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1 A Ética como Instrumento de Gestão SEMINÁRIO LUSO-ESPANHOL DE ÉTICA EMPRESARIAL Braga, Faculdade de Filosofia da UCP, 28.01.2004 Responsabilidade Social da Empresa: valor, limites, desafios e falsas noções** José Manuel Moreira * Não é em vão que se diz que nem o bem faz ruído, nem o ruído faz bem. ANÓNIMO, século XXI Ser “social” não é o mesmo que “ser recto aos olhos de Deus” L. VON WIESE Introdução O tema da responsabilidade social da empresa é quase tão velho como o próprio capitalismo. Trata das normas de conduta específicas das empresas. Uma temática com um longo historial de investigação e debate. Diz respeito à racionalidade, desempenho e comportamento das empresas, numa economia de mercado, e pode dividir-se em três grandes áreas: ética nos negócios, governo da empresa e leis enquadradoras da actividade empresarial. Uma abordagem que – vista no contexto da economia das políticas públicas – coloca duas questões centrais e inter-relacionadas. A primeira refere-se às obrigações a que devem estar sujeitas as empresas numa economia de mercado. A segunda diz respeito às responsabilidades que as empresas devem reconhecer e viver … para além das que lhe são impostas por lei 1 . É este último aspecto – com uma longa história e que, nas últimas décadas, tem vindo a ser discutido em termos de definição e interpretação da “responsabilidade social da empresa” – que aqui mais nos interessa. Um conceito que, nos últimos anos, conheceu uma nova vida, a ponto de uma nova concepção de RSE ter vindo a ganhar crescente aceitação entre grandes empresas, com apoio e mesmo promoção por parte de um número, cada vez mais alargado, de sectores exteriores ao mundo dos negócios. 1. O problema da definição A crescente aceitação desta temática não significa que haja acordo quanto à sua definição. Vamos, contudo, aceitar a que consta do Livro Verde publicado pela Comissão das Comunidades Europeias em Julho de 2001 2 onde se considera a RSE como expressão da capacidade das empresas para integrarem preocupações sociais e ambientais nas suas actividades empresariais e nas suas interacções com os seus stakeholders de uma forma voluntária. Por outras palavras, considera-se que uma empresa actua de uma maneira socialmente responsável se as suas iniciativas têm em conta três critérios: * Professor da Universidade de Aveiro.

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Ética Como Instrumento de Gestão

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A Ética como Instrumento de Gestão

SEMINÁRIO LUSO-ESPANHOL DE ÉTICA EMPRESARIAL Braga, Faculdade de Filosofia da UCP, 28.01.2004

Responsabilidade Social da Empresa: valor, limites, desafios e falsas noções**

José Manuel Moreira*

Não é em vão que se diz que nem o bem faz ruído,

nem o ruído faz bem. ANÓNIMO, século XXI

Ser “social” não é o mesmo que “ser recto aos olhos de Deus”

L. VON WIESE

Introdução O tema da responsabilidade social da empresa é quase tão velho como o próprio capitalismo. Trata das normas de conduta específicas das empresas. Uma temática com um longo historial de investigação e debate. Diz respeito à racionalidade, desempenho e comportamento das empresas, numa economia de mercado, e pode dividir-se em três grandes áreas: ética nos negócios, governo da empresa e leis enquadradoras da actividade empresarial. Uma abordagem que – vista no contexto da economia das políticas públicas – coloca duas questões centrais e inter-relacionadas. A primeira refere-se às obrigações a que devem estar sujeitas as empresas numa economia de mercado. A segunda diz respeito às responsabilidades que as empresas devem reconhecer e viver … para além das que lhe são impostas por lei1. É este último aspecto – com uma longa história e que, nas últimas décadas, tem vindo a ser discutido em termos de definição e interpretação da “responsabilidade social da empresa” – que aqui mais nos interessa. Um conceito que, nos últimos anos, conheceu uma nova vida, a ponto de uma nova concepção de RSE ter vindo a ganhar crescente aceitação entre grandes empresas, com apoio e mesmo promoção por parte de um número, cada vez mais alargado, de sectores exteriores ao mundo dos negócios.

1. O problema da definição A crescente aceitação desta temática não significa que haja acordo quanto à sua definição. Vamos, contudo, aceitar a que consta do Livro Verde publicado pela Comissão das Comunidades Europeias em Julho de 20012 onde se considera a RSE como expressão da capacidade das empresas para integrarem preocupações sociais e ambientais nas suas actividades empresariais e nas suas interacções com os seus stakeholders de uma forma voluntária. Por outras palavras, considera-se que uma empresa actua de uma maneira socialmente responsável se as suas iniciativas têm em conta três critérios:

* Professor da Universidade de Aveiro.

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Desenvolvem-se numa base voluntária, indo mais além dos requisitos legais.

Há uma interacção entre os stakeholders.

