2019-7763-1-pb.pdf

18
71 Revista de Direito Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 José Eduardo Cury Faculdade Comunitária de Campinas unidade 3 [email protected] O PAPEL DO GESTOR PÚBLICO MUNICIPAL NA SEGURANÇA PÚBLICA RESUMO O assunto em questão visa proporcionar um melhor entendimento sobre a participação de gestores públicos no trato com a Segurança Pública nos municípios e o aumento da violência nas cidades, principalmente naquelas que compõem as regiões metropolitanas. Define-se o papel das Guardas Municipais, suas tarefas e anseios. Busca-se posicionar o gestor público municipal no centro de sua sociedade estando apto a reconhecer seus problemas básicos, como por exemplo, a pavimentação asfáltica que permite um desloca- mento ágil de viaturas policiais no encalço de marginais ou mesmo a melhoria na iluminação pública dos bairros mais carentes. Discu- te-se sobre a necessidade de maiores investimentos em equipa- mentos de segurança e na integração das instituições policiais com a comunidade e o terceiro setor. Palavras-Chave: Gestor municipal, segurança pública, investimentos, integração e comunidade. ABSTRACT The subject in question aims to provide one better agreement about the participation of public managers in the treatment with the Public Security in its city and the increasing of the violence in the cities mainly in those compose the regions metropolitans. It is define about the paper of the Municipal Guards, its tasks and yearnings. One searches to locate the municipal public manager in the center of its society being apt to recognize its basic problems, as for example, the asphalt pavement that allows to an agile dis- placement the cars of police in the pursuit of delinquents or same the improvement in the public illumination of the quarters most devoid. It is discuss about the necessity of bigger investments in equipment of security and the integration of the police institutions with the community and the third sector. Keywords: Municipal manager, public security, investments and integra- tion and community. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 05/05/2008 Avaliado em: 04/07/2008 Publicação: 24 de outubro de 2008

Upload: reinaldo-arquitetura

Post on 18-Aug-2015

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

71 Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 Jos Eduardo Cury Faculdade Comunitria de Campinas unidade 3 [email protected] O PAPEL DO GESTOR PBLICO MUNICIPAL NA SEGURANA PBLICA RESUMO O assunto em questo visa proporcionar um melhor entendimento sobre a participao de gestores pblicos no trato com a Segurana Pblicanosmunicpioseoaumentodaviolncianascidades, principalmentenaquelasquecompemasregies metropolitanas. Define-seopapeldasGuardasMunicipais,suastarefaseanseios. Busca-seposicionarogestorpblicomunicipalnocentrodesua sociedade estando apto a reconhecer seus problemas bsicos, como porexemplo,apavimentaoasflticaquepermiteumdesloca-mento gil de viaturas policiais no encalo de marginais ou mesmo a melhoria na iluminao pblica dos bairros mais carentes. Discu-te-sesobreanecessidadedemaioresinvestimentosemequipa-mentos de segurana e na integrao das instituies policiais com a comunidade e o terceiro setor. Palavras-Chave:Gestormunicipal,seguranapblica,investimentos, integrao e comunidade. ABSTRACT Thesubjectinquestionaimstoprovideonebetteragreement abouttheparticipationofpublicmanagersinthetreatmentwith thePublicSecurityinitscityandtheincreasingoftheviolencein thecitiesmainlyinthosecomposetheregionsmetropolitans.Itis defineaboutthepaperoftheMunicipalGuards,itstasksand yearnings. One searches to locate the municipal public manager in thecenterofitssocietybeingapttorecognizeitsbasicproblems, asforexample,theasphaltpavementthatallowstoanagiledis-placementthecarsofpoliceinthepursuitofdelinquentsorsame theimprovementinthepublicilluminationofthequartersmost devoid.Itisdiscussaboutthenecessityofbiggerinvestmentsin equipment of security and the integration of the police institutions with the community and the third sector. Keywords: Municipal manager, public security, investments and integra-tion and community. Anhanguera Educacional S.A. Correspondncia/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, So Paulo CEP. 13.278-181 [email protected] Coordenao Instituto de Pesquisas Aplicadas eDesenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 05/05/2008 Avaliado em: 04/07/2008 Publicao: 24 de outubro de 2008 O papel do gestor pblico municipal na segurana pblica Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 72 1.INTRODUO Desde a constituio promulgada em 1988, conhecida por Constituio Cidad, os mu-nicpiosapartirdeentoconsideradosentesdafederaopassaramateratribuies cadavezmaisrelevanteseimportantesnoaspectosocialdacomunidade.Porconse-qnciahouveaumentodastransfernciasconstitucionaisdereceitasaosmunicpios, mas,emcontrapartida,algunsserviosqueatentoestavamsobnicaresponsabili-dadedoEstadorecaramsoboencargodessesmunicpios,implicandoumrazovel aumento das despesas que comprometeram os oramentos, principalmente no tocante aos investimentos bsicos necessrios. O Coordenador de Articulao Poltico-Institucional do IBAM - Instituto Bra-sileirodeAdministraoMunicipal,FranoisE.J.Bremaekeremumtextoexplicativo sobre o tema Pacto Federativo, faz o seguinte comentrio sobre o assunto:[...]muitoemboraosmunicpiostenhamconseguidoumsignificativoaumento dastransfernciasconstitucionais,aampliaodosseusencargosedaqueles transferidospela Unio e pelo Estado vem fazendo com