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  • 7/23/2019 2o - Maria Russilanya Costa - Crescimento Econmico e Subdesenvolvimento Humano Nosa Municipios Petrorrent

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    UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE UERNCAMPUS AVANADO PREFEITO WALTER DE S LEITO CAWSLDEPARTAMENTO DE ECONOMIA DEC

    MARIA RUSSILANYA COSTA SANTOS DA SILVA

    CRESCIMENTO ECONMICO E (SUB)DESENVOLVIMENTO HUMANO NOS

    MUNICPIOS PETRORRENTISTAS DO RIO GRANDE DO NORTE

    ASS/RN2014

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    MARIA RUSSILANYA COSTA SANTOS DA SILVA

    CRESCIMENTO ECONMICO E (SUB)DESENVOLVIMENTO HUMANO NOS

    MUNICPIOS PETRORRENTISTAS DO RIO GRANDE DO NORTE

    Monografia apresentada ao curso deBacharelado de Cincias Econmicas doCampus Avanado Prefeito de Walter de SLeito, da Universidade do Estado do RioGrande do Norte (UERN), como requisito

    parcial para concluso da disciplinaMonografia II, sob a orientao do Prof. Ms.Joacir Rufino de Aquino.

    ASS/RN2014

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    TERMO DE APROVAO

    CRESCIMENTO ECONMICO E (SUB)DESENVOLVIMENTO HUMANO NOS

    MUNICPIOS PETRORRENTISTAS DO RIO GRANDE DO NORTE

    Monografia apresentada para apreciao da banca examinadora em ____/____/_____ eaprovada pela mesma em ____/____/_____.

    ________________________________________Prof. Ms. Joacir Rufino de Aquino

    Orientador

    ________________________________________Prof. Ms. Jos Aldemir Freire

    Membro da banca

    ________________________________________Prof. Ms. Raimundo Incio da Silva Filho

    Membro da banca

    ________________________________________Maria Russilanya Costa Santos da SilvaOrientanda

    ASS/RN2014

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    DEDICATRIA

    minha famlia, em especial aos meus pais e minha irm, que sempre respeitaram e apoiaramas minhas escolhas.

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, especialmente pela vida, famlia e amigos; assim como pela fora que me fez

    perseverar e concluir mais essa jornada.

    Aos meus pais, pelo amor, carinho e compreenso durante a realizao desta monografia.

    A minha irm, Russiana, pelo apoio incondicional de sempre.

    As minhas primas, Aparecida e Fabinlia, pelo incentivo durante minha caminhada neste curso.

    Ao meu orientador, Prof. Ms. Joacir Rufino de Aquino, pela pacincia e ajuda na construo

    deste trabalho.

    Aos professores do Curso de Cincias Econmicas do Campus Avanado Prefeito Walter de

    S Leito (CAWSL), que muito contriburam para meu crescimento pessoal e profissional.

    Aos meus amigos, Maciel, Lcia, Cleilma, Kzia e Rochele, pela maravilhosa oportunidade decaminharmos juntos nesta jornada, pelas experincias trocadas e, principalmente, pela fora nos

    momentos de desnimo e frustrao.

    Aos meus queridos amigos Russiana, Aparecida e Maciel, que muito me ajudaram na realizao

    deste trabalho.

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    RESUMO

    Ao longo dos anos alguns estados e municpios ganharam destaque no contexto nacional pela

    crescente importncia econmica decorrente das atividades de explorao e produo depetrleo que abrigam em seu territrio, principalmente pelo recebimento de vultosastransferncias monetrias na forma de royalties e participaes especiais. Deste modo, oobjetivo geral da presente pesquisa analisar a evoluo da produo de petrleo nosmunicpios petrorrentistas do Rio Grande do Norte (RN) e verificar o comportamento dosindicadores de produo de riqueza e qualidade de vida destas localidades na primeira dcadado sculo XXI (2000 a 2011). A metodologia adotada foi em grande parte bibliogrfica, masutilizou-se tambm de dados secundrios acerca da realidade socioeconmica dos municpiosestudados. O trabalho concluiu que apesar dos municpios petrorrentistas do RN teremapresentado crescimento econmico acima da mdia estadual, seus indicadores dedesenvolvimento humano no seguiram esta evoluo, verificando ainda uma grande distnciaentre ambos. Portanto, faz-se necessrio uma reviso nas polticas pblicas adotadas para a

    diminuio das desigualdades sociais nestas reas, de modo que as rendas petrolferas sejamdirecionadas principalmente para a elevao do bem-estar de sua populao numa perspectivade longo prazo.

    Palavras-chave:Petrleo;Royalties; Crescimento Econmico; Desenvolvimento humano.

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    ABSTRACT

    Over the years some States and municipalities have gained prominence in the national contextby the increasing economic importance due to the activities of exploration and production of

    oil harboring in its territory, mainly by receiving substantial monetary transfers in the form ofroyalties and cameos. Thus, the overall objective of this research is to analyze the evolution ofthe oil production in "petrorrentistas cities" of Rio Grande do Norte (RN) and verify the

    behavior of production indicators of wealth and quality of life of these localities in the firstdecade of the 21st century (2000 to 2011). The methodology adopted was largely literature butalso used secondary data about the socio-economic reality of the studied municipal districts.The work concluded that despite "petrorrentistas cities" of the RN have presented economicgrowth above the State average, its human development indicators have not followed this trend,noting a great distance between them. Therefore, it is necessary to a revision in the public

    policies adopted to reduce social inequalities in these areas, so that the oil revenues are directedmainly to the elevation of the well-being of its population in a long-term perspective.

    Keywords:Petroleum;Royalties; Economic Growth; Human Development.

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 IDH-M mdio dos municpios das regies brasileiras 2010...................................25

    Tabela 2 IDH-M dos municpios do estado do Rio Grande do Norte 2010...........................25

    Tabela 3 Distribuio da produo de petrleo e gs natural no RN 2000 a

    2012...........................................................................................................................................38

    Tabela 4 Reservas provadas de petrleo (em milhes de barris), por localizao (terra e mar),

    no Rio Grande do Norte 2000 a 2012......................................................................................39

    Tabela 5 Evoluo da quantidade produzida de petrleo do RN (terra e mar) em bep - 2000-

    2012...........................................................................................................................................40

    Tabela 6 Evoluo da arrecadao de royalties(+ participaes especiais) dos municpios

    petrorrentistas do RN em valores correntes (R$) 2000 a 2011............................................42

    Tabela 7 Evoluo da arrecadao de royalties(+ participaes especiais) dos municpios

    produtores de petrleo do Rio Grande do Norte em valores correntes (R$) 2000 a

    2011...........................................................................................................................................44

    Tabela 8 Ranking da arrecadao total de royalties(e participaes especiais) dos municpios

    produtores de petrleo do RN em valores correntes (R$) 2000 a 2011....................................45

    Tabela 9 Participao relativa dos royalties (e participaes especiais) nas finanas dos

    municpios petrorrentistas do RN 2011..............................................................................47

    Tabela 10 Participao relativa dos royalties(+ participaes especiais) nos repasses de FPM,

    FUNDEB e SUS dos municpios petrorrentistas do RN 2011.............................................49

    Tabela 11 Participao percentual dos municpios petrorrentistas na rea total do RN

    2010...........................................................................................................................................52

    Tabela 12 Participao percentual dos municpios petrorrentistas na populao total do RN

    2010........................................................................................................................................53

    Tabela 13 Evoluo da populao dos municpios petrorrentistas do RN 2000 a

    2010...........................................................................................................................................54Tabela 14 Distribuio da populao dos municpios petrorrentistas do RN (populao rural

    e urbana) 2010........................................................................................................................55

    Tabela 15 Participao percentual dos municpios petrorrentistas no PIB do RN

    2011...........................................................................................................................................56

    Tabela 16 Evoluo percentual do PIB dos municpios petrorrentistas do RN a preoscorrentes (R$) - 2000-2011.......................................................................................................59

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    Tabela 17 Evoluo percentual do PIBper capita dos municpios petrorrentistas do RN

    2000-2011.................................................................................................................................60

    Tabela 18 Colocao dos municpios petrorrentistas no rankingestadual do PIBper capita

    2011........................................................................................................................................61

    Tabela 19 ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (ID-M) dos municpios

    petrorrentistas do RN 2010..................................................................................................65

    Tabela 20 Distribuio dos municpios petrorrentistas de acordo com o estgio de

    desenvolvimento humano 2010.............................................................................................66

    Tabela 21 Evoluo do ndice de Desenvolvimento Humano dos municpios petrorrentistas

    do RN 2000 a 2010..................................................................................................................67

    Tabela 22 IDH-M Renda, Longevidade e Educao dos municpios petrorrentistas do RN

    2010........................................................................................................................................69Tabela 23 Classificao dos municpios petrorrentistas do RN por faixa de IDH-M renda,

    longevidade e educao 2010................................................................................................70

    Tabela 24 Posio de classificao dos municpios petrorrentistas do RN no ranking

    estadual e nacional do IDH-M 2010......................................................................................71

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    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Evoluo na quantidade de poos de petrleo dos municpios petrorrentistas do

    RN 2011 a 2013.....................................................................................................................36Grfico 2 Produto Interno Bruto dos municpios petrorrentistas do RN a preos correntes

    (R$) - 2000 a 2011....................................................................................................................58

    Grfico 3 Posio dos municpios petrorrentistas do RN nos rankings do PIBper capita

    (2011) e IDH-M (2010).............................................................................................................72

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    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 Faixas de Desenvolvimento Humano Municipal.....................................................24

    Figura 2 Critrios de distribuio dos royalties do petrleo segundo os percentuais de

    produo (at 5% e acima dos 5%)...........................................................................................27

    Figura 3 Localizao espacial dos municpios petrorrentistas do RN................................33

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    LISTA DE SIGLAS

    ANP Agncia Nacional do Petrleo

    CEPE Clube dos Empregados da PETROBRAS

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    FUNDEB Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao

    dos Profissionais da Educao

    FPE Fundo de Participao dos Estados

    FPM Fundo de Participao dos Municpios

    GLP Gs Liquefeito de Petrleo

    ICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e prestao de Servios

    IDH ndice de Desenvolvimento HumanoIDH-M ndice de Desenvolvimento Humano Municipal

