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47 GUIA DE APLICAÇÃO DAS ISA – CONCEITOS FUNDAMENTAIS E ORIENTAÇÃO PRÁTICA 5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇÃO DO RISCO

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GUIA DE APLICAÇÃO DAS ISA – CONCEITOS FUNDAMENTAIS E ORIENTAÇÃO PRÁTICA

5.PLANEAMENTO

DAAUDITORIA E

AVALIAÇÃO DO RISCO

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GUIA DE APLICAÇÃO DAS ISA – CONCEITOS FUNDAMENTAIS E ORIENTAÇÃO PRÁTICA

Notas:1. Ver a ISA 230 para uma lista mais completa da documentação exigida2. O planeamento (ISA 300) é um processo contínuo e iterativo durante a auditoria3. RDM = Riscos de Distorção Material

Ava

liaçã

o d

o r

isco

Executar procedimentos

preliminares

Planear a auditoria

Executar procedimentos deavaliação do risco

Decidir se se aceita o cliente ou trabalho

Desenvolver estratégia global e plano de auditoria

2

Identificar e avaliarRDM

3através do

conhecimento da entidade

Lista de fatores de risco IndependênciaCarta de compromisso/ Contrato

Materialidade Reuniões da equipa de auditoriaEstratégia global auditoria

Riscos de negócio e de fraude, e outros riscos significativos

Conceção/implementação de controlos internos relevantes

RDM avaliados ao:• Nível das DF• Nível da asserção

Atividade Documentação1Objetivo

Conceber respostas globais e

procedimentos adicionais de auditoria

Implementar respostas aos RDM avaliados

Desenvolver respostas apropriadas aos RDM avaliados

Reduzir o risco de auditoria a um nível aceitavelmente baixo

Atualizar estratégia globalRespostas globaisPlano de auditoria que rela-cione os RDM avaliados com os

procedimentos adicionais de auditoria

Trabalho efetuadoResultados da auditoriaSupervisão do pessoalRevisão dos papéis de

trabalho

Avaliar a prova de auditoria

Preparar o relatório de

auditoria

Determinar qual o trabalho adicional necessário (se algum)

Formar uma opinião com base nos resultados da auditoria

Fatores de risco e procedimentos de auditoria novos/revistosAlterações à materialidade

Comunicação dos resultados Conclusões dos procedimentos efetuados

Decisões significativasRelatório de auditoria assinado

É necessário

trabalho adicional?

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

5.1.1 Enquadramento

Imagem 5.1-1

Os objetivos gerais do auditor podem ser resumidos como segue:

• Obter garantia razoável de que as demonstrações financeiras como um todo

estão isentas de distorções materiais, devido a fraude ou a erro, permitindo,

portanto, que o auditor expresse uma opinião sobre se as demonstrações

financeiras estão preparadas em todos os aspetos materiais de acordo com o

referencial contabilístico aplicável; e

• Relatar sobre as demonstrações financeiras, e efetuar as comunicações referidas nas ISA, de acordo com os

resultados da auditoria.

Garantia razoável

Garantia razoável é um nível de segurança elevado, mas não absoluto. É alcançado quando o auditor obteve prova de

auditoria suficiente e apropriada para reduzir o risco de auditoria (ou seja, o risco de que o auditor expresse uma opinião

de auditoria inapropriada quando as demonstrações financeiras estão materialmente distorcidas) para um nível

aceitavelmente baixo. O auditor não pode proporcionar garantia absoluta devido às limitações inerentes do trabalho. Isto

resulta da maior parte da prova de auditoria (sobre a qual o auditor extrai conclusões e baseia a opinião de auditoria) ser

mais persuasiva do que conclusiva.

Conteúdo – Auditoria baseada no risco ISA

relevante

Objetivos do auditor, elementos básicos e abordagem para a execução de uma auditoria baseada no

risco.

200

315 (Revista)

330

700 (Revista)

Planear a auditoria

Executar procedimentos de avaliação do risco

Executar

procedimentos adicionais de auditoria

Conceber procedimentos

adicionais de auditoria

Preparar o relatório de auditoria

Avaliar a prova de auditoria obtida

Ava

liaçã

o d

o R

isco

Re

spo

sta

ao R

isco

Re

lato

ISA relevante

Parágrafos

2003,5-11

A42,A47

50

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

Limitações inerentes à auditoria

O Quadro seguinte descreve algumas das limitações inerentes ao trabalho de auditoria.

Quadro 5.1-1

Limitações Razões

Relacionadas com a natureza do relato financeiro

A preparação das demonstrações financeiras envolve:

• Julgamentos efetuados pelo órgão de gestão na aplicação do referencial de relato financeiro; e

• Decisões ou avaliações subjetivas (tais como estimativas) feitas pelo órgão de gestão envolvendo um conjunto de interpretações ou julgamentos aceitáveis.

Relacionadas com a natureza da prova de auditoria disponível

A maior parte do trabalho do auditor na formação da opinião consiste em obter e avaliar prova de auditoria. Esta prova tende a ter um carácter persuasivo em vez de conclusivo.

A prova de auditoria é obtida principalmente de procedimentos executados no decurso da auditoria. Pode também incluir informação de outras fontes, tais como:

• Auditorias anteriores;

• Procedimentos de controlo de qualidade da firma para aceitação e continuação do cliente;

• Registos contabilísticos da entidade; e

• Prova de auditoria preparada por um perito empregado ou contratado pela entidade.

Relacionadas com a natureza dos procedimentos de auditoria

Os procedimentos de auditoria, mesmo que bem concebidos, não detetam todas as distorções. Considerar o seguinte:

• Qualquer amostra inferior a 100% de uma população implica um risco de uma distorção não ser detetada;

• O órgão de gestão ou outros podem não fornecer, intencionalmente ou não, toda a informação necessária. A fraude pode envolver esquemas sofisticados e cuidadosamente organizados e concebidos para a esconder; e

• Os procedimentos de auditoria usados para acumular prova de auditoria podem não detetar que há informação em falta.

Relacionadas com a oportunidade do relato financeiro

A relevância e valor da informação financeira tende a diminuir com o tempo e, por isso, é necessário existir um equilíbrio entre a fiabilidade da informação e o seu custo.

Os utilizadores das demonstrações financeiras esperam que o auditor forme a sua opinião num período de tempo e a um custo razoável. Consequentemente, é impraticável tratar toda a informação que possa existir, ou investigar todos os assuntos exaustivamente, na assunção de que a informação está errada ou é fraudulenta.

Âmbito da auditoria

O âmbito do trabalho e a opinião do auditor estão geralmente confinados a determinar se as demonstrações financeiras

estão preparadas, em todos os aspetos materiais, de acordo com o referencial de relato financeiro aplicável. Assim, uma

opinião não modificada no relatório de auditoria não garante a viabilidade futura da entidade, nem a eficácia ou eficiência

com que o órgão de gestão conduziu os negócios da entidade.

Qualquer extensão desta necessidade básica da auditoria, tal como quando é exigida por leis ou regulamentos, exigirá que

o auditor efetue trabalho adicional e modifique ou expanda o relatório de auditoria.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

Distorções materiais

Uma distorção material (tanto individual como o agregado de todas as distorções não corrigidas, e divulgações nas

demonstrações financeiras em falta ou que possam induzir em erro) ocorre quando pode razoavelmente ser esperado que

influencie decisões económicas dos utilizadores das demonstrações financeiras.

Asserções

Asserções são declarações prestadas pelo órgão de gestão, de forma explícita ou outra, que são incorporadas nas

demonstrações financeiras. Relacionam-se com o reconhecimento, mensuração e apresentação de classes de transações e

acontecimentos, saldos e divulgações nas demonstrações financeiras. Por exemplo, a asserção da plenitude refere-se a

que todas as transações e acontecimentos que deviam ser registados foram registados. São usadas pelo auditor para

considerar os diferentes tipos de distorções potenciais que podem ocorrer.

5.1.2 Risco de auditoria

Risco de auditoria é o risco de expressar uma opinião de auditoria inapropriada em demonstrações financeiras que estão

materialmente distorcidas. O objetivo da auditoria é reduzir este risco a um nível aceitavelmente baixo.

O risco de auditoria tem os seguintes elementos chave:

Quadro 5.1-2

Risco Natureza Fonte

Risco inerente e de controlo

(risco de distorção material)

As demonstrações financeiras podem conter uma distorção material.

Objetivos/operações da entidade e a conceção/implementação de controlos pelo órgão de gestão.

Risco de deteção O auditor pode não detetar uma distorção material nas demonstrações financeiras.

Natureza e extensão dos procedimentos executados pelo auditor.

Para reduzir o risco de auditoria para um nível aceitavelmente baixo, um auditor deve:

• Avaliar o risco de distorção material; e

• Limitar o risco de deteção. Isto pode ser alcançado efetuando procedimentos que respondam aos riscos de

distorção material avaliados, tanto ao nível das demonstrações financeiras como ao nível da asserção para

classes de transações, saldos de contas e divulgações.

Componentes do risco de auditoria

Os componentes risco de auditoria estão descritos no Quadro seguinte.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

Quadro 5.1-3

Natureza Descrição Comentário

Risco inerente A suscetibilidade de uma asserção sobre uma classe de transações, saldo de conta ou divulgação, a uma distorção que possa ser material, individualmente ou quando agregada com outras distorções, antes da consideração de quaisquer controlos relevantes.

Inclui acontecimentos ou condições (internos ou externos) que possam resultar numa distorção (erro ou fraude) nas demonstrações financeiras. As fontes de risco (frequentemente categorizadas como risco do negócio ou de fraude) podem surgir dos objetivos da entidade, da natureza das suas operações/indústria, do ambiente regulatório em que opera, da sua dimensão e complexidade.

Risco de controlo O risco de uma distorção que possa ocorrer numa asserção sobre uma classe de transações, saldo de conta ou divulgação que possa ser material, individualmente ou quando agregada com outras distorções, não seja prevenida, ou detetada e corrigida atempadamente, pelo controlo interno da entidade.

O órgão de gestão concebe controlos para mitigar fatores de risco inerente (de negócio ou de fraude). Uma entidade avalia os seus riscos (avaliação de risco) e depois concebe e implementa controlos apropriados para reduzir a exposição ao risco a um nível tolerável (aceitável).

Os controlos podem ser:

• De natureza geral, tal como a atitude do órgão de gestão relativamente ao controlo, empenho para recrutar pessoal competente, e prevenção de fraude. São geralmente designados por controlos ao nível da entidade; e

• Específicos à inicialização, processamento ou registo de uma transação em particular. Estes são designados por processos de negócio ao nível da atividade ou controlos de transações.

Risco de deteção O risco de que os procedimentos efetuados pelo auditor para reduzir o risco de auditoria para um nível aceitavelmente baixo não detetem uma distorção existente e que possa ser material, individualmente ou quando agregada com outras distorções.

O auditor avalia os riscos de distorção material (risco inerente e de controlo) ao nível das demonstrações financeiras e ao nível da asserção.

Os procedimentos de auditoria são depois desenvolvidos para reduzir o risco de auditoria para um nível aceitavelmente baixo. Isto inclui consideração do risco potencial de:

• Selecionar um procedimento de auditoria inapropriado;

• Não aplicar apropriadamente um procedimento de auditoria; ou

• Interpretar erradamente os resultados de um procedimento de auditoria.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

Nota: As ISA definem o risco de distorção material ao nível da asserção como consistindo de dois componentes: risco inerente e risco de controlo. Consequentemente, as ISA geralmente não se referem separadamente ao risco inerente e ao risco de controlo, mas sim a uma avaliação combinada de “riscos de distorção material.” No entanto, um auditor pode fazer avaliações separadas ou combinadas dos riscos inerente e de controlo, dependendo das técnicas de auditoria preferidas ou de considerações metodológicas ou práticas.

Sumário dos componentes do risco da auditoria

A Imagem seguinte ilustra a inter-relação entre risco e controlo. A barra do risco inerente contém todos os riscos do

negócio e de fraude que podem resultar em que as demonstrações financeiras estejam materialmente distorcidas (antes

de qualquer consideração sobre controlo interno). A barra do risco de controlo reflete os procedimentos de controlos

gerais e específicos postos em vigor pelo órgão de gestão para mitigar o risco de que as demonstrações financeiras

estejam distorcidas. A parte em que a barra do risco de controlo não cobre completamente os riscos inerentes é

frequentemente designada como risco residual do órgão de gestão, apetência ao risco ou tolerância ao risco.

Imagem 5.1-2

Nota: O comprimento das barras no Quadro varia conforme as circunstâncias particulares e o perfil de risco da entidade.

Riscos de negócio/fraude que impedem que o objetivo seja atingido

Resposta do órgão de gestão:Controlos internos que mitiguem os riscos identificados

Risco Residualdo órgão de gestão

Risco Inerente

Risco de Controlo

Risco de Distorção Material

Risco Baixo Risco Moderado Risco Alto

Exposição ao risco de fraude e erro AltoBaixo

Preparar demonstrações financeiras que não estejam materialmente distorcidas

Objetivo da Entidade

Separação do risco do negócio do risco de fraude

Muitos riscos inerentes podem resultar simultaneamente em riscos de negócio e riscos de fraude. Por exemplo, um

novo sistema de contabilidade pode criar potencial para erros (risco de negócio), mas também proporcionar uma

oportunidade para alguém manipular os resultados ou apropriar-se indevidamente de fundos (risco de fraude).

Quando é identificado um risco de negócio, é importante considerar se também pode ocasionar um risco de fraude. Se

sim, registar e avaliar o risco de fraude separadamente dos fatores de risco do negócio. Caso contrário, é possível que a

resposta da auditoria só trate o risco de negócio e não o risco de fraude.

Registo dos riscos de fraude

A fraude é frequentemente identificada através da análise de:

• Tendências fora do normal, exceções e transações/acontecimentos estranhos; ou

• Indivíduo(s) com a motivação, oportunidade e razão para cometer fraude.

No caso de serem observados estas circunstâncias (em qualquer fase da auditoria), devem ser registados e avaliados

como riscos de fraude, mesmo que pareçam imateriais. O registo destes riscos ajuda a assegurar que serão

apropriadamente considerados na altura de preparar uma resposta de auditoria.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

A Imagem seguinte ilustra o papel do auditor na avaliação dos riscos de distorção material nas demonstrações financeiras

e na execução de procedimentos de auditoria concebidos para reduzir o risco de auditoria a um nível aceitavelmente

baixo.

Imagem 5.1-3

Nota: O comprimento das barras no Quadro varia consoante as circunstâncias particulares e o perfil de risco da entidade,

e a natureza da resposta de auditoria.

5.1.3 Como efetuar uma auditoria baseada no risco

Uma auditoria baseada no risco tem três fases principais, ilustrados abaixo.

Quadro 5.1-4

Fase Descrição

Avaliação do risco Executar procedimentos de avaliação de risco para identificar e avaliar os riscos de distorção material nas demonstrações financeiras. Isto inclui a avaliação dos riscos significativos, deficiências de controlo e incumprimentos de leis e regulamentos identificados ou suspeitos que serão abordados na auditoria e comunicados aos encarregados da governação.

O auditor também selecionará matérias relevantes de auditoria para inclusão no seu relatório relativamente a todas as auditorias em que se aplica a ISA 701.

Resposta ao risco Conceber e executar procedimentos de auditoria adicionais que respondam aos riscos de distorção material identificados e avaliados, ao nível das demonstrações financeiras e ao nível da asserção.

Relato Inclui:

• Formar uma opinião baseada na prova de auditoria obtida e na avaliação da apresentação e divulgação das demonstrações financeiras; e

• Preparar e emitir um relatório apropriado às conclusões.

ISA relevante

Parágrafos

200 15-17,21

Onde podem ocorrer distorções materiais nas demonstrações financeiras?

O controlo interno mitiga o risco inerente identificado?

Risco Inerente

Risco de Controlo

Risco de Distorção Material

Risco Baixo Risco Moderado Risco Alto

Exposição ao risco de fraude e erro AltoBaixo

Determinar se as demonstrações financeiras da entidade estão isentas de distorção material

Objetivo do Auditor

Procedimentos de auditoria concebidos para responder ao risco de distorção identificados

Risco de distorção avaliado

Risco de Auditoria reduzido para um nível aceitavelmente baixo

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

Uma forma simples de ilustrar os três elementos está descrita abaixo.

Imagem 5.1-4

* Um “acontecimento” é um fator de risco de negócio ou de fraude (ver descrição no Quadro 5.1-3). Também inclui riscos resultantes da ausência de

controlo interno para mitigar os riscos de distorção material potenciais nas demonstrações financeiras.

Avaliação do risco

Imagem 5.1-5

Re

spo

sta

ao r

isco

Re

lato

Ava

liaçã

o d

o r

isco Que acontecimentos*

podem ocorrer que causem uma distorção material nas demonstrações financeiras?

Os acontecimentos* identificados

ocorreram e resultaram em distorção material nas demonstrações financeiras?

Que opinião de auditoria, baseada na prova obtida, é apropriada sobre as demonstrações financeiras?

ISA relevante

Parágrafos

315R 3

Ava

liaçã

o d

o r

isco

Executar procedimentos

preliminares

Planear a auditoria

Executar procedimentos deavaliação do risco

Decidir se se aceita o cliente ou trabalho

Desenvolver estratégia global e plano de auditoria

2

Identificar e avaliarRDM

3através do

conhecimento da entidade

Lista de fatores de risco IndependênciaCarta de compromisso/ Contrato

Materialidade Reuniões da equipa de auditoriaEstratégia global auditoria

Riscos de negócio e de fraude, e outros riscos significativos

Conceção/implementação de controlos internos relevantes

RDM avaliados ao:• Nível das DF• Nível da asserção

Atividade Documentação1Objetivo

Notas:1. Ver a ISA 230 para uma lista mais completa da documentação exigida2. O planeamento (ISA 300) é um processo contínuo e iterativo durante a auditoria3. RDM = Riscos de Distorção Material

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

Uma fase de avaliação de risco eficaz inclui o seguinte:

Quadro 5.1-5

Requisitos Descrição

Envolvimento inicial de colaboradores seniores da equipa de auditoria

O sócio responsável pelo trabalho e outros membros chave da equipa de auditoria devem estar ativamente envolvidos no planeamento da auditoria e no planeamento e participação na discussão entre a equipa de trabalho. Isto assegurará que o plano de auditoria beneficia da sua experiência e discernimento. De notar que as ISA usam geralmente o termo “auditor” como a pessoa que executa o trabalho. Quando uma ISA se quer referir a um requisito ou responsabilidade do sócio responsável pelo trabalho, utiliza o termo "sócio responsável pelo trabalho "em vez de "auditor".

Ênfase no “ceticismo profissional”

Não é de esperar que o auditor ignore a sua experiência passada no que se refere à honestidade e integridade do órgão de gestão e dos encarregados da governação da entidade. No entanto, a ideia de que os membros do órgão de gestão são honestos e têm integridade não isenta o auditor da necessidade de manter ceticismo profissional, nem permite que o auditor se satisfaça com prova de auditoria menos convincente do que a necessária para obter segurança razoável.

Planeamento O tempo gasto a planear a auditoria (desenvolvendo a estratégia global e o plano de auditoria) assegurará que os objetivos de auditoria são atingidos, e que o trabalho se foca em obter prova nas áreas mais sujeitas a distorções potenciais.

Discussões na equipa e comunicação contínua

Uma discussão da equipa de auditoria com o sócio responsável pelo trabalho proporciona uma oportunidade excelente para:

• Informar o pessoal sobre o cliente em geral e discutir potenciais áreas de risco;

• Discutir a eficácia da estratégia global de auditoria e do plano de auditoria e fazer as alterações necessárias;

• Discutir como pode ocorrer fraude e conceber a resposta de auditoria apropriada; e

• Atribuir responsabilidades pela auditoria e estabelecer calendário.

A comunicação contínua entre a equipa de auditoria durante o trabalho também é importante, por exemplo, para discutir como serão tratados assuntos de auditoria, atividades pouco usuais ou possíveis indicadores de fraude. Isto fará com que sejam efetuadas comunicações atempadas ao órgão de gestão, e, se necessário, alterações à estratégia e aos procedimentos de auditoria.

Foco na identificação do risco

O passo mais importante no processo de avaliação de risco é a identificação de todos os riscos relevantes. Se os fatores de risco de negócio e de fraude não são identificados pela auditoria ou se não são avaliados e documentados, não se conceberá uma resposta de auditoria apropriada. Esta é a razão pela qual os procedimentos de avaliação de risco são tão importantes para a eficácia da auditoria. Estes procedimentos também têm de ser executados por pessoal de nível adequado.

Competência para avaliar a resposta ao risco por parte do órgão de gestão

Um passo chave no processo de avaliação de risco é a avaliação da eficácia das respostas do órgão de gestão (ou seja, a conceção e implementação de controlos), para mitigar os riscos identificados de distorção material nas demonstrações financeiras. Em pequenas entidades, será depositada maior confiança no ambiente de controlo (competência e integridade do órgão de gestão, etc.) e menos nas atividades de controlo tradicionais (tais como segregação de funções, etc.).

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

Requisitos Descrição

Uso de julgamento profissional

Os requisitos das ISA impõem o uso e documentação de julgamentos significativos feitos pelo auditor durante a auditoria. Exemplos típicos das tarefas executadas durante o processo de avaliação de risco incluem:

• Decidir a aceitação ou continuação do cliente;

• Desenvolver a estratégia global de auditoria;

• Estabelecer a materialidade;

• Avaliar riscos de distorção material, incluindo a identificação de riscos significativos e outras áreas que necessitem consideração da auditoria; e

• Desenvolver uma expectativa a utilizar na execução de procedimentos analíticos.

Resposta ao risco

Imagem 5.1-6

Nesta fase, o auditor considera as razões (risco inerente e de controlo) para a avaliação de risco ao nível das

demonstrações financeiras e ao nível da asserção (para cada classe de transações, acontecimentos, saldos de contas e

divulgações), e desenvolve respostas de auditoria adequadas.

A resposta do auditor aos riscos avaliados de distorção material está documentada num plano de auditoria que:

• Contém uma resposta global aos riscos identificados ao nível das demonstrações financeiras;

• Identifica as áreas materiais das demonstrações financeiras; e

• Contém a natureza, oportunidade e extensão de procedimentos de auditoria específicos, concebidos para dar

resposta ao risco avaliado de distorção material ao nível da asserção.

ISA relevante

Parágrafos

330 3

Atividade Documentação1Objetivo

Re

spo

sta

ao d

o r

isco

Conceber respostas globais e

procedimentos adicionais de auditoria

Implementar respostas aos RDM avaliados

Desenvolver respostas apropriadas aos RDM2

avaliados

Reduzir o risco de auditoria a um nível aceitavelmente baixo

Atualizar estratégia globalRespostas globaisPlano de auditoria que rela-cione os RDM avaliados com os

procedimentos adicionais de auditoria

Trabalho efetuadoResultados da auditoriaSupervisão do pessoalRevisão dos papéis de

trabalho

Notas:1. Ver a ISA 230 para uma lista mais completa da documentação exigida2. RDM = Riscos de Distorção Material

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

As respostas globais destinam-se a dar resposta a riscos avaliados de distorção material ao nível das demonstrações

financeiras. Estas respostas incluirão a alocação e supervisão de pessoal adequado, a necessidade de uso de ceticismo

profissional, a extensão de corroboração exigida para as explicações/declarações do órgão de gestão, a consideração do

tipo de procedimentos de auditoria a executar, e que documentação deve ser examinada como prova de transações

materiais.

Os procedimentos de auditoria adicionais consistem geralmente em procedimentos substantivos tais como testes de

detalhe, procedimentos analíticos e testes aos controlos (quando há uma expectativa de que os controlos operaram

eficazmente durante o período).

Alguns assuntos que o auditor deve considerar ao planear o conjunto de procedimentos de auditoria para responder a

riscos identificados incluem os seguintes:

• Uso de testes aos controlos

– Identificar controlos internos relevantes que, se testados, reduziriam a necessidade/âmbito de outros

procedimentos de auditoria substantivos. Regra geral, a dimensão da amostra para controlos é

frequentemente bastante menor do que a de testes substantivos a um fluxo de transações. Assumindo

que os controlos operaram consistentemente e que os desvios são pouco prováveis, o uso de testes aos

controlos pode resultar em menos trabalho. Não há, no entanto, requisitos para testar a eficácia

operacional dos controlos internos (diretos ou indiretos).

– Identificar quaisquer asserções que não possam ser testadas apenas por procedimentos substantivos. Por

exemplo, a plenitude das vendas numa pequena entidade, e situações onde existe um processamento de

transações altamente automatizado com pouca ou nenhuma intervenção manual (tais como vendas na

Internet).

• Procedimentos analíticos substantivos

São procedimentos em que a quantia total de um fluxo de transações pode ser prevista de forma fiável com base

na evidência existente. Esta expectativa é comparada com a quantia constante nos registos contabilísticos e a

extensão de qualquer distorção é facilmente identificada (ver Capítulo 6.3). Nalguns casos, se o risco avaliado para

uma determinada asserção é baixo, o auditor pode determinar que bastam procedimentos analíticos substantivos

para proporcionar prova de auditoria suficiente e apropriada.

• Imprevisibilidade

É a necessidade de incorporar um elemento de imprevisibilidade nos procedimentos executados, por exemplo,

quando em resposta a um risco de distorção material devido a possível fraude. Por exemplo, visitas a lugares onde

estão a ser efetuadas contagens de inventário sem aviso prévio, ou executar sem avisar alguns procedimentos

antes do final do ano. A imprevisibilidade também deve ser considerada relativamente à informação a dar ao órgão

de gestão relativamente aos procedimentos de auditoria planeados e a sua oportunidade.

• Derrogação dos controlos pelo órgão de gestão

A necessidade de procedimentos de auditoria específicos para tratar a possibilidade de derrogação dos controlos

pelo órgão de gestão. Ver exemplo de programa de trabalho no Capítulo 6.1.2.

• Riscos significativos

A resposta da auditoria a “riscos significativos” que foram identificados. (Ver Capítulo 5.9).

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

Relato

Imagem 5.1-7

A fase final da auditoria é avaliar a prova de auditoria obtida e determinar se é suficiente e apropriada para reduzir o risco

de auditoria a um nível aceitavelmente baixo.

É importante que nesta fase da auditoria se determine:

• Qualquer mudança no nível avaliado do risco;

• Se as conclusões extraídas do trabalho executado são apropriadas;

• Se foram encontradas circunstâncias suspeitas; e

• Se foram avaliados apropriadamente riscos adicionais (não identificados anteriormente) e se foram executados

procedimentos de auditoria adicionais como necessário.

Uma reunião da equipa de auditoria (próxima do final do trabalho de campo) não é um requisito específico das ISA, mas

pode ser útil para discutir os resultados da auditoria, identificar qualquer indicação de fraude e determinar a necessidade

(se alguma) de executar procedimentos de auditoria adicionais.

Quando todos os procedimentos tiverem sido executados e as conclusões obtidas:

• Os resultados da auditoria devem ser comunicados ao órgão de gestão e aos encarregados da governação; e

• Deve ser formarda a opinião de auditoria e tomada uma decisão para a redação apropriada do relatório de

auditoria.

ISA relevante

Parágrafos

700R 6

Atividade Documentação1Objetivo

Re

lato

Avaliar a prova de auditoria

Preparar o relatório de

auditoria

Determinar qual o trabalho adicional necessário (se algum)

Formar uma opinião com base nos resultados da auditoria

Fatores de risco e procedimentos de auditoria novos/revistosAlterações à materialidade

Comunicação dos resultados Conclusões dos procedimentos efetuados

Decisões significativasRelatório de auditoria assinado

É necessário

trabalho adicional?

Notas:1. Ver a ISA 230 para uma lista mais completa da documentação exigida2. O planeamento (ISA 300) é um processo contínuo e iterativo durante a auditoria

Voltar à avaliação do

risco2

60

GUIA DE APLICAÇÃO DAS ISA – CONCEITOS FUNDAMENTAIS E ORIENTAÇÃO PRÁTICA

5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

5.1.4 Benefícios de uma auditoria baseada no risco

Alguns benefícios da abordagem baseada no risco estão resumidos no Quadro abaixo.

Quadro 5.1-6

Benefícios Descrição

Flexibilidade do momento em que o trabalho de auditoria tem de ser executado

Como os procedimentos de avaliação de risco não envolvem testes de detalhe às transações e/ou saldos, podem ser feitos muito antes do fecho do ano, assumindo que não são esperadas mudanças operacionais importantes. Isto pode ajudar a distribuir o trabalho de auditoria ao longo do ano. Pode proporcionar ao cliente mais tempo para responder a deficiências do controlo interno e a outros pedidos antes do início do trabalho de campo final. No entanto, se não existir informação financeira intercalar, os procedimentos analíticos de avaliação de risco terão de ser executados mais tarde.

O esforço da equipa de auditoria foca-se em áreas chave

Ao compreender onde os riscos de distorção material podem ocorrer nas demonstrações financeiras, o auditor pode dirigir o esforço da equipa de auditoria para áreas de alto risco e talvez possa reduzir o trabalho em áreas de baixo risco. Isto também ajuda a assegurar que os recursos humanos são alocados de maneira eficaz.

Procedimentos de auditoria focados em riscos específicos

Os procedimentos de auditoria adicionais são concebidos para responder aos riscos avaliados. Em consequência, os testes de detalhe que apenas tratam riscos em termos gerais podem ser reduzidos ou mesmo eliminados.

Compreender o controlo interno

A compreensão exigida do controlo interno permite que o auditor tome decisões informadas sobre se testa ou não a eficácia operacional do controlo interno. Os testes aos controlos (para os quais alguns controlos podem só ser testados uma vez em cada três auditorias

3) resultam frequentemente na execução de menos trabalho do que o que seria

necessário para testes de detalhe. (Ver Capítulo 6.4)

Comunicação atempada de assuntos de interesse do órgão de gestão

Uma melhor compreensão do controlo interno pode permitir que o auditor identifique deficiências no controlo interno (tais como no ambiente de controlo e nos controlos gerais de TI) que não foram previamente reconhecidos. A comunicação destas deficiências ao órgão de gestão em tempo oportuno permite-lhes que tomem as ações apropriadas, o que é do seu interesse. Pode também poupar tempo na execução da auditoria.

5.1.5 As ISA numa auditoria a PME

As ISA não distinguem a abordagem de auditoria exigida para uma pequena entidade da

exigida para uma grande entidade que empregue milhares de pessoas. Uma auditoria é uma

auditoria. Em consequência, a abordagem básica à auditoria não muda apenas porque a

entidade é pequena.

Para além disto, as ISA contêm alguns parágrafos com considerações específicas em auditorias de PME. Estes parágrafos

proporcionam orientação que é útil para a aplicação dos requisitos das ISA no contexto de uma auditoria a PME.

Algumas sugestões para implementar com sucesso as ISA em pequenas entidades estão incluídas no Quadro seguinte.

3 Teste a alguns controlos em cada auditoria para evitar que os controlos em que o auditor pretende confiar sejam testados num

único período de auditoria e não sejam testados nos dois períodos subsequentes.

ISA relevante

Parágrafos

200 A65-A68

61

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.1. Auditoria baseada no risco

Quadro 5.1-7

1. Dedicar algum tempo à leitura das ISA e à formação do pessoal

Falhas na compreensão dos requisitos podem levar ao seguinte:

• A fase da avaliação de risco tornar-se “um acrescento” ao trabalho substantivo de auditoria efetuado. Deve ser a avaliação de risco que leva à seleção de procedimentos de auditoria a executar, não uma lista padronizada de procedimentos que possam ser aplicadas a qualquer entidade. O propósito da avaliação de risco é focar o esforço de auditoria em áreas onde há um maior risco de distorção material nas demonstrações financeiras, e não em áreas de menor risco.

• Tornar o que devia ser uma auditoria simples num projeto complexo e demorado. Isto pode acontecer se o esforço se foca em completar questionários e checklists padrão, em vez de usar julgamento profissional para distribuir o trabalho de acordo com a dimensão e a complexidade da entidade a auditar e dos riscos envolvidos.

• Não cumprir um requisito das ISA (“o auditor deve”).

2. Dedicar algum tempo a planear bem, mesmo em trabalhos pequenos

Tem sido dito que uma hora gasta no planeamento pode poupar muitas mais na execução. Um planeamento de

auditoria eficaz é frequentemente a diferença entre uma auditoria de qualidade dentro do orçamento e uma auditoria

de fraca qualidade que excede o orçamento. Isto não implica necessariamente ter reuniões de equipas específicas no

escritório. Em trabalhos muito pequenos, o planeamento pode ser efetuado através de curtas discussões no início do

trabalho e à medida que a auditoria progride.

Aspetos chave a incluir no planeamento:

• Encorajar o pessoal a identificar áreas onde os procedimentos de auditoria habituais pareçam excessivos relativamente ao risco de distorção existente.

• Assegurar que cada membro do pessoal compreende a necessidade e propósito da documentação que lhe cabe preparar. O pessoal pode perder muitas horas a preencher formulários que não compreende.

• Discutir a possibilidade de fraude. Encorajar o pessoal a ser cético e inquisitivo, e a colocar questões, observações, ou mencionar assuntos não explicados.

• Discutir a existência de partes relacionadas e a natureza/dimensão das transações.

• Considerar se a documentação de auditoria preparada em períodos anteriores pode ser simplesmente atualizada para as alterações que ocorreram, em vez de ser preparada de novo. A documentação e avaliação de fatores de risco e controlos internos relevantes devem ser suficientes para permitir ao auditor atualizar a compreensão da entidade em períodos subsequentes e focar a sua atenção em novas tendências da indústria, novos riscos inerentes e controlos internos revistos.

3. Avaliar o ambiente de controlo

Dedicar algum tempo à compreensão dos controlos internos transversais que são parte do ambiente de controlo. Estes

controlos são bastante diferentes de controlos sobre as transações; têm a ver com a integridade e ética, governo das

sociedades, competência do pessoal, a atitude da gestão em relação ao controlo, prevenção de fraude, gestão do risco

e monitorização dos controlos. Se a “atitude da liderança” é fraca, a derrogação dos controlos pelo órgão de gestão

pode facilmente ocorrer, e mesmo os melhores controlos de transações de processos tais como compras e vendas

podem ser subvertidos.

4. Ambicionar uma melhoria contínua

Alguns auditores têm uma tendência para seguir cegamente o exemplo do auditor anterior, tendo como resultado um

dossier de auditoria que é o espelho do dossier do ano anterior. Uma abordagem mais apropriada é rever e questionar

o trabalho feito em anos anteriores, e identificar mudanças que tornem a auditoria mais eficaz e eficiente.

62

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.2. Asserções das demonstrações financeiras

5.2.1 Enquadramento

Quando o órgão de gestão faz uma declaração ao auditor tal como “as demonstrações financeiras como um todo estão

apresentadas de forma verdadeira e apropriada de acordo com o referencial de relato financeiro aplicável”, a frase na

realidade contém um determinado número de asserções incluídas.

Estas asserções (do órgão de gestão) relacionam-se com o reconhecimento, mensuração, apresentação de classes de

transações e acontecimentos, saldos de contas e divulgações nas demonstrações financeiras.

Exemplos de asserções do órgão de gestão incluem:

• Todos os ativos das demonstrações financeiras existem;

• Todas as vendas e prestações de serviços foram registadas;

• Os inventários estão registados pelo valor apropriado;

• Os valores a pagar representam obrigações da entidade;

• Todas as transações registadas ocorreram no período que está a ser examinado; e

• Todas as quantias estão apresentadas de forma adequada nas demonstrações financeiras. Isto inclui a

agregação/desagregação apropriada e descrição clara de transações, saldos e acontecimentos. Inclui também

as respetivas divulgações serem relevantes e compreensíveis no contexto do referencial de relato financeiro

aplicável; e

• A apresentação de quantias ou divulgações não tornar obscura informação útil ou resultar em informação

enganadora.

Estas asserções são frequentemente resumidas em palavras como plenitude, existência, ocorrência, rigor, valorização,

apresentação, etc. Por exemplo, o órgão de gestão pode afirmar ao auditor que o saldo da conta de vendas nos registos

contabilísticos contém todas as transações de vendas (asserção da plenitude), as transações ocorreram e são válidas

(asserção da ocorrência/existência), e as transações foram registadas adequadamente nos registos contabilísticos e no

período contabilístico apropriado (asserções de rigor e corte).

5.2.2 Descrição das asserções

O parágrafo A124 da ISA 315R descreve as categorias das asserções que podem ser usadas pelo auditor ao considerar os

diferentes tipos de distorções potenciais. Estas categorias estão descritas no Quadro seguinte.

Conteúdo – Asserções das demonstrações financeiras ISA

relevante

Uso das asserções do órgão de gestão na auditoria 315 (Revista)

ISA relevante

Parágrafos

315R 4(a)

64

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5.2. Asserções das demonstrações financeiras

Quadro 5.2-1

Asserção Descrição

Classes de transações e acontecimentos, e divulgações relacionadas, no período a auditar

Ocorrência As transações e acontecimentos registados ou divulgados ocorreram e dizem respeito à entidade.

