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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE IRATI - PARANÁ Que inclusão é esta? Aqueles que podem caminhar com suas próprias pernas estão incluídos na política municipal do transporte escolar. Que exclusão é esta? Aqueles que não podem caminhar com suas próprias pernas estão excluídos da política municipal do transporte escolar. QUE DISCRIMINAÇÃO É ESTA? O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por sua Promotora de Justiça adiante assinada, em exercício junto a 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Irati, com atribuições na área de Direitos e Garantias Constitucionais do Cidadão, de Proteção à Educação e de Proteção dos Direitos das Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais, onde pode ser pessoalmente intimada, agindo na defesa dos interesses dos alunos da ESCOLA JOSÉ DUDA JÚNIOR EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL, NA MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL (doc. 01), escola esta mantida pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcioniais de Irati – APAE -, situada na Rua Dr. Correa, 471, Caixa Postal 40, CEP 84.500-000, Centro, Irati/PR, neste ato representada por sua Presidente Sra. EVA DIRCE PORTELA, CPF n. 595.558.319-04, residente e domiciliada à Rua João Wasilewski, n. 1841, Bairro Rio Bonito, nesta Comarca de Irati, (doc.02), vem, com fulcro no art. 129, III, da Constituição Federal, art. 3º da Lei n.º 7.853/99, art. 201, V, da Lei 8069/90, art. 120, III, da Constituição do Estado do Paraná, art. 5º da Lei 9394/96, combinados com o art. 282, do Código de Processo Civil e demais diplomas normativos pertinentes a espécie, e com

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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE

IRATI - PARANÁ

Que inclusão é esta? Aqueles que podem caminhar com suas próprias pernas estão incluídos na política municipal do transporte escolar. Que exclusão é esta? Aqueles que não podem caminhar com suas próprias pernas estão excluídos da política municipal do transporte escolar.

QUE DISCRIMINAÇÃO É ESTA?

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por sua

Promotora de Justiça adiante assinada, em exercício junto a 2ª Promotoria de

Justiça da Comarca de Irati, com atribuições na área de Direitos e Garantias

Constitucionais do Cidadão, de Proteção à Educação e de Proteção dos

Direitos das Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais, onde pode ser

pessoalmente intimada, agindo na defesa dos interesses dos alunos da

ESCOLA JOSÉ DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO

FUNDAMENTAL, NA MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL (doc. 01), escola

esta mantida pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcioniais de Irati –

APAE -, situada na Rua Dr. Correa, 471, Caixa Postal 40, CEP 84.500-000,

Centro, Irati/PR, neste ato representada por sua Presidente Sra. EVA DIRCE

PORTELA, CPF n. 595.558.319-04, residente e domiciliada à Rua João

Wasilewski, n. 1841, Bairro Rio Bonito, nesta Comarca de Irati, (doc.02), vem,

com fulcro no art. 129, III, da Constituição Federal, art. 3º da Lei n.º

7.853/99, art. 201, V, da Lei 8069/90, art. 120, III, da Constituição do Estado

do Paraná, art. 5º da Lei 9394/96, combinados com o art. 282, do Código de

Processo Civil e demais diplomas normativos pertinentes a espécie, e com

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

base na inclusa documentação, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA,

com pedido de antecipação de tutela,

contra o MUNICÍPIO DE IRATI, pessoa jurídica de direito

público, ora representado pelo Prefeito Municipal, Sr. Sergio Stoklos, com

endereço na Rua Coronel Emilio Gomes, nº 22, centro, nesta cidade e

Comarca de Irati, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

I. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A Constituição Federal, ampliando o campo de atuação do

Ministério Público, atribui-lhe a incumbência da defesa da ordem jurídica, do

regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art.

127), ao mesmo tempo em que, dentre outras funções institucionais, confiou-

lhe o zelo pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de

relevância pública aos direitos nela assegurados, promovendo as

necessárias medidas a sua garantia (art. 129, inc. II e III). No mesmo sentido

é o art. 120, inc. II, da Constituição Estadual.

Consoante se exporá, a presente ação é voltada à tutela dos

direitos de pessoas portadoras de necessidades especiais, dos direitos

afetos à educação e do subsequente direito de acesso à educação, cujos

substituidos são destinatários legais da prioridade absoluta na gestão e

implantação de políticas públicas de atendimento, sendo o Ministério Público

órgão legítimo para a defesa dos direitos difusos, coletivos e indisponíveis

afetos as referidas eras de interesse.

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

É o que prevê o art. 3º da Lei n.º 7.853/99, segundo o qual as

ações civis públicas destinadas à proteção de interesses coletivos ou

difusos das pessoas portadoras de deficiência poderão ser propostas pelo

Ministério Público, pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal, e o art.

201, V, da Lei 8069/90, que dispõe ser competência do Ministério Público

promover a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais,

difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência.

No mesmo sentido, o texto da Lei nº. 7853/99 que, por sua

vez, dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, e aponta em

seu art. 3º que as ações civis públicas destinadas à proteção de interesses

coletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficiência poderão ser

propostas pelo Ministério Público.

Diante desse contexto, extrai-se que o Parquet, de modo

genérico, pode e deve promover todas as medidas necessárias –

administrativas e/ou jurídicas – para a restauração do respeito dos poderes

públicos aos direitos constitucionalmente assegurados aos cidadãos, no

presente caso, os direitos sociais relativos à educação (especificamente ao

seu acesso), e aos direitos das pessoas portadoras de deficiência.

Portanto, assentada a legitimidade do Ministério Público

para o desencadeamento da Ação Civil Pública no caso em tela, imperativa

é a desincumbência desse mister pela Promotoria de Defesa dos Direitos e

Garantias Constitucionais do Cidadão, de Proteção à Educação e de

Proteção dos Interesses das Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais.

II. ACESSO À EDUCAÇÃO

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Nos termos do art. 1º da Lei nº. 9.394/96, que estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional, “a educação abrange os processos

formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana,

no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais

e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”.

Trata-se a educação de direito social previsto no caput do

art. 6º da Constituição Federal, sendo determinado pelo art. 23 a

competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios de

proporcionar os meios para o seu acesso:

Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a

moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à

infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação

dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010)

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios:

V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência.

A Constituição do Estado do Paraná, mantem o pensamento

constitucional, e defende o dever do Estado em assegurar os direitos relativos

à educação, e a proteção especial às crianças e adolescentes:

Art. 165. O Estado, em ação conjunta e integrada com a União, Municípios e a

sociedade, tem o dever de assegurar os direitos relativos à saúde, à alimentação,

à educação, ao lazer, à profissionalização, à capacitação para o trabalho, à cultura

e de cuidar da proteção especial da família, da mulher, da criança, do

adolescente, do idoso e do índio.

