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SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila 3 - Prof. Renato Fialho - Página 1 3. Relações de Trabalho TOYOTISMO E NEOLIBERALISMO: Novas formas de controle para uma sociedade-empresa INTRODUÇÃO Embora o pensamento de Foucault tenha se voltado para a técnica principal das sociedades de disciplina, o confinamento, “ele é um dos primeiros a dizer que as sociedades disciplinares são aquilo que estamos deixando para trás” (DELEUZE, 1992, p. 215-216). Essa observação é feita por Gilles Deleuze, no texto Post Scriptum sobre as sociedades de controle. Em sua reflexão, Deleuze aponta mudanças na sociedade e no capitalismo contemporâneos, apresentando exemplos como a passagem da fábrica para a empresa. A atual gestão da produção e as novas formas de controle do trabalho, associadas ao modelo toyotista, permitem a dispersão da produção e um aparente afrouxamento na disciplina experimentada no modelo taylorista/fordista. A empresa pode hoje prescindir dos inspetores da qualidade, reduzir seus supervisores, dispersar a produção subcontratando e terceirizando processos importantes, chegando mesmo a valer-se de várias formas de trabalho à distância e doméstico, reduzindo seus custos. Levando em consideração que tal forma de gestão ainda demonstrou ser mais produtiva, pois deu novo fôlego ao capital a partir da década de 1970, respondendo à crise do binômio taylorista/fordista, podemos supor que o controle tornou-se mais eficiente, apesar do que possa parecer à primeira vista. O toyotismo e as atuais tecnologias de vigilância do trabalho configuram uma dimensão do que podemos chamar de sociedades de controle. É possível fazer um paralelo com esse sistema de gestão da produção e o atual sistema de gestão da vida, biopolítica nos termos de Foucault. Toyotismo de um lado e, de outro, neoliberalismo que também respondeu à crise do modelo keynesiano como fenômenos de uma sociedade de controle. A análise das tecnologias de controle nesse caso não deve ser limitada aos seus aparatos técnicos, como câmeras e softwares, mas focar também tecnologias discursivas e os mecanismos subjetivos de controle do trabalho e social. Como pode ocorrer tal mobilização para o mercado e o trabalho, sem a necessidade de qualquer regime ditatorial declarado na fábrica ou no Estado? Nas palavras de Dr. Benway, personagem do livro de Burroughs: “um estado policial em pleno funcionamento não precisa de polícia” (BURROUGHS, 1992, p. 31-32). SOBRE O TOYOTISMO Os conceitos que norteiam a organização da produção atualmente são inspirados em ferramentas e métodos amplamente associados ao modelo japonês de produção. “Dentre experiências do capital que se diferenciavam do binômio taylorismo/fordismo, pode- se dizer que o ‘toyotismo’ ou o ‘modelo japonês’ encontrou maior repercussão”(ANTUNES, 2003, p. 53). Não é possível recuperar aqui os detalhes do método, as fases de implantação do mesmo na empresa Toyota ou sua disseminação também no ocidente. Nos importa apenas destacar no que o toyotismo difere de formas anteriores de gestão e organização da produção e seus princípios gerais. Para o sociólogo Ricardo Antunes, o toyotismo difere do fordismo basicamente pela produção muito vinculada à demanda, além de variada e bastante heterogênea; fundamenta-se no trabalho operário em equipe, com multivariedade de funções e flexível, onde o trabalhador pode operar várias máquinas; tem como princípio o just in time, o melhor aproveitamento possível do tempo de produção e funciona segundo o sistema de kanban, placas ou senhas de comando para reposição de peças e de estoque, que deve ser mínimo. O processo produtivo é horizontalizado, transferindo muitas atividades para terceiros enquanto na fábrica fordista cerca de 75% era produzido no seu interior, na fábrica toyotista esse número chega a 25% e tende a reduzir-se ainda mais. Além disso, organiza grupos de trabalhadores que são instigados a discutir seu desempenho “com vistas a melhorar a produtividade das empresas, convertendo-se num importante instrumento para o capital apropriar-se do savoir faire intelectual e cognitivo do trabalho, que o fordismo desprezava” (ANTUNES, 2003, p. 55). Pela pequena descrição feita até aqui já é possível compreender o grau de controle necessário para operar respondendo à demanda do mercado, produzindo o necessário com o maior aproveitamento possível da mão de obra, assim como controlar um estoque mínimo, onde nada falte, mas nada sobre, visando não antecipar capital. E, no lugar do trabalhador especializado, operando uma única máquina, sob o olhar de um supervisor com um

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SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila 3 - Prof. Renato Fialho - Página 1

