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Organização de conteúdos de Contabilidade de Gestão: uma aplicação do método AHP
Viviane da Costa Freitag Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS
Vanessa de Quadros Martins Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS
Carlos Alberto Diehl Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS
Área Temática: K - Ensino e Investigação em Contabilidade
Resumo
Esse estudo propõe estabelecer um modelo para distribuição de temas e conteúdos de
contabilidade de gestão, baseado em um método tradicional de tomada de decisão
multicriterial, o Analytic Hierarchy Process (AHP) a partir de documentos que orientam a
criação de matrizes curriculares. Os atores são gestores de curso. Os constructos e categorias
foram extraídos dos conteúdos exigidos pelo teste de CMA do IMA, pelo Programa Nacional
de Conteúdos para os Cursos de Ciências Contábeis brasileiros e de referências tradicionais
no ensino de Contabilidade de Gestão. O AHP foi calculado utilizando o software Assistat 7.7
Beta. O modelo gerado propõe que, independente da carga horária as proporcionalidades entre
os temas deverão ser de 43% para custos, 18% para orçamento e planejamento, 19,5% para
controle e também 19,5% para o item ferramentas de gestão, o modelo gerado, também
propõe subcategorias dentro dessas temáticas fornecendo referência para coordenadores,
colegiados e Núcleos Docentes Estruturantes.
Palavras-Chave: Contabilidade de Gestão; Ensino em Contabilidade; Analytic Hierarchy
Process (AHP); Conteúdos Curriculares em Contabilidade; Matrizes Curriculares.
1 Introdução
As pesquisas em contabilidade não deixam de lado aspectos sobre o ensino (Weeler
(1970), Albrecht e Sack (2000), Böer (2000), Campos e Lemes (2012), Toigo, Gollo e Cunha
(2014), porém alguns estudos se dedicam especificamente sobre determinadas áreas. As
investigações de: Lander e Reinstein (1987) Reider e Saunders (1988), Maher (2000),
Macllelan (2014), Montagud Mascarell, Gandía Cabedo, (2014), Spraakman e Jackling
(2014), e Krishnan, (2015) direcionam os esforços para o ensino da contabilidade de gestão.
Outros estudos são direcionados a investigar as diferenças entre os conteúdos ministrados e as
práticas de gestão, a exemplo de Calijuri (2004), Amaral e Rodrigues (2006), González,
(2010) e Parker, Guthrie, Linacre, (2011).
Entre os estudos que tratam do ensino em termos de currículo, Souza, Avelar, Boina
e Rodrigues (2008) constataram, com base nas melhores instituições brasileiras, conforme
Índice Geral de Cursos da Instituição (IGC) de 2008, que diversos conteúdos apontados pelo
exame do Institute of Management Accountants (IMA) são abordados de forma limitada e
alguns sequer são trabalhados nos cursos de graduação. Campos e Lemes (2012), analisaram
as ementas de quatro instituições públicas mineiras, Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), Universidade Federal de
Uberlândia (UFU) e Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Murici (UFVJM), e
compararam com os conteúdos propostos pelo Currículo Mundial para Contabilidade, seus
resultados apontam similaridade de 57,68% em relação à proposta emitida pela
ONU/UNCTAD/ISAR. Silva (2015), ao analisar os currículos em duas instituições,
Universidade de São Paulo (USP) e Faculdades Alfa sob a percepção de estudantes e
professores, concluiu que os currículos perpetuam a linearidade e hierarquia do conhecimento,
orientado por demandas de mercado. Miranda, Riccio e Miranda (2013) estudaram matrizes
curriculares e materiais didáticos em 83 cursos, de todo Brasil, nas disciplinas de
contabilidade de gestão, sob várias denominações, e verificaram que os conteúdos ligados à
contabilidade gerencial, representam em média 12,5% do curso, com variações de 5% a
17,5% do conteúdo.
Os estudos sobre ensino de contabilidade são escassos, ao se delimitar o tema para
conteúdos de contabilidade de gestão, o número de obras se apresenta bastante limitado, e
nessa esteira se apresentam várias lacunas a serem exploradas.
Os cursos de graduação em ciências contábeis planejam seus currículos utilizando
como ponto de partida as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e, ao traçarem o perfil de
seus egressos, levam em conta as competências e habilidades necessárias para atingir esse
perfil determinado. Além desse marco legal, tem-se como referências: o Currículo Mundial
(CM) emitido pelo Intergovernmental Working Group of Experts on International Standards
of Accounting and Reporting (ISAR) United Nations Conference on Trade and Development
(UNCTAD), a Proposta Nacional de Conteúdos (PNCCC) para o Curso de Graduação em
Ciências Contábeis, elaborada sob a coordenação do Conselho Federal de Contabilidade
(CFC), as Resoluções que tratam do desenvolvimento do profissional contábil emitidas pelo
Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Além desses, outro item de referência, específica
para as áreas gerenciais de contabilidade é fornecido pelo Institute of Management
Accountants (IMA), que identifica conteúdos de conhecimento necessários para atuar como
contador gerencial.
Esse trabalho se propõe a realizar um estudo dos conteúdos de contabilidade de gestão
necessários para a formação de bacharel em Ciências Contábeis, primando por trabalhar uma
ou várias disciplinas, tais como: contabilidade gerencial, controladoria, sistemas de
informações gerenciais, sistemas de informações contábeis, contabilidade orçamentária, entre
outras denominações. Mediante esse contexto, estabeleceu-se como problema de pesquisa o
questionamento: Quais são os conteúdos considerados prioritários no ensino de contabilidade
de gestão pelos cursos de graduação em Ciências Contábeis?
O objetivo geral desse artigo é desenvolver uma referência para a distribuição de
conteúdos de controle de gestão a serem ministrados nos cursos de graduação em
Contabilidade, independente de carga horária ou de quantidade de disciplinas que serão
dedicadas a essa finalidade. Como objetivos específicos busca-se: [1] apresentar os elementos
de controle de gestão; [2] pontuar a importância desses conteúdos dentro dos temas
Gerenciais na graduação em Contabilidade; e [3] organizar hierarquicamente os conteúdos de
controle de gestão por especialistas na área.
