45294650 uma analise de a inaudita guerra da avenida gago coutinho

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  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 1

    Mrio de Carvalho Vida e obra

    Nome completo: _________________________________

    Local de nascimento: ____________________________

    Data de nascimento: _____________________________

    1. Segue as pistas que so dadas e procura na sopa de letras as informaes sobre Mrio de Carvalho.

    Q S U C I A W E R T Y A Q

    A X F R A N A C V B N D E

    Q W E C T A Y U I O P F H

    Z X C D E U S V B N M L W J

    C V S A R D I N H E I R A S

    V B N M K I L P O Y T G D

    D I R E I T O Z X C B N M L

    L I S B O A C D E T U O R U

    1.1. Pas onde esteve exilado.

    1.2. Pas onde esteve exilado.

    1.3. Um Passeando pela Brisa da Tarde.

    1.4. Casos do Beco das

    1.5. rea em que se licenciou.

    1.6. Cidade onde se desenrola a aco do conto que vamos estudar/analisar.

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 2

    Elementos paratextuais

    Ttulo

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 3

    1. Observa, na capa do livro, o ttulo.

    1.1. Sublinha o adjectivo que existe no ttulo.

    1.2. Consulta o dicionrio, se no souberes o seu significado.

    1.3. Certamente j sers capaz de compreender o significado desse adjectivo.

    1.3.1. Jamais ouvida, inslita.

    1.3.2. Jamais vencida, invencvel.

    1.3.3. Jamais dita, indizvel.

    Vamos descodificar semntica e etimologicamente o termo Inaudita para se compreender melhor a escolha deste adjectivo. Comeamos ento por decompor a palavra nos seus elementos constituintes: in- um prefixo de negao de origem latina e audita o particpio passado do verbo latino audio que significa ouvir. Etimologicamente inaudita significa ento no ouvida, nunca ouvida. Este termo remete-nos, assim, para algo de inslito, de extraordinrio e desconhecido, de que no h exemplo ou memria.

    O absurdo instala-se a partir daqui: pois como pode um acontecimento deste gnero uma guerra passar despercebida ao ponto de nunca se ter ouvido falar dela? efectivamente um paradoxo, um contra-senso, algo que nos d que pensar.

    Constatamos que o ttulo nos remete para o principal acontecimento do conto: uma guerra, facto pelo qual este termo aparece ligeiramente destacado dos restantes vocbulos do ttulo. Estamos, portanto, perante um tema histrico.

    Que razes tero levado o autor a classificar esta guerra como inaudita?

    Ttulo e ilustrao

    2. Atenta de novo no ttulo e na ilustrao.

    2.1. Onde se passa a guerra? _______________________________________________________

    Contrastando com o aparente paradoxo presente na expresso Inaudita Guerra, temos a informao precisa que o ttulo nos fornece acerca da indicao do espao fsico que ir servir de campo de batalha inaudita guerra A Avenida Gago Coutinho em Lisboa, avenida que recebeu o nome de uma personagem tambm histrica: Gago Coutinho, gegrafo, marinheiro, matemtico e inventor, que empreendeu um feito igualmente inaudito, no no sentido etimolgico da palavra, mas no sentido mais lato de algo espantoso, extraordinrio e inacreditvel: a primeira travessia area do Atlntico Sul, em 1922, com Sacadura Cabral.

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 4

    A escolha deste espao cujo nome recorda e perpetua um feito igualmente inaudito ter sido casual ou ter sido intencional?

    Talvez tenha sido intencional, para que uma guerra inaudita pudesse acontecer num

    palco cujo nome perpetua um acontecimento que na poca foi considerado tambm inaudito.

    3. Observa a ilustrao da capa com ateno. Tendo em conta que se trata de uma

    guerra, achas que na ilustrao esto a) Representantes das foras em oposio. b) Companheiros de batalha. c) Espectadores dos acontecimentos.

    4. As suas vestes so bem diferentes! Porque ser? a) Provavelmente vieram de um desfile de mscaras. b) Provavelmente no tinham mais nada para vestir. c) Provavelmente representam pocas diferentes. Outro elemento paratextual que merece tambm uma reflexo a ilustrao

    presente na capa. H, entre esta e o ttulo, uma relao de complementaridade. Com efeito, as personagens apresentadas apontam, pela indumentria e pelos adereos de guerra, para dois grupos de personagens distintas e espaadas no tempo, embora presentes no mesmo espao.

    Tratar-se- ento de dois tempos histricos diferentes, mas de um s espao?

    Tambm aqui sobressai o inslito, deixando-nos na expectativa de desvendar to

    estranho mistrio. Isto para j no falar nos misteriosos fios que entrelaam as personagens como se tivessem sido apanhadas nas mesmas malhas da histria.

    Elementos paratextuais Como vs, por vezes possvel antecipar os acontecimentos com a ajuda de elementos que, partida, poderias considerar acessrios. Agora j percebes porque se trata de uma guerra inaudita. uma guerra que vai ter lugar na Avenida Gago Coutinho, um dos locais mais movimentados de Lisboa! Alm disso, vai opor personagens pertencentes a pocas diferentes Mas para saberes o que de facto aconteceu vamos ler e analisar o conto.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 5

    L atentamente os dois primeiros pargrafos do conto.

    0 grande Homero s vezes dormitava, garante Horcio. Outros poetas do-se a uma sesta, de vez em quando, com prejuzo da toada e da eloquncia do discurso. Mas, infelizmente, no so apenas os poetas que se deixam dormitar. Os deuses tambm.

    Assim aconteceu uma vez a Clio, musa da Histria que, enfadada da imensa tapearia milenria a seu cargo, repleta de cores cinzentas e coberta de desenhos redundantes e montonos, deixou descair a cabea loura e adormeceu por instantes, enquanto os dedos, por inrcia, continuavam a trama. Logo se enlearam dois fios e no desenho se empolou um n, destoante da lisura do tecido. Amalgamaram-se ento as datas de 4 de Junho de 1148 e de 29 de Setembro de 1984.

    5. Completa o texto seguinte, preenchendo os espaos em branco com as palavras adequadas.

    A musa da Histria, ___________, estava muito aborrecida a fazer a sua ____________________, cheia de tons _______________ e com desenhos muito enfadonhos. O seu trabalho era to repetitivo, que ela ______________. Mas os seus dedos continuaram a trabalhar e enlearam dois ____________, originando um ____________. Isto provocou a mistura de duas datas: - 4 de Junho de ____________ e 29 de Setembro de ______________.

    6. O narrador refere que, de vez em quando, at os grandes poetas dormem. Ou seja, at eles se distraem e cometem erros. Mas no so apenas os poetas. Tambm os deuses tm distraces.

    6.1. Sublinha no texto acima a palavra que introduz a ideia de que tambm os

    deuses esto, como os homens, sujeitos ao erro.

    6.2. Classifica essa palavra quanto classe gramatical a que pertence.

    a) Conjuno b) Advrbio c) Preposio

    6.3. Retira, agora, do excerto

    6.3.1. Um advrbio de modo ___________________

    6.3.2. Um advrbio de negao __________________

    6.4. Escreve frases em que empregues alguns advrbios.

    ________________________________________________________________

    ________________________________________________________________

    ________________________________________________________________

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 6

    Advrbios

    Os Advrbios so palavras que modificam um verbo ou um adjectivo ou um outro advrbio. Raramente modificam um substantivo.

    Uma locuo adverbial ocorre quando duas ou mais palavras exercem a funo de advrbio. As locues adverbiais so conjuntos de palavras, geralmente introduzidas por uma preposio, que exercem a funo de advrbio: pressa, toa, s cegas, s escuras, s vezes, de quando em quando, de vez em quando, direita, esquerda, em vo, frente a frente, de repente, de maneira alguma

    Tempo Lugar Modo

    hoje; logo; primeiro; ontem;

    tarde; outrora; amanh;

    cedo; dantes; depois; ainda;

    antigamente; antes;

    doravante; nunca; ento;

    ora; jamais; agora; sempre;

    j; enfim; etc.

    aqui; antes; dentro; ali;

    adiante; fora; acol;

    atrs; alm; l; detrs;

    aqum; c; acima; onde;

    perto; a; abaixo; aonde;

    longe; debaixo; algures;

    defronte; nenhures; etc.

    bem; mal; melhor; pior; assim;

    alis; depressa; devagar; como;

    debalde; sobremodo;

    sobretudo; sobremaneira;

    quase; principalmente

    Obs.: muitos advrbios de modo

    formam-se juntando mente

    forma feminina do adjectivo

    Quantidade Afirmao Negao

    muito; pouco; mais; menos;

    demasiado; quanto; quo;

    tanto; to; assaz; que

    (equivale a quo); tudo;

    nada; todo; bastante; quase

    sim; certamente;

    realmente; decerto;

    efectivamente; etc.

    no; nem; nunca; jamais; etc.

    Dvida Excluso Incluso

    acaso; porventura;

    possivelmente;

    provavelmente; qui; talvez

    apenas; exclusivamente;

    salvo; seno; somente;

    simplesmente; s;

    unicamente

    ainda; at; mesmo;

    inclusivamente; tambm

    Ordem Designao Interrogao

    depois; primeiramente;

    ultimamente eis onde? como? quando? porque?

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 7

    7. Que provrbio poderias escolher para desculpar este comportamento de Clio?

    a) A fiar e a tecer ganha a mulher de comer. b) Quem vai guerra d e leva. c) Em melhor pano h engano. d) Quem muito dorme pouco aprende.

    Erro de Clio Pois ! Clio no humana, uma deusa, mas tambm ela se engana. Todos estamos sujeitos a errar, at mesmo os deuses. Neste caso, errar humano e tambm divino.