3. Relações de Trabalho

TOYOTISMO E NEOLIBERALISMO: Novas formas de controle para uma sociedade-empresa

INTRODUÇÃO

Embora o pensamento de Foucault tenha se voltado para a técnica principal das sociedades de disciplina, o confinamento, “ele é um dos primeiros a dizer que as sociedades disciplinares são aquilo que estamos deixando para trás” (DELEUZE, 1992, p. 215-216). Essa observação é feita por Gilles Deleuze, no texto Post Scriptum sobre as sociedades de controle. Em sua reflexão, Deleuze aponta mudanças na sociedade e no capitalismo contemporâneos, apresentando exemplos como a passagem da fábrica para a empresa.

A atual gestão da produção e as novas formas de controle do trabalho, associadas ao modelo toyotista, permitem a dispersão da produção e um aparente afrouxamento na disciplina experimentada no modelo taylorista/fordista. A empresa pode hoje prescindir dos inspetores da qualidade, reduzir seus supervisores, dispersar a produção subcontratando e terceirizando processos importantes, chegando mesmo a valer-se de várias formas de trabalho à distância e doméstico, reduzindo seus custos. Levando em consideração que tal forma de gestão ainda demonstrou ser mais produtiva, pois deu novo fôlego ao capital a partir da década de 1970, respondendo à crise do binômio taylorista/fordista, podemos supor que o controle tornou-se mais eficiente, apesar do que possa parecer à primeira vista.

O toyotismo e as atuais tecnologias de vigilância do trabalho configuram uma dimensão do que podemos chamar de sociedades de controle. É possível fazer um paralelo com esse sistema de gestão da produção e o atual sistema de gestão da vida, biopolítica nos termos de Foucault. Toyotismo de um lado e, de outro, neoliberalismo – que também respondeu à crise do modelo keynesiano – como fenômenos de uma sociedade de controle.

A análise das tecnologias de controle nesse caso não deve ser limitada aos seus aparatos técnicos, como câmeras e softwares, mas focar também tecnologias discursivas e os mecanismos subjetivos de controle do trabalho e social. Como pode ocorrer tal mobilização para o mercado e o trabalho, sem a necessidade de qualquer regime ditatorial declarado na fábrica ou no Estado? Nas palavras de Dr. Benway, personagem do livro de Burroughs: “um estado policial em pleno funcionamento não precisa de polícia” (BURROUGHS, 1992, p. 31-32).

SOBRE O TOYOTISMO Os conceitos que norteiam a organização da produção atualmente são inspirados em ferramentas e métodos amplamente associados ao modelo japonês de produção. “Dentre experiências do capital que se diferenciavam do binômio taylorismo/fordismo, pode-se dizer que o ‘toyotismo’ ou o ‘modelo japonês’ encontrou maior repercussão”(ANTUNES, 2003, p. 53).

Não é possível recuperar aqui os detalhes do método, as fases de implantação do mesmo na empresa Toyota ou sua disseminação também no ocidente. Nos importa apenas destacar no que o toyotismo difere de formas anteriores de gestão e organização da produção e seus princípios gerais. Para o sociólogo Ricardo Antunes, o toyotismo difere do fordismo basicamente pela produção muito vinculada à demanda, além de variada e bastante heterogênea; fundamenta-se no trabalho operário em equipe, com multivariedade de funções e flexível, onde o trabalhador pode operar várias máquinas; tem como princípio o just in time, o melhor aproveitamento possível do tempo de produção e funciona segundo o sistema de kanban, placas ou senhas de comando para reposição de peças e de estoque, que deve ser mínimo. O processo produtivo é horizontalizado, transferindo muitas atividades para terceiros – enquanto na fábrica fordista cerca de 75% era produzido no seu interior, na fábrica toyotista esse número chega a 25% e tende a reduzir-se ainda mais. Além disso, organiza grupos de trabalhadores que são instigados a discutir seu desempenho “com vistas a melhorar a produtividade das empresas, convertendo-se num importante instrumento para o capital apropriar-se do savoir faire intelectual e cognitivo do trabalho, que o fordismo desprezava” (ANTUNES, 2003, p. 55).