    ISS Imposto sobre Servios

    PETROBRAS Petrleo Brasileiro S/A

    PIB Produto Interno Bruto

    PNB Produto Nacional Bruto

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    RPCC Refinaria Potiguar Clara Camaro

    RN Rio Grande do NorteRPS Regio Petrolfera Sergipana

    SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    SUS Sistema nico de Sade

    UF Unidade da Federao

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................................ 14

    2 CRESCIMENTO ECONMICO E (SUB)DESENVOLVIMENTO HUMANO EMREAS PRODUTORAS DE PETRLEO ....................................................................... 18

    2.1 Crescimento econmico e modernizao produtiva ..................................................... 18

    2.2 Desenvolvimento humano como expanso das liberdades............................................ 21

    2.3 Subdesenvolvimento com abundncia de divisas em reas produtoras de petrleo ....... 26

    3 EVOLUO RECENTE E IMPORTNCIA DO PETRLEO NOS MUNICPIOSDO SEMIRIDO POTIGUAR ......................................................................................... 32

    3.1 Breve histria da explorao de petrleo no Rio Grande do Norte (RN) ...................... 32

    3.2 Reservas petrolferas e evoluo da produo de petrleo no RN .......... ....................... 37

    3.3 Evoluo dos royalties arrecadados pelos municpios produtores de petrleo do RN ... 41

    3.4 Participao dos royalties e rendas especiais nas finanas pblicas dos municpiospetrorrentistas do RN ......................... ........... ......................................... ............................ 46

    4 CRESCIMENTO ECONMICO E (SUB)DESENVOLVIMENTO HUMANO NOSMUNICPIOS PETRORRENTISTAS DO RN ............................................................ 51

    4.1 Abrangncia territorial e evoluo demogrfica dos municpios petrorrentistas ........ 51

    4.2 Evoluo da produo de riqueza nos 15 municpios petrorrentistas do RN .............. 55

    4.3 Evoluo do IDH-M dos municpios petrorrentistas potiguares ................................ 63

    5 CONSIDERAES FINAIS ....................................................................................... 74

    6 REFERNCIAS ........................................................................................................... 76

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    INTRODUO

    H dcadas, a descoberta de uma riqueza natural, o petrleo, fez modificar a estrutura

    econmica e social de vrios pases e regies. Porm, ressalte-se que o fato de uma regio ser

    grande produtora de petrleo e apresentar altos ndices de crescimento econmico PIB per

    capita,por exemplopor si s, no significa que ela ser desenvolvida, ou seja, que todos os

    indivduos desfrutaro de benefcios ligados renda, sade e educao, e que os nveis

    apresentados de pobreza sero baixos. Como afirma Sen (1993, p. 314), um pas pode ser

    muito rico em termos econmicos convencionais [...] e, mesmo assim, ser muito pobre na

    qualidade de vida dos seus habitantes.

    Para muitos pases, a explorao de petrleo constitui a principal atividade econmica.

    No entanto, verifica-se que a maioria deles apresentou nveis de desenvolvimento humano

    relativamente baixos em relao as suas riquezas materiais, possivelmente pelo mau uso dos

    recursos financeiros advindos desta atividade (CRUZ; RIBEIRO, 2009).

    Alm disso, constata-se que a presena e a explorao de grandes quantidades de

    recursos minerais inibem a realizao de investimentos em outros setores econmicos, como a

    agropecuria, tendo em vista que a elevada concentrao de renda impulsiona a indstria a

    importar insumos, reduzindo-se ento o multiplicador do emprego e da renda; assim como

    atraem olhares ambiciosos de certos governantes frente aos recursos pblicos abundantes

    (corrupo), dado que medida que os excedentes aumentam crescem tambm a liberdade de

    ao e de aplicao dessas rendas (CRUZ; RIBEIRO, 2009; FURTADO, 2008).

    O crescimento experimentado pelos pases produtores e exportadores de petrleo

    constitui um choque temporrio de crescimento, visto tratar-se de um recurso energtico no

    renovvel que em algum momento se extinguir e, por isso, os recursos monetrios advindos

    desta atividade deveriam ser alocados para o melhoramento da infraestrutura para a atual e

    futuras geraes (CRUZ; RIBEIRO, 2009).

    No Brasil, a explorao de petrleo tambm constitui uma atividade econmica degrande importncia estratgica, bem como sinal de grandes disparidades entre as regies do

    pas, haja vista que se desenvolve de forma concentrada em determinados estados e municpios.

    A criao de grandes complexos industriais (as refinarias), de portos e rodovias para o

    escoamento da produo, assim como a busca pela qualificao tecnolgica e profissional desta

    atividade econmica impulsiona, ou pelo menos se espera que impulsione, o desenvolvimento

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    econmico e social da regio onde ocorre a explorao, produo e comercializao de petrleo

    e seus derivados, como o gs natural (FURTADO, 2008).

    Essas transformaes geralmente trazem benefcios, como o aumento da riqueza

    produzida na regio, mas tambm geram malefcios, como a degradao ambiental e o

    agravamento das desigualdades econmicas e sociais entre a populao residente.

    A explorao do petrleo gera impactos ambientais negativos, e como forma de

    compensar financeiramente as regies prejudicadas por este tipo de atividade, paga-se a elas

    royalties, que so uma espcie de compensao financeira pelo dano causado ao meio ambiente,

    ou seja, percentuais de participao na produo para aplicao em melhorias para a referida

    regio e seu entorno (DIAS, 2010; SEBRAE/RN, 2005). Todavia, apesar do crescimento

    apresentado pelos municpios produtores de petrleo impulsionado pelo aumento do

    recebimento de royaltiese participaes especiais, da arrecadao do Imposto sobre Circulaode Mercadorias e Servios (ICMS) e do Imposto Sobre Servios (ISS), no se pode verificar a

    elevao dos nveis de desenvolvimento humano na mesma proporo nestes espaos.

    No Rio Grande do Norte (RN), maior produtor de petrleo em terra do Brasil, h mais

    de 30 anos a PETROBRAS construiu uma estrutura moderna que responsvel por boa parte

    do PIB industrial potiguar. O estado abriga 15 municpios1produtores de petrleo e, em alguns

    casos, muitos deles apresentam uma grande dependncia dos recursos advindos do pagamento

    de royalties,podendo, conforme a definio de Serra (2007), serem enquadrados na categoria

    de municpios petrorrentistas.2

    Alguns estudos j demonstraram que a indstria do petrleo desempenha vrios papeis

    na economia dos municpios norte-rio-grandenses (ALVES, 2012; RODRIGUES NETO,

    2009). Mas, afinal, at que ponto o dinamismo provocado por essas atividades foi suficiente

    para elevar a qualidade de vida dos indivduos dessas localidades relativamente s demais reas

    do RN no produtoras de petrleo e gs natural?

    Diante deste questionamento, o objetivo geral da presente pesquisa analisar a evoluo

    da produo de petrleo nos municpios petrorrentistas do RN e verificar o comportamento

    dos seus indicadores socioeconmicos na primeira dcada do sculo XXI (2000-2011).Especificamente, objetiva-se:

    1Os 15 municpios produtores de petrleo e gs natural no RN so: Alto do Rodrigues, Apodi, Areia Branca, Ass,Carabas, Carnaubais, Felipe Guerra, Governador Dix-Sept Rosado, Guamar, Macau, Mossor, Pendncias,Porto do Mangue, Serra do Mel e Upanema.2 Independentemente do grau de importncia da participao de royalties nas finanas pblicas, considera-semunicpios petrorrentistas aqueles que sediam em seus territrios atividades de produo, processamento edistribuio de petrleo e gs natural.

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    a)

    discutir alguns aspectos gerais das noes de crescimento econmico e

    desenvolvimento humano;

    b)

    abordar a relao entre royalties e (sub)desenvolvimento econmico em reas

    produtoras de petrleo;

    c) fazer um breve resgate da histria do petrleo no RN e apresentar como se deu a

    evoluo de sua produo no perodo recente (2000-2012);

    d)

    quantificar as receitas obtidas atravs dos royalties do petrleo nos municpios

    petrorrentistas potiguares e verificar o impacto dessas rendas em suas finanas; e

    e) analisar a evoluo dos indicadores socioeconmicos (PIB e IDH) dos municpios

    petrorrentistas do RN.

    Para a consecuo dos objetivos propostos, a pesquisa foi dividida metodologicamente

    em quatro etapas. A primeira etapa consistiu na reviso bibliogrfica atravs da leitura de livros,artigos cientficos e monografias referentes ao tema estudado, com especial destaque para as

    abordagens de Amartya Sen (2000) e Celso Furtado (2008). Aps esta etapa, foi realizado um

    levantamento histrico dos fatos marcantes do incio da explorao de petrleo e gs no RN,

    bem como da trajetria de atuao da PETROBRAS no estado e em seus municpios produtores

    de petrleo.

    Na terceira etapa, procedeu-se com a coleta de dados secundrios relativos produo

    de petrleo e gs no estado e municpios no perodo de 2000 a 2012, sendo os mesmos retirados

    da pgina eletrnica da Agncia Nacional de Petrleo e Gs (ANP) e, em seguida, os valoresreferentes s transferncias de royalties do petrleo para comparao com suas receitas

    oramentrias. Estas ltimas foram obtidas por meio do Portal da Transparncia do Governo

    Federal. Ademais, obteve-se do portal eletrnico INFOROYALTIES os valores dos royalties e

    participaes especiais transferidos aos municpios produtores de petrleo do RN,

    possibilitando a anlise da participao dos mesmos na formao do PIB norte-rio-grandense.

    J na quarta etapa, objetivando traar os perfis socioeconmicos dos municpios

    petrorrentistas potiguares, foram compilados os indicadores disponveis na pgina eletrnica

    do IBGE e do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (PNUD, 2013b). Por fim, estesindicadores foram convertidos em tabelas e grficos para realizar as anlises com base nas

    bibliografias pesquisadas.

    A estrutura analtica do trabalho est dividida em trs captulos, alm desta introduo.

    No primeiro captulo apresentado o referencial terico, composto por ideias e conceitos de

    diversos autores acerca do tema estudado, cujo enfoque est voltado para o crescimento

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    econmico e os impactos que a modernizao produtiva causam na economia de um pas ou

    regio, bem como uma abordagem do ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-

    M) como indicador de qualidade de vida e a contradio entre a persistncia do

    subdesenvolvimento apesar da abundncia de riquezas predominante nas reas produtoras de

    petrleo.