que os ganhos financei-ros tenham se tornado insuficientes para garantir a prestao de todos os servios que acabam ficando sob responsabilidade do poder local. Dentreessesserviosestaseguranapblicaqueantigamenteeraexclusi-vamenteprestadopelaUnioeEstados,porintermdiodasinstituiespoliciais,nos mbitos federal e estadual, militares e civis, inclusive nas esferas rodoviria, ferroviria eambiental,mas,porm,hojeosmunicpioscontamcomguardasmunicipaisagindo similarmentespolcias,cujaatribuioconstitucionalconcedidaadeproteo dosbenselogradourospblicos,masvmsendoampliadaporinterpretao,ainda quedeformadiscutvel,paraprevenoecombateaocrime.Destaformaosmunic-piosinvestiramnoaumentodeefetivoeequipamentosdasguardasmunicipaiseor-ganizao de secretarias, departamentos ou autarquias. Diante dessas reais mudanas na vida da sociedade e tambm com a violncia ocupandoosprimeirospostosnasestatsticas,cabeaogestorpblicomunicipalestar capacitadoparacompreenderessesdiversosaspectoseentoadministrarosrecursos pblicoscom competncia enquanto se discute um novo pacto federativo visando de-finir,comclareza,asatribuiesdecadaentefederadoeacorrespondentealocao dessesrecursos.Deveroagentepblicoestaraptoaimplantarumnovomodelode gestoadministrativa,comresponsabilidadesocialefiscal,esensibilidadesuficiente para a consolidao de um novo municipalismo neste novo sculo. Jos Eduardo Cury Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 73 Com essa nova realidade, e a real necessidade de investimentos em segurana pblica, os administradores precisam estar atentos s demandas locais e aplicar os re-cursos disponveis conforme a sua realidade, com aes governamentais que visem ga-rantir uma melhoria na qualidade de vida da populao. 2.O CONCEITO DE SEGURANA PBLICA E SEUS ASPECTOS LEGAIS VISTA DA CONSTITUIO FEDERAL Ogrande,senomaiordosconstituintes,UlyssesGuimaresdissecertafeitasobrea Constituio de 1988: No a Constituio perfeita, mas ser til, pioneira, desbrava-dora. Ser luz, ainda que de lamparina, na noite dos desgraados. Quis o grande pol-ticodemonstrarqueaseventuaisimperfeiescontidasnanovacartaconstitucional no tirariam o brilho dos avanos conquistados, principalmente no tocante aos direitos e garantias individuais do cidado, da ser chamada Constituio Cidad. A Segurana Pblica est inserida no Ttulo V da Carta Magna, Da Defesa do Estado e das Instituies Democrticas, Captulo III, que no caput do artigo 144, pres-creve:ASeguranaPblica,deverdoEstado,direitoeresponsabilidadedetodos,e exercidaparapreservaodaordempblicaedaincolumidadedaspessoasedopa-trimnio [...]. Na Constituio do Estado de So Paulo, os artigos 139 e seguintes dis-corremnoCaptuloIIIsobreomesmoassunto,destacando-seapolciacivil,apolcia militar e o corpo de bombeiros, com suas respectivas atribuies. Em ambas legislaes h demonstrao clara que o esprito do legislador era deixar por conta da Unio e dos Estados da Federao a incumbncia da prestao do servio de segurana pblica, vi-sando prevenir e combater a criminalidade e os criminosos, de forma a garantir ao ci-dado uma vida de paz, sem violncia, seja a urbana ou domstica. Entretanto,asmesmascartasconstitucionais,prevemaorganizaodas chamadas guardas municipais, ou em alguns casos, as guardas civis municipais. O ar-tigo 144, pargrafo 8, da Constituio Federal autoriza mediante lei prpria a forma-o de milcias municipais para garantia dos seus bens, servios e instalaes. O artigo 147 da Constituio Estadual de So Paulo idntico e praticamente repete a redao da carta magna, mas remete legislao federal os preceitos bsicos de sua formao. Osmunicpiosento,combasenasConstituies Federal e Estadual, criaram suas corporaes com previso legal estatuda nas denominadas Leis Orgnicas Muni-cipais, cabendo aqui um comentrio sobre os artigos mencionados, os quais por conta O papel do gestor pblico municipal na segurana pblica Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 74 desua redao falha, ao prisma de alguns estudiosos, no impede explicitamente a a-odasguardasmunicipaisnocombateaocrime,mas,poroutrolado,dmargema que enquanto zeladores dos prprios municipais ajam inibindo aes de vndalos nos arredores desses locais, porquanto entendem que a via pblica patrimnio do povo e deve ser vigiada. Evidentementehexagerosdeinterpretao,masnansiaemsebuscaro poder de polcia e garantir a segurana do povo, usam a ttica da interpretao vale tudo, desde que atenda seus interesses. 3.AS GUARDAS MUNICIPAIS NO BRASIL E SEUS ASPECTOS HISTRICOS A origem das Guardas Municipais antiga no mundo todo, e aps algumas pesquisas confirma-seesta realidade, como comenta o historiador e pesquisador Benedito Anto-nioAparecidodeMoraes,emsuaobraGuardaMunicipaleSeguranaPblica, quando escreve: Comoparmetro,paraconfirmartalafirmativa,buscamosnasOrdenaesdo ReinodePortugal(Afonsinasde1447,Manoelinasde1521eFilipinasde1603), assim como em toda legislao relativa polcia em Portugal, na poca e, no Bra-sil Colonial. Em alguns pases europeus, poca, os bairros eram policiados pelos morado-res, at que com o passar do tempo foram criados os Guardas Municipais Policiais. Es-ses preveniam, investigavam e combatiam crimes em suas reas de atuao, efetuando prises inclusive. No Brasil, aps a chegada da famlia real, o modelo europeu da po-ca foi implantado, at que em 26 de maro de 1866, em So Paulo, o Presidente da Pro-vncia, Joaquim Floriano de Toledo sancionou a Lei n. 23 criando a Guarda Municipal. H dados controversos obtidos na literatura sobre a organizao das Guardas Municipais.Oex-prefeitoeatualDeputadoEstadualCelsoGiglioemsuaobradeno-minada: