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3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS REVISÃO DO PDM DE FERREIRA DO ALENTEJO 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNCIPAL ABRIL 2010 3.2.1 ENQUADRAMENTO 3.2.2 ESBOÇO GEO-MORFOLÓGICO 3.2.2.1 HIPSOMETRIA 3.2.2.2 DECLIVES 3.2.2.3 EXPOSIÇÕES 3.2.3 LITOLOGIA: VISÃO GERAL 3.2.3.1 CARACTERIZAÇÃO LITOLÓGICA GERAL 3.2.3.2 COMPLEXOS LITOLÓGICOS 3.2.4 GEODINÂMICA 3.2.4.1 UNIDADES GEOTECTÓNICAS 3.2.4.3 DEPÓSITOS DA BACIA DO SADO 3.2.4.4 FORMAÇÕES DA ZONA DE OSSA MORENA (ZOM) 3.2.4.5 FORMAÇÕES DA ZONA SUL PORTUGUESA (ZSP) 3.2.5 QUALIDADE DOS SOLOS 3.2.5.1 ACIDEZ / ALCALINIDADE DO SOLO 3.2.5.2 DUREZA DO SOLO 3.2.6 SOLOS 3.2.6.1 UNIDADES PEDOLÓGICAS 3.2.6.2 CAPACIDADE DE USO AGRÍCOLA DO SOLO 3.2.7 SISTEMAS AQUÍFEROS E UNIDADES HIDROGEOLÓGICAS 3.2.7.1 SISTEMA AQUÍFERO DOS GABROS DE BEJA 3.2.7.2 SECTOR NÃO PRODUTIVO DAS ROCHAS ÍGNEAS E METAMÓRFICAS DA ZOM 3.2.7.3 SECTOR NÃO PRODUTIVO DAS ROCHAS ÍGNEAS E METAMÓRFICAS DA ZSP 3.2.7.4 SISTEMA AQUÍFERO DA BACIA DE ALVALADE 3.2.7.5 CARTA DOS RECURSOS AQUÍFEROS SUBTERRÂNEOS 3.2.8 HIDROGRAFIA

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3.2

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REVISÃO DO PDMDE FERREIRA DO ALENTEJO

3. CARACTERIZAÇÃO

DO TERRITÓRIOMUNCIPAL

ABRIL 2010

3.2.1 ENQUADRAMENTO

3.2.2 ESBOÇO GEO-MORFOLÓGICO

3.2.2.1 HIPSOMETRIA 3.2.2.2 DECLIVES 3.2.2.3 EXPOSIÇÕES

3.2.3 LITOLOGIA: VISÃO GERAL

3.2.3.1 CARACTERIZAÇÃO LITOLÓGICA GERAL3.2.3.2 COMPLEXOS LITOLÓGICOS

3.2.4 GEODINÂMICA

3.2.4.1 UNIDADES GEOTECTÓNICAS3.2.4.3 DEPÓSITOS DA BACIA DO SADO3.2.4.4 FORMAÇÕES DA ZONA DE OSSA MORENA (ZOM) 3.2.4.5 FORMAÇÕES DA ZONA SUL PORTUGUESA (ZSP)

3.2.5 QUALIDADE DOS SOLOS

3.2.5.1 ACIDEZ / ALCALINIDADE DO SOLO3.2.5.2 DUREZA DO SOLO

3.2.6 SOLOS

3.2.6.1 UNIDADES PEDOLÓGICAS3.2.6.2 CAPACIDADE DE USO AGRÍCOLA DO SOLO

3.2.7 SISTEMAS AQUÍFEROS E UNIDADES HIDROGEOLÓGICAS

3.2.7.1 SISTEMA AQUÍFERO DOS GABROS DE BEJA3.2.7.2 SECTOR NÃO PRODUTIVO DAS ROCHAS ÍGNEAS

E METAMÓRFICAS DA ZOM3.2.7.3 SECTOR NÃO PRODUTIVO DAS ROCHAS ÍGNEAS

E METAMÓRFICAS DA ZSP3.2.7.4 SISTEMA AQUÍFERO DA BACIA DE ALVALADE3.2.7.5 CARTA DOS RECURSOS AQUÍFEROS SUBTERRÂNEOS

3.2.8 HIDROGRAFIA

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

ABRIL 2010

3.2.1

3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

Refere-se este Capítulo à descrição das características geofísicas do Concelho de Ferreira do

Alentejo

Entre outras fontes consultadas, este capítulo tem como referência os seguintes estudos

realizados para o Concelho:

− Plano Municipal de Defesa da Floresta contra Incêndios (PMDFCI), realizado por FloraSul, Novembro 2007

− Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do Alentejo, realizado por EcoIntegral, Fevereiro de 2008.

Igualmente, constituem instrumentos de referência os:

− PROF BAaixo Alentejo

− PBH Rio Sado

− PROT Alentejo

Finalmente, de referir a importância, para determinadas análises, do Atlas do Ambiente, Digital,

do Instituto do Ambiente.

3.2.1 ENQUADRAMENTO

A 24 Km de Beja, a capital do Distrito, o Concelho de Ferreira do Alentejo situa-se no Baixo

Alentejo, onde o “domínio de horizontalidade assume uma especial expressão” (Cancela de

Abreu, 2004).

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.2

Os aspectos mais fortes desta paisagem são a planura, as culturas de cereais, uma expressiva

homogeneidade e a vastidão dos horizontes (id.)”

“A Área do Concelho caracteriza-se, de modo essencial, por uma superfície de modelado

suave e profundamente extensa, tendencialmente inclinada, de forma ligeira, no sentido do

Vale do Sado e de Sul para Norte. É precisamente no extremo Sudeste do Concelho,

envolvendo a Vila de Ferreira do Alentejo que se observam as maiores elevações, com formas

arredondadas e bastante entalhadas por linhas de drenagem

Excepção bastante relevante encontra-se a Norte, na Ribeira de Odivelas e seus subsidiários,

Ribeira das Soberanas e Barranco do Rio Seco. Com efeito, observa-se aqui a existência de

um vale bastante encaixado de vertentes moderadamente abruptas, combinando com

obstáculos de relevo de formas mais definidas” (do Relatório de Análise do PDM)

Em termos geomorfológicos o Concelho de Ferreira do Alentejo integra-se na peneplanície do

Baixo Alentejo, que constitui a unidade geomorfológica fundamental do terço meridional de

Portugal.

A zona Nordeste e Este do Concelho (Alfundão e Peroguarda) apresentam as cotas mais

elevadas, na ordem de 160 m e 250 m, respectivamente, que decrescem progressivamente

para Oeste, na direcção da Bacia do Sado, até cotas na ordem dos 10 m, em Santa Margarida

do Sado.

Esta organização topográfica, resulta numa rede hidrográfica, totalmente incluída na Bacia

Hidrográfica do Rio Sado, com escoamento dominante para Oeste, cujos principais tributários

do Rio Sado são a Ribeira de Odivelas, a Ribeira da Figueira e a Ribeira de Canhestros.

A topografia controla a velocidade de escoamento superficial das linhas de água e também o

gradiente hidráulico e as direcções de fluxo preferenciais dos aquíferos freáticos, apesar das

condicionantes geológicas locais.

Os solos dominantes no Concelho de Ferreira do Alentejo, resultam da alteração das rochas

cristalinas na região Norte e Este do Concelho e dos sedimentos terciários, que ocupam a

maioria da área a Oeste e Sul do Concelho.

Desta forma, os solos mais representados são os barros e para-barros pretos e castanhos e os

solos mediterrâneos calcários, aluviões e solos hidromórficos, respectivamente

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.3

A região entre Figueira de Cavaleiros, Canhestros e Gasparões, corresponde, em termos

geotectónicos a uma bacia de afundimento, compreendida entre a Falha da Messejana a SE e

as falhas de S. Domingos, Ermidas e Azinheira dos Barros, a NW, onde se depositaram

dezenas de metros de sedimentos areno-argilosos plio-quaternários sobre o substrato de xistos

paleozóicos, que ocorrem em profundidade (por exemplo a 152 m de profundidade na Arroteia,

a 65 m de profundidade em AC2 de Canhestros, etc).

3.2.2 ESBOÇO GEO-MORFOLÓGICO

fig. 3.2.1 Modelo Digital do Concelho

fonte: modelo gerado a partir da carta Digital 1 : 10 000 do Baixo Alentejo

3.2.2.1 HIPSOMETRIA

A altitude é um factor orográfico de grande importância, uma vez que a sua variação provoca a

alteração de vários elementos climáticos e, consequentemente, a mudança na composição da

cobertura vegetal.

De uma forma geral, o Município de Ferreira do Alentejo não possui um relevo muito

acidentado, variando maioritariamente entre os 100 e os 300 metros de altitude, estando o

ponto mais alto localizado na Serra do Mira e o mais baixo ao longo da Ribeira de Odivelas,

com 276 e 12 metros de altitude, respectivamente (Fig. 3.2.1).

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.4

Concretamente:

− 2% da área do Concelho encontra-se abaixo dos 40 m, sempre ao longo do Rio Sado e dos

vales das Ribeiras que o atravessam

− 72% em altitudes compreendidas entre os 40 e os 100 m, intervalo de altitude claramente

dominante que reflecte a planura caracteriza o Concelho

− 24% em altitudes compreendidas entre os 100 e os 200 m, sempre na sua orla nascente,

− e apenas 1% acima dos 200 m, em zona muito localizada a sudeste do Concelho, em torno

do ponto mais alto da Serra do Mira.

