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Ano II Número 102 Data 23 a 25/06/2012

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AnoII

Número102

Data23 a 25/06/2012

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NATÁLIA OLIVEIRANovos indícios de que o Conselho Municipal de Política

Urbana (Compur) ignorou os impactos ambientais e urbanos à região da Pampulha ao aprovar a construção de dois hotéis em um terreno no bairro São Luiz, distante apenas 1,5 km da orla da lagoa, surgiram ontem com a divulgação pelo ve-reador Iran Barbosa (PMDB) de um parecer elaborado pela Procuradoria Geral do Município de Belo Horizonte, em dezembro de 2011. No documento, fornecido à reportagem de O TEMPO, o órgão municipal fez alertas sobre os riscos que a construção dos empreendimentos traria ao lençol fre-ático que abastece a bacia da Pampulha. Um dos possíveis afetados seria o córrego do Mergulhão, um dos afluentes da lagoa da Pampulha. No parecer de 12 páginas, assinado pelo procurador-geral Marco Antônio Rezende Teixeira, e pelo procurador municipal Fernando Garcia, os impactos urba-nos também são considerados. O documento oficial cita um laudo técnico feito pela Secretaria Municipal de Meio Am-biente (SMMA), em junho do ano passado, no qual a pasta atesta que a terraplenagem feita pelo Bristol Stadium Hotel colocaria em risco o lençol freático da Pampulha. Os téc-nicos ainda teriam considerado imprescindível uma análise do Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam). Na última quinta-feira uma reportagem de O TEMPO revelou trechos de um outro documento que mostrava que, ao desconsiderar esse laudo e liberar os hotéis, o Compur ignorou os riscos que a obra traria aos cursos d’ água.O documento da procu-radoria diz que se houvesse intervenção no lençol freático, os empreendimentos não poderiam ser aprovados mesmo com a liberação do Igam, pois iriam contra a Lei Municipal 9.037/05, que trata da Recuperação e Desenvolvimento Am-biental da Bacia da Pampulha. O documento apontava ainda a necessidade de exigir do Bristol a recuperação ambiental da área degradada em função da realização de corte e movi-mentação da terra.

O parecer ressaltava ainda que a construção dos hotéis

poderia causar um impacto negativo na região já que a área é residencial e a construção não é voltada para o lazer e a cultura. Tanto o Bristol quanto o outro hotel da rede Brisa Empreendimentos Imobiliários, também previsto para ser erguido no mesmo terreno, fizeram um Estudos de Impac-tos de Vizinhança (EIV), apresentado em setembro do ano passado.Os estudos foram questionados pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), que sugeriu que análises mais detalhadas dos impactos à vizinhança na Pampulha fossem feitas. O pedido, no entanto, foi descartado pelo Compur.

Ontem, o procurador-geral do município Marco Antônio Rezende Teixeira falou sobre o documento. “Nós constata-mos riscos aos recursos hídricos, que acredito que não foram confirmados pelo Igam antes da aprovação (dos hotéis)”.

Na última quarta-feira a assessoria de imprensa do IGAM negou que tivesse feito laudos técnicos no local. On-tem, a assessoria voltou atrás e informou que um estudo, fei-to em julho do ano passado, não atestou riscos aos recursos hídricos da região.

Ontem o Bristol Hotel informou que não houve inter-venção dos recursos hídricos. Nenhum representante da Bri-sa Empreendimentos Imobiliários foi encontrado para falar sobre o assunto. A empresa ainda não começou o serviço de terraplenagem.

Vereador quer cassação de conselheiros

O vereador Iran Barbosa irá na próxima segunda-feira ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para pedir a cassação dos membros do Compur, que assinaram a apro-vação das obras. A denúncia é de prevaricação.

O parecer favorável aos hotéis foi dado por 11 membros do Compur, em março deste ano. O vereador irá também ao Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam) para pedir uma nova vistoria e o embargo das obras caso sejam confirmados os danos. (NO)

O TEMPO – ON LINE – 23.06.2012 PAMPULHA

Alerta da procuradoria sobre hotéis foi desconsideradoParecer chamou atenção ainda para caráter residencial da região das obras

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Obra. Terreno onde serão erguidos os dois hotéis fica a uma distância de apenas 1,5 km orla da lagoa

O TEMPO – ON LINE – 23.06.2012

FOTO: ALISSON GONTIJO

ESTADO DE MINAS – P. 02 – 24.06.2012EM DIA cOM A POLíTIcA

PINGA FOGOA Assembleia Legislativa e o Ministério Público vão

discutir o novo Código Florestal. É que a lei federal ficou mais branda do que a estadual em relação ao meio ambiente. Daí o impasse.

