desgaste (revisÃo bibliogrÁfica)

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  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 7

    CAPTULO 2 - Reviso bibliogrfica

    O principal objetivo da Engenharia produzir, para uma determinada

    especificao, uma mquina ou um sistema que deve realizar uma determinada funo.

    Conforme descrito por DOWSON (1997), esse objetivo predominou no incio da

    histria da Engenharia, de maneira que consideraes sobre atrito, desgaste,

    confiabilidade e outros itens relacionados a eficincia eram subservientes.

    Inventividade, conhecimentos prticos e princpios cientficos eram direcionados

    construo de mquinas que funcionavam e a histria da tecnologia mostra evidncias

    de grandes descobertas. medida em que os processos de fabricao envolviam

    materiais de construo de resistncia e confiabilidade adequadas, o engenheiro teve a

    oportunidade de aplicar com confiana os princpios bsicos da termodinmica, da

    mecnica dos fluidos e da mecnica dos slidos ao projeto de mquinas. Nesse curso,

    surgiu a necessidade de se direcionar uma ateno para a vida, confiabilidade e

    eficincia das mquinas, com o que inevitavelmente as consideraes sobre atrito,

    desgaste e lubrificao se faziam presentes.

    Apesar dessa descrio acerca da histria da Engenharia, sabe-se que as

    preocupaes voltadas aos temas desgaste, atrito e lubrificao tiveram incio j h bem

    antes do presente sculo. O uso do lubrificante como um meio de diminuir o trabalho

    requerido no transporte de objetos pesados conhecido h mais de 4.000 anos, como

    mencionado por PERSSON (1999). Por outro lado, como tema na sociedade

    tecnolgica, a tribologia vem sendo considerada de maneira premente desde meados de

    1940 e ainda mais intensamente na dcada de 1960 [DOWSON, 1997].

    O termo tribologia, definido como cincia e tecnologia das superfcies que

    interagem entre si mediante um movimento relativo, surgiu em meados da dcada de

    1960, inicialmente no Reino Unido e em seguida propagado por todo o mundo

    [DOWSON, 1997]. A maioria dos tpicos cobertos por essa palavra antiga e bem

    conhecida, como o estudo de lubrificantes, lubrificao, atrito, desgaste e mancais. As

    interaes superficiais ditam e controlam o funcionamento de praticamente todos os

    dispositivos mecnicos construdos pelo Homem, fato com o qual se observa uma

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 8

    importncia central da tribologia em termos de desenvolvimento tecnolgico;

    entretanto, ainda hoje, isso nem sempre reconhecido [PERSSON, 1999].

    Segundo as observaes de MYSHKIN (2000), nos primeiros estudos de

    desgaste e atrito, o contato entre slidos era considerado como sendo mecnico, do

    ponto de vista do comportamento da tenso-deformao no meio contnuo, ou do ponto

    de vista fsico, com adeso molecular ou atmica causando o cisalhamento na interface.

    Posteriormente, as propriedades do lubrificante foram consideradas do ponto de vista de

    sua interao molecular com a superfcie slida e um conceito de camada limtrofe

    caracterstico do lubrificante foi desenvolvido por Hardy, conforme cita MYSHKIN

    (2000).

    Em termos dos estudos de lubrificao, PERSSON (1999) registrou que a teoria

    da lubrificao hidrodinmica, baseada nas equaes de Navier-Stokes que descrevem o

    movimento de fluidos viscosos, surgiu a partir da observao da presso hidrodinmica

    gerada em mancais deslizantes, em 1885. Osbourne Reynolds, em 1886, utilizou os

    princpios da mecnica dos fluidos para explicar o fenmenos observados e publicou, a

    partir disso, a teoria clssica da lubrificao hidrodinmica (HD), utilizada com

    freqncia no projeto de dispositivos mecnicos. Na abordagem HD, a principal

    caracterstica do fluido lubrificante a sua viscosidade e interaes fsicas entre as

    superfcies no so consideradas.

    Estudos com elementos de mquinas lubrificados e sujeitos a tenses elevadas,

    como engrenagens e elementos rolantes, mostraram que a abordagem da lubrificao

    HD no se aplicava satisfatoriamente. Aplicadas a esses casos, abordagens da

    lubrificao com o conceito da lubrificao elastohidrodinmica (EHL ou EHD) foram

    iniciados na segunda metade do sculo vinte, o que hoje conhecido como um

    fenmeno de importncia na proteo de componentes de mquinas crticos

    [DOWSON, 1997]. O fenmeno, observado por tcnicas interferomtricas na mesma

    poca, revelou que a espessura do filme lubrificante contnua na regio do contato,

    apresentando na sada do contato uma diminuio dessa espessura, devido existncia

    de um pico de presso na interface do contato nessa regio. A existncia do pico de

    presso leva a uma constrio nessa regio com uma diminuio da espessura para 70 a

    75% do valor da espessura central do filme (CHENG, 1988). A teoria EHL ficou

    conhecida como a soluo EHL de Grubin, sendo no entanto a sua autoria atribuda a

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 9

    A. M. Ertel. Solues numricas para o clculo da espessura de filme em contatos EHL

    ocorreram principalmente na dcada de 1960, por Dowson e Higginson [DOWSON,

    1997].

    Por outro lado, foi em 1922 que Hardy, segundo PERSSON (1999), introduziu o

    termo lubrificao limtrofe e a interao do lubrificante com as superfcies slidas.

    Hardy realizou experincias com algumas monocamadas de lubrificante adsorvidas

    sobre placas de vidro, com o que concluiu que a lubrificao limtrofe dependia de

    caractersticas fsico-qumicas do lubrificante e no apenas da sua viscosidade. Em

    termos de modelamento para sistemas sob deslizamento lubrificado, BLAU (1997)

    apontou a necessidade de modelos, principalmente para a situao limtrofe, contendo

    parmetros, no somente das propriedades dos slidos, como tambm dos efeitos

    triboqumicos.

    Progressos posteriores nos estudos tribolgicos foram baseados no conceito do

    atrito como um processo multi-escalar que ocorre nas camadas superficiais dos slidos e

    lubrificantes, sob efeitos combinados de deformao e cisalhamento, com uma eventual

    ao simultnea de reaes qumicas, transformaes estruturais e transformaes de

    fase, seja na camada lubrificante, nos filmes superficiais ou mesmo nos materiais

    adjacentes. Mediante o conhecimento da complexidade estabelecida, a continuidade dos

    estudos voltados tribologia se faz necessria.

    A seguir sero abordados termos e enfoques relacionados ao estudo tribolgico

    de sistemas lubrificados.

    2.1 Desgaste

    Para fins de engenharia, o desgaste descrito por BAYER (1994) como um dano

    superficial, provocado por uma interao mecnica com outra superfcie, corpo ou

    fluido. Na interao, atuam os chamados mecanismos de desgaste, que envolvem uma

    srie de fenmenos fsicos e qumicos. A preocupao com o desgaste surge na medida

    em que o dano se torna to grande que passa a interferir no funcionamento adequado do

    dispositivo. Conforme descrito por BAYER (1994), h pelo menos trs maneiras de se

    classificar o desgaste, em termos de:

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 10

    Aparncia da trilha (por exemplo: riscado, com pite, polido). Esta classificao permite a comparao de uma situao de desgaste com outras, permitindo extrapolar experincias adquiridas em uma situao de desgaste a outras novas.

    Mecanismos fsicos de remoo de material ou causadores do dano (por exemplo: adeso, abraso, oxidao, delaminao). Esta classificao fornece um guia para o uso de modelos para predizer ou projetar uma vida ao desgaste ou identificar a significncia da dependncia dos parmetros que podem ser controlados, como carga, geometria, velocidade, ambiente.

    Condies que envolvem a situao de desgaste (desgaste lubrificado, desgaste a seco, desgaste metal-metal, desgaste por deslizamento, por rolamento, em alta temperatura). Essa classificao descreve uma situao de desgaste em termos de condies macroscpicas, de modo que um conjunto de relaes, regras ou equaes especficas possam ser identificadas e usadas no sistema.

    Essas classificaes podem ser interrelacionadas, e o mesmo termo pode ser

    usado no contexto de mais de uma classificao. Como por exemplo, o termo scuffing

    usado de vrias maneiras. Alguns autores relacionam esse termo a uma descrio da

    aparncia fsica de enrugamento da superfcie; outros o usam para indicar que o

    mecanismo de desgaste predominante o adesivo, e um terceiro autor pode usar o termo

    para indicar um tipo de desgaste com produo de dano especificamente sob condio

    de deslizamento lubrificado.

    As interrelaes existentes entre as categorias de classificao no so nicas,

    simples e diretas, basicamente porque h numerosas maneiras pelas quais os materiais

    sofrem desgaste e cada maneira pode ser influenciada por um vasto nmero de fatores.

    BAYER (1994) menciona que, nas situaes de engenharia prtica em geral, no

    so conhecidas possibilidades reais de um estabelecimento de correlaes completas

    entre condies de operao, mecanismos de desgaste e aparncia superficial.

    2.1.1 Tribo-superfcies de materiais metlicos

    Como menciona BAYER (1994), sendo o desgaste essencialmente um fenmeno

    de superfcie, as propriedades da superfcie so fatores fundamentais na determinao

    do seu comportamento ao desgaste. BAYER (1994) descreve fenmenos relacionados a

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 11

    tribo-superfcies, ou superfcies modificadas pela ao do desgaste. Os mesmos esto

    resumidos a seguir.

    H inmeras propriedades ou caractersticas das superfcies que podem afetar

    tanto o comportamento como as transies devidas ao desgaste. Entre tais, tm-se as

    caractersticas geomtricas (forma geral dos corpos e forma e distribuio das

    asperezas), propriedades mecnicas (mdulo elstico, dureza e parmetros de fadiga),

    caractersticas fsicas (encruamento, difuso e parmetros de rede) e caractersticas

    qumicas (composio e polaridade da superfcie). O desgaste influenciado por esses

    fatores e tambm pode influenciar os mesmos, ou seja, eles so dependentes entre si.

    Uma situao de desgaste estvel seria aquela em que os parmetros de superfcie no

    mudariam em funo do desgaste.

    Entre as caractersticas geomtricas macroescalares, tem-se a distribuio das

    tenses na regio do contato, que muda quando o contato afetado pelo desgaste. A

    Figura 2-1 [BAYER, 1994] mostra o efeito do desgaste no contato esfera-plano.

    Inicialmente no-conforme, pode se tornar conforme ou continuar no-conforme.

    Figura 2-1: Mudanas na configurao do contato como resultado do desgaste

    para uma esfera deslizando sobre um plano. A: somente a esfera se desgasta; B: somente o plano se desgasta; C: Ambos se desgastam. [BAYER, 1994].

    inicial

    desgastado

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 12

    Em termos de mudanas microescalares, tem-se as caractersticas de deformao

    das asperezas como resultado do contato. Em sistemas deslizantes em geral, o desgaste

    inicial tende a aumentar o raio de curvatura das asperezas e promover uma distribuio

    mais uniforme das alturas das mesmas. Essas mudanas tendem a aumentar o nmero de

    asperezas em contato, bem como reduzir a tenso associada com cada juno. Tais

    fatores levam a uma mudana na microgeometria ou topografia, caracterstica dos

    processos de desgaste envolvidos.

