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Experiências com Educação Integral

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  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 1

    Caminhos para elaborar uma proposta de Educao Integralem Jornada Ampliada

    Como ampliar tempos, espaos e oportunidades educativas para crianas, adolescentes

    e jovens aprenderem

  • 2 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    Associao Nacional pela Formao dos Profissionais da Educao AnfopeCasa das Artes Rio de Janeiro (RJ)Centro de Criao de Imagem Popular CECIPCentro de Estudos e Pesquisas em Educao, Cultura e Ao Comunitria CENPECCidade Aprendiz So Paulo (SP)Confederao Nacional dos Trabalhadores em Educao CNTEConselho Nacional de Secretrios de Educao ConsedPrefeitura Municipal de Nova Iguau (RJ)Rede de Experincias em Comunicao, Educao e Parti-cipao Rede CEP

    OrganizaoJaqueline MollProduoCECIP - Centro de Criao de Imagem PopularCoordenao GeralJaqueline MollSuperviso GeralMarcio Tascheto da Silva

    Ficha Catalogrfica

    SEB/MEC, 2011

    RealizaoSecretaria de Educao Bsica

    Esplanada dos Ministrios, bloco LEdifcio Sede 50 andar sala 500

    CEP 70 047 900, Braslia DF

    Srie Mais Educao

    Grupo de Trabalho Interinstitucional responsvel pelo Texto-Base do qual derivou essa cartilha:Secretaria Municipal de Educao de Apucarana (PR)Secretaria Municipal de Educao de Belo Horizonte (MG)Secretaria Municipal de Educao de Recife (PE)Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao UndimeUniversidade Federal de Minas Gerais UFMGUniversidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIOUniversidade Federal do Paran UFPRUniversidade Federal do Rio de Janeiro UFRJUniversidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS

    Colaboraram na elaborao do Texto-Base:Ana Maria de Albuquerque Moreira, Alexandre Le Voci Sayad, Claudius Ceccon, Claudio Aparecido da Silva, Ernesto Erivelton Rodrigues, Gesuna de Ftima Elias Leclerc, Helena Lopes Freitas, Ivany de Souza vila, Janana Speht da Silva Menezes, Jaqueline Moll, Jos Zuchiwschi, Lgia Martha Coelho, Leandro da

    Costa Fialho, Lcia Helena Nilson, Lucenir de Andrade Pinheiro, Maria Antonia Goulart da Silva, Maria Beatriz P. Titton, Maria Luiza Alssio, Maca Evaristo dos San-tos, Maria Luiza Xavier, Marlia B. Guimares, Natacha Gonalves da Costa, Rachel Trajber, Sueli de Lima, Raimunda Nbia Lopes da Silva.

    Edio final do textoMadza Ednir e Claudius CecconProjeto grfico (Capa e Ilustraes)Claudius CecconDiagramao e editoraoShirley MartinsRevisoLorenzo Ald

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 3

    ndice

    Apresentao .................................................................................................................................................. 5

    1. Uma Cartografia da Educao Integral ....................................................................................... 9

    1.1 Articular a Cidade Educadora ................................................................................................ 9 1.2 Novas oportunidades educativas: Comunidades de Aprendizagem ................................ 12 1.3 Colocar em prtica o Currculo Significativo .................................................................... 15 1.4 Espaos Educadores Sustentveis ........................................................................................ 19 1.5 Ampliar o tempo de aprendizagem e expandir a sua qualidade .................................... 24 1.6 Formar Integralmente ........................................................................................................... 26 1.7 Garantir Intersetorialidade e Governana ......................................................................... 28 1.8 Humanizar Polticas Sociais e Educacionais ...................................................................... 30 1.9 Fazer a Educao Integral correr nas veias da escola:

    o Projeto Poltico Pedaggico (PPP) ................................................................................... 31 1.10 Pensar o territrio e criar territorialidade ......................................................................... 35

    2. Os pressupostos da Educao Integral ............................................................................. 39

    3. As bases legais da Educao Integral ................................................................................ 41

    4. Construindo a Educao Integral a partir da Escola ....................................................... 47

    4.1 Viso mais ampla do papel da Escola: reinventar a gesto poltica dos espaos escolares, em dilogo com a sociedade ............................................................................... 47

    4.2 Enraizamento da Educao Integral nos Projetos Poltico Pedaggicos (PPPs) das Escolas .............................................................................................................................. 50

    4.3 Ressignificao do Currculo Escolar ................................................................................. 54 4.4 Formao de Educadores Escolares, na Perspectiva da Educao Integral ................... 57

    5. Outras Leituras para quem quer fazer Educao Integral em Jornada Ampliada .......... 61

  • 4 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 5

    Em 2007, os mais diferentes atores sociais do Brasil decidiram conjugar esforos pela melhoria da qualidade da educao bsica. Foi quando governos e sociedade firmaram o Compromisso Todos pela Educao. O objetivo que, em 2022, bicentenrio de nossa Independncia, o aproveitamento de nossos estudantes seja bem melhor do que hoje. Assim surgiu o PDE Plano de Desenvolvimento da Educao. Para apoiar uma das aes do PDE a implementao, nas escolas, da Educao Integral, em jornada amplia-da foi criado, pela Portaria Interministerial 17/2007 e pelo Decreto 7083 de 27/01/2010, o Programa Mais Educao (ver Boxes 1 e 2).

    O MEC e a Secad (Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade) convidaram, ento, educadores e gestores da Undime, do Consed, da CNTE, da Anfope e de Universidades, bem como representantes da sociedade civil organizada e de ONGs ligadas educao, a produzirem um texto referncia para estimular o debate nacional sobre Educao Integral em jornada ampliada, ou seja, sobre a possibilidade de alargar os tempos e espaos de aprendizagem das crianas, adolescentes e jovens, por meio de atividades socioeducativas oferecidas em ampliao de jornada e articuladas aos projetos poltico pedaggicos das escolas, apoiadas para atuarem como catalizadoras do potencial educativo dos seus territrios.

    Esta publicao uma verso resumida e ilustrada do documento original e pode ser um instrumento de mobilizao e ao para voc, que ...

    ...umdirigenteresponsvelpelagestointersetorialdoterritrio,constituindoumaRede de Saberes, com implementao e articulao de polticas socioeducacionais no municpio ou estado, ocupando-se de reas como Assistncia Social, Cultura e Artes, Cultura Digital, Comunicao e uso de mdias, Esporte, Lazer e Direitos Humanos em Educao, Educao Ambiental, Educao Econmica, Promoo de Sade, Investigao no Campo das Cincias da Natureza;

    ...umprofissionaloumembrodeinstituiesqueatuamnasreasacima;

    ...umaliderana educacional, institucional, empresarial ou comunitria interessada em localizar e articular as foras positivas no territrio onde atua, aumentando a incluso social e a sustentabilidade;

    ...ummembrodaequipegestoraoudocentedeumaescolaqueapostanamelhoriada qualidade da educao.

    Independentemente do seu perfil, essa publicao lhe ser til.

    Sevocdirigente governamental, ter incentivos para integrar e articular pol-ticas pblicas, atuando de forma intersetorial na resoluo dos problemas sociais, para superar desigualdades e afirmar o direito s diferenas. Isso ir desenvolver o potencial das crianas, jovens e suas comunidades.

    Sevocumaliderana da sociedade civil, ter dicas para trilhar um caminho efetivo na perspectiva da educao integral em jornada ampliada, iniciando ou fortalecendo o dilogo entre quem faz educao na escola (atores diretos da cena escolar) e fora da escola.

    Apresentao

    Produto do Grupo de Trabalho convocado pelo MEC e coordenado pela Secad, disponvel no site http://portal.mec.gov.br

    Veja tambm:

    imagem do

    manual

    PME

    mais educao

    http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/ passoapasso_ maiseducacao/pdf

    http://portal.mec.gov.br/secad

  • 6 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    O PDE foi lanado em 24 de abril de 2007 pelo Presidente da Repblica e os Ministros da Educao, da Fazenda e do Planejamento. A mensagem que o desenvolvimento da Educao, essencial ao desenvolvimento econmico sustentvel do pas, impulsionado pelo PAC (Plano de Acelerao do Crescimento), depende de uma boa articulao de polticas pblicas, em vrios setores. O PDE faz ampla divulgao das medidas de apoio Educao que sero tomadas para eliminar as barreiras que impedem o acesso e a permanncia de crianas, adolescentes e jovens na escola. Entram em ao outros ministrios, dentre os quais o Ministrio do Desenvolvimento Social. Um certificado digital acompanha a frequncia escolar, condio para o recebimento do Bolsa Famlia por 11 milhes de famlias pobres e muito pobres. Para estimular a permanncia dos jovens, eleva-se de 16 anos incompletos para 18 anos incompletos a idade limite para ter o benefcio do Bolsa Famlia. O Ministrio da Sade, com seu programa Olhar Brasil, oferece culos a custo zero, evitando que alunos do ensino fundamental abandonem o estudo por problemas na vista. Escolas pblicas tambm tero ateno integral do programa Sade da Famlia. O Ministrio dos Transportes, com o programa Caminho da Escola, oferece iseno de imposto na compra do veculo para transportar alunos do ensino bsico no meio rural, o que facilitar a frequncia e reduzir o abandono dos estudos. O Ministrio de Minas e Energia, com o Programa Luz para Todos, leva a eletricidade a escolas ainda sem luz eltrica. O Ministrio da Cultura cria o programa Pontos de Cultura para favorecer a disseminao de propostas artsticas e culturais de iniciativa da comunidade em todos os municpios brasileiros (CECCON e EDNIR, 2008). Em dezembro de 2007, o PDE ganha o reforo do Programa Sade na Escola, do Ministrio da Sade, que visa contribuir para a formao integral dos estudantes da rede pblica de educao bsica, por meio de aes de preveno, promoo e ateno sade (Decreto 6286/05/12/07).

    PDE Plano de Desenvolvimento da Educao: conjugao de esforos para melhorar a qualidade da educao bsica

    gesto intersetorial no territriohttp://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cader_maiseducacao_2.pdf

    redes de sabereshttp://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cad_mais_educacao_2.pdf

    http://portal.mec.gov.br

    Sevoceducador ou gestor escolar (professor, diretor, coordenador pedaggico, em especial) receber algumas ferramentas para ajudar a equipe e a comunidade a ampliar a viso da escola e a construir um Projeto Poltico Pedaggico que con-temple os princpios da Educao Integral.