O Vale do Sado que desenvolve-se a cotas inferiores a 50 m, representa um acidente

morfológico notável, que estabelece os seus limites do Concelho a poente.

Fig. 3.2.2 – Hipsometria de Ferreira do Alentejo

Fonte – MDT, Percurso

De acordo com o quadro 3.2.2, Peroguarda é a freguesia mais “alta de ferreira do Alentejo, com

altitudes sempre acima dos 100 metros, enquanto Canhestros e Figueira dos Cavaleiros são as

mais baixas, com altitudes dominantes entre os 40 e os 100 metros.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.5

A Freguesia de Ferreira do Alentejo, em parte devido à sua extensão, é onde se verifica uma

maior variação de altitude, em geral repartida entre os 40 e os 200 metros, com algumas

elevações acima dos 200 metros, incluindo o ponto mais alto do Concelho.

Quadro 3.2.1 Distribuição percentual da altitude, por classes e por freguesias

Freguesias Incidência %

Classes de altitude <40 40

100

100

200 > 200

Alfundão 99.97 .03

Canhestros .82 99.18

Figueira dos Cavaleiros 5.98 94.02

Ferreira do Alentejo 48.03 50.02 1.95

Odivelas 5.03 87.19 7.77

Peroguarda 91,75 8.25

Fonte: cálculo a partir do MDT, Percurso

Fig. 3.2.3 – Pontos altos: cotas dos marcos geodédicos de Ferreira do Alentejo

Fonte – MDT, Percurso

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3.2.6

3.2.2.2 DECLIVES

Os declives têm uma influência significativa na infiltração das águas, no processo de erosão e

no ângulo de incidência dos raios solares.

São ainda determinantes para a fixação das condições de edificabilidade.

Na Carta de Declives que acompanha a caracterização do Território (Planta 3.2.1b), que tem

tradução simplificada na fig. 3.2.4. recorreu-se à seguinte sistematização de classes

− 0 – 3 %: terrenos planos, que podem apresentar condicionamentos em matéria de

drenagem de águas.

− 3 - 8% declives suaves, sem condicionamentos

− 3 – 16 %: declives moderados, com alguns condicionamentos

− 16 – 30%: declives acentuados, com condicionamentos significativos

− 30 – 45%: declives muito fortes, com condicionamentos severos e maior risco de

erosionamento e de deslizamento, integrados na REN.

Fig. 3.2.4 – Declives

Fonte – MDT, Percurso

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.7

Assim, é possível constatar que a maior parte da área do Município possui declives pouco

acentuados, variando maioritariamente entre os 0% e os 3%, mas com uma presença ainda

significativa de declives entre 3% e 8%.

É ao longo e na proximidade da Ribeira de Odivelas, Barranco do Rio Seco, Vale dos

Nascéedios, Cabeça Alta e Alturas da Esteira que os declives se tornam mais pronunciados,

variando entre os 16% e os 30%, atingindo, por vezes valores superiores a 30%.

Os escarpamentos são praticamente inexistentes, ocorrendo pontualmente numa ou noutra

margem da Ribeira de Odivelas.

Em consequência, a distribuição geográfica dos declives mais acentuados verifica-se nas

bordaduras do Concelho, a poente nos vales do Sado e das Ribeiras, e a Nascente, nas

elevações que marcam a fronteira com o Concelho de Beja.

O interior do Concelho, em praticamente toda a sua extensão, é característico da pleneplanicie

alentejana – praticamente plano, com ligeiras ondulações que introduzem alguma animação na

paisagem.

3.2.2.3 EXPOSIÇÕES

A exposição de um terreno corresponde à sua orientação geográfica, estando relacionada com o grau de insolação e consequentemente com a maior ou menor captação de energia solar, determinando a paisagem, nomeadamente através do coberto

vegetal presente e da ocupação humana.

O factor exposição relaciona-se com os declives, perdendo importância nas zonas de declives pouco acentuados, onde não se pode considerar a exist~encia de uma orientação

dominante com influência na exposição solar.

É o que ocorre na parte central do Território Municipal, que assim apresenta elevados níveis de

insolação, o que o torna favorável à exploração da energia solar.

Nas zonas onde os declives já influenciam a graduação da exposição solar, verifica-se

que o Município da Ferreira do Alentejo tem exposições fortemente marcadas entre o

Sul, Oeste e Norte.

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3.2.8

As zonas orientadas a Sudoeste/Oeste, como se verifica a poente da Vila de Ferreira do

Alentejo, mais do que as viradas a Sul, são as que recebem maior radiação solar,

apresentam maiores temperaturas e um menor teor de humidade, não sendo por acaso

que esta representa a área de preferência para a instalação de Parques Solares

Fig. 3.2.5 – Exposições

Fonte – MDT, Percurso

3.2.3 LITOLOGIA: VISÃO GERAL

Para a caracterização da litologia de Ferreira do Alentejo recorreu-se a três cartas do Atlas

Digital do Ambiente, produzido pelo Instituto do Ambiente:

− Carta Litológica

− Carta de Acidez do Solo

− Carta de Dureza do Solo

Não obstante a escala de realização destas Cartas, constituem uma fonte sólida para a

espacialização e avaliação das características dos solos mesmo quando transpostas para a

escla 1 : 50 000.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.9

3.2.3.1 CARACTERIZAÇÃO LITOLÓGICA GERAL A caracterização litológica encontra-se entre os factores que têm, em particular nos solos

menos evoluídos, um papel importante na determinação do respectivo potencial produtivo do

ponto de vista agrícola e florestal.

Como atrás referido, a caracterização litológica do Concelho é realizada a partir da Carta

Litológica integrada no Atlas do Ambiente Digital, do Instituto do Ambiente, que foi transposta

para a escala análise utilizada de 1 : 50 000 (Planta de Acompanhamento 3.2.2)

De acordo com a literatura que acompanha esta Carta, as bases disponiblizadas pelo Instituto

do Ambiente correspondem à versão de 1972, que acompanhou a publicação, à mesma

época, da carta Geológica de Portuga, na escala 1 : 500 000.

A Carta Litológica do Atlas do Ambiente do Instituto do Ambiente considerou, com base

no tratamento da informação existente, dois parâmetros relativos à rocha-mãe - o pH e a

dureza - do que resultou a definição de cinco unidades litológicas – rochas ácidas brandas, rochas ácidas duras, rochas básicas duras e rochas de dureza e acidez variada

3.2.4.1a COMPLEXOS LITOLÓGICOS

“Define-se complexo litológico como uma unidade cartográfica que engloba, com o mesmo

simbolismo, vários tipos de rochas (raramente um só tipo) associados geograficamente e cuja

representação independente se tornou impraticável, quer pela escala da carta, quer pela falta

de elementos cartográficos”

No Território de Ferreira do Alentejo a sua composição litológica assenta sobretudo nas formações sedimentares, constituídas essencialmente por areias, arenitos, cascalheiras, margas, argilas e conglomerados, que ocupam cerca de 74.6 % da sua área (quadro 3.2.6)

Uma pequena área, a poente, nas margens do rio Sado, a que se acrescentam pequenas

áreas dispersas a nascente, totalizando 7.2% da área do Concelho, é constituída por

formações sedimentares e metamórficas (xistos, xistos argilosos ou grauvaques)

Conforme a fig. 3.2.6, as rochas eruptivas (gabros e e porfiros quartziferos), num total de 18.4% da sua área, concentram-se na zona nascente do Concelho (Freguesias de Ferreira

do Alentejo, Peroguarda, Alfundão e Odivelas)

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3.2.10

Fig 3.2.6 – Litologia: complexos litológicos - síntese

Fonte: Atlas do Ambiente Digital, Instituto do Ambiente

Quadro 3.2.2: Formações litológicas no Concelho de Ferreira

COMPOSIÇÃO LITOLÓGICA TIPO DE ROCHA PERÍODO GEOLÓGICO ÁRE (HÁ) % FORM. SEDIMENTARES Aluviões HOLOCÉNICO 1673,2 2,6

48 272,4 ha / 74.6% Areias, calhaus rolados, arenitos pouco consolidados, argilas PLIO-PLISTOCÉNICO 16880,7 26,1

Arenitos, calcários mais ou menos margosos, areias, cascalheiras, argilas MIO-PLISTOCÉNICO 22596,6 34,9

Cascalheiras de planalto, arcoses da Beira Baixa, arenitos, calcários

PALEOGÉNICO-MIOCÉNICO 7122,09 11,0

FORM. SEDIMENTARES E METAMORFICAS

Xistos argilosos, grauvaques, arenitos

CARBÓNICO MARINHO E DEVÓNICO 3937,8 6,1

4 595,8,ha / 7,2% Metavulcanitos DO DEVËNICO MARINHO AO PRÉ-CâMBRICO 94,4 0,2

Xistos, grauvaques SILÚRICO E ORDOVÍCICO 556,6 0,9

Xistos, quartzitos, anfibolitos DEVÓNICO E SILÚRICO 6,9 0,0ROCHAS ERUPTIVAS PLUTóNICAS Gabros 9400,6 14,5ROCHAS ERUPTIVAS VULCÂNICAS Porfiros quartzíferos 2540,8 3,9

fonte: tratamento em SIG de tabela do Atlas do Ambiente Digital, do Instituto do Ambiente

Fig 3.2.7 – Litologia: complexos litológicos

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.11

Fonte: Atlas do Ambiente Digital, Instituto do Ambiente

2.3.4 GEODINÂMICA

Para este subcapítulo, que aprofunda a abordagem mais generalista efectuada atrás, recorreu-

se ao Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do Alentejo, realizado por EcoIntegral para a Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo, em Fevereiro de 2008, estando

as transcrições devidamente referenciadas.

