m.a.pereira - decadência ou subdesenvolvimento

14
<Decadência> ou subdesenvolvimento: uma reinterptetação das suas origens ' , \ " no caso Porrugues O problema da <<decadência nacionab é um dos temasdominantes da cultúra' oitocentista portuguEsa. Na lìnguagem historiográfica actual,oeon- ceito de decadência tende a sersubstitúdo por um concerto novo.de ongem económica, o de subdesenvolvimento. Utilizado pela teoria económica con' t.Ãpoi-.u para designar o desfasamento da grande maioriados países iorËiaot oo iirt*rnu .ulitutirtu em relaçào a um centro. maÌsavançado' nem oãì it* pottui maioi exacqidão conoeptual que a ideia de decadència' ão.nãt t"ioo forma.]mente ntbnos catastr-ólico, por supor umapossìbilidade ãã "uotuçao. Recobre uma grande variedade dì casos. nadaindicando de "to"to uLo"u das forma$Js sociaìs abrangidas, para alem.da explícita apreciação qualjiatìva aceica da sua posição no processo histórico conlem- õãr*"ó. p,i. definição, paises <suúesenvolvidos>> e países..<<em vias de àesenvolvimento> surgem como desviosde um modelo civfizacional' de ã"ãì" ouir*. indust;ializados constituemo mais elevado expoente os óonceitoi de desenvolvimento e subdesenvo!úmento constituen assrmuma ãi.U"fii"O" alicerçada na aceitaçãode um conjunto d9 valores civilizacio- iais dominantes numa pequenafuea da Europa e.da América' onde a iráurt.iJir.çao destruiu' qriase integalmente ai antigas estruturas econó- micas. sociais e políticas. de'agregando os sels valores culturars' Apesar do seu aparente carácter economicista, estes concaitos, que se f.,nãoireotamna exiiténciade um modelo uniformede transformação his- ;il;;, É* um conteú'dodefinidamente finalistâ. Não confirma a história ão ràóutu xx ta1 uniÍormidade de câÍninhos, já porque vários países<sub- ãisinvoloidos, da Europa e da Ásia substituíram âs suas antigas estrutuias ioóieconómicas por siGmas de dominânciasocialista, já porque não se uãtiti.oo o-u ràução da distanciação entre países desenvolvidos e subde- ,"o*tuiOo., ben piÍo contrário'. À tOgica da históriacontemporânea jn- tiÀ" p"ir-" exisiência de um únìco modelo civilizacional do qual -ten' ãÈiiutfu upto^itar-se todas as formaçòes socìaìs Se este <deçtino> fosse ìn;rirírel, como se explìcaria o caso da Espaúa e de Portugal? --. ú" ;; pode inserii a Espanhano grupo dos paises late-ioiners dt indus' trìa.lizaçã o. 'Trata-se antes ãe um país que tentou figumr entre os Ír'ru1' s Este texto começou por ser uma corouricaÉo apreseotada n-um .Colóquio de Histoã itlt;"u, t"ui;uao oâ Unive$idade de Johrl Hopkins, E U. A' -- -;'ï. Éãiõii, óÀ ecurt. des niveaux de développemenb;in Ãevue Tiers-Monile' l91l, 41.

Upload: felipe-aristimuno

Post on 15-Sep-2015

28 views

Category:

Documents


6 download

DESCRIPTION

Outro texto estudado em Modernismos, Decadência ou sbdesenvolvimento - De Pereira

