2016gisele pereira, mateus nazari, Éverton kaiser, luisa longaray..... 252 dinâmica dos fluxos...
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2016
Apresentação
Editoração/Endereço para contato
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Universidade Federal do Rio Grande – FURG
Ficha catalográfica (aguarda ISSN)
SUMÁRIO
VI CONGRESSO INTERNACIONAL DE TURISMO DO EXTREMO SUL – CITES
COMITÊ CIENTÍFICO............................................................................................. 7
APRESENTAÇÃO...................................................................................................
8
ARTIGOS COMPLETOS.........................................................................................
9
GT 1 – TURISMO, HISTÓRIA, PATRIMÔNIO E CULTURA..................................
17
O Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar-RS, Brasil: análise de seu potencial turístico Cláudia Schwab...................................................................................................... 18 Turismo Cultural: refletindo caminhos para o ensino da história local Érica Souza Ramos................................................................................................ 39 Utilização dos livros didáticos “somos! Patrimônio cultural de Pelotas” e “pelotas uma história cultural”, nas escolas municipais Maibi da Silva Macedo, Dalila RosaHallal.............................................................. 58 Relações entre filosofia e turismo: uma abordagem do turismo cultural a partir da hermenêutica de Paul Ricoeur Renan C. V. Scarano, Alice Leoti........................................................................... 80 Residentes do balneário da Carra do Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS: nível de irritação em relação aos visitantes e ao turismo Vanessa Saraiva Sena................................................................................. 98 Traços culturais de um povo: olhar sobre Santa Vitória do Palmar-RS Nilton Cezar Cunha Varnier, Raphaella Costa Rodrigues, Yolanda F. Silva.......... 114 O Olhar Dos Visitantes Sobre A Cidade De Pelotas/RS Milena Paula Sonda, Dalila Rosa Hallal.................................................................. 130 Turismo e Educação Patrimonial: O Caso do material didático sobre as ruínas de São Miguel Das Missões/RS Ellen C. Klein Schneider, Pierre Donires dos Santos Chagas................................ 147 Turismo Criativo: uma alternativa para o desenvolvimento turístico Pâmela Souza Soares........................................................................................ 160 Memória em papel e tinta: as cartas de viagem de Rubens e Mozart Antunes Maciel Pierre Chagas, Bruna Frio Costa........................................................................ 179 Praça Da Matriz E Seu Entorno: A visão dos comerciantes e seus patrimônios Rosanna Mendonça............................................................................................... 192 Proposta de plano de ação a partir da inventariação da oferta turística do centro do município de São Lourenço do Sul, RS, Brasil Luciana Ferreira, Lucimari Pereira, Elizandra Melo, Cláudia Schwab, Jaciel Gustavo Kunz.......................................................................................................... 213
GT 3 TURISMO, GESTÃO, PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO
235
O Carnaval de Rua de Jaguarão: Sua vulnerabilidade e impactos do turismo Pablo Colvara Machado, Alessandra Buriol Farinha............................................... 236 Ações sustentáveis dos estabelecimentos gaúchos engajados na campanha passaporte verde Gisele Pereira, Mateus Nazari, Éverton Kaiser, Luisa Longaray.......................... 252 Dinâmica dos Fluxos Socioculturais de Laguna-SC, Brasil: possibilidades para o desenvolvimento do turismo voltado para os aspectos culturais do destino Raphaella Costa Rodrigues, Nilton Cezar Cunha Varnier....................................... 271 Marcas Turísticas: Um ensaio teórico entre literatura e os artigos científicos Lucimari Acosta Pereira, Camila Belli Kraus, Antônio Carlos Benetti, Luiz Carlos da Silva.................................................................................................................... 295
GT 4 TURISMO, MARKETING E COMUNICAÇÃO...............................................
310
Motivação, Fatores “Pull” E “Push” E Las Vegas: Uma Análise do conhecimento produzido pelo seminário Anptur Sarah Minasi, Gisele Pereira.................................................................................. 311 Análise perceptual de logotipos de parques nacionais brasileiros Vagner Custódio, Fabiano Freitas, Juliana M. Vaz Pimentel, Fábio Luciano Violin. 324 A utilização da rede social Facebook na promoção de eventos culturais em Pelotas – RS Jéssica Peres, Sarah Minasi................................................................................... 342 Análise do composto de marketing na plataforma online de uma agência de viagens de grande porte Fábio Luciano Violin, Vagner Sérgio Custódio, Thaís Marques Pichi, Thamyris Nielsen Rocca........................................................................................................ 360
GT 5 TURISMO, TERRITÓRIO, ÁREAS NATURAIS E SUSTENTABILIDADES..
376
As potencialidades turísticas e de infraestrutura para o ecoturismo na Vila da Capilha, Rio Grande/RS: a percepção dos moradores Matheus Barros, Gisele Pereira.............................................................................. 377
GT 7 ALIMENTOS E BEBIDAS..............................................................................
399
A cerveja como fonte econômica para o fortalecimento de degustação e entretenimento nos espaços de lazer da cidade de Manaus Italo V. B. Jácome, Rosanna L. Mendonça............................................................. 400 Comida de chef como produto turístico: o caso Gastronomix 2016 Patrícia Lisboa, Álvaro Kosinski.............................................................................. 421 GT 9 EVENTOS E LAZER 434 A caracterização dos turistas da Festa Nacional do Doce - FENADOCE/ 2015 - Pelotas/RS Natália Garcia, Artur Gonçalves, Andyara Lima Barbosa.......................................
435
Lazer e tempo livre: uma visão feminina de quem trabalha no comércio pelotense Fernanda Souza Freitas, Igor Moraes Rodrigues, Sarah Marroni Minasi............... 457 Qualidade de serviços em eventos, uma visão sobre o marketing: estudo de caso de uma feira Elisabeth de L. de O. P. C. Salem, Raphaella Costa Rodrigues............................. 470 GT 10 HOSPITALIDADE E DIVERSIDADES.........................................................
492
Rosana (SP): do turismo de pesca ao turista sexual: algumas considerações sobre as nuances subjetivas do processo de agenciamento do corpo Juliana Pimentel, Vagner Custódio, Fábio Luciano Violin...................................... 493 RESUMOS EXPANDIDOS 514
GT 1 – TURISMO, HISTÓRIA, PATRIMÔNIO E CULTURA 514
Os hotéis enquanto espaços de sociabilidade em Pelotas/RS no início do século XX Larissa Plamer Teixeira, Dalila Müller..................................................................... 515 Suvenir Cultural: Espaços Museais Felipe Zaltron de Sá, Susana de Araújo Gastal...................................................... 523 Turismo em cemitério e sua relação com o patrimônio e a trama morte e vida Charlene Brum Del Puerto, Maria Luiza Cardinale Baptista................................... 560 GT 2 - TURISMO, POLÍTICAS E RELAÇÕES EXTERIORES
539
Turismo na Zona De Fronteira Chuí-Chuy: Percepção de atores locais sobre as automobilidades Giovani Francisco, Jaciel Gustavo Kunz................................................................. 540 Turismo receptivo e emissivo: correlação entre receita líquida turística e taxa cambial do brasil (2001 a 2012) Fábio Marques, Eline Tosta, Stephanie Cabreira.................................................... 548 GT 4TURISMO, MARKETING E COMUNICAÇÃO................................................ 556 A imagem do Chuí (RS): o olhar da população local. Wynne Farias, Bibiana Schiavini............................................................................. 557 Mobilidades Turísticas E Novas TICs: Um estudo sobre serviços de internet na fronteira Chuí-Chuy (Brasil-Uruguai) Eline Tosta, Jaciel Gustavo Kunz............................................................................
563
GT 5 TURISMO, TERRITÓRIO, ÁREAS NATURAIS E SUSTENTABILIDADES. 572
Uma breve avaliação da travessia Cassino-Barra do Chuí, RS-Brasil sob a ótica da segmentação do turismo de aventura Maristel Pozzada, Jaciel Gustavo Kunz..................................................................
573
GT 6 TURISMO, EDUCAÇÃO E EPISTEMOLOGIA.............................................
582
Projetos de extensão e a formação do profissional de eventos: um estudo do projeto “equipe gestora de eventos” – Furg/svp Maria do Carmo Brandão Schwab, Eliezer Montes, Alice Leoti Silva....................
583
Cruzeiros marítimos: um estudo da produção teórica de autores brasileiros Mariana Peres, Jéssica Peres, Jaciel Gustavo Kunz.............................................. 590 GT 7 ALIMENTOS E BEBIDAS.............................................................................. 599 Caindo os butiás do bolso: a importância do butiá no desenvolvimento da cultura gastronômica autóctone em Santa Vitória do Palmar/RS Jean Guilherme Florentino Corrales, Enilda Maria Fangueiro Pereira, Carlos Henrique Cardona Néry..........................................................................................
600
GT 8 TURISMO COMUNITÁRIO E DE BASE LOCAL...........................................
606
A exploração sexual pelo turismo: estudo preliminar na fronteira binacional Fabiana Bitencourt Fernandes, Raphaela Costa Rodrigues................................... 607 GT 9 EVENTOS E LAZER......................................................................................
613
A produção do conhecimento sobre educação e turismo: uma análise das publicações em eventos cientìficos de turismo Roberta Mattos Lessa, Igor Moraes Rodrigues, Leonardo Reichert.......................
614
GT 10 HOSPITALIDADE E DIVERSIDADES.........................................................
622
A hospitalidade no hibridismo cultural da fronteira seca Chuí-Chuy Milena Oliveira, Luiza Machado da Silva................................................................ 623 A hospitalidade e o acolhimento no Campus da Furg de Santa Vitória do Palmar/RS, Brasil Wagner Santos, Milena Oliveira, Letícia Indart Franzen......................................... 632 GT 11TURISMO E HOTELARIA............................................................................
641
Tecnologias de informação: uma ferramenta para a qualificação dos serviços de meios de hospedagem de Santa Vitória do Palmar/RS? Ademilso Alves Cunha, Guilherme Pinto Amaral, Mateus Pinto Amaral, Letícia Indart Franzen........................................................................................................ 642
COMISSÃO ORGANIZADORA
Servidores Alice Leoti Silva (Coordenação Geral)
Raphaella Costa Rodrigues (Coordenação Geral) Carlos Henrique Cardona Néry
Charlene Brum Del Puerto Francieli Boaria
Jaciel Gustavo Kunz Juliana Niehues Gonçalves de Lima
Letícia Indart Franzen Siuza Monteiro Guedes
Acadêmicos
Denise L. Clavijo Torino Eliezer Montes
Eline Tosta Felipe Giane Nunes Teles Giovani Francisco Gustavo Gaucci
Josiane Delgado Josiara Schwartz Galvão
Larissa Martins Rodrigues Laura Bibiana Boada Bilhalva
Luiza Gautério Figueiredo Mari Eliza A. Leivas
Maria do Carmo Brandão Schwab Milena de Oliveira Oliveira Thalissa Pessini Barcelos Viviane da Costa Farias Viviane Rocha Teixeira
Wagner Eloy Mirapalhete dos Santos Wynne Gonçalves Farias
COMITÊ CIENTÍFICO
Avaliadores Alexandra Marcella Zottis
Alice Leoti Silva
Aline Valéria Fagundes da Silva Ana Maria Costa Beber André Riani Perinotto
Antonio Carlos Castrogiovanni
Bruno Martins Augusto Gomes
Camila Luísa Mumbach da Silva Charlene Brum Del Puerto
Claudio Alexandre de Souza
Dalila Rosa Hallal
Deise Mari Pereira Silveira
Francieli Boaria
Francielle de Lima
Gabriela Campodónico
Geovan Martins Guimarães
Grislayne Guedes Lopes da Silva
Helena Beatriz Mascarenhas de Souza
Jaciel Gustavo Kunz
Krisciê Pertile Perini
Leidh Jeane Sampietro
Letícia Indart Franzen
Lucimari Acosta Pereira
Luiza Machado da Silva
Maguil Marsilio
Marcela Ferreira Marinho
Nilton Cezar Cunha Varnier
Oscar Iroldi
Pablo Flôres limberger
Paulo dos Santos Pires
Priscila Gayer
Priscila Vasconcellos Chiattone
Priscilla Teixeira da Silva
Rafael Lima de Souza
Raphaella Costa Rodrigues
Ricardo Saraiva Frio Rossana Campodónico Samanta Gallo Cabral
Siúza Monteiro Guedes
Tania Elisa Morales Garcia
Thaís Gomes Torres
Thamires Foletto Fiuza
Thays Cristina Domareski Ruiz
Vanessa Acosta de Azambuja
Editoração
Charlene Brum Del Puerto Giovani Francisco
Jaciel Gustavo Kunz Wynne Gonçalves Farias
Congresso bianual
Endereço para contato
Campus da FURG Santa Vitória do Palmar R. Glicério P. Carvalho, 81 – Coxilha CEP: 96.230-000 – Santa Vitória do Palmar-RS
APRESENTAÇÃO AOS ANAIS DO
CONGRESSO INTERNACIONAL DE TURISMO DO EXTREMO SUL – CITES
O surgimento do CITES está diretamente ligada à construção de um campus
universitário, em Santa Vitória do Palmar, pela Universidade Federal do Rio Grande
(FURG), em parceria com a prefeitura da cidade, com a criação do curso de
Bacharelado em Turismo Binacional. Sua primeira edição ocorreu em 2010, com a
temática “Turismo, História e Cultura” e foi organizada pelos professores da área de
História do Instituto de Ciências Humanas e da Informação – ICHI que atuavam no
Curso.
Nas edições seguintes, a organização foi assumida pelos professores da área
do Turismo que compõem o corpo docente dos cursos de Turismo, Hotelaria e
Eventos e tratou das temáticas: Desenvolvimento Regional e o Turismo (2011),
Perspectivas para o futuro do Turismo (2012), Planejamento Regional do Turismo no
Contexto das Fronteiras (2013), A Pesquisa Cientifica no Âmbito do Turismo (2014).
Em suas cinco edições, o evento já contou com as participações de professores
do Brasil e do Uruguai, Antônio Jorge Fernándes, Carlos Renato Rocha de Souza,
Maria Luiza Cardinale Baptista, Rossana Campodónico, Susana Gastal, entre outros
nomes que se destacam na área de Turismo e Hospitalidade. Esta edição está a cargo
do Laboratório de Planejamento Turístico dos cursos de Bacharelado em Turismo
Binacional, Tecnologia em Eventos e Bacharelado em Hotelaria da FURG, e para
tanto, foram compostas equipes de trabalho envolvendo professores, técnicos e
alunos dos três cursos, trabalhando-se a temática “Planejamento de Destinos:
Políticas e Sustentabilidades”.
A Comissão Científica do VI Cites
NORMAS PARA SUBMISSÃO E APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS
CONGRESSO INTERNACIONAL DE TURISMO DO EXTREMO SUL – CITES
A Comissão Científica torna público o regulamento para submissão, avaliação
e apresentação de trabalhos científicos do VI Congresso Internacional de Turismo do
Extremo Sul – CITES, bem como o cronograma das atividades previstas que
antecedem a realização do evento.
1 PARTICIPAÇÃO
O Congresso destina-se a docentes, pesquisadores e estudiosos do Turismo e
áreas afins, os quais poderão participar como convidados, apresentadores de trabalho
científico ou ouvintes.
2 INSCRIÇÃO
As informações sobre o processo de inscrição encontram-se disponíveis na
página web http://sinsc.furg.br/detalheseventos/452.
3 CRONOGRAMA
• 15 de agosto a 2 de outubro de 2016: Abertura do Sistema para recebimento
online das inscrições para apresentador de trabalhos e ouvintes.
• 2 de outubro de 2016: Data-limite para o encaminhamento dos trabalhos
• 02 de outubro a 30 de outubro de 2016: Período de avaliação dos trabalhos
• 2 de novembro de 2016: Divulgação, via email e publicação no site do evento,
dos trabalhos selecionados, local, sala e horários de apresentação.
• 30 de Novembro a 02 de Dezembro de 2016: VI Congresso CITES.
4 NORMAS DE SUBMISSÃO E APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS
A submissão será feita exclusivamente através do endereço de email
[email protected], até 2 de outubro de 2016. Os trabalhos deverão
ser postados, no modelo do Congresso (template disponível no site do evento), em
duas versões: uma, em arquivo PDF, sem identificação dos autores e outra, em
arquivo Word da Microsoft ou Writer do OpenOffice, com identificação dos autores.
Os trabalhos deveram ser enquadrados como resumo expandido ou artigo (conforme
normas deste evento), bem como em idioma “português” ou “espanhol”. Os trabalhos
deverão ser inéditos, não tendo sido apresentados em outros eventos ou publicados
em periódicos científicos ou em livros.
4.1 Autoria
Cada participante poderá inscrever no evento até 3 trabalhos, sendo 1 como
autor(a) e os demais como coautor(a), incluindo artigos e resumos expandidos. Cada
trabalho poderá ter, no máximo, um autor e até quatro coautores. Membros da
Comissão Científica e Coordenadores de GT poderão submeter trabalhos para
avaliação, devendo ser respeitadas integralmente as normas deste regulamento
aplicadas aos demais autores. A submissão fora dessas condições acarretará a
rejeição de todos os trabalhos do participante.
4.2 Condições de apresentação oral
O apresentador obrigatoriamente deverá estar inscrito no evento. Cada
participante poderá apresentar oralmente até dois trabalhos. A apresentação terá
tempo de 10-15 minutos para cada trabalho.
4.3 Conteúdo
O conteúdo do trabalho deverá ser consonante com as NORMAS DE
SUBMISSÃO, o qual também pode ser acessado pelo link
http://www.cites.furg.br/index.php/pt/submissao-de-trabalhos.
4.4 Idioma
O idioma oficial do Congresso é o português, sendo que os trabalhos
submetidos ao evento poderão ser redigidos em português ou espanhol (não houve
trabalhos submetidos em espanhol). A Comissão Científica do evento não se
responsabiliza pela correção linguística dos resumos expandidos e artigos publicados,
sendo responsabilidade dos autores a correta submissão de trabalhos.
4.5 Formatação
Para a formatação dos artigos deverão ser observadas as seguintes normas:
• Tamanho do papel A4, margens superior e esquerda em 3 cm; direita e
inferior em 2 cm, fonte Arial em todo o texto.
• Título do trabalho: Fonte Arial, corpo 12, espaçamento simples, negrito, caixa
alta.
• Nome dos autores (somente no arquivo Word ou Writer): Ter no máximo cinco
autores e/ou identificação de professor orientador quando houver. Usar apresentação
do Sobrenome em maiúscula, seguido do primeiro nome. Identificação do e-mail do
primeiro autor e do orientador. Fonte corpo 12, espaçamento simples, alinhamento à
direita. Na versão com identificação dos autores deve constar nota de rodapé
contendo: formação acadêmica, filiação profissional ou acadêmica atual (quando for
o caso), link para o Currículo Lattes e e-mail de todos os autores.
• Resumo (somente para artigos científicos): Fonte Arial, espaçamento simples,
corpo 12, margens justificadas (alinhadas à esquerda e à direita), com no máximo 10
linhas. Resumos expandidos não devem conter o resumo do trabalho. • Palavras-
chave: de três a cinco palavras-chave, na sequência, na mesma linha, separadas por
ponto e vírgula em fonte Arial, espaçamento simples, corpo 12, margens justificadas.
• Corpo do texto: fonte Arial, corpo 12, espaçamento 1,5 e margens justificadas.
Títulos de seções e subseções em fonte Arial, corpo 12, negrito, caixa alta,
espaçamento 1,5, com numeração progressiva, parágrafo com recuo de 1,5, conforme
template.
• Trabalhos fora de formatação não serão enviados para a avaliação.
4.6 Citações e referências
As citações bibliográficas e referências deverão observar as normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
4.7 Extensão
Artigos deverão ter no mínimo doze (12) e no máximo vinte (20) páginas.
Resumos expandidos, por sua vez, deverão ter extensão de no mínimo cinco (5) e no
máximo oito (8) páginas.
4.8 Alocação dos trabalhos nos GTs
No ato da submissão, deverá ser indicada a Divisão e o respectivo GT nos
quais o(s) autor(es) deseja(m) que o trabalho seja inscrito e avaliado. A Comissão
Científica poderá, em função do número de artigos recebidos, desmembrar ou reunir
os GTs, bem como, observado o conteúdo dos textos, realocá-los em outro GT,
quando julgado pertinente.
4.9 Temáticas dos grupos de trabalho (GTs)
GT 1 – TURISMO, PATRIMÔNIO, HISTÓRIA E CULTURA
EMENTA: O Grupo de Trabalho visa o diálogo entre s seguintes temas: cultura;
patrimônio; interpretação do patrimônio; história do turismo e das viagens;
museologia; preservação patrimonial; espaços de memória; debates socioculturais e
antropológicos; literatura e viagens; saberes e fazeres.
GT 2 – TURISMO, POLÍTICAS E RELAÇÕES EXTERIORES
EMENTA: Articulação entre legislação do turismo e da hospitalidade; turismo e
paradiplomacia, turismo e comércio internacional; políticas públicas; relações
exteriores e turismo; organizações; turismo e fronteiras são temáticas que estruturam
este Grupo de Trabalho.
GT 3 – TURISMO, GESTÃO, PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO
EMENTA: O presente Grupo de Trabalho visa um espaço de discussão e articulação
de práticas em relação à gestão e ao planejamento de destinos; gestão de cidades e
urbanização; formatação de produtos turísticos; planejamento de atividades turísticas;
projetos em turismo; planos de desenvolvimento turístico; formatação e
comercialização de produtos turísticos; segmentos de mercado; administração do
turismo; logística e turismo; trade turístico; sustentabilidade socioeconômica;
competitividade de destinos; gestão ambiental de empreendimentos turísticos e
hoteleiros.
GT 4 – TURISMO, MARKETING E COMUNICAÇÃO
EMENTA: A proposta deste Grupo de Trabalho visa promover o debate em relação
ao marketing de destinos turísticos; gestão de conhecimento e novas tecnologias;
comunicação em turismo; inovação e criatividade; empreendedorismo em turismo;
promoção e apoio à comercialização de produtos turísticos; relações públicas.
GT 5 – TURISMO, TERRITÓRIO, ÁREAS NATURAIS E SUSTENTABILIDADES
EMENTA: O Grupo de Trabalho acolhe reflexões, práticas e pesquisas que versem
sobre a relação entre geografia e turismo; recursos naturais e seus usos turísticos;
impactos da atividade turística no meio ambiente; regionalização do turismo;
sustentabilidades; conservação; paisagem e turismo; ecoturismo; turismo rural e
turismo em áreas naturais.
GT 6 – TURISMO, EDUCAÇÃO E EPISTEMOLOGIA
EMENTA: Com o interesse na discussão e na reflexão das produções do
conhecimento e da consolidação do turismo como área do conhecimento estruturam
este Grupo de Trabalho para o debate a respeito da educação para o turismo;
formação e qualificação do profissional de turismo; turismo e interdisciplinaridades;
currículo e formação docente; produção e comunicação científica; métodos de ensino
em turismo; epistemologia e metodologias de pesquisa em turismo; elaboração de
currículo e cursos; produção e comunicação científica no turismo; práticas docentes
no ensino do turismo; e das suas interdisciplinaridades.
GT 7 – ALIMENTOS E BEBIDAS
EMENTA: Este Grupo de Trabalho objetiva reunir e debater experiências
desenvolvidas em gastronomia; alimentos e bebidas; serviços em gastronomia; 6
gastronomia e formatação de produto turístico; restauração; nutrição; história da
alimentação; higiene e produção de alimentos.
GT 8 – TURISMO COMUNITÁRIO E DE BASE LOCAL
EMENTA: A proposta deste Grupo de Trabalho pretende fortalecer o debate sobre
turismo de base comunitária; desenvolvimento de produtos turísticos local e regional;
políticas públicas de turismo; turismo e desenvolvimento regional; organização dos
espaços sociais para usos do turismo; arranjos produtivos locais; cooperativas
turísticas; turismo e artesanato e estudos sociológicos de turismo.
GT 9 – EVENTOS E LAZER
EMENTA: As temáticas que contemplam as discussões neste Grupo de Trabalho
versam sobre eventos como produto turístico; captação, gestão e promoção de
eventos; qualificação do profissional em eventos; logística; cerimonial e protocolo;
tipologias de eventos; ludicidade; ócio; segurança e qualidade em eventos;
entretenimento e lazer; recreação e práticas esportivas.
GT 10 – HOSPITALIDADE E DIVERSIDADES
EMENTA: O recorte deste Grupo de Trabalho oportuniza o espaço transdisciplinar
para reflexões, práticas e experiências em hospitalidade; turismo e acessibilidade;
acolhimento; questões de gênero; diversidades e pluralidades.
GT 11 – TURISMO E HOTELARIA
EMENTA: O Grupo de Trabalho visa propostas de estudos que versem sobre: meios
de hospedagem; práticas em meios de hospedagem; gestão e administração de meios
de hospedagem; qualificação de serviços e recursos humanos em meios de
hospedagem.
GT 12 – TURISMO E PRESTADORES DE SERVIÇOS
EMENTA: Como espaço para pensar as práticas relacionadas em agências de
viagens e turismos; guias de turismo; transportadoras turísticas; locadoras de
veículos; turismo e comércio local; prestadoras de serviços e segurança e turismo
estrutura-se este Grupo de Trabalho.
5 PROCESSO DE AVALIAÇÃO
Os originais, sem qualquer identificação do(s) autor(es), serão avaliados no
sistema double blind review.
5.1 Critérios de avaliação
Nas avaliações dos artigos científicos, a Comissão Científica pautará a análise
pelos seguintes critérios:
a) Elementos pré-textuais (título, resumo e palavras-chave):
− Título: Sinalização global das ideias, relatos e discussões presentes no
texto.
− Resumo (somente para artigos científicos): apresentação resumida do
objeto e dos objetivos do trabalho, do processo metodológico (conforme a
natureza do artigo: de revisão teórica ou artigo baseado em pesquisa
empírica), dos resultados (quando for o caso) e das
conclusões/considerações finais. Resumos expandidos não deverão conter
resumo do trabalho.
− Palavras-chave: Pertinência e especificação dos termos (partindo do mais
geral para o particular) em relação ao foco do texto.
b) Elementos textuais
− Presença, na composição textual, dos elementos estruturais e sua pertinência
em relação à natureza do artigo.
− Organização textual e coerência interna: sequenciação e consonância entre
os elementos estruturais.
− Pertinência e qualidade de figuras (quadros, gráficos, desenhos, fotografias,
organogramas, gravuras e outras) e de tabelas. c) Elementos pós-textuais −
Seleção e atualidade das referências.
− Pertinência e qualidade de apêndices e anexos.
d) Abrangência e profundidade analíticas.
e) Relevância: contribuição para o desenvolvimento científico na área.
f) Aspectos linguístico-textuais
− Adequação, ao texto científico, do padrão de linguagem utilizado.
