4. revisão bibliográfica

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20 4. Revisão bibliográfica O ferro entra na proporção de 4,2% da litosfera, sendo o metal mais abundante depois do alumínio (7,5%). Embora seus compostos sejam numerosos, apresentam-se em grandes concentrações somente sob a forma de óxidos. Quase todos os óxidos e hidróxidos de ferro existem na forma cristalina. O grau de ordenação estrutural e o tamanho do cristal dependem das condições em que foram formados. Óxidos e hidróxidos de Ferro consistem de um arranjo de íons ferro, íons O 2- e OH - . Como os ânions são maiores que os cátions, o arranjo dos ânions determina a estrutura cristalina a ser formada. O ferro está presente no solo, dissolvido ou organicamente complexado, e dentro das estruturas cristalinas de uma grande variedade de minerais, a maioria silicatos ou óxidos. Provavelmente a melhor descrição dos óxidos de ferro é que são compostos de empacotamento fechado com os íons O 2- e Fe preenchendo os interstícios. Os óxidos de ferro ocorrem tanto em arranjos hexagonais (hcp) quanto cúbicos (ccp). Hematita (Fe 2 O 3 ) e goethita (FeOOH) são os minerais mais comuns com arranjos do tipo (hcp), enquanto maghemita (Fe 2 O 3 ) e lepidocrocita (FeOOH) os mais comuns de arranjo (ccp). Após a redução dos óxidos, o ferro é utilizado principalmente para a confecção de aço, o principal material aplicado na indústria moderna. As ligas ferrosas são as mais utilizadas entre todas as ligas metálicas. O ferro é um metal de fácil processamento e caracteriza-se pela ligação com muitos outros elementos metálicos e não metálicos, sendo o principal deles o carbono. 4.1. Minerais de Ferro 4.1.1. Goethita A goethita é o hidróxido de ferro mais comum, sendo tipicamente formada sob condições oxidantes como produto de intemperismo dos minerais portadores de ferro e possui estrutura cristalina do tipo (hcp), com oxigênio ocupando sítios e hidroxila formando planos paralelos à direção [100] e com Fe (III) octaédricos. A estrutura cristalina da goethita apresenta um sistema cristalino ortorrômbico e tem

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4. Revisão bibliográfica

O ferro entra na proporção de 4,2% da litosfera, sendo o metal mais

abundante depois do alumínio (7,5%). Embora seus compostos sejam numerosos,

apresentam-se em grandes concentrações somente sob a forma de óxidos. Quase

todos os óxidos e hidróxidos de ferro existem na forma cristalina. O grau de

ordenação estrutural e o tamanho do cristal dependem das condições em que

foram formados. Óxidos e hidróxidos de Ferro consistem de um arranjo de íons

ferro, íons O2- e OH-. Como os ânions são maiores que os cátions, o arranjo dos

ânions determina a estrutura cristalina a ser formada. O ferro está presente no

solo, dissolvido ou organicamente complexado, e dentro das estruturas cristalinas

de uma grande variedade de minerais, a maioria silicatos ou óxidos.

Provavelmente a melhor descrição dos óxidos de ferro é que são compostos de

empacotamento fechado com os íons O2- e Fe preenchendo os interstícios. Os

óxidos de ferro ocorrem tanto em arranjos hexagonais (hcp) quanto cúbicos (ccp).

Hematita (Fe2O3) e goethita (FeOOH) são os minerais mais comuns com arranjos

do tipo (hcp), enquanto maghemita (Fe2O3) e lepidocrocita (FeOOH) os mais

comuns de arranjo (ccp). Após a redução dos óxidos, o ferro é utilizado

principalmente para a confecção de aço, o principal material aplicado na indústria

moderna. As ligas ferrosas são as mais utilizadas entre todas as ligas metálicas. O

ferro é um metal de fácil processamento e caracteriza-se pela ligação com muitos

outros elementos metálicos e não metálicos, sendo o principal deles o carbono.

4.1. Minerais de Ferro 4.1.1. Goethita

A goethita é o hidróxido de ferro mais comum, sendo tipicamente formada

sob condições oxidantes como produto de intemperismo dos minerais portadores

de ferro e possui estrutura cristalina do tipo (hcp), com oxigênio ocupando sítios e

hidroxila formando planos paralelos à direção [100] e com Fe (III) octaédricos. A

estrutura cristalina da goethita apresenta um sistema cristalino ortorrômbico e tem

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dimensões de célula unitária de a = 0,4608; b = 0,9956 e c = 0,3021 nm. É

isoestrutural com a manganita (MnOOH) e com o diásporo (AlOOH). Possui cor

amarela até marrom, e não apresenta caráter magnético, contendo 62,8% de ferro.

Geralmente possui pouca consistência e apresenta textura porosa, brilho

adamantino e opaco. Com aquecimento em temperaturas entre 250 e 350 ºC, a

goethita se transforma em hematita.

4.1.2. Hematita

A hematita é a principal fonte de ferro do mundo, e o mais abundante

mineral que o contêm. O Fe2O3 existe sob duas formas cristalinas: a mais comum

é a forma hexagonal, designada Fe2O3-α, enquanto a forma romboédrica,

maguemita é designada Fe2O3-γ. A hematita é estequiométrica, não apresentando

uma região de composição variável com a temperatura (figura 1).

Figura 1 - Diagrama de equilíbrio Fe-O (André Luiz V. da Costa e Silva 2008)

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Na produção de Fe2O3 através da oxidação da magnetita, podem ser obtidos

Fe2O3-α e Fe2O3-γ; esta diferenciação se faz muito importante, pois na redução do

Fe2O3-α à Fe3O4 ocorre o efeito da transformação anisotrópica da estrutura de

espinélio invertido (cfc) para (hc), o que normalmente implica na formação de

microtrincas.

