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16 DIÁLOGO 26 • 1 2014 Lameque, a nona geração de Adão John Wesley Taylor V e John Wesley Taylor VI Sim, eu sou Lameque, filho de Matusalém. Disseram-me que você queria falar comigo, e agora é um bom momento, já que o reagrupamento fami- liar das dez gerações de Adão não vai começar por algum tempo. Pelo que me foi dito, você, que viveu e testemunhou os momentos finais da Terra, deseja saber mais sobre o que aconteceu entre a criação e o dilúvio. Essa é uma tarefa difícil – foram mais de 1.650 anos de história do mundo! Adão Lembro-me de que, quando eu ainda era jovem, 56 anos, Adão morreu. Foi um choque para todos nós. É verdade que outras pessoas já haviam morrido – alguns por causa da violência, outros devido a acidentes, e alguns dos descen- dentes de Caim por causas naturais. Mas o homem a quem o próprio Deus tinha formado, que tinha estado no Éden e comera do fruto e das folhas da árvore da vida, um homem robusto, que nunca havia ficado doente, depois de ter vivido por 930 anos, de repente deixar de viver foi um golpe muito difícil. Durante aqueles 56 anos, no entan- to, tive muitas oportunidades de pas- sar algum tempo com Adão. Ele era impressionante – o dobro da altura dos homens que viveram no final da histó- ria da Terra; forte e vigoroso, com um semblante corado e olhos brilhantes, penetrantes. Que vasto conhecimento ele possuía! Você poderia perguntar qual- quer coisa que ele lhe daria a resposta. Não porque tivesse uma grande bibliote- ca. Não tínhamos nenhum livro porque eles não eram necessários. Nunca nos esquecíamos de nada. Entre as coisas de que mais me lembro estão as experiências que Adão contava. O Éden era um pedaço do Céu. Tudo era tranquilo e bonito. Adão e Eva conversavam com os anjos e cuidavam do jardim. No centro do Éden estava a árvore da vida, cujos frutos pareciam maçãs de ouro, salpicadas de prata. Um dia, porém, tudo mudou. Adão e Eva sabiam a respeito do teste da árvore. Eles sabiam sobre Lúcifer e a grande batalha que houve no Céu. Sabiam que não deviam se separar. Mas Eva não estava satisfeita e começou a duvidar do que Deus lhes havia dito. A serpente, reluzente como o ouro polido, estava comendo o fruto da árvore do conhe- cimento do bem e do mal. Eva ficou curiosa, intrigada, fascinada. Ela pegou o fruto e o comeu. Então levou alguns para Adão, como a serpente lhe havia sugerido. Adão compreendeu imediatamente o que havia acontecido e estava convencido de quais seriam as consequências. Ele disse à Eva que tinha certeza de que ela estivera conversando com o inimigo. Mas Adão não queria perder Eva, aquela mulher tão bonita. Então, impulsiva- mente, decidiu compartilhar do seu destino. Ele pegou o fruto e o comeu também. Eles tiveram de deixar o Éden Lembro-me, quando era moço, de ter olhado o Éden pela entrada do jardim. Se você ainda não fez isso, deve fazer um um passeio até lá para vê-lo. Não é longe da Cidade Santa. Do lado de fora do jardim, os efeitos do pecado logo começaram a ser sen- tidos. O clima tornou-se imprevisível. Espinhos apareceram em algumas das mais belas plantas. Adão me contou que, quando eles viram a primeira folha cain- do de uma das árvores, choraram como se tivessem perdido um amigo querido. Caim e Abel Depois de alguns anos, nasceu o primeiro filho de Adão. Adão e Eva ficaram bastante surpresos – o pequeno ser, no início, não tinha dentes, não andava nem falava. Eles o chamaram de Caim. Pensavam que ele seria o Messias. Depois de mais algum tempo, outro filho nasceu, e eles o chamaram de Abel. À medida que crescia, Caim começou a queixar-se amargamente porque não podia entrar no Éden. Ele ficava bastan- te rebelde quando a família ia perante os querubins, à entrada do jardim, para oferecer sacrifícios. Abel, no entanto, afirmava que Deus fora misericordioso em permitir que seus pais continuassem vivendo, mesmo após sua desobediência. As palavras e a vida de Abel irrita- vam Caim, e, um dia, em um acesso de raiva, ele o silenciou. Como é triste ver que Caim, a primeira nova vida a nascer sobre a Terra, foi o primeiro a tirar a vida de alguém na Terra. Adão e Eva perderam ambos os filhos naquele dia. Caim fugiu para o leste e passou a viver na terra de Node, perto do rio Eufrates. Era uma terra menos fértil. Lá, construiu uma cidade fortificada, que ele chamou de Enoque. Os descendentes de Caim começaram a se multiplicar. Muitos, como Irade, seu neto, viveram amontoados na cidade, deixando outras partes da Terra quase desertas. Um dos descendentes de Caim, Tubalcaim, tornou-se especialista em metais e começou, depois de um tempo, a fabricar armas de guerra de bronze e de ferro. Outro, Jubal, inventou vários tipos de instrumentos musicais, embora não os usasse para fins sagrados. Os descendentes de Caim tentaram se esquecer de Deus. Construíram mag- níficos edifícios – palácios, templos, jar- dins e amplas avenidas sombreadas com árvores frutíferas. Eles fizeram ídolos e plantaram bosques que dedicavam a esses ídolos. Os cainitas também deixa- ram de lado a sua reverência ao sábado. Continuamente, eles tentavam superar uns aos outros, enfeitando-se e adornan- do suas casas com ouro, prata e pedras preciosas. O resultado dessa rivalidade foi violência e derramamento de sangue.