TRANSCRIPT

  • ou subdesenvolvimento:uma reinterptetao das suas origens

    ' , \ "no caso Porrugues

    O problema da

  • .11.....-- -.:!-'*+:rr,aDnsgg-i:Est-efi$dersl-.Ndt-n3'litr-sobea Revoluo Industrial em Espanha, podem tambm aplicar-sg em parte, ::ia Portugal'. Nem a Espanha, nem Portugal, apesar do seu persistente atraso I"- ,"1o Inglaterr, Frana e' hoje, aoi Estados Unidos, podem ser Iassinilados, sern'uis. a outroi paises sbdesenvolvidos situads noutros Icontinentes. Est situao actual, e algum modo especfica, mesmo dentro Ido contexto europeu, encontra-se inmamente dacionada com o seu ipassado histric.5"'t", "ot.,uttto o problema do subdesenvolvmento Ios pases no-europeus ," .ticu1u com dJo.ma assumida pela sua recente iintegra$o no sistema capitalista, em cuja gestao desempenharam, na isua maioria, um papel marginal ou nulo at aos sculos xt'nl-xrx, o caso idos pases peninslares djferente. Ambos os pases ibricos desempenha- |.u.n r-tt fnco nrirnordial na formao do capitalismo mercantil Um dos irum rma fno prirnordial na formaSo do capitalismo mercantil Um dos iproblemas centrais da histria de Pougal e da Espanha continua a I^ser

    o de compreender como, depois de desempearem um papel 'pioneiro, Ivieram a perdJo durante o processo de transio do capitalismo inercantil par o capitalismo industrial na Europa, acompanhando ;tais modifiaes com xtrema dificuldade. O

  • IIJI

    _ -..,: . .., _-._-._--

    - ----tsGBrELij,-a ginTe-erilura -s?'sc-eita iniasd iii d" diamantes, no as descobertas e as grandes batalhas que haviam permi-I tido .outrora o controlo do novas rotasomerciais,i S*t justificado identificar este conjunto de modificaes ocorridasf entre 1580 e 1640 como ndices de uma

  • Eoi, sem dvda, a obra..de Jorge de Macedo sob{e a indslria do

    seculo xvttr, na qual e un'roadu 1u"utt":^i::::i"3etiilt;;r*Ti.:#,i#"';l'r;-iili':;1"ft:*:"'t"ru:*"*""':"*i,',ia"'*-t*'r'ouff trJ,::tJt!Hiiq'3t":::?.:i:3lJ:--Jiif"ir[*"."#;"1';.',Xtth:;:*f ';frodutivas, assirn- -c-omo ,as cc'*'''ii3" 'il:1r"."""1i*Xl;fi':t':i:$i: ii,lil:iii",*:expanso colonial tinha coma:livdades comercrals "- u"" nu hiptese de uma distoro

    da com-

    3?#i'#'#m::llii,"#*'i;.rl'q""i-9,i'"1"'':irH,#J#"'*1i:""'IiJk:i,?+-,.;1ii;ffJ"ililH":n:gi**;y"trl'r*rl*r*ii'"'ffir,'nr:::if "rff "1^;. j'";""ry;i:*:,:.'t:"::':?:,';iiiii""ri^'3i^.'i''iil"l'i"'tio'"'ipsulY"d'rHirr$rtr;'t*:ri' "" !:"fr';{"fi"1i,'j;i:11:+""ffi*tr;mi;.:r'f 'in*ir''q'i*:i::*it#:flitffi "r#:in','*:*int6'ry;'i3"'n:J':l":iti",;":*,r;a":tf 'r#Ji#l';U"3;:1":V;'""'*"1*'':::ffi : ttr il?, it'." f

    ,..1; ;; ;;;" g" i"' t 9' rorlem^en.e de pe nd e n te s#stri$"*1t":'*'mii:r$i.^fr#i,:i'".?i'i'::l*ll"n:r:'$,"fu :r:l"gi:i{"r".***i#dt"',d:rr*:r^?'"1'*#i-;:t";r'*r'l*txl:'ouif ""no"uo_,u:r:#:,3"*J|;,.:,;*"iff,:ff.',":1""''*ffi.':{iiii;#:*tirr}1i:tru'llrn'm;$ii'ff *il*t"f"oiica econrnica e uma reconverso dos inves'

    .***t*s*:-,{+g$:1tigtL:;ffi^,1;.#";;:^i';."i:i.,administrativo e econmrco (

    10 'Pac e Maranho)

  • manacturas iro sofrer il;*" r"Jrr. N"irir""',*"ffiili#;ser de^ prosperidade, d euJoria, de gra:rde interesse pelas novidades tc_nicas. Os produtos manufacturados rExesentam uma larcela considerveldo comrcio externo, nomeadamente do comrcio conia. Surgen osprimeiros ensaios d.e mecanizao 6.

