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  Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde ISSN: 1415-6938 [email protected] Universidade Anhanguera Brasil Teixeira Tavano, Patricia ANATOMIA DO RECÉM NASCIDO E DA CRIANÇA: CARACTERÍSTICAS GERAIS Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. XII, núm. 1, 2008, pp. 63-75 Universidade Anhanguera Campo Grande, Brasil Disponível em: http://www.r edalyc.org/articulo. oa?id=26012806006  Como citar este artigo  Número completo  Mais artigos  Home da rev ista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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  • Ensaios e Cincia: Cincias Biolgicas,Agrrias e da SadeISSN: [email protected] AnhangueraBrasil

    Teixeira Tavano, PatriciaANATOMIA DO RECM NASCIDO E DA CRIANA: CARACTERSTICAS GERAIS

    Ensaios e Cincia: Cincias Biolgicas, Agrrias e da Sade, vol. XII, nm. 1, 2008, pp. 63-75Universidade Anhanguera

    Campo Grande, Brasil

    Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26012806006

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    Projeto acadmico sem fins lucrativos desenvolvido no mbito da iniciativa Acesso Aberto

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    Ensaios e Cincia: C. Biolgicas, Agrrias e da Sade Vol. XII, N. 1, Ano 2008

    Patricia Teixeira Tavano

    Faculdade Anhanguera de Taubat

    [email protected]

    ANATOMIA DO RECM NASCIDO E DA CRIANA: CARACTERSTICAS GERAIS

    NEW BORN AND INFANT ANATOMY: GENERAL ASPECTS

    RESUMO

    A anatomia humana uma cincia secular, que se prope a estu-dar a constituio do corpo humano com descries e correlaes estruturais. No entanto, as publicaes da anatomia humana em lngua portuguesa concentram-se na anatomia do adulto mdio, em detrimento das caractersticas da anatomia do recm nascido e da criana. Este estudo se props a organizar os aspectos bsicos da anatomia do recm nascido e da criana a partir de informaes obtidas nas publicaes tradicionais em lngua portuguesa, exclu-sivamente de anatomia humana geral, excluindo-se as especficas de pediatria, para verificao desta lacuna. Pode-se concluir que a anatomia do recm nascido e da criana dinmica, funcional, sempre relacionada s solicitaes e necessidades de adaptao s demandas ambientais mediadas pelo desenvolvimento neurosen-soriopsicomotor destes seres humanos que no so adultos minia-turizados.

    Palavras-Chave: Anatomia do recm nascido, anatomia da criana, ana-

    tomia neonatal, anatomia infantil, desenvolvimento anatmico na infn-

    cia.

    ABSTRACT

    Human anatomy is the ancient medical science that studies the human body describing their morphology and structural correla-tions. From that definition, we should understand that the human body comprises the newborn and infant development into an a-dult. However, available publications in Portuguese are mainly focused on adults, at the expense of newborn and infant anatomy. This paper intends to organize the basic aspects of newborn and infant anatomy collecting data entirely from available general hu-man anatomy publications in Portuguese, excluding pediatrics-oriented contents to verify the gap extension between adult and newborn and infant in this anatomy studies. We concluded that the newborn and infant anatomy is a dynamic and functional pro-cess, related to the adaptation needs that arise from the environ-mental requirements mediated by the psychomotor and neuro de-velopment of these human beings, which are not miniaturized a-dults.

    Keywords: Newborn anatomy, child anatomy, neonatal anatomy, infant

    anatomy, infant anatomy development.

    Anhanguera Educacional S.A.

    Correspondncia/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, So Paulo CEP. 13.278-181 [email protected]

    Coordenao Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE

    Artigo Original Recebido em: 14/7/2008 Avaliado em: 22/9/2008

    Publicao: 24 de novembro de 2008

  • Anatomia do recm nascido e da criana: caractersticas gerais

    Ensaios e Cincia: C. Biolgicas, Agrrias e da Sade Vol. XII, N. 1, Ano 2008 p. 63-75

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    1. INTRODUO

    A Anatomia Humana a cincia que estuda o corpo humano macro e microscopica-

    mente, descrevendo e normatizando suas estruturas (DNGELO; FATTINI, 2007).

    De origem que remonta pr-histria, onde a necessidade de caa e proteo

    fazia com que os seres humanos aprendessem os pontos mais frgeis de seus corpos

    para melhor proteg-los e os de suas caas para um abate mais fcil, sua normatizao

    mais recente (SINGER, 1996; VAN DE GRAAFF, 2003; PESSINI; RUIZ, 2007).

