37129547 historia do brasil ano 1500 vol 2

490

Upload: anapaula-melo-da-silva

Post on 04-Aug-2015

108 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

HISTORIA

BRAZIL

^OTA BENE As notas do Sr conego doutor J. C. Fernandes Pinheiro vo assignadas com as iniciaes do seu appellido F. P.

PABI-.

TTP. DE SIMO BAOM E S O C , RUI D ' E R F U R T I > ,

1.

HISTORIA

DO BRAZILTRADUZIDA DO INCLEZ

ROBERTO SOLTHEYPELO

Dn LUIZ JOAQUIM DE OLIVEIRA E CASTROE AN NOTA D A

CONEGO Dr J . C. FERNANDES P I N H E I R O

TOMO SEGUNDO

RIO DE JANEIROLIVRARIA DE B. L. GARNIERRUA DO O U V I D O B , 60

PAR1Z, GARNIER IRMOS, EDITORES, RUA DES SAINTS-PRES, 6

1862Todos direitos de propriedade reservados.

HISTORIA DO BRAZIL

CAPITULO XIIOs Francezes expulsos do Parahyba. Os Pitagoares. Os Inglezes i;o Brazil. Expedio de Fenton. Principio de hostilidades. Willirington assola o Recncavo. Morte de Barreto. D. Francisco de Souza governador. Explorao de minas de prata. Jornada de Cavendish. Toma Sanctos, queima S. Vicente, repellido do Espirito Saneio, e morre de pezares. I.ancaster toma o Recife. Raleigh desvia os aventureiros, dirigindo-os para a Guiana. El Dorado.

Posto que constantemente rechaados do Brazil, ltf. toda a vez que linho tentado fundar alli uma feito- * r S ^ ria que fosse, no querio os Francezes abandonar o commercio d'aquelle paiz. Fizero agora do Parahyba o seu porto, onde se aluaro com os Pitagoares, senhores das terras entre aquelle rio e o Grande. D'um lado eslavo estes ndios em perpetua guerra os com os Cahets, que olhavo como seus inimigos i:

2 1583.

HISTORIA PO BRAZIL.

turaes, embora fallassem a mesma lingua; do outro, ' ora em guerra, ora em paz, com os Tapuyas, que comtudo ero seus alliados no serto contra os visinhos Tabarajas. Ero do grande tronco tupi, e dos mais cruis d'aquella raa, pois que jamais poupavo um prizioneiro. Auxiliados pelos Francezes commettro estes selvagens terrveis devastaes nos estabelecimentos vizinhos, queimando engenhos de assucar, assassinando e devorando todos quantos podio apanhar. Os povos de Pernambuco e Itamarac pediro proteco ao governo, e dero-se ordens para colonizar e fortificar o Parahyba. Nas visinhas.capitanias se levantaro foras para a expedio, cujo commando se deu a Fructuoso Barbosa, pondo-se uarbosa n'elle as melhores esperanas. Os Pitagoares e Franilerrotado.

cezes attrahiro-no a uma emboscada, matando-lhe grande parte da sua genle : o resto tornou-se descontente, e queixando-se da ineplido do general muitos o abandonaro. Depois d'esta desero e da perda soffrida, ja a fora no estava a par do servio; o inimigo, soberbo com a ter repellido, renovou os seus estragos, e os moradores de Pernambuco e Itamarac instantemente solicitaro do governador, que lhes mandasse soecorro. Barreto estava ja velho para tentar qualquer couza em pessoa, nem elle en verdad podia deixar a Bahia; por quanto seis mezes havia apenas que era alli cliegado, e a .iffluencia dos negcios, que provavelmente

HISTORIA DO BRAZIL.

5

se teiio accumulado sob o governo provisrio, tor- 1583, navo indispensvel a sua presena. Succedeu porem achar-se n'aquella cidade parte d'essa formidvel e mais que desastrosa expedio, que Philippe II enviara commandada por Diego Flores de Valdes, a segurar o estreito de Magalhes, depois que Drake o fizera temer pela posse do Peru. Vinte e trs naus havio velejado de Sevilha, eapoz repetidas investidas para ganhar o estreito, voltou Diego Flores a final com seis apenas Bahia. Pediu-lhe Barreto que fosse expulsar do Parahyba os Francezes; tambm ancorados no porto estavo dous navios ao commando de ergue u mi

Diogo Vaz da Veiga, em viagem para Goa; com estes reunidos prpria frota deu Flores vela para Pernambuco, onde se levantaro tropas, que marcharo por terra, em quanto avanava a fora naval. Havia no rio quatro navios francezes. Entrou Flores, investindo-os com a sua capitania, a nau de Diogo Vaz e todos os escaleres; os Francezes abandonro-os seus navios, ateando-os, c reunidos aos selvagens na praia, fizero uma demonstrao de defeza contra o desembarque; mas de demonstrao no passou. s tropas desembarcaro sem opposio, as foras de terra chegaro, erigiu-se uma fortaleza de madeira, e Flores deixou n'ella cento e cincoenta homens ordens de Francisco Castrejon. No podio entenderse Barbosa e este capito; contava o primeiro ser governador do novo estabelecimento em virtude da

forte n0 Parali ,]

y

4 1583sua

HISTORIA DO BRAZIL.

antiga nomeao, e vendo que no lhe annuio as pretenes, retirou-se para Pernambuco, donde mandou a el-rei um memorial. Castrejon sustentara Abandona melhor a sua auctoridade, do que soube agora man- re c.ptra-o ter o seu posto : apenas ido Barbosa, pozero-lhe os Pitagoares cerco. Guerra com estes ferozes selvagens era couza a que elle no estava acostumado, pelo que, lendo-os rechaado uma ou duas vezes, retirouse pressa para Itamarac, perdendo pelo caminho alguma da sua gente. Sabido que foi isto em Pernambuco, reuniu-se nova fora, com que Barbosa Noticias. Ms. tornou a recuperar o forte : sem demora se lhe man1, 11 Hcrrera. daro soccorros, e veio uma horda de Tupinambs 2"'u,sT. assentar nas visinhanas suas tabas, dando e receRocha Pitta. , , ... . . . (.astrejon o P0 'l

3, 84-86. bendo auxilio contra o commum inimigo. Por estes tempos alguns espritos audazes e eraprehendorcs, que em mais favorvel conjunetura de epocha e logar poderio ter produzido effeitos no menores que Manieheo ou Mahomet, tentaro estabelecer entre os selvagens uma hierarchia, um culto ritual e uma superstio amplo-derramada, que entre todos devia servir de lao de unio, de ponto de contacto. Quem primeiro concebeu o pensamento, ningum o sabe, se algum mameluco, como suppozero os Jesutas, se algum semiconverso'. Tornando do christianismo dos Jesutas o que lhes pareceuCremos que toda essa theogonia a que se refere o auetor no pas?a duma inveno dos Jesuitas. F. P.1

HISTORIA DO BRAZIL.

51583

convir a seus intentos, ou talvez o que d'elle comprehendio, escolhero os prophetas da nova lei um papa indio, uma ordem de bispos abaixo d'elle, e presbyteros por estes consagrados, conservando todos os seus nomes europeos. Tambm introduziro a practica da confisso e absolvio, conhecendo perfeitamente o poder que nas mos do clero punha esta parte das suas funees: instituiro uma espcie de missa, e rosrios por onde se contassem as oraes que devio ser recitadas por numero, e falta de sinos convocavo o povo para o servio religioso ao som de grandes cabaos ocos, convertidos em instrumentos de musica ou de matinada. No ero charlates ordinrios os cabeas d'esta tentativa ; estabelecero escholas imitao dos collegios da Companhia, e affirmo os Jesutas que da casca d'uma certa arvore fazio ellcs livros como que encadernados em taboinhas de madeira delgada, e que em caracteres desconhecidos continho umas escripturas que o diabo lhes ensinara. Talvez isto queira dizer, que, sabendo o que ero livros, prelendio inculcar no ler e escrever conhecimentos que no possuio. At aqui tudo era imitao dos Portuguezes, mas era para exlerminio d'estes que havio aquelles atrevidos imposlores organizado o seu extraordinrio syslema de embuste. Com esta momice, ou arremedo da Egreja calholica, combinavo uma practica selvagem de provocar convulses, tragando o sueco d'uma planta

61583

HISTORIA DO BRAZIL.

-

deletria (que se suppe ter sido tabaco); e o sacerdote que havia passado por esta terrvel purificao, como a couza se chamava, ficava sancto, e perfeito na sua vocao. Asseveravo aos seus sectrios que asalmasdos seus maiores vi ro n'um navio a livralos de oppressores, exterminando os Portuguezes, e que d'estes os poucos que escapassem serio convertidos em peixes, porcos e outras animalias. Todos que n'isto acreditassem irio infallivelmente depois da morte para um logar de dilicias, mas os incrdulos serio despedaados por bestas feras e aves de rapina. Nem bastava aguardar esta libertao por intermdio dos finados; era mister preparal-a e acceleral-a, obrando tambm. Para este effeito partio da residncia do papa, que era no interior, missionrios para entre os ndios sujeitos aos Portuguezes ou com elles alliados. E to rpida se derramou a crena, que innumeros abandonaro as habitaes, pozero fogo aos engenhos e cannaviaes, commettro quantas tropelias podero, nem deixaro vivo Portuguez que lograssem haver unha. Alguns dos que tinho filhos, chegaro assassinal-os, para se livrarem de quanto*podia pear-lhes os movimentos. Os inauditos esforos dos Jesutas em reclamar o seu rebanho e preserval-o d'esla falsa doutrina, fizerao abortar o plano. N'um sitio lanaro os ndios convertidos-mo do propagador da rebellio, e, no lhes consentindo o seu missionrio fazer por suas mos

HISTORIA DO RRAZIL.

7m7j

prompta e summaria justia, foro reclamal-a do governador, aqum levaro amarrado o delinqente. Foi-lhes este ento entregue discrio, e elles cortaro-lhe a lingua, instrumento com que os havia illudi Jo a elles e a seus irmos, e depois o eslrangu1

-

Jarric.

larO.

2, 519, 3-2-2.

A desgraada sujeio de Porlugal Hespanha o* ingWs, havia envolvido o Brazil em hostilidades com os Inglezes, que at agora ainda aqui no tinho apparecido como inimigos, posto que tivessem traficado com os ndios, antes de fundada S. Salvador1. Passados annos occorreu uma circuinstncia que parecia dever ter por conseqncia o estabelecimento deO primeiro Inglez que se menciona como tendo commerciado ..'este paiz, Master William Hawkins, de Plymouth, pae desir.John Hawkins, homem mui estimado do rei Henrique VIII, como principal capito de mar. Armou um navio seu de duzentas e cincoenta toneladas, chamado o Paul ofPlimouth, en que fez duas viagens ao Brazil, uma en 1550 e outra cm 1552 ; da primeira das quaes trouxe um rei brazileiro, como o chamaro, para o apresentar a Henrique VIU nos seus tiajos selvagens, vista do que no ficaro pouco maravilhados o rei e toda a nobreza, e razo tinho para isso. Em refns tinha ficado um certo Martim Cockeram, de Plymouth. Quasi um anno ficou o cacique na Inglaterra, e morreu na viagem para a ptria, o que se receou redundasse em damno da vida de Martim Cockeram. Os selvagens porem, plenamente convencidos da lizura do procedimento que com o seu prncipe se tivera, restituiro illeso o refm. Hakhtyt, tomo 5, p. 700. Purchas, 1. 6, c. 4, p. 1179. Pelo anno de 1540 entregavo-se ao lucrativo e commodo trafico do Brazil vrios mercadores ricos e abastados de Southampton. Um certo Pudsey, da mesma cidade, diz-se que fizera em 1542 uma viagem Bahia construindo no longe dVJi um forte. Ilakluyt, t. 5, p. 701.1

8

HISTORIA DO BRAZIL.

