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5 o direito como texto

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7/23/2019 5 O Direito Como Texto http://slidepdf.com/reader/full/5-o-direito-como-texto 1/41 18 O  DIREITO COMO TEXTO Atribuindo à  pragmáica a prioridade que ela merece, a teoria da decisão jurídica é elevada à categoria de ponto de partida, do qual as normas, e as instituições que estas configuram, não são mais que o resultado da ação de decisão. A decisão geradora de texto  jurídico limita o sentido deste. O ordenamento, como texto bruto, precisa de um a elaboração  dogmática, que por sua vez só é  possíve com um modelo  teórico das normas  jurídicas. Estas e o sistema que com põem são pro duto da construção herm enêutica, adquirindo a  dogmática, assim, o lugar que nunca devia ter abandonado, que é o de ser um conhecimento  prático do direito, não descritivo, mas construtivo. A realidade  jurídica nunca é realidade natural, mas realidade convencionalmente estabelecida mediante decisões ou  atos de fala.  Não se pod e distinguir o construtivo e o regulador, porque no direito tudo cons titui ambas as coisas ao mesmo tempo. A  anáise pode  começar pelo siste ma ou pelo ordenamento, mas com a consciência de que, pelo ponto de vista  genéico o ordenam ento é anterior ao sistema e a decisão é anterior à norma e à instituição. Pelo ponto de vista  lógico, o sistema é mais perfei to ,  mais acabado, e por isso as normas estão inseridas nele. Os  juzes mui tas vezes sem sabê-lo, aplicam o sistema. Este penetra no ordenamento aravés de novas decisões, produzindo-se um  fenômeno de  alimentação  do novo material pela  dogmática  jurídica, que então atua como elemento fun dam ental nos processos de decisão. Os valores adquirem, nesse contexto teórico, tratamento  dspar. É nos processos de decisão, e de maneira sin gular no processo constituinte, que a teoria da  justiça tem sua sede, a qual não é mais que a reflexão sobre como têm que ser as decisões, pelo ponto de vista material e formal, para que possam ser qualificadas como  justas. Contemplado estaticamente o ordenamento, a  dogmática  aperfeçoa os va lores institucionalmente assumidos, reproduzindo hermeneuticamente o sistema  axiológico,que por sua vez atua nos processos de decisão intra^- sistêmicos. No centro  está a  idéia do direito como texto, que possibilita o desenvolvimento de uma teoria hermenêutico-analítica ou comunicacional do direito. II 0 DIREITO COMO TEXTO CSOBRE A FUNDAMENTAÇÃO  DE UMA  TEORIA COMUNICACIONAL  DO  DIREITO O direito  é  texto. Qual significado se deve atribuir à palavra  texto?  E qual é o sentido de  é  quando dizemos direito é texto ? A primeira per gunta nos conduz à filosofia hermenêutica. A segunda, à ontologia. Por acaso não são a mesma coisa? Se afirmo que o direito é texto,  será que estou dizendo que ele  não passa de texto? E se digo que por  trás do texto há mais coisas (como ho mens, interesses, aspirações, ideais, bens, conflitos, decisões, poderes, su jeições, vinculações...), estou dizendo que todas essas coisas que estão  por trásdo texto não pertencem a ele? Estas perguntas, certamente de  difícil resposta, são as que antecedem outras perguntas não menos importantes, mas talvez subordinadas, e cujo conjunto forma a  problemática rede da  teoria comunicacional do direito 1 . 1  Corresponde a isto a idéia de que a teoria do direito  é  anáise da linguagem dos juristas,  idéia já expressada em meu livro  Epistemologia  y  Derecho  (M adri, 1982), em sua Introdução . Ali me referia à  filosofia  do  direito como  anáise da linguagem

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Page 1: 5 O Direito Como Texto

7/23/2019 5 O Direito Como Texto

http://slidepdf.com/reader/full/5-o-direito-como-texto 1/41

18

O  DIREITO COMO TEXTO

A t r i b u i n d o à

 pragmáica

a pr ior idade que e l a merece , a t eor i a da dec i s ão

jurídica

é e le v a d a à c a t e g o r i a d e p o n t o d e p a r t i d a , d o q u a l a s n o r m a s , e a s

i n s t i t u i ç õ e s q u e e s t a s c o n f i g u r a m , n ã o s ã o m a i s q u e o r e s u l t a d o d a a ç ã o

d e d e c i s ã o . A d e c i s ã o g e r a d o r a d e t e x t o

 jurídico

l imi t a o s ent ido des t e . O

o r d e n a m e n t o , c o m o t e x t o b r u t o , p r e c is a d e u m a e l a b o r a ç ã o dogmática,q u e

por sua vez só é

 possíve

c o m u m m o d e l o teóricod a s n o r m a s

 jurídicas.

E s t a s e o si s t e m a q u e c o m p õ e m s ã o p r o d u t o d a c o n s t r u ç ã o h e r m e n ê u t i c a ,

a d q u i r i n d o a dogmática,a s s i m , o l u g a r q u e n u n c a d e v i a t e r a b a n d o n a d o ,

q u e é o d e s e r u m c o n h e c i m e n t o

 prático

d o d i r e i t o , n ã o d e s c r i t i v o , m a s

c o n s t r u t i v o . A r e a l i d a d e

 jurídica

n u n c a é r e a l i d a d e n a t u r a l , m a s r e a l i d a d e

c o n v e n c i o n a l m e n t e e s t a b e l e c i d a m e d i a n t e d e c i s õ e s o u  atos de fala.  Não s e

p o d e d i s t i n g u i r o c o n s t r u t i v o e o r e g u l a d o r , p o r q u e n o d i r e i t o t u d o c o n s

t i t u i a m b a s a s c o is a s a o m e s m o t e m p o . A anáisep o d e começarpe lo s i s t e

m a o u p e l o o r d e n a m e n t o , m a s c o m a c o n s c i ê n c i a d e q u e , p e l o p o n t o d e

vi s t a

 genéico

o o r d e n a m e n t o é a n t e r i o r a o s i s t e m a e a d e c i s ã o é a n t e r i o r

à n o r m a e à i n s t i t u i ç ã o . P e lo p o n t o d e v i s t a

 lógico,

o s i s t ema é ma i s pe r fe i

to ,

 m a i s a c a b a d o , e p o r i s so a s n o r m a s e s t ã o i n s e r i d a s n e l e . O s

 juzes

m u i

t a s v e z e s s e m s a b ê - l o , a p l i c a m o s i s t e m a . E s t e p e n e t r a n o o r d e n a m e n t o

aravés

d e n o v a s d e ci s õ e s , p r o d u z i n d o - s e u m

 fenômeno

d e

 alimentação

  d o

n o v o m a t e r i a l p e la

 dogmática

 jurídica,

q u e e n t ã o a t u a c o m o e l e m e n t o f u n

d a m e n t a l n o s p r o c e s s o s d e d e c i s ã o . O s v a l o r e s a d q u i r e m , n e s s e c o n t e x t o

teórico, t r a t a m e n t o dspar.É n o s p r o c e s s o s d e d e c i s ã o , e d e m a n e i r a s i n

g u l a r n o p r o c e s s o c o n s t i t u i n t e , q u e a t e o r i a d a justiçat em s ua s ede , a qua l

n ã o é m a i s q u e a r e f le x ã o s o b r e c o m o t ê m q u e s e r a s d e c i s õ e s , p e l o p o n t o

d e v i s t a m a t e r i a l e f o r m a l , p a r a q u e p o s s a m s e r q u a l i f i c a d a s c o m o  justas.

C o n t e m p l a d o e s t a t i c a m e n te o o r d e n a m e n t o , a dogmática

 aperfeçoa

os va

l o r es i n s ti t u c i o n a l m e n t e a s s u m i d o s , r e p r o d u z i n d o h e r m e n e u t i c a m e n t e o

sistema  axiológico,que por s ua vez a tua nos proces s os de dec i s ão in t ra^ -

s i s t ê m i c o s . N o c e n t r o estáa idéiad o d i r e i t o c o m o t e x t o , q u e p o s s i b i l i t a o

d e s e n v o l v i m e n t o d e u m a t e o r i a h e r m e n ê u t i c o - a n a l í t i c a o u c o m u n i c a c i o n a l

do d i re i to .

I I 0 DIREITO COMO TEXTO

CSOBRE

 A

  FUNDAMENTAÇÃO

  DE U M A

 TEORIA

COMUNICACIONAL  DO  DIREITO

O d i r e i t o  é  t ex to . Qua l s igni f i cado s e deve a t r ibui r à pa l avra  texto?  E

qua l é o s ent ido de   é  q u a n d o d i z e m o s d i r e i t o é t e x t o ? A p r i m e i r a p e r

g u n t a n o s c o n d u z à f il os of ia h e r m e n ê u t i c a . A s e g u n d a , à o n t o l o g i a . P o r

acas o não s ão a mes ma coi s a?

Se a f i rmo que o d i re i to é t ex to , seráq u e e s t o u d i z e n d o q u e e l e   não

passa  de t ex to? E s e d igo que por

 trás

d o t e x t o h á m a i s c o i s a s ( c o m o h o

mens , i n t e re s s es , a s p i rações , i dea i s , bens , conf l i t os , dec i s ões , pode res , s u

j e i ções , v inculações . . . ) , e s tou d i zendo que todas e s s as co i s as que e s t ão  por

trásd o t e x t o n ã o p e r t e n c e m a e l e ?

E s t a s p e r g u n t a s , c e r t a m e n t e d e difícilr e s p o s t a , s ã o a s q u e a n t e c e d e m

o u t r a s p e r g u n t a s n ã o m e n o s i m p o r t a n t e s , m a s t a l v e z s u b o r d i n a d a s , e c u j o

c o n j u n t o f o r m a a problemáticar e d e d a  teoria comunicacional do direito

1

.

1

 Corresponde a is to a idéiade que a teoria do d irei to  é anáiseda l inguagem

dos juris tas ,

 idéia

já expressada em meu livro  Epistemologia

  y

  Derecho (M adri , 1982),

em sua Intro duçã o . Ali me referia à

 filosofia

  do

 direito

  c o m o

 anáise

da l inguagem

Page 2: 5 O Direito Como Texto

7/23/2019 5 O Direito Como Texto

http://slidepdf.com/reader/full/5-o-direito-como-texto 2/41

2

O   DIREITO COMO TEXTO

ll

Q u a n d o d i z e m o s q u e o d i r e i t o   é  t ex to , com es s e  é  p o d e m o s q u e r e r

d i z e r m u i t a s c o i s a s . P o d e m o s q u e r e r d i z e r , e m p r i m e i r o l u g a r , q u e o d i r e i

t o se m anifesta  o u  aparece  c o m o t e x t o . Tambémp o d e m o s q u e r e r d i z e r q u e

s e r t ex to cons t i t u i a

  essência

  do d i re i to . E , a inda , que o d i re i to

  existe

  c o m o

t e x t o ,

  e que não exi s t e s e não for a s s im.

A p r i m e i r a i n t e l e c ç ã o s u p õ e q u e s e r t e x t o é s o m e n t e   aparência  o u

manifestação,  q u e o

 fenômeno

do d i re i to s e man i fe s t a , pa ra nós, qu an do

a p a r e c e e m f o r m a d e t e x t o . O d i r e i t o q u e s e m a n i f e s t a é o d i r e i t o c o m o

fenômeno.

M a s d e b a i x o d o

 fenômeno

es t a r i a a co i s a em s i , qu e não no s

a p a r e c e n o t e x t o . O   direito,  co m o coi s a em s i , s e r i a aqu i lo de que fa la o

t e x t o ,

  m a s e s t e s e r ia a p e n a s a a p a r i ç ã o i n t e r n a , d e i n t e l e c ç ã o

 compreensí

vel.

  P o r m e i o d o t e x t o

 chegaramos

à coi s a em

  si ,

  q u e n ã o é

 apreensíve

o u

acançáve:

a e s s ênc ia .

I s s o nos conduz à s egunda in t e l ecção . O d i re i to s e r t ex to s igni f i ca r i a

que a co i s a em s i , a  essência  o u substânciad o d i r e i t o , é e x a t a m e n t e o s e r

t ex to . Que o d i re i to s e e s gota no s e r t ex to , e que tudo aqui lo de que fa l a o

t ex to ( in t e res s es , i dea i s e t c . ) s e r i a o cor re s pondente  exterior  à e s s ênc ia do

di re i to , co i s as ex i s t en te s que t êm re l ação com o d i re i to em s i . Mas

 será

possíve

d i z e r q u e o d i r e i t o t e m u m a e s s ê n c i a o u u m a

 substânca?

E esta

p e r g u n t a é p a r e c i d a c o m a q u e l a q u e i n d a g a s e o j o g o t e m u m a e s s ê n c i a o u

substânca

Q u a l é a e s s ê n c i a d o j o g o ? D i v e r s ã o ? P a s s a t e m p o ? C o l a b o r a r , c o m

pe t i r , ganhar? Faz s ent ido indaga r o t ema da e s s ênc ia ou da substâncae m

r e l a ç ã o a o s

 âmbtos práticos

o u ônico-práicos?S e f a z a l g u m s e n t i d o ,

p o d e - s e c o g i t a r q u e a

 idéia

d e j o g o

 está

u n i d a à d e  regra  o u  norma,  e q u e

es t a

 idéia

d e r e g r a o u n o r m a , p o r s u a v e z , estál igada à de texto. De { jato,

dos juris tas . Mas, pelas razões expostas em Introduccióna la

  teoria

  de i

  derecho

(Madri , 1988), preferi subst i tuir

  filosofia

  do

  direito

  p or

  teoria

  do

  direito.

  Já na

versão alemã de  Las regias  de i  derecho  y  las regias  de  losjuegos  emprego a expres

sã o  Rechtstheorie  (ver  Apêndice  2 de  Rechtsregeln und Spielregeln,  Viena-Nova

York, 1987).

O  DIREITO COMO TEXTO

21

c o m o p o s s o r e p r e s e n t a r u m a n o r m a s e m t e x t o ? E c o m o p o d e r i a j o g a r s e m

c o n h e c e r o t e x t o d o j o g o q u e q u e r o j o g a r ? É v e r d a d e q u e o d i r e i t o n ã o é

u m j o g o , m a s p o r a c a s o n ã o p o s s o d i z e r q u e n o d i r e i t o

 está

em jogo  a exis

t ê n c i a d e u m a s o c i e d a d e j u s t a o u p e l o m e n o s r a z o a v e l m e n t e

 suportáve?

P o r

 último,

s e o d i re i to  existe,  como de fa to rea lmente ex i s t e? Exi s t e

s o m e n t e c o m o t e x t o ? N ã o s e r i a

 necessário

dize r que exi s t e como ação e

c o m o o r g a n i z a ç ã o ? M a s p o r a c a s o a a ç ã o e a o r g a n i z a ç ã o n ã o s ã o

 possí

ve i s só po r não s e r em t ex to e l a s

 próprias?

Então , que s ent ido faz d i ze r que

a ação e a organização s ão t ex tos , ou t a lvez pa r t e s de um t exto g loba l?

P o i s b e m : q u a n d o d i g o q u e o d i r e i t o é t e x t o , q u e r o d i z e r q u e o d i r e i

to apa rece ou s e mani fe s t a como t ex to , s ua e s s ênc ia é s e r t ex to , e s ua ex i s

t ênc ia rea l é i dênt i ca à ex i s t ênc ia rea l de um t exto . Não obs t ante com i s to

v o l t a m o s a o p o n t o d e p a r t i d a , e

 será necessário

v e r i f i c a r o q u e p r e t e n d e

m o s d i z e r c o m a p a l a v r a   texto.

MI

Texto é, sem

 dúvida,

o t ex to e s c r i to : uma ca r t a , uma nove la , a

 Bíblia,

o CódigoCivil .

E n t ã o n ã o é t e x t o o q u e d i g o n u m a c o n v e r s a , o d i s c u r s o d o o r a d o r , o

s e r m ã o d o s a c e r d o t e , a li ç ã o d o p r o f e s s o r , a

 senença

d o j u i z , u m c o n t r a t o

ve rba l? Deve-s e d i ze r que s im, que

 também

é t ex to o t ex to não e s c r i to , mas

mani fe s t ado o ra lm ente . Pe l a s imples razão de que a convers aç ão , o d i s curs o ,

o s e r m ã o , a

 senença

e o c o n t r a t o v e r b a l s ã o susceívesd e t r a n s c r i ç ã o . A

verbalização,  p o r c o n s e g u i n t e , é

 caracerística

inequívocado t ex to .

S i g a m o s a d i a n t e . S e m p r e será

 necessária

a ve rba l i zação , e s c r i t a ou ora l ,

a c o l o c a ç ã o e m p a l a v r a s  expressas,  p a r a d e f i n i r o t e x t o? O q u e o c o r r e d i a n

t e d e u m a p e r t o d e m ã o s , d i a n t e d a l i n g u a g e m d o s m u d o s , d o s s i n a i s d e

trânsito, d a s

 insígnas

d e s p o r t i v a s , d o s i n a l d a c r u z q u a n d o o r a m o s ? N ã o

e s t o u  dizendo,  c o m o a p e r t o d e m ã o s , q u e

 saúdo

o u t r a p e s s o a ? O s m u d o s

n ã o d i z e m c o i s a s

 aravés

de seus s inais? O

 semáforo

v e r m e l h o n ã o m e d i z

q u e t e n h o q u e p a r a r , e o v e r d e q u e p o s s o

 avançar?

N ã o e s t o u a f i r m a n d o ,

ao faze r o s ina l da c ruz , qu e s ou c r i s t ão? Há um a l ingu age m

 simbólica,

n ã o

v e r b a l i z a d a , m a s

 verbalizável,

n o s e n t i d o d e q u e a q u e l e q u e d o m i n a o s e

g r e d o d o s i g n i f i c a d o d o s

 símbolos

e m p r e g a d o s p o d e t r a n s f o r m a r e m   es-

Page 3: 5 O Direito Como Texto

7/23/2019 5 O Direito Como Texto

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22

O

  DIREITO

 COMO

 TEXTO

crita  o significado desses sinais. Dominar o segredo dos símbolosé  condição

para entendê-los e, depois, represená-lospor escrito. Todo símboorepre-

senta  algo, significa  algo. Mas só aqu ele que dom ina o segredo ente nde o

que o símboorepresenta ou significa.

Aémdas ações, que representam ou significam algo, que são

 smbo

lo de algo, tambémhá  obras  humanas, resultado de uma ação criativa, que

cristalizam uma existência permanente, desligada de seu autor, em reali

dades não verbaizávesou, pelo menos, não verbaizávesem seu signifi

cado ou representação total. A pintura, a escultura e especialmente a   obra

musical  se inser em nesta categoria . A obra artísticaem seu conjunto, trans

mite representações e significados que quase nunca podem ser escritas, ou

pelo menos não podem ser integralmente escritas, esgotando as modula

ções da  mensagem. A  obra artística conéma objetivação e plasmaç ão per

manentes do subjetivo, a elevação da contingência do que existe na alma

humana individual à condição de essência. As palavras não bastam para

expressá-la porque seus matizes não são propri amente determinações

objetivas, mas sugestões. Mas não se pode negar que a obra artísticaé  tex-

to  e que

 também

é necessáriodominar o segredo de seus símboospara

compre endê-l a, ou pelo men os porq ue nem sempre estamos seguros dis

so) para  experimentar subjetivamente como mensagem  o que nela se repr e

senta. A obra artísticaé símboo

decifrável

  como mensagem estéicaà

humanidade. Étanto mais universal quanto mais chega ao

 próprio

huma

n o ,

 quanto mais se aprofunda na universalidade a partir do objeto concre

to que representa. Isto é bastante claro na pintura. Mas na músicapor sua

próprianatureza, a universalidade da linguagem é algo

 inrínseco

e espon

tâneoNossa sensibilidade se comove tanto ao ouvir uma balada russa

quanto uma sinfonia alemã, um ritmo flamenco ou uma melodia andina.

Podemos ir além  e pensar que o mundo

  natural

  que nos rodeja, a

natureza, se transforma

 também

em  texto,  na medida em que compreen

demos sua  ação.  GALILEI  dizia que a natureza é um grande livro escrito em

linguagem

 maemáica

O que é a linguagem

 maemáica

senão um con

junto de

 símboos

que permite entender coerentemente o mundo

 aravés

da físca?O que é a

 física

senão uma interpretação hum ana por acaso tam

bém  divina da realidade não humana que nos cerca?

Para entender o direito como texto não é

 necessário

contudo, ir tão

longe. Por isso, voltemos a nosso objeto.

0

  DIREITO COMO  TEXTO

23

V

Texto e  obra. Obra  é aquilo que realiza um sujeito capaz de realizar

ações. A obr a é a ação realizada . Port ant o, uma filosofia da obr a nos c on

duz diretamente a uma filosofia da ação.

Entre as

 obras

 encontramos aquelas que se expressam diretamente em

textos escritos. Deixamos de  l a d o , assim, as obras pictóricas, pásticasmu

sicais... Refiro-me agora às obras escritas, como a novela, o poema, a obra

de teatro, a narração histórica. Dom Quixote  é uma obr a, assim como são

obras  A rebelião das massas, Fuenteovejuna, Vinte poemas de amor e uma

canção desesperada, A realidade

  histórica

da Espanha...

Como modelo de todas essas obras, e para não tornar excessivamen

te prolixa nossa exposição, prefiro restring ir-me à obra literária, e concre

tamen te à novela. Uma novela é um univers o fechado.

 Comça

e acaba em

si mesma. É um  todo dotado de sentido

 próprio.

  Quando lemos as aventu

ras do Cavaleiro da Triste Figura mergul hamo s nu m mu nd o o da ficção)

que se esgota em si mesmo, que adquire sentido por si mesmo, que é com

preensívepor si mesmo. A obra é uma unidade e, ao mesmo tempo, uma

complexidade. Os

 múltiplos

elementos que configuram a obra atribuem

ao conjunto desta um sentido pleno. A obra é um conjunto cujos elemen

tos atuam como partes integrantes, não de modo mecâncocomo sobre

postos, mas integrando-se uns aos outros para constituir o todo dotado

de sentido. Uma obra literáriaé uma  totalidade de sentido.

Como acontece com todas as obras, a obra literária, depois de criada,

se torna independente de seu criador e adquire  vida

 própria.

 Dom Quixote

tem uma vida independente de

  CERVANTES.

 A rebelião  já é inde pende nte d e

ORTEGA Y GASSET

  etc. Em que consiste a independência da vida da obra? O

que se pretende dizer quando se afirma que a obra tem vida

 própria?

Pre

tende-se dizer que a obra vive como totalidade dotada de sentido, e que

essa totalidade de significado tem sua própria história, que não se confun

de com a

 história

do autor, isto é, com sua biografia. A

 história

de uma

obra é, essencialmente, a

 história

das interpretações que o meio humano

em que vive lhe vai atribuindo ao longo do tempo.

2

  Assim, por exemplo,

2

  É o que  GADAMER  chama de história

efeitual {Wirkungsgeschichte .

  Ver

Wahrheit  und Methode,  4 . e d . ,

 Tübngen1 9 7 5

passim.

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O  DIREITO COMO TEXTO

p a r a e n t e n d e r  hoje o Quixote  n ã o b a s t a l e r d i r e t a m e n t e a o b r a d e

 CERVANTES

e e s t a r e m p e r m a n e n t e c o n t a t o c o m s u a l i t e r a l i d a d e , m a s tambémi n c o r

p o r a r o u a s s i m i l a r o c o n j u n t o d e i n t e r p r e t a ç õ e s q u e s e p r o d u z i r a m d e s d e

s ua apa r i ção até nos s os d i a s . A obra t em u m a  existência

  histórica.

  É c o m o

um r io que l eva a s

 águas

d e s u a s o r i g e n s , m a s e m s e u c u r s o v a i i n c o r p o

r a n d o

 águas

d e o u t r o s r i o s ( s e u s a f l u e n t e s) e a r r a s t a n d o o s m a i s d i f e r e n

t e s g ê n e r o s d e m a t e r i a i s .

A exi s t ênc ia

 histórica

d a o b r a , s u a

 história

efeitual,  é co mp os t a de vá

r ios e l ementos , mas ent re e l e s s e des t aca a exeges e dos

 críticos literários.

 A

crítica

 literária

é c o m o u m a m e t a l i n g u a g e m s o b r e a l i n g u a g e m d o t e x t o

o r i g i n a l , q u e p o r s u a v e z é m e d i a t i z a d a p e l a s m e t a l i n g u a g e n s s u c e s s i v a s

q u e v ã o s e n d o p r o d u z i d a s a o l o n g o d o t e m p o p e l o s

 críticos.

Há a inda uma

imagem social  d a o b r a , a q u e l a i m a g e m q u e t e m a p o p u l a ç ã o e m g e r a l . M a s

e s t a i m a g e m é a p e n a s o r e s u l t a d o d i f u s o d o e n c o n t r o p l u r a l d a s i n t e r p r e

t a ç õ e s d o s

 críticos.

P a r a e n t e n d e r  corretamente  a o b r a , é

 necessário

o u s a r

p e n e t r a r e m s u a

 história crítica.

A n o v e l a é u m g ê n e r o n a r r a t i v o .   Conta-nos  a

 história fictícia

de a lguns

p e r s o n a g e n s , s u a s

 caracerísticas

s uas ações , s eus conf l i t os . A  intenção obje

tiva  da nov e la , con s ide ra da em s i me s m a , é na r ra r , conta r , r e l a ta r . A  intenção

subjetiva   do autor , em ge ra l , é agrada r , a ind a que

 também

p o s s a i n c lu i r u m a

m e n s a g e m d e

 esperança

s u s c i t a r u m a i n q u i e t a ç ã o , c h a m a r a a t e n ç ã o p a r a

u m p r o b l e m a . . . M a s u m a  bo a  n o v e l a n ã o é u m t r a t a d o d e m o r a l . O e x c e s s o

d e m o r a l i s m o n u m a n o v e l a n ã o c o s t u m a a g r a d a r , e c h e g a a s e r i n d i g e s t o ,

a fe t ado , ridículo...U m a b o a n o v e l a é a q u e a g r a d a . A s s i m c o m o u m b o m

l ivro de f i l os of i a é aque le que nos abre caminhos , nos s us c i t a novos pens a

m e n t o s o u i n q u i e t u d e s , e n ã o a q u e l e q u e r e l a t a   contos,  o que ca rac t e r i za a

nove la (a s s im como os contos ) é o de l e i t e da na r ração . No fundo des t e de . -

l e it e s e e n c o n t r a s e m p r e a r e m i n i s c ê n c i a d a s u r p r e s a e d a a d m i r a ç ã o d e u m a

criança

d i a n t e d a m a r a v i l h a d o m u n d o q u e o r o d e i a . P o r i s so se d iz q u e u m a

b o a n o v e l a  prende. A  b o a n o v e l a n e m s e m p r e r e c e b e p r ê m i o s , p o r q u e o s

prêmios s ão coi s a do poder , enquanto o de l e i t e é co i s a do espírito.

É us ua l i ns e r i r en t re a s caracerísticasda nove la a verossimilhança,is to

é , o f a t o d e q u e s u a n a r r a ç ã o , a q u i l o q u e é c o n t a d o , s e j a s e m e l h a n t e a o

v e r d a d e i r o , a o q u e o c o r r e o u p o d e a c o n t e c e r .

 Verossimlhança

i n d i c a p o s

s i b i l i d a d e d e q u e

 aconeça

t e n h a a c o n t e c i d o o u

 aconecerá

e m e s m o q u e

n u n c a

 aconeça

p o d e r i a d e f a t o a c o n t e c e r . D i f e r e n t e m e n t e d o c o n t o , n a

0

  DIREITO COMO TEXTO

25

n o v e l a o s a n i m a i s n ã o f a l a m , a s m o n t a n h a s n ã o s e m o v e m , n ã o e x i s t e m

f a d a s o u g n o m o s . N ã o o c o r r e m e v e n t o s n e m há p e r s o n a g e n s

 inverossímes

A n o v e l a , p o r c o n s e g u i n t e , t e m r e l a ç ã o c o m a v e r d a d e . E s ta r e l a ç ã o c o m a

v e r d a d e é i n d i r e t a , p o r q u e a n o v e l a n ã o t e m a o b r i g a ç ã o d e r e l a t a r n a d a

q u e s e j a r e a l m e n t e

 verídico.

S u a r e l a ç ã o c o m a v e r d a d e é a d a m e r a p o s s i

b i l i d a d e , p o r m a i s d i s t a n t e q u e a m e s m a e s t ej a .

O   texto

 histórico.

  A  r e l a ç ã o d o t e x t o

 histórico

c o m a v e r d a d e é p r o

f u n d a e d i r e t a . O t e x t o

 histórico

re l a t a a

 história,

i s to é , o que aconteceu ao

l o n g o d o t e m p o n o p a s s a d o . O t e x t o históricon a r r a a

 história.

A p a l a v r a

história

t em os doi s s igni f i cados : de  conhecimento

  histórico

e realidade his

tórica;

d e c i ê n c i a q u e c o n h e c e e r e a l i d a d e c o n h e c i d a . O m e s m o a c o n t e c e

e m o u t r o s c a m p o s : a e c o n o m i a é t a n t o o c o n h e c i m e n t o o u c i ê n ci a

 econô

m i c a c o m o a r e a l i d a d e

 econômca

c o n h e c i d a .

O t e x t o históricon ã o p o d e d a r - s e p o r s a ti s f e it o c o m a v e r o s s i m i l h a n

ça , porque s ua razão de s e r é conta r a   verdade.  E x i s te e m f u n ç ã o d e u m a

c o i n c i d ê n c i a c o m a q u i l o q u e r e a l m e n t e a c o n t e c e u . A p r o v a d e f o g o p a r a

u m t e x t o históricoé s u a a d e q u a ç ã o à v e r d a d e . S e n ã o r e f l e t e a r e a l i d a d e

histórica, o t e x t o s e d e s v i r t u a , s e t r a n s f o r m a e m t e x t o f a l s a m e n t e

 históri

co .

  M a s só p o d e m o s e s t a r s e g u r o s d e q u e d e t e r m i n a d o t e x t o n ã o s e a j u s ta

à v e r d a d e e s c r e v e n d o o u t r a

 história

q u e d e m o n s t r e a f a l s i d a d e d o t e x t o

c r i t i c a d o . E d i f ic i l m e n t e e s s a d e m o n s t r a ç ã o proporcionaráce r t eza s uf i c i

e n t e , p o r q u e n ã o e x i s t e u m a p r o v a

 histórica

c o n c l u s i v a . P o d e - s e d i z e r q u e

a  communis opinio  d o s h i s t o r i a d o r e s

 será

o s ina l dec i s ivo da exa t idão dos

c o n h e c i m e n t o s

 acançados

M a s e s t a s o l u ç ã o é a p e n a s a p a r e n t e , p o i s j á

s a b e m o s q u e a s o p i n i õ e s c o m u n s o u d o m i n a n t e s s e a l t e r a m d e t e m p o s e m

t e m p o s , e q u e é

 freqüene

a c o n v i v ê n c i a d e o p i n i õ e s d i v e r g e n t e s s u s t e n t a

d a s p o r g r u p o s d e h i s to r i a d o r e s i g u a l m e n t e n u m e r o s o s .

Es t a i nce r t eza de r iva da próprian a t u r e z a d o c o n h e c i m e n t o

 históri

co ,

  q u e n ã o é m e r a m e n t e d e s c r i t i v o , m a s  interpretativo.  O h i s t o r i a d o r p o d e

c h e g a r a o c o n v e n c i m e n t o i n t e r n o d e q u e o c o r r e r a m d e t e r m i n a d o s f a to s

n o p a s s a d o ( o s fatos históricos),m a s a c o n e x ã o e n t r e e l e s e s u a r e l a ç ã o c o m

o p e r c u r s o c o n j u n t o d a

 história

n ã o p o d e s e r f e it a c o m u m a d e s c r i ç ã o , m a s

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O   DIREITO COMO TEXTO

s o m e n t e c o m u m a i n t e r p r e t a ç ã o . T o d a

 história

 contéma i n d a q u e e s c o n

d i d a , u m a  ilosofia da

 história,

u m a m a n e i r a d e v e r o d e c u r s o c o n j u n t o d o s

a c o n t e c i m e n t o s e p e r s o n a g e n s , e s t r u t u r a s s o c i a i s e m e n t a l i d a d e s

 ideoló

g i c a s , a o l o n g o d o t e m p o . N o f u n d o , t o d o t r a b a l h o  histórico( e , p o r t a n t o ,

t o d o t e x t o

 histórico)

s u p õ e , p o r m a i s i n c o n s c i e n t e q u e s e j a , u m a c o n c e p

ç ã o d a históriau n i v e r s a l . P o d e m o s i r m a i s l o n g e , a f i r m a n d o q u e  só a his

tória universal existe,  e q u e o s t e x t o s históricosp a r t i c u l a r e s s ã o r e c o r t e s

d e l a . O s e n t i d o d e s t e s r e c o r t e s só p o d e s er c o n h e c i d o m e d i a n t e s u a c o n j u

g a ç ã o c o m o t o d o . M a i s u m a v e z e s t a m o s d i a n t e d a t o t a l i d a d e d e s e n t i d o ,

mas agora não em re l ação à obra fechada da nove la , mas em re l ação à rea

l i d a d e históricaunive rs a l . Por e s t a razão , cada

 época

t em que rees c reve r a

história

para encont ra r a

 si

 m e s m a n o p r o c e s so inexoráveld o s sécuosPor s ua

vez , a obra

 literária

s e e n c e r r a e m s i m e s m a , a d q u i r e   valor eterno.  Por i s s o

é q u e s e d i z q u e o s g r a n d e s p o e t a s , n o v e l i s t a s e d r a m a t u r g o s s ã o

  imortais,

e n q u a n t o o s h i s t o r i a d o r e s s ã o a r r a s t a d o s p e l a s o n d a s i n c e s s a n t e s d o s t e m

pos . Só p od em i r alémd a c o n t i n g ê n c i a q u a n d o , u l t r a p a s s a n d o o s l i m i t e s

do re l a to

 histórico,

c o n s e g u e m o f e r e c e r u m a a u t ê n t i c a c o n c e p ç ã o

 filosófi

ca da históriae m s e u c o n j u n t o , m a s e n t ã o j á n ã o s ã o p r o p r i a m e n t e h i s t o

r i a d o r e s , p o i s i n g r e s s a r a m n a a c a d e m i a d o s

 filósofos,

o u t r a

 raça

d e

p r i v i l e g i a d o s c u j a v i d a é p o u p a d a p e l a s

 mudanças

vi

O   texto

 bíblico.

 A

 Bíblia

é u m l i v r o , o u m e l h o r , u m c o n j u n t o d e l i v r o s

c u j a i n t e r - r e l a ç ã o c o n f i g u r a u m a u n i d a d e , u m a t o t a l i d a d e d e s e n t i d o .

C o n t u d o , é

 possíve

i n d a g a r : a

 Bíbia

é u m t e x t o

 literário?

U m t e x t o histó

r i co? Que t i po de t ex to é a

 Bíbia?

•

C r e i o q u e a r e s p o s t a d e p e n d e d a a d o ç ã o d e u m d u p l o p o n t o d e v is t a : o

ponto de v i s t a ex te rno e o ponto de v i s t a i n t e rno . Pa ra o ponto de v i s t a ex

t e rno ( i s to é , não o ponto de v i s t a do c rente , mas o ponto de v i s t a do mero

o b s e r v a d o r , d o i n v e s t i g a d o r d e g ê n e r o s

 literários,

d o h i s t o r i a d o r ) , a

 Bíbia

é

u m t e x t o

 literário

e

 histórico,

e a i n d a u m t e x t o

 profético.

É u m t e x t o

 literá

r i o p o r q u e

 está

e s c r i t o n u m d e t e r m i n a d o e s t i l o , o u , m a i s e x a t a m e n t e , e m

vários, j á que mes c la a des c r i ção épca( p o r e x e m p l o , e m   Gênese  e  Êxodo)

c o m a m a n i f e s t a ç ão

 lírica

( c o m o n o s Salmos),  a fabulação e o símbolo( c o m o

0  DIREITO COMO TEXTO

27

o c o r r e e m inúmerasp a s s a g e n s d o A n t i g o T e s t a m e n t o e n a s

 paráboas

d o

N o v o ) . . . Tambémé um t exto

 histórico,

n a m e d i d a e m q u e r e l a t a a c o n t e c i

m e n t o s d o p a s s a d o , p r i m e i r o r e l a c i o n a d o s c o m a

 história

d o p o v o e s c o l h i

do e depoi s com a v inda do Sa lvador . Por

 último,

é um t exto

 profético,

poi s

s e pro j e t a no fu turo , s endo es t a uma de s uas caracerísticasc o n s t a n t e s .

A p a r t i r d o p o n t o d e v i s ta i n t e r n o , p a r a o f ie l o u c r e n t e , a

 Bíblia

é a

palavra de Deus.  N ã o é, p r e p o n d e r a n t e m e n t e , n e m l i t e r a t u ra , n e m

 histó

r i a , nem profec i a pura e s imples . É a  revelação  d e D e u s a o s h o m e n s c o m

u m d u p l o o b j e t i v o : q u e e s t e s conheçama v e r d a d e e q u e d i r e c i o n e m s u a s

v i d a s d e a c o r d o c o m o s m a n d a m e n t o s e c o n s e l h o s r e g i s t r a d o s n o L i v r o . É

da e s s ênc ia in t e rna das Sagradas Es c r i turas s e r   mensagem  d i r i g i d a p o r D e u s

a o s h o m e n s

 aravés

d e d e t e r m i n a d o s intermediáriosh u m a n o s . O s a s p e c

t o s e x t e r n o s d e g ê n e r o

 literário,

c a r a c t e r e s históricosae t c , p e r m a n e c e m

n u m s e g u n d o p l a n o e m r e l a ç ã o a o c e n t r o n u c l e a r, q u e é a m e n s a g e m .

M e d i a n t e a m e n s a g e m , D e u s s e

  comunica

  c o m o s h o m e n s p a r a q u e e s t es

c r e i a m e , a c r e d i t a n d o , o r i e n t e m s u a s v i d a s , i s t o é, a t u e m d e u m a d e t e r m i

n a d a m a n e i r a . A o contráriod o t e x t o literárioe d o t e x t o histórico,o t ex to

bíblico

n ã o a p e n a s contému m a f u n ç ã o n a r r a t i v a , m a s

 também

prescritiva.

Q u a n d o o c r i s t ã o lê a

 Bíblia,

n ã o a l ê p r o p r i a m e n t e p a r a s a b e r o q u e a c o n

t e c e u m a s s o b r e t u d o p a r a s a b e r o q u e D e u s q u e r d e l e e d a c o m u n i d a d e

c r i s t ã à q u a l p e r t e n c e . Q u a n d o n o s p e r g u n t a m o s q u a l d e s t a s d u a s f u n ç õ e s

pragmáicas

d o t e x t o

 bíblico

é a p r e p o n d e r a n t e , a n a r r a t iv a o u a p r e s c r i t i v a ,

t e m o s q u e r e s p o n d e r i m e d i a t a m e n t e q u e e s t a últimaé a qu e s obres s a i , po i s

n ã o s e t r a t a d e u m a m e n s a g e m teórica,m a s d e u m a  comunicação revelada

de caráter

 prático,

i s to é , d i r ig ida à conduta . Por i s s o , os a s pec tos na r ra t i

v o s f i c a m e m s e g u n d o p l a n o , e só a d q u i r e m s e n t i d o q u a n d o c o n e c t a d o s

a o a s p e c t o p r e s c r i t i v o . A

 Bíbia

é u m a m e n s a g e m d e s a l v a ç ã o , e n ã o u m

t r a t a d o d e b i o l o g i a , d e físicao u d e história.A  verdade

 científica

des c r i t a

pe la

 Bíbia

é a q u e l a

 conemporânea

d e s e u s a u t o r e s , q u e t r a n s m i t e m a a u

t ê n t i c a m e n s a g e m ( q u e é a p r e s c r i t i v a )

 aravés

d e s u a s r e p r e s e n t a ç õ e s d o

m u n d o . É a b s u r d o a d o t a r a s   teorias científicasd a

 Bíbia

( c o m o a c r i a ç ã o

d a m u l h e r o u a i m a g e m d o u n i v e r s o ) c o m o s e f o s s e m v e r d a d e s d e fé. N e s

s e s p o n t o s , o a u t o r h u m a n o d o t e x t o

 bíblico

e m p r e g a , c o m o é

 lógico,

a l i n

g u a g e m d a

 época

o u m e s m o s u a própriai m a g i n a ç ã o simbólica.

A le i tura do c re nte só é

 possíve

q u a n d o p a r t e d e u m a a t i t u d e i n i c i a l :

a a t i t ud e de fé, qu e exige duas co i s as : confiançae obediênc ia . É i s to o que

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O   DIREITO COMO TEXTO

c a r a c t e r i z a  o  p o n t o  de  v i s ta i n t e r n o , a o contráriodo e x t e r n o , q ue  i n d a g a

a s q u a l i d a d e s

 estéicasdo

  t e x t o , s eu s d o t e s n a r r a t i v o s ,

 sua

 p a i s a g e m s i m

bólica

e tc .

 A

  l e i t u r a

  do

  c r e n t e

  é

  r a d i c a l m e n t e d i s t i n t a

  da

  l e i t u r a

  do não-

c r e n t e , p o r q u e é u m a l e i t u r a d e alguémq u e

 está

e n v o l v id o , c o m p r o m e t i d o .

C o n f i a  em  D e u s e em sua  p a l a v r a ,  e e m  c o n s e q ü ê n c i a a c a t a  sua  m e n s a

g e m . P o d e m o s r e s u m i - l a

  em uma

  frase:

  o

  c r e n t e c o n f i a

  na

  revelação

  e a

a c a t a .

 A fé na

 r e v e l a ç ã o

 é a

  p e d r a a n g u l a r

  da

 l e i t u r a  interna.

Atravésd a r e v e l a ç ã o , D e u s s e m a n i f e s t a e m a n i f e s t a s u a v o n t a d e , p a r a

q u e  os  h o m e n s p o s s a m c o n h e c ê - l a  e  c u m p r i - l a .  Tal r e v e l a ç ã o  se  p r o d u z ,

h i s t o r i c a m e n t e , e m  dive rs as fa s es , e a

 Bíblia

se  d e s e n v o l v e d e s d e o  Gênese

até o

 Apocalipse.  A  p a r t i r d a q u i ,

 a Bíbiase

 c o n v e r t e

 em

  t e x t o fechado,

  no

s e n t i d o

 de que está

concluída

a

  reve lação expres s a .

 Não

 o b s t a n t e ,

 a

  d o u

t r i n a teológicai n t r o d u z i u  um  e l e m e n t o c o m p l e m e n t a r  ao  t e x t o f e c h a d o :

a  tradição.  A p a r e c e a s s i m

 a história

efeitual   d a Ig r ej a c o m o c o m u n i d a d e

 de

c r e n t e s constituída

po r

 C r i s t o

 e

  i n s p i r a d a p e l o

 Espírito

S a n t o .

 A

 t r a d i ç ã o

i m p l i c a a s s u m i r

  o

  d e s e n v o l v i m e n t o

 históricoda

 r e a l i d a d e v i v a

 da

  c o m u

n i d a d e c r i s t ã

 e de sua fé, qu e dá

  s e n t i d o

  e

 coneúdo

s e m p r e r e n o v a d o

  à

m e n s a g e m

 incluídano

  t ex to e s c r i to .

VII

O

  texto jurídico.

 A o

 contrárioda

 n o v e l a

 e da história, o

 t e x t o

 jurídico

n ã o  é u m  t e x t o n a r r a t i v o , m a s  prescritivo.  N e s t e a s p e c t o ,  é  p a r c i a l m e n t e

p a r e c i d o

 com o

  t e x t o

 bíblico,

p o i s n e s t e

 tambémse

  m a n i f e s t a

  a

  v e r d a d e .

M e d i a n t e

  o

  t e x t o

 jurídico, o

  g r u p o h u m a n o ( i m a g i n a n d o - s e

  um

  E s t a d o

m o d e l o )

  se

 constitui

  e se

  revela,  c o m u n i c a n d o - s e

  com os

  m e m b r o s p a r a

e x i g i r - lh e s o r g a n i z a ç ã o  e c o n d u t a s .

  m

S e g u i n d o na l i n h a d a t r a n s p o s i ç ã o do p e n s a m e n t o teológicoa o jurí

d i c o

  (as

  c a t e g o r i a s jurídicas

são, em boa

  p a r t e ,

 herançados

  e s q u e m a s

c o n c e i t u a i s

 da

 t e o l o g i a

 escoástica),

é

 possíve

a f i r m a r q u e

 o

 ato criador  d a

o r d e m

 jurídica

é a constituição.

  Es ta

 dá

  l u g a r a o

  mundo jurídico,

que , d i fe

r e n t e m e n t e  do  m u n d o u n i v e r s o , estáf o r m a d o  por uma  p l u r a l i d a d e  de

o r d e n s , g e r a l m e n t e d e n o m i n a d a s  ordenamentos

 jurídicos.

T o d o o r d e n a m e n t o

 jurídicoé u m

  texto verbalizado  ou verbalizável,

n o s e n t i d o

 de

 q u e

 já está

e s c r i t o

 o u

 é

 passívede

 tradução

  em

  t e r m o s e s c r i -

0  DIREITO COMO TEXTO

29

t os . É o que  a c o n t e c e com o  c h a m a d o d i r e i t o

 consueudnário

ou  direito

dos fatos sociais,  c u j a o r i g e m

 genéicanão é a

  norma proclamativa,

  mas a

norma subsistente

3

  na

  regula r idade s oc ia l . Se j a como for ,

 o

 d i r e i t o

 já

  c o n s

tituído

se fixa  no  t ex to e s c r i to .

O t e x t o

 jurídico

é um t e x t o  aberto.  N ã o é,  p o r t a n t o , u ma obra  ( a i n d a

que s e j a

 possíve

a

 anáise

literária

ou

 histórica

de uma

  f ração

  do

  t ex to

jurídico,

c o m o , p o r e x e m p l o ,

 o

 códigoc i v il ) . A a b e r t u r a i n d i c a q u e

 o

  t ex to

n ã o s u r g e  de uma só vez  ( c o m o a c o n t e c e  com a  n o v e l a ) , mas vai  s e n d o

g e r a d o e r e g e n e r a d o p r o g r e s si v a m e n t e , c o m o m e c a n i s m o autopoiéticoq u e

é

4

  O

  s e r t ex tua l

 d o

 d i r e i t o

 é um ser

 in  fieri,  n u n c a t e r m i n a d o , m a s

 e m

  p e r

m a n e n t e t r a n s f o r m a ç ã o . R e g e n e r a - s e m e d i a n t e d e c i s õ e s diárias,

 que se

i n c o r p o r a m  em  novas l e i s , em  n o v a s n o r m a s  de váriost i p o s ,  em  n o v a s

senençasj ud ic i a i s e t c .

