2.º relatÓrio de avaliaÇÃo - ec.europa.eu · 2.º relatÓrio de avaliaÇÃo. março de 2015 . 3...

25
Fevereiro de 2017 0 REGIME DE FRUTA ESCOLAR - PORTUGAL 2.º RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO

Upload: hoangminh

Post on 18-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Fevereiro de 2017

0

REGIME DE FRUTA ESCOLAR -

PORTUGAL 2.º RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO

Março de 2015

3

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

REGIME DE FRUTA ESCOLAR – PORTUGAL 2º RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO

4

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

5

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

Autores

Pedro Graça

Sofia Mendes de Sousa

Beatriz Ferreira

Inês Aparício

Maria João Gregório

Design

IADE - Instituto de Arte, Design e Empresa

Editor

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável

Direção-Geral da Saúde

Alameda D. Afonso Henriques, 45 - 1049-005 Lisboa

Portugal

Tel.: 21 843 05 00

E-mail: [email protected]

Lisboa, 2015

6

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 8

1.1 Enquadramento geral .................................................................................................. 8

1.2 A Estratégia nacional para o Programa do Regime de Fruta Escolar e sua

implementação no contexto do sistema educativo português .................................................... 8

1.3 Justificação para a importância da implementação do Regime de Fruta Escolar em

Portugal....... .................................................................................................................................. 9

1.4 Objetivo ...................................................................................................................... 10

2. METODOLOGIA .......................................................................................................... 11

3. RESULTADOS .............................................................................................................. 12

3.1 Evolução da taxa de execução do regime .................................................................. 12

3.2 Avaliação da adesão das escolas e número de alunos atingidos no país e sua

evolução......................................................................................................................................13

3.3 Análise de caso de estudo – Avaliação do impacto a curto prazo do RFE no consumo

de fruta........... ............................................................................................................................. 16

4. DISCUSSÃO/CONCLUSÃO ........................................................................................... 19

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 22

7

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Evolução dos fundos europeus utilizados entre anos letivos 2010/11 e 2014/15. .. 12

Gráfico 2 - Evolução dos fundos da UE utilizados em % da alocação final entre anos letivos

2010/11 e 2014/15…………………………………………………………………………………………………………………12

Gráfico 3 - Evolução do número de autarquias aderentes ao RFE entre anos letivos 2009/10 e

2016/17. ...................................................................................................................................... 13

Gráfico 4 - Evolução do número de escolas aderentes ao RFE entre os anos letivos 2009/10 e

2015/16. ...................................................................................................................................... 14

Gráfico 5 - Evolução do número de alunos no RFE entre os anos letivos 2009/10 e 2016/17... 14

Gráfico 6 - Evolução da quantidade de fruta fornecida pelo RFE entre os anos letivos 2011/12 e

2015/16. ...................................................................................................................................... 15

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Consumo de fruta por dia de semana e total do consumo de fruta numa semana,

antes e depois da implementação do Programa do RFE (7). ........................................................ 16

Tabela 2 - Consumo de fruta nas refeições feitas em casa (fora do contexto escolar) por dias de

semana (segunda, quarta e sexta-feira e terça e quinta-feira) antes e depois da implementação

do Programa do RFE (7). ............................................................................................................... 17

Tabela 3 – Percentagem de crianças que passaram a consumir fruta na merenda da tarde após

a implementação do Programa do RFE (7). .................................................................................. 18

8

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

1. INTRODUÇÃO

1.1 Enquadramento geral

O Regime de Fruta Escolar (RFE) consolida uma ajuda comunitária para aquisição e distribuição

de produtos hortofrutícolas a crianças e jovens que frequentem com regularidade

estabelecimentos de ensino geridos ou reconhecidos pelas autoridades competentes de um

Estado-Membro e foi criado pelo Regulamento (CE) n.º 13/2009, do Conselho Europeu (1) e

pelo Regulamento (CE) n.º 288/2009, da Comissão Europeia (2).

Portugal é um dos Estados-Membros da União Europeia que aderiu ao RFE, sendo o seu

regulamento aprovado pela Portaria n.º 1242/2009, de 12 de outubro (3). São entidades

responsáveis pela coordenação nacional do RFE o Ministério da Agricultura, das Florestas e do

Desenvolvimento Rural, o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação.

