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112 4 A Escola Esperança Neste capítulo, buscamos contextualizar a Escola Esperança no que se refere à sua localização geográfica, sua história, à composição social da sua clientela e suas características físicas, administrativas e pedagógicas. Para tanto, subdividimos este texto em três seções. Na primeira, abordamos as questões relativas à localização da Escola Esperança e caracterizamos a região e o bairro onde está situada. Situamos, além disso, a escola no contexto dos demais estabelecimentos de ensino participantes do Projeto GERES, na cidade do Rio de Janeiro. Na seção seguinte, buscamos trazer informações a respeito da clientela da Escola Esperança, as localidades onde as crianças moram, bem como dados a respeito da composição socioeconômica da instituição. Por último, a terceira seção foi dividida em três subseções a fim de caracterizarmos a escola no que tange aos aspectos: i) físicos, mais relacionados à infraestrutura do prédio, à segurança e à adequabilidade de suas instalações; ii) administrativos, na qual situamos a escola no âmbito da Secretaria Municipal de Educação, informamos a Coordenadoria Regional de Educação (CRE) à qual pertence, assim como os níveis de ensino oferecidos, os períodos de funcionamento da instituição e total de alunos matriculados no ano em que nossa pesquisa de campo foi realizada; e iii) pedagógicos. É importante destacar que as informações contidas nesse capítulo foram obtidas por meio de observação e, principalmente, das entrevistas realizadas com Sônia, coordenadora da instituição no ano de 2010, e com a professora Maria Eduarda, responsável pela sala de leitura. Ambas as educadoras trabalham na escola durante muitos anos e acompanham o desenvolvimento da instituição.

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4 A Escola Esperança

Neste capítulo, buscamos contextualizar a Escola Esperança no que se refere

à sua localização geográfica, sua história, à composição social da sua clientela e

suas características físicas, administrativas e pedagógicas.

Para tanto, subdividimos este texto em três seções.

Na primeira, abordamos as questões relativas à localização da Escola

Esperança e caracterizamos a região e o bairro onde está situada. Situamos, além

disso, a escola no contexto dos demais estabelecimentos de ensino participantes

do Projeto GERES, na cidade do Rio de Janeiro.

Na seção seguinte, buscamos trazer informações a respeito da clientela da

Escola Esperança, as localidades onde as crianças moram, bem como dados a

respeito da composição socioeconômica da instituição.

Por último, a terceira seção foi dividida em três subseções a fim de

caracterizarmos a escola no que tange aos aspectos: i) físicos, mais relacionados à

infraestrutura do prédio, à segurança e à adequabilidade de suas instalações; ii)

administrativos, na qual situamos a escola no âmbito da Secretaria Municipal de

Educação, informamos a Coordenadoria Regional de Educação (CRE) à qual

pertence, assim como os níveis de ensino oferecidos, os períodos de

funcionamento da instituição e total de alunos matriculados no ano em que nossa

pesquisa de campo foi realizada; e iii) pedagógicos.

É importante destacar que as informações contidas nesse capítulo foram

obtidas por meio de observação e, principalmente, das entrevistas realizadas com

Sônia, coordenadora da instituição no ano de 2010, e com a professora Maria

Eduarda, responsável pela sala de leitura. Ambas as educadoras trabalham na

escola durante muitos anos e acompanham o desenvolvimento da instituição.

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4.1. Situando a Escola Esperança

A Escola Esperança encontra-se na cidade do Rio de Janeiro, mais

especificamente no Méier, bairro situado na região denominada Grande Méier, no

subúrbio da Zona norte do Rio de Janeiro, divisa com outros bairros como

Abolição, Água Santa, Cachambi, Encantado, Engenho de Dentro, Engenho

Novo, Jacaré, Lins de Vasconcelos e Todos os Santos.

Figura 1 Localização do bairro Méier no Rio de Janeiro

Fonte: http://portalgeo.rio.rj.gov.br

No ano de 2010, a população do bairro chegou a 49.828, distribuída em uma

área total de 247,09 hectares63. Há algumas décadas, a composição social do

Méier era basicamente de classe média, no entanto, nos últimos anos, a

desigualdade social tem sido uma característica facilmente observada no local. É

possível visualizar inúmeras moradias de classe média, ao mesmo tempo em que

há diversas comunidades de baixa renda, a exemplo da favela do Jacarezinho, uma

das mais perigosas da cidade, do Morro São João, do Morro Quieto, e da favela do

Gambá, além daquelas comunidades pertencentes ao Complexo do Lins.

63 Informações disponíveis em http://portalgeo.rio.rj.gov.br/sabren/index.html.

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O Méier recebe diariamente um intenso fluxo de pedestres, devido ao fato

de ser considerado um dos principais

Cruz é um dos pontos de referência do bairro e nela está c

diversificado comércio da região. O bairro conta

transporte, como diferentes linhas de ônibus,

acesso a outras áreas da cidade.

Até 201064, o Méier contava com sete u

incluindo a Escola Esperança, dentre as quais quatro disponibilizavam vagas em

turmas de séries iniciais e sete em turmas das séries do ensino fundamental. No

bairro existem também inúmeros outros

privada, além de faculdades e cursos de

A Figura 2 representa o mapa da cidade do Rio de Janeiro, onde estão

apontadas as instituições participantes Projeto GERES. Nela, podemos situar a

Escola Esperança.

Localização geográfica da Escola Esperança em relação às demais instituições da rede municipal do Rio de Janeiro participantes do Projeto GERES

Fonte: GERES, 2006.

64 Informações disponíveis em http://portalgeo.rio.rj.gov.br/sabren/index.html

O Méier recebe diariamente um intenso fluxo de pedestres, devido ao fato

de ser considerado um dos principais polos econômicos da cidade. A Rua Dias da

Cruz é um dos pontos de referência do bairro e nela está concentrado o amplo e

diversificado comércio da região. O bairro conta com uma farta gama de meios de

diferentes linhas de ônibus, vans, trens e táxis, o que facilita o

a outras áreas da cidade.

