3 - inconformada, apelou a recorrente glassven c. a. · vimento ao recurso, e manteve o despacho...

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Cópia do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa profe- rido no processo de registo da marca nacional n.° 347 026. Processo n.° 10035/04-7. I - Relatório. - 1- Ao contrário do que entendeu o despacho de recusa definitiva do registo da marca nacio- nal n.° 347 026, Rubbersil, proferido em 25 de Fevereiro de 2002 pelo Sr. Director de Marcas do Departamento de Marcas Nacionais, por subdelegação de competências do conselho de administração do Instituto Nacional da Pro- priedade Industrial (INPI), não há semelhança gráfica, fonética e ideográfica com a anterior marca nacional Hubersil pertencente a J. M. Huber Corporation que possa induzir o consumidor em erro ou confusão. Com base nestes fundamentos e de que não se verifi- cam os pressupostos da imitação para fundamentar a re- cusa do registo da marca nacional n.° 347 026, Rubersil, re- querido pela Glassven C. A., nos termos dos artigos 193.°, n.° 1,e 189.°, n.° 1, alínea m), do Código da Propriedade Industrial (CPI) de 1995 (1), veio Glassven C. A., Venezue- lana, industrial e comercial, com sede em Zona Industrial II, Carrera 6, entre 4 y 5, Barquisimeto, Edo, Lara, Venezuela, interpor recurso, nos termos dos artigos 38.° e seguintes do CPI, do dito despacho do Sr. Director de Marcas do INPI. 2 - Após a resposta-remessa a que se refere o arti- go 40.° do CPI, foi notificada a parte contrária, a qual não respondeu. Seguidamente foi proferida decisão final, que negou pro- vimento ao recurso, e manteve o despacho recorrido, ne- gando assim protecção jurídica nacional à referida à marca nacional n.° 347 026, Rubbersil, para assinalar os produtos da 1.ª classe para os quais foi pedido o registo, tendo fi- xado o valor tributário do recurso em 80 UC, nos termos do artigo 6.°, n.° 1, alíneas a) e q), do Código das Custas Judiciais (CCJ) e condenado a recorrente nas custas, com a taxa de justiça reduzida a metade [artigos 446.°, n.os 1 e 2, do Código de Processo Civil (CPC) e 14.°, alínea j), do CCJ].

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Cópia do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa profe- rido no processo de registo da marca nacional n.° 347 026.

Processo n.° 10035/04-7.

I - Relatório. - 1 - Ao contrário do que entendeu o despacho de recusa definitiva do registo da marca nacio- nal n.° 347 026, Rubbersil, proferido em 25 de Fevereiro de 2002 pelo Sr. Director de Marcas do Departamento de Marcas Nacionais, por subdelegação de competências do conselho de administração do Instituto Nacional da Pro- priedade Industrial (INPI), não há semelhança gráfica, fonética e ideográfica com a anterior marca nacional Hubersil pertencente a J. M. Huber Corporation que possa induzir o consumidor em erro ou confusão. Com base nestes fundamentos e de que não se verifi-

cam os pressupostos da imitação para fundamentar a re- cusa do registo da marca nacional n.° 347 026, Rubersil, re- querido pela Glassven C. A., nos termos dos artigos 193.°, n.° 1, e 189.°, n.° 1, alínea m), do Código da Propriedade Industrial (CPI) de 1995 (1), veio Glassven C. A., Venezue- lana, industrial e comercial, com sede em Zona Industrial II, Carrera 6, entre 4 y 5, Barquisimeto, Edo, Lara, Venezuela, interpor recurso, nos termos dos artigos 38.° e seguintes do CPI, do dito despacho do Sr. Director de Marcas do INPI. 2 - Após a resposta-remessa a que se refere o arti-

go 40.° do CPI, foi notificada a parte contrária, a qual não respondeu. Seguidamente foi proferida decisão final, que negou pro-

vimento ao recurso, e manteve o despacho recorrido, ne- gando assim protecção jurídica nacional à referida à marca nacional n.° 347 026, Rubbersil, para assinalar os produtos da 1.ª classe para os quais foi pedido o registo, tendo fi- xado o valor tributário do recurso em 80 UC, nos termos do artigo 6.°, n.° 1, alíneas a) e q), do Código das Custas Judiciais (CCJ) e condenado a recorrente nas custas, com a taxa de justiça reduzida a metade [artigos 446.°, n.os 1 e 2, do Código de Processo Civil (CPC) e 14.°, alínea j), do CCJ].

3 - Inconformada, apelou a recorrente Glassven C. A. Nas suas alegações, em síntese nossa, conclui:

«1.° O despacho de recusa do registo da marca n.° 347 026, Rubbersil, de 2 de Fevereiro de 2002, proferi- do pelo Ex.mo Sr. Director de Marcas do Departamento de Marcas Nacionais, por subdelegação de competências do conselho de administração do Instituto Nacional da Pro- priedade industrial, é ilegal, e ilegal é também a sentença recorrida que o manteve. 2.° Ilegalidade esta que advém do facto de, por tais de-

cisões, ter ficado determinada a aplicação das normas con- jugadas dos artigos 193.°, n.° 1, e 189.°, n.° 1, alínea m), ambos do CPI (ao tempo vigente), recusando-se o registo da marca nacional n.° 347 026, Rubbersil, com referência à marca nacional n.° 312 463, Hubersil, sem que se verifiquem cumulativamente os respectivos pressupostos de aplicação. 3.° A marca nacional n.° 347 026, Rubbersil, não é se-

melhante à marca nacional n.° 312 463, Hubersil, no grau legalmente relevante para efeito de qualificação como imi- tação, que é o de uma semelhança potenciadora da indu- ção fácil do consumidor em erro ou confusão. 4.° Tanto no exame subjacente ao despacho recorrido

como no juízo de que resulta a sentença de que se apela, as marcas registanda e citada como obstativa foram objec- to de uma análise minuciosa, dissecadora e pormenoriza- da, desfasada e desconforme à realidade e dinâmica do mercado, no que os consumidores percepcionam as mar- cas de um modo espontâneo e global. 5.° Tanto no despacho recorrido como na sentença de

que se apela, o particular aspecto ideográfico das marcas foi ignorado, não tendo sido considerados os distintos estímulos sugeridos respectivamente pela marca registan- da, Rubbersil, e pela marca citada como obstativa, Hubersil. 6.° Tanto no despacho recorrido como na sentença de

que se apela, não foi ponderado sequer o aspecto ideo- gráfico ou conceptual da marca Rubbersil, sendo este um dos elementos de aferição de existência ou inexistência de semelhança qualificante da figura de imitação de marca. 7.° Embora a marca Rubbersil seja uma expressão unitá-

ria e incindível, suscita imediatamente o apelo à ideia de borracha e de sílica, sendo que a marca citada como obs- tativa, Hubersil, evoca a denominação social da respecti- va titular e sugere a ideia de sílica. 8.° Apesar de a marca citada como obstativa ser anterior

e de ambas as marcas serem destinadas a produtos apro- ximados, entre as marcas Rubbersil e Hubersil inexiste semelhança gráfica, fonética e ideográfica privilegiáveis para efeito de subsunção da marca registanda à figura de imita- ção de marca por referência à marca Hubersil, pois são distintos os estímulos globalmente percepcionados pelos consumidores específicos dos produtos respectivos. 9.° No despacho recorrido e na sentença de que se apela

não foi considerado criteriosamente como se impunha o perfil específico do consumidor, atenta a especial natureza dos produtos a que respeitam as marcas Rubbersil e Hu- bersil.

