lugares de memória pierre nora

Upload: sandra-donner

Post on 10-Jul-2015

2.768 views

Category:

Documents


55 download

TRANSCRIPT

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    1/91

    oIi I< Ca : :"0I-U lJ:~I . L I. . . ,o. 0 = .0 . . :. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. _ " . . . ; ' ; ' - , ', - . , .1993

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    2/91

    10HISTORIAprojeto rN"10

    Dezembro/93

    REVISTA DO PROGRAMA DE ESTlJDOS POS-GRADlJADOS EM HISTORlAE DO DEPARTAMENTO DE H1STORIAPllC/SP

    ISSN 0102-4442Proj lhstotin S ao P au lo p .I - 1 71 -: Dc/cmbrof'}3

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    3/91

    PROJETO HISTORlA: Revista doPrograma de Estudos Pos-Graduados em Historia e doDepartamento de Historia da PUC-SP. (Pontificia Universidade Catolica de SiloPaulo). SoPaulo, SP - Brasil, 1981.Pu b li c ac a o s em cs t ra l a p a rt i r de 1985.1981-1985,0-41986,5,61987,71992,8,91993, IO

    ISSN 0102-4442Projeto Histori.EditoraMaria Antonieta Antonacci

    Conse lho Edi toria lAntonio Pedro TotaFemandoLondofloMarcia Mansor D 'AlessioMaria Amotlieta AntonacciMaria lzilda MatosMana deLourdes Monaco Jonotttfara Aun Klwuryfvone Dias Aveline

    Edue - Edi tora d . PUC-SPDir~oMan'a do Canna Guedes

    Prod~iioEveline Bouteiller KavakamaRcvissoBerenice Haddad Aguerre

    Editora~o EletrOnicalI'aldir AntOf1ioAlves

    CapaVista Produ~iJes Grr.ificas

    Educ- Editora da PUC-SP~7.o n te A l eg re , 9 8 4. C a ix a P o s ta l 7 9 82 - CE P 0 5 01 4 - ) Ie .. 873- 3359 - PABX 263 -0 2 1 1 -R. 350 - S ao P au lo _ S P

    suMAruoApres en ta cao .. . . . . . .. 5TRADU(:OESENfRE MEMORIA E HISTOR1A A PROHL EMA T ICA oos LUGARESPierre Nora. Traducao: Yara Aun Khoury .. , ' . , , , , . , . , , 7M lTOB100RAFIA EM HISTORlA ORALLUisa Passerini Tradu.;:ao: Maria Therezinha Jamne Ribeiro. . . ' . 29SONHOS UCRONICOS. MEMORLAS E POSSIVEIS MUNOOS DOSTRABALHAOORESA le ssa ndr o P or tell i T raduc ao: Ma na The rezi nha Ja nine R ibe ir o, . , , . . , . , . .. 4 1ARTIGOSPRODUc: ;: J\O ACADEMICA DA POS-GRADIJACA.O EM HISH)RIA DA PUC-SPMaria de Lourdes Monaco Janot ti eMarcia Mansor D' Alessio .CULTURA E HISTORlA SOCIAL: HISTORIOGRAFIA E PESQUISADca Ribeiro Fenelon, , , , , , ... , , , , , , , . ' .. , , . . . , ..... , . , . 73HTSrORIA, CULfURA E REPRESENTACAo . 91ASPAl.AVRAS E OS HOMENS: ORAH)RIA, CR()NICA E NOVELA NAsAo PAULO DE 32Elias Thome Sal ibaHISTOR1A EM CA1v1PO MINAOO (SUBTERRANE OS DA VIOLENCIA)Antonio Torres Montenegro, .. , , , , , , .... , , . , , ,. 115

    59

    , . .. 103

    ENTREVlSTAMICHELLE PERROT. Ent revi stada po r I I ermet es R eis de A ra ujo. , . , . . .. . , , . , . 125

    PESQUISASHISTORlA SCX::IAL DA SAUDE, D A O O EN (,::A E D A M OR TE E SUASREPRESENT AC;OES NA CIDADE DE sz,o PAUlO (1830-1940)Yvone Dias Avelino , , , , . . , , , , .. , """""'" 139

    rRABALHO, CULTURA, EDUCAC;Ao ESCOLA NOVA E CINEMA EDUCATIVONOS ANOS 192011930Mana Antonieta Antonacci . 147RESENHASC ill .TURA E CIDADE EM AS C IDADE I , ' /A'VlsivElS

    Eliane Ordunha Coelho 167oCOTIDIANO E 0 EXTRAORDINARIO EM A . \ .f ORTE f' [ lM A F E ST ARairnundo Donato de Prado Ribeiro 171LINGlJAGEM UTERARIA E I 1I SrORlA EM ( ) CAAIPOEll CIDADE: NAHl.STORIA E NA LlTERATURACarlos Alberto Alves de Souza 175

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    4/91

    APRESENTA(:AO

    Produ . .. .r rcg is tros C , para h is tonadorcs formados no corpo a corpo com 0dialogo C as evidcncias de sujcuos SOCl,US dcsrc e de outros tempos/espacos, questaode reccssi dadc c de compronusso soc ia l Ass im . quando dol redcfi ni cao de nossasl inhas de pcsquisa ern dl~:lo a Historia e Cultura. colocou-se 0 imperauv 0 deregistrar 11. Revista ProJCIO Histona angulos des sa trajetona. subjacerue a mtercaod e t orn a- la u rn m ci o de cornunicacao mars scnsivcl is demandas do atual perfil daspcSqUlS3S CI11 andamcntoo interesse pclo cstudo da cul tura advern de rcflexoes da pratica de ensino/pes-quisa em 10010 da Histona SOCIaL apa r ti r d e recortcs s o br c l ut as h is to n ca s, a r es p eu oda orgaruzacao do trabalbo. sobre difercmcs formas de lutas socia is urbanas. sobreconst ituicao/reconsutuicao de podercs e sabcres. assirn como sobre const rucao damemoria e das represcruacoes nas suas rnuluplas intcrferencias nas cstraregias dosgrupos socials

    Def inmdo ncstcs t crmos as t crnancas em 10010 de Cullum e Trabalho. Cul turae Cidadc. Cul tu ra e Rcprcscmacao. prc tc rdcmos contcmplar rccor tes. abordagcns esuponcs documcntais que deem eonta da dinanuca das prat icas sociais c das questocshistoriograficas recerscmentc colocadas, q ua nt o ,1 C0 m pa nh cm f lO S SO Salunos. que.egresses dc difercnlcs movirncntos sociais c cxpencncias profissionais. instigam esterepcnsar c refazer de caminhos de ens ino c pesquisa historica

    N es sa i nt cn ca o c q ue a R cv is ta e xp rc ss e e st a e nfa se q ue e sta rn os dando acuitum. cnicndida como sistemas de valorcs, crcncas. habitos. t radicoes. 110 contextedos quais os suj ei tos l us to ri cos cxpcr imcntam suas rel acoes soc ia is e a tr ibuern s ig-nificado a s ua s ao;ocs. considcracocs c cxp rcssocs Q ue sc concretize como um canala r na is n o s enudo d e enf rc nta r o s s il cn cio s em rcl~ao a r cf le xo es sob re mode s d ev id a g lo bal . a pr cc n< 1i do s co mo m od es d e l ut a, ): 1 q ue s cm pr e corulitantes e contra-dit6rios

    Como da inte~:lo a reah7A1\'

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    5/91

    TRADU(:OES

    ENTRE MEMORIA E HISTORIA"A problematica dos lugaresPierre Nora

    Traducao: YaraAun Khouryssv

    1. 0fim da historia-memoriaAcclcracao da his to ri a. Para a lcm da metafora, e p re cis o te r a n0l ,( 30do que

    a expressao s igni fi ca : uma osc il acao cada vez mai s rap ida de urn passado def in it i-v ar nente mor to , a p er ce pc ao g lo ba l d e qua lq ue r c oi sa c omo des ap ar ec id a - umaruptura de equil ib ri o. 0 arrancar do que a inda sobrou de viv ido no cal or da tradicao,no mut ismo do costume, na repet icao do ances tral , sob 0 impulso de urn sentimentohistorico profundo. A ascensao it consc ie rc ia de s i mesmo sob 0 signa do tenninado,o run de aIguma coisa desde sempre comecada Fala-se tanto de memoria porquecia MO existe mais.

    A cur io sid ad e p el os l ug ar es ond e a memor ia s e c ris ta liz a e s e r ef ug ia e st aligada a este momento part icular da nos s a h i s to r ia , Momento de articulacao onde acon sc ie nc ia d a r up tu ra c om 0 p as sa do s e con fund e com 0 s en timent o d e umamemoria esfacel ada, mas oIXIe 0 esfacelamento despcrta ainda mem6ria suficientepara que se pos sa coloca r 0 p roblema de sua enc amacao . 0 s en tim en to d e con -t inui dade t orna-se res idua l aos l ocai s. Ha loeai s de memoria porque MO ba mai smeios de mem6ria.

    Pensemos nessa mutilacao scm retorno que represcntou 0 fim dos camponeses,esta colet ividade-memoria par excelercia cuja voga como objeto da hist6ria coincidiucom a apogeu do crcsc imemo industr ia l. Esse desmoronamento cen tral de nossa In: Les lieux de memoire. I La Republique, Paris. Gallimard. 19&4.pp. XVIII XLII. Tradu'ilio autorizada

    pelo Editor . C Edit ions Gall imard 1984.. . D ir et or d e e st udos na "Eco le d eHa ut es E tude s e nS ci en ce s S oc ia le s " . Depar tamento deHistor ia , P tJCSP

    Pm]. Hi.lona, Silo Paulo. {I01.dez.1993

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    6/91

    memoria 56 C . no en ta n to , um exernplo E 0 mundo inteiro que cntr ou n a danca,pclo fcnomeno bern conhecido ci a mundial izacao, da dernocratizacao da massifi-cacao , da mcdia ti zacao. Na pcr ifer ia , a mdepcndenci a das novas nacoes conduziupara a h is to ri ci dade as soc iedades j a despert adas de seu sono etnol cg ico pel a v io-lcntacao colonial. E pelo mesrno movimento de descolonizacao interior. todas asctnias, grupos, farnil ias, com forte bagagem de memoria e fraca bagagem historica.Fim das sOCicdades-mcmoria, como todas aquelas que asseguravam a conservacaoc a t ransmi ssao dos val ores , i grej a ou escol a, famil ia ou Estado Fim das i dcolo-gias-mcmorias. como todas aqucJas que asseguravam a passagem regular do passadopara 0 futuro. au indicavam 0 que sedeveria reter do passado para prcparar 0 futuro:qucr se trail ' da reacao, doprogresso ou mesmo da revolucao Ainda mai s: e 0 modomesmo da pe - hi", , rcepcao stonca que, com a ajuda da midia, dilatou-seprodi~losamente. substituindo um a memoria voltada para a h e ra nc a de sua propr ialIltmudadc pcla pelieula efemera da atualidade

    Aceleracao 0 que 0 fen6meno acaba de nos revelar bruscamcnte e toda adistancia entre a memoria verdadeira social intocada, aq I . , dad d't' '. - ,,' ue a cUJas socle es IasPlllnll~vas. ou a,rc3Jcas,represcntaram 0 modelo c guardaram consi go a scgredo _ea h is to ri a q ue e 0 que nos sa s s oc ' d ad d 'ie e s COn enadas ao csquecrmento f azem dopassado, porque lev ada s pela m dan E ,. . '., . , u ~a, ntre tuna meUlOna mtegrada, ditatorial einconscrente de SI mesilla, organi sad da .za ora e to e-pcderosa, espontaneamente atuaii-/ .adora urna memoria sem passado q nd .. ue reeo uz etemamente a hcranca, conduzindoo anlIgamente dos ancestrais ao t . dif ., empo III erenClado dos her6i s das ori gens e dom ilo - e a nossa, que so e histo ' , '. '..' na, VeSUglOe trilha Distancia que s6 se aprofundoua I ll ed ida em que os homens fora nb cIII reco c endo como seu u rn pod er e me smo u rndever de mudanca, sobret d 'I . u 0 a par ti r dos t empos modemos. D is tanc ia que chegalOJCnum ponte convulsive

    Esse aITancar d a ,. b .memona so 0 impulso conquistador e erradicador da historiarem como que u rn efeuo d Iantigo n o f im d ao ui e .~ve 3trao : a ruptura de um e lo de i dent idade mui toe cia' , . oaqUl lO que viviamos COmolima evidencla. a adequar;ao da hist6riamenlOna_ fate que 56 . t,- td - . exis a uma palavrd em frances para designar a historia\ 1\1 a e a Operar;ao lIltelectual " ,c . que a l ama mtehglvel ( que os alemaes distinguempor ,esch,cltte e Hi.\1or;e) enfc .& d d .. ,mu " C e Itnguagem muitas vezes sal ientada, for-nece aqlll sua p rofunda v d d - .tu er a e 0 mOVlmento que nos transporta e da mesmana reza que aqucl e que 0 rep res ta r n ao tc ri amo s n ee id d d en p ar a no s, S eh ab lta sSCI llOSa in da nos sa memo ri a.eSSI ace Ihe c onsagr ar III N"-' _haven" memo , gares. dU havena lugares porque nao" na transportada p ela I ' " ,, 'id ' ustoria Cad a ges to , a te 0 rnais cot idiano, sena\ 1\I 0 como lima rcpclll;i!o reli i d _g osa aquil o que sernprc sefez, nurna i dent if icacao

    carna l do a10 e do sen ti do . Dcsdc que haj a ras tro, d is tanc ia . mcdiacao, MO estamosmai s den tro da verdadeira memoria ma s dentro da hisroria. Pensemos nos judeus,confi nados na f idel idade cot id iana ao r it ua l da t radi cao Sua const it ui cao em "povoda memoria" exc lu ia urna preocupacao com a his to ri a, a te que sua abert ura para 0mundo modemo lhes impos a necessi dade de his to ri adores .