− Coesão textual no emprego de nexos, de elementos de sequenciação, de
substituição intra e interfrases, intra e interperíodos, intra e interparágrafos.
−Observância de normas gramaticais compatíveis com o padrão de linguagem
empregado.
g) Aspectos ortográficos: conformidade com a nova ortografia da língua
portuguesa.
h) Formatação: observância das normas da ABNT.
6 APRESENTAÇÃO ORAL
O local e horário de apresentação estarão indicados por e-mail e no momento
de seu credenciamento. Cada apresentação terá duração de 10 a 15 minutos. A
Comissão Científica do evento disponibilizará computador e datashow em cada sala
de apresentação. Fica sob a responsabilidade do apresentador transferir os arquivos
necessários para sua apresentação no computador da sala antes do horário previsto
para o início da sessão. Será observada a ordem de apresentação indicada na
programação do evento. A coordenação da atividade ficará a cargo dos
coordenadores dos GTs, os quais serão assessorados por relatores. Os
coordenadores controlarão o tempo das apresentações e mediarão as discussões
posteriores.
7 CERTIFICADOS
Os certificados de participação ou de apresentação de trabalhos serão
disponibilizados através de chave de acesso no site da Furg, no endereço eletrônico
http://www.furg.br/servicos/certificados/#/
O certificado de apresentação será entregue apenas para trabalhos
apresentados oralmente pelo autor(a) e/ou coautor(a) nos GTs.
8 PUBLICAÇÃO DOS TRABALHOS E DIREITOS AUTORAIS
Os trabalhos selecionados e apresentados oralmente serão publicados no
sistema Argo (argo.furg.br) até 30 dias após o encerramento do evento. 9 Ao
submeterem o trabalho à apreciação da Comissão Científica, os autores concordam
em ceder os direitos autorais para efeitos exclusivos de publicação nos Anais do
evento. As opiniões expressas pelos autores serão de sua exclusiva responsabilidade.
9 DISPOSIÇÕES GERAIS
Os casos omissos serão tratados e deliberados pela comissão Geral do
evento.
17
ARTIGOS COMPLETOS
GT 1 – TURISMO, HISTÓRIA, PATRIMÔNIO E CULTURA
18
O CEMITÉRIO CIVIL DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR- RS, BRASIL: ANÁLISE DE SEU POTENCIAL TURÍSTICO
SCHWAB, Cláudia1
Resumo: Este trabalho tem origem no TCC apresentado para obtenção do grau de Bacharel em Turismo Binacional pela Universidade Federal do Rio Grande em 2014 e aborda o Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar, Rio Grande do Sul, Brasil, partindo da análise de seu potencial turístico. Leva em consideração a arte tumular, a história e os elementos da cultura popular guardados entre seus muros, com vistas a uma possível transformação do espaço em um atrativo. Para tanto, foi elaborado um inventário de parte de seus túmulos mais antigos, mais ricos artisticamente ou com algum interesse cultural ou histórico para o local e a região. Registra também a relação da comunidade com o seu Cemitério e as impressões dos visitantes após a realização de um roteiro experimental. Palavras-chave: Turismo Cidadão; Turismo Cultural; Memória; Patrimônio; Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar.
1 INTRODUÇÃO
O turismo cemiterial é hoje é um importante segmento da atividade turística.
Cemitérios como La Recoleta, em Buenos Aires; o Père Lachaise em Paris; o
Cemitério Judeu, em Praga, República Tcheca ou o Highgate, em Londres são
atrativos já consolidados. No Brasil, o Cemitério da Consolação, em São Paulo, ou o
Cemitério do Bom Fim, em Belo Horizonte, possuem roteiros turísticos instituídos e
reconhecidos. O Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, instalou há pouco QR
Codes2 em 150 jazigos e realiza visitas guiadas mensais: com a nova tecnologia,
dados sobre a pessoa enterrada no mausoléu e sobre o próprio mausoléu são
1Licenciada em letras Português/Espanhol pela UNITINS e Bacharel em Turismo Binacional pela FURG. http://lattes.cnpq.br/5392093437556243 2QR Code é uma tecnologia pela qual se fotografa com um smarthphone ou tablet com acesso à internet um desenho em formato de código de barras para ter acesso a informações sobre o objeto em questão em que foi afixado o código.
19
acessados via internet. No Rio Grande do Sul, é bastante conhecido o Cemitério da
Santa Casa de Porto Alegre e em Bagé, até saraus noturnos já foram realizados com
sucesso dentro do cemitério da cidade3.
Diversos são os motivos que levam à visitação de cemitérios: desde a
curiosidade mórbida relacionada à morte; passando pela visitação a túmulos de
pessoas famosas e personagens históricas, até a simples apreciação da arte
cemiterial. O objeto deste trabalho é o Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar, Rio
Grande do Sul - Brasil, mediante o inventário de seu patrimônio escultórico tumular,
registro de sua história e de elementos vinculados à cultura e à memória do município
e da região, bem como sua possível ativação turística. O objetivo é avaliar se este
espaço cemiterial pode ser transformado em um atrativo turístico. Para tanto, além
das características intrínsecas do Cemitério, também busquei identificar a relação que
o visitante tem com este espaço, o que pensa sobre a possibilidade de uso turístico
do mesmo e quais são suas impressões após a visitação.
Aqui entendi como visitante o próprio residente da comunidade, sobre quem
debrucei meu olhar, tendo em vista que o Cemitério não é um atrativo turístico
consolidado e levando em conta a opinião de que é necessário reconhecimento por
esta comunidade do valor deste espaço antes de estimular aí a visitação de turistas.
Gastal e Moesch (2007, p. 10) consideram que o turismo tem um importante papel a
cumprir mesmo em comunidades que não se caracterizam como turísticas: aliado à
cidadania, o turismo auxilia o residente a conhecer-se e a bem receber, cônscio de
seu valor. Ainda de acordo com as autoras, confrontar-se com o novo e o inesperado
leva a um processo de “mobilização subjetiva que levaria a re-olhar, a repensar, a
reavaliar, a ressignificar não só a situação, o ambiente, as práticas vivenciadas
naquele momento e naquele lugar, mas muito de suas experiências passadas”. À
parte do conceito de turista, que leva em consideração a necessidade de
deslocamento espacial para um local diferente daquele onde se reside, o cidadão que
visita outro bairro ou espaço dentro de sua cidade, em situação diferente à de sua
3Referências e notícias sobre estes Cemitérios, sua visitação e eventos são encontradas com fartura na rede mundial de computadores – web.
20
rotina normal, também vivencia estes estranhamentos e desperta estas subjetividades
(GASTAL; MOESCH, 2007, p. 17-18). É através deste processo que pensei despertar
no residente de Santa Vitória do Palmar um novo olhar sobre o seu Cemitério para, a
partir daí, poder-se, quem sabe, pensar em atrair visitantes de outros lugares, turistas
na concepção mais tradicional do termo.
O município de Santa Vitória do Palmar está localizado no extremo sul do Rio
Grande do Sul, em uma península limitada pelo Oceano Atlântico a leste, Lagoa Mirim
a oeste, municípios do Chuí ao sul e de Rio Grande ao norte. Os primeiros registros
de ocupação pelo colonizador deste território datam das primeiras décadas do século
XVIII, quando o Brigadeiro José da Silva Paes recebeu ordens de tomar posse das
terras mais ao sul do Brasil, limitadas pelos Arroios Chuí e São Miguel. Em março de
1778 foi colocado o 1º marco de fronteira, na foz do Arroio Chuí. Em 19 de dezembro
de 1855 foi criada a povoação de Andréa – cuja padroeira era Santa Vitória – elevada
à categoria de Vila em 30 de outubro de 1872 e à de Cidade em 24 de dezembro de
1888 (IBGE, p.1, s.d.).
O Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar, fundado em janeiro de 1889,
possui características que me levam a acreditar ser este um dos potenciais atrativos
turísticos na região. Seu terreno foi adquirido pela municipalidade em 1884, tendo sido
inaugurada a necrópole em 1889. Antes disso, o Cemitério era localizado na atual
zona central da cidade, transferido para a Coxilha do Litígio, ponto mais alto da região,
em função do crescimento da Vila em direção ao cemitério e do receio das
contaminações pelos miasmas, crença vigente nos meados do século XVIII. Os restos
mortais já enterrados no centro foram transladados então para o cemitério novo
(AMARAL, 2010, p. 26-27).
Este artigo tem como base o Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
pela autora em 2014 para a obtenção do grau de bacharel em Turismo Binacional pela
Universidade Federal do Rio Grande 4 , tendo sido reduzido e adaptado para a
apresentação no VI Congresso Internacional de Turismo do Extremo Sul – CITES. O
4 O orientador do TCC foi o Prof. Me. Mauricio Ragagnin Pimentel.
21
percurso metodológico percorrido então contemplou: pesquisa bibliográfica e
documental, entrevistas individuais semiestruturadas feitas com representantes do
poder público municipal e servidores municipais que executam atividades vinculadas
ao Cemitério, além de entrevistas aplicadas a visitantes que realizaram um roteiro
experimental elaborado para o fim específico de obtenção de dados para a pesquisa.
Realizei também pesquisa in loco, durante a qual foram feitos a identificação e o
registro fotográfico de monumentos funerários (com estatuária em mármore ou de
importância histórica, cultural, ou cuja história envolvesse alguma curiosidade). Estes
dados embasaram a elaboração de um inventário e a confecção de um mapa de
visitação, com a localização e identificação dos túmulos considerados relevantes,
além da elaboração do roteiro de visitação. O roteiro de visitação foi realizado, com o
objetivo de aplicar-se a metodologia de grupos focais com os visitantes.
Este trabalho está estruturado da seguinte forma: uma introdução; uma
fundamentação teórica que inclui a conceituação de cemitérios como espaços de
memória, turismo cultural, espaço real e espaço potencial, turista cidadão e
patrimonialização; aspectos institucionais do cemitério; a descrição do espaço; o
detalhamento da metodologia; os resultados apurados e as conclusões.
O interesse no estudo da potencialidade turística do Cemitério Civil de Santa
Vitória do Palmar surgiu de forma muito natural ao longo de minha graduação.
Localizado no caminho para a Universidade, visualizava por sobre os muros seus
anjos e cruzes, diariamente ao ir para a aula. Esta visão despertou-me a lembrança
dos inumeráveis passeios feitos com meu pai, na infância, nos cemitérios da Avenida
Oscar Pereira, em Porto Alegre, onde morávamos. Nestes passeios de domingo, meu
pai mostrava a mim, meus primos e meus irmãos a arte existente nos túmulos, os
símbolos, a beleza guardada nestes lugares comumente ligados à tristeza e à
saudade. Visitando o Cemitério de Santa Vitória, percebi em um primeiro momento a
riqueza da arte tumular ali existente e a depredação de diversos mausoléus, passando
a pensar em formas de buscar a preservação e salvaguarda do patrimônio que ali
reconheci.
22
Este estudo torna-se relevante não apenas pelas possibilidades de valorização
e reconhecimento de um possível patrimônio artístico e cultural do Município e sua
consequente preservação: o Cemitério Civil é um local de livre acesso à comunidade,
independentemente de situação econômica, social ou religiosa. Guarda dentro de
seus muros um relevante conjunto artístico que pode vir a tornar-se um museu a céu
aberto para visitação não só de turistas, mas principalmente de residentes, em que
pese se encontre hoje em situação de abandono.
Este trabalho vem colaborar na ampliação da bibliografia existente sobre
turismo em cemitérios no Brasil, fornecendo dados sobre a arte cemiterial no início do
século XX, final do século XIX – período de maior riqueza na estatuária existente no
Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar. A produção especificamente no que tange
aos cemitérios do extremo sul do país ainda é um tanto restrita tendendo a aumentar,
visto que há diversas iniciativas neste sentido, incluindo um grupo de estudos
cemiteriais na Universidade Federal de Pelotas – UFPel5 . Sobre o objeto deste
trabalho não há nenhum estudo publicado, à exceção de uma monografia de
conclusão de pós-graduação lato sensu em Memória Social pela Universidade Federal
de Rio Grande - FURG, de 2010, que trata das Pompas Fúnebres no Município e
apresenta alguns dados e informações relevantes sobre este espaço (AMARAL,
2010).
2 SUBSÍDIOS TEÓRICOS: TURISMO CIDADÃO, MEMÓRIA SOCIAL E
PATRIMONIALIZAÇÃO
A concepção de turismo que adotei foi a de Boullón (2002, p. 37), que não o
define nem como uma ciência, nem como uma indústria, situando-o no setor terciário
da economia: “[...] o turismo é consequência de um fenômeno social cujo ponto de
partida é a existência do tempo livre e do desenvolvimento dos sistemas de
5Marmorabilia: Grupo de Estudos Cemiteriais da UFPel, parte do Projeto de Pesquisa do Curso de Conservação e Restauro da Universidade. <http://marmorabilia.blogspot.com.br/>
23
transporte.” Como fenômeno social que é, qualquer estudo que pretenda analisar a
possibilidade de desenvolvimento turístico em uma região, ou de transformação de
um lugar em atrativo turístico deve levar em consideração a relação da sociedade com
o espaço que pretende se transformar em turístico. Aí assume relevância o conceito
de “turista cidadão”, defendido por Gastal e Moesch (2007): em um mundo onde a
urbanização é um processo crescente, onde cada vez mais e mais pessoas vivem em
cidades, o olhar cuidadoso sobre este espaço deve ser hábito não apenas para
turistas, mas também para os residentes, a fim de que compreendam sua
complexidade e possam viver aí com maior qualidade. O morador da cidade é parte
ativa dos fluxos (comportamentais, culturais e de ideias) que constituem o espaço
urbano ao lado de seus fixos (praças, monumentos, edificações). Colocar este
cidadão em movimento além de suas atividades rotineiras coloca esta pessoa na
situação de turista, podendo desta forma “apropriar-se com maior competência dos
espaços e situações, num novo exercício de cidadania” (GASTAL; MOESCH, 2007,
pp. 59-60). Ainda segundo as autoras:
Se, nas cidades, mesmo os bairros se colocam como espaços de identidade e identificação, para viver outros cenários não seria mais necessário sair dos limites urbanos, pois estes se tornaram o território da multiplicidade, permitindo ao indivíduo ser turista mesmo sem abandonar seu território. Também se estaria migrando de um conceito de turismo marcado pelas distâncias espaciais para um conceito que priorizasse a sua prática como o percorrer tempos e espaços diferentes dos rotineiros. Turismo seria menos o percurso no espaço, para tornar-se um percurso por tempos-espaços, em especial culturais, diferentes daqueles a que se esteja habituado, com ênfase nas vivências e experiências (GASTAL; MOESCH, 2007, p. 37).
Haveria no Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar, condições que
permitissem aos vitorienses a experiência deste estranhamento característico do
turismo? Em primeiro lugar, a arte tumular existente em seus jazigos, os elementos
da cultura popular, os dados históricos e as curiosidades presentes naquele local,
parecem indicá-lo como um espaço potencial para o turismo. Segundo Boullón (2002,
p. 77), quando há “possibilidade de destinar um espaço real a algum uso diferente do
atual” temos um espaço potencial, que não existe no presente, apenas na imaginação
de planejadores. Esta possibilidade poderá se efetivar se o Cemitério transformar-se
24
em um atrativo turístico. Com este fim, propus estimular um novo olhar da comunidade
local sobre este espaço, a fim de que reconhecessem o patrimônio histórico e artístico
ali existente e compreendessem o uso turístico do mesmo.
A Constituição Brasileira define patrimônio cultural em seu artigo 216:
Art. 216: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, dos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
O patrimônio tem se tornado, nos últimos anos, em um dos atrativos mais
importantes do turismo, segundo Zusman (2008, p. 212). Nesta mesma obra, a autora
cita Prats, que afirma que a sacralização que caracteriza um patrimônio não é
espontânea, mas sim, política: é uma decisão política que desencadeia o processo
dentro do qual um grupo de autoridades irá construir argumentos de construção da
patrimonialização, ao mesmo tempo em que faz com que estes critérios pareçam
espontâneos e legítimos para a comunidade (ZUSMAN, 2008, p. 212).
A definição de qualquer elemento como patrimônio é, portanto, arbitrária e
ideológica, baseia-se em escolhas: optamos por ressaltar ou preservar a memória de
um elemento, em detrimento de outro. Artefatos culturais, ou elementos culturais são
simbólicos e como tal necessitam passar por um processo de construção,
desconstrução e interpretação para que apreendamos seu significado. Desta forma,
serão significativos tanto grandes bens do patrimônio nacionais já consagrados como
outros, de menor porte e de interesse local ou regional (CAMARGO, 2002, p. 9). Este
caráter arbitrário não pode deixar de ser levado em conta quando se fala em
patrimonialização, assim sendo, ao elaborar uma proposta de visitação para o
conjunto existente dentro do cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar, pretendi ter o
cuidado de incluir neste “olhar patrimonializador”, se assim podemos falar, não apenas
25
os ricos jazigos de mármore italiano dos primeiros anos do século XX, mas também
os túmulos mais simples e os elementos da cultura popular.
Cemitérios são monumentos, por si sós. Segundo Camargo (2002, p. 24), em
relação a monumentos, “[...] A raiz da palavra latina nos remete a momento ou
lembrança. [...] os monumentos, na acepção comum do termo, são edificações ou
construções que pretendem perpetuar a memória de um fato, de uma pessoa, de um
povo”. Cemitérios são lugares de memória, onde repousam os restos de nossos entes
queridos, repletos de elementos que perpetuam a memória destes entes. Halbwachs
(apud BURKE, 2000, p. 19) afirma que “as memórias são construídas por grupos
sociais. São os indivíduos que lembram, no sentido literal, físico, mas são os grupos
sociais que determinam o que é ‘memorável’ e também como será lembrado”. Este
“como será lembrado” está presente dentro do espaço cemiterial: as formas de
enterramento, os rituais de adeus e de saudade, com as mudanças características de
cada época estão ali, registradas em cada uma das tumbas.
Patrícia Neuhaus, em sua dissertação de Mestrado em Arquitetura pela
Universidade Federal do Rio Grande do SUL – UFRGS (2012, p. 26) fala sobre as
relações entre sujeito (visitante), o espaço cemiterial e a morte. Apontando os
cemitérios como espaços de memória, além de espaços destinados aos cultos e
rituais de sepultamento, a autora detecta que estes locais têm como função colocar a
morte e os mortos em uma “pseudoexistência mnemônica”, que se revela tanto
externamente, nos monumentos mortuários, como internamente, nas lembranças que
cada um guarda de seus mortos. Desta forma, afirma a autora que a experiência
cemiterial comporta dois níveis de relação: a do sujeito com o espaço e a do sujeito
com o morto. Ou seja: para que a visitação se dê (e nela, a experiência do espaço), é
necessário que haja uma experiência prévia: a da memória do morto (aí a relação
sujeito-morto), além da intenção da visita. Como neste trabalho propomos a visitação
ao Cemitério com o fim turístico, devemos considerar que nem sempre o visitante terá
a memória do morto (pois que eventualmente não terá ninguém querido enterrado ali),
assim sendo, para possibilitar a efetivação da vivência, adquire importância a
26
interpretação patrimonial do espaço, que deverá despertar e/ou criar memórias nos
visitantes, tendo em vista a intenção da visita, neste caso, turística.
Segundo Bellomo (2008). “A conservação da memória dos mortos é um dos
fatores de identidade e coesão das famílias, tribos e das comunidades” (BELLOMO,
2008, p. 13) desde a Pré-história. Para o autor, os cemitérios são reproduções dos
espaços sociais dos vivos, neles estão projetados os valores, crenças, estruturas
socioeconômicas e ideologias das comunidades a que pertencem. Acredito que a
visitação turística do Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar possa, pois, colaborar
para o autorreconhecimento e a compreensão da sociedade onde vivemos,
funcionando como um elemento essencial para a construção da cidadania.
Através dos vestígios e sinais encontrados nos espaços cemiteriais é possível
desvendar os sentidos e significados de uma época (MOTTA, 2009, p. 74). Assim, a
visitação aos cemitérios, além de possibilitar a contemplação da arte tumular, permite
conhecer a história e os costumes de nossos antepassados. E perceber a relação da
sociedade com este espaço hoje em dia, já que os cemitérios são espelhos da
estrutura social vigente. Dessa forma parece-me que o turismo em cemitérios carrega
muito mais consigo do que o desejo mórbido de visitar um local vinculado à morte:
inclui o interesse na arte, na cultura e nos rituais, e deve levar em consideração a
vivência diária das comunidades receptoras com a morte e com o lugar para onde são
levados os seus mortos. E, neste caso, despertar na comunidade local este interesse
sobre sua própria comunidade, ao ver naquele espaço um espelho refletindo sua
estrutura social.
3 ASPECTOS INSTITUCIONAIS DO CEMITÉRIO CIVIL DE SANTA VITÓRIA DO
PALMAR E CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO DE ESTUDO
O Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar foi fundado em janeiro de 1889,
alguns meses antes da proclamação da República. O terreno onde foi instalado foi
adquirido em 1884, especialmente para este fim. Era um quadrado de 118,80 metros
de lado, pertencente, anteriormente, ao Capitão Bernardo Rodrigues Correa e a sua
27
esposa, Higina Dorothéa Souza. A partir dos anos 30 foi ampliado e sua área atual é
de aproximadamente 24.640 m². Até 1888, os enterramentos eram feitos em um
cemitério localizado na zona central da cidade, onde hoje se encontra o Colégio
Estadual Santa Vitória do Palmar (AMARAL, 2010, p. 26). A cidade cresceu em
direção ao cemitério e este crescimento provocou sua transferência de lugar.
Ferreira (2009, p. 78) assim descreve a construção da cidade:
A cidade foi traçada com 14 ruas paralelas no sentido norte/sul e 8
perpendiculares a essas, no sentido leste/oeste. As ruas tinham a largura de 18 m e o comprimento das quadras era de aproximadamente 960.000 m². Foi construída em torno de uma praça6 e de uma igreja, e nesse entorno observa-se as construções mais importantes, herança da classe social que edificou e moldou a cidade.
Entre 1875 e 1900 a cidade passou de 201 a 502 prédios urbanos, em uma
onda de crescimento impulsionada pela implantação de novas formas de produção,
de consumo ou de distribuição. Uma classe de comerciantes começou a somar-se à
dos ruralistas, que aplicavam seus excedentes em construção de prédios na cidade,
suntuosos, marcando na arquitetura o poder da elite rural. Esta marca de distinção
social a também era deixada dentro dos muros do Cemitério. Em 1910, eram já 596
os prédios urbanos e a população em 1920 passava das 11.000 almas, sendo que
4000 viviam na zona urbana (FERREIRA, 2009, pp. 82-83).
Os funerais eram eventos sociais, a morte fazia parte dos rituais sociais, mas o
surgimento das ideias higienistas vindas da Europa e que apontavam os corpos
mortos como responsáveis pela transmissão de diversas doenças, começou a tirar
este caráter de festa dos rituais da morte, interditando-os ao convívio muito próximo
do grupo social: os enterramentos dentro das igrejas foram proibidos e a
recomendação era de se instalar cemitérios em locais afastados dos centros urbanos
(PAGOTTO, 2004, p. 19). Este processo se iniciou no Brasil ainda em 1789, por ato
de Dona Maria de Portugal, tornou-se imperativo a partir de 1828, por intervenção do
Imperador Dom Pedro I e passa a ser obrigatório, finalmente, com a publicação do
6Nota da autora: A Praça General Andréa.
28
decreto federal nº 789, já na Primeira República (BORGES, 2002, p. 47). A
transferência do local de enterramentos para o ponto mais alto da cidade, a Coxilha
do Lítigio, provavelmente veio satisfazer estas necessidades. Os restos mortais
enterrados no cemitério velho foram transferidos para o novo, cujo portão principal e
muro, ainda existentes, foram construídos por João Batista Almeida, que foi também
o primeiro zelador do lugar (AMARAL, 2010, p. 27-28).
O Cemitério Civil é administrado pela Prefeitura Municipal de Santa Vitória do
Palmar, mais especificamente, pela Secretaria Municipal de Obras e Serviços
Urbanos, que age na medida das solicitações da comunidade, que normalmente só
se manifesta a respeito nas vésperas do Dia de Finados – 02 de novembro, ou de
festas como o Dia dos Pais ou das Mães.
O Cemitério é cercado pelos lados sul e leste por um muro branco, de tijolos,
construído no ano de 1888, da mesma forma que o portão em ferro fundido. Por sobre
o muro veem-se, desde o lado de fora, algumas de suas esculturas tumulares e muitas
cruzes. A calçada não tem calçamento de pedras ou cimento, à exceção do trecho em
frente ao portão principal. Do lado interno, ao longo dos muros originais, há
catacumbas construídas na mesma época (algumas delas foram derrubadas, mas a
maior parte ainda é utilizada). À direita do portão principal está uma pequena sala que
serve de escritório da administração e almoxarifado. Nesta sala são guardados
equipamentos como pás, enxadas, cimento, uniformes de trabalho e documentos. O
mobiliário é restrito a uma mesa e uma cadeira velhas e em más condições de
conservação.
Há muitos mausoléus que, ao longo dos anos, foram sendo reformados e
tiveram suas características originais alteradas, com uma presença muito grande do
uso de azulejos e lajotas. Percebem-se também muitos jazigos abandonados,
cobertos de musgo e limo, incluindo lápides em mármore ilegíveis pela presença
destes elementos. A riqueza em lápides entalhadas em mármore e em fotos tumulares
é bastante para instigar estudos específicos.
A área abordada por este estudo mede aproximadamente 102,0m de frente por
55,0m de lado (5610 m²). Esta está dividida em quatro quadrantes, subdivididos cada
29
qual, por sua vez, em mais quatro quadras. Este estudo limita-se apenas à zona onde
se encontram os jazigos mais antigos, aqueles transladados do cemitério desativado
e os construídos até as primeiras décadas do século XX (os dois quadrantes
sinalizados em vermelho na Figura 4).
A época em que ocorreu a inauguração do novo Cemitério coincidiu com um
período de crescimento urbano, associado a um desenvolvimento econômico
importante. A elite rural investia na construção de prédios suntuosos na zona central
da cidade e da mesma forma, atendendo aos ditames sociais do período, construía
jazigos que perpetuassem na memória da comunidade a riqueza e o status de suas
famílias. Estes jazigos estão situados justamente na área estudada. No século XIX, a
maioria eram jazigos em alvenaria, com lápides requintadas entalhadas no mármore.
Nas primeiras décadas do século XX surgiram os ricos mausoléus em mármore, com
uma estatuária composta em sua grande maioria por anjos e crucifixos, mas também
se encontram outras imagens como um Cristo, uma Sagrada Família e uma Mater
Dolorosa.
Dentro da área estudada estão sendo construídos nichos para aluguel, pela
Prefeitura Municipal, a fim de minimizar o problema de falta de jazigos disponíveis.