Municpios e Municipalismo Histria e Desafios para o Sculo XXI leciona que as Guardas Municipais foram criadas por fora de lei em 07/10/1883 e tinham re-muneraofixadapelasCmaras.Eramaindasubsidiadasporcontribuiesvolunt-riasdosmoradoresdosdistritos.PassadoumsculoasGuardasMunicipalouCivil, foram unificadas com a Fora Pblica Paulista, dando origem Polcia Militar. ApsoadventodaConstituioCidad,comojmencionado,houveum crescimento no nmero de Guardas Municipais, mas importa ressaltar que mesmo com a criao facultativa das Guardas Municipais pela atual Carta Magna, o Instituto Brasi-Jos Eduardo Cury Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 75 leirodeGeografiaeEstatstica-IBGEapresentouresultadodaPesquisadeInforma-esBsicasMunicipais-MUNIC 2001, aps coleta de dados em todos os municpios doBrasil,demonstrandoque80%dascidadesbrasileirasnodispunhamdecorpora-esdeseguranamunicipal.Dosmaisde5500municpios em 2001, somente 1004 ti-nham guardas municipais constitudas, e distribudas pelas regies do Brasil. 4.O PAPEL CONSTITUCIONAL DAS GUARDAS MUNICIPAIS No obstante ao entendimento de que as guardas so instituies criadas para cuidar e zelarpelopatrimnio,hpareceresdejuristas,opiniesdeestudiososepropostasde polticos que buscam dar aos guardas um poder de polcia que vise prevenir e reprimir aesdelituosaspraticadaspeloscidadoscomuns. Estepoder j exercido de fato emmuitascidades,porcontadediversosfatores,dentreeles,inclusive,aineficincia do servio pblico prestado por quem deveria, ou seja, o Estado-membro da federao e a prpria Unio. deseressaltarqueoprprioCdigodeProcessoPenalquandotrataDa priso em flagrante, em seu artigo 301 discorre da seguinte forma: Qualquer do po-vo poder e as autoridades policiais e seus agentes devero prender quem quer que se-ja encontrado em flagrante delito. Ora,aleiabreumprecedentecujoexercciohermenuticodmargemacon-sideraescontroversas.Emprimeirolugaroexecutordaprisopodeserqualquer pessoa, ou seja, a autoridade policial, seus agentes ou qualquer do povo. Ora, se qual-quer do povo pode, o guarda municipal na pior das hipteses poderia ser reconhecido como qualquer do povo, mas, evidentemente quero crer que antes de ser um qual-querdopovo,soosguardasagentesdaautoridadepolicial,poiscomoservidores pblicos prestam servios comunidade na rea da segurana pblica. O grande jurista Julio Fabbrini Mirabete, em sua obra Cdigo Penal Interpre-tado, comentando o artigo 327 do mesmo diploma legal, diz:[...]funcionriopblicoaludeatodoaquelequeexercefunopblica,conside-radaestaaatribuioouconjuntodeatribuiesqueaAdministraoconferea cadacategoriaprofissional,oucomete individualmente a determinados servido-resparaexecuodeservioseventuais.Nesseconceitoamplo,paraefeitospe-nais so funcionrios pblicos o Presidente da Repblica, o prefeito municipal, os membros das casas legislativas, o serventurio da Justia de cartrio no oficiali-zado, o guarda municipal, o inspetor de quarteiro etc. O papel do gestor pblico municipal na segurana pblica Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 76 Pois bem, se para efeitos penais o guarda municipal considerado funcion-rio pblico, no h dvida de que se trata de agente de autoridade policial, pois pres-ta servios atinentes quela rea de atuao, a saber, a segurana pblica. AsGuardasMunicipaisocuparamalacunadeixadapelaspolciasemdeter-minadascidades,dadoonmeroinsuficientedepoliciaiscivisemilitaresnessesmu-nicpiosenohcomocontestarquedefatoasguardasmunicipaisexistem,temau-mentadoseuscontingentes,estopresentesemgrandescentrosurbanose,portanto tem o direito de buscar, lcita e democraticamente, o poder de polcia pretendido, ain-da que restrito ao mbito territorial do municpio onde prestam servios e para deter-minados crimes, principalmente como querem alguns, aqueles chamados de menor po-tencial ofensivo. TramitanoCongressoNacionalumaPropostadeEmendaConstitucional, PEC-87/99 de autoria do Senador Romeu Tuma, Delegado de Policia de carreira no Es-tadodeSoPaulo,queconcedeaosguardasmunicipaisalmdasatribuiesatuais, tambmaproteodaspopulaes,eisaoquesepodechamardepoderparaagir como polcia. O avano da legislao constitucional se faz notrio por acrescer reda-o atual as palavras, proteo s populaes. O legislador quer permitir que o zelo, a ateno e o servio prestado pelo Guarda Municipal no sejam to somente aos pr-prios e logradouros pblicos, mas ao homem e mulher, criana e ao idoso, enfim ao ser humano, preservando sua integridade fsica e a vida. Muitohquesedebatersobreotema,eumaperguntaquenoquercalar: comoseroessasnovasinstituiesmunicipais?Estaumdostemoresdosestudio-sos, pois se constitudas com poder de polcia, estas guardas poderiam no tendo o de-vidopreparo,formaoeaperfeioamento,tornarem-semilciasdosprefeitoseservir impelidas a oprimir a sociedade. Sobre este assunto o Governo Federal editou em fevereiro de 2002, um projeto denominadoSeguranaPblicaparaoBrasil,ereservaumdeseuscaptulospara tratar sobre a questo municipal. Aduzem assim os especialistas sobre as guardas mu-nicipais, com preocupao, dizendo: Hoje, muitas Guardas no tm metas claras e compartilhadas, no atuam segun-dopadrescomuns,noexperimentamuma identidade institucional, que pode-ria ser a base para uma auto-estima coletiva elevada, e tampouco tm sido objeto dequestionamentooualvodepropostasreformadoras...sequerdispemdeum organogramabemcomposto...notmhierarquia...Nohcontroleinternoou externo. No h testes de rotinas ou recrutamento, formao e requalificao. Os equipamentos e a preparao fsica so precrios [...] Os regimes de trabalho [...] Jos Eduardo Cury Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 77 no esto padronizados e no h uniformizao nem mesmo no plano do vestu-rio ou no acesso a armamento [...] Emresumo,asguardasmunicipaisjconstitudasestodesprovidasdeum sistemanicodisciplinadoparaexecuodeseumister.Faz-senecessrioumauni-formizaonotrabalhovisandooaprimoramentodos servios, com vistas melhoria na prestao de servios e conseqente segurana do cidado. A criao de academias, ouvidorias e at presdios para guardas que descumpram a lei e sejam condenados ou encaminhados preventiva ou temporariamente para o crcere, so tambm indicativos para aprimoramento da atividade. H focos evidentes de resistncia a essa idia, e por conta disso alguns estudi-osos passam a discutir se a atual federalizao das discusses sobre segurana pblica nodeveriaserestadualizada.Otermoestadualizaorefere-sepossvelliber-dadequeosEstadosteriamde,ondehouverpossibilidade,unificaraspolciascivise militares, e assim haver um comando nico de aes, com uma polcia uniformizada e outra no, como nos moldes da polcia norte-americana. No mesmo diapaso, uma emenda constitucional autorizaria os Estados a cri-ar suas instituies policiais unificadas e integradas em suas aes, o que poderia forta-lec-las. Tambm abririam um precedente para que as guardas municipais fossem trei-nadasecontroladasporestapoliciaunificada,bemcomo,sereportariamaelas.Na verdade,oquemaisimportareconhecerquesesemantiverestadualizadaouse um dia tornar-se municipalizada, a segurana pblica carece de aes e investimen-tosque,em sendo aplicadas, reflitam em melhoria de seus servios e na qualidade de vida da populao. 5.A MUNICIPALIZAO DA SEGURANA PBLICA AdiscussodonovopapeldasGuardasMunicipaisagindocomoinstituiopolicial, est inserido num contexto maior do que simplesmente o foco da instituio em si. Tra-ta-sedamunicipalizaodasegurana.Osadeptosdestaformaqueremseguirmo-delo similar ao da educao e sade, pois entendem alguns que com a municipalizao da segurana os impostos gerados e arrecadados poderiam ser revertidos para o apare-lhamento da polcia municipal, desvinculando-se dos constantes pedidos ao governo estadual por mais efetivo e equipamentos para as policias estaduais - civil e militar - e que, no raras vezes, por questes polticas priorizam determinadas regies do estado O papel do gestor pblico municipal na segurana pblica Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 78 emdetrimentodeoutrasindubitavelmentemaisviolentas,principalmenteondeesto as cidades que compe as regies metropolitanas. O governante local muitas vezes levado a ir com o se convencionou chamar de pires mo, junto aos governantes estaduais, clamando por socorro por envio de recursostcnicosehumanos,ouseja,viaturasearmas,homensemulheresparaen-frentamento da criminalidade em seu municpio. OentoPrefeitodacidadedeSoBernardodoCampo,MauricioSoares,em seulivrointituladoAemoodegovernar,dedicaumcaptuloademonstrarquais foramsuasaesnareadaseguranapblica,ecomentasobreoassunto,destafor-ma:A municipalizao da segurana pblica um tema recorrente em quase todas as discussessobreessamatria.Vouadiantarminhaopinio.Souamplamentea favor da municipalizao. Tenho certeza de que o municpio, por estar mais perto docidado,porentendermelhorsuasnecessidades,porserfiscalizadomaisde pertopelapopulaopode,semdvida,prestarmelhoresserviosque o Estado que est distante e que a Unio que, para a maioria do povo, est em outro plane-ta. Os melhores exemplos esto na educao e na sade. Em regies metropolitanas e conurbadas o esforo conjunto de prefeitos, vere-adores,deputadosesociedadecivilenorme,umavezque o problema atinge direta-mente a todos os municpios envoltos em determinada regio, e se no combatido uni-formemente ele migra de um lado para o outro mais rapidamente. 6.INTEGRAO DAS FORAS DE SEGURANA DEVER DE TODOS Imaginarasforasdeseguranalegalmenteconstitudasunificadassobumnicoco-mandoestlongedarealidadeatualdapolticanacional.Nohconsensoporparte docomandodaspoliciaismilitaresecivis,quantoaseunirememumaspolcia.A polciacivilnoabremodesuaprerrogativaconstitucionaldeserinvestigativa,ou seja,achamadapolciajudiciriaqueageapsaprticadelitivaetemporobrigao investigareesclareceraautoriadodelito.Ocomandodapolciamilitar,responsvel pelas aes preventivas e ostensivas, acaba interferindo em ocorrncias e cria servios deinvestigaesparalelos,prejudicandootrabalhodapolciacivil.Noobstanteo MinistrioPblicoaproveitabrechadalei maior para tambm constituir feitos apura-trioseinvestigarcrimesdemaiorcomplexidade,econseqentementeinvadirrea, emtese,desuanocompetncia.Oimbrglioexistenteacha-se no Supremo Tribunal Federal e d margem a usurpaes de funo tendo em vista o esprito da lei e do seu Jos Eduardo Cury Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 79 legislador quando da redao da matria. Enquanto isso a violncia cresce e se aprimo-ra, e a populao sofre. Muitos municpios no Brasil j deram exemplo de integrao, mas no h um modelo nico adotado, portanto, permita-me indicar alternativas. A primeira delas a organizaodeConselhosMunicipaisdeSegurana,contandocomaparticipaoda SociedadeCivilorganizada,PoderExecutivoeLegislativolocal,GuardasMunicipais, DefesaCivil,Bombeiro,PolciaCivil,PoliciaMilitar,PoderJudicirio,MinistrioP-blico, Ordem dos Advogados do Brasil, Conselhos Municipais, inclusive os relativos segurana de bairro, e demais organismos representativos das cidades. Evidentemente, no basta sua criao to somente, mas o compromisso de se reunirem e discutirem as diretrizesdepolticaspblicasaseremadotadasnacidade,comrespeitosegurana