    No segundo captulo realizada uma breve abordagem da histria da PETROBRAS no

    RN e nos seus municpios, assim como os aspectos relacionados produo e explorao de

    petrleo e gs natural dos mesmos, para ento iniciar uma discusso acerca da importncia da

    arrecadao dos royaltiespara os municpios petrorrentistas do estado e seus impactos nas

    finanas pblicas dos mesmos.

    O terceiro captulo exibe uma caracterizao sociodemogrfica dos municpios

    petrorrentistas do RN e sua contribuio para a formao da riqueza produzida no estado.Alm disso, realiza-se uma comparao entre os ndices de crescimento econmico e de

    desenvolvimento humano desses municpios do estado com municpios no produtores de

    petrleo. Nas consideraes finais, por sua vez, faz-se uma sntese dos principais pontos

    abordados no trabalho e so propostas algumas discusses a respeito dos resultados obtidos.

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    2 CRESCIMENTO ECONMICO E (SUB)DESENVOLVIMENTO HUMANO EMREAS PRODUTORAS DE PETRLEO

    2.1 Crescimento econmico e modernizao produtiva

    De acordo com Sandroni (1999, p. 141), crescimento econmico o aumento da

    capacidade produtiva da economia e, portanto, da produo de bens e servios de determinado

    pas ou rea econmica.

    O crescimento econmico, relacionado ao aumento das riquezas produzidas, medido

    em termos do Produto Interno Bruto (PIB), que corresponde ao valor monetrio de todos os

    produtos finais, gerados em um perodo especfico de tempo no territrio de um determinado

    pas, mesmo que sejam produzidos por empresas ou cidados estrangeiros nele instalados,podendo ainda ser mensurado pelas pticas da produo, da renda e da demanda (RAMALHO

    JNIOR, 2012; SANDRONI, 1999).

    Contudo, na maioria dos casos em que se necessita mensurar o PIB considera-se o PIB

    a preos de mercado, que corresponde ao valor monetrio de venda dos produtos finais

    produzidos dentro de um pas em determinado perodo de tempo (GREMAUD;

    VASCONCELOS; TONETO JR., 2010, p. 35).

    Deste modo, o crescimento econmico de um pas em determinado perodo de tempo

    definido como o aumento do produto naquele perodo, ou seja, a elevao na produo de

    bens e servios que satisfaam s necessidades humanas (GREMAUD; VASCONCELOS;

    TONETO JR., 2010, p. 32). Os fatores que influenciam a determinao e evoluo do PIB, por

    sua vez, so o consumo pessoal e pblico (das famlias e do governo), o investimento e o

    comrcio exterior.

    Como explica Ramalho Jnior (2012, p. 402), pela ptica do dispndio (ou demanda),

    o PIB igual despesa de consumo final mais a formao bruta de capital fixo, mais a variao

    de estoques, mais as exportaes de bens e servios, menos as importaes de bens e servios.

    Sendo assim, possvel identificar os fatores determinantes do PIB atravs da seguinte

    expresso:

    PIB = C + IB + G + (X M)

    Sendo:

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    C = gastos em bens de consumo pelas famlias

    IB = investimento bruto

    G = os gastos de consumo de bens/servios do governo

    (X M) = o valor lquido entre exportaes e importaes

    Podendo ainda ser expresso da seguinte maneira:

    PIB = f (C; IB; G; (X M))

    Ou seja, o PIB pode ser expresso em funo do consumo, investimento bruto, gastos

    governamentais e exportaes menos importaes.

    Deve-se lembrar que o PIB pode ser medido de diversas formas: interno ou nacional,bruto ou lquido e a preos de mercado ou custo de fatores. Ademais, tambm pode ser

    diferenciado em produto real ou produto nominal. O primeiro refere-se aquele medido a preos

    constantes e, o segundo, aquele medido a preos correntes (GREMAUD; VASCONCELOS;

    TONETO JR., 2010, p. 47).

    Por ser uma ferramenta que mensura a produo de riqueza, o PIB o parmetro adotado

    para aferir o desempenho econmico de regies e pases, j que uma medida de crescimento

    (RAMALHO JNIOR, 2012). Ademais, tem sido utilizado frequentemente para quantificar o

    grau de desenvolvimento por meio do clculo do PIB per capita, que corresponde ao valor daproduo de bens e servios do pas dividido pelo nmero de habitantes, uma vez que se supe

    que quanto maior o PIB per capita, maior tambm ser o nvel de desenvolvimento da regio

    pesquisada (GREMAUD; VASCONCELOS; TONETO JR., 2010).

    Nesse contexto, no qual quanto maior a riqueza do pas ou regio mais desenvolvida

    ser sua populao, a abordagem acima ressalta a ideia de que o caminho para se elevar o

    desenvolvimento est na inovao tecnolgica aplicada ao processo produtivo, uma vez que ela

    proporciona a elevao da produtividade, potencializando-a e, com isto, elevando a produo

    de riqueza. Tal argumento, inspirado na obra do renomado economista Joseph Schumpeter(1988), assevera que o desenvolvimento ocorre quando o incremento da inovao adicionado

    ao processo produtivo pelos empresrios inovadores, de modo a elevar os lucros rapidamente.

    Dessa forma, o incremento ocorre via modernizao dos equipamentos e, medida que novas

    combinaes produtivas (inovaes) so postas em prtica, h desenvolvimento (SOUZA,

    1999).

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    Entretanto, para Souza (1999), o crescimento econmico tambm pode impactar de

    forma negativa na sociedade, como, por exemplo, pelo aumento da concentrao de renda entre

    uma pequena parcela da populao, de modo que nem sempre a modernizao que propicia o

    aumento da produo de riqueza proporciona desenvolvimento humano na mesma dimenso

    para todos os indivduos. Ademais, o incremento de capital tecnolgico ao processo produtivo

    faz reduzir a oferta de emprego, resultando em cargos de baixo nvel e com menores salrios,

    enquanto que os proprietrios do capital tecnolgico conseguem aumentar cada vez mais sua

    rentabilidade.

    Assim sendo, a utilizao do PIBper capitapara medir o desenvolvimento de um pas

    ou regio mostra-se insuficiente. Isso ocorre porque o PIB per capita composto pelo

    somatrio do valor de toda a produo de bens e servios divididos pela totalidade da populao

    e, deste modo, constitui-se numa mdia que esconde os valores reais, j que ela afetada porvalores extremos, sendo por isto um indicador que encobre a real situao socioeconmica da

    referida regio ou pas.

    A explicao est no fato de o PIB per capitaser a representao da renda mdia da

    populao de um pas em um contexto de perfeita distribuio da riqueza gerada. Mas, se o pas

    apresenta uma renda mdia elevada por pessoa no significa que todas as pessoas desfrutam da

    mesma renda, ou que todos tenham acesso aos bens necessrios para suprir suas necessidades

    bsicas, podendo existir pessoas com renda maior e outras com renda menor que a mdia, j

    que na maioria das vezes a distribuio da renda se d de forma desigual.No Brasil, o clculo do PIB envolve todas as dimenses territoriais. Os PIBs

    municipais3, de forma particular, so divulgados anualmente pelo Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatstica (IBGE).

    Em linhas gerais, o PIB um indicador de crescimento econmico, mas no suficiente

    para explicar o desenvolvimento humano de um dado espao territorial, pois a literatura recente

    mostra que outras variveis devem ser includas para mensurar o grau de qualidade de vida da

    populao. o que mostraremos na sequncia do texto.

    3O PIBs municipais so divulgados ao final de cada ano, contudo, com um atraso de dois anos. Atualmente, oIBGE conta com uma srie histrica que vai desde 1999 at 2011. Seu clculo baseia-se na distribuio, pelosmunicpios, do valor adicionado bruto, a preos bsicos, em valores correntes das atividades econmicas, obtidopelas Contas Regionais do Brasil (IBGE, 2012a, p. 9).

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    2.2 Desenvolvimento humano como expanso das liberdades

    O incremento ocasionado pelo acrscimo de tecnologia e capital ao trabalho pode

    resultar na expanso do PIB, mas no em desenvolvimento humano, que vai alm da produo

    de riqueza. Na perspectiva de Sen (2000, p. 17), o desenvolvimento corresponde a um processo

    de expanso das liberdades reais que as pessoas desfrutam, indo alm da mera concepo de

    desenvolvimento como funo do crescimento econmico, do aumento das rendas pessoais, da

    industrializao, do avano tecnolgico ou da modernizao social; pois as liberdades no

    dependem apenas do aumento do PNB ou da renda individual, mas tambm de determinantes

    sociais e econmicos.

    Conforme Schneider e Freitas (2013, p. 6), que seguem a mesma linha de raciocnio

    abordada acima, entender o desenvolvimento mais que uma anlise das condies de renda

    dos indivduos, mas uma abordagem integral, que observa os funcionamentos e as capacitaes

    dos indivduos e como estes conseguem melhorar suas condies de vida.

    Para que essas liberdades sejam experimentadas, necessrio que os fatores de privao

    sejam excludos, como pobreza, falta de oportunidades econmicas, precariedade dos servios

    pblicos (sade, educao, lazer), assim como a remoo de qualquer represso ao direito

    poltico (SEN, 2000).

    As liberdades que constituem o desenvolvimento humano no correspondem apenas

    ao ter, mas ao direito de poder escolher; pois, como afirma Sen (1993, p. 319):

    O conjunto de capacidades representa a liberdade pessoal de realizar vriascombinaes de efetivaes. Se a liberdade intrinsecamente importante, ascombinaes para a escolha so todas relevantes para se avaliar o que vantajoso parauma pessoa, mesmo que ele ou ela escolha apenas uma alternativa. Nessa perspectiva,a escolha , em si mesma, uma caracterstica valiosa da vida de uma pessoa.

    A liberdade , deste modo, um meio para a realizao pessoal, constituindo-se

    tambm num fim. Sendo que, na vida de um indivduo, a liberdade de escolhas constitui um

    ponto fundamental para viver bem e realizar-se enquanto membro da sociedade, medida

    que as privaes constituem fator de excluso social (SEN, 1993).