10.° Os consumidores utilizadores dos produtos em causa são profissionais qualificados, estando estes, por isso, obrigados ao uso de uma superior diligência nos seus actos de aquisição, sendo pois o seu grau de atenção naturalmente mais acentuado.

11.° Ainda que assim não se considere, ou seja, sejam considerados os consumidores de média atenção, diligên-

cia e perspicácia, a marca Rubbersil, pelo especial poder sugestivo que possui, não é susceptível de ser facilmente confundida com a marca citada como obstativa, Hubersil.

12.° O despacho recorrido e a sentença de que se apela são passiveis de ser censurados porque ilegais, devendo ser ordenada a revogação daquele e respectiva substitui- ção por outro que determine a concessão do registo da marca nacional n.° 347 026, Rubbersil.»

4 - A parte contrária apelada não contra-alegou. 5 - Questões essenciais a decidir: Na perspectiva da delimitação pelo recorrente (2), os re-

cursos têm como âmbito as questões suscitadas pelos re- correntes nas conclusões das alegações (artigos 690.°, n.° 1, e 684.°, n.° 3, do CPC) (3), salvo as questões de co- nhecimento oficioso (n.° 2 in fine do artigo 660.° do CPC), exceptuando-se do seu âmbito a apreciação das questões cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras (n.° 2, primeira parte, do artigo 660.° do CPC). Atento o exposto e o que flui das conclusões das ale-

gações (4) - e só se devem conhecer as questões que tenham sido suscitadas nas alegações e levadas às con- clusões, ainda que outras, eventualmente, tenham sido suscitadas nas alegações propriamente ditas (5) da recor- rente apelante supradescritas no n.° 1, n.° 3, a questão es- sencial a decidir é a de saber se deve ou não ser recusada protecção jurídica nacional à referida à marca nacional n.° 347 026, Rubbersil, para assinalar os produtos da 1.ª classe para os quais foi pedido o registo, com funda- mento nos artigos 189.°, n.° 1, alínea m), e 193.°, n.° 1, do CPI, por esta marca ser a reprodução ou imitação da marca nacional n.° 312 463, Hubersil, da J. M. Huber Corporation, em virtude de ser gráfica e foneticamente muito semelhante e, como tal, capaz de induzir o consumidor em erro ou confusão. Exposto o âmbito do recurso, vai-se conhecer da ques-

tão. 11- Fundamentos: A) De facto. -Na 1.ª instância foram dados como pro-

vados os seguintes factos: 1 - Por despacho de 25 de Fevereiro de 2002, o Sr. Di-

rector de Marcas do INPI, por subdelegação de competên- cias, recusou o registo à marca nacional n.° 347 026, Rub- bersil, pedida em 29 de Maio de 2000. 2 - Destinada a assinalar produtos da classe 1.ª: «Pro-

dutos químicos usados na indústria, nomeadamente silica- tos de sódio e precipitado de sílica.» 3 - A referida marca é constituída pela palavra «rub-

bersil» impressa em letra de imprensa maiúscula, sem rei- vindicação de cores. 4 - A sociedade J. M. Huber Corporation é titular do

registo da marca nacional n.° 312 463, Hubersil, pedido em 11 de Setembro de 1995 e concedido por despacho de 15 de Julho de 1996. 5 - Destinada a assinalar produtos da classe 13.ª: «Di-

óxido de silício, sílica e silicatos usados como cargas, agen- tes de condicionamento e agentes de reforço usados na indústria da borracha, antiespumificantes e nas indústrias agrícolas.» 6 - A referida marca é constituída pela palavra «huber-

sil» impressa em letra de imprensa, maiúscula, sem reivin- dicação de cores.

B) De direito; 1 - A confundibilidade das marcas: Nos termos do artigo 189.°, alínea m), do CPI será recu-

sado o registo das marcas que, em todos ou alguns dos seus elementos, contenham «a reprodução ou imitação no todo ou em parte de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou serviço similar ou seme- lhante, que possa induzir em erro ou confusão o consumi- dor». E nos termos do n.° 1 do artigo 193.° do CPI a mar- ca registada considera-se imitada ou usurpada, no todo ou em parte, por outra, quando, cumulativamente:

a) A marca registada tiver prioridade; b) Sejam ambas destinadas a assinalar produtos ou

serviços idênticos ou de afinidade manifesta; c) Tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou fo- nética que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de as- sociação com a marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto.

E nos termos do n.° 2 deste mesmo artigo, constitui imitação ou usurpação parcial de marca o uso de certa denominação de fantasia que faça parte de marca alheia anteriormente registada. Vejamos então se se verificam ou não estes pressupos-

tos. a) Quanto à prioridade da marca nacional n.° 312 463,

Hubersil, da J. M. Huber Corporation, não há mínima dú- vida que se verifica, atenta a matéria de facto provada supradescrita no n.° II, A), n.os 1 e 4. b) Há que passar agora à afinidade dos produtos e ser-

viços. A marca é um sinal destinado a individualizar produtos

ou mercadorias e produtos ou serviços (6) e a permitir a sua diferenciação de outros da mesma espécie (7), distin- guindo os produtos ou serviços pela sua integração numa série (8). É um sinal distintivo de mercadorias e produtos (9). É o mais importante sinal distintivo do comércio (10). Só se aplica a produtos (ou serviços) idênticos ou seme- lhantes e, por isso, o âmbito da protecção que concede limita-se aos produtos ou serviços idênticos ou afins àque- les para os quais foi registada (artigo 207.° do CPI). É por esta razão que o seu registo é feito por produtos e servi- ços, conforme decorre dos artigos 181.°, n.° 1, alínea b), 184 e 185.°, n.° 2, do CPI, sendo também a base para a ve- rificação da imitação ou usurpação (12) (artigo 193.° do CPI). Para que uma marca se considere imitada por outros, é ne- cessário que ambas se destinem a assinalar produtos ou serviços idênticos ou de afinidade manifesta. É a consa- gração do princípio da especialidade (13). Este principio é restrito a certos produtos, e não é absoluto para todo e qualquer produto, seja qual for a sua espécie. «Quer dizer, uma não tem de ser distinta de toda e qualquer outra mar- ca já existente, seja qual for o produto para que tiver sido adoptada e esteja sendo usada; tem de ser distinta, e por- tanto nova, no sentido de que não deve confundir-se com qualquer outra que tenha sido adoptada ou usada para produtos do mesmo género. Que importa, por exemplo, ao produtor de vinho que um fabricante de limas ou de para- fusos adopte para os respectivos produtos uma marca igual ou semelhante à que adoptou para os seus vinhos? (14)».