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16 DIÁLOGO 26 • 1 2014

Lameque, a nona geração de Adão

John Wesley Taylor V e John Wesley Taylor VI

Sim, eu sou Lameque, filho de Matusalém. Disseram-me que você queria falar comigo, e agora é um bom momento, já que o reagrupamento fami-liar das dez gerações de Adão não vai começar por algum tempo.

Pelo que me foi dito, você, que viveu e testemunhou os momentos finais da Terra, deseja saber mais sobre o que aconteceu entre a criação e o dilúvio. Essa é uma tarefa difícil – foram mais de 1.650 anos de história do mundo!

AdãoLembro-me de que, quando eu ainda

era jovem, 56 anos, Adão morreu. Foi um choque para todos nós. É verdade que outras pessoas já haviam morrido – alguns por causa da violência, outros devido a acidentes, e alguns dos descen-dentes de Caim por causas naturais. Mas o homem a quem o próprio Deus tinha formado, que tinha estado no Éden e comera do fruto e das folhas da árvore da vida, um homem robusto, que nunca havia ficado doente, depois de ter vivido por 930 anos, de repente deixar de viver foi um golpe muito difícil.

Durante aqueles 56 anos, no entan-to, tive muitas oportunidades de pas-sar algum tempo com Adão. Ele era impressionante – o dobro da altura dos homens que viveram no final da histó-ria da Terra; forte e vigoroso, com um semblante corado e olhos brilhantes, penetrantes. Que vasto conhecimento ele possuía! Você poderia perguntar qual-quer coisa que ele lhe daria a resposta. Não porque tivesse uma grande bibliote-ca. Não tínhamos nenhum livro porque eles não eram necessários. Nunca nos esquecíamos de nada.

Entre as coisas de que mais me lembro estão as experiências que Adão contava. O Éden era um pedaço do Céu. Tudo era tranquilo e bonito. Adão e Eva conversavam com os anjos e cuidavam do jardim. No centro do Éden estava

a árvore da vida, cujos frutos pareciam maçãs de ouro, salpicadas de prata.

Um dia, porém, tudo mudou. Adão e Eva sabiam a respeito do teste da árvore. Eles sabiam sobre Lúcifer e a grande batalha que houve no Céu. Sabiam que não deviam se separar. Mas Eva não estava satisfeita e começou a duvidar do que Deus lhes havia dito. A serpente, reluzente como o ouro polido, estava comendo o fruto da árvore do conhe-cimento do bem e do mal. Eva ficou curiosa, intrigada, fascinada. Ela pegou o fruto e o comeu. Então levou alguns para Adão, como a serpente lhe havia sugerido.

