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  • CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/ ISSN 1678-6343

    Instituto de Geografia UFU Programa de Ps-graduao em Geografia

    Caminhos de Geografia Uberlndia v. 14, n. 47 Set/2013 p. 199207 Pgina 199

    TESTE DA CORRELAO ENTRE HIPSOMETRIA E NDICES DE OCORRNCIA DO MOSQUITO Aedes aegypti NA CIDADE DE MONTES CLAROS-MG COM DADOS DOS

    ANOS 2009 E 20101

    Cynara Kaliny Ribeiro Braz Ps-Graduada em Sade Pblica - ISEIB

    [email protected]

    Diego de Sousa Ribeiro Fonseca Mestre em Cincias Agrrias - ICA/UFMG

    [email protected]

    Vanessa Batista do Amaral Mestra em Cincias Agrrias ICA/UFMG

    [email protected]

    Wadson de Almeida Miranda Mestre em Cincias Agrrias ICA/UFMG

    [email protected]

    RESUMO

    O objetivo deste trabalho foi espacializar os focos de ocorrncia do mosquito Aedes aegypti, com dados dos anos 2009 e 2010 do ndice de Infestao Predial da cidade de Montes Claros e apontar os bairros que tm tido maior predisposio ocorrncia do vetor da Dengue. A metodologia empregada consistiu na montagem de um banco de dados georreferenciado contendo uma tabela de atributos com informaes do ndice de infestao, a partir de informaes fornecidas pela Prefeitura Municipal de Montes Claros e o cruzamento dessas com dados do Shuttle Radar Topography Mission (SRTM). Os resultados mostram que houve crescimento significativo no ndice de infestao predial entre os anos 2009 (com mdia de 2,66%) e 2010 (com mdia de 3,2%). As informaes evidenciam que existe associao entre os dados do ndice dos anos analisados, o que pode sugerir a propenso a resultados similares nos anos seguintes caso no sejam tomadas aes mitigadoras. As reas crticas so principalmente aquelas de maior aglomerao urbana, posicionadas na regio central. Os resultados mostram ainda que no existiu correlao alguma entre a altitude dos bairros e a ocorrncia do mosquito transmissor da Dengue.

    Palavras-chave: Aedes aegypti, SRTM, Epidemiologia e Geotecnologia.

    TESTING OF THE CORRELATION BETWEEN HYPSOMETRY AND INDEXES OF Aedes aegypti OCCURRENCES IN MONTES CLAROS-

    MG WITH DATA FROM 2009 AND 2010

    ABSTRACT

    The aim of this work was to spatialize occurrences of the mosquito Aedes aegypti, with data from the years 2009 and 2010 from the Index of House Infestation of Montes Claros and to point out neighborhoods which have had a greater predisposition to the occurrence of the Dengue vector. The methodology consisted in assembling a georeferenced database containing a table of attributes with information of the infestation index, based on information provided by the Municipality of Montes Claros and the crossing of these with data from the Shuttle Radar Topography Mission (SRTM). The results show that there has been significant growth in house infestation between the years of 2009 (an average of 2.66%) and 2010 (an average of 3.2%). The information evidenced that there is an association between the index data of the years analyzed,

    1 Recebido em 25/03/2013

    Aprovado para publicao em 06/09/2013

  • Teste da correlao entre hipsometria e ndices de ocorrncia do mosquito Aedes aegypti na cidade de Montes Claros-MG com dados dos anos 2009 e 2010

    Cynara Kaliny Ribeiro Braz; Diego de Sousa Ribeiro Fonseca; Vanessa Batista do Amaral; Wadson de Almeida Miranda

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    which may suggest a propensity for similar results in subsequent years, if mitigating actions are not taken. Critical areas are mainly those of larger urban agglomeration, positioned in the central region. The results also show that there has not been any correlation between the altitude of the neighborhoods and the occurrence of mosquito that transmits Dengue.

    Keywords: Aedes aegypti, SRTM, Epidemiology and Geotechnology.

