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152 3.1.4 O MONTE Lugar símbolo do encontro de céu e terra, da ascensão humana e da teofania. 39 Todos os povos, assim como também muitas cidades têm seus montes sagrados. Na Bíblia, várias são as cenas narradas que acontecem em uma montanha. Elas não são apenas elevações de terra e rochas, mas são representadas como monte da aliança com Deus, a exemplo do Sinai (Ex. 19. 1,14), Carmelo (Rs. 18.20,21) e das Oliveiras (Lc. 22.39,40). Na representação em estudo, o monte sobre o qual está assentado a figura do Menino Jesus é elaborado em estrutura piramidal, com base larga e redonda, dando o suporte necessário à distribuição dos objetos no cenário de forma harmônica e equilibrada, lembrando os montes escarpados das imagens do Bom Pastor em marfim. 39 Conceito de cunho teológico que significa a manifestação de Deus em alguma coisa. É uma revelação ou manifestação sensível da glória de Deus, ou através de um anjo, ou através de fenômenos impressionantes da natureza. (Fig. 126) Detalhe de monte de uma imagem do Bom Pastor em marfim Séc. XVII Museu de Arte Sacra da UFBA Fotografia da autora (Fig. 125) Desenho de estrutura piramidal de um dos montes produzido no Recolhimento dos Humildes, com a disposição dos objetos. Desenho da autora

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3.1.4 O MONTE

Lugar símbolo do encontro de céu e terra, da ascensão humana e da

teofania.39 Todos os povos, assim como também muitas cidades têm seus

montes sagrados. Na Bíblia, várias são as cenas narradas que acontecem em

uma montanha. Elas não são apenas elevações de terra e rochas, mas são

representadas como monte da aliança com Deus, a exemplo do Sinai (Ex. 19.

1,14), Carmelo (Rs. 18.20,21) e das Oliveiras (Lc. 22.39,40).

Na representação em estudo, o monte sobre o qual está assentado a

figura do Menino Jesus é elaborado em estrutura piramidal, com base larga e

redonda, dando o suporte necessário à distribuição dos objetos no cenário de

forma harmônica e equilibrada, lembrando os montes escarpados das imagens

do Bom Pastor em marfim.

39 Conceito de cunho teológico que significa a manifestação de Deus em alguma coisa. É uma revelação ou manifestação sensível da glória de Deus, ou através de um anjo, ou através de fenômenos impressionantes da natureza.

(Fig. 126) Detalhe de monte de uma imagem do Bom Pastor em marfim Séc. XVII Museu de Arte Sacra da UFBA Fotografia da autora

(Fig. 125) Desenho de estrutura piramidal de um dos montes produzido no Recolhimento dos Humildes, com a disposição dos objetos. Desenho da autora

153

Esculpidos em madeira de casca de cajá, seguem o mesmo modelo

indo-português, que lembra uma montanha, tendo ao centro uma gruta com

espelho d’água e animais. Difere apenas por não existir, no monte dos

Humildes, a figura de Madalena no interior da gruta que, no caso da imagem

baiana, representa o local do nascimento de Cristo. A gruta aparece em

representações da Igreja Oriental do nascimento de Cristo, pois era comum na

Palestina utilizar esse espaço como estábulo.

A casca de cajazeira foi muito utilizada por artistas para a produção de

esculturas em tamanho reduzido, como no caso de Erotides Américo D’Araújo

Lopes, citado por Manoel Querino como o “especialista em miniaturas”, todas

feitas com esse material.40

Identificamos três tipos de montes executados de formas diferentes. No

primeiro modelo, bastante estilizado, o trabalho escultórico é mais elaborado

apresentando curvas escavadas com traços bem definidos e uma cavidade

central profunda, servindo como espaço adaptado para a elaboração do lago.

Além disso, destaca-se o processo de douramento com excelente qualidade

técnica envolvendo várias etapas (fig. 127)

Sobre o suporte entalhado o artista aplicava a base de preparação com

gesso e cola animal. Essa base, segundo Guanais41, era aplicada em

camadas. As primeiras, mais espessas, deveriam cobrir as eventuais falhas na madeira; as seguintes, mais diluídas, eram passadas a pincel observando se a camada anterior estava totalmente seca. Após a aplicação destas camadas, aguardava-se a secagem completa, pois a menor umidade poderia provocar a descamação do ouro e da pintura.

Concluindo a primeira etapa de preparação e após o lixamento desta,

aplicava-se o bolo armênio42, tornando a superfície bem lisa e com maior

aderência para a etapa seguinte, que consistia na fixação das folhas de ouro

ou prata. “Quanto mais lisa e macia a camada de bolo, mais aderida, lisa e

40 QUERINO, Manoel Raymundo, Op. Cit. p.32 41 GUANAIS, Cláudia, Descrição da técnica e análise formal da policromia na imaginária baiana, Revista Ohun, ano 3, n.3, 2007, p. 44 Fonte: http://www.revistaohun.ufba.br/PDFs/artigo2.pdf Acesso em: 11/04/10 42 Mistura de argila com cola animal

154

brilhante ficava a folha metálica.”43 A coloração esverdeada, conseguida

através da aplicação de laca44, reproduz as tonalidades do rochedo, dos limos

e da vegetação em verde musgo e tons de cinza.

No segundo modelo, a estrutura do monte é executada também em um

único bloco que apresenta forma mais próxima a uma elevação de terra, tendo

ao centro um espaço mais alargado para a composição do lago. As curvas são

sinuosas e de superfície lisa, evidenciando um traço escultórico mais

simplificado que o primeiro modelo. Neste caso também há o processo de

douramento e aplicação de laca (fig. 128)

43 COELHO, Beatriz, Materiais, técnicas e conservação, In: Devoção e Arte: Imaginária Religiosa em Minas Gerais, EDUSP, 2005, p. 239 44 Verniz natural muito utilizado no acabamento da madeira

(Fig. 128) Monte - segundo modelo Coleção particular Fotografia da autora

(Fig. 127) Detalhe do monte - primeiro modelo (frente/verso) Fotografia da autora

155

Analisaremos o terceiro monte de forma mais detalhada. Tem como

característica um aspecto mais naturalista, assemelhando-se a escarpa de

vegetação abundante45. Sua manufatura se desenvolve através da junção de

pequenos pedaços de madeira (fig. 129), servindo como suporte para a etapa

seguinte, que consiste na modelagem com pó de serra e cola. Este é também o

momento da aplicação do espelho na cavidade central ou “interior da gruta”,

assemelhando-se a pequeno lago que, posteriormente, poderá ser decorado

com animais (fig.130).