A Comissão Europeia, no Regulamento (CE) n.º 288/2009 (2), estabelece que os Estados-

Membros devem avaliar a aplicação dos regimes de distribuição de fruta nas escolas e

determinar a eficácia dos mesmos.

1.2 A Estratégia nacional para o Programa do Regime de Fruta Escolar e sua

implementação no contexto do sistema educativo português

Em Portugal, e desde 2010, apresentou-se à Comissão Europeia (CE) a Estratégia Nacional para

a implementação do RFE onde se definiu como objetivo principal a promoção de hábitos

alimentares saudáveis, através da introdução ou reforço de hábitos alimentares nas crianças

de modo a disseminar comportamentos saudáveis na população. Segundo a estratégia

nacional este objetivo geral compreende objetivos mais específicos no âmbito das seguintes

áreas de intervenção do RFE:

- Saúde pública: reduzir o risco de obesidade infantil e de doenças crónicas associadas

à obesidade;

- Educação: reforçar a aquisição de competências nas áreas da educação alimentar e

da saúde em contexto escolar;

- Agricultura: aproximar as crianças do mundo rural e dar a conhecer a proveniência

dos alimentos, com vista à criação e manutenção de hábitos de consumo de hortofrutícolas.

A estratégia nacional estipula uma frequência de distribuição de fruta de dois dias por semana,

durante 30 semanas por ano letivo (4).

Em Portugal o grupo alvo do RFE é o 1.º ciclo do ensino básico. O sistema de ensino português

organiza-se em 3 níveis: o Pré-escolar (facultativo e a partir dos 3 anos de idade), o Básico

9

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

(obrigatório e formado por 3 ciclos, num total de 9 anos) e o Secundário (obrigatório e num

total de 3 anos). O 1.º ciclo do Ensino Básico, grupo alvo do RFE, engloba os alunos que

frequentam o 1.º, o 2.º, o 3.º e o 4.º ano e que, em geral, possuem entre os 6 e os 10 anos de

idade. As escolas que lecionam o 1.º ciclo estão frequentemente organizadas em

agrupamentos escolares dotados de órgãos próprios de administração e gestão, constituídos

por estabelecimentos de ensino que ministram um ou mais níveis e ciclos de ensino.

A gestão das refeições escolares dos alunos do 1.º ciclo depende dos municípios (Decreto-Lei

n.º 399-A/84, de 28 de dezembro) (5). Assim, compete também aos municípios a decisão de

candidatura, através do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pesca, I.P. (IFAP), ao

regime do RFE. Ao candidatarem-se, assumem a responsabilidade da seleção de fornecedores

e da aquisição e distribuição da fruta às escolas da sua área de competência, atuando como

elo de ligação entre escolas, órgãos centrais e comunidade e divulgando a implementação

efetuada. No agrupamento de escolas decide-se a integração curricular e a execução global do

RFE, passando pela distribuição local dos produtos aos alunos, apresentação de propostas de

medidas de acompanhamento a implementar e respetiva medida de acompanhamento. O RFE

em Portugal não possui caráter obrigatório, e embora se aviste o alcance da extensão a todos

os municípios, existem atualmente escolas sem e com RFE implementado.

1.3 Justificação para a importância da implementação do Regime de Fruta Escolar

em Portugal

Os hábitos alimentares inadequados foram um dos comportamentos que mais contribuiu para

o total de anos de vida saudável perdidos pela população portuguesa durante 2015 (6). Estes

fatores de risco modificáveis estão entre as principais causas das doenças crónicas não

transmissíveis, sendo fortes as evidências que associam os maus hábitos alimentares com o

aumento das prevalências de excesso de peso e obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes

e alguns cancros.

Em Portugal, o problema da obesidade infantil apresenta valores preocupantes. De acordo

com os dados mais recentes do sistema de vigilância nutricional infantil (COSI Portugal 2013),

31,6% das crianças dos 5 aos 9 anos apresentava excesso de peso (incluindo obesidade) e

13,9% eram obesas (7).