Seja qual for a expressão usada para se designar a novi- dade ou originalidade da marca e a exigência de que seja distinta das já existentes para os produtos ou serviços do mesmo género ou espécie, a doutrina conflui na ideia de limitar o âmbito da exclusividade do uso das marcas ao círculo de produtos concorrentes ou afins daqueles para que a marca foi registada (15). Tal como a própria origem latina demonstra, por produtos idênticos (16) ou afins (17) [alínea b) do n.° 1 do artigo 193.° do CPI] deve entender- -se os produtos ou serviços que têm a mesma natureza ou características, ou que têm uma natureza ou características próximas, vizinhas, contíguas ou semelhantes (18). É o que sucede, por exemplo, com vinho maduro e vinho verde, ou com esferográficas e canetas. Mas deve também entender- -se que são afins os produtos com natureza marcadamente diversa mas com finalidades idênticas ou semelhantes, como sucede, por exemplo, com fios de linho e fios de seda. Trata-se, num caso e noutro, de bens «concorrentes», in- termutáveis ou substituíveis (satisfazem necessidades idên- ticas). Todavia, a afinidade ainda não se fica por aqui. Devem ainda ser considerados afins os bens não intermu- táveis ou substituíveis que o público destinatário crê ra- zoavelmente terem a mesma origem, por serem economica- mente complementares, como sucede, por exemplo, com artigos de couro e pomadas para tratar e conservar couro, fios de lã e vestuário de lã, câmaras de vídeo e vidéocas- settes, ou por outras razões, por exemplo, vinhos e aguar- dentes, automóveis ligeiros e tractores (19). É preciso que a semelhança ou proximidade seja suficiente para permitir, ainda que parcialmente, uma procura conjunta, para satis- fação de idênticas necessidades dos consumidores (20). Mas não se pode ultrapassar estas fronteiras e, a pretexto da crescente concentração-diversificação das empresas, alar- gar em demasia o conceito de produtos ou serviços afins e, consequentemente, alargar desmesuradamente os limites da protecção conferida por lei ao titular de cada marca, ul- trapassando todos os critérios definidos pela lei (21). Assim, não se podem ter por afins, por exemplo, isqueiros, gravatas e perfumes, só pelo facto de se encontrarem à venda numa empresa de artigos de luxo (22), ou produtos de jardinagem, desde máquinas de aparar relva até às sementes de plantas, só porque uma empresa de jardina- gem os oferece. Trata-se de produtos que segundo um critério objectivo nada têm de proximidade ou semelhança. Atenta a matéria de facto provada supradescrita no n.° II,

A), n.os 1 e 2, por um lado, e n.os 4 e 5, por outro, os pro- dutos da marca registanda são os produtos químicos usa- dos na indústria - os quais têm uma extensão demasiado vasta-e, a título meramente exemplificativo, como de- monstra o advérbio de modo, nomeadamente, são os sili- catos de sódio e precipitado de sílica. Os produtos da marca registada obstativa são os produtos da classe 13.ª: «Dióxido de silício, sílica e silicatos usados como cargas, agentes de condicionamento e agentes de reforço usados na indústria da borracha, antiespumificantes e nas indús- trias agrícolas.» Não é correcto dizer-se, como se diz na sentença recorrida, que os produtos de ambas as marcas se destinam a assinalar os mesmos produtos. Na verdade, por exemplo, o silicato de sódio não é quimicamente a mesma coisa que o dióxido de silício. O silicato de sódio é um sal resultante do ácido silícios (23) ou éster (24) do ácido silício e o dióxido de silício é um óxido com dois átomos de oxigénio por molécula. Nem o sódio (Na) - metal cin- zento e mole do grupo i da tabela periódica - é a mesma

coisa que o silício (Si02) - semimetal do grupo IV da ta- bela periódica. Elemento aparentado com o carbono e mui- to abundante na natureza sob a forma de quartzo, sílex, grés, areia e sílica. Os compostos de silício têm numerosas aplicações industriais (fabrico do vidro, materiais artificiais, silicones, etc.). No entanto, como reconhece a própria re- corrente [cf. conclusão G) das suas alegações], os produ- tos da marca registada obstativa e da marca registanda são semelhantes ou afins, pois não só têm finalidades idênti- cas, produtos químicos usados na indústria, como também, por exemplo, a sílica (25) (ou dióxido de silício) está pre- sente em ambos os produtos da marca registada e regis- tanda. Verifica-se, portanto, manifestamente o requisito previs-

to na alínea b) do n.° 1 do artigo 193.° do CPI. Vejamos agora o requisito da alínea c) do n.° I do arti-

go 193.° do CPI. É a questão da confundibilidade. Como se disse supra, a marca é um sinal destinado a

individualizar produtos ou mercadorias e a permitir a sua diferenciação de outros da mesma espécie (26), distinguin- do os produtos ou serviços pela sua integração numa sé- rie (27). É um sinal distintivo de mercadorias e produtos. É o mais importante sinal distintivo do comércio (29). Para que possa cumprir essa função, tem de ser nova, isto é, exige-se que ainda não tenha sido empregue para os mes- mos produtos ou serviços (30), tem de ser distinta e in- confundível de outra já existente ou adoptada por qualquer outro produto do mesmo género (31). E como manifesta- ção prática do princípio da especialidade (32), tem de ser recusado o registo das marcas que «tenham tal semelhan- ça gráfica, figurativa ou fonética que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de associação com a marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto» [arti- gos 189.°, n.° 1, alínea m), e 193.°, n.° 1, alínea c), do CPI). As semelhanças ou parecenças sobre as marcas podem ser, principalmente, de natureza gráfica, figurativa, fonética, ideográfica ou conceptual (33). A grafia e ou a fonética in- teressam particularmente para as marcas nominativas e as constituídas por letras ou números, bem como para as macas mistas em que elementos daquele género prevale- çam. As semelhanças gráficas e figurativas respeitam à imagem do sinal ou aos seus efeitos visuais (formas, mo- tivos, cores, etc.). No caso das semelhanças figurativas, estas referem-se tanto à imagem como ao conceito concre- to por elas invocado (34). Nas marcas figurativas e tridi- mensionais as semelhanças aludem sobretudo à figura e à configuração (35). As semelhanças fonéticas concernem aos sons das palavras utilizados nas marcas nominativas para diferenciar os produtos ou serviços. As semelhanças ide- ográficas ou conceituais atinentes a quaisquer tipos de marcas, e tem a ver com sentido ou significado da mar- ca (38). Nos termos do artigo 193.° do CPI, a imitação ou usur-