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Guilherme Paranaiba O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos

Naturais Renováveis (Ibama) entrou na polêmica sobre a venda de animais no Mercado Central de Belo Horizonte. Motivados por uma requisição do Ministério Público (MP) estadual, dez técnicos e analistas ambientais do Ibama per-correram 16 lojas na manhã de ontem para verificar arma-zenamento, comida e água e também para colher amostras de fezes para exames. A ação vai gerar um relatório que deve estar pronto em três semanas atestando se cachorros, pássaros, coelhos, entre outros, estão em boas condições de saúde.

A venda de animais no Mercado Central é um assunto que gera divergências entre lojistas e ambientalistas. Pela segunda vez, tramita na Câmara dos Vereadores um proje-to de lei que pretende regulamentar a venda de animais na cidade e, ao mesmo tempo, proibir o comércio de animais domésticos no mercado. Um primeiro projeto foi vetado no ano passado. Agora, um segundo texto, da vereadora Maria Lúcia Scarpelli (PcdoB), foi motivado por questões como “incompatibilidade entre animais e alimentos, falta de luz solar, pouca ventilação, entre outros itens”.

De acordo com o biólogo e analista ambiental do Iba-ma Júnio Augusto da Silva, a ação do órgão foi dividida em duas partes. “Primeiro tratamos do manejo, se estão sendo bem alimentados, sem têm água suficiente, medimos os recintos onde eles ficam e estamos avaliando se estão ocorrendo maus-tratos”, afirma o biólogo. Em um segun-do momento os fiscais conferiram também a documentação dos comerciantes para garantir que todos têm registro junto ao Ibama. Ainda segundo o analista, o trabalho vai gerar um relatório com tudo que foi verificado. “Só depois disso é que será possível ver se de fato existe alguma condição precária, com base na análise de tudo que foi levantado”, acrescenta o funcionário do Ibama.

ORIENTAÇÕES Os fiscais usaram câmeras, planilhas de anotações e

frascos para colher excrementos e também deram dicas aos criadores, como a quantidade de água e comida, entre ou-tras orientações. Cachorros, coelhos, periquitos, canários, codornas e várias outras espécies foram vistoriadas. Ricar-do Clímaco é funcionário há 10 anos de uma loja que vende pássaros, e não vê problemas na presença dos biólogos e veterinários do instituto federal. “Isso é muito bom para es-pantar os boatos e provar que os animais são bem tratados. O Mercado Central é um lugar de turistas e a fiscalização garante que o local seja mantido dentro dos padrões para não desagradar os visitantes”, afirma Ricardo.

O presidente do centro de compras, Macoud Patrocínio,

concorda com a fiscalização, mas acha que outros locais da cidade também deveriam receber ações do Ibama. “Na verdade, não tem jeito de sermos surpreendidos, já que fa-zemos tudo da forma correta. O mercado é uma referência, mas não é só aqui que os animais são vendidos”, completa.

Enquanto os fiscais percorriam as lojas e colhiam as fezes de vários animais, principalmente aves exóticas, a ad-ministradora de empresas Karla Boldito, de 46 anos, olhava com atenção as gaiolas com as calopsitas. A intenção dela é dar uma ave a sua filha de 10 anos. “Tenho dois amigos que já compraram animais aqui e me indicaram. Não vejo ne-nhum problema. Minha filha quer muito ter uma calopsita e devo levar daqui mesmo”, garante. Já o estudante Filipe Ba-rone, de 23, chegou a comprar um cachorro do mercado por não concordar com essa situação. “Não acho certo colocar um animal enclausurado dentro de uma gaiola. Isso é contra os princípios da natureza. Em 2002 comprei uma cadela da raça dachshund porque gostei muito e achei que ela deveria ser mais bem tratada”, contesta Barone.

Problema é mistura com boxes de comida

No início do mês ambientalistas e vereadores discuti-ram o Projeto de Lei 2.178/2012, da vereadora Maria Lúcia Scarpelli, em audiência pública. Veterinários argumentaram que animais vivos não podem ser vendidos no mesmo local em que há oferta de alimentos porque os bichos expelem micro-organismos que causam doenças. O texto aguarda parecer da Comissão de Legislação e Justiça da Câmara e ainda vai passar pelas comissões de Meio Ambiente e Di-reitos Humanos e de Defesa do Consumidor.