Os fatores ambientais têm sido considerados como os principais determinantes da elevada

prevalência da obesidade, em particular o desequilíbrio energético resultante de

comportamentos alimentares e de atividade inadequados. No que diz respeito aos hábitos

10

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

alimentares inadequados, o baixo consumo de hortícolas apresenta-se como um dos mais

frequentes (8).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o consumo mínimo de 400 gr de

hortofrutícolas por dia, no entanto (9), várias investigações sugerem que as crianças

portuguesas consomem quantidades de fruta e hortícolas (FH) inferiores aos valores médios

recomendados (10, 11). Mais ainda, alguns estudos demonstram também a existência de um

gradiente social no consumo de hortofrutícolas em crianças, sugerindo que as crianças de

famílias mais vulneráveis do ponto de vista socioeconómico apresentam consumos mais baixos

de hortofrutícolas (11).

Neste contexto, a implementação de estratégias que visem a promoção do consumo de

hortofrutícolas a toda a população escolar independentemente do seu nível socioeconómico,

quer através de medidas de educação alimentar quer através de medidas que procurem

modificar a disponibilidade alimentar, é uma das prioridades das estratégias nacionais de

alimentação e nutrição. Atualmente, sabe-se que as medidas que visam a modificação da

disponibilidade alimentar, demostram ser mais eficazes comparativamente às medidas que se

centram na capacitação individual para escolhas alimentares mais saudáveis. Assim, o RFE

surge como uma estratégia que pretende dar resposta a esta necessidade, procurando inverter

a tendência decrescente no consumo de FH e que se enquadra num dos cinco objetivos

principais do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) –

“modificar a disponibilidade de certos alimentos, nomeadamente em ambiente escolar,

laboral e em espaços públicos” (12).

1.4 Objetivo

O presente relatório tem como objetivo analisar a evolução da implementação do RFE a nível

nacional, no período decorrente entre os anos letivos 2012/13 e 2016/17 e fazer uma reflexão

sobre os resultados obtidos.

11

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

2. METODOLOGIA

Os indicadores utilizados neste relatório são essencialmente indicadores de processo que

permitem fazer uma análise da taxa de execução do RFE a nível nacional no período

decorrente entre os anos letivos 2012/13 e 2016/17. Para uma melhor visualização da

evolução dos indicadores incluímos dados desde o início da implementação do RFE em

Portugal. Para dar resposta a este objetivo, este relatório descreve os seguintes indicadores de

processo fornecidos pelo Ministério da Educação e da Ciência e pelo Ministério da Agricultura,

das Florestas e do Desenvolvimento Rural: 1) valor dos fundos europeus utilizados nos anos

letivos de 2010/11 até 2014/15; 2) valor dos fundos da União Europeia em percentagem da

alocação final entre anos letivos 2010/11 e 2014/15 3) número de autarquias aderentes ao RFE

entre os anos letivos 2009/10 e 2016/17; 4) número de escolas aderentes ao RFE entre os anos

letivos 2009/10 e 2015/16; 5) número de alunos abrangidos pelo RFE entre os anos letivos

2009/10 e 2015/16 e 6) quantidade de fruta fornecida pelo RFE entre os anos letivos 2011/12

e 2015/16.

Neste período de reporte não se utilizaram indicadores de resultado e, portanto, não se

avaliou diretamente o impacto da estratégia nacional do RFE no consumo de fruta pelas

crianças abrangidas por este programa. Contudo foi incluído neste relatório um caso de estudo

realizado no concelho de Braga após a implementação do RFE neste município. Esta

abordagem fornece-nos indicadores qualitativos e quantitativos (consumo de fruta) de uma

realidade local que se repete em outras regiões e que permite fazer uma reflexão sobre o

possível impacto da implementação da estratégia nacional do RFE no consumo de fruta pelas

crianças (13).

12

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

3. RESULTADOS

3.1 Evolução da taxa de execução do regime

Ao longo dos vários anos do RFE tem-se verificado um ligeiro aumento na percentagem de

fundos da UE utilizados em relação à alocação do valor monetário final. O mesmo se verifica

na quantia monetária utilizada proveniente dos fundos europeus, apesar de um decréscimo

verificado no ano de 2013/2014.