pação aparecem como sinónimos, com o significado de reprodução, total ou parcial, de uma marca registada para assinalar produtos ou serviços idênticos ou de afinidade manifesta. No entanto, as duas figuras distinguem-se. A usurpação é o uso indevido de uma marca por parte de uma pessoa diversa do respectivo titular. A imitação tra- duz-se na criação de uma nova marca, objectivamente di- versa da pertencente ao titular, mas que dela constitui a

reprodução mais ou menos fiel (39). Como diz Pinto Coe- lho (4°), «A imitação é a mais perigosa das fraudes. O usurpador que se socorre da imitação pretende aproveitar-se ilicitamente do crédito e da notoriedade de uma marca de outrem, mas, para poder defender-se, não a reproduz perfeitamente; limita-se a imitá-la, para poder ale- gar que a sua marca é diferente daquela de que se diz ser imitação.» Para que a semelhança entre as marcas constitua imita-

ção é necessário que a mesma possa induzir em erro ou confusão o consumidor com a anteriormente registada. Este risco deve ser entendido em sentido lato, de modo a abar- car tanto o risco de confusão em sentido estrito ou pró- prio como o risco de associação (41), como se depreende do artigo 207.°, in fine, do CPI. O risco de confusão de- pende de vários factores, nomeadamente do tipo de con- sumidores, do grau de semelhança entre as marcas e os produtos ou serviços assinalados e da força ou notorieda- de da marca registada. Os consumidores a considerar são, em primeiro lugar, aqueles a quem os produtos ou servi- ços assinalados se destinam. Depois, de entre estes, ao consumidor médio, nem particularmente atento, nem parti- cularmente distraído. O consumidor que releva no contex- to do direito das marcas é, pois, uma figura flexível e variá- vel (42). Para o risco de confusão, releva também o grau de semelhança. O risco é tanto maior quanto maior for a semelhança entre os sinais e os produtos ou serviços. O risco de confusão é também maior quando a marca re- gistada é forte (não «normal» nem «fraca»), ou muito co- nhecida (43). Na avaliação concreta deste risco é preciso atender às

diversas espécies de marcas utilizadas (44): marcas nomi- nativas, gráficas, mistas, etc. Sem prejuízo das especialidades colocadas por cada uma

destas marcas, é relativamente consensual que, no juízo sobre a similitude das marcas, se deve atender ao seguinte:

a) As marcas devem ser apreciadas em conjunto, global e sinteticamente, visto que só pela uni- dade global os elementos componentes se po- dem distinguir (45). Muito embora este juízo se tenha de fundar na análise das semelhanças e diferenças, no seu exame, não devem as seme- lhanças e diferenças ser dissecadas analitica- mente a fim de excluir do exame os elementos ou segmentos sem ou com pouca capacidade distintiva. A semelhança de conjunto tanto pode resultar da conjugação ou da combinação de vários elementos existentes em ambas as marcas, como da existência de um só elemento comum, se este for de tal forma saliente e pre- dominante que domine o conjunto e lhe impri- ma a semelhança necessária para determinar a confusão. É à semelhança do conjunto e não à natureza das dissemelhanças ou grau das dife- renças que as separam, que o juízo de similitu- de deve, pois, atender (47);

b) No conjunto da apreciação das marcas são irrele- vantes as suas componentes genéricas ou descri- tivas. O facto de se assemelharem, unicamente, com relação aos sinais genéricos ou descritivos, não é determinante;

c) Nas marcas complexas, deve-se privilegiar, sempre que possível, o elemento dominante.

Sustenta a recorrente, em síntese, que a marca registan- da não é semelhante à marca registada obstativa no grau legalmente relevante para o efeito de qualificação como imitação, que é o da semelhança potenciadora da indução fácil do consumidor em erro ou confusão, e que tanto o despacho recorrido como a sentença recorrida não consi- deraram o particular aspecto ideográfico ou conceptual das marcas: a Rubbersil a suscitar imediatamente o apelo à ideia de borracha e de sílica e a Hubersil a evocar a denomina- ção social da respectiva titular e a sugerir a ideia de sílica. Acrescenta, ainda, que não foi considerado criteriosamen- te, como se impunha, o perfil específico do consumidor. Os consumidores dos produtos em causa - diz - são pro- fissionais qualificados e, por isso, estão obrigados ao uso de uma superior diligência nos seus actos de aquisição, sendo, pois, o seu grau de atenção mais elevado. Conforme resulta da matéria de facto provada suprades-

crita no n.° II, A), n.°s 1 a 6, a marca registada e registanda são marcas nominativas visto que são constituídas por palavras. A comparação entre elas pode ser feita, nos ter- mos legais, nos planos visual, fonético e ideográfico (50). Quando à semelhança ou dissemelhança gráfica ou fonéti- ca se junta uma semelhança ou dissemelhança ideográfica ou conceitual, é indubitável que a facilidade ou dificulda- de de confusão aumenta ou diminui. Por isso, é fora de dúvida que o elemento ideográfico ou conceitual pode constituir um critério complementar ou auxiliar para efeito de determinar, em cada caso, a existência ou não de imita- ção (51). A recorrente pretende registar a marca nacional n.° 347 026, Rubbersil. Esta marca é nominativa, engendra- da para assinalar os produtos químicos usados na indús- tria, nomeadamente silicatos de sódio e precipitados de sílica. Face a isto, por mais que se visualize e revisualize, lenta e rapidamente, a marca, e por mais que se ouça e reouça, lenta e rapidamente, os sons com a sua pronúncia, a memória sensivel (52) que nos deixa a imagem-reprodu- ção (53), quer visual, quer auditiva (54), quer intelectual, é apenas a forma e proporção dos traços gráficos que a marca patenteia, é a total ausência de qualquer ideia, por meio da qual o pensamento se relacione com os produtos que a marca se destina a assinalar. Contra isto diz a apelante que a marca, como expressão unitária, suscita imediatamente o apelo à ideia de borracha e de sílica e que, por isso, é uma marca de tipo sugestivo ou expressivo significativo, dado que se constitui pelo vocábulo «rubber» (borracha) com o radical «sil» (de sílica), apresentando-se como uma expres- são de feição unitária e incindível, sendo também original, e arbitrária. Mas mesmo supondo que os consumidores utilizadores dos produtos assinalados pela marca sabem inglês ou, pelo menos, conhecem o significado da palavra «rubber» - mesmo sendo uma língua de grande difusão e uma das línguas comunitárias-europeias, nada nos autori- za a aceitar, sem pestanejar, que sim - conhecem o pro- cesso de fabrico da borracha, quer natural - a partir do látex coagulado (das várias espécies de árvores Hevea) por exposição ao fumo e ao calor ou por processos químicos, para separar a borracha da água, sais minerais, açúcares, resinas e substâncias -, quer sintético - a partir da poli- merização (55) em que se recorre a monómeros, com uma dupla ligação: butadieno (borracha buna), isopreno, cloro- preno, estireno ou tetracoloreto de silicone-com o uso, no primeiro caso, do enxofre, óxido de zinco, carbono ne- gro, constatamos que a marca Rubbersil não evoca qual- quer conotação entre borracha e sílica, ou borracha de sí-