45 Este monte foi elaborado pelo restaurador Cláudio Lemos

(fig. 129) Primeira etapa: distribuição das madeiras, dando forma ao monte Fotografia: Cláudio Lemos

(fig. 130 ) Segunda etapa: preenchimento e modelagem do monte com pó de serra e cola; aplicação de lâmina de vidro. Fotografia: Cláudio Lemos

156

Após o processo de preenchimento e modelagem, aplica-se camada de

gesso como acabamento para, em seguida, realizar procedimento de pintura

do objeto, neste caso, sem douramento (fig. 131)

Finalmente, inclui-se a figura do Menino Jesus sobre o monte e este é

decorado com vários objetos em miniatura.

(fig. 131) Terceira etapa: acabamento com gesso e pintura Fotografia: Cláudio Lemos

(fig. 132) Monte já decorado Fotografia: Cláudio Lemos

157

Objetos dos mais variados materiais eram utilizados para compor o

monte, com figuras dispostas de forma a ocupar todo o espaço, constituindo

um equilibrado jogo de volumes. São elementos que fazem parte de um vasto

repertório simbólico, correspondendo não apenas a linguagem plástica cristã,

como também aqueles ligados a religiosidade popular, frutos de adaptações

sincréticas. Alguns exemplares chegam a atingir o exagero decorativo, com

profusão de personagens posicionando-se em toda cenografia do

espaço/monte.

A grande quantidade de elementos em cada imagem dificultou a

classificação dos mesmos, entretanto, elaboramos um demonstrativo onde

destacamos as figuras que são encontradas com maior freqüência,

confeccionadas em vidro, papel, porcelana, pedra-sabão, madeira, metal,

madeira, dentre outros.

São estes:

ovelhas;

jarros;

taças;

cálices;

xícaras e pires;

flores de papel dourado na base;

miçangas coloridas

penas coloridas (rosa, verde, amarelo, vermelho);

conchas;

animais (cavalo, pássaro, cachorro, carneiro, coelho, ganso,

cisne, galo);

diversos bonecos (figuras femininas e masculinas);

borboleta; laços;

correntes douradas (enroladas nos montes, nos anjos ou no bloco

de nuvens);

miçangas e pingentes coloridos;

moedas e medalhas;

anjos com instrumentos musicais

158

3.1.4.1. FLORES

Assim como na ornamentação que circunda o Menino, aparecem

também em grande quantidade na decoração dos montes, sendo muito comum

encontrá-las cercando toda a base (fig. 133). Das quinze imagens analisadas,

oito apresentam esse modelo ornamental. Além da base, encontram-se

também espalhadas, soltas ou em pequeninos jarros de vidro, confeccionadas

em papel, seda, penas de animais ou flores secas (figs. 134/135)

(Fig. 133) Detalhe – flores e pequenas contas coloridas ao redor do monte Fotografia da autora

(fig.134) Detalhe das flores nos jarros em miniatura Fotografias: Cláudia Guanais (esquerda) e Edjane Silva (direita)

159

3.1.4.2 OVELHAS

De todos os animais utilizados na decoração a ovelha se destaca,

estando presente na maioria dos montes analisados. Na iconografia cristã pode

significar o próprio Cristo que foi sacrificado por Deus em lugar do homem,

entretanto, no contexto simbólico da representação em estudo, representa o

rebanho ou almas sendo guiadas por Jesus, seguindo os modelos da arte

cristã primitiva (fig. 136).

Assim como as ovelhas que figuram no mosaico, as que compõem as

representações do Menino Jesus estão, na maioria das vezes, observando

atentas ao seu pastor, espalhadas por todo o monte. São esculpidas em

madeira de casca de cajá ou pedra sabão e algumas apresentam tratamento

em esgrafiado do tipo tracejado.46 (fig. 137)

46 Depois que é aplicada a folha de ouro a superfície é pintada e, quando a tinta estiver seca, remove-se partes desta com ferramenta de ponta fina, elaborando desenhos de formas e dimensões variadas, deixando aparecer o douramento. As formas mais encontradas são: tracejado, caminho sem fim, rendas e traços circulares.

(fig.135) Monte do Menino Jesus Fotografia: Cláudia Guanais

160

.

(fig. 136) O Bom Pastor, mausoléu de Gala Placidiana, Ravena Fonte: http://apologetica.ning.com/forum/topics/arte-na-igreja-os-primeiros, acesso em 19/04/2010

(fig. 137) Detalhe de ovelhas no monte Fotografia da autora

161

3.1.4.3 AVES

As aves aparecem pela primeira vez na arte cristã em imagens das

catacumbas de S. Domitila, Roma e, posteriormente, em inúmeros afrescos,

pinturas, relevos e mosaicos.47 Em diversas representações cristãs é muito

comum aparecer a figura da pomba como símbolo do Espírito Santo e como

mensageira da vontade divina.

Além de decorar a ornamentação que envolve o Menino Jesus, pássaros

encontram-se espalhados por todo o monte, confeccionados em murano,

porcelana ou penas de animais, muitos de tamanho bastante reduzido. Para

dar mais leveza e movimento, alguns são presos a pequenas molas. Este é um

recurso interessante que dá aos delicados objetos um efeito bastante gracioso

de movimentação ao menor toque. Os maiores apresentam delicado trabalho

de pintura (Figs. 138/139/140/141)

47 HEINZ-MOHR, Gerd, Op. Cit. p. 45

(Fig. 138)Detalhe da decoração de aves nos montes, presos com pequenas molas Fotografia da autora

162

(Fig. 139)Detalhe da decoração de aves nos montes, presos com pequenas molas Fotografiada autora (esq.) / Cláudia Guanais (dir.)

(Fig. 140) Pequeno pássaro colorido, confeccionado com penas Fotografia: Cláudia Guanais

163

3.1.4.4 OUTROS ANIMAIS

Coelhos, felinos, cães, veados, cavalos, dentre outros, espalham-se

pelos montes, reforçando a simbologia do reino de paz que, na arte cristã,

sempre esteve associada à representação de um ambiente belo e de

integração entre fauna e flora, lugar esperado para a redenção de todos os

cristãos (fig. 142).