Muito embora haja essa ideia de competência comum, há

uma divisão entre os entes federados, cabendo aos Municípios manter

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

programas de educação infantil e de ensino fundamental que, nos termos

do art. 21 da Lei nº. 9394/96, compõe a educação básica1. É essa a

inteligência do art. 30, VI e do §2º do art. 221 da Constituição Federal, e § 3º

do art. 179 da Constituição do Estado do Paraná:

Art. 30. Compete aos Municípios:

VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,

programas de educação infantil e de ensino fundamental;

Art. 221. § 2º. Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e

na educação infantil.

Art. 179. § 5º. Os municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e

na educação infantil.

Com relação ao provimento da educação básica pelo Estado,

o art. 208 da Constituição Federal expressa a obrigatoriedade de tal medida,

inclusive àqueles que não tiveram acesso na idade própria:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia

de:

I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos

de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não

tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59,

de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)

§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta

irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

Especificamente com relação às crianças e adolescentes, tem-se

como prioridade absoluta por parte do Estado assegurar o direito à educação.

É isto o que determina o art. 227 da Constituição Federal:

1 Art. 21. A educação escolar compõe-se de:

I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio;

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao

adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao

respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a

salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade

e opressão.

Não obstante o artigo 208, inciso I da Carta Magna assegure a

obrigatoriedade e gratuidade da educação básica às crianças e

adolescentes (dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)), o Decreto nº. 7.611

de 17 de novembro de 2011 (doc. 07), que dispõe sobre a Educação

Especial, o atendimento educacional especializado e dá outras

providências, assim estabelece:

Art. 1º. O dever do Estado com a educação das pessoas público-alvo da

educação especial será efetivado de acordo com as seguintes diretrizes:

I – (...)

II – aprendizado ao longo de toda a vida;

(...)

Em outros termos, através do referido decreto, restou

estabelecido que o dever do Estado para com a educação das

pessoas público-alvo da educação especial deve ser ao longo de

toda a vida.

Ora, a educação é direito de todos, dever do Estado e da

família, e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,

visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 205, da Constituição

Federal).

O art. 206 do texto constitucional aponta os princípios a serem seguidos

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

no ensino, dentre os quais se destacam os seguintes:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

Essa igualdade de condições é também princípio apresentado pela

Constituição do Estado do Paraná:

Art. 178. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condição para acesso e permanência na escola, vedada qualquer

forma de discriminação e segregação;

Como se observa, a igualdade de condições para acesso e

permanência à escola deve ser preservada. Entretanto, isso deve ser feito

igualitariamente, na medida das desigualdades existentes, de maneira a

preservar as especificidades, em especial as dos portadores de

necessidades especiais.

Nesse sentido, a legislação brasileira aponta para o dever do

Estado em garantir a acessibilidade à educação aos portadores de

necessidades especiais. O texto constitucional é claro:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino;

O mesmo acontece na Constituição do Estado do Paraná,

conforme previsão do art. 17, VI, art. 173, caput, e art. 179, IV:

Art. 17. Compete aos Municípios:

VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,

programas de educação pré-escolar, de educação especial e de ensino

fundamental;

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Art. 173. O Estado e os Municípios assegurarão, no âmbito de suas competências,

a proteção e a assistência à família, especialmente à maternidade, à infância, à

adolescência, e à velhice, bem como a educação do excepcional, na forma da

Constituição Federal.

Art. 179. O dever do Poder Público, dentro das atribuições que lhe forem conferidas,

será cumprido mediante a garantia de:

IV - atendimento educacional especializado gratuito aos portadores de

deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

É este, também, o entendimento da Lei 9394/96, a Lei de

Diretrizes e Bases Nacional:

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a

garantia de:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não

tiveram acesso na idade própria;

III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com

necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino;

Com relação à obrigatoriedade do Município em fornecer a

educação e seu acesso, inclusive ao portador de necessidades especiais, a

própria lei orgânica do Município de Irati estabelece tal dever:

Art. 160 – O Município receberá assistência técnica e financeira do Estado e da

União, para seu desenvolvimento do ensino fundamental, pré-escolar e de

educação especial, em consonância com o sistema estadual de ensino.

§ 1º – O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direto público subjetivo.

§ 2° - O não fornecimento de ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua

oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

§ 3° - O Município atuará, prioritariamente, no ensino fundamental e pré-

escolar.

Ora, por todo exposto, resta comprovado pela Lei Maior,

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Constituição Estadual, Lei Orgânica do Município de Irati, Estatuto da

Criança e do Adolescente, Lei de Diretrizes e Bases, a OBRIGATORIEDADE

da educação básica, a ser provida pelo Município.

Ocorre que, não basta que seja fornecida a educação, é

preciso fornecer, também, os MEIOS QUE POSSIBILITEM O ACESSO das

crianças, jovens, adolescentes e adultos, principalmente aos portadores de

necessidades especiais, a instituição de ensino.

A Constituição Federal não passou omissa neste ponto. O inciso

VII do art. 208, impõe o dever de fornecimento do transporte para o acesso à

educação:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio

de programas suplementares de material didático escolar, TRANSPORTE,

alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº

59, de 2009)

A Lei de Diretrizes Básicas, assinala que o transporte dos alunos

será uma das formas pela qual o Estado irá efetivar a garantia da educação

escolar pública, sendo competência dos Municípios o fornecimento do

transporte aos alunos da rede municipal. Em seu art. 70, ainda, trata das

despesas com o ensino e, inclui nesta lista, a manutenção de programas de

transporte escolar:

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante

a garantia de:

VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de

programas suplementares de material didático-escolar, TRANSPORTE, alimentação

e assistência à saúde;

Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal.

Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as

despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições

educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a:

VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de

TRANSPORTE ESCOLAR.

A Constituição do Estado do Paraná, a partir da redação do

inciso VIII do art. 179, adota o mesmo pensamento da Constituição Federal e

da Lei de Diretrizes e Bases Nacional:

Art. 179. O dever do Poder Público, dentro das atribuições que lhe forem conferidas,

será cumprido mediante a garantia de:

VIII - atendimento ao educando, no ensino pré-escolar, fundamental, médio e de

educação especial, através de programas suplementares de material didático

escolar, TRANSPORTE, alimentação e assistência à saúde;

O Município de Irati, ao seu tempo, deixa clara a obrigatoriedade

do transporte escolar, e mais, tem em sua Lei Orgânica dispositivo exclusivo

aos portadores de necessidades especiais:

Art. 161 – O Município destinará verbas, recursos materiais e humanos às escolas

especializadas sem fins lucrativos, voltados à educação do excepcional, garantindo

à este transporte escolar gratuito.

Pelo que se observa, resta devidamente comprovado o direito à

educação a todos os cidadãos brasileiros, bem como o transporte gratuito

àqueles que necessitem, inclusive, aos indivíduos portadores de necessidades

especiais, o qual deve ser provido integralmente pelo Poder Público, e no caso

do ensino fundamental, especificamente pelos Municípios.

