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    Conselhos para Crentes Fracos*

    PREFCIO

    Este tratado segue, quanto ordem, os demais sobre a converso (Um Tratado sobre a Converso;Chamado ao No convertido;Agora ou Nunca; eDirees e Persuases para uma Converso

    Segura), no obstante o considervel intervalo que o separa deles. Ele foi primeiramente pregadoem forma de palestra em Kidderminster em 1658, mas s foi publicado por Baxter em 1668. A obrafoi carinhosamente dedicada aos seus muito amados, Igreja de Kidderminster. Nesta carta, eleexpressa grande respeito por eles, e firme confiana e afeio. As coisas que amo especialmenteem vocs, diz ele, louvarei com liberdade, quais sejam: uma medida especial de humildade;simplicidade na religio; ausncia de erros comuns; prontido para receber a verdade;temperamento tolerante, sem tendncia para nenhuma seita; ausncia de tendncia para cisma eseparao, e unidade e unanimidade na f; uma averso por usurpaes, perturbaes, e rebeliescontra o governo civil; e um testemunho aberto e franco em todos estes casos; junto com seriedadena religio, e uma vida sbria, reta, misericordiosa e piedosa.

    Mas ainda assim, no obstante tudo isso que verdadeiramente louvvel, eu sei que vocs tmsuas fraquezas e imperfeies. Cristos mais fracos, quer em conhecimento quer em santidade, paranada dizer sobre os doentis, so a maioria nas melhores congregaes que j conheci. Eu nada possodizer sobre o estado de vocs durante estes oito anos, desde a nossa separao; embora, pelamisericrdia de Deus, no tenha sido informado de que hajam declinado. Foi o nosso pecado quefez com que nos separssemos; lancemos a culpa sobre ns mesmos. Agora, j no tenho maisexpectativa de voltar a ter o conforto de vos pastorear. Pois neste perodo de seis anos, nos quais

    pensei que minha maior experincia tinha-me habilitado mais para servir melhor ao meu Senhor doque antes, Sua sabedoria e justia tm-me obrigado a permanecer em doloroso silncio. E agora, adecadncia e incapacidade do meu corpo aumentaram tanto, que ainda que me fosse permitido, notenho mais foras, nem posso razoavelmente esperar que tal coisa ainda venha a acontecer. Por issofico feliz em poder falar-vos uma vez mais; e ficarei agradecido se as autoridades permitirem queestes conselhos cheguem at os olhos de vocs, a fim de que os fracos possam ter mais algunsconselhos e orientaes. E se algum se desviar e vier a desgraar a religio, ficar registrado maisum testemunho da doutrina que vos foi ensinada. O Senhor seja o mestre e fora de vocs; e vossalve de vocs mesmos, e do presente mundo mal, e vos preserve para seu reino celestial por meiode Jesus Cristo.

    INTRODUOSe o leitor atentar para estes conselhos, lendo-os atenciosamente, como faz com as prescries dosseus mdicos, que no so escritas apenas para serem lidas, mas para serem diariamente observadas,

    custe o que custar, por amor a sua prpria vida; ento eu no tenho a menor dvida, de que noobstante a fraqueza da sua composio, estes conselhos promovero a cura de sua fraqueza eindisposio espirituais, e dos conseqentes distrbios e danos causados a outros e a si mesmo.

    Tambm espero no me deparar com hipcritas maliciosos, os quais sejam to mpios eimpertinentes, que venham a precipitar-se e oporem-se ao que aconselha, dizendo que estoumanifestando a nudez de muitos servos de Cristo para o oprbrio e desonra da religio. Eu tenhodemonstrado a vocs, pela Palavra de Deus, que Deus lana - e ns tambm devemos faz-lo - a

    justa desonra sobre o pecador, para que esta no recaia sobre a religio e sobre o prprio Deus.Tenho demonstrado tambm, que a defesa ou desculpa de pecados odiosos, por pena daqueles queos cometeram, o modo pior e mais seguro de trazer desonra, cedo ou tarde, tanto para a religiocomo sobre eles. Um No, um L, um Davi, um Salomo e um Pedro, sero desonrados por Deus,nos registros divinos de todas as pocas, para que Deus no seja desonrado por eles! O verdadeiroarrependido deseja que assim ocorra; e reputa sua honra um sacrifcio muito pequeno a oferecer

    pela honra da religio a qual ele caluniou. Enquanto voc no chegar a este ponto, voc est aqum

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    do verdadeiro arrependimento. Aquele que defende seu pecado que se tornou pblico, a menos quepossa negar o fato, faz o mesmo que dizer que Deus gosta disso, que Cristo a isso o constrange, eque as Escrituras so a favor do pecado, e no contra; que a religio ao invs de desaprovar, aprovao pecado; e que esta a prtica dos piedosos. O que pode ser dito de mais blasfemo contra Deus, ede mais injurioso contra a religio, as Escrituras e os santos? Por outro lado, o que confessa seu

    pecado, faz o mesmo que dizer: Lancem toda a vergonha sobre mim, pois eu mereo; mas no sobreDeus, sobre Cristo, sobre as Escrituras, sobre a religio, ou sobre os servos de Deus; pois noaprendi o pecado de nenhum deles, nem fui encorajado a isso por eles; nem h inimigos maiores do

    pecado do que eles. Se eu os ouvisse, no teria agido assim. Uma das principais razes pelas quais oarrependimento to necessrio, porque faz justia a Deus e santidade.

    Infelizmente, tarde demais para ocultar as fraquezas e crimes dos Cristos, os quais so j bastantevisveis ao mundo; que tm acarretado resultados que se tornaram pblicos sobre a igreja, sobrereinos e estados; os quais mantiveram quase que toda a igreja em um estado horrivelmentedilacerado e ensangentado, por muitos sculos, at os nossos dias; os quais separaram as igrejas dooriente e do ocidente, e desonram ambas; e tm derramado tanto sangue em pases Cristos, e nostornado como que pessoas enlouquecidas, olhando com preveno para os nossos vizinhos mais

    prximos, e fugindo, por impertinente separao, de nossos irmos, com os quais teremos queconviver nos cus; e tendo erroneamente por inimigos, aqueles com os quais - se somos Cristos

    como professamos - estamos unidos sob a mesma Cabea, e pelo mesmo Esprito, o qual umesprito de amor.

    Em poucas palavras, quando nossas faltas so to evidentes, que endurecem os infiis, pagos empios, e impedem a converso do mundo; e quando soam to audivelmente na boca de nossosinimigos comuns; e quando eles, contraram tanta malignidade, que recusam uma cura por taisguerras, divises, desolaes, pragas e chamas que assolam a igreja, como tm sido visto; ento, tarde demais para dizer aos que pregam o arrependimento: Calem-se, para que a nudez dosCristos e a desgraa da religio e da igreja no seja descoberta. Ns no podemos calar; seno,desgraaremos a religio e a igreja, para salvarmos a honra de pecadores.

    Qualquer um que leia as Sagradas Escrituras, e tenha entendido a f Crist, deve saber que nada, emtodo o mundo, to contrrio a cada um de nossos erros e ms obras. apenas por falta de maisseriedade na religio, que os professos extraviam-se. Nada, seno a doutrina Crist e a piedade,

    princpio, destri o pecado; e nada mais pode submeter o resto e consumar a cura. A nossadificuldade maior que, ao pecar, voc no fere apenas a voc mesmo com suas iniquidades;famlias so feridas; vizinhos so feridos; igrejas so conturbadas; reinos so afligidos; e milharesde pecadores cegos so endurecidos e perecem eternamente. O marido descrente diz: jamais dareiouvidos a sermes e s Escrituras, nem serei religioso, enquanto vir minha esposa, que fala tanto dereligio, ser to impertinente, descontente, maledicente, indelicada, contenciosa e desobedientequanto aquelas que no tm religio. O patro profano, diz: eu no gosto de religio, visto que meu

    servo, que a professa, em minha casa preguioso, negligente, grosseiro, e to pronto paradesonrar-me e responder-me, e to orgulhoso do seu pouco conhecimento, quanto aqueles que noso religiosos de modo algum. O mesmo eu poderia dizer de todos os outros relacionamentos. Todaa desonra que o pecado traz sobre a graa, provm do fato de vocs terem pouco dela; e porque agraa to pequena sobre vocs, que a vitria dela sobre a carne e paixes de vocs lamentavelmente imperfeita.

    Uma pessoa, ouvindo um elevado elogio de um servo ao seu ex-patro, de que se tratava de umhomem de extraordinria sabedoria, piedade, generosidade, pacincia e amabilidade; e que, quofeliz seria, se pudesse apenas morar na casa de tal pessoa; perguntou-lhe: Por que, ento, voc saiude l? Porque embora o meu patro fosse assim to bom, a patroa era to insensata, estrepitosa e

    cruel, que chegava a bater nos servos; sendo-me impossvel continuar no emprego. Assim, a f, euespero, o senhor do corao de vocs; e um senhor to bom quanto se possa imaginar. Mas a carne senhora (patroa), quando deveria ser apenas serva. E isto causa tanto transtorno a alguns de vocs,que alguns descrentes de boa ndole so companhia que causam menos aborrecimento do que vocs.

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    Eu estranharia se tivessem convico da prpria sinceridade de vocs, enquanto tais vcios carnais epaixes voluntariosas, mantiverem o poder de uma patroa sobre vocs.

    Eu sei que muitos se iludem pensando erroneamente que porque lutam contra seus pecados, isto sinal seguro de que tm o Esprito e so santificados - embora a carne seja a vitoriosa. Eu tambmsei que muitos so realmente sinceros, e ainda assim so derrotados por paixes impetuosas einclinaes carnais. Mas estou certo de que at que vocs saibam quem predomina, everdadeiramente governa, vocs jamais sabero se so sinceros. Assim como um servo, enquanto

    seu patro e patroa brigavam, respondia a algum, porta, que desejava falar com o chefe da casa:aguarde um momento, at que eu possa ver quem se sai melhor, e ento poderei lhe dizer quem ochefe da casa; assim, eu realmente temo que para muitos Cristos, o conflito entre o esprito e acarne to duro, e os mantm em dvida por um perodo to prolongado, e os sentimentos, paixes,incredulidade, orgulho, mundanismo e egosmo prevalecem tanto, que eles tm que esperar umtempo considervel, antes que se convenam com firmeza quanto a quem o patro.

    Para prosseguir com a minha comparao, no homem em estado de inocncia, a razo espiritual erasenhor absoluto, e a carne era uma serva submissa, embora ainda tivesse apetites que precisavamser governados e restringidos.Nos homens mpios1[1], os sentidos e apetites carnais so o senhor, e arazo uma escrava, embora a razo e aes do Esprito2[2] possam apresentar alguma resistncia.