As preocupações sociais e ambientais estão integradas nas actividades empresariais. Ora, como salienta Isabel Vidal a respeito de Espanha, estes critérios podem ser, à primeira vista, fáceis de cumprir, mas, na realidade, são complexos. Senão vejamos: o que significa ir, de forma voluntária, além das exigências legais? Como se pode avaliar e comparar tal cumprimento num mundo cada vez mais aberto e onde tais exigências variam de país para país? O segundo critério pode cobrir uma ampla diversidade de situações, desde escutar passivamente a um diálogo activo. A terceira condição faz referência à necessidade de integrar a RSE na actividade empresarial e não como mais uma responsabilidade. Daí que muitos considerem que dar dinheiro como caridade não tenha nada a ver com a actividade empresarial. Mesmo assim há quem entenda a filantropia como fazendo parte da RSE, ainda que as suas implicações para a empresa sejam indirectas ou difíceis de identificar. Há também quem argumente que é um primeiro passo e, por isso, a filantropia deve ser apoiada, não repudiada3. Voltemos à primeira condição: o que é ir além do mero cumprimento da lei? Como conciliar a crescente tendência para tudo regular com a preservação da RSE no terreno da liberdade, da capacidade de iniciativa da empresa, de maneira que a RSE possa ser entendida como acto livre e voluntário? Como entender este sentido de serviço aos outros, de obrigação de servir o bem comum sem cuidar de preservar a capacidade de iniciativa e de inovação das pessoas e das organizações? A tendência – que existe e é forte – para regular por completo o conteúdo da responsabilidade social, não se traduzirá num empobrecimento da liberdade? É sempre bom lembrar que a expressão “economia social de mercado”, que muitos passaram a entender como significando que a economia de mercado carece de social, foi inicialmente usada pelos seus criadores, a começar por Erhard, como querendo significar que a “economia de mercado” era em si mesmo já “social”.

2. Valor e limites da RSE A RSE é, com certeza, uma boa ideia, mas, se usada sem precauções, poderá revelar-se muito perigosa. Compreende-se assim que uma visão realista sobre o futuro da RSE não deva escamotear os problemas, tensões e perigos que acarreta. Disso nos dão boa conta textos (de divulgação) recentes de Ángel Castiñeira/Joseph M. Lozano e de José Luis Fernández Fernández. É verdade que – como salientam os dois primeiros autores4 – num mundo globalizado entram em competição não só produtos mas também modelos de organização e de gestão (o que muitas vezes se esquece). E também competem modelos de país. Por isso cada vez mais se torna necessário que cada empresa e cada país configurem a sua aproximação à RSE. Aproximação que ninguém realiza no vazio ou partindo do zero, mas reelaborando a agenda da RSE a partir da sua própria tradição empresarial, social e cultural. As abordagens mais estimulantes da RSE são as que a situam no debate gerado pela intersecção entre as actuações (positivas e negativas) das empresas transnacionais, a emergência de uma sociedade civil e uma opinião pública globais e a redefinição do papel dos Estados e suas inter-relações. Isto leva a que a RSE já não se refira só às relações entre empresa e sociedade, mas que se coloque como uma maneira de repensar o papel da empresa na sociedade, também no âmbito da governância e da sustentabilidade. Não pode haver empresas bem sucedidas em países fracassados e vice-versa. Por isso, Michael Porter fala da vantagem competitiva das nações. Porque o desenvolvimento económico está vinculado ao tecido de relações sociais e culturais, onde se produz a actividade empresarial, e onde essas relações se reforçam mutuamente. Não existe uma empresa realmente viável que não esteja vinculada em certa medida ao território onde se insere. O que há hoje de novo, com o

