335 - livro da disciplina - cultura surda e libras

Upload: junior-da-copiadora

Post on 07-Aug-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    1/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    2/283

    CULTURA SURDA & LIBRAS

     A DRIANA DA  SILVA  THOMA BETINA  S. GUEDES

    C ARINE TOSOC ÁTIA DE A ZEVEDO FRONZA 

    DENISE SPONCHIADO

    GISELE F ARIAS MUCK GRACIELE M ARJANA  K RAEMER 

    JULIANA  F ÁTIMA DA  SILVA  CHAVESLILIANE FERRARI GIORDANI

    M ÁRCIA  LISE LUNARDI-L AZZARINM ARICELA  SCHUCK 

    M AURA  CORCINI LOPES (ORG.)PEDRO HENRIQUE W ITCHS

     V  ANESSA  SCHEID S ANTANNA DE MELLO V  ÂNIA  ELIZABETH CHIELLA  V ERA  LUCIA  M AROSTEGA  V IRGÍNIA  M ARIA  ZILIO

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    3/283

    EDITORA  UNISINOS2012

    3/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    4/283

     APRESENTAÇÃO

     A surdez é uma grande invenção.(LOPES, 2011, p.7)

     Ao partir do entendimento de que a surdez é uma in-

     venção, os autores deste livro objetivam mostrar que sobrea materialidade de um corpo marcado pela surdez se in-screvem verdades que são construídas social e temporal-mente. Diferentes especialistas de distintos campos dosaber empenham esforços para classificar, caracterizar eidentificar o sujeito surdo. Os otorrinolaringologistas, osfonoaudiólogos, entre outros especialistas da saúde,afirmam que surdez é uma perda sensorial inata ou ad-quirida que se apresenta em diferentes níveis (leve, mod-erado, severo e profundo); muitos biólogos buscam ex-plicações para a surdez em fatores hereditários; profis-sionais da computação e da informática buscam criar con-dições digitais para promover a participação dos sujeitos

    surdos na sociedade e nas redes sociais; professores dediferentes áreas olham para os alunos surdos comoaqueles que possuem uma deficiência e precisam ser nor-malizados ou como sujeitos representantes de umacomunidade linguística-cultural específica etc. Enfim,muitas são as leituras possíveis de serem feitas sobre asurdez e sobre aqueles que a possuem. Cada leitura realiz-

    ada produz/inventa uma forma de olhar para o sujeito

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    5/283

    surdo, bem como inventa formas de posicioná-lo social,cultural, política, econômica, jurídica e educacionalmente.

    Diante de tantas leituras possíveis da surdez e dossujeitos surdos, os pesquisadores do Grupo Interinstitu-cional de Pesquisa em Educação de Surdos (Gipes/CNPq)

    e os professores do Programa de Aprendizagem em Difer-ença Cultural e Inclusão prepararam textos que trazemresultados de pesquisas atuais, financiadas pelo CNPq, eque objetivam mobilizar os graduandos interessados natemática a aprenderem sobre os surdos a partir de dis-cussões atuais.

    Os textos estão dispostos no livro por subtemas quecorrespondem aos conteúdos que devem ser trabalhadosna disciplina intitulada Cultura Surda e Libras, ofertadana modalidade a distância pela UNISINOS. Os leitoresperceberão que os textos apresentam discussões de difer-entes complexidades. Eles permitem tanto àqueles recém-chegados à temática aprenderem conceitos básicos sobre o

    tema quanto àqueles já iniciados à temática aprofundaremseus conhecimentos.Os subtemas desenvolvidos nos capítulos do livro per-

    mitem conhecer a história da educação de surdos e dasurdez; a língua de sinais (aspectos linguísticos, culturais epedagógicos implicados no uso da língua de sinais pelossurdos); o ensino da língua portuguesa para surdos, a re-

    lação entre intérprete de Libras, professor ouvinte e alunosurdo em sala de aula; identidade e cultura surda;comunidade surda; escola bilíngue para surdos; e inclusãode surdos no mercado de trabalho. Além de todos essesconhecimentos trabalhados, ao final do livro há um CDcom gravações de aulas que os alunos da disciplina Cul-

    tura Surda e Libras assistirão ao longo das atividades

    5/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    6/283

    desenvolvidas no semestre letivo. Nas aulas gravadas, osalunos poderão visualizar em suas casas os sinais trabal-hados em aula, bem como poderão ter acesso a explicaçõesdadas pelo professor da disciplina, além de consultar eestudar os textos dos diferentes autores que estão disponí-

     veis no livro.Todos os autores aqui reunidos esperam que o livro e

    o CD sejam materiais que mobilizem os graduandos dedistintas áreas, que estão matriculados na disciplina, aquerer saber mais sobre a surdez e os surdos, assim comoa querer olhar, pensar e trabalhar de outras formas com ossujeitos surdos.

    Maura Corcini Lopes

    6/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    7/283

    SUMÁRIO

    CAPÍTULO 1 – EDUCAÇÃO DE SURDOS:PERCURSOS HISTÓRICOS

    CAPÍTULO 2 – A LÍNGUA SURDA 2.1 Libras ou LSB2.2 Língua e linguagem2.3 Língua e cultura2.4 Línguas naturais2.5 Considerações finais

    CAPÍTULO 3 – ENTRE LÍNGUAS, O TRADUTOR/INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

    CAPÍTULO 4 – OS INTÉRPRETES DE LIBRAS:UMA INVESTIGAÇÃO

    4.1 Atuação dos intérpretes nas escolas4.2 Considerações finais

    CAPÍTULO 5 – USANDO AS CHAVES DOSCONCEITOS SOBRE CONCEPÇÕES QUANTO AOENSINO E À APRENDIZAGEM DE LÍNGUA POR SURDOS

    5.1 Sobre oralismo, comunicação total e bilinguismo5.2 Sobre os vocábulos surdez  e surdo: girando as

    chaves…

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#ch2-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#ch2-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#ch2-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#ch2-4http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#ch2-5http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter03.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter03.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter04.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter04.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter04.html#ch4-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter04.html#ch4-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter04.html#ch4-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter04.html#ch4-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter04.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter04.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter03.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter03.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#ch2-5http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#ch2-4http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#ch2-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#ch2-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#ch2-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    8/283

    5.3 Língua, Libras e língua portuguesa: prestes a abriras portas…

    5.4 Língua de sinais: a Libras5.5 Língua portuguesa

    5.6 Com as chaves, abrindo portas e caminhos…CAPÍTULO 6 – EDUCAÇÃO DE SURDOS:PRÁTICAS DE LETRAMENTO E DESIGNIFICAÇÃO

    CAPÍTULO 7 – IDENTIDADE E CULTURA SURDA 7.1 Breve contexto histórico da educação de surdos7.2 Cultura e identidade: aspectos gerais7.3 Experiências culturais e identitárias dos sujeitos

    surdos

    CAPÍTULO 8 – REPRESENTAÇÕES SOBRE OS

    SURDOS, COMUNIDADES, CULTURA EMOVIMENTO SURDO

    8.1 Sobre os termos de referência ao sujeito surdo8.2 Marcas surdas e a invisibilidade da surdez no

    corpo8.3 Comunidades surdas

    8.4 Cultura surda8.5 Movimento surdo

    CAPÍTULO 9 – LIBRAS E CULTURA SURDA EMFOCO: REFLEXÕES SOBRE IDENTIDADESCULTURAIS

    8/283

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-4http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-5http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-6http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter06.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter06.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter06.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter07.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter07.html#ch7-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter07.html#ch7-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter07.html#ch7-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter07.html#ch7-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-4http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-5http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-5http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-4http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.html#ch8-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter08.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter07.html#ch7-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter07.html#ch7-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter07.html#ch7-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter07.html#ch7-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter07.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter06.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter06.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter06.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-6http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-5http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-4http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter05.html#ch5-3

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    9/283

    9.1 E agora, meu aluno tem surdez, como vou inter-agir com ele?

    9.2 Como vivenciar na escola as diferentes iden-tidades culturais?

    9.3 Qual língua vai interagir com o aluno surdo emsala de aula?

    CAPÍTULO 10 – COMUNIDADE SURDA: UMESPAÇO DE FORTALECIMENTO DA CULTURA SURDA 

    CAPÍTULO 11 – IDENTIDADE, CULTURA EDIFERENÇA: ELEMENTOS PARA PENSAR A EDUCAÇÃO DE SURDOS

    11.1 Espaços e tempos do currículo11.2 Currículo e cultura11.3 Currículo e identidade

    11.4 Currículo e diferença11.5 Surdez e pedagogia da diferença11.6 Problematização das noções de diferença, defi-

    ciência e diversidade11.7 Perspectivas de uma pedagogia para a diferença

    surda

    CAPÍTULO 12 – ESCOLA BILÍNGUE PARA SURDOS

    12.1 A situação linguística e pedagógica dos alunossurdos no Rio Grande do Sul

    12.2 Escola bilíngue para surdos

    9/283

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter10.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter10.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter10.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-4http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-5http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-6http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-6http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-7http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-7http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter12.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter12.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter12.html#ch12-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter12.html#ch12-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter12.html#ch12-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter12.html#ch12-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter12.html#ch12-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter12.html#ch12-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter12.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter12.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-7http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-7http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-6http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-6http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-5http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-4http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.html#ch11-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter11.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter10.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter10.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter10.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter09.html#ch9-1

