33678759 cooperativismo agricultura familiar e redes sociais na reconfiguracao dos espacos rurais
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XIV Congresso Brasileiro de Sociologia: Consensos e Controvérsias
28-31 de julho de 2009 – Rio de Janeiro (RJ) GT 11 Globalização da Agricultura e dos Alimentos
Cooperativismo, agricultura familiar e redes sociais na reconfiguração dos espaços rurais1.
Ma. Luiza Lins e Silva Pires2 João Batista Barros Amorim3
Pedro A. T. S. de Albuquerque4 Yasmina P. Victor Juste5
Resumo: Este trabalho discute as estratégias de criação de arranjos produtivos realizadas pelos agricultores familiares no âmbito das cooperativas, a partir de demandas globais e de uma forma peculiar de inserção territorial. As cooperativas têm estimulado a mobilização dos agricultores em torno de inovações organizacionais e tecnológicas? Quais os seus impactos sobre o fortalecimento de um tecido socioeconômico? Estas questões são avaliadas, tendo como referência cooperativas agrícolas situadas no Nordeste do Brasil. O estudo revela a importância das cooperativas enquanto forma de inserção dos produtores nos mercados locais e globais no âmbito das dietas agroalimentares pós-fordistas, através da introdução de políticas de qualidade, da introdução de novas tecnologias, da conquista de certificados de qualidade, contribuindo também para a reconfiguração e dinamização dos espaços rurais. Palavras-chave: Cooperativismo, arranjos produtivos, dinâmicas territoriais e pós-fordismo agroalimentar. 1 Este trabalho contou com o Auxílio a Projetos de Pesquisa APQ/ Facepe. Agradecemos a valiosa colaboração da aluna Cinthia Sátiro da Silva que participou de uma das etapas da pesquisa para a realização deste trabalho. 2 Doutora em Sociologia. Professora do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (Posmex) da UFRPE. 3 Aluno do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (Posmex) da UFRPE. 4 Aluno do Curso de Bacharelado em Ciências Sociais da UFRPE. Bolsista Pibic CNPq. 5 Aluna do Curso de Bacharelado em Economia Doméstica da UFRPE. Bolsista Pibic Facepe.
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1. Introdução
No Brasil, a relação entre cooperativismo e agricultura familiar vem se tornando uma preocupação
recorrente nas políticas públicas e na literatura, durante as últimas décadas.6 Ainda que com
enfoques distintos, a ênfase no cooperativismo como uma estratégia de superação da pobreza dos
agricultores esteve nos projetos de modernização do Estado e permanece na atual política de
extensão rural.
O estímulo ao cooperativismo também esteve presente nas recomendações de entidades de
procedência e de inspiração diversas. Como bem salienta Rios (2007), o cooperativismo norteava
desde as recomendações da Pastoral da Terra (de cunho progressista) da Igreja Católica, como
aquelas advindas da Aliança para o Progresso (marcadamente reacionárias) de origem americana. É
com muita propriedade, portanto, que este autor comenta que a palavra cooperativismo assumia uma
conotação mágica, como uma “chave-mestra”, capaz de abrir todas as portas e de ser um “remédio
para todos os males”.
Não é sem razão, portanto, que no Brasil o capítulo inicial da história da extensão rural guarde tantas
similaridades com o capítulo que deu origem à história do cooperativismo. Ambos foram marcados
por uma estrutura autoritária, desvinculados dos reais interesses dos camponeses, fomentados por
uma ideologia conservadora, que tinha na base exportadora da produção agrícola a sua
fundamentação política e econômica.7
Entretanto, como já destacado em trabalho anterior,
Não é a fórmula “extensão rural” ou “cooperativismo” que está em xeque e sim o seu modelo de implementação à brasileira. Os conchavos, o clientelismo, a corrupção, a incipiente democracia, esses, sim, constituem as causas da inoperância (para não falar em fracasso) dos nossos modelos (PIRES, 2003, p.64).
Como já discutido em trabalho anterior, a ideia contida nos projetos de extensão rural foi movida por
um ideal de incremento da produtividade agrícola e de contenção do êxodo rural, via a adoção de
6 Estamos aqui considerando a pluralidade de termos relacionada à atividade produtiva conduzida pela família, incluindo, assim, expressões como camponês e pequeno agricultor, o que não implica desconhecer as especificidades de cada um. 7 Ver sobre o assunto Fonseca (1985) e Pires (2003).
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técnicas modernas, com forte dependência de máquinas e insumos de procedência estrangeira
(PIRES, 2003).8
E, referindo-se particularmente às distorções contidas num modelo de extensão rural que tinha no
ideal de incremento da produtividade via difusão de inovações a sua fundamentação, Pires (2003,
p.55) complementa:
a extensão rural só se tornou eficaz para uma minoria de produtores com base na monocultura e voltada para um mercado de exportação. A maioria da população camponesa, entretanto, permaneceu à margem dos benefícios propagados pelas políticas de extensão e cada vez mais vulnerável ao assalariamento, isto é, à perda de autonomia sobre o trabalho e de controle sobre os meios de produção.
Nesse sentido, é sempre muito oportuno lembrar a afirmação de Wanderley (1994) de que “a
agricultura familiar sempre ocupou um lugar subalterno na sociedade brasileira.” Ao que observa:
Quando comparado ao campesinato de outros países, foi historicamente um setor bloqueado, impossibilitado de desenvolver suas potencialidades enquanto forma social específica de produção.
Mesmo assim, malgrado os condicionamentos históricos que lhe mantiveram alijados dos projetos de
desenvolvimento do país, a agricultura familiar deu provas de seu dinamismo, foi capaz de se
modernizar, adaptando-se às diversas realidades históricas, reiterando a sua importância no âmbito
da produção de alimentos (CARNEIRO,1998; WANDERLEY, 1999).