4 METODOLOGIA
Para atender ao objetivo de analisar o espaço cemiterial e sua atratividade
turística, realizei pesquisa de campo, fotografando os jazigos e apontando dados
descritivos e curiosidades sobre cada um deles. Também observei dados gerais sobre
o espaço: condições de acessibilidade, segurança, estrutura administrativa. Realizei,
ainda, pesquisa documental e entrevistas com servidores públicos municipais
vinculados ao Cemitério de alguma maneira, para conhecer os procedimentos de
enterramento, zeladoria, cuidado com o espaço, administração e legislação
pertinente. Para compreender a relação da comunidade com o Cemitério e as
impressões dos visitantes, elaborei um roteiro de visitação e proposta de grupos focais
com os visitantes após o passeio. A pesquisa bibliográfica deu-me o embasamento
30
para analisar os dados e compreender os processos vinculados ao tipo de turismo
aqui proposto.
Uma decisão metodológica de última hora foi adotada em relação ao texto:
optei pelo uso da primeira pessoa do singular, com a intenção de estabelecer um
diálogo mais íntimo e direto com os leitores. Esta decisão encontra respaldo nos
conceitos de autopoiesis e amorosidade defendidos por Batista (2004). Não pretendo
aprofundar aqui estes conceitos, mas: Autopoiesis “[...] é um neologismo que nos
remete à idéia de autoprodução”, aos processos de criação e autocriação do ser
humano, vinculado à convivência com o outro. Amorosidade é:
[...] um traço intrínseco ao processo de comunicação [...] os fluxos
informativos não podem ser ‘mornos’ têm que estar suficientemente
aquecidos de afeto, no sentido de desacomodar o sujeito para o
reconhecimento do lugar do Outro, do fluxo que vem do Outro – seja esse
Outro uma outra pessoa, grupos, instituições, mídias...(BARBOSA, 2004,
s.p.)
A pesquisa bibliográfica teve como foco livros e artigos sobre turismo cemiterial,
arte cemiterial e simbologia, memória e patrimônio. Realizei também pesquisa em
diversos sítios na internet sobre cemitérios e turismo em cemitérios no Rio Grande do
Sul, no Brasil e no mundo. Estas leituras formaram não só a base teórica do trabalho
como também todo um conjunto de conhecimentos que facilitaram a compreensão do
objeto de estudo e a definição dos objetivos.
A pesquisa de campo incluiu visitas ao Cemitério, mapeamento e registro
fotográfico dos jazigos, além da anotação dos dados referentes aos enterramentos (a
quem pertence cada jazigo, data de enterramento mais antigo) e às características
arquitetônicas e artísticas de cada elemento registrado. A partir destes dados elaborei
as fichas de inventário, que tiveram como modelo o adotado por Bestianello (2010,
p.127). Foram inventariados apenas dos túmulos apontados no roteiro experimental
de visitação. Estes dados auxiliaram na confecção do roteiro e seu mapa.
A pesquisa documental foi feita junto à Prefeitura Municipal, após ter obtido a
devida autorização. Os documentos consultados incluem a legislação pertinente, as
31
escrituras de aquisição dos terrenos ocupados hoje pelo cemitério e de uma possível
ampliação, os livros de registros de venda e sessão de terrenos.
Realizei entrevistas semiestruturadas com o Prefeito Municipal, Secretário de
Obras e com servidores da Secretaria de Obras, do Departamento de Ações
Administrativas e do Cemitério, além do Secretário de Cultura, Turismo e Desporto.
Nestas entrevistas foram registradas informações sobre a relação particular de cada
entrevistado com o Cemitério, sua relação profissional e outros dados relevantes para
a pesquisa.
Para coletar as impressões da comunidade como um todo formei grupos para
uma visitação experimental e a partir daí, coletei os dados por meio de grupos focais,
buscando um resultado qualitativo. Para tanto, foi elaborado um roteiro de visitação a
partir do qual fosse possível captar as impressões do visitante.
Para o roteiro, levei em consideração os elementos constantes do guia
elaborado pela Museums and Galleries Commission (2001), essencialmente nos
aspectos de objetivos da exposição, o que me indicou quais jazigos incluir no roteiro
e como estruturá-lo. Esta definição se deu a partir da decisão de que o que se queria
mostrar aos visitantes era: a arte tumular, sua beleza e sua simbologia; o belo em
suas diferentes formas – o grandioso e o singelo; os elementos de cultura popular e
religiosa presentes no Cemitério; a história municipal e regional guardada no espaço
cemiterial; os traços de formação cultural e étnica da sociedade local; as diferentes
formas de expressão da saudade e os riscos a que se encontra exposto o patrimônio
existente no Cemitério. O roteiro foi composto por um mapa de visitação e um texto-
guia, que indicava as paradas e incluiu uma interpretação do espaço, desde dados
históricos até elementos da simbologia da arte tumular, curiosidades, lendas e
histórias populares.
A interpretação do patrimônio é uma técnica criativa de comunicação estratégica, uma forma planejada e consciente de dirigir mensagens, desenhada para que as pessoas conheçam de maneira significativa seu patrimônio e se convertam em seus protetores e defensores. Já ao final dos anos 60, Freeman Tilden, um dos precursores da interpretação, se referia a esta disciplina como ‘uma atividade educacional que objetiva revelar significados e inter-relações mediante a utilização de objetos originais, de
32
experiências de primeira mão e por meios ilustrativos, ao invés de simplesmente comunicar informações fatuais’ (DELGADO; PAZOS, 2013, p.302).
A decisão de iniciar o roteiro pelo conjunto escultórico mais rico teve como
objetivo provocar o encantamento com o belo e grandioso em seu conjunto e nos
pequenos detalhes da simbologia e das características intrínsecas de cada jazigo
para, a partir deste primeiro impacto, um olhar já um pouco “treinado”, poder perceber
o belo também nos monumentos funerários mais singelos.
Após as visitas, foram realizados os grupos focais, cuja estratégia está
embasada na interatividade. Flick (2008, p. 188) afirma que “a marca que define os
grupos focais é o uso explícito da interação do grupo para a produção de dados e
insights que seriam menos acessíveis sem a interação verificada em um grupo”. Os
dados coletados nos grupos foram compilados e analisados comparativamente aos
dados das demais entrevistas, de forma a poder embasar os resultados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos dados coletados na etapa de inventário, pesquisa documental e
entrevistas com o poder público, detectei diversos pontos fracos, essencialmente: falta
de segurança e de infraestrutura, havendo registros de vandalismo e roubo de
esculturas e negligência em relação ao acompanhamento destas ocorrências;
instalações administrativas inadequadas; inexistência de um mapa ou quaisquer
controles informatizados, bem como de regulamentação do uso do espaço; a
legislação municipal vigente prevê a demolição de túmulos abandonados, o que põe
em risco um grande número de jazigos de interesse histórico; a ação administrativa
se dá na medida dos apelo da comunidade, sem ações preventivas; documentação
de valor histórico não reconhecida como tal; jazigos de grande valor artístico sem os
cuidados devidos; portão e muro originais sem manutenção.
Como pontos altos, foi identificado um espaço rico em referências históricas,
sociais e culturais; 44 jazigos com características artísticas de destaque, 9 de
33
interesse cultural, apenas entre os túmulos inventariados; arte tumular é rica e variada,
inclui obras de marmoristas conhecidos na região e no Estado do Rio Grande do Sul,
como o pelotense Ângelo Giusti e o genovês Achille Canessa. Há facilidade de acesso
ao poder público para a proposição de ações; possibilidade de desenvolver um
trabalho de sensibilização e reconhecimento da importância do espaço sem muito
custo; dedicação e zelo dos servidores que atuam diretamente no espaço; presença
de Universidades na região, que podem atuar em parceria com o Poder Público em
prol da implementação de ações de cunho patrimonial e turístico.
Importante destacar o jazigo do líder federalista Gumercindo Saraiva, figura que
desperta o interesse não só local, como também no Rio Grande do Sul e Uruguai.
Uma relevante parcela dos entrevistados fez referência a Gumercindo Saraiva, o que
nos aponta para a relevância desta figura para a comunidade.
A visitação ao Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar está vinculada à
afetividade e a eventos sociais: finados, aniversários, enterramentos, no entanto, a
visitação turística proporcionou aos sujeitos pesquisados o surgimento de um novo
olhar sobre o cemitério e uma oportunidade para reflexão sobre a cultura, história e
sociedade, bem como sobre a vida e a morte. Houve uma percepção da importância
de um roteiro como o proposto para levar conhecimento da história do município à
comunidade, bem como para valorização e reconhecimento de um conjunto artístico
que pode ser patrimonializado. Em relação ao uso turístico do espaço não há
restrições, muito pelo contrário, apesar de haver um preconceito sobre este tipo de
passeio: há uma visão positiva da presença de turistas no espaço cemiterial. A
curiosidade sobre o turismo no cemitério e sobre as características do espaço é um
motivador. Alguns entrevistados informaram que, quando em suas visitas habituais,
costumam observar aspectos históricos relacionados aos jazigos. A maioria já tinha
ouvido falar em turismo cemiterial e acreditam que o Cemitério Civil de Santa Vitória
tem potencial para tornar-se um atrativo turístico. Os agentes públicos, por sua vez, à
parte de sua relação social com o Cemitério, só preocupam-se com o mesmo na
medida de sua funcionalidade e no atendimento às necessidades da comunidade.
34
A visitação despertou a afetividade e a sensibilidade dos visitantes. Os
resultados coletados, apesar de restritos, apontam para a efetividade do despertar de
um olhar diferenciado a partir da visitação mediada pelo processo de interpretação.
Como exemplo disso, é muito ilustrativo este trecho da entrevista da de uma
professora que realizou a vista no dia 20 de novembro de 2013:
Este aprendizado, mas claro, tem que ter todo um conhecimento, se não tem
um guia, alguém que te diga, olha, só este nome, não tem sobrenome, não
tem data de nascimento, não tem, mas existiu. Quem era? Existiu essa
pessoa 7 . [...] Eu acho que há todos os aspectos ali, é o cultural, é o
econômico, é o social, tudo está posto ali. Mas a gente tem que despertar
este olhar pra conseguir enxergar essas marcas deixadas ali. Tem este
“despertamento”, este chamamento, esta... levantar nossa curiosidade tu
sozinho não consegue, tu vai entrar lá no Cemitério e sempre com aquela
posição de dor, de sofrimento, e querer sair o mais rápido possível, porque é
desconfortável, tu sais da tua zona de conforto, porque tu começa a pensar:
daqui a pouco serei eu, não é? Se força a pensar na morte.
Em geral, a receptividade dos membros do poder público sobre o tema foi muito
boa, apontando para a possibilidade de proposição de ações vinculadas ao cemitério.
Em relação às visitas, foi difícil captar visitantes, porém os resultados após a visitação
apontam para a possibilidade de dar sequência a este tipo de ação. Entendo que a
dificuldade na captação dos visitantes tenha origem, em parte, no preconceito com a
morte e com o Cemitério, visto como um lugar de tristeza, de morbidez.
Foi possível concluir, então, que em relação aos aspectos artísticos, culturais e
históricos, há potencialidade para uso turístico do espaço e que há aceitação por parte
da comunidade para esta abordagem. É necessário, no entanto, que se aprofunde o
trabalho de realização de visitação pelos residentes, visando sua aproximação a este
espaço de memória, porém com uma motivação diversa da corriqueira, tendo em vista
que os resultados coletados indicam o surgimento de um novo olhar a partir da
visitação mediada pelo processo de interpretação. É preciso desenvolver estratégias
7Referência ao jazigo de Rosalina, parte do roteiro proposto e em cuja lápide não aparece nem
sobrenome nem data de nascimento ou morte.
35
para atrair o visitante, quebrando o preconceito existente em relação ao cemitério,
vinculado a esta ideia de lugar de tristeza, de morte.
Outra ação necessária é a regulamentação do uso do espaço, que depende de
ato do poder executivo. A elaboração deste ato poderia iniciar-se a partir de
discussões com a comunidade e poderia incluir estratégias para preservação das
características da zona mais antiga e dos mausoléus aí localizados. Mas, quer seja
um ato criado de forma participativa e democrática, ou um ato unilateral, é necessário
que inclua instrumentos que possibilitem a salvaguarda dos elementos artísticos e
históricos presentes no Cemitério Civil.
Este trabalho tem sua relevância ancorada na importância do espaço cemiterial
para a memória afetiva e histórica da comunidade. Além disso, amplia a produção
teórica sobre estudos cemiteriais, mais especificamente os relacionados aos
cemitérios da região sul do Rio Grande do Sul, e pontualmente, sobre o Cemitério Civil
de Santa Vitória do Palmar, acerca do qual não há quase nenhuma produção
acadêmica. Apesar de restritos, os dados coletados junto à comunidade apontam para
a possibilidade e necessidade de aprofundamento das pesquisas e viabilidade de
pensar-se no uso da visitação regular ao Cemitério local como forma de
reconhecimento, valorização e salvaguarda do patrimônio ali existente, como
instrumento para o desenvolvimento de turismo-cidadão no Município e para a futura
transformação do espaço em um efetivo atrativo turístico.
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38
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TURISMO CULTURAL: REFLETINDO CAMINHOS PARA O ENSINO DA
HISTÓRIA LOCAL
39
RAMOS, Érica Souza8
Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de buscar elementos do turismo para o ensino da história local. O estudo caracteriza-se por ser um levantamento bibliográfico, que busca reflexões teóricas a cerca do tema. Para isso buscou-se a interdisciplinaridade entre turismo cultural, história e ensino de história. Salienta-se que não se tem a intenção de esgotar o assunto, mas de contribuir para futuras investigações. Observa-se que o turismo cultural pode aparecer no ensino de história
como um instrumento pedagógico que permite a contextualização do conteúdo.
Palavras-chave: Turismo cultural; História local; Ensino.
1 INTRODUÇÃO
Ao falar sobre Turismo, logo se pensa na análise interdisciplinar que esta
atividade permite ao pesquisador social, Turismo e Sociologia, Turismo e Meio
Ambiente, Turismo e Direito, Turismo e Economia, Turismo e Geografia entre outras
possibilidades. A relação entre o Turismo cultural e o ensino de História, neste artigo
será dada atenção especial. Pois a História quanto ciência que permite o estudo das
representações do passado e da suas projeções no presente e no futuro, alimenta a
atividade turística.
O saber histórico permite a compreensão de questões sociais, a partir de
hipóteses sobre o passado, portanto,
O historiador, a partir de seu lugar social, sensibiliza-se por um objeto do
passado e, através de fontes documentais de variada espécie, busca
apreender esse objeto e construir, a partir de sua apreensão, uma
8Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG (2014). Mestranda no Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em História – PPGH, pela FURG.
40
interpretação desveladora de acontecimentos, de ações humanas, enfim, de
culturas passadas. (MENESES, 2006, p.41).
O turismólogo vai se dedicar ao planejamento, interpretação e desenvolvimento
do turismo, neste caso para o desenvolvimento do turismo cultural, o profissional,
[...] tem sua base fundamental na interpretação de manifestações culturais
que ele apreende, inventaria, documenta e transforma em atrativo para
pessoas que buscam conhecer o outro e transformar este conhecimento em
momento de abstração e fruição prazerosa. (MENESES, 2006, p.42).
Os profissionais de turismo muitas vezes se apóiam em interpretações
históricas para constituir atrativos históricos e culturais. Sendo assim ambos
profissionais lidam com a interpretação de culturas, os historiadores as transformam
em um texto interpretativo, e os turismólogos em um plano de exploração turística.
Meneses (2006) salienta que, as utilização partilhada entre estes dois profissionais é
de significativa importância, pois, “ A produção de um serve a outro ou a interpretação
pode ser feita de forma interdisciplinar.” (p.42).
Desta forma se o esforço de um profissional serve ao outro, por que não
também servir ao ensino, neste caso ao ensino da história local. Assim este trabalhose
origina com o intuito de estabelecer uma linha tênue entre o Turismo Cultural e o
Ensino de História local. Através da discussão teórica, buscar elementos do
turismocultural para o ensino da história local.
Esta pesquisa é de relevância à medida que o ensino da história local ainda
hoje não tenha seu “lugar” definido na historiografia da história, por muito tempo a
história como disciplina ficou abarcada de grandes fatos e heróis. Além disso, nos
livros didáticos a história local não esta presente o que faz com que o professor tenha
que recorrer a outros suportes pedagógicos. O turismo neste sentido se mostra uma
importante ferramenta pedagógica de multiplicação do olhar escolar para a histórica
local, associando-a a memória, identidade e história.
41
Ao estudar história, é um exercício que além do que simplesmente recordar o
passado, e sim a partir da reinterpretação do passado,
[...] dar sentido à vida pela compreensão de uma totalidade da qual fazemos
parte; dar sentido social primeiramente à pequena comunidade que nos
rodeia, depois à espécie humana como um todo e finalmente, num exercício
de imaginação, à coletividade dos seres racionais e livres do universo.
(BOSCHI, 2007, p. 24)
Para isso o turismo cultural se trabalhado nas escolas pode dar voz a história
local que cada vez esta mais próxima do presente vivido pelos professores e alunos.
Partindo de uma abordagem teórica sem a intenção de esgotar o assunto, mas de
contribuir para a produção cientifica sobre o tema, este estudo busca a
interdisciplinaridade entre turismo cultural e ensino de história local. Baseou-se no
levantamento bibliográfico, com o enfoque predominantemente qualitativo, na
tentativa desvendar quais as contribuições do turismo cultural para o ensino de história
local?
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
.
O fazer metodológico deste estudo se justifica por ser um estudo interdisciplinar
que se baseia em um levantamento bibliográfico, onde foram utilizados livros e artigos
científicos nacionais do campo da história, ensino de história e turismo para
contextualizar o tema e permitir uma reflexão a partir da abordagem teórica. Para
Dencker (1998), a pesquisa bibliográfica é aquela que é “Desenvolvida a partir de
material já elaborado: livros e artigos científicos. [..] A pesquisa bibliográfica permite
grau de amplitude maior, economia de tempo e possibilita levantamentos de dados
históricos.” (p, 152).
42
Tendo como premissa buscar elementos do turismo para o ensino de história local.
Buscou-se entre as publicações dos pares da área do turismo e da história uma
comunicação teórica, a fim de realizar uma análise reflexiva e compreender as
problemáticas que envolvem o ensino e aprendizagem de história, tendo como tema
transversal o turismo cultural.
3. TURISMO CULTURAL ALGUMAS REFLEXÕES TEÓRICAS
O turismo é um fenômeno que envolve o deslocamento para um determinado
destino e a permanência no mesmo o que implica uma série de contatos sociais. Neste
movimento umas séries de atores sociais fazem parte deste processo, os turistas, a
comunidade receptora/local, o poder público e as empresas turísticas. Marco Aurélio
Avila (2009) destaca que, o fenômeno turístico é:
[...] complexo, com múltiplas facetas que envolvem aspectos econômicos,
socioculturais e ambientais, sendo uma atividade capaz de oportunizar
conhecimento, sensibilidade, percepção social, contato com pessoas e várias
culturas e que paradoxalmente, possui alto potencial em impactar
negativamente sobre as comunidades anfitriãs. (AVILA, 2009, p.19)
Mario Carlos Beni (2003) apresenta a dificuldade de se conceituar turismo
tendo em vista os mais diversos aspectos da atividade, para o autor turismo pode ser
conceituado como,
[...] um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar, onde,
como e a que preço. Nesse processo intervêm inúmeros fatores de realização
pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural, ecológica e
científica que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os meios de
transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si para a
43
fruição tanto material como subjetiva dos conteúdos de sonhos, desejos, de
imaginação projetiva, de enriquecimento existencial histórico-humanístico,
profissional, e de expansão de negócios. (BENI, 2003, p.37)
Pode-se constatar que nesta conceituação de turismo, a pesar da dificuldade
de conceituação apresentada, salienta-se mais as necessidades do turista, e a
formação de um sistema turístico em torno dos deslocamentos, e das motivações dos
turistas, o autor apresenta uma visão sistêmica do turismo.
Reinaldo Dias (2008) apresenta o seu ponto de vista social do fenômeno
turístico,
[...] o turismo tem importante papel socializador, pois permite o encontro entre
pessoas de diferentes culturas; favorece a sociabilidade das pessoas que se
encontram nas viagens numa condição psicológica altamente favorável a
novos contatos sociais; contribui para o entendimento entre populações de
diferentes regiões num mesmo país; incentiva a adoção de novos valores
que, gradativamente, vão tornando-se universais; diminui as distâncias
étnicas, permitindo maior conhecimento dos outros e de seus costumes.
(p.30).
Atualmente, a atividade turística, se segmenta de acordo com os fatores
motivacionais e potencialidades do mercado. O segmento conhecido por Turismo
Cultural é tão complexo de definir quanto o fenômeno turismo, pois, está presente “em
toda prática turística que envolva a apreciação ou a vivência de qualquer tipo de
manifestação cultural, seja tangível, seja intangível, mesmo que esta não seja a
atividade principal praticada pelo viajante no destino.” (DIAS, 2006, p. 40).
Pode-se considerar então que nas mais diversas segmentações que o sistema
turístico abrange, o turismo cultural está presente. Para BENI (2003) turismo cultural,
Refere-se à afluência de turistas a núcleos receptores que oferecem como produto essencial o legado histórico do homem em distintas épocas, representando a partir do patrimônio e do acervo cultural, encontrado nas ruínas, nos monumentos, nos museus e nas obras de arte. (p.431)
44
Esta segmentação da atividade turística consome de certa forma o patrimônio
histórico e os bens culturais de determinado país, região, cidade e de uma
comunidade. Para MENESES (2006),
A atividade turística assim permanece por muito tempo, e hoje, a despeito de uma setorização maior e mais ampliada, o atrativo artístico-histórico-cultural é, ainda substrato essencial do setor turístico. (p.39)
Deste modo percebe-se quanto são importantes para o turismo os bens
culturais, legados e patrimônios históricos. Desta forma é necessária a conservação
destes, além disso, as práticas turísticas devem estar voltadas para a valorização e
preservação das culturas. Levando em conta o fator educacional que o fenômeno
turístico tem intrinsecamente, o turismo de cunho cultural, assume, ou tem que
assumir, este caráter educacional, não só em relação aos turistas, mas principalmente
para a população local. Pois muitas vezes a própria comunidade desconhece seus
bens culturais, suas raízes e suas tradições.
Neste sentido deve-se levar em conta o olhar da comunidade local para seus
bens culturais, que muitas vezes acabam sendo distorcidos. Tem-se então a
importância da Educação Patrimonial ser trabalhada nas escolas, e que também pode
ser trabalhada por meio do turismo cultural. Permitindo que a comunidade local, antes
dos turistas, conheça, compreenda, valorize e sirva de guardiã de seu patrimônio
cultural. Wenceslau e Oliveira afirmam que,
Para isso, são necessários pesados investimentos em Educação Patrimonial,
com políticas públicas sérias que viabilizem a inserção dessa proposta nos
currículos das escolas de ensino fundamental e médio e também programas
pedagógicos, em que todos os níveis sociais e econômicos da população
possam discutir aprender, valorizar e preservar o patrimônio, levando-os a
um processo ativo do conhecimento. Apenas após essas medidas de
“alfabetização cultural” é que a comunidade passará a valorizar e preservar
seu patrimônio. (WENCESLAU; OLIVEIRA, 2007, p.24)
45
Acredita-se que ao utilizar o turismo cultural como instrumento pedagógico, é
possível desenvolver no aluno a compreensão de seu patrimônio cultural com vistas
à democratização cultural. No caso do Brasil, a preservação do patrimônio cultural,
sempre esteve muito ligada às classes dominantes. Pedro Paulo Funari e Raquel dos
Santos Funari lembram que,
O resultado de uma sociedade baseada na escravidão é que, desde o inicio,
houve sempre dois grupos de pessoas no país: os poderosos, com sua
cultura material esplendorosa, cuja memória e monumentos são dignos de
reverencia e preservação, e os vestígios esquálidos dos subalternos, dignos
de desdém e desprezo. (FUNARI; FUNARI, 2007, p.16)
Portanto as memórias dos “dominados” eventualmente são lembradas nos
materiais didáticos e no currículo escolar. Observa-se que a memória coletiva é um
importante meio para a formação, compreensão cognitiva e afetiva da identidade
cultural nos alunos. Permitindo associar o conhecimento prévio do aluno com o saber
histórico. Portanto a relação entre a memória e o patrimônio, os lugares de memórias.
Pierre Nora apresenta que “Há locais de memória porque não há mais meios de
memória.” (NORA, 1993, p, 07) Estes espaços entre suas dialéticas, representam um
elo do passado com o presente. Tendo em vista a compreensão dos valores dados a
determinados bens culturais.
O valor simbólico que atribuímos aos objetos ou artefatos é decorrente da
importância que lhes atribui a memória coletiva. E é esta memória que nos
impele a desvendar seu significado histórico-social, refazendo o passado em
relação ao presente, e a inventar o patrimônio dentro dos limites possíveis,
estabelecidos pelo conhecimento. (CAMARGO, 2002, p.31).
Sabe-se que o turismo cada vez mais valoriza as tradições, o modo de viver
tradicional. “Alguns lugares improváveis tornaram-se centros de atração turística,
baseados na tradição” (URRY, 2001, p.144). Criam-se grandes centros de tradições,
46
que são de uma significativa atratividade, mas que tradições são estas? São as
tradições que as comunidades continuam a viver em seu presente? Elas representam
a história e realidade das populações locais? Estas são problemáticas que surgem, e
podem ser abordadas em sala de aula após as saídas, instigando os alunos a uma
visão critica sobre seu universo.
Pois se sabe que em alguns casos espaços citadinos acabam perdendo
vínculos com o passado e se distanciando da identidade cultural da população, ou se
modificando, o que é um processo normal, para tanto:
Algumas cidades, assim como alguns bairros, resistem a isso, ajudados por
sua dimensão, sua morfologia, suas atividades, pela força de suas tradições,
pela simples riqueza que possuem ou pela sabedoria de suas autoridades.
Outras começam a se assemelhar tanto entre si que os turistas e empresas
multinacionais nelas se sentem em casa. (CHOAY, 2006, p.227).
Desta forma, é de relevância que se trabalhe com a memória coletiva dos
indivíduos, para que certos acontecimentos do passado façam sentido no presente.
Nesta perspectiva o turismo aparece como um instrumento que permite associar estas
problemáticas ao sair do espaço escolar. Como afirma Bonfim (2010), ao relacionar o
turismo com a educação, o turismo pedagógico aparece no ensino como uma
proposta interdisciplinar:
Vale destacar que o objetivo maior quando se realiza a atividade de turismo
pedagógico não é o lazer simplesmente, mesmo que em alguns momentos
sejam desenvolvidas ações compreendidas como de lazer. É a possibilidade
de promover o desenvolvimento social, crítico e educativo que se justifica a
utilização do turismo, enquanto atividade de lazer que serve ao ensino.
