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Módulo IV. Psicologia do Envelhecimento Manual elaborado por Leonor Silva, Dr.ª

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Módulo IV. Psicologia do Envelhecimento

Manual elaborado por Leonor Silva, Dr.ª

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Psicologia do Envelhecimento

Conteúdos:

Linhas orientadoras para o reconhecimento de algumas teorias psicológicas que tentam explicar o envelhecimento e as alterações associadas ao

processo de envelhecimento. Diferenciação de conceitos de independência, dependência e autonomia.

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Objectivo Geral

No final deste módulo, os formandos deverão ser capazes de conhecer algumas das teorias psicológicas que tentam explicar o processo de envelhecimento, bem como as alterações associadas a este. Diferenciar os conceitos de dependência, independência e autonomia.

O formando deverá dedicar 8 horas de estudo para este módulo Conteúdos do módulo Emergência da Psicologia do Envelhecimento e o Paradigma de

desenvolvimento ao longo de toda a vida (life-span). Teorias Actuais: Selectividade Socioemocional; Dependência

Aprendida. Alterações associadas ao processo de envelhecimento: Cognição,

Percepção e Atenção, Memória e Aprendizagem, Inteligência e Personalidade.

Envelhecimento e dependência: incapacidade, (in)dependência e autonomia.

Objectivos Específicos No final deste módulo, os formandos deverão ser capazes de:

o Identificar e definir a teoria da Selectividade Socioemocional. o Identificar e definir a teoria da Dependência Aprendida. o Reconhecer as alterações associadas ao processo de envelhecimento. o Diferenciar os conceitos de dependência, independência e autonomia.

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Indice 1. Emergência da Psicologia do Envelhecimento e o paradigma do desenvolvimento ao longo de toda a vida (life-span)

5 2.Teorias Actuais: Selectividade Socioemocional; Dependência Aprendida

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2.1. Teoria da Selectividade Socioemocional 7 2.2. Teoria da Dependência Aprendida 10 3. Alterações associadas ao processo de envelhecimento: Cognição, Percepção e Atenção, Memória e Aprendizagem, Inteligência e Personalidade

13 3.1. Cognição 13 3.2. Percepção e Atenção 17 3.2.1. Percepção 17 3.2.2. Atenção 18 3.3. Memória e Aprendizagem 19 3.3.1. Memória 19 3.3.2. Aprendizagem 26 3.4. Inteligência 26 3.5. Personalidade 29 4.Envelhecimento e dependência: incapacidade, (in)dependência e autonomia

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4.1. Dependência 32 4.2. Independência 34 4.3. Autonomia 34 Verificação de Conhecimentos 35 Proposta de Correcção 36 Bibliografia 38 Indice de Quadros Quadro 1.1 – Efeitos do envelhecimento no funcionamento cognitivo

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Quadro 1.2- Efeitos da idade nas diferentes modalidades sensoriais (Fontaine, 2000)

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“Porque n~o considerar esses novos anos de vida em termos de prosseguimento ou os novos papéis na sociedade como outra etapa no crescimento e no

desenvolvimento pessoal ou até mesmo espiritual?!

Betty Friedman, The Fountain of Ac ge, 1993

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1. Emergência da Psicologia do Envelhecimento e o paradigma do desenvolvimento ao longo de toda a vida (life-span). Segundo Neri (in Freitas et al., 2006), as teorias psicológicas do envelhecimento devem contribuir para:

1. Descrição e explicação das mudanças comportamentais que acontecem ao longo da velhice;

2. Caracterização das diferenças existentes entre indivíduos e grupos com relação a, como, e porque se desenvolvem e envelhecem;

3. Diferenciação entre o que é peculiar aos idosos por causa da idade e do que é devido ao contexto sócio-histórico e à história pessoal;

4. Identificação das diferenças entre os idosos e as pessoas de outros grupos de idade;

5. Descrição sobre como se alteram e como se relacionam, na velhice, os diferentes processos psicológicos, como por exemplo, a motivação e a cognição;

6. Saber se os diferentes processos psicológicos se modificam ou se mantêm com o envelhecimento.

Os critérios mais utilizados pelas teorias psicológicas do

envelhecimento para agrupar sujeitos e questionar as semelhanças e diferenças entre eles, são: tempo decorrido desde o nascimento, o tempo histórico, género, classe social, contexto sociocultural, nível de escolaridade, funcionalidade física e mental.

Os processos mais estudados são a inteligência, a memória, a atenção, a motivação, a aprendizagem, a afectividade, a personalidade.

Para Baltes e Smith (2004 in Freitas et al., 2006) o paradigma de

desenvolvimento ao longo da vida (life-span), que emergiu conjuntamente com o estudo psicológico do envelhecimento, e que ainda hoje tem influência na psicologia do desenvolvimento como um todo, é pluralista. Considera múltiplos níveis e dimensões do desenvolvimento, é transaccional, dinâmico e contextualista.

Baltes (2000 in Freitas et al., 2006) fez um comentário num artigo

autobiográfico sobre as origens do paradigma onde afirma que a psicologia

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do desenvolvimento alemã já possuía uma orientação ao longo de toda a vida (life-span) desde o século XVIII.

Ainda o mesmo autor, menciona a influência de vários psicólogos. Foram vários os que tiveram uma contribuição importante, principalmente na realização de vários estudos nesta área.

Hans Thomae (1915-2001) realizou estudos longitudinais sobre a meia-idade e a velhice. Interagiu com Havighurst, proponente da teoria da actividade em gerontologia.

Um outro autor que esteve na origem deste paradigma foi K. Warner Schaie. Teve um papel fundamental, ao planear um estudo denominado “Seattle Longitudinal Study”, sobre a inteligência, onde elaborou estratégias que tinham em conta para além das mudanças derivadas da passagem do tempo do calendário que marca as mudanças de origem genético-biológica, as mudanças devidas ao tempo histórico onde estão incluídas as mudanças socioculturais” (Schaie, 1995, 1996, Neri in Neri Freitas et al., 2006, p.66). 2. Teorias Actuais: Selectividade Socioemocional; Dependência Aprendida 2.1. Teoria da Selectividade Socioemocional Laura Carstensen (1991, 1993) foi quem formulou esta teoria. Esta foi formulada para explicar o declínio que se verificava nas interacções sociais e as mudanças no comportamento emocional dos idosos (Neri in Freitas et al., 2006). No âmbito da gerontologia social, existiam três noções aceites para explicar a redução nos contactos sociais na velhice. Uma derivava da teoria da actividade e preconizava que a restrição das interacções sociais era determinada por normas sociais que previam a inactividade para as pessoas mais idosas (Havighurst e Albrecht, 1953, Neri in Freitas et al., 2006). Outra, patente na teoria do afastamento, explicava que esta restrição era fruto do afastamento recíproco entre os idosos e a sociedade. Este afastamento era adaptativo, pois preparava simbolicamente os idosos para a morte (Cummings e Henry, 1994, Neri in Freitas et al., 2006). Por fim, a teoria das trocas sociais que preconiza que as perdas relativas ao envelhecimento “acarretam diminuição na contribuição do idoso para as relações