Com efeito, a agricultura familiar está condicionada por “um conjunto de oportunidades, restrições e
alternativas em cada momento e que podem tanto potencializar como minar as bases de sustentação
dessa forma de organizar a produção” (BUAINAIN et al. 2002, p.48). O que significa conceber que
o Destino dos agricultores dependerá tão somente da capacidade de se neutralizar as desvantagens
competitivas e potencializar as vantagens próprias desse grupo social (idem).
8 É bem verdade que não se pode reduzir a extensão rural no Brasil a esse recorte inicial de sua história. Aliás, o caráter polissêmico da extensão rural foi um tema tratado com profundidade por Callou (2006). Resgatando as diretrizes contidas nas motivações políticas de cada tempo histórico, encontrando nove significados distintos, abrangendo desde a difusão de inovação até a contemporaneidade, quando a extensão rural se apresenta fortemente sedimentada numa concepção de desenvolvimento local.
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É, portanto, com base na possibilidade de neutralizar as desvantagens competitivas e potencializar as
vantagens próprias dos agricultores familiares que nos parece pertinente situar o cooperativismo. Um
cooperativismo, naturalmente, de base emancipatória, renovado, capaz de se adaptar às mais diversas
conjunturas históricas. Sobre esse assunto, Pires (2004) chama a atenção para o fato de que, tanto no
passado – com a industrialização emergente – quanto na atualidade – marcada por um processo de
desindustrialização, o cooperativismo ressurge sempre com o “ímpeto de uma promessa sonhada.”
Ao que comenta:
O sonho, nesse caso, está voltado para a possibilidade de organização de um grupo social em torno de uma atividade rentável. Organização, ocupação, renda e dinamismo local sedimentam um sonho possível. (PIRES, 2004, p.31).
As reflexões aqui tecidas nos levam às seguintes questões: as cooperativas têm se constituído como
instrumento de fortalecimento da agricultura familiar, contribuindo para neutralizar as desvantagens
competitivas e potencializar as vantagens em termos de participação nos mercados e de exercício da
cidadania? As cooperativas têm estimulado a mobilização dos agricultores em torno de inovações
organizacionais e tecnológicas? Quais os seus impactos sobre o fortalecimento de um tecido
socioeconômico?
Com base nessas questões, este trabalho tem como objetivo principal situar o leque de estratégias
utilizadas pelos agricultores familiares no âmbito das cooperativas, seja em termos de inserção nos
mercados – a partir de uma maior ou menor capacidade de atendimento às demandas de mercado –
seja para ampliar o seu espaço de representação a partir de uma forma peculiar de inserção territorial.
Elegemos, como fonte de investigação, um universo amplo e diversificado de agricultores familiares
– aí incluindo desde aqueles com pouquíssima disponibilidade de recursos para o incremento da
produção e da comercialização e com baixo nível de profissionalização, até aqueles com forte
capacidade de investimento, com expressivo conhecimento de sua atividade e alto grau de inserção
nos mercados. É também bastante diversificado o contexto econômico-produtivo no qual estão
inseridos os agricultores, com graus de dinamismo variados. Há em comum, entre todos eles, o fato
de estarem inseridos na região Nordeste e organizados por meio de uma cooperativa que tem na
comercialização da produção coletiva a sua principal missão.
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No Vale do São Francisco, elegemos as seguintes cooperativas: a Cooperativa dos Exportadores de
Frutas do Vale do São Francisco (Copexfruit), a Cooperativa Agrícola Nova Aliança (Coana) e a
Cooperativa Agrícola dos Exportadores do Vale do São Francisco (Coopexvale). Como ressaltado
em trabalho recente, essas cooperativas constituem uma referência importante na compreensão das
estratégias desenvolvidas pelos produtores do Vale na sua relação com os atores locais e globais
(PIRES e CAVALCANTI, 2009).
No agreste, as cooperativas investigadas são: a Cooperativa dos Produtores de Leite de Sanharó
(Cooplesa) e a Cooperativa dos Produtores Rurais do Agreste de Pernambuco (Coopag). Finalmente,
no sertão alagoano, mais especificamente na mesorregião de Xingó, a nossa fonte de interesse recai
sobre a Cooperativa dos Produtores de Mel, Insumos e Derivados Apícolas (Coopeapis).
A importância deste estudo está em situar o valor das cooperativas enquanto forma de inserção dos
produtores nos mercados locais e globais, através da introdução de políticas de qualidade, de
introdução de novas tecnologias e de conquista de certificados de qualidade, contribuindo também
para a reconfiguração e dinamização dos espaços rurais.
O artigo está dividido em quatro partes principais: a primeira discute a capacidade de inovação da
agricultura familiar, seja na possibilidade de incrementar e diversificar as atividades agrícolas, seja
na possibilidade de associá-las a atividades de outra natureza. A segunda parte situa o
cooperativismo enquanto forma de organização da produção e dos produtores, capaz de permitir uma
inserção mais sustentável nos mercados, otimizar a capacidade produtiva individual, baixar custos de
produção e minimizar riscos relacionados à produção e à comercialização dos produtos. A terceira
parte tece uma breve análise sobre os casos observados, destacando, particularmente, as razões que
motivaram a organização das cooperativas e as possibilidades permitidas pelos empreendimentos
coletivos de favorecer, aos diferentes agricultores, uma inserção mais competitiva nos mercados. Os
procedimentos adotados quanto às políticas de qualidade instituídas e a obtenção de certificados para
uma competição nos mercados globais também serão aqui discutidos. Finalmente, na quarta e última
parte, procura-se, a partir de uma abordagem comparativa, fazer uma apreciação dos principais
pontos que se sobressaem na análise, em termos de conquistas efetuadas pelo empreendimento
cooperativo e os seus projetos futuros.