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    10/283

    CAPÍTULO 13 – A INCLUSÃO DE SURDOS NOMERCADO DE TRABALHO

    13.1 Nos instrumentos legais, quem é o surdo afinal?

    SOBRE OS AUTORES

    10/283

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter13.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter13.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter13.html#ch13-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/author.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/author.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter13.html#ch13-1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter13.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter13.html

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    11/283

    C APÍTULO 1

    EDUCAÇÃO DE SURDOS: PERCURSOS

    HISTÓRICOS

     Betina S. Guedes

    Este capítulo tem como objetivo mapear o contextohistórico que constituiu a educação de surdos traçandodiferentes percursos para tal fim. Percursos que vão dasprimeiras experiências educativas com crianças surdas, dainstitucionalização dos deficientes auditivos, da medicaliz-ação da escola e da educação especial até as atuais propos-

    tas de educação inclusiva. Deslocamentos que atenderama diferentes interesses políticos, indo desde a necessidadedos filhos surdos de nobres serem considerados aptos a re-ceberem heranças e títulos, até a demanda iminente de in-clusão escolar e social.

    Os interesses religiosos, econômicos e jurídicos eramos elementos que subsidiavam e justificavam a educação

    dos nobres surdos, para que viessem a ganhar o estatutonecessário à sua condição socioeconômica, isso implicavaque lhes fosse ensinado um conteúdo mínimo a serdemonstrado em sessões públicas através da fala ou pelaescrita. Essas capacidades intelectuais desenvolvidas nossurdos, entendidas como mínimas, eram necessárias paraque as famílias nobres pudessem lidar com questões deheranças e demais bens, pois de outra forma os filhos

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    12/283

    surdos não obteriam o reconhecimento jurídico necessáriopara que viessem a responder por questões legais e fin-anceiras (LULKIN, 2000). Os filhos surdos de nobresdeveriam, então, aprender a falar, a ler, a escrever, a fazercontas, a rezar, a assistir missa e confessar-se fazendo uso

    da palavra falada, tornando-se um modelo a ser seguidopor sua educação e posição. A visibilidade que a palavrafalada conferia aos surdos nobres embasava e justificavaos procedimentos aos quais eram submetidos, que vis-avam a cura da deficiência e o controle do corpo por meiode terapias da fala e rígidos processos de “normalização” ede disciplinamento (LOPES, 2007).

    Skliar (apud LOPES, 2007), ao descrever a educaçãodos nobres surdos na Espanha, destaca a atuação do ped-agogo Pedro Ponce de Leon (1520-1584), monge bened-itino que investiu esforços no ensino de surdos parademonstrar que os mesmos eram capazes de desenvolversuas faculdades mentais. O Monastério de Onã, onde

    Ponce de Leon trabalhava com surdos nobres, atraiu mui-tos outros surdos. Embora a intenção não fosse a form-ação de grupos surdos, esse movimento os reuniu em ummesmo espaço, propiciando que as crianças surdas com-partilhassem gestos caseiros, transformando-os em umacomunicação possível entre elas, dentro daquele espaçoeducacional.

    “Mesmo que tais gestos não sejam apontados na liter-atura como uma língua surda, eles podem e marcam umlugar surdo” (LOPES, 2007, p. 42). Eles marcam o iníciode uma forma de articulação surda ao possibilitar o encon-tro dos surdos com seus pares, não ainda uma articulaçãopolítica, mas o estabelecimento de uma relação de identi-

    ficação com a vivência de experiências visuais.

    12/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    13/283

    Foi na França do século XVIII que a educação públicapara surdos começou a ser consolidada, juntamente comuma comunidade que se articulou ao redor da primeiraescola fundada em 1761, em Paris, denominada InstituiçãoEscolar Imperial. A fundação dessa escola também marca

    o desenvolvimento da proposta educacional do abadeL’Epée. A língua de sinais passou a ser reconhecida e util-izada tanto como forma de comunicação apropriada para aeducação de surdos quanto nos procedimentos pedagógi-cos, servindo de base para uma pedagogia especial, daqual a religião, a moral e a língua nacional constituíam onúcleo do currículo (LULKIN, 2000).

     Apesar de ter passado a ser reconhecida como umaforma de comunicação apropriada para a educação de sur-dos, a língua de sinais permanecia como um meio deacesso, um instrumento facilitador para que a suposta ir-racionalidade desses sujeitos, desprovidos da faculdade daaudição e portadores de um grande empecilho para o

    desenvolvimento da fala, pudesse ser superada ou minim-izada. Sua principal função era servir como prova, em “es-petáculos” públicos, de que os surdos eram capazes de ad-quirir alguns conhecimentos, mesmo que simplesmentememorizados, e de desenvolver a escrita, entendida comoindiscutivelmente superior em relação à língua de sinais.

    Em contrapartida, ao analisar esse momento histórico

    da educação de surdos, Lopes (2007, p. 44) afirma que aproposta de educação de surdos feita por L’Epée “funcion-ou como condição de possibilidade para que muitos sur-dos se articulassem numa comunidade surda e para que amodalidade linguística desse grupo pudesse ser recon-hecida como uma forma de comunicação e um método de

    aprendizagem”.

    13/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    14/283

    Propondo uma relação com o contexto atual, Lopes(2007, p. 45) sugere:

    Olhando hoje para a iniciativa de L’Epée, vemos que ainstitucionalização da educação dos surdos, embora

    na época tivesse como objetivo maior o ensino da lín-gua francesa, constituiu parte da cultura surda, tãodefendida pela comunidade surda atual e pensadapor pesquisadores voltados para a temática dos sur-dos dentro de uma perspectiva cultural. O campo dedisputas de diferentes discursos que se entrecruza-

     vam na instituição de L’Epée representa quanto opoder pode ser produtivo quando visto como não

    fixo, não predeterminado às relações, ao lugar e aossujeitos.

    O método desenvolvido por l’Épée marcou um mo-mento decisivo na educação de surdos, sendo o respon-sável pela fundação das bases do ensino bilíngue. Seumétodo ia da língua escrita à língua oral e não ao con-

    trário, como era usual nessa época. l’Épée fez da educaçãode surdos um assunto coletivo, considerando os surdoscomo seres capazes e inteligentes, favorecendo seu reagru-pamento e, através disto, a expansão da língua e da culturasurda (BENVENUTO, 2006).

    No final do século XVIII, as instituições que per-mitiam o uso e a circulação da língua de sinais passaram aproibir qualquer tipo de manifestação viso-gestual. Nocurrículo que nesse período autorizava a aproximação coma cultura visual dos surdos, colocou-se em funcionamentouma perspectiva normalizadora em relação a esses sujei-tos, orientada por ouvintes. A língua de sinais foi sendoobscurecida e o convívio com tutores e professores surdos

    adultos, proibido (LULKIN, 1998).

    14/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    15/283

     Após a Revolução Francesa, o Estado assumiu para sia responsabilidade pela educação de todas as crianças, de-finindo como objetivo principal o acesso à cidadania. Deacordo com essa proposta, a educação de surdos deixou deser uma questão privada e passou ao domínio público.

    Essa decisão não agradou a todos, sendo julgada por difer-entes perspectivas que, apesar de algumas divergências,de uma forma geral, partilhavam a noção de que não haviamotivos suficientes para se investir na educação de sujei-tos incapazes. Alguns representantes políticos defendiamque o ensino de surdos não servia para ninguém, nemmesmo para os próprios surdos, por serem consideradossujeitos rejeitados pela natureza e impossibilitados de su-perar a sua condição inferior. Diante do projeto político eeconômico do Estado de tornar todos os cidadãos úteis,inclusive os surdos, houve uma necessidade crescente deprofissionalização, principalmente enfocando os ofíciosmanuais. Em decorrência dessas circunstâncias, as prior-

    idades na educação de surdos mudaram, todo o trabalhodesenvolvido até então, em relação aos sinais, foi descon-siderado, e a fala tornou-se imprescindível para inserir osurdo “cidadão e trabalhador” nesse novo contexto social(LULKIN, 2000).