Plenitude Todas as transações e acontecimentos que deveriam ser registados foram registados, e todas as divulgações relacionadas que deveriam ter sido incluídas nas demonstrações financeiras foram incluídas, no contexto dos requisitos do referencial de relato financeiro aplicável.

Rigor As quantias e outra informação relativa a transações e acontecimentos registados foram registadas apropriadamente, e as divulgações relacionadas foram apropriadamente mensuradas e descritas, no contexto dos requisitos do referencial de relato financeiro aplicável.

Corte As transações e acontecimentos foram registados no período contabilístico correto.

Classificação As transações e acontecimentos foram registados nas contas apropriadas.

Apresentação As transações e acontecimentos foram apropriadamente agregados ou desagregados e claramente descritos, e as divulgações relacionadas são relevantes e compreensíveis, no contexto dos requisitos do referencial de relato financeiro aplicável.

Asserção Descrição

Saldos de contas no final do período

Existência Os ativos, passivos e interesses de capital próprio existem.

Direitos e obrigações

A entidade detém ou controla os direitos aos ativos e os passivos são as obrigações da entidade.

Plenitude Todos os ativos, passivos e interesses de capital próprio que deveriam ter sido registados foram registados, e todas as divulgações relacionadas que deveriam ter sido incluídas nas demonstrações financeiras foram incluídas, no contexto dos requisitos do referencial de relato financeiro aplicável.

Rigor, valorização e imputação

Os ativos, passivos e interesses de capital próprio estão incluídos nas demonstrações financeiras por quantias apropriadas e quaisquer ajustamentos de valorização ou imputação estão apropriadamente registados, e as divulgações relacionadas foram apropriadamente mensuradas e descritas, no contexto dos requisitos do referencial de relato financeiro aplicável.

Classificação Os ativos, passivos e interesses de capital próprio foram registados nas contas apropriadas.

Apresentação Os ativos, passivos e interesses de capital próprio foram apropriadamente agregados ou desagregados e claramente descritos, e as divulgações relacionadas são relevantes e compreensíveis, no contexto dos requisitos do referencial de relato financeiro aplicável.

65

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.2. Asserções das demonstrações financeiras

As asserções acima descritas podem ser adaptadas, conforme apropriado, quando se consideram as potenciais distorções

nas divulgações que não estejam diretamente relacionadas com as classes de transações, acontecimentos ou saldos de

contas registados. Por exemplo, pode ser exigido pelo referencial de relato financeiro que a entidade divulgue a exposição

a riscos resultantes de uma transação que ainda não esteja registada nas demonstrações financeiras.

A aplicabilidade das asserções às áreas das demonstrações financeiras está resumida abaixo.

Quadro 5.2-2

Asserções Classes de transações Saldos de contas

Existência/ocorrência � �

Plenitude � �

Direitos e obrigações �

Rigor e imputação � �

Valorização �

Corte � �

Classificação � �

Apresentação � �

5.2.3 Asserções combinadas

A ISA 315 (Revista) permite que um auditor use as asserções exatamente como descritas atrás, ou que as expresse de

forma diferente, desde que todos os aspetos descritos acima sejam cobertos.

Para que o uso de asserções seja mais fácil de aplicar, este Guia combinou algumas das asserções de forma a que sejam

aplicáveis nas três categorias (isto é, saldos, transações e divulgações). As quatro asserções combinadas e as asserções

individuais a que respeitam estão apresentadas no Quadro seguinte.

Quadro 5.2-3

Asserções combinadas Classes de transações Saldos de contas

Plenitude (P) Plenitude Plenitude

Rigor e Valorização (RV) Rigor

Corte

Classificação

Rigor

Valorização

Imputação

Classificação

Existência (E) Ocorrência Existência

Direitos e Obrigações

Apresentação (A) Apresentação Apresentação

Nota: Quando um auditor decide combinar asserções tal como resumido acima, é importante lembrar que a asserção

existência também inclui direitos e obrigações. o Quadro seguinte proporciona uma descrição das quatro asserções

combinadas usadas neste Guia.

Quadro 5.2-4

66

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5.2. Asserções das demonstrações financeiras

Asserção combinada

Descrição

Plenitude (P) Tudo o que deve ser registado e divulgado nas demonstrações financeiras foi incluído.

Não há ativos, passivos, transações, ou acontecimentos por registar; não há divulgações em falta ou incompletas nas demonstrações financeiras, no contexto do referencial de relato financeiro aplicável.

Rigor e Valorização (RV)

Os ativos, passivos e interesses de capital próprio estão incluídos nas demonstrações financeiras pela quantia apropriada; quaisquer ajustamentos de valorização ou imputação resultantes estão apropriadamente registados, e as respetivas divulgações foram apropriadamente mensuradas e descritas, no contexto do referencial de relato financeiro aplicável. Estas asserções são também relativas a transações na parte aplicável.

Existência (E) Tudo o que está registado ou divulgado nas demonstrações financeiras existe à data de referência.

Os ativos, passivos, transações registadas, e outros assuntos incluídos nas notas às demonstrações financeiras existem, ocorreram e pertencem à entidade, no contexto do referencial de relato financeiro aplicável.

Apresentação (A) Os ativos, passivos, transações e acontecimentos estão apropriadamente agregados ou desagregados e claramente descritos, e as divulgações relacionadas são relevantes e compreensíveis, no contexto do referencial de relato financeiro aplicável.

Imagem 5.2-1

Asserções combinadas Dimensão do erro

Qu

an

tia

corr

eta

Plenitude(transações ou divulgações em falta)

Existência(transações ou divulgações não válidas ou inexistência de direitos/obrigações)

Rigor & valorização

(valorização, imputação, registo/mensuração, corte, classificação ou descrição nas divulgações inexatos)

Apresentação

(as transações e saldos estão apropriadamente agregados/desagregados e claramente descritos. As divulgações relacionadas são relevantes e compreensíveis no contexto do referencial de relato financeiro aplicável)

Subvalorizado -

+ Sobrevalorizado

67

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.2. Asserções das demonstrações financeiras

5.2.4 Uso de asserções na auditoria

Tal como referido anteriormente, as demonstrações financeiras contêm asserções

incorporadas (ou subjacentes). As asserções podem ser usadas pelo auditor na avaliação dos

riscos ao nível das demonstrações financeiras e ao nível da asserção. Ver comentários no

Quadro seguinte.

Quadro 5.2-5

Avaliar riscos ao: Comentário

Nível das demonstrações financeiras

Os riscos de distorção material ao nível das demonstrações financeiras tendem a ser abrangentes e, portanto, estão relacionados com todas as asserções. Por exemplo, se o colaborador responsável pelos registos contabilísticos não possuir os conhecimentos técnicos necessários, é possível que ocorram erros nas demonstrações financeiras. No entanto, a natureza desses erros não se limita a um saldo de conta, um ciclo de transações ou uma divulgação. Para além disso, o erro provavelmente não se limita a uma asserção tal como a plenitude das vendas. Pode igualmente estar relacionado com asserções tais como rigor, existência e valorização.

Nível da asserção Os riscos ao nível da asserção relacionam-se com saldos de contas individuais num determinado momento (isto é, no fim do período), classes de transações (para o período) e apresentação e divulgação nas demonstrações financeiras.

A relevância de cada asserção para um saldo de conta individual (ou classe de transações, ou apresentação e divulgação) varia em função das características do saldo e dos riscos potenciais de distorção material. Por exemplo, ao considerar a asserção de valorização, o auditor pode avaliar o risco de distorção em contas a pagar como baixo; no entanto, para os inventários, em que se tem de considerar a possibilidade de obsolescência, o auditor avaliaria o risco de valorização como alto. Outro exemplo é uma situação em que o risco de distorção material relacionado com a plenitude (itens em falta) no saldo de inventários é baixo, mas é alto em relação ao saldo de vendas.

A diferença entre os dois níveis de avaliação de risco está parcialmente ilustrada na Imagem seguinte.

Imagem 5.2-2

ISA relevante

Parágrafos

315R 25

Demonstrações financeiras (como um todo)

ModBaixo

Ao nível das demonstrações financeiras

Riscos aplicáveis a múltiplas asserções

Ao nível da asserção (parcial)

Asserções relevantes

(avaliar o risco para cada asserção)

Saldo de contas

Apresentação e divulgação

Classes de transações

Inventários

Compromissos

Rédito

Caixa e DO

Gastos

Partes relacionadas

Contas a pagar

Baixo

Mod

Alto

Baixo

P

E

RV

A

Nota: Esta imagem usa as asserções combinadas descritas no ponto 5.2.3

Risco de negócio Risco de fraude

68

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.2. Asserções das demonstrações financeiras

As asserções são usadas pelo auditor para formar as bases para:

• Considerar os diferentes tipos de distorções que possam ocorrer;

• Avaliar os riscos de distorção material; e

• Conceber procedimentos de auditoria adicionais que respondam aos riscos avaliados.

Quadro 5.2-6

Uso de Asserções Procedimentos

Considerar tipos de distorções potenciais

Executar procedimentos de avaliação de risco para identificar possíveis riscos de distorção

material. Por exemplo, o auditor pode questionar o seguinte:

• Os ativos existem? (Existência)

• São propriedade da entidade? (Direitos e obrigações)

• Todas as transações de vendas estão apropriadamente registadas? (Plenitude)

• O saldo de inventários foi ajustado relativamente a itens com pouco movimento ou obsoletos? (Rigor/Valorização)

• O saldo de contas a pagar inclui todos os passivos conhecidos no final do período? (Plenitude)

• As transações foram registadas no período correto? (Corte)

• As divulgações são relevantes e compreensíveis no contexto do referencial de relato financeiro aplicável? (Apresentação)

Avaliar riscos de distorção material

O risco de distorção material é a combinação do risco inerente e do risco de controlo. O processo de avaliação inclui:

• Risco inerente

Identificar distorções potenciais e as asserções envolvidas e depois avaliar a possibilidade e magnitude da ocorrência do risco.

• Risco de controlo

Identificar e avaliar o controlo interno relevante que mitiga o risco avaliado e se destina às asserções subjacentes.

Conceber procedimentos de auditoria

O passo final é conceber procedimentos de auditoria que respondam aos riscos avaliados por asserção. Por exemplo, se há um risco alto de que a rubrica de clientes esteja sobreavaliada devido à inclusão de saldos inexistentes (asserção de existência), os procedimentos de auditoria devem ser concebidos especificamente para tratar a asserção da existência. Se a plenitude das vendas é um risco, o auditor pode conceber um teste aos controlos relacionados com a asserção da plenitude.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.3. Estratégia global de auditoria

5.3.1 Enquadramento

O planeamento é importante para assegurar que o trabalho é efetuado de forma eficiente e

eficaz e que o risco de auditoria é reduzido para um nível aceitavelmente baixo.

O planeamento não é uma fase isolada da auditoria. É um processo contínuo e iterativo que

começa após o fim da auditoria anterior e continua até à finalização da auditoria corrente.

Os benefícios do planeamento da auditoria estão referidos no Quadro seguinte.

Quadro 5.3-1

Benefícios do planeamento da auditoria

• Os membros da equipa assimilam a experiência do sócio e outros membros experientes.

• O trabalho tem os recursos apropriados e é organizado e gerido de forma eficiente.

• A experiência obtida de trabalhos anteriores é adequadamente utilizada.

• As áreas significativas da auditoria têm a atenção apropriada.

• São identificados e resolvidos problemas potenciais em tempo oportuno.

• A documentação do dossier de auditoria é revista em tempo oportuno.

• O trabalho efetuado por outros é coordenado (outros auditores, especialistas, etc.).

Existem dois níveis de planeamento da auditoria como se ilustra na Imagem seguinte.

Imagem 5.3-1

Conteúdo – Estratégia global de auditoria ISA

relevante

Orientação para desenvolver uma estratégia e plano global para a auditoria. 200

300

ISA relevante

Parágrafos

200 15

300 4-5,7-11

Planeamento da auditoria

Transações

Avaliação do risco Resposta ao risco Relato

Estratégia global de auditoriaCaracterísticas do trabalhoObjetivos de relatoFatores significativos e experiência (materialidade, fatores de risco, etc.Natureza, oportunidade e extensão dos recursos necessários

Atualizar continuamente os planos de auditoria como necessário

Plano de auditoria detalhadoNatureza, oportunidade e extensão dos procedimentos planeadosProcedimentos de avaliação do riscoProcedimentos adicionais de auditoria

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.3. Estratégia global de auditoria

O desenvolvimento da estratégia global de auditoria começa no início do trabalho e tal estratégia é completada e depois

atualizada com base nas informações obtidas de:

• Experiência anterior com a entidade;

• Atividades preliminares (aceitação e continuação de trabalhos e clientes);

• Reuniões com o cliente sobre alterações desde o ano anterior e resultados operacionais do ano corrente;

• Outros trabalhos (permitidos) efetuados para o cliente durante o ano;

• Reuniões e discussões da equipa de trabalho;

• Outras fontes externas como artigos e notícias da comunicação social e Internet; e

• Nova informação obtida, procedimentos de auditoria não conseguidos ou novas circunstâncias detetadas durante o trabalho que alterem a estratégia previamente planeada.

O plano detalhado de auditoria começará um pouco mais tarde quando forem planeados os procedimentos de avaliação

do risco e quando existir informação suficiente sobre os riscos avaliados para desenvolver respostas apropriadas de

auditoria. Os requisitos para desenvolver um plano detalhado de auditoria estão especificados no Capítulo 6.2.

5.3.2 Desenvolvimento da estratégia global de auditoria

A estratégia global de auditoria é o registo das decisões chave consideradas necessárias para planear adequadamente a

auditoria e comunicar matérias significativas à equipa de trabalho. A estratégia documentará as decisões que surjam das

tarefas de planeamento mostradas no Quadro seguinte.

De notar que os detalhes específicos da avaliação do risco e dos procedimentos de auditoria adicionais a efetuar serão

documentados no plano detalhado de auditoria.

As auditorias de pequenas entidades geralmente utilizam pequenas equipas de trabalho. Este facto facilita a coordenação e a comunicação entre os respetivos membros e o desenvolvimento da estratégia global de auditoria pode ser mais direta. A documentação da estratégia global de auditoria de pequenas entidades pode ser consubstanciada na forma de um memorando que inclua:

• A natureza do trabalho e o calendário previsto;

• Os assuntos identificados na auditoria do período anterior;

• O que alterou no período corrente;

• Quaisquer revisões exigidas na estratégia global de auditoria ou no plano de auditoria; e

• Responsabilidades específicas atribuídas a cada membro da equipa.

O planeamento do período corrente pode começar com um memorando preparado no final da auditoria anterior. Contudo, o memorando precisa de ser atualizado no período corrente com base nas discussões com o sócio-gerente e nos resultados das reuniões da equipa.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.3. Estratégia global de auditoria

Quadro 5.3-2

Tarefas básicas Descrição

Tarefas iniciais • Executar atividades preliminares (aceitação e continuação de clientes e definir termos do trabalho).

• Recolher informação relevante sobre a entidade tal como resultados operacionais correntes, resultados de trabalhos anteriores e alterações significativas no ano corrente.

• Alocar recursos ao trabalho, incluindo, quando aplicável, o revisor de controlo de qualidade do trabalho e especialistas necessários.

• Marcar a reunião da equipa de auditoria (incluindo o sócio responsável) para discutir a suscetibilidade das demonstrações financeiras a distorções materiais (incluindo fraude).

• Determinar as datas apropriadas em que cada tarefa do trabalho de auditoria deve ocorrer (contagens físicas, procedimentos de avaliação do risco, confirmações externas, as datas previstas das visitas ao cliente e as reuniões para discutir os resultados da auditoria).

Avaliação dos riscos e respostas aos riscos avaliados

• Determinar a materialidade para as demonstrações financeiras como um todo e a materialidade de execução.

• Determinar a natureza, oportunidade e extensão dos procedimentos de avaliação do risco e quem os executará.

• Depois de terem sido avaliados os riscos ao nível das demonstrações financeiras, desenvolver uma resposta global (ver Capítulo 6.1). Incluir também o impacto desta tarefa nos procedimentos de auditoria adicionais a efetuar.

• Comunicar aos encarregados da governação, quando aplicável, uma súmula geral do âmbito e datas planeados da auditoria.

• Atualizar a alterar a estratégia e plano de auditoria conforme necessário à luz de novas circunstâncias.

Divulgações das demonstrações financeiras

Considerar a necessidade de conhecer, logo no início da auditoria, as divulgações das

demonstrações financeiras esperadas para que seja dada a atenção apropriada no

planeamento do trabalho a efetuar (por exemplo, necessidade de contratar um perito do

auditor) e na prova de auditoria necessária. Isto também ajudará o auditor a determinar os

efeitos na auditoria de divulgações novas ou revistas que:

• Sejam exigidas em resultado de alterações no ambiente da entidade, na situação financeira ou nos negócios (por exemplo, uma combinação de atividades empresariais);

• Resultem de alterações no referencial de relato financeiro aplicável; ou

• Se relacionem com matérias que o auditor deseje discutir com os encarregados da governação.

Quando os riscos de distorção material tiverem sido identificados e avaliados, a estratégia global (incluindo datas, recursos

e supervisão) pode ser finalizada, e desenvolvido o plano de auditoria detalhado. O plano detalhado indicará os

procedimentos de auditoria adicionais exigidos ao nível da asserção que respondam aos riscos identificados e avaliados.

Após o começo do trabalho, podem ser necessárias alterações à estratégia global e ao plano detalhado para responder a

novas circunstâncias, resultados da auditoria ou outra informação obtida. Estas alterações devem ser documentadas com

as respetivas justificações nos papéis de auditoria, nomeadamente nos documentos de estratégia global e plano de

auditoria.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.3. Estratégia global de auditoria

Apresenta-se a seguir um exemplo da possível estrutura em formato tabular de um documento com a Estratégia global de auditoria (meramente ilustrativo) nos termos do parágrafo 8 da ISA 300.

5.3.3 Exemplo – Estratégia Global de Auditoria

Cliente: Preparado por: Exercício findo em: Revisto por:

Fatores Comentários Refª PT

Características do trabalho

• Tipo de sociedade, acionistas/sócios, natureza do negócio.

• Referencial de relato financeiro aplicável.

• Requisitos de relato específicos do setor.

• Necessidade de peritos do auditor com conhecimentos especializados para abordar áreas de auditoria complexas, específicas e de risco alto.

• Prova exigida de organizações de serviços, por exemplo, serviços de contabilidade.

• Utilização de prova obtida em auditorias anteriores, por exemplo, procedimentos de avaliação de risco e testes aos controlos.

• Efeito das TI nos procedimentos de auditoria (disponibilidade de dados e uso de técnicas de auditoria assistidas por computador).

• Necessidade de introduzir o elemento de imprevisibilidade na execução dos procedimentos de auditoria.

• Disponibilidade dos dados e do pessoal da entidade.

Objetivos do relato, calendário da auditoria e comunicações

• Destinatários do relatório e prazos da entidade.

• Datas das reuniões com o órgão de gestão e os encarregados da governação para discutir:

− A natureza, oportunidade e extensão do trabalho de auditoria, incluindo datas das contagens físicas, confirmações externas e outros procedimentos.

− O estado do trabalho de auditoria durante o seu decurso.

− O relatório de auditoria e outras comunicações como cartas de recomendações.

• Datas das reuniões/comunicações entre os membros da equipa de trabalho para discutir:

− Fatores de risco da entidade (do negócio e de fraude).

− Natureza, oportunidade e extensão do trabalho a efetuar.

− Revisão do trabalho efetuado.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.3. Estratégia global de auditoria

Cliente: Preparado por: Exercício findo em: Revisto por:

Fatores Comentários Refª PT

Fatores significativos

• Materialidade (global, por classes particulares de transações, saldos de contas ou divulgações e materialidade de execução definida em uma ou mais quantias).

• Avaliação preliminar do risco ao nível das demonstrações financeiras e seu impacto na auditoria.

• Identificação preliminar de:

− Classes de transações, saldos de contas e divulgações significativas e materiais, e

− Áreas onde pode existir maior risco de distorção material.

• Forma como se chama a atenção da equipa de auditoria para manter uma mente interrogativa e para exercer ceticismo profissional quando recolhe e avalia prova de auditoria.

• Resultados relevantes de auditorias anteriores, incluindo deficiências de controlo interno identificadas e medidas tomadas pelo órgão de gestão para as tratar.

• Discussões com o pessoal da firma que prestou outros serviços (permitidos) à entidade.

• Prova da atitude do órgão de gestão no que respeita ao controlo interno e importância dada ao controlo interno em geral em toda a entidade.

• Volume de negócios, o qual pode indicar se é mais eficiente para o auditor confiar no controlo interno.

Resultados de atividades preliminares – Alterações significativas e desenvolvimentos

• Desenvolvimentos significativos na atividade, incluindo nas TI e nos processos do negócio, alterações no pessoal chave de gestão bem como investimentos, fusões e desinvestimentos.

• Desenvolvimentos significativos no setor, por exemplo, alterações de regulamentos no setor, e novos requisitos de relato.

• Alterações significativas no referencial de relato financeiro, nomeadamente nas normas de contabilidade.

• Outros desenvolvimentos relevantes, como alterações na legislação aplicável.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.3. Estratégia global de auditoria

Cliente: Preparado por: Exercício findo em: Revisto por:

Fatores Comentários Refª PT

Natureza, oportunidade e extensão dos recursos necessários

• A equipa de auditoria, incluindo, quando necessário, o revisor do controlo de qualidade do trabalho.

• Distribuição do trabalho de auditoria aos membros da equipa, incluindo a alocação de elementos com experiência apropriada a áreas onde possa haver risco alto de distorção material.

• Orçamento do trabalho tendo em conta os recursos planeados alocar.

Se a entidade tiver componentes (por exemplo, subsidiárias), devem ser tomados em consideração os procedimentos

adicionais de planeamento referidos no Apêndice da ISA 300 e os requisitos da ISA 600.

Para pequenas entidades os documentos da estratégia e plano de auditoria não necessitam ser extensos ou complexos.

Relativamente aos programas de trabalho, e nas situações em que não há muitos controlos relevantes para auditoria,

podem ser usados programas simplificados (nalguns casos pode ser útil a utilização de checklists) sendo, no entanto,

fundamental que esses estes programas sejam claros e que se encontrem devidamente adaptados às circunstâncias de

cada trabalho, incluindo as avaliações de risco pelo auditor.

5.3.4 Comunicação do plano de auditoria ao órgão de gestão e encarregados da governação

A comunicação contínua do auditor com o órgão de gestão e os encarregados da

governação, e vice-versa, pode ter um papel importante no processo da auditoria. Uma

boa comunicação acerca do âmbito e calendário da auditoria pode ajudar o órgão de

gestão e encarregados da governação a:

• Compreenderem as consequências do trabalho do auditor;

• Discutirem questões associadas ao risco, incluindo riscos significativos identificados pelo auditor;

• Compreenderem o conceito de materialidade; e

• Identificarem áreas em que seja pedido ao auditor que execute procedimentos adicionais.

Este diálogo pode também ajudar o auditor a compreender melhor a entidade e o seu ambiente.

Porém, deve tomar-se cuidado para não se comprometer a eficácia da auditoria. Por exemplo, comunicar a natureza e o

calendário exatos dos procedimentos de auditoria detalhados pode reduzir a eficácia desses procedimentos tornando-os

demasiado previsíveis.

Os assuntos que o auditor pode considerar nesta comunicação incluem:

• Como o auditor se propõe abordar os riscos significativos de distorção material devido a fraude ou a erro;

• Quando aplicável, se vão ser comunicadas MRA de acordo com a ISA 701 e, em caso afirmativo, as primeiras impressões acerca das matérias que poderão ser matérias relevantes de auditoria.

• A abordagem do auditor relativamente ao controlo interno relevante para a auditoria; e

• A aplicação da materialidade no contexto da auditoria.

ISA relevante

Parágrafos

260R 15

75

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.3. Estratégia global de auditoria

Outros assuntos que pode ser apropriado discutir incluem:

• A estratégia e objetivos da entidade e os riscos do negócio associados que possam resultar em distorções materiais;

• Assuntos que os encarregados da governação consideram merecer atenção especial durante a auditoria e quaisquer áreas onde eles solicitem que sejam efetuados procedimentos adicionais;

• Comunicações importantes com os reguladores;

• Atitudes, conhecimento e ações dos encarregados da governação relativos aos processos que o órgão de gestão tem para identificar e responder aos riscos de erro ou fraude na entidade e o controlo interno implementado para mitigar esses riscos, incluindo a forma como os encarregados da governação supervisionam a eficácia do controlo interno;

• As ações dos encarregados da governação em resposta ao desenvolvimento de normas de contabilidade, práticas de governo societário e outras matérias associadas; e

• As respostas dos encarregados da governação a comunicações anteriores com o auditor.

De notar que esta comunicação não altera a responsabilidade exclusiva do auditor quanto ao estabelecimento da

estratégia global e do plano de auditoria, incluindo a natureza, oportunidade e extensão dos procedimentos necessários

para obter prova de auditoria suficiente e apropriada.

Podem ser exigidas outras comunicações por lei ou regulamento, ou a pedido da entidade. A ISA 265 estabelece os

requisitos para comunicar deficiências significativas identificadas no controlo interno.

76

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

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77

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

5.4.1 Enquadramento

A materialidade é uma matéria de julgamento profissional e está relacionada com a

importância da informação das demonstrações financeiras para as tomadas de decisão dos

utilizadores das demonstrações financeiras. O conceito de materialidade reconhece que

alguns assuntos, individualmente ou de forma agregada, são importantes para as pessoas

que tomam decisões económicas baseadas nas demonstrações financeiras. Isto pode incluir

decisões tais como investir, comprar, fazer negócios, ou emprestar dinheiro à entidade.

Este Capítulo respeita ao uso da materialidade na auditoria em geral e dá orientações adicionais em como estabelecer

quantias específicas de materialidade para usar no decurso da auditoria.

Imagem 5.4-1

Se uma distorção (ou a quantia agregada de distorções) é suficientemente significativa para mudar ou influenciar a decisão

de uma pessoa informada, é porque é material. Não mudando ou influenciando, a distorção é geralmente considerada

como não material. A materialidade que possa constituir a melhor estimativa de limite acima do qual as demonstrações

estariam em geral materialmente distorcidas, é a “materialidade para as demonstrações financeiras como um todo.” Para

efeitos deste Guia, este termo foi abreviado para “materialidade global.”

Como se percebe, e resulta do referido nas normas, esse limite na realidade não existe (a materialidade de uma distorção

é apreciada à luz das circunstâncias e depende da natureza e dimensão). No entanto, é essencial para o planeamento da

auditoria que consiga ser estimada uma quantia acima da qual as distorções são consideradas relevantes.

A materialidade aplica-se não apenas a quantias nas demonstrações financeiras, mas também a divulgações não

quantitativas. Por exemplo, a descrição dos eventos ou circunstâncias que deram origem ao reconhecimento de uma

Conteúdo – Materialidade ISA

relevante

Aplicar o conceito de materialidade de forma apropriada durante o planeamento e execução da auditoria. Determinação e uso da materialidade.

320 450

Determinar:• Materialidade para as

demonstrações financeiras como um todo

• Materialidade de execução.

Planear que procedimentos de avaliação do risco efetuar.

Identificar e avaliar os riscos de distorção material

Ava

liaçã

o d

o r

isco

Determinar a natureza, oportunidade e extensão de procedimentos adicionais de auditoria.

Rever a materialidade em resultado de mudanças de circunstâncias durante a auditoria.

Re

spo

sta

ao

ris

co

Avaliar o efeito de distorções não corrigidasFormar a opinião do relatório do auditor

Re

lato

Uso da Materialidade na Auditoria

ISA relevante

Parágrafos

320 8-11

78

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

perda por imparidade pode ser material para os utilizadores das demonstrações financeiras.

Nota: A determinação da “materialidade para as demonstrações financeiras como um todo” (“materialidade global” para efeitos deste Guia) não é baseada em qualquer avaliação do risco de auditoria. Ela é determinada em relação aos utilizadores das demonstrações financeiras.

Vamos assumir que a decisão de um grupo de utilizadores das demonstrações financeiras é influenciada por uma distorção

que atinge, em geral, uma quantia de 10.000Є nas demonstrações financeiras. Esta seria a materialidade para as

demonstrações financeiras como um todo (ou materialidade global). Qualquer distorção individual ou agregação de

distorções individuais que exceda a quantia de 10.000Є resultará, em geral, numa distorção material das demonstrações

financeiras.

A responsabilidade do auditor é reduzir para um nível aceitavelmente baixo a probabilidade que o agregado de distorções

não corrigidas e não detetadas nas demonstrações financeiras exceder a materialidade para as demonstrações financeiras

como um todo. Se o auditor apenas planeia executar procedimentos de auditoria que identifiquem distorções individuais

que excedam 10.000Є, há o risco de o valor agregado de distorções não materiais não identificadas durante a auditoria

exceder o limite de 10.000Є de materialidade. O auditor precisa, portanto, de executar trabalho adicional que seja

suficiente para permitir uma margem ou folga para possíveis distorções não detetadas. O objetivo da materialidade de

execução é proporcionar essa folga.

A materialidade de execução permite ao auditor estabelecer quantias de materialidade (baseadas na materialidade global,

mas mais baixas) que reflitam a avaliação de risco para as diversas áreas das demonstrações financeira. Estas quantias

mais baixas proporcionam uma folga de segurança entre a materialidade de execução usada para determinar a natureza e

extensão dos procedimentos de auditoria a serem executados e a materialidade global.

No exemplo acima, o auditor, utilizando julgamento profissional, pode decidir que uma materialidade de execução de

6.000Є será utilizada na determinação da extensão dos procedimentos de auditoria a executar. A folga de 4.000Є (10.000Є

– 6.000Є) entre a materialidade de execução e a materialidade global proporciona uma margem de segurança para

distorções não detetadas que porventura existam.

5.4.2 Utilizadores das demonstrações financeiras

A materialidade é usada tanto na preparação como na auditoria das demonstrações financeiras. A materialidade para as

demonstrações financeiras como um todo (materialidade global) é frequentemente explicada (tal como nas normas de

relato financeiro) em termos tais como os incluídos no Quadro seguinte.

Quadro 5.4-1

Influência na tomada de decisões

As distorções, incluindo omissões, são consideradas materiais se, individualmente ou em termos agregados, pode razoavelmente ser esperado que influenciem as decisões económicas de utilizadores tomadas com base nas demonstrações financeiras.

Circunstâncias envolventes

Julgamentos sobre a materialidade são feitos em função das circunstâncias envolventes, e são afetados pela dimensão e natureza da distorção ou pela combinação de ambas.

Necessidades comuns dos utilizadores

Julgamentos sobre assuntos que são materiais para os utilizadores das demonstrações financeiras são baseados na consideração das necessidades de informação financeira dos utilizadores como um grupo. O possível efeito de distorções em utilizadores individuais específicos, cujas necessidades podem variar muito, não é considerado.

79

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

O auditor determina a materialidade baseado na sua perceção das necessidades dos utilizadores. Ao aplicar o seu

julgamento profissional é razoável assumir que os utilizadores das demonstrações financeiras:

• Têm um conhecimento razoável do negócio, atividades económicas, contabilidade, e estão dispostos a estudar

a informação contida nas demonstrações financeiras com diligência razoável;

• Compreendem que as demonstrações financeiras são preparadas e auditadas tendo em consideração níveis de

materialidade;

• Reconhecem as incertezas inerentes à mensuração de quantias baseadas no uso de estimativas, julgamento, e

consideração de acontecimentos futuros; e

• Tomam decisões económicas razoáveis com base na informação das demonstrações financeiras.

5.4.3 Natureza das distorções

As distorções podem surgir de um conjunto de causas e podem ter como base o seguinte:

• Dimensão – a quantia monetária envolvida (quantitativa);

• Natureza do item (qualitativa); e

• Circunstâncias envolventes à ocorrência.

Imagem 5.4-2

Quadro 5.4-2

Distorções típicas • Erros e fraudes identificados na preparação das DF;

• Desvios das normas contabilísticas aplicáveis;

• Erros e fraudes cometidas pelos empregados ou pelo órgão de gestão;

• Preparação de estimativas incorretas ou inapropriadas; ou

• Descrições inapropriadas ou incorretas de políticas contabilísticas ou de divulgações.

Dimensão das distorções

(Quantitativa e qualitativa)

As distorções

são materiais

A decisão seria alterada ou

afetada

A decisão não seria alterada ou

afetada

As distorções

são imateriais

Informações sobre o assunto

Utilizador razoável

Limite da materialidade

80

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

A materialidade não é um número absoluto. Representa uma área cinzenta entre o que muito provavelmente não é material e o que muito provavelmente é material. Consequentemente, a avaliação do que é material é sempre uma questão de julgamento profissional.

Nota: Há um requisito para acumular as distorções encontradas durante a auditoria, a não ser que estas sejam

claramente triviais. “Claramente trivial” não é o mesmo que “não material”. Assuntos triviais são claramente

inconsequentes, quer quando considerados individualmente quer quando agregados, e independentemente de

serem julgados quanto à sua dimensão, natureza ou circunstâncias.

Fatores qualitativos

Nalgumas situações, um assunto bem abaixo do nível quantitativo da materialidade pode ser determinado como material

com base na natureza do item ou das circunstâncias relacionadas com a distorção.

Quando considera se as distorções em divulgações qualitativas podem ser materiais, o auditor pode considerar fatores

relevantes tais como:

Quadro 5.4-3

Fator Exemplos

Natureza das transações durante o período

Algumas transações com partes relacionadas podem ser muito significativas para um

utilizador das demonstrações financeiras.

Diversas pequenas distorções

Uma série de itens individualmente imateriais pode tornar-se material após agregação.

Circunstâncias da entidade

Por exemplo:

• Uma concentração de atividades empresariais ou desinvestimento significativo durante o período;

• Covenants quando a entidade se encontra em dificuldades financeiras;

• Acontecimentos ou circunstâncias que levaram ao reconhecimento de uma perda por imparidade.

Referencial de relato financeiro aplicável

Uma nova norma de relato financeiro pode exigir novas divulgações qualitativas

significativas para a entidade.

Natureza da entidade

Algumas divulgações resultantes da natureza da entidade podem ser importantes para os

utilizadores das demonstrações financeiras. Por exemplo, as divulgações do risco de

liquidez nas demonstrações financeiras de uma instituição financeira.

81

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

5.4.4 Materialidade e risco de auditoria

A materialidade (depois de determinada tal como indicado acima) passa a relacionar-se com o risco de auditoria. A

materialidade e o risco são considerados conjuntamente durante o processo de auditoria.

O risco de auditoria é a possibilidade de o auditor expressar uma opinião de auditoria inapropriada sobre demonstrações

financeiras que estão materialmente distorcidas.

Quadro 5.4-4

Componentes do Risco de Auditoria

Riscos de Distorção Material (RDM)

O risco de as demonstrações financeiras estarem materialmente distorcidas antes do início do trabalho de auditoria. Estes riscos são considerados ao nível das demonstrações financeiras (frequentemente riscos globais, afetando muitas asserções) e ao nível da asserção, que é relativa a classes de transações, saldos de contas, e divulgações. O RDM é uma combinação do risco inerente (RI) e do risco de controlo (RC), que pode ser resumido como RI x RC = RDM.

Risco de deteção O risco de o auditor não detetar uma distorção que existe numa asserção que possa ser material. O risco de deteção (RD) é determinado através de:

• Um bom planeamento da auditoria;

• Execução de procedimentos de auditoria que respondem aos riscos de distorção material identificados;

• Afetação apropriada do pessoal de auditoria;

• Aplicação de ceticismo profissional; e

• Supervisão e revisão do trabalho de auditoria executado.

O risco de deteção nunca pode ser reduzido a zero, devido às limitações inerentes aos procedimentos de auditoria executados, ao julgamento humano (profissional) exigido, e à natureza da prova examinada.

O risco de auditoria (RA) pode ser apresentado como:

RA = RDM x RD

A materialidade e o risco de auditoria são considerados durante a auditoria:

• Na identificação e avaliação de riscos de distorção material;

• Na determinação da natureza, oportunidade e extensão de procedimentos de auditoria adicionais;

• Na determinação da revisão da materialidade (global e de execução) após obtenção de informação durante a

auditoria, que teria ocasionado uma quantia (ou quantias) diferentes se o auditor tivesse conhecimento dessa

informação inicialmente; e

• Na avaliação do efeito das distorções não corrigidas, se algumas, nas demonstrações financeiras e na formação

da opinião do auditor.

82

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

5.4.5 Determinar os níveis de materialidade

Imagem 5.4-3

Nota: Os termos materialidade “global” e materialidade “específica” utilizados na Imagem acima e no texto abaixo são utilizados para efeitos deste Guia e não são termos utilizados nas ISA. A materialidade global refere-se à materialidade para as demonstrações financeiras como um todo e a materialidade específica refere-se à materialidade para classes de transações particulares, saldos de contas, ou divulgações.