Pela pequena descrição feita até aqui já é possível compreender o grau de controle necessário para operar respondendo à demanda do mercado, produzindo o necessário com o maior aproveitamento possível da mão de obra, assim como controlar um estoque mínimo, onde nada falte, mas nada sobre, visando não antecipar capital. E, no lugar do trabalhador especializado, operando uma única máquina, sob o olhar de um supervisor com um

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cronômetro, imagem clássica do método de Taylor, teremos no toyotismo um trabalhador queopera várias máquinas ou executa diferentes funções, às quais escapariam à gerência coordenar e, além disso, essa gerência ainda foi reduzida; as atividades podem ser feitas por equipes ou times de trabalho muitas vezes com rotatividade das competências. Além disso, várias empresas executam pequenas etapas do processo de fabricação de determinado produto ou fornecem peças que precisam seguir a risca as especificações do produto final, mas também um exército de trabalhadores pode trabalhar à distância, muitas vezes em suas casas, apresentando desempenho elevadíssimo, sem que o ‘chefe’ esteja sentado na mesa de trás.

E aqui vale ressaltar um dos princípios norteadores da gestão atual, que é a busca pela redução de efetivos. O planejamento e controle da produção busca chegar a um nível que permita dividir determinada tarefa, distribuindo-a entre os trabalhadores, de modo a eliminar o posto daquele que antes a executava. A constante coleta e interpretação de dados permitem entender um fluxo de trabalho e traduzí-lo em um software ou maquinário que passe a executar a tarefa e reduza o trabalho vivo.

“*...+ não é tanto para economizar trabalho, mas, mais diretamente, para eliminar trabalhadores. Por exemplo, se 33% dos ‘movimentos desperdiçados’ são eliminados em três trabalhadores, um deles torna-se desnecessário. A história da racionalização na Toyota é a história da redução de trabalhadores; [...] Todo o seu tempo [dos trabalhadores], até o último segundo, é dedicado à produção (Kamata apud ANTUNES, 2003, p. 56).

Já que a coleta e interpretação de dados relativos ao processo é tão importante para o aperfeiçoamento contínuo da gestão, assim como as sugestões e melhorias feitas pelo próprio trabalhador à sua atividade, o que é encorajado, estimulado e exigido pela empresa, fica evidente que o envolvimento e participação dos trabalhadores é essencial nas formas contemporâneas de gestão da produção, mobilizando qualidades que foram, por vezes, deixadas de lado em formações anteriores. Também fica claro que o quadro atual traz várias complicações para os trabalhadores, como uma intensificação do trabalho, um desgaste evidenciado por vários problemas de saúde física e mental, ao mesmo tempo em que crescem os índices de desemprego.

“Não nos parece que o ‘toyotismo’ tenha significado, do ponto de vista dos trabalhadores, um avanço em direção ao domínio do processo produtivo. Isso por vários motivos: (...) as contrapartidas do ‘toyotismo’ inscrevem-se claramente numa estratégia de

cooptação dos operários para participação nos objetivos da empresa; (...) precarização das condições de trabalho e o desemprego estrutural para contingentes cada vez maiores da força de trabalho. Mesmo para os trabalhadores que estão empregados pelas empresas centrais, o que se observa é a extensão da jornada de trabalho e uma pressão contínua” (MARCELINO, 2004, p. 114-115).

Pode parecer, no mínimo, contraditório que se consiga a adesão dos trabalhadores para que incorporem novas tarefas, intensifiquem o ritmo de trabalho, contribuam com idéias para a melhoria do processo, sendo que o resultado da melhoria não é redução de desgaste no trabalho, mas de postos, de modo que, no limite, o trabalhador trabalha para sua própria exclusão. Os níveis de desemprego e a precarização a que se assiste já não deixaram bastante claros o efeito de ‘escada rolante ao contrário’ em que vive o trabalhador, onde se dedicar à tarefa, estudar e se aperfeiçoar para além do horário oficial de trabalho, não garantem ascensão na carreira?

Ao calcular as possibilidades de intensificação de trabalho, Taylor escolhia um trabalhador que lhe parecesse adequado para definir um novo padrão, um gorila amestrado em suas palavras, e lhe oferecia um pagamento maior se cumprisse a tarefa como planejada. Seu método procura estabelecer uma “relação formal de reciprocidade entre dois sujeitos histórica e politicamente desiguais: capital e trabalho” (HELOANI, 1994, p. 18).

Já as contrapartidas do fordismo como modelo vão além dos melhores salários pagos por Ford, estando ligadas também às políticas keynesianas e do Estado de bem estar social, durante uma espécie de “círculo virtuoso (ganhos elevados de produtividade – grande produção – aumento dos salários – consumo alto)” (LINHART, 2007, p. 76). “A esmagadora maioria dos conflitos e das greves das décadas de 1950, de 1960 e do início da década de 1970, que haviam sido desencadeados pelos sindicatos ou retomados por eles, terminou em negociações sobre os salários ou, de modo mais geral, sobre o contrato de trabalho” (LINHART, 2007, p. 78). Cabe perguntar quais são as contrapartidas do toyotismo?