    As liberdades podem aparecer nos mais diversos mbitos econmicos e sociais. Como

    atravs da oportunidade de estudar, de trabalhar, de exercer o direito civil, de ter acesso a um

    ambiente saudvel, de ir e vir a todos os lugares sem nenhuma restrio, por meio do acesso

    cultura e lazer e, assim, influenciar diretamente na qualidade de vida dos indivduos. Uma vez

    que as privaes das liberdades de um indivduo, presentes nos espaos territoriais

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    subdesenvolvidos, no se resumem apenas a pobreza (falta de alimento), mas tambm a falta

    de informao, de qualificao e a negao do exerccio de seus direitos e deveres como

    cidados.

    Neste sentido, conforme o PNUD (2013b, p. 23), desenvolvimento humano o

    processo de ampliao das liberdades das pessoas, no que tange as suas capacidades e as

    oportunidades a seu dispor, para que elas possam escolher a vida que desejam ter.

    A respeito disso, Sen (2000, p. 53-54) ainda afirma que:

    O papel instrumental da liberdade concerne ao modo como diferentes tipos de direitos,oportunidades e intitulamentos [entitlements] contribuem para a expanso daliberdade humana em geral e, assim, para a promoo do desenvolvimento. No setrata aqui meramente da bvia inferncia de que a expanso de cada tipo de liberdadetem de contribuir para o desenvolvimento, uma vez que ele prprio pode ser vistocomo um processo de crescimento da liberdade humana em geral. [...] A eficcia da

    liberdade como instrumento reside no fato de que diferentes tipos de liberdadeapresentam inter-relao entre si, e um tipo de liberdade pode contribuir imensamentepara promover liberdades de outros tipos.

    certo que o crescimento econmico pode ser considerado um dos fatores da expanso

    das liberdades pessoais, se considerarmos que parte da populao precisa possuir emprego e

    renda fixos, j que quanto maior a quantidade de empregos maior ser a circulao de renda e

    o desenvolvimento do mercado consumidor. Alm do fato desse crescimento tambm interferir

    na aplicao de polticas por parte dos governantes (seguridade social, programas de benefcio

    sociais, de incentivo a gerao de emprego e renda). Mas, por outro lado, esse mesmocrescimento quando favorece apenas uma pequena parte da populao, acaba proporcionando

    concentrao de renda nas mos de poucos e acentuando ainda mais a privao de algumas

    liberdades a grande parte da sociedade.

    O desenvolvimento humano, relacionado s melhorias na qualidade de vida e a expanso

    das capacidades dos indivduos, pode ser expresso em termos de indicadores sociais. Segundo

    Jannuzzi (2012, p. 21), um indicador social uma medida, em geral, quantitativa, dotada de

    significado social substantivo, usado para substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito

    social abstrato, de interesse terico (para pesquisa acadmica) ou programtico (paraformulao de polticas). Trata-se, portanto, de um recurso metodolgico que aborda aspectos

    da realidade social e/ou as modificaes por qual passou.

    Atualmente, o principal indicador social utilizado para medir o desenvolvimento o

    ndice de Desenvolvimento Humano (IDH). O IDH foi elaborado pelo economista paquistans

    Mahbub ul Haq com a colaborao do economista Amartya Sem (Prmio Nobel de Economia

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    de 1998) e apresentado em 1990 no primeiro Relatrio de Desenvolvimento Humano do

    Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento. Trata-se de um indicador utilizado para

    medir o desenvolvimento de um pas ou regio, em contraponto ao PIB, que limitado ao

    crescimento econmico (PNUD, 2013a).

    O IDH fornece uma medida geral do desenvolvimento a partir das dimenses sade,

    educao e renda, considerados os principais meios pelos quais o indivduo pode expandir

    sua liberdade, uma vez que, se tem sade, tem-se disposio para realizar diversas atividades;

    se tem educao, tem-se discernimento para escolher o que se quer e da melhor forma possvel

    de beneficiar-se; e, se tem renda (dinheiro), tem-se a liberdade de escolher o que quiser e para

    onde ir. Ele varia entre zero e um, quanto mais prximo de zero, mais baixo o desenvolvimento

    humano; e, quanto mais prximo de um, mais alto o grau de desenvolvimento humano da rea

    pesquisada.Para mensurar o referido indicador, no quesito sade observa-se a expectativa de vida

    (longevidade); no que diz respeito educao, considera-se a mdia de anos de estudo da

    populao adulta4e a expectativa de anos de estudo da populao jovem 5; e, quanto renda,

    leva-se em conta a posse de um padro de vida digno (Renda Nacional Bruta per capita). Ou

    seja, consideram-se a longevidade, os nveis de educao da sociedade e o acesso a bens e

    servios (PNUD, 2013b).

    Convm ressaltar ainda que, desde 1998, o Brasil vem adotando seu prprio IDH como

    medida de desenvolvimento humano, adaptando o IDH Global ao contexto nacional,denominado de IDH Municipal, ou IDH-M. O IDH-M uma referncia nacional para a

    aplicao de polticas pblicas por gestores municipais, estaduais e federais, uma vez que

    permite a comparao entre vrios municpios. Ele considera os mesmos ndices do IDH

    Global, adaptando-os realidade dos municpios brasileiros: IDH-M Longevidade, IDH-M

    Educao e IDH-M Renda.

    O IDH-M calculado a partir da mdia geomtrica do IDH-M longevidade (expectativa

    de vida ao nascer), juntamente com o IDH-M educao (escolaridade da populao adulta +

    fluxo escolar da populao jovem) e o IDH-M renda (rendaper capita).

    4A escolaridade da populao adulta medida pelo percentual de pessoas de 18 anos ou mais de idade comensino fundamental completo (PNUD, 2013b, p. 29).5O fluxo escolar da populao jovem medido pela mdia aritmtica do percentual de crianas de 5 a 6 anosfrequentando a escola, do percentual de jovens de 11 a 13 anos frequentando os anos finais do ensino fundamental,do percentual de jovens de 15 a 17 anos com ensino fundamental completo e do percentual de jovens de 18 a 20anos com ensino mdio completo (PNUD, 2013b, p. 29).

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    A nova metodologia adotada pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil

    (PNUD, 2013b)6 utiliza os dados do Censo Demogrfico 2010 do Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatstica (IBGE), abordando uma nova classificao quanto faixa de

    desenvolvimento de cada municpio. Nessa nova metodologia, como mostra a Figura 1, se o

    municpio apresentar-se na faixa entre 0 a 0,499, apresentar muito baixo desenvolvimento

    humano; entre 0,500 a 0,599, baixo desenvolvimento humano; entre 0,600 a 0,699, mdio

    desenvolvimento humano; entre 0,700 a 0,799, alto desenvolvimento humano; e, entre 0,800 e

    1, muito alto desenvolvimento humano.

    Figura 1 Faixas de Desenvolvimento Humano MunicipalFonte:PNUD (2013b).

    Deve-se observar ainda que na nova metodologia no foram apenas s faixas de

    desenvolvimento que se modificaram, mas tambm o IDH-M Educao, dada a grande

    preocupao em avaliar a manuteno dos jovens e adultos na escola. Ele agora obtido pela

    mdia geomtrica do ndice de escolaridade da populao adulta, que apresenta peso 1,

    juntamente com o ndice de fluxo escolar da populao jovem, que apresenta peso 2 (PNUD,

    2013b).

    Diante do exposto, no exagerado afirmar que um municpio que apresente faixa de

    desenvolvimento entre as opes de muito baixo (0 a 0,499), baixo (0,500 a 0,599) e at mdio

    desenvolvimento humano (0,600 a 0,699) apresenta caractersticas de subdesenvolvimento. J

    aquele que apresentar faixa de desenvolvimento entre as opes de alto (0,700 a 0,799) e muito

    alto desenvolvimento humano (0,800 a 1) ser considerado desenvolvido. Como se pode

    visualizar na Tabela 1, a seguir, as regies Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentam alto

    desenvolvimento humano, enquanto isso as demais regies brasileiras apresentam mdio

    desenvolvimento humano.

    6O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 resultado da parceria entre o Instituto de PesquisaEconmica Aplicada (IPEA), o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Fundao JooPinheiro (FJP).

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    Tabela 1 IDH-M mdio dos municpios das regies brasileiras 2010

    Regio IDH-M IDH-M RendaIDH-M

    LongevidadeIDH-M Educao

    Nordeste 0,660 0,653 0,779 0,565Norte 0,684 0,684 0,798 0,587

    Sul 0,756 0,766 0,843 0,669Sudeste 0,754 0,761 0,838 0,671

    Centro-Oeste 0,753 0,769 0,839 0,663

    Brasil 0,705 0,707 0,809 0,612Fonte:Elaborao prpria a partir de dados doPNUD (2013b).

    Ademais, no caso do Brasil, visualiza-se que, de maneira geral, o IDH-M mdio

    apresenta-se com alto desenvolvimento humano. Por outro lado, ao analisarmos os indicadores

    isoladamente, perceberemos que o IDH-M renda apresenta-se com alto desenvolvimento

    humano, e o IDH-M longevidade apresenta-se com muito alto desenvolvimento humano,

    sinalizando que, de acordo com esses indicadores, o Brasil encontra-se desenvolvido.

    Entretanto, a anlise do IDH-M educao sinaliza que o Brasil encontra-se subdesenvolvido,

    pois se apresenta com mdio desenvolvimento humano.

    Vale salientar que uma regio pode apresentar, num contexto geral (a mdia dos trs

    indicadores), alto ou muito alto desenvolvimento humano, mas, ao analisar-se cada um dos

    indicadores individualmente, obtermos um que denote baixo ou mdio desenvolvimento

    humano, como, por exemplo, o estado do Rio Grande do Norte, que apresentou os maiores

    indicadores de desenvolvimento humano da regio Nordeste. Nele, embora os municpios

    apresentem timos ndices em alguns aspectos analisados, constata-se um nvel preocupante

    em outros, como no caso da educao da populao (Tabela 2).

    Tabela 2 IDH-M dos municpios do estado do Rio Grande do Norte 2010

    Componentes do IDH-M Faixa de Desenvolvimento

    IDH-M Renda 0,678

    IDH-M Longevidade 0,792

    IDH-M Educao 0,597

    IDH-M 0,684Fonte:Elaborao prpria a partir de dados do PNUD (2013b).