    No incio deste pargrafo, Horcio garante que o grande Homero s vezes dormitava. Esta afirmao corresponde ao verso latino Quandoque bonus dormitat Homerus da Arte Potica, designao que lhe foi atribuda por Quintiliano. Esta afirmao quer dizer que at o grande Homero, por vezes, teve deslizes nos poemas que escreveu. A afirmao tornou-se proverbial, significando que uma falta pode ser cometida at pelos mais sbios e prevenidos, pois errare humanum est. Mas esta possibilidade de cometer erros extensiva a outros poetas, pois se at o grande Homero comete erros reparem na pertinncia do adjectivo grande e do seu lugar na frase (logo no seu incio, para alm de ser um adjectivo anteposto ao substantivo) no ser de estranhar que outros tambm, de vez em quando, se entreguem a uma sesta, como, metaforicamente, nos dito no conto. Esta fragilidade no especfica apenas do mundo humano, ela alargada ao mundo mtico / divino: os deuses tambm so dados a estas fraquezas. Nota-se aqui a evidente tendncia temtica do cruzamento de mundos diferentes: o humano e o divino.

    Este primeiro pargrafo introduz e justifica, deste modo, o acontecimento decorrido com Clio, musa da histria, narrado no segundo pargrafo, e a partir do qual se vai desencadear toda a aco do conto. Da que o segundo pargrafo se inicie pelo advrbio de modo assim, pois ele como que o concretizar do segundo termo da comparao que estabelecida entre os homens e os deuses:

    Assim aconteceu uma vez a Clio, musa da Histria que, enfadada da imensa

    tapearia milenria a seu cargo, repleta de cores cinzentas e coberta de desenhos redundantes e montonos, deixou descair a cabea loura e adormeceu por instantes, enquanto os dedos, por inrcia, continuavam a trama. Logo se enlearam dois fios e no desenho se empolou um n, destoante da lisura do tecido. Amalgamaram-se ento as datas de 4 de Junho de 1148 e de 29 de Setembro de 1984.

    A pretexto de um adormecimento da musa Clio, Mrio de Carvalho pe num mesmo espao uma cena do sc. XII e outra do sc. XX. Estes dois primeiros pargrafos correspondem, introduo, pois neles se encontra o motivo da aco do conto.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 8

    Poderamos pr a questo: Por que razo esta tendncia temtica de Mrio de Carvalho em cruzar pocas histricas distintas e com um hiato temporal to grande: o sc. XII e o sc. XX, num mesmo espao.

    Numa carta que o autor escreveu aos alunos de uma escola secundria de Vila Nova de Gaia, que o questionaram precisamente sobre este aspecto, ele disse:

    O que me levou a escrever a Inaudita... e por que razo misturei pocas

    distintas: foi a conscincia de que Portugal um pas muito antigo, muito miscigenado,

    percorrido por muitas culturas e civilizaes, de modo que cada um de ns mais do que ele prprio, porque tem atrs de si uma grande espessura de Histria.

    E inquirido sobre o que o levou a escrever fico, responde o autor na mesma carta: Este mundo muito pequeno e limitado. H que torn-lo maior.

    esta mesma justificao que podemos encontrar na Revista Ler numa entrevista feita a Mrio de Carvalho, onde o escritor afirma:

    Ns somos mais do que ns, ns somos uma nao muito antiga. E, antes de

    sermos nao, isto tinha sido um caldeamento muito grande de povos e civilizaes. Por detrs de ns, h toda uma estrutura histrica. Quando eu escrevo A Inaudita

    Guerra da Avenida Gago Coutinho, quando os mouros aparecem a num engarrafamento em Lisboa, isso que eu quero dizer: ateno, ns somos uns e

    somos outros. Ou seja, temos c uma civilizao rabe tambm.

    Constatamos, assim, que a razo apresentada por Mrio de Carvalho , fundamentalmente, histrico-cultural, aliada, evidentemente, a uma incontvel nsia de liberdade.

    s razes apontadas, podemos ainda acrescentar uma outra: uma irreprimvel meninice, como diz o autor no auto-retrato que, em 1997, esboou para o Jornal de Letras:

    - Acho, francamente, que nisto de escrever vai alguma infantilidade que sobrou.

    Talvez seja um defeito, uma desregulao da natureza. As almas dos outros possuem

    uma aptido inata para a eliminao da meninice. A nossa, no. As crianas so capazes de se desdobrar numa multiplicidade de personagens.

    Em qualquer brincadeira so este, e so aquele. Na fantasia infantil ordena-se e desordena-se o mundo, como se o mundo estivesse ao dispor dos caprichos das brincadeiras.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 9

    Categorias da narrativa

    Aco

    D-se o nome de aco ao conjunto de acontecimentos que constituem uma narrativa e que so relatados, mas h que distinguir a importncia de cada um deles para a histria. Aco principal: constituda pelo ou pelos acontecimentos principais, Aco secundria: constituda pelo ou pelos acontecimentos menos importantes que valorizam a aco central. Numa narrativa, as vrias aces relacionam-se entre si de diferentes maneiras: - por encadeamento: quando as aces sucedem por ordem temporal e em que o final de uma aco se encadeia com o incio da seguinte. - por alternncia: quando as aces se desenrolam separada e alternadamente, podendo fundir-se em determinado ponto da histria. - por encaixe, isto , quando se introduz uma aco noutra.

    Narrador O narrador uma entidade imaginria criada pelo autor, que tem como funo contar a histria. No deve, por isso, ser confundido com o autor, que o responsvel pela criao da histria.

    Presena Quanto presena, o narrador pode ser no participante ou participante. Narrador no participante: conta uma histria na qual no participa narrador heterodiegtico narra a aco na terceira pessoa. Ex.: Os automobilistas que nessa manh de Setembro entravam em Lisboa pela Avenida Gago Coutinho, direitos ao Areeiro, comearam por apanhar um grande susto () Narrador participante conta uma histria em que participa como personagem principal narrador autodiegtico ou uma histria em que participa como personagem secundria narrador homodiegtico. Narra a aco na 1. pessoa. Ex.: Para l do telefone e das calorias das trouxas de ovos, a minha me tambm odeia palavras foleiras tipo tchauzinho, oi, tudo bem, fofa? coisas assim.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 10

    Posio Quanto posio, relativamente ao que conta, o narrador pode ser objectivo ou subjectivo.

    Narrador objectivo mantm uma posio imparcial em relao aos acontecimentos, narrando os factos com objectividade. Ex.: Sexta-feira colhia flores por entre os rochedos junto da antiga gruta quando viu um ponto branco no horizonte, para leste. Narrador subjectivo narra os acontecimentos com parcialidade, emitindo a sua opinio, emitindo juzos de valor, tornando a narrao subjectiva. Ex.: () quando os primeiros alfanges assomavam ao lado de um autocarro da Carris, j os briosos homens da Polcia de Interveno corriam a bom correr at Cervejaria Munique, onde se refugiavam atrs do balco()

    Focalizao (diz respeito ao MODO como o narrador v os factos da histria.) Focalizao omnisciente o narrador detm um conhecimento total e ilimitado da narrativa. Controla os acontecimentos, o tempo e as personagens. Ex.: De que Al era grande estava o chefe da tropa convencido, mas no lhe pareceu o momento oportuno para louvaminhas, que a situao requeria antes solues prticas e muito tacto.

    Focalizao interna - o narrador adopta o ponto de vista de uma ou mais personagens,

    da resultando uma diminuio de conhecimento.

    Ex.: To natural, to simples e ao mesmo tempo, to elegante, to bem cuidada...

    Foi to carinhosa comigo, a Daniela!

    Focalizao externa - o conhecimento do narrador limita-se ao que observvel do

    exterior.

    Ex.: " Pelas cinco horas duma tarde invernosa de Outubro, certo viajante entrou

    em Corgos, a p, depois de rdua jornada...".

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 11

    Narrador (quadro sntese)

    Presena

    Narrador participante

    Narrador no participante

    Definio

    Narrador que participa na

    histria que narra narrador autodiegtico (personagem

    principal), narrador homodiegtico (personagem

    secundria).

    Narrador que no participa na histria que

    narra narrador heterodiegtico.

    Ca

    rac

    ter

    sti

    cas

    Pronomes pessoais da

    primeira pessoa eu, me, comigo; ns, nos, connosco

    Determinantes/pronomes

    pessoais e demonstrativos da 1. pessoa meu, meus,

    minha, minhas, nosso, nossos, nossa, nossas, este, estes,

    esta, estas

    Formas verbais da 1. pessoa vi, encontrei, gostava;

    gostvamos, vimos, encontrmos

    Pronomes pessoais da 3. pessoa ele,

    eles, ela, elas, lhe, lhes

    Determinantes/pronomes pessoais e demonstrativos da 3. pessoa dele, deles, dela, delas, seu, seus, sua, suas,

    esse, esses, essa, essas, aquele, aquela, aqueles, aquelas

    Formas verbais da 3. pessoa viu,

    encontrou, gostava; viram, encontraram, gostavam

    Posio Narrador objectivo Narrador subjectivo

    Definio

    Narrador que relata os acontecimentos com

    imparcialidade e objectividade

    Narrador que relata os acontecimentos com

    parcialidade e subjectividade

    Focalizao definio

    Narrador omnisciente narrador que detentor de um

    conhecimento ilimitado da narrativa, que lhe permite ter

    um controlo total dos acontecimentos, do tempo e

    das personagens.

    Focalizao interna - o narrador adopta o

    ponto de vista de uma ou mais

    personagens.

    Focalizao externa - o conhecimento do

    narrador limita-se ao que observvel do

    exterior.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 12

    Personagem A personagem uma categoria essencial da narrativa. Regra geral, a aco desenvolve-se volta da personagem, da a sua importncia. Podemos caracterizar a personagem quanto ao relevo na aco e quanto sua composio.

    Relevo Protagonista ou personagem principal personagem que desempenha o papel de maior importncia para o desenrolar da aco. Personagem secundria personagem que desempenha um papel com menos relevo, mas ainda assim essencial para o desenvolvimento da aco. Figurante personagem que , normalmente, irrelevante para o desenrolar da aco, mas pode ser muito importante para ajudar a ilustrar um ambiente ou um espao social de que representante.

    Composio Personagem plana uma personagem sem complexidade e que no evolui para alm da sua caracterizao inicial mantm as mesmas ideias, as mesmas aces, as mesmas palavras, as mesmas qualidades e defeitos. Personagem modelada ou redonda uma personagem complexa, apresentando uma personalidade forte. A caracterizao deste tipo de personagens est sempre em aberto, pois os seus medos, os seus objectivos, as suas obsesses vo sendo revelados pouco a pouco.