A hematita é um mineral amplamente distribuído em rochas de todas as

idades e forma o minério de ferro mais abundante e importante. Pode ocorrer

como produto de sublimação em conexão com as atividades vulcânicas, em

depósitos metamórficos de contato e, como mineral acessório, nas rochas ígneas

feldespáticas, tais como o granito. É isoestrutural com o coríndon. A célula

unitária é hexagonal com dimensões a = 0,5034 e c = 1,3752 nm. A estrutura da

hematita pode ser descrita como arranjos do tipo (hcp) de íons oxigênio

empilhados na direção [001] e apresenta sistema cristalino romboédrico. A cor

varia de preta até vermelha, dependendo da granulometria; Contém 69,9 % de Fe.

Placas delgadas podem estar agrupadas em forma de rosetas. A hematita é

encontrada principalmente:

Associada com goethita-limonita ou em minérios oolíticos; associada com

goethita, calcita e quartzo clástico; e em arenitos e quartzitos ferruginosos como

materiais de cimentação. Os minérios oolíticos são de origem sedimentar e podem

ocorrer em camadas de tamanho considerável (DANA, 1978).

A substituição isomórfica de Al3+ por Fe3+ é um fenômeno natural comum

na goethita e hematita, sendo mais freqüente em goethitas de clima tropical

(SCHWERTMANN e TAYLOR, 1989).

4.1.3. Magnetita

A magnetita é, igualmente, um dos principais minerais de ferro. É um óxido

da família dos espinélios, correspondendo à fórmula geral Me2+Me23+O4

2-. Os íons

Fe2+ (ferrosos) e os íons Fe3+ (férricos) ocupam sítios bem determinados entre os

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íons O2-. Pode ser considerada estequiométrica em temperaturas abaixo de

1000°C. A magnetita pode ter composição variável nas temperaturas acima de

1000°C, devido ao fato que sua rede pode dissolver íons de oxigênio. No entanto,

a região de composição variável com a temperatura ainda é bem menor que a da

wüstita.

A magnetita (Fe3O4) cristaliza-se no sistema cúbico com parâmetro de rede

a = 0,839 nm. Ela difere dos demais óxidos/hidróxidos de ferro, pois contém tanto

ferro divalente quanto trivalente em sua estrutura (CORNELL e

SCHWERTMANN, 1996). Um terço do total de ferro ocorre como Fe (III) nos

sítios tetraédricos, um terço de Fe (III) ocorre em coordenação octaédrica e um

terço como Fe (II) em coordenação octaédrica. Com aquecimento (T ~ 250°C) sob

condições oxidantes, magnetita de pequeno tamanho de partícula forma

maghemita (SCHWERTMANN e TAYLOR, 1989). A transformação da

magnetita para maghemita é acompanhada pela redução do volume da célula

unitária feita através da substituição de Fe (II) com raio iônico de 0,074 nm para

Fe (III) com raio de 0,065 nm (DETLEF, 1986). A magnetita tem cor preta, é

fortemente magnética, contendo 72,4 % de Fe. Mais comumente associada a

rochas metamórficas cristalinas (DANA, 1978).

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4.2. Ocorrências de fósforo

O fósforo, componente essencial à vida, é encontrado na natureza em

diversas formas alotrópicas. Fósforo branco contém moléculas em coordenação

tetraédrica, enquanto no fósforo negro, ortorrômbico e romboédrico, os átomos se

dispõem em camadas. O fósforo vermelho, monoclínico, tem estrutura mais

complicada, em que se tem de 2 a 3 átomos de fósforo coordenados. Sob alta

pressão o fósforo negro apresenta uma estrutura cúbica, com átomos de fósforo

em coordenação octaédrica. Os fosfatos [PO43-] são praticamente os únicos

compostos de fósforo que ocorrem na natureza (CORRENS et al., 1978). A

apatita é o mineral de fósforo mais comum em sedimentos. Em alguns casos, os

fosfatos de ferro e alumínio são abundantes, sendo que em rochas ricas de óxidos

de ferro com alta fração de argilominerais, a adsorção pode ser um fator

importante. O fósforo contido nessas rochas varia quanto à sua origem e tamanho

de grão. Geralmente, com a diminuição do tamanho do grão do mineral

adsorvente o conteúdo de fósforo aumenta (CORRENS, 1978).

A forma na qual o fósforo e o alumínio se encontra nos minérios de ferro

ainda não é bem conhecida, mas com base em resultados encontrados para

amostras sintéticas de goethita e hematita, pode-se inferir que o fósforo,

provavelmente se encontra na forma de fosfato, adsorvido na superfície das

partículas, ocluído nos microporos, inserido na estrutura cristalina ou como

mineral fosfatado (TORRENT, 1992; COLOMBO, 1994, GÁLVEZ, 1999).

A teoria de adsorção superficial pode ser usada para explicar a existência de

fósforo na goethita e para o processo de desfosforização. O aquecimento de

minério de ferro na presença de ácido sulfúrico causa a desidratação da goethita,

liberando o fósforo na forma ácida solúvel, sendo possível reduzir o teor de

fósforo em até 65% (CHENG et al., 1999).

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4.2.1. Processos de fixação do fósforo em minério de ferro e solos

Óxidos de ferro, hidróxidos e oxi-hidróxidos (chamados apenas óxidos de

ferro) podem apresentar sítios de sorção para compostos com alta afinidade pela

superfície do óxido de ferro, como é o caso de muitos metais traços, sílica e

fósforo (KROM e BERNER 1980). A disponibilização do fósforo para o meio

ambiente teria sido processada pela atividade de microorganismos, permitindo sua

absorção pelas raízes dos vegetais e em conseqüência, por toda a seqüência da

cadeia alimentar. Ao fim de seu ciclo de vida, esses microorganismos devolvem o

fósforo para o solo onde, no período de estações chuvosas, uma parte desse

fósforo entra em solução juntamente com o ferro (Fe+2), percolando através da

formação ferrífera. A saturação relativa dessa solução promove a cristalização (no

caso da goethita) em poros, fraturas, diáclases, etc. Como de modo geral a

formação ferrífera é pobre em cátions livres (metais alcalinos e alcalino-terrosos),

o fósforo tem poucas chances de sintetizar um fosfato, permanecendo então como

uma fase possivelmente aniônica adsorvida na microporosidade da goethita.