Além de referências no Antigo Testamento (AT) encontramos, nos textos

bíblicos, outras citações acerca dos animais, como no Salmo 50, que descreve

em um trecho: “[...] pois são minhas todas as feras da selva, e os animais nas

montanhas, aos milhares; conheço as aves todas do céu, e os rebanhos do

campo me pertencem.”48

48 Bíblia de Jerusalém

(Fig. 141)Aves em miniatura espalhadas pelo monte e no lago Fotografia da autora

164

(Fig. 142) Diversos animais em miniatura espalhados pelo monte Fotografia da autora e Cláudia Guanais (borboleta)

165

3.1.4.5 CONCHAS

Muito utilizada em túmulos como representação de que um dia o homem

ressuscitará, na arte cristã surgem raramente. A imaginação de história natural

que se fazia a Idade Média, pensando que os caracóis eram fertilizados pela

queda do orvalho fez das conchas, símbolos da virgindade de Maria. Boticelli e

Ticiano, seguindo este motivo, usaram posteriormente o símbolo da concha na

representação do Nascimento de Vênus, pois partilha do significado simbólico

da água que representa a fertilidade.49

Podem aparecer em ornamentações de presépios portugueses, também

relacionados aos trabalhos conventuais femininos, a exemplo do Presépio do

Museu de Évora, em Portugal (fig.143/144). Os materiais marinhos, no interior

da maquineta, compõem o cenário da Natividade que figura em um espaço

característico de arquitetura palaciana.

49 HEINZ-MOHR, Gerd, Op. Cit. p.105

(Figs 143) Presépio Séc. XVIII Fonte:http://museudevora.imc-ip.pt/Data/Documents/Cenaculo3/B3PresepioEstudo2008Final.pdf

(Fig. 144) Detalhe do interior do presépio com decoração em conchas

166

Nos montes as conchas criam jogos cromáticos de tonalidades rosa,

branco e nacarado, contrastando com os tons verde e dourado da superfície

(Fig. 145). Encontradas em moluscos bivalves, animais que apresentam duas

valvas (conchas), estão espalhadas por todo litoral brasileiro, com formatos e

cores variadas50.

50 ABSALÃO, Ricardi, CAETANO, Carlos, PIMENTA, Alexandre, Novas ocorrências de gastrópodes e bivalves marinhos no Brasil (Mollusca) In: Revista Brasileira de Zoologia Vol. 20, n.02, 2003, Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81752003000200024 Acesso em 10/04/10

(Fig. 145) Detalhes das conchas espalhadas pelos montes Fotografia: Sérgio Benutti

167

3.1.4.6 REPRESENTAÇÕES DE FIGURAS HUMANAS

Compondo a paisagem naturalista, personagens isolados aparecem

sendo comum a figura de um jovem, posicionado à direita ou à frente do monte,

representando um pastor de ovelhas (fig. 146/147). Pequenos bibelôs também

são acrescentados, incluindo bonecas de porcelana (fig. 148).

(Fig. 146) Detalhe - Figura do pastor e bibelôs no monte Fotografia: Sérgio Benutti

(Fig. 147) Detalhe – Personagens que compõem o monte Fotografia da autora

168

3.1.4.7 CORRENTES, MOEDAS, MEDALHAS E PINGENTES

Moedas presas a correntes também servem como elemento decorativo.

O exemplar identificado em algumas imagens é uma réplica de moeda do

Brasil Império, datada de 1827, tendo no reverso a inscrição em latim In hoc

signus vinces (Com este sinal vencerás) (fig.149/150).

A tradição cristã diz ser esta a mensagem que Constantino viu no céu,

enquanto rezava, antes de entrar em combate. Após isso, o Imperador teria

mandado pintar o sinal nos escudos dos soldados, vencendo a batalha. Em

outra versão conta-se que a visão de Constantino ocorreu durante um sonho,

resolvendo, desde então, cunhar moedas com a inscrição como forma de

lembrar o fato. O modelo “constantiniano” foi copiado mais tarde por outros

governantes como D. Manoel, o Venturoso, de Portugal, D. Pedro I e D. Pedro

II, do Brasil. 51

Presentes também nas pencas de balangandãs usadas pelas escravas,

esses objetos serviam como elemento mágico para atrair riqueza. É provável 51 CARLAN, Claudio Umpierre, O Museu Histórico Nacional e as Moedas de Constantino I, História Revista, Goiânia. V. 12, n. 2 p. 187-185, jul/dez 2007 Fonte: http://www.revistas.ufg.br/index.php/historia/article/viewFile/5467/4449

(Fig. 148) Detalhe de bonecas de porcelanas Fotografia: Cláudia Guanias

169

que sua utilização, nas imagens analisadas, também tenha essa mesma

função simbólica.

Em forma de medalha vazada o hexagrama, também conhecido como

“estrela de Davi”, simboliza a união do fogo, água, ar e terra. É também o

emblema nacional do Estado de Israel e elemento muito utilizado pelos

esotéricos. Neste exemplar, as medalhas estão penduradas em correntes, que

também sustentam pingentes em formas de gotas ou de bolas, com cores

variadas (fig. 151).

(Fig. 150)Réplica encontrada na decoração do Menino Jesus do Monte Fotografia da autora

(Fig. 149)Reverso da moeda original do Império Brasileiro - 1827 Fonte:http://www.dplnumismatica.com.br/ cbimperio.html

(Fig. 151) Detalhe – Corrente com medalhas e pingentes Fotografia da autora

170

3.1.4.8 A FLOR QUE BROTA DO MONTE Uma flor brotando do monte aparece em doze das quinze imagens

analisadas. Dez apresentam o mesmo padrão escultórico e trabalho de pintura

em esgrafiado tracejado, sendo a maioria na tonalidade rosa, mas também

aparece em vermelho. Na base da flor, as folhagens são pintadas em tons de

verde (fig 152).

Em um exemplar, a flor esculpida é conhecida como “flor de lótus”,

característica da iconografia hindu, revelando a influência da imaginária sacra

católica produzida na Índia. No contexto simbólico da religião hindu, Brahma e

Buda são geralmente representados sobre uma flor de lótus ou emergindo dela

simbolizando elevação do espírito, da luz, da meditação, da pureza e

imortalidade (fig. 153).