docidado.Nosgovernosdemocrticosepopularespossvelcolherresultadosim-portantes, inclusive no tocante a busca de recursos junto ao empresariado, tanto aquele de servios como o industrial. HmunicpiosquecriamSecretariasdeSeguranaMunicipal,quenodeixa deserumademonstraodeatenoespecialmatria,masmuitosimplicamem staffparaabrigarcorreligionriospolticosepodemservircomocabidedeempre-go,poissoescolhidaspessoasdespreparadasedesqualificadasparaoassuntoem questo,quedemandaaesprpriasparaqueasensaodeseguranaperdureem meio sociedade. Essa integrao proposta demanda o compromisso de haver troca de informa-es e compilao delas em um nico centro, para anlise e ento definio de aes. A trocadeinformaesentreasinstituiesdeseguranaummeionecessrioeeficaz na preveno e combate ao crime. Abordando o sistema ou centro unificado de informaes, as reunies regula-res do conselho podero detectar onde h maior incidncia de crimes por classificao de prioridade. Homicdios em determinados bairros ocorrem por qu? Ser que os ba-res (botequins e similares) no deveriam ser mais bem fiscalizados e at imposto limite dehorrioparafuncionamento?Easeguranaescolar?Serqueas escolas no preci-sam de infiltrao de agentes para combate aos vandalismos e trficos de drogas. Sem contarinclusivecomaatuaodeconselhostutelaresedeprevenosdrogaspara orientao especfica. E os roubos e furtos de veculos? No h crescimento dessas ati-vidades por falta de ao conjunta em oficinas clandestinas e desmanches irregulares? O papel do gestor pblico municipal na segurana pblica Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 80 Soaesquedemandamumanicatnica.Terdisponibilidade,semvaidades,para discutir o problema. Outraquestoaserabordada:serqueseguranasefazscomviaturas, equipamentosepolcia?Arespostano.Entoopapeldonovogestormunicipal, modernoedinmico, definir, em conjunto, quais so as aes bsicas e complemen-tares para atuao dentro de sua realidade local. 7.SEGURANA DO CIDADO: AES BSICAS E COMPLEMENTARES OInstitutoFernandBraudeldeEconomiaMundial,queassociadaFundaoAr-mando lvares Penteado (FAAP), editou uma entrevista de Jos Vicente da Silva con-cedida revista Livre Mercado, com o seguinte ttulo: Bandido assunto para prefei-tos - Maior autoridade do Municpio deveria integrar aes da polcia e populao. O coronel Jos Vicente um grande estudioso do tema e profere palestras sobre o assunto edefendeexplicitamente,comconvicoque:[...]seguranapblicanosinnimo de polcia e normalmente essa questo debitada exclusivamente ao aparato policial. Alm das aes bsicas j mencionadas, adstritas competncia legal de cada instituio,qualseja:apolciamilitardeefetuaropoliciamentoostensivo,fardadoe repressivonasruas,visandocoibiraesdelituosas;apolciacivilderealizarinvesti-gaesdepoisdeocorridoodelitoeoperaesdepoliciamentopreventivoespeciali-zado,objetivandoapuraraautoriadodelito;eaguardamunicipalemzelarpelopa-trimniopblicoespecificamente,integrando-as,houtrasaesimportantesquede-mandam baixo custo em comparao ao resultado a ser obtido, com a meta de diminu-ir a violncia com conseqente melhoria na sensao de segurana do muncipe. Dentre elas, citamos a melhoria na iluminao pblica da cidade, pois existem bairros que esto literalmente s escuras em muitos municpios do pas. No h dvida que uma rua melhor iluminada motivo para bandido se esconder e o cidado de bem poder perambular com maior tranqilidade. O acesso de viaturas e ambulncia mais tranqilo e a visualizao de qualquer uma mais clara e ntida. Amanutenodereasparticularesepblicasoutraaorelevante,pois nosopoucososmunicpiosqueimplantaramleisdeincentivoaosmoradores,com descontonoImpostoPredialeTerritorialUrbanoparaaquelesproprietriosdeterre-nos que mantiverem limpos, sem mato alto, e com muro baixo e calada, suas proprie-dades,mesmoquandoemconstruoamoradia.Halquotasdiferenciadasparater-Jos Eduardo Cury Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 81 renos baldios em relao a casas construdas e habitadas. Quanto aos espaos pblicos as praas com bancos, iluminadas e paisagismo do um carter de beleza e espantam o mau elemento. Outraaoaserimplantadaamelhorianasinalizaoverticalehorizontal dasruas,complacasindicativasdedirecionamento alogradourospblicose acesso a bairros. Os abrigos de coletivos devem ser cobertos e iluminados. Poder-se-ia citar de-zenas de outras obras pequenas, mas que do boa aparncia e melhoram o aspecto de segurana.Alimpeza urbana d cidade um aspecto de municpio ordeiro e bem co-mandado. A coleta de lixo feita por cooperativas de reciclagem geram emprego e cida-dania.Hcidadesqueimplantamtaxadecoletadelixoenoconseguemmant-la limpaenembaixarndicesdecriminalidade.Porissoasaesdevemserconexas. evidente o aumento na incidncia de vndalos que picham o patrimnio pblico e ca-sasparticularescomsuasartes,cometendocrime contraomeioambiente,devendo ser eles punidos, orientados e conscientizados. As ruas pavimentadas melhoram o acesso de veculos, inclusive de viaturas e ambulncias,complementandoessasaesdesegurana.Empocadechuvas,ruas esburacadassoempecilhosparachegadadeviaturasnoatendimentodeocorrncias ounopatrulhamentoderotina.Umaatitudecorretadogestorpbliconopermitir loteamentosseminfra-estruturamnimanecessria,como,por exemplo, a pavimenta-o e conservao de suas ruas. A fiscalizao a bares e oficinas de desmanche, casas de jogos ilegais, zonas de prostituio, podem inibir atos delitivos nestes locais. Mas, evidentemente, importan-tedestacarqueasaesdevemserconjuntas.Umpolicialnotempoderdenotificar oulacrarumbotecoquevendebebidaalcolicade consumo imediato no