    O conhecimento anatmico perpassa os sculos, e em 1543 encontra um gran-

    de marco. A publicao por Andreas Vesalius, considerado o Pai da Anatomia, do

    rica e belamente ilustrado De Humani Corporis Fabrica rompe com os saberes dogmti-

    cos vigentes de Galeno que perduraram por cerca de quinze sculos, inaugurando uma

    nova fase nos conhecimentos e saberes da Anatomia Humana (SINGER, 1996; VAN DE

    GRAAFF, 2003).

    Desde ento, o conhecimento anatmico avana, com novas descobertas, in-

    corporaes de novas tecnologias, como as imagens radiolgicas e tcnicas de conser-

    vao de corpos como a plastinao, aprimoramentos de conceitos e estabelecimento

    de nomenclatura nica universal (VAN DE GRAAFF, 2003; PESSINI; RUIZ, 2007).

    Porm, os grandes tratados de anatomia humana pouco discutem sobre a ana-

    tomia do recm nascido e da criana, e se concentram em aspectos da anatomia do a-

    dulto, o mesmo ocorrendo com as propostas curriculares da disciplina de Anatomia

    Humana (TUBINO; ALVES, 2006).

    No entanto, o recm nascido e a criana apresentam uma anatomia distinta,

    em contnua modificao para aprimoramento de seus sistemas e adaptao ao novo

    meio ambiente, que no pode ser entendida como resqucio embriolgico, tampouco

    como miniaturizao do adulto.

    Este estudo se prope a apresentar algumas caractersticas da anatomia nor-

    mal1 do recm nascido e da criana, estabelecendo suas modificaes at atingir a ana-

    tomia do adulto mdio, comumente discutida.

    1 Normal, de acordo com a definio anatmica, aquilo que mais freqente, ou seja, a estrutura (incluindo a for-ma) que se encontra mais freqentemente na amostragem de indivduos. (DANGELO; FATTINI, 2007, p. 5, grifos dos autores).

  • Patricia Teixeira Tavano

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    2. METODOLOGIA

    Este estudo se props a organizar as discusses sobre a anatomia do recm nascido e

    da criana presente nos livros convencionais de Anatomia Humana.

    Para isso, foram usadas como base de busca as publicaes comerciais, exclu-

    sivamente em lngua portuguesa, de forma ampla e geral, sobre Anatomia Humana,

    seja sistmica, seja segmentar, sejam os dois, sem utilizao especfica dos tratados de

    pediatria e neonatologia, intentando assinalar a possvel falha nesta temtica.

    No entanto, a dificuldade de obteno de informaes apenas nestas publica-

    es notria, diversas publicaes foram descartadas por no estabelecerem aspectos

    bsicos da anatomia do recm nascido e da criana de forma consistente, e no foram

    utilizados apenas livros textos, mas tambm atlas anatmicos que, com ilustraes e fo-

    tografias, elucidam visualmente caractersticas importantes.

    A localizao de informaes sobre o tema em alguns dos principais indexa-

    dores cientficos, a saber, SciELO, PUBMED, MEDLINE, para artigos exclusivamente

    em lngua portuguesa baseada em artigos vinculados prtica clnica peditrica,

    sendo pouco discutida a anatomia estrita.

    3. ANATOMIA DO RECM NASCIDO E DA CRIANA

    So considerados recm nascidos os indivduos a partir da data de seu nascimento at

    o primeiro ms ps-natal. J o termo infncia reservado fase que cumpre os meses e

    anos seguintes, at a puberdade, ao redor dos 12 a 14 anos (VAN DE GRAAFF, 2003).

    Os recm nascidos e as crianas apresentam propores, tamanhos, formatos e

    volumes de regies, rgos e estruturas distintos relacionados s necessidades adapta-

    tivas exigidas.

    No neonato, os membros superiores e inferiores so proporcionalmente iguais

    em comprimento at cerca de dois anos de idade, quando ento comeam a se diferen-

    ciar. Os inferiores se alongam, chegando idade adulta cerca de 1/6 mais longos que

    os superiores (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971).

    No membro superior, observa-se que os corpos dos ossos longos e escpula j

    tm ossificao ao nascimento, porm as epfises se diferenciaro em seus diversos aci-

    dentes sseos (SCHNKE et al., 2006).