    Em crentes fortes3[3], a razo espiritual senhor, e os sentidos e apetites carnais so escrava, masuma escrava impertinente e rebelde, domada conforme o grau de graa e vitria espiritual; como umcavalo domado e bem adestrado para ser cavalgado, mas com ajuda de esporas e rdeas. por issoque Paulo clama: desventurado homem que sou...Em um crente fraco, o Esprito senhor, mas acarne senhora, e no mantida na servido como deveria. Por isso sua vida maculada comescndalos e sua alma com muitas corrupes desonrosas. Ele um problema para si mesmo e paraoutros; o bem que deveria fazer, ele o faz com muita relutncia e fraqueza; e o mal, que deveria serevitado, o com muita dificuldade. Tanto poder ainda foi deixado em sua carne, que ele estfreqentemente inseguro quanto a sua prpria sinceridade; e, ainda assim, demasiadamente

    paciente tanto para com seus pecados, quanto para com sua incerteza. Muitas vezes, ele umproblema maior para a igreja do que, qualquer descrente moderado. O hipcrita ou quase Cristo,tem a carne por seu senhor, como outros homens mpios, mas a razo e a graa comum do Esprito

    podem ser senhora, e podem ter tal poder e respeito, ao ponto de engan-lo e lev-lo a umapresunosa confiana de que a graa vitoriosa, e de que ele verdadeiramente espiritual; enquantoque a supremacia ainda exercida pela carne.

    Quem tem ouvidos para ouvir, oua: Ao vencedor dar-lhe-ei que se alimente da rvore da vida(Ap 2:7). De nenhum modo sofrer dano da segunda morte (Ap 2:11). Dar-lhe-ei do manescondido (Ap 2:17). Lhe darei autoridade sobre as naes (Ap 2:26). Lhe darei a estrela damanh (Ap 2:28). Ao vencedor, eu o confessarei diante de meu Pai e diante dos seus anjos (Ap3:5). F-lo-ei coluna no santurio do meu Deus (Ap 3:12). Dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu

    trono (Ap 3:21).O TEXTO E SUA DOUTRINA

    Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, econfirmados na f, tal como fostes instrudos, crescendo em aes de graa (Cl 2:6-7).

    Assim como os ministros, na Palavra de Deus, so chamados pais daqueles que so convertidosatravs do ministrio deles, tambm so comparados s mes, que a eles do luz, at que Cristoseja formado neles. Como Cristo disse, A mulher quando est para dar a luz, tem tristeza, porque asua hora chegada; mas, depois de nascido o menino, j no se lembra da aflio, pelo prazer que

    tem de ter nascido ao mundo um homem4[1]. Assim tambm, enquanto estamos buscando e1

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    ansiando pela converso de vocs, e estamos em trabalho de parto at que nasam de novo; noapenas nossos labores, mas muito mais nossos temores e cuidados, e sentimentos com relao ao

    perigo e misria de vocs, faz com que o tempo nos parea demasiadamente longo. Oh, quo felizesseramos se a maioria dos membros de nossas igrejas fossem convertidos! Quando apenas podemosver aqui e ali, um vir para casa, no mais nos lembramos das nossas angstias, temores e tristezas,nem pensamos em todos os nossos labores, diante da alegria de um cristo ser um recm-nascidoem Cristo. Mas, no obstante toda a alegria da me, seu trabalho, cuidado e sofrimento, nochegaram ao fim quando ela deu luz. Quanta dedicao, quantas horas de dificuldades, e quantas

    noites acordada sero ainda exigidas dela, por causa da criana com a qual agora se alegra tanto. Edepois, quantos anos de cuidado e dedicao para cri-la e prover suas necessidades no mundo; equando a me envelhece, e espera receber o amor, a honra, a gratido e conforto que lhe sodevidos como me, por todos os seus labores, cuidados e sofrimentos, um filho pode revelar-segrato, e outro j no to agradecido assim, enquanto que um terceiro talvez venha a partir-lhe ocorao; mas ainda assim, ela continuar sendo a me de todos eles.

    O mesmo se aplica a ns. Tendo nos alegrado grandemente pela aparente ou real converso de unse outros dentre os nossos ouvintes, nosso trabalho para com eles no terminou, nem podemosdesvencilhar-nos de nossos cuidados e labores por eles. Normalmente temos que cuidar deles ealiment-los por alguns anos; e muitos dias e noites de dificuldade, de fraqueza, de impurezas, de

    impertinncia, de criancice, de querelas e de disposies para rixas dos nossos convertidos nosafligiro. E depois de tudo isso, quando comearem a andar com suas prprias pernas e a pensar queso suficientes por si mesmos sem a nossa ajuda, quantas quedas e ferimentos poderoexperimentar, e quantas brigas tero uns com os outros para aflio deles e nossa. E quando setornarem adultos, alguns que pareciam sinceros podem tornar-se prdigos ou apstatas; algunscaem em contenda por causa da herana e provocam terrveis divises na famlia de Cristo; e algunstalvez nos desprezem; a ns, que gastamos nossos dias e esforos em estudos, oraes, temores,cuidados e labores pela salvao deles. Sim, talvez alguns at nos tratem com desrespeito ereprovem nossas pessoas e nossos prprios ofcios e chamados, como a experincia dos tempos emque vivemos, assim como a experincia de todas as pocas evidente e claramente testificam.

    Por outro lado, alguns sero fiis e perseverantes, e agradecidos a Cristo e a ns. E para que assim oseja, por amor a Cristo e para o bem deles mesmo, ainda exigido o nosso cuidado, empenho eesforos. Nestes diversos casos encontramos o apstolo Paulo tratando seus filhos em suasepstolas; s vezes regozijando-se na firmeza deles; s vezes defendendo a si mesmo a ao seuministrio contra a ingratido e contendas infantis deles - como com relao aos Corntios; s vezes,embora raramente, corrigindo severamente o obstinado, entregando-o a Satans como advertnciaaos demais. s vezes ele est ansioso quanto ao estado de alguns, como o caso quando seencontram doentes, infectados com erros perigosos ou outras doenas; quando ele chega at mesmoa questionar quanto salvao deles, para que no acontea de ter trabalhado em vo, e elesvenham a apartar-se da graa, e Cristo de nada lhes aproveite.

    Com relao maioria, entretanto, encontramos o apstolo como algum que est entre a esperanae a apreenso quanto ao estado espiritual deles; aconselhando-os e exortando-os firmeza,crescimento e perseverana espirituais at o fim. E exatamente isso o que ele est fazendo comrelao aos Colossenses, neste texto; o qual contm: 1) A suposio de uma grande obra (a maiorobra) j realizada; qual seja, que eles receberam ao Senhor Jesus Cristo. 2) Uma implicao de umdever subseqente e uma exortao nele fundamentada, que a confirmao e progresso deles. Asetapas desse dever so expressas atravs de trs metforas. A primeira tomada de uma rvore ou

    planta: nele radicados. Aps recebermos a Cristo, h um enraizamento nele a ser buscado. Asegunda, tomada de uma construo: nele edificados, como uma casa sobre o alicerce. Aterceira etapa tomada daquelas colunas de sustentao que esto firmemente estabelecidas sobre o

    alicerce: estabelecidos ou confirmados na f.

    Tendo mencionado a f - para que eles no se deixassem levar pelas inovaes e fantasias humanascom relao a uma falsa f - ele acrescenta, tal como fostes instrudos, para mostrar-lhes qual anatureza da f ou religio esta na qual devem estabelecer-se; ou seja: aquela em que foram

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    ensinados pelos apstolos. E finalmente, ele expressa a medida que deveriam almejar, e um modoespecial no qual a f deveria ser exercitada: abundando (crescendo) em aes de graas. Tudo istoest compreendido na expresso andar com Cristo (assim andai nele). Desse modo, a vida cristcomo um todo dividida em duas partes: receber a Cristo e andar nele.

    As principais questes a serem respondidas, no texto, so as seguintes: 1) O que significa receber aCristo Jesus? 2) O que significa andar nele? 3) O que significa estar radicado nele? 4) O quesignifica estar edificado nele? 5) O que significa ser confirmado ou estabelecido na f? 6) O que o

    apstolo quer dizer com a explicao tal como fostes instrudos? 7) E o que significa crescendo(ou abundando) em aes de graas?

    Quanto primeira questo, deve-se observar o ato e o objeto. O ato receber; o objeto CristoJesus, o Senhor. Receber a Cristo, no somente, como alguns comentadores afirmamequivocadamente, receber sua doutrina; embora seja certo que sua doutrina deva ser recebida, e queo resto est implcito nisso. Mas quando o entendimento aquiesce em receber o evangelho, avontade, de comum acordo, igualmente o recebe; e receber a Cristo inclui ambos. Esta averdadeira f justificadora dos eleitos de Deus. No se trata, portanto, de uma recepo passiva,como a madeira recebe o fogo, e as nossas almas recebem as graas do Esprito; mas, sim, de umarecepo moral ativa. Receber a Cristo como Cristo, como o Messias ungido, e como nosso

    Salvador e Senhor, crer que ele tudo isso, e consentir que ele seja tudo isso para ns, e confiarnele, e confiar-nos a ele como tal. Se vocs acreditam sinceramente que o evangelho verdadeiro,esta f tem que ser suficientemente forte para vos levar determinao de confiarem a felicidade devocs esta f, e a abdicarem a tudo pela esperana que colocada diante de vocs. Se Cristo, nasua relao como pleno e perfeito Salvador, for recebido de corao por vocs; se vocs anurem oferta do evangelho, e estiverem verdadeiramente desejosos de ser dele, f no apenasmencionada como receber a Cristo, mas tambm freqentemente expressa em termos de quererCristo. Portanto, a promessa para todos quantos quiserem; e aos mpios negado terem parte emCristo, porque no querem que ele reine sobre si; e isto, porque no so crentes verdadeiros oudiscpulos de Cristo. Se vocs, portanto, anurem em ter a Cristo como Salvador, mestre e Senhor,devem, necessariamente, depender dele e confiar inteiramente nele, como tal; devem confiar nele

    para libertao da culpa, do poder e da condenao do pecado, e para vivificao, fortalecimento, eperseverana na graa, e para a vida eterna; devem confiar-se a ele, como discpulos, para aprenderdele, seguros de que ele ensinar a vocs infalivelmente o caminho da felicidade; e devem entregar-se a ele seguros de que ele vos governar em verdade e retido para a salvao, e vos defender dosinimigos destruidores. nisto que consiste a f, ou receber a Cristo Jesus, o Senhor.

    Quanto segunda questo (O que significa andar nele?), nada mais do que viver como cristos,quando, tendo uma vez nos tornado cristos, nos apegamos a Cristo para alcanarmos os fins paraos quais o recebemos, quando um dia o fizemos. Duas coisas so necessrias para aqueles que esto

    perdidos: a primeira encontrar o caminho correto; e isto significa encontrar Cristo, o qual o

    caminho. A outra , tendo-o encontrado, caminhar por ele; pois apenas encontrar o caminho no nosleva ao fim da nossa jornada.

    As prximas palavras a serem explicadas so radicados nele. Isto no significa simplesmente queningum est realmente plantado em Cristo sem que esteja de algum modo enraizado nele.Radicados, significa profundamente enraizados; pois as razes aprofundam-se na terra assimcomo a rvore cresce sobre ela. As razes tm duas funes, e ambas so aqui sugeridas: A primeiradiz respeito firmeza da rvore, para que a fora dos ventos no a derrubem. A segunda, dizrespeito sua nutrio; pois por meio delas a rvore recebe os nutrientes da terra, a fim de que

    possa ser preservada, crescer e frutificar. Nisso consiste o enraizamento do cristo em Cristo, a fimde que ele possa estar bem firmado nele contra todas as investidas, e possa retirar dele os nutrientes

    necessrios para crescer e frutificar.