balco. E, poroutrolado,ofiscaltambmnoirnotificarsozinhooproprietrioenemlacrar seuestabelecimentotemendoameaaserepreslias.Hcomcertezamarginaisenvol-vidoseoriscodeseremessesagentes, alvo de violncia maior. Em casas de jogos e zonasdeprostituiocomumaexistnciademenoresdeidadesendocorrompidos, da a importncia de se agir em conjunto com conselhos tutelares e o Poder Judicirio. Nas cidades em que so trocadas informaes e h conselho atuante, as insti-tuies policiais e guardas municipais podem definir aes de preveno na entrada e sada de alunos das escolas, coibindo o assdio de traficantes e desocupados. Os postos ou bases operacionais podem controlar o fluxo e trfego de veculos, inibindo o acesso de marginais, inclusive com cmeras filmadoras e aparelhos de reconhecida tecnologia O papel do gestor pblico municipal na segurana pblica Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 82 para identificao deles e obstculos para impedir fugas. Os equipamentos interligados comcentraispodemcaptarplacasdeveculosdistnciaepesquisaraprocedncia desses,barrando-os,seforocaso,porintermdio dasinstituiespoliciais.Emdeter-minados municpios foram constitudas cabines elevadas para vigilncia distncia de pessoas. de se notar que polcia no se faz s com viaturas e policiais, mas com aes complementares que do resultado positivo na preveno e combate ao crime. Basta ao gestor pblico moderno increment-las. 8.A VIOLNCIA E SUAS CAUSAS SOCIAIS Opasmergulhounainseguranaenomedo.Ningumestprotegidocontraavio-lncia. O problema ocupa o centro das preocupaes de todos ns e atravessa a socie-dadedealtoabaixo.Pobresericossofremcomoavanodaviolnciaedabarbrie. Populaes inteiras na periferia das grandes cidades vivem sitiadas, sob o domnio de criminososdetodosostipos,insegurasfrentesgravesdeficinciasdascorporaes policiais. Este texto corresponde mensagem do Presidente da Repblica, Luiz Incio LuladaSilva,datadode27defevereirode2002,emBraslia,eestinseridonaapre-sentaodoProjetoSeguranaPblicaparaoBrasil,esintetizaosentimentodemi-lhes de brasileiro quando abordam o assunto da violncia neste pas. Umestudomaisaprofundadodaviolnciaresultaopiniesdiversasquanto aos muitos fatores que a geram e ao mesmo tempo em que estudiosos buscam diagnos-ticarsuascausas,osgovernantes,verdadeirosgestoresdacoisapblica,devemestar atento e implantar aes. H, porm, aes simples e outras demasiadamente comple-xas. UmsimpsioacontecidohalgunsanosatrsnaUniversidadeEstadualde Campinas-Unicamp-debateuotemaSeguranaUrbana:DesafioRegionaldeNa-cional,comrepresentantesdeorganizaesnogovernamentais,universitrios,do-centes, grupos religiosos e polticos, alm de autoridades constitudas. Um dos partici-pantes,representandoasentidades,confirmanotciadadaporumfamosojornalda capital paulista, quando resume a questo da violncia com a afirmao de que os mu-nicpios devem promover a incluso social das pessoas na sociedade para diminuir as diferenas e ento, minimizar a onda de violncia. A pergunta , como levando-se em conta que grande parte dos municpios no dispe de recursos para investimentos em educao, habitao e sade? Jos Eduardo Cury Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 83 Outro texto do mesmo matutino revela que uma das grandes preocupaes do brasileiroresidenoaumentodaviolncia,econstatamqueparadiminu-lapreciso combater o desemprego e melhorar o nvel de educao. Acorrupoassociadamorosidadedajustiaeconseqentesentimentode impunidade,sotambmfatoresquegeramviolncia,principalmenteporpartedos que levantam a bandeira da desigualdade como causa de injustia social. Aprevenoeocombateaocrimesoiniciativascomplementaresenoex-cludentes como anlise anterior. Entretanto, no se pode responsabilizar to somente o gestor pblico municipal por essas aes, que carecem de participao dos demais en-tes federativos. Contudo, no se podem esquivar de suas responsabilidades. Omitir-se pior que errar pelo excesso. Errar tentando acertar indubitavelmente melhor. No plano da educao, aes includentes na orientao e preveno s drogas sonecessrias.Abriroespaofsicodasescolasparaoesporte,culturaelazertam-bm. Desde a infncia com a incluso das crianas em creches, hoje denominadas esco-las de educao infantil, alm da pr-formao bsica de ensino, os professores, moni-tores e agentes educadores podem formar verdadeiros cidados, com senso de respon-sabilidade e respeito pela coisa pblica. Gestos de cidadania sero notados no curso da histria. Ageraodeemprego,mesmoquecomincentivosfiscaisaempresasdepe-queno, mdio e grande porte, pode redundar em menos desocupados nas ruas e com a elevaodaauto-estimadessescidados,aqualidadedevidamelhora,inclusivede sua famlia. O incentivo ao trabalho em cooperativas pode ser a soluo para a gerao de emprego a famlias de baixa renda e pouco nvel intelectual. Polticasmunicipaisdeinclusodeadolescentesejovensemprticasdecul-tura, lazer e esporte so essenciais, sobretudo se simultaneamente aplicados cursos de formaoprofissional.Aviolnciatemdiminudoonmerodeanosdevidadosjo-vens que so hoje a principal vtima de homicdios no pas. Em 2003, cerca de 60% das vtimasdoshomicdiosnoprimeirosemestrede Campinas estavam na faixa etria de 10a29anos,conformepesquisarealizadapelaSecretariadeSadedaPrefeiturada-quela cidade. Para reduzir esses nmeros que demonstram que a vida dos jovens est sendo abreviada,precisoquegestorespblicos,emconjuntocomasociedade,implantem as aes complementares j explanadas. O papel do gestor pblico municipal na segurana pblica Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 84 9.A PARTICIPAO DAS ORGANIZAES NO GOVERNAMENTAIS