As decisões do auditor relacionadas com a materialidade são a base para a avaliação do risco e determinação da extensão

dos procedimentos de auditoria necessários.

No início da auditoria, o auditor efetua um julgamento sobre a dimensão e natureza das distorções que devem ser

consideradas materiais. Isto inclui estabelecer as quantias de materialidade tais como descritas no Quadro seguinte.

Estabelecer quantias de materialidade

Quadro 5.4-5

Materialidade

global

A materialidade global refere-se às demonstrações financeiras como um todo. Baseia-se no que pode razoavelmente ser esperado que influencie as decisões económicas dos utilizadores das demonstrações financeiras, tomadas com base na informação aí incluída. Pode ser alterada durante a auditoria se o auditor toma conhecimento de informação que teria provocado que tivesse determinado uma quantia diferente para a materialidade, caso tivesse tido conhecimento inicial dessa informação.

ISA relevante

Parágrafos

320 8-14

450 3,6

1.Determinar a

materialidade com base nos utilizadores

das DF

€ 0 € yy€ xx

2.Determinar a

materialidade de execução baseado no

risco de auditoria

€ 0 € yy€ xx

Materialidade para as demonstrações financeiras como um todo (global)Quantia a partir da qual as distorções podem influenciar as decisões dos utilizadores das DF

Materialidade específicaQuantias mais baixas do que a materialidade global a partir das quais as distorções de determinadas rubricas das DF podem influenciar as decisões de determinados utilizadores

Materialidade de execução para as demonstrações financeiras como um todo

margem de segurança para distorções não

identificadas

Materialidade de execução específica

margem de segurança

83

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

Materialidade

Global (cont.)

A materialidade global é baseada nas necessidades comuns dos vários utilizadores das demonstrações financeiras como um grupo. Consequentemente, o possível efeito em utilizadores individuais específicos, cujas necessidades podem variar de forma significativa, não é tomado em consideração.

Materialidade de execução global

A materialidade de execução é estabelecida por uma quantia mais baixa do que a materialidade global. A materialidade de execução permite que o auditor responda a avaliação de riscos específicos (sem mudar a materialidade global), e reduz a um nível adequadamente baixo a probabilidade de o agregado das distorções não corrigidas e não detetadas exceder a materialidade global. A materialidade de execução será alterada conforme os resultados da auditoria (tais como a revisão sobre a avaliação de risco).

Materialidade específica

A materialidade específica é estabelecida para classes de transações, saldos de contas, ou divulgações em que poderia ser razoavelmente esperado que distorções de quantias mais baixas que o valor da materialidade global influenciassem decisões económicas de utilizadores, tomadas com base nas demonstrações financeiras.

Pode estar relacionada com áreas sensíveis como por exemplo uma divulgação particular (por exemplo, remuneração do órgão de gestão, dados específicos da indústria), cumprimento de legislação ou determinados termos de um contrato, ou transações nas quais se baseiam bónus).

Materialidade de execução específica

A materialidade de execução específica segue o mesmo conceito que a materialidade de execução, exceto o facto de ser estabelecida em relação à materialidade específica e não à materialidade global.

Materialidade para as demonstrações financeiras como um todo

A materialidade para as demonstrações financeiras como um todo (materialidade global) é baseada na perceção do

auditor sobre as necessidades de informação financeira dos utilizadores das demonstrações financeiras. Utilizando

julgamento profissional, a auditoria estabelece a materialidade pelo valor mais alto de distorções que provavelmente não

influenciam as decisões económicas dos utilizadores das demonstrações financeiras.

Uma vez estabelecida, a quantia de materialidade global torna-se um dos fatores pelos quais o sucesso ou falha da

auditoria será julgado. Por exemplo, assumindo que a materialidade global foi estabelecida em 20.000Є. Se, em resultado

da execução de procedimentos de auditoria:

• Não foram identificadas distorções — será emitida uma opinião não modificada.

• Foram identificadas pequenas distorções (imateriais), mas não corrigidas — será emitida provavelmente uma

opinião não modificada.

• Foram encontradas distorções não corrigidas excedendo a materialidade (de 20.000Є) e o órgão de gestão não

fez os ajustamentos necessários — será emitida provavelmente uma opinião com reservas ou uma opinião

adversa. Caso contrário, será necessário documentar por que razão a opinião não foi modificada.

• Existem erros não corrigidos excedendo a materialidade (de 20.000Є) mas não foram detetados pela auditoria

— será então emitida uma opinião de auditoria não modificada, mas provavelmente está inapropriada.

Os auditores são por vezes tentados a baixar a quantia da materialidade global quando o risco de distorção material é

avaliado como alto. Isto não será, no entanto, apropriado, uma vez que a materialidade global está relacionada com as

necessidades dos utilizadores das demonstrações financeiras, não com o nível de risco de auditoria envolvido.

84

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

Se o risco de auditoria fosse tido em consideração ao estabelecer a materialidade global, uma auditoria de alto risco teria

uma materialidade global mais baixa do que a de uma entidade de dimensão semelhante com risco de auditoria baixo.

Assumindo que as necessidades de informação dos utilizadores das demonstrações financeiras são as mesmas,

estabelecer uma quantia mais baixa para a materialidade global pode resultar em:

• Proporcionar uma expectativa aos utilizadores das demonstrações financeiras que distorções mais baixas (do

que é na realidade necessário) nas demonstrações financeiras serão identificadas pela auditoria; e

• Trabalho de auditoria adicional para assegurar que o risco de auditoria foi reduzido a um nível

apropriadamente baixo.

Uma vez que a materialidade global é estabelecida em relação às necessidades dos utilizadores das demonstrações

financeiras, não se altera em função dos resultados da auditoria e de mudanças na avaliação dos riscos. A materialidade

global precisa de ser atualizada quando o auditor toma conhecimento de informação que faria com que a determinação

inicial da materialidade fosse uma quantia (ou quantias) diferente.

Na conclusão da auditoria, a materialidade global será usada para avaliar o efeito das distorções identificadas nas

demonstrações financeiras e a adequação da opinião no relatório de auditoria.

O ponto de partida para a materialidade global passa geralmente pela aplicação de uma percentagem sobre um indicador

de referência escolhido.

A natureza do indicador de referência e a percentagem a aplicar são baseados no julgamento profissional. Por exemplo,

numa entidade com um sócio-gerente em que o sócio obtém grande parte do resultado antes de impostos sob a forma de

remuneração, um indicador de referência tal como o resultado antes de remunerações e impostos poderá ser mais

relevante.

Quadro 5.4-6

Considerar

Identificação do indicador de referência adequado

Utilizadores

Determinar quem são os utilizadores das demonstrações financeiras mais prováveis.

Incluirá os proprietários da entidade (e outros acionistas) e os encarregados da governação,

instituições financeiras, outros financiadores, empregados, clientes, credores e agências e

departamentos governamentais.

85

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

Considerar

Expectativas específicas dos utilizadores

Identificar quaisquer expectativas específicas dos utilizadores conforme segue:

• Mensuração ou divulgação de itens tal como transações com partes relacionadas, remuneração do órgão de gestão, e cumprimento de leis e regulamentos sensíveis;

• Divulgações específicas da indústria tal como custos de exploração numa entidade mineira e custos de pesquisa numa entidade farmacêutica;

• Acontecimentos significativos ou contingências. Isto pode incluir divulgação de acontecimentos como investimentos, desinvestimentos, reestruturações ou quantias significativas relativas a litígios contra a entidade; e

• Existência de covenants em acordos de financiamento, em especial aqueles em que a entidade está muito próxima de incumprimento. Se a existência de um pequeno erro não corrigido der origem a que o covenant seja violado, este facto pode ter um efeito significativo nas demonstrações financeiras e poderá, na pior das hipóteses, afetar o uso apropriado do pressuposto da continuidade na preparação das demonstrações financeiras.

Elementos das demonstrações financeiras relevantes

Quais são os principais elementos das demonstrações financeiras de interesse para os

utilizadores (ex. resultados, ativos, passivos, capital próprio, rédito e gastos)?

Natureza da entidade

Considerar a natureza da entidade, onde a entidade se situa no seu ciclo de vida

(crescimento, maturidade, declínio, etc.), e o ambiente económico e da indústria em que a

entidade opera.

Necessidade de ajustamentos

São necessários ajustamentos para “normalizar” a base do indicador de referência antes de

efetuar o cálculo da materialidade? Por exemplo, rendimentos de operações em

continuação podem ser ajustados por:

• Itens de rédito/gastos não usuais ou não recorrentes; e

• Itens tal como bónus do órgão de gestão, os quais podem ser baseados nos resultados antes dos bónus ou simplesmente pagos para reduzir o resultado da entidade.

Principal foco dos utilizadores

Qual a informação nos itens das demonstrações financeiras que atrai a atenção dos

utilizadores? Por exemplo, os utilizadores interessados:

• Em avaliar o desempenho financeiro dirigirão a sua atenção para lucros, réditos ou ativos líquidos; e

• Nos recursos utilizados para atingir determinados objetivos ou fins irão dirigir a sua atenção para a natureza e dimensão do rédito e gastos.

Financiamento

Como é que a entidade é financiada? Se for financiada apenas por dívida (em vez de capital

próprio), os utilizadores podem dar mais atenção aos ativos dados como garantia e

reclamações do que aos resultados da entidade.

86

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

Considerar

Volatilidade

Quão volátil é o indicador de referência? Por exemplo, um indicador de referência baseado

nos resultados pode geralmente ser apropriado, mas se a entidade estiver a operar próximo

do break-even em cada período (tal como lucros ou prejuízos reduzidos) ou os seus

resultados flutuarem significativamente, esse indicador pode não ser uma base apropriada

para determinar a materialidade.

Alternativas

É necessário um indicador de referência alternativo para abordar uma circunstância

específica? Os indicadores de referência podem incluir ativo corrente, ativo circulante, ativo

total, rendimentos totais, lucro bruto, capital próprio e fluxos de caixa das atividades

operacionais.

Materialidade de execução

A materialidade de execução é uma ferramenta de auditoria. Ela permite ao auditor abordar os riscos de distorção em

saldos de contas, classes de transações, e divulgações sem ter que mudar a materialidade global.

Enquanto que a materialidade global e a materialidade específica são determinadas em relação aos utilizadores das

demonstrações financeiras, a materialidade de execução é definida numa quantia inferior.

As quantias estabelecidas para a materialidade de execução são sempre inferiores (baseado no julgamento profissional) à

materialidade definida para as demonstrações financeiras como um todo. Esta(s) quantia(s) inferior(es) estabelece(m)

assim uma margem de segurança entre a materialidade utilizada para determinar a natureza e extensão dos testes

(baseada na materialidade de execução) e a materialidade para as demonstrações financeiras como um todo

(materialidade global).

Estabelecer uma quantia adequada para a materialidade de execução assegura que é executada a quantidade adequada

de procedimentos. Quanto mais baixa a quantia, mais trabalho será executado. Por exemplo, se a materialidade global for

20.000Є e os procedimentos de auditoria forem planeados para detetar todos os erros que excedam 20.000Є, é possível

não detetar um erro de, digamos, 8.000Є. Se existissem três desses erros, totalizando 24.000Є, as demonstrações

financeiras estariam materialmente distorcidas. No entanto, se a materialidade de execução fosse estabelecida a 12.000Є,

seria muito mais provável que pelo menos um desses erros de 8.000Є fosse detetado. Mesmo que só um desses erros

fosse identificado e corrigido, a distorção restante de 16.000Є seria inferior à materialidade global, e as demonstrações

financeiras como um todo não estariam materialmente distorcidas.

Estabelecer uma quantia apropriada para a materialidade de execução implica o exercício de julgamento profissional -

baseado em fatores de risco específico identificados, conhecimento da entidade e quaisquer situações identificadas em

auditorias anteriores - e não é um simples cálculo mecânico tal como uma percentagem (por exemplo, 75%) da

materialidade global. No entanto, com base nas circunstâncias particulares da entidade a ser auditada, pode ser

estabelecida como uma quantia única para as demonstrações financeiras como um todo, ou como quantias específicas

para alguns saldos, transações e divulgações. Por exemplo, se tiver sido identificado um risco alto de erros na valorização

dos inventários, a materialidade de execução pode ser reduzida por forma a ser executado trabalho adicional para

identificar a extensão das distorções. Pelo contrário, se o risco de distorção material no saldo de contas a receber for

avaliado como baixo, a materialidade de execução pode ser aumentada, resultando em menos trabalho substantivo sobre

o referido saldo.

87

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

A determinação da materialidade de execução envolve o exercício de julgamento profissional baseado nos fatores que

abordam o risco de auditoria, tais como os seguintes:

• Compreensão da entidade e resultados dos procedimentos de avaliação de risco;

• Natureza e extensão das distorções identificadas em auditorias anteriores; e

• Expectativas de distorções possíveis no período corrente.

A materialidade de execução como um todo ou para saldos, transações, e divulgações individuais, pode ser alterada

durante a auditoria (sem impacto na materialidade global) para refletir revisões na avaliação de risco, resultados da

auditoria, e nova informação obtida.

Na conclusão da auditoria, a materialidade global será usada para ajudar a avaliar o efeito das distorções identificadas nas

demonstrações financeiras e ajudar a decidir qual a opinião a ser expressa no relatório de auditoria (ver Capítulo 7.3 para

orientações adicionais).

Materialidade específica

Há algumas situações em que há uma expectativa razoável de que as decisões económicas dos utilizadores das

demonstrações financeiras sejam influenciadas por distorções de quantias abaixo da materialidade para as demonstrações

financeiras como um todo.

Quadro 5.4-7

Influências na decisão Exemplos possíveis

Leis, regulamentos, e requisitos contabilísticos

• Divulgações sensíveis nas demonstrações financeiras tais como a remuneração do órgão de gestão e dos encarregados da governação.

• Transações com partes relacionadas.

• Não conformidade com condições contratuais, compromissos contratuais, disposições regulamentares e requisitos de reporte estatutário/regulamentar.

• Alguns tipos de gastos tais como pagamentos ilegais ou despesas de executivos.

Divulgações chave da indústria

• Custos de exploração e reservas para uma entidade mineira.

• Custos de Investigação e desenvolvimento para uma entidade farmacêutica.

Divulgação de acontecimentos significativos e alterações importantes nas operações

• Negócios recentemente adquiridos ou expansão das operações.

• Operações descontinuadas.

• Acontecimentos não usuais ou contingências (por exemplo, processos judiciais).

• Introdução de novos produtos ou serviços.

O auditor considera a existência de assuntos tais como os acima descritos para uma ou mais classes de transações, saldos

de contas, ou divulgações particulares. O auditor também pode considerar útil obter compreensão sobre as opiniões e

Quando é identificada uma possível distorção, considerar as circunstâncias de ocorrência e o impacto na

avaliação do risco/plano de auditoria antes de reconsiderar a materialidade de execução.

88

GUIA DE APLICAÇÃO DAS ISA – CONCEITOS FUNDAMENTAIS E ORIENTAÇÃO PRÁTICA

5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

expectativas do órgão de gestão e dos encarregados da governação.

Da mesma forma que a materialidade de execução é definida numa quantia inferior à da materialidade global, a quantia

da materialidade de execução específica será determinada pelo auditor numa quantia inferior à materialidade específica.

5.4.6 Distorções em divulgações qualitativas

Quando avalia se as distorções em divulgações qualitativas são materiais, o auditor deve identificar fatores relevantes tais

como:

• As circunstâncias da entidade no período.

• O referencial de relato financeiro aplicável incluindo quaisquer alterações ocorridas.

• Divulgações qualitativas que são importantes para os utilizadores das demonstrações financeiras devido à natureza da entidade (por exemplo, cumprimento com covenants de financiamentos).

As distorções nas divulgações também são acumuladas para ajudar o auditor na avaliação dos efeitos de tais distorções

nas divulgações relevantes das demonstrações financeiras como um todo.

5.4.7 Distorções triviais

Pode ser definida uma quantia abaixo da qual as distorções são consideradas claramente triviais e não necessitam ser

acumuladas. “Claramente trivial” não é outra expressão para “não material”.

As distorções que são claramente triviais serão claramente inconsequentes, quer seja individualmente ou em agregado

quer julgadas em termos de qualquer critério de dimensão, natureza ou circunstâncias.

As distorções nas divulgações também podem ser claramente triviais seja consideradas individualmente ou agregadas,

quer julgadas em termos de qualquer critério de dimensão, natureza ou circunstâncias.

Não reduzir a materialidade global baseado em riscos de auditoria elevados

Evitar o erro de reduzir a materialidade global devido à avaliação do risco de auditoria como alto. A materialidade global é baseada nas necessidades de informação dos utilizadores, e não de quão arriscado pode ser a auditoria de um saldo em particular. Reduzir a materialidade global implica que:

• A decisão de um utilizador das demonstrações financeiras é afetada pelo risco de auditoria e não pela informação incluída nas demonstrações financeiras; e

• Irá ser executado trabalho adicional para assegurar que não existem distorções nas demonstrações financeiras que, individualmente ou de forma agregada, excedam a quantia da materialidade global.

A abordagem mais adequada é abordar o risco de auditoria através da definição da materialidade de execução para a classe de transação ou saldo de conta num nível mais baixo. Isto irá assegurar que será executado trabalho suficiente para detetar distorções, sem ter que reduzir o nível da materialidade global. Também cria uma margem de segurança para distorções não identificadas durante a execução do trabalho.

Primeiro o auditor deve estabelecer a materialidade global com referência aos utilizadores das demonstrações financeiras e depois estabelecer a materialidade de execução para o objetivo de conceber procedimentos adicionais de auditoria.

Divulgações, saldos e situações sensíveis nas demonstrações financeiras

Utilizar materialidade de execução específica para conceber procedimentos adicionais de auditoria para abordar riscos e saldos específicos em áreas de auditoria sensíveis.

89

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

5.4.8 Quadro síntese dos níveis de materialidade e sua utilização

Os níveis de materialidade e utilização da materialidade de execução encontram-se sintetizados no Quadro abaixo.

Quadro 5.4-8

Global Específica Execução

Objetivo Estabelecer a quantia para ajudar a determinar se as demonstrações financeiras estão isentas de distorções materiais, devido a erro ou fraude.

Estabelecer uma quantia ou quantias (inferior à materialidade global) a aplicar a uma classe de transações, saldos de contas ou divulgações particulares em que se pode esperar que uma distorção inferior à materialidade para as demonstrações financeiras como um todo influencie as decisões económicas dos utilizadores.

Estabelecer uma quantia ou quantias (inferior à materialidade global ou materialidade específica) que assegure que são identificadas distorções inferiores à materialidade global ou específica, e proporcionar uma margem de segurança ao auditor.

Base de cálculo

Qual o nível de distorção nas demonstrações financeiras que seria tolerável pelos utilizadores (isto é, não iria afetar as decisões económicas tomadas pelos utilizadores)?

Qual o nível de distorção relacionada com circunstâncias especiais de uma classe de transação, saldo de conta ou divulgações que seria expectável que influenciasse as decisões económicas dos utilizadores?

Qual a quantidade de trabalho de auditoria que será necessário para:

• Identificar distorções abaixo da materialidade global ou específica; e

• Deixar uma margem de segurança suficiente para distorções não detetadas?

Orientação A materialidade é uma matéria de julgamento profissional e não um mero exercício matemático. Consequentemente, as ISA não proporcionam orientações adicionais.

Determinar uma quantia mais baixa (baseada no julgamento profissional) para a auditoria de áreas das demonstrações financeiras específicas ou sensíveis.

As ISA não proporcionam orientações específicas.

Uso na auditoria

Determinar se as distorções não corrigidas, individualmente ou em termos agregados, excedem a materialidade global.

Determinar se as distorções não corrigidas, individualmente ou em termos agregados, excedem a materialidade específica.

• Avaliar os riscos de distorção material; e

• Conceber procedimentos de auditoria adicionais para responder aos riscos avaliados.

90

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

Global Específica Execução

Revisão à medida que a auditoria progride

• Uma alteração nas circunstâncias que ocorreu durante a auditoria, por exemplo, uma alienação de uma parte do negócio;

• Nova informação; ou

• Uma alteração no conhecimento da entidade e as suas operações como resultado da execução de procedimentos de auditoria adicionais (por exemplo: os resultados operacionais reais divergem significativamente dos esperados).

Uma alteração nas

circunstâncias específicas. • Alterações nos riscos

avaliados;

• Natureza e extensão de distorções detetadas aquando da execução de procedimentos de auditoria adicionais; ou

• Alteração no conhecimento da entidade.

Não obstante as ISA não proporcionarem orientações específicas relativamente à percentagem a aplicar ao indicador de

referência adequado, verifica-se a nível internacional a existência de algumas orientações relativamente a esta matéria,

salvaguardando, em todas elas, que se trata de orientações que podem ajudar o auditor e não se traduzem em regras a

aplicar em todas e quaisquer circunstâncias.

Assim, a título de exemplo, o resultado de operações em continuidade (3% a 7%) é muitas vezes usado como tendo uma

importância maior para os utilizadores das demonstrações financeiras. Caso este não seja um indicador relevante (por

exemplo, para entidades sem fins lucrativos ou em que o lucro não é uma base estável), podem ser consideradas as

seguintes percentagens:

- Rendimentos ou gastos: 1 a 3%

- Ativos: 1 a 3%;

- Capital próprio: 3 a 5%

5.4.9 Materialidade no planeamento e na avaliação do risco

Determinar os vários níveis de materialidade é uma componente chave do processo de planeamento, não sendo este um

ato isolado, mas antes um processo contínuo e iterativo. O Quadro seguinte sintetiza o uso da materialidade no

planeamento e avaliação do risco.

91

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

Quadro 5.4-9

Materialidade

Planeamento (Estratégia global e plano de auditoria)

Usar a materialidade para:

• Determinar as áreas das DF que necessitam ser auditadas.

• Definir o contexto da estratégia global de auditoria.

• Planear a natureza, oportunidade e extensão de procedimentos de auditoria específicos.

• Determinar a materialidade específica para classes de transações, saldos de contas ou divulgações particulares onde se pode razoavelmente esperar que distorções inferiores à materialidade global possam influenciar as decisões económicas dos utilizadores.

• Determinar a materialidade de execução para cada nível de materialidade específica, uma vez que pode ser necessário que o auditor use o nível de materialidade de execução para uma classe de transações, saldo de conta ou divulgação particular, dependendo do nível de risco associado a esse item.

• Avaliar prova mais recente para determinar a necessidade de quaisquer ajustamentos a qualquer nível de materialidade. Caso seja necessário, o auditor deverá rever a natureza, oportunidade e extensão dos procedimentos em conformidade.

Procedimentos de avaliação do risco

• Identificar os procedimentos de avaliação do risco necessários.

• Avaliar a magnitude (impacto) dos riscos identificados.

• Ter em consideração os níveis de materialidade aquando da avaliação da informação obtida.

• Avaliar os resultados dos procedimentos de avaliação do risco.

Reuniões da equipa • Assegurar que os membros da equipa compreendem os utilizadores identificados e o que pode razoavelmente esperar-se que altere as suas decisões económicas. Isto pode ajudar no caso de um membro da equipa tomar conhecimento de informação durante a auditoria que teria originado uma quantia diferente na materialidade quando inicialmente determinada. Exemplos de tais situações incluem:

– Uma decisão de alienar uma grande parte do negócio da entidade,

– Nova informação ou fatores de risco que teriam afetado a determinação inicial da materialidade, e

– Uma alteração no conhecimento da entidade e do seu negócio como resultado de procedimentos de auditoria adicionais, por exemplo, quando o resultado real é muito diferente do resultado antecipado.

• Estabelecer a estratégia global de auditoria.

• Determinar a extensão dos testes em relação a:

– Materialidade de execução, e

– Materialidade de execução específica.

• Identificar questões de auditoria críticas e áreas chave de auditoria.

92

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

5.4.10 Materialidade na execução de procedimentos de auditoria

Os auditores devem considerar a materialidade quando determinam a natureza, oportunidade e extensão dos

procedimentos de auditoria, conforme apresentado no Quadro seguinte.

Quadro 5.4-10

Materialidade

Execução de procedimentos de auditoria

Usar a materialidade de execução quantitativa para:

• Identificar os procedimentos de auditoria adicionais necessários.

• Determinar os itens a selecionar para teste e se devem ser usadas técnicas de amostragem.

• Apoiar na determinação da dimensão das amostras (exemplo: intervalo de amostragem = precisão (materialidade de execução) ÷ fator de confiança).

• Avaliar a representatividade dos erros da amostra através da extrapolação para a população.

• Avaliar o agregado dos erros totais ao nível da conta e ao nível das demonstrações financeiras.

• Avaliar o agregado dos erros totais, incluindo o efeito líquido das distorções não corrigidas no saldo de abertura dos resultados retidos.

• Avaliar os resultados dos procedimentos.

Usar a materialidade qualitativa para:

• Identificar as divulgações que tenham aspetos qualitativos e que possam ser relevantes quando se avaliam os riscos de distorção material. Pode incluir divulgações sobre:

– Liquidez e covenants de dívida de uma entidade em dificuldades financeiras.

– Acontecimentos ou circunstâncias que levem ao reconhecimento de uma perda por imparidade.

– Fontes de incerteza de estimação, incluindo pressupostos sobre o futuro.

– Natureza de uma alteração de política contabilística e outras divulgações relevantes que se espera tenham um impacto significativo na posição financeira e desempenho da entidade.

– Partes relacionadas e transações com partes relacionadas.

– Análises de sensibilidade, incluindo os efeitos de alterações nos pressupostos utilizados em técnicas de avaliação.

– Incerteza sobre uma quantia registada ou divulgada.

Nota: A estratégia global de auditoria e o plano de auditoria necessitam ser revistos quando:

• A natureza das distorções identificadas e as circunstâncias da sua ocorrência indicam que podem existir outras distorções que, quando agregadas com as distorções acumuladas durante a auditoria, podem ser materiais; ou

• O agregado das distorções acumuladas durante a auditoria se aproxima da materialidade.

93

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

5.4.11 Materialidade no relato

Antes de emitir uma opinião, o auditor deve:

• Confirmar a materialidade para as demonstrações financeiras como um todo;

• Avaliar a natureza e o agregado das distorções identificadas não corrigidas; e

• Efetuar uma avaliação global sobre se as demonstrações financeiras estão

materialmente distorcidas.

Quadro 5.4-11

Materialidade

Relato O auditor deve usar a materialidade para:

• Avaliar o agregado dos erros totais ao nível da conta e ao nível das demonstrações financeiras.

• Avaliar o agregado dos erros totais, incluindo o efeito líquido das distorções não corrigidas no saldo de abertura dos resultados acumulados.

• Quando o agregado das distorções se aproximar da materialidade global ou da materialidade específica, determinar se devem ser executados procedimentos de auditoria adicionais.

• Solicitar ao órgão de gestão a correção de todas as distorções identificadas.

• Considerar rever as áreas com maiores distorções.

• Efetuar julgamentos acerca da natureza e sensibilidade das distorções identificadas, assim como a sua dimensão.

• Determinar se o relatório de auditoria necessita ser modificado devido a distorções materiais não corrigidas.

O agregado das distorções é constituído por:

• Distorções especificas identificadas pelo auditor resultantes dos testes de auditoria; e

• Uma estimativa de outras distorções identificadas que não podem ser especificamente quantificadas de outra

forma.

O auditor solicita depois ao órgão de gestão que registe todas as distorções identificadas.

Para mais orientações relativas à avaliação das distorções, ver Capítulo 7.3.

5.4.12 Outras considerações

As outras considerações incluem:

• Comunicar com o órgão de gestão e com os encarregados da governação;

• Atualizar a materialidade; e

• Reduzir o nível de materialidade face ao período anterior.

Comunicar com o órgão de gestão e com os encarregados da governação

O órgão de gestão e os encarregados da governação necessitam compreender as limitações relativas ao grau de precisão

que se pode esperar de uma auditoria. Também necessitam ter conhecimento de que não é economicamente viável

ISA relevante

Parágrafos

320 11-12

94

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

conceber procedimentos de auditoria que proporcionem garantia absoluta de que as demonstrações financeiras não estão

materialmente distorcidas. Uma auditoria apenas pode proporcionar garantia razoável a este respeito.

Quando, no decurso da auditoria, o auditor identificar distorções, o primeiro passo é solicitar ao órgão de gestão a

correção de todas as distorções não corrigidas. Se o órgão de gestão decidir não corrigir determinadas distorções, o

auditor deve comunicar o seguinte aos encarregados da governação:

• Detalhes das distorções não corrigidas e o efeito, individual ou agregado, que estas têm na opinião no relatório

de auditoria;

• Distorções individualmente materiais não corrigidas; e

• O efeito de distorções não corrigidas relativas a períodos anteriores nas classes de transações, saldos de contas

ou divulgações relevantes, e nas demonstrações financeiras como um todo.

Atualizar a materialidade

No início do trabalho, o auditor determina a materialidade global em relação aos

utilizadores das demonstrações financeiras e a materialidade de execução por forma a

planear a natureza e extensão dos procedimentos de auditoria.

Durante o trabalho, pode ser obtida nova informação que, se conhecida anteriormente,

teria dado origem a uma quantia diferente da materialidade global. Tal pode resultar de situações tais como:

• Decisão de alienar ou adquirir um negócio significativo;

• Resultados reais significativamente diferentes dos resultados antecipados para o final do período, incluindo

rentabilidade, rédito, gastos, ativos e passivos; e

• Alteração da compreensão da entidade e das suas operações como consequência da execução de procedimentos

de auditoria adicionais.

Quando é obtida nova informação, o auditor deve considerar a revisão da materialidade global. O auditor deve também

considerar a necessidade de rever a materialidade de execução e o impacto da alteração na natureza e extensão dos

procedimentos necessários para obter prova de auditoria suficiente e apropriada.

Reduzir o nível de materialidade face ao período anterior

Quando ocorre uma alteração nas circunstâncias face ao período anterior, o auditor deve considerar o efeito de qualquer

distorção nos saldos iniciais de qualquer componente do capital próprio. Por exemplo, quando as vendas e o rendimento

são substancialmente inferiores ao do período anterior, pode ser necessário definir uma materialidade mais baixa. Podem

existir erros nos saldos de abertura, dado que a auditoria foi anteriormente executada usando um nível de materialidade

superior. Para reduzir o risco de ocorrer um erro material nos saldos de abertura do capital próprio, o auditor deve

executar procedimentos de auditoria adicionais nos saldos de abertura dos ativos e passivos.

5.4.13 Documentação da materialidade

Uma vez que as quantias de materialidade são baseadas no julgamento profissional do

auditor, é importante que os fatores e quantias envolvidos na determinação da

materialidade aos vários níveis estejam documentados adequadamente. Isto geralmente

ocorre da seguinte forma:

• Na fase de planeamento, quando são tomadas decisões sobre o volume de trabalho necessário.

ISA relevante

Parágrafos

320 14

ISA relevante

Parágrafos

320 12-13

95

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.4. Materialidade

• Durante a auditoria, quando, baseado nos resultados da auditoria, podem ser necessárias revisões à

materialidade global ou à materialidade específica para classes de transações, saldos de contas, ou divulgações

particulares, e respetivas materialidades de execução.

A documentação abordará:

• Os utilizadores das demonstrações financeiras; e

• Os fatores utilizados ao determinar:

– O nível de materialidade para as demonstrações financeiras como um todo e, se aplicável, o nível ou níveis de

materialidade para classes de transações, saldos de contas, ou divulgações particulares;

– O nível ou níveis de materialidade de execução; e

– Qualquer revisão das quantias de materialidade referidas no ponto anterior à medida que a auditoria

progride.

5.4.14 Exemplo – Avaliação da Materialidade

De seguida apresenta-se um exemplo de documentação relativamente à avaliação da materialidade

Os principais utilizadores das demonstrações financeiras são os bancos e os acionistas. A quantia da materialidade

usada no ano anterior foi de 80.000€.

Ver o PT Refª XX relativamente a quantias de materialidade baseadas nos resultados de operações continuadas, bem

como no rédito. Aplicando o nosso julgamento profissional, decidimos basear a materialidade em 5% do resultado

antes de impostos ajustado de 700.000€ de bónus de gestão. Foram também consideradas outras bases para o

cálculo, tal com o rédito, mas entendemos que o resultado antes de impostos é a quantia mais apropriada tendo em

conta os utilizadores das demonstrações financeiras.

Para o exercício corrente, a expectativa é usar a quantia de 100.000€ como materialidade global. O conceito de

materialidade e sua utilização na auditoria foi discutido em termos gerais com o órgão de gestão.

Aplicando o julgamento profissional e a tendo em conta natureza das distorções identificadas em anos anteriores, a

materialidade de execução foi estabelecida em 75.000€

Foi estabelecida uma materialidade específica de 13.000€ relativamente a transações com partes relacionadas dada

a existência de minoritários que são particularmente sensíveis a distorções nestas transações.

Também temos de considerar possíveis distorções nas divulgações das demonstrações financeiras (tanto

quantitativas como qualitativas) se se esperar que tais divulgações possam influenciar as decisões económicas dos

utilizadores das demonstrações financeiras.

A quantia estabelecida para distorções insignificantes foi de 2.500€.

Preparado por: Data:

Revisto por: Data:

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

5.5.1 Enquadramento

O controlo interno refere-se aos processos, políticas e procedimentos concebidos pelo

órgão de gestão para garantir a fiabilidade do relato financeiro e a preparação de

demonstrações financeiras de acordo com o referencial de relato financeiro aplicável.

O controlo interno é concebido, implementado e mantido pelos encarregados da

governação e pelo órgão de gestão para tratar riscos de negócio e de fraude que ameacem a obtenção dos objetivos, tais

como a fiabilidade do relato financeiro.

Exige-se ao auditor que compreenda como é que a entidade aborda cada um dos cinco componentes do controlo interno

relacionados com uma auditoria de demonstrações financeiras. Estes componentes estão descritos no presente Capítulo e

nos parágrafos 4(c), 14-24 e A76-A117 da ISA 315 (Revista). O Apêndice 1 da ISA 315 (Revista) também inclui explicações

adicionais para cada um destes componentes.

Esta compreensão do controlo interno é necessária para determinar o risco de controlo. A compreensão é necessária

independentemente de qualquer decisão do auditor para testar tais controlos como parte da estratégia de auditoria.

Nota: Apenas necessitam ser identificados, documentados e avaliados os controlos internos relevantes para a auditoria.

Um controlo relevante é aquele que aborda um risco de distorção das demonstrações financeiras.

5.5.2 Objetivos do controlo interno

O controlo interno é a resposta do órgão de gestão para mitigar um risco identificado ou atingir um objetivo de controlo.

Há uma relação direta entre os objetivos de uma entidade e o controlo interno que implementa para os assegurar. Depois

dos objetivos definidos, é possível identificar e avaliar acontecimentos potenciais (riscos) que prejudiquem esses objetivos.

Com base nessa informação, o órgão de gestão pode desenvolver respostas adequadas, as quais incluem a conceção do

controlo interno.

Os objetivos do controlo interno podem ser agrupados em quatro categorias:

• Metas estratégicas que suportam a missão da entidade;

• Relato financeiro (controlo interno sobre o relato financeiro);

• Operações (controlos operacionais); e

• Conformidade com leis e regulamentos.

O controlo interno relevante para a auditoria é principalmente o relacionado com o relato financeiro. Este refere-se ao

objetivo da entidade de preparar demonstrações financeiras para fins externos.

Controlos operacionais, por exemplo, produção e turnos de trabalho, controlo de qualidade e conformidade dos

empregados com requisitos de saúde e segurança, não são normalmente relevantes para a auditoria, exceto quando:

• A informação produzida é utilizada num procedimento analítico; ou

Conteúdo – Controlo interno: propósito e componentes ISA

relevante

Dar uma visão geral do objetivo, âmbito e natureza do controlo interno sobre o relato financeiro,

incluindo os cinco componentes que devem ser avaliados pelo auditor.

315 (Revista)

ISA relevante

Parágrafos

315R 4(c), 12-13

Guide to Using International Standards on Auditing in the Audits of Small- and Medium-Sized Entities Volume 2 —Practical Guidance

98

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

• A informação é necessária para divulgação nas demonstrações financeiras.

Por exemplo, se são utilizadas estatísticas de produção como uma base para procedimentos analíticos, os controlos que

asseguram a correção dessa informação são relevantes. Se o incumprimento de algumas leis e regulamentos tem um

efeito direto e material nas demonstrações financeiras, os controlos para detetar e relatar esses incumprimentos serão

relevantes.

Imagem 5.5-1

A primeira barra na Imagem representa os riscos de negócio e de fraude que podem levar a que as demonstrações

financeiras estejam materialmente distorcidas (antes de considerar o controlo interno). A segunda barra reflete os

procedimentos de controlo concebidos e implementados pelo órgão de gestão para mitigar os riscos identificados. A área

em que a segunda barra não mitiga completamente os riscos identificados é frequentemente designada como o risco

residual do órgão de gestão.