O presidente do Mercado Central, Macoud Patrocínio, afirmou que todos os cuidados são tomados para que o co-mércio de animais não gere nenhum prejuízo à população. Segundo ele, proibir seria muito ruim para várias pessoas. “Tem muita gente que realiza o sonho de ter um animal de estimação depois que recorre ao mercado. Se isso acabar, o sonho de muitas pessoas será frustrado”, rebate Patrocínio.

O ambientalista Franklin de Oliveira, que preside a organização não governamental Núcleo Fauna de Defesa Animal, acredita que não há condições ambientais para co-mércio de animais no mercado. “Não tem luz do sol e ven-tilação”, afirma ele. Se as lojas ficassem na entrada da Rua dos Goitacazes essa questão poderia ser resolvida, segundo ele. “Também é necessário atender as normas médicas ve-terinárias, como um responsável em cada loja para moni-torar os animais e garantir um desenvolvimento saudável”, explica Franklin.

ESTADO DE MINAS – ON LINE – 23.06.2012

MERcADO cENTRAL

Ibama examina animaisA pedido do Ministério Público, técnicos do instituto analisam condições

de saúde dos animais à venda no tradicional centro de compras. Projeto tenta proibir o comércio

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Rio de JaneiroForam dez dias de discussões sobre o futuro do

planeta. A expectativa era que a Rio+20 fosse encer-rada com o estabelecimento de metas para o desen-volvimento sustentável.

Uma das demandas era que o Programa das Na-ções Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) fosse transformado em uma agência com poder de fisca-lização e punição. Mas o documento final aprovado pelos líderes de mais de cem países, “O Futuro que Queremos”, ficou aquém das expectativas. A confe-rência foi encerrada, na última sexta-feira, sob amplas críticas, apesar de autoridades brasileiras considera-rem um avanço a inclusão da erradicação da pobreza no desenvolvimento sustentável.

Para as ONGs, faltou ousadia por parte das auto-ridades na exigência de definições claras sobre res-ponsabilidades específicas, repasses financeiros, dis-criminação de prazos para a adoção de medidas e a ampliação de poderes do Pnuma. Foi sugerido que o órgão ambiental da Organização das Nações Unida-des (ONU) ganhasse status de agência reguladora, o que lhe daria poderes para intermediar embates inter-nacionais de interesse ambiental, como faz a FAO (no setor de alimentos), por exemplo. No encerramento da Rio+20, na sexta-feira, o diretor geral do Pnuma, Achim Steiner, minimizou a derrota ao afirmar que as ONGs estão no seu papel de fazer críticas, mas “não estarão sendo realistas se ignorarem que quem toma decisões nas Nações Unidas são Estados soberanos”.

Além de ambientalistas, delegações internacio-nais, principalmente da Europa, apontaram a falta de ambição no documento final da Rio+20. A delegação brasileira, no entanto, afirmou que os países europeus foram contraditórios ao reclamarem da falta de am-bição já que se recusaram a disponibilizar meios de financiamento para ações sustentáveis.

“Muitos países não quiseram assinar a questão do financiamento. Uma das formas de se evoluir daqui pra frente é colocar isso na pauta”, disse a presidente Dilma Rousseff pouco antes do encerramento oficial da conferência, na sexta-feira. “Os países desenvol-vidos não querem que isso seja posto na pauta, e nós queremos que seja posto na pauta”.

A presidente ainda defendeu o resultado da con-ferência e elogiou a diplomacia brasileira por ter con-seguido fechar um documento que será firmado por chefes de Estado e governo no encerramento da reu-nião. No entanto, um tema tabu, o controle populacio-

nal - essencial para a sustentabilidade do planeta - foi restrito por pressão religiosa. No texto final, o termo “direitos reprodutivos” da mulher foi suprimido do acordo após intervenção do Vaticano, contrário à ado-ção de métodos contraceptivos. No lugar, foi escrito o termo direito “saúde reprodutiva”. A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, entrou na polêmica em sua passagem pelo Rio. “Os Estados Unidos vão continuar a trabalhar para assegurar que os direitos reprodutivos da mulher sejam respeitados em todos os tratados internacionais”, disse.

No fim, Dilma disse que suas expectativas para o evento foram “totalmente satisfeitas” e que a Rio+20 mostrou ao mundo que os países emergentes são ca-pazes de realizar cúpulas internacionais de alto nível.

