2ª edição disciplina - proead · mapa conceitual das atividades ... no texto a seguir, adaptado...

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aula Franklin Nelson da Cruz Gilvan Luiz Borba Luiz Roberto Diz de Abreu Ciências da Natureza e Realidade DISCIPLINA Autores 13 Ciência, Tecnologia e Sociedade 2ª Edição CI_NAT_A13_RAAR_250510.indd S11 CI_NAT_A13_RAAR_250510.indd S11 25/05/10 10:14 25/05/10 10:14

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aula

Franklin Nelson da Cruz

Gilvan Luiz Borba

Luiz Roberto Diz de Abreu

Ciências da Natureza e RealidadeD I S C I P L I N A

Autores

13

Ciência, Tecnologia e Sociedade

2ª Edição

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Divisão de Serviços Técnicos

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ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitorNilsen Carvalho Fernandes de Oliveira Filho

Secretária de Educação a DistânciaVera Lucia do Amaral

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS)

Cruz, Franklin Nelson da.

Ciências da natureza e realidade: interdisciplinar/ Franklin Nelson, Gilvan Luiz Borba, Luiz Roberto Diz de Abreu. – Natal, RN: EDUFRN Editora da UFRN, 2005.

348 p.

ISBN 85-7273-285-3

1. Meio Ambiente. 2. Terra. 3. Universo. 4. Natureza. 5. Seca. I. Borba, Gilvan Luiz. II. Abreu, Luiz Roberto Diz de. III. Título.

CDD 574.5RN/UF/BCZM 2005/45 CDU 504

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Apresentação

Estudaremos a tríade Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Para atenuar as difi culdades de compreensão do tema proposto, consideramos pertinente abordar isoladamente cada um dos itens nele implicados. Isso porque a sociedade atual, superficial e

consumista, vive imersa em uma ciência irreal para a grande maioria, a qual envolve átomos e seus constituintes, moléculas, vôos espaciais, genes, DNA, chips, buracos negros, todos decorrentes de descobertas científi cas. Assim, enquanto a ciência busca através das suas pesquisas a verdade, a tecnologia se rende à efi ciência de suas máquinas. Enquanto a ciência procura incessantemente formular as leis que regem a natureza, a tecnologia faz uso dessa formulação para criar as ferramentas que permitam ao homem reger a natureza. No entanto, ciência e tecnologia buscam caracterizar os sistemas que constituem o universo complexo a partir das ações de agentes, instituições, produtos, conhecimentos, técnicas, entre outras, tendo a frente o ser humano, principal articulador na busca por desvendar a natureza como representante da sociedade.

Objetivos

1

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3

Permitir a você:

discernir e evidenciar a interdisciplinaridade existente entre Ciência, Tecnologia e Sociedade;

identifi car as diferentes revoluções que conduziram a sociedade ao estágio atual de desenvolvimento;

conhecer os diferentes modos de conceituar Ciência, Tecnologia e Sociedade, a fi m de que possa idealizar suas próprias defi nições;

evidenciar a evolução da tríade abordada.4

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Compreendendo a Ciência, a Tecnologia e a Sociedade

Essa tríade é ao mesmo tempo anciã e moderna, relativa à evolução cultural, científi ca e tecnológica vivida em diferentes épocas pela humanidade.

Com o intuito de aferirmos seu grau de discernimento a respeito do tema em questão, solicitamos que você leia com bastante atenção a reportagem a seguir, extraída do jornal A Seca, pois será importante para compreendê-lo melhor. Em seguida, responda às atividades propostas.

Atividade 1

1Existe um problema? Caso a sua resposta seja afi rmativa, caracterize- o. Ele exige solução imediata? Como se pode resolvê-lo?

Um profi ssional da Química contratado pela Fundação Pró-Água coletou amostras da água e comprovou a sua salinidade através de métodos físico-químicos de análises. Em seu relatório, falou da existência de vários métodos de purifi cação da água e caracterizou alguns deles. Mas, recomendou a utilização do método de osmose reversa para dessalinizar a água do Município, por sua efi ciência e custo reduzido. O que fez o químico para chegar a essa conclusão?

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No Município de Imagens, sertão do Brasil, a água extraída dos poços perfurados apresenta alta salinidade, o que a torna imprópria ao consumo humano. Após a visita de técnicos, o Ministério dos Recursos Hídricos anunciou a liberação de verbas para a Fundação Pró-Água, a fi m de que ela constitua uma comissão de profi ssionais capazes de: comprovar, caracterizar e resolver defi nitivamente o problema que há muito tempo vem prejudicando a população do Município.

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Devido à extensão, à densidade populacional e ao número de poços perfurados pela prefeitura com o intento de beneficiar a todos os cidadãos do Município, a Fundação Pró-Água contratou os serviços de dois profi ssionais da engenharia: um químico e um mecânico. De posse do parecer do primeiro, os dois desenvolveram o projeto de construção de um dessalinizador para ser testado em um dos poços. O que você conclui a respeito do trabalho desenvolvido pelos engenheiros?

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Como o teste realizado realmente transformou a água salobra em água potável, os engenheiros patentearam o dessalinizador e negociaram a sua produção em escala industrial. Qual o objetivo dessa última etapa do trabalho?

O que você conclui a respeito do conjunto de atividades trabalhadas anteriormente? Sucintamente, que denominação você atribui a sua conclusão?