    Personagem-tipo - representa um grupo profissional ou social.

    Personagem colectiva - representa um grupo de indivduos que age como se os animasse uma s vontade.

    Caracterizao

    Directa caracterizao feita pelo narrador, pela prpria personagem ou pelas outras personagens da histria.

    Indirecta - o narrador pe a personagem em aco, cabendo ao leitor, atravs do seu comportamento e/ou da sua fala, traar o seu retrato.

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 13

    Tempo

    O tempo uma das categorias da narrativa com mais relevo. Estabelece a durao da aco e marca a sucesso cronolgica dos acontecimentos.

    Tempo cronolgico ou tempo da histria - determinado pela sucesso cronolgica dos acontecimentos narrados, ou seja, a ordem real dos acontecimentos.

    A ordem real dos acontecimentos pode ser representada desta forma:

    A B C D E F G

    1. -------|--------|---------|---------|--------|---------|--------|--

    Tempo do discurso - resulta do tratamento ou elaborao do tempo da histria pelo narrador, ou seja, a ordem textual dos acontecimentos. O tempo do discurso nem sempre respeita o tempo da histria, ou seja, os acontecimentos nem sempre so relatados pela ordem de sucesso. Este pode escolher narrar os acontecimentos:

    - por ordem linear ;

    - com alterao da ordem temporal, recorrendo analepse (narrando acontecimentos passados) ou prolepse (antecipao de acontecimentos futuros);

    - ao ritmo dos acontecimentos, como, por exemplo, na cena dialogada;

    - a um ritmo diferente, recorrendo ao resumo ou sumrio (condensao dos acontecimentos), elipse (omisso de acontecimentos) e pausa (interrupo da histria para dar lugar a descries ou divagaes).

    A ordem textual dos acontecimentos pode ser representada assim:

    B C A D G E F 1. --------|--------|-------|--------|--------|---------|--------|-------

    2. Tempo histrico - refere-se poca ou momento histrico em que a aco se desenrola.

    3.

    4. Tempo psicolgico - um tempo subjectivo, vivido ou sentido pela personagem, que flui em consonncia com o seu estado de esprito.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 14

    Espao

    O espao de uma narrativa refere-se no s ao lugar fsico onde decorre a aco, mas tambm ao ambiente social e cultural onde se inserem as personagens.

    Espao fsico - o espao real, que serve de cenrio aco, onde as personagens se movem. Lugar ou lugares onde decorre a aco. Pode definir-se como um espao aberto/fechado, interior/exterior, pblico/privado. Espao social e cultural - constitudo pelo ambiente social, representado, por excelncia, pelas personagens figurantes. Meio, situao econmica, cultural ou social das personagens. Podem ser definidos grupos sociais, conjuntos de valores e crenas desses grupos, posio que ocupam na sociedade, referncia s tradies e costumes culturais de um povo. Espao psicolgico - espao interior da personagem, abarcando as suas vivncias, os seus pensamentos e sentimentos.

    A Assinala a resposta correcta:

    1. Quando o narrador avana no tempo, verifica-se a 1. antecipao do final do mdulo. 2. elipse. 3. prolepse. 4. analepse.

    2. Quando o narrador omite acontecimentos, "saltando" na aco, falamos de 1. prolepse. 2. elipse. 3. sumrio. 4. Ocultao de provas.

    3. Quando o tempo do discurso se aproxima do tempo da histria, como, por exemplo, nos dilogos, falamos de

    1. sincronia. 2. sumrio. 3. isocronia. 4. pedido de ultrapassagem.

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 15

    4. De um narrador que nos apresenta uma narrativa, pelo ponto de vista de uma ou mais personagens, dizemos que tem

    1. focalizao omnisciente. 2. focalizao interna. 3. problemas de dupla personalidade. 4. focalizao externa.

    5. O processo de caracterizao das personagens que depende das concluses e inferncias do leitor denomina-se

    1. caracterizao directa. 2. caracterizao popular. 3. caracterizao inferida. 4. caracterizao indirecta.

    6. O conjunto de acontecimentos que se desenrolam em determinados espaos e ao longo de um perodo de tempo mais ou menos extenso tem o nome de

    1. conjunto Maria Albertina. 2. narratrio. 3. aco. 4. tempo.

    7. Quando o narrador conta uma srie de acontecimentos de forma muito resumida, falamos de

    1. elipse. 2. sumrio. 3. analepse. 4. falta de pacincia.

    8. ESPAO SOCIAL 1. o espao interior da personagem, o conjunto das suas vivncias, emoes e

    pensamentos. 2. o ambiente social em que as personagens se integram. 3. o espao real, exterior ou interior, onde as personagens se movem. 4. um projecto de enviar o excedente demogrfico para outros planetas.

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 16

    9. Quanto composio, as personagens podem ser classificadas como 1. modeladas, desenhadas e colectivas. 2. altas, baixas, gordas, magras. 3. redondas, planas e quadradas. 4. Principais, secundrias e figurantes.

    10. Se um narrador no participa na aco, dizemos que um NARRADOR 1. "CORTES". 2. AUTODIEGTICO. 3. HOMODIEGTICO. 4. HETERODIEGTICO.

    11. De um narrador que nos apresenta uma narrativa, contando a histria de forma objectiva, do ponto de vista de uma testemunha dos acontecimentos, dizemos que tem

    1. Focalizao externa. 2. Focalizao omnisciente. 3. Focalizao interna. 4. O hbito de cuscar.

    12. ESPAO PSICOLGICO 1. uma clnica para doentes mentais. 2. o espao real, exterior ou interior, onde as personagens se movem. 3. o espao interior da personagem, o conjunto das suas vivncias, emoes e

    pensamentos. 4. o ambiente social em que as personagens se integram.

    13. Se um narrador nos apresenta uma narrativa, sabendo tudo o que se passa no ntimo das personagens, bem como o que se passa no passado, presente e futuro da aco, dizemos que tem

    1. focalizao omnisciente. 2. uma grande rede de espies. 3. focalizao interna. 4. focalizao externa.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 17

    14. ESPAO FSICO 1. o espao interior da personagem, o conjunto das suas vivncias, emoes e

    pensamentos. 2. o espao real, exterior ou interior, onde as personagens se movem. 3. um local de actividades desportivas. 4. o ambiente social em que as personagens se integram.

    15. Se um narrador a personagem principal da narrativa e utiliza a primeira pessoa, dizemos que um NARRADOR

    1. HOMODIEGTICO. 2. HETERODIEGTICO. 3. AUTODIEGTICO. 4. VAIDOSO.

    16. Quando o narrador recua no tempo, verifica-se a 1. Confuso total do leitor. 2. analepse. 3. prolepse. 4. Elipse

    17. Se um narrador participa na aco, apesar de no ser protagonista, dizemos que um NARRADOR

    1. AUTODIEGTICO. 2. HOMODIEGTICO. 3. HETERODIEGTICO. 4. DISCRETO.

    18. maneira como as personagens vivenciam o tempo, chamamos 1. Tempo da histria. 2. Tempo de chuva. 3. Tempo do discurso. 4. Tempo psicolgico.

    19. A entidade responsvel pelo discurso narrativo, aquele que conta a histria, chama-se

    1. personagem. 2. narratrio. 3. cusco. 4. narrador.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 18

    20. Quanto ao relevo, as personagens podem ser classificadas como 1. altas, baixas, gordas e magras. 2. redondas, planas e quadradas. 3. modeladas, desenhadas e colectivas. 4. principais, secundrias e figurantes.

    O espao e o tempo

    Depois de teres lido, com ateno, a ficha informativa sobre as Categorias da narrativa, interpreta o esquema que se segue.

    Tempo

    4 de Junho de 1148 e Breves momentos 29 de Setembro de 1984 da manh

    Espao

    Lisboa Avenida Gago Coutinho

    O caos da situao descrita no conto revela-se tanto maior se constatarmos que

    toda esta confuso se encontra concentrada num mesmo espao: a Avenida Gago Coutinho. Efectivamente, este conto pauta-se por uma grande concentrao espacial. Mas esta concentrao no se aplica apenas ao espao, ela aplica-se tambm ao tempo, pois, apesar de haver uma disperso temporal com a presena de duas pocas histricas distintas esta disperso apenas aparente, j que as duas pocas histricas confluem e fundem-se num s momento temporal, cronologicamente breve e fugaz, correspondente ao curto adormecimento de Clio que, metaforicamente, traduzido pelo n que logo se formou quando Clio adormeceu, destoando da lisura do tecido da tapearia milenria urdida pela musa da Histria. Resumindo, cansada da sua tarefa montona e interminvel, Clio, aborrecida, deixa-se adormecer, enquanto faz a sua tapearia. Tal distraco origina uma guerra nica e sem precedentes. Ao juntar dois fios distintos, a musa da Histria mistura as datas de 4 de Junho de 1148 e 29 de Setembro de 1984. Gera-se uma grande confuso na cidade de Lisboa, mais propriamente na Avenida Gago Coutinho. A misturam-se personagens do sc. XII e do sc. XX. Este espao to concentrado e o tempo to reduzido ajudam a fazer desta uma guerra inaudita.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 19

    Clio

    Da unio de Zeus e Mnemsine a deusa da memria , nasceram as nove musas, personificando as artes e cincias. Clio (ou Arauto) a musa grega da Histria. Representada como uma jovem com uma coroa de louros e um pergaminho nas mos, frequentemente acompanhada por um ba de livros nas representaes iconogrficas. Metaforicamente, Clio simboliza que o conhecimento fruto da leitura e do estudo e, nas lendas gregas, a musa referida como aquela que legou o alfabeto aos homens. " Clio a musa maior, assim como os livros so a maior inveno da humanidade, e o conhecimento, a maior ddiva dos Deuses".

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 20

    Inaudita uma palavra derivada. Relembra, ento, os processos de formao de palavras.

    Processos de Formao de palavras possvel formar novas palavras atravs dos processos de derivao e composio.

    1. Derivao A derivao um processo de formao de palavras novas realizado atravs da juno de afixos (prefixos, se for no incio da palavra, ou sufixos, se for no fim da palavra).