Entretanto, apesar de todos os dispositivos legais que obrigam os

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Municípios a garantirem o transporte escolar como forma de garantir o acesso

à educação, não é isso o que vem ocorrendo com os alunos da ESCOLA JOSÉ

DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL, NA

MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL.

E para dirimir quaisquer dúvidas acerca da responsabilidade do

município em arcar com o transporte escolar adequado das pessoas portadoras

de necessidades especiais, o Decreto nº. 7.612, de 17 de novembro de

2011, que instituiu o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência

– Plano Viver sem Limite, assim estabelece (doc. 07.1):

Art. 1º Fica instituído o Plano Nacinal dos Direitos da Pessoa com

Deficiência – Plano Viver sem Limite, com a finalidade de promover, por

meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, o

exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência, nos

termos da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com

Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do Decreto

Legislativo nº. 186, de 9 de julho de 2008, com status de emenda

constitucional, e promulgados pelo Decreto nº. 6.949, de 25 de agosto de

2009.

Parágrafo único. O Plano Viver sem Limite será executado pela União em

colaboração com Estados, Distrito Federal, Municípios, e com a sociedade.

Art. 2º São consideradas pessoas com deficiência aquelas que têm

impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou

sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir

sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições

com as demais pessoas.

Art. 3º São diretrizes do Plano Viver sem Limite:

I – garantia de um sistema educacional inclusivo;

II – garantia de que os equipamentos públicos de educação sejam acessíveis

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

para as pessoas com deficiência, inclusive por meio de transporte

adequado;

III. ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO

ESPECIAL

Com o objetivo de concretizar a oferta de escolarização e

educação a jovens, adultos e idosos com deficiência intelectual e múltiplas

deficiências que, independente das causas ou motivos, apresentam

necessidades educacionais especiais, intensas e contínuas requerendo

interdisciplinaridade e intersetorialidade nas práticas do contexto de

ensino-aprendizagem, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná, por

sua Superintendência da Educação, e pelo Departamento de Educação

Especial e Inclusão Educacional, elaborou uma proposta objetiva visando

materializar a referida intenção (doc. 04).

A partir de tal documento, buscava-se proporcionar a oferta de

Educação de Jovens, Adultos e Idosos Fase I nas Escolas de Educação Básica

– Modalidade de Educação Especial, uma instituição destinada a prestar

serviço especializado de natureza educacional, a alunos com necessidades

especiais com graves comprometimentos, múltiplas deficiências ou

condições de comunicação ou sinalização diferenciadas quando o grau

desse comprometimento não lhes possibilite ter acesso ao currículo

desenvolvido no ensino comum, pelo fato de requererem também

atendimentos complementares/terapêuticos dos serviços especializados da

área da saúde quando se fizerem necessários (doc. 04).

Como base legal para a oferta da referida modalidade de ensino,

utilizou-se inclusive da Constituição Federal de 1988, que estendeu o direito

ao ensino fundamental aos cidadãos de todas as faixas etárias, de modo

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

que, aplicado ao presente caso, estabelece o imperativo de ampliar as

oportunidades educacionais para aqueles que já ultrapassem a idade de

escolarização regular.

Considerando o contido na justificativa supracitada, elaborada

pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, por sua Superintendência

da Educação, e pelo Departamento de Educação Especial e Inclusão

Educacional (doc. 04), foi assinado pelo Secretário de Estado da Educação do

Paraná em 18 de agosto de 2011 a Resolução nº 3600/2011 da Secretaria de

Estado da Educação (SEED) que resolveu alterar a denominação das Escolas

de Educação Especial para Escolas de Educação Básica, na modalidade de

Educação Especial, com oferta de Educação infantil, Ensino Fundamental –

anos iniciais, Educação de Jovens e Adultos – Fase I, e Educação

Profissional/Formação inicial (doc. 05):

Art. 1.º Autorizar a alteração na denominação das Escolas de Educação Especial

para Escolas de Educação Básica, na modalidade de Educação Especial, com

oferta de Educação infantil, Ensino Fundamental – anos iniciais, Educação de

Jovens e Adultos – Fase I, e Educação Profissional/Formação inicial, a partir do

início do ano letivo de 2011.

Prosseguindo-se, pela Resolução nº 3600/2011 da Secretaria de

Estado da Educação do Paraná, foi expedida também pela SEED, por sua

Superintendência de Educação, em 23 de agosto de 2011, a Instrução nº

012/2011 – SUED/SEED (doc. 06), a fim de levar ao conhecimento de todos os

cidadãos, em especial à antiga “Escola Especial Nossa Escola” as alterações e

procedimentos a serem tomados pelas Escolas em virtude da Resolução.

In casu, através da RESOLUÇÃO Nº 4962/11, a antiga escola

mantida pela APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais),

denominada “Escola Especial Nossa Escola”, teve alterada a sua

denominação e também a sua função na sociedade, vez que foi, através de

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

dita Resolução, credenciada para a oferta da Educação Básica na Modalidade

Educação Especial. (doc. 06.1).

Conforme a Instrução nº 012/2011 – SUED/SEED (doc. 06), a

SEED expediria ato oficial de credenciamento, às Escolas, para oferta de

Educação Básica na Modalidade de Educação Especial e a autorização de

funcionamento da Educação Infantil, Ensino Fundamental Anos Iniciais e

Educação de Jovens e Adultos – Fase I, cessando, voluntária e

definitivamente as Escolas de Educação Especial.

Ficou definido, ainda, que “a partir da expedição do ato oficial

de credenciamento e autorização de funcionamento das Escolas de

Educação Básica na Modalidade de Educação Especial ESTAS PASSARÃO A

INTEGRAR O SISTEMA ESTADUAL DE ENSINO ofertando a escolarização e

garantindo a certificação aos seus alunos”. (doc. 06).

E mais, foi determinado que “as Escolas de Educação Básica na

Modalidade de Educação Especial mantidas por entidades que

comprovarem finalidade não lucrativa e conveniadas com a SEED terão

garantido TRATAMENTO IGUAL ao dispensado às demais escolas da Rede

pública, conforme critérios estabelecidos pela SEED”. (doc. 06).

E não foi apenas isso. A partir do item 12 da Instrução nº

012/2011 – SUED/SEED, ficou estabelecido que “os alunos das escolas de

educação básica, na Modalidade Educação Especial, terão ACESSO E

GARANTIA DE TRANSPORTE ESCOLAR ADEQUADO E COM AS ADAPTAÇÕES

NECESSÁRIAS, considerando suas necessidades específicas”. (doc. 06).

Como se observa, a partir da Proposta elaborada pela SEED (doc.

