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    47Cadernos de Histria, Uberlndia, v.15, n.1, p 47-66, set.2006/set.2007, 2007

    ENTRE LOUCOS E FRACOS: Jnio Quadros e Joo Goulartem livros didticos de histria (1973-2006)

    Mateus H. F. Pereira*

    Andreza C. I. Pereira

    **

    Resumo:Neste artigo procuramos analisar algumas representaes acercadas figuras de Jnio Quadros e Joo Goulart construdas por autores delivros didticos de Histria produzidos no Brasil no perodo de 1973 a 2006,utilizando acontecimento como categoria de anlise. Analisamos 60 livrosdidticos de 30 autores diferentes e percebemos a presena de assertivaspouco (ou nada) problematizadas nos discursos didticos acerca dessasfiguras histricas. De algum modo, o Golpe Militar explicado, tambm,

    pelo carter imprevisvel e particularista de Jnio Quadros e pelapersonalidade dbia e fraca de Joo Goulart. Pretende-se, portanto,compreender e explicar as metamorfoses e permanncias que asrepresentaes desses dois sujeitos sofreram na memria histrica, pormeio da histria ensinada pelos livros didticos.

    Palavras-Chave: Jnio Quadros. Joo Goulart. Evento/Acontecimento. LivroDidtico.

    Abstract:This article intends to analyze some representations among ofJnio Quadros and Joo Goulart figures taken by didactics History booksproduced in Brazil in the period between 1973 and 2006, using the categoryof event. We analyzed 60 didactics books of 30 different authors. In ourresearch we realize the presence of statements that were not well worked inthe didactics discusses among of Jnio Quadros and Joo Gourlart figures.In some way the Brazilian military coup is explained, also, by theunpredictable and particularistic character of Jnio Quadros and by thedubious and weak personality of Jango Goulart. Therefore, we intend tocomprehend and explain the metamorphosis and permanence that the

    representations of Quadros and Jango occurred in the history memory throughthe history taught by the didactics books.

    * Professor Doutor da UEMG/FUNEDI (Divinpolis). E-mail: [email protected].** Aluna do Curso de Licenciatura em Histria, na UEMG/FUNEDI e bolsista FAPEMIG;

    [email protected]. Esse artigo resultado do Projeto, financiado pela FAPEMIG,Evento, Livros Didticos e Representaes. Agradecemos os comentrios e sugestes deMiriam Hermeto e Juliana Melo.

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    Key words:Jnio Quadros. Joo Goulart. Event. Dictat Books.

    Neste artigo, pretendemos problematizar algumas das representaes

    realizadas pelos autores de Livros Didticos de histria acerca de dois sujeitoshistricos do golpe de 1964: Jnio Quadros e Joo Goulart. Acreditamos quepersonagens como esses, que se destacam nos processos histricos, no podemser ignorados pela historiografia e pelas reflexes sobre ensino de histria,sobretudo em nosso pas que possui uma tradio de poltica personalista.1

    Nesse sentido, procura-se pensar a forma como esses dois atores histricossingulares so representados por 60 livros didticos, de 30 autores.2

    Biografia, acontecimento e histria: relaes tensas

    Segundo Benito Besso Schmidt, a recuperao dos sujeitos individuais, decerta forma, pode ser vista como uma tentativa de reagir aos enfoquesestruturalistas, que se encontram desencarnados de humanidade. necessriopensarmos que resgate de trajetrias individuais normalmente utilizado parailuminar questes e/ou contextos mais amplos3. Em histria, a tentativa dedesvendar os mltiplos fios que parecem ligar o indivduo ao seu contexto, apreocupao central da biografia.

    Para Pierre Bourdieu, o relato biogrfico tende, ou pretende, organizar-seem seqncias que se encontraro ordenadas segundo relaes inteligveis. Nabiografia, o sujeito e o objeto possuem de certa forma o mesmo interesse emaceitar o postulado de sentido da existncianarrada4. Desse modo, para osocilogo h alguns problemas epistemolgicos srios que constituem a ilusobiogrfica, pois se trataria de atribuir sentido, caminho, lgica e cronologia

    1 Maria Helena Capelato. Citada por BORGES. Historiografia brasileira em perspectiva, SoPaulo: Contexto, 1998, p.440. Ainda sobre essa questo, Vavy Borges Pacheco afirmou: ahistria pelas grandes figuras est h dcadas proscrita na universidade; entretanto, com areafirmao recente do papel do indivduo na sociedade, os historiadores da poltica voltarama se preocupar com o papel que os grandes personagens tiveram, tm e provavelmente

    sempre tero na poltica; suas aes, se no explicam a histria toda, tm nela um peso muitosignificativo que cabe ao historiador aquilatar. In: BORGES. Historiografia Brasileira emPerspectiva, So Paulo: Contexto, 1998, p.159-160.