E x a m i n e m o s a l g u m a s d e s t a s caracerísticas.

VIII

O t e x t o

 jurídico

é um t e x t o  prescritivo.  O qu e i s to s ignif i ca? S igni f i ca ,

s o b r e t u d o , q u e

 o

 t e x t o

 jurídico

 estád o t a d o , c o m o u m a t o t a l id a d e ,

 de

  u m a

f u n ç ã o

 pragmáica

d e t e r m i n a d a

 que o

 c o n v e r t e

 num

 c o n j u n t o

  de

  m e n s a

g e n s c u j o s e n t i d o intrínsecoé d i r i g i r , o r i e n t a r  ou  r e g u l a r  as a ç õ e s h u m a

n a s .

 Aém

d i s s o ,

 o próprio

t e x t o  cria

  as

 a ç õ e s

  que

 p o d e m

  ser

  qua l i f i cadas

c o m o

 jurídicas, e o

 fa to

 de

 r e g u l a r

 a

 a ç ã o

 nã o

 s igni f i ca

 que a

 a ç ã o

 jurídica

exi s t a an te s

 do

  t e x t o ,

 mas sim que é o

  t e x t o

 que a

  c o n s t i t u i .

 P or

  e s t r a n h o

q u e p o s s a p a r e c e r , o

 homcídio

c o m o a ç ã o

 jurídica

só  e x i s t e d e p o i s que o

t e x t o jurídicop r e s c r e v e

 o

 q u e é q u e s e d e v e e n t e n d e r p o r homcídio.A ação

físicade

 m a t a r alguéme x i s t e i n d e p e n d e n t e m e n t e

  do

 t e x t o , m a s

 a

  a ç ã o j u

rídica

d e f i n id a c o m o

 homcídiosó é possíveem

 r a z ã o

 da

 p r e e x i s t ê n c i a

 do

t e x t o jurídico.

3

 Segund o expressões de Th.

 GEIGER, Vorstudien  zu  einer Soziologie des Rechts,

4.ed. , Ed. M. Rehbinder, Berl im, 1987.

4

 O  t e r m o

  autopoiese

  foi popularizado por N .

 LUHMANN.

 Ver minh a

  Sociologia

dei  Derecho,

  M a d r i ,

 2.ed.,

 p .

 2 33

 e

 segs.

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7/23/2019 5 O Direito Como Texto

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3

O

  DIREITO COMO TEXTO

A f u n ç ã o r e g u l a d o r a o u p r e s c r i t i v a d o t e x t o

 jurídico

não s e e s gota na

a ç ã o , n a d e t e r m i n a ç ã o d o s r e q u i s i t o s p a r a q u e e s t a s e p r o d u z a . E s t e n d e - s e

ambém

a m o d a l i d a d e s

 deônicas

n ã o c o n s t i t u t i v a s d a a ç ã o , m a s q u e p r e s

s u p õ e m a c o n s t i t u i ç ã o d e s t a , t a i s c o m o o r d e n a r u m a c o n d u t a , p r o i b i - l a ,

p e r m i t i - l a , autorizá-lae tc .

 Aém

d i s s o , a q u e l a f u n ç ã o

 também

s e e s t ende à

d e t e r m i n a ç ã o d o âmbitoe s p a c i a l - t e m p o r a l d a a ç ã o , d o s s u j e it o s e d e s u a s

r e s p e c t i v a s c o m p e t ê n c i a s , e l e m e n t o s q u e , m e s m o s e m af e t a r d i r e t a m e n t e

a ação , s ão capazes de condicioná-lai n d i r e t a m e n t e , e n e s t e s e n t i d o t a m

bém a regu lam . A função p res c r i t i va é re l a t iva à  ação,  q u e a s s i m a d q u i r e

v a l o r d e c a t e g o r i a c e n t r a l n a t e o r i a d o d i r e i t o . A o d i z e r q u e o t e x t o

 jurídi

c o é p r e s c r i t i v o , a f i r m a m o s e x a t a m e n t e q u e t o d o e l e a d q u i r e s e u s e n t i d o

n a r e l a ç ã o c o m a a ç ã o . P o r t a n t o , o t e x t o

 jurídico

é u m t e x t o

 prático,

e n ã o

teórico.

É p o r i s t o , p o r e x e m p l o , q u e o t e x t o

 jurídico

n ã o contémdefini

ções,

  q u e p o r s u a

 própria

n a t u r e z a p e r t e n c e m à fu n ç ã o teóricad a l i n g u a

g e m .

Tambéms e p o d e a f i r m a r q u e o t e x t o

 jurídico

é u m t e x t o  organizador.

M a s ,

  e m v e r d a d e , o a s p e c t o o r g a n i z a t i v o i n t e g r a s e u  ser prescritivo.  A

r e g u l a ç ã o n ã o s e l i m i t a à p r e s c r i ç ã o d e a ç õ e s , m a s s e e s t e n d e a i n d a a o s

p r e s s u p o s t o s ( p r i n c i p a l m e n t e s u j e it o s e c o m p e t ê n c i a s ) d a s m e s m a s a ç õ e s ,

e de tud o i s s o s e obtéma e s t r u t u r a ç ã o d e u m   aparato institucional  q u e n ã o

e x i s t e e m o u t r o s  textos práticos,c o m o a m o r a l .

5

A f u n ç ã o

 pragmáica

a f e t a o c o n j u n t o d o t e x t o p r e s c r i t i v o e m q u e o

t e x t o

 jurídico

c o n s i s t e . D e n t r o d o t e x t o n ã o p o d e m e x i s t i r e l e m e n t o s q u e

n ã o v e n h a m m e d i a t i z a d o s p o r e s s a f u n ç ã o , p o r q u e , o b v i a m e n t e , é n e c e s

sário

c o n s i d e r a r a e x is t ê n c i a d e

 âmbitos

6

  q u e t ê m , e m s i m e s m o s , s u a

 pró

p r i a

  legalidade,

  su a

 própria

i d i o s s i n c r a s i a . A s s i m c o m o n a n o v e l a t u d o é

5

 Ver a diferençaent re

 âmbtos práicos

e ôntico-práticosem  Las Regias  dei

Derecho y las Regias de los Juegos,  op .

 cit.

 A

 mora l

  é

 u m âmbto

 prático,

no sent ido

de que a ins t i tucional ização ou não exis te ou é reduzida ao

 mnmo

da de t e rmi

nação da

 instância

suprema criadora de normas morais . O direi to e os jogos são

âmbosôntico-práticos,

porque neles o elemento ins t i tucional é relevante. Mas

os e l ementos

 ônticos

não são teóricos,mas prescri t ivos .

6

 Para o s ignificado de

 âmbto,

ve r

  Las Regias dei Derecho y las Regias

  de

 los

Juegos,  op .  cit.,  p. 31 e segs.

O

  DIREITO COMO TEXTO

31

n a r r a t i v o , a i n d a q u e n e l a

 apareçam

e l e m e n t o s q u e , i s o l a d a m e n t e , n ã o o

s e r i a m ( p o r e x e m p l o , u m a o r d e m , u m c o n s e l h o ) , e a s s i m c o m o n a S a g r a

d a E s c r i t u r a t u d o é m e n s a g e m r e v e l a d a ( e é n e s t e c o n t e x t o d e m e n s a g e m

q u e s e d e v e e n t e n d e r c a d a u m d e s e u s e l e m e n t o s , e n ã o ,  p o r e x e m p l o , c o m o

t e o r i a s científicass o b r e o u n i v e r s o ) , n o t e x t o

 jurídico

t u d o é p r e s c r i t i v o o u

r e g u l a d o r . I ss o p o r q u e a n a t u r e z a d o s e l e m e n t o s é d e t e r m i n a d a p e l a n a t u

r e z a d o c o n j u n t o . P o r t a l m o t i v o , o d i r e i t o n ã o p o d e s e r c o n s i d e r a d o c o m o

u m a  soma  d e e l e m e n t o s , c h a m a d o s d e n o r m a s o u d e q u a l q u e r o u t r a m a

n e i r a ( i n s t r u ç õ e s e t c ) ; e m r e a l i d a d e , o t o d o , a q u i l o q u e h a b i t u a l m e n t e s e

d e n o m i n a  ordenamento

  jurídico,

é o c o n c e i t o

 prioritário

e

 prévio

n o q u a l

o s e l e m e n t o s p a r t i c u l a r e s a d q u i r e m s e n t i d o . P o r i s s o , a i n d a q u e o l e g i s la

d o r a c r e d i t e e s t a r n a r r a n d o , f a b u l a n d o , t e o r i z a n d o , d e f i n i n d o e t c , o q u e

e f e t i v a m e n t e

 está

f a z e n d o é p r e s c r e v e r . U m a  definição  n u m t e x t o l e g al n ã o

é u m a d e f i n i ç ã o , m a s u m a

 prescrição

  q u e d e t e r m i n a , p o r e x e m p l o , a m a

n e i r a d e c o m p r e e n d e r u m a p a l a v r a n o âmbitod o s s ig n i f i c a d o s d o

o r d e n a m e n t o . P e r d e r d e v i s t a e s t a

 idéia

s igni f i ca e s quece r o

 caráer

d e  to

talidade de significado  q u e é i n e r e n t e a o o r d e n a m e n t o

 jurídico.

Es ta caracerísticap o d e s e r c h a m a d a d e

 princípio

da prioridade prag

mática, e se e s t e n d e a t o d o s o s t i p o s d e t e x t o . A s s i m , t o d o s o s e l e m e n t o s d a

n o v e l a e st ã o s u b o r d i n a d o s à f u n ç ã o n a r r a t i v a q u e l h e é

 própria.

P o r e x e m

p lo ,  a o r d e m d e D o m Q u i x o t e a S a n c h o Pançap a r a q u e n ã o a b u s e d o s r e

f rães é , s e cons ide rada em s i mes ma ( i s to é , abs t ra t amente , s em l eva r em

c o n t a o t e x t o d e c o n j u n t o e m q u e

 está

i n s e r i d a ) , u m a o r d e m , e , p o r t a n t o ,

l i n g u a g e m p r e s c r i t i v a . M a s , q u a n d o s e c o n s i d e r a a t o t a l i d a d e d e s i g n if i c a

d o d a o b r a , n ã o s e t r a t a d e u m a o r d e m p u r a e s i m p l e s , m a s d a n a r r a ç ã o d e

u m a o r d e m

 fictícia

d a d a p o r u m p e r s o n a g e m

 imaginário

a o u t r o p e r s o

n a g e m imaginário.O s e n t i d o só s e c o m p l e t a a p a r t i r d a c o n s i d e r a ç ã o d o

e l e m e n t o c o n c r e t o n o

 âmbito

d o t e x to c o n j u n t o . O m e s m o o c o r r e n o t e x

to jurídico,q u e s e m p r e é o r d e n a m e n t o . S u a f u n ç ã o

 pragmáica

é  regular,

q u e i m p l i c a o r g a n i z a r e d i r i g i r a c o n d u t a ; e m r e s u m o , prescrever.  T o d o s o s

e l e m e n t o s q u e a p a r e c e m n o t e x t o

 jurídico

a d q u i r e m s e u s i g n i f i c a d o p r o

f u n d o o u v e r d a d e i r o n o âmbitod a t o t a l i d a d e d e s i g n i f i c a d o q u e o

o r d e n a m e n t o

 jurídico

t e m . O s e l e m e n t o s c o n c r e t o s , a b s t r a t a m e n t e c o n s i

d e r a d o s , p o d e m n ã o t e r s e n t i d o p r e s c r i t i v o . P o r e x e m p l o , u m a f r a s e q u e

diga o que  é  a c o m p r a e v e n d a , i s o l a d a m e n t e c o n s i d e r a d a . M a s , n o

 âmbito

d a t o t a l i d a d e d e s e n t i d o d o t e x t o jurídico,u m a r t i g o d o códigoc iv i l que

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32

O  DIREITO COMO TEXTO

c o n t e n h a e s t a m e s m a f r a s e n ã o

 está

descrevendo

  o

  q u e é

 a

  c o m p r a e v e n d a ,

m a s

 está

e s t a b e l e c e n d o

 o u

  i m p o n d o a q u i l o q u e s e d e v e e n t e n d e r p o r c o m

p r a e  v e n d a n es s e o r d e n a m e n t o c o n c r e t o . O v e r b o  é  q u e a p a r e c e no  a r t igo

d o código( a c o m p r a  e v e n d a é.. ) estád o t a d o de uma força

 pragmáica

m u i t o d i f e r e n te d o é da f ra s e i s o l ad ame nte cons ide rada

 ou

  q u e a p a r e c e n u m

c o n t e x t o n a r r a t iv o . N u m a n o v e l a n ã o e n c o n t r a m o s o r d e n s , m a s n a r r a ç õ e s

fictíciasde

 o r d e n s .

 No

 t e x t o

 bíbliconão

 e n c o n t r a m o s  teorias,  m a s m e n s a

g e n s p a r a o r d e n a r a v i d a .

 N um

 t e x t o

 jurídico

n ã o e n c o n t r a m o s d e f i n iç õ e s

o u n a r r a ç õ e s , m a s a p e n a s p r e s c r i ç õ e s de  de f in i ções  ou n a r r a ç õ e s . O  p r i n

cípio

de  p r i o r i d a d e

 pragmáica

é,  p o r t a n t o ,  um

 princípio

 ontológicodo

t e x t o . A d e t e r m i n a ç ã o d o s s i g n i f i c a d o s c o n c r e t o s provém

da

  t o t a l i d a d e

 d e

s igni f i cado

 que o

  t ex to e s t abe lece .

 A

  p r i m e i r a t a r ef a

  do inérpreteé

  d e c i

frar

  o

  s e g r e d o

 pragmáicoque

  c o n s t i t u i

  o

  t e x t o .

 Por

 e x e m p l o ,

 se o intér

p r e t e n ã o s a b e q u e Dom

  Quixote

  é um a nove la de cava la r i a s , e ac redi t a

 que

s e t ra t a de um  t e x t o históricon a r r a d o  po r C i d e H a m e t e B e n e n g e l i ( a s s i m

e m  Dom  Quixote,  Par t e I I , cap . I

 - começo) pensaráque a

 o r d e m

 de Dom

Q u i x o t e

 a

 S a n c h o r e a l m e n t e

  foi

 d a d a ,

 e por

 isso

 será

u m a  ordem historica

mente narrada.  E s t a i n t e r p r e t a ç ã o , c o r r e t a q u a n d o s e p a r t e

 da

 p r e m i s s a

 de

q u e

  o

  t e x t o

  é histórico, é

 a b s u r da q u a n d o  se sabe

 que o

  t e x t o

 é

  nove les co .

A s s i m , q u e m a f i r m a q u e no t e x t o

 jurídico

e x i s t e m n a r r a ç õ e s , d e s c r i ç õ e s e

d e f i n i ç õ e s c o m e t e  o  m e s m o e r r o  de  p e r s p e c t i v a  que  a q u e l e s  qu e  a c r e d i

t a m

 que Dom

  Q u i x o t e

  e

  S a n c h o

  são

  p e r s o n a g e n s históricos.P a r a e n t e n

d e r

 u m

  e l e m e n t o c o n c r e t o d e

 um

  t ex to não s e pode pe rde r de v i s t a

 a

  função

pragmáicado

  c o n j u n t o .

  O

  c a s t i g o p e l o e r r o

  de

 p e r s p e c t i v a

  é,

  s i m p l e s

m e n t e ,

 n ão

 e n t e n d e r n a d a .

Pela forçad a decisão.  Es ta é ou t ra das caracerísticases s enc ia i s do t ex to

jurídico, que s e conf igura pe l a forçada dec i s ão . Ao contráriode o u t r o s t i

p o s

 de

  te x t o q u e m e n c i o n a m o s ,

 o

 t e x t o

 jurídico

é s e m p r e

 um

 t e x t o a b e r t o ,

q u e

  vai

  se n d o p a u l a t i n a m e n t e c r i a d o

  e

  r e c r i a d o m e d i a n t e d e c is õ e s c o n

c r e t a s . C a d a d e c i s ã o p r o d u z

  um

  n o v o t e x t o ,

 que se

  i n c o r p o r a

 ao já

  exi s

t e n t e , r e n o v a n d o

 dia a

 d ia

 o

 o r d e n a m e n t o

 jurídico.

A teor i a do d i re i to

 tem

q u e i n c o r p o r a r  o  t e m a  da  d e c i s ã o  e  d a r - l h e  o  t r a t a m e n t o r e l e v a n t e  que

0  DIREITO COMO TEXTO

33

m e r e c e , mas que até  a g o r a  vem  s e n d o t o t a lm e n t e a b a n d o n a d o  ou ,  pe lo

m e n o s , m a n t i d o

  em

  s e g u n d o p l a n o .

 O

  t e x t o

 jurídico

p o d e

 ser

 v i s t o c o m o

u m c o n j u n t o d e e l e m e n t o s t e x t u a is p a r c ia i s , q u e c h a m a m o s d e   normas,  m a s

c o m i s s o

  nã o

  p o d e m o s p e r d e r

  de

  vi s t a

  qu e

  t a i s e l e m e n t o s t e x t u a i s

  têm

o r i g e m

  em atos de fala

7

  es pec ia i s ,

 qu e são as

  dec i s ões .

A d e c i s ã o

 básica

é a

 decisão constituinte

  de

 u m a n o v a o r d e m jurídica.

É um ato  de fala  qu e cria  o  n o v o o r d e n a m e n t o , que o  constitui.  É ofiat  do

t e x t o

 jurídico, que se

 c r i s t a l i za

  na

 constituição,

  que é

  e x a t a m e n t e

  o

  t e x t o

in i c i a l

  e necessário

p a r a

  a

  exi s t ênc ia

  do

  o r d e n a m e n t o

 jurídico. A

  c o n s t i

t u i ç ã o

 é o

 r e s u l t a d o

 da

  d e c i s ã o c o n s t i t u i n t e ,

 de

 m a n e i r a

 anáogaa

 c o m o

  o

u n i v e r s o

 é, no

 t e x t o

 bíblico,

r e s u l t a d o d o

 fiat

  d i v i n o . A d e c i s ã o c o n s t i t u i n

t e p r o d u z  a  c o n s t i t u iç ã o , que por sua vez  es t abe lece  as  c o n d i ç õ e s p a r a  a

a d o ç ã o  de  d e c i s õ e s p o s t e r i o r e s ,  que  p r o d u z i r ã o m a i s e l e m e n t o s t e x t u a i s

d o t e x t o

 jurídico

t o t a l ,

 n um

  p r o c e s s o

 qu e

  n u n c a t e r m i n a ,

 a não ser com a

e x t i n ç ã o

  ou

  m o r t e

  do

  o r d e n a m e n t o .

O s e n t i d o intrínsecoda  d e c i s ã o c o n s t i t u i n t e  é o r d e n a r  a  vida co le t i

v a.  Em  o u t r a s p a l a v r a s , a f u n ç ã o

 pragmáica

do ato de fala  q u e é a  d e c i

s ã o c o n s t i t u i n t e

  - é

 prescrever,

  o que

 s igni f i ca regula r , o rd ena r , orga niza r .

Por i s s o , pode -s e d i ze r que

 a

  c o n s t i t u i ç ã o  é norma.  É

 a

  n o r m a m a i s i m p o r

t a n t e

 do

 t e x t o

 jurídico

ou

  o r d e n a m e n t o , p o r q u a n t o

  o

  c o n s t i t u i

  ou

  c r i a .

P o d e m o s d e f i n i r a d e c i s ã o c o n s t i t u i n t e c o m o

 a

 a ç ã o

 de

  es t abe lece r a s

c o n d i ç õ e s

 necessárias

e s uf i c i en te s pa ra

 a

  a d o ç ã o d e d e c i s õ e s

 jurídicas.

E

 a

c o n s t i t u i ç ã o , c o m o

  o

  t e x t o p r o d u z i d o p e l o  ato

  de fala

  c o n s t i t u i n t e

  que

p r e s c r e v e o  c o n j u n t o  de c o n d i ç õ e s necessáriase s u f i c i e n te s p a r a p r o d u z i r

n o v o s e l e m e n t o s t e x t u a i s d e n t r o

  do

  t e x t o

 jurídico

globa l .

O c o r r e que, na  v i d a

 jurídica

rea l , a  c o n s t i t u i ç ã o , alémde  e x p r e s s a r

t e x t u a l m e n t e a s c o n d i ç õ e s

 necessárias

e

  s u f ic i e n t e s p a r a p r o d u z i r d e c i s õ e s

jurídicas,

c o s t u m a i n c o r p o r a r

 também

o u t r o s e l e m e n t o s , e s p e c i a l m e n t e

o s

 princípios básicosda

  d i r e ç ã o

 política

d e n t r o

  do

  n o v o âmbitoc r i a d o .

P o d e m o s , p o r t a n t o , d i s t i n g u ir

  no

  t e x t o c o n s t i t u c i o n a l d u a s p a r t e s

 ou as

p e c t o s : o  t e x t o básicoo

 núceo

da  c o n s t i t u i ç ã o , t e x t o se m cuja ex i s t ênc ia

n ã o  há  c o n s t i t u i ç ã o ;  e o  t e x t o c o n t i n g e n t e ,  que se  r e f e r e  a  a s p e c t o s

programáicosde

 índolem a t e r i a l .

 O

  t e x t o básicod e t e r m i n a q u e m m a n d a

7

 No

 s ent ido

 de J.L.  AUSTIN e

 I.

  SEARLE.

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7/23/2019 5 O Direito Como Texto

http://slidepdf.com/reader/full/5-o-direito-como-texto 9/41

34

O   DIREITO COMO TEXTO

e em qua i s condições , i s to é , quem

 está

c a p a c i t a d o p a r a a d o t a r

  atos de fala

g e r a d o r e s d e t e x t o

 jurídico

n o v o e e m q u a i s c o n d i ç õ e s ( d e p r o c e d i m e n t o

e c o m p e t ê n c i a ) . O t e x t o c o n t i n g e n t e s e r e fe r e a a s p e c t o s c o m o a s g a r a n t i a s

d o s d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s , a

 política

social e

 econômca

e t c .  Contingente,

a q u i , t e m o s e n t i d o d e q u e s u a presençan a c o n s t i t u i ç ã o n ã o é necessária

p a r a q u e e x i s t a c o n s t i t u i ç ã o . Q u a n t a s n o r m a s s ã o

 necessárias

p a r a c o n s

t r u i r u m o r d e n a m e n t o

 jurídico?

T r a t a - s e d e u m a q u e s t ã o r e l a t i v a m e n t e

b i z a n t i n a , p o i s n a r e a l i d a d e d o d i r e i t o p o s i t i v o q u a l q u e r o r d e n a m e n t o

jurídico

é c o m p o s t o p o r u m g r a n d e númerod e n o r m a s . M a s , a p e s a r d e

s u a a p a r e n t e irrelevância,a q u e s t ã o t e m a l g u m i n t e r e s s e , p o i s n ã o s u s c i t a

u m p r o b l e m a r e l a t iv o à r e a l i d a d e e x i s t e n c ia l d o t e x t o

 jurídico,

mas re l a t i

v o à s u a p o s s i b i l i d a d e ; e a p e r g u n t a p o d e r i a s e r r e f o r m u l a d a : é

 possíve

c o n c e b e r u m o r d e n a m e n t o

 jurídico

c u j o t e x t o s e r e d u z a a u m a n o r m a ?

C r e i o q u e a r e s p o s t a

 será

b a s t a n t e s i m p l e s s e e s t i v e r b a s e a d a n a t e o r i a

maemáica

d o s c o n j u n t o s , q u e a d m i t e c o n j u n t o s d e u m

 único

e l e m e n t o .

E x a t a m e n t e p o r q u e se a d m i t e m c o n j u n t o s d e u m só e l e m e n t o , é

 necessá

r i o a d m i t i r o r d e n a m e n t o s d e u m a só n o r m a . Q u a n d o a f i r m a m o s q u e o

d i r e i t o é u m c o n j u n t o d e n o r m a s e s t a m o s a f i r m a n d o q u e é u m t e x t o f o r

m a d o p o r u m c o n j u n t o d e e l e m e n t o s te x t u a is q u e c h a m a m o s d e n o r m a s .

C o m o c o n j u n t o , p o d e e x i s t i r c o m u m únicoe l e m e n t o . Q u a l s e r i a , e n t ã o ,

e s s e e l e m e n t o únicoc a p a z d e c o n f i g u r a r u m o r d e n a m e n t o

 jurídico?

O b

v i a m e n t e u m a n o r m a c o n s t i t u t i v a d o o r d e n a m e n t o , i s t o é , u m a c o n s t i t u i

ção .

  C o m o e s sa c o n s t i t u i ç ã o p o d e r i a e x is t ir c o m u m a

 única

n o r m a , e c o m o

a n o r m a s e c a r a c t e r i z a p e l a e x p r e s s ã o v e r b a l p r e s c r i t i v a , c o n c l u i - s e q u e

a q u e l a n o r m a únicadever i a s e r expres s iva de quem é a fonte de toda dec i

sã o

 jurídica,

o q u e e q u i v a l e a a f i r m a r q u e t a l n o r m a s e r i a u m a n o r m a

c o n s t i t u t i v a d a a u t o r i d a d e

 única.

E s t a n o r m a s e r i a o

 conteúdo

mnimo

d e

t o d a c o n s t i t u i ç ã o .

A   ação  n o d i r e i t o . D i s s e m o s q u e o t e x t o

 jurídico

é u m t e x t o

a u t o g e r a d o r p o r

 força

de dec i s ão , o que s igni f i ca que em s eu a s pec to

 dinâ

m i c o a te o r i a d a d e c i s ã o c o n s t i t u i o

 núceo

f u n d a m e n t a l . É p o r e s s a r a z ã o

q u e c o n s i d e r o a t e o r i a d a d e c i s ã o

 jurídica

u m a p a r t e

 básica

da t eor i a do

0  DIREITO COMO TEXTO

35

d i r e i t o , e n ã o a r e s tr i n j o à t e o r i a d a e s t r u t u r a f o r m a l d o d i r e i t o , c o m o f a

z e m o s a u t o r e s p o s i t i v i s t a s , c o m o

  KELSEN,

  HART

  e Ross .

8

  M a s t o d a d e c i s ã o

g e r a d o r a d e n o v o t e x t o é u m a a ç ã o , a a ç ã o d e d e c i d i r , r a z ã o p e l a q u a l a

t e o r i a d a d e c i s ã o c a m i n h a d e m ã o s d a d a s c o m a t e o r i a d a a ç ã o . D e c i d i r

c r i a r te x t o n o v o n ã o s u p õ e a p e n a s a m e r a d e c i s ã o , o m e r o a t o d e v o n t a d e ,

m a s a g e r a ç ã o d e t u d o o q u e s e d e c i d i u , o n o v o t e x t o . A a ç ã o s u p õ e

o n t o l o g i c a m e n t e a d e c i s ã o e a p r o p a g a . O q u e o c o r r e é q u e n o r m a l m e n t e ,

q u a n d o f a l a m o s d e d e c i s ã o

 jurídica,

 incluímosn e s t e t e r m o n ã o a p e n a s o

e l e m e n t o decisório,p u r a m e n t e v o l i ti v o , m a s

 também

o e l e m e n t o d o q u e

f o i d e c i d i d o , a d e c i s ã o c o n s u m a d a n o a t o . P o s s o , p o r e x e m p l o ,

 decidir

  h o j e

q u e v o u e s t u d a r a r q u e o l o g i a e f a z er p l a n o s p a r a p a r t i c i p a r d e a l g u m a s e s

c a v a ç õ e s p a r a a s q u a i s f u i c o n v i d a d o ; m a s , a p e s a r d e m i n h a   decisão,  p o s s o

per fe i t amente não i r a t a i s e s cavações e s equer l e r um

 único

l i v r o s o b r e

a r q u e o l o g i a . N e s t e c a s o , e s t a m o s d i a n t e d e u m a   decisão frustrada.  A v o n

t ade e ra rea l , e o propósitod e l e v a r a c a b o o p r o j e t o e r a t o t a l m e n t e s i n c e

ro ,

  m a s a s d i f i c u l d a d e s d e m i n h a v i d a r e a l s e i m p u s e r a m p o s t e r i o r m e n t e ,

o b r i g a n d o - m e a a b a n d o n a r t ã o f a sc i n a n t e p r o j e t o . A d e c i s ã o n ã o s e c o n

s u m a n a a ç ã o , é u m a d e c i s ã o s e m a ç ã o . M a s , n o u t r o s e n t i d o , é c l a r o q u e a

própria

d e c i s ã o c o n s t i t u i u m a a ç ã o , a  ação de decidir.  Q u a n d o f a l a m o s d e

d e c i s ã o

 jurídica incluímos

n e s t a d e n o m i n a ç ã o o s d o i s a s p e c t o s , o a t o

vol i t i vo ( s e é que é

 possíve

fa l a r d i s s o) e o que fo i dec id ido ou des e j ado

c o m o p r o d u t o q u e s e p l a s m o u n o t e x t o . A s s i m , p o r e x e m p l o , a  decisão

legislativa   a b r a n g e o s d o i s m o m e n t o s d e d e c i s ã o , c o m o a t o d e v o n t a d e e

d o d e c i d i d o c o m o l e i g e r a d a . O m e s m o a c o n t e c e n o c a s o d a  decisão judi

cial:

  o ju i z dec ide , e o que dec ide é a

 senença

N ã o p o d e m o s s e p a r a r o s

d o i s a s p e c t o s m e n c i o n a d o s e d i z e r, p o r e x e m p l o , q u e o l e g i s la d o r d e c i d e

s em l egi s l a r e o ju i z dec ide s em s entenc ia r .

M a s ,

 alémd a a ç ã o g e r a d o r a d e t e x t o , e n c o n t r a m o s a a ç ã o  contempla

da   n o t e x t o q u e n ã o g e r a n o v o t e x t o ( e n t r e a s  ações contempladas  há algu

m a s q u e p r o d u z e m t e x t o n o v o , q u e s ã o a q u e l a s q u e já c h a m e i d e d e c i s õ e s

in t ra - s i s t êmicas ) . Em rea l idade , e s s a pa l avra  contemplada)  não é exa ta , poi s

8

 Ver minha

 Introducción

a  la Teoria dei Derecho,

  Madr i ,

  1988, último cap

tulo. Também

Sociologia

  de i

 Derecho,

  2.ed. , Madri ,  1997,  cap. II.

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36

O   DIREITO COMO TEXTO

a a ç ã o n ã o é c o n t e m p l a d a , m a s constituída.C o n t e m p l a r i m p l i c a a p r e e

x i s t ênc ia d a ação em re l ação a o t ex to ; a ação exi s t e po r s i , e o t ex to a co n

t e m p l a p o s t e r i o r m e n t e . Es s a é a idéiaq u e n o r m a l m e n t e se t e m a o

a f i r m a r - s e q u e ta l n o r m a c o n t e m p l a e s ta o u a q u e l a a ç ã o , p a r a regulá-la.A

a ç ã o s e r i a p r e e x i s t e n t e à n o r m a , e e s t a se l i m i t a r i a a r e g u l a r a a ç ã o

p r e e x i s t e n t e . A s s i m , a a ç ã o físicad e m a t a r alguémpreexi s t i r i a à regulação

n o r m a t i v a , e e s t a s e l i m i t a r i a a p r o i b i r t a l a ç ã o

 aravés

d a i m p o s i ç ã o d e

s a n ç õ e s a o s i n f r a t o r e s . T r a t a - s e d e u m a v i s ã o d e  senso comum  q u e , c o n t u

d o , n ã o s e a d a p t a à caracerísticaes s enc ia l do d i re i to de s e r um âmbito

ôntico-prático

de caráterconstitutivo-regulador.

9

  A s n o r m a s d o d i r e i t o n ã o

s e l i m i t a m a  regular  a ç õ e s , m a s , a o m e s m o t e m p o , e até c o m p r i o r i d a d e ,

constituem   a s a ç õ e s . S e m n o r m a n ã o há

 homcídio,

a inda que exi s t a a ação

física

de m a ta r . A prova d i s to é que a ação

 física

d e m a t a r p o d e c o r r e s p o n d e r

a o c u m p r i m e n t o d e u m d e v e r , c o m o o c o r r e c o m o s o l d a d o e m g u e r r a , o

c a r r a s c o n a e x e c u ç ã o , a

 polícia

d i a n t e d e u m f r a n c o a t i r a d o r q u e h a j a p r o

v o c a d o pânico...Nes tes cas os , não só d i zem os que e s t a s pes s oas nã o co

m e t e r a m d e l i t o , c o m o a i n d a c o n s i d e r a m o s q u e c u m p r i r a m u m d e v e r

jurídico.

A s o l u ç ã o d e s t e a p a r e n t e p a r a d o x o estáe m q u e a a ç ã o n ã o é a p e n a s

u m m o v i m e n t o

 físico

o u psíquico-físico,n ã o é u m a c o n t e c e r m e r a m e n t e

fac tua l , mas um   significado,  u m  sentido. A  a ç ã o é o s e n t i d o q u e u m d e t e r

m i n a d o m o v i m e n t o psíquico-físicot e m . M a s o m e s m o m o v i m e n t o p o d e

te r várioss i g n i f i c a d o s , q u e d e p e n d e r ã o d o  contexto situacional  d e n t r o d o

qua l s e i ns e re a ação , e , em

 última anáise

d o

  discurso comunicacional

  a o

q u a l pertençaE m o u t r a s p a l a v r a s , p a r a d e t e r m i n a r a a ç ã o será

 necessário

i n t e r p r e t a r o m o v i m e n t o psíquico-físicon o âmbitod e u m d e t e r m i n a d o

t e x t o , d e m o d o q u e a p a r t i r d e s t e t e x t o a q u e l a a ç ã o a d q u i r a o s e n t i d o q u e

l h e c a b e . C o n t u d o , e s t a o p e r a ç ã o h e r m e n ê u t i c a p r e s s u p õ e c o n c e b e r a a ç ã o

ambém

c o m o t e x t o .

A a ç ã o se c o n v e r t e e m m a i s u m d o s e l e m e n t o s t e x t u a i s d o t e x t o g l p -

b a l c o n j u n t o , o u a i n d a é u m a r e a l i d a d e q u e , m e s m o s e m f a z e r p a r t e d o

t e x t o t o t a l , a d q u i r e s e u s e n t i d o a p a r t i r d e s s e t e x t o .

9

  Remeto o l e i tor novamente a  La s  Regias  de i  Derecho  y las Regias  de los

Juegos,  op. cit. ,  passim.

0  DIREITO COMO TEXTO

37

O e x e m p l o

 paradigmático

da ação que faz pa r t e do t ex to

 jurídico

t o t a l

é o d i re i to

 consuetudinário.

T e m u m a o r i g e m

 fática:

o c o s t u m e , c o m o r e

p e t i ç ã o d e a t o s n u m a m e s m a d i r e ç ã o , a p o i a d o p e l o s e n t i m e n t o c o l e t i v o

d e s u a o b r i g a t o r i e d a d e . A r e p e t i ç ã o d e a t o s p r o d u z a r e g u l a r i d a d e d a a ç ã o ,

q u e é i n c o r p o r a d a a o t e x t o

 jurídico

c o m o  regra,  i s t o é, c o m o e l e m e n t o

v e r b a l i z a d o . O c o s t u m e d e i x a d e se r u m a s i m p l e s a ç ã o fáticae s e t rans for

m a e m t e x t o

 jurídico

m e d i a n t e u m p r o c e s s o d e i n c o r p o r a ç ã o a o t e x t o j u

rídico

t o t a l , a o o r d e n a m e n t o . O f a t o d e q u e i s t o mereçaa c h a n c e l a d o

l e g i sl a d o r , o u m e s m o d o j u i z , n ã o a l t e r a o p r o c e s s o d e t r a n s f o r m a ç ã o q u e

o c o r r e n a t r a n s i ç ã o d a a ç ã o

 fática

r e i t e r a d a p a r a t e x t o .

 Avançando

u m

p o u c o m a i s , p o d e - s e d i z e r q u e a a ç ã o

 fática

re i t e rada j á envolve um   senti

do de norma  e q u e , p o r t a n t o , s u a i n c o r p o r a ç ã o a o t e x t o

 jurídico

t o t a l re

q u e r a p e n a s a t r a n s f o r m a ç ã o d e u m a n o r m a

  social

  e m u m a n o r m a

jurídica.

10

 O u a i n d a , p a r a d i z e r d e o u t r o m o d o , a t r a n s f o r m a ç ã o d e u m t e x t o

social  n u m t e x t o jurídico.  A ação

 fática

é

 também

u m s e n t i d o , u m s i g n if i

c a d o , r a z ã o p e l a q u a l s u a t r a n s f o r m a ç ã o e m jurídicas u p õ e o trânsitod e

u m s e n t i d o a o u t r o s e n t i d o . O

 núcleo

d a n o r m a s o c i a l

 será

o m e s m o q u e o

d a n o r m a

 jurídica

( p o r e x e m p l o , o s m e m b r o s X d e u m g r u p o h u m a n o Z

d e v e m s e c o n d u z i r d e m a n e i r a Y ) , m a s a

 força pragmáica

é d i fe rente : no

núceo

do t ex to s oc i a l s e expres s a a lgo d i fe rente daqui lo que s e expr ime

c o m o t e x t o

 jurídico.

O n o v o s i g n i f i c a d o é

 exrado

d a f u n ç ã o

 pragmáica

d o t e x t o

 jurídico

n o q u a l s e i n s e r e a p a r t i r d e s u a i n c o r p o r a ç ã o a e l e.

N o c a s o d a a ç ã o  contemplada,  m a s q u e n ã o d ev e s e c o n v e r t e r e m t e x

to

 jurídico,

n ã o o c o r r e a i n c o r p o r a ç ã o , e a a ç ã o é s i m p l e s m e n t e   lida a par

tir do  t e x t o

 jurídico

p a r a

 qualificá-la.

A a ç ã o p e r m a n e c e e x t e r n a a o t e x t o

jurídico,que pas s a a a tua r como t ex to de re fe rênc ia a pa r t i r do qua l s e a t r i

b u i s e n t i d o

 jurídico

a o c o n j u n t o d e m o v i m e n t o s q u e i n i c i a l m e n t e c o n f i

g u r a a a ç ã o . P a s sa , e n t ã o , d e u m s e n t i d o m e r a m e n t e   natural  p a r a o s e n t i d o

jurídico.

A s s i m ,  matar  é u m a a ç ã o q u e c o n s i s te n u m c o n j u n t o d e m o v i

m e n t o s psíquico-físicosq u e p r o d u z e m a m o r t e d e o u t r a p e s s o a . O s e n t i

d o

  naturalista

  d a a ç ã o d e m a t a r se l i m i t a a i s s o . P a r a p o d e r q u a l i f i c a r

10

 Sobre a relação entre as normas sociais e as normas

 jurídicas,

ver minha

Sociologia dei Derecho,  já mencionada,

  p.

 93 e segs.

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38

O  DIREITO COMO TEXTO

j u r i d i c a m e n t e e s s e s e n t i d o n a t u r a l i s t a é

 necessário

p a s s a r d o s e n t i d o n a

t u r a l i s t a a s e u s e n t i d o

 jurídico,

o q u e

 só

s e p o d e o b t e r p o r m e i o d e u m a

o p e r a ç ã o d e  leitura  d a a ç ã o a p a r t i r d o d i s c u r s o d e r e f e rê n c i a q u e o t e x t o

jurídico

t o t a l c o n s t i t u i . A a ç ã o n a t u r a l d e m a t a r seráe n t ã o , a e x e c u ç ã o d e

u m a

 senença(e ,

  p o r t a n t o , o c u m p r i m e n t o d e u m d e v e r

 jurídico

pe lo ca r

r a s c o ) ,  a e x e c u ç ã o d e u m a o r d e m m i l i t a r , u m homcídio,u m infanticídio,

u m a b o r t o . . . A d e f i n i ç ã o c o n c r e t a d e c a d a hpóese seráp r o d u t o d e u m

p r o c e s s o d e l e i t u r a o u d e i n t e r p r e t a ç ã o d a a ç ã o m e r a m e n t e n a t u r a l i s t a  a

partir do  di s curs o de re fe rênc ia , que é o t ex to

 jurídico

t o t a l . E s t a o p e r a ç ã o

é d e n o m i n a d a  subsunção,  n a t e r m i n o l o g i a

 jurídica,

p o i s s u a e s s ê n c ia c o n

s i s te e x a t a m e n t e e m s u b s u m i r o u e n c a i x a r u m a a ç ã o c o n c r e t a n a a ç ã o c o n

t e m p l a d a n o t e x t o . P a r a s u b s u m i r é p r e c i s o i n t e r p r e t a r , p e l a p e r s p e c t i v a

d o d i s c u r s o d o t e x t o e m q u e s e c o n t e m p l a g e n e r i c a m e n t e a a ç ã o , o s m o v i

m e n t o s q u e o c o r r e r a m n a r e a l i d a d e ; e é n es s a  ida e volta do olhar*

1

  e n t r e a

a ç ã o r e a l i z a d a d e fa t o e a a ç ã o c o n t e m p l a d a n o t e x t o q u e c o n s i s t e o m e c a

n i s m o i n t e l e c t u a l q u e c o n f i g u r a a s u b s u n ç ã o . N ã o o b s t a n t e , p a r a r e a l i z a r

e s s a o p e r a ç ã o é imprescindívelque a ação concre t a s e j a

 também

t r a t a d a

c o m o u m   texto

12

,  o u s ej a, c o m o u m c o n j u n t o d e m o v i m e n t o s d o t a d o d e

significado;  e , c o m o t o d o t e x t o , d e v e s e r

 susceíve

d e i n t e r p r e t a ç ã o e d e

c o m p r e e n s ã o . O c o r r e a p e n a s q u e e s s a i n t e r p r e t a ç ã o d a a ç ã o c o n c r e t a n ã o

s e v e r if i c a d e m a n e i r a i s o l a d a e i n d e p e n d e n t e , m a s

 a partir

  d o t e x t o

 jurídi

co já constituído,à l u z d o q u a l s e p r e t e n d e c o m p r o v a r s e a a ç ã o c o n c r e t a

s e a jus t a ou não à ação regulada .

A t e o r i a d o d i r e i t o v e m s e n d o d e s i d i o s a n o t r a t a m e n t o d a t e o r i a d a

a ç ã o .

  N ã o q u e r o d i z e r q u e t e n h a h a v i d o u m a b s o l u t o a b a n d o n o , m a s

 é

a s s o m b r o s a a f a l t a d a a t e n ç ã o n o âmbitod a t e o ri a g e ra l , q u a n d o c o m p a

r a d a c o m a importânciaq u e l h e t e m s i d o atribuídanas pa r t e s ge ra i s das

11

 ENGISCH, Logische Studien zur Gesetzesanwendung,

  2.ed. , Heidelberg, 1960,

p.

  14.

12

 Ver

  P . RicoEUR,

  The mode l of t he

 text:

  meaningful act ion considered as a

text ,

 Social Research,  38 1971

 );

 agora em

  P.

 RICOEUR, Hertneneutics and the human

sciences-Essays on language, action and interpretation,

  1981, p. 197 e segs.

O DIREITO COMO TEXTO 39

d i s c i p l i n a s

 jurídicas,

e s p e c i a l m e n t e n o d i r e i t o p e n a l , n o d i r e i t o c i v i l , n o

d i r e i t o a d m i n i s t r a t i v o e n o d i r e i t o p r o c e s s u a l . N o d i r e i t o p e n a l e x e r ce u m a

f u n ç ã o s i g n i f i c a t i v a , p o r q u a n t o i n c i d e s o b r e u m c o n c e i t o c e n t r a l , o c o n

c e i t o d e d e l i t o , q u e c o s t u m a s e r d e f i n i d o c o m o a a ç ã o

 típica, antijurídica

e

culpável (antijurídica

a p e n a s n o s e n t i d o d e q u e c o n t r a r i a a o r d e m

 jurídi

c a , o u , m a i s e x a t a m e n t e , c o n t r a o s v a l o r e s q u e e s s a o r d e m p r e t e n d e i m

p l a n t a r , c o m o a

 segurança

o re s pe i to à v ida e t c ) . No d i re i to c iv i l é t ra t ada

n o

 âmbito

da t eor i a dos a tos e fa tos

 jurídicos,

a n t e c e d e n d o a a b o r d a g e m

d a t e o r i a d o negócojurídico; t e m , c o m o é lógico,u m e x c e s s i v o

 caráer

p r i v a t i s t a . N o d i r e i t o a d m i n i s t r a t i v o s e d e s e n v o l v e u a t e o r i a d o a t o a d m i

n i s t r a t i v o , q u e c o n s t i t u i c o m p l e m e n t o d a t e o r i a p r iv a t i s t a d o s a to s

 jurídi

c o s n o

 âmbito

d o d i r e i t o

 público.

E n o d i r e i t o p r o c e s s u a l o t r a t a m e n t o s e

c o n c e n t r o u n a a ç ã o p r o c e s s u a l , q u e , c o n t u d o , n ã o e s g o t a o t e m a d a a ç ã o ,

já

q u e a q u e l a r e p r e s e n t a s o m e n t e o

 início

d a a t i v i d a d e j u r i s d i c i o n a l . P o i s

b e m , a t e o r i a d o d i r e i t o t e m q u e s e d e s l i g a r d a s c o n c e p ç õ e s d a a ç ã o e x c e s

s i v a m e n t e a p e g a d a s à s

 caracerísticas

p e c u l i a r e s d e u m r a m o d a

 dogmática,

p a r a c h e g a r a u m a t e o r i a g e r a l d a a ç ã o n o d i r e i t o , q u e , j u n t o c o m o u t r o s

e l e m e n t o s ( c o m o , e m e s p e c i a l , o c o n c e i t o d e n o r m a e o d e s i s t e m a ; o u o

d e d e c i s ã o o u i n s t i t u i ç ã o , c o n j u n t a m e n t e c o m o d e s i s t e m a ) , c o n s t i t u a a

r e d e c o n c e i t u a i

 básica

É i m p o r t a n t e r e s s a l ta r ol u g a r d e d e s t a q u e q u e

c o r r e s p o n d e a e s s a te o r i a d a a ç ã o , p o i s o t e x t o

 jurídico

a d q u i r e s e u s e n t i

d o i m a n e n t e a p e n a s e n q u a n t o t e x t o d i r i g i d o a r e g u l a r a s a ç õ e s h u m a n a s .