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2. O campo da discussão
2.1 A agricultura familiar, cooperativismo e inserção nos mercados
Desafiada a romper com padrões tradicionais de produção e de comercialização (ainda que mantendo
as tradições camponesas) 9 (WANDERLEY, 1999), a agricultura familiar vem demonstrando ser
capaz de responder aos apelos da inovação produtiva. Destaca-se a sua capacidade de diversificar
suas atividades agrícolas e de associar atividades agrícolas a atividades de outra natureza. A
pluriatividade, nesse contexto, é situada como uma forma de resistência à pobreza (WANDERLEY,
1999; CARNEIRO,1998), mas que, longe de significar um abandono das atividades agrícolas,
representa uma forma de assegurar a reprodução da família e do estabelecimento familiar
(WANDERLEY, 1999, p.49).
Ainda que também identifique na agricultura familiar um componente dinâmico na modernização do
sistema agroalimentar, Wilkinson (2000) chama a atenção para o fato de que as constantes
transformações das organizações reguladoras e institucionais da economia e do sistema
agroalimentar tendem a acirrar a competição, fragilizando esta categoria, devido à sua reduzida
capacidade de inversão. Na verdade, por ser constituída em sua maioria por pequenos agricultores
com baixa capitalização e capacidade de investimento, os agricultores familiares tornam-se mais
vulneráveis à competitividade e às oscilações de mercado.
E, novamente, o Destino de cada um vai depender da possibilidade de neutralizar as desvantagens
competitivas, permitindo ao mesmo tempo a potencialização das suas oportunidades. Na verdade, o
destino dos agricultores está muito relacionado à forma como são capazes de conciliar as suas duas
preocupações centrais: o autoconsumo e a atividade mercantil (seja em nível da economia local e
regional, seja em nível da atividade exportadora) (PALÁCIOS, 1987 apud WANDERLEY, 1999,
p.42). É a forma de relação – mais ou menos intensa – com esses dois condicionantes que garante a
grande heterogeneidade na composição da agricultura familiar, envolvendo desde aqueles produtores
muito pequenos voltados para a subsistência, com apenas uma parcela muito reduzida de sua
produção comercializada, até aqueles produtores com elevado conhecimento das oportunidades de
9 É particularmente relevante a tese de Nazaré Wanderley (1999) de que não existe, no agricultor familiar moderno, uma ruptura definitiva com uma tradição camponesa e é isso exatamente que lhe permite adaptar-se às exigências da sociedade.
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mercado, com forte capacidade de inversão e que canalizam o montante de sua produção para o
mercado.
Wanderley (1999, p.42) chama a atenção para o fato de que é nessa dupla preocupação –
autoconsumo e atividade mercantil – que se fundamenta o “patrimônio sociocultural do
campesinato.” Um patrimônio, por sua vez, que guarda um saber específico, transmitido por
gerações, permitindo enfrentar – com ou sem sucesso – situações de precariedade e de instabilidade
a que está submetido (idem, p.42).
Como discutido na literatura, o cooperativismo vem sendo capaz de integrar os pequenos
agricultores à dinâmica produtiva, maximizando os resultados, permitindo uma economia de escala e
condições de concorrência (LAUSCHNER, 1994; SANTOS; RODRÍGUEZ, 2002).
Apesar disso, como já ressaltado em trabalho anterior, é preciso considerar que não basta se
organizar em cooperativas para ter assegurado o escoamento da produção e o sucesso do
empreendimento (PIRES, 2003). Isso seria repetir o fiasco das fórmulas cooperativas que as
identificavam como um remédio para todos os males, aqui já comentado. A capacidade de
investimento em tecnologia, de otimização dos recursos dentro de uma ideia “fábrica enxuta,” de
uma participação ativa dos seus membros na estruturação e condução do empreendimento, em suma,
da capacidade de adoção de um estilo de governança que garanta uma boa performance empresarial
e a sua capitalização são alguns dos requisitos capazes de assegurar o sucesso do empreendimento
(PIRES, 2003, 2004).
O fato é que as cooperativas se deparam, hoje, com um mercado cada vez mais seletivo e competitivo, precisando enfrentar a concorrência das grandes firmas. Em função disso, ou são capazes de adotar as estratégias habitualmente utilizadas pelas empresas capitalistas, ou estarão fora do mercado (PIRES, 2003, p.63).
Ao que complementa admitindo que, enquanto empresa, a cooperativa não pode ser movida tão
somente por sonhos e boas intenções, embora esses dois elementos sejam também imprescindíveis
para alimentar um projeto coletivo.
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2.2 Cooperativismo, extensão rural e criação de territórios
Como observa Flores (2002, p.352), há possibilidade de os produtos tradicionais provenientes da
agricultura familiar ganharem maior espaço nos mercados local, nacional e internacional, desde que
haja, por parte dos agricultores, condições de se organizarem e controlarem, eles próprios, as suas
associações. Flores sublinha, ainda, a importância da criação de sistemas de certificação, como uma
forma de valorização do produto e de sua inserção mais eficaz nos mercados. Entretanto, reconhece
que uma prática dessa natureza requer conhecimentos especializados e custos adicionais que nem
sempre são acessíveis aos agricultores de base familiar. Neste caso, como observa, o apoio da
assistência técnica reveste-se de particular relevância.
Na verdade, a relação entre extensão rural e cooperativismo mostra-se particularmente importante
para o fortalecimento da agricultura familiar pelas possibilidades que oferece em termos de
introdução de políticas de qualidade e de práticas gerenciais modernas, introdução de novas
tecnologias, capacitação dos gerentes e dos sócios e estabelecimento de parcerias diversas.
Tais estratégias permitem, por sua vez,
a possibilidade de ampliação do volume de produção e de comercialização de produção nas entressafras ou janelas de mercado, para a conquista de certificados de qualidade e ampliação de acesso aos nichos de mercado que, em última instância, demonstram a forma como os indivíduos se articulam na busca de suas soluções diárias para o atendimento das exigências dos diversos mercados (PIRES, 2007).