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Mapa conceitual das atividades

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Três características distinguem o homem dos animais: o pensamento abstrato e sua capacidade conceitual; a linguagem; e o uso de ferramentas. Todas decorrentes do aumento progressivo do seu cérebro. No entanto, essas características não evoluíram

ao mesmo tempo, sendo o primeiro impulso da progressão humana a adaptação à locomoção bípede, de ordem puramente anatômica.Os paleontólogos reconhecem como eventos fundamentais da evolução humana a origem da terrestrealidade (migração das árvores para o chão), a bipedia (andar ereto apoiado em duas pernas), a encefalização (aumento do volume do crânio em relação ao tamanho do corpo) e a cultura (hábitos, costumes e socialização, que deram origem às grandes civilizações).

Passados milhares de anos, a utilização de ferramentas, a linguagem e o pensamento intelectual do homem evoluíram, inicialmente, de maneira imperceptível. Mas, no decorrer dos séculos, os indivíduos aprimoraram-se de forma contínua e rápida, o que não aconteceu em relação às demais espécies. Como vemos, o desenvolvimento biofísico de uma única espécie animal, a Homo sapiens, se deu devido à utilização de elementos exteriores ao reino animal, como: o uso do fogo e a produção de ferramentas (facilmente substituíveis, passíveis de aperfeiçoamento e utilizadas na luta pela preservação e manutenção da vida). Devemos, ainda, acrescentar a última etapa da evolução humana: a invenção da escrita – símbolos visíveis, permanentes e correlacionados aos sons breves e decorrentes da linguagem falada. Esses eventos marcam o início da primeira era da civilização, as origens da ciência e as bases de um progresso técnico e ininterrupto, a ponto de consolidar a humanidade como unidade organizada, responsável por sua própria vida.

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Evolução da Ciência, da Tecnologia e da Sociedade

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Assim, ao evoluir, o homem, motivado pela sua curiosidade, desenvolveu a capacidade de observar, problematizar, estabelecer hipóteses, experimentar, analisar resultados e propor soluções para os problemas com os quais se depara – atributo da ciência. Ao implementar a produção e o uso de ferramentas, dominar o fogo e desenvolver práticas metalúrgicas, desencadeou a primeira revolução tecnológica. Ao passar por processos, adaptativos, sofreu transformações que o levaram de um primata desenvolvido ao homem moderno. Também, no decorrer da evolução humana, a mulher ganhou status na sociedade emergente, devido não somente a sua capacidade de fecundar, mas, sobretudo, por ajudar o homem na luta pela vida, permitindo o surgimento da família. A expectativa de vida do homem ampliou-se e o crescimento populacional evoluiu, originando grandes aglomerados, o que confi gurou a expansão da sociedade.

Origens da CiênciaA ciência sempre existiu?

A resposta para essa questão pode assumir ares afi rmativos ou negativos. Ela só depende do que você entende por ciência. As primeiras civilizações estudavam os temas que hoje são considerados científi cos. Por exemplo, a revolução Neolítica ocorreu há cerca de dez mil anos e, com ela, se deu a invenção da agricultura e de outras atividades artesanais. Hoje, os agrônomos, profi ssionais qualifi cados que trabalham com a agricultura, são considerados cientistas. No entanto, há 700 anos a.C., o poeta grego Hesíodo, em sua obra Os Trabalhos e os Dias, fez uma mítica narrativa de como a agricultura se desenvolvia na sua época, aqui resumida nos versos que seguem:

Ao despertar das Plêiades, fi lhas de Atlas, dá início à colheita, e ao seu recolher, à semeadura.

Ordenai a vossos escravos que pisem, em círculos, o trigo sagrado de Deméter, tão logo surja a força de Orion, em local arejado e eira redonda.

Quando Orion e Sirus alcançarem o meio do céu, e que a Aurora dos dedos de rosa conseguir enxergar Arcturo, então, Perseu, colhe e leva para casa todos os cachos de uvas.

(SIMAAN; FONTAINE, 2003, p. 16)

Observe que ainda hoje, em muitos recantos do mundo, o processo de colheita e de benefi ciamento do trigo segue os passos descritos nos versos de Hesíodo. Portanto, podemos afi rmar que a ciência existia não como método, mas como prática.

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Atividade 2Na sua região, a agricultura é comparável à descrita nos versos de Hesíodo ou está mais próxima da agricultura moderna que utiliza tratores e colheitadeiras computadorizadas? Você é capaz de justifi car sua resposta?

Você já experimentou pensar em ciência? Em penetrar, ser parte integrante e ativa do mundo científi co? No texto a seguir, adaptado do livro A Tabela Periódica (LEVI, 1994, p. 226), veremos o quanto esse mundo é mágico.

Nosso personagem, pois, jaz há centenas de milhões de anos ligados a seus amigos

mais íntimos, Oxigênio e Cálcio [...]. A certo momento da história, um golpe de picareta

o destacou e o encaminhou para o forno de cal, precipitando-o no mundo das coisas que

mudam. Foi aquecido a fi m de separar-se do Cálcio, ainda fi rmemente agarrado a dois

daqueles três amigos Oxigênios de antes, escoou pela chaminé e tomou o caminho do

ar. Sua história, de imóvel, fez-se tumultuosa.

[...] Dissolveu-se por três vezes na água do mar, uma vez na água de uma torrente

em cascata, e ainda foi expulso. Viajou com o vento por vários anos: ora alto, ora baixo,

sobre o mar e entre as nuvens, sobre fl orestas, desertos e imensidões desmedidas de

gelo; depois se viu capturado na aventura orgânica.

De fato, trata-se de um elemento singular: é o único que liga-se a si mesmo

formando longas cadeias estáveis sem grande dispêndio de energia, e para a vida na

terra (a única que até agora conhecemos) se necessita justamente de longas cadeias.