, o Méier contava com sete unidades escolares da rede municipal,

incluindo a Escola Esperança, dentre as quais quatro disponibilizavam vagas em

turmas de séries iniciais e sete em turmas das séries do ensino fundamental. No

também inúmeros outros estabelecimentos de ensino da rede

privada, além de faculdades e cursos de idiomas e capacitação profissional.

A Figura 2 representa o mapa da cidade do Rio de Janeiro, onde estão

apontadas as instituições participantes Projeto GERES. Nela, podemos situar a

Figura 2 Localização geográfica da Escola Esperança em relação às demais instituições da rede municipal

do Rio de Janeiro participantes do Projeto GERES

Informações disponíveis em http://portalgeo.rio.rj.gov.br/sabren/index.html

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O Méier recebe diariamente um intenso fluxo de pedestres, devido ao fato

econômicos da cidade. A Rua Dias da

oncentrado o amplo e

com uma farta gama de meios de

o que facilita o

nidades escolares da rede municipal,

incluindo a Escola Esperança, dentre as quais quatro disponibilizavam vagas em

turmas de séries iniciais e sete em turmas das séries do ensino fundamental. No

sino da rede

idiomas e capacitação profissional.

A Figura 2 representa o mapa da cidade do Rio de Janeiro, onde estão

apontadas as instituições participantes Projeto GERES. Nela, podemos situar a

Localização geográfica da Escola Esperança em relação às demais instituições da rede municipal

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Na Figura 3, podemos visualizar a localização da Escola Esperança no

contexto do bairro Méier. Conforme se pode observar, o

ensino se encontra próximo à Rua Dias da Cruz, uma das mais movimentadas da

região.

Localização da Escola A no bairro Méier

Fonte: http://maps.google.com.br/

A escola pertence à Terceira Coordenadoria Regional de Educação. A 3ª

CRE compreende as regiões administrativas do Complexo do Alemão, de

Inhaúma, do Jacarezinho e do Méier.

Municipal de Educação do Rio de Janeiro

responsável por administrar cento e vinte e quatro escolas, incluindo as unidades

educacionais que oferecem séries da Educação Infantil e do Ensino F

4.2. Quem são os alunos da Escola Esperança?

Conforme vimos no capítulo anterior, a Escola Esperança se encontra entre

as instituições da rede municipal cuja faixa de nível socioeconômico foi

65 Informações disponíveis em http://www.rio.rj.gov.br/web/sme

Na Figura 3, podemos visualizar a localização da Escola Esperança no

contexto do bairro Méier. Conforme se pode observar, o estabelecimento

ensino se encontra próximo à Rua Dias da Cruz, uma das mais movimentadas da

Figura 3 Localização da Escola A no bairro Méier

http://maps.google.com.br/

A escola pertence à Terceira Coordenadoria Regional de Educação. A 3ª

CRE compreende as regiões administrativas do Complexo do Alemão, de

Inhaúma, do Jacarezinho e do Méier. De acordo com os dados da Secretaria

Municipal de Educação do Rio de Janeiro65, a referida coordenadoria é

responsável por administrar cento e vinte e quatro escolas, incluindo as unidades

educacionais que oferecem séries da Educação Infantil e do Ensino Fundamental.

Quem são os alunos da Escola Esperança?

Conforme vimos no capítulo anterior, a Escola Esperança se encontra entre

as instituições da rede municipal cuja faixa de nível socioeconômico foi

http://www.rio.rj.gov.br/web/sme.

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Na Figura 3, podemos visualizar a localização da Escola Esperança no

estabelecimento de

ensino se encontra próximo à Rua Dias da Cruz, uma das mais movimentadas da

A escola pertence à Terceira Coordenadoria Regional de Educação. A 3ª

CRE compreende as regiões administrativas do Complexo do Alemão, de

De acordo com os dados da Secretaria

, a referida coordenadoria é

responsável por administrar cento e vinte e quatro escolas, incluindo as unidades

undamental.

Conforme vimos no capítulo anterior, a Escola Esperança se encontra entre

as instituições da rede municipal cuja faixa de nível socioeconômico foi

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classificado como baixo na Pesquisa Geres. Isto significa dizer que os alunos

atendidos pela escola pertencem, de maneira geral, a famílias cujos pais possuem

menores graus de escolaridade e possuem renda familiar inferior quando

comparados a estudantes de outras escolas da mesma rede de ensino ou de outras

redes, como a estadual, privada e federal66.

De acordo com a diretora e as coordenadoras da Escola Esperança, embora a

instituição esteja situada, conforme vimos na Figura 3, no ‘coração’ do bairro e

relativamente afastada de comunidades, sua clientela é constituída, basicamente,

por crianças advindas das comunidades carentes pertencentes, principalmente, ao

Complexo do Lins, como Cachoeirinha, Cotia, Árvore Seca, Bacia, Encontro,

Amor, Cachoeira Grande, Nossa Senhora da Guia, Francisca, Barro Preto e Barro

Vermelho. O Complexo do Lins fica situado no bairro denominado Lins de

Vasconcelos, nas proximidades do Méier, como podemos observar na Figura 4. Já

na Figura 5 podemos visualizar a localização geográfica das comunidades do

Complexo do Lins no contexto da região.

Figura 4 Localização do Bairro Lins na Cidade do Rio de Janeiro

Fonte: http://portalgeo.rio.rj.gov.br

66 Ainda que escola esteja situada na faixa de NSE baixo, deve-se considerar a existência de alunos cuja composição social seja diferente, pois essa classificação parte da média de NSE dos estudantes.

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Figura 5 Localização das Comunidades do Complexo do Lins

Fonte: http://portalgeo.rio.rj.gov.br

Ainda que as comunidades citadas estejam integradas, se configurando

como um complexo, este deve ser tratado como um contexto plural, onde cada

uma possui peculiaridades, modos de ‘funcionamento’ distintos e populações

diferenciadas.

No entanto, um ponto comum a todas elas é a forte influência do tráfico de

drogas na vida dos moradores e os altos índices de violência.

No primeiro dia de incursão ao campo, no mês de novembro de 2010, ao

chegar à Escola Esperança, ficamos aguardando na secretaria até sermos

recepcionados pela coordenadora. Estávamos sentados em uma mesa, junto de três

crianças que haviam sido deixadas ali pelo seu professor durante o recreio, por

terem adotado algum comportamento inadequado.