Porém, em alguns casos, mesmo na ausência desses cátions livres, o fósforo pode

associar-se ao alumínio para formar um fosfato denominado wavelita,

Al3(PO4)2(OH;F)3.5H2O.

Segundo TORRENT, et al. (1992), a adsorção de fósforo em goethita pode

ser controlada por um tipo de face cristalina que se mostra dominante em cristais

naturais ou sintéticos, sendo que, resultados de microscopia eletrônica de

transmissão apontam para a face [110]. A adsorção de fosfatos em hematita parece

estar associada não somente à área superficial das partículas (superfície

específica), mas com o formato destas. Assim, faces basais de hematita não

adsorvem fosfato enquanto as não basais podem adsorver (BARRÓN et al., 1988).

Quanto à capacidade de adsorção de fosfato, a hematita adsorve menos fosfato por

unidade de área tendo menos afinidade por este, em comparação à goethita

(COLOMBO, 1994).

Estudos recentes conduzidos por LER e STANFORTH (2003) sugerem que

a interação entre fosfato e goethita inclui adsorção ternária/precipitação

superficial, bem como a formação de um complexo superficial. Os processos de

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adsorção ternária e precipitação superficial envolvem a dissolução do cristal de

goethita e a subseqüente adsorção de ferro na superfície de ligação com fosfato. A

superfície de precipitação dos ânions envolvidos no modelo engloba a dissolução

do cristal de goethita que provê os íons ferro na estrutura cristalina. As etapas

envolvidas são as seguintes:

Etapa1 - A chegada do fosfato forma um complexo mono ou bidentado com as

hidroxilas, na superfície da goethita (estudos revelam a possibilidade

de ambas às formas);

Etapa 2 - O fosfato adsorvido age como um sítio de sorção para ferro dissolvido,

formando um complexo ternário e reduzindo a concentração de ferro

em solução;

Etapa 3 - A goethita é dissolvida para então fornecer o íon ferro em solução, que

pode assim adsorver fosfato em sua superfície. Tem sido mostrado

que ânions adsorvidos podem formar complexos ternários com metais

em solução;

Etapa 4 - O ferro adsorvido age como um sítio de sorção para o fosfato, e o

processo continua.

4.2.2. A influência do fósforo nas propriedades do aço

Os produtos siderúrgicos apresentam normalmente, além do carbono como

principal elemento de liga, uma série de contaminantes como o fósforo, enxofre,

manganês, silício e alumínio. A maior parte deles reage entre si ou com outros

elementos não metálicos como o oxigênio e eventualmente o nitrogênio,

formando as chamadas “inclusões não metálicas”. A formação dessas inclusões se

dá, em grande parte, na fase final de desoxidação dos aços. Na realidade, algumas

das inclusões podem até mesmo serem consideradas necessárias ou benéficas

devido ao efeito, de certo modo positivo, que podem acarretar. Mesmo assim, e

principalmente, quando as condições de serviço provocam o aparecimento de

esforços cíclicos e alternados, alguns tipos de inclusões podem ser prejudiciais,

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sobretudo quando sua quantidade, forma e dimensões, estão além do que se

considera aceitável (CHIAVER INI, 2008).

Dentre as impurezas, o fósforo foi considerado por muito tempo um

elemento exclusivamente nocivo por conferir aos aços uma fragilidade muito alta

a frio, sobretudo aos aços duros de alto carbono, quando seu teor ultrapassa certos

limites. Por essa razão, as especificações são rigorosas a seu respeito

(COLPAERT, 1969). Nos aços-liga, em alguns casos, o fósforo é especificado em

composição máxima de 0,04 %, e em outros como 0,025 %. Este elemento não

possui tendência a formar carbonetos, mas dissolve-se na ferrita, endurecendo-a e

aumentado o tamanho de grão do material, ocasionando fragilidade a frio,

representada por baixa resistência ao choque ou baixa tenacidade. Essa influência

é tanto mais séria, quanto mais alta for o teor de carbono do aço. Por outro lado, o

fósforo apresenta alguns aspectos favoráveis, pois ao aumentar a dureza do aço,

aumenta igualmente sua resistência à tração, fato esse que pode ser aproveitado

nos aços de baixo carbono, onde seu efeito nocivo é menor, juntamente com

outros elementos como cobre, níquel e cromo em baixos teores. Não se ultrapassa,

entretanto, 0,12 % de fósforo, pois seus efeitos negativos poderiam prevalecer

(CHIAVER INI, 2008).

O conceito “aço limpo”, ou seja, isento de inclusões, é relativo, porque sob

o ponto de vista técnico é impossível produzir-se um aço totalmente isento de

inclusões; além disso, algumas delas, as micro-inclusões, são em geral

necessárias. O importante é a identificação dessas inclusões sob os pontos de vista

de composição, quantidade e dimensões, e aperfeiçoar os processos de fabricação

dos produtos siderúrgicos, de modo que elas afetem o menos possível as

propriedades básicas daqueles produtos. As inclusões mais prejudiciais são as

macro-inclusões. Freqüentemente utiliza-se como fronteira que separa as micro-

inclusões das macro-inclusões, a dimensão de inclusão entre 5 a 100 µ

(KIESSILING, 1969 in CHIAVER INI, 2008).

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4.3. Aproveitamento do minério de ferro

A produção de minérios de ferro gera três produtos básicos: granulado, finos

para sinterização, e finos para pelotização. O sinter feed constitui-se, atualmente,

na carga metálica mais importante para a siderurgia, ele é aglomerado em plantas

de sinterização, gerando o sinter, que alimenta os altos fornos. O sinter é um

produto que se fragmenta facilmente, não resistindo ao manuseio e transporte.

Tais ações poderiam degradá-lo, gerando finos indesejáveis para o alto forno. Por

essas razões, as plantas de sinterização estão predominantemente localizadas

dentro das usinas siderúrgicas.

O pellet feed é aglomerado nas pelotizações, gerando as pelotas para alto

forno, e as pelotas para redução direta. As pelotas constituem-se num material

mais resistente ao manuseio do que o granulado e o sínter. Outra vantagem é

apresentarem um alto nível de qualidade física, química e metalúrgica.