Essa característica ornamental aproxima-se muito das composições

artísticas da Árvore de Jessé, tema ligado à genealogia de Cristo e de sua

(fig 152)Detalhe da flor brotando do monte Fotografia da autora

(fig.153)Flor de lótus em um dos montes Fotografia: Sérgio Benutti

171

descendência “davídica”52. Está ligada a profecia de Isaías, que define

determinados traços do Messias, conferindo-lhe virtudes de seus

antepassados. O texto profético diz: “Um ramo sairá do tronco de Jessé, um

rebento brotará de suas raízes.”Is 11.153

Um dos retábulos da Igreja de São Francisco, no Porto, possui

primoroso trabalho de talha representando essa temática. A imagem de Jessé

dormindo encontra-se na parte inferior da composição, da qual sai uma árvore

com treze flores, de onde brotam os doze reis da sua descendência

(Fig.154/155). No topo, a figura de José segurando cajado lírio, atributo

simbólico representativo de sua união virginal com Maria, cuja imagem

encontra-se no camarim do retábulo, na parte superior, segurando o Menino

Jesus nos braços.

52 Jessé, Pai de Davi, considerado antepassado de todos os reis de Judá e do próprio Messias, representante terreno da santidade de Iahweh. 53 Bíblia de Jerusalém

(Fig. 154)Altar e retábulo da Árvore de Jessé Séc. XVIII Igreja Monumental de São Francisco - Porto Postal

(Fig. 155)Detalhe - Um dos descendentes de Jessé está sobre um ramo com grande flor.

172

3.1.5 BLOCO DE NUVENS Em dez imagens do Menino Jesus surge, sobre a flor, bloco de nuvens

possuindo semelhante trabalho de policromia, com pequenas diferenças.

Suaves tons de amarelo, rosa e azul são encontrados na maioria e, em todos,

há tratamento em esgrafiado, do tipo tracejado (fig.156). Pequenas flores e

estrelas pintadas decoram alguns desses blocos (Fig.157).

Á frente de nove dos dez blocos de nuvens, anjos aparecem tocando

instrumentos musicais. Figuras angelicais simbolizam, nas cenas da natividade,

o ato de adorar e louvar a Deus, servindo de mensageiros e portadores da

revelação divina. “No decorrer da Idade Média enriquece-se sua ornamentação: anjo do lírio na Anunciação de Maria; ramo de palmeira como sinal da vitória, instrumentos musicais e turíbulos para o louvor de Deus, espadas flamejantes para combater o mal, instrumentos da paixão para aludir à Paixão de Cristo...”54

Estão presentes em algumas representações de Maria com o Menino

Jesus, como na pintura A Virgem no caramanchão de rosas (fig. 158), datado

de cerca de 1440. A Virgem encontra-se rodeada de pequenos anjos com

54 HEINZ-MOHR, Gerd, Op. Cit., p. 23

(Fig. 156)Detalhe – Bloco de nuvens de imagem do Menino Jesus do Monte Fotografia da autora

(Fig. 157) )Detalhe – Bloco de nuvens de imagem do Menino Jesus do Monte Fotografia da autora

173

instrumentos musicais que tocam música e de outros, que espalham flores ou

oferecem frutos ao Menino Jesus.

Nas mãos dos anjos músicos que compõem a representação do Menino

Jesus do Monte os instrumentos que mais aparecem são o violino, trombone,

trompete, violoncelo e flauta (Fig.159). Estão geralmente à frente da nuvem,

mas pode haver variações.

Encontramos, em uma das imagens, os anjos espalhados sobre o

monte, sendo possível que essa forma de apresentação aconteça pelo simples

fato de ter-se perdido o bloco de nuvens da imagem. Em outra, dois anjos

segurando uma flor ladeiam um coração com a figura do Divino Espírito Santo

à frente (Fig.160/161).

(Fig..158) A Virgem no caramanchão de rosas / c. de 1440 - Stefan Lochner Fonte: GOMBRICH, E.H.., A história da Arte, p. 272

174

Figuras angelicais oferecendo o Sagrado Coração ao Menino são

encontradas em duas das imagens analisadas. Na primeira o anjo está

centralizado, posicionado à frente do bloco de nuvens, segurando o coração

com a mão esquerda (fig.162). Na outra, dois anjos ajoelham-se, ladeando a

figura do Menino Jesus e um deles segura um coração flamejante (fig.

163/164).

(Fig..159) Detalhe de anjos a frente do bloco de nuvens Fotografia: Sérgio Benutti

(Fig.160) Detalhe dos anjos espalhados sobre o monte. Fotografia: Sérgio Benutti

(Fig..161) Detalhe de anjos nas laterais do coração Fotografia: Sérgio Benutti

175

(Figs..162) Detalhe dos anjos no bloco de nuvens e um, centralizado, oferecendo o coração ao Menino Fotografia: Cláudia Guanais

(Figs..163) Detalhe do Menino Jesus do Menino Jesus do Monte Fotografia: Francisco Portugal

(Figs..164) Detalhe de um dos anjos oferecendo Sagrado Coração ao Menino Fotografia: Francisco Portugal

176

Destacamos que esta particularidade também foi identificada em uma

imagem de Nossa Senhora dos Anjos (fig. 165), atribuída por Manoel Querino

ao escultor Domingos Pereira Baião55. Assim como na figura apresentada

anteriormente, um anjo posicionado à frente do bloco de nuvens, sobre o qual

está a Virgem, oferece-a o Sagrado Coração.(fig. 166)

Segundo Querino, esta imagem foi encomendada ao artista pelo

Convento dos Humildes. Haveria então a possibilidade de serem as imagens

do Menino Jesus também de Domingos Baião, entretanto, para que

chegássemos a tal afirmação, seria necessário um estudo mais apurado

dessas imagens, definindo pontos de identidade na fatura escultórica.

Apontamos um dado relevante para a pesquisa, que também abre a

possibilidade dessa atribuição a duas das imagens do Menino Jesus do Monte

analisadas, mais especificamente, aquelas pertencentes hoje ao Museu do

Recolhimento dos Humildes.

55 QUERINO, Manoel, Op. Cit. p. 23

(fig. 165)Nossa Senhora dos Anjos Domingos Pereira Baião Museu do Recolhimento dos Humildes Fotografia: Cláudia Guanais

(fig. 166) Detalhe – imagem do anjo oferecendo o Sagrado Coração a Nossa Senhora.

177

Outra curiosa e importante informação foi encontrada, através de uma

transcrição do testamento de Madre Maria Germana Calmon Du Pin, já

mencionada no segundo capítulo56. Irmã Maria entrou para a casa do

Recolhimento em maio de 1846, com treze anos completos. Na idade de

dezesseis, conforme relata em testamento abraçou, por livre e espontânea

vontade, a vida religiosa e, aos oitenta e dois anos, resolve fazer seu

testamento;

Na transcrição do testamento, Madre Maria atesta como uma de suas

últimas vontades, deixar:

[...] uma imagem do Senhor Deus Menino, bem preparada, para ornato da capela de Nossa Senhora dos Humildes, e outra igual que foi da minha finada irmã D. Rosa, para o mesmo fim, por esta ser sua última vontade, não se podendo dá-las, nem trocá-las.