relaes regulares entre a Inglaterra c estas colnias portuguezas. Um Inglez, por nome John Wlntliall, casou-se e domiciliou-se em Santos, e tendo optido, por influencia do sogro, licena para vir um navio inglez com mercadorias, escreveu aos seus amigos, mandou-lhes uma lista de artigos, que vendidos devio dar trs por um, e promelteu de carregar o barco de fino assucar secco para a volta. Despachouse de Londres o llinion para tentar a aventura. Os mercadores foro bem recebidos e de parle a parte reinou a maior confiana. Correu que quatro navios 1 francezes, expulsos do Rio de Janeiro, vinho atacar Sanctos, e os Inglezes emprestaro para a defeza peas e munies. Nem o fanatismo religioso prejudicou esta boa intelligencia; enterrou-se um Inglez na egreja, e quando deS. Sebastio viero ordens para que se no deixassem entrar nos templos os Inglezes, por serem hereges, manifestou o clero de Sanctos, intimando esta prohibio, o pezar que lhe causavasimilhante decreto, e a causad'elle, pedindo aos extrangeiros que por tal o no tivessem em m conta. Mas tivero mo fim to bons principios; effectuou-sepor estes tempos a usurpao dePhilippe, nem tardou que o Brazil tivesse o seu quinho nas calamidades 1 , que a Inglaterra, entregando-se aoNa viagem de Sarmiento (p. 571-5) se diz que em 1579 aparelhou algum gro senhor na Inglaterra uma expedio de dez naus, que passou o estreito, e depois retrocedeu, tencionando estabelecer-se1

HISTORIA D BRAZIL. O 9 pcor espirito de guerra predatria, comeara a in- 1583fugir America do Sul. Demandou a costa do Brazil uma expedio desti- E p d o x e ido Fenton.

nada s ndias Orientaes e China, debaixo das ordens de Eduardo Fenton. Carecia a armada de refrescar, e tendo sabido d'um navio hespanhol, tomado e outra vez salto foz do Prata, que provises ainda se poderio obter n'aquelle rio, mas vinho no, singrou para S. Vicente sem intenes hostis, Giuseppe Doria, o sogro de Whilhall, veio a bordo com dous dos principaes habitantes, e depois d'esta visita amigvel foi Fenton a terra a ver um logar, onde o ferreiro podesse erguer uma forja, e se collocassem os fornos portteis para cozer o biscouto. No dia seguinte veio Whilhall a bordo dizer, que os Portuguezes tinho mandado para fora as mulheres esortificado a villa, pelo que aconselhava que possem os navios immediatamente ancorar deante d'ella. Logo atraz d'elle viero Doria e um Porluguez,na costa do Brazil, onde lhe apparecesse situao favorvel. A' capitania dero-se novecentas toneladas, e, alem da tripolao, quatrocentos soldados e cem menesteiraes. A esquadra dispersou-se vista da costa, e este navio naufragou, salvando-se apenas alguns homens na lancha, a maior parte dos quaes foro mortos e o resto feitos prizioneiros pelos Portuguezes. Um dos ltimos, grande mathematico, disse que tinho derribado um pillar com as armas de Portugal, e posto em seu logar outro com as da Inglaterra, para tomar posse do paiz entre o Paraguay e a costa. No encontro nenhuma relao de viagem ingleza que corresponda a esta narrativa. Tem ella porem todas as apparncias de verdica.

.

HISTORIA DO BRAZIL 1583. c o m a noticia, de que dentro em poucos dias fallaria o governador a Fenton, podendo os Inglezes enlrelanto proseguir nos seus trabalhos de forrar de cobre, carpinteirar, pescar e mais operaes necessrias, mas que no erigissem forja nem fornos antes de terem visto o governador. Convidou Fenton estes hospedes para o jantar, e deixando-os na cmara, subiu tolda, para consultar com os seus officiaes sobre se os reteria prizioneiros. O vice-almirante Ward representou que as suas inslruces lhes prohibio empregar a violncia, excepto em defeza prpria ; o Mininn, ponderou elle, linha aberto aqui um commercio, que similliante procedimento destruiria, tornando odiosos os Inglezes, quando havia mais que ganhar com bons modos do que recorrendo fora. Prevaleceu esta opinio, e offereceu-se um presente, previamente preparado; consistiu em panno preto fino para Doria e os dous primeiros visitantes, trs jardas a cada um para um gibo, e egual quantidade para o governador, porem escarlate e rosicler. Principio Mas o mal que Ward receava d'um procedimento hostilidades, hostil, ja Drake o havia causado; os Inglezes ero odiados e todos os Hespanhoes na America os olliavo Argentina, como piratas. O navio que Fellon havia tomado e24.l 1

10

*

outra vez largado, encontrou-se com Flores, a quem deu noticia de que andavo inimigos n'aquelles mares. Poz-se este a cruzar em busca d'elles, mas sem

HISTORIA DO BBAZIL.

11

resultado; Ires dos seus navios porem entraro em 1583Saneia Catharina e alli livero novas de S. Vicente. Dizia-se que os Inglezes querio estabelecer-se e fortificar-se n'aquella costa; que Whilhall a isto os chamara; que elles andavo propalando que D. Philippe era morto e D. Antnio de posse de Portugal; e que em nome da sua rainha fazio grandes pro- "'li^n.' messas, com que induzir o povo a acolhel-os. Parle d'esta historia podia ser verdadeira e o resto seria inventado pelos inimigos de Whilhall; mas a recordao ainda fresca das faanhas de Drake tudo tornava crivei, pelo que facilmente tambm se acreditou tudo isto. Duas horas depois de ter Doria deixado o navio de Fenton, appareceua esquadra hespanhola, atravessou na barra, e preparou-se para o ataque. No ero mais que dous os navios inglezes, porem melhores. Rompeu a aco ao cahir da tarde, e durou em quanto deu luz a lua; um dos navios hespanhoes foi a pique *, e no decurso do dia seguinte ganharo os Inglezes o vento e izero-se ao mar. Pela razo, diz Lopez Vaz, que estes trs navios vinho enfraquecidos e trabalhados de antigas tormentas, e tripolados com o refugo de toda a armada hespanhola (achando-se n'elles embarcados os doentes e as mulheres), facilmente levaro os Inglezes a melhor, mettro um no fundo, e terio feito a mesmo a outro, se o houvessem querido; mas elles no desejavo a perda de ningum; e o maior valor que os homens podem mostrar, por sem duvida deixarem de fazer o mal que podem. Esta parte do Discurso foi previamente transcripta por Hakluyt, que provavelmente ao imprimir o extracto, no tinha inteno de inserir depois o texto na sua integra. Como o ori1

12

HISTORIA DO BRAZIL.

1583.

Foi este o primeiro acto de hostilidade commet-

g l S

tido no Brazil pelos Inglezes, que ainda assim no foro os aggressores; mas o Brazil era agora colnia hespanhola, e como tal exposto s depredaes de todo o libusteiro. Trs annos depois da volta de Fenton destinou-se para o mar do Sul oulra expedio, cujas instruces no ero egualmenle pacificas. Carregou o conde de Cumberland com as despezas da aventura, de que foi commandanle Roberto Witlirington. A elle se reuniro outros dous corsrios, d'um dos quaes era Raleigh o armador. Withrington capturou embocadura do Prata dous chavecos portuguezes, que seguio para Saneia F *; as informaginal no chegou a publicar-se, oferece este descuido uma vantagem: a traduco no a mesma,, e encontrando-se em ambas este comprimento aos Inglezes, deve presumir-se que iro foi interpolado pelo Iraductor. grato deparar com este reconhecimento da generosidade ingleza na epoeba de Hrake e Cavendish. Herrera longe de exagerar, diminue a fora ingleza e relata a aeo .com notvel imparcialidade, prova bem convincente de quanto credito merece este inestimvel auetor. D'aqui, diz Sarracoll, devio os mercadores e parte dos seus gneros ser transportados ao Peru em cavallos e carretas. Levava este navio por piloto um Inglez, por nome Abrabo Cooke, nascido em Lee, que tinha sido deixado pelo Minion de Londres. Inquerimal-o e aos demais sobre o estado do rio, e dissero-nos que havia alli cinco villas, umas de setenta fogos, outras de mais. Westas povoaes ha grande abundncia de cereaes,"gado, vinho e varias fruetas, mas dinheiro de ouro ou prata nada; fabrica-se alli uma espcie de panno, que os moradores troco por assucar, arroz, m;.rmelada e doces, que era o que o navio levava. lo tambm a bordo quarenta e cinco negros, cada um dos quaes dava no Peru quatrocentos ducados. Quanto viagem

HISTORIA DO BRAZIL.

13

es que dos prizionciros houve fizero-no suppor 158 ' que poderia tomar S. Salvador, e como o saque lhe inspirava mais afeio do que a passagem do estreito, desprezando a opinio do vice-almiranle, governou para a Bahia. Apenas as vigias avistaro velas inimigas, mandou Cliristovo de Gouvca, o visitador Je- lieh Anrsuita, chamar todos os ndios convertidos que por ff'114' aquelles arredores inoravo, e estes formidveis frecheiros salvaro a cidade e cobriro-lhe as immediaes; mas os Inglezes ficaro seis semanas na bahia, assolando o Recncavo, e commettendo gran- san-acoii c m' ' _

des devastaes com bem pouco proveito prprio. - -' Occorrro estes tristes successos no governo de . ,'orlc de Barrrlo.

Hackluyt. 3 769 778

Barreto, que morreu no fim de quatro annos de administrao. Abertas as vias de suecesso, que elle trouxera selladas, para se abrirem em caso de morte, viu-se que nomeavo [o bispo D. Antnio Barreiros e o provedor mor da fazenda Chrislovo de Barros1 governadores conjunetos. Para rendel-os no governo foi nomeado Francisco Giraldes, senhor da capitania dos Ilheos, que seu pae Lucas Giraldes comprara aode Portugal, dissero-me que era esta a terceira que se fazia para o Rio da Prata n'estes trinta annos. Em Sancta F descarrego os novios as suas mercadorias para barcos pequenos, que sobem o rio sirga at Assumpo. N'esta cidade e na de Tucuman (talvez Cordoba) um espadeiro de vinte reales prata vale trinta ducados, uma lata de marmelada vinte ducados, um espelho de mais de palmo vale trinta lis, pinturas e:n quadros de quatorze pollegadas, trinta a quarenta lis cada uma. " 1 E o unidor-gerl Antnio Coelho d'Aguiar. F. P.

14 HISTORIA DO BRAZIL. - filho do primitivo donalario. Honra era esta, que elle no ambicionava, c tendo por duas vezes sahido a barra de Lisboa, e outras tantas tornado a entral-a repellido pelo temporal, pediu e obteve exonerao do cargo, que foi ento confiado a D. Francisco de Souza. D.Francisco Nunca houve governador em quem tantas espe1S85

de Souza

ran

t

governador.

a s s e pozessem.Um descendente do Caramuru, por nome Roberio Dias, era por estes tempos um dos homens mais ricos e poderosos da Bahia. Tinha servios de prata para a sua capella e para a sua meza, e corria de plano que o metal de que ero feitos, fora tirado de minas que elle descobrira nas suas prprias terras. Tanto se divulgara o boato, que o homem no julgou prudente conservar o negocio mais tempo em segredo, e assim foi a Madrid e offercceu a el-rei achar-lhe mais prata no Brazil do que ferro havia naBiscaya, comlanto, que em remunerao lhe desse o titulo de marquez das Minas. Pareceu demasiado alta a exigncia; concedeu-se-lhe o cargo de administrador das minas, acenando-se-lhe com mais algumas vantagens, com que talvez se houvera dado por satisfeito, se Philippe com alguma injustia no fosse prometter ao novo governador o titulo que recusava a Roberio. A promessa so podia surtir effeito, descobrindo-se as minas, e isto dependia de Roberio, que no estava resolvido a melter outrem de posse das honras, a que se julgava com

HISTORIA DO BRAZIL.