3.2.4.1 UNIDADES GEOTECTÓNICAS1

“A descrição geo-tectónica que se apresenta baseia-se em trabalhos de Oliveira et al. (1984;

1992), no âmbito das Cartas Geológicas de Portugal, Folhas 7 e 8 na escala 1:200 000.

1 Adaptado do Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do Alentejo, realizado por EcoIntegral, Fevereiro de

2008.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.12

Em termos morfoestruturais a região do Alentejo situa-se, na maior parte da sua extensão, no

Maciço Hespérico ou Maciço Ibérico, integrando ainda, formações da Orla Ocidental (Bacia

Terciária do Baixo Tejo-Sado).

O maciço antigo ou hespérico é formado por terrenos metamórficos (xistos, anfibolitos,

mármores), por rochas eruptivas (dioritos, gabros, pórfiros), e por sedimentos marinhos (xistos,

grauvaques e quartzitos), cuja idade varia entre o Devónico superior e o Carbónico médio

(Paleozóico).

O conjunto foi fortemente dobrado durante a movimentação hercínica. Durante os movimentos

hercínicos e nos períodos seguintes, várias fases de erosão aplanaram o conjunto.

No que respeita ao Concelho de Ferreira do Alentejo, identificam-se três unidades

geotectónicas; Zona de Ossa Morena (ZOM); Zona Sul Portuguesa (ZSP) e Bacia do Sado.

Fig. 3.2.8 – Unidades geotécnicas no Concelho de Ferreira do Alentejo

fonte: Carta Geológica Resumo

Na região Norte e Este afloram rochas que se integram na Zona de Ossa Morena (ZOM)

formadas por gabro-dioritos, basaltos e afins, pórfiros e rochas ácidas.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.13

Na área Sudeste do Concelho afloram rochas xisto-grauváquicas da Formação de Santa Iria

(Devónico) e no extremo Oeste afloram xistos da Formação de Mértola (Carbónico) que se

integram na unidade geotectónica da Zona Sul Portuguesa (ZSP). Os depósitos do

Paleogénico, constituídos por grés mais ou menos argilosos, conglomerados e calcários

cobrem parcialmente as formações paleozóicas da ZSP entre Ferreira do Alentejo e Ervidel.

A maior extensão do Concelho de Ferreira do Alentejo (cerca de 75%) está coberta pelas

formações detríticas sedimentares da Bacia do Sado, constituídas por argilas, margas,

calcários, conglomerados e areias de idade miocénica e plio-quaternária.

Fig. 3.2.9 – Carta Geológica do Concelho

Fonte: Adaptado de Oliveira et al., 1983; 1988, in Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do

Alentejo

O contacto entre a ZOM e a ZSP corresponde ao cavalgamento de Ferreira-Ficalho, que

separa os gabros e anfibolitos do Complexo Ofiolítico de Beja-Acebuches (COBA) das

formações xistentas da ZSP. O contacto entre as duas unidades está na maior parte do

Concelho coberto pelos depósitos da Bacia do Sado.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.14

No extremo Oeste do Concelho, o contacto entre os terrenos de xistos e grauvaques da

Formação de Mértola e as areias pliocénicas da Bacia do Sado (entre Santa Margarida do

Sado e Azinheira de Barros) está materializado por falhas e cavalgamentos de orientação geral

NW-SE que correspondem à transição da ZOM para a ZSP, que por sua vez se encontram

cortados por falhas de orientação N-S.

Na zona Norte e Este do Concelho, os principais aspectos tectónicos estão relacionados com o

cavalgamento de Ferreira-Ficalho (NW-SE) e os conjuntos de falhas que cortam as formações

dos Gabros de Beja, do COBA e do Complexo Básico de Odivelas, com orientações que

variam entre NNW-SSE e NE-SW.

3.2.4.3 DEPÓSITOS DA BACIA DO SADO2

Na área do Concelho de Ferreira do Alentejo, os depósitos detríticos ocupam cerca de 75% do

área do Concelho, com sedimentação desde o Cenozóico até à actualidade.

Podem individualizar-se três complexos principais, de acordo com as características lito-

estratigráficas:

− Plio-plistocénico (PQ) e aluviões modernos (a)

− Miocénico (M)

− Paleogénico e Miocénico indiferenciados (PgM)

Os depósitos do Plio-plistocénico (PQ) e aluviões (a) modernos formam um complexo de

sedimentos detríticos de origem continental e espessura variável, que assentam sobre a

superfície de erosão que inclina dos bordos da Bacia do Sado em direcção a Oeste.

São constituídos por areias, arenitos e cascalheiras, com os elementos grosseiros, mais

abundantes na periferia da bacia.

No vale do rio Sado ocorrem terraços fluviais de areias e cascalheiras, junto a Santa Margarida

do Sado. Nas proximidades de Figueira de Cavaleiros e Ferreira do Alentejo, estão

referenciados calcários lacustres ou tufos calcários de idade quaternária.

2 Adaptado do Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do Alentejo, realizado por EcoIntegral, Fevereiro de

2008.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.15

As formações do Miocénico (M) cobrem a maior parte da região central do Concelho. Estes

depósitos, designam-se localmente por Formação de Esbarrondadoiro e são constituídas por

arenitos mais ou menos argilosos, argilitos e cascalheiras. Também se encontram bancadas

calcárias muito fossíliferas. As espessuras conhecidas não ultrapassam os 40 metros.

Esta formação apresenta uma grande variação lateral de fácies, o que reflecte as grandes

alterações do meio de sedimentação, ocorrendo, desde depósitos francamente marinhos e,

mesmo, de mar aberto, até depósitos litorais ou mesmo continentais detríticos grosseiros.

As formações do Paleogénico e Miocénico indiferenciados (PgM) afloram na área SE do

Concelho de Ferreira do Alentejo e no vale da ribeira de Odivelas até à confluência com o rio

Sado

Designam-se localmente por Formação de Vale de Guiso e são constituídas, na base por

conglomerados com elementos angulosos e mal rolados e, para o topo, são constituídos por

argilas, margas com concreções calcárias, calcários gresosos, às vezes concrecionados, com

seixos e, ainda arenitos argilosos. A espessura desta formação pode atingir 90 m na área da

Bacia de Alvalade.

A cobrir as formações do Miocénico e Paleogénico, encontram-se depósitos detríticos de idade

plio-plistocénica, constituídos por arenitos acastanhados ou avermelhados com seixos e

intercalações argilosas. Estes depósitos de cobertura apresentam espessura variável, mas em

geral, não ultrapassam os 20 m.

3.2.4.4 FORMAÇÕES DA ZONA DE OSSA MORENA (ZOM) 3

Os principais tipos petrográficos integrados na unidade geo-tectónica de Ossa Morena com

representação no Concelho de Ferreira do Alentejo são as seguintes:

− Gabros de Beja (t)

− Complexo máfico-ultramáfico de Beja-Acebuches (a)

− Complexo Básico de Odivelas (Vb1)

− Pórfiros de Baleizão (p)

3 Adaptado do Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do Alentejo, realizado por EcoIntegral, Fevereiro de

2008.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.16

Os Gabros de Beja ou Complexo Ígneo de Beja (CIB) desenvolve-se entre Ferreira do Alentejo

e Mombeja, Peroguarda e Serra do Pinheiro e ainda na área de Odivelas (designado

localmente por Complexo Básico de Ferreira).

Na região Este do Concelho, o limite Norte do CIB é definido pela falha de Beja enquanto a Sul

o limite é definido pelo contacto com o Complexo Máfico e Ultra-Máfico de Beja Acebuches

(Complexo Ofiolítico de Beja-Acebuches - COBA).

O CIB é fundamentalmente um complexo plutónico-vulcânico-hipabissal de idade varisca. Os

Gabros de Beja tem uma idade compreendida entre os 337-340 M.A..

Os termos geológicos mais característicos são os gabros e dioritos, que por vezes se

encontram bastante alterados e facturados, constituindo bons reservatórios aquíferos e solos

de barros pretos de elevada aptidão agrícola.

O Complexo máfico-ultramáfico de Beja-Acebuches, também designado por Complexo

Ofiolítico de Beja-Acebuches (COBA), aflora a SE da vila de Ferreira do Alentejo.

O COBA marca o limite Sul da ZOM. Reconhece-se da base para o topo, a seguinte

sequência: metagabros (granularitos, gabros em flasers, e anfibolitos), com corpos

serpentínicos dispersos e complexos de dykes e metabasaltos com intercalações de cherts. No

geral, trata-se de anfibolitos de grão médio a grosseiro, por vezes com textura foliada do tipo

“flaser gabros”.

A natureza ofiolítica (no sentido de crosta oceânica) do Complexo de Beja-Acebuches foi

demonstrada recentemente.

A idade do Complexo de Beja-Acebuches é uma questão que permanece por esclarecer, ainda

que a maioria dos autores se incline para a hipótese Silúrico-Devónica. Dados de cronologia

isotópica, indicam idades compreendidas entre os 342 e os 347 M.A. (Viseano).