    BAYER (1994) tambm menciona que alm das mudanas geomtricas

    associadas com o desgaste, outras mudanas que influenciam as propriedades fsicas e

    mecnicas das tribo-superfcies podem ocorrer, como as mudanas na composio e na

    estrutura. Um exemplo clssico de mudana de composio o que ocorre no processo

    de desgaste oxidativo. Uma maneira que modifica quimicamente a tribo-superfcie

    quando fragmentos de desgaste presentes na interface formam uma estrutura composta,

    fenmeno que observado no desgaste por deslizamento. Em termos de mudanas

    estruturais, h aquelas resultantes de deformao plstica. Tais fenmenos podem

    causar mudanas na densidade de discordncias e no tamanho de gro das estruturas

    prximas superfcie, o que geralmente resulta em modificaes nas propriedades de

    dureza e de fragilidade das superfcies.

    BAYER (1994) tambm descreve a temperatura superficial como um fator de

    importncia a ser considerado no que se refere a tribo-superfcies. Entre os fatores que

    influenciam essa temperatura, h o calor gerado na superfcie pelo atrito, as

    condutividades trmicas dos materiais, os caminhos para a conduo de calor para fora

    da interface e a temperatura ambiente. A Figura 2-2, reproduzida de BAYER (1994),

    ilustra as principais influncias para a temperatura superficial. Conforme explicado por

    esse autor, com o deslizamento, a energia trmica gerada na superfcie devido ao

    aquecimento pelo atrito; logo, as temperaturas superficiais so mais altas do que no

    restante do material, o que pode afetar a natureza da superfcie de duas maneiras. Uma

    simplesmente relacionada ao fato de que a maioria das propriedades dos materiais so

    dependentes da temperatura. Como conseqncia, a superfcie ir exibir um

    comportamento do material correspondente quela temperatura. Isso particularmente

    importante no caso de materiais polimricos. Uma outra maneira pela qual a

    temperatura da superfcie pode influenciar as tribo-superfcies devida dependncia

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 13

    dos processos de modificao das superfcies com a temperatura. Temperaturas

    elevadas podem aumentar as taxas de reao, influenciar as mudanas de fase, aumentar

    a difuso e favorecer caractersticas de deformao plstica dos materiais.

    Figura 2-2: Fatores que afetam a temperatura das superfcies [BAYER, 1994].

    Uma outra possibilidade de modificao das tribo-superfcies citada por BAYER

    (1994) atravs da formao dos chamados tribofilmes. Tais filmes so materiais

    advindos de partculas de desgaste dos prprios materiais do par, que so aderidos s

    superfcies, de maneira que o deslizamento ocorre entre tais camadas. Inicialmente, as

    camadas se formam em regies localizadas, porm, ao longo de sucessivos

    deslizamentos, a cobertura da superfcie se torna uniforme e estvel, com espessura

    caracterstica. BAYER (1994) menciona que existem resultados da literatura que

    mostram que os filmes ocorrem em geral nas superfcies do material menos duro. Como

    a formao de tais camadas implica necessariamente em um processo de elevada

    deformao e cisalhamento com alta temperatura, as suas propriedades so diferentes

    dos materiais base envolvidos. Em geral, com a formao dos filmes, o desgaste

    diminudo. BAYER (1994) faz referncia a vrios estudos, nos quais foram

    identificados fatores que afetam a formao e o crescimento de tais filmes. Dentre tais

    fatores, foram citados a rugosidade, a lubrificao e o tipo de movimento.

    Na literatura, foi encontrado um trabalho de DRAGON-LOUISET (2001), em

    que foi desenvolvido um modelo terico de desgaste no regime moderado. No modelo,

    o critrio para o desgaste foi derivado da segunda lei da termodinmica, considerando

    Conveco

    Conduo

    Conduo Depende da condutividade do material, caminho de conduo de calor, rea de contato

    Conveco Depende da temperatura ambiente, fluxo de circulao, rea superficial

    Aquecimento por atrito Depende do Coeficiente de atrito, Carga, Velocidade

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 14

    os fluxos de massas dos corpos slidos para a interface entre esses corpos, devidos

    produo de partculas de desgaste. A partir disso, aplicando as leis da conservao da

    massa e da energia, so obtidas as taxas de energias especficas liberadas, que foram

    interpretadas como a energia dissipada durante o processo de trincamento das asperezas,

    o que, por sua vez, depende do estado de tenso e de deformao do material do volume

    e do material danificado pelo processo de desgaste. Um critrio de desgaste para cada

    slido formulado, baseado nas taxas de liberao de energia. A Figura 2-3 mostra uma

    representao esquemtica utilizada pelo autor, de um sistema com dois slidos em

    contato com movimento relativo deslizante. A regio do contato constituda de

    asperezas localizadas sobre um material afetado pelo processo de deslizamento e com

    trincas, por causa da presso e do atrito devido ao movimento. G1 e G2 so as bordas que

    separam o material no afetado do afetado pelo processo de deslizamento. W1 e W2 so

    as regies do material base dos slidos 1 e 2. W3 a rea da interface composta das

    regies danificadas de ambos os slidos e do terceiro corpo produzido pelos produtos do

    desgaste misturados com um eventual fluido. Quando o slido i desgastado, as

    partculas em W3 so destacadas e trincas se propagam no material base. H fluxos de

    massa atravs de Gi, de Wi para W3. Equaes do balano de massas so descritas para o

    sistema W = W1 W2 W3 com bordas G1 e G2, que vo se modificando no decorrer do

    processo de deslizamento.

    Figura 2-3: Modelo utilizado por DRAGON-LOUISET (2001) para o desgaste

    produzido em um sistema deslizante com dois corpos (1 e 2) sob velocidade relativa V. GG1, GG2: bordas limites entre a regio afetada (WW3) e no afetada (WW1, WW2) pelo deslizamento. e: espessura de WW3.

    O fluxo de fluido e do resduo de desgaste acoplado a consideraes

    micromecnicas baseadas em um modelo de interface, esta considerada como sendo

    Material base

    Subsuperfcie afetada

    Resduo e fluido

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 15

    constituda de duas regies em ambos os slidos em questo. A Figura 2-4 mostra

    esquematicamente as consideraes microscpicas utilizadas no modelo da interface.

    Em cada slido, uma das regies referente rea do slido com material afetado pelo

    processo de deslizamento, com trincas e material do resduo impregnado entre as

    asperezas. Essa regio sujeita a esforos e deformaes com ausncia de cisalhamento,

    ou seja, sujeita somente s deformaes exx e eyy e s tenses sxx e syy. Na Figura 2-4,

    tais regies so designadas por W31 e W32. A outra regio, que engloba o limite fsico

    entre os dois corpos (W33 na Figura 2-4), compreende reas com suspenso de partculas

    slidas, formando uma camada cisalhada com o fluxo de fluido viscoso. Essa regio

    sujeita a esforos cisalhantes, com as deformaes exy e eyy e as tenses de cisalhamento

    sxy e compressiva syy. Na escala macroscpica, so estabelecidas as relaes entre a

    tenso compressiva syy e a deformao eyy, e entre a tenso cisalhante sxy e a taxa de

    deformao exy (esta devido viscosidade da suspenso das partculas slidas), nas

    regies de contorno G1 e G2. O volume de partculas introduzido na interface como um

    parmetro modificador da interface e que depende da velocidade de deslizamento. O

    coeficiente de atrito determinado pela relao entre as tenses compressiva e de

    cisalhamento mdias da regio W3. O modelo relativamente complexo e a soluo,

    segundo o autor, pode ser obtida pelo mtodo de elementos finitos.

    Figura 2-4: Modelo da interface na escala microscpica, considerado por

    DRAGON-LOUISET (2001) para o modelo de desgaste no regime moderado de um sistema deslizante. WW31 e WW32: regies afetadas pelo processo deslizante; WW33: regio com fluxo de partculas; WW3: regio da interface.

    Uma observao quanto ao modelo de desgaste proposto por DRAGON-

    LOUISET (2001) que o fluxo de partculas e portanto o desgaste ocorre de maneira

    contnua, ou seja, aparentemente, parece que fenmenos relacionados ao crescimento de

    filmes triboqumicos que podem ocorrer em um deslizamento lubrificado, ou mesmo de

    .

    W3

    W31

    W32

    W33

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 16

    crescimento de uma camada de xido que ocorreria em deslizamento a seco, no so

    considerados no modelo.

    Em sistemas reais de desgaste, deve-se considerar que as vrias maneiras em que

    as tribo-superfcies se modificam como conseqncia do desgaste atuam

    simultaneamente, e de uma maneira interativa. Resumidamente, as vrias maneiras

    podem compreender fenmenos mecnicos, como os relacionados fadiga, onde atuam

    os mecanismos de trincamento e de fratura, e deformao plstica, onde atuam os

    mecanismos de sulcamento e de corte, ou fenmenos triboqumicos, que envolvem

    crescimento de filmes superficiais.

    HOKKIRIGAWA e colaboradores (1998) abordaram o contato plano-plano de

    um sistema deslizante real em termos geomtricos, onde descreveram as possveis

    interaes entre os corpos devido inclinaes que inevitavelmente ocorrem entre as

    superfcies do contato plano-plano. As inclinaes originam situaes dentro do contato

    plano macroscpico, tais que o contato real ocorre localizado em uma pequena regio.

    O mesmo raciocnio pode ser aplicado para descrever as interaes de uma aspereza

    com a superfcie oposta, que resultariam no desgaste. O esquema da Figura 2-5, de

    HOKKIRIGAWA e colaboradores (1998), mostra as possveis interaes mecnicas que

    ocorreriam em um processo de deslizamento.

    Figura 2-5: Classificao de modos de desgaste, segundo HOKKIRIGAWA e

    colaboradores (1998).

    Antes do contato

    Sob carga normal Sob atrito

    Modo de desgaste

    Antes do contato

    Penetrao do contra-corpo

    Deformao do corpo

    Zona plstica

    Deformao do contra-corpo

    Deformao do corpo

    Corte

    Formao de cunha

    Sulcamento

    Deformao ou desgaste do corpo

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 17

    2.2 Atrito

    Em situaes envolvendo deslizamento ou rolamento, um termo associado ao

    desgaste o atrito. O atrito pode ser definido como a fora que se ope ao movimento

    relativo entre duas superfcies. Genericamente, a magnitude da fora de atrito descrita

    em termos de um coeficiente de atrito, que a razo entre a fora de atrito e a fora

    normal que pressiona os corpos entre si. Conforme mencionado por BUDINSKI (1991),

    o coeficiente de atrito com essa descrio foi proposto originalmente por Leonardo da

    Vinci, por volta de 15001. Apesar de outras formulaes existentes, o coeficiente de

    atrito descrito pela relao entre as foras de atrito e normal vastamente utilizado

    como caracterizador do atrito do sistema. No incio da era da tecnologia, o coeficiente

    de atrito era considerado como uma constante de um determinado par de materiais.