lica. É completamente muda quanto ao processo de fabri- co, qualidade e funções dos produtos que se destina a as- sinalar. E o mesmo sucede se esmiuçarmos mais quanto às técnicas que foram usadas e se usam para ultrapassar as limitações da borracha natural (56): a vulcanização (aqueci- mento da borracha natural a 120°-160° com o enxofre), mis- tura da borracha com minerais pulverizados, pigmentos, óleos, asfaltos, alcatrões, fibras, etc., e, finalmente, a com- binação da borracha com materiais estruturais, como têx- teis, metais e ligas, cimento, madeira, vidro e asbestos (57). Mesmo supondo que esses mesmos consumidores utiliza- dores têm conhecimento destas técnicas, não se constata que a marca evoque o conteúdo, qualidade ou funções dos produtos que se destina a assinalar. Pelo que vem dito, não têm qualquer fundamento justi-

ficativo as afirmações feitas pela apelante. Sendo uma marca sugestiva, significativa ou expressiva aquela que, sem des- crever o respectivo produto, sugere alguma das suas qua- lidades ou funções (58), vê-se, conforme decorre do supra- exposto, que a marca registanda não é nada disto. Em relação aos produtos que se destina a assinalar é uma marca muda que nem um pedra. Não tem, pois, qualquer conteúdo ideológico. Não tem, nem de longe nem de per- to, qualquer capacidade para falar, como têm, por exemplo, «laranjina», para bebida à base de laranja; «dentol», para uma pasta dentífrica, ou «frigeco» para um frigorífico (59). Está a milhares de anos luz da capacidade falante destes exemplos. Será, quanto muito, uma marca arbitrária (6°), isto é, sem qualquer relação com os produtos que se destina a assinalar. Mas não é uma marca falante. Não tem, pois, manifestamente razão a recorrente. É assim lícito recorrer à dissecação analítica (61). A marca em questão é formada a partir da língua inglesa.

É uma marca complexa, visto que é composta por dois ele- mentos (62). E dentro desta língua é possível considerar a marca constituída por vários elementos: «rubber» (borracha, esfregador, esfregão, pedra de afiar, grosa, lima, jogada fi- nal, num jogo de cartas, que decide um empate, partida de jogo) mais «Sil» (primeira sílaba de sílica, em português tam- bém sílica), «rubber» mais «Sil» (primeira sílaba de silex, em português sílex), «rubber» mais «sil» (primeira sílaba de si- licone, em português também silicone), «rubber» mais «sil» (primeira sílaba de silicon, em português silício), e poderia mesmo ser a constituição com letras dos nomes de todos ou alguns dos sócios de sociedade, podendo-se imaginar, por exemplo, «rub» para Ruben, «ber» para Berry e «sil» para Silvers. E tudo isto, e o mais que a imaginação de cada um pode ditar, mostra à saciedade do grau de fantasia que a marca comporta. O que patenteia a falta de significado próprio desta marca nominativa e reforça o que já acima se disse para demonstrar que não é uma marca sugestiva, sig- nificativa ou expressiva. Do confronto da marca registanda nacional n.° 347 026,

Rubbersil, com a marca registada obstativa nacional n.° 312 463, Hubersil, é manifesta a semelhança gráfica e fonética. O aspecto visual e a pronúncia são muito seme- lhantes, quando se observam no conjunto, ou quando men- talmente se pronunciam. Percepção esta que se transmite aos próprios elementos que as compõem, como se vê nas expressões «bersil» e «bersil» são iguais e a primeira síla- ba inicial de cada uma delas «rub» e «hu» têm ambas um «u» breve. E a distinção entre o «r» e o «h» aspirado não ganha qualquer significado distintivo dentro deste contex- to global.

Não havendo qualquer dissemelhança ideográfica da marca registanda nacional n.° 347 026, Rubbersil, em rela- ção a marca registada obstativa nacional n.° 312 463, Hu- bersil, e havendo grande semelhança gráfica e fonética entre ambas, há o risco de que a marca registanda possa induzir em erro ou confusão o consumidor com a anterior- mente registada. E contra isto não se diga, como diz a re- corrente, que o consumidor utilizador dos produtos que as marcas assinalam são profissionais qualificados, em que o seu grau de atenção é naturalmente mais elevado. É que se é verdade que a especialidade dos consumidores indus- triais destes produtos diminui o risco de confusão, não é menos verdade que o elevado grau de semelhança gráfica e fonética entre as marcas e a afinidade ou semelhança entre os produtos que assinalam potenciam o risco de confusão, de forma que os seus consumidores utilizadores ao adquirirem os produtos da apelante podem crer errone- amente tratar-se da mesma marca e produtos da marca obstativa Hubersil. Improcede, pois, manifestamente o recurso. III - Decisão. - Assim e pelo exposto, julga-se impro-

cedente a apelação interposta pela recorrente e, conse- quentemente, confirma-se a decisão recorrida. Custas pela recorrente. Registe e notifique (artigo 157.°, n.° 4, do CPC).

(1) São do CPI de 1995, aprovado pelo artigo 1.° do Decreto- -Lei n.° 16/95, de 24 de Janeiro, que no seu artigo 8.° revogou o CPI de 1940 (aprovado pelo Decreto n.° 30 679, de 24 de Agosto de 1940, em obediência aos princípios estabelecidos na Lei n.° 1972, de 21 de Junho de 1938), e que vigorou até ao dia 31 de Maio de 1995, com as sucessivas alterações de que foi alvo, tendo o CPI de 1995 entrado em vigor em 1 de Junho de 1995 (artigo 9.° do Decreto-Lei n° 16/95) e vigorou até 30 de Junho de 2003, por ter sido revogado pelo artigo 15.°, alínea a), do Decreto-Lei n.° 36/ 2003, de 5 de Março, que no seu artigo 1.° aprovou o CPI de 2003, tendo este entrado em vigor em 1 de Julho de 2003, os preceitos legais indicados na falta de indicação em contrário, pois que é este o regime aplicável ao caso sub judice. atento o disposto no arti- go 10.° do Decreto-Lei n.° 36/2003, de 5 de Março, e no arti- go 11.°, n.° 1, do CPI de 1995, e o facto de a recorrente ter apre- sentado o pedido de registo da marca nacional n.° 347 026 no Instituto Nacional da Propriedade Industrial em 29 de Maio de 2000 e do despacho de recusa definitiva ter sido proferido em 25 de Fe- vereiro de 2002. (2) O âmbito do recurso é triplamente delimitado. Primeiro, é