    2 Essa a quantidade de livros que foi possvel encontrar na Biblioteca Municipal de Divinpolis(MG).

    3 SCHMIDT. Estudos Histricos, Rio de Janeiro, v. 10, n. 19, 1997, p.14. Sobre essa questo,ver, tambm, DOSSE, F. Imprio dos sentidos: a humanizao das Cincias Humanas. SoPaulo: EDUSC, 2003.

    4 BOURDIEU. A iluso biogrfica. In: FERREIRA, M. e Amado, J. Usos e abusos da histria oral,.Rio de Janeiro: FGV, 1998, p.184.

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    vida. Mesmo ciente dessas armadilhas e que a fronteira que separa a biografiada histria sempre foi bastante imprecisa5, os historiadores tm buscado pensara forma como as trajetrias individuais e os seus contextos se articulam, comouma via de mo dupla.

    Sabina Loriga

    6

    afirma que o enunciado biogrfico, diferente do que muitospensam, no tende sempre para uma forma tradicional da biografia. Cabe histriabuscar reconstituir o tecido social e cultural mais amplo. Para a autora, com abiografia, gnero literrio, a situao diferente: ela tem como base, em geral, aunicidade de uma existncia. a partir de diferentes movimentos individuais,que se torna possvel o rompimento das homogeneidades aparentes, revelandoassim os conflitos que precederam formao das prticas culturais. De acordocom Loriga, o estudo do passado ainda privilegia a concepo aritmtica doindivduo, na qual o homem tem apenas duas opes: desempenhar o papel deum ser consciente e coerente ou ento o de um peo no tabuleiro de xadrez da

    necessidade7. Os indivduos que hoje povoam os livros de histria no so toilustres quanto seus ancestrais do sculo XIX, porm tambm so prisioneirosde uma mesma unidade de sentido fictcia, pois ambos compartilham o destinoaritmtico.

    Em grande medida, essa nova forma de pensar os indivduos aponta para amesma direo das modificaes da Histria Poltica. Para Ren Rmond, porexemplo, a antiga forma de escrever a Histria do poltico era a prpria imageme o exemplo perfeito da Histria dita factual, acontecimental (ou venementielle),pois ficaria na superfcie, esquecendo-se de vincular os acontecimentos s suascausas profundas. A histria dos fatos polticos se mostrava, ento, como umahistria do efmero, do instante e dos grandes personagens. Ignorava-se apluralidade dos ritmos que caracterizam a Histria Poltica. A nova forma deescrever essa histria deveria, assim, inserir o poltico no jogo da continuidade eda mudana.8

    Nessa direo, os atuais parmetros curriculares de histria contrapemduas formas de abordagem dos sujeitos histricos. A primeira, que poderia serchamada de tradicional, pensa que a histria pode ser percebida como dependente

    5 LORIGA. S. A biografia como um problema. In: REVEL, Jacques (org.). Jogos de escalas: aexperincia da microanlise. Rio de Janeiro: Fundao Getlio Vargas, 1998, p.225.

    6 Ibidem. Para Franois Dosse, a escrita biogrfica se tornou um excelente campo deexperimentao para o historiador, que pode pensar sobre o carter ambivalente daepistemologia da histria, nem cincia, nem fico. H um jogo, um hibridismo, uma troca entrea identidade literria e cientfica do texto histrico. Ver, DOSSE, F. Le Pari biographique :crire une vie. Paris : La Dcouverte, 2005.

    7 Ibidem, p. 245.8 Ver RMOND.R. Por uma histria poltica. Rio de Janeiro: FGV, 1996.

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    dos destinos de poucos atores, de aes independentes e de vontades individuaisdas elites, em detrimento da dimenso coletiva das aes e lutas. Desse modo,os indivduos podem ser estudados, em uma segunda abordagem, inseridos emuma rede social, contextualizados. Os sujeitos, assim, no seriam apenas os

    heris e grandes personagens, mas tambm os trabalhadores, patres, escravos,camponeses, crianas, mulheres, dentre outros.9

    No que se refere ao acontecimento, iniciamos a reflexo por Michel Foucault:pensar o acontecimento puro prov-lo, em primeiro lugar, da sua metafsica10.Os acontecimentos no pertencem s causas, eles precisam de uma lgicamais complexa que deve ser ternria, tradicionalmente centrada no referente,por um jogo de quatro termos11. O sentido-acontecimento ser neutro, pois ele o interminvel, e no o trmino. O sentido-acontecimento ao mesmo tempo aponta deslocada do presente e a eterna repetio do infinitivo12. No tendocorpo material, o acontecimento se encontra preso pelo verbo.