    Ora, se a crise do comrcio colonial de meados do sculo xvru explicaa

  • cionalizam condies desiguais de comrcio. Assim, enquanto os Actosde Navega@o prtegen o iorpo corrercial e a marinha mercante da Ingla'terra, os- aaos de comr com Portugal do aos seus conerciantese sua mari-nha condies privilegiadas. Dois livros contriburam de formaimDortanle oara um cbnbeiimetrto mas exacto do mecanismo de depen-dc,a exteria de Portugal desde o final do sculo xvu: Portugal s Trad"e'de Fier, e Trqde Power' de Sideri'. Fisher analisa o
  • 'a' precidn encontrar-s reidas 10.A alterao das condies intemacionais de concorrncia vir brusca-

    ment perturbar esta prospeddade e eufoda. Mas no se est diatte deum mecanismo

    xclusivamsnte econmico. O Envolvmento na GuerraFeninsular e a subsequente ocupao inglesa viro faclitar uma novaforma_de dependncia econmica. O tratado de 1810 e a resolu@o de 1814,estabefecendo direitos de importao to reduzidos que o restabelimentodos direitos do Tratado de Methuen vir a constituiluma das reiviadicaescontra o imperialismo ingls de 1820-23 at 1836, pernitiro que o mercadoptugus e o brasileiro sejam consideravelmente bsorvidos -pea indstriainglesa. A posio precedentemente adquirida pelo corpo comercial inglsem Portugal torna-se ento um poderoso instrumento de uma nova formade dependnca econmica, institucionalizada atravs de acordos somer-ciais, como em 1654-1703. O imperiasmo mercantilist, assnte agoranuma nova base tecnolgica, ter profunda incidncia no aparelho pro-dutivo-, a qus a reestruturao do aparelho de Estado, aps a recuperoda independncia nacional, em 1820, no conseguir obstar.

    O agravamento da crise da sociedade de Antigo Regirre atinge emPortugal a sua forma aguda em condes particularmentt difceis e com-plicadas. Na fase mais aguda da sua luta contra a classe senhoria, aburguesia encontrar-se- em condies econmicas intemacionais desfavo-rveis, que enfraquecero a sua posio econmica e poltica no planointerno. Assim, as revolues liberais encontrar-se-o quase smullanea-menle diante de ts gandes probemas: a abo[o do Antigo Regime, aluta pela iadependncia econmica e a reconverso de uma conomia atento a_-css11e num imprio, cujo principal eixo era constitudo pelo Brasil9 Angolg. Da soluo destes trs problemas ir depender a configurao doPortugal oitocensta.

    A sobreposio dos efeitos da concorrncia inglesa e da desagregaodo

    _Imprio Luso,Brasieiro com a crise do Antigo Regme vai enmquecere dividir a buguesia nurn momen o crucial d sua luta contra a ilassesenhorial. A unidade da burguesia, reahzad.a em 1820, na lutacontra o domnio ings e a classe senhorial, desagrega-se as a nerda doBrasil, em 1822. Agricultores e industriais, privads o mer-cado rasileiropara

    -o escoamento da ,sua produo, vo encontrar-se divididos perante apresso da Gr-Bretanha, que, em troca de um mercado seguro- para osprodutos agrcolas portugueses. pretendia conti-ouar a invdir