    Tendo como prioridade a evolução do sujeito aprend-iz, no final do século XVIII, o corpo e a higiene do

    estudante surdo-mudo adquiriu grande importância e vis-ibilidade. Em 1818, a ginástica foi introduzida no InstitutoNacional de Paris, e o currículo passou a incorporar o tre-inamento físico, na intenção de fortificar os corpos, regu-lar a formação moral e reprimir os possíveis desviossexuais. Salientando-se que a ginástica fazia uso do canto,

    no intuito de subsidiar a educação da voz e da fala. No

    15/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    16/283

    decorrer do século XIX, a busca por salubridade e limpezapassou a fazer parte do currículo escolar, assim como aeducação da fala, entendida nessa época como um ele-mento de higiene para o estudante surdo-mudo (LULKIN,1998).

    No projeto ortopédico destinado aos surdos, aginástica teve um papel fundamental, sendo do tipo milit-ar e, sobretudo, moral. Pensava-se que a ginástica possuía,na sua própria prática, princípios morais capazes de“desentortar” o corpo do surdo e de impedir manifestaçõesde outras ordens. E quanto mais se obrigava os jovens sur-dos a se submeterem “[…] fisicamente a regras restritas – braços ao longo do corpo, marcha em fila indiana, mãosatadas às costas”, mais a impossibilidade de se comunicar-em em língua de sinais, língua que se constrói prioritaria-mente no espaço significante do corpo inteiro, se faziaevidente (BENVENUTO, 2006, p. 242).

    Benvenuto (2006) localiza, no ano de 1800, data de

    nomeação do primeiro médico-chefe do Instituto Nacionalde Surdos-mudos de Paris, Jean Marc Gaspard Itard, o es-tabelecimento de um espaço medicalizado nessa institu-ição, caracterizado pela autora como “um verdadeirolaboratório médico”, onde se tentava corrigir os corpossurdos, objetivando fazê-los escutar.

    Nas primeiras décadas do século XIX, o corpo da

    pessoa surda (seu instrumento de comunicação), passou aser progressivamente constrangido por uma organizaçãoestrita da instituição escolar, na qual a utilização do tempoe do espaço passou a ser pensada de acordo com as partic-ularidades do controle e da disciplina física e moral(LULKIN, 1998).

    16/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    17/283

    No decorrer do século XIX, diversos tipos de prótesesauditivas foram inventadas, seguidas, no século XX, pelasprimeiras próteses elétricas, visando fazer com que os sur-dos entrassem de alguma forma no mundo sonoro. Con-comitantemente a esses avanços tecnológicos e científicos,

    foram sendo desenvolvidas técnicas de oralização queanunciavam o nascimento da ortofonia moderna.Seguindo os passos de Itard, primeiro médico e orto-pedista da educação de surdos, e de Victor, primeirosujeito desta ortopedia, a surdez passou a ser progressiva-mente inscrita no entrecruzamento da medicina e da edu-cação. Itard marcou o início da patologização da surdez e,por considerá-la reversível, passou a buscar obstinada-mente a sua cura (BENVENUTO, 2006).

     A ciência biomédica aprofundou seus conhecimentossobre o corpo pondo em execução seu projeto higienista decura das moléstias da sociedade e reabilitação dos indiví-duos que não correspondiam aos padrões de normalidade.

    Esse entrecruzamento da medicina e da educação res-ultou na medicalização da educação de surdos, e em umprocesso de ortopedização da pedagogia. Os sinais aosquais L’Epée tinha dado status de língua de instrução fo-ram gradativamente eliminados da educação de surdos, ométodo oral foi sendo imposto de forma cada vez maisforte, e, no final do século XIX, os sinais foram totalmente

    proibidos nas escolas.Em 1880, o Congresso de Milão constituiu um marco

    na educação dos surdos, que desde então passou a serdefinida pelo modelo clinico terapêutico, destacando omodelo ouvinte como paradigma, e a língua na modalid-ade oral como objetivo principal, decretando a “extinção”

    da língua de sinais. Com base na proposta oralista, a

    17/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    18/283

    educação de surdos converteu-se em terapêutica/reabilita-dora cujo objetivo do currículo consistia em dar aos surdoso que lhes faltava, a audição, e seu derivado, a fala. Comoconsequência, criou-se um círculo de baixas expectativaspedagógicas em relação aos alunos surdos, ou seja, o edu-

    cador já partia do princípio de que esses alunos possuíamlimites naturais, e o fracasso era considerado uma con-sequência previsível (SKLIAR, 1998).

    Personagens e acontecimentos importantes para ahistória dos surdos:

    Pedro Ponce de León (1520-1584): frei beneditinoespanhol reconhecido como o primeiro profes'sor desurdos. Não se tem muitas informações sobre ométodo de educação que utilizava, sabe-se apenasque era um método oral dirigido para a “desmutiza-ção” e que utilizava uma forma de alfabeto manual(LUNARDI-LAZZARIN, 2003).Charles-Michael de L’Epée (1712-1789): elaborouum método denominado “signos metódicos”, com- binando o francês à língua de sinais. Foi o fundadordo Instituto Nacional de Surdos-mudos de Paris em1755. Reconheceu a língua de sinais no processopedagógico.

    Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838): residiu noInstituto Nacional de Surdos-mudos de Paris de1800 até sua morte. “À sua chegada, se ocupa de Victor, a criança selvagem de Aveyron. A partir de1805, Itard estuda as enfermidades da orelha […]. Oque fará dele o pai da otologia francesa e o fundadorda psiquiatria para crianças, devido à distinção que

    introduz entre o defeito de audição (a surdez) e o

    18/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    19/283

    defeito de entendimento (o que hoje chamamos deautismo e psicose infantil)” (BENVENUTO, 2006,p.239).Thomas Hopkins Gallaudet (1787-1851): fundou aprimeira escola para surdos dos Estados Unidos,

    disseminando a língua de sinais na educação dessessujeitos. Alguns anos depois, em 1869 já havia 550professores de surdos no mundo, 41% deles eramsurdos (STROBEL, 2006).Ernesto Hüet (1822): surdo com conhecimentos emmetodologia de ensino para surdos, veio da Françapara o Brasil em 1855. Participou da fundação doImperial Instituto de Surdos-mudos (futuro Ines –Instituto Nacional de Educação de Surdos) em 1857no Rio de Janeiro. Foi no instituto que os precurs-ores da educação de surdos de diversos estados dopaís buscaram a formação na área, e foi nesse con-texto que se deu a mescla da LSF (Língua de Sinais

    Francesa) com os sinais já usados no Brasil, e assimoriginou-se a Libras (Língua Brasileira de Sinais)(STROBEL, 2006).

    Em 1911, o instituto segue a tendência mundial e es-tabelece o oralismo puro como filosofia de educação. A lín-gua de sinais sobreviveu na sala de aula, nos pátios e

    corredores da escola até meados de 1957, quando foi sev-eramente proibida (GOLDFELD, 1997).

     Alexander Grahan Bell (1847-1922): vindo de umafamília com tradição no ensino e treinamento daaudição e da fala de surdos, foi um defensor fervor-oso do oralismo puro.

    19/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    20/283

    Posicionava-se contra a cultura surda e a língua desinais, julgando-a inferior e improdutiva para odesenvolvimento intelectual dos surdos.Congresso de Milão (1880): reuniu 182 pessoas, nasua ampla maioria ouvintes. Decretou a proibição

    da língua de sinais na educação dos surdos, im-pondo a superioridade do método oral no ensino ena vida dos surdos. Gerou um retrocesso em relaçãoa tudo que vinha sendo desenvolvido na educaçãodos surdos baseada na língua de sinais. William C. Stokoe Jr. (1919-2000): professoremérito da Universidade Gallaudet, foi amplamentereconhecido como o precursor do estudo linguísticoda língua de sinais. Na década de 1960 publicouSign Linguage Structure, um marco nas pesquisaslinguísticas sobre a língua de sinais nos Estados Un-idos, que obteve ampla repercussão no restante domundo1.

    No Brasil, as primeiras instituições destinadas aoatendimento escolar dos portadores de deficiência sur-giram na segunda metade do século XIX como uma inici-ativa de Dom Pedro II, culminando com a fundação, em1857, do Imperial Instituto de Surdos-mudos. Porém, háregistros de que já em 1835 um deputado de nome

    Cornélio Ferreira apresentou à assembleia um projeto delei que pretendia “[…] criar o cargo de ‘professor deprimeiras letras para o ensino de cegos e surdos-mudos’,projeto esse que não conseguiu ser aprovado” (2009, p. 5).

    Tal como as instituições europeias, as primeiras in-stituições brasileiras também se destinavam aos defi-cientes auditivos e visuais, por acreditar-se que os mesmosnecessitavam de adaptações de procedimentos

    20/283

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#rfn1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#rfn1

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    21/283

    pedagógicos mais simples em relação às demais deficiên-cias. No decorrer desse percurso histórico, iniciou-se umprocesso contra o formalismo humanista, e a educaçãopassou a ser científica, passando a constituir outras nar-rativas em relação à educação dos ditos anormais, através

    da crença de que a criança, ao nascer, é uma tábua rasapassível de ser educada. Ao considerar todos os sujeitoseducáveis, produziram discursos e condições que possibil-itaram a emergência do campo designado educaçãoespecial (LUNARDI-LAZZARIN, 2003).