    Ou seja, o indicador global de desenvolvimento humano desagregado norte-rio-

    grandense sinaliza que a regio subdesenvolvida, por apresentar mdio desenvolvimento

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    humano, mas, por outro o lado, verifica-se tambm que o estado apresenta alto desenvolvimento

    humano no indicador longevidade e baixo desenvolvimento humano no indicador educao.

    Grosso modo, percebe-se que o IDH-M fornece informaes importantes que

    possibilitam traar o perfil socioeconmico dos municpios brasileiros, permitindo ainda sua

    comparao com os demais municpios de diferentes regies.

    Nesse sentido, a partir da anlise dos dados divulgados pelo Atlas de Desenvolvimento

    Humano no Brasil (PNUD, 2013b), verificar-se- se alm da evoluo do crescimento

    econmico (medido em termos do aumento do PIB) houve tambm o aumento do

    desenvolvimento humano (IDH), ou, como afirma Sen (2000), da expanso das liberdades

    nos municpios petrorrentistas do Rio Grande do Norte. Tal abordagem torna-se relevante

    uma vez que se visualizam casos em que apesar do crescimento do PIB e do PIBper capita de

    determinadas reas prevalece falta ou precariedade de acesso a servios bsicos de qualidadepara sua populao (sade, educao e lazer) e tambm a privao de oportunidades de

    desenvolvimento econmico e social, j que o crescimento ocorre de forma concentrada, algo

    tpico das reas produtoras de petrleo pelo mundo afora, como veremos na sequncia.

    2.3 Subdesenvolvimento com abundncia de divisas em reas produtoras de petrleo

    A indstria petrolfera desempenha um papel fundamental para o crescimento do PIB

    nas regies onde se localiza. Isso porque ao se instalar em uma regio ela modifica a dinmicalocal, impulsionando as demais atividades econmicas, o setor de comrcio e servios, e a

    prpria configurao do mercado de trabalho local. Contudo, seu efeito multiplicador do

    emprego e da renda nem sempre suficiente para impedir o subdesenvolvimento da regio,

    sendo que outros fatores interferem na gesto dos recursos advindos deste tipo de atividade,

    como a falta de planejamento ou adoo de polticas de incentivo a gerao de emprego e renda

    para fugir da dependncia deste tipo de atividade (BORBA; OLIVEIRA; SILVA NETO, 2007;

    LIMA, 2010).

    Por ser uma atividade geradora de grandes recursos financeiros para a regio na qualest posicionada e suas localidades vizinhas, a atividade petrolfera origina excedentes para os

    governos, na forma de royalties,participaes especiaise outros impostos.

    Os royaltiesso compensaes financeiras incidentes sobre a produo de petrleo e

    gs, previstas na Constituio Federal de 1988, em seu Art. 20, devidas pelo uso dos recursos

    naturais aos entes federativos pelos agentes concessionrios e devem ser ou deveriam ser

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    aplicados em aes que beneficiem a gerao futura da referida regio (DIAS, 2010; PEREIRA,

    2012; SEBRAE/RN, 2005).

    Em termos operacionais, os royalties so pagamentos mensais que incidem sobre a

    produo do ms anterior, previstos na Lei 9.478 de 1997, que regulamenta o regime de

    concesso, de partilha das rendas e definies tcnicas a respeito da explorao e produo de

    petrleo. Atualmente, a distribuio dos royalties do petrleo est definida conforme a Figura

    2, apresentada a seguir.

    Figura 2 Critrios de distribuio dos royalties do petrleo segundo os percentuais de

    produo (at 5% e acima dos 5%)Fonte:Elaborao prpria a partir de dados da ANP (2014b).

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    A grande transferncia de rendas petrolferas fez surgir uma nova classe de municpios,

    os municpios petrorrentistas. A referida definio utilizada para designar aquele seleto

    grupo de municpios recebedores de rendas petrolferas e que, de certa forma, passaram a ter

    uma situao privilegiada relativamente aos demais municpios que no dispe destas receitas

    (BRAGA; SERRA; TERRA, 2007).

    Os royalties, antes destinados por lei aplicao para o melhoramento da infraestrutura,

    podendo ser aplicados em energia, pavimentao de rodovias, abastecimento de gua,

    saneamento bsico e recuperao e proteo ao meio ambiente, hoje podem ser destinados a

    qualquer tipo de atividade, como nas reas de sade, educao e infraestrutura, constituindo um

    grande problema a utilizao ineficaz destes recursos, seja pela apropriao indevida pelos

    gestores pblicos ou pela m aplicao dos mesmos (LIMA, 2013; VIANA, 2006). Dessa

    forma, os municpios petrorrentistas,

    apesar de considerados ricos relativamente mdia dos municpios de mesmo porte,nem sempre tm alocado as receitas adicionais, particularmente as de royalties, naresoluo dos problemas sociais advindos dos impactos causados pela atividadeinstalada. Note-se que existe o risco de preguia fiscal, ou seja, os governos locaistornam-se excessivamente dependentes dessas receitas e no fazem esforo dearrecadao das receitas de outras fontes geradoras nos municpios (GIVISIEZ;OLIVEIRA, 2007, p. 139-140).

    Na maioria das vezes, os recursos advindos do petrleo so gastos sem planejamento

    governamental ou aplicados na implantao de polticas pblicas imediatistas dedesenvolvimento regional que, num longo prazo, no surtiro efeitos positivos para a regio,

    pois contribui para isso o fato de os gestores estarem acostumados aos vultosos repasses, o que

    piora ainda mais a situao local, uma vez que se trata de uma atividade finita. Isso pode

    ocasionar dependncia e subdesenvolvimento (LIMA, 2010).

    Um dos pioneiros em estudos dessa questo foi Celso Furtado, quando em seu livro

    Ensaios sobre a Venezuela: subdesenvolvimento com abundncia de divisas, de 1957,

    constatou que, apesar de se tratar de uma regio rica em petrleo, os rendimentos advindos

    desta atividade no eram convertidos em desenvolvimento econmico para sua populao.Como explica esse autor, a Venezuela, apesar da pujana de recursos, apresentava

    contrastes entre o grau de desenvolvimento do sistema produtivo e os nveis de renda;apresentando como principais caractersticas estrutura da produo e da fora detrabalho, diferenas entre os nveis de produo das diversas atividades produtivas,disparidades entre os nveis de renda das zonas urbanas e rurais e entre os grupos deuma mesma zona, baixos padres de consumo de grande parte dos indivduos, altos

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    ndices de analfabetismo, falta de acesso cultura, lazer, entre outros (FURTADO,2008, p. 36).

    Mas, como possvel uma regio ser rica (economicamente falando) e ao mesmo tempo

    ser pobre (apresentar subdesenvolvimento humano)? Esse fato pode ser ilustrado secompararmos o PIB de um determinado pas com seu IDH, ou se compararmos as regies

    brasileiras onde so desenvolvidas atividades econmicas ligadas explorao e produo de

    petrleo, de modo que elas apresentam alto PIB e baixo ou mdio IDH, assemelhando-se assim,

    a reas que no produzem petrleo.

    Apesar da abundncia de recursos financeiros, a atividade exploratria de recursos

    naturais tende a diminuir a participao dos demais setores da economia dada a rpida

    mudana estrutural e a falta de incentivos a outros tipos de atividades econmicas e, por isso,

    verifica-se que a maior parte dos pases (e regies) produtores apresentam ndices dedesenvolvimento abaixo do esperado (FURTADO, 2008).

    Os estudos pioneiros de Furtado (2008) ainda alertam que o crescimento econmico

    experimentado pelos novos complexos industriais ligados a atividade petrolfera pode

    contribuir para a ampliao das desigualdades sociais, ao criar novas classes sociais, os

    chamados novos ricos, beneficiados por este tipo de atividade.

    De fato, tomemos, por exemplo, o caso da indstria petrolfera no Brasil. Normalmente,

    a indstria de explorao e produo de petrleo exerce um efeito multiplicador na regio e nas

    proximidades onde est inserida. Todavia, para Givisiez e Oliveira (2007) os municpiospetrorrentistas tendem geralmente a se acomodar (dependncia) frente aos vultosos repasses

    de royaltiese da arrecadao de outras receitas, desconsiderando que se trata de um recurso

    natural esgotvel e muitas vezes deixam de investir em outras reas econmicas, ocasionando

    o subdesenvolvimento da regio (concentrao de renda e disparidades entre os nveis de sade,

    educao, moradia, cultura, lazer etc.).

    Como evidncia localizada desta situao pode-se citar o caso da cidade de Maca, no

    estado do Rio de Janeiro, que possua como base econmica a pesca e a agropecuria, sendo

    substitudas na dcada de 1970 pela explorao de petrleo. O que chama ateno neste caso

    o fato de que desde o incio da explorao e produo de petrleo, e com a criao de um grande

    aglomerado petrolfero, do qual ocasionou a gerao de um elevado nmero de empregos

    ligados direta ou indiretamente a este tipo de atividade, dinamizando ainda outros tipos de

    atividades industriais, assim como o setor de comrcio e servios, as demais atividades foram

    postas de lado. Porm, j se verifica uma reduo no nvel de empregados ligados a este tipo de

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    atividade, visto as quedas nos nveis de produo, despertando assim os estudos com orientao

    para a diversificao produtiva e a capacitao da mo de obra local para atividades da regio,

    como forma de evitar um colapso quando a atividade petrolfera tiver fim (BORBA;

    OLIVEIRA; SILVA NETO, 2007).

    Segundo Cruz e Ribeiro (2009), dentre os vrios pontos negativos da explorao de

    recursos naturais para uma regio ou, como eles se referem, as maldies do petrleo, esto

    reduo dos investimentos nos setores no exportadores de recursos naturais, o incentivo

    corrupo ou m administrao dos recursos pblicos e a instabilidade macroeconmica.

    Dado o exposto acima, Silva e Frana (2009, p. 151) destacam a situao vivenciada na

    Regio Petrolfera Sergipana (RPS), que, apesar de tratar-se de uma regio considerada rica, j

    que h dcadas abriga atividades ligadas explorao e produo de petrleo, apresenta sinais

    claros de subdesenvolvimento:

    A anlise das condies de vida na RPS indica caractersticas que atestam oantagonismo entre as riquezas resultantes da atividade mineral e as condies de vidada populao. Aps quarenta anos de explorao, sobre um subsolo rico, encontra-seuma populao empobrecida e com poucas possibilidades de usufruir dos benefciosque os recursos provindos da explorao das jazidas poderiam oferecer se a gestodos recursos fosse adequada. Esta situao refora a necessidade de que os municpiosinvistam em diversificao produtiva para que as comunidades tenham oportunidadesde ocupao e renda que alavanquem a economia municipal.

