31 prova penal prof 2cham30abril2014

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1 CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS 31º CURSO DE FORMAÇÃO PARA OS TRIBUNAIS JUDICIAIS PROVA ESCRITA DE DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL Via Profissional AVISO DE ABERTURA: AVISO Nº 2140/2014, PUBLICADO EM D.R. II SÉRIE, Nº 30, DE 12 DE FEVEREIRO DE 2014 DATA: 30 DE ABRIL DE 2014 2ª CHAMADA HORA: 14H15M (DE ACORDO COM O DISPOSTO NO ARTº 12º DO REGULAMENTO INTERNO DO CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS, O TEMPO DE DURAÇÃO DA PROVA INICIA-SE DECORRIDOS 15 MINUTOS APÓS A HORA DESIGNADA) DURAÇÃO DA PROVA: 4 HORAS

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Page 1: 31 Prova Penal Prof 2cham30Abril2014

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CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS

31º CURSO DE FORMAÇÃO PARA OS TRIBUNAIS JUDICIAIS

PROVA ESCRITA

DE

DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

Via Profissional

AVISO DE ABERTURA: AVISO Nº 2140/2014, PUBLICADO EM

D.R. II SÉRIE, Nº 30, DE 12 DE FEVEREIRO DE 2014

DATA: 30 DE ABRIL DE 2014

2ª CHAMADA

HORA: 14H15M (DE ACORDO COM O DISPOSTO NO ARTº 12º

DO REGULAMENTO INTERNO DO CENTRO DE ESTUDOS

JUDICIÁRIOS, O TEMPO DE DURAÇÃO DA PROVA INICIA-SE

DECORRIDOS 15 MINUTOS APÓS A HORA DESIGNADA)

DURAÇÃO DA PROVA: 4 HORAS

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CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS

PROVA ESCRITA DE

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL

VIA PROFISSIONAL 2ª Chamada

A presente prova consiste: 1. Na elaboração de uma decisão que considere ser a que deveria ter

sido proferida na audiência de julgamento (cf. a Ata que constitui as páginas 8 e 9 desta prova).

2. Na elaboração de um acórdão, com data de hoje, na sequência da audiência de julgamento.

A prova não poderá ter qualquer assinatura, ainda que fictícia. A cotação atribuída à globalidade da prova é de 20 (vinte) valores. A cotação máxima exige um tratamento completo das várias questões suscitadas,

que deverá ser coerente e corretamente fundamentado, com referência e apreciação

crítica das várias teses eventualmente em confronto, sendo tidos em consideração a

pertinência do conteúdo, a capacidade de análise, de argumentação e de síntese e o

domínio da língua portuguesa.

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Dados a considerar: I - Os arguidos não apresentaram contestação, não houve constituição de assistente, nem foi deduzido qualquer pedido cível.

II - É intencional a omissão da qualificação jurídica dos factos constantes da acusação. No acórdão a elaborar deverá fazer a qualificação dos factos que julgar mais correta.

III - Os factos provados e os não provados poderão ser enumerados no acórdão, quando tal se lhe afigure possível, por simples remissão para a enumeração constante da acusação.

IV - Na fundamentação da decisão sobre a matéria de facto deverá especificar todos os meios de prova que considera relevantes, expondo muito sucintamente a formação da sua convicção, apenas relativamente à factualidade em que tal se justifique, nomeadamente por, à partida, a demonstração da realidade da mesma lhe poder parecer menos evidente.