O pequeno grupo, composto por dois meninos e uma menina com cerca de

10 anos de idade, conversava sobre computadores portáteis, quando um deles

disse que havia encontrado um laptop no ônibus. Curiosos, perguntamos se o

menino havia devolvido o computador, e ele negou, complementando que possuía

mais um daqueles em casa, comprado pelo seu pai, na ‘boca’, por apenas

cinquenta reais. Sem compreender imediatamente, perguntamos se se tratavam de

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laptops de brinquedo, e mais uma vez o menino negou, explicando-nos que no

‘movimento’ presente no lugar onde mora, são vendidos diversos objetos mais

‘em conta’ do que nas lojas. As demais crianças não demonstraram sinais de

perplexidade ao ouvir o relato do menino, o que me fez perceber que, de certo

modo, assuntos relativos ao tráfico de drogas fazem parte, de fato, do cotidiano

daquele grupo de crianças. Algumas delas, a exemplo do menino, que disse ser

filho de uma pessoa envolvida com tráfico de sua comunidade, parecem encarar a

questão com naturalidade, parecendo concebê-la de maneira positiva, ao falar

sobre as ‘vantagens’ de se comprar mercadorias na ‘boca’; outras pessoas,

mediante ameaças e regras às quais são submetidas ao residir em comunidades

dominadas pelo tráfico, optam por se omitir frente ao assunto – o que pode

justificar a atitude das outras crianças sentadas à mesa conosco, que se abstiveram

de dar continuidade à conversa ou até mesmo opinar sobre a suposta compra do

computador no ‘movimento’.

Ainda nessa oportunidade, o mesmo menino nos dirigiu uma série de

perguntas relacionadas a nossa idade, profissão, se dominávamos a língua inglesa,

se possuíamos família, onde morávamos, entre outras, até que percebeu que

portávamos um jornal, que trazia, entre as reportagens principais, o aumento do

número de veículos queimados nas ruas como represália de bandidos oriundos de

comunidades que estavam passando pelo processo de pacificação. Ao observar a

imagem que ilustrava a síntese da reportagem, a criança falou: “Ei, tia! Você sabia

que meu tio também coloca fogo nos carros?”.

Antes que pudéssemos responder ao menino, a coordenadora chegou,

liberando as crianças para voltar para suas respectivas salas de aula. Comentando

sobre a conversa que acabávamos de ter com os três alunos, ela nos disse que se

tratava de algo rotineiro para muitas das crianças da escola, visto que grande parte

delas é moradora de comunidades do entorno e presenciam cenas daquela natureza

quase que diariamente.

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4.3. Como a Escola Esperança se configura

4.3.1. Aspectos materiais

O prédio onde hoje funciona a instituição já pertenceu a outra escola no

passado. Até 1976, a estrutura pertencia à Escola Esperança67, e, no ano seguinte,

foi reinaugurada com o nome atual.

O outro estabelecimento de ensino ocupa, atualmente, o terreno ao lado da

Escola Esperança. No local, são atendidos alunos do segundo segmento do Ensino

Fundamental e do Ensino Médio. Por essa razão, é comum que, ao completarem o

primeiro ciclo de estudos na Escola Esperança, os alunos passem para aquela

escola. À noite, a escola compartilha seu espaço com um colégio da rede

estadual68.

A Escola funciona em um espaço amplo, cuja área é composta por dois

prédios, um principal e um anexo, dois pátios, um aberto e outro coberto e uma

quadra de esportes sem cobertura. O terreno é contornado por muros que, embora

não apresentem pichações, encontram-se deteriorados, conforme se pode ver na

Figura 3.

A entrada dos alunos acontece pela entrada do prédio principal e a saída das

turmas de Educação Infantil se dá por uma portaria construída na parte lateral da

instituição. Ambos os acessos permanecem fechados ao longo do dia e a

circulação pelas dependências é restrita aos pais autorizados, alunos e

funcionários.

67 Nome fictício utilizado para manter em sigilo ambas as instituições de ensino. 68 Por esse motivo, muitos professores da Escola Esperança optam por guardar seus materiais didático-pedagógicos, inclusive livros dos cantinhos de leitura, em armários trancados com cadeados, pois, caso contrário, podem ser danificados pelos alunos do turno da noite.

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Fachada do Prédio Principal da Escola Esperança

Fonte: http://maps.google.com.br/

Figura 6 Fachada do Prédio Principal da Escola Esperança

http://maps.google.com.br/

Figura 7 Porta de acesso ao prédio principal

da Escola Esperança

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Porta de acesso ao prédio principal

Esperança

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O prédio principal da escola possui dois pavimentos. No térreo, encontram

se cinco salas de aula, duas salas reservadas a atividades administrativas (uma, à

esquerda, é reservada à Escola Esperança e a outra, à direita, à secretaria do

colégio estadual que funciona à noite), um refeitório, uma cozinha e uma sala de

professores com sanitários reservados para os funcionários. No segundo

pavimento, há cinco salas de aula, um auditório, a sala de leitura e uma

dependência ao lado, onde funciona o Clube das Mães

O estabelecimento possui, ainda, uma estrutura anexa composta por dois

pavimentos. No térreo se localizam uma quadra aberta, um pátio coberto onde as

crianças brincam durante o recreio e banheiros para uso dos alunos. As salas de

aula, duas situadas no primeiro pavimento e cinco no segundo, são destinadas às

classes de Educação Infantil e de Educação Especial

No total, a Escola Esperança dispõe de 21 salas de aula, incluindo a sala de

leitura.

69 No capítulo seguinte serão especificadas as atividades desempenhadas nessa sala, no âmbito dos projetos de leitura desenvolvidos na Escola Esperança.70 A Escola Esperança atende crianças portadoras de necessidades educacionais especiais em classes específicas e em turmas regulares.