Portanto, percebe-se uma nova concepção da atividade, uma vez que o
espaço turístico se transforma em um espaço de educação extraclasse,
contribuindo para auxiliar o processo de aprendizagem com uma nova prática
pedagógica. (BOMFIM, 2010, p.123)
47
Neste sentido, o turismo como prática para o ensino de história vem para colaborar
no que tange a compreensão do que foi aprendido em sala a partir da vivência em
espaços extra-classe, neste momento o espaço turístico se transforma em uma
extensão da sala de aula. Procurando estabelecer vínculos com passado trazendo
estes valores para o presente. Buscam-se novas práticas pedagógicas, para a fruição
do ensino e aprendizagem prazerosa entre professores e alunos. “Afinal, se o
professor é o elemento que estabelece a intermediação entre patrimônio cultural da
humanidade e a cultura do educando é necessário que ele conheça, da melhor forma
possível, tanto um quanto outro.” (PINSKY; PINSKY, 2010, p. 23).
É evidente que o professor deve se preparar, e ter em vista que está diante de um
grande público onde deve transmitir o conteúdo de forma que estes sejam
compreendidos e associados às mais diversas realidades existentes em uma sala de
aula. O docente “Ao ensinar uma disciplina, ele não está ensinando somente
determinados conteúdos, mas está ensinando modos de ser e estar no mundo,
atitudes em relação à realidade e à convivência social.” (VERDUM, 2013, p. 95). O
professor neste sentido deve estar ciente do seu papel disseminador de
conhecimentos e de sua responsabilidade social.
3.1 CONTEXTUALIZANDO O ENSINO DE HISTÓRIA
No Brasil, o ensino de história começa a ser desenvolvido no século XIX, baseado
em uma formação curricular européia e tendo como eixo central a formação da
identidade nacional, no período pós-independência. Apesar das significativas
mudanças no ensino, ainda é possível perceber os resquícios desta matriz
eurocêntrica no currículo escolar, “orientado por uma política nacionalista e
desenvolvimentista.” (BRASIL, 1998, p.19) A história vista como uma disciplina no
currículo escolar foi introduzida com base nos moldes franceses, glorificando os
grandes personagens da história. Então:
48
AHistória como área escolar obrigatória surgiu com a criação do Colégio
Pedro II, em 1837, dentro de um programa inspirado no modelo francês.
Predominavam os estudos literários voltados para um ensino clássico e
humanístico e destinados à formação de cidadãos proprietários e escravistas.
(BRASIL, 1998, p.19)
Observa-se que o ensino, o conteúdo, estavam voltados para as camadas mais
favorecidas. O que ainda na atualidade percebe-se reflexos destas linhas de
pensamentos. Normalmente é por interesses políticos ideológicos que o ensino de
história sofre mudanças referentes ao seu currículo escolar, não só na área da história
isto acontece. Neste intento vale ressaltar que na América Latina a história se
preocupou em forjar as identidades nacionais dos estados. Conceição e Dias elucidam
que:
Sabe-se que a instituição escolar estruturou tradicionalmente o ensino de
História com base na matriz nacionalista do século XIX, cujo objetivo era
formar ‘brasileiros’, ‘argentinos’ ou ‘chilenos’ para a nova sociedade nacional
que estava forjando os Estados modernos. Apesar de todas as mudanças
sofridas pela disciplina ao longo do tempo, o ensino de História permanece
como o espaço no qual as sociedades disputam as memórias possíveis sobre
si mesmas e projetam futuros coletivos.(CONCEIÇÃO; DIAS, 2011, p. 1740)
O que no Brasil não foi diferente, e é possível perceber que traços desta
linguagem histórica ainda estão arraigados no ensino escolar. No período que
compreende a ditadura militar no Brasil, o ensino de história também acaba sendo
sufocado pelos interesses políticos, deste modo,
O ensino de Historia na educação básica brasileira foi objeto de intenso
debate, lutas políticas e teóricas no contexto de resistências a política
educacional da ditadura civil-militar brasileira (1964-1984). Isso significou
refletir sobre o estado do conhecimento histórico e do debate pedagógico,
bem como combater a disciplina “Estudos Sociais” e a desvalorização da
49
Historia, os currículos fragmentados, a formação de professores em
Licenciaturas Curtas e os conteúdos dos livros didáticos difundidos naquele
momento, processo articulado às lutas contra as políticas de precarização da
profissão docente. (SILVA; FONSECA, 2010, p.13)
Neste sentido, as práticas de ensino de história e os conteúdos programáticos
sofrem mudanças. No que se refere à história local, pesquisadores e estudiosos
reúnem esforços, no percurso do tempo, para que o ensino de história não fique
centrado na mentalidade eurocêntrica e sim consiga realizar os mecanismos de
ensino e aprendizagens condizentes com a realidade dos alunos, além disso, é
essencial que estes sintam-se sujeitos formadores da história, de sua própria história.
Novos campos dentro da história permitem a descentralização do olhar da história
oficial, assim:
Os historiadores transitam em torno da Nova, da Nova História Cultural (na
qual a micro-história se insere enquanto prática) e pensadores da pós-
modernidade, ao questionarem os limites epistemológicos do iluminismo e
valorizaram interpretações que incorporam parâmetros retirados da
hermenêutica, são responsáveis, em muito, por alguns princípios que
norteiam as novas abordagens da história local. (FAGUNDES, 2006, p.93)
A história local no sistema de ensino é um conteúdo jovem no currículo escolar,
talvez por conta disso careça de materiais e procedimentos metodológicos para que
seja ensinado e apreendido em sala da aula de forma concisa.
No final da década de 1990 o interesse pela História Local no ensino cresceu
sob influência dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborado pelo
Ministério da Educação. A diretriz nacional curricular toma a História Local
como um dos eixos temáticos dos conteúdos nos anos iniciais do ensino
fundamental e como metodologia de ensino nos outros anos da escola
básica. (GERMINARI, 2014, p. 357)
50
O ensino de história no Brasil recai ao descuido de ser relacionado a uma
matéria maçante, com referente acúmulo de informações e memorizações, o que
torna o conhecimento superficial, e desconecto com a realidade do aluno. “A equação
entre a necessidade de rigor e de boa comunicação desafia os professores na busca
de estratégias para propiciar a aprendizagem da história.” (ROCHA, 2014, p. 49)
Neste sentido, a história local permite que se use outros recursos além do livro
didático, permite a conexão do passado com as vivências diárias e a formação de um
aluno cidadão, consciente de seus deveres e direitos enquanto sujeito de sua história
local.
Para tanto, “A opção pela História Local tem como proposta desenvolver a
noção de pertencimento do aluno a um determinado grupo social e cultural, por meio,
do estudo da diversidade dos modos de viver no presente e no passado da localidade.”
(GERMINARI, 2014, p. 357). A história local não deve seguir a dinâmica da história
nacional, em que “A parte relevante desse conteúdo é apresentada sob a forma de
culto aos sujeitos históricos, de glorificação dos atos individuais, portanto, uma história
personalista que enfatiza determinadas datas, personalidades e fatos isolados de
patriotismo.” (BARBOSA, 2006 p.58).
A partir das quebras de paradigmas dentro das correntes históricas, é possível
se pensar em ensinar a história local associando-a ao ensino e aprendizagem com a
história vivida, relacionando ao cotidiano e às vivências presentes com o passado.
Todavia os lugares de memória podem servir como meio para manter um diálogo entre
o vivido e o ensinado, permitindo assim a compreensão do mundo a sua volta, tanto
aos alunos quanto aos professores, tendo como base as vivências cotidianas e as
memórias, na construção cognitiva do conhecimento crítico.
Ao buscar a aproximação do ensino de história com o lugar, ou melhor com os
lugares de memória, recorre-se as contribuições dos estudos de Maurice Halbwacs
para a compreensão acerca memória coletiva, o autor elucida que para a construção
de uma memória coletiva, “Não é suficiente reconstituir peça por peça a imagem de
um acontecimento do passado para se obter uma lembrança.” (HALBWACS, 1990,
p.22). É relevante que se trace uma lembrança comum entre os indivíduos,
51
É necessário que esta reconstrução se opere a partir de dados ou de noções
comuns que se encontram tanto no nosso espírito como no dos outros,
porque elas passam incessantemente desses para aquele e reciprocamente,
o que só é possível se fizeram e continuam a fazer parte de uma mesma
sociedade. (HALBWACS, 1990, p.22)
Os lugares de memória propiciam a relação intangível entre os homens e os
espaços materiais. No ensino de história esta relação entre memória e espaço é de
suma importância na tentativa esclarecer as versões do passado no presente. Para
Jacques Le Goff,
A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos
em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o
homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele
representa como passadas. (LE GOFF, 1990, p.424).
Neste sentido percebe-se o caráter flexível da memória, pois enquanto a
representamos como impressões e informações passadas, realiza-se escolhas do que
lembrar e o que esquecer.
A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela
está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do
esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a
todos os usos e manipulações, suceptível de longas latências e de repentinas
revitalizações. (NORA, 1993, p. 09).
Para isso Le Goff (1990) alerta que a memória deve servir para libertar os
homens e não para escravizá-los. Neste intento as aulas de história, devem
estabelecer um dialogo entre memória e história, rompendo as fronteira entre estes
52
dois campos e partindo do pressuposto, de que o espaço escolar se constitui como
um lugar formador de possíveis memórias e identidades.
Para isso, “O passado deve ser interrogado a partir de questões que nos
inquietam no presente (caso contrário, estudá-lo fica sem sentido). Portanto, as aulas
de História serão muito melhores se conseguirem estabelecer um duplo compromisso:
com o passado e o presente.” (PINSKY; PINSKY, 2010, p.23).
Contudo, no mundo globalizado, é indispensável que seja possível buscar interações
e sinergias entre as diferentes disciplinas, aproximando o conteúdo da prática,
buscando novas formas educativas que possam ser desenvolvidas dentro e fora da
escola, propiciando a aprendizagem e a sociabilização do conteúdo.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO REFLEXÕES
Através do possível dialogo teórico entre o turismo cultural e o ensino de
histórica local pode-se perceber que os elementos que tentou-se trazer a tona
para o ensino de história se inter-relacionam. Neste sentido assim como os
historiadores contribuem para a produção dos turismólogos, o resultados
destes esforços podem ser aplicados ao ensino de história local.
Na linha tênue que se estabeleceu entre o turismo cultural e o ensino de
historia, salienta-se que a memória coletiva e identidade são elementos que
aparecem durante este estudo, é conveniente destacar que tanto no ensino de
história estes temas são trabalhados como para atividade turística. Então se
forem trabalhados em conjunto, turismo e ensino, a sensibilização turística pode
aparecer em consonância contribuindo para aguçar o olhar critico do educando.
É neste viés que sente-se a necessidade a partir desta reflexão teorica,
para em pesquisas futuras, tentar-se investigar e dar voz aos professores, para
diagnosticar o que estes atores pensam sobre adotar o turismo cultural como
instrumento pedagógico, ademais perceber quais suas limitações e anseios.
53
Para que seja possível cruzar as reflexões teóricas com a prática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que o turismo cultural no seu caráter mais amplo como
segmentação turística ao evidenciar o patrimônio cultural e histórico como seu
principal produto já exerce um papel fundamental para a educação, pois, quando um
turista se desloca para certo destino a fim de conhecer suas histórias e memórias ele
esta aprendendo sobre determinado contexto histórico, ou não. Deve-se estar atento
que nem todos os atrativos são a verdadeira realidade, muitos acabam sendo
transformados em simulacros para turista ver.
Neste intento percebe-se que o turismo cultural pode servir como instrumento
facilitador de ensino, por uma história mais prazerosa e lúdica nas escolas. O turismo
cultural, neste trabalho é visto como forma de contextualizar o conteúdo, que permite
ao aluno criar seu próprio discurso acerca dos patrimônios culturais que são
elementos da história da cidade, além de valorizar o patrimônio cultural local.
O turismo cultural auxilia na percepção e a aguça o olhar crítico dos alunos
contribuindo para o ensino não só da história local, mas para a valorização e
preservação dos bens culturais, as questões relacionadas como a educação
ambiental e patrimonial, geografia e artes também podem ser desenvolvidas e
discutidas.
Abordar o turismo sob a óptica cultural é tarefa que vai além da preocupação
em se efetivar o seu entendimento, mas também de dialogar com outras
áreas tradicionais do conhecimento, como a História, Geografia, Artes,
Ciências, Biologia e outras, ampliando a percepção de mundo dos educandos
e oferecendo novos conhecimentos a serem agregados em sua formação
básica. (FONSECA FILHO, 2007, p. 07)
A introdução do turismo cultural como prática pedagógica, nas escolas é uma
via de mão dupla visto que é de relevância tanto para auxiliar as professoras na busca
de novas práticas educacionais como também para o turismo. Pois a partir deste
54
trabalho na escola com vistas a favorecer o fomento do desenvolvimento turístico
sustentável pretende-se difundir um conjunto de conhecimentos e valores nos
indivíduos, a partir da sensibilização turística.
Ai esta a importância de se trabalhar o turismo cultural nas escolas para que a
comunidade esteja consciente do seu papel de sujeito histórico dentro deste processo.
Pois, “O passado fornece elementos para compreendermos o presente.” (BOSCHI,
2007, p.10). É neste sentido que se vê no turismo cultural a potencialidade de ser um
instrumento de ensino e aprendizagem para o ensino de história local e possibilitando
a comunicação dos conhecimentos com outras disciplinas.
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57
UTILIZAÇÃO DOS LIVROS DIDÁTICOS “SOMOS! PATRIMÔNIO CULTURAL DE
PELOTAS” E “PELOTAS UMA HISTÓRIA CULTURAL”, NAS ESCOLAS
MUNICIPAIS
MACEDO, Maibi da Silva9
HALLAL, Dalila Rosa10
9Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas.. 10Professora no Curso de Turismo, Faculdade de Administração e de Turismo, Universidade Federal de Pelotas.
58
Resumo: Este trabalho teve como objetivo analisar a utilização dos livros didáticos
“Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” e “Pelotas uma História Cultural” nas escolas
municipais da cidade. Inicialmente apresentamos algumas considerações sobre
Educação Patrimonial e suas práticas. Na perspectiva do trabalho a Educação
Patrimonial deve considerar que a preservação dos bens culturais deve ser
compreendida como prática social, inserida nos contextos culturais, nos espaços da
vida das pessoas. Os dados foram coletados através de entrevistas com os
coordenadores pedagógicos e professores das escolas. Foi possível identificar a
pouca frequência no uso do livro didático nas escolas e a não utilização destes
materiais como apoio as atividades de educação patrimonial.
Palavras-chave: Educação Patrimonial; Livros didáticos; Pelotas.
1 INTRODUÇÃO
A educação é fator fundamental na formação dos indivíduos. Através dela são
forjadas competências e aptidões para o desenvolvimento e crescimento pessoal de
cada um, portanto, é preciso constante aperfeiçoamento dos sistemas educativos para
que se adéquem as novas necessidades e para que o aprendizado possa ser
contínuo. Porém, a formação dos cidadãos ultrapassa as barreiras do ambiente
escolar levando em consideração os aspectos sociais, políticos e econômicos ao qual
está inserido. (DELORS, 2010)
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN
(2014, p.29), “o processo educacional é muito mais amplo que a escolarização, não
se restringe ao ambiente escolar pelo contrário insere-se e apropria-se dos aspectos
culturais, reconhecendo a contribuição de outros agentes educativos”. Nesse sentido,
a educação patrimonial é considerada um instrumento capaz de diminuir a distância
entre a educação escolar e o cotidiano dos alunos, pois, utiliza como elemento
fundamental a compreensão do patrimônio cultural afim de valorizar a diversidade
59
cultural, a identidade local e principalmente despertar nos indivíduos o sentimento de
pertencimento e reconhecimento do patrimônio que os cerca. (IPHAN, 2014).
Conforme Santos (2007, p. 01), “despertar a comunidade escolar para a
utilização do patrimônio local como ponto de partida no processo ensino-
aprendizagem implicará no fortalecimento da identidade cultural”, bem como na
formação de indivíduos que de fato compreendam o significado da palavra cidadania,
e consequentemente se tornem mais críticos em relação à sociedade a qual estão
inseridos. Conforme Ferreira (2013), “ao propor o trabalho com a história local e o
patrimônio dentro do espaço escolar é indispensável lembrar a necessidade e a
importância de elementos mediadores no processo de ensino e aprendizagem. Um
desses elementos é o livro didático”. (FERREIRA, 2013, p.11)
Assim como em diversas localidades, em Pelotas, no estado do Rio Grande
do Sul, algumas ações estão sendo desenvolvidas com o intuito de dar mais subsidio
aos professores para que abordem a temática do patrimônio em sala de aula.
No ano de 2009, foram elaborados em Pelotas dois livros didáticos sobre
Educação Patrimonial intitulados: “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” para séries
iniciais, e “Pelotas uma História Cultural” para séries avançadas. Estes livros foram
produzidos no contexto de Cooperação entre a Organização das Nações Unidas para
a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) e Programa Monumenta do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) do Ministério da Cultura, e em
Pelotas ficou sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura (Secult) e da
Secretaria de Municipal de Educação e Desporto (SMED), estes livros tinham como
objetivos principais contar a história do município por meio de seus patrimônios,
mostrar as potencialidades da cidade e paralelo a isso remeter à cidadania.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS, 2009)
Este artigo tem como objetivo analisar a utilização dos livros didáticos “Somos!
Patrimônio Cultural de Pelotas” e “Pelotas uma História Cultural” nas escolas
Municipais de Pelotas.
A pesquisa tem caráter descritivo e qualitativo, segundo Gil (2008, p. 28)
“pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características
60
de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis”. Para Goldenberg (1997) “a pesquisa qualitativa caracteriza-se por não se
preocupar com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da
compreensão de um grupo social, de uma organização”. (GOLDENBERG, 1997, p.
34)
Os dados foram coletados por meio de entrevistas estruturadas, com roteiro
pré-estabelecido, com os coordenadores pedagógicos e professores de algumas
Escolas Municipais de Pelotas. As entrevistas ocorreram de 02 a 15 de junho de 2016,
com a devida autorização dos entrevistados foram gravadas e transcritas. Totalizando
vinte entrevistados, destes, onze eram coordenadores pedagógicos e nove
professores.
2. UTILIZAÇÃO DOS LIVROS DIDÁTICOS “SOMOS! PATRIMÔNIO CULTURAL DE
PELOTAS” E “PELOTAS UMA HISTÓRIA CULTURAL”, NAS ESCOLAS
MUNICIPAIS.
Quando se aborda o termo educação, a representação do senso comum que
surge é a da escola já que a mesma é o meio tradicional de ensino instituído e aceito
por todos, porém, a educação está presente em todas as ações e comportamentos
humanos, e pode ser adquirida de várias maneiras além do meio tradicional ao longo
do desenvolvimento pessoal de cada indivíduo (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO
PAULO - UNIFESP, 2010).
Existem diferentes concepções e abordagens educacionais, entre elas a
educação sociocultural difundida por Paulo Freire, que trabalha na perspectiva de que
61
o ser humano não pode ser compreendido fora de seu contexto, ou seja, cada sujeito
é responsável pela sua própria formação obtida a partir de suas vivências e reflexões
da realidade que o cerca. (FREIRE apud UNIFESP, 2010).
A partir desta abordagem, colocam-se no centro do processo ensino-
aprendizagem os contextos político, econômico, social e cultural onde ocorrem as
ações educativas, permitindo amplas possibilidades de reflexão e compreensão por
parte do indivíduo, sensibilizando-o como membro integrante dessa realidade e da
sociedade. (UNIFESP, 2010, p. 11). Partindo desta concepção é possível despertar o
sentimento de cidadania que segundo a Cartilha de Parâmetros Curriculares
Nacionais “deve ser compreendida como produto de histórias vividas pelos grupos
sociais, sendo, nesse processo, constituída por diferentes tipos de direitos e
instituições”. (BRASIL, 1997, p.19).
Nessa perspectiva, é possível identificar na Educação Patrimonial uma
possibilidade de potencializar tais objetivos, já que é definida como “um instrumento
de aprendizagem, que utiliza fatos, acontecimentos, objetos culturais, através da
interdisciplinaridade, com o objetivo de apreender o patrimônio de cada localidade e
valorizar a sua cultura” (SCHWANZ, 2006. p. 28).
Conforme Horta (1999. p.13), “a educação patrimonial é um processo
permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no patrimônio cultural
como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo”. A autora
ainda coloca que “a educação patrimonial consiste em provocar situações de
aprendizado sobre o processo cultural e seus produtos e manifestações, que
despertem nos alunos o interesse em resolver questões significativas para sua própria
vida pessoal e coletiva.” (HORTA, 1999. p.8)
No Brasil, a política de preservação do patrimônio histórico e artístico foi
instituída a partir de 1937 quando da criação do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (SPHAN), atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN). O projeto desenvolvido para a criação do SPHAN, já constituíra um conceito
de patrimônio cultural mais amplo, onde não somente as obras de arte e os
monumentos eram considerados patrimônio cultural, mas também o folclore, o
62
vocabulário, as lendas, a cultura indígena, as paisagens e outras manifestações.
(SCHWANZ, 2006).
Neste projeto do SPHAN, constavam também considerações sobre a prática
da Educação Patrimonial como uma estratégia para a proteção e preservação do
patrimônio, Mário de Andrade foi um dos incentivadores para a criação deste órgão e
desde o início apontava para a relevância do caráter pedagógico dos museus e das
imagens, a partir de então começaram as discussões, elaboração de conceitos e
metodologias de Educação Patrimonial, porém conceitos incipientes. (IPHAN, 2014).
A metodologia de educação patrimonial começou a ser difundida no Brasil em
meados da década de 1980, nesta época surgiram discussões conceituais e práticas
sobre o tema. Primeiramente foram elaborados programas didáticos nos museus onde
o objeto de estudo era o próprio museu, posteriormente estas práticas sofreram
alterações e atualmente se adequam às mais variadas manifestações culturais. É
deste período o Guia Básico de Educação Patrimonial elaborado pelo IPHAN em
parceria com o Museu Imperial que continua a ser referencia no assunto. (SCHWANZ,
2006).
O Guia Básico de Educação Patrimonial consiste em um documento que
apresenta metodologias que orientam a forma como o patrimônio deve ser vivenciado
por públicos de variadas faixas de idade, servindo de base para toda e qualquer
experimentação do patrimônio aliada à educação, tomando como conteúdos o
patrimônio cultural. (CHAVES, 2012)
Conforme Nuñez (2011), a educação patrimonial enquanto metodologia
representa uma preocupação com os procedimentos, ferramentas e caminhos com o
intuito de trabalhar a realidade cultural não apenas por meio da prática, mas também
através da teoria. Segundo a autora, todas as atividades cujo objeto seja o patrimônio
cultural, podem ser compreendidas como parte da educação patrimonial como
exemplos a autora cita: “Visitas guiadas (técnicas) a museus, teatros, igrejas, prédios
históricos; Passeios pela cidade - orientados; Atividades de Educação Ambiental;
Práticas de Turismo Cultural e Atividades que envolvam o ensino da História Local
(regional) e do Patrimônio Cultural em diferentes escalas”. (NUÑEZ, 2011. p. 26)
63
O processo educativo além de levar os alunos a utilizarem suas capacidades
intelectuais para a aquisição e uso de conceitos e habilidades, deve contribuir para a
formação de cidadãos conscientes e participativos das questões sociais do ambiente
em que vivem. (HORTA, 1999). Nessa perspectiva, a abordagem do patrimônio
cultural na escola por meio da educação patrimonial, constitui-se como um mecanismo
para o reconhecimento e valorização da identidade cultural local:
Trabalhar o Patrimônio Cultural nas escolas fortalece a relação das pessoas
com suas heranças culturais, estabelecendo um melhor relacionamento destas com
estes bens, percebendo sua responsabilidade pela valorização e preservação do
Patrimônio, fortalecendo a vivência real com a cidadania, num processo de inclusão
social. (MOARES, 2005. p. 02)
Segundo Cerqueira (2005), através da prática de educação patrimonial,
busca-se sensibilizar os indivíduos sobre a importância de preservar a sua memória,
gerar uma reflexão sobre as memórias dos diferentes grupos sociais, de modo que se
perceba que patrimônio não é somente o monumento edificado que representa
algumas elites, mas que patrimônio é todo o símbolo de memória coletiva.
(CERQUEIRA, 2005). A educação patrimonial deve despertar também o sentimento
de tolerância para com a diversidade cultural, pressupõe-se que a partir da valorização
da sua cultura o indivíduo passará a admirar e respeitar a cultura do outro. Conforme
a Declaração da UNESCO sobre a Diversidade Cultural:
A educação patrimonial, ao mesmo tempo em que deve estimular o
conhecimento e valorização dos testemunhos culturais e identitários das
comunidades locais, deve também encetar nelas o sentimento de tolerância
para a diversidade cultural, a sensibilidade para admirar a cultura dos outros
povos, de outras regiões e outras épocas, cujos registros culturais expressam
a riqueza da cultura humana. (DECLARAÇÃO DA UNESCO SOBRE A
DIVERSIDADE CULTURAL, apud CERQUEIRA, 2011, p.21)
O desenvolvimento da educação patrimonial na escola, conforme Cerqueira
(2011) tem ligação com a formação da cidadania, com o fortalecimento da identidade
64
cultural e desenvolvimento da criatividade e senso crítico dos alunos. A inserção da
educação patrimonial nos currículos escolares tem como base os Parâmetros
Curriculares Nacionais, tanto para o ensino de história como para a abordagem de
temas transversais. (MORAES, 2005)
Segundo Gomes et al (2012. p.89), aprender sobre o patrimônio local é “uma
tarefa a ser cumprida pela comunidade, através da escola, de atividades sócio-
culturais e também dentro da própria família, repassada de geração para geração”.
Nesse sentido, Cerqueira (2005. p.102), coloca que a partir da escola e da realidade
familiar é possível inverter a “realidade atual em que a maioria dos jovens das escolas
públicas não é capaz de situar a sua identidade cultural dentro do patrimônio público,
o que constitui uma forma de auto-exclusão cultural e identitária da cidadania e da
memória oficial”.
Moraes (2005), aponta que uma das dificuldades encontradas nas escolas
para a aplicação da metodologia de educação patrimonial é a dificuldade por parte
dos professores de pensar a interdisciplinaridade, conforme a autora isso se dá pela
própria formação compartimentada dos mesmos.
Segundo Nuñez (2011. p.12), para a apropriação do patrimônio cultural e de
todos os aspectos que o envolvem, através da educação patrimonial, nas escolas, é
fundamental que os professores tenham suporte teórico-metodológico e
conhecimento adequado sobre a temática, pois, “deverão promover estratégias de
inclusão social e, também, criar processos participativos de sensibilização dos
indivíduos para as questões culturais da sua realidade”.