NA SE-GURANA A expresso: No vivemos numa ilha, importante para se analisar que com o avan-o da criminalidade muitos acabam se enclausurando em suas casas, buscando apara-tos de segurana envolvendo o espao domstico ou profissional em que se vive, e que aparentemente do a sensao de segurana particular que deveria haver em todos os espaos pblicos. A participao da sociedade vital para o combate ao crime. Uma das formas por intermdio das Organizaes no-Governamentais, onde membros da sociedade constituem entidades que prestam servios adicionais na rea de segurana pblica. evidente que no s nessa rea em especfico. Como exemplo pode-se relatar uma entidade no governamental que criou na regiodeCampinasumserviodedisque-denncia,eemparceriacomasinstitui-es policiais encaminham toda sorte de denncias, crticas e sugestes aos comandan-tesdessasinstituies,queapsanliseprviadeterminamaosagentesquerealizem investigaeseaespreventivasdecombateaoscrimesdelatadosanonimamentena maioria das vezes. A sociedade participa e h inmeros casos esclarecidos e muitos ou-tros crimes evitados. Outra atividade desenvolvida conhecida no municpio de Bragana Paulista, que age na cadeia local, dando assistncia jurdica e social aos presos, bem como busca dar atendimento mdico a eles e suas famlias, controlar os abusos por conta de direi-tos humanos eventualmente no respeitados. Tem programa voltado reinsero des-ses presos na sociedade aps cumprimento de suas penas, e o modelo foi copiado por muitos outros municpios. O poder pblico subsidia as entidades que prestam o servi-o com mais credibilidade e eficincia. Os menores recebem especial ateno das organizaes no governamentais e so muitas as entidades que cuidam para que eles no se tornem meninos de rua, e assimenveredem-senoscaminhosdasdrogas,dosrouboseenfimdamarginalidade. So oferecidas oportunidades de emprego, estudo, atendimento mdico e social suas famlias,duranteperodosdodia.Outrasentidadespreferemdaracompanhamento duranteoperodoemqueessesmenorespermanecemrecolhidosemunidadespr-prias, recuperando-os para o convvio social. Jos Eduardo Cury Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 85 Ogestorpblicoprecisatersensibilidadeparaentenderqueessasentidades soparceirasecriarformasdesubsdios para manuteno de suas atividades. A cria-odeconselhosmunicipaiscomautonomiaparaacompanharefiscalizaressasenti-dades, detectando aquelas que prestam servios de alcance social uma forma moder-na de administrar os recursos pblicos e valorizar a participao popular. 10.O GESTOR PBLICO MUNICIPAL E A SEGURANA DO CIDADAO O artigo 29, inciso XII da Constituio da Repblica Federativa do Brasil, prev que dentro da elaborao de um planejamento municipal esteja inserida a participao de todos, e as-simdiz:cooperaodasassociaesrepresentativasnoplanejamentomunicipal,como preceito para a elaborao das Leis orgnicas Municipais. Assim, o novo modelo de administrar, ou governar com participao popu-lar. O novo municipalismo exatamente a concepo da idia de constituir assembli-as, capacitar conselhos, incentivar a participao do povo. O gestor eleito pelo voto ou alado condio de funcionrio contratado seja por concurso ou por cargo em comis-so,deveser transformado, para atingir esse modelo buscando aps deglutir todo co-nhecimento sobre a realidade local, planejar as aes imediatas e mediatas do governo, ouseja,acurtoelongoprazo,comeandopeloplanodiretor,incluindoooramento participativoeumagestoconjuntadeparcerias,ondesepossaanalisarerroseacer-tos, com vistas a equacionar os problemas e melhorar a qualidade de vida de todos. Nareadaseguranapblica,imprescindvelajunodosrgoseinstitui-es correlatas, principalmente com parcerias dos rgos pblicos com os particulares. O envolvimento da sociedade salutar para se encontrar solues para a problemtica da violncia sejam nos grandes ou pequenos centros urbanos. Com o advento da Lei n. 101, de 04 de maio de 2001, denominada Lei de res-ponsabilidade na gesto fiscal, o gestor pblico passou a ter um manual de regras que define como deve, enquanto gestor, gerir os recursos e as despesas pblicas. Esta a grande tarefa na modernizao das gestes pblicas para os prximos anos. Por conta de pssimas administraes, no decorrer da histria do Brasil, diversos municpiosficaramendividadosecomsuacapacidadedecrescimentoreduzido.As-sim, os novos administradores eleitos que sucediam governos, cujas responsabilidades O papel do gestor pblico municipal na segurana pblica Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 86 nos gastos pblicos foram desprezadas, se viam em situao crtica e, portanto, desmo-tivados no decorrer de sua gesto, pois no tinham condies de aplicar suas idias. Muitasprticaslesaramopatrimniopblicoeretardaramocrescimentode municpios.Osrecursosdascidadeseramgastossemqualquerplanejamento.Osor-amentoseramdesconhecidosdapopulao e representavam uma caixa preta a ser desmistificada. Muitas eram as causas que levavam os municpios falncia, dentre elasaprticadenepotismoeclientelismoquesetornaramnormais;acontrataode obraseserviosdesnecessriosousemcoberturadefontesderecursosadequadase oramentrias;arennciadereceita,comisenesdeimpostosconcedidosparafins polticos;afaltadecobranadadvidaativa;odescontrolenaarrecadao;afaltade instrumentos adequados de controle para a gesto pblica; e ausncia de transparncia na gesto pblica. OGovernoFederaldisponibilizou,porforadestalei,programasdeaperfei-oamentoemodernizaodasgestespblicas,comdestinaoderecursosaesses municpios visando o cumprimento da lei de responsabilidade fiscal, sendo