Sensível a essas questões e com o compromisso de romper com um modelo extensionista baseado na
difusão de inovações, tão comum nos tradicionais pacotes da Revolução Verde, a atual Política
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater)10 passou a privilegiar “a inclusão social
da população rural mais pobre,” englobando os agricultores familiares, pescadores artesanais,
quilombolas, extrativistas, ribeirinhos e indígenas. A Pnater se propõe a apoiar todas as estratégias
voltadas para a comercialização dos produtos provenientes da agricultura familiar nos mercados
locais, regionais e internacionais, centrando suas ações em dois eixos principais: numa metodologia
participativa e no estímulo às atividades de base agroecológica.
.
10 Tal política é coordenada pela Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), através do Decreto n° 5.033 de 5 de abril de 2004.
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O estímulo ao cooperativismo como uma condição essencial de dar conta de missão também é
exaltado dentre os objetivos da política de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater):
Incentivar a construção e consolidação de formas associativas que, além de criar melhores formas de competitividade, sejam geradoras de laços de solidariedade e fortaleçam a capacidade de intervenção coletiva dos atores sociais como protagonistas dos processos de desenvolvimento local (Pnater, 2004, p.9).
Como observado, a ênfase no cooperativismo permanece presente na política de Ater, mas, dessa
vez, acenando para a criação de novas sociabilidades, de fortalecimento dos territórios e de
desenvolvimento local, destacando o caráter emancipatório das práticas sociais.
Na verdade, a identificação do cooperativismo com a ideia de laços sociais, solidariedade,
sentimento de pertencimento e de raízes locais traz subsídios para se pensar o território e o
desenvolvimento local. Nesse sentido, é possível admitir que
A participação efetiva dos sócios (das cooperativas) nos processos sociais associa-se a uma inserção territorial(...). As cooperativas permitem o aproveitamento dos recursos autóctones, ao mesmo tempo em que contribuem para o desenvolvimento de formas de comportamentos democráticas e reforçam o interesse pela coletividade (MARTÍNEZ; PIRES, 2002).
Para alguns autores, a exemplo de Santos e Rodríguez (2002), o caráter de trabalho coletivo,
solidário e democrático imprime no cooperativismo uma nova lógica no âmbito da produção,
intercâmbio e consumo, capaz de instituir uma sociabilidade mais inclusiva e mais democrática.
Ao lado dessa dimensão social e política, a viabilização da agricultura familiar por meio do
cooperativismo parece ganhar uma particular importância na atual conjuntura de globalização da
economia, quando a manutenção da produção sob rigorosos controles de qualidade – aí incluindo
aspectos relacionados à aparência, os procedimentos de rastreabilidade, embalagem e transporte dos
produtos – se impõe como um requisito essencial para a inserção dos produtos nos mercados.
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2.3 O cooperativismo e sua capacidade de atendimento às demandas globais
Com efeito, as mudanças relacionadas aos novos níveis de consumo vêm exigindo padrões de
qualidade cada vez mais elevados e, portanto, mais difíceis de ser conquistados de uma forma
individual. Isso pode ser particularmente observado na produção de alimentos frescos de alta
qualidade, direcionada ao consumidor de elevado poder aquisitivo, dentro do que se convencionou
chamar de uma dieta pós-fordista ou pós-moderna (CAVALCANTI, 1995, 1999).
Formam-se, assim, mercados alimentícios, cuja competição não se baseia apenas nos preços, mas
também em rígidos critérios de qualidade e controle definidos externamente (BONNANO, 1999).
Pela sua natureza, o pós-fordismo redefine as relações sociais, afetando, de diferentes formas e
intensidades, os grupos e as regiões (idem).11
Como observa Cavalcanti (1995, p.112), as multinacionais desempenham um papel preponderante
nesse contexto, controlando e definindo regras de distribuição dos produtos que passam a exigir
determinados requisitos, como: tamanho, forma, cor, sabor, maturação, embalagens,
acondicionamentos dos produtos em câmaras frias, transportes refrigerados, entre outros. Tais
fatores se aliam, ainda, aos requisitos dos protocolos relacionados à segurança alimentar, segurança
no trabalho e proteção meio-ambiental, a exemplo da Eurepgap.12
Ao lado dos aspectos relacionados à qualidade, demanda-se também a regularidade na entrega do
produto. Com isso, os produtos passam a ser ofertados durante todo o ano e não apenas nos períodos
de safra, o que exige uma tecnologia associada à produção fora de época. O uso de tal recurso
permite, por sua vez, potencializar um mercado de frutas de contra-estação (SILVA, 1999), que, por
sua vez, permite a integração de novas regiões de produção para garantir o suprimento dos
supermercados durante todo o ano (CAVALCANTI, 1995).
11 A heterogeneidade da hipermobilidade do capital – indicando a variedade de formas assumidas pelo capital e as diferentes velocidades com que acontece – é, na perspectiva de Bonanno (op. cit), a principal característica para se compreender o atual modelo pós-fordista global.
12 Atualmente, Globalgap é uma certificação requerida desde 2004 pelos distribuidores europeus como requisito obrigatório para a exportação das mercadorias do Vale do São Francisco para a Europa.
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Na verdade, são todos esses requisitos criados por processos globais relacionados à alimentação e à
agricultura, facilitados pela ascensão do capital transnacional e sistemas sofisticados de transportes e
comunicação, que redefinem as vantagens e desvantagens espaciais da produção agrícola
(MARSDEN, 1999, p.26-29).
Como destacam Belik e Maluf (2000), a homogeneização dos hábitos de consumo, a
desregulamentação dos mercados e a liberalização do comércio internacional recolocam a questão do
abastecimento alimentar em novas bases. Ainda para esses autores, as constantes mudanças da
sociedade de consumo, no que diz respeito não apenas ao alimento em suas características básicas,
mas também à sua forma de apresentação, embalagem e marca, criaram hábitos alimentares mais
sofisticados, implicando a necessidade de mais modernização das empresas para atender às
exigências das organizações reguladoras.