    LUDEMA (1988) ressalta que, na tecnologia moderna, o coeficiente de atrito

    considerado como sendo varivel e dependente de parmetros operacionais (por

    exemplo, umidade, temperatura, velocidade e presso de contato), de lubrificantes, de

    propriedades do substrato e dos filmes superficiais. Desses, a dependncia , em geral,

    maior com as propriedades das superfcies e com o acabamento superficial do que com

    as propriedades do substrato, porm, com a ressalva de que as propriedades do substrato

    influenciam tanto a cintica de adsoro das espcies qumicas, bem como pode

    influenciar o acabamento originado do processamento [LUDEMA, 1988].

    Em termos de valores do coeficiente de atrito, LUDEMA (1996) lembra que a

    caracterstica do atrito, de no ser uma propriedade intrnseca de um material e nem de

    uma combinao de materiais, traz complexidade no uso de valores tabelados como

    fonte de dados para projeto. Os valores na maioria das vezes so obtidos com algumas

    combinaes de materiais e em condies estabelecidas com sistemas laboratoriais que

    empregam geometrias simples. Obviamente, as informaes tabeladas fornecem

    orientaes; entretanto, LUDEMA (1996) menciona que uma anlise mais criteriosa

    deve ser efetuada nos casos mais crticos. Mesmo com crticas a valores tabelados,

    LUDEMA (1996) apresentou uma faixa possvel para o coeficiente de atrito em

    1 A fora de atrito foi medida em sistemas simples, como planos inclinados e planos dispostos horizontalmente, com o que foi observado que a fora de atrito independia da rea aparente de contato [VINCI, 1940] e era proporcional carga normal [LUDEMA, 1996].

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 18

    sistemas deslizantes lubrificados com leo, com valores desde um pouco maiores que

    0 a quase 0,5. Essa faixa ampla de valores praticamente sem sentido, e reflete uma

    deficincia que ocorre em geral, de uma descrio da relao dos valores tabelados aos

    tipos de sistemas e condies em que foram obtidos.

    Em termos de consideraes histricas do estudo do atrito, LUDEMA (1996)

    descreve as teorias envolvidas, desde Leonardo da Vinci, por volta de 1500, passando a

    Guillaume Amontons, que cerca de dois sculos depois (por volta de 1700), confirmou

    as observaes de da Vinci atravs de experimentos com vrios pares de materiais

    (cobre, ferro, chumbo e madeira). Amontons considerou, tambm como da Vinci, que o

    atrito era causado pela coliso entre as irregularidades superficiais. Conforme observa

    LUDEMA (1996), tais irregularidades deveriam ser de escala macroscpica pois

    naquela poca pouco se sabia das irregularidades microscpicas. LUDEMA (1996)

    tambm menciona que nos experimentos de Amontons, todas as superfcies eram

    cobertas com banha de porco, porm, de maneira errnea, ainda hoje muitos autores

    descrevem as teorias de Amontons como leis do atrito a seco. Posteriormente, Charles

    A. Coulomb (1736-1806) descreveu o atrito novamente como sendo devido ao

    intertravamento de asperezas, similar a Amontons e outros. A teoria do intertravamento

    de asperezas limitada, por no explicar, entre outros fenmenos, o efeito da

    rugosidade no atrito e da insero de filmes fluidos na interface. No histrico,

    LUDEMA (1996) cita tambm Hardy, que na dcada de 1920, com seus experimentos

    de deposio de lubrificante em camadas moleculares em superfcies, concluiu que o

    atrito devido atuao de foras moleculares na interface. Em meados de 1930, a

    hiptese do atrito devido a um processo de adeso na interface a melhor aceita, cuja

    autoria da teoria tem sido atribuda a Bowden e Tabor, e foi formulada para evidenciar a

    inadequabilidade da teoria do intertravamento. Conforme LUDEMA (1996), os modelos

    de atrito devido adeso consideravam que a deformao plstica das asperezas produz

    um aumento da rea real de contato que limitado pela resistncia ao cisalhamento dos

    filmes superficiais. Porm, tais modelos so limitados por algumas caractersticas, como

    por exemplo, o envolvimento de mecanismos no completamente conhecidos, como a

    fratura das junes e a no explicao do efeito da rugosidade. Posteriormente, foi

    acrescentado um outro fator ao modelo de atrito da adeso, e que foi devido ao

    mecanismo de sulcamento.

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 19

    LUDEMA (1988) menciona que mais recentemente, o atrito visto como sendo

    devido adeso limitada por efeitos de adsoro e, em alguns casos, com determinadas

    superfcies rugosas, uma segunda componente de atrito poderia aparecer devido

    coliso de asperezas. No caso de superfcies lubrificadas, a adeso no comumente

    discutida como uma causa do atrito, entretanto, a molhabilidade, tenso de superfcie e

    at mesmo a viscosidade so manifestaes de foras de ligao, que so em parte

    relacionadas ao fenmeno da adeso [LUDEMA, 1996].

    Uma descrio apresentada por BAYER (1994) para uma expresso geral do

    atrito o somatrio de todas as foras que se ope ao movimento relativo de duas

    superfcies, a saber, foras associadas com a adeso, abraso (em que est considerado o

    sulcamento), fadiga (ou dissipao de energia via efeitos de histerese) e foras viscosas.

    Do exposto, possvel ver que o atrito sensvel aos mesmos parmetros e aos

    mesmos tipos gerais de fenmenos envolvidos no desgaste, ou seja, aqueles

    relacionados com as modificaes das tribo-superfcies. E como resultado dessa

    dependncia comum, alteraes nas tribo-superfcies que resultam em mudanas no

    desgaste freqentemente produzem modificaes tambm no atrito e vice-versa. Com

    isso, BAYER (1994) menciona que o monitoramento do atrito durante ensaios de

    desgaste podem auxiliar na identificao dos fenmenos de transio do desgaste,

    embora ressalte-se que as tendncias observadas do desgaste no so necessariamente as

    mesmas do atrito. Segundo BAYER (1994), uma maneira de entender a distino entre

    as tendncias do atrito e do desgaste a considerao da energia dissipada pelo sistema.

    O atrito pode ser relacionado energia total dissipada pelo sistema, sendo essa energia

    constituda de duas partes: energia na forma de calor e energia na forma de desgaste. A

    razo entre essas duas energias pode variar para diferentes tribossistemas e diferentes

    mecanismos de desgaste. A energia associada com o movimento ou dano do material da

    superfcie, que o desgaste, normalmente pequena em comparao energia devida

    ao calor gerado [BAYER, 1994].

    Por outro lado, DOWSON (1997) menciona que pesquisas recentes tm elevado o

    conhecimento do fenmeno atrito atravs da aplicao de conceitos de cincia das

    superfcies e de tcnicas em escala molecular ou atmica, estas por permitir

    investigaes relacionadas a contatos simples entre asperezas, em escala nanomtrica.

    Em tais investigaes, medies de fora de atrito, realizadas atravs do microscpio de

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 20

    fora atmica, mostram que essa fora no proporcional carga normal, devido s

    influncias das foras de adeso.

    Ainda segundo DOWSON (1997), estudos do atrito em escala atmica tambm

    vm sendo realizados atravs da aplicao da dinmica molecular. Nessa abordagem, as

    equaes newtonianas de movimento so resolvidas para um sistema de partculas

    atmicas governadas por interaes interatmicas especficas. Simulaes de dinmica

    molecular do contato de superfcies lubrificadas demonstraram que o comportamento de

    filmes de lubrificao de espessuras moleculares, ou seja, tipicamente menores que

    40 (4 nm), no pode ser relacionado s propriedades volumtricas (bulk) do

    lubrificante. Explicita ainda que tais estudos em escala atmica representam uma rea

    potencial para avanos quanto a um melhor entendimento do fenmeno do atrito.

    2.3 Ao do lubrificante

    Em sistemas metlicos deslizantes, quando um lubrificante est presente na

    interface, tanto o desgaste como o atrito tendem a diminuir. Entretanto, apesar de o

    atrito e o desgaste serem fenmenos relacionados entre si, a atuao do lubrificante no

    ocorre necessariamente com o mesmo grau de eficincia nos dois fenmenos. Diferentes

    leos exercem efeitos em diferentes escalas sobre o coeficiente de atrito e o desgaste.

    Segundo BAYER (1994), em sistemas metlicos deslizantes tpicos, o coeficiente de

    atrito a seco pode variar em uma faixa de 0,5 a 1,0 e essa faixa pode ser reduzida por

    um fator de ou com o uso de lubrificantes. Como j mencionado anteriormente,

    bvio que tal faixa depende de parmetros, como o material do lubrificante e as

    condies de carregamento, entre outros. BAYER (1994) menciona que a reduo no

    desgaste em geral mais pronunciada, sendo tipicamente de, no mnimo, uma ordem de

    magnitude. No caso da mencionada reduo do desgaste, o mesmo autor faz uma

    ressalva para o caso de sistemas que apresentam o fenmeno da formao de

    tribocamadas. Nesses sistemas, o atrito pode diminuir desde que a componente de

    adeso do atrito reduzida; entretanto, o desgaste pode aumentar na presena de uma

    substncia lubrificante, devido inibio da formao do tribofilme.

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 21

    parte dessas consideraes, em teoria, a existncia de um fluido lubrificante

    na interface resultaria em isolamento de ambas as superfcies metlicas e,

    conseqentemente, o sistema no deveria apresentar desgaste e o atrito deveria ser

    baixo. Entretanto, para existir um fluido na interface, h a dependncia de

    caractersticas, como a geometria de contato e a viscosidade do lubrificante, que

    exercem efeito na capacidade de sustentao hidrodinmica do filme de lubrificante

    Nesse caso, a capacidade de sustentao hidrodinmica e a ao de foras viscosas do

    fluido determinam a separao das superfcies e o atrito. E se um suprimento adequado

    de lubrificante no for mantido, fatores, tais como evaporao do lubrificante e a ao

    de espalhamento para fora do contato, tendem a diminuir a disponibilidade de

    lubrificante na interface de contato, resultando no desgaste. O lubrificante tambm pode

    se deteriorar como resultado de oxidao, polimerizao ou algum outro mecanismo

    (como o craqueamento), tendo como conseqncia a diminuio da habilidade do fluido

    de lubrificar o contato [BAYER, 1994].

