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21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental ABES – Trabalhos Técnicos 1 IX-003 – PREVENÇÃO E CONTROLE DA EROSÃO URBANA NO ESTADO DE SÃO PAULO Gerson Salviano de Almeida Filho (1) Mestre em Engenheira Civil, na área de Recursos Hídricos da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade de Campinas -UNICAMP e Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, na área de Diagnóstico e Controle de Erosão Urbana. Maria Isabel Faria Gouveia (2) Geógrafa e Diretora Técnica de Divisão da Diretoria de Recursos Hídricos do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo. José Luis Ridente Júnior (3) Mestre em Geociências e Meio Ambiente, pela UNESP e Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, na área de Diagnóstico e Controle de Erosão Urbana. Kátia Canil (4) Mestre em Geografia Física, pelo Departamento de Geografia/USP e Pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, na área de Diagnóstico e Controle de Erosão Urbana. Endereço (1) : Av. Almeida Prado, 532 – Cidade Universitária – São Paulo – SP – CEP: 05508-901 – Brasil – Tel: (11) 3767-4643 – e-mail: [email protected] RESUMO O solo constitui o recurso natural básico de uma nação. É um recurso renovável, se conservado e usado adequadamente. A apropriação do solo de modo indevido, pode causar inúmeros problemas, dentre os quais, a erosão se destaca como um dos mais graves. As primeiras ocorrências de erosões urbanas expressivas, conhecidas no Brasil, foram identificadas nas regiões Sul e Sudeste, e datam de cerca de 60 anos no Oeste de São Paulo, e 40 anos no Noroeste do Paraná, coincidindo, praticamente, com o ápice do processo de colonização e ocupação dessas regiões, manifestando-se após o desmatamento intensivo para o plantio de café, algodão e amendoim, e a instalação dos núcleos urbanos, ao longo das rodovias e ferrovias. No Estado de São Paulo a maior parte das cidades instaladas em terrenos constituídos por solos de textura arenosa e relativamente profundos, apresentam erosão por ravinas e boçorocas em suas áreas urbanas e de expansão urbana. Ações preventivas e o efetivo controle da erosão exigem medidas de ordem técnica, sócio-econômica e política, direcionadas à manutenção ou aumento do potencial produtivo das terras agrícolas, à preservação ou melhoria das condições de moradia das populações urbanas e à adequação das obras de engenharia, de maneira a minimizar os efeitos danosos ao meio ambiente. O processo de ocupação através da ação não-planejada, quando conduzido de forma agressiva provoca degradação ambiental, no qual, o homem é o principal agente. O problema da erosão que se verifica em várias cidades do Estado de São Paulo está diretamente relacionado às condições precárias de infra-estrutura urbana, projetos mal concebidos e práticas de parcelamento do solo inadequadas. O controle da erosão urbana deve ser efeuado através de ação efetiva tanto, de carater preventivo quanto corretivo PALAVRAS-CHAVE: suscetibilidade a erosão, Erosão, Prevenção, Controle, Estado de São Paulo. INTRODUÇÃO No Estado de São Paulo, a erosão, vem gerando prejuízos na área rural e urbana, através da perda solos agricultáveis, quanto de investimento públicos em obras de infra-estrutura, degradação de áreas urbanas ou em urbanização e consequentemente o assoreamento dos cursos d’água. Esse processo é desencadeado de diferentes formas e intensidades em função das condições geológicas, climáticas, bióticas, etc, isto é, as condições naturais do meio físico das diversas paisagens geográficas do Planeta (FAIRBRIDGE, 1968). Assim, os processos erosivos naturais tendem a caracterizar regiões específicas, destacando os agentes erosivos prevalecentes, como, por exemplo, a erosão eólica das regiões desérticas sob a ação do vento, a erosão glacial das regiões temperadas sob a ação das geleiras, a erosão hídrica das regiões tropicais úmidas, sob a ação da chuva.

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21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 1

IX-003 – PREVENÇÃO E CONTROLE DA EROSÃO URBANA NO ESTADO DE SÃO PAULO

Gerson Salviano de Almeida Filho(1) Mestre em Engenheira Civil, na área de Recursos Hídricos da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade de Campinas -UNICAMP e Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, na área de Diagnóstico e Controle de Erosão Urbana. Maria Isabel Faria Gouveia(2) Geógrafa e Diretora Técnica de Divisão da Diretoria de Recursos Hídricos do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo. José Luis Ridente Júnior(3) Mestre em Geociências e Meio Ambiente, pela UNESP e Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, na área de Diagnóstico e Controle de Erosão Urbana. Kátia Canil(4) Mestre em Geografia Física, pelo Departamento de Geografia/USP e Pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, na área de Diagnóstico e Controle de Erosão Urbana. Endereço(1): Av. Almeida Prado, 532 – Cidade Universitária – São Paulo – SP – CEP: 05508-901 – Brasil – Tel: (11) 3767-4643 – e-mail: [email protected] RESUMO