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interpessoais, ameaçam a reciprocidade dos relacionamentos e por isso enfraquecem os laços sociais” (Dowd, 1975, Neri in Freitas et al., 2006). A teoria da Selectividade Socioemocional vem contradizer estas três teorias sociológicas por várias razões: não aceita que as pessoas reagem ao contexto social de uma forma simplista, mas antes que elas constroem de forma activa o seu mundo social. Decorrente deste pressuposto, a crença b|sica desta teoria é que “ a redução na amplitude da rede de relações sociais e na participação social na velhice reflecte a redistribuição de recursos socioemocionais pelos idosos, exactamente no momento em que a mudança na sua perspectiva de tempo futuro – passa a aparecer cada vez mais limitado na velhice – faz com que eles procurem seleccionar metas, parceiros e formas de interacção, porque isso permite optimizar os recursos de que dispõe” (Neri in Freitas et al., 2006, p.72). Na velhice o mais importante é o envolvimento selectivo com relacionamentos sociais próximos que lhes permitam experiências emocionais significativas. Esta teoria é de natureza life-span, uma vez que considera que a adaptação é delimitada pelo tempo e pelo espaço e a fase de desenvolvimento vivenciada pela pessoa é um contexto importante para ela se adaptar. A velhice caracteriza-se, como já falamos num dos módulos anteriores, pela diminuição dos contactos sociais, isto reflecte que a pessoa idosa faz uma selecção activa, nas quais as relações sociais emocionalmente próximas são mais importantes para a sua adaptação. As pessoas nesta fase da vida, têm tendência para organizar as suas metas, e as suas relações, a dar prioridade a realizações de curto prazo, preferindo relações sociais mais significativas e a não dar importância ao que não entra nestes critérios (Neri in Freitas et al., 2006). A questão de tempo de vida é nesta teoria, muito importante, pois a forma como as pessoas idosas redefinem as suas relações são vistas por estas tendo em linha de conta que “o tempo é percebido como relativamente limitado” (Lang eCarstensen, 2002, Neri in Freitas et al., 2006). A teoria de Carstensen orientou –se na análise do comportamento emocional dos idosos mostrando que, “com o envelhecimento as pessoas passam a experimentar e a demonstrar emoções com menos intensidade e a ter menor capacidade de descodificaç~o de expressões emocionais” (Neri in Freitas et al.,2006, p.72).Estas alterações não significam perdas mas antes

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adaptações, uma vez que permitem aos idosos poupar recursos já escassos, canalizar as experiências passadas (reminiscência) para situações mais relevantes e criar as condições mais favoráveis para o seu funcionamento afectivo e social. Esse processo vai reflectir-se na maior capacidade de calibrar o efeito da intensidade dos acontecimentos, na integração entre cognição e afectividade, nos mecanismos de defesa mais maduros, uma maior utilização de estratégias pró-activas e na maior satisfação com a vida (ibd.). Estas proposições foram corroboradas através da realização de testes empíricos realizados pela autora e seus colaboradores. Foram realizados vários testes, vamos apenas abordar alguns deles. Tsai e Cols (2000) mediram as respostas cardiovasculares, subjectivas e expressivas de jovens e idosos norte-americanos e chineses enquanto viam filmes engraçados numa situação laboratorial. Verificaram que nos dois países, havia menos mudanças cardiovasculares entre os idosos do que entre os jovens. Relativamente às respostas comportamentais e subjectivas dos dois grupos não foram diferentes. Foram ainda efectuadas outras investigações tendo como principal foque aspectos comportamentais que serviram para confirmar a teoria. Carstensen e cols. (2000) exploraram diferenças etárias na experiência emocional ao longo da vida adulta. Incidiram sobre a frequência, a intensidade, a complexidade e a consistência da experiência emocional na vida quotidiana em 184 pessoas entre 18 e 94 anos. Verificaram que até aos 60 anos os idosos experimentavam emoções positivas com a mesma frequência que os adultos jovens, mas experimentavam menos emoções negativas. Os períodos de experiência emocional positiva, entre os mais velhos, foram mais duradouros e os de experiências emocionais negativas foram menos estáveis do que entre os mais jovens. Isto sugere que os idosos têm experiências emocionais complexas, menos independentes, e sugerem a ocorrência de selectividade emocional adaptativa na velhice (Neri in Freitas et al., 2006). Estas formulações da teoria da selectividade socioemocional e os dados empíricos concebidos ajudam a compreender as preferências sociais ao longo da vida. Esta teoria defende que “os idosos moldam o seu ambiente social de modo a maximizar o seu potencial para sentir afectos positivos e para minimizar os afectos negativos. Ao fazê-lo por meio de investimentos selectivos, os idosos estão a investindo na regulação do seu comportamento socioemocional externo. Tais operações representam o

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cumprimento de metas úteis ao alcance de uma velhice bem-sucedida” (ibd.,p.73). 2.2. Teoria da Dependência Aprendida A dependência, na literatura gerontológica, é definida como a incapacidade de a pessoa funcionar satisfatoriamente sem ajuda, devido a limitações físico-funcionais, cognitivas ou a combinação das duas condições. Vamos ainda, neste módulo falar mais detalhadamente da dependência. A dependência está associado à condição de velhice, mas vamos ver mais à frente que isso não corresponde à verdade. A dependência dos idosos é determinada por múltiplas variáveis em interacção assim como uma condição com múltiplas faces (M.M. Baltes, 1996, Neri in Freitas et al., 2006) A teoria da dependência aprendida de M.M. Baltes (1996) foi desenvolvida a partir da condução de um programa de pesquisas observacionais e experimentais no decurso de 20 anos, acrescentou à análise da dependência na velhice novos dados. Um elemento novo é a noção de aprendizagem social, em que a dependência não é uma condição exclusiva da velhice, esta existe em todo o ciclo de vida, mas manifesta-se de formas diferentes. Na vida adulta, a dependência passa a envolver relações interpessoais. Na velhice esta condição de interdependência pode ser modificada por um ou mais eventos (mais à frente vamos falar destes mais em pormenor) (Neri in Freitas et al., 2006). “ O significado da dependência para os indivíduos adultos e idosos e para a sua rede de relações sociais mais próxima pode produzir maior ou menor tolerância e aceitação e proporcionar melhor ou pior suporte instrumental, informativo, material e afectivo” (Neri in Freitas et al., 2006, p.74). Este é o ponto fulcral do raciocínio da teoria, quando diz que “a dependência na velhice reflecte condições do sistema microssocial em que o idosos vive, condições essa que envolvem o sistema de crenças das pessoas e seus comportamentos” (ibd., p.74). Baltes argumenta que em grande parte dos micro contextos sociais (instituições, residências familiares, hospitais) predomina um padrão de interacção que envolve o reforço de comportamentos dependentes e muitas vezes, extinção ou punição de comportamentos independentes. Isto leva a que um aumento na frequência de comportamentos dependentes (ibd.).