Os conteúdos de contabilidade de gestão foram delimitados a partir dos documentos
que geralmente consubstanciam a elaboração das matrizes curriculares dos cursos de
graduação em ciências contábeis, a saber: Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), Currículo
Mundial (CM), Proposta Nacional de Conteúdos para Ciências Contábeis (PNCCC) e Institute
of Management Accountants (IMA), complementado por obras geralmente utilizadas como
livro-texto de contabilidade de gestão, essas obras foram identificadas no processo de
elaboração do referencial conceitual.
O artigo está estruturado em cinco seções. A primeira seção é composta por esta
introdução, na qual é exposto o problema de pesquisa, justificativa e delimitação das fontes
que embasam o processo de elaboração das matrizes curriculares dos cursos de graduação em
ciências contábeis. Na continuidade, descreve-se a revisão de literatura na qual se fundamenta
os currículos de contabilidade, o ensino de contabilidade de gestão e os conteúdos
direcionados à contabilidade de gestão. Em seguida, descrevem-se os procedimentos
utilizados pelo método tradicional de tomada de decisão baseado em multicritérios, o Analytic
Hierarchy Process (AHP), a formação dos constructos e categorias utilizados por esse estudo.
Na sequência apresenta-se a discussão dos resultados nos quais foram identificados os
conteúdos de proporcionalidades de contabilidade de gestão. Por fim, discutem-se as
principais constatações, apresenta-se as limitações do método e sugestões para pesquisas
futuras.
2 Currículo de Contabilidade
O ensino da contabilidade no Brasil, desde o século XIX, foi voltado ao comércio, ou
seja, sempre foi voltado às necessidades do empresariado. A Resolução nº 560-83 do
Conselho Federal de Contabilidade de 28 de outubro de 1983, na qual estão dispostas as
prerrogativas profissionais de que trata o artigo 25 do decreto-lei nº 9.295 de 27 de maio de
1946, objetiva a adequação da formação desses futuros profissionais às necessidades de um
mercado de trabalho dinâmico.
De acordo com o Art. 5º da Resolução CNE/CES 10 de 16 de dezembro de 2004 que
institui as diretrizes curriculares nacionais para o curso de graduação em contabilidade, os
cursos deverão contemplar em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular,
conteúdos que revelem conhecimento do cenário econômico e financeiro, nacional e
internacional, de forma a proporcionar a harmonização das normas e padrões
internacionais de contabilidade, em conformidade com a formação exigida pela
Organização Mundial do Comércio e pelas peculiaridades das organizações
governamentais, observado o perfil definido para o formando e que atendam aos
seguintes campos interligados de formação: [...] I - conteúdos de Formação Básica
[...]; II - conteúdos de Formação Profissional: estudos específicos atinentes às
Teorias da Contabilidade, incluindo as noções das atividades atuariais e de
quantificações de informações financeiras, patrimoniais, governamentais e não-
governamentais, de auditorias, perícias, arbitragens e controladoria, com suas
aplicações peculiares ao setor público e privado; III - conteúdos de Formação
Teórico-Prática [...]. (BRASIL, 2004 p. 2)
O referencial internacional para direcionamento da formação das matrizes curriculares,
conta com o quadro gerado pelo Intergovernmental Working Group of Experts on
International Standards of Accounting and Reporting (ISAR) United Nations Conference on
Trade and Development (UNCTAD) UNCTAD/ISAR, que formou um grupo de trabalho em
1999. Esse quadro sofreu várias revisões; no entanto respeita a subdivisão original em blocos:
conhecimentos gerais e habilidades; educação técnica profissional; exames profissionais;
experiência prática; educação continuada e um esquema de certificação. Os conteúdos foram
dispostos em quatro eixos o primeiro eixo trata do conhecimento da organização e de
negócios; o segundo da tecnologia da informação; na sequência se trabalha com o núcleo
básico da contabilidade, auditoria, contabilidade fiscal e conhecimento relacionado ao uso da
contabilidade, para então tratar das temáticas eletivas, conforme Quadro 1.
Quadro 1 - Blocos de conhecimentos definidos pelo ISAR/UNCTAD
1. Conhecimento da
organização e de
negócios
2. Tecnologia de
Informação 3. Núcleo Básico da
Contabilidade, Auditoria,
Contabilidade Fiscal e
Conhecimento
Relacionados ao Uso de
Contabilidade
4. Eletivo (avançado)
contabilidade, finanças e
conhecimentos
relacionados
1.1 Economia 2.1 Tecnologia da
Informação 3.1 Contabilidade básica 4.1 Módulo sobre
contabilidade financeira
avançada e relatórios para
indústrias especializadas
1.2 Métodos
Quantitativos e
estatística para
negócios
2.1 Tecnologia da
Informação 3.1 Contabilidade básica 4.1 Módulo sobre
contabilidade financeira
avançada e relatórios para
indústrias especializadas
1.3 Políticas gerais
administrativas,
estruturas básicas
organizacionais e
comportamento
organizacional
3.2 Contabilidade financeira 4.2 Contabilidade Gerencial
Avançada
1.4 Funções de gestão
e práticas, gestão da
operação
3.3 Contabilidade Financeira
Avançada 4.3 Contabilidade Tributária
Avançada
1.5 Marketing 3.4 Conceitos Básicos de
Contabilidade Gerencial. 4.4 Direito Empresarial
Avançado
3.5 Tributação 4.5 Módulo Avançado em
Auditoria
3.6 Sistemas de Informações
Contábeis 4.6 Módulo Avançado em
Finanças e Contabilidade
Gerencial
3.7 Direito Empresarial 4.7 Estágio em
Contabilidade
3.8 Fundamentos de
Auditoria e Confiança
3.9 Gestão Financeira
Fonte: ISAR/UNCTAD (2011)
Verifica-se dentre os blocos de conteúdos que o primeiro item se refere ao
conhecimento da organização e do negócio. Considera-se que o acadêmico em Ciências
Contábeis irá operar no ambiente organizacional. Por esse motivo precisa conhecer elementos
de economia, funções da gestão, estrutura e comportamento organizacional a fim de contribuir
no exercício profissional propondo sistemas de monitoramento de gestão, e isso inclui
modelos financeiros e não monetários.