O solo constitui o recurso natural básico de uma nação. É um recurso renovável, se conservado e usado adequadamente. A apropriação do solo de modo indevido, pode causar inúmeros problemas, dentre os quais, a erosão se destaca como um dos mais graves. As primeiras ocorrências de erosões urbanas expressivas, conhecidas no Brasil, foram identificadas nas regiões Sul e Sudeste, e datam de cerca de 60 anos no Oeste de São Paulo, e 40 anos no Noroeste do Paraná, coincidindo, praticamente, com o ápice do processo de colonização e ocupação dessas regiões, manifestando-se após o desmatamento intensivo para o plantio de café, algodão e amendoim, e a instalação dos núcleos urbanos, ao longo das rodovias e ferrovias. No Estado de São Paulo a maior parte das cidades instaladas em terrenos constituídos por solos de textura arenosa e relativamente profundos, apresentam erosão por ravinas e boçorocas em suas áreas urbanas e de expansão urbana. Ações preventivas e o efetivo controle da erosão exigem medidas de ordem técnica, sócio-econômica e política, direcionadas à manutenção ou aumento do potencial produtivo das terras agrícolas, à preservação ou melhoria das condições de moradia das populações urbanas e à adequação das obras de engenharia, de maneira a minimizar os efeitos danosos ao meio ambiente. O processo de ocupação através da ação não-planejada, quando conduzido de forma agressiva provoca degradação ambiental, no qual, o homem é o principal agente. O problema da erosão que se verifica em várias cidades do Estado de São Paulo está diretamente relacionado às condições precárias de infra-estrutura urbana, projetos mal concebidos e práticas de parcelamento do solo inadequadas. O controle da erosão urbana deve ser efeuado através de ação efetiva tanto, de carater preventivo quanto corretivo PALAVRAS-CHAVE: suscetibilidade a erosão, Erosão, Prevenção, Controle, Estado de São Paulo. INTRODUÇÃO

No Estado de São Paulo, a erosão, vem gerando prejuízos na área rural e urbana, através da perda solos agricultáveis, quanto de investimento públicos em obras de infra-estrutura, degradação de áreas urbanas ou em urbanização e consequentemente o assoreamento dos cursos d’água. Esse processo é desencadeado de diferentes formas e intensidades em função das condições geológicas, climáticas, bióticas, etc, isto é, as condições naturais do meio físico das diversas paisagens geográficas do Planeta (FAIRBRIDGE, 1968). Assim, os processos erosivos naturais tendem a caracterizar regiões específicas, destacando os agentes erosivos prevalecentes, como, por exemplo, a erosão eólica das regiões desérticas sob a ação do vento, a erosão glacial das regiões temperadas sob a ação das geleiras, a erosão hídrica das regiões tropicais úmidas, sob a ação da chuva.

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A erosão atual das terras deixa assim de ser um processo meramente geológico, passando a ser reconhecida como acelerada ou antrópica, conforme classificação adotada por vários autores (FENDRICH, et al., 1997; BERTONI & LOMBARDI NETO, 1985). A ocupação do território do Estado de São Paulo, iniciada pelo desmatamento e variadas formas de uso do solo, constituiu o fator decisivo para a intensificação da ação das chuvas que provocou a aceleração dos processos erosivos. O objetivo deste trabalho é apresentar os conhecimentos sobre a prevenção e controle da erosão urbana e o Mapa de Suscetibilidade à Erosão do Estado de São Paulo, baseado na experiência adquirida de 1985 a 1997 pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, no âmbito do Convênio com o Departamento de Águas e Energia Elétrica, no Projeto “Orientações para o Combate à erosão no Estado de São Paulo”, que identificou as áreas com maior potencial ao desenvolvimento de processos erosivos para subsidiar ações de governo no sentido do controle deste importante processo no Gerenciamento das bacias hidrográficas do Estado de São Paulo, no Plano de Controle da erosão a nível urbano e rural. CONCEITUAÇÃO DOS PROCESSOS EROSIVOS

Os processos erosivos são condicionados basicamente por alterações do meio ambiente, provocadas pelo uso do solo nas suas várias formas, desde o desmatamento e agricultura, até obras urbanas e viárias, que, de alguma forma, propiciam a concentração das águas de escoamento superficial. O processo erosivo manifesta-se como fenômeno resultante da ruptura de equilíbrio do meio ambiente, decorrente da transformação drástica da paisagem, por eliminação da cobertura vegetal natural e introdução de novas formas de uso do solo. Desta forma, o Estado de São Paulo, ao longo dos anos de sua ocupação, vem manifestando não só a erosão correspondente à intensificação da atividade agrícola, mas também àquela relativa ao uso urbano do solo, como um conjunto de processos denudacionais da superfície terrestre. Infelizmente, o homem tem se mostrado indolente quanto à avaliação dos efeitos da erosão acelerada, mesmo após reconhecer a severidade de sua extensão (BENNETT, 1955). A erosão pode causar sérios danos à agricultura, pela redução da fertilidade e produtividade dos solos através da remoção de camadas férteis, pelo aparecimento de valas profundas sulcadas no solo, tornando-o intransitável para as máquinas e implementos agrícolas (LOPES & SRINIVASAN, 1981). Além do impacto da erosão, a produção de sedimentos e transporte para os recursos hídricos que tem como conseqüência principal o assoreamento dos cursos d’água, reservatórios e deterioração da qualidade dessas águas. A grande maioria dos autores considera, com base em modelos de escoamento, a existência de dois grandes grupos de erosão: a laminar e a linear. Nas áreas de altas declividades como as Serras e Montanhas, ocorre um terceiro grupo de processos erosivos, que são os movimentos de massa. Nestas áreas, as encostas, os cortes e os aterros são fortemente afetados principalmente pelos escorregamentos. EROSÃO LAMINAR