    Voc, representante do poder pblico e da sociedade civil ou da comunidade escolar, que se entusiasma com a ideia de abrir-se integrao e transformar a escola em espao de articulao de polticas governamentais e iniciativas comunitrias, aperfeioando a rela-o dialgica escola-comunidade e a gesto democrtica, ir encontrar aqui e em outras publicaes da Secad/MEC - como os Cadernos Pedaggicos e os cadernos de Educao Integral do Campo, de Educao Especial e o Caderno Territrios Educativos da Educao Integral - inspirao, bases legais que embasam aes de Educao Integral em Jornada Ampliada e sugestes prticas de quem j botou o p na estrada, e vai abrindo novos caminhos. Caminhos que, ao serem percorridos, aumentam a aprendizagem de todos.

    Cadernos pedaggicos:

    Acompanhamento Pedaggico; Cultura e Artes;Cultura Digital;Direitos Humanos em Educao;Educao Ambiental;Investigao no Campo das Cincias da Natureza;

    Comunicao e uso de mdias; Educao Econmica;Promoo da Sade;Esporte e Lazer.

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 7

    O plano de desenvolvimento da educao (PDE), indica, no seu artigo 20, as diretrizes voltadas ampliao do tempo de aprendizagem dos alunos e qualificao dos processos de ensino, com participao dos alunos em projetos socioculturais e em aes educativas. A ideia ampliar a jornada escolar, possibilitando a crianas, adolescentes e jovens envolver-se em atividades educativas, artsticas, culturais, esportivas e de lazer. Isso contribui para reduzir evaso, reprovao e distores de idade-srie, ao mesmo tempo em que amplia o tempo de aprendizagem dos alunos. Atualmente, a mdia diria de horas-aula dos alunos de apenas 4, quando o ideal seria, no mnimo, 7 horas.

    O programa mais educao (Portaria Interministerial 17/2007 e Decreto 7083 de 27/01/2010) vem operacionalizar as diretrizes do PDE. Ele retoma o ideal da Educao Integral (ver p. 19), que vem dos tempos dos pioneiros da Escola Nova e, a partir do aprendizado com experincias bem-sucedidas, o leva como prtica s redes de ensino dos estados e municpios do pas.

    Em 2008, o Programa Mais Educao teve incio em 55 municpios de 25 estados, e no Distrito Federal. Comeou priorizando 1380 escolas de Ensino Fundamental com baixo IDEB (ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica). Em 2009 j havia se estendido a 5 mil escolas, beneficiando 1 milho de alunos. Em 2010, o nmero foi ampliado a 10 mil escolas, em capitais, regies metropolitanas e em cidades com mais de 163 mil habitantes, atingindo

    Programa Mais Educao: ampliando tempos, espaos e oportunidades de aprendizagem

    3 milhes de alunos. Espera-se, at o final de 2011, atingir 16 mil escolas e 3,5 milhes de estudantes.

    O objetivo do Mais Educao fomentar a Educao Integral de crianas, adolescentes e jovens por meio de atividades socioeducativas, articuladas ao Projeto Poltico Pedaggico das escolas. Essas atividades que ampliam a jornada escolar so oferecidas por instituies pblicas e privadas ou pela prpria escola. Abrangem os seguintes macrocampos: Acompanhamento Pedaggico; Cultura e Artes; Cultura Digital; Direitos Humanos em Educao; Educao Ambiental; Investigao no Campo das Cincias da Natureza; Comunicao e uso de mdias; Educao Econmica; Promoo da Sade; Esporte e Lazer. Dentre as organizaes governamentais, esto envolvidos em aes conjuntas do programa mais educao os Ministrios da Educao, da Cultura, dos Esportes, do Desenvolvimento Social, da Cincia e Tecnologia e da Justia Programa Nacional de Segurana com Cidadania (Pronasci) , alm do gabinete da Presidncia da Repblica. A essas aes somam-se outras promovidas por estados e municpios.

    O que pode fazer diferena em termos de crescimento dos ndices de desempenho dos alunos objetivo do PDE que a integra-o de tais iniciativas dentro e fora da escola acontea tambm na sala de aula, dando vida e significado ao currculo e tornando a escola mais atraente e adequada s demandas das crianas, adolescentes e jovens.

  • 8 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 9

    Um ditado africano diz que preciso toda uma aldeia para educar uma criana. O movimento das Cidades Educadoras, iniciado na dcada de 90 em Barcelona, des-pertou a conscincia de que as pessoas que moram em uma cidade so educadas pelo modo como suas ruas, vielas e praas so estruturadas e usadas, pelos servios p-blicos que possui e como esses servios so oferecidos, pelas diferentes formas como os seus moradores habitam, trabalham, se transportam e se comunicam. Pense em um jovem que vive na periferia de uma grande metrpole e trabalha ou estuda no centro. Pela forma como os guardas organizam o trnsito e a maneira como os motoristas

    se comportam, a cidade ensina a confiar ou no confiar nos sinais de trnsito. Pelos monumentos que esto nas praas mais importantes a cidade ensina quem so os personagens que mais valoriza a qual classe social, gnero e raa pertencem. Pelos produtos expostos nos grandes shopping centers, nos outdoors e nas telas da televiso, a cidade ensina o que mais adequado usar ou ter em casa. Pela distribuio desigual de servios pblicos, ensina quais bairros so mais importantes e mais valorizadas, e as-sim por diante. Todas as cidades educam e importante que a gente se d conta de que, muitas vezes, as cidades ensinam compor-tamentos e atitudes que contrariam valores

    Uma Cartografia da Educao Integral

    1.1 Articular a Cidade Educadora

    A Educao Integral, inspirada nas ideias e prticas de Anisio Teixeira e Darcy Ribei-ro, vem sendo reinventada em um esforo conjunto que envolve centenas, milhares de pessoas. O mapa que nos orienta sobre Como fazer Educao Integral no Brasil do sculo XXI est em construo. Neste captulo, voc encontra alguns marcos da Cartografia Conceitual que est sendo de-senhada por aqueles que ao mesmo tempo desbravam caminhos e os mapeiam para os exploradores seguintes. Ao lado dos princpios e diretrizes que nor-teiam a Educao Integral, e de suas pos-sveis consequncias para a prtica de go-

    A Educao Integral pressupe que a cidade, como um todo, uma grande sala de aula.

    vernantes, lideranas sociais e escolas, voc encontra, tambm, alguns exemplos que os ilustram, retirados de relatos de viagem: depoimentos de gestores e educadores que, em Apucarana (PR), Belo Horizonte (MG), Joo Pessoa (PB), Olinda(PE), Osasco (SP), Nova Iguau (RJ), Palmas (TO), e Rio Branco (AC), esto experimentando uma forma diferente de melhorar a qualidade da educao no pas. Eles constituem a ponta de um imenso iceberg representado pelas experincias em Educao Integral que, neste momento, so vivenciadas por educadores em quase 2 mil dos 5.600 municpios brasileiros.

    1

  • 10 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    expressos como direitos na Constituio do pas e na Declarao Universal dos Direitos Humanos. Saber que toda cidade educa faz com que estejamos atentos para aproveitar as oportunidades educativas (ver p. 12) presentes no entorno, percebendo que a Comunidade de Aprendizagem precisa ir alm dos muros da escola.

    Consequncias para os governantes e lideranas sociaisQuando os governantes e representantes de todos os segmentos sociais, sejam eles empresrios, comunicadores, esportistas, juristas, militares, trabalhadores ou de ou-tras profisses, tm conscincia de que tudo o que fazem de alguma forma educa, pro-curam despertar ou ampliar a conscincia de todos os cidados adultos quanto sua responsabilidade pela educao integral das novas geraes. A restrio propaganda do lcool e dos cigarros um exemplo de ao proativa dos cidados em defesa de seus semelhantes e das novas geraes. Outras aes cidads so o incentivo s ciclovias, ao consumo responsvel, coleta seletiva de lixo, ao trabalho voluntrio, s formas dialgicas/restaurativas de reso-luo de conflitos, bem como a garantia de acessibilidade aos portadores de defi-cincias. H tambm aes importantes junto aos meios de comunicao, como pressionar para que neles se vejam pessoas negras e pessoas que divergem do padro oficial de beleza. Governantes e lideranas sociais, reunidas em Conselhos e outros fruns, tm legitimi-dade para firmar um novo contrato social na educao um contrato que estabelea claramente as obrigaes e responsabili-dades dos diferentes agentes sociais que

    atuam, de fato, como agentes educativos. Afirmar a centralidade da escola no sig-nifica que somente ela deve sediar as aes e atividades que envolvem a Educao Integral.

    Consequncias para a escolaQuando os educadores assumem que a escola faz parte de uma cidade educadora, o ambiente social se transforma em um espao de aprendizagem. Passam a ser espa-os educativos no apenas museus, igrejas, monumentos e outros edifcios considera-dos importantes, mas tambm ganham a dimenso de espaos educadores as ruas e praas, as lojas, os estdios, as associaes de moradores, os locais de culto religioso e aqueles onde as pessoas trabalham, pro-duzem, criam, se transportam, se divertem, convivem, enfim. Ou seja: os limites da sala de aula podem se expandir e toda a cidade torna-se uma escola com riqussimas opor-tunidades de ensinar e de transformar o que significativo para os que ali vivem.

    Os profissionais da educao desempe-nham um papel essencial ao chamar a ateno dos estudantes, seus familiares e membros da comunidade para os valores que a cidade educadora est transmitindo. Caso esses valores no sejam os da demo-cracia, isto , com direitos e deveres iguais para todos, respeito mtuo, valorizao das diferenas e preservao do meio ambiente, os educadores devem provocar aes cole-tivas para corrigir essa situao. Isso ajuda s crianas, jovens, familiares e membros da comunidade a se perceberem como aprendizes permanentes e a envolver-se ativamente com esse processo.

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 11

    Educao como eixo articulardor

    www.novaiguacu.rj.gov.br/

    Parmetros Curriculares Nacionais e ao projeto poltico pedaggico de cada escola, so desenvolvidas por monitores oficineiros e voluntrios selecionados entre os moradores e integrantes das entidades parceiras que participam de capacitaes peridicas.Por meio do edital Escola Viva Bairro Escola, a prefeitura identificou e cadas-trou cerca de 300 parceiros, levantando o que poderiam oferecer em termos de atividades culturais, esportivas e artsti-cas. Associaes de moradores, igrejas, clubes e at pessoas fsicas ofereceram locais onde as crianas poderiam con-tinuar o processo educativo aps as aulas. Reunies e Seminrios com a participao dos gestores escolares (que passaram a ser eleitos pela comunidade, em vez de serem indicados pelos pol-ticos), dos educadores sociais parceiros e demais agncias educativas presentes no territrio estavam, ao final de 2009, preparando a elaborao, nas escolas, de Projetos Polticos Pedaggicos (ver p. 28), estimulando a integrao das atividades realizadas pelos professores e pelos educadores no formais.