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    No correr do primeiro ano de vida, surgem a cabea, o tubrculo maior e o ca-

    ptulo do mero e o processo coracide na escpula. Os outros detalhamentos se de-

    senvolvero ao longo dos prximos anos at a puberdade. O mesmo ocorrendo com os

    ossos carpais. O primeiro a surgir o capitato, seguido pelo hamato nos quatro primei-

    ros meses de vida. A partir do segundo ano, os outros ossos progressivamente apare-

    cem at ao redor dos oito a doze anos o psiforme, o ltimo, dar sinais de ossificao

    (SCHNKE et al., 2006).

    No membro inferior, a exemplo do superior, ao nascimento os corpos sseos

    esto visveis, porm no primeiro ano se projetam a cabea do fmur, as extremidades

    distais de tbia e fbula. Ao longo dos prximos anos at a puberdade, o restante das

    caractersticas sseas se formar. Diferentemente dos carpais, calcneo, tlus e cubide

    j se apresentam com centros de ossificao neonatal, e em geral at o terceiro ano o

    restante dos ossos tarsais so visualizveis (SCHNKE et al., 2006). Os ossos do qua-

    dril no esto fundidos, sendo possvel a distino clara e imediata de lio, squio e p-

    bis que se encontram unidos por uma banda de cartilagem hialina. A fuso tende a o-

    correr no incio da idade adulta, ao redor dos vinte anos (SCHNKE et al., 2006;

    MOORE; DALLEY, 2007).

    A cabea do recm nascido cerca de 1/4 do comprimento total do corpo (S-

    CHNKE et al., 2006), no adulto a proporo 1/12 do comprimento (GARDNER;

    GRAY; ORAHILLY, 1971; SCHNKE et al., 2006).

    O viscerocrnio (face) desproporcionalmente pequeno e curto em relao ao

    neurocrnio (caixa craniana), cerca de 1/8 do volume (WILLIAMS et al., 1995;

    MOORE; DALLEY, 2007). Ao redor de dois anos, a proporo j aumenta para 1/6, aos

    cinco anos possvel encontrar a face em 1/4 do volume craniano, proporo prxima

    do adulto (LATARJET; LIARD, 1993).

    No momento do nascimento a termo, os ossos do crnio tm formao unila-

    minar, sem dploe (WILLIAMS et al., 1995) e encontram-se afastados por bandas mem-

    branceas onde se formaro as suturas cranianas, os espaos suturais, e tambm apre-

    sentam grandes reas de afastamento nas angulaes do osso parietal, os fontculos

    (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971; LATARJET; LIARD, 1993; WILLIAMS et al.,

    1995; DIDIO, 2002; RIZZOLO; MADEIRA, 2006; MOORE; DALLEY, 2007).

    Em nmero de seis, habitualmente, os fontculos anterior e o posterior so m-

    pares e os lateral anterior e lateral posterior pares e representam, idade adulta pontos

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    de referncia do crnio (GARDNER, GRAY, ORAHILLY, 1971; LATARJET; LIARD,

    1993; WILLIAMS et al., 1995; MOORE; DALLEY, 2007).

    A ossificao dos fontculos ocorre gradualmente desde o nascimento. O fe-

    chamento dos fontculos laterais acontece a partir de dois meses de idade em mdia,

    sendo que o anterior geralmente est fechado no terceiro ms, mas o posterior pode

    permanecer at o sexto ms, chegando aos doze meses quando ento observamos o

    ptrion e o astrion, respectivamente anterior e posterior. A ossificao do fontculo

    posterior ocorre em geral at o sexto ms, formando o lambda. O ltimo a se fechar o

    fontculo anterior, em geral at o segundo ano de vida, porm, existem situaes em

    que ele pode perdurar os quatro primeiros anos de vida (WILLIAMS et al., 1995;

    DIDIO, 2002; RIZZOLO; MADEIRA, 2006; SCHNKE et al., 2006; MOORE; DALLEY,

    2007; TORTORA, 2007).