Causada pelo escoamento em lençol superficial difuso das águas das chuvas, que retira a camada superficial do solo de maneira quase homogênea, lateralmente ou em pequenos filetes (DAEE, 1989), ou ainda interrill erosion segundo FOSTER et al. (1985). A erosão laminar é dificilmente perceptível, porém evidenciada por tonalidades mais claras dos solos, observa-se o abaixamento da cota do terreno (exposição de raízes) e queda da produtividade agrícola. EROSÃO LINEAR

Corresponde às formas de erosão causadas por escoamento superficial concentrado ou rill erosion segundo FOSTER et al. (1985), que comanda o desprendimento das partículas do solo e o transporte das partículas desprendidas, segundo as condições hidráulicas desse escoamento. Pode haver também a ação combinada entre o escoamento superficial concentrado e o escoamento subsuperficial (OLIVEIRA, 1994).

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SULCOS

São, em geral, de profundidade e largura inferiores a cinqüenta centímetros, sendo que suas bordas possuem pequena ruptura na superfície do terreno (DAEE, 1989). BIGARELLA & MAZUCHOWSKI (1985), definem que a erosão em sulcos sucede a laminar, podendo igualmente originar-se de precipitações muito intensas. FAO (1967) declara não existir nenhum limite definido que assinale o final da erosão laminar e o começo da erosão em sulcos. Estes ocorrem mais associados a trilhas de gado e em locais de solo exposto devido à movimentação de terra. RAVINA

A ravina é um sulco profundo no solo provocado pela ação erosiva da água de escoamento superficial concentrado, e que não pode ser combatida pelos métodos mais simples de conservação de solo. Segundo OLIVEIRA (1994), na ravina devem ser considerados mecanismos de erosão que envolvem movimentos de massa, representados pelos pequenos deslizamentos que provocam o alargamento da feição erosiva e também seu avanço remontante. As ravinas são normalmente de forma alongada, mais compridas que largas e com profundidades variáveis, normalmente inferiores a dez metros. Raramente são ramificadas, e não chegam a atingir o nível d'água subterrânea (Figura 1).

Figura 1 – Ravina provocada pelo escoamento superficial

BOÇOROCAS

A palavra boçoroca provém do tupi-guarani “ibi-çoroc”, e tem o significado de terra rasgada (PICHLER, 1953), ou então de “mbaê-çorogca”, traduzível por coisa rasgada (FURLANI, 1980). A origem indígena da palavra vem de encontro ao fato de que essas feições são reconhecidas de longa data, tendo sido descritas pela primeira vez em 1868 por Burton (PONÇANO & PRANDINI, 1987; FURLANI, 1980). A formação das boçorocas rurais ocorrem nas áreas de pastagens e culturas de má cobertura e manejo inadequado, enquanto as urbanas desenvolvem-se pelas estruturas pouco permeáveis entre o solo e a chuva, fazendo com que o escoamento seja incrementado com a diminuição da infiltração, numa mudança de regime de escoamento, localmente mais drástica, do que aquela provocada pelo desmatamento (IWASA & PRANDINI, 1980). Formadas pelo aprofundamento das ravinas e interceptação do lençol freático, onde se pode observar grande complexidade de processos do meio físico (piping, liquefação de areia, escorregamentos laterais, erosão superficial), devido à ação concomitante das águas superficiais e subsuperficiais (RODRIGUES, 1982). Este tipo de processo erosivo atinge grandes dimensões, gerando vários impactos ambientais na sua área de ação e na drenagem de jusante, tornando-se um complicador para o uso do solo nestas áreas. As boçorocas formam-se

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geralmente em locais de concentração natural de escoamento pluvial, tais como cabeceiras de drenagem e embaciados de encostas. A boçoroca é a feição mais flagrante da erosão antrópica, podendo ser formada através de uma passagem gradual da erosão laminar para erosão em sulcos e ravinas cada vez mais profundas, ou então, diretamente a partir de um ponto de elevada concentração de águas pluviais (IPT, 1986). No desenvolvimento da boçoroca atuam, além da erosão causada pelo escoamento superficial como nas demais formas dos processos erosivos (laminar, sulco e ravina) outros processos, condicionados pelo fato de esta forma erosiva atingir em profundidade o lençol freático ou nível d’água de subsuperfície. A presença do lençol freático, interceptado pela boçoroca, induz o aparecimento de surgências d’água, acarretando o fenômeno conhecido como “piping” (erosão interna que provoca a remoção de partículas do interior do solo, formando “tubos” vazios que provocam colapsos e escorregamentos laterais do terreno, alargando a boçoroca, ou criando novos ramos (Figura 2). A importância do estudo dos fenômenos associados à formação de boçorocas é estabelecer medidas de prevenção e controle, como também o estabelecimento de técnicas compatíveis ao combate do problema.