    Exemplos que fazem pensar

    O que a sua cidade est ensinando de bom e de ruim s novas geraes?Escreva seus exemplos aqui:

    agora com voc

    A prefeitura de Nova Iguau, no Estado do Rio de Janeiro (2006-2010), adotou a educao como eixo central de todas as polticas pblicas, sustentando-se em dois conceitos bsicos: Cidade Educadora que parte da ideia de que a educao no ocorre apenas nos limites da escola, mas em todos os es-paos da comunidade e Educao Integral uma educao que promove o desenvolvimento da criana e do ado-lescente em suas mltiplas dimenses, considerando o corpo, a mente e a vida social, no sentido da construo de um cidado pleno, autnomo, crtico e participativo.Com o objetivo de estimular a integra-o da criana com o lugar onde mora e contribuir para o seu melhor rendi-mento escolar, o Bairro-Escola oferece atividades socioeducativas, o que inclui atividades culturais e esportivas, na modalidade extraclasse. Amplia-se a jornada por meio do estabelecimento de parcerias locais com diversos espaos e diferentes instituies que se transfor-mam em locais de aprendizado. Essas atividades, associadas s orientaes dos

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  • 12 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    1.2 Novas oportunidades educativas: Comunidades de Aprendizagem

    A Educao Integral encoraja todas as organizaes da cidade a construrem um projeto educativo em conjunto.

    Dizia o pintor holands Van Gogh que no queria novas paisagens, mas novos olhos para ver a mesma paisagem. Quando lide-ranas, os gestores e educadores lanam um olhar diferente para a cidade, comeam a perceber oportunidades educativas antes invisveis. O que era um quintal sem uso torna-se um lugar onde se pode aprender a plantar e a colher. O teatro municipal, vazio durante a semana, vira ponto de encontro do grupo de rap dos jovens. O rio poludo um laboratrio para se estudar as causas e as consequncias do problema. A empresa uma oficina para se aprender sobre trabalho. Os avs so fontes de conhecimento sobre a histria, arte e cultura da comunidade. E, assim, comeam a formar-se comunidades de aprendizagem que incluem a escola, e vo alm. Uma comunidade de aprendizagem, diz Rosa Maria Torres, uma comunidade humana organizada que constri um projeto educativo e cultural prprio para educar a si mesma, suas crianas, seus jovens e adultos, graas a um esforo endgeno, cooperativo e solidrio, baseado em um diagnstico no apenas de suas carncias, mas, sobretudo, de suas foras, para superar essas carncias. (TORRES, 1996).

    Consequncias para os governantes e lideranas sociaisFazer do municpio uma comunidade de aprendizagem exige, em primeiro lugar, um olhar diferente, que fortalea o propsito comum de todos os rgos governa-mentais e dos no-governamentais, bem como dos movimentos sociais de educar

    a si mesmos e educar as crianas, adoles-centes e jovens de acordo com os valores e princpios expressos na Constituio e nas Declaraes sobre Direitos Humanos, Meio Ambiente, Segurana Alimentar e outras, a que o Brasil aderiu. essencial o diagnstico participativo sobre quais so as foras e as fraquezas presentes no municpio, para usar as foras no combate s fraquezas e diminuir as ameaas. Assim se constri um projeto de desenvolvimento local comprometido com a transformao da sociedade e com a formao de cidados. Nessa caminhada, o dilogo a ferramenta mais eficaz na implementao de polticas socioculturais que, alm de reconhecer as diferenas, promovam a igualdade e estimulem os ambientes de trocas. Parafra-seando Boaventura de SOUZA SANTOS (2002), queremos que cada pessoa tenha direito igualdade, sempre que a diferena a inferioriza, e tenha direito diferena, toda vez que a igualdade homogeneza.

    Consequncias para a escola A escola se transforma em comunidade de aprendizagem quando existe um propsito comum, definido coletivamente por todos os envolvidos educadores, estudantes, funcionrios, familiares, representantes da comunidade em que a escola se localiza de promover a formao integral (ver p. 26) das crianas, dos jovens e tambm dos adultos. Esse propsito registrado em um documento, o Projeto Poltico Pedag-gico (ver p. 31) da escola. Em uma escola que uma comunidade de aprendizagem, tambm chamada Escola que Aprende (SENGE, 2005), o dilogo, definido como

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 13

    Exemplos que fazem pensar

    mes, clubes carnavalescos e outras organizaes no-governamentais foram visitados pelo grupo da SME. Pouco a pouco as equipes das escolas, com apoio dos pais, foram intensifican-do as articulaes. EnvolvimentoLogo se percebeu a necessidade de envolver os Conselhos Tutelares e o Conselho Municipal da Criana e do Adolescente: as crianas e adolescentes iriam sair do prdio escolar e para isso era necessrio amparo legal. A equipe da SME convocou um encontro com essas entidades e foi orientada a construir um termo de autorizao, a ser assinado pelos responsveis, para que os alunos pudessem se deslocar a outros espaos da cidade, acompanhados pelos moni-tores do programa. A articulao com a Procuradoria Geral do Municpio foi motivada por outra necessidade do grupo: possibilitar que docentes se dedicassem funo de promover a articulao entre a escola e demais espaos educativos da cidade, sem nenhum prejuzo em termos de carreira ou remunerao. O dilogo com a Procuradoria Geral do Municpio comeou por fortalecer a concepo de cidade educadora, onde a sala de aula

    Unindo foras para ampliar os limites da sala de aula

    comunicao horizontal entre diferentes, se instaura entre os professores, os alunos, os gestores, os funcionrios e a comunida-de. A escola/comunidade de aprendizagem articula-se a uma comunidade de aprendi-zagem mais ampla, com a preocupao de desenvolver um projeto comum, onde cada uma das instituies sociais ali presentes possa dialogar, compartilhar responsabili-dades, inter-relacionar-se e transformar-se quando se encontra com o outro. Ela se

    assume como um sistema que parte de um sistema maior. Ela capaz de influenci-lo da mesma forma como influenciada, gra-as a um currculo significativo, elaborado pela escola, que parte da realidade e a ela retorna, para transform-la.Em uma escola que uma comunidade de aprendizagem, educadores e familiares des-cobrem que, quanto mais eles, os adultos, aprendem, mais as crianas, adolescentes e jovens tambm aprendem.

    www.olinda.pe.gov.br/secretarias-e-orgaos/secretaria-de-educacao

    A implantao do Programa Mais Edu-cao em Olinda, Pernambuco, comeou com o desejo das equipes gestoras da Se-cretaria Municipal de Educao SME e da Diretoria de Ensino, de ampliar a jornada dos alunos. Uma importante preocupao era integrar ao Mais Edu-cao as vrias esferas do poder pblico municipal. Para isso, foram convidadas todas as secretarias e rgos do poder pblico para fazer parte do comit gestor da Educao Integral.Diretoras das primeiras vinte escolas municipais interessadas participaram ativamente das discusses, em vrios encontros, com o objetivo de amadure-cer as escolhas e os caminhos a seguir. Cada escola, atravs de seu grupo gestor, discutiu e desenhou o perfil do professor comunitrio uma figura-chave no processo. As equipes escolares mapea-ram o entorno das escolas, o bairro e a comunidade. Descobriram os saberes locais e os espaos da comunidade que poderiam estar implicados na educao dos alunos e escolheram as atividades que poderiam ser realizadas. A equipe responsvel pelo Mais Educao na SME empenhou-se em acompanhar as dire-toras e professores comunitrios nessa garimpagem. Igrejas de vrias religies, associaes comunitrias, clubes de

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  • 14 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    no deve ser o nico espao apropriado para a presena do professor, ressaltando a importncia do professor comunitrio na transformao da cidade em cidade educadora. Com base nos paradigmas do Programa Mais Educao, a concepo de espao educativo foi reformulada. A sala de aula passou a ser entendida no como um espao entre quatro paredes, mas como um espao limitado pelas fronteiras do municpio. Desta maneira, foi possvel construir um instrumento legal garantindo que o deslocamento do professor comunitrio da funo de edu-cador de uma nica turma da escola para a de articulador da Educao Integral no causasse prejuzo algum sua remu-nerao ou a seus direitos trabalhistas. Em Olinda, o Programa Mais Educao j foi ampliado para toda a Rede Mu-nicipal. Hoje, a coordenao do Mais

    Educao no municpio feita de ma-neira colegiada, com as coordenaes dos Programas Escola Aberta, Segundo Tempo e Sade na Escola. Outras par-cerias ainda precisam ser estabelecidas, inclusive no mbito de projetos finan-ciados pelo Governo Federal, como os Pontos de Cultura e o Programa de Erradicao do Trabalho Infantil (PETI). Os maiores desafios, agora, so: garantir a oferta da alimentao em regime de tempo integral merenda e almoo; for-talecer a articulao das atividades com o currculo escolar e entre programas dos demais rgos municipais; ampliar o dilogo com as famlias, evitando a evaso dos alunos.Por Ana Cristina e equipe do Mais Educao na Secretaria Municipal de Educao de Olinda.Contato: [email protected]

    Exemplos que fazem pensar

    Diferentes setores e organizaes, um mesmo propsito educativoEm So Paulo, representantes dos mais diferentes setores e organizaes sociais uniram-se no movimento Todos pela Educao na Cidade, e criaram indica-dores para que toda a sociedade possa acompanhar os avanos das polticas pblicas e seus resultados em termos de melhorias na educao, sade, habitao, transportes, emprego e renda (Oded GRAJEW e M.A. SETUBAL). Foram institudas, pelos rgos governamen-tais, as Viradas Cultural, Esportiva e Educacional, ocasies em que a cidade oferece, durante o fim de semana, ativi-dades gratuitas em diferentes espaos, mais acessveis graas a descontos nas passagens de nibus e metr. Os re-sultados surpreenderam os prprios idealizadores, pois demonstraram que a populao assumiu a proposta como sua.

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 15

    1.3 Colocar em prtica o Currculo Significativo

    Ao ampliar a jornada escolar e promover o dilogo escola-comunidade, a Educao Integral ajuda a unir

    currculo e vida.