Adão compreendeu imediatamente o que havia acontecido e estava convencido de quais seriam as consequências. Ele disse à Eva que tinha certeza de que ela estivera conversando com o inimigo. Mas Adão não queria perder Eva, aquela mulher tão bonita. Então, impulsiva-mente, decidiu compartilhar do seu destino. Ele pegou o fruto e o comeu também.

Eles tiveram de deixar o ÉdenLembro-me, quando era moço, de ter

olhado o Éden pela entrada do jardim. Se você ainda não fez isso, deve fazer um um passeio até lá para vê-lo. Não é longe da Cidade Santa.

Do lado de fora do jardim, os efeitos do pecado logo começaram a ser sen-tidos. O clima tornou-se imprevisível. Espinhos apareceram em algumas das mais belas plantas. Adão me contou que, quando eles viram a primeira folha cain-do de uma das árvores, choraram como se tivessem perdido um amigo querido.

Caim e Abel Depois de alguns anos, nasceu o

primeiro filho de Adão. Adão e Eva ficaram bastante surpresos – o pequeno ser, no início, não tinha dentes, não andava nem falava. Eles o chamaram de

Caim. Pensavam que ele seria o Messias. Depois de mais algum tempo, outro filho nasceu, e eles o chamaram de Abel.

À medida que crescia, Caim começou a queixar-se amargamente porque não podia entrar no Éden. Ele ficava bastan-te rebelde quando a família ia perante os querubins, à entrada do jardim, para oferecer sacrifícios. Abel, no entanto, afirmava que Deus fora misericordioso em permitir que seus pais continuassem vivendo, mesmo após sua desobediência.

As palavras e a vida de Abel irrita-vam Caim, e, um dia, em um acesso de raiva, ele o silenciou. Como é triste ver que Caim, a primeira nova vida a nascer sobre a Terra, foi o primeiro a tirar a vida de alguém na Terra. Adão e Eva perderam ambos os filhos naquele dia. Caim fugiu para o leste e passou a viver na terra de Node, perto do rio Eufrates. Era uma terra menos fértil. Lá, construiu uma cidade fortificada, que ele chamou de Enoque.

Os descendentes de Caim começaram a se multiplicar. Muitos, como Irade, seu neto, viveram amontoados na cidade, deixando outras partes da Terra quase desertas. Um dos descendentes de Caim, Tubalcaim, tornou-se especialista em metais e começou, depois de um tempo, a fabricar armas de guerra de bronze e de ferro. Outro, Jubal, inventou vários tipos de instrumentos musicais, embora não os usasse para fins sagrados.

Os descendentes de Caim tentaram se esquecer de Deus. Construíram mag-níficos edifícios – palácios, templos, jar-dins e amplas avenidas sombreadas com árvores frutíferas. Eles fizeram ídolos e plantaram bosques que dedicavam a esses ídolos. Os cainitas também deixa-ram de lado a sua reverência ao sábado.

Continuamente, eles tentavam superar uns aos outros, enfeitando-se e adornan-do suas casas com ouro, prata e pedras preciosas. O resultado dessa rivalidade foi violência e derramamento de sangue.

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SeteAdão tinha 130 anos quando seu

terceiro filho nasceu. Eles o chamaram de Sete, o “Substituto”. Ele tinha uma estatura mais nobre que a de Caim ou Abel e se parecia com Adão mais do que qualquer um de seus filhos. Por meio dele teve início a linhagem dos patriar-cas, à qual eu pertenço.

Sete estava com 105 anos quando seu filho Enos nasceu. Nos dias de Enos, os descendentes de Sete, que amavam a Deus, começaram a ser conhecidos como “filhos de Deus”. Durante séculos, eles se encontraram na entrada do Éden para adorar a Deus e oferecer sacrifícios.

O filho de Enos foi Cainã, e o filho de Cainã, Maalalel, o primeiro dos patriarcas a morrer antes de atingir a idade de 900 anos. O filho de Malalel era Jarede, que foi o pai de meu avô Enoque.

Filhos de Deus e dos homensNaquela época, os descendentes de

Caim começaram a se espalhar para fora da terra de Node. Eles invadiram as pla-nícies e vales onde nós, os descendentes de Sete, estávamos vivendo.