    Na conjugação que se estabeleceu entre a educaçãoespecial e a medicina social, desde os primórdios da in-stitucionalização dos “deficientes”, encontrou-se respaldocientífico para melhor classificar esses sujeitos com baseem supostos parâmetros de normalidade, criando emantendo um ritual perverso como base sustentadoradesse ciclo de sujeição. Nesse processo que se dá nas re-lações que se estabelecem na escola, ocorre a fabricação

    ativa desses sujeitos e a subjetivação2 deles com a média,no caso dos surdos de acordo com a norma3 ouvinte, se-gundo a hipótese diagnóstica, sujeitando esses alunos “es-peciais” à identidade da deficiência auditiva aceita/tol-erada. Esse processo, que se iniciou com a educação espe-cial e se desdobra até os dias de hoje instituindo a denom-inada inclusão escolar, objetiva desentranhar o sujeito

    surdo para melhor controlar, vigiar, governar e afirmar anormalidade dos demais, impondo a necessidade de cor-reção, normalização e diluição da diferença surda.

    Com base nesse processo de sujeição, o próprio surdopassa a narrar-se, trazendo o ouvinte para o contraponto,relação que Skliar (1998) denominou de ouvintismo. O

    termo “ouvintismo” refere-se a

    21/283

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#rfn2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#rfn3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#rfn3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#rfn2

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    22/283

    […] um conjunto de representações dos ouvintes, apartir do qual o surdo está obrigado a olhar-se enarrar-se como se fosse ouvinte. Além disso, é nesseolhar-se e nesse narrar-se que acontecem as per-cepções do ser deficiente, do não ser ouvinte; per-cepções que legitimam as práticas terapêuticas ha-

     bituais. (SKLIAR, 1998, p. 15).

    O sujeito assujeitado pode ser narrado e identificadopelo outro e por si próprio, a partir de diferentes posiçõessociais que trazem consigo marcas que permitem o es-tabelecimento de traços de identidade. Identidades sociaissão constituídas na relação com o outro e na determinaçãodinâmica de marcadores culturais (LOPES; VEIGA-NETO,2006) forjados no interior das práticas sociais institucion-alizadas ou não e nas práticas disciplinares. Neste pro-cesso de produção de sujeitos e de identidades, faz-senecessário descentralizá-los, para que seja possível pensá-los e para que seja possível problematizar as verdades que

    os posicionam na escola.Problematizando essas verdades, vê-se o funciona-mento da escola como maquinaria que, com base nos pro-cessos que articula, age na produção dos sujeitos e deidentidades sociais adequadas aos lugares que lhes sãodestinados. Direcionando esse entendimento para os ditosdeficientes auditivos, esse processo de sujeição posto em

    funcionamento no currículo escolar vem operando, no de-correr da história, com base em discursos hegemônicosque vinculam a surdez às questões médicas.

    Surdez e deficiência auditiva formaram um elo indis-solúvel, por terem passado a serem olhadas prioritaria-mente através das lentes da medicina. Seguindo essa ló-

    gica, a educação de surdos foi encontrando subsídios em

    22/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    23/283

    diferentes teorias e vertentes educacionais (ancoradas emdoutrinas reabilitadoras), e a língua de sinais, em meio atodo esse movimento histórico, transitou entre distintasposições, sendo aceita, patologizada, negada, tolerada e,nos dias atuais, exaltada. Exaltada pela inclusão escolar,

    eleita nesse contexto como instrumento de integração e deaproximação da comunidade escolar com os surdos, esendo utilizada pelas políticas inclusivas como elementode acessibilidade dos alunos surdos à escola regular. Signi-ficada dessa forma, nesse espaço inclusivo, vê-se a surdezsendo mantida na condição de deficiência, a educação desurdos permanecendo compensatória, e a língua de sinaistendo seu status linguístico e cultural reduzido a um meiode acesso aos conteúdos escolares (GUEDES, 2010).

    Em meio a todas as deficiências que a educação inclu-siva se propõe a comportar, a surdez, ao se colocar emconsonância com a militância surda, mostra um desloca-mento em relação a essa esfera patológica, passando a ser

    constituída em outras tramas, que lhe possibilita ser lida eentendida a partir de outros lugares, passando a adquiriroutras possibilidades de significação, ao ser narrada pelo viés da diferença cultural. Produzindo outras formas de ol-har, interpretar e narrar a diferença surda no contextopedagógico, contexto este que, até então, foi estabelecidofundamentalmente na escola especial para surdos, não

    como uma forma de isolamento, mas como uma possibil-idade de aproximação (e identificação) surda, e, mais re-centemente, de melhores condições de aprendizado, emdecorrência do acesso à língua de sinais.

     Ancoradas nesse aspecto linguístico do movimentopolítico-cultural dos surdos, as atuais políticas de inclusão

    em vigor no país deliberam que todos os alunos das

    23/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    24/283

    escolas ou classes especiais sejam incluídos no ensino reg-ular, inclusive os surdos. Com base em adaptações ar-quitetônicas, tecnológicas, curriculares e, no caso dos sur-dos, linguísticas, as políticas inclusivas propõem-se atransformar a escola em um espaço que acolhe e convive

    com as diferenças (GUEDES, 2010).Nas campanhas publicitárias, a inclusão escolar tem

    sido promovida e, especificamente em relação aos surdos,as estratégias de aceitação têm sido atreladas a celebraçãoda língua de sinais na escola. A mídia anuncia que a línguade sinais agora faz parte do cotidiano das escolas, circu-lando de forma “harmônica” entre professores e alunos.Com base nas políticas e na difusão midiática, o chamadopelos alunos surdos à escola inclusiva tem se dado com base no principal elemento que dá visibilidade à culturasurda, a língua de sinais (GUEDES, 2010).

    No decorrer dos percursos históricos mapeados nessecapítulo, podem-se observar os diferentes lugares que a

    língua de sinais ocupou, para atualmente ser o grande focodas discussões políticas e educacionais que envolvem ossurdos, sendo a própria inclusão uma peça fundamentalpara pensarmos a situação linguística desses sujeitos.

    Talvez estejamos assistindo a um retorno do períodohistórico no qual os surdos foram privados da sua língua,mas agora com base em algumas reconfigurações. Talvez

    estejamos novamente impondo aos surdos um contextoeducacional que não oferece as condições necessárias paraque eles interajam e aprendam tal como os demais. Sãosuposições que faço ao constatar o que está acontecendo,em grande parte das escolas, com alunos surdos incluídos,posto que faltam intérpretes, faltam professores fluentes

    em Libras e, fundamentalmente, falta uma discussão

    24/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    25/283

    cultural e linguística que desvincule esses alunos do con-texto das deficiências.

    Essa história continua a ser escrita nas escolas, nasuniversidades e também no movimento político que ossurdos mobilizam. Para finalizar, seguem algumas sug-

    estões de sites sobre a comunidade surda e sua luta polít-ica pelo direito de contar a sua própria história, enquantominoria linguística e cultural.

    Federação Nacional de Educação e Integração dosSurdos http://www.feneis.com.brConfederação Brasileira dos Surdos http://www.cb-surdos.org.br/Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Educaçãode Surdos (Gipes/CNPq) http://gipes.blogspot.comInstituto Nacional de Educação de Surdos   ht-tp://www.ines.gov.br/

    REFERÊNCIAS

    BENVENUTO, Andrea. O surdo e o inaudito. À escuta deMichel Foucault. In: GONDRA, José; KOHAN, Walter

    (orgs.).   Foucault 80 anos. Belo Horizonte: Autêntica,2006, p. 227-246.EWALD, F. Foucault, a norma e o Direito. Lisboa: Vega,1993GOLDFELD, Márcia.  A criança surda: linguagem e cog-nição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo:Plexus, 1997.

    25/283

    http://www.feneis.com.br/http://www.cbsurdos.org.br/http://www.cbsurdos.org.br/http://gipes.blogspot.com/http://www.ines.gov.br/http://www.ines.gov.br/http://www.ines.gov.br/http://www.ines.gov.br/http://gipes.blogspot.com/http://www.cbsurdos.org.br/http://www.cbsurdos.org.br/http://www.feneis.com.br/

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    26/283

    GUEDES, Betina S. Sobre surdos, bocas e mãos: saberesque constituem o currículo de Fonoaudiologia. Disser-tação (Mestrado em Educação) Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade do Vale do Rio dosSinos. São Leopoldo: UNISINOS/PPGEDU, 2010.

    LOPES, Maura Corcini.  Surdez & educação. Belo Hori-zonte: Autêntica, 2007.LOPES, Maura Corcini; VEIGA-NETO, Alfredo. Mar-cadores culturais surdos: quando eles se constituem no es-paço escolar. Perspectiva. v. 24, n. especial, jul/dez. Flori-anópolis: UFSC, 2006, p. 81-100.