obrigao dosexecutivosmunicipaisadquiriremessesprogramaseassimaprenderemautilizar os recursos pblicos que dispem, com planejamento, controle e transparncia. Por sinal, essas trs palavras, Planejamento, controle e transparncia, criam uma tricotomia necessria gesto austera de qualquer administrador pblico. Numa gesto pblica, com nfase segurana pblica, prudente que os rgos se planejem. No artigo 48 da Lei n. 101/2001, em seu pargrafo nico esta transparncia assegurada mediante a realizao de audincias pblicas, devendo o gestor buscar in-centivarsuaparticipao,inclusivequandoaindanafasedediscussoeelaborao dosplanosoramentrios.Opoderlegislativodeve,comolegtimorepresentantedo povo,acompanharessasatividadesequandooprojetodeleiestiveremseupoder, chamar a coletividade para exposio e apresentao de emendas, bem como fiscalizar seu cumprimento, denunciando ao Tribunal de Contas e Ministrio Pblico as eventu-ais irregularidades. Umplanejamentobemrealizado,comestudodeaesconjuntaseparticipa-o de entidades e particulares, pode ajudar o gestor pblico a encontrar solues para a demanda incontrolvel de violncia que impera nos nossos dias em todas as camadas sociais. Jos Eduardo Cury Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 87 11.CONSIDERAES FINAIS Oex-MinistroOlvioDutra,militantedoPartidodosTrabalhadores,ocupante por di-versas vezes de cargos pblicos eletivos no Rio Grande do Sul, e que dirigiu no Gover-no Lula a pasta do Ministrio das Cidades, em participao num congresso disse o se-guintesobreopactofederativo,narelaodoestadodafederaocomomunicpio: No vivemos uma relao fictcia do Estado como ente da Federao, mas numa rea-lidade de Municpio, verdadeiro e palpvel ente desta. Ascidadesbrasileirassoresultadodeumcrescimentodeinchao,desorde-nado e formador de bolses de misria ao longo dos anos. O povo foi retirado da rea rural e colocado na rea urbana sem a devida infra-estrutura e preparao. A distribui-o de renda falha, e a riqueza est concentrada na mo de poucos. Tudo isso devi-doaumaclarafaltadeplanejamento.Porausnciadegestorespblicospreparados para suas habituais funes, qual seja a de gerir com competncia a coisa pblica, a fim de se alcanar bem estar social. fundamental que a organizao do espao urbano, por meio do plano dire-tor, seus destinos, a produo de riquezas e bens, as reas destinadas a outras finalida-des sejam reordenados, como forma adicional de minimizar a incidncia de crimes em espaosdesorganizadoseseminfra-estrutura,onde asinstituiesdeseguranacare-cem de se desdobrar para dar ateno s pessoas. O novo gestor pblico deve ter um perfil moderno e inovador. Precisa conce-ber conhecimento em gesto financeira e oramentria de uma gesto. Incentivar o or-amento participativo, dentro dos moldes de sua comunidade. Gerir o oramento com licitaes e contratos que no causem danos ao errio. Banir o superfaturamento de o-bras e servios, prestando contas de todas elas. Umgestormunicipalistasabereconheceraslimitaesdesuaarrecadaoe obedeceaosditameslegaisnaaplicaodosrecursosdisponveisecomtetomnimo como a educao e sade. No desperdia investimentos e busca conscientizar a popu-lao sobre a arrecadao tributria em todas as esferas, incentivando-as fiscalizao naemissodenotasfiscais.Planejaodesenvolvimentolocal,inclusivecomnfaseao turismoaindaqueorestritoaosnegcios,vinculando-oaocomrcioeasempresasa ele. Sabe as potencialidades de cada setor e das virtudes do povo e da geografia local. Umgestormodernosabereconhecertambmqueprecisamodificaroperfil antigodepolticooutcnicopaternalistaepatrimonialista,quandosedavanfase O papel do gestor pblico municipal na segurana pblica Revista de Direito Vol. XI, N. 14, Ano 2008 p. 71-88 88 coisa pblica como sendo sua e de mais ningum no ofertando comunidade de par-ticipardoplanejamentodogovernodesuacidade, transformando este gestor do pas-sado,emagentemodernoquedoportunidadeaosservidoresdeseenvolveremna administraopblicaemobilizaasociedadenaparticipaodecadadeciso sobre a vida do municpio. O moderno gestor a mistura do tcnico, no totalmente burocrata, com o poltico, no simplesmente populista, mas realizador e empreendedor. REFERNCIAS 15 ANOS CONSTITUIO CIDAD. Revista do PMDB. Publicao da Fundao Ulysses Guimares. Edio Especial. out. 2003. BISCAIA, Antonio Carlos; MARIANO, Benedito Domingos; SOARES, Luis Eduardo; AGUIAR, Roberto Amando Ramos. Instituto Cidadania. Fundao Djalma Guimares. Projeto Segurana Pblica para o Brasil. 2002. CALIMAN, Auro Augusto. Assemblia Legislativa. Constituio do Estado de So Paulo. anotada e atualizada at 25 de junho de 2002. So Paulo: Imprensa Oficial do Estado. 2002. GIGLIO, Celso. Municpios e municipalismo: histria e desafios para o sculo XXI. Osasco, SP: Pancrom Indstria Grfica. 2002. IBGE, Coordenao de Populao e Indicadores Sociais. Perfil dos municpios brasileiros: gesto pblica 2001. Rio de Janeiro: IBGE. 2002. MENDES, Aquiles; MOREIRA, Mariana. Comentrios lei de responsabilidade na gesto fiscal: lei complementar 101, de 4 de maio de 2000. So Paulo: Fundao Prefeito Faria Lima - CEPAM. 2001. MORAES, Benedito Aparecido A. A guarda municipal e a segurana pblica. Piracicaba, SP: Degaspari Servios Grficos. 1995. OLIVEIRA, Juarez. Constituio da Repblica Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Organizao dos textos, notas remissivas e ndices. 3. ed. So Paulo: Saraiva. 1989. PAUTA DE REIVINDICAES (Manual). VII Marcha a Braslia em Defesa dos Municpios. Confederao Nacional de Municpios. 2004. SOARES, Maurcio. A Emoo de Governar. So Paulo: Impresso Grande ABC Editora Grfica. 2003.