[O átomo de que falamos, na companhia de seus dois satélites, foi então conduzido

pelo vento, ao longo das videiras do vale do São Francisco. Teve a fortuna de roçar uma

folha, nela penetrar e ser fi xada por um raio de sol.]

Adere a uma grande e complicada molécula que o ativa, e simultaneamente recebe

a mensagem decisiva do céu sob a forma fulgurante de um feixe de luz solar: num

instante, como um inseto prisioneiro da aranha, é separado de seu oxigênio, combinado

com o hidrogênio e (acredita-se) o fósforo, e por fi m inserido numa cadeia; longa ou

curta, não importa, é a cadeia da vida. Tudo isto acontece rapidamente, em silêncio, sob

a temperatura e a pressão da atmosfera, e grátis: caso você desvende como operar essa

transformação, terá resolvido o problema de fome no mundo.

[...] esta química fi na e elegante se deu pela primeira vez, há dois ou três bilhões

de anos [...]. (LEVI, 1994, p. 226)

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Atividade 3

Após a leitura científi ca do texto de Primo Levi, responda às seguintes questões.

De qual elemento o texto fala?

Que título você atribui ao texto lido?

Você caracteriza esse texto como científi co? Justifi que sua resposta.

Estabeleça em termos de ciência as diferenças existentes entre o texto de Primo Levi e os versos de Hesíodo a respeito da agricultura.

1

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Conceito de CiênciaA ciência é apenas uma fração da tentativa da humanidade de compreender o mundo em

todos os seus aspectos. Descreveremos a seguir algumas das suas defi nições gerais.

Sentido usual: toda espécie de conhecimento.

Sentido antigo: conhecimento racional que versa sobre a essência do real (por oposição à opinião).

Sentido moderno: conhecimentos discursivos que estabelecem relações ou leis necessárias entre os fenômenos estudados e reúnem nas teorias essas relações ou leis.

Por sua vez, Russ, em seu Dicionário de Filosofi a (1994, p. 35), apresenta afi rmações de alguns fi lósofos sobre a ciência.

Platão: “A ciência não reside nas impressões, mas no raciocínio sobre as impressões, pois é por esta via, parece, que se pode atingir a essência da verdade.”

Descartes: “Toda ciência é um conhecimento certo e evidente.”

Bernard: “A ciência [...] consiste em encontrar as causas próximas dos fenômenos, isto é, suas condições materiais de existência.”

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Origens da TecnologiaA tecnologia sempre existiu?

Sim, a tecnologia sempre existiu. Logicamente, a partir do momento em que o ser humano povoou a Terra. Ela pode ser vista como o empreendimento decorrente da construção de artefatos e organização de trabalho para satisfazer às necessidades humanas. Portanto, as ferramentas simples utilizadas pelos homens das cavernas são vistas como artefatos tecnológicos.

O fogo foi outro elemento essencial à evolução da tecnologia humana, obtido pelo homem primitivo através de um dos modos mencionados a seguir (CASCUDO, 2004, p. 168):

Russel: “Ciência, como a palavra indica, significa antes de tudo conhecimento; por convenção, entende-se por ciência um conhecimento de espécie particular, notadamente o que pesquisa as leis gerais que unem certo número de fatos particulares. Pouco a pouco, contudo, a concepção de ciência, enquanto conhecimento, foi posta em segundo plano, para dar lugar à concepção de ciência como meio que confere o poder de manipular a natureza.”

Lutzenberger (2005), por sua vez, afi rma

A Ciência – com C maiúsculo – é um diálogo limpo com o Universo, ou seja, com a Natureza. Ela se apóia no postulado de que o Universo não é caótico. Não existem milagres, mistérios insondáveis sim. As leis do comportamento da Natureza são universais, imutáveis e intransgredíveis. Quer dizer que as leis da física são as mesmas na galáxia longínqua que está a bilhões de anos-luz de distância, eram as mesmas quando partiu de lá a luz que hoje observamos e que levou bilhões de anos para aqui chegar, e serão as mesmas enquanto durar o Universo. E, se alguém nos contar que conhece um lugar onde os rios correm montanha acima e a chuva sobe do solo ao céu, não precisamos perder tempo para ir verifi car.

Nesse contexto, o homem esforça-se por descobrir, compreender e estabelecer uma ordem no fl uxo de experiência, quer essa ordem seja observada, como em um fenômeno natural (a repetição das estações do ano ou os períodos de seca no Nordeste, por exemplo), quer seja postulada por teorias refi nadas, como as da relatividade, mecânica quântica e evolução. Ela pode ser visualizada sob dois pontos de vista: ciência in posse (ciência já feita, já construída) e a ciência in fi eri (ciência em movimento, em construção). Você, certamente, já está familiarizado(a) com a primeira forma – é a disciplina ministrada pelo professor. Nesse caso, cabe ao aluno assimilá-la com a fi nalidade de submeter-se aos processos de avaliação: trabalho escrito, seminário, prova oral e escrita, entre outros. Por sua vez, a ciência em construção é aquela desenvolvida pelo cientista a partir de processos investigativos, observando o método científi co. Normalmente, quando da sua conclusão, os resultados obtidos são apresentados em congressos e publicados em revistas de divulgação científi ca na forma de artigo escrito.

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um raio incendiou a árvore e ele aproveitou a chama, prolongando a sua existência com material combustível;

retirando-o das lavas ardentes de um vulcão e perpetuando-o, a partir de materiais combustíveis de origem vegetal;

percutindo pedra sobre pedra para fazer uma acha.