    De acordo com Foucault, recentemente houve trs tentativas de pensar oacontecimento: o neopositivismo, a fenomenologia e a filosofia da histria. Oneopositivismo converteu o acontecimento em um processo material; afenomenologia deslocou o acontecimento em relao ao sentido13, ou seja, osentido no existia na hora do acontecimento; e a filosofia da histria encerrou oacontecimento no ciclo do tempo. Segundo Foucault, essas trs abordagensno conseguiram apreender o acontecimento em sua completude e, a respeitodisso, Gilles Deleuze, em a Lgica do Sentido, prope

    uma metafsica do acontecimento, corporal (irredutvel, pois, a uma fsicado mundo), uma lgica do sentido neutro (em vez de uma fenomenologiadas significaes e do sujeito), um pensamento do presente infinitivo (e noo relevo do futuro conceptual na essncia do passado).14

    Para Deleuze, o sentido o brilho do acontecimento e no o que acontece(acidente), ele no que acontece o puro expresso que nos d sinal e nosespera15.

    9

    BRASIL. Parmetros curriculares nacionais, 1998.10 FOUCAULT, M. Um dialgo sobre os prazeres do sexo. Nietzsche, Freud e Marx. TheatrumPhilisoficum, 2. ed.. So Paulo: Landy, 2005, p.86.

    11 Ibidem, p.87.12 Ibidem, p. 89.13 Ibidem, p.90.14 Ibidem, p.91. Sobre o pensamento de Michel Foucault e a noo de acontecimento, ver

    CARDOSO, Irene de Arruda Ribeiro. Foucault e a noo de acontecimento. Tempo Social.Revista de Sociologia USP, So Paulo, v. 1-2, n. 7, 1995, p.57-58.

    15 DELEUSE. Gilles. Lgica do sentido. So Paulo: Perspectiva, 1974, p.152.

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    Ele deve ser aquilo que compreendido, querido, desejado, e representadono que acontece. Deve-se ento tornar-se digno daquilo que nos ocorre, porconseguinte, querer e capturar o acontecimento, tornar-se o filho de seus prpriosacontecimentos e por a renascer, refazer para si mesmo um nascimento, rompe

    com seu nascimento de carne

    16

    . Tornamo-nos, ento, filhos de nossosacontecimentos, e no de nossas obras, pois elas so produzidas por ns,filhos do acontecimento.

    A linguagem fundamentada pelos acontecimentos puros, que s adquirema existncia pura, impensada, singular e pr-individual quando so exprimidospela linguagem. o sentido que faz existir o que exprime e, pura insistncia, sefaz desde ento existir no que o exprime17. a fronteira que separa as coisas eos corpos da linguagem, que a torna possvel. por isso que a linguagem nocessa de nascer. Em ltima instncia, os acontecimentos que tornam possvela linguagem, o que significa fazer com que os sons no se confundam com as

    qualidades sonoras das coisas, com o burburinho dos corpos, com suas aese paixes18.

    Michel Foucault e Gilles Deleuze propem que estudemos osacontecimentos por eles mesmos, sem procurar aprision-los na curta duraoou na estrutura19. Desse modo, por que devemos estudar o acontecimento nasduraes histricas, curta, mdia, longa, sincrnica e diacrnica? Porque, aoser transformado em linguagem e, portanto, ao existir de fato , o acontecimentose transmuta em muitos, sendo ao mesmo tempo um. O evento ganha significadosdiversos e se materializa em novas obras dos filhos dele prprio, o acontecimento.A ao individual e a acontecimental, portanto, no devem ser descartadas deum quadro de anlise mais complexo para pensar a relao entre a contingnciados eventos e a recorrncia das estruturas20.

    Jnio Quadros e Joo Goulart: aes individuais e contextos histricos

    De acordo com Maria Benevides, Jnio Quadros, apesar de ser apresentadocomo um exemplo do brasileiro poltico carismtico, no passa de uma caricaturado carisma. Segundo a autora, ele era um histrio, possuindo um carisma damscara que no passava de falso carisma. Quadros fazia uso de uma demagogia

    16 Ibidem.17 Ibidem, p.171.18 Ibidem, p.187.19 Ver tambm DOSSE, F. Imprio dos sentidos: a humanizao das Cincias Humanas. So

    Paulo: EDUSC, 2003 e KOSELLECK, R. Futuro passado: contribuio semntica dos temposhistricos. Rio de Janeiro: Contraponto: PUC-Rio, 2006.