Devido à subducção para Norte, o CIB é intrusivo posteriormente à obducção, deformação,

metamorfisrno e instalação estrutural do COBA na sua posição tectónica actual.

As rochas desta unidade encontram-se por vezes muito alteradas até profundidades

significativas, como foi reconhecido por sondagens geotécnicas para execução de silos da

Cooperativa Agrícola, até à profundidade de 25 metros (CEGSA, 1995).

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3.2.17

As rochas do Complexo Básico de Odivelas estão bem representadas na freguesia de

Alfundão e afloram desde a Barragem de Odivelas, a Norte, até Peroguarda, a Sul. Ao longo

da ribeira de Odivelas, para montante e até às proximidades de Cerro da Mina afloram

brechas, tufos e cineritos. Ocorrem também lavas do tipo andesítico.

Os principais termos petrográficos deste complexo são rochas básicas, basaltos e diabases

(doleritos anfibólicos).

Os dados obtidos a partir de furos de captação indicam uma espessura média de alteração de

10 a 15 m (CEGSA, 1995).

Os Pórfiros de Baleizão correspondem a uma unidade (sub)vulcânica ácida, pós-metamórfica,

facilmente identificável pela cor mais ou menos avermelhada. Estes terrenos afloram a Norte

de Alfundão e nas imediações de Cerro da Mina.

Nesta designação, incluem-se um conjunto de rochas ácidas do tipo dacito e riodacito. No

terreno, as rochas apresentam-se fragmentadas em calhaus abundantes.

Sem grande expressão cartográfica, existem ainda no Concelho de Ferreira do Alentejo um

afloramento de xistos ardosíferos e grauvaques entre Peroguarda e Alfundão designados por

“Xistos de Alfundão” (Haf) e um afloramento de rochas dioríticas de grão médio a fino, por

vezes com textura brechóide designadas por “Dioritos do Monte Novo”.

3.2.4.5 FORMAÇÕES DA ZONA SUL PORTUGUESA (ZSP) 4

Na área do Concelho de Ferreira do Alentejo, as formações incluídas na unidade geo-tectónica

da Zona Sul Portuguesa constituem quatro afloramentos de reduzida extensão:

− Formação de Santa Iria (DSI)

− Formação de Mértola (HMt)

− Complexo Vulcano-silicioso (Xv)

− Formação filito-quartzítica (DFq)

4 Adaptado do Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do Alentejo, realizado por EcoIntegral, Fevereiro de

2008.

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3.2.18

A Formação de Santa Iria é constituída por xistos e grauvaques de idade devónica e aflora a

SSE de Ferreira do Alentejo, imediatamente a Sul do cavalgamento de Ferreira-Ficalho. Os

restantes termos geológicos ocorrem no extremo Oeste do Concelho, a Sul de Santa

Margarida do Sado.

Do ponto de vista litológico, a Formação de Mértola é constituída por turbiditos de idade

carbónica (xistos e grauvaques do Grupo de Flysch do Baixo Alentejo).

O Complexo Vulcano-silicioso é formado por xistos siliciosos e tufitos, xistos negros e xistos

borra de vinho de idade carbónica.

A Formação filito-quartzítica é constituída por filitos, siltitos e quartzitos de idade devónica.

3.2.5 QUALIDADE DOS SOLOS

Neste sub-capítulo recorre-se a dois indicadores, acidez/alcalinidade do solo e dureza do solo, ambos suportados por duas Cartas do Atlas do Ambiente Digital, do Instituto do

Ambiente.

3.2.5.1 ACIDEZ / ALCALINIDADE DO SOLO 3.2.5.1.a CONCEITOS5

A Carta do Atlas do Ambiente III.2 — Acidez e Alcalinidade dos Solos — representa o resultado

da classificação das unidades--solo de Portugal continental segundo classes de pH.

O pH define-se como o logaritmo decimal do inverso da concentração hidrogeniónica do solo,

ou seja: pH= logm rjy.y =- logio (H+), em que (H+) se exprime em moles de H+ por litro.

Exprime-se por valores da escala de pH, de 0 a 14, em que pH 7 indica o ponto neutro — igual

concentração de hidrogeniões (H+) e oxidriliões (OH). São ácidos os valores de pH menores do

que 7 (predomínio de H+), e alcalinos os valores maiores do que 7 (predomínio de OH-).

Nos solos os valores de pH mais frequentes variam entre 4 e 9, sendo considerados neutros, na

prática, aqueles cujo pH varia entre 6,6 e 7,3.

5 Texto explicativo da Carta de Acidez e Alcalinidade dos Solos do Atlas do Ambiente Digitl, do Instituto do Ambiente

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3.2.19

A acidez do solo é originada pela matéria orgânica deste (dissociação de grupos funcionais do

húmus e decomposição micróbio-lógica da matéria orgânica), pelos aluminossilicatos das

fracções finas, sesquióxidos e certos sais solúveis. Está associada à presença de hidrogénio de

troca e, para valores de pH menores do que 6, também à de alumínio de troca, os quais, por

dissociação, cedem hidrogeniões à solução do solo.

A causa mais importante da acidez do solo reside na perda de bases arrastadas pela água de

infiltração com consequente abaixamento do grau de saturação do complexo de troca. Nos

climas húmidos haverá portanto tendência para acidificação do solo.

A alcalinidade do solo pode verificar-se nos casos em que as bases não são arrastadas pelas

águas de infiltração e em que existe elevado grau de saturação do complexo de troca. A

presença de sais solúveis, em especial provenientes de bases mais fortes do que os respectivos

ácidos (carbonatos de cálcio, magnésio ou sódio), pode elevar a concentração de oxidriliões e,

assim, a alcalinidade do solo. Tais casos predominam em regiões áridas e semiáridas.

O pH do solo, além de depender do material originário, da textura e permeabilidade do solo, da

quantidade e composição da sua matéria orgânica, é condicionado por factores que afectam es-

tas características, tais como os elementos meteorológicos (em especial a precipitação

atmosférica e a sua distribuição ao longo do ano), a vegetação (mobilização de bases

disponíveis no solo), o relevo (aumento da precipitação com a altitude), a drenagem e a

actividade humana.

Quanto a esta referem-se as práticas de rega e drenagem (qualidade da água e lavagem do

perfil), de mobilização do solo (profundidade da lavoura e natureza dos horizontes revolvidos),

de fertilização (fertilizantes de reacção ácida ou alcalina), de estrumação (com carácter

acidificante), de calagem (atenuação ou neutralização da acidez) e de rotação de culturas

(exportação de sais minerais na produção colhida).

As classes de pH adoptadas na Carta constituem uma simplificação das referidas no Soil Survey

Manual(Soi\ Survey Staff, 1951). Tal como nesta classificação, consideraram-se neutros os solos

com valores de pH compreendidos entre 6,6 e 7,3. As restantes classes do referido Manual

foram agrupadas duas a duas, correspondendo cada grupo resultante a uma unidade de pH. Tal

critério justifica-se pela pequena escala da Carta e pelo número, algo escasso, dos valores

disponíveis.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.20

De acordo com o exposto e seguindo a escala adoptada no Departamento de Agricultura dos

Estados Unidos (Soil Survey Staff, 1951), estabeleceram-se as classes seguintes:

− < 4,5 - extremamente ácido

− 4,6 a 5,5 - muito ácido

− 5,6 a 6,5 - moderadamente ácido

− 6,6 a 7,3 - neutro

− 7,4 a 8,5 - moderadamente alcalino

3.2.5.1b ACIDEZ E ALCALINIDADE DOS SOLOS DE FERREIRA DO ALENTEJO

Com base na informação cartográfica utilizada, é possível estabelecer o perfil da qualidade dos

solos de Ferreira do Alentejo em função da sua alcalinidade e acidez.

Conforme o quadro , e a exemplo do que se passa no Alentejo, os Solos de Ferreira do

Alentejo são dominantemente ácidos (70.7% da área do Concelho), muito embora 29,5%,

porque associados a valores de pH neutros, constituam uma transição para estes solos.

Temos 21,4% da área do Concelho coberta com solos neutros, essencialmente concentrados a

nascente, nas Freguesias de Peroguarda, Alfundão e Odivelas (Complexo Básico de Odivelas),

e 7,9% alcalinos, a Sudeste da Freguesia de ferreira do Alentejo.

Quadro 3.2.3 Acidez/alcalinidade dos solos em Ferreira do Alentejo

Tipo Classes de pH Área (há) % Dominantemente Ácidos Entre 5.6 e 6.5 25198,7 38,9Dominantemente Ácidos Entre 5.6 e 6.5 + (4.6 a 5.5) 1456,9 2,2Dominantemente Ácidos Entre 5.6 e 6.5 + (6.6 a 7.3) 19166,4 29,6Dominantemente Neutros Entre 6.6 e 7.3 13859,4 21,4Dominantemente Alcalinos Entre 7.4 e 8.5 5128,1 7,9

fonte: tratamento em SIG de tabela do Atlas do Ambiente Digital, do Instituto do Ambiente

O cruzamento da figura 3.2.10 com a figura 3.2.7 mostra a predominância das

rochasvulcânicas (Gabros e Porfiros Quartzíferos) na formação dos solos neutros, enquanto

as rochas sedimentares são dominantemente ácidas, com excepção do grupo de

“Cascalheiras de planalto, arcoses da Beira Baixa, arenitos, calcários”, que formam uma

bolsa de solos alcalinos a sudeste do Concelho

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.21

Fig 3.2.10 – Acidez e alcalinidade do solo

Fonte: Atlas do Ambiente Digital, Instituto do Ambiente

Na figura 3.2.10

- Os tons de azul simbolizam, sobretudo, a influência da humidade na acidez do solo,

tanto maior quanto mais forte se apresenta a cor (solos ácidos).