O domínio do fogo pelo ser humano foi a origem da primeira grande revolução tecnológica. Lembramos que ainda hoje, em pleno século XXI, o fogo continua sendo a principal fonte de energia do mundo. Ele foi conhecido pelo homem primitivo há quatrocentos mil anos. O primeiro ancestral a conhecê-lo foi o Homo erectus, que deixou vestígios do seu uso nas cavernas do Homem de Pequim. A verdade é que quando o homem apareceu na sua versão sapiens, o fogo já assava a carne e clareava as grutas por ele habitadas há mais de 8 mil séculos. Assim, o fogo serviu como elemento de agregação da raça humana e foi utilizado para fi xar, auxiliar e defender os primeiros agrupamentos humanos.

Por sua vez, o homem, na versão batizada por Bérgson (JANET, 1935 p. 7) de Homo faber, passou a tirar proveito da iluminação das cavernas para execução de trabalhos noturnos como: tratamento de peles e couro, o fabrico de armas e colares, pinturas rupestres, entre outros.

Com o decorrer dos séculos, uma outra revolução tecnológica estava prestes a acontecer, como descreve o soneto Lápide, do poeta e escritor paraibano Ariano Suassuna, citado por Trancoso (2005).

Lápide (com tema de Virgílio, o Latino,e de Lino Pedra-Azul, o Sertanejo)

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo nas pedras do meu Pasto incendiado: fustiguem-lhe seu Dorso alardeado, com a Espora de ouro, até matá-lo.

Um dos meus fi lhos deve cavalgá-lo numa Sela de couro esverdeado,

que arraste pelo Chão pedroso e pardo chapas de Cobre, sinos e badalos.

Assim, com o Raio e o cobre percutido, tropel de cascos, sangue do Castanho, talvez se fi nja o som de Ouro fundido

que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —tentei forjar, no meu Cantar estranho,

à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!

(SUASSUNA, 2005)

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Atividade 4

De qual revolução trata o soneto lido?

Ainda hoje, em nossa região, como também em várias outras regiões do mundo, o fogo é bastante utilizado como fonte de aquecimento, de cozimento de alimentos, como forma de afugentar animais, limpar terrenos (as queimadas), em processos de secagem e endurecimento de madeira, no cozimento de cerâmicas e em vários outros processos.

Outra grande revolução tecnológica se dá quando o fogo é casualmente posto em contato com uma classe de material, até então desconhecida, os metais. Os três metais inertes com maior possibilidade de ser encontrado em estado natural na crosta terrestre são o cobre, a prata e o ouro. Não estamos com isso afi rmando que é fácil encontrá-los, já que, até mesmo entre os metais, eles são raros. Entretanto, associamos as suas raridades a própria palavra metal, que em grego signifi ca procurar. Tal descoberta representa um salto sem precedentes na escalada tecnológica do homem. A extração de metais a partir de suas escórias se deu há mais de 7 mil anos na Pérsia e no Afeganistão, em torno do ano 5 mil a.C. O primeiro metal a ser extraído, o cobre, fl uía a partir de pedras verdes de malaquita [Cu2CO3(OH)2] submetidas diretamente ao fogo. Dada a ductilidade do cobre, o homem vivenciou ansiosamente a etapa seguinte dessa revolução tecnológica: a obtenção de um metal duro com fi o da borda cortante. Surgiu, assim, no Oriente Médio, em 3800 a.C., o bronze, liga metálica constituída de cobre, podendo conter até 15% de estanho.

A fundição do ferro se deu posteriormente à do cobre. Evidências da sua utilização prática foram encontradas nas pirâmides do Egito, o que lhe confere uma idade anterior a 2500 a.C. Os grandes difusores desse metal foram os hititas, habitantes de região da Anatólia, próxima ao Mar Negro, por volta de 1500 a.C. A importância do ferro como metal foi marcada pelo surgimento do aço (liga de ferro e carbono) em torno de 1000 a.C., na Índia. Assim, o homem conseguiu dar maior consistência ao ferro dopando-o com carbono para produzir a liga metálica, ainda hoje, mais utilizada no mundo.

Hoje, quando falamos de tecnologia, pensamos em máquinas complicadas como o computador, foguetes, celulares, como também na instrumentação cirúrgica que permite a realização de cirurgias a distância, entre outros. No entanto, a tecnologia sempre fez parte do mundo do Homo sapiens, mesmo antes das máquinas mencionadas neste parágrafo serem inventadas. Na realidade, as máquinas com as quais interagimos hoje, decorrem da evolução dos feitos tecnológicos de ontem.

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Atividade 5Quais são as utilidades do fogo na sua região? Qual a fonte combustível mais utilizada? Trata-se de uma fonte renovável?

Conceito de TecnologiaA palavra tecnologia (do grego: techne) signifi ca arte ou habilidade. Percebemos, assim,

que a tecnologia é uma atividade essencialmente prática que consiste mais em alterar, com o objetivo de aperfeiçoar, do que em compreender os sistemas.

Ao consultarmos Lalande (1993, p. 1111), verifi camos que tecnologia é o estudo dos procedimentos técnicos, naquilo que eles têm de geral e nas suas relações com o desenvolvimento da civilização.

Segundo Lutzenberger (2005),

a Tecnologia aproveita-se dos conhecimentos, das informações que o diálogo limpo deu à Ciência para fazer artefatos, instrumentos. Ora, todo artefato serve a alguma vontade, a do inventor ou de seu patrão. Isto tem a ver com poder, por pequeno ou grande que seja. É uma atitude impositiva, é o contrário da atitude básica da Ciência, que é contemplativa.