Idealmente, o órgão de gestão concebe controlos suficientes para assegurar que o risco residual é reduzido para um nível

aceitavelmente baixo tanto para efeitos internos de gestão, como para efeitos da auditoria externa. Na prática alguns

gestores tendem a possuir uma elevada tolerância ao risco (isto é, menos controlos, resultando num maior risco residual) e

outros gestores tendem a ser mais conservadores e conceber controlos para reduzir o risco a um nível praticamente nulo.

Componentes do controlo interno

Identificar riscos de negócio/fraude que impedem que o objetivo seja atingido

Resposta do órgão de gestão:Controlos internos que mitiguem os riscos identificados

Exposição ao risco de fraude e erro AltoBaixo

Preparar demonstrações financeiras que não estejam materialmente distorcidas

Objetivo da Entidade

Risco residual do órgão de

gestão

O objetivo único de um controlo é mitigar risco. Um controlo sem um risco para mitigar é obviamente não relevante. Deste modo, tem que existir um risco antes de ser mitigado por um controlo do órgão de gestão. Contudo, alguns auditores ignoram este facto. Começam a avaliação do controlo interno através da documentação do sistema e controlos existentes antes de dedicar tempo a identificar quais os riscos que realmente necessitam ser mitigados. Esta abordagem pode resultar em muito trabalho desnecessário a documentar processos e controlos, que mais tarde pode revelar-se totalmente irrelevante para os objetivos da auditoria.

99

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

Objetivos do relato

financeiro

O termo “controlo interno”, tal como utilizado na ISA 315 (Revista), é mais vasto que atividades de controlo, tais como,

segregação de funções, autorizações e reconciliações de contas. O controlo interno abrange cinco componentes chave:

• O ambiente de controlo;

• O processo de avaliação do risco pela entidade;

• O sistema de informação, incluindo os processos de negócios relacionados, relevantes para o relato financeiro

e para comunicação;

• Atividades de controlo relevantes para a auditoria; e

• Monitorização do controlo interno.

A relação destes componentes com os objetivos de relato financeiro da entidade está ilustrada abaixo.

Os cinco componentes do controlo interno

Imagem 5.5-2

A divisão do controlo interno nestes cinco componentes proporciona um enquadramento útil para que os auditores

compreendam os seus diferentes aspetos. Deve, no entanto, ser notado o seguinte:

• A forma como o sistema de controlo interno está concebido e implementado varia consoante a dimensão e

complexidade da entidade. Entidades mais pequenas normalmente usam processos e procedimentos menos

formais e mais simples para atingir os objetivos. Os cinco componentes do controlo interno podem não ser tão

claramente distintos, no entanto, os seus fins subjacentes são igualmente válidos. Por exemplo, um sócio-

gerente pode (e na ausência de outro pessoal, deve) executar funções pertencentes a vários componentes do

controlo interno.

• Podem ser usadas terminologia e referências diferentes das utilizadas na ISA 315 (Revista) para descrever os

vários aspetos do controlo interno e o seu efeito na auditoria, mas todos devem ser tratados na auditoria.

• A principal consideração por parte do auditor é se, e como, um controlo específico previne, ou deteta e corrige,

distorções materiais em classes de transações, saldos de contas, ou divulgações.

Apresenta-se em seguida um sumário dos cinco componentes do controlo interno.

Guide to Using International Standards on Auditing in the Audits of Small- and Medium-Sized Entities Volume 2 —Practical Guidance

100

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

5.5.3 O ambiente de controlo

O ambiente de controlo é a base para um controlo interno eficaz, proporcionando disciplina

e estrutura para a entidade. Estabelece o tom da organização, influenciando a consciência e

sensibilização das pessoas para o controlo.

O ambiente de controlo dirige-se às funções de governo societário e de gestão. Trata

também das atitudes, consciência e ações dos encarregados da governação e do órgão de gestão relativamente ao

controlo interno e à sua importância dentro da entidade.

Nota: Os controlos relativos ao ambiente de controlo são geralmente de natureza abrangente. Não se destinam a

prevenir, ou detetar e corrigir, uma distorção material de forma direta. Em vez disso, constituem um alicerce

importante sobre o qual serão construídos os restantes controlos.

A Imagem 5.5-3 apresenta os vários elementos do ambiente de controlo que devem ser considerados. De notar que a

importância e a ordem (prioridade) destes elementos variam de entidade para entidade.

Imagem 5.5-3

Os controlos do ambiente de controlo irão influenciar a avaliação do auditor sobre a eficácia de outras atividades de

controlo específicas que se destinem a áreas específicas, tais como, transações de compras e vendas. Por exemplo, se o

órgão de gestão tem uma atitude negativa em relação ao controlo em geral, isto enfraquece a eficácia de outros controlos

mesmo que bem concebidos.

A avaliação do auditor da conceção do ambiente de controlo da entidade inclui os elementos abaixo descritos.

Comunicação dos valores da entidade e compromisso com

a competência

Políticas e procedimentos de recursos humanos

ISA relevante

Parágrafos

315R 14

101

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

Quadro 5.5-1

Elementos chave a abordar

Descrição

Comunicação e imposição de valores éticos incluindo a integridade

Integridade e outros valores éticos são elementos essenciais (de base), que influenciam a eficácia da conceção, gestão e monitorização dos outros controlos.

Compromisso para a competência

A consideração pelo órgão de gestão dos níveis de competência para trabalhos específicos e os conhecimentos e capacidades exigidas para esses níveis.

Participação dos encarregados da governação

Atributos dos encarregados da governação, tais como:

• A sua independência do órgão de gestão;

• A sua experiência e capacidade;

• A extensão do seu envolvimento, a informação que recebem e o escrutínio das atividades; e

• A pertinência das suas ações, incluindo a medida em que são colocadas perguntas difíceis ao órgão de gestão e a sua interação com auditores internos e externos.

Filosofia e estilo operacional do órgão de gestão

A abordagem do órgão de gestão para assumir e gerir riscos de negócio, bem como as suas atitudes e ações relativamente ao relato financeiro, processamento de informação, contabilidade e pessoal.

Estrutura organizacional

O enquadramento de como as atividades da entidade para prossecução dos objetivos são planeadas, executadas, controladas e revistas.

Atribuição de autoridade e responsabilidade

Como é que são atribuídas as funções de autorização e responsabilização para as atividades operacionais, e como é que os esquemas de relato e as hierarquias de autorização são estabelecidas.

Políticas e práticas de recursos humanos

Recrutamento, orientação, formação, avaliação, aconselhamento, promoções, compensação, e medidas corretivas.

Os controlos acima apresentados são gerais para toda a entidade e são frequentemente mais difíceis de avaliar do que as

atividades de controlo tradicionais (tais como a segregação de funções). O auditor precisa, portanto, de exercer

julgamento profissional na sua avaliação.

Os pontos fortes do ambiente de controlo podem compensar ou mesmo substituir controlos de transações fracos em

algumas situações. No entanto, as deficiências do ambiente de controlo podem enfraquecer e mesmo anular uma boa

conceção em outros componentes de controlo interno. Por exemplo, se não existir uma cultura de honestidade e

comportamento ético, um auditor terá de considerar cuidadosamente que tipo de procedimentos (adicionais) de auditoria

serão eficazes na identificação de distorções materiais nas demonstrações financeiras. Nalguns casos, o auditor pode

concluir que o controlo interno tem tantas deficiências que a sua única opção é renunciar ao trabalho.

O ambiente de controlo em PME

O ambiente de controlo em pequenas entidades é diferente do de grandes entidades, mas é igualmente importante. Isto é

particularmente verdade quando a entidade não tem pessoal ou outros recursos para implementar atividades de controlo

tradicionais como, por exemplo, a segregação de funções.

Em pequenas entidades o envolvimento ativo de um sócio-gerente competente (um ponto forte do ambiente de controlo)

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102

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

pode muito bem reduzir a necessidade de outras atividades de controlo. Consequentemente, os pontos fortes do

ambiente de controlo podem servir para indiretamente prevenir ou detetar e corrigir alguns tipos de distorções. Por

exemplo, quando o sócio-gerente revê e aprova transações individuais antes de completadas, pode estar a prevenir ou a

detetar e corrigir um erro ou fraude. No entanto, este ponto forte não mitiga outros riscos tais como a derrogação dos

controlos pelo órgão de gestão.

Estas entidades têm tipicamente menos documentação disponível para suportar os controlos do ambiente de controlo.

Assim, as atitudes, consciência e ações do órgão de gestão determinam a base para avaliar a conceção e implementação

do controlo. Por exemplo, grandes entidades podem disponibilizar um código de conduta aos seus colaboradores, com

indicação de comportamentos aceitáveis e consequências em caso de violação. Em pequenas entidades podem ser

comunicados valores e comportamentos aceitáveis através de comunicação verbal e pelo exemplo do órgão de gestão.

Quando não há documentação de suporte para um controlo, o auditor prepara um memorando para o dossier. Por

exemplo, relativamente à comunicação e cumprimento de integridade e valores éticos, um auditor pode:

• Identificar os valores da entidade, comportamentos aceitáveis, e ações de implementação através de

discussões com o órgão de gestão. Isto está relacionado com a conceção do controlo.

• Perguntar a um ou dois empregados o que pensam que são os valores da entidade e os comportamentos

aceitáveis e as ações de implementação. Estas entrevistas destinam-se a determinar se os valores e os

comportamentos considerados adequados foram comunicados e assegurados. Isto está relacionado com a

implementação do controlo.

Em pequenas entidades, algumas das áreas chave a considerar na avaliação do ambiente de controlo estão resumidas no

Quadro abaixo.

Quadro 5.5-2

Elemento de controlo Questão chave Controlos possíveis

Comunicação e imposição de valores éticos incluindo a integridade

Que ações do órgão de gestão se destinam a eliminar ou mitigar incentivos ou tentações que possam levar o pessoal a efetuar ou participar em atos desonestos, ilegais ou não éticos?

• Demonstração contínua por parte do órgão de gestão, através de palavras e atos, de um compromisso com elevados padrões éticos.

• O órgão de gestão remove ou reduz incentivos ou tentações que possa levar o pessoal a efetuar ou participar em atos desonestos ou ilegais.

• Existe um código de conduta ou equivalente que explicita os padrões éticos e comportamento moral.

• Os empregados compreendem claramente que comportamento é aceitável ou não, e sabem o que fazer quando se deparam com comportamentos não adequados.

• São tomadas ações corretivas quando necessário.

103

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

Elemento de controlo Questão chave Controlos possíveis

Compromisso para a competência

O pessoal tem os conhecimentos e capacidades necessárias para executar as suas tarefas?

• O órgão de gestão toma as medidas necessárias para assegurar que o pessoal tem os conhecimentos e competências necessários para o seu trabalho.

• Existem descrições de funções e são usadas de maneira efetiva.

• O órgão de gestão proporciona ao pessoal acesso a formação em matérias relevantes.

• Há uma correspondência inicial e contínua das capacidades do pessoal com a sua descrição de funções.

Participação dos encarregados da governação (EG)

(outros para além do órgão de gestão que é EG)

A governação (caso exista) sobre as operações da entidade é eficaz?

• A maioria dos EG são independentes do órgão de gestão.

• Os EG têm experiência adequada, capacidade e competência financeira.

• Os assuntos significativos e resultados financeiros são comunicados aos EG atempadamente.

• Os EG efetuam supervisão eficaz sobre as atividades do órgão de gestão. Isto inclui fazer perguntas difíceis e obter resposta.

• Os EG reúnem numa base regular, e as atas das reuniões são preparadas e vistas atempadamente.

Filosofia e estilo operacional do órgão de gestão

Quais são as atitudes do órgão de gestão relativamente ao relato financeiro?

• O órgão de gestão demonstra atuar por ações e ter uma atitude positiva em relação a:

– Controlo interno eficaz sobre relato financeiro (incluindo resposta ao risco de derrogação dos controlos pelo órgão de gestão e outras fraudes)

– Seleção e aplicação de políticas contabilísticas adequadas,

– Controlos sobre o processamento da informação, e

– O tratamento do pessoal da contabilidade.

• O órgão de gestão estabeleceu procedimentos para prevenir o acesso não autorizado ou a destruição de ativos, documentos e registos.

• O órgão de gestão analisa os riscos do negócio e toma as decisões apropriadas.

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104

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

Elemento de controlo Questão chave Controlos possíveis

Estrutura

organizacional

Foi estabelecida uma estrutura organizacional relevante?

• A estrutura organizacional é apropriada para facilitar a obtenção dos objetivos da entidade, funções operacionais e requisitos regulamentares.

• O órgão de gestão compreende claramente a sua responsabilidade e autoridade para as atividades de negócio, e possui a experiência exigida e níveis de conhecimento adequado para executar a sua função.

• A estrutura de entidade facilita o fluxo de informação fiável e atempada para as pessoas apropriadas pelo planeamento e controlo das atividades.

• Funções incompatíveis são segregadas na medida do possível.

Atribuição de autoridade e responsabilidade

As áreas chave de autoridade e responsabilidade foram atribuídas adequadamente?

• Há políticas e procedimentos para autorização e aprovação das transações.

• Existem canais de relato e de responsabilização apropriadas (em relação à dimensão da entidade e à natureza das suas atividades).

• As descrições de funções incluem responsabilidades relativas a controlos.

Políticas e práticas de recursos humanos

Que normas existem para garantir que:

São recrutadas pessoas honestas e competentes?

É proporcionada formação para assegurar que as pessoas executam bem o seu trabalho?

As promoções dependem do desempenho e sua avaliação?

• O órgão de gestão estabelece/aplica normas para recrutar os indivíduos mais qualificados.

• As práticas de recrutamento incluem entrevistas, verificação de antecedentes, e comunicação de valores, comportamentos esperados e estilo operacional da gestão.

• O desempenho no trabalho é avaliado periodicamente, os resultados revistos com cada empregado, e são tomadas ações apropriadas.

• As políticas de formação dirigem-se a cargos e responsabilidades potenciais, a níveis esperados de execução, e evolução das necessidades.

105

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

5.5.4 Avaliação do risco

A avaliação do risco é o segundo dos cinco componentes do controlo interno. Um processo

de avaliação do risco eficazmente implementado e mantido pelo órgão de gestão

proporciona a informação necessária para determinar que riscos de negócio/fraude devem

ser geridos, e que ações tomar (se algumas). O órgão de gestão pode iniciar programas ou

ações destinados a cobrir riscos específicos, ou pode decidir aceitar um risco devido a

considerações de custo ou outras.

Se o processo de avaliação de risco pela entidade for apropriado às circunstâncias, isso ajudará o auditor a identificar riscos

de distorção material. O processo de avaliação de risco geralmente trata as seguintes questões:

• Mudanças no ambiente operacional;

• Novo pessoal sénior;

• Sistemas de informação novos ou reformulados;

• Crescimento rápido;

• Novas tecnologias;

• Novos modelos de negócio, produtos ou atividades;

• Reestruturação societária (incluindo desinvestimentos e aquisições);

• Expansão de operações no estrangeiro; e

• Novas políticas contabilísticas.

Em pequenas entidades onde é pouco provável que exista um processo de avaliação de risco formal, o auditor discute com

o órgão de gestão como é que os riscos de negócio são identificados e como são tratados.

O auditor deve considerar como é que o órgão de gestão:

• Identifica riscos relevantes para o relato financeiro;

• Estima a importância dos riscos;

• Avalia a possibilidade da sua ocorrência; e

• Decide sobre as ações para os gerir.

O auditor também deve avaliar se a inexistência de um processo de avaliação do risco é apropriada nas circunstâncias, ou

determinar se representa uma deficiência significativa no controlo interno.

Se o auditor identifica riscos de distorção material que o órgão de gestão não identificou, deve questionar:

• Porque é que os processos do órgão de gestão falharam?

• Os processos são apropriados nas circunstâncias?

Se existe uma deficiência significativa no processo de avaliação de risco da entidade (ou se não há nenhum processo), tal

deve ser comunicado ao órgão de gestão e aos encarregados da governação.

Condições e acontecimentos que podem indiciar Riscos de Distorção Material

O Apêndice 2 da ISA 315 (Revista) contém uma lista muito útil de possíveis condições e acontecimentos que podem

indiciar a existência de riscos de distorção material.

ISA relevante

Parágrafos

315R 15-17

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5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

5.5.5 Sistema de informação e comunicação

O órgão de gestão (e os encarregados da governação) exigem informação fiável para:

• Gerir a entidade para efeitos de planeamento, orçamentação, monitorização,

desempenho, alocação de recursos, estabelecimento de preços e preparação

das demonstrações financeiras);

• Alcançar objetivos; e

• Identificar, avaliar e responder a fatores de riscos.

Isto exige que seja identificada, recolhida e comunicada/distribuída informação pertinente atempadamente ao pessoal (a

todos os níveis da entidade) que precisam dela para tomadas de decisão.

Um sistema de informação consiste numa infraestrutura (componentes física e de hardware), software, pessoas,

procedimentos e dados. Muitos sistemas de informação utilizam extensivamente tecnologia de informação (TI).

Identificam, recolhem, processam e distribuem informação para suportar a realização do relato financeiro e dos objetivos

de controlo interno.

Um sistema de informação relevante para os objetivos de relato financeiro inclui os processos de negócio da entidade e o

sistema contabilístico, tal como explicitado abaixo.

Quadro 5.5-3

Processos de negócio (vendas, compras, salários, etc.)

Processos de negócio são conjuntos de atividades estruturadas, concebidas para produzir um output específico. Resultam no registo, processamento e relato de transações pelo sistema de informação.

Sistema contabilístico

Inclui software de contabilidade, folhas de cálculo eletrónicas, outra informação relevante de outras fontes e as políticas e procedimentos utilizados para preparar demonstrações financeiras periódicas e anuais e respetivas divulgações.

Outros sistemas de informação

O apuramento de algumas quantias e a preparação de divulgações das demonstrações financeiras podem exigir o uso de informação que é obtida dentro ou fora do razão geral ou auxiliares.

ISA relevante

Parágrafos

315R 18-19

107

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

Fontes de informação

As demonstrações financeiras e divulgações podem conter informação que não é gerada pelo sistema de contabilidade

(razão geral) da entidade. Esta informação é geralmente obtida fora do razão geral e razões auxiliares e pode incluir

exemplos como:

Quadro 5.5-4

Natureza da informação

Exemplos

Acordos contratuais Pode ser divulgada nas demonstrações financeiras informação obtida da leitura de acordos de locação, tal como opções de renovação ou futuros pagamentos da locação.

Incumprimentos Indícios de incumprimento real ou suspeita de incumprimento de leis e regulamentos relevantes.

Informação de justo valor

Informação que pode ser produzida por peritos do órgão de gestão e divulgada nas demonstrações financeiras.

Avaliações do risco Informação divulgada nas demonstrações financeiras que é produzida pelo sistema de gestão do risco da entidade. Por exemplo, o referencial de relato financeiro pode exigir a divulgação de determinados assuntos relacionados com o sistema de gestão do risco da entidade.

Pressupostos e dados usados para preparar estimativas

Informação que foi obtida de modelos, ou de outros cálculos usados para desenvolver estimativas reconhecidas ou divulgadas nas demonstrações financeiras. Isto incluiria informação relacionada com os dados base e pressupostos usados nesses modelos, tais como:

• Pressupostos desenvolvidos internamente que podem afetar a vida útil de um ativo; ou

• Dados, como taxas de juro, que são afetados por fatores fora do controlo da entidade.

Análises de sensibilidade

Informação divulgada nas demonstrações financeiras sobre análises de sensibilidade derivada de modelos financeiros, as quais podem demonstrar que o órgão de gestão considerou pressupostos alternativos.

Declarações fiscais e registos similares

Informação reconhecida ou divulgada nas demonstrações financeiras obtidas das declarações fiscais e registos da entidade.

Informação sobre continuidade

Informação obtida de análises preparadas para suportar a avaliação do órgão de gestão relativa à capacidade da entidade para prosseguir em continuidade. Por exemplo, divulgações relacionadas com acontecimentos ou condições que tenham sido identificadas que coloquem dúvidas sobre a capacidade da entidade para prosseguir em continuidade.

A extensão do conhecimento exigido sobre o sistema de informação relacionado com o relato financeiro é uma questão de

julgamento profissional do auditor. Os fatores a considerar incluem:

• Fontes de informação usadas, tanto internas como externas;

• Fiabilidade dos relatórios financeiros usados nas tomadas de decisão;

• Registos contabilísticos subjacentes e informação de suporte;

• Como o sistema de informação captura acontecimentos e condições, que não transações, que são significativas

para as demonstrações financeiras;

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108

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5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

• O processo de relato financeiros incluindo a preparação de estimativas, controlos sobre registos de operações

diversas e controlos sobre a utilização de folhas de cálculo; e

• Comunicações entre o órgão de gestão ou os encarregados da governação e terceiros tais como bancos e

autoridades reguladoras.

Um sistema de informação tem procedimentos, políticas e registos (manuais e automáticos) concebidos para responder

aos assuntos indicados na Imagem seguinte.

Imagem 5.5-4

Em entidades de maior dimensão, o sistema de informação pode ser complexo, automático e altamente integrado. As

pequenas entidades geralmente utilizam aplicações de TI com integração manual ou independente.

Ao obter uma compreensão do sistema de informação (incluindo processos de negócio), o auditor aborda (para além da

Imagem acima):

• Processos de negócio; e

• Aspetos relevantes dos sistemas relacionados com a informação contida nas demonstrações financeiras

incluindo divulgações. Isto pode ser obtido dentro ou fora do razão geral e auxiliares.

• A extensão da compreensão exigida é uma matéria de julgamento profissional do auditor. As matérias a

considerar incluem:

• Atividades de controlo relacionadas com a informação contida nas demonstrações financeiras incluindo

divulgações. Contudo, não se exige que o auditor compreenda todas as atividades de controlo, apenas as que

são relevantes para o relato financeiro.

• Extensão do envolvimento ativo do órgão de gestão no relato financeiro. As pequenas entidades podem não

necessitar se descrições extensivas de procedimentos contabilísticos, registos contabilísticos sofisticados ou

políticas escritas.

• Extensão da informação, necessária para a auditoria e divulgações das demonstrações financeiras, que o órgão de

gestão obteve fora do razão geral e auxiliares.

Inputs Transações, acontecimentos e condições

Pro

cess

os

de

neg

óci

o

Inicializar, registar, processar e relatar transações (incluindo acontecimentos/condições) e manter responsabilidade (salvaguarda, classificação, mensuração, etc.) para ativos passivos e capital próprio relacionados

Resolver o processamento incorreto de transações

Processar e manter controlo sobre a derrogação do sistema ou de controlos

Sist

ema

s C

on

tab

ilíst

ico

s

Transferir informação de sistemas de processamento de transações para o razão geral

Capturar informação para outros acontecimentos/condições relevantes (depreciação de ativos, valorização de inventários, contas a receber, etc.)

Acumular, registar, processar, sumarizar e relatar apropriadamente outra informação que deva ser divulgada nas demonstrações financeiras

Usar lançamentos padronizados e outros para registar transações, estimativas e ajustamentos

Ou

tra

info

rmaç

ão Informação exigida para áreas e divulgações das demonstrações financeiras obtidas fora do razão geral e auxiliares. Isto incluiria:

- Declarações fiscais, relatórios da indústria, dados de taxa de juro, etc.

- Dados e pressupostos subjacentes usados no desenvolvimento de estimativas, análises de sensibilidade e avaliações de continuidade.

- Informação do justo valor produzida internamente ou por perito do órgão de gestão.

Outputs Demonstrações financeiras (incluindo divulgações)

109

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

O âmbito da compreensão exigida incluiria as situações descritas no Quadro seguinte.

Quadro 5.5-5

Identificação Questões

Fontes de informação utilizadas

Que classes de transações são significativas para as demonstrações financeiras? Como é que as transações são iniciadas nos processos de negócio? Que registos contabilísticos (eletrónicos ou manuais) existem?

Como é que o sistema contabilístico relevante para o relato financeiro recolhe acontecimentos e condições (para além de classes de transações) que são significativas para as demonstrações financeiras? Isto é particularmente importante quando a informação incluída nas demonstrações financeiras é obtida fora do razão geral e auxiliares.

Como é que a informação é recolhida e processada

Quais são os processos de relato financeiro usados para:

• Iniciar, registar, processar e relatar transações gerais e transações não padronizadas (tais como transações com partes relacionadas, etc.); e

• Preparar as demonstrações financeiras, incluindo estimativas contabilísticas significativas e divulgações?

Que procedimentos se destinam a identificar:

• Riscos de distorção material associados à derrogação inapropriada de controlos, incluindo o uso de lançamentos contabilísticos padronizados ou não;

• Derrogação ou suspensão de controlos automáticos; e

• Identificação de exceções e relato das ações tomadas para as remediar?

Como é que a informação produzida é utilizada

Como é que a entidade comunica as funções, as responsabilidades e os assuntos significativos relacionados com o relato financeiro?

Que relatórios são produzidos regularmente pelo sistema de informação, e como são usados para gerir a entidade?

Que informação é proporcionada pelo órgão de gestão aos encarregados da governação (se diferentes do órgão de gestão) e outros, por exemplo, autoridades reguladoras?

Comunicação

A comunicação é um componente chave de um sistema de informação bem-sucedido. Se a informação é para ser usada no

processo de tomada de decisão e para permitir o funcionamento do controlo interno, precisa de ser comunicada

atempadamente (tanto interna como externamente) às pessoas apropriadas.

A comunicação interna eficaz ajuda o pessoal da entidade a entender claramente os objetivos do controlo interno, os

processos de negócio em uso, e as suas funções e responsabilidades individuais. Também os ajuda a compreenderem a

medida em que as suas atividades se relacionam com o trabalho dos outros e a forma de relatar exceções para o nível mais

alto apropriado dentro da entidade.

A comunicação pode ser informal (verbal) ou formal (por exemplo, documentada em manuais de políticas e de relato

financeiro).

A comunicação interna entre o órgão de gestão e os empregados é geralmente mais fácil e menos formal nas entidades

mais pequenas, por existirem menos níveis e menor número de pessoas e haver uma maior presença e disponibilidade da

gestão sénior.

Uma comunicação externa eficaz assegura que os assuntos que afetem o alcance dos objetivos do relato financeiro são

Guide to Using International Standards on Auditing in the Audits of Small- and Medium-Sized Entities Volume 2 —Practical Guidance

110

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

comunicados a terceiros relevantes, tais como stakeholders chave, instituições financeiras, reguladores e outros.

Falta de documentação dos sistemas de TI

As pequenas entidades podem ter informação e sistemas de comunicação menos sofisticados e documentados. Se o órgão

de gestão não tem descrições de procedimentos contabilísticos, registos contabilísticos sofisticados ou diretrizes escritas, a

compreensão exigida ao auditor será obtida através de inquérito e observação em vez de ser através de revisão da

documentação.

5.5.6 Atividades de controlo

As atividades de controlo são as políticas e procedimentos que ajudam a assegurar que as

diretrizes do órgão de gestão são cumpridas. São exemplos, nomeadamente, os controlos

para assegurar que não são expedidas mercadorias para clientes com alto risco de crédito,

ou que apenas são feitas compras devidamente autorizadas. Estes controlos destinam-se a

cobrir riscos que, se não forem mitigados, ameaçam o cumprimento dos objetivos da

entidade.

As atividades de controlo (tanto em sistemas informáticos como em sistemas manuais) são concebidas para mitigar os

riscos envolvidos em atividades diárias tais como processamento de transações (processos de negócio tais como vendas,

compras e salários) e salvaguarda de ativos.

As atividades de controlo relevantes para a auditoria incluem controlos estabelecidos pelo órgão de gestão que abordam

as divulgações preparadas em conformidade com o referencial de relato financeiro aplicável –adicionalmente aos

controlos que abordam os riscos relacionados com saldos de contas e transações.

Os processos de negócio são conjuntos estruturados de atividades concebidas para produzir um output específico. Os

controlos de processos de negócio podem geralmente ser classificados como preventivos, de deteção e corretivos, ou

compensatórios ou de orientação, tal como sumarizado abaixo.

Quadro 5.5-6

Classificação dos controlos

Descrição

Controlos preventivos

Evitam erros ou irregularidades.

Controlos de deteção

Identificam erros ou irregularidades depois da sua ocorrência, originando uma ação corretiva.

Controlos compensatórios

Proporcionam alguma garantia nos casos em que recursos escassos não permitem controlos mais diretos.

Controlos de orientação

(p ex., políticas)

Guiam as ações na direção dos objetivos desejados.

ISA relevante

Parágrafos

315R 20-21

111

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

A natureza dos controlos dos processos de negócio varia com os riscos envolvidos e com a aplicação específica.

Os controlos típicos ao nível dos processos de negócio incluem os mencionados abaixo.

Quadro 5.5-7

Controlos Descrição Exemplos

Segregação de funções

Estes controlos podem reduzir as oportunidades para uma pessoa estar simultaneamente na posição de efetuar e esconder erros ou fraude.

O empregado responsável pelo

processamento das contas a receber não

tem acesso aos recebimentos por caixa.

Controlos de autorização

Definem quem tem a autoridade para aprovar transações e acontecimentos rotineiros ou não rotineiros

Atribuição de responsabilidade para

autorizar:

• Recrutamento de novos empregados;

• Efetuar investimentos;

• Encomendar bens e serviços; e

• Conceder crédito a clientes.

Reconciliações de contas

Inclui preparação e revisão atempada das reconciliações e a tomada de quaisquer ações corretivas que sejam necessárias.

Reconciliações bancárias, transações de

vendas, saldos intragrupo, contas de

regularização, etc.

Controlos de aplicação TI

Estes controlos estão programados nas aplicações

de TI tais como compras ou vendas. Incluem

controlos completamente automáticos e

semiautomáticos.

Testes à precisão aritmética dos registos e

a preços das faturas, testes à introdução

de dados, testes à sequência numérica, e

produção de relatórios de exceção para

revisão pelo órgão de gestão.

Revisão dos resultados reais

Estes controlos envolvem a revisão regular e a análise dos resultados reais em relação aos orçamentados, previsões e execução do período anterior. Também envolvem a comparação de diferentes conjuntos de dados (operacionais ou financeiros) um com o outro, e a comparação de dados internos com fontes externas de informação.

Devem ser investigadas variações não esperadas e aplicadas medidas corretivas.

Análise de resultados operacionais, comparação de resultados reais com os orçamentados, investigação de variações.

Controlos

físicos

Estes controlos são referentes à segurança física dos ativos e ao acesso permitido às instalações da entidade, registos contabilísticos, programas de computador e ficheiros de dados.

Estes controlos referem-se à segurança dos ativos (fechaduras nas portas e acesso restrito ao inventário/registos) e à comparação dos resultados de contagens periódicas de caixa, títulos e inventário com os registos contabilísticos.

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112

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

PME

As atividades de controlo são concebidas para prevenir diretamente a ocorrência de uma distorção material, ou para

detetar e corrigir um erro depois deste ocorrer. Em pequenas entidades, os conceitos subjacentes às atividades de

controlo são provavelmente semelhantes aos de grandes entidades, mas a sua relevância para o auditor pode variar

consideravelmente. Considerar o seguinte.

Quadro 5.5-8

Atividades de controlo em pequenas entidades

Comentários

Documentação informal e limitada

Muitos controlos podem operar informalmente e podem não estar bem documentados. Por exemplo, conceder crédito a um cliente pode ser mais dependente do julgamento e conhecimento do gestor do que de num limite de crédito pré-estabelecido.

Âmbito limitado As atividades de controlo (quando existam) são provavelmente relacionadas com as principais transações tais como rédito, compras e gastos com os empregados.

Os riscos podem ser mitigados pelo ambiente de controlo

Alguns tipos de atividades de controlo podem não ser relevantes por causa de controlos aplicados pelo órgão de gestão. Por exemplo, a aprovação pelo órgão de gestão de transações significativas pode proporcionar controlos sobre saldos de contas e transações importantes, diminuindo ou removendo a necessidade de atividades de controlo mais detalhadas. Algumas distorções nas transações (usualmente tratadas pelas atividades de controlo em grandes entidades) podem ser mitigadas por:

• Uma cultura organizacional que enfatize a importância do controlo;

• Empregar pessoal altamente competente;

• Monitorizar os rendimentos e os gastos comparando com o orçamento;

• Requerer aprovação do órgão de gestão para todas as transações principais;

• Monitorizar os indicadores chave de desempenho; e

• Atribuir responsabilidades ao pessoal de maneira a maximizar a segregação de funções.

Divulgações das demonstrações financeiras

Exige-se que o auditor compreenda o controlo interno do órgão de gestão relacionado com as divulgações das demonstrações financeiras. Contudo, as divulgações em pequenas entidades podem sem menos detalhadas e menos complexas (isto é, alguns referenciais de relato financeiro permitem às pequenas entidades que apresentem menos divulgações nas demonstrações financeiras).

As atividades de controlo relevantes para a auditoria, potencialmente mitigam os seguintes riscos:

• Riscos significativos

Riscos de distorção material identificados e avaliados que, no julgamento do auditor, requeiram especial atenção

na auditoria. (ver Capítulo 5.8)

• Riscos que não podem ser facilmente tratados através de procedimentos substantivos

São riscos de distorção material identificados e avaliados para os quais os procedimentos substantivos por si só não

proporcionam prova de auditoria suficiente e apropriada.

O julgamento do auditor sobre se uma atividade de controlo é relevante para a auditoria é influenciado por:

• Conhecimento sobre a presença ou ausência de atividades de controlo identificadas noutros componentes do

controlo interno. Se um risco particular já foi adequadamente tratado (pelo ambiente de controlo, sistema de

113

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

informação, etc.), não é necessário identificar controlos adicionais.

• A existência de múltiplas atividades de controlo que alcancem o mesmo objetivo. Não é necessário

compreender cada atividade de controlo relacionada com esse objetivo.

• Aumento na eficiência da auditoria que possa ser obtida através do teste à eficácia de alguns controlos chave.

Isto pode ocorrer quando:

– A obtenção de prova de auditoria através de um teste à eficácia operacional dos controlos pode ser

economicamente mais eficiente do que efetuar procedimentos substantivos. Os testes aos controlos

geralmente resultam em dimensões de amostras mais pequenas do que as de testes substantivos. Se os

controlos são automáticos, uma amostra de um item (assumindo bons controlos gerais de TI) pode ser tudo o

que é exigido. Adicionalmente, se o sistema de controlo e o pessoal envolvido não mudou desde o ano

passado, pode ser possível (nalgumas condições) limitar o teste de eficácia operacional dos controlos a uma

vez em cada três anos. (ver Capítulo 6.4)

– Os procedimentos substantivos por si só não proporcionam prova de auditoria suficiente e apropriada ao

nível da asserção. Por exemplo, a asserção sobre plenitude das vendas pode ser difícil (e por vezes impossível)

de provar apenas com procedimentos substantivos. Nestas situações, deve ser identificado o controlo interno

que se destine ao risco relacionado com a asserção em causa. Se se espera que o controlo interno funcione

eficazmente, a prova de auditoria necessária pode ser obtida através de um teste à eficácia operacional

desses controlos.

5.5.7 Compreender riscos e controlos de TI

A maior parte das entidades atualmente utiliza tecnologia de informação (TI) para gerir, controlar e relatar pelo menos

parte das suas atividades. As operações de TI são frequentemente geridas por um grupo de apoio central que assegura

que o pessoal tem acesso apropriado ao hardware, software, e às aplicações necessárias para desempenho das suas

responsabilidades. Em pequenas entidades, a gestão de TI pode ser responsabilidade de apenas uma pessoa, ou mesmo

uma pessoa em part-time ou subcontratada.

Independentemente da dimensão da entidade, há um número de fatores de risco relacionados com a gestão de TI e com

as aplicações, que, se não mitigados, podem resultar numa distorção material nas demonstrações financeiras.

Há dois tipos de controlos de TI que necessitam de trabalhar em conjunto para assegurar um processamento de

informação completo e preciso:

• Controlos gerais de TI

Estes controlos operam através de todas as aplicações e normalmente consistem numa mistura de controlos

automáticos (incorporados nos programas de computador) e controlos manuais (tais como o orçamento de TI e

contratos com fornecedores de serviços); e

• Controlos aplicacionais de TI

Estes controlos são controlos automáticos específicos às aplicações (tais como processamento de vendas ou

salários).

Há um terceiro tipo de controlo, que tem intervenção manual e de TI. Estes controlos podem ser chamados controlos

dependentes de TI. O controlo é efetuado manualmente, mas a sua eficácia baseia-se na informação produzida por uma

aplicação de TI. Por exemplo, o diretor financeiro pode rever as demonstrações financeiras mensais ou trimestrais

(geradas pelo sistema contabilístico) e investigar variações.

O Quadro seguinte resume o âmbito dos controlos gerais de TI.

Guide to Using International Standards on Auditing in the Audits of Small- and Medium-Sized Entities Volume 2 —Practical Guidance

114

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

Quadro 5.5-9

Controlos gerais de TI

Normas, planeamento, políticas, etc.