    O prximo termo edificados nele. Casa alguma consiste apenas de alicerces. Cinco coisas soexpressamente indicadas com este termo. A primeira que estamos unidos ou associados a ele,como uma edificao est com o alicerce. A segunda, que estamos firmados totalmente nele, o

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    qual o nosso suporte, assim como a construo o est no alicerce ou fundao. A terceira queestamos unidos tambm uns aos outros, tendo nos tornado um edifcio espiritual no Senhor. Aquarta, que a construo aumenta em tamanho, assim como uma casa que est sendo construda,de modo que resulta no nosso crescimento na graa e no crescimento da igreja por nossointermdio. A quinta, a adequao do prdio ao fim e uso para o qual foi planejado; at que sejaconstruda, a casa no est devidamente apropriada para ser habitada. E at que os crentes estejamedificados, Deus no pode us-los plenamente para o propsito que planejou para eles.

    O termo seguinte estabelecidos ou confirmados na f. Isto significa aquele nosso fortalecimentoe firmeza que impedem nossa queda ou abalo; e compreende duas coisas. Primeiro, que estamosfundamentados em Cristo, o qual o nosso alicerce. Segundo, que estamos cimentados efirmemente unidos uns aos outros. Esta confirmao compreende nossa estabilidade na doutrina ouf; por isso o apstolo acrescenta conforme fostes instrudos, para fortificar os colossenses contraheresias, que no passam de inovaes; para que, assim, eles pudessem testar as doutrinas que

    posteriormente viessem a ser-lhes oferecidas; e se apegassem firmemente quelas que haviam sidoensinadas pelos apstolos. A seguir, Paulo exorta-os a abundarem, para que soubessem que nose trata de algo sem maior importncia; a fim de que no se acomodassem com um grau pequeno degraa ou dever. E lhes exortado que abundem especialmente em aes de graa, que um deverevanglico e celestial, que to admiravelmente convm a um povo que tem parte em to admirvel

    salvao; e to apropriado diante das misericrdias de Deus e de nosso estado, e das expectativasde Deus. Assim como o evangelho determina que o amor e a graa de Deus, atravs da obra benditado nosso Redentor, sejam eternamente louvados e magnificados na igreja; assim tambm asmanifestaes de amor, louvor e alegria devem ser as mais abundantes de todos os nossossentimentos e aes.

    Tendo fornecido essas explicaes, vocs podem compreender o sentido e doutrina do texto quepodem ser claramente assim expressos:

    Aqueles que salvificamente receberam ao Senhor Jesus Cristo, ao invs de descansarem neste

    estado como se tudo j houvesse sido alcanado, devem passar o resto de seus dias andando nele,

    enraizados e edificados nele, confirmados na f como os apstolos ensinaram, e abundandoespecialmente em alegres louvores ao nosso Redentor.

    Visto que meu propsito apenas orientar crentes recm-convertidos sobre como eles podemtornar-se edificados e confirmados em Cristo, deixarei de lado tudo o mais que um tratamentocompleto deste texto exigiria; e irei apenas: I. Dar uma breve idia do que esta confirmao eedificao, a qual ser mais plenamente revelada nas orientaes. II. Mostrar a necessidade de

    buscar esta confirmao. III. Orientar sobre como vocs podem alcan-la.

    O QUE SER CONFIRMADO E EDIFICADO NA F

    Esta confirmao o poder habitual da graa, distinto das eventuais confirmaes pela influncia dagraa de Deus. Deus pode em um determinado instante confirmar uma pessoa fraca para que possaresistir a alguma tentao em particular, pela sua livre assistncia; entretanto no disso que otexto fala aqui, mas de uma habitual confirmao em um estado de graa.

    Um crente confirmado, ao contrrio de um crente fraco, no deve ser avaliado, 1) Pela ausncia detodas as dvidas e temores. 2) Nem pela sua eminncia na estima ou observao do homens. 3)

    Nem por seu poder de memria. 4) Ou por liberdade de expresso na orao, pregao ou discurso.5) Ou por sua postura e cortesia para com os outros. 6) Nem por seu temperamento quieto, calmo eagradvel, e livre de alguma precipitao e paixo a que outros temperamento so mais tendentes.

    7) Nem pela capacidade fingida, mas que agrada aos homens, de refrear a lngua, impedindo-a derevelar a corrupo da mente, e de suprimir todas as palavras que poderiam fazer com que os outrossoubessem quo perverso o corao. H muitos dons louvveis e desejveis, os quais noevidenciam tanto a sinceridade com relao a graa; e muito menos o estado de confirmao eestabilidade.

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    Confirmao consiste no elevado grau daquelas graas que caracterizam um crente, e este elevadograu se manifesta nas suas prticas: 1) Quando a santidade como que uma nova natureza em ns,nos d prontido para atos santos, nos torna livres e prontos para tais atos, e os torna fceis efamiliares para ns; enquanto que o crente fraco sente dificuldade, e mal consegue compelir e forarsua mente estas aes. 2) Quando h constncia e freqncia de aes santas; que demonstramvigor e estabilidade de inclinaes santas. 3) Quando estas graas mostram-se poderosas parasuportar oposies e tentaes, podem superar os maiores impedimentos no caminho, tirar proveitode toda resistncia e desprezar as mais esplndidas iscas do pecado. 4) Quando tais graas esto

    ficando cada vez mais firmes, e inclinam a alma mais e mais prximo de Deus; quando o coraotorna-se mais celestial e divino, e estranho para o mundo e para as coisas terrenas. 5) E quando ascoisas celestiais so mais doces e agradveis alma, e so procuradas e usadas com mais amor e

    prazer. Todas estas coisas mostram que as operaes da graa so vigorosas e fortes, econseqentemente mais constantes.

    Esta confirmao deve manifestar-se: 1) No entendimento. 2) Na vontade. 3) Nos sentimentos. 4 )Na vida.

    1. Quando a mente de uma pessoa adquire uma maior compreenso das verdades de Deus, e daordem, lugar e utilidade de cada verdade, com uma convico mais profunda da veracidade delas e

    da excelncia dos assuntos nelas revelados; quando os olhos se abrem mais para o conhecimento e af, e temos uma plena, verdadeira, firme e segura apreenso das coisas reveladas e invisveis;quando a natureza, razes, propsitos e benefcios da religio esto muito clara, ordenada, adequadae fortemente impressos na mente; ento a mente est em um estado confirmado (ou estabelecido).

    2. Quando a vontade dirigida por tal compreenso confirmada; e no est tolamente determinada,sem saber por que; quando o entendimento iluminado firma de tal modo a vontade, que todas asdvidas, hesitaes, vacilaes e relutncias indesejveis considerveis, tornam-se coisas do

    passado, e o homem que est buscando a Deus e sua salvao e evitando pecados conhecidos -como o homem natural est interessado em preservar sua vida e acumular bens e evitar o que lhe danoso, fome e tormentos; quando as inclinaes da vontade para com Deus, os cus e a santidadeassemelham-se a sua inclinao natural para o bem como bem, e para sua prpria felicidade, e suasaes so to livres ao ponto de no ter a menor indeterminao, e a serem semelhantes a atosnaturais necessrios, como so os atos dos abenoados espritos nos cus; quando as menoressugestes de Deus prevalecem, e a vontade responde a elas com prontido e prazer, e quando ela sedeleita em esmagar toda oposio e tudo o que possa ser oferecido para corromper o corao e atra-la para o pecado, e afast-la de Deus; este um estado de vontade confirmada.

    3. Quando ossentimentos procedem de tal vontade, e esto prontos para assisti-la, motiv-la e servi-la, e impulsionar-nos aos deveres necessrios; quando os sentimentos menos elevados de temor etristeza purificam, restringem e preparam o caminho; e os sentimentos mais elevados de amor e

    alegria esto apegados a Deus, desejam e anseiam Sua presena, dispem a alma para propsitosjustos, e esto libertando mais o corao para a possesso de desejos santos e para o amor; e quandoestes sentimentos - os quais so preferivelmente mais profundos do que imediatamente sensveis

    para com o prprio Deus - so sensveis para com a Sua palavra, Seus servos, Suas graas e Seuscaminhos, e contra todo pecado; ento os sentimentos, assim como a pessoa, est em um estadoconfirmado.

    4. Quando consideramos ns mesmos, nosso tempo, e tudo o que temos, de Deus e no nosso, esomos inteiramente e sem reservas entregues a Ele e usados por Ele; quando nos aplicamos aosnossos deveres e confiamos nEle para nossa recompensa; quando vivemos como quem tem muitomais a ver com os cus do que com a terra, e com Deus do que com o homem ou qualquer outra

    criatura; quando nossas conscincias so absolutamente submissas autoridade e leis de Deus, eno se dobram diante dos competidores; quando estamos habitualmente dispostos, como Seusservos, a sermos constantemente empregados em Seus servios, e a fazer disso nossa vocao enegcio neste mundo, considerando que nada temos a fazer no mundo seno o que podemos fazercom Deus e para Deus; quando no acalentamos nenhum desejo ou esperana secreta de felicidade

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    mundana, nem buscamos o prazer da carne, sob a capa da f ou piedade, mas subjugamos a carnecomo nosso inimigo mais perigoso, e podemos facilmente negar satisfazer seus apetites econcupiscncias; quando vigiamos todos os nossos sentimentos e mantemos nossas paixes,

    pensamentos e lnguas em obedincia santa lei de Deus; quando no consideramos indevidamentenossa estima ou desejos acima ou contra nosso prximo e o bem estar deles; e amamos os piedososcom amor tolerante, e os mpios com amor benevolente, embora sejam nossos inimigos; quandosomos fiis com relao aos nossos relacionamentos, e discernimos nossos deveres, a fim de noenveredarmos para o extremismo; e demonstramos habilidades, prontido e prazer para realizarmos

    nosso deveres, e pacincia quando em sofrimento; esta a vida de um cristo confirmado, em vriosgraus, conforme a graa que Deus concedeu a cada um.

    INCENTIVOS PARA BUSCAR A CONFIRMAO NA F

    Prosseguirei agora, para persuadi-los com relao importncia de buscar esta confirmao, paraque os conselhos que darei a seguir, no venham a ser desperdiados, devido s mentesentorpecidas e despreparadas dos leitores. Posteriormente, ento, darei os conselhos propriamenteditos, os quais constituem a inteno principal deste livro. Vamos, primeiro, aos incentivos.

    1o Incentivo

    Considerem que o ingresso de vocs no cristianismo um compromisso de prosseguir. Ter recebidoa Cristo os obriga a andar e crescer nele. O cristianismo lhes impe uma obrigao qudrupla paraque possam fortalecer-se e perseverar:

    1. A primeira provm da prpria natureza do cristianismo; e at mesmo do ofcio de Cristo, e douso e fim para o qual O recebemos. Vocs receberam a Cristo como a um mdico para as doenasdas almas de vocs; e isto, porventura, no os compromete a prosseguir a fazer uso dosmedicamentos por Ele prescritos at ficarem curados? Para que as pessoas recorrem a um mdico,seno para serem curadas? Somente um paciente muito tolo diria: Embora a minha doena sejamortal e eu tenha conseguido o melhor mdico, no preciso fazer mais nada, e ainda assim noduvido que serei curado. Vocs receberam a Cristo como Salvador; e isso os obriga a fazer uso dosmeios de salvao e a submeterem-se s Suas obras salvadoras. Vocs O receberam como professore mestre; e comprometeram-se a ser discpulos dEle. E que sentido teria tudo isso, se no

    prosseguissem em aprender dEle? Seria uma tola presuno algum pensar que um bom alunosimplesmente por haver escolhido um bom professor ou tutor, sem que dele aprenda. Quando Cristoenviou seus apstolos, foi com estas duas tarefas: primeiro, para fazer discpulos de todas as naese batiz-los; e, ento, prosseguir, ensinando-os a observar tudo o que Ele havia ordenado. Cristo ocaminho para o Pai; mas com que propsito vocs vieram para este caminho, se no tencionamcaminhar nele?