Bialoskorski e Zylbersztajan (1994) situam as cooperativas agrícolas como "estruturas econômicas
intermediárias" capazes de minimizar riscos e permitir a agregação de valor aos produtos e a sua
inserção nos mercados. Neste sentido, a agregação de valor está relacionada tanto entre as
cooperativas que se limitam à comercialização do produto in natura, como entre aquelas que
comercializam a mercadoria industrializada, existindo, para ambos os casos, uma necessidade
sempre maior de adaptação dos produtos às exigências dos mercados.
Com base nessas discussões, importa particularmente aos propósitos deste trabalho destacar alguns
exemplos extraídos da realidade empírica que mostram a capacidade de as organizações cooperativas
neutralizarem as desvantagens competitivas e absorverem uma grande diversidade de agricultores,
incluindo aqueles com uma reduzida inserção nos mercados local e/ou regional, até aqueles com
ampla inserção nos mercados globais. A dinâmica de cada cooperativa vai ser definida a partir da
capacidade de articulação e disputa dos atores em jogo, da teia de relações instituída entre os atores
locais e globais (PIRES, 2004), na qual, como observa Cavalcanti (1999, p.164), “participar e
permanecer no mercado é um desafio permanente para os sujeitos e objetos envolvidos.” Os casos
das cooperativas, analisadas mais adiante, ilustram parte deste cenário tão diversificado de situações.
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3. Os estudos de caso As cooperativas aqui citadas ilustram alguns aspectos que nos parecem úteis para a compreensão das
estratégias utilizadas por uma pluralidade de tipos de produtores familiares em meio a um contexto
local/regional também distinto. Em cada um desses exemplos serão ressaltadas as possibilidades
encontradas pelos grupos para neutralizar as desvantagens competitivas e potencializar as vantagens
em termos de: a) participação nos mercados; b) participação dos associados na dinâmica da
cooperativa; c) estímulo à mobilização dos agricultores em torno de inovações organizacionais e
tecnológicas; d) impactos sobre o fortalecimento de um tecido socioeconômico local.
3.1 A Cooperativa dos Produtores de Leite de Sanharó (Cooplesa)
A gente tá caminhando ainda. Tá engatinhando
A Cooperativa dos Produtores de Leite de Sanharó (Cooplesa), localizada na cidade de Sanharó,
Estado de Pernambuco, envolve cerca de 58 Km e conta com 18 mil habitantes. Toda a economia
local gira em torno da pecuária leiteira. Estima-se um rebanho de 18 mil cabeças com uma
capacidade média de 40 mil litros de leite.13
No passado, a cidade contava com uma unidade da Companhia de Industrialização de Leite de
Pernambuco (Cilpe), que foi adquirida pela Parmalat, em 1994. Com a dissolução da Cilpe, relata o
produtor:
Nós produtores ficamos aqui entregues às baratas, vendendo leite nessas fabriquetas. Um comprava hoje, amanhã outro, e nós lutamos muito até conseguirmos criar uma associação.
Em 2001, o grupo constitui uma associação – a Associação dos Produtores de Leite de Sanharó
(Aplesa), composta por 21 membros. Na época, a intenção dos produtores restringia-se à construção
de uma pequena estrutura capaz de permitir a fabricação do queijo de coalho. Não havia recursos
13 Cerca de 74% do leite produzido em Pernambuco fica na região Agreste, o equivalente a 1,1 milhão de litros/dia. Este volume se concentra, basicamente, nos municípios de Águas Belas, Bom Conselho, Canhotinho, Correntes, Garanhuns, Gravatá, Limoeiro, Pesqueira, Sanharó, São Bento do Una, São Caetano e Venturosa. Esta mesorregião também apresentou o maior índice de produtividade animal no Estado (1.237 litros/vaca/ano), conforme dados levantados pela Embrapa Gado de Leite. (Juiz de Fora – MG), em 2002 http://www.agronline.com.br/artigos/artigo.php?id=240&pg=1&n=3
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13
para um investimento de maior envergadura. Entretanto, por iniciativa do prefeito local, que também
era associado da Aplesa, o grupo conseguiu, junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a
construção das instalações da unidade hoje existente. O empreendimento passou a comportar uma
maior produção e comercialização, exigindo, com isso, a criação de uma cooperativa.
A Cooperativa dos Produtores de Leite de Sanharó (Cooplesa) foi criada em 2007, absorvendo o
mesmo número de produtores. A Cooplesa é especializada na comercialização do leite, da manteiga
e do queijo manteiga, uma iguaria típica da região e de boa aceitação em todo o Estado. Parte do
leite é destinada ao programa do Governo Federal, Leite para Todos, e outra parte é destinada à
merenda escolar, por meio do Programa Fome Zero. O queijo é comercializado na sede da
cooperativa, localizada na BR 232.
A preocupação com a higiene das instalações e com a qualidade dos produtos foi um dado que se
destacou no discurso da direção, como sendo um requisito essencial para a ampliação das vendas no
local.
A qualidade pra gente é uma questão de honra. Se a gente tiver de ganhar pouco, a gente ganha pouco. Outros produtores ganham muito porque eles botam mistura. O nosso não, o nosso produto é puro. Aqui nós pagamos todos os direitos dos funcionários, fazemos tudo dentro da lei. É por isso que o nosso lucro aqui é bem apertadinho.
A venda de leite e a produção de queijo manteiga absorvem, numa proporção meio a meio, todo o
leite entregue à cooperativa.14 São 3.500 litros de leite diários recebidos pela cooperativa, numa
média de 150 litros por associado, apesar de contar com uma estrutura para uma capacidade maior,
em torno de 5 mil litros de leite e de haver uma capacidade de oferta bem maior por parte dos
associados. Há, portanto, disponibilidade do produto e infraestrutura satisfatória para uma produção
bem mais intensa. A grande dificuldade liga-se, especialmente, ao escoamento dessa produção para
os mercados.
A dificuldade nossa, e de todo mundo daqui, é que se sabe produzir o leite, mas não se sabe trabalhar o leite. A gente só sabia até a porteira. Mas nós fomos devagarinho, nós estamos ainda engatinhando, mas estamos chegando.