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Neri (in Freitas et al., 2006), considera que a dependência aprendida se instala da seguinte maneira:

1) Os comportamentos dependentes que geram consequências físicas e sociais tendem a manter-se e a aperfeiçoar-se, ao mesmo tempo que as tentativas de independência geram negligência, falta de atenção, restrições, e assim tendem a diminuir de frequência. Existem algumas condições que propiciam dependência aprendida, são elas: ambientes super protectores e de baixa exigência. Isto leva a que os cuidadores familiares e profissionais vejam o cuidado como uma tarefa que implica fazer pelo idoso, mas devem ter em linha de conta que o cuidar envolve a ajuda necessária para que o idoso se comporte na medida das suas possibilidades.

2) Os comportamentos dependentes estabelecem-se e mantêm-se porque asseguram a manutenção de contactos sociais e porque são uma forma de controlar aspectos específicos do ambiente social. “ Esses dois subprodutos da dependência têm relação com a promoção do bem-estar psicológico dos idosos (p.74).

A dependência significa para Baltes, perdas, no sentido em que

dificulta o envolvimento em acções que promovem a sua funcionalidade física e psicossocial, mas significa também ganhos, dado que ajuda as pessoas a ter atenção, contacto social e controlo passivo e que auxilia a preservar, canalizar e rentabilizar energias para outras metas/objectivos. Considera que “a dependência pode ser uma estratégia adaptativa. … A dependência aprendida exige a modificaç~o das contingências existentes” (Neri in Freitas et al., 2006, p.75). Baltes considera que, face à enorme vulnerabilidade, as pessoas idosas necessitam de ser capazes de modificar a sua vida para que a adaptação seja feita com sucesso sempre que necessário. A teoria focaliza o aspecto adaptativo e compensatório da dependência. Pela dependência aprendida o idoso pode ter controlo passivo sobre o ambiente. Ganhos, perdas, dependência, envelhecimento e adaptação são condições presentes na teoria que se entrelaçam. Existem mais teorias psicológicas do envelhecimento, mas não conseguiríamos falar de todas. Já abordamos nos módulos anteriores que o estudo científico do envelhecimento pela psicologia é recente, isto em comparação com ao estudo da infância e da adolescência. Um dos motivos é que quase sessenta

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anos, desde o início do século XX, a velhice era ainda, considerada pela Psicologia uma fase caracterizada apenas por declínio. O aumento do envelhecimento populacional foi o acontecimento que levou às mudanças paradigmáticas para a Psicologia do Desenvolvimento. Foi então que surgiu a Psicogerontologia, pautada então, pela adopção de um enfoque de desenvolvimento ao longo da vida (life-span), que engloba a multicausalidade, multidimensionalidade e a complexidade das interacções genéticas-biológicos e socioculturais. 3. Alterações associadas ao processo de envelhecimento: Cognição, Percepção e Atenção, Memória e Aprendizagem, Inteligência e Personalidade. 3.1. Cognição

Uma das preocupações do ser humano é o declínio cognitivo com o aumento da idade. Esta preocupação baseia-se em algumas questões. Há perda de memória com o avançar da idade? O que é que está prejudicado a memória ou a falha básica é a atenção? As dificuldades cognitivas são normais em idosos ou são sinais de processos demenciais e irreversíveis? Qual o papel da motivação do idoso, estão presentes ou não quadros depressivos e de ansiedade na manutenção das funções cognitivas? É possível retardar um idoso que apresente sinais de declínio? É possível recuperar funções cognitivas em pessoas com idade mais avançada?

Estas questões tornam-se pertinentes e de extrema importância, devido ao aumento da expectativa de vida que se tem verificado.

A área da Psicologia Cognitiva tem contribuído imenso para a questão

do envelhecimento, nomeadamente a abordagem de processamento de informação.

Esta tem a preocupação de conhecer os mecanismos da cognição humana, por exemplo, a memória, a linguagem, a atenção e as funções executivas que podem vir a ser afectadas pelo envelhecimento. Estas funções possuem uma certa independência, pelo que, algumas capacidades com o avançar da idade declinam, outras mantêm-se ou ainda melhoram em função da experiência de vida (Parente e col.,2006).

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Os psicólogos cognitivistas que se debruçam sobre o fenómeno do envelhecimento têm como objectivo a análise das alterações cognitivas que ocorrem quando a pessoa envelhece.

O declínio cognitivo é associado a desconforto pessoal, perda de autonomia, e aumento dos custos sociais. Estes são motivos importantes para que a realização de estudos e a teorização sobre o assunto seja uma das áreas mais fecundas da psicologia do envelhecimento. É consensual entre os investigadores que se dedicam ao estudo da cognição que o envelhecimento acarreta um declínio normal, este pode apresentar-se a partir da meia – idade, mas é a partir dos 70 anos que é mais comum. Existe forte variabilidade inter-individual e intra-individual em relação aos domínios da cognição que declinam. Schaie (1996, Neri in Freitas et al., 2006) através de dados de estudos longitudinais e de comparação verificou que os desempenhos cognitivos nos domínios do significado verbal, do espaço e do raciocínio atingem a estabilidade entre os 40 e os 60 anos, enquanto que os desempenhos em número e fluência verbal estabilizam um pouco antes e começam a declinar de forma modesta a partir dos 50 anos. Igualmente consensual é a noção de que envelhecimento cognitivo normal é influenciado por processos genético-biológicos e de natureza sociocultural. Os processos genético-biológicos determinam declínios no funcionamento sensorial e diminuição na velocidade de processamento de informação, estes associados a alterações neurológicas típicas do envelhecimento. Ao nível sociocultural, este determina o desenvolvimento e a manutenção das capacidades que estão dependentes da experiência, podem ter uma acção compensatória em relação às perdas advindas do envelhecimento biológico (Baltes 1993,1997, Neri in Freitas et al., 2006). O modelo psicométrico é o enfoque dominante, desde o início do séc. XX, no estudo do desenvolvimento intelectual ao longo da vida. Há no entanto, uma questão que se coloca em relação aos dados que se obtém através do modelo psicométrico aplicado ao envelhecimento cognitivo que é saber qual é a relação existente entre o desempenho em testes de inteligência geral e específica e os desempenhos cognitivos que acontecem em contexto natural, ou seja, no desempenho em situações de vida prática e das competências de vida diária(ibd.)

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A pesquisa efectuada pela psicologia do envelhecimento tem sido efectuada em duas áreas: a personalidade e o funcionamento cognitivo. Quanto à personalidade vamos abordá-la mais adiante. O domínio do funcionamento cognitivo assenta no estudo da memória, inteligência, percepção e atenção. No quadro abaixo mencionamos os efeitos do envelhecimento no funcionamento cognitivo. Este resume algumas áreas específicas do funcionamento cognitivo.

