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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA FUNDAMENTOS SOCIO-HISTÓRICOS-FILOSOFICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA Relatório do Seminário: 50 anos do movimento de cultura popular (MCP): Retrospectiva e balanço

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCOCURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

FUNDAMENTOS SOCIO-HISTÓRICOS-FILOSOFICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Relatório do Seminário: 50 anos do movimento de

cultura popular (MCP): Retrospectiva e balanço

Produto acadêmico de autoria da aluna Priscilla Bello Santana apresentado como relatório de eventos validado como assunto

de disciplina de Fundamentos sócio-historio-filosoficos da educação física ministrada no Curso de Licenciatura em Educação Física

da Universidade Federal Rural de Pernambuco, disciplina esta ministrada pela

professora Maria Helena Câmara Lira

Recife, Outubro de 2010

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DO EVENTO, PARTICIPANTES E ATIVIDADES

Nos períodos da manhã e da tarde desta quinta-feira, dia 28 de Abril de

2011, realizou-se no auditório do Centro de Educação da Universidade federal de

Pernambuco, o seminário “50 anos do movimento de cultura popular (MCP):

Retrospectiva e balanço”, Como o destacado em seu folheto explicativo, entregue no

ato de inscrição, tal encontro teve como objetivo “registrar, através de mesas

redondas e debate acadêmico, a Cultura Popular, realizando, na ocasião um

balanço da importância histórica, estética e pedagógica daquele movimento.”

Para tais objetivos foram convidados para comporem as mesas

debatedoras, Germano Coelho, fundador e 1° presidente do Movimento de Cultura

Popular e atual superintendente Institucional do CIEE; André Ferreira, Doutor em

Filosofia da Educação pela Universidade Federal de Pernambuco e professor do

Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE-UFPE); Danilo Streck, doutor

em Fundamentos Filosóficos da Educação - Rutgers - The State University of New

Jersey, atual professor titular da Universidade do Vale do Rio dos Sinos; Kelma

Beltrão, Doutoranda em Educação (núcleo Teoria e História da Educação) pela

UFPE; Geraldo Barroso, pós-doutorado pela faculdade de psicologia e de ciências

da educação da Universidade do Porto, atual professor Adjunto da Universidade

Federal de Pernambuco; Letícia Rameh, doutora em Educação Popular pela

Universidade Federal da Paraíba e professora titular da Faculdade de Ciências

Humanas de Olinda e Faculdade de Santa Catarina; Geraldo Menucci, maestro,

violinista, e diretor responsável pelas artes musicais do MCP; Junot Cornélio,

doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas e professor Adjunto

da Universidade Federal de Pernambuco; Flávio Brayner, pós-doutorado pela

Université de Paris VIII, e professor Titular de Fundamentos da Educação da

Universidade Federal de Pernambuco; Silke Weber, pós-doutorada nas

Universidades de Bremen, de Paris V e na LSE e professora emérita da

Universidade Federal de Pernambuco;  Sergio Abranches doutor em Educação

pela Universidade de São Paulo e Professor adjunto da Universidade Federal de

Pernambuco;  Abelardo da Hora, criador da sociedade de Arte Moderna da Recife,

idealizador e diretor responsável pelas artes plásticas do MCP.

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Às 8 horas e 45 minutos se deu a abertura do evento com o Germano

Coelho apresentando suas memórias sobre o movimento. Após uma parada para

café, o seminário continuou sob a temática “um olhar histórico”. No período da tarde,

às 14 horas teve recomeço com a temática “O MCP e suas expressões artísticas”.

Após nova parada para café, o tema foi “MCP: Cultura e sociedade”. Para encerrar,

tivemos uma palestra de Abelardo da Hora e a finalização do evento pelo Doutor

Danilo Streck.

BREVE HISTÓRICO

Em 1960, na gestão do então prefeito de Recife Miguel Arraes, foi criado o

Movimento de Cultura Popular do Recife (MCP), entidade sem fins lucrativo,

formado por estudantes, artistas, intelectuais e políticos.

Inspirado em movimentos semelhantes da França, sua intenção era a

reflexão e difusão sobre a cultura popular, produzida pelo povo, pelo não erudito e

consequente busca e valorização de uma identidade nacional. A ênfase na

alfabetização de adultos com intuitos de conscientização política do povo como

agente de um projeto social foi destaque a nível nacional, inspirando outros

movimentos no país.