    INTRODUO A dengue uma das principais enfermidades urbanas da atualidade e tem causado preocupao sociedade e ao poder pblico em todo mundo. O Ministrio da Sade (2007) afirmou que entre 50 e 100 milhes de pessoas se infectam anualmente com dengue em mais de 100 pases de todos os continentes, exceto Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalizao, e 20 mil morrem em consequncia dessa doena. O elevado ndice de urbanizao e suas transformaes na paisagem, tal como a impermeabilizao do solo e destruio das matas nativas, associado ao alto ndice pluviomtrico das regies tropicais e subtropicais, cria uma situao favorvel formao de habitats para desenvolvimento da larva que se transforma no mosquito com probabilidade de ser um hospedeiro do vrus causador da dengue (NEVES, 2005). Santos; Barcellos (2006) destacaram a importncia de se conhecer a problemtica do meio urbano como instrumento de gesto do territrio e entendimento dos processos de sade-adoecimento. Diante do fato, o critrio que norteia este estudo , sobretudo, a perspectiva ambiental geogrfica, tendo em vista que pelo fato da dengue ser uma doena urbana, sua expanso ou mitigao est intrinsecamente ligada ao estudo de diversos fatores, tais como os fsico-ambientais; socioeconmicos e educacionais. Com base em Leite et al. (2008), o municpio de Montes Claros apresentou, entre os anos 2000 a 2007, maior nmero de infectados por dengue entre os municpios da microrregio de Montes Claros. Fonseca; Braz (2010) mostraram em estudo na mesma cidade, que locais de maior aglomerao urbana e de menor cobertura por reas verdes, (mais impermeabilizados) so mais suscetveis ocorrncia de depsitos de gua parada e, portanto, proliferao do mosquito disseminador da doena. Os autores pressupem que a maior propenso ao alastramento do mosquito Aedes aegypti pode estar relacionado altitude dos bairros, pela maior disposio ao acmulo de gua parada nessas reas. A partir do pressuposto mencionado, o objetivo deste trabalho foi testar, por meio da montagem de um banco de dados geogrfico contendo informaes do ndice de Infestao Predial dos anos 2009-2010, se a altitude dos bairros refletiu na predisposio maior ocorrncia de focos do mosquito A. aegypti. A temtica torna-se vivel diante da necessidade de se entender a relao dos processos de adoecimento com as condies ecolgico-espaciais, objeto de estudo de cincias como a Ecologia da Paisagem. O assunto vem se desenvolvendo no Brasil a partir de estudos iniciados pelo mdico sanitarista Oswaldo Cruz, no relatrio de 1910, sobre condies sanitrias do Rio Madeira (SANTOS; MARAL JNIOR, 2004). MATERIAIS E MTODOS rea de Estudo A pesquisa foi desenvolvida na rea urbana de Montes Claros, a qual est inserida na regio Sudeste do Brasil, Norte do Estado de Minas Gerais (Figura 1). A sede da cidade situa-se a 1644'06" de latitude sul e 43 51' 43" de longitude oeste; a altitude mdia de 646,29 metros (IBGE, 2010). Conforme a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA, 2008), no lugar predomina o clima tropical semi-mido, mdias trmicas anuais de 24,4C com veres chuvosos e invernos secos. A vegetao composta por um complexo entre Cerrado e Mata Seca conforme

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    AbSber (2005). Sobre sua topografia, podem ser destacadas duas unidades geomorfolgicas: o planalto da bacia hidrogrfica do So Francisco e a depresso Sanfranciscana.

    Figura1. Bairros da cidade de Montes Claros e sua localizao

    A referida cidade possui rea de 101km, populao de 344.427 habitantes, o que corresponde a 94% do total municipal. A populao relativa de 3.410 hab./km. No entanto, essa ocupao distribuda de forma irregular, adensando-se principalmente nas regies mais centrais da cidade. As atividades econmicas que compe maior percentual da populao economicamente ativa so os servios (48,3%), a indstria (23,3%), o comrcio (20,9%) e a agropecuria (7,5%), conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2010). Montes Claros a sexta cidade mais populosa do Estado e a mais dinmica do Norte de Minas Gerais.