    LULKIN, Sérgio Andrés.   O silêncio disciplinado. A in- venção dos surdos a partir das representações ouvintes.Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Edu-cação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Univer-sidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Faced/PPGEDU, 2000.LULKIN, Sérgio Andrés. O discurso moderno na educação

    dos surdos: práticas de controle do corpo e a expressãocultural amordaçada. In: SKLIAR, Carlos (org.). A surdez :um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação,1998, p. 33-49.LUNARDI-LAZZARIN, Márcia Lise. A produção da anor-malidade surda nos discursos da educação especial . Tese

    (Doutorado em Educação) Faculdade de Educação, Pro-grama de Pós-graduação em Educação, UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Faced/PPGEDU, 2003.RAMOS, Clélia Regina. Libras: a língua de sinais dos sur-dos brasileiros. Disponível em: . Acesso em: 09 dez. 2009.

    26/283

    http://www.editora-arara-azul.com.br/http://www.editora-arara-azul.com.br/http://www.editora-arara-azul.com.br/http://www.editora-arara-azul.com.br/

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    27/283

    REVEL, Judith.  Foucault : conceitos essenciais. São Car-los: Claraluz, 2005.SKLIAR, Carlos. Um olhar sobre o nosso olhar acerca dasurdez e das diferenças In:SKLIAR, Carlos (org.). A surdez : um olhar sobre as difer-

    enças. Porto Alegre: Mediação, 1998.STROBEL, Karin Lílian. Surdos: vestígios culturais não re-gistrados na história. Dissertação (Mestrado em Edu-cação), Universidade Federal de Santa Catarina. Florianó-polis: UFSC, 2006.

    1  Disponível em: . Acessoem: 19 ago. 09.

    2   O termo subjetivação, em um referencial foucaultiano, designa “umprocesso pelo qual se obtém a constituição de um sujeito, ou mais ex-atamente, de uma subjetividade”. Os modos de subjetivação do ser hu-mano correspondem a “dois tipos de análise: de um lado, os modos deobjetivação que transformam os seres humanos em sujeitos […] deoutro lado, a maneira pela qual a relação consigo, por meio de um

    certo número de técnicas, permite constituir-se como sujeito de suaprópria existência” (REVEL, 2005, p. 82).3   O conceito de norma é entendido como uma forma de produzir medida

    comum, que ao medir e tornar comparável, simultaneamente, indi- vidualiza (EWALD, 1993). Dessa forma, a norma abrange a todos, nor-mais ou anormais, pois precisa tornar todos (e cada um) um caso seupara poder estabelecer medida de comparação e determinar diferentesposicionamentos desses sujeitos em relação à zona de normalidade.

    27/283

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#fn1http://gupress.gallaudet.edu/stokoe.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#fn2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#fn3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#fn3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#fn2http://gupress.gallaudet.edu/stokoe.htmlhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter01.html#fn1

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    28/283

    C APÍTULO 2

     A LÍNGUA SURDA 

    Virgínia Maria Zilio

    [A língua de sinais], nas mãos de seus mestres, é umalíngua extraordinariamente bela e expressiva, para aqual, na comunicação uns com os outros e como ummodo de atingir com facilidade e rapidez a mente dossurdos, nem a natureza nem a arte lhes concedeu umsubstituto à altura (LONG, 1910 apud SACKS, 2010,p. 5).

    Parto da descrição feita por Long sobre a língua desinais para iniciar meu artigo, pois conceitua, em poucaslinhas, a peculiaridade dessa forma de comunicação, res-saltando sua eficácia e estética e não deixando dúvidas deque esta é uma língua tanto quanto o são as línguas orais.Utilizando autores de perspectivas teóricas, como estudosculturais e estudos surdos em educação, este artigo tempor objetivo principal mapear conceitos linguísticos bási-cos da língua de sinais que a caracterizam e a afirmamcomo língua. Portanto, intenciona ter a função de ummapa localizador de aspectos fundamentais da língua desinais.

    Sabendo a forma como a língua brasileira de sinais, a

    Libras, é muitas vezes vista por pessoas que nunca tiveram

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    29/283

    contato com a cultura surda, relaciono particularidades dalíngua de sinais à comunidade que a utiliza como primeiralíngua no nosso país. Essas relações podem, num primeiromomento, causar estranheza a quem está habituado acomunicar-se através de uma língua oral e a conhecer

    somente o universo ouvinte, ou seja, restrito aos queouvem. Por isso, este texto é endereçado não só paraaqueles que estão aprendendo língua de sinais mas tam- bém para aqueles que começam a transitar nessa temáticapela primeira vez, não tendo a pretensão de aprofundardiscussões, mas de apresentar conceitos básicos sobre otema.

    2.1 Libras ou LSB

    Libras é uma sigla popularmente adotada e bastanteutilizada para representar a língua brasileira de sinais ou

    língua de sinais brasileira. Partindo de um padrão de no-menclatura internacional, a língua também é reconhecidapela sigla LSB. Existe uma discussão acerca de qual é aforma mais adequada para nomear a língua de sinais util-izada nos grandes centros urbanos do Brasil. Alguns pref-erem utilizar o nome língua brasileira de sinais, pois é as-sim que ela foi grafada na Lei nº 10.436, de 24 de abril de

    2002 (BRASIL, 2002). A Libras é composta por sinais que correspondem, emportuguês, a palavras, entretanto não se trata simples-mente de uma substituição, uma palavra por um sinal cor-respondente, ela tem suas peculiaridades, além de ser in-dependente da língua portuguesa. Ou seja, ela não se re-flete na estrutura gramatical da língua oral, mas possuiuma estrutura própria, que permite que se visualize a

    29/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    30/283

    mensagem comunicada. Para isso, cada sinal possui: umaconfiguração de mão (o formato que a mão, ou as mãos,tomam para realizar determinado sinal, sendo que a(s)mão(s) podem tomar outra configuração no fazer do sin-al); um movimento (movimentação que a mão, ou ambas,

    devem fazer para sinalizar); uma locação (espaço onde amão ou as mãos devem estar posicionadas para a sinaliza-ção); orientação (direção para a qual a mão ou as mãos semovimentarão) e expressões não manuais (expressão real-izada pelo corpo ou pela face: olhos, sobrancelhas, bocaetc.). Estes cinco aspectos podem ser observados, por ex-emplo, no sinal de professor, abaixo:

    Figura 1 – Sinal professor.

    Fonte: Capovilla et al. (2001a, p. 1.084).

    Observa-se, no sinal, a configuração de mão em P, ouseja, a mesma configuração de mão que representa a letraP no alfabeto datilológico;1 no movimento, a mão balançapara baixo e em seguida para a direita, repetindo este mo- vimento; a locação é à frente do tronco; a orientação é da

    esquerda para a direita, repetida duas vezes; e a expressão

    30/283

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn1

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    31/283

    não manual, neste caso, não é necessária, a não ser que ocontexto a exija. Por exemplo, se estivermos nos referindoa um professor bravo ou sério, a expressão do rosto deveráequivaler a tal descrição, uma expressão séria, fechada.Esta expressão caracteriza aquilo que está sendo comunic-

    ado –, no caso, caracterizará o professor do qual estásendo falado.

     A sentença a casa pegou fogo ontem, quando traduz-ida para língua de sinais, poderia ser representada pelosseguintes sinais: casa fogo ontem. Desta maneira, parecesem sentido e incompleto, mas, ao serem sinalizadas, estastrês palavras, que aqui parecem soltas, se tornam umasentença dotada de sentido, tanto quanto a sentença emportuguês para falantes da língua portuguesa. A partirdesse exemplo, diversas observações podem ser feitas,começando pela ausência de artigo, em Libras eles não sefazem necessários. Sabendo que o sinal equivalente a casaem Libras é o seguinte:

    Figura 2 – Sinal casa.

    Fonte: Capovilla et al. (2001a, p. 371).

    31/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    32/283

    Não há nenhuma marca neste sinal que o torne umsubstantivo feminino, sendo desnecessário um artigo paradefini-lo como substantivo feminino ou masculino. A ex-pressão  pegar fogo  é compreendida através do seguintesinal:

    Figura 3 –Expressão pegar fogo.

    Fonte: Ilustração de autor desconhecido (http://www.signplanet.net).

    Este sinal pode ser utilizado tanto na representaçãode  fogo  como na de  queimar  ou  pegar fogo, destacandoque a importância está na representação do fogo, da açãoqueimar ou de algo que está pegando fogo. Esse sentido écomunicado visualmente no modo como a informação aser passada é sinalizada. No caso desse sinal, as mãos im-

    itam o movimento de labaredas de fogo, indicando que osinal é icônico. Para entender a iconicidade, é necessárioabrirmos um parêntese para compreendermos algumasdefinições: Ferdinand de Saussure (1857-1013) estabele-ceu a dicotomia significante para a forma e significadopara o conceito. No caso da palavra falada, por exemplo, a

    palavra   mesa   terá como significante uma imagem

    32/283

    http://www.signplanet.net/http://www.signplanet.net/

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    33/283

    acústica, como quando pronunciamos mesa ou até mesmoao pensarmos em mesa podemos ouvir mentalmente suapronúncia, e temos como significado o que entendemospor mesa, o conceito de mesa que compreendemos. Ima-ginemos o sinal de  mesa: seu significante será visual, ao

    sinalizarmos o sinal de   mesa   teremos a representação visual, enquanto o significado será o conceito a que essaimagem nos remete. Quando unimos significado a signific-ante, ou seja, imagem ou imagem acústica a conceito,temos o signo.