Os descendentes de Caim eram cha-mados de “filhos dos homens”. Devido ao seu estilo de vida, os cainitas come-çaram a perder a vitalidade, a nobreza e a estatura. E, ao perderem a semelhança divina, começaram a morrer mais cedo. Muitos eram polígamos. Lameque, o cainita, por exemplo, tinha duas mulhe-res – “Ornamento” e “Sonido”, ou Ada e Zilá. O fato de terem mais de uma espo-sa, no entanto, trouxe muita infelicidade e perversão. Esse foi um dos grandes pecados que acarretou a ira de Deus sobre o nosso mundo.

Os descendentes de Sete, os “filhos de Deus”, no entanto, eram leais aos princípios ordenados por Deus e conser-varam a sua força e estatura de geração em geração. Assim, passaram a ser vistos pelos cainitas como gigantes.

Quando os cainitas invadiram a nossa terra, entraram com grande violência, levando armamentos de guerra; muitos dos descendentes de Sete, um povo

amante da paz, tiveram de fugir para as montanhas. Depois de algum tempo, no entanto, alguns dos setitas aventuraram- se a voltar novamente para as planícies e começaram a se associar com os cainitas. Eles viram que as filhas dos cainitas eram bonitas, e muitos deles tomaram esposas dentre as filhas dos homens. Eles as escolheram não por suas virtudes, mas por atração física.

Os filhos provenientes dessas uniões também eram de grande estatura e força, como seus pais. Mas ninguém os instruiu nos caminhos do Senhor. Eles cresceram indisciplinados, rebeldes, cheios de vícios e sem princípios morais. O resultado foi uma grande apostasia.

EnoqueQuando meu avô Enoque nasceu, a

sétima geração depois de Adão, tinha Adão 622 anos de idade. Enoque teve, portanto, a oportunidade de conhecer, por meio de Adão, a triste história da queda do homem e da promessa preciosa de que o Filho de Deus viria para salvar a nossa raça caída. Adão, que havia con-versado com Deus no Éden, também instruiu Enoque na Lei de Deus.

Meu avô era um homem muito sábio, sua mente era brilhante e possuía gran-de conhecimento. Era, porém, manso, humilde, cortês e compassivo.

Enoque também tinha grandeza e coragem moral. Separou-se dos descen-dentes de Caim e foi viver nas monta-nhas. Ele queria manter sua família em um ambiente o mais puro possível. Não queria se misturar com os ímpios em seu dia a dia, que, cheios de orgulho, trans-grediam a Lei de Deus abertamente. Ele temia ser influenciado pela infidelidade daquele povo e, assim, perder a reverên-cia a Deus.

Nas montanhas, Enoque passou muito tempo sozinho, em meditação e oração. Ele orava para que pudesse conhecer a vontade de Deus e a cumprir fielmente.

Enoque tinha 65 anos quando seu filho Matusalém nasceu. Mesmo tendo Enoque amado a Deus e honrado os Seus mandamentos durante os primeiros

anos, após o nascimento de seu primeiro filho, ele alcançou uma experiência espi-ritual mais elevada. Quando começou a compreender a profundidade do amor de um pai e da total confiança de uma criança indefesa, entendeu mais clara-mente o amor de Deus e sua relação para com o Criador. Esse foi o início de sua caminhada com Deus.

Você deve entender que o andar de Enoque com Deus não quer dizer que eles iam passear e andar juntos pelos prados. Nem significa um transe ou uma visão. Enoque, de fato, nunca viu Deus face a face.

Sua caminhada com Deus estava em tudo o que ele fazia. Nas preocupações da vida cotidiana, ele sempre pergun-tava: “É esse o caminho do Senhor? É isso aceitável a Deus?” Ser semelhante a Deus era o grande desejo que enchia o seu coração. Verdadeiramente, ele che-gou a ter a mente de Cristo.

Uma coisa, porém, preocupava Enoque. Os cainitas costumavam gabar- se: “Não há recompensa para o justo, nem punição para os ímpios.” E os filhos de Deus se perguntavam: “O que temos a ganhar por termos temido ao Senhor e guardado a Seus mandamen-tos, se a morte é o fim de todos nós?” Até mesmo Enoque se perguntava: “O que realmente acontece com uma pessoa ao morrer?” Ele orou a Deus sobre esse dilema, e Deus lhe respondeu.