    Um outro aspecto da lubrificao que a caracterstica lubrificante de um dado

    material pode mudar como resultado das condies ao redor do contato. Presso,

    temperatura, velocidade, bem como a compatibilidade qumica entre o material e as

    superfcies, podem ser fatores determinantes do grau em que um dado material pode

    atuar como lubrificante. Como conseqncia, em geral, h mais distino no

    desempenho do lubrificante se usado em condies mais severas de desgaste e atrito, do

    que em condies mais moderadas. A maioria dos ensaios para o estudo de lubrificantes

    voltada para a avaliao da habilidade do lubrificante em manter o deslizamento de

    maneira eficiente sob condies severas. Entretanto, mesmo em situaes moderadas,

    pode haver diferenas significativas no desempenho [BAYER, 1994].

    De maneira resumida, pode-se considerar trs mecanismos tpicos para a atuao

    do lubrificante na interface do contato e que influenciam o atrito e o desgaste: adsoro

    nas superfcies, modificao qumica das superfcies e separao fsica das superfcies.

    As duas primeiras tendem a reduzir a resistncia das ligaes nas junes adesivas e a

    ltima tende a reduzir o nmero de junes. Entre os efeitos secundrios da

    lubrificao, citam-se o resfriamento da interface, a modificao das tenses associadas

    com o contato e a eliminao do resduo de desgaste do contato.

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 22

    A separao fsica resulta da resposta mecnica do lubrificante confinado entre

    duas superfcies sob movimento relativo. Durante o movimento de deslizamento, o

    fluido pode suportar a carga externa aplicada e promover a separao das superfcies,

    formando uma cunha (vide Figura 2-6).

    Figura 2-6: Formao de cunha de fluido em um sistema deslizante

    lubrificado [BAYER, 1994].

    A espessura mnima do filme de lubrificante resultante dependente da carga

    normal aplicada, da velocidade de deslizamento, da geometria do contato e de

    propriedades reolgicas do fluido. No caso de uma situao em que h separao fsica,

    a propriedade principal do fluido a sua viscosidade.

    2.3.1 Viscosidade do lubrificante

    O parmetro viscosidade um dos mais importantes na caracterizao fsica dos

    fluidos que atuam como lubrificante. Este parmetro fornece uma medida da resistncia

    do fluido ao cisalhamento e pode ser definido como a tenso de cisalhamento em um

    plano no fluido por unidade de gradiente de velocidade normal ao plano. A viscosidade

    pode ser expressa em termos de viscosidade cinemtica (em [mm2/s] ou [cSt]) ou

    viscosidade absoluta (ou dinmica, em [Pa.s]). Uma definio para a viscosidade de

    fluidos newtonianos, em termos da deformao por cisalhamento gg, citada por

    HUTCHINGS (1992), conforme a Eq. 2-1.

    t t = hh dgg/dt Eq. 2-1

    Onde:

    t: tenso de cisalhamento [Pa]

    Cunha de fluido

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 23

    h: viscosidade dinmica [Pa.s]

    dg/dt: taxa de deformao por cisalhamento (shear strain rate)

    A viscosidade cinemtica Z definida conforme a Eq. 2-2.

    Z = hh/rr Eq. 2-2

    Onde:

    Z: viscosidade em [cSt] ou [mm2/s]

    r: massa especfica; em geral, assume-se em mdia 900 kg/m3 para lubrificantes base de hidrocarbonetos (NEALE, 1997)

    Normalmente, a viscosidade dos fluidos diminui com a temperatura. O termo

    ndice de viscosidade (IV) um meio de expressar essa variao: quanto maior o IV,

    menor a variao da viscosidade com a temperatura. Esse ndice quantificado pela

    comparao do comportamento do leo em relao a dois leos de referncia de IVs

    conhecidos. leos automotivos, por exemplo, so conhecidos por terem altos valores de

    IV, proporcionados em geral pela adio de um aditivo polimrico, que confere maior

    estabilidade trmica para a viscosidade.

    BLAU (1996) cita a norma ASTM D341, que recomenda o uso da equao de

    Walther (Eq. 2-3) para representar a dependncia da viscosidade do lubrificante com a

    temperatura.

    log10 (log10 (Z+0,7) ) = A + B (log10 T) Eq. 2-3

    Onde:

    A,B: constantes do leo

    T: temperatura [K]

    Os fluidos lubrificantes tambm tm uma caracterstica de comportamento em

    que a viscosidade aumenta em funo da presso de trabalho. BLAU (1996) e

    HUTCHINGS (1992) utilizam uma expresso dada pela Eq. 2-4.

    h h = hh0 e

    (aaP) Eq. 2-4

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 24

    Onde:

    h0: viscosidade presso atmosfrica [cP], ou [10-3 Pa.s]

    a : parmetro do leo [Pa-1]

    P: presso hidrosttica aplicada [Pa]

    HUTCHINGS (1992) cita uma expresso para a obteno do parmetro aa para

    leos minerais, descrita na Eq. 2-5.

    aa ~ (0,6 + 0,965 log10 hh0) x 10-8 Eq. 2-5

    Em termos do que ocorreria numa situao prtica, HUTCHINGS (1992) cita

    um exemplo do aumento da viscosidade com leos minerais sob presso de contato de

    500 MPa. Nesse caso, a viscosidade pode chegar a ser 20.000 vezes maior do que

    presso atmosfrica, o que faz o leo se comportar como um slido na zona de contato.

    DOWSON (1997) cita um trabalho de Jacobson de 1991, no qual foi apresentada uma

    discusso sobre a transio do lubrificante do estado fluido para vtreo em temperaturas

    de 50 a 100 C e presses de 1 GPa.

    Alguns fluidos podem apresentar viscosidade com um comportamento

    dependente da taxa de cisalhamento; tais fluidos so ditos no-newtonianos. Em

    situaes com altas taxas de deformao por cisalhamento (high shear strain rates),

    os fluidos newtonianos podem apresentar um efeito no newtoniano aliado a um efeito

    trmico, onde a viscosidade atinge um limite, o que caracteriza uma tenso cisalhante

    limite transmitida pelo fluido, ou at mesmo diminui, o que caracteriza um

    afinamento causado por cisalhamento do lubrificante, conhecido por shear thinning

    [DOWSON, 1997]. Segundo NEALE (1997), os leos lubrificantes bsicos minerais

    so considerados newtonianos em quase todas as condies de trabalho na prtica;

    porm, lubrificantes que utilizam aditivos melhoradores do ndice de viscosidade, como

    os automotivos, tendem a adquirir uma caracterstica no newtoniana, de tal forma que,

    em operaes sob altas taxas de cisalhamento, pode haver diminuio da eficincia na

    sustentao hidrodinmica, devido diminuio da viscosidade [HUTCHINGS, 1992].

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 25

    2.3.2 Formao de filme lubrificante

    Em um sistema deslizante lubrificado onde as superfcies so conformes, como

    por exemplo, nos mancais de deslizamento, ocorre o mecanismo de formao de uma

    cunha de leo lubrificante na interface de contato pela ao hidrodinmica do fluido,

    como mostrado anteriormente na Figura 2-6. Quando ocorre esse mecanismo, a

    determinao da separao das superfcies, ou seja, da espessura do filme, parte da

    teoria da lubrificao hidrodinmica com as equaes formuladas por Reynolds.

    Segundo descreve BAYER (1994), a espessura mnima do filme h para o mecanismo de

    cunha de um fluido newtoniano depende da carga, velocidade e viscosidade, conforme a

    expresso mostrada na Eq. 2-6. A expresso mostra que a espessura diretamente

    proporcional viscosidade e velocidade, e inversamente proporcional carga normal.

    Para fluidos mais complexos como os no-newtonianos, outros fatores devem ser

    considerados no mecanismo de formao do filme, como por exemplo, gradientes de

    temperatura dentro do fluido no contato e a dependncia da viscosidade com a presso

    aplicada [BAYER, 1994].

    h ~ (hhV/W)m Eq. 2-6

    Onde:

    h: espessura mnima do filme [m]

    h: viscosidade do fluido [Pa.s]

    V: velocidade relativa [m/s]

    W: carga normal por unidade de comprimento [N/m]

    m: fator que varia na faixa de 0,5 a 1, dependendo da geometria

    Para o caso de um mancal plano inclinado, HUTCHINGS (1992) descreve uma

    expresso para a espessura conforme a Eq. 2-7, tambm derivada da aplicao das

    equaes de Reynolds.

    h = (6 . hh . K . V . L2 / W)1/2 Eq. 2-7

    Onde:

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 26

    K: valor numrico que depende da razo das espessuras na entrada (h) e na sada (h1) do mancal = ln(1 + n) / n2 - 2/ [n (2 + n)], com n = h1 / h 1. Para uma condio de mxima capacidade de carga do mancal, h1 ~ 2,2 h e K ~ 0,027 [HUTCHINGS, 1992]

    h1: mxima espessura do filme no mancal [m]

    L: comprimento do mancal [m]

    Sob certas condies, uma presso suficiente pode ser produzida no fluido, de tal

    maneira que a superfcie slida possa vir a ser deformada, resultando em mudanas

    locais na geometria. Esse mecanismo tende a melhorar a formao do filme e a

    habilidade do fluido em suportar a carga externa aplicada. Em termos de nomenclatura,

    tem-se a chamada lubrificao hidrodinmica (HD), para o caso em que os corpos

    deslizam em um filme sem sofrerem deformao, e a lubrificao elastohidrodinmica

    (EHL ou EHD), quando, ao ser formado o filme na interface, os corpos em contato

    sofrem deformao elstica [BAYER, 1994]. Como mencionado anteriormente, esse o

    principal tipo de lubrificao encontrado em engrenagens, rolamentos de esferas e de

    rolos, camos e algumas vedaes [NEALE, 1997]. Na lubrificao EHL, as presses

    locais podem atingir valores da ordem de alguns GPa, de tal forma a ser necessrio

    considerar a ocorrncia do aumento da viscosidade e da deformao elstica das

    superfcies [HUTCHINGS, 1992]. Em termos de condies de operao, segundo

    CHENG (1988), h investigaes em que foi demonstrado experimentalmente que as

    expresses da espessura de filme EHL so vlidas para situaes com presses mximas

    de Hertz de at 2,5 GPa (onde o efeito trmico e de rugosidade so desprezveis).

    Tanto a lubrificao HD como EHL so conhecidas como lubrificao fluida.

    Nesses casos, a separao entre as superfcies a principal maneira para evitar a adeso,

    e o grau de separao est diretamente relacionado com a velocidade relativa entre as

    duas superfcies e a sua geometria. Uma vez ocorrido o efeito cunha, quanto maior a

    velocidade e mais planas as superfcies, mais espesso ser o filme formado.