Nos temas de núcleo básico da contabilidade, eletivo ou avançado apresentam-se os
conceitos básicos de contabilidade gerencial e os sistemas de informações contábeis, bem
como a contabilidade gerencial avançada, temáticas que tradicionalmente evocam conteúdos
de controle de gestão.
Em termos de orientação para elaboração de currículos, o Conselho Federal de
Contabilidade (CFC) no Brasil desenvolveu sob a coordenação de Carneiro (2009) uma
proposta nacional de conteúdos para os cursos de graduação em ciências contábeis, esse
referencial aponta para a distribuição com base em três eixos temáticos: formação básica,
profissional e teórico-prático. Os conteúdos voltados ao controle de gestão estão dispostos nos
eixos de formação profissional e teórico-prático.
Além da orientação do Currículo Mundial, outro referencial internacional se trata do
Institute of Management Accountants (IMA). Essa organização foi fundada originalmente em
Buffalo, estado de New York, em 1919 como a National Accountants of Costs Association
(NACA) para promover o conhecimento e profissionalismo entre os contadores de custos e a
fim de proporcionar uma compreensão mais ampla do papel da contabilidade de custos na
gestão. O IMA projetou um programa para validar o domínio das habilidades avançadas
necessárias para gerenciar as funções financeiras dentro de uma organização, para tanto, faz
uso de um exame estruturado em duas partes. Na primeira parte se requerem conhecimentos
sobre relatórios financeiros, planejamento, desempenho e controle, decisões com base em
relatórios financeiros externos, gestão de desempenho, gestão de custos, e controle interno.
Na segunda parte, os conhecimentos são processo de decisão financeira, análise das
demonstrações financeiras, finanças corporativas, gestão de risco, decisões de investimento e
ética profissional (IMA, 2016).
Apesar dessa orientação em termos internacionais, a qual se refere o Currículo
Mundial, no Brasil, e os Conteúdos exigidos pela certificação do IMA, por força da
legislação, as Instituições de Ensino superior traçam o perfil de seus egressos, embasados nas
Diretrizes Curriculares emitidas pelo Conselho Nacional de Educação. Portanto, todas as
Instituições de Ensino Superior emitem seus planos de ensino de acordo com essas diretrizes.
A Resolução CNE/CES nº 10/2004 (DCN) é a base para a organização dos Projetos
Políticos Pedagógicos (PPP), onde se “expressa a concepção de curso, objetivos, grade de
disciplinas e conteúdo, conforme contexto e peculiaridades econômicas e sociais da
instituição”. (SILVA, 2015: 22). tal, resolução também enumera as Competências, habilidades
e Conteúdos para os cursos de graduação em contabilidade, dentre essas, destaca-se a
necessidade de desenvolver competências e habilidades quanto “ao gerenciamento, aos
controles e à prestação de contas da gestão perante a sociedade, gerando também informações
para a tomada de decisão, […].” (CNE/CES nº 10/2004).
Esse documento resulta em um roteiro de orientação, mas não inclui quais disciplinas ou
carga horária deve ser disponibilizada para cada tema, dentre esse elenco de competências e
habilidades, destaca-se a necessidade do contador em gerar informações para a tomada de
decisão e de revelar capacidade crítico-analítica para avaliar as implicações organizacionais.
Assim, verifica-se a relevância de preparar o futuro profissional contábil para atender as
necessidades dos usuários por informação voltada à tomada de decisão da gestão.
2.1. O Ensino de Contabilidade de Gestão
De acordo com Otley & Berry (1998) o termo Sistemas de Controle de Gestão refere-
se ao conjunto de procedimentos e processos que os gerentes e outros participantes
organizacionais utilizam a fim de ajudar a garantir a consecução de seus objetivos e os
objetivos de suas organizações. Os sistemas de controle de gestão fornecem informações que
pretendem ser úteis para os gestores na execução de seus trabalhos e para auxiliar as
organizações no desenvolvimento e manutenção de padrões viáveis de comportamento (Otley,
1999).
De acordo com Kald e Rapp (2000) o controle no sentido amplo do termo refere-se
tanto a estrutura organizacional, e os processos informais, quanto as preocupações de controle
com os processos formais. O controle gerencial inclui atividades como: “ Planejar o que a
organização deve fazer; Coordenar as atividades de várias partes da organização; Comunicar
a informação; Avaliar a informação; Decidir se deve ser tomada uma decisão, ou que decisão
tomar; Influenciar as pessoas para que alterem o comportamento.” (Anthony, Govindarajan,
2002, p. 34). O controle gerencial é o processo pelo qual se decide a implantação das
estratégias e a obediência a elas.” (Anthony, Govindarajan, 2002, p. 38) Para Eisenhart
(1995) as variáveis de controle são estruturas de recompensa, características das tarefas e
sistemas de informação.
De acordo com Otley (1999) a informação é o ingrediente necessário para completar a
malha de controle considerando o sistema de feedback tradicional, informações sobre o
desempenho real são comparadas com metas preestabelecidas e padrões, e os desvios são
utilizados para sinalizar a necessidade de correção da ação. Bredmar (2012, p. 497) aponta
que foi na década de 80 que o ingrediente informação foi adicionado ao conceito de controle
gerencial, até então, a maior parte dos artigos utilizavam na definição de controle de gestão
conceitos como 'sistemas', 'objetivos', 'controle', 'recursos', 'decisões', 'desempenho', 'feedback'
e 'recompensa' com significado centrado em torno da concepção e utilização da função de
controle de gestão, ou seja, quando se trata de decisões que envolvem: orçamento de trabalho,
planos e controle.