    1.1. Derivao por prefixao

    Se acrescentado um prefixo, como por exemplo na palavra imvel, estamos em presena de uma derivao por prefixao.

    i + mvel = imvel

    1.2. Derivao por sufixao

    Se acrescentado um sufixo, como acontece na palavra extremidade, trata-se de uma derivao por sufixao.

    extremo + dade = extremidade

    1.3. Derivao por prefixao e por sufixao

    Se acrescentado um prefixo e um sufixo, como por exemplo na palavra infelizmente, estamos em presena de uma derivao por prefixao e sufixao.

    in + feliz + mente = infelizmente

    1.4. Derivao parassinttica

    Quando so acrescentados palavra um prefixo e um sufixo, mas em simultneo, como o caso de enriquecer, estamos perante uma derivao parassinttica, pois se fosse acrescentado s o prefixo ou s o sufixo, daria origem a uma palavra inexistente.

    en + rico + ecer = enriquecer

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 21

    Derivao (quadro sntese)

    Formao Exemplos

    Derivao por

    prefixao

    prefixo + palavra

    primitiva

    a + pr = apor

    semi + crculo = semicrculo

    tri + ngulo = tringulo

    contra + pr = contrapor

    ex + pr = expor

    im + pr = impor

    per + correr = percorrer

    Derivao por sufixao palavra primitiva +

    sufixo

    casa + aro = casaro

    chuva + oso = chuvoso

    calma + mente =

    calmamente

    casa + inha = casinha

    casa + eiro = caseiro

    Derivao parassinttica prefixo + palavra

    primitiva + sufixo

    a + funil + ar = afunilar

    en + gaiola + ar = engaiolar

    a + manh() + ecer =

    amanhecer

    Derivao regressiva

    A palavra primitiva

    reduz-se ao formar a

    palavra derivada

    abalar > abalo

    errar > erro

    cortar > corte

    debater > debate

    recuar > recuo

    Derivao imprpria

    Mudana gramatical

    nas palavras sem

    alterao da forma

    Porto - porto (vinho)

    pereira - Pereira

    (rvore) (apelido)

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    8. Sublinha, nas seguintes frases retiradas do conto, as palavras que correspondem aos processos de formao indicados.

    8.1. Derivao por sufixao se empenhavam numa ruidosa assuada.

    8.2. Derivao por prefixao deixou descair a cabea loura

    8.3. Derivao regressiva Num credo, desfez a troca dos fios

    8.4. Derivao parassinttica a Providncia encarregou de ensarilhar os trnsitos

    2. Composio

    Processo de formao de palavras atravs do qual novas palavras so formadas pela juno de duas ou mais palavras j existentes.

    Existem duas formas de composio:

    Justaposio Aglutinao

    2.1. Composio por justaposio

    Esta ocorre quando duas ou mais palavras se unem sem que ocorra alterao nas suas formas ou acentuao primitivas.

    guarda-chuva, segunda-feira, passatempo.

    2.2. Composio por aglutinao

    Esta ocorre quando duas ou mais palavras se unem para formar uma nova palavra ocorrendo alterao na forma ou na acentuao.

    fidalgo (filho + de +algo), aguardente (gua + ardente), embora (em + boa + hora)

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    Composio (quadro sntese)

    Formao Exemplos

    Justaposio

    unio de duas ou mais

    palavras conservando

    cada uma o seu acento

    prprio e ortografia (em

    regra, ligadas por

    hfen)

    amor-perfeito

    p-de-cabra

    segunda-feira

    chapu-de-chuva

    pra-quedas

    passatempo

    saca-rolhas

    Aglutinao

    unio de duas ou mais

    palavras que se

    subordinam a um nico

    acento tnico (o da

    segunda) e sofrem

    alteraes ortogrficas

    aguardente (gua + ardente)

    embora (em + boa + hora)

    fidalgo (filho + de + algo)

    Monsanto (monte + santo)

    9. Atenta nas palavras sublinhadas na coluna da esquerda. Estabelece as correspondncias correctas entre elas e os respectivos processos de formao.

    lugar-tenente de Muftar Derivao por sufixao enciumado pela concorrncia Composio por justaposio ocupava a placa central relvada Derivao parassinttica no pouco espao ao dispor Derivao por prefixao Mas, infelizmente, no so Derivao por prefixao Apenas os poetas e por sufixao

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 24

    10. Coloca correctamente as palavras, contidas no quadro, no espao frente do processo de formao.

    ensurdecedora pisca-piscas louvvel

    troca desacompanhado retinir

    Embora Sr. Gago

    10.1. Derivao por prefixao _____________________

    10.2. Derivao por sufixao ______________________

    10.3. Derivao por prefixao e sufixao _________________________

    10.4. Derivao parassinttica ______________________

    10.5. Derivao regressiva ________________________

    10.6. Composio por justaposio _________________________

    10.7. Composio por aglutinao ____________________

    10.8. Derivao imprpria _______________________

    11. Identifica a alternativa que indica correctamente os processos de formao das

    palavras destacadas:

    Ao anoitecer, o planalto fica deserto. O raio ultravioleta provocou um ataque danoso ao material.

    a) derivao por sufixao, composio por justaposio, composiao por aglutinao b) parassntese, composiao por aglutinao, derivao regressiva c) derivao por prefixao, composiao por aglutinao, composio por

    justaposio d) derivao por prefixao e por sufixao, composio por justaposio,

    parassntese

    e) parassntese, composio por justaposio, derivao regressiva

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 25

    12. Identifica as palavras que fogem ao processo de formao de chapechape: a) zumzum c) toque-toque e) vivido

    b) miminho d) tim-tim f) reco-reco

    O incio da guerra inaudita

    A partir do terceiro pargrafo vamos ter o desenrolar da aco propriamente dita, consequncia do descuido de Clio, a musa da Histria. Assim, na manh de 29 de Setembro de 1984, os automobilistas que entravam em Lisboa pela avenida Gago Coutinho em direco ao Areeiro, vo deparar-se, inexplicavelmente, com a numerosa tropa de Ibn-el-Muftar, montada em solpedes, cujo propsito era conquistar a cidade de Lisboa que havia sido tomada h um ano atrs, em 1147, por D. Afonso Henriques.

    Repara na veracidade do facto histrico referido. A aco do conto decorre em 1148 e um ano antes, em 1147, deu-se a reconquista

    de Lisboa. Efectivamente, D. Afonso Henriques, com o auxlio de cruzados que se dirigiam para

    a Palestina (2 cruzada), conseguiu tomar a cidade, ento ocupada pelos mouros, aps um cerco de cerca de quatro meses. A cidade acabou por se render em Outubro de 1147.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 26

    1. Ordena as seguintes frases relativas inaudita guerra de acordo com os smbolos que representam cada uma delas.

    a) Chega o comissrio Nunes que manda dispersar tudo bastonada.

    b) Os automobilistas saem dos carros sem perceber o que se passa.

    c) Manuel da Silva Lopes atinge um dos rabes com um calhau e estes ripostam

    com setas.

    d) Ibn-el-Muftar, incrdulo, tenta compreender o que se passa em Lisboa.

    e) Estranhamente, a normalidade reposta na Avenida Gago Coutinho.

    f) Os rabes investem contra os polcias e estes escondem-se na Cervejaria Munique.

    g) enviada a Polcia de Interveno para o ajudar.

    h) Manuel Reis Tobias pede ajuda ao posto de comando.

    i) Chega o capito Aurlio Soares que tenta resolver a situao pacificamente,

    atravs do dilogo. a) b) c) d) e)

    f) g) h) i)

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 27

    Numa manh de Setembro

    Os automobilistas que nessa manh de Setembro entravam em Lisboa pela Avenida Gago Coutinho, direitos ao Areeiro, comearam por apanhar um grande susto, e, por instantes, foi, em toda aquela rea, um estridente rumor de motores

    desmultiplicados, traves aplicados a fundo, e uma sarabanda de buzinas ensurdecedora. Tudo isto de mistura com retinir de metais, relinchos de cavalos e

    imprecaes guturais em alta grita. que, nessa ocasio mesma, a tropa do almada lbn-elMuftar, composta de berberes, azenegues e rabes em nmero para cima de dez mil, vinha sorrateira pelo

    valado, quase beira do esteiro de rio que ali ento desembocava, com o propsito de pr cerco s muralhas de Lixbuna, um ano atrs assediada e tomada por hordas de

    nazarenos odiosos. Viu-se de repente o exrcito envolvido por milhares de carros de metal, de cores faiscantes, no meio de um fragor estrondoso - que veio substituir o suave pipilar

    dos pssaros e o doce zunido dos moscardos - e flanqueado por paredes descomunais que por toda a parte se erguiam, cobertas de janelas brilhantes. Assustaram-se os

    bedunos, volteando assarapantados os cavalos, no estreito espao de manobra que lhes era deixado, e Ali-ben-Yussuf, lugar-tenente de Muftar, homem piedoso e temente a Deus, quis ali mesmo apear-se para orar, depois de ter alado as mos ao cu e

    bradado que Al era grande. De que Al era grande estava o chefe da tropa convencido, mas no lhe

    pareceu o momento oportuno para louvaminhas, que a situao requeria antes solues prticas e muito tacto. Travou os desgnios do adjunto com um gesto brutal, levantou bem alto o pendo verde e bradou uma ordem que foi repetida, de esquadro

    em esquadro, at chegar derradeira retaguarda, j muito prxima da Rotunda da Encarnao: - Que ningum se mexesse!

    2. Procura no dicionrio o significado das palavras destacadas no texto.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 28

    A Linguagem - As sensaes e as figuras de estilo

    1. Quando conta a chegada dos rabes Avenida Gago Coutinho, o narrador muito expressivo, recorrendo s sensaes para nos dar uma ideia real do que aconteceu. Sublinha a vermelho as expresses relativas a sensaes visuais e a verde as expresses relativas a sensaes auditivas.