    20 SAHLINS, M. Ilhas de histria. Rio de Janeiro: Zahar, 1997, p.14.

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    teatral em sua atuao, marcada por contradies e ambigidades acima donormal, concedido a qualquer governante. Uma dessas contradies era aintrigante conjugao entre a defesa ativa de uma poltica externa de grandezae a adoo de um estilo provinciano e mesquinho no trato da coisa pblica21.

    Sua poltica dos bilhetinhos revela um autoritarismo de um governo burocrticopersonificado.Segundo Benevides, o estilo autoritrio, moralista e extremamente

    personificado de Jnio Quadros evocava um populismo de direita militarista,antiparlamentar e associado ao grande capital, que era dirigido a todas asclasses, ao conjunto da nao, terminando por diluir o prprio significado depovo e de massa22, diferentemente do populismo expresso nos governos GetlioVargas (1950-1954) e Joo Goulart (1961-1964).

    Jnio Quadros tomou posse em janeiro de 1961 (vencendo, com 5.636.623votos, o General Lott, que teve 3.846.825 votos), e renunciou em agosto do

    mesmo ano. A explicao mais provvel para a curta durao do mandato a deque a renncia de Jnio Quadros teria sido uma estratgia para obter poderesespeciais do Congresso23. Porm, se esse tiver sido o plano de Quadros, elefalhou completamente, pois sua renncia foi aceita prontamente pelo Congresso.

    Maria Benevides afirma que Jnio esperava voltar ao governo nos braos dopovo. Sua confiana na democracia das emoes o levou a crer que o temordos militares acerca da posse de Jango o levaria de volta presidncia. Suaconfiana tambm parecia dizer respeito esquerda, que ele acreditava temer ainstalao de uma junta militar no governo. Segundo a autora, o otimismo deQuadros era tanto que ele contava com um queremismo, um queremos Jnio,o que respaldaria sua volta presidncia com poderes discricionrios.

    Aps sua renncia, uma crise poltica se instalou, pois os ministros militaresno queriam aceitar a posse do vice-presidente Joo Goulart, naquele momentoem visita China comunista. A disputa que dividia os polticos e militares desdeo governo de Getlio Vargas se veria renovada. O pas se encontrava beira deuma guerra civil. O sistema parlamentarista foi a soluo adotada pelo Congresso.Dessa forma, a sucesso se manteve legal e, ao mesmo tempo, o presidenteperdeu grande parte de seus poderes. Um plebiscito para decidir acerca dosistema de governo foi marcado para janeiro de 1964. Porm, Jango conseguiu

    adiant-lo para 1963. O presidencialismo venceu por grande maioria de votos eJoo Goulart assumiu os poderes de um presidente. Aps o plebiscito, a luta

    21 BENEVIDES, Maria Victoria de M. O governo Jnio Quadros. So Paulo: Brasiliense, 1999,p.39.

    22 Ibidem, p.9.23 Ver: IGLSIAS, F. Trajetria poltica do Brasil 1500-1964. So Paulo: Cia das Letras, 1993;

    FAUSTO, B. Histria do Brasil. So Paulo: EDUSP, 1994.

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    poltica se radicalizou e os conflitos se viram reduzidos oposio da direita eda esquerda. Organizaes como o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais(IPES) e o Instituto Brasileiro de Ao Democrtica (IBAD) foram criadas, nesseperodo, pela oposio.

    A anlise das representaes de Jango, bem como de seus auxiliares ealiados nos ajuda a compreender o contexto do Golpe de 1964. Nasrepresentaes caricaturais acerca de Joo Goulart, percebemos que muitasvezes ele foi representado, durante o seu presente histrico, como um presidentetolerante com a esquerda e propenso a atitudes golpistas24. Concordamos como historiador Rodrigo Patto S Motta quando afirma que na crise dos anos 1960,o modo como os atores polticos imaginavam os acontecimentos provocou enormeimpacto25.

    Joo Goulart foi visto por muito tempo como uma pessoa tmida, insegurae instvel, de personalidade avessa a sustentar posies firmes26. Goulart

    retratado como um indivduo retrado e tmido, caractersticas que eram associadas amabilidade; algum que dificilmente encarava seu interlocutor nos olhos. Apersonalidade tmida e modesta combinava-se com malcia poltica e talentopara negociao27.