O controle gerencial é limitado pela estratégia e faz uso do controle de tarefas para
consecução de seus objetivos, o cerne do processo de controle gerencial são os centros de
responsabilidade. O Centro de responsabilidade para Anthony e Govindarajan (2002, p. 180) é
uma unidade da organização sob responsabilidade de um executivo, são dispostos
hierarquicamente, possuem objetivos próprios que auxiliam na implementação da estratégia.
Os sistemas de controle de gestão são as rotinas, formais baseadas em informação e gerentes
usam para manter ou alterar os padrões em atividades organizacionais. (Simons, 1995)
Maher (2000) afirma que enquanto muitos conceitos de contabilidade de gestão podem
ser rastreados até pelo menos o início da revolução industrial, a contabilidade de gestão como
disciplina de ensino não aparece antes de 1940. Lin Mei; Fowler e Hawkes (2004) afirmam
que o ensino em contabilidade de gestão tem sido objeto de debate considerável desde a
década de 1970, em termos de quais tópicos devem ser incluídos em seu currículo para que os
alunos fiquem devidamente preparados para desempenhar seus papéis na contabilidade de
gestão. Os críticos consideram que o currículo não se mantém atualizado a ponto de serem
relevantes no atual ambiente de produção moderna, assim alguns tópicos de contabilidade de
gestão, tais como: custeio baseado em atividades (ABC), e os custos de qualidade e relatórios
de contabilidade gerencial estratégica (SMA) foram incluídos nos programas.
O ensino da contabilidade de gestão tem sido considerado um dilema na tomada de
decisões gerenciais, os críticos afirmam que os estudos acadêmicos voltados aos custos
podem ter contribuído para a relevância perdida na contabilização dos custos gerenciais, por
conta da ênfase excessiva no ensino da contabilidade financeira preterindo à contabilidade de
gestão. (REIDER, SAUNDERS, 1988).
Esse distanciamento entre o que se ensina e o necessário para a prática do fututo
profissional também é observado no estudo de Lin Mei; Fowler e Hawkes (2004) e Breadmar
(2011). Maclleland (2014) investigou junto a membros do Institute of Management
Accountants (IMA) as práticas de contabilidade de gestão utilizadas e os resultados indicaram
uma grande discrepância entre o que os contabilistas consideram ferramentas de contabilidade
de gestão eficazes, e o uso dessas ferramentas por suas respectivas organizações, esse
resultado corrobora com os argumentos apresentados por Lin Mei; Fowler e Hawkes (2004)
de distanciamento entre o que os currículos ensinam e o que efetivamente se utiliza no
mercado de trabalho.
Pocopetz (2002) desenvolveu um estudo comparativo, entre as matrizes currriculares
de 22 IES do estado de São Paulo e a percepção de dez controllers alocados em empresas dos
ramos, comércio, indústria e serviços, quanto à utilização das disciplinas ministradas pelas
Instituições de Ensino Superior (IES) investigadas. Para tanto, o autor categorizou as
disciplinas por grupos de conhecimentos e solicitou aos profissionais que identificassem o
grau de utilização das disciplinas ministradas pelas IES nos cursos de Ciências Contábeis. Os
resultados indicam que não existem grandes variações quanto a utilização dos grupos de
disciplinas. A menor participação obteve um percentual de indicação entre 8,08% para as
disciplinas agrupadas como aplicadas, enquanto que a maior participação foi indicada pelo
percentual de 12,24% para as disciplinas categorizadas como decisoriais.
Amaral e Rodrigues (2006) traçam um estudo comparativo entre os cursos de pós-
graduação em controladoria no estado do Paraná e profissionais controllers. Questionaram os
profissionais sobre quais disciplinas deveriam ser ministradas nos cursos de especialização,
33,33% dos entrevistados indicaram que os objetivos propostos pela especialização atendiam
em 60% das necessidades de conhecimento para o desempenho da profissão. O que torna os
resultados desse estudo um pouco conturbados.
Souza, Avelar, Boina e Rodrigues (2008) constataram que as ementas dos cursos de
Ciências Contábeis brasileiros selecionados pelo estudo não contemplam todos os itens
requeridos pelo IMA para a obtenção do CMA.
Maher (2000) estudou os cursos de contabilidade nos últimos 50 anos, avaliou os
currículos escolares de contabilidade de gestão que se convencionou denominar como cursos
de "contabilidade de custos", o autor não manifesta boas perspectivas para a demanda futura
para os cursos de contabilidade de gestãoporque os alunos não observam boas oportunidades
de trabalho nesse campo. A distinção entre contabilidade de gestão e contabilidade de custos é
distorcida em muitos currículos e livros didáticos. O autor ressalta que para alguns
professores, a contabilidade de gestão e a contabilidade de custos essencialmente
desempenham o mesmo papel nos currículos, assim como a contabilidade intermediária está
ao lado da contabilidade financeira, para outros professores, no entanto, a contabilidade de
gestão é bastante diferente da contabilidade de custos.
Krishnan, (2015) questiona quem está por trás das decisões sobre os currículos de
contabilidade de gestão em cursos de MBA, nos 50 melhores programas dos Estados Unidos.
Avalia a formação dos professores que elaboram esses currículos e sua falta de vínculo com a
contabilidade de gestão, outro fator de crítica, reside na formação dos professores que
ministram as disciplinas de contabilidade de gestão serem ocupadas por professores com
formação na área financeira. As obras de Maher (2000); Lin Mei; Fowler e Hawkes (2004);
Maclleland (2014); e Carneiro (2009) evidenciam que tanto no exterior quanto no Brasil, os
currículos indicam as obras a serem utilizadas pelas disciplinas.
