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EDITORIAL O primeiro pesquisador a reconhecer paleotocas no Brasil foi o Prof. Jorge Alberto Villwock, da UFRGS, no início da década de 90. Mais tarde o Prof. Buchmann montou sua equipe do Projeto Paleotocas e os poucos integrantes do Projeto foram, durante muitos anos, os únicos pesquisadores que se dedicavam ao estudo de paleotocas. Apenas agora, uma década depois, estão surgindo outros grupos: há um grupo na UFPel, um grupo no CENPALEO (Santa Catarina), um grupo em Minas Gerais e um grupo em União da Vitória. Com estes reforços surge uma perspectiva muito boa em relação às investigações sobre paleotocas: mais trabalhos, mais novidades, mais conclusões. EVENTOS EM 2015 vários eventos científicos interessantes ao longo do ano de 2015 e o grupo do Projeto Paleotocas participará de vários deles, apresentando dados novos sobre paleotocas. Em princípio, temos evento em Imbé (RS), Florianópolis, Colonia del Sacramento (Uruguay) e Porto Alegre. Estamos preparando os trabalhos para submetê-los no prazo exigido. ARTIGO FOI ACEITO Um dos três artigos submetidos às revistas científicas foi aceito e, depois de incorporadas as mudanças solicitadas pelos revisores, vai agora para publicação – podem se passar mais alguns meses. O artigo, de iniciativa do Prof. Renato Lopes, propõe uma classificação científica das paleotocas como icnofósseis. CONGRESSO EM PORTO ALEGRE EM 2016 No ano que vem, em agosto/setembro, será realizado em Porto Alegre o Congresso Brasileiro de Geologia, que será um evento de grande porte, esperando-se ao redor de 4.000 pessoas. É claro que o Projeto Paleotocas se fará presente. Como os trabalhos prontos precisam ser submetidos no início de 2016, os trabalhos de campo correspondentes para a coleta de dados precisam ser feitos ao longo de 2015. Até o final do ano tudo tem que estar pronto e vamos nos esforçar para comparecer ao Congresso com vários trabalho bem elaborados, trazendo novidades importantes sobre as paleotocas. 33 março de 2015

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EDITORIAL

O primeiro pesquisador a reconhecer

paleotocas no Brasil foi o Prof. Jorge Alberto

Villwock, da UFRGS, no início da década de

90. Mais tarde o Prof. Buchmann montou sua

equipe do Projeto Paleotocas e os poucos

integrantes do Projeto foram, durante muitos

anos, os únicos pesquisadores que se

dedicavam ao estudo de paleotocas. Apenas

agora, uma década depois, estão surgindo

outros grupos: há um grupo na UFPel, um

grupo no CENPALEO (Santa Catarina), um

grupo em Minas Gerais e um grupo em União

da Vitória. Com estes reforços surge uma

perspectiva muito boa em relação às

investigações sobre paleotocas: mais

trabalhos, mais novidades, mais conclusões.

EVENTOS EM 2015

Há vários eventos científicos

interessantes ao longo do ano de 2015 e o

grupo do Projeto Paleotocas participará de

vários deles, apresentando dados novos sobre

paleotocas. Em princípio, temos evento em

Imbé (RS), Florianópolis, Colonia del

Sacramento (Uruguay) e Porto Alegre.

Estamos preparando os trabalhos para

submetê-los no prazo exigido.

ARTIGO FOI ACEITO

Um dos três artigos submetidos às

revistas científicas foi aceito e, depois de

incorporadas as mudanças solicitadas pelos

revisores, vai agora para publicação – podem

se passar mais alguns meses. O artigo, de

iniciativa do Prof. Renato Lopes, propõe uma

classificação científica das paleotocas como

icnofósseis.

CONGRESSO EM

PORTO ALEGRE EM 2016

No ano que vem, em agosto/setembro,

será realizado em Porto Alegre o Congresso

Brasileiro de Geologia, que será um evento de

grande porte, esperando-se ao redor de 4.000

pessoas. É claro que o Projeto Paleotocas se

fará presente.

Como os trabalhos prontos precisam

ser submetidos no início de 2016, os trabalhos

de campo correspondentes para a coleta de

dados precisam ser feitos ao longo de 2015.

Até o final do ano tudo tem que estar pronto e

vamos nos esforçar para comparecer ao

Congresso com vários trabalho bem

elaborados, trazendo novidades importantes

sobre as paleotocas.

33 – março de 2015

TOCAS INCOMUNS

De alguns bichos as tocas são bem conhecidas: todos nós sabemos que tatus fazem tocas,

muitos conhecem a coruja buraqueira, as tocas de pica-paus e as tocas dos tuco-tuco nas areias das

dunas do litoral. No Hemisfério Norte, é sabido que raposas e texugos escavam tocas. Na África, os

porcos-da-terra (aardvark) e cobras pítons escavam tocas. Alguém mais antenado vai se dar conta

que algumas tartarugas escavam tocas (na Flórida (USA) tem uma tartaruga com esse hábito). Além

disso, vermes de todos os tipos e tamanhos, muitos insetos, siris e por aí vai.