    Icônicos são aqueles sinais que representam, de al-gum modo, um significado. O sinal de casa é um exemplode sinal icônico, já que imita o formato de uma casa. Bemcomo o sinal de fogo, que vimos anteriormente. Nem todosinal é icônico, como podemos notar observando a figuraabaixo:

    Figura 4 – Sinal não icônico.

    Fonte: Capovilla et al. (2001b, p. 523).

    O sinal representado pela figura 4 significa pedir des-

    culpas, embora não haja nenhuma ligação entre seu

    33/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    34/283

    significado e a representação visual. Isto significa que essesinal é arbitrário, não tem nenhum motivo para ser rep-resentado pelo sinal que o representa. Estes conceitos fo-ram aqui abordados também para abranger o entendi-mento de que muitos dos sinais são icônicos, mas a língua

    de sinais não é mímica: mímica é imitação, expressão depensamentos ou sentimentos através de gestos. Os gestosfazem parte da linguagem que utilizamos, tanto para ou- vintes quanto para surdos. Como quando balançamos acabeça para cima e para baixo para afirmar algo. Ouquando levantamos o polegar, também para afirmar ouconcordar com algo. Como eles são utilizados também poraqueles que utilizam a língua de sinais, muitas vezes seconfundem com ela por ambos serem visuais.

    2.2 Língua e linguagem

     Acredito ser crucial iniciar abordando o fato de a lín-gua de sinais um dia ter sido considerada “linguagem desinais”. Em 1960, pela primeira vez, tal forma de comu-nicação foi avaliada como língua por Stokoe, que a pon-derou como língua natural, complexa e com gramática in-dependente (STOKOE, 1960, apud QUADROS;KARNOPP, 2004). Sabemos que linguagem é diferente de

    língua, que ela permite a criação de um modo de com-partilhamento de significações e que é mais abrangenteque língua. “Língua não se confunde com linguagem: ésomente uma parte determinada, essencial dela, in-dubitavelmente” (SAUSSURE, 1995, p. 17). A linguagempode ser um sistema de comunicação humano ou não(LYONS, 1987, apud QUADROS, 2005), havendo comu-nicação entre animais, por exemplo, como entre abelhas,

    34/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    35/283

    entre baleias. No entanto, tal comunicação não se dá at-ravés de uma língua, mas de uma linguagem. Com relaçãoa sistemas de linguagem utilizados por nós, seres hu-manos, podemos citar a linguagem do trânsito, que deforma alguma pode ser considerada uma língua, mas facil-

    mente entendida como linguagem. E a própria língua éuma forma de linguagem.

     À primeira vista, a oficialização como língua podeparecer sem importância, porém tal   status   significoumuito para os surdos brasileiros, quando, em 2002 pormeio da Lei nº 10.436, passou-se a entender a Librascomo uma

    forma de comunicação e expressão em que o sistemalinguístico de natureza visual-motora, com estruturagramatical própria, constituem um sistema lin-guístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos decomunidades de pessoas surdas do Brasil (BRASIL,2002).

     A Lei da Libras, como é popularmente conhecida, foiregulamentada em 2005 pelo Decreto nº 5.626. Além deuma mudança de status, a oficialização da Libras repres-entou uma grande conquista para as comunidades surdas brasileiras. Por ser uma língua gestual-visual, a Libras setorna a principal responsável por dar visibilidade às

    comunidades surdas e por justificar a cultura surda.

    2.3 Língua e cultura

    Um dos primeiros questionamentos que surgemquando nos deparamos com a expressão cultura surda é o

    que fez dela uma cultura, e é primordial que tenhamos

    35/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    36/283

    definido tal conceito para posteriormente a enxergarmoscomo cultura surda. Com o intuito de ilustrar uma dasformas de entendimento sobre o conceito de cultura quepartem dos estudos culturais, compartilho as palavras deCosta, Silveira e Sommer:

    Cultura deixa, gradativamente, de ser domínio ex-clusivo da erudição, da tradição literária e artística,de padrões estéticos elitizados e passa a contemplar,também, o gosto das multidões. Em sua flexão plural– culturas – e adjetivado, o conceito incorpora novase diferentes possibilidades de sentido. É assim quepodemos nos referir, por exemplo, à cultura demassa, […] às culturas juvenis, à cultura surda, à cul-tura empresarial, ou às culturas indígenas, express-ando a diversificação e a singularização que o con-ceito comporta (COSTA; SILVEIRA; SOMMER,2003, p. 36).

    Trago Hoffmeister (2009), que justifica a transform-

    ação dos surdos em um grupo cultural pelo fato de serempessoas “que veem”, por acessarem o mundo através da visão, tornando-os sujeitos de uma cultura, com seu modode comunicação. O autor ressalta, ainda, o meio decomunicação visual-gestual como uma forma de opor-se àsurdez e olhá-la, primeiramente, como diferença cultural.Cito Perlin para afirmar que “o surdo tem diferença e nãodeficiência” (PERLIN, 2001, p. 56). É o que nos faz recon-hecer não a surdez, que olha primeiro para a deficiência deaudição, mas a cultura surda, que enxerga primeiramentea diferença na língua falada por este sujeito, o sujeitosurdo.

    36/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    37/283

    2.4 Línguas naturais

    Libras é a língua de sinais utilizada pelos surdos brasileiros, e em cada país uma língua de sinais diferente éutilizada: na Argentina, a língua argentina de sinais; na

    Bolívia, a língua boliviana de sinais; no Equador, a línguaequatoriana de sinais. Notando que me referi, nos exem-plos, a três países de língua espanhola, é crucial entenderque línguas de sinais não são dependentes das línguasorais faladas no país de origem. Elas são línguas naturais2dos surdos, não foram idealizadas a partir da língua oral3.Sacks (2010) descreve este fato muito bem ao desenhar a

    história dos surdos, destacando consequências do Con-gresso de Milão, de 1880, que proibiu a utilização da lín-gua de sinais nas instituições de ensino de surdos, masnão teve eficácia, pois nunca os surdos deixaram de secomunicar naquela língua que, para eles, sempre foi aforma mais dinâmica e natural de comunicação.

     A ideia de uma língua universal, mesmo que de sinais,é um desejo de muitos e também uma obtenção muito difí-cil. Utilizando um exemplo que conhecemos muito bem, a variação linguística existente dentro de nosso país: termosutilizados em um estado podem não ser em outro, comoacontece com   aipim,   mandioca   e   macaxera, repres-entações de um mesmo significado, usadas em diferentes

    estados brasileiros. Fatores geográficos e culturais são ele-mentos ativos relacionados à diversidade linguística, nãose restringindo somente às línguas orais, mas aplicando-setambém a línguas de sinais.

    2.5 Considerações finais

    37/283

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn2

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    38/283

    Espero, aqui, haver esclarecido conceitos geralmenteobscuros para quem começa a transitar nas temáticas dasurdez, tais como os conceitos de língua e linguagem,diferenças entre sinais e gestos, língua de sinais e mímicaetc. Em tempos em que se questionam como deve se dar a

    educação de surdos, é válido lembrar como foi a educaçãodas pessoas ouvintes, infâncias cercadas por pessoasfalantes de uma língua compreensível; nos primeiros anosescolares, alunos conversam entre si, já tendo um meio decomunicação estabelecido, mesmo que básico, quase todostêm suas línguas desenvolvidas devido ao contato compessoas que falam a sua língua. Crianças surdas só podemadquirir a língua de sinais se alguém a souber, e oprimeiro contato com pessoas fluentes em língua de sinaisse dá na escola. Utilizo as palavras de Sacks para concluireste texto, afirmando ser “[…] apenas por meio da línguaque entramos plenamente em nosso estado e cultura hu-manos, que nos comunicamos livremente com nossos

    semelhantes, adquirimos e compartilhamos informações”(SACKS, 2010, p. 19).

    REFERÊNCIAS

    BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.436, de 24de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira deSinais – Libras e dá outras providências. In: BRASIL. CasaCivil, Subchefia para Assuntos Jurídicos.  Base da Legis-lação Federal do Brasil . 2002. Disponível em:. Acesso em: 11 set. 2011.