Para Maher (2000) a obra de Robert Anthony (1956) Contabilidade de Gestão, foi o
primeiro livro texto a influenciar a formação dos futuros profissionais de contabilidade de
gestão. Essa obra tem foco na contabilidade de gestão em vez de processos relativos à
contabilidade de custos e forneceu três vias, a conceitual, os custos diferenciais e a
responsabilidade de custos, que até hoje são fundamentais para a contabilidade de gestão em
materiais didáticos. A obra de Anthony (1965) Planejamento e Sistemas de Controle: um
quadro para análise, teve uma grande influência na geração de professores de contabilidade de
gestão e continua a afetar a forma com que os educadores pensam sobre contabilidade
gerencial. Em 1962, Chuck Horngren publicou a primeira edição de seu agora famoso e bem
sucedido Contabilidade de Custos uma ênfase Gerencial, esse livro texto forneceu conceito de
contabilidade de gestão para os currículos, havia uma reduzida ênfase em regras processuais
para avaliação de estoques e maior ênfase para a tomada de decisão. A obra de Shillinglaw
(1961) reforçou a nova era da contabilidade de gestão.
Lin Mei; Fowler e Hawkes (2004) apontam que, acompanhado dos crescentes níveis
de concorrência global, uma gama de novas técnicas de contabilidade de gestão tem sido
desenvolvidas, inovações como o ABC, o Balanced Scorecard e valor econômico agregado
(EVA) começaram a surgir e são enfatizados nos livros de contabilidade de gestão
contemporâneos.
No Brasil, as matrizes curriculares fazem uso das DCN, CM da ISAR/UNTAC, a
Proposta Nacional de Conteúdos para os cursos de graduação em Ciências Contábeis, e
também se tem os conteúdos abordados pelo teste da CMA do IMA, no entanto, entre esses
documentos, apenas a Proposta Nacional de Conteúdos apresenta tanto os conteúdos, quanto
referências básicas para serem utilizadas pelos cursos de graduação em ciências contábeis.
2.2 Conteúdos de Contabilidade de Gestão
Nessa seção buscou-se evidenciar quais conteúdos devem ser abordados nas
disciplinas de contabilidade de gestão. Ao analisar o referencial Proposta Nacional de
Conteúdos para Ciências Contábeis coletaram-se as seguintes disciplinas voltadas à
contabilidade de gestão: contabilidade de custos, apuração e análise de custos, Controladoria,
Análise de Projetos e Orçamento Empresarial, Finanças Empresariais e Sistemas de
Informações Gerenciais. O Currículo Mundial propõe blocos de conhecimento, sem
desdobramento de itens; O Institute of Management Accountants IMA apresenta uma relação
de tópicos. E para complementar se fez um levantamento em cinco obras de contabilidade
gerencial geralmente utilizadas por cursos de graduação em ciências contábeis validadas por
Huppes (2008).
Quadro 2 - Conteúdos de Contabilidade de Gestão
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Fundamentos em Custos X X X X X X
Sistemas de Custeio X X X X X X
Esquema básico em custos X X X X X X
Custos Conjuntos X
Análise das Variações em Custos X X X X X
Análise CxVxL X X X X X
Margem de contribuição X
Departamentalização X
Centros de Responsabilidade X X X X
Funções de Controladoria X
Planejamento X
Avaliação de Desempenho X X X X
EVA X
Benchmark X
ABC X
EBTIDA X
Balanced Scorecard X X X X
Orçamentos X X X X X X X
Demonstração do Resultado Projetada X X X
Balanço Patrimonial Projetado X X X
Planejamento Financeiro X X X
Alavancagem X
Sistemas de Informação X X X
Controle Gerencial X X X X X X
Controle Orçamentário X
Planejamento Estratégico X X X
Fonte: Autores (2016), com base na Proposta Nacional de Conteúdos para os cursos de
Ciências Contábeis (2009); IMA; Horngren, (1985); Atkinson, Banker, Kaplan, Young
(2000); Garrison; Noreen, Reeve (2001); Anthony e Govindarajan (2008); Padoveze (2010).
Observa-se que os conteúdos elencados pela Proposta Nacional de Conteúdos para os
cursos de Ciências Contábeis, é bastante abrangente em aspectos da contabilidade de gestão e
que nenhuma das obras selecionadas atende em plenitude o programa ideal esboçado por essa
proposta. Uma vez que dadas limitações de carga horária e material didático, buscou-se
verificar quais conteúdos de contabilidade de gestão precisam ser priorizados pelo ensino em
nível de graduação.
Para esse estudo, optou-se por agrupar os itens de controle de gestão, recorrentes nas
obras analisadas, assim os temas foram reduzidos a quatro grandes grupos, a saber: Custos,
Orçamento e Planejamento, Controle e Ferramentas de Gestão. Na seção seguinte se apresenta
a metodologia do estudo.
3. Metodologia
A pesquisa tem por base o método de Analytic Hierarchy Process (AHP) pelo qual os
especialistas priorizam construtos e dimensões da estrutura referencial. O método é ancorado
pela escola americana que trabalha com julgamentos diretos e considera a reciprocidade. Para
Gomes, González Araya e Carignado (2004) o AHP é um método que colabora e justifica
uma escolha, ou decisão, a partir da determinação de critérios e seus pesos extraídos das
preferências dos decisores. Esse método foi desenvolvido na década de 70 pelo Prof Thomas
Saaty, baseado em conceitos de matemática e psicologia. O AHP fornece um procedimento
compreensivo e racional para modelar um problema de decisão, representando e
quantificando as variáveis envolvidas em uma hierarquia de critérios ponderados por
preferências (pesos). O resultado é um modelo que permite analisar várias alternativas e as
comparar rapidamente, por isso conhecido como um método de decisão e para justificar a
decisão.
Almeida (2013) afirma que a questao de multiplos objetivos em problemas de decisao
foi considerada desde cedo, logo nas primeiras decadas do surgimento da teoria da utilidade
de von Neumann e Morgenstern (1944), quando se mostrou que qualquer consequencia em
uma decisao e mais naturalmente descrita por meio de um vetor que representa valores em
mais de uma dimensao (objetivo). Para Gomes, González Araya e Carignado (2004) A
hierarquia de critérios e pesos da AHP é definida pelos tomadores de decisão à medida que se
constrói o modelo. Os critérios são comparados entre si dois a dois, o que introduz um
componente subjetivo no modelo. Isto é, os critérios e pesos são resultados de julgamentos
humanos, não simplesmente informações matemáticas.