D i s s o d e c o r r e q u e o u t r o s c o n c e i t o s c e n t r a is d a t e o r ia d o d i r e i t o ( c o m o

o d e n o r m a o u r e g r a , o d e i n s t i t u i ç ã o , d e c i s ã o , o r d e n a m e n t o , s i st e m a e t c . )

só

a d q u i r e m s e n t i d o p l e n o q u a n d o p e n s a d o s e m c o n e x ã o c o m a a ç ã o .

A n o r m a o u r e g r a é a p r o p o s i ç ã o d e l i n g u a g e m q u e o r i e n t a o u d i r i g e a

a ç ã o ,  d i r e t a o u i n d i r e t a m e n t e (daía d i f e r e n c i a ç ã o e n t r e n o r m a s d i r e

ta s en o r m a s i n d i r e t a s d a a ç ã o )

13

. A ins t i t u i ção

 jurídica

t e m u m a s p e c t o

o r g a n i z a t i v o , m a s e s s e a s p e c t o

 também

só t e m s e n t i d o q u a n d o r e l a c i o n a

do às ações ou   atividades  ( n e s t e

 último

c a s o , t r a t a - s e d e u m a  instituição-

pessoa,

  c o m o

  H A U R I O U

  gos t a de a f i rmar ) que a i ns t i t u i ção rea l i za . A dec i s ão

jurídica

 jáé, em si própria,u m a a ç ã o , s e j a u m a a ç ã o g e r a d o r a d e t e x t o j u -

13

  Las Reglas del Derecho y las Reglas de los Juegos,

  op. cit., p. 99 e segs.

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4

O   DIREITO COMO TEXTO

rídico

novo, s e j a uma ação  contemplada  n o te x t o ( p o r e x e m p l o , a d e c is ã o

d o t e s t a d o r , c r i s t a l i z a d a n o t e s t a m e n t o ) . O o r d e n a m e n t o é u m c o n j u n t o

d e n o r m a s o u d e i n s t i t u i ç õ e s , c o n f o r m e o p o n t o d e v i s t a a d o t a d o , a i n d a

q u e e n t r e e l e s n ã o h a j a i n c o m p a t i b i l i d a d e . É p o r e s t a r a z ã o q u e v o l t a m o s

à re l ação ent re e s t e s conce i tos e o de ação , e é por i s s o , de f in i t i vamente ,

q u e t o r n a m o s a p e n s a r o te x t o c o n j u n t o d o o r d e n a m e n t o c o m o a l g o q u e

só a d q u i r e se u s e n t i d o q u a n d o r e l a c i o n a d o c o m o c o n j u n t o d e a ç õ e s c o n

t e m p l a d a s . . .

X I

Teatro, jogo e direito.

  N o t e a t r o e s t a m o s d i a n t e d a

  obra ou peçateatral;

n o j o g o , d o  regulamento;  e n o d i r e i t o , d o  ordenamento.  O s t r ê s ( o b r a t e a

t r a l , r e g u l a m e n t o e o r d e n a m e n t o ) s ã o t e x t o s , n o s e n t i d o d e q u e e s t a m o s

t r a t a n d o . O s t r ê s se r e l a c i o n a m c o m a a ç ã o , m a s d e d i f e r e n t e s m a n e i r a s .

A o

 contrário

d o j o g o e d o d i r e i t o , q u e   regulam  a ação , a obr a t ea t ra l nã o

regula a ação , mas a  expõe.

O texto da obra t ea t ra l é um t exto fechado que s e l imi t a a

 exporá

ação ,

q u e s e d e se n v o l v e e m   atos,  q u e p o r s u a v ez se d i v i d e m e m  cenas.  N o t e a t r o

a n t i g o e r a c o m u m a c r e s c e n t a r à

 exposição

  d a a ç ã o a p r e s e n t a ç õ e s o u

  rela

tos  q u e e s c la r e c e ss e m a o e s p e c t a d o r d e t e r m i n a d a s s i t u a ç õ e s o u q u e o i n t r o

d u z i s s e m n o c o n h e c i m e n t o d o s p e r s o n a g e n s . M a s , p r o g r e s s i v a m e n t e , e ss e s

e l e m e n t o s e x t e r n o s à

 própria

a ç ã o f o r a m s e n d o e l i m i n a d o s , p o r q u e o q u e

c o n s t i t u i a

 própria

es s ênc ia da obra t ea t ra l é a ação des envolv ida , cu j a   ex

posição  d e v e s er s u f i c i e n t e p a r a s e r c o m p r e e n d i d a a p a r t i r d e s i m e s m a .

A a ç ã o exposta  na obra t ea t ra l é representada

 várias

e

 várias

vezes pe los

a t o r e s n o

 cenário

A  representação  da ob ra inc lu i a interpretação  d o s d i v e r

s o s p e r s o n a g e n s p e l o s  atores.

O s a t o r e s n ã o a t u a m d a m a n e i r a c o m o s ã o n a v i d a r e a l , m a s c o m o

r e p r e s e n t a n t e s d o s p e r s o n a g e n s

  persona

  e r a o t e r m o e m p r e g a d o n a Gécia

a n t i g a p a r a d e s i g n a r a

 máscara

q u e c a d a a t o r u s a v a p a r a r e p r e s e n t a r s e u

p e r s o n a g e m ) . O a t o r i n t e r p r e t a o p e r s o n a g e m , c o l o c a - s e e m s e u l u g a r ,

d e s e m p e n h a n d o u m   papel  ( o p a p e l d e g u e r r e i r o , d e a p a i x o n a d o , d e m e r

cador e t c ) . A ação do t ex to t ea t ra l s e a tua l i za cada vez que s e repres enta a

o b r a ; e , a i n d a q u e a a ç ã o se j a s e m p r e a m e s m a , a i n t e r p r e t a ç ã o d o s a t o r e s

O  DIREITO COMO TEXTO

41

v a r i a q u a n t o a m o d a l i d a d e s e p e c u l i a r i d a d e s , p o i s ta l i n t e r p r e t a ç ã o r e q u e r

a rea l i zação  atual  da ação t ex tua l . A rea l i zação a tua l é a rep res e ntaç ão d a

o b r a n o

 cenário

e n e l a s e c o n s u m a .

A i n d a q u e a

 peça

t e a t r a l n o r m a l m e n t e r e p r e s e n t e

 histórias

da v ida

r e a l , n ã o é v i d a r e a l . E m v e r d a d e , s u p õ e a a b e r t u r a d e p a r ê n t e s e s e m r e l a

ção a e s t a . O e s pec tador s abe que aqui lo que s e pas s a no

 cenário

não é rea l ,

e m b o r a verossíml,n o s e n t i d o d e q u e p o d e s e r i m a g i n a d o c o m o r e a l . A

vida repres entada no t ea t ro ex ige os pa rêntes es na re l ação com a v ida rea l

d o s e s p e c t a d o r e s , q u e a s s i s t e m a o

 espeácuo

s e m p a r t i c i p a r a t i v a m e n t e

d e l e , m a s a p e n a s c o m o o b s e r v a d o r e s d a a ç ã o q u e s e d e s e n v o l v e d i a n t e d e

s e u s o l h o s . N ã o o b s t a n t e , j u n t o a o d e l e i t e

 estéico

d a m e r a c o n t e m p l a ç ã o

d a a ç ã o t e a t r a l , a o b r a p o d e

 também

t r a n s m i t i r u m a m e n s a g e m ( d e vários

g ê n e r o s , c o m o a p r o f u n d a r o c o n h e c i m e n t o s o b r e a n a t u r e z a e a s p a i x õ e s

h u m a n a s , r e f le t ir o a m b i e n t e d a s o c i e d a d e o u d e d e t e r m i n a d o s s e t o r e s d e l a ,

lançar

u m a m e n s a g e m

 política,

h u m a n a o u r e l i g i o s a e t c ) .

O   texto

 lúdico

 também

é , em ge ra l , um t exto fechado, a inda que e s t a

n ã o s e ja u m a d e s u a s caracerísticases s enc ia i s , já qu e pod em ex i s t i r j ogos

d e t e x t o a b e r t o , q u e p e r m i t e m a o s j o g a d o r e s o

 acréscmo

d e n o v o s e l e m e n

t o s a o t e x t o i n i c i a l m e d i a n t e d e c i s õ e s q u e d e p e n d a m d e l e s m e s m o s . , M a s ,

c o m o d i z i a , a m a i o r i a d o s j o g o s s e c a r a c t e r i z a p e l o t e x t o f e c h a d o . I m a g i

n e m o s o f u t e b o l , o x a d r e z , o pôquerS ã o jo g o s q u e t ê m s e u s  regulamentos,

u m c o n j u n t o d e r e g r a s q u e e s t a b e l e c e m o s e l e m e n t o s d i r e t o s e i n d i r e t o s

d a  ação de jogo.

D i f e r e n t e m e n t e d o t e a t r o , n o q u a l , c o m o v i m o s , s e representa  a ação ,

n o j o g o n ã o s e r e p r e s e n t a a a ç ã o d e j o g o , m a s s i m p l e s m e n t e s e j o g a . A a ç ã o ,

e m

 princípio,

não s ubs t i t u i a v ida rea l , r azão pe l a qua l d i f i c i lmente s e pode

a t r i b u i r a o j o g o a q u a l i f i c a ç ã o d e

 verossíml.

O t e x t o lúdicoc o n s t i t u i o u

c r i a a a ç ã o d e jo g o , q u e n ã o p o d e e x i s t ir e m s i m e s m a s e n ã o c o m o c o n s e

q ü ê n c i a d a a n t e r i o r i d a d e d a s r e g r a s q u e a e s t a b e l e c e m . O t e x t o

 lúdico

p o d e

s e r d e c o m p o s t o e m u m c o n j u n t o d e r e g r a s , a s  regras do jogo,  s em as qua i s

o jogo não pode exi s t i r . Nes t e s ent ido , o j ogo   é  o c o n j u n t o d e s u a s r e g r a s .

N o u t r a s p a l a v r a s : o j o g o   é  o t e x t o

 lúdico.

As s im, s e alguémn o s p e d e q u e

l h e e x p l i q u e m o s e m q u e c o n s i s t e o x a d r e z , p o d e m o s f a z ê - l o c o r r e t a m e n t e

c o m u m a s i m p l e s m e n ç ã o à s r e g r a s q u e c o n f i g u r a m e s s e j o g o , s e m n e c e s

s i d a d e d e t e n t a r e x p l i c a r s u a o r i g e m histórica,o b e m - e s t a r q u e s e n t i m o s

q u a n d o j o g a m o s o u q u a i s s ã o o s a t u a i s c a m p e õ e s m u n d i a i s . É

 necessário

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42

O   DIREITO COMO TEXTO

d i s t i n g u i r

  o

 ser  d o j o g o

 do

  mundo do jogo.  E n q u a n t o

  o

 ser

 do

  j o g o a b s t r a i

a s re l ações do jogo

 co m o

 m e i o

 qu e o

 c e r c a , q u e c o n s t i t u i u m  prius

  ou um

posterior  fac tua l ,

 o

  mundo do jogo  ace i t a

 o

  e s t a b e l e c i m e n t o d a q u i l o

 que o

j o g o é e s e c o n c e n t r a e m s uas re l ações com o m e i o e x t e r i o r . A s s i m , p o r m a i s

i n t e r e s s a n t e s

 que

 p o s s a m

 ser as

 e x p l i c a ç õ e s

 a

 r e s p e i t o

 do

 m u n d o

  do

 j o g o ,

n u n c a p o d e r e m o s t r a n s m i t i r

 a

  n o s s o i n t e r l o c u t o r a q u i l o q u e o j o g o

 é

 a t r a

vés de um

  s i m p l e s r e l a t o s o b r e e s s e c o n j u n t o

  de

 r e l a ç õ e s e x t e r n a s , p o i s

  o

q u e

 o

 j o g o  é

 se

 l i m i t a

 ao

  c o n j u n t o

  de

  s uas regras .

As s im, f ica pa t ente q ue o conce i to de t ex to

 lúdico

é

 inseparáve

d o c o n

ce i to de regra .

 O

  t ex to

 lúdico

se decompõe  e m

 várias

p r o p o s i ç õ e s lingüísticas

que e s t ão d i re t a

 ou

  i n d i r e t a m e n t e d i r i g i d a s

 à

 ação de jogo. A ação d e jogo

 é

o p o n t o  de  re fe rênc ia cent ra l  e  c o n s t a n t e  das r e g r a s  e,  p o r t a n t o , do  t ex to

lúdico.

 Por

  i ss o , p o d e m o s a f i r m a r

  que se

 t r a t a

 de um

  t ex to regulador ,

 ou,

m a i s e x a t a m e n t e ,  constitutivo-regulador,  ji

 que o

  t ex to

 não

 a p e n a s  regula

  a

a ç ã o d e

 j o g o ,

 m a s

 também

d e a l g u m a m a n e i r a , p r e v i a m e n t e

 a

 cria

 ou

  cons

titui.  A a ç ã o d e j o g o

 nã o é

 p r e e x i s t e n t e

 à

 r e g r a , p o r q u e

  a

 regra c r i a

 a

 ação .

O j o g o

 também

s u p õ e p a r ê n t e s e s

  na

  vida rea l .

 Aí estáseu

 caráer

de

diversão,  q u e p e r m i t e s a i r do  c o t i d i a n o p a r a s e r diverso,  p a r a s e r o u t r o d i s

t i n t o d a q u i l o

 que se é na

 v i d a

 diáriae

  r o t in e i r a . Q u a n d o

  o

  j o g o d e i x a

  de

s e r u m a d i v e r s ã o

 ou

 di s t ra ção e chega a s e r

 u m

  e l e m e n t o i n t e g r a n t e d a v i d a

rea l , de ixa

 de

 s e r j o g o

 em

 s e n t i d o

 próprioe se

  t r a n s f o r m a

  em  ludopatia.

É por

  isso

 que o

 d i r e i t o  não  é

 um

 j o g o :

 o

 d i r e i t o

 nã o

 s u p õ e

 a

  r u p t u r a

c o m  a  vida rea l , po i s é  vida s oc i a l rea l . Nos s a v ida pes s oa l estái m e r s a  em

nos s a v ida s oc i a l , s endo a r t i f i c ios a

  a

  t e n t a t i v a

  de

 separá-las( c o m o

  fez o

e x i s t e n c i a l i s m o , q u a l i f i c a n d o

  a

  p r i m e i r a

  de

  autêntica

  e a

  s e g u n d a

  de

inautêntica). A  v i d a h u m a n a é b i o g r a f ia , e n a b i o g r a f i a a c o n t e c e m m o m e n

to s

 d e

  i n t i m i d a d e

  e

  m o m e n t o s

  de

  s o c i a l i z a ç ã o , n u m a u n i d a d e

 indivisível.

O t e x t o

 jurídico

q u e e x p r e s s a

 o

 o r d e n a m e n t o f a z p a r t e , q u e i r a m o s

 ou

  n ã o ,

da v ida

  de

  c a d a

 u m de nós,

  a f e t a n d o - a

  não

  a p e n a s

  em

  a s p e c t o s m a i s

 su

per f i c i a i s

  ou

  i m p e s s o a i s

  (por

 e x e m p l o , e x i g i n d o d e t e r m i n a d o c o m p o r t a

m e n t o c o m o m o t o r i s t a s ) ,

 mas tambémna

  d i m e n s ã o p r o f u n d a

  ou

  pes s oa l

( p o r e x e m p l o , r e g u l a n d o

  as

  r e l a ç õ e s m a t r i m o n i a i s

  ou

  p a t e r n o - f i l i a i s ) .

  O

d i r e i t o

 n ão nos

 distrai

  de nós

  m e s m o s ,

 mas

  conf igura nos s a v ida rea l .

 Por

t a l m o t i v o , n u n c a a f i r m e i q u e o d i r e i t o é u m

  j o g o ,

  m e s m o s u s t e n t a n d o

 que

e m a l g u n s a s p e c t o s

  se

 p a r e c e

 com o

  j o g o : c o n c r e t a m e n t e q u a n d o

  o

  t e x t o

lúdicoé

 c o m p a r a d o

  ao

 t e x t o

 jurídico, e

  s obre e l e s

 se

 rea l i za

  um a

 anáise

a

0  DIREITO COMO TEXTO

43

p a r t i r

 do

  p o n t o d e v i st a f o r m a l ( o u

 lógico-lingüístico),

é

 possíve

ver i f i ca r

q u e

 os

  d o i s t e x t o s

  são

 constitutivo-reguladores,

  e

  p o r t a n t o p o d e m

 ser de

c o m p o s t o s

 em um

  c o n j u n t o

  de

 r e g r a s

 de

 c a r a c t e r e s

 lingüísticos

s imi l a res .

D i r e i t o  e j o g o  são entes  do  m e s m o g ê n e ro {âmbitos ôntico-práticos)p e l o

p o n t o

 de

 vi s t a

 d a

 anáise

lógico-lingüística, ma s

 n u n c a

  po r

 o u t r o s p o n t o s

d e v i s t a , c o m o

  o

 antropológico,

 o

 psicológico

ou o

 sociológico.

14

D i v e r s a m e n t e

 do

  t ex to t ea t ra l ,

 o

  t e x t o

 jurídico

não

 expõe  a a ç ã o ,

 mas

a põe.  N e s t e a s p e c t o

 também

s e p a r e c e c o m o j o g o , se b e m q u e , n e s t e , o pôr

a a ç ã o

  é

  a i n d a m a i s e v i d e n t e .  Pôr

 a

  ação s igni f i ca

  que não

  exi s t e pa ra

  o

d i r e i t o a ç ã o

 que não

  t e n h a s i d o p r e v i a m e n t e d e t e r m i n a d a p e l a n o r m a .

 É

e v i d e n t e

  que

  e s t a c o n s i d e r a ç ã o

  tem um

 caráer

e m i n e n t e m e n t e

 lógico, e

n ã o

 genéico

P o i s ,

 no

  cas o

 do

 d i r e i t o consuetudinário,

 a

 a ç ã o

 é

 a n t e r i o r

 à

n o r m a

  e só

  d e p o i s

  se

 t r a n s f o r m a

  em

  n o r m a ,

 mas é necessário

d e s t a c a r

  o

fato

 de que a

  a ç ã o

  só se

 c o n v e r t e

  em

 n o r m a

 aravésde

 a l g u m m e c a n i s m o

n o r m a t i v o

 já

  e x i s t e n t e .

 Pôr a

 ação s igni f i ca

 criá-laou constituí-la

m e d i a n

te

 a

 n o r m a . É e st a

 a

 m i s s ã o d a s n o r m a s

 ou

  r e g r a s procedimentais.  São es t a s

n o r m a s

  que

 definem

  as

  a ç õ e s c o r r e s p o n d e n t e s , p o i s

 um a

 a ç ã o

 não é

  m a i s

q u e

 u m

  p r o c e d i m e n t o a d m i t i d o d e n t r o

  do âmbito ôntico-prático. O

  c o n

ce i to  de  p r o c e d i m e n t o  é  o n i p r e s e n t e  em  d i r e i t o , e não  a p e n a s  no  di re i to

p r o c e s s u a l .

  É

  u s u a l e n c o n t r a r

  na

  d o u t r i n a

  a

  re fe rênc ia

  ao

  p r o c e d i m e n t o

s o b

 a

  n o ç ã o d e forma.  Fa la -s e

 da

 f o r m a

  do

  c o n t r a t o

 ou da

 f o r m a

  do

  t e s t a

m e n t o c o m o r e f er ê n c ia

  ao

 a s p e c t o p r o c e d i m e n t a l

  ou

 c o n j u n t o

  de

  r e q u i s i

to s necessáriosp a r a que o ato  p r e t e n d i d o t e n h a v a l i d a d e em seu âmbito.

E s t a n d o

  a

  a ç ã o constituídac o m o p r o c e d i m e n t o

  ou

  f o r m a p e l a n o r

m a

 de

 d i r e i t o , p e r m a n e c e

 no

 t e x t o c o m o a l g o p o t e n c i a l m e n t e

 realizável.

A

a ç ã o constituídap e l a n o r m a , m a s

 não

  rea l i zada ,

 nã o é uma

  a ç ão p r o p r i a

m e n t e d i t a ,

 mas

  r e g u l a ç ã o

 da

  a ç ã o .

 Por um

  p o n t o d e v i s ta intrínseco,

 é in

di fe rente q ue a ação s e rea l i ze ou nã o na v ida rea l . No p l an o

 do

 t ex to

 jurídico

c o n s i d e r a d o

 em si

 m e s m o ,

 a

 a ç ã o  existe  d e s d e q u e  contemplada

  no

 t ex to . A

rea l i zação

  da

  a ç ã o c o n s t i t u i

  um  a  posteriori  em

  re l ação

  ao

  t e x t o

 jurídico,

u m a  entrada  em  cena  ( a i n d a

 que

 esta  entrada  em  cena

  não

 t e n h a

 o

  m e s m o

14

  Este é o sentido de

  Las  Regias  dei  Derecho  y las Regias  de los Juegos.  A

respei to,

 p .

 13 e

 segs.

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O  DIREITO COMO TEXTO

s e n t i d o q u e t e m n a

 peça

t ea t ra l , na qua l o a tor   representa  a ação e nã o t em

l i b e r d a d e p a r a d e i x a r d e represená-la).

P a r a d e s i g n a r o fato  d e q u e o  di re i to s e rea l i za na v ida s oc i a l , o  q u e

e q u i v a l e a d i z e r q u e a s a ç õ e s p r e v i s t a s n a s n o r m a s jurídicass e p õ e m   in actu

p e l o s  atores

 jurídicos,

d i z e m o s q u e o d i r e i t o estávigente.  O estar  envolve

a q u i u m a s i t u a ç ã o e x i s t e n c i al , e n ã o e s s e n c i a l, u m a q u a l i d a d e c o n t i n g e n t e

q u e p a r t i c i p a d a n ã o - n e c e s s i d a d e d o

 histórico.

N ã o é d a  essência  d o d i r e i

t o e s t a r v i g e n t e , p o r q u e , p o r e x e m p l o , o d i r e i to r o m a n o n ã o

 está

v i g e n t e

h o j e , m a s  é d i r e i t o . O se r  do d i re i to é s e r t ex to , e não e s t a r v igente ou im

p l a n t a d o n a r e a l i d a d e s o c i a l , q u e é u m a q u a l i d a d e  a  posteriori  e, po r isso,

e v e n t u a l .

I I I QUE EA TEORIA

COMUNICACIONAL DO D IREITO?

1 A TEORIA DO DIREITO:

 CONCEITO

P o d e m o s d e f i n i r  a t e o r i a d o d i r e i t o c o m o  a d i s c i p l i n a q u e e s t u d a

 o

direito em geral.

I s to s igni f i ca que a t eor i a do d i re i to não e s tuda o  d i r e i to c o n c r e t o d e

u m d e t e r m i n a d o paso u n a ç ã o ( p o r e x e m p l o , o  d i r e i t o e s p a n h o l o u o  d i

r e i t o r o m a n o

 cássico),

m a s q u a l q u e r d i r e i t o e x i s t e n t e , q u e  já  exi s t iu o u

q u e existirá.E m o u t r a s p a l a v r a s , o  o b j e t o  da  te o r i a d o d i r e i t o é o  direito

possível.

P o d e m o s o b s e r v a r , a o l o n g o d a história,a e x is t ê n c i a d e m u i t o s d i r e i

to s  ou  o r d e n a m e n t o s jurídicos.H o j e  em d ia  há  m u i t o s o u t r o s : alémdo

d i r e i t o q u e c a d a E s t a d o t e m , há  a i n d a  o d i r e i t o i n t e r n a c i o n a l ( q u e é o  d i

r e i t o e x i s t e n t e e n t r e o s E s t a d o s ) , o d i r e i t o comunitárioe u r o p e u , q u e  é o

d i r e i t o  da U n i ã o Européia( U E ) , o  d i r e i t o

 canónco

ou d i r e i t o  da  Igreja

Católicae t c . A i n d a q u e s e j a m d i f e r e n t e s e n t r e s i, a i n d a q u e t e n h a m v i g ê n

ci a  em  d i s t i n t o s l u g a r e s  e s o b r e d i s t i n t a s p e s s o a s , a i n d a q u e r e g u l e m de

m o d o s d i f e r e n t e s a s c o n d u t a s h u m a n a s , a p e s a r d e s t a s e d e o u t r a s d i v e r

g ê n c ia s , p o d e m o s c h a m a r t o d o s e s se s o r d e n a m e n t o s d e   direito.  E m p r e g a

m o s  a  m e s m a p a l a v r a p a r a d e s i g n a r r e a l i d a d e s d i f e r e n t e s p o r q u e

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O  DIREITO COMO TEXTO

c e r t a m e n t e e l a s t ê m e l e m e n t o s c o m u n s , e l e m e n t o s g e r a i s . E s t e s e l e m e n t o s

c o m u n s o u g e r a i s s ã o o s q u e i n t e r e s s a m à t e o r i a d o d i r e i t o .

P o r q u e , e n t ã o , fa l a m o s d e d i r e i t o

 possível,

s e n o s e x e m p l o s m e n c i o

n a d o s u t i l i z a m o s s o m e n t e d i r e i t o s q u e e x i s t i r a m o u q u e e x i s t e m n a r e a l i

d a d e d a v i d a h u m a n a ? A r e s p o s t a é m u i t o s i m p l e s : p r e s u m i m o s , até q u e s e

d e m o n s t r e o contrário,q u e n o f u t u r o

 também

e x i s t i r ã o o u t r o s d i r e i t o s

r e g u l a n d o a v i d a d a s o c i e d a d e . E m b o r a n ã o

 conheçamos

a inda e s s es d i

r e i t o s f u t u r o s , e s t a m o s q u a s e s e g u r o s d e q u e t e r ã o e s t r u t u r a s e m e l h a n t e à

d o s d i r e i t o s q u e c o n h e c e m o s

 aravés

d a

 história

e no pres ente . De fa to ,

e s t a m o s c o n v e n c i d o s d e q u e e x i s t e m n o d i r e i t o , e e m q u a l q u e r d i r e i t o ,  ele

mentos de

 caráter

permanente.  É p o r is s o q u e a f i r m a m o s q u e a t e o r i a d o

di re i to e s tuda o d i re i to possível:p o r q u e i n v e st i g a o s e l e m e n t o s p e r m a n e n t e s

d e t o d o d i r e i t o , i n d e p e n d e n t e m e n t e d e t e m p o e l u g a r .

C o n t u d o , a a f i r m a ç ã o d e q u e a t e o r i a d o d i r e i t o e s t u d a o d i r e i t o p o s

sível

( o u , o q u e é o m e s m o , o s e l e m e n t o s p e r m a n e n t e s d e q u a l q u e r d i r e i

t o ) c o n s e g u e i d e n t if i c a r a p e n a s o   qu e  e s s a d i sc i p l i n a e s t u d a . M a s s a b e m o s

q u e o q u a d r o d e u m a d i s c i p l i n a só

 está

c o m p l e t o q u a n d o , alémd e i n d i c a r

o q u e e l a e s t u d a ,

 também

e x p l i c a  como  e s t u d a . T r a t a - s e d o méodoo u

p e r s p e c t i v a d e u m a d i s c i p l i n a .

P a r a acançaro o b j e t i v o d o c o n h e c i m e n t o p r o p o s t o ( q u e é e s t u d a r o

d i r e i t o

 possíve

o u o s e l e m e n t o s p e r m a n e n t e s d e t o d o d i r e i t o , o d i r e i t o e m

gera l ) , o

 méodo

o u p e r s p e c t i v a t e m q u e s e r , n e c e s s a r i a m e n t e ,

 intrínseco.

P a r a e s t u d a r o  objeto em si  n ã o é possíves a i r do próprioo b j e t o , b u s c a n d o ,

s u a s c o n e x õ e s c o m o m u n d o q u e o r o d e i a . O q u e a t e o r i a d o d i r e i t o p r e

t e n d e é e s t u d a r o d i r e i t o e m s i m e s m o , n ã o e m s u a s r e l a ç õ e s c o m o m u n

do q ue o ce rca , razão p e l a qua l já fa l e i , em o ut r a obr a , do  mundo do direito

1

.

O di re i to , de fa to ,

 está

i n s e r i d o n o m u n d o d a r e a l i d a d e v i t a l , t a n t o

s o c i a l c o m o p e s s o a l . O d i r e i t o t e m r e l a ç ã o ( e m u i t a ) c o m a v i d a d a s p e s

s o a s , c o m a o r g a n i z a ç ã o

 política,

c o m o s c o n f l i t o s i n t e r n a c i o n a i s , c o m ã

e c o n o m i a , c o m a e d u c a ç ã o , c o m a o r d e m n a s r u a s . . . E poderamosa u m e n

t a r a r e l a ç ã o . T u d o a q u i l o q u e t e m r e l a ç ã o c o m o d i r e i t o é o  mundo do di

reito,

  m a s n ã o

  é

 o

 próprio

di re i to . A t eor i a do d i re i to não deve inves t iga r a s

r e l a ç õ e s d o d i r e i t o c o m o m u n d o q u e o c i r c u n d a ( c o m o m u n d o d o d i r e i -

1

  V e r m i n h a  Sociologia dei Derecho,  Ma dri , Civi tas , 2 . ed . , 1997, p . 147.

0  QUE

 É

A TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

47

t o ) ,

  m a s

 estudará

o d i r e i t o e m s i m e s m o . O u s e ja ,

 estudará

o d i r e i t o

  in

trinsecamente.

N e s t e p o n t o , o l e i t o r c e r t a m e n t e

 estará

p e r p l e x o e

 pensará

q u e o a u

t o r n ã o t e m r a z ã o : p o r a c a s o o d i r e i t o n ã o t e m r e l a ç ã o c o m a s o c i e d a d e ?

C o m o é

 possíve

s e p a r a r o q u e estát ã o u n i d o ? Seráque a t eor i a do d i re i to

é uma d i s c ip l ina i r rea l , d i s t an te da rea l idade das co i s as ? Nada d i s s o ; a t eo

r i a do d i re i to t em s eu

 próprio

c a m p o e n ã o d e v e

 utrapassá-lo

O e s t u d o

d a s r e l a çõ e s d o d i r e i t o c o m o m u n d o q u e o c i r c u n d a c a b e a o u t r a s d i s c i

p l i n a s , c o m o a s o c i o lo g i a d o d i r e i t o e a p s i c o l o g i a

 jurídica.

Uma coi s a é o

e s t u d o d o d i r e i t o e m s i m e s m o , e o u t r a o e s t u d o d a s r e la ç õ e s q u e o d i r e i t o

t e m o u p o d e te r c o m o m u n d o q u e o c e r c a . N ã o se p o d e n e g a r a i m p o r

tânca

do es tudo des t a s re l ações , mas nem por i s s o o e s tudo

 intrínseco

de ixa

de t e r va l idade e j us t i f i ca t iva .

A s s i m , d e f i n i r e m o s a t e o r i a d o d i r e i t o c o m o a   disciplina que estuda

intrinsecamente o direito

 possível.

Para rea l i za r a i nves t igação

 inrínseca

t e m o s q u e s a b e r n o q u e c o n

s i s t e a e s s ênc ia do d i re i to , qua l é s ua na tureza

 íntima

e p r o f u n d a , s e m a

q u a l n ã o é

 possíve

s u a c o m p r e e n s ã o . N o s s a r e s p o s t a é e s t a : o d i r e i t o é l i n

g u a g e m .

2 0  DIREITO COMO

 TEXTO

D i z i a  K A N T  i r o n i c a m e n t e : o s j u r i s t a s a i n d a p r o c u r a m u m c o n c e i t o

d o d i r e i t o . E s t a i r o n i a d e v e s er a c e i t a c o m o p a n a c e i a c o n t r a t o d o

d o g m a t i s m o a c a d ê m i c o . M a s

 também

d e v e se r ac e i ta c o m o m a n i f e s t a ç ã o

d e q u e o d i r e i t o n ã o t e m u m a r e a l i d a d e palpávelc o m o a s c o i s a s d a n a t u

reza ou a s formas geoméricasC o n t u d o , é m a i s p a r e c i d o c o m e s t a s últi

m a s q u e c o m a q u e l a s , já q u e o d i r e i t o , c o m o a s f o r m a s

 geoméricas

é

p r o d u t o d a c o n c e p ç ã o h u m a n a . O d i r e i to é c r i a d o p e lo h o m e m , é u m p r o

d u t o t i p i c a m e n t e h u m a n o , u m

 artifício

s e m e n t i d a d e c o r p o r a l , m a s n e m

p o r i s s o m e n o s r e a l q u e a s máqunase o s

 edifícios.

O d i r e i t o é o r e s u l t a d o

d e

 múltiplas

d e c i s õ e s d o s h o m e n s , q u e só p o d e m s e e x p r e s s a r  mediante

palavras.

Ref l i t amos u m po uc o s obre i s s o : o d i re i to só é

 possíve

m e d i a n t e p a l a

v r a s . S u p r i m i d a s a s p a l a v ra s , s u p r i m e - s e a u t o m a t i c a m e n t e o d i r e i t o . A l g u -

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48

O   DIREITO COMO TEXTO

m a s espécesa n i m a i s f o r m a m c o m u n i d a d e s o r g a n i z a d a s  que  rea l i zam re

g u l a r m e n t e d e t e r m i n a d o s c o m p o r t a m e n t o s ;

 mas nem

  a s s i m d i z e m o s

 que

t ê m u m a o r d e m

 jurídica.

 O

 d i r e i t o s u r g e c o m

 o

 h o m e m , c o m o e x p r es s ão

 de

s u a c a p a c i d a d e d e c o n f i g u r a r  a v i d a e m s o c i e d a d e . A p a r e c e e m s o c i e d a d e ; é

u m

 fenômeno

s oc ia l .

 Mas sua

  es s ênc ia cons i s t e

  em

 p a l a v r a s ,

 sem as

  qua i s

n ã o é n a d a . R e t i r e m o s a s p a la v r a s

 do

 códigoc i vi l: n ã o s o b r a n a d a . S u p r i m a

m o s a s p a l a v r a s d a c o n s t i t u i ç ã o : n ã o s o b r a n a d a .

 Equeçamos

as pa l avras de

u m c o n t r a t o ou  d e u m a e s c r i t u r a pública:não s obra nada . E não s e t ra t a  de

u m a p r o v a c o n t u n d e n t e a p e n a s

 em

 re l ação

 a o

  di re i to e s c r i to ,

 que é a

  p a r t e

m a i s s u b s t a n c i a l

  de

  t o d o

 o

  d i r e i t o m o d e r n o . R e t i r e m o s

 as

  pa lavras

 do

  c o s

t u m e :

 o que

  res ta dele?

 Um

 c o m p o r t a m e n t o c a r e n te

 d e

 s i g n i fi c a d o , p o r q u e

o q u e c o n f i g u r a o c o s t u m e n ã o é o c o m p o r t a m e n t o h a b i t u a l d e u m a c o m u

n i d a d e , m a s

 o

 s igni f i cado

 obrigatório

d e t al c o m p o r t a m e n t o , e o s i g n i f i ca d o

só é possíve

mediante s ua v inculação à s pa l avras .

Há

  q u e m d i g a q u e é m u i t o p o u c o p a r a

 a

 d i g n i d a d e

 d o

  d i r e i t o r e d u z i -

lo

 a

 uma  simples questão de palavras.  Fa l t a aos

 críticos,

t a lvez ,

 a lembança

d o m a j e s t o s o

 iníciodo

 E v a n g e l h o

 de JOÀO:  no

 princípio

era o

 Verbo . Fa l

t a - l h e s a

 lembança

de que p e l a p a l a v r a  se c r i a o  m u n d o . N a d a m e n o s .

E s e e x i s t e m p e s s o a s q u e q u e s t i o n a m   a c r i a ç ã o do  m u n d o p e l a p a la

v r a ,

 também

exi s t em

 as que não

 a c r e d i t a m

 que o

  di re i to s e j a c r i ado

 m e

d i a n t e

  as

  p a l a v r a s . E s t a s

 últimas

p o d e m

  se

  c o n v e n c e r

  do contrário

o b s e r v a n d o a q u i l o q u e o c o r r e d i a r i a m e n t e a s e u r e d o r : o  l e g i s la d o r e l a b o

r a a s l e is d i s c u t i n d o m e d i a n t e p a l a v r a s e i m p r i m e

 o

  r e s u l t a d o

 de

  s eus acor

d o s

  em

  p a l a v r a s ;

  o

  j u i z , q u a n d o p r o f e r e

 senença

e m i t e p a l a v r a s ;

  o

funcionário, ao

  e m i t i r

  o ato

 a d m i n i s t r a t i v o ,

  o faz

  m e d i a n t e p a l a v r a s;

  no

c o n v ê n i o c o l e t i v o  se i m p r i m e  em  p a l a v r a s  o  a c o r d o

 acançado

e n t r e pa

t r õ e s

 e

 e m p r e g a d o s ;

 o

  t r a t a d o i n t e r n a c i o n a l

  é

  f i rmado mediante pa l avras

d e p o i s

  de árduas

d i s c u ss õ e s q u e , n o r m a l m e n t e , a c o n t e c e m

  em

  p a l a v r a s .

;

.

N a t u r a l m e n t e , m e d i a n t e p a l a v r a s

  se

 fala

  de

  o u t r a s c o i s a s

 qu e não são pa

l a v r a s :  de  in t e res s es

 econômcos

 políticose i n t e r n a c i o n a i s ,  de

 situaççes

p e r i g o s a s , d e p l a n o s p a r a

 o

  f u t u r o ,

 de

  r e s u l t a d o s o b t i d o s

 n o

 p a s s a d o . . . N a

t u r a l m e n t e , t o d o s e s s es e l e m e n t o s s e t r a d u z e m n a s p a l a v r a s d o s t e x t o s j u

rídicos ( l e i s , c o n v ê n i o s , t e s t a m e n t o s , t r a t a d o s ) ;  e,  p o r t a n t o ,  os  t e x t o s

jurídicoss ã o p a l a v r a s q u e t ê m r e l a ç ã o c o m c o i s a s q u e n ã o s ã o p a l a v r a s (in

t e r e s s e s , p l a n o s , r e i v i n d i c a ç õ e s

  etc). Mas

  n a d a d i s s o

 poderá

c o n s t i t u i r

obstácuoà

  a d m i s s ã o

 de que o

  d i r e i t o ,

 em sua

  r e a l i d a d e m a i s

 primáriae

0 QUE ÉA TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

49

palpável,

 em sua

 m a n i f e s ta ç ã o p r i m e i r a

  e genuna

c o n s i s t e s i m p l e s m e n t e

e m p a l a v r a s .

 É por

  isso

 que nós

  j u r i s ta s s o m o s , q u e i r a m o s

  ou

  n ã o , g e n t e

de l e t ra s .

Aém

d e s t e s a r g u m e n t o s

 de

  s e n s o c o m u m , q u e u t i l i z a m

  a

 e x p e r i ê n c i a

c o t i d i a n a q u e

 nós

  h u m a n o s r e c o lh e m o s

 no

 c o n t a t o

 com o

  di re i to que rege

n o s s a s v i d a s ,

 há

  o u t r a

 série

de

 r a z õ e s

 d e

 caráer

m a i s

 técnico

ou

 filosófico

e q u e v ê m t o r n a n d o a t u a i s a semótica(c i ênc ia dos s ignos ) e a he rmenêut i ca

(c i ênc ia

  da

 c o m p r e e n s ã o ) .

  Qs

  d o i s r a m o s

  do

  s a b e r p r o c l a m a m

  um a

  con

cepção ampla  do conceito  de  texto,  s e g u n d o

 a

 q u a l  texto

 não é

 a p e n a s

 o

  t e x

t o e s c r i to , m a s q u a l q u e r r e a l i d a d e

 susceívede

  i n t e r p re t a ç ã o . C e r t a m e n t e

t o d o t e x t o

 jurídico

p e r t e n c e  a  es s e t i po  de  r e a l i d a d e , p o i s q u a l q u e r t e x t o

e s c r i t o

  é susceívede

 i n t e r p r e t a ç ã o ,

 mas não

  a p e n a s

  o

  t e x t o e s c r i t o .

 Le

v a n d o

 a

 q u e s t ã o

 ao

 l imi t e , s e r i a

 possíve

d i z e r

 qu e

  t o d a r e a l i d a d e , i n c l u s i

ve a rea l idade na tur a l , é u m t e x t o n e s s e s e n t i d o a m p l o , p o r q u e até  o c i en t i s t a

i n t e r p r e t a  a  n a t u r e z a d e p o i s  de observá-laC o m o  GALILEU GALILEI  c o s t u

m a v a d i z e r , a n a t u r e z a

  é um

  f o r m o s o l i v r o e s c r i to

 e m

 l i n g u a g e m

 maemá

t ica;

 e é

 m e s m o a s s im , p o i s

 a

 maemáica

é,

  de fa to ,

 um

  t i p o d e l i n g u a g e m ,

e a  n a t u r e z a é a lgo que t e m o s e que só

 aravés

da a p l i c a ç ã o da  l i n g u a g e m

maemáicaao

 a c o n t e c e r

  dos

 fenômenosp o d e m o s c h e g a r

  a

  e n t e n d e r .

 Se

p o d e m o s a d m i t i r q u e

 a

  n a t u r e z a é

 um

  texto  q u e le m o s e e n t e n d e m o s a t r a

vés de um a

 l i n g u a g e m

  que

 c h a m a m o s

  de maemáica

e s t a r e m o s a p t o s

 a

ace i t a r a idéia

 básica

da h e r m e n ê u t i c a a p l i c a d a à s c iê n c i a s s o c i a i s , q u e c o n -  -

s is te

 em

 a f i r m a r q u e t o d a r e a l i d a d e h u m a n a , e

 conseqüenemene também

t o d a r e a l i d a d e s o c i a l,

 é um

  t e x t o e n q u a n t o s e a p r e s e n t a c o m o a l g o q u e

 te

m o s

  que le r e

  i n t e r p r e t a r p a r a c h e g a r

 a

  c o m p r e e n d e r

  (ou

  e n t e n d e r ) .

Es t a s

 são as

 p a l a v r a s

 básicasem

  t o r n o

  das

  q u a i s g i r a t o d a

  a

  c o n c e p

çã o

 da

  f i l os of i a he rmenêut i ca : l e r , i n t e rpre t a r e compreender ; pa l avras que ,

c o m o v e r e m o s

 em

  s e g u i d a , c o n s t i t u e m

  a

  a t i v i d a d e

 diária

d o s j u r i s t a s .

E m r e l a ç ã o

  a

  q u a l q u e r r e a l i d a d e h u m a n a

 (fenômenos

s oc ia i s , eco

nômcos, a r t e , s o n h o s ) e x e r c e m o s e s t a s t r ê s f u n ç õ e s . P r i m e i r o , l e m o s

  a

r e a l id a d e , p r o c u r a m o s observá-lav e m o s s e u s s i g n o s e x t e r n o s . S e não en

t e n d e m o s a l i n g u a g e m e m q u e

 o fenômeno

se expressa,

 é

 inútils egui r ad i an

te ;

 t e r e m o s q u e a p r e n d e r a n t e s es s a l i n g u a g e m p a r a p o d e r c o n t i n u a r n o s s a

t a re fa

  de

  c o m p r e e n s ã o .

Q u a n d o q u e r e m o s s a b e r

 o que

 a c o n t e c e

  na

  Bol s a

 de

  Va lores

 (o que

s e g u r a m e n t e  é m u i t o difícil), po r  e x e m p l o , p r e c i s a m o s a n t e s e n t e n d e r  a

Page 17: 5 O Direito Como Texto

7/23/2019 5 O Direito Como Texto

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5

O   DIREITO COMO TEXTO

l i n g u a g e m

  em que se

 e x p r e s s a m

  os fenômenos

f i n a n c e i r o s . C a s o

 não a

e n t e n d a m o s ,

 o

  m e l h o r

  qu e

  p o d e m o s f az er

  é

  r e c o r r e r

  a um

  a g e n t e

 da

  B o l

sa , com a esperançade que ele a  e n t e n d a . S e , p or  o u t r o l a d o , q u e r e m o s ,

p o r e x e m p l o , a v e r i g u a r

  o que

  a c o n t e c e

 com uma

  p e s s o a

 aravésdos so

n h o s

  que nos

  r e l a t a , t e m o s

  que

  a p r e n d e r

  a

  l i n g u a g e m

  dos

  s o n h o s , c u j o

d e s c o b r i d o r

  foi

 S i g m u n d

  FREUD,

  c o m o

  se

 s a b e ;

 u m

 psicólogo

ou

  p s i q u i a

t r a  que se  d e d i q u e  à psicanáiseé  e x a t a m e n t e a q u e l a p e s s o a  que,  e n t r e

o u t r a s a p t i d õ e s ( c o m o p o s s u i r

 u m título

e t c ) , s a b e  ler a l i n g u a g e m n a q u a l

s e e x p r e s s a m

  os

 s o n h o s .

 O

 p s i c a n a l i s t a

  é,

  s i m p l e s m e n t e ,

  um

  h e r m e n e u t a

d e s o n h o s  e de  c o m p o r t a m e n t o s .

R e a l i z a d a

  a

  l e i t u r a

  de

  d e t e r m i n a d o

 fenômenoo

  s e g u n d o p a s s o

  é a

i n t e r p r e t a ç ã o , q u e c o n s i s t e e m a v e r i g u a r o s e n t i d o c o e r e n t e do  q u e l e m o s ,

c o m

  a

 f i n a l i d a d e

  de

  p o d e r c o m p r e e n d ê - l o . T o d a re a l i d a d e,

 m as

  es pec ia l

m e n t e

  a

  r e a l i d a d e h u m a n a

  e

  s oc ia l ,

 é passívede

  i n t e r p r e t a ç ã o . M a i s

 que

i s to , só  a c r e d i t a m o s c o n h e c e r a l g o d e s s a r e a l i d a d e d e p o i s q u e , c o n s c i e n t e

o u i n c o n s c i e n t e m e n t e ,  a  i n t e r p r e t a m o s . A  i n t e r p r e t a ç ã o c o n s i s t e  na  a p l i

c a ç ã o

  de

  n o s s a s f a c u l d a d e s c o g n o s c i t i v a s

  na

  c a p t a ç ã o

  do

 sentido

  de uma

r e a l i d a d e , c o m

 o

  o b j e t i v o d e c o m p r e e n d ê - l a . I n t e r p r e t a ç ã o , s e n t i d o e c o m

p r e e n s ã o  são  coi s as  que  e s t ã o , p o r t a n t o , i n d i s s o l u v e lm e n t e u n i d a s . Sem

i n t e r p r e t a ç ã o

  a

 c o m p r e e n s ã o

 não é possível; a

  p r i m e i r a

  é

 b u s c a

  do

  s e n t i

d o , e a

  s e g u n d a

  é a

 c a p t a ç ã o ,

 a

  pos s e des s e s ent ido .