delimitado pelo objecto da acção e pelos eventuais casos julgados formados na 1.ª instância recorrida. Segundo, é delimitado objecti- vamente pela parte dispositiva da sentença que for desfavorável ao recorrente (artigo 684.°, n.° 2, segunda parte do Código de Proces- so Civil) ou pelo fundamento ou facto em que a parte vencedora decaiu (artigo 684.°-A, n.os 1 e 2, do Código de Processo Civil). Terceiro, o âmbito do recurso pode ser limitado pelo recorrente. V., sobre esta matéria, Miguel Teixeira de Sousa, Estudos sobre o Novo Processo Civil, Lex, Lisboa, 1997, pp. 460-461 e 395 e segs. Cf. ainda, v. g., Manuel Rodrigues, Dos Recursos, 1943 (aponta- mentos de Adriano Borges Pires), pp. 5 e segs.; J. A. Reis, Código de Processo Civil Anotado, vol. v (reimpressão), 1981, pp. 305 e segs.; Castro Mendes, Direito Processual Civil-Recursos, Ed. da A. A. F. D. L., 1980, pp. 57 e segs. e 63 e segs.: Armindo Ribeiro Mendes, Direito Processual Civil III, Ed. da A A. F. D. L., 1982, pp. 239 e segs.; Fernando Amâncio Ferreira, Manual dos Recursos. Liv. Almedina, Coimbra, 2000, pp. 103 e segs. (3) V J. A. Reis, Código de Processo Civil Anotado. vol. v,

p. 56 (4) As quais terão de ser, logicamente, um resumo dos funda-

mentos porque se pede provimento do recurso, tendo como finali- dade que elas se tornem fácil e rapidamente apreensíveis pelo tribu- nal. As conclusões não devem ser afirmações desgarradas de qualquer premissa, e sem qualquer referência à fundamentação por que se pede o provimento do recurso. Não podem ser consideradas conclusões as indicadas como tal, mas que sejam afirmações desgarradas sem qualquer referência à fundamentação do recurso, nem se deve to- mar conhecimento de outras questões que eventualmente tenham

sido suscitadas nas alegações propriamente ditas. mas não levadas às conclusões. Por isso, só devem ser conhecidas, e só e apenas só. as questões suscitadas nas alegações e levadas às conclusões. Neste sentido, v. Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 21 de Ou- tubro de 1993 e de 12 de Janeiro de 1995: Colectânea de Jurispru- dência (Supremo Tribunal de Justiça), respectivamente, ano I. t. 3. p. 84, e ano III, t. 1, p. 19. (5) Cf. supra n. 4. (6) V. Luís M. Couto Gonçalves, Direito de Marcas. 2.ª ed.. Liv.

Almedina, 2003, pp. 22 e segs. Para este autor a função clássica distintiva da marca alargou-se ou redimensionou-se e já não signifi- ca, necessariamente, a garantia de uma origem empresarial (empre- sa única, sucessiva ou controlada, à qual se ligam os produtos ou serviços mercados), mas significa sempre a garantia de uma origem pessoal (pessoa à qual se atribui o ónus pelo uso não enganoso dos produtos ou serviços mercados). Sobre esta mesma questão v.. ain- da, M. Nogueira Serens, «A vulgarização da marca na Directiva n.° 89/104/CEE, de 31 de Dezembro de 1988» (Id est. no nosso Direito Futuro), Coimbra, 1995, in separata do número especial do B. F. D. U. C. Estudos em Homenagem ao Prof. Dr. António de Arruda Ferrer Correia, 1984, pp. 1 e segs.; Oliveira Ascensão, infra n.° 7. Quanto à noção de marca v., ainda, v. g. A. F. Ribeiro de Almeida, «Denominação de origem e marca», B. F. D. U. C., Stvdia Iurídica, n.° 39, Coimbra Editora, 1999, p. 333: Jorge M. Couti- nho de Abreu, Curso de Direito Comercial. vol. 1, 4.ª ed., Liv. Almedina, Coimbra, 2003, p. 348, n.° 1. (7) Mas não assegura a proveniência de um produto, nem a pro-

veniência de uma empresa, como demonstra o artigo 211.°, n.° 2. do CPI. Nem tem, por si, uma função de garantia, nem assegura a qualidade ou publicidade do produto. Pode desempenhar essas fun- ções, mas não as garante. Nem é um direito que se possa confundir como uma propriedade. Pelo seu carácter referencial, apenas garan- te ao seu titular apenas o seu uso em determinado produto ou ser- viço. V. Oliveira Ascensão, parecer sobre pressupostos da tutela de marca de grande prestigio, pp. 18-19. (8) V. Oliveira Ascensão, parecer sobre pressupostos da tutela de

marca de grande prestígio, pp. 17-18. (9) V., v. g., Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, vol. i,

Universidade de Coimbra, 1973. pp. 312-313; Oliveira Ascensão, Direito Comercial-Direito Industrial, vol. II, Lisboa, 1988, pp. 139 e segs.; Pedro Sousa e Silva, «Princípio da especialidade das marcas, a regra e a excepção: As marcas de grande prestígio», in ROA, ano 58 (Janeiro de 1998), t. i, pp. 392-393. (10) V. Oliveira Ascensão, parecer sobre a incidência de marca

registada sobre produtos ou serviços não idênticos nem semelhan- tes, p. 8. (11) Não se trata, pois, de um registo por classes, na medida em

que o exclusivo não cobre automaticamente os demais produtos ou serviços pertencentes à mesma classe dos indicados pelo requerente do registo (isto é, incluídos no mesmo grupo da classificaçào inter- nacional dos produtos ou serviços), nem exclui liminarmente aque- les que estejam incluídos em classes diferentes. Só os abrangerá caso se verifique entre os produtos ou serviços em confronto uma rela- çào de afinidade. V. Pedro Sousa e Silva, opus cit.. p. 398. (12) V. Oliveira Ascensào, Direito Comercial-Direito Industrial.