Thomas Gounet resume ironicamente as inovações principais do toyotismo:

“Em lugar do trabalho desqualificado, o operário é levado à polivalência. Em vez da linha individualizada, ele integra uma equipe. No lugar da produção em massa, para desconhecidos, trabalha um elemento para satisfazer a equipe que vem depois da sua na cadeia. Em suma, o ‘toyotismo’ elimina,

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aparentemente, o trabalho repetitivo, ultra simplificado, desmotivante, embrutecedor” (GOUNET, 1999, p. 33).

Se estes são os pontos de defesa de tais técnicas de gestão, por outro lado já estão bastante evidentes o caráter de intensificação do trabalho, redução e precarização de postos, entre outros. Levando psicólogos do trabalho a voltarem-se para tais questões e trabalhadores a declararem preferir os métodos anteriores.

Diante disso é preciso comentar que não pode ser possível que as ferramentas de gestão da qualidade, o conhecimento psicológico da área de recursos humanos, as ‘reuniões do abraço’, os concursos, os prêmios, as gincanas, enfim, as técnicas de gestão e seus mecanismos de cooptação, sejam os únicos responsáveis pela adesão do trabalhador. Fica limitada a análise desse quadro se interpretarmos que ocorre um engodo por parte do capital, que os trabalhadores são enganados para que contribuam, pois parece que o capitalismo parou de prometer há algum tempo. Não mais se pede empenho para a situação melhorar, mas apenas constata-se que ‘não há alternativas’, a frase preferida, talvez, da doutrina neoliberal. Um primeiro ponto que precisamos investigar é de que esse envolvimento é possível em um tipo específico de trabalhador e de sociedade.

Pois, ao tratar de controle, claro que é interessante analisar o aspecto técnico da gestão do trabalho, como a produção pôde se dispersar, como a produtividade dos trabalhadores pode ser

acompanhada a distância, como os dados gerados pelo sistema podem ser constantemente colhidos e analisados para aperfeiçoá-lo; mas existe uma outra dimensão desse controle que é a adesão que se consegue do trabalhador e da sociedade. Claro que é um feito para o capital conseguir equacionar a financeirização da economia, a dispersão da produção, a flexibilidade produtiva acompanhando mudanças constantes no mercado, é impressionante mesmo todo o fluxo de informação controlado. Mas não é um feito muito maior conseguir que aqueles que trabalham, que colhem as informações, que alimentam as máquinas e softwares, enfim, que possibilitam a movimentação econômica o façam com toda a dedicação ao mesmo tempo que são gradativamente e cada vez mais jogados à margem do sistema? Não é essa característica do controle muito mais refinada, conseguir que o trabalhador defenda a empresa, pois dela depende sua vida, mas o faça morrendo por ela?

Para isso, tendo tratado rapidamente de aspectos da racionalidade aplicada à produção contemporânea, passemos para o raciocínio político e o discurso social que se articulam neste cenário para, adiante, tentar delinear o quadro geral de uma sociedade de controle e em que esse conceito encontra ressonância na realidade que estamos comentando (...).

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Trecho extraído do texto "Toyotismo e neoliberalismo: novas formas de controle para uma sociedade-empresa", de Rafael Alves da Silva.

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O IMPÉRIO DO CONSUMO por Eduardo Galeano

A explosão do consumo no mundo atual faz mais barulho do que todas as guerras e mais algazarra do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco, aquele que bebe a conta, fica bêbado em dobro. A gandaia aturde e anuvia o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço.

Mas a cultura de consumo faz muito barulho, assim como o tambor, porque está vazia; e na hora da verdade, quando o estrondo cessa e acaba a festa, o bêbado acorda, sozinho, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos quebrados que deve pagar. A expansão da demanda se choca com as fronteiras impostas pelo mesmo sistema que a gera. O sistema precisa de mercados cada vez mais abertos e mais amplos tanto quanto os pulmões precisam de ar e, ao mesmo tempo, requer que estejam no chão, como estão, os preços das matérias primas e da força de trabalho humana. O sistema fala em nome de todos, dirige a todos suas imperiosas ordens de consumo, entre todos espalha a febre compradora; mas não tem jeito: para quase todo o mundo esta aventura começa e termina na telinha da TV. A maioria, que contrai dívidas para ter coisas, termina tendo apenas dívidas para pagar suas dívidas que geram novas dívidas, e acaba consumindo fantasias que, às vezes, materializa cometendo delitos. O direito ao desperdício, privilégio de poucos, afirma ser a liberdade de todos.