Figura 2 – Boçoroca, avanço lateral e remontante causado por “piping”

ESCORREGAMENTOS

Os escorregamentos e processos correlatos fazem parte do conjunto dos movimentos gravitacionais de massa diretamente relacionados à dinâmica das encostas. AUGUSTO FILHO (1992) classifica os escorregamentos lato sensu em quatro grandes grupos: rastejos (creep), escorregamentos stricto sensu (slides), quedas (falls) e corridas (flows). Os tipos de escorregamentos são definidos em função da forma e do tamanho do processo, bem como o tipo de material (solo, rocha) que foi mobilizado. Estes processos atuam essencialmente nas áreas de encostas com altas declividades, nas montanhas, serras e escarpas. Portanto não ocorrem de forma generalizada em todo o território paulista. Vários estudos realizados pelo IPT em regiões serranas do Estado de São Paulo levaram ao reconhecimento dos principais fatores naturais condicionantes dos escorregamentos. Quanto maior a declividade maior a suscetibilidade ao deslocamento do solo/rocha. Áreas com declividades inferiores à 30% são pouco afetadas por escorregamentos; entre 30 e 60% a freqüência aumenta; e acima de 60% este processo passa a ser muito comum. PREVENÇÃO DOS PROCESSOS EROSIVOS

Para prevenir os efeitos dos processos erosivos deve-se definir e implementar adequadamente práticas de prevenção. Os projetos de loteamentos ou conjuntos habitacionais devem ser concebidos a partir de planejamento urbanístico integrado, que contemple eficiente e adequado sistema de drenagem. Deve contemplar também, como condição básica, a correta concepção de obras de correção para os processos erosivos já instalados. O plano de prevenção da erosão urbana consiste basicamente de um plano de ordenamento do assentamento urbano, que estabelece as normas básicas para evitar problemas futuros, e planejar situações que favorecem o desencadeamento do processo erosivo, e, no caso de espaços já ocupados, reduzir ou eliminar os possíveis

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efeitos negativos dessa ocupação. Para a garantia de implantação de um plano de prevenção, devem ser definidas diretrizes legais, compreendendo uma legislação relativa a perímetro urbano, zoneamento urbano, arruamento e loteamento. Para que se possa prevenir, ou seja, evitar a erosão naquelas áreas, pode-se planejar e programar as expansões dentro da técnica estabelecida para o controle e, consequentemente, não sejam necessárias aplicações volumosas de recursos em sedes ou distritos urbanos que, com uma simples expansão de área, vejam ressurgir problemas antes combatidos. A observação nos mostra claramente que toda a tecnologia desenvolvida no combate à erosão urbana, ao longo do tempo, foi muito voltada a tentar controlar os processos desencadeados do que preveni-los . A implantação de medidas preventivas e o enfrentamento de problemas decorrentes do uso e ocupação do solo de forma inadequada, buscando a melhoria da qualidade de vida e a própria otimização dos investimentos, exigem análise e sistematização integrada dos processos que sejam significativos para o conhecimento e a abordagem do meio ambiente (FREITAS e ALMEIDA, 1997). Uma ferramenta fundamental na prevenção dos processos erosivos é a elaboração de Carta Geotécnica, que tenha como pressuposto básico: • predeterminar o desempenho da interação entre o uso do solo e o meio físico, bem como indicar os conflitos potenciais entre as próprias formas de uso e ocupação; e • orientar medidas preventivas e corretivas para reduzir gastos e riscos ao empreendimentos.

A carta geotécnica é um produto resultante da caracterização dos terrenos, considerando os parâmetros dos seus componentes físicos, os quais induzem ao desenvolvimento de processos e fenômenos responsáveis pela dinâmica da crosta terrestre. Assim, a cartografia apresenta diversas denominações, de acordo com o objetivo, conteúdo, natureza dos terrenos e formas de ocupação (FREITAS e ALMEIDA, 1997): • Cartas Geotécnicas (lato sensu) – apresentam as limitações e potencialidades dos terrenos e estabelecem diretrizes de ocupação; • Cartas de Risco Geológico – avaliam os danos potenciais à ocupação de acordo com as características ou fenômenos naturais ou induzidos pelo uso do solo; • Cartas de Suscetibilidade – destacam um ou mais fenômenos ou comportamentos indesejáveis, para uma dada forma de uso do solo ( p. ex. Carta de Suscetibilidade a erosão); • Cartas de Atributos (geológicos, geotécnicos)- apresentam a distribuição geográfica de características de interesse a uma ou mais formas de uso e ocupação; e • Cartas de Capacidade do Uso da Terra – cartas que têm a finalidade específica do uso rural/agrícola, desenvolvidas a partir do confronto do mapa de classes de declividade dos terrenos com as unidades pedológicas do solo. Estabelecem classes homogêneas de terras com base no grau de limitação deste uso, e subclasses com base na natureza da limitação. A seguir é apresentado o mapa de suscetibilidade à erosão do Estado de São Paulo que pode subsidiar as ações governamentais para a prevenção e controle deste agravante processo, que provoca a intensa degradação de áreas urbanas e rurais. O projeto desenvolvido “Orientações para o Combate a Erosão no Estado de São Paulo” constitui-se um diagnóstico regional de todo o território paulista, tendo o objetivo de identificar as regiões mais suscetivíveis à erosão e caracterizando os municípios críticos quanto à erosão urbana, bem como as bacias hidrográficas críticas. MAPA DE SUSCETIBILIDADE À EROSÃO NO ESTADO DE PAULO