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Em processo comum com intervenção do tribunal coletivo, o Ministério Público acusa:

Patrocínio Xavier, filho de Antonino Xavier e de Maria

Silva, natural de Lisboa, nascido a 18/09/93, solteiro,

gerente comercial, residente na Rua da Via Curta, nº 10,

Lisboa;

João Vasco Figueira, filho de Belmiro Figueira e de

Gabriela Pereira, natural de Gondomar, nascido a 01/02/65,

casado, canalizador, residente na Rua de Mombaça, nº 5,

Lisboa,

Zacarias Celestino Sousa, filho de Manuel Sousa e de

Georgina Pinto, natural de Viseu, nascido a 23/05/83,

solteiro, escriturário, residente na Rua Comporta, nº 154,

Lisboa,

Porquanto indiciam suficientemente os autos:

1. No dia 22 de fevereiro de 2013, a sociedade Trigolimpo, Lda.,

contratou os serviços da sociedade Tocano, Lda., tendo em vista a

reparação urgente da canalização de um lavatório do quarto de banho

situado no edifício dos escritórios da empresa;

2. No mesmo dia, cerca das 19h30h, o arguido Vasco, funcionário da

Tocano, Lda., chegou às instalações da Trigolimpo, Lda., para aí

proceder à referida reparação;

3. Nas instalações apenas se encontrava o arguido Xavier, um dos sócios-

gerentes da Trigolimpo, Lda., que foi quem lhe abriu a porta do edifício;

4. Visando a abertura de um roço na parede para ter acesso ao cano que

levava a água ao lavatório, e porque a utilização de um ponteiro e uma

maceta de pedreiro se tornava muito difícil e morosa, o arguido Vasco

deslocou-se novamente à carrinha e muniu-se de um martelo elétrico,

que normalmente usava para a fragmentação de betão armado ou

pedra, ou para fazer demolições;

5. No regresso, ao ver no corredor que servia as diversas divisões do

escritório uma estatueta de artesanato africana, em pau-preto,

aproveitando o facto de ali não se encontrar ninguém, pegou nela e

meteu-a de seguida dentro de um saco de ferramentas, com o propósito

de a levar mais tarde consigo;

6. De volta ao seu trabalho, mal acionou o martelo elétrico contra a parede,

esta fissurou em diversas direções, acabando por se fragmentar, caindo

de seguida para o exterior do edifício;

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7. A fadiga e a pressa em estancar a fuga de água do cano, fizeram com

que o arguido não tivesse dado a devida importância ao facto de a

utilização de um martelo de percussão numa parede de tijolo como

aquela, muito provavelmente provocaria a sua fratura e até mesmo a

sua derrocada;

8. Alguns dos fragmentos da parede atingiram dois veículos, de matrícula

XX-00-00 e YY-00-00, propriedade da sociedade Trigolimpo, Lda., que

se encontravam estacionados junto ao edifício, provocando amolgadelas

e riscando ou fraturando a camada de tinta que cobria a respetiva

carroçaria, causando-lhes danos no valor de € 550,00;

9. Sendo que o fragmento maior, com cerca de 200 Kg, só por pouco não

atingiu o carro Porsche 911 Carrera 4S, de matrícula ZZ-00-00, no valor

de 140.000,00, propriedade do arguido Xavier;

10. Preocupado com o que se havia passado, mas sem saber o que fazer,

Vasco foi prontamente abordado por Xavier, que o sossegou, dizendo-

lhe que tinham seguro contra todos os riscos e que tudo se resolveria,

caso Vasco não contasse nada a ninguém e muito menos que ali tinha

estado nesse dia;

11. Confiando em Xavier, Vasco acabou por abandonar o local, levando

todas as ferramentas consigo, bem como a estatueta em pau-preto que

momentos antes havia metido no saco, embora ciente de que a abertura

deixada poderia permitir o fácil acesso de estranhos às instalações onde

ficava o escritório;

12. Xavier, por seu lado, viu no incidente a oportunidade de simulação de

um assalto com a qual seria o único a ganhar;

13. Dirigindo-se à secretária, que ficava no gabinete do outro sócio-gerente,

retirou a gaveta do meio e seguidamente um cofre que se encontrava

escondido por trás da gaveta;