Dize-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa as flores dormirem, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores estão expostas à luz contínua, para fazer com que cresçam mais rapidamente. Nas fábricas de ovos, a noite também está proibida para as galinhas. E as pessoas estão condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem metade dos calmantes, ansiolíticos e demais drogas químicas que são vendidas legalmente no mundo; e mais da metade das drogas proibidas que são vendidas ilegalmente, o que não é uma coisinha à-toa quando se leva em conta que os EUA contam com apenas cinco por cento da população mundial.

«Gente infeliz, essa que vive se comparando», lamenta uma mulher no bairro de Buceo, em Montevidéu. A dor de já não ser, que outrora cantava o tango, deu lugar à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. «Quando não tens nada, pensas que não vales nada», diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, em Buenos Aires. E outro confirma, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: «Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas, e vivem suando feito loucos para pagar as prestações».

Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade, e a uniformidade é que manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todas as partes suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora do que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.

O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde quantidade com qualidade, confunde gordura com boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a «obesidade mórbida» aumentou quase 30% entre a

população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou 40% nos últimos dezesseis anos, segundo pesquisa recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado. O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free, tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar desce do carro só para trabalhar e para assistir televisão. Sentado na frente da telinha, passa quatro horas por dia devorando comida plástica.

Vence o lixo fantasiado de comida: essa indústria está conquistando os paladares do mundo e está demolindo as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêm de longe, contam, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade e constituem um patrimônio coletivo que, de algum modo, está nos fogões de todos e não apenas na mesa dos ricos. Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão sendo esmagadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida em escala mundial, obra do McDonald´s, do Burger King e de outras fábricas, viola com sucesso o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.

A Copa do Mundo de futebol de 1998 confirmou para nós, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola proporciona eterna juventude e que o cardápio do McDonald´s não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército do McDonald´s dispara hambúrgueres nas bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O duplo arco dessa M serviu como estandarte, durante a recente conquista dos países do Leste Europeu.

As filas na frente do McDonald´s de Moscou, inaugurado em 1990 com bandas e fanfarras, simbolizaram a vitória do Ocidente com tanta eloquência quanto a queda do Muro de Berlim. Um sinal dos tempos: essa empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. O McDonald´s viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama de Macfamília, tentaram sindicalizar-se em um restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas, em 98, outros empregados do McDonald´s, em uma pequena cidade próxima a Vancouver, conseguiram essa conquista, digna do Guinness.

As massas consumidoras recebem ordens em um idioma universal: a publicidade conseguiu aquilo que o esperanto quis e não pôde.

Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que a televisão transmite. No último quarto de século, os gastos em propaganda dobraram no mundo todo. Graças a isso, as crianças pobres bebem cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite e o tempo de lazer vai se tornando tempo de consumo obrigatório. Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisão, e a televisão está com a palavra. Comprado em prestações, esse animalzinho é uma prova da vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos.

Pobres e ricos conhecem, assim, as qualidades dos automóveis do último modelo, e pobres e ricos ficam sabendo das vantajosas taxas de juros que tal ou qual banco oferece. Os especialistas

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sabem transformar as mercadorias em mágicos conjuntos contra a solidão. As coisas possuem atributos humanos: acariciam, fazem companhia, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o carro é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados.

Os buracos no peito são preenchidos enchendo-os de coisas, ou sonhando com fazer isso. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas escolhem você e salvam você do anonimato das multidões. A publicidade não informa sobre o produto que vende, ou faz isso muito raramente. Isso é o que menos importa. Sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias. Comprando este creme de barbear, você quer se transformar em quem?

O criminologista Anthony Platt observou que os delitos das ruas não são fruto somente da extrema pobreza. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social pelo sucesso, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Eu sempre ouvi dizer que o dinheiro não trás felicidade; mas qualquer pobre que assista televisão tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro trás algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX marcou o fim de sete mil anos de vida humana centrada na agricultura, desde que apareceram os primeiros cultivos, no final do paleolítico. A população mundial torna-se urbana, os camponeses tornam-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo, e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em todas as partes, mas por experiência própria sabem que atende nos grandes centros urbanos.

As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os esperadores olham a vida passar, e morrem bocejando; nas cidades, a vida acontece e chama. Amontoados em cortiços, a primeira coisa que os recém chegados descobrem é que o trabalho falta e os braços sobram, que nada é de graça e que os artigos de luxo mais caros são o ar e o silêncio.