    Um currculo significativo aquele que faz sentido para os estudantes e que relevante, porque produz aprendizagens que causam impacto na vida em comunidade ou na vida de toda a cidade. Uma forma de dar significado ao currculo que j existe fazer com que os alunos com-preendam as ligaes entre as diferentes disciplinas e mostrar como o conhecimento que constroem na escola e em outros espa-os da cidade educadora (ver p. 9) pode ter aplicao imediata no seu dia-a-dia. Por exemplo, a partir da constatao de que o atendimento sade na comunidade deixa a desejar, os alunos podem fazer um estudo integrado envolvendo Cincias, Biologia, Matemtica e Portugus, compondo um levantamento das doenas endmicas e das principais causas de enfermidade e morta-lidade no local. Podem entrevistar profis-sionais e autoridades da sade, investigar prticas de sade popular (ervateiros, ben-zedeiras, parteiras, curandeiros), produzir cartazes e vdeos para serem divulgados em associaes e centros comunitrios e nos meios de comunicao local. Essa amplia-o curricular est diretamente associada ampliao da jornada escolar.Em escolas que j funcionam em horrio integral, com atividades oferecidas por ONGs e outros parceiros no seu espao e fora dele, o dilogo entre educadores es-colares e educadores sociais torna as aulas mais interessantes, pois se relacionam ao cotidiano dos estudantes. A organizao de um currculo escolar flexvel, evitando uma compartimentalizao rgida, significa torn-lo mais eficaz na aprendizagem do conjunto de conhecimentos que estruturam os saberes escolares essenciais. somente a partir do projeto poltico pedaggico (ver p. 31), construdo coletivamente, que a escola pode orientar e articular as aes e atividades propostas na perspectiva da

    Educao Integral. A Educao Integral no apenas algo baseado em princpios legais e valores sociais: visa responder aos desafios concretos da comunidade onde est inserida a escola.

    Consequncias para os governantes e lideranas sociaisAo tomar conhecimento da proposta cur-ricular das escolas, dirigentes de todas as reas podem articular-se, preparando-se para receber as visitas de estudantes s suas instituies. Por sua vez, tambm podem programar visitas escola, para estimular aes conjuntas.Os responsveis pelas Secretarias de Edu-cao promovero capacitaes para que os educadores possam exercitar-se na criao de situaes de aprendizagem divertidas e desafiadoras, baseadas em problemas reais e na elaborao de projetos interdisciplinares, que resultem em produtos que a comuni-dade v como teis e benficos.

    Consequncias para a escola Analisar o currculo com olhos de quem v a sua ligao com o real, com a cidade educadora (ver p. 9), o desafio dos edu-cadores em uma escola-comunidade de aprendizagem (ver p. 12). Com o propsito de desenvolver a formao integral (ver p. 26) dos estudantes, iro focalizar o desen-volvimento das competncias em leitura crtica de textos e do mundo, assim como em expresso oral e escrita e na capacida-de de utilizar o raciocnio para resolver problemas concretos. Isso deve acontecer sempre em articulao com outros agentes educativos da comunidade, com o objetivo de qualificar a ao dos alunos e fortalecer seu desenvolvimento como cidados.

  • 16 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    SME, de gestores das 14 unidades educacionais inicialmente envolvidas. Foram priorizados os alunos das lti-mas sries do ensino fundamental I, com dificuldades de aprendizagem e em situaes de risco: casos de suspeita ou comprovao de explorao sexual, trabalho infantil, violncia domstica e abandono.

    O programa comeou com 100 alunos o nmero mnimo exigido pelo MEC. Esta deciso permitiu s lideranas do municpio organizar melhor o Progra-ma na cidade, conhecer a sua dinmica, a nova rotina de trabalho e as dificulda-des do cotidiano. No segundo ano, havia segurana para ousar um pouco mais, e o atendimento foi ampliado.

    Formao Para desenvolver as atividades da jor-nada ampliada, foram identificados monitores na prpria comunidade, o que permitiu o estabelecimento de novas relaes sociais de aprendizagem entre crianas e adultos, independen-temente de profisso ou especialidade. A SME realizou uma formao com todos eles, reunindo-os no Centro de Formao Continuada dos Profissio-nais da Educao para a apresentao geral das aes consolidadas da Secre-taria e a introduo aos estudos sobre Educao Integral. Em seguida, cada professora-coordenadora organizou a formao na sua escola, respeitando as caractersticas de cada uma. Na pauta, as seguintes aes: leitura do mundo atravs da incurso pelo bairro, anlise do Projeto Eco-Poltico-Pedaggico (PEPP) da escola, leitura de textos so-bre Educao Integral e planejamento

    Exemplos que fazem pensar

    Quando o conhecimento transcende a sala de aula, a lousa e o livro didtico

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    O municpio de Osasco vem de-senvolvendo, desde 2006, uma poltica educacional que tem como diretrizes a democratizao do acesso e a garantia da permanncia na escola, a democra-tizao da gesto, a valorizao dos tra-balhadores e a efetivao da qualidade social da educao.

    Busca-se construir na rede municipal um projeto escolar comprometido com a realidade do aluno, incentivando uma prtica curricular que possibilite o enfrentamento dos problemas e desa-fios locais, tornando a escola capaz de garantir que todos, adultos e crianas, apropriem-se dos conhecimentos pro-duzidos pela humanidade e percebam como sujeitos da histria. Assim, o mu-nicpio prope uma Educao Cidad, que considera o exerccio da Leitura do Mundo, desde a infncia, um direito de todos. O projeto da escola transcende os seus muros e mobiliza seus atores a dialogar com o mundo, a partir do conhecimento escolar produzido no seu interior. Esse movimento de integrao da escola com o seu bairro, e do bairro com a escola potencializa o estabeleci-mento de uma ampla rede de relaes e parcerias que muito contribui para o desenvolvimento poltico, econmico, social e cultural das pessoas que dela fazem parte.

    Ampliao A adeso de Osasco ao Programa Mais Educao foi motivada pela convico de que seus objetivos e pressupostos eram coerentes com os da Educao Cidad. O Programa iniciou-se em abril de 2009, com o encontro, promovido pela Secretaria Municipal de Educao

    www.educacao.osasco.sp.gov.br

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 17

    de atividades em consonncia com o projeto da escola.

    Atravs das videoconferncias organi-zadas e transmitidas ao vivo pelo MEC, a SME conseguiu estabelecer uma rela-o muito prxima com o Ministrio da Educao e se manter atualizada em relao s orientaes da coordenao do programa. Primeiros Frutos Novo e desafiador, o Programa Mais Educao, em to pouco tempo, j acena com resultados bastante significativos, como o fortalecimento das relaes en-tre escola e comunidade, e a valorizao e apropriao dos saberes locais pela escola. A dinmica proposta permitiu a alguns alunos se perceberem sujeitos da prpria aprendizagem, assumindo uma postura mais ativa diante das atividades e vivncias. Ao criarem novos vnculos de amizade por meio de experincias ldicas de aprendizagem, alguns alunos realizaram importantes avanos em lei-tura e escrita. Meu filho me pediu at para lhe comprar um livro, aps o em-prstimo do livro Menino Maluquinho, feito a ele por uma monitora. Fiquei surpresa, pois ele s me pedia pipas ou brinquedos (Claudia dos Santos, me do aluno Antonio, EMEF Professor Manoel Barbosa de Souza). Os professores de ensino regular indi-cam avanos dos seus alunos em sala de aula e percebem a importncia das atividades realizadas pelo Mais Edu-cao. A Ana Beatriz no se comuni-cava e, depois do Programa, passou a socializar-se com os demais colegas na classe e, agora, no para de falar, virou uma tagarela, [...] comeou a ler e a es-crever tambm (professora Ana Pinho, 4 srie, EMEF Professor Manoel Bar-bosa de Souza). Conquistar a confiana e a credibilidade dos profissionais de ensino foi, talvez, o maior desafio para a implantao do Programa. O Projeto Mais Educao impulsiona o aluno a seguir adiante. O caminho da alfabeti-zao, que, para a maioria das crianas,

    sinuosa demais, torna-se agradvel quando guiado por um projeto como esse, que norteia o melhor caminho a seguir e em que condies ser essa caminhada. Juntos, ainda que em passos mais lentos, chegaremos l (professora Cristiane Almeida Saggiomo, 2 ano, EMEF Quintino Bocaiva). Apesar da complexa tarefa gestora que os diretores devem assumir diante das mltiplas funes sociais atribudas escola, as exigncias e rotinas inerentes ao Mais Educao tm sido assimiladas pelos gestores como necessrias, dada a relevncia dos objetivos que pretende alcanar. O Programa Mais Educa-o tem sido positivo nas atividades e contribui para o desenvolvimento da criana (diretora Valdirene Gonalves, EMEF Professor Manoel Barbosa de Souza). O Programa Mais Educao promove saberes diversos e colhe muitos frutos significativos, dos quais, talvez, os prin-cipais sejam a satisfao das crianas ao participarem das atividades e o olhar brilhante em busca de novas descober-tas, de carinho, de ateno, de reconhe-cimento e valorizao, busca esta que promove vnculos, aprendizagem, afeto e dignidade humana.

    Por Priscila Yuri Yoshi, pedagoga, pro-fessora efetiva da rede municipal de Osas-co, Supervisora de Ensino, coordenadora pedaggica do Projeto Escolinha do Fu-turo e coordenadora do Programa Mais Educao em Osasco (SP). Participaram da construo do texto-base: Alcir Caria, Ana Cristina dos Santos Maguini, Cintia Fernanda Vieira, Cristiana Santana da Silva, Jackeline de Ftima Castro da Silva, Kelly Cristina Betini Vieira Alves, Lcia Conceio Leonardo dos Santos, Maria das Graas Alves da Silva, Maria Gorete Miranda Batista, Marta Maria de Arajo Carnietto, Michela Morales da Fonseca Almeida, Roseli Helena de Mou-ra Alves, Roseli Maria Candido, Sandra Aparecida Rodrigues Soares Ajouri e Vanda Maria Rodrigues dos Santos.Contato: [email protected]

  • 18 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    agora com voc

    Que tal escrever contando alguma coisa acontecida na sua cidade, que mostre que as escolas esto desenvolvendo um currculo significativo?

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 19

    1.4 Espaos Educadores Sustentveis

    A Educao Integral prev uma nova relao entre tempos e espaos educativos e convida as escolas a se tornarem

    parceiras do desenvolvimento sustentvel do municpio.

    O conceito de Educao Integral vem de longe: ele j est presente no Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova (1932), que destaca a necessidade de a escola dialogar com as outras instituies sociais, para que os processos educativos por ela desenvolvi-dos no sigam por caminhos paralelos, mas possam dar-se as mos. Para desenvolver um projeto comum, onde cada instituio possa compartilhar responsabilidades, inter-relacionar-se e transformar-se no encontro com o outro, a escola e demais instituies sociais podem ser orientadas a se constituir como uma comunidade de aprendizagem (ver p. 12). Falar sobre Educao Integral implica con-siderar a questo das variveis tempo, com referncia ampliao da jornada escolar, e espao, com referncia aos territrios (ver p. 30) em que cada escola est situada. Em outras palavras, trata-se de reconhecer em que rua, em que bairro, em que comunida-de a escola est localizada e, tambm, como se integra cultura local. Um novo olhar sobre tempos e espaos educativos resulta em novas oportunidades de aprendizagem. Amplia-se a sociabilidade e o dilogo das escolas com a comunidade local, regional, nacional e, graas Internet, at com a comunidade global. Alguns estudos que consideram a qualida-de do ensino esto baseados nessa relao entre tempos e espaos educativos. Eles demonstram que ampliar os tempos e os espaos de formao de nossas crianas, adolescentes e jovens far com que o acesso educao pblica indispensvel, mas no suficiente seja complementado por medidas que garantam a permanncia e a aprendizagem dessas crianas, adolescentes e jovens nas escolas.