Segundo Nuñez (2011), cabe ressaltar que a educação patrimonial vai além
da necessidade de preservação do patrimônio cultural, visa também à (re)apropriação
e consciente desses bens pela comunidade. Nesse sentido, a educação patrimonial
deve “orientar os indivíduos na reflexão de que o valor de um patrimônio cultural
consiste no valor que atribuímos a ele a partir do despertar de uma sensibilidade
possível através do conhecimento”. (NUÑEZ, 2011, p.29). Nesse sentido, a autora
coloca:
65
Antes de pensarmos a Educação Patrimonial como sinônimo de preservação,
devemos pensá-la enquanto um “mecanismo de conhecimento”, uma
“ferramenta” para a leitura dos símbolos culturais representadas através dos
patrimônios, ou seja, antes de se "levantar a bandeira da preservação", é
preciso estimular a reflexão sobre o porquê aquilo está sendo preservado,
pois, são os valores que atribuímos aos bens culturais que justificam ou não
a necessidade de preservá-los. (NUÑEZ, 2011, p.29)
A percepção do caráter pedagógico da educação patrimonial como visto
anteriormente, foi incitada por Mário de Andrade quando da criação do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional atual IPHAN, porém, foi só a partir da
ampliação do conceito de patrimônio através da Constituição Federal de 1988, a qual
instituiu aos órgãos públicos e a sociedade o dever de preservar o patrimônio cultural,
que a educação patrimonial passou a ser difundida como instrumento de valorização
e preservação pelo governo. (IPHAN, 2014). Segundo Chaves (2012, p.81), “o estado
passa a entender que a comunidade deve ser a melhor guardiã do patrimônio, embora
não o conheça, por isso não o preserva, necessitando ser educada para tal”.
A partir da constatação do caráter preservacionista e pedagógico da educação
patrimonial, foram desenvolvidas iniciativas com o intuito de conceituar e criar uma
metodologia de trabalho sobre a temática nos mais diversos meios, tais ações tiveram
como resultado o Guia Básico de Educação Patrimonial lançado no ano de 1999.
Desde a publicação deste livro que é considerado pioneiro na área, outros materiais
foram elaborados visando inserir a educação patrimonial tanto no sistema formal de
educação quanto informal. Tais iniciativas têm sido implementadas com o apoio do
IPHAN e dos demais órgãos públicos de preservação tanto estaduais quanto
municipais. (CHAVES, 2012).
Atualmente, uma das áreas de atuação do IPHAN é a de promoção do
Patrimônio Cultural, que desenvolve atividades de difusão, informação e editoração.
Estas ações visam promover e difundir o patrimônio cultural brasileiro, por meio da
aplicação da metodologia de educação patrimonial exercida como um processo
contínuo de envolvimento da comunidade. (TARGINO, 2007).
66
Nesse sentido, inúmeros materiais veem sendo produzidos, dentre eles os
livros didáticos que tem como foco a abordagem do patrimônio cultural por meio da
educação patrimonial no sistema formal de educação.
O autor define o livro didático como um artefato cultural:
O livro didático é um artefato cultural, isto é, suas condições sociais de
produção, circulação e recepção estão definidas com referência a práticas
sociais estabelecidas na sociedade. Enquanto tal, ele possui uma história que
não está desvinculada da própria história do ensino escolar, do
aperfeiçoamento das tecnologias de produção gráfica e dos padrões mais
gerais de comunicação na sociedade. (MARTINS, 2006 p.124).
Para Carvalho (2006), cabe ainda ressaltar que as finalidades do livro didático
transcendem aos aspectos didático-pedagógico; isto é, ele atende também a outros
interesses de ordem político-ideológica, econômica e cultural. (2006.p.59)
[...] os Livros Didáticos, ao sistematizarem áreas de conhecimento,
sequenciando a transmissão de conteúdos e organizando o pensamento, não
o fazem de uma forma neutra, pois privilegiam valores e verdades que se
pretende transmitir. (OLIVEIRA apud Carvalho, 2006, p.59)
Targino (2007) considera que o pioneiro na produção de materiais didáticos
de educação patrimonial, tendo como foco as escolas, foi o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP), que no ano de 1982 elaborou o
projeto da cartilha educativa intitulada: “Cartilha do Patrimônio: Centro Histórico de
João Pessoa”, porém, por falta de recursos, este projeto só foi concretizado no ano
de 2002, no ano seguinte foi lançada a 2ª edição desse material. Este material tinha
como objetivo “conscientizar a comunidade paraibana em geral, os estudantes em
particular, do valor da preservação do passado representado pelo patrimônio
histórico”. Segundo a autora, os textos foram elaborados com uma linguagem voltada
para as crianças, com a utilização de imagens, tornando a compreensão do tema
abordado mais acessível e prazerosa aos alunos. (TARGINO, 2007, p.55)
Conforme consta no site do IPHAN, ao longo destes anos o instituto colaborou
com a publicação de 26 obras de educação patrimonial, produzidas em sua maioria
67
através de parcerias com outros órgãos públicos. Destas, doze são direcionadas para
o ensino formal sendo elas: a coleção “Patrimônio e Leitura: Catálogo Comentado de
Literatura Infanto-juvenil”; “Cadernos Temáticos de Educação Patrimonial:
Orientações ao Professor”; livro “Educação Patrimonial: Memória e Identidade da
Cidade de Goiás – Patrimônio pra que te Quero” e a “Coleção Patrimônio Contado
Alcântara, cultura e educação” (IPHAN, 2016)
São inúmeros os exemplos de materiais didáticos de educação patrimonial,
direcionados às escolas, que foram produzidos no Brasil ao longo dos últimos anos.
Tais materiais vêm ao encontro da necessidade de suprir a falta de materiais
adequados para o desenvolvimento da educação patrimonial no ambiente escolar,
estes têm por objetivo dar subsídio as escolas para a abordagem da temática do
patrimônio cultural. (GOMES et al, 2012). Nesse sentido, Targino (2007) coloca que a
partir da elaboração destes materiais é possível destacar “as tendências atuais em
relação ao crescimento da consciência sobre o patrimônio cultural”. (TARGINO, 2007,
p.93). A autora acrescenta que “a educação patrimonial com o apoio de material
didático específico e factível, desperta interesse e traz resultados”. (TARGINO, 2007,
p.80)
Com o intuito de promover a educação patrimonial em Pelotas, a Prefeitura
Municipal por meio das Secretarias de Cultura e de Educação uniram esforços e em
2009 foram produzidos dois livros didáticos de educação patrimonial em Pelotas/ RS
intitulados: “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” destinado as séries iniciais do
ensino fundamental e “Pelotas uma História Cultural” para séries finais. Tais materiais
foram distribuídos nas escolas municipais da cidade e alguns exemplares
disponibilizados para escolas estaduais e particulares do município. Estes materiais
também estão disponíveis no site da Prefeitura Municipal de Pelotas.
O livro “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” para séries iniciais traz os
conteúdos por meio de dois personagens que percorrem a cidade, durante estes
percursos encontram outros personagens que ajudam a abordar os aspectos
históricos culturais do município. O livro esta dividido em seis capítulos sendo eles:
68
O que Temos e o que Somos: Apresenta noções básicas sobre o conceito de
Patrimônio Cultural e apresentação da cidade de Pelotas;
Tudo e Todos: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas relativos
a zona colonial, aos espaços públicos e aos recursos hídricos;
Nós e Eles: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas relativos a
lugares que envolvem relações sociais e pertencimento a grupos;
Fomos e Somos: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas sob
a perspectiva histórica;
Temos e Fazemos: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas
relativos às manifestações vigentes, imateriais;
Somos Responsáveis: Conclusão com mensagem de valorização e
preservação dos bens culturais. (PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS,
2010)
A forma de abordagem utilizada no livro “Somos! Patrimônio Cultural de
Pelotas” é semelhante a outros materiais de educação patrimonial como, por exemplo,
a “Cartilha do Patrimônio: Centro Histórico de João Pessoa” que segundo Targino
(2007) foi elaborada com uma “linguagem simples, clara e concisa, sob a forma de
diálogos, envolvendo personagens identificados por relações bem próximas, como os
laços existentes entre professor e alunos, avô e netos. Nesses diálogos vão se
acrescentando informações históricas”. (TARGINO, 2007, p 67)
Já o livro “Pelotas uma História Cultural” destinado às séries finais do ensino
fundamental é conduzido por três personagens que abordam os conteúdos por meio
de crônicas, este material traz de forma mais conceitual os questões relativas ao
patrimônio cultural tendo como complemento a utilização de imagens e mapas como
forma de compreensão e fixação dos conteúdos. Este material foi dividido em quatro
unidades que são:
Unidade 1: Aborda os aspectos conceituais do Patrimônio Cultural enquanto
área de conhecimento;
Unidade 2: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas sob a
perspectiva histórica e ambiental;
Unidade 3: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas sob a
perspectiva das manifestações vigentes, imateriais;
Unidade 4: Propõe exercícios de simulação como uma estratégia de
envolvimento e resgate dos conceitos desenvolvidos ao longo do livro.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS, 2010)
69
Podemos comparar a utilização das imagens no livro “Pelotas uma História
Cultural” com a 2ª edição da “Cartilha do Patrimônio: Centro Histórico de João Pessoa”
que conforme Targino (2007), tal edição, “utilizou-se da fotografia como forma de
favorecer a compreensão do texto e torná-lo mais criativo, para uma melhor
identificação dos núcleos tombados no contexto da temática abordada”. (TARGINO,
2007, p. 91)
Segundo a Prefeitura Municipal de Pelotas (2010), estes livros didáticos caracterizam-
se como uma proposta de conhecimento e reconhecimento interdisciplinar que resulta
na valorização e identificação do patrimônio histórico cultural local e
consequentemente sua preservação, estes materiais veem ao encontro da
necessidade de fornecer aos professores subsídio para o ensino e a interação entre
o aluno e o conteúdo abordado. (PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS, 2010)
Tal ação vai ao encontro das colocações de Gomes (2012) que destaca a
necessidade de adotar medidas no sentido de preparar os professores para a
realização e aplicação da metodologia de educação patrimonial nas escolas, o autor
exemplifica algumas atividades que podem ser feitas nesse sentido, sendo elas: “um
trabalho envolvendo especialistas e professores, realização de cursos e treinamentos;
busca de alternativas para sanar a falta de fontes e de material didático adequado”.
(GOMES et al, 2012, p.91)
Sobre o livro didático em geral, todos os entrevistados nas escolas, atestam
sobre a importância deste material no processo de ensino aprendizagem como um
auxilio pedagógico, como um instrumento de sistematização dos conteúdos, e como
um recurso de apoio aos professores para o desenvolvimento de atividades em sala
de aula. Conforme o professor 4: “o livro didático é de extrema importância né, porque
é um baita de um recurso, a gente tem um suporte” , para o coordenador 10: “o livro
é importante porque muitas vezes a gente não tem a impressão colorida, então o livro
traz”, para o professor 7 apesar de todo o avanço tecnológico o livro didático continua
70
sendo uma ferramenta importante no processo educativo: “é muito importante né,
porque apesar de toda a tecnologia ainda o livro é um referencial teórico muito bom” .
Tais narrativas são compartilhadas por Carvalho (2006) quando ressalta que “o
livro didático é uma obra composta por textos, conteúdos e imagens que têm por
finalidade instrumentalizar, dar suporte, auxiliar e somar aos recursos que fazem parte
do processo de ensino aprendizagem na transmissão de conhecimentos”.
(CARVALHO, 2006, p. 59)
Apesar de reconhecerem o livro didático como uma ferramenta importante no
sistema educativo, os coordenadores pedagógicos e os professores salientam que
este não é o único recurso que deve ser utilizado no processo de ensino
aprendizagem. Para o professor 9: “é mais um recurso que a gente utiliza, mas não é
o único, a gente tem outros”, o professor 1reforça essa ideia: “o livro é uma porta de
entrada, mas tem outras ferramentas como jogos, pesquisa. O livro ele faz parte desse
processo mas não é a única ferramenta”.
As críticas aos livros didáticos durante as entrevistas foram em relação aos
conteúdos, que muitas vezes não condizem com a realidade a qual os alunos e a
escola estão inseridos, e com a falta de edições que tragam exemplos e conteúdos
regionais. Conforme o professor 4: “assim, vem textos muito longos com palavras que
eles não entendem, com frutas que eles nunca viram, porque são produzidos em
outras regiões”, para o professor 6: “o grande problema dos livros didáticos é que eles
não se encaixam com a realidade da turma, da escola e do ambiente em que eles
vivem”, o professor 3 acrescenta: “todos os livros que vem pra gente, eles não são
regionais, a linguagem que as crianças nem conhecem, então assim, tratar de Rio
Grande do Sul aqui na escola já é complicado, mas a nível de município é muito pior”.
Do total de entrevistados nas escolas, quatro desconheciam a existência dos
livros didáticos “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” e “Pelotas uma História
Cultural”, destes, três eram coordenadores pedagógicos e um professor. Com relação
a existência de exemplares destes materiais nas escolas, oito do total de onze
coordenadores pedagógicos, confirmaram que havia exemplares nas bibliotecas das
71
escolas. Conforme relata o coordenador 2: “tem alguns livros, vieram poucos, tem
alguns exemplares aqui na coordenação e outros na biblioteca”. O coordenador 4
comenta que alguns exemplares se perderam ao longo dos anos: ”na verdade assim,
no início a gente dava pras crianças achando que seriam disponibilizados outros
livros, mas não veio. E ai as crianças vão utilizando, ficam com eles em casa, foi
desaparecendo”, este fato não é isolado tendo ocorrido em outras escolas.
Todos os coordenadores pedagógicos que conheciam os livros (oito),
afirmaram que estes materiais são utilizados em suas respectivas escolas, em
algumas com mais frequência que outras. Segundo os mesmos, o livro mais utilizado
nas escolas é o “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas”, que conforme relatos, é
utilizado pelos 3º e 4º anos período escolar onde é trabalhada a história da cidade,
conteúdo da disciplina de estudos sociais, também é utilizado em datas
comemorativas como, por exemplo, no aniversário da cidade, já o livro “Pelotas uma
História Cultural” quando utilizado geralmente é relacionado à disciplina de artes,
conforme relatos dos coordenadores abaixo:
Nos anos finais não são utilizados porque não se abordam o conteúdo da
cidade. Mas eu tenho a impressão que as professoras dos anos iniciais usam
alguma coisa, até porque trabalham mais datas comemorativas e estudos
sociais. (COORDENADOR 2)
Eles são utilizados nas séries iniciais na disciplina de estudos sociais, os
professores utilizam esses livros quando trabalham a cidade. O séries finais
é mais usado pelos professores de artes porque tem toda a questão dos
prédios históricos, então são eles que mais procuram. (COORDENADOR 10)
Utilizam muito pouco assim, alguns professores do 3º ano as vezes usam, do
4º ano porque é conteúdo de 4º ano, mas não é muito utilizado, não como
livro didático ao longo do ano, as professoras começam a procurar pelos
livros agora em função do aniversário da cidade porque aí todas as séries
trabalham. Porque conteúdo mesmo é do 4º ano. (COORDENADOR 4)
72
A partir destes relatos podemos citar Horta (1999) que afirma que apesar da
educação patrimonial ser uma metodologia interdisciplinar, nas escolas geralmente
esta relacionada as disciplinas de história ou os estudos sociais. Moraes (2005) afirma
que uma das dificuldades encontradas nas escolas para a aplicação da metodologia
de educação patrimonial é justamente a fragmentação dos conteúdos em disciplinas
e a dificuldade por parte dos professores em pensar a interdisciplinaridade.
Dos professores entrevistados, dois afirmaram que não utilizam estes
materiais, um deles por não conhecer os livros, os demais, disseram que usam os
livros com seus alunos. Conforme os professores, o livro “Somos! Patrimônio Cultural
de Pelotas” é utilizado como auxílio para a abordagem da história da cidade em sala
de aula, pois trazem informações e ilustrações que despertam o interesse e a
curiosidade nos alunos, através do livro é possível mostrar alguns lugares da cidade
os quais as crianças podem reconhecer. Os professores entrevistados consideram
estes livros de ótima qualidade, pelo material, pela linguagem e pela parte gráfica.
Estas informações são confirmadas por algumas narrativas:
Utilizo quando a gente vai trabalhar alguma coisa relacionada a cidade né, ali
tem informações importantes, e as vezes na semana de Pelotas a gente
utiliza o livro também [...] utilizo com o objetivo de trazer mais informações,
porque assim, eu moro aqui na cidade mas tem muitas informações que a
gente desconhece né, da história, então o livro te traz esses dados mais
antigos que tu pode trabalhar na sala de aula. (PROFESSOR 1)
A gente usa pra auxiliar durante as aulas sobre o trabalho de Pelotas é muito
importante, eu acho que contribui muito e estimula bastante os alunos e
auxilia o trabalho do professor. (PROFESSOR 6)
[...] Mostro pra eles os lugares, sempre na época do aniversário de Pelotas,
com o objetivo de contar a história da cidade e mostrar, e perguntar o que
eles conhecem, o que eles não conhecem. Então são coisas assim que são
interessantes mostrar porque aí ‘Ah é aquela coisa lá no centro, aquelas
coisas lá na cidade’, eles reconhecem alguns lugares no livro. (PROFESSOR
3)
73
Utilizo como forma de pesquisa com as crianças, ele é bem bom sabe, claro
que ele não é assim completo, mas é muito bom até porque assim, a
ilustração dele é muito boa e ele tem um vocabulário bom pras crianças
entenderem, eu acho que ele é de fácil acesso pras crianças. (PROFESSOR
7)
Apenas dois professores que utilizam o livro para as séries iniciais, fizeram uma
relação dos mesmos com a questão do patrimônio cultural: “eles são bem
interessantes, um recurso ótimo que a gente tem em termos de pesquisa né, sobre a
história de Pelotas. Utilizo com o objetivo do aluno conhecer mais a cidade, os
patrimônios né, porque muitos não conhecem, nem vão ao centro” (PROFESSOR 9).
O professor 1 comenta que muitas vezes não se percebe os patrimônios culturais
existentes na cidade, e através do livro é possível abordar essas questões com os
alunos:
[...] primeiro eu mostro pra eles o livro, procuro mostrar as ilustrações pra
eles conhecerem, porque eles também desconhecem muitas informações né,
a gente anda pela cidade e as vezes a gente não se da conta né, daquele
prédio, aquela construção, aquele local ele é um patrimônio cultural né, com
o livro a gente pode trabalhar essas questões também. (PROFESSOR 1)
Dos nove professores entrevistados, somente um utiliza o livro “Pelotas uma
História Cultural” na disciplina de artes, com alunos do 8º ano, ano em que segundo
este professor é trabalhado o conteúdo de patrimônio, para o mesmo tais materiais
são importantes porque são poucos os materiais didáticos específicos sobre a cidade
e que abordam as questões de patrimônio cultural:
Esse material especificamente é bárbaro, porque assim, não tinha chegado
nas minhas mãos nenhum material desse tipo, específico da cidade, tratando
de toda a história, de toda a cultura e todo ilustrado. Porque ali a criança, é
como se a criança tivesse participando do passeio pela cidade. Eu to usando
eles no 8º ano, é conteúdo patrimônio e aí eu to trabalhando com eles tudo a
partir desse livro, comecei a introduzir o conteúdo através de perguntas,
lancei primeiro o que eles entendiam por patrimônio, porque na realidade a
gente vive numa cidade histórica, mas poucos deles tem essa consciência
com relação a cultura, patrimônio, a história da nossa cidade mesmo. Então
eu deixo primeiro que eles coloquem o que entendem por patrimônio, por
74
cultura, e por patrimônio cultural e ai depois eu apresento o livro e ai a gente
trabalha essas questões. (PROFESSOR 8)
Pode-se constatar que o material é pouco utilizado para a educação
patrimonial. Para Scifoni (2015) se, ao longo dos anos, as práticas em educação
patrimonial se ampliaram e se diversificaram, incrementando o campo de atuação, o
mesmo não podemos dizer que ocorreu com a fundamentação teórica e a reflexão
crítica sobre este tema e sobre essas ações, o que coloca a urgência atual do debate
e da construção coletiva desta fundamentação. Muitas ações e projetos são de caráter
meramente informativo, o que representa uma limitação desse campo: quantas são
as cartilhas, folhetos e manuais que vemos hoje e que se desdobram em esforços
para dizer o que é patrimônio ao conjunto da população “desinformada” ou então para
informá-la a respeito da sua memória. Quantos materiais se encontram hoje no
mercado buscando “educar a população” sobre como se deve preservar um
patrimônio que é dela por direito, e não por dever. Nunca se falou tanto em educação
patrimonial como hoje, entretanto, isso não significa necessariamente que a
quantidade de projetos e ações represente um processo de transformação da relação
entre a população e o seu patrimônio. O cerne da problemática está no fato de que
tais ações não transformam a realidade sobre a qual elas pretender agir, justamente
porque não foram concebidas para isso. Por isso a necessidade de uma nova
pedagogia do patrimônio. “É com o antigo que realmente se faz o novo” (BENSAID,
2008, p. 22).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da realização desta pesquisa foi possível identificar que os livros
didáticos de educação patrimonial “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” e “Pelotas
uma História Cultural” foram concebidos como uma proposta de ensino interdisciplinar
75
voltada para conhecimento e reconhecimento do patrimônio cultural local como forma
de valorização da identidade local.
Tais materiais foram produzidos com o objetivo de subsidiar o trabalho dos
professores das escolas municipais de Pelotas na abordagem da temática do
patrimônio cultural por meio da educação patrimonial.
Com relação ao uso destes materiais nas escolas municipais de Pelotas,
constatou-se que o livro utilizado com mais frequência é o “Somos! Patrimônio Cultural
de Pelotas” para séries iniciais, isso ocorre porque no 3º ou 4º ano do ensino
fundamental é trabalhada a história de Pelotas, quando o professor conhece este
material o utiliza como ferramenta de apoio para a abordagem deste conteúdo,
algumas vezes também é utilizado como material de pesquisa.
Foi possível identificar que o período em que mais se utiliza estes materiais nas
escolas são em datas comemorativas como, por exemplo, no aniversário da cidade.
A justificativa recorrente para a não utilização do livro “Pelotas, uma História
Cultural” é porque não se trabalha com a história do município nos anos finais. Nesse
sentido, pode-se perceber que estes materiais não são utilizados como um
instrumento de apoio ao desenvolvimento de atividades de educação patrimonial nas
escolas. São utilizados como um livro de história, como fonte de informação e
ilustração, não que isso não seja importante, porém, tais materiais foram projetados
com o objetivo de subsidiar os professores para abordagem do patrimônio cultural no
ambiente escolar, visto que a partir do patrimônio cultural é possível desenvolve a
cidadania, o fortalecimento da identidade cultural e a criatividade e senso crítico dos
alunos.
Através desta pesquisa foi possível identificar a dificuldade por parte dos
professores de trabalhar a educação patrimonial no ambiente escolar, apesar de
possuírem um material de apoio para a aplicação de atividades relacionadas ao
patrimônio cultural, não possuem os conhecimentos básicos para o desenvolvimento
da metodologia de educação patrimonial.
76
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79
RELAÇÕES ENTRE FILOSOFIA E TURISMO: UMA ABORDAGEM DO TURISMO
CULTURAL A PARTIR DA HERMENÊUTICA DE PAUL RICOEUR
SCARANO, Renan C. V.11 LEOTI, Alice12 [email protected]
Resumo: O presente trabalho busca fazer uma aproximação entre filosofia e turismo,
por intermédio de uma abordagem hermenêutica do turismo cultural, a partir da óptica
do filósofo francês Paul Ricoeur. A hermenêutica é vista como um instrumento para
interpretar a linguagem simbólica, sendo a cultura um espaço simbólico. O turismo
cultural lida com a relação entre o turista e comunidade local receptora. Com isso, a
filosofia de Ricoeur oferece uma possibilidade de interpretação da cultura através da
hermenêutica dos símbolos. A metodologia empregada foi de uma pesquisa teórica/
bibliográfica abordando as temáticas de filosofia, turismo e cultura. Este trabalho
justifica-se pela necessidade de uma análise teórica e reflexiva acerca do
comportamento humano na prática turística cultural.
Palavras-chave: Filosofia; Turismo Cultural; Cultura; Hermenêutica; Paul Ricoeur.
1 INTRODUÇÃO
11 Bacharel e licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) - 2011;
Especialista em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) – 2014; Mestre
em Política Social pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) – 2015. Email:
[email protected]. 12 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) - 2009; Especialista em
Gestão Pública e Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) - 2012;
Mestra em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) –
2013. Email: [email protected].
80
O presente trabalho busca uma aproximação entre duas áreas do saber
humano: a filosofia e o turismo. Para alcançar tal propósito, pretende-se realizar uma
abordagem do turismo cultural a partir da perspectiva do filósofo francês Paul Ricoeur
(1913-2005). Para isso, o presente trabalho está estruturado da seguinte forma: na
primeira parte, apresenta-se o pensamento Ricoeur, algumas de suas influências
intelectuais. Além disso, enfatiza-se que a linguagem aparece como o centro da obra
ricoeuriana, nesse sentido, denota-se que a hermenêutica surge como a via de
interpretação dos significados e sentidos que se expressam nos símbolos, nos sinais,
na cultura, como forma indireta de acesso ao ser humano.
A prática do turismo cultural pode ser uma forma de conhecer a cultura do outro.
Enquanto fenômeno social o turismo tem como escopo conhecer outras sociedades.
E, no segmento turismo cultural, o indivíduo viajante – o turista – deseja visitar
monumentos, esculturas, museus, festivais, feiras e qualquer outro tipo de
manifestação cultural que o faça interpretar e conhecer a cultura a qual está visitando.
A metodologia utilizada neste trabalho foi baseada em uma pesquisa
bibliográfica acerca do entendimento antropológico de cultura, compreendendo-a a
partir da concepção simbólica. Ainda, teóricos e definições institucionais sobre turismo
cultural, e como este faz uso dos símbolos culturais. Finalmente, tentou-se a partir da
óptica de Paul Ricoeur e sua concepção da linguagem simbólica como fator essencial
de acesso ao sentido do humano, ligar a perspectiva do turismo cultural com a
filosofia, a partir da hermenêutica.
A relevância deste trabalho se dá na medida em que o estudo teórico sobre o
turismo cultural a partir da hermenêutica, no Brasil, ainda é pouco desenvolvida.
Nessa perspectiva, este trabalho pretende contribuir para o preenchimento desta
lacuna filosófica do turismo.
UMA INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DE PAUL RICOEUR
Paul Ricoeur nasceu na cidade de Valence, na França, em 1913. Sua formação
intelectual teve por influência o existencialismo de Gabriel Marcel (1889–1973) e de
81
Karl Jaspers (1883-1969) e a fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938).
Enquanto estava preso num campo de concentração alemão, de 1940 até o fim da
Segunda Guerra Mundial, organizou um curso de filosofia para seus companheiros de
prisão. Em 1957, seu nome foi apontado para ocupar uma cadeira geral de filosofia
na Universidade de Sorbonne. Posteriormente lecionou nas universidades de Paris-
Nanterre (1967) e em Louvain, na Bélgica, a partir de 1973.
Franco (1995) afirma que a filosofia ricoeuriana está dividida em dois
momentos. Num primeiro momento, o pensador se dedica a fenomenologia estrutural.