Saaty (2008) afirma que o processo de hierarquia analítica para a tomada de decisão
por prioridades precisa ser decomposto em etapas, conforme pode-se observar no quadro 4
Quadro 3 – Etapas do Processo de Hierarquia Analítica
nº Etapas do Processo de Hierarquia Analítica
conforme Saaty (2008) Etapas desse Estudo
1 Definir o problema e determinar o tipo de conhecimento
procurado.
Quais são os conteúdos considerados prioritários no
ensino de contabilidade de gestão pelos cursos de
graduação em Ciências Contábeis?
2 Estruturar a hierarquia de decisão com o objetivo de
topo da decisão, em seguida, definir os objetivos de
uma perspectiva ampla, por meio dos níveis intermédios
Termo de Topo: Temas de Contabilidade de Gestão
na Graduação Nível Intermediário: Custos, Orçamento e
Planejamento, Controle e Ferramentas de Gestão
3 Construir um conjunto de matrizes de comparação par a Matriz 4x4 deriva do nível intermediário para o nível
par. Cada elemento em uma parte superior
níveis é usada para comparar os elementos no nível
imediatamente abaixo com
relação a ele.
imediatamente inferior
Fonte: Autores (2017)
A etapa 1 deriva a partir do termo de topo: Conteúdos de Contabilidade de Gestão,
apresentado na introdução desse estudo, com base na literatura, foram elencados quatro
grandes categorias, os referenciais utilizados foram: a Proposta Nacional de Conteúdos para
os cursos de Ciências Contábeis (2009); IMA; Horngren, (1985); Atkinson, Banker, Kaplan,
Young (2000); Garrison; Noreen, Reeve (2001); Anthony, R. N., & Govindarajan, V. (2008);
Padoveze (2010).
A etapa 3 consistiu na construção da matriz 4x4, que deriva o termo de topo para os
níveis intermediários, nessa etapa se construiu o desenho da pesquisa que foi apresentado para
doutorandos e mestres em contabilidade que atuam na linha de contabilidade de gestão e que
já coordenaram cursos de graduação, a fim de validar o modelo. Os testes foram realizados ao
longo do mês de junho (2016).
Optou-se por investigar o tema junto a coordenadores de curso de graduação em
Contabilidade por conhecerem os documentos que embasam a criação das matrizes
curriculares e por deter uma visão geral dos conteúdos abordados no decorrer do curso,
independentes da nomenclatura que estejam utilizando em suas instituições. A matriz foi
apresentada aos coordenadores, o AHP necessita que os respondentes avaliem cada item de
forma direta e recíproca, assim os pesquisadores aplicaram pessoalmente as matrizes de
preferência evitando que houvesse qualquer dúvida sobre a representatividade de cada
conteúdo.
Para Almeida (2013) A construcao de modelos e a escolha de metodos, no contexto
organizacional, estao diretamente associados aos atores do processo decisorio, que pode
envolver apenas um decisor ou um grupo de decisores. Esse individuo ou um grupo de
indivíduos, considerados decisores, possuem poder para julgar o tema em debate, no entanto,
caberá ao decisor a responsabilidade pelas consequências da decisao tomada.
Os atores que participaram do estudo foram seis coordenadores, selecionados dentre as
maiores instituições de ensino privadas de Curitiba-PR, sob o critério de número de alunos
matriculados no curso de ciências contábeis, todos já passaram pelo processo de avaliação de
seus cursos por meio do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) em pelo
menos uma vez.
Quadro 4 - Atores Participantes da Pesquisa
Respondente Estrutura Coordenador Formação
1 Instituição Privada, Conceito
Preliminar de Curso 4. Atua mais de 7 anos como
docente e 3 como coordenador Mestre em Contabilidade
1 Instituição Privada, Conceito
Preliminar de Curso 5, 10 anos
no mercado.
Atua mais de 10 anos como
docente e 4 como coordenador Mestre em Contabilidade
3 Instituição Privada, Conceito
Preliminar de Curso 5. 17 anos
no mercado
Atua mais de 8 anos como
docente e 5 como coordenador Mestre em Contabilidade
4 Instituição Privada, Conceito
Preliminar de Curso 3.
Atua mais de 7 anos como
docente e 4 anos como
coordenador Mestre em Administração
5 Instituição Privada, Conceito
Preliminar de Curso 3. Atua mais de 8 anos como
docente e 4 como coordenador Mestre em Contabilidade,
doutorando em Direito
6 Instituição Privada, Conceito
Preliminar de Curso 4.
Atua mais de 7 anos como
docente e 4 anos como
coordenador Mestre em Contabilidade
Fonte: Autores (2017)
Os coordenadores construíram as matrizes de preferências (matrizes quadradas
recíprocas positivas) cujas células cij são calculadas por comparação pareada entre constructos
e dimensões (ai) segundo a escala [1-9] de Saaty (2008). Os quatro constructos foram: custos,
orçamento e planejamento, controle e ferramentas de controle, cada constructo formou sua
própria matriz derivando seus subitens em uma hierarquia. Tanto os constructos, quanto os
subitens foram desenhados a partir dos referenciais selecionados para esse estudo.
Saaty (2008, p. 6) infere que “uma hierarquia é uma abstração da estrutura de um
sistema para estudar as interações funcionais de seus componentes e seus impactos no sistema
total”, essa abstração pode tomar várias formas inter-relacionadas, descendentes a partir de
um objetivo geral e abrindo em sub-objetos, além das forças que afetam esses sub-objetos.
O método AHP após a divisão do problema em níveis hierárquicos, determina de
forma clara e por meio da síntese das preferências dos decisores uma medida global, para
cada uma das alternativas priorizando-as ao finalizar o método. A hierarquia de critérios e
pesos da AHP é definida pelos tomadores de decisão à medida que se constrói o modelo. Os
critérios são comparados entre si, dois a dois, o que introduz um componente subjetivo no
modelo. Isto é, os critérios e pesos são resultados de julgamentos humanos, não simplesmente
informações matemáticas. (GOMES; GONZÁLEZ; ARAYA; CARIGNADO, 2004) Na fase
de julgamentos paritários, o decisor compara entre duas alternativas, avaliando qual é a mais
satisfatória e o quanto é mais satisfatória em relação à outra (OLIVEIRA; MARTINS, 2015).