O mapa de suscetibilidade à erosão foi elaborado a partir dos trabalhos realizados no projeto “Orientações para o Combate a Erosão no Estado de São Paulo” no período de 1985 a 1997, através de um convênio entre o Departamento de Águas e Energia Elétrica – DAEE e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, ambos órgãos do Estado de São Paulo. Esse mapa utilizou a abordagem morfopedológica, que integra as características geológicas, geomorfológicas e pedológicas das diferentes regiões do Estado de São Paulo, para identificar áreas com características de meio físico semelhantes. Associando tipos e formas de erosão a cada unidade morfopedológica, obtém-se classes de suscetibilidade à erosão. As classes foram definidas de modo a considerar de maneira integrada a erosão laminar, linear e os escorregamentos. Estas unidades foram agrupadas e hierarquizadas de acordo com a intensidade dos processos erosivos constantes no Mapa de feições erosivas, que subsidiou a elaboração do mapa de suscetibilidade à erosão do Estado de São Paulo (FIGURA 3). Apresenta-se a seguir o resumo desta hierarquização (IPT, 1997):

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• Muito alta suscetibilidade a erosão (Ia e Ib) - Praticamente todos os processos erosivos ocorrem nesta categoria. A erosão laminar é sempre intensa, mesmo em áreas onde o manejo é adequado. Os sulcos são freqüentes, indicando áreas de escoamento superficial acelerado. Acompanhando os sulcos, ocorrem ravinas dos mais variados portes. As ravinas muito grandes e profundas se transformam freqüentemente em boçorocas quando atingem o nível d'água. As boçorocas de drenagem também são bastante freqüentes. Ocorrem isoladamente áreas com paredões rochosos e com solos rasos que são alvo de quedas de blocos e escorregamentos. Trata-se portanto de áreas extremamente sensíveis à erosão das mais variadas formas. As duas classes apresentam características comuns. Os solos predominantes são do tipo podzolico vermelho- amarelo, de textura arenosa no horizonte A e argilosa ou média no horizonte B. A transição entre estes horizontes muitas vezes é abruptica. Ocorrem ainda areias quartzosas e latossolos textura arenosa e média. São portanto solos arenosos da mais alta suscetibilidade. Nas duas categorias o relevo é ondulado, formado por colinas médias e morrotes. Por vezes ocorrem pequenos morros e escarpas isolando platôs mais altos. A declividade média destas áreas são superiores a 12%, freqüentemente acima de 20%. O critério que diferencia estas duas classes é a geologia e a localização no Estado. A classe Ia ocorre sobre arenitos do Grupo Bauru, principalmente sobre a formação Marília e Adamantina. Ocorre portanto na região oeste, tipicamente nas cercanias de Bauru, Marília, Presidente Prudente e São José do Rio Preto. A classe Ib ocorre sobre arenitos mais antigos das formações Botucatu e principalmente a Pirambóia. Ocorrem ainda em porções isoladas correspondente a arenitos da formações Rio Claro, Itaqueri e correlatas. Esta classe predomina em porções da Depressão Periférica, especialmente junto as escarpas da Serra Geral, que separa a Depressão do Planalto Atlântico. As regiões típicas da classe Ib é a faixa entre São Pedro e Rio Claro.

• Alta suscetibilidade à erosão (IIa, IIb e IIc) - Esta categoria é composta também por duas classes, porém com características muito distintas. O critério que determina a reunião das classes IIa, IIb e IIc na categoria é a intensidade e a freqüência dos processos erosivos. A classe IIa apresenta características muito semelhantes às da classe Ia, porém mais atenuadas. A erosão laminar, os sulcos e as ravinas são bastante freqüentes. As boçorocas de encostas, formadas a partir da evolução de ravinas profundas ocorrem em diversas condições. Já as boçorocas de drenagem são bem menos freqüentes que na classe Ia. Na classe IIa não ocorrem as escarpas e paredões rochosos, portanto não são verificados quedas de blocos nem escorregamentos. A menor intensidade das erosões nesta classe são explicadas pelas características do meio físico. Os solos predominantes são do tipo podzólico vermelho amarelo, com o horizonte A arenoso ou médio. O horizonte B é de textura média ou argilosa, porém neste caso a transição A/B é gradual. Os latossolos textura média ocorrem nos topos aplainados, bastante comuns. O relevo é suave ondulado, com predomínio de colinas amplas e a declividade média é em torno de 10%. O substrato rochoso é constituído por arenitos do grupo Bauru, mais freqüentemente das formações Adamantina e Santo Anastácio. A Classe IIb ocorre sobre arenitos do Grupo São Bento nas formações Botucatu, Pirambóia, Itaqueri e sedimentos correlatos no Grupo Tubarão nas formações Aquidauana e Itararé. Esta classe predomina na Depressão Periférica com sistema de relevo de morros amplos, com declividade média até 15%. Os solos predominantes Podzólicos Vermelho-Amarelo, textura arenosa/média e Areias Quartzosas. Nesta unidade ocorrem sulcos, ravinas e boçorocas de drenagem com características de grande porte, tendo lençol freático profundo e evolução contínua e lento, quando a erosão laminar é muito intensa. A classe IIc , apresenta características diferentes das categorias anteriores. O substrato é composto por rochas cristalinas, ígneas e metamórficas, tais como migmatitos, gnaisses, granitos, xistos etc.. O relevo é fortemente movimentado, formado por montanhas, serras e escarpas. A declividade média é acima de 30%, freqüentemente acima de 60%. Os solos predominante são os cambissolos argilosos, que apresentam um espesso saprolito silto arenoso subjacente aos horizontes A e B argilosos, porém pouco espessos. Ocorrem também os litólicos nas escarpas e os podzolicos argilosos nos setores de encostas mais suaves. Os processos erosivos são bastante intensos neste compartimento, o que justifica esta classificação de alta suscetibilidade, classe IIb. As ravinas são pouco freqüentes e em geral rasas, a não ser nos aterros. As boçorocas são praticamente inexistentes. Os processos mais típicos desta classe são os movimentos de massa. Os rastejos e escorregamentos de todas as formas são freqüentes. As cabeceiras das drenagens, quando afetadas por erosão e chuvas intensas, podem desenvolver corridas de lama e pedras. Nas cicatrizes deixadas nas encostas pelos escorregamentos normalmente se desenvolvem