Nesse participaram nomes como, Paulo Freire, Abelardo da Hora, Luiz

Mendonça, Geraldo Menucci, Mario Câncio, Anita Paes Barreto e Germano Coelho.

Com o golpe militar de 64 o movimento foi extinto e toda sua documentação

foi queimada. Os integrantes do movimento foram perseguidos, presos e exilados,

só voltando ao país com a lei de anistia.

DOS DEBATES

A abertura teve como palestrante Germano Coelho, já citado como fundador

e 1° presidente do Movimento de Cultura Popular. Coelho iniciou afirmando que

educação depende de decisão política e que o momento político brasileiro é

favorável para boas investidas pedagógicas já que o estudante quer participar da

cultura do país.

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Relembra quando lhe foi dada a missão por Paulo Freire, de resolver o

problema da falta de recurso da prefeitura para a construção de novas escolas.

Assim o movimento começou com uma pesquisa para saber que povo era esse, mas

conhecê-lo de perto, entendê-los. Saiam de Jipes para morros e mangues.

Pesquisavam vocabulário, as danças. Foram aprendendo com o povo e que se a

prefeitura não tinha dinheiro, o povo abriria a porta de sua casa para a educação.

Então com o projeto feito foi a Brasília e mostrou tal projeto a um dos

senadores de Pernambuco e que nesse momento até os oposicionistas admiraram o

projeto e ajudaram com as verbas. Assim conseguiu-se abrir a primeira escola do

MCP, no sítio da trindade. E para boa surpresa deles os pais dos alunos vieram

também pedindo para aprenderem e as escolas se multiplicaram principalmente na

região metropolitana.

Terminou a sua fala dizendo que o papel da educação é levar as pessoas a

verem as coisas como elas são.

A seguinte palestra foi do doutor Danilo Streck (UFRGS), que em sua nova

vinda ao Recife, já havendo participado do simpósio sobre Paulo Freire, se confessa

intimidado de falar sobre o famoso pedagogo para Pernambucanos. Mas continua

prometendo uma abordagem em paralelismo do MCP com uma série de campanhas

e movimentos de dentro e fora do Brasil que ocorreram no mesmo tempo.

Interpreta algumas das contribuições do MCP, como a nova concepção de

intelectual além do intelectual engajado. A cultura popular não foi uma invenção mas

o descobrimento das coisas que existiam. Outro olhar. Lembrando o que o próprio

Paulo Freire dizia: ‘nós temos que pensar o nosso lugar no cosmo’. Então pensar

quem somos como latino-americanos?

Em alguns livros como ’O labirinto da America latina’ e ‘Saturno nos

trópicos’, analisam o que chamam de melancolia trazida pelos europeus, à

escravidão, exploração.

Nesse momento então, surgiram epistemologia diferentes tentando construir

o universal a partir do lugar, algo que já está nas primeiras linhas do ‘pedagogia do

oprimido’. Também surge uma arqueologia de uma consciência não individual mais

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coletiva- história. Descobre-se o que é frevo em Pernambuco, o que é samba no

Rio, o que é tango na Argentina, momentos de erupção dessa revisão latino-

americana. Mas o grande ‘dilema era a entre a falsa erudição e a natureza de um

povo’, dizia José Martin em Cuba. E por fim cita Simon Boliva: ‘Ou inventamos ou

erramos’.

Já Kelma Beltrão, apresenta reflexões obtidas em seu doutoramento

corrente, que mudou sua visão do MCP de um romantismo, de uma sacralização,

para uma visão mais crítica, clara. Afirmando que a visão teórica marxista de

simplificar a relação em dominante e explorado exclui o limbo.

Aproveita a fala de Germano e diz que memória não é história. Memória não

é um fato é uma lembrança do sagrado. O poder permeia o discurso da MCP. E a

disciplina de história da educação escolha o programa e exclui outros fatos, como a

analises de que o MCP não foi utilizado na educação infantil e sim educação de

adultos, que não era rádio e sim livros e escritas e que as cartilhas não eram feitas

pelos pensadores do MCP. “A história da educação é um discurso que escolhe o

que podemos ver e o que não”, afirma no final.

O Doutor André Ferreira, diz que história é memória e que a memória traz a

subjetividade que falta aos fatos. O MCP era um movimento social de

conscientização popular. Logo o populismo estaria presente nas cartilhas. E o que é

conscientização para os marxistas se não a política. Outro intuito da alfabetização

dos adultos é a mobilização eleitoral das massas, nacional desenvolvimentista, pois

analfabeto não vota. O empoderamento popular viria via valorização da cultura.