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    Dados A base de dados que subsidiou a gerao dos resultados foi obtida por meio da consulta a rgos de prestao de servio social, tais como: Prefeitura Municipal de Montes Claros (PMMC, 2011); Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenao (SEPLAN, 2009); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA, 2011) e Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES, 2011). Na PMMC foram obtidos dados analgicos (ndice de Infestao Predial), dos focos positivos do mosquito A. aegypti em relao aos bairros da cidade, referentes aos anos 2009 e 2010. Na SEPLAN foi adquirido o arquivo vetorizado, base cartogrfica georreferenciada, representando o limite dos bairros de Montes Claros. Na EMBRAPA foi obtida a imagem proveniente do Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) folha SE-23-X-A. No Departamento de Geocincias da UNIMONTES, foram obtidos os dados relacionados pluviosidade da cidade, referentes aos anos de 2009 e 2010. Procedimentos Operacionais Inicialmente foi realizada a importao da base cartogrfica georreferenciada representando a cidade de Montes Claros, para o software ArcGIS, verso 9.3. Aps o procedimento, com os dados da PMMC referentes aos focos de dengue por bairros, estes foram digitados na tabela do software citado nas respectivas poligonais codificadas para representao dos bairros. Ao final, foram gerados os mapas com classes de infestao por A. aegypti atravs da hierarquia de cores, com dados referentes aos anos analisados. Em seguida foi providenciada a manipulao da imagem originada do radar SRTM. Essa imagem foi editada com a interpolao dos dados de altitude, com resoluo original de 90 metros, sendo esta resoluo convertida para 40 metros, tal como mostrado por Silva; Rodrigues (2009). Por meio do procedimento foi gerado o mapa de classes de elevao com a sobreposio dos dados de infestao do A. aegypti. Os resultados gerados a partir do processamento das informaes do radar SRTM foram comparados e confirmados com os dados de altitude da SEPLAN (2009), os quais estiveram disponibilizados em pontos restritos da cidade, tal como mostrado por Fonseca; Braz (2010). Posteriormente, foi executado o clculo das mdias de altitude dos 132 bairros da cidade de Montes Claros (SEPLAN, 2009) a partir dos dados gerados com a manipulao do arquivo raster proveniente do radar SRTM. Essas mdias foram transcritas para a tabela do software BioEstat, verso 5.0, juntamente com os ndices de infestao predial dos anos 2009 e 2010 para realizao da anlise de varincia , teste de diferena de mdias (teste de Tukey), clculo do coeficiente de correlao linear (Pearson) e realizao do teste de correlao parcial. RESULTADOS Com base na Figura 2, pode-se notar que o aumento da precipitao um fator favorvel ao crescimento do nmero de locais contaminadas pelo mosquito transmissor da dengue. Em Montes Claros, local onde na primavera-vero predomina o calor intenso e maior oferta de chuva; e o outono-inverno com temperaturas mais amenas, visto que os surtos de dengue acontecem essencialmente nas estaes de maior oferta pluviomtrica. Figura 2. Relao entre precipitao (mm) e nmero de focos do A. aegypti, anos 2009-2010, na cidade

    de Montes claros-MG

    Fonte: Adaptado da PMMC (2011); UNIMONTES (2011).

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    Ao analisar o ambiente intraurbano de Montes Claros percebe-se que dos 132 bairros que compem a cidade, os dez que apresentaram os maiores ndices de infestao nos anos analisados (Tabela 1) encontram-se convergidos nas reas de maior aglomerao populacional (FONSECA; BRAZ, 2010). Tabela 1. Bairros que apresentaram os maiores ndices de infestao predial (%) nos anos 2009 e 2010

    em Montes Claros

    2009 2010 Melo 8,0 So Norberto 11,5 So Norberto 8,0 Jardim So Luiz 11,5 Nossa Sra. das Graas 7,8 Vila Mauricia 9,9 Jardim So Luiz 7,7 So Joo 8,8 Edgar Pereira 7,0 Melo 8,5 Vila Regina 7,0 Nova Morada 7,2 Castelo Branco 6,9 Bela Paisagem 7,0 Eldorado 6,0 Renascena 6,8 Jardim Eldorado 5,8 Vila Telma 6,8 Jardim Brasil 5,6 Funcionrios 6,7

    Fonte: Adaptado da PMMC (2011). O teste de mdias empregado no trabalho mostrou haver diferenas significativas entre os anos analisados (f = 4.319 e p = 0.03), sendo que o ano de 2009 apresentou mdia de 2,66%; e 2010 com mdia apresentada de 3,2% no ndice de infestao geral. As reas de maior densidade populacional e propenso a maior ocorrncia do mosquito A. aegypti obedecem tendncia para acontecerem na regio central da cidade (Figura 3). Figura 3. ndice de Infestao Predial nos anos 2009 e 2010 nos bairros da cidade de Montes Claros.