É uma crença que ursos e onças cavam tocas. Não. As unhas destes bichos não servem para

escavar túneis longos. Os bichos podem ocupar cavernas que encontram prontas, mas escavar não.

Mas tem bichos dos quais não esperamos tocas. Crocodilos, por exemplo. No TocaNews 25

já relatamos as pesquisas de Anthony Martin, que informa que os crocodilos nos USA escavam

tocas com até 115 cm de largura, 55 cm de altura e 4,6 m de comprimento. Um vídeo do National

Geographic, no YouTube, mostra agora as incríveis tocas de crocodilo na África.

Do vídeo há várias versões no YouTube. Uma versão em alta definição está disponível em

https://www.youtube.com/watch?v=n5maLDWnGAw, as tocas aparecem a partir do 26º minuto.

As tocas de crocodilo possuem larguras de mais de um metro, alturas variáveis e

comprimentos de mais de 10 metros. Nas barrancas do rio aparecem dezenas de tocas de crocodilo

durante a estação seca. Aparentemente, é uma estratégia de sobrevivência típica dos crocodilos.

Como os crocodilianos surgiram dezenas de milhões de anos atrás e também habitavam a

América do Sul, é altamente provável que, mesmo considerando hábitos e comportamentos

diferenciados, haja paleotocas de crocodilos no Brasil. Como essas tocas ficavam ao lado dos rios,

muito provavelmente foram preenchidas por argilas e areias trazidas por enchentes depois que

foram abandonadas pelos crocodilos. Mesmo assim, deve ser possível reconhece-las. Se ninguém o

fez por enquanto, você pode ser o primeiro. ☺

As tocas são escavadas pelos crocodilos nas

barrancas do rio durante a estação úmida,

quando as entradas das tocas ficam submersas.

Durante a estação seca as entradas das tocas

ficam expostas e os crocodilos se abrigam ali,

às vezes em grandes grupos, para sobreviver à

seca e para abrigar os filhotes.

A Gruta dos Monges do Pinheirinho em Roca Sales

Tempos atrás visitamos a Gruta dos Monges do Pinheirinho, conduzidos pelo Prof. Jamir Joanella e

pelo proprietário da área, o Sr. Irio Pitol. A Gruta se situa no município de Roca Sales, em um paredão de

rocha de um vale profundo, a 3 km da cidade de Muçum.

O grupo conhecido como “Monges do Pinheirinho” foi um movimento de cunho messiânico que

ocorreu de 1900 a 1902, congregando algumas dezenas de pessoas, entre eles caboclos, imigrantes extratores

de erva mate e pessoas sem emprego, muito dos quais tinham participado da Revolução Federalista. Esse

grupo percorria a região, na época pertencente a Encantado, realizando curas, mas também criando muitos

atritos com os colonos da região. Foram reprimidos pela Brigada Militar com o apoio de colonos armados e

alguns dos sobreviventes do grupo viriam a participar da Guerra do Contestado (SC). O confronto armado

entre os integrantes da Brigada Militar e os Monges do Pinheirinho ocorreu na propriedade que hoje é do

Prof. Jamir, a poucas centenas de metros do Rio Taquari. No local, há anos atrás, era comum encontrar balas

de fuzil ao arar a terra.

A gruta que serviu de acampamento aos “Monges do Pinheirinho” está localizada em um paredão de

rocha vulcânica próximo a um córrego. Em 1902, o “Jornal do Commercio” descrevia a região da seguinte

forma: “Trata-se de um logar todo alcantinado, em que os abysmos não são raros, cheio de medonhas

grotas e sittios de dificil acesso”. A gruta possui uma abertura de aproximadamente 65 metros, uma altura de

2 metros na entrada que diminui para o fundo da gruta e uma profundidade variável de no máximo 15

metros. É um espaço seco e grande, que abriga com facilidade um grupo grande de pessoas. Além disso, é

relativamente inacessível, pois pode ser alcançada apenas por uma trilha ao longo do paredão. É um local

muito cênico e pitoresco, interessante devido à história dos Monges. Mas, ao invés de estar dotado com a

infraestrutura turística que merece, está abandonado no meio do mato.

O Sítio de Visitação da Paleotoca Gilberto Azevedo de Azevedo

Em abril de 2014 surgiu uma paleotoca durante a extração de argila em uma jazida

localizada no Distrito de Monte Bonito, interior de Pelotas. A paleotoca está bem preservada, sem

erosão ou desabamento e foi pesquisada por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de

Pelotas.

A união de esforços de todos os envolvidos, como o Consórcio que administrava a jazida, a

proprietária da área e dos pesquisadores da UFPel, entre outros, produziu um Sítio de Visitação que

está aberto à visitação pública. Uma iniciativa fantástica, inédita, que só podemos aplaudir e que

merece ser imitada na medida do possível. As duas imagens abaixo foram retiradas do Boletim da

STE Engenharia, responsável pela gestão ambiental da obra. O Boletim está disponível na internet

no link http://www.br116-392.com.br/upload/Boletim%20-%20Paleotoca.pdf. Mais uma vez

parabéns a todos os envolvidos.