    Memoria , h is to ri a: l ange de serem sin6nimos, t omamos consc ienc ia que t udoopoe urna a outra. A memoria c a v ida. semprc earregada por grupos v ivos e , nessesen ti do , e la est a em pcrmancnt e cvolucao, abcrt a a d ia le ti ca d a lcmbr an ca e docsquecimento, i nconsc ient c de suas dcforrnacocs succssi vas, vul nerave l a t odos osusos c manipulacocs. succptivcl de longas latcncias e de repcntinas revi talizacoes.A h is to ria e a r ec on st ru cso s cmp rc problernatica e in comp le ta do que HaO cxistcrnais. A memoria c urn fcnomcno s er np r e a r ua l. 1 1 1 1 1 elo vivido no eterno prescnte;a h is to ri a, uma represent acao do passado . Porquc e afc ti va c magica, a memoria naos e a comoda a d et alh cs que a con fo rt am: c ia s c a lir nc nta d e lemb ranc as v ag as ,telescopicas, gJobais ou flutuantcs, particularcs Oll s imboli cas, sensi ve l a t odas astransferencias, cenas, censura 011 projccocs. A historia, porquc operacao intelectuale l ai ci zant c, demanda anali se e d iscurso cri ti co . A memoria i ns ta ls a Iembranca 110s ag ra do , a h is to ria a lib er ta , c a lo rn a s er np re p ro sa ic a. A memo ri a eme rg e d e umgrupo que ela une , 0 que qucr dizcr, (;OIllO Halbw achs 0 fez . que M tantas mcmoriasquantos grupos exi st en t; que c ia C, por natureza, multipla e dcsacelerada, colct iva,p lu ra l c in di vid ua li za da A h is to ri a, a o con tr ar io , p er te nc e a t odos e a n in gu em, 0que I he da uma vocacao para 0 uni ve rs al . A memor ia s c enr aiz a no con cr et o, n oespaco, no ges to , na imagem, no obj et o. A historia so se liga a s continuidades tern-porais, a s e vo lu co es e as rclacoes das coisas. A memoria e wn absoluto e a hist6riaso conhccc 0 relative.

    No coraeso da his to ri a t raba lha wn cri ticismo destrutor de memoria espon-tanea. A memoria e sempre suspe it a para a h is to ri a, cuj a verdadeira missao e des-t ru i- la e a r ep eIir. A historia e des li gi timacao do passado viv ido. No hor izon te dassoc iedades de his to ri a, nos l irni tes de urn mundo compl et amente h is to ri ci zado ,haveria dessacralizacao ult ima e defirutiva. 0 movimcnto da historia, a arnbicaohistorica n a o s a o a cxaltacac do que verdadeiramente aconteeeu, mas sua anulacao,Sem duvida urn crit icismo generalizado conservaria museus, medalhas e monumen-lOS, isto e . 0 arsenal necessario ao seu proprio trabalho. mas esvaziando-os daqui loque , a nosso ver , os faz l ugarcs de memoria . Uma sociedade que vivesse i nt egra l-mente sob 0 s igno da his to ri a nao conheceri a, a fi na l, mai s do que uma sociedadctradicional , lugares onde ancorar sua memoria.

    I'm), Histona, Sa" / /0 (10),dez. /193 Prr1J ;H is fona. SO O P,..lo. (1OJ, th:. 199J 9

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    7/91

    , U rn dos s inai s mai s t angive is desse arrancar da h is to ri a da memoria e. talvez,o l ni ci o de urna historia da historia, 0 despertar recente. na Franca, de urna cons-ciencia historiognifica. A h i st o ri a e , m a is p r e ci s ar n enr e , aquela do cesenvolvrmeruonacional, con stit uiu a ma is f or te d e oossas tradil;Oes coletivas: nosso meio dememoria, por excelencia, Dos cronistas da Idade Media aos historiadores corucrn-poraneos da hist6ria "total", toda a tradi~ilo hist6rica desen\'olveu-se como excrcicioregulado da memoria e seu aprofundamento espontaneo, a reconstituicao de urn pas-sado sem lacuna e sem fal ha . Nenhum dos grandes h is to ri adores desde Fro issart .tinha.. sem duvida , 0 sentimento de so representar uma memO r ia p a rt ic u la r. C omyn e snao tinha consciencia de rccolher s6 uma memOria dinastica L P I" ,memoria france So ' . '. .' a ope uuere wnasa, ssuet um a memona monarqUica e crista. \bl taire a memoriad?Sprogres~os do genero human e , Mi che l er unicamenle aquela do " po vo " c Lavisscs o a mem6na d a ~ao, Muito pelo contnirio, eles estavam imbuidos do seraimentoque seu pape l consistia e stabelecer . . . . ,'. urna memona ma rs p o si u va do que as preceden-tes, mars globahzante e mais explicativa. 0arsenal cJ' cn li fi d I hi . ' foidotada 'l ICO 0 qua a istcna 01

    r no secu 0 passado so serviu para reforcar poderosamentc 0 estabelecimentocnt ico de urna memoria verdadeira Todos os grandes '. . 'n rcrnane]amenlos historicosCOTlSlstlrnmem alargar 0 campo d a memoria coleu va.Nu m pais como a F r an c a a hi t" d hi .,. Sona a stona nao pode ser uma opcracaomocente, Ela traduz a subversao interior de urna hi I' ' ,' , ", ' S ona-Il lcmona por uma historia-cnuca, e todos os historiadores pretendcram d . '. ,seus predeces M ,enUIlCIar as r nitotogias merairosas desor es . a s a lguma cor sa f undament al s e i nic ia q uando a h is to riae .om: a ~a ze r s~~ p r6pr ia h is to ria . 0 n as cim en lo d e uma p reocup ec so h is to -nog lea, e a his tona que se empenha em bopropria, descobrindo ' . em SCar em si mesma 0 que nao e cia-se como vruma cia memoria e faz nd fdela, Num pais q _

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    8/91

    . Cornp re cnde r p or qu e a conjuncao s e d e sfe z s ob u m n ov o im pu ls o d es sa cra Ii -zante r cs u lt ar ia e m mo st ra r C O l ll 0 n . d . . . ., a cnsc o s a Il O S tnnta, subsntuiu-se progressi-vamente a d up la E st ad o- Na c; :a o p cl a d up la E st ad o Sociedade E- . como, ao m esmotempo e p or r az O es 'd ' ti hi . ., .. I en leas , a i st ona, q ue s e t in ha to ma do t ra dic ao d e memoria,sc f ~z , d e manei ra espetacula r n a F r an ca , s ab er d a s oc ie da de sobre s i m es ma . N es sescntido, eia pede multiplicar, Scm duvida, o s l an ce s d e projetores sobre memoriasp ar tl cu ia rc s e s c t ra ns fo nn ar e n! l ab t" d .. . ora ono as m en ta hd ad es d o p as sa do ; mas li-berando-se da iden tificacao nacional cia deixou de ser hab itad . '1tad ,. I a por urn SU JC I0 por-or C, n o m esm o lance cia perdcu Sua vo caca o peda ' . . ~ d.' ya gogica na transm issao ev al or es : a cnse da escola esta a i p a ra d emons t ra - Io A n a c a o nao e dunitario ., . . ...... 0 e m als 0 qua roq ue e nc err av a a c on sc re nc ia d a c ole tiv id ad e. S ua d efi ni cao n ao e st a m aisem qucstao, e a paz a P rosperidad d, ' e e sua re ucao de poder f izeram 0 re st o: e la s oesta anteac;ada pcla ausencia d e C ., . 'ameacas. om a emergencia da socicdadc n o l ug are e spaco da Nacao a l egitimaca I d'I " ' ~ 0 pc 0 passa 0 p or ta nt o p cl a h is to ri a, c ed eu l ug ara egiumacao p e lo f ut ur o 0 passad '. ,N a . '. ' . 0, s o s en a possi vc l conhece-l o e venera- to , e aac 0, sen i-la; 0 f ut ur o, e p re ci se p re pa ra .l o. Os t res tautononua A n a c a o n .' I' . ennos recuperaram sua

    .,: . 0 e n13IS um c omo at e, mas um dado; a h i st o ri a t o rn ou -s eurna crencia SOCi a l; e a memo ri a urn f , .tern sido a u ltim a " . ~ n?meno puramente pnvado. A na cao -memo r iaenca rna 'Yi tO da hls tona-mcm6r ia .o cstudo dos lugares encontra-s' ..que lhe dao hoi e , a ss im , n a e n cn l Zl ll 13 d a d e d ai s movirnentos, ~e na Franca seu lugar e idpuramente historiogcifi' seu senti 0: de u m lad e u rn m ovim entoI CO ,0 m om en ta d e mn reto flexi , ,. .mesm a de outro l ado ' mo re exrvo da h istona sob re 51, , urn mOVlme n to p r o pr i a me t hi "de m emoria 0 tempo din e stonco, 0 f im d e u m a t ra di ca o. as ugares e esse m 'imenso c ap i ta l q u e no's . ' o me nto p rec is o o nd e d es ap are ce u rnv rv ia mo s n a in ti .dad deo o Ula r d e uma histon . nu e u ma m em oria, pam s6 viver soba r e col lS l l tu ida Aprof d . .hist6ria. por u rn l ado . . un amento decisive do t ra ba lh o d a, emergencla de uma he 'in tem a do principio critico rar.;a consohdada, por outro . Dinamica. ' esgotam ento de nosso d hi " , 's l If i cl e nt emen t e p od er o so ind _ q ua ro s to nco p olftico e m en tal,sistente para sO . a r a p ar a n ao n os d ei xar i nd ife re nte s, b ern p ou co c on -. se Impor por u r n r e to r n o b '. .do IS lI Iovimentos se combi so re seus mars evidentes simbolos. Os;/. nam para nos remeter de '( an , aos I ll Sl nu n cn to s d e ba d um a SO vez, e com 0 rnesmose 0 lrabalro lu ,.de nossa m em or ia ' o s Arquiv d istonco e a os o bj et os m ai s s im b 6l ic os. . . \OS a mesm a f orma 'os d lc lo na ri os e o s museu, co . que as T r es C o re s, as bibliotecas,P , m 0 m es mo a tn bu too antheon ou 0 A rc o d o T' c.: " q u e a s c ome m o~ o es , as festas,n l ll l lO . 0 d lC lo n a ri o LOs lugares de memori _ a ro us se e 0 m um dos Federados,. b . a sao . alltes d e 11 dsu slste lima conscicncia come I o, restos A forma extrema onde.1ll0rall\,a numa lust' .ona que a cham a. porque cIa a

    ignora. E a desritualizacao d e n oss o m un do q ue faz aparcccr a nocao. 0 q u e s e cr e ta .veste, estabelece, constroi, decreta. mantcrn pcl o art if ic io e pela vontade um acoletividade fundamentalmentc cnvolvida em sua t ransformacao e sua renovacao.Va l oriza n do . p or n at ur ez a. ma is a novo do que 0 a nt ig o, m ai s 0 jovern do que 0velho, mais 0 fu tu ro do qu e 0 passado, Muscus, arquivos, cerni tcrios c colecoes,fes tas, ani vcrsar ios, t ra tados, p rocessos verba i s . monumcntos, san tuar ios, asso-ciacocs, s li o o s m ar co s testemunhas d e u ma outra era, das i lusocs de e te rn id ad e . D a io a sp ec to nostalgico desses emprecndimentos d e p i ed a de , patcticos e glaciais Saoo s n tu ais d e u ma s oc ic da de s cm ri tu al; s ac ra liz ac oe s p as sa gei ra s n um a s oci ed ad eque dessacraliza; fidclidadcs particulares de uma s oc ie da de q ue a pia i na o s particu-larisrnos; diferenciacoes efctivas n um a s oc ie da de q ue n iv ela p or principio: sinais dereconhecimento e d e p er te nci me nto d e grupo n um a s oc icd ad e q ue so tend e a reco-n he cer i nd iv id uo s i gu ais e identicos,

    Os lugares d e m e m or ia nascem e vivem do sentimento q ue nao M memor iaespontanea, que e preciso criar arquivos, que e preciso manter aniversarios, organizarcelebracoes, p ro n un c ia r e lo g io s funebres, notariar atas, porque essas operacocs naos a o n a tu r ai s , E por isso a defesa, p ela s m in or ia s, d e u ma m em ori a re fu gia da s ob refocos privilegiados e enciumadamente guardados nada rnais faz do que levar a in-candescencia a verdade de todos os Iugares d e m em oria. S em vigilancia cornemo-r at iv a, a h is t6 ri a d ep re ss a o s v arr er ia . S ao b as ti oe s s ab re o s q ua is s e e sc or a. M as s eo q ue e le s d ef en de m 1130 estivesse arneacado, nao se teria, tampouco, a n e ce s si d ad ede construi-los. Se vivessemos verdadeiramente as lembrancas q u e c 1e s e nv o lv em ,e le s s er ia m inuteis. Ese, em compensacao. a historia nao s e a po der as se d el es p arad efo rm s- lo s, t ra ns fo rm a-l os , s ov a- lo s e p etr if ic a-l os e le s n ao s e t om ar ia m l ug are sd e m e m or ia . E este vai-e-vem q ue os constitui: mementos de historia a rr an ca do s d om ov im en to d a historia, mas que the sao devolvidos. N ao m ai s intciramente a vida,nem mais i nt eir am en te a m ort e, c om o as c on ch as n a p ra ia q ua nd o 0 m ar se retirad a m em ori a v iv a.