Muito embora no mundo atual vivamos envoltos pela tecnologia, a sua defi nição é tarefa extremamente complexa. Por exemplo, podemos dizer que tudo aquilo que é fabricado pelo homem, e não pela natureza, é tecnologia. No entanto, essa defi nição torna-se muito simples em uma discussão envolvendo profi ssionais da Engenharia Genética. Se os genes de certa variedade de cana-de-açúcar são fabricados por um cientista, esta cana será natural ou artifi cial?

A tecnologia também pode ser defi nida como todo utilitário fabricado pelo homem para ajudá-lo nas tarefas a serem empreendidas no seu ambiente natural. Essa defi nição permite a inclusão de instrumentos, como: parafusos utilizados na construção de casas, móveis e equipamentos em geral, assim como um simples zíper, componente dos jeans e de vestimentas diversas.

O principal objetivo da tecnologia é aumentar a efi ciência da atividade desenvolvida, hoje, pela máquina comandada pelo homem em todas as esferas, incluindo a da produção.

Na atualidade, sempre associamos a palavra tecnologia a invenções modernas como: computador, celular, DVD, satélites, entre outros. Entretanto, também devemos associá-la a invenções simples, como: o abridor de latas, o martelo, a cunha e muitas outras. Algumas dessas tecnologias serão trabalhadas nas disciplinas de Física e Química a serem cursadas nos semestres vindouros.

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Atividade 6

Identifi que, dentre as riquezas de seu município, as que podem ser utilizadas na geração de tecnologia.

A Sociedade: origem e conceitos

A palavra sociedade, do latim societas, tem como signifi cado uma associação amistosa entre pessoas que constituem um grupo. Visto que societas se deriva de socius, cujo signifi cado é companheiro, observamos que o termo sociedade tem correlação com o que é social, o que faz com que seus membros compartilhem as facilidades ou difi culdades mútuas, decorrentes de um objetivo comum.

Tendo em vista que grande parte dos seres não conseguem sobreviver isolados, mas unicamente em sociedade, e que as sociedades humanas são compostas por redes complexas de ritos e costumes, desde muito cedo, os pensadores orientais e ocidentais se pronunciaram a respeito do termo sociedade. Alguns deles apresentamos a seguir:

Aristóteles (s.d., p. 18): defi niu o homem como um animal sociável;

Rousseau (FURLAN, 2004, p. 17): defi niu a sociedade como um conjunto de grupos fragmentários, de “sociedades parciais”, onde a vontade de todos nasce do confl ito de interesse, em contraposição ao Estado que se exprime numa vontade geral, originária da relação Estado-indivíduo e por ele considerada como única autêntica, sem nenhuma interposição ou desvirtuamento por parte dos interesses representados nos grupos sociais interpostos.

Auguste Comte (1852, p. 154): “a sociedade repousa permanentemente sobre uma livre concorrência, nela não existem transações duráveis e modifi cações legítimas, exceto as que resultam de consentimento voluntário de diversos cooperadores.” Quanto a sua organização, pode ser: igualitária, totalitária, permissiva, religiosa ou laica; quanto a sua acessibilidade a outros grupos: fechada ou aberta.

Esse último conceito nos faz viajar no tempo e antever que as criações humanas são produtos de uma estrutura genealógica complexa decorrente de infl uências culturais e esforços conjugados pela sociedade. Do ábaco ao computador, do 14 Bis à nave espacial, é à sociedade humana que devemos atribuir a capacidade analítica de criar e inventar e que a torna distinta das outras sociedades animais.

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Atividade 7

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Trabalho de Pesquisa na Internet.

Levando em consideração a afi rmação de Auguste Comte, busque o signifi cado de sociedade quanto a cada uma de suas formas de organização e acessibilidade.

Como você caracteriza a sociedade da qual faz parte quanto à organização e à acessibilidade?2

Em sentido concreto e amplo, a sociedade é defi nida como um grupo de indivíduos que primam entre si pelo estabelecimento de relações organizadas e serviços recíprocos.

Atividade 8

Levando em consideração o sentido concreto de sociedade, forneça alguns exemplos de agrupamentos sociais.

Em sentido estrito: uma sociedade é constituída por um grupo de pessoas que compartilham propósitos, sentimentos, preocupações, usos e costumes, e que efetivamente interagem entre si, dando origem a uma comunidade. A sociedade é o objeto de estudo das ciências sociais, especialmente da Sociologia.

Pessoas de nações distintas, unidas por tradições, crenças, ideais ou valores políticos e culturais comuns, em certas ocasiões são vistas como uma sociedade (por exemplo, Judaico-Cristã, Oriental, Ocidental etc.). Quando usado nesse contexto, o vocábulo tem por objeto comparar duas ou mais sociedades, cujos membros representativos se caracterizam por possuírem visões de mundo alternativas, competidoras e confl itantes.

Algumas defi nições particulares dadas ao termo sociedade são fornecidas a seguir (RUSS, J., 1994, p. 276):

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As revoluçõesindustriais modernas

A idéia de ciência como empreendimento social surgiu com a Revolução Industrial, na Inglaterra, iniciada por volta de 1750, perdurando até 1880. As invenções decorrentes dessa revolução foram resultantes de experimentos empíricos, produtos do engenho

artesanal e de um trabalho árduo e intenso de pessoas comprometidas com o desenvolvimento industrial. Durante esse período, as invenções não foram tantas, mas foram determinantes para o desenvolvimento tecnológico do mundo, sobretudo, no que diz respeito ao seu principal implemento, a máquina a vapor, desenvolvida por empresários habilidosos que só empregaram ocasionalmente os métodos científi cos, já que seus conhecimentos científi cos eram limitados. A medicina, por sua vez, progrediu principalmente no que diz respeito à higiene a ao combate das epidemias, fazendo surgir a vacina contra a varíola e aumentando a esperança de vida.