04), que resultou na Resolução nº 3600/2011 (doc. 05) e na Instrução nº

012/2011 – SUED/SEED (doc. 06), o Estado do Paraná concretizou no cenário

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

nacional uma necessidade que há muito já estava em pauta, qual seja a de

garantir as crianças, jovens, adultos e idosos com necessidades especiais,

as mesmas garantias de ensino em Escolas de Educação básica adaptadas

para o ensino adequado destes indivíduos.

Por fim, a Resolução nº. 4962/11 da SEED (doc. 06.1) e o

Parecer nº. 1461/2011 da SEED (doc. 06.2), veio credenciar e autorizar o

funcionamento da ESCOLA JOSÉ DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E

ENSINO FUNDAMENTAL, NA MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL para a oferta

da Educação Básica. Com isso, comprovado restou que referida escola, de

Educação Especial, e que realiza ensino fundamental na modalidade de

educação básica, DEVE SER INCLUÍDA NA POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO

TRANSPORTE ESCOLAR. Referida Resolução Estadual vem de encontro ao

Decreto de nº 7.611, promulgado em 17 de novembro de 2011 pela

Presidete Dilma Roussef, que dispõe sobre a educação especial, o

atendimento educacional especializado e dá outras providências. (doc.

07).

A partir do recente Decreto, ficou estabelecido o dever do

Estado em garantir ao público-alvo da educação especial o aprendizado por

toda a vida, dentre outras diretrizes a serem seguidas:

Art. 1º O dever do Estado com a educação das pessoas público-alvo da educação

especial será efetivado de acordo com as seguintes diretrizes:

I - garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem

discriminação e com base na igualdade de oportunidades;

II - aprendizado ao longo de toda a vida;

III - não exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência;

IV - garantia de ensino fundamental gratuito e compulsório, asseguradas

adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais;

V - oferta de apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a

facilitar sua efetiva educação;

VI - adoção de medidas de apoio individualizadas e efetivas, em ambientes que

maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

inclusão plena;

VII - oferta de educação especial preferencialmente na rede regular de ensino; e

VIII - apoio técnico e financeiro pelo Poder Público às instituições privadas sem

fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial.

Quanto aos objetivos do atendimento educacional especializado

contidos no Decreto nº. 7.611/2011, de 17 de novembro de 2011, está o de

prover as condições para o acesso ao ensino:

Art. 3º São objetivos do atendimento educacional especializado:

I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e

garantir serviços de apoio especializados de acordo com as necessidades

individuais dos estudantes;

E o Decreto nº. 7.612, de 17 de novembro de 2011, que

instituiu o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano

Viver sem Limite, assim estabelece (doc. 07.1):

Art. 1º Fica instituído o Plano Nacinal dos Direitos da Pessoa com

Deficiência – Plano Viver sem Limite, com a finalidade de promover, por

meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, o

exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência, nos

termos da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com

Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do Decreto

Legislativo nº. 186, de 9 de julho de 2008, com status de emenda

constitucional, e promulgados pelo Decreto nº. 6.949, de 25 de agosto de

2009.

Parágrafo único. O Plano Viver sem Limite será executado pela União em

colaboração com Estados, Distrito Federal, Municípios, e com a sociedade.

Art. 2º São consideradas pessoas com deficiência aquelas que têm

impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou

sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir

sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

com as demais pessoas.

Art. 3º São diretrizes do Plano Viver sem Limite:

I – garantia de um sistema educacional inclusivo;

II – garantia de que os equipamentos públicos de educação sejam acessíveis

para as pessoas com deficiência, inclusive por meio de transporte

adequado;

Diante da promulgação do Decreto nº. 7.611/2011 e do Decreto

7.612/2011, a Federação das APAEs do Estado do Paraná, emitiu o Ofício

Circular nº 098/2011 (doc. 08), em 22 de novembro de 2011, direcionado aos

Presidentes das APAEs e das Coirmãs filiadas, Diretores(as), funcionários(as)

das Escolas de Educação Especial e Famílias, considerando uma conquista para

todas as entidades filantrópicas do país, tais como as APAEs, Pestalozzis,

Escolas de Surdos e Cegos e outras instituições.

Nos termos do Oficio Circular, “o dia 17 de novembro foi um

dia histórico para o Brasil, pois agora será criada uma Secretaria

Especial da Pessoa com Deficiência e nos próximos anos o governo prevê

investir, até 2014, o montante de 7,5 milhões de reais, para os

programas de acesso à Educação, Saúde, Inclusão Social e

Acessibilidade”.

IV. ESCOLA JOSÉ DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO

FUNDAMENTAL, NA MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL

Inicialmente, para fins de esclarecimento, faz-se necessário

realizar uma consideração acerca da atual denominação da substituída.

Até o último mês de agosto do ano de 2011, a Escola José

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Duda Júnior – Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade

Educação Especial possuía a alcunha de Escola Especial Nossa Escola.

A APAE de Irati – associação civil, filantrópica, de caráter

assistencial, educacional, cultural, de saúde, de estudo e pesquisa, sem fins

lucrativos –, tinha como um de seus principais objetivos promover a

melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência,

preferencialmente mental, buscando assegurar-lhes o pleno exercício da

cidadania, a partir do ensino especial.

Ocorre que, conforme já exposto no item anterior, no Estado

do Paraná, a partir da Resolução nº. 3600/2011 – GS/SEED, publicada no dia

18 de agosto de 2011, as Escolas de Educação Especial (mantidas pelas APAEs -

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), tiveram a sua denominação

alterada para “Escola de Educação Básica na Modalidade de Educação

Especial”, passando, ainda, a oferecer aos seus alunos a Educação Infantil,

Ensino Fundamental – anos iniciais, Educação de Jovens e Adultos – Fase I,

e Educação Profissional/Formação Inicial (doc. 05).

A partir desta mudança, e com a expedição de ato oficial de

credenciamento e autorização de funcionamento, as Escolas de Educação

Básica na Modalidade de Educação Especial passaram a integrar o Sistema

Estadual de Ensino ofertando a escolarização e garantindo a certificação de

seus alunos.

Assim, a Escola de Educação Especial Nossa Escola passou a

ser chamada de Escola José Duda Júnior Educação Infantil e Ensino

Fundamental , na modalidade Educação Especial com a oferta das etapas:

Educação Infantil, Ensino Fundamental – Anos Iniciais e Educação de

Jovens e Adultos – Fase I/Educação Profissional Formação Inicial,

integrando o Sistema Educacional do Estado do Paraná, conforme

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

DECLARAÇÃO anexa (doc. 09).