    A Marselhesa ou os m o nu rn en to s a os mottos vivem, assim, cssa vida arnbigua,s ov a da d o s en ti m en to mixto d e p cr te n ci m en to e d e d es p re n di m en to . Em 1790, 0 14d e j ul ho ja era e ainda n ao u m l ug ar d e m em or ia , Em 1880, sua instituicao e m f es tanacio nal em lug ar de m em oria oficial. m as 0 espirito da R ep ub lic a fa zia d el e u rnr e cu r so v e rd a de i ro . E hoje? A p ro pr ia p er da d e nossa m em or ia n ac io na J v iv a n osimpoe sob re ela um o lh ar qu e n a o e m ais n em ingenue, n em i n di fe re n te . M e m or iaque nos pressiona e que ja nao e m ais a no ssa, entre a dessacraliz acao rap ida e asacralizacao provisoriamente reconduzida A peg o visceral q ue no s mantem aindadevedores daquilo que nos engcndrou, mas distanciamento historico q ue n os o br ig a

    Proj. H,slona. So o Paulo. 1101.de: 1'1')3 I"!YO Histono. sao Paulo. I IOJ.dez. 1993

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    9/91

    a consi dcrar com um olhar fri o a heranca C it inventaria-la. Lugares salvos de Hillamemoria na qual nao m ai s h ab it am os . s cm i- of ic ia is e i ns ut uc io na is , s cm i- af ct iv os cs e n time nt a is ; l u g ar e s de unanimidade scm u na ni nii sm o q ue n ao c xp rn nc m m ai s n emconviccao militante nem participacao apaixonada, mas ond c p alp ita a in da a lg o d el im a v id a s imb6l ic a. Os cil ac ao do memo ri al a o h is to ric o, d e u rn mundo ond e s ct inham ancestrais a um mundo da relacao contingcntc com aquilo que 110S cngcndrou,passagem de uma h i st o ri a t o te r ni c a para l ima h i st o ri a c r it i ca : c 0 memento dos 11I -gares de memoria. N ao s e c er eb ra mais a n ac ao . m as s e c st ud am s ua s c cl eb ra co es

    ou 0 desaparecimento daqui lo que nos pennitiria saber, para mo cair na mesmarecrimlnacao por parte de nossos sucessores? A lembranca e passado compl et o emsua reconsti tuicao a mais minuciosa. E uma memoria reg is tradora, que del ega aoarquivo 0 cuidado de se l embrar por e la e desacel era os s inai s onde e la se deposit a,c omo a s er pent e s ua p el e mor ta . C ole ci on ador es . e ru dit os e b en ed it in os con -sagravam-se antigamente a a c umula c a o doc ument a ri a , como margina i s de um a so-c ie dade que avanc av a s em e le s e d e uma h is t6 ria q ue e ra e sc ri ta s em e le s, P oi s ahist6ria-mem6ria havia colocado esse tesouro no centro de seu trabalbo erudito paradifundir 0 resultado pelas mil etapas sociais d e sua p er et ra cao, Ho je ond e o s his-t or iadores se desprenderam do cul to documenta l, t oda a soc iedade vive na rel ig iaoconservadora e no produtivismo arquivist ico. 0 que n6s chamamos de memoria e,de fat o, a const it ui cso g igan tesca e ver ti gi nosa do est oque mat er ia l daqui lo que nose impossivel lembrar, repert6rio insondavel daquilo que poderiamos ter necessidaded e nos lemb ra r. A "mem6r ia d e p ap el" d a qual falava Leibniz tornou-se uma insti-t u ic a o a u to n oma de museus, bibliotecas deposi tos , centros de documentacao, bancosd e d ados . S omente para os arquivos publicos, o s e sp ec ia lis ta s a va liam que arevolucso quant itat iva, em algumas decadas, t raduziu-se numa multipl icacao por mil.Nenhuma epoca foi t ao volun tari amente produtora de arquivos como a rossa , na os omen te p elo vol ume que a soc ie dade mode rn a e spon ta ne ament e p ro du z, na osomente pelos meios tecnicos de reproducao e de conservacao de que dispoe, maspela supersticao e pelo respei to ao vest igio. A medida em que desaparece a memoriat radicional , nOs nos sent imos obrigados a acumular rel igiosamente vestigios, teste-munhos, documentos, imagens , d iscursos , s inai s v is ivei s do que foi , como se essedossi e cada vez mai s pro li fe ro devesse se t ornar prova em nil o se sabe que t ri bunalcia his t6 ri a. 0 sagrado inves ti u-se no ves tl gi o que e sua negacao . Impossi ve l deprejulgar aquilo de que se devera lembrar. Da l a i ni bi cao em destrui r, a consutuicaode tudo em arqutvos, a d il at acao ind iferenci ada do campo do memoravel , 0 inchacohipertrofico da fu~ao da memoria , l igada ao pr6pr io sen timento de sua perda e 0reforco corre la to de t odas as i ns ti tu icoes de memoria . Urna est ranha vira-vo lt aoperou-se ent re os profi ss iona is . a quem se reprovava ant igamente a mania censer-vadora, e os produtores nat urai s de arquivos. sa o hoje a s emp re sa s p riv ad as e a sadminist racoes pUblicas que engajam arquivistas com a recomendal; :: lo de guardart udo, quando os profi ss iona is aprenderam que 0 essencial do oficio e a arte dadestruicoo controlada.

    Ass im , a mat er ia li zacao da memoria, em poucos anos , dilatou- seprodigiosamente, desacelerou-se, descentralizou-se, democrat izou-se. Nos temposclassicos, os t res grandes produtores de arquivos reduziam-se a s grandes familias, a

    11.A memoria tomada como historic

    Tudo 0 que e chamado hoj c de memoria 11(10 e , p or ta nt o, memona , m as jahistoria. Tudo 0 que e chamado de clarno de memoria e a f inal izacao de sel l desa-parecimento no fogo da historia. A necessidadc de memoria c uma necessi dade dahist6ria.

    S er n d u vi da e i mp os si ve l n ao se precisar dcssa p ala vr a. A cc it cm os i ss o, m ascom a consc ienc ia c la ra da d ifercnca ent re memoria verdadeira. hoj e abr igada nog es to e no habito, nos oflcios oode se transnl itcm as sabercs do silencio, nos saberesdo corpo, as memorias de impregnacao e os sabercs ref lexes e a memoria t ransfor-mada por sua passagem em historia, que e quase 0 contrario: voluntaria e deliberada,vivida COIllO urn dever e nao mais csponti inea; psicologica, individual e subjetiva Cnilo mais social , coletiva. globalizante. Da primeira, imcdiata, a segunda, indireta.o que aconleceu? Pode-se apreender 0que acont cceu , no porno de chegada da met a-mOlfose conlemponlnea.

    . E , l 'I~tes de tudo, l ima memoria, diferentemcllIe da outra, arquivist ica, Ela seapoia mteiramenre sobre 0 que M de mais prec iso no trac o . mais ma ter ial nov es ti gi a. m ai s concret o no rcg is tro . mai s v is ivcl na imagcm. 0 moviment o quecome~~u ~o ln .a e sc ri ta tc nn in a n a a lta f id cl id ad e e n a f il a m agnc tic a, Menos amemoria e vrv ida do interior, mais ela tcm nccessidade de suportcs exteriores e der ef er en ci as t an gi ve is d e uma . : t" ,. . , _e x is e n ci a que so vive atraves dc1as. DaJ a obscssaopel~ arquivo que marca 0 cOlltempor.1.neo c qu e a lc ta , ao mesmo t empo. a preser-vacao rnt egra] de t odo 0 prcsente e a preselva.;ao integral de todo 0 passado . 0senumento de um dcsapareci t inid fi ". _cunen 0 rapt 0 c de IIlJtlVO combina-se a preocupacaocom 0 cxato s igni fi cado do present e e com a incer tezs do fut uro pard d ar a o maismodes to dos ve stigios ao Ill' I ild '". ' a rs 1l I1 ll1 C testemunho a dignida de virtual dom em or av e] J a 1 1 < 1 0 l"111CI1'" b: . _. " ...mos 0 , lS t, ll lt C . e m nossos prcdcccssores. a destruicao.'~

    Pro). Hisr(;ria. SIIaP",,1o. (10), dez . 1993 IJ

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    10/91

    Igrej a e ao Est ado. Quem nao se cre a u t or iza do ho j c a consignar s ua s l emb ra nc as ,a es c rever suas Mem6rias, 1 1 3 0 somente os pequenos atores da historia, como tambernas testemunhos de s se s a t o re s , s ua e spos a e s eu medic o? Menos 0 t es temunho eextraordinario, rna is e le parece d igno de i lust ra r urna mentaJi dade media . A l iqui -dacao da memoria foi sol dada por uma vontade geral de reg is tro. Nurna geracao. 0museu imaginario do arquivo enriqueceu-se prodigiosamente. 0 ano do patrimonio,em 1980, fomeceu urnexemplo evidente, levando a n a t ; a o ate a s fronteiras do incerto.Dez anos ma i s c e do, 0Larousse de 1970 hmitava ainda 0 patrimonio ao " be rn quevern do pai ouda mae". 0 "Petit Robert" de 1979 faz "da propriedade transrnitidapelos ancestrais, 0 palrim6nio cultural de urn pais". Passou-se, muito bruscamentc,de urna concep4;ao muito restritiva dos rnonumentos historicos, com a convencaosobre os sitios de 1972, a urna concep4;ao que , t eori cament e, n il o poder ia dei xarnada escapa r .

    Nao somente tudo guardar, tudo conservar dos sinais indicatives de memoria,mes~o sem se saber exa tament e de que memoria sao i nd icadores . Mas produzi rarquivo e 0 imperat ivo da ' 'Iiepoca . e rn-se 0 exemplo per tu rbador com os arquivosda Seguranca Social - SO d aJ .

    A rna acument scm equrvalente, representando, hoje, t rezen-tos quJlometros lineares d ' .. .. . ' massa e mcmona bruta cujo inventario pelo computadorpermiuna, IdeaJment e l er t udo b. ' SO re 0 normal e sabre 0 patologico da soeiedade,desde os regimes ali rnenta t . .res a e os modos de Vida, por regioes e por profissoes;:as'l : mes~ tempo, I l I3Ssacuja conservacso, tanto q ua nt a a e xp lo ra ca o c on ce -ive ernandanam escolhas drasticase, portanto, impraticaveis Arquive-se arquive-

    SC, s emp re sob ra ra a lg uma . I N'" . .,he corsai ao e out re exemplo gri tant e 0 resul tado a quec ga, de fato, a muito legiti 'I I ima preocupa~o das enquetes orals recentes? Ha atu-a mente, somente na Franc . dlhi" ..ca, mars e treze ntas equipes ocupadas com 0 reco-mento destas v ozes dquand que vern 0 passado" (Phil ippe Joutard). Muito bern. Maso s e pensa por urn i nstant 'especial. .' e, que at se trata d e a rq ui vo s d e u rn g en ero muit o. cUJo estabelecimento '. .cuia utiliz"''''l ' exige t nnta e s eis h ora s p or u ma h ora de g ra va ca o e

    ~ A> . O so pode ser pontual. . .tegral .t impo . I ' POlS que elas uram seu sen ti do da audl~o ID-, c sSlve nO O se inda bvontade de ' . gar so re as possi bi li dades de sua exploraeao. QuemelUOna elas testemunham d .o arquivo muda d' ,a osentrevistados ou ados entrevistadores?e sentJdo e de "statu'" I .tmais 0 saldo m ars . s sim p esrnente po r seu peso. Ele n ao . .. .. . ou menos tntenci naJ dvoluntil1ia C orgaru'zada d 10 e uma me rn6r ia v iv id a, ma s a s ec re csoe urna me ,. .volve, rnuitas veze fu mona perdida, Ele dubla 0 viv ido, que se desen-s. em llI;ii.ode se roeri . .de outra coisa? _ d .. u P pno fegJstro - as atualidades sa o feitas. . e um a memona sec "...1"-' dUl lUdna, e uma memo ri a - p ro te se , A p ro -

    i nd cf in id a do a rqui vo e 0 e fc it o a gu cado d e uma nova con sc ic nc ia , a ma is c la raexpressao do terrorismo da memoria historicizada.

    E que e st a m emor ia nos vem do e xt er io r c nos a i n te r io r izamos como um aobngacao ind iv idua l. poi s que e la 11.10 e mai s uma pra ti ca soc ia l.