15

direito. Voltou com Souza ao Brazil, onde immediatamente obteve licena de ir s suas terras, prepararse para a expedio. Este tempo empregou-o elle, segundo se suppe, em apagar todos os vestigios que podessem levar descoberta ; e quando Souza se poz a caminho em busca das minas, contando certo achal-as, nem com a pista pde dar-lhes. Roberio manifestamente enganara o rei, quer na promessa, quer no seu no cumprimento; e Souza, resentido do logro e da perda do seu marquezado em perspectiva, dissimulou a clera, mas queixou-se corte. Antes que chegassem ordens para o castigo, morreu o delinqente, e com elle o segredo, que at para os her-

d

,1

Rocha Pilta.

eiros o era . 3, 89-92. Em quanto os Portuguezes assim davo cata s Expedio ,. , t u T-, , ileCavemlisli. n minas, veio Cavendish a assolar-lhes as costas. Esban- Sir w- Monson em

jado o patrimnio da sua casa, pensou este aventu- ^ t i " : reiro refazer ao corso a destroada fortuna; e numa primeira viagem que fizera volta do mundo, taes bavio sido as atrocidades commeltidas que por muito tempo deixaro nodoa no caracter da nao ingleza. Os despojos que ento trouxera havio-no tentado a emprehender segunda expedio, mas de tal forma os tinha elle dissipado ja, que teve de sahir sem provises bastantes, pelo que mandou adeante dous navios da sua esquadra, a tomar a cidade de0 titulo de marquez das Minas veio a verificar-se na pessoa d'um neto de D. Francisco de Souza, Visconde do Prado. F. P.1

161583

HISTORIA DO BRAZIL.' l i

16 de drz.

'

Sanctos, para que todos se abastecessem. Foi a popu-

lao sorprebendida missa : um so homem tentou resistir, e foi morto, o resto ficou relido prezo na Tomadn tTnci. egreja todo aquelle dia. Mas em logar de barganhar um supprimento de viveres como resgate, so cuidou Cocke o vice almirante, de regalar-se ebanquelrarse com o que achou. Aproveitaro os moradores o tempo no so para fugirem, mas tambm para levarem tudo o que era porttil, de modo que quando oito ou dez dias mais tarde chegou Cavendish, achou uma praa sem habitantes nem mantimenlo. Muitos ndios viero offerecer-lhe a sua alliana, se quizesse exterminar os Portuguezes, e guardar para si as terras; no era isto porem partido para um flibusleiro, eos naluraes no querio expor-se vingana de seus antigo oppressores, procurando caplivar as boas graas d'um povo, do qual bem vio que era intil esperar proteco. Debalde se lenlou chamar os colonos outra vez cidade, convidando-os em nome de D. Antnio: este grito de guerra era demasiado velho, e desesperada de mais a causa. Mas com uma imprevidencia que bem merecia a sorte que lhe acarretou, deixouse a esquadra aqui ficar algumas semanas 1 , partindo a final menos provida de tudo do que viera.Havia uma imagem de burro de Sancta Catlmrina, que Luiz, irmo do donatrio Pedro de Ges, junetamente com sua mulher tinho dado villa de Sanctos; estava n'uma capellinha nas fraldao d'um outeiro chamado do nome da saneia. Os Inglezes alirro a imaem ao4

HISTORIA DO BRAZIL.

17

De caminho queimaro os Inglezes S. Vicente, se- 1S9'2 guiro para o estreito, no o podero passar, e foro Cavcndish queima S. Vicente. dispersos por um temporal. Cavendish voltou so costa do Brazil, e a cerca de trs legoas de Sanctos mandou a terra vinte e cinco homens, que se apoderassem o mais depressa possvel das provises que achassem, trazendo-as a bordo para soccorro de seus camaradas doentes e esfomeados. D'esta partida, composta dos principaes do navio, nem um so homem voltou. Reunindo-se, atacro-nos os ndios, ao prepararem-se elles para reembarcar, e matro-nos todos, poupando apenas dous, que levaro prizioneiros a Sanctos, entrando na cidade cm triumpho com as cabeas dos mortos. Pouco depois fez Cavendish junco com o Roebuck, um dos navios da sua desgraada esquadra, e continuando a costear foro todos assolando casas e plantaes, at que um Porluguez se encarregou de metter os dous barcos dentro da barra do Espirito Sancto, logar a que especialmente desejavo chegar, pela abundncia de todas as couzas que alli pensavo achar. No julgando prudente confiar implicitamente no dizer do seu priziomar. Muitos annos depois tornou ella a sahir inteira n'uma tarrafa : erigiu-se-lhe nova capella, e em memria do longo tempo que jazera no fundo do oceano, deixro-lhe as cascas de ostras, que d'ella se L m vio pegado. Alli se venera ainda hoje cm dia, e os que mostro a imagem, observo que o maior milagre foi no a terem os iconoclastas inglezes despedaado antes de arremessarem s ondas. Fr. Gaspar da Madre de Deus, 1, 71.ii.2

18592

HISTORIA DO BRAZIL.

neiro, lanou ferro o commandante e mandou um escaler a sondar a barra. 0 fundo que se achou no pareceu suficiente; de balde o Porlugucz protestou que no tendo jamais sondado o canal, havia mettido dentro navios de cem toneladas; merecia a forca, quer dos Inglezes, por querer fazei os naufragar, quer dos seus prprios conterrneos por encarregarse de pilotar os inimigos, e Cavendish sem mais ceremonia nem exame o pendurou da verga. Tentativa Os botes entraro a barra e descobriro Ires naviosconlia G E P io t

'

s an cto ancorados perto da villa. Sem perda de tempo queria o commandante mandar picar-lhes as amarras, mas approximava-se a noute, e a gente recusou ir antes que amanhecesse. Toda a demora era perigosa; o canal era pssimo, jamais navios o navegaro peor, diz Cavendish; passar a barra era impossvel, e todo volta estava o paiz em fogo. Comludo nenhum remdio havia contra a desobedincia, e irritado como estava, teve o commandante de aguardar o bel prazer da sua gente. Ao raiar o dia offereceu-se esta para ir, e logo largaro os escaleres com oitenta homens s ordens do capito Morgan. Levava elle instruces para no saltar em terra, sob pena de morte, por melhor que se lhe offerecesse o ensejo; pouco perigo se receava da parte dos navios1, mas se algum visse, Sabia eu, diz Cavendish, que dos navios que frequento o Brazil nenhum era capaz de defender-se d'uma canoa, quanto mais1

HISTORIA DO BRAZIL.

19

devia retirar-se; e se por outro lado descobrisse bom 159'2e fcil desembarque perto da villa, mesmo ento devia voltar, para que o commandante em pessoa tentasse a empreza, com quanta gente podessem levar os boles. Com estas ordens partiu Morgan. Durante a noute linho os Portuguezes rebocado os navios "para defronte da villa, onde a largura do rio no excedia um tiro de besta de caa; meia legoa abaixo havio erguido duas trincheiras pequenas, ambas dominadas por florestas e rochas sobranceiras. A do lado do poente fez fogo, e segundo as instruces que levava, queria Morgan retroceder. Alguns dos marinheiros juraro que sempre por covarde o havio tido, e agora bem o provava elle prprio: moveu-o isto a grande clera e declarou que desse por onde desse, havia de saltar em terra. Avanaro pois: o fortim do lado do oriente, que cavendish . , . i . c j> rechaado ainda ningum havia visto, rompeu o togo, e d um uc pGzsr. morre tiro matou um homem e feriu dous. Resolveu-se ento que a lancha mais pequena atacaria a bateria do oeste, e a maior a outra. Foi aquella a primeira que abicou em terra, e achando pouca resistncia, tomou sem perda a trincheira. 0 lancho que era de muito calado, encalhou, mas a tripolao vadeou para a margem com gua por cima do joelho. 0 baluarte era de pedra, e teria seus dez ps de altura.de lanchas como estas, em que io tantos arcabuzeiros, quantos podio sentar-se ao lado uns dos outros.

592

20 HISTORIA DO BRAZIL. - Com dez dos seus camaradas o escalou Morgan, mas ento moslrro-se os ndios e os Portuguezes, e rolando calhaus para baixo, o mataro a elle e a cinco dos seus. O resto, pela maior parle mal feridos, fugiu para o bote, sobre o qual principiaro a chover frechas; dos quarenta e cinco homens que havia a bordo, um so no escapou seu damno, chegando alguns a trazer trs settas cravadas. Incapazes de agentar este desesperado chuveiro, largaro, deixando em terras alguns dos seus companheiros, preza para os selvagens. Tendo-se assim safado chamaro os da ribeira opposla que viessem ajudal-os. Embarcou a partida pressa para esse effeito, a lancha porem deu em secco, nem pde ser outra vez posta a nado, sem que saltassem fora dez da tripolao. Entretanto voltaro os ndios abandonada bateria, e principiaro a alirar. Os dez Ingleses, sentindo as flechas, zunirem-lhes aos ouvidos, correro trincheira, e izro fogo para dentro pelas selteiras de baixo; mas em quanto assim se occupavo, o capito do Roebuck, o mais cobarde villo, diz Cavendish, quejamais viu a luz do sol, mandou remar a safar d'alli, deixando aquelles bravos despojos do inimigo. Mettro-se elles gua at ao pescoo, para serem recolhidos a bordo, mas os seus birbantes de camaradas nenhuma compaixo tivero, e assim vilmente se perdero estes homens. Depois d'esta mallograda tentativa deixou Cavendish a costa

HISTORIA DO BRAZIL.

21

do Brazil, morrendo na viagem para a ptria to de 1592 pezaroso como de molstia. Baseada sobre nenhum plano fora esta expedio E p d o x e i. . . de Lancaster.

miseraveTmente mal dirigida : a que se lhe seguiu parece ter sido concebida e executada con mais tactica do que nenhuma outra das d'estes corsrios aventureiros. Certos moradores de Londres aprestro Ires navios, dos quaes o maior se computou de dezentas e quarenta toneladas, o menor de sessenta apenas, e o outro de cento e setenta. James Lancaster, fidalgo da mesma cidade, foi escolhido para almirante. Tinha elle, segundo dizia, sido educado entre os Portuguezes, vivido entre elles como fidalgo, servido com elles como soldado, e morado-lhes nas terras como mercador; commeltia pois o que se podia dizer traio moral, tomando armas contra um povo, entre o qual tanto tempo havia estado domiciliado. Foi Pernambuco o logar que elle resolveu investir : arranjou dous Francezes de Dieppe bem versados na lingua dos ndios, e deu vela com uma tripolao de duzentos e setenta e cinco homens e moos. Duas vezes na viagem rompeu um navio um dos mastros, e tendo por tanto volvido atraz para concertar, bem quiz a gente das outras embarcaes persuadir o almirante a disistir d'uma empreza para que ja lhe falecio foras; mas elle respondeu que Barker, o seu vice-almirante, era por demais resoluto para no se achar no ajustado ponto de reu-

22 HISTORIA DO BRAZIL. 1594. nio, mal reparasse as suas avarias, e que nada o faria desviar-se do rumo em que uma vez havia assentado, sendo por estas mudanas de plano que a maior parte das expedies se havio mailogrado. No o enganou a sua confiana. Barker reuniu se a elle na altura do Cabo Branco, onde com o seu chaveco ja havia capturado vinte e quatro velas a Hespanhoes e Portuguezes. D'um dos prizioneiros soubero que um galeo com rico carregamento da ndia naufragara na costa de Pernambuco, achandose todas as mercadorias armazenadas no Recife, porto de Olinda. Alegres com esta noticia, tomaro os Inglezes cinco das suas prezas, para serem empregadas segundo o caso o exigisse, e singraro para a ilha de Maio, onde armaro uma galeota de quatorze bancos, destinada para o desembarque, e de que havio trazido as madeiras. Aqui se encontraro com outra esquadra de corsrios, commandada pelo capito Venner, e composta de dous galees, um hiate e urna preza biscainha. Venner de boa menle se associou a Lancaster, e segundo o uso do mar, lavrouse o ajuste por ambas as parles assignado, e pelo qual devia Lancaster ter trs quinhes e o outro o quarto de quanto se tomasse. chegada D'alli governaro para o Recife, chegando vistaao Recife. 20 d e arc ,

i 595 '

P ^ maro. A' entrada estavo sobre os ferros trs navios hollandezes grandes, da parte dos quaes era de esperar ai-

, n uma

.raeia noute 0S u n s d e

D

HISTORIA DO BRAZIL.