    () e, por instantes, foi, em toda aquela rea, um estridente rumor de motores desmultiplicados, traves aplicados a fundo, e uma sarabanda de buzinas ensurdecedora. Tudo isto de mistura com retinir de metais,

    relinchos de cavalos e imprecaes guturais em alta grita. que, nessa ocasio mesma, a tropa do almada lbn-elMuftar, composta de berberes, azenegues e rabes em nmero para cima de dez

    mil, vinha sorrateira pelo valado, quase beira do esteiro de rio que ali ento desembocava, com o propsito de pr cerco s muralhas de

    Lixbuna, um ano atrs assediada e tomada por hordas de nazarenos odiosos. Viu-se de repente o exrcito envolvido por milhares de carros de

    metal, de cores faiscantes, no meio de um fragor estrondoso - que veio substituir o suave pipilar dos pssaros e o doce zunido dos moscardos - e

    flanqueado por paredes descomunais que por toda a parte se erguiam, cobertas de janelas brilhantes.

    2. A expressividade deste excerto conseguida, no s pelo recurso s sensaes, mas tambm pelas figuras de estilo. Identifica, completando os espaos, as figuras de estilo presentes nos excertos.

    2.1. Tudo isto de mistura com retinir de metais, relinchos de cavalos

    e imprecaes guturais em alta grita. ___________________ 2.2. Viu-se de repente o exrcito envolvido por milhares de carros

    de metal _____________________

    2.3. () paredes descomunais que por toda a parte se erguiam, cobertas de janelas brilhantes. _____________________

    Sensaes As sensaes e as figuras de estilo tm muita importncia neste excerto, pois tornam a linguagem bastante expressiva e, atravs delas, conseguimos visualizar toda a situao, com se nela tivssemos participado.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 29

    Figuras de estilo

    Aliterao - recurso de estilo do nvel fonolgico, que consiste na repetio de fonemas, como recurso para intensificao do ritmo, ou como efeito sonoro significativo.

    Ex.: "Galgam os gatos, guturais, gritando" - Antnio Feij "Na messe, que enlourece, estremece a quermesse..." - Eugnio de Castro

    Anfora - a repetio da mesma palavra ou grupo de palavras no princpio de frases ou versos consecutivos.

    Ex.: Amor fogo que arde sem se ver, ferida que di e no se sente; um contentamento descontente, dor que desatina sem doer. (Cames) Comparao - existe a comparao, quando a associao entre as palavras se processa atravs de expresses comparativas como: como, tal como, tal qual, assim como ou por verbos como parecer, assemelhar...

    Ex.: O cipreste e o cedro envelheciam juntos como dois amigos num ermo (...) - Ea de Queirs Enumerao figura que consiste na sucesso de vrias palavras, grupos de palavras ou frases. O objectivo intensificar o ritmo do discurso. Ex.: No soltava um pio, um queixume, nada. Jos Cardoso Pires Hiprbole - quando h exagero da realidade numa ideia expressa, de modo a acentuar de forma dramtica aquilo que se quer dizer, transmitindo uma imagem inesquecvel.

    Ex.: Rios te correro dos olhos, se chorares! - Olavo Bilac

    Ironia - o contrrio do que se diz, na maioria das vezes em tom de sarcasmo.

    Ex.: () j os briosos homens da Polcia de Interveno corriam a bom correr at Cervejaria Munique, onde se refugiavam atrs do balco() - Mrio de Carvalho

    Metfora figura que consiste no uso de uma palavra ou expresso (metafrica) para descrever ou representar algo diferente do que designa normalmente, devido a uma relao de analogia. Ex.: Meu corao um balde despejado Fernando Pessoa

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 30

    Personificao - consiste na atribuio de caractersticas humanas a seres inanimados ou animais, ou simplesmente na atribuio de caractersticas de seres vivos a coisas inanimadas. Ex.: Naquela manh de Maro, o vento norte levantou-se mal-humorado. -

    Antnio Botto

    Repetio figura que consiste na repetio de uma palavra ou de um grupo de

    palavras.

    Ex.: via sempre as mesmas flores, as mesmas plantas, o mesmo lago, os mesmos pssaros Lus Carlos

    Pleonasmo - Repetio de uma ideia, recorrendo s mesmas palavras ou outras de sentido equivalente.

    Ex.: "Vi claramente visto o lume vivo" Cames Sindoque - Substituio de um termo por outro de extenso diferente. A parte pelo todo e vice-versa: As armas e os bares assinalados Que, da Ocidental praia Lusitana (...) - Cames Nesta passagem, a parte ("praia") designa o todo (Portugal). A matria pela forma: Oh! Maldito, o primeiro que no mundo Nas ondas vela ps em seco lenho! - Cames

    Neste caso, o material (madeira - "seco lenho") designa o produto final (barco).

    Perfrase - Consiste em dizer por muitas palavras o que poderia ser dito por poucas.

    Ex.: Nos campos do colrico Mavorte (na guerra) - Bocage

    Eufemismo - Consiste na suavizao de realidades chocantes, utilizando, para as descrever, palavras agradveis.

    Ex.: O velho pai sesudo (...) Tirar Ins ao mundo determina. - Cames

    Neste caso, a deciso de mandar matar Ins de Castro suavizada pela expresso "tirar ao mundo", menos agressiva.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 31

    Elipse - Designa a omisso de palavras que podem ser facilmente subentendidas. A sua utilizao torna o enunciado mais condensado e incisivo.

    Ex.: As escadas escuras. A porta e a luz, de repente, nos olhos desabituados. A luz forte da rua num dia de Sol. - Augusto Abelaira

    Neste exemplo, em cada uma das frases foi omitido o verbo, ficando cada uma delas reduzida aos elementos essenciais. O resultado so trs pequenos traos descritivos, sugerindo de forma incisiva o salto abrupto da escurido para a luz.

    Paralelismo - Consiste na repetio da mesma estrutura sintctica.

    Se apenas uma palavra ou expresso que aparece repetida no incio de vrios versos ou frases, estamos perante de uma anfora. Se a repetio abrange toda a estrutura frsica, trata-se de um caso de paralelismo, que, muitas vezes, inclui a anfora.

    Ex.: A tua linda voz de gua corrente

    Ensinou-me a cantar... e essa cano

    Foi ritmo nos meus versos de paixo.

    Foi graa no meu peito de descrente. - Florbela Espanca

    Gradao - Consiste em dispor um conjunto de ideias por ordem crescente ou decrescente.

    Ex.: Toma Incio o livro nas mos, l-o, a princpio com dissabor, pouco depois sem fastio, ultimamente com gosto e dali por diante com fome, com cuidado, com desengano, com devoo, com lgrimas (...). - P. Antnio Vieira

    Hiprbato - alterao ou inverso da ordem directa dos termos na orao, ou das oraes no perodo.

    Ex.: "Casos que Adamastor contou futuros" Cames

    Anttese - Aproximao de palavras com significados opostos. Duas ideias antagnicas so aproximadas.

    Ex.: to triste este meu presente estado Que o passado por ledo estou julgando. - Cames

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 32

    Metonmia - Consiste em atribuir a uma coisa o nome de outra com base numa relao de contiguidade.

    o autor pela obra

    Comprou um Van Gogh por um milho de dlares.

    o continente pelo contedo

    Bebeu um copo.

    o local de fabrico pelo produto

    Bebemos um porto.

    o material de que feito pelo objecto

    Gosta de cristais.

    o efeito pela causa

    Respeitem os meus cabelos brancos.

    o fsico pelo moral

    Ele uma boa cabea.

    o sinal pela coisa significada

    A cruz e a espada engrandeceram Portugal.

    Sinestesia - Consiste numa associao de sensaes diferentes na mesma expresso.

    Ex.: noite: e, sob o azul morno e calado, Concebem os jasmins e os coraes. - Gomes Leal

    Apstrofe - Consiste na invocao de pessoas ausentes, coisas ou ideias.

    Estamos perante uma apstrofe, quando o emissor inicia (ou interrompe) o seu discurso, dirigindo-se a seres imaginrios, coisas ou ideias, ou mesmo pessoas, desde que fisicamente ausentes. Em qualquer dos casos estamos perante uma situao que foge estrita lgica do acto comunicativo, constituindo, por isso, um recurso expressivo. Quando o destinatrio do discurso um ser no humano, uma coisa ou ideia, a apstrofe acompanhada de personificao.

    Ex.: E vs, Tgides minhas, pois criado

    Tendes em mi um novo engenho ardente (...) - Cames

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 33

    3. Identifica cada uma das figuras de estilo descritas.

    3.1. Figura pela qual se atenua ou disfara a expresso de uma ideia que se considera chocante, desagradvel ou repugnante.

    a) metfora b) eufemismo c) comparao d) anttese

    3.2. Repetio insistente dos mesmos sons consoantes em um ou mais versos ou membros da frase.

    a) hiprbole b) aliterao c) metfora d) onomatopeia

    Interrogao retrica - Pergunta que se formula para se reforar o que se est a dizer e no para obter uma resposta. Ex.: "Quem poluiu, quem rasgou os meus lenis de linho, Onde esperei morrer - meus castos lenis?" - Camilo Pessanha.

    Onomatopeia - Palavras que pretendem imitar sons.

    Ex.: "Aquele comboio malandro Passa passa sempre com a fora dele u u u hii hii hii te-quem-tem te-quem-tem te-quem-tem" - Antnio Jacinto.

    Anstrofe - Consiste na alterao da ordem normal das palavras no interior da frase. Geralmente leva colocao do complemento do nome antes do nome ou do complemento directo antes do verbo.

    Ex.: Aquela triste e leda madrugada (...)

    Quero que seja sempre celebrada. - cames

    Nestes versos de Cames, a ordem directa seria "Quero que aquela triste e leda madrugada seja sempre celebrada."