    Motta aponta esse paradoxo das representaes acerca de Joo Goulart ediz que ora Jango era retratado como ingnuo e trapalho, um poltico incapazde conduzir o pas em meio a crise to grave, fazendo papel de tolo e joguete nasmos de foras superiores, ora o criticavam por ser malicioso e ardiloso28. Goulartera visto como um demagogo, autoritrio e protetor dos comunistas. Para aesquerda, Jango era um poltico sensvel aos anseios populares29, e seu apoios teses nacionalistas tambm atraam a simpatia desse grupo social. Porm, aesquerda tambm criticava Joo Goulart, em relao a sua indeciso quanto aoengajamento poltico, e posicionamentos ambguos diante de situaes. Umponto de convergncia nas representaes acerca de Jango, entre esquerda edireita, era que ele era visto por ambos os lados como homem de posiespolticas pouco slidas e claras30. interessante observar que nos livros didticosde histria com os quais trabalhamos, conforme ser destacado no prximoitem, apenas uma face da personalidade de Jango retratada: a da timidez, quese desdobra em algum momento em incapacidade poltica.

    24 MOTTA, R. Patto S. Jango e o Golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, p.26.25 Ibidem.26 Ibidem, p.70.27 Ibidem, p.44.28 Ibidem.29 Ibidem, p.45.30 Ibidem, p.70.

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    A mobilizao poltica na dcada de 1960 girava em torno das reformas debase estrutura agrria, fiscal, bancria e educacional , e de algumas reformaspolticas como o voto para analfabetos e a legalizao do Partido Comunista.Em setembro de 1963, a questo da hierarquia militar adquiriu contornos

    negativos. Sargentos da Marinha e da Aeronutica se rebelaram em Braslia eprenderam o presidente da Cmara dos Deputados e um Ministro da SupremaCorte. Eles alegavam que a sua revolta era em razo da diviso do SupremoTribunal que contrariava o direito que tinham de concorrer a postos eletivos. Arevolta se tornou mais grave quando o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT)e a Unio Nacional dos Estudantes (UNE) passaram a api-los. Porm, ainsatisfao dos sargentos tambm se encontrava entre os conspiradores dadireita e os setores radicais da esquerda. Joo Goulart cedeu presso daesquerda e promoveu comcios populares, que serviram como meio de pressionaro Congresso para aprovar as reformas de base. No primeiro comcio, que

    aconteceu no dia 13 de maro (sexta-feira) de 1963, no Rio de Janeiro, o presidenteassinou dois decretos: o primeiro nacionalizava uma refinaria de petrleo; osegundo desapropriava terras que se encontravam s margens de ferrovias erodovias federais e de barragens de irrigao.

    No dia 19 de maro, um comcio realizado em protesto ao comcio quehavia acontecido no Rio de Janeiro, ocorreu em So Paulo. Esse comcio, quetinha como lema Marcha da Famlia com Deus pela Liberdade, foi promovidopor organizaes religiosas e teve como inspirao um padre norte-americano,sendo financiado por homens de negcio paulistas. No momento do Golpe Militar,os grupos de direita e os grupos de esquerda estavam abandonando a prtica dademocracia representativa, ao preparem um golpe nas instituies.

    Desde 1945, liberais e conservadores buscavam na poltica nacional deGetlio Vargas a sua herana. A esquerda tambm no possua razesdemocrticas. Para ambos os lados, a democracia era apenas um meio, quepodia ser descartado a qualquer momento. Segundo Caio Navarro Toledo, o quelevou as classes dominantes e alguns setores das classes mdias que estavamsendo apoiadas e estimuladas por agncias governamentais estadunidenses eempresas multinacionais a condenarem o governo foi a crescente radicalizaopoltica do movimento popular e dos trabalhadores, que estava pressionando o

    Executivo a romper os limites do pacto populista31

    .

    31 TOLEDO,Caio Navarro de. 1964. Vises crticas do Golpe: Democracia e Reforma no Populismo.Campinas: UNICAMP, 1997, p.44. Para as diversas interpretaes do Golpe de 1964, verFICO, Carlos.Alm do golpe.: verses e controrsias sobre 1964 e a Ditadura Militar. Rio deJaneiro: Record, 2004.

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    Jnio Quadros e Joo Goulart: a caricatura permanece

    Tendo em vista os contextos acima aludidos32, a forma como as figuras deJnio Quadros e Joo Goulart so retratadas nas interpretaes realizadas acerca

    do Golpe de 1964 so passveis de discusses interessantes e problematizadoras.Ao pensarmos na figura de Jnio Quadros, percebemos que as representaesacerca dela sofrem poucas modificaes nos textos de todos os livros didticosque analisamos.