14. Munido de uma alavanca em aço, habitualmente usada para trancar por

dentro uma das portas do escritório, abriu o cofre, forçando a porta até

rebentar com a fechadura, retirando do seu interior a quantia de €

12.350,00, em notas emitidas pelo Banco Central Europeu, que ali se

encontravam guardadas, e depositou-as em dois envelopes com o

timbre da Trigolimpo, Lda., saindo de seguida para o exterior do

edifício, acabando por escondê-los do lado de fora do muro que

separava a propriedade da empresa de uma mata abandonada;

15. Regressado ao interior do edifício, e lembrando-se que o arguido

Zacarias, empregado do escritório, com quem não tinha bom

relacionamento, havia deixado o seu cartão eletrónico de acesso às

instalações em cima da sua mesa de trabalho, decidiu utilizá-lo para o

marcar no respetivo aparelho, como se Zacarias tivesse saído àquela

hora;

16. Alguns minutos mais tarde, entusiasmado com o plano assim traçado,

mas mantendo uma elevada frieza, o arguido Xavier chamou de seguida

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a autoridade policial, fazendo de conta que tinha acabado de chegar às

instalações e se havia deparado com todo aquele cenário;

17. Seguidamente dirigiu-se à máquina de destruição de papel existente no

escritório e, introduzindo na abertura da mesma o referido cartão

eletrónico, destruiu-o;

18. Antes de a polícia chegar ao local, Xavier ainda teve tempo de colocar

uma escada em alumínio do lado exterior da parede do edifício, para

assim criar a ideia de que alguém a teria usado para fugir pela abertura

criada na parede;

19. Com tal plano, além de pretender simular a existência de um furto à

empresa, para assim tentar obter uma compensação da companhia

seguradora, e também ao envolver Zacarias, Xavier pretendia confundir

as autoridades que procedessem à investigação e assim mantê-las o

mais possível longe de qualquer suspeita relativamente a ele;

20. No dia 23/02/2013, foram encontrados na residência de Zacarias 32

envelopes e 150 folhas de papel, pertencentes à sociedade Trigolimpo,

Lda., com o timbre desta sociedade;

21. O arguido Zacarias tinha retirado os envelopes e o papel do escritório

daquela sociedade contra a vontade e sem autorização dos seus legais

representantes, para os usar em proveito próprio;

22. Os arguidos agiram do modo acima descrito cientes das implicações das

respetivas condutas, sabendo e querendo agir do modo com que o

fizeram.

23. Praticaram todos os factos acima descritos de forma livre e consciente,

bem sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei.

Pelo exposto, o Ministério Público imputa:

Ao arguido Xavier, a prática de (…)

Ao arguido Vasco, a prática de (…)

Ao arguido Zacarias, a prática de (…)

Prova: (…)

(…)

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Medidas de Coação: O Ministério Público entende que os arguidos

Vasco e Zacarias deverão continuar a aguardar os ulteriores termos do

processo sujeitos a termo de identidade e residência, enquanto Xavier deverá

continuar sujeito à medida de coação de obrigação de apresentação periódica,

medida esta aliás recentemente confirmada, e já que se mantêm inalterados os

pressupostos de facto e de direito que determinaram a sua aplicação.

Lisboa, 02 de fevereiro de 2014

A Procuradora-adjunta

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ATA DE AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO

Processo Comum com intervenção do Tribunal Coletivo nº (…)

N/ Referência: 0000a0000a

Data: 18 de abril de 2014

Juiz Presidente: (…)

Juiz Adjunto (…)

Juiz Adjunto (…)

Magistrado do Ministério Público: (…)

Escrivã Auxiliar: (…)

(…)

PRESENTES: (…).

FALTOSOS: ----------------------------------------------------------------------------------------

----------------------

O Defensor do Arguido Xavier, Dr. Álvaro…..

Quando eram dez horas e quinze minutos, o Sr. Juiz Presidente declarou

aberta a audiência de julgamento, e dada a ausência do Ilustre Defensor do

arguido Xavier, o Sr. Juiz Presidente determinou que o mesmo fosse

substituído por um outro Advogado, o Sr. Dr. Miguel….., que se encontrava

presente neste Tribunal e declarou aceitar o cargo.