    A teoria da lubrificao EHL foi baseada na teoria da lubrificao HD de

    Reynolds com a dependncia da viscosidade com a presso, juntamente com a teoria da

    elasticidade, para considerar a deformao das superfcies [HUTCHINGS (1992),

    CHENG (1988) e outros], e foi desenvolvida inicialmente com fluidos no-newtonianos

    e com ausncia de efeitos trmicos. Mesmo com essas restries, as expresses so teis

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 27

    para prever a espessura do filme em conjunes EHL e foram aplicadas por cerca de

    trinta anos. A razo apontada por DOWSON (1997) que o fluxo de lubrificante para

    dentro das conjunes (e a partir do fluxo, a espessura de filme gerada) determinado

    pelas condies na entrada do contato, onde aes trmicas ou no-newtonianas no

    tiveram ainda uma oportunidade para modificar as condies na entrada da conjuno a

    uma extenso significativa. As expresses foram obtidas inicialmente para contatos

    lineares e posteriormente para vrias geometrias de contato. As solues das equaes

    de predio da espessura do filme no regime EHL foram obtidas com a aplicao de

    mtodos numricos [DOWSON, 1997]. Isso teve incio nas dcadas de 1960-70, com

    autoria atribuda a Duncan Dowson e seus colaboradores [DOWSON, 1997].

    BAYER (1994) ilustra as distribuies de presso e as modificaes geomtricas

    do contato para as situaes de lubrificao HD e EHL para duas esferas2 em contato

    deslizante, apresentadas na Figura 2-7.

    Figura 2-7: Comparao dos contatos em um sistema com duas superfcies

    esfricas em deslizamento lubrificado no regime HD e EHL [BAYER, 1994].

    As equaes da espessura do filme na lubrificao HD e EHL nesse contato so

    respectivamente apresentadas na Eq. 2-8 e Eq. 2-9, como descritas por BAYER (1994).

    2 Por se tratar de duas superfcies no conformes, certamente as presses envolvidas para o estabelecimento do regime HD nesse contato devem ser muito menores do que para a situao EHL.

    HD EHL

    Forma da conjuno

    Presso na conjuno

    Presso

    Espessura mnima

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 28

    hHD = 4,9 . R . (h .h .V / W) Eq. 2-8

    Onde:

    R: raio equivalente de contato [m], com 1/R = 1/R1+1/R2, e Ri = raio de contato do corpo i (i = 1..2, referente aos corpos em contato)

    hEHL = 2,65 . aa0,54. (hh00 . V)0,7. R0,43 . W-0,13 . E-0,03 Eq. 2-9

    Onde:

    a: coeficiente da equao da viscosidade vs. presso

    E: mdulo elstico reduzido do contato de Hertz [Pa], onde 1/E = (1-n12)/E1+(1-n22)/E2, com ni = coeficiente de Poisson do corpo i e

    Ei = mdulo elstico do corpo i (i = 1..2)

    Comparando a Eq. 2-8 com a Eq. 2-9, nota-se que, para uma situao EHL, a

    expresso da espessura do filme de lubrificante se modifica em relao HD. A

    considerao do aumento da viscosidade do leo com a presso no regime EHL vista

    pela incluso do parmetro aa na expresso, e a dependncia da espessura do filme EHL

    com fenmenos relacionados deformao elstica representada pela considerao do

    parmetro E. Outra diferena relevante entre as expresses vista comparando os

    expoentes de W: nota-se que a dependncia da espessura do filme com a carga normal

    se torna muito menor no regime de lubrificao EHL.

    As expresses para outras geometrias de contato so similares Eq. 2-9. Para

    exemplificar, apresenta-se a expresso para o contato esfera-plano, descrita por

    HUTCHINGS (1992), conforme vista na Eq. 2-10.

    h = 1,79 . aa0,49. (hh00 . V)0,68. R0,47 . W-0,07 . E-0,12 Eq. 2-10

    Onde:

    W: carga normal [N]

    Para o contato bloco-sobre-anel, KHURSHUDOV, DROZDOV e KATO (1995)

    utilizaram uma outra equao similar, descrita pela Eq. 2-11.

    h = 2,65 . 0,50,7. 2-0,03. aa0,54. (hh00 . V)0,70. R0,43 . (W / L)-0,13 . E-0,03 Eq. 2-11

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 29

    Onde:

    L: largura do bloco [m]

    A aplicao da teoria EHL demonstrou que a espessura mnima era localizada na

    sada da conjuno do contato, como visualizado na Figura 2-7. Entretanto, anlises

    tridimensionais da espessura de filme do contato proporcionadas com a tcnica da

    interferometria ptica3, revelaram que a espessura mnima na verdade localizada fora

    da linha central da conjuno do contato. Em contatos puntuais como os do tipo esfera-

    sobre-plano, a localizao da regio com espessuras reduzidas obedece uma morfologia

    conhecida como marca de ferradura (horse-shoe) e a mnima espessura ocorre na

    parte posterior da conjuno, porm nos lobos mais laterais [DOWSON, 1997]. Mais

    recentemente, o uso de mtodos computacionais e a crescente aplicao de mtodos

    numricos permitiram obter melhorias na preciso das equaes da predio da

    espessura do filme na regio central do contato e da mnima espessura do filme.

    Na lubrificao EHL, que relacionada a componentes como engrenagens e

    mancais de rolamento, DOWSON (1997) cita que a espessura mnima do filme

    compreende uma faixa de 0,2 a 2 mm. J em outros componentes, como os de motores

    de combusto interna, tambm conhecidos por operarem sob lubrificao EHL, a

    espessura mnima de filme nos anis de pisto do primeiro canalete menor que

    0,2 mm, e no sistema camo-seguidor, no contato com o nariz do came, chega a ser de

    0,1 mm [PRIEST e TAYLOR, 2000]. Por outro lado, recentes avanos, principalmente

    nas tcnicas interferomtricas, demonstraram que espessuras de filme muito menores,

    de at mesmo da ordem de nanometros, podem ainda promover lubrificao fluida.

    Nesse sentido, DOWSON (1997) cita um trabalho de H. Spikes, de 1994, em que

    investigaes realizadas com a tcnica interferomtrica, para determinar a espessura do

    filme de um leo hidrocarboneto sinttico em contatos rolantes com vrias velocidades,

    mostraram que as equaes de espessura do filme desenvolvidas na dcada de 1970

    eram vlidas at mesmo para filmes menores que 20 nm de espessura. Uma

    caracterstica desse tipo de lubrificao que a espessura do filme muito menor que a

    3 Experimentos utilizando a tcnica da interferometria ptica na dcada de 1970 foram conduzidas principalmente pelo grupo do Prof. A. Cameron, no Imperial College [DOWSON, 1995]

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 30

    rugosidade das superfcies. Nesse caso, DOWSON (1997) explica que as asperezas

    individuais agem como geradoras locais de presso hidrodinmica, esta atuando na

    deformao elstica das asperezas mais altas, o que leva a perturbaes na distribuio

    de presses. E ainda, a viscosidade do leo nessa regio j no a mesma do volume

    (bulk) do lubrificante [GUANGTENG e SPIKES, 1995]. Esse efeito chamado de

    lubrificao micro-elastohidrodinmica (micro-EHL), ou lubrificao de asperezas

    [DOWSON, 1997]. evidente que o efeito tanto maior quanto maior for a

    possibilidade de deformao elstica das asperezas. Apesar dessas interpretaes para a

    lubrificao micro-EHL, as teorias HD e EHL foram inicialmente desenvolvidas para

    superfcies lisas, sem a considerao da rugosidade nos clculos. GUANGTENG e

    colaboradores (2000) realizaram experimentos com a tcnica interferomtrica (esfera de

    ao contra disco de vidro) produzindo artificialmente uma rugosidade na esfera e

    verificaram que a espessura de filme na aspereza era similar prevista pela teoria EHL,

    considerando o raio da aspereza no clculo.

    Para o caso de um sistema com superfcies rugosas, comum considerar a

    relao entre a espessura de filme e a rugosidade equivalente das superfcies, h/ss, que

    definida como fator de filme ll. A expresso mostrada na Eq. 2-12 descreve o fator ll.

    h = l . l . ( ss12 + ss22 )1/2 ou l = l = h/ss Eq. 2-12

    Onde:

    l: fator de filme

    s1; s2: rugosidade das superfcies 1 e 2 [mm]

    s: rugosidade equivalente das superfcies = ( s12 + s22 )1/2 [mm]

    A rugosidade ssi dessa expresso tem sido definida de vrias maneiras por

    diferentes autores [DOWSON, 1997]. Alguns consideram ssi como a rugosidade Ra,

    altura mdia das asperezas (CLA center line average) [BAYER, 1994]; outros

    tratam ssi como a rugosidade Rq, altura mdia quadrtica das asperezas (r.m.s root

    mean square) [HUTCHINGS, 1992]. A estrutura geomtrica da rugosidade, com

    parmetros estatsticos, foi considerada por CHENG (1988). DOWSON (1995)

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 31

    menciona que mais recentemente alguns autores consideraram a inclinao das

    asperezas.

    Segundo alguns autores, como HUTCHINGS (1992), BAYER (1994) e NEALE

    (1997), entre outros, o fator de filme ll avalia o desempenho da lubrificao por filme

    fluido (dos regimes HD e EHL) no caso de duas superfcies rugosas. No regime fluido,

    como no h interao entre os corpos, o desgaste pequeno e limitado a mecanismos

    de fadiga associados com a presso transmitida pelo fluido [BAYER, 1994]. Nesse

    caso, o valor de ll elevado. Valores limites de ll so relacionados com situaes onde a

    lubrificao fluida comea a falhar [HUTCHINGS, 1992]. Para BAYER (1994), o valor

    limite prximo a 3. J NEALE (1997) considera ll = 5 para comear a haver falha da

    lubrificao por filme fluido. Alguns componentes podem operar com valores de ll

    menores. Para a faixa 1 < ll < 3, o regime denominado misto (ou partial-EHL).

    Nesse regime, considera-se que ocorrem contatos entre asperezas, com o que so

    estabelecidas condies potenciais para a manifestao de mecanismos de desgaste,

    devido interao fsica entre os dois corpos. O contato entre asperezas ocorre nas

    regies com rompimento do filme lubrificante, as quais podem aumentar medida em

    que a espessura do filme diminui, dependendo dos efeitos trmicos e de presso

    localizados. Em condies de presses mais altas ou velocidades mais baixas, as foras

    hidrodinmicas se tornam insuficientes para manter um filme fluido ntegro entre as

    superfcies, ocorrendo ento o contato direto entre as superfcies slidas. Nesse caso, a

    espessura de filme diminui tal que o valor de ll chega a ser menor que um;

    consequentemente o atrito e o desgaste podem se tornar elevados, a menos da existncia

    de um lubrificante limtrofe [HUTCHINGS, 1992]. O valor de ll < 1 indica a ocorrncia

    do regime limtrofe, ou seja, lubrificao com ausncia de um filme fluido.

    Em termos da caracterizao dos regimes de lubrificao, h outras abordagens,

    como o parmetro conhecido como nmero de lubrificao, (hhV)/(Pss), onde so

    considerados a viscosidade do fluido hh, a velocidade V, a presso mdia de contato P e

    a rugosidade equivalente ss. Segundo DIZDAR e ANDERSSON (1997), esse parmetro

    foi estudado por Schipper, em 1990, em uma tese de doutorado. Observa-se que o

    parmetro (hhV)/(Pss) similar ao fator ll, j que a parcela hhV/P proporcional

    espessura de filme. Entretanto, DIZDAR e ANDERSSON (1997) ressaltam que

    Schipper considerou o parmetro (hhV)/(Pss) mais significativo em termos da

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 32

    representao dos regimes de lubrificao. JISHENG e GAWNE (1997) tambm

    utilizaram esse parmetro para estudar os regimes de lubrificao em ensaios de

    deslizamento.