14 Com 11 ou 12 litros de leite, a depender do teor de gordura, se produz um quilo de queijo.
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14
Em função de alguns registros e licenças ainda em andamento, a comercialização restringe-se ao
mercado local. Para os associados, as dificuldades relacionadas aos procedimentos burocráticos de
registros, inspeções e licenças constituem os principais entraves para uma maior distribuição dos
produtos.
Ao lado disso, não há nenhuma política na área de marketing, nem investimento em embalagem e no
logotipo da empresa. Toda a divulgação, como afirmaram, se resume, portanto, à “propaganda boca
a boca.” Na verdade, o grupo não conta com assessoria em nenhuma instância – de fabricação de
queijo, de diversificação da produção, e de valorização do produto por meio de estratégias de
marketing –, fazendo com que toda a atividade seja realizada somente com base no savoir faire
local.
Por conta disso, os sonhos relacionados a um maior investimento na infraestrutura do
empreendimento – com a ampliação da câmara fria – e aquisição de um transporte, bem como a
ampliação da produção e da diversificação dos produtos – queijo coalho, mussarela, A e B, queijo coalho
A e B, bebida láctea –, concorrendo para uma maior sustentabilidade financeira da cooperativa, ficam
muito distante de ser atingidos.
Avaliando os aspectos positivos da Cooplesa, a direção elencou os seguintes pontos: a) a
organização do grupo em torno de objetivos comuns; b) o fato de trabalhar no que é seu, sem
depender de atravessadores para a comercialização e, especialmente, c) o fato de contribuir para a
elevação do preço do leite na região. Antes da criação da cooperativa, o valor era determinado pelas
fabriquetas locais que manipulavam os preços, a partir de seus interesses. “Hoje, não. Hoje eles já estão
respeitando… se não fosse a nossa cooperativa..”, observou o presidente.
3.2. A Cooperativa dos Produtores Rurais do Agreste Pernambucano (Coopag)
Muitos produtores diziam não saber o que significava cooperativismo/ cooperativa, mas sabiam que era bem melhor do que a situação que estavam vivendo (Presidente)
A Cooperativa dos Produtores Rurais do Agreste de Pernambuco (Coopag) foi fundada em junho de
2004, em Bonito. Este município está localizado na região Agreste do Estado de Pernambuco, com
uma área territorial de 400km². Possuindo uma população de aproximadamente 39.111 habitantes, a
região tem sua economia voltada essencialmente para a agricultura.
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Inicialmente formada por 20 associados, foi, ao longo do tempo, ampliando o seu corpo social. Hoje
a Coopag conta com mais de 300 cooperados especializados na produção de inhame, cará e batata-
doce.
Antes da constituição da cooperativa, um grupo de agricultores familiares passou a se reunir para
discutir sobre o tipo de organização que se adaptava aos seus propósitos. Havia quem preferisse
formar uma associação, enquanto outros defendiam a possibilidade de criação de uma cooperativa,
sendo, esta última, a ideia vitoriosa.
A organização dos produtores familiares em torno da Coopag se deu a partir do interesse coletivo de
valorização do trabalho e da produção do grupo. Vislumbrava-se, assim, a possibilidade de
barganhar melhores preços no mercado local e regional, dispensando ao mesmo tempo a presença
dos intermediários no processo de comercialização da produção.
Na verdade, as dificuldades sentidas pelo grupo no dia-a-dia da atividade produtiva, especialmente
relacionadas à forte exploração dos atravessadores locais, exigiam uma saída urgente. O discurso do
presidente da Coopag é ilustrativo neste sentido:
(...) Muitos produtores diziam não saber o que significava cooperativismo/ cooperativa, mas sabiam que era bem melhor do que a situação que estavam vivendo. Todo mundo suava a camisa, se aperreava e quando chegava a hora de comercializar o produto chegavam os atravessadores que compravam os produtos ao preço que estabeleciam, eram vendidos quase de graça (...).
Outro objetivo que também motivou a formação da cooperativa relacionava-se ao interesse dos
produtores de participar de programas governamentais, como forma de assegurar a comercialização
de boa parte da produção. Assim, com a criação da Coopag foi possível firmar contratos com o
Programa Fome Zero, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), com a Companhia Nacional
de Abastecimento (Conab) e com a Visão Mundial.
A Visão Mundial presta serviços de assistência técnica e orienta os processos de comercialização dos
produtos. Por intermédio desta ONG, os associados da Coopag ingressaram numa rede de
cooperativismo solidário que, junto com outras cooperativas, fundaram a União Nacional das
Cooperativas de Núcleo Familiar. Cabe registrar que o atual presidente da Coopag é também
presidente da União Nacional das Cooperativas de Núcleo Familiar do Estado de Pernambuco, fato
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este que, segundo relato do próprio presidente, abriu as portas para o estabelecimento de outras
parcerias.
A Conab, através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), compra os produtos – inhame,
cará e batata-doce –, fornecendo-os para a prefeitura de Bonito. A prefeitura, por sua vez, utiliza os
produtos na merenda das escolas públicas dos meios rural e urbano, valorizando, assim, os produtos
locais e gerando trabalho e renda para os agricultores familiares organizados em cooperativa.
Ao lado disso, a partir da organização da Coopag, os agricultores passaram a acessar algumas
modalidades de crédito do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). Os recursos dos
créditos passaram a ser utilizados para a melhoria dos sistemas de produção e comercialização.
Fazem parte também da rede de parceiros da Coopag, a Federação dos Trabalhadores da Agricultura
Familiar (Fetraf) e o Banco do Brasil. Por meio dos programas governamentais, a Coopag vem
conseguindo capitalizar a cooperativa, assegurando a comercialização da produção dos agricultores
familiares.