    A p as sa gem da memor ia p ar a a h is to ria o br ig ou c ad a gmpo a r ed cf in ir s uaid en ti da de p cl a r ev ita li za cao d e sua p ropr ia h is to ria . 0 d ev cr d e memo ri a f az d ecada um 0 his to ri ador de s i mesmo. 0 imperat ive da his tona u lt rapassou mui to ,assim, 0 circulo dos historiadorcs profissionais. Nao 5

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    11/91

    com Freud, no centro da l iteratura autobiognifica, com Proust? A violacao d o q uef oi , p ar a nos . a propria imagem da memoria enc ar nada e a b ru sc a e rn er genc ia d amemor ia no coracao das identidades individuais sao co mo as duas faces da mesmacisao, 0 corncco do processo que e x pl ode ho j e. N a o dcvemos efe ti vament e a Freude a Proust os doi s l ugares de memor ia i nt imos e ao mesmo t empo universai s que< t o . . .s a c en a p nn ut rv a e a c ele bre p eq ue na m ad ale na? Deslocamento d ec is iv e q ue set ra n sf e re da memoria: d o h is to ri co a o p s ic o lo gi co , d o social ao individual do tran-sissivo ao subjetivo, da repcticao a rememorac;ao. l naugurn-se urn novo reg ime dememoria, ~uestao daqui por diante privada, A psicologizacgo integral da memoriacO l ll e ~pora nea l e vou a uma cconomia s ingularmente nova da ident idade do eu, dosrnecamsmos da memor ia e da r el ~ ao Co m 0 passado.

    Porque a coercao ci a memoria pesa def init ivamenle sobre 0 individuo e somentesobre 0 ind~vi~uo,c om o s ua revilali7~ao possivel rcpousa s ob re s ua r c la c ;: a ope s soa lco m seu propno passado A atomizacao de ' , ,. , . yd uma I11emona geraJ em memor ia pnvadada a lei d a l emb ra n ra u rn inte d d " .

    y n so p o er e c o er sa o l nt cn o r. Ela obnga cada urn aEserelembrar. e a reenconlrar 0 pertencimento, principio e segredo da identidade.sse pertencimento em tro . . .. ' ca, 0 engaja mter rameme, Quando a memoria MO estamats em todo lugar ela rulo csta . I. ' na em ugar nenhum se UOlaconsc ienc ia individualnuma oec tsao sol i ta r i n a de idi '. ,a, 0 CI i sse del a seencarregar . Menos a memoria c v iv idaCol cl lVamenl e ma rs ela tern id d' recessi a e d e homens particulares que fazem de simesmos homens-mem6ria E c '.d ,,' om ~ uma voz interior que dissesse aos Corsos: "Voceeve ser Corso e a o Bretoe ' "E .co chamad d ' d ,. s . p re ci se s er Br eta o! ", Para compreender a forcaoeste eSlgruo talvez fosse ' .. ' necessano voltar-se para a memoria judaica,q ue conhe ce hoJ e em t an to s . d desi .tradi iL " JU eus eSJudaizados, uma r e c e nt e r e at i va < ;: a o. Nesta19. . . . . que so tern como hi t' . ,.s er ju deu, ma s e sta I mb s o ~a s ua propna memOria, ser judeu, e s e lemb ra r d ev ez m ai s M m6 ' dee r a n c a Irrefut

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    12/91

    de todo murdo . Se ninguem sabe do que 0 passado e feito, urna inquieta incertezat~fonna tudo em vestigio, indicio possivel, suspeita de historia com a qual con-tammamos a inocercia das COI'sa N 's , ossa pcrcepcao do passado e a apropnacaoveemente daqui lo que sabemos na ', os 1110mars nos pertencer. Ela exige a acornodacaoprecisa sobre urn obieto p erdid A ' ,J I 0, representacao exclui 0 afresco, fragmento, 0quadro de con~unto; ela p ro ce de a tr av es d e ilumina

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    13/91

    tempo 0 r ec ort e m at er ia l d e u ma u ni da de t em po ra l e s er ve , p er io d ic am e nt e, p a raum a c ha m ad a c on c en tr ad a d a lembrarca Os I re s a sp ec to s c oe xi st cm s em p re . T ra ta -s ed e u rn lugar d e m em or ia ta o a bs tra to q ua nto a no t ;ao de geracao? E m at er ia J p ors eu c on te ud o d em og ra fic o; fu nc io na l p or h ip ct es e, p oi s g ar an te , a o m es mo t em po .a c ri st al iz a. yi io d a l em br an ca e s ua t ra ns m is sa o; m as s im b 6l ic a p or d ef in ic ao v is toq u e c ar ac te ri za p o r urn a co nt ec im en to o u u rn a experiencia v iv id os p or u rn p eq ue nonumero u m a m ai or ia q ue d el es Mo participou,o q u e o s c on s ti tu i e urn jogo da m em oria e da h is to ri a, u m a i nt er ac ;a o d osdois f at or es q ue l ev a a s ua sobredeterminacao r e ci p ro c a l n ic i aJme n te , e p re ci se t erv on ta dc d e m em or ia . S e 0 p ri nc ip i o d e ss a p ri or id a de f os se a ba nd o na do , r ap id am e nt ederivar-se-ia de urna d e fi n ir r ao e s t r e i ta , a r na is r ic a e m p o te n ci al id ad c s, p ar a u mad e fi n it y ao p a ss i ve ) , ma i s ma i ea v el , susceptivel d e a dm .i t ir na c at eg or ia t od o o bj et od i~ de urna lembrat1l;a. Urn p ou co com o as b oas regras d a c ri ti ca h is t6 ri ca d ea nt ig am ~ nt e, q ue d is ti ng ui am s ab ia me nt e a s "fontes diretas", isto e, a qu ela s q ueu~ a sociedade v c lu n ta r iame nt e p r o du z i u p a ra s er em r ep ro du zi da s c om o tal - um al ei, u ma o bra d e a rt e, p or e xe mp lo - e a m as sa in de fi nid a d e " fo nt es indiretas", istoe tod os os testem unh os d eix ado s p or um a ep oca sem d uv id ar de s u a u t il i za c aofutura pelos hisloriadores Na f It d . . ._ . a a essa m ten.;ao de memoria os l ug ar es d e memonas er ao l ug are s d e historia,. E m c on tr ap art id a, es ta c la ro q ue , s e a h is to ria , 0 t em p o, a m ud an ca 1 1 < 1 0 inter-viessem, seria necessario . .L se coraentar com urn s im pl es h is t6 ric o d os m em on al s.

    du ~r es p ort an to , m as lu ga res m ix to s, h Ib ri do s e m ut an te s i nti ma rn en te cn lac ad ose Vida e de m orte de I d' ' . .vidual d .' empo e e eterrudade; numa espiral do coletivo e do indi-ob ' . 0 p ro sa ic o e d o s ag nl do , d o irnove] e d o m ov el . A ne is de Mo eb iu s e n ro la do ss re S l me smo s Porq rd ,.,' ue, se e v erdade que a r azao fundamental de ser de urn lugare m e mo na e parar 0 tempo i l dd . . . ,e oquear 0 trabalho do e sq ue ci me nt o fi xa r u rn e st a 0e COISas, lmortalizar a mort . . " .m emo' do di e , ma t en a h 7. a r 0 im at er ia l p ar a - 0 ouro e a UIUca

    na ln ilelro - prender ~,('. ,e e . 0 maximo de sentido nurn rninimo de sinais, e c l ar o ,ISSO que os toma apaixonantaptidao es: qu e os l ug ar es d e m em O ri a sO vivem de suapara a metamorfose no . .imprevisiv Ie .' IIICeSsante ressanar de seus significados e no silvadoe suas ramific~Oes.D ois exemplos em ' . .sc C lugar de :. ~glstros d i fe r en t es . Ve j a- s e 0 c al en d ar io r ev o lu ci on ano :

    quadros a . medmona , visto q ue , e nq ua nl o ca le nd ar io el e d ev eri a f or ne ce r o sprlOt"I e toda ' . ,POr ia p or s ua n o Imemon a p o ss iv e l e enquanto e r ev ol uc io na ri o, e le s e p ro -. , . menc alum e po . . . .11iS loria" c om o ambo . r s ua slmbolog13, a " ab ri r u rn oovo livro para af ra n c es e s p a ra 51' IClosamellle diz s eu o rg an iz a do r, e " tr an s po rt er i nt ei ra m en te OSmestnos" se . ., gu nd o u rn o utro d e s eu s relatores. E , nesse obJe t I vO ,

    p ara r a h is to ri a n o m om en to d a R ev olu ca o, i nd ex an do 0 f ut ur o d os m es es , d os d ia s,dos seculos , e dos anos sabre a im agem da epopeia revolucionaria, Titulos ja sufi-cierues! 0 q ue, no eruanto, 0 c on s ti tu i a in d a mais COIllO Iugar d e m em oria. aosnossos olhos, e sua derrota em se tomar aquilo que quiseram s eu s fu nd ad ore s. E s-tivessernos, a in d a h o je . vivcndo sob scu r itmo. e le t cr ia se no s tornado t a o f am il i ar .com o um calcndario grcgoriano, que tcria perdido sua virtude d e l ug ar d e m em o ri a.E le t er ia se fundido a oossa paisagern memorial e so serviria para compatibilizart od os o s o utr os lu gar cs d e m em or ia i ma gi na ve is . M as s ua d erro ta r ul o e t o ta l : d a ta s -c have s , a c on t e cimcnt os c me rg em p ar a s em p re a d e l ig a do s . Vendemiatre, Thermidor;Brumaire. E os motives d e m em o ri a viram-se so brc si mcsmos, d up li ca m- se e mesp clho s d efo rm antes q ue sao su a verd ade. N cnh um lug ar de m em oria es cap a aosseus a r ab e sc o s f u nd a d or c s.T om em o s, d es ta vez, 0 c el eb re c as o Tour de la France par deux enfants: lugard e m em o ri a i gu aJ m en te indiscutivel, pois q ue . d a m es ma forma que 0 "Petit Lavisse",form ou a m em oria de m ilbo es d e j oven s F ran ceses, no tem po em qu e u rn m in istroda instrucao p u bl ic a p o di a tirar seu relogio d e s eu b olso para declarar de manha, a so ito h ora s e c in co m i nu t es : " To d as a s n o ss as criancas passam o s A lpes." L ugar dememoria. tambem, p oi s q ue inventario do q ue e preciso saber sob re a Franca, nar-racao identificadora e v ia ger n i ni cia do ra. M as a s co is as s e c om pl ica m: u ma l ei tu raa te nt a l og o m os tra q ue , d es de 0 s eu a pa re ci me nr o, e m 1877, Le Tour esteriotipa um aFranca q ue n ao e xi st e mais e q ue . n es se ano do 16 de maio, que ve a solidificacaoda Repuhlica. t ir a s ua seducao d e u rn sutil encantarnento p elo p as sa do . L iv ro p aracriancas cujo sucesso se deve, e m p ar te , a m em ori a d os a du lt os , co mo sernpre. Eispara 0 m ontante d a m em oria, e para 0 s e u j u sa n te ? T ri nt a e cin co aoo s ap 6s su ap ub li cac ao , q ua nd o a o br a a in da r ei na a s v es pe ra s d a g uer ra , e la c c er ta me nt e l id ac om o c ha m ad a. t radicao ja nostalgica: prova d is so , ap es ar d e s eu remanejarnento ed e sua atualizacao, a e di ~a o antiga parece vend er m elh or do qu e a o ova. D ep ois 0l iv ro f ic a m ai s raro, so e u ti li za do n os m ei os residuals. IW fundo de campos distantes;ele e esquecido. Le Tourde laFrance t on 13 -S C a os p ou co s r ar id ad e, t es ou ro d e s ot ao ,o u do cu mento para os histo riado res. E le d eixa a m em or ia c ol et iv a p ar a c nt ra r nam em ori a h is to ri ca , d ep oi s n a m em or ia p ed ag og ic a P ara 0 s el l c en te na ri o, e m 1977,no m om en to em q ue Le Cheval d'Orgueil aicanca urn mil hao d e e xe mp la re s e q ua nd oa F ra nc a g is ca rd ia na e i nd us tri al. m as j a a tin gi da p ela c ris e ec on om ica , d es co bresu a m em oria o ral e su as raizes cam pon esas. ele e r ei mp re ss o, e Le Tour e n I ra n o-v am en te n a m em or ia c ol et iv a. na o a r ne sm a, e nq ua nt o e sp er a n ov os e sq uc ci me nt ose novas reincarnacoes 0 que paterneia essa vcdete d o s l ug ar es ci a m em ori a. s ua

    Pro) . Histona; SrioPaulo. (/0). dez. 1'193

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    14/91

    i n tc n y ao i n ic i al 01 1 0 reto rn o scm fim d os ciclo s d e sua m em oria? E \ i dcn tcm eruco s d oi s: t od os a s l ug arc s d e memoria s ao o bj cro s n o abismo

    E ss e m es mo p ri nci pi o d e d up le p ert cn cim cn io q ue pcrnute 0 IX T dr . n a m u lt i-p li ci da d e d o s l ug ar es . u m a h ie ra rq u ia . I I I I I a d el im it aca o d e sell campo. 11111 rcpcrtoriod e s ua s e sc al as . S e v cm o s efenvamenre a s g ra nd es c at eg or ia s d e o bJ C1 0S q ue s ob rc s-s ae ll ~ d o g en er o - t ud o que vem do culto dos m ortos. tudo que sobrcssai do pa-tnrnonio tudo 0 dmi .. que a urustra a prcsenca do passado no prcscnte -. csta portanto~ Ia ro q ue a lg un s. q ue n ao e nt ra m na est rita dcf in icao . podcm i sso pre tender c que .I n:'e r~ a~ 1C nt e. m ui to s. a m ai or p art e rn cs rn o d aq ucl es q ue d ele f az cru p ar te p orpnncipio, dcvern, d e f at o ser excluidos 0 q u e c on st i tu i ccrtos s i t ios pr c -h is tor icos .geogrMicos 0 I' . , .u arqueo og icos em lugares. e m es mo e m lugares de d es ta qu e. e munasvezes 0 q ue d ev en s p re ci sa me nt e I he s s er p ro ib id o, a au sc nc ia a bs olu ta d e v on ta dcd e m em o ~~ , c om p en sa da p el o p es o csmagador de que 0 tempo. a ciencia, 0 sonhoe a m e~ ona d?s h om eI lS o s carregou Em c on tr ap ar ti da , q ua lq ue r l im it e qu e tcm amesma unponancla que 0 Rh i "F' . , ., n, ou 0 u ustcrc", esse "fim de terra". as quais asc e le b :c s p a g in a s de Michelet, p o r e x e rn p l o, deraiu SCIIS t it ul os d e n ob re za. T od aCO llSlltuic;:ao todo tratad d ' I ,. , ' ._d . 0 r p o r n an c o s