    Alm dos fontculos, o neonato apresenta a sutura frontal, afastamento anteri-

    or dos ossos frontais oriundo da formao dupla dos ossos frontais no feto que se fun-

    dem formando um nico osso. Esta sutura mantm-se at cerca de seis anos, dando a

    impresso de continuidade da sutura sagital. Esto presentes tambm ao nascimento

    as suturas intermaxilar e intermandibular, afastamentos membranceos dos ossos da

    maxila e mandbula que se fundiro na infncia (RIZZOLO; MADEIRA, 2006;

    DANGELO; FATTINI, 2007; MOORE; DALLEY, 2007).

    As suturas intermaxilar e intermandibular no so as nicas diferenas pre-

    sentes na maxila e na mandbula. Estes ossos so rudimentares no neonato e sofrem

    diversas modificaes (WILIAMS et al., 1995). A mandbula apresenta ramo curto e

    ngulo grande no neonato, com o passar dos anos, o ramo prolongado verticalmente,

    levando a crescimento para baixo e para frente, reduzindo o ngulo. A maxila do re-

    cm nascido apresenta dimenses transversais e sagitais maiores que as verticais, o que

    se inverte at a idade adulta (WILLIAMS et al., 1995).

    O osso temporal ao nascimento encontra-se j em processo de fuso de suas

    pores, porm o processo mastide raso e no angulado (GARDNER; GRAY;

    ORAHILLY, 1971; WILLIAMS et al., 1995). O recm nascido apresenta meato acstico

    externo reto, curto e completamente cartilagneo, porm a orelha interna, a cavidade

    timpnica, os ossculos da audio e o antro mastide j tm seu tamanho proporcional

    ao adulto Ao redor do segundo ano de vida, as clulas areas mastideas comeam a

    ser visualizadas e o processo mastide se expande, assumindo seu formato projetado

    na lateral do crnio (WILLIAMS et al., 1995).

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    As rbitas do recm nascido so grandes e desproporcionais, j a cavidade na-

    sal pequena e curta, e posiciona-se quase completamente entre as rbitas (WILLIAMS

    et al., 1995; MOORE; DALLEY, 2007)

    Os seios paranasais, cavidades aeradas em alguns ossos da face, desenvol-

    vem-se entre o primeiro e segundo ano de vida, (SCHNKE, 2006; MOORE; DALLEY,

    2007).

    Os primeiros a serem visualizados com relativa facilidade so as clulas et-

    moidais, seguidas pelo seio esfenoidal. No geral, o seio frontal e o seio maxilar esto

    visveis a partir do stimo ano de vida (WILLIAMS, et al., 1995; MOORE; DALLEY,

    2007).

    Os seios paranasais se desenvolvem durante a infncia, chegando puberda-

    de em seu volume quase total. Os seios frontal e maxilar tendem a expandir suas cavi-

    dades para dentro dos ossos correspondentes na idade adulta, e o seio maxilar pode

    continuar sua expanso mesmo no envelhecimento do adulto (NETTER, 2004;

    SOBBOTA, 2006).

    A irrupo dos dentes decduos ocorre ao redor dos seis a nove meses inician-

    do pelos incisivos. Antes disso, o neonato e a criana apresentam coroas inclusas na

    mandbula e no maxilar. Na infncia os dentes decduos eclodem e sua substituio pe-

    los dentes permanentes costuma iniciar ao redor dos oito anos tambm pelos incisivos

    (WILLIAMS et al., 1995; NETTER, 2004; RIZZOLO; MADEIRA, 2006).

    A coluna vertebral do neonato ainda no desenvolveu suas curvaturas secun-

    drias, apresentando fortemente uma curvatura primria (cifose funcional). A primeira

    curvatura secundria a surgir a cervical, que j est presente no feto, porm de forma

    rudimentar se acentuando a partir de trs a quatro meses ps-natal. A curvatura se-

    cundria lombar se apresenta ao redor dos nove a doze meses (GARDNER; GRAY;

    ORAHILLY, 1971; WILLIAMS et al., 1995; VAN DE GRAAFF, 2003; SCHNKE et al.,

    2006, DANGELO; FATTINI, 2007; MOORE; DALLEY, 2007; TORTORA, 2007).

    Na laringe, entre seis e doze meses, possvel encontrar a epiglote altura do

    dente do xis. Durante a infncia ela inicia seu descenso e idade adulta se encontra

    em algum local entre as vrtebras cervicais trs e seis, variando de acordo com o sexo

    (WILLIAMS et al., 1995).