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 34

    3.3. Repetio da mesma palavra ou palavras no incio de vrios versos ou frases sucessivas, utilizada para exprimir a intensidade de uma ideia.

    a) metfora b) perfrase c) comparao d) anfora

    3.4. Inverso da ordem normal das palavras para se dar mais realce ao pensamento.

    a) metfora b) anstrofe c) anfora d) metonmia

    3.5. Transferncia do significado prprio de um vocbulo para outro, devido a certa semelhana existente entre os seus significados.

    a) metfora b) ironia c) onomatopeia d) perfrase

    3.6. Atribuio de caractersticas humanas (fala, aco, sentimentos...) a tudo o que no seja humano (ideias, animais, objectos inanimados, qualidades abstractas, etc.)

    a) pleonasmo

    b) anttese c) personificao e) aliterao

    3.7. Figura que resulta da fuso de percepes relativas a dados sensoriais de sentidos diferentes. Atribui determinadas sensaes (visuais, gustativas, tcteis, auditivas ou olfactivas) a sentidos que as no possuem. Traduz um dado sensorial por outro.

    a) comparao b) sinestesia c) metfora d) sindoque

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 35

    3.8. Apresentao de um contraste entre duas ideias tornado mais evidente pela oposio das palavras ou das frases que as designam, com o intuito de pr em destaque uma das ideias (ou ambas) ou dar ao leitor uma viso inesperada da realidade.

    a) ironia b) apstrofe c) anttese d) eufemismo

    O confronto entre os dois grupos de personagens to heterogneos gera uma situao catica, que nos habilmente traduzida de forma realista pelo narrador atravs de uma linguagem expressiva, com recurso a sensaes auditivas e visuais e a todo um conjunto de termos e expresses lexicais que, para alm de nos permitir imaginar, quase visualizar a situao, contribui para dar cor epocal aos tempos cronolgicos referidos, bem como aos seus contendores, evidenciando distintamente as suas diferenas.

    Ex.: ...e, por instantes, foi, em toda aquela rea, um estridente rumor de motores

    desmultiplicados, traves aplicados a fundo e uma sarabanda de buzinas ensurdecedora. (p.27-28)

    Este segmento textual, que se reporta, obviamente, ao primeiro grupo de

    personagens: os automobilistas do sc. XX, vai opor-se a outro segmento, que se refere, especificamente, tropa moura de Ibnel- Muftar do sc. XII:

    Tudo isto de mistura com retinir de metais, relinchos de cavalos e imprecaes guturais em alta grita. (p.28)

    Para dar cor epocal e conferir realismo aco, contribui igualmente o grande nmero de palavras de origem rabe existentes no texto, das quais podemos destacar: alfange, algazarra, alferes, alarde, almada, etc.. Note-se, em todas elas, a presena do artigo definido rabe al (invarivel em gnero e nmero), correspondente ao nosso determinante artigo definido o, a. Isto para j no falar nos nomes prprios, como por exemplo: Al, Lixbuna, Ibn-Arrik (Afonso Henriques), etc..

    O recurso adjectivao, pormenorizao e a figuras de estilo (como j vimos), tais como: enumerao, onomatopeia, hiprbole e anttese, so outros dos recursos utilizados para nos fazer visualizar o pandemnio da situao:

    que nessa ocasio mesma, a tropa do almada Ibn-el-Muftar, composta de berberes, azenegues e rabes, em nmero para cima de dez mil, (...) viu-se de repente (envolvida) por milhares de carros de metal, de cores faiscantes, no meio de um fragor estrondoso que veio substituir o suave pipilar dos pssaros e o doce zunido dos moscardos e flanqueado por paredes descomunais que por toda a parte se erguiam, cobertas de janelas brilhantes. (p.28)

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 36

    Adjectivos

    Os adjectivos so palavras que variam em gnero, em nmero e, normalmente, em grau. Os adjectivos que admitem variaes em gnero, tendo uma forma para o feminino e outra para o masculino, so adjectivos biformes. Quando no h contraste de gnero, estamos perante adjectivos uniformes.

    Ex.: alto alta bom boa adjectivos biformes animador animadora saudvel alegre adjectivos uniformes feliz

    Adjectivos uniformes

    Terminao Feminino Exemplos

    -a no muda agrcola, homicida, indgena, celta

    -e no muda rabe, breve, doce

    -ense, -ante, -ente, inte no muda ateniense, hilariante, coerente, contribuinte

    -l no muda (excepo:

    espanhola) artificial, amvel, frgil, azul

    -s (em adjectivos

    paroxtonos) no muda reles, simples

    -ar e -or (nos

    comparativos) no muda mpar, vulgar, inferior, pior

    -z, -m no muda (excepo: boa,

    andaluza) audaz, feliz, selvagem, virgem

    Os adjectivos servem para caracterizar os nomes, de modo a termos uma ideia mais exacta sobre os seres que designam. Assim, os adjectivos atribuem qualidades que podem complementar ou modificar o nome.

    Por exemplo, a frase "No outro dia, conheci um rapaz." no to expressiva como: "No outro dia, conheci um rapaz simptico, bonito e inteligente."

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 37

    importante saber escolher os adjectivos de acordo com a caracterstica que desejamos realar.

    Normalmente, colocam-se os adjectivos depois do nome: Ex.: O homem fez uma deduo perspicaz. nome + adjectivo

    Mas h adjectivos que se colocam quer direita, quer esquerda do nome, originando, no entanto, interpretaes diferentes: Ex.: O teu pai um rico professor. adjectivo + nome

    O teu pai um professor rico. nome + adjectivo

    H adjectivos que s se colocam depois do nome: Ex.: A camisola azul est suja. nome + adjectivo

    4. Sublinha os adjectivos, nas frases que se seguem e classifica-os quanto ao gnero.

    a) Os alunos esto tristes com as notas fraqussimas que obtiveram na ficha de Matemtica. Eles esperam tirar melhores resultados no prximo teste. b) As alunas esto muito cansadas, porque a aula de Educao fsica foi mais desgastante do que a de natao.

    c) O Paulo o aluno mais estudioso da turma e a Dbora a menos perspicaz.

    d) A Mariana est menos entusiasmada com a viagem de finalistas do que os colegas. Esto todos muito empenhados em fazer uma quermesse, porque precisam de arranjar dinheiro para a mais divertida viagem de sempre.

    Os professores esto to felizes como os alunos, pois acham que vai ser uma ptima oportunidade para se conhecerem melhor.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 38

    Plural dos adjectivos

    O adjectivo toma a forma singular ou plural do substantivo que qualifica.

    Terminao (regra geral) Plural Exemplos

    vogal e ditongo acrescenta-se -s tristes, maus

    consoante acrescenta-se -es felizes, elementares

    Terminao (particularidades) Plural Exemplos

    -o muda para -os, -es ou -es sos, glutes

    -m muda para -ns jovens, bons

    -al, -ol, -ul muda para -ais, -ois, -uis ovais, azuis

    -el muda para -is, -is moscatis, fiis, espanhis

    -il tnico muda o -l em -s febris, infantis

    -il tono muda para -eis fteis, frteis

    -s, -s, -is acrescenta -es portugueses

    -s, -x no muda simples

    Adjectivos compostos Plural Exemplos

    por justaposio

    s o ltimo elemento toma a forma do plural (exceptua-se

    surdo-mudo que toma a forma surdos-mudos)

    agro-pecurias, hispano-americanos, mdico-cirrgicos,

    luso-americanas

    referentes a cores quando o segundo elemento um

    substantivo no mudam

    verde-esmeralda, amarelo-canrio, verde-azeitona

    Feminino dos adjectivos

    O adjectivo assume o gnero do substantivo.

    Terminao (regra geral) Feminino Exemplos

    -o muda para -a bonita, larga, formosa

    Terminao (particularidades) no muda rabe, breve, doce

    -o muda para -, -ona (tem excepes: beiro-beiroa)

    s, chorona

    -s, -or, -u acrescenta -a (tem excepes: hindu, corts, trabalhadeira)

    francesa, encantadora, crua

    -dor, -tor muda para -triz geratriz, motriz

    -eu (com e fechado) muda para -eia europeia, hebreia

    -eu (com e aberto) muda para -oa ilhoa, tabaroa

    Adjectivos compostos no muda mpar, vulgar, inferior, pior

    apenas o segundo elemento assume a forma feminina

    (exceptua-se surdo-mudo que toma a forma surda-muda)

    norte-americana, luso-espanhola

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 39

    Grau dos adjectivos

    Grau Formao Exemplos

    Comparativo

    de superioridade mais + adjectivo + que, do que ou quanto

    s mais alto que o Joo.

    de igualdade to + adjectivo + como Ela to gil como a me.

    de inferioridade menos + adjectivo + que, do que ou quanto

    Sou menos hbil que tu.

    Superlativo

    Absoluto sintctico (1) acrescentam-se os sufixos -ssimo, -imo, -rimo

    belssimo, felicssimo, faclimo, librrimo

    Absoluto analtico antepem-se ao adjectivo os advrbios muito, bem, assaz, bastante, imensamente, etc.

    muito fcil, bem pobre, assaz difcil, bastante largo, imensamente bom

    Relativo de superioridade antepe-se o (a) ao comparativo de superioridade

    o mais antigo prdio Foi a mais hbil professora

    Relativo de inferioridade antepe-se o (a) ao comparativo de inferioridade

    O Carlos o aluno menos estudioso do colgio

    Comparativos e superlativos irregulares

    Adjectivo Comparativo de Superioridade

    Superlativo

    Absoluto Relativo

    bom melhor ptimo o melhor

    mau pior pssimo o pior

    grande maior mximo o maior

    pequeno menor mnimo o menor

    4.1. Em que grau se encontram os adjectivos do exerccio 4.

    Adjectivos que apresentam formas irregulares no superlativo

    acre acrrimo gil aglimo agradvel agradabilssimo amigo amicssimo amvel amabilssimo amargo amarssimo antigo antiqussimo spero asprrimo

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 40

    veloz velocssimo atroz atrocssimo audaz audacssimo benfico ou beneficente beneficentssimo benvolo ou benevolente benevolentssimo capaz capacssimo claro clarssimo celebre celebrrimo comum comunssimo cristo cristianssimo crvel credibilssimo cru crussimo cruel crudelssimo difcil dificlimo doce dulcssimo dcil doclimo fcil faclimo fiel fidelssimo feliz felicssimo feroz ferocssimo frio frigidssimo ou frissimo grcil graclimo humilde humlimo horrvel horribilssimo inimigo inimicssimo interior ntimo livre librrimo magnfico magnificentssimo malfico maleficentssimo magro macrrimo msero misrrimo negro nigrrimo nobre nobilssimo pago paganssimo pessoal personalssimo pobre pauprrimo ou pobrssimo so sanssimo sbio sapientssimo sagrado sacratssimo salubre salubrrimo srio serissimo simples simplssimo ou simplicssimo soberbo superbssimo