    'o pasco,m produtos industriais ingleses. A dependncia de uma parte dos agri-cu.ltores em relago aos mercados externos vai afast.loi da burzusiaindustrial. Este condicionalismo um dos factores que orientan ai dili-gncias da burguesia agrria no sentido de obter o apoio da classe seoriale as concesses efectuadas a parlir de cerlo momerrlo

    Durarte quinze nos alternam no poder liberais e absolutistas. euando,en1 1834, vence a corrente liberal, a estrutura jurdica e poltica feudal deiinitivamente abalada. Mas a abo@o do antigo regime continuar ase repeidamente

    oaxctada, como o demonstrou Albert Silbet. Entre alei e a prtica mantida uma margem dE manobra siciente para os

    '" A. qilbe, , ia Do Portugal do Antgo Regime ctoPottugql Otocentsta. 13

  • ";;il;ildJ leis revolucionrriai o "oous onde tem fora-' Em 1846'n.l int.t"goo da guerra civil, o Governo procura acalmar a classe sefu.-i"f" ""*t0" uria lei que anula a legslao .rwolucionria de 1832sobre os forais ", Estas concesss classe senhorial no lmPedem que va;;;;t;;;;. em detrimento dos camponeses, uma nova classe. de proprie-;;;;;;g*t.i que beneticia das scessvas expropriaes de part dosbens da croa e das ordens eclesisticas.--

    lotu pela ndependncia econmica foi tanbm muito rapidamenterimioa. A'protec aandegria do Governo setembrista, definida naoir. lsl'1, ser rapidamee cerceada a partir de 1842, com a vitria;;';;t;;r. i assinaura do tratado de cornrcio e navegao de 1842;;"J;-;;. pa de 1852. de orientao liw-e'cambista A. barse socialde aoo.io a u,na'polrica protecciossta era, na realidade, reduzida e instve' U,iu"ti" agicoa Liia. peanle a.poltica allandegria, uma atitudeilf";;"ci;; e arivel conoime a conjirntura. Os viticulores' partidtuiosJo livre-cfunbio, vantajoso para o escoamento do vinho, opuseram-se desdelogo zr-pauta pioteccinista de 1837 -. So os grandes lawadores do Sul'"". t*tt " pa" t de gado, que defendem uma poltica 'proteccioni'sta Masu "rioeiu "on qo" s bute- depende da conjuntura Em perodo del,u "i"i r.nirum aceitando a importao de cereais' apenas regressando;';;; ;rl; i"Fmente proteccio-nista ern fase de baixa de preos NoLt..i-'".t.t db sculo'xrx, a alta de preos- atenuar o seu ardoroot.c.ionitru. Seria de esperar que a bLtrguesia indurial tivesse uma ati-iude mais uniforme em ielao poltica allandegria Sem dvida que"r r""tot da burguesia era mais decididamente favorvel ao proteccio-*r*,. -"r. aqui no h uniformidade. a estrutura desarticulada in,:rtriu oitocentiita que o explica, como veremos Por ora inpotasalientar as divergncias da burguesia portuguesa perante a luta con'iiu--u'oo"-rc""i estrangeira e-a db impantao do nacionasmoecnomrco.

    Portugal entrava, portanto, na segunda letade do sculo Kx,com umaincomple destruid da estrutura irdica eudal- e uma decidida poticade livie-cmbio, poltica particularmente favorvel para a agrrc tura' masio:ouiu u ot:tria. A egenera@o foi um periodo de nirido desenvolvi;;r;- " agricutura. Portal trsforma-se' duraats quase meio sculo,or*u og.uu para exporti@o> que tornece - Gr-Bretanba produtosn-"otn"t tin-Uo. edsiste-ie a uma extenso das relaes d-e produ$ouottutlrtur na agricultura, a?esr da incompeta destruio da estrutaudica eudal. As modificaes econmicas tornam progresslamenteri"tur as dsposies legais, que deixam de ter correspondncia exactan-rr'i"oo real.'As formai feudai* de propriedade e de explorao qu.esubsistem tomam-se vesgios de tma sociedade atrti*sa, delxarfl de se lseflrna linha principal de crescimento da sociedade'"'