(O ambiente de controlo das TI)

• A estrutura de governação de TI.

• Como é que os riscos de TI são identificados, mitigados e geridos.

• O sistema de informação exigido, o plano estratégico (se existir) e o orçamento.

• Políticas, procedimentos e normas de TI.

• A estrutura organizacional e a segregação de funções.

• Planeamento de contingências.

Segurança sobre os dados, a infraestrutura de TI, e as operações diárias

• Aquisições, instalações, configurações, integração, e manutenção da infraestrutura de TI.

• Entrega de serviço de informação aos utilizadores.

• Gestão dos fornecedores de serviços externos.

• Uso do software do sistema, software de segurança, sistema de gestão de base de dados, e programas utilitários.

• Rastreamento de incidentes, registos de acesso ao sistema, e monitorização de funções.

Acesso a programas e a aplicações de dados

• Emissão/Remoção e segurança de chaves de acesso e identificação de utilizadores.

• Firewalls de Internet e controlos de acesso remoto.

• Encriptação de dados e chaves de encriptação.

• Contas de utilizadores e controlos de privilégios de acessos.

• Perfis de utilizadores que permitem ou restringem o acesso.

Desenvolvimento e alterações de programas

• Aquisição e implementação de aplicações novas.

• Desenvolvimento do sistema e metodologia de garantia de qualidade.

• Manutenção de aplicações existentes, incluindo controlos sobre alterações aos programas.

Monitorização de operações de TI

• Políticas, procedimentos, inspeções e relatórios de exceção que assegurem:

- Que os utilizadores da informação estão a receber dados corretos para as tomadas de decisão;

- Conformidade contínua com os controlos gerais de TI; e

- Que a TI está ao serviço das necessidades da entidade conforme com os requisitos do negócio.

Controlos aplicacionais de TI

Os controlos aplicacionais de TI são relativos a uma aplicação de software particular usada ao nível de processo de

negócio. Os controlos aplicacionais podem ter uma natureza preventiva ou de deteção, sendo concebidos para assegurar a

integridade dos registos contabilísticos.

Os controlos aplicacionais típicos referem-se a procedimentos usados para iniciar, registar, processar e reportar transações

ou outros dados financeiros. Estes controlos ajudam a assegurar que as transações ocorrem, são autorizadas, registadas e

processadas de maneira completa e exata. Exemplos incluem testes à introdução de dados com correção imediata e testes

de sequência numérica com emissão de relatórios de exceção para acompanhamento manual.

115

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

5.5.8 Monitorização

A monitorização avalia a eficácia do desempenho do controlo interno. O objetivo é assegurar que os controlos estão a

funcionar de maneira adequada e, em caso negativo, tomar as ações corretivas necessárias.

A monitorização proporciona feedback ao órgão de gestão sobre se o sistema de controlo interno:

• É eficaz na abordagem aos objetivos de controlo indicados;

• Está implementado adequadamente e é compreendido pelos empregados;

• É usado e cumprido numa base diária; e

• Necessita de modificações ou melhorias para refletir alterações em condições.

O órgão de gestão realiza a monitorização dos controlos através de atividades contínuas, avaliações separadas ou uma

combinação de ambas.

A monitorização contínua de atividades em pequenas entidades é informal, e geralmente está incluída nas atividades

normais e recorrentes da entidade. Isto inclui a gestão regular e a supervisão de atividades e a revisão de relatórios de

exceção que possam ser produzidos pelo sistema de informação. Quando o órgão de gestão está estreitamente envolvido

nas operações, identifica com frequência diferenças significativas face aos valores esperados e incorreções nos dados

financeiros, e toma medidas corretivas para modificar ou melhorar o controlo.

A monitorização periódica (avaliações separadas de áreas específicas dentro da entidade, tais como as efetuadas pela

função de auditoria interna numa entidade muito maior) não é comum em pequenas entidades. No entanto, as avaliações

periódicas de processos específicos podem ser feitas por empregados qualificados que não estejam diretamente

envolvidos nesses processos, ou através da contratação de uma pessoa externa devidamente qualificada.

A monitorização das atividades pelo órgão de gestão pode também incluir o uso de informação recebida de terceiros que

indiquem problemas ou evidenciem áreas a necessitar de melhorias. Exemplos podem incluir:

• Reclamações de clientes;

• Comentários de entidades reguladoras; e

• Comunicações relacionadas com o controlo interno dos auditores externos e consultores.

Fontes de informação usadas para a monitorização

Muita da informação usada na monitorização é produzida pelo sistema de informação da entidade. O órgão de gestão

pode assumir que esta informação está correta. Se não está, há o risco de o órgão de gestão concluir erradamente, e em

consequência tomar más decisões.

Tendo isto em atenção, quando o auditor avalia a monitorização dos controlos, é necessário compreender:

• As fontes de informação relativas às atividades de monitorização; e

• Porque é que o órgão de gestão considera que a informação é suficientemente fiável para este propósito.

ISA relevante

Parágrafos

315R 22,24

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116

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5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

5.5.9 Controlos manuais versus automáticos

Na maioria das entidades o sistema de controlo interno consiste numa combinação de controlos manuais e automáticos.

Os riscos e benefícios a eles associados estão apresentados no Quadro seguinte.

Quadro 5.5-10

Benefícios

Controlos manuais Controlos automáticos

• Usados para monitorizar a eficácia dos controlos automáticos.

• Adequados quando é necessário exercer julgamento sobre transações de valor elevado, ou fora do normal.

• Benéficos quando é difícil definir, antecipar ou prever os erros.

• A mudança de circunstâncias pode exigir uma resposta do controlo fora do âmbito de um controlo automático existente.

• Aplicam consistentemente regras de negócio pré-definidas e executam cálculos complexos no processamento de grandes volumes de transações ou dados.

• Melhora o cumprimento de prazos, a disponibilidade e exatidão da informação.

• Facilita análises adicionais de informação.

• Melhora a monitorização do desempenho das atividades da entidade e das suas políticas e procedimentos.

• Reduzem o risco de que o controlo interno seja contornado.

• Melhoram a capacidade de atingir uma segregação de funções eficaz através da implementação de restrições de acesso apropriado nas aplicações, bases de dados e sistemas operativos.

Riscos

Controlos manuais B Controlos automáticos

• Menos fiáveis que controlos automáticos, uma vez que são efetuados por pessoas.

• São mais facilmente ultrapassados, ignorados ou anulados.

• Sujeitos a erros simples.

• Não pode ser assumida a consistência de aplicação.

• São menos apropriados para grandes volumes ou para transações recorrentes, onde seriam mais eficientes controlos automáticos.

• São menos apropriados para atividades em que podem ser concebidas e implementadas formas específicas de executar o controlo.

• Pode ser depositada confiança em sistemas ou programas que estão a processar dados de maneira incorreta, a processar dados incorretos, ou ambos.

• Acesso não autorizado a dados pode resultar em destruição de informação ou em alterações incorretas, incluindo o registo de transações não autorizadas ou inexistentes, ou registo incorreto de transações (podem surgir riscos particulares quando há diversos utilizadores a usar a mesma base de dados).

• A possibilidade de que o pessoal de TI obtenha privilégios de acessos para além dos necessários para executar as suas funções, minando assim a segregação de funções.

• Mudanças não autorizadas aos dados dos ficheiros mestre e a sistemas e programas.

• Falha em efetuar as necessárias mudanças a sistemas ou programas.

• Intervenção manual inapropriada.

• Potencial perda de dados ou impossibilidade de acesso quando necessário.

117

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

5.5.10 Controlos gerais (abordam riscos ao nível das demonstrações financeiras)

Alguns dos controlos têm uma natureza abrangente e servem apenas indiretamente para

prevenir que ocorra uma distorção ou para detetar e corrigir a mesma após ocorrência.

Outros controlos são relativos a riscos de transações específicas (tais como salários, compras e vendas) e são concebidos

especificamente para prevenir, ou detetar e corrigir, distorções.

Os controlos internos podem ser categorizados como controlos gerais que abordam riscos globais ao nível das

demonstrações financeiras, e controlos específicos (transação) que abordam riscos específicos ao nível da asserção. As

diferenças entre estas duas categorias ilustram-se a seguir.

Imagem 5.5-5

ISA relevante

Parágrafos

315R 14(b)

Transações

Objetivos da entidadeDemonstrações financeiras

e asserções

Governação

Liderança / gestão

Sistemas de informação

ProcessosRédito

ProcessosCompras

ProcessosPessoal

ProcessosOutros

Esp

ecí

fico

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Ris

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ine

ren

tes

Ge

rais

Co

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los

Quando a entidade tem tanto controlos manuais como automáticos, identificar sempre quem é o responsável pelo funcionamento de cada controlo. Por exemplo, suponha um gerente do armazém que é responsável pela expedição dos produtos. Essa pessoa introduz manualmente os elementos num sistema de vendas que tem uma aplicação de controlo que compara a expedição com a encomenda. Se algo estiver errado, a responsabilidade é do gerente do armazém, do departamento de IT ou da contabilidade? A menos que uma pessoa tenha a responsabilidade por todo o processo, cada uma delas tentará imputar a responsabilidade a outros.

Quando essa responsabilidade não estiver definida, considerar:

• A probabilidade de poderem ocorrer distorções potenciais nas demonstrações financeiras e a sua grandeza;

• A resposta de auditoria apropriada; e

• Se o assunto deve ser comunicado ao órgão de gestão.

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118

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

Quadro 5.5-11

Descrição

Controlos gerais (ao nível da entidade)

Os controlos gerais (ao nível da entidade) abrangem a governação e gestão geral, e servem para estabelecer o ambiente de controlo global da entidade. Os processos de controlo típicos incluem recursos humanos, fraude, avaliação do risco (derrogação de controlos pelo órgão de gestão), gestão geral de TI, preparação das demonstrações financeiras (incluindo demonstrações financeiras e estimativas subjacentes, etc.) e uma monitorização contínua das operações. Em entidades mais pequenas, estes controlos referem-se principalmente às atitudes do órgão de gestão perante a integridade e o controlo.

Um conhecimento sólido dos elementos gerais do controlo interno fornece uma base importante para avaliar os controlos relevantes sobre o relato financeiro ao nível da transação (processo de negócio). Por exemplo, se os controlos sobre a integridade dos dados ao nível da entidade forem fracos, isto impactará na fiabilidade de toda a informação produzida pelos sistemas como as vendas, compras e pessoal.

Controlos específicos (transação)

Os controlos específicos (processos de negócio) são processos/controlos específicos que são concebidos para assegurar que:

As transações são registadas para a preparação das demonstrações financeiras de forma apropriada;

Os registos contabilísticos são mantidos com o detalhe razoável para refletir todas as transações e alienações de ativos com exatidão;

• As receitas e as despesas são realizadas apenas de acordo com as autorizações do órgão de gestão; e

• A aquisição, utilização ou alienação de ativos não autorizadas, são prevenidas ou detetadas oportunamente.

Os processos de controlo de específicos incluem transações de rotina (tais como vendas, compras e pessoal) e transações não rotineiras (tais como aquisição de equipamentos ou custos envolvidos no início de uma nova linha de negócio).

A Imagem seguinte mostra a interação dos dois níveis de controlos sobre as transações no seu percurso desde a iniciação e

processamento (ao nível da transação) até aos registos contabilísticos (ao nível das demonstrações financeiras) e

finalmente nas demonstrações financeiras. De notar que pelo menos três dos cinco componentes do controlo interno

consistem principalmente de controlos gerais.

119

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

Imagem 5.5-6

Notas:

1. A ilustração acima é um guia geral. Nalguns casos, podem ser concebidos controlos gerais para funcionar a um nível de precisão que

previna ou detete distorções específicas ao nível do processo de negócio. Por exemplo, um orçamento detalhado aprovado pelos

encarregados da governação pode ser usado pelo órgão de gestão para detetar despesas não autorizadas. Noutros casos, podem

existir atividades de controlo e partes do sistema de informação que se referem a atividades ao nível da entidade.

2. Controlos ao nível da entidade (tais como compromisso para a competência) podem ser menos tangíveis que os que estão ao nível

do negócio (tais como, cruzar bens recebidos com ordens de compra), mas são igualmente críticos na prevenção e deteção de fraude

e erros.

3. O processo de relato financeiro inclui procedimentos para:

• Integrar o total das transações no razão geral;

• Selecionar e aplicar políticas contabilísticas;

• Iniciar, autorizar, registar e processar movimentos de diário no razão geral;

• Registar ajustamentos às demonstrações financeiras recorrentes e não recorrentes; e

• Preparar as demonstrações financeiras e divulgações relacionadas.

4. Os controlos gerais de TI são semelhantes aos controlos ao nível da entidade, exceto na medida em que se focam nas operações de

TI (tais como organização, pessoal, integridade dos dados) e são geridos para toda a entidade.

5. Os controlos aplicacionais de TI são semelhantes aos controlos de transações. Relacionam-se com transações específicas e são

processados ao nível do negócio.

Os controlos gerais constituem os alicerces nos quais os controlos específicos assentam. Estabelecem a atitude da

liderança e as expectativas para o ambiente de controlo da organização em geral. Controlos gerais mal concebidos podem

na realidade encorajar diversos tipos de erros e fraudes. Por exemplo, uma entidade pode ter um processo de vendas

altamente controlado e eficaz. No entanto, se a gestão de topo tem uma má atitude perante o controlo e por vezes o

derrogou, pode acontecer que exista uma distorção material nas demonstrações financeiras. A derrogação dos controlos

pelo órgão de gestão e má atitude da liderança são temas comuns nas irregularidades das entidades.

Demonstrações financeiras

Transações

Ge

rais

(nív

el D

F)R

isco

s e

con

tro

los Inclui:

• Derrogação dos controlos pelo órgão de gestão

• Controlos gerais de TI• Relato financeiro

Esp

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Ris

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Inclui:• Controlos sobre processos de

negócio• Controlos físicos• Apropriação indevida de ativos• Controlos informáticos aplicacionais

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120

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

Os controlos gerais também incluem a monitorização dos controlos que avaliam se a atitude da liderança é a pretendida, e

a forma como é que as expectativas de controlo estão a ser atingidas.

Os controlos gerais (por vezes chamados controlos ao nível da entidade) podem incluir:

• Controlos relacionados com o ambiente de controlo;

• Controlos sobre derrogações do órgão de gestão;

• O processo de avaliação de risco pela entidade;

• Controlos para monitorizar resultados das operações e outros controlos;

• Controlos sobre o processo de relato financeiro de fecho; e

• Políticas destinadas a controlos sobre negócios significativos e práticas de gestão de risco.

5.5.11 Controlo interno em PME

Para além do referido relativamente ao ambiente de controlo no contexto de PME (ver ponto 5.5.3), as entidades de

menor dimensão geralmente têm poucos empregados, o que pode limitar a extensão em que:

• A segregação de funções é praticável; e

• Está disponível um rastreio de documentação apropriado.

O controlo interno em tais entidades resulta geralmente do ambiente de controlo (compromisso do órgão de gestão para

com valores éticos, atitude perante o controlo e as suas ações diárias) e não de controlos específicos sobre transações.

Avaliar o ambiente de controlo é bastante diferente das atividades de controlo tradicionais, uma vez que envolve uma

avaliação do comportamento, atitudes, competência e ações do órgão de gestão. Tais avaliações são geralmente

documentadas num memorando ou num questionário.

A falta de controlos sobre processos de negócio específicos (devido a recursos e pessoal limitados) é muitas vezes

compensada por um alto grau de envolvimento pela gestão (tal como o sócio-gerente). De facto, alguns controlos gerais

em entidades mais pequenas podem frequentemente operar a um nível de precisão em que conseguem prevenir ou

detetar erros específicos.

No entanto, o maior envolvimento da gestão de topo também aumenta o risco de derrogação por parte do órgão de

gestão. Isto pode ser tratado através de procedimentos de auditoria adicionais ou da conceção de controlos antifraude

adequados.

Identificar os controlos gerais

Numa auditoria de PME, há a tentação de assumir que o controlo interno não existe e, portanto, não vale a pena o seu conhecimento. Contudo, qualquer entidade que queira continuar a operar terá alguma forma de controlo interno. Por exemplo, qual o gestor que não se preocupa se as vendas a dinheiro são depositadas no banco, ou que os produtos expedidos são faturados? Considerar como é que os controlos gerais podem ser evidenciados

Nos casos em que o sócio-gerente ou equivalente aprova transações e revê cuidadosamente os resultados financeiros, o controlo pode ter o efeito de prevenir ou detetar a ocorrência de distorções ao nível da asserção. Se a confiança nesse tipo de controlo reduzir a necessidade de procedimentos substantivos, considerar se pode ser obtida evidência sobre tais controlos, tal como uma assinatura num relatório ou uma reconciliação que indique a revisão ou aprovação. Tal prova pode então ser usada para testar a eficácia operacional do controlo.

121

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

5.5.12 Ausência de controlo interno

Existe, virtualmente, alguma forma de controlo interno em todas as entidades, tal como a competência do sócio-gerente

(ambiente de controlo). Pode ser informal e pouco sofisticado, mas, ainda assim, é controlo interno. Uma entidade que

não mitigue qualquer dos riscos principais com que se depara (através de componentes de controlo como o ambiente de

controlo, avaliação do risco, sistemas de informação, atividades de controlo ou monitorização) é improvável que se

mantenha no negócio por muito tempo.

Quando não há muitas atividades de controlo que possam ser identificadas, o auditor deve considerar se:

• É possível abordar as asserções relevantes através da execução de procedimentos de auditoria adicionais que

sejam principalmente procedimentos substantivos; ou

• A ausência de atividades de controlo ou outros componentes de controlo (em casos raros) torna impossível

obter prova de auditoria suficiente e apropriada.

Outras situações que podem levantar questões sobre como deve ser conduzida a auditoria incluem:

• Preocupações sobre a integridade, comportamento antiético ou fraca atitude perante o controlo interno do

órgão de gestão. As deficiências no ambiente de controlo tendem a enfraquecer controlos que existem noutros

componentes de controlo. Também aumenta o risco de deturpação e fraude por parte do órgão de gestão; e

• Preocupação sobre a condição e fiabilidade dos registos da entidade que tornam improvável que esteja

disponível prova de auditoria suficiente e apropriada para suportar uma opinião não modificada.

Se existirem estas ou outras preocupações semelhantes, o auditor deve considerar a necessidade de modificar o seu

relatório ou renunciar ao trabalho.

Se optar pela renúncia, o auditor deve considerar as suas responsabilidades legais, incluindo quaisquer requisitos de relato

às pessoas que o nomearam e às autoridades reguladoras. O auditor também deve discutir a renúncia e as respetivas

razões com o nível apropriado do órgão de gestão e dos encarregados da governação.

Deficiências nos controlos gerais

Apesar das deficiências nos controlos gerais não resultarem geralmente numa deficiência imediata ou em distorções nas

demonstrações financeiras, têm, no entanto, uma influência significativa na possibilidade de ocorrerem erros ao nível de

controlos de processos de negócios. A ausência de bons controlos gerais pode comprometer gravemente outros controlos

de processos de negócios e, em consequência, as deficiências significativas nestes controlos devem ser reportadas ao

órgão de gestão e aos encarregados da governação.

5.5.13 Controlos antifraude

Nos últimos anos, começou a emergir um novo tipo de controlo interno, por vezes chamado controlo antifraude. Como a

maioria de grandes fraudes tende a envolver a gestão de topo, o estabelecimento de programas e controlos antifraude

fortes é considerado uma parte importante do ambiente de controlo em grandes entidades. Os controlos antifraudes são

como lombas de velocidade destinadas a abrandar o tráfego, mas não a pará-lo. São concebidos para dissuadir mau

comportamento antes que ocorra, mas não o pode eliminar completamente.

Os controlos antifraude são particularmente relevantes para grandes entidades, mas também podem ser concebidos para

desencorajar fraude em pequenas entidades. Podem não impedir a ocorrência de fraude, mas proporcionam um

desincentivo poderoso. Fazem com que os perpetradores pensem cuidadosamente sobre as repercussões das suas ações.

Os controlos antifraude podem ser concebidos para se dirigirem a todos os cinco componentes de controlo interno. No

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

entanto, relativamente ao risco de distorção material nas demonstrações financeiras, é colocado ênfase especial na

atitude da liderança, que está relacionada com as atitudes e ações do órgão de gestão para com o controlo, e é parte do

ambiente do controlo o que influencia a consciência de controlo de todo o pessoal. Uma boa “atitude da liderança” é

considerada de longe o controlo antifraude mais eficaz de todos.

Dois exemplos de controlos antifraude aplicáveis em pequenas entidades incluem:

• Lançamentos de operações diversas

Os lançamentos de operações diversas são utilizados muitas vezes pelo órgão de gestão para cometer fraude.

Uma política de que os lançamentos de operações diversas acima de um determinado valor devem ser

suportados por uma explicação e pela assinatura do gestor (indicando aprovação) é um controlo antifraude

simples que pode ser implementado numa entidade de qualquer dimensão. Esta regra dá oportunidade ao

responsável pela contabilidade de pedir explicações e obter aprovação do gestor (e obter a assinatura deste).

Isto não impedirá um gestor de topo de pedir que seja efetuado um lançamento não apropriado, mas o facto

de ter de explicar e aprovar o documento pode ser suficientemente dissuasor para que o pedido não chegue a

ser feito. No caso de a aprovação não ser evidenciada, o auditor pode perguntar a razão, o que pode levar a

investigação adicional.

• Segregação de funções

Em pequenas entidades, o responsável pela contabilidade ocupa geralmente uma posição de confiança, com

supervisão mínima e, portanto, com amplas oportunidades para cometer fraude. Um controlo antifraude possível

(embora caro) seria contratar um responsável pela contabilidade em tempo parcial para ocupar o lugar por uma ou

mais semanas por ano, enquanto o responsável pela contabilidade está de férias ou a efetuar outras tarefas. A

regra de ser substituído pode dissuadir o responsável pela contabilidade de cometer qualquer fraude, e no caso de

a fraude já ter ocorrido, proporciona uma oportunidade para a detetar.

5.5.14 Compreensão dos controlos internos relevantes para a auditoria

O Quadro seguinte sumariza os passos necessários para a obtenção da compreensão sobre o controlo interno relevante

para a auditoria.

Quadro 5.5-12

Identificar Abordar

Riscos específicos de distorção material que necessitam ser mitigados

Os riscos de distorção material potenciais (relacionados com classes de transações significativas, saldos de contas, e divulgações das demonstrações financeiras) que existem ao nível da asserção. Por exemplo:

• Riscos regulares das transações diárias;

• Riscos de fraude (tais como derrogação dos controlos pelo órgão de gestão e apropriação indevida de ativos);

• Riscos de divulgação (informação omissa ou incompleta);

• Riscos significativos;

• Riscos não rotineiros (p ex., implementação de um novo sistema contabilístico); e

• Riscos de julgamento (estimativas, valorizações, etc.).

123

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

Identificar Abordar

Resposta do órgão de gestão aos riscos identificados de distorção material

Que atividades de controlo específicas (manuais ou TI, individualmente ou em combinação) previnem, ou detetam e corrigem, erros materiais e fraudes.

Este passo não obriga o auditor a identificar todas as atividades de controlo que possam existir. Por exemplo, uma entidade pode ter implementado 15 controlos para tratar um determinado risco. Se o auditor concluir que os primeiros três procedimentos de controlo identificados são suficientes para mitigar o risco envolvido, não é necessário efetuar mais trabalho para identificar e documentar os restantes 12.

Deficiências significativas

Falha pelo órgão de gestão em mitigar um risco de distorção material é provável que resulte numa deficiência significativa. Estes devem ser reportados ao órgão de gestão e deve ser desenvolvida uma resposta de auditoria.

Implementação dos controlos relevantes

Envolve procedimentos (para além de inquéritos ao pessoal do cliente) para determinar que controlos relevantes identificados existem na realidade e estão a ser utilizados pela entidade. Isto pode ser feito numa determinada altura, tal como rastrear uma transação através do sistema num dia específico. Não é um teste aos controlos, que é concebido para avaliar se o controlo operou eficazmente durante o período coberto pela auditoria.

Indagação sobre o papel da auditoria interna (quando aplicável)

Quando uma entidade tem a função da auditoria interna o parágrafo 23 da ISA 315 (Revista) exige que o auditor obtenha a compreensão da natureza das responsabilidades da função de auditoria interna, o seu status na organização e as atividades executadas ou a ser executadas.

5.5.15 Controlos internos relevantes para a auditoria (âmbito da compreensão)

Nem todos os controlos são relevantes para a auditoria. O auditor apenas se preocupa em

compreender e avaliar os controlos que mitigam um risco de distorção material (devido a

fraude ou erro) nas demonstrações financeiras. Isto significa que alguns tipos de controlos

podem sair do âmbito da auditoria conforme demonstrado na Imagem abaixo. Estes são

controlos que:

• Não estão relacionados com o relato financeiro (tais como controlos operacionais e controlos que abordam o

cumprimento da regulamentação); e

• Mesmo que inexistentes, é pouco provável que ocorra uma distorção material nas demonstrações financeiras.

Imagem 5.5-7

ISA relevante

Parágrafos

315R4,12,14-15

18-22

Controlos aplicacionais/

transação(processos de

negócio)

Controlos aplicacionais/

transação(processos de

negócio)

Controlos aplicacionais/

transação(processos de

negócio)

Controlos aplicacionais/

transação(processos de

negócio)

Relato Financeiro:(contas e divulgações das

DF significativas)

Objetivos operacionais e de cumprimento

Controlos geraise controlos gerais TI

Controlos NÃO relevantes para a auditoria

Controlos relevantes para a auditoria

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GUIA DE APLICAÇÃO DAS ISA – CONCEITOS FUNDAMENTAIS E ORIENTAÇÃO PRÁTICA

5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.5. Controlo Interno - Propósito e Componentes

Em alguns casos, pode existir sobreposição entre controlos financeiros e controlos relacionados com as operações e

cumprimento de objetivos. São exemplos os controlos sobre dados que o auditor avalia ou usa na aplicação de outros

procedimentos de auditoria, tais como:

• Dados necessários nos procedimentos analíticos (exemplo: estatísticas de produção);

• Controlos que detetam incumprimento de leis e regulamentos;

• Controlos sobre a salvaguarda de ativos; e

• Controlos sobre a totalidade e exatidão da informação produzida que pode ser a base de cálculo de medidas de

desempenho chave.

Os controlos que seriam sempre relevantes para a auditoria incluem os que mitigam os riscos seguintes:

• Riscos significativos;

• Riscos que não podem ser facilmente tratados através de procedimentos substantivos; e

• Outros riscos que, no julgamento do auditor, podem permitir a ocorrência de distorções materiais.

O julgamento do auditor sobre se um controlo em particular é relevante para a auditoria é influenciado por:

• Conhecimento sobre a presença/ausência de controlos identificados noutros componentes do controlo

interno. Se um risco em particular já foi abordado (tal como pelo ambiente de controlo, sistemas de

informação, etc.), não há necessidade de identificar quaisquer controlos adicionais que possam existir;

• A existência de múltiplas atividades de controlo que atingem o mesmo objetivo. Não é necessário obter uma

compreensão de cada uma das atividades de controlo relacionadas com esse objetivo;

• A necessidade de testar a eficácia operacional de determinados controlos chave. Por exemplo, se não existe

forma prática de testar a plenitude das vendas (isto é, através da execução de procedimentos substantivos),

pode ser exigido testar a eficácia operacional dos controlos; e

• O impacto que o teste sobre a eficácia operacional dos controlos terá na extensão (isto é, a redução) dos

procedimentos substantivos necessários.

É necessário julgamento profissional para determinar se um controlo interno, individualmente ou quando combinado com

outros, é de facto relevante.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

5.6.1 Enquadramento

Independentemente de serem testados controlos para obter prova de auditoria, é

sempre necessário que o auditor, em cada trabalho, avalie a conceção e implementação

de controlos. Isto envolve um processo de quatro passos, conforme segue.

Quadro 5.6-1

Descrição

Passo 1

Que riscos exigem ser mitigados?

Identificar os riscos inerentes de distorção material (riscos de negócio e de fraude) e se são riscos globais que afetam todas as transações, ou específicos que afetam áreas e asserções particulares das demonstrações financeiras.

Passo 2

Os controlos concebidos pelo órgão de gestão mitigam o risco?

Identificar quais os processos de negócio existentes (se houver)

• Entrevistar pessoal da entidade para identificar quais os controlos que mitigam os riscos identificados no Passo 1 acima.

• Rever os resultados e avaliar se os controlos, de facto, mitigam os riscos.

• Comunicar ao órgão de gestão e aos encarregados da governação quaisquer deficiências significativas identificadas no controlo interno.

Em grandes entidades, este passo pode exigir a referência a, ou a preparação de um sistema

de documentação (ver Passo 3 abaixo) para proporcionar algum contexto relativamente à

forma como certos controlos funcionam.

Passo 3

Os controlos existem e estão a funcionar?

Observar ou inspecionar o funcionamento dos controlos internos relevantes para assegurar que eles foram, de facto, implementados. De notar que a indagação ao órgão de gestão não é suficiente para avaliar se um controlo relevante foi, de facto, implementado.

Este passo pode geralmente ser combinado com o Passo 2 acima.

Passo 4

O funcionamento dos controlos relevantes está documentado?

Este passo pode consistir numa simples narrativa descritiva dos principais processos (preparada pelo órgão de gestão da entidade ou pelo auditor) descrevendo o funcionamento dos controlos internos relevantes identificados.

Esta documentação não necessita incluir:

• Uma descrição detalhada do processo de negócio ou a forma como os documentos fluem pela entidade; ou

• Controlos internos que podem existir, mas que não são relevantes para a auditoria.

Conteúdo – Controlo interno: compreensão e avaliação ISA

relevante

Orientações quanto aos passos envolvidos na compreensão e avaliação do controlo interno

relevante para a auditoria:

• Avaliar a conceção e implementação do controlo;

• Documentar usando duas abordagens possíveis.

315 (Revista)

ISA relevante

Parágrafos

315 R 13,29,32

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5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

O processo de decisão pode ser esquematizado como mostra a Imagem seguinte.

Imagem 5.6-1

Nota: Independentemente da forma correta como um controlo está concebido e implementado, ele apenas pode

proporcionar segurança razoável sobre a realização dos objetivos de uma entidade, quanto à fiabilidade do relato

financeiro, devido a algumas limitações inerentes. Tais limitações estão descritas abaixo.

Quadro 5.6-2

Descrição

Limitações do controlo interno

• Julgamento pessoal e falhas humanas simples (erros).

• Contorno do controlo interno através de conluio entre duas ou mais pessoas.

• Derrogação de controlos pelo órgão de gestão, tal como a revisão dos termos de um contrato de venda ou derrogação do limite de crédito de um cliente.

1 Identificação de riscosQuais os riscos que, se não forem mitigados pelos controlos internos, podem

resultar em distorções materiais nas demonstrações financeiras?

2 Avaliação da conceção dos controlosOs controlos são capazes de prevenir ou detetar e corrigir eficazmente as

distorções materiais identificadas no Passo 1?

3 e 4 Avaliar a implementação dos

controlos e documentar os resultados

Os controlos existem e a entidade está a usá-los? Comunicar ao órgão de

gestão e encarregados da governação deficiências significativas no controlo

Documentar os resultados e as conclusões atingidas

Sim Não

Sim

Não

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5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

5.6.2 Passo 1 - Que riscos exigem ser mitigados?

Imagem 5.6-2

Antes do auditor começar a documentar os controlos que possam existir, o primeiro passo é identificar e depois avaliar os

fatores de risco significativos e outros que existam. Caso contrário, a avaliação do controlo interno irá fazer-se sem uma

compreensão dos riscos que necessitam ser mitigados pelo controlo interno.

Os riscos que necessitam ser mitigados podem ser globais, relacionados com muitas áreas e asserções das demonstrações

financeiras, ou específicos, relacionados com áreas e asserções particulares das demonstrações financeiras.

A Imagem seguinte sumariza algumas fontes de risco típicas e os tipos de controlos que podem mitigar tais riscos.

Imagem 5.6-3

Quando tiver sido preparada uma listagem de fatores de risco por processo de negócio, será útil:

• Eliminar qualquer fator de risco que provavelmente não resultaria numa distorção material, mesmo que não

fosse mitigado;

• Adaptar a redação dos fatores de risco para a tornar relevante para a entidade em particular;

• Assegurar que todas as asserções relevantes foram abordadas; e

• Considerar se existem riscos adicionais (ao nível da entidade e ao nível da transação) que possam resultar

numa distorção material caso são sejam mitigados.

O que pode correr mal? Fontes do risco Controlos que mitigam

Relatórios financeiros não fiáveis

Fatores externos da indústriaNatureza da entidadePolíticas contabilísticasObjetivos e metasMedidas de desempenhoFraude

Controlos e processos abrangentesControlos gerais de TIControlos específicos

Distorções resultantes da preparação das demonstrações financeiras

Estimativas contabilísticasProvisõesPolíticas contabilísticasTransações não rotineiras, registos de operações diversas, reconciliaçõesInformações necessárias para as divulgações nas DF

Controlos abrangentesControlos gerais de TIControlos específicos

Transações não processadas ou registadas/divulgadas incorretamente

Identificação/registo de transações autorizadasClassificação das transaçõesMensuração, corte, salvaguarda de ativos

Controlos específicosControlos aplicacionais de TIDeterminados controlos abrangentes

Identificar os riscos que necessitam ser mitigados

Procedimento de avaliação do riscoQue riscos existem (globais ou específicos) que, caso não sejam mitigados por controlos podem causar a ocorrência de uma distorção material?

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5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

5.6.3 Passo 2 – Os controlos concebidos pelo órgão de gestão mitigam o risco?

Imagem 5.6-4

Avaliar se um controlo que foi concebido de forma adequada pelo órgão de gestão envolve a avaliação sobre se os

controlos identificados (individualmente ou quando combinados com outros controlos) mitigam de facto o fator de risco.

Isto envolve considerar se o controlo é capaz, com eficácia:

• Prevenir em primeiro lugar a ocorrência de distorções materiais; ou

• Detetar e corrigir distorções materiais após estas terem ocorrido.

É recomendável que uma avaliação da conceção do controlo comece pelos controlos gerais. Este tipo de controlos

constituem o alicerce fundamental para avaliar a conceção e funcionamento dos controlos específicos (transação).

Nesta fase, alguns auditores (em particular quando auditam entidades de maior dimensão e complexidade) podem

considerar útil obter alguma informação, preferencialmente preparada pela entidade, que descreva o processo de negócio

e o fluxo das transações.

Existem duas formas comuns de ligar os controlos internos aos fatores de riscos (ou objetivos de controlo) para os quais

foram concebidos. Para efeitos deste Guia, estas abordagens foram designadas:

• Um risco para múltiplos controlos; e

• Múltiplos riscos para múltiplos controlos.

Um risco para múltiplos controlos

Segundo esta abordagem, cada fator de risco é considerado por si próprio sendo identificados todos os controlos que

abordam esse risco em particular. Esta abordagem é particularmente útil para fazer a ligação dos fatores de risco globais

(nível da entidade) com os controlos. Esta abordagem está ilustrada no Quadro seguinte.

Avaliar a conceção docontrolo

Identificar/avaliar controlos que mitigam o riscoAbordar cada componente do controlo Identificar deficiências significativas no controlo interno

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5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

Quadro 5.6-3

Rosco / objetivo de controlo Asserção Controlos

1. Fator de risco P Procedimento de controlo A

Procedimento de controlo B

Procedimento de controlo C

Procedimento de controlo D

2. Fator de risco E R Procedimento de controlo E

Procedimento de controlo F

Procedimento de controlo G

Procedimento de controlo H

3. Fator de risco R Procedimento de controlo I

Procedimento de controlo J

Procedimento de controlo K

Procedimento de controlo L

4. Fator de risco P R Procedimento de controlo M

Procedimento de controlo N

Procedimento de controlo O

Procedimento de controlo P

Esta abordagem de um risco para múltiplos controlos foi usada muitas vezes para mapear todos os tipos de controlos,

incluindo controlos específicos. Contudo, uma vez que um controlo específico pode muitas vezes abordar mais do que um

risco (e, portanto, ser repetido diversas vezes nesta abordagem), a matriz múltiplos riscos para múltiplos controlos (ver

Quadro 5.6-5) é geralmente considerada mais eficaz para controlos específicos.

O exemplo seguinte (Quadro 5.6-4) ilustra como é que a abordagem um risco para múltiplos controlos pode funcionar. Um

dos objetivos do ambiente de controlo é a necessidade do órgão de gestão, com a supervisão dos encarregados da

governação, criar e manter uma cultura de honestidade e comportamento ético. Este objetivo, enquanto fator de risco,

pode significar que órgão de gestão não criou ou manteve uma cultura de honestidade e comportamento ético.