    Fonte: Adaptado da SEPLAN (2009); PMMC (2011). O coeficiente de correlao de Pearson provou a hiptese de nulidade, mostrando no haver relao entre a incidncia do mosquito transmissor da dengue e a altitude dos locais em 2009 (com r = -0.066 e p = 0.450) e 2010 (com r = -0.068 e p = 0.434). O teste de correlao parcial mostrou haver associao entre os resultados de 2009 e 2010 (com r XY = 0.525 e p = 0.0001), evidenciando a existncia de resultados dependentes na relao entre os dois anos, o que pode ser notado na Figura 4. No entanto, essa associao

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    no deixa de ser significativa com a introduo da varivel altitude (com r XY.Z = 0.525 e p = 0.0001), mostrando que esta varivel no interferiu nos resultados da associao do ndice de infestao do mosquito A. aegypti em Montes Claros nos anos analisados. Figura 4. Representao das altitudes da cidade de Montes Claros e do ndice de infestao predial, por

    bairros, referentes aos anos 2009-2010

    DISCUSSO O caso de Montes Claros agravado porque, conforme autores como Vieira; Lima (2006), a irregularidade na distribuio dos dias de chuva um fator que influencia no crescimento da infestao do mosquito A. aegypti, visto que o inseto passa a dispor de maior variedade de tempo e de lugares para oviposio. Essa realidade enquadra-se exatamente na situao da referida cidade (Figura 2), a qual apresenta elevadas mdias trmicas, e nas pocas de maior precipitao so notados dias de chuvas torrenciais por longas horas, alternados a dias de calmaria, com intensa exposio solar e baixa umidade atmosfrica. Fato que chama a ateno que nos bairros da regio Sudoeste no so justificados os ndices apresentados nos anos 2009 e 2010, com destaque para o Melo, Ibituruna, Jardim So Luiz e So Norberto. Esses locais apresentam uma populao de maior escolaridade e renda

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    (LEITE, 2010), portanto, com maior acesso s informaes a respeito dos riscos a que esto submetidos quando no existe a correta assepsia dos seus ambientes de convvio. No entanto, mesmo assim, conforme os dados apresentados neste trabalho, essas pessoas no tm se mostrado comprometidas com a qualidade da sade da comunidade. Para Santos; Barcellos (2006), o estudo da sade remete a uma seleo de situaes, de agentes que afetam a um grupo de pessoas e a uma enumerao de fatos que em seu contedo e forma so assumidos como: relevantes, suficientes e necessrios. Ainda de acordo com os autores citados, a vantagem na associao entre espao e sade que se podem organizar as informaes por tipo determinante, tais como, por exemplo, o biolgico, o ambiental, o comportamental e o sistema de sade. Essa abordagem facilita a adoo de medidas preventivas enfatizando diferentes e desconhecidos aspectos. Entretanto, conforme Santos; Santos (2007), nenhuma abordagem ou modelo explicativo suficientemente robusto e completo para esclarecer a realidade e os fenmenos que nele ocorrem. Logo, todos tm suas falhas e limitaes devido s transformaes temporais e diferentes vises que vo surgindo. Nesse sentido, as avaliaes ambientais, econmicas, socioculturais e de sade esto em muitos casos interligadas. Por esse motivo as anlises contemporneas pedem uma abordagem holstica e multidisciplinar para tomada de decises acertadas, pois s assim alcanar-se-o sucessos coletivos realmente significativos. O fator ambiental um importante amenizador dos eventos anormais sade pblica, principalmente no que se refere ocorrncia de epidemias. sabido que a reduo da vegetao e substituio por concreto e asfalto diminui a infiltrao das guas superficiais, e ainda, aumenta o escoamento, trazendo transtornos como, por exemplo, a ocorrncia de enchentes e aumento de locais propcios conservao de gua parada. necessrio que haja esforos por parte da comunidade interessada e do setor pblico, a fim de ocorrer mais polticas de planejamento e controle das pragas urbanas. O setor pblico deve atuar no diagnstico, prognose, mitigao e reparao dos problemas sociais. No so necessrios apenas investimentos na remediao dos problemas da coletividade, preciso um plano mais amplo de melhoria de qualidade de vida para a populao, em diversos aspectos, e, imprescindivelmente, no que alude sade, tal como mostrado em Brasil (1990):

    Art. 2. 1 - O dever do Estado de garantir a sade consiste na formulao e execuo de polticas econmicas e sociais que visem reduo de riscos de doenas e de outros agravos e no estabelecimento de condies que assegurem acesso universal e igualitrio s aes e aos servios para sua promoo, proteo e recuperao.