N u n c a  se c h e g a  a  c o m p r e e n d e r t o t a lm e n t e  um a  r e a l i d a d e . P a r a d e

m o n s t r a r

  a

  c o r r e ç ã o d e s t a a f i r m a ç ã o , b a s t a p e n s a r

 qu e

 s e q u e r c o m p r e e n

d e m o s t o t a l m e n t e

  a nós

  m e s m o s , a i n d a

  qu e

  e s t e j a m o s  tão próximos;

s e g u r a m e n t e

 tambémnã o

  p o d e m o s c o m p r e e n d e r t o t a lm e n t e

  os

  d e m a i s ,

n e m  a  r ea l i d a d e h u m a n a  e s oc ia l qu e n o s c e r c a . A i n d a a s s i m , porém não

p o d e m o s v i v e r

 sem uma

 i n t e r p r e t a ç ã o

  de nós

  m e s m o s ,

 dos

  d e m a i s

 e do

m u n d o q u e n o s r o d e i a . É q u e

 a

 c o m p r e e n s ã o

 é

  p a r t e c o n s t i t u t i v a d e n o s s o

s e r e x i st e n c i a l . A c o m p r e e n s ã o  é uma  ta r e fa s e m l i m i t e s , q u e n u n c a t e r m i

n a .

 A

  p e n e t r a ç ã o

  no

  s e n t i d o

  da

  r e a l i d a d e

  que

  s o m o s

 e que nos

  r o d e i a

  é

t a r e f a p e r m a n e n t e

  e sem fim. A

  f i lo s o fi a h e r m e n ê u t i c a c h a m a

  de círculo

hermenêutico

  e ss e p e r m a n e n t e a t o

 d a

 r a z ã o p a r a c o m p r e e n d e r ,

 e

 c o m p r e

e n d e r c a d a  vez m a i s  e  m e l h o r , a i n d a  que t a lvez se j a ma i s ade qu ad o fa l a r

d e  espiral  h e r m e n ê u t i c a.

 A

 r a z ã o , m e d i a n t e esforços

da

  i n t e r p r e t aç ã o ,

 vai

p e n e t r a n d o p a u l a t i n am e n t e

  no

 s e n t i d o

  das

 coi s as

 qu e nos

  r o d e i a m , p o s

s i b i l i t a n d o

  a

  c o m p r e e n s ã o c a d a v e z m a i o r

  e

  m e l h o r . N u n c a t e r m i n a ,

 mas

O   QUE

 É

A TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

51

as vol t a s

 do

  c a r r o ss e l i n t e r p r e t a t i v o n o s a t r i b u e m u m a p o s s e c a d a v e z m a i s

c o m p l e t a ( a i n d a  qu e  n u n c a p l e n a m e n t e c o n s u m a d a ) , uma  p o s s e i n t e l e c

t u a l

 do

  o b j e t o ,

 e é

  e x a t a m e n t e n i s s o

 qu e

 c o n s i s t e

 a

  c o m p r e e n s ã o .

A in t e r p r e t a ç ã o e a c o m p r e e n s ã o

 d a

  r e a li d a d e ( r e f e r i m o - n o s e s p e c i a l

m e n t e à r e a l i d a d e s o c ia l ) n ã o c o n s t i t u e m a p e n a s  u m  d e v e r i n d i v i d u a l , m a s

ambém

cole t ivo . Exi s t e

 u ma

 i n t e r p r e t a ç ã o i n d i v i d u a l

 da

  r e a l i d a d e

 e uma

i n t e r p r e t a ç ã o c o l e t i v a

 ou

 s oc ia l

 da

 m e s m a r e a l i d a d e.

 Da

  m e s m a f o r m a ,

 ao

l a d o

 de uma

  c o m p r e e n s ã o i n d i v i d u a l

  do

  m u n d o s o c i al

  há uma

  c o m p r e

e n s ã o s o c i a l d o  m u n d o s o c i al c i r c u n d a n t e . O  s uje i to da i n t e r p r e t a ç ã o e da

c o m p r e e n s ã o

  n ão é só o indivíduo

i s o l a d a m e n t e c o n s i d e r a d o ,

  ma s

  t a m

bém o

  sujeito social,

  o

 g r u p o ,

 a

  s o c i e d a d e .

 Por

 i s s o ,

 BERGER e  LUCKMANN fa

l a m d a

 construção social da realidade;

 p o r q u e , d e

 fato,

 a s o c i ed a d e c o n s i d e r a d a

c o m o um t o d o

 unitário

a t u a

 também

c o m o s u j e it o i n t e r p r e t a t i v o d o  m u n

d o

 que a

 ce rca , construindo-o,

  no

 s e n t i d o

 de

 q u e

 o

  m u n d o v em

  a

  ser, nesse

m o m e n t o

 históricoe

 p a r a e s sa d e t e r m i n a d a s o c i e d a d e ,

 o que a

  s o c i e d a d e

c o n s t r u i u

 com sua

  i n t e r p r e t a ç ã o .

 A

  s o c i e d a d e c h e g a , a s s i m ,

 a uma

  c o m

p r e e n s ã o

  da

  r e a l id a d e q u e p o d e m o s a f i r m a r

 ser a

 compreensão dominante.

T o d a

  a

  e x p o s i ç ã o a n t e r i o r

  se

  a p l i c a i m e d i a t a m e n t e

  ao

  d i r e i t o .

  Em

s e g u i d a v o l t a r e m o s  à idéiade que o  d i r e i t o  é  t e x t o , p a r a escarecç-lae

aprofundá-la,

e x p l i c a n d o d e p o i s a s f u n ç õ e s d e l e i t u r a , i n t e r p r e t a ç ã o e c o m

p r e e n s ã o

 em

  re l ação ao t ex to

 jurídico,

a s s im c o m o

 a

 p o s s i b i l i d a d e

 de

  falar

t a n t o

 de uma

 i n t e r p r e ta ç ã o i n d i v i d u a l c o m o

 de uma

 i n t e r p r e t a ç ã o c o l e t i

va   do  d i r e i t o , s u r g i n d o n e s t a últimaos  j u r i s t a s c o m o  classe profissional

e n c a r r e g a d a p e l a s o c i e d a d e d e v e r if i c a r e ss a i n t e r p r e t a ç ã o s o c i a l

 d o

 direito.

P a r a e n t e n d e r  o que  s ignifica  a a f i r m a ç ã o  de que o  d i r e i t o  é  t ex to ,

t o m e m o s

 o

  o r d e n a m e n t o

 jurídico

e s p a n h o l . I m a g i n e m o s q u e alguém

nos

p e r g u n t e q u a l

 é o

 atual

 coneúdo

do

  d i r e i t o e s p a n h o l v i g e n t e . R e s p o n d e

ríamosem p r i m e i r o l u g a r , q u e s e r ia impossívelr e l a t a r e m p o u c a s h o r a s , e

m e s m o  em a l g u n s d i a s , t o d o  o coneúdodes s e d i re i to . Ta lvez

 pudéssemos

r e c o r r e r

  à

 a j u d a

  da informática,

p r o c u r a n d o

  um a

 p e s s o a

  que

 c o n v e r t e s s e

e m a r q u i v o s

 d e

 c o m p u t a d o r t o d a s

 as

  n o r m a s q u e c o m p õ e m

  o

  a t u a l d i r e i

t o e s p a n h o l . Daramosa  e ss a p e s s o a a l g u m a s i n d i c a ç õ e s d a s fontes  do di

re i to , i s to

 é, dos

 l u g a r e s

 ou

  d o c u m e n t o s o n d e

  se

 e n c o n t r a m

  as

  n o r m a s :

 a

c o n s t i t u i ç ã o ,

  as

  leis ,

 os

  t r a t a d o s i n t e r n a c i o n a i s ,

  as

  n o r m a s d i t a d a s p e l o s

ó r g ã o s

  das

 a d m i n i s t r a ç õ e s públicas,

 os

  c o s t u m e s

  com

  q u a l i d a d e

  de

  n o r

m a

 jurídica

(não  a q u e l e s que não  s ã o n o r m a s jurídicas), os princípiosg e-

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52

O   DIREITO COMO TEXTO

r a i s d o d i r e i t o , a s n o r m a s p r o v e n i e n t e s d a a u t o n o m i a d a v o n t a d e , i s t o é,

o s t e s t a m e n t o s e o s c o n t r a t o s

 (além

d e o u t r o s

 negócosjurídicos),

as s im

c o m o a s c o n v e n ç õ e s c o l e t iv a s e a s c h a m a d a s c o n d i ç õ e s g e r a i s d o s c o n t r a

tos (aque las l e t ra s

 múdas

q u e n u n c a l e m o s a o f i r m a r u m c o n t r a t o d e s e

g u r o o u d e v i a g e m , e q u e

 deveríamos

l e r a t e n t a m e n t e p a r a s a b e r o q u e

e s t a m o s a s s i n a n d o ) ; alémdi s s o , s e r i a

 necessário

a c r e s c e n t a r a s c h a m a d a s

n o r m a s i n d i v i d u a i s o u c o n c r e t a s , q u e s ã o a q u e l a s q u e c o n t e m p l a m u m c a s o

p a r t i c u l a r , t a i s c o m o a s senençasd o s

 juzes

e o s a t o s a d m i n i s t r a t i v o s . T a l

v e z n e m t e n h a m o s m e n c i o n a d o t o d a s a s n o r m a s q u e n o s s o e s p e c ia l i st a e m

informática

e p a c i e n t e c o m p i l a d o r d e v e r i a i n s e r i r e m s e u c o m p u t a d o r .

S u p o n h a m o s

 também

q u e a i n f o r m a t i z a ç ã o f o s s e f e i t a d e m o d o q u e p u

déssemos

c o n s u l t a r d i a r i a m e n t e a s n o v a s n o r m a s i n t r o d u z i d a s n o c o m

p u t a d o r , d e c o r r e n t e s d a s n o v a s l ei s o u d e n o v a s d e c i s õ e s d o s t r i b u n a i s q u e

a l t er a s s em d e a l g u m a f o r m a o p a n o r a m a

 jurídico

até en tão exi s ten te.

D e n o s s a p a r t e , t e m o s q u e d i z e r q u e e ss e e x p e r i m e n t o , alémd e n ã o

s e r c o m p l e t a m e n t e f a n t a s i o s o , c o n s t i t u i u m a a u t ê n t i c a n e c e s s i d a d e d e

i n f o r m a ç ã o jurídica,p a r a a q u a l a t e c n o l o g i a m o d e r n a p o d e f o r n e c e r u m a

s o l u ç ã o

 cômoda

e a d e q u a d a . L o g o

 chegará

o d ia e m q u e p o d e r e m o s d i s

p o r d e m e i o s i n f o r m a t i z a d o s q u e c o n t e n h a m t o d o o d i r e i t o e s p a n h o l

v i g e n t e ; e, p a r a q u e e s t e j a m s e m p r e e m d i a , e s t es m e i o s s e r ã o o p o r t u n a

m e n t e c o m p l e m e n t a d o s e r e n o v a d o s . O d o c u m e n t o q u e v i e r a c o n c e n

t r a r t o d a e s s a i n f o r m a ç ã o

 poderá

s e r c h a m a d o d e  atual direito

 válido

espanhol.

Poi s bem : não há

 dúvida

d e q u e t a l d o c u m e n t o c o n s t i t u i s i m p l e s m e n t e

u m   texto.  A i n t r o d u ç ã o d o s t e x t o s e s c ri t o s d a s le i s o u d a s n o r m a s q u e a p a

recem es c r i t a s não ofe rece d i f i cu ldade ; mas

 também

o s c o s t u m e s c o m q u a

l i d a d e d e n o r m a s jurídicas( l o g o v e r e m o s q u a n d o o s c o s t u m e s t ê m e s s a

q u a l i d a d e )

 também

d e v e r ã o s e r i n t r o d u z i d o s d e p o i s d e f o r m u l a d o s e m

l i n g u a g e m , p o i s o c o s t u m e e o u s o s ó p o d e m s e e x p r e s s a r m e d i a n t e u m a

d e t e r m i n a d a l i n g u a g e m . H a v e n d o dúvidaa r e s p e i t o d o coneúdoc o n c r e

t o d e u m c o s t u m e o u d e u m u s o ,

 será necessário

l e v a r e m c o n t a , d e m o d o

p r e p o n d e r a n t e , a c o n c e i t u a ç ã o q u e as

 senenças

j u d i c i a i s ( n o d i r e i t o m o

d e r n o a s senençass ão e s c r i t a s ) confe re a e l e s .

O t e x t o

 jurídico

q u e t e m o s n o c o m p u t a d o r é o   material

 jurídico

s o

b r e o q u a l t r a b a l h a m o s j u r i s t a s

 práicos

e teóricos.O s

 práicos

e n c o n t r a m

n e s s e m a t e r i a l a m a n e i r a d e s o l u c i o n a r o s p r o b l e m a s c o n c r e t o s q u e m a -

0 QUE É  A TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

53

n e j a m . O s

 teóricos,

p o r s u a v e z , p r o c u r a m a r t i c u l a r o m a t e r i a l n u m a o r

d e m

 sistemáica

a d e q u a d a a o r i g o r

 científico.

Q u a l q u e r p e s s o a p o d e   ler o t ex to

 jurídico

p a r a i n t e i r a r - s e d a q u i l o q u e

d e v e fa z e r e m d e t e r m i n a d a s i t u a ç ã o , o u p a r a s a b e r q u a i s s ã o o s d i r e i t o s d e

q u e d i s p õ e q u a n d o r e a li z a u m d e t e r m i n a d o a t o . C o n s u l t a n d o o t e x to o u

m a t e r i a l

 jurídico,

a p e s s o a i n t e r e s s a d a p o d e s a b e r , p o r e x e m p l o , o s i m p o s

tos que t em a paga r ao f i s co e o modo de fazê - lo , ou s e

 terá

d i r e i t o a u m a

p e n s ã o , e d e q u a l v a l o r , q u a n d o s e a p o s e n t a r .

T o d o s p o d e m r e a l i z a r u m a l e i t u r a s i m p l e s e s u p e r f i c i a l d e m u i t o s

t e x t o s

 jurídicos,

p o i s n o r m a l m e n t e a s n o r m a s jurídicassã o compreensí

v e i s p a r a o c i d a d ã o m e d i a n a m e n t e c u l t o . M a s u m a l e i t u r a p r o f u n d a , q u e

n ã o s e li m i t e a o v e r n i z d a q u i l o q u e a p a r e c e n o t e x t o , m a s q u e p e n e t r e n o

m u n d o c o n c e i t u a i e i n t e r p r e t a t i v o d o d i r e i t o , só é

 acessve

a o s

 juristas,

  is to

é, aos prof i s s io na i s do d i re i to . Há mu i t a gente que , s em nu nc a t e r e s tud a

d o d i r e i t o , s e p õ e a d i s c u t i r o s p r o b l e m a s

 jurídicos

c o m u m a t r e v i m e n t o

q u e n ã o s e v ê e m o u t r o s c a m p o s d o s a b e r , n o s q u a i s a t e r m i n o l o g i a e m i

n e n t e m e n t e

 técnca

i m p e d e o a c e s s o d o s i n t r u s o s .

O s j u r i s t a s n ã o s e l i m i t a m a l e r o t e x t o

 jurídico

c o m o l h o s d e p r o f i s

s i o n a i s c a p a z e s d e e n t e n d e r c o m p l e t a m e n t e s e u s e n t i d o ; sã o

 eles , além

di s s o ,

o s e n c a r r e g a d o s d e i n t e r p r e t a r a s n o r m a s . A i n t e r p r e t a ç ã o d a s n o r m a s c a b e

e s p e c i a l m e n t e a d e t e r m i n a d o s j u r i s t a s : a q u e l e s q u e o c u p a m ó r g ã o s d e

d e c i s ã o ( c o m o o s

 juzes)

e o s q u e s e d e d i c a m à c i ê n c i a d o d i r e i t o ( o s c i e n

t i s t a s d o d i r e i t o ) . N a t u r a l m e n t e , n o d i r e i t o , c o m o e m t u d o o q u e é h u m a

n o , há s e m p r e o u q u a s e s e m p r e u m a m u l t i p l i c i d a d e d e i n t e r p r e t a ç õ e s p a r a

o m e s m o a s s u n t o . P o r i s s o é q u e t o d o s o s o r d e n a m e n t o s

 jurídicos

e s t a b e

l e c e m q u a i s s ã o o s ó r g ã o s q u e t ê m a

 última

p a l a v r a n o t e m a d a i n t e r p r e t a

ç ã o d a s n o r m a s . N a E s p a n h a , e s t e p a p e l é d e s e m p e n h a d o p e l o T r i b u n a l

S u p r e m o e p e l o T r i b u n a l C o n s t i t u c i o n a l , ó r g ã o s j u r i s d i c i o n a i s q u e , d e n

t r o d a e sf e r a o u c o m p e t ê n c i a d e c a d a u m , d i z e m a

 última

p a l a v r a e m m a

téria

d e i n t e r p r e t a ç ã o d o d i r e i t o e s p a n h o l .

E m c o n s e q ü ê n c i a , q u e m p r e t e n d a e n t e n d e r b e m o s e n t i d o d a s n o r

m a s jurídicas

 está

o b r i g a d o a c o n s u l t a r a s

 senenças

d o s t r i b u n a i s m e n c i o

n a d o s : é o q u e s e d e n o m i n a

  jurisprudência.

  A i n d a q u e a p a l a v r a

jurisprudência  s e ja e m p r e g a d a c o m o u t r o s s i g n i f i c a d o s ( e s p e c i a l m e n t e

c o m o sinônimod e  ciência do direito),  s u a a c e p ç ã o

 ordinária,

e m n o s s o

i d i o m a , é a d e c o n s t i t u i r o c o n j u n t o d a s d e c i s õ e s d o s t r i b u n a i s . C o m o o

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54

O  DIREITO COMO TEXTO

T r i b u n a l S u p r e m o

  e o

 T r i b u n a l C o n s t i t u c i o n a l s ã o

  os

 ó r g ã o s j u r i s d i c i o

n a i s q u e t ê m

  a última

p a l a v r a , p o d e - s e d i z e r q u e  jurisprudência  equiva le

a o c o n j u n t o d e d e c i s õ e s d e s s e s t r i b u n a i s .

Aémda

  l e i t u r a

 e

 d a i n t e r p r e t a ç ã o d o d i r e i t o p e l o s t r i b u n a i s ,

 há u m

o u t r o c o l e g i a d o d e j u r i s t a s d e d i c a d o s p r o f i s s i o n a l m e n t e

  à

  i n t e r p r e t a ç ã o :

s ão os c i en t i s t a s do d i re i to , aque les que e s c revem l ivros

 e

 a r t i g o s s o b r e

 as

i n s t i t u i ç õ e s q u e c o n f i g u r a m u m d e t e r m i n a d o o r d e n a m e n t o

 jurídico,

o s q u e

e x p l i c a m o s d i v e r s o s r a m o s d o d i r e i t o ,

 o

  di re i to c iv i l ,

 o

  c o m e r c i a l ,

 o

  p r o

ces s ua l ,

 o

  c o n s t i t u c i o n a l , o a d m i n i s t r a t i v o ,

 o

 i n t e r n a c i o n a l

  e t c .

 A o contrá

r i o d o g r u p o a n t e r i o r , q u e b u s c a a s o l u ç ã o d e u m p r o b l e m a c o n c r e t o , e s t e s

s e c a r a c t e r i z a m

  por

 i n t e r p r e t a r

  as

 n o r m a s p a r a apresená-laso r d e n a d a

m e n t e n u m   sistema  c o e r e n t e e o r g a n i z a d o . E n q u a n t o

 o

 o b j e t iv o d o s

 juzes

é

 a p l i c a r a s n o r m a s a o c a s o c o n c r e t o , a d o s c i e n t i s ta s

 jurídicos

é c o n s e g u i r

o  sistema  o r d e n a d o d a s n o r m a s

 válidas

q u e c o n f i g u r a m u m o r d e n a m e n t o

jurídico.

O s d o i s g r u p o s s e a p o i a m e se c o m u n i c a m , f o r m a n d o o c o n j u n t o

q u e a n t e s chamávamosd e  sujeito social  d a i n t e r p r e t a ç ã o

  e da

  c o n s t r u ç ã o

do d i re i to .

S e , n o s e n t i d o e x p o s t o ,

 o

 d i r e i t o

 é

  t ex to , e os j ur i s t a s s eu s

 inérprees

s o c i a i s , v e j a m o s

  a

  s e g u i r q u e t i p o s

 de anáises

p o d e m s e r e l a b o r a d a s

 e m

r e l a ç ã o

  ao

 d i r e i t o ,

 e

 q u a l

  é o

  p a p e l

  da

 t e o r i a

  do

 d i r e i t o . A n t e s ,

 porém é

necessárioq u e c o n s i d e r e m o s o s c a r a c t e r e s especficosd o t e x t o

 jurídicoe

q u e

 o

 d i f e r e n c i a m d e o u t r o s t e x t o s , c o m o

 o

 t e x t o históricoo u

  o

 literário.

3

ORDENAMENTO JURÍDICO COMO TEXTO

VERBALIZADOR

 DAS INSTITUIÇÕES

O q u e d i s t i n g u e c o m n i t i d e z

 o

 t ex to

 jurídico

de todos os demai s ( l i t e

rário,

 históricoetc. ) é o fato de que

 aravés

d e l e s e p r o d u z e m a s  instituições.

V o l t a r e m o s a t r a t a r d a s i n s t i t u i ç õ e s m a i s a d i a n t e . P o r o r a , b a s t a d i z e r

q u e t o d o o r d e n a m e n t o

 jurídicoé

 c o m p o s t o d e u m a d i v e r s i d a d e d e i n s t i

t u i ç õ e s ( c o m o o p a r l a m e n t o , a famlia,a s o c i e d a d e

 anônma

o

 município,

o p r o c e s s o c i v i l ) q u e a r t i c u l a m

  a

 v i d a s o c i a l e m s e u c o n j u n t o .

  O

 d i r e i t o

 é

u m c o n j u n t o d e i n s t i t u i ç õ e s q u e e x p r e s s a m a o r g a n i z a ç ã o d a s o c i e d a d e . A

g e r a ç ã o d e t a i s i n s t i t u i ç õ e s e s u a m a n u t e n ç ã o s e d e v e m à verbalização,  is to

0

  QUE ÉA TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

55

é, à

 e x p r e s s ã o e x t e r n a m e d i a n t e

  a

 l i n g u a g e m própriadas regras

  ou

  n o r

m a s d o d i r e i t o . A s i n s t i t u i ç õ e s s ã o g e r a d a s

 aravés

d a l i n g u a g e m . É graças

à l in g u a g e m e m q u e a s in s t i t u iç õ e s s e e x p r e s s a m q u e p o d e m o s c o n h e c ê - l a s .

A l i n g u a g e m g e r a d o r a d o d i r e i t o p o d e s e r d e c o m p o s t a e m

 várias

regras ou

n o r m a s , q u e s ã o o s e l e m e n t o s

 básicos

que conf iguram as ins t i t u i ções .

O s t e x t o s literárioso u históricosn ã o c r i a m i n s t i t u i ç õ e s , n ã o t ê m c a

ráerc r i a d o r d e r e a l i d a d e s ; l i m i t a m - s e

 a

  des c reve r , a na r ra r ,

 a

 c o n t a r . N ã o

t ê m p o t e n c i a l c r i a d o r

  ou

 c o n s t r u t i v o

  de

 r e a l i d a d e s . D i f e r e n t e

  é o

  d i r e i t o

c o n s i d e r a d o c o m o t e x t o . O t e x t o

 jurídico

constitui  ( n o s e n t i d o d e q u e c r i a

o u g e r a ) a s i n s t i t u i ç õ e s e , p o r t a n t o ,

 o

  o r d e n a m e n t o

 jurídico,

q u e

 é

  e x a t a

m e n t e

 o

 c o n j u n t o i n s t i t u c i o n a l . N ã o

  é

 p o r a c a s o q u e

 o

 a t o

  de

 c r i a ç ã o

 de

u m a n o v a o r d e m

 jurídica

s e c h a m a j u s t a m e n t e

  constituição.

  A c o n s t i t u i

ç ã o

  de um

  o r d e n a m e n t o

 jurídico é a

e x p r e s s ã o v e r b a l

  d o

  e s q u e m a

i n s t i t u c i o n a l básicoq u e d e v e v i g o r a r n u m a d e t e r m i n a d a s o c i e d a d e ; i m

pl i ca

 a

 c r i açã o de um ente org aniz ado r e qu e conf igura a s re l ações s oc i a i s .

Essa caracerísticaf o i o b j e t o d e c o n s i d e r a ç ã o d o s lingüistas,q u e d i s

t i n g u e m e n t r e a l i n g u a g e m d e s c r i t i v a e

 a

 l i n g u a g e m  prescritiva.  A p r i m e i

ra

  di z

  c o m o

  é a

  r e a l i d a d e q u e c e r c a

  o

  n a r r a d o r .

  A

 s e g u n d a e s t a b e l e c e ,

o r d e n a , p r e s c r e v e q u e  seja

  de

 u m a d e t e r m i n a d a m a n e i r a . A l i n g u a g e m

p r e s c r i t i v a é a l i n g u a g e m d a s o r d e n s , as n o r m a s , a s re g r a s , o s i m p e r a t i v o s ,

q u e t ê m c o m o

 caracerística

c o m u m

  o

  f at o d e n ã o e s t a r e m s i t u a d o s d i a n

t e d a r e a l i d a d e p a r a c o m p r e e n d ê - l a , m a s s i m p a r a organizá-lae orientá-la

n u m a d e t e r m i n a d a d i r e ç ã o . A diferençae n t r e u m a n o v e l a

  e um

 código

é

q u e a p r i m e i r a n o s n a r r a o u c o n t a c o m o o c o r r e r a m a s co i s a s ( n a r e a l i d a d e

históricaou n a

 fantas i a

  do

 a u t o r ) , e n q u a n t o

  o

  s e g u n d o c o n s t i t u i

  ou

  cria

i n s t i t u i ç õ e s , o r g a n i z a f o r m a s

  de

 vida s oc i a l

  e

  e x i g e c o m p o r t a m e n t o s .

  O

código

p e n a l , p o r e x e m p l o , n ã o n o s c o n t a

 históriasde

 c r i m e s ( p a r a i s t o

s e r v e m a s n o v e l a s d e t e r r o r

 e

  as pol i c i a i s ) , mas e s t abe lece qua i s ações de

v e m s e r c o n s i d e r a d a s c r i m e s n u m a d e t e r m i n a d a s o c i e d a d e , q u e m s ã o

 os

cupávese

  c o m o d e v e m

  ser

 c a s t i g a d o s p e l o s f a t o s c o m e t i d o s .

  O

 código

c iv i l não na r ra

  os

 c o s t u m e s

  da

 s o c i e d a d e

  em matériade famliae

 s u c e s

s ões ,

  m a s e s t a t u i c o m o

 é a famlia

i n s t i t u c i o n a l m e n t e

  e

 c o m o f u n c i o n a m

as d ive rs as formas de s uces s ão   causa mortis.  É v e r d a d e q u e m u i t a s v e z es a s

ins t i t u i ções re f l e t em

  a

 r e a l id a d e s o c i a l s u b j a c e n t e , m a s n u n c a s e d e v e c o n

f u n d i r u m a c o i sa c o m o u t r a . A r e a li d a d e s o c i a l

 é

  m u i t o d i f e r e n t e d a r e a l i

d a d e i n s t i t u c i o n a l , q u e a p a r e c e v e r b a l i z a d a n a s n o r m a s d o d i r e i t o .

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56

O   DIREITO COMO TEXTO

P o d e m o s d i z e r , p o r t a n t o , q u e o d i r e i t o é

  um conjunto verbalizado de

instituições. Verbalizado  s i g n i f i c a s i m p l e s m e n t e q u e t a l c o n j u n t o

i n s t i t u c i o n a l a p a r e c e n a f o r m a d e l i n g u a g e m

 jurídica,

d e t e x t o

 jurídico.

As

u n i d a d e s d e s s e t e x t o s ã o c h a m a d a s  normas  o u  regras.  Regras , i ns t i t u i ções

e o r d e n a m e n t o

 jurídico

c o n s t i t u e m , n e s t e s e n t i d o , o s t r ê s e l e m e n t o s c e n

t ra i s em torno dos qua i s g i ra t oda a re f l exão

 jurídica.

4

TRÊS

 NÍVEIS  DE

 ANÁLISE

A r e s p e i t o d e t o d o t e x t o c a b e m

 anáises dspares

q u e c o s t u m a m s e r

a g r u p a d a s e m t r ê s t i p o s : o u s e e s t u d a a e s t r u t u r a d a l i n g u a g e m

 (anáise

lógico-lingüística),

ou s e e s tuda s eu

 coneúdo

de s igni f i cado

 (anáise

s e

mântica) o u , p o r

 último,

s e e s tuda o a s pec to dinâmcod e c r i a ç ã o d o t e x t o

(anáise

pragmática).

Não vamos nos de t e r nes t a ques t ão de f i l os of i a da

l i n g u a g e m , q u e p o r r a z õ e s d e

 espaço

n o s l i m i t a m o s a m e n c i o n a r . N o s s o

propósitoé c o n s i d e r a r , c o m m a i o r e x t e n s ã o , q u e e s t e s t r ê s níveisd e análi

se

 também

sã o possívese m r e l a ç ã o a o d i r e i t o c o n s i d e r a d o c o m o t e x t o .

C o m o t o d o t e x t o , o d i r e it o t e m u m a e s t r u t u r a , u m a f o r m a

 especfica

( p r i m e i r o

 nível); também

t e m u m s i g n i f i c a d o , o u m e l h o r , u m c o n j u n t o

d e s i g n i f i c a d o s b a s t a n t e c o m p l e x o ( s e g u n d o

 nível);

e , p o r

 último,

as s im

c o m o t o d o t e x t o , o d i r e i t o é c r i a d o m e d i a n t e   atos de fala  es pec ia i s , que

c h a m a m o s d e l ei s, senençasj ud ic i a i s e t c . ( t e rce i ro

 nível).

A teor i a do d i re i to s e ocupa des t e s t rê s níveise t e m c o m o f u n ç ã o r e

f l e t i r s obre e l e s . Por i s s o , podemos s epa ra r s ua f ina l idade em t rê s níveisd e

anáise

- a t eor i a forma l do d i re i to ;

- a t eor i a da

 dogmática jurídica;

e .

- a t eor i a da dec i s ão

 jurídica.

•

4 . 1 .

  Teoria formal

  do

  direito

T r a t a - s e , c o m o d i s s e m o s , d e u m a p a r t e d a t e o r i a d o d i r e i t o . T e m p o r

o b j e t o o e s t u d o d a e s t r u t u r a d e t o d o d i r e i t o

 possível,

i n v e s t i g a n d o s e u s

e l e m e n t o s e s s e n c i a i s e s u a s r e l a ç õ e s

 recíprocas.

P a r t e d o c o n c e i t o d e

0 QUE

 É

A TEORIA

  COMUNICACIONAL

  DO DIREITO?

57

o r d e n a m e n t o

 jurídico

p a r a a v e r i g u a r q u a i s s ã o o s e l e m e n t o s e s s e n c i a i s

d e s s e o r d e n a m e n t o , s e m o s q u a i s n ã o é

 possíve

e x i s t i r q u a l q u e r o r

d e n a m e n t o . D e p o i s d e ss a

 anáise

c o n c e n t r a - s e n a e x p o s i ç ã o d o c o n c e i t o

d e r e g r a o u n o r m a

 jurídica

e se u s d i v e r s o s t i p o s , a s s i m c o m o n a r e l a ç ã o

d a s n o r m a s e n t r e si p a r a c o n f i g u r a r o o r d e n a m e n t o . E s ta b e l e c i d a a a n a

t o m i a

 básica

d e t o d o d i r e i t o , p a s s a à anáisef o r m a l , à i n v e s t i g a ç ã o d o s

c o n c e i t o s

 jurídicos

f o r m a i s e n v o l v i d o s e m t o d o o r d e n a m e n t o e n a s n o r

m a s q u e o c o m p õ e m . A s s i m , n ã o é admssívelu m o r d e n a m e n t o

 jurídico

s e m s u j e i t o s d e d i r e i t o s , s e m d e v e r e s

 jurídicos,

d i r e i t o s s u b j e t i v o s , r e l a

ç õ e s e n t r e o s s u j e i t o s , s a n ç õ e s , ó r g ã o s s a n c i o n a d o r e s e t c . P o r

 último,

i n d a g a s e e x i s te u m a p l u r a l i d a d e d e o r d e n a m e n t o s

 jurídicos

ou s e , ao

contrário,

p e l o p o n t o d e v i s t a d a c i ê n c i a d o d i r e i t o , o o r d e n a m e n t o d e v e

s e r c o n c e b i d o d e f o r m a

 unitária,

i s to é , como s e ex i s t i s s e uma únicao r

d e m

 jurídica

n o m u n d o . D e f e n d e m o s a e x i s tê n c i a d e u m a p l u r a l i d a d e

d e o r d e n a m e n t o s

 jurídicos,

e e n t e n d e m o s q u e é t a r e f a d a t e o r i a f o r m a l

d o d i r e i t o o e s t u d o d e s u a s r e l a ç õ e s recprocas.A s s i m , c a d a E s t a d o t e m

s eu próprioo r d e n a m e n t o , m a s

 também

e x i s t e o o r d e n a m e n t o jurídico

i n t e r n a c i o n a l , o d i r e i t o d a I g r e ja ( o u d e i g r e j a s ) , o d i r e i t o

 comunitário

e

o u t r o s , t o d o s c o n v i v e n d o m e d i a n t e r e l a ç õ e s q u e d e v e m s e r d e f i n i d a s

t e o r i c a m e n t e .

A t e o r i a f o r m a l d o d i r e i t o é a p a r t e d a t e o r i a d o d i r e i t o q u e e s t u d a a s

formas

 jurídicas,

a s f o r m a s d e t o d o d i r e i t o

 possível.

 Tambémpo de s e r cha - .

m a d a d e te o r i a p u r a d o d i r e i to , q u e é u m a d e n o m i n a ç ã o u s a d a p o r

  KANT

 e

p o p u l a r i z a d a p r i m e i r o p o r  STAMMLER e d e p o i s p e l a c h a m a d a E s c o l a d e V i e

n a , p r i n c i p a l m e n t e p o r

  KELSEN.

4 2

Teoria

  da

 dogmática jurídica

A

 dogmática

é a c i ênc ia do d i re i to em s ent ido e s t r i t o , i s to é , o conhe

c i m e n t o

 sistemáico

d a s n o r m a s e d o s c o n c e i t o s

 jurídicos

 própriosd e  um

o r d e n a m e n t o

 jurídico

c o n c r e t o . A

 dogmática

 jurídica

s e d iv ide em dive r

s a s p a r t e s : d i r e i to c i v i l , d i r e i t o c o m e r c i a l , d i r e i t o p r o c e s s u a l , d i r e i t o c o n s

t i t u c i o n a l , d i r e i t o a d m i n i s t r a t i v o , d i r e i t o f i n a n c e i r o , d i r e i t o d o t r a b a l h o ,

d i r e i t o i n t e r n a c i o n a l

  e t c .

 O c o n j u n t o d e t o d a s e s ta s d i sc i p l i n a s f o r m a o q u e

s e c h a m a d e c i ê n c i a d o d i r e i t o o u dogmática

 jurídica.

Ser i a ma i s exa to

chamá-lad e

 dogmática

do d i re i to c iv i l ,

 dogmática

d o d i r e i t o c o m e r c i a l , e

Page 21: 5 O Direito Como Texto

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58

O DIREITO COMO TEXTO

as s im s uces s iv amen te ; mas , a f im de s impl i f i ca r a t e rm inolo gia , é ma i s us ua l

o e m p r e g o d e d i r e i t o c i v i l , c o m e r c i a l e t c .

P o i s b e m , a t e o r i a d a

 dogmática jurídica

é a pa r t e da t eor i a do d i re i to

q u e e s t u d a o q u e é a

 dogmática

e qua i s s ão s eus

 méodos

d e c o n h e c i m e n

to . A

 dogmática

a t u a s o b r e o m a t e r i a l

 jurídico

c o m p o s t o p o r t o d o s o s e l e

m e n t o s n o r m a t i v o s f o r n e c i d o s p e lo s c h a m a d o s o p e r a d o r e s d o d i r e i to

( l eg i s l ador ,

 juzes funcionários...),

e c o m t o d o e s s e m a t e r i a l

 constrói

o  sis

tema

  d o d i r e i t o p o s i t i v o

 válido.

O s i s t e m a

 jurídico

d a

 dogmática

é o re s u l

t a d o d a c o n s t r u ç ã o d e s t a s o b r e o o r d e n a m e n t o jurídico.

É i m p o r t a n t e d i s t i n g u i r o c o n c e i t o d e   ordenamento  d o c o n c e i t o d e

s i s t e m a . O p r i m e i r o p o d e s e r i d e n t i f i c a d o c o m o m a t e r i a l

 jurídico

p r o p o r

c ionado pe los órgãos de dec i s ão do d i re i to ; i s to é , a cons t i t u i ção , a s l e i s , a s

n o r m a s d a a d m i n i s t r a ç ã o , a j u r i s p r u d ê n c i a o u c o n j u n t o d a s d e c i sõ e s j u

d i c i a i s , o s c o s t u m e s e u s o s

 jurídicos...

T o d o e s t e m a t e r i a l s e a p r e s e n t a s o b

a f o r m a d e  ordenamento,  o q u e q u e r d i z e r q u e se a p r e s e n t a c o m a p r e t e n

s ã o d e s e r u m a o r d e m

 jurídica

c o m p l e t a . M a s a v e r d a d e é q u e o m a t e r i a l

jurídico q u e provémd o s ó r g ã o s d e d e c i s ã o n u n c a

 está

c o m p l e t o , n e m s u

f ic ien temente ord en ad o. As l e i s e a s dem ai s norm as vão s ur g in do pa ula t i

n a m e n t e , q u a s e s e m p r e s e m m u i t a o r d e m . A l in g u a g e m d e u m a s m u i t a s

v e z e s n ã o c o i n c i d e c o m a l i n g u a g e m d a s d e m a i s . C o n f o r m e

 avança

o t e m

p o , m u d a m a s c o n c e p ç õ e s ideológicase d e o r g a n i z a ç ã o , a s s i m c o m o a s

n e c e s s i d a d e s d o trânsito

 econômco

e da v ida s oc i a l em ge ra l . I s to s igni f i

ca que é impossívele x i g ir d o s ó r g ã o s c r i a d o r e s d o d i r e i t o - c o m o o l e g i s

l a d o r - q u e d e s u a o b r a r e s u l t e u m t o d o h a r m o n i o s o d o t a d o d e s e n t i d o

unitário.

A i n d a q u e e s t e o b j e t i v o e x i s t a e d e v a s e m p r e e x i s t i r q u a n d o s e

p r e t e n d a c r i a r u m a o r d e m

 jurídica

c o m p a c t a , o máximoq u e s e poderá

c o n s e g u i r é u m o r d e n a m e n t o , u m c o n j u n t o d e n o r m a s o u m a n d a t o s c o m

p r e t e n s ã o d e a b r a n g e r o c o n j u n t o d a v i d a s o c i a l. A

 dogmática

 jurídica-

ou c i ênc ia do d i re i to - chega ma i s l onge ; os c i en t i s t a s do d i re i to d i s põem

d e t e m p o p a r a pôr e m o r d e m o o r d e n a m e n t o o u m a t e r i a l

 jurídico

p r o

p o r c i o n a d o p e l o s ó r g ã o s d e d e c i s ã o e , c o m i s so , c o n s t r u i r o s i s t e m a .

O s i s t e m a é o r e s u l t a d o d a c i ê n c i a , e n q u a n t o o o r d e n a m e n t o é o r e

s u l t a d o d o l e g i s l a d o r e d o s d e m a i s ó r g ã o s d e c r i a ç ã o d o d i r e i t o . O s i s t e m a

s u r g e d o o r d e n a m e n t o , r e fl e te e a o m e s m o t e m p o c o m p l e t a o o r d e n a m e n t o ,

a p l i c a n d o o s d i v e r s o s p r o c e d i m e n t o s d a

 lógca

e d a i n t e r p r e t a ç ã o . O s i s te

ma é o

 próprio

o r d e n a m e n t o o u m a t e r i a l d e n o r m a s c r i a d as p e lo s ó r g ã o s

0  QUE É

 A

  TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

59

d e d e c i sã o ( e s p e c i a l m e n t e o l e g i sl a d o r ) , c o n s c i e n t e m e n t e

 construdo

e ela

b o r a d o c o m o u m t o d o h a r m o n i o s o , d e t a l m a n e i r a q u e u m a s p a r t e s d o

di re i to s e i n t egrem a out ra s s em f i s s uras , ou ao menos com a cons c i ênc ia

d e q u e t ai s f i ss ur as o u r a c h a d u r a s e x i s t e m . O o r d e n a m e n t o é ta r e f a d o s

ó r g ã o s d e c r i a ç ã o d o d i r e i t o ; o s i s t e m a é t a r e f a d a c i ê n c i a

 jurídica

o u

dogmática.

S e g u i n d o c o m a o p e r a ç ã o i n f o r m a t i z a d a d e a n t e s , p o d e m o s d i z e r q u e

e n q u a n t o p r o c e s sa m o s o o r d e n a m e n t o n u m d o c u m e n t o , q u e p o d e m o s c h a

m a r d e d o c u m e n t o O R D , o si s te m a é o bj e to d e o u t r o d o c u m e n t o , q u e p o

d e m o s c h a m a r d e S IS . E n q u a n t o e m O R D c o m p i l a m o s o m a t e r i a l

 jurídico

t a l c o m o a p a r e c e n o s m e i o s d e p u b l i c a ç ã o d o s ó r g ã o s c r i a d o r e s d o d i r e i t o ,

SI S constituiráu m d o c u m e n t o q u e c o n s t a n t e m e n t e f a z r e f e r ê n c i a a O R D ,

m a s c o m a p e c u l i a r i d a d e d e s e r m a i s c o m p l e t o e

 sistemáico

mais conce i tua i

e e l a b o r a d o q u e e s t e

 último.

S I S é o m e s m o q u e O R D , m a s m a i s c o m p l e t o ,

m a i s t r a n s p a r e n t e , m a i s lógico.SIS é um t exto

 construdo

s obre o t ex to de

O R D . E s te

 último

é o t ex to

 originário,

t a l c o m o s a i d o f o r n o d o s ó r g ã o s d e

p r o d u ç ã o jurídica;aque le é o t ex to que provémd a e l a b o r a ç ã o c o n c e i t u a i

o r d e n a d a . O R D estác o n t i d o , b a s i c a m e n t e , n o s diáriosof i c i a i s e demai s bo

l e t ins ofi c i a is on de s e publ i c am as fontes d o d i re i to

 (repertórios

d e j u r i s p r u

d ê n c i a , i n s c r i ç õ es r e g i s t r a r ia s , d o c u m e n t o s

 públicos...).

SI S

 está

c o n t i d o n o s

l ivros de c i ênc ia

 jurídica:

di re i to c iv i l , mercant i l , pena l , p roces s ua l . . . Cada

um des t e s l i vros é uma pa r t e do s i s t ema , uma pa r t e de S IS .

A t e o r i a d a

 dogmática jurídica

nã o  é

 dogmática jurídica;

é , como s eu

n o m e i n d i c a , t e o r i a d a m e s m a . P o r t a n t o , n ã o t e m p o r o b j e t o i n t e r p r e t a r e

o r d e n a r s i s t e m a t i c a m e n t e u m d e t e r m i n a d o o r d e n a m e n t o , m a s t e o r i z a r

s o b r e c o m o r e a l iz a r , n a prática,t a l c o n s t r u ç ã o . A

 dogmática jurídica

t r a

b a l h a s e m p r e c o m u m o r d e n a m e n t o

 jurídico

c o n c r e t o ( p o r e x e m p l o , d i

r e i t o e s p a n h o l ) , o u c o m várioso r d e n a m e n t o s c o n c r e t o s ( d i re i t o e s p a n h o l ,

f r a n c ê s e a l e m ã o ) p a r a compará-los;n e s t e c a s o , p o d e s e r c h a m a d a d e c i ê n

c i a d o d i r e i t o c o m p a r a d o o u

 dogmática

d o d i r e i t o c o m p a r a d o . A t e o r i a d a

dogmática

n ã o t ra b a lh a c o m n e n h u m o r d e n a m e n t o

 jurídico

c o n c r e t o ; s e u

o b j e t o é a

 própria dogmática,

o u s e j a , a c i ê n c i a q u e t r a b a l h a c o m

o r d e n a m e n t o s c o n c r e t o s p a r a

 inerpretá-los

e

 sistemaizá-los

E m c o n s e

q ü ê n c i a , a t e o r i a d a

 dogmática jurídica

se

 ocupará

e m p r i m e i r o l u g a r , d e

expl i ca r qua i s s ão a s

 caracerísticas

d a

 dogmática

c o m o c i ê n c i a , l e v a n d o

e m c o n t a s u a p r o c e d ê n c i a histórica;d e p o i s passaráa d e b a t e r o s méodos

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6

O

  DIREITO COMO  TEXTO

d e i n t e r p r e t a ç ã o

  e

  s i s t e m a t i z a ç ã o

  com os

  qua i s rea l i za

  sua

  t a re fa , a s s im

c o m o  sua r e l a ç ã o com a s o c i o l o g i a  do  d i r e i t o  e a prática

 jurídica.

M e r e c e

p a r t i c u l a r a t e n ç ã o  o  fa to  de  d e d i c a r - s e  ao  t e m a  dos  v a l o r e s

 jurídicos

i n s t i t u c i o n a l i z a d o s c o m o o b j e t o

  da dogmática.