Herança da Rio+20Susana FeichasUm dos efeitos positivos da Rio+20 é a difusão de

informações sobre desenvolvimento sustentável para um número maior de pessoas. Os inúmeros eventos que ocorreram em paralelo ao evento mostram avan-ços, críticas e reivindicações, retratando a diversida-de de pensamentos e os rumos da sociedade. Painéis, vídeos e folders apresentaram produtos alternativos e propostas voltadas para o uso mais eficiente dos re-cursos naturais, a diminuição da poluição e a redução de emissões. É significativa a incorporação da susten-tabilidade ecológica no discurso de alguns chefes de Estado, demonstrando uma tomada de consciência de que a vida e o bem-estar dos seres humanos depen-dem dos recursos e dos serviços ambientais prestados pelos ecossistemas.

Por sua vez, a apresentação do Índice de Enrique-cimento Inclusivo, que alia o Produto Interno Bruto (PIB) ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), revelando um novo indicador do capital natural, re-presenta um avanço significativo para repensar e nor-tear decisões relacionadas às políticas de desenvolvi-mento que vêm sendo implementadas por cada país. Igualmente inovador é o compromisso assumido por organizações financeiras no sentido de considerar o capital natural na análise de viabilidade de um proje-to, o que possibilitará uma perspectiva de longo prazo condizente com o conceito de desenvolvimento sus-tentável.

Da Rio+20, fica a constatação de que medidas concretas rumo à sustentabilidade no nível internacio-nal não são fáceis de se obter, porque os interesses são diferenciados e conflitivos.

O TEMPO – ON LINE – 24.06.2012

Ficou para depois - Rio+20 termina sem traçar metas para o futuro

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Paula Filizola BrasíliaCinco anos depois do início da

construção dos canais para a trans-posição do Rio São Francisco, o Tribunal de Contas da União (TCU) prepara um relatório detalhado sobre a fiscalização dos contratos em an-damento nos eixos Norte e Leste das obras. O documento ainda aguarda leitura do presidente do órgão, Ben-jamin Zymler. Na avaliação do TCU, o maior problema está na diferença dos custos previstos no projeto bási-co do Ministério da Integração Na-cional e os valores das obras, o que já levou à paralisação dos trabalhos em alguns trechos.

Um exemplo é a escavação dos solos. As empreiteiras acabaram gas-tando mais do que o previsto na lici-tação, mas os órgãos de controle não permitem que os aditivos de contrato prevejam acréscimos superiores a 25% do valor acordado inicialmente. Atualmente, dos 16 trechos previs-tos, 10 estão em atividade. Para regu-larizar a situação dos lotes parados, o ministério terá que rescindir os con-tratos e fazer uma nova licitação.

A lista de falhas inclui realiza-ção de despesas em desacordo com o plano de trabalho, fiscalização defi-ciente, irregularidades em processos de pagamento, entre outros.

De acordo com o Ministério da Integração, essas situações são co-muns e foram agravadas pela com-plexidade do terreno, principal moti-vo apontado pelas empreiteiras para o aumento dos custos da obra. Até o momento, a construção já passou por três alterações de preço e os gastos finais estão estimados em R$ 8,2 bi-lhões.

Um dos recentes acórdãos pu-blicados pelo TCU aponta nova-mente sobrepreço no edital lançado pelo Ministério da Integração para as obras do lote 5, alvo de outra auditoria do órgão de controle, em março deste ano. Na ocasião, o do-cumento apontou um sobrepreço de R$ 29 milhões — só os valores da areia estavam 143% acima dos co-brados no mercado. Na nova análi-se, dos 33 serviços apreciados pelo órgão, 17 apresentaram irregulari-dades — especialmente em serviços de terraplenagem – no montante de R$ 27.582.178,26, que correspon-dem a 94,84% do sobrepreço apu-rado. Com tantos problemas, a obra de transposição, cuja finalização foi prorrogada para 2015, ainda causa polêmica. Eduardo Matos, promotor do Centro de Apoio das Promotorias do Rio São Francisco no Ministério Público Federal em Sergipe (MPF-SE) e professor de direito ambiental da Universidade Federal de Sergipe (UFSE), garante que boa parte do que foi feito já se perdeu, principal-mente por conta de problemas de erosão nos materiais utilizados.

“Os canais já foram parcialmen-te desfeitos. É preciso sempre mais dinheiro”, criticou. Para João Abner, hidrólogo e professor da Universida-de Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o projeto de transposição do Rio São Francisco foi levado adiante para beneficiar grandes em-preiteiras. “É um grande lobby.

Todas as grandes empresas estão envolvidas. O projeto do governo federal é imaginário. Não vai levar água para a população do semiárido. A real questão é política”, avaliou. Segundo o especialista, o governo federal nunca se propôs a participar de acareações para ouvir a opinião

de especialistas contrários à obra.