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Figura 3 – Mapa de suscetibilidade à erosão do Estado de São Paulo (IPT, 1997)

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intensos processos erosivos, até mesmo boçorocas onde ocorrem surgências d'água. Os paredões e escarpas apresentam freqüentes escorregamentos planares e quedas de bloco tanto nas áreas da Serra do Mar, em rochas graníticas, quanto na Serra Geral, em basalto e arenitos.

• Média suscetibilidade a erosão (IIIa, IIIb e IIIc) - Esta categoria engloba as classe IIIa, IIIb, e IIIc. Na classe IIIa os solos são do tipo latossolo, de cor vermelho escuro e textura media, desenvolvidos em relevo suave ondulado de colinas amplas. As declividades são muito baixas, em geral inferiores a 10%. O solo é bastante espesso, derivado dos arenitos das formações Adamantina, Santo Anastácio e Caiuá. Em função destas características, a erosão laminar é moderada, sendo comum a presença de sulcos rasos. As ravinas são o processo erosivo mais típico desta classe. Em função da grande espessura dos solos e das longas rampas, é comum a formação de ravinas de médio e grande porte decorrentes do escoamento superficial concentrado. As ravinas geralmente ocorrem nas encostas, entre as linhas de drenagem ou perpendiculares a elas. As boçorocas de drenagem são bem menos freqüentes nesta classe. A forma suave das encostas e os vales bem abertos não favorecem o seu desenvolvimento. Os escorregamentos e quedas de bloco não ocorrem. A Classe IIIb apresenta os mesmos tipos de processos que a classe IIIa, com alguns aspectos particulares. As características do meio físico também são semelhantes, porém há diferenças importantes. O substrato é formado por arenitos de diversas formações geológicas: Botucatu, Pirambóia, Rio Claro, Itaqueri, Aquidauana, Furnas e fácies da Itararé. Os solos formados a partir da alteração desses arenitos são do tipo latossolo, com textura arenosa e média e também areias quartzosas, espessos. Abaixo dos já desenvolvidos horizontes superficiais normalmente ocorrem grandes horizontes de solo saprolítico silto/arenoso, altamente erodíveis. Em função do relevo plano, praticamente não ocorrem movimentos de massa. A erosão laminar e os sulcos são de intensidade moderada, porém no caso de concentração do fluxo superficial da água, é comum a formação de profundas ravinas e boçorocas de encosta. Esta erosões lineares aprofundam no saprolíto, formando as maiores boçorocas do Estado, com dezenas de metros de profundidade. A Classe IIIc ocorre em áreas bastante restritas no leste do Estado, especialmente na região do Bananal e Vale do Paraíba. O relevo é ondulado, do tipo Mar de Morros, formado por morros e morrotes arredondados na forma de meia-laranja, isolados uns dos outros por extensas planícies aluvionares arenosas. Trata-se portanto de uma unidade mista, com morros cristalinos e sedimentos aluvionares arenosos. Os morros são palco de acelerada erosão laminar e formação de sulcos e ravinas rasas. Nas planícies aluvionares ocorrem grandes boçorocas de drenagem, formadas pela reativação das cabeceiras.