Alguns controlos que o órgão de gestão pode conceber e implementar para abordar este risco global podem incluir:

• O órgão de gestão demonstra continuamente, através das suas palavras e ações, um compromisso com

elevadas normas éticas;

• O órgão de gestão elimina ou reduz incentivos ou tentações que possam levar o pessoal a cometer atos

desonestos ou não éticos;

• Existe um código de conduta ou equivalente que define as normas de ética e comportamento moral esperados;

• Os empregados compreendem claramente que comportamento é aceitável e não aceitável e sabem o que fazer

quando identificam um comportamento impróprio; e

• Os empregados são sempre sujeitos a ações disciplinares por comportamento impróprio.

O auditor analisa primeiro o risco ou objetivo de controlo e depois identifica, possivelmente de uma lista tal como a

apresentada acima, qual o controlo, caso exista, que mitiga o risco e pode ser documentado como segue.

Nota: A coluna da conceção do controlo salienta os passos que o auditor pode seguir para avaliar a conceção do controlo.

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5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

Quadro 5.6-4

Componente do Controlo interno (CI)

Fator de risco

Controlo identificado

Conceção do controlo

Ambiente de controlo Não é dada ênfase à

integridade ou ética

O Código de conduta é

assinado por todos os

empregados anualmente e

reforçado por processos

disciplinares.

Lemos o Código que

enfatiza a necessidade de

integridade e ética.

Podem ser contratados empregados com poucas competências

Os conhecimentos e competências exigidas para cada função estão especificados para cada uma delas

Revimos as especificações das funções chave, incluindo da contabilidade, as quais nos parecem ser aceitáveis.

Avaliação do risco O órgão de gestão é muitas

vezes surpreendido por

acontecimentos previsíveis.

Os riscos de negócio são

anualmente identificados e

avaliados como parte do

planeamento do negócio.

Revimos o plano de

negócio e os riscos foram

identificados, atualizados

e avaliados.

Uma vez identificados os controlos, o auditor usa o seu julgamento profissional para concluir se a conceção do controlo é

suficiente para abordar o fator de risco.

Quando forma a conclusão sobre o ambiente de controlo, o parágrafo 14 da ISA 315 (Revista) exige que o auditor avalie se:

• O órgão de gestão, com a supervisão dos encarregados da governação, criou e manteve uma cultura de

honestidade e comportamento ético; e

• Os pontos fortes dos elementos do ambiente de controlo proporcionam coletivamente uma base apropriada

para outros componentes do controlo interno, e se esses outros componentes não são prejudicados por

deficiências no ambiente de controlo.

Múltiplos riscos para múltiplos controlos

Para riscos específicos, a abordagem mais comum para avaliar a conceção é através do uso do que muitas vezes se chama

de “matriz de conceção do controlo”. Estas matrizes permitem ao auditor ver rapidamente:

• As múltiplas relações que existem entre riscos e controlos;

• Onde o controlo interno é forte;

• Onde o controlo interno é fraco; e

• Os controlos chave que abordam múltiplos riscos/múltiplas asserções e que podem ser testados quanto á

eficácia operacional.

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5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

Apresenta-se a seguir um exemplo de uma matriz de conceção do controlo.

Quadro 5.6-5

Processo = Vendas

Fatores de risco materiais Risco A Risco B Risco C Risco D Controlos

chave Asserções P E R R P P E

Controlos Componente do controlo interno

Procedimento #1 Ambiente de controlo D

Procedimento #2 Sistemas de informação D

Procedimento #3 Atividade de controlo P P P Sim

Procedimento #4 Monitorização D

Procedimento #5 Atividade de controlo P P Sim

Procedimento #6 Atividade de controlo

Procedimento #7 Sistemas de informação D D D

Conceção de controlo OK? Isto é, os controlos

identificados mitigam os fatores de risco?

Sim Sim Não Sim

Chave:

P = Controlo preventivo D = Controlo de deteção e correção

Nota: A matriz acima contém a seguinte informação:

• Os fatores de risco que, caso não sejam mitigados, podem resultar numa distorção material nas demonstrações financeiras.

• As asserções abordadas pelos fatores de risco; e

• Quando o procedimento de controlo interno aborda o risco na matriz, é registado como sendo preventivo (P) de uma distorção ou como sendo de deteção (D), e depois correção, de uma distorção após ter ocorrido.

Esta matriz também pode incluir outra informação:

• A frequência que o controlo ocorre, por exemplo, continuamente, semanalmente ou mensalmente;

• Se o controlo é manual ou automático; e

• A fiabilidade esperada do controlo interno ao longo de um período de tempo. Isto pode incluir, por exemplo, avaliar a competência (e independência de outras funções) da pessoa que executa o controlo, se o controlo é executado oportunamente e se existe histórico de ocorrência de erros.

Procedimentos para múltiplos controlos

De notar que é improvável que cada procedimento de controlo por si só mitigue um fator de risco importante. Muitas vezes, uma combinação de atividades de controlo, funcionando em conjunto com outros componentes de controlo interno (tal como o ambiente de controlo), será suficiente para abordar o fator de risco. Começar pelos riscos

Deve evitar-se a tentação de listar todos os controlos conhecidos e depois associá-los aos riscos. Os riscos vêm primeiro e depois os controlos para mitigar os riscos. É mais eficiente abordar cada risco (ou objetivo de controlo) e depois identificar que controlos existem para o mitigar. Logo que tenham sido identificados controlos suficientes para abordar o risco, não é necessário despender mais tempo para identificar controlos adicionais.

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5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

Relacionar controlos com os riscos não só ajuda a avaliar a conceção do controlo, mas também a identificar controlos

chave (sobre asserções relevantes) que podem ser potencialmente testadas. Isto irá ajudar o auditor a identificar

deficiências de controlos que podem exigir:

• Comunicação ao órgão de gestão e aos encarregados da governação sobre deficiências significativas no

controlo interno de forma oportuna para que possam ser tomadas as medidas corretivas; e

• Desenvolvimento de uma resposta de auditoria apropriada.

Como identificar controlos internos relevantes

Os controlos são geralmente identificados através de discussões (entrevistas) com as pessoas responsáveis pela gestão do

risco ou de um processo em particular. Em pequenas entidades, será geralmente o sócio-gerente ou um diretor.

Apresenta-se a seguir uma abordagem típica para identificar controlos.

Quadro 5.6-6

Ação Descrição

Identificar os riscos inerentes

Identificar os riscos globais (nível da entidade) e específicos (transação) que necessitam ser mitigados através do controlo interno para prevenir ou detetar e corrigir distorções materiais.

Questionar sobre procedimentos de controlo interno que abordam o risco inerente

(abordam cada fator de risco, um de cada vez)

Questionar o sócio-gerente ou a pessoa responsável sobre quais os controlos internos que existem para mitigar cada um dos fatores de risco. Documentar os controlos identificados nas palavras da pessoa que está a ser entrevistada.

Quando tiverem sido identificados controlos suficientes (com base no julgamento profissional) parar de perguntar por controlos adicionais. Não há necessidade de listar todos os outros controlos que possam existir para mitigar o risco, a menos que tenha sido especificamente solicitado para outra finalidade.

Documentar os resultados

Os controlos identificados podem ser documentados de diversas formas. Podem ser listados sob cada fator de risco que abordam, ou listados numa matriz de controlo e relacionados com todos os riscos que abordam.

A chave é assegurar que os procedimentos de controlo identificados são relacionados com o fator de risco para os quais foram concebidos. Isto permite que seja feita uma avaliação sobre se os controlos identificados mitigam, de facto, o risco. Se for usada a matriz de risco:

• Registar o procedimento de controlo identificado diretamente na matriz e indicar (quando interceta o risco) se pode prevenir ou detetar e corrigir distorções potenciais; e

• Considerar se o controlo também pode ser eficaz a mitigar outros fatores de risco. É perfeitamente possível que alguns procedimentos de controlo interno possam prevenir ou detetar e corrigir vários fatores de risco.

Quando não tiverem sido identificados controlos para abordar um risco, o auditor irá alertar de imediato o órgão de gestão para a deficiência (provavelmente significativa) de controlo que precisa ser abordada.

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5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

Concluir sobre a conceção do controlo

O último passo na avaliação da conceção do controlo é concluir sobre se os controlos identificados mitigam o fator de risco

particular exigindo o uso de julgamento profissional. Para cada asserção ou fator de risco relevante, considerar se a

resposta do órgão de gestão é suficiente para reduzir o risco de distorção material para um nível aceitavelmente baixo. Se

for usada a abordagem da matriz de conceção do controlo, a última linha da matriz pode ser usada para documentar a

conclusão sobre se os controlos são ou não suficientes para mitigar cada fator de risco.

Na Imagem seguinte apresenta-se a avaliação global do controlo (que aborda os cinco componentes do controlo interno)

para os processos considerados relevantes pelo auditor relativamente a uma determinada entidade.

Imagem 5.6-5 Processos ao nível

da entidadeProcesso de

vendasProcesso de

comprasProcesso de

pessoal

São identificados riscos no relato financeiro

As políticas contabilísticas são aplicadas de forma consistente

O pessoal é competente e conhecedor

Existem linhas claras de responsabilidade e autoridade

As atividades de controlo são concebidas e implementadas de

forma apropriada

Existem controlos antifraude para abordar riscos de fraude

Os sistemas de informação fornecem dados fiáveis

Os controlos são monitorizados

Chave:Verde = os riscos subjacentes foram abordados de forma apropriadaAmarelo = podem existir alguns problemasVermelho = deficiências significativas potenciais

Evitar usar controlos genéricos Evitar a tentação de usar listas genéricas de atividades de controlos que são apropriadas para as chamadas entidades “típicas”. As listagens de controlos “standard” ou “típicos” podem demorar muito tempo a ler e compreender e são muitas vezes complexas ou simplesmente irrelevantes para algumas entidades (principalmente as PME). Em vez disso, usá-las como fonte de referência, mas apenas quando necessário. É muito melhor documentar a natureza de cada controlo identificado usando a descrição do próprio cliente.

Multitarefa A avaliação da conceção do controlo pode ser combinada com a documentação do controlo (ver Passo 3 atrás) e com a inspeção/observação de documentos que suportem a implementação do controlo (ver Passo 4 a seguir). Por exemplo, se existir uma política de que não podem ser efetuados registos não rotineiros sem autorização, pedir para ver a política existente (avaliar a conceção do controlo) e evidência de aprovação de alguns registos (implementação do controlo).

Gestão do risco Muitas entidades atribuem as responsabilidades de gestão do risco por processo (tal como vendas ou compras) em vez de ser por risco. Como resultado, podem existir fatores de risco importantes que caem entre departamentos (tal como vendas, compras e contabilidade) e ninguém é responsável. Se os riscos não forem especificamente identificados e a responsabilidade não for atribuída a alguém, os colaboradores pode culpar-se entre si dizendo “Eu pensava que esse risco estava a ser gerido pela Maria ou pelo João, ou o departamento de contabilidade, TI ou vendas”, etc.

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5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

Passo 3 - Os controlos que mitigam os fatores de risco estão a funcionar?

Imagem 5.6-6

A indagação ao órgão de gestão, por si só, não é suficiente para avaliar a conceção dos procedimentos de controlo ou para

determinar se eles foram implementados. Isto porque as pessoas podem genuinamente pensar ou esperar que

determinado controlo existe, quando de facto não existe. Uma descrição documentada de controlos (embora bons) que

não existem ou que não operam não tem valor para a auditoria.

Algumas razões para observar o controlo interno são:

• Alterações nos processos

Os processos alteram ao longo do tempo, resultando em produtos ou serviços novos ou revistos, eficiências na

operação, alterações no pessoal e implementação de novas aplicações de TI;

• O que é desejável

O pessoal da entidade pode explicar ao auditor como é que o sistema deve funcionar e não como é que, de

facto, funciona; e

• Falta de conhecimento

Alguns aspetos do sistema podem ter sido inadvertidamente negligenciados na obtenção da compreensão do

controlo interno.

Avaliar a implementação docontrolo

Procedimento de avaliação do riscoAssegurar que os controlos (relevantes) identificados se encontram a operar conforme foram concebidos

Para pequenas entidades, existe uma forma mais fácil de avaliar os controlos específicos. Primeiro, identificar os fatores de risco (ver Passo 1 acima) e a asserção afetada. Depois, em vez de relacionar os controlos com cada fator de risco individual, identificar controlos que abordem as asserções afetadas pelo risco. Se não forem identificados controlos para uma asserção em particular, será necessário desenvolver uma resposta de auditoria substantiva. Se for expectável que os controlos identificados operem eficazmente, a resposta de auditoria pode incluir testes aos controlos relevantes. Por exemplo, o risco de vendas não registadas abordam a asserção plenitude. A identificação de controlos relevantes pode ser limitada aos que abordam a asserção plenitude em geral, e não ao risco específico.

Se existir alguma dúvida sobre se alguns controlos identificados no Passo 2 acima não foram, de facto, implementados, não avaliar a conceção do controlo nem documentar o funcionamento dos controlos até que seja executado algum trabalho para determinar que eles existem e estão a funcionar. Adicionalmente, não dedicar tempo a avaliar controlos que provavelmente não são relevantes ou que foram inadequadamente concebidos.

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5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

Os procedimentos de avaliação de risco exigidos para obter prova de auditoria sobre a implementação do controlo podem

incluir:

• Indagações ao pessoal da entidade;

• Observação ou reexecução da aplicação de controlos específicos;

• Inspeção de documentos e relatórios;

• Rastreio uma ou duas transações através do sistema de informação relevante para o relato financeiro. Isto é muitas vezes designado walkthrough.

Nota: A avaliação da implementação de um controlo apenas é necessária para controlos relevantes para a auditoria. Um

walkthrough não é um teste à eficácia operacional de um controlo.

A implementação dos controlos proporciona prova sobre se o controlo está efetivamente a operar num determinado

momento. Ela não aborda a eficácia operacional durante o período de tempo a ser auditado. A prova da eficácia

operacional (se fizer parte da estratégia de auditoria a desenvolver) é obtida através de testes aos controlos que reúnem

prova sobre o funcionamento do controlo durante um período de tempo, por exemplo, um ano.

Apenas quando for determinado que o controlo interno relevante para a auditoria está concebido e implementado de

forma apropriada é que vale a pena considerar:

• Quais os testes sobre a eficácia operacional dos controlos (se existentes) que irão reduzir a necessidade de

procedimentos substantivos; e

• Quais os controlos que exigem testes pelo facto de não existir outra forma de obter prova de auditoria

suficiente e apropriada.

Assegurar que a equipa de auditoria compreende claramente a diferença entre conceção do controlo, implementação do controlo e teste aos controlos. Em resumo:

Conceção do controlo Os controlos foram concebidos para mitigar os riscos inerentes?

Implementação do controlo Os controlos concebidos estão de facto a funcionar? Os procedimentos de implementação dos controlos devem ser executados em cada período para identificar quaisquer alterações do sistema.

Teste aos controlos Os controlos funcionaram de forma eficaz durante um período de tempo especificado? Não existe um requisito para testar a eficácia operacional dos controlos a não ser que não exista forma alternativa (como por exemplo num sistema altamente automatizado e sem papel) para obter a prova de auditoria necessária. A decisão de testar a eficácia operacional dos controlos é, deste modo, uma questão de julgamento profissional.

Não ignorar a relação entre a conceção e a implementação do controlo Se existe dúvida sobre se os controlos identificados no Passo 2 acima foram, de facto, implementados, não avaliar a conceção do controlo até que seja executado algum trabalho para determinar se ele existe e está a funcionar. Adicionalmente, se o auditor concluir que a conceção do controlo não é adequada, não faz sentido avaliar a implementação do controlo. É provável que exista uma deficiência significativa.

Avaliar a implementação todos os períodos Após a primeira auditoria, fazer primeiro a avaliação da implementação do controlo para determinar o que alterou. Usar a documentação da conceção do controlo obtida em períodos anteriores como ponto de partida. Se for identificada uma alteração no controlo interno, considerar se o novo controlo ou controlo revisto continuam a mitigar o fator de risco, ou se existem novos riscos que necessitam ser mitigados.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

5.6.4 Passo 4 - A operacionalidade dos controlos relevantes foi documentada?

Imagem 5.6-7

O objetivo deste passo é proporcionar alguma informação sobre a operacionalidade dos controlos relevantes identificados

no Passo 2 acima. A extensão da documentação é determinada por julgamento profissional.

A documentação resultante irá ajudar o auditor a:

• Compreender a natureza, funcionamento (iniciação, processamento, registo, etc.) e contexto (tal como quem

executa o controlo, quando o controlo é executado, frequência e documentação resultante) dos controlos

identificados; e

• Determinar se é provável que os controlos são fiáveis e funcionam de forma eficaz. Em caso afirmativo, devem

ser testados como parte da resposta de auditoria aos riscos avaliados. Se for tomada a decisão de testar a

eficácia operacional os controlos, estas documentação também irá ajudar o auditor na conceção do teste, tal

como qual a população a usar para a seleção da amostra, quais os atributos do controlo a testar, quem executa

o controlo e onde pode ser encontrada a documentação necessária.

Aquando da documentação dos controlos relevantes, considerar algumas situações tais como:

• Como é que as transações significativas são iniciadas, autorizadas, registadas, processadas e relatadas;

• Fluxo de transações com detalhe suficiente para identificar pontos em que podem ocorrer distorções materiais

devido a erro ou fraude;

• Controlos internos sobre o relato financeiro de fecho, incluindo contabilização de estimativas e divulgações

significativas.

As formas de documentação pelo órgão de gestão ou pelo auditor são:

• Narrativas ou memorandos;

• Fluxogramas;

• Combinação de fluxogramas e narrativas; e

• Questionários e checklists.

A natureza e extensão da documentação necessária é matéria de julgamento profissional. Os fatores a considerar incluem:

• A natureza, dimensão e complexidade da entidade e do seu controlo interno,

• Disponibilidade da informação na entidade, e

• Metodologia de auditoria e tecnologia usada no decurso de auditoria.

A extensão da documentação pode também refletir a experiência e capacidade da equipa de auditoria. Uma auditoria

executada por uma equipa menos experiente pode exigir documentação mais detalhada para a apoiar na compreensão

apropriada da entidade.

Documentar os controlos relevantes

Documentar a operacionalidade dos controlos relevantesProporcionar um contexto para a operacionalidade dos controlos desde o início até ao relato financeiro

137

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.6. Controlo Interno - Compreensão e Avaliação

5.6.5 Atualização da documentação em períodos subsequentes

Quando planeia a auditoria de um período subsequente, o auditor pode usar documentação preparada ou obtida num

período anterior. Isto envolve a documentação seguinte:

• Fazer uma cópia dos papéis de trabalho do período anterior como um ponto de partida para atualizar no

período corrente. Se não tiverem ocorrido alterações, a conceção será aceitável;

• Atualizar a listagem dos riscos que necessitam ser mitigados por controlo;

• Identificar alterações no controlo interno ao nível da entidade e da transação. Isto é atingido através de

procedimentos que abordam a implementação do controlo;

• Quando tiverem sido identificadas alterações (nos riscos ou controlos), determinar se foram concebidos ou

implementados novos controlos internos;

• Atualizar a relação dos controlos internos com o fator de risco apropriado; e

• Atualizar as conclusões sobre o risco de controlo.

Quando for provável que a estratégia de auditoria envolva a confiança na eficácia operacional dos controlos (através de

testes aos controlos) e tiverem ocorrido alterações no controlo, será necessário fazer walkthrough às transações que

foram processadas antes e após a alteração.

Alterações nos controlos gerais Aquando da atualização da documentação dos controlos, considerar cuidadosamente as alterações nos controlos gerais. Estas alterações podem ter um impacto significativo na eficácia operacional de outros controlos específicos, e podem afetar a resposta de auditoria aos riscos avaliados. Por exemplo, a decisão do órgão de gestão de contratar pessoal qualificado para preparar as demonstrações financeiras, pode reduzir de forma considerável o risco de erros na informação financeira e melhorar a eficácia de controlos de transação que podiam ter sido anteriormente prejudicados. Alternativamente, a falha do órgão de gestão em substituir um gestor de TI com poucas competências ou em atribuir poucos recursos à segurança de TI pode enfraquecer outros procedimentos de controlo interno. Em qualquer caso, estas alterações podem dar origem a uma alteração significativa na resposta de auditoria apropriada.

138

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

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139

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.7. Procedimentos de avaliação do risco

Os três tipos de procedimentos de avaliação de risco exigidos pela ISA 315 (Revista) estão ilustrados na Imagem abaixo.

Imagem 5.7-1

5.7.1 Enquadramento

O objetivo dos procedimentos de avaliação do risco é identificar e avaliar riscos de distorção

material. Isto é conseguido através do processo de compreensão da entidade e do seu

ambiente, incluindo o seu controlo interno. A informação pode ser obtida de fontes

externas, tais como a Internet e publicações comerciais, e de fontes internas tais como

discussões com pessoal chave. Esta compreensão da entidade torna-se um processo contínuo e dinâmico com vista a

recolher, atualizar e analisar informação durante a auditoria.

5.7.2 Prova de auditoria

Os procedimentos de avaliação do risco proporcionam prova de auditoria relativamente à avaliação dos riscos ao nível das

demonstrações financeiras e ao nível da asserção. No entanto, isto não é uma prova isolada. Esta prova é complementada

por procedimentos de auditoria adicionais (que respondem aos riscos identificados) tais como testes aos controlos e/ou

procedimentos substantivos.

Procedimentos exigidos

O auditor utiliza o julgamento profissional para determinar os procedimentos de avaliação de risco a executar, e o âmbito

ou profundidade da compreensão da entidade que é necessário obter. No primeiro ano em que o auditor executa a

auditoria de uma entidade, o trabalho exigido para obter e documentar esta informação requer frequentemente uma

Conteúdo ISA

relevante

A natureza e utilização dos procedimentos de avaliação de risco pelo auditor para identificar e

avaliar os riscos de distorção

240 315 (Revista)

Indagações ao órgão de gestão e a

outros

Observaçãoe Inspeção

Procedimentos Analíticos

ISA relevante

Parágrafos

315R 5-6,11-12

140

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.7. Procedimentos de avaliação do risco

quantidade de tempo significativa. No entanto, se a informação obtida ficar bem documentada no primeiro ano, o tempo

necessário para atualizar a informação em anos seguintes deve ser significativamente inferior ao necessário no primeiro

ano.

O auditor necessita de executar procedimentos de avaliação de risco suficientes para identificar fatores de risco de

negócio e de fraude que possam resultar em distorção material. Isto inclui a consideração de quaisquer acontecimentos ou

condições que possam levantar dúvidas significativas sobre a capacidade da entidade para prosseguir em continuidade.

5.7.3 Os três procedimentos de avaliação do risco

Cada um dos três procedimentos de avaliação de risco deve ser executado durante a auditoria, mas não necessariamente

para cada aspeto da compreensão exigida. Em muitas situações, os resultados obtidos ao executar um tipo de

procedimento podem levar a que seja executado outro. Por exemplo, numa entrevista com o gestor de vendas, pode ser

identificado um contrato de venda pouco usual, mas significativo. Isto pode ser seguido de inspeção ao contrato e a uma

análise do impacto nas margens de venda. Alternativamente, os resultados obtidos de procedimentos de revisão analítica

sobre resultados operacionais preliminares podem originar algumas questões ao órgão de gestão. As respostas a essas

questões podem levar à inspeção de alguns documentos ou à observação de algumas atividades.

5.7.4 Indagações ao órgão de gestão e a outros (incluindo indagações relativas a fraude)

A indagação é utilizada pelo auditor conjuntamente com outros procedimentos de avaliação

de risco para ajudar a identificar riscos de distorção material. O foco das perguntas é a

obtenção de compreensão para cada um dos aspetos exigidos tais como referidos nos

parágrafos 11 e 12 da ISA 315 (Revista).

Geralmente, a maioria da informação das indagações é obtida do órgão de gestão e dos

responsáveis pelo relato financeiro. No entanto, indagações a outros dentro da entidade e a empregados com diferentes

níveis de autoridade podem proporcionar uma perspetiva diferente, e pode ser útil informação adicional para identificar

riscos de distorção material que de contrário poderiam não ser detetados. Por exemplo, uma discussão com o responsável

das vendas poderia revelar que algumas transações de venda (no fim do período) foram antecipadas e não foram

registadas de acordo com as políticas de reconhecimento do rédito da entidade.

As áreas de indagação estão sumarizadas no Quadro seguinte.

Indagações ao órgão de gestão e a

outros

ISA relevante

Parágrafos

24017-1820-21

141

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.7. Procedimentos de avaliação do risco

Quadro 5.7-1

Entrevista Indagar sobre

Encarregados da governação (EG)

(se não estiverem envolvidos na gestão da entidade)

• Ambiente no qual são preparadas as demonstrações financeiras.

• Supervisão dos processos da gestão para identificar e responder aos riscos de fraude ouerro na entidade, e o controlo interno estabelecido pelo órgão de gestão para mitigaresses riscos.

• Conhecimentos de fraude, real, suspeita, ou alegada, que afete a entidade.

• Considerar assistir a uma reunião dos encarregados da governação e leitura das atas de reuniões anteriores.

Órgão de gestão e responsáveis pela preparação do relato financeiro

• Avaliação pelo órgão de gestão do risco de que as demonstrações financeiras possam estar materialmente distorcidas devido a fraude ou erro, incluindo a natureza, extensão e frequência dessas avaliações.

• Comunicações do órgão de gestão, caso existam, a empregados, relativamente a práticas negociais e comportamento ético.

• A cultura da entidade (valores e ética).

• Estilo operacional do órgão de gestão.

• Planos de incentivos.

• Potencial para derrogação dos controlos pelo órgão de gestão.

• Conhecimento ou suspeita de fraude.

• Como é que as estimativas são preparadas.

• Se a entidade cumpre as leis e regulamentos.

• Preparação das demonstrações financeiras e processo de revisão.

• Comunicações do órgão de gestão, caso existam, aos encarregados da governação.

Empregados chave (compras, salários, contabilidade, etc.)

• Tendências do negócio e acontecimentos não usuais.

• A iniciação, processamento e registo de transações complexas ou pouco usuais.

• A extensão da derrogação dos controlos pelo órgão de gestão (isto é, foi pedido a algum destes empregados que não aplicasse o controlo interno?).

• O uso de políticas contabilísticas apropriadas e sua aplicação.

Marketing ou vendas • Estratégias de marketing e tendência das vendas.

• Incentivos às vendas.

• Contratos com clientes.

• A extensão da derrogação dos controlos pelo órgão de gestão (isto é, foi pedido a algum destes empregados que não aplicasse o controlo interno ou as políticas contabilísticas dereconhecimento do rédito?).

Auditoria interna • Âmbito do trabalho e as situações identificadas e recomendações.

• Identificação e avaliação de possíveis riscos de distorção material.

• Outros assuntos que podem afetar o trabalho do auditor externo.

• Potencial para usar o trabalho da função de auditoria interna para obter prova de auditoria.

142

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5.7. Procedimentos de avaliação do risco

5.7.5 Procedimentos analíticos

Os procedimentos analíticos utilizados como procedimentos de avaliação de risco ajudam a identificar assuntos que têm

implicações nas demonstrações financeiras e na auditoria. Alguns exemplos são transações ou acontecimentos, quantias,

rácios e tendências pouco usuais.

Para além de serem um procedimento de avaliação de risco, os procedimentos analíticos também podem ser usados como

procedimentos de auditoria adicionais em:

• Obter prova sobre uma asserção das demonstrações financeiras. Isto seria um procedimento analítico

substantivo e é discutido em maior pormenor no Capítulo 6.3 deste Guia; e

• Executar uma revisão global das demonstrações financeiras perto do final da auditoria.

A maior parte dos procedimentos analíticos não são muito detalhados ou complexos. Usam frequentemente dados

agregados a um nível alto, pelo que os resultados podem apenas proporcionar uma indicação inicial sobre a possível

existência de uma distorção material.

Os passos relativos aos procedimentos analíticos estão resumidos no Quadro seguinte.

Quadro 5.7-2

O que fazer Como fazer

Identificar relações entre os dados

Desenvolver expectativas sobre relações plausíveis entre os vários tipos de informação que seja razoável supor que existam. Se possível, utilizar fontes de informação independentes (ou seja, não gerada internamente).

A informação financeira e não financeira pode incluir:

• Demonstrações financeiras para períodos comparáveis;

• Orçamentos, previsões e extrapolações, incluindo de dados intercalares e anuais; e

• Informação relativa à indústria em que a entidade opera e condições económicas atuais.

Comparar Comparar expectativas com os valores registados ou rácios calculados a partir desses valores.

Avaliar resultados Avaliar os resultados.

No caso de serem encontradas relações não usuais ou inesperadas, considerar riscos de

distorção material potenciais.

Procedimentos Analíticos

143

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.7. Procedimentos de avaliação do risco

Os resultados destes procedimentos analíticos devem ser considerados conjuntamente com outra informação recolhida

para:

• Identificar os riscos de distorção material relativos a asserções implícitas em rubricas significativas das

demonstrações financeiras; e

• Ajudar a conceber a natureza, oportunidade e extensão de procedimentos de auditoria adicionais.

Nota: Algumas entidades mais pequenas podem não conseguir entregar ao auditor informação financeira mensal ou

intercalar para a execução de procedimentos analíticos. Nestas circunstâncias, pode ser obtida alguma

informação através de indagação, mas indagações mais detalhadas podem ter de esperar até que esteja

disponível uma versão inicial das demonstrações financeiras da entidade.

5.7.6 Observação e inspeção

A observação e a inspeção:

• Suportam as indagações feitas ao órgão de gestão e a outros; e

• Proporcionam informação adicional sobre a entidade e o seu ambiente.

Os procedimentos de observação e inspeção geralmente incluem os procedimentos e aplicações descritos no quadro

seguinte.

Quadro 5.7-3

Procedimento Exemplos de aplicação

Observação Considerar observar:

• Como é que a entidade opera e como está organizada;

• Instalações e fábricas da entidade;

• Estilo operacional do órgão de gestão e a sua atitude em relação ao controlo interno;

• Como funcionam os procedimentos de controlo interno; e

• Conformidade com políticas chave.

Observaçãoe Inspeção

144

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.7. Procedimentos de avaliação do risco

Procedimento Exemplos de aplicação

Inspeção Considerar inspecionar os seguintes documentos:

• Planos de negócios, estratégia e propostas;

• Estudos do setor e notícias sobre a entidade na comunicação social;

• Principais contratos e compromissos;

• Regulamentos e correspondência com os reguladores;

• Correspondência com advogados, bancos e outras partes interessadas;

• Políticas e registos contabilísticos;

• Manuais de controlo interno;

• Relatórios preparados pelo órgão de gestão (tais como relatórios de desempenho edemonstrações financeiras intercalares); e

• Outros relatórios, tais como atas de reuniões dos encarregados da governação, relatórios de consultores, etc.

5.7.7 Conceção e implementação dos controlos internos

Os procedimentos de avaliação do risco também incluem procedimentos utilizados na avaliação da conceção e

implementação dos controlos internos relevantes. Os procedimentos relativos ao controlo interno são tratados em mais

detalhe no Capítulo 5.5.

5.7.8 Outras fontes de informação sobre riscos

Outros procedimentos efetuados pelo auditor podem ser utilizados para a avaliação de risco. Alguns exemplos típicos

estão descritos na Quadro seguinte.

Quadro 5.7-4

Fonte Descrição

Aceitação ou continuação

Informação relevante obtida nos procedimentos preliminares.

Trabalho anterior Experiência relevante de auditorias anteriores e outro tipo de trabalhos efetuados para a entidade.

Isto pode incluir:

• Áreas de preocupação em auditorias anteriores;

• Pontos fracos do controlo interno;

• Alterações na estrutura organizacional, processos de negócio, e sistemas de controlointerno; e

• Distorções anteriores e se foram corrigidas atempadamente.

145

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5.7. Procedimentos de avaliação do risco

Fonte Descrição

Informação externa • Indagações a advogados externos à empresa ou a avaliadores.

• Revisão de relatórios preparados pelos bancos ou agências de rating.

• Informação sobre a indústria e estado da economia obtida através de pesquisas nainternet, jornais económicos, e publicações financeiras e de entidades reguladoras.

Discussões da equipa Resultados da discussão da equipa (incluindo o sócio) sobre a suscetibilidade das demonstrações financeiras da entidade a distorções materiais, incluindo fraude.

5.7.9 Procedimentos de avaliação de risco específicos

O seguinte Quadro contém uma lista de ISA com procedimentos de avaliação do risco específicos a serem executados em

todas as auditorias, quando aplicável.

Quadro 5.7-5

ISA Título

240 As responsabilidades do Auditor relativas a fraude numa Auditoria de Demonstrações Financeiras

250 (Revista) Consideração de Leis e Regulamentos numa Auditoria de Demonstrações Financeiras

315 (Revista) Identificar e Avaliar os Riscos de Distorção Material Através do Conhecimento da Entidade e do Seu Ambiente

320 A Materialidade no Planeamento e na Execução de uma Auditoria

540 Auditar Estimativas Contabilísticas, Incluindo Estimativas Contabilísticas de Justo Valor e Respetivas Divulgações

550 Partes Relacionadas

560 Acontecimentos Subsequentes

600 Considerações Especiais – Auditorias de Demonstrações Financeiras de Grupos (incluindo o Trabalho dos Auditores de Componentes)

146

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

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147

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

5.8.1 Enquadramento

A identificação dos riscos é o alicerce da auditoria. É a base, e uma parte, dos

procedimentos do auditor para conhecer a entidade e o seu ambiente. Sem uma

compreensão sólida da entidade, o auditor pode não se aperceber de determinados

fatores de risco. Por exemplo, se as vendas de um cliente estão a aumentar, seria

importante para o auditor saber que as vendas da indústria como um todo estão na

verdade em forte declínio.

O objetivo da fase de avaliação do risco é identificar fontes de risco, e depois avaliar se

eles podem resultar numa distorção material nas demonstrações financeiras. Isto proporciona ao auditor a informação

necessária para direcionar os esforços de auditoria para áreas em que o risco de distorção material é maior, e dedicar

menos tempo nas áreas de menor risco.

A avaliação do risco tem duas partes distintas:

• Identificação do risco (questionando “o que pode correr mal”); e

• Avaliação do risco (determinando a importância de cada risco).

A identificação do risco encontra-se ilustrada na Imagem abaixo.

Imagem 5.8-1

Conteúdo ISA

relevante

Como identificar e avaliar os riscos de distorção material nas demonstrações financeiras 200

240

315 (Revista)

ISA relevante

Parágrafos

200 13

240 10-13,15,17-18,22-24,44

3,11

315R 3,11

Identificação do risco

O que pode correr mal e resultar numa distorção nas demonstrações financeiras?

Listar os fatores de risco de negócio e de fraude identificados

Executar procedimentos de avaliação do risco

Objetivos da entidade, fatores externos, natureza da entidade, políticas contabilísticas, medidas de desempenho e controlo interno

1 2 3 4 5

148

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

Após a identificação do risco o auditor avalia os riscos identificados e determina a sua importância para a auditoria das

demonstrações financeiras. É preferível avaliar os riscos inerentes antes de considerar quaisquer controlos internos que

possam mitigar tais riscos.

A avaliação de risco envolve considerar dois atributos do risco:

• Qual é a probabilidade de ocorrer de uma distorção em resultado do risco?

• Quais seria a magnitude (impacto monetário) se o risco ocorrer?

Probabilidade de ocorrer uma distorção

Qual é a probabilidade de existir um risco que origine uma distorção? O auditor pode avaliar esta probabilidade

simplesmente como alta, média ou baixa, ou pode atribuir uma pontuação numérica, por exemplo, de 1 a 5 (ver Imagem

5.8-3). Uma pontuação numérica proporciona uma avaliação mais precisa. Quanto mais alta a pontuação, mais provável é

a existência do risco.

Magnitude (impacto monetário) se o risco existir

Se o risco existir, qual seria o impacto monetário? Este julgamento necessita ser avaliado considerando uma quantia

monetária específica, tal como a materialidade de execução. Caso contrário, pessoas diferentes (com diferentes

materialidades em mente) poderiam chegar a conclusões completamente diferentes.

Os passos envolvidos na avaliação do risco (usando o critério alto, médio ou baixo) então ilustrados a seguir.

Primeiro, identificar os riscos Não podem ser avaliados riscos que não tenham sido identificados. Deve evitar-se a tentação, principalmente numa pequena entidade, de assumir que não existem riscos relevantes ou que os riscos de distorção material são os mesmos que no período anterior. Podem existir novos riscos, e a natureza/importância dos riscos anteriormente identificados podem ter alterado.

Focar no que alterou face ao período anterior Após a primeira auditoria, focar no que alterou em cada uma das seis fontes de risco (ver Imagem 5.8-7) em vez de começar tudo de novo. Isto irá poupar tempo e focar a atenção na natureza e efeito de novos riscos que existem agora e na revisão de riscos anteriormente identificados.