As matrizes de preferência foram indicadas de acordo com o modelo de escala de
importância de Saaty (2008).
Tabela 1 - Modelo de escala de importância de Saaty
Se ai em relação a aj = Então cij = Se ai em relação a aj = Então cij =
Igual 1 Igual 1
Um pouco mais importante 3 Um pouco menos importante 1/3
Mais importante 5 Menos importante 1/5
Muito mais importante 7 Muito menos importante 1/7
Absolutamente mais
importante
9 Absolutamente menos
importante
1/9
Fonte: Saaty (2008)
As informações foram registradas no software Assistat 7.7 beta, que gerou as matrizes
de preferências e proporcionou o cálculo dos índices de consistência e de razão de
consistência do modelo, que serão apresentados na próxima seção.
As informações foram registradas no software Assistat 7.7 beta, que gerou as matrizes
de preferências e proporcionou o cálculo dos índices de consistência (IC) e de razão de
consistência do modelo (RC). Caso o IC for menor do que 0,10 o modelo atende uma medida
de consistência de forma satisfatória. (SAATY, 1991).
4 Apresentação e Discussão de Resultados
Os atores selecionados para esse estudo, são professores, coordenadores de cursos de
ciências contábeis, com experiência docente e na gestão de cursos, e todos já passaram pelo
processo de avaliação de seus cursos por meio do Exame Nacional de Desempenho dos
Estudantes (ENADE) em, pelo menos, uma avaliação.
Os pesquisadores apresentaram o método e o desenho da pesquisa para os
respondentes que passaram a comparar os constructos e categorias de acordo com suas
preferências. Não houve discordâncias nos termos apresentados. Como o AHP trabalha com
julgamentos diretos e considera a reciprocidade, é indicado para trabalhar com pequenos
grupos de decisores que avaliam as alternativas com base em seu juízo de valor. Gomes,
Araya e Carignano (2011, p. 9) ressaltam que o Decisor é um “elemento do modelo” que se
depara com um conjunto de alternativas a partir de atributos e critérios dentro dos modelos de
apoio à decisão multicriterial discreta. Foram necessárias somente duas rodadas para ajuste de
preferência entre os pesquisados, a partir da apresentação desenho do estudo, que parte do
termo de topo e deriva-se em constructos e critérios, um critério é uma função que reflete as
preferências do decisor. O desenho dos constructos e critérios pode ser visualizado pelo
quadro 6.
Quadro 5 – Desenho dos Constructos e Critérios
Termo de Topo: Temas de Controle de Gestão na Graduação em Ciências Contábeis
Custos Orçamento e
Planejamento Controle Ferramentas de Gestão
Fundamentos em custos Orçamentos Controle Gerencial Avaliação de Desempenho
Sistema de Custeio Planejamento Estratégico Controle Orçamentário EVA
Esquemas Básicos em
Custos Planejamento Financeiro Funções da Controladoria Benchmark
Análise das Variações em
Custos Demonstrações Projetadas Balanced Scorecard
Análise CxVxL
Centros de
Responsabilidade
Fonte: Autores (2016) com base em dados da pesquisa.
As pontuações dos decisores em razão de suas preferências, serão manifestadas em
forma de pesos para os atributos, o decisor, mediante as alternativas pertencentes a um
conjunto finito de escolhas, realiza a avaliação dos constructos e categorias de forma pareada
(GOMES, ARAYA e CARIGNANO, 2011). Os decisores atribuíram pesos aos constructos e
categorias, julgando os itens or pesos conforme a tabela 2, essas decisões foram inseridas no
software Assistat 7.7 Beta que proporcionou os cálculos apresentados no quadro 7
Quadro 6 - Apresentação dos Resultados - Analytic Hierarchy Process (AHP)
Termo de Topo: Temas de Contabilidade de Gestão na Graduação em Ciências Contábeis
Contructos CI 0,0006 CR 0,07
Categorias Importância
do Indicador Avaliação do
Indicador
Custos Importância do Indicador 43% CI 0,07 CR 0,05
Fundamentos em custos 25% 11%
Sistema de Custeio 17% 7%
Esquemas Básicos em Custos 20% 9%
Análise das Variações em Custos 19% 8%
Análise CxVxL 13% 6%
Centros de Responsabilidade 0,6% 3%
Orçamento e Planejamento Importância do Indicador 18% CI 0,15 CR 0,14
Orçamentos 41% 7%
Planejamento Estratégico 19% 3%
Planejamento Financeiro 24% 4%
Demonstrações Projetadas 16% 3%
Controle Importância do Indicador 19,5% CI 0,04 CR 0,02
Controle Gerencial 52% 10%
Controle Orçamentário 33% 6%
Funções da Controladoria 14% 3%
Ferramentas de Gestão Importância do Indicador 19,5% CI 0,01 CR 0,02
Avaliação de Desempenho 0,18% 4%
EVA 0,57% 11%
Benchmark 0,14% 3%
Balanced Scorecard 0,11% 2%
Fonte: Autores (2016)
Com base no quadro 7 pode-se inferir que as matrizes geradas pelas decisões dos
respondentes são consistentes pois o modelo da decisão multicritério discreta, AHP atingiu
seu índice de consistência e razão de consistência abaixo de 0,10 conforme determina Saaty
(2008). As prioridades obtidas só farão sentido se forem provenientes de matrizes
consistentes. Nesse sentido os respondentes forneceram um modelo de decisão, validado pelos
cálculos de consistência, que indicam que no processo de organização curricular,
independente da carga horária que será disponibilizada para os temas de contabilidade de
gestão, ou quantos períodos ou disciplinas serão distribuídos, as proporcionalidades entre os
temas deverão ser de 43% para custos, 18% para orçamento e planejamento, 19,5% para
controle e também 19,5% para o item ferramentas de gestão, esses pesos podem ser
visualizados no cálculo de importância do indicador de cada constructo.