    No texto referente ao perodo em questo, no livro Histria Geral da CivilizaoBrasileirade 197633, destinado ao ensino mdio, encontramos Jnio Quadrossendo retratado como um homem descompromissado em relao s legendaspartidrias, dotado de um estilo populista, contrrio corrupo administrativa eimprevisvel. Seus planos de governo so considerados avanados; porm, queplanos eram esses tambm no dito pelo livro. A renncia de Jnio Quadros

    tratada como algo surpreendente. Segundo os autores desse livro, parece tersido ao do presidente que estaria tentando impactar os meios polticos emilitares, na tentativa de obter uma maior soma de poderes.

    O livro didtico Histria da sociedade brasileira,de 198534, descreve JnioQuadros como um indivduo dotado de um estilo personalista e autoritrio. Arenncia de Jnio teria sido um exemplo de seu personalismo. Por sua vez, olivro Histria moderna e contempornea,de 1977, destinado ao ensino mdio,afirma que Jnio Quadros representava a moralizao econmica administrativa.Porm, alguns de seus atos contradiziam a imagem que tentava mostrar para asociedade. Entretanto, o livro no se preocupa em explicar que atos eram esses35.

    O livro Histria do Brasil, de 198336, destinado ao ensino mdio, afirma quena manh de 25 de agosto de 1961, em carta ao Congresso Nacional, JnioQuadros renunciava ao seu mandato. O gesto do presidente permanece semexplicaes definitivas, mas ao que parece, tratou-se de uma tentativa de golpe.

    32 Sobre o conceito de contexto no plural, ver REVEL, Jacques (org.) Jogos de escalas. Aexperincia da microanlise. Rio de Janeiro: FGV, 1998.

    33 GOMES; MOURA; GONZALEZ. Histria geral da civilizao brasileira. Ensino Mdio e

    Concursos vestibulares. 6 ed. Revista e Aumentada. Belo Horizonte: L, 1976.34 ALENCAR; RAMALHO; RIBEIRO. Histria da sociedade brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: AoLivro Tcnico, 1985. O livro no diz a que srie se destina.

    35 ARRUDA, J.J. de A. Histria: moderna e contempornea, 7 ed, Revista. Ensino Mdio. SoPaulo: tica, 1977, p.420-421. Segundo o livro, Jnio Quadros encaminhou-se no sentido deuma reviso da nossa poltica exterior, procurando fugir do alinhamento tradicional com oBloco Ocidental adotou a poltica independente advogando o ingresso da China Comunistana ONU, recusou-se a apoiar a poltica de isolamento de Cuba, e finalmente condecorou oMinistro da indstria e Comrcio de Cuba, Ernesto Che Guevara.

    36 CAMPOS. Histria do Brasil. Ensino Mdio. So Paulo: atual, 1983, p.224.

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    A obra Histria do Brasil; O imprio, a repblica e o Brasil contemporneode198537, destinado ao ensino mdio, afirma que, apesar do presidente JnioQuadros ter tido uma carreira rpida e brilhante, ele no cuidou de obter o apoioparlamentar, que era indispensvel para a execuo de um plano de governo. Ao

    optar por legislar o pas s por decretos, acabou provocando um conflito inevitvelcom o Poder Legislativo. Dessa forma, perante as presses internas e asdificuldades crescentes de governar o pas sozinho, o Presidente preferiu renunciar.O livro Histria: memria viva, de 199438,afirma que a renncia foi uma manobrapoltica fracassada de Jnio Quadros, uma trama para reforar seu prprio poder.O golpe fundava-se no temor de setores da sociedade e de parte da opiniopblica diante de um governo dirigido por Jnio Quadros.

    notvel a construo de uma representao acerca da personalidade deJnio Quadros nos livros didticos de histria desde a dcada de 1970, quaseinalterada nas narrativas didticas contemporneas. Em todos os livros analisados,

    Quadros retratado como um homem carismtico; porm, imprevisvel. Suasaes so supostamente conseqncias de seu personalismo exacerbado.Ressalta-se, ainda: to comum quanto esse tipo de assertiva nos livros, aausncia de sua problematizao.

    No que se refere figura do Presidente Jango, ela apontada nos livrosdidticos, como nas representaes do pr-golpe j citadas, como um governanteque no possua a confiana e o apoio de alguns setores da classe mdia e altadevido sua poltica de esquerda. O fato de ele ter sido ministro do trabalho deGetlio Vargas levantaria suspeitas quanto s atitudes tomadas por ele duranteseu governo.

    O livro didtico Histria do Brasil, de 1985, destinado ao ensino fundamental,diz que a renncia de Jnio Quadros criou uma nova crise poltica. Foramformadas duas correntes antagnicas: uma que defendia a sucesso legal, dandoposse a Joo Goulart; a outra () que no queriam Jango (Joo Goulart), porqueviam nele um esquerdista39.