231393

guma resistncia. Lancaster tripolou as suas cinco prezas, que ero de sessenta toneladas cada uma, e ordenou sua gente que se os Hollandezes fizessem alguma opposio, corressem sobre elles, e posto fogo s prprias embarcaes, se mettessem nos escaleres, ganhando assim a entrada. Era sua inteno desembarcar com as lanchas apenas amanhecesse, deixando os navios fora do porto, at tomar os fortes e a villa. Embarcou a gente para este feito, assumindo elle.o commando da galeola, que tripolou com oitenta homens de seu prprio bordo. Mas ao primeiro arrebol da aurora, viu-se que as lanchas tinho ido dar meia legoa para o norte da barra ; e antes de poderem voltar veio a vasante, e a esquadra ficou fora do porto toda vista da villa. Tivero porem a satisfaco de ver que os Hollandezes, lanando espias, se arredavo do caminho, removendo a principal causa de receio. Pela volta do meio dia mandou o governador um mensageiro a saber o que pretendia aquella frota. Lancaster respondeu que queria a carga do galeo; que a buscal-a vinha e leval-a havia, como o governador no tardaria a vel-o. Entretanto guarnecro os Portuguezes o forte ou terrapleno foz do porto, reunindo toda a fora que havia mo, e que serio uns seis centos homens. Lancaster ordenou aos seus que voga arrancada remassem a abicar em terra com violncia tal, que, despedaadas as lanchas, no livessem em que fiar-se

24159S

HISTORIA DO BRAZIL.

Toma a cidade.

mais do que em Deus e nas suas armas. Ero estes flibusteiros excessivamente religiosos; para tudo tinho o nome de Deus na boca, e grande esperana punho no auxilio divino para levarem a bom fim o objecto da sua viagem, d'uma viagem cujo nico alvo era o saque e a rapina. Serio duas horas da tarde quando Lancaster largou de bordo com mar de feio; passou os Hollandezes, o forte principiou a jogar, e uma bala levou quasi toda a bandeira da galeola. Os Inglezes vararo a embarcao em terra, mesmo por baixo da bateria, a um cabo de distancia d'ella; com o choque partiu-se a poupa, o mar galgou por cima, e a galeota afundou-se immediatamenle: oulro tanto practicro as lanchas. Havia no forte sete peas de bronze, cuja pontaria fizero os Portuguezes to baixa que os tiros se perdero todos na areia, ficando ferido um so homem. Exultando com isto, pois que uma descarga bem dirigida devia ter sido de varrer, exclamou Lancaster : A elles! a elles! Com o favor de Deus tudo nosso! Assim correro a escalara prea; desanimados retirro-se os Portuguezes para um silvado prximo, e sendo perseguidos, fugiro por um caminho ainda enxuto, apezar da mar que crescia. Fez Lancaster ento signal aos navios que entrassem. Deixou uma guarnio no forte, asseslou a artilharia contra Olinda, d'eonde receava o maior perigo, e marchou sobre a villa baixa, como elle

HISTORIA D BRAZIL. O 25 chama o Recife, composto n'aquelles tempos de 1595pouco mais de cem casas. A' sua vista, embarcou o povo em caravelas e canoas e abandonou o logar, deixando aos vencedores o rico carregamento do galeo, e grandes depsitos de gneros do paiz i . No governo da sua conquista no desenvolveu o Tm os oa, .1

i

-

i 'l

Hollandazesao seu

almirante menos prudncia, do que valor havia mostrado em ganhal-a. No se commetteu a menor desordem, nem pilhagem particular; talvez nem antes nem depois tenha havido bandoleiros que com to rigorosa ordem e regularidade se portassem. To grossos despojos no se deixavo remover pressa, e foroso era manter por algum tempo a posse da villa. Immedialamente se fortificou o isthmo em que est o Recife, com uma palissada de nove ps de altura, para a qual na villa se encontraro materiaes, e erigiu-se um forte para o qual do da boca do porto se passaro cinco peas de artilharia. Feito isto entabolou Lancaster negociaes com os Hollandezes, offerecendo fretal-os para a Inglaterra em termos que lhes parecero vantajosos, pelo que de todo o corao izero causa commum com os Inglezes. Dentro de alguns dias apparecro trs galees e duas pinaas; formavo uma esquadra de corsrios france 0 dia da nossa chegada, diz o narrador d'esta bem dirigida e prospera viagem, era uma sexta feira sancta em que elles teem par costume fustigareu.-se a si prprios ; mas agora nos enviou Deus cjmo um flagello gjral para todos, pelo que bem poderio ter poupado entre si aquelle trabalho. 1

servio

261595

HISTORIA DO BRAZIL.

-

zes, e succedeu que um dos seus capites ainda no anno anterior linha recolhido Lancaster na ilha da Mona, uma das Antilhas, onde naufragara. Pagou-lhe agora Lancaster o servio, dando-lhe uma carga de pau brazil para o seu baixei e pinaa, e uma caravela de cincoenla toneladas carregada do mesmo gnero. Os outros Francezes por felizes se dero tomando o seu quinho no servio a troco d'um quinho nos despojos, e assim obteve Lancaster um corpo considervel de auxiliares, que pagou generosamente com o que elle prprio no poderia ter levado, e por isso havia de destruir. No terceiro dia depois da chegada d'estes flibusteiros, descero de Olinda trs ou quatro pessoas das principaes da cidade para tractarem com o almirante. Apenas soube d'isto disse Lancaster que carecia ir a bordo dos Hollandezes, e l se deixou ficar, em despeito de repetidas mensagens, at que, esgotando-se aos Portuguezes a pacincia, retirro-se. Perguntado pela razo d'este extraordinrio proceder, respondeu que conhecia bem este povo, como quem entre elle tinha sido criado: Quando nada podem fazer com a espada, disse elle, recorrem lingua fallaz, pois f e verdade couza que no conhecem. E para que havemos de parlamentar? Com o favor de Deus houvemos a quanto vnhamos, e bem pouco prudente seria deixal-os fazer por nos tirarem com astucia o que ganhamos com a fora. Mandou pois dizer aos Portuguezes que d'elles nenhuma proposta acceitaria,

HISTORIA DO BRAZIL.

271595,

e enforcaria o primeiro que lhe trouxesse alguma. Entretanto progredia o trabalho de carregar o comboio. N'um ataque dado contra os invasores, tomaro estes cinco carrocinhas das usadas no paiz, preza de maior valia para elles do que a artilharia e munies que na mesma aco lhes cahiro nas mos, pois que sem estes meios de transporte no poderio ler embarcado muitos dos gneros mais pezados. Na manh seguinte, sem a menor desconfiana do que succedera, entrou no porto um navio com quarenta Portuguezes e uns cento e oifenla negros. Lancaster deixou os negros irem para onde quizessem, e guardou os Portuguezes, que puxassem as carretas; com este insolente emprego dos prizioneiros alliviando a sua prpria gente, incapaz de trabalhos pezados em to calido clima.

Vinte dias havia ja que os Inglezes estavo senhores Teutativ0 de do Recife, e apezar de terem tido de sustentar repe- ^^vs!6 tidos assaltos, sempre obrigados a conquistar fora d'armos a gua que bebio, pouco damno havio recebido. No estavo porem ociosos os Portuguezes; pozero fogo a cinco caravelas e deixro-nas ir rio abaixo ao som d'agua. Com esta tentativa ja Lancaster havia contado, e estacionado por tanto meia legoa acima dos navios seis lanchas bem providas de fateixas e correntes de ferro, com que harporo as caravelas, encalhando umas e ancorando outras, onde acabassem de arder.

281595

HISTORIA DO BRAZIL.

Seis dias depois, uma hora antes de meia noute, ahl viero descendo o rio trs enormes jangadas a chammejar horrendamente; fixadas ao costado trazio compridas varas, que no permillissem aos Inglezes deitar os seus harpeos, e lambem tubos, carregados de fogo de artificio, dos quaes no ousava a gente approximar-se com receio de que o chuveiro de chispas lhe incendiasse a prpria plvora. Com tudo ou se havio de alar para o lado estas balsas, ou os navios ardio irremediavelmente. Cingidos pois de pannos molhados os cinctos e polvorinhos, avenlurro-se os marinheiros a harpoal-as, e, conseguindo-o, dero com ellas em secco, onde ardero at de manh. Tentaro agora os Portuguezes picar as amarras ao inimigo, mas nem isto lograro, to grande era a vigilncia. Preparava-se terceira tentativa por meio do fogo, e Lancaster bem via qued'esta vez no escapava; mas ja ento com toda a rapina a bordo, estava elle prompto para fazer-se de vela. Succedeu no haver mar seno de tarde. 0 almirante observou um banco de areia formado defronte do logar, onde estavo fundeados os navios, e sobre elle alguma gente. Correndo immediatamente villa, convocou os seus capites, e dando conta do que vira, consultou-os sobre-se conviria fazer uma sortida, e ver o que queria o inimigo; a sua prpria opinio era que tendo de dar vela aquella noute, loucura fora buscar sem necessidade a guerra. Outros houve

HISTORIA DO BRAZIL.

291593

porem que com bastante fundamento ponderavo poder muito bem succeder, que o vento os no deixasse sahir to cedo como meditavo, pelo que melhor seria no desprezar precaues. A este argumento rendeu-se Lancaster; adoentado havia dous dias, no podia elle ir em pessoa, incapaz como se achava de marchar por aquella grossa areia. Mas posto que pouco perigo receasse, em logar to perto dos navios, que quarenta peas de artilharia se poderio fazer jogar contra o inimigo que alli os investisse, entendeu que devio ir com foras respeitveis, prevendo sempre o peor; e por conseguinte sahiro trezentos homens entre Inglezes e Francezes, a esle reconhecimento. As inslruces ero de destruir as obras que achassem, e depois voltarem. Ao approximarem-se, disparo-se-lhes alguns tiros e abandonou-se o posto. Acharo o principio d'um lerrapleno disposto para um baluarte, e todo o trabalho se reduziu a queimar algumas traves; mas vendo bandeiras a uma milha de distancia, fora do alcance dos navios, d'onde o prprio Lancaster estava promplo a apoial-os, para l avanaro estes imprudentes. Pensavo voar a vicloria certa, e na soffregrido de virem s mos com inimigo, alguns se adeantro ao grosso da partida. Os Portuguezes os foro attrahindo, at que os envolvero no meio de todas as foras do paiz, Trinta e cinco dos da vanguarda cahiro logo mortos,

-

301595

HISTORIA DO RRAZ1L.

e entre elles o vice-almirante Barker, o seu ajudante, e dous capites francezes, sendo os outros perseguidos de perto, at que se pozero debaixo da proteco dos navios1. Ao cahir da mesma tarde levantaro ferro e fizero-se de vela onze embarcaes de conserva, todas ricamente carregadas, e das quaes nem uma deixou de chegar a porto de salvamento. Quando se vem ricos, raras vezes se do por satisfeitos os flibusteiros, servindo-lhes com justia de castigo essa mesma sede de rapina que primeiro os levou ao crime. Ha porem razes para crer que Lancaster se contentou com a sua fortuna, pois d'elle se no encontra mais meno feita; tornando o bom senso com que dirigiu toda a expedio, provvel o acerto com que saberia desfructar-lhe o producto. iiackiuyt. No mesmo anno que Lancaster saqueava o Recife, T. 3, p. 703 7io. alcanavo os Portuguezes em S. Salvador um grande triumpho sobre os huguenotes. Alguns corsrios da Rochella, a caminho para uma expedio de rapina contra o litoral da Bahia, tomaro o forte portuguez deArguim, na fronteira costa da frica : saquearo a egreja, demoliro os altares, e, em m hora para elles, levaro sancto Antnio em tropheo. E sabendo A nica noticia que d'esta expedio de Lancaster encontro em escripto portuguez, uma meno incidente na Relao annual para 1601-2. Alli se diz erradamente que os Inglezes tractavo"de accommetter Olinda quando assim foro rechaados, e com verdade provavelmente que os Portuguezes devero esta victoria aos ndios convertidos. F. 114.