C a d a o r d e n a m e n t o

 jurí

d i c o c o n c r e t o  (por  e x e m p l o , o  d i r e i t o e s p a n h o l a t u a l ) c o n c e n t r a  em  s uas

n o r m a s  um  e l e n c o  de  v a l o r e s  que, em seu  c o n j u n t o , c o n s t i t u i  a justiça

i n s t i t u c i o n a l i z a d a , i s t o é,  a

 justiça

que o

 próprio

o r d e n a m e n t o a d o t a c o m o

própria. Um

 t e m a

  de

 i n t e r e s s e r e l e v a n t e ,

 ao

 q u a l

 n em

  s e m p r e é d e d i c a d a

 a

necessáriaa t e n ç ã o , é o da  re l ação ent re e s s es va lores e a i n t e r p r e t a ç ã o  das

n o r m a s c o n c r e t a s  que c o m p õ e m  a  o r d e m

 jurídica.

A t e o r i a da dogmática

 jurídica

se ocuparáde t o d o s os  a s p ec t o s m e n

c i o n a d o s , d i v i d i n d o - s e e m

 várias

par t e s : t eor i a da  i n t e r p r e t a ç ã o

 dogmática,

t e o r i a da s i s t e m a t i z a ç ã o , t e o r i a da  f o r m a ç ã o d o s c o n c e i t o s , a  r e l a ç ã o e n t r e

dogmática

 jurídica

e prática

 jurídica

e

 t e o r i a

  da justiça

i n s t i t u c i o n a l i z a d a

o u i n t r a - s i s t ê m i c a .

4 3 Teoria da decisão jurídica

E n q u a n t o  a  t e o r i a f o r m a l  do d i r e i t o é a p a r t e d a t e o r i a do d i r e i t o que

e s t u d a  a e s t r u t u r a f o r m a l  de  t o d o d i r e i t o

 possível,

 e a t e o r i a da

 dogmática

jurídica

a b r a n g e  o  e s t u d o  dos p r o b l e m a s

 teóricos

e

 meódcos

da  c i ênc ia

d o d i r e i t o c o m o c i ê n c i a i n t e r p r e t a t i v a

 de

  o r d e n a m e n t o s

 jurídicos

c o n c r e

tos , a t e o r i a da d e c i s ã o

 jurídica

se c o n c e n t r a  no  t e m a d a produção  ou  g e r a

ç ã o d e t o d a o r d e m

 jurídica.

S u a p r e o c u p a ç ã o não tem

 caráer estáico

c o m o

n a s d u a s p r i m e i r a s , mas

 caráer dinâmco

ou

 diacrónico;

e s t u d a  o  di re i to

e m

  sua

 g e r a ç ã o

 aravésdos

 p r o c e s s o s

  de

  dec i s ão .

A p e s a r

  da

  e n o r m e importânciad e s t e c o n c e i t o

  em

  r e l a ç ã o

 a

 t o d o

  fe

nômenojurídico, é  p e q u e n a  a  a t e n ç ã o que lhe tem  d e d i c a d o  a  t e o r i a  do

di re i to . Es t a tem se  p r e o c u p a d o m a i s com a  te o r i a f o r m a l , e s p e c i a l m e n t e

c o m  a t e o r i a  das n o r m a s , ou com a  t e o r i a  da c i ê n c i a

 jurídica,

a q u i errí d i

m e n s õ e s m e n o r e s ,

  e

 m e n o s

  ao

  g r a n d e t e m a

  das

  d e c is õ e s c o m o m o t o r

  do

d e s e n v o l v i m e n t o

 jurídico

e por t an to ins t i t uc iona l . Es s a de f i c i ênc ia  só  p o d e

se r atribuídaà v i s ão e s t re i t a d o p o s i t i v i s m o

 jurídico,

 que  se d e d i c o u q u a s e

p e r m a n e n t e m e n t e  à  d i s s e c a ç ã o

 anaômca

do  d i r e i t o

  de

  lege lata,  i s to  é,

p r e s s u p o n d o

  a

 o r d e m

 jurídica

já

  p r o d u z i d a ,

 o que

 l eva

 a

 a b a n d o n a r

 o as

p e c t o dinâmco.

O

  QUE ÉA  TEORIA  COMUNICACIONAL DO  DIREITO?

61

O u t r a f o r m a

  de

  e x p r e s s a r

  o

  g r a n d e t e m a

  da

  d e c i s ã o

 jurídica

é

  esta:

criação

  e

 aplicação  do  direito,  p o i s é e x a t a m e n t e

 aravés

d a s d e c i s õ e s qu e se

c r i a e se a p l i c a a o r d e m

 jurídica.

 O  d i r e i t o é uma  obra humana,  e c o m o  tal

re s u l t a  de um  c o n j u n t o  de d e c i s õ e s . A  d e c i s ã o

 jurídica está

no  c e n t r o  de

q u a l q u e r c o n s i d e r a ç ã o

 teóricaque

  p r e t e n d a o c u p a r - s e

  dos

 m o m e n t o s

 ca

pi t a i s d o di re i to . Se é c e r t o que o d i r e i to p o d e ser  v i st o c o m o  um  c o n j u n t o

d e r e g r a s  ou de  n o r m a s ,

 também

é  c e r t o  que  p o d e  ser  o b s e r v a d o c o m o

u m c o n j u n t o

  de

  d e c i s õ e s . C o n s i d e r e - s e ,

 em

 p r i m e i r o l u g a r,

 qu e

 t o d a n o r

m a  é r e s u l t a d o de uma d e c i s ã o ; não há  n o r m a se não há  d e c i s ã o . A  n o r m a

p o d e s e r v i s t a c o m o  o coneúdoda d e c i s ã o . M a s

 também

é

 necessário

d e s

t a c a r q ue t o d a d e c i s ã o

 jurídica

é o a n t e c e d e n t e , o u é o

 conseqüene

d a n o r

m a .

  Por

  e x e m p l o , q u a n d o

  o

  l e g i s l a d o r c r i a

  a lei, a

  d e c i s ã o

 própriado

l eg i s l ador é o a n t e c e d e n t e  da  n o r m a c r i a d a, da  lei; e q u a n d o  o  ju i z ap l i ca a

le i  o faz

 também

em  v i r t u d e de sua

 própria

d e c i s ã o , c r i a n d o  a

 senença

V e m o s , p o r t a n t o , que o m e c a n i s m o de d e c i s ã o - n o r m a e x is te p e r m a n e n t e

m e n t e

  no

  d i r e i t o .

O t e m a

  da

 d e c i s ã o jurídicas e e n c a i x a

 em

  o u t r o m a i s a m p l o ,

 o da de

c i s ão ge ra l : não é a p e n a s  no d i r e i t o que há  d e c i s õ e s , mas em  t o d o s  os âm

b i t o s

  da

  v i d a h u m a n a : e c o n o m i a , v i d a p r i v a d a

  etc. Por

  c o n s e g u i n t e ,

  o

p r i m e i r o t e m a consistiráem  a p o n t a r  as caracerísticasda  d e c i s ã o

 jurídica

q u e  a  t o r n a m e s p e c i a l  em  r e l a ç ã o  às  d e c i s õ e s  em  g e r a l . C o m o  a  d e c i s ã o

n o r m a l m e n t e p r e t e n d e

  ser uma

  d e c i s ã o  justificada

  ou

  r a c i o n a l ,

 seráne- .

cessário

c o n t e m p l a r  a d e c i s ã o

 jurídica

à luz da r a c i o n a l i d a d e . O u, e x p r e s

s a n d o  de  o u t r a m a n e i r a :  a  d e c i s ã o

 jurídica

c o m o d e c i s ã o r a c i o n a l .  Uma

v e z c a t e g o r i z a d a ,

 será necessário

i n t r o d u z i r  o  g r a n d e t e m a d a t i p o l o g i a das

d e c i s õ e s

 jurídicas, o que também

c o n d u z

  à

  t i p o l o g i a

  dos

 o p e r a d o r e s

 jurí

d i c o s .  Co m  e s t e t e r m o  se  d e s i g n a a l g o m a i s  que os  órgãos  do  direito;  os

ó r g ã o s

  (por

 e x e m p l o , j u d i c i a i s , a d m i n i s t r a t i v o s )

  são

  o p e r a d o r e s jurídicos,

m a s a

 recproca

não e x i st e n e c e s s a r i a m e n t e : n em t o d o o p e r a d o r

 jurídico

é

u m ó r g ã o ( a s s i m , p o r e x e m p l o , o a d v o g a d o

 que

 a t u a

 n um

 p r o c e s s o ,

 ou que

a c o n s e l h a n a  rea l i zação de um  d e t e r m i n a d o

 negóco

jurídico, não é  órgão,

m a s si m o p e r a d o r ) . O  c o n c e i t o d e o p e r a d o r  é,  p o r t a n t o , m a i s a m p l o q u e o

d e ó r g ã o , e  c o m p r e e n d e e s te

 último.

U m t r a t a m e n t o e x a u s t i v o

  da

  t e o r i a

  da

  d e c i s ã o

 jurídica

(e,

 c o m o

  foi

d i t o ,

 também

dos  o p e r a d o r e s

 jurídicos)

exig i r i a um  v o l u m e extraordiná

r io ,

 já q ue s e r i a

 necessário

a b o r d a r t o d o s os p r o b l e m a s  de t o d o s o s  o p e r a -

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62

O  DIREITO COMO TEXTO

d o r e s

 jurídicos.

N u m a e x p o s i ç ã o c o m o

  a

  p r e s e n t e , q u e d e s e j a f o r n e c e r

a p e n a s u m p a n o r a m a g e r a l , e s t a r e m o s li m i t a d o s à q u e l e s o p e r a d o r e s m a i s

genunos

e a s uas re s pec t ivas dec i s ões . Dent re e s t e s , des t acam-s e o l eg i s l a

dor e o ju i z , e a s s uas re s pec t ivas dec i s ões : a l e i e a

 senença

j u d i c i a l . T o d a

v i a , a i n d a q u e c e n t r e m o s n o s s a e x p o s i ç ã o

  no

 l e g i s l a d o r

  e

  n o j u i z , n ã o

  é

possíve

d e i x a r d e m e n c i o n a r , c o m o v i e m o s f a z e n d o d e s d e

  o

 iníciodes t a

o b r a , a importância

 jurídica

e s o c ia l d e n u m e r o s o s o u t r o s o p e r a d o r e s j u

rídicos.

É

 necessário

m e n c i o n a r n ã o a p e n a s

 o funcionário

d a a d m i n i s t r a

ç ã o ,

  m a s

 também

os

 a g e n t e s

  qu e

  i n t e r v ê m

  no

  p r o c e s s o ( p r o m o t o r ,

a d v o g a d o ) , o s r e p r e s e n ta n t e s d a c h a m a d a j u r i s p r u d ê n c i a c a u t e la r (notá

r i o s , r e g i s t r a d o r e s ) ,

 o

 as s es s or

 jurídico

etc.

É

 n a t e o r i a

  da

  d e c i s ã o q u e s e d e v e t r a t a r d o g r a n d e t e m a d a

 justiça,

q u e t e m s i d o , n o s

 últimos

t e m p o s ( n o v a m e n t e p o r o b r a d o p o s i t i v i s m o ) ,

o m a i s d e s p r e z a d o d e t o d o s o s a s s u n t o s d a f i l o so f i a

 jurídica

t r a d i c i o n a l . A

t e o r i a d o d i r e i t o , t a l c o m o a e n t e n d e m o s , r e c u p e r a a t e o r i a d a justiçae lhe

o u t o r g a

  o

  d e v i d o d e s t a q u e q u e l h e c a b e , f r u t o d e t o d a

  a

  e x p o s i ç ã o q u e

o f e r e c e .  Se na  t e o r i a  da

 dogmática

 se c o n t e m p l a  o  t e m a  da justiça

i n s t i t u c i o n a l i z a d a , o u s e ja , a q u e l a q u e

 está

i m e r s a n a s

 próprias

n o r m a s d o

o r d e n a m e n t o

 jurídicojá

 constituído,é c h e g a d o

 o

  m o m e n t o , n a te o r i a d a

d e c i s ã o , d e a b o r d a r

  o

  p r o b l e m a

  da justiça

e x t r a - i n s t i t u c i o n a l

  ou

  e x t r a -

s i s t ê m i c a ; o u , e m o u t r a s p a l a v r a s , a

 justiça

q u e t o d o d i r e i t o  deve  rea l i za r

na v ida s oc i a l . O que in t e res s a agora é o   ideal  d e justiça.N ã o a justiçap l a s

m a d a n u m o r d e n a m e n t o

 jurídico

d e t e r m i n a d o , m a s

  a

 justiçaq u e t o d a

o r d e m

 jurídica

d e v e c o n t e r . S o b r e e s t e p r o f u n d o t e m a s e c o n c e n t r a r a m o s

m a i o r e s

 esforços

d e i n v e s t i g a ç ã o d a d o u t r i n a d o d i r e i t o n a t u r a l , m a s n o s

d o i s

 últimos

 sécuosp o r c u l p a d a m e n t a l i d a d e p o s i t i v i s t a , e le fo i lançado

a o  limbo da ideologia,  i s to

 é,

  d o  nã o

 científico.

  A t eor i a do d i re i to re s ga ta

e s t a p r e o c u p a ç ã o e a c o l o c a e m l u g a r a d e q u a d o : n ã o n o t e m a d o c o n c e i t o

o u e s t r u t u r a d o d i r e i t o , m a s

  no

 d e s u a p r o d u ç ã o p o r m e i o d a s d e c i s õ e s

jurídicas. P o i s , e f e t i v a m e n t e , o s h u m a n o s i n d a g a m s o b r e

  o

 p r o b l e m a

 d a

justiçaporque  s e u s a s s u n t o s t ê m q u e s e r r e s o l v i d o s e m r e l a ç ã o c o m o s d e

ma i s . A

 justiçaé,

  n e s t e s e n t i d o , u m a s p e c t o d a d e c i s ã o , é a q u i l o q u e d e v e

m o s d e c i d i r p o r q u e n o s s a r a z ã o n o s i m p õ e .

O u t r o a s p e c t o i m p o r t a n t e d a t e o r i a d a d e c is ã o

 jurídica

é a c h a m a d a

t e o r i a d a  argumentação

  jurídica,

c u j o o b j e t o é a a v e r i g u a ç ã o d o s critérios

e m o d e l o s metodológcosp a r a i n t e r p r e t a r

  e

 a p l i c a r

 o

 d i r e i t o n o s p r o c e s -

0  QUE É A  TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

63

s o s d e d e c i s ã o . A r g u m e n t a r s i g n i f ic a  dar razões  q u e j u s t i f i q u e m a d e c i s ã o

c o m o u m a d e c i s ã o j u s t a o u , p e l o m e n o s , n ã o i n j u s t a ; s i g n if i c a f u n d a m e n

t a r a dec i s ão .

 O

 p o s i t iv i s m o

 jurídico

r e d u z i u o t e m a d a d e c i s ã o a p o n t o d e

torná-lo,

e m g r a n d e p a r t e ,

  u m

 t e m a

 extracientífico,

m u i t a s v e z e s s o b

  o

a r g u m e n t o d e q u e n ã o é

 possíve

u m a c i ê n c i a s o b r e a i n t e r p r e t a ç ã o e a a p l i

c a ç ã o d a s n o r m a s . M a s

  a

 m o d e r n a c o r r e n t e

 ilosóficade

 r e a b i l i t a ç ã o

 d a

filosofia prática( q u e é

 o

 ram o da f i l os ofi a qu e t em por obje to

  o

  c o n h e c i

m e n t o d o b e m )

 pôs

  n o v a m e n t e e m v o g a , e c o m p r o f u n d a r a z ã o , o t e m a d a

a r g u m e n t a ç ã o r a c i o n a l n o d i r e i t o .

N o s s o p r o g r a m a d e s t a p a r t e d a t e o r i a d o d i r e i t o abordarád e a c o r d o

c o m

  o

  q u e

  já

  s e a f i r m o u ,

  os

 s e g u i n t e s tópicos:

  a

  d e c i s ã o

 jurídica

c o m o

d e c i s ã o r a c i o n a l ,

 a

  t i p o l o g i a d a s d e c i s õ e s

 jurídicas

e d o s r e s p e c t i v o s o p e

r a d o r e s jurídicos,

 a

  t eor i a da l eg i s l ação ,

 a

  t e o r i a d a senençaj u d i c i a l ( o u ,

m a i s a m p l a m e n t e , d a a d m i n i s t r a ç ã o d e justiça),a t eor i a da justiçae , por

último,

a te o r i a d a a r g u m e n t a ç ã o

 jurídica.

D e s t a f o r m a , f e c h a m o s

  o

 q u a d r o d o s g r a n d e s t e m a s d a te o r i a d o d i

r e i t o , e n t e n d i d a c o m o u m a d i s c i p l in a g l o b a l i z a d o r a d o d i r e i t o q u e a d o t a

u m p o n t o d e v i s t a i n e r e n t e a o

 próprio

di re i to , i s to

 é,

  c o n t e m p l a n d o

 o

  d i

r e i t o n ã o e m s u a s r e l a ç õ e s c o m

 o

  m u n d o s o ci a l q u e

 o

  c e rc a , m a s c o n s i d e

r a d o e m s i m e s m o . A t e o r i a d o d i r e i t o n ã o e s g o t a , p o r t a n t o ,

 o

  p a n o r a m a

d e t o d a s a s f o r m a s d e c o n h e c i m e n t o d o

 fenômenojurídico,

p o i s n ã o i n

c l u i e s p e c i a l m e n t e a q u e l a s d i s c i p l i n a s q u e e s t u d a m

 o

  di re i to em s uas re l a -

  .

ç õ e s c o m o m u n d o e m q u e estái ns e r ido . Ent re e s t a s d i s c ip l inas , des t aca -s e

e s p e c i a l m e n t e a so c i o l o g i a d o d i r e i t o .

5 TEORIA DO  DIREITO  E SOCIOLOGIA DO DIREITO

A s o c i o l o g i a

  do

 d i r e i t o t e m p o r o b j e t o

  o

  e s t u d o

  do

 d i r e i t o

  em sua

inserção social.  E l a n ã o i n d a g a s o b r e

 a

 e s t r u t u r a i n t e r n a d o d i r e i t o , n e m

 é

s eu obje t ivo inves t iga r a

 dogmática

 jurídica

e s eus

 méodos

n e m t a m p o u c o

s e p r e o c u p a c o m a t e o r i a d a d e c i s ã o

 jurídica.

C o m o v i m o s , t u d o i s s o é t a

re fa da t eor i a do d i re i to . A s oc io logia

 jurídica

pes qui s a a i ns e rção s oc ia l de

t o d o s e s te s e l e m e n t o s , a r e l a ç ã o e n t r e

 o

  d i r e i t o e o m u n d o s o c i a l e m q u e

 o

d i r e i t o v i v e. É u m a d i s c i p l i n a q u e s u p õ e a a p l i c a ç ã o d o s m o d o s d e p e n s a r

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64

O   DIREITO COMO TEXTO

caracerísticosd a s o c i o l o g i a g e r a l a o c a m p o d o d i r e i t o . Se u o b j e t o n ã o é o

d i r e i t o

 possível,

m a s o d i r e i t o v i g e n t e , o u m e l h o r , a s c o n d i ç õ e s d a e x i s t ê n

c i a s oc i a l do d i re i to v igente .

O d i r e i t o v i g e n t e é o d i r e i t o q u e e f e t i v a m e n t e

 está

i m p l a n t a d o n a

r e a l i d a d e s o c i a l , é o d i r e i t o r e a l m e n t e e x i s t e n t e . C o n s t i t u i o o b j e t o d a s o

c io logia

 jurídica,

m a s n ã o p a r a i n v e s t i g a r o

 coneúdo

d e s u a s n o r m a s , e

s im pa ra inves t iga r qua l é a rea l idade s oc ia l e fe t iva des s as normas na s oc i e

d a d e à q u a l s e d i r i g e m . I n v e s t i g a , p o r e x e m p l o , q u a l é o g r a u d e  eficácia

( c u m p r i m e n t o e a p l ic a ç ã o ) d e d e t e r m i n a d a s n o r m a s e s e u re s p e c ti v o g r a u

d e

 ineficácia.

S e r v e p a r a s a b e r s e o d i r e i t o c u m p r e e f e t i v a m e n t e s u a f u n

ç ã o e e m q u e g r a u a c u m p r e .

O p r o g r a m a d e i n v e s t i g a ç ã o d a s o c i o l o g i a d o d i r e i t o é u m p r o g r a m a

p a r a l e l o a o d a t e o r i a d o d i r e i t o , m a s q u e n ã o s e c o n f u n d e c o m

  ele.

 A s s i m ,

p o d e m o s d i s t i n g u i r n e s t a d i s c i p l i n a a s t r ê s p a r t e s s e g u i n t e s :

1 . S o c i o l o g i a f o r m a l d o d i r e i t o : i n v e s t i g a o s c o n c e i t o s sociológico-

jurídicos

d e

 caráer

f o r m a l p a r a l e l o s a o s c o n c e i t o s

 jurídicos pró

p r i o s d a t e o r i a f o r m a l d o d i r e i t o . A s s i m , p o r e x e m p l o , a o c o n c e i t o

d e r e g r a o u n o r m a

 (próprio

d a t e o r i a d o d i r e i t o ) c o r r e s p o n d e , n a

s o c i o l o g i a

 jurídica,

o c o n c e i t o d e r e g u l a r i d a d e d a c o n d u t a ( f o r m a

e s t e r e o t i p a d a d e a t u a ç ã o c o l e t i v a e m r e l a ç ã o à n o r m a

 jurídica

c o r

r e s p o n d e n t e ) ; a o c o n c e i to

 jurídico

de d i re i to s ubje t ivo

 (próprio

d a

t e o r i a d o d i r e i t o ) c o r r e s p o n d e o d e e x p e c t a t i v a , e n t e n d i d a c o m o

s i t u a ç ã o p s i c o s s o c i a l d o s indivíduosd e u m a s o c i e d a d e q u e e s p e

r a m q u e o s d e m a i s s e c o m p o r t e m d e m a n e i r a a d e q u a d a à s r e g r a s

jurídicas

e s t a b e l e c i d a s

  e t c .

 C o m o s e p o d e n o t a r , o s c o n c e i t o s s o c i o -

lógico-jurídicos d e

 caráer

f o r m a l s ã o

 também

gera i s , mas não s ão

intrínsecose si m r e l a c i o n a i s , já q u e r e l a c i o n a m o c o n c e i t o

 jurídico

.

forma l com a rea l idade s oc ia l ou ps i cos s oc ia l .

2.

  Soc io logia das ins t i t u i ções

 jurídicas:

c o n s i s te n o c o n t r a p o n t o s o c i o

lógco

da t eor i a da dogmática

 jurídica,

poi s enquanto e s t a s e l imi t a a

e s t u d a r a q u i l o q u e é a

 dogmática

c o m o c i ê n c i a

 jurídica

e qua i s s ão

s eus

 méodos

is to é , como a

 dogmática

o p e r a i n t e l e c t u a l m e n t e c o m

as ins t i t u i ções

 jurídicas,

a s oc io logia s e con t rap õe a e s t a s pa ra ave r i

gua r qua l é s ua implantação s oc ia l e fe t iva . A s oc io logia das ins t i t u i

ç õ e s u t i l i z a c o m o p o n t o d e r e f e r ê n c i a c o n s t a n t e a s i n s t i t u i ç õ e s

c o n s i d e r a d a s e m s i m e s m a s , m a s n ã o p a r a e s t u d a r s u a s n o r m a s ( q u e

0 QUE ÉA TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

65

s ã o j u s t a m e n t e s e u s e l e m e n t o s c o m p o n e n t e s ,

 graças

aos qua i s a s i ns

t i t u i ções ex i s t em) , e s im pa ra ve r como func ionam e fe t ivamente , que

e f e it o s p r o d u z e m n o c o n t e x t o s o c i a l , a o m e s m o t e m p o e m q u e t r a t a

de expl i ca r em vi r tude de qua i s fa tores s oc i a i s s e produz i ram umas

ins t i t u i ções e não out ra s . Um exemplo pode e s c l a rece r t udo i s s o . O

matrimônioe o

 divórcio

s ã o i n s t i t u i ç õ e s jurídicasd e n o s s o o r

d e n a m e n t o . A

 dogmática jurídica

o s e s t u d a , e n q u a n t o i n s t i tu i ç õ e s ,

d e n t r o d a p a r t e d a

 dogmática

que chamamos de d i re i to c iv i l , e , ma i s

c o n c r e t a m e n t e , n o d i r e i t o m a t r i m o n i a l . A

 dogmática

t e m c o m o f i

n a l i d a d e a e x p o s i ç ão o r d e n a d a d o s c o n c e i t o s e d a s n o r m a s q u e c o n

f i g u r a m t a i s i n s t i t u i ç õ e s , u t i l i z a n d o , p a r a t a n t o , s e u s

 méodos:

i n t e rpre t ação , conce i tuação e s i s t ema t i zação . Poi s bem: a s oc io logia

do d i re i to

 está

cent rada , nes t e a s pec to , na inves t igação da rea l idade

s oc ia l do

 matrimônio

e d o

 divórcio

n a E s p a n h a . Investigaráas es ta

tísticas

re fe rentes ao

 número

d e p e s s o a s q u e c o n t r a e m

 matrimônio,

o p e r c e n t u a l d a s q u e n ã o c o n t r a e m ;

 também

as facetas sociais de

i n c l u s ã o e m d e t e r m i n a d a c l a s s e s o c i al , e d u c a ç ã o o u c u l t u r a , i d e o l o

g ia s dos

 cônuges número

e caus as de

 divórcio

e seus efei tos etc.

Como s e pode ve r , a s oc io logia

 jurídica

c o n s i d e r a c o n h e c i d o o c o n

teúdo

n o r m a t i v o d a s i n s t i t u i ç õ e s d e r e f er ê n c i a ( n o e x e m p l o , c a s a

m e n t o e

 divórcio)

e s e l imi t a a e s tud a r a i ns e rção o u rea l idad e s oc ia l

d e t a is n o r m a s . T e m p o r c o n s o l i d a d o o c o n c e i t o d e d i r e i t o p o s i t i v o

d e c a s a m e n t o e

 divórcio,

e c o n c e n t r a s e u s

 esforços

em s eu

 próprio

campo de inves t igação .

3.

 S o c i o l o g i a d a d e c i s ã o

 jurídica:

s eu obje to é a i nves t igação socioló

g i c a d o s p r o c e s s o s d e d e c i s ã o

 jurídica

e d o s o p e r a d o r e s

 jurídicos.

A s s i m , l e v a n d o e m c o n t a o s t e m a s e m q u e s e d i v i d e a t e o r i a d a

d e c i s ã o jurídica,q u e j á a p o n t a m o s , a s o c i o l o g i a d a d e c i s ã o

 jurídi

ca

 estudará

es pec ia lmente , os fa tores s oc i a i s ou  mundo social  d a

l e g i s la ç ã o e d o l e g i s l a d o r ( s o c i o l o g i a d a l e g i s la ç ã o ) , d a a d m i n i s t r a

ç ã o d e

 justiça

( s oc io logia da dec i s ão judic i a l e dos

 juzes)

e a s oc io

l o g i a d a justiçac o m p r e e n d i d a c o m o i d e a l d a c o n v i v ê n c i a , c u j o

o b j e t o é a i n v e s t i g a ç ã o d a s c o n c e p ç õ e s s o b r e a justiçae os va lores

jurídicos

q u e e x i s t e m n u m a s o c i e d a d e , s u a i n c i d ê n c i a r e a l e s e u s ig

n i f i cado em re l ação ao s i s t ema s oc ia l g loba l .

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66

O   DIREITO COMO TEXTO

Como s e pode obs e rva r , a s oc io logia

 jurídica,

as s im concebida , s e cons

trói

c o m o u m a d i s c i p l i n a p a r a l e l a à t e o r i a d o d i r e i t o . A m b o s o s r a m o s d o

s a b e r

 jurídico

s e c o m p l e m e n t a m , m a s n ã o s e i n v a d e m r e c i p r o c a m e n t e . O

c u l t i v o d e u m d e l e s s u p õ e a d e l i m i t a ç ã o p r e c i s a a r e s p e i t o d o o u t r o , s e n d o

freqüene

q u e n a t e o r i a d o d i r e i t o se i n t r o d u z a m

 anáises

q u e e x c e d e m s e u

o b j e t i v o e q u e , p o r s u a próprian a t u r e z a , p e r t e n c e m à s o c i o l o g i a

 jurídica.

A e x p o s i ç ã o d a s o c i o lo g i a d o d i r e i t o n o s t e r m o s d o p l a n o d e s c r i t o s e

e n c o n t r a e m m i n h a  Sociologia dei Derecho,  M a d r i ( C i v i t a s ) , 1 9 9 3 ,

  2.ed.,

1 9 9 7 , o b r a à q u a l r e m e t o o l e i t o r i n t e r e s s a d o .

6

TEORIA

  DO  DIREITO OU  FILOSOFIA DO DIREITO?

Uma das ques tões que ma i s a t ra i a nós ,  teóricos,s e b e m q u e p o s s a

c o n s i s t i r a p e n a s n u m a

  questão de palavras,

  é a de ve r i f i ca r a pos s ib i l i da de

d e d i s t i n g u i r e n t r e t e o r i a d o d i r e i t o e f i l o s o f i a d o d i r e i t o , a f i r m a n d o - s e

q u e c o n s t i t u e m d u a s d i s c i p l i n a s d i f e r e n t e s , c o m o b j e t o e

 méodo

d i s t i n

to .

  A d i a n t a m o s l o g o n o s s a p o s i ç ã o p a r a e v i t ar m a l - e n t e n d i d o s : a t e o r i a

do d i re i to é f i l os of i a do d i re i to ; ou , ma i s exa tamente : a t eor i a do d i re i to é

a pa r t e da f i los of ia g e ra l qu e s e oc up a dos pr ob lem as

 teóricos

d o d i r e i t o .

N ã o s e d e v e p e r d e r d e v i s t a q u e

  K A N T

  c o n c e b e a Rechtslehre  ( d o u t r i n a d o

d i r e i t o ) c o m o u m a p a r t e d e s e u s i s t e m a

 ilosófico;

p o r t a n t o , n ã o c o m o

u m a d i s c i p l in a i n d e p e n d e n t e d a f il o so f ia , m a s c o m o u m a p a r t e d e l a , u n i d a

i n d i s s o l u v e l m e n t e a o c o n j u n t o . E m n o s s a c o n c e p ç ã o d a t e o r i a d o d i r e i t o

não há t ema que não s e j a

 ilosófico,

q u e n ã o e s t e j a n o c o n t e x t o d e u m

p e n s a m e n t o

 filosófico,

 po rq ue a f il osof ia é s im ple s m en te t eor i a ge ra l com

propósitos

d e i n s i s t ê n c i a n o c o n h e c i m e n t o . N o e s q u e m a q u e p r o p o m o s

s ó s e nota a fa l t a de um t ema: a ep i s t emologia . Mas e s s e t ema fo i obje to

d e c o n s i d e r aç ã o e m m i n h a

 Introducción

a la teoria dei derecho,  M a d r i ( E d .

D e b a t e ) , 1 9 8 8 , o b r a q u e d i s c u t e o p r o b l e m a d e c o m o c o n h e c e r o d i r e i t o

à a l t u r a d o d e b a t e epistemológicoa t u a l . A anáised o s m o d e l o s d e p e n

s a m e n t o

 jurídico

e a j us t i f i cação da e s colha do pr og ram a de inves t igação a

s e r a d o t a d o c o m o i d e a l s ã o o s o b j e t i v o s d e s t a o b r a , q u e , d e a c o r d o c o m s e u

título,

t e m u m

 caráer

 introdutório,m a s n ã o e m s e n t i d o pedagógco( i n

t r o d u z i r o s a l u n o s e m a l g u m a

 maéria)

e s im e m s e n t i d o

 sistemáico

t r a -

0  QUE É A  TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

67

t a - s e , d e f a t o , d e u m a i n t r o d u ç ã o j u s t i f i c a d o r a e programática,de afiar a

e s p a d a d o c o n h e c i m e n t o n a p e d r a d a

 história

d o p e n s a m e n t o

 jurídico

para ,

s o b r e e s s a b a s e , a d q u i r i r o c o m p r o m i s s o epistemológcoa p a r t i r d o q u a l

deve s e r

 construdo

o

 edifício

 teórico.

P o r t a n t o , s e a c r e s c e n t a r m o s a o c o n

j u n t o d o s t e m a s m e n c i o n a d o s a   introdução  ( q u e n ã o é m a i s q u e u m a i n

t r o d u ç ã o à t e o r i a d o d i r e i t o ) , t e r e m o s o p a n o r a m a d o s t e m a s

 cássicos

d a

filosofia

  jurídica

( e p i s t e m o l o g i a

 jurídica

o u t e o r i a d o c o n h e c i m e n t o

 jurí

d i c o ,

 o n t o l o g i a

 jurídica,

a x i o l o g i a

 jurídica),

a i n d a q u e c o l o c a d o s d e o u t r o

m o d o , e c o m u m t r a t a m e n t o d i f e re n t e .

N ã o o b s t a n t e , será

 possíve

i n d a g a r : p o r q u e , e n t ã o , n ã o c o n s e r v a r o

n o m e d e filosofia do direito

7

.  P o r q u e i n t r o d u z i r u m n o v o n o m e ,  teoria do

direito,  p a r a t r a t a r d o s m e s m o s t e m a s ? N a t u r a l m e n t e , n ã o há i n c o n v e

n i e n t e e m a c e i t a r o u s o d a d e n o m i n a ç ã o

 filosofia do direito,

  q u e e r a , p o u c o

t e m p o

 atrás,

a m a i s c o m u m . C o n s i d e r a n d o - s e q u e a t e o r i a d o d i r e i to  é

f il osof ia do d i re i to , nã o há razão pa ra c r i a r - s e um

 obstácuo

intransponí

ve l cont ra a u t i l i zação des t a

 última

expre s s ão em luga r daqu e la . Só não é

aceitável

o e m p r e g o , a o m e s m o t e m p o , d a s d u a s d e n o m i n a ç õ e s   como se

fossem dois tipos de conhecimento divergentes,  c o m o se a o tr a t a r d a t e o r i a

do d i re i to ou da f il osof ia d o d i re i to s e e s tud as s em e inves t iga s s em t em as

d i s t i n t o s .

Es t e é, a me u ve r , o grand e

 equvoco

d a p r o p o s t a l e g i sl a t iv a d o p l a n o

d e e s t u d o s d a c a r r e i r a d e d i r e i t o , q u e p e l o R e a l D e c r e t o 1 4 2 4 / 1 9 0 0 , d e 2 6 .

d e o u t u b r o

  ( pelo

  qua l s e e s t abe lece o

 título universitário

of i c i a l de l i cen

c i a d o e m d i r e i t o e a s d i r e t r i z e s g e r a i s

 próprias

d o s p l a n o s d e e s t u d o s

d i r e c i o n a d o s à o b t e n ç ã o d a q u e l e ) , a d o t a a s e g u i n t e d u a l i d a d e :

T e o r i a d o d i r e i t o ( n o p r i m e i r o c i c l o ) , c o m o s e g u i n t e

 coneúdo

  o

d i r e i t o c o m o f o r m a d e o r g a n i z a ç ã o e c o m o s i s t e m a n o r m a t i v o . A c i ê n c i a

d o d i r e i t o . T e o r i a d o d i r e i t o : a n o r m a jurídicae o s i s t ema

 jurídico.

I n t e r

p r e t a ç ã o e a p l i c a ç ã o d o d i r e i t o . C o n c e i t o s jurídicosf u n d a m e n t a i s . O s p r o

b l e m a s d o d i r e i t o j u s t o e a eficáciado d i re i to .

F i lo s o f ia d o d i r e i t o ( n o s e g u n d o c i c l o ) , c o m e s t e

 coneúdo

  o fenô

m e n o

 jurídico.

O n t o l o g i a e a x i o l o g i a

 jurídicas.

P r o b l e m a s

 ilosóficos

bá

s i cos do d i re i to .

É evid ente o des a jus t e con ce i tua i do l eg i s l ador , que só c ons egu iu re i

t e ra r no programa de f i l os of i a do d i re i to o que havia idea l i zado no de t eo

r i a d o d i r e i t o , e m b o r a c o m p a l a v r a s u m p o u c o d i f e r e n t e s . C o m o é

 possíve

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68

O   DIREITO COMO TEXTO

d i s t i n g u i r o c o n c e i t o  de fenômeno

jurídico

d o c o n c e i t o d e  direito como for

ma de organização e como sistema normativo? A  o n t o l o g i a n ã o estár e u n i d a

n a s p a r t e s v i n c u l a d a s à t e o r i a d o d i r e i t o c o m o t e o r i a d a n o r m a e d o s i s te

m a

 jurídicos

e c o n c e i t o s

 jurídicos

f u n d a m e n t a i s ? A a x i o l o g i a n ã o t r a t a d o

p r o b l e m a d o d i r e i t o j u s t o ? A li m i t a ç ã o d o l e g i s l a d o r a o d i s s e c a r c o m n i t i

d e z o s

 âmbosproblemáticos

de t eor i a do d i re i to e f i l os of i a do d i re i to

m o s t r a c l a r a m e n t e a d i f i c u l d a d e q u e s u p õ e e s t a   actiofinium regundorum.

C r e i o q u e a d u a l i d a d e i m p o s t a p e l o l e g i s l a d o r é u m

 equvoco

q u e

provémd e u m e r r o l e g i s l a t i v o a n t e r i o r : o d o p l a n o d e e s t u d o s d e 1 9 5 3 ,

q u e c o n s a g r a v a o d u a l i s m o  direito natural-füosofiado direito;  n a q u e l a o c a

s i ã o , o l e g i s l a d o r , p o u c o d i s p o s t o a

 conrovérsias epstemoógcas

i g n o

r o u o f a t o d e q u e a t e o r i a d o d i r e i t o n a t u r a l , e m q u a l q u e r d e s u a s

m a n i f e s t a ç õ e s históricas,não é ma i s que uma forma de f i l os of i a

 jurídica,

e

q u e ,

  e m c o n s e q ü ê n c i a , q u e m f o s s e j u s n a t u r a l i s t a a o e x p l i c a r o c u r s o d o

p r i m e i r o n ã o p o d e r i a d e i x a r d e s ê - l o a o a b o r d a r o q u i n t o , e v i c e - v e r s a :

q u e m f o ss e p o s i ti v i s t a a o e n f r e n t a r o c u r s o d e d i r e i t o n a t u r a l ( p a r a

 negá-

l o d e s d e o p r i m e i r o d i a d e a u l a ) , c o n t i n u a r i a s e n d o p o s i t i v i s t a a o a b o r d a r

a f i l os of i a do d i re i to . Mas , nos doi s cas os , o

 coneúdo

programáticod a

matéria

t e r i a q u e s e r o m e s m o . O l e g i s l a d o r a t u a l

 maném

a d u a l i d a d e -

c o m o s p r o b l e m a s d e e n f o q u e q u e e l a s u p õ e - , l i m i t a n d o - s e a s u b s t i t u i r o

t e r m o  direito natural.  E s t a s u p r e s s ã o d e v e s e r a p l a u d i d a , p o r q u e o t e r m o

direito natural

  i m p l i c a d e a n t e m ã o a a d o ç ã o d e u m a d e t e r m i n a d a p o s i ç ã o

epistemológica, q u e n ã o há d e s e r n e c e s s a r i a m e n t e a d o t a d a p e l o p r o f e s s o r

o u p e l o i n v e s t i g a d o r . M a s a n o v a d u a l i d a d e

 maném

a c o n f u s ã o c o n c e i t u a i

e epistemológcad a p r i m e i r a , p o r q u e , c o m o

 vnhamos

d i z e n d o , a t e o r i a

do d i re i to não é ma i s que f il osof ia do d i r e i to .

Pa ra e fe i tos pedagógcost e r i a s i d o m u i t o m a i s a d e q u a d o e s t a b e l e c er

p a r a o p r i m e i r o c i c l o u m a d i s c i p l i n a q u e se d e n o m i n a s s e   Introdução ao

direito  o u  Introdução ao estudo do direito,  d e c o n t o r n o s m a i s

 pragmáicos

e e s c o la r e s q u e u m a

 científica

e

 rígida

teoria do direito,  q u e e x i ge u m

 nível

c o n c e i t u a i r a d i c a l m e n t e r i g o r o s o ; e p a r a o s e g u n d o c i c l o , e s t a b e l e c e r a

d e n o m i n a ç ã o d e  teoria do direito  o u  de filosofia do direito. Nnguémnega

a importânciad e i n c l u i r d u a s d i s c i p l i n a s teóricasd e

 caráer

gera l nos e s

t u d o s d a l i c e n c i a t u r a e m d i r e i t o , p o r q u e - e s t a m o s c o n v e n c i d o s d i s s o - a

b a s e d a f o r m a ç ã o d o j u r i s t a é a d e su a f o r m a ç ã o n a t e o r i a g e r a l . Aémd o

m a i s , e s t a m o s c o n v e n c i d o s d e q u e , n a c i ê n c i a d o d i r e i t o , o q u e n ã o é t e o -

0 QUE ÉA TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

69

r i a g e r a l é e v e n t u a l i d a d e , q u a s e

 descartável.

A s f a m o s a s p a l a v r a s d e

KIRCHMANN

  ( b a s t a m t r ê s p a l a v r a s i n o v a d o r a s d o l e g i s l a d o r p a r a q u e b i

b l i o t e c a s jurídicasi n t e i r a s f i q u e m r e d u z i d a s a p a p e l d e r e f u g o ) n ã o s e

a p l i c a m à t e o r i a g e r a l , m a s a p e n a s à instável superfíciedo d i re i to . Sabe r

d i r e i t o n ã o é c o n h e c e r o

 diário

of i c i a l mas s obre tudo s abe r t eor i a ge ra l ,

p a r a d e p o i s

 aplicá-la

às d ive rs as d i s c ip l inas e aos váriosp r o b l e m a s

 jurídi

cos ,

 p o i s n a m a i o r i a d a s o c a s i õ e s e m q u e n o s d e p a r a m o s c o m v e r d a d e i r o s

p r o b l e m a s

 jurídicos

e s t a m o s d i a n t e d e u m a q u e s t ã o d e t e o r i a d o d i r e i t o . A

f o r m a ç ã o d o v e r d a d e i r o j u r i s t a ( n ã o d o l e g u l e i o o u c h i c a n e i r o ) p a s s a p e l o

i n t e n s o e s t u d o d a t e o r i a d o d i r e i t o , q u e n ã o a p e n a s c o n s t i t u i u m a d i s c i

p l i n a i n d e p e n d e n t e d e g r a n d e

 coneúdo

e a l c a n c e , c o m o

 também

i n t e r f e

r e e m t o d o s o s r a m o s d o d i r e i t o : a s s i m , t a n t o o d i r e i t o p r i v a d o c o m o o

d i r e i t o

 público

e o p r o c e s s u a l , e m q u a l q u e r d e s e u s r a m o s ,

 está

b a s e a d o

e m d e t e r m i n a d o s c o n c e i t o s e e s t r u t u r a s c o g n o s c i t iv a s , q u e g e r a l m e n t e s ã o

e s t u d a d a s n a s c h a m a d a s

 partes gerais

  d a s c o r r e s p o n d e n t e s d i s c i p l i n a s , e q u e

a s c h a m a d a s  partes especiais  a p l i c a m à s d i v e r s a s i n s t i t u i ç õ e s c o n c r e t a s .

C o m o dizíamos,p o r t a n t o , n ã o p a r e c e c o n v i n c e n t e a u t i l i z a ç ã o d e s s a

d u a l i d a d e

 termnológica

impos ta pe lo l eg i s l ador , j á que os t emas s ão pra

t i c a m e n t e c o i n c i d e n t e s . Q u e r e l a ç ã o t e m , e n t ã o , a t e o r i a d o d i r e i t o c o m a

filosofia

 jurídica?

E x p u s e s t e t e m a c o m g r a n d e a m p l i t u d e e m

 Introducción

a la teoria dei derecho,  j á c i t ada , obra à qua l reme to o l e i tor i n t e res s ado.

E m sínesep o d e m o s d i z e r o s e g u i n t e a r e s p e i t o d e s t e p r o b l e m a : o p e n s a

m e n t o

 jurídico

s e d e s e n v o l v e u a o l o n g o d e s u a

 história

s ob a forma de t rê s

m o d e l o s

 epstemoógcos

f u n d a m e n t a i s , q u e s ã o :

a)  a t e o r i a d o d i r e i t o n a t u r a l ;

b)  a f i l os of i a do d i re i to do pos i t i v i s mo; e

c)  a a tua l t eor i a do d i re i to .

A t e o r i a d o d i r e it o n a t u r a l p r a t i c a m e n t e m o n o p o l i z o u o p a n o r a m a

até finais do sécuoXVIII . Foi nes s a

 época

q u e

 começou

a s e i m p o r o

p o s i t i v i s m o

 jurídico,

q u e n e g a a e x i s tê n c i a d o d i r e i t o n a t u r a l e p r o c l a m a o

d i r e i t o p o s i t i v o ( d i r e i t o r e a l p o s t o p e l o s h o m e n s n a s o c i e d a d e ) c o m o o

único

o b j e t o d e c o n h e c i m e n t o

 científico;

o p o s i t i v i s m o , e l e v a n d o a c i ê n

c i a à ca t egor i a de

 única

f o r m a d e c o n h e c i m e n t o g e r a l

 válido,

de ixa pa ra a

f il osof ia a expre s s ão da s ubje t iv idade , ou s e j a , aque le s t emas s obr e os qua i s

a c i ênc ia ou razão pos i t i v i s t a nada pode d i ze r : os va lores - en t re e l e s a j us

tiça

- s ã o a r r e m e s s a d o s a o l i m b o d a i d e o l o g i a c o m o acientíficos;e l a b o r a -

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7

O   DIREITO COMO TEXTO

s e nes s e

 período

o t e r m o a l e m ã o  Rechtsphilosophie,  a  Filosofia do Direito

e m s e n t i d o e s t r i t o , d is c i p l i n a q u e enfrenaráa q u e l e s t e m a s  irracionais  q u e

a c i ê n c i a a b a n d o n a , e s p e c i a l m e n t e o t e m a d o s v a l o r e s

 jurídicos

o u t e o r i a

d a

 justiça.