Fonte: Ministério da Agricultura

Gráfico 1 - Evolução dos fundos europeus utilizados entre anos letivos 2010/11 e 2014/15.

Fonte: Ministério da Agricultura

Gráfico 2 - Evolução dos fundos da UE utilizados em % da alocação final entre anos letivos 2010/11 e 2014/15.

[VALOR],0

615120,7

721905,8

544726,8

878485,9

0

100000

200000

300000

400000

500000

600000

700000

800000

900000

1000000

2010/2011 2011/2012 2012/2013 2013/2014 2014/2015

Euro

s

Evolução dos fundos europeus utilizados

27,0%

21,4%

25,1% 25,1% 26,7%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

2010/2011 2011/2012 2012/2013 2013/2014 2014/2015

Evolução dos fundos da UE utilizados em % da alocação final

13

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

3.2 Avaliação da adesão das escolas e número de alunos atingidos no país e sua evolução

Ao longo dos vários anos do RFE tem-se verificado uma tendência decrescente tanto no

número de autarquias aderentes, como no número de escolas. No presente ano letivo verifica-

se uma taxa de adesão inferior a 50%, para ambas. Relativamente ao número de alunos

abrangidos pelo RFE verificam-se variações consideráveis ao longo dos anos. Quanto à

quantidade de fruta fresca distribuída por esta iniciativa, verificaram-se oscilações na oferta ao

longo dos anos, sendo que no último ano letivo (2015/2016) atingiu a quantidade máxima

disponibilizada.

De referir que durante o período em análise se verificou uma reorganização do Parque Escolar

em Portugal, encerrado inúmeras escolas de pequena dimensão, reorganizando-se em centros

educativos maiores. Deste modo, o facto de se ter verificado uma diminuição mais acentuada

no número de escolas aderentes do que no número de alunos abrangidos deve-se a esta

reorganização da rede de escolas portuguesas.

Fonte: Ministério da Educação

Gráfico 3 - Evolução do número de autarquias aderentes ao RFE entre anos letivos 2009/10 e

2016/17.

151 154 132 108 96 104 116 114

127 124 146 170

82

166 152 154

0

50

100

150

200

250

300

2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 2014/15 2015/16 2016/17

Au

tarq

uia

s

Ano Letivo

Número de Autarquias aderentes ao RFE - Evolução 2009/10 - 2016/17

Sim Não

14

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

Fonte: Ministério da Educação

Gráfico 4 - Evolução do número de escolas aderentes ao RFE entre os anos letivos 2009/10 e

2015/16.

Fonte: Ministério da Educação

Gráfico 5 - Evolução do número de alunos no RFE entre os anos letivos 2009/10 e 2016/17.

3529

2911

2467

1860 1771 1789 1772

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

2009/2010 2010/2011 2011/2012 2012/2013 2013/2014 2014/2015 2015/2016

Esco

las

Ano Letivo

Número de Escolas aderentes ao RFE - Evolução 2009/10 - 2015/16

209011 217385

187545

160017

138085 143394 153175 145753

0

50000

100000

150000

200000

250000

2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 2014/15 2015/16 2016/17

Alu

no

s

Ano Letivo

Número de Alunos no RFE - Evolução 2009/10 - 2016/17

15

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

Fonte: Ministério da Agricultura

Gráfico 6 - Evolução da quantidade de fruta fornecida pelo RFE entre os anos letivos 2011/12 e

2015/16.