Nessa linha, o pensador francês busca determinar “quais são as possibilidades
fundamentais do ser humano” (FRANCO, 1995, p.38). Num segundo momento,
percebe-se a marca da hermenêutica, “inaugurada em La symbolique du Mal e De
l’interprétation. Essair sur Freud” (Ibidem). Nesse segundo momento aparece uma
forma de análise que “vai direto ao domínio das experiências concretas, cristalizadas
nos símbolos e mitos” (Ibidem). De acordo com Silva (2013, p.6), essa passagem se
deu devido a insuficiência do elemento fenomenológico “para a compreensão dos
símbolos”. Desta forma, Ricoeur passa a realizar o seu projeto de “uma hermenêutica
simbólica”, introduzindo “a hermenêutica na fenomenologia” (Idem, p.7).
A obra ricoeuriana trata de uma multiplicidade de temas que vão desde a
literatura, do conhecimento, da psicanálise, do poder, da política, do símbolo além de
outros. Porém, François Dosse (2003, p.181), afirma que desde sua tese intitulada de
Philosophie de la Volonté (1949), há um mote em sua filosofia, pois, Ricoeur não
deixou de perseguir, “ não deixou de se colocar a questão do sentido da ação
humana”.
Portanto, a via hermenêutica foi o caminho pela qual Ricoeur buscou
compreender os significados da existência humana. Franco (1995), em sua obra sobre
o filósofo francês, intitulada de “Hermenêutica e Psicanálise na obra de Paul Ricoeur”,
também sugere que o objetivo da obra riocueriana é “interpretar o homem: quem é o
homem contemporâneo?”, se questiona Ricoeur. Para isso, o filósofo francês, busca
nos símbolos, no mito, na linguagem poética, os sinais que revelam o ser humano.
82
O homem só se conhece indiretamente: por meio daquilo que ele deixa de
impregnado em sua própria produção, não necessariamente de modo
consciente (FRANCO, 1995, p. 25).
De forma geral, a filosofia de Ricoeur é hermenêutica, pois ela visa “uma teoria
geral da interpretação” afirma Shaefer (2008, p.60) parafraseando o filósofo de
Valence. Trata-se da busca de sentido pela via da interpretação, como sugere Franco
(1995, p.52). Nessa busca, procura-se desvelar o sentido humano e nessa
empreitada, a hermenêutica fornece as ferramentas para analisar a linguagem
humana, e é justamente essa preocupação que se torna a problemática geral da obra
ricoueriana.
A cultura é uma esfera social onde emerge a linguagem, através de símbolos e
significados, dessa forma, há sentidos manifestos e significados ocultos. Logo, a
cultura precisa da interpretação para poder ser compreendida, pois ela é uma via de
compreensão da existência humana. Ricoeur, afirma Franco (1995, p.48), “entra pelo
caminho da análise indireta do ser humano na história e na cultura. O ser humano
pode ser conhecido por meio de sua linguagem.
A cultura aparece como a grande área em que o ser humano deixa sua marca
através de símbolos e sinais que dão o que pensar. Ela representa uma forma de
acesso ao homem e ao significado de sua vida. “O mundo só é acessível, e só é, na
medida em que é ‘configurado’ na expressão, na linguagem” (SCHAEFER, 2008, p
61).
A CULTURA E O AGIR HUMANO
Fabietti (apud BARUFFA, 2005, p.36) define cultura como “uma maneira
particular do homem, como membro de uma sociedade, de organizar seu pensamento
e seu comportamento com relação ao ambiente”. Nesse processo de organização o
homem precisa da cultura para transformar-se em humano, portanto, Baruffa (2005)
defende a ideia de que a espécie do Sapiens Sapiens, é naturalmente incompleta.
Segundo ele, “o sapiens sapiens elabora formas de comportamento que prescindem,
83
em grau variável, dos instintos, tendo neles um condicionamento parcial porque
controlado culturalmente” (BARUFFA, 2005, p.36). Nesse processo, argumenta
Baruffa (Ibidem), o ser humano cria a cultura e é criado por ela.
A palavra cultura provém de colere que significa cultivar, o ser humano precisa
ser cultivado, precisa ser inserido no contexto social, senão, ele não se torna ser
humano.
A criação cultural fornece ao homem os meios físicos e os instrumentos para
a sua inserção na variabilidade ambiental: a tecnologia. Condiciona as
modalidades pelas quais os indivíduos interagem entre si: a organização
social. Oferece uma explicação do mundo e da sua própria existência,
elaborando crenças e valores: a religião e a ética. Favorece a compreensão
das leis que governam a realidade física e biológica: a ciência (BARUFFA,
2005, p.36).
Cada cultura passa valores e esses valores culturais criam padrões de
comportamento. Portanto, o ser humano, aparece nessa visão como um produto da
cultura e um transmissor da mesma, sua personalidade é construída culturalmente.
Já Geertz (2008), salienta o aspecto simbólico da cultura. O sistema simbólico
expressa as relações de determinada comunidade.
Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias
de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas
teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca
de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado
(GEERTZ, 2008, p.4).
Dessa forma, Clifford Geertz insere um componente importante na discussão
sobre cultura, ele sugere que o comportamento humano é uma “ação simbólica”
(GEERTZ, 2008, p.8), e como tal, deve ser interpretada. Os símbolos são mediações
que os seres humanos desenvolvem para comunicar algo. Um símbolo pode ser a
língua utilizada para comunicação entre os nativos ou também os valores que guiam
as pessoas.
84
Nesse mesmo viés, Pesavento (2006, p.46), afirma que a cultura é uma
tradução do mundo em significados. Pois ela, é “uma produção social histórica a se
expressar, através do tempo, em valores, modos de ser, objetos, práticas (...)”.
Portanto, se a evolução biológica, resultou no processo de hominização, “a cultura
junta a ‘humanização’” (BARUFFA, 2005, p.36, grifo o autor).
A cultura, além de produzir valores, ela também se dá a tarefa de passar os
valores para outras gerações. A maneira de ver o mundo, de experenciá-lo, a forma
de ver o outro e de se ver inserido no ambiente das relações humanas de uma
comunidade, enfim, tudo isso é produzido culturalmente. No entanto, os valores são
relativos, pois aquilo que possui importância para um povo, pode não ser para outro.
Logo, a cultura não é universal, pois não existe uma cultura, mas várias perspectivas
culturais.
Nesse pluriculturalismo é inevitável que haja conflitos culturais, pois na medida
em que há muitas formas de organização social, como, várias concepções de família,
de clã, de comunidade, de Estado, de religião, de línguas diferentes, de formas de
produzir os bens necessários para a sobrevivência humana, etc., enfim, muitas formas
que dão sentido e que expressam a busca humana por conferir sentido ao seu mundo.
Deste modo, o ser humano é inserido na cultura e nesse mundo simbólico, sua
resposta, pode ser de adaptação ou não, além do mais, sua resposta diante do outro
pode ter um caráter solidário, que reconheça a alteridade do outro ou etnocêntrico.
A cultura não é um conceito estático, ao contrário, trata-se de um horizonte
onde há transformações e essas, acontecem em relação a inúmeros fatores, desde
sociais, econômicos, religiosos ou outros. Nesse processo dinâmico de construção
cultural podem existir conflitos culturais, seja em civilizações ou etnias que enfrentam
processos de deslocamento de seu habitat e/ou de migração.
Porém, o ato de deslocar-se territorialmente, também pode implicar uma curiosidade
de uma existência além de seu horizonte. Assim sendo, ao descobrir as possibilidades
de deslocamento para lugares cada vez mais distantes, o homem passou a planejar
meios e formas de viajar sem suscitar desconfianças e a fim de garantir provimento
85
as suas necessidades alimentares, de repouso e de transitar pacificamente
(ANDRADRE, 2008).
TURISMO CULTURAL: A INTERPRETAÇÃO CULTURAL
Há um consenso entre os autores da área de turismo em afirmarem que os
termos turismo e turista originam-se das palavras francesas TOURISME e
TOURISTE. No entanto, ressalva-se que na língua portuguesa, os termos turismo e
turista foram adotados do inglês e não diretamente da matriz francesa. O termo TOUR
foi usado pela primeira vez em 1760, na Inglaterra. A matriz do radical TOUR é o latim,
através do substantivo TORNUS, do verbo TORNARE, cujo significado é “giro, volta,
viagem ou movimento de sair e retornar ao local de partida”.
De acordo com Brasil (2010), existem dois tipos de turistas que objetivam visitar
atrativos culturais em suas viagens: a) o turista com interesse específico em cultura,
ou seja, aquele que tem na cultura a sua motivação principal para seu deslocamento;
b) o turista com interesse ocasional na cultura, que é aquele que visitam o destino por
outras motivações, mas que em algum momento acabam visitando atrativos culturais.
Este último tipo de turista que numericamente é mais expressivo, aproveita a sua hora
vaga de suas atividades – congressos, trabalho, tratamento de saúde, entre outras –
para conhecer algum atrativo cultural, como museus, monumentos, marcos históricos,
e outros. Esses turistas, geralmente, não se autoconsideram como turista cultural visto
que a motivação da sua viagem não foi especificamente a cultura.
A relação entre turismo e cultura nasce no Grand Tour europeu. A expressão
Grand Tour remete as viagens realizadas por jovens europeus de classe média, que
tinham como objetivo complementar a sua formação cultural. Os filhos das famílias
ricas, notadamente ingleses, eram enviados a países estrangeiros a fim de aprender
uma ou duas línguas, tendo o escopo de conhecer e distrair-se. Tal viagem, significava
a oportunidade do jovem de ter contato direto com monumentos, ruínas e obras-de-
arte, especialmente dos antigos gregos e romanos. Para realizar as viagens, cada
86
viajante era acompanhado de um tutor, que muitas vezes era alguém conhecia muitas
culturas.
O Grand Tour tem sua origem no século XVII, mas atingiu seu auge nos séculos
XVIII e XIX, sendo impulsionados pelo advento da ferrovia em grande escala.
Posteriormente, as viagens se expandiram para além do continente europeu, usando-
se também de navios a vapor para visitar, por exemplo, o continente americano. Nesse
sentido, a realização do Grand Tour era um modo de detenção da cultura, visto que o
acesso a ela era extremamente limitado.
Deste modo, o Grand Tour remonta a origem histórica do turismo
contemporâneo, a relação cultura-turismo é uma das principais motivações para uma
viagem. O entendimento ocidental de cultura compreende uma rede de
conhecimentos, crenças, arte, lei, costumes, hábitos desenvolvidos pelo ser humano
enquanto ser social. Assim, todo o modo de fazer e o fazer humano de uma sociedade,
suas formas de expressão bem como modo de vida, coadunem em um conjunto da
produção humana, expressando a noção de cultura. O indivíduo participante do Grand
Tour ajudou a propagar uma concepção de turismo cultural, onde o viajante é
apreciador de culturas antigas e paisagens com valoração estética para a sociedade.
Nesse contexto, observa-se que a cultura é objeto de desejo do turista há
séculos. Porém, como afirma Pérez (2009, p. 108):
Ainda que a natureza cultural do turismo é já antiga, a ligação entre turismo
e cultura é relativamente recente e muito mais o conceito de “turismo cultural”.
Os profissionais da cultura tendiam, até há pouco tempo, a minusvalorar o
turismo porque entendiam-no como uma actividade banal, superficial,
aculturadora e com pouco interesse pela cultura visitada. Isto mudou muito
nas últimas décadas com a criação de pontes entre um campo e outro.
No entanto, atualmente, observa-se que o turismo é uma das atividades que
mais proporciona a interação cultural entre os diferentes povos e etnias. Dessa forma,
a atitude de abertura da pessoa é imprescindível para que ela possa experimentar
uma nova cultura, não apenas o conhecimento inteligível, mas o experimental.
87
A movimentação de indivíduos por territórios diferentes ao seu de residência,
ou seja, a prática turística, pode ser compreendida como uma atividade cultural. Para
isso, é preciso que o ser humano esteja aberto ao conhecimento de novas culturas,
pois, ir ao encontro de outrem requer não apenas conhecer novos lugares e povos,
mas apreender o significado que tal cultura possui. Portanto, o turismo é permeado
pela cultura, o que nas palavras de Pérez (2009, p. 108)
turismo pode ser entendido como um acto e uma prática cultural, pelo que
falar em “turismo cultural” é uma reiteração. (...). Em termos filosóficos toda a
prática turística é cultural.
Assim como o significado de cultura, turismo cultural também é definido de
diferentes formas pelos estudiosos da área e pelas instituições do setor turístico. A
exemplo, o Ministério do Turismo (2010, p. 15) afirma que
Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência
do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e
dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e
imateriais da cultura.
Nessa perspectiva de turismo cultural, dada pelo Ministério do Turismo (MTur),
é trazida a ideia da vivência como um dos aspectos relevantes a este segmento do
turismo. Esta concepção remete a experiências sensoriais, que vão desde uma
experimentação gastronômica a assistir um festival folclórico, e que pode passar pela
contemplação de um bem cultural edificado, ou ainda, uma paisagem cultural.
Pérez (2009, p. 110) corrobora nesse sentido ao dizer que
A experiência turística integra vivências sensuais (sons, odores, cores,
ambiente), sociais (relações com os outros, hospitalidade, bem-estar,
segurança, diversão), culturais (eventos, festivais, actividades, alojamento,
restauração, enriquecimento) e económicas (relação qualidade do serviço-
preço, relação custo/benefício da vivência, acessibilidades e transportes).
88
No turismo cultural o turista busca coisas novas e a interação, assim sendo este
segmento turístico tem como principal produto a experiência. O MTur (2010, p. 16)
complementa esta acepção ao narrar a correlação entre o turismo cultural e o ato de
experienciar/vivenciar, quando diz que
Vivenciar significa sentir, captar a essência, e isso se concretiza em duas
formas de relação do turista com a cultura ou algum aspecto cultural: a
primeira refere-se às formas de interação para conhecer, interpretar,
compreender e valorizar aquilo que é o objeto da visita; a segunda
corresponde às atividades que propiciam experiências participativas,
contemplativas e de entretenimento, que ocorrem em função do atrativo
motivador da visita.
Destarte, vivenciar a cultura do outro por intermédio do turismo, abarca a
experimentação de determinado momento, neste caso a viagem, de modo que o
mesmo tenha um significado profundo. Portanto,
turismo cultural é uma vivência de participação em novas e profundas
experiências culturais estéticas, intelectuais, emocionais e psicológicas
(PÉREZ, 2009, p. 109-110).
Alguns aspectos são comuns a maior parte das definições de turismo cultural,
como a motivação cultural, a necessidade de vivenciar novas culturas, novas
experiências e de conhecer o outro. O ato de conhecer faz com que a cultura do outro
seja inserida no conhecimento (memória) de alguém, o turista. E, o ato de conhecer
novas sociedades, pode proporcionar um autoconhecimento, pois, ao conhecer o
outro, o turista pode olhar para sua própria cultura, para seus costumes com um olhar
de fora. Ao mesmo tempo também, esse ato de conhecer o outro, o estranho, pode
levar o sujeito a não se fechar em si, mas abrir-se para o novo.
O turismo cultural é o tipo de turismo que se utiliza dos símbolos representantes
de uma cultura como atrativo turístico, ou seja, aquilo que possui uma carga histórico-
cultural suficiente para atrair os olhares dos turistas. Existe uma multiplicidade de
possíveis atrativos turísticos, como por exemplo: peregrinações religiosas, sítios
89
arqueológicos, sítios históricos, centro históricos, monumentos, museus, quilombos,
lugares de acontecimentos históricos, lugares que recordam a vida de artistas ou
intelectuais, ópera, dança, teatro, música, cinema, festivais, celebrações locais,
ateliês, teatros, obras-de-arte, exposições, artesanato, produtos típicos, idioma,
gastronomia típica, vestimenta, trajes, edificações especiais, arquitetura, ruínas,
espaços e instituições culturais, casas de cultura, feiras, mercados tradicionais,
saberes e fazeres, causos, trabalhos manuais, eventos programados, e outros que se
enquadrem na temática cultural.
De acordo com o Avighi (2000), o turismo cultural busca a realização interior e
dá ênfase ao meio ambiente e à compreensão da cultura e da história de outros
lugares, querendo conhecer povos e se enriquecer culturalmente. Segala (2003, não
paginado), elaborou a seguinte definição de turismo cultural:
O turismo cultural é motivado pela busca de informações, de novos
conhecimentos, de interação com outras pessoas, comunidades e lugares,
da curiosidade cultural, dos costumes, da tradição e da identidade cultural.
Esta atividade turística tem como fundamento o elo entre o passado e o
presente, o contato e a convivência com o legado cultural, com tradições que
foram influenciadas pela dinâmica do tempo, mas que permaneceram; com
as formas expressivas reveladoras do ser e fazer de cada comunidade. O
turismo cultural abre perspectivas para a valorização e revitalização do
patrimônio, do revigoramento das tradições, da redescoberta de bens
culturais materiais e imateriais, muitas vezes abafadas pela concepção
moderna.
A interação com a outra cultura significa um passo dado para conhecer o outro.
Nesse sentido, é o turismo cultural que proporciona a possibilidade de ir ao encontro
do outro, de conhecer outra cultura. Contrariamente a visão de turismo cultural como
uma prática comercial, em que, as sociedades são apresentadas as outras,
dramatizando as particularidades locais de determinadas culturas, tal como o
antropólogo Manuel Delgado Ruíz analisa o turismo cultural. Para Ruíz (apud Pérez,
2009, p.116),
90
...el turismo cultural se ha constituido en lugar privilegiado en el que operar
análisis acerca de cómo las sociedades humanas se presentan ante otras
sociedades y ante si mismas... el turismo cultural es una industria cuya
matéria prima es la representación dramatizada y en extremo realista, de
cualidades que se consideran de algún modo inmanentes a determinadas
agrupaciones humanas de base territorial –ciudades, regiones, países-,
reificación radical de lo que de permanente y substantivo pueda presumir una
entidad colectiva cualquiera.
Contrariamente a essa ideia de turismo cultural na óptica comercial, industrial
e expositiva das culturas, acredita-se que essa prática, pode contribuir para a
compreensão e para aproximação do outro. Diante disso, acredita-se que a
hermenêutica possa ser uma forma de ligação de duas áreas do saber humano, o
turismo e a filosofia. Pois, através da hermenêutica de Paul Ricoeur e de sua filosofia
que enfatiza o acesso ao mundo humano pela via indireta, no caso, a linguagem
cultural, espera-se realizar um diálogo com o turismo cultural buscando através dele
enfatizar a importância da interpretação do sentido refletido na linguagem humana
simbólica que as culturas trazem em si.
Para que a prática do turismo cultural não seja difundida no âmbito
mercadológico e industrial, mas que possa ser uma forma de captar o sentido humano
implicado nas manifestações culturais é necessário que a hermenêutica desenvolvida
por Paul Ricoeur seja considerada como uma parte desse diálogo.
RICOEUR E A HERMENÊUTICA: A INTERPRETAÇÃO SIMBÓLICA DA CULTURA
O ser humano produz cultura, seu comportamento social é histórico e nessa
perspectiva, ele precisa ser interpretado para ser compreendido em seu significado.
Em “O conflito das Interpretações” (1969), Ricoeur inicia fazendo uma abordagem
histórica da hermenêutica. O autor considera que a hermenêutica inicia seus estudos
com a análise dos escritos sagrados.
Não é inútil lembrar que o problema hermenêutico se colocou primeiro que
tudo nos limites da exegese, isto é, no quadro duma disciplina que se propõe
91
compreender um texto, de o compreender a partir da sua intenção, sobre o
fundamento daquilo que ele quer dizer (RICOEUR, 1978, p.5).
Assim como um texto deve ser interpretado para ser compreendido, a
linguagem humana também necessita de interpretação. Hermenêutica, nessa óptica
é a teoria que preside a interpretação de um texto.
Originalmente, o conceito de texto se prendia à noção de escritura sagrada.
Hoje há um conceito de texto ampliado. O texto passa a ser todo conjunto
coerente de signos suscetível de ser lido e interpretado (FRANCO, 1995,
p.71).
O conceito de texto não se denota apenas ao texto escrito, mas a linguagem
humana e esta, possui muitos significados. De acordo com Silva (2013), a
hermenêutica, “foi primeiramente usada no domínio Teológico” para interpretar
corretamente a Bíblia. Nesse sentido, a hermenêutica “harmoniza a exegese à
tradição e à comunidade” (FRANCO, 1995, p.81). Diante de um texto, a tarefa da
hermenêutica é “superar uma distância, um afastamento cultural: o que se pretende é
aproximar o leitor, hoje de um texto que se torna estranho” (Ibidem). É no movimento
da interpretação que o ser interpretado pode ser compreendido.
Embora tenha essa origem, a hermenêutica não se encerra aos problemas dos textos
sagrados.
Atualmente, é chamada de hermenêutica uma corrente da filosofia
contemporânea, surgida pela metade do século XX e caracterizada em
grandes linhas pela ideia de que a verdade seja fruto de uma interpretação
(D’AGOSTINI, 2003, p.396).
Para Ricoeur a hermenêutica remete originariamente ao problema da
compreensão. O horizonte em que se encontra a hermenêutica é mais amplo, pois
trata-se
92
do problema fundamental de ordem filosófica acerca da compreensão, ou
melhor, da possibilidade de compreensão das estruturas de significação
(SILVA, 2013, p.8).
Portanto, o que está em jogo no método hermenêutico é a verdade, o
significado e a interpretação. Nessa perspectiva a hermenêutica visa:
uma decifração dos comportamentos simbólicos do homem, a um "trabalho
de pensamento que consiste em decifrar o sentido oculto no sentido
aparente" (...) (JAPIASSU, 199, p.4, grifos do autor).
Os seres humanos estão imersos num fluxo de linguagem, “num conjunto
linguístico-temporal” (D’AGOSTINI, 2003, p.399). E, é nesse fluxo de linguagem que
o ser humano experiencia a realidade que o circunda, porém, não de modo direto.
D’Agostini (Ibidem) ressalta que
jamais encontramos as coisas de modo imediato, mas temos sempre um
certo número de informações preliminares, preconceitos, expectativas a seu
respeito, e a linguagem determina, pré-orienta o nosso juízo sobre a
realidade.
A partir de então, compreende-se que, quando Ricoeur analisa a psicanálise, o
mal ou a ideologia, o faz para “emergir o sentido humano ali implicado” (SCHAEFER,
2008, p.59). Dessa forma, Schaefer (2008), sugere que a intuição central da obra
ricoeuriana da teoria da interpretação é a de mostrar que “a realidade é simbólica e o
símbolo, precisa ser interpretado” (Idem, p.60). Para Japiassu:
É o símbolo que exprime nossa experiência fundamental e nossa situação no
ser. É ele que nos reintroduz no estado nascente da linguagem. O ser se dá
a o homem mediante as seqüências simbólicas, de tal forma que toda visão
do ser, toda existência como relação ao ser, já é uma hermenêutica
(JAPIASSU, 1990, p.3).
Essa centralidade no símbolo quer dizer que o homem, não se contenta com
sua linguagem primária para exprimir sua experiência no mundo.
93
Para além da experiência das coisas e dos acontecimentos, situa-se o nível
da linguagem filosófica, linguagem interpretativa capaz de revelar uma
experiência ontológica que é relação do homem com aquilo que o constitui
homem, vale dizer, foco do sentido (JAPIASSU, 1990, p.4).
Através da análise da linguagem, Ricoeur persegue seu objetivo de “elucidar
as múltiplas funções do significar humano” (Ibidem), pois é através da linguagem que
o filósofo francês penetra na hermenêutica. Para ele, afirma Franco (1995), “o homem
é linguagem. É através da linguagem que o ser humano expressa sua curta
consciência e sua visão crítica do mundo” (FRANCO, 1995, p.49). A via da
interpretação é uma forma de buscar o sentido humano.
Portanto, Ricoeur é um filósofo que busca através da via da interpretação o
sentido humano. “É através das mediações que o ser humano pode se compreender”
(FRANCO, 1995, p.48). Ainda Franco (Ibidem), argumenta que Ricoeur, “entra pelo
caminho da análise indireta do ser humano na história e na cultura. O ser humano
pode ser conhecido por meio de sua linguagem” (Ibidem). Uma das formas de
mediação, de via indireta para o acesso ao ser humano é o símbolo, e é uma
linguagem expressa em todas as culturas.
Chamo símbolo a toda a estrutura de significação em que um sentido directo,
primário, literal, designa por acréscimo um outro sentido indirecto,
secundário, figurado, que apenas pode ser apreendido através do primeiro.
Esta circunscrição das expressões com sentido duplo constitui precisamente
o campo hermenêutico (RICOEUR, 1978, p.14).
Por ser histórico o agir humano que se expressa pela linguagem, necessita de
interpretação e essa interpretação é o encontro de dois mundos. A interpretação do
filósofo hermeneuta visa um sentido que emerge do objeto, ele “espera algo, que crê
que algo se dirige a ele através da linguagem” (FRANCO, 1995, p.74). Os símbolos
são manifestações de sentido, a linguagem simbólica porta um sentido, uma história
que precisa ser interpretada. Por interpretação, Ricoeur, entende
94
o trabalho de pensamento que consiste em decifrar o sentido escondido no
sentido aparente, em desdobrar os níveis de significação implicados na
significação literal (RICOEUR, 1978, p.14).
Portanto, os símbolos são alimentos para a reflexão, da mesma forma, acredita-
se que a cultura também é um estímulo para o pensamento e necessita de
interpretação para não ser ingênua. Em sua proposta hermenêutica, Ricoeur propõe
uma dialética-interpretativa. O caráter dialético do símbolo é visto como um jogo entre
ocultar e mostrar, pois ele traz consigo um disfarce e uma revelação. Esse caráter
ambíguo do símbolo é próprio de um ser de linguagem que está inserido na cultura e
nela, ele cria valores e significados. A linguagem cultural, refletida nos sinais, nos
símbolos, nos costumes, nas diversas manifestações artísticas, como a dança, a
música, a forma das sociedades de moldar os objetos, expressa a forma como os
seres humanos fazem sua experiência de mundo em relação com os outros.
O universo cultural contemporâneo, oferece o encontro entre diferentes
culturas. E nesse encontro, existem possibilidades fazer experiências na forma de
enculturação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos grandes desafios da filosofia é não encerrar-se num monólogo consigo,
mas, estabelecer diálogos entre as áreas do saber. Nesse sentido, Paul Ricoeur
oferece, através de sua hermenêutica uma forma de interpretar o sentido da
linguagem simbólica. O artigo propôs uma relação entre turismo cultural e filosofia,
ambas, possuem em comum o aspecto da linguagem humana como fonte e objeto de
conhecimento.