A p a r t i r d e m e a d o s d o

 sécuo

X X , a c r i s e d o p o s i t i v i s m o c o m o m o

d e l o epistemológcogera l s us c i t a um deba te - que a inda pe rs i s t e - s obre a

d i s t in ção en t re c i ênc ia e f i los of ia , po r um l a do , e s obr e a univ e rs a l i zaçã o

d a l i n g u a g e m c o m o c e n t r o d e r e f e r ê n c i a d o p e n s a m e n t o

 ilosófico

o c h a

m a d o  linguistic turn).  A d q u i r e m m u i t a forçaa filosofia analítica,d e t r a d i

ç ã o i n g l e s a , c e n t r a d a n a anáisef o r m a l d a l i n g u a g e m , e a t r a d i ç ã o a l e m ã

d a h e r m e n ê u t i c a

 filosófica

 e das c i ênc ia s do espírito,c e n t r a d a n o

 fenôme

n o i n t e l e c t u a l d a c o m p r e e n s ã o e d a i n t e r p r e t a ç ã o e n a u n i v e r s a li z a ç ã o d o

c o n c e i t o d e  texto,  a o q u a l já n o s r e f e r i m o s a n t e r i o r m e n t e .

A n o v a

 panorâmca

d e e n f o q u e s

 também

i n c i d e n o p e n s a m e n t o j u

rídico.

Nã o por acas o , já há a lgu ma s décadasv e m s e i m p o n d o , c a d a v e z

c o m m a i s

 força,

a e x p r e s s ã o  teoria do direito  p a r a d e n o m i n a r a d i s c i p l i n a

q u e , s u p e r a n d o o s p r e c o n c e i t o s d o p o s i t i v i s m o , m a s s e m d e t e r m i n a r u m

r e t o r n o a o t r a d i c i o n a l j u s n a t u r a l i s m o , s e ja c a p a z d e pôr o r d e m n o m u n

d o i n t e l e c t u a l d o d i r e i t o , d e m o d o a r e c u p e r a r , n u m a v i s ã o i n t e g r a l , o s t e

m a s c o n s i d e r a d o s  irracionais  q u e h a v i a m s i d o e x p u l s o s d a c iê n c i a

 jurídica,

e m e s p e c i a l o t e m a d a

 justiça

e o t e m a d a a r g u m e n t a ç ã o r a c i o n a l n o m o

m e n t o d a d e c i s ã o

 jurídica.

É v e r d a d e q u e a s d e n o m i n a ç õ e s p o d e m c o n t e r a l g u m c a p r i c h o , m a s

p o r o u t r o la d o s e m p r e c o r r e s p o n d e m a d e t e r m i n a d o s m o v i m e n t o s d o

p e n s a m e n t o q u e b u s c a m e n c o n t r a r fórmulasp a r a r e s u m i r o n o v o e n f o q u e .

N ã o f az s e n t i d o c o n f u n d i r a t e o r i a d o d i r e i t o c o m a q u i l o q u e o p o s i t i v i s m o

c h a m a d e  teoria geral do direito  o u  doutrina geral do direito  ( t r a d u ç ã o d a

e x p r e s s ã o a l e m ã  allgemeine Rechtslehre),  cujo único propósitoe r a , c o m o

s eu nom e indica , re s u mi r em u m a só d i s c ip l ina a s pa r t e s ge ra i s dos d ive r

s o s s e g m e n t o s d a

 dogmática jurídica,

i s to é, do d i re i to c iv i l , pen a l , p roc es

s ua l e t c . A dou t r in a ge ra l do d i re i to é s upe ra da pe l a t eor i a do d i re i to , já

q u e e s t a a s s u m e o q u e a q u e l a p o d e t e r d e u n i v e r sa l , p a r a t e o r i z a r s i m p l e s

m e n t e s o b r e o d i r e i t o

 possível

e n ã o s o b r e u m o r d e n a m e n t o o u famliad e

o r d e n a m e n t o s d e u m a v e z , e sobretudo  i n t r o d u z e m s e u n o v o e s q u e m a o s

e l e m e n t o s d e s p r e z a d o s p o r s e r e m t a c h a d o s d e acientíficosp e l a d o u t r i n a

ge ra l pos i t i v i s t a ( t eor i a da justiça,a r g u m e n t a ç ã o

 jurídica).

O   QUE

 É

A TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

71

Se a  Filosofia do Direito  e m s e n t i d o e s t r it o - i s t o é, c o m o d e n o m i n a

ç ã o

 especfica

d e u m a d i s c i p l i n a c o n c r e t a p r o d u z i d a a p a r t i r d o s e s q u e

m a s própriosd o p o s i t i v i s m o - d e s i g n a u m m o d o d e p r o c e d e r d o

p e n s a m e n t o

 jurídico

e , r e s p e c t i v a m e n t e , a l g u n s t e m a s incluídose o u t r o s

excudos

d e s u a c o n s i d e r a ç ã o , n ã o s e e s t r a n h a o f a t o d e p r e t e n d e r i n t r o

d u z i r u m a d e s i g n a ç ã o d i s t i n t a e q u e , a o m e s m o t e m p o , e n g l o b e m a i s e l e

m e n t o s q u e a q u e l a p r i m e i r a . É i s t o o q u e m a i s r e c e n t e m e n t e

 também

v e m

o c o r r e n d o n a E s p a n h a , a i n d a q u e o l e g i s l a d o r , s e m t e r c o m p r e e n d i d o o

s igni f i cado da mudança

termnológica,

e m p r e g a a d u a l i d a d e t e o r i a d o d i

re i to- f i l os of i a do d i re i to . Não há p ior l eg i s l ador que aque le que s e me te a

t eor i za r , e fo i i s s o o que fez o l eg i s l ador e s panhol ao des enhar nos s a d i s c i

p l ina .

7 A

  TEORIA

 DO

 DIREITO

 É CIÊNCIA OU

 FILOSOFIA?

M e n c i o n e i d e p a s s a g e m q u e u m d o s t e m a s d e b a t i d o s a t u a l m e n t e é o

da d i s t i nçã o en t re c i ênc ia e f il osof ia . P or i s s o , é

 necessário

e m r e l a ç ã o a

n o s s a d i s c i p l i n a , q u e façamosa s e g u i n t e p e r g u n t a : a t e o r i a d o d i r e i t o , ta l

co mo a en ten de mo s , deve e s t a r v inc ulad a à c i ênc ia ou à f il osof ia? O u é

t a l v e z m a i s a d e q u a d o p r e s c i n d i r d e s t a rígidac o n t r a p o s i ç ã o , p r o d u t o d a

m e n t a l i d a d e p o s i t iv i s t a ? E s t a é e x a t a m e n t e n o s s a p o s i ç ã o : p a r e c e - n o s q u e

não faz s ent ido a d i s t i nção ent re c i ênc ia e f i l os of i a , e , por t an to , s ó cabe

f a la r e m c o n h e c i m e n t o r i g o r o s o , i s t o é, f u n d a m e n t a d o ,

 construdo

c o m

coerênc ia e adequado à rea l idade . Segui r fa l ando dos  cientistas,  p o r u m l a d o ,

e d o s filósofos,p o r o u t r o , s i g n i f i c a e s t a r a l h e i o a o q u e o c o r r e u n o p a n o r a

m a i n t e l e c t u a l o c i d e n t a l n a s últimaso i t o

 décadas

A c o n t r a p o s i ç ã o e n t r e

c i ênc ia e f i los of ia é um pr eco nce i to pos i t i v i s t a qu e deve s e r

 destrudo

a o

m e s m o t e m p o e m q u e s e e l a b o ra c r i t i ca m e n t e u m a r e v i sã o d o s f u n d a m e n

to s

 epstemoógcos

d o p o s i t i v i s m o .

A d u a l i d a d e c i ê n c i a - f i l o s o f i a n ã o e x i s t i a a n t e s d o t r i u n f o d o

p o s i t i v i s m o . Até p r a t i c a m e n t e o sécuoXIX o s abe r e s t ava uni f i cado, s em

q u a l q u e r diferençaentre ciência e fi losofia: o cient is ta era

 ilósofo

e o

 filó

s o f o e r a c i e n t i s t a . O q u e r e a l m e n t e i m p o r t a v a e r a c o n s t r u i r r i g o r o s a m e n

t e o s a b e r e m q u a l q u e r d e s e u s c a m p o s , m a s c o m a c o n s c i ê n c i a d e q u e t o d o

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72

O  DIREITO COMO TEXTO

o s a b e r , e m s e u c o n j u n t o , c o n s t i t u i u m a u n i d a d e c o m s e n t i d o

 próprio.

O

p o s i t i v i s m o a r r a s o u a u n i d a d e d o c o n h e c i m e n t o , e m b o r a p r o c l a m a n d o a

u n i d a d e d a c i ê n c i a , o q u e n ã o é o m e s m o . S e p a r o u t a x a t i v a m e n t e c i ê n ci a e

f il osof ia , r e s e rv ando à pr im e i ra o

 caráer

d e v e r d a d e i r o c o n h e c i m e n t o , q u e

pa ra a menta l idade pos i t i v i s t a é um conhec imento dos fa tos que s e j a passí

ve l de com pro vaçã o e ve r i f i cação . O q ue nã o s e enca ixa nes t e conce i to só

pode s e r obje to de  especulação

 filosófica,

m a s n u n c a d e  verdadeira  ciência.

Pa ra o pos i t i v i s mo, a f i l os of i a s e conver t e em di s c ip l ina re s idua l : recebe o

nome de f i l os of i a aque la pa r t e do conhec imento que re s t a depoi s de e l abo

rada a c i ênc ia . A f i los of ia f i ca redu z ida ao s t emas de ep i s t e molo gia e t eor i a

da c i ênc ia (o aquémo u  antes  da c i ênc ia , a introdução  à c i ênc ia ) e aos t emas

axiológcos ou de t eor i a dos va lores (o

 além

da c i ênc ia , o  depois  da c i ênc ia ) .

O  p e n s a m e n t o

 jurídico

p a s s o u , c o m o é

 lógico,

por igual evolução. Até

o

 sécuo

X I X ,

 ajuris naturalis scientia

  e ra c i ênc ia e f il osof ia ao mes mo t em

po; e ra a c i ênc ia que constituíauma pa r t e da chamada f i l os of i a prática,

que por s ua vez s e constituíaco m o a pa r t e da f i l os ofi a qu e se ocu pa d as

a ç õ e s e f i n s h u m a n o s e d o c o n h e c i m e n t o d o b e m  ético.C o m o p o s i t i v i s m o

jurídico

a p a r e c e a c i ê n c i a

 jurídica,

o u , m a i s e x a t a m e n t e ,

 múltiplas

c i ê n

c i a s

 jurídicas:

a s o c i o l o g i a d o d i r e i t o , a a n t r o p o l o g i a

 jurídica,

a

 história

d o

d i r e i t o ( e s t a

 última

c o m o r e s u l t a d o d e u m m o v i m e n t o

 próximo

a o

p o s i t i v i s m o , o c h a m a d o h i s t o r i c i s m o ) , a p s i c o l o g i a

 jurídica

e a d o u t r i n a

ge ra l do d i re i to . Tudo aqui lo que não é e s tudado por e s t a s c i ênc ia s f i ca

r e s e r v a d o p a r a u m a d i s c i p l i n a r e s id u a l : a Rechtsphilosophie,  o u  Filosofia do

direito  e m s e n t i d o e s t r i t o , c u j o o b j e t o d e c o n h e c i m e n t o seráo  antes  e o

depois  da c i ênc ia

 jurídica:

a e p i s t e m o l o g i a

 jurídica

e a t eor i a da c i ênc ia do

d i r e i t o , p o r u m l a d o , e a a x i o l o g i a

 jurídica

o u t e o r i a d a

 justiça,

p o r o u t r o

l a d o .

  R e p r e s e n t a n d o e s p a c i a l m e n t e e s t a d i s t r i b u i ç ã o

 esquemáica

d e m a

térias,

p o d e - s e d i z e r q u e e x i s t e u m a a m p l a z o n a c e n t r a l d e c o n h e c i m e n t o

s e g u r o e verificável,q u e é o c u p a d a p e l o c o n j u n t o d a s c i ê n c i a s jurídicas;e

q u e e s s a z o n a c e n t r a l é p r e c e d i d a d e u m a p r i m e i r a z o n a d e  umbral  o u  in

trodução,  c u j o o b j e t o é d i z e r j u s t a m e n t e n o q u e c o n s i s t e o c o n h e c i m e n t o

científico

d o d i r e i t o ( e p i s t e m o l o g i a

 jurídica

e t eor i a da c i ênc ia

 jurídica),

e

l h e s u c e d e o u t r a z o n a p o s t e r i o r , o n d e a r a z ã o e n t r a n u m t e r r e n o m o v e d i

ço e s ubje t ivo que s e mes c la aos s ent imentos e i deologias , que é a zona da

a x i o l o g i a

 jurídica

( t e o r i a d o s v a l o r e s

 jurídicos),

 também

c h a m a d a d e t e o

r i a da justiça.E s t e e r a , e m r e s u m o , o p a n o r a m a d o p o s i t i v i s m o

 jurídico

0 QUE É A TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

73

d u r a n t e o s

 sécuos

XIX e XX, e em s eu

 âmbito

s e p r o d u z i a m , n a t u r a l m e n

te , váriast e n d ê n c i a s d i st i n t a s , e x a t a m e n t e c o m o o c o r r e c o m a d o u t r i n a d o

d i r e i t o n a t u r a l .

D i a n t e d e s t a s i t u a ç ã o , é

 necessário

i n d a g a r a g o r a : fa z s e n t i d o m a n t e r

a con t rap os i ç ão rad ica l en t r e c iênc ia e f il osof ia? Traz end o a qu es t ão pa ra

n o s s o t e r r e n o : a c o n t r a p o s i ç ã o a b s o l u t a e n t r e c i ê n c i a s jurídicaspos i t i vas

e f i l os of i a do d i re i to pode s e r mant ida? O l e i tor j á conhece nos s a re s pos t a :

a c r e d i t a m o s q u e n ã o . E n t e n d e m o s q u e é

 necessário

v o l t a r à v e l h a u n i d a d e

d o c o n h e c i m e n t o , e m b o r a r e f o r m u l a n d o o s p r o b l e m a s d e t al m a n e i r a q u e

n ã o s e d e s p r e z e a r i c a t r a d i ç ã o d o p e n s a m e n t o o c i d e n t a l .

O  p o s i t i v i s m o a p r e s e n t a váriosa r g u m e n t o s p a r a j u s t i f i c a r a s e p a r a

ção ent re c i ênc ia e f i los of ia , ma s o a rgu me nto pr inc ip a l é a a f i rmaçã o d e

q u e só c o n s t i t u i v e r d a d e i r o c o n h e c i m e n t o a q u e l e q u e p r o d u z a segurança

d o s r e s u l t a d o s d e i n v e s t i g a ç ã o ; só é v e r d a d e i r o c o n h e c i m e n t o a c i ê n c i a

s egura , a c i ênc ia em que s e pode conf i a r . F i cam pa ra a f i l os of i a os t emas

n o s q u a i s a r a z ã o é

 débil,

c o n f u s a , d u v i d o s a , s u b j e t iv a ; a l i , c o n f o r m e a s

c o n h e c i d a s p a l a v r a s d e

  W I T T G E N S T E I N ,

 é m e l h o r c a l a r q u a n d o n ã o s e p o d e

f a l a r . O p o s i t i v i s m o , d e p o i s d e e s t a b e l e c e r o s l i m i t e s d o c o n h e c i m e n t o ,

d e m a r c a n d o - l h e o t e r r e n o , i m p õ e o s i l ê n c i o o u a

 dúvida

i n s e g u r a p a r a o

r e s t o d o u n i v e r s o . E s t a

 ânsia

p o r

 segurança

é p r i n c i p a l m e n t e a m a n i f e s t a

ção do des e jo de

 segurança

t e r r e n a

 próprio

d a m e n t a l i d a d e d a b u r g u e s i a ,

que é a c l a s s e s oc i a l que provoca a revolução

 científica.

Será

c o n t u d o , q u e a c i ê n c i a d o p o s i t i v i s m o é t ã o s e g u r a ? É e v i d e n t e

q u e n ã o . E m a l g u m a s z o n a s ( a s m a i s s i m p l e s ) d a s c i ê n c i a s d a n a t u r e z a é

possíve

e n c o n t r a r g r a n d e s p e r c e n t u a i s d e

 segurança

m a s o m e s m o n ã o

a c o n t e c e s e m p r e , c o m o r e v e l o u o

 princípio

d e i n d e t e r m i n a ç ã o d e

H E I S E N B E R G .  T a l v e z a inseguranças e j a m a i o r , e p o d e m o s até d i z e r

c o n s t i t u t i v a , n a s c h a m a d a s c i ê n c i a s s o c i a i s . I m a g i n e o l e i to r , p o r e x e m p l o ,

a p r o f u n d a d e c e p ç ã o q u e d e v e m t e r s o f r i d o o s c u l t o r e s d a c i ê n c i a

 política

e d a s o c i o l o g i a d a s r e l a ç õ e s i n t e r n a c i o n a i s , q u e n ã o s o u b e r a m p r e v e r a

q u e d a d a a n t i g a U n i ã o

 Soviética

n e m c o m u m m ê s d e a n t e c e d ê n c i a . M i

l h a r e s d e d e p a r t a m e n t o s e d e c i e n t i s t a s n ã o f o r a m c a p a z e s d e d i z e r q u e

u m a c o n t e c i m e n t o d e d i m e n s õ e s s o c ia i s e políticas paneáriasa c o n t e c e

r i a d e n t r o d e p o u c o s d i a s . L i m i t a n d o - n o s à s c i ê n c i a s jurídicas, alguémse

a t r e v e r i a a d i z e r q u e n e l a s r e a l m e n t e p r e v a l e c e a

 segurança

d o c o n h e c i

m e n t o , e n ã o a p o l ê m i c a c o n s t a n t e ? N ã o há n a s c i ê n c ia s jurídicas

 idéia

o u

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74 O  DIREITO COMO TEXTO

t e s e q u e n ã o t e n h a s e u o p o s i t o r , e n ã o há a r g u m e n t o q u e n ã o s o f ra c o n t r a

r i e d a d e . N a s c i ê n c i a s jurídicaso d e b a t e e o c o n f r o n t o dialéticos ã o p a r t e

d o c o t i d i a n o . O c o n h e c i m e n t o s e g u r o q u e t a l v e z a t e n d a a u m a n e c e s s i d a

d e h u m a n a d e o r i e n t a ç ã o , d e sa b e r e m q u e se a p o i a r n u m m u n d o a m e a

çador é u m   mito.  O s o n h o d o s h o m e n s é , s e m

 dúvida,

c h e g a r a p o s s u i r

i n t e l e c tu a l m e n t e o m u n d o s e m q u a l q u e r

 resquco

d e

 dúvida,

e a

 história

d o c o n h e c i m e n t o p o d e s er li d a c o m o u m c o n s t a n t e

 esforço

e m b u s c a d e s

s a me ta . Meta

 inalcançável,

c o m o i n q u e s t i o n a v e l m e n t e d e m o n s t r a m n o s

sa históriae a rea l idade diária.A insegurançaé p a r t e i n t e g r a n t e d e n o s s o

s e r , e t o d o n o s s o c o n h e c i m e n t o estál a s t r e a d o p o r e s s a insegurança

c o n s u b s t a n c i a l . N ã o é r e a li s t a a n e g a ç ã o d e s s a c o n d i ç ã o ; a n t e s , é necessá

r i o a s s u m i - l a p a r a superá-laP o i s , a p e s a r d e n ã o e x i s t i r c o n h e c i m e n t o s e

g u r o , n ã o p o d e m o s d e i x a r d e a s p i r a r a e l e , f a z e n d o d e s s a a s p i r a ç ã o u m a

d e n o s s a s m o t i v a ç õ e s f u n d a m e n t a i s .

N ã o h á , p o r t a n t o , n e n h u m a r a z ã o c o n s i s t e n t e p a r a c o n t i n u a r a f i r

mando a d i s pa r idade ent re c i ênc ia e f i l os of i a , pe lo menos com o r igor e s

c r u p u l o s o q u e o p o s i t i v i s m o p r e t e n d i a i m p o r . E m t o d o c a s o , é

 necessário

a c e i t a r q u e c e r t a s z o n a s d o c o n h e c i m e n t o p a r e c e m o f e r e c e r u m a s e g u r a n

ça m a i o r q u e o u t r a s , m a s a i n d a a s s i m , a r e s p e i t o d o c o n h e c i m e n t o d a r e a

l i d a d e h u m a n a ( o n d e s e i n s e r e n o s s a d i s c i p l i n a ) , t e m o s q u e a c e i t a r

h u m i l d e m e n t e a f a l t a d e critériosprec i s o s de de l im i t ação . Só s e po de exi

g i r d o c o n h e c i m e n t o q u e s e j a r i g o r o s o , c o e r e n t e e o m a i s c o m p l e t o

 possí

v e l e m r e l a ç ã o a o o b j e t o q u e p r e t e n d e c o n h e c e r . A d i v e r s i d a d e d e o b j e t o s

t e m , n e c e s s a r i a m e n t e , q u e i n f lu i r n o g r a u d e

 segurança

 acançadoe a l c a n

çável.

As s im, na

 maemáica

o s r e s u l t a d o s s ã o s e g u r o s p o r q u e s e u o b j e t i v o

n ã o é c o n h e c e r u m a r e a l i d a d e

 externa,

  ma s a s re l ações en t re en t id ade s c r i a

das pe l a própriam e n t e h u m a n a

 (números

f iguras e t c ) . Mas s e pres c indi

m o s d a

 maemáica

q u e é u m s i s t e m a d e c o n h e c i m e n t o q u e a b a s t e c e a s i

m e s m o a p a r t i r d e p r e m i s s a s o u a x i o m a s c r i a d o s p e l o

 próprio

s i s t e m a , n ã o

e n c o n t r a r e m o s o

 paraso

d a

 segurança

d o c o n h e c i m e n t o . É v e r d a d e q u e ,

com o nome de f i l os of i a , mui t a s vezes s e fez re fe rênc ia àque las zonas ma i s

i n s e g u r a s , s o b r e a s q u a i s h a v i a p o u c o s d a d o s p r e c i s o s . A c o n t e c e q u e a r a

z ã o n ã o p o d e s e d e t e r j u s t a m e n t e n o p o n t o e m q u e e l a

 própria

c o m p r o

v o u c o m e x a t i d ã o o r e s u l t a d o acançadoa r a z ã o s e m p r e estáe m b u s c a d e

n o v o s e n i g m a s , p a r a r e s o l v ê - l o s , e n ã o p o d e d e i x a r d e s e r e l a m e s m a a o

e n t r a r n a s z o n a s d e p e n u m b r a .

0  QUE

 É

A TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO? 75

A s s i m , p o r t a n t o , p o d e m o s d i z e r q u e a t e o r i a d o d i r e i t o é c i ê n c i a e

filosofia. É

 possíve

u t i l iz a r o u t r a s

 fórmulas

e a f i rmar que a t eor i a do d i

re i to é uma c i ênc ia

 jurídica ilosófica

ou uma fi losofia

 jurídica científica.

O l e i t o r p o d e e s c o l h e r s u a

 fórmula

p r e f e r i d a .

S e a c e i t a m o s a p r i m e i r a d a s fórmulas( a te o r i a d o d i r e i t o é u m a c i ê n

ci a

 jurídica ilosófica),

e s t a m o s a c e n t u a n d o a

 idéia

de que a t eor i a do d i

r e i t o s u r g e e m p r o f u n d a c o n e x ã o c o m a c h a m a d a   doutrina geral do direito

d o p o s i t i v i s m o , q u e , c o m o já a p o n t a m o s , c o n s t i t u i , d e c e r t a f o r m a , o nú

c l eo

 básico

d o c o n h e c i m e n t o d o s j u r i s t a s . A d o u t r i n a g e r a l é o

 último

se

d i m e n t o d a

 dogmática

 jurídica;

é a p a r t e teóricad a

 dogmática;

  s eu obje t ivo

é a p r e s e n t a r o p a n o r a m a d e t o d o s o s c o n c e i t o s e princípios

 básicos

( d o g m a s ) q u e s e e x t r a e m d o e s t u d o d o d i r e i t o p o s i t i v o . T e m u m

 caráer

p r e d o m i n a n t e m e n t e f o r m a l is t a, c o m o d e m o n s t r a m a s o b r a s d e se u s g r a n

d e s c r i a d o r e s . S u a l i m i t a ç ã o

 está

n a

 renúnca

à a b o r d a g e m d o s t e m a s ju s

tiça

e a r g u m e n t a ç ã o prática; alémd i s s o ,

 também

é l i m i t a d a p o r q u e s e u

obje to de in t e res s e

 teórico

q u a s e n u n c a

 está

constituídop e l o d i r e i t o p o s

sível, m a s p o r u m o r d e n a m e n t o jurídicoc o n c r e t o o u , m a i s a i n d a , u m a

famliad e o r d e n a m e n t o s ( d i r e i t o e u r o p e u c o n t i n e n t a l , s i s t e m a d o  common

law,  d i r e i t o muçulmanoe t c ) . A d o u t r i n a g e r a l c o n s t i t u i u a c i ê n c ia

 jurídi

c a p o r e x c e l ê n c i a d o p o s i t i v i s m o , a c i ê n c i a d o s j u r i s t a s p o r

 anonomásia

Foi a c i ênc ia que deu ao pos i t i v i s mo s eu

 caráer

 científico,

apes a r de s uas

l i m i t a ç õ e s . P o i s b e m : a t e o r i a d o d i r e i t o a t e n u a a s l i m i t a ç õ e s a q u e n o s

r e f e r i m o s , e m b o r a p a r a i s s o n ã o p r e s c i n d a d a t r a d i ç ã o d a d o u t r i n a g e r a l

d o d i r e i t o , e m e s m o p r e t e n d a incorporá-laa s e u e s q u e m a

 programático

d e i n v e s t i g a ç ã o . O s p r o b l e m a s e o e s t i l o d a d o u t r i n a g e r a l d o d i r e i t o s ã o

i n c o r p o r a d o s à t e o r i a d o d i r e i t o c o n f o r m e i s to n ã o s ej a incompatívelc o m

o espíritod e s t a

 última,

p o i s a t e o r i a d o d i r e it o t r a n s c e n d e o s o r d e n a m e n t o s

jurídicosc o n c r e t o s , a i n d a q u e n ã o p r e s c i n d a n e m p o s s a p r e s c i n d i r d e p r e s

s u p o r s e u c o n h e c i m e n t o p a r a

 avançar

na inves t igação de s eu obje to , que é

o d i re i to possível.C o m o e s t e d i r e i t o

 possíve

é um a abs t ração , nã o há dú

v i d a d e q u e a t e o r i a d o d i r e i t o

 também

deveráe s t a r a p o i a d a n o s

o r d e n a m e n t o s jurídicosq u e e x i s t i r a m e q u e e x i s t e m , a d o t a n d o - o s c o m o

p o n t o s d e r e f e r ên c i a p a r a s u a s r e f l ex õ e s , a i n d a q u e c o m u m espíritodi fe

r e n t e d o espíritod a d o u t r i n a g e r a l . P o i s e n q u a n t o e s t a n ã o p r e t e n d e i r além

do pos i t i vo , i s to é , do exi s t en te , a t eor i a do d i re i to propõe a i ndagação de

u m o b j e t o tr a n s c e n d e n t e , m a s

  q u e ,

 e x a t a m e n t e p o r s ê - l o , s e ja

 aplicável

aos

Page 30: 5 O Direito Como Texto

7/23/2019 5 O Direito Como Texto

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76 O  DIREITO

  COMO

  TEXTO

dive rs os obje tos ex i s t enc ia i s , i s to

 é, aos

  d i v e r s o s o r d e n a m e n t o s

 jurídicos

q u e e x i s t i r a m  ou  e x i s t e m .

 Aém

di s s o , a  t e o r i a  do  d i r e i t o i n t r o d u z n e s s e

núceo

f o r m a l i s t a o s t e m a s q u e a d o u t r i n a d o p o s i t i v i s m o h a v i a d e s p r e z a

d o

  - a

  t e o r i a

  da justiçae da

 a r g u m e n t a ç ã o

 jurídica- ,

 s u p e r a n d o - a ,

 com

isso, em

  a l c a n c e

 epistemológico. A

  t e o r i a

  do

  d i r e i t o

  é,

  a s s i m ,

  a

  d o u t r i n a

g e r a l d o d i r e i t o d o p o s i t i v i s m o d e s l i g a d a d e s u a s es t r e i t a s razese p i s t e m o

lógcas

(a s

 próprias

d o p o s i t i v i s m o )

  e

  elevada à categoria de fi losofia

 jurí

d i c a . A t e o r i a d o d i r e i t o é a d o u t r i n a

 jurídica

p o s i t i v is t a q u a n d o e s t a s u p e r a

a si

 própria

n u m p a n o r a m a m a i s a m p l o , c o m h o r i z o n t e s s u p e r i o r e s e m u i t o

m a i s a m b i c i o s o s ,

 já

  q u e n ã o r e n u n c i a

  à

 p o t e n c i a l i d a d e

  da

 r a z ã o e m t o d o s

o s c a m p o s

 possíves

n e m l i m i t a s u a a t u a ç ã o

 a

 d e t e r m i n a d o s o b j e t o s e x i s

t e n t e s

 ou que

 e x i s t i r a m ,

 nem a

  d e t e r m i n a d o s t e m a s , l i m i ta d o s

  por uma

e s t r e i t a c o n c e p ç ã o  da  r a c i o n a l i d a d e .

M a s

 também

é

 possíve

a d o t a r a s e g u n d a

 fórmula:

a t eor i a do d i re i to

entendida como f i l os of i a

 jurídica científica.

A filosofia  do  d i r e it o e m s e n

t i d o a m p l o , c o m o sinônimode pensamento

  jurídicoou

 especulação racio

nal sobre

  o

  direito,  e x i s te d e s d e

 que o ser

  h u m a n o p e n s a

  nos

  p r o b l e m a s

teóricos

c o m r i g o r e s e p r e o c u p a e m

 apresená-los

d e m a n e i r a

 sistemáica

ou organizada : f i l os of i a

  do

 d i r e i t o

  em

  s e n t i d o a m p l o e x i s t e d e s d e q u e

  há

f il os of ia . T o d o s o s g r a n d e s p e n s a d o r e s c o n c e n t r a r a m p e l o m e n o s u m a p a r t e

d e s e u s p r i n c i p a i s

 esforços

n o t e m a d o d i r e i t o :

  P L A T Ã O ,

 ARISTÓTELES,

  AGUS TIN

D E T A G A S T E , D U N S S C O T O ,

 TOMÁS

 D E A Q U I N O ,  SUÁREZ, H O B B E S ,

 ROUSSEAU,

  K A N T ,

H E G E L  e t c . Todos e l e s s e ca rac t e r i zam

  po r

 i n t r o d u z i r

 o

  t e m a d o d i r e i t o e

 da

justiçae m s e u s a m p l o s e s q u e m a s d e p e n s a m e n t o filosófico: e m s u a s o b r a s

a f i l os of i a do d i re i to apa rece como expres s ão de s eus s i s t emas de

 idéasno

âmbitodo

 d i r e i t o . N ã o

  aplicam  sua

  filosofia geral

 ao

  o b j e t o

 especficodo

d i r e i t o ;

  nã o há tal

 a p l i c a ç ã o mecâncam a s

  uma

 c o n t i n u a ç ã o

  do

  p e n s a

m e n t o q u e p e n e t r a e m t o d o s o s c a m p o s d a r e a l i d a d e , t r a t a n d o d e s er fi el

 a

s i m e s m o ,

 na

 coe r ênc ia e no r igor . A gran de f il osof ia do d i re i to s e preo cu

p o u m u i t o p o u c o com as div i s õ es a r t i f i c i a i s en t re c i ênc ia  e  fi losofia  do

d i r e i t o .

 Sua

 o r i g e m está

na

  c o n s t r u ç ã o r a c i o n a l

  do

  u n i v e r s a l ,

  de

  t o d o

  o

m u n d o

  ao

 r e d o r , a p a r t i r

  da

 s u b j e t i v i d a d e

  da

  r a z ã o q u e p r o c u r a s u p e r a r

 a

si

 própriana

 r e a l i z a ç ã o

 de um

  c o n h e c i m e n t o o b j e t i vo .

 A

  filosofia

  do di

r e i t o , a s s i m e n t e n d i d a c o m o

  a

  fi losofia

  do

 d i r e i t o

  do s

 g r a n d e s

 filósofos,

c o n c e b e s e u s t e m a s s e m m e d o d e s a i r d o e s t r i t o âmbitod a

 dogmática,

q u e

é o

  t e r r e n o d o m i n a d o p e l o ju r i s ta ;

 o

  m u n d o d e s t e é m u i t o e s t r e i t o p a r a

  o

0  QUE ÉA TEORIA

  COMUNICACIONAL

  DO DIREITO?

77

c o t i d i a n o

  do

 ilósofo,m u i t o a p e g a d o

  ao

  e v e n t u a l

  e mutável,

d e m a s i a d o

p r e o c u p a d o

  com o

  p e q u e n o d e t a l h e

  da

  r e g u l a ç ã o p o s i t i v a .

 O

 ilósofo

de

q u e e s t a m o s f a l a n d o o b s e r v a o d i r e i t o a p a r t i r d e c i m a , c o m

 o

 olh ar flutuan

t e s o b r e

 o

  c o n j u n t o d o t e r r e n o ; e p o r i s so se p r e o c u p a m a i s c o m

  o

 p r o b l e

m a

  do s

  fins

  que com

 q u a l q u e r o u t r o , p o i s

  é a

  p a r t i r

  de

  c i m a

  qu e

  p o d e

i n d a g a r

  o

  s e n t i d o

  das

 c o i s a s . E s t a a t i t u d e p r o f u n d a m e n t e u n i v e r s a l i s t a

c o n t r a s t a com o espíritoqu e m o v e  o  t r a b a l h o  do  jur i s t a , s e j a práticoou

teórico,q u e n o máxmos e dedica à engenhar i a s oc i a l , mas mui t a s vezes s e

aém

à cozinha

 jurídica

d a r e a l i d a d e c o t i d i a n a . P o i s b e m :

 a

  m o d e r n a t e o r i a

d o d i r e i t o p r e t e n d e c o n c i l i a r a s d u a s p e r s p e c t i v a s , t o r n a n d o

 possíveque

o g r a n d e p a n o r a m a d i v i s a d o d a s a l t u r a s s e ja

 conciliável

c o m

 o rés

  d o c h ã o .

Deve s e r capaz de in t roduz i r os grandes t emas da grande f i l os of i a

 jurídica

( e p i s t e m o l o g i a

 jurídicae

  t e o r i a

  da

  c i ê n c i a

 jurídica,

o n t o l o g i a

 jurídica,

a x i o l o g i a

 jurídica

e

  fi losofia exis tencial

 do

  di r e i to ) n u m e s q u e m a

 científi

co   f o r m a d o , q u a n t o

 a seu

  p r o c e d e r r i g o r o s o ,

 nas

 es colas

  do

  p o s i t i v i s m o ,

m a s e x t r a p o l a n d o s u a s e s t r e i t a s m a r g e n s . A t e o r i a

  do

 d i r e i t o

  é a

  filosofia

jurídica d e g r a n d e t r a d i ç ã o q u e s e a p r o x i m a d o j u r i s t a p a r a , e s t e n d e n d o -

lh e a m ã o , incorporá-loà t a r e fa d o c o n h e c i m e n t o d o d i r e i t o possível.Por

i s s o , pode s e r qua l i f i cada como uma f i l os of i a

  do

  d i r e i t o d e

 caráer cientí

f i c o : n ã o p e r d e n a d a d a g r a n d e t r a d i ç ã o  filosófica, m a s , a o m e s m o t e m p o ,

a s s u m e o c o m p r o m i s s o d e d i s c i p l i n a r a s

 ânsias

e s p e c u l a t i v a s d a r a z ã o p a r a

t r a z ê - l a

 até um

  o b j e t o q u e é

 ao

 m e s m o t e m p o u n i v e r sa l

  e

 c o t i d i a n o :

 o

  d i

re i to .

8

0

  DIREITO

 COMO

 SISTEMA

 DE COMUNICAÇÃO

A filosofia

 jurídica, em

 q u a l q u e r

  de

  s u a s f o r m a s

 hstóricase até o

p r e s e n t e , t e m e s t a d o o b c e c a d a

  po r

 e n c o n t r a r

  um

  c o n c e i t o

  de

 d i r e i t o ,

 ou,

m a i s e x a t a m e n t e , p o r e n c o n t r a r

  o

 c o n c e i t o d e d i r e i t o . T r a t a - s e

 d o

  p r o b l e

m a ontológico

em

  t o r n o

  do

  q u a l g i r a m , f u n d a m e n t a l m e n t e ,

  as

  d i s p u t a s

e n t r e j u s n a t u r a l i s t a s e p o s i t i v i s t a s . P a r a o s d e f e n s o r e s d o d i r e i t o n a t u r a l ,

 o

se r

  do

  d i r e i t o

  é o

  d i r e i t o j u s t o ,

  a idéiado

  d i r e i t o ; p a r a

  os

 partidários

do

p o s i t i v i s m o , o  s e r do d i re i to é o d i r e i t o p o s i t i v o , o d i r e i t o q u e e f e t i v a m e n

t e r e g e a s r e la ç õ e s e n t r e o s h o m e n s .

 O

  ju s n a t u r a l i s m o s u s t e n t a u m a c o n -

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78 O  DIREITO COMO TEXTO

c e p ç ã o

 metafísica

o u i d e a l i s t a d a o n t o l o g i a , e n q u a n t o o p o s i t i v i s m o

 jurí

d i c o s u s t e n t a u m a c o m p o s i ç ã o e m p i r i s t a d a m e s m a .

O d e b a t e o u c o n t r a p o s i ç ã o e n t r e j u s n a t u r a l i s m o e p o s i t i v i s m o

 jurí

d i c o é

 insolúvel

s e c o n c e b i d o e m t e r m o s e s t r e i to s , is t o é, c o m a a f i r m a ç ã o

d e q u e

  se uma coisa não é verdadeira, só pode ser falsa.

  É

 possíve

q u e o c a

m i n h o e s te j a n u m a t e r c e i r a v i a , d i s t i n t a d a q u e l a p r a t i c a d a p e l a s d u a s c o r

r e n t e s d o p e n s a m e n t o jurídico.S e o j u s n a t u r a l i s m o t e m r a z ã o q u a n d o

a f i r m a q u e o d i r e it o n ã o p o d e e s t a r d e s l i g a d o d a justiça,o p o s i t i v i s m o está

c o r r e t o q u a n d o s u s t e n t a q u e o d i r e i t o i n j u s t o

 também

é d i re i to . As duas

a f i r m a ç õ e s s ã o v e r d a d e i r a s , m a s e m p l a n o s d i s t i n t o s . S i t u a n d o - s e a q u e s

t ã o n o t e r r e n o p u r a m e n t e

 ontológico,

c h e g a - s e a u m b e c o s e m

 sada

p a r a

o j u s n a t u r a l i s m o o d i r e i t o é o

 j u s t o ,

  pa ra o pos i t i v i s m o é o fa to da regulação

r e a l ; p a r a o p r i m e i r o o d i r e i t o é idéia,p a r a o s e g u n d o é f a t o . N o s d o i s c a

s os o d i re i to é cons ide rado como uma ent idade , s e j a i dea l , s e j a rea l , mas ,

e m s u m a , c o m o u m a   coisa.  O c o n c e i t o j u s n a t u r a l i s t a e x i g e a i n t r o d u ç ã o

d a

 justiça

no d i re i t o , o conce i to pos i t i v i s t a ex ige a exc lus ão de l a nã o só do

c o n c e i t o , m a s d e t o d a c o n s i d e r a ç ã o científica( q u e p a r a o p o s i t iv i s m o e q u i

v a l e a t o d a c o n s i d e r a ç ã o

 séria,

já q u e o c o n h e c i m e n t o e m s e n t i d o e s t r i t o é

a c i ênc ia , e não a f i l os of i a ) .

D iante des t a mane i ra de ve r a s co i s as , que exige a adoção da de fes a

r a d i c a l d e u m a o n t o l o g i a  substancialista  ( o d i r e i t o s e r i a u m a substânca

q u e d e v e s e r i n v e s t i g a d a ) , a te o r i a d o d i r e i t o c o n t e m p l a o d i r e i t o c o m o u m

sistema de mensagens   ou , o que s igni f i ca a me s m a coi s a , co m o um s i s t em a

c o m u n i c a c i o n a l .

O d i r e i t o n ã o é u m a  coisa,  m a s u m m e i o d e c o m u n i c a ç ã o s o c i a l . É

u m s u b s i s t e m a s o c i a l c u j a f u n ç ã o c o n s i s t e n a o r g a n i z a ç ã o t o t a l d o s i s t e m a

s o c i a l p o r m e i o d a v e r b a l i z a ç ã o d a s i n s t i t u i ç õ e s , p o r m e i o d a e x p r e s s ã o

lingüística

d o s

 coneúdos

n o r m a t i v o s . É i n d i f e r e n t e , c o m o já v i m o s , q u e o

s i s t ema de s ignos em que o d i re i to de fa to s e expres s a s e j a um s i s t ema es

c r i t o ; poi s até me s m o na s oc iedad e ma i s pr im i t iva o d i re i to , co mo for rpa

d e o r g a n i z a ç ã o g l o b a l d a s o c i e d a d e e x p r e s s a e m c o s t u m e s , é passíved e

v e r b a l i z a ç ã o . Aémd i s s o , o d i r e i t o só p o d e t e r i m p l a n t a ç ã o s o c i al q u a n d o

s e u s

 destinaários

- q u e s ã o t o d o s o s m e m b r o s d e d e t e r m i n a d a s o c i e d a d e

- p o d e m e n t e n d e r s e u s

 coneúdos

v e r b a l i z a d o s . O d i r e i t o e x i s t e c o m o f e

nômeno

s o c i a l r e a l n a m e d i d a e m q u e o s m e m b r o s d a s o c i e d a d e a c a t a m

s u a s n o r m a s , o q u e e v i d e n t e m e n t e r e q u e r s u a préviap r o d u ç ã o v e r b a l i z a d a

0  QUE

 É

A TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

79

(alguémt e m q u e e m i t i r a m e n s a g e m : a a u t o r i d a d e ) e a

 prévia

c o m p r e e n

s ã o d e s t a ( o s m e m b r o s d a s o c i e d a d e d e v e m e s t a r d i s p o s t o s a e n t e n d e r ) .

M a s , a s s i m c o m o d i z e m o s d o d i r e i t o r e a l m e n t e e x i s t e n t e ( a o m e n o s d o s

o r d e n a m e n t o s h i s t o r i c a m e n t e c o n h e c i d o s ) , p o d e m o s d i z e r q u e t o d o d i

re i to

 possíve

só é

 imagnável

c o m o u m s i s t e m a d e m e n s a g e n s cu j a f u n ç ã o

s o c ia l é a o r g a n i z a ç ã o g l o b a l d a s o c i e d a d e e m s e u c o n j u n t o .

N ã o u t i l i z a m o s a p a l a v r a  mensagem  p o r c a p r i c h o . M e n s a g e m é o si g

n o d i r i g i d o a alguémp a r a m o v e r se u p e n s a m e n t o o u c o n d u t a e m d e t e r

m i n a d a d i r e ç ã o . O s i g n o é u m c o n c e i t o m a i s a m p l o , q u e c o m p r e e n d e o d e

m e n s a g e m . O s i g n o é t o d a m a n i f e s t a ç ã o e x t e r n a d e u m símboloo u s i g n i

f i c a d o . U m s i g n o p o d e s e r m e r a m e n t e e v o c a t i v o d e s e n t i m e n t o s o u a t i t u

d e s , o u m e s m o m e r a m e n t e d e s c r i t i v o d e a lg o o u r e f e r e n t e a a l g o . A

m e n s a g e m é u m t i p o

 especfico

d e s i g n o : é d i r i g i d a p o r s e u e m i s s o r a o d e s

tinatáriocom a f ina l idade de que e s t e capte s eu s ent ido , e a s s im s e e s t abe

leça

u m a c o m u n h ã o d e a ç ã o e n t r e a m b o s .

O d i r e i t o é u m c o n j u n t o d e

  mensagens prescritivas,

  e nã o des c r i t i va s ,

n a r r a t i v a s o u i n f o r m a t i v a s . O d i r e i t o n ã o t r a t a d e  informar,  m a s d e  orde

nar.  N o e n t a n t o , s e m p r e q u e o r d e n a i n f o r m a s o b r e a q u i l o q u e o r d e n a . A

i n f o r m a ç ã o , p o r c o n s e g u i n t e , s e e n c o n t r a n o

 íntimo

d o d i r e i t o c o m o

v e r b a l i z a ç ã o d a s i n s t i t u i ç õ e s o u c o m o s i s t e m a d e m e n s a g e n s ; m a s t a l i n

f o r m a ç ã o n ã o c o n s t i t u i a

 própria

e s s ê n c i a d o

 fenômeno

c o m u n i c a c i o n a l

q u e é o d i r e i t o , m a s s i m p a r t e e n v o l v i d a e m s u a f u n ç ã o p r i n c i p a l , q u e o b

v i a m e n t e é a d e o r g a n i z a ç ã o p r e s c r i t i v a d a s o c i e d a d e .

A s s i m , p o r e x e m p l o , a s n o r m a s q u e r e g u l a m o d i r e i t o d e

 famlia

d e

u m a s o c i e d a d e p r e s c r e v e m c o m o d e v e m s e r r e a l i z a d a s a s u n i õ e s m a t r i m o

nia i s ,

 q u a i s s ã o o s r e q u i s i t o s e x i g i d o s d o s c o n t r a e n t e s , q u a i s d i r e i t o s e d e

ve res t êm e m s ua re l ação recprocae em re l ação aos f i l hos , qua i s a s

 hpóeses

d e s e p a r a ç ã o o u divórcioe m e d i a n t e q u a i s r e q u i s i t o s e tc . E s s as n o r m a s n ã o

só p r e s c r e v e m f o r m a s i n s t i t u c i o n a i s e c o n d u t a s c o m o a i n d a , a o m e s m o

t e m p o e n e c e s s a r i a m e n t e , i n f o r m a m c o m o é a

 famlia

e m d e t e r m i n a d a

s o c i e d a d e . T a l i n f o r m a ç ã o s e d i r i g e , e m p r i m e i r o l u g a r , a o m e m b r o d a

s o c i e d a d e , q u e d e v e e n t e n d e r q u a i s s ã o s e u s d i r e i to s e d e v e r e s , q u a i s s ã o

o s c o m p o r t a m e n t o s q u e l h e s ão e x i g i d o s e q u a i s n ã o s ã o , q u a i s s ã o o s r e

q u i s i t o s q u e e s t a o u a q u e l a a ç ã o d e v e c u m p r i r e t c , p a r a p o d e r a d e q u a r

s u a c o n d u t a a e s s a s n o r m a s ; m a s , e m s e g u n d o l u g a r , q u a l q u e r o b s e r v a d o r

e x t e r n o p o d e i n f o r m a r - s e a r e s p e i t o d e c o m o é a famlian a s o c i e d a d e q u e

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8 O   DIREITO COMO TEXTO

estái n v e s t i g a n d o ,

 graças

e x a t a m e n t e à e x i s t ê n c i a d e s t e s is t e m a d e m e n s a

g e n s v e r b a l i z a d o e i n s t i t u c i o n a l i z a d o q u e é o d i r e i t o , e

 graças

a inda ao fa to

d e q u e n e s s e d i r e i t o c o n c r e t o e x i s t e u m capítulos o b r e o d i r e i t o d e

 famlia.