    Furtado (2008) tambm faz referncia a esse tipo de situao na economia venezuelana,

    quando verifica que o desenvolvimento industrial no foi suficiente para compensar o atraso

    relativo da agropecuria; alm de visualizar a elevao do coeficiente de importao, que

    significa maior dependncia do setor exportador e vulnerabilidade externa. Ademais, o referido

    autor constatou que o processo de desorganizao (do sistema agrcola, de baixa produtividade)

    e de construo do setor petroleiro exportador acentuou ainda mais as desigualdades sociais.

    Neste sentido, fica evidente o agravamento das desigualdades sociais e da concentrao

    de renda quando se verifica que, de um lado, medida que o setor exportador petroleiro crescia

    e apenas uma pequena parte da mo de obra disponvel atuava nele; do outro, a grande parte da

    populao estava empregada nos demais setores, que cresceram menos que o petroleiro e no

    qual circulava uma menor quantidade de capital (FURTADO, 2008).

    De maneira geral, apesar dos desafios quanto aplicao das rendas advindas da

    explorao de recursos naturais, podem-se citar poucos exemplos de sucesso na aplicao

    dessas receitas adicionais. Trata-se de casos em que o planejamento e a adoo de medidas

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    preventivas foram tomadas em benefcio da sociedade, em vez de gastos descontrolados

    provenientes de recursos naturais esgotveis.

    Neste caso, para que as futuras geraes no sofressem o impacto negativo ocasionado

    pelo fim da explorao dos recursos naturais, alguns pases adotaram como medida a criao

    de fundos permanentes com o intuito de gerir as riquezas para as futuras geraes. Dentre eles,

    destacam-se a Noruega, o Alaska (nos Estados Unidos) e Alberta, no Canad. Segundo Cruz e

    Ribeiro (2009, p. 17), a Noruega criou fundos destinados estabilizao das receitas e ao

    pagamento de penses e aposentadorias, o que fez com que ela, sendo o terceiro maior pas

    exportador de petrleo do mundo, apresentasse em 2005 o segundo maior IDH do mundo.

    Todavia, o SEBRAE/RN (2005, p. 79), ao estudar alguns aspectos referentes a

    distribuio e aplicao dos royalties do petrleo, refora o fato de que a dependncia deste

    tipo de transferncia no RN preocupante, uma vez que a falta de polticas pblicas dedesenvolvimento econmico e social sustentvel sugere o desperdcio de uma renda originada

    de um recurso natural finito a mdio ou longo prazo.

    Portanto, a discusso a respeito do crescimento econmico e desenvolvimento humano

    evidencia que a questo do desenvolvimento vai alm da elevao do PIB e da expanso da

    produo de mercadorias, uma vez que o desenvolvimento est ligado s capacidades que os

    indivduos dispem para expandir suas liberdades (acesso sade, educao, emprego e renda).

    Diante do exposto, pretende-se analisar a partir de agora a influncia da atividade

    petrolfera nos municpios do RN, de modo a observar se houve ou no elevao da qualidadede vida de suas populaes, tendo em vista que esta uma atividade geradora de grandes

    excedentes. Para tal, abordar-se- a relao entre crescimento e desenvolvimento humano

    considerando o PIB e demais indicadores sociais.

    Em outros termos, o desafio do presente trabalho nos prximos captulos verificar se

    nos municpios petrorrentistas do estado do Rio Grande do Norte ocorre o paradoxo da

    abundncia, descrito por Furtado (2008) e demais autores at aqui elencados. Ou seja, se

    apesar das vultosas transferncias petrolferas, esses municpios apresentam indicadores que os

    enquadram na condio de subdesenvolvidos, demonstrando que h uma situao de mdistribuio de renda e falta de acesso aos bens pblicos bsicos populao.

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    3 EVOLUO RECENTE E IMPORTNCIA DO PETRLEO NOS MUNICPIOSDO SEMIRIDO POTIGUAR

    3.1 Breve histria da explorao de petrleo no Rio Grande do Norte (RN)

    No ano de 1943 o Departamento Nacional de Produo Mineral (DNPM) inicia as

    pesquisas em busca de petrleo no RN. Em 1956, a Petrleo Brasileiro S/A (PETROBRAS)

    realiza as primeiras sondagens no estado e seu primeiro poo perfurado, o G-1-RN, em

    Gangorra, no municpio de Grossos. No entanto, somente em 1966, com a retomada das

    pesquisas por parte da PETROBRAS, que efetivamente encontrou-se petrleo em solo

    potiguar e, a partir da e no incio da dcada de 1970, a indstria petrolfera instala-se de vez no

    RN (CEPE, 2010, apud ARAJO, 2010).

    No ano de 1973 foi descoberto o campo petrolfero de Ubarana, primeira descoberta de

    petrleo em mar, confrontante com os municpios de Macau e Guamar. Neste mesmo ano

    descobriu-se o campo de Mossor (primeira descoberta em terra), cuja produo iniciou em

    1979, marcando o incio da explorao de petrleo no RN.

    Nos anos seguintes, 1983, 1985 e 1986, d-se incio ao funcionamento do Polo Industrial

    de Guamar, a construo da primeira unidade de tratamento e processamento de gs natural

    (Gasoduto Nordesto), e a construo do terminal de armazenamento e transferncia,

    respectivamente. Posteriormente, ocorre a construo da estao de tratamento de leo e

    efluentes em 1992; d-se incio a operao de processamento de leo diesel em 1999; e, em

    2001, inicia-se a operao da segunda unidade de processamento de gs natural, assim como as

    instalaes da unidade de querosene de aviao (SEBRAE/RN, 2005).

    Segundo Arajo (2011, p. 30), desde que comeou a explorar petrleo na Bacia

    Potiguar, em 29 de dezembro de 1979, atravs do poo MO-14, em frente ao Hotel Thermas

    localizado em Mossor, a PETROBRAS j investiu cerca de R$ 40 bilhes no Estado. Este

    dinheiro foi destinado para atividades de pesquisa e explorao de petrleo no territriopotiguar, assim como para o desenvolvimento de projetos ligados a esta atividade (ARAJO,

    2011, p. 30).

    A Bacia Potiguar, situada nos estados do Cear e Rio Grande do Norte, apresenta uma

    rea total de 48 mil km2, com campos martimos e terrestres. Deste total, 24,98% (11.993,2

    km2) corresponde rea de produo terrestre do RN. O petrleo e gs produzidos pelos campos

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    desta bacia so transferidos atravs de oleodutos e gasodutos at o Polo Industrial de Guamar,

    onde so processados e transformados em diesel, gasolina e GLP (ALEXANDRE, 2003).

    A conquista mais recente da indstria petrolfera no RN foi a criao da Refinaria

    Potiguar Clara Camaro, em Guamar, no ano de 2009, com custo de aproximadamente 215

    milhes de dlares (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br). Nesse contexto, Arajo (2011,

    p. 26) afirma que:

    A refinaria Clara Camaro vai transformar o Rio Grande do Norte no nico estado dopas com autossuficincia na produo de todos os tipos de combustveis derivadosdo petrleo. Com base em estudos que sero desenvolvidos no mbito do Termo deCompromisso firmado entre o Estado e a Petrobras, a RPCC dever ser ampliada emfases buscando atingir a autossuficincia do RN em refino at 2015 (120 mil barrispor dia de capacidade de processamento).

    Ademais, a instalao da refinaria Clara Camaro proporcionou o aumento daquantidade processada de petrleo e seus derivados, produzindo gasolina, diesel, querosene de

    aviao, GLP e nafta petroqumica (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br).

    No total, como pode ser observado na Figura 3 a seguir, so quinze municpios

    produtores de petrleo no territrio potiguar, sendo eles: Alto do Rodrigues (1), Apodi (2),

    Areia Branca (3), Ass (4), Carabas (5), Carnaubais (6), Felipe Guerra (7), Governador Dix-

    Sept Rosado (8), Guamar (9), Macau (10), Mossor (11), Pendncias (12), Porto do Mangue

    (13), Serra do Mel (14) e Upanema (15).

    Figura 3 Localizao espacial dos municpios petrorrentistas do RNFonte: Elaborao prpria a partir de dados do IBGE (2014a).

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    Percebe-se, pela Figura 3, que ocorre uma concentrao espacial na rea produtora de

    petrleo do RN. Neste espao, a marcante presena das atividades de explorao e produo de

    petrleo, assim como a presena de suas tecnologias avanadas, tornaram-se figuras

    conhecidas. Em muitos casos, chega-se a visualizar lado a lado o contraste entre a tecnologia e

    a pobreza, seja atravs da presena dos chamados cavalo-de-pau, dos gasodutos e oleodutos ou

    por meio das Estaes Coletoras em contato com a paisagem do semirido norte-rio-grandense

    (ALEXANDRE, 2007).

    A atividade petrolfera influenciou de tal forma a economia do RN, proporcionando sua

    insero no mercado internacional, ao ponto de Rodrigues Neto (2009, p. 11) afirmar que:

    A atividade petrolfera possibilitou a transformao da economia potiguar, haja vista,o que antes era apenas uma economia agro-pecuria (baseada na produo do algodo,

    sal e pecuria), no perodo ps Petrobrs 1970, uma economia com uma nova matrizindustrial, de atividades petrolferas capaz de atrair outras atividades ligadas ao setorpetroqumico. O aumento das atividades petrolferas, na Bacia Potiguar, est contidono planejamento estratgico da Petrobrs, aps a reestruturao de suas atividades nopas, ocorridas a partir de 1997, com a quebra (ou flexibilizao) do monoplio estataldo petrleo.

    Em alguns casos, as rendas petrolferas constituem parte considervel das receitas

    municipais. De acordo com Silva (2007), em Guamar ela corresponde a aproximadamente

    50%, em Macau, 40%, em Areia Branca, 35%, em Porto do Mangue, 30%, e, se fossem geridas

    corretamente, proporcionariam a prestao de servios pblicos de qualidade para a sociedade.