2841087

5942853

3737690

5113687

6912649

0

1000000

2000000

3000000

4000000

5000000

6000000

7000000

8000000

2011/12 2012/13 2013/14 2014/15 2015/16

Qu

anti

dad

e d

e F

ruta

(P

orç

õe

s)

Ano Letivo

Quantidade de Fruta Fornecida pelo RFE - Evolução 2011/12 - 2015/16

16

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

3.3 Análise de caso de estudo – Avaliação do impacto a curto prazo do RFE no consumo de fruta

No concelho de Braga, foi realizada uma avaliação do impacto a curto prazo do Programa do

RFE numa amostra de 148 alunos do 1ºano, com idades compreendidas entre os 5 e os 6 anos,

pertencentes a 12 estabelecimentos do 1º ciclo do ensino básico público. O objetivo geral

deste trabalho foi avaliar o impacto a curto prazo do RFE no consumo de fruta (2 meses após a

implementação do Programa do RFE). Os resultados deste trabalho, sugerem um aumento

significativo do consumo de fruta total ao longo de uma semana após a implementação do

programa do RFE. Analisando por dias, apenas a terça-feira e a quinta-feira apresentaram

aumentos significativos do consumo deste género alimentício, uma vez que eram estes os dias

referentes à distribuição gratuita de fruta (Tabela 1) (13).

Tabela 1 - Consumo de fruta por dia de semana e total do consumo de fruta numa semana,

antes e depois da implementação do Programa do RFE (13).

N Mínimo Máximo Média Dp Med (p25-p75) p*

SEGUNDA ANTES 148 0 4,00 1,89 0,91 2 (1-2,3) 0,113

SEGUNDA DEPOIS 148 0 7,00 1,78 1,03 2 (1-2)

TERÇA ANTES 148 0 4,00 1,76 0,89 2 (1-2) <0,001

TERÇA DEPOIS 148 0 6,00 2,38 1,15 2 (2-3)

QUARTA ANTES 148 0 4,00 1,70 0,88 2 (1-2) 0,207

QUARTA DEPOIS 148 0 6,00 1,82 1,02 2 (1-2)

QUINTA ANTES 148 0 4,00 1,63 0,90 2 (1-2) <0,001

QUINTA DEPOIS 148 0 6,00 2,26 1,05 2 (2-3)

SEXTA ANTES 147 0 3,50 1,49 0,88 1 (1-2) 0,089

SEXTA DEPOIS 147 0 6,00 1,63 1,04 2 (1-2)

SÁBADO ANTES 148 0 4,00 1,63 0,92 2 (1-2) 0,812

SÁBADO DEPOIS 147 0 6,00 1,67 1,07 2 (1-2)

DOMINGO ANTES 148 0 5,00 1,48 1,01 1 (1-2) 0,864

DOMINGO DEPOIS 148 0 6,00 1,51 1,13 2 (1-2)

TOTAL ANTES 147 0 26,00 11,47 4,87 11 (8-15) 0,001

TOTAL DEPOIS 146 1 42,00 13,03 5,94 12 (9-16)

*Teste de Wilcoxon

17

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

Apesar de se notar um aumento ligeiro no consumo médio de fruta, constatou-se que não

existiam diferenças significativas no seu consumo nas refeições feitas em casa nos dias em que

não era feita a distribuição de fruta nas escolas, quando comparadas com os dias em que era

distribuída fruta depois da implementação do Programa do RFE (Tabela 2) (13).

Tabela 2 - Consumo de fruta nas refeições feitas em casa (fora do contexto escolar) por dias de

semana (segunda, quarta e sexta-feira e terça e quinta-feira) antes e depois da implementação

do Programa do RFE (13).

FRUTA CONSUMIDA NAS

REFEIÇÕES REALIZADAS EM CASA N Mínimo Máximo Média Dp Med(p25-p75) P*

2ª, 4ª E 6ª-FEIRA ANTES 147 0 6,00 2,01 1,33 2 (1-3) 0,847

2ª, 4ª E 6ª-FEIRA DEPOIS 147 0 9,00 2,02 1,61 2 (1-3)

3ª E 5ª- FEIRA ANTES 148 0 4,00 1,27 1,06 1 (0-2) 0,270

3ª E 5ª- FEIRA DEPOIS 148 0 6,00 1,37 1,08 2 (0-2)

2ª, 4ª E 6ª-FEIRA ANTES POR DIA 147 0 2,00 0,67 0,44 0,67 (0,3-1) 0,847

2ª, 4ª E 6ª-FEIRA DEPOIS POR DIA 147 0 3,00 0,67 0,54 0,67 (0,3-1)