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predomínio das redes, é que a implicação mútua em e com o território se constrói de forma deliberada, na medida em que já não é dada pela inércia de uma sociedade mais ou menos estável e confortavelmente estabelecida. Uma nova mudança de acento que estamos a viver agora é a passagem da vantagem competitiva das nações para a riqueza ética das nações. Consiste sobretudo na qualidade com que actuam os seus profissionais, na coerência e consistência do seu quadro constitucional, nos valores de referência que configuram as relações sociais e a vida das organizações. Por isso, incentivar e fomentar o desenvolvimento da RSE, no quadro de uma nação, é uma das pedras de toque que permite a articulação da sua vantagem competitiva e da riqueza ética. Ao dar expressão a uma visão da empresa e uma visão do país no contexto de um mundo globalizado, a RSE contribui para configurar um país como um espaço em que a economia e a sociedade não vivam de forma esquizofrénica e em que a liderança se vincula com compromisso cívico e nacional. Isto – insistem os mesmos autores – só é possível se eliminarmos a poluição gerada por três ideias que é necessário combater. 1) A RSE consiste em dar dinheiro para boas causas. 2) A RSE é uma espécie de luxo só ao alcance de grandes empresas cotadas na Bolsa. 3) A RSE pretende levar a cabo actividades que são muito úteis e benéficas, mas que não têm nada a ver com o negócio da empresa. Erradicar e dissolver estas três ideias nem sempre é fácil, porque há organizações sociais e instituições políticas que beneficiam da consolidação delas. Uma consolidação que vive da falsa oposição entre “social” e “mercado”, entre “ética” e “negócios”. Valeria a pena entre nós, à semelhança do livro editado pelo Professor Arthur Pollard5, The Representation of Business in English Literature, dar conta da extensão deste equívoco na nossa literatura. Um mal-entendido que explica o entusiasmo pela RSE por parte de tantos convertidos de uma esquerda que só agora descobriu a “economia social de mercado”, mas não se inibe na tentativa de identificar o “social” com o “estatal,” o administrativo, o sindical ou mesmo o estritamente laboral. Um outro perigoso equívoco que grassa também entre nós é o entendimento da RSE, não como recomendação moral, mas como obrigação legal. Uma desconfiança em relação a tudo quanto é voluntário que impede ver o fundamento voluntário do que João Paulo II chamou economia de empresa, economia de mercado ou economia livre6, e de dar devida conta dos perigos que advêm de confiar demais no arsenal legal7. Ao partir do princípio que qualquer “preocupação social” é fruto de uma obrigação legal e não de recomendação moral não só se pressupõe erradamente que o mercado se baseia num insuperável “individualismo” como se mina o caminho para uma verdadeira “sensibilidade social”. Equívocos que ajudam a explicar o entusiasmo de tantos defensores da RSE pelos subsídios do Estado e pelas doações das grandes empresas em campanhas de marketing, solidariedade ou filantropia, onde se reclama uma percentagem certificadora da quota de “preocupação social”. Infelizmente muitos destes supostos representantes do “social” têm pouca ideia do que é uma empresa e de como se processa a criação de valor ou da riqueza, daí a sua suspeita em relação a tudo quanto é voluntário e o pendor para considerar que o Estado deve obrigar a que as empresas lhes paguem como forma de mostrar o quanto são “sociais”. Uma perspectiva que esquece que a RSE não deve ser um problema mas um aspecto da solução. E a solução está em como se integra transversalmente nos processos empresariais. Isto significa que não se pode colocar como uma fonte de novos problemas e tensões para PMEs, nem como uma estratégia de legitimação ideológica para as grandes empresas. O perigo de usar o “social” como biombo que esconde a falta de ética é, de facto, muito grande8. Tem, por isso, razão Fernández, para insistir em que a preocupação com o que tem vindo a ser entendido como RSE, incluindo a sua gestão, ainda que possa contribuir para criar uma boa reputação empresarial, não garante uma actuação eticamente correcta nos procedimentos da empresa. O caso mais paradigmático é ilustrado pela Enron. Uma empresa que se distinguia pela performance a respeito da RSE mas em que a boa imagem durante anos por ser “boa cidadã” não

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impediu que conhecesse o final desastroso, de infeliz recordação, que comoveu a opinião pública mundial, ao memo tempo que deixou um caminho cheio de rastos de cinismo, perdas milionárias, ruína económica e miséria moral… além do desaparecimento de milhares de postos de trabalho e uma ou outra sentença de pena de prisão efectiva… Tudo isso, é claro, como resultado de uma mais que evidente falta de ética na gestão. Daí a necessidade de não confundir “responsabilidade social da empresa” com “gestão ética”. De facto, estes campos, embora muito próximos, não são sinónimos.

3. RSE: um bom ponto de partida? A RSE pode ser, de facto, um bom ponto de partida mas nunca de chegada: uma condição necessária mas não suficiente. Pode ser um passo adiante mas tal só se verificará se a ética se incorporar no que alguns chamam DNA da empresa. Como nos lembra Fernández, a RSE só dará bons frutos se estiver enraizada na boa terra de uma cultura empresarial caracterizada por valores firmes, critérios claros, princípios sólidos – pela seiva nutritiva da Ética Empresarial9. A diversidade de aspectos considerados pela RSE deve integrar-se em processos de melhoria e inovação empresarial. No futuro, a RSE deve ser vista como algo ligado à viabilidade e à sobrevivência das empresas. Por isso, consolidar empresas sustentáveis – nos três aspectos em simultâneo: económico, social e ambiental – é a nova fonte de sucesso empresarial. Necessitamos de liderança, compromisso e convicção, especialmente no âmbito empresarial. Mas também no âmbito político e social para criar um espaço público onde seja possível partilhar, disseminar e reconhecer experiências significativas. Ora – por mais paradoxal que possa parecer – isso passa pelo fortalecimento de uma cultura empresarial aberta ao diálogo e às parcerias e também pelo reforço de uma agenda da RSE centrada no âmbito estritamente empresarial, e não induzida ou condicionada a partir de fora da empresa10. O que significa que a RSE se pode traduzir num desafio difícil. Dado que implica uma forma muito mais complexa de administrar e dirigir as empresas e as organizações. As novas exigências relacionadas com a transparência, diálogo multi-stakeholder, triple bottom line podem ser um passo em frente mas também encerram perigos vários. O maior deles é, ao considerar todos os actores como principais, criar condições para uma crescente politização da vida da empresa. Na verdade, os problemas que surgem muitas vezes na Administração Pública, derivados de uma multiplicidade de ‘principais’, levantam-se igualmente no mundo empresarial, na sequência de uma ênfase que se tem vindo a colocar na substituição dos accionistas de uma empresa (os shareholders) como único ‘principal’, por uma multiplicidade de entidades, desde membros da comunidade local, onde a empresa se insere, aos próprios trabalhadores não executivos, entidades diversas a que se têm chamado os stakeholders das empresas, e a que a empresa terá que responder. Essa substituição poderá levar a uma ‘politização’ destas no sentido de as empresas passarem a ser responsáveis perante vários ‘principais’ com objectivos diversos, com um possível enfraquecimento dos incentivos a que os gestores devem estar sujeitos. Se esse alargamento no número de ‘principais’ poderá trazer alguns benefícios, é importante considerar também os seus custos derivados da resultante alteração dos sistemas de incentivos na empresa no sentido do seu enfraquecimento. Adicionalmente, alguns desses benefícios, tais como a redução da produção de certas externalidades negativas, tais como a poluição, poderiam ser obtidos através de mecanismos de mercado11.