Se for usada pontuação numérica para avaliar a probabilidade e magnitude, os números podem ser multiplicados para proporcionar um resultado combinado ou global. Este cálculo pode ser útil ao considerar se existem riscos significativos. Adicionalmente, se for usada uma folha de cálculo eletrónica, a listagem dos riscos pode ser classificada e ordenada por forma a que os riscos mais significativos identificados estejam sempre no topo da lista. Isto pode ser informação útil aquando da revisão do dossier e para assegurar que foi desenvolvida uma resposta adequada para os riscos avaliados.

Em pequenas entidades em que o número de fatores de risco é reduzido e a resposta de auditoria já foi determinada, as duas avaliações (probabilidade e magnitude) podem igualmente ser consideradas separadamente, mas documentadas como uma avaliação combinada.

149

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

Imagem 5.8-2

Os resultados do processo de avaliação de risco também podem ser definidos num gráfico, conforme ilustrado na Imagem

abaixo.

Imagem 5.8-3

Os riscos situados na área “alto impacto (magnitude), elevada probabilidade” exigem claramente ações do órgão de gestão

para os mitigar. Adicionalmente, estes riscos irão provavelmente ser classificados como significativos, os quais requerem

consideração especial de auditoria (ver Capítulo 5.9).

Imp

act

o (

mag

nit

ud

e) d

o r

isco

Probabilidade de ocorrência do risco

Alto impactoBaixa probabilidade

Alto impactoAlta probabilidade

Baixo impactoBaixa probabilidade

Baixo impactoAlta probabilidade

54321

BAABM

BMAMM

BMABM

Avaliação do riscoListagem de fatores de risco de negócio e risco de fraude identificados

É provável que o risco (distorção) identificado ocorra? (Alto, Médio, Baixo)

Se o risco (distorção) ocorrer, quão material seria para as demonstrações financeiras? (Alta, Média, Baixa)

Nível de risco avaliado(Alto, Médio, Baixo)

150

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

5.8.2 Tipos de risco

Existem duas grandes classificações de risco:

• Risco de negócio; e

• Risco de fraude.

A diferença entre risco de negócio e risco de fraude é que o risco de fraude resulta de uma ação deliberada de uma

pessoa, conforme ilustrado abaixo.

Imagem 5.8-4

Nota: Em muitas situações, o risco pode ser simultaneamente um risco de negócio e um risco de fraude. Por exemplo, a

introdução de um novo sistema contabilístico gera incerteza (podem ocorrer erros enquanto o pessoal se

familiariza com o novo sistema) e seria classificado como um risco de negócio. Contudo, também pode ser

classificado como um risco de fraude uma vez que alguém pode aproveitar a incerteza para apropriação indevida

de ativos ou manipular as demonstrações financeiras.

Risco de negócio

O termo “risco de negócio” inclui mais do que riscos de distorção material nas demonstrações financeiras. Os riscos de

negócio resultam de condições, acontecimentos, circunstâncias, ações ou inações significativas que podem afetar de

forma adversa a capacidade da entidade atingir os seus objetivos e executar as suas estratégias. Também pode incluir a

definição de objetivos e estratégias não apropriados.

O risco de negócio também inclui acontecimentos que resultam da mudança, complexidade ou falha em reconhecer a

necessidade de mudança. A mudança pode surgir, por exemplo, de:

• Desenvolvimento de novos produtos que podem falhar;

• Um mercado não adequado, mesmo que os novos produtos sejam desenvolvidos com sucesso; ou

• Falhas em produtos que podem resultar em passivos e prejudicar a reputação da entidade.

Risco de fraude

O risco de fraude relaciona-se com acontecimentos ou condições que indicam um incentivo ou pressão para cometer

fraude ou proporcionam uma oportunidade para cometer fraude.

A compreensão pelo auditor dos fatores de risco de negócio e de fraude aumenta a probabilidade de identificação de

riscos de distorção material. Contudo, não é responsabilidade do auditor identificar ou avaliar todos os riscos de negócio

possíveis.

Acontecimentos que podem resultar numa distorção material nas DFRisco de Negócio

Risco Baixo Risco Moderado Risco Alto

Exposição ao risco AltaBaixa

Atos intencionais que podem resultar numa distorção material nas DFRisco de fraude

DF = Demonstrações financeiras

151

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

5.8.3 Fontes de informação sobre a entidade

O primeiro passo do processo de avaliação de risco é obter (ou atualizar) tanta informação sobre a entidade quanto

possível. Esta informação proporciona um enquadramento de referência importante para identificar e avaliar fatores de

risco possíveis.

A informação acerca da entidade e do seu ambiente pode ser obtida tanto de fontes internas como externas. Em muitos

casos, o auditor começa com fontes de informação internas. Esta informação pode ser confirmada quanto à sua

consistência com informação obtida de fontes externas como dados de associações de comércio e dados sobre condições

económicas gerais, as quais podem ser obtidas da Internet. A Imagem seguinte demonstra algumas das potenciais fontes

de informação disponíveis.

Imagem 5.8-5

5.8.4 Procedimentos de avaliação do risco

Tendo por base a informação obtida da entidade, o auditor está agora numa posição de conceber procedimentos de

avaliação do risco abordados no Capítulo 5.7. Esses procedimentos de avaliação do risco serão concebidos para obter e

documentar a compreensão da entidade e do seu ambiente, incluindo o controlo interno, como segue.

Demonstrações financeiras

Orçamentos

Relatórios

Medidas de desempenho

Declarações fiscais

Políticas contabilísticas usadas

Julgamentos e estimativas

Visão, valores, objetivos e estratégias

Estrutura organizacional

Descrição de funções

Dados de recursos humanos

Indicadores de desempenho

Manual de políticas e procedimentos

Info

rmaç

ão f

inan

ceir

aIn

form

ação

não

fin

ance

ira

Informação da Internet

Informação da indústria

Dados da concorrência

Agências de notação

Credores

Agências governamentais

Media e outras entidades externas

Informação da Internet

Dados de associações de comércio

Previsões da indústria

Agências governamentais

Artigos de media

Fontes internas Fontes externas

152

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

Imagem 5.8-6

A suficiência da informação (profundidade da compreensão) necessária ao auditor é uma questão de julgamento

profissional. É menor do que a detida pelo órgão de gestão na gestão da entidade. A última secção (“F” na Imagem acima),

que se relaciona com os controlos internos relevantes para auditoria, é abordada no Capítulo 5.5. Conhecer a natureza da

entidade e o seu ambiente, incluindo o controlo interno, possui benefícios, conforme se apresenta no Quadro seguinte.

Quadro 5.8-1

Fornece um quadro de referência

Benefícios de obter o conhecimento da entidade

Identificação de riscos e conceção de respostas

• Fazer julgamentos sobre a avaliação de risco.

• Desenvolver respostas adequadas aos riscos de distorção material nas demonstrações financeiras identificados

• Determinar a materialidade (ver Capítulo 5.4).

• Desenvolver expectativas necessárias à execução de procedimentos analíticos.

• Conceber/executar procedimentos de auditoria adicionais para reduzir o risco de auditoria para um nível aceitavelmente baixo.

• Avaliar a suficiência / apropriação da prova de auditoria obtida (por exemplo,apropriação dos pressupostos usados e das declarações verbais e escritas do órgão de gestão).

Revisão das demonstrações financeiras

• Avaliar a seleção e aplicação das políticas contabilísticas pelo órgão de gestão.

• Considerar a adequação das divulgações das demonstrações financeiras.

• Identificar áreas de auditoria para consideração especial (por exemplo, transações com partes relacionadas, acordos contratuais não usuais ou complexos, continuidade outransações não usuais

A. Fatores externos

Natureza da indústria

Ambiente regulatório

Referencial de relato financeiro

B. Natureza da entidade

Operações e pessoal chave

Propriedade e governação

Investimento, estrutura e financiamento

C. Políticas contabilísticas

Seleção e aplicação

Motivos para alterações

Adequação à entidade

D. Objetivos e estratégiasda entidade

Planos de negócio e estratégias

Implicações financeiras e riscos corridos

E. Mensuração/ revisão do desempenho financeiro

O que é mensurado

Quem revê os resultados financeiros

F. Controlo internorelevante para auditoria

Processos e controlos relevantes para mitigar riscos ao nível da entidade e ao nível da transação

153

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

5.8.5 Fontes de risco

Os erros e fraudes nas demonstrações financeiras resultam de fatores de risco que têm a sua origem em uma ou mais de

seis áreas necessárias ao conhecimento da entidade (ver Imagem 5.8-7).

Um exemplo seria um novo imposto, complexo, a que a entidade passasse a estar sujeita. Isto seria um fator de risco

externo. Um risco de distorção material nas demonstrações financeiras poderia ser a má interpretação da nova lei,

resultando um cálculo incorreto do imposto a pagar e da quantia devida. De notar que a fonte (ou causa) do risco é o novo

imposto que afeta a entidade, e não o risco no cálculo, o qual é o efeito do fator de risco. Como consequência do novo

imposto, o risco da ocorrência de erro no seu cálculo aumenta.

A Imagem seguinte mostra as seis áreas exigidas conhecer como sendo fontes de risco potenciais.

De notar que essas fontes de risco não se relacionam geralmente com uma área específica das demonstrações financeiras.

Por exemplo, uma contração na economia pode resultar em distorções em diversas áreas das demonstrações financeiras

tais como o inventário, contas a receber, vendas, etc. Assim, primeiro identifica-se a fonte do risco e depois identifica-se

onde, como consequência, podem ocorrer as distorções nas demonstrações financeiras.

Imagem 5.8-7

De seguida exemplificam-se fontes de risco (mas não o efeito em áreas específicas das demonstrações financeiras).

Relacionar fontes de risco com riscos de

distorção material nas DF

Objetivos e estratégias da entidade

Indústria, regulamentação e outros fatores externos(incl. referencial de

relato financeiro)

Natureza da entidade(operações, propriedade, governação, estrutura, investimentos e financiamento)

Indicadores de desempenho e metas(Internos e externos)

Seleção e aplicação de políticas contabilísticas

Controlos internos relevantes para auditoria(isto é, aqueles que tratam riscos de distorção material)

A obtenção do conhecimento da entidade não é uma tarefa isolada que seja feita na fase inicial da auditoria e depois colocada à parte. É importante continuar a conhecer a entidade ao longo da auditoria, e permanecer alerta para fatores de risco não identificados anteriormente ou quando a avaliação inicial do risco necessita ser atualizada.

154

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

Quadro 5.8-2

Fontes de riscos de negócio e de fraude

Objetivos e estratégias da entidade

• Objetivos e estratégias não apropriados, irrealistas ou demasiado agressivos.

• Novos produtos ou serviços, ou mudança para novas linhas de negócio.

• Entrada em novas áreas de negócio / transações nas quais a entidade possui poucaexperiência.

• Inconsistências entre as estratégias de TI e de negócio.

• Resposta a um rápido crescimento ou declínio das vendas que podem estrangular os sistemas de controlo interno e as competências das pessoas.

• Recurso a contratos de financiamento complexos.

• Reestruturações empresariais.

• Transações significativas com partes relacionadas.

Fatores externos • Estado da economia e alterações na regulamentação governamental.

• Declínio na procura dos produtos ou serviços da entidade.

• Regulamentação altamente complexa.

• Alterações na indústria.

• Incapacidade em obter os recursos necessários (materiais ou pessoal qualificado).

• Sabotagem deliberada dos produtos ou serviços de uma entidade.

• Constrangimentos na disponibilidade de capital e crédito.

Natureza da entidade

• Cultura da empresa e sua governação fraca.

• Pessoal em áreas chave com poucos conhecimentos.

• Alterações no pessoal chave, incluindo saída de executivos chave.

• Complexidade das operações, estrutura organizacional ou produtos.

• Falhas nos produtos ou serviços que podem resultar em passivos ou risco de reputação.

• Falha em reconhecer a necessidade de mudança (competências necessárias outecnologia).

• Deficiências no controlo interno, em especial aquele não abordado pelo órgão de gestão.

• Fraca relação com financiadores externos, tal como bancos.

• Questões de continuidade e liquidez, incluindo perda de clientes significativos.

• Instalação de novos sistemas relacionados com o relato financeiro.

Indicadores de desempenho

• Órgão de gestão não usa medidas de desempenho para avaliar o desempenho daentidade e atingimento de objetivos.

• Medidas não usadas para melhorar operações ou tomar ações corretivas.

Políticas contabilísticas

• Aplicação inconsistente de políticas contabilísticas.

• Utilização não apropriada de políticas contabilísticas.

155

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

Fontes de riscos de negócio e de fraude

Controlo interno • Supervisão não adequada do dia-a-dia das operações por parte do órgão de gestão.

• Controlos sobre as atividades ao nível da entidade fracos ou não existentes, tal comorecursos humanos, fraude e preparação de informação contabilística, tal comoestimativas e relatórios financeiros.

• Controlos sobre transações, tais como rédito, compras, gastos e pessoal fracos ouinexistentes.

• Fraca salvaguarda de ativos.

5.8.6 Risco de fraude

O termo “fraude” refere-se a um ato intencional por um ou mais indivíduos entre o órgão de gestão, encarregados da

governação, empregados, ou terceiros envolvendo o uso propositado de falsidades para obter uma vantagem injusta ou

ilegal.

A fraude que envolva um ou mais membros do órgão de gestão ou encarregados da governação é referida como “fraude

do órgão de gestão”. A fraude que envolve apenas empregados da entidade é referida como “fraude de empregados”. Em

ambos os casos, pode haver conluio dentro da entidade ou com terceiros fora da entidade. A Imagem seguinte descreve

os tipos e características da fraude.

Imagem 5.8-8

Manipulação das demonstrações financeiras

(relatar resultados superiores/inferiores aos que

efetivamente ocorreram)

Proprietários e órgão de gestão

Empregados

Benefício pessoal (poupança fiscal, venda de negócio por preço inflacionado ou pagamento de bónus)

Justificar um propósito (manutenção num negócio, salvar empregos, manutenção do financiamento, servir a comunidade)

Derrogação dos controlos internos, transações falsas ou incorretas, conluio, manipulação de políticas contabilísticas, exploração de deficiências no controlo interno

Geralmente de grande dimensão devido à posição do órgão de gestão na entidade e ao seu conhecimento do controlo interno

Benefício pessoal

(obter um bónus baseado no desempenho, ocultar perdas ou encobrir ativos desviados)

Transações falsas ou incorretamente reconhecidas, manipulação de políticas contabilísticas, exploração de deficiências no controlo interno

Geralmente de menor dimensão mas pode acumular de forma significativa ao longo do tempo no caso de não ser detetada

Quem?

Porquê?

Como?

Quanto?

Apropriação indevida de ativos

(apropriar ativos da entidade para uso pessoal)

Proprietários e órgão de gestão

Empregados

Benefício pessoal ou para ajudar alguém em necessidade

Derrogação dos controlos internos, desvio de inventários/ativos, conluio, exploração de deficiências no controlo interno

Geralmente baseado numa necessidade particular. Mesmo que comece pequena, provavelmente tornar-se-á maior se não detetada

Benefício pessoal ou para ajudar alguém em necessidade

Desvio de inventários ou ativos, conluio, exploração de deficiências no controlo interno

Geralmente baseado numa necessidade particular. Mesmo que comece pequena, provavelmente tornar-se-á maior se não detetada

156

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

5.8.7 Tipos e características da fraude

Apesar da fraude poder ocorrer em qualquer nível da organização, ela tende a ser mais séria (e envolver quantias mais

elevadas) quando a gestão de topo está envolvida.

Algumas das principais condições que pode criar um ambiente para fraude incluem:

• Governação da entidade ineficaz;

• Falta de liderança pelo órgão de gestão e fraco clima da organização;

• Elevados incentivos por desempenho financeiro;

• Impostos ou outros gastos que são considerados muito elevados ou onerosos;

• Complexidade das regras da entidade, regulamentação e políticas;

• Expectativas irrealistas por parte dos bancos, investidores ou outros stakeholders:

• Redução e alterações inesperadas na rentabilidade; e

• Controlo interno inadequado, especialmente quando ocorre uma alteração organizacional.

O controlo interno antifraude mais eficaz seria um forte compromisso por parte dos encarregados da governação e da

gestão de topo em fazer o que é correto. Isto é evidenciado através de valores da entidade e um compromisso com a ética

que sejam modelados numa base diária. Isto é válido para qualquer organização independentemente da sua dimensão.

5.8.8 O triângulo da fraude

Ao efetuar procedimentos de avaliação do risco, os membros da equipa de auditoria precisam tomar em consideração a

existência de três condições que frequentemente dão indicações sobre a existência de fraude. Os técnicos forenses

geralmente referem-se a isto como o “triângulo da fraude” (ver Imagem abaixo) porque quando estão presentes as três

condições, é altamente provável que a fraude ocorra.

Essas condições são:

• Pressão

Isto é geralmente gerado por necessidades imediatas (tal como possuir dívidas pessoais significativas ou atingir

uma expetativa de lucro dos analistas ou bancos) que são difíceis de partilhar com outros.

• Oportunidade

Uma cultura organizacional fraca e a falta de procedimentos de controlo interno adequados podem muitas vezes

criar a confiança de que uma fraude possa não ser detetada.

• Racionalização

A racionalização é a crença de que não foi cometida uma fraude. Por exemplo, quem comete a fraude racionaliza

que “isso não é um grande problema” ou “apenas estou a tirar o que eu mereço”

Imagem 5.8-9

Oportunidade

157

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

Por exemplo, um sócio-gerente no negócio da construção pode receber uma proposta para construir uma parte

significativa da casa de um amigo, desde que seja uma transação em dinheiro sem envolver documentos. Considerar as

três condições:

• A “pressão” no sócio-gerente pode ser a redução de impostos que teriam sido pagáveis.

• A “oportunidade” para o sócio-gerente derrogar controlos sobre o reconhecimento do rédito e não reconhecer

rédito de uma transação.

• A “racionalização” poderá ser o sócio-gerente já estar a pagar demasiados impostos.

Nota: Se uma das três condições não existir, a venda a dinheiro é improvável.

Quadro 5.8-3

Fontes de risco de fraude

Incentivos e pressões • A estabilidade financeira ou rentabilidade são ameaçadas pelas condições económicas,da indústria ou operacionais da entidade.

• Existem pressões excessivas sobre o órgão de gestão para atingir requisitos ouespectativas de terceiros (tal como metas de resultados ou cumprimento com regulamentação ambiental onerosa, etc.).

• Obrigações financeiras pessoais podem criar pressão no órgão de gestão ou nos empregados com acesso a dinheiro ou outros ativos suscetíveis de apropriação indevida.

• Relações adversas entre a entidade e os empregados com acesso a dinheiro ou outros ativos. Por exemplo:

– Futuros despedimentos de empregados, conhecidos ou antecipados;

– Alterações a remunerações dos empregados recentes ou antecipadas, e

– Promoções, compensações ou outras recompensas inconsistentes com asexpectativas.

• Situação financeira pessoal do órgão de gestão ou encarregados da governação podem ser ameaçadas pelo desempenho financeiro da entidade (tal como interessesfinanceiros, compensações, garantias, etc.).

Atitudes e racionalização

Racionalização

• O órgão de gestão está interessado em empregar meios inapropriados para:

– Minimizar os ganhos relatados por motivos fiscais, e

– Aumentar ganhos relatados para evitar a violação de covenants bancários, aumentaro preço de venda da entidade, ou atingir as metas determinadas por um terceiro.

• O comportamento do empregado indica insatisfação com a entidade.

• Moral baixa entre a gestão de topo.

• O órgão de gestão é tolerante com alguns desvios pelos empregados. Por exemplo, não é efetuada nenhuma ação disciplinar quando um empregado é apanhado a fazer desvios.

• O órgão de gestão não reforça os valores e padrões éticos da entidade.

158

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

Fontes de risco de fraude

Atitudes e racionalização

(Cont.)

Atitudes

• O órgão de gestão:

– Tem um histórico conhecido de violação de leis e regulamentos ou alegações de fraude.

– Demonstra alterações no comportamento ou estilo de vida que podem indicar aapropriação indevida de ativos e não reconhece a necessidade de monitorizar oureduzir os riscos relacionados com a apropriação indevida de ativos.

– Derrogou controlos existentes e não tomou medidas corretivas apropriadas em deficiências de controlo interno conhecidas.

– Tenta recorrentemente justificar a contabilização não apropriada com base namaterialidade.

• A gestão de topo dá um exemplo ético fraco (tal como inflacionar as contas de gastos e cometer pequenos furtos, etc.).

• O sócio-gerente não distingue entre transações pessoais e da entidade.

• Existem disputas entre acionistas numa empresa familiar.

• Relacionamento tenso entre o órgão de gestão e o auditor atual ou antecessor.

Oportunidades Ativos suscetíveis de apropriação indevida

• Quantias elevadas em caixa ou quantias elevadas processadas.

• Itens de inventários de reduzida dimensão, quantia elevada ou com procura elevada.

• Ativos facilmente convertíveis, tais como títulos ao portador, diamantes ou chips de computador.

• Ativos fixos tangíveis de reduzida dimensão, comercializáveis, ou que não possuam identificação da propriedade.

Controlos internos não adequados

• Supervisão inadequada por parte dos encarregados da governação sobre os processos doórgão de gestão para identificação e resposta aos riscos de fraude; Supervisãoinadequada das despesas da gestão de topo.

• Segregação de funções ou verificações inadequadas.

• Supervisão inadequada do órgão de gestão sobre empregados responsáveis por ativos.

• Inadequado processo de seleção de empregados com acesso a ativos.

• Inadequada manutenção de registos relacionados com ativos.

• Inadequada autorização e aprovação de transações.

• Inadequada salvaguarda física de caixa, inventários ou ativos fixos tangíveis.

• Falta de reconciliações de ativos de forma completa e oportuna.

• Falta de documentação de transações de forma atempada e apropriada (por exemplo,créditos para devolução de mercadorias).

• Inexistência de férias obrigatórias para empregados que desempenham funções chave.

• Conhecimento inadequado das tecnologias de informação por parte do órgão de gestão,permitindo aos empregados das tecnologias de informação perpetrarem apropriaçãoindevida.

• Inadequados controlos de acesso sobre transações automáticas, incluindo controlos sobre e revisão de event logs.

159

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5.8. Identificação e avaliação dos riscos

Fontes de risco de fraude

Oportunidades

(Cont.)

Áreas específicas de vulnerabilidade

• Estimativas do órgão de gestão, reconhecimentos do rédito, registos de operações diversas, transações com partes relacionadas, etc.

Os auditores, dependendo da sua função dentro da equipa de auditoria, podem identificar um fator de risco de fraude

relacionado com um ou mais elementos do triângulo da fraude. No entanto, é menos provável que qualquer auditor

identifique as três condições (oportunidade, pressão e racionalização). Por este motivo, é importante que a equipa de

auditoria discuta continuamente as situações identificadas ao longo do trabalho.

Os benefícios das discussões entre os membros da equipa de auditoria encontram-se demonstradas na Imagem abaixo.

Imagem 5.8-10

Na ausência de comunicação, seria difícil a um membro da equipa de auditoria acima perceber o contexto global. As

discussões contínuas entre os membros da equipa juntam todas as peças da informação de modo a poderem

compreender o todo.

O sócio de auditoria descobre que o sócio-gerente por vezes se aproxima dos limites éticos

O auditor assistente foi informado por um colaborador que algumas compras de material foram expedidas diretamente para amigos

Ao falar com o diretor comercial, o sénior de auditoria descobre que o sócio negoceia pessoalmente com alguns clientes

A fraude é sempre intencional. Envolve ocultação de informação e declarações falsas deliberadas ao auditor. Consequentemente, a fraude é descoberta analisando padrões, situações estranhas e exceções, frequentemente em quantias consideradas reduzidas.

É pouco provável que a fraude seja detetada apenas por procedimentos substantivos. Por exemplo, é pouco provável que o auditor identifique uma transação não reconhecida ou determine que uma transação não é válida a menos que exista conhecimento adicional da entidade que possa ser usado como um quadro de referência.

160

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5.8. Identificação e avaliação dos riscos

5.8.9 Ceticismo profissional

O auditor é responsável por manter uma atitude de ceticismo profissional permanente durante o trabalho. Uma atitude de

ceticismo profissional envolve as situações descritas no Quadro seguinte.

Quadro 5.8-4

O ceticismo envolve

Reconhecer que o órgão de gestão pode sempre cometer fraude

O órgão de gestão está sempre numa posição de derrogar controlos considerados como bons.

Os membros da equipa de trabalho devem afastar a ideia de que o órgão de gestão e os encarregados da governação são honestos e íntegros, não obstante a experiência passada quanto à sua honestidade e integridade.

Manter uma mente interrogativa

Fazer avaliações críticas sobre a validade da prova de auditoria obtida.

Estar alerta A prova de auditoria contradiz ou põe em causa a fiabilidade de:

• Documentos e resposta a indagações?

• Outra informação obtida do órgão de gestão e dos encarregados da governação?

Ser cuidadoso Evitar:

• Negligenciar circunstâncias não usuais.

• Generalizar de forma excessiva ao tirar conclusões das observações de auditoria.

• Usar premissas indevidas na determinação da natureza, oportunidade e extensão dos procedimentos de auditoria e avaliação dos resultados obtidos.

• Aceitar prova de auditoria menos do que persuasiva por acreditar que o órgão de gestãoe os encarregados da governação são honestos e íntegros.

• Aceitar declarações do órgão de gestão em substituição de prova de auditoria suficiente e apropriada.

5.8.10 Como identificar fatores de risco inerente

A forma mais eficaz de evitar falhar a identificação de um fator de risco relevante é integrar a identificação de riscos no

conhecimento da entidade. Quanto maior for o conhecimento do auditor acerca das seis áreas, mais provável é o auditor

ser capaz de identificar fatores de risco. O conhecimento da entidade também auxilia aquando da identificação e resposta

posterior a possíveis cenários de fraude. De recordar que a derrogação de controlos pelo órgão de gestão é sempre

possível e a fraude é desta forma ocultada (especialmente ao auditor).

À medida que a informação sobre cada uma das áreas do conhecimento da entidade é obtida (ou atualizada), deverá ser

considerada a existência de fatores de risco de negócio ou de fraude relevantes. Para muitos dos riscos de negócio

identificados, também poderá ser necessário considerar o risco de fraude. Por este motivo, sugere-se que, quando

possível, os riscos de fraude sejam identificados e avaliados separadamente dos riscos de negócio. Por exemplo, se as

Aplicar o ceticismo profissional numa auditoria de um cliente que se conhece e confia pode ser difícil. Existe uma tendência humana para confiar nas pessoas se não existir informação em contrário. Consequentemente, o sócio responsável pelo trabalho e restante equipa devem ser lembrados regularmente para aplicarem o ceticismo profissional.

161

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

perspetivas de vendas dos produtos de uma entidade forem fracas (um risco de fontes externas), deve ser considerado o

que pode correr mal (e as implicações) nas demonstrações financeiras. Vendas fracas podem resultar em inventário

excessivo que pode ter que ser reduzido, mas também pode dar origem a um risco de fraude se proporcionar um incentivo

para um vendedor inflacionar as suas vendas para atingir o seu bónus.

Os efeitos de alguns fatores de risco identificados terão relação com uma área específica das demonstrações financeiras,

mas outros fatores de risco serão globais e relacionam-se com muitas áreas das demonstrações financeiras. Por exemplo,

se os empregados da contabilidade não reunirem as competências necessárias ao exercício das suas funções, os erros

provavelmente não serão limitados a uma área das demonstrações financeiras. Adicionalmente, se alguém tirar vantagem

da situação para cometer fraude, as distorções podem ocorrer em diversos saldos de ativos ou passivos e podem ser

encobertos por distorções adicionais no rédito e nos gastos.

Os riscos globais resultam geralmente de um ambiente de controlo fraco e afetam potencialmente muitas áreas das

demonstrações financeiras, divulgações e asserções. Os riscos globais irão provavelmente afetar a avaliação do risco ao

nível das demonstrações financeiras. Os riscos ao nível das demonstrações financeiras serão abordados pelo auditor

através de respostas globais (por exemplo, executando mais trabalho de auditoria, designando membros mais experientes

para a equipa, etc.).

À medida que a auditoria progride, podem ser identificados fatores de risco adicionais. Estes devem ser adicionados à lista

de riscos identificados e abordados e avaliados de forma apropriada antes de tomar quaisquer decisões sobre o impacto

na estratégia de auditoria e no plano de auditoria, tal como a natureza e extensão dos procedimentos de auditoria

adicionais exigidos. Isto assegurará que, aquando do planeamento do próximo período, a identificação e avaliação do risco

estará completo.

Sugere-se um processo de identificação de riscos em três passos conforme descrito no Quadro seguinte.

Quadro 5.8-5

Identificação do risco

Passo 1

Obter informação básica sobre a entidade

O ponto de partida é a obtenção de um conhecimento básico ou quadro de referência para conceber os procedimentos de avaliação de risco a executar. Sem esta compreensão, seria difícil, senão impossível, identificar quais os erros e fraudes que podem ocorrer nas demonstrações financeiras.

• Obter (ou atualizar) informação básica relevante da entidade, os seus objetivos, cultura,operações, pessoal chave e a organização interna e controlos.

Os riscos de negócio e de fraude (riscos inerentes) são identificados antes de tomar em consideração quaisquer controlos que possam mitigar esses riscos. O controlo interno que pode mitigar o risco é abordado no Capítulo 5.5. Este facto também é importante para a identificação de riscos significativos que possam existir (ver Capítulo 5.9).

162

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

Identificação do risco

Passo 2

Conceber, executar e documentar os procedimentos de avaliação de risco

• Exige-se a execução de procedimentos/atividades de avaliação de risco (ver Capítulo 5.7) por forma a:

– Identificar as fontes de risco de distorção material,

– Obter um conhecimento da entidade apropriado, e

– Obter a prova de auditoria necessária.

• Tendo por base o conhecimento da entidade obtido no passo 1 acima, conceber e executar procedimentos de avaliação do risco e atividades relacionadas.

• Manter discussões entre a equipa de auditoria relacionadas com a suscetibilidade das demonstrações financeiras a distorções materiais, devido a erro ou fraude.

• Realizar indagações ao órgão de gestão sobre como identificam e gerem os fatores de risco (em particular de fraude) e quais os fatores de risco que foram identificados e geridos. Questionar o órgão de gestão sobre se ocorreram erros ou situações de fraude.

• Documentar todos os fatores de risco identificados.

Passo 3

Relacionar os riscos identificados com áreas significativas das demonstrações financeiras

Para cada fator de risco (causa de risco) identificado, identificar o efeito (distorções específicas tal como fraude e erro) que, como consequência, pode ocorrer nas demonstrações financeiras. De notar que um único fator de risco pode resultar em diversos tipos de distorção que pode afetar mais do que uma área das demonstrações financeiras. (Ver caixa abaixo com alguns exemplos.)

• Identificar os saldos de contas, classes de transação e divulgações materiais nas demonstrações financeiras.

• Relacionar os riscos identificados com áreas específicas das demonstrações financeiras, divulgações e asserções afetadas. Se o risco identificado for global, então relacioná-lo com as demonstrações financeiros como o todo. A identificação do efeito dos riscos por área das demonstrações financeiras auxilia na avaliação de riscos ao nível da asserção. A identificação do efeito de riscos globais auxilia na avaliação de riscos ao nível das demonstrações financeiras.

163

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5.8. Identificação e avaliação dos riscos

Uma tendência natural dos auditores é usar as demonstrações financeiras como o ponto de partida para identificar riscos. Por exemplo, o inventário pode ser considerado de risco alto devido a erros identificados em períodos anteriores. Contudo isto é equivalente a identificar o efeito de um risco, mas não a causa subjacente. Saber que o inventário possui risco elevado é importante; contudo, é ainda melhor conhecer a causa do risco. Se a causa do risco não for identificada, é possível que não sejam identificados alguns fatores de risco. Considerar o seguinte:

Saldos ou transações em falta As demonstrações financeiras apenas sumarizam os resultados de decisões de negócio e transações que tenham sido reconhecidas. Se as transações não tiverem sido reconhecidas, ou se os ativos tiverem sido indevidamente apropriados ou se as contingências não tiverem sido divulgadas, é perfeitamente possível que os fatores de riscos de tais quantias ou divulgações em falta não sejam identificados ou avaliados.

Recolha de factos versus identificação de riscos O processo de conhecimento da entidade pode facilmente focar-se em reunir factos acerca da entidade em vez que identificar fontes de riscos. Quando isto ocorre, pode falhar-se a identificação de novos fatores de risco, acontecimentos, transações e riscos de fraude.

Causas e efeitos de distorções Pode não se dar importância a algumas fontes de risco se for prestada atenção prioritária ao efeito ou consequência do fator de risco (tal como focar nos erros do saldo de inventários, e não em primeiro lugar nas causas da sua ocorrência). A fonte do risco é o acontecimento em primeiro lugar que pode causar a ocorrência de erros. A fonte dos erros no saldo de inventários pode ser a existência de empregados não adequados ou com pouca formação, um sistema de controlo interno desatualizado, aplicação incorreta de políticas contabilísticas, como o reconhecimento do rédito, ausência de segurança sobre os inventários, ou fraude cometida por empregados, etc.

Uma causa com efeitos de distorções múltiplas Uma fonte de risco individual pode frequentemente afetar vários saldos nas demonstrações financeiras. Por exemplo, uma desaceleração da economia pode afetar a valorização do inventário, a cobrabilidade das contas a receber, o cumprimento dos acordos bancários, a manipulação de transações de venda para atingir as metas para os bónus, e possivelmente questões de continuidade.

Riscos globais Ao focar numa área das demonstrações financeiras de cada vez, podem não ser identificados alguns riscos globais ou riscos de fraude. Por exemplo, a introdução de um novo sistema contabilístico pode resultar em erros em muitos saldos das demonstrações financeiras. Adicionalmente, alguém pode tirar vantagem da incerteza gerada por um novo sistema para cometer fraude.

164

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5.8. Identificação e avaliação dos riscos

5.8.11 Avaliação de risco por parte da entidade

A avaliação de risco é um dos cinco componentes do controlo interno (ver Capítulo 5.5) que deve ser considerada pelo

órgão de gestão da entidade.

Em pequenas entidades, o processo de avaliação é provavelmente informal e desestruturado. O risco em pequenas

entidades é geralmente reconhecido de forma mais implícita do que explicita. O órgão de gestão pode estar ciente dos

riscos relacionados com o relato financeiro através do seu envolvimento pessoal direto com os empregados e terceiros.

Como resultado, o auditor faria indagações ao órgão de gestão sobre como identifica e gere o risco, e quais os riscos que

foram identificados e geridos. O auditor documentaria os resultados.

À medida que o órgão de gestão compreende os benefícios de um processo de avaliação de risco mais formalizado, pode

decidir desenvolver, implementar e documentar o seu próprio processo. Quando isto acontecer, o auditor avalia:

• Os controlos existentes sobre os processos do órgão de gestão;

• A plenitude dos riscos de negócio e de fraude identificados;

• A avaliação do órgão de gestão quanto à magnitude dos riscos e probabilidade da sua ocorrência; e

• Respostas do órgão de gestão aos riscos avaliados.

Se o órgão de gestão falhar na identificação de riscos chave, deve ser considerado se existe uma deficiência significativa no

processo de avaliação do risco da entidade.

5.8.12 Documentar o processo de identificação e avaliação de risco

O auditor deve usar o julgamento profissional relativamente à forma de documentar estas questões. Por exemplo, a

documentação do processo de identificação de risco que segue os três passos acima identificados consistiria em:

• Informação sobre a entidade;

• Procedimentos de avaliação de risco; e

• Relacionar os riscos identificados com os erros e fraudes possíveis nas demonstrações financeiras.

Quadro 5.8-6

Documentar Descrição

Informação sobre a entidade

Documentar a informação obtida na área de conhecimento apropriada, tal como objetivos da entidade, fatores externos, natureza da entidade, etc. A documentação pode variar de simples a complexa, dependendo da dimensão da entidade, e pode incluir:

• Informação preparada pelo cliente (tal como planos de negócio e análises);

• Dados externos (relatórios da indústria, comunicações internas, políticas e procedimentos documentados);

• Correspondência relevante (legal, agências governamentais, etc.), emails, relatórios de consultores, memorandos; e

• Checklists da firma.

165

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5.8. Identificação e avaliação dos riscos

Documentar Descrição

Procedimentos de avaliação de risco

Documentar detalhes dos procedimentos de avaliação de risco executados. Isto pode incluir:

• Discussões da equipa de auditoria relativas à suscetibilidade das demonstrações financeiras da entidade a distorções materiais devido a erro ou fraude, e seus resultados;

• Elementos chave do conhecimento da entidade obtido, incluindo:

– Cada um dos aspetos da entidade e do seu ambiente descritos acima,

– Cada um dos cinco componente do controlo interno, conforme descritos no Capítulo 5.5, e

– Fontes de informação usadas para o conhecimento da entidade; e

• Os riscos de distorção material ao nível das demonstrações financeiras e ao nível da asserção identificados e avaliados.