Figura 2 - Faixa granulométrica dos principais produtos da mineração

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Por ajustes no processo produtivo, é possível produzi-las com ampla

variedade de composição química, variando-se, por exemplo, os teores de sílica e

de alumina, ganga básica (óxido de cálcio e magnésio) e elementos deletérios

(fósforo, enxofre, vanádio, titanio, chumbo e cloro). Embora as pelotizações

possam se localizar dentro de complexos siderúrgicos, elas usualmente se situa

fora do ambiente das siderúrgicas. Como os investimentos em plantas de

pelotização são altos, as mineradoras têm assumido essa atividade e dominado o

mercado mundial de pelotas.

A pelota é um produto de alta resistência mecânica, com maior teor de ferro

do que os sínteres. A pelotização é um processo mais complexo do que a

sinterização para o aproveitamento de finos (figura 3). Embora possa ser usada em

altos fornos, a pelota (figura 4), é a matéria prima preferencial dos processos de

redução direta, gerando pré-reduzidos (DRI/HBI), posteriormente transformados

em aços nos fornos elétricos a arco.

Figura 3 - Minério de ferro (pellet feed) Figura 4 - Pelotas aglomeradas cruas

Constata-se a tendência do aumento de finos nas lavras dos minérios de

ferro, o que vem a estimular a produção de pelotas. Tal processo tende a ser

reforçado pelas restrições à ampliação das atividades de sinterização, pela

quantidade de poluentes que estas geram e as restriçoes ambientais na atualidade,

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verifícando-se inclusive a trajetória de diminução do número de unidades de

sinterização. Ressalte-se que a emissão média de CO2 nas pelotizações

(100 kg/ton de pelota) é bem inferior aos valores contabilizados nas sinterizações

(230 kg/tonelada de sinter), e ainda espera-se que novas tecnologias de

aglomeração, alternativas às plantas de sinterização e mesmo pelotização, venham

a ser desenvolvidas.

A experiência brasileira guarda similaridade ao padrão mundial em termos

de aglomeração, pois a preocupação principal decorre de:

1) Descontinuidade da produção de granulados, prevista para a próxima

década;

2) Tendência de maior finura e incremento dos teores de fósforo e alumina

em depósitos de ferro do Quadrilatero Ferrifero;

3) Geração de finos e tendência a producir DRI em maior proporção.

Nesse contexto, duas são as diretrizes principais.

1) Melhoria do desempenho técnico ambiental das plantas em operação;

2) O fomento do desenvolvemento de tecnologia específica.

Quanto à melhoria do desempenho técnico-ambiental das plantas em

operação, recomenda-se:

1) Desenvolver estudos com o objetivo de aumentar a eficiência energética

dos processos de pelotização e sinterização;

2) Desenvolver estudos visando à diminução e controle das emissões nos

processos de pelotização e sinterização;

3) Desenvolver pelotas e sinteres com maiores teores de ferro, visando a

diminução das emisoes, ao incremento da produtividade e menor

consumo de redutor nos altos fornos e módulos de redução direta;

4) Apoiar os grupos de pesquisa voltados ao estudo e a produção de pelotas

com comtaminantes autofluxados.

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Figura 5 - Pelotização – Fluxograma geral (Fonte: SAMARCO Mineração S.A)

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4.3.1. Processo de Pelotização de Minério de Ferro

O processo de pelotização de minério de ferro teve início no final dos

anos 40, principalmente nos E.U.A, como um processo de aglomeração do

concentrado produzido pelo beneficiamento de minério magnetítico, denominado

taconito, de baixos teores (~30% Fe) que tinham que ser moídos abaixo de 200 #

(74 µm) para liberar a ganga e elevar o teor de Fe acima de 64 % por separação

magnética. As plantas de pelotização tinham a vantagem de poderem ser

construídas perto das minas e as pelotas transportadas até as usinas siderúrgicas,

enquanto as plantas de sinterização precisavam, necessariamente, estarem

localizadas dentro de usinas integradas, pois o sinter não podia ser transportado

por longas distâncias sem que a sua qualidade fosse deteriorada (KALLURAYA

et al., 2006).

No início dos anos 70, o aumento da demanda mundial por minérios com

altos teores de Fe levou a descoberta de novos depósitos de minérios de ferro de

diferentes composições químicas e mineralógicas em vários países.

Figura 6 - Forno de grelha móvel (Dwight-Loyd-1940)

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Tal fato representou um marco na tecnologia do processo de pelotização que

passou a utilizar diferentes blends de minérios naturais e concentrados

provenientes de diferentes minas, dando início à construção de novas plantas

pelotizadoras próximas a portos, dentre as quais: Vale (Tubarão), Samarco (Ponta

Ubú), Marcona (Perú), Wabush (Canadá), Hamersley e Robe River (Austrália).

Atualmente, as duas principais tecnologias utilizadas para produção de

pelotas de minério de ferro são: a grelha móvel com forno rotativo (grate kiln) e a

grelha móvel (traveling grate) Figura 6. No forno tipo grate kiln as reações de

oxidação ocorrem em um leito estacionário de pelotas. Logo em seguida, as

pelotas são carregadas em um forno rotativo a fim de serem sinterizadas. No forno

tipo traveling grate, o leito estacionário de pelotas é transportado por meio de

carros de grelha pelas zonas de secagem, pré-queima (oxidação), queima

(sinterização) e resfriamento. Basicamente uma planta de pelotização é constituída

de duas etapas principais:

A primeira etapa compreende a formação das pelotas cruas (ou verdes) em

discos ou tambores, onde o minério de ferro, constituído por partículas

extremamente finas com distribuição granulométrica adequada, após ter sido

misturado aos aditivos, é pelotizado com adição ou não de água complementar.

Nesta etapa, a função dos aditivos, dentre os quais se destacam o calcário, a

Magnesita, o carvão e o aglomerante, é corrigir as características químicas e de

aglomerabilidade do minério de ferro, visando assim o atendimento das etapas

posteriores. Cabe ressaltar que a adequação da composição química tem como

objetivo atender as especificações de qualidade exigidas pelos clientes e

influenciam de forma decisiva nas características físicas e metalúrgicas finais da

pelota queimada.