    Embora a Educao Integral deva realizar-se em tempo integral, nem toda escola onde os alunos permanecem entre 7 e 9 horas dirias oferece Educao Integral, pois no se trata apenas de tempo de permanncia, mas de qualidade no aproveitamento des-se tempo. Para que tal Educao exista, a escola deve estar ligada cidade (ver p. 9) qual pertence; ser e participar de uma comunidade de aprendizagem (ver p. 12) com um projeto comum, voltado formao integral (ver p. 26) de todos os seus membros, com foco nas crianas, adolescentes e jovens. A Educao Integral no se restringe ampliao do tempo que a criana ou o jovem passa na escola. Ela diz respeito possibilidade de integrao, registrada em seu Projeto Poltico Peda-ggico (ver p. 31), e expressa por meio de um currculo significativo (ver p. 15), daquilo que ocorre na escola com outras aes educativas, culturais e ldicas pre-sentes no territrio (ver p. 35) e vinculadas ao processo formativo. Dessa forma, busca garantir s crianas, adolescentes e jovens o direito fundamental de circular pela cidade, apropriando-se dela, como condio de acesso s oportunidades, espaos e recur-sos existentes, como direito ampliao contnua do repertrio sociocultural e expresso autnoma e crtica.

    Ao ligar escola e comunidade, nas muitas e complexas possibilidades territoriais (ver p. 35) do seu modo de existir, a educao torna-se instrumento de democracia, pos-sibilitando criana, ao jovem e ao adulto entenderem a sociedade e participarem das decises que afetam o lugar onde vivem, sua escola, seu bairro e sua vizinhana, tornando-se parceiros de seu desenvolvi-mento sustentvel (ver p. 35).

  • 20 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    Educao Integral em Tempo Integral, na escola pblica brasileira, do sculo XX ao XXI

    Essa integrao no se faz apenas pela possibilidade de deslocamento das ativi-dades de dentro da escola para fora dela. Sair da escola no quer dizer simplesmente aprender os contedos curriculares em outro lugar, com uma aparncia mais atra-tiva e moderna. Significa ir mais longe e abrir possibilidades concretas para que os assuntos que interessam s crianas e aos

    jovens e aqueles assuntos que preocupam a comunidade passem a ser parte integrante do trabalho sistemtico da escola. A Educao Integral ser a soma das condi-es de partida oferecidas pelos governan-tes (vide item abaixo) com o que for criado e construdo em cada escola, em cada rede de ensino, com a participao dos educadores, dos alunos e das comunidades.

    Um pouco de Histria

    Em 1932, os Pioneiros da Educao Nova, pensando na implementao de um Sis-tema Pblico de Ensino para o pas, pro-punham em seu Manifesto uma educao em que a escola desse s crianas um programa completo de leitura, aritmtica e escrita, cincias fsicas e sociais, e mais artes industriais, desenho, msica, dana e educao fsica, sade e alimento crian-a, visto no ser possvel educ-la no grau de desnutrio e abandono em que vivia. Ansio Teixeira colocou essa concepo em prtica no Centro Educacional Car-neiro Ribeiro, implantado em Salvador, na Bahia, na dcada de 1950. Nesse Centro, encontramos as atividades, historicamente entendidas como escolares, sendo traba-lhadas nas Escolas-Classe, bem como outra srie de atividades acontecendo em outros espaos que o educador denominou de Escola-Parque.

    Na dcada de 1960, a fundao da cidade de Braslia trouxe consigo vrios centros educacionais construdos nessa mesma perspectiva. Ansio Teixeira, na presidncia do INEP, foi convocado pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira para co-ordenar a comisso encarregada de criar o Plano Humano de Braslia, juntamente

    com Darcy Ribeiro, Cyro dos Anjos e outros expoentes da educao brasileira. A comis-so organizou o Sistema Educacional da capital que o ento Presidente da Repbli-ca pretendia tornar o modelo educacional para todo o Brasil. O sistema educacional elaborado criou a Universidade de Braslia e o Plano para a Educao Bsica. Para o nvel educacional elementar, foi concebido um modelo de Educao Integral inspirado no modelo de Salvador, j mais evoludo.

    Em Braslia, as primeiras quatro super-quadras, onde hoje est situado o centro histrico da cidade, receberam, cada uma, uma Escola-Classe e Jardins de Infncia. Na superquadra 308 Sul foi construda a Escola-Parque destinada a receber os alunos das Escolas-Classe, no turno complementar, para o desenvolvimento de atividades fsicas, esportivas, artsti-cas e culturais. Todas as escolas citadas foram projetadas por Niemeyer e tinham a capacidade de atender os cerca de 30 mil habitantes residentes nas quatro super-quadras iniciais.

    Na dcada de 1980, a experincia dos Centros Integrados de Educao Pblica os CIEPs constituiu-se como uma das

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 21

    Consequncias para os governantes e lideranas sociaisA Educao Integral exige dos governan-tes aes concretas de oferta dos servios pblicos requeridos para ateno integral, conjugada proteo social. Isto pressupe polticas integradas (intersetoriais, trans-versais) que considerem, alm da educao, outras demandas, articuladas com desen-volvimento social, sade, esporte, incluso digital e cultura.A Educao Integral pressupe trabalho intersetorial (ver p. 28), recursos para

    mais polmicas implantaes de Educao Integral realizadas no pas. Concebidos por Darcy Ribeiro, a partir da experincia de Ansio Teixeira, com projeto de Oscar Niemeyer, foram construdos aproxima-damente quinhentos prdios escolares durante os dois governos de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro. Sua estrutura permitia abrigar o que se denominava como Escola Integral em horrio integral. Vrios estudos foram realizados sobre essa experincia, apresentando seus aspectos inovadores e tambm suas fragilidades.

    A experincia dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), instituda por Decreto Municipal, vivida na cidade de So Paulo (2000-2004), se faz presente no debate, mesmo que no pretendesse o tempo inte-gral. Sua importncia pode ser reconhecida com base nos estudos de Santos (2004), ao destacar o objetivo de articular os atendi-mentos de creche, educao infantil e fun-damental, o desenvolvimento de atividades educacionais, recreativas e culturais, em um mesmo espao fsico, com a perspecti-va de que os centros se constitussem em experincias de convivncia comunitria.

    Como vemos, nosso pas vem, ao longo dos anos, construindo um projeto educacio-nal onde a ideia de educao integral em tempo integral aos poucos se concretiza. um processo no-linear, com retrocessos e interrupes causadas pelas descontinuida-des poltico-administrativas. Como diz o II Pronunciamento Latino-Americano por uma Educao Para Todos (documento redigido por Rosa Maria TORRES e Miguel SOLER, 2010, e aprovado por educadores de 8 pases latino-americanos), Os governos variam, deslegitimam o realizado por gover-nos anteriores e amide destroem avanos que haviam requerido ingentes recursos e muitos anos de f e de empenho. Mesmo assim, no se perde o fio da meada. Nesse incio do sculo XXI, estamos ligados aos Pioneiros da Escola Nova, a Ansio Tei-xeira, a Paulo Freire e aos que na dcada de 60 j tentavam fazer uma educao conscientizadora e emancipatria. Voc, leitor ou leitora, faz parte dessa caminhada secular, onde apesar de tudo avanamos, em aliana permanente com o povo, na realizao do direito de todos educao de qualidade.

    http://portal.mec.gov.br/secad/programase-acoes/maiseducacao

    formao de seus agentes e meios para os estudantes e docentes se deslocarem pelos diferentes espaos da cidade. Veja Manual do Programa Mais Educao.

    Consequncias para a escola Para desenvolver uma Educao Integral, importante que a escola tome conscincia do seu potencial, como parte e articuladora de aes que juntam vida, conhecimento e capacidade de fazer as coisas acontecerem. A participao dos estudantes em projetos interdisciplinares focalizando o equacio-namento de problemas comunitrios um caminho fecundo.

  • 22 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    Exemplos que fazem pensar

    Da Escola em Tempo Integral Educao Integral na Escola

    do e sistematizado e o crescimento cole-tivo. Um crescimento que se evidencia na busca de solues para os problemas da populao beneficiria. Preparao Para construir uma Proposta Pedag-gica que abarcasse o direito a uma edu-cao igualitria e equitativa, o grupo de estudos reuniu-se semanalmente, buscando compreender a maneira pela qual a concepo de Educao Inte-gral se desenvolve no Brasil. Alm de embasamento terico, a elaborao da Proposta envolveu conhecer experin-cias de Educao Integral em desenvol-vimento em cidades como Pato Branco e Cascavel, no Paran, nos Centros Educacionais Unificados (CEU) de So Paulo e no CIEP Trajano de Morais, no Rio de Janeiro. As visitas tinham por objetivo conhecer os aspectos centrais das propostas pedaggicas e arquitet-nicas, bem como confrontar as diversas experincias com a literatura disponvel e com as questes demandadas pela populao de Palmas.

    DesafioO desafio consistia em articular espaos arquitetnicos e tempos pedaggicos em um projeto de Escola de Tempo Integral. A estrutura fsica dessa es-cola composta por 20 salas de aulas, quatro laboratrios (informtica, artes, cincias e matemtica), complexo es-portivo (salas de dana, artes marciais e xadrez), refeitrio, biblioteca, quadra de esportes coberta, campo de futebol, duas piscinas, consultrio odontolgico e auditrio. Um local que no poderia ser reduzido a um somatrio de salas de aulas ou de espaos onde os professores, na solido individual do fazer pedaggi-co, desenvolvem suas atividades.