    O livro Histria: assim caminha a humanidade, de 199940, tambm destinadoao ensino fundamental, afirma que o passado populista de Joo Goulart alarmavaos militares e os grupos conservadores, que viam nele um homem ligado sesquerdas, apesar de ser grande latifundirio no sul do pas. Sua posse

    37 ARAJO, A. T. Histria do Brasil: independncia e luta democrtica. Ensino Fundamental.So Paulo: editora do Brasil, 1985, p.93.

    38 VICENTINO, C. Histria: memria viva. Brasil: perodo imperial e republicano. So Paulo:Scipione, 1994, p.118. O livro no diz a que srie se destina.

    39 ARAJO, op. cit. p.103.40 RIBEIRO; TRINDADE; MARTINS. Histria: assim caminha a humanidade. 8 srie. Belo Horizonte:

    Editora do Brasil, 1993, p.144.

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    representava, para os conservadores, um retorno ao populismo varguista. Jango visto, ento, como uma ameaa aos interesses da elite orgnica; portanto atentativa de impedir sua posse e de sabotar seu governo poderia ser explicadapor sua poltica populista esquerdista.

    interessante observar que, nos livros didticos analisados, termos comopopulista, esquerdista e comunista no so explicados. Aparentemente, oslivros pressupem que o leitor j conhece o significado desses conceitos,precisamente no contexto ao qual eles se referem em um dado texto.

    No decorrer de nossas anlises acerca das figuras de Jnio Quadros eJoo Goulart nos livros didticos, percebemos que a forma como eles sorepresentados no sofreu praticamente nenhuma mutao nas narrativas nasobras didticas de dcada de 1970 at hoje. Em todos os livros didticosobservados, Jnio Quadros visto como um poltico inteligente, dotado de carisma,mas, ao mesmo tempo, imprevisvel e particularista. Em contrapartida, Joo

    Goulart tido como um homem sem capacidade para governar o Brasil e donode idias comunistas mirabolantes, e essa para ns uma das principaisdiferenas, pois, enquanto Quadros retratado como um poltico, Jango descritocomo sendo apenas um homem, que parece no compreender a poltica.

    guisa de consideraes finais: seriam Jnio Quadros e Joo Goulart osdois culpados pelo Golpe de 1964?

    Segundo Circe Bittencourt41, a concepo de histria o critrio central naseleo de contedos realizada, tanto para o professor de histria como para olivro didtico. O conhecimento histrico produzido se torna legvel nos referenciaistericos utilizados em seu processo de construo.

    Diversas crticas caminham junto com esse tipo de produo historiogrfica.Algumas colees didticas buscam produzir uma histria ficcional criada paradespertar em jovens alunos o interesse pelo passado, construindo enredos compersonagens principais e coadjuvantes, de maneira semelhante ao que realizadonas tramas de novelas de televiso42. Nessas narrativas os personagens sujeitoshistricos so apresentados como bons e maus, heris e viles. Essa pretensareconstituio do passado no permite refletir acerca dos acontecimentos, nem

    mesmo interpret-los.A histria maniquesta e emotiva a mais comum de ser encontrada emlivros didticos, pois dotada de uma linguagem que facilita o processo dememorizao. O livro didtico de histria um dos responsveis pela

    41 BITTENCOURT, C. Ensino de Histria: fundamentos e mtodos. So Paulo: Cortez, 2004.42 Ibidem, p.144.

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    sedimentao de uma memria histrica, podendo servir como veculo dereproduo de uma historiografia responsvel pela produo dessa mesmamemria43. Esse tipo de interpretao rodeia fatos consagrados como o GolpeMilitar. Vale ressaltar, nesse sentido, que fatos consagrados permanecem nas

    obras didticas, porm eles tm sido acompanhados, muitas vezes, deinterpretaes baseadas em bibliografia atualizada.Percebemos em nossa anlise que explicitaes no-problematizadas

    acerca de Jnio Quadros, Joo Goulart e do Golpe de 1964, sugerem aos leitoresdesses livros que o Golpe Militar teve como origem o carter fraco e de idiasesquerdistas de Jango e a imprevisvel e particularista personalidade de JnioQuadros que, apesar de carismtico, no era confivel. Essa constatao nosleva a retomar nossa reflexo sobre a relao entre acontecimento e indivduo.