    Porm, verifica-se que os elevados gastos pblicos com baixa qualidade e a deficincia em

    investimentos estruturantes constitui empecilho ao desenvolvimento sustentvel dos

    municpios petrorrentistas potiguares (ARAJO, 2013; FREIRE; MAGENTA, 2011).

    Mas, apesar de ter sido o maior produtor de petrleo em campos terrestres e o segundo

    maior do Brasil no ano de 1994, o RN vem apresentado queda considervel em seu nvel de

    produo de petrleo e gs, sem, contudo, apresentar queda na arrecadao de suas rendas

    petrolferas royalties do petrleo e participaes especiais , tendo em vista que alguns

    municpios apresentaram aumento na arrecadao, como ser mostrado adiante.

    Segundo Freire (2013), a queda da produo de petrleo e gs decorre do fato de a maior

    parte de seus campos serem maduros, o que significa dizer que os campos j atingiram sua

    capacidade mxima de produo, que agora est em declnio e resultou na queda da produo

    diria de petrleo e gs pelos poos do RN.

    Diante da considervel queda na produo diria de petrleo e visando a extrao de 18

    mil barris por dia na microrregio do Vale do Au, a PETROBRAS investiu mais de 200

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    milhes de dlares num sistema de vaporduto, inaugurado no ano de 2010. So quase 30 km de

    dutos operando com vapor superaquecido recebido da Usina Termeltrica Jesus Soares Pereira,

    mais conhecida como TERMOAU, com sede no municpio do Alto do Rodrigues

    (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br).

    A TERMOAU tem capacidade de injeo mxima de 610 toneladas de vapor por hora

    a serem direcionadas aos campos de produo de Canto do Amaro, Estreito e Alto do

    Rodrigues, sendo que o vapor produzido para estes campos conduzido por uma rede de dutos

    at os poos. Contudo, para a fase inicial de operao, em 2010, foram injetadas apenas 170

    toneladas de vapor por hora, mas que, em sua fase final, operar com capacidade mxima

    (DUARTE, 2010).

    Dada a onda de modernizao e melhoramento dos equipamentos para a produo e

    explorao de petrleo, o Projeto de Injeo de Vapor um dos quatro grandes projetos daPetrobras para elevar a atual produo diria de 75 mil barris de leo para 115 mil at 2011, no

    Rio Grande do Norte e Cear. Sendo que o objetivo da injeo de vapor nos poos aumentar

    a mobilidade do leo e, deste modo, elevar a produo dos poos de petrleo

    (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br).

    Os esforos se justificam, pois h uma estagnao e queda da quantidade de poos, o

    que faz reduzir a produo de petrleo, e gera tambm preocupao para os gestores municipais,

    dada a possibilidade da reduo de repasses de royalties e participaes especiais.

    Neste sentido, o Grfico 1, a seguir, revela a tmida expanso na quantidade de poosde petrleo dos municpios petrorrentistas do RN, que foi de apenas 1,41% entre os anos de

    2011 e 2013, sinalizando, inclusive, a reduo na produo de petrleo. Isso porque, com uma

    quantidade menor de poos em operao, menor tambm ser a quantidade de petrleo obtida.

    Nota-se, ainda, que em alguns casos houve a diminuio ou estagnao na quantidade de poos

    que esto concentrados majoritariamente nos municpios de Mossor e Alto do Rodrigues.

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    Grfico 1 Evoluo na quantidade de poos de petrleo dos municpios petrorrentistasdo RN 2011 a 20137

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do ANP (2014,b).*O municpio de Porto do Mangue apresentou apenas dois poos de petrleo no ano de 2013.

    Percebe-se ainda que Alto do Rodrigues, Ass, Mossor e Pendncias foram osmunicpios que apresentaram uma maior elevao na quantidade de seus poos. J os

    municpios de Areia Branca, Carnaubais, Governador Diz-Sept Rosado e Upanema foram

    aqueles em que mais poos foram desativados e, nos demais, a quantidade de poos permaneceu

    praticamente estagnada, ou seja, permaneceu constante ou no evoluiu.

    Atualmente, existem no RN quatro campos da bacia potiguar localizados no mar em

    fase de desenvolvimento da produo (Guaiuba, Guaj, Salema Branca e Siri), sendo trs deles

    de total responsabilidade da PETROBRAS, e cuja participao da mesma no quarto campo

    corresponde a 65%, sinalizando seu interesse na bacia potiguar. Por outro lado, os camposlocalizados em terra na etapa de desenvolvimento da produo somam um total de sete campos,

    dos quais dois so de total responsabilidade da PETROBRAS, dois so explorados em parceria

    7Os dados utilizados para a construo do referido grfico foram retirados da planilha de informao mensal daproduo de petrleo e gs natural referente ao ms de dezembro dos anos de 2011, 2012 e 2013.

    0

    100

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    1.100

    2011 2012 2013

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    com uma concessionria8 e os demais concedidos a outras duas empresas que atuam em

    parceria.

    Quanto aos campos que esto em fase de produo, a bacia potiguar conta com um total

    de dez campos localizados em mar, sendo sete deles de total responsabilidade da PETROBRAS

    e os demais em parceria com uma concessionria, que s detm 35% da concesso do campo.

    J os campos localizados em terra somam um total de 81, sendo dois pertencentes ao

    estado do Cear e 79 ao RN, dos quais a PETROBRAS a responsvel pela explorao em 62

    destes campos, 13 so de responsabilidade de outras concessionrias e na explorao de seis

    campos a PETROBRAS detm pelo menos 50% da concesso (ANP, 2014b).

    Mais uma vez fica claro o interesse que a referida empresa estatal mantm na explorao

    de petrleo no RN, visto que o incremento de tecnologia adicionado ao processo de explorao

    e produo de petrleo alavancou a produo do mesmo, ainda que tenha havido quedas naproduo de petrleo e gs, j que os campos norte-rio-grandenses so, em sua maioria,

    maduros.

    Ademais, a descoberta de petrleo na costa potiguar em dezembro de 2013, a primeira

    em guas profundas, durante a perfurao do poo 1-BRSA-1205-RNS (1-RNS-158) fez

    ressurgir a esperana de elevao da produo de petrleo no RN, assim como de suas rendas

    destinadas ao governo estadual e aos municpios (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br).

    Deste modo, a confirmao em maro de 2014 pela PETROBRAS de que o petrleo encontrado

    no referido poo, cuja profundidade final atingida foi de 5.353 metros, apresenta boas condiesmarca o incio de uma nova etapa na histria da explorao de petrleo no RN

    (http://www.agenciapetrobras.com.br/Materia/ExibirMateria?p_materia=976104).

    3.2 Reservas petrolferas e evoluo da produo de petrleo no RN

    Operando h quase 50 anos no estado, a PETROBRAS foi gradativamente implantando

    novas tecnologias na explorao e produo de petrleo no solo potiguar, o que proporcionou,em um perodo determinado de tempo, a elevao das quantidades de reservas provadas de

    petrleo e gs, tal empenho podendo ser visto nos equipamentos de perfurao sofisticados,

    como as sondas de perfurao, que se instalam em rea de manguezais, de carnabas, dunas e

    8Antes a explorao de campos de petrleo era de total responsabilidade da PETROBRAS, porm, por meio deleiles e contratos a PETROBRAS passou a conceder a outras empresas o direito de executar atividades ligadas explorao destes campos, as chamadas concessionrias (RODRIGUEZ; COLELA JR.; SUSLICK, 2008).

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    na caatinga. Contudo, apesar destas inovaes, sabe-se que o petrleo um recurso natural

    finito e um dia se esgotar (ALEXANDRE, 2003, p. 112).

    A queda na produo de petrleo e gs natural dos ltimos anos no RN pode ser

    visualizada na Tabela 3 apresentada na sequncia, onde se percebe que no perodo de 2000 a

    2012, ocorreu uma reduo de 10.323.073 barris equivalentes de petrleo, o que corresponde a

    uma queda de 31,44% da produo total. Esta produo regrediu ano a ano, com picos de

    elevao nos anos de 2004 e 2011, recuperando-se a partir de ento, quando a produo elevou-

    se 1,62%.

    O mesmo comportamento ocorreu com a produo de gs natural, porm de maneira

    mais expressiva. O impacto negativo foi a reduo de 55,49%, ou 702.040 mil/m3 de gs

    natural. Os picos de elevao desta produo foram os anos de 2002 e 2004 e, desde ento, ela

    reduz-se.

    Tabela 3 Distribuio da produo de petrleo e gs natural no RN 2000 a 2012Ano Petrleo (bep)* Gs natural (mil/m3)2000 32.838.589 1.265.2502001 30.537.581 1.197.6582002 29.816.754 1.360.2932003 29.580.299 1.268.9042004 30.115.626 1.365.5792005 28.139.806 1.316.530

    2006 25.015.860 1.180.6522007 23.619.709 1.078.9222008 23.117.046 927.5752009 22.056.374 761.1362010 21.513.273 688.8622011 22.155.758 634.5082012 22.515.516 563.210

    Total 341.022.191 13.609.078Fonte:Elaborao prpria a partir de dados da ANP (2014c).*bep: barril equivalente de petrleo.

    No ano de 2012, o RN foi o 3 maior produtor de petrleo do Brasil, cuja participaofoi de 2,9% na produo nacional. Mas, na produo de gs natural, ocupou apenas a 8 posio,

    com 2,1% de gs natural produzido nacionalmente.9

    Quanto a quantidade de reservas provadas de petrleo, 74,92% esto localizadas em

    terra e 25,08% em mar, como pode ser visualizado na Tabela 4. Aliado a isso, as maiores

    9Dados retirados do Boletim da Produo de Petrleo e Gs Natural Novembro 2012 (ANP, 2013a).

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    quantidades de petrleo extrado em solo potiguar provm de poos em terra, diferentemente

    do ocorrido nos demais estados brasileiros, cuja maior parte da produo origina-se do subsolo

    localizado no fundo do mar.

    Verifica-se, ainda, que entre os anos 2000 e 2004 houve uma reduo das reservas

    provadas em terra, elevando-se nos cinco anos seguintes, com uma ligeira queda nos anos de

    2010 e 2011 e voltando a elevar-se em 2012. Em relao a totalidade das reservas provadas de

    petrleo do Brasil, entre os anos de 2000 a 2012 a participao do RN foi de 29,21% para as

    reservas em mar, e 0,82% para as reservas localizadas em terra.