Os seres humanos são imersos no ambiente simbólico da cultura e nela, eles criam
os significados para sua existência. Logo, a cultura dá o que pensar! E se ela dá o que
pensar, ela precisa de interpretação, porque carrega um mundo de significados. O
turismo cultural possibilita esse encontro com o outro, no entanto, esse encontro
cultural se dá através das trocas de linguagem. Acontece que, por vezes, o turismo
95
cultural transforma a cultura do destino visitado em um objeto mercadológico e o
turista em um consumidor ávido por colecionar destinos. Deturpando os sentidos que
estão implicados na cultura e em sua linguagem simbólica, fazendo da cultural um
espetáculo.
A contribuição da hermenêutica, tal como é proposta por Ricoeur, significa
captar os sentidos, revelar os significados da comunicação simbólica. O turismo
cultural é uma prática, na qual, o deslocar do sujeito busca conhecer o outro, que se
apresenta como novo e diferente, visando uma experiência nova. No entanto,
acredita-se que o diálogo entre filosofia e turismo poderia realizar um diálogo com o
turismo cultural, visto que, o ato de conhecer outra cultura seria superado pela
perspectiva da interpretação e da interação cultural.
Superar as distâncias e buscar aproximações culturais parece ser os desafios que o
diálogo entre filosofia e turismo enfrenta nesse âmbito. Para isso, a compreensão se
faz necessária para perceber a cultura como um ambiente simbólico e não como um
ambiente que proporciona um espetáculo.
REFERÊNCIAS
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96
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http://www.rle.ucpel.tche.br/index.php/rrf/article/view/1322. Acesso dia 12 de outubro
de 2016.
RESIDENTES DO BALNEÁRIO DA BARRA DO CHUÍ, SANTA VITÓRIA DO
PALMAR, RS: NÍVEL DE IRRITAÇÃO EM RELAÇÃO AOS VISITANTES E AO
TURISMO.
97
SENA, Vanessa Saraiva13 [email protected]
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o sentimento dos
residentes do balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS em relação
aos visitantes e como objetivo específico, classificar em qual nível de irritação turística
se encontram os residentes do balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar,
RS. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e posteriormente uma pesquisa de
caráter exploratório-descritivo com abordagem quantitativa e qualitativa, em que se
utilizou aplicação de questionário. Os resultados obtidos foram que os residentes são
receptivos e percebem indiretamente estarem no nível da euforia.
Palavras-chave: Índice de irritação turística; Residentes; Turismo; Visitantes.
1 INTRODUÇÃO
O referente estudo trata-se de um recorte do Trabalho de Conclusão de Curso
intitulado como Residentes do Balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar,
RS e o Turismo: Aceitação ou Resistência, apresentado à banca examinadora em
dezembro de 2015.
O tema do estudo se refere a relação estre os residentes da comunidade
receptora e os visitantes que ali se chegam, bem como os efeitos socioculturais,
englobando as linhas gerais em sociologia do turismo e antropologia e turismo.
Como objetivo geral foi pertinente analisar o sentimento dos residentes do
balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS em relação aos visitantes e
como objetivo específico, classificar em qual nível de irritação turística se encontram
os residentes do balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS.
13Bacharela em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=DF99049A159D1C88682C53AD 69678EB3
98
O problema do estudo é baseado em que sintonia se encontram os residentes
do balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS e o Turismo, se eles
aceitam ou apresentam resistência em relação ao desenvolvimento turístico,
bem como com os visitantes que por consequência passam pela região.
Para o recorte apresentando neste estudo, foram criadas duas hipóteses,
aprimeira delas é que os residentes do balneário, jovens entre 18 e 25 anos,
demonstram mais receptividade do que os adultos e idosos, tendo em vista, a vida
social ativa, nos locais de lazer e entretenimento e a segunda hipótese é que todos os
residentes questionados no balneário têm representatividade no nível da euforia, por
se tratar ainda de um destino não consolidado em virtude do baixo desenvolvimento
turístico.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo serão abordadas todas as etapas que foram seguidas para
desenvolver metodologicamente o referente estudo, como os diferentes tipos de
pesquisa, a definição do instrumento de coleta para levantamento dos requeridos
dados e por fim a descrição completa da aplicação da pesquisa.
A definição do objetivo geral e do objetivo específico possibilitou a escolha do
objeto de estudo, que no caso, foram todos os residentes do balneário da Barra do
Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS que se encontravam nos dias da aplicação do
questionário e que quiseram participar da investigação.
A pesquisa do estudo quanto aos objetivos é de caráter exploratório-descritivo
de abordagem qualitativa-quantitativa, que tem como objetivo proporcionar
estreitamento com o problema, constituir hipóteses e principalmente aprimorar ideias
e/ou descobrir intuições. (GIL, 2002). Em se tratando de procedimentos técnicos, a
pesquisa tem característica bibliográfica e de levantamento.
O instrumento de coleta utilizado na pesquisa foi o questionário, que para Gil
(2002) compõem as técnicas de interrogação utilizadas na coleta de dados no
levantamento, juntamente com a entrevista e o formulário.
99
A composição do questionário se deu com perguntas fechadas e abertas,
começando por perguntas sobre o perfil sócio-demográfico, posteriormente sobre o
sentimento dos residentes quanto aos visitantes, a percepção dos efeitos causados
pela atividade turística e para encerrar, sobre a classificação do nível de irritação
turística da comunidade receptora do balneário em relação ao turismo e aos visitantes.
Para identificar a classificação da comunidade receptora do balneário quanto
à irritação turística, foi utilizada a escala irridex proposta por Doxey (1976), mas por
motivo de não encontrar a metodologia exata utilizada por ele, para chegar a essa tal
escala, foi criada uma abordagem indireta, ou seja, foram dispostas as possíveis
reações que os questionados teriam de acordo com o nível de irritação ao
desenvolvimento turístico e a partir da análise dos resultados, os questionados foram
classificados em nível de euforia, apatia, irritação ou antagonismo.
O estabelecimento do critério dos dias e horários de investigação foi aplicado
para alcançar um considerável número de residentes no balneário, visto que muitos
trabalham todo o dia e chegam em suas casas ao anoitecer e até mesmo se por
ventura, os residentes optassem por fazer viagens no final de semana. Em relação a
aplicação do questionário, o período da investigação datou de 25 de agosto de 2015
e 27 de setembro de 2015, entre 8h e 30min e 18h e 30min, englobando todos os dias
úteis e também alguns dias do final de semana.
De acordo com Veal (2011), as sondagens com questionários na área do lazer
e turismo podem ser classificadas em sondagens de rua, por telefone, por
correspondência, eletrônicos, usuário/visitante/de local, por grupos cativos e por
sondagem familiar, que no caso, foi a escolha para o referente estudo. A aplicação do
questionário foi diretamente nas residências, em todo o balneário, para obter uma
significativarepresentatividade, caso os residentes não fossem encontrados no
balneário ou não quisessem participar da investigação.
O total de respondentes foi de 85 residentes, com critério de possuir 18 anos
ou mais para apresentar maior confiabilidade do estudo e apenas uma pessoa foi
questionada por residência para não permitir influência nas respostas.
100
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo serão apresentados os aportes teóricos utilizados para
fundamentar o estudo. Tendo em vista que o objeto de estudo foi a comunidade do
balneário da Barra do Chuí, a princípio apresentaremos a qual município o balneário
pertence, quais as finalidades de um balneário do ponto de vista de visitantes, a
história e as peculiaridades da criação do balneário investigado, o que se entende por
fronteiras e a formação da identidade fronteiriça, como se compreende o turismo, a
relação entre os visitantes e os visitados e os efeitos causados pela atividade turística.
O município a qual pertence o balneário investigado é Santa Vitória do Palmar,
localizado ao extremo sul do Rio Grande do Sul, tem como limites ao leste a lagoa
mangueira e ao oeste a lagoa mirim e fica cerca de 436km da capital gaúcha Porto
Alegre. (FERREIRA, 2014).
Santa Vitória do Palmar é brindada por forte potencial no que tange o turismo,
com seus bens naturais, histórias geológica e paleontológica, aspectos culturais,
arquitetura colonial deixada pelos seus colonizadores e ademais, o encanto de duas
belas praias: o Balneário da Barra do Chuí e o Balneário do Hermenegildo. (MIORIN;
BARÉA, 2009).
Dando explicações sobre a finalidade da utilização dos balneários, Urry (2001)
afirma que originaram-se devido ao cunho medicinal, para banhos e consumo, e que
no século XVIII aconteceu o ápice dos seus desenvolvimentos em toda a Europa.
Corroborando, Enke (2013, p. 18) elucida que:
O desejo de frequentar os espaços litorâneos surgiu em torno de 1750 com a
―invenção‖ de um novo lazer, a vilegiatura marítima. O ir aos banhos passou
a fazer parte do roteiro de férias da burguesia em ascensão na época,
estabelecendo uma ligação de cumplicidade do homem com o mar ao tratar
e revigorar o corpo humano com suas águas salgada e fria e curar as
ansiedades da alma.
Urry (2001) confirma que o crescimento da nova forma de lazer, foram criadas
condições para que ocorresse concentração de bens e serviços especializados,
surpreendendo o olhar do turista da época.
101
O mar se torna um lugar de prazer e lazer, fidelizando mais pessoas e criando
tendências em diversas áreas, Enke (2013, p. 17) expõe a cerca disso que:
Ambiente simbólico, a praia foi e é um cenário no qual tendências de
comportamento, de moda, os esportes e os banhos de mar estão presentes
no cotidiano. O espaço praiano traz para a ―vida‖ de seus frequentadores a
―energia‖ que lhes falta.
Depois de apresentar o município a qual pertence o balneário investigado e
demonstrar as finalidades dos balneários em geral, adentraremos na história do
balneário da Barra do Chuí.
Sobre isso Azambuja (1978) discorre que na década de 1920, o senhor João
Ladriz, estancieiro de muitas posses dos Provedores (distrito que constitui o município
de Santa Vitória do Palmar), estimulou o senhor Joca Documento (João Pedro
Pereira), morador da região, a arrendar terras para depois construir um balneário,
sendo que algumas dessas terras foram adquiridas por legítimo título.
Azambuja (1978) corrobora que o senhor Joca Documento diante do sucesso que se
encontrava o balneário recém-inaugurado, decretou que as terras seriam fracionadas
e fragmentadas em lotes, para que então pudessem ser esboçadas ruas e praças.
Azambuja (1978) confirma que em uma longitude de 15 km deste importante
balneário do extremo-sul, seguindo a costa marítima, ao norte, surge a estação
balnear do Hermenegildo, mais nova que a da Barra do Chuí, porém de arquitetura
inferior e sem a relevância no contexto turístico do Estado, que esta apresenta. Na
direção Sul da Barra do Chuí, à margem direita da foz do rio fronteiriço, situa-se seu
balneário gêmeo de origem uruguaia, o balneário da Barra del Chuy, com edificações
e características semelhantes a do Hermenegildo, onde acolhe veranistas do Chuí e
suas proximidades. Os balneários gêmeos são separados por uma ponte
internacional, inaugurada em 1974, pelo Ministro dos Transportes da época e por
renomados representantes do Governo Uruguaio.
Como exposto anteriormente, o balneário da Barra do Chuí é mais velho que
o balneário do Hermenegildo, porém sua relevância é primordial no que tange o setor
102
turístico do estado.Schäfer, Lanzer e Streher (2009, p.300) reforçam que a Barra do
Chuí:
É o mais antigo balneário do litoral oceânico do município localizado junto a foz do arroio Chuí, no Distrito de Atlântico. O nome significa ―Rio das Tartarugas‖ ou ―Rio Manso‖ ou ―vagaroso‖ e é o marco da fronteira entre Brasil e Uruguai, no Litoral. Além da praia, apresenta grande diversidade de atrativos, dentre eles: arroio e suas barrancas, molhes de pedras, ponte internacional do Chuí, Museu Atelier Hamilton Coelho e farol da Barra do Chuí. O balneário está 29 km distante do Centro, com acesso pela BR 471. O balneário dispõe de hotéis, campings, outros serviços. É propício aos segmentos de Turismo cultural, ecoturismo, de sol e praia e de lazer.
Em se tratando da comunidade do balneário da Barra do Chuí, Barreto (2007,
p. 59) faz uma breve explanação sobre como podem ser definidas as comunidades:“os
critérios de definição de comunidade podem ser geográficos, o que leva a definir
comunidades que correspondem aos limites territoriais e outras que se definem por
sua cultura, função social ou por seus aspectos”.
Compreendendo a situação da comunidade do balneário da Barra do Chuí, e
analisando sua composição, podemos destacar que as nacionalidades ali difusas,
brasileira e uruguaia convivem em sintonia.
Müller (2008) confirma que transitar em um espaço fronteiriço faz com que
sejam marcantes as percepções ao ouvir uma pessoa falar com a outra, cada qual
com sua língua materna - espanhol ou português -, sem que haja a preocupação de
uma “tradução ao mesmo instante”. “Apesar do diferencial, o processo comunicacional,
neste caso a conversação, efetiva-se e a mensagem é compreendida sem maiores
problemas”. (MÜLLER, 2008, p.12).
A partir disso, torna-se inevitável o destaque daqueles que visitam áreas de
fronteira, com aqueles que vivem em áreas de fronteira, ou seja, é quase impossível
distinguir quem é quem, se é brasileiro ou uruguaio, no caso, na comunidade do
balneário da Barra do Chuí.
Müller (2008) conclui que de certa forma é vantajoso deixar transparecer a
identidade cultural fronteiriça, tornando-a especial no discernimento entre o nativo -
sem interessar se esse seja brasileiro ou uruguaio- dos “forasteiros”, “dos outros”,
daqueles que não dessabem de suas particularidades, adversidades e demandas do
103
espaço de fronteira.
Pessoas das duas nacionalidades dentro do balneário, se cruzam, trocam
informações e tocam suas vidas normalmente sem nenhum atrito, inclusive, agem
integradamente para solucionar problemas específicos da comunidade. Müller (2008)
apoia que os nativos desse espaço de fronteira não se sentem incomodados pelo fato
de serem de nações diferentes, mesmo quando ocorrem as trocas de relações.
Alheios a isso, comunicam-se e estabelecem espaços próprios comuns, invadem
territórios internacionais em busca de informações e produtos. Configuram um novo
espaço, originam normas e articulações para atender a demanda daquelas pessoas,
ultrapassando determinações vindas de uma instância superior.
Dorfman (2008, p.4) ainda ressalta que:
A fronteira do Brasil com o Uruguai é regulada por numerosos tratados internacionais, que ordenam desde a posição dos marcos até o controle fito-sanitário ou do crime transnacional, sendo o Mercosul1 (1991) o acordo mais importante dentre tantos outros. Nesse quadro, a institucionalização de práticas cotidianas e da região-fronteira de sua incidência surge com o ―Acordo para Permissão de Trabalho e Estudo para os Cidadãos das Localidades de Fronteira da República Oriental do Uruguai e da República Federativa do Brasil‖. Assinado em 09 de agosto de 2002, ratificado em 14 de abril de 2004, o acordo abrange uma região delimitada simetricamente a 20 Km de ambos lados da fronteira e pelos limites dos municípios/províncias. Foram estabelecidas as seguintes ―localidades vinculadas‖: 1-Chuy, 18 de Julio, La Coronilla, y Barra delChuy (Uruguai) a Chui, Santa Vitória do Palmar/Balneário Hermenegildo, (Brasil); 2-Rio Branco (Uruguai) a Jaguarão (Brasil); 3-Aceguá (Uruguai) a Aceguá (Brasil); 4-Rivera (Uruguai) a Santana do Livramento (Brasil); 5-Artigas (Uruguai) a Quaraí (Brasil); 6-Bella Unión (Uruguai) a Barra do Quaraí (Brasil). (DORFMAN, 2008, p.8-9).
Depois de ter explicado sobre a fusão da comunidade do balneário da Barra
do Chuí e da questão da integração das nacionalidades, formando uma identidade
diferente, não tem como deixar implícita a atividade que proporcionou o fluxo de
pessoas nessa fronteira, ou seja, a atividade turística.
Entre as diferentes formas de entendimento da atividade turística, tem aquela
que implica somente na decisão do que escolher em uma determinada viagem, como
conceitua Beni (2001, p. 37), o turismo é “um elaborado e complexo processo de
decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço”. Pressupõe-se que o turismo
104
é a decisão da viagem, e o que realizar de atividades na pretendida viagem. “Mas, ao
contrário de outros tipos de viagens e deslocamentos, como, por exemplo, as
migrações, o turismo é uma deslocação voluntária na procura de algo – não
estritamente material’’. (PÉREZ, 2009, p.10) “O turismo permite viajar e participar em
culturas alheias à do turista [...]”. (SANTANA, 1997. p, 90).
O turismo pode ser visto como integrador dos povos, que os ajuda a conviver
em harmonia, a respeitar as diferenças desde as raciais até as culturais, embora ainda
seja dotado de alguns conflitos. De acordo com isso Dias (2008, p.125) corrobora que:
O turismo apresenta importantes implicações socioculturais, relacionadas tanto com os turistas, como com os residentes e à relação turistas-residentes. No atual processo de intensificação da globalização, o turismo tem-se revelado como uma de suas forças motrizes, contribuindo para a disseminação de valores, novos hábitos, costumes e etc. e para aumentar a tolerância com as diferenças, para o aumento da compreensão mundial e da paz.
“A relação entre visitantes e visitados varia em cada caso, em função de uma
série de circunstâncias, favoráveis ou desfavoráveis, o que obriga aos investigadores
a ter muito cuidado antes de generalizar.” (BARRETTO 2007, p.58).
Barreto (2007) discute que na atualidade há muitos níveis de relações entre
visitantes e visitados, desde contato zero, situações de intimidade, simpatia e criação
de laços de amizade, e até hostilidade. “Casos de hostilidade aberta contra turistas e
de agressão física não têm sido registrados com frequência na literatura científica”.
(BARRETTO 2007, p. 76).
Santana (1997) explica que os universos simbólicos são separados
geralmente em um mesmo espaço físico e que o turista se encontra na situação de
lazer enquanto os nativos se encontram em pautas diferentes, como por exemplo, no
contexto do trabalho.
A partir disso podem ser verificar três contextos: a interação que é quando o
turista adquire um bem ou serviço através do residente; a percepção que é o encontro
dos turistas e residentes nos lugares de lazer e a motivação quando os dois atores se
encontram face a face, a fim de trocar informações e ideias para facilitar o
entendimento.
105
Krippendorf (2009) determinou a seguinte categorização, a primeira categoria
compreende os residentes em contato direto com o s turistas. São encarregados de
dar às boas-vindas aos turistas. Dependem do turismo como atividade econômica que
é fundamental nas suas vidas; a segunda categoria é formada pelos residentes
proprietários de negócios não relacionados diretamente com o turismo. Não guardam
uma relação estreita com os turistas e para eles o turismo é um assunto
exclusivamente comercial; a terceira é a dos residentes que estão em contato parcial
com os turistas e que conseguem ingressos que apenas procedem em parte do
turismo. São conscientes das vantagens do turismo, mas tem também uma atitude
mais crítica a esse respeito e advertem para as suas desvantagens; e a quarta e última
categoria é a dos residentes que não têm qualquer contato com os turistas ou cujo
contato é passageiro. Estes podem manifestar aprovação, rejeição, interesse ou
indiferença, sendo esta última a mais comum.
Por intermédio de projetos investigativos executados em Barbados, nas Índias
ocidentais, e Niágara no lago de Ontário no Canadá, Doxey (1975, p. 195) sugeriu que
efeitos inéditos entre os visitantes e os residentes poderiam ser transformados em
graus de irritação nos residentes. As irritações podem manifestar-se do número de
turistas ou nos riscos que representam para vida local da comunidade. Doxey ainda
complementa que as elucidações são distintas nos diferentes destinos, mas irão ser
alteradas no sentido unidirecional ao longo do tempo, confrontando ao ciclo de vida
do destino que é oferecido por Butler (exploração, envolvimento, desenvolvimento,
consolidação, estagnação e declínio ou rejuvenescimento). (WALL; MATHIESON,
2006).
Os graus de irritação propostos por Doxey (1976 p. 26-27) foram
fragmentados em diferenciados níveis, e são apontados na tabela seguinte:
Índice de irritação turística
Tradução autora: 1. No nível da euforia, as pessoas estão entusiasmadas e encantadas com o desenvolvimento turístico. Elas acolheram o estrangeiro e há um sentimento mútuo de satisfação. Há oportunidade de ganho econômico a partir da chegada dos turistas.
106
Tradução autora: 2. No nível da apatia, à medida que as indústrias expandem, as pessoas acreditam que a vinda dos turistas está garantida. Os turistas rapidamente tornam-se um alvo de lucros e o contato pessoal torna-se mais formal.
Tradução autora: 3. No nível da irritação, a indústria está se aproximando do ponto de saturação e os moradores locais não conseguem suportar o aumento dos números, sem que haja a expansão das instalações.
Tradução autora: 4. No nível do antagonismo, as irritações tornaram-se mais evidentes. As pessoas agora veem o turista como o precursor de tudo o que é ruim. Impostos subiram por causa dos turistas. "Eles não têm respeito pela propriedade." "Eles têm corrompido a nossa juventude." "Eles estão empenhados em destruir tudo o que é bom em nossa cidade". A cordialidade deu lugar ao antagonismo e os turistas são expulsos para longe.
Tradução autora: No nível final, o ambiente acaba sendo modificado sem que haja uma interrupção da comunidade local. Os residentes esqueceram que a forma para captar os turistas provocou no destino atitudes selvagens. O que eles agora têm de aprender é a viver com o fato de que seu ecossistema nunca será o mesmo novamente. Eles ainda podem ser capazes de atrair turistas, mas de um tipo muito diferente daqueles que tão alegremente acolheu nos primeiros anos. Se o destino for grande o suficiente para lidar com o turismo de massa poderá continuar a prosperar.
A atividade turística causa efeitos nas comunidades receptoras e esses efeitos
podem ser positivos ou negativos, percebidos nos diversos âmbitos. Em relação a isso,
Santana (2009, p.154) afirma “que, embora, os atores e cenários sejam muitos, os
principais afetados pela atividade turística são as pessoas que moram nas áreas
receptoras de turismo”.
Os efeitos podem ser percebidos em diferentes âmbitos, tanto no social,
cultural, econômico, ambiental e físico. A cerca disso Barreto (2007, p. 37) corrobora
que “O turismo e os turistas provocam efeitos na cultura e na sociedade, exercem
influencias e tem repercussões de vários tipos.” Portanto, os efeitos causados pelo
turismo e pelos turistas não atingem apenas uma direção, podem ser considerados
em distintas esferas. A atividade turística estimula efeitos e estes podem ser
fracionados em três categorias: Os econômicos que são as despesas e vantagens
resultadas do uso dos bens e serviços, tal como a riqueza não explícita que é gerada
e as oportunidades e contrastes que consequentemente podem acontecer; Os físicos
e ambientais que são as variações no espaço e no meio ambiente; E os socioculturais
que são as variaçõescomunsna forma de vivência dos residentes e visitantes
(SANTANA, 1997).
107
Conclui-se que o surgimento de visitantes e o contato deles com os anfitriões
podem causar diversos efeitos e de certo o contato entre os visitantes e visitados
podem ocorrer em três contextos, sendo um deles o mais pertinente no balneário da
Barra do Chuí, pois os residentes possuem ocupações relacionadas ao turismo.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos com a prática do
estudo e os mesmos serão discutidos com o aporte teórico levantado após a revisão
bibliográfica.
Dos 85 respondentes, 37 residem no balneário em um período de até 10 anos;
38 residem de 11 a 30 anos e 10 residem em um período de 31 anos ou mais no
balneário. De acordo com a origem, 49 são brasileiros e 36 são uruguaios. De acordo
com a idade, 5 têm entre 18 e 25 anos; 8 têm entre 26 e 30 anos; 6 têm entre 31 a 35
anos; 8 têm entre 36 e 40 anos; 16 têm entre 41 e 50 anos e 42 têm entre 51 ou mais.
De acordo com o estado civil, 42 sãosolteiros; 30 são casados; 10 são divorciados e
3 são viúvos. De acordo com a escolaridade, 22 têm o ensino fundamental incompleto;
25 têm o ensino fundamental completo; 27 responderam têm o ensino médio completo
e 11 têm o ensino superior completo. A maioria dos residentes do balneário são
brasileiros, mas o número de residentes uruguaios é bastante considerável. A
comunidade receptora do balneário da Barra do Chuí tem características particulares,
assim como todas as comunidades fronteiriças.
Corroborando, Müller (2009) explica que a identidade daqueles que vivem em
regiões de fronteira é completamente singular, pois consegue sobressair as
nacionalidades ali difusas; as nacionalidades se confundem entre si e destaca-se
daqueles que visitam a região. A convivência entre os residentes de fronteira é
favorável, embora aconteçam contatos e relações sociais; os nativos fronteiriços se
entendem, buscam a satisfação das suas necessidades mesmo que isso implique na
invasão de territórios internacionais e inclusive criam novas normas para atender
articuladamente a demanda de suas comunidades.(MÜLLER, 2008).
108
Tiveram residentes uruguaios que deram informações a mais, dizendo que
haviam conhecido o balneário por virem anualmente em visitas e outros inclusive
disseram que através dessas visitas foi que decidiram fixar residência no balneário, a
fim de progredirem economicamente, por se tratar de um balneário de fronteira, com
considerável número de fluxo. Dorfman (2008) confirma que a fronteira entre o Brasil
e o Uruguai é dotada de inúmeros tratados, sendo o principal deles o MERCOSUL,
que objetiva oportunizar estudos e trabalho para cidadãos de ambos lados da fronteira,
em um raio de 20km.
Tiveram também residentes uruguaios que informaram fixar residências no
balneário depois de conseguirem suas aposentadorias; concluíram seus comentários
dizendo que apaixonaram-se pelo balneário, depois de muito visitá-lo, durante anos,
nas temporadas de verão. No que se refere a migração dos uruguaios para o balneário,
logo após suas aposentadorias, temos a confirmação com os resultados obtidos,
sendo que metade tem 51 anos ou mais.
A acessibilidade nas fronteiras, despertou o interesse nos uruguaios para
prática do lazer, pois de acordo com Urry (2001) os balneários primeiramente eram
vistos para práticas de cunho medicinal, mas segundo Schossler (2010) a visão dos
balneários foi atualizada, agora vistos como lugares para praticar o lazer, praticar o
entretenimento e retornando ao objetivo anterior, também para restabeler energias.
De acordo com a ocupação, 16 trabalham em seus próprios lares; 24 são
autônomos (a); 18 são aposentados (a); 5 são domésticas; 11 são comerciantes; 4
são servidores públicos; 4 são estudantes e 4 têm sua renda mensal familiar
relacionadatão somente ao setor do turismo. Entre os que são do lar, 3possuem
também sua renda mensal familiar relacionada aos Meios de hospedagem; entre os
que são autônomos, 7 possuem também sua renda mensal familiar relacionada aos
Meios de Hospedagem e 1 possui renda mensal familiar relacionada aos Meios de
Hospedagem e Setor de A&B; entre os aposentados, 5 têm sua renda mensalfamiliar
também relacionada aos Meios de hospedagem; entre os comerciantes, 4 têm sua
renda mensal também relacionada aos Meios de hospedagem e entre os estudantes,
1 tem renda mensal familiar relacionada também aos Meios de hospedagem e 1 tem
109
renda mensal familiar também relacionada aos Meios de Hospedagem e Setor de A&B.