4. RSE: factor de confusão e mal-entendidos? A RSE deve ser uma marca de posicionamento e de diferenciação das empresas e dos países num mundo cada vez mais globalizado, mas não precisa de ser um factor de confusão e equívocos. Daí que já no nosso estudo sobre a RSE, relacionada com a situação portuguesa, se tivesse tido o cuidado de não confundir “Gestão Ética” com “Responsabilidade Social das Empresas”12

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e de chamar a atenção para alguns mal-entendidos:

A ideia de que as sociedade projectam sobre as empresas expectativas triangulares (económicas, sociais e ambientais) de responsabilidade não é inequívoca – sendo necessária abri-la ao debate;

Mesmo que se presuma que essas expectativas estão ampla e profundamente presentes, é curial que as empresas se previnam contra a possibilidade de nelas estarem contidos alguns potenciais efeitos perversos sobre os negócios e a economia;

Muitos apologistas da RSE desconhecem o significado da “verdadeira” economia de mercado e do papel que nela desempenham os lucros;

Muitas perspectivas relativas aos riscos ambientais e sociais gerados pelas empresas são tidas como alarmistas.

As práticas de RSE incrementam os custos para as empresas, sejam os “visíveis” induzidos pelo dispêndio de verbas, sejam os “invisíveis” resultantes das energias e do tempo dispendidos nos processos de decisão (e negociação) debruçados sobre uma ampla gama de objectivos e interesses oriundos dos vários stakeholders. Daqui podem provir reduções de proveitos e, consequentemente, de investimentos;

As tentativas de uniformização de normas e padrões de conduta, designadamente à escala internacional, descuram as especificidades de cada país, podendo penalizar o comércio e os fluxos de investimento e assim prejudicar o desenvolvimento dos países pobres através da supressão de oportunidades de emprego no seu seio;

As tentativas para impor o cumprimento de normas “socialmente responsáveis” podem limitar a livre concorrência e causar danos à economia no seu todo.

A RSE é uma doutrina radical, quer no que afirma, quer nas consequências que pode suscitar. Se fosse globalmente adoptada e colocada em prática, poderia ter implicações profundas na condução dos negócios empresariais e no funcionamento e desempenho do sistema económico. Os seus efeitos possíveis não se confinam às fronteiras nacionais: extravasam para o investimento e comércio internacionais, para as perspectivas de

desenvolvimento dos países em desenvolvimento e mesmo para a condução da política13. Não é assim de estranhar que a ideia de que a RSE assenta numa perspectiva errada e a sua adopção generalizada reduzirá a prosperidade e minará a economia de mercado irrite tantos os seus defensores mais radicais. A ponto de usarem como grande saco de pancada um (in)conveniente texto de Milton Friedman publicado em 1962:“Capitalismo e Liberdade”14. De facto, neste texto – que granjeia a antipatia de tantos advogados da RSE – afirma-se: poucas tendências podem minar tanto os próprios fundamentos da nossa sociedade baseada na liberdade como a aceitação pelas empresas de uma outra responsabilidade que não seja fazer tanto dinheiro quanto seja possível para os seus accionistas. Esta é uma doutrina fundamentalmente subversiva. Se os empresários têm uma responsabilidade social para além da de obter o máximo de lucros para os accionistas, como é que eles sabem o que isso é? Só que, numa leitura menos apaixonada, temos que reconhecer – como faz Henderson – que este texto não belisca a necessidade de respeitar o papel que cabe às empresas e aos Governos, no que respeita a matérias sobre a prossecução do interesse geral. Não só se defende que é incumbência dos Governos, e não só das empresas e dos seus gestores, decidir o que é do interesse público e que medidas tomar para que a busca, pelas empresas, da maximização do lucro contribua para servi-lo. Como se realça a necessidade de exercitar juízos morais na actividade empresarial. Muitas situações requerem que os gestores e accionistas considerem o que é correcto, para além das considerações de legalidade e rentabilidade:

Tanto os accionistas como os conselhos de administração podem e devem arriscar e até renunciar a lucros em prol de causas como a segurança dos produtos, alerta de riscos para a segurança, redução

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da poluição perniciosa, evitar subornos e ter um relacionamento justo com outras partes, mesmo que a tal não estejam legalmente obrigados. Estas excepções, assim como outros casos em que há bons fundamentos para o exercício de juízos independentes, devem emergir mesmo em países cujos sistemas legais e governamentais funcionam bem. Na verdade, as leis e as regulações oficiais podem estar desfasadas dos eventos reais da sociedade – e, em qualquer caso, não se pode esperar que abranjam todas as contingências. Quando os Governos são corruptos, ditatoriais ou ineficazes, o leque de problemas e assuntos, assim como a necessidade das empresas fazerem as suas próprias

avaliações e juízos, tornam-se ainda mais amplos15. Como que a dar razão aos receios de Friedman, não deixa de ser preocupante que, entre nós, em recente estudo sobre “O Desafio do Desenvolvimento Sustentável nas Empresas Portuguesas” se afirme, logo no início, que o desenvolvimento sustentável assenta na harmonização de três dimensões:

