3.3 do ritual à performance

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Parte da dissertação de mestrado

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3.3 DO RITUAL PERFORMANCEPensando a teatralidade nas apresentaes das quadrilhas juninas possvel observar que os performers juninos experimentam ocasies significativas baseadas na simbologia das festas juninas. Estas esto repletas de significados, os quais, segundo Bauman (2008, p. 3) so corporificados, performados e exibidos perante uma audincia para contemplao, manipulao, intensificao ou experimentao. Nesse sentido, os smbolos que agraciam as quadrilhas juninas efetivam-se na idia de um estado liminar sugerido por Turner (1974) e Gennep (2011), atravs dos ritos de passagem contidos na trajetria social dos grupos juninos.Esses estados liminares desvinculam-se da ordem natural social e direcionam as apresentaes das quadrilhas juninas a uma ordem ritualstica que possibilita a transformao da ao ritual em ao expressiva repleta de significados para os performers juninos.Assim, Langdon (2012, p. 20), afirma que anlise da ao ritual como fator constitutivo dos processos sociais tem aumentado de maneira considervel, pois diversos autores utilizam a idia de performance para expressar a multiplicidade de formas rituais que estrutura e permeia a vida. Desse modo, estas formas rituais esto contidas na idia de ritos sagrados, formas de entretenimento, assim como os processos polticos. Em meio as formas rituais de entretenimento encontram-se as festas juninas que apresentam elementos simblicos constituintes desses festejos e elege a quadrilha junina como ponto importante. Destarte, o performer junino, juntamente com o grupo, compartilha aes rituais de um evento crtico, caracterizado por uma ruptura no fluxo da ao social, um limite temporal e atores sociais que, de alguma maneira, manifestam simbolicamente valores e ideais de seu prprio mundo (LANGDON, 2012, p. 20).Gennep (2011, p. 30), refletindo sobre os ritos de passagem, afirma que nessa ocasio o indivduo passa por uma mudana de status social, sugerindo que o processo ritual estabelecido por trs fases: separao, margem ou transio e reagregao. Turner ( 1974) ao pensar nestas fases rituais confere que: a primeira fase (de separao) abrange o comportamento simblico que significa o afastamento do indivduo ou de um grupo, quer de um ponto fixo anterior na estrutura social, quer de um conjunto de condies culturais (um "estado"), ou ainda de ambos Durante o perodo "liminar" intermdio, as caractersticas do sujeito ritual (o "transitante") so ambguas; passa atravs de um domnio cultural que tem poucos, ou quase nenhum, dos atributos do passado ou do estado futuro. Na terceira fase (reagregao ou reincorporao), consuma-se a passagem. (TURNER, 1974, p. 116).

Nesse sentido o performer junino o prprio sujeito ritual e transforma-se de individuo cotidiano no quadrilheiro junino, executando dessa maneira, um ritual baseado em um processo performtico.

Fonte: Acervo Quadrilha Chapu do VovAo separar-se da vida cotidiana o performer junino inicia a ao ritualstica da quadrilha junina que desenvolve-se com a realizao da apresentao. Esse desenvolvimento agregado as fases de transio, liminal ou de margem alia-se a performatividade junina. Assim sendo, na continuidade, sua agregao realizada ao retornar a vida cotidiana (LANGDON, 1996, p. 24). luz de Schechner (2012, p. 62), nessa ao ritualstica os performers juninos internalizam suas novas identidades e iniciam-se em seus novos poderes. Estes so expostos mudanas e transformaes temporrias quando vivenciam experincias espontneas que so construdas desde a fase de preparao, a qual est centrada nos ensaios. Assim sendo, nas palavras de Schechner (2012, p. 70), o performer deixa o mundo do seu dia a dia e, por meio da preparao e do aquecimento, entra no performar. Quando a performance termina, o performer se acalma (esfria) e entra novamente no seu cotidiano.Nesse sentido, h uma continuidade em todo o processo performtico que envolve as performances das quadrilhas juninas, pois na maior parte do tempo, o performer jogado para fora de onde ele entrou. Ele foi transportado, levado a algum lugar, no transformado ou permanentemente mudado. (SCHECHNER, 2012, p. 70).Assim sendo importante relatar que as transformaes a que sofre o performer junino so construdas em consonncia com as atividades ritualsticas dos grupos juninos. A coletividade promove ento, uma estruturao contnua no processo performtico das quadrilhas juninas e utiliza-se de uma criatividade transformadora que concebe a oportunidade da experincia junina.

BAUMAN, Richard. A potica do Mercado Pblico: gritos de vencedores no Mxico e em Cuba. In: Antropologia em Primeira Mo. Florianpolis: PPGAS/UFSC, 2008.GENNEP, Arnold Van. Os ritos de passagem: um estudo sistemtico dos ritos da porta e da soleira, da hospitalidade, da adoo, gravidez e parto, nascimento, infncia, puberdade, iniciao, coroao, novado, casamento, funerais, estaes, etc.: traduo de Mariano Ferreira, apresentao de Roberto da Matta. 3 edio, Petrpolis, Vozes, 2011.LANGDON, Esther Jean. Performance e preocupaes ps-modernas em antropologia. In: Teixeira, Joo Gabriel L. C. (Org.). Performticos, performance e sociedade. Braslia: Editora Universidade de Brasilia, 1996. p. 23-29.______. Rito como conceito-chave para a compreenso de processos sociais. In: Rituais e performances: iniciaes em pesquisa de campo / Esther Jean Langdon e verton Lus Pereira, organizadores. Florianpolis: UFSC/Departamento de Antropologia, 2012.p. 17-22.SCHECHNER, Richard. Performance e Antropologia de Richard Schechner. Organizao: Zeca Ligiro. Mauad: Rio de Janeiro, 2012.