    Tudo comeou em 2003, quando um grupo com diferentes profissionais reuniu-se para realizar uma anlise crtica da poltica educacional ento vigente no municpio de Palmas (TO). No ano seguinte, o grupo apresentou um documento expressando o conjunto de propostas do plano do novo governo municipal. Inicialmente, a temtica Educao Integral no foi objeto das discusses do grupo. A inteno pri-meira era construir duas escolas padro, com ampliao da jornada escolar para, no mnimo, 8 horas dirias. O governo municipal tinha como prio-ridade oferecer s crianas das camadas populares condies de aprendizagem, de enriquecimento cultural e de enga-jamento na luta por mudana social, com acesso a uma escola pblica de qualidade e ao conjunto de saberes e oportunidades disponveis aos demais extratos sociais. Assim, em janeiro de 2005 foi criado, no mbito da Secre-taria de Educao e Cultura (SEMEC, na ocasio), o Grupo de Pesquisas em Polticas Pblicas e Gesto da Educao, com participao de professores da educao bsica e do ensino superior (das universidades locais), engenheiros, arquitetos, membro do Conselho Mu-nicipal de Educao e ambientalistas, alm do corpo tcnico-administrativo da SEMEC. A responsabilidade dessa equipe consistia em discutir e conceber coletivamente os tempos e espaos de aprendizagem da Escola em Tempo Integral de Palmas, definindo o seu projeto arquitetnico (com 8.200 m de rea a ser construda) e a sua Proposta Pedaggica. Esta ltima baseava-se na concepo de escola em tempo integral como local de articulao do saber universal, propiciando o crescimento individual na medida em que garante a apropriao do conhecimento produzi-

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 23

    Apostando na possibilidade de articu-lao, o grupo de estudos e a equipe diretiva da primeira Escola Municipal de Tempo Integral buscaram estruturar coletivamente uma proposta consisten-te, em que as crianas teriam uma jor-nada escolar de, em mdia, oito horas, contanto que a quantidade de tempo dirio de escolarizao representasse a possibilidade de a escola oferecer mais do que o domnio da leitura, do clculo e da escrita, ou seja, mais do que o cur-rculo mnimo do ensino fundamental: uma educao que valorizasse os aspec-tos culturais, artsticos, esportivos, o lazer e a interao com o meio ambiente, para que os estudantes, a partir dessas relaes, pudessem reconstruir sua his-tria e a de sua comunidade.

    Currculo crticoA equipe pedaggica da Escola de Tempo Integral se props a construir um currculo crtico, capaz de instru-mentar os alunos para enfrentarem os problemas inerentes formao de uma nova ordem social. Em termos meto-dolgicos, o currculo almeja pautar-se em encaminhamentos que contemplem: interdisciplinaridade, transdisciplina-ridade e leitura, pesquisa e avaliao enquanto processos contnuos e de carter diagnstico-formativo. Alm disso, uma Educao problematizadora requer postura democrtica no encami-nhamento dos trabalhos, no lugar de atitudes rgidas e inflexveis por parte dos educadores.Para as reas de artes, esportes, lazer, assistncia social, meio ambiente, tec-nologias e outras, previu-se a abertura de editais pblicos de seleo de profis-sionais formados, objetivando assegurar a integralidade curricular e agregando assim diferentes saberes construdos por meio de processo formal e informal (instituies eclesisticas, ONGs, movi-mentos sociais, associaes esportivas, culturais etc.).

    Enfim...A implantao da Escola de Tempo Integral em Palmas um processo que envolve a participao da comunida-de na formulao, acompanhamento, implementao e avaliao de polticas pblicas em educao. Isto se d numa sociedade complexa e diferenciada, buscando instituir mecanismos que permitam a insero dos estudantes nessa nova realidade e aumentem sua compreenso de como superar as difi-culdades e os obstculos, assim como sua participao nas decises mais complexas. Inicialmente, a proposta visava atender em perodo integral 760 crianas e jovens, do 1 ao 9 ano do Ensino Fun-damental. Frente s expectativas geradas na comunidade, a proposta foi alterada de modo a atender 1.200 crianas em 9 horas e meia de atividades dirias, melhorando a expanso do benefcio face aos investimentos realizados. Quatro mil crianas e jovens das esco-las prximas tm acesso s atividades complementares da estrutura curricu-lar. A experincia da implantao de uma escola padro em tempo integral ganhou forte adeso da comunidade e impulsionou a definio de uma poltica de Educao Integral, levando em conta a importncia da intersetorialidade das polticas pblicas e a articulao da escola com outros espaos pblicos de aprendizagens, governamentais e no-governamentais, com forte participao popular. Uma proposta em que a jorna-da escolar em horrio expandido repre-senta a ampliao de oportunidades e de situaes que promovem aprendizagens significativas e emancipadoras.Por Roneidi Pereira de S Alves, pro-fessora de Educao Bsica, Diretora de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal da Educao e Coordenadora do Programa Mais Educao da Rede Municipal de Ensino de Palmas (TO).Contato: [email protected]

  • 24 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    1.5 Ampliar o tempo de aprendizagem e expandir a sua qualidade

    Como dissemos, a extenso do horrio escolar, por si s, no garante o incremento qualitativo do ensino.Aumentar a jornada de trabalho escolar dos alunos em disciplinas especficas, como Matemtica ou Lngua Portuguesa, oferecendo apenas mais do mesmo, gera hiperescolarizao, com efeitos negativos.Da mesma forma, a ampliao da jornada no pode ficar restrita lgica da diviso em turnos, pois isso pode significar uma diferenciao explcita entre um tempo de escolarizao formal, em sala de aula, com todas as dimenses e ordenaes pedag-gicas, e outro tempo, sem compromissos educativos, ou seja, mais parecendo um passatempo para a criana e o jovem do que algo que possa melhorar sua educao.No entanto, a expanso do tempo escolar tem o potencial de incrementar a qualidade da educao (CAVALIERI, 2002), desde que essa extenso se traduza em uma con-juno qualitativa de trabalhos educativos, para que o aumento da corda do tempo consiga redimensionar o espao da escola (COELHO, 1996).A formulao de uma proposta de Educa-o Integral implica ampliao qualificada do tempo, mesclando atividades educativas diferenciadas. Ao faz-lo, contribui para a formao integral (ver. p. 26) do aluno, superando a fragmentao, o estreitamento curricular e a lgica educativa demarcada por espaos fsicos e tempos rgidos. Nesse sentido, entende-se que a extenso do tem-po quantidade deve ser acompanhada por uma intensidade do tempo qualidade nas atividades que constituem a jornada ampliada na instituio escolar.

    Consequncias para os governantes e lideranas sociaisPara que a escola em tempo integral possa realmente oferecer Educao Integral s crianas, adolescentes e jovens, preci-so que governantes e lideranas sociais encontrem meios de promover o dilogo profissional entre educadores que atuam na escola e educadores que atuam em outros espaos educativos da cidade, para que eles elaborem em conjunto o Projeto Poltico Pedaggico e desenhem cooperativamente projetos de aprendizagem. Deve-se prever cursos de formao para os professores e gestores, para que possam integrar as atividades na escola com as desenvolvidas por outros educadores que atuam fora do espao escolar. importante articular-se com uma das 43 universidades parceiras do Programa Mais Educao que oferecem capacitaes em Educao Integral.

    Consequncias para a escola A ampliao da jornada, na perspectiva da Educao Integral, auxilia as instituies educacionais a repensar suas prticas e procedimentos, a construir novas organiza-es curriculares voltadas para concepes de aprendizagens como um conjunto de prticas e significados multirreferencia-dos, inter-relacionais e contextualizados. Neles, a ao educativa ter como meta tentar compreender e modificar situaes concretas do mundo. Em sntese, trata-se de aprender a entender e a saber como melhorar o mundo em que se vive.

    Educao Integral aprendizagem (prazerosa) em tempo integral.

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 25

    A Escola Tcnica Estadual Newton Sucupira, localizada em uma rea arborizada do bairro de Mussurunga, Salvador (BA), passou por um perodo de transformao nos anos 80, durante a turbulenta fase educacional que o Brasil enfrentou na reformulao do Ensino Tcnico, em que se discutiam avanos significativos na rea de educao e trabalho (Kuenzer, 1988, p.89). Com isso, foi consolidado o Ensino Tcnico na escola, oficialmente confirmado em 22 de outubro de 1982. Ao longo dos anos, a escola vem rea-lizando inmeras parcerias com em-presas privadas e estatais no sentido de qualificar o que construdo pedagogi-camente em seu interior, numa relao afinada entre teoria e prtica, fundada no conceito de prxis.A escola busca elevar o nvel cultural dos seus jovens estudantes, apoiada no Programa Mais Educao do Governo

    Federal. Por meio das atividades de Hip Hop, aumentou a autoestima dos estudantes. Afinal, o Hip Hop uma manifestao da juventude e um movi-mento de formao humana e conheci-mento da sociedade, onde a realidade dos atores na escola est inserida. Alm do incentivo s iniciativas pedaggicas, a taxa de evaso diminuiu e a taxa de aprovao aumentou.Atribumos a essa atividade grande cr-dito no desenvolvimento dos estudan-tes, tendo ampliado a jornada escolar, visto que o Programa caminha para uma Educao Integral de Tempo In-tegral. Hoje, a Escola Tcnica Estadual Newton Sucupira busca a melhoria do Programa Mais Educao, juntamente com os profissionais envolvidos na bus-ca do ensino de qualidade.Por Ruy Braga, gestor da Escola Tcnica Estadual Newton SucupiraContato: [email protected]

    Exemplos que fazem pensar

    Veja tambm exemplo de Olinda, pgina 13

    mais Cultura, educao e autoestima

    Conhece alguma escola onde as atividades que ampliam a jornada escolar sejam integradas ao currculo, enriquecendo-o e tornando-o mais significativo?

    agora com voc

  • 26 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    1.6 Formar Integralmente

    Pode-se dizer, como GUAR (2006), que a perspectiva humanstica da educao como formao integral implica compreender e dar significado ao processo educativo, como condio para ampliar as possibili-dades de desenvolvimento humano. Diz a autora que para garantir a qualidade da educao bsica preciso considerar que a aprendizagem dos contedos curriculares pelas crianas e adolescentes deve possibili-tar uma ligao concreta entre eles, sua vida

    articular novos currculos. E no apenas isso: pode contribuir para mudanas positi-vas em valores, atitudes e comportamentos. Assim, o desenvolvimento integral dos estudantes no responsabilidade exclusiva das escolas, mas tambm de suas comu-nidades, porque somente juntas podem ressignificar suas prticas e saberes.

    Consequncias para os governantes e lideranas sociaisGovernantes e lideranas sociais so res-ponsveis por promover o dilogo entre o poder pblico, a comunidade escolar e a so-ciedade civil, para assegurar o compromisso coletivo de construo de um projeto de Educao Integral que estimule o respeito aos direitos humanos e o exerccio da de-mocracia, com a participao qualificada dos alunos nos processos de discusso de como agir para melhorar suas sociedades.

    Consequncias para a escola A instituio escolar desafiada a reco-nhecer os saberes da comunidade, para, com eles, promover uma constante e frtil transformao tanto dos contedos escola-res quanto da vida social.A relao escola e comunidade pode ser marcada pela experincia de dilogo, de trocas, de construo de saberes e pela possibilidade de, juntas, formarem uma comunidade de aprendizagem. Com isso, a interao entre as pessoas que atuam na escola e as que vivem na comunidade pode auxiliar a superao de preconceitos, muitos deles calcados em esteretipos de classe, raa/etnia, gnero, orientao sexual e geracional, dentre outros.