    Segundo Michel Foucault

    o problema ao mesmo tempo distinguir os acontecimentos, diferenciar asredes e os nveis a que pertencem e reconstituir os fios que os ligam e osfazem com que se engendrem, uns a partir dos outros. Da a recusa dasanlises que se referem ao campo simblico ou ao campo das estruturassignificantes, e o recurso s anlises que se fazem em termos de genealogiadas relaes de fora, de desenvolvimentos estratgicos, e tticas. Ahistoricidade que nos domina e nos determina belicosa e no lingstica.A histria no tem sentido, o que no significa que ela seja absurda ouincoerente. Ao contrrio, ela inteligvel e pode ser analisada em seusmenores detalhes, mas segundo a inteligibilidade das lutas, das estratgias,

    e das tticas44.

    Na mesma direo, Franois Dosse afirma que, atualmente, no estocorrendo um retorno puro e simples ao sujeito ou a uma certa forma dehumanismo pr-crtico, e sim de um reequilbrio, uma mudana de escala quepermite interrogar no nvel do indivduo sobre quem se fundamente o seu conjunto,o vnculo social45. Esse reequilbrio passaria pela reavaliao acerca dos vnculossensveis e indivisveis que sustentam a humanidade do homem. A interaope em relao no indivduos em sua singularidade, mas em sua representaode um papel46. Um novo paradigma, onde a historicidade substitui a estruturasurgiria em torno dos anos 1980. No um simples retorno do sujeito, ele noera visto como outrora j foi visto, como dotado de uma plenitude e soberania

    43 Ibidem, p.304.44 FOUCAULT, M. Microfsica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979, p.5.45DOSSE, op cit. p.16.46 Ibidem, p.99.

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    postulada. A pesquisa se desloca para o estudo da conscincia problematizada.A micro-histria devolve o direito cidadania, singularidade, redinamizando erenovando o gnero biogrfico.

    Desse modo, o trabalho da memria e o exerccio da lembrana propiciam

    oportunidades fundamentais para a criao da histria

    47

    . O representar parecepossuir um duplo sentido, o de substituio e o de afirmao de uma presena,de um poder. Representar um ato social, implica a produo de figuras e imagensa partir do mundo de fatos dados experincia.48Porm essa experincia s serealiza atravs da mobilizao de um arsenal de significaes implicadas no atode produzir estas figuras indispensveis para nos relacionarmos com o mundo49.O trabalho da memria constri para o acontecimento uma aura de sacralidade,tornando-os objeto de devoo, e a histria raciocina e critica de forma sistemticaos objetos encontrados nesses lugares do sagrado.

    Como problematizar a memria de 1964 para alm da dimenso individual?

    Como pensar os atores envolvidos na crise de 1961-1964 para alm da caricaturasocial? Ao que parece, necessrio pensar o processo histrico como umaconstruo que obedece a determinadas lgicas de poder e saber. Nesses termos,caberia ao professor de histria efetuar uma leitura crtica dos livros didticos, afim de contribuir para uma reflexo em curso sobre os novos rumos da aopoltica. Pensamos que reiterar a imagem de loucos e fracos contribui de algummodo para certo desencanto com a poltica que caracteriza o mundocontemporneo e retira dos atores a dimenso criativa da ao poltica, missocvica essencial do ensino de histria. Re-significar essas imagens individuais eir alm delas , a nosso ver, uma forma de romper com a lgica, ainda presentenos livros didticos, de histria, mestra da vida50.

    Nas representaes analisadas, percebemos que a dimenso exemplar daao individual se d s avessas: pela fraqueza, pela loucura, pelo erro, pelo queno foi o que deveria ter sido. A histria doadora de sentido e de exemploscontinua presente no saber histrico escolar! Se no possvel romper comessa concepo nas obras em si mesmas, todas elas, produtos culturaisdisponveis para o leitor, pensamos ser possvel ao professor, no dia-a-dia,problematizar as concepes de sujeitos histricos que perpassam os impressos

    47 GUIMARES, M. Memria, histria e historiografia. In: BITTENCOURT, J. N.; BENCHETRIT, S.;TOSTES, V. L. (org.) Histria representada: o dilema dos museus. Rio de Janeiro: MuseuHistrico Nacional, 2003, p.77.

    48 Ibidem, p. 78.49 Ibidem, p.78. Repetir. KOSELLECK, op cit.50 Sobre a permanncia desse tipo de concepo de histria ver, dentre outros, BLOCH, M.

    Apologia da Histria, ou o ofcio do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, HARTOG. RgimesdHistoricit,: prsentisme et expriences du temps. Paris: Seuil, 2003 e KOSELLECK, op cit.

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    didticos, a fim de contribuir para a formao de homens e mulheres maishumanos, complexos, plurais e, sobretudo, capazes de construrem e/ouparticiparem de acontecimentos histricos mais nobres do que o Golpe de 1964.

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