Em visão, Enoque viu a vida de Cristo, Sua morte e ressurreição. Ele viu Sua segunda vinda, o fim do mundo e a ressurreição dos justos. Viu a Cidade Santa e como novamente teríamos a possibilidade de viver no Éden. Ele viu a ressurreição dos ímpios depois do milê-nio e sua destruição pelo fogo. Anjos também o visitaram e o informaram de que Deus iria em breve enviar um dilú-vio para destruir os ímpios. Foi assim que Enoque passou a ser o primeiro profeta.

Quando Enoque voltava para casa, após passar esses momentos de comu-nhão com Deus, seu rosto ficava ilumi-nado com uma luz sobrenatural. Isso causava profunda reverência em todos os

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que o viam; até os ímpios e os escarne-cedores ficavam impressionados. Ele era verdadeiramente uma luz brilhando na escuridão.

Enoque, no entanto, não era um eremita. Ele acreditava que tinha um trabalho a fazer para Deus. Embora não vivesse na cidade, costumava ir até esses lugares para levar a salvação a seus habitantes. Ele não só trabalhou entre os setitas, mas viajou até mesmo para a terra de Node, para onde Caim havia ido na tentativa de fugir da presença de Deus. Eu ainda posso ouvi-lo dizendo: “Deus está vindo com milhares de Seus santos anjos. Ele vai salvar os justos e destruir os ímpios. Oh, arrependam-se e convertam-se dos seus maus caminhos. Deus ama vocês e os quer salvar.”

Depois de estar em contato com aqueles homens, ele partia novamente para passar mais algum tempo a sós com Deus. Às vezes, levava com ele alguns que haviam aceitado a mensa-gem. Outras pessoas iam procurá-lo nos lugares onde ele costumava ficar mais isolado em comunhão com Deus, e ali ele os instruía e orava por eles. Mas, por vezes, ele acabava ficando a sós um certo período de tempo, de maneira que ninguém o encontrasse e interrompesse a sua comunhão com Deus. Após esses períodos de ausência, ele então voltava para se encontrar com os justos e os ímpios em tempos e luga-res determinados.

Em síntese, meu avô Enoque andou com Deus durante 300 anos. Então, certo dia, quando eu tinha 113 anos de idade e ele 365, Deus enviou Seus anjos para o levarem para o Céu. Na presença dos justos e também dos ímpios que o odiavam, os Céus se abriram, e ele foi levado.

Devemos entender que Enoque foi levado para o Céu não simplesmente como uma forma de recompensa por uma vida santa, mas para nos confirmar a certeza da promessa de Deus e de Seu poder para nos salvar do pecado e da morte. Talvez em breve você tenha a oportunidade de conversar com Enoque. Ele agora tem mais de 5 mil anos de

idade; foi o primeiro da raça humana a entrar pelos portões da Cidade Santa.

Nossa famíliaMeu pai, Matusalém, nasceu quando

Adão tinha 687 anos de idade. De tudo o que meu avô Enoque lhe contou, o que mais o impressionou foi a notícia de que estava para vir uma grande enchente. Quando eu nasci, era a nona geração de Adão, e ele tinha 874 anos. O que mais me vem à memória daqueles primeiros anos é o quanto tínhamos de trabalhar a fim de cultivar a terra.

Estávamos vivendo nas montanhas de Havilá. Os cainitas e setitas que aban-donaram sua fé haviam se juntado todos na fértil planície do rio Pison. Haviam cobiçado aquela terra também porque nela havia muito ouro e pedras precio-sas. Na montanha, era bem mais difícil trabalhar a terra, e eu não tive ninguém para me ajudar por 182 anos, até que meu filho nasceu.

Quando ele chegou, eu me lembro de ter exclamado: “Agora, finalmente, temos alguém que pode nos ajudar a lavrar esta terra!” E eu lhe dei o nome de “Descanso Tranquilo”. É isso mesmo, mas você o conhece como Noé.

O mundo antediluviano Noé foi da décima geração desde

Adão; embora nunca tenha tido a oportunidade de conversar com Adão ou Enoque, Noé também andava com Deus.