E é na busca pelo direito de acesso à educação dos alunos da

Escola José Duda Júnior –Educação Infantil E Ensino Fundamental, Na

Modalidade Educação Especial que o Ministério Público do Estado do Paraná,

representado pela 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Irati, com

atribuições na área de Direitos e Garantias Constitucionais do Cidadão, de

Proteção à Educação e de Proteção dos Interesses das Pessoas Portadoras de

Necessidades Especiais, apresenta esta ação civil pública, conforme os fatos e

fundamentos que passa a expor.

V. BREVE SÍNTESE DOS FATOS

A Escola José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino

Fundamental, Na Modalidade Educação Especial (a seguir, chamada apenas

de Escola José Duda Jr) tem, atualmente, 154 alunos especiais, os quais

necessitam fazer uso de transporte escolar para se deslocarem até o

estabelecimento de ensino. Conforme relação anexa (doc. 15), i) 41 alunos

fazem uso de cadeira de rodas, ii) 11 alunos necessitam de acompanhamento

durante o trajeto; e iii) 3 alunos precisam de transporte individual.

Para que os alunos portadores de necessidades especiais

(crianças, adolescentes, adultos) possam se deslocar até à Escola José Duda

Jr, faz-se necessário transporte adequado as suas limitações. Ocorre que

este transporte não está sendo oferecido pelo Município de Irati, uma vez

que estes alunos especiais não estão incluídos na política pública de

transporte escolar do município, de modo que a própria entidade

mantenedora (APAE DE IRATI), às suas próprias expensas, vem arcando

com os valores, de maneira a onerar excessivamente a instituição,

impedindo-a de prestar melhores serviços aos seus alunos.

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Diante da necessidade imperiosa em ter o transporte escolar

fornecido aos seus alunos, e uma vez que é constitucionalmente garantido às

pessoas com deficiência a igualdade de oportunidades e acesso a todos os

serviços garantidos às pessoas ditas “normais”, a Escola José Duda Jr, em

28 de dezembro de 2010 (à época ainda chamada de “Escola Especial Nossa

Escola”), protocolizou junto à Secretaria Municipal de Educação de Irati, o

Ofício de nº 124/2010, no qual solicitou que os alunos e alunas

matriculados na Escola José Duda Jr fossem incluídos no sistema de

transporte escolar do Município de Irati, propiciando condições de

igualdade no acesso ao serviço de transporte escolar mantido pela

Prefeitura Municipal de Irati (doc. 10).

Como complemento ao Ofício de nº 124/2010, a Escola José

Duda Jr, protocolizou o Ofício de nº 008/2011, em 02 de fevereiro de 2011,

no qual apresentou informações referentes ao número de veículos utilizados

pela instituição, distância percorrida, número de motoristas e auxiliares,

quantidade de alunos transportados (e acompanhantes), e custo do quilômetro

rodado (doc. 11).

Por não ter obtido qualquer resposta aos Ofícios

protocolizados junto à Prefeitura de Irati nos meses de Dezembro do ano

de 2010, e Fevereiro do ano de 2011, a Escola José Duda Jr, no dia 03 de

novembro de 2011, protocolizou o Ofício de nº 076/2011 (doc. 12), no qual

juntou cópias dos ofícios enviados anteriormente e fez um convite aos

responsáveis pela logística do transporte escolar do Município de Irati para

uma reunião na sede da Escola José Duda Jr a fim de tratar dos assuntos

relativos ao transporte escolar dos alunos para o ano de 2012.

A reunião foi realizada no dia 16 de novembro de 2011,

entretanto, conforme a Ata de Reunião (doc. 13), não compareceram nem a

Secretária Municipal de Educação, a Sra. Zenilda Alice Stroparo, tampouco

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

qualquer outro representante do Município ou da Secretaria de Educação.

E muito embora a Sra. Zenilda Alice Stroparo, Secretária

Municipal de Educação, não tenha comparecido à reunião acima mencionada,

em entrevista concedida ao Jornal Centro Sul, publicado em 08 de fevereiro

de 2012 (doc. 16), deixou claro que os alunos objeto desta ação NÃO ESTÃO

INCLUÍDOS NA POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO TRANSPORTE ESCOLAR,

uma vez que não incluiu os alunos da APAE na conta dos ônibus destinados

ao transporte escolar. Senão vejamos:

(...)

“As 30 escolas que compõe a rede municipal do município

comportam cinco mil alunos, conduzidos diariamente em 45 ônibus. Tivemos

que contratar mais dois ônibus para esse ano devido ao aumento da demanda

de alunos a serem transportados.”.

Prosseguindo, visando garantir o transporte necessário para

os seus alunos no ano de 2012, a Escola José Duda Jr protocolizou o Ofício

de nº 93/2011 (doc. 14), em 18 de novembro do corrente mês, junto a esta

Promotoria, apresentando documentação com o objetivo de possibilitar a

tomada de providências pelo Ministério Público em relação a negativa de

concessão pelo município de TRANSPORTE ESCOLAR dos alunos matriculados

na Escola José Duda Jr, vez que o Judiciário restou como o único meio

visualizado passível de garantir o direito ao transporte escolar gratuito

para os alunos.

VI. O DIREITO APLICADO À ESPÉCIE

A atual Constituição Federal consagrou a prevalência de

determinados direitos fundamentais que, no caso concreto, foram

flagrantemente vulnerados. A mera leitura dos dispositivos constitucionais

que seguem, em confronto com a hipótese dos autos, revela de pronto a lesão

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

em causa:

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de

direito e tem como fundamentos:

II - a dignidade da pessoa humana;

Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade

e quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)

No que se refere, especificamente, ao presente caso, que diz

respeito ao DIREITO AO ENSINO E AO TRANSPORTE ESCOLAR NECESSÁRIO

aos alunos da Escola José Duda Jr, devem ser observados os seguintes

dispositivos constitucionais:

Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança,

a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos

desamparados, na forma desta Constituição.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios:

V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência.

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos

de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não

tiveram acesso na idade própria;

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

preferencialmente na rede regular de ensino;

VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio

de programas suplementares de material didático escolar, transporte,

alimentação e assistência à saúde.

§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta

irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental,

fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à

escola.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao

adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação (...).

Ora, os cidadãos devem usufruir de todos os direitos

fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo assegurado por lei ou por

outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de possibilitar o

desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de

liberdade e de dignidade.

Quanto à educação básica, tem caráter OBRIGATÓRIO e

GRATUITO dos 4 aos 17 anos de idade, sendo assegurado a oferta gratuita

para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria, e com a

ressalva de que EM SE TRATANDO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, A OFERTA DEVE

SER AO LONGO DE TODA A VIDA (doc. 07).

Entretanto, a simples disponibilização do ensino gratuito

não é suficiente para assegurar o acesso e a permanência do aluno na

escola. Diante disso, o legislador atrelou ao dever de educação outras

prestações obrigacionais, como é o caso da obrigação de transportar o aluno

até a escola, visando assegurar o acesso à educação.