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    15/91

    Nada impede. em contrapar ti da , no i nt er io r do campo. que se imaginem todasas d is tr ib ll i~6es possi ve is e t odas as c lass if icacoes necessari as . Desde as l ugaresmai s nat urai s, o fcreci dos pel a expcr icnc ia concret a, como as cemit er ios, os IIlUSClIS.e os aniversar ios. a te os l ugares mai s i nt el ec tualment e e laborados. dos quais ninguems e p riv ar a; n ao sorncnt e a noc ao d e g er ac ao . ja e vo cada , d e li nh ag em, d e " re gia o-memoria". mas aquela de " pa rt il ha s " , sabre as quais estao fundadas todas as IXrc ep co es do espaco frances . ou as de "paisagcm COIllO pintura", imediatamciueinteligivel, se p en sa mo s p ar uc ul ar me nt e e m Corot ou ern Sainte-Victoire de Cezanne.Se i ns is timos sobrc 0 a sp ec to mate ri al d os l ug ar cs . d es p ro pr ios s e d is po em n umvas to degrade , Vej a-se , p rimeiro. os por ta tc is , nao os menos important es v is to quea povo da memoria da urn exemplo maior com as tabuas da lei: veja-se 0t op og ra fic o, q ue d ev em t udo a sua lo ca liz ac ao exa ta e a s eu enr aiz amen to ao solo :assim, por exemplo, todos os Jugares turisticos, assirn a Biblioteca nacional tao l igadaao hot el Mazar in quanto as Arquivos nac iona is ao hot el Soubi se . Vej a-se os lugarcsmonul11cntais, que na o saberiarnos confundir com os lugarcs arquiteturais. Os pr imei -ros , est at uas ou mOl1umentos aos monos , conservarn seu s igni fi cado em sua existen-c ia in tr in se ca ; me smo se Sua lo ca liz ac ao e sta l onge d e s er in di fe re nt e, uma outr aencontrar ia sua jus uficac ao sem alterar a dclcs. 0 mesrno na o acont ece com asconjuIl los const nt idos pel o t empo. e que t irarn sua s igni fi cacao das rcl aeoes com-p le xa s entr e s eu s e lemento s: e sp el ho s do mundo ou d e uma epo ca , c omo a e alc dr alde Chartres ou 0 palacio de Vcrsalhes.

    Apegar-nos-emos, ao contrario a dorninanre funcional? Dcsdobrar-se-a a Icquedos lugares nit idarnenre consagrados it manut cncao de uma exper ienc ia i nt rans-mi ~s lv el e que d cs apa re cc ll l c om aquel es que 0 viveram, como as assoc iayoes deantJgos combalenles, aquelcs cuja razao de ser; tarnbcm passageira. e de ordel:~pedagogica, COmo os manuals , os d ic ionari os , os t est amcntos au os " Ii vros derazaoque, rut epo ca c1a ss ic a. o s c he fe s d e f ami li a r ed ig iam par a 0 uso de seus descen-den tes Scremo 'ill . ,. . b' I' 01 oporemos.. s nos. e r l in , m ar s s en si ve rs ao componcnte sim O IC .por exempl I' .' . s espelacu-. o. os ugares dominantes aos lugares donunados. Os pnmelTO ,lares e triunf t . . toridade na-. an es, imponentes e gcra.lmente rmpostos, quer por uma auCI?rutl. que r por u rn corpo con st it utd o, ma s s cmp re d e c ima , t er n. nmit as v ezes af ri ez a ou a sol en id ad e d as c er imon ia s o fi cia is . Mai s n os d eix amos l ev ar d o quevamos a eles Os d ' . ,. da fidell'dades espon-, . segun os sa o os lugares refugio, 0 santuano S Itancas e das . -, ,. De urn ladoperegnnaeocs do sil enci o, E 0 coracao vivo da memona .o S~cre-Coeur.de outro, a peregrinacso popuJar a Lourdes: de urn lado. os funerJl~nac iona j, de PI' r. I' 'd urn lado a. au va ery, de outro, entcrro de Jean-Paul Sartre. e .cenmoni a fUnebre de De Gaull e em Not re Dame. de out ro . 0cemiterio de CoIOJllbe~.

    Poderiamos refinar infinitamcruc as classificacocs. Opor os lugarcs publicosaos l ugares pri vados, os l ugarcs de memoria puros , que csgot am int ci ramcnt e suafUrK;~ocomemorativa - como os elogios funcbres, Douaumont 011 0 muro dos Fe -d era do s -. e a qu ele s cuja d ir nc ns ao d e memoria C lima so entre feixe de suassigniflcacoes simbolicas. bandcira nacional, circuito de fcsta, pcrcgrinacoes, etc. 0i nt eresse dcssc csboco de t ipol og ia nao cst a ncm em seu r igor ncm em sua exaustaoNem mesmo em sua riqucza cvocadora. Mas no fato que cia se ja possivel. Elamostra que 1 1 1 1 1 fio invisivcl l iga objetos scm ulna relacao cvidcnt e, e que a reuni aosob a mc smo chc fe do Pcr c-La ch ai se c d a E st ati sti ca g er al d a F ra nc a rulo e 0 en-c on tr o sur rc al is ta d o gua rd a chuva c do f er ro d e p as sa r Ha uma r cde a rt ic ula dadcssas idcntidadcs difcrcrucs, uma organizacao inconscicnte da memoria colet ivaquc nos c ab e t or na r c on sc ie nt c d e s i mc sma. as lugarcs 5

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    16/91

    historiador com seu sujei to. Uma historia que sO repousa, afinal das comas, sobreo ,que ela mobiliza, ur n l a co f i rme , impal pave l, a pena s dizivel, 0 que pennanccc em~s, de. a pe go c a rna l de s en r ai zave l a esses s imbolos, no entanto, ja murchos. Re-vivcocra de uma h i st o ri a a moda Mi c he l et , que faz invencivelmente pensar nessea eo r~ . do l uto do amor do qual Proust falou t1l0 bern, esse momento quando aI,nflueoclaobsess iva d a p ai xa o s e Ievan ta , e n fim , mas quando a verdadeira tristezae de r na m ai s sofrer daquilo que nos f ez t an to sof re r e qu e s o p as samos a com.preender com as raWcs da cabeca e mai s 0 i rracional do coracsoReferencia be lit ,. 0 .m Ierana. eve-se l ameraa-l a ou ao contrar io j us ti fi ca-l a com-pletamente? Ela a conserva .,' , ,uma vez mat s da epoca A memo ria , c om e fe ito , s oconheceu duas fonnas de 1 '.; 'dad ',.. eginnu e : h is tonca ou l it erar ia . E las Coram,a li as ,exercidas paralelamente te k~e sob mas, a e UOjC, separadamcntc A frontcira hoje desaparecere a morte quase simultanea' da hi ' . . .. d ',. stona-memona e da historia-ficcao, nasceurn upo e histona que d ' .eve seu prest igio e sua legit imidade a sua nova rel acaoCom 0 passado, urn outre pa d A hi ,. ,R . ssa o . stona e nosso imaginario de substituicao.enaSClmentodo roman; hi ,. . .Z3 (':

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    17/91

    mensOesde urn modo agradavel , Mai s agradavel , segundo Pla tao, do que os logos,fer rament a da f il osof ia . Ass im sendo , os mit os t inham urn accsso p ropr io ao co-nhecimento do S e r, e i st o era t ao i m po rt an t e p a ra Platao que e le s e d is pu nh a, s e osmitos se desgastassem ou se mostrassem i r no r ai s , a propor outros, simultaneamenteb e lo s e c o rr e to s para a n o va c omW l id ad e ideal de sua RepUblica. A s c o is as em Plataoa p ar e c em ma is complicadas, no plano p o li ti co , d o q u e e ram no esquema de Tucidides

    E a memor ia de s te conteudo t ra n sc en d en te q u e, m e sn o hoj e apes l ongos pro-cessos de s e cu l ar i za c ao , c on ti nua vagamen te p r es s upos t a quando falamos d e m i to s .Esse c on te udo eme rg e pa li damen t e: 0 mito e, por de fi n ic a o, c o le t ivo , c ompar t il h adopo r muitas p e ss o as , s u pr a- in d iv i du al e i nt er -g en e ra ci on a l, v e nc ed o r d o s Iimites dot c~po e do e sp aco. Ai nd a hoj e, d ec ad as apo s a mor te d e deus para a f iJosof iaOCld~nt~, 0 ~:o pretende ser urn discurso que dispensa demonstracso, bastando-lhea propna evidercia, urn ultimo r e rna nes c en t e da san ti dade apos urn l ongo ecl ipsedo sagrsdo.

    Tern havido s inai bi ,,~s , a m IguOS e mno ra , d e a lg uma volta ao sagrado. Mas, paraa.s mentes contemporaneas , as relacoes que outr or a f or am exp re ss as em t ermo s d ahga~o ent re a human ida de e Deus, entre a hist6ria e 0 mito entre a busca e arevelacao, passaram a se form I I ' . '. , u ar como r e a c ;O e s entre mveis de compreensao ouconscleocla humana: os dife t ,. d . -. , - ren es ruvelS e slgnificac;ao e sentido estudados pelossemiologos, as diferclll;as apontadas pelos psicanalistas entre 0 consc ient e e 0 in-c onsc i en t e, 0 a pa re n te e 0 oculto, 0 pa te n te e 0 latente. E ao longo da s l inhas pro-postas por estas d' 'I'ISCIPmas qu e a conexao e 0 c o nt ra st e entre 0 mito e a historiar e ce b er am nova s definii '(i Pod ' . .d ' . 'I es. emos d iscemir pe lo menos t : r e s definicoes possiveise serem uteis a hist6ria oral.A . , ,_ ~m~1Clrae a do m i to c omo expressao de alienacao. Para Roland Bartbes,isto constJtUJaa essencia do .. rmto - num sentido duplo, Ha a alienacso de sua propriaongem, a recusa do mil oe nhecmas filt- t p m reco er seu carater hist6rico - de ser t al vez ant igo,

    IIG\l e emo ara a hi ' 'falsidade' stona, a p retensso do m it o a o etemo MO passa de um aa rr og ar se : e B ar th e s ampl ida lingua' ia essa acusacao. 0 mito rouba os significadosem nature~m. transf~rm:'-O~ em forma e atraves des ta convert e 0 tempo hist6ricoe a c on tm ge nc la e m etemida d 0p er de u a mem6ria- e. resultado e urna falsa n a tu re z a q u e, -Mo quer se lembrada do trabalho de sua propr ia cri aeao .Ha ahef\3f;ao tambem d 'Greta G arbo e B - itt B 0 s eu c on te ud o. O s m it os anali sados por Bar thes - den gi e ard ot ao vin ho Itintencionais de aliena~ eel. e, e 0 do m e com fri tas - s il o formasse-ia suspeitar que t~ : expressas prefereocialmente em narrativas acriticas. Pader-o Ser a tualment e ~~e l~ de mitoconservou a possibi lidade de relevar 0 Ser, masrnou se a neg~ao do capital ismo tardio. Essa perspectiva

    marxi st a em Barthes , nes te caso, t ern urna j us ti fi ca ti va : quando escreveu Mytholo-g ie s , nos anos 50, acred it ava cst ar fazcndo uma cri ti ca da d irei ta cap it al is ta c cscrc-vendo s ob d ete rmi nado pon to d e v is ta p ol it ic o Vi nte a no s ma is t ar de , B ar th esdec1arou que a arrogancia mudara de l ade; partia agora da e sq ue rd a, a despeito deseus mit os sercm pobres c pouco consi st cn tcs.

    As i de ias de Bar thes me pareceram imeressan tes, ao tentar interpretar urn con-junto de entrevistas, fruto de urna pesquisa realizada com trabalhadores da industriaautornobilistica em Coventry e Turirn, t raba lbo coordcnado por Paul Thompson cpor mim. Do l ado i ta li ano, os t cs temunhos sempre se referem ao que elcs mcsmosdcnominam 0 " rn it o F ia t" ; a cspcranca de urn cmprego estavcl "mais seguro queo publi co " , uma bo a carrci ra, mclhora tanto social quanto financcira.

    Out ros e lementos a mai s se combinam neste t ema (seus mit emas , poder-se- iadizer, ou mitol ogemas): a prornessa de i gual dade e abundinci a s imooli zada pel ocarro , sob duple enfoque de producao c propr icdade; 0 scntido de prestlgio proprioatribuido a diferentes t ipos de carros - diferencas que dizem respei to a transformacoesde caracteristicas ant igas, existentes apenas em marcas especiais com transformacoescul tu ra is dcv idas a conteudos rea is como a importanc ia dada a p rodu cao d e umLancia, rnais rcfinado, IUXllOSO, mais avancado tecnicarncnte do que u rn Fiat; e,final mente, 0 carro como um simbolo de avanco e capac idade pcssoai s, a lgumasv ez es l ig ado a u rn ponto de vista politico progressista, como, por cxcmplo, 0 dostrabalhadorcs-fundadores da n ov a o rd em de Grarnsc i, em oposicao aos que ant i-gamente nao questionavam patemalismo c a exploracao.