    A caixa torcica apresenta aspecto arredondado ao nascimento, pois o dime-

    tro ntero-posterior e transversal so muito prximo (no adulto esta relao 1:3) e o

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    eixo longitudinal curto, com circunferncia torcica semelhante circunferncia ab-

    dominal e costelas horizontalizadas. Durante os dois primeiros anos, as circunferncias

    comeam a se distinguir e a torcica torna-se cada vez maior que a abdominal

    (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971; LATARJET; LIARD, 1993; ROHEN,

    YOKOSHI; LUTJEN-DRECOL, 2007).

    Ao nascimento o timo est presente no mediastino superior e anterior. Este

    rgo linfide cresce a partir do parto e atinge seu mximo entrada da puberdade,

    quando ento comea a regredir e a ser substitudo por tecido adiposo (LATARJET;

    LIARD, 1993; WILLIAMS et al., 1995; VAN DE GRAAFF, 2003; SCHNKE et al., 2006;

    MOORE; DALLEY, 2007; DANGELO; FATTINI, 2007). No recm nascido, tem cerca de

    10 a 15 g, entrada da puberdade, j conta com 30 a 40 g iniciando sua regresso

    (WILLIAMS et al., 1995).

    A traquia neonatal apresenta dimetro menor de 3mm, que persiste no pri-

    meiro ano. A partir de ento, o dimetro pode ser calculado em milmetros correspon-

    dendo idade em anos, at atingir o lmen adulto de 1,2 a 1,5 cm (WILLIAMS et al.,

    1995).

    O corao do neonato proporcionalmente grande e globoso (GARDNER;

    GRAY; ORAHILLY, 1971; VAN DE GRAAFF, 2003), apesar de seu peso aproximado

    de 25 g, comparando-se aos 200g a 250 g do adulto (LATARJET; LIARD, 1993), e se en-

    contra mais transversamente no mediastino, posicionando-se um espao intercostal

    mais alto que na idade adulta (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971; ROHEN,

    YOKOSHI; LUTJEN-DRECOLL, 2007).

    Ao nascimento, as paredes ventriculares comeam a se diferenciar com espes-

    samento esquerdo, e o forame oval inicia seu fechamento. O forame oval no septo inte-

    ratrial, aberto ao nascimento, inicia sua obliterao funcional ps-natal e pode manter-

    se anatomicamente no obliterado at o terceiro ms de vida, quando ento deve estar

    completamente fechado (GADNER, GRAY & ORAHILLY, 1971; WILLIAMS et al.,

    1995; VAN DE GRAAFF, 2003). O ducto arterioso tambm inicia seu fechamento ao

    nascimento, demorando de alguns dias a poucas semanas para total obliterao, for-

    mando o ligamento arterioso (WILLIAMS et al., 1995; VAN DE GRAAFF, 2003).

    No abdome, o fgado chama ateno por seu tamanho e posio, ocupando

    quase 2/5 do abdome. Comparativamente, o fgado ao nascimento tem o dobro do pe-

    so do fgado do adulto (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1975; LATARJET; LIARD,

    1993; MOORE; DALLEY, 2007).

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    O estmago neonatal tem eixo longitudinal horizontal, que se reorganizar a

    um eixo obliquado-vertical no adulto (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971). Ao nas-

    cimento, a capacidade gstrica cerca de 30 ml, mas j ao incio da puberdade atinge

    1000 ml, aumentando para cerca de 1500 ml na idade adulta (WILLIAMS et al., 1995).

    Os rins esto lobulados ao nascimento, em nmero varivel, em sua superf-

    cie, que tendem a desaparecer nos primeiros anos e tm em seu plo superior as gln-

    dulas supra-renais com cerca de 1/3 do tamanho do rgo para depois, adquirir no

    adulto cerca de 1/20 do peso do rim (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971).

    A cavidade plvica curta e pouco profunda. Aps o nascimento, esta aumen-

    ta gradualmente e os rgos abdominais se reorganizam, num descenso caudal

    (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971; LATARJET; LIARD, 1993)

    A bexiga urinria, francamente abdominal no neonato e infncia, ocupa sua

    posio plvica progressivamente puberdade at a idade adulta (GARDNER; GRAY;

    ORAHILLY, 1971; LATARJET; LIARD, 1993; WILLIAMS et al., 1995; MOORE;

    DALLEY, 2007).