Em outro trecho, madre Germana declara:

Deixo para o Recolhimento imagem de Nossa Senhora dos Anjos, que foi de minha finada irmã D. Rosa, com seis aparadores de prata.

As duas imagens de Menino Jesus são, possivelmente, as duas únicas

que se encontram hoje no Recolhimento, além da Divina Pastora, que também,

foi doada para o Recolhimento pela religiosa, conforme consta no testamento,

bem como a imagem de Nossa Senhora dos Anjos.

Em uma observação superficial, percebemos que, a grande maioria das

imagens do Menino que fazem parte do nosso estudo apresenta características

formais de um trabalho com excelente qualidade técnica em sua escultura e

policromia, sobretudo as pertencentes ao Museu do Recolhimento dos

Humildes. Não sendo o objetivo principal da nossa pesquisa a análise

escultórica e policrômica das imagens, apontamos esses dados para futuros

estudos. 56 A transcrição do testamento de Madre Maria Germana foi cedida pela Prof. Maria José Souza Andrade, já citada nesta dissertação, que já publicou estudos sobre recolhimentos baiano, atualmente professora da Universidade Católica. Quando tivemos conhecimento dessa transcrição, voltamos ao Convento São Raimundo com a expectativa de encontrar o documento original, entretanto, mais uma vez obtivemos a resposta negativa da parte da Irmã Elizete, atual superiora da Congregação de Nossa Senhora dos Humildes. A transcrição encontra-se anexo.

178

3.2 CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS MATERIAIS UTILIZADOS NA

ORNAMENTAÇÃO DO MENINO JESUS DO MONTE.

Destacamos anteriormente que a fatura das imagens do Menino Jesus

do Monte sempre esteve relacionada à devoção feminina, na cidade de Santo

Amaro, intensificando sua produção e que sua ornamentação dependia do

poder aquisitivo de quem as encomendava. Mas aonde eram adquiridos os

materiais para essa ornamentação?

Desconhecemos a origem de tais objetos utilizados, entretanto,

lançamos algumas hipóteses. Mais uma vez, a inexistência de qualquer

documentação referente à produção dessas peças levou-nos a procurar

indicadores baseados em análises do contexto da sua manufatura.

Alguns dados de inventários da alfândega, consultados no Arquivo

Público da Bahia, referentes ao século XIX, destacam a importação de

mercadorias diversas que podiam servir como elementos de composição das

imagens. Há registros de tecidos, brinquedos, jóias, artigos de prata e

miudezas, vindos da França, Alemanha e Inglaterra57.

A dinâmica da economia Salvador/Recôncavo já foi levantada no

segundo capítulo desta dissertação, portanto, sabemos que as cidades do

recôncavo, todas com localização estratégica junto à baía de Todos os Santos

e com importantes portos marítimos e fluviais, constituíam fonte de intensa

comercialização de mercadorias diversas.

Com o fluxo variado de bens de consumo e objetivando a venda de suas

mercadorias, comerciantes da então vila de Santo Amaro ofereciam seus

produtos ao público consumidor da época, anunciando nos jornais locais

variedade importadas, como é o caso do Jornal Echo Santamarense.

O proprietário da Loja Consciência de fazendas, miudezas e roupas

feitas, senhor Constantino Martins Simões anunciava “[...] um completo

sortimento de fazendas francezas, inglezas e allemães [...]”, além de

“miudezas”. Também o senhor Laurindo de Araújo Britto, em sua Loja de

57 Esses dados podem ser encontrados na Seção Alfândega – Inventário Alfândega/Entrada e Saída de Mercadorias - 060.12 Registro de Despachos de Importação – Arquivo Público do Estado da Bahia

179

fazendas e modas, divulgava ao “[...] respeitável publico desta cidade e do

recôncavo [...]” ter recebido “[...] grande factura de fazendas inglezas e

francezas [...]”, além de “perfumarias e miudezas”58.

58 Jornal Echo Santamarense – Jornal político, comercial e agrícola, anno VI, n. 83 outubro/1886 – Arquivo Público de Santo Amaro da Purificação – Cópia microfilmada

(fig. 167) Anúncio de loja comercial – Jornal Echo Santamarense (1886) Fonte: Arquivo Público Municipal – Santo Amaro da Purificação Cópia microfilmada

(fig. 168) Anúncio de loja comercial – Jornal Echo Santamarense (1886) Fonte: Arquivo Público Municipal – Santo Amaro da Purificação Cópia microfilmada

180

Dentre os tantos elementos utilizados para o ornato das imagens do

Menino Jesus do Monte, consideramos que alguns poderiam ser encontrados

nessas lojas e armazéns da região, sobretudo as finas “fazendas” e “bicos”,

usados na a confecção do enxoval do Menino, como também as “medalhas” e

“voltas”, para a decoração dos montes. Outros, conforme relato oral de Irmã

Iolanda, eram trazidos da Europa por Padre Miguel, irmão do fundador da

Congregação.

Se faltam dados documentais que comprovem a importação de alguns

dos materiais ou contratos de encomendas de pagamentos e serviços, sobram

evidências que atestam o excelente nível de execução que envolvia a

decoração dessas imagens, sobretudo, no que diz respeito à incorporação de

elementos naturais, de marcante efeito visual

A falta de materiais “nobres”, em alguns momentos, não impediu o

processo de ornamentação dessas imagens, ao contrário, estimulou a

produção de uma variedade fantástica de elementos decorativos, próprios

dessa representação, definindo sua singularidade.

3.3 DEMAIS TRABALHOS PRODUZIDOS NO RECOLHIMENTO DE NOSSA

SENHORA DOS HUMILDES

Até aqui procuramos apresentar as imagens do Menino Jesus do Monte,

objetivo principal da nossa pesquisa, destacando todo o aparato ornamental

que o cerca, fruto do trabalho das religiosas dos Humildes, contudo, julgamos

importante também registrar que, além dessas imagens, outras composições

artísticas eram produzidas, com a mesma qualidade técnica e criatividade,

utilizando os mesmos materiais.