A importância da Coopag foi ressaltada em termos de geração de empregos e circulação de
mercadorias, dinamizando a economia local. A melhoria na qualidade de vida do agricultor é
exemplificada com a ampliação da capacidade de consumo de cada família, ao que o presidente
observa:
(...) Hoje todos têm sua casa, seu carro, sua moto nova.. Tem família que tem dois carros, duas motos dentro de casa. Não tinham nada, mas graças a seu trabalho e seu suor, hoje estão “bem de vida” (grifos nossos).
A formação técnica dos produtores está presente dentre as preocupações da Coopag e vem sendo
realizada pelas instituições parceiras. Dentre as capacitações promovidas, a direção destacou como
particularmente importante aquela que orientou a mudança do sistema de produção
normal/convencional para o sistema orgânico. Apesar da ênfase atribuída à introdução desse novo
sistema, são poucos os que aderiram à conversão. Isso porque, segundo alegado, os preços dos
inhames convencional e orgânico são correspondentes, desmotivando um maior investimento em
termos de trabalho e de recursos financeiros necessários a uma produção dessa natureza.
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3.3 A Cooperativa dos Produtores de Mel, Insumos e Derivados Apícolas (Coopeapis)
Constituída por um grupo de 22 agricultores familiares do sertão alagoano, a Cooperativa dos
Produtores de Mel, Insumos e Derivados Apícolas (Coopeapis) foi criada em 2007, a partir do apoio
do Programa de Arranjos Produtivos Locais (APL), Apicultura no Sertão, voltado para
aproximadamente 200 agricultores familiares de 13 municípios do sertão alagoano.15 O APL é
apoiado pelo Sebrae Alagoas e pelos Governos Federal, Estadual e Municipal.
Nos últimos cinco anos, a atividade apícola, através das cooperativas, vem crescendo naquela região,
repercutindo na melhoria das condições sociais e econômicas de uma área vitimada por baixo grau
de dinamismo. Após a implantação do programa, o número de produtores passou de 68, em 2004,
para 200, em 2008, e a produção subiu de 30 toneladas de mel/ano para 100 toneladas/ano. No ano
de 2008, a Coopeapis vendeu 10,2 toneladas de mel à Conab, tot alizando um va lo r de
R$76.890,00 (SEBRAE, 2008).
Com efeito, a organização cooperativa foi a forma encontrada pelos apicultores para ampliar o
sistema produtivo, agregar valor aos produtos, barganhar melhores preços e inserir o mel na dieta da
população local.
A exemplo da Coopag, a Coopeapis também firmou contrato com a Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Ministério do
Desenvolvimento Social (MDS). Através dessa parceria, que canaliza o produto para a merenda
escolar da região e para as famílias de baixa renda, com o objetivo de melhorar os índices de
nutrição especialmente das crianças de 1 a 6 anos de idade, a cooperativa vem assegurando o
escoamento da produção. A distribuição é feita pelo Centro de Apoio Comunitário de Tapera, União
e Senador (Cactus) e pela Pastoral da Criança, nos municípios de Piranhas, Delmiro Gouveia, Olho
D’Água do Casado, Senador Rui Palmeira, São José da Tapera e Água Branca.
A inserção dos apicultores na lista dos fornecedores do PAA do Governo Federal exigiu uma
adequação desses produtores aos requisitos de qualidade e aos padrões de higiene exigidos pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Assim, uma atividade que era desenvolvida
15 http://www.planejamento.al.gov.br/noticias/agosto-2008/apicultura-dinamiza-economia-no-sertão-alagoano.
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informalmente e de uma maneira rudimentar e amadora, valendo-se de recipientes reciclados
(geralmente garrafas de vidro de 1 litro, tampadas com sabugos, cortiças e pedaços de madeira
utilizados como embalagem), sem rótulo e sem as especificações técnicas recomendadas foi, pouco a
pouco, se adequando ao manejo sanitário e técnicas de beneficiamento e comercialização. As
capacitações nessa área foram garantidas pelo Programa APL de Apicultura e, por meio delas, os
apicultores eram orientados a utilizar material adequado, desde a criação de abelhas e da coleta do
mel até a embalagem e comercialização do produto, o que permitiu, por sua vez, uma maior
profissionalização dos pequenos apicultores e um aumento expressivo da produção.
3.4 As cooperativas agrícolas do Vale do São Francisco
A Cooperativa dos Exportadores de Frutas do Vale do São Francisco (Copexfruit), a Cooperativa
Agrícola Nova Aliança (Coana) e a Cooperativa Agrícola dos Exportadores do Vale do São
Francisco (Coopexvale).
A região do Vale do São Francisco é habitualmente identificada na literatura como polo produtivo
dinâmico pela produção expressiva de frutas destinada aos mercados nacional e internacional. Isso se
deve, em grande parte, aos fortes investimentos governamentais, entre os anos 1960 e 1980, com a
criação de infraestrutura na área de hidrelétrica, irrigação e colonização (CAVALCANTI, 1997).
Cavalcanti (1996) chama a atenção para o fato de que a inserção do Vale nos mercados globais deve-
se também a uma concepção de dieta pós-fordista e pós-moderna, pautada em forte valorização das
frutas frescas e exóticas, sob rigorosos padrões de qualidade. Padrões estes que determinam
tamanho, forma, cor, sabor, aspectos da maturidade, embalagem, acondicionamento dos produtos em
câmaras frigoríficas, tipo de transporte associados a condições ambientais e higiênicas sob os quais
os produtos são preparados para a exportação (CAVALCANTI, 1995).
É, portanto, num contexto marcado por grande competitividade, altos investimentos e alto grau de
especialização que a Copexfruit, Coana e Coopexvale serão aqui analisadas. Essas cooperativas
têm na comercialização de uvas – com e sem sementes –, para o mercado externo, o carro-chefe da
atividade. Os Estados Unidos, a Inglaterra e os demais países do continente europeu são os
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principais mercados internacionais16 e, no Brasil, as redes de supermercados Wal Mart, Carrefour e
Extra constituem os principais destinos da produção.