    No regime limtrofe, as maneiras por meio das quais o fluido lubrificante age

    contra a adeso so aquelas que ocorrem atravs da formao de camadas adsorvidas

    fisicamente4 e quimicamente5 [BAYER, 1994]. Nesse caso, no h uma sensibilidade

    direta aos parmetros geomtricos e de velocidade. A formao, resistncia e tenacidade

    de tais filmes esto relacionadas principalmente com a natureza qumica das superfcies

    e do lubrificante [BAYER, 1994]. Especialmente na lubrificao em condies

    extremas de operao, as caractersticas do lubrificante limtrofe so fator

    preponderante nas respostas de atrito e de desgaste.

    Uma questo acerca da lubrificao fluida e limtrofe quanto ao

    estabelecimento de uma espessura de filme limite para a ocorrncia da fluida ou da

    limtrofe, j que possvel encontrar filmes EHL com espessuras com at ordem de

    nanometros e as espessuras dos filmes limtrofes podem tambm ser da ordem de

    nanometros, dependendo da substncia lubrificante. Experincias com tcnicas

    interferomtricas mostraram que os filmes limtrofes podem ser identificados devido

    independncia da espessura com a velocidade, o que ocorre em geral com velocidades

    baixas (menores que 0,01 mm/s). GUANGTENG e SPIKES (1996) mostraram que na

    lubrificao com substncias com componentes polares (este o caso, por exemplo, dos

    lubrificantes aditivados), a viscosidade em camadas muito prximas superfcies

    elevada e controlada pela viscosidade da substncia de caracterstica polar. A

    investigao de tais camadas medidas levou constatao de camadas formadas por

    adsoro.

    4 Adsoro fsica: uma molcula adsorvida ligada superfcie por ligaes de Van der Waals. Esse tipo de ligao no envolve transferncia de carga entre o substrato e o tomo mais adjacente da molcula e vice-versa. A fora atrativa fornecida pelos momentos de dipolo instantneos do tomo mais adjacente e os tomos superficiais vizinhos mais prximos [PRUTTON, 1998].

    5 Quimissoro: o caso mais extremo ocorre quando nmeros inteiros de eltrons deixam a molcula adsorvida e permanecem no tomo do substrato mais prximo (ou vice-versa); o que seria caracterizado como uma ligao inica pura. Usualmente ocorre uma mistura funcional dos eltrons de valncia da molcula com os eltrons de valncia do substrato; assim os eltrons responsveis pela ligao podem ser considerados como que se movimentando em orbitais entre o substrato e os tomo adjacentes, formando uma ligao covalente [PRUTTON, 1998].

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 33

    A lubrificao mista relacionada situao em que ocorrem ambos os tipos de

    lubrificao, fluida e limtrofe [BAYER, 1994].

    A Figura 2-8 ilustra esquematicamente o filme formado no contato nos trs

    modos de lubrificao [NEALE, 1997].

    Figura 2-8: Esquemas ilustrativos dos filmes de lubrificante formados em um

    contato lubrificado [NEALE, 1997].

    Considerando o efeito da rugosidade das superfcies dos elementos de mquinas,

    CHENG (1988) descreve que a maioria dos contatos hertzianos em engrenagens, camos

    e elementos rolantes pode ocorrer sob o regime misto. Nesse regime, CHENG (1988)

    considera que o desempenho da lubrificao mista determinado, levando-se em conta

    no somente o valor da rugosidade Ra das superfcies, mas tambm a estrutura

    geomtrica da rugosidade, que est relacionada direcionalidade das asperezas. Esse

    mesmo autor tambm menciona a existncia de trabalhos na literatura nos quais foram

    observados efeitos da direcionalidade das asperezas na espessura do filme calculada por

    teorias a partir da equao de Reynolds. Nesse sentido, vrios trabalhos com abordagens

    matemticas e estatsticas para considerao da rugosidade na lubrificao fluida foram

    apresentados no 4 simpsio de Leeds-Lyon em 1977 [DOWSON et al., 1978]. CHENG

    (1988) descreve que em contatos rolantes com h >> 3.(ss12 + ss22)1/2, o efeito da

    rugosidade na espessura de filme (determinada de acordo com a teoria EHL)

    desprezvel. J para h se tornando prximo de 3.(ss12 + ss22)1/2, a espessura difere da

    prevista pela teoria, pois h uma dependncia da mesma com a direo da rugosidade.

    Material da superfcie

    Filme de xido ou camada protetiva

    (se presente)

    Material da superfcie

    Lubrificante limtrofe

    Lubrificante limtrofe Filme

    fluido

    Filme de xido ou camada protetiva

    (se presente)

    Filme fluido

    lubrificao limtrofe (maior aumento)

    lubrificao mista

    lubrificao HD

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 34

    Para um contato com rugosidade transversal ao deslizamento, a espessura maior; e

    para o contato com uma rugosidade longitudinal ao deslizamento, a espessura menor.

    2.4 Atrito no sistema lubrificado

    Conforme mencionam autores, como PERSSON (1998), HUTCHINGS (1992),

    BAYER (1994) e outros, nos sistemas com lubrificao em regime HD, o atrito depende

    da carga, da velocidade e da viscosidade do lubrificante. Pela literatura, a dependncia

    do atrito com esses parmetros ocorre de maneira similar dependncia que a espessura

    do filme de lubrificante apresenta com tais parmetros; ou seja, diretamente

    proporcional viscosidade e velocidade e inversamente proporcional carga normal

    (atrito ~ hhAAVB/WC, com A, B e C > 0 e prximos da unidade).

    J no regime de lubrificao limtrofe, a viscosidade do lubrificante se torna

    irrelevante e o atrito no deslizamento depende da natureza da interao direta entre as

    superfcies slidas e as molculas do lubrificante. Neste caso, o coeficiente de atrito no

    mais uma funo universal dos parmetros carga, viscosidade e velocidade. BAYER

    (1994) descreve em termos fenomenolgicos o atrito no contato lubrificado com

    lubrificao slida, esta considerada similar que ocorre em situaes limtrofes. O

    conceito bsico descrito por BAYER (1994) para a lubrificao slida que o

    lubrificante (ou a juno lubrificante-superfcie) possui uma caracterstica de menor

    resistncia ao cisalhamento do que o material base (ou a juno do material base com o

    contra-corpo). As manifestaes das junes dependem principalmente da espessura do

    filme formado e tambm da frao da rea superficial coberta pelo filme. A situao

    tima para a minimizao do atrito e do desgaste ocorre para a menor espessura de

    filme e mxima frao de rea superficial coberta pelo filme. Uma expresso para o

    coeficiente de atrito no regime limtrofe citada por BAYER (1994) e tambm por

    BLAU (1996), como apresentado na Eq. 2-13.

    m m = b . mb . mm + (1 - bb) . mml Eq. 2-13

    Onde (unidades do SI):

    bb: frao das junes no lubrificadas

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 35

    mmm: tm /sp

    mml: tl /sp

    ssp: presso de contato, segundo BLAU (1996), e tenso de escoamento (flow stress) do substrato, segundo BAYER (1994)

    ttm, t tl: tenso de cisalhamento das junes adesivas entre os metais (ttm) e do filme formado (ttl). A tenso de cisalhamento definida como tenso cisalhante shear stress devido aplicao de ttp, segundo BLAU (1996), e resistncia ao cisalhamento shear strength, segundo BAYER (1994)

    Uma expresso para bb foi dada por BLAU (1996), descrita na Eq. 2-14.

    b b = 1 exp { - [ (30,9 .105) . Tm1/2. V-1 . M-1/2 ] . exp [- Ec / (RT) ] } Eq. 2-14

    Onde (unidades do SI):

    Tm: temperatura de fuso do lubrificante

    Ec: energia para dessoro das molculas do lubrificante

    V: velocidade de deslizamento

    M: peso molecular do lubrificante

    R: constante universal dos gases

    T: temperatura absoluta

    BAYER (1994) menciona que, embora o entendimento do atrito parea ser

    simples pela Eq. 2-14, a situao real mais complexa, como quando ocorre, por

    exemplo, a formao de uma camada mista na superfcie, composta dos elementos do

    lubrificante e dos materiais das superfcies, e que por sua vez tem a sua permanncia na

    interface influenciada pelo procedimento de lubrificao aplicado ao sistema.

    Um outro aspecto a ser considerado do ponto de vista da resposta do filme de

    lubrificante ao carregamento mecnico. Em contatos deslizantes com carregamento

    elevado, a deformao por cisalhamento do leo na regio de alta presso origina

    tenses bem acima do limite do comportamento newtoniano do lubrificante [CANN et

    al., 1994]. Segundo CANN e colaboradores (1994), isso significa que as tenses e os

    fluxos de lubrificante em duas direes perpendiculares no filme de leo sero

    acoplados entre si atravs da resistncia limite ao cisalhamento do leo. Assim, um

    gradiente de presso em uma direo ir tambm influenciar o fluxo na direo

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 36

    perpendicular, de uma maneira similar vista no estabelecimento do atrito entre corpos

    slidos a seco. Segundo CANN e colaboradores (1994), evidncias experimentais da

    existncia desse acoplamento foram verificadas com ensaios de interferometria.

    Por outro lado, observado na literatura que abordagens mais genricas do atrito

    de sistemas deslizantes lubrificados consideram o coeficiente de atrito como funo da

    relao entre os parmetros viscosidade do leo (hh), velocidade de deslizamento (V) e

    carga normal (W) ou presso de contato (P). O coeficiente de atrito em funo dessa

    relao comumente apresentado com o uso do diagrama de Stribeck (vide Figura 2-9).

    Normalmente, a relao hhV/W utilizada no eixo das abscissas do diagrama, que

    proporcional espessura do filme calculada com base em conceitos de lubrificao

    fluida para a formao do efeito cunha [BAYER, 1994].

    Figura 2-9: Representao esquemtica do diagrama de Stribeck: coeficiente

    de atrito em funo da relao hhV/W. hh: viscosidade, V: velocidade de deslizamento, W: carga normal [BAYER,1994].