Na segunda etapa, as pelotas verdes são submetidas ao tratamento térmico,

onde são secadas, pré-aquecidas, queimadas e resfriadas, por meio de ciclos

térmicos pré-determinados, de modo a garantir a produção das pelotas queimadas.

Uma das principais vantagens da tecnologia do forno do tipo grelha móvel é

a utilização de vários queimadores nas zonas de pré-queima e queima o que

permite que os perfis de temperatura, ao longo do forno, possam ser ajustados

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para o tratamento térmico das matérias primas (minério de ferro e aditivos) de

diferentes características (SURESH, 2006).

Tipicamente, o perfil térmico de um forno grelha móvel é composto por

quatro fases: secagem (S), pré-queima (PQ), queima (Q) e resfriamento (R).

O fluxo de gás primário atravessa o leito de pelotas duas ou três vezes;

inicialmente, em sentido ascendente, na primeira fase do resfriamento. Este fluxo

é então distribuído e direcionado, de forma descendente, pelo leito nas zonas de

queima (Q) e pré-queima (PQ). Usualmente, parte desse gás é recuperado e

utilizado na primeira etapa da secagem de forma ascendente (SA) ou

descendentemente na segunda etapa da secagem (SD). O fluxo de gás secundário

passa, ascendentemente, pela segunda fase do resfriamento e é usado então na

primeira ou na segunda fase da secagem (para complementar a rota do fluxo de

gás primário). Como o primeiro fluxo gasoso sai do primeiro estágio do

resfriamento, ele possui uma temperatura média de 1000 ºC. Junto com o calor

dos queimadores nas zonas de pré-queima (PQ) e queima (Q), o novo fluxo

gasoso destas zonas é dividido para queimar as pelotas a, aproximadamente,

1300ºC. A temperatura do gás destas zonas é, normalmente, na ordem de 400ºC.

Uma parte deste fluxo de gás é usada junto com o gás de saída do resfriamento, a

temperaturas entre 200 e 400ºC, para secar o leito de pelotas, reduzindo o spalling

(fenômeno de fragmentação das pelotas devido à pressão do vapor gerado, quando

as pelotas são secas a taxas muito rápidas; tipicamente, causado pela utilização de

fluxo gasoso com temperaturas muito altas).

Outra preocupação é a fragilização das pelotas molhadas, devido:

1) Ao próprio peso delas no leito;

2) A re-condensação da umidade do fluxo de gás, retornando para dentro do

leito;

3) As forças exercidas pela queda de pressão, gerada pelo fluxo gasoso

através do leito. Estas são as razões predominantes, pelas quais a maioria

dos fornos de pelotização usa zonas de secagem.

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Como produtos do processo de pelotização, são obtidas pelotas queimadas

com características físicas, químicas e metalúrgicas adequadas, visando o

processamento metalúrgico nos altos-fornos e reatores de redução direta. Essas

pelotas queimadas são utilizadas como componente da carga metálica e

apresentam vantagens quando comparadas ao sinter e aos minérios granulados,

destacando-se sua elevada resistência física, alta metalização, boa porosidade e

uniformidade de tamanho.

Para as pelotas de minério de ferro, a difusão acontece entre as partículas de

minério de ferro e as fases escorificadas. Estas últimas por sua vez, têm seus

átomos difundidos entre si e entre outras fases escorificadas, contendo espécies

diferentes. Estudos de TORÍBIO (2001) e SÁ (2003) concluíram que a eficiência

de sinterização é influenciada pela tipologia do minério processado, com destaque

para seus teores de hematita (especular e porosa) e goethita. Para cada tipo

mineralógico que compõe o minério, as características intrínsecas são diferentes

(densidade real, difusividade térmica, área superficial) e estas diferenças podem

levar a comportamentos distintos durante a sinterização.

PÉREZ-MAQUEDA (1999), BALEK (2002) e CANN (2004) estudaram o

efeito da temperatura de aquecimento sobre a formação de poros e coalescimento

de partículas sintéticas de goethita e hematita porosa. Segundo os autores, a

goethita pura decompõe-se em hematita em dois estágios: ( a) retirada da água de

hidratação a temperaturas entre 120 e 140 ºC e (b) des-hidrolização da goethita

entre 250 e 350 ºC; o produto final da decomposição térmica da goethita, aquecida

a 350 ºC, é a hematita porosa.

Em certos casos, a presença de aditivos pode auxiliar o coalescimento das

partículas de minério de ferro durante o aquecimento (sinterização), o CaO por

exemplo, favorece a difusão atômica, aumentando a mobilidade dos elétrons na

estrutura das pelotas. Isto ocorre porque o CaO reage com a hematita e com a

sílica, formando fases escorificadas, cujo ponto de fusão normalmente é menor do

que o ponto de fusão dos elementos puros. A presença de uma fase líquida capaz

de disolver algumas das partículas sólidas produz um caminho de transporte que

geometricamente é o mesmo pelo contorno do grão, na sinterização da fase sólida

(Newitt, 1958). Essas fases, em contato com a superfície das partículas de

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hematita, funcionam como um veículo de transporte para o processo de difusão

atômica. Dessa forma, quanto mais se processa a difusão atômica e a mobilidade

de elétrons, mais eficiente é a sinterização e o crescimento dos grãos, partindo da

superfície de contato entre as partículas de minério de ferro.

Resultado de testes que evidenciam a influência do CaO e da temperatura da

queima no tamanho dos grãos de hematita (MEYER, 1980).

Em geral, os aditivos de sinterização favorecem a densificação quando:

1) Diminuem a taxa de engrossamento em estágios iniciais da

sinterização;

2) Aumentam a taxa de densificação;

3) Diminuem a taxa de crescimento de grão;

4) Aumentam a mobilidade do poro, para que não ocorra a separação

poro-contorno de grão.