-

HISTORIA DO BRAZIL.

511595

que era elle o maior saneio dos Portuguezes e Brazileiros, pediro a sua sanetidade que houvesse por bem conduzil-os Bahia. To miservel foi a viagem, e tanto tivero que soffrer do mar e do escorbuto, que de toda a esquadra sos dous navios ganharo a costa do Brazil, e esses em to laslimoso estado, que por fortuna o tivero entrar na Bahia como prizioneiros, com as vidas salvas por nica condio. Antes de feita esta composio lembrro-se que tinho saneto Antnio a bordo, e o tractamento que lhe havio dado tornava o caso mais feio ainda. Para oceultar isto aos Portuguezes, alijro-no, esquecidos de que um saneto Antnio de pau no iria facilmente ao fundo. Para final confuso dos miseres, soube o saneto achar o caminho da cidade, e do ces distinctamenle o viro vir posto de p, a marchar por sobre as ondas. O governador e o clero o accompanhro em procisso triumphal, atravs da cidade, at que o foro inslallar na egreja dos Capuchinhos . 0 castigo que se infligiu Iripolao, ningum o diz, m a s n u m caso d'esta natureza no era provvel que se usasse de misericrdia, mormente havendo milagre de permeio. Tendo alguns selvagens roubado uma capella nos subrbios de Piratininga, ou S. Paulo, como depois se chamou, foi um d'elles que ajudara a quebrar uma imagem de barro da Virgem, feito prizioneiro, ligado cauda d'um cavallo, e arrastado pelas ruas at espirar.

^'slo.

52159

HISTORIA DO B1UZIL.

5-

El Dorado.

A boa fortuna de Lancaster teria provavelmente desafiado outras expedies, a no ter Ralegh offerecido aos aventureiros inglezes muito mais tentador engodo; e a fbula do-El Dorado, que Hespanha custou mais sangue e dinheiro do que todas as suas conquistas no novo mundo, serviu agora para desviar do Brazil estes inimigos. O theatro da jornada de Ralegh fica fora dos limites d'esta historia; mas a fabulosa terra do ouro foi buscada com egual credulidade por parte do Brazil, nem deixar de vir aqui a pello a explicao da origem d'uma fico que to extraordinrios effeitos produziu. Por toda a costa do continente hespanhol na America do Sul corria a voz d'um paiz sertanejo, onde abundava o ouro. Referio-se estes boatos indubitavelmente aos reinos de Bogot e Tunja, hoje Nova Granada. Belalcazar, que partido do Quito, buscava este paiz; Federman, que vinha de Venezuela; e GonaloXimenezdeQuesada, a procural-o, seguindo o rio Magdalena, aqui se encontraro. Mas lambem n'estas partes se fallava d'um rico paiz remoto; fama egual corria no Peru ; no Peru referia-se ella a Granada; em Granada designava o Peru ; e os aventureiros d'ambas as partes depois de apanhada a caa, principivo outra vez a correr atraz d'ella. No tardou a confeccionarse um reino imaginrio, que servisse de alvo a estas buscas, nem a respeito d'elle se inventavo contos com mais facilidade do que se

HISTORIA D BRAZIL. O 33 acreditavo. Dizia-se que escapo do extermnio dos Incas', fugira um irmo mais moo de Atapalipa, levando a maior parle dos thesouros, e fundara um imprio maior do que esse qe sua famlia havia perdido. A's vezes chamava-se este phantastico imperador o Gro Payliti, outras o Gro Moxo, outras oEnim ou Gro Paru. Um impostor affirmou em Lima ter estado na sua capital, a cidade de Manoa, onde no havia menos de Ires mil operrios empregados na rua dos Ourives ; chegou at a apresentar um mappa do paiz, em que figurava um monte de ouro, outro de prata e um terceiro de sal. As columnas dos paos imperiaes ero de porphyro e alabastro, de cedro e ebano as galerias; o throno de marfim, e de ouro os degraus por onde para elle se subia. Quando D. Martin dei Barco escrevia a- sua Ar(jcutnia, que foi pelos tempos da primeira expedio de Ralegh, corria no Paraguay o boato de ter sido descoberta a corte do Gro Moxo; D. Martim o refere como noticia segura, lastimando que Cabea de Vaca voltasse dos Xarayes, pois que se houvera seguido avante na mesma direco, teria sido o descobridor bemaventurado. Estavo estes paos, diz elle, n'umaPara o Mxico era o Gro Quivira o mesmo que Enim para o Peru, o imaginrio successor da decahida dynastia. Feyjoo (Th. Cril., t. 4, 10, 15) refere com alguma probabilidade a origem d'esta fbula ;'s noticias que os ndios davo dos estabelecimentos francezes no Canad.1

1593.

U 9 5.

HISTORIA DO BRAZIL.

ilha formada por um lago. Ero de pedra alva ; a entrada ergio-se duas torres e entre ellas uma columna de vinte e cinco ps de alto; no seu cimo via-se uma grandiosa lua de prata, e prezos sua base por cadeias de ouro estavo dous bes vivos. Quem passasse por estes dous guardas, entrava num quadrado plantado de arvores e regado por uma fonte argentina que esguichava por quatro tubos de ouro. A porta do palcio era de cobre, pequenssima, eo seu ferrolho prendia na rocha viva. Dentro estava um sol de ouro sobre um altar de prata, deante do qual ardio quatro lmpadas de dia e de noute. Por mais manifestamente que estas fices fossem extrahidas dos romances de Amadis e Palmeirim, ainda no ero assaz grosseiras para a sedenta avareza d'aquellas para quemsefabricavo. 0 reino imaginrio obteve o nome de El Dorado Ramusio. 5, ff. 416 do trajar do seu imperante, que linha o merecimento de vestir moda selvagem. Todas as manhs lhe untavo o corpo com uma certa gomma aromatica de grande preo, e depois com um tubo lhe sopravo em cima ouro em p, at o cobrirem dos ps.at cabea; e noute lavava-se tudo. Repulava o brbaro este trajar mais magnfico e esplendido do que o de nenhum outro potentado do mundo, e d'aqui veio o nome de Dourado que lhe pozero os Hespanhoes. A historia de todas as expedies emprehendidaspara conquista d'este reino, formaria um vo-

HISTORIA DO BRAZIL.

351595

lume no menos interessante que extraordinrio. No possvel que Ralegh acreditasse na existncia de similhante paiz, que no era a credulidade o seu defeito predominante; mas tendo formado o projecto de colonizar a Guiana, serviu-se d'estas fbulas como chamariz da avidez do vulgo. Procurando assim com embustes envolver a nao n'uma empreza indubitavelmente de grande importncia nacional, arruinou-se a si; as suas narraes so encontraro desconfiana, como crimes lhe imputaro as desgraas, e apezar de seus grandes e inquestionveis talentos e at d'essa insigna morte que alias lhe teria tornado veneravel o nome, ficou na sua memria uma mancha. Mas os seus sequazes terio ido exercer em outra direco o seu mister de piratas, se elle os no houvesse conduzido ao Orinoco, e o Brazil lhe deve um longo perodo de Iranquillidade; primeiramente foro os seus projectos que attrahiro os aventureiros a outro campo, e depois aterrou-os o seu triste exicio.

-

HISTORIA DO BRAZIL.1505.

CAPITULO XIIIExpedies partidas do Maranho. Os Tapuyas. Vantagens obtidas pelos Jesutas e diminuio dos indgenas. Pacificao dos Aymor 6s. Estabelecimento no Cear. Expedio dos Francezes ilha do Maranho. Expulsa-os Jcronymo de Albuquerque. Fundao da capitania do Tara, e cidade de Belm. Destruio dos estabelecimentos hollandezes na foz do Amazonas.

Expedies Em quanto os Inglezes buscavo na Guiana o El lo^iaranho. Dorado, tentava Gabriel Soares fazer a mesma descoBerredo. '

2, 93. b er ta 5 partindo do Brazil; alcanou as cabeceiras do rio S. Francisco, avanando quasi at provncia de Charcas, mas taes trabalhos passara, e to grande perda de gente soffrera, que fora lhe foi retroceder. Pero Coelho de Souza, colono da Parahyba, tentou ento por gua a mesma empreza; no se diz em que direco, mas provavelmente foi pelo Amazonas acima. N'esta expedio sem proveito gastou elle grosso cabedal, mas o mo resultado no o aterrou que no commettesse segunda. Depois de ler por onze annos dirigido o governo foi D. Francisco de Souza rendido por Pedro Botelho, eo novo governador acorooou Pero Coelho, dando-lhe a commisso de conquistar e colonizar com o titulo de capito-mr. Apparecro uns oitenta aventureiros, que n'esta

HISTORIA DO BRAZIL.

37

descoberta jogaro vidas e fortunas : ero muitos 1595d'entre elles versados nas lnguas indgenas, e oitocentos ndios os acompanharo como aluados. Parte d'esta fora seguiu a costa em dous caraveles com um piloto francez1, que a conhecia a palmos, avanando o troo principal por terra at ao Cear. Alli engrossou o capilo-mr a sua gente, encorporandolhe algunsdoslndios mais civilizados, e todos junctos proseguiro at Serra de Ibiapaba. Os Tabajars oppozero-se marcha. Mel-Redondo, um dos caciques, era auxiliado por um punhado de Francezes s ordens do senhor de Manbille, mas no pode impedir que os Portuguezes lhe tomassem Ires dos seus fortes; obteve comtudo condies favorveis e submelteu-se com mais de trinta aldeias. Outro cacique da Serra, por nome Juripari, ou o Diabo, foi mais feliz na sua resistncia, e apoz um mez de guerra com elle, por felizes se dero os invasores com receberem ordem de desistir da infructuosa jornada. Pero Coelho retirou-se para Jaguaribe, ento da viiiama jurisdico de Pernambuco. No desanimado ainda, Pero coelho. para aqui transferiu a sua famlia, principiando uma colnia, que chamou TSoca Lusitnia, e uma villa, a que deu o nome de Nora Lisboa. Procedeu poremDiogo de Campos o chama Otuimiri, nome evidentemente mais Kipinamb que francez, e provavelmente posto a este homem pelos ndios. Accrescenta Diogo que Pero Coelho nada fazia sem que o consultasse. Jornada do Maranho, p. 2.1

38

HISTORIA DO BRAZIL.

com clamorosa maldade : os Tapuyas, quehavia aprizionado na guerra, vendeu-os como escravos, e junctando injustia a ingratido, exerceu a mesma tyrannia sobre os que lealmente o tinho servido como alliados. Ia este proceder de encontro s leis postas. As relativas escravido havio sido mitigadas, em conseqncia dos excessos commettidos debaixo da capa da sentena geral contra os Cahets, decretando-se, que nenhum ndio seria reduzido escravido que no fosse aprizionado em guerra legitima, c que os que fossem resgatados aos inimigos recoperario a liberdade no lim d'um prazo de servios equivalente ao preo do resgate. Fceis ero de illudir similhantes disposies : a caa de gente tomava o nome de guerra legitima, e instigavo-se hordas a reciprocas hostilidades, para fazerem prizioneiros que podessem vender, e se o resgatado caplivo no morria acabrunhado de. trabalho antes de expirar o termo da sua servido, como obteria o beneficio da lei, ignorando-o e achando-se merc do seu senhor? Informado de todas estas tricas, revogou Philippe II todas as leis anteriores sobre esta maleria, decretando que se no reduzissem escravido seno os ndios tomados em guerra legitima, e que por tal se teria somente a que fosse ordenada sc c l - c- pela Soroa com a assignatura real1i Apesar d'esta restrico ainda era eminentemente injusto o capttveiro dos indigenas. F. P.