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Assim, NÃO BASTA DISPONIBILIZAR O ENSINO, É PRECISO

PROVER AS CONDIÇÕES PARA O ACESSO ATÉ A ESCOLA. É isto o que prevê o

art. 178 da Constituição do Estado do Paraná e o art. 3º da Lei 9394/96:

Constituição do Estado do Paraná.

Art. 178. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condição para acesso e permanência na escola, vedada qualquer

forma de discriminação e segregação;

Lei 9394/96.

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

E o Decreto nº. 7.612, de 17 de novembro de 2011, que

instituiu o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano

Viver sem Limite, assim estabelece (doc. 07.1):

Art. 1º Fica instituído o Plano Nacinal dos Direitos da Pessoa com

Deficiência – Plano Viver sem Limite, com a finalidade de promover, por

meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, o

exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência, nos

termos da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com

Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do Decreto

Legislativo nº. 186, de 9 de julho de 2008, com status de emenda

constitucional, e promulgados pelo Decreto nº. 6.949, de 25 de agosto de

2009.

Parágrafo único. O Plano Viver sem Limite será executado pela União em

colaboração com Estados, Distrito Federal, Municípios, e com a sociedade.

Art. 2º São consideradas pessoas com deficiência aquelas que têm

impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou

sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir

sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições

com as demais pessoas.

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Art. 3º São diretrizes do Plano Viver sem Limite:

I – garantia de um sistema educacional inclusivo;

II – garantia de que os equipamentos públicos de educação sejam acessíveis

para as pessoas com deficiência, inclusive por meio de transporte

adequado;

No presente caso, observa-se claramente que os direitos dos

alunos atendidos pela Escola José Duda Jr não vem sendo respeitados, isso

porque, o Município de Irati, e sua Secretaria de Educação, não estão

fornecendo o TRANSPORTE ESCOLAR ADEQUADO, que é condição

necessária para que possa ser garantido o acesso dos alunos especiais à

educação básica, de caráter OBRIGATÓRIO E AO LONGO DE TODA A VIDA.

Conforme já explicitado, a partir da Resolução nº

3600/2011 – GS/SEED, as Escolas de Educação Básica na modalidade de

Educação Especial, passaram a oferecer, efetivamente, a Educação

Infantil, Ensino Fundamental – anos iniciais, Educação de Jovens e Adultos

– Fase I, e Educação Profissional/Formação Inicial tendo sido determinado,

em seu art. 3º, o dever em “dar condições ao acesso, permanência na

escola e atendimento educacional gratuito, na forma da Lei” (doc. 05).

Nesse sentido, uma vez que as APAEs, agora mantém escolas

credenciadas para funcionar como Escolas de Educação Básica, e em sendo

dever constitucional do Estado o fornecimento gratuito e obrigatório

transporte escolar para essas Escolas (tanto por serem de educação básica,

quanto por se tratarem de instituições de educação especial), EVIDENTE É

O DIREITO DOS ALUNOS DA ESCOLA JOSÉ DUDA JR. EM SEREM INCLUÍDOS NA

POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO TRANSPORTE ESCOLAR GRATUITO ORA

PLEITEADO.

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Não bastasse a legislação estadual, conforme já citado, foram

publicados em âmbito nacional os Decretos nº 7.611 e 7.612 que dispõem

sobre a educação especial e o atendimento educacional especializado e o

direito ao transporte escolar a ser fornecido pelos municípios.

Conforme o inciso VII do artigo 1º do Decreto nº. 7.611

supracitado, poderiam os alunos especiais ser incluídos na rede regular de

ensino, contudo, no presente caso, as escolas da rede regular do município

de Irati não possuem as condições suficientes para garantir o atendimento

adequado a todos os alunos da Escola José Duda Jr, os quais superam o

número de 150 alunos.

A Escola de Educaçao Básica na Modalidade de Educação

Especial José Duda Jr. proporciona o atendimento especializado aos alunos

com necessidades especiais, garantindo a educação básica a sujeitos que,

em virtude do grau de comprometimento mental, não acompanhariam

adequadamente o currículo desenvolvido no ensino comum.

Dispõe a Lei nº. 7.883/89, em seu art. 2º, que ao Poder

Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência

o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à

educação. Complementa o parágrafo único, I, que para o fim estabelecido no

caput do artigo, os órgãos e entidades da administração direta e indireta

devem dispensar, no âmbito de sua competência e finalidade, aos assuntos

objetos esta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar,

sem prejuízo de outras:

e) o acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios

conferidos aos demais educandos, inclusive material escolar,

merenda escolar e bolsas de estudo.

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

No que se refere de forma específica a acessibilidade à

educação aos portadores de deficiência, a Constituição Federal, a

Constituição do Estado do Paraná e a Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases

Nacional) são claros:

Constituição Federal. Art. 208.

O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino.

Constituição do Estado do Paraná. Art. 173.

O Estado e os Municípios assegurarão, no âmbito de suas competências, a

proteção e a assistência à família, especialmente à maternidade, à infância, à

adolescência, e à velhice, bem como a educação do excepcional, na forma da

Constituição Federal.

Constituição do Estado do Paraná.

Art. 179. O dever do Poder Público, dentro das atribuições que lhe forem conferidas,

será cumprido mediante a garantia de:

IV - atendimento educacional especializado gratuito aos portadores de

deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

Lei 9.394/96. Art. 4º.

O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia

de:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não

tiveram acesso na idade própria;

III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com

necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino;

Ainda, no que tange à obrigação de conceder o TRANSPORTE

aos alunos, inclusive os portadores de necessidades especiais, há os seguintes

dispositivos na legislação brasileira:

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

CF. Art. 208.

O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio

de programas suplementares de material didático escolar, TRANSPORTE,

alimentação e assistência à saúde.

Lei 9.394/96.

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante

a garantia de:

VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de

programas suplementares de material didático-escolar, TRANSPORTE, alimentação

e assistência à saúde.

Lei 9.394/96.

Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as

despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições

educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a:

VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de

TRANSPORTE ESCOLAR.

Constituição do Estado do Paraná.

Art. 179. O dever do Poder Público, dentro das atribuições que lhe forem conferidas,

será cumprido mediante a garantia de:

VIII - atendimento ao educando, no ensino pré-escolar, fundamental, médio e de

educação especial, através de programas suplementares de material didático

escolar, TRANSPORTE, alimentação e assistência à saúde;

Por tudo o que foi apresentado, em especial, pelos Decretos

nº. 7611 e 7.612 de 17.11.2011, tem-se EVIDENCIADA A OBRIGAÇÃO DO

MUNICÍPIO DE IRATI EM CONCEDER O TRANSPORTE ESCOLAR ESPECIAL ORA

PLEITEADO, INCLUINDO OS ALUNOS DA APAE NA POLÍTICA PÚBLICA DO

TRANSPORTE MUNICIPAL.