Não podemos deixar de mencionar a produção dos quadros de papel

dourado, com função decorativa, cuja delicadeza atesta, mais uma vez, a

habilidade manual de quem os confeccionava. Lembram os quadros de

181

filigrana em papiers roulés (papel laminado), confeccionados por religiosas

francesas, nos séculos XVII, XVIII e XIX 59 .

Nas figuras em destaque podemos observar que o resultado visual

conseguido com esse tipo de papel dourado, ou laminado, assemelha-se ao

ouro. Em ambos os casos, é elaborado um modelo de altar em homenagem a

um santo, que figura no centro da composição, representado por uma gravura.

O papel dourado é delicadamente recortado, lembrando uma espécie de renda,

onde são acrescentadas pequenas contas de cores variadas. Lembramos que

esse era o tipo de papel utilizado para a confecção de flores presentes em

algumas das imagens já analisadas, bem como as contas coloridas (figs.

169/170).

Em outras composições os temas são desenvolvidos com a utilização de

tecidos, além dos papéis dourados. Nesse caso, para os rostos, mãos e pés

59 Para obter mais informações a respeito dos trabalhos em papel dourado das religiosas francesas, acessar http://chris.monnier.free.fr/tresorsdeferveur/association.htm Também existe um livro que trata do assunto, intitulado Tresors de ferveur Reliquaires à papiers roulés des XVIIe, XVIIIe, XIXe siècles .

(Fig. 170) Quadro de papel dourado produzido no Recolhimento dos Humildes Fotografia: Edjane Silva

(Fig. 169) Quadro de papel dourado Association Tresórs de Ferveur Fonte:http://chris.monnier.free.fr/tresorsdeferveur/acquisition.htm

182

dos personagens utilizam-se as gravuras do santo em papel e, para a

indumentária, tecidos, dando tridimensionalidade ao objeto (figs. 171/172).

Também apresentam características dos modelos franceses.

Na representação dos Humildes vemos a Virgem no centro de um altar,

vestindo túnica azul e manto rosa, confeccionados em tecido, cercada por

cinco jovens. O altar recebe detalhes ornamentais com flores artificiais, jarros e

castiçais, confeccionados em papel dourado, enriquecendo ainda mais a

composição.

Em sua grande maioria, os trabalhos franceses em papel dourado estão

ligados aos relicários domésticos. São desenvolvidos em caixas de madeira

com ou sem molduras. No exemplar em destaque, é colocado a figura do santo

no eixo da composição e os motivos florais, confeccionados em papel,

desenvolvem-se ao seu redor (fig.173).

(Fig. 172) A mesma técnica, com papel e tecido, produzida no Recolhimento dos Humildes Fotografia: Edjane Silva

(Fig. 171) Quadro com detalhes em papel e tecido Association Tresórs de Ferveur Fonte:http://chris.monnier.free.fr/tresorsdeferveur/diaporama%20cires%20de%20Nancy/slides/95080M.html

183

Encontramos, nos Humildes, um exemplar de caixa relíquia com uma

elaboração mais simplificada que as francesas, mas seguindo a mesma

estrutura (fig.174). Possui cavidade ovalada, de tamanho maior, na região

central e, ao redor deste, vinte quatro cavidades menores, com minúsculas

relíquias em todas elas. A figura do santo parece ter se perdido, pois não

aparece na composição. O papel é todo trabalhado com desenhos de

inspiração vegetal, com folhas e cachos de uva. O papel dourado está

presente, emoldurando o conjunto e nas folhagens centrais.

(Fig. 174) Quadro relicário produzido no Recolhimento dos Humildes Fotografia da autora

(Fig. 173) Quadro relicário Association Tresórs de Ferveur Fonte:http://chris.monnier.free.fr/tresorsdeferveur/diaporama% 20cires%20de%20Nancy/slides/95080M.html

184

A Assunção de Nossa Senhora é o tema de outro primoroso trabalho do

Recolhimento baiano, também ornado com papel dourado e miçangas. As

imagens feitas em madeira policromada e dourada, no interior de uma

maquineta, apresentam Nossa Senhora sobre bloco de nuvens, cercada por

arranjos de flores douradas e minúsculos pássaros. Doze apóstolos figuram,

ajoelhados, na parte inferior, extasiados com a cena.

Trata-se de mais um trabalho onde a execução das flores em papel

contribui para uma sofisticação estética que valoriza o sentido místico do tema,

neste caso, a Assunção de Nossa Senhora. Assim como nas representações

do Menino, aparecem dispostos no bloco de nuvens, abaixo da Virgem, anjos

tocando instrumentos musicais (fig. 175/176).

(fig. 175) Assunção de Nossa Senhora Fotografia da autora

(fig. 176) Detalhe das flores em papel dourado e miçangas Fotografia da autora

185

Uma das imagens mais conhecidas do acervo do Museu do

Recolhimento dos Humildes é a Divina Pastora. A origem dessa devoção inicia

no século XVIII com uma visão de Frei Isidoro de Sevilha, na qual a Virgem

aparece, para ele, em traje pastoril. Na visão, Nossa Senhora surgiu sentada à

sombra de uma árvore, com vestes longas, cajado e chapéu. Com uma das

mãos segurava o Menino e com a outra, acariciava uma ovelha, tendo ao seu

redor outras, formando o seu rebanho. No início do século XIX, a devoção se

expande atingindo os diversos países católicos (figs. 177/178)

A imagem que encontramos nos Humildes atesta a popularidade do

culto. A erudição escultórica e policrômica denotam a habilidade do artista.

Seria um trabalho escultórico executado pelo artista Domingos Baião como a

(fig. 177) A Divina Pastora Fotografia: Sérgio Benutti

(fig. 178) Detalhe – Nossa Senhora segurando o Menino Jesus

186

Nossa Senhora dos Anjos apresentada anteriormente nesse estudo? Não

sabemos. Sua ornamentação traz o mesmo padrão, suntuoso e curioso, dos

realizados nos Meninos Jesus do Monte, com os arranjos florais

confeccionados com arames, fios dourados, pedrarias e asas de besouro.

Aparecem também alguns adornos decorativos destacados nas imagens do

Menino, como pingentes, medalhas, figas, correntes e jóias, além do diadema,

que também está presente, decorando o belo chapéu de Nossa Senhora.

Obtivemos informaçõs, através de relatos orais, que eram também

confeccionadas pelas religiosas, caixas de conchas e búzios, destinadas a

guarda de doces e finíssimos sequilhos, também feitos no Recolhimento. Muito

solicitadas pela comunidade local, estas caixas decoradas eram muito

encomendadas pela comunidade, para presentear familiares e amigos.