Justiça analisa ‘inconsistências’Brasília A transposição das águas do Rio

São Francisco é questionada em 14 ações que aguardam o voto do re-lator, o ministro Ricardo Lewando-wski, no Supremo Tribunal Federal (STF), mas ainda não há previsão de julgamento. A promotora de Justiça Luciana Khoury, coordenadora do Projeto de Defesa do São Francis-co do Ministério Público Federal da Bahia (MPF-BA), afirma que o plano de obras do governo federal apresen-ta inconsistências e não beneficiará a população do semiárido como é propagandeado. Segundo ela, essas questões não foram debatidas pelo Executivo e pelo Congresso Nacio-nal nem mesmo depois de o Banco Mundial haver negado empréstimo ao governo federal para o projeto, com o argumento de que ele tinha “orientação comercial” e que a água poderia ser garantia por meio de so-luções alternativas.

Considerada a maior obra públi-ca em execução no Brasil, a trans-posição do Rio São Francisco é de-fendida pelo governo federal como alternativa para cumprir a meta de universalização do acesso à água até 2016. Porém, o argumento de que a transposição levaria “ um caneco d’água para um nordestino que está passando sede”, usado no lançamen-to das obras pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2004, pode não passar de ilusão. O projeto prevê que 70% da água será direcio-nado para irrigação, turismo e para a criação de camarões para exporta-ção. Outros 26% abastecerão o meio urbano, onde estão as indústrias, e apenas 4% irão para a população di-

ESTADO DE MINAS – ON LINE – 25.06.2012SÃO FRANcIScO

Transposição esbarra em solo e custo altoGastos acima do previsto levam à paralisação de trechos da

obra. As empreiteiras tropeçam na complexidade do terreno

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fusa. Segundo o Ministério da Inte-gração, o público do semiárido será atendido por tubulações subterrâne-as e por cisternas do programa Água para Todos. (PF)

Alívio e sonho com um futuro melhor

Leandro KleberEnviado especial

Cabrobó (PE) – A vida da família de José Antônio da Silva, agricultor e pai de três filhos, melhorou com a chegada da água tratada à região em que vive, no município pernambu-cano de Cabrobó, mas o caminho da comunidade para deixar a condição de miséria que a cerca ainda é longo. Morando em uma casa de barro, ma-deira e chão batido, vizinha do Ba-talhão de Engenharia e Construção do Exército – responsável por obras de transposição do Rio São Francis-co na cidade –, a família finalmente pôde abandonar as longas caminha-das com balde na cabeça para ter acesso à água em barragens, que

retratam a situação de boa parte da população do agreste nordestino. O sonho agora é com melhores chances de emprego.

“Graças a Deus largamos essa vida de carregar balde na cabeça. Não dava nem para lavar roupa, pois a água era muito suja. Agora, ela é limpa e tratada e serve para tudo”, conta Maria Josean da Silva, uma das filhas do agricultor, que carrega na memória as diversas vezes que a família teve de se mudar para estar mais perto de barragens. Porém, o encanamento que leva água do São Francisco para comunidades distan-tes até em pequenas cidades do in-terior ainda não foi suficiente para gerar riqueza e fazer com que as pes-soas deixem a miséria. José Antônio afirma que a luta por um emprego “decente” continua. “Mesmo com a chegada da água, não tem trabalho para a gente. Estamos aqui prontos para trabalhar, mas não conseguimos nada”, lamenta.

A dona de casa Sirlei de Sousa, mãe de duas crianças, também é vi-zinha do batalhão do Exército. Para

ela, a água do Velho Chico levada à comunidade “deu vida” à sua rotina, tornando possível cozinhar, lavar roupa e tomar banho sem precisar percorrer longas distâncias em bus-ca de açudes, que muitas vezes têm água barrenta. A diferença não foi sentida só na rotina familiar. Tam-bém o trabalho do marido, agricul-tor, foi beneficiado com as mudan-ças, já que ele sustenta a família com o dinheiro que recebe nas fazendas da região.”Sem água ninguém vive. Para tudo precisamos dela”, resume.

Ampliação à vistaNa quarta-feira, o Exército entre-

gou dois canais de ligação com dois quilômetros e uma barragem de 1,7 quilômetro no município pernambu-cano de Cabrobó. O governo federal também anunciou a possibilidade de ampliar o projeto de transposição para a Bahia, com obras no eixo Sul. A atual proposta inclui canais, bar-ragens, estações de bombeamento, aquedutos e túneis para levar água a 390 municípios dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.

Canal de transposição do Rio São Francisco: depois das dificuldades na escavação, a erosão ameaça parte da estrutura já construída

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