    Tabela 4 Reservas provadas10de petrleo (em milhes de barris), por localizao (terraemar), no Rio Grande do Norte 2000 a 2012

    Fonte:Elaborao prpria a partir de dados da ANP (2013c).

    Ademais, visualiza-se na tabela acima uma reduo de 2,47% nas reservas descobertas

    em terra do RN no perodo de 2000 a 2011 e, oposto a isso, ocorreu elevao das reservas

    localizadas em mar em aproximadamente 73%. Este dado demonstra que possivelmente est seabrindo uma nova fronteira (ou uma nova era) na explorao de petrleo e gs no RN, onde a

    10Reservas provadas: Reservas de petrleo e gs natural que, com base na anlise de dados geolgicos e deengenharia, se estima recuperar comercialmente de reservatrios descobertos e avaliados, com elevado grau decerteza, e cuja estimativa considere as condies econmicas vigentes, os mtodos operacionais usualmenteviveis e os regulamentos institudos pelas legislaes petrolfera e tributria brasileiras (ANP, 2014a).

    Ano Total TerraParticipao das

    reservas emterra (%)

    MarParticipao

    das reservas emmar (%)

    2000 348,55 283,20 81,25 65,35 18,752001 339,44 270,77 79,77 68,67 20,232002 329,01 259,21 78,78 69,81 21,222003 331,85 260,26 78,43 71,59 21,572004 317,60 250,20 78,78 67,40 21,222005 340,12 259,42 76,27 80,70 23,732006 342,63 263,03 76,77 79,60 23,232007 359,84 264,60 73,53 95,24 26,47

    2008 363,38 265,23 72,99 98,15 27,012009 367,30 265,14 72,19 102,16 27,812010 371,94 254,56 68,44 117,38 31,562011 368,11 251,10 68,21 117,01 31,792012 389,26 276,19 70,95 113,07 29,05

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    tendncia que haja evoluo na quantidade de petrleo e gs oriunda de poos localizados em

    mar, frente s constantes quedas da produo de poos localizados em terra.

    No Brasil, tanto as reservas provadas de petrleo em terra quanto em mar evoluram,

    apresentando um percentual de 6,32% e 44,09%, respectivamente. A explicao para a

    crescente evoluo das reservas em mar deve-se ao incio da explorao de petrleo em guas

    profundas, especialmente na camada do pr-sal.

    Contudo, a oscilao ocorrida na descoberta de reservas provadas de petrleo impactou

    diretamente a quantidade de leo produzida e, apesar de no Brasil a produo martima ter se

    elevado, neste mesmo perodo a do RN apresentou baixa (Tabela 5). No perodo de 2000 a 2012

    a produo de petrleo em terra do RN apresentou queda de 31,91%, enquanto a de sua

    produo em mar foi de 36,35%.

    Tabela 5 Evoluo da quantidade produzida de petrleo do RN (terra e mar) em bep* -2000 a 2012

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados da ANP (2014c).*bep: barril equivalente de petrleo

    Entre os anos de 2007 a 2009 a produo de petrleo do RN e do Brasil mantiveram-se

    constantes ou apresentaram ligeira queda. Apesar disso, uma caracterstica marcante do RN a

    sua produtividade de petrleo e gs em terra, enquanto no Brasil a maior parte da produo de

    provm de reservas martimas. Na atual configurao (2012), 87,20% da produo de petrleo

    do RN decorre de poos localizados em terra, e 12,80% decorrente de subsolo martimo.

    Ano Terra Mar Total2000 28.271.554 4.567.035 32.838.5892001 26.648.606 3.888.975 30.537.5812002 25.878.467 3.938.287 29.816.7542003 25.525.278 4.055.021 29.580.2992004 25.645.106 4.470.520 30.115.6262005 23.841.124 4.298.682 28.139.806

    2006 21.153.786 3.862.074 25.015.8602007 20.367.988 3.251.721 23.619.7092008 19.882.992 3.234.054 23.117.0462009 18.938.087 3.118.288 22.056.374

    2010 18.496.670 3.016.602 21.513.2732011 19.248.734 2.907.024 22.155.7582012 19.632.683 2.882.833 22.515.516

    Total 293.531.075 47.491.116 341.022.191

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    De maneira geral, verificou-se que, durante os anos de 2000 a 2012 houve uma reduo

    nas reservas provadas de petrleo e gs natural do RN. Evidenciou-se, ainda, que a

    caracterstica mais marcante da produo de petrleo e gs no estado a localizao de seus

    poos, que diferentemente do ocorrido nos demais estados brasileiros, onde a maior parte da

    produo vem do mar, esto localizados em terra. Configurao que poder sofrer alteraes

    com as reservas descobertas recentes na costa potiguar, como foi visto anteriormente.

    Contudo, apesar da crescente queda na produo de petrleo, as rendas advindas desta

    atividade aumentaram significativamente, fator que ainda mantm os municpios

    petrorrentistas norte-rio-grandenses em situao de comodidade e favorecimento frente aos

    demais municpios do estado. o que ser abordado na prxima seo.

    3.3 Evoluo dos royalties arrecadados pelos municpios produtores de petrleo do RN

    Durante vrios anos, o RN foi considerado o primeiro produtor de petrleo em terra do

    pas e, em 2012, revezava esta posio com o estado do Amazonas. Bem posicionado na

    classificao dos estados recebedores de royalties, ele tem ocupado nos ltimos anos a terceira

    ou quarta posio no ranking dos maiores recebedores dessas compensaes financeiras e

    participaes especiais.

    Em princpio, surge uma questo interessante a respeito da arrecadao de royaltiespelo

    estado ou, como denominou Freire (2013), o paradoxo entre a produo de petrleo e a

    arrecadao dos royalties, tendo em vista a reduo da produo e o aumento da arrecadao

    das receitas petrolferas. Para esse autor, a explicao para tal fato est na elevao do preo do

    barril de petrleo, cuja moeda de troca no mercado internacional o dlar, que entre janeiro de

    2002 e dezembro de 2012 variou U$$ 82,02 dlares, saltando de US$ 19,15 para US$ 101,17 o

    barril.

    Neste contexto, a Tabela 6 traz uma abordagem da arrecadao de royaltiesentre os

    anos de 2000 a 2011 dos municpios produtores de petrleo do RN. Neste perodo, a

    arrecadao de royalties e participaes especiais dos mesmos aumentaram 304,50%, ou seja,triplicaram, elevando-se anualmente, embora do ano de 2006 para 2007 tenha ocorrido uma

    reduo de 15,56%, com recuperao em 2008. Analisando os dados verifica-se, ainda, uma

    queda considervel entre os anos de 2008 e 2009, o que equivale reduo de 26,60% da

    arrecadao de royalties destes municpios.

    Estas baixas na arrecadao dos royalties foram consequncia da desvalorizao do

    dlar em 2007 e 2009, cujo impacto foi muito grande na venda de barris de petrleo e gs

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    (queda no preo do barril de petrleo), visto ser a moeda de referncia utilizada para a compra

    e venda dos mesmos. Contudo, superados os picos de queda da arrecadao destes recursos,

    dos anos seguintes at a atualidade constata-se a elevao de sua arrecadao, apesar da reduo

    da produo de petrleo e gs, que lentamente vem decrescendo e exigindo a utilizao de

    tecnologias mais avanadas para a explorao dos poos j existentes ou dos recm-

    descobertos.

    Tabela 6 Evoluo da arrecadao de royalties11 (+ participaes especiais)12 dosmunicpios petrorrentistas do RN em valores correntes (R$) 2000 a 2011

    Ano Valor (R$)2000 37.549.341,822001 40.258.627,082002 60.093.376,86

    2003 89.025.462,642004 103.913.424,172005 119.404.929,632006 117.910.845,462007 99.568.886,492008 129.067.087,312009 94.733.051,522010 120.193.813,332011 151.888.075,60

    Total 1.163.606.921,91Fonte:Elaborao prpria a partir de dados do INFOROYALTIES (2013).

    Conforme a Tabela 7, destacada adiante, visualiza-se que todos os municpios

    apresentaram crescimento na arrecadao de royaltiese participaes especiais, porm, os que

    apresentaram os maiores percentuais de elevao na arrecadao dos referidos pagamentos

    foram Pendncias, Macau e Carabas, com 1.549,52%, 459,14% e 416,38%, respectivamente.

    E, por outro lado, os municpios que apresentaram os menores ndices de crescimento foram

    Areia Branca e Felipe Guerra, com 56,00% e 99,57%, respectivamente. J os maiores

    beneficiados em termos monetrios absolutos foram Mossor, Macau e Guamar.

    11Conforme a definio da ANP, royalties so uma compensao financeira devida ao Estado Brasileiro pelasempresas que produzem petrleo e gs natural no territrio brasileiro: uma remunerao sociedade pelaexplorao desses recursos no-renovveis (http://www.anp.gov.br/).12A participao especial, de acordo com a ANP, constitui compensao financeira extraordinria devida pelosconcessionrios de explorao e produo de petrleo ou gs natural, nos casos de grande volume de produo oude grande rentabilidade (http://www.anp.gov.br/).

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    O valor mdio dos royalties e participaes especiais arrecadados em reais (R$) pelos

    municpios produtores de petrleo do RN entre os anos de 2000 a 2011 variaram entre R$

    1.631.069,83, correspondente arrecadao de Carnaubais, e R$ 20.545.767,80, arrecadados

    por Mossor. Vale salientar que, excetuando-se os anos de 2000 e 2002, nos demais anos os

    municpios de Areia Branca, Mossor e Serra do Mel foram os nicos a receberem

    participaes especiais.

    Percebe-se ainda na Tabela 7 que a desvalorizao do dlar no ano de 2009 teve um

    impacto maior na arrecadao dos municpios em relao desvalorizao sofrida pelos

    mesmos em 2007, cuja reduo foi bastante significativa para a maior parte das localidades

    estudadas. Os municpios cuja queda de arrecadao foi mais expressiva foram Carnaubais,

    Areia Branca, Alto do Rodrigues e Upanema, com os respectivos percentuais: 41,87%, 42,13%,

    39,96% e 38,16%.Porm, um f