vol. II, p. 149. (13) Ou da novidade. O principio da especialidade ou da novida-

de da marca restringe-se aos produtos da mesma espécie ou afins. Trata-se, pois, de uma incidência limitada ou relativizada. V. Pedro Sousa e Silva, opus cit., p. 394, e, v. g., Pinto Coelho, Lições de Direito Comercial, vol. 1, Editor Carlos Ernesto Martins Souto, Lis- boa, 1942, pp. 343 e segs.: Ferrer Correia, opus cit., pp. 328 e segs.; Oliveira Ascensão, Direito Comercial-Direito Industrial, vol. II, pp. 149-150. (14) V. Pinto Coelho, opus cit., p. 354. (15) V. Pedro Sousa e Silva, opus cit., p. 395. (16) Em latim idem, eadem. idem (pronome ou adjectivo de-

monstrativo), composto do pronome ou adjectivo demonstrativo is, ea. id (este, aquele, o, a) mais a partícula dem. significa o mesmo, a mesma. Distingue-se de ipse. Este adjectivo determina com mais eficácia o substantivo e significa ele próprio e nào outro. (17) Em latim affinis (ou adffinis), e (adjectivo da 2.ª classe,

seguindo a 3.ª declinaçào), significa 1) vizinho, contíguo; adjacen- te: 2) parente, por afinidade, afim; 3) cúmplice: 4) que se inclina para, amigo de. Como substantivo affinitas (ou adfinitas), atis (subs- tantivo f) significa: 1) contiguidade, vizinhança: 2) afinidade, pa- rentesco, os parentes por afinidade: 3) analogia, semelhança. (18) No mesmo sentido, v. Jorge M. Coutinho de Abreu. opus

cit.. pp. 272 e segs., e Pedro Sousa e Silva. opus cit.. pp. 396 e segs.

(19) V. Jorge M. Coutinho de Abreu, opus cir., pp. 272-273. (20) V. Jorge M. Coutinho de Abreu, opus cit., p. 375, Pedro

Sousa e Silva, opus cit., p. 396. (21) V. Pedro Sousa e Silva. opus cir.. pp. 396-397. (22) V. Pedro Sousa e Silva, opus cir., p. 396, n. 39, e Chavan-

ne/Burst, cit. apud Jorge M. Coutinho de Abreu, opus cit., p. 373, a propósito de uma sentença de um tribunal parisiense. (23) E um sal é qualquer substância resultante da acção de ácido

sobre uma base. As bases sào quaisquer substâncias capazes de liber- tar iòes. As bases produzem sais quando sào neutralizadas por áci- dos e sào geralmente hidróxidos ou óxidos metálicos. (24) O éster é a substància (composto orgânico) resultante da

combinaçào de um ácido com um álcool, com a climinaçào da água. (25) A sílica é um mineral (corpo sólido de grande dureza, bran-

co ou incolor, multo abundante na natureza e que, depois de fundido, toma o aspecto de vidro) constituído por dióxido de silício (SiO2). (26) Mas nào asscgura a proveniência de um produto, nem a

proveniência de uma empresa, como demonstra o artigo 211.°, n.° 2, do CPI. Nem tem, por si, uma função de garantia, nem assegura a qualidade ou publicidade do produto. Pode desempenhar essas fun- ções, mas não as garante. Nem é um direito que se possa confundir como uma propriedade. Pelo seu carácter referencial, apenas garan- te ao seu titular o seu uso em determinado produto ou serviço. V. Oliveira Ascensão, parecer sobre pressupostos da tutela de mar- ca de grande prestígio, pp. 18-19. (27) V. Oliveira Ascensão, parecer sobre pressupostos da tutela

de marca de grande prestigio , pp. 17-18. (28) V., v. g., Ferrer Correia, Liçòes de Direito Comercial. vol. 1,

Universidade de Coimbra, 1973, pp. 312-313; Oliveira Ascensão, Direito Comercial-Direito Industrial. vol. II, Lisboa, 1988, pp. 139 e segs.; Pedro Sousa e Silva, «Princípio da especialidade das marcas, a regra e a excepção: As marcas de grande prestígio», in ROA. ano 58 (Janeiro de 1998), t. I, pp. 392-393. (29) V. Oliveira Ascensào, parecer sobre a incidência de marca

registada sobre produtos ou serviços nào idênticos nem semelhan- tes, p. 8. (30) O parecer da câmara corporativa que procedeu a publicação

do CPI de 1940 dizia que a marca s e r «nova, o que não quer dizer invenção do seu titular, original, mas nova no sentido de ain- da não ter sido empregada como marca na mesma indústria». Pu- blicação da Assembleia Nacional, 1937, pp. 216-217. (31) V. Pinto Coelho, opus cit.. p. 354; Jorge M. Coutinho de

Abreu, opus cit., p. 372. (32) Princípio que tem um carácter relativo. Cf. supra p. 12 a

passagem citada de Pinto Coelho, opus cit., p. 354. O princípio tem um carácter relativo, porque a lei restringe o princípio da es- pecialidade da marca aos produtos da mesma espécie ou afins. V. Ferrer Correia, opus cit., pp. 327 a 329. (33) O CPI de 2003, no artigo 245.°, n.° 1, alínea c), acrescen-

tou «ou outra» à tríade figurativa anterior. E bem, porque podem também ser, por exemplo, ideográficas ou conceituais. Jorge M. Coutinho de Abreu, opus cit., p. 374. (34) V. Luís M. Couto Gonçalves, opus cit., p. 139. (35) V. Jorge M. Coutinho de Abreu, ibidem. p. 374.Q) (36) Fonética, do grego ϕiνQ̀ TQ (adjectivo ϕiνQ̀ TóP. Q, óv =

concernente ao discurso, ao som ou à palavra, fonético), referente a ϕiνQ, QP (substantivo f.) som da fala, som da voz. A fonética é a ciência que estuda os sons da fala, quanto à sua produçào (foné- tica articulatória), suas características acústicas (fonética acústica) e suas características através dos tempos (fonética histórica), etc. V., v. g., Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira de Culrura. vol. 8, «Fo- nética». No caso das marcas, como sinal distintivo de produtos e serviços, tem essencialmente a ver com o som das palavras. E es- tas como se sabe, sào unidades menores do que as frases (cadeias faladas) e maiores do que o fonema [do grego 4iνQµE, µEdEP. som de voz, dicçào, é a unidade mental sonora significativa de que o som é a representação (ou realizaçào) física e que, numa determi- nada língua, serve para constituir e diferenciar formas fónicas]. V. Celso Cunha e I-indley Cintra, Nova Gramática do Portuguès Con- renrporâneo. Ediçòes Joào Sá da Costa, Lisboa, 15 ed., pp. 28 e 75. (37) V. Jorge M. Coutinho de Abreu, ibidem, p. 374. (38) V. Justino Cruz, CPI. 2.ª ed., Liv. Amado, L.da, pp. 225 e

segs., em anotação ao artigo 94.° do CPI de 1940. (39) Já a contrafacção (cf. artigo 264.° do CPI) é empregue com

um duplo sentido: o uso de marca alheia integralmente reproduzida (no que se confunde com o uso de usurpação) e de confecção ma- terial de marca de outrem, independentemente do seu uso ou apo- siçào do usurpador. V. Pedro Sousa e Silva, opus cit., pp. 399 a 401. e os ensinamentos de Pinto Coclho na passagem aí citada. (40) Opus cit., pp. 381-382.