    Educao Integral envolve formar e informar, o tempo todo, rumo a aes transformadoras.

    e sua comunidade. Para dar conta dessa qualidade, necessrio que o conjunto de conhecimentos sistematizados e organiza-dos no currculo escolar tambm inclua prticas, habilidades, costumes, crenas e valores que esto na base da vida cotidiana dos alunos. Articulados ao saber acad-mico, esses conhecimentos constituem o currculo necessrio vida em sociedade.A escola desempenha um papel funda-mental no processo de construo e de difuso do conhecimento. Ela o local do dilogo entre as experincias comunitrias e seus diferentes saberes, e os saberes que foram sistematizados historicamente pela sociedade em campos de conhecimento. Nessa posio, a escola pode elaborar novas abordagens, selecionar novos contedos e

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 27

    agora com voc

    Pode citar atividades desenvolvidas por escola de seu municpio que con-tribuem para a formao integral dos educandos?

  • 28 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    1.7 Garantir Intersetorialidade e Governana

    Para a concretizao da Educao Integral em Jornada Ampliada, com foco na qua-lidade da aprendizagem, fundamental a interveno do Poder Pblico - governos federal, estaduais e municipais - na or-questrao das aes de diferentes reas sociais. Cabe ao Estado, em seus trs nveis, o planejamento, a coordenao da imple-mentao, o monitoramento e a avaliao das aes pedaggicas que ocorrem no es-pao e tempo escolares e em outros espaos socioeducativos.

    pelo Ministrio da Educao, a interse-torialidade impe-se como necessidade e tarefa. Isso se deve ao reconhecimento da desarticulao institucional e da pulveriza-o na oferta das polticas sociais (ver p. 26). Mas se deve tambm ao passo seguinte desse reconhecimento: articular os compo-nentes materiais e ideais que qualifiquem essas polticas. Por isso, preciso ressaltar a intersetorialidade como caracterstica de uma nova gerao de polticas pblicas que orientam a formulao de uma proposta de Educao Integral e contribuem para a boa governana.Governana, segundo DINIZ (1997, apud Santos Jnior 2001, p. 55), envolve capa-cidade de coordenao do Estado entre as distintas polticas e os diferentes interesses em jogo, capacidade de comando e de direo do Estado e capacidade de implementao.A governana tambm torna mais transpa-rentes as relaes entre Estado e sociedade e contribui para que o Estado seja capaz de responder adequadamente s deman-das sociais, implementando intervenes ajustadas resoluo dos problemas diag-nosticados.

    Consequncias para os governantes e lideranas sociaisA governana requer, do Estado, a capa-cidade de coordenar os atores sociais e polticos envolvidos, dotados de poder e legitimidade no processo decisrio de polticas pblicas. Alm de fortalecer con-textos democrticos, deve poder alcanar objetivos comuns a um menor custo, o que potencializa novas aes. Para tanto, a atuao intersetorial indispensvel. Assim, para oferecer Educao Integral

    Educao Integral exige que governantes cooperem.

    Para tanto, dois conceitos podem contribuir para o entendimento da atual proposta de Educao Integral: intersetorialidade e governana. Para haver intersetorialida-de, segundo SPOSATI (2006), preciso, primeiro, haver setorialidade: Educao, Sade, Cultura, Esportes, Desenvolvimen-to Social tm valor em si mesmos, o que no descaracteriza as reas integradas. A setorialidade tem-se apresentado como elemento de poder na disputa por recursos e espaos para a construo de polticas pblicas especficas e eficientes. Para o debate acerca da Educao Integral, do ponto de vista das aes preconizadas

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 29

    Em cidades onde os Conselhos dos Direitos da Criana e do Adolescente funcionam bem, uma das condies da intersetorialidade est garantida, j que o Conselho composto, de forma paritria, por representantes de todas as

    secretarias municipais e por represen-tantes eleitos pela comunidade. Nesse espao as diretrizes das polticas pbli-cas so definidas e as aes das polticas sociais em favor das crianas, adoles-centes e jovens podem ser coordenadas.

    ser preciso, por exemplo, que as Secreta-rias da Sade, da Cultura, da Assistncia Social e outras se unam para definir o que podem fazer para melhorar a qualidade da Educao na cidade. Isso pode acontecer seja oferecendo as condies bsicas para uma aprendizagem bem-sucedida (como providncias para sanar problemas de viso e audio, ou para evitar que os pais usem os filhos como fonte de renda), seja ampliando o leque de oportunidades de aprendizagem, com a abertura s escolas

    de cinemas e teatros, alm de clubes para a prtica de esportes. As lideranas sociais devero participar, ajudando e cobrando do Estado essa atuao intersetorial.

    Consequncias para a escola A escola passa a se ver como parte de uma rede de organizaes que cooperam com ela na formao integral de crianas, adolescentes e jovens, e com as quais pode contar sempre que necessrio.

    Exemplos que fazem pensarVeja tambm o exemplo de Palmas, Tocantins, pgina 22

    os bons Conselhos

    agora com voc

    Na sua cidade, as secretarias de Educao, Sade, Cultura, Esportes, Meio Ambiente, etc. conversam umas com as outras, ou cada uma cuida apenas do seu setor?

  • 30 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    1.8 Humanizar Polticas Sociais e Educacionais

    Polticas sociais so conjuntos de aes desenvolvidas pelo Estado para realizar os direitos que a lei assegura a todos os cidados educao, sade, ao espor-te, ao trabalho, habitao, segurana, segurana alimentar, ao transporte, informao e a todos os demais direitos. Essas polticas ampliam a liberdade das pes-soas, que podem agir conforme o prprio arbtrio, dada a presena de mecanismos de justia e correo de desigualdades do Estado de Direito. O Estado brasileiro vem desenvolvendo polticas redistributivas no combate pobreza, mas so as polticas educacionais as mais importantes quando se deseja romper o ciclo de pobreza e de destruio ambiental. Uma educao de qualidade, integral e em tempo integral possibilita aos cidados compreenderem as causas das injustias sociais, das discri-minaes e das consequncias do consu-mismo desenfreado e desenvolverem as competncias necessrias para transformar essa realidade.Tornar realidade a Educao Integral, com intersetorialidade e governana, huma-nizar as polticas sociais e educacionais, colocando no centro o ser humano e, em

    especial, as crianas, os adolescentes, os jovens e seus educadores.

    Consequncias para os governantes e lideranas sociaisEntender que o desafio da Educao hoje realizar seu compromisso tico com a inclu-so social. Para isso, devem promover ar-ticulaes e convivncias entre programas e servios pblicos, expandindo as aes educativas para alm da escola, ao mesmo tempo em que d centralidade educao e a seus profissionais, que so os principais articuladores dessas aes.

    Consequncias para a escola A clareza sobre a funo social da escola faz com que melhore o autoconceito dos educa-dores, como os principais responsveis pelo elemento chave da ampliao e garantia dos demais direitos humanos e sociais, ao mesmo tempo em que se conscientizam de que devem atuar em cooperao com outros agentes educativos em presena no territrio.

    Educao Integral traz o ser humano para o centro das polticas pblicas .

    Veja o exemplo de Olinda, Pernambuco, pgina 13

    agora com vocComo as polticas pblicas sociais e educacionais se articulam para atender s crianas, adolescentes e jovens em sua cidade?

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 31

    1.9 Fazer a Educao Integral correr nas veias da escola: o Projeto Poltico Pedaggico (PPP)

    O PPP reflete um consenso quanto aos va-lores que uma escola pretende disseminar, ao tipo de cidado que pretende formar, aos objetivos e metas educacionais que pretende alcanar, por meio de quais me-todologias, contando com quais recursos e com quais aliados. Tal consenso geral-mente construdo em reunies realizadas no incio do ano letivo, com a participao de todos os professores, gestores e funcio-nrios, bem como dos representantes dos alunos, dos familiares e das organizaes e movimentos que apiam a escola. Essas reunies de planejamento baseiam-se em um diagnstico que levanta os principais desafios a serem enfrentados pela escola e as foras com que ela pode contar.A escola participa da comunidade de aprendizagem (ver p. 12) mais ampla da qual fazem parte outras agncias educativas da cidade e as organizaes governamentais responsveis por garantir o atendimento integral a crianas, adolescentes e jovens. Para que a Educao Integral entre na corrente sangunea da escola, a comuni-dade de aprendizagem deve ser envolvida nas reunies de planejamento das quais resulta o PPP. No apenas o conselho es-colar e o grmio estudantil devem estar presentes, mas tambm representantes das Secretarias de governo responsveis pelas polticas sociais que viabilizam as polticas educacionais, das associaes de pais, de moradores e de outros grupos constitudos na comunidade que queiram participar, solidariamente, do projeto escolar. Pode ser convidado tambm um amplo leque de representantes de conselhos de idosos, de movimentos negros, ambientais, artsticos, de mulheres e outros e de instituies como Fundaes e Universidades. No que concerne a um projeto de Educao

    Integral, o Projeto Poltico Pedaggico, pensado sob a lgica da vivncia demo-crtica, deve reunir sujeitos diversos, agre-gando valores socioculturais significativos formao completa do aluno. O encontro de diferenas e de diferentes conduz a di-logos, que so experincias comunicativas indispensveis a uma educao que se quer integral e integradora. E assim torna-se possvel articular atividades de aprendiza-gem na escola e fora dela, construindo um currculo significativo (ver p. 15).

    Fazer Educao Integral deve ser uma escolha livre e consciente da comunidade de aprendizagem.

    Contextualizado nos objetivos e metas gerais que caracterizam uma atuao sis-tmica, articulada, o projeto pedaggico deve preocupar-se com o planejamento das atividades cotidianas da escola. Deve prever as possibilidades de interao com a comu-nidade e com a cidade por meio de visitas a museus, parques, zonas de baixa renda da periferia das regies metropolitanas, bem como zonas centrais e bairros de alta renda, autodenominados, reveladoramente, nobres. Quando possvel, o planejamento deve incluir tambm comunidades ind-

  • 32 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    genas e quilombolas. A participao de colaboradores da comunidade em que est inserida a escola em atividades pedaggi-cas extraclasse deve ser estimulada, sob a superviso dos profissionais da educao. Outros aspectos importantes referem-se: 1) definio dos critrios para avaliao sistemtica do planejado e do realizado; 2) previso da formao continuada dos educadores e, enfim, 3) a tudo aquilo que diz respeito promoo do aprendizado e bem-estar dos atores escolares.