    Nessa perspectiva, a participao de profissionais de reas diversas na elaborao das metodologias voltadas s polticas pblicas crucial para um desenvolvimento mais eficiente. Medidas preventivas geram menos custos que a remediao de problemas. Somado s aes do Estado, de extrema importncia que os cidados no deixem acumular gua parada em seus locais de convvio, a fim de que o mosquito no encontre ambiente favorvel a sua procriao. Devem atuar tambm como fiscais de biossegurana, orientando a comunidade e denunciando para os rgos de sade social os comportamentos inadequados de pessoas que possam por em risco o bem-estar da coletividade. Inclusive, o art. 2, 2 da lei 8080/90 diz que o dever do Estado no exclui o das pessoas, da famlia, das empresas e da sociedade quanto promoo da sade coletiva. Para melhor compreender os processos de sade-adoecimento, necessrio ser entendido que sade no significa ausncia de doena. Santos; Barcellos (2006) argumentam embasados na Organizao Mundial de Sade (OMS), que sade um estado completo de bem estar fsico, mental e social, no entanto no h pessoa ou populao completamente livre de questes patolgicas, a no ser transitoriamente. Algumas ideias que poderiam ajudar a melhorar a qualidade ambiental urbana e que possivelmente combateriam o mosquito transmissor da dengue so (FONSECA; BRAZ, 2010):

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    Dar desconto no Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) para as residncias que destinarem pelo menos 10% do terreno do imvel para reservas verdes, jardins e arborizao, e para aquelas que durante o ano apresentarem-se livres de contaminao pelo vetor da dengue.

    Aumentar e desconcentrar as reas de vegetao da cidade, incentivando a populao a manter as caladas dos imveis com rvores bem cuidadas; acrescer as reas de parque e praas verdes na ambincia urbana.

    O trabalho de preveno dengue em Montes Claros de responsabilidade do Centro de Controle de Zoonoses, rgo ligado Prefeitura Municipal, o qual realiza visitas peridicas nos domiclios, principalmente naqueles da rea urbana. A finalidade do trabalho eliminar focos de disseminao do mosquito da dengue e orientar os morados sobre as formas de evitar locais mais propcios deposio de larvas do A. aegypti. O trabalho do Centro de Controle de Zoonoses fica limitado diante da grande quantidade de dados e a forma de armazenamentos dessas informaes, as quais so registradas em meio analgico com uso de formulrios. No existe um banco de dados georreferenciado ligado a uma base cartogrfica que permita visualizar espacialmente os casos e, a partir disso, estabelecer relaes da incidncia da doena com outras variveis. Mesmo com a utilizao de recursos cartogrficos, apontar uma rea de influncia direta do mosquito Aedes a partir do foco de contaminao uma tarefa complexa, tendo em vista que tal inseto, apesar de voar baixo, no sobreviver em altitudes acima de 1.200 metros e ter deslocamento horizontal limitado, se transporta passivamente, grudado ao corpo das pessoas. Dessa forma, um indivduo que transitou em lugares contaminados pode levar o vetor para outras regies, pois se trata de uma praga cosmopolita. Sendo assim, a rea de influncia dos focos do mosquito torna-se toda a urbe, principalmente os adensamentos populacionais. A dengue uma molstia urbana, e os responsveis por sua disseminao so os materiais inadequados das cidades, a reduo da vegetao, a ocorrncia cada vez maior dos aglomerados urbanos formados devido ao crescimento populacional, somado falta de asseio adequado da populao. Este ltimo motivo tem levado a contaminao a lugares onde no existe predisposio para tal episdio. Dessa forma, v-se a necessidade de campanhas mais eficientes para sensibilizao da populao sobre essa problemtica. Nesse processo a cartografia pode funcionar como um instrumento crucial para disseminao de informaes e para medidas scio-educativas (FREITAS, 2005). CONSIDERAES FINAIS As informaes geradas no trabalho mostram que houve crescimento significativo no ndice de infestao predial entre os anos 2009 (com mdia de 2,66%) e 2010 (com mdia de 3,2%). Os resultados mostram ainda que no existe correlao entre a altitude e a ocorrncia do mosquito transmissor da dengue. O teste de correlao parcial efetuado mostra que h associao entre os dados do ndice de infestao dos anos analisados, o que pode sugerir a propenso a resultados similares nos anos seguintes caso aes mitigadoras no sejam tomadas para conter o desenvolvimento desse problema de sade pblica. Somado s polticas pblicas voltadas ao planejamento epidemiolgico, tais como o combate direto ao mosquito principalmente nos perodos de maior pluviosidade e a maior preservao de reas naturais do ambiente urbano, necessria a participao da sociedade com a manuteno adequada dos locais privados e pblicos.