• Baixa suscetibilidade à erosão (IVa, IVb IVc IVd e IVe) - Esta categoria é subdividida em quatro classes IVa, IVb, IVc, IVd e IVe, que tem em comum a presença de solos argilosos. O que varia de uma classe para outra são as formas do relevo e o substrato, que condicionam diferentemente a erosão. Nas classe IVa e IVb os solos são do tipo podzólico e latossolo argilosos, de coloração vermelho amarelado, espessos, desenvolvidos em relevos de morrotes e morros essencialmente. Estes solos argilosos superficiais recobrem saprolitos em geral moderadamente desenvolvidos, com texturas e cores variadas. Esta variabilidade dos saprolitos é função dos diversos substratos rochosos que compõem esta classe. A classe IVb engloba os sedimentos argilosos e siltosos dos Grupos Passa Dois e Tubarão, bem como rochas do embasamento cristalino dos Grupos Açunguí e São Roque Classe VIa, quando em relevo mais arrasado e baixo. A erosão laminar é de moderada a intensa nas encostas. Os sulcos e ravinas rasas podem ocorrer nos setores mais íngremes, porém são raros. Somente nos cortes que expõem o saprolito é que os sulcos são mais freqüentes. Boçorocas praticamente não ocorrem. Os escorregamentos não são freqüentes, mas principalmente os circulares podem ocorrer, em função da espessura dos solos. A classe IVc corresponde a solos muito argilosos do tipo terra roxa e podzolico argiloso. Ocorre em áreas restritas, de relevo movimentado com morro e espigões, condicionado por diques de diabasio e basaltos. A erosão laminar é intensa em função das declividades elevadas dos terrenos. Porém em função da textura muito argilosa, a erosão linear e os movimentos de massa são muito pouco freqüentes. A classe IVd, assim como a anterior classe IVb, também apresenta solos muito argilosos derivados de basaltos. Porém o relevo típico desta classe é muito suave, com colinas amplas, o que condiciona a formação de solos do tipo latossolo roxo. Estes solos espessos, argilosos e porosos são naturalmente pouco suscetíveis a erosão de qualquer tipo. O uso intenso e a exposição do solo às condições climáticas provoca a desagregação das camadas superficiais, que são carreadas pelas enxurradas. A classe IVe ocorre no Vale do Paraíba e na região de São Paulo. O substrato é constituído por sedimentos argilo/arenosos das formações São Paulo, Pariquera e do Grupo Taubaté. Os solos derivados são latossolos de coloração amarela, desenvolvidos em relevo de colinas amplas e médias. A erosão laminar é moderada e a linear e os escorregamentos praticamente não ocorrem, a não ser em casos de indução muito forte.

• Muito baixa a suscetibilidade à erosão - As Classes Va e Vb são caracterizadas como uma zona onde ocorre mais acumulação de sedimentos e assoreamento do que a erosão propriamente dita. Ocupa áreas de

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baixadas, quase planas, formadas por planícies aluvionares (Va) e costeiras (Vb). Os solos são do tipo aluviões, hidromórficos e gleisados, e podzois, evoluídos a partir de sedimentos inconsolidados, aluviões, dunas, mangues, cordões litorâneos etc.. A erosão laminar, linear e os movimentos de massa praticamente não existem.

As classes I, II e III são as mais importantes do ponto de vista da erosão. São caracterizadas em geral pela presença de solos arenosos. A erosão laminar é normalmente intensa nas várias classes. São as ravinas e boçorocas que essencialmente caracterizam as categorias I, II e III. CONTROLE DA EROSÃO EM ÁREAS URBANAS

Na origem, a erosão urbana está associada à falta de planejamento adequado, que considere as particularidades do meio físico, as condições socioeconômicas e as tendências de desenvolvimento da área urbana. Este desenvolvimento amplia as áreas construídas e pavimentadas, aumentando substancialmente o volume e velocidade das enxurradas e, desde que não dissipadas, concentra os escoamentos, acelerando os processos de desenvolvimento de ravinas e boçorocas, com perdas significativas para a população e o poder público local. Pode-se considerar que já foi alcançada uma boa experiência nas medidas corretivas que vem sendo implantadas no sul-sudeste brasileiro e, em particular, no estado do Paraná. A alta incidência de feições erosivas resultam das precárias condições de infra-estrutura, projetos de drenagem mal concebidos, ou mesmo, pela escolha de áreas naturalmente adversas. Segundo PRANDINI (1985), a correção e o diagnóstico dos mecanismos de eclosão e evolução das erosões lineares se dão através de estudos geológicos e geotécnicos, que contribuem para a concepção de : • medidas preventivas que evitem a deflagração destes processos erosivos; • medidas corretivas eficientes e econômicas, que garantam a interrupção de sua evolução e permitam