- A cor verde exprime a condição do solo cuja reacção é favorável à maior parte das

culturas agrícolas (solos neutros).

- A cor laranja sugere a influência preponderante da rocha-mãe calcária nos valores

elevados da reacção e na própria tonalidade dos solos derivados daquela rocha (solos

alcalinos).

3.2.5.2 DUREZA DO SOLO

O segundo indicador, referente à dureza do solo, tem como refer~encia a Carta do mesmo

nome do Atlas do Ambiente Digital do Instituto do Ambiente.

É sintetizado no quadro 3.2.4 e na figura 3.2.11

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3.2.22

quadro 3.2.4: dureza dos solos em Ferreira do Alentejo

Dureza total Dureza permanente Dureza temporária Área (há) %Entre 200 e 400 mg/l Entre 100 e 200 mg/l Entre 100 e 200 mg/l 27880,5 43,0Entre 200 e 300 mg/l Entre 150 e 200 mg/l Entre 50 e 100 mg/l 15076,0 23,3Entre 100 e 300 mg/l Entre 50 e 150 mg/l Entre 50 e 200 mg/l 6,6 0,0Entre 0 e 100 mg/l Entre 0 e 50 mg/l Entre 0 e 50 mg/l 21846,5 33,7

fonte: tratamento em SIG de tabela do Atlas do Ambiente Digital, do Instituto do Ambiente

Fig 3.2.11 – Dureza do solo em Ferreira do Alentejo

Fonte: Atlas do Ambiente Digital, Instituto do Ambiente

3.2.6 SOLOS

Pode definir-se o solo como a camada superficial da Terra, substrato essencial para a biosfera

terrestre, que desempenha como principal função ser suporte e fonte de nutrientes para a

vegetação e, como tal, base de toda a cadeia alimentar.

Constituído por minerais, matéria orgânica, organismos vivos, ar e água, o solo contribui com

um sistema complexo e interactivo na regularização do ciclo hidrológico, nomeadamente

através da sua capacidade de transformação, filtro e tampão.

É no solo que se situam os aquíferos que abastecem a maioria das populações com água

potável.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.23

Por tudo isto o solo pode ser visto como "organismo vivo" onde a actividade biológica

determina o seu potencial. A estrutura do solo depende do tratamento que recebe, e a

produtividade das culturas agrícolas e longevidade da sua bioestrutura reflectem a sua

adequação.

Para a caracterização dos solos de Ferreira do Alentejo recorreu-se à Carta de Solos integrante do Atlas do Ambiente Digital, do Instituto do Ambiente.

Tal como já se referiu anteriormente em relação às Cartas Litológicas, não obstante a sua

escala de realização e, no presente caso da Carta de Solos, a sua relativa desactualização em

relação às classificações mais recentes adoptadas pela FAO, continuam a constituir uma fonte

sólida para a espacialização e avaliação das características dos solos mesmo quando

transpostas para a escla 1 : 50 000.

Já para a análise da Capacidade de Uso Agrícola do Solo recorre-se à “clássica” Carta do ex-CNROA, base da actual RAN concelhia que, para o efeito, foi vectorizada pela PERCURSO.

3.2.6.1 UNIDADES PEDOLÓGICAS De acordo com a Carta de Solos do Atlas do Ambiente do Instituto do Ambiente, transposta

para o Plano na Planta de Acompanhamento 3.2.3a, Qualidade do Solo, que integra também o

extracto da Carta de Acidez / Alcalinidade do mesmo Atlas, os solos de Ferreira do Alentejo

distribuem-se pelas seguintes Unidades Pedológicas, definidas segundo o esquema da FAO

para a Carta dos Solos da Europa:

− Litossolos

− Rankers

− Vertissolos

− Cambissolos

− Luvissolos

− Podzóis

− Planossolos

A importância desta classificação é o de permitir, na fase posterior do Plano, através do cruzamento

com outros indicadores relevantes enunciados nesta caracterização (dureza e acidez do solo,

declives ou exposições) determinar a aptidão agrícola dos solos do Concelho, assim como a

identificação de vulnerabilidades, nomeadamente a erosão do solo ou o risco de desertificação.

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3.2.24

Fig 3.2.12 – Carta de Solos de ferreira do Alentejo: Unidades Pedológicas

Fonte: Atlas do Ambiente Digital, Instituto do Ambiente

quadro 3.2.5 Unidades Pedológicas em Ferreira do Alentejo

Unidade Sub-Unidade Área, ha %

CAMBISSOLOS Cambissolos eutricos rochas sedimentares post-paleozóicas 6745,7 10,4LITOSSOLOS Litossolos eutricos 1149,5 1,8LUVISSOLOS Luvissolos gleizados álbicos 31904,2 49,2 Luvissolos plintiticos 1800,1 2,8 Luvissolos vérticos 3,9 0,0PLANOSSOLOS Planossolos eutricos 3208,4 4,9PODZOIS Podzóis órticos associados a regossolos eutricos 1482,3 2,3VERTISSOLOS Vertissolos crómicos 13543,3 20,9 Vertissolos crómicos calcários 4815,6 7,4 Vertissolos pélicos 156,54 0,2

Do quadro anterior, constata-se a dominância, em Ferreira do Alentejo, dos Luvissolos (52% da

área do Concelho), e entre estes, os Luvissolos Gleizados álbicos (49%)

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.25

Os Vertissolos (28,5%) são a segunda representação, com maior presença dos Vertissolos

Crómicos (20,9%)

Com menor expressão temos os cambissolos (10,4%) e, com muito fracas ocorrências, os

Litossolos (1,8%), os Planossolos (4,9%) e os Podzois (2,3%)

3.2.6.2 CAPACIDADE DE USO AGRÍCOLA DO SOLO

A Carta de Capacidade Agrícola do Solo, editada pelo ex CNROA, constitui a base da actual

classificação de solos utilizada na RAN,.

Esta classificação considera cinco Classes, A, B, C, D e E, cujas características são

sintetizadas no quadro seguinte

: quadro 3.2.6 Classes de Capacidade de Uso do Solo

Classe Características principais

A - poucas ou nenhumas limitações - sem riscos de erosão ou com riscos ligeiros - susceptível de utilização agrícola intensiva

B - limitações moderadas - riscos de erosão no máximo moderados - susceptível de utilização agrícola moderadamente intensiva

C - limitações acentuadas - riscos de erosão no máximo elevados - susceptível de utilização agrícola pouco intensiva

D

- limitações severas - riscos de erosão no máximo elevados a muito elevados - não susceptível de utilização agrícola, salvo casos muito especiais - poucas ou moderadas limitações para pastagens, exploração de matos e exploração florestal

E

- limitações muito severas - riscos de erosão muito elevados - não susceptível de utilização agrícola - severas a muito severas limitações para pastagens, matos e exploração florestal - ou servindo apenas para vegetação natural, floresta de protecção ou de recuperação - ou não susceptível de qualquer utilização

Subclasses: − e - erosão e escoamento superficial − h - excesso de água − s - limitações do solo na zona radicular

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.26

A figura 3.2.12 representa a Carta de Capacidade Agrícola do Solo, vectorizada pela

PERCURSO, onde é percepcionável a dominância das classes A e B, acompanhadas da subclasse Ch, ou seja, as classes integradas na RAN, reflexo da boa aptidão dos solos de Ferreira do Alentejo. Estas áreas correspondem, em geral, aos Gabros de Beja (ou Barros de Beja), caracterizados, de acordo com as análises anteriores, por vertissolos (fig. 3.2.12) neutros ou alcalinos (fig. 3.2.10) e uma dureza total entre 200 e 400 mg/l (fig. 3.2.11)

Fig Fig 3.2.13 – – Carta de Capacidade de Uso do Solo

fonte: vectorização da Carta de Capacidade de Uso Agrícola do Solo, ex CNROA, por PERCURSO

3.2.7 SISTEMAS AQUÍFEROS E UNIDADES HIDROGEOLÓGICAS

Para este subcapítulo recorreu-se, de novo, ao Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do Alentejo, realizado por EcoIntegral para a Câmara Municipal de Ferreira do

Alentejo, em Fevereiro de 2008, estando as transcrições devidamente referenciadas.

A descrição hidrogeológica que fundamenta este Estudo “baseou-se principalmente em

trabalhos do CEGSA (1995), Duque (1997, 2005), Oliveira et al., (2000), Paralta (2001); Paralta

et al., (2002; 2005; 2006) e ERHSA (2003).

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.27

Em termos hidrogeológicos, podem identificar-se no Concelho de Ferreira do Alentejo quatro

unidades hidrogeológicas, das quais duas são consideradas sistemas aquíferos, com estrutura

e continuidade espacial e duas são consideradas zonas de baixa produtividade aquífera:

− Na área da ZOM identificam-se o Sistema Aquífero dos Gabros de Beja (SAGB) e um

Sector Não Produtivo das Rochas Ígneas e Metamórficas.

− A área correspondente às rochas da ZSP é definida como o Sector Não Produtivo das

Rochas Ígneas e Metamórficas da ZSP.