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4.3.1.1. Ocorrência de trincas e formação de estrutura duplex na pelota queimada

Alguns trabalhos têm mostrado a ocorrência de trincas e formação de

estrutura duplex durante o tratamento térmico de endurecimento (aquecimento)

das pelotas no forno de pelotização, mostrando o efeito destes fenômenos sobre a

queda da resistência física das pelotas queimadas.

FONSECA (2004), estudando a influência da distribuição granulométrica do

pellet feed no processo de aglomeração e na qualidade de pelotas para processos

de redução direta, identificou a ocorrência de dois tipos de trincas durante o

tratamento térmico das pelotas:

1) Trincas térmicas Figura 7, decorrentes do choque térmico nas pelotas na

transição da etapa de secagem descendente para a etapa de pré-queima,

que por sua vez é também uma conseqüência da deficiência na etapa de

secagem;

2) Trincas de resiliência Figura 8, resultantes de esforços de compressão nas

pelotas nas etapas de secagem em função do excesso de umidade nas

camadas superiores durante o aquecimento do leito de pelotas;

(FONSECA, 2004).

Figura 7 - trincas de resiliência, (alta umidade) Figura 8 - trincas térmicas

Segundo o autor, as trincas de resiliência estão associadas à perda de

resistência, que por sua vez está associada à saturação dos poros da pelota com

água. As trincas térmicas foram associadas à secagem das pelotas e ao perfil

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térmico do forno. A minimização das trincas foi obtida através de uma adequação

do perfil térmico do forno, com melhoria da etapa de secagem das pelotas, e

otimização dos gradientes de temperaturas entre as zonas de secagem

descendente, pré-queima e queima.

Outro fenômeno que deve receber atenção especial refere-se às mudanças na

estrutura cristalina da matriz da pelota durante o tratamento térmico no forno de

pelotização. A transformação da hematita hexagonal em magnetita cúbica gera

tensões internas que enfraquecem a estrutura das pelotas (LEITE, 1993), sendo

que parte da magnetita deve se reoxidar dando origem à hematita secundária ou

reoxidada.

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4.3.2. Influência de alguns elementos químicos na redução dos óxidos

O comportamento do óxido durante a redução pode ser alterado pela

presença de impurezas. Essas impurezas podem se agregar ao minério durante os

processos de sinterização ou pelotização, as composições químicas dos óxidos de

Fe, após estes processos de aglomeração, são frequentemente diferentes das

materias primas originais e contem elementos na solução solida, os quais foram

introduzidos por reação com as fases vizinhas. Existe também a possibilidade

dessas impurezas estarem presentes nos redutores utilizados. GEVA e

colaboradores estudando a redução de amostras de wüstita e magnetita em

misturas de CO/CO2 e H2/H2O mostraram que elementos em solução sólida, os

óxidos podem afetar significativamente os mecanismos durante a redução e as

condições para o crescimento de Fe poroso. Esses pequisadores estudaram a

influencia dos seguintes elementos na formação de ferro poroso: P, Mg, Ti, Si, Ca,

K e Al, a partir de essas informações pode-se concluir que a presença das

impurezas em solução sólida com o óxido podem ter um grande efeito na

determinação da morfologia do produto final de Fe, para um dado conjunto de

condições de redução. Pode-se concluir que quanto maior quantidade de aluminio

no óxido, mais alta é a quantidade necessaria de CO para o crescimento de Fe

poroso.

A adição de Al2O3 na wüstita é indesejável uma vez que na sua presença

ocorre a tendencia de restrição das condições nas quais o Fe poroso é formado.

Porém nos estudos de GEVA em experimentos realizados com a redução de

amostras contendo FeO-Al2O3-CaO na ausencia de enxofre, obteve-se

crescimento de Ferro poroso em uma ampla faixa de condições. Nesse caso, a

Al2O3 e benéfico como supressor do inchamento catastrófico. Portanto, o efeito

individual dos elementos de adição é diferente daquele quando em combinação

com outros elementos.

De acordo com MOON E WALKER, o inchamento é diminuido pela adição

de CaO que a temperaturas de queima da pelota seja suficientemente alta para

promover a ligação CaO.2Fe2O3 e eliminar o CaO livre, coincidentemente a

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redutibilidade é melhorada, provavelmente como resultado do aumento da difusao

gasosa.

GOUGEON e colaboradores investigaram a influencia do potássio na

redução de cristais de wüstita em atmosfera semelhante a da zona de reserva

química do alto, numa faixa de temperatura entre 600 e 1000°C. Através de

observações realizadas em microscopio eletrónico de varredura, eses

pesquisadores concluiram que com a presença do potássio no óxido gera-se um

produto morfológico poroso, muito diferente do metal gerado da wüstita pura.

Foi verificado também que o potássio é eficiente em pequenas

concentrações e que este elemento atua na superfície. As explicações para esta

última são as seguintes:

1) Nenhum traço de potássio foi identificado dentro da rede;

2) Nehuma caraterística do seio da wüstita foi alterado por qualquer adição;

3) Após da lavagem das amostras com adição de potássio, restaura-se a

cinética das amostras puras.

Pequenas quantidades de potássio são suficientes para incrementar a taxa de

nucleação. A partir dessas observações, pode-se concluir que o potássio modifica

as propiedades superficiais do ferro, daí a estrutura dos poros e consequentemente

a permeabilidade.

Os cátions tais como Ca2+ (0,99 Å), Na+ (0,97 Å) e K+ (1,33 Å) que tem

diametros maiores que o do Fe2+ (0,75 Å) causa a expansão da rede e é razoavel

supor que a difusão de vacancias seja favorecida, deacordo com NICOLLE E

RIST. Para estes pesquisadores, os íons solutos provocam a formação de whiskers

de duas maneiras:

1) Eles contribuem no armazenamento de grande quantidade de ferro;

2) Causam defeitos na superfície de nucleação. Além disso, foi investigado

também o efeito das adições de MgO na wüstita. Sendo o ion de Mg2+

(0,66 Å) menor que do Fe2+, observou-se que este, ao contrário do Ca2+,

Na+ e K+, não provocam o crescimento na forma de whisker.