    Um mito masculioo? Sim e dizcndo respei to principalmente a homens nascidosant es de 1950, Isto e confirmado por uma analise feita por Edgar Morin, mostrando,que no que conceme ao consume, 0 carro podcr ser urn simbolo de mulher-mae-casa,gerardo a ti tudes de cuidado ou ave rs ao , t an to d e exc es so d e d ecor ac ao como denegligencia, Em certos casos, e interessante notar como homens mais j ov en s e mu-lheres de diferentes idades podem part ilhar do mito do carro, dcixando-se influenciarou reagindo contra e le .

    Tcntando cst udar t udo i st o e comparar as a ti tudcs em relac;ao a uma complexi-dade de imagens e sen timeraos , e m d ua s cidades e d oi s p ar se s diferentes, pode-sel evan tar a lgumas suges toes a par ti r da perspec ti va de Barthes Nes te c aso, umahistoria baseada em fontes orais reconheceria a presenca de expressoes de anenacsoe as t ra ta ri a como se fossem mut il acoes de personali dade . A his t6 ri a niIo se uniriaao mito exaltando nosta ig icamente urn mundo de carros e operari os da indUstriaautomobilistica.

    30 Pro}.Histona; Silo P.... o; (10), MZ - /9!iJ 31P ro f. HUlQr ia . S60Pa.do. (10 ), _ 1993

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    18/91

    Por outre lado, a historia na o pode assumir a ti tude pol emica e se l ancar comforca t ot al con tra 0 mit o como se ti . , .osse urn nunugn. Certamente 0 mito exerceuuma f ~Ao . co~nsando a c u lt u ra d e u rn c er ta c la ss e d e tr aba l~o re s, r ee qu il i-brando sua ident idade quando do processo de perda d e h a bi J id a d e lheatinentes e d s que s eram, e seu papel politico, Ate ceno ponto, 0 mito teve iguaJ aceitacao porparte tanto de opresssores d "lhad como e opr imidos , de propr ie ta ri es como de t raba-ores, e d eu -l he s u m a l inall!lg A"c- em comum, his to ri a ora l pode a judar ava li andoos custos, as vantagens e a ambivalencia desses feoomenos cul turais.

    Na verdaoe, a ~st6ria pode esdarecer duvidas apontadas pela semiologia dosanos 50 sobre os "mi tes de ho'''' ,.de t "E ~e , mais percepuveis agora que se tornaram "mitosde hio~te~: stam~s aptos, desdc que vivemos em urn epoca de desindustnalizacaos onc tzar 0m no e seu im ' de" 'nali " pacto : scobr ir suas ongens, est udar suas t ra je t6 ri asa isar o s sm ai s de seu fim A ru 6' ,. 'historicizar esse ti d lie st na ora] esta partIcula nnente bern situada par apo e a eM ;: oo percebendo suas mi . . .(por exemplo os t da " uas nus tu r as pos u rva s e negauvas, aspec os emancl~llo I' adpequena e mp re sa e m u ma r an de i ,Y"'I, 19 o s ~ om a t ra n s fo rmac ao de um amateriais e 0 disc b g . indUstria) e 0 relaclonamento entre as condiceesurso so re ahenacao,

    A segunda perspectiva diz ' .imaginario, Evelyne P tl re~lIo ao nuto como parte da historia doa agean defiruu o I ._J; "semacoes que vai alem do li ' .fnagludno como 0 c ampo de r ep re -s m ites de experie . ra c ia ligadas" 0 I . encia tactual e das associacoes dedutivas, ugar do nuto e evident e1 : I his ' ,construiria urn inventario d' ,a tona, cia forma mais simples,e penodos e t em as : r na tambe . ifreraes t ipos de mit os se I . ' s, oem mostrana como di e-. re ac lOnam com Context " .,...o objetivo historico "'';r bi os soclo-cultuTais e msntucronars.. ......., am IC IOSO seria t d dasfrontelrn5 entre 0 im agin~~ 0 es U 0 mudancas no tempo, das' . . < 1 . 1 10 e 0 real co 'gern~Oes de seres humal1Q .:: .' rna I 1QS o s conhc cemo s hoje : d e como. s ....n contnbuido' , .real)(iade. I s t o f ome ce ' 'uha p ar a c na r nos sas propnas ~Oes den a S1 m n eam en tedo passado, a compreensao de nossa propria cul tu ra e a. Pat lagean adverte-l1Qsque tal obi ,tradlr;ao insoltivel"" jetrvo envolve para 0 rustoriador uma "con-, senamos capazes de 'o real e 0 imagincirio. Mas _t . ,trar;ar pam nos me smos a f r on t ei r a e n t reT idi lidO nutnnamo .UCI ides a separar 0 fab I . s mars a auto-segu~a que levouu GSO do clentific Esp~lernas envolvidos em tais defini ,0, t amos consc ient es de que a lguns dos

    o mc ol"tic ien le e S ua e me rge " ,,~ tern algo a ve r com uma " a r e a limite, entreb n ei a n o tUvel c ult I "em aralhar de c a n a s entre ", , ur n. e que esta questao envolve urna b ' a s C leJ lC la s socio h is t6 'ca am , na o sabemo 'nda n ca s e a p si ca na lis e Como 0J'ogos at Cer tame f .. nte arernos parte deste jogo.

    Pense ser t udo i st o par ti cu lannenle rel evan te para urn t ipo de his to ri a ora l, naqual me encont ro mais e ma is e nvolv id a, e que d iz r cs pe it o a p es soa s d e m inhapropr ia geracao e cul tu ra . 0 hab it o de ent rcvi st ar pessoas de mai s i dade da camadaope ra ria , em cer ta medi da d eix a como exp er ie nc ia - p elo meno s foi 0 sucedidocorni go - urn numero de rel cvan tes aspec tos metodol6g icos : a reacao dos depoentcssabre as reproducoes de suas fal as - nossos contemporaneos cuidam e se preocupammuito com a s t ra ns cr ic oe s e chegam a cor ri gi- la s o u r ef az e- la s; p ro blema s men-c ionados quando se refercm a out rem, de muda r nomes de l ug ar cs e d e p es so as , s cas ent revi st as se des ti narcm a arquivos publi cos; e espec ia lment e a d if icul dade deavaliar 0 sentido hist6rico de eventos receraes. Est e u lt imo ponto i nc lu i a quest aoda fronteira entre 0 imaginario e 0 real.

    Darei agora meu proprio exemplo de pesquisa, quando colhi testemunhos oraisde ant igos component es de organ izacees t er rori st as dos anos 70 e dos p timeirosa no s d e SO, n a I ta lia . No momento , uma g rand e p esqu is a c ole tiv a s e encon tr a emandamento , incluindo terrotismo vermelho e negro, de esquerda e de direi ta . Mas ,t ra ta re i aqu i somente do ati nent e a urn serni nari o, que abrange mulheres de organ i-Z390es de esquerda como a Bri gada Vermelha e a Prima Linea (Linha de Frent e) .o seminar io rea li zou-se c , 1987, semanalment e, em duas sessoes , uma na cadei a ea out ra na Univers idade em Turirn, para mulhcres que deixaram a pri sao t ot alment el iv res, apos t erem cumprido suas penas , ou sob pal avra . Pat ri zi a Guerra, B iancaGuidett i Serra e eu conduzimos 0 seminario.

    Est a pesquisa foi resul tado de urn pedido fei to pel as propr ias mulheres, qu econheci am nosso t raba lho em his t6 ri a ora l e nos escreveram suger indo a col et a desuas reminiscencias, Todas haviam abandonado suas ant igas posicoes na medida emque reconheceram, enquanto det idas, suas responsabil idades pela violencia, sem en-volver nominalment e out ras pessoas . A maior ia nasceu em tomo de 1950. A lgumasdelas tern mats de uma condenacao perpetua. Outras silo est udantes de nossa Uni -versidade, promotora deste seminano. Obtivemos permissao especial do Ministerioda Justica para usar gravador.o enfoque principal deste t rabalbo diz respeito naturalmente a s relacoes entreseres humanos e . mui to espec ia lmente , ent re mulberes. Ademais , as ent revi st as Mose d cr am da maneir a h ab it ua l a tr av es do d ia lo go entr e dua s p es so as , ma s s im demodo grupal (cada mulher, ent re tant o, responder ia a apenas urn ent revi st ador en-quanto as demais pennaneceria em silencio durante 0 depoimento); as entrevistadas.elas proprias discuti ram. analisaram e modificaram as entrevistas. ap6s urn per iadode "si lenc io " , em que adi an tamos nossas observacoes sobre suas narra ti vas.

    )2

    Pmi Hi$tMa. SlIo P.,lo, (10),

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    19/91

    N a o p o ss o d e sc re v er a q ui t o da s a s d ram a ti ca s c o nf ro n ta co e s a s quais 0 pro-c ~ ss o n o s levou Quem, tarnbem, s er m u it o c u id a do s a ao f al ar s o br e u r n s em i na ri oa~nda 1 1 3 0 c on clu i~ o. ~ ~ m d et alh e e r el ev a nt e n a p r es e nt e d is c us s ao : a i m po r ta n -Cia d o m u n do d o lm ag ma no - d e s o nh os imag it r:' '. ., en s, rm o s, ran tas ra s - n a exp en en cla~ ,d ~z r nu lh ere s c u ja s h is to ri as d e v id a r ec olh em os . S em e ss e m un do ta nto s ua shistonas de v id a n il o t er ia t id o I f.._ . m aque a s onnas, aque le desenvolvim ento ou aquelasconscque l1Clas ,como tambem, b o je , n il o s e ri am c omprcendidas.o que ente rdo pel' '" .o i m ag m an o a qu i? A q u e m it os e st ou m e r ef er in do ? E st oupensando s~re uma mistura de ideias e imagens, diferenciadas para cada individuo,ma s c am c te n za d ag p e la rec . de .r: ' orrercia temas como: mterpretacso da resistencia aolaSC lsm o com o urn t rab alh o .,. opresslvam ente c1andestino e de l u ta a rm a d a' h is to r ia sheroicas de revo l . .. ,

    . . uc ionanos em ou tros paises e outras epocas; a lenda do h er oi o uheroina que deixa a c asa . dar ..uand para aju os opnnud os contra os opresso res m csm oq 0 a q ue le s 0 00 tern consct - . da' 'dade ida l eO C la o p re ss ao ; 0 Idea l de u m a p eq ue na c om u ni -um con tra 0 mundo ainda al . da " , .. ,em separa;:ilo induzida pelo exi lio e cadeia,m es mo a le m d a m o rt e' fa bu ! d a Iderrotadas ,as eak lade d e m k s qu e 1 ' 1 3 ' 0 a b an d o nam s u as f il ha se e st ao prontas a sacrifi .N"" rear a Vida p or e la s, e m sustenta-las c o nt ra t u doao e s to u d l ze n do q u e 0 i '.. .o s c am i nh o s da . I " .. m ag Jn an o e x-p hc a p or qu e e st as m ulb ere s e sc ol hc ra mVI Oencia pohtlca edt 'trevistas 0 I 0 erronsmo. Nilo Mevidenc ia d is to nas en-, que e as mostram e com . '..q u an d o e s ta v a ada ' 0 0 rmaginano Ie-Iav esO l1Ju ntas d 'tizaram ma i s t a rde F . I contra IZCrn a a le g~ i lo de que se conscien-. UI e va da a crerda r e al i da de porque c rtiI q u e e st as p e ss o as p e rs is ti am c o nt ra 0 principioompa havam urn im a . ..Aqueles da .nh a glnano.

    E nu ge~ ao q ue estive I .s qu erd a - c n ao s om t' . ram po iucameme envolvidos com a N ov a, en enos, aceltavarno .r ea ll da de q ue n il o c O n se . s esta mesma vrsao do imaginario. Era agU lamos compartilhar ~ "'_ ' .'tarde. nos anos 70 tom ' . ' '' ''''' a pUnhamos em pratica. E m ars. ou-se eV ldente .. p a m m wto s d e n os, q ue 0 imag ina r io l e vava

    a c am in ho s " cr ra do s" c on tra ria nd o a c on ex ao e ss en cia l e ntr e s oc ia lis mo e d em o-c ra ci a, P or s er a na cr on ic o, i ss o e ra t ri st e.

    A acen acao d o m ito em determinado ponto p od e s e to m ar u rn ato d e c urn -plicidade c o ns c ie n te o u i n co n sc ie n te . Derrotadas as s ua s e xp ec ta tiv as d e f az erhistoria e c ri ar u m f ut uro i de al, e sta s m ul he re s buscararn u rn m u nd o imaginarioc om um p ar a s us te nt ar s ua o pc ao p cl a a ca o. C la ra m en te 0 l im it e e n tr e 0 imaginarioe 0 real, d o r ne sm o m od o q ue e nt re 0 consciente e 0 inconsciente, e urn problemac ru c ia l p a ra a historia contemporanea, Estas historias de v i da a j uda r n -nos a explicart a l s i tua c ao .

    A t er ce ir a r et ac ao e nt re m i to e h is to ri a e a qu ela d e h ist6ria v is ta c om o arcalizacao de um mito mais g er al , m a s tambem arquetipico.