− Uma extensa área central e Sul do Concelho de Ferreira do Alentejo está integrada no

Sistema Aquífero da Bacia de Alvalade, que corresponde aos depósitos miocénicos

(Formação de Esbarrondadoiro) e paleogénicos (Formação de Vale de Guiso) da bacia

sedimentar do Sado.

Uma descrição geral das características aquíferas das quatro unidades hidrogeológicas e dos

aquíferos identificados, de acordo com o estado da arte actual apresenta-se seguidamente.

Fig. 3.2.14 – Formações hidrogeológicas dos aquíferos de Ferreira do Alentejo

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.28

3.2.7.1 SISTEMA AQUÍFERO DOS GABROS DE BEJA6 O Sistema Aquífero dos Gabros de Beja (SAGB) tem uma área total aproximada de 350 km2, desde Serpa até Ferreira do Alentejo, atravessando o Concelho de Beja na direcção Este-Oeste. O Município de Ferreira do Alentejo possui 9 captações públicas no SAGB integrados nos sistemas de abastecimento à sede do Concelho e Alfundão. O Sistema Aquífero dos Gabros de Beja corresponde fundamentalmente às formações do Complexo Ígneo de Beja (CIB), e ao Complexo Ofiolítico de Beja-Acebuches (COBA). O SAGB é limitado a Sul pelas rochas xistentas da ZSP, (susceptíveis de, em condições estruturais favoráveis, suportar origem de abastecimento a populações pouco numerosas) e pelos terrenos miocénicos dos arredores de Ferreira do Alentejo. A Norte, o SAGB contacta com o sector meridional do Complexo Básico de Odivelas através da falha de Beja. A Oeste, o aquífero dos Gabros de Beja é limitado pela proximidade dos terrenos miocénicos e pelo Sistema Aquífero da Bacia de Alvalade, formado por coberturas sedimentares terciárias sub-horizontais com espessura assinalável. Em termos gerais, as formações do CIB e do COBA apresentam comportamento hidroegeológico semelhante, característico de um meio poroso, livre, passando progressivamente a fissurado (fracturação em meio cristalino) em profundidade, que pode atingir os 50 metros de espessura.

A produtividade média do SAGB é da ordem dos 5 L/s, embora se contabilizarmos os insucessos este número se possa reduzir para metade. As Transmissividades mais frequentes estimadas para o sistema situam-se entre os 30 e 60 m2/dia, podendo atingir excepcionalmente máximos de 450 m2/dia. Existem mais de 1 milhar de furos de captação, públicos e privados, referenciados em toda a extensão do SAGB que se destinam principalmente a abastecimentos domésticos e regadio. O abastecimento público à Vila de Ferreira do Alentejo é assegurado exclusivamente por 5 captações municipais neste sistema aquífero, localizadas a E e SE da vila.

6 Adaptado do Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do Alentejo, realizado por EcoIntegral, Fevereiro de

2008.

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3.2.29

A circulação e armazenamento da água faz-se fundamentalmente na camada de alteração, em

geral pouco profunda, pelo que a piezometria acompanha aproximadamente a topografia,

observando-se os valores mais elevados na região SE do Concelho, a partir da qual o

escoamento subterrâneo se faz, predominantemente, para NW.

A reduzida profundidade a que surge a água nestas formações gabro-dioríticas alteradas

facilita grandemente a sua exploração por poços ou valas pouco profundas (5-10 metros).

A reposição dos níveis freáticos é feita a partir da precipitação, sendo a zona alterada que faz a

recarga das fracturas subjacentes. É de admitir, igualmente, infiltração em determinados locais

estruturalmente favoráveis, nomeadamente em descontinuidades geológicas (falhas e

fracturas). O gabro-diorito são tem-se revelado improdutivo.

O balanço hídrico global do sistema aponta para uma taxa de recarga média entre 10 a 20% da

precipitação média anual (aproximadamente 525 mm/ano) e eventualmente mais, em locais

estruturalmente favoráveis e solos com maior componente carbonatada (caliços).

No que se refere à composição físico-química das águas subterrâneas, trata-se de águas com

uma mineralização relativamente elevada, com fácies bicarbonatada cálcica ou calco-

magnesiana e algo duras.

Relativamente à qualidade para consumo humano, verifica-se que a maioria das origens

apresenta uma qualidade química deficiente, nomeadamente devido a concentrações elevadas

de nitratos, sulfatos, magnésio e cálcio.

Os processos naturais resultantes da interacção água-rocha são responsáveis pela fácies

carbonatada e dureza, enquanto a contaminação difusa resultante de práticas agrícolas,

nomeadamente a aplicação de fertilizantes e regadio, pode ser relacionada com a ocorrência

de elevadas condutividades e nitratos e ainda cloretos e sulfatos em concentrações anómalas.

Relativamente à aptidão para uso agrícola, as águas do SAGB pertencem maioritariamente às

classes C2S1 e C3S1, ou seja, risco baixo de alcalinização dos solos e risco médio a alto de

salinização dos mesmos.

Uma grande parte das águas do sistema encontra-se sobressaturada em calcite pelo que

causam incrustações, tanto nos terrenos regados, como nas condutas de distribuição de água.

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3.2.30

quadro 3.2.7: Gabros de Beja: Ficha Resumo GABROS DE BEJA (A9)

Identificação

Bacias Hidrográficas Guadiana e Sado

Concelhos Beja, Ferreira do Alentejo, Serpa

Área 387 km²

CCDR Alentejo

Hidrogeologia

Formações Aquíferas Dominantes

Complexo Ígneo de Beja e Complexo Ofiolítico de Beja-Acebuches (ante-Viseano)

Litologias Dominantes

Gabros, anortositos, serpentinitos, metavulcanitos básicos, com espessuras que, geralmente, não ultrapassam os 50 m

Características Gerais

Sistema essencialmente fissurado, com algumas características de meio poroso, apresentando-se, em geral, como aquífero livre

Produtividade (l/s) Mediana=3,2

Parâmetros Hidráulicos

Mediana da transmissividade=39 m²/dia

Funcionamneto Hidráulico

Parte superficial é constituída por uma zona alterada, com uma espessura média de 22 m e subjacente encontra-se uma zona fracturada, que pode atingir 40 a 60 m. A circulação faz-se, essencialmente, na zona de alteração

Piezometria / Direcções de Fluxo

O escoamento subterrâneo faz-se a partir da região de Beja para oeste e leste, constituindo o vale do Guadiana uma zona preferencial de descarga

Balanço Hídrico Entradas=9 hm³/ano; saídas conhecidas=9 hm³/ano

Fácies Química Fácies bicarbonatada cálcica ou calco-magnesiana

Fonte: ficha A9, recolhida no site do INAG

3.2.7.2 SECTOR NÃO PRODUTIVO DAS ROCHAS ÍGNEAS E METAMÓRFICAS DA ZOM7

O Sector Não Produtivo das Rochas Ígneas e Metamórficas da ZOM na área do Concelho de

Ferreira do Alentejo correspondente às formações gabróicas do Complexo Básico de Ferreira

(envolvente de Odivelas), aos Pórfiros de Baleizão e às rochas basálticas e afins do Complexo

Básico de Odivelas que ocorrem entre Peroguarda, Alfundão e Barragem de Odivelas.

7 Adaptado do Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do Alentejo, realizado por EcoIntegral, Fevereiro de

2008.

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3.2.31

O Município de Ferreira do Alentejo possui 2 captações públicas no sector em questão (PFT1

de Odivelas e AC4 de Alto do Pilar/Alfundão).

Estas formações tem reduzida aptidão aquífera e apenas podem ser consideradas como

origem de água em situações de escassez de recursos hídricos, dado que a sua reduzida

espessura de alteração e pouca densidade de fracturação não lhes conferem permeabilidades

importantes.

As captações executadas nestes terrenos tem taxas de insucesso elevadas (50% ou superior)

e quase sempre caudais diminutos, normalmente inferiores a 10 m3/h. Em situações

estruturalmente favoráveis, associadas a falhas e fracturas com continuidade espacial e sem

preenchimentos de alteração, podem obter-se caudais superiores, com interesse para

abastecimento público e regadio.

Dados gerais, relativamente aos Pórfiros de Baleizão na área da ZOM indicam que a maioria

dos caudais se situa entre 2 e 3 L/s.

Relativamente ao balanço hídrico, considera-se uma recarga média anual na ordem de 10% da

precipitação média anual, que ronda os 525 mm/ano na região de Ferreira do Alentejo.

A fácies hidroquímica predominante é fundamentalmente bicarbonatada a cloretada mistas. A

nível dos catiões parece haver alguma tendência para águas mais magnesianas.

Relativamente à qualidade da água para consumo humano, verifica-se que, exceptuando casos

pontuais, as águas apresentam boa qualidade para abastecimento, embora alguns elementos,

como os nitratos possam ocasionalmente ultrapassar os valores paramétricos. São raros os

pontos em que o número de elementos que ultrapassam os valores paramétricos é superior a

3.

Verifica-se igualmente que a maioria das águas apresentam valores de Condutividade eléctrica

superiores a 400 µS/cm.

De acordo com a qualidade da água para fins agrícolas (USSLS), os solos podem ser

prejudicados quando irrigados, nomeadamente através de processos de salinização e

alcalinização, os quais representam basicamente um excesso de mineralização total e um

excesso de sódio nas águas.