Prosperidade económica

Justiça social

Qualidade ambiental Tendo por base a convicção que sempre que se verificar a simultaneidade destas condições se está a garantir a qualidade de vida no presente, sem se comprometer a qualidade de vida das gerações futuras.16 Um texto que é bem exemplo de como os excessos podem levar a metas empresariais muito questionáveis. Descontados os excessos, o que mais importa é realçar a necessidade de comportamento responsável nos negócios não ter porque se identificar com a RSE. Esta pode ser até muito necessária, mas nunca é suficiente. E mal-entendida (ou usada) pode até ser muito perigosa.

5. Sumário de falsas noções Uma verdadeira noção de RSE não assenta em estrondosos fogos de artifício, nem em pomposas declarações de boas intenções, muito menos em supostos índices de bom comportamento, mas em princípios que tendem ao bem de todos os stakeholders, ao factor ético em todas as variáveis da gestão. Daí que, para David Henderson17, o comportamento responsável nos negócios não signifique necessariamente, ou deva significar, apoio à actual doutrina sobre RSE. Pelo contrário, não é necessário, nem sequer prudente, para as empresas aceitar, menos ainda sustentar:

Que o objectivo do desenvolvimento sustentável e os meios de o realizar estão bem definidos e são geralmente aceites.

Que a contribuição que uma empresa faz directamente para o bem-estar da sociedade (ou do ‘planeta’) deva ser vista como sendo em grande medida independente da sua “rentabilidade”.

Que a ‘cidadania empresarial’, como agora é chamada, implica uma obrigação de redefinir os objectivos da empresa de modo a atingir “the triple bottom line” e realizar a “justiça social”.

Que novos sistemas de planeamento, monitorização e revisão devem ser implementados para assegurar a satisfação de um conjunto muitas vezes questionável de metas ambientais e ‘sociais’.

Que um batalhão de stakeholders deve, a partir de agora, ser envolvido de modo estreito e formal na condução e supervisão das empresas.

Que a sociedade concedeu aos negócios privilégios e benefícios especiais em troca dos quais cada um deles deverá ser obrigado a obter uma informal “licença para funcionar”.

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Licença essa que só poderá ser obtida através da realização de boas acções não directamente relacionadas com a rendibilidade.

Que as expectativas da sociedade – que não só não devem ser questionadas como têm de ser satisfeitas para que as empresas adquiram ou conservem a sua ‘licença para funcionar’ – podem ser em grande medida identificadas com as exigências feitas por ONGs, fundos de investimento ético, e outros críticos radicais da economia de mercado.

Que graves danos ambientais foram feitos, e continuam a ser feitos, como resultado da actividade económica, em geral, e de actuações viradas para o lucro por empresas, em particular.

Que a recente vaga de globalização tem vindo a acarretar 1) ganhos desproporcionados das empresas multinacionais, 2) ‘exclusão social’ generalizada, 3) ‘marginalização’ dos países pobres, e 4) uma transferência do poder de actuar e decidir dos governos para as empresas multinacionais, de tal forma que o papel e responsabilidades destas últimas deve agora ser concebido em termos mais ambiciosos.

Que o progresso no âmbito das economias nacionais e no mundo como um todo, deve ser em larga medida identificado com a adopção e reforço de normas e padrões ambientais e sociais cada vez mais fortes e mais uniformes, quer dentro quer além fronteiras nacionais.

Que se tornou obrigatório para as empresas cooperar com governos, ONGs moderadas e agências internacionais, em nome da melhoria da ‘governação global’ e da ‘cidadania empresarial global’, para realizar tais padrões internacionalmente.

Em relação a qualquer concepção de responsabilidade social da empresa que mereça ser tomada a sério, todas estas linhas de pensamento e acção não são mais que excesso de bagagem. Na medida em que se referem a matérias de facto, são ambíguas ou erradas; quando prescrevem obrigações, ou apontam para medidas ou políticas específicas, se levadas a cabo, causariam mais mal que bem. Isto apesar de todas fazerem parte integral da RSE, tal como é hoje interpretada. Agora e sempre, há assuntos sérios relacionados com a conduta e regulação dos negócios privados, e a responsabilidade social da empresa no amplo sentido do termo. Mas a actual doutrina da RSE, apesar do seu apoio geral e crescente, é profundamente inadequada. Incorpora um ponto de vista errado sobre os acontecimentos e relações económicas, e a sua adopção geral pelas empresas reduziria o bem-estar e minaria a economia de mercado18.