    Cog it a re i a g o ra de uma out ra forma a re a d e p es qu is a n a q ua l e st ou tamberne nv ol vi da , s ob re a g er a! ;i lo d e 1968. E st e c or po d oc um e nt al c on ta c om c er ca de 60historias d e v i da , oriundas d e e nt re vi st as f ei ta s c om h om e ns e m u lh er es q u e partici-param do m o vi m en to e st ud an ti l n a Italia,

    Comen t ar is ta s c o nt emp o ra n eo s , a m ig a ve is o u h o st is , d c st ac ar am u r n milo par-t ic u la r c omo decisive na explosao do movimento. 0 filosofo conservador D el N o cea cu so u o s e st ud an te s r ev ol to so s n o v er so de 1968 de " s ust e nt a re r n 0 m it e d o n ov oa q u al qu e r preco", Urn aIKJ mais tarde, 0 psicoterapeuta M ar io M o re no p ub li co uu rn a " an a li se f en om en o l6 gi ca " d o mov ir ne n to estudaruil, de pa r ti c u la r i n te r es s e parao n os so p ro po si to . E le e p ol em ic o e m r el 3' O ao a o r ed u ci on is m o p si co lo gi co d es sec ar at er d e i n te rp r et ac o es : " [o v en s contestatori s a: o m o ti va do s p el a h o st il id ad e e mrellll;oo a figura do pai". Ele n ao c on co rd a q ue "eles e s te ja m e xp o st os , n a situacaocultural. a influencia d e u r n c 1em en t o d o i ns c on s ci en te colet ivo". Da ma i s p r o fundac am a da , u r n a rq u et ip o e a tiv ad o e e me rg e e m n os sa m od ern a c ul tu ra : e 0 m it o d opuer aeternus, a crianca e te m a, q u e a ss um e a ti tu de antipatriarcal, anti-autoritaria,a nt it ra di ci on al n o m o vi me nt o d e 68.

    S ig am os M ore no p or u rn m om en to o es te c am in ho . P ar a e le a e me rg en cia dopuer d em o ns tr a a n ec es si da de d e regressao, a n ec es si da de d e i nt eg ra r e le m en to sexcluidos p e lo d e se n vo l vi m en t o d e n o ss a sociedade, que g ua rdou na s omb ra a s pec t o se ss en ci ai s d a v id a, c om o e m oc oe s, i ns ti nt o, f em in il id ad e, s ex ua li da de . A rebeliaodos e s tuda n te s nilo f oi s ir np le sm e nt e u rn e ve ra o p o li ti co o u s oc ia l: f oi u m a g ui na dana h i s t6 r ia cia cui lura, 0 a nu rc io d e u rn a n o va f as e, q ua nd o a s o po si co es e nt re j ov eme v el bo , c ri at iv o e c on se rv ad or , c ri an ca e p ai , t ud o s er ia r ed ef in id o.

    Os a n te ce d en t es d e st a i n te rp r et a~ o f or am c la ram en t e e st ab e le ci d os por ErichN eum an n , M a ri e L ou is e \ \" >n F r a nz e , naturalmente, Karoly Kereny i e C a rl G u st avl un g L em bre mo s q ue m ais da metade da o b ra d o s u l ti m os d a is a u to re s , Einfuhrung

    Proj . f f is tcm( l, S i lo Paulo , ( 10), dez . 1993 .HPro}, His tor ia ; SiloPa,; lo, ( /0) , d.z, JflfiJ

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    20/91

    in das Wesender Mythologie, c d ed ic ad a a o m i to o u a rq u et ip o da " c r ia nc a d i v ina " .C o m v as to e p ro fu nd a c on h ec im e nt o, l un g e K e re ny i e xp lo ra m o s u n iv er so s d asc u lt u ra s o c id e nt al e o r ie n ta l e e n co n tr am a c ri an c a, 0 p ri nc ip io d o n o vo a in d a indi-f er en c ia d o e o r ap o te n te , a d e sp e it o d e s u a f ra q ue z a, n a s s a ga s f in l ar d es as , n o s c a nt o sxamanistas d a I n d ia , n a s t r ad i co e s religiosas hungaras, nas dou t ri na s bud i s ta s . E 0p e qu e no 6 rf ao d o s t a rt ar o s, e 0 r ec em - na sc id o P an a ba Id o na do p cl a m a c e p el a a m ae s al vo por Hermes , e 0 p r inc i p io que vive e m F a u st o .

    G r an d io s o e i n st ru t iv o c omo e s te I i vr o e, taJvez 0 h i st o ri ad o r s e s in t a p e rt u r-b ad o a o s eg ui r s ua s a na li se s, 0 m e to d o e - p r ec i sa m e nt e - d e a s so c ia c ao e i n ve rs a o,o s c am i n ho s s e gu i do s p e la l in g ua g em c p e lo i n co n sc ie n te . Uma p a la v ra c h am a o u tr a,ma s tamoern 0 s e u r ev e rs o . T u d o e p as si ve l d e u m a mudanca total. 0 m un do d en:pe~~e aparece de p e rn as p ar a 0 ar e , u rn segundo apos, de novo se poe de pe. Ad ia le ti ca s e a pr es en ta e m t od a a m pl it ud e; r is os e b ri nc ad ei ra s, b er n c om o t ra ge di ae ~ ne. 0 p~lema da a n al is e h i st 6 ri ca - de t od as a s a na lis es _ e acompanhar 0mov n ne n to , CU l da OOOara n a o c o ng e la -l o e m c o nc e it o s r ig id o s.A I' .. . esco a jungurana parece n av eg ar e nt re u rn p ro f u nd o e nt en d im e nt o d a culturad ia le ti ca e u rn s ub it o e nr ig ec im en to e m a lg un s d os s eu s a sp ec to s. E m te mp os re -centes , 0 e x emp l o m a i s e x tr ao r di n ar io s e e n co n tr a n o t ra b al b o de J am es H i ll m an .Sua b~I~\3n~eanalise d a p o la ri d ad e e n tr e 0 jo ve m e 0 v el ho e m Puer Papers pO ee m e vi de nc ia a rn ba s a s t en d en ci as . P o r o u tr o l ad o na o p o de m os d ei xa r d e a dm ir are a pr en de r c om s ua d es cr i~ o d o arquetipo da "criarca divina":

    o h ~ 6~ , a s f ig u re s d e E ro s, 0 fi lho d o r ei , 0 f il ho d a grande mae, 0 Psicopompos,M e r cun o -He n n es , T r ic k s te r e o Me s si a s, N e l es n 6 s v emo s u r n e n c a de amen t o i n con s ta n t edestas "personalidades '" .. . . .. . . n arcisista, m spirada, afem inada, falica, inquisitiva, inventiva,pensallva, passiva, orgulhosa e capr ichosa

    o u lt im o i mp as se p od e s ug er ir d ai s c am i nh o s. U m t eo ri co c on si st in do n u mar ei nt er pr et ac ao d o j u n gu ia ru sm o , v en d o o s a rq uc ti po s n ao c om o f un co es a priori doin co ns ci en te c ole tiv o, m as c om o p ro du to s c ul tu ra is fo na do s n a longue duree dotempo. Os t ra ba lh o s d e M a ri o T re vi s eg ue m d es ta d ir et ri z, p or e xe rn pl o, Per unojunghismo critico. 0 outro, q u e e u e sc ol hc ri a, s eg ue u m a s ug es ta o d o s ed ut or Hill-m a n: r ed es co b ri r a h is to ri a c om o r eg is tr o d o s ig ni fi ca do . " Pa ra M S , r ep re se nt ar ial em b ra r p ri me ir o d e n o ss a historia irdivisual da alma" . "Historia da a lm a" q ue rdize r uma historia qu e "digeriu" eventos, "movendo-os d o c as o m at er ia l p ar a u m ama t e ri a s u t il " , pard s cu s s ig ni fi ca do s n o p la no p si co lo gi co . E st a r ec om e nd ac ao d izp a rt ic u Ja rr n en t e r es p ei to a a d ep t os d a historia oral.

    A lg o m e p er tu rb a q u an do p ro cu ro a rq u et ip o s n o c on ju n to d as e nt re vi st as q u er ea li ze i c om a g er ac ao d e 68. Ccrtamerue encontro nestas historias d e v i da e le m e nt o sc a ra ct e ri st ic o s d o m i to d a c ri an c a d i vi n a. D e ix e -r n e s it u ar b r ev em en t e 0 lema.P ri me ir o, a insistencia cont inua c om r cJ ar ya o a c ap ac id ad e d e i no va r s ej a n ot ra ba lh o , n a p o li ti ca a u n a v id a p es so al . A s p es so as d em o ns tr am i st o d es cr ev en d oc omo i n ve n ta ram urn n o vo t ip o d e c oo p er at iv a o u u rn a d if er en te forma d e v i aj ar ;c om o e xp cr im c nt ar am o u tr o m o do d e c ns in ar c, em consequencia, p r od u z ir am n o v oslivros; c omo estabelecerarn uma relacao mais democratica co m 0 c he fe d o escritorio;c omo t ra n sf er ir am h a bi li d ad e s a p re n di d as no d e se n ro l ar d o mo vi m en to p ar a a cnacaod e n ov as m an ei ra s d e t ra ba lh o n o s eto r d as c om u ni ca co es . O s c nt rc vi sta do s, u rnapos outro, enfat izaram suas contribuicoes originais pa r a mod i f ic a r 0 m u nd o, n aosomente 0m u nd o d o m o vi m en to e st ud an ti l c om o t am b em s ua s p ro p ri as v id as . T od o so s t ip o s d e m u da nc as s e e nc on tr am at r ep re se nt ad o s: r ef or m a e i nt eg ~a o d e e st ru -t ur as e xi st en te s e v al or es d e u m a i no v ac ao r ad ic al .

    S eg un d o, a r el ac ao c om 0 passado e retratada de f o rm a e x tr em ame nt e amb i-v a le n te . C omumen t e a l ig a t; :o o c om v a lo r es e a ti tu d e s ci a a n ti ga s o ci ed a de - t ai s c omoa r es is te nc ia a nt if as ci st a o u , p or o u tr o l ad o, c om 0 c o ns u rn i sr n o, a mass media e ac ul tu ra d e m a ss a - a pr es en ta -s e a rn b ig ua , e ng lo b an d o c on ti nu id ad e e d es co nt in ui -dade . Os m a is p ro fu n do s v al o r es i mp li ci to s n a r es is te nc ia s ao m a nu d os , m a s c om -b at id o s q u an d o s us te nt ad o s p el as a u to ri da de s. 0 consumismo e b en vi nd o c om ofonna de e m an ci pa ca o d e h ab it os p at em o s, m a s t am b em e e xe cr ad o p or s ua im o -ra li da de . A le m d is so , e m c er to s c as os , a s fa se s d a v id a sa o a ss in al ad as p el a p re -v alen cia d e u m o u o utro d estes d ois ex trem os. E nq uan to em u rn a das rases Mc o nt in u id a de , n a s e gu i nt e c ia e r ompi d a.

    T er ce ir o, e m ais c om pl ic ad o, a in cl in a~ o p ar a 0 novo n a o s e a pre se nt a e mt en n os s ex ua li za do s. T ip ic am e nt e 0 c ar at er d o h en n af ro d it is m o e p re se rv ad o:"afeminado e fal ico" como Hil lman escreveu. 0 espirito de 1968 na o e apresentado

    .O s q u e t e rn f am i li ar id ad e c om o s t ip o s e a ti tu d es d if un di do s e m t om o d e 1968a p re c ia r ao a s s u ge s to e s i m p lk i ta s n e st a l is t aP o r o u tm lado contudo Hill ., ,I ma n a c en t ua a t en d en c ia j u ng u ia n a de cons ideraros eventos da h is t6ria" .ete "p merameme c om o r ef le xO O d e uma ex pe r ie nci a mitol6glcarna. or e ss a r az a o p ro "" "" c I "hi .d da ". 't""" 0 Dear a st6na e xt em a d en tr o d o m it o d a p si qu ee ca u rn , m ve rte nd o a t radi c i ona l re la ~o e ntr e m it o e h ls t6 ri a S e isso signifi-c a s se c onc eb e r 0 "si ifi ad " .f at es m ui to s b is t i ad or i c 0 c o~ o bje to c en tr al da h i st 6r ia , e na o u rn a s er ie d e, on ores Concordar iam Ma s I d .' ,,~.q ue a hi t" e . . e e s i sc or da ri am de o u tr a Im p h c~ a v .rnemor ia S o na slm ples ~~ nce u ma trad~lio d e u rn a rq o et ip o r n it o l6 gi co o r ig in a l,. .. u ma m er a r emmlscenc ia de ......:. . . . . .para toda . ioeras pnmordiais uma imag inacao a priOris as epocas. 'Prof. HisrOnt>,S60 P",,1c, (10).dn. 1993

    p,oj. Histona; SiloPaulo; (10). a e z : 1WJ

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    21/91

    como viril na maioria dos casos (por favor, regist re: na maioria e nao em todos),mas sim como ambival en te , enquanto a t ra i~ao a favor do macho chauvin is ta econsignada a urn periodo posterior, a partir do final de 1968,

    A excecao para a "maioria" e represent ada pel o numero de his t6 ri a de v idade mulheres n as q ua is s e apresentam traces deoutro mite: 0 de Sofia-Pi tia de origemg nost i ca ( c or e xoe s com tradicoes hebraicas t amber n c s ta o p r es e nt e s) . Ela e a facef em in in a d e Deus , a filha s ab ia que , p or e xc es so d e a rn or a o P ai, f ic a lo uc a e eseduzida pel os demOnios da escur idao dando ori gem ao murdo . E la e condenada avarias ercarnacees, de Helena de Troia it prosti tuta de Ritos redimida por Sirnao, 0Mago, do sublime para 0 abjecto. Padeccndo todos os sofrimentos possiveis, ahist6ria do retorno de Sofia-Pit ia ao Pai, atraves da sol idao e desespero , e a mesmahistoria da vol ta do mundo para Deus, com a e s per a nca do descanso na a r uqu i la c a o[mal Sofia m o e mile rem esposa; e sempre a filha, 0 simbolo do conlecurento e in-telectualidade femininas, etemamente jovem e intacta apesar das vicissitudes enfrentadas.