Foram características dessa revolução:

a utilização de carvão como fonte combustível;

o surgimento de transportes e, portanto, de uma economia regional;

a emersão da racionalidade e o recuo dos mitos e da religião como referência social;

a supremacia do capital, o que acentua as desigualdades sociais;

os primeiros êxitos da medicina no campo de vacinação.

Saint-Simon: “A sociedade não é uma simples aglomeração de seres vivos, cujas ações independentes de todo objetivo fi nal não têm outra causa senão o arbítrio das vontades individuais [...]; a sociedade, ao contrário, é, sobretudo, uma verdadeira máquina organizada, cujas partes contribuem de uma maneira diferente para a marcha do conjunto.”

Morin: “A sociedade, concebida como organização complexa de indivíduos diversos, fundada ao mesmo tempo na competição e na solidariedade, comportando um sistema de comunicações rico, é um fenômeno extremamente difundido na natureza.”

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O paradigma aqui em evidência é o da representação, o homem conhece e observa a realidade do meio em que está inserido. Ele é o ser dominante, tem a solução para os problemas reais que surgem no seu dia-a-dia.

Uma outra revolução industrial se dá entre 1880 e 1975, tendo como característica as primeiras utilizações da informação. O homem aprende a lidar com a energia elétrica, o que faz da máquina a vapor um instrumento obsoleto. As principais características dessa revolução são:

a utilização da eletricidade como fonte de energia;

o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos transportes e o surgimento de economias nacionais;

a racionalização sistemática;

o aumento da produtividade industrial e a diminuição das desigualdades;

o desenvolvimento da medicina preventiva com diagnósticos precisos e dos tratamentos médicos.

Nesse caso, o paradigma dessa revolução liga o desenvolvimento social à ascensão de uma indústria agora movida a energia elétrica sem levar em conta as alterações impingidas à natureza. Trata-se, pois, do domínio da natureza pelo homem.

A partir de 1975, uma nova revolução se processa, a da Informação, evidenciada por Goordon Moore, um dos fundadores da Intel, em 1968. Em um artigo publicado na revista Eletronics Magazine, no fi nal da década de sessenta, ele evidencia, após a invenção do circuito integrado em 1958, a duplicação anual do número de transistores por unidade de superfície do processador, principal constituinte do computador (DELAHAYE, 2001). Estimou, ainda, que essa duplicação perduraria dez anos.

Moore, em 1975, refez seu prognóstico. A partir da análise das difi culdades tecnológicas presentes, anunciou que daquele momento em diante, uma duplicação do número de transistores por unidade de superfície dos processadores se daria a cada dois anos.

Essas afirmações ficaram conhecidas como Leis de Moore. Não se trata de leis matemáticas ou físicas, mas de simples regras hipotéticas que permitem avaliar a evolução dos computadores. Elas foram marcantes para o desenvolvimento da informática, visto que serviram como desafi o a ser vencido pelos fabricantes de microprocessadores e, mais particularmente, para a Intel.

Vamos agora desenvolver um pequeno cálculo para testarmos a veracidade da Lei de Moore, na sua segunda versão. O processador Intel-4004, de 1971, possuía 2300 transistores por unidade de superfície. Por sua vez, o processador Intel-Pentium 4, lançado no fi nal de 2000, já possuía 42 milhões de transistores. Da relação 42.000.000/2.300 resulta o fator 18.261, que demonstra a ocorrência da evolução dos processadores em 29 anos e que nos permite estimar o fator: 18.261(2/29) = 1,97; valor bem próximo do fator 2 previsto por Moore.

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Atividade 9

O que você conclui a respeito da lei de Moore?

A revolução da informação caracteriza-se pelo fato de ter motivado a ocorrência de fatos extremamente signifi cativos, como:

priorização e valorização da informação em todas as áreas de atuação;

surgimento de uma economia globalizada hiperconcorrida;

aumento do grau de complexidade dos sistemas e das tomadas de decisões;

aumento das desigualdades sociais;

melhoria da saúde (expectativa de vida) e do conforto (moradia), bens ainda não acessíveis à classe pobre.

O paradigma associado à revolução da informação arrola o mundo virtual das imagens e dos dados globais, disponíveis a qualquer momento. Eles representam a realidade a partir da qual se estabelece o tipo de estratégia a ser desenvolvida na resolução de problemas.

Podemos, assim, associar o desenvolvimento tecnológico do mundo moderno a quatro períodos distintos da evolução humana, sendo estes:

< 1750 – desenvolvimento de uma tecnologia não científi ca;

1750 – 1880, no qual o homem começa a manipular tecnicamente a energia;

1880 – 1975, no qual o homem através da tecnologia começa a manipular os mecanismos associados à produtividade;

>1975, desenvolvimento de uma tecnologia associada à informação.