6. Governo da empresa Acontece que as falsas noções que Henderson coloca em termos de comportamento responsável nos negócios versus RSE, não se esgotam neste campo. Os equívocos afectam outras áreas tidas como inseparáveis da RSE. Uma delas é o governo das empresas que entre nós recebeu honras de criação de um Instituto19. Cabe aqui chamar à colação as recomendações de Elaine Sternberg – apresentadas em jeito de síntese – no seu recente livro sobre Corporate Governance. Nele se começa por afirmar que, contrariamente à opinião popular, negócios e empresas não são a mesma coisa: nem todas as empresas são negócios, e a maioria dos negócios não são empresas. Enquanto “business” designa um objectivo particular, “corporation” designa uma estrutura organizacional particular. Governação da empresa refere-se a formas de assegurar que as acções da empresa, agentes e activos estão direccionados para a prossecução dos objectivos da empresa estabelecidos pelos accionistas. Muitas críticas da governação da empresa estão baseadas em falsos pressupostos acerca do que constitui conduta ética por parte das empresas, e confusões acerca do que é a sua governação. Protestos contra takeovers, “visão imediatista”, despedimentos e elevadas remunerações de

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executivos são objecções tipicamente viradas para resultados específicos da empresa, não críticas à governação da empresa. Muitas críticas equivocadas ao modelo anglo-americano resultam da confusão entre governação das empresas e Governo: é um erro criticar as empresas por não terem políticas públicas objectivas, e por não darem aos accionistas os direitos e privilégios associados à cidadania. Algumas críticas do tradicional modelo anglo-americano de governação da empresa justificam-se. Há sérios obstáculos práticos que impedem os accionistas de monitorizarem e responsabilizarem adequadamente as empresas e seus agentes. Embora geralmente louvados, os sistemas alemão e japonês são consideravelmente menos capazes – em comparação com o modelo anglo-americano – de atingirem o objectivo último da governação da empresa. Nenhum deles é concebido para proteger, nem tipicamente usado para proteger, direitos de propriedade. A crescentemente popular doutrina do “stakeholder” é também incapaz de fornecer melhor governação da empresa. A doutrina do “stakeholder” é intrinsecamente incompatível com todos os objectivos substantivos e mina quer a propriedade privada quer a responsabilidade. A regulação que tenta melhorar a governação da empresa ao pretender limitar as opções dos accionistas e ao reduzir a sua liberdade para controlar as suas próprias empresas da forma que desejam, é necessariamente contraproducente. O caminho para responder às falhas do actual sistema anglo-americano de governação de empresa é aumentar a responsabilização das empresas face aos seus proprietários, de preferência criando condições para que as empresas possam competir para captar investimento e investidores institucionais, baseando-se, pelo menos parcialmente, no grau de transparência e responsabilização que oferecem aos seus proprietários20.

7. Economia e virtude: outra fonte de equívocos Um dos aspectos mais relevantes destas falsas noções, que têm paralelo com o que Bertrand de Jouvenel chamava verdadeiros e falsos direitos, é impedir uma melhor compreensão da relação entre mercado e virtude. De facto, a confusão entre responsabilidades sociais obrigatórias e voluntárias e filantrópicas21 – que está na base da incompreensão do sentido original da expressão “economia social de mercado”22 – só pode ser desfeita a partir de uma desmistificação do Estado assente em argumentos morais – e de defesa da liberdade. Não bastam os argumentos económicos. Só indo mais além da oferta e da procura nos daremos conta dos custos e das vítimas de tantas políticas erradas, visíveis e invisíveis23. Talvez uma mais atenta leitura de Aristóteles e um regresso a S. Tomás e à Escola de Salamanca permita redescobrir uma tradição cristã apta a mostrar como o primado da lei e o governo limitado são essenciais para o desenvolvimento moral e de que forma as campanhas pseudo-moralistas contra o capitalismo24 não só minam a relação entre mercado e virtude como fortalecem o que Henderson chamou millennium colectivista25. O que continuaria a dar razão a Mises quando já no seu tempo dizia que “quem se mostra incapaz de servir os seus concidadãos quer governá-los”. Nada mais adequado por isso do que acrescentar um muito apropriado sumário sobre Economia e Virtude:

Muitos comentadores elogiam frequentemente os mercados pela sua capacidade de criar riqueza mas duvidam da capacidade do mercado para promover a virtude. Por via disso, muitos intelectuais toleram mais do que louvam as economias de mercado.

Os mesmos comentadores muitas vezes sugerem que os mercados são caracterizados pelo egoísmo (selfishness). Contudo, o interesse próprio (self-interest) que é, de facto, uma importante característica dos indivíduos que actuam numa economia de mercado, não é o

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mesmo que egoísmo. Considerar que o interesse próprio é o mesmo que o egoísmo é objectivamente um erro.

A economia de mercado limita o dano que o egoísmo pode fazer aos outros. A protecção dos direitos de propriedade, juntamente com os requisitos exigidos às partes contratantes para realizar transacções comerciais, significa que o potencial das pessoas más para fazer mal está limitado numa economia de mercado.

Numa economia que é centralmente planificada, aqueles que são motivados pelo egoísmo não ganharão por via das transacções mutuamente benéficas, antes beneficiarão ao ascender a uma posição num sistema político que lhes permita usufruir de bens materiais como complementos associados à sua função.

O facto de os indivíduos responderem a oportunidades de negócios nada nos diz acerca do seu ponto de vista moral. Para tal, teríamos que saber como os indivíduos fazem uso dos benefícios resultantes das transacções de mercado.