    l4

    " Acerc deste conjuqto de ploblemas ver Silbert, O Feudalsmo Portugi!se a s a A b o l o ." " ii;i.-" Prcprietrios, Lvradores e Negociantes da Estremada co-toponai"a"."iJi-J carnt" dos Deputados, 1838, Arquivo da Assembleiada l{epblica.'- ';'lio"to p erc.r::a, Lvre-Cn1bo e Desehrolfimeno Econnico: Pottugal na2.' I/etade do'Sculo XIX.

  • 'a M. Halpern Peteira, Lvre C&bio... , p.43._^^.1' M. Mlhal, Balance Sheet of the Wo;ld or Ten yeaE l\70-1t80, LoncJtes,1 3 8 1 ,16. Phyls Deaaq Brtsh Econolnc ctox'th 1688-1959, Cambridee. 1962.

    ' ' M. Halpern Pereira, Livre Cmbio... , pp.261-263.

    ccntinuava a ser uma actividade secundria. Apenas 19 /c d,a populaotrabaihava na indstria em 1890 1.. A actividde agrcola ocirpava em7892

    ,uma, parcea do rendimento nacional que era tripla d repre-sentada pela indstria 15. Ento, j a indstria ocupava no rendimnto;racional da Gr.Bretanha uma parcela cinco vezes superior preenchidapela agricultura't._

    A esutura industrial portuguesa continuava a assentar na produ-code bens de-consumo, numa poca em que a metalurgia se tornara j a bseda idstria inglesa ou francesa. A indstria extrctiva^ quase toda namo de sociedades inglesas, destirava-se exclusivamente

    -exporta@o 1?.A produo naconal de mquinas,

    mbora tivesse principiado, era lgual-mente muito reduzida. A principal actividade industrial continuva a sera indstria txtil. Neste sector trabalhava 60/o d,a populago operria e asua produo representva 40 /p do valor total da produo industrial.Seguiam-se em importncia decrescente, mas sem grandes derenas entresi,quanto mo-de-obra utilizada, a construo civii, a metaluigia e ostaDaoos.

    No se dpve, porm, conundir o atraso relatiyo de um sector com asua estagnao. Se a dstanciao do nve1 de desenvovimento industrialem relao a outros pases flgante, isso no exclui que, em temosnacionais, se tea terificado um progresso. A comtrmrao entre osresuliados do inqurito de 1852, ano em que estabeleclda pauta vre--cambista, e a situao retratada no inqurilo de 1881 particularmenteelucidativa, ainda que no seja possivel comparar entre ii as contagnsdas unidades de produo. O inqurito de 1852 exclui as unidades demenos de 10 operrios e todo o trabalho ao domictio; estas pqusas uni-dades so, pelo contririo, inseridas em 1881 e o seu peso enrn.re. No provvel que fosse menor em 1852. H, contudo. um dominio emque a comparao possvel: a mecanizao. Neste aspecto, a moditicao foi incontestavelnente grande: se em 1852 havia apenas 70mquinas de vapor, em 1881 contavam-se 328 e a sua lora globalpassara de 938 cv paa 7052 cv.

    Seria, todavia, apressado concluir que a manufacta ou o trabalh.o emfbrica Eram a forma dodnante de organizaSo do trabalho nos pri'lcpaisramos industriais. A produo artesanal contnuava a ter um eapel xre-maroenle importanle: uitrapassava a produ$o fabrjl na cariritaria, naconstruF.o civil, nos curtun'es, na tecelagem de seda, no .vesturio e nosproCutos alimsntares, com excepo do sctor das moagens.