Seguidamente, pelo Ilustre Defensor nomeado, Dr. Miguel….., foi requerido o

seguinte:

“A circunstância de ter sido nomeado defensor no início da presente audiência

de julgamento, sem que antes tivesse tido qualquer contacto com o processo,

não me permite salvaguardar todas as garantias de defesa do arguido Xavier,

tanto mais que o número de arguidos e a factualidade em causa exigem um

estudo mais aturado do processo, que é complexo, não me sendo possível, por

isso, prescindir do período de tempo necessário à preparação da defesa, tendo

em vista, nomeadamente, ouvir o arguido e estudar com ele todo o processado.

Requeiro, portanto, ao Tribunal o adiamento da audiência de julgamento por

um período nunca inferior a quinze dias.”

Dada a palavra aos Ilustres Defensores dos arguidos Vasco e Zacarias, pelos

mesmos foi dito que nada tinham a opor.

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Dada a palavra ao Sr. Magistrado do Ministério Público, pelo mesmo também

foi dito nada ter a opor.

De seguida, o Sr. Juiz Presidente ditou para a ata a seguinte:

DECISÃO

(…)

Para constar se lavrou a presente ata que, depois de lida e achada conforme,

vai ser assinada.

*

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CONSTAM DOS AUTOS OS SEGUNTES ELEMENTOS: - Queixas apresentadas por Jani Cardoso Freitas e Patrocínio Xavier,

na qualidade de sócios-gerentes da sociedade Trigolimpo, Lda., e por Zacarias, a 22/02/2013 e 28/02/2013, respetivamente, pelos factos constantes dos autos;

- Autos de apreensão e de exame do telemóvel marca Sony Ericsson Walkman 810I, pertencente à sociedade Trigolimpo, Lda., do qual resulta que no dia 22 de fevereiro de 2013, às 20h21m, através do mesmo telemóvel, foi efetuada uma chamada telefónica para o posto da polícia;

- Auto de exame do relógio de ponto, do qual resulta que o cartão

eletrónico pertencente a Zacarias tinha sido nele introduzido às 8h55m do dia 22 de fevereiro de 2013 e novamente às 20h15m do mesmo dia, referindo-se ainda que do exame efetuado ao relógio de ponto e ao relógio do telemóvel usado para o telefonema efetuado para o posto da polícia, resultava que este último estava adiantado 5 minutos em relação ao primeiro;

- Autos de apreensão e exame das tiras de plástico, que se encontravam no interior da máquina de destruir papel existente no escritório da Trigolimpo, Lda., do qual resulta que tais tiras respeitavam ao cartão eletrónico de Zacarias;

- Auto de apreensão e termo de entrega de dois envelopes fechados, que depois de abertos se verificou conterem a quantia de € 12.350,00 em notas emitidas pelo Banco Central Europeu, os quais haviam sido encontrados por agentes da polícia no dia 22 de fevereiro de 2013, pelas 21h30m, no chão do lado exterior do muro que separava o logradouro adjacente ao edifício da sociedade Trigolimpo, Lda., de uma mata abandonada;

- Autos de exame das duas carrinhas da marca Ford, de matrícula XX-00-00 e YY-00-00 e do veículo da marca Porsche Carrera 4S, de matrícula ZZ-00-00, dos quais resulta terem sido observadas partículas e pequenos pedaços de cimento e tijolo entre o capô e o para-brisas do veículo de matrícula ZZ-00-00, que eram em tudo idênticos aos que foram encontrados nos outros dois veículos, de matrícula XX-00-00 e YY-00-00, da sociedade Trigolimpo, Lda., considerando-se ser ainda muito provável que os riscos e marcas encontrados no capô do veículo de matrícula ZZ-00-00 tivessem sido provocados pela queda de partículas e pequenos fragmentos da parede que havia derrocado;