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 41

    5. Faz corresponder os adjectivos retirados do excerto apresentado na pgina 21 s

    afirmaes da coluna da direita.

    grande

    oportuno adjectivos biformes

    prticas

    brutal

    verde

    afilada

    perspicaz

    cornico adjectivos uniformes

    crist

    6. Flexiona os quatro adjectivos que se seguem no grau superlativo absoluto sinttico.

    a) grande

    b) brutal

    c) afilada

    d) crist

    7. Atenta nas frases seguintes e sublinha os adjectivos.

    a) no propsito sbio e louvvel de surpreender contraventores aos semforos

    b) Segredou para bem-yussuf que respondeu, desconfiado e muito plido

    c) desciam a Avenida para observar o estado geral do exrcito

    d) resolveu em m hora abandonar o volante

    e) Clio, musa da Histria que, enfadada da imensa tapearia milenria

    f) carros de metal, de cores faiscantes, no meio de um fragor estrondoso

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 42

    7.1.Flexiona-os, agora, nos graus indicados.

    a) Superlativo absoluto sinttico

    sbio -

    m -

    geral

    b) Superlativo relativo de superioridade

    Plido

    louvvel -

    desconfiado

    8. Substitui, nas frases que se seguem, as expresses sublinhadas por um s adjectivo,

    mantendo o mesmo sentido e fazendo as concordncias necessrias.

    a) Com prejuzo da toada e da eloquncia do discurso _________________

    b) Envolvido por milhares de carros de metal _________________

    c) Uma carga de cavaleiros, aos gritos de guerra _________________

    d) Locatrios de um rs-do-cho da vizinhana _________________

    e) Com bandeiras e trajes de carnaval _________________

    f) Acompanharam apaixonadamente o correr dos processos _________________

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 43

    Vrias explicaes para a guerra inaudita

    E el-Muftar, cofiando a barbicha afilada, e dando um jeito ao turbante, considerava, com ar

    perspicaz, o pandemnio em volta: - Teriam tombado todos no inferno cornico? Teriam feito algum

    agravo a Al? Seriam antes vtimas de um passe da feitiaria crist? Ou tratar-se-ia de uma partida

    de jinns encabriolados?

    1. Das seguintes opes escolhe aquelas que os rabes consideram como

    explicaes possveis para tal confuso.

    a) Feitio lanado pelos cristos.

    b) As tropas de D. Afonso Henriques

    c) Anteviso do inferno, de acordo com o Coro, o livro sagrado do islamismo.

    d) Uma viagem no tempo que os levou ao futuro.

    e) Castigo de Al, por algo errado que tenham feito.

    f) Um desfile de Carnaval.

    g) Uma partida de jinns.

    2. Uma das explicaes avanadas por Ibn-el-Muftar , ento, uma possvel partida

    de jinns. O que sero jinns?

    a) Bebidas.

    b) Calas de ganga.

    c) Gnios.

    d) Feiticeiros.

    Jinns Os jinns so gnios, espritos que tm poderes sobre os homens. Podem assumir forma humana ou animal. As histrias d As Mil e Uma Noites tm vrios exemplos destas personagens mitolgicas. O gnio da lmpada de Aladino, que tem poder de lhe conceder trs desejos, um desses exemplos.

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 44

    3. Os rabes ficaram perplexos com tudo o que aconteceu. Tudo era novo para

    eles e a imagem que tinham das coisas era inocente. Atenta nas descries

    feitas pelos rabes daquilo que os rodeava e tenta decifrar quais os objectos

    referidos.

    a) Flanqueado por paredes descomunais que por toda a parte se erguiam,

    cobertas de janelas brilhantes - ___________________________________

    b) Decidiu no se deixar impressionar com os trejeitos pouco amistosos que lhe

    vinham de dentro dos objectos metlicos com rodas que havia por toda a

    parte - _______________________

    c) As caras que o fitavam por detrs de um estranho material transparente. -

    _________________________

    (prdios, autocarros, candeeiros, espelhos, bicicletas, automveis, vidros, plsticos)

    Uma multido indeterminada de indivduos do sexo masculino, a maior parte dos quais portadores de armas brancas e outros objectos contundentes, cortantes e perfurantes, com bandeiras e trajos de carnaval, montados em solpedes, tinham invadido a Avenida Gago Coutinho e parte do Areeiro em manifestao no autorizada. Dado que se lhe afigurava existir insegurana para a circulao de pessoas e bens na via pblica, aguardava ordens e passava escuta. De l lhe disseram que iriam providenciar e que se limitasse a presenciar as ocorrncias, mas sem intervir por enquanto.

    Um imediato telefonema para o governador civil e deste para o ministro confirmou que no se encontravam previstos desfiles, de forma que a mquina policial se viu movida a ingerir-se no caso. Soaram as sirenes no quartel de Belm e, poucos minutos depois, alguns pelotes da Polcia de Interveno vinham a caminho, com grande alarde de sereias e pisca-piscas multicores.

    Entretanto, lbn-el-Muftar via pela frente uma grande multido apeada que apostrofava os seus soldados. Eram os automobilistas que haviam sado dos carros e que, entre irritados e divertidos, se empenhavam numa ruidosa assuada. Que devia ser algum reclame, diziam uns; que era mas era para um filme, diziam outros.

    4. Assinala as possveis explicaes para a presena das tropas rabes em Lisboa, segundo a opinio daqueles que, naquela manh, se encontravam na Avenida Gago Coutinho. a) Uma experincia cientfica.

    b) Um desfile no autorizado.

    c) Um truque de magia.

    d) A gravao de um anncio.

    e) Uma passagem de modelos.

    f) A gravao de um filme.

    g) Uma aula de histria.

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 45

    As diferentes percepes Como vs, as explicaes avanadas pelas personagens do sculo XII so bem diferentes das dadas pelas personagens do sculo XX. Esta diversidade mostra bem a diferena entre duas pocas to distantes. Numa domina a superstio, a crena irracional e o medo, na outra a lgica e a razo. O Homem sempre teve medo do desconhecido, do inexplicvel. Mas o conhecimento, o saber e a experincia permitem ao homem moderno ter uma viso mais compreensiva e aberta do mundo.

    Um desfile de personagens

    Ao longo deste conto h um verdadeiro desfile de personagens com modos de pensar muito diferentes.

    1. O esquema seguinte apresenta vrias personagens que vo surgindo ao longo da obra, nomeadamente os trs grandes grupos intervenientes e, dentro de cada um deles, as personagens de maior protagonismo. Completa-o.

    Personagens Este conto tem um nmero reduzido de personagens, embora no o parea. H algumas que assumem um certo protagonismo, mas a maior parte delas so personagens colectivas e sem grande relevncia. No entanto, estes figurantes so fundamentais para ilustrar a atmosfera catica daquela manh, tornando a aco mais verosmil.

    Personagens

    __________________

    Foras policiais

    __________________

    Manuel da

    Silva Lopes

    ___________ ____________

    Manuel Reis Tobias

    ___________ ___________

    Ibn-el-Muftar

    ____________ ____________

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    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 46

    Os rabes com maior protagonismo so Ibn-el-Muftar e Ali-bem-Yussuf.

    L o texto desde Assustaram-se os bedunos, volteando assarapantados os cavalos at dirigiu-se ao capito, e saudou, de mo no peito: - Salam aleikum.

    2. Tendo em conta o excerto da obra que acabaste de ler, assinala as expresses que

    melhor caracterizam os rabes e as atitudes por eles tomadas nesta guerra. a) Assustados com a cidade b) Cruis c) Prudentes d) Bons estrategas e) Provocadores f) Selvagens g) Irritados quando provocados h) Brincalhes i) Perspicazes

    Os rabes

    Os rabes comeam por revelar medo e estranheza perante o peculiar cenrio que encontram. Como no conseguem avanar uma explicao que os convena, tentam aos poucos compreender a situao. E durante todo o inslito processo revelam calma e perspiccia. Tentam sempre ser prudentes e mesmo vindos de um outro tempo, conseguem lidar com a situao, mostrando serem bons estrategas. Nesta guerra em concreto, s manifestam irritao e s atacam quando provocados (depois do calhau lanado pelo camionista e da gua lanada de uma janela).

    Eram os automobilistas que haviam sado dos carros e que, entre irritados e divertidos, se empenhavam numa ruidosa assuada. Que devia ser algum reclame, diziam uns; que era mas era para um

    filme, diziam outros. Ao mouro, aquela peonagem toda no se afigurou particularmente ameaadora, tanto mais que a turba circundante, de estranhas vestimentas vestida, no parecia exibir armas de qualquer natureza. De maneira que lbn-Muftar optou por manobrar cautelosamente no pouco espao ao dispor. Com alguns sinais do alfange fez que um ou dois esquadres formassem, com dificuldade, no parque de estacionamento do Areeiro, e uma falange de gente de p se arrumasse no terreiro da estao

    de servio do lado contrrio, enquanto o grosso da tropa ocupava a placa central relvada. Decidiu no se deixar impressionar com os trejeitos pouco amistosos que lhe vinham de dentro dos objectos metlicos com rodas que havia por toda a parte, nem com as caras que o fitavam por detrs de um estranho material transparente. Se era uma encantao, melhor era deixar que passasse - segredou para ben-Yussuf que lhe respondeu, desconfiado e muito plido: - inch Allah! Manuel da Silva Lopes, que conduzia um daqueles irritantes camies carregados de grades de cerveja que a Providncia encarregou de ensarilhar os trnsitos em Lisboa, resolveu em m hora

    abandonar o volante, apear-se, e, decerto enciumado pela concorrncia, apontar um calhau mido que foi ecoar no broquel do beduno Mamud Beshewer que, por ainda no ter acordado de tudo isto, era um dos

    mais quietos da tropa.

