre sa rio s d o

cerni tcrio. as discussoes na Asscmbleia Legislativa P ro v in ci al a te a aprovacao da

r ne sr na . c om p ar ti ci pa ca o r el ev an te p ar p ar te d a I gr ej a. E st ad o c I gr ej a p ar ti ci pa ra m

d e fo rm a c fe ti va n a el ab ora ca o, r eg ula mc nta ca o c l eg is lac ao d a L ei P ro vi nci al. M as

c on st at ar c st a p ar cc ir a. n ao s ig ni fi ca , p el a p ar te d e R ci s, considcra-la f ci ta d e f or ma

m o no li ti ca n a d cf es a d a L ei P ro vi nc ia l. r nu it o p el o c on tr ar io , d cs an uv ia llJlI campo

de confl itos, onde identifica resistencias no i nt er io r e m arnbas a s p ar te s desta par-

ceria. seja em relacao ao Ccrniterio, seja pelas condicoes em qu e foi fcita s ua c on -

ccssso

V oz es o po st as a o c em it eri o do C am po S an to s ao re fl cti da s em m an ife st os

p ub li co s, c om o o s d as I rm an dad es e 0 d e c ara tc r m ais am pl o - q ue cm bo ra t ra ze nd o

o s a rg um en to s p res en te s n os m an ife st os d as I rm an da dcs , ap re se nta va u rn c ara te r

m ai s a br an ge nt e, p or t ra zc r u m a s en e d e p et ic lo na ri os d e v an es s et or es d a p op ul ac ao

n em s em pre J ig ad os a s I nn an dad es - 0 manifesto cia C em ite rad a d iv ul ga do e m

19.10.1836.

R ei s, a o l cv an ta r a c on di ca o s oc ia l d os p et ic io na ri os e o s re la to s q ue d cs cre -

v ia m o s p a rt ic ip an te s cia " Ce mi te ra da ", r ev el a q ue "0 le va nt e n ao fo i l ev ad o a ca bo

a pe na s p el os d es ti tu fd os . A IC m d e e nv ol ve r h om cn s e m u lh er es . c le f oi p lu ri cl as si st a

e m ul ti rr aci al. D el e p art ic ip ara m d o v is co nd e ao c sc ra vo , to do s n a d ef es a d e u ma

v is ao t ra di cio na l d a m ort e " ( p, 330).

Descartardo uma v i sa o c on sp i ra t or i a da " Ce mi tc ra da " , d e q ue g ru po s m o vi do s

p or i nt ere ss e e co no nu co e st av am m an ip ula nd o t al a co nt ec im cn to . e m q ue a cu ltu ra

A o c on ce b er as producoes funebres como producoes Iudicas, as Irmandades

a tr ai ra m p ar a si, as criticas do "discurso m ed ic o" , q ue b us ca va r ed efi ni r n ao so 0

espaco da r el ig ia o n a v id a d os h ab it an te s d a c id ad e, c om o t am b er n, f un da rn en ta do s

n a h ig ien iz ac ao , a lte rar as re la co es n o c oti di an o d os " viv os " e d os " rn or to s " D cs ta

form a, traz ia a em ergen cia d e um a n ov a co ncep cao do qu e seria a "B oa M orte ",

q ue n aq uel es te mp os er a compreendida como a que nao causava surpresas, m as q ue

possibilitava 0 i nd iv id uo m o rr er c om urn p lan o - T es ta me nt o - q ue norteava a acao

d os q ue ficavam em to rn o de seu s desejos, nao so n o qu e co n ee me aos b en s, ma s

principalrnente aos ritos funebres d es ej ad os , o s q ua is es ta ri am a c arg o das Irman-

dad es a q ue perten ciam o s m orto s e/o u a fam ilia e am ig os destes.

E n es tes te rm os , R eis a pr es en ta u ma a rq uco lo gia b as ta nte d oc um en ta da n ao

so d o f u nc i on ame nt o das I n n an d a dc s ( c on s l it u id a s dos varies setores da populacaod e S al va do r) , m as t ar nb er n, d as r it ua li za co es f Un eh re s q ue transformavam a m o rt e

e m u rn v er da d ei ro espetacuro. O s r el at es a po nt am a s d if cr cn ca s s oc ia is n o cortejo

f u ne b re , ma s i n d ep e n de n te cia c on di ca o s oc ia l d o m o rt o, 0 q ue s e b u sc av a e ra a ss eg u-

rar urn eruerro com m uita po mp a, n o caso dos p ob rc s e escravos: "v iv er m al, m as

morrcr b em " , g a ra nt in do u ma b oa p as sa gc m p ara 0 "outre l ado ' e a retornada pelos

v i v os d o d e se q u il i br i o do c ot id ia no , r es ta ur an do a r up tu ra q ue a m o rt e c au sa va n es te .