T a n t o p a r a o m e m b r o d a s o c i e d a d e s u b m e t i d o a o d i r e i to , c o m o p a r a o

o b s e r v a d o r e x t e r n o q u e só t e m a c u r i o s i d a d e - t a l v e z

 científica

- de s abe r

c o m o é o d i r e i t o d e s s a s o c i e d a d e , a q u e l e d i r e i t o s e m a n i f e s t a c o m o u m

c o n j u n t o d e m e n s a g e n s q u e a s o c i e d a d e a r t i c u l a p o r m e i o d o s m e c a n i s

m o s q u e e l a própriag e r o u p a r a c o n s e g u i r s u a a u t o - o r g a n i z a ç ã o .

Dzíamos, a inda , que o d i re i to é um s i s t ema de mens agens de

 caráer

prescritivo.   Is s o s igni f ica a f i rmar qu e s uas me ns ag ens pres c rev em ( i s to é,

o r d e n a m , m a n d a m , o r g a n i z a m , r e g u l a m , n o r m a t i z a m , p r e c e i t u a m ) ; s u a

função não é des c reve r , conta r , na r ra r , evoca r , s uge r i r , i ns inua r , acons e lha r ,

roga r e t c . Pode s e r que alguému t i l i z e a s n o r m a s d e u m o r d e n a m e n t o

 jurí

d i c o p a r a , p o r e x e m p l o , d e s c r e v e r o u n a r r a r c o m o é d e t e r m i n a d a i n s t i t u i

ção ,

  ou pa ra s uge r i r que t a l i ns t i t u i ção s e j a adotada em s ua s oc iedade ; pode

s e r q u e u m s u j e it o d e c o m u n i c a ç ã o i n s i r a a m e n s a g e m p r e s c r it i v a e m a l g u m

c o n t e x t o n ã o p r e s c r i t i v o . I s t o n ã o n o s i m p e d e d e i n s i s t i r e m s e u

 caráer

pres c r i t i vo originário.O d i r e i t o

 continuará

s e n d o u m s i s t e m a d e m e n s a g e n s

p r e s c r it i v a s m e s m o s e e m o u t r o t e x t o c o m u n i c a c i o n a l ( c o m o o d e u m j o r

n a l i st a q u e i n f o r m a , o u d e u m h i s t o r i a d o r q u e c o n t a ) o s m e s m o s coneúdos

n o r m a t i v o s q u e a l i t i n h a m

 caráer

pres c r i t i vo s e conver t e rem - em razão do

c o n t e x t o e m q u e s e e x p r e s s a m - e m o u t r o t i p o d e d i s c u r s o ( in f o r m a t i v o o u

nar ra t iv o) . Pois , de fato , nem o jorna l i s t a orden a coi sa a lguma (não enq uan to

j o r n a l i s t a , m a s s i m e n q u a n t o d i r e t o r d e u m j o r n a l ; m a s , n e s t e ca s o , t r a n s

f o r m a - s e e m

  autoridade  jurídica

e m r e l a ç ã o a s e u s s u b o r d i n a d o s , a o s q u a i s

estáu n i d o p o r u m a r e l a ç ã o jurídico-trabalhista),mas informa ; e s eque r o

h i s t o r i a d o r i m p õ e n o r m a s d e c o n d u t a , m a s s e l i m i t a a n a r r a r a f o r m a c o m o ,

s e g u n d o c r ê , o c o r r e r a m e f e t i v a m e n t e o s f a t o s.

E m r e s u m o , o d i r e i t o é u m s i s t e m a d e c o m u n i c a ç ã o p r e s c r i t i v o , o u ,

p a r a

 expressá-lo

c o m a s p a l a v r a s d a s c o n c e p ç õ e s t r a d i c i o n a i s , u m s i s t e m a

d e c o m u n i c a ç ã o i m p e r a t i v o . S u a f u n ç ã o

 inrínseca

é o r d e n a r a v id a c o l e

t i v a , e e s p e c i a l m e n t e o r d e n a r a s a ç õ e s o u c o n d u t a s h u m a n a s . O d i r e i t o s e

d e s t i n a , d i r e t a o u i n d i r e t a m e n t e , a r e g u l a r ( p a l a v r a q u e v e m d e  regula,  r e

g r a ) a a ç ã o d o s h o m e n s e m s o c i e d a d e . O d i r e i t o n ã o t e r i a s e n t i d o s e m e s t a

caracerística

d e c o n s t i t u i r u m s i s t e m a r e g u l a d o r d a s a ç õ e s h u m a n a s , p o r

q u e s e u s e n t i d o

 intrínseco

o u n a t u r a l é e x a t a m e n t e e s s e , r e g u l a r a s a ç õ e s

O   QUE ÉA TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

81

h u m a n a s . É v e r d a d e q u e n e m t o d o s o s e l e m e n t o s d o d i r e it o c o n t e m p l a m

d i r e t a m e n t e a a ç ã o p a r a regulá-la.P e n s e m o s , p o r e x e m p l o , n a s c h a m a d a s

n o r m a s o r g a n i z a d o r a s , o u s e j a , a s n o r m a s c u j o o b j e t o é a o r g a n i z a ç ã o d e

i n s t i t u i ç õ e s o u ó r g ã o s i n s t i t u c i o n a i s , c o m o o c o r r e c o m g r a n d e p a r t e d a s

n o r m a s d e d i r e i t o a d m i n i s t r a t i v o , c u j o o b j e t o d i r e t o n ã o é r e g u l a r a a ç ã o

h u m a n a , m a s a r t i c u l a r o s i s t e m a d e p o d e r e s d o E s t a d o e m s e u s

 mnimos

d e t a l h e s d e o r g a n i z a ç ã o . P o i s b e m : a i n d a q u e t a i s n o r m a s d e o r g a n i z a ç ã o

n ã o e s t e j a m d i r i g i d a s d i r e t a m e n t e a d i s c i p l i n a r a a ç ã o d o s h o m e n s n a s o

c i e d a d e , a p e s a r d e n ã o e x p r e s s a r e m d i r e t a m e n t e n a d a q u e a s p o s s a r e l a c i o

n a r à a ç ã o , é

 indiscutível

que só

 acançam

s e u p l e n o s e n t i d o q u a n d o

c o n e c t a d a s a o s e n t i d o

 intrínseco

f u n d a m e n t a l d e t o d o d i r e i t o , q u e é e x a

t a m e n t e a r e g u l a ç ã o d a s c o n d u t a s . T a i s n o r m a s d e o r g a n i z a ç ã o c o n s t i t u e m

o p r e s s u p o s t o , a c o n d i ç ã o , o prius  em re l ação à s ações conc re t a s rea l i zada s

p e l o s ó r g ã o s d a a d m i n i s t r a ç ã o e

 também

p e l o s a d m i n i s t r a d o s . A o a r t i c u

l a r o s ó r g ã o s e s u a s c o m p e t ê n c i a s , a s s i m c o m o o s p r o c e d i m e n t o s p a r a

d e c i d i r , t o r n a m possívea a ç ã o a d m i n i s t r a t i v a ; e d e ig u a l m a n e i r a t o r n a m

possíve

o vínculoe n t r e o s a d m i n i s t r a d o s e a a d m i n i s t r a ç ã o n a s

 possíves

a ç õ e s d o s p r i m e i r o s e m r e l a ç ã o a o s p o d e r e s d e s t a última.A direção  i n t e r

n a d o t e x t o

 jurídico,

d o o r d e n a m e n t o

 jurídico

e m s e u c o n j u n t o , é , c o n s e

qüenemenees t a : ordenação da v ida em s oc iedade , o que s upõe d i s c ip l ina r

a c o n d u t a h u m a n a . O d i r e i t o é e n t ã o , c o m o d i s s e m o s , u m s i s t e m a d e m e n

s agens cu jo s igni f i cado

 unitário

é pres c r i t i vo .

P res c reve r é uma das mui t a s funções possívesd a l i n g u a g e m . P o r m e i o

d a s p a l a v r a s r e a l i z a m o s a ç õ e s ( n ã o  coisas,  c o m o d i z o

 lingüistaJ. AUSTIN)

2

.

A s s i m , p o r m e i o d a s p a l a v r a s r o g a m o s , s u p l i c a m o s , d e s c r e v e m o s , c o n t a

m o s ,

  n a r r a m o s , i n s u l t a m o s , p e r g u n t a m o s , c e n s u r a m o s , i n s i n u a m o s , s u

g e r i m o s , p e r d o a m o s , f e r im o s , e n a l t e c e m o s , a d u l a m o s , e x p r e s s a m o s n o s s o

a m o r o u n o s s o ódio,i n f o r m a m o s , d e l a t a m o s , d e n u n c i a m o s , j u l g a m o s ,

d e c i d i m o s , c o n v e n c e m o s , r e c o m e n d a m o s , a c o n s e l h a m o s , a d v e r t i m o s , d e

m o n s t r a m o s s u r p r e s a , a d m i r a ç ã o , e n fa d o , c o n t e n t a m e n t o , d e p r e s sã o , m a l

h u m o r , d e c l a r a m o s g u e r r a , f a z e m o s a s p a z e s , d e c l a r a m o s o a m o r , d e s a f ia

m o s e t c . O s lingüistass e o c u p a m p r o p o n d o c l a ss i f ic a ç õ e s d a s

 várias

f u n -

2

 Re f i ro -m e à su a c o n h e c i d a o b ra

  How to do things with w ords,

  O x fo rd , 1 9 6 2 .

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82

O   DIREITO COMO TEXTO

ç õ e s d a l i n g u a g e m , d e m a n e i r a q u e t o d a s a s possívesações que rea l i za

m o s

 aravés

d a s p a l a v r a s s e e n c a i x e m e m a l g u m m o d e l o o u

 famlia.

D e i

xa remos de l ado e s s as c l a s s i f i cações (de re s to , mui to in t e res s antes ) , po i s

n o s é s u f ic i e n t e c h a m a r a a t e n ç ã o p a r a o f a t o d e q u e a f u n ç ã o p r e s c r i t iv a

d a l i n g u a g e m é u m a d e s u a s f u n ç õ e s , a o l a d o d e váriaso u t r a s , e q u e , p o r

c o n s e g u i n t e , u m s i s t e m a d e m e n s a g e n s c o m o o d i r e i t o s e i n s e r e ne s s a f u n

ç ã o , e n ã o e m q u a l q u e r o u t r a .

É

 freqüene

a p u r a e s i m p l e s c o n t r a p o s i ç ã o d a l i n g u a g e m p r e s c r i t i v a

à d e s c r it i v a , c o m o s e e s s a c o n t r a p o s i ç ã o e s g o t a s s e o p a n o r a m a v a r i a d o d a s

f u n ç õ e s d a l i n g u a g e m . D e f a t o , o d i r e i t o p r e s c r e v e , e n ã o d e s c r e v e ; m a s

t a m p o u c o r e a l i z a o u t r a s f u n ç õ e s q u e n ã o s e j a m p r e s c r e v e r o u d e s c r e v e r .

O p a n o r a m a d a s f u n ç õ e s d a l i n g u a g e m é m u i t o e x t e n s o e n ã o p o d e s e r

r e d u z i d o à d i c o t o m i a m e n c i o n a d a . P o r e x e m p l o , s u g e r i r n ã o é n e m p r e s

c r e v e r n e m d e s c r e v e r; p e r g u n t a r n ã o é n e m p r e s c r e v e r , n e m d e s c r e v e r ( a i n

d a q u e à s v e z es t e n h a r e l a ç ã o c o m p r e s c r i ç õ e s o u d e s c r i ç õ e s ) . M a s , s e n d o

c e r t o q u e o d u a l i s m o p r e s c r i ç ã o - d e s c r i ç ã o o c u p o u m u i t a s

 págnas

da fi

l os of i a da l i ngua gem e da f il osof ia do d i re i to , por s ua importânciacapi t a l

e

 indiscutível,

p a r e c e c o n v e n i e n t e q u e n o s d e t e n h a m o s a l g u n s m o m e n t o s

pa ra re f l e t i r s obre e s s a cont rapos i ção .

N a t e o r i a d o d i r e i t o d o p o s i t i v i s m o n o r m a t i v o , a diferençae n t r e

pres c r i t i vo e des c r i t i vo t em re l ação d i re t a com a d i s t i nção teóricae n t r e n o r

m a e lei

 científico-natural.

A s s i m : a n o r m a p r e s c r e v e u m a c o n d u t a , e n q u a n

to a lei

 científico-natural

d e s c r e v e u m a c o n t e c i m e n t o d a n a t u r e z a ( o u

m e l h o r : u m a c o n t e c i m e n t o

 típico

d a n a t u r e z a , a r e g u l a r i d a d e d e u m a c o n

t e c i m e n t o n a t u r a l ) . S e r i a u m e x e m p l o d e n o r m a d e e x p r e s s ã o : n ã o d e v e s

m e n t i r , o u e s ta o u t r a : a o l a d r ã o s e d e v e i m p o r u m a s a n ç ã o p r o p o r c i o n a l

a o v a l o r r o u b a d o e à

 força

ou v io l ênc ia que ha j a exe rc ido s obre a s co i s as

o u p e s s o a s p a r a c o m e t e r o r o u b o . E m c o n t r a p o s i ç ã o a e s t a s , s e r i a u m a

expres s ão de l e i

 científico-natural

a q u e d i z : u m c o r p o l i v re d e i x a d o n o

vácuo

c a i c o m u m a v e l o c i d a d e q u e p o d e s e r c a l c u l a d a d e a c o r d o c o m d e

t e r m i n a d a

 fórmula ,

poi s é

 caracerística

d a s l e i s f o r m u l a d a s p e l a s c i ê n

c i a s d a n a t u r e z a a p o s s i b i l i d a d e d e e x p r e s s ã o e m fórmulas maemáicas

I s s o reve la que , como diz i a   GALI LEU, a na ture za é um l ivro e s c r i to em l in

g u a g e m

 maemáica

S o b r e e st a c o n t r a p o s i ç ã o e l e m e n t a r e n t r e n o r m a e l ei

 científico-na

t u r a l , o p o s i t i v i s m o n o r m a t i v i s t a

 constrói

b o a p a r t e d e s u a s c o n c e p ç õ e s .

0  QUE É  A  TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

83

T e m e s p e c i a l d e s t a q u e a c o n t r a p o s i ç ã o p a r a l e l a e n t r e s er e  dever ser.  As leis

científico-naturais

des c revem o s e r , o que acontece na na tureza , o que acon

t e c e d i a n t e d e n o s s o s o l h o s e p o d e , p o r t a n t o , s e r o b s e r v a d o e v e r i f i c a d o .

P o r s u a v e z , a s c iê n c i a s n o r m a t i v a s d e s c r e v e m o d e v e r s e r , n ã o o q u e a c o n

t e c e , m a s o q u e d e v e a c o n t e c e r . O s e r é o m u n d o o u r e i n o d a f a c t i c i d a d e ,

e n q u a n t o o d e v e r s e r é o m u n d o o u r e i n o d a n o r m a t i v i d a d e . F a t o e n o r m a

s ão os doi s

 póos

e m t o r n o d o s q u a i s d e v e g i ra r t o d a a e s p e c u l a ç ã o . O u a

c i ênc ia s e l imi t a a des c reve r fa tos ou s e l imi t a a des c reve r normas . No pr i

me i ro cas o e s t amos d i ante das c i ênc ia s fac tua l i s t a s ou caus a l i s t a s , enquanto

n o s e g u n d o n o s s i t u a m o s d i a n t e d a s c i ê n c i a s n o r m a t i v a s . O b v i a m e n t e , a

c o n t r a p o s i ç ã o a p o n t a d a s e a p li c a p e r f e i t a m e n t e a o d i r e i t o e à ci ê n c i a

 jurí

d i c a . O d i r e i t o s e r i a u m c o n j u n t o d e n o r m a s q u e e x p r e s s a m o d e v e r s e r, e

a c i ê n c i a d o d i r e i t o u m a c i ê n c i a d e s c r i t i v a d a s n o r m a s . C o m b a s e n a d i s

t i nção ent re s e r e deve r s e r s e a r t i cu l a a diferençae n t r e l i n g u a g e m d e s c r i

t i v a e l i n g u a g e m p r e s c r i t i v a . A s l e i s

 científico-naturais

d e s c r e v e m , a s

n o r m a s p r e s c r e v e m . A s p r i m e i r a s e x p r e s s a m o s e r , e n q u a n t o a s s e g u n d a s

expres s am o deve r s e r .

A i n d a q u e e s t e q u a d r o s e j a v e r d a d e i r o , n ã o é i n t e i r a m e n t e  aceitável.

P r i m e i r o , p o r q u e o d e s c r i t i v o n e m s e m p r e é n e c e s s a r i a m e n t e d e s c r i ti v o d e

a l g o fa c t u a l . S e g u n d o , p o r q u e a c o n t r a p o s i ç ã o d e s c r i t iv o - p r e s c r i ti v o n ã o e s

gota o campo das funções expres s ivas da l i nguagem. Terce i ro , porque ac re

d i t a r que toda norma s e expres s a s ob a forma de deve r s igni f i ca reduz i r

d e s n e c e s s a r i a m e n t e a h e t e r o g e n e i d a d e lingüísticad a s n o r m a s jurídicasa u m

de s eus t i pos . D iante des s as t e s es , s us t en ta das pe lo pos i t i v i s mo norm at iv i s t a ,

a t eor i a do d i re i to por nós prop os t a s e a s s enta nas

 idéas conrárias:

e m p r i

me i ro luga r , o des c r i t i vo não s e e s gota na des c r i ção do fac tua l ; em s egundo,

a cont rapos i ção des c r i t i vo-pres c r i t i vo

 é

 básicam a s n ã o e s g o ta o c a m p o f u n

c iona l expres s ivo da l i nguag em; e t e rce i ro , d i an te da t e s e da uni form idad e

lingüística

das regras

 jurídicas

- t e se s e g u n d o a q u a l a s n o r m a s

 jurídicas

s ão

p r o p o s i ç õ e s d e d e v e r - , é

 necessário

d e s t a c a r q u e o d i r e i t o t e m n o r m a s d e

c o n f i g u r a ç ã o

 lingüística

mui to d ive rs i f i cadas , e não apenas propos i ções de

dever s e r . Expl i ca remos , em s eguida , o

 coneúdo

des t e s pontos .

D e s c r e v e r n ã o s e e s g o t a n a f u n ç ã o d e d e s c r e v e r o f a c tu a l , p o r q u e n ã o

s e p o d e c o n f u n d i r o f a ct u a l c o m o e x i s t e n t e . O f a c t u al é u m a p a r t e d o e x i s

t e n t e , m a s n e m t u d o o q u e e x i s t e p o d e s e r t r a d u z i d o e m f a t o s . A s s i m , o s

númerose x i s t e m , m a s n ã o s ã o fa t o s; d a m e s m a f o r m a , o o b j e t o i m a g i n a -

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84

O  DIREITO COMO TEXTO

do pe la fan ta s i a ex i s t e (como fantas i a ) , mas não é um fa to (a inda que s e j a

um fa to pens a r em t a l obje to) . Se des c revo os ca rac t e res e s s enc ia i s da com

p r a e v e n d a , c o m b a s e n o p r e c e i t o l e g al q u e o f e r e ce s e u c o n c e i t o , t a m p o u c o

e s t a r e i d e s c r e v e n d o u m a r e a l i d a d e

 fática,

m a s u m c o n c e i t o , já q u e e s t a b e

l e c e r u m c o n c e i t o é d e s c r e v e r s u a s n o t a s e s s e n c i a i s . Q u e r e m o s d i z e r , c o m

tod os e s t e s exem plos , qu e a des c r i ç ão não s e e s gota na des c r i çã o do fac tua l ,

m a s é u m a o p e r a ç ã o i n t e l e c t u a l m a i s a m p l a , q u e d i z r e s p e i t o a a t i v i d a d e s

m e n t a i s b a s t a n t e d i v e r s i f i ca d a s ; e q u e , e m c o n s e q ü ê n c i a , a d u a l i d a d e d e s -

c r i t i v o - p r e s c r i t i v o n ã o é e x a t a m e n t e p a r a l e l a à d u a l i d a d e f a t o - n o r m a .

E m s e g u n d o l u g a r , afirmávamosq u e a d u a l i d a d e d e s c r i t i v o - p r e s -

c r i t i v o n ã o e s g o t a o c a m p o d e f u n ç õ e s e x p r e s s i v a s d a l i n g u a g e m . A i n d a

q u e a d e s c r i ç ã o e a p r e s c r i ç ã o c o n s t i t u a m , s e m dúvida,d u a s d a s m a i s i m

p o r t a n t e s f u n ç õ e s d a li n g u a g e m , há a i n d a m u i t a s o u t r a s . C o m a l i n g u a

g e m p o d e m o s d e s c r e v e r e p r e s c re v e r , m a s

 também

p o d e m o s r o g a r , i n si n u a r ,

a c l a m a r , p e r g u n t a r , c h a m a r , i n s u l t a r e t c . P o r t a n t o , n ã o p o d e m o s v e r n a s

f u n ç õ e s e x p r e s s i v a s d a l i n g u a g e m a p e n a s a d u a l i d a d e d a d e s c r i ç ã o e d a

p r e s c r i ç ã o , e m b o r a e s t a s s e j a m d u a s f u n ç õ e s i m p o r t a n t e s . A l i n g u a g e m é

m u i t o m a i s c o m p l e x a q u e i s s o .

P o r

 último,

o p o n t o q u e m a i s n o s i n te r e s s a : n o d i r e i t o , n e m t u d o s ã o

p r o p o s i ç õ e s lingüísticasde s e r ou de deve r s e r . Es t a idéia( d e q u e a s n o r

m a s jurídicass e m p r e e x p r e s s a m d e v e r ) é c o n s t a n t e n o p o s i t i v i s m o

n o r m a t i v i s t a , q u e provémd a a d o ç ã o d o s e s q u e m a s c o n c e i t u a i s d a t e o r i a

éticae d e se u c o n s e g u i n t e avanços obre a t eor i a do d i re i to . De fa to , pa r t in

d o d a c o n c e p ç ã o d e q u e o d i r e i t o e a m o r a l s ã o s i s te m a s n o r m a t i v o s c o m

a m e s m a e s t r u t u r a d e f u n d o , a i n d a q u e s e r e f i r a m a r e a l i d a d e s d i v e r s a s

( b i l a t e r a l i d a d e - u n i l a t e r a l i d a d e , e x t e r i o r i d a d e - i n t e r i o r i d a d e ) , n ã o há n e

n h u m m o t i v o p a r a diferenciá-lose n t r e s i c o m b a s e a p e n a s e m s u a e s t r u

t u r a . A m o r a l s e r ia u m c o n j u n t o d e n o r m a s , i s to é, d e p r o p o s i ç õ e s d e d e v e r

s e r de

 caráer

m o r a l , e n q u a n t o o d i r e i t o s e r i a - p a r a l e l a m e n t e - u m c o n

j u n t o d e p r o p o s i ç õ e s d e d e v e r se r d e

 caráer

 jurídico.

Res s a lvadas d i fe ren

ças em a lgu ns a s pec tos (a no rm a

 jurídica

s e r i a coa t iva e a mora l não , ou

p e l o m e n o s n ã o d e f o r m a t ã o c l a r a ) , o s d o i s s is t e m a s e s t a r i a m c o m p o s t o s

p o r n o r m a s d e i g u a l e s t r u t u r a básicas u a s n o r m a s s ã o e x p r e s s õ e s d e d e

v e r . A a r g u m e n t a ç ã o , e n t ã o , s e a j u s t a a s s i m : o d i r e i t o , c o m o o s r e s t a n t e s

s i s t e m a s n o r m a t i v o s ( p o r e x e m p l o , a m o r a l ) , é u m s i s t e m a d e n o r m a s ; a s

normas expres s am o deve r ou o deve r s e r ; o que não é deve r , ou deve r s e r ,

0 QUE ÉA TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

85

é s e r ; l ogo , a rea l idade estád i v i d i d a e m d u a s p a r t e s : o m u n d o d o s e r e o

m u n d o d o d e v e r s e r , i s t o é , o m u n d o d o s f a t o s e o m u n d o d a s n o r m a s . A

a r g u m e n t a ç ã o c i r c u l ar s e f e c h a, c o m i s s o , n u m o n t o l o g i s m o s u b s t a n c i a li s t a

s i m p l i f i c a d o r . M a s t a l a r g u m e n t a ç ã o n ã o d e m o n s t r a o p o n t o d e p a r t i d a ,

n ã o d e m o n s t r a q u e t o d a s a s n o r m a s d o d i r e i t o s ã o n e c e s s a r i a m e n t e e x

p r e s s õ e s d e d e v e r . P a r t e - s e r i g o r o s a m e n t e d a h o m o g e n e i d a d e

 lingüística

d a s n o r m a s ( t o d a s s ã o , per definitionem,  e x p r e s s iv a s d e d e v e r ) ; p o r t a n t o , o

m e s m o

 ocorrerá

c o m a s n o r m a s

 jurídicas:

s e r ã o

 também

expres s ivas de

d e v e r s e r , a s s i m c o m o t o d o s o s o u t r o s t i p o s d e n o r m a s . O d i r e i t o f az , a s

s i m , p a r t e d e u m m u n d o d i f e r e n c i a d o , q u e é o m u n d o d o d e v e r se r , c o n

t r a p o s t o a o m u n d o d o s e r .

E s t a d u a l i d a d e

 ontológica

f oi d i f u n d i d a p o r   KELSEN,  e m b o r a s e ja

 pró

p r i a d e t o d o o n e o k a n t i s m o e e s t i v e s s e n o a m b i e n t e i n t e l e c t u a l d a

 época

c o m o u m a

 crençaindiscutível.

Esta

 crença acança

n o s s o s d i a s , a i n d a q u e

c o m m e n o s

 força.

P o d e m o s d i z e r q u e a s n o v a s t e n d ê n c i a s

 anaíticas

d e s

truíram

o m e n c i o n a d o o n t o l o g i s m o , e s p e c i a l m e n t e a t e o r i a d a s r e g r a s

c o n s t i t u t i v a s , i s t o é , d a s r e g r a s q u e n ã o e x i g e m c o m p o r t a m e n t o s , m a s s e

l i m i t a m a c o n s t i t u i r o u c r i a r o s e l e m e n t o s e s t r u t u r a i s d o o r d e n a m e n t o

jurídico, t a i s c o m o s u j e i t o s e c o m p e t ê n c i a s . P o r e x e m p l o , a n o r m a jurídi

c a q u e p r e s c r e v e s e r e m m a i o r e s d e i d a d e a q u e l e s q u e c o m p l e t a r a m  18  a n o s

n ã o e x ig e n e n h u m c o m p o r t a m e n t o , l i m i t a n d o - s e a c o n s t i t u ir o u p r e s c r e

ve r qua i s s ão os s u j e i tos

 jurídicos

c o m p l e n a c a p a c i d a d e p e r a n t e o d i r e i t o .

A n o r m a d i z :  são  maiores . . . , e não  devem ser; as s im, bas t a t e r ma i s de 18

a n o s p a r a s e r m a i o r d e i d a d e p a r a o d i r e i to , c o m a s c o n s e q ü ê n c i a s q u e e s t a

c o n d i ç ã o r e p r e s e n t a . T o d a s a s n o r m a s q u e d e l i m i t a m o âmbitoes pac ia l do

o r d e n a m e n t o

 jurídico

( s e r i a ma i s exa to d i ze r os

 âmbtos

es pac ia i s , po i s ,

a o l ad o d o o r d e n a m e n t o

 jurídico

d e u m E s t a d o e m s e u c o n j u n t o , e s t ã o o s

âmbtos

e s p a c i a i s d a s d i v e r s a s a d m i n i s t r a ç õ e s q u e o i n t e g r a m : a s s i m , a s

a d m i n i s t r a ç õ e s d a s C o m u n i d a d e s

 Autônomas,

d a s

 Povncas

e d o s M u

nicípios t ê m s e u próprio âmbitoe s p a c i a l ) ; i g u a l m e n t e o âmbitoo u

 âmbi

t o s t e m p o r a i s ( e x i s t ê n c i a t e m p o r a l d o o r d e n a m e n t o e m s e u c o n j u n t o , e

d e c a d a n o r m a o u a t o

 jurídico

e m p a r t i c u l a r ) ; a s n o r m a s o r g a n i z a d o r a s

q u e d e t e r m i n a m o s su j e i to s d a s a ç õ e s e d e c i s õ e s jurídicase qua i s s ão s uas

c o m p e t ê n c i a s

 também

n ã o s ã o n o r m a s e x p r e s s i v a s d e d e v er , p o r q u e a e l a s

s e a d a p t a m e l h o r o v e r b o  ser  q u e o v e r b o d e v e r . D e n t r o d a c o m p e t ê n c i a ,

q u e n ã o é m a i s q u e o c o n j u n t o d e a ç õ e s susceívesd e r e a l i z a ç ã o p o r u m

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86

O   DIREITO COMO TEXTO

s u je i to de d i re i to , t êm es pec ia l re l evo a s ações que t a l s u j e i to  pode  real izar,

t e m   poder  pa ra rea l i za r , mas em re l ação a out ra s teráp o d e r , e n ã o d e v e r

( p o r e x e m p l o , o C o n s e l h o d e M i n i s t r o s p o d e c o n c e d e r i n d u l t o , m a s n ã o

t e m q u a l q u e r d e v e r d e f a z ê - l o ) . É e v i d e n t e q u e e s t a s n o r m a s n ã o p o d e m

s e r c o n s i d e r a d a s c o m o e x p r e s s ã o d e d e v e r, já q u e p o d e r -e m s e u s e n t i d o

a m p l o -e d e v e r s e e x c l u e m . A l g o s e m e l h a n t e o c o r r e c o m a s n o r m a s

p r o c e d i m e n t a i s , i s t o é , c o m a s n o r m a s q u e p r e s c r e v e m u m d e t e r m i n a d o

p r o c e d i m e n t o p a r a q u e o a t o q u e s e d e s e j a p r a t i c a r s e j a

 válido

p a r a o d i

re i to (ou s e j a , pa ra que o a to a l cance a qua l idade de   ato com existência  ju

rídica).

  P o r e x e m p l o , a n o r m a q u e e s t a b e l e ce o p r o c e d i m e n t o a s e r s e g u i d o

p a r a c o n t r a i r

 matrimônio

(apres enta r - s e ao ju i z s e o cas amento for c iv i l ,

p r o n u n c i a r d e t e r m i n a d a s p a l a v r a s d e c o n s e n t i m e n t o , a s s i n a r o l i v r o e t c . )

n ã o e s ta b e le c e p r o p r i a m e n t e n e n h u m d e v e r (o c o n t r a e n t e n ã o t e m o d e

ve r de s e cas a r , i s to é , cas a -s e porque que r ) , mas s e l imi t a a pres c reve r os

a t o s o u r e q u i s i t o s p r o c e d i m e n t a i s

 necessários

p a r a q u e o

 matrimônio

efe

t i v a m e n t e s e ja c e l e b r a d o . O s c o n t r a e n t e s n ã o t ê m o d e v e r d e s e c a s a r, m a s

se  p r e t e n d e m s e c a s a r  têm que  s egui r os pas s os procedimenta i s que a l e i

l h e s i m p õ e . N ã o há o u t r o remédio.N ã o é c o r r e t o d i z e r q u e t ê m o d e v e r d e

i r a o j u i z e p r o n u n c i a r d e t e r m i n a d a s p a l a v r a s d e c o n s e n t i m e n t o ; p o r q u e

n a r e a l i d a d e n ã o t ê m n e n h u m d e v e r ; a n o r m a p r o c e d i m e n t a l l h e s e x i g e o

c u m p r i m e n t o d o s r e q u is i to s n ã o c o m o u m d e v e r , m a s c o m o a l g o necessá

r i o p a r a q u e o a t o s ej a j u r i d i c a m e n t e válido,ou s e j a , pa ra que o

 matrimô

nio t enha exi s t ênc ia

 jurídica.

J u n t o à s n o r m a s c u ja e x p r e s s ã o m a i s a d e q u a d a

s e p r o d u z m e d i a n t e o s v e r b o s s e r ,  poder  e  ter que  e s t ã o , s e g u r a m e n t e , a s

n o r m a s jurídicasexpres s ivas de dever,  q u e s ã o a s n o r m a s q u e e x i g e m u m a

c o n d u t a -q u a l i f i c a d a c o m o c o n d u t a

 lícita

 -e cas t igam a contrária -a

c h a m a d a c o n d u t a

 ilícita.

P o r e x e m p l o , a n o r m a

 jurídica

q u e

 probe

o h o

mcídioes t abe lece o deve r de re s pe i t a r a v ida a lhe i a ( re s pe i t a r a v ida a lhe i a

é c o n d u t a

 lícita)

e c a s t i g a a q u e l e q u e n ã o a re s p e i t a , i m p o n d o - l h e u m a

s a n ç ã o ( n ã o r e s p e i t a r a v i d a a l h e i a é a c o n d u t a

 ilícita).

E s t e b r e v e r e s u m o é s u f i c i e n t e p a r a c o m p r e e n d e r q u e r e d u z i r o d i

r e i t o a n o r m a s q u e a p e n a s e x p r e s s a m o d e v e r é u m a s i m p l i f i c a ç ã o d i f ic i l

m e n t e

 conciliável

c o m a v e r d a d e i r a n a t u r e z a

 lingüística

d o s o r d e n a m e n t o s

jurídicos.

U m a

 anáise

d e s p i d a d e p r e c o n c e i t o s e s t e r e o t i p a d o s , q u e p e n e

t r e n a l i n g u a g e m d o d i r e i t o p a r a e x t r a i r s u a s f o r m a s , t e m a o b r i g a ç ã o d e

r e c o n h e c e r a h e t e r o g e n e i d a d e lingüísticad a s n o r m a s jurídicas.

0 QUE É A TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

87

C o m i s s o , p o d e m o s c o n c l u i r d i z e n d o : o d i r e i t o é u m s i s t e m a d e c o

m u n i c a ç ã o , c u j a s u n i d a d e s d e m e n s a g e m s ã o a s n o r m a s . T r a t a - s e d e u m

s i s t e m a d e c o m u n i c a ç ã o p r e s c r i t i v o , o r d e n a d o r , r a z ã o p e l a q u a l s u a s u n i

d a d e s e l e m e n t a r e s ( a s n o r m a s ) s ã o e x p r e s s õ e s lingüísticaspres c r i t i vas . A

anáised e t a i s n o r m a s r e v e l a s u a h e t e r o g e n e i d a d e lingüística( e m o p o s i

ç ã o à t r a d i c i o n a l idéiad a h o m o g e n e i d a d e d e t o d a s a s n o r m a s c o m o n o r

mas de deve r s e r ) . O d i re i to é , alémd i s s o , u m s i s t e m a d e c o m u n i c a ç ã o

i n s t i t u c i o n a l i z a d o e c o a t iv o , e a q u i s e d i f e r e n c i a r a d i c a l m e n t e d a m o r a l

( a i n d a q u e o d i r e i t o n ã o p o s s a c o n t r a r i a r a m o r a l e l e m e n t a r ) .

9 QUAL  É A UNIDADE ELEMENTAR DO DIREITO?

O d i r e i t o é o r d e n a m e n t o . O c o n c e i t o d e o r d e n a m e n t o o c u p a l u g a r

cent ra l no conce i to da t eor i a do d i re i to . Todas a s s uas re f l exões e i nves t i

g a ç õ e s t ê m c o m o o b j e t o o o r d e n a m e n t o

 jurídico

e m s e u c o n j u n t o , o u p e l o

m e n o s u m a p a r t e o u u m a s p e c t o d e l e . S e m a idéiad e o r d e n a m e n t o , é

 fácil

p e r d e r o f o c o d o s p r o b l e m a s e o f e r e c e r r e s p o s t a s i n a d e q u a d a s p a r a e l e s .

T o d a r e a l i d a d e r e la c i o n a d a a o d i r e i t o p re c i s a e s t a r u n i d a a u m o r d e n a m e n t o

jurídico

(ou a vários).A s n o r m a s jurídicassã o jurídicase x a t a m e n t e p o r

q u e p e r t e n c e m a u m d e t e r m i n a d o o r d e n a m e n t o

 jurídico;

e o c o r r e e x a t a

m e n t e o m e s m o c o m a s i n s t i t u i ç õ e s jurídicase c o m a s d e c i s õ e s q u e

p r o d u z e m d e t e r m i n a d o s a t o s

 jurídicos

o u q u e c r i a m n o v a s n o r m a s . N ã o

é

 possíve

e n t e n d e r n a d a n o d i r e i t o p r e s c i n d i n d o d a r e a l i d a d e d o

o r d e n a m e n t o

 jurídico.

U m a n o r m a

 jurídica

i s o l ada é a lgo que t a lvez nos

s a m e n t e p o s s a i m a g i n a r , m a s q u e n ã o e x i st e n a r e a l i d a d e : n ã o há n o r m a s

jurídicas q u e n ã o façamp a r t e d e u m o r d e n a m e n t o , a s s i m c o m o n ã o há

céuas

q u e n ã o façamp a r t e d e u m o r g a n i s m o . P o r i s so , d i z e m o s q u e o

d i r e i t o é u m   conjunto  d e n o r m a s . É t e o r i c a m e n t e

 possíve

p e n s a r n a e x i s

t ê n c i a d e u m o r d e n a m e n t o c o m p o s t o p o r u m a únican o r m a

 jurídica,

a s

s i m c o m o h á o r g a n i s m o s u n i c e l u l a r e s . T r a t a - s e d e u m a

 hpóesefictícia,

m a s

 imaginável,

u m o r d e n a m e n t o q u e c o n t e n h a u m a

 única

n o r m a p r e s

c r e v e n d o o s e g u i n t e : é p r e c i s o o b e d e c e r à s o r d e n s d o c h e f e , p o r q u e e l a s

s ã o n o r m a s jurídicas .É cl a r o q u e q u a n d o o c h e f e começassea d a r o r d e n s ,

o c o n j u n t o d e u m a únican o r m a s e r i a i m e d i a t a m e n t e c o n v e r t i d o n u m

c o n j u n t o p l u r i n o r m a t i v o . A e s s ê n c i a d o d i r e i t o é s e r u m c o n j u n t o

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88

O   DIREITO  COMO  TEXTO

p l u r i n o r m a t i v o . E o m e s m o p o d e se d i z e r q u a n d o n o s r e f e r i m o s à s i n s t i

t u i çõ es e às dec i s ões

 jurídicas.

O direito pode ser contemplado,  de fa to ,  como

um sistema ou conjunto de normas, o u ainda como um sistema ou conjunto

de instituições, ou tambémcomo um conjunto de decisões.  M a s , e m q u a l q u e r

d o s t r ê s c a s o s , o s u p o r t e básicoinalterável que dá s ent ido s e j a à s normas ,

s e j a à s i ns t i t u i ções ou à s dec i s ões ,

 continuará

s e n d o o o r d e n a m e n t o .

P o r t a n t o ,  o ponto de partida da teoria do direito é necessariamente o

conceito de ordenamento  jurídico,q u e c o n s t i t u i o parâmeroc o n c e i t u a i

inevitável,

p r e s e n t e e m q u a l q u e r anáised e q u a l q u e r o u t r a c a t e g o r i a

 jurí

d i c a .

 Começar

a t e o r i a d o d i r e i t o p o r u m a t e o r i a d a n o r m a

 jurídica,

o u

p o r u m a t e o r i a d a i n s t i t u i ç ã o

 jurídica,

o u d a d e c i s ã o

 jurídica

( o u d e q u a l

q u e r o u t r o c o n c e i t o , c o m o o d e r e l a ç ã o

 jurídica,

que des de a Es cola

 Hstó

r i ca

 -

SAVIGNY

 -

é c o n s i d e r a d o o c o n c e i t o c e n t r a l ) s u p õ e o r i s c o d e p e r d e r

d e v i s t a o c o n j u n t o d o d i r e i t o , q u e é s u a r e a l i d a d e v e r d a d e i r a , já q u e o d i

r e i t o n ã o p o d e s e r p e n s a d o a p a r t i r d e u m e l e m e n t o i s o l a d o -seja qual for

es t e e l emento e s e j a qua l for s ua importância- , e s i m c o m o u m a r e d e p l u

r a l d e e l e m e n t o s q u e c o n s t i t u e m u m t o d o .

Pa ra e fe i tos analíticos,c o n t u d o , n ã o s e p o d e começarp e l o m a i s c o m

plexo. A anáiseexige in i c i a r por aqui lo que é ma i s s imples e l imi t ado , au-

m e n t a n d o - s e a c o m p l e x i d a d e

 até

q u e s e p o s s a e n t e n d e r a c o n s t r u ç ã o d o

c o n j u n t o . U m

 edifício

 arquitetônicoé u m c o n j u n t o , u m s i s t e m a d e e l e m e n

tos ,  q u e só a d q u i r e m s e n t i d o e m f u n ç ã o d o t o d o q u e é o edifício:o edifício

só pode ser

 construdo

e l e m e n t o p o r e l e m e n t o , c o m a o p o r t u n a c o l o c a ç ã o

dos a l i ce rces , das v igas mes t ra s , das ou t ra s co lunas , das pa re des , das j ane la s

etc .

 P o r s u a v ez , c a d a u m d e s t e s e l e m e n t o s é i n t e g r a d o p o r o u t r o s m a i s s i m

ples : a con s t ruç ão deve s e r e rgu ida t i j o lo por t i j o lo . .. O m es m o acontece com

a t e o r i a d o d i r e i t o . N o s s o edifícioé o o r d e n a m e n t o

 jurídico,

c o m p l e x o

arquitetônico c u l t u r a l , c o m p l i c a d o s i st e m a d e c o m u n i c a ç ã o i n t e r - h u m a n a

p a r a o r d e n a r a v i d a s o c ia l . T e m o s q u e observá-loe construí-loe m s e u c o n

j u n t o , c o m o u m t o d o h a r m o n i o s o , s e m f e n d a s q u e a m e a c e m s u a e x i s t ê n c ja ,

sem goteiras ; mas isso só é

 possíve

se o

 construmos

e l e m e n t o p o r e l e m e n

to ,

  n o r m a p o r n o r m a , i n s t i t u i ç ã o p o r i n s t i t u i ç ã o , d e c i s ã o p o r d e c i s ã o .

M a s é

 necessário

i n d a g a r o s e g u i n t e : q u a l é o e l e m e n t o básicoa u n i

d a d e f u n d a m e n t a l d a c o n s t r u ç ã o d o d i r e i t o ? A p a r t i r d e q u a l c o n c e i t o d e v e

s e r e n t e n d i d o o c o n c e i t o d e o r d e n a m e n t o

 jurídico?

O u , p a r a se g u i r e m

n o s s o e x e m p l o : q u a l é o p r i n c i p a l

  tijolo

  n o

 edifício

do d i re i to?

0

  QUE ÉA TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

89

M u i t a s p r o p o s t a s f o r a m f o r m u l a d a s p a r a t e n t a r r e s p o n d e r a e s t a p e r

g u n t a a o l o n g o d o s

 últimos

d o i s sécuosE l a s p o d e m , b a s i c a m e n t e , s e r

r e d u z i d a s a q u a t r o : a t e o r i a d a r e l a ç ã o

 jurídica,

a t e o r i a d a n o r m a

 jurídica,

a t e o r i a d a i n s t i t u i ç ã o

 jurídica

e a t eor i a da dec i s ão

 jurídica.

A teor i a da re l ação

 jurídica

t e m c o m o p r e c u r s o r  SAVIGNY,

 O

  genia l re

p r e s e n t a n t e d a E s c o l a

 Hstórica

d o D i r e i t o . N o v o l u m e p r i m e i r o d e s u a

o b r a  Sistema dei Derecho Rom ano actual  ( t r a d u z i d a p a r a o e s p a n h o l p o r

J a c i n t o  M E S I A e M a n u e l  P O L E Y , c o m prólogod e M a n u e l  D U R A N Y B A S , 2 .  ed. ,

M a d r i , e d i ç ã o s e m d a t a ) , d e p o i s d e e s t u d a r a s f o n t e s d o d i r e i t o r o m a n o ,

i n i c i a o e s t u d o

 sistemáico

d a

 matéria

c o m o c o n c e i t o d e r e l a ç ã o

 jurídica.

P a r a

  SAVIGNY,

 a i n d a q u e o d i r e i t o n o s

 apareça

s o b a f o r m a d e d i r e i t o s u b j e

t i vo ( i s to é , como faculdade do

 indivíduo

p a r a e x i g i r a l g u m a c o i s a ) , u m

e x a m e m a i s a t e n t o n o s m o s t r a q u e a r e a l i d a d e m a i s p r o f u n d a é a d a r e l a

ç ã o

 jurídica,

d a q u a l c a d a d i r e i t o é a p e n a s u m a f a ce d i v e r sa a b s t r a t a m e n t e

c o n s i d e r a d a . A r e l a ç ã o

 jurídica

t e m , p a r a  SAVI GNY, u m a n a t u r e z a

 orgânca

q u e s e m a n i f e s t a p e l o c o n j u n t o d e s u a s p a r t e s c o n s t i t u t i v a s , q u e s e e q u i l i

b r a m e s e l i m i t a m m u t u a m e n t e ( p .

  6 5 ) ,

 d e m a n e i r a q u e n a práticacada

p r o b l e m a

 jurídico

d e v e s e r d i r e c i o n a d o à r e l a ç ã o e m q u e s e i n s e r e . C a d a

r e l a ç ã o d e d i r e i t o n o s a p a r e c e c o m o r e l a ç ã o d e p e s s o a a p e s s o a , d e t e r m i

n a d a p o r u m a r e g r a

 jurídica

que a t r ibui a cada

 indivíduo

u m domnioo n d e

s u a v o n t a d e r e i n a i n d e p e n d e n t e m e n t e d e q u a l q u e r v o n t a d e e s t r a n h a ( p .