    Nota-se um comportamento linear do atrito na faixa da lubrificao fluida. Nessa

    condio, o atrito devido a foras viscosas. No regime fluido, medida em que o valor

    de hhV/W diminui (ou seja, com a diminuio da viscosidade ou da velocidade, ou com

    o aumento da carga), a espessura do filme fluido diminui progressivamente e,

    conseqentemente, o atrito diminui, at atingir um ponto de mnimo. Para valores ainda

    menores de hhV/W, a espessura do filme fluido diminui ainda mais e, como

    conseqncia, h a interferncia dos fenmenos de atrito originados do contato direto

    entre as superfcies slidas. Com isso, o comportamento do atrito desviado da

    tendncia de diminuio linear, passando a aumentar. Um outro fenmeno tambm

    considerado para esse aumento do atrito, que o aumento da viscosidade do

    Lubrificao limtrofe

    Lubrificao fluida

    hV/W

    Lubrificao mista

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 37

    lubrificante. Esse fenmeno deve ocorrer localizado em pontos da regio da interface

    entre as superfcies com presso de contato elevada. Essas duas caractersticas referem-

    se s faixas de operao sob o regime de lubrificao mista. Diminuindo ainda mais o

    valor de hhV/W, h interao ainda maior entre as superfcies slidas, o que corresponde

    a situaes onde a espessura do filme menor que as alturas das asperezas dos corpos,

    conforme descrito por LUDEMA (1996). O regime de lubrificao passa a ser limtrofe.

    Dessa maneira, os trs tipos de lubrificao, fluida, mista e limtrofe, ficam

    caracterizados no diagrama de Stribeck.

    BLAU (1996) cita que os valores de coeficiente de atrito para situaes no

    regime limtrofe esto na faixa de 0,05 a 0,15. No regime fluido, as faixas so ordens de

    grandeza menores; segundo o mesmo autor, uma faixa tpica de 0,001 a 0,0018 ocorre

    em mancais de rolamento. Ressalta-se novamente que essas faixas variam, dependendo,

    entre outros fatores, das condies de operao, do acabamento das superfcies e do

    sistema de lubrificao. Por outro lado, observa-se que h uma diferena acentuada

    entre as faixas de valores dos regimes limtrofe e fluido.

    A falta de clareza na descrio da obteno do coeficiente de atrito, ressaltada

    por LUDEMA (1996), implica em questionamentos quanto caracterizao genrica do

    atrito com curvas como o diagrama de Stribeck. Pesquisadores como LUENGO,

    ISRAELACHVILI e GRANICK (1996) consideram que o diagrama de Stribeck como

    caracterizador do fenmeno do atrito deficiente, uma vez que os fenmenos

    envolvidos na interface, e portanto no atrito, so microscopicamente localizados e os

    parmetros considerados no eixo das abscissas da curva so todos macroscpicos. Esses

    autores tambm questionam a validade do uso do parmetro hhV/W, no sentido em que

    h indicao implcita de que variaes independentes em hh, V ou W produzem uma

    modificao similar no atrito, o que pode no ocorrer necessariamente. Os autores

    ressaltam a dependncia entre hh, V ou W mencionando que a viscosidade real do fluido

    na regio do contato pode ser alterada, dependendo da velocidade e da carga.

    Apesar das implicaes da utilizao de curvas como o diagrama de Stribeck

    para explicar o atrito, h que se considerar que em um sistema fsico real, os valores do

    atrito medidos normalmente nos ensaios representam um somatrio dos eventos que

    ocorrem na interface, onde o valor medido apenas uma mdia dos esforos produzidos

    pelos fenmenos na interface. Na literatura, so vistos trabalhos nos quais so utilizadas

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 38

    abordagens do atrito com a curva de Stribeck. Pesquisadores como WAKURI e

    colaboradores (1988, 1995) investigaram a ocorrncia de scuffing em regime EHL,

    simulando o par anel-cilindro dos motores de combusto interna em um equipamento

    laboratorial adaptado, considerando at mesmo o efeito de lubrificantes diferentes

    atravs da caracterizao do atrito em funo do parmetro hhV/W. Outros estudaram o

    atrito e o desgaste em ensaios de deslizamento, relacionando-os ocorrncia de

    diferentes regimes de lubrificao atravs de um parmetro similar a hhV/W [JISHENG

    e GAWNE, 1997]. Os resultados deste ltimo sero apresentados com mais detalhe

    posteriormente.

    Uma alternativa tambm utilizada na literatura para a representao dos regimes

    de lubrificao, determinados atravs de observaes do comportamento do atrito, o

    chamado diagrama de lubrificao IRG6. Uma representao esquemtica do diagrama,

    que tambm citada por HUTCHINGS (1992) e por BLAU (1996), mostrada na

    Figura 2-10.

    Limtrofe

    No lubrificado

    Misto

    m: 0,05-0,10

    m : 0,25-0,45 0,10-0,15

    m: 0,35-0,45

    Figura 2-10: Representao esquemtica do diagrama de transio de regimes

    de lubrificao IRG [GEE, BEGELINGER e SALOMON, 1984].

    O diagrama de lubrificao IRG foi desenvolvido nas dcadas de 1970-80,

    atravs da determinao de valores de carga normal e de velocidade de deslizamento

    que resultavam na transio de um regime de lubrificao para outro, em sistemas com

    6 IRG: abreviao de International Research Group, grupo voltado para estudos de desgaste de materiais na dcada de 1970, patrocinado pela OECD (Organization for Economic Cooperation and Development) com sede em Paris [GEE, BEGELINGER e SALOMON, 1984]

    W [N]

    V [m/s]

    2000

    1500

    1000

    500

    0 10 0,001 0,01 0,1 1

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 39

    contatos no-conformes, submergidos em banho de leo temperatura constante. Ou

    seja, nesse diagrama, cada curva representa a condio de carga e de velocidade com os

    quais ocorre a transio de um regime de lubrificao para outro. O diagrama foi obtido

    pelas observaes do atrito, separando trs regies. Cada regio referente a um

    determinado comportamento do atrito, que foi relacionado a um determinado regime de

    lubrificao, misto, limtrofe ou no lubrificado. As curvas do diagrama representam

    as condies limites para que o comportamento do atrito seja alterado de uma regio

    para outra. Na Figura 2-10, as regies, definidas em termos do comportamento do atrito,

    se caracterizam por:

    Regio I, em que o nvel da curva do atrito permanece relativamente baixo aps um breve perodo inicial, em torno de 0,001 h, para o assentamento (running-in) das superfcies.

    Regio II, em que a curva do atrito comea em um alto nvel, decaindo aps um perodo inicial de assentamento maior que da regio I, em torno de 0,01 h.

    Regio III, em que a curva de atrito irregular e permanece em um nvel alto.

    GEE, BEGELINGER e SALOMON (1984) mencionam os valores do

    coeficiente de atrito para cada regio do diagrama IRG, no caso, para um contato de ao

    contra ao:

    Regio I entre 0,05 e 0,1;

    Regio II entre 0,25 e 0,45, decaindo para 0,10 a 0,15 aps o assentamento;

    Regio III entre 0,35 e 0,45

    Uma observao acerca desses valores que a faixa expressa por esses autores

    difere da faixa mencionada por BLAU (1996) para o regime limtrofe. Novamente, cabe

    ressaltar a ressalva de LUDEMA (1996) quanto validade da descrio de valores do

    coeficiente de atrito sem a relao com os sistemas e condies em que foram obtidos.

    Mesmo em trabalhos que utilizam o diagrama IRG, so mencionados valores do

    coeficiente de atrito diferentes dos descritos por GEE, BEGELINGER e SALOMON

    (1984). Um desses trabalhos o de ODI-OWEI e ROYLANCE (1986), que observaram

    que o coeficiente de atrito na regio I varia de 0,02 a 0,12, de 0,25 a 0,35 na regio II e

    de 0,3 a 0,5 na regio III.

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 40

    Quanto s curvas de transio de regimes do diagrama IRG, HUTCHINGS

    (1992) descreve resumidamente as principais caractersticas das curvas. Os fatores de

    influncia de cada curva foram estudados extensivamente por GEE, BEGELINGER e

    SALOMON (1984). A curva inferior indica as condies de carga e de velocidade para

    que haja colapso do filme de leo fluido, que levam ao regime limtrofe (transio I-II),

    ou que levam, em velocidades maiores, diretamente ao regime no lubrificado

    (transio I-III). A transio para o regime III referida por HUTCHINGS (1992) como

    ocorrncia do fenmeno de scuffing. Esse fenmeno relacionado ao desgaste

    catastrfico, ou seja, quando o filme de lubrificante se torna ausente no contato,

    impossibilitando que a situao de atrito baixo e estvel seja atingida. A regio

    decrescente da curva inferior pode ser aproximada por W.Vn = C, com n variando de

    0,3 a 0,8, dependendo da relao viscosidade-temperatura do lubrificante, e C uma

    constante que depende do lubrificante (composio e viscosidade). Essa relao revela

    que, para cada sistema em particular, deslizando com uma determinada velocidade,

    existe uma carga crtica com a qual ocorre o colapso do filme fluido no contato.

    Conhecendo a relao da fora normal com a presso hertziana de outras geometrias, a

    carga normal crtica para o colapso tambm pode ser determinada para outras

    geometrias. As transies I-II e I-III, que determinam a curva inferior, so influenciadas

    por efeitos mecnicos, controlados principalmente pela rugosidade das superfcies, pela

    viscosidade do lubrificante e pela caracterstica da dependncia da viscosidade com a

    temperatura e a presso. Uma influncia adicional devida aos efeitos qumicos, como

    a caracterstica da oxidao superficial e a ocorrncia de reaes triboqumicas, no caso

    da presena de aditivos.

    A curva superior do diagrama IRG, que referente transio entre os regimes

    limtrofe e no lubrificado (transio II-III, que pode ocorrer apesar do contato estar

    submergido no banho), depende principalmente de efeitos qumicos e, portanto, da

    natureza qumica do lubrificante e das superfcies, e praticamente independe da

    viscosidade e da rugosidade inicial.

    Um aspecto crtico do diagrama IRG a localizao do ponto da bifurcao

    entre as duas curvas. Para velocidades inferiores da bifurcao, um aumento na carga

    normal pode levar ao regime III, porm, antes, passa necessariamente pelo regime II,

    que no considerado catastrfico. J para velocidades maiores que a da bifurcao, um

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 41

    aumento na carga normal pode levar diretamente ao regime III, que catastrfico. Na

    maioria dos ensaios laboratoriais e em componentes de mquinas, a velocidade crtica

    na bifurcao varia em uma faixa de 1 a 3 m/s [GEE, BEGELINGER e SALOMON,

    1984]. Uma outra observao mediante as curvas do diagrama que para velocidades

    baixas, a transio para o regime III ocorre somente com cargas muito altas.

    Segundo GEE, BEGELINGER e SALOMON (1984), as investigaes das

    influncias das curvas de transio de regimes de lubrificao indicaram que o diagrama

    IRG pode representar uma ferramenta para a caracterizao funcional de lubrificantes,

    bem como de tratamentos superficiais de sistemas com contatos no conformes, que

    operem em sistemas lubrificados sob movimento deslizante.

    2.5 Desgaste no sistema lubrificado

    Conforme mencionam CZICHOS e HABIG (1984), o termo desgaste lubrificado

    (lubricated wear) denota uma extensa classe de fenmenos relativos deteriorao

    superficial e gerao de partculas que ocorrem entre superfcies lubrificadas. Tanto o

    desgaste como o atrito so caracteristicamente dependentes dos regimes de lubrificao,

    devido aos fenmenos envolvidos diretamente na interface do contato em cada regime.