Letícia Rameh conta que em seu doutorado entrevistou 31 pessoas que

construíram o MCP com recorte de 10 entrevistas.

Fala que umas das grandes contribuições do MCP foi que o povo foi ouvir

musica clássica e a elite a participar dos festejos populares. Através das artes uma

nova tentativa de aproximação cultural do universo popular.

Houveram realizações de festivais de teatro, cinema, construção física do

prédio da sede, praça e hoje há exposição dessas mesmas obras em Dona Lindú. O

teatro popular foi embrião do MCP. Liderados por Hermilo Borba Filho e Ariano

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Suassuna.houve o primeiro teatro aberto, houve o teatro dos oprimidos. A criação da

banda municipal do Recife por Menucci, Orquestra sinfônica do Recife por Mario

Câncio.

Questionada se o MCP teve tanto impacto nas pessoas comuns como teve

para os intelectuais, ela respondeu com um relato de uma atual pedagoga e

pesquisadora que quando criança vivenciou o projeto.

Já a doutora Silke Weber buscou contextualizar Historicamente o MCP. OS

anos 50 e 60 no mundo sofreram muita influencia da revolução russa de 1917. O

pós-guerra trouxe consigo uma luta pela democracia que juntou muitas pessoas e

umas dessa lutas levaram a questão da educação permanente junto a UNESCO.

Uma das experiências mais marcante desse tempo e que serviram de referencia

para os intelectuais do MCP foi o kibutz de Israel, é uma forma de coletividade

comunitária. Acreditava-se que a sociedade teria outra opção que não a

revolução.

O que unia esse pensamento mundial, era a luta contra a pobreza e a

miséria. Cuba tinha feito a revolução e decidido fechar suas universidades

para educar o povo.

Mas no Brasil. Não se podia fazer a revolução russa nem a cubana,

então seria revolução pelo voto e analfabeto não votava. A grande

preocupação foi alfabetizar o povo dando-lhe consciência política também. E

as iniciativas que ganharam destaque foram às baseadas nessas

experiências socialistas. E o levantamento socioeconômico do Recife, na

gestão de Arraes, decidiu que haveria escola para todo mundo.

Daqueles que se uniram, cada uma fazia sua parte. O que era do

teatro fazia teatro, o que era da música fazia música o que era da educação

educava. Também nesse contexto a arte veio como mais um instrumento de

conscientização.

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Flávio Brayner, apresenta uma perspectiva mas filosófica sobre o

acontecimento do movimento de cultura popular do Recife. Lembra que

existem dois conceitos de humanidade antes do MCP, um que insiste a

existência de uma humanidade e que as partes pequenas são os povos,

brasileiros ,franceses, alemães, chineses, etc. e outra que diz que não existe

essa invenção de humanidade que o que existe é o alemão, o brasileiro, etc.

O movimento moderno nas artes ,com Mario de Andrade a procurar,

se inquietou a responder a pergunta: quem somos nós povo brasileiro? As

respostas só buscadas com romantismo mas encontradas apenas nos anos

30, 40, 50 e 60. A autenticidade nacional só se encontraria no povo e lá que

reside mas não presta.Pois a consciência que está aderida a essa cultura não

presta. Então ela é modificada de fora para dentro.

A partir daqui há essa invenção da cultura popular pelo povo,

Construção de uma imagem, um projeto social. E termina lembrando que

estar aqui discutindo esse movimento com a presença dos participantes dele

nos torna interlocutores dessa idéias.

Abelardo da Hora, então faz uma retrospectiva de sua atuação até a

formação do MCP, começando pela primeira exposição de obras de artes do artista.

Lembra quando criou a ABDE, que ensinava as artes as pessoas e de como foi

contratado por Brennand como ceramista artista. Que seus primeiros alunos forma

ensinados de graça na experiência do atelier coletivo ao qual se juntou o movimento

de música já atuante de Menucci.

A evolução desse atelier o levou a fazer uma proposta ao prefeito Miguel

Arraes que o mandou preparar uma minuta sobre tal movimento cultural que

Abelardo dirigia e acrescenta-se educação e apresenta-se para o grupo de direita

católico. Apresentando tal escrito aos católicos, esses lhe disseram que já existia

algo assim na França, chamado de “povo e cultura”. Então Arraes se levantou e

disse: Então isso aqui se chamará movimento de Cultura popular. E o eventto foi

finalizado pelo doutor Danilo streck.