O prédio principal da escola possui dois pavimentos. No térreo, encontram

se cinco salas de aula, duas salas reservadas a atividades administrativas (uma, à

esquerda, é reservada à Escola Esperança e a outra, à direita, à secretaria do

funciona à noite), um refeitório, uma cozinha e uma sala de

professores com sanitários reservados para os funcionários. No segundo

pavimento, há cinco salas de aula, um auditório, a sala de leitura e uma

dependência ao lado, onde funciona o Clube das Mães Leitoras69.

possui, ainda, uma estrutura anexa composta por dois

pavimentos. No térreo se localizam uma quadra aberta, um pátio coberto onde as

crianças brincam durante o recreio e banheiros para uso dos alunos. As salas de

tuadas no primeiro pavimento e cinco no segundo, são destinadas às

classes de Educação Infantil e de Educação Especial70.

No total, a Escola Esperança dispõe de 21 salas de aula, incluindo a sala de

Figura 8 Pátio Interno da Escola Esperança

No capítulo seguinte serão especificadas as atividades desempenhadas nessa sala, no âmbito dos

projetos de leitura desenvolvidos na Escola Esperança. A Escola Esperança atende crianças portadoras de necessidades educacionais especiais em

classes específicas e em turmas regulares.

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O prédio principal da escola possui dois pavimentos. No térreo, encontram-

se cinco salas de aula, duas salas reservadas a atividades administrativas (uma, à

esquerda, é reservada à Escola Esperança e a outra, à direita, à secretaria do

funciona à noite), um refeitório, uma cozinha e uma sala de

professores com sanitários reservados para os funcionários. No segundo

pavimento, há cinco salas de aula, um auditório, a sala de leitura e uma

possui, ainda, uma estrutura anexa composta por dois

pavimentos. No térreo se localizam uma quadra aberta, um pátio coberto onde as

crianças brincam durante o recreio e banheiros para uso dos alunos. As salas de

tuadas no primeiro pavimento e cinco no segundo, são destinadas às

No total, a Escola Esperança dispõe de 21 salas de aula, incluindo a sala de

No capítulo seguinte serão especificadas as atividades desempenhadas nessa sala, no âmbito dos

A Escola Esperança atende crianças portadoras de necessidades educacionais especiais em

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De maneira geral, o estabelecimento possui instalações adequadas para o

bom funcionamento das atividades escolares, embora parte da pintura interna do

prédio, principalmente das salas de aula, necessite de reparo, conforme poderá ser

observado adiante, nos registros fotográficos disponibilizados no capítulo

seguinte.

4.3.2. Aspectos Administrativos

Até o ano 2000, a Escola Esperança atendia crianças desde a Educação

Infantil até a 8ª série, equivalente ao 9º ano de hoje. Atualmente, a instituição

atende estudantes da Educação Infantil ao 5° ano do primeiro segmento do Ensino

Fundamental, além de turmas de Educação Especial e de projetos do Programa de

Correção do Fluxo Escolar. No total, em 2010, havia 23 turmas.

A instituição funciona em regime parcial, ou seja, suas classes são divididas

entre os turnos da manhã e da tarde. De acordo com os dados divulgados pela

Secretaria Municipal de Educação, no ano de 2011, na Escola foram matriculados

459 estudantes71. Entre eles, 57 pertencem à Educação Infantil, 42 ao primeiro

ano (equivalente à Classe de Alfabetização), 49 ao segundo ano (ou 1ª série), 70

ao terceiro ano (equivalente à 2ª série), 104 ao quarto ano (ou 3ª série) e 74 ao

quinto ano (ou 4ª série). Os estudantes do 5º ano observados em nossa pesquisa

em 2011 foram alocados nas turmas 1501 e 1503, ambas no turno da manhã.

A Escola Esperança atende crianças portadoras de necessidades

educacionais especiais em dois tipos de classes: regulares e especiais. Nas classes

regulares, os alunos participam das aulas de rotina e são auxiliados, em outro

turno, por profissionais que os apoiam em relação a quaisquer dificuldades que

porventura apresentem. Foi o caso da turma 1501 observada em 2011, que tinha

como componente Igor72, um aluno surdo. Emília, a professora do referido grupo,

ministrava as aulas regulares para todos os alunos, buscando auxiliar Igor nas

tarefas. Uma das estratégias que a docente lançava mão era colocar Igor sentado

junto de um aluno com mais facilidade, para que um auxiliasse o outro. Embora a

71 Vale lembrar que, até o final do período da coleta dos dados no campo (mês de março DE 2011), a escola ainda estava realizando matrículas. Por esse motivo, o quantitativo de alunos poderia sofrer alterações até o final do primeiro bimestre. 72 Nome fictício a fim de preservar a identidade do estudante.

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professora não dominasse a Língua Brasileira de Sinais, se preocupava em

comunicar-se com o estudante, em se fazer entender por ele.

Igor recebia apoio escolar de uma professora na parte da tarde, e sua turma

tinha aulas de Língua Brasileira de Sinais com uma estagiária do Instituto

Nacional de Educação de Surdos – INES73 - na parte da manhã, uma vez por

semana. Tive a oportunidade de observar uma das aulas ministradas pela

estagiária do curso de Pedagogia, também surda, auxiliada por uma professora da

escola que atuou como intérprete. A aula teve a duração de cerca de uma hora,

começando com a apresentação do histórico de como o surdo vem sendo

reconhecido pela sociedade, principais personalidades surdas, demonstrando,

especialmente, maneiras como as crianças poderiam contornar as dificuldades da

comunicação com uma pessoa surda, sem discriminá-la ou deixá-la de lado nas

atividades do dia-a-dia. O clima era de descontração, todos os alunos participaram

e muitos já demonstravam conhecer algumas expressões e palavras em LIBRAS.

A professora Emília também participou da aula.

Alguns alunos eram matriculados em classes denominadas especiais, nas

quais todos apresentavam necessidades educacionais especiais. De acordo com

informações das professoras, os alunos dessas classes eram acompanhados

durante certo período, e alguns, após serem avaliados por uma equipe de

especialistas, eram integrados em turmas regulares, e recebiam, assim como Igor,

apoio escolar em outro turno.