3ª E 5ª- FEIRA ANTES POR DIA 148 0 2,00 0,63 0,53 0,5 (0-1) 0,270

3ª E 5ª- FEIRA DEPOIS POR DIA 148 0 3,00 0,69 0,54 1 (0-1)

*Teste de Wilcoxon

Um resultado a destacar deste trabalho prende-se com o facto de se ter verificado um

aumento significativo das crianças que passaram a comer fruta na merenda da tarde de terça

(de 30,1 para 75,5%) e de quinta-feira (de 25,9 para 76,9%), após a implementação do

Programa do RFE. Este resultado apesar de ser expectável, pode sugerir que de facto as

crianças passaram a incluir estes alimentos em refeições como a merenda da tarde, refeições

estas em que habitualmente se verifica um menor consumo deste tipo de alimentos (13).

18

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

Tabela 3 – Percentagem de crianças que passaram a consumir fruta na merenda da tarde após

a implementação do Programa do RFE (13).

CONSUMO DE FRUTA MERENDA DA TARDE N %

TERÇA-FEIRA ANTES

NÃO 100 69,9

SIM 43 30,10

TOTAL 143 100,0

TERÇA-FEIRA DEPOIS

NÃO 35 24,5

SIM 108 75,5

TOTAL 143 100,0

QUINTA-FEIRA ANTES

NÃO 106 74,1

SIM 37 25,9

TOTAL 143 100,0

QUINTA-FEIRA DEPOIS

NÃO 33 23,1

SIM 110 76,9

TOTAL 143 100,0

19

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

4. DISCUSSÃO/CONCLUSÃO

No contexto da aplicação do RFE em Portugal, a sua implementação a nível nacional foi menor

do que o desejável e o seu efeito é difícil de avaliar, dada a enorme quantidade de fatores

implicados nas mudanças de hábitos alimentares em Portugal. Ainda mais difícil ou mesmo

impossível é a tentativa de avaliação do impacto de um programa deste género na prevalência

da obesidade infantil de uma região, na medida em que são múltiplos os fatores a interferir na

regulação energética de uma criança. No entanto, de acordo com últimos dados comparativos

da evolução do estado nutricional das crianças a nível nacional entre 2008 e 2013, verifica-se

uma estabilização do crescimento da obesidade infantil em Portugal. Apesar de não ser

possível estabelecer uma relação direta entre estes resultados e a implementação do RFE em

Portugal, é possível que estes dados já reflitam o esforço que vem sendo feito nos últimos

anos pelas estratégias nacionais na área da alimentação e nutrição, nas quais o RFE se

enquadra.

Considerando o caso de estudo apresentado neste relatório, é possível concluir que a

implementação do RFE pode efetivamente resultar num aumento do consumo de fruta nas

crianças portuguesas. O estudo de avaliação de impacto do RFE no concelho de Braga,

verificou um aumento significativo do consumo de fruta total ao longo de uma semana após a

implementação deste programa, demonstrando a importância da implementação deste tipo

de programas. Os resultados deste caso de estudo permitiram também concluir que a

implementação do RFE contribuiu para um aumento significativo da presença de fruta na

refeição da merenda da tarde (13). Apesar deste aumento só ter sido verificado para os dias da

semana em que ocorre a distribuição gratuita de fruta pelo RFE, estes resultados são

relevantes na medida em que este programa está a contribuir para o aumento do consumo

destes alimentos em refeições nas quais o seu consumo era pouco habitual. Assim, espera-se

que este programa contribua, a curto e a longo prazo, para o desenvolvimento de hábitos

alimentares saudáveis, mesmo não se observando de facto uma modificação no índice de

massa corporal das crianças abrangidas por este regime.

Os resultados deste caso de estudo vêm contrariar, de alguma forma, estudos anteriores que

sugerem que os programas de distribuição de fruta não apresentam um impacto positivo no

aumento do consumo total de fruta, uma vez que a oferta de fruta na escola pode ser

responsável por uma diminuição da quantidade fruta consumida nas refeições realizadas em

casa. Muito provavelmente este tipo de programas tem impacto na modificação de atitudes

face ao consumo de fruta e hortícolas e na modificação de alguns comportamentos

alimentares, que poderão ser apenas visíveis a médio e longo prazo nas regiões abrangidas.