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NAKIBOGLU et al. estam desenvolvendo pesquisas com a redução da

cálciowüstita em atmosferas de CO/CO2 e H2/H2O nas temperaturas de 800 a

1100°C perceberam que a adição de cal extende consideravelmente a faixa de

atuação das condições da atmósfera, nas quais o ferro poroso de (tipo A) é

produzido como produto final. Eles estudaram também a influência do enxofre

sobre o cálciowüstita em atmósfera de mistura gasosa CO/CO2. Após as análises

dos resultados concluiram que:

1) A presença de enxofre limita severamente as reações de remoção de O2 a

partir da superfície de crescimento da fase ferro e que o sítio predominante

para a remoção do O2 torna-se a superfície do óxido;

2) Na presença do enxofre o crescimento dos núcleos de Fe sobre a superfície

do óxido torna-se limitado pela difusao dos ions Fe através da superfície

da wüstita;

3) O inchamento catastrófico devido ao crescimento de whisker não é

suprimido pela redução de cálciowüstita em atmosfera de mistura gasosa

CO/CO2 contendo enxofre nas temperaturas entre 800 e 1100°C.

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4.3.2.1. Redução de pelotas de hematita na faixa de temperatura entre 900 e 1200°C

Em geral a reação sólido-sólido é mais lenta do que a gas-sólido. Portanto,

não é de se esperar a formação desses compostos a não ser que a taxa de redução

na etapa final seja tão lenta, aponto que a redução FeO a Fe seja a etapa

controladora. Isto deve representar a influencia de varios fatores. Entre eles estão

o decréscimo na área superficial da wüstita e do carvão com o progresso da

redução, a penetração de gas inerte dentro da pelota com subsequente queda na

pressão parcial de CO/CO2 e o decréscimo no fluxo de calor necessário para a

reação de Boudouard.

Quando a pelota alcança a temperatura do forno. Verifica-se que em larga

faixa de temperatura, o processo é caraterizado por um estagio inicial de alta taxa

de reação, durante a qual ocorre a maior parte da redução. Para 1100 e 1200°C a

redução esta virtualmente completada dentro dos 10 primeiros minutos de

exposição à temperatura do forno. O segundo estagio é caraterizado por uma baixa

taxa de reação a qual decresce continuamente com o tempo, neste estagio a

conversão wüstita para o ferro é lenta e o processo completo tende a parar a

temperaturas inferiores a 1000°C.

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4.3.3. Principais processos de Redução Direta 4.3.3.1. Processo Midrex

Este processo foi inicialmente desenvolvido pela Surface Combustion

Corporation, Toledo, Ohio, no ano de 1966, onde construíram a primeira planta

piloto. No ano de 1967, a Midland-Ross junto com a indústria Korf e Handel

GmbH & KG-Alemanha, iniciaram a produção de ferro esponja (DRI-Direct

Reduced Iron) em escala industrial. O processo Midrex converte o minério de

ferro em ferro esponja usando o gás natural, fazendo previamente sua reforma. O

forno de cuba, reator utilizado por esta tecnologia, consta principalmente da zona

de redução, zona de transição e a zona de resfriamento.

Para maximizar a eficiência do reformador, os gases de saída do topo do

forno, a uma temperatura de 370 - 480 °C são reciclados e misturados com o gás

natural rico. Estes gases são alimentados no reformador, onde são aquecidos e

reformados utilizando um catalisador. Os gases reformados, que estão aquecidos e

contêm de 90 a 92% de H2 e CO, são alimentados diretamente na parte

intermediaria do forno de cuba, como gases redutores.

CH4+ CO2= 2CO+2H2

CH4+ H2O= CO+3H2

A proporçao de CO e H2 no gas reformado podem ser controladas pela

proporção de CO2 e H2O no gás reagente, com as limitações impostas pela reação:

CO+ H2O= CO2+ H2

Esta reação é exotérmica (∆H° = -35,7kJ/mol), e por tanto tende a deslocar-

se no sentido da formação de hidrogênio a baixas temperaturas, e no sentido de

formação de CO a altas temperaturas.

Na redução, os óxidos de ferro, na forma de pelota ou bitolado, são

alimentados através de um distribuidor no topo do forno de cuba. Enquanto o

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minério desce por gravidade é também aquecido em contracorrente pelos gases

redutores que ingressam a uma temperatura de 760 a 930°C. Esta mistura redutora

reage com os óxidos, convertendo-os a ferro metálico, e liberando H2O e CO2.

Para descarregar o DRI frio (40°C), o ferro reduzido é refrigerado e

resfriado e carburado por um fluxo de gases em contracorrente na zona de

resfriamento (parte mais baixa do forno de cuba). O DRI pode também ser

descarregado quente. Neste caso é alimentado numa máquina de briquetagem para

a produção de HBI (Hot Briquetted Iron), ou alimentado quente, como HDRI (Hot

Direct Reduced Iron), diretamente num Forno Elétrico a Arco (FEA) (sistema

Hotlink). O HBI melhora as características de transporte, manipulação e

armazenamento do ferro esponja produzido, pois tem alta resistência à reoxidação,

baixa quantidade de finos gerados durante sua manipulação e operação, alta

densidade de leito (2,6 - 2,7 t/m3), e baixa absorção de água (2 - 4%). (Midrex

Technologies, 2003). O fluxograma do processo Midrex® (Figura 9).

Figura 9 - Fluxograma do processo Midrex®

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Desde o início de sua operação, até à atualidade, o processo tem sofrido

várias mudanças. (GRISCOM et al., 2000). A adição de oxigênio, no gás redutor,

no final da década dos 90 permitiu aumentar a temperatura dos gases redutores e,

para se ter um maior controle da temperatura do gás injetado, implantou-se uma

técnica, na qual o oxigênio e o gás natural reagem antes de serem alimentados no

forno (OXY+2000).