Por várias vezes, Noé me perguntou se o dilúvio viria enquanto ele estivesse vivo. Você sabe, a raça humana se mul-tiplicou rapidamente até que houve uma vasta população sobre a terra, e o mundo se encheu de crime e violência. Guerra, roubo e assassinato eram a ordem do dia. Se alguém desejasse ter os bens ou a mulher do seu vizinho e conseguisse vencê-lo e matá-lo, não hesitaria e, em seguida, se vangloriaria de suas façanhas violentas.

A justiça fora lançada por terra. Os fortes não só violavam os direitos dos mais fracos, mas os obrigavam a comete-rem atos criminosos e de violência. Eles

também se gloriavam em tirar a vida dos animais e os destruir. Eles, então, os devoravam, e isso estimulava ainda mais a violência e desumanidade de sua natureza vil, fazendo com que olhassem para a vida humana com espantosa indi-ferença.

Se houve um pecado mais grave que qualquer outro, no entanto, que provo-cou a destruição da raça humana pelo dilúvio, foi a mescla perversa de animais uns com os outros e com os homens. Isso trouxe confusão em todos os luga-res e desfigurou a imagem de Deus na humanidade. Dessa engenharia genética, resultaram animais estranhos, criaturas que Deus não havia criado e que não tiveram nomes dados por Adão. Quando veio o dilúvio, Deus preservou na arca apenas as espécies que Ele havia criado.

Os avanços científicos e tecnológicos do mundo antediluviano foram incrí-veis. Você pensa que o seu mundo era sofisticado? Você devia ter vivido antes do dilúvio. As invenções da ciência, arte e tecnologia que pereceram no dilúvio eram maiores do que as que eu conheci depois dele. Ganhamos esse conheci-mento por estudar cuidadosamente a forma e os hábitos dos diferentes ani-mais, como usavam seus corpos e como eles se defendiam. Além disso, tínhamos vidas de quase mil anos para reunir conhecimentos e nunca esquecíamos o que havíamos aprendido.

Como clímax de todos os seus peca-dos, os cainitas e os descendentes após-tatas de Sete decidiram tomar o Jardim do Éden e a árvore da vida à força. Eles se armaram e treinaram. Mas naquele dia, o Éden deixou de existir na Terra. Deus, em Sua misericórdia, levou-a para o Céu, para que o cainitas não pere-cessem antes que tivessem uma última oportunidade de ouvir a mensagem da salvação. Deus também desejava pre-servar uma amostra de Sua criação sem mancha de pecado a fim de devolvê-la para aqueles que haviam sido fiéis.

A arca Noé tinha 500 anos de idade quando

seu primeiro filho nasceu, a quem deram

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o nome de “Bonito”, Jafé. Dois anos depois, Sem nasceu, e então Cam. Cada um desses filhos encontrou uma jovem que amava a Deus – o que não era fácil – e se casou.

Enquanto isso, Deus falou com Noé sobre um dilúvio universal que viria. Ele disse que seria um juízo pela maldade dos habitantes da Terra. O mundo intei-ro seria destruído, exceto aqueles que se arrependessem e voltassem para os Seus caminhos. Deus também mencionou uma arca. Noé ficou surpreso quando ouviu falar na arca e ficou ainda mais surpreso quando percebeu que ele era o escolhido para construí-la. Veja bem, meu filho não tinha experiência prévia em construção de barcos ou em nave-gação.

Noé não era rico, mas, a partir do momento em que Deus falou com ele, investiu tudo o que tinha na construção da arca. Foi construída com madeira das acácias – árvores de cerca de 122 m de altura, com uma grã muito fina, duras como pedra. Demandou muito tempo e esforço trabalhar a acácia, até mesmo para a nossa raça antes do dilúvio. Tivemos então que revestir a madeira da arca com resina por fora e por dentro, preenchendo cada fenda.

A arca parecia um barco na parte inferior e um enorme edifício na parte superior. Ela possuía três níveis, com uma janela que tinha o comprimento de toda a estrutura iluminando cada um dos níveis.

A arca se tornou uma grande atração. As pessoas vinham de longe e de perto para ver. Noé, juntamente com o meu pai Matusalém e outros começaram a pregar sobre o dilúvio. Era a mesma mensagem que o meu avô Enoque havia anunciado.