    2. Alm disso, quando vocs se tornaram cristos, entraram em solene aliana com Cristo; ecomprometeram-se com promessas de serem fiis a Ele at a morte; e este voto est sobre vocs. melhor no fazer votos, do que faz-lo e no cumprir. Tendo aceito a Cristo como capito dasalvao de vocs, e alistado-se sob seu comando, e jurado fidelidade a Ele, vocs secomprometeram a combater como fiis soldados, sob Sua direo e comando, at o fim da vida. Eassim como tolo o soldado que pensa que nada mais tem a fazer, seno alistar-se e ganhar umafarda, sem ter que combater; assim tambm tolo e mpio aquele que professa a f crist pensandoque nada tem a fazer seno prometer; quando a promessa teve o propsito de compromet-lo a

    prosseguir.

    3. Alm disso, quando vocs se tornaram cristos, colocaram-se sob as leis de Cristo; e estas leis

    requerem que prossigam at que sejam confirmados; de modo que devem ir avante ou renunciarobedincia a Cristo.

    4. Finalmente, quando vocs receberam a Cristo, receberam to abundantes misericrdias, que estoobrigados a ter sentimentos mais elevados e mais obedincia para com Deus. Algum que foi

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    recm-arrebatado da garganta do inferno, e que recebeu o livre perdo dos seus pecados, e que foicolocado em tal estado abenoado como vocs o foram, devem, necessariamente, compreender aabundncia do dever que tm para com Deus, de prosseguir e alcanar vontade e sentimentos maisfortes; e no satisfazer-se com o grau insuficiente do princpio.

    Se vocs considerarem essas quatro coisas, podero perceber que o prprio propsito de teremrecebido a Cristo, foi a fim de que pudessem andar nEle e serem confirmados e edificados.

    2o

    Incentivo.

    Considerem, tambm, que a converso no sadia, se vocs no esto sinceramente desejosos decrescer. A graa no verdadeira, se no houver desejo de maior poro dela; sim, se no houverdesejo de alcanar a prpria perfeio. Uma criana no nasce para permanecer criana, pois issoseria monstruoso; mas para crescer e alcanar a maturidade. Assim como o reino de Cristo nestemundo comparado por Ele a um pouco de fermento e a um gro de mostarda, no incio, quedepois cresce de modo espantoso; assim o Seu reino na alma tambm da mesma natureza. Sevocs esto contentes com a poro de graa que tm, vocs no tm graa alguma, mas apenasuma sombra ou imitao dela. Ser que algum acha que deve racionar a santidade e argumentarque se deve ser moderado quanto a isso; como se fosse intemperana amar a Deus, tem-lO, busc-

    lO e obedec-lO mais do que o fazem - como se estivssemos em perigo de excesso ao fazer isso?Se uma pessoa sincera e por experincia souber o que a santidade, jamais poder conceber talidia.

    3o Incentivo

    Considerem quanto labor desperdiaro e quantas esperanas tero sido frustradas, se noprosseguirem at virem a ser enraizados em um estado de confirmao. Eu no digo que taispessoas fossem verdadeiramente santificadas; o que eu digo que estavam em um caminhoesperanoso e na direo correta; e que, se houvessem prosseguido, poderiam ter alcanado asalvao. O corao de muitos ministros alegrara-se bastante por ver seus ouvintes humilhados,deplorando seus pecados, mudando suas mentes e vidas, e professando externamente a piedade;

    para, alguns anos depois, ver sua alegria transformada em tristeza; e algum que alimentvamos aesperana de ser convertido, esfriar e perder sua disposio inicial; e outro cair na mais completasensualidade, e tornar-se um beberro, fornicador ou jogador; e outro voltar-se para o mundo etransformar seu aparente zelo em amor pela riqueza e cuidados desta vida; e outros seremenganados por algum charlato e infectados com erros mortais, abandonarem seus deveres, eentregarem-se como instrumentos de Satans para dividir a igreja, oporem-se ao evangelho, edesacreditarem e injuriarem ministros e crentes; para enfraquecerem as mos dos construtores efortalecerem os mpios, e servirem aos inimigos secretos da verdade. Aqueles que um diaconfortaram o nosso corao com a esperana de serem convertidos, quebram o nosso corao com

    suas apostasias e subverses, e tornam-se grandes obstculos na obra de Cristo, e pragas maiorespara a igreja de Deus, do que aqueles que nunca professaram ser religiosos. Aqueles quecostumavam unirem-se a ns no culto santo e conosco iam casa de Deus como irmos nossos,depois desprezam ambos, os adoradores e o culto. Se tais pessoas estivessem enraizadas econfirmadas, vocs jamais as veriam cair neste miservel estado. Oh, quantas oraes, confisses, edeveres estas pessoas desperdiaram! Por quantos anos alguns deles pareciam religiosos, paradepois manifestarem-se apstatas e serem engolidos completamente pelo mundo, pela carne, peloorgulho e pelo erro.

    Considerem, portanto, o quanto vocs necessitam estar enraizados, confirmados e edificados emCristo.

    4o Incentivo

    Considerem tambm, quanto da obra da salvao de vocs ainda est por acontecer. Felizmentevocs comearam; mas ainda no terminaram. Vocs encontraram o caminho certo, mas ainda tm

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    uma jornada para caminhar. Escolheram o melhor comandante e esto em companhia dos melhoressoldados; mas ainda tm muitas batalhas para combater. Se vocs so realmente cristos, sabem queainda tm muita corrupo para resistir e conquistar, muitas tentaes para vencer, e muita obranecessria por fazer; e esta obra to necessria quanto a obra inicial (de converso). Este o

    propsito da converso de vocs: que renegadas e as paixes mundanas, vivam no presente sculo,sensata, justa e piedosamente - pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, asquais Deus de antemo preparou para que andssemos nelas5[1]. Como que crianas poderiamefetuar todas essas obras? Quem de vocs desejaria ter uma criana ou um invlido para ser seu

    servo? Embora Deus seja mais misericordioso do que o homem a esse respeito, ainda assim, Eleespera que vocs no permaneam sempre crianas. Que obra pode se esperar que voc faa paraEle nesta condio deficiente e fraca? Que cegueira lastimvel, que um homem que saiba que temuma alma para ser salva, pense que o vigor de uma criana seja suficiente para estas obras edificuldades que esto entre ns e a vida eterna! Nas coisas desta vida, voc percebe a necessidadede vigor e fora. Voc no acha que uma criana esteja habilitada para arar ou plantar, colher,ceifar, viajar ou agir como um soldado; e ainda assim, voc ficar satisfeito com o vigor de umacriana para realizar estas grandes e incomparveis obras relacionadas com a sua salvao?

    5o Incentivo

    Alm disso, as almas fracas e no confirmadas esto normalmente cheias de perturbaes, e vivemsem aquela convico do amor de Deus e aquela paz espiritual e conforto que outros desfrutam.Seria de se esperar que nenhum outro argumento se fizesse necessrio para convencer as pessoas ase preocuparem com sua fraqueza e enfermidade espiritual, do que as inquietaes e perturbaesque sempre as acompanham.

    muito mais penoso para um homem enfermo caminhar uma milha, do que para um saudvelcaminhar dez. Para algum aleijado ou enfermo, cada passo acompanhado de sofrimento, e tudo oque faz lhe doloroso; enquanto que para algum saudvel, fazer muito mais seria apenas um

    passeio. Oh, no se deleitem, portanto, na insuficincia de vocs; no escolham viver eminquietaes e tristezas; mas esforcem-se para ser confirmados e crescer na graa, que suplanta asfraquezas e supera lamentos e gemidos, a fim de que venham a conhecer a vida confortada de umcrente confirmado. Oh, quo eficaz e alegremente vocs viveriam a vida crist; quo mais fcil,doce e proveitosa ela lhes pareceria, se fossem cristos fortes e confirmados!

    Ora, as almas daqueles que no so confirmados esto expostas toda sorte de tentao do seumalicioso inimigo. Quantas questes de menor importncia as inquietaro e perturbaro! Cada

    passagem das Escrituras que no entendem, e que parecem ir contra eles, os perturba. Por mais clarae cuidadosa que seja a pregao de um ministro, o que, de algum modo no entendem, para elesmotivo de inquietao. As obras da providncia de Deus os perturbam, porque no ascompreendem. As aflies sero mais amargas tanto para a mente como para o corpo, e os deixaro

    exageradamente perplexos, porque no as entendem, ou porque no tm vigor espiritual parasuport-las e tirar proveito delas. As misericrdias mais doces da prosperidade perdero muito dassuas douras, por falta de sabedoria santa e vigor espiritual para digeri-las.

    Que pessoa escolheria um estado de fraqueza e deficincia espiritual ao invs de um estadoconfirmado e saudvel? Vocs correro de um lugar para outro procura de um mdico quandoesto doentes; no a sade, estabilidade, paz e vigor espirituais da almas de vocs muito maisimportante?

    6o Incentivo

    Alm disso, so os crentes fortes e confirmados que fazem verdadeiro uso e se beneficiam de todasas ordenanas de Deus. Carne s digerida por um estmago sadio. Estes, no a desperdiam. Para

    5

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    eles, a carne agradvel e nutritiva. E assim acontece com os crentes confirmados, com relao sordenanas de Deus.

    Mas quanto s almas fracas e no confirmadas, quanto dos meios de graa so desperdiados! Quopouco gosto encontram neles! Eu no nego que obtenham algum proveito e faam algum uso deles;pois embora uma pessoa enferma tire pouco proveito da carne que come, sem ela, no poderiacontinuar vivendo; e embora o alimento no o torne forte e saudvel, ainda assim serve parasustentar sua dbil vida; mas isso tudo, ou quase tudo.

    Que coisa triste, para vocs e para ns, quando os ministros - que so como que enfermeiros daigreja, ou dispenseiros da casa de Deus, e do a vocs toda a alimentao devida - vem que tudo oque derem no poder fazer nada mais do que mant-los vivos! Sim, quo freqentemente vocsreclamam da comida, e no gostam dela! Ou no podem engoli-la, pois algo nela os incomoda, sejaquanto ao contedo, seja quanto forma! Se o ministro desagrada vocs, o frgil estmago de vocsrejeita a comida, argumentando que no gostam da receita, ou que as mos dele no esto tolimpas como queriam. A alma farta pisa o favo de mel, mas alma faminta todo amargo doce6[2]. Ou, se conseguem engolir, dificilmente retm o alimento, mas acabam lanando-o foradiante de ns. Desse modo, boa parte dos nossos labores so desperdiados, doutrinas santas so

    perdidas, e sacramentos e outras ordenanas no so aproveitados como poderiam, porque vocs

    no tm sade espiritual para digeri-los.