As turmas dos projetos pertencentes ao Programa Reforço Escolar74

totalizaram dois em 2010 e apenas uma em 2011. No âmbito da Secretaria

Municipal de Educação do Rio de Janeiro, o Programa é composto por diversas

iniciativas que têm como objetivo principal a correção do fluxo escolar, focando

73 O INES é reconhecido, na estrutura do MEC, como Centro de Referência Nacional na Área da Surdez, exercendo os papéis de subsidiar a formulação de políticas públicas e de apoiar a sua implementação pelas esferas subnacionais de Governo. O instituto oferece o Ensino Básico no Colégio de Aplicação – CAp/INES, contemplando a Educação Precoce (de recém nascidos a três anos), as séries da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Atua, além disso, na formação e qualificação de profissionais na área da surdez, por meio da Educação Superior – Ensino de Graduação e Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão. Gerencia, também, a oferta do Curso de Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – em cinco módulos semestrais, para familiares de crianças surdas, professores em formação ou em atuação na rede pública e profissionais de recursos humanos de empresas públicas e privadas, e, em 2011, passou a realizar o Programa Nacional para Certificação de Proficiência em LIBRAS e para Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação de LIBRAS/Língua Portuguesa – PROLIBRAS. 74 Maiores informações sobre os projetos do Programa Reforço Escolar podem ser encontradas nos endereços eletrônicos http://senna.globo.com/institutoayrtonsenna e http://www.rio.rj.gov.br/web/sme/exibeconteudo?article-id=1374622.

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o atendimento aos alunos com defasagem idade/ano escolar, bem como aqueles

que ainda não foram alfabetizados. Dentre os projetos, destacam-se o Fórmula da

Vitória, destinado à alfabetização de alunos do 6° ano com defasagem idade/ano

escolar; o Autonomia Carioca, que consiste em oferecer reforço escolar em

Matemática, no contra turno, para alunos do 9° ano com baixo desempenho, assim

como aceleração de aprendizagem para alunos do 6º, 7º e 8º anos com defasagem

idade/ano escolar; o Acelera Brasil, que busca oportunizar classes de reforço

escolar para alunos do 3° e 4° anos com defasagem idade/ano escolar; o Se Liga,

que visa alfabetizar alunos matriculados no 3°, 4° e 5° anos com defasagem

idade/ano escolar; o Ponto de Partida, cuja finalidade é oferecer classes

destinadas à alfabetização de alunos do 6° ano; e o Tecendo o Saber, que tem por

finalidade desenvolver estratégias de aceleração de aprendizagem para alunos do

5° ano com defasagem idade/ano escolar.

Segundo a coordenadora Sônia, a Escola Esperança incorporou alguns dos

projetos supracitados, tais como o Acelera Brasil, o Tecendo Saber e o Autonomia

Carioca.

A equipe técnico-pedagógica da Escola Esperança, em 2011, era formada

por 34 professores regentes, uma diretora, uma adjunta e uma coordenadora

pedagógica. Dada a ênfase de nosso estudo no 5º ano do ensino fundamental,

convidamos a participar da pesquisa somente as professoras dessa série, além da

equipe de direção da escola. As professoras, além de concederem entrevista, nos

autorizaram a observar suas aulas.

A tabela abaixo sintetiza os perfis das profissionais participantes de nossa

pesquisa. É importante ressaltar que todas aquelas que informaram ter realizado

curso de Pós-graduação também eram formadas no Curso Normal e haviam

concluído a graduação em Pedagogia.

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Tabela 8 Síntese do Perfil dos Profissionais Participantes da Pesquisa75

Idade Tempo na rede

Municipal

Tempo na Escola

Esperança

Tempo na Função

Atual Formação Acadêmica

Diretora

Maria Eduarda 39 17 anos 8 anos 3 anos

• Curso Normal • Graduação em Pedagogia • Especialização em Administração Escolar • Pós-graduação em Docência no Ensino Superior

Coordenadora

Sônia 48 29 anos 19 anos 13 anos • Curso Normal

• Graduação em Letras

Coordenadora Fênix 51 8 anos 2 anos 3 meses76 • Curso Normal • Adicional • Graduação incompleta em Pedagogia

Professora da Sala de

Leitura

Maria Isabel

53 34 anos 29 anos 9 anos

• Curso Normal • Graduação em Pedagogia • Pós-graduação em Alfabetização de Jovens e Adultos • Aperfeiçoamento em Literatura Infantil

Professora Emília 54 30 anos 30 anos 30 anos

• Curso Normal • Adicional • Graduação em Pedagogia • Graduação em Biologia

Professora Luana 43 3 anos 3 meses 3 meses • Curso Normal • Graduação em Pedagogia • Pós-graduação em Psicopedagogia

75 Todos os nomes são fictícios e foram escolhidos pelos próprios sujeitos da pesquisa, exceto a coordenadora Sônia. 76 A Coordenadora também é professora de uma turma de alfabetização na parte da tarde.

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Como podemos verificar, a maioria das entrevistadas possuía um tempo

considerável de experiência na rede municipal, com exceção da Professora Luana,

que, na época, estava há três anos como docente no município.

Outro dado que merece atenção é o fato de que a maior parte das

participantes da pesquisa, além de estar há bastante tempo na rede municipal,

atuam há muitos anos na Escola Esperança, fator que pode favorecer o

fortalecimento da identidade da escola. Durante a observação, pudemos constatar

que pelo menos um terço do corpo docente trabalhava na instituição há pelo

menos cinco anos. A professora Emília e Maria Isabel, responsável pela Sala de

Leitura, as profissionais que se encontram há mais tempo na escola, se

aposentaram e continuaram a trabalhar.

Emília lecionou no ano de 2010 para uma turma de quinto ano, porém não

tivemos a oportunidade de acompanhar sua turma na ocasião, devido ao fato de a

professora ter se afastado para gozar uma licença denominada ‘TRE'77. Ela

lecionava na Escola Esperança nos anos em que ocorreram as ondas GERES, e

Emília foi professora de umas das turmas participantes do Projeto. Já Luana, que

até 2011 atuava como professora da rede particular no turno da tarde, também

participou do GERES, porém em uma das escolas privadas que constituíram a

amostra da pesquisa na cidade.

Sônia foi coordenadora no ano de 2010, mas, em 2011, saiu da escola após

treze anos na função, por ter sido convidada a assumir um cargo administrativo na

Secretaria Municipal de Educação da cidade. Quem passou a ocupar a

coordenação no ano de 2011 foi a professora Fênix.