Enquanto o século XIV nascia, o padre Giordano da Rivalto pronunciou, em Florença, um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam «porque as pessoas sentem gosto em juntar-se». Juntar-se, encontrar-se. Mas, quem encontra com quem? A esperança encontra-se com a realidade? O desejo, encontra-se com o mundo? E as pessoas, encontram-se com as pessoas? Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente encontra-se com as coisas?

O mundo inteiro tende a transformar-se em uma grande tela de televisão, na qual as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos.

Os terminais de ônibus e as estações de trens, que até pouco tempo atrás eram espaços de encontro entre pessoas, estão se transformando, agora, em espaços de exibição comercial. O shopping center, o centro comercial, vitrine de todas as vitrines, impõe sua presença esmagadora. As multidões concorrem, em peregrinação, a esse templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora é

submetida ao bombardeio da oferta incessante e extenuante. A multidão, que sobe e desce pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago; e para ver e ouvir não é preciso pagar passagem. Os turistas vindos das cidades do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas benesses da felicidade moderna, posam para a foto, aos pés das marcas internacionais mais famosas, tal e como antes posavam aos pés da estátua do prócer na praça.

Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam até o centro. O tradicional passeio do fim-de-semana até o centro da cidade tende a ser substituído pela excursão até esses centros urbanos. De banho tomado, arrumados e penteados, vestidos com suas melhores galas, os visitantes vêm para uma festa à qual não foram convidados, mas podem olhar tudo. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas.

A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo à descartabilidade midiática. Tudo muda no ritmo vertiginoso da moda, colocada à serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje, quando o único que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, são tão voláteis quanto o capital que as financia e o trabalho que as gera. O dinheiro voa na velocidade da luz: ontem estava lá, hoje está aqui, amanhã quem sabe onde, e todo trabalhador é um desempregado em potencial.

Paradoxalmente, os shoppings centers, reinos da fugacidade, oferecem a mais bem-sucedida ilusão de segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, além das turbulências da perigosa realidade do mundo.

Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota assim como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem pausa, no mercado. Mas, para qual outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar na historinha de que Deus vendeu o planeta para umas poucas empresas porque, estando de mau humor, decidiu privatizar o universo? A sociedade de consumo é uma armadilha para pegar bobos.

Aqueles que comandam o jogo fazem de conta que não sabem disso, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro por corrigir, nem um defeito por superar: é uma necessidade essencial. Não existe natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.

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Quanto mais presos, maior o lucroPor Paula Sacchetta

Em janeiro do ano passado (2013), assistimos ao anúncio da inauguração da "primeira penitenciária privada do país”, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Porém, prisões "terceirizadas” já existem em pelo menos outras 22 localidades, a diferença é que esta de Ribeirão das Neves é uma PPP (parceria público-privada) desde sua licitação e projeto, e as outras eram unidades públicas que em algum momento passaram para as mãos de uma administração privada. Na prática, o modelo de Ribeirão das Neves cria penitenciárias privadas de fato, nos outros casos, a gestão ou determinados serviços são terceirizados, como a saúde dos presos e a alimentação.

Hoje existem no mundo aproximadamente 200 presídios privados, sendo metade deles nos Estados Unidos. O modelo começou a ser implantado naquele país ainda nos anos 1980, no governo Ronald Reagan, seguindo a lógica de aumentar o encarceramento e reduzir os custos, e hoje atende a 7% da população carcerária. O modelo também é bastante difundido na Inglaterra – lá implantado por Margareth Thatcher – e foi fonte de inspiração da PPP de Minas, segundo o governador do estado Antônio Anastasia. Em Ribeirão das Neves o contrato da PPP foi assinado em 2009, na gestão do então governador Aécio Neves.

O slogan do complexo penitenciário de Ribeirão das Neves é "menor custo e maior eficiência”, mas especialistas questionam sobretudo o que é tido como "eficiência”. Para Robson Sávio, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) da PUC-Minas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, essa eficiência pode caracterizar um aumento das prisões ou uma ressocialização de fato do preso. E ele acredita que a privatização tende para o primeiro caso. Entre as vantagens anunciadas está, também, a melhoria na qualidade de atendimento ao preso e na infra-estrutura dos presídios.

Bruno Shimizu e Patrick Lemos Cacicedo, coordenadores do Núcleo de Situação Carcerária da Defensoria Pública de São Paulo questionam a legalidade do modelo. Para Bruno "do ponto de vista da Constituição Federal, a privatização das penitenciárias é um excrescência”, totalmente inconstitucional, afirma, já que o poder punitivo do Estado não é delegável. "Acontece que o que tem impulsionado isso é um argumento político e muito bem construído. Primeiro se sucateou o sistema

penitenciário durante muito tempo, como foi feito durante todo um período de privatizações, (…) para que então se atingisse uma argumentação que justificasse que esses serviços fossem entregues à iniciativa privada”, completa.