Aptidão

Sentido da mudança no

envelhecimento

Comentário

Inteligência o Vocabulário, fundo de conhecimento o Habilidades perceptivomotoras

Estável ou crescente Em declínio

Pode declinar ligeiramente em idade muito avançada; mais pronunciado em tarefas novas O declínio começa pelos 50-60 anos

Atenção o Campo de atenção o Atenção complexa

Estável a declínio ligeiro Declínio ligeiro

Problemas em dividir a atenção, filtrar ruído, deslocar a atenção

Linguagem o Comunicação o Sintaxe, conhecimento de

palavras o Fluência, nomeação o Compreensão o Discurso

Estável Estável Declínio ligeiro Estável a declínio ligeiro Variável

Na ausência de défice sensorial Varia com o grau de instrução Lapsos ocasionais em encontrar palavras Alguma erosão no processamento de mensagens complexas Pode ser mais impreciso, repetitivo

Memória o De curto prazo (imediata) o De trabalho o Secundária (recente) o Implícita o Remota

Estável a declínio ligeiro Declínio ligeiro Declínio moderado Estável a declínio moderado Variável

Intervalos de dígitos em contagem crescente intacto (7±2 itens) mas com fácil ruptura por interferências Aptidão diminuída para manipular informação na memória de curto prazo Défices de codificação e recuperação; armazenamento intacta Pode recordar com mais facilidade características incidentais do que a informação processada insconscientemente Intacta para aspectos mais importantes da história pessoal

Visuoespacial o Copiar desenhos o Orientação topográfica

Variável Em declínio

Intacta para figuras simples, mas não para complexas

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Mais notável em terreno não familiar

Raciocínio o Resolução lógica de

problemas o Raciocínio prático

Em declínio Variável

Alguma redundância e desorganização Intacto para situações familiares

Funções de execução Declínio ligeiro Planeamento/monitorização menos eficiente de comportamentos complexos

Velocidade Em declínio Lentificação do pensamento e da acção é a mudança mais constante no envelhecimento

Quadro 1.1 – Efeitos do envelhecimento no funcionamento cognitivo ( adaptado de Spar e La Rue, 2005 in Figueiredo 2007).

Este quadro resume as tendências gerais do envelhecimento para algumas das áreas específicas do funcionamento cognitivo. Há diversos factores que podem gerar declínio cognitivo, entre eles o envelhecimento normal. A literatura cognitiva documenta o declínio significativo em funções como a memória, atenção e função executiva também em idosos que não são portadores de patologias. Segundo Abreu et al, (in Freitas et al., 2006) o declínio cognitivo pode também ser causado por: a) tumores, quer sejam benignos ou malignos; b) traumas resultantes de acidentes de viação ou quedas; c) infecções tais como: encefalites, sífilis, síndrome de imunodeficiência adquirida (SIDA); d) anóxia após ataque cardíaco, paragem cardiopulmonar; e) toxinas como o álcool e/ou outras toxinas; f) doença vascular, tais como as produzidas por enfarte hemorrágico ou isquémico. Distúrbios psiquiátricos, como esquizofrenia ou a depressão crónica, ou condições neurológicas como a doença de Parkinson, a esclerose múltipla e doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer, podem também ter grande impacto na cognição.

3.2. Percepção e Atenção 3.2.1. Percepção Lieury ( 1990 in Fontaine, 2000) definiu a percepç~o como “ o conjunto dos mecanismos fisiológicos e psicológicos cuja função geral é a recolha de informações no ambiente ou no próprio organismo” (p.61). H| autores que distinguem a percepção da sensação. Esta corresponde à fase de recepção dos sinais, provenientes do ambiente e da sua transformação em influxos nervosos.

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A percepção não é uma recepção passiva das mensagens vindas do ambiente, é antes um conjunto de actividades complexas de recepção de uma situação por meio de um só canal sensorial. As percepções são polissensoriais: são produto de uma integração de mensagens sensoriais diversas. Tomemos como exemplo, a audição participa com a visão na sensação do espaço.

As modificações associadas à idade podem situar-se a diferentes níveis deste processo de integração: a recepção da mensagem ou o tratamento e análise. Não há actividade perceptiva que demonstre melhor desempenho na pessoa idosa do que no jovem, há, no entanto, uma grande variação, de acordo com as modalidades sensoriais. Existem algumas que resistem e outras não. O quadro 1.2 apresenta uma visão sintética do envelhecimento perceptivo

Modalidade Efeito da Idade

Gosto Muito fraco Olfacto Muito fraco

Cinestesia Muito fraco

Tacto Forte Temperatura Forte

Dor Forte Equilíbrio Muito forte

Visão Muito forte

Audição Muito forte Quadro 1.2- Efeitos da idade nas diferentes modalidades sensoriais (Fontaine, 2000)

Aconselhamos a leitura do capítulo “ O envelhecimento perceptivo” do livro Psicologia do Envelhecimento – Roger Fontaine, para uma compreensão mais lata sobre o assunto. É consensual que as modalidades sensoriais mais afectadas pela idade são a visão e a audição.

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3.2.2 .Atenção Prestar atenção é uma das competências para detectar mudanças no meio externo, de mostrar interesse nessas mudanças e ao mesmo tempo inibir a interferência de outros interesses (Posner e Raichle, 1994, Abreu et al.,in Freitas et al., 2006). A atenção do indivíduo mantêm-se pela novidade e complexidade. Segundo Abreu et al., (2006) a atenção é uma competência complexa e multidimensional cujos componentes se misturam com outras habilidades, como a memória e as funções executivas, tornando-se uma competência difícil de avaliar de forma pura mesmo em situação laboratorial. A atenção é composta por atenção sustentada (ou concentração), a atenção selectiva e a atenção dividida (Wonodruff-Pak, 1997, Abreu et al.,in Freitas et al., 2006). A atenção sustentada (ou concentração) refere-se à capacidade do sujeito manter o foco atencional num estímulo particular e manter um padrão de resposta mantendo distante possíveis distracções.

A atenção selectiva é a capacidade de seleccionar um determinado tipo de informação mediante a exclusão de outras. Esta atenção é dirigida quer pela actividade interna (pensamentos) quer pela externa (acções).

A atenção dividida é observada quando são realizadas duas tarefas simultaneamente ou quando duas fontes de informação concorrentes são seleccionadas como relevantes para o processamento, como quando se tenta acompanhar duas conversas paralelas (Abreu et al., 2006). A atenção é uma das áreas que é muito sensível ao processo de envelhecimento. Há inúmeras tarefas do quotidiano que envolvem a atenção. Toda e qualquer tarefa cognitiva explícita, quer dizer, realizada de forma consciente, requer processos atencionais, como provas de memória e de funções visuoconstrutivas. Iremos abordar mais pormenorizadamente os processos de intervenção nesta área, no módulo da intervenção. Fica, no entanto, aqui registado os testes psicométricos utilizados para avaliar processos de atenção: Dígitos Ordem Directa, Dígitos de Ordem Inversa, Escala de Inteligência Weschsler para adultos WAIS-III, Teste de Stroop. 3.3. Memória e Aprendizagem

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3.3.1. Memória A memória é a função psicológica que nos é mais conhecida e está associada às nossas actividades quotidianas. Na nossa sociedade existe a crença de que o envelhecimento acarreta uma perda da capacidade para recordar. (Figueiredo, 2007). As próprias pessoas idosas acreditam que a sua memória piorou com o avançar da idade. Na comunidade científica actual é comummente aceite que a memória se modifica com a idade. Existem casos graves de memória que estão relacionados com certas doenças mais frequentes em idades mais avançadas (exemplo, doença Alzheimer), mas ao nível da memória há modificações que constituem uma característica do processo normal de envelhecimento (ibd.). O declínio da memória está associado à idade, no entanto, também se pode observar que nem todas as capacidades mnésicas se alteram de igual modo. Há tarefas da memória que expressam grandes diferenças com a idade (exemplo, memória episódica ou de trabalho), e outras que expressam poucos efeitos com a idade (exemplo, memória semântica). A memória é entendida como um processo composto por três fases: codificação, armazenamento e recordação da informação (schaie e Willis, 2002 in Figueiredo, 2007). A informação pode ser codificada e armazenada em três sistemas de memória: a memória sensorial, a memória a curto prazo e a memória a longo prazo. O que as distingue é a duração da informação armazenada e a capacidade de armazenamento. A memória sensorial retém os estímulos do meio, sem os analisar semanticamente, durante décimas de segundo. Nesta distingue-se a memória icónica (visual) e ecóica (auditiva). Este tipo de memória tem sido pouco estudada, mas a maior parte dos resultados não revela diferenças significativas ligadas à idade.