    REFERNCIAS AB SBER, A. Os domnios de natureza no Brasil: potencialidades paisagsticas. Ateli Editorial, 2005, 160p. BRASIL. Lei 8080/90, de 19 de Setembro de 1990. Dispe sobre as condies para a promoo, proteo e recuperao da sade, a organizao e o funcionamento dos servios correspondentes e d outras providncias. Braslia, 1990.

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    EMBRAPA, EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA. Disponvel em: . Acessado em: 18 de jan. 2012. FONSECA, D.S.R.; BRAZ, C.K.R. Investigao epidemiolgica da distribuio geogrfica do Aedes aegypti na cidade de Montes Claros com uso de geotecnologia. Brazilian Journal of Cartography, v.62, n. 03, p. 489-503, 2010. FREITAS, M. I. C. de (org). Cartografia e meio ambiente. v.13. Rio Claro: IGCE/UNESP; Bauru: FC/UNESP: CECENCA, 2005, 90p. IBGE, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. IBGE cidades, censo 2010. Disponvel em: . Acessado em: 01 de jun. 2011. LEITE, M. E; FONSECA, D. S. R.; BRAZ, C. K. R. O uso do SIG na anlise da dengue: aplicao na microrregio de Montes Claros/Bocaiva (MG). Hygeia, v. 4, p. 126-141, 2008. LEITE, M. E. Anlise da correlao entre dengue e indicadores sociais a partir do SIG. Hygeia, n. 6, v. 11, p. 44 59, 2010. MINISTRIO DA SADE, 2007. Dengue. Disponvel em: Acessado em: 17 de dez. 2007. PMMC, PREFEITURA MUNICIPAL DE MONTES CLAROS. Centro de Zoonoses. Diviso de epidemiologia. Guia prtico do LIRAa. Montes Claros, 2011. NEVES, D. P. Parasitologia humana. So Paulo: Atheneu, 2005, 494p. SANTOS, S. M; BARCELLOS, C (orgs). Abordagens espaciais na sade pblica. Ministrio da Sade, Fundao Oswaldo Cruz. Braslia: Ministrio da Sade, 2006, 124p. SANTOS, A. dos; MARAL JNIOR, O. Geografia do dengue em Uberlndia (MG) na epidemia de 1999. Caminhos de Geografia, v. 3, n. 11, p. 35-52, 2004. SANTOS, S. M; SANTOS, R. S (orgs). Sistemas de Informaes Geogrficas e anlise espacial na sade pblica. Ministrio da Sade, Fundao Oswaldo Cruz. Braslia: Ministrio da Sade, 2007,130p. SILVA, T. I.; RODRIGUES, S.C. Tutorial de cartografia geomorfolgica Arcgis 9.2 e Envi 4.0. Universidade Federal de Uberlndia, Instituto de Geografia, Laboratrio de Geomorfologia e Eroso dos Solos, Programa Institucional de Bolsas do Ensino de Graduao PIBEG, Uberlndia, 2009, 66p. SEMMA, SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE DE MONTES CLAROS (MG), 2008. SEPLAN, SECRETARIA MUNICIPAL DE PLANEJAMENTO E COORDENAO, 2009. UNIMONTES, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS. Depto. Geocincias. Dados meteorolgicos. Montes Claros, 2011. VIEIRA, G. S. da S.; LIMA, S. do C. Distribuio geogrfica da dengue e ndice de infestao de Aedes aegypti em Uberlndia (MG), 2000 a 2002. Caminhos de Geografia, v. 7, n. 17, p. 107-122, 2006.