20

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

Por outro lado, este tipo de programas, que consiste na distribuição gratuita de fruta e

hortícolas, pareceu ser de facto eficaz, predispondo a comunidade escolar à adoção de

iniciativas que potenciam o aumento do consumo destes produtos, quando comparados com

outro tipo de programas em que a fruta é disponibilizada nas escolas com custos para os

alunos ou através de Programas de Educação Alimentar que se restrinjam a mensagens

teóricas sobre alimentação saudável (13).

De referir ainda que o sucesso destes programas de distribuição de fruta depende também da

implementação de medidas de acompanhamento, que aliás estão previstas no Regulamento

(CE) n.º 13/2009 do Conselho, que estabelece a necessidade de implementar medidas que

melhorem os conhecimentos do grupo alvo relativos aos hortofrutícolas e à promoção de

hábitos alimentares saudáveis de modo a garantir a eficácia do RFE (1). De futuro, será também

importante avaliar as medidas de acompanhamento que estão a ser implementas nas escolas

no 1º ciclo do ensino básico dos municípios aderentes ao RFE.

No âmbito desta avaliação sintetizamos alguns dos elementos chave para o sucesso da

implementação deste tipo de programas e que resultam do contacto direto com responsáveis

locais do RFE e de alguns estudos de revisão, dos quais se destaca a necessidade de:

Direcionar as mensagens educativas especificamente para o consumo de FH (através

da integração curricular e envolvimento do serviço de alimentação);

Aumentar a exposição aos hortofrutícolas de forma prática e apelativa;

Capacitar os professores para um maior envolvimento nestes programas;

Existência de um líder entre os pares (figura pública ou personagem de desenhos

animados);

Envolver toda a comunidade local (através da participação de produtores locais de FH

e da regulação da oferta alimentar na proximidade da escola);

Duração da intervenção superior a um ano;

Envolver os pais, promovendo uma melhor comunicação entre os pais e os

professores(14).

O RFE deve, portanto, ser parte integrante de uma política nutricional escolar nacional com

maior abrangência regional.

Apesar, da reconhecida importância deste programa de distribuição de fruta e hortícolas e do

seu possível impacto positivo no aumento do consumo destes produtos, os dados relativos à

taxa de execução do RFE não são ainda os desejáveis. A nível nacional, os relatórios anuais de

monitorização e o relatório de avaliação de 2011/2012-2015/2016 mostram que a adesão ao

21

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

RFE não atinge ainda cerca de metade dos alunos do 1º ciclo do Ensino Básico (44,3%), com

variações consideráveis ao longo dos anos e com a desistência de vários Municípios. Estes

resultados, podem em parte refletir um conjunto de constrangimentos transversais a todo o

país e comuns a muitos Municípios, nomeadamente dificuldades:

• Decorrentes das obrigações da contratação pública, que inviabilizam o acesso dos

produtores locais, uma vez que não fazem parte da plataforma de contratação dos Municípios;

• Em encontrar fornecedores que cumpram os requisitos do RFE, e nomeadamente o

fornecimento de produtos de qualidade certificada ou que forneçam o comprovativo da

mesma;

• Na implementação das regras do RFE: aquisição de produtos não conforme aos

critérios de elegibilidade; não cumprimento de prazos; falta de comprovativos adequados;

• De ordem orçamental, uma vez que não há adiantamentos, cabendo ao Município

este encargo, por um período nunca inferior a 6 meses; acrescendo ainda o valor do IVA. Esta

dificuldade afeta particularmente os “grandes Municípios”, sendo declaradamente um dos

motivos de não adesão ou desistência, como é o caso de Lisboa e Sintra;

• Falta de coordenação e apoio aos Municípios por parte das entidades centrais, pois

estes não estão familiarizados com a disciplina financeira das ajudas Fundo Europeu Agrícola

de Garantia (FEAGA), na apresentação dos pedidos de pagamento, o que constitui a principal

causa de penalizações e indeferimento da ajuda, acarretando mais encargos financeiros às

autarquias;

• Falta de divulgação dos benefícios do regime, que não é valorizado por todos os

Municípios nem pelas suas escolas;

• Excessiva burocracia, elevado e complexo número de mapas a preencher pelos

beneficiários; falta de informação e atendimento;

• Municípios isolados enquanto beneficiários: situações de clara desproporcionalidade

das exigências associadas a cada candidatura/pedido de pagamento face ao valor envolvido

nesses mesmos pagamentos, tendo em conta a realidade do país no que respeita à

distribuição da população escolar.