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Ciência, Tecnologia e Sociedade

Quem não se encanta com o professor Pardal, conselheiro científi co do Tio Patinhas, que com as suas invenções protege a famosa moeda número um, pertencente ao velho pão duro, dos meliantes irmãos Metralha? Dentre suas patentes, duas merecem especial

atenção, seu assistente Lampadinha, robô que pensa e age como ser humano, considerado sua maior invenção, e o oralicóptero, engenho cuja propulsão se dá a base de “quacs” do Pato Donald, sobrinho dileto do quaquilionário Patinhas. A evolução dos inventos de Pardal, no decorrer das várias edições da revista Tio Patinhas, pode servir como marco fundamental na idealização da imagem mental estabelecida pelo público leitor a respeito da relação que envolve a tríade CTS, da qual passaremos a falar.

A Ciência e a Tecnologia evoluíram efi cazmente a partir da segunda metade do século XX, fruto, entre outras coisas, da Guerra Fria ocorrida entre os Estados Unidos e a União Soviética, o que contribuiu para o surgimento de um novo campo de investigação científi ca associado ao domínio da Sociologia denominado Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), amplo movimento de repercussão mundial que vem infl uenciando a metodologia do ensino de ciências há mais de três décadas. A sua fi nalidade maior é instruir o cidadão, visando a sua participação efetiva em assuntos correlacionados à ciência e à tecnologia que contribuam efetivamente para a promoção do bem-estar social.

Muito embora tenhamos falado de ciência, tecnologia e sociedade separadamente, observamos em diferentes momentos da história que essa tríade sempre evoluiu em conjunto. Isso nos permite concluir que a separação entre as Ciências da Natureza e as Ciências Humanas, cultuada no início do século XX, é forçada, e se efetivamente quisermos evoluir cientifi camente, devemos pregar uma assimilação de conhecimento sistêmica e voltada para um desenvolvimento sustentável.

Interdisciplinar, esse domínio é extensamente explorado por cientistas de todos as áreas da ciência, sejam eles fi lósofos, especialistas em ciência da natureza, historiadores, sociólogos, algumas vezes, até mesmo por políticos e economistas. Porém, grande parte da sociedade vive alheia aos fatos científi cos do dia-a-dia. Para se ter uma idéia, Candotti destaca que mais de cem milhões de brasileiros não são alcançados por nenhum método de divulgação científi ca, situação que é preciso reverter (INVERNIZZI, 2005, p. 1). No entanto, para atenuar o quadro descrito não basta disseminar a informação científi ca no seio da sociedade. Antes de tudo, é necessário alfabetizá-la cientifi camente, a fi m de que ela possa interagir com a informação científi ca de forma signifi cativa.

Para compreendermos melhor o signifi cado do que seja alfabetização científi ca, vamos praticá-la fazendo uso do texto que trata a respeito de duas boas razões para se tomar banho, extraído do livro A ciência na vida cotidiana (INGRAM, 2004, p. 55). Diz o texto:

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Ao se baixar para entrar na banheira Arquimedes, um dos grandes matemáticos ocidentais, compreendeu que estava experimentando a solução de um problema que muito lhe afl igia, gritando Heureka! Heureka! (Achei!). Ele não poderia nem de longe imaginar que seria mais lembrado pela exclamação de euforia do que pela resolução do problema. Imagino que ele tenha corrido para casa para escrever a solução, mas essa parte da história nunca foi narrada.

O problema lhe tinha sido apresentado pelo rei Hierão, soberano de Siracusa e seu amigo íntimo. O rei havia recebido de presente uma coroa de ouro, mas tinha certa desconfi ança de que o ourives o tinha enganado e colocado prata na liga. Essa contaminação não teria sido visível e o problema era como determinar se, de fato, havia prata na coroa.

Presume-se que Arquimedes tenha descoberto a resposta enquanto entrava no banho, compreendendo que o volume de água que extravasou a banheira quando da sua entrada tinha de ser igual ao volume da parte do seu corpo que estava submersa. Supostamente, esse momento de discernimento inspirou Arquimedes a pensar no teste crucial que confi rmaria ou negaria a pureza da coroa.

Arquimedes sabia que o ouro é mais denso do que a prata, de modo que o volume de uma coroa feita de ouro puro seria menor que o de uma coroa de mesmo peso que contivesse ouro e prata. Visto que havia uma única coroa, a que estava em discussão, com o que ela poderia ser comparada? É daí que a banheira se torna útil já que uma peça de ouro que pese um quilo, quando depositada em uma banheira, deslocará o mesmo volume de água, seja ela uma massa informe ou uma coroa delicadamente trabalhada. Arquimedes precisava apenas encontrar uma peça de ouro que tivesse o mesmo peso da coroa e depois comparar o volume de água deslocado por cada uma delas.

Assim, Arquimedes comprovou a fraude do ourives que fabricou a coroa. Provavelmente você já deve ter imaginado a pena estabelecida por Hierão para o famigerado meliante.

HEUREKA!!

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Atividade 10

A partir da leitura realizada, verifi caremos seu grau de discernimento quanto à compreensão do texto. Para isso, assinale a resposta correta correspondente às duas primeiras questões.

Qual a nacionalidade de Arquimedes?

a) Egípcio;

b) Grego;

c) Romano;

d) Árabe.

A propriedade física que permitiu Arquimedes comprovar a adulteração da coroa real foi

e) a viscosidade da água;

f) a densidade da água;

g) a densidade dos metais;

h) a dureza dos metais.

Justifi que literalmente a resposta dada à questão anterior.

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Buscamos com isso demonstrar que a exclusão social em relação à informação e à cultura ainda é grande o sufi ciente para que a sociedade assimile os progressos científi cos e tecnológicos que têm ocorrido no mundo em evolução. Dessa forma, assimila e externa melhor a ciência quando chamada a opinar a respeito dos temas científi cos em evidência, com base nos conhecimentos adquiridos através das práticas educativas tão bem expressas nos PCN’s para os Ensino Fundamental e Médio.