Laurindo Minhoto, professor de sociologia na USP e autor de Privatização de presídios e criminalidade, afirma que o Estado está delegando sua função mais primitiva, seu poder punitivo e o monopólio da violência. O Estado, sucateado e sobretudo saturado, assume sua ineficiência e transfere sua função mais básica para empresas que podem realizar o serviço de forma mais "prática”. E essa forma se dá através da obtenção de lucro.

Patrick afirma que o maior perigo desse modelo é o encarceramento em massa. Em um país como o Brasil, com mais de 550 mil presos, quarto lugar no ranking dos países com maior população carcerária do mundo e que em 20 anos (1992-2012) aumentou essa população em 380%, segundo dados do DEPEN, só tende a encarcerar mais e mais. Nos Estados Unidos, explica, o que ocorreu com a privatização desse setor foi um lobby fortíssimo pelo endurecimento das penas e uma repressão policial ainda mais ostensiva. Ou seja, começou a se prender mais e o tempo de permanência na prisão só aumentou. Hoje, as penitenciárias privadas nos EUA são um negócio bilionário que apenas no ano de 2005 movimentou quase 37 bilhões de dólares.

Como os presídios privados lucram

Nos documentos da PPP de Neves disponíveis no site do governo de Minas Gerais,fala-se inclusive no "retorno ao investidor”, afinal, são empresas que passaram a cuidar do preso e empresas buscam o lucro. Mas como se dá esse retorno? Como se dá esse lucro?

Um preso "custa” aproximadamente R$ 1.300,00 por mês, podendo variar até R$ 1.700,00, conforme o estado, numa penitenciária pública. Na PPP de Neves, o consórcio de empresas recebe do governo estadual R$ 2.700,00 reais por preso por mês e tem a concessão do presídio por 27 anos, prorrogáveis por 35. Hamilton Mitre, diretor de operações do Gestores Prisionais Associados (GPA), o consórcio de empresas que ganhou a licitação, explica que o pagamento do investimento inicial na construção do presídio se dá gradualmente, dissolvido ao longo dos anos no repasse do estado. E o lucro também. Mitre insiste que com o investimento de R$ 280 milhões – total gasto até agora – na construção do complexo esse "payback”, ou retorno financeiro, só

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vem depois de alguns anos de funcionamento ou "pleno vôo”, como gosta de dizer.

Especialistas, porém, afirmam que o lucro se dá sobretudo no corte de gastos nas unidades. José de Jesus Filho, assessor jurídico da Pastoral Carcerária, explica: "entraram as empresas ligadas às privatizações das estradas, porque elas são capazes de reduzir custos onde o Estado não reduzia. Então ela [a empresa] ganha por aí e ganha muito mais, pois além de reduzir custos, percebeu, no sistema prisional, uma possibilidade de transformar o preso em fonte de lucro”.

Para Shimizu, em um país como o Brasil, "que tem uma das mais altas cargas tributárias do mundo”, não faz sentido cortar os gastos da população que é "justamente a mais vulnerável e a que menos goza de serviços públicos”. No complexo de Neves, os presos têm 3 minutos para tomar banho e os que trabalham, 3 minutos e meio. Detentos denunciaram que a água de dentro das celas chega a ser cortada durante algumas horas do dia.

O cúmulo da privatização

Outra crítica comum entre os entrevistados foi o fato de o próprio GPA oferecer assistência jurídica aos detentos. No marketing do complexo, essa é uma das bandeiras: "assistência médica, odontológica e jurídica”. Para Patrick, a função é constitucionalmente reservada à Defensoria, que presta assistência gratuita a pessoas que não podem pagar um advogado de confiança. "Diante de uma situação de tortura ou de violação de direitos, essa pessoa vai buscar um advogado contratado pela empresa A para demandar contra a empresa A. Evidentemente isso tudo está arquitetado de uma forma muito perversa”, alerta.

Segundo ele, interessa ao consórcio que, além de haver cada dia mais presos, os que já estão lá sejam mantidos por mais tempo. Um das cláusula do contrato da PPP de Neves estabelece como uma das "obrigações do poder público” a garantia "de demanda mínima de 90% da capacidade do complexo penal, durante o contrato”. Ou seja, durante os 27 anos do contrato pelo menos 90% das 3336 vagas devem estar sempre ocupadas. A lógica é a seguinte: se o país mudar muito em três décadas, parar de encarcerar e tiver cada dia menos presos, pessoas terão de ser presas para cumprir a cota estabelecida entre o Estado e seu parceiro privado. "Dentro de uma lógica da cidadania, você devia pensar sempre na possibilidade de se ter menos presos e o que acontece ali é exatamente o contrário”, afirma Robson Sávio.