    Foi a indstra txtil que se tornou o smbo1o do progresso industrial,invocdo tanto pelos livre.cambistas, para mostrarem as vantagens do livre--cmbio, como pelos industriais, para mostrarem as possibiidades de

    I5

  • :: "_r^"':::secto ol:: ii:"li iii:i:1tr"::"ffi:"'";r':"n!*x-T"Jl#yh3:":?;A maior parte da produo de tecidos de 1 j efectuada em fbricas'Contam-s 38 000 fisos em Lisboa e na Covilh, os dois principais centrosde lanifcios. A maior parte dos teares so ainda manuais (1259 manuais,dos quais s 144 tqcqia , e 239 mecnicos). Apesar dissq o escoamentodos recdos nancjonais parece no sofrer com a concorrncia estrangeaA produo da Covilb por s s superior imponao'3 A maior partedai empiesas no se queiiam da cononncia eslran-qeira. que encaradasem orocupaco. ro o industrial deste sector que pede aumento dedireits sobie bs tecidos, incidindo as suas preocupaes mais nos direitossobre as ls, drogas e combusveis, cuia diminuio consideram deseivel'

    O sector algooeiro havia igualmente sofrido um desenvolvimento con'sidervel. O crscimento deste sector foi, porm, mcldado de, modoespeciapelas cotrCies allandegrias criadas dsde meados do sculo Em queonsisliam essas condies? Num mecansmo pautal extremame,nte simples,p"in:r"io do qual se larantira aos Ingleses a posio que a desigualdadeo pronesso tcnico lbes permitira adquidr no mercado portugues no prrn-ipio d seculo xu e que se havia prcurado combater em 1820-22 e emiti:2. O"rC" 1852 que os tecidos crus de algodo pagavam direitos infe-.", uo, direitos que recaam sobre o fio de algod{o'-Assim, em 1879'or t*Aaot de algoo importados custavam, em $edia, 339- reis porcuilosrama. sea quase o mesmo que o algodo em ram (336 reil .oo. qu*'o o de aJgodo iru'n' O resultado desta situaoaberrante fi o desenvolvimento desarticulado das duas extremidades doioiso ptoautiuo: a fiao e a estamparia-turaria. A stamparia,.cujo-orincipal -cenl.ro

    Lisboa, vai prefe os tecidos cus ingleses e vrverado s acabamento. Do total de 900000 peas utilizadas pela estam-oaria em todo o Pas, apenas 140 000, ots seia 16/o, so nacionais'o'fuestas condies. a tecelalem progide dficilmente. LocaliTada- quase todano Porto, mantm-se na sua maior parte manual. A sua produo aumenta'apesar de tudo, o siciente para suscitar uma crescente procura de rro'S-urgem vrias fbricas de fia@o. Entre 1874 e 1880, a fiao,at-essa atum autntico boom: o nmero de fusos dobra e chega a 134 550 Massurgem rapidamente d'rJiculdades de escoamento' inerentes s condies domeicado. lgumas fbricas de fiao lanam-se na tecelagem paa-tentarconcorrer com os tecidos estrangeiros. A maior parte dos teres mecnicos'q.ue sobem a 1000 em 1881, pertencgm a fbricas de fiao 2'' Mas nernassrm as diJculdades dos indusLriais desaparecem' Em 1876 sobrevm umaprimeira crjse de excesso de produo de fjo e de tecidos As sobras de {io de kcidos crus acumulam's nas fbricas e, em 1881, um nmero eevadode fusos encontram-se inastivos no Porto 2'' Sucedem-se as declaraes dosindusiis. que afirmam ser dicil a sobrevivncia da tecelagem mecnicasem uma alierao prvia das pautas A desarticulao entre a fiao' a

    16

    " Inaurto Industrial, 1831, prte u, liv. l, p. 205.'" nurto tndustral, l88l, Inqurito Drecro l iv l . p l l5 '" lnurro Indust,al, lnqkr i to Dredo l iv. l . p. l l2.