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3.2.32

O risco de alcalinização é baixo e o risco de salinização é, em geral, médio, e agrava-se nos sub-sectores dos Pórfiros de Baleizão e do Complexo de Odivelas.

3.2.7.3 SECTOR NÃO PRODUTIVO DAS ROCHAS ÍGNEAS E METAMÓRFICAS DA ZSP8 Na área do Concelho de Ferreira do Alentejo, não estão representadas rochas da ZSP com interesse aquífero. As formações paleozóicas que ocorrem na parte SE do Concelho e no extremo Oeste, a Sul de Santa Margarida do Sado, não tem relevância como origem de abastecimento público, e, só em situações muito favoráveis ou de reduzidas necessidades, podem servir como abastecimento de pequenos montes isolados.

O Município de Ferreira do Alentejo não possui captações públicas nas formações paleozóicas da ZSP. Em termos hidrogeológicos, incluem-se no que se convencionou chamar de Sector Não Produtivo das Rochas Ígneas e Metamórficas da ZSP. As formações de idade paleozóica identificadas no Concelho de Ferreira do Alentejo e incluídas genericamente no Sector Não Produtivo das Rochas Ígneas e Metamórficas da ZSP são as seguintes:

− Formação de Santa Iria (xistos e grauvaques devónicos)

− Formação de Mértola (xistos e grauvaques do Grupo de Flysch do Baixo Alentejo, de idade carbónica)

− Complexo Vulcano-silicioso (xistos siliciosos e tufitos, xistos negros e xistos borra de vinho de idade carbónica)

− Formação filito-quartzítica (filitos, siltitos e quartzitos de idade devónica) O Sector Pouco Produtivo das Rochas Metamórficas da Zona Sul Portuguesa (ZSP) é definido por um conjunto muito vasto de litologias onde predominam as rochas xistóides e grauvacóides, parcialmente cobertas por depósitos de cobertura mais recentes. Para o Sector Pouco Produtivo das Rochas Ígneas e Metamórficas da Zona Sul Portuguesa (ZSP) considera-se uma recarga média anual na ordem de 5 % da precipitação anual, que ronda os 525 mm para o Concelho de Ferreira do Alentejo. 8 Adaptado do Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do Alentejo, realizado por EcoIntegral, Fevereiro de

2008.

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3.2.33

Dentro dos diversos tipos de aquíferos geralmente considerados, o termo aquífero fracturado é

o que corresponde melhor à realidade da Zona Sul Portuguesa, pois a circulação da água

processa-se fundamentalmente na zona de fracturas da rocha.

Rochas como os xistos argilosos comportam-se como praticamente impermeáveis, embora a

água tenha alguma capacidade de penetração, quer na superfície de alteração, quer nas zonas

mais fracturadas.

Os caudais de exploração são, na generalidade, inferiores a 1 L/s. Dada a grande extensão

deste Sector, por todo o Baixo Alentejo, ocorrem casos particulares onde se encontram caudais

bastante superiores a estes valores. Estes caudais mais elevados estão geralmente associados

à existência de fracturação com presença de quartzo e de grauvaque (especialmente de grão

mais grosseiro) sucedendo os caudais mais baixos em zonas onde a presença de xisto é muito

evidente, pois este apresenta tendência para colmatar as fracturas, através da argilificação das

mesmas.

Demonstra-se, estatisticamente, que os valores de electrocondutividade medidos nas águas

subterrâneas de toda a ZSP são elevados. Pelos resultados estatísticos verifica-se que a

maioria da amostras se situa entre 700 e 1200 µS/cm.

3.2.7.4 SISTEMA AQUÍFERO DA BACIA DE ALVALADE9

O Sistema Aquífero da Bacia de Alvalade ocupa a maior extensão dentro do Concelho de

Ferreira do Alentejo.

O Município de Ferreira do Alentejo possui 6 captações públicas no sector em questão,

integradas nos sistemas de abastecimento a Canhestros (AC2), Gasparões (TD2-Arroteia),

Aldeia de Ruins-Fortes-Olhas (AC3 e TD1) e Zorra (P1 e P2).

O suporte deste sistema aquífero consiste em duas formações terciárias: Formação de Vale do

Guiso, de idade paleogénica e Formação de Esbarrondadoiro, do Miocénico.

9 Adaptado do Estudo Hidrogeológico do Concelho de Ferreira do Alentejo, realizado por EcoIntegral, Fevereiro de

2008.

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3.2.34

As litologias presentes são constituídas por conglomerados, margas, calcários gresosos com

seixos, calcários margosos, argilas, arenitos e areias, em níveis alternantes. O substrato da

bacia é constituído por xistos paleozóicos do complexo vulcano-silicioso detectados a dezenas

de metros de profundidade por sondagens de pesquisa hidrogeológica.

Em termos hidrogeológicos as formações acima descritas definem um sistema aquífero poroso

complexo, multiaquífero ou multicamada, em que os níveis aquíferos podem ser livres,

confinados ou semiconfinados.

Dado o ambiente de sedimentação em que se depositaram as formações aquíferas, o sistema

é muito heterogénio, tanto no que se refere à espessura como no que se refere às

propriedades hidraúlicas. Conhecem-se casos de artesianismo repuxante por ocasião da

construção de algumas captações.

Na formação do Esbarrondadoiro as maiores produtividades ocorrem na dependência dos

níveis de grés grosseiro e cascalheiras limitadas na base e/ou no topo por níveis impermeáveis

argilosos e/ou margosos.

Em termos gerais, os caudais mais frequentes situam-se nos 5 L/s, com caudais de ponta que

atingem os 15 L/s.

Os parâmetros hidráulicos obtidos em ensaios de bombagem em 2 captações em Figueira de

Cavaleiros indicam transmissividades entre 26 e 120 m2/dia e condutividade hidraúlica entre 1 e

5 m/dia. O rendimento das captações, definido pelo caudal específico é normalmente inferior a

1 L/s.m.

Em conclusão, podemos afirmar que estamos em presença de um aquífero livre a confinado

com elevada permeabilidade horizontal, directamente relacionada com a continuidade espacial

dos níveis aquíferos e uma permeabilidade vertical variável dependendo da sucessão de leitos

menos permeáveis de natureza argilosa.

Assim podemos definir duas situações com características hidrogeológicas distintas:

− um aquífero livre, sub-superficial captado maioritariamente por poços de pequena

profundidade, limitado na base por camadas impermeáveis. Tem apenas interesse local e é

extremamente vulnerável à contaminação química e bacteriológica, pela reduzida

profundidade do nível freático;

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3.2.35

− aquíferos confinados e/ou semiconfinados captados a diferentes profundidades por meio de

furos, constituindo os aquíferos com interesse regional para abastecimento público. Estes

sistemas são menos vulneráveis à contaminação agrícola com origem na superfície.

quadro 3.2.8: Aquífero de Alvalade: Ficha Resumo BACIA DE ALVALADE (T6)

Identificação

Bacias Hidrográficas

Sado

Concelhos Aljustrel, Ferreira do Alentejo, Odemira, Ourique, Santiago do Cacém

Área 702 km²

CCDR Alentejo

Hidrogeologia

Formações Aquíferas Dominantes

Formação de Vale do Guiso (Paleogénico); Formação de Esbarrondadoiro (Miocénico)

Litologias Dominantes

Formação de Vale do Guiso: conglomerados com elementos angulosos, argilas, margas, calcários gresosos, arenitos argilosos, com uma espessura que pode ir até 90 m; Formação de Esbarrondadoiro: arenitos mais ou menos argilosos, argilitos, cascalheiras, bancadas calcárias muito fossilíferas, com uma espessura conhecida que não ultrapassa os 80 m

Características Gerais

Sistema multiaquífero, complexo, com aquíferos multicamada, que podem ser livres, confinados ou semiconfinados

Produtividade (l/s) Mediana=4,9

Parâmetros Hidráulicos

Não se dispõe de informação

Funcionamneto Hidráulico

Como existe uma grande variação de fácies, este aspecto reflecte-se na grande heterogeneidade hidrogeológica, o que faz com que o insucesso das captações de água subterrânea seja muito grande. Nalgumas regiões pode existir conexão hidráulica entre as várias camadas

Piezometria / Direcções de Fluxo

Uma campanha realizada em Julho de 1999, mostra que em 28 pontos de água, o nível oscila entre 45 e 88 metros, não havendo qualquer tendência de distribuição

Balanço Hídrico Entradas conhecidas=40 hm³/ano

Fácies Química Cloretada e bicarbonatada sódica e mista

Fonte: ficha T6, recolhida no site do INAG

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3.2.36

A recarga do aquífero livre miocénico deverá situar-se entre 20 a 40% da precipitação média

anual (525 mm) e para os aquíferos semi-confinados e confinados mais profundos será na

ordem dos 10%, a partir da drenância das camadas superiores.

As águas deste sistema tem fraca qualidade para abastecimento e regadio devido à

mineralização excessiva, que é resultado principalmente de elevados teores de cloreto, sódio,

cálcio e magnésio. A maioria das origens excede os 1000 µS/cm de Condutividade eléctrica.

As fácies hidroquímicas dominantes são, portanto, as cloretadas sódicas e cloretadas

magnesianas e por vezes também ocorrem águas bicarbonatadas sódicas

3.2.7.5 CARTA DOS RECURSOS AQUÍFEROS SUBTERRÂNEOS

A caracterização dos recursos hídricos subterrâneos é acompanhada pela Planta 3.2.4 que

transpõe a Carta de Recursos Hídricos Subterrâneos do Atlas do Ambiente Digital do instituto

do Ambiente.