A memória a curto prazo retém pequenas unidades de informação por um determinado período de tempo ligeiramente superior ao da memória sensorial. É neste tipo de memória que a informação é preparada para passar a memória de longo prazo. A memória de curto prazo pode ser dividida em memória primária e memória de trabalho. A memória primária, envolve a retenção passiva de uma pequena quantidade de informação e a sua recordação imediata, tem pouca capacidade e é muito breve. A memória de trabalho envolve ao mesmo tempo a retenção de informação e a sua manipulação para resolver problema ou uma tomada de decisão. Esta memória é afectada com o passar da idade.

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A memória de longo prazo envolve alterações profundas e permanentes nas estruturas das conexões sinápticas (Abreu, 2006), e é perspectivado como um sistema que possui uma enorme capacidade de armazenamento de informação e onde pode ser retida durante longos períodos de tempo (Figueiredo, 2007). Divide-se em diferentes subsistemas: memória procedimental, semântica e episódica. A primeira é a subjacente às competências aprendidas, quer dizer, uma vez aprendida uma competência básica (por exemplo, andar de bicicleta), vamos recordá-la automaticamente quando estivermos novamente perante o estímulo. A memória semântica refere-se a informação factual, conceitos e categorias, a quantidade de conhecimentos semânticos tende a aumentar com a idade, mas a velocidade e a precisão do acesso a esse conhecimento diminuem (por exemplo, lembrar qual é a capital de Inglaterra). A memória episódica refere-se à informação com contexto espacial e temporal específico (por exemplo, lembrar episódios de uma festa na infância) (Abreu, 2006). É a memória para acontecimentos da vida que se vão sucedendo no dia-a-dia (Figueiredo, 2007)

À medida que envelhecemos estes diferentes subsistemas da memória de longo prazo vêem a ser afectados de forma diferente.

Ao nível de tarefas de memória semântica e procedimental não se verificam diferenças significativas com a idade. As diferenças com a idade fazem-se sentir mais é ao nível das tarefas de memória episódica, onde as pessoas mais velhas têm um desempenho inferior. Um tipo específico de memória episódica é a memória prospectiva que inclui a recordação de informação para acções futuras (por exemplo, lembrar a toma do medicamento à noite). O facto de os idosos terem piores desempenhos que os mais jovens em tarefas de memória a curto e a longo prazo leva a crer que está relacionado com as estratégias que utilizam para codificar e recuperar a informação. Muitos idosos não empregam de forma espontânea determinadas estratégias (técnicas mnemónicas) para facilitar e a codificação e processamento de informação.

No que diz respeito à recuperação de informação existem duas estratégias fundamentais: a recordação (recall), que consiste na capacidade para recuperar um parte da informação; o reconhecimento (recognition), que implica a identificação de um dado fragmento de informação. As pesquisas têm revelado que os idosos têm menos dificuldades em tarefas de reconhecimento do que em tarefas de memória que impliquem a recordação da informação (Figueiredo, 2007).

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Existe a crença de que as pessoas idosas recordam mais facilmente os acontecimentos passados do que os recentes. Recordam mais facilmente os acontecimentos que aconteceram entre os 10 e os 30 anos de idade. “É denominado o ponto alto das recordações ou “reminiscence bump” (ibd.). O que explica esta situação é o facto de nesta fase ocorrerem algumas das vivência mais significativas da vida das pessoas (primeiro relacionamento amoroso, casamento, entrada na vida profissional). “ A ideia subjacente é que qualquer acontecimento que seja emotivo e pessoalmente significativo reúne todos os requisitos para permanecer intacto na nossa memória” (ibd. p.51).

A maioria ou quase a totalidade das memórias são formadas e armazenadas na parte mais jovem e mais elaborada do cérebro – o néocortex. Existem algumas que exigem o apoio de várias estruturas sub-corticais, outras que não necessitam de tal apoio extra. As memórias que dependem somente do néocortex, e que não dependem de estruturas adicionais fora dele, são invulneráveis à decadência e podem suportar o declínio neurológico, e até mesmo demência, durante muito mais tempo. A grande maioria das memórias deste último tipo, são as memórias genéricas. O que se entende então por memória genérica? Para compreendermos este tipo de memória, é necessário ter em conta alguns factos básicos sobre recordar e esquecer. As memórias para acontecimentos banais e inconsequentes continuam a decair muito rapidamente, logo a seguir aos acontecimentos. Há, no entanto, excepções, embora raras, de pessoas que têm uma capacidade enorme para recordarem de tudo, sem esquecerem nada.

Existe uma enorme selectividade no que entra na memória de longa duração, o que não acontece na maioria das memórias.

Daí, esquecer, enquanto fenómeno natural, é uma coisa boa, desde que seja circunscrito à informação banal/inconsequente. Mas quando isto não acontece, o esquecimento pode ser anormal, causado por diferentes danos cerebrais, o qual se denomina amnésia. Existem vários tipos de amnésias, assim como, vários níveis de gravidade. Esta pode ser causada por certo tipos de doenças cerebrais, incluindo traumatismos cerebrais originados por acidentes rodoviários, de trabalho, interrupção do fornecimento de oxigénio ao cérebro, infecções cerebrais virais, bacterianas ou parasíticas, entres outras. Estas inúmeras perturbações têm algo em comum, que consiste na probabilidade de interferir com a capacidade

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cerebral de formar memórias, armazená-las e aceder a elas, quando é preciso. Para isso, é importante saber como as memórias são geradas.

Uma nova memória começa a formar-se quando encontramos algo que se está a apreender: um novo rosto, um novo som. O novo dado que é apreendido envolve a parte do cérebro encarregue dos sentidos, e de seguida alguns sistemas cerebrais de ordem superior, que estão encarregues de analisar, processar a nova informação e relacioná-la com algum conhecimento que já estava adquirido. Esta actividade modifica o próprio mecanismo neuronal envolvido e a mudança resultante nas redes neuronais na recepção e processamento da nova informação é precisamente a memória. Inicia – se o processo de formação da memória, com a sintetização de novas proteínas, novas sinapses (contactos entre as células nervosas, os neurónios) que se estão a desenvolver e outras a ser reforçadas relativamente às sinapses envolventes. É a essência da formação da nova memória.