> -

595

HISTORIA DO BRAZIL.

39

Coelho procedera com manifesta infraco d'esta 159S lei; d'isso se dero em Madrid queixas, que se no podero mover a corte a punil-o, fizero com que esla lhe retirasse todo o auxilio, no tardando que elle soffresse as conseqncias dos seus crimes. Os amigos o abandonaro; os Tapuyas tinha-os offendido, e to desamparado se viu a final, que quasi mais vendido, do que o foro os que elles vendeu, se veto, deixando tudo, miseravelmente a p com sua mulher e filhos pequenos, parte dos quaes perecero de fome, fazendo to lastimosa esta sua passagem, como a de Manoel de Souza na terra dos Cafres'. De Madrid chegaro ordens de pr em liberdade os naturaes que elle injustamente escravizara, recom'pensando-os pelo que havio soffrido, mas ordens d'estas ero mais freqentemente expedidas pela corte de Hespanha, do que cumpridas pelos seus governadores. le%. Os Jesutas, que anciosos havio olhado a jornada A Serra de Coelho sobre a Serra de Ibiapaba, prepararo delbiapaba agora uma expedio pacifica na esperana de reduzirem e civilizarem seus habitantes. Extendem-se estas montanhas por algumas oitenta legoas em comprimento e vinte em largura, e erguem-se ondeadas, sobranceiras umas s outras; formadas de granito1 Diogo de Campos, p. 3. Allude historia do naufrgio de Sepulveda, uma das tragdias de mais enternecer que recorda a historia.

401595

HISTORIA DO BRAZIL.

em certos logares, cobrem-se de verdura em outros as suas vertentes. Subil-as trabalho afanoso para quatro horas, em que, alem dos ps, ha muitas vezes que ajudar-se de mos e joelhos; ganho porem o viso, encontra-se o viajante n'uma regio em que bellezas de todo o gnero como que porfio em enlear-lhe os olhos: avista rochas, cabeos, outeiros, valles, e vastas savanas, nuvens a seus ps penduradas sobre as plancies, e na orla do horizonte o oceano. Curtos so alli os dias, sempre nevoadas as manhs, e apressadas as tardes com os montes que se levanto ao poente, a cavalleiro dos outros. So frias as noutes, nem no inverno se supporlario sem fogo. Notvel haver alli pouca gua, mas essa pouca excellente. A esta circumslancia attribui' os Tapuyas e Taba- * jaras a escassez de toda a espcie de caa, no atlendio porem que a no mudarem freqentemente de pouso, devem as tribus caadoras ver escassear-lhes depressa o alimento. os Tapuyas. Raa a mais antiga do Brazil, tinho os Tapuyas1 senhoreado toda a costa do Amazonas ao Prata, at que foro rechaados pelos Tupis em epocha que no podia ser muito remota, pois que vivia ainda em memria de selvagens. Suppunha-se que no serio se extendio ainda por toda a linha d u m rio ao outro, e que ero mais numerosos do que nenhuma outrat Esta denominao de Tapuya, significando brbaro, parece antes uma alcunha do que o nome d'uma tribu. F. P.

-

HISTORIA DO BBAZIL.l

41

tribu .Seu nome significa Os inimigos, assim cha- 1595. mados da eterna guerra que fazio a todos os outros ndios, e at uns aos outros. Comtudo de todos os ndios brazileiros ero estes os menos cruis; os Portuguezes lhes compravo escravos, pois que elles nunca matavo os prizioneiros, e o inimigo que n'uma de suas casas de residncia podia asylar-se, estava seguro. Jamais Tapuya violou este sanctuario, por mais forte que fosse a sua clera e grande a provocao. Anlhropophagos ero, mas de natureza pe- Noticias culiar : os Tupis devoravo seus inimigos como o 2,73.Vasconcellos diz que algumas pessoas os tinho por mais numerosos do que todas as outras tribus. Este escriptor divide todos os ndios brazileiros em duas classes principaes, mansos e bravos. Incluindo na primeira denominao todos os que fallo alingua tupi, chama Tapuyas todos os outros. Auctores mais modernos emprego o nome vagamente, em logar da antiga designao genrica de ndios. Vasconcellos quer contar entre elles mais de cem linguas differentes, e especifica os Aymors entre as suas subdivises. N'esta ultima assero claudica elle evidentemente : os Aymors apparecro pela primeira vez nas provincias do sul, e so 180 annos depois da descoberta da America : vinho ainda mais do sul, do que a sua estatura tal ou qual presumpo, e a compleio prova. Falhvo uma lingua nunca at ento ouvida no Brazil. A' vista de todos os lados de que temos noticia, pois claro, que trs grandes tribus ou naes emigraro successivamente do interior para a costa, primeiro os Tapuyas, depois os Tupis, e afinal os Aymors *. O Jaboato limita os Tapuyas entre o Gro Par e Jaguaribe. Por toda esta extenso de costa, e no serto, diz este escriptor, ero elles innumeraveis, especialmente s margens d'esse rio, que d'elles tomou o nome de Rio Grande dos Tapuyas. Prembulo. Digresso, 2. Estncia, 1, 10. Pensa o senhor Varnhagen que os Aymors devem ser descendentes dos ralages ou Araucanos. F. P.1

421595

HISTORIA DO BRAZIL.

-

Maregraff. L. 8, c. 12 8, 13.

maior signal de dio, os Tapuyas comio os seus prprios mortos como ultima demonstrao de respeito. Se morria uma criana 1 , era comida pelos pes, mas no cadver do adulto todos os parentes tinho quinho : guardavo-se os ossos para bodas, sendo ento pulverizados, e tomados como a couza mais preciosa que offerecer se podia. 0 regulo d'uma horda distinguia-se pela sua coroa ou tufo de cabello, e pelas unhas dos dedos grandes dos ps; unhas compridas era couza mui estimada e trazio-nas os parentes d'aquelle, e os que na guerra se havio assignalado, mas s dos dedos das mos se lhes limitava o privilegio, que.deixar crescer as dos ps era prerogativa do chefe. A certos respeitos parece ter este tambm mettido a mo na seara do conjurador. Em cima d'uma esteira, no meio da sua tenda, estava um cabao grande coberto, que so elle podia olhar; o povo o fumigava quando fumava, e ia depr-lhe diante a caa e o mel que trazia das selvas, at o cacique permittir que se retirassem estas offertas. Dentro do cabao havia seixos, pelo que parece ter sido isto um emprstimo aperfeioado do culto da marae. Pretendia o chefe curar molstias com frices e cuspiduras de tabaco; e quando uma donzella casadoura no achava pretendente, marcava-a a me Fmrninas, ubipepererunt, secedunt in silvam, et infanti umbilicum concha prsecidunt, ei una cum secundinis coctum devorant. Jacob Rubbi em Maregraff.

HISTORIA DO RRAZIL.

43

1595 de vermelho debaixo dos olhos c levava-lhe a elle, que lhe pozesse encanto. Com cnticos e danas se celebrava o nascer das Pleiades, que parecem ter alli !acob Rabb passado por divindades. >-

Mudavo os Tapuyas de logar de residncia mais freqentes do que nenhuma outra tribu. Na vspera de levantar-se o acampamento reunia o cacique os conjuradores, para saber em que direco marchar, e onde fazer alto. Antes de partirem todos se banhavo, esfregavo com areia fina os corpos, e tornavo a banhar-se; depois fazio estalar as junctas, e arranhavo-se deante do fogo com os dentes de certos peixinhos, a ponto de esguichar o sangue em muitas partes, operao que se reputava prevenir e remediar lotVaAn. a fadiga 1 . Apenas alcanavo o logar designado, os mancebos cortavo ramos, e com elles construio seus ranchos ou choas 2 ; feito isto, sahio os homens a caar, pescar, e procurar mel, e as velhas, que catassem fruclas e raizes, em quanto as moas em casa preparavo a comida medida que lhes trazio os ingredientes. A caa era trabalho, e no recreio. Os conjuradores indicavo a direco em que devia buscar-se; os mais expertos na sciencia encarregavose d'isto, e assim que descobrio cama ou cova, cerJacob Rabbi, que viveu muitos annos entre os Tapuyas, freqentemente experimentou este remdio, de cuja efficacia se convenceu. 2 Estas, segundo Vasconcellos, chamo-se Tapuyas, como os seus moradores, pelo que no pde ser na prpria lingua d'elles, que esta palavra tem a significao de inimigos.1

41595

HISTORIA DO BRAZIL.

cava-se o logar, e se o animal escapava s settas, o que era quasi impossvel, l estavo os ces, para segural-o com certeza. Feita a caada, levava-se o producto para casa, danando e cantando, sahindo o resto da horda ao encontro da partida com eguaes demonstraes de regosijo. A comida que se queria preparar, mettia-se n'um poo ou forno de terra forrado S. Vasc. de folhas; cobria-se depois de outras folhasede terra, Not. An. 1, 144-6. e por cima se lhe accendia fogo, excellente e no desusado modo de assar. 0 cho lhes servia de meza, e por toalha tinho folhas, de que comtudo nem sempre usavo. Tudo que se lhes punha diante por via de regra era consumido, aturando o appetile selvagem em quanto aturava o mantimento; o resto do dia passava-se em jogos, indo os mancebos a cantar, e as raparigas a danar atraz d'elles, cada uma atraz d'aquelle que amava. Quando io de marcha fazia-se uma experincia de foras, para a qual servio os troncos de duas arvores novas de egual grossura e tamanho : dividia-se a horda em dous magotes, e aquelle que primeiro chegava com a sua arvore ao logar em que devio fixar a residncia, exultava sobre o outro. Guardavo-se ento os ramos ao lado da cabana do cacique, para servirem na primeira mudana seguinte. oiicias. A agricultura ficava a cargo das mulheres, outra S aC MaI r . circumslancia em que estes ndios se dislinguio dos rga f 8, 10. outros do Brazil; havia porem tribus que todos os

-

HISTORIA DO BRAZIL.

451595

dias mudavo de pouso, pelo que jamais cultivavo o solo. Hordas havia que em logar de arco usavo dardos de arremesso. No serto da Bahia a oitenta legoas da costa enconlrava-se uma nao por nome Maraques, entre a qual as mulheres trazio uma espcie de avantal, andando tudo o mais nu. Pescava este povo com rede de que os Tupinambs no sabio fazer uso; fazio-nas de uma trepadeira comprida e tenaz, e em quanto uns a arrastavo pela corrente, balio outros a gua. Havia no seu territrio uma serra com salitre, e elles queimavo a terra, fervio as cinzas, e recolhio os saes crystalizados. Passo os Tapuyas por terem sido macrobios mais que nenhuma das outras naes, posto que a longevidade a todas se attribua; as crianas principiavo a andar to cedo que fazia pasmar, e comeavo quasi que logo lambem a nadar. Aformosear-se era privilegio do sexo masculino; furavo as orelhas e quando rapazes cortavo o lbio inferior longitudinalmente para formarem uma boca supplementar1. Fazia-se esta operao n'um logar especial, com assistncia de todo o povo a danar e a cantar como n'uma ceremonia religiosa. Um conjurador deitava o padecenteNo este costume menos hediondo que immundo. Quando os ndios viajo pelas solides, diz Knivett (Purchas., 1. 6, c. 7, p. l'22ft), vo munidos de grande quantidade de labaco, levando uma folha constantemente mettida na boca entre o lbio e os dentes, e como ando, llies vae escorrendo a saliva negra pelo orifcio que teem no lbio debaixo.1

-

461595

HISTORIA DO BRAZIL.

no cho, amarrando-o de mos e ps, em quanto outro com um instrumento de madeira fazia a inciso e erguia a me clamoroso pranto. As faces somente se furavo quando o mancebo estava para casar-se. Descrevem os auctores como os mais indolentes e imprevidentes dos ndios brazileiros os Tapuyas, que habitavo a serra de Ibiapaba. Parecem porem ler os jesutas conhecido o valor da sua posio montanhosa, e em de ibiapaba. logar de emigrarem para as terras chs em busca de mais abundante pasto, cultivavo mandioca, milho e algumas espcies de legumes, pouco na verdade de cada couza, mas assaz para evitar falta absoluta. O s seus charlates lhes tinho inventado uma curiosa crena, de que o mundo se poria um dia com o debaixo para cima, e que ento serio os ndios senhores sobre os brancos. Egualmente tinho descoberto uma engenhosa objeco contra o christianismo; a encarnao, dizio, havia tido logar unicamente por amor dos brancos; quando a Deus aprouvesse remir os ndios, encarnaria numa das suas-virgens, e ento Vida eT i % 24o.' voluntrios deixario baptizar-se. Tal era o povo que os Jesutas Francisco Pinto e Luiz Figueira sahiro a reduzir, acompanhados de setenta ndios. Com estas novas supersties se tinho os nimos dos Tapuyas fortificado contra elles; Pinto e a maior parte dos seus foro mortos, fugindo o resto para as florestas; d'onde escaparo para o

-

HISTORIA DO RRAZ1L.