    Em termos de modelos de desgaste em deslizamento lubrificado, comum

    observar que os pesquisadores utilizam o conhecido modelo de Archard [TING (1974),

    TOMANIK (2000)]. Assumindo que o desgaste ocorre a partir de um determinado valor

    mnimo da espessura do filme de lubrificante, TING [1974] cita uma espessura mnima

    de filme da ordem de 1 mm como limite para a ocorrncia de contato metal-metal e do

    desgaste, no caso especfico do par anel de pisto-cilindro dos motores de combusto

    interna. Com base nisso, possvel extrapolar a situao para a ocorrncia do desgaste

    com outros tipos de tribopares, considerando a rugosidade equivalente das superfcies e

    sua relao com a espessura mnima do filme de leo para a ocorrncia do desgaste.

    No modelo de desgaste de Archard, o desgaste volumtrico proporcional carga

    e distncia de deslizamento, e inversamente proporcional dureza do material. Um

    fator k, denominado coeficiente de desgaste, estabelece a igualdade dessa relao,

    obtendo assim a expresso mostrada na Eq. 2-15 [HUTCHINGS, 1992].

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 42

    Q = k . W . DDS Eq. 2-15

    Onde:

    Q: volume de desgaste [mm3]

    k: coeficiente de desgaste [mm3 / (N.m)], pode ser expresso por K/H, com K = adimensional que representa a probabilidade de uma interao entre asperezas resultar em desgaste e H = dureza do material menos duro do par [MPa]

    W: carga normal [N]

    DS: distncia percorrida [m]

    Segundo HUTCHINGS (1992), em uma situao de deslizamento lubrificado, o

    coeficiente adimensional de desgaste, K , assume valores que so significativamente

    menores (da ordem de 10-13 a 10-6, dependendo do regime de lubrificao) do que os

    encontrados para situaes de desgaste a seco (da ordem de 10-7 a 10-3, dependendo do

    tribopar).

    Uma outra informao descrita por HUTCHINGS (1992) foi baseada no trabalho

    de CZICHOS e HABIG (1984), onde so apresentados os coeficientes de desgaste k em

    funo do fator ll (Eq. 2-12), relacionados com o atrito e com os regimes de

    lubrificao, conforme visto na Figura 2-11.

    Figura 2-11: Regimes de lubrificao e desgaste no deslizamento lubrificado de metais em funo do fator ll, conforme HUTCHINGS (1992).

    Espessura de filme/rugosidade, ll

    Coefici

    ente

    de a

    trit

    o

    Coefici

    ente

    de d

    esg

    ast

    e,

    k [m

    m3. (

    N.m

    )-1]

    10-4

    10-6

    10-8

    10-10

    0,4

    0,3

    0,2

    0,1

    Misto

    Filme fluido

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 43

    No regime de lubrificao por filme fluido, como j mencionado anteriormente,

    o desgaste seria limitado a mecanismos de fadiga associada com a presso transmitida

    atravs do fluido [BAYER, 1994]. Nesse caso, de acordo com a Figura 2-11, o

    coeficiente de desgaste k menor que 10-10 mm3(Nm)-1. medida em que a espessura

    do filme diminui, diferentes mecanismos de desgaste so potencialmente introduzidos.

    HUTCHINGS (1992) descreve valores tpicos do coeficiente de desgaste k para

    os regimes de lubrificao no deslizamento de superfcies no conformes, ou seja,

    referentes aos regimes descritos no diagrama de lubrificao IRG. Esses valores, bem

    como os principais mecanismos de desgaste, so descritos a seguir.

    No regime misto (I), a taxa de desgaste alta apenas no incio do ensaio, e as

    superfcies se assentam em um tempo relativamente curto. O valor de k aps o

    assentamento menor que 10-9 mm3(Nm)-1. O mecanismo de desgaste no assentamento

    descrito por HUTCHINGS (1992) como desgaste oxidativo, proporcionado pelo

    aquecimento e oxidao localizada nas asperezas. medida em que os picos das

    asperezas (high spots) so removidos pelo desgaste, o regime pode passar de misto

    para EHL.

    J no regime limtrofe (II), a taxa de desgaste maior, mas ainda tolervel para

    algumas aplicaes da engenharia, com k por volta de 10-6 a 10-8 mm3(Nm)-1. O perodo

    de assentamento nesse regime maior que no regime I7, pois, segundo HUTCHINGS

    (1992), mecanismos adesivos atuariam em contatos entre asperezas desprotegidas pelo

    lubrificante (elevando o coeficiente de atrito), passando ento condio estacionria

    (steady-state) com mecanismos predominantemente oxidativos (diminuindo o atrito).

    medida em que as superfcies se desgastam, podem ser atingidas condies para o

    estabelecimento do regime misto ou at mesmo de lubrificao fluida.

    No regime III, as condies severas na interface do contato impossibilitam a

    presena de um filme lubrificante fluido e nem mesmo limtrofe. O impedimento da

    ocorrncia do filme relacionado caracterstica de dessoro do lubrificante na

    7 Segundo ilustraes de GEE, BEGELINGER e SALOMON (1984), no regime II, o tempo aps iniciado o ensaio para o atrito passar de um valor alto para baixo da ordem de segundos a minutos. A taxa de desgaste diminui e pode se tornar nula aps percorridas distncias da ordem de dezenas de quilmetros. No regime I, tanto o tempo para diminuir o atrito bem como a distncia para o desgaste nulo so menores. No regime III, o desgaste crescente e catastrfico.

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 44

    superfcie, devido alta temperatura da regio. Nesse caso, ocorre o contato metlico e

    o valor de k maior que 10-5 mm3(Nm)-1.

    Vale ressaltar nesse ponto que, em sistemas lubrificados, tanto as respostas de

    atrito bem como de desgaste podem ser significativamente influenciadas pelas

    caractersticas do lubrificante.

    2.6 Consideraes sobre a composio do leos lubrificantes

    A maioria dos leos lubrificantes so em geral derivados do petrleo e so

    misturas complexas de tipos de molculas contendo anis aromticos, anis naftnicos e

    cadeias laterais. Os leos bsicos so classificados como parafnicos, naftnicos ou

    aromticos, dependendo de sua estrutura molecular predominante, do comprimento das

    cadeias laterais e da razo entre os tomos de carbono das cadeias laterais e dos anis.

    HUTCHINGS (1992) descreve as parafinas como hidrocarbonetos saturados com

    cadeias lineares ou ramificadas, contendo de 20 a 30 tomos de carbono e os naftenos

    como anis de hidrocarbonetos saturados ligados com cadeias laterais de at

    20 carbonos. Componentes aromticos consistem de um ou mais anis benznicos com

    cadeias laterais saturadas. No leo parafnico, os naftenos presentes tm longas cadeias

    parafnicas laterais e a maioria dos tomos de carbono esto em cadeias parafnicas. J o

    leo naftnico apresenta cadeias laterais de naftenos curtas e a proporo de tomos de

    carbono nos anis somente um pouco menor que nas cadeias laterais.

    BOWDEN e TABOR (1964) citam estudos sobre a influncia do comprimento

    das cadeias moleculares e dos grupos terminais das molculas que constituem os

    lubrificantes no coeficiente de atrito, como o realizado por W. A. Zisman, em 1959.

    Atravs de experincias realizadas com monocamada de lubrificante depositada sobre

    uma superfcie de vidro e o atrito medido contra uma esfera de ao, observou que

    quanto maior o nmero de tomos de carbono da cadeia molecular principal, menor foi

    o coeficiente de atrito (vide Figura 2-12).

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 45

    Figura 2-12: Efeito do comprimento da cadeia molecular no coeficiente de atrito e no ngulo de contato; esfera de ao inoxidvel contra vidro coberto com uma monocamada de lubrificante [BOWDEN e TABOR, 1964].

    O mesmo estudo tambm mostrou que o ngulo de contato, medido com uma

    gota de iodeto de metileno sobre a monocamada, teve uma correspondncia com o

    atrito, isto , para menor atrito, o ngulo de contato foi maior (Figura 2-12, eixo

    direita). Ressalte-se que o ngulo de contato proporcional tenso, ou energia de

    superfcie do material. BOWDEN e TABOR (1964) mencionam que esses resultados

    concordaram com as constataes de W. B. Hardy, j anteriormente conhecidas.

    Grupos terminais diferentes (aminas, lcoois e compostos fluorados) foram

    investigados nesse mesmo trabalho, considerando variaes nos comprimentos da

    cadeia molecular em cada grupo. O comportamento dos valores do coeficiente de atrito

    e de ngulo de contato foi similar, ou seja, com o aumento da cadeia o atrito diminuiu e

    o ngulo de contato aumentou. Entretanto, na comparao geral de todos os grupos, foi

    notado que o aumento do ngulo de contato no foi proporcional ao aumento do

    coeficiente de atrito. A Figura 2-13 mostra os valores obtidos.

    Coefici

    ente

    de a

    trit

    o

    No. de tomos de C da cadeia molecular

    ngulo de contato Coeficiente de atrito

    ngulo

    de c

    onta

    to d

    o iodeto

    so

    bre

    a m

    onoca

    mada

  • Captulo 2 - Reviso bibliogrfica 46

    Figura 2-13: Efeito do comprimento da cadeia molecular e dos grupos

    terminais no coeficiente de atrito e no ngulo de contato; esfera de ao inoxidvel contra vidro coberto com uma monocamada de lubrificante [BOWDEN, TABOR, 1964].

    Nessa Figura, nota-se que, por exemplo, com as aminas e os lcoois com cadeias

    maiores, chega-se a um coeficiente de atrito relativamente baixo (0,05 a 0,06) e um

    ngulo de contato por volta de 70; entretanto, com a amina de cadeia curta, o ngulo de

    contato foi relativamente baixo e o coeficiente de atrito tambm se manteve

    relativamente baixo, em 0,10. J com as molculas fluoradas, que diferem das demais

    pela caracterstica apolar, o ngulo de contato foi alto, e o atrito foi maior do que com

    os cidos graxos e aminas de mesmo comprimento. Uma explicao encontrada que o

    atrito no depende somente da energia da superfcie exposta e da natureza polar do

    grupo terminal, mas tambm das propriedades da molcula como um todo, como por

    exemplo, as propriedades de deformao e de cisalhamento da monocamada.

    O mesmo autor que realizou o experimento descrito acima (Zisman, em 1959,

    citado por BOWDEN e TABOR (1964)) verificou que repetidas passagens sobre a

    mesma trilha, como normalmente ocorre em um processo de deslizamento lubrificado,

    levavam ruptura das monocamadas. A resistncia ruptura dependia do comprimento

    da cadeia molecular, tendo sido a ruptura caracterizada como um aumento repentino no

    atrito no referido experimento. Com cidos graxos ou aminas de 18 tomos de carbono,

    no houve alteraes no