    Esforcem-se, portanto, para ser edificados e confirmados na f.

    7o Incentivo

    Eu rogo que atentem para a condio do mundo em geral, e vejam, se no necessita da mais forteajuda. Mas os fracos e doentes, ao invs de poderem ajudar os atormentados, so um peso para osoutros.

    H uma multido ao redor de ns e espalhada pelo mundo afora, ignorante, mpia e em profundamisria espiritual. E, havendo to poucos que podem ajud-los, o que podero fazer, se forem bebsespirituais? Multides vivem obstinadas em seus pecados, cegos e empedernidos, cativos do diabo,os quais se entregaram para a prtica do mal. E no contaro estas miserveis almas seno comcrianas ou enfermos para ajud-las? Eu digo a vocs, que a enfermidade deles desafia os maishabilidosos mdicos; os homens mais sbios da Inglaterra no conseguem persuadir um obstinadoinimigo da piedade a amar de corao a vida santa; ou convencer uma pessoa supersticiosa do seuerro; ou uma pessoa gananciosa do seu amor pelo mundo; ou um beberro ou gluto da suasensualidade. Como ento cristos tolos e ignorantes podero persuadi-los?

    Eu sei que no a habilidade do instrumento, mas a vontade de Deus, que a causa principal; mas

    Deus costuma agir por meio de instrumentos, de acordo com a qualificao deles para a obra. Queser de um hospital aonde todos esto doentes e no h uma s pessoa sadia entre eles para ajudar!Pobres cristos fracos, vocs no esto em condies de ajudar sequer uns aos outros; quanto maisde ajudar o mundo morto e mpio. Ai do mundo, se no contasse com ningum em melhor estado

    para ajud-lo. E ai de vocs mesmos, se no contassem com a ajuda de algum mais forte do quevocs, visto que determinao de Deus agir por meio de instrumentos.

    Ora, uma criana ou uma pessoa doente no est habilitada para labutar e prover as necessidades dafamlia e a trabalhar para outros. Na verdade, eles que precisam de cuidado na famlia; e outrosdevem trabalhar por eles. Que coisa terrvel; serem pesos para a igreja, quando deveriam ser suascolunas! Serem cegos e aleijados, quando deveriam ser os olhos do cego e os ps do coxo!

    Eu no digo essas coisas, para depreciar as misericrdias de Deus para com vocs, nem paradesvalorizar a grande felicidade dos santos - mesmo do mais pobre e fraco deles. Eu sei que Cristo

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    compassivo para com os cristos sinceros mais fracos, e que no os esquecer. Mas, embora estejamem uma condio muito mais elevada do que a do mundo que est morto - mesmo de cama,gemendo e dbeis; oh! quo aqum esto de um crente confirmado e saudvel. Vocs esto felizes

    por estarem vivos, mas infelizes por estarem doentes ou fracos.

    8o Incentivo

    Isto no tudo; vocs no apenas esto inabilitados para servir a igreja; como tambm a maioria

    dos problemas e divises na igreja so provocados por pessoas inconstantes e fracas como vocs.

    Em todas as pocas, isto tem prejudicado mais a igreja do que o fogo e a espada da perseguiopag. Estes nefitos, como Paulo os chama - isto , os principiantes na religio -, so os que maisfacilmente se ensoberbecem e incorrem na condenao do diabo.7[3] So estes os que so maisfacilmente enganados pelos sedutores, visto que no esto habilitados a fazer uso da verdade, e arefutar os argumentos aparentemente plausveis dos adversrios. Ademais, eles no tm aqueleamor enraizado pela verdade e caminhos de Deus, que os manteria firmes; e, assim, rapidamente serendem como soldados covardes, que quase no oferecem resistncia. Como Paulo diz, crentesneste estado so como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo ventode doutrina, pela artimanha dos que induzem ao erro.8[4] Se continuarem crianas, o que poderemos

    esperar de vocs, seno que sejam agitados de um lado para o outro?

    Desse modo, vocs gratificam a Satans e aos sedutores, e sequer se do conta disso. E, assim,contribuem para o endurecimento do corao dos incrdulos para continuarem em seus caminhos; eentristecem o corao dos piedosos, e, especialmente, daqueles que conduzem os rebanhos. Queterrvel que tantos da prpria igreja, sejam a causa do seu flagelo e infortnios!

    Ainda que no tenham sido levados a fazer nada para o oprbrio da igreja; ainda assim, que tristezanos causa, ver tantos entre vocs malograrem! Oh, pensa um pobre ministro, quanta esperana eunutria com relao a estes professos; mas eles terminaram fracassando! Oh, isto uma marca daadvertncia do apstolo: No vos deixeis envolver por doutrinas vrias e estranhas... Seu ensino

    para prevenir tal coisa, ... estar o corao confirmado com graa.9[5]

    9o Incentivo

    Considere tambm, que desonra para Cristo, que tantos da sua famlia sejam assim to dbeis, toinconstantes, to inseguros e inabilitados como vocs so!

    Eu no quero dizer que sejam real desonra para Ele; pois se todo o mundo O esquecesse, estariamdesonrando a si mesmos e no a Ele, aos olhos de qualquer juiz qualificado - como seriamdesonrados os observadores e no o sol, se estes afirmassem que o sol trevas. Mas vocs so

    culpados de O desonrarem aos olhos de um mundo perdido. Oh, que mau testemunho para apiedade, que tantos professos sejam to ignorantes e imprudentes; que tantos sejam to volveis einconstantes; que tantos manifestem to pouco da glria da sua santa vocao. Todos os inimigos deCristo fora da Igreja, no so capazes de desonr-lO tanto quanto vocs, que so chamados pelo Seunome, e que se consideram dEle. Enquanto a graa em vocs for fraca, a corrupo ser forte; etodas estas corrupes sero a desonra da sua profisso de f. No parte o seu corao ouvir ummpio apontar para voc quando passa e dizer: L vai um crente ganancioso; ou L vai um crenteorgulhoso, que gosta de bebida e contencioso? Se vocs tem algum amor por Deus e de algummodo sentem por Sua desonra, me parece que estas coisas deveriam tocar o seu corao!

    Enquanto forem fracos e no confirmados, vocs iro, como as crianas, tropear em cada pedra,

    cair constantemente e ceder s tentaes, as quais um crente mais forte resistiria com facilidade; e ,tornando-se em escndalo, todas as suas faltas sero atribudas religio pelos homens tolos. Se7

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    voc falar mal de algum, ou reclamar, ou enganar ou extrapolar na barganha, ou cair em algumaopinio ou prtica escandalosa, a sua religio que ser responsabilizada diante do mundo. Atonde posso lembrar, uma das principais barreiras para a converso dos homens e uma das principaiscausas de empedernimento dos mpios em seus maus caminhos quando os piedosos so tidos porimpertinentes, no pacficos, gananciosos, orgulhosos e interesseiros. Vocs deveriam temer osais de Cristo, Ai do homem pelo qual vem o escndalo10[6]. Se forem crianas, estaro sujeitos aseveras disciplinas; se forem hipcritas, estaro sujeitos aos sofrimentos eternos. O mundo no pode

    julgar mais do que v; e quando vem professos da santidade ser to parecidos com os homens

    comuns, e em algumas coisas piores do que muitos deles, o que vocs podem esperar seno quedesprezem a religio, e a julguem por seus professos, e digam: se essa a religio deles quefiquem com ela, estamos to bem sem ela quanto eles. Desse modo, os santos caminhos de Deusso difamados. Se vocs no excederem outros na excelncia do testemunho, a fim de que o mundo

    possa ver neste espelho a excelncia da religio de vocs, ento podem esperar que eles aconsideraro como algo comum, que, no discernimento deles, produz apenas frutos comuns.

    Vocs deveriam ser tais, que Deus e a Igreja pudessem orgulhar-se de vocs diante do acusador.Ento, vocs seriam uma honra para a Igreja quando Deus pudesse dizer de vocs o que disse de J:Observaste a meu servo J? porque ningum h na terra semelhante a ele, homem ntegro e reto,temente a Deus, e que se desvia do mal11[7]. Se pudssemos dizer o mesmo de vocs aos perversos

    inimigos: Observem os piedosos; no h ningum como eles entre vocs; homens santos, sbios,retos, sbrios, mansos, pacientes e pacficos, vivendo totalmente para Deus como estrangeiros naterra, e cidados dos cus, ento vocs seriam os ornamentos da sua santa profisso. Se vocsfossem cristos dessa natureza, ns poderamos nos orgulhar de vocs, para oprbrio dosadversrios.

    10o Incentivo

    Alm disso, enquanto no for confirmado, voc pode facilmente tornar-se instrumento de Satans, epromover seus desgnios.

    A fraqueza do entendimento, o poder das paixes, e especialmente, a influncia que o eu carnalainda tem sobre vocs, pode deix-los suscetveis a tentaes, e fazer com que sejam empregadosem muitas obras de Satans, e com que fiquem do lado dele e se oponham verdade. Que coisatriste, para algum que j sentiu o amor de Cristo! Foram vocs aquecidos por Seu maravilhosoamor, lavados por Seu sangue, e salvos por Sua incomparvel misericrdia; contudo, no lhes parteo corao pensar que, no obstante tudo isso, sejam enredados por Satans a magoar seu Senhor,vituperar Sua honra, resistir a Sua causa, apoiar Seus inimigos e agradar o diabo? Eu afirmo, comvergonha e dor no corao, que o excesso de fraqueza e a instabilidade de crentes professos - osquais temos esperana que j tm um corao, pelo menos em parte, correto - tm sido instrumentosmais poderosos de Satans para a consecuo dos seus desgnios, para obstculo do evangelho, para

    a vituperao do ministrio, para diviso da igreja, e impedimento de reformas espirituais, do que amaioria dos notrios profanos!

    Quantas esperanas tivemos um dia, de ver uma florescente piedade e feliz unio entre as igrejas eservos de Cristo na Inglaterra! E quem foi que no apenas frustrou essa esperana, mas quase a

    partiu em pedaos? Algum contribuiu mais para isso do que crentes professos fracos e instveis?Que triste confuso h na Inglaterra como um todo em nossos dias, devido terem as igrejas sidodivididas em seitas, devido a disputas e contendas de cristos contra cristos, e devido a um odiosoabuso das santas verdades e ordenanas de Deus! Quem culpado disso, mais do que tais instveis

    professos da piedade? Que oprbrio maior poderia advir sobre ns, do que o adversrio contemplar-nos arrancando os olhos uns dos outros; odiando, perseguindo, maldizendo-nos uns aos outros; e

    ver-nos destruindo a casa de Deus com nossas prprias mos, e fazendo em pedaos as pobresigrejas, enquanto homens brigam para ver quem prevalece para reform-la? Que diverso para o

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  • 8/3/2019 23220445 Richard Baxter Conselhos Para Crentes Fracos

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    diabo, quando ele pode tomar seus declarados inimigos pelos ouvidos, e faz-los lanarem-se unscontra os outros! Quando, ele se prope causar grandes estragos na igreja e obra de Cristo, ele podesimplesmente convocar crentes instveis para faz-lo! Quando ele quer tornar a piedade emescndalo, quem ele chama para realizar tal obra, seno a professos da piedade? Alguns provocamescndalo; enquanto outros o agravam e divulgam.