Livro sobre a Paleotoca de Xaxim (SC)

Em Xaxim, próximo ao trevo de acesso à cidade, está localizada uma paleotoca que já é

conhecida há alguns anos. Trata-se de um túnel que forma uma cruz, relativamente bem preservado,

que foi inicialmente interpretado como uma galeria subterrânea escavada por indígenas.

Nos últimos anos, graças à pesquisadora Valdirene Chitolina, os dados existentes em relação

à paleotoca foram reunidos, foram obtidos depoimentos de pessoas que já a investigaram e o

trabalho todo acaba de ser publicado na forma de um livro, intitulado “Túneis do Tempo – Galeria

subterrrânea de Xaxim, produto da Magafauna regional”. Um book trailer está disponível no

YouTube, em https://www.youtube.com/watch?v=drCG022Ce9U

Este resgate de informações é a memória desta paleotoca, mostrando o túnel para todos os

interessados, a começar pela população local, que praticamente desconhecia a ocorrência. A

Valdirene está de parabéns pela iniciativa e pela persistência nesta pesquisa!

Considerando a iniciativa do pessoal da UFPel de produzir um Sítio de Visitação na

paleotoca de Pelotas (como informado acima), fica lançada a idéia de transformar também esta

paleotoca em um local visitável. Não de entrar, mas com painéis ilustrativos que mostram como é

por dentro.

O lado podre da Ciência

Como qualquer área de atividade humana, a Ciência também tem seu lado podre. O processo

de investigação científica parte geralmente de uma hipótese, busca as provas ou fatos que a

comprovem e publica as conclusões em eventos científicos e revistas científicas. Nesse caminho há

atalhos desonestos e meios obscuros que denigram o nome de quem os pratica.

Por exemplo: há “empresas” na internet que vendem trabalhos acadêmicos prontos –

trabalhos de conclusão de curso, mestrados e doutorados. Em função disso, por exemplo, a PUC-RS

viu-se obrigada a contratar uma multinacional que oferece um “Relatório de Originalidade” dos

trabalhos dos alunos, comparando-os com uma enorme base de dados.

Outro grande problema é o plágio (a cópia descarada, sem citar a fonte) em mestrados e

doutorados. A pessoa que faz a sua tese simplesmente copia grandes porções de texto de outros

trabalhos e os apresenta como se fosse seus. Há sítios que se dedicam a desmascarar plágio:

http://en.wikipedia.org/wiki/VroniPlag_Wiki e http://www.plagius.com/s/br/default.aspx .

Depois tem as “revistas científicas” que não são sérias, que querem ganhar dinheiro

publicando qualquer coisa. Há uma lista deles em http://scholarlyoa.com/publishers/ . O que os

editores dessas revistas permitem e promovem é simplesmente uma piada. Alguns exemplos:

- Um review (é uma revisão de algum assunto, normalmente com dezenas de páginas) com

apenas uma página e meia, sendo que ainda tem um sumário e as referências finais (metade da

segunda página está em branco). A Wikipedia informa mais e cita mais referências que o autor.

- Periódicos fundados recentemente que tem nomes muito semelhantes a periódicos

tradicionais, buscando iludir autores desinformados ("Journal of Depression and Anxiety" - fundado

em 2012, similar ao "Depression and Anxiety" - fundado em 1996);

- Editores de um país usando termos internacionais. Há uma editora indiana usando termos

como "american journal", "scandinavian journal", "british", "canadian", "Singapore" etc.

- Um periódico que aceitou um artigo intitulado "Robots No Longer Considered Harmful",

de "autoria" de I.P. Freely, escrito por um gerador de textos aleatório (programa de computador).

- Um autor que escreveu um artigo de menos de 5 páginas e com 19 citações inseridas no

texto, mas com 72 referências bibliográficas, a maioria destas referenciando a trabalhos seus.

Aparentemente isso serve para aumentar seu índice no Google Scholar.

- Revistas prometendo revisar manuscritos em 4 dias, para uma edição especial de Natal (!!),

quando um processo de revisão sério leva pelo menos 2 meses, geralmente bem mais.

Enfim, um pesquisador sério, honesto, que trabalha apenas com seus dados, precisa estar

alerta para estas armadilhas que o processo científico oferece. Agradecemos ao Geólogo Luciano

Marquetto por nos indicar esse site especializado em revistas científicas predatórias.

Nossos Trabalhos de Campo continuam

Cavernas enormes na Serra Gaúcha

Gruta do Cerro do Baú, em Venâncio Aires.

Grande paleotoca preenchida: limpamos a borda para mostrar o contraste entre o arenito

Botucatu (pedra grês) na qual a paleotoca foi escavada e o preenchimento da paleotoca, que é

muito mais escuro. Situa-se em um loteamento em Ivoti.