    -

    " H. 'Taveira ( iadusrr ial de Lisboa).

  • A_estrutura da hdstria algodoeira .t'oe a nu, com mais nitidez do quea quaquer outro sector irdustrial, as consequncias nefastas do vre-cmbio. aqui que se manifesta con toda a clareza a luta de um gnpo de empre-srios capitalistas industriais, que dispem nalguns casos de fbricas rnoder-nas bem equipadas, de cujo pleno aproveitmento so forgados a desistir,devdo poltica alfandegria apoiada pelo grande comrcio e por umsector da burguesia agria.

    Podiam-se invocar ainda outros casos. Tambm a indstria do linlo.sobretudo o fabrico de tecidos para velas de barcos, fora seriamente atingidapelo tratado de 1866 com a Frana, que tornara o direito sobre o linhorusso mais_ elevado que o direito sobre peas de lona. Fbricas houve quese viram obrigadas a uma reconverso, como foi o caso da comDanhiaeTcrres Novas,". A indstria das sedas, nomeadamente a das ob,rezas,ligada ao fabrico de ohagus.de.sol, e a hdstria das armaes tambmso duramente afectadas pslo tratado de 1866. A crer nas afirmaes dumindustrial, aps a puboa$o da pauta de 1837 tiam chegado a existir450 a 470 teares de seda em Lisboa, 700 a 750 no Porto. 100 a 150 emBragana. A assinatura do tatado com a Franca tErja provooadq adiminuio rlo nmero de teres em funcionamento, quE teria escido dara100 em Lisboa, 80 no Porto e 20 em Bragana. N sua prpria fiicahavia 600 fusos de torce imobilizados r..

    Os efeitos estimulantes que a indstria txtil podia exercer sobre outrossectores, pela solicitao de utenslios de trabalho ou de drogas, encontram--se igualmente cerceados. Tanto as nquinas utilizadas, como as drogas, so,na sua maoria, estrangeiras.

    Peante esta situa$o de dependncia externa, no s9 encntra umareaco uniforme dos iadustriais dos vrios ramos. As mltiplas dificuldadesexistentes na defesa da simples sobrevivncia da sua prpria actividadeconduzem-nos a procurar vencer limitando o seu crmpo de batalha elutando apenas por condies favorveis ao seu ramo industrjal. Rara-iiente se encontra, nas respostas do sector txtil ao inqurito de 188i,uma atitude de defesa global do proteccionismo em relao a todo o mer.caoo naonat.

    A desarticulao do sector algodoeiro origina urrta ntida divisode interesses mesmo no interior deste ramo. Os industriais de estamparia,cuja funSo se assemelha bstante dos antigos mercadores de tcidos(a cujo acabamento fiaal tambm se dedcavam.[ eram um misto de indus.triais e de conerciantes. Dependentes da importao de tecidos crus e dedrogas estrangeiras, eram naturalmente partidios do livre"cmbio e tinlam,ortanto, atitude idntica dos comtciantes ligados ao negcio do import-xport- Assim se compreende a indiferena e Joo Frncisco Aranha,vce-presidente

    _da -Associao Industrial Portuense, perante a pubcaodas trautas de 1852, em contraste com a atitude da Asociao, que a elas

    ^'. Inqurito l nrlust ral, 7881. Depoimehtos, p, Bl.'a lnqurto Ind,Ltstrial, Inqurito Directo, {\. r, p. 178. Afirmaes do mesmo

    reotj pane Il, lv. tI, lu. t /

  • '" J. Caoela. A Burpuesia Mercantil do Porto e as Colni(s, pp. 95-99. (Surpresade Capela ijusri f icada.) Representa$o dir igida peld Associa$o Industr ial do Pono Rainha em 28 de Setembro de 1352, criticado o rtigo 3." do Decreto de 18 deFevereiro d 1852, Arquivo Naciol de Paris, F.' 6292.