    Quando ele quer ver uma igreja dividida, quo rapidamente encontra uma razo de discrdia! Equem far isso, seno os membros instveis da prpria igreja? Quando ele quer ver a verdade ser

    objetada, e o erro e as trevas promovidos; quem far isso, seno professos da verdade? Bastapersuadir alguns deles de que a verdade erro e o erro verdade, e o estrago est feito: elesmarcharo furiosamente contra o Mestre deles, e pensaro que estaro Lhe prestando um servio,enquanto, na verdade, esto se levantando contra Ele, escarnecendo e envergonhando, quando nomatando Seus servos. Quando ele quer ver divises publicamente mantidas nas igrejas do mundointeiro, basta apossar-se de pastores instveis e de outras pessoas, com um zelo perverso por meras

    palavras e idias - como se a vida da igreja consistisse nisso; e eles sero instrumentos do diabo,atendendo imediatamente ao seu chamado. E assim, consumaro seu desgnio - talvez por meio dovoto da maioria; e todos os que no concordarem com eles, sero chamados de herticos; e a igrejater novos artigos acrescentados sua f, sob a pretenso de corroborar e expor os antigos. Dessemodo, quando Satans tem algum trabalho para realizar - se os pagos e infiis no puderem faz-lo

    - basta convocar os cristos; se os inimigos beberres e malignos no puderem realizar, bastachamar alguns instveis professos da piedade que eles o faro; juntamente com aquela classe maisindigna de pastores que tenham algum propsito carnal ou zelo cego e voraz.

    Oh, cristos, em nome de Deus, assim como evitariam estas atitudes diablicas, empenhem-se poralcanar graa confirmadora e fortalecedora; e no se dem por satisfeitos com o estado infantil,fraco e instvel de vocs. Se foram libertados de Satans, e o repudiaram verdadeiramente, e

    provaram a grande salvao de Cristo, vocs deveriam at mesmo tremer em considerar quoterrvel seria se, depois de tudo isto, devido a fraqueza de vocs, viessem a ser encontrados servindoao diabo e injuriando ao amado Senhor de vocs! Como podem injuri-lO, aqueles a quem Eleredimiu da condenao? Como podem ser empregadas para destruir Seu reino, as mos que foramlavadas por Ele, e que deveriam edific-lo (o reino)? Vocs seriam como Judas, o qual, tinha asmos no mesmo prato em que seu Mestre, enquanto seus lbios o traam.

    11o Incentivo

    Alm disso, enquanto forem fracos e no confirmados, vocs encorajaro sobremaneira o mpio nassuas falsas esperanas, por serem to parecidos com eles como so.

    Quando eles vem que vocs quase no os excedem, e em muitas coisas so to maus ou at pioresdo que eles, isto os persuade fortemente de que o estado deles to bom quanto o de vocs, e que

    podem ser salvos assim como outros, visto que a diferena parece to pequena. Eles sabem que ocu e o inferno so muito diferentes; e que no tm nada a ver um com o outro. Portanto,dificilmente acreditaro que podero ser lanados no inferno, enquanto que pessoas que parecem serto pouco diferentes deles vo para o cu. Vocs no acreditariam o quanto isso os deixa obstinadosem seus pecados. Enquanto os ministros se empenham em manifestar a hediondez do pecado dosmpios, e a quebrantar o corao deles com os terrores do Senhor; como os acalma e tranqiliza, ver

    pecados semelhantes e pessoas to ms quanto eles, entre os que professam a f crist. Se estes,dizem eles, sero salvos com todos esses pecados; por que devo atemorizar-me?

    Oh, desprezveis, inteis e escandalosos professos da religio; enquanto nos empenhamos por tantosanos, estudando e pregando, visando a converso dos homens, vocs vo e desfazem tudo o que

    fizemos por meio do escndalo, leviandade ou imprudncia, em uma hora! Quando estamos pertode persuadir as pessoas a se converterem dos seus maus caminhos, vocs os persuadem a retroceder,e fazem mais mal pela fraqueza e escndalo da vida de vocs, do que o bem que muitos de ns

    podemos com nossa vida e doutrina. Quando estamos conseguindo trazer pecadores s portas davida, vocs os arrancam das nossas mos e os conduzem de volta ao cativeiro.

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    No lhes parte o corao, pensar que uma alma que seja - quanto mais muitas - venha a ficar de forada glria e perea em misria eterna, em parte por culpa de vocs? Meditem sobre isso, e eu creioque desejaro graa confirmadora.

    13o Incentivo

    Eu insto que considerem que a excelncia, glria e brilho das graas de vocs, um dos meiosdesignados por Deus para a honra do Seu Filho, do Seu evangelho e da Sua igreja, e para a

    convico de pecados e converso do mundo descrente. Portanto, se vocs no usarem esses meios,estaro roubando a Deus e a igreja daquilo que lhe devido, e privando os pecadores de um dosmeios de salvao.

    Vocs so exortados: Assim brilhe tambm a vossa luz diante dos homens, para que vejam asvossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que est nos cus12[8]. Cristos, despertem paraconsiderar o que podem fazer com as graas que tm. Vocs podem honrar e agradar ao Deus vivo

    por meio delas! Assim como a excelncia de uma obra honra o trabalhador que a fez, assim tambmsuas graas e vidas devem honrar a Deus. Vocs tm as almas dos fracos para confirmar e a dosmpios para ganhar, atravs de suas vidas. Vocs deveriam ser todos pregadores - pregando medida em que passam por este mundo, como uma candeia ilumina onde quer que passe. Assim

    como ns (pastores) somos enviados para salvar pecadores, como embaixadores de Cristo, atravsda proclamao pblica da sua vontade; assim tambm vocs so enviados para salv-los, comoservos de Cristo, e nossos auxiliares; e devem pregar por meio das suas vidas e exortaes pessoais,assim como o fazemos por meio de instruo autorizada. Uma boa vida um bom sermo. Sim,alguns podero ser ganhos por meio dos sermes de vocs, os quais no viro por meio dos nossos.

    Mesmo as mulheres, que devem ficar caladas na igreja, so exortadas por Pedro a este tipo depregao: ...para que, se alguns deles ainda no obedecem palavra, sejam ganhos, sem palavraalguma, por meio do procedimento de suas esposas13[9]. Milhares podem entender o significado deuma boa vida, os quais no podem entender o significado de um bom sermo. Por esse meio, vocs

    podem pregar a pessoas de todas as lnguas, embora tenham aprendido apenas uma; pois uma vidasanta, piedosa e humilde fala em todas as lnguas do mundo, a todas as pessoas que tiverem olhos

    para ler. Este o alfabeto e lngua universal pelo qual todos podem ouvir falar das maravilhosasobras do Esprito Santo.

    Portanto, eu os desafio, cristos: no priveis Deus da honra que Lhe devida, nem a igreja, nem asalmas dos mpios, desta excelente e poderosa ajuda que lhes devemos; permanecendo com suasmentes fracas e instveis, e com suas vidas maculadas. Mas cresam e alcancem a medidanecessria para tal obra. Assim como no ousariam silenciar os pregadores do evangelho, assimtambm, no ousem vocs mesmos deixar de pregar por meio de uma vida santa e exemplar.

    Vocs acreditam que crentes professos dbeis, levianos e escandalosos podem fazer algum bemmaior por meio de tais vidas? Vocs acham que o corao das pessoas sero levados a um amorpela santidade, ao conversar com crentes que malmente podem dizer uma palavra que faa sentidoem favor da sua religio; ou ao verem professos to cobiosos de conseguirem um lucro maior,quanto os mundanos que no tm esperanas maiores; ou ao ouvi-los reclamar, mentir ou difamar;ou ao v-los ir atrs de todo ensino que lhes seja apresentado com algum plausvel fervor? Vocs

    pensam que as pessoas sero ganhas por meio de vidas como essas?

    14o Incentivo

    Vocs j consideraram que grandes coisas podem ainda vir a sofrer por Cristo?

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    Vocs podem vir a ser obrigados a abandonar tudo o que tm. Vocs no podero poupar suasvidas, se ele ordenar que a percam. Vocs tero que sofrer com Ele, se quiserem ser com Eleglorificados14[10]. Vocs podem vir a ser chamados a confessar a Cristo diante de reis e juzes daterra; ento, se o negarem, Ele os negar, e se envergonharem dEle, Ele se envergonhar de vocs.Vocs podem vir a ser chamados a enfrentar uma grande provao, e a sofrer o esplio dos vossos

    bens15[11] e, em uma palavra, perder tudo. Vocs no acham que necessitaro, ento, de muivigorosa graa? Vocs no acham que precisam ser crentes confirmados e radicados, a fim de que

    possam enfrentar tais tempestades? Vocs no tm visto muitos que pareciam fortes, serem

    derrotados em tempos de provao? E ainda assim, pretendem estacionar em um estado fraco?

    Talvez vocs respondam que no podemos permanecer inabalveis por nossas prprias foras, eque, portanto, Cristo pode sustentar o mais fraco, enquanto que o forte cai. A isto, respondo: verdade; mas comum Deus agir atravs de meios. O Seu modo de operar com relao graa semelhante ao seu modo de agir com relao natureza. Portanto, Ele normalmente enraza efortalece aqueles a quem quer que permaneam inabalveis. Sim, ele os equipa e fortalece, e, ento,ensina-os a usar suas armas.

    Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na fora do seu poder. Revesti-vos de toda aarmadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo, porque a nossa luta no

    contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores destemundo tenebroso, contra as foras espirituais do mal, nas regies celestes. Portanto, tomai toda aarmadura de Deus, para que possais resistir no dia mal, e, depois de terdes vencido tudo,

    permanecer inabalveis16[12].

    Atentem para quando vocs so ...iluminados para sustentarem grande luta e sofrimentos; oraexpostos como espetculo, tanto de oprbrio, quanto de tribulao; ora tornando-vos co-

    participantes com aqueles que desse modo foram tratados... com efeito, tendes necessidade deperseverana, para que havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa.17[13] Para quepermaneam firmes em tempos de perseguio, necessrio que a Palavra seja profundamenteenraizada em seus coraes. Vocs precisam estar edificados em uma rocha, se quiserem

    permanecer inabalveis em tempos de tempestades.

    15o Incentivo

    Considerem tambm, que as mesmas razes que os moveram no incio a se converterem, deveriammov-los, agora, a serem crentes fortes e prsperos espiritualmente.

    Vocs no trocariam a parte que tm em Cristo pelo mundo inteiro, se, realmente, tm o menor graude graa que seja. Se o incio bom e necessrio, o desenvolvimento no pode ser mal oudesnecessrio. Se um pouco de graa desejvel, certamente mais graa tambm desejvel. Se

    naquela poca foi razovel deixar tudo por Cristo e segui-lO, certamente tambm igualmenterazovel que vocs O sigam at o fim, at alcanarem aquela santidade, a qual o propsito peloqual a princpio O seguiram. Ou ser que vocs acharam que Deus um mestre ruim ou um desertoestril; ou que Sua obra algo intil? Respondam que sim, e eu ousarei dizer que so bastardos -

    para usar as palavras do apstolo - e no cristos.

    Vocs O tm experimentado. Que mal encontraram nEle; ou que mal fez a vocs; para que agoracomecem a fazer uma pausa, como se estivessem em dvida, se seria melhor prosseguir? Se Cristoum dia foi necessrio, Ele no continua ainda sendo necessrio? Se os cus e a santidade um dialhes pareceram bons, estejam certos que continuam sendo. Portanto, prossigam, alcanando mais; enunca se esqueam das razes que a princpio os persuadiram a buscar estas coisas.