Até mesmo porque, tal garantia encontra-se na própria LEI

ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE IRATI, EM SEU ART. 161, o qual determina que

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

“O MUNICÍPIO DESTINARÁ VERBAS, RECURSOS MATERIAIS E HUMANOS ÀS

ESCOLAS ESPECIALIZADAS SEM FINS LUCRATIVOS, VOLTADOS À EDUCAÇÃO

DO EXCEPCIONAL, GARANTINDO A ESTE TRANSPORTE ESCOLAR GRATUITO”.

Nos termos do art. 211, parágrafo segundo, da Constituição

Federal, consta que “os Municípios atuarão prioritariamente no ensino

fundamental e na educação infantil”. Assim, considerando-se que a Escola

José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino Fundamental, Na Modalidade

Educação Especial, fornece Educação Infantil e Ensino Fundamental –anos

iniciais aos seus alunos, não há que se discutir quanto à legitimidade

passiva do Município de Irati no presente caso.

A Constituição do Estado do Paraná, a Lei de Diretrizes e Bases

Nacionais, e a Constituição Federal reiteram em seus artigos a

obrigatoriedade por parte dos Municípios de responsabilidade com a educação

básica e educação especial:

CF. Art. 30.

Compete aos Municípios:

VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,

programas de educação infantil e de ensino fundamental;

CF. Art. 221. § 2º.

Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação

infantil.

Constituição do Estado do Paraná. Art. 179. § 5º.

Os municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação

infantil.

Constituição do Estado do Paraná. Art. 17.

Compete aos Municípios:

VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,

programas de educação pré-escolar, de educação especial e de ensino

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

fundamental;

Lei 9.394/96. Art. 11.

Os Municípios incumbir-se-ão de:

VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal.

É impostergável a obrigação do Município de Irati em

fornecer o transporte escolar adequado a fim de garantir o acesso dos

alunos da APAE à educação. Desta forma, muito embora já comprovado que

na presente situação o Município é o responsável pela concessão do transporte

escolar, caso venha a declarar a impossibilidade material para não cumprir

com a obrigação, ou mesmo repassar a obrigação aos outros entes federativos,

tais alegações não merecerão prosperar. Nesse sentido, preleciona VALTER

KENJI ISHIDA, fazendo referência à obrigatoriedade disposta no art. 208 do

Estatuto da Criança e do Adolescente, com relação ao ensino obrigatório, e

programas de transporte para o acesso à educação:

“Não cabe ao Estado alegar a impossibilidade material para não

cumprir obrigação de fazer estipulada no art. 208. É o que se

decidiu na Apelação Cível n° 50.966 de Porto União, Rel. Des. Anselmo

Cerello, DJ 15-8-96, p.12: Ação civil pública – Criança e Adolescente –

Ação civil pública intentada pelo Ministério Público estadual,

objetivando o cumprimento pelo Município das disposições constantes

no art. 208 do ECA – Pretensão amparada pela Lei n° 8.069 –

Pretensão acolhida liminarmente e devidamente cumprida pela

municipalidade – Alegações do ente público demandado,

comprovado que indispõe de meios materiais necessários para dar

cumprimento a tais disposições – Remessa oficial desprovida.”

(Estatuto da Criança e do Adolescente – Doutrina e jurisprudência,

Atlas, 2006, p. 357)

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Ainda, deve-se fazer referência a jurisprudência, que impõe

ao Município a obrigação de garantir o transporte escolar, inclusive aos

portadores de deficiência mental:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - CONSTITUCIONAL - TRANSPORTE ESCOLAR - DEVER

LEGAL DO MUNICÍPIO. O transporte escolar é dever do Município, imposto

pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, pela Lei de Diretrizes Básicas

da Educação e pela Constituição da República, sendo de se confirmar a

decisão que julgou procedente ação civil pública movida pelo Ministério

Público Estadual, com vistas a compelir a municipalidade a fornecê-lo às

suas crianças. (TJMG. 7ª C. Civ., Ap. Civ. n° 1.0417.04.910506-3/001, Rel.

Des. Edivaldo George dos Santos. J. 29/06/2004, DJ em 24/09/2004).

AÇÃO CIVIL PÚBLICA ENSINO FUNDAMENTAL TRANSPORTE RESPONSABILIDADE

DO MUNICÍPIO PROVIMENTO LIMINAR MANTIDO. Nos termos dos artigos 30,

VI e 211, § 2º, da Constituição Federal, é dever prioritário do Município a

atuação no ensino fundamental, não se exonerando de arcar com o

transporte das escoas que se dedicam a tal mister pelo simples fato de

pertencerem ao Estado. Recurso a que se nega provimento. (TJMG, Autos nº

1.0000.00.336065-8/000, Rel. Des. Kildare Carvalho) 06.11.2003)

APELAÇÃO - Imposição de obrigação de fazer à Administração Pública, fruto

de atividade jurisdicional - Possibilidade, desde que visando a satisfação de

direito subjetivo garantido pelo Ordenamento Jurídico - Compatibilidade

com o poder discricionário de que é investido o Poder Público - Legitimidade

do Ministério Público para o ajuizamento de demanda individual em

benefício de criança ou de adolescente - Reconhecimento, no mérito, do

direito das crianças e dos adolescentes, portadores de deficiência

mental, ao transporte especializado e gratuito aos estabelecimentos de

ensino - Sujeição do ente público à multa cominatória para o caso de

descumprimento da obrigação - Recursos improvidos (TJSP Câmara Especial

Apelação Cível nº 110.125-0/8-00, de São Paulo. Rel. Roberto Vallim

Bellocchi. J. em 17 de maio de 2004)

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Excelência. Conforme já exposto, o transporte aos alunos vem

sendo arcado pela Escola José Duda Jr, às suas próprias expensas,

onerando excessivamente a instituição, e impedindo-a de prestar melhores

serviços aos alunos.

Muito embora tenha a Escola José Duda Jr protocolizado três

ofícios junto ao Município de Irati, e sua Secretaria de Educação, visando

solucionar o problema do transporte, não obteve retorno em nenhuma das

oportunidades, mostrando o total descaso do Município com o problema

enfrentado pela Escola José Duda Jr e seus alunos especiais, bem como

desrespeitando dispositivos constitucionais, legislação federal, além da

própria lei orgânica do Município. Mais que isso: pela reportagem do Jornal

Centro Sul de 08 de fevereiro de 2012, restou comprovada a exclusão dos

alunos da APAE da política pública do transporte escolar do município de

Irati.