- Fatura/recibo, no valor de € 550,00, relativo à quantia paga pela sociedade Trigolimpo, Lda., a Garagens Sempre Pronto, Lda.,

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pela pintura e reparação das amolgadelas existentes nas duas carrinhas, de matrícula XX-00-00 e YY-00-00;

- Auto de busca e apreensão, efetuada a 23/02/2013, no domicílio do arguido Zacarias, do qual resulta a apreensão de 32 envelopes e de 150 folhas de papel com o timbre da sociedade Trigolimpo, Lda.;

- Auto de busca e apreensão, efetuada no domicílio do arguido Vasco, do qual resulta ter sido apreendida a estatueta em pau-preto, pertencente à sociedade Trigolimpo, Lda.;

- Termo de entrega da estatueta à sociedade Trigolimpo, Lda.;

- Cópias certificadas dos títulos de propriedade dos veículos com as matrículas XX-00-00 e YY-00-00, nos quais figura como proprietária a sociedade Trigolimpo, Lda.;

- Cópia certificada do título de propriedade do veículo com a matrícula ZZ-00-00, no qual figura como proprietário Patrocínio Xavier;

- Certificado de registo criminal do arguido Zacarias, do qual resulta que no processo comum com intervenção do tribunal singular, que correu termos com o nº 000/13.7LLLLL, no 2º Juízo Criminal de Lisboa, foi aquele condenado por sentença transitada em julgado a 23/10/2013, pela prática, a 03/01/2013, de um crime de ofensa à integridade física simples, previsto e punido pelo art.º 143º, nº 1, do Código Penal, na pena de 70 dias de multa, à taxa diária de € 3,50, pena essa que veio a ser declarada extinta pelo cumprimento por decisão de 21/12/2013;

- Resultando do mesmo certificado de registo criminal que o arguido, nos autos de processo comum nº 0004/12.0GGGGG, com intervenção do tribunal coletivo, que correu termos na 2ª Vara Criminal de Lisboa, por acórdão transitado em julgado a 07/02/2013, foi condenado na pena de dois anos prisão, pela prática, a 14/02/2012, de um crime de furto qualificado, previsto e punido pelo art.º 204º, nº 2, al. e), do CP;

- Certificados do registo criminal dos arguidos Xavier e Vasco, dos quais resulta que os mesmos não têm antecedentes criminais;

- Relatório social relativo ao arguido Xavier, do qual resulta que o mesmo é sócio-gerente da sociedade Trigolimpo, Lda., auferindo a quantia de € 2.500,00 por mês; tem o 12º ano de escolaridade; vive em casa dos pais e é tido no meio social onde vive como uma pessoa socialmente bem integrada, participando em vários projetos sociais e culturais relacionados com a atividade da junta de freguesia, sendo considerado uma pessoa muito honesta e de bom trato; aí se concluindo que beneficia de enquadramento familiar, social e laboral, apresentando um quotidiano estruturado e

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competências pessoais como a da responsabilidade e da capacidade de autocrítica;

- Relatório social relativo ao arguido Vasco, do qual resulta que o mesmo vive em casa dos pais com a mulher, que se encontra desempregada, e com dois filhos, de 6 e 3 anos de idade, auferindo por mês cerca de € 600,00; tem o 9º ano de escolaridade, sendo considerado por vizinhos e amigos como uma pessoa respeitável, muito educada, discreta e trabalhadora;