47

Cear. Comtudo esse mesmo povo que assassinara 1595Pinto, lhe collocou o espirito no paraizo d'elles. Tinho os seus caciques, crio elles cada um sua aldeia grande debaixo da terra, para onde depois da morte io todos os seus subditos, e para alli suppozero que fora este padre a ser-lhes amigo c preceptor. Em outras parles do Brazil foi mais feliz a Com- Empregao-seos Pitagoares

panhia. Assolavo os Avmorcs a Bahia, e Botelho contra os1 Toda esta parte do discurso provavelmente de inveno franceza. de primeira intuio que os Tupinambs nenhuma tradio podio ter acerca d'uma espada de ferro, antes de terem visto este metal, e to torpamente foi forzada a tradio, para se lhes por na boca, que a espada de pau a mais pezada das duas. 2 Denominao dada pelos selvagens aos Portuguezes. F. P.1

68 *

HISTORIA DO BRAZIL.

com a miservel vida que havio vivido seus maiores, a revolver a terra e cortar arvores com instrumentos de pedra. Depois, dirigindo-se a Rasilly, disse: Grande fama ganhars por teres deixado paiz to bello como a Frana, abandonando mulher, filhos e parentes para vir aqui viver; e posto que to formosa como a tua no seja a terra, nem possas haver todas as couzas boas a que ests costumado, comtudo se considerares a uberdade do torro, quo cheio de aves, e de caa e de fructos, seu mar, seus rios, a regorgitarem de peixe, e o bravo povo que te obedecer, e te far conquistar todas as naes vizinhas, sers contente. Pelo que tange ao nosso alimento, em breve com elle te habituars, e conhecers ento que a nossa farinha em nada o cede ao teu po, que muitas vezes hei comido. Mandou-se agora pelos capuchinhos. Um corsrio francez, que costumava depositar aqui a sua rapina, assistiu com as tripolaes de outros trez navios de Dieppe ceremonia do desembarque, e offereceu a todos uma ceia to lauta moda franceza, que no houve molivo para suspirar pelas golodices da Europa. Desde logo se principiou a construir um forte em que se montaro vinte peas de artilharia de grosso calibre : continguo a elle um armazm para as mercadorias que havio trazido os Francezes, e a curta distancia uma casa para os missionrios, que na alegria de suas esperanas'a chamaro convento

Fundao de S. Luiz

HISTORIA DO BRAZIL.

69

de S. Francisco. Benzeu-se a terra para a purificar 1612do pestifero paganismo, que por tanto tempo a contaminara; plantou-se uma cruz, e Rasilly achou modos de combinar a cortezania com a religio, chamando o forte S. Luiz em honra do rei e do seu canonizado av ; a bahia chamou-a Sancta Maria, com o que por intermdio da Virgem rendeu uma fineza B e rainha regente. ^ .8' Um dos principaes empenhos dos Francezes era aposies aular a inimizade dos naturaes contra os Portugue- naturL. zes. No carecia esta de incitao. As guerras de Coelho na serra de Ibiapaba, e o seu infame trafico de escravos em Jaguaribe, vivio frescos na memria ainda. Des Vaux e Rasilly andaro de horda em horda, discorrendo sobre a tyrannia dos Portuguezes, e exagerando os benefcios que da proteco da Frana se devio esperar. N'uma das aldeias deu um velho, por nome Mombore-VVasu, uma resposta de tocar no vivo, contando o que dos Portuguezes se referia. Principiaro, disse, por traficar, e livremente cohabitro com as filhas de nossos irmos de Pernambuco, que por grande honra o tivero haverem filhos d'elles. Logo parecero tornar-se escrupulosos, dizendo que precizavo d'um pag que os casasse, e a final pediro escravos que lhes cultivassem as terras a elles e ao seu pag. Pondo assim claramente diante dos olhos aos seus companheiros, que os Porluguezes tinho principiado exactamenlc

701612

H I S T O R I A DO R R A Z I L .

por onde comevo agora os Francezes, e tirando a irrefragnvel conseqncia que estes acabario por onde acabaro aquelles, advertiu-os que, aproveitando da experincia, desconfiassem de todos estes estrangeiros. Rasilly percebeu que no havia soplmma que sobrepujasse a mpressHo immediata que este velho produzira, e prudentemente achou escusa para retirar se, mas o effcito foi passageiro, como era de esperar. Os selvagens somente so tenaces nas suas affeies, sejo boas ou ms; pouco acostumados a raciocinar, no podem ter muito tempo presentes as suas concluses. Exposta a sua opinio, era Mombore-Wasu velho demais para sentir em si o ardor de fazel-a prevalecer; bem depressa foi pois esquecida. Todos osTupinambs da ilha se pozero debaixo da proleco da Frana, exemplo que foi seguido por duas tribus da terra "firme, uma cm Tapuilapcra com dez aldeias, c outra em Cuma com onze. Como para legalisar o seu direito a um paiz de que com o p de protegel-o vinho apossar-se, induziro Ravardire e Rasilly seis dos caciques, a hastear a bandeira franceza ao lado da cruz. Queixara se Jai.y-Wasu que os Portuguezes lhe' .J

Procederdos

Francezes. matavo os conterrneos por fenderem os lbios e trazerem cabellos compridos, c que em sigmil de ignomnia ropavo a cabea a quantos subjugavo. Com mais prudncia ,j um

dos Francezes e das medidas que estavo tomando. $$l Todos os passos, disse, por gua e por terra, estavo tomados pelo inimigo, para cortar a retirada aos

92 1014.

HISTORIA DO RRAZIL.

Portuguezes; os Tupinambs, que os tinh,\o vindo visitar, e os cinco ndios que os acompanharo, jazio em ferros no forte de S. Luiz, onde havio sido postos a tormenlos para confessarem quanlo[sabio. Accrescentou que na manh seguinte virio duas lanchas armadas a reconhecer o acampamento, que brevemente seria accommettido, e que o apparecimento d'estas embarcaes confirmaria a verdade do que dizia. No ero to fceis de abalar como as suas resolues as esperanas de Albuquerque; estava ainda persuadido que os insulanos para elle se passario, acreditando que so a precauo dos Francezes em bloquear os portos, impedia que elles se no tivessem ainda declarado a seu favor. Comtudo at ao ponto de mandar aprestar dous caraveles que levassem

do Maranho, despachos a Pernambuco, ainda reconheceu elle o 40-42. perigo da sua situao 257-2G2. Na outra manh apparecro effectivamente as duas lanchas, como o prizioneiro annunciara; e d'um forte chamado de S. Jos, cm Ilapary, na margem opposta, dispararo os Francezes em signal de guerra duas peas, a que com egual descarga respondero os Portuguezes, iando todas as bandeiras. Coma mar da tarde approximou-se uma das lanchas a reconhecer, trazendo a bordo vinte e cinco homens, ao commando do senhor de Pralz, official distincto, c gentilhomem da cmara d'el-rei de Frana. Mandou Albuquerque a atacal-os, mas, demandando a

Jornada

HISTORIA DO BRAZIL.

95

lancha pouca gua, mettero-se os Francezes entre os baixios, aonde no foi possivel perseguil-os. Tres dias dep

HISTORIA DO BRAZIL.

991614

elles, com suas plumas, seus broqueis variegados de muitas cores, e sobre tudo pelo seu numero. No tinha Albuquerque fora com que estorvar-lhes o intento; trazia cada Tupinamb seu lio de fachinas, e principiaro a fortificar-se, em quanto Pizieu abria trincheiras d'alli at praia, para conservar communicao com a frota. Apoz um ligeiro tiroteio foi Diogo de Campos consultar com o commandante, que achou a olhar por um culo para o inimigo atravs das espingardeiras do forte. Senhor, lhe disse, no este tempo para olhar por vidros. Que cumpre fazer, senhor capito? foi a resposta. Tornou-lhe Diogo : Confiar em Deus e servir-nos de nossos braos, que no lhe vejo outro remdio. Se ao mesmo tempo Os accommettermos por dous lados, seguramente os bateremos, e Deus nos dar um dia glorioso. Mandou Albuquerque dar .immediatamente uma boca cheia de biscouto e um golo de vinho a cada homem, esahiu, deixando apenas trinta invlidos no forte. Dividindo o grosso da sua pequena fora em dous corpos de setenta Portuguezes e quarenta Tapuyas cada um, para si tomou um e deu o outro a Diogo, encorporada a maior parte dos alliados n'uma reserva . pequena, que ficou s ordens de Gregorio Fragoso. Devia Diogo atacar o inimigo na ribeira, em quanto Jeronymo se encarregava de forar o cabeo. Avanava o primeiro encoberto pela espessura, alguns dos

-

100Gi

HISTORIA DO RRAZIL.

\ '* seus porem mexio-se com to tardio e remisse- passo, que bem se deixava ver que de boa wntade correrio em sentido opposlo. Virou-se elle e perguntandolhes com aspecto severo, se no ero ja os mesmos homens que em Peri se havio amotinado por no se verem assaz perto do inimigo, jurou que extenderia morto a seus peso primeiro que tentasse fugir.Da parte d'um homem de to bem conhecida resoluo, e com uma pistola engatilhada, produziu esta ameaa o desejado effeito. Animou-os tambm dizendo que a coragem dos Francezes jamais ia alem da primeira exploso. Cobraro valor os soldados, e elle ordenou que o corpo de reserva investisse pelo flanco o i nimigo no mesmo momento que elle o caregasse pel;aBerredo. 290-4. frpnlp

Ia dar-se o signal do combate quando appareceu um cometo com uma caria de Ravardire para o commandante. Abriu-a Diogo, pois que nem Jeronymo entendia francez, nem havia tempo que perder. Maravilhava-se o general francez da incomparavel temeridade dos Portuguezes, que assim se aventuravo a atacar o maior monarchada christiandade dentro d'aquelle territrio de que elle em nome de S. M. havia tomado posse. Comtudo, por amor da coragem que esta temeridade implicava, e para poupar sangue christo, offerecia ao general portuguez termos honrosos, dando-lhe quatro horas para considerar se queria acceital-os ou correr os

HISTORIA DO BRAZIL.

101

azares da guerra. Diogo mandou inteirar o comman- 1614dante do contedo d'esta carta, o mais resumidamente possvel, dizendo-lhe que uma das mximas de Ravardire era proseguir nos preparativos em quanto negociava, e conjurando-o que no concedesse ao inimigo a vantagem d'esta demora, mas desse o signal. Depois de ver-se no campo da batalha, no conhecia Albuquerque fraquezas, e rompeu o confliclo na ribeira. Levou Diogo de vencida as primeiras trincheiras; Derrotadosr

.