Em primeiro lugar, uma grande mul-tidão dos descendentes de Caim acredi-tou na mensagem. Alguns, no entanto, continuaram em seus vícios e, depois de um tempo, juntaram-se às fileiras dos escarnecedores. Outros foram dissua-didos pelos descendentes de Sete e se juntaram aos cainitas. Na verdade, esses setitas apóstatas foram os que lideraram

a rejeição à mensagem de Noé. Alguns dos trabalhadores que Noé contratou, no entanto, creram fielmente na mensagem, mas morreram antes do dilúvio.

Embora a oposição à mensagem de Noé não fosse universal, com o passar dos anos, tornou-se forte e intensa. “Vejam há quantos anos Noé está pre-gando e nada ainda aconteceu. Todo o dia é a mesma coisa. O sol continua sempre brilhando. O céu está sempre azul.” “Os cientistas sabem o que estão falando. É impossível que a água cubra a terra. Simplesmente não há muita água.” “Água que cai do céu? Que ideia absur-da! O céu não pode conter água! Mesmo que chovesse, não iria cobrir essas mon-tanhas. Seria para lá que eu fugiria.”

E assim eles ridicularizavam, cari-caturavam e criticavam Noé. Eles o chamavam de fanático louco, alarmista. Zombavam da sinceridade e emoção intensa com que os advertia do juízo vindouro. Eles celebraram um grande carnaval, sendo Noé e a arca o centro da atração. Parecia que o mundo inteiro tinha vindo. Os cientistas se levantaram e falaram sobre as leis que controlavam a natureza: “Senhoras e senhores, as leis da natureza são fixas e imutáveis; até mesmo o próprio Deus não vai e, de fato, não pode alterá-las.” Os teólogos anunciaram: “Amadas pessoas, vocês simplesmente devem entender que não estaria em harmonia com o caráter de Deus destruir os seres que Ele mesmo criou e só salvar Noé e sua família de uma inundação.” Os filósofos se apro-ximaram e sugeriram que a construção daquele imenso navio em terra seca era uma parábola, por meio da qual Noé falava em sentido figurado, com metáfo-ras e símbolos. E todo mundo continuou como sempre – comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento.

Conclusão Todos os dias, exceto aos sábados,

nós trabalhamos juntos – meu pai Matusalém, meu filho Noé, e eu – cons-truindo a arca... E isso é tudo de que eu me lembro. Com 777 anos de idade, eu fui o primeiro patriarca a morrer antes

do próprio pai. Depois da ressurreição, eu descobri que meu pai Matusalém viveu por mais alguns anos, morrendo no próprio ano do dilúvio, com 969 anos. Exceto pela família de Noé, todos os meus parentes e amigos mais queridos pereceram no dilúvio. Se tivessem crido na mensagem de Noé e aceitado o plano da salvação de Deus, eles poderiam ter sido salvos...

Oh, aí vem Enoque. Ele chegou da Cidade Santa, onde mora. Veja, ele carrega um ramo de palmeira na mão direita. Em cada folha está escrita a palavra “vitória”. Em sua cabeça, há uma coroa brilhante com folhas brancas. No meio de cada folha está escrita a palavra “pureza”. Na coroa há pedras preciosas de inumeráveis cores que refletem e ampliam as palavras. A coroa é mantida no lugar com uma fita sobre a qual está escrita a palavra “santidade”. Acima do ramo de loureiro, a sua coroa brilha mais que o sol.

Parece que a reunião de família das dez gerações de Adão está prestes a começar, e eu tenho de me despedir, mas nós realmente precisamos passar mais tempo conversando. Você tem de me contar sobre os eventos finais da his-tória da Terra e sobre a sua experiência naqueles dias tão importantes, naquelas horas finais.

“E como nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do Homem” (Mateus 24:37).

John Wesley Taylor V (Ph.D. pela Universidade Andrews; Ed.D. pela Universidade de Virgínia) trabalha como diretor associado do Departamento de Educação na Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia . Ele também é editor da Diálogo Universitário. E-mail: [email protected].

John Wesley Taylor VI é estudante uni-versitário na Universidade Adventista Southern.