- Relatório social relativo ao arguido Zacarias, do qual resulta que o mesmo tem o 6º ano de escolaridade, trabalha como escriturário desde há cerca de 6 meses, altura em que deixou de estar referenciado como consumidor de produtos estupefacientes; aufere € 550,00 por mês, vive com a companheira num quarto arrendado, pagando de renda a quantia mensal de € 95,00; é tido pelos vizinhos e amigos como uma pessoa pacífica, honesta e trabalhadora; apresenta, todavia, como fatores de risco, alguma impulsividade, com repercussões penais, da qual tem consciência; apresenta boa integração laboral, a qual foi perturbada no passado pelo agravamento da sua problemática aditiva, da qual se considera estar livre desde há cerca de um ano, evidenciando uma maior consciencialização do seu comportamento aditivo como fator de risco; concluindo-se que apresenta condições para o cumprimento duma medida de execução na comunidade;

- Auto de primeiro interrogatório judicial de arguido detido,

ocorrido a 23/02/2013, pelas 10h15m, do qual, relativamente às declarações do arguido Zacarias, resulta o seguinte: - É verdade que tinha na sua posse 32 envelopes e 150 folhas de

papel timbrado da sociedade Trigolimpo, Lda., mas tinha-as consigo porque às vezes levava trabalho para fazer em casa, nomeadamente escrever cartas a clientes, as quais depois imprimia e metia nos respetivos envelopes, que posteriormente deitava no correio antes de ir para o escritório. Nunca fez deles qualquer uso pessoal. Nada tem a ver com o que se passou no escritório no dia 22 de fevereiro. Admite que possa lá ter deixado o cartão em qualquer sítio, mas não se lembra onde. Saiu cerca das 17h30m e não marcou a saída no relógio de ponto porque quando ia para o fazer não encontrou o cartão nos bolsos, e como já estava atrasado para mudar de roupa e preparar-se para um encontro com a namorada, decidiu ir embora. Relativamente à parede do quarto de banho do escritório, sabe que a mesma estava sempre completamente molhada e, por vezes, a água escorria para o chão; pensa que por causa de uma fuga de um cano, mas que isso, por si só, não teria mandado a parede abaixo.

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- Auto de interrogatório de arguido, levado a cabo pelo Magistrado

do Ministério Público titular do inquérito, ocorrido a 28/02/2013, pelas 11h00m, do qual resultam as seguintes declarações do arguido Vasco:

- No dia 22 de fevereiro de 2013, eram cerca de 16h30m, quando o arguido recebeu um telefonema na empresa onde trabalha, a Tocano, Lda., a pedirem-lhe, com urgência, a reparação dum cano existente na parede do quarto de banho do escritório da Trigolimpo, Lda.. Deslocou-se de imediato para lá. Tocou à campainha, desconhecendo quem falou consigo através do comunicador ou quem lhe abriu a porta. Já conhecia o edifício, pois tinha lá estado cerca de um ano antes a fim de substituir uma torneira, precisamente no mesmo sítio onde lhe pediram que reparasse o cano. Por isso, deslocou-se logo para lá. Quando começou, já fora do seu horário de trabalho, pouco passava das 19h30m. Com a pressa de reparar aquilo e cansado de martelar com a maceta, sem ver resultado nenhum, e sem pensar mais, lembrou-se de que tinha na carrinha um martelo elétrico percursor, que se usado com cuidado poderia facilitar-lhe bastante o trabalho. Foi buscá-lo e arriscou. Só que logo aos primeiros impactos do martelo, pensando o arguido que só iria furar o reboco e o tijolo, no sítio onde batia o ponteiro, a verdade é que a parede acabou por fissurar em várias direções, caindo grande parte dela por ali abaixo, no exterior do edifício, ficando um buraco enorme. Entrou em pânico, sem saber o que havia de fazer. Foi então que apareceu um senhor, que soube depois ser um dos sócios-gerentes da sociedade Trigolimpo, Lda., o qual o tentou sossegar, dizendo-lhe que tinham seguro contra todos os riscos e que tudo se resolveria, caso o arguido não contasse nada a ninguém e muito menos que ali tinha estado nesse dia. Confiou nele e saiu dali a correr. Além disso, afirma nada mais saber. Perguntado se reparou na existência de veículos no exterior do edifício, para onde caiu a parede, respondeu que estavam duas carrinhas estacionadas, que sofreram bastante com bocados de tijolo e cimento que lhe caíram em cima e, um pouco mais afastado, um outro veículo sobre o qual quase caiu um bocado grande da parede, que deveria pesar bem mais de 200 Kg, mas não reparou que veículo era, nem a marca, nem a cor. Só sabe que não era uma carrinha. Pareceu-lhe ser um carro muito mais pequeno, mas se era desportivo ou de corrida não reparou. Ficou de tal forma perturbado que só pensava como é que aquilo tinha sido possível e só via a parede a cair à frente dele. E entretanto foi-se embora.