Infelizmente não foram encontrados exemplares para figurar nesta dissertação.

3.4 OUTRAS INTERPRETAÇÕES DO MENINO JESUS DO MONTE

A significativa variedade de interpretações relacionadas à representação

do Menino Jesus do Monte, encontrada nos museus baianos, reflete a

intensidade devocional pela figura do Jesus Infante, presente nas várias

comunidades religiosas femininas e que propiciou uma vasta produção dessa

imaginária.

Ainda na introdução, deixamos clara a opção pela escolha das quinze

imagens que fazem parte do nosso estudo, pela complexidade e qualidade na

elaboração ornamental que apresentam e por agruparem algumas

características comuns, a exemplo da sua dinâmica decorativa e utilização dos

mesmos materiais.

A falta de registros documentais dificulta a identificação de procedência

da grande maioria dessas imagens que, muitas vezes, são apontadas como

sendo de produção dos Humildes. Observando suas características, entretanto,

percebemos o quanto diferem dos modelos apresentados até o momento.

187

A graciosidade chama atenção para a escultura do Menino que compõe

a representação da figura 179. Segura, em uma das mãos, cajado com alguns

poucos elementos pendentes e tem na cabeça diadema com flores trabalhadas

em papel dourado. Veste túnica clara e manto vermelho, ambos em seda,com

pouquíssima elaboração. O monte, com várias cavidades aparentes, é

decorado com pequeninas conchas, ovelhas e coelhos.

Em outro exemplar a decoração do monte contém, predominantemente,

animais, conchas, folhagens e algumas casas pintadas em azul e vermelho. O

Menino veste túnica vermelha, com interessante acabamento em minúsculas

contas douradas por toda a extensão do tecido. É provável que tenha sido

executado no início do século passado (fig. 180).

Na figura 181, o Menino Jesus encontra-se sobre o monte, também

decorado com uma infinidade de elementos, tendo a sua volta o arquinho, com

ornamentação bastante harmoniosa, que se estrutura em flores trabalhadas

com sedas e penas. O Menino está com peruca e veste túnica bordada, com

(Fig. 179) Menino Jesus do Monte Casa da Providência Fotografia: Sérgio Benutti

(Fig. 180) Menino Jesus do Monte Coleção particular Fotografia: Sérgio Benutti

188

menor elaboração técnica no trabalho de bordado. O monte apresenta

composição diferente, mas com o mesmo exagero ornamental, com

predominância de conchas, flores e carneirinhos.

O monte, na figura 182, decorado com muitas conchas e animais,

apresenta visível desproporcionalidade com relação ao Menino, existindo a

possibilidade de não ser a imagem original do conjunto. De qualquer forma, o

tratamento simplificado dado a sua indumentária, bem como os poucos objetos

significativos de seus atributos, dão a esta peça, um caráter ingênuo, bastante

diferente da estética suntuosa que vimos nas imagens anteriormente

analisadas.

(Fig. 181) Menino Jesus do Monte Convento do Desterro Fotografia: Francisco Portugal

(Fig. 182). Menino Jesus do Monte Museu Henriqueta Martins Catharino Fotografia: Sérgio Benutti

189

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudamos, especificamente, as imagens do Menino Jesus do Monte,

produzidas pelas religiosas do Recolhimento de Nossa Senhora dos Humildes,

em Santo Amaro da Purificação/BA, no século XIX. Nossa proposta principal foi

a de aprofundar conhecimentos acerca dessa imaginária baiana, fruto da devoção feminina e ainda pouco conhecida pelos historiadores de arte.

O projeto teve início através da observação de uma das imagens que

hoje integra o acervo do Museu de Arte Sacra da UFBA. A escolha inicial dessa

imagem como primeira fonte material da pesquisa, nos conduziu ao processo

de seleção de outras, que apresentavam similaridade quanto ao material

utilizado em sua ornamentação, bem como na manufatura empregada.

Dessa forma, a pesquisa envolveu quinze imagens do Menino Jesus do

Monte, sendo seis pertencentes a instituições museológicas e nove a

particulares.

A análise formal das imagens nos deu indícios bastante esclarecedores

de que poderiam ser todas de procedência dos Humildes, visto que

apresentavam características muito similares.

Pretendíamos comprovar com mais certeza essa possibilidade, na

conclusão da pesquisa, apresentando informações documentais que pudessem

dar sustentação ao processo de análise formal, unindo dados, entretanto, não

encontramos material suficiente para isso. Nenhum documento que

comprovasse venda e compra das imagens, como contratos de encomendas,

pagamentos e serviços foi encontrado.

Muitas foram as visitas ao Convento de São Raimundo na esperança de

poder ter acesso à documentação do Recolhimento dos Humildes, entretanto,

inúmeras vezes, fomos informados de que nenhuma documentação existia.

Tivemos acesso apenas ao “Cerimonial para Imposição de Hábito e Recepção

de Recolhidas de Nossa Senhora dos Humildes da Vila de Santo Amaro,

extraído do Cerimonial das Recolhidas do Senhor Bom Jesus dos Perdões”,

encontrado em estado de conservação muito precário.

190

Quando chegou às nossa mãos uma transcrição do testamento de uma

das religiosas que viveu no Recolhimento, já no final do nosso estudo, vimos a

possibilidade de encontrar o documento original. Recorremos ao Arcebispo

Primaz do Brasil, Dom Geraldo Magella Agnelo, que prontamente atendeu

nossa solicitação, autorizando e recomendando nossa pesquisa.

A autorização do Arcebispo abriu a possibilidade de abertura do Arquivo

São Raimundo e, novamente, buscamos informações com a superiora da atual

Congregação dos Humildes. Dessa vez fomos informados que o material

poderia estar em Santo Amaro, mas que seria inviável, naquele momento, uma

viagem para tentar localizá-lo, frustrando nossas expectativas.

Julgamos pertinente deixar registrado, em nossas considerações, a

dificuldade que a maioria dos pesquisadores encontra em ter acesso aos

registros documentais em nosso país, sobretudo, os pertencentes a instituições

religiosas. Dessa forma, muitas lacunas históricas que poderiam ser

elucidadas, ficam “em aberto”.

A parca documentação, entretanto, não inviabilizou a pesquisa, visto

que, a investigação primordial de um historiador de arte se baseia na análise

visual do objeto artístico.