Embora haja um grupo de professoras que permanece na Escola Esperança

por muitos anos, foi recorrente em nossas entrevistas a preocupação com a falta de

professores regentes.

O afastamento dos professores ocasiona uma série de transtornos à

organização do cronograma escolar. Maria Isabel relatou que o maior obstáculo

para a concretização e continuidade dos projetos de leitura na escola foi

justamente seu afastamento da sala de leitura para suprir a ausência de docentes:

“a falta de professores aqui na escola faz com que o trabalho seja sempre

interrompido. Com isso, fica mais difícil obter êxito...”, explica Maria Isabel.

77 Mais à frente falamos com maiores detalhes sobre os motivos dos afastamentos dos professores de sala de aula e contextualizamos a ‘licença TRE'.

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Nos dois períodos de observação da escola, tanto em 2010 quanto em 2011,

presenciamos momentos em que a professora Maria Isabel, da sala de leitura,

precisou ser desviada de sua função na escola para assumir alguma turma cujo

professor se encontrava ausente. Em 2010 o desfalque no quadro de docentes foi

tamanho que, na tentativa de contornar a situação, foi necessário que a diretora e a

coordenadora também assumissem turmas, deixando de cumprir, por isso, com

suas atribuições na coordenação, além de restringir os horários de atendimento aos

professores e familiares.

Muitas vezes, o coordenador perde o foco de sua função, devido a diferentes fatores, como falta de professores. A gente cria estratégias nesses casos... Primeiro redirecionamos a professora da sala de leitura para a sala de aula, mas tem momentos em que temos tantas faltas que eu e a diretora deixamos nossas funções temporariamente e assumimos turmas também. A escola acaba sendo cobrada, estatisticamente, sem considerar os nossos problemas... Este ano, por exemplo, fiquei três meses em turma, de fevereiro a junho, e no final do segundo semestre assumi turmas novamente! Eu acredito que, nesse ano, não dei conta do ‘pedagógico’ da escola como um todo... tenho só uma matrícula no município e não consegui ter tempo para as atividades da coordenação. Com isso, também fica difícil dar conta do PPP e das metas, bem como das avaliações externas, provas bimestrais da Secretaria, a Provinha Brasil, do 2º ano, Alfabetiza Rio, do 1ºano, duas vezes ao ano, Prova Rio, e ano que vem Prova Brasil, que medirá o IDEB da escola.

Coordenadora Sônia

As principais causas do afastamento dos professores, segundo as

entrevistadas, foram o excesso de profissionais afastados por problemas de saúde

e por estarem gozando uma licença chamada ‘TRE'.

Dos problemas de saúde destacados, encontram-se o estresse, as doenças

nas cordas vocais e a depressão, corroborando com pesquisas que tratam do mal-

estar docente (Gasparini et. al., 2005; Delcor et. al., 2004; Bastos, 2009).

As mesmas patologias foram registradas em uma pesquisa realizada com 10

professoras da cidade de Betim, em Minas Gerais. Bastos apresenta que, assim

como evidenciado nos relatos das professoras da Escola Esperança, as principais

doenças estavam relacionadas ao estresse, problemas com a voz e depressão (p.

88, 2009), somando-se a outros problemas como alergias e doenças respiratórias.

Em artigo publicado na Revista Educação e Pesquisa, Gasparini et. al.

(2005) indicam que as reais condições sob as quais são submetidos os

profissionais docentes no país vêm contribuindo para o desenvolvimento de

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diferentes doenças físicas e mentais na classe. Nessa direção, Assunção e Oliveira

(2009)78, apontam que os “efeitos negativos sobre a saúde dos docentes

decorreriam de fatores como a massificação da educação, a desregulação, a

redefinição de tarefas (...)” (p. 349).

Tendo em vista a gravidade dessa problemática e dos efeitos do afastamento

dos professores de suas salas de aula, seria interessante que novas pesquisas

buscassem investigar as causas e consequências das patologias da classe,

principalmente no contexto da cidade do Rio de Janeiro.

Outra razão para o afastamento de decentes relatado pelas entrevistadas na

Escola Esperança foi a licença denominada como ‘TRE'.

Segundo a explicação de Sônia, fazem jus ao benefício os funcionários

públicos municipais que, voluntariamente ou não, trabalham durante o período

eleitoral. De acordo com a coordenadora Sônia, como os professores da rede são

funcionários públicos municipais, passam a ter o direito à referida licença. A

respeito deste assunto, a coordenadora acrescenta que

(...) poucas foram as secretarias de educação que conseguiram se impor quanto a isso. Segundo a lei, todo funcionário público tem direito a trabalhar nas atividades burocráticas relacionadas às eleições, ficando à disposição do TRE, e depois do processo tiram licença, se afastando da turma durante o tempo em que trabalharam no tribunal.

Como o processo eleitoral ocorre durante o ano letivo, os professores se

afastam de suas atribuições na escola durante todo o tempo das eleições, inclusive

nos casos em que existe a necessidade de se realizar o segundo turno. O mais

grave é o fato de que cada dia de trabalho no TRE equivale a um dia folga a mais

quando o professor retorna às suas atividades escolares. Sendo assim, o professor

se ausenta duas vezes da turma: durante o processo eleitoral, quando fica à

disposição do Tribunal Regional Eleitoral, afastado da escola, e após o

encerramento das eleições, quando o docente, ao voltar à escola, escolhe os de sua

licença.

Além disso, mais de um professor na instituição pode, concomitantemente,

se voluntariar para o trabalho, gerando uma série de transtornos para o

desenvolvimento dos projetos da instituição de ensino:

78 Os autores citam Lantheaume (2007).

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As turmas ficam sem aula, pois, dependendo do número de professores que ficam a disposição do TRE, a escola não consegue desenvolver estratégia para suprir essas ausências. Nesse ano, [2010] as turmas de quinto ano foram as mais prejudicadas.

Coordenadora Sônia

Maria Isabel, professora que embora seja responsável pela sala de leitura e

pelas atividades de leitura que envolvem toda a escola e a comunidade, é uma das

primeiras a ser acionada para assumir uma turma em casos como os citados acima,

relata ser muito complicado dar continuidade aos projetos e manter a qualidade do

ensino tendo que lidar constantemente com essa situação. Segundo a docente, este

é um dos problemas mais sérios enfrentados pela escola atualmente.