(41) V. Jorge M. Coutinho de Abreu, opus cu., p. 376. No mes- mo sentido Nogueira Serem, «A vulgarizaçào da marca na Directi- va n.° 89/104/CEE, de 21 de Dezembro de 1988». in Estudos em Homenagem do Prof Doutor A. Ferrer Correia. vol. IV. 1977. p. 174. Manuel Oehen Mendes, parecer sobre o caso Porsche e Fiat. p. 14 (fl. 175 dos autos), diz que o risco de associação é aqui uma espécie do género risco de confusão. O Acórdão do Supremo Tribu- nal de Justiça de 31 de Maio de 2000, in Boletim do Ministério da Justiça. n.° 497, p. 415, diz que o risco de confusào compreen- de o risco de associaçào. (42) V. Luís M. Couto Gonçalves, p. 141. (43) V. Jorge M. Coutinho de Abreu, opus cit., p. 377. (44) V. Luís M. Couto Gonçalves, p. 136. (45) E isto é assim porque as nossas percepções se organizam

relativamente a conjuntos ou formas e nào relativamente a ele- mentos isolados. Estes só se podem distinguir pela análise do todo. É isto que nos ensina a moderna a psicologia da forma ou gestal- tismo, Gestaltpsychologie [do alemào Gestalt (s. f.) = forma, fei- çào] representada por Eduard Spranger (1872-?), Max Wertheimer (1880-1943), Paul Guillaume (1878-1962), Kurt Kofka (1886-1941) e Wolfang Köhler (1887-1967), na sequência da Context-theorie de Tichener c contra o atomismo psicológico dos associonistas, particularmente filósofos ingleses: John Locke (1632-1704), David I-Iume (1711-1776) e Stuart Mill (1806-1873), onde antes se inspi- rou a psicologia clássica. O atomismo psicológico explicava o todo pela simples associaçào dos elementos componentes. A psicologia da forma explica os elementos pelo todo. O atomismo psicológico considera a vida psíquica como uma multiplicidade de fenómenos de cuja associaçào resultaria a unidade. A psicologia da forma vê nela uma unidade global, cujos elementos só se podem distinguir pela análise do todo. E hoje a realidade parece dar-Ihe razào, desde que nào seja vista de uma forma rígida, com a exclusão de toda e qual- quer dissecaçào analítica. A multiplicidade dos fenómenos da nossa vida psíquica que continuamente afectam o nosso espírito (percep- çòes, lembranças, sentimentos, ideias, voliçòes, desejos e pensamen- tos) sào assim percepcionados por conjuntos ou formas e nào por elementos isolados. Um grupo de estrelas é percebido como uma constelaçào. O elemento só é modificado em funçào da forma de que faz parte. De facto, as nossas funções intelectuais (memória, imaginaçào, inteligência) parecem obedecer a estes princípios. Tem, pois, razào Luís M. Couto Gonçalves quando diz - opus cit.. p. 137-que a razão de ser da apreciação de conjunto das marcas está no facto de ser a imagem de conjunto aquela que, normalmen- te, sensibiliza mais o consumidor, náo se devendo pressupor que este tenha condições de efectuar um exame comparativo e contextual dos sinais entre si. (46) Como Bédarride muito a propósito observou, como refere

Pouillet em Traité des Marques de Fabrique e de la Concurrence Déloyale en Tous Gentes, Paris, 1912, n.° 331, p. 314, citado por Pinto Coelho, Lições de Direito Comercial. vol. 1, Editor Carlos Ernesto Martins Souto, Lisboa, 1942, p. 385. V. ainda, v. g., Oli- veira Ascensào, Direito Comercial- Direito Indusrrial, vol. II, Lis- boa, 1988, pp. 154-155; Jorge M. Continha de Abreu, opus cit., p. 275. (47) V. Justino Cruz, CPI. 2.ª ed., Liv. Amado, L.da, p. 220, em

anotaçào ao artigo 94.° do CPI de 1940. No mesmo sentido v. Oliveira Ascençào, Direito Comercial- Direito Industrial. vol. II, Lisboa, 1988, p. 154. (48) V. Luís M. Couto Gonçalves, ibidem, p. 137. (49) V. Luís M. Couto Gonçalves, ibidem, p. 137. (50) V. Luis M. Couto Gonçalves, opus cit., p. 139. (51) V. Justino Cruz, opus cit., pp. 226-227, em anotaçào ao

artigo 94.° do CPI de 1940. (52) A memória sensível representa o passado sob a forma de

imagens e liga-se à imaginaçào reprodutora. (53) Como se sabe da filosofia, do estudo da vida intelectual ou

cognitiva, a imagem é uma atitude da consciência que faz aparecer no espírito um objecto ausente, irreal portanto. A imagem- -reproduçào é fruto da imaginaçào reprodutora, que representa o real anteriormente percebido, com maior ou menor fidelidade. Não é uma pura repetiçào da percepçào, mas antes um condensado de experiências vividas c de afectividade. (54) Se nos situarmos para além das considerações do vulgo, que

nas imagens sensoriais só considera as visuais, e tivermos em conta o estudo supra-referido no n.° 53, podemos constatar que existem tantas imagens quanto os sentidos ou percepções: visuais, auditivas, olfactivas, gustativas, tácteis, térmicas, álgicas, cenestésicas, quines- tésicas e otolíticas. Porque a memória sensível se liga à imaginaçào reprodutora, a memória sensível pode ser dos seguintes tipos: visual, auditivo, táctil. motor, mecânico, intelectual. lógico e abstracto.

(55) A polimerizaçào é a reacção de monómeros (é qualquer composto a partir do qual os polímeros são feitos) para formar um polímero (é uma molécula gigante em que um grupo de átomos se repete). (56) A borracha natural é fraca, amolece muito com o calor.

enrija com frio e é solúvel nos solventes naturais e facilmente plas- tificada e laminável entre rolos. (57) Sobre os processos de fabrico da borracha v., v. g., Bernar-

dette Bensaude-Vicent e Isabelle Stengers, História da Química. Instituto Piaget, pp. 275 e segs., Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, vol. 3, «Borracha»; Dicionário Técnico-Cientifico Ilus- trado. Plátano Editora, «Borracha». (58) V. M. Nogueira Serens, opus cit., p. 66, citando Ferrer

Correia. (59) Exemplos dados por Ferrer Correia, opus cit.. p 325. (60) V. M. Nogueira Serem, ibidem. p 66, n. 24, e os exemplos

de marcas conhecidas que dá para referir marcas arbitrárias: camel/ camelo, para cigarros, shell/concha para combustíveis, apple/maçà para computadores (61) V. Luís M. Couto Gonçalves, ibidem. p. 137. (62) A marca complexa é a que é composta por vários elemen-

tos do mesmo género ou não. V. Jorge M. Coutinho de Abreu, opus cit., p. 350. (63) V. Justino Cruz, opus cit., p. 225.

Lisboa, 29 de Janeiro de 2005. - Arnaldo António da Silva.