A distribuição de pesos para essas prioridades encontram respaldo no referencial
quando Maher (2000) cita a obra de Anthony (1965) Planejamento e Sistemas de Controle:
um quadro para análise, como referencial que exerceu uma grande influência na geração de
professores de contabilidade de gestão e continua a afetar a forma com que os educadores
pensam sobre contabilidade gerencial, essa obra atribui peso significativo aos temas voltados
à custos.
O item controle que se apresenta com grau de importância de 19,5% na escala,
corrobora as definições de Kald e Rapp (2000) que afirmam que controle no sentido amplo do
termo refere-se tanto a estrutura organizacional, quando aos processos informais e é utilizado
tanto para objetivos financeiros quanto para não-financeiros
Na sequência, as ferramentas de gestão elencadas pelo estudo: EVA, Avaliação de
Desempenho, Benchmark e BSC, se apresentam com a mesma prioridade 19,5%. Para
Eisenhart (1995) as variáveis de controle são estruturas de recompensa, características das
tarefas e sistemas de informação.
O último item analisado Orçamento e Planejamento se configura com 18%. De
acordo com Otley (1999) a informação é o ingrediente necessário para completar a malha de
controle considerando o sistema de feedback tradicional, informações sobre o desempenho
real são comparadas com metas preestabelecidas e padrões, e os desvios são utilizados para
sinalizar a necessidade de correção da ação. Além disso, a informação pode ser usada para
prever a necessidade de medidas corretivas antes que consequências adversas forem
observadas. Em ambos casos, ocorre a aprendizagem que melhora o sistema de tal maneira
que os erros não ocorrem novamente da mesma maneira. Tais usos das informações nas
organizações vão desde cartas de controle de qualidade para orçamentos financeiros e de
melhoria da formação à "organização de aprendizagem".
Dentro dos constructos as categorias também apresentam-se em grau de priorização,
assim em um modelo de escolhas baseadas em multicritérios, pode-se verificar quais temas
devem ser trabalhados com maior intensidade e outros em menor medida.
Dentro do constructo custos, os itens que devem ser priorizados de acordo com os
respondentes são: fundamentos em custos 11%, esquema básico em custos 9% e análise das
variações em custos 8%, esses temas estão contemplados por todas as obras que fazem
referências aos conteúdos a serem ministrados nas disciplinas de contabilidade de gestão, com
exceção da obra de Anthony e Govindarajan (2008) conforme quadro 3.
O constructo Orçamento e Planejamento tem maior peso para o item orçamento em
7% e é contemplado por todos os referenciais. Para o item controle a maior indicação 10% vai
para a categoria de mesma denominação e só não é abordada por Horngreen (1985). E o
constructo ferramenta de gestão tem maior peso na categoria EVA, 11%, o que surpreende
pois somente a Proposta Nacional de Conteúdos para Ciências Contábeis especifica esse
conteúdo, mas Lin Mei; Fowler e Hawkes (2004), apontam esse, como tema emergente em
contabilidade de gestão, essas indicações podem ser observadas no quadro 3
5 Considerações Finais
Esse estudo apresenta uma aplicação do AHP que é um método tradicional de
tomada de decisão baseado em multi-critérios, os critérios foram definidos a partir de
documentos referenciais que orientam a criação de matrizes curriculares.
O documento mais importante no processo de criação de matrizes curriculares no
Brasil são as Diretrizes Curriculares Nacionais, esse é o marco legal, e estabelece os possíveis
itens de formação do perfil do egresso, cada IES observando sua realidade regional traça o
perfil de seu egresso e deriva as competências e habilidades necessárias para a formação desse
perfil. De posse do perfil do egresso, e do estabelecimento das competências e habilidades, é
que os conteúdos serão distribuídos no formato de disciplinas, ocupando no mínimo 3.000
horas relógio.
Porém as DCN não orientam quanto à conteúdos que os cursos de ciências contábeis
devem proporcionar, assim, cabe aos coordenadores junto com seu Núcleo Docente
Estruturante e Colegiado planejarem suas matrizes curriculares e realizar a distribuição de
carga horária e conteúdos. Em termos nacionais se pode contar com a Proposta Nacional de
Conteúdos para Ciências Contábeis (PNCCC), que além de sugerir conteúdos, sugere obras de
referência. Em termos de proposta de conteúdos internacionais, o planejamento das matrizes
tem como referenciais, em termos gerais, o Currículo Mundial (CM), e em termos de
contabilidade de gestão os conteúdos contemplados pelo Institute of Management
Accountants (IMA) para os profissionais que pretendam atuar como contadores gerenciais.
Tendo a limitação mínima em termos de horas relógio, cada coordenador precisa
distribuir os conteúdos entre as disciplinas, e é nesse momento que o AHP se faz útil, pois os
temas precisaram ser distribuídos dentro de um modelo limitado de carga horária. Uma vez
construído, esse pode ser utilizado para analisar, comparar e priorizar alternativas em
ambientes de restrição de recursos, nesse caso, horas-aula. O AHP apontou que os temas
deverão ser distribuídos, independentes da carga horária destinada, na seguinte proporção:
43% para custos, 18% para orçamento e planejamento, 19,5% para controle e também 19,5%
para o item ferramentas de gestão
Recomenda-se para estudos futuros aplicar o modelo de distribuição de conteúdos de
contabilidade de gestão em uma instituição, a fim de avaliar as diferenças geradas entre a
realidade observada e o padrão de distribuição estabelecido pelo modelo. A modelagem de
apoio a tomada de decisão baseado em multicritérios, o Analytic Hierarchy Process (AHP)
pode ser replicado para distribuir as matrizes que envolvem outros conteúdos, tais como:
financeiro ou tributário, entre outras aplicações voltadas ao ensino.
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