    Ha t races des te mit e em var ias h is to ri as de v ida de mulhcrcs aqui rel at adas ,Uma que nao quis contar a idade usou estas expressoes para descrever a sua infarcla:"Eu s empr e me s en ti ma l. E u s empr e sof ri. E u me sen tia s o" ; e , p ar a r ec orda r s uamilitancia no movimcnto estudantil: "Desde i nl ei o eu sab ia que e le era v io lent oe contra as coisas que eu mais amava, como cstudar muito sozinha. Eu podia perceberaonde 0 movimento desembocaria; quando 0 terrorismo surgiu mais tarde, MO mesurpreendi. Prossegui , mesmo ass im , a despe it o de sensacoes est ranhas e descon-fortaveis". 0 r es to d a h is t6 ri a d e v id a d es ta muJhe r d iz r es pe it o a p er io do s d eaventuras e infortunios, durante os quais aprendeu a "reconhecer" 0 que c ia d e f atoqueria. Quando leu p c la p ri m ei ra v ez u rn l ivro sobre filosofia oriental mo s e c hocoupor algo novo; reconheccu 0 seu teor e exclamou: " Is to C 0 que scmpre pensei",

    Ser ia rel at ivamente fac i! mostrar como as arqueti pos est ao present es nes tageracao de 1968, Entretanto, penso que estaria desconfortavel na e x ec uc ao d a em-preitada, Sentiria COmo se estivesse usando uma daquelas chaves aptas a abrir rnui tasportas, dando corpo a uma o p er ac a o m e ca n ic a , urn tanto quanto detenninista, wnahistoria desprovida de atores auto-detenninados, scm escolha a na o ser a de t raduzi ruma imagern e tema em tennos present es A his t6 ri a gos ta de proceder na t ri lhao~sta, de preferencia do concreto para 0 colet ivo, mais que do prot6tipo para in-dividual Isto rue contradiz a mais profunda inspi~oo do junguianismo, mesmo scdesaco.nsel,hada pelo proprio Jung. Como Mario Moreno afirmou: "0 qu e e realmentecssencial e a suOOrdi~oo d a p es so a a o seu des ti no i nd iv idua l" , Isso l eva-nos devol ta ao reverse metodologico proposto por Hil lman e nos introduz a mitobiografia.

    o t enno foi i nven tado par Ernst Berhard (1896-1965) , um pedia tra nasci doem Ber lim , que s e subme te u a uma ana lis e f rc ud ia na c d epois a uma junguia na .Ob rig ado a d eix ar Bedim , e le s e r ef ig io u em Ro rn a, m as em 1958 a s le is r ac is ta so impedi ram de p ro ss eguir em seu tr ab al ho como psicanalista, Em 1940 e 1941,est eve em WIl campo de concentracao 113 Calabria, Dcixou urn l ivro de not as pu-blicado sob 0 titulo de Mi f ob i og ra fi a , Com est a pal avra , Bernhard qucri a d izer "mi -to lo gema", q ue e a b as e do d es tin o de urn individuo. Com ela pode-se interpretara heranca comum de diversas manei ras: cegamente , com os germani cos, c ri adoresdo m it o d e Hagen que ma tou 0 heroi Siegfried ("cega lealdade, trai~:lo ao espiritoindividual, inveja, Icaldade que sc torna obediencia usque ad cadaver"), ou COIlS-c ie ntement e, B ernh ard d iz que sua p ropr ia v id a e sp el ha a l enda do povo j ud eu ,expulso para 0 deser to e depoi s ret omando para corqu is ta r uma nova posicao . Est asimilitude aparc ce tanto em fat os c omo em s onhos. M as a mudanca nes te casoestabeleceu uma rel;:v;ao dialetica, trazcndo 0 mi to p ar a a con sc ic nc ia : " a bola d eneve se inicia deste ponto e se estende para a transformacao da consciencia coletiva",Suficiente e Jernbrar a descricso de Bernhard de sua a ti tude em relacao aos guardasdo campo de concent racso. E le se preocupava em salva-l os , N a o se submetia aimagem de vit ima, mas promoveu-se a de salvador,

    Como carni nharemos? Eu sugiro que a necessi dade essenci al e segui r porperspectivas que permitem ao individual prcvalcccr sobre 0 col et iv o, A analise dcves er in ve rti da . S e volt armo s a nos sa s h is to ria s d e v id a d e 1968, . ..c reme s que o sarqueti pos est ao present es em todas e las, mas em caminhos uni cos e d ifercn tcs. Ahist6ria esta interessada precisamente em tais diferencas. Somente a par ti r des tasdiferencas podernos entcnder que 0 suicidio n a o era inevi tavel, nem no plano racionalnem no imaginario. As pessoas podiam ter seguido out ras d irecoes, podiam ter de-c id ido nut ri r-se de out ros mit os ou alt era- los, podiam ter opt ado por det enninadomit o de out ra manei ra . As his to ri as de v ida podem ser v is tas como construcoes demitobiografias singulares, usando OP'rIXS de recursos d iversos, que i nc luem mitos ,combinando 0 no vo e 0 antigo em expressoes (micas,

    Creio que n6s, adeptos da rust6ria oral. temos novamente chance especial, ade rever te r vel hos procedimentos e de na o ma is u sa r mi to s do p as sa do p ar a l er 0present e, e s im usar 0 presente para reinterpreta-los. Noo existem chaves universals.A o cor sr ar io , a f ec hadu ra s e tr an sf orma em chave e v ic e- ve rs a. E ste e 0 principiod e u ma interpretacao que opta por envolver-se n a s ua propria genese,N,A, Para detalhes das relevantes publicatrcks dos autores citados oeste estudo, ver a bibho-

    grafiageraldo livre, Tenhotambem meba8eadoemG,P' CaprettinietaL, "Mythosllogos"eM Detienne, "Mito/rito" In :(1980) Enciclopedia, Turim:Eiraudi, v, IX,pp. 660-89

    j/l Praj, HiIIOrler. SiIoP(ffI /.o, (10) , .z . 1993 39Prt>j.HISlbria. SiloPaulo, (J0). 1hz . 1993

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    22/91

    e 348-63. A versaoitaliana deste estudo foipublicada emminha colccao de ensaios( 1988)Storia e soggettivita Lefonti orali la memoria, Florenca: La Nuova Italia. Os resultadosdo serninario foram publicados como "ldentita femminile e violenza politica", numeroespecial da Rivista di storia contemporaneaA (1988).

    SONHOS UCRONICOSMEMORIAS E POSSiVEIS MUNDOS DOS TRABALHADORES

    Alessandro Portelli"Traducao de Maria Therezinha Janine Ribeiro

    Se me fosse possivel, se eu t ivesseside 0 Pai, eu nilo teria pennitidoque Ele morresse, penduradonaquela cruz.Maddalena, trabalhadom textil,Terni, Italia,

    o testernunho oml tern side amplamente discut ido como fonte de informacaosob re evento s h is to ri co s. El e pod c s er e nc ar ado como u rn event o em s i m esmo e ,como t al , submcti do a uma anali se i ndependent e que permi ta recuperar n so apenasos aspec tos mat er ia is do suced ido como t ambem a ati tude do narrador em rel acaoa eventos, a subjetividade, a imag inacao e ao desej o, que cada i nd iv iduo inves te emsua r el a. ;a o com a historia Discu ti ri a, aqu i, u rn " imaginar io", u rn "erraoo", urn"hipoteticc" motivo que e encontmdo nas narra ti vas da c lasse operari a, em rnuit aspartes da I ta li a, con tudo enfat izando mai s profundamente suas ocorrenci as em urngrupo espec if ico: os a ti vi st as e quadros dos ant igos t raba lhadores comunis tas doset or naval de fundi~oo de aco , da c idade de Temi, a mai s ant iga c idade i ndustr ia lda I ta li a c en tr al . A maio r p ar te d es ta p esqu is a d e c ampo t ev e l ug ar a p ar ti r dasegunda mct ade dos anos 70, quando a pol it ica do Par ti do Comunis ta a trel ava-se ao"compromi sso his to ri co" e a "unidade nac iona l" . A imaginacao da c lasse t raba- I n: SAMUEL, R apha el e THOMPSON, P au l- The myths we live by Loodr-es e Nova York. Routledge,

    1990.. . P rofessor de li te ra tura americana na Universidade deRoma. Texto produz ido para 0Sixty International

    Ora l History Confe rence, Oxford, Sept . 199? Tndu~io autorizad. pelos editores,

    Pro}.Hutona; S/loPlIIlo, (101.de:. 1993

  • 5/10/2018 Lugares de Memria Pierre Nora

    23/91

    lhadora incorporada ao testemunho deve ser inserida portanto no contexto das pol it i-cas do part ido e nas explicaes oficiais de seu passado hist6rico e de seus precedentes.

    Levarei em consideracao, a pri rcipio, uma hist6ria que abrange 0 assunto emsua contormacso mais completa. 0 narrador e Alfredo Fil ipponi, ant igo ope ra r io ,condutor de bonde , negociant e de carvao - t amoem secre ta ri o da res is te rc ia comu-nista clandestina durante 0 fascismo e comandante da brigada "Antonio Gramsci"dos partigiani, em 1943-44. A entrevista teve lugar em 1973; Fil ipponi ja se encon-.'" . Itrava, emao, senamente doent e e morreu l ogo depoi s . E le fal ou em respost a a umaquestao levantada por mim: "Durante a res is tenc ia , voce pensava apenas na liberdadenacionaJ ou desejava alguma coisa mais?"

    momenta: nos atacamos e construimos 0 sccialismo.' Togliatti eoloeou a s ua mocao e aminha emvntacao ea deleo btevequatro votosamaisqueaminha, eassim foiavencedora.Mas eles retiverarn 0aviso e , r na is tarde, tiverarn de admitir que e u c s t a va c e rt o .

    - B er n, pens8v~O~ na l ibe rtac ao nacional do f as ci sm o e , a p6 s i ss o tinhamos esperancade alcancar 0 socialismo, 0 qua l a inda nio haviamos atingido. Naquela epoca, com a luta~ospanigiani quase haviamos chegado hi. Depois que a gue r ra deles t er m in o u _ Terni foih b e rt a da on z e r n e s es ma i s c e d o que 0r e st o do p a is - , 0 c amar a da Tog li a tt i d i ri g iu - se a nos.Convocou, ~. uma reunillo, todos os comandantes partigiani e l id eres d o partido de~~dasasprovmc~as e reglOcs da I t a l ia , Discursou e adiantou-oos que haveria uma cleit;iio.Voce~m prestigio, Omega (este erameucodinome nopartido: 0proprio Gramsci assirnme apelidara Meu nome no grupo : ..... p .. ptJlLgano era asquale); te convoquei para quetrabalhes para ganharmos a el . 00 "Qua .eicao. tro ou CInco outras pessoas tambern discursaram

    eho~ve un~midadeem relaeao aoexposto. Eu levanteiminha milo: "Camarada Togliatti,ell discordo "Porq u e Ome ga ?" "1Jj rdo,. . sco porque, como Lenine disse: quando 0 tordovoa, e 0 momento de atirar n ele Se " "'- fio rtun.i . .. voce un" 0 IZCI",e n tAo , t a l ve z n un ca ma i s tenha outrapo. dade. HOJe0 t o rd o e s ta v o an d o : t o d os o s c h e f es f a sc i st a s e s ti i o s e e s co n d en d o oufugindo, tanto em Terni como Iem qua quer outro lugar. Todos os demais companheiroscon~ 0mesmo sobre suas regii5es.Assim, este e 0memento: sobre a sa rma s n il o h 3necessuiadede falar a respeito bern d ', sa os on e elas estao (nos as esconderamos), Es tc e 0

    I. Alfredo Fil ipponinasceuem 1897 emFe m .deTemi, Esta e nt re vi st a f oi '. _~ r en n 0 umaaldelano vale do rio Nera (valnerina). ala milhas. .. o r gra.... aemsuacasa,emTemi 7dunh d 1973Sua hislona n ecessita ser ente dida ' em e Joe .. ... n I em seucoetexto hist6ri A.M -'_- b d I adSICIlia, e mj ul bo d e 1 9 43 M us s I . & 0 .. . co.. .. . .. . ' 0 eesem arque os a I o s n a 0 11II101o ry a ci o remma.. . I' .mas 0 exerc ito a lemlo !utou co Ira leo novo govemo Ita IBrIO assmou apaz ;. nee e restUeleceu Mr __.1_regl3es do Norte. Alnis das linh I . uuo IIlI no .. .. . .. . . ' po! a1gurn tempo, naslinhadefrente,sustentaram _ as a erndeisl.bripdaspar1igia"i. nu quail oscomunistas est.vam n.~ . . a gue r r a Iberta.;:10 c Ira' . . .dos combatentes sentiam que a '. . on os nllZlS1aI eseus abMOB fllSCYw. MUlt05and guerra osgUianadin:tllme te . I'qu 0 TogiiaUi vo1toude SCI! exili