Para ele, "na verdade não se está preocupado com o que vai acontecer depois, se está preocupado com a manutenção do sistema funcionando, e para ele funcionar tem que ter 90% de lotação, porque se não ele não dá lucro”.

Fonte: Adital. Publicado em 30/05/14.

Quanto mais presos, maior o lucro -Parte I.

http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=80845

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30 milhões em todo o mundo. Assim é a escravidão moderna 05.12.13

Por ONG/ Walk Free Foundation

Tradução: ADITAL

No conceito de "escravidão moderna” integram-se, entre outros, a trata de pessoas, os matrimônios forçados, a venda e a exploração de crianças e a servidão sexual ou doméstica como pagamento de dívidas. As vítimas têm sua liberdade negada e são usadas, controladas e exploradas por outra pessoa com fins de lucro, sexo ou, simplesmente, pela emoção da dominação.

Quantos escravos existem?

Segundo o Índice Mundial de Escravidão da ONG australiana Walk Free Foudation, no mundo há 29,8 milhões de novos escravos. No entanto, essa realidade é pouco conhecida e permanece oculta em casas de zonas residenciais e também em lugares de trabalho.

Como chegam a essa situação?

No Oeste africano e no Sudeste asiático, perpetuam-se sistemas de "escravidão hereditária”. Em outras zonas, as vítimas são sequestradas e vendidas para trabalhos ou matrimônios forçados. Um terceiro grupo tem sido enganado com promessas de uma educação ou um trabalho melhor. A China, o Paquistão, a Nigéria, a Etiópia e a Rússia registram os maiores níveis.

Europa

Os países da Europa Ocidental têm o menor risco geral de escravidão. No entanto, a dificuldade atual para reunir recursos suficientes impede que seja completamente erradicada. No Reino Unido, com uma das cifras mais baixas, distintas estimativas asseguram que há mais de 4.000 pessoas nessa situação. Na Bulgária e na Romênia, ao contrário, são detectados "milhares de casos”.

América, Canadá e Estados Unidos

Com uma forte demanda de mão de obra barata, são os destinos principais para a trata de pessoas. O México é um importante país de trânsito para os sul-americanos e centro-americanos que tentam entrar nos Estados Unidos. Os países da bacia do Caribe mostram, com exceção do Haiti, um menor nível de risco de violações de direitos que a maioria dos países latino-americanos.

Ásia

A Índia é o lugar com maior índice de escravidão moderna. E, enquanto na Austrália e na Nova Zelândia apenas há risco, no Paquistão e na Tailândia, este é muito alto.

Os novos grilhões

As "cadeias” da nova escravidão nem sempre são físicas. O medo, o isolamento e as dívidas são usados para reter uma pessoa contra sua vontade.

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As atuais formas de escravidão Pensavas que a escravidão era coisa do passado? A organização internacional Anti-Slavery, cataloga assim as novas formas de escravidão.

TRABALHO EM CONDIÇÕES DE SERVIDÃO

Pelo menos 20 milhões de pessoas em todo o mundo se veem obrigadas a trabalhar durante longas jornadas, sete dias por semana, 365 dias ao ano. Como "pagamento" por seu trabalho, recebem alimentação e alojamento básicos.

TRABALHO FORÇADO

Refere-se, principalmente, a crianças que são captadas ilegalmente por governos, partidos políticos ou indivíduos particulares e são obrigados a trabalhar.

TRABALHO INFANTIL

As piores formas de trabalho infantil se referem a crianças que trabalham em condições de exploração ou de risco.

PROSTITUIÇÃO INFANTIL

Exploram crianças por seu valor comercial mediante a prostituição, a trata e a pornografia. Em geral, são sequestradas, compradas ou vendidas; ou são obrigadas a ingressar no mercado do sexo.

TRATA

A Trata implica no transporte e/ou no comércio de seres humanos, usualmente mulheres ou crianças, com fins de lucro.

MATRIMÔNIO FORÇADO

O matrimônio precoce e o matrimônio forçado afetam mulheres e garotas, que são obrigadas a casar-se, sem que possam eleger seus futuros esposos.

ESCRAVIDÃO TRADICIONAL

A escravidão tradicional ou "propriedade pessoal" implica na compra e venda de pessoas.

[Fuente: AM – Querétaro - amqueretaro.com/]