4.3.3.2. Processo HYL

Depois de anos de pesquisa, em 1957 foi posto em marcha o primeiro

processo de redução direta de minério de ferro do mundo, pela empresa Hojalata e

Lamina S.A. (Hylsa) em Monterrey, Mexico. O processo HYL é baseado em gás

natural onde o minério de ferro é reduzido mediante uma mistura de gases

redutores (H2 e CO), os quais são gerados a partir da reforma “in-situ” ou não do

gás natural (com vapor de água). Aproveitando o efeito catalítico do ferro

metálico que se produz no reator, no primeiro caso (tecnologia mais moderna), ou

usando a catálise de contato com o níquel, no segundo caso. O forno do processo

HYL esta dividido basicamente em apenas duas zonas: a zona de redução e a zona

de resfriamento. O gás natural é misturado com os gases redutores reciclados, que

vem do topo do forno, depois da remoção do CO2 e do H2O. Esta mistura é

aquecida até 930°C e é alimentada na zona de redução, numa pressão de 5.5 a 8

kgcm-2. Os gases sobem pelo reator fluindo em contracorrente aos óxidos de ferro

que formam o leito em movimento descendente. O oxigênio é removido do

minério mediante reações químicas com os gases redutores, hidrogênio e

monóxido de carbono, enquanto se produz a geração “in-situ” dos gases redutores.

Os gases saem no topo a aproximadamente 400°C, sendo passados através de um

sistema de resfriamento brusco e lavagem, onde o vapor de água gerado é

condensado e removido do gás. Em seguida o gás lavado ingressa num sistema de

remoção de CO2.

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Figura 10 - Fluxograma do processo HYL

Quando a descarga é um produto (ferro esponja ou DRI) frio (temperatura

inferior a 50°C), um circuito de gás natural para resfriamento é incluído no

sistema (zona mais baixa do reator) para controlar o resfriamento e a carburação.

Se o produto (ferro esponja) for briquetado, o sistema de resfriamento é eliminado

e o produto quente é descarregado a 700°C numa máquina de briquetagem

gerando o HBI. Quando o produto vá diretamente para um forno elétrico a arco

(FEA) o sistema é chamado de HYTEMP. (Hylsamex Mexico’s Steel, 2001). O

fluxograma do processo HYL é apresentado na (Figura 10).

O processo HyL pode utilizar outras fontes alternativas geradoras de gases

redutores:

1) Reformador convencional de gás natural com vapor de agua;

2) Gases dos processos de gaseificação de outras fontes de carbono;

3) Gases de coquerías;

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4) Hidrogênio;

5) O Processo HYL gerou, ao longo do tempo, inovações:

• Em 1986, um sistema de remoção de CO2 foi incorporado ao circuito

dos gases redutores.

• A partir de 1995, oxigênio foi injetado à mistura redutora antes de

ingressar no reator.

• Em 1998 iniciou-se o sistema de “auto-reforma”, onde se alimentava

gás natural enriquecido com oxigênio diretamente no reator.

Com estas mudanças, a utilização dos sistemas de reforma do gás natural em

reatores independentes foi eliminada.

De modo simplificado as reações estão colocadas a seguir, através das

seguintes equações, sendo globalmente caracterizadas por um dominante

comportamento exotérmico, e pela favorável formação de adicionais quantidades

dos gases redutores H2 e CO.

2H2 + O2 = 2H2O

2CH4 + O2 = 2CO + 4H2

CH4 + H2O = CO + 3H2

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4.3.4.

Processos emergentes

Dentre os principais processos emergentes de Redução Direta citam-se:

ITmK3, Fastmet e Processo Danarex.

4.3.4.1. Processo ITmk3

O processo ITmk3 usa as pelotas, produzidas a partir de uma mistura de

finos de minério de ferro, agente redutores e um agente ligante, são secas e

classificadas de acordo com o seu tamanho, na faixa de 17 a 19 mm. Todo o

material não classificado recircula no processo de aglomeração.

As pelotas são então carregadas em um forno, que apresenta três regiões de

aquecimento (alimentação, redução e fusão) e uma zona de resfriamento, e

aquecidas até temperaturas da ordem de 1350°C, onde a secagem das pelotas,

desvolatilização do carvão e redução dos óxidos de ferro acontece. Na segunda

zona, ou zona de redução, acontece a redução dos óxidos, e o aquecimento da

ganga e das cinzas, que leva ao amolecimento e subseqüente coalescimento da

escória. Depois, uma casca de ferro metálico é formada, tendo em sua parte

interior um nódulo de escória. Na zona de maior temperatura, ou zona de fusão,

ocorre a formação das primeiras gotas de ferro líquido, e o colapso da casca

metálica, seguida do processo de coalescimento das gotas de ferro metálico,

formando uma espécie de moeda de ferro completamente separada da escória,

chamada de nugget. O processo opera a altas temperaturas e pressão atmosférica.

O processo começou a ser desenvolvida em 1996, com a primeira planta

piloto construída em Kakogawa, Japão, em 1998.

4.3.4.2. Fastmet / Fastmelt

O processo Fastmet, reduz pelotas de cura a frio, produzidas a partir de finos

de minério de ferro, resíduos siderúrgicos ricos em ferro e finos de carvão. As

pelotas são carregadas no forno por meio de um sistema de alimentação

vibratória. Após carregadas as pelotas são aquecidas em 3 zonas, por queimadores

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montados junto às paredes do forno. Todos os queimadores são projetados para a

combustão de gás natural. Um painel refrigerado à água é posicionado após a

terceira zona para promover o resfriamento do DRI à 1000 – 1200°C, antes da sua

descarga. O material produzido pode ser coletado para posterior briquetagem à

quente, ou diretamente carregado em fornos elétricos. O processo opera em

pressão moderadamente negativa, e é vedado através de um selo de água.

Em 1992 se construiu a primeira planta piloto Fastmet com capacidade de

0.15 t/hr.

4.3.4.3. Processo Danarex Desenvolvido pela empresa Danieli, é um proceso baseado em gás que converte

os óxidos de ferro, na forma de pelotas e/ou bitolados, em ferro-esponja altamente

metalizado.

Os gases redutores são obtidos mediante a reforma ou a autoreforma do gás

natural e contem CO, H2 e CH4 residual. Destaca-se, como reação global de

autoreforma, a redução da wüstita, segundo:

FeO + CH4 = Fe + 2H2 + CO

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