Os resultados apresentados sugerem a necessidade de uma simplificação burocrática do

processo e a necessidade de uma maior capacidade de comunicação dos benefícios deste tipo

de programas aos diferentes intervenientes envolvidos no processo. Espera-se que a

22

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

unificação dos regimes de fruta e leite escolar, que neste momento está a realizar-se, possa ser

uma oportunidade para o definitivo relançamento de um tão importante programa.

23

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Conselho da União Europeia. Regulamento (CE) N.º 13/2009 DO Conselho de 18 de Dezembro de 2008. Jornal Oficial da União Europeia. 2. Comissão das Comunidades Europeias. Regulamento (CE) N.o 288/2009 Da Comissão de 7 de Abril de 2009. Jornal Oficial da União Europeia. 3. Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, da Saúde e da Educação. Portaria N.º 1242/2009 de 12 de Outubro. Diário da República, 1.a série—N.o 197—12 de Outubro de 2009. 4. Ministério da Agricultura e do Mar, Ministério da Saúde, Ministério da Educação e da Ciência. Estratégia Nacional - Regime de Fruta Escolar. 2014. [citado em: 15/02/2017]. Disponível em: http://www.alimentacaosaudavel.dgs.pt/activeapp/wp-content/files_mf/1447063019EstratégiaNacional20142017.pdf. 5. Presidência do Conselho de Ministros e Ministérios da Administração Interna, dos Negócios Estrangeiros dJ, das Finanças e do Plano e da Educação. Decreto-lei 399-A/84, de 28 de Dezembro. Diário da República n.º 299/1984, 1º Suplemento, Série I de 1984-12-28. 6. Institute for Health Metrics and Evaluation. The Global Burden of Disease: Generating Evidence, Guiding Policy. Seattle, WA: IHME; 2015. [citado em: 15/02/2017]. Disponível em: http://www.healthdata.org/portugal 7. Rito A, Graça P. Childhood Obesity Surveillance Initiative: COSI Portugal 2013. Lisboa: DGS; 2015. [citado em: 15/02/2017]. Disponível em: http://repositorio.insa.pt/bitstream/10400.18/3108/3/Relatorio_COSI_Portugal_2013.pdf 8. Direção-Geral da Saúde, Direção de Serviços de Informação e Análise. A Saúde dos Portugueses. Perspetiva 2015. Lisboa: Direção-Geral da Saúde; 2015. 9. World Health Organization. Diet, nutrition and the prevention of chronic disease. Technical Report Series 916 Geneva; 2003. 10. Yngve A, Wolf A, Poortvliet E, Elmadfa I, Brug J, Ehrenblad B, et al. Fruit and vegetable intake in a sample of 11-year-old children in 9 European countries: The Pro Children Cross-sectional Survey. Annals of nutrition & metabolism. 2005; 49(4):236-45. 11. Mantziki K, Vassilopoulos A, Radulian G, Borys J-M, Plessis HD, Gregório MJ, et al. Inequities in energy-balance related behaviours and family environmental determinants in European children: baseline results of the prospective EPHE evaluation study. BMC Public Health; 2015. 12. Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Orientações Programáticas; 2012. 13. Sampaio JF. Avaliação do impacto do Programa do Regime de Fruta Escolar no consumo de fruta pelas crianças – Concelho de Braga [Tese de Mestrado]. Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto; 2011. 14. Carneiro CS, Gregório MJ, Graça P, Patacho R, Lima RM. Descrição e Análise Crítica do Regime de Fruta Escolar em Portugal. Revista Nutrícias. 2014; 20:6-11.

24

Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Regime de Fruta Escolar - Portugal, 2017