    Consequncias para os governantes e lideranas sociaisA escolha de diretores e coordenadores pe-daggicos por critrios tcnicos essencial, pois esses profissionais lideram o complexo processo de mobilizao, articulao, de-bate de ideias, deciso e planejamento, que resulta no PPP de cada escola.

    Consequncias para a escola O Projeto Poltico Pedaggico tem por princpio superar a recorrente diviso so-cial do trabalho e as prticas autoritrias frequentemente existentes na escola. Nesse sentido, cabe s direes potencializar a participao social.

    A necessria construo de projetos pol-tico pedaggicos requer estratgia de mo-bilizao, para que os processos educativos sejam pensados por meio da construo de redes socioeducativas, a partir da re-lao de dilogo aberto entre a escola e a comunidade. Nesses projetos, a escola tem o papel de sede e centro, mas o fluxo de saberes vai alm, em busca de valores, conhecimentos, experincias e recursos disponveis localmente: nas universidades, em instituies de educao no-formal, nas escolas tcnicas, nas empresas, nas ONGs, nos movimentos sociais e nas pessoas, em geral.

    Exemplos que fazem pensar

    a escola que se refez

    SensibilizaoA Equipe do Mais Educao da SME su-geriu diretora que reunisse o conselho escolar, apresentasse o Programa e bus-casse solues. Ela fez mais. Promoveu um grande encontro entre funcionrios, professores, alunos, famlias e pessoas da comunidade. Falou do baixo IDEB, do quanto a escola estava perdendo e de como o Mais Educao poderia me-lhorar a qualidade da educao. Juntos, discutiram que atividades deveriam ser escolhidas na ampliao da jornada e que espaos do entorno do galpo onde funcionava a escola poderiam ser aproveitados para realiz-las. Uma educadora da escola foi indicada para ser a professora comunitria, por sua capacidade de articulao com todos da escola e com a comunidade.

    Quando, em 2008, a escola Nicodemos Neves, de Joo Pessoa, Paraba, foi convidada pela Secretaria Municipal de Educao - SME a participar do Programa Mais Educao, a reao da diretora, professora Maria do Carmo Rabelo Lima, foi de alegria e apreen-so. que o prdio da escola havia sido interditado por problemas estruturais e passava por uma ampla reforma. Alu-nos e professores compartilhavam um galpo dividido por placas de madeira, sem nenhum espao externo, cantina ou ptio e localizado bem longe da comu-nidade atendida. O IDEB estava muito baixo e os pais solicitavam transferncia dos filhos para escolas mais prximas e com melhor estrutura. Com matrcula em queda, a escola contava com 370 alunos apenas.

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 33

    O mais importante, naquele momento, foi a sensibilizao da comunidade escolar para o novo: a proposta de Educao Integral. Foram inscritos 175 alunos, nmero mximo que os espaos arranjados poderiam abrigar. Em seguida, estudantes de universida-des inscreveram-se para participar do Programa como monitores, apresen-tando planos de trabalho. A professora comunitria promoveu, ento, um planejamento com o corpo docente para discutir esses planos e juntos de-cidir quais deles melhor atenderiam s demandas e dificuldades da escola. Escolhidos os monitores, organizou-se um novo encontro entre eles, os profes-sores e outras pessoas interessadas, para planejamento em conjunto.

    SuperaoAs maiores dificuldades, no incio, foram a falta de banheiros, principal-mente, e a falta de espao interno para promover o almoo e para os alunos descansarem no intervalo das 12h s 13h. Outro ponto difcil foi priorizar o pblico inscrito, pois todos os alunos queriam participar das atividades.Mas logo a reforma do prdio da escola foi concluda. Espaos foram adequados rotina do Mais Educao. Cresceu o envolvimento de toda a comunidade escolar nas atividades, bem como o en-tusiasmo dos alunos com a nova forma de educao. Com isso a procura por matrcula cresceu dramaticamente de um ano para outro. De 370 em 2008, passou-se para 1.000 alunos em 2009. Infelizmente, nem todos podem par-ticipar do Programa como desejariam, pela falta de espaos na escola e no seu entorno. No exerccio de 2009, foram inscritos 275 alunos.Diante das mudanas provocadas pela dinmica do Programa, durante um dos planejamentos, j em 2009, a comunida-

    de escolar decidiu que estava na hora de atualizar o Projeto Poltico Pedaggico da escola. O processo ainda est em andamento, mas tem a participao de funcionrios, direo, professores, pais de alunos, alunos, pessoas da comunida-de. Todos opinam, avaliam e planejam, fato indito naquela unidade de ensino.

    Projetos Atualmente, os monitores planejam semanalmente com as professoras co-munitrias e tambm participam do planejamento da escola, que acontece uma vez por ms. Essa reunio, com durao de oito horas, conta com a par-ticipao de todos os atores da escola. Para atender aos pedidos dos alunos que no participam do Programa, a comunidade escolar elegeu o trabalho com projetos. O tema, comum para todos, sugerido na reunio geral de planejamento, desenvolvido durante um ms pelos estudantes, de acordo com sua idade e competncia, envolvendo pais e pessoas da comunidade. Os resultados so apresentados pelos alunos em uma culminncia para toda a comunidade escolar.

    Essa nova abordagem fez com que os alunos melhorassem consideravelmen-te em disciplina e principalmente em aprendizado. O IDEB da escola passou de 2,5 em 2007 para 3,8 em 2009. evidente o avano da escola em todos os sentidos. Os depoimentos sobre o assunto so emocionantes, a integrao de todos os atores contagiante, o pro-cesso de avaliao das aes contnuo e provoca mudanas importantes no processo educativo. O que aprendido em sala de aula aproxima-se cada vez mais do que aprendido nos demais espaos educativos, no cotidiano dos alunos. Oficinas como a de Letramento tm trazido os saberes dos alunos e de sua comunidade para a escola, possibi-

  • 34 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    litando a troca de conhecimentos e enri-quecendo os projetos ali desenvolvidos.Ainda h muito a fazer. O desejo que, num futuro prximo, todos os alunos da escola participem do Programa Mais Educao e que a Educao Integral seja efetivada como poltica pblica em todo o pas. Afinal, todas as crianas, adolescentes e jovens tm direito a uma

    educao de qualidade, em que cada in-divduo possa desenvolver plenamente suas capacidades e a escola assuma o seu papel transformador.

    Por Aparecida de Ftima Ucha, coor-denadora do Mais Educao no Estado da Paraba Contato: [email protected]

    agora com vocVoc j participou da elaborao do PPP de uma escola? Como foi o processo?

  • Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada . 35

    1.10 Pensar o territrio e criar territorialidade

    Fazer Educao Integral tornar o territrio a plataforma de uma vida mais plena.

    As coisas acontecem em um determinado lugar: a escola. Esta, por sua vez, no est num espao qualquer: ela faz parte de uma comunidade, em um bairro, que se articula com outros para compor uma cidade. A este lugar, onde se encontra a escola, cha-mamos territrio, o lugar onde as pessoas vivem e agem.

    nesse territrio que ns estabelecemos laos que definem as relaes de trabalho, a convivncia com outras pessoas, cons-trumos teias que envolvem elementos simblicos, de tica, de moral, de compor-tamento, de cultura, de conceitos estticos, formando um conjunto que revela o sen-tido do que significa viver em sociedade. Pertencemos a um territrio, o guardamos, o habitamos e nos impregnamos dele para realizar-nos como indivduos, como seres sociais, como coletividade.

    Territorializar polticas pblicas buscar solues locais, articulando as iniciativas de diferentes setores pblicos e desper-tando as foras positivas que existem no territrio. Dentre essas foras, est a da escola, com seus estudantes, famlias e educadores. Expandindo e qualificando tempos e espaos de aprendizagem, a Educao Integral cria sustentabilidade, definida por BRANDO como uma nova maneira igualitria, livre, justa, inclusiva e solidria de as pessoas se unirem para contrurem os seus modos de vida social, ao mesmo tempo em que lidam, manejam ou transformam sustentavelmente os ambien-tes sociais onde vivem e de que dependem para viver e conviver. (2008, p. 136)

    Consequncias para os governantes e lideranas sociaisPensar as polticas pblicas em termos de territrios e das dinmicas que os susten-tam substituir a disputa poltica menor pela colaborao em prol de um bem maior, o interesse coletivo, dando respostas integradas aos problemas que os cidados e cidads enfrentam.

    (ILUSTRAO)

    Consequncias para a escola A escola precisa conhecer o territrio no qual se situa e de que faz parte, e perceber que ela tambm , em si mesma, um ter-ritrio apropriado por diferentes grupos e interpretado de diferentes formas. Isto pode gerar tenses e conflitos, que devemos aprender a administrar, transformando-os em oportunidades de crescimento e em dilogos enriquecedores.

  • 36 . Caminhos para elaborar uma proposta de eduCao integral em Jornada ampliada

    A Escola Municipal Nazar Dourado serve comunidade de bairros pobres da cidade de Rio Branco, estado do Acre: Xavier Maia, Wanderley Dantas, Alto Alegre, Apolnio Sales e Placas. um territrio que ainda oferece poucas oportunidades de lazer e diverso aos seus moradores, em sua maioria fam-lias de baixa renda e onde a minoria de classe mdia tambm sofre com muitos problemas sociais.A escola tem matriculados 546 alunos. Destes, 150 so atendidos pelo Progra-ma Mais Educao, que trouxe a possi-bilidade de melhorar a qualidade do en-sino, proporcionar aos alunos cujos pais trabalham fora, e no tm com quem ficar, uma educao em tempo integral e tambm reforar a aprendizagem da-queles que tm alguma dificuldade. Sua implantao na escola exigiu enfrentar grandes desafios. Faltava lugar na escola para acolher ao mesmo tempo os alunos do turno regular e os do Mais Educao e os espaos comunitrios eram tam-bm escassos. Em alguns momentos, faltaram monitores capacitados para a realizao das oficinas.

    Conquistas Mas problemas existem para serem su-perados. Em parceria com a Secretaria Municipal de Educao, foi construdo um espao (um chapu de telhas) para a realizao de atividades. A Secretaria tambm adquiriu um nibus adaptado, para atender s crianas nas visitas e atividades realizadas fora da escola.Os resultados j alcanados so promis-sores. O Mais Educao tem ajudado

    Exemplos que fazem pensar

    mais oportunidades e mais alegriapara crianas socialmente vulnerveis

    a escola a proporcionar a muitos dos alunos uma melhor aprendizagem, alm de mais alegria e integrao na convi-vncia social com a famlia, a escola e a comunidade. A ampliao do tempo de permanncia na escola expande o bem-estar das crianas e atende a um conjunto de necessidades relativas