As memórias são formadas nas mesmas estruturas cerebrais e envolvem as mesmas redes neuronais que participam no processamento da informação, quando ela chega pela primeira vez.

As novas memórias iniciam a sua vida neuronal no córtice e permanecem aí ao longo da sua “vida natural”, contrariamente ao que se acreditava, no passado, em que se pensava que existiam no cérebro “armazéns de memórias” separados.

Na mesma lógica, foi também ao longo de muitos anos, partilhada a ideia de que existiam diferentes partes do cérebro, onde se localizavam “sistemas de memória de curta duraç~o” e “sistemas de memória de longa duraç~o”. De facto, assim n~o acontece, estes dois sistemas fazem parte do mesmo processo, envolvem as mesmas estruturas cerebrais. As memórias são armazenadas nas mesmas redes que receberam a informação em primeiro lugar. Quando as mudanças na rede se tornam duradouras, a informação fica firmemente encaixada no armazenamento de longa duração. As mudanças que terão ocorrido na rede são químicas e estruturais. Houve alteração nos contactos sinápticos e a formação de novos receptores. A memória será mais forte e mais invulnerável a qualquer ataque ao cérebro, qualquer que seja o dano. Estas mudanças no cérebro, que são formadas da memória, não acontecem instantaneamente, são lentas. Para que a memória atinja um estado de codificação forte, o processo tem que recorrer a outras estruturas cerebrais. A importância deste processo é continuar a reactivar as redes neuronais do néocortex, onde ocorrem de forma gradual as mudanças químicas e

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estruturais, mesmo que depois de o estímulo ter desaparecido. Estes processos de reactivação permanente, são de natureza eléctrica, envolvendo círculos de actividade bioeléctrica no cérebro. Alguns destes circuitos envolvem um certo número de regiões distantes. Estes processos denominam-se “reverberaç~o” ou “reentrada cíclica”. Existem outros circuitos que são locais, e propagam-se exactamente onde existem as mudanças sinápticas. Os processos que são mediados pelos circuitos locais s~o chamados de “potenciaç~o de longa duraç~o. Existem dois tipos de compostos químicos que desempenham um papel importante: um neurotransmissor (substância química que faz a comunicação entre os neurónios) denominado Glutamato e o seu receptor, uma molécula – N-metil-D-aspartato, ou mais simples NMDA. Assim o processo da formação da memória envolve o desempenho conjunto entre as mudanças bioeléctricas, bioquímicas e estruturais do cérebro. A propagação dos círculos reverberantes depende de um certo número de estruturas cerebrais fora do neocórtex. Estas incluem o hipocampo, as estruturas circundantes, e o bolbo raquidiano. Estas estruturas são muito importantes para a formação da memória de longa duração, mas não são o local de armazenamento, sendo este efectuado no neocórtex. Estas áreas, especialmente o hipocampo e as estruturas circundantes são muito vulneráveis aos efeitos da demência, e os danos nesta área têm probabilidade de provocar uma deficiência da memória. Uma parte importante das deficiências de memória é denominada por “amnésia”. Esta deficiência é parcial e produz diferentes tipos de amnésia. Na Neuropsicologia faz-se uma distinç~o entre “amnésia anterógrada” e amnésia retrógrada”. A primeira diz respeito { perda de capacidade de aprender nova informação após ter ocorrido um dano cerebral. A segunda diz respeito à incapacidade de recordar informação adquirida antes que o dano tivesse ocorrido. É possível desenvolver os dois tipos de amnésia como resultado de danos cerebrais.

A distinção entre elas depende do conhecimento do momento exacto em que ocorreram os danos cerebrais, o que muitas vezes, é difícil. No caso de um indivíduo que era saudável antes de ter sofrido danos cerebrais traumáticos num acidente rodoviário, o tempo exacto do acontecimento é

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fácil de determinar, o que já não acontece na demência, pois esta é um declínio gradual, desenvolvendo-se ao longo de anos.

O diagnóstico destas amnésias não é fácil, mas a sua distinção tem sido útil para os neuropsicólogos e neurologistas que dedicam mais atenção à amnésia anterógrada pois pressupõe – se que é mais grave e mais comum que a retrógrada.

Goldberg (2007) pensa que a amnésia retrógrada é uma fonte de informaç~o sobre a forma como “o conhecimento é organizado e armazenado no cérebro” (p.109). Este tipo de memória d|-nos o tempo despendido pela formação da memória de longa duração. Quando há uma lesão cerebral na memória do passado, não significa que todas as memórias sofram por igual extensão. As memórias mais recentes são mais afectadas do que as memórias de um passado muito distante. Este fenómeno é denominado gradiente temporal da amnésia retrógrada, esta pode afectar memórias que datam de há anos ou mesmo de décadas.

A ablação do hipocampo pode resultar em amnésia retrógrada que recue até um espaço de tempo tão alargado quanto à quinze anos atrás. Isto quer dizer, que pode demorar todo este tempo para que sejam formadas no cérebro uma memória de longa duração permanente, estrutural e invulnerável. Este processo é gradual e é acompanhado por outra característica, o gradiente temporal: o “encolhimento”. N~o é invulgar que um paciente que tenha acabado de sofrer um dano cerebral num acidente, e tenha um perda de memória que se pode estender ao longo de anos, ou mesmo décadas atrás. Pode acontecer que com o passar do tempo algumas memórias regressam, e a recuperação delas segue um percurso temporal ordenado. O encolhimento desenrola-se para trás, com a memória dos acontecimentos mais distantes antes da memória dos mais recentes. Este encolhimento é incompleto e as memórias dos mais recentes nunca são recuperadas. A extensão da perda permanente da memória, varia de sujeito para sujeito e depende da gravidade dos danos cerebrais. Esta perda permanente é genuína e intratável. 3.3.2. Aprendizagem

A aprendizagem humana pode ser entendida como a fase de aquisição ou codificação da informação. Até à década de 60, pensava-se que havia um declínio significativo na capacidade de aprender, ligado à idade avançada. Até então, não era dada a devida importância a dois aspectos fulcrais: a própria natureza da

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aprendizagem; e os aspectos não cognitivos passíveis de a afectar (Simões, 1982, in Figueiredo, 2007). Hoje em dia, a investigação caracteriza-se por trabalhar estes dois aspectos. Botwinick (1973, Walsh, 1983, in Figueiredo, 2007) no que concerne à natureza da aprendizagem acentua a diferença entre aprendizagem como um processo interno e performance como um acto externo. A pessoa pode ver somente o acto e n~o o processo. “Se a aprendizagem for inferida da performance, também é verdade que esta nem sempre reflecte a aprendizagem” (ibd. p.51). Uma performance fraca pode ser devido a factores não cognitivos como a falta de motivação. A performance pode não reflectir adequadamente a aprendizagem. De acordo com esta perspectiva, “as pessoas idosas podem aprender também como os jovens mas, devido a factores não cognitivos, são incapazes ou sentem—se relutantes em demonstrar o que aprenderam” (Walsh, 1983 , in Figueiredo, 2007). 3.4. Inteligência A inteligência diminui com a idade? A resposta depende das competências e da forma como estas são avaliadas. Na idade adulta o desempenho cognitivo é irregular. Embora algumas capacidades possam declinar na velhice, outras há que se mantêm estáveis e outras que se aperfeiçoam. “A Inteligência é um fenómeno complexo, cujas medidas são irremediavelmente ambíguas” (Fontaine, 2000, p.79). Grande parte dos dados obtidos acerca do funcionamento cognitivo vem de estudos efectuados numa abordagem psicométrica. As provas mais realizadas para a avaliação da inteligência: Escala de Inteligência de Wechsler (WAIS) e o Teste de Aptidões Mentais Primárias de Thurstone (PMA). Raymond Cattell e Jonh Cattell (1966) propuseram um modelo bidimensional para a inteligência, baseado em duas trajectórias evolutivas sujeitas à acção de condições genético-biológicas e de condicionantes socioculturais, as quais se expressam de maneiras diferentes no desenvolvimento inicial e na velhice. Defendem um modelo de inteligência mais complexo, composto por duas dimensões: a inteligência fluida e a inteligência cristalizada.