Relacionar os riscos identificados a possíveis erros e fraude nas demonstrações financeiras

Documentar os saldos de conta, classes de transação e divulgações materiais nas demonstrações financeiras e, depois, para cada fonte de risco identificada, indicar se é:

• Global para as demonstrações financeiras como um todo; ou

• Confinada a áreas específicas das demonstrações financeiras, divulgações e asserções.

Existem diversas formas para documentar os riscos identificados. Uma forma de documentar os riscos identificados está

apresentada no Quadro seguinte. O Quadro demonstra a origem do risco por área do conhecimento (fatores externos,

natureza da entidade, etc.), o impacto ou possível consequência do risco, e as áreas das demonstrações financeiras

afetadas.

Quadro 5.8-7

Origem do risco Impacto nas demonstrações financeiras (Erros ou fraude) Área das DF afetada ou

risco global

Objetivos da entidade

Introdução de um novo produto durante o ano

Erros na imputação do custo e valorização do inventário. Valorização dos inventários

O custeio e metodologias/sistemas de preço do novo produto podem criar oportunidades à ocorrência de fraude.

Rigor dos inventários

A necessidade de novos financiamentos vai dificultar o cumprimento de covenants existentes. Se a entidade incumprir os covenants, o financiamento pode tornar-se pagável de imediato.

Nota de divulgações de financiamentos, covenants e classificação de empréstimos

O órgão de gestão pode ser tentado a manipular as demonstrações financeiras para assegurar o cumprimento dos covenants bancários.

Risco global

Natureza da entidade

Falta de formação dos empregados da contabilidade

Erros nas demonstrações financeiras Risco global

Oportunidade para fraude Risco global

166

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

A documentação pode ser preparada na forma de memorando ou listagem de riscos tal como exemplificado no Quadro

5.8-8 abaixo. Notar o seguinte:

• As duas primeiras colunas do Quadro são preenchidas no âmbito da identificação de riscos.

• A coluna asserção é uma avaliação de:

– As asserções específicas relacionadas com a área ou divulgação específica das demonstrações

financeiras impactada pelo risco. Isto irá auxiliar na avaliação do risco ao nível da asserção, e

Registo único para os riscos Considerar registar todos os fatores de risco num único documento, único local, ou com uma referência comum nos papéis de trabalho do dossier de auditoria. Isto tem diversas vantagens: • Facilita a revisão. Todos os fatores de risco podem ser encontrados num único documento. • Avaliação consistente. Quando os riscos são revistos conjuntamente, a avaliação diferenciada de um risco

particular será mais evidente. • Os riscos podem ser classificados (usando um ficheiro eletrónico) permitindo os riscos mais significativos

aparecer no topo da página. Desta forma, quem revê o dossier pode verificar e assegurar que os principais riscos identificados foram abordados com a resposta de auditoria apropriada.

Listas separadas de fatores de risco de fraude e de negócio Listar e avaliar os riscos de fraude e riscos de negócio separadamente. Muitos riscos de negócio também criam uma oportunidade ou incentivo para a ocorrência de fraude. Se a fraude não for considerada separadamente, podem falhar alguns fatores de risco de fraude. Por exemplo, um novo sistema de contabilidade pode criar erros potenciais (risco de negócio), mas também pode criar uma oportunidade para alguém manipular os resultados ou apropriar-se indevidamente de ativos (risco de fraude). Outra razão para os manter separados é que a resposta de auditoria a um risco de fraude (identificação de padrões, exceções que possam existir) pode ser muito diferente da resposta para um risco de negócio relacionado.

Deixar a avaliação de risco para mais tarde Evitar a tentação de apenas listar os fatores de risco que provavelmente serão significativos ou importantes. Uma parte chave da identificação de riscos ou acontecimentos é desenvolver uma listagem completa de fatores de risco possíveis. Os fatores de risco inconsequentes podem sempre ser removidos depois da avaliação de cada risco. Isto irá ajudar a assegurar que todos os riscos materiais foram, de facto, identificados.

Reutilizar documentação na medida do possível Evitar ter que voltar a documentar os fatores de risco identificados e o conhecimento da entidade obtido em cada período. Se a informação acerca dos procedimentos de avaliação do risco executados e dos riscos identificados for captada de uma forma estruturada (ver um local para os riscos acima), ela pode ser simplesmente atualizada em cada período. Isto pode exigir mais tempo de preparação inicialmente (no primeiro período) mas irá poupar tempo nos períodos subsequentes. Contudo, deve assegurar-se que os procedimentos de avaliação de risco são adequadamente executados e documentados em cada período, e que podem ser identificadas quaisquer alterações efetuadas. Assegurar igualmente que cada documento regista o facto de que a informação foi atualizada.

Impacto dos riscos A mais importante, mas também mais difícil, coluna a completar é a que se refere ao “impacto do risco nas demonstrações financeiras” (ver Quadro acima). É nesta coluna que o auditor determina a implicação do risco identificado. A quebra nas vendas é um fator de risco, mas, se reconhecidas com rigor pela entidade, isto não resultaria em riscos de distorção material. Contudo, a quebra nas vendas pode resultar na obsolescência ou sobreavaliação de inventários, e a cobrabilidade das contas a receber pode tornar-se mais difícil. É a implicação de cada fator de risco que o auditor necessita identificar para depois poder desenvolver uma resposta de auditoria apropriada.

167

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.8. Identificação e avaliação dos riscos

– Riscos globais que afetam muitas asserções com impacto na avaliação do risco ao nível das

demonstrações financeiras.

• Os riscos que estão a ser avaliados são riscos inerentes. O risco de controlo é avaliado no Capítulo 5.5.

• As avaliações da probabilidade e magnitude (impacto) podem usar uma escala numérica de 1=baixa

probabilidade/magnitude a 5=alta probabilidade/magnitude. Estas pontuações podem ser multiplicadas para

fornecer uma pontuação combinada. Contudo, estes riscos poderiam igualmente ter sido avaliados como alto,

médio ou baixo.

Quadro 5.8-8

Período: 31 dezembro 20X2 Materialidade 50.000Є

Acontecimento de risco/origem

Implicação do fator de risco Asserções

P RV E A

Avaliação do risco inerente

Probabi-lidade

ocorrên-cia

Є

Impacto

Pontua-ção combi-nada

Remuneração dos vendedores baseada em comissões de venda

Vendas podem ser fictícias, reconhecidas no período incorreto, ou com termos diferentes dos termos normais por forma a atingir as metas do bónus

E RV 4 4 16

É encoberto um cumprimento de covenants financeiros para evitar questões dos bancos

Registos contabilísticos não autorizados para diferir gastos, enviesamento de estimativas do órgão de gestão, etc.

Todas 2 5 10

Inserção de fornecedores fictícios

Pagamento de gastos por preços inflacionados ou para os quais não foram prestados

E RV 2 4 8

Transações com partes relacionadas não identificadas. Não envolvimento dos acionistas no negócio pode ser desvantajoso.

Rédito e gastos não reconhecidos a preços de mercado

Todas 3 5 15

Vendas a dinheiro não reconhecidas e não depositadas

Rédito e ativos subavaliados. P RV E 4 1 4

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.9. Riscos significativos

5.9.1 Enquadramento

Após terem sido identificados e avaliados os riscos de negócio e riscos de fraude, deve ser

considerada a existência de riscos significativos. Um risco significativo é um risco em que o

risco de distorção material é tão alto que, no julgamento do auditor, necessita

consideração especial de auditoria.

Os riscos significativos são avaliados antes de tomar em consideração quaisquer controlos

que os mitiguem. Um risco significativo é baseado no risco inerente (antes de considerar o

controlo interno respetivo) e não no risco combinado (considerando o risco inerente e o

risco de controlo). Por exemplo, uma entidade com um elevado inventário de diamantes teria um elevado risco inerente

de furto. A resposta do órgão de gestão seria manter as instalações seguras. O risco de distorção material combinado seria

assim, mínimo. Contudo, devido ao risco de perda (antes de considerar o controlo interno) ser altamente provável e a

dimensão teria um impacto material nas demonstrações financeiras, o risco seria determinado como “significativo”.

Conteúdo – Riscos significativos ISA

relevante

Orientações sobre a natureza e determinação de riscos significativos, as suas considerações especiais em termos de procedimentos de auditoria exigidos, e comunicação aos encarregados da governação.

240

260 (Revista)

315 (Revista)

330

550

ISA relevante

Parágrafos

240 26

315R 4,25,27-29

330 21

550 18-19

Quando é considerada a existência de riscos significativos, pode ser difícil ignorar o efeito do controlo interno para mitigar esses riscos. Isto é particularmente verdade quando as pessoas que implementam o controlo são conhecidas do auditor e provavelmente são extremamente eficientes no que fazem.

O que se exige é a separação do risco inerente dos controlos existentes. Por exemplo, um adulto prestes a passar uma estrada movimentada provavelmente não consideraria essa atividade muito arriscada. Isto é porque se considera que os adultos usam a sua visão, audição e experiência passada (na passagem de estradas) para a atravessar de forma segura.

Mas essa avaliação de risco combina o risco inerente envolvido no cruzamento da estrada com atividades de controlo (uso da visão, audição e experiência passada). Para avaliar se atravessar a estrada é um risco significativo (isto é, antes de quaisquer controlos), a pessoa teria que ser vendada, colocados tampões nos ouvidos e depois seria pedido para atravessar a estrada.

170

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.9. Riscos significativos

5.9.2 Exemplos

Apresentam-se a seguir exemplos de riscos significativos.

Quadro 5.9-1

Fonte/Origem Exemplos

Atividades de risco elevado

Incluem operações ou acontecimentos em que podem facilmente ocorrer distorções materiais. Por exemplo, um inventário de joias de elevado valor ou relógios de ouro detido por uma joalheria, ou a introdução de um sistema contabilístico novo/complexo.

Transações significativas e não rotineiras (dimensão e natureza)

Identificação de partes relacionadas significativas fora do âmbito normal de atividade da entidade devem ser tratadas como dando origem a riscos significativos.

Inclui transações significativas e pouco frequentes. Por exemplo:

• Volume não usual de transações de rotina com partes relacionadas;

• Um importante contrato de venda ou de compra;

• A compra ou venda de ativos ou segmentos de negócio significativos; e

• Venda do negócio a um terceiro.

As transações rotineiras não complexas que se encontram sujeitas ao processamento sistemático são menos prováveis de dar origem a riscos significativos.

Situações que exigem julgamento ou intervenção do órgão de gestão

Exemplos:

• Pressupostos e cálculos usados pelo órgão de gestão no desenvolvimento de estimativas importantes;

• Cálculos ou princípios contabilísticos complexos;

• Reconhecimento do rédito (presumido risco significativo) que está sujeito a diferentes interpretações;

• Obtenção e processamento de dados manuais de forma corrente; e

• Intervenção do órgão de gestão necessária para especificar o tratamento contabilístico ausar.

Divulgações nas DF Os exemplos podem incluir aspetos de divulgação quantitativos ou qualitativos tal como:

• Exigência de novas divulgações ou divulgações revistas resultantes do ambiente daentidade, condição ou atividades financeiras, tal como uma concentração de atividades empresariais significativa ou reorganização financeira.

• Alterações no referencial de relato financeiro aplicável que tenham um impactosignificativo na entidade.

• Divulgações relacionadas com obrigações de pensões ou outros benefícios de reforma.

• Pressupostos chave do órgão de gestão usados para preparar estimativas.

• Fatores que originam imparidade significativa de um ativo.

171

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5.9. Riscos significativos

Fonte/Origem Exemplos

Potencial de fraude O risco de não detetar uma distorção material resultante de fraude (a qual é intencional e deliberadamente encoberta) é maior do que o risco de não detetar uma distorção material resultante de erro.

Ao avaliar se um risco significativo resulta de um fator de risco de fraude identificado e dos cenários e esquemas possíveis discutidos nas reuniões da equipa, considerar o seguinte:

• Capacidades do potencial perpetrador;

• Dimensão relativa das quantias individuais manipuladas;

• Nível de autoridade do órgão de gestão ou do empregado para:

– Manipular direta ou indiretamente os registos contabilísticos, e

– Derrogar procedimentos de controlo;

• Frequência e extensão da manipulação envolvida;

• Grau de possível conluio;

• Deturpações intencionais nas declarações prestadas ao auditor; e

• Experiência de auditoria anterior ou preocupações expressas por outras pessoas.

Podem ser identificados riscos de fraude significativos em qualquer fase da auditoria em resultado de nova informação obtida.

5.9.3 Identificar riscos significativos

Se os riscos de distorção material já tiverem sido identificados e avaliados, o que é exigido é a revisão das situações

identificadas e depois selecionar (com base no julgamento profissional) os riscos que são, de facto, significativos. Por

exemplo, se a avaliação dos riscos for apresentada num gráfico conforme ilustrado na Imagem abaixo (as estrelas

representam os riscos avaliados), seriam os dois riscos incluídos na área sombreada a amarelo (riscos com alto impacto e

alta probabilidade) que primeiramente seriam considerados riscos significativos.

Imagem 5.9-1

Imp

acto

(m

agn

itu

de)

do

ris

co

Probabilidade de ocorrência do risco

Alto impactoBaixa probabilidade

Alto impactoAlta probabilidade

Baixo impactoBaixa probabilidade

Baixo impactoAlta probabilidade

= Fator de risco identificado

172

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5.9. Riscos significativos

Quando considera se existe um risco significativo, o auditor deve ter em atenção os assuntos descritos abaixo.

Quadro 5.9-2

Considerações

Fatores que podem indicar possíveis “riscos significativos”

Risco de fraude.

Riscos relacionados com desenvolvimentos económicos, contabilísticos ou outros desenvolvimentos recentes e significativos e que, por isso, exigem atenção especial.

Complexidade das transações.

Transações significativas com partes relacionadas.

Grau de subjetividade na mensuração de informação financeira relacionada com o risco, em especial os que envolvem um amplo intervalo de incerteza de mensuração.

Transações significativas fora do âmbito normal da atividade da entidade ou que aparentam não ser usuais.

Em entidades de menor dimensão, os riscos significativos geralmente relacionam-se com as situações descritas abaixo.

Quadro 5.9-3

Assunto Características

Transações significativas não rotineiras

• Risco inerente alto (probabilidade e impacto).

• Transações que ocorrem com pouca frequência e que não estão sujeitas a processamento automático.

• Não usuais devido à sua dimensão ou natureza (tal como a aquisição de outra entidade)

• Exigem a intervenção do órgão de gestão:

• Para especificar o tratamento contabilístico, e

• Para obter e processar dados.

• Envolvem cálculos ou políticas contabilísticas complexas.

• A natureza das transações dificulta a implementação de controlos internos eficazes sobre os riscos.

Situações com julgamento significativo

• Risco inerente alto.

• Envolvem uma significativa incerteza na mensuração (tal como o desenvolvimento de estimativas contabilísticas).

• Os princípios contabilísticos envolvidos podem ser sujeitos a diferentes interpretações (tal como a preparação de estimativas contabilísticas ou aplicação do reconhecimento do rédito).

• O julgamento por parte do órgão de gestão pode ser subjetivo, complexo ou exigir pressupostos acerca do efeito de acontecimentos futuros (tal como julgamentos sobre o justo valor, valorização do inventário sujeito a rápida obsolescência, etc.)

173

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5.9. Riscos significativos

Assunto Características

Riscos específicos significativos

• Pode existir um pequeno número de riscos específicos relacionados com processos de negócio importantes (tal como expedição de mercadorias sem fatura no processo de vendas) que podem resultar em distorções materiais nas demonstrações financeiras caso não sejam mitigados. Quando estes riscos exijam consideração especial no âmbito da auditoria, eles devem ser vistos como riscos significativos. Se não existirem controlos internos para mitigar tais riscos, eles devem ser relatados ao órgão de gestão como sendo uma deficiência significativa.

Fraude • Reconhecimento do rédito. Este é um risco significativo presumido.

• Derrogação de controlos ou enviesamento de estimativas, etc. por parte do órgão de gestão.

• Transações significativas com partes relacionadas usadas para aumentar vendas ou compras.

• Conluio com fornecedores ou clientes como por exemplo manipulação de preços.

• Transações não reconhecidas ou fictícias.

5.9.4 Responder aos riscos significativos

Quando um risco é classificado como “significativo”, o auditor deve responder conforme descrito abaixo.

Quadro 5.9-4

Passos de auditoria Descrição

Avaliar a conceção e implementação do controlo interno sobre cada risco significativo

O órgão de gestão concebeu e implementou controlos internos que mitiguem os riscos significativos? Considerar a existência de controlos diretos tal como atividades de controlo e de controlos indiretos (globais) que podem ser incluídos nos componentes de ambiente de controlo, avaliação do risco, sistemas de informação e monitorização. Esta informação é útil no desenvolvimento de uma resposta de auditoria eficaz aos riscos identificados.

Quando situações significativas não rotineiras ou de julgamento não se encontram sujeitas ao controlo interno de rotina (tal como um acontecimento único ou anual), o auditor deve avaliar a consciência do órgão de gestão sobre os riscos e a sua resposta. Por exemplo, se a entidade comprou ativos de outro negócio, a resposta da entidade pode incluir:

• Contratar um avaliador independente para os ativos adquiridos;

• Aplicar os princípios contabilísticos apropriados; e

• Fazer divulgações apropriadas nas demonstrações financeiras.

Quando o auditor determina que o órgão de gestão não respondeu apropriadamente (através da implementação de controlos internos sobre os riscos significativos), existe uma deficiência significativa no controlo interno da entidade, a qual deve ser comunicada (logo que possível) aos encarregados da governação.

174

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5.9. Riscos significativos

Passos de auditoria Descrição

Conceber a resposta de auditoria para os riscos significativos identificados

Os procedimentos de auditoria adicionais abordam especificamente o risco significativo? Estes procedimentos devem ser concebidos para obter prova de auditoria com elevada fiabilidade e podem incluir testes aos controlos e procedimentos substantivos.

Em muitas situações, os procedimentos de auditoria podem ser simplesmente uma extensão de procedimentos que seriam executados em qualquer caso. Por exemplo, se o risco significativo relacionado com o potencial enviesamento por parte do órgão de gestão, tal como a preparação de uma estimativa, a extensão dos procedimentos substantivos incluiria:

• Avaliar a validade do pressuposto usado;

• Identificar as fontes e fiabilidade da informação usada (tanto interna como externa);

• Considerar a existência de quaisquer enviesamentos nas estimativas de períodos anteriores quando comparadas com dados reais; e

• Rever os métodos usados (incluindo fórmulas em folhas de cálculo eletrónicas) no cálculo da estimativa.

Comunicar com os encarregados da governação

Comunicar os riscos significativos vai ajudar os encarregados da governação a compreender esses assuntos e porque é que exigem consideração especial no âmbito da auditoria. Também pode auxiliar os encarregados da governação a cumprir a sua responsabilidade de supervisionar o processo de relato financeiro. Os assuntos comunicados podem incluir:

Os planos para abordar os riscos de distorção material significativos, seja devido a fraude ou erro;

• Os planos para abordar áreas de risco de distorção material avaliado como alto.

• Quando a ISA 701 for aplicável, a visão preliminar do auditor sobre situações que podem ser áreas de atenção significativa do auditor durante a auditoria e que por isso podem ser matérias relevantes de auditoria.

• A abordagem planeada para tratar as implicações nas demonstrações financeiras e divulgações de qualquer alteração significativa:

– No referencial de relato financeiro aplicável, ou

– No ambiente, condição financeira ou atividades da entidade.

Os procedimentos analíticos substantivos, por si só, não são suficientes

A utilização de procedimentos analíticos substantivos por si só não é considerada uma resposta apropriada para abordar um risco significativo. Quando a abordagem a um risco significativo consistir apenas em procedimentos substantivos, estes procedimentos substantivos devem consistir em:

• Apenas testes de detalhe; ou

• Uma combinação de testes de detalhe e procedimentos analíticos substantivos.

Nota: Quando for planeado testar a eficácia operacional de um controlo que mitigue um risco significativo, o auditor não

pode basear-se na prova de auditoria sobre a eficácia operacional do controlo interno em auditorias anteriores.

175

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5.9. Riscos significativos

5.9.5 Documentar riscos significativos

A identificação de riscos significativos e a resposta de auditoria proposta deve ser documentada. Se todos os riscos

estiverem documentados um único local, a documentação dos riscos significativos pode simplesmente ser uma extensão

da informação já documentada.

A documentação de auditoria também incluirá os riscos significativos comunicados aos encarregados da governação:

• Se esses assuntos foram comunicados por escrito, o auditor deve manter uma cópia da comunicação.

• Se foram comunicados oralmente, deve ser preparado um memorando para evidenciar os assuntos discutidos,

quando e a quem foram comunicados.

Nota: O reconhecimento o rédito é um risco significativo presumido

Se o auditor concluir que o reconhecimento do rédito não é um risco significativo de distorção material devido a

erro ou fraude, a documentação de auditoria deve incluir as razões para o auditor ter chegado a essa conclusão.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.10. Conclusão da avaliação do risco

5.10.1 Enquadramento

O passo final da fase de avaliação do risco é a revisão dos resultados dos procedimentos de avaliação do risco executados

e depois avaliar (ou, se já avaliados, sintetizar) os riscos de distorção material:

• Ao nível das demonstrações financeiras; e

• Ao nível da asserção para classes de transação, saldos de contas e divulgações.

A lista dos riscos avaliados formará a base para a próxima fase de auditoria, a qual é

determinar como responder de forma apropriada aos riscos avaliados através da conceção

de procedimentos de auditoria adicionais.

Os dois níveis de avaliação do risco estão ilustrados na Imagem seguinte:

Imagem 5.10-1

Conteúdo – Conclusão da avaliação do risco ISA

relevante

Concluir a fase de avaliação do risco através da documentação dos riscos avaliados ao nível das demonstrações financeiras e ao nível da asserção.

315 (Revista)

Demonstrações financeiras (como um todo)

ModBaixo

Ao nível das demonstrações financeiras

Riscos aplicáveis a múltiplas asserções

Ao nível da asserção (parcial)

Asserções relevantes

(avaliar o risco para cada asserção)

Saldo de contas

Apresentação e divulgação

Classes de transações

Inventários

Compromissos

Rédito

Caixa e DO

Gastos

Partes relacionadas

Contas a pagar

Baixo

Mod

Alto

Baixo

P

E

RV

A

Nota: Esta imagem usa as asserções combinadas descritas no ponto 5.2.3

Risco de negócio Risco de fraude

ISA relevante

Parágrafos

315R 25-26,32

178

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.10. Conclusão da avaliação do risco

5.10.2 Prova de auditoria obtida até à data

A prova obtida até à data, através da execução de procedimentos de avaliação de risco, consiste na identificação e

avaliação de riscos inerentes e da conceção e implementação de controlos internos que abordam esses riscos. O que resta

é o risco de distorção material que é o risco remanescente após tomar em consideração o efeito dos controlos internos

implementados para mitigar os riscos inerentes conforme ilustrado na Imagem abaixo.

Imagem 5.10-2

Nota: O comprimento das barras horizontais é meramente para efeitos ilustrativos e variará de entidade para entidade.

5.10.3 Resumo das várias avaliações do risco

O objetivo da avaliação do risco é proporcionar a base e um ponto de referência ao qual é necessário responder de forma

apropriada com procedimentos de auditoria adicionais bem concebidos e eficientes.

Se os riscos identificados até ao momento já tiverem sido documentados e avaliados de uma forma consistente, será

relativamente fácil revê-los e sumarizá-los.

O resumo dos riscos avaliados junta os fatores de risco inerente identificados e a avaliação de qualquer controlo interno

concebido para mitigar tais riscos.

Agora é necessário avaliar o risco de distorção material remanescente. Na Imagem seguinte, os riscos inerentes foram

avaliados na sua maioria como altos e os controlos internos relevantes (se existentes) concebidos para abordar esses riscos

são apresentados como sendo ou não capazes de mitigar os riscos. Uma vez que alguns controlos serão mais eficazes do

que outros para mitigar o risco, será necessário exercer julgamento profissional para determinar o risco de distorção

material remanescente. Neste exemplo, o risco de distorção material remanescente foi avaliado como alto, médio ou

baixo.

Fatores de risco de negócio e de fraude que podem resultar em distorções materiaisRisco

Inerente

Risco de controlo(resposta aos riscos

inerentes)

Risco de Distorção Material

Risco Baixo Risco Moderado Risco Alto

Exposição ao risco de fraude e erro AltoBaixo

Controlos globais

Controlos específicos (transacionais)

Risco residual do órgão de

gestão

179

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5.10. Conclusão da avaliação do risco

Imagem 5.10-3

Notas:

• Antes de concluir que não há riscos particulares para uma área das demonstrações financeiras ou divulgação,

considerar a existência de outros fatores relevantes, tal como o histórico de erros conhecidos, suscetibilidade

do ativo/passivo a fraude, potencial para derrogação pelo órgão de gestão e experiência do período anterior.

• Se o auditor planear confiar num risco de controlo avaliado como baixo (isto é, reduzir a extensão dos

procedimentos substantivos), é necessário testar a eficácia operacional dos controlos para suportar essa

avaliação.

• Em alguns casos, a entidade pode ter alguns controlos internos, mas o auditor não os considerou relevantes

para a auditoria e, portanto, não foi efetuada qualquer avaliação. Nestes casos, o risco de controlo seria

avaliado como alto.

• Os controlos específicos (de transações) geralmente funcionam (resultando num risco de controlo baixo) ou

não funcionam (resultando num risco de controlo alto). Isto implicaria que não existe uma avaliação moderada

de risco de controlo. Contudo, alguns auditores avaliam o risco de controlo como médio quando um controlo

pode não ser totalmente fiável numa operação, mas espera-se que funcione a maior parte do tempo. Este

pode ser muitas vezes o caso em pequenas entidades.

• A determinação do risco residual resultante da combinação do risco inerente e do risco de controlo é uma

matéria de julgamento profissional. O Quadro abaixo demonstra várias combinações de risco, mas não

substitui o julgamento profissional baseado nas circunstâncias particulares.

Riscos individuais ao nível das DF (parcial)

Risco de negócio A

Risco de negócio B

Risco de fraude A

Risco de fraude B

A

A

A

A

S

S

N

S

M

B

A

M

=

=

=

=

Avaliação dos controlos relevantes

Avaliação do risco inerente(probabilidade emagnitude)

Os controlos mitigam os riscos?(conceção e implementação)

Risco de distorção material(com base no julgamento profissional)

Riscos individuais ao nível asserção para inventários (parcial)

Risco A - plenitude

Risco B - plenitude

Risco F - existência

Risco G - existência

M

A

A

A

S

S

N

N

B

M

A

A

=

=

=

=

Avaliação dos controlos relevantes

DF=Demonstrações financeiras A=Risco alto M=Risco moderado B=Risco baixo S=Sim N=Não

180

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5.10. Conclusão da avaliação do risco

Quadro 5.10-1

Risco inerente Risco de controlo RDM

A A A

A M M

A B M ou B

M A M

M M M

M B B

B A B

B M B

B B B

A = Alto M = Médio B = Baixo

5.10.4 Revisão das avaliações de risco

A avaliação do risco não é o fim num determinado momento. À medida que a auditoria progride pode ser obtida nova

informação, a execução dos procedimentos de auditoria pode identificar riscos adicionais ou o controlo interno pode não

estar a operar conforme pretendido. Quando isto ocorrer, a avaliação de risco original deve ser revista e considerado o

impacto na natureza e extensão dos procedimentos de auditoria adicionais.

5.10.5 Documentação

O resumo dos riscos avaliados pode ser documentado de várias formas. Apresentam-se a seguir três abordagens possíveis:

• Um documento único

Um documento separado que sumarize as avaliações do risco inerente e do risco de controlo e as razões

principais para a avaliação combinada do risco. Este documento também pode ser usado para delinear (em

termos gerais) a resposta ao risco.

• Incluir na estratégia global de auditoria e no plano de auditoria

A primeira parte de cada secção do plano de auditoria (tal como contas a receber, a pagar, etc.) pode delinear

as avaliações do risco e o impacto nos procedimentos de auditoria planeados.

Documentar as razões da avaliação Quando resume os riscos avaliados, assegurar que é fornecida uma breve descrição das razões de cada avaliação ou uma referência cruzada para onde pode ser encontrada. Isto é geralmente mais importante do que a própria avaliação porque ajuda a conceber respostas adaptadas e eficientes.

Avaliar os riscos inerentes Recorde-se que a avaliação do risco inerente é sempre feita antes de considerar os controlos que podem mitigar o risco.

Risco baixo para todas as asserções Quando uma área das demonstrações financeiras tiver sido avaliada com risco baixo para todas as asserções, não há necessidade de repetir o mesmo racional para todas as asserções individuais. Contudo, é necessário documentar a razão pela qual as avaliações são baixas.

181

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5.10. Conclusão da avaliação do risco

• Incorporar as avaliações do risco como parte da documentação de procedimentos adicionais do auditor

Neste caso, a avaliação do risco, os planos de auditoria e os resultados do trabalho executado podem ser todos

documentados num papel de trabalho abrangente para cada área das demonstrações financeiras.

A forma e extensão da documentação de suporte à avaliação do risco será influenciada por:

• A natureza, dimensão e complexidade da entidade e do seu controlo interno;

• A disponibilidade da informação da entidade; e

• A metodologia de auditoria e tecnologia usada no decurso da auditoria.

Outros fatores a considerar aquando da conceção da documentação incluem:

• Fácil compreensibilidade;

• Referências cruzadas para a conceção e implementação de uma resposta de auditoria apropriada;

• Capacidade de facilitar a atualização em períodos subsequentes; e

• Fácil revisão. Quem revê deve ser capaz de determinar os riscos chave que foram identificados e que a resposta de

auditoria foi apropriada.

Um resumo dos riscos avaliados bem documentado também será útil nas reuniões de planeamento de períodos

subsequentes em que a natureza dos riscos e a resposta de auditoria podem ser discutidos.

O Quadro seguinte ilustra uma abordagem de usar apenas um documento diretamente ligado ao plano de auditoria. De

notar que esta ilustração usa as quatro asserções “combinadas” (usadas para efeitos deste guia), conforme definidas no

Capítulo 5.2.

Quadro 5.10-2

Níveis de risco avaliados

Asserções

RI

RC

RDM

Documentar os riscos e outros fatores relevantes para

a avaliação do risco

O setor está, em geral, em declínio devido ao aparecimento de novas tecnologias. Contudo, as vendas ainda estão fortes e a entidade está a investir em I&D.

Nível das demonstrações financeiras

Todas M B B A atitude do órgão de gestão perante o controlo interno é boa. As pessoas que ocupam posições chave possuem a competência adequada.

A derrogação pelo órgão de gestão é possível, mas as novas políticas em vigor devem deter as práticas mais comuns.

O órgão de gestão é composto por membros da família.

Nível da asserção

Divulgação nas DF

1 Vendas P A B M

O proprietário quer pagar poucos impostos. O reconhecimento do rédito tem sido inconsistente.

E M B B Identificados controlos internos relevantes. São possíveis testes aos controlos para esta asserção.

182

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.10. Conclusão da avaliação do risco

Asserções

RI

RC

RDM

Documentar os riscos e outros fatores relevantes para

a avaliação do risco

RV M B B Identificados controlos internos relevantes e não existe histórico de erros.

A NA NA NA

2 Contas a receber P B B B

Foram identificados controlos internos relevantes e não existe histórico de erros.

E A M M

Os bónus dos vendedores são baseados nas vendas registadas.

RV B B B

Foram identificados controlos internos relevantes e não existe histórico de erros. A recuperabilidade das contas a receber pode ser um problema devido ao declínio do setor.

A A M M

Assegurar que a apresentação das DF é apropriada e que as notas com as divulgações abordam as imparidades.

3 Inventários P B B B

Foram identificados controlos internos relevantes e não existe histórico de erros.

E A A A

Furto de inventários e fraco controlo interno no armazém.

RV B B B

Foram identificados controlos internos relevantes e não existe histórico de erros. A nova tecnologia irá tornar parte ou eventualmente todo o inventário obsoleto.

A M A M

As divulgações de componentes do inventário têm apresentado erros no passado.

Chave:

A = Alto NA = Não aplicável ADF = Área das

demonstrações

E = Existência

M = Médio RI = Risco Inerente RV = Rigor e valorização

B = Baixo RC = Risco de Controlo

RDM = Risco de Distorção

Material (risco combinado)

P = Plenitude A = Apresentação

A documentação dos riscos avaliados também pode fazer referência a:

• Detalhes de riscos significativos que exigem atenção especial; e

• Riscos para os quais os procedimentos substantivos, por si só, não proporcionam prova de auditoria suficiente e apropriada.

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.10. Conclusão da avaliação do risco

5.10.6 Exemplo – Identificação de riscos (quanto ao risco inerente)

Cliente: Preparado por: Exercício findo em: Revisto por:

Procedimentos planeados para avaliação do risco

1. Documentar fatores potenciais de risco identificados em:

• Procedimentos de aceitação/continuação de clientes;

• Outros tipos de trabalhos efetuados para a entidade; e

• Auditorias anteriores.

2. Rever o balancete mais recente para identificar:

(a) Tendências do rédito e dos gastos; e

(b) Alterações em ativos e passivos.

Indagar sobre tendências ou alterações significativas identificadas.

3. Identificar fatores potenciais de risco através da leitura de documentos chave da entidade tais como, planos de negócio, orçamentos, atas e os mais recentes dados financeiros.

4. Indagar o órgão de gestão e o diretor financeiro acerca de:

(a) Objetivos de negócio, tendências do setor e sobre a avaliação que o órgão de gestão faz dos fatorespotenciais de risco e como lhes dá resposta;

(b) Principais acontecimentos ou alterações ocorridos durante o período;

(c) Quaisquer casos de fraude real, suspeita ou alegada;

(d) Qualquer bónus de desempenho ou planos de incentivos;

(e) A identidade de partes relacionadas e sobre a natureza e quantia de transações com elas realizadas;

(f) Quaisquer acontecimentos ou condições relativos àcontinuidade;

(g) Informação necessária para as divulgações das DF;

(h) Transações, acontecimentos e condições que deemlugar a estimativas contabilísticas;

(i) Natureza, extensão e estado de litígios e reclamaçõescontra a entidade ou pessoal chave.

5. Indagar os encarregados da governação acerca de:

(a) A sua composição, mandato e reuniões havidas;

(b) Conhecimento de derrogação de controlos pelo órgão de gestão ou de fraude real ou suspeita;

(c) A sua opinião sobre:

- A eficácia da supervisão da gestão; e

- O ambiente de controlo (cultura, competência,atitudes, etc.)

(d) Que áreas das DF são suscetíveis a fraude.

6. Identificar outros dentro da entidade que possam prestarinformações acerca de fatores potenciais de risco e de alterações ocorridas desde o período anterior.

Ref.ª PT

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5. PLANEAMENTO DA AUDITORIA E AVALIAÇAO DO RISCO

5.10. Conclusão da avaliação do risco

A seguir apresenta-se uma forma estruturada de documentar os resultados da execução dos procedimentos de avaliação

do risco.

Cliente: Preparado por: Exercício findo em: Revisto por:

Riscos do negócio

Fonte do risco Implicações do fator de risco (onde podem existir distorções nas DF?) Asserções

Declínio na economia Pode haver dificuldade na cobrança de saldos de clientes RV

Declínio na economia Podem ser necessários abates de inventários RV

Sabe-se que o empregado do armazém comete erros

Os saldos dos inventários podem estar sub/sobrevalorizados e pode haver impacto na valorização

P RV E

Os controlos gerais de TI são fracos em muitas áreas

A integridade dos dados pode estar comprometida ou os dados podem perder-se

Todas

Estão a ser procurados novos mercados externos

Riscos cambiais em contas a receber RV

Riscos de fraude

Fonte do risco Implicações do fator de risco (onde podem existir distorções nas DF?) Asserções

Pressões

Minimização de impostos Falta de isenção do órgão de gestão (por exemplo, na valorização dos inventários) para reduzir impostos

P RV

Minimização de impostos Lançamentos de operações diversas não autorizados ou manipulação de DF

Todas

Crescimento acelerado com pressão sobre o financiamento

Manipulação das DF para evitar violação de covenants Todas

Bónus dos vendedores baseados em vendas acima de determinados limites

Vendas inflacionadas para se atingirem os limites E

Subornos para obter contratos Perda de reputação, sobrevalorização de despesas, multas P RV E

Oportunidades

Itens de inventário de elevado valor e facilmente transportáveis

Mercadorias subtraídas do inventário E

Vendas por caixa elevadas Mercadorias /dinheiro roubados E

Transações com partes relacionadas As compras/vendas podem não estar adequadamente valorizadas ou divulgadas nas DF

Todas

Aumento significativo em transações com partes relacionadas

As compras/vendas podem estar sub/sobrevalorizadas

Os saldos com partes relacionadas podem não ser cobráveis. Pode haver manipulação das DF através da transferência de saldos com risco para partes relacionadas. Isto pode transformar um saldo com risco num saldo de partes relacionadas.

RV

Racionalização

Baixa moral nos empregados Desvios de dinheiro ou mercadorias E