A óbvia manifestação de uma economia de mercado, tal como é vista pelos críticos, é “ganhar e gastar” (getting and spending). Contudo, nós não podemos conhecer as motivações das pessoas ou até que ponto elas se preocupam com os outros pela simples observação do processo de “ganhar e gastar”. Concluir que a economia de mercado se caracteriza pelo materialismo só porque nós observamos tais comportamentos, como “ganhar e gastar”, é como concluir que a terra é plana porque é tudo o que nós observamos directamente com os nossos olhos.

A economia de mercado não só requer como facilita a cooperação. E não é só cooperação no sentido estreito de um mínimo de cooperação necessária para permitir e fazer respeitar contratos mas, de forma mais alargada, a cooperação que promove certos valores e modos de comportamento que são necessários para que as pessoas promovam o seu próprio bem-estar e o dos outros no jogo de soma positiva de uma economia de mercado.

Os mesmos comentadores escarnecem e tratam com desdém o motivo do lucro. Todavia outros maximizadores, no seio da economia de mercado, não sofrem tal tratamento. Não se censura o “motivo salário” ou o “motivo preço” quando as pessoas tentam ganhar melhor posição em situações de mercado, em outros contextos. Contudo, todos os que estão envolvidos em transacções no mercado, em geral, tentam perseguir, de forma intencional, os seus interesses, sem causar dano aos interesses de outros.

Liberdade de escolha para perseguir um certo tipo de acção e cursos alternativos de acção é essencial para que as acções possam ser consideradas “morais”. Ou seja: a moralidade não é possível sem liberdade.

O socialismo encoraja o comportamento anti-social através da concepção dos mecanismos do Estado Providência. Trata os meios de produção, incluindo os próprios seres humanos, como bens móveis de uma classe dominante ou do Estado, a usar para benefício de um “bem maior”26.

8. Ética: factor positivo ou colete-de-forças?27 Podemos dizer que a ética actua a três níveis: a ética pessoal, o clima ético das organizações e o quadro legal, económico e ético-cultural. A questão não é simplesmente do sistema capitalista e das suas imperfeições. As imperfeições humanas e a falta de virtudes dos dirigentes também contam, tanto como as falhas do Estado e das entidades reguladoras em fazer o que devem: regular, fiscalizar, arbitrar, supervisionar e, não menos importante, velar por uma célere e eficiente administração da justiça. Importa, por isso, não cair em simplismos. Não basta rever o enquadramento legal. A limpidez dos mercados ou a verdade das contas não depende só de leis bem intencionadas. A

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recente falência da Enron é bem um exemplo de que não bastam leis, é preciso também promover as boas práticas, que levem ao bom governo das empresas e ao bom governo da Nação. Sabemos bem que face a tantos casos muitas vezes as pessoas são levadas a acreditar mais no obrigatório do que no voluntário, em mais leis em vez de mais integridade. Talvez por isso, até o mal amado Presidente Bush, na altura, com base em conhecidos escândalos financeiros, tenha pronunciado um discurso propondo endurecer as penas contra as fraudes e a contabilidade criativa. As suas palavras foram bem recebidas porque as pessoas pediam "mão dura". Contudo, alguns especialistas não acreditam que isto baste para melhorar a honestidade empresarial. David Skeel e William Stuntz, professores de Direito das Universidades de Pennsylvania e Harvard, respectivamente, explicaram porque não acreditam neste enfoque: “A razão é simples e, ao mesmo tempo, facilmente esquecida: as leis penais fazem com que as pessoas se preocupem com o que é legal em vez de o que é ético”. Estes professores recordam que, há cem anos, nos EUA, a lei penal federal sobre a fraude consistia numas poucas disposições. Hoje, pelo contrário,

o código penal federal inclui mais de 300 disposições sobre a fraude e a contabilidade enganosa, a maioria vai mesmo para além do que a lei costuma cobrir. Com todo este arsenal legal deveríamos ter alcançado um alto nível ético empresarial. Não é preciso dizer que os factos mostram outra coisa. Quem sabe porque passámos a considerar o que eram questões morais como questões de técnica jurídica. Não é assim de estranhar que, no mundo actual, seja mais provável que os executivos se preocupem mais com o que podem fazer legalmente do que com o que é justo e honrado. O resultado é, por um lado, incentivar os que actuam eticamente mal a escaparem ao castigo através da descoberta de formas criativas de fuga à lei. E, por outro, levar executivos honrados a, em vez de se concentrarem em desempenhar o seu trabalho honestamente, acabarem por imitar os mesmos jogos legais dos executivos desonestos. Esta é a consequência lógica de confiar demasiado na lei penal e