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A inteligência fluida está mais relacionada com a habilidade mental inata, reflecte a qualidade do cérebro de cada sujeito e prende – se com capacidades básicas tais como a atenção, a memória e as capacidades de raciocínio; e a inteligência cristalizada, representada por testes de informação geral e vocabulário, e que reflecte as capacidades mentais que dependem da experiência, educação e aculturação.

Fontaine (2000) afirma que a inteligência cristalizada “revela-se através de um grande número de actividades associadas à profundidade do saber e da experiência, do julgamento, da compreensão das relações sociais e das convenções, da habilidade do comportamento” (p.86). As aptidões primárias a ela associadas são a compreensão verbal, a formação de conceitos, o raciocínio lógico e o raciocínio geral.

Ainda o mesmo autor, considera que a inteligência fluida “revela-se através das actividades de compreensão das relações entre dados da natureza espacial ou verbal, de construção de inferências e de implicações. As aptidões primárias associadas são o raciocínio indutivo, a flexibilidade figurativa, o raciocínio lógico.

Baltes (1990, in Fontaine, 2000) afirma que “ os défices da inteligência fluida são, durante muito tempo, compensados pelos desempenhos da inteligência cristalizada. O idoso compensaria pela sua experiência a sua dificuldade em responder a situações novas” (p.87). Para percebermos que capacidades resistem à passagem do tempo é importante distinguir a inteligência fluida da cristalizada. Figueiredo (2000) salienta que “ as pontuações que medem as capacidades fluidas relacionadas com a rapidez, atenção, concentração e raciocínio indutivo começam a diminuir por volta dos 30 anos. Ao contrário, as capacidades cristalizadas, reflectidas nas destrezas verbais, permanecem estáveis até aos 60 anos” (p.42).

Há três aspectos do processamento cognitivo que parecem estar relacionadas com as diferenças em aptidões específicas, associadas ao declínio de algumas aptidões intelectuais: a diminuição da velocidade do processamento de informação, o défice na memória de funcionamento e os decréscimos na acuidade visual e auditiva (Montorio e Izal; 1999, Belsky, 2001; Marchand, 2001; Schaie e Willis, 2002; Spar e La Rue, 2005, in Figueiredo, 2007).

Existem outros factores que têm demonstrado influência nas pontuações dos indivíduos em testes de inteligência, sendo eles: problemas de saúde (por exemplo, doenças crónicas), variáveis do tipo social

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(isolamento social), a personalidade (por exemplo, autoconceito) (Montorio e Izal, 1999; Marchand, 2001; Schaie e Willis, 2002, in Figueiredo, 2007). Temos estado a falar de resultados baseados numa perspectiva psicométrica. Este tipo de escalas foram concebidas para avaliar o rendimento escolar ou académica das crianças e jovens, assim estes podem enviesar os resultados das investigações “contra” os adultos e os idosos (Schaie e Willis, 2002, in Figueiredo, 2007). Neste sentido, têm os investigadores vindo a defender a necessidade de elaborar provas que tenham validade ecológica, ou seja, adequadas às necessidades da vida real e à capacidades cognitivas necessárias em determinada idade (Izal e Montorio, 1999, in Figueiredo, 2007). Schaie e Willis (2002, in Figueiredo, 2007) consideram que “o ciclo de vida se deve dividir em distintas fases em função das capacidades intelectuais relevantes em cada momento” (p.44). Na adultez, o comportamento inteligente caracteriza-se pela tomada de decisões lógicas e pela sensatez, na generalidade, pela manutenção de uma perspectiva de vida equilibrada (Figueiredo, 2007). Schaie e Willis (2002, in Figueiredo, 2007) reclamam que para avaliar este tipo de capacidades são necessárias provas baseadas em situações de vida quotidiana que requerem um comportamento inteligente, ou seja, centradas no conceito de inteligência prática. Esta perspectiva de inteligência prática refere-se “aos processos intelectuais necessários à resolução de problemas da vida real, onde também se incluem o contexto e factores não cognitivo. Assim, para compreender o funcionamento intelectual na vida diária, deve considerar-se a sua relação com outros factores que influenciam, a resolução do problema: crenças, motivação, eficácia, emoções, contexto físico e social (Willis, 1996, in Figueiredo, 2007, p.45). Há investigadores que propuseram explicações teóricas que tentam integrar as diferentes perspectivas acima descritas: a psicométrica, baseada nas capacidades intelectuais, e a centrada na inteligência prática. Baltes e Schaie, (1976, in Figueiredo, 2007) defendem um modelo de inteligência composto por duas dimensões: a mecânica e a pragmática. A primeira implica as capacidades intelectuais na forma em que são definidas sob um ponto de vista psicométrico. A dimensão pragmática refere-se ao funcionamento cognitivo relacionado com a solução de problemas e com a vida do dia-a-dia.

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3.5. Personalidade Será que a personalidade permanece estável ou muda à medida que vamos envelhecendo? A resposta a estas questões têm sido alvo de enorme interesse por parte dos investigadores da psicologia do envelhecimento. A questão mais importante tem sido a de entender até que ponto o processo de envelhecimento afecta possíveis mudanças nos diferentes traços da personalidade.

Existem imensas definições de personalidade, em termos académicos. Freire (in Freitas et.al., 2006) afirma que o termo personalidade refere-

se { “noç~o de unidade integrativa do ser humano, que inclui o conjunto de seus atributos diferenciais permanentes e suas modalidades específicas do comportamento, podendo ser entendida como a organização dos aspectos cognitivos, afectivos, fisiológicos e morfológicos do indivíduo” (p.1260). Todo o indivíduo possui uma personalidade. Esta trata da nossa forma de pensar, de sentir, de agir ou de reagir nas situações quotidianas. “A personalidade é uma estrutura, uma organização, ou ainda um integrador de comportamentos. A palavra integração recorda a existência de um todo organizado, cujas unidades mantêm relações correntes, o que permite a prossecuç~o de uma finalidade comum” (Fontaine, 2000, p.131). Allport (1973, Freire in Freitas et al., 2006), preconiza a definição mais aceite e segundo ele a “ personalidade é a organizaç~o din}mica e interna dos sistemas psicofísicos que determinam o comportamento e o pensamento característicos do indivíduo e seus ajustamentos ao ambiente (p.1261). Existem alguns modelos da personalidade, vamos falar apenas do modelo dos Cinco Grandes Factores (CGF). Este modelo é uma versão moderna da teoria do traço. Os cinco construtos referem-se a informações que as pessoas querem ter sobre aqueles com quem vão interagir. Os cinco factores são denominados por: Factor I – Extroversão/Introversão Factor II – Agradabilidade (ou Afabilidade) Factor III – Consciência Factor IV – Neurocitismo Factor V – Abertura à Experiência (ou fraqueza) Ainda não há concordância quanto à denominação destes factores, mas há consistência entre o modelo e os principais instrumentos de avaliação (Freire, in Freitas et. al., 2006).