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    16o Incentivo

    E mais ainda: vocs agora tm o acrscimo de muitas experincias, as quais certamente sero umaexcelente ajuda para estimular os seus sentimentos. Quando, a princpio, vocs se arrependeram evieram a Cristo, no tinham nenhuma experincia desta graa salvadora especial; mas vieram,

    baseados apenas, em ouvir e crer nela. Agora, entretanto, vocs j provaram que o Senhor gracioso; receberam das Suas mos, o perdo dos pecados, o esprito de adoo e a esperana daglria, os quais no tinham antes; j tiveram muitas oraes respondidas, e alcanaram muitos

    livramentos. E, agora, pretendem parar, quando todas estas experincias os convocam a ir avante?Novas experincias no deveriam ser acrescentadas s antigas, tornando-se assim em meios paraaumentar o zelo e a santidade de vocs? certo que um salrio maior e mais encorajamentodeveriam resultar em mais trabalho e diligncia. Portanto, procurem progredir.

    17o Incentivo

    Muitos de vocs tambm precisam considerar que j esto h bastante tempo na famlia e escola deCristo. Se fossem principiantes, eu poderia exort-los a crescer, mas no poderia reprov-los porno haverem crescido. Entretanto, que multido de anes tem Cristo, os quais so como crianasaos vinte, quarenta ou sessenta anos de idade. triste estar por tantos anos na Sua escola, e ainda

    permanecer nas classes mais atrasadas! Pois, com efeito, quando deveis ser mestres, atendendo aotempo decorrido, tendes novamente necessidade de algum que vos ensine de novo quais so os

    princpios elementares dos orculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de alimentoslido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite, inexperiente na palavra da justia, porque criana. Mas o alimento slido para os adultos, para aqueles que, pela prtica, tm as suasfaculdades exercitadas para discernir no somente o bem, mas tambm o mal.18[14]

    Oh, pobre crente fraco e enfermo! Tens tu estado por tanto tempo contemplando a face de Deus pelaf; e ainda assim no O amas mais do que O amaste no princpio? Por tanto tempo tens provado daSua bondade, e no a vs ou aprecias mais do que no princpio? Estais sob Seus cuidados por tantotempo, e no estais mais curado agora do que no primeiro ano ou dia? Tens ouvido e falado sobre oscus por tanto tempo, e apesar disso no estais mais preparados para os cus? Tens ouvido e faladotanto contra o mundo e a carne, e no obstante, o mundo ainda to atrativo para ti quanto no

    princpio; e a carne to forte quanto no incio da tua profisso? Oh, que pecado e vergonha! Queinjria para Deus e para ti!

    Considerem tambm, no somente o tempo, mas os meios de graa que tm usufrudo. Quem temrecebido mais poder, plenitude e pureza de ordenanas do que vocs? Pouqussimos. Certamente,no h muitos lugares no mundo como a Inglaterra no que diz respeito s manifestaes celestiais edas riquezas das preciosas ordenanas de Deus. Vocs tm mais sermes do que poderiam desejar;e estes dificilmente poderiam ser mais claros e urgentes - to urgentes, como se os ministros de

    Cristo parecem que perecero se vocs perecerem. Vocs, com igual freqncia, tambm tm tidolivros claros e poderosos. Vocs tm tido as admoestaes e exemplos dos piedosos com os quaisconvivem. O que mais poderiam desejar? Deveriam pessoas assim alimentadas manterem-se emestado de contnua subnutrio? So a ignorncia, o desnimo, o mundanismo, e egosmodesculpveis depois de todos esses meios de graa? Certamente justo que Deus espere que vocssejam todos gigantes - crentes piedosos, maduros e confirmados. Qualquer que seja o caso deoutros, certamente esta deveria ser a estatura de vocs.

    18o Incentivo

    Tambm me parece que vocs deveriam ser incentivados ao considerar o quanto outros tm

    progredido, em menos tempo e com muito menos meios de graa do que vocs tm tido; e comoalguns dos seus vizinhos, recebendo os mesmos meios, progrediram muito mais que vocs.

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    J, que foi to exaltado pelo prprio Deus, no dispunha dos meios de graa que vocs dispem.Abrao, Isaque, Jac e Jos, nenhum deles teve os meios de graa que vocs tm! Muitos profetase justos desejaram ver o que vedes, e no viram; e ouvir o que ouvis, e no ouviram.19[15] EmboraJoo Batista tenha sido maior do que quaisquer dos profetas, ainda assim, o menor no reino doevangelho maior do que ele no que diz respeito aos meios de graa. 20[16] Assim como os tempos doevangelho tm luz muito mais clara, e nos d maiores medidas de graa; assim tambm osverdadeiros e genunos filhos do evangelho deveriam ser mais confirmados, fortes e piedosos doque aqueles que viveram sob perodos mais escuros e escassos da administrao da promessa.

    Vocs no vem o quanto foram superados por muitos dos pobres vizinhos de vocs, os quais soreputados inferiores do que vocs pelo mundo e na estima dos homens? Quantos neste lugar, euouso dizer, brilham diante de vocs em conhecimento, humildade, pacincia e em vida imaculada ereta; em fervorosas oraes e conduta piedosa! Pessoas que tm a mesma necessidade que vocs de

    preocuparem-se com os cuidados materiais; que no dispuseram de mais tempo para adquiriremestas qualificaes; e no tiveram mais meios de graa do que vocs. Agora, eles brilham comoestrelas na igreja na terra; enquanto que vocs so apenas como que fascas, quando no nuvens.

    Eu sei que Deus o livre despenseiro das suas graas; entretanto, Ele nunca fica aqum, mesmocom relao ao grau, do que a prpria pessoa almeja. Por isso, eu posso bem perguntar-lhes: por que

    no alcanariam vocs maior estatura, assim como outros que cercam vocs, se houvessem sido tocuidadosos e diligentes quanto eles?

    19o Incentivo

    Considerem tambm que a santidade pessoal de vocs da mesma natureza da que tero na glria,embora no no mesmo grau. Portanto, se vocs no esto desejosos de progredir, isso d a entenderque vocs no tm amor por suas almas nem pelo prprio cu.

    Se vocs cessam de progredir em santidade, cessam de progredir em direo salvao. Se vocsrealmente desejassem ser perfeitos e abenoados, deveriam desejar aperfeioar-se nesta santidadeque os habilitar a tornarem-se perfeitos na glria. No h cu sem uma perfeio em santidade. Se,

    por conseguinte, vocs no desejam estas coisas, isso parece indicar que vocs no desejam asalvao.

    Prossigam, portanto e cresam como pessoas que esto crescendo em direo glria. E se cremque esto caminho dos cus, estando mais prxima a salvao de vocs, do que quando princpiocreram, atentem, ento, para que progridam com disposio mental celestial21[17], e para que estejammais maduros para a salvao do que quando no princpio creram. Quo mal age a pessoa que para caminho do cu; especialmente quando j est h tanto tempo no caminho, que seria de se esperarque j houvesse avanado ao ponto de perd-lo de vista!

    20o Incentivo

    Considere tambm, que quanto menor for a graa, menor ser a glria; e que quanto maior for asantidade, maior ser a felicidade de vocs.

    Eu sei que a glria do menor dos santos no cu ser extraordinariamente grande; mas, sem dvida,quanto maior for sua medida mais indizivelmente desejvel o ser. Assim como no se coadunacom a verdade da graa, que uma pessoa fique satisfeita com um baixo nvel de graa - emborareconhea ser isso misericrdia de Deus e que no merece nem mesmo o menor grau de graa;assim tambm, embora implore pela felicidade do menor santo na glria, e reconhea ser indigno do

    lugar mais insignificante nos cus, ainda assim deve almejar maior glria nos cus. Aquele quedemonstra estar to satisfeito com pores mnimas da glria, sem sinceramente aspirar por mais,19

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    revela estar tambm satisfeito em ter um conhecimento e amor de Deus pequenos; ser pouco amadopor Ele; goz-lO o mnimo possvel; ter a menor participao em seus louvores, e em agrad-lO eglorific-lO para sempre - pois, em todas estas coisas consiste a nossa felicidade.

    Considerar a Parbola dos Talentos (Mt. 25).

    21o Incentivo22[18]

    Considerem tambm que Aquele com o qual vocs tem que lidar um Deus de infinita grandeza ebondade; e portanto, no pequena coisa estar habilitado para o seu servio. Oh, se vocs tivessemapenas um vislumbre da Sua glria! Vocs ento reconheceriam que no coisa ordinriarelacionar-se com tal espantosa magestade. Se vocs provassem mais da Sua bondade, os seuscoraes reconheceriam que o amor e servio insignificante que lhe prestam indigno dEle. Vocs

    No ofereceriam coisas insignificantes a um rei, muito menos ao Supremo Rei dos reis. Quandotrazeis animal cego para o sacrificardes, no isso mal? E quando trazeis o coxo ou o enfermo,no isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso ter ele agrado em ti, e te ser favorvel?diz o Senhor dos Exrcitos... Mas vs o profanais, quando dizeis: A mesa do Senhor imunda, e oque nela se oferece, isto , a sua comida, desprezvel. E dizeis ainda: Que canseira! e me lanaimuxoxos, diz o Senhor dos Exrcitos; vs ofereceis o dilacerado, e o coxo e o enfermo; assim fazeis

    a oferta. Aceitaria eu isso da vossa mo? diz o Senhor. Pois maldito seja o enganador que, tendomacho no seu rebanho, promete e oferece ao Senhor um defeituoso; porque eu sou grande rei, diz oSenhor dos Exrcitos, o meu nome terrvel entre as naes.23[19]

    Se vocs conhecessem melhor a majestade de Deus, saberiam que para Ele o melhor muito pouco,e que leviandade no tolervel no Seu servio. Quando Nadab e Abi aventuraram-se aapresentar fogo falso em seu altar e Ele os fulminou, Ele silenciou a Aro com a seguinte razo parao seu julgamento: Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificadodiante de todo o povo.24[20] Isto , no aceitarei que nada comum seja oferecido a mim, mas sereiservido do meu modo santo e peculiar.

    22o Incentivo

    Considerem tambm que um preo extraordinariamente alto foi pago pela redeno de vocs. Pois,no foi mediante coisas corruptveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso ftil

    procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue de Jesus Cristo.25[21] Foi umamor extraordinariamente grande este que foi manifestado pelo Pai e por Cristo na obra daredeno; to alto que deixa perplexos anjos e homens na tentativa de compreend-lo. Deveria istotudo ser respondido com leviandade da parte de vocs? Deveria tal incomparvel milagre de amorser correspondido com amor inferior; especialmente tendo em vista que Cristo a si mesmo se deu

    por ns, a fim de remir-nos de toda iniquidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente

    seu, zeloso de boas obras?

    26

    [22] Assim pois, tendo sido comprados por to grande preo, lembrem-sede que no sois de si mesmos, mas devem glorificar Aquele que vos comprou no corpo e noesprito...

    23o Incentivo

    Considerem tambm que a glria prometida no evangelho no algo pequeno, mas extraordinrio, eque vocs vivem na esperana de tomarem posse dela para sempre.