Por fi m, lembramos que a educação e a alfabetização científi cas são processos voltados não somente para a aquisição do conhecimento acumulado pela ciência. Mas também, para a auto-afi rmação do cidadão autônomo, capaz de visualizar em escala histórica os grandes problemas que vêm assolando a sociedade, como também tomar parte no debate e se empenhar em resolvê-los.

Desde já, esperamos que a partir deste momento você seja capaz de formular a sua própria defi nição do que seja Ciência, Tecnologia e Sociedade.

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ResumoNesta aula, você tomou conhecimento das origens e conceitos associados à Ciência, à Tecnologia e à Sociedade. Ao ler a respeito do desenvolvimento intelectual do homem, aprendeu que as duas primeiras grandes revoluções tecnológicas desencadeadas por ele foram as associadas ao domínio do fogo e ao domínio da produção de metais. Atingida a sua maturidade científi ca, o homem foi capaz de produzir a máquina a vapor, dominar a eletricidade e evoluir progressivamente para o domínio da informação através do fabrico de computadores. Muito embora a ciência no último século tenha evoluído mais do que em toda a existência da humanidade, e com isso tenhamos alcançado níveis tecnológicos importantes nas áreas de medicina, comunicação, biologia, novos materiais e na indústria armamentista, grande parte da sociedade padece de necessidades básicas, como alimentação e saúde.

Auto-avaliação Assistir ao fi lme Tempos Modernos (Charles Chaplin) e fazer as anotações necessárias à preparação de um resumo que retrate a mensagem dele. Após assisti-lo, como você conceitua tecnologia?

Com base nos conceitos trabalhados nesta aula e no resumo preparado na atividade anterior, estabeleça as diferenças existentes entre ciência e tecnologia.

Tecnologia e técnica são sinônimos?

Qual o papel a ser desempenhado pela sociedade frente à Ciência e à Tecnologia? Você acha que ela desempenha seu papel a contento?

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Leitura complementarCASCUDO, L. C. Civilização e Cultura. São Paulo: Global, 2004.

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ARISTÓTELES. A política. Livro I. Rio de Janeiro: Edição de Ouro, [19__?].

BRONOWSKI, J. A escalada do homem. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

CASCUDO, L. C. Civilização e cultura. São Paulo: Global, 2004.

COMTE, A. Catechisme positiviste. Paris: Chez l’auteur, 1852.

DELAHAYE, J-P. Jusqu’où l’ordinateur calculera-t-il? Revue Pour la Science. n. 283, 2001. Disponível em: <http://www.pourlascience.com/php/pls/article_integral.php?idn3=1500>. Acesso em: 16 mar. 2005.

FABIAN, A. C. (Org). Evolução – Sociedade, Ciência e Universo. Bauru: EDUSC, 1998.

FURLAN, F. M. Integração & soberania: o Brasil e o Mercosul. São Paulo: Aduaneiras, 2004.

INVERNIZZI, N. Jornal da Ciência, n. 2769, maio 2002.

INGRAM, J. A ciência na vida cotidiana. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S. A., 2004.

JANET, P. Les débuts de l’intelligence. Paris: Ernest Flammarion, 1935.

JARROSSON, B. Humanismo e técnica. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.

KNELLER, G. F. A Ciência como atividade humana. São Paulo: Zahar/Edusp, 1978.

LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da fi losofi a. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

LEVI, P. A tabela periódica. Rio de Janeiro: Relume – Dumará, 1994.

LUTZENBERGER, J. A. Ciência e tecnologia – onde está a mentira? Disponível em: <http://www.fgaia.org.br/texts/t-cietec.html>. Acesso em: 26 fev. 2005.

RUSS, J. Dicionário de fi losofi a. São Paulo: Scipione, 1994.

SIMAAN, A.; FONTAINE, J. A imagem do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

SUASSUNA, Ariano. Lápide. Disponível em: <www.secrel.com.br/jpoesia/ari05.html>. Acesso em: 20 ago. 2005.

TRANCOSO, B. Sonetos.com.br. Disponível em: <http://www.sonetos.com.br/famosos.php>. Acesso em: 20 mar. 2005.

Referências

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EMENTA

> Franklin Nelson da Cruz

> Gilvan Luiz Borba

> Luiz Roberto Diz de Abreu

A Ciência e seus métodos, levantamento da realidade local, o Universo, o Sistema Solar e a Terra, a atmosfera e o clima, a biosfera, a hidrografi a, a fl ora e a fauna, a interferência humana no meio ambiente, uma primeira identifi cação de problemas ambientais.

CIÊNCIAS DA NATUREZA E REALIDADE – INTERDISCIPLINAR

AUTORES

AULAS

01 Situando a Ciência no Espaço e no Tempo

02 A Terra – litosfera e hidrosfera

03 A Terra – atmosfera

04 Bioma Caatinga – recursos minerais

05 Bioma Caatinga – recursos hídricos

06 Bioma Caatinga – recursos fl orestais e fauna

07 Interação Sol – Terra: fl uxos de Energia

08 Clima e tempo

09 O Homem – origens

10 A Hipótese Gaia

11 Poluição

12 Ciência e ética

13 Ciência, Tecnologia e Sociedade

14 Universo: uma breve apresentação

15 O Nordeste, o Homem e a Seca: natureza de uma realidade

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