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Num estudo longitudinal de Baltimore, foi utilizado o Inventário de Personalidade (NEO), que avalia estes cinco factores constatou-se que estas dimensões da personalidade são comuns a todos os indivíduos e mantêm-se estáveis durante a vida adulta. Assim, a velhice não teria efeitos sobre a personalidade, sendo esta uma estrutura homógenea, os aspectos estavéis predominam sobre aqueles que se modificam na vida adulta. Estes resultados vêm por em causa alguns esteriótipos geralmente associados { idade avançada: “se { medida que envelhecem, as pessoas se tornam, por um lado, infantis e emocionalmente instáveis, e, por outro, conservadoras, rígidas e introvertidas, então deveria encontrar-se pontuações mais elevadas no neurocitismo e mais baixas na abertura à experiência e extrovers~o” (Figueiredo, 2006, p.53). Isto vem demonstrar que a imagem social que temos dos idosos como sendo seres isolados e resistentes a novas experiências não corresponde à verdade. A estabilidade básica nos traços de personalidade parece que é sensível a acontecimentos de vida. A investigação tem tentado compreender como é que as pessoas idosas reagem e se adaptam a acontecimentos de vida difíceis. Grande parte dos estudos revelam que alguns acontecimentos que as pessoas idosas experienciam são menos susceptíveis de mudança (doença crónica, viuvez), na velhice há uma certa tendência a utilizar estratégias de copping mais centradas nas emoções (ibd.). Em jeito de conclusão, poder-se-á afirmar que as evidências revelam que acerca da mudança/estabilidade da personalidade devido ao processo de envelhecimento indica uma tendência para a estabilidade com o passar do tempo, no que diz respeito à abordagem dos traços.

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4. Envelhecimento e dependência: incapacidade, (in)dependência e autonomia. Antes de entrarmos neste capítulo, sugiro a visualização do filme “Driving With Miss Daisy. Estes conceitos são primordiais no trabalho efectuado com pessoas idosas. Devem ser sempre tidas em conta e, sempre que possível, devemos promover a autonomia e a independência. 4.1. Dependência Como vimos acima, Baltes (1996) considera que a dependência dos idosos caracteriza-se pela incapacidade de a pessoa funcionar sem ajuda, devido às suas limitações fisico-funcionais e cognitivas ou a combinação das duas. Verificamos que a dependência é uma condição com múltiplas facetas e é determinada por múltiplas variáveis em interacção. Neri (in Freitas et al., 2006) considera que os determinantes da dependência considerada com condição multidimensional são:

a) Incapacidade funcional devido a patologias, sensação de desamparo, estados afectivos negativos, falta de motivação, escassez ou inadequação de apoio físico e psicológico.

b) Efeitos da exposição a acontecimentos inesperados ou incontroláveis no quotidiano (ex. quedas) e na vida familiar (ex. acidentes com os filhos e netos), assim como maior probabilidade de vivência de grandes acontecimentos stressantes do próprio ciclo vital ou dos ciclos da vida familiar (ex. morte de pessoas queridas). A interacção com tais acontecimentos pode gerar sintomas depressivos, entre eles a predominância de humores disfóricos, queixas somáticas, dificuldades em inicar comportamentos e dificuldades de discriminar correctamente as contigências.

c) Acumulação dos efeitos das pressões exercidas pelas perdas em vários domínios (ex. perda dos filhos + reforma + afastamento dos filhos + doenças pessoais = maior vulnerabilidade).

d) Falta de motivação para o estabelecimento de objectivos, manutenção de uma vida activa, produtiva, saudável e o cultivo da espiritualidade.

e) Desestruturação do ambiente físico devido às condições de pobreza, abandono ou negligência.

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f) Presença de barreiras arquitectónicas (escadas, pisos escorregadios) e ergonómicas (ex. tapetes, camas muito altas) ou falta de apoios ambientais (ex. bengalas, andarilhos, cadeiras de rodas).

g) Presença de práticas sociais discriminativas (ex. ser despedido do emprego, ser tratado como incapaz).

h) Desestruturação do ambiente social (ex. falta de rotinas, falta de estímulos sociais).

i) Tratamentos medicamentosos inadequados, ou iatrogenia (interacção medicamentosa), que podem conduzir à inactividade, à apatia e à deterioração cognitiva.

Normalmente, associa-se velhice a dependência, mas muitos autores

afirmam que é um estereótipo. Existem pessoas que apresentam um declínio no seu estado de saúde e nas funções cognitivas, outras têm uma vida saudável até aos seus 80 ou mais anos de idade. A dependência não é um elemento que caracteriza apenas esta fase da vida (Sousa et al., 2004). Sousa et al., (2004) afirma que: assim que um idoso entre num processo de dependência, isto significa que se invertem as funções exercidas ao longo da vida (role reversal), assumindo duas formas:

1) Um dos cônjuges assume as diferentes responsabilidades. 2) Um filho adulto assume o papel do cuidador e torna-se responsável

pela tomada de decisão.

4.2. Independência A indepência é “a condiç~o de quem recorre aos seus próprios meios para a satisfaç~o das suas necessidades” (ibd., p.49). Para as pessoas idosas a prioridade é manter a sua independência, serem capazes de realizar a suas tarefas sem ajuda de outrem. O aspecto central é a capacidade funcional, que significa poder sobreviver sem ajuda para as actividades instrumentais e de autocuidado. Sixsmith (1986, in Sousa et al., 2004) estudou o significado e a importância da independência para as pessoas mais velhas. Os resultados obtidos indicam que é sinónimo de: capacidade de tomarem conta deles mesmos; sem estarem dependentes dos outros para a realização das tarefas

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dmomésticas e cuidados pessoais; competência de auto-decisão e liberdade para fazer escolhas (autonomia); não se sentir um fardo/obrigação para os outros. Outra situação é aquela em que os idosos recebem ajuda directa num contexto de reciprocidade e assim a independência é preservada. Na perspectiva do idoso o conceito de dependência, autonomia e independência são conceitos diferentes do ponto de vista teórico, mas nem sempre são entendidos dessa forma pelo idoso.

O trabalho do profissional que trabalha com idosos passa, sempre que possível, fomentar a independência, prevenir a incapacidade fisica, psicológica e social. 4.3. Autonomia A questão central no conceito de autonomia é a noção do exercício do autogoverno, associado a liberdade individual, privacidade, livre escolha, auto-regulação e independência moral (Medeiros, in Freitas et. al., 2006).

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