- Auto de interrogatório de arguido, levado a cabo pelo Magistrado do

Ministério Público titular do inquérito, do qual resultam as seguintes

declarações do arguido Xavier:

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- Conta que chegou à empresa muito perto das 20h30m, mas não

tem a certeza. Quando lá chegou, não viu ninguém. Estranhou ver

a parede caída e a primeira coisa que fez foi alertar a polícia. Ao

ver uma escada de alumínio colocada no exterior do edifício,

pensou logo que alguém tinha entrado pelo buraco da parede ou

saído através dele. Perguntado se não tinha sido ele a telefonar

para a Tocano, Lda., a solicitar a reparação do cano da água,

respondeu que não. Já sabia o que o arguido Vasco andava a

dizer por aí, mas isso não correspondia à verdade. Suspeitava

que o telefonema para a polícia tenha sido efetuado pelo arguido

Zacarias, em conluio com o arguido Vasco, para o tramar e dado

o arguido Zacarias saber que o ora arguido pretendia não renovar

o contrato de trabalho que tinha com ele. Foi tudo montado pelos

dois, concluiu.

DECLARAÇÕES PRESTADAS NA AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO

ARGUIDOS

Vasco

Pelo arguido Vasco foi dito que no dia 22 de fevereiro, cerca de 16h30m,

recebeu um telefonema na empresa onde trabalha, a Tocano, Lda.,

pedindo-lhe que fossem com urgência proceder à reparação de um cano

existente na parede do quarto de banho do escritório da Trigolimpo,

Lda.. O arguido deslocou-se de imediato para lá, tendo-lhe sido aberta a

porta por alguém que não chegou a ver quem era. Porque já conhecia o

edifício, uma vez que lá tinha estado, cerca de um ano antes, a substituir

uma torneira, dirigiu-se de imediato para o sítio onde tinha de fazer o

trabalho. Quando começou, já passava das 19h30m. Com a pressa,

cansado de martelar o ponteiro com a maceta, e sem pensar muito,

ocorreu-lhe que tinha na carrinha um martelo elétrico percursor, que se

usado com cuidado podia facilitar-lhe bastante o trabalho. Foi buscá-lo.

Quando o acionou sobre a parede, e logo aos primeiros impactos do

martelo, a parede fissurou em várias direções e uma parte dela caiu

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para o lado de fora, ficando um buraco enorme. No exterior estavam

duas carrinhas estacionadas, que foram atingidas por bocados de tijolo e

cimento que lhe caíram em cima. Havia também um veículo automóvel

mais afastado, sobre o qual quase caiu um bocado grande da parede,

que deveria pesar bem mais de 200 Kg, mas não reparou que veículo

era, nem a marca nem a cor. Só sabe que não era uma carrinha.

Pareceu-lhe ser um carro muito mais pequeno, talvez desportivo, mas

não pode garantir.

Ficou em pânico, sem saber o que havia de fazer. Como não viu

ninguém por ali, pegou nas ferramentas e fugiu imediatamente.

Perguntado se não lhe apareceu uma pessoa da empresa a dizer-lhe

que não se preocupasse pois tinham seguro contra todos os riscos, o

arguido respondeu que a partir daquele momento não pretendida prestar

mais declarações.