    ^ Inqurito Industtdl, pp, 283-290 e 303. fbrica seda provavelnen1e a deSalgueiros.

    medida iria lerir os interesses dos importadores. Ameaados, negocianteshavia que estavam dispostos a utilizar todos os meios ao seu dispor paraorocurar demonstrar o infundado da atitude dos industriais. Assim, o maiornegociante impoador de panos crus de origem britnica, igualmente pro-prietrio de uma estamparia em Lisboa, props-se comprar uma fbricae Iiao e tecelagem para tntar demonstrar que, mesmo sem alteraSesde parita, se podiam fabricar tecidos em Pougal a Peos concorrenciais '6.

    excepgo de um caso ou outro, h uma nda dsistncia da lutag1obal conn a concorrncia estrangeira no plano interno. Afirma-se, peloontrrrio, urn consenso quase generalizado na luta pela recuperao de umoutro mercado: as colnias africanas. Esmagados pela indstria inglesa emPortugal, os industriais propern a expulso das mercadoras inglesas derica, pelo estabelecimento de direitos preferenciais, e o pagamento dodnrwback. No incio da dcada de 80 ntdo que as divergncias entreqs industriais de estanrparia e os de fia$o e tecelagem de algodo e I sedutvuo""*- diante da necessidade de recuperao do mercado cclonial.teste caso, todos eram igualmente prejudicados pela concorrncia inglem,francesa e alem. E todos perfilham tambE o projecto de produo dematrias-primas em rica, tais como o algodo, a i e o anil.

    A burguesia agraria vai igualnente interessar-se vivamente pelo pro-jecto colonial. Pouco a pouco, as suas possiblidades de exportao para aEuropa haviam-se vindo a restringir. Os fundamentos da divi$o da bur-guesi perante a concorrncia estrangeia, que fora a desgual opounidadeferecida pelo mercado europeu a uma parte dos agricultores e a cetosgrupos hdustrais, desaparece progressivament. No mercado uropeu, osprprios produtos agrcolas ortugueses so afastados pela invaso dosixoutos grcolas americanos e de outros continentes. Agricultores e in-ustriais tm assim de procurar novo destno para a sua produ$o. Agunsargumentarao que a frica devia ser o prprio mercado interno portuguse pem-se xpanso colonial. Mas tal caminho implicava a realizaoduria reforma agaria e una rpida industrializao. Ora tais modificaesinternas afectarirn necessariamente os interesses de cartas categorias esectores de agricultores e industriais, plas a1traes que acaflttadam tantoda estrutura a propriedade fundirria, como de parte das empresas industriais e artesanais. o projecto colonial africano' nascido no incio doseculo, logo aps a independncia do Brasil, que v?i encontrar uma vastbase social, prquanto, na fase inicial, aparenta etaltais modificaesinternas. A u-nidde da Lrurguesia, que a independncia do Brasil desagre'gara, reaz-se dese modo, nos ltimos vinte anos do scu1o xx, em tornoda expanso colonial africana.

    18

  • volvirnento do apitasmo -"i"l*tit, - ;"; ;;;;;r-'a""'cioencia

    sobre o processo produtivo da articulao entre coloniasmo;;;;;;;;yruuuuyu ua aruutaao enre colonallsmo e dependncia::t*, " a cosequeinte expatriao d parte do capital acumud que haque procurar as origens do

  • 'se nesta transformao de uma

    modicando desde medos do sculo, com a integraao !o-EEQ4E !4o s"di"uao comeroial dos in-vestmentos directos de capihl estrangeirce dos persistentes emprstimos xtenos.

    t Antero de Que[tI, que assistiu a esta tra$fotElao, -data o ':eu i-ncio nosseculoi xvn e xu, infdadametrte' e tal itrtrpetaiio loi sucessivamene eto'mad, wr vrios esaistas e hisloiado. tempo de 3e acerta a clooologla'