    38/283

    https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htmhttps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htmhttps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htmhttps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    39/283

    CAPOVILLA, Fernando César; RAPHAEL, WalkiriaDuarte; MAURICIO, Aline Cristina L.   Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira. Volume I: Sinais de A a L. 2. ed. São Paulo:Universidade de São Paulo: Imprensa Oficial do Estado,

    2001a. _______.  Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüeda Língua de Sinais Brasileira. Volume II: Sinais de M aZ. 2. ed. São Paulo: Universidade de São Paulo: ImprensaOficial do Estado, 2001b.COSTA, Marisa V.; SILVEIRA, Rosa H.; SOMMER, Luis

    Henrique. Estudos culturais, educação e pedagogia.  Rev-ista brasileira de educação. Rio de Janeiro, n. 23, p.36-61, maio/jun./jul./ago. 2003.HOFFMEISTER, Robert J. In: SKLIAR, Carlos (org.). Atu-alidade da educação bilíngue para surdos: interfacesentre pedagogia e linguística. v. 2. 3. ed. Porto Alegre: Me-diação, 2009.

    LOPES, Maura Corcini.  Surdez & educação. Belo Hori-zonte: Autêntica, 2007.PERLIN, Gládis Teresinha. Identidades surdas. In:SKLIAR, Carlos (org.). A surdez : um olhar sobre as difer-enças. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 2001, p. 51-73.QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, Lodenir Beck-

    er. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.QUADROS, Ronice Muller de.   Desenvolvimentolingüístico e educação do surdo: 3º semestre. SantaMaria: Universidade Federal de Santa Maria, Pró-Reitoriade Graduação, Centro de Educação, Curso de Graduação aDistância de Educação Especial, 2005.

    39/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    40/283

    SACKS, Oliver.  Vendo vozes: uma viagem ao mundo dossurdos. São Paulo. Companhia das Letras, 2010.SAUSSURE, Ferdinand de.   Curso de linguística geral .20.ed. São Paulo: Cultrix, 1995.

    1   Popularmente conhecido como alfabeto manual, ele serve para soletrarpalavras em Libras, como nomes próprios ou palavras de sinal descon-hecido, por exemplo.

    2   É importante considerar que existem visões dentro da linguística quediscordam da ideia de naturalidade da língua. Aqui ela é assim consid-erada por ser a língua de mais fácil aprendizagem para os surdos, porestar em modalidade a que este sujeito tem acesso, gestual-visual. Oaprendizado da língua oral por surdos, assim, é considerado artificial,por ser um fenômeno essencialmente auditivo que precisa ser contro-lado e entendido por meios não auditivos (SACKS, 2010).

    3   Apesar de não terem sido idealizadas a partir da língua oral, as línguasse misturam à língua dominante, de forma a possuírem alguns elemen-tos desta. Como podemos observer no sinal de oi  representado pelasletras o e i , uma soletração da palavra em língua portuguesa, que, emmodalidade escrita, é a segunda língua dos surdos.

    40/283

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#fn1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#fn2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#fn3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#fn3http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#fn2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter02.html#fn1

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    41/283

    C APÍTULO 3

    ENTRE LÍNGUAS, O TRADUTOR/

    INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

     Pedro Henrique Witchs

    Quando se está aprendendo uma segunda língua, émuito comum sentir vontade de utilizá-la na rotina diáriae, quando se consegue praticá-la, isto só tende a contribuircom a aprendizagem. Para um estudante de uma línguaestrangeira, essa vontade é facilmente sanada ao se ler umlivro ou uma página da internet que esteja na língua

    estudada; fazer contato com alguém que a conheça ou,ainda, viajar para um país que a tenha como idioma. Paraum estudante de uma segunda língua nacional, como alíngua de sinais brasileira, embora pareça mais fácil, às vezes, pode ser mais difícil encontrar outros usuários,sobretudo usuários que a tenham como primeira língua,geralmente surdos. Quando o encontro entre um surdo e

    um ouvinte estudante de língua de sinais acontece, comu-mente ocorre de ambos desempenharem traduções dur-ante a conversa. Não apenas a tradução de sinais e palav-ras desconhecidas, mas também a de significados queparecem fazer muito mais sentido em uma língua que naoutra.

     As trocas culturais e linguísticas resultantes doencontro surdo-ouvinte devem ser encorajadas, mas é

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    42/283

    importante que algumas concepções acerca da traduçãosejam compreendidas para que equívocos que possam pre- judicar ao invés de colaborar com a comunicação sejamevitados. Por exemplo, acreditar que um ouvinte con-hecedor de língua de sinais possa desempenhar a função

    de um tradutor/intérprete de língua de sinais não é er-rado. Pelo contrário, se não acreditassem nisso, não exi-stiriam cursos de formação de tradutores/intérpretes delíngua de sinais sendo ofertados em instituições de ensinopelo país. O problema está em acreditar que seja possíveldesempenhar essa função sem o conhecimento e a exper-iência da prática de tradução. Quando digo conhecimentoe experiência da prática de tradução, não quero dizer umou outro, mas ambos, de forma que completem um aooutro, fortalecendo o trabalho de traduzir.

    Portanto, com este texto, pretendo apresentar algu-mas noções dos estudos de tradução que possam con-tribuir com entendimentos acerca do trabalho de traduzir

    e apontar para a importância de tal trabalho ser desem-penhado por um profissional qualificado. Ou seja, é im-portante deixar claro que não tenho a intenção de capacit-ar o leitor deste texto para ser um profissional, mas desubsidiá-lo com alguns conhecimentos que lhe permitirãocompreender a complexidade do ato de traduzir e valoriz-ar o trabalho do tradutor/intérprete de língua de sinais.

    Para tanto, inicio com a explicação do conceito detradução e a diferença que existe entre traduzir e interp-retar, pois, para muitas pessoas, torna-se complicado dis-tinguir o que de fato é cada uma dessas especializações doato tradutório, visto que parece confusa a forma comochamamos o tradutor/intérprete de língua de sinais.

    42/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    43/283

     Afinal de contas, é tradutor ou intérprete? Por que utilizaros dois termos ao se referir a este profissional?

     Antes de responder essas perguntas, talvez seja ne-cessário relembrar que o processo de tradução aconteceentre duas línguas e que cada uma delas ocupa uma

    posição diferente na tradução. A língua da qual a traduçãoparte é chamada de língua fonte, língua de saída ou línguade origem; a língua para qual se traduz é a língua meta,língua alvo, ou ainda língua de chegada (PEREIRA, 2008).Qualquer língua pode ocupar uma dessas duas posições, eo objetivo da tradução é o que delimitará essa posição. Porexemplo, em uma situação hipotética, a primeira língua dopalestrante é a língua de sinais brasileira e a primeira lín-gua de grande maioria da plateia é a língua portuguesa. A equipe responsável pela tradução do evento precisará en-tender que o lugar de língua fonte será ocupado pela lín-gua de sinais e que o lugar de língua meta será ocupadopela língua portuguesa. Entretanto, quando a palestra se

    encerra, o palestrante abre espaço para que a plateiamanifeste suas dúvidas ou faça apontamentos sobre otema apresentado. Um sujeito que tem a língua por-tuguesa como primeira língua decide fazer um pronun-ciamento. Este é o momento em que se inverte a configur-ação de língua fonte e língua meta. Agora, a língua queproduz o discurso que será traduzido é a língua por-

    tuguesa; sendo o palestrante surdo, a equipe de traduçãopassa a trabalhar com a língua de sinais no papel de línguameta.

    O conceito de tradução que utilizo para explicar adiferença entre língua fonte e língua meta deve ser enten-dido aqui como um conceito amplo; dele se ramificam

    duas especializações tradutórias: (a) a tradução (sim, com

    43/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    44/283

    o mesmo nome do conceito que a origina) e (b) a inter-pretação. Para facilitar essa noção, é possível visualizar asdistinções entre a tradução como conceito amplo e suasduas especializações, a tradução e a interpretação, nafigura abaixo.

    Figura 5 – Especializações da Tradução.

    Fonte: Pereira, 2008.

     A tradução entendida como especialização do con-ceito amplo de tradução é definida como um processo em

    que a língua meta se encontra na modalidade escrita(PEREIRA, 2008). Entretanto, é possível pensar nesseconceito de tradução para além do escrito, pois as línguasde sinais, embora apresentem um sistema de escrita1, sãocomumente registradas em vídeos. Por isso, uma traduçãoque envolva verter português escrito (língua fonte) para a

    língua de sinais brasileira registrada em vídeo (línguameta), pode se enquadrar a esse conceito de tradução, bem como quando a língua oral estiver gravada em áudio,se na posição de língua fonte, ou for gravada em áudio, sena posição de língua meta. Traduzir língua de sinais em vídeo para a língua oral escrita também pode ser enten-dido como um processo de tradução, pois, conforme disse

    44/283

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter03.html#rfn1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter03.html#rfn1

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    45/283

    anteriormente, a configuração de língua fonte e línguameta é decidida a partir do objetivo da tradução.