    Portanto, o amor e o interesse que vocs devem ter por ela deveriam ser extraordinrios. Realmente algo descabido e impensvel ter um pensamento pequeno, uma palavra descuidada ou uma orao

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    fria ou qualquer outra prtica indevida com relao a assuntos como a glria eterna. Se vocsalmejam realmente os cus, ajam de acordo. Um esprito gracioso, reverente e piedoso produzindoum servio aceitvel a Deus apropriado queles que buscam receber um reino inabalvel27[23].Oh, que a nobre grandeza da esperana de vocs se manifeste na determinao, integridade ediligncia de suas vidas!

    24o Incentivo

    Considerem tambm que no foram poucas e pequenas as misericrdias que vocs receberam deDeus; foram, sim, misericrdias inumerveis, inestimveis e extraordinariamente grandes.

    Portanto, vocs no deveriam retribuir com sentimentos frios e com desinteresse. A misericrdiatrouxe vocs ao mundo; a misericrdias nutriu vocs, e a misericrdia tem defendido e mantidovocs e os provido abundantemente. Seus corpos dependem dela; suas almas foram restauradas porelas; ela deu a vocs a sua existncia; ela resgatou vocs da misria; salva vocs do pecado, deSatans e de vocs mesmos. Tudo o que vocs tm no presente, devem atribuir a ela. Tudo o que

    podem esperar do futuro depende dela. Ela extremamente doce na sua qualidade; o que pode sermais doce do que a misericrdia para as almas? Ela extremamente grande na sua quantidade; Amisericrdia do Senhor chega at aos cus, at s nuvens a sua fidelidade. A sua justia como uma

    grande montanha; os seus juzos, como um abismo profundo... Quo grandes so as suasbenignidades para aqueles que o temem; as quais ele tem para com aqueles que confiam nele diantedos filhos dos homens... As suas misericrdias alcanam at os cus, e sua verdade at as nuvens.

    Oh, que corao insensvel aquele que no compreende a voz de todas as suas maravilhosasmisericrdias! Sem dvida, elas falam a linguagem mais clara no mundo, requerendo de ns granderetribuio em amor, louvor e obedincia ao liberal outorgante delas. Devemos dizer, com Davi,Bendito seja o Senhor, que engrandeceu a sua misericrdia para comigo, numa cidade sitiada...Amai o Senhor, vs todos os seus santos. Pois o Senhor preserva os fiis.28[24] Ensina-me Senhor,o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispe-me o corao para s temer o teu nome. Dar-te-eigraas, Senhor, Deus meu, de todo o corao, e glorificarei para sempre o teu nome. Pois grande atua misericrdia para comigo; e me livraste a alma do mais profundo poder da morte.29[25]

    Indizveis misericrdias devem, necessariamente, produzir profundas impresses e ser toagradveis alma agraciada, que seria de esperar que elas operassem em ns as mais profundasresolues. Ingratido um crime que at os pagos detestam; e uma profunda ingratido se nomanifestarmos extraordinrio amor e obedincia, diante das muitas e extraordinrias misericrdiasque possumos.

    25o Incentivo

    Considerem tambm, que os auxlios e meios de graa que vocs possuem para progredir nasantidade e obedincia a Deus so extraordinariamente grandes. Assim tambm, grandes, deveriamser a santidade e obedincia de vocs. Vocs tm todo o livro da natureza para instru-los. Cadacriatura pode ensinar Deus a vocs, e fala a vocs em alta voz, persuadindo seus coraes para mais

    prximo dEle. Toda obra da providncia instrui e persuade vocs. Cada pgina e linha dasEscrituras incita vocs. Vocs tm ministros para ajud-los; tm a comunho dos santos; o exemplodos piedosos e as advertncias do julgamento de Deus sobre os mpios. Tm os sermes, ossacramentos, as oraes, a meditao e conferncias, misericrdias para encoraj-los, e aflies

    para persuadi-los. O que mais desejam?

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    H uma exigncia extraordinariamente grande sobre vocs. Portanto, as suas resolues deveriamser extraordinariamente elevadas e suas diligncias extraordinariamente grandes. A salvao detodos vocs que so convertidos pesa com relao a estabilidade e perseverana. Cristo vosreconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos,inculpveis e irrepreensveis, se que permaneceis na f, alicerados e firmes, no vos deixandoafastar da esperana do evangelho que ouvistes. Deus no recebe qualquer pessoa. Vocs devemconformar-se aos termos dEle para que sejam participantes da sua salvao. Ele no tem duas

    palavras. Ele disse o que espera de vocs, e assim agir. O julgamento vir. No h como escapar

    das mos de Deus. Diante de tais exigncias, que cristos devemos ser? Quo firmes e abundantesna f e retido!

    27o Incentivo

    Considere tambm a grande prestao de contas que voc ter que fazer. Quando for levado presena do Deus vivo, e toda a sua vida, pensamentos e caminhos forem relembrados, e voc vir ascoisas que sucedero, e que aguardam o Juzo Final, ento no haver lembrana vaga; todasestaro bem vivas. Ento at os mpios desejaro fortemente ter andado por outro caminho.Desejaro a qualquer custo escapar daquele terrvel julgamento. Quanto aos crentes, no deveriamagora estar despertados a se prepararem cuidadosamente para um dia como aquele?

    28o Incentivo

    Considerem tambm o grande empenho empregado com relao s futilidades da vida. Quantoesforo para alcanar honras e riquezas neste mundo; para satisfazer a carne; para acumulartesouros sobre a terra; e quanto labor pela comida que perece. Oh, quanto empenho portanto deveriase demonstrar pelos tesouros celestiais e eternos!

    29o Incentivo

    Considerem tambm quo diligentes deveriam ser, visto que, certo que jamais iro to alto nemsero to diligentes, embora tenham feito o melhor que puderem. Sim, aqueles que mais

    progredirem, ficaro to aqum que sentaro e lamentaro no terem alcanado mais. Os maioressantos da terra confessaro lamentando quo pouco o amor deles por Deus em comparao com oque deveria ser; quo aqum esto diante dos seus deveres; quo aqum da gloriosa majestade deDeus; quo aqum do precioso amor de Cristo, da preciosidade das almas, da glria eterna, dasmisericrdias que deveriam aquecer nossos coraes, das nossas grandes necessidades, econseqentemente, quo aqum dos seus prprios desejos. Anseiem, portanto, pelas melhorescoisas enquanto podem alcan-las.

    30o Incentivo

    Finalmente, considerem quo grande o compromisso de vocs, crentes sinceros, para com Deus.

    a) Vocs esto mais estreitamente relacionados com Cristo do que quaisquer outros. Portanto,deveriam ser mais preocupados em no ofend-lO e serem destacados em seu servio.

    b) Vocs esto compromissados com Ele por votos e alianas mais freqentes do que quaisqueroutros homens. Assim como Josu disse a Israel, eis que esta pedra ser testemunho contra vsoutros para que no mintais a vosso Deus30[26]. Assim tambm posso dizer, que os lugares ondevocs se ajoelharam, oraram e fizeram promessas, sero testemunhas contra vocs se no ficaremfirmes com Deus. As igrejas onde se congregaram, os lugares onde andaram em meditao solitria,

    as pessoas que ouviram suas promessas e profisses de f, tudo testemunhar contra vocs se noficarem firmes.

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  • 8/3/2019 23220445 Richard Baxter Conselhos Para Crentes Fracos

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    c) Foram vocs que desfrutaram do cerne das misericrdias de Deus. Outros tiveram apenas asmigalhas que caram das vossas mesas. Outros tiveram apenas as graas comuns; mas vocs tiveramas grandes e especiais misericrdias que acompanham a salvao.

    d) Vocs tm o Esprito e uma vida divina dentro de vocs, os quais o resto do mundo no conhece.Certamente Aquele que vos fez novas criaturas e vos fez participantes da natureza divina, esperaalgo de divino nos sentimentos e devoes de vocs.

    e) Alm disso, para vocs mais do que outros que a Palavra e mensageiros de Deus so enviados.Havia muitas vivas nos dias de Elias e muitos leprosos nos dias de Eliseu, mas foi apenas para umdeles que o profeta foi enviado. Ns, ministros, fazemos com que as multides se enfuream contrans, e nos odeiem por magnificarmos a graa de Deus e por declararmos Seu amor especial paracom vocs. Vocs foram escolhidos do mundo para a salvao; e no respondero a esta graaeletiva, admirvel, tornando-se admiravelmente diferentes daqueles que perecero, quanto excelncia, mansido, humildade, auto-negao e piedade?

    f) Alm disso, vocs conhecem mais e tm mais experincias para assisti-los do que outros. Outrosapenas ouviram da hediondez do pecado, mas vocs a sentiram; outros ouviram falar do desagradode Deus, mas vocs o experimentaram quando seus coraes foram quebrantados. Vocs no

    provaram da doura do amor de Cristo? E no se maravilharam com as insondveis riquezas da suagraa? Vocs provaram a doura das esperanas da glria e dos poderes do mundo vindouro. Vocs

    perceberam a necessidade e excelncia da santidade por experincias internas.

    g) Alm disso, o mundo espera muito mais de vocs do que de quaisquer outras pessoas. Deusespera mais de vocs; porque Ele lhes deu mais e pretende fazer mais com vocs. Devem vocsdesfrutar das eternas alegrias do cu, enquanto que os vizinhos no santificados perecem emtormentos, sem que vocs sejam mais empenhados em exced-los? razovel esperar ser colocadoeternamente em uma situao to diversa da do mundo mpio, to diferente quanto o cu doinferno, e ainda assim se contentar em diferir aqui to pouco deles em santidade?

    h) Mais ainda, o prprio Deus se orgulha de vocs e conclama o mundo a observar a excelncia devocs. Ele colocou vocs como luz do mundo para serem contemplados pelos outros. Ele voschama, neste mundo, de raa eleita, sacerdcio real, nao santa, povo de propriedade exclusiva deDeus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosaluz.

    i) Considerem esta como a maior motivao: Deus no apenas exalta e se orgulha de vocs, masEle tambm fez de vocs imagens vivas de Si mesmo, do Seu Filho Jesus Cristo, do Seu Esprito eda Sua Santa Palavra. E assim, Ele se exps, ao Seu Filho, ao Seu Esprito e a Sua Palavra a serapreendido pelo mundo conforme a vida de vocs. A imagem expressa do Pai o Filho. O Filho

    declarado ao mundo pelo Esprito Santo. O Esprito ditou as Escrituras Sagradas, as quais, portanto,testemunham do Pai, do Filho e do Esprito Santo. Esta santa Palavra, tanto a lei como promessas, escrita no corao de vocs, e aplicada no ntimo de vocs pelo mesmo Esprito. Assim como Deusimprimiu sua natureza santa nas Escrituras, assim Ele fez desta palavra o selo para imprimir nova-mente sua imagem no corao de vocs. E vocs sabem que os olhos podem discernir melhor aimagem impressa do que o prprio selo... Assim, se vocs tm sobre si as imagens vivas de Deus,de Cristo, do Esprito e da Palavra, e ainda assim forem cegos, mundanos, cheios de paixes,orgulhosos, obstinados, preguiosos e negligentes e to pouco diferentes daqueles que carregam aimagem do diabo, o que vocs proclamam que a imagem de Deus, de Satans e do mundo diferem