Essas cooperativas, situadas no Vale do São Francisco, Nordeste do Brasil, foram criadas em meados
de 2005 por produtores experientes nesse ramo de negócio e, por conta disso, já bastante
familiarizados com as exigências das atuais certificações, a exemplo da Eurepgap.17
O objetivo da sua constituição girava em torno da necessidade de baixar custos operacionais e
aumentar o volume de vendas, assegurando uma inserção mais competitiva nos mercados globais,
através de dois tipos de serviço oferecidos aos associados: a disponibilização das câmaras frias e a
comercialização das frutas.
Na verdade, há muitas similaridades entre as cooperativas investigadas. É interessante destacar, por
exemplo, que a criação dessas cooperativas se deu em torno da construção de uma câmara fria,
condição essencial para garantir o processo de exportação dentro dos ditames das redes de
supermercados e dos protocolos internacionais, evitando com isso os elevados custos relacionados
ao aluguel de espaços refrigerados. Este é o tipo de investimento que, pelo seu alto custo, um
pequeno ou médio produtor sozinho jamais poderia realizá-lo. Em relação ao corpo social, o número
de associados restringe-se em torno da exigência legal para constituição de cooperativas – 20
associados –, variando nos casos observados entre 23 e 26 associados.18
As características observadas na Copexfruit, Coana e Coopexvale no que diz respeito à capacidade
dessas cooperativas de adotarem tecnologia, realizarem investimentos e de estabelecerem um
comportamento agressivo de inserção das frutas nos mercados à semelhança das grandes
organizações capitalistas, nos incitam a concebê-las dentro do que já chamamos de “cooperativas de
nova onda” (PIRES; CAVALCANTI, 2009). Esse novo modelo de cooperativa do Vale se estrutura
16 Para esses países, as uvas são acondicionadas em embalagens convencionais que variam de 8,2Kg, 9 Kg e 4,5 Kg para os Estados Unidos, a Inglaterra e o continente europeu, respectivamente. 17 Eurepgap, Euro-Retailer Produce Working Group, Good Agricultural Practices, atualmente Globalgap, é uma certificação requerida pelos distribuidores europeus desde 2004, a qual prevê questões relacionadas à segurança alimentar, segurança no trabalho e proteção meio-ambiental no setor primário de produção de alimentos frescos e pecuários. 18 Lei 5764/71 que define a Política Nacional de Cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas. Artigo 6º do Capítulo III Do Objetivo e Classificação das Sociedades Cooperativas.
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em quatro pontos principais: – uma estrutura produtiva e organizacional enxuta, pautada em rigorosa
governança administrativa; – uma inversão financeira individual expressiva por parte dos associados;
– um elevado nível de profissionalismo dos produtores e, finalmente, – uma forte adesão dos
associados na condução dos negócios da cooperativa (idem).
4. Considerações finais
As diversas experiências aqui analisadas evidenciaram um leque de estratégias passíveis de ser
utilizado por produtores com graus variados de profissionalização e em contextos distintos, ainda
que todos estejam movidos pelo mesmo objetivo: a defesa de interesses comuns, através de um
empreendimento coletivo.
Ao contrário das cooperativas do Vale, foi possível observar que a dinâmica da Cooplesa, Coopag e
Coopeapis está pautada, em grande medida, na parceria estabelecida com os programas
governamentais de abastecimento alimentar. Estes passam, assim, a se constituir numa via
importante para a preservação da atividade cooperativa e, por conseguinte, para a preservação da
unidade produtiva familiar. Essa questão foi particularmente visível na Coopag e na Coopeapis, onde
a dependência do apoio público é quase total. Em todos esses casos, a inserção nos programas
representou a necessidade de uma maior profissionalização dos produtores em termos de
atendimento às normas de qualidade – fitossanitárias, de produção e de embalagem.
Não se pode, entretanto, deixar de considerar os riscos que uma dependência dessa natureza pode
representar para o futuro da cooperativa. Ao que questionamos: Essa via de inserção dos produtos
das cooperativas está contribuindo para o fortalecimento do empreendimento cooperativo e para a
valorização da agricultura familiar? É possível falar de autonomia cooperativa quando toda a sua
economia está dependente de programas governamentais pontuais? Essas são algumas questões que
poderão orientar futuras investigações.
As cooperativas também revelam uma diversidade de perfis dos associados, englobando desde
aqueles com baixo nível de profissionalização, como é o caso da Coopag e da Coopeapis (e menos
intensamente na Cooplesa), até aqueles com expressivo conhecimento de sua atividade e forte
capacidade de investimento, como no caso dos associados da Copexfruit, Coana e Coopexvale –
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cooperativas do Vale do São Francisco. Tal constatação nos permite inferir que uma inserção mais
ou menos competitiva nos mercados guarda uma íntima relação com a profissionalização do
agricultor – em termos de conhecimento da atividade e capacidade empreendedora – e com o
contexto no qual está inserido.
O que nos leva a pensar que, num ambiente marcado por práticas inovadoras e por um aparato
tecnológico e institucional que dê suporte às atividades, as práticas cooperativas tornam-se mais
suscetíveis de atender às exigências requeridas pelos mercados nacionais e/ou globais.
Os exemplos, entretanto, também sinalizam que o sucesso do empreendimento liga-se a outros
fatores não facilmente tangíveis, como a capacidade de resistência do grupo para continuar
apostando na fórmula cooperativa e se reproduzindo socialmente, através da manutenção de sua
atividade produtiva.
Cooperativismo é persistir, persistir, persistir. Teve muitos que queriam desistir, mas a gente conseguiu, senão... Muitos entendem que cooperativismo se faz do dia pra noite. Com sete anos é que a gente veio conseguir alguma coisa. Quem faz cooperativismo, pense nisso: tem que ser persistente.
Finalmente, as cooperativas trazem à tona situações as mais diversas, revelando que o destino dos
agricultores se associa à luta diária para neutralizar as desvantagens próprias de um ambiente
econômico hostil, garantindo a sua reprodução social. As cooperativas, em todos os casos
analisados, parecem apontar nessa direção.
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