Vale registrar que o problema do afastamento de professores foi uma das

razões pelas quais não conseguimos acompanhar as aulas das turmas do quinto

ano em 201079 e por termos decidido incluir na pesquisa somente as docentes que

ministraram aula no ano de 2011.

4.3.3. Aspectos Pedagógicos

Nesta subseção, trataremos de alguns aspectos relativos ao Projeto Político

Pedagógico da Escola Esperança80 e à abordagem pedagógica adotada pela

instituição segundo os sujeitos entrevistados.

Ao chegarmos pela primeira vez à Escola Esperança, no mês de novembro

de 201081 por volta das 7:30h, reparamos que ainda havia alguns alunos chegando

(o portão abre às 7:15h para entrada das crianças). Uma simpática senhora nos

recebeu e nos encaminhou à secretaria. Fomos orientados a aguardar para nos

79 Tivemos contato com uma das professoras do quinto ano em 2010, mas somente em meados de dezembro. Na ocasião a professora lecionou para alunos que precisavam realizar uma avaliação final, pelo fato de não terem alcançado a média para ingressar no sexto ano em 2012. Por esse motivo, optamos por não incluir os registros dessa única aula observada e dar prosseguimento à pesquisa em 2011. 80 O Projeto Político Pedagógico será abordado novamente no capítulo seguinte, quando estabelecemos relações entre o documento e o papel dos professores e da comunidade na tomada de decisões da escola. 81 É importante lembrar que o trabalho de campo foi iniciado somente em novembro devido às exigências feitas pela Secretaria de Educação para a liberação da pesquisa, fato esse citado no Capítulo destinado à metodologia empregada em nosso trabalho.

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apresentar à Sônia82, coordenadora da Escola Esperança há doze anos, mas que

passou a ocupar um cargo na Secretaria Municipal do Rio de Janeiro a partir do

ano seguinte, momento em que Fênix, professora regente de turmas de Educação

Infantil e Alfabetização, assumiu a função. Enquanto esperávamos, passeamos

pelo hall do prédio que, para nossa surpresa, estava repleto de murais, cartazes e

outros elementos que expunham produções de crianças versando sobre o tema

cultura africana (a partir das Figuras 7 e 8, presentes neste capítulo, na página 58,

podemos reconstruir a imagem do hall naquele dia). Além dos murais, havia bem

próximo ao portão principal de entrada no prédio, uma caixa contendo alguns

materiais de leitura, livros antigos, jornais e livros didáticos83. Quando folheava

um dos livros, recebemos a notícia de que Sônia já se encontrava disponível para

conversar comigo e me apresentar à escola. Explicamos brevemente o motivo da

nossa presença no estabelecimento de ensino, falamos um pouco sobre o GERES

e sobre a nossa pesquisa, especificamente. Como Sônia já era coordenadora na

época em que o Projeto GERES foi realizado, conhecia os principais pressupostos

e objetivos do trabalho. Especifiquei a abrangência da nossa investigação, o foco

nas atividades de Leitura, porém não deixamos claro nosso interesse em

identificar relações entre as culturas escolares e as culturas de referência dos

alunos, para que isto não influenciasse as entrevistas e observação das práticas na

instituição.

Após a conversa inicial, a coordenadora nos levou até as incumbências da

escola, contou um pouco da história do prédio, dos problemas que o

estabelecimento enfrentou há alguns anos devido aos alagamentos – no último

episódio, a sala de leitura e todo o segundo pavimento precisaram ser interditados

-, sobre as obras de reestruturação que aconteceram e sobre a organização das

turmas nas salas de aula. Contou que o período era de culminância do projeto

denominado "África: buscando minhas origens”, o que justificava a grande

quantidade de trabalhos em exposição. Nos pátios internos também havia murais,

cavaletes e outros suportes que expunham uma série de produções dos alunos.

Na ocasião, a coordenadora contou que a principal preocupação que a escola

tem no momento da escolha do assunto base do Projeto Político Pedagógico é o

82 Foram usados nomes fictícios com o objetivo de preservar a identidade dos sujeitos da pesquisa. 83 No Capítulo 5 abordaremos os projetos de leitura desenvolvidos na Escola Esperança, entre os quais se inclui a referida caixa de livros.

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impacto que ele exercerá na comunidade, o retorno social que o tema trará ao ser

trabalhado no âmbito escolar. Como exemplo, Sônia citou o primeiro PPP do qual

ela participou na Escola Esperança, no ano de 1998, que foi chamado Ser Gente,

Ser Consciente na Sociedade. Na época, a instituição vivenciava um momento de

transição, de mudança do perfil do alunado, pois em pouco tempo a escola

deixaria de oferecer o segundo segmento do Ensino Fundamental. Por essa razão,

o tema focou na conscientização dos estudantes adolescentes, que teriam que fazer

a escolha por uma nova escola. Também foi o momento em que a escola

enfrentou uma série de problemas estruturais, conforme comentado anteriormente;

vivia-se o drama dos alagamentos nos períodos de chuva, o que afetava o

cumprimento do calendário escolar e, consequentemente, comprometia a

qualidade do ensino. O PPP contribuiu, naquele contexto, para mobilizar pais e

alunos a lutar pela melhoria das condições da escola e pela qualidade do ensino.

Foram organizados protestos e toda a comunidade foi às ruas, fato que

sensibilizou as autoridades de ensino locais, que, mais tarde, resultou num

importante investimento na Escola Esperança. Sônia contou que a Sala de Leitura

é um dos frutos das grandes obras pelas quais a instituição passou.

Todo aquele movimento serviu de inspiração para o PPP do ano

subsequente, denominado Escola Esperança ontem, Escola Esperança hoje, cujas

atividades tiveram por base a história vivida como exemplo para o futuro.