Francezes.

do outeiro descero os Francezes (ignorantes do perigo que a elles prprios ameaava, pois o commandante tomara um desvio pela floresta) a soccorrer os seus conterrneos, e por breve espao viu-se elle exposto a dous fogos; mas Fragoso com os seus Tapuyas carregou-os pelo flanco, e Jeronymo vendo a posio de Diogo, cahiu tambm inesperadamente sobre os inimigos, mudando de marclja. Curto mas sanguinoso foi o conflicto. Os Francezes e os seus aluados abandonaro a ribeira e retirro-se para as suas obras no cabeo. Immediatamente poz Diogo fogo s canoas que tinho sido puxadas para terra. Seguiro os Portuguezes a victoria, e assaltando estas obras, completamente derrotaro o inimigo. Ao principio no se abalou Ravardire a soccorrer a metade da sua fora que entrara em fogo, to grande a sua confiana na superioridade numrica d'ella, to profundo o seu desprezo dos que a combatio; quando

102

HISTORIA DO BRAZIL.

viu o perigo era ja ,tardc. No podia chegar nas suas lanchas por falta de gua, agora que vasara a mar; as canoas tinho ficado em secco e fora de alcano, de permeio uma margem lodosa. Tenlou operar uma diverso investindo o forle, mas tambm alli o pouco fundo o impedia de approximar-se, e com a sua pobre artilharia mantinho.os invlidos uma viva canhonada. Pizieu, que commandava o destacamento francez, cahiu. Cento e cincoenla dos seus compatriolas ficaro mortos no campo, nove foro feitos prizioneiros; alguns estavo armados de espingardas de dous canos, ento inveno nova. Batero-se com grande denodo, preferindo morrer com o seu commandante a entregarem-se. Tirando partido do triumpho, queimou Diogo ao inimigo todas as canoas que tinho sido aladas para terra, quarenta e seis em numero, e algumas d'ellas de setenta e cinco palmos de comprimento e vinte e cinco remos por banda. Todas foro destrudas com os seus esquipamenlos. Entre os Portuguezes onze mortos, dezoito feridos. Nem cirurgio nem ambulncia havia na expedio; appareceu porem um rapaz que sabia como ligar uma ferida, e na falta de qualquer outro medicamento applicava o leo de copaiba, ou de azeitona, ou trapos molhados, e punha-se a psalmear o enfermo. De parte a parte se passou a noute em grande desassocego. Apezar de vencedores no desconhecio os

H1ST,0RIA DO BRAZIL.

103J01

Portuguezes a desproporo de suas foras. Pozerose guardas dobradas, pois ndios hostis tinho desembarcado bastantes para os manterem alerta e inquietos; faltavo provises; o inimigo os bloqueava com seus navios, e meio de salvao nenhum se via. Incapazes de se preoecuparem do futuro, celebraro os ndios alliados toda a noute com cantares e danas a sua victoria, e as mulheres percorrio o campo cantando as proezas de seus maridos, e proclamando os nomes dos inimigos que elles havio vencido e cujas cabeas havio quebrado. No correr da noute veio o cacique da ilha ter com os Portuguezes, informandoos de que os Francezes estavo na maior consternao. A manh confirmou a noticia, pois em signal de lucto tinha o inimigo colhidas todas as bandeiras, e nem tambor nem clarim se lhe ouvia a bordo dos navios. Dos prizioneiros soube Albuquerque que a toda a hora se esperavo de Cuma na terra firme seis ou setecentos ndios, que devio reunir-se ao armamento francez, e preparou-se para novo assalto. Com effeito appareceu logo d'ahi a pouco este esperado reforo em dezaseis canoas grandes, a demandar o rio Mony, onde desembarcar. Ainda houve tempo de oecupar a ribeira com cem mosqueteiros, e os ndios atravessaro para o outro lado. Alli muitos saltaro em terra; mas encontraro fugitivos da derrotada

-

Jornaacostumadas fadigas da vida militar, e de tal cargo, foro maiores do que podia elle soffrer, e pouco depois da chegada de Francisco Nunes entregou o espirito nas mos do Creador. Como morresse no campo, enlerrro-no n'uma capellinhaemTapazipe, d'onde havia expellido os Hollandezes: com nenhuma pedra se lhe marcou o jazigo n'estes tempos de confuso, e quando mais tarde quizro os Portuguezes honrarlhe devidamente as cinzas, ja o logar estava esquecido '. Com egual proveito foi o mesmo systema de guerra chegada. . .J

da armada

continuado por t rancisco Nunes, e depois por D. Fran- Jusb'^spa" cisco de Moura, sua chegada de Lisboa, para tomar* Se lhe tivessem achado os restos, terio sido boas relquias,* pois que aos amigos do falecido bispo no faltaro razes com que propol-o candidato sanctidade. 0 chronista real, Tamaio de Vargas, lhe foi conferindo por prpria auctoridade o titulo, e as honras de milagroso. Diz elle : Ambale cada uno como padre y venerbale como santo, no oyendoolro nombre de Ia aclamacion de todos; porque verdaderamentc d zelo en Ia defensa de Ia religion, Ia caridad con su pucblo, ei exemplo en todos los exercidos de virlud, le califcaban en todas Ias ocasiones por tal, dando ei cielo testimonios de Io que se servia de sus acciones con los favores que hazia aquel campo por su intercesion; porque faltando algunas vezes por Ia noche Ia plvora 6 los viantenimientos, Ia manam todo se cumplia, con tanta copia que alribuian los soldados a diligencia mas que humana esta provision, llamando guerra milagrosa a Ia que asislian, y reverenciando en qualquiera accion mas a su prelado, como causa destas maravillas. FP. 46.

1661625

HISTORIA DO RRAZIL.

-

o commando. A L28 de maro de 1625 apparecro vista da enseada as armadas combinadas de Portugal e Hespanha. Animados e enlhusiasmados a este aspecto, entendero os Brazileiros que to grande terror devia elle incutir nos Hollandezes como lhes inspirava coragem a eiles, e querendo para si toda a gloria da cidade restaurada, invesliro-na precipitados, e foro repellidos mui cortados. Adeanlou-se mais cautelosa a armada; D. Fadrique sabia que poderosos reforos se havio levantado na Hollanda, e receava no tivessem chegado antes delle. Averiguado que lal se no dera, entrou na enseada com rufos de tambores e toques de clarins, bandeiras despregadas e pavezados os navios promplos para a aco. Tambm os navios, muros c fortes hollandezes deixavo esvoaar todas as suas flammulas e bandeiras, iadas quer em honra de amigos quer em desafio a inimigos, como quer que viessem estes recemchegados. Com grande cuidado linha sido fortificada a cidade segundo os melhores princpios da engenharia, sciencia em que nenhum povo tinha a experincia dos Hollandezes; noventa e duas peas de artilharia a defendio, e o Forte Novo atirava com balas irtcendidas.No porto havia dez navios de guerra e dezoito mercantes. Vendo a fora da praa e sabendo que no podia tardar a frota da Hollanda, convocou D. Fadrique um concelho de guerra em que propoz desembarca tres mil homens, c deixar o grosso da

HISTORIA DO BRAZIL.

167

fora a bordo para interceptar ao inimigo os soe- 1625corros. Objectou-se que com to pouca gente apenas se poderia formar um acampamento, sendo assim impossvel canar o inimigo conservando-o alerta em differentes pontos. A concluso foi que desembarcaria metade do exercito, e que a armada se prolongaria de Tapagipe at Saneto Antnio, bloqueando assim os navios no porto, o cortando todos os supprimentos ao mesmo tempo. Sem opposio se effectuou si de maro. o desembarque, pois que a guarnio, composta de dous a Ires mil homens de todas as naes, alem de grande numero de negros (a maior parte provenientes dos navios de Angola, que havio sido aprezados), Ce6s)pfJes G 1U >pe eslava dividida, nem tinha um chefe hbil. - r? 6 * Um lano das fortificaes ficara imperfeito, em Fazem os parte por que Willem Schoutens se fiava na profun- " i sortida feliz.

didade do fosso, e mais ainda, por que com demasiada confiana contava com a actividade do seu prprio governo e prostrao da Hespanha. Costumava dizer que o mais que tinho de fazer, era domar os naluraes, sendo impossvel que a armada hespanhola chegasse primeiro que a hollandeza; e ao ver entrada na enseada uma frota, affirmava ser a sua, at que to manifesta foi a verdade, que elle no mais pde illudir-se a si prprio com suas obstinadas presupposies. Desde logo se tractou de fortificar aquelle ponto. No passou desapercebida esta fraqueza, nem faltou quem aconselhasse ao general sitiante que por

1681625

HISTORIA DO RRAZIL.

alli salteasse a cidade: foi elle ao principio da mesma opinio, mas reflectindo que em taes tentativas sempre a perda recahe sobre a flor do exercito, e que o inimigo, conscio do seu ponto vulnervel, o eslava fortificando, achando-se apercebido para a defeza, optou por approxes mais lentos e seguros. Mas as iropas continho o inimigo em menos respeito do que fazia o seu commandante; andava em confuso o campo e pouco ou nada se velava. Percebero-no os sitiados, e uma manh sahiu Hans Ernest Kijf com dous troos de trezentos homens cada um, sorprehendeu o arraial, e foi fazendo grande matana, at que julgou prudente retirar-se. Entre os mortos contou-se o mestre de campo D. Pedro Osrio.

Motim Tendo aprendido a appreciar os recursos e adidas tropas . . hoiiamiezas. vidade dos Hollandezes, aprestara o governo hespanhol esto armamento em escala conveniente. Assegurara-se porem ao commandante, que acharia dinheiro na Bahia e em Pernambuco, e em ambos os logares nada de novo, alem de que na natureza do paiz e falta de meios de transporte lhe surgio difficuldades desconhecidas nas guerras europeus. Remissa no fora a companhia hollandeza em apromptar soecorros para a praa; apenas sabida a sua tomada apercebera com grande presteza duas poderosas esquadras, o se uma serie de furaces violentos e ponteiros as no houvesse detido nos portos da Hollanda, bem podia tel-as D. Fadrique ja achado sua

HISTORIA DO BRAZIL.

169

chegada na Bahia. Felizmente para elle estava com- 1625pletamente relaxada a disciplina da guarnio, e o conynandanle hollandez muito abaixo do importante cargo que occupava. Um inimigo mais hbil muito teria molestado os sitiantes, que nas suas operaes Tamaio de tudo tinho de acarretar mo e fora de braos somente, mas depois da primeira sortida o nico esforo que fez Willem Schoutens foi tentar incendiar a armada do bloqueio, lanando-lhe de noute dous brulotes. Ao primeiro movimento dos dous navios, os barcos de vigia hespanhoesdesconhecendo-lhes a inteno, dero rebate que o inimigo buscava evadirse por mar, e n'esta crena toda a armada poz-se ao panno para perseguil-o; a no ter sido isto, talvez tivessem os Hollandezes colhido algum resultado do seu estratagema. Um dos brulotes foi cahir entre dous dos maiores navios, mas ja no a tempo de causar-lhes damno; o outro atracou a almiranta, chegando a derreter-lhe d'um bordo o alcatro, mas os A^ndano. 4 '

Hespanhoes depressa evitaro o perigo, e fazendo Vargas' largar um bole impediro a fuga aos homens do brulote. Alguns morrero queimados, e um, que se lanara ao mar, foi apanhado para lhe amarrarem um pezo aos ps e tornarem a aliral-o gua! Conscio do grande perigo a que escapara, resolveu D. Fadri(|ue destruir sem mais detena os navios dos Hollandezes. Para fugir a isto levro-nos estes para perto dos fortes, mas desguarnecero-se assim

Tamaio de 1U

1701025

HISTORIA DO BRAZIL.

-

do lado da praia : abriu-se na rocha um caminho por onde descer a artilharia, e com ella se melteu a pique a maior parte das embarcaes1. # Entretanto tornava-se descontente a guarnio, clamando contra o desmando do chefe, que esquecido de todos os seus deveres entregava-se a de