. .. 0 e s p et a cu l o l u n eb r e r e al r ne n te d i s tr a ia 0 p ar ti ci pa nt e d a d or , a o m es mo t em p o q ue

c~\arnava 0 c spec tador a pa r t ic ipa r da dor ,Reunidos sol idar ios para dcspachar ° mo rt o , o s

VIVOS, a f in n a nd o a c on ti n ui d ad e da vida (p .138) .

Para 0 au to r, a d estruicso do C em iterio d o C am po Santo . Ioi a exp ressao

e nc o~ tr ad a p or p an e d a p op ul a~ ;} o r ef ra ta ri a a m ed ic ali za <; ao d a m ort e. F oi a in da a

r es ~s te nc la a u rn d is cu rs r, d e urn d ad o g ru po q ue s e c on si dcr av a d or ad o d e u rn p ap e!

civilizador ~ s co st um es da epoca. 0 "saber m edico" preocupado com um a 50-

c le da ~e a ss ep ti ca , a t ra ve s d e n on na s- te nn os -p mt ic as , b us ca va i ng er ir -s e n o m u nd odos VI\'OS e d os . mo rt os . V en do 0 e sp ac o s ag ra do d o m o rt o: 0 lugar da sepultura, 0

"ctor de conlanutlarao do a trave d . . .. y rav es os m iasm as, prop un ha um a o rg an izacao crvi-

lizada do espaco ~lrbaJJ() que proporcionasse urna higieruzaca« da mor te , t r an s fe r in dO

os monos d o m ei o dos v i vo s , d e st in an d o- se a c er ni te ri os e x tr a- m um s .

P ar a R e is , a tr av es da m ed ic al iz ac ;a o, b us ca va -s e r ee du ca r t am b em o s s en ti do s,como 0 o lfato e a aud icso 0 he· . 1·

y<1V. C 11'0 s ma iz av a a preseoca d os m ia sm as n a a un os fe ra .

r: Pro). Hstona. Sa o Pauo.(/0). dez.'fJ9j 1".1

Pro). Histona; sa o Paulo. (IOJ.dez. 1993

 

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r el ig io s a s e cu l ar f o i m e ro v e rn i z i d eo l 6g ic o r n ar ca ra n do a s " v er d ad e ir as i n te n co e s"desta rebeI iao ,

as peticoes das irrnandades colocavam 0 problema de outra maneira: 0 declinio material

dascoufrarias, seguiria dodeclinio religiose. Economia ritual e material eram duas facesda mesma moeda (p.330).

Apos 0 l ev an te , s eg uc -s e u m a d ev as sa q ue n ao c he go u a a cu sa r n in gu em . 0

C a mp o S an to f oi i nc or po ra do p el o P od er P ub li co e , e m scguida, r ep as sa do p ar a a

Irmandade de Mis e ri c o rd i a em cond ic ; oes de s fa vo ra ve is ,

No entanto, em 185 5 - v in te a no s a pe s ° le van te _ u ma e pi de m ia d e colora

provocou 0 a ba nd on o d e v al or es a te e ru ao c on si de ra do s s ag ra do s e a o cu pa ca o m a is

e fe ti va d o C a mp o S an to , 0 q u e l ei s e a u to r id a de s MO hav i am cons eg u i do .

. M esm o enfrentando a escassez no Brasil de urna historiografia sobre

ntos t un er an os , R ei s a pr es en ta u rn t ra ba lh o q ue v er n s om a r e m u it o, na nossa pro-

ducao ligada a H i st 6r ia e C u lt u ra . T raz q u e st o es q ua nt o a o u so d e c on ce it os c om o

p r og re s so o u e v ol u ca o e a p re s en t a o s d is c ur so s c u lt u ra is a d vi n do s d a s a ti tu d es d ia n te

da mor t e c omo pos s ib i li d a de de Ie-los e nquan t o ama lmag a s de temporalidades distin-las.

LINGUAGEM LITERARIA E HIST6RIA EM

OCAMPO EA CIDADE:NAHISr6RIA E NALITERATUM

Ca r lo s A lb e rt o A lve s de Souza"

W i l li ams , Raymond . 0 c ampo e a c id ad e: n o h is to ri a e n a l it er at ur a: S i l o Pau l o,

Companhia das Leuas, 1989.

o I n gl es R a ymon d W i ll ia m s, h i st o ri ad o r da " cu l tu ra " , p a rt ic ip a nd o d e intensos

debates no interior da U n iv e rs id a de d e C ambr id g e, a p a ti r de 1 9 39 , t ev e a o p o rt u ni -dade de aprofundar 0 seu relacionamento com 0 marxismo, produzindo, ja como

p r of es s or d a qu e la i n st it u ir ;: il o , e s c ri to s s o br e L i te ra tu r a. R e al iz o u w n a r el ei tu r a d a

obra de Marx, e st ud an d o c on ce it os c om o "cultura", "estrutura", "hegernonia",

"civilizacao", "ideologia" e "tradicao ", l e van t a ndo que s ti onamen t os importantes.