De acordo com o texto explicativo que a acmpanha, esta “carta constitui uma primeira

aproximação para quantificar os recursos hídricos subterrâneos, justificada pelo facto de não

existirem elementos concretos relativos ao balanço hídrico das diferentes bacias hidrogeológicas,

só possíveis de obter através de estudos morosos, recentemente iniciados.

Poderá ser útil na obtenção de estimativas do volume anual máximo de água extraível sem risco

de esgotamento das chamadas reservas geológicas, situação que, se se viesse a concretizar,

poderia comprometer seriamente vários empreendimentos, mormente durante a época estival.

Facilitará, também, a escolha das regiões mais aconselháveis para implantação de novos

projectos, devendo para o efeito ser considerada, igualmente, a extracção total já processada na

respectiva bacia hidrogeológica.

Contribuirá, ainda, em face do conhecimento da extracção realizada em qualquer bacia

hidrogeológica, para revelar a conveniência ou necessidade de prever, a médio ou a longo

prazo, o reforço dos abastecimentos a partir de água de superfície ou de água subterrânea

proveniente de outras bacias ou até mesmo a realimentação artificial dos aquíferos explorados.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.37

Reveste-se, portanto, esta carta de um interesse muito particular na concretização e valorização

do ambiente, sobretudo no que respeita ao abastecimento e bem-estar das populações e à

concepção e execução dos planos de desenvolvimento urbano, industrial, agrícola e turístico do

nosso território”.

Fig. 3.2.15 – produtividade dos recursos hídricos subterrâneos de Ferreira do Alentejo

Fonte: Atlas do Ambiente Digital, Instituto do Ambiente

Esta Carta espacializa a produtividade média das formações aquíferas subterrâneas, calculado

para as diversas formações geológicas, dividindo o território nacional em sete grupos de

produtividade, estando presentes em Ferreira do Alentejo

− 1 - Produtividade média de 50 mVkm2 dia. Esta região, a de permeabilidade mais

pequena, engloba cerca de três quartas partes do território, no Maciço Hespérico.

No Sul, ocorrem frequentemente quatro ou cinco meses sem chuvas, enquanto no Norte tal

período se reduz a dois ou três. e a temperatura média diária oscila entre 6 e 26°C no Sul,

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.38

− 2 - Produtividade média de 100 mVkm2 dia. Abrange quatro regiões, interessando a que

abranger Grândola, Alcácer do Sal, Ferreira do Alentejo, Aljustrel e norte de Ourique

constituída por grés e areias com percentagem variável de argila, que formam os

prolongamentos da Bacia Terciária do Tejo.

A precipitação média anual varia entre 600 e 1000 mm c a temperatura média diária ao

longo do ano, entre 9 e 21°C.

− 4 - Produtividade média de 250 mVkm2 dia. Região que ocupa parte do distrito de Beja,

limitada por Alvito, Cuba, Serpa, Beja e Ferreira do Alentejo e formada pelo complexo

eruptivo máfico e ultramáfico, permeável através de fendas, sobretudo na zona de

alteração, que vai até à profundidade de 30 a 40m.

A precipitação média anual é de 600mm e a temperatura média diária varia entre 9 e

24°C.

3.2.8 HIDROGRAFIA

Quanto à hidrografia, o Concelho situa-se na Bacia Hidrográfica do Rio Sado, sendo

atravessado por diversas ribeiras afluentes deste Rio.

Do ponto de vista hidrográfico, o Município de Ferreira do Alentejo tem distribuído por toda a

sua área importantes cursos de água, destacando-se ao longo da fronteira com o Município de

Grândola o Rio Sado, a Norte o Barranco do Ribeiro Seco e a Ribeira de Odivelas, a Sudoeste

a Ribeira da Figueira, a partir da qual divergem as Ribeiras de Alfundão, de Canhestros, da

Fontana, dos Patos, de Vale de Águia, o Ribeiro do Vale de Ouro e o Barranco de Penique.

Para além dos cursos de água referidos, destaca-se, pela sua importância, a Barragem de

Odivelas a Norte do Município.

2.2.4.1 SISTEMA HIDROGRÁFICO

Quanto à hidrografia, o Concelho situa-se na Bacia Hidrográfica do Rio Sado, sendo

atravessado por diversas ribeiras afluentes deste Rio.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.39

Citando o PBH do Rio Sado, que constitui um dos instrumentos de referência estratégica do

PDM, refere-se que este rio “nasce na serra da Vigia, a 230 m de altitude, e desenvolve-se ao

longo de 180 km até à foz, no oceano Atlântico, junto a Setúbal. Num primeiro troço, entre a

nascente e a confluência com a ribeira de Odivelas, o rio corre na direcção sul-norte, flectindo

depois para noroeste, direcção que segue até à sua foz.

O Sado pode ser considerado como exemplo de um rio de planície, uma vez que, mais de

metade do seu percurso (95 km) se situa abaixo dos 50 m de altitude. O declive médio do rio é

de 1,5°/oo.

O perfil longitudinal do rio apresenta dois troços distintos -. O troço de montante, com cerca de

100 km de comprimento, apresenta um declive bastante mais acentuado que o troço de

jusante, onde se verifica um alargamento do rio, formando a partir da confluência com a ribeira

de S. Martinho um complexo estuário com cerca de 100 km2de área”.

Ainda citando o PBH RS, “tendo em vista a análise e apresentação de dados para locais

estratégicos das linhas de água, a bacia hidrográfica do rio Sado foi estruturada em quatro

zonas admitidas como áreas homogéneas na bacia do Sado, tendo por base a delimitação

das bacias hidrográficas e as características geológicas, hidrogeológicas,

geomorfológicas e ambientais, das quais duas abrangem o Concelho de Ferreira:

− Zona B, correspondente à área da bacia do Sado a sul da zona A e até às bacias

hidrográficas das ribeiras de Odivelas e de Grândola;

− Zona C, correspondente à restante área da bacia do Sado a sul das bacias

hidrográficas das ribeiras de Corona e da Figueira;

Seguindo estes princípios, foram estabelecidas 38 sub-bacias sendo que o Concelho de Ferreira do Alentejo é abrangido pelas sub-bacias do Rio Sado, a Poente e da Ribeira de Odivelas, a Norte, ambas na Zona Homogénea B, e das Ribeiras de Figueira e de Canhestros, em toda a sua extensão Sul (pode-se considerar ainda uma estreita faixa, na sua fronteira Sul, abrangida pela bacia da Ribeira do Roxo), na Zona C (fig. Fig. 3.2.16)

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.40

Fig. 3.2.16 Sub-bacias hidrográficas em Ferreira do Alentejo

fonte: PBH Rio Sado

Destas sub-bacias, a mais complexa é a da Ribeira de Figueira, onde é possível determinar

bacias de 3º nível das Ribeiras de canhestros e do Vale de Ouro.

O Sistema hídrico é constituído por diversas ribeiras, afluentes das referidas atrás, muitas com

um regime irregular de águas, consequência das características climatológicas do Concelho, o

que não obsta constituírem importantes sistemas ecológicos estruturantes da paisagem e

contributivos para a irrigação dos campos, através da construção de inúmeras represas

privadas e de barragens públicas que abastecem os três perímetros de rega existentes no

Concelho (Odivelas, Alqueva e Roxo).

Para compreensão do sistema hidríco do concelho, elaborou-se a Planta de Acompanhamento

3.2.5a, Cursos de Água e Bacias, onde se identificam as principais ribeiras com a classificação

decimal do INAG:

No quadro seguinte, identificam-se as principais ribeiras e as respectivas extensões no

Concelho, onde ressalta, como particularidade característica dos cursos de água no Alentejo, a

adopção de diversas designações em função do local de atravessamento do troço a que se

refere.

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REVISÃO DO PDM 3. CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE FERREIRA DO ALENTEJO 3.2 COMPONENTES GEOFÍSICAS

3.2.41

quadro 3.2.8: principais cursos de água do Concelho

CLASSIFICAÇÃO DECIMAL DESIGNAÇÃO

COMPRIMENTO NO CONCELHO (M)

622680501 BARRANCO DA CHAMINE 16336,0622540601 BARRANCO DO RIO SECO 13097,8 BARRANCO DO RIO SECO OU DO CARPETAL 10588,286226805 RIBEIRA DE CANHESTROS OU DO PACO 25135,1862254 RIBEIRA DE ODIVELAS OU ORIOLA OU ALVITO 13147,46227008 RIBEIRA DE VALE DE AGUA OU DO PERO BONITO 6769,36226817 RIBEIRA DO PISAO OU DO ALAMO 2854,362268 RIBEIRA DO PORTO DE MOUROS OU DA FIGUEIRA 38160,66226807 RIBEIRA DO VALE DE OURO 18631,1622 RIO SADO 5568,6

Fonte: INAG, Atlas da Água

A planta de acompanhamento 3.2.5b constitui uma primeira aproximação à Carta de Risco de

Cheia, com delimitação das áreas inundáveis ainda baseadas na no cartografamento do PDM

em vigor, embora aferido pela PERCURSO.

Um aspecto ressalta desta Carta – as margens muito planas das Ribeiras, como as de Figueira

e de Canhestros, são propícias ao alagamento de vastas áreas marginais.