    No recm nascido feminino, possvel observar o tero de corpo curto e colo

    longo. Imediatamente ao nascimento, a relao entre o comprimento do corpo e do co-

    lo aproximadamente 2:1, por influncia dos hormnios maternos. Algumas semanas

    depois a relao se modifica e assume o padro infantil de 1:1, permanecendo at a

    puberdade (NETTER, 2004; MOORE; DALLEY, 2007). Na infncia, o tero pratica-

    mente um rgo abdominal, assumindo na adolescncia para a idade adulta sua posi-

    o plvica (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971; WILLIAMS et al., 1995; MOORE;

    DALLEY, 2007).

    No recm nascido masculino a prstata apresenta-se grande por influncia

    hormonal materna. A partir da sexta semana, a glndula diminui de tamanho e reinicia

    seu crescimento de forma vagarosa e constante at a puberdade quando ento dobra

    seu volume, atingindo o tamanho adulto (WILLIAMS et al. 1995).

    4. DISCUSSO

    O recm nascido e a criana no so adultos em miniatura. Para alm das caractersti-

    cas psicolgicas e fenotpicas que determinam estas fases, a anatomia e a fisiologia dos

    pequeninos tambm distinta.

  • Patricia Teixeira Tavano

    Ensaios e Cincia: C. Biolgicas, Agrrias e da Sade Vol. XII, N. 1, Ano 2008 p. 63-75

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    A discusso sobre anatomia do neonato superficial nos livros de anatomia

    humana geral clssica, sendo os aspectos osteoarticulares os mais relatados tradicio-

    nalmente.

    O desenvolvimento dos ossos e articulaes , excluindo-se aspectos nutricio-

    nais e metablicos intrnsecos, relacionado sobrecarga funcional solicitada, assim,

    como o feto tem poucas solicitaes, seus ossos e articulaes no seriam necessrios

    em sua totalidade de desenvolvimento. Alm disso, necessrio prever o crescimento

    corpreo do indivduo, ento, no possvel consolidar uma estrutura que se modifi-

    car rapidamente. Com isso, observamos ao nascimento, ossificao diafisria ou cen-

    tral na maioria dos ossos, permitindo as necessrias alteraes do crescimento em es-

    pessura e comprimento, bem como as modificaes morfofuncionais que se fizerem

    necessrias (WILLIAMS et al. 1995; TORTORA, 2007).

    O viscerocrnio menos volumoso que o neurocrnio, pois o segundo est re-

    lacionado ao volume do encfalo e dos rgos sensoriais (olhos, audio e equilbrio)

    que j esto bastante desenvolvidos ao nascimento; j o viscerocrnio tem seu desen-

    volvimento relacionado dentio e aos seios paranasais, em especial o seio maxilar

    (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971, LATARJET; LIARD, 1993; WILLIAMS et al.

    1995; DANGELO; FATTINI, 2007; MOORE; DALLEY, 2007)

    No recm nascido, o sistema nervoso corresponde a cerca de 1/7 do peso cor-

    poral, o que decresce ao desenvolvimento do restante do corpo, atingindo 1/20 aos

    cinco anos e 1/50 na maturidade, levando a alteraes no neurocrnio (GARDNER;

    GRAY; ORAHILLY, 1971). Com isso, constatamos a calvria grande para acomodar o

    j grande encfalo, mas com espaos que permitem seu crescimento para aprimora-

    mentos; os espaos suturais e fontculos; bem como cavidades oculares grandes e des-

    proporcionais para acomodar os olhos que j se encontram em alto grau de desenvol-

    vimento (VAN DE GRAAFF, 2003; SCHNKE ET AL. 2006; MOORE; DALLEY, 2007;

    TORTORA, 2007).

    A ecloso dos dentes ao redor dos seis a nove meses inicia a modificao na

    morfologia da maxila e mandbula, que se alongam para acomodar, inicialmente, os

    dentes decduos, e posteriormente os dentes permanentes. Estas modificaes nos dois

    ossos j iniciam o ajuste de propores entre a face e o crnio (GARDNER; GRAY;

    ORAHILLY, 1971; LATARJET; LIARD, 1993; WILLIAMS et al. 1995; MOORE;

    DALLEY, 2007).