Em sua obr a Marxismo e Literatura, nos diz que

quando percebemos de subito que osconcei tos mais basicos - osconcei tos, como sediz,

dos quais partimos - nao silo conceitos, mas problemas, e Mo problemas analiticos, mas

rnovimentos hist6ricos ainda nlio defmidos, nilo ha sen tido em sedar ouvidos aos seus

apelos ou seus entrechoques ressonantes. Resta-nos apenas, se 0 pudermos, recuperar a

substancia de que suas fonnas foram separadas (Williams, 1979; p.l7).

E s ob a e gid e d e u rn pe ns amen t o d i fe r en t e a r e spe i to do COJ ;K ;C it oe " c u lt u r a"

e m r el ac so , p o r e xemp lo , a o s " m a rx is mo s" r ed u ci o ni st as , h is t or iz a do e d e se n vo l vi d o

po r Raymond Wil liams, que se corsextual iza a su a obm 0 Campoe a Cidode, de

439 p8ginas, publicada no Brasil em 1989 pela Cornpanhia das Letras, examinando

o s " m od os de v id as " r ur al e u rb an o, u ti li za rd o a l it er ar ur a i ng le sa , d o s ec ul o X V Iao XX, c om o f on te h is to ri ca p am a s ua prod~. s a o 2S c a p it u lo s que a p r es e n tam

a s m ud an ca s o co rri da s n a s oc ie da de i ng le sa , n o c am po e n a c id ad e, c om a na li se s

das t r an s f ormac ee s e s s enc i ai s de m e nt al id ad es e c om p or ta m en to s n a I n gl at er ra n os

ultimos seculos.

• P ro fe ssor cia Universidede Federal do Acre, dou1orando do Program. de Hist6ria, PUC-SP.

17J

Pro. Hst trna; sao Pauo. (10/ . dez. I9JJ

 

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Raymond Wil liams procura caracterizar que as cul turas do c ampo c da cidade

t ern grande represent at iv idade na vida das comunidades humanas . Sao realizacoes

humanas, com seus contrastes fundamentais, muitas vezes reduzidas a comparacoes

discu ti ve is , como por cxemplo , a de consi derar 0 c ampo a ssoc ia do a uma forma

natur al de vida - de paz, de i nocencia e v ir tudes s impl es , como lugar de a traso,

i gnoranci a e l im it acao A de assoc iar a c idade it i de ia de cen tro de rea li zacoes _de

saber , comunicacao , l uz , como lugar de barul bo , mundanidade e ambicao , Mero

equivoco. Para Wil liams, a realidade hist6rica mostra que a forma de vida campestre

engloba as mai s d iversas pra ti cas e a c idade aparece sob diversas fonnas.

Para Raymond Wil liams, "a vida do campo e da cidade e movel e presente;

move-se ao longo do tempo, atraves da hist6ria de urna famil ia e um povo; move-se

em sentimentos e i de ias, a traves de uma rede de rel ac ionamentos e dec isoes"

(Will iams, 1989; p.19). Estudar essas vidas, essas cul turas, concretamente, e para

cada autor urn probl ema de perspecuva A sua perspectiva e de analisar 0 c ampo e

a . c i~de a par ti r de exper ienc ias e sensi bi li dades v iv idas , por i nt ermedin de fon tes

l it erar ias, Pro~uzidas ~ r autores que deram ao campo e a cidade significados di-

ferentes, em epocas diferentes, fazendo fluir valores bern diferenciados. Com isto,

emc.r~e u,~ diS~ussao a respeito da simbologia das poesi as "bucoli cas" e "nao-

bucol icas , de d iferen tes poetas i ng leses e suas refcrenci as ao campo e a cidade,

em pleno desenro lar das t ransfonnat ;oes causadas pel a Revolucao Industr ia l. A

problemMica de Williams a todo momento e' m ost tra fi -"" id' ,rar as ns orrnacoes ocorn as

na Inglaterra, antes e durante a Revolu~ilo Industrial, ident ificando a formacao social

de, uma popul~i lo inglcsa bern nos prim6rdios da forma«; ilo do capitaJismo naquelepais,

o que a cont ec eu foi menos 0 cercamento em 51 - wn s impl es met odo - d o que 0

esabelecimento mais palpavel de todo urn sistema que vinha se desenvolvendo havia

muito, que ja assumira varias formas eainda viria a assumir outr as tan tas , Os quilornetros

e quil6metros de cercase muros,os novos direitos expresses no papel, representavam a

declaracjo formal do novo poder const ituido . 0 sistema economico de proprietario,

arrendatario e trabalhador, que ganhava terrenos deste 0 seculo XVI, agora estava

explicitamente no poder (Williams, 1989, p.ISI ).