O descaso citado pode ser verificado e comprovado, inclusive,

a partir de reportagem veiculada no dia 08 de fevereiro de 2012, na página 24

da Edição Semanal do Jornal Hoje Centro Sul (doc. 16). Nesta, a Secretária

Municipal de Educação, a Sra. Zenilda Stroparo (a mesma Secretária que,

muito embora devidamente convidada a comparecer em reunião na Escola

José Duda Jr. e discutir a questão relativa ao transporte dos alunos, não se

fez presente – docs. 12 e 13), indica conquistas para o ano letivo, excluindo

os alunos da APAE.

Consta da notícia que “as 30 escolas que compõe a rede

municipal do município comportam cinco mil alunos, conduzidos diariamente

em 45 ônibus”, e que, nas palavras da própria Secretária, o Município

contratou mais dois ônibus “devido ao aumento da demanda de alunos a

serem transportados”.

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Em momento algum se cita na reportagem a situação da

Escola José Duda Jr., tampouco se incluem os seus alunos na contagem

geral realizada.

A Escola José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino

Fundamental, Na Modalidade Educação Especial é totalmente excluída do

transporte escolar, restando configurada a violação ao princípio da

igualdade, não garantindo o Município de Irati, por sua Secretaria de

Educação, o acesso à educação, com o provimento de transporte escolar

adequado às necessidades dos alunos da Escola José Duda Jr..

TAL SITUAÇÃO DE ABANDONO PREJUDICA CADA DIA MAIS OS

ALUNOS DA ESCOLA JOSÉ DUDA JR, E NÃO PODE PERDURAR POR MAIS

TEMPO.

Assim, por todo o exposto, necessário se faz seja dado

cumprimento a todos os dispositivos legais expostos nesta Ação Civil

Pública, de modo a conceder MEDIDA DE URGÊNCIA, que determine ao

Município de Irati que cumpra com o seu dever legal e garanta o

TRANSPORTE ESPECIAL ESCOLAR GRATUITO AOS ALUNOS DA ESCOLA JOSÉ

DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL, NA

MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL, atendendo as suas respectivas

necessidades, utilizando-se, para isso, de listagem e parâmetros a ser

repassado pela Escola José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino

Fundamental, Na Modalidade Educação Especial ao Município de Irati, com

a indicação do número exato de alunos a serem atendidos, bem como o

meio de transporte adequado a ser utilizado (uso de cadeira de rodas,

acompanhamento durante o trajeto; transporte individual).

VII. A TUTELA ANTECIPADA

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

Para a concessão da liminar devem concorrer dois requisitos

legais, ou seja, o fumus boni iuris e o periculum in mora.

O fumus boni iuris é a existência e ocorrência do direito

substancial invocado por quem pretende a segurança, o que já foi castamente

demonstrado pelas razões de direito apresentadas. Na espécie, inclusive, mais

do que sinais do bom direito, há a sua concreta e indiscutível existência.

O periculum in mora se configura em um dano potencial, um

risco que corre o processo principal de não ser útil ao interesse demonstrado

pela parte, e que, no caso em questão, se caracteriza pela necessidade de

ser providenciado transporte especial gratuito aos alunos da Escola José

Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino Fundamental, Na Modalidade

Educação Especial, condição esta necessária para que possa ser garantido o

acesso e a permanência dos alunos na escola especial, proporcionado a

educação (ensino básico obrigatório e gratuito) e desenvolvimento

psicológico e motor adequados.

Restando provada a ilegalidade, pois a fumaça do bom direito,

agasalha a pretensão desta ação e existindo periculum in mora, na razão do

dano potencial irreparável aos alunos da Escola José Duda Jr, requer-se, com

fulcro no art. 12, caput, da Lei n.° 7.347/85 (Ação Civil Pública), o

deferimento de mandado liminar, devendo ser DETERMINADO ao Município

de Irati A INCLUSÃO DA ESCOLA JOSÉ DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL

E ENSINO FUNDAMENTAL, NA MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA

POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO TRANSPORTE ESCOLAR, fornecendo

transporte escolar especial adequado aos alunos da Escola José Duda

Júnior – Educação Infantil E Ensino Fundamental, Na Modalidade Educação

Especial, atendendo às suas necessidades especiais, com espaço adequado

para cadeirantes, lugares destinados para acompanhantes, bem como o

transporte individual aos alunos que dele precisarem, conforme lista dos

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

alunos anexa (doc. 15), a qual será constantemente atualizada pela

direção da Escola José Duda Jr e repassada ao Município de Irati quando

sofrer alterações.

VIII. O PEDIDO

Em face do exposto, diante de tudo o que foi apresentado,

requer-se de Vossa Excelência:

a) LIMINARMENTE, inaudita altera pars, a antecipação de

tutela, com o fim de ordenar judicialmente ao Município de Irati, para que

SEJA DETERMINADO ao Município de Irati A INCLUSÃO DA ESCOLA JOSÉ

DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL, NA

MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO

TRANSPORTE ESCOLAR, fornecendo transporte escolar especial adequado

aos alunos da Escola José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino

Fundamental, Na Modalidade Educação Especial, atendendo às suas

necessidades especiais, com espaço adequado para cadeirantes, lugares

destinados para acompanhantes, bem como o transporte individual aos

alunos que dele precisarem, conforme lista dos alunos anexa (doc. 15), a

qual será constantemente atualizada pela direção da Escola José Duda Jr e

repassada ao Município de Irati quando sofrer alterações;

b) fixação de multa diária, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil

reais), para garantia da execução da tutela concedida antecipadamente;

c) a citação do réu para que, querendo, conteste a presente

ação e a acompanhe, até final sentença, sob pena de revelia;

d) a produção de todas as provas admitidas em direito,

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI

especialmente inquirição de testemunhas, cujo rol será oportunamente

indicado, juntada de documentos e exames periciais que se fizerem

necessários;

e) ao final, a procedência do pedido, nos termos da

antecipação de tutela retro, com a condenação do réu, para que SEJA

DETERMINADO ao Município de Irati A INCLUSÃO DA ESCOLA JOSÉ DUDA

JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL, NA MODALIDADE

EDUCAÇÃO ESPECIAL NA POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO TRANSPORTE

ESCOLAR, fornecendo transporte escolar especial adequado aos alunos da

Escola José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino Fundamental, Na

Modalidade Educação Especial, atendendo às suas necessidades especiais,

com espaço adequado para cadeirantes, lugares destinados para

acompanhantes, bem como o transporte individual aos alunos que dele

precisarem, conforme lista dos alunos anexa (doc. 15), a qual será

constantemente atualizada pela direção da Escola José Duda Jr e

repassada ao Município de Irati quando sofrer alterações;

f) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros

encargos, nos termos do art. 18, da Lei Federal nº 7347/85.

Dá-se à causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), ainda

que inestimável o objeto tutelado, apenas para efeitos fiscais.

Nestes termos, pede deferimento.

Irati-PR, 22 de março de 2012.

Maria Luiza Correa de Mello

Promotora de Justiça