  • Anatomia do recm nascido e da criana: caractersticas gerais

    Ensaios e Cincia: C. Biolgicas, Agrrias e da Sade Vol. XII, N. 1, Ano 2008 p. 63-75

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    Os seios paranasais so grandes responsveis por modificaes faciais. Estes

    se desenvolvem entre o primeiro e segundo ano de vida, quando os dentes j esto

    presentes, alongando a face por invaso da cavidade area no osso correspondente, em

    especial o seio maxilar. O mesmo ocorrendo com a cavidade nasal, que influenciada

    pelo seio maxilar e se alonga, deixando o espao infra-orbitrio. A persistncia das su-

    turas intermandibular e intermaxilar permite uma expanso facial para a vertical, fa-

    zendo com que a face assuma as caractersticas adultas (GARDNER; GRAY;

    ORAHILLY, 1971; LATARJET; LIARD, 1993; WILLIAMS et al. 1995; SCHNKE, 2006;

    MOORE; DALLEY, 2007).

    O desenvolvimento do osso temporal com aerao das clulas mastideas e

    expanso do processo mastide modifica a norma lateral do crnio, e somada ossifi-

    cao dos ossos da base craniana alongam a caixa craniana, chegando morfologia do

    neurocrnio adulto (WILLIAMS et al. 1995).

    A coluna vertebral do neonato no apresenta suas curvaturas secundrias,

    sendo quase apenas uma nica curvatura primria (cifose funcional) j que a posio

    fetal de inclinao anterior e no houve ainda solicitao mecnica para a postura em

    p, logo no se fazem necessrias as curvaturas secundrias relacionadas ao equilbrio

    e postura bpede. A primeira curvatura secundria a surgir a cervical, visto ser este o

    primeiro marco no desenvolvimento neurosensoriopsicomotor do neonato (segurar a

    cabea), ao redor dos trs a quatro meses. Ao aprender a sentar, a curvatura cervical se

    afirma e surge a necessidade da curvatura secundria lombar. Ao comear a andar, a

    partir de nove meses, a curvatura lombar se estabelece, completando, ento as curvatu-

    ras fisiolgicas da coluna vertebral. (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971; VAN DE

    GRAAFF, 2003; SCHNKE ET AL. 2006, DANGELO; FATTINI, 2007; MOORE;

    DALLEY, 2007; TORTORA, 2007)

    Ao nascimento, as solicitaes respiratrias se modificam, pois h necessida-

    des energticas que o sistema cardiorrespiratrio fetal no respondia. A dinmica de

    foras de propulso pelos ventrculos se modifica, fazendo com que o ventrculo es-

    querdo seja solicitado em sua totalidade de fora de ejeo, e o ventrculo direito tenha

    uma solicitao pressrica menor, dado o incio da respirao pulmonar do neonato.

    Estas alteraes pressricas fazem com que as comunicaes sangneas cavitrias e ar-

    teriais se obliterem, fechando o forame oval no septo interatrial e o ducto arterioso en-

    tre a artria aorta e a artria tronco pulmonar, e tambm exigem adequao de fora de

    ejeo nos ventrculos, iniciando a diferenciao nas paredes ventriculares, com espes-

  • Patricia Teixeira Tavano

    Ensaios e Cincia: C. Biolgicas, Agrrias e da Sade Vol. XII, N. 1, Ano 2008 p. 63-75

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    samento esquerda (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971; WILLIAMS et al. 1995;

    VAN DE GRAAFF, 2003; MOORE; DALLEY, 2007)

    Como o fgado do neonato cumpre funes adicionais s do adulto, seu tama-

    nho proporcionalmente grande ao espao abdominal, ocupando facilmente quase a

    totalidade do quadrante superior direito e esquerdo, isto desloca o estmago mais

    esquerda e o torna mais horizontalizado, comprometendo tambm a morfologia dos

    rgos torcicos, como corao que se posiciona mais transversalmente assumindo um

    aspecto globoso (GARDNER; GRAY; ORAHILLY, 1971, MOORE, DALLEY, 2007).

    O desenvolvimento neurolgico ainda influencia a morfologia do tronco. Ao

    assumir a postura ereta, o trax da criana modifica seus dimetros para responder s

    novas demandas energticas posturais, alongando seu dimetro crnio-caudal e redu-

    zindo os outros dimetros, a laringe se reorganiza e a traquia aumenta sua luz, au-

    mentando a eficincia respiratria (WILLIAMS et al. 1995)

    Esta nova postura tambm influencia no aprofundamento da cavidade plvi-

    ca, o que permite o descenso dos rgos abdominais para seus posicionamentos plvi-

    cos adultos, permitindo reduo do dimetro abdominal (LATARJET; LIARD, 1993;

    WILLIAMS et al. 1995).