De acordo com Ilma Veiga (2003), este movimento de aproximação com a

comunidade escolar para o delineamento de estratégias que visem a melhoria do

ensino e os rumos da instituição é componente fundamental para um Projeto

Político Pedagógico voltado para a inovação emancipatória. Para a autora, “a

legitimidade de um projeto político-pedagógico está estreitamente ligada ao grau e

ao tipo de participação de todos os envolvidos com o processo educativo, o que

requer continuidade de ações” (Idem, p.277).

Além disso, complementa que

(...) o projeto pedagógico é caracterizado como ação consciente e organizada. O projeto deve romper com o isolamento dos diferentes segmentos da instituição educativa e com a visão burocrática, atribuindo-lhes a capacidade de problematizar e compreender as questões postas pela prática pedagógica.

Ibidem, p. 279

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Em 2010, o Projeto Político Pedagógico, intitulado África: buscando minhas

origens, buscava desenvolver a consciência em torno da importância do negro na

sociedade brasileira, fazendo o link com a Copa do Mundo, sediada, na ocasião,

na África do Sul.

Já em 2011, o PPP se chamou Retratos do Brasil, e teve como proposta dar

continuidade aos trabalhos do ano anterior, enfocando a integração entre as

diferentes etnias do povo brasileiro.

A proposta, dessa forma se aproxima do Projeto Político Pedagógico situado

na ótica da inovação emancipatória abordado por Ilma Veiga (2003), pois o

mesmo

Está voltado para a inclusão a fim de atender a diversidade de alunos, sejam quais forem sua procedência social, necessidades e expectativas educacionais84; projeta-se em uma utopia cheia de incertezas ao comprometer-se com os desafios do tratamento das desigualdades educacionais e do êxito e fracasso escolar.

(Idem, p.276)

Ao analisarmos o PPP, percebemos que não apresentava o posicionamento

da instituição em termos de abordagem pedagógica na qual a escola se apoia. A

esse respeito, a diretora justifica, colocando-se contrária à ideia de se basear

somente em uma ‘linha pedagógica’:

Eu sou contra seguir uma linha pedagógica somente. Penso que cada professor deve optar pelas estratégias a serem seguidas de acordo com as características de cada turma. O importante é que a turma consiga caminhar... Além disso, acontece muitas vezes de o mesmo professor usar métodos diferentes no contexto de uma mesma turma, devido às diferenças existentes entre os alunos do grupo.

Maria Eduarda complementa, chamando atenção para a importância de se

levar em consideração as características dos alunos ao realizar a escolha pela

abordagem pedagógica a ser empregada:

No município, já vivenciamos a tentativa de uma espécie de “unificação” dos caminhos a serem percorridos pelos professores com suas turmas, mas é preciso perceber que as pessoas não são iguais! Por isso, não podemos trabalhar da mesma forma. É preciso que o professor faça um diagnóstico da turma para então definir suas estratégias.

84 A autora cita Carbonell, 2002.

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Quando indagada acerca da existência de uma linha pedagógica, a

coordenadora Fênix explicou que a escola procurava seguir as orientações da

Secretaria Municipal de Educação, mas que no interior da sala de aula, o professor

tinha autonomia para direcionar suas práticas:

Nós procuramos seguir as orientações que nos são passadas nas capacitações. Houve uma época em que se falava muito em construtivismo. Mas eu diria que, aqui, trabalhamos com métodos mais ecléticos, pois cada turma tem uma necessidade diferente. Temos professores que trabalham com cartilha, outros com a realidade do aluno, etc. Às vezes, na mesma turma, a gente trabalha com mais de um método de ensino! Também, nos últimos anos, a Coordenadoria Regional de Educação tem fornecido os Cadernos Pedagógicos. Eles são baseados na nossa grade curricular, mas não se trata de um conteúdo engessado. O professor trabalha aqueles cadernos de maneira mais autônoma.

Ao fazer o mesmo questionamento a Maria Isabel, a professora relatou

acreditar na existência de uma linha pedagógica na escola, no entanto voltada para

o desenvolvimento da autonomia dos alunos:

Sim, nós temos uma linha pedagógica aqui na Escola Esperança, no sentido de que nossas ações buscam a formação de hábitos, valores, atitudes, e, principalmente, conscientização dos alunos.

A professora Emília acrescenta à formação de valores o foco no

desenvolvimento de habilidades fundamentais para o acesso às oportunidades de

modo mais equânime na sociedade:

Aqui na escola seguimos uma linha com foco no desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita, pois, no mundo de hoje, é necessário que essas habilidades estejam consolidadas para que os alunos tenham alguma chance de crescer.

A professora Luana acredita, nesse contexto, que a instituição busca

“construir o conceito com o aluno (...) o município trabalha muito a partir do

concreto para construir um conceito, pois isso facilita a aprendizagem”,

aproximam-se de ideias construtivistas.

As diferentes respostas obtidas em relação à existência de uma possível

abordagem pedagógica nos levam a crer que a Escola Esperança assume

diferentes posicionamentos pedagógicos, a depender do contexto e dos grupos de

alunos que se constituem a cada ano, embora tenhamos percebido influências

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construtivistas e sociointeracionistas nas práticas e no próprio discurso dos

professores.

Ainda que em muitas escolas se evidencie uma ‘mescla’ entre as tendências

pedagógicas, entendemos ser necessário que as instituições tornem explícitas

concepções de mundo, de sociedade, de escola e do homem que se pretende

formar no âmbito de seu Projeto Político Pedagógico.

Conforme observamos no texto do PPP, a Escola Esperança não apresenta,

de fato, uma abordagem pedagógica, tampouco as concepções acima descritas.

Entretanto, a própria existência do documento, sua elaboração em conjunto com

os diferentes atores escolares e sua conexão com a realidade dos estudantes

evidenciam o esforço da Escola Esperança em direcionar seu trabalho em prol da

melhoria da qualidade do ensino.

Faz-se necessário ter consciência, contudo, que é preciso continuar a

caminhada. Como bem coloca Ilma Veiga (2003), a constituição do PPP, sob a

ótica da inovação emancipatória, passa por caminhos e descaminhos, acertos e

erros.

No próximo capítulo, analisamos os dados produzidos durante a pesquisa de

campo à luz dos referenciais teóricos apresentados no Capítulo 2, tomando como

ferramenta para organização dos materiais as categorias de análise listadas no

Capítulo 3.

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