    Portanto, a tradução, como ramo do conceito amplode tradução, envolve línguas em registro e, se estão regis-tradas, significa que o tradutor pode realizar a tradução

    com tempo para pesquisar em outras fontes, tais como di-cionários, enciclopédias ou vocabulários, bem como paraconsultar o material que vai ser traduzido ou até mesmo,se existir a possibilidade, para consultar o autor desse ma-terial. O tradutor também pode se preocupar, durante oprocesso de tradução, com o público que utilizará o mater-ial na língua meta, adequando a linguagem da tradução aparticularidades culturais do público que fará uso datradução. O tempo com o qual o tradutor pode se preocu-par é o prazo que ele tem para entregar a tradução, difer-entemente do tempo com que o intérprete se preocupa.

    Sendo a interpretação o outro ramo do amplo con-ceito de tradução, já é possível perceber que ela não en-

     volve línguas em registro, mas envolve preocupação com otempo. Por isso, ela pode ser distinguida em duas modal-idades que podem ser escolhidas pelo intérprete de acordocom a sua opinião sobre qual será a mais apropriada paraa situação em que se encontra. Elas são a interpretaçãoconsecutiva e a interpretação simultânea. A interpretaçãoconsecutiva pode ser caracterizada quando o autor do

    texto fonte – e não entenda aqui texto em sua forma re-strita ao escrito – produz uma pequena porção de seutexto e o interrompe para que o intérprete traduza-o paraa língua meta. Depois, o autor recomeça sua produção e,após a pausa, o intérprete inicia novamente a tradução; ouseja, o tempo para a produção e o tempo para a tradução

    acontecem consecutivamente. A interpretação simultânea

    45/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    46/283

    exige menos tempo ainda, pois na medida em que o autordo texto fonte vai produzindo-o, o intérprete o reproduzna língua meta sem esperar que o autor finalize. Esse pro-cesso é o mais utilizado pelos intérpretes de língua desinais e é de longe o mais cansativo, como também, em

    minha opinião, o mais admirável, pois requer uma série dehabilidades, tais como a memória recente bem treinadapara captar o que está sendo dito na língua fonte aomesmo tempo em que o reproduz na língua meta.

    Outras habilidades visuais atribuídas ao intérprete delíngua de sinais são, além da fluência na “língua de sinais,a clareza da comunicação, o conhecimento específico desinais utilizados comumente pelo sinalizante [no caso dointérprete realizar uma tradução da língua de sinais parauma língua oral], o uso expressivo da datilologia”(SANTOS, 2006, apud VIEIRA, 2007, p. 29), e eu poderialistar outras, como a postura e a vestimenta. Estas duas úl-timas, embora possam parecer dispensáveis, são funda-

    mentais para que o intérprete evite possíveis barreiras dacomunicação.Perguntei anteriormente se o profissional que tra-

     balha com a tradução da língua de sinais é um tradutor ouum intérprete. Sabe-se, agora, que isso vai depender dequal das duas ramificações da tradução ele se ocupa. En-tretanto, não é comum, nas línguas orais, haver um profis-

    sional que seja tradutor e intérprete ao mesmo tempo.Geralmente, eles se especializam em um desses dois ramosda tradução e gostam de deixar a distinção entre eles bem visível. Por que, então, em línguas de sinais, é comumfalar de tradutores/intérpretes? Uma vez explicados osconceitos de tradução, interpretação, língua fonte e língua

    meta, passo agora a discutir sobre o profissional que

    46/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    47/283

    trabalha com a tradução da língua de sinais e, assim,tentar esclarecer essa pergunta.

    O tradutor/intérprete de língua de sinais, como já sesabe, é o profissional que se faz necessário para intermedi-ar a comunicação entre sujeitos surdos e sujeitos que

    desconhecem a língua de sinais, mas essa intermediaçãonão se iniciou de forma profissional e ainda hoje pode ser vista com marcas de benevolência e caridade. Autorizo-mea dizer que tais marcas são produto de uma maneira comoa língua de sinais foi sendo constituída ao longo do tempo.Em Paris, o abade Charles-Michel de L’Epée percebeu queos sinais utilizados pelos surdos poderiam ser uma ferra-menta para educá-los e, assim, em 1771, fundou a primeiraescola pública para a educação de surdos2. Contudo,L’Epée não enxergava a comunicação exercida por elescomo uma língua completa e, por isso, “imediatamenteiniciou um processo de modificação da língua sinalizadaque seus discípulos lhe ensinavam, criando sinais para

    representar todas as terminações verbais, os artigos, aspreposições e os verbos auxiliares presentes no francêsfalado” (WILCOX; WILCOX, 2005, p. 39).

     A reconfiguração da língua de sinais francesa, fruto deuma supremacia da língua falada sobre a língua sinaliz-ada, ganhou o mundo quando ex-alunos de L’Epée, que jáeram professores do então Instituto Nacional de Surdos-

    mudos de Paris, dispersaram-se em missão de promoveruma estrutura “formal” para as línguas sinalizadas emcomunidades surdas distribuídas pelo globo. É possíveldizer que a língua de sinais francesa daquele tempo influ-enciou vários elementos pertencentes às que hoje se en-tendem por língua de sinais brasileira e língua de sinais

    americana, sendo, esta última, objeto de estudo dos

    47/283

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter03.html#rfn2http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_5/OEBPS/Text/chapter03.html#rfn2

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    48/283

    linguistas William Stokoe, Dorothy Casterline e CarlCroneberg, que alteraram a imagem das línguas de sinaisdo mundo com a publicação, em 1965, do Dicionário daLíngua de Sinais Americana em Princípios Linguísticos(livre tradução de Dictionary of American Sign Language

    on Linguistic Principles). A partir dos estudos de Stokoe e de seus colabor-

    adores, as línguas de sinais ganharam   status  de línguas verdadeiras, mas é percebível que esse status ainda é des- valorizado quando, por exemplo, lemos ou ouvimos al-guém chamar de   linguagem de sinais  aquilo que é umalíngua de sinais. O conceito de linguagem, nesse caso, émuito amplo e engloba o conceito de língua, que é muitomais particular e restrito a uma série de elementos quelinguistas atribuem exclusivamente às línguas humanas. A desvalorização linguística da língua de sinais tambémpode ser percebida, talvez com um olhar mais apurado,quando sabemos que tradutores/intérpretes de língua de

    sinais demoraram a ter sua profissão regulamentada. Con-forme Cristina Lacerda, pesquisadora das situações emque se encontram tradutores/intérpretes de língua desinais que atuam em escolas, a história da constituiçãodesses profissionais

    […] se deu a partir de atividades voluntárias que fo-

    ram sendo valorizadas como trabalho, na medida emque os surdos foram conquistando maior espaço so-cial. A participação dos surdos nas discussões sociaisabriu a possibilidade para a profissionalização dos in-térpretes e para o reconhecimento da língua de sinaisem cada país (LACERDA, 2009, p. 28).

     A Lei nº 12.319, que regulamenta a profissão dotradutor/intérprete de língua de sinais no Brasil, foi

    48/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    49/283

    publicada no primeiro dia de setembro de 2010. Uma reg-ulamentação tardia para as demandas provenientes decomunidades surdas no país. Por exemplo, a re-comendação governamental para que surdos sejam ma-triculados em escolas regulares. Diante da crescente

    matrícula de surdos em escolas onde sua primeira línguanão é usada pelos professores durante a prática docente,políticas inclusivas passaram a movimentar uma modalid-ade de tradução quase não discutida e até então pouco ex-ercida quando se trata da mediação entre línguas orais(PEREIRA, 2008). Essa modalidade de tradução é cha-mada por Quadros (2004) de interpretação educacional. Ointérprete educacional é aquele que, na escola, realiza in-terpretações, consecutivas ou simultâneas, da língua oralpara a língua de sinais ou vice-versa. Todavia, eu diria queo trabalho do intérprete educacional não se limita, ou pelomenos não deveria se limitar, às atividades de inter-pretação. Conforme o segundo inciso do art. 6º da Lei nº

    12.319, que regulamenta a profissão, ao tradutor/intér-prete de língua de sinais é atribuído:

    […] interpretar, em Língua Brasileira de Sinais – Lín-gua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas eculturais desenvolvidas nas instituições de ensino nosníveis fundamental, médio e superior, de forma a vi-abilizar o acesso aos conteúdos curriculares (BRASIL,2010).

    Nesse sentido, entendo que atividades didático-ped-agógicas, independente de seus níveis de ensino, possuemum caráter complexo e, muitas vezes, apresentam, emseus vocabulários, terminologias que não fizeram parte daformação profissional do intérprete educacional. É nesteponto que não consigo desassociar o tradutor do

    49/283

  • 8/20/2019 335 - Livro Da Disciplina - Cultura Surda e Libras

    50/283

    intérprete de língua de sinais. Ou seja, o intérprete educa-cional, para desempenhar uma prática de tradução quali-ficada, precisa estar em consonância com a prática ped-agógica do professor. Sendo assim, não acredito que intér-pretes educacionais precisem ser tradutores técnicos para

    dominar a terminologia de cada uma das disciplinas escol-ares. Porém, acredito que poderiam e deveriam contarcom um tempo de sua carga