aplicação em larga escala, como são exigidas pela extensão das áreas atingidas. Os mais recentes textos que apresentam a concepção de obras de correção implantadas, já mostram, de alguma forma, não ignorar o papel erosivo da água subsuperficial (FENDRICH, 1997; IPT, 1986; ALMEIDA FILHO, 1997 e 1999). Assim, ao mesmo tempo que se aperfeiçoam as técnicas de disposição das águas pluviais, de forma a dissipar a energia das águas nas obras terminais (SAAB, 1980; FENDRICH, 1997), no controle das boçorocas já são adotados os dispositivos (drenos, filtros, e septos) que buscam evitar a ação erosiva da “percolação excessiva e o possível colapso da estrutura”, ou, ainda, recomendando tipos de estruturas não totalmente estanques (como os gabiões) que “facilitam o controle dos solapamentos pelas águas de infiltração” (PONTES, 1980). O controle corretivo das erosões consiste na execução de um conjunto de obras, cuja finalidade primordial é evitar ou diminuir a energia do escoamento das águas pluviais sobre terrenos desprotegidos, que pode ser conseguido com obras de sistema de drenagem tais como: pavimentação das ruas, guias, sarjetas, bocas de lobo e galerias de águas pluviais. No controle destes processos, é fundamental a análise da bacia de contribuição para a elaboração de projetos, contendo: • microdrenagem; • macrodrenagem; e • obras de extremidades. Mesmo quando as águas superficiais são captadas por sistemas apropriados de redes de galerias, constata-se, com freqüência, o desenvolvimento de erosão no ponto de lançamento, devido à falta ou ineficiência de sistemas de dissipação de energia, ou o lançamento é feito na meia encosta ou na cabeceira de drenagem. Em virtude de vários insucessos em obras de controle de erosão, principalmente em boçorocas, IWASA e PRANDINI (1980) salientam a necessidade de manutenção em obras de controle, bem como de um acompanhamento sistemático e crítico do desempenho da obra. Tem-se verificado que medidas de correção parcial de boçorocas urbanas chegam a agravar ainda mais o processo. Os melhores resultados são obtidos mediante planos que levam em conta o tratamento da bacia drenante a montante e o tratamento do processo erosivo.

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O elemento essencial no desempenho destas medidas indicadas é a pavimentação das ruas para o adequado funcionamento da rede de drenagem urbana, que garante a estabilização e a eficiência do sistema de drenagem. Portanto, a pavimentação deve ser entendida como parte integrante do sistema, fazendo-se necessária para que essas obras não sejam inutilizadas. Um aspecto muito importante na garantia da obra implantada é a manutenção do sistema hidráulico, pois, muitas vezes uma pequena medida de engenharia ao longo da vida do sistema de drenagem/contenção, feita adequadamente, evita ou impede o colapso. A conscientização dos poderes públicos municipais e populações urbanas na conservação das obras implantadas é fundamental na garantia do seu bom funcionamento. Das observações feitas em vários processos erosivos urbanos (ravina e boçoroca), no Estado de São Paulo, e, pela grande experiência de contenção de erosões realizada pelos Órgãos do Paraná, podemos concordar com FENDRICH, 1997, que conclui: • não existe um tipo de obra adequada para toda e qualquer situação; • soluções econômicas e simples só existem se aplicadas no início do desenvolvimento dos processos erosivos; • aplicação de vegetação como complemento a qualquer obra ou medida de engenharia no controle dos processos erosivos; • a implantação de drenos no interior das boçorocas; • não há diferença entre erosão rural e urbana, pois a diferença está nas medidas de controle; • as entidades responsáveis pela contenção destes processos devem ter em mente que não existem obras, mesmo que caras, que sejam completamente seguras, devido à probabilidade de afluir um maior risco hidrológico; • proceder a manutenção do sistema hidráulico na contenção da erosão e na bacia de contribuição. O projeto de contenção de uma boçoroca envolve, desta forma, aspectos geotécnicos e urbanísticos. O primeiro exige a caracterização e quantificação dos fatores e mecanismos, e o segundo, inclui a possibilidade e alternativas de ocupação da área. A concepção do projeto deve, necessariamente, considerar o adequado conhecimento dessas questões, sendo fator decisivo para o sucesso das obras de contenção (IPT, 1986). A elaboração de projetos de sistemas de drenagem, visando a recuperação dos processos erosivos, tem que se integrar ao crescimento planejado da área ao redor. Grande parte do fracasso dos projetos de drenagem e de contenção dos processos erosivos advém do subdimensionamento das suas estruturas, ante a expansão urbana, ou da não-instalação de eficientes estruturas de dissipação nos pontos de deságüe, e na ausência dos estudos geotécnicos necessários para a correta concepção do projeto (ALMEIDA FILHO, 1997). Apesar de existirem mecanismos comuns a todos os processos erosivos, todo projeto deve considerar as especificidades próprias de cada erosão, o que dificulta a generalização de solução padrão. Assim, de modo geral, a elaboração do projeto de contenção deve levar em conta alternativas que contemplem as seguintes medidas principais: • disciplinamento das águas superficiais; • disciplinamento das águas subterrâneas, que é uma das principais causas do desenvolvimento lateral e remontante, através de drenos filtrantes impedindo o carreamento do solo (“piping”); • estabilização dos taludes ou recomposição da área por terraplenagem e revegetação; • execução de emissários conduzindo as águas nos pontos do talvegue estáveis; • conservação das obras. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este quadro de degradação do solo e da água do território paulista permanecerá crítico enquanto a ocupação agrícola não respeitar a capacidade de uso das terras e adotar práticas conservacionistas adequadas; a expansão de áreas urbanas não for planejada e executadas com os devidos critérios, ou, seja, enquanto não for implementada uma política global, integrando ações de combate à erosão urbana e rural, que possam ser priorizadas ao nível preventivo e corretivo.

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Por isso as medidas preventivas são imprescindíveis para garantir o equilíbrio da natureza. Prevenir significa definir uma política de caráter sustentável para o uso dos recursos do solo e da água, porém preservando-os afim de mantê-los renováveis ao longo das gerações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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