As transfonna<;l3es ocorrid .. . as no campo e na cidade, na Inglaterra, vistas por

Raymond Wil liams, sao acompanhadas tambcm por mudancas no interior da litera-tura inglesa: poemas que tratam b fi' .scnh '. '. so re 0 re ugio no campo; poemas sobre mansoes

003.lS; IIteratura como objeto de prega~i lo moral e l igada Ii etica do melhora-mento . 0 r omanc e no se c I XVI .

. ,u 0 , por exemplo, foia fonna mais criat iva cia epocaA hter atura vai assumindo ca t ,. b e .

r ae e ns tlc as m d if er en te s em sua mane ir a de " ve r"ocampo e a cidade, do seculo XVI ao XX, estimulada pelas mudancas que s eapresen tavam no SOcia l na ult ral

I ' c ura ru e na cultura urbana inglesas onde porcxemp 0, 0 processo de expropria"oo ' '.

desenvolvl .... camponesa, causada pelo capitalismo agrario,em esenvolVlmento na Ingl t ' b. a erra, e astante forte. 0 processo de cercamento e

VlstOcomo urn processo que tinha . d ' .I" rai zes esde 0 secuJo XIII, e atingiria urn primeiroc imax nos secuJos XV e XVI. Para Williams,

Nao menos impor ta nt e, n a ob ra 0 Campo e a C id ad e, e a abor dagem da

l iteratura a respeito da modificacao radical ocorrida na paisagem, onde fica claro 0

r ap ido p ro ce ss o d e exp an sao e tr an sf ormacao d as c id ad es , f lu in do as f orma s d e

rel ac ionarnen to ent re as pessoas na cul tu ra urbana e suas exper ienc ias v iv idas 00

i nt er io r, por exemplo , de uma Londres , que e vis ta pel o escri to r Hardy , em 1887,

c omo uma c id ad e " in capa z d e s ev er ", c om 0 processo em andamento de desagre-

gacao social. motivado pela Revolucao Industrial, onde e pressentida a ausencia de

sentimento comum. Ninguem c consciente de colet ividade. Para Engels e Marx, em

suas observacoes , em )844 , na Ing la te rra revel ava-se uma consc ienc ia pro le ta ri a

c ole ti va , q ue t ra ns fo rm ar ia a s oc ic dadc a p ar ti r d e sua s b as es n a in du str ia e n as

c idades . Ent re Engel s/Marx e Hardy . a d iferenca era de perspec ti vas, na ana li se da

cul tura urbana inglesa do seculo XIX.

Como discussao f inal , Wil li ams faz uma anali se a respe it o da evolucao do

conce it o de "Metropol e " e sua rcl a~ao com as soc iedades agr icol as ou "subindus-

t ri al izadas" As soc iedades "metropol it anas" sao vis tas no contcxt o de seu desen-

volvimento historico, do seculo XX, como Estados "avancados" e "deserrvorvidos",

industrializados e como centros de poder economico, pol it ico e cul tural, que operarn

mundialmente via exploracao economica e controle pol it ico, extraindo alimentos e

materias-primas das a r e a s "subindustrializadas". 0 exemplo pode, como sugere 0

proprio autor, vol tar-se para a Inglaterra, que no seculo XIX, estas funcoes se davam

no interior de seu territorio, para em pouco tempo arvorar-se a alcancar outras regioes

do planeta, proletarizando uma imensa camada de camponeses nas t erms mai s d is -

tantes, Orwel l, que vira pessoalmente alguns desses proletarios, escreveu em 1939:

o que nunca levamos em conta e 0 tato de que a maioria esmagadora do proletariado

britanico naovive naGra-Bretanha,e sim naAsia e naAfrica (Williams, J 989, pp.378-9)

Para escrever 0 Campo e a C idade, Williams uti lizou como fonte a l iteratura

in gle sa e qu e ta lv ez , s egundo e le p ro pr io, s ej a a ma is r ic a em te rmo s d e g arna d e

t emas referen tes ao campo e a cidade, de uma Inglaterra que atravessou urn processo

/76

Proj. Hj~I"na.S60P_lo, (101,dez./993P ro ]. H s tor ra, S i o PQU /(>. ( 1 0 1. d ez 1< ) 93

 

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de descnvolv imcnto h is to ri co - primeiro numa economia c numa socicdade rural

d epois n um con te xt e u rb ano - mui to c edo c d e modo mu ito cornp le xo , o nd e !laC

fica dcscartada a possibil idade desse processo ser cstudado com maior profundidade

em est udos mai s compara ti vos, em cada urna de suas fases historicas.

Pro) . Historia, SiivPaIJ/o, (J 0), de: . 1993