Zacarias

Pelo arguido Zacarias foram reproduzidas, integralmente, as declarações que já havia prestado perante o JIC.

Xavier Pelo arguido Xavier foi dito que não pretendia prestar declarações.

TESTEMUNHAS

Adélia

Era professora de violoncelo de Zacarias, com quem começou um relacionamento amoroso no dia dos factos. Atualmente é sua companheira. Informada, nos termos do art.º 134º do CPP, da faculdade de se recusar a depor, disse que pretendia prestar declarações. Confirmou que tinha um encontro marcado para as 19h00m com o arguido Zacarias, tendo este chegado com algum atraso, por volta das 19h15m. Estiveram sempre juntos até jantarem, cerca das 20h00m, tendo-a Zacarias acompanhado a casa quando já eram 22h30m. Não sabe mais nada sobre os factos dos autos. Não acredita que tivesse sido o Zacarias a praticar os factos descritos na acusação ou que usasse o papel e os envelopes em

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proveito próprio. Aliás, devolveu à empresa ainda uns 10 envelopes, que tinha numa gaveta em casa, mesmo depois de aquela ter posto termo ao contrato de trabalho.

António

Colega de trabalho de Vasco. Declarou que no dia a seguir aos factos, 23/02/2013, encontrou o arguido Vasco. Este estava perturbadíssimo, contando à testemunha o que se tinha passado no dia anterior, e que um indivíduo tinha aparecido logo depois de a parede cair, dizendo-lhe que não se preocupasse, pois tinham seguro contra todos os riscos, bastando que ficasse calado e não dissesse mais nada a ninguém. Confrontada a testemunha com o facto de o arguido não ter contado em audiência a parte final desta versão dos factos, a testemunha respondeu que o Vasco o tinha procurado há dois dias atrás, dizendo que tinha recebido chamadas anónimas, ameaçando-o de morte se “faltasse à palavra dada” e “dissesse em julgamento mais do que aquilo que devia”. Afirmando que podia ser isso a justificar o seu silêncio, mas que não sabia ao certo. E que só ele o poderia dizer.

Fernando Trabalha no escritório da Garagens Sempre Pronto, Lda., confirmando ter sido lá que foram reparadas as carrinhas Ford, com as matrículas XX-00-00 e YY-00-00, pertencentes à Trigolimpo, Lda., e que a fatura relativa a tal reparação, no valor de € 550,00, foi por si emitida e posteriormente paga pela Trigolimpo, Lda..

Jani Cardoso Freitas É sócio-gerente da Trigolimpo, Lda.. Compareceu na empresa no dia 22 de fevereiro, após telefonema do seu sócio Patrocínio Xavier. Quando lá chegou eram cerca de 21h00m. No seu gabinete estava tudo revirado, a gaveta da sua secretária caída no chão e o cofre que a testemunha guardava atrás dela estava arrombado. Pensa que usaram a alavanca que estava caída no chão, junto do cofre. Lá dentro tinham guardada a quantia de € 12.350,00. Apenas a testemunha e o seu sócio sabiam da existência daquele cofre. E só lá iam quando ninguém se encontrava na empresa. Cada um tinha uma chave consigo. Reparou que havia desaparecido uma estatueta africana, em pau-preto, que tinham no corredor que servia as divisões do escritório, a qual veio a ser mais tarde encontrada pela polícia em casa do Vasco. Tal estatueta havia sido adquirida pela testemunha para a sociedade Trigolimpo, Lda., há 2 anos, pelo preço de € 250,00. Não sabe quem telefonou à Tocano, Lda., a solicitar a reparação da parede do quarto de banho, pois nesse dia

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tinha ido a Viseu de manhã cedo, para tratar de assuntos da empresa e apenas regressou cerca das 19h00m, tendo ido diretamente para casa, jantar com a família. A polícia encontrou mais tarde, do lado de fora do muro, dois envelopes com o dinheiro que havia sido retirado do cofre.