pouco na regulação civil e, especialmente, nas normas éticas28. Considerações que entre nós importa ter em conta, mais ainda quando se vê um crescente número de entidades reguladoras – a que não escapa a CMVM – mais dadas às técnicas jurídicas do que às virtudes prudenciais. A cidadania empresarial de que hoje tanto se fala necessita de um sustento ético que só uma sociedade livre, composta por pessoas individual e socialmente responsáveis, pode garantir. Numa época em que muitos – e bem – se dedicam a calcular os custos políticos, económicos e éticos da (não) aplicação da justiça, importa também não perder de vista os incalculáveis custos para uma sociedade que não se reveja na aplicação da ética. A responsabilidade social não se deve limitar à lei: deve também amar a virtude e o combate pela excelência. A única “boa causa” capaz de levar empregadores e empregados, governantes e funcionários públicos, a irem muito para além do cumprimento das suas obrigações formais, dos direitos, a ponto de – tanto nas Empresas como nas Administrações Públicas – a expressão "boa cidadania" ganhar um sentido pleno: a satisfação do dever bem cumprido. Daí que a riqueza ética das nações passe mais pela criação de uma espécie de mapa genético da empresa em que a ética e o comportamento responsável sejam expressão de um clima de identidade, de bem-fazer e de integridade. Uma integridade empresarial, um comportamento responsável, que não nasce a partir de fora, de uma obrigação legal, mas do projecto de uma equipa, composta pelas pessoas que financiam, organizam, gerem trabalham e estão afectadas por ele. Na verdade, nas contas que se prestam aos accionistas e à sociedade não contam só os resultados financeiros mas os ganhos em confiança e crédito no futuro. Não se trata, contudo, apenas de não comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades (relatório de Bruntland, 1987), mas de alargar tais possibilidades. Ora todos sabemos que na hora da verdade, o que conta, mais que os cursos de ética que se obriga os empregados a frequentar, o códigos de ética que se adopta, ou as acções de RSE que se

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anunciam, é a rectidão dos altos dirigentes, que estão dispostos a sacrificar benefícios num ano difícil, em vez de admitir uma prática de duvidosa moralidade.

1 David Henderson, Misguided Virtue: False Notions of Corporate Social Responsibility, London, IEA, 2001, p. 19. 2 European Commission, Promoting an European Framework for Corporate Social Responsibility, 2001. 3 Isabel Vidal, “Reflexión sobre el estado actual de la responsabilidad social de la empresa en España”, Papeles de ética, economía y dirección 8 (2003), 393-394. 4 Ángel Castiñeira/Joseph M. Lozano, “Made in Catalonia”, Noticias (Ética, Economía y Dirección) 10 (3) (2003), 2-3. 5 Arthur Pollard The Representation of Business in English Literature, London, IEA, 2000. 6 Centesimus annus, nº 42. Para um mais completo desenvolvimento, veja-se José Manuel Moreira, A contas com a ética empresarial, Cascais, Principia, 1999, pp. 118-120. 7 Veja-se a este propósito o nosso texto “A ilusão do arsenal legal”, Jornal de Negócios, Maio de 2003. 8 Veja-se a este propósito o texto de Henrique Monteiro, “A grande esmola”, Expresso, 29 de Maio de 2004. 9 José Luis Fernández Fernández, “Responsabilidad social corporativa y ética empresarial”, Noticias (Ética, economía y dirección) 10(3) (2003), 1-2. 10 Ángel Castiñeira/Joseph M. Lozano, op. cit.. p. 3. 11 João Gata, “Notas sobre a reforma da Administração Pública”, Diário Económico, 23 de Janeiro de 2004, p. 35. Para um mais completo desenvolvimento e implicações desta problemática veja-se José Manuel Moreira, Ética, Democracia e Estado, Para uma nova cultura da Administração Pública, Cascais, Principia, 2002; e André Azevedo Alves e José Manuel Moreira, O que é a Escolha Pública. Para uma análise económica da política, Cascais, Principia, 2004. 12 Arménio Rego, José Manuel Moreira e Cláudia Sarrico, Gestão ética e responsabilidade social das empresas, Cascais, Principia, 2003. 13 David Henderson, op. cit., pp. 26-27. 14 Milton Friedman, Capitalism and Freedom, Chicago, University of Chicago Press, 1982 (1962), p. 133. 15 David Henderson, op. cit., p. 22. 16 Documento publicado pela Deloitte e pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (BCSD Portugal), “O desafio do desenvolvimento Sustentável nas Empresas Portuguesas”, Dezembro de 2003, p. 1. 17 David Henderson, Misguided Virtue: False Notions of Corporate Social Responsibility, London, IEA, 2001, pp. 161-162. 18 David Henderson, op. cit., p. 163. 19 Instituto Português de Corporate Governance (IPCG), apresentado por Artur Santos Silva na Cuturgest em Maio de 2004, e que tem António Borges como Presidente da Assembleia Geral e Manuel Alves Monteiro na Direcção. 20 Elaine Sternberg, Corporate Governance: Accountability in the Marketplace, London, The Institute of Economic Affairs (IEA), 2004, pp. 14-15. 21 José Manuel Moreira, A contas com a ética empresarial, pp. 97-98. 22 José Manuel Moreira, Ética, Economia e Política, pp. 266-267. 23 Dennis O‘Keeffe (ed.), Economy and Virtue: Essays on the Theme of Markets and Morality, London, IEA, 2004, pp. 40-44. 24 Ibidem, pp. 104-115. 25 D. Henderson, op. cit, p. 142. 26 D. O‘Keeffe (ed.), op. cit., pp. 21-22 27 Alude-se aqui a uma frase (“A ética é um factor positivo não um colete de forças”) que José Roquette proferiu aquando da apresentação (em 12 de Maio de 2004) de um “Código de ética” proposto pela Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE). 28 The New York Times, 10.VII.2002.

**Texto publicado na Revista Brotéria, 159, 2004, pp. 385-405.