2 5 8 ) .

  A re l ação

 jurídica

t e m d o i s e l e m e n t o s : o m a t e r i a l , q u e é a

 própria

re l ação , o fa to da re l ação; e o forma l , que é a idéiade d i re i to que regula a

relação, is to é , a regra

 jurídica.

E m r e s u m o , o q u e  SAVIGNY  nos d i z é que a

r e l a ç ã o

 jurídica

é a e s c u l t u r a

 jurídica

( o u s e j a , p r o d u z i d a p o r r e g r a s o u

n o r m a s

 jurídicas)

d e u m a r e l a ç ã o s o c i a l

 prévia.

Es ta re l ação s oc ia l ex i s

t e n t e e n t r e d o i s su j e i to s é a r t i c u l a d a e m u m c o n j u n t o

 orgânico

d e n o r m a s

q u e c o n f i g u r a a r e l aç ã o jurídica.

A teor i a da re l ação

 jurídica

t eve ampla d i fus ão , e cheg ou aténos s os d i a s

c o m n o v o

 fôego

Ent re s eus de fens ores e s t ão Ales s andro  LEVI e J a ime G U A S P .

LEVI ,

  e m s u a o b r a  Teoria generale dei Diritto  ( 1 9 5 0 ) ,  a d o t a o c o n c e i t o

de re l ação

 jurídica

c o m o p o n t o d e p a r t i d a d e s u a c o n s t r u ç ã o ; i n d a g a e m q u e

cons i s t e a j ur id i c idade e re s ponde que e s t a cons i s t e na in t e r s ubje t iv idade , o

q u e e n v o l v e a c o m p l e m e n t a r i d a d e e n t r e o s c o m p o r t a m e n t o s d e s uj e i to s q u e

s e re l ac ionam. Por e s t a razão , a re l ação

 jurídica

r e p r e s e n t a o c o n c e i t o f u n

d a m e n t a l d o d i r e i t o , o c o n c e i t o n o q u a l s e c o n c r e t i z a se u m o d o d e s e r

 lógco

O   QUE É

  A

  TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

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9

O  DIREITO COMO TEXTO

(p . 9 e segs . ) . Para  LEVI, t o d o o r d e n a m e n t o  é um  s i s t ema de re l ações

 jurídi

cas (p . 33) , s endo es t a s ,

 por

  c o n s e g u i n t e ,

 o

  p o n t o

  de

  p a r t i d a

  e ao

  m e s m o

t e m p o

 a

 u n i d a d e e l e m e n t a r

  do

 s i s t e m a

 jurídico.

N a E s p a n h a , J a i m e  GUASP,

 com seu

 l ivro  Derecho  ( 1 9 7 1 ) , a d e r e n i t i

d a m e n t e

  à

  t e o r i a r e l a c i o n a l . D e s d e

  o inícioda

  o b r a d e f i n e c l a r a m e n t e

  o

d i r e it o c o m o

 o

  c o n j u n t o

  de

  r e l a ç õ e s e n t r e h o m e n s q u e

 um a

 c e r t a s o c i e d a

d e e s t a b e le c e c o m o

 necessárias;

no

 começo

do

 capítulos e g u n d o , reforça

a

idéia d i z e n d o :  um a  r e l a çã o e n t r e h o m e n s , a q u i estáa v e r d a d e i r a

 matéria

jurídica (p.

  13) ,

 e

  d e s e n v o l v e t o d o

  seu

  p e n s a m e n t o

  com

  b a s e n e s t a c o n

c e p ç ã o .

N ã o d u v i d a m o s de q u e a r e l a ç ã o

 jurídica

c o n s t i t u i  um  c o n c e i t o f u n

d a m e n t a l

  de

  t o d a t e o r i a f o r m a l

  do

  d i r e i t o .

 E m

  t o r n o d e l e

 se

  c o n f i g u r a m

o u t r o s d o i s c o n c e i t o s

  nã o

 m e n o s i m p o r t a n t e s :

 o de

  d e v e r

 jurídico

e o de

d i r e i t o s u b j e t i v o , e s p e c i a l m e n t e e s t e

 último.

M a s

 a

 t e o r i a r e l a c i o n a l , q u e

 é

a q u e l a

  que

 s i t u a

  a

  r e l a ç ã o c o m o p o n t o

  de

  p a r t i d a

  e a o

  m e s m o t e m p o

  a

u n i d a d e  do  o r d e n a m e n t o , nã o p o d e  ser m a n t i d a . C o n t r a ela se  l e v a n t a m

o b j e ç õ e s d i f i c i l m e n t e

 superáves

qu e

 p o d e m

  ser

 r e s u m i d a s

  em

  d u a s :

 por

u m l a d o ,

 o

  c o n c e i t o

  de

  r e l a ç ã o

 jurídicaé

  e x c e s s i v a m e n t e c o m p l e x o p a r a

s e r u n i d a d e e l e m e n t a r ; e p o r o u t r o é i n s u f i c i e n t e p a r a e x p l ic a r d e t e r m i n a

d a s p a r c e l a s

 do

  o r d e n a m e n t o .

O c o n c e i t o d e r e la ç ã o

 jurídica

é e x c e s s i v a m e n t e c o m p l e x o p a r a c o n s

t i t u ir a u n i d a d e e l e m e n t a r d o o r d e n a m e n t o

 jurídico.

De fa to , s eus próprios

d e f e n s o r e s c o n c e b e m

  a

 r e l a çã o c o m o

  um

 c o n g l o m e r a d o orgânico

no

  qua l

s e j u n t a m váriose l e m e n t o s :

  os

  s uje i tos

  da

  r e l a ç ã o ( e l e m e n t o p e s s o a l ) ,

 a

matériada  r e l a ç ã o ( r e l a ç ã o s o c i al r e g u l a d a ) , a f o r m a  da r e l a ç ã o  (a  n o r m a

jurídica

q u e dá  f o r m a

 jurídica

à re l ação s oc ia l ) , o coneúdoda re l ação (con

teúdo

que é

  e x t r e m a m e n t e c o m p l e x o , p o i s estác o n f i g u r a d o ,

 por sua

  vez,

p e l a c o n e x ã o e n t r e

 o

 d i r e i t o s u b j e t i v o

 do

  s uje i to a t ivo

 da

 r e l a ç ã o

 e o

  deve r

jurídico, que

 c a b e

 a o

 s u j e i t o p a s s i v o ) . D i f i c i l m e n t e

  a

  r e l a ç ã o p o d e c o n s t i

t u i r

 a

  u n i d a d e e l e m e n t a r

 do

  s i s t ema . Ta lvez pudes s e s e r

 a

 u n i d a d e

 orgâpi-

ca , e m c u j o âmbitoe x i s t e m u n i d a d e s m a i s s i m p l e s , q ue são os  e l e m e n t o s

c o m p o n e n t e s m e n c i o n a d o s : r e l a ç ã o s o c i a l , n o r m a , s u j e i t o s , d i r e i t o s u b j e

t i vo , deve r

 jurídico. O

  p r o b l e m a

 não é

 r e s o l v i d o , m a s d e s v i a d o , p o i s e n t ã o

será necessário

i n d a g a r q u a l d e s t e s e l e m e n t o s d e v e c o n s t i t u i r

  o

  p o n t o

  de

p a r t i d a p a r a c o n h e c e r

 e

 a n a l i s a r

 a própria

r e l a ç ã o .

 O que faz de um a

  re l a

ç ã o

  um a

  n o r m a

 jurídica? Seráo

 caráer

i n t e r s u b j e t i v o

  da

  r e l a ç ã o , c o m o

d iz

  LEVI,

  U t a lvez

 o caráer

s o c i a l m e n t e

 necessário

c o m o a p o n t a

  GUASP?

D e r i v a

  da

  r e l a ç ã o d i r e c i o n a d a

  ao

  c o n c e i t o

 de

 d i r e i t o s u b j e t i v o ,

 em

  d e t r i

m e n t o  do d e v e r jurídico,c o m o s u c e d e na o b r a  de  SAVIGNY,  O U , ao

 contrá

r io , des t aca -s e o p a p e l do d e v e r

 jurídico

c o m o p r im o r d i a l , e m c o m p a r a ç ã o

c o m

  o caráer

 secundário

do

  d i r e i t o s u b j e t iv o ? Q u a l

  é o

  p a p e l

  da

  n o r m a

na re l ação? L imi t a -s e

 a

  c o n f i g u r a r

  um a

  re l ação s oc ia l preexi s t en te

 ou, ao

contrário, c r i a a lgo novo

 qu e não

 exi s t e

 na

  re l ação s oc ia l ?

Aém

di s s o , o conce i to

 de

 r e l a ç ã o

 jurídicaé

 ins uf i c i en te p a ra exp l i ca r

a l g u m a s p a r c e l as

 do

 o r d e n a m e n t o

 jurídico.

A re l ação

 jurídica

e n c o n t r a s e u

l u g a r n a t u r a l  no âmbitodo  d i r e i t o p r i v a d o , qu e é o  d i r e i t o  qu e r e g u l a  as

re l ações en t re a s pes s oas (e s pec ia lmente a s re l ações cont ra tua i s , a s fami l i a

re s

 e as sucessórias);daí se

 t r a s l a d a , c o m o t a n t a s o u t r a s c a t e g o r i a s

  do di

r e i t o p r i v a d o , a o d i r e i t o

 público,

e entã o s e fa l a

 d e

 r e l a ç ã o

 jurídico-pública

( p o r e x e m p l o ,

 a

 r e l a ç ã o

 da

 a d m i n i s t r a ç ã o

 públicacom os

  a d m i n i s t r a d o s ) ;

já no

 d i r e i t o p e n a l m o s t r a m e n o s o p e r a t i v i d a d e , e

 é

  exagero fa l a r

 em

  re l a

çã o jurídico-penal( q u e s e r i a a  r e l a ç ã o e x i s t e n t e e n t r e

 deinqüene

e víti

m a ) ;

  no

  d i r e i t o p r o c e s s u a l , a i n d a

  que o

  c o n c e i t o

  de

  r e l a ç ã o

 jurídica

seja

u t i l i z a d o p a r a d e f i n i r

  o

  p r o c e s s o , e x a t a m e n t e c o m o

  um a

  r e l a ç ã o e n t r e

  as

p a r t e s , é a i n d a m a i s forçadoi n t r o d u z i r n e s s a r el a ç ã o o j u i z , q u e , c o m o t e r

c e i r o n e u t r o

  e

  c o m o ó r g ã o

  do

 E s t a d o ,

 n ão está

p r o p r i a m e n t e

  em

  r e l a ç ã o

com as pa r t e s , mas ex i s t e pa ra re s o lve r os conf l i t os que a s pa r t e s t êm  e n t r e

si ;  e é  ai n d a m e n o s aplicável o  c o n c e i t o  de  r e l a ç ã o à q u e l a s p a r t e s  do

o r d e n a m e n t o

 jurídico

q u e s ã o m e r a m e n t e o r g a n i z a d o r a s

 o u

  ins t i t uc iona i s :

i m a g i n e m o s

  as

  n o r m a s s o b r e f o n t es

  do

  d i r e i t o , s o b r e i n t e r p r e t a ç ã o ,

  as

n o r m a s q u e c r i a m ó r g ã o s o u i n s t i t u i ç õ e s , a s q u e a r t i c u l a m o b j e t i v o s e m e i o s

d e a ç õ e s

 de

 p l a n e j a m e n t o

  de

 c u r t o

 ou

  l o n g o p r a z o , a s n o r m a s m e r a m e n t e

p r o c e d i m e n t a i s  que e s t a b e l e c e m  os  r e q u i s i t o s p a r a que um ato  seja váli

d o . . . T o d a s e s t a s n o r m a s r e g u l a m e l e m e n t o s e s t r u t u r a i s  do  s i s t e m a ,  em

r e l a ç ã o

  aos

 q u a i s

  o

  c o n c e i t o

  de

  r e l a ç ã o d e s a p a r e c e . P o d e - s e a f i r m a r ,

  por

i s s o ,

 que o

  c o n c e i t o

  de

  r e l a ç ã o

 jurídicaé um

  c o n c e i t o

 básicode

  t o d o

o r d e n a m e n t o

 jurídico, mas não

  e s g o t a t o d a

  a matériado

  d i r e i t o .

  O

o r d e n a m e n t o

 jurídico

n ã o a p e n a s r e g u l a r e l a çõ e s e n t r e s u j e it o s , m a s t a m

bém  r e g u l a o u t r o s a s p e c t o s e r e a l i d a d e s que não p o d e m  ser  c o n f i g u r a d o s

c o m o r e l a ç õ e s e n t r e p e s s o a s .

A t e o r i a i n s t i t u c i o n a l

 ou

 i n s t i t u c i o n a l i s t a

  do

 d i r e i t o

 o

  c o n c e b e c o m o

u m c o n j u n t o  de i n s t i t u i ç õ e s jurídicas.Seu conce i to cent ra l é o  c o n c e i t o d e

92

O   DIREITO  COMO  TEXTO

0   QUE

 É

A  TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

93

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i n s t i t u i ç ã o

 jurídica.

E m b o r a  SAVIGNY e o u t r o s a u t o r e s d e s u a

 época

p a r t a m

d o c o n c e i t o d e r e l a ç ã o

 jurídica,

 também

e m p r e g a m o c o n c e i t o d e i n s t i t u i

ç ã o c o m o básicon o m o m e n t o d e c o n t e m p l a r o d i r e i t o e m s u a c o m p o s i

ção in t e rna . Mas que m dá des t a que a e s t a conc epção s ão os ins t i t uc iona l i s t a s

f rances es   ( H A U R I O U , R EN A R D )  e i t a l i anos  ( S A N T I R O M A N O ) . O p r o b l e m a

 está

e m e s t a b e l e c e r c o m p r e c i s ã o o c o n c e i t o d e i n s t i t u i ç ã o

 jurídica.

H A U R I O U a

d e f i n e c o m o u m a idéiad e o b r a o u e m p r e s a q u e s e r e a l i z a e p e r m a n e c e

j u r i d i c a m e n t e n u m d e t e r m i n a d o m e i o . A i n s t i t u i ç ã o s e r ia , p o i s , e m p r i

m e i r o l u g a r u m a

 idéia,

a i n d a q u e n ã o u m a

 idéia

e s p e c u l a t i v a , m a s u m a

idéiade obra ou de empres a , i s to é , uma idéiadi r ig ida a faze r a lguma coi

s a , a ope ra r , a a tua r ; a idéia,q u e c o n s t i t u i o

 núceo

d a i n s t i t u i ç ã o , acança

c a t e g o r i a

 jurídica

q u a n d o s e r e a l iz a e p e r m a n e c e j u r i d i c a m e n t e , is t o é,

q u a n d o t e m u m a r e a l i d a d e n o d i r e i t o q u e se m a n i f e s t a n ã o c o m o f lo r d e

u m d i a , m a s c o m o e n t i d a d e d o t a d a d e e l e v a d o g r a u d e p e r m a n ê n c i a . P o r

s ua vez , S A N T I R O M A N O  c o n c e b e a i n s t it u i ç ã o c o m o u m o r d e n a m e n t o

 jurí

d i c o . A s s i m , a i n s t i t u i ç ã o q u e c h a m a m o s d e E s t a d o e s t a r i a c o m p o s t a p o r

u m c o n j u n t o d e i n s t i t u i ç õ e s , c a d a u m a d a s q u a i s t e r i a s e u

 próprio

o r d e n a m e n t o , n ã o a p e n a s o s municípioso u a s r e g i õ e s , m a s a i n d a g r u p o s

m a i s e l e m e n t a r e s , c o m o a s

 famlias.

A d e m a i s , j u n t o à s i n s t i t u i ç õ e s q u e s e

i n c o r p o r a m a o E s t a d o , e q u e n ã o e s t ã o e m c o n f l i t o c o m e l e , e x i s t i r i a m

o u t r a s i n s t i t u i ç õ e s , c o m s e u

 próprio

o r d e n a m e n t o

 jurídico,

d e c l a r a d a s

aniéicasp a r a o E s t a d o , c o m o o c a s o d a

 máfia

n a

 Itália.

A

 máfia

t e r i a s eu

próprio

o r d e n a m e n t o

 jurídico,

n a m e d i d a e m q u e é u m g r u p o s o c i a l q u e

f u n c i o n a c o m a u t o n o m i a , o u s e j a , n a m e d i d a e m q u e e s t a b e l e c e s u a s

 pró

p r i a s n o r m a s , o r g a n i z a n d o s u a v i d a i n t e r n a .

R e c e n t e m e n t e ,  W E I N B E R G E R  e  M A C C O R M I C K  r e s s u s c i t a r a m a t e o r i a

i n s t i t u c i o n a l d o d i r e i t o , p r e t e n d e n d o s u p e r a r a d i c o t o m i a e n t r e o

n o r m a t i v i s m o e o r e a l is m o ( o u s o c i o l o g i s m o ) e a p o i a n d o - s e n a idéiad o s

institutional facts {fatos instituciona is  s ã o a q u e l e s q u e s e c o n t r a p õ e m a o s

fatos brutos);

  m a s a t e n t a t i v a n ã o r e s u lt a c o n v i n c e n t e , p o r q u e r e p r o d u z o s

d e f e i to s d a t e o r i a i n s t i t u c i o n a l t r a d i c i o n a l : m i s t i f ic a ç ã o d o n o r m a t i v o e ' d o

f a c t u a l e i m p r e c i s ã o n o m o m e n t o d e d e l i m i t a r c o m c l a r ez a o c o n c e i t o d e

i n s t i t u i ç ã o

 jurídica.

Estas são, ass im , as

 críticas

fundam enta i s qu e a t eor i a i ns ti t uc iona l provo

ca : s ua comb inação de e l ementos fac tua i s , norm a t ivos e i dea is , r eprod uz indo a

teoria t r idimensional ; e o fato de ut i l izar um concei to impreciso de ins t i tuição.

A própriad e f i n i ç ã o d e  H A U R I O U a p r e s e n t a o s t r ê s e l e m e n t o s m e n c i o

n a d o s : a i n s t i t u i ç ã o é

 idéia

(por t an to , va lor a rea l i za r ) , que s e rea l i za jur id i

c a m e n t e ( p o r m e i o d a s n o r m a s d o d ir e i to ) e p e r m a n e c e n u m d e t e r m i n a d o

m e i o ( i s t o é , t e m e x i s t ê n c i a s o c i a l n u m a d e t e r m i n a d a s o c i e d a d e ) . S u r g e

a q u i , n o v a m e n t e , o p r o b l e m a d e e s c o l h e r q u a l d o s e l e m e n t o s m e n c i o n a

d o s p r e p o n d e r a n a d e f i n i ç ã o d e i n s t i t u i ç ã o

 jurídica;

e c o m i s s o v o l t a m o s

a o p o n t o d e p a r t i d a d o t r i d i m e n s i o n a l i s m o . O a n s e i o d a t e o r i a i n s t i t u c i o n a l

é a r t ic u l a r t o d o s o s c o m p o n e n t e s d o fenômeno

jurídico

e m t o r n o d a i n s

t i t u i ç ã o , r e a l i d a d e

 jurídica

e a o m e s m o t e m p o s o c i a l q u e e x p r e s s a o s v a l o

r e s v i g e n t e s . O c o r r e , porémq u e o i n s t i t u c i o n a l i s m o a c a b a s e d e s v i a n d o

e m d i r e ç ã o a o n o r m a t i v i s m o , a o s o c i o l o g i s m o o u a o j u s n a t u r a l i s m o .

O c o n c e i t o d e i n s t i t u i ç ã o n ã o d e i x a d e t e r u m a g r a n d e c a p a c i d a d e

analítican u m

 nível

d e anáised o d i r e i t o d i s t i n t o d o

 nível

d a t e o r i a f o r m a l .

A c r e d i t a m o s , d e f a t o , q u e é u m c o n c e i t o d e c i s i v o p a r a a b o r d a r o e s t u d o

d o o r d e n a m e n t o

 jurídico

concreto,  isto é, no

 nvel

d e anáised a

 dogmática

jurídica.

O q u e é m a i s

 discutível

é q u e s i r v a c o m o p o n t o d e p a r t i d a

 básico

c o m o u n i d a d e e l e m e n t a r d o d i r e i t o , a p a r t i r d o q u a l s e constróio c o n j u n

t o d a t e o r i a d o d i r e i t o . T o d a i n s t i t u i ç ã o é, e m v e r d a d e , u m c o m p l e x o d e

e l e m e n t o s , u m d o s q u a i s

 deverá

s e r e s c o l h i d o p a r a c o n s t i t u i r o p o n t o d e

p a r t i d a p a r a a

 anáise

s u b o r d i n a n d o - s e o s d e m a i s a o e s c o l h i d o . À i n s t i

t u i ç ã o é u m a e n t i d a d e c o m p l e x a q u e s e r v e b a s t a n t e b e m p a r a e n t e n d e r o s

c o n g l o m e r a d o s d e n o r m a s q u e s e f o r m a m a o r e d o r d a s

 idéas básicas

d o

d i r e i t o , m a s q u e n ã o p o d e s e r v i r c o m o u n i d a d e d e

 anáise

p o r q u e a s

 pró

p r i a s i n s t i t u i ç õ e s é q u e d e v e m s e r a n a l i s a d a s .

O c o n c e i t o d e i n s t i t u i ç ã o se a p l i c a t a n t o a u m g r u p o h u m a n o o r g a

n i z a d o p o r n o r m a s

 jurídicas

(a i ns t i t u i ção da

 famlia,

p o r e x e m p l o ) q u a n

t o a u m c o n t r a t o ( a i n s t i t u i ç ã o d a c o m p r a e v e n d a ) , a u m d i r e i t o s u b j e t i v o

( a i n s t i t u i ç ã o d a p r o p r i e d a d e ) , a o s ó r g ã o s d e u m a e n t i d a d e jurídica(a

C o m i s s ã o da C o m u n i d a d e

 Européia

é d e f i n i d a c o m o i n s t i t u i ç ã o p e l o T r a

t ado de Roma) , a uma f igura

 jurídica

 aplicável

a

 múltiplas

s i t u a ç õ e s ( c o m o ,

p o r e x e m p l o , a i n s t i t u i ç ã o d a d e c a d ê n c i a , o u a d a

 renúnca

de d i re i tos , ou

a d a c o n d i ç ã o s u s p e n s i v a ) . . . T r a t a - s e , s e m dúvida,d e u m c o n c e i t o

p o l i s s ê m i c o e c o m p l e x o ,

 que ,

  s e g u n d o p e n s a m o s , é

 imprescindível

por e s t a r

e x t r e m a m e n t e i n t e g r a d o a o c o t i d i a n o d o s j u r i s t a s . S i t u a d o e m l o c a l a d e

q u a d o , poderáp e r m i t i r a anáisee a c o m p r e e n s ã o d a s d i v e r s a s p a r c e l a s d o

o r d e n a m e n t o

 jurídico.

M a s i s s o n ã o i m p e d e o r e c o n h e c i m e n t o d e q u e , e m

94

O DIREITO COMO TEXTO

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r a z ã o d e s e u

 caráer

c o m p l e x o , é u m c o n c e i t o q u e d e v e s e r i n t r o d u z i d o ,

d e n t r o d o âmbitod a t e o r i a d o d i r e i t o , n u m níveld e anáisep o s t e r i o r a o

d a anáisef o r m a l . N ã o é p o r a c a s o q u e a s o b r a s d e dogmática

 jurídica

fre

qüenemenel e v a m o títulod e  Instituições de  ( d i r e i t o r o m a n o , d i r e i t o c i

v i l , d i re i to comerc i a l , d i re i to comunitárioe t c .) p a r a d e s i g n a r o t r a t a m e n t o

sistemáico

d a s u n i d a d e s i n s t i t u c i o n a i s q u e c o m p õ e m u m o r d e n a m e n t o

jurídicoc o n c r e t o . É n a dogmática jurídicaq u e o c o n c e i t o d e i n s t i t u i ç ã o

jurídica

e n c o n t r a s u a l o c a l i z a ç ã o n a t u r a l , r a z ã o p e l a q u a l t r a t a r e m o s d e l e

a o e s t u d a r a p a r t e d a t e o r i a d o d i r e i t o q u e s e o c u p a d a  dogmática:a cha

m a d a t e o r i a d a

 dogmática

 jurídica.

Tambémé

 possíve

a d o t a r c o m o p o n t o d e p a r t i d a d a t e o r i a d o d i r e i

t o o c o n c e i t o d e decisão

 jurídica,

a i n d a q u e , e m v e r d a d e , a s t e n t a t i v a s a n t e

r iores de fazê - lo não ha j am

 acançado

g r a n d e ê x i t o . P o d e m o s e n c o n t r a r

traçosd e u m a c o n c e p ç ã o d e c i s i o n a l d o d i r e it o n a t e o r i a o r d e n a m e n t a l i s t a

d e C a r l  S C H M I T T ,  e m b o r a e s se a u t o r t e n h a c o n c e n t r a d o s e u s esforçosn o

di re i to cons t i t uc iona l , ao qua l ap l i ca s ua idéiad e f u n d o . E m o u t r o a m b i e n t e

i n t e l e c t u a l , e c o m o u t r a p e r s p e c t i v a ,

 também

s e p o d e c o n s i d e r a r d e c i s i o -

n i s t a a t eor i a ge ra l do d i re i to de F rances co   C A R N E L U T T I , a n o t a n d o - s e q u e

e l e p a r t i u d a r e a l i d a d e d o c o n f l i t o n a s o c i e d a d e e d a n e c e s s i d a d e d e

solucioná-lo.

N ã o é p o r a c a s o q u e   CARNELUTTI  é proces s ua l i s t a ; obs e rva o

d i r e i t o d e s d e o p r o c e s s o , q u e é o m e c a n i s m o

 jurídico

c r i a d o p a r a r e s o l v e r

c o n f l i to s m e d i a n t e d e c i s õ e s . A i n d a p o d e m o s c o n s i d e r a r d e c i s i o n i s ta a

p o s t u r a d e  D W O R K I N , já q u e d i r i g e t o d a s u a p r e o c u p a ç ã o a o s p r o c e s s o s d e

d e c i s ã o j u d i c i a i s , a i n d a q u e n ã o s e p o s s a a f i r m a r q u e p o s s u a u m a t e o r i a

d o d i r e i t o , a p e s a r d a d i fu s ã o s u r p r e e n d e n t e q u e e s te a u t o r

 acançou

o q u e

s e e n c o n t r a e m   D W O R K I N  é u m c o n j u n t o d e

 idéias,

n ã o m u i t o b e m

construdas

c e n t r a d a s n a d e c i s ã o d o j u i z , m a s n ã o u m a c o n c e p ç ã o g e r a l

d o d i r e i t o a p a r t i r d e s s a

 idéia básica

A a d o ç ã o d o c o n c e i t o d e d e c i s ã o

 jurídica

c o m o p o n t o d e p a r t i d a e l e -

m e n t a r d a t e o r i a d o d i r e i t o s u p õ e u m

 sério

i n c o n v e n i e n t e , q u e é o f at o d e

s e r u m a r e a l i d a d e b i f r o n t e : a d e c i s ã o c o m o a t i v i d a d e o u a ç ã o e a d e c i s ã o

c o m o r e s u l t a d o d a a t i v i d a d e o u a ç ã o . D e fa t o , e m p r e g a m o s a p a l a v r a a ç ã o

t a n t o c o m o r e f er ê n c ia a o a to d e a d o t a r o u t o m a r u m a d e c i s ã o q u a n t o c o m o

re fe rênc ia à dec i s ão j á adotada , ao coneúdod a própriadec i s ão . Es te s doi s

a s p e c t o s e s t ã o i n t i m a m e n t e r e l a c i o n a d o s e n t r e s i, m a s c o n s t i t u e m a n a l i t i

c a m e n t e d u a s r e a l i d a d e s m u i t o d i f e r e n t e s : a p r i m e i r a é a r e a l i d a d e d a  ação

0 QUE ÉA TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

d e d e c i d i r , e n q u a n t o a s e g u n d a é a r e a l i d a d e d o

  decidido,

  qu e à s vezes

 será

uma ação e à s vezes seráu m a n o r m a . P o r u m l a d o estáo p r o c e s s o d e d e c i

d i r , q u e e n v o l v e u m a t o o u c o n j u n t o d e a t o s r e a l i z a d o s p o r d e t e r m i n a d o s

s u j e it o s e m d e t e r m i n a d a s c o n d i ç õ e s ( d e l i b e r a ç õ e s , d i s c u s s õ e s , e x a m e d e

d o c u m e n t o s e d e p r o v a s s e f o r o c a s o e t c ) ; e , p o r o u t r o l a d o , estáo que

r e s u l t a d e ss e p r o c e s s o d e d e c i sã o , d e s s a a t i v i d a d e c o m p o s t a p o r u m a t o o u

c o n j u n t o d e a t o s , o q u e s e d e c i d e , q u e e m m u i t o s c a s o s

 será

u m a n o r m a .

N e m s e m p r e t e m q u e s e r u m a n o r m a ; p o r e x e m p l o , d e v o u m a q u a n t i a a

m e u c r e d o r , e d e c i d o p a g a r - l h e ; m i n h a d e c i s ã o n ã o dá l u g a r a u m a n o r m a ,

m a s s i m é u m a t o d e e x e c u ç ã o d a n o r m a

 jurídica

c o n t r a t u a l q u e m e o b r i

ga a paga r o c redor . Mas , alémd i s s o , p a r a q u e u m a d e c i s ã o s ej a u m a d e c i

sã o

 jurídica,

d e v e es t ar c o n t e m p l a d a p o r n o r m a s jurídicas,que s ão aque las

que e s t abe lecem os s u j e i tos da dec i s ão , s uas compe tênc ias ( i s to é , a s dec i

s õ e s q u e p o d e m e f e t u a r ) e o s p r o c e d i m e n t o s p a r a d e c i d i r ( o u s e j a , o s a t o s

q u e c o n s t i t u e m o p r o c e s s o d e d e c i s ã o ) . S e m n o r m a s jurídicasnão há  deci

sã o

 jurídica.

  L o g o , a n o r m a é a n t e r i o r à d e c i s ã o ; e s t a n ã o t e m a u t o n o m i a

própria

c o m o d e c is ã o , m a s a p e n a s q u a n d o c o n t e m p l a d a n o âmbitoc r i a

d o p e l a s n o r m a s d o d i r e i t o p r e v i a m e n t e e s t a b e l e c i d a s .

T o d a s e s t a s c o n s i d e r a ç õ e s d e m o n s t r a m q u e , a p e s a r d a importância

q u e t e m a o b s e r v a ç ã o d o d i r e i t o c o m o u m c o n j u n t o d e d e c i s õ e s , e d a r e l e

vância d e a t r i b u i r à t e o r i a d a d e c i s ã o

 jurídica

o p a p e l d e d e s t a q u e q u e

m e r e c e n o âmbitod a t e o r i a d o d i r e i t o , n ã o p a r e c e o p o r t u n o a d o t a r o c o n

ce i to de dec i s ão

 jurídica

c o m o p o n t o d e p a r t i d a e u n i d a d e e l e m e n t a r d a

t eor i a do d i re i to .

N e s t e a s p e c t o , n o s s a p o s i ç ã o estád e t e r m i n a d a p e l a o r d e m e m q u e

d i v i d i m o s a t e o r i a d o d i r e i t o : t e o r i a f o r m a l , t e o r i a d a dogmáticae t eor i a

d a d e c i s ã o . N e m o c o n c e i t o d e r e l a ç ã o

 jurídica,

n e m o d e i n s t i t u i ç ã o , n e m

o d e d e c i s ã o e n t r a m e m n o s s o e s q u e m a c o m o p o n t o d e p a r t i d a f u n d a m e n

t a l d a c o n s t r u ç ã o g l o b a l d a te o r i a d o d i r e i t o . O p r i m e i r o n ã o c o b r e t o d o o

âmbito

d a matéria

 jurídica,

d e i x a n d o à m a r g e m z o n a s q u e n ã o t ê m p o r

obje to a regulação de re l ações en t re s u j e i tos de d i re i to . Os out ros doi s ( i ns

t i t u i ç ã o e d e c i s ã o ) s ã o e x c e s s i v a m e n t e c o m p l e x o s p a r a s e r e m a d o t a d o s

c o m o u n i d a d e s e l e m e n t a r e s , e a d e m a i s p r e s s u p õ e m s e m p r e a e x i s t ê n c i a

d a s n o r m a s : u m a i n s t i t u i ç ã o é

 jurídica

se estár e g u l a d a p o r n o r m a s

 jurídi

cas ; uma dec i s ão pe r t ence ao d i re i to (o que equiva le a d i ze r que é

 jurídica)

s e su a a d o ç ã o

 está

d e a c o r d o c o m a s n o r m a s jurídicasq u e a r e g u l a m . T a n -

96

O  DIREITO COMO TEXTO

0  QUE É

  A

  TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO?

97

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7/23/2019 5 O Direito Como Texto

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t o a i ns t i t u i ção

 jurídica

q u a n t o a d e c i s ã o

 jurídica

s ã o c o n c e i t o s c o m p l e x o s

q u e t ê m c o m o

 necessário

e l e m e n t o c o n f i g u r a d o r a n o r m a q u e a s r e g u l a .

O m e s m o a c o n t e c e c o m a r e l a ç ã o

 jurídica,

que só é

 jurídica

n a m e d i d a e m

q u e e x is t e u m a n o r m a

 jurídica

que a e s t abe lece .

P a r e c e

 necessário

c o n c l u i r , d i a n t e d e t u d o i s s o , q u e o p o n t o d e p a r t i

da da t eor i a do d i re i to é a   norma

 jurídica.

  O u , m a i s e x a t a m e n t e , o p o n t o

d e p a r t i d a d a t e o r i a d o d i r e i t o é o c o n c e i t o d e   ordenamento

  jurídico

e n

q u a n t o e n t i d a d e c o m p o s t a p o r   normas

 jurídicas.

  Es tas não exi s t em i s o l a

d a m e n t e , m a s a p e n a s e m c o n j u n t o s , f a z e n d o p a r t e d e o r d e n a m e n t o s . A

c o n s i d e r a ç ã o d o t o d o ( o r d e n a m e n t o ) e d e s u a p a r t e e l e m e n t a r ( n o r m a ) é

o v e r d a d e i r o p o n t o d e p a r t i d a d a t e o r i a d o d i r e it o . A d o t a n d o - s e a p e n a s o

c o n c e i to d e n o r m a

 jurídica

i s o l a d a m e n t e c o n s i d e r a d a , p e r d e - s e d e v i s t a a

d i v e r s i d a d e f u n c i o n a l e

 lingüística

d a s n o r m a s q u e c o m p õ e m o t o d o d o

o r d e n a m e n t o . C o m o a s n o r m a s n ã o e x i st e m i so l a d as , m a s a p e n a s f o r m a n

d o c a d e ia s q u e e m s eu c o n j u n t o c o n f i g u r a m o t o d o d o o r d e n a m e n t o jurí

dico , s ua anáisen u n c a d e v e e st a r d e s v i n c u l a d a d o c o n t e x t o e m q u e e s t e j a m

i n s e r i d a s .

O r d e n a m e n t o e n o r m a s ã o o s d o i s c o n c e i t o s

 básicos

d a t e o r i a d o d i

r e i t o e m s e u a s p e c t o f o r m a l , d a t e o r i a f o r m a l d o d i r e i t o , q u e é s o m e n t e

u m a p a r t e d a t e o r i a d o d i r e i t o . C o n s t i t u e m o p o n t o d e p a r t i d a p a r a o r e s

t o d a c o n s t r u ç ã o c o n c e i t u a i d e

 caráer

f o r m a l . M a s n ã o s e p o d e r e d u z i r a

t e o r i a d o d i r e i t o a t e o r i a d a n o r m a

 jurídica

e t e o r i a d o o r d e n a m e n t o jurí

d i c o ( c o m o f i z e r a m o s p o s i t i v i s ta s , c o m o

  KELSEN

 e  B O B B I O ) . A m b a s c o n s t i

t u e m a t e o r i a f o r m a l d o d i r e i t o , alémd a q u a l - c o m o já e x p u s e m o s - t e m o s

a t eor i a da

 dogmática

 jurídica

e a t eor i a da dec i s ão

 jurídica.

A s d u a s p a r t e s

d a t e o r i a d o d i r e i t o p r e s s u p õ e m , d e f a t o , o t r a t a m e n t o d a n o r m a

 jurídica

e d o o r d e n a m e n t o

 jurídico.

A t e o r i a d a

 dogmática jurídica,

 alémd e e s t u

d a r o

 méodo

des t a - que

 também

s e d e n o m i n a c i ê n c i a jurídicae m s e n t i

do e s t r i t o -

 aravés

d a a b o r d a g e m d a s s i n g u l a r i d a d e s q u e a p r e s e n t a a

 anáise

c o m p r e e n s i v a d o s o r d e n a m e n t o s jurídicosc o n c r e t o s , c o n s t i t u i o l u g a r

a d e q u a d o p a r a i n s e r i r o c o n c e i t o d e i n s t i t u i ç ã o , a t i n g i n d o s e u p l e n o d e

s e n v o l v i m e n t o ; p o i s f o i e x a t a m e n t e n o

 âmbito

d a

 dogmática

que ma i s s e

t r a b a l h o u e s e s e g u e t r a b a l h a n d o o c o n c e i t o d e i n s t i t u i ç ã o

 jurídica

c o m o

c o m p l e x o n o r m a t i v o e m t o r n o d e u m a idéiad e o r g a n i z a ç ã o ( a idéia

i n s t i t u c io n a l ) . T o d o o r d e n a m e n t o

 jurídico

c o n c r e t o p o d e s er d e c o m p o s t o

e m u m c o n j u n t o d e i n s t i t u i ç õ e s , q u e e x p r e s s a m c o m p l e x o s d e n o r m a s a o

r e d o r d e u m a

 idéia básica

que lhes dá s ent ido; e s s a

 idéia

é a

 idéia

i n s t i t u

c iona l , que expres s a os va lores que a i ns t i t u i ção

 jurídica

e n c a r n a e d e f e n

d e . C o m o o e s t u d o d e u m o r d e n a m e n t o

 jurídico

c o n c r e t o t e m q u e i r além

d a e s t r u t u r a f o r m a l d o d i r e i t o , a p r o f u n d a n d o a c o m p r e e n s ã o d o s e n t i d o ,

n ã o s e e s t r a n h a q u e u m c o n c e i t o c o m o o d e i n s t i t u i ç ã o

 jurídica

s e des t a

q u e c o m o o c o n c e i t o c e n t r a l d a

 dogmática.

O u t r o t a n t o s e p o d e d i z e r d a d e c i s ã o . E m n o s s o e s q u e m a d a t e o r i a

d o d i r e i t o , a d e c i s ã o o c u p a u m l u g a r d e d e s t a q u e , a o l a d o d a t e o r i a f o r m a l

do d i re i to e da t eor i a da

 dogmática jurídica.

A t e o r i a d a d e c i s ã o

 jurídica

c o n c e b e o d i r e i t o e m s e u c r i a r - s e , e m s u a   poiesis.  E s t u d a o a s p e c t o

 dinâ

m i c o d o d i r e i t o . E n q u a n t o a t e o r i a f o r m a l c e n t r a - s e n a anáiseforma l , e a

t e o r i a d a

 dogmática

i n v e s t i g a a c o m p r e e n s ã o h e r m e n ê u t i c a d a s i n s t i t u i

ç õ e s q u e c o m p õ e m o o r d e n a m e n t o

 jurídico

c o n c r e t o , a t e o r i a d a d e c i s ã o ,

p r e s s u p o n d o a s c o n s i d e r a ç õ e s a n t e r i o r e s ( t e o r i a f o r m a l e t e o r i a d a

dogmática), c o n v e r t e o c o n c e i t o dinâmcod e d e c i s ã o

 jurídica

e m c e n t r o

d e s u a i n d a g a ç ã o . E m t o r n o d o c o n c e i t o d e d e c i s ã o

 jurídica

é q u e s e p o d e

c o m p r e e n d e r o p r o c e s s o o u g ê n e s e d o d i r e i t o , i s to é, s u a c r i a ç ã o e a p l i c a

ç ã o , a s s i m c o m o t o d o s o s d e m a i s a s p e c t o s d e índolef o r m a l e m a t e r i a l q u e

a c r i a ç ã o e a a p l ic a ç ã o d o d i r e i t o s u p õ e m . Q u e s e n t i d o t e m , p o r e x e m p l o ,

o d e b a t e  de legeferenda  s o b r e a

 justiça

o u s o b r e o s v a lo r e s

 jurídicos;

s e não

p a r a c o n s i d e r a r q u e a f i n a l i d a d e d o d i r e i t o d e v e s e r c o n s e g u i r u m a s o c i e

d a d e j u s t a , e q u e a l e i, c o m o i n s t r u m e n t o básicod a q u e l e , d e v e i n c o r p o r a r

o s princípiosd e

 justiça?

P o d e - s e d i z e r o m e s m o d a i n d a g a ç ã o d o s v a l o r e s

jurídicos

e m r e l a ç ã o a o u t r o s t i p o s d e d e c i s ã o , c o m o n o c a s o

 paradigmático

d a d e c i s ã o j u d i c i a l . P o r a c a s o a q u i n ã o s e r e p r o d u z

  de sententia ferenda

  o

m e s m o d e b a t e s o b r e o s v a l o r e s q u e a d e c is ã o j u d i c ia l d e v e r e a li z a r ? O g r a n

d e t e m a d a t e o r i a d a

 justiça,

e o d a a r g u m e n t a ç ã o q u e l h e é s u b j a c e n t e ( t e o

r i a d a a r g u m e n t a ç ã o r a c i o n a l ) , t e m e x a t a m e n t e a q u i s e u l u g a r . D e s t a

m a n e i r a , r e c u p e r a - s e o t e m a

 básico

d a t e o r i a d o d i r e i t o n a t u r a l e q u e o s

p o s i ti v i st a s h a v i a m a b a n d o n a d o , c e r c e a n d o o p a n o r a m a c o m p l e t o d a t e o

r i a do d i re i to .

O c o n c e i t o d e o r d e n a m e n t o

 jurídico

 estás e m p r e p r e s e n t e , t a n t o n a

t e o r i a f o r m a l d o d i r e i t o c o m o n a t e o r i a d a

 dogmática jurídica

e na t eor i a

d a d e c i s ã o

 jurídica,

a i n d a q u e d e m a n e i r a d i s t i n t a e m c a d a u m a d e l a s . N a

t e o r i a f o r m a l , o o r d e n a m e n t o é a p e n a s u m a e s t r u t u r a f o r m a d a p o r n o r

m a s . N a

 dogmática,

s e m d e i x a r d e s e r a e s t r u t u r a f o r m a l g l o b a l , acançaa

9 8  O DIREITO COMO TEXTO

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c a t e g o r i a d e t o t a l i d a d e c o n c r e t a d o t a d a d e s e n t i d o q u e p o d e s e r d e c o m

pos ta em ins t i t u i ções . Na t eor i a da dec i s ão

 jurídica,

o o r d e n a m e n t o a p a

r e c e c o m o r e a l i d a d e  in fieri,  e m p e r m a n e n t e p r o c e s s o d e f a z e r - s e e

r e f a z er - s e , c o m o u m a r e a l i d a d e f lu id a a d a p t a d a o u

 adapáve

à

 mudança

d o s t e m p o s , e p o r i s s o r e l a c i o n a d a a o m u n d o e x t e r i o r d o d i r e i t o , à q u i l o

q u e c h a m a m o s d e  mundo do direito,  que é o contexto s oc i a l em que s e in

s e r e . O c o n c e i t o d e o r d e n a m e n t o

 jurídico

é, p o r t a n t o , u m c o n c e i t o

o n i p r e s e n t e n a anáised a t e o r i a d o d i r e i t o e m q u a l q u e r d e s e u s níveis.

Gaças

a e l e , a te o r i a d o d i r e i t o t e m u m p e r m a n e n t e p o n t o d e r e f e r ê n ci a ,

que uni f i ca o conjunto de s ua inves t igação e a t r ibui s ent ido a s eus d ive r

so s níveisd e anáise

IV SOBRE 0 PROBLEMA DA VALIDADE

DAS REGRAS JURÍDICAS

O t e r m o v a l i d a d e estác a r r e g a d o , c o m o t a n t o s o u t r o s d a l i n g u a g e m

jurídica

h a b i t u a l , d e

 ressonâncas

e s igni f i cados

 dspares

Não s e t ra t a de

a l g o e s t r a n h o , p o i s , alémd e s e u u s o p o l i s s ê m i c o n o m u n d o d o d i r e i t o e ,

e m g e r a l , d o s s i s t e m a s d e r e g r a s , t r a t a - s e d e u m t e r m o d e v a r i a d o s u s o s n a

l i n g u a g e m d a v i d a c o t i d i a n a . E x p r e s s õ e s c o m o   esta roupa não vale nada,

quanto vale a mercadoria?, valha-me Deus, este bilhete ainda é

 válido,

o ár

bitro declarou o gol

 inválido,

esta atitude não me vale, é uma p essoa que vale

muito, a validação pelo monarca

  e t c , b e m d e m o n s t r a m a d i f ic u l d a d e d e

e n c o n t r a r u m s i g n i f i c a d o r a z o a v e l m e n t e aceitávelp o r t o d o s .

Na t eor i a do d i re i to s e for j a ram t rê s s igni f i cados que , apes a r de rec i

p r o c a m e n t e e x c l u d e n t e s , p u s e r a m a l g u m a o r d e m n a d i s c u s s ã o . E s s e s t r ê s

s i g n i f ic a d o s c o r r e s p o n d e m à q u i l o q u e s e c o n v e n c i o n o u c h a m a r d e v a l i

d a d e

 axiológica,

v a l i d a d e empíricae v a l i d a d e n o r m a t i v a .

A p r i m e i r a é própriad e m o r a l i s t a s e j u s n a t u r a l i s t a s , q u e i d e n t i f i c a m

o d i r e i t o

 válido

c o m o d i r e i t o v a l i o s o e , p o r t a n t o , a v a l i d a d e c o m o v a l o r .

O c o n c e i t o

 empírico

é u t i l i z a d o p e l o s

 socóogos

e p e l o s j u r i s t a s q u e c o n

t e m p l a m t o d o o

 fenômenojurídico aravés

d a c o n c e p ç ã o e m p i r i s t a d o

c o n h e c i m e n t o ( s o c i o l o g i s t a s , p s i c o l o g i s t a s ) , p a r a o s q u a i s d i r e i t o

 válido

equiva le a d i re i to e fe t ivo , i s to é , r ea lmente implantado na rea l idade s oc ia l .


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