Atendo-nos às características formais e técnicas dos objetos

selecionados, ressaltamos termos, de fato, identificado similaridade nos

materiais utilizados na sua ornamentação. Além disso, observamos um

virtuosismo na sua execução, demonstrando elevada habilidade técnica

manual de quem as elaborava.

Essas características constantes nas peças justificam uma possível

procedência de produção manual realizada no Recolhimento de Nossa

Senhora dos Humildes, revelando a singularidade no processo de manufatura.

O processo de análise formal de imagens, contudo, nos apresenta muito

mais do que dados materiais. A linguagem plástica desses objetos pode nos

revelar aspectos que vão além do material. Considerando-os dentro do

contexto histórico de produção, as fontes visuais incorporam elementos

simbólicos e ideológicos significativos ao estudo das artes plásticas.

No caso específico, podemos concluir que as imagens do Menino Jesus

do Monte apresentam características de uma espontaneidade popular,

191

baseada na devoção e sensibilidade feminina, encontrada no ambiente cultural

baiano, no século XIX.

Essa representação cristã, que se tornou objeto particular de devoção

das religiosas do Recolhimento dos Humildes e da população de Santo Amaro,

ressalta um diferente nível devocional, próprio da espiritualidade feminina, que

se “materializa” através de sua riqueza iconográfica.

Sua produção reforça também um aspecto importante já registrado por

inúmeros estudiosos da arte no Brasil: as influências culturais européias

sentidas na imaginária sacra brasileira. Com relação a isso, as várias

representações artísticas de temática similar ao nosso objeto, apresentadas em

nosso trabalho, comprovam essa influência.

Contudo, registramos, na representação baiana, a grande variedade de

elementos que a definem como um modelo iconográfico singular, impregnado

de elementos da cultura local.

Sua singularidade baseia-se na estética exuberante e exagerada, no

primoroso trabalho em bordados e papel dourado, na utilização de asas de

besouro para a confecção das flores e em outros objetos produzidos com

elementos encontrados na fauna e flora santamarense.

Fruto da devoção pessoal, encontrada na Bahia oitocentista, essas

imagens foram perdendo, progressivamente, sua função de culto, atribuído a

mudança de valores sociais, religiosos e estéticos no decorrer do início do

século XX.

Mesmo com a continuidade do trabalho educacional realizado

atualmente pelas religiosas da Congregação de Nossa Senhora dos Humildes,

o processo de produção dessas imagens foi caindo em desuso, provavelmente

pelas circunstâncias da vida moderna, onde o papel da mulher “prendada” e

dedicada apenas à criação dos filhos não é mais priorizada.

Outro fator significativo foram as mudanças simbólicas representativas

do Natal, onde o tema da Natividade foi sendo, cada vez mais esquecido e

substituído por outras concepções natalícias.

Hoje encontram-se, algumas dessas imagens, expostas em instituições

museológicas, apreciadas muito mais pelo seu aspecto “pitoresco”. Poucos são

os estudos que envolvem essa representação, talvez pela mínima

documentação encontrada ou por não despertarem o interesse dos

192

pesquisadores, que optam, geralmente, em realizar estudos de imagens mais

conhecidas.

Esperamos que esse trabalho possa instigar outros pesquisadores ao

estudo da imaginária sacra baiana, contemplando outros aspectos que

envolveram sua produção. Nosso trabalho é apenas uma das muitas

interpretações possíveis. Há muito ainda a ser estudado.

193

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ANEXOS

202

ANEXO A – Menino Jesus do Monte

Coleção: Museu de Arte Sacra da UFBA Fotografia: Rômulo Fialdini Fonte: Catálogo Museu de Arte Sacra da Ufba

203

ANEXO B – Menino Jesus do Monte

Coleção: Museu do Recolhimento dos Humildes Fotografia: Sérgio Benutti

204

ANEXO C – Menino Jesus do Monte

Coleção: Museu do Recolhimento dos Humildes Fotografia: Cláudia Guanais

205

ANEXO D – Menino Jesus do Monte

Coleção: Museu Hnriqueta Martins Catharino Fotografia: Sérgio Benutti

206

ANEXO E – Menino Jesus do Monte

Coleção: Museu Hnriqueta Martins Catharino Fotografia: Sérgio Benutti

207

ANEXO F – Menino Jesus do Monte

Coleção particular Fotografia: Sérgio Benutti

208

ANEXO G – Menino Jesus do Monte

Coleção particular Fotografia: Sérgio Benutti

209

ANEXO H – Menino Jesus do Monte

Coleção particular Fotografia: Sérgio Benutti

210

ANEXO I – Menino Jesus do Monte

Coleção particular Fotografia: Sérgio Benutti

211

ANEXO J – Menino Jesus do Monte

Coleção particular Fotografia: Sérgio Benutti

212

ANEXO K – Menino Jesus do Monte

Coleção particular Fotografia: Francisco Portugal

213

ANEXO L – Menino Jesus do Monte

Coleção particular Fotografia: Claudiomar Gonçalves Fonte: Catálogo Meninos Deus: os meninos do Recolhimento dos Humildes e outros Meninos Deus

214

ANEXO M – Menino Jesus do Monte

Coleção particular Fotografia: Francisco Portugal

215

ANEXO N – Menino Jesus do Monte

Coleção: Museu Hnriqueta Martins Catharino Fotografia: Sérgio Benutti

216

ANEXO O – Menino Jesus do Monte

Coleção particular Fotografia: Claudiomar Gonçalves Fonte: Catálogo Meninos Deus: os meninos do Recolhimento dos Humildes e outros Meninos Deus

APÊNDICE

218

APÊNDICE A – Representações Iconográficas do Menino Jesus

Natividade

Fuga para o Egito

Apresentação do Menino Jesus no Templo Jesus entre os Doutores da Lei

Históricas

Bom Pastor

Menino Jesus com instrumentos da Paixão Niño Del Dolor

Menino Jesus Crucificado

Menino Jesus dormindo sobre a cruz

Ligadas a Paixão

Menino Jesus com instrumento

musical

Menino Jesus Salvador do Mundo

Menino Jesus no Trono

Menino Jesus de Cebu

Menino Jesus de Praga

Menino Jesus Triunfante

Menino Jesus Ressuscitado

Gloriosas ou Triunfantes

Menino Jesus com a coroa imperial

Inca e vestes católicas sacerdotais

Menino Jesus Presbítero Relativos à função litúrgica

Menino Jesus Papa

Menino Jesus de Huanca

Menino Jesus Carpinteiro

Menino Jesus Peregrino

Menino Jesus na Caminha

Outros

Menino Jesus de Olinda