    5. CONSIDERAES FINAIS

    Este estudo pretendeu demonstrar, de maneira sinttica, que a anatomia do recm nas-

    cido e da criana no podem ser entendidas como a anatomia do adulto em menores

    propores.

    O recm nascido e a criana apresentam uma anatomia dinmica, diretamente

    relacionada s demandas funcionais vinculadas ao seu desenvolvimento neurosenso-

    riopsicomotor. Assim, quando observamos novas necessidades posturais, imediata-

    mente localizamos adaptaes anatmicas que sustentam e permitem essas demandas,

    o mesmo ocorrendo com aspectos energticos que exigem maior eficincia respiratria

    e circulatria.

    Ao longo dos sculos de estudos anatmicos, pouco se voltaram s pesquisas

    para a infncia, talvez por estas estarem em grande parte vinculadas ao uso acadmico

    de peas anatmicas humanas, difceis de obter por se tratarem de crianas.

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    Ensaios e Cincia: C. Biolgicas, Agrrias e da Sade Vol. XII, N. 1, Ano 2008 p. 63-75

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    Com o avano das tecnologias possvel que se estabeleam parmetros e as-

    pectos de desenvolvimento anatmico na infncia a partir de recursos diversos, como

    simulaes e imagens radiolgicas, que podem suprir estas falhas e contribuir para o

    aprimoramento dos conhecimentos e saberes anatmicos.

    A anatomia do recm nascido e da criana precisa ser discutida na disciplina

    de anatomia, e no apenas tardiamente nas disciplinas de pediatria e neonatologia,

    ampliando e aperfeioando o profissional da sade, instrumentalizando-o para o ma-

    nuseio destas condies morfolgicas distintas de forma a compreender no apenas o

    que se deve fazer, mas tambm porque se deve fazer.

    REFERNCIAS

    DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia humana sistmica e segmentar. 3. ed. So Paulo: Atheneu, 2007.

    DIDIO, L. J. A. Tratado de anatomia sistmica aplicada. 2. ed. So Paulo: Atheneu, 2002.

    GARDNER, E; GRAY, D. J.; ORAHILLY, R. Anatomia: estudo regional do corpo humano. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1971.

    LATARJET, M.; LIARD, A. R. Anatomia humana. 2. ed. So Paulo: Panamericana, 1993. (2 vol.).

    MOORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomia orientada para a clnica. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

    NETTER, F. H. Atlas de anatomia humana. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

    PESSINI, L.; RUIZ, C. R. Anatomia Humana e tica: dignidade no corpo sem vida. So Paulo: Paullus, 2007.

    RIZZOLO, R. J. C.; MADEIRA, M. C. Anatomia facial com fundamentos de anatomia sistmica geral. 2. ed. So Paulo: Sarvier, 2006.

    ROHEN, J. W.; YOKOSHI, C.; LUTJEN-DRECOLL, E. Anatomia humana: atlas fotogrfico de anatomia sistmica e regional. 6. ed. So Paulo: Manole, 2007.

    SCHNKE, M. et al. Prometheus: atlas de anatomia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

    SINGER, C. Uma breve histria da Anatomia e fisiologia desde os gregos at Harvey. Campinas: Editora da UNICAMP, 1996.

    SOBOTTA, J. Atlas de anatomia humana. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

    TORTORA, G. J. Princpios de anatomia humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

    TUBINO, P; ALVES, E. Insero da disciplina anatomia da criana nos currculos dos cursos de medicina. Rev. Med. Fameplac. v. 1, p. 17-24. 2006

    VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. So Paulo: Manole, 2003.

    WILLIAMS, P. L. et al. Gray anatomia. 37. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995. (2 vol.).

    Patricia Teixeira Tavano

    Mestranda em Didtica, Teorias de Ensino e Prticas Escolares pela Faculdade de Educao

  • Patricia Teixeira Tavano

    Ensaios e Cincia: C. Biolgicas, Agrrias e da Sade Vol. XII, N. 1, Ano 2008 p. 63-75

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    da Universidade de So Paulo. Especialista em Diagnstico por Imagem: nfase anatmica Centro Universitrio So Camilo, SP . Docente em Anatomia Humana - Faculdade Anhangue-ra de Taubat - Anhanguera Educacional.