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 47

    3. Depois de teres lido atentamente o excerto apresentado, que relata a reaco dos automobilistas aos estranhos acontecimentos da Avenida Gago Coutinho, indica os adjectivos que caracterizam o estado de esprito dos motoristas. a) Magoados b) Irritados c) Felizes d) Divertidos e) Pasmados

    3.1. H um automobilista em particular que se destaca. Completa os espaos em branco:

    Nome - _____________________________________________________________

    Profisso - __________________________________________________________

    Erros cometidos - ____________________________________________________

    ( Adormecer ao volante e aborrecer os polcias; Engarrafar o transito e atirar um calhau a um rabe; Beber cerveja e deitar o resto em cima de um dos rabes)

    As foras policiais

    Manuel Reis Tobias

    4. O que estava este agente a fazer naquela manh na Avenida Gago Coutinho?

    a) Participava numa manifestao policial.

    b) Tentava apanhar automobilistas infractores.

    c) Passeava com a famlia.

    5. Ao deparar-se com aquela estranha situao, o que resolve fazer o agente?

    a) Multar os rabes, porque tinham os cavalos mal estacionados.

    b) Multar os rabes por excesso de velocidade.

    c) Comunicar o sucedido e aguardar instrues.

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 48

    Comissrio Nunes

    6. O comissrio Nunes um pouco mais impulsivo e no reage da mesma forma. Ordena as vrias fases da sua interveno.

    a) Estes, ao ver a cavalaria, desorientam-se e fogem.

    b) Ouve-se um grande apupo vindo da zona do Areeiro.

    c) O comissrio pensa que a multido a desafiar a polcia.

    d) Manda os seus homens dispersar a multido bastonada.

    e) A Polcia de Interveno cumpre as ordens de imediato e, a custo, chegam ao local exacto da confuso.

    f) Acabam por se esconder atrs do balco de uma cervejaria.

    g) Entretanto, aproximam-se vrios cavaleiros rabes dos policiais de interveno.

    Capito Aurlio Soares

    7. O capito Aurlio Soares tentou resolver as coisas de forma diferente. Completa o texto seguinte que resume a actuao deste homem.

    7.1. O capito Aurlio Soares organizou os seus homens e tentou, com ____________, resolver a situao. Distribuiu os intendentes e _________________ a sua sorte tentou uma __________________ aos mouros. Ibn-el-Muftar e Ali-bem-Yussuf confrontaram-se com o __________________ e os homens que o acompanhavam. O capito tentou __________________________ os nimos, acenando com um _____________________ e el-Muftar interpretou aquele gesto como uma tentativa de __________________. Desta forma, os dois homens ____________________ e dispuseram-se a _______________________.

    (combater, calma, parlamentar, violncia, agradecendo, lamentando, cumprimentaram-se, insultaram-se, derrota, provocao, pacificao,

    aproximao, capito, comissrio, acalmar, chatear, basto, pano branco)

    Em relao s personagens, A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho no se afasta da habitual unidade ou conciso prprias do conto. De facto, embora o seu nmero seja aparentemente elevado, este facto ilusrio, pois estamos, essencialmente, perante personagens colectivas: dois grupos pertencentes, cada um deles, a pocas histricas distintas. E um facto que poucas so as personagens que ganham algum relevo, destacando-se e individualizando-se dos seus grupos.

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 49

    Personagens individuais com algum protagonismo, pertencentes ao sc. XX, temos, essencialmente: o agente da P.S.P., Manuel Reis Tobias; Manuel da Silva Lopes, condutor de camies distribuidores de grades de cerveja; o comissrio Nunes; e o capito Aurlio Soares. Do sc. XII, temos: Ibn-el-Muftar e Ali-Ben-Yussuf, seu lugar-tenente.

    Todas as outras personagens, que formam a multido que se vai apinhando na Avenida Gago Coutinho, no passam de figurantes, cuja nica funo conferir alguma verosimilhana a uma histria particularmente inverosmil.

    O inslito da situao, que a todos deixa perplexos, leva a que se faam conjecturas quanto s suas hipotticas causas. O rabe el Muftar interroga-se: Teriam tombado todos no inferno cornico? Teriam feito algum agravo a Al? Seriam antes vtimas de um passe da feitiaria crist? Ou tratar-se-ia de uma partida de jinns encabriolados?

    Estas hipteses, aventadas por Ibn-el-Muftar para tentar explicar to estranha situao, evidenciam a perplexidade e incertezas da personagem, patentes no s no elevado nmero de hipteses apresentadas, mas tambm no uso do condicional e das sucessivas interrogaes retricas que o rabe, em jeito de monlogo, coloca a si mesmo, numa tentativa desesperada de compreender o que se passa sua volta.

    J o agente da 2 classe da PSP, Manuel Reis Tobias, que estava de servio entrada da Avenida Gago Coutinho, julga tratar-se de um desfile qualquer. Mas vejamos, para melhor compreender o inslito da situao, a descrio que ele faz da situao atravs da mensagem que enviou pelo intercomunicador da mota para o posto de comando: Uma multido indeterminada de indivduos do sexo masculino, a maior parte dos quais portadores de armas brancas e outros objectos contundentes, cortantes e perfurantes, com bandeiras e trajos de carnaval, montados em solpedes, tinham invadido a Avenida Gago Coutinho e parte do Areeiro em manifestao no autorizada.

    Uma vez confirmado no estarem previstos desfiles, toda a mquina policial se viu obrigada a ingerir-se na ocorrncia, tendo solicitado a colaborao da tropa do Ralis (Regimento de Artilharia de Lisboa) e da Escola Prtica de Administrao Militar, o que contribuiu para adensar mais ainda a tenso que caracterizava a situao vivida.

    Enquanto isto, os automobilistas, irritadssimos, vaiavam a tropa moura e comentavam que aquele aparato todo devia ser para algum reclame ou para um filme. E neste impasse, automobilistas e a tropa do almada, apertados na Avenida Gago Coutinho como sardinha em lata, esperavam ansiosamente que, como que por milagre ou passe de feitiaria, aquela situao se resolvesse.

    Mas Clio continuava adormecida e ainda no foi desta vez que a situao se resolveu. Alis, ela agudizou-se mais quando: Manuel da Silva Lopes, que conduzia um daqueles irritantes camies carregados de grades de cerveja que a providncia encarregou de ensarilhar os trnsitos em Lisboa, resolveu, em m hora abandonar o volante, apear-se, e, de certo enciumado pela concorrncia, apontar um calhau mido que foi ecoar no broquel do beduno Mamud Beshewer.

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 50

    Este gesto imprudente de Manuel da Silva Lopes originou, como resposta, uma saraivada de setas por parte dos mouros, levando os automobilistas a procurarem refgio, ao mesmo tempo que vociferavam protestos, causando um rudo ensurdecedor. E este rudo que o comissrio Nunes, que chefiava os pelotes de choque, ouviu, e, prontamente, admitindo tratar-se da canalha a desafiar a polcia, mandou que os seus homens varressem tudo a eito, bastonada, o que provocou algumas baixas e sobretudo muita cabea partida.

    Constate-se que o humor e a ironia, neste caso face aos mtodos policiais (Toca a varrer isto tudo (...) bastonada, a eito, por aqui e por alm), continuam a perpassar o texto.

    Tudo isto, e sobretudo a zipada de gua que algum atirou de uma janela e que caiu sobre Ibn-el-Muftar, deixou o chefe da tropa moura de tal forma irritado que avanou com uma carga de cavaleiros aos gritos de guerra e de alfange em riste, amolgando capots de automveis, em direco aos homens do comissrio Nunes. Perante a iminncia do ataque mouro, diz o narrador, criando uma vez mais uma situao repassada de humor e de ironia: (...) os briosos homens da Polcia de Interveno corriam a bom correr at cervejaria Munique, onde se refugiaram atrs do balco, deixando a moirama senhora da placa central da Praa do Areeiro.

    E a aco flui, a passos largos, num ritmo acelerado e sem interrupes, para o ponto de maior tenso dramtica. E a situao, ao invs de se resolver, cada vez se complica mais com a chegada de novas foras policiais. Os blindados do Ralis no conseguiram passar, ficaram retidos num medonho engarrafamento de camies TIR, mas o capito Aurlio Soares, frente da sua companhia de intendentes, conseguiu, a custo, passar. Chegado ao local, confrontando-se com milhares de mouros, a maior parte dos quais a cavalo, que se apertavam na avenida Gago Coutinho por entre o trfego da hora de ponta, no pde deixar de se lamentar numa exclamao sentida e compreensvel: Estas coisas s me acontecem a mim! Esta exclamao, bem como o facto de se esquecer dos milhares de indivduos que com ele partilhavam aquela situao, bem elucidativa do seu estado de desespero, gerando, tambm, uma situao de cmico.

    Apesar do inslito da situao, havia que agir. O capito Aurlio Soares, resguardado pelos seus homens e empunhando um pano branco, dirigiu-se a Ibn-el-Muftar e ao seu estado-maior que vinham j ao seu encontro. Dispunham-se ento a conversar, chegando mesmo a trocar algumas palavras de saudao: Salam Aleikum, quando, de repente, a deusa Clio acordou do seu sonho num sobressalto, e logo atentou no erro cometido.

    esta frase que pe cobro insustentvel situao vivida por aqueles dois grupos antagnicos de personagens e que marca, em termos estruturais, a transio da 2 parte do conto o desenvolvimento para a 3 parte a concluso.

  • Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO

    Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Pgina 51

    Para alm do texto

    Fracassos e Faanhas do Guarda Serdio

    O narrador faz algumas crticas s atitudes de certos elementos das foras policiais.

    L com ateno o seguinte excerto musical:

    Andar pelas ruas De madrugada Sem se saber Em quem dar traulitada E sem nada Que valha a pena assinalar Ou levar para a esquadra - Nadinha de nada! s vezes parece Que nada resulta Queres passar multas E pedem desculpa Que azar No do uma chance a um polcia De se esmerar - Raio de azar

    1. Estabelece as correspondncias correctas entre os excertos da msica e os excertos do conto.

    a) Andar pelas ruas 1. Meio escondido por detrs das colunas De madrugada de um prdio, no propsito sbio e Sem se saber louvvel de surpreender contraventores Em quem dar traulitada aos semforos.

    b) Queres passar multas E pedem desculpa 2. E, puxando do apito, ps a equipa em Que azar