No total, 22 respondentes têm renda mensal familiar relacionada ao setor do turismo.
Desses 22 respondentes, 12 são brasileiros e 10 são uruguaios. De acordo com a
renda mensal familiar 56 têm renda de até R$ 1.576,00 e desses, 37 são brasileiros e
19 uruguaios; 26 têm renda de R$ 1.576,00 até R$ 3.152,00 e desses, 11 são
brasileiros e 15 uruguaios; e 3 têm renda de R$ 3.152,00 até R$ 7.880,00, e desses,
1 é brasileiro e 2 são uruguaios. De acordo como número de pessoas que residem na
mesma casa que o respondente, 14 moram sozinhos, 61 moram com 2 a 4 pessoas
e 10 moram com 5 ou mais pessoas. .
Nas relações entre aqueles que visitam e aqueles que são visitados, existem
três diferentes contextos que devem ser estudados: a interação, a percepção e a
motivação. (SANTANA, 1997). Se tratando do primeiro contexto, a interação,
conseguimos estreitar a teoria com a categorização sobre as diversas formas de
contato com aquele que recebe e aquele que visita proposta pelo sociólogo
Krippendorf (2009).
Através dos resultados obtidos com a investigação, foi possível analisar as
quatro categorias entre os residentes do balneário: contato direto, indireto, parcial e
nenhum contato com o setor turístico, conforme suas ocupações
De acordo com a percepção dos residentes com os efeitos causados pelo
turismo, 54 percebem efeitos positivos, 9 percebem efeitos negativos, 7 percebem
ambos efeitos e 15 não percebem efeito algum. Entre os exemplos, após essa
pergunta, foram citados como efeitos positivos o fomento da economia no balneário,
a reciprocidade de vivências entre as distintas culturas (brasileira, uruguaia, argentina,
etc.), o fluxo do balneário na temporada de veraneio, dentre outros e como efeitos
negativos, a contaminação do ambiente, a inadimplência por parte dos visitantes, a
delinquência, e por vezes o conflito cultural.
De acordo com o bom recebimento dos visitantes por parte dos residentes do
balneário, o resultado foi integral. Os 85 respondentes investigados no estudo
afirmaram veemente que os visitantes são muito bem recebidos e não são de
nenhuma forma ofendidos. A justificativa dada pelos residentes, foi de que não haveria
110
motivo para destrato dos visitantes, pois esclarecem que quando viajam também
gostam de serem bem recebidos, além disso, se mostram receptivos e entendem que
dependem dos visitantes para captação de lucro, tendo em vista que muitos têm suas
ocupações relacionadas ao setor turístico.
De acordo com o sentimento dos residentes para com os visitantes do
balneário, 83 são receptivos com os visitantes e 2 são indiferentes com o surgimento
e proximidade dos visitantes. De acordo com o índice de irritação turística que se
deparam os residentes frente ao desenvolvimento turístico do balneário, 81 estão no
nível de euforia e 4 estão no nível de apatia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando o desenvolvimento da pesquisa, o objetivo geral e o específico
foram alcançados, embora o instrumento de pesquisa tenha sido um pouco menos
aprofundado como querido.
O tema proposto foi sobre a relação entre os visitantes e os visitados, ou seja,
os efeitos socioculturais, e por não ter uma perspectiva antropológica, ficou quase
imperceptível encontrá-los no levantamento de dados.
Em se tratando das hipóteses que foram criadas a partir de pressupostos de
senso comum, obteve-se uma refutada e a outra confirmada.
A primeira delas é que os residentes do balneário, jovens entre 18 e 25 anos,
demonstram mais receptividade do que os adultos e idosos, tendo em vista, a vida
social ativa, nos locais de lazer e entretenimento, de fato não condiz com os resultados
obtidos, pois a maioria dos residentes têm 51 anos ou mais e são bem receptivos; e a
segunda hipótese é que os residentes questionados no balneário têm
representatividade no nível da euforia, por se tratar ainda de um destino não
consolidado em virtude do baixo desenvolvimento turístico, e com certeza foi
confirmada, pois se obteve quase que o total dos residentes no nível da euforia.
A limitação mais pertinente foi não encontrar a metodologia exata utilizada por
Doxey na criação de sua escala de irritação turística, o que incentivou a criação de
111
uma metodologia diferente, para poder chegar aos resultados da escala.
A pesquisa servirá de base para próximos trabalhos acadêmicos, sobretudo
poderá ser utilizada com outro enfoque.
REFERÊNCIAS
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112
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TRAÇOS CULTURAIS DE UM POVO: OLHAR SOBRE
SANTA VITÓRIA DO PALMAR-RS
VARNIER, Nilton C. C. 14;RODRIGUES, Raphaella C. 15.
14Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Metrando em Turismo e Hotelaria do Programa de Pós Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – PPGTURH/UNIVALI. Bolsista CAPES/[email protected]. Link currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/129931048362154. 15Bacharela em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Metranda em Turismo e Hotelaria do Programa de Pós Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí –
113
SILVA, Yolanda F. 16
Resumo:Sobre caminhos antropológicos e culturais, este material apresenta como
objetivo geral viabilizar a compreensão dos traços da cultura do município de Santa
Vitória do Palmar. Como objetivos específicos: reconhecer as peculiaridades histórico-
culturais dos campos neutrais, e posteriormente elencar elementos culturais do
extremo sul do Brasil, olhando sobre a dinâmica imposta a comunidade de Santa
Vitória do Palmar. Quanto aos procedimentos metodológicos, esta é uma pesquisa de
natureza básica, de abordagem qualitativa de abordagem exploratória, dotado de uma
essência etnográfica, por esta permitir o aprofundamento e imersão no contexto
cultural vitoriense. Obteve como resultados o reconhecimento das peculiaridades
culturais latentes, no contexto de formação histórico e cultural da região.
Palavras-chave:Cultura; Identidade; Santa Vitória do Palmar
1 INTRODUÇÃO
A cultura, percebida em seu amplo sentido etnográfico, é este todo complexo
que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade
(TYLOR ,1871). No final do século XVIII e início do seguinte, o termo germânico Kultur
era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade,
PPGTURH/UNIVALI, docente da Universidade Federal do Rio Grande – [email protected]. Link currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3975356974332385. 16 Doutora Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria,
[email protected]. Link currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5344296091176496.
114
enquanto a palavra francesa Civilisation referia-se principalmente às realizações
materiais de um povo (LARAIA, 1932).
O sentido abrangente da palavra cultura permite sua interpretação sobre
diversos aspectos. A antropologia, ao tentar explicar este fenômeno, visa sistematizar
a realidade encontrada de forma global, buscando caminhos que permitam interpretar
e contemplar de fora (TYLOR, 1871; SANTANA, 2009). Desta forma, buscam na
cultura encontrar algum traço identitário – encontrar raízes, da realidade estudada.
De acordo com o conceito contemporâneo de identidade esta é móvel, forma-
se e transforma-se de acordo com condicionantes biológicos, geográficos e históricos,
como a memória coletiva. Ainda, a identidade está sujeita a mudanças e inovações e
depende em grande parte da relação com os outros. A identidade manifesta-se no
pertencimento a determinados grupos religiosos ou políticos, ou a papéis sociais,
como ser mãe ou ser professor, por exemplo (BARRETO, 2007).
Sobre caminhos antropológicos e culturais, este material apresenta como
objetivo geral viabilizar a compreensão dos traços da cultura do município de Santa
Vitória do Palmar. Partindo do princípio de que todas as culturas são fundamentadas
em um conjunto de crenças, pelas quais são compartilhados conhecimentos e ideias
sobre a natureza da vida (DIAS, 2006).
O município de Santa Vitória do Palmar está situado no extremo sul do país,
distante aproximadamente 500km da capital gaúcha Porto Alegre, fazendo fronteira
com o Uruguai, possui como estimativa populacional cerca de 31 mil habitantes, e sua
área territorial é de 5.244,353(km²), no qual a região está inserida no bioma pampa de
acordo com IBGE (2014).
A zona costeira atlântica municipal possui aproximadamente 220km de uma
praia arenosa ininterrupta além de grandes lagoas e zonas de banhado, sendo
considerado um valioso bem natural com importantes atributos ecológicos
(SEELIGER, 2004). O mineralogista alemão Guilherme Von Feldner (1810) descreve
uma passagem por este trecho de terra: “A mais triste arenosa borda do mar e o olho
do navegante procura inutilmente uma perspectiva em que descansado se possa
115
recrear. Sem querer, sua vista se eleva ao céu e exclama: Deus! Que mísero deserto
de areias (1810)”.
Para o melhor entendimento da temática abordada neste material, foram
propostos dois objetivos específicos que são: reconhecer as peculiaridades histórico-
culturais dos campos neutrais, e posteriormente elencar elementos culturais do
extremo sul do Brasil, olhando sobre a dinâmica imposta a comunidade de Santa
Vitória do Palmar.
Esta pesquisa surgiu após alguns questionamentos, sobre como a antropologia
sistematiza e classifica a cultura. Assim, partimos do princípio de que cada cultura tem
suas próprias e distintas formas de classificar o mundo. É pela construção de sistemas
classificatórios que a cultura nos propicia os meios pelos quais podemos dar sentido
ao mundo social e construir significados. Há, entre os membros de uma sociedade
certo grau de consenso, sobre como classificar as coisas a fim de manter alguma
ordem social. Esses sistemas partilhados de significação são na verdade o que se
entende por “cultura” (WOODWARD, 2000).
Como breves resultados podemos compreender que os traços da cultura do
município de Santa Vitória do Palmar, estão intimamente relacionadas com as
condições de formação histórica, localização geográfica, estreitamento de laços
familiares e culturais com o Uruguai. As temáticas do gaúcho desta fronteira; A
fronteira e o centro de tradição gaúcha; O universo da pesca; A cultura do arroz; e a
Linguagem do povo fronteiriço serão brevemente abordadas.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este estudo está classificado quanto a sua metodologia como de natureza
básica, pois buscou a viabilizar a compreensão da cultura de Santa Vitória do Palmar.
Para isso adotou-se uma abordagem qualitativa (SAMPIERE; COLLADO,2013), por
esta permitir o aprofundamento e imersão no contexto cultural vitoriense. Esta
pesquisa quanto aos objetivos é vista como exploratória, pois buscou o
116
reconhecimento das peculiaridades culturais latentes, no contexto de formação
histórico e cultural da região.
Sendo assim os procedimentos técnicos que viabilizaram a concretização
deste estudo foram: pesquisa bibliográfica, no qual optou-se por uma seleção
bibliográfica de autores locais, além da pesquisa documental, utilizada para
reconhecer sobretudo o processo histórico e político imposto ao então, Campo Neutro
entre colônias portuguesa e espanhola, desta forma, é ainda um estudo de caso
(DENCKER, 2004) do município gaúcho de Santa Vitória do Palmar – RS, com
essência etnográfica, por buscar a compreensão sobre a interferência dos
acontecimentos históricos nas pessoas daquela comunidade, no qual foi necessário a
inserção no contexto natural para acessar as experiências, e assim descrever o
sistema de significados culturais do local.
Quanto aos procedimentos técnicos que permitiram o entendimento da realidade
estudada, foi um diário de campo para registrar o comportamento e símbolos
identificados pelo pesquisador durante imersão no universo de pesquisa. Além disso,
foi utilizada a técnica da entrevista em profundidade com o Historiador local, e o
primeiro agrônomo do município. Para Veal (2011), a entrevista em profundidade tem
por características: ser conduzida com um número relativamente pequeno de sujeitos;
guiada por um roteiro de tópicos e não por um questionário formal; são gravadas e
transcritas; demoram pelo menos meia hora e podem se estender por diversas horas.
Foi selecionada uma amostra intencional, representada por uma comunidade
tradicional pesqueira do município e outra comunidade tradicional, gravando
entrevistas com habitantes de diferentes faixas etárias para identificação de
elementos típicos do povo da fronteira. A análise do conteúdo do diário de campo e
das entrevistas foi, nesta etapa exploratória, através dos elementos mais citados,
permitindo elencar características latentes manifestadas na comunidade sobre
aspectos históricos e culturais de Santa Vitória do Palmar, cujo contato constante
entre estes habitantes resultou em uma minimização de omissão sobre o fenômeno
observado, compondo a identidade cultural de Santa Vitória do Palmar (RODRIGUES,
2012; AZAMBUJA, 1992).
117
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para Nardi (2002), as realizações ou modificações que o homem opera
no mundo são o resultado, consciente ou inconsciente, material e não
material, de toda a atividade intelectual, psíquica e manual do homem
aplicado ao mundo e a ele mesmo. Trata-se de tudo o que se refere ao meio-
ambiente e à sociedade, ou seja, a organização social, econômica e política
que depende da cosmovisão, da ideologia e mais fatores (NARDI, 2002). Aqui
entram as produções e manifestações culturais. À ambas correspondem as
noções de cultura popular ou erudita.
As considerações creditadas à cultura humana e a todas as suas
formas de manifestação, não podem ser formuladas seguindo padrões e
concepções teóricas, métodos rígidos que seguem determinados padrões
(FONSECA; FERREIRA, 2013). Ainda para os autores, uma vez que, as
manifestações culturais devem ser analisadas dentro de um contexto
histórico e social dinâmico, cujos padrões e aspectos que as caracterizam
estão em constante mutação ao longo dos anos ultrapassando gerações.
Desta forma, é preciso, compreender o movimento dialético das sociedades
e dos diversos grupos sociais que a compõem (FONSECA e FERREIRA,
2013).
Assim, Nardi (2002) cita que cultura constitue um conjunto de
linguagens e representações, referentes ao real ou ao irreal, isto é, a
expressão da percepção do mundo e o imaginário. As produções citadas pelo
autor incluem artes plásticas, literatura, música, estudos, contos e lendas,
cozinha; as manifestações incluem as festas, cerimônias e religiões, os mitos,
símbolos e tabus. As ciências são outra forma de realização; correspondem
aos conhecimentos e às práticas consideradas aqui como saber técnico
(NARDI, 2002).
Adentrando o campo do pensamento filosófico Chauí (2006) cita Hegel e Marx:
118
Foram Hegel e, depois Marx que enfatizaram a cultura como história. Para o
primeiro, o tempo é o modo como o Espírito Absoluto ou a razão se manifesta
e se desenvolve através das obras e instituições – trabalho, religião, artes,
ciências, filosofia, instituições sociais, instituições políticas. A cada período
de sua temporalidade, o Espirito ou razão engendra uma cultura determinada,
que exprime o estágio de desenvolvimento espiritual ou racional da
humanidade em uma sequência de civilizações que se iniciam no Oriente e
terminam no Ocidente – China, Índia, Egito, Israel, Grécia, Roma, Inglaterra,
França, Alemanha seriam fases da vida do Espírito ou da razão, cada qual
exprimindo-se com uma cultura própria e ultrapassada pelas seguintes, em
um processo contínuo. Para Marx, o espiritualismo ou idealismo hegeliano é,
evidentemente, inaceitável. A história-cultura não é o desenvolvimento da
vida do Espírito Absoluto, mas o modo como, em condições determinadas e
não escolhidas por eles, os homens produzem materialmente (pela divisão
social do trabalho e pela organização econômica) sua existência e dão
sentido a essa produção material. A história-cultura não narra o movimento
temporal do Espírito, mas as lutas reais de seres humanos reais que
produzem e reproduzem suas condições materiais de existência, isto é,
produzem as relações sociais, pelas quais se distinguem da natureza e
diferenciam-se uns dos outros em classes socais antagônicas. Por este
prisma, o movimento da história-cultura é realizado pela luta das classes
sociais para vencer formas de exploração econômica, opressão social e
dominação política.
Ainda para Nardi (2002), sintetizando, podemos dizer que a cultura é um
processo cumulativo de conhecimentos e práticas resultante das interações,
conscientes e inconscientes, materiais e não-materiais, entre o homem e o mundo, a
que corresponde uma língua. O autor ainda salienta que, é um processo de
transmissão pelo homem das realizações, produções e manifestações, que ele efetua
no meio ambiente e na sociedade, por meio de linguagens, história e educação, que
formam sua psicologia e suas relações com o mundo (NARDI, 2002).
Abordando a cultura nacional, esta é um agregado de subculturas diferenciadas
- havendo quase sempre uma dominante - e da “concultura” formada pelos traços
comuns entre as subculturas, ou seja, os contatos, a vida e a história em comum dos
povos que as constituem (NARDI, 2002). A noção de identidade nacional justapõe-se
então à cultural nacional assim considerada. Conseqüentemente, existe uma cultura
“multi” ou “transnacional” com as mesmas características, mas a um nível superior de
119
unidade política ou social (NARDI, 2002). A cultura ocidental, por exemplo, é
constituída de subculturas européias, latino-americanas e norte-americana, sendo
esta a subcultura dominante.
Para Chartier (1992), durante muito tempo, a concepção clássica e dominante
da cultura popular teve por base, na Europa e, talvez, nos Estados-Unidos, três ideias:
que a cultura popular podia ser definida por contraste com o que ela não era, a saber,
a cultura letrada e dominante; que era possível caracterizar como "popular". Para
Nardi (2002), em todas as circunstâncias, e independentemente de seu nível escolar,
o homem pensa primeiro na língua que fala e é através desta que ele transmite seu
pensamento. Negada a possibilidade de expressão pela língua falada na sociedade -
porque não corresponde à língua de comunicação oficial - limita-se o pensamento
(NARDI, 2002).
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
A seguir serão apresentados os traços histórico-culturais dos Campos Neutrais;
O gaúcho desta fronteira; A fronteira e o Centro de Tradições Gaúchas; O universo da
pesca, A cultura do arroz; e a Linguagem do povo fronteiriço.
4.1 TRAÇOS HISTÓRICO-CULTURAIS DOS CAMPOS NEUTRAIS
Inicialmente, o território que abrangia o município de Santa Vitória do Palmar ou antigo
Campos Neutrais foi habitada por índios, estes que sofreram com advento do branco
conquistador considerável impacto que alterou profundamente sua antiga
originalidade. A etnia Chaná e posteriormente os índios Charruas predominaram neste
território os quais dominavam as técnicas equestres (AZAMBUJA, 1978).
Santa Vitória do Palmar está localizada em uma região que historicamente foi
alvo de disputa territorial entre portugueses e espanhóis. Localizada na antiga
província do Rio Grande do Sul, este local sofria com as divisões político
administrativas ainda em discussão, o que agregou características de uma fronteira
120
móvel que servia como ponto de passagem e contato entre duas culturas, permitindo
com isso o estabelecimento de uma cultura de fronteira (Alves, 2011). De forma
resumida, se pode dizer que são aspectos essenciais da vida nesta fronteira a mistura
de línguas, o fluxo de identidades e o transporte de contrabando (BALDERSTON,
2003).
O território que hoje corresponde ao município foi inicialmente denominado “Campos
Neutrais”, o que significava território neutro, no qual nem espanhóis ou portugueses
poderiam ocupá-lo. Este acontecimento se deu a partir do estabelecimento do Tratado
de Santo Idelfonso, entre as coroas lusitanas e espanholas no ano de 1777 (ALVES,
2011; AZAMBUJA, 1978; MELLO,1992).
Este contexto de controvérsias e constantes disputas exerceu um papel
decisivo que marcaria as peculiaridades da formação histórica da região (ALVES,
2011). Meio a este processo de construção histórica, política, e geográfica, se dá a
formação de um povoado com traços culturais peculiares, influenciados pela condição
da vida no campo em plena fronteira, no qual a imensidão do pampa e a produção
pecuária, atraiam saqueadores e aterrorizavam as famílias que habitavam as
estâncias (RODRIGUES, 2012).
Santa Vitória do Palmar foi fundada no ano de 1855, o pequeno povoado até
então era composto por grandes estâncias de gado e ovelhas, e um pequeno núcleo
urbano (AZAMBUJA, 1978). O acesso terrestre ao restante do Brasil era complicado,
pois na época a viagem era feita em veículos de tração animal e dependia das
condições do tempo (RODRIGUES, 2012), podendo a viagem ao munícipio brasileiro
mais próximo perdurar por 10 a 15 dias para percorrer uma distância de
aproximadamente 235 quilômetros (AZAMBUJA, 1992).
Contudo o novo município possuía vias fluviais, que permitiam através da navegação
o acesso a Pelotas e a capital Porto Alegre em menor tempo, principalmente a Lagoa
Mirim que teve a primeira embarcação a vapor com linha regular em 1909
(AZAMBUJA, 1992).
Cabe mencionar que este território pouco habitado era inóspito, devido seu
isolamento geográfico ou proximidade com o Uruguai ou pela incidência climática que
121
impõe a região invernos rigorosos. Estas condições favoreceram a formação de
núcleos familiares binacionais, no qual se observa em inúmeras famílias vitorienses
em alguma raiz uruguaia em seu tronco genealógico (RODRIGUES,2012).
Características desta região era a atribuição de uma “fronteira fictícia” que não
trazia entraves para a população das duas nações, permitindo o uso compartilhado
de serviços, como o caso de atendimento médico e sobretudo pela troca cultural,
materializadas no Theatro Independência em Santa Vitória do Palmar com a exibição
de peças e espetáculos de dança em português e em espanhol, quando a cidade de
Castillos no Uruguai chegou a ser apelidada por cidade gêmea de Santa Vitória do
Palmar (RODRIGUES, 2012; AMARAL, 2008).
Alguns anos depois, a atividade agrária expandiu por toda a extensão da lagoa
Mirim, com destaque para a alta produtividade de arroz, gerando uma cultura em torno
da atividade (AZAMBUJA, 1978). Com a evolução do município, a organização política
e administrativa trataram de instituir símbolos municipais como a bandeira e brasão.
O núcleo populacional do município de Santa Vitória do Palmar, mudou
significativamente ao longo dos anos. No início de seu povoamento a configuração
territorial era essencialmente rural, com a população estabelecida nas fazendas e
estâncias, sendo o núcleo urbano pequeno e pouco populoso (AZAMBUJA,1978).
O estabelecimento da cidade na fronteira ao longo do tempo permitiu crescimento do
núcleo urbano sobretudo na década de 1960, com a expansão agrícola que repercutiu
no aumento populacional de Santa Vitória do Palmar. Em meados da década de 1970
observou-se o crescimento da população urbana diminuição da população rural.
Porém, o grande aumento populacional urbano foi na década de 1980, no qual o
município obteve um acréscimo populacional de 10.000 habitantes (IBGE,2014).
Para melhor entendimento dos elementos culturais do extremo sul do Brasil,
cujo olhar está direcionado sobre Santa Vitória do Palmar - RS, a seguir apresentamos
recursos culturais manifestados no município, com o objetivo de viabilizar a
compreensão da cultura local, sobre seus aspectos histórico culturais. Os elementos
abordados nesta pesquisa foram: “O gaúcho desta fronteira”, “A fronteira e o Centro
122
de Tradição Gaúcha”, “O universo da pesca”, “A cultura do arroz”, “Linguagem do povo
fronteiriço”.
4.1.1 O gaúcho desta fronteira
Suas raízes antropológicas estão registradas pelo advento da junção étnica de
culturas ibéricas e indígenas e sua relação com a vida pastoril na pampa (RIBEIRO,
2014). No Brasil, é representado por povos oriundos do sul do país ligados a vida
cotidiana no campo, ou ainda, marcado pelo orgulho de pertencer “a esta terra”, ou
seja, ao Rio Grande do Sul. A figura do gaúcho é representada pelo chimarrão, o
churrasco, o cavalo, a vida campeira e sobretudo pelo cultivo destas tradições.
Santa Vitória do Palmar frente sua formação histórica e cultural, fez com que o
gaúcho desta fronteira obtivesse características peculiares. Aqui destaque para o
gentílico dos gaúchos nascidos no município: “Mergulhão”. Este gentílico é um dos
elementos que representa a identidade cultural do vitoriense, adquirido pela curiosa
história que gerou o apelido, bem como pela figura peculiar do pássaro típico da região
de banhados.
Esta característica se assemelhou ao contexto da formação cultural do
município, no qual observou-se no hábito da população certo temor sobre os que se
aproximavam de suas propriedades, isto devido à vida difícil em um território inóspito,
denominado Campos Neutrais. Tentando resguardar-se do perigo, as famílias que
aqui viviam mudaram seus hábitos frente a qualquer aproximação, se escondendo até
averiguar se a situação era de perigo ou não.
O Biguá (Phalacrocorax brasilianus) ou Mergulhão como é conhecido
popularmente, é uma ave aquática com plumagem de cor preta quando adulto e
marrom escuro quando juvenil. Este pássaro mergulha em busca de peixes ou em
fuga de algo desconhecido, permanecendo bom tempo em baixo da água e
reaparecendo distante do local.
4.1.2 A fronteira e o centro de tradição gaúcha
123
Visando cultivar as tradições, preservar e valorizar os costumes, zelar pela
autenticidade do traje gauchesco, do folclore e da cultura sul rio-grandense em todas
as suas manifestações, está o Centro de Tradições Gaúchas – CTG. As festividades,
rodeios, concursos e palestras ressaltam os valores da formação social, histórica e
musical do Rio Grande do Sul através dos CTG’s. Com o passar dos anos e gerações
modernas surgido, foi necessário que estes centros tradicionalistas, se flexibilizassem
quanto algumas restrições, a fim de, atender ao novos hábitos e costumes de uma
população urbana. A seguir imagem de um Mergulhão, vencedor do Rodeio
Internacional Mercosul (2014), uma atividade típica dos CTG, a “Gineteada”.
A maior manifestação cultural em Santa Vitória do Palmar é a cultura gaúcha,
possuindo três centros de tradição gaúcha, que no decorrer dos anos e com a
integração eminente entre brasileiros e uruguaios, surge à cultura deste “gaúcho
diferente”, um povo mais próximo da raiz gaucha. Como marca desta região estão os
campos propícios para a lida campeira, bem como, a produção de um gado de ótima
qualidade, tanto par corte como seu couro, fazendo com que este gaúcho da fronteira
viva as suas tradições cotidianamente.
4.1.3 O universo da pesca
Santa Vitória do Palmar é banhada pelas Lagoas Mirim e Mangueira e o pelo
oceano Atlântico, vias para a manifestação da cultura da pesca no município. A pesca
artesanal é a cultura manifestada na região, onde os pescadores fabricam suas cordas
e redes, desenvolvendo todo o trabalho da pesca.
As colônias de pescadores vêm sofrendo com a falta de suporte
governamental, uma vez que, respeitando a época de procriação dos peixes, muitos
deles, chegam a ficar cerca de seis meses em um ano sem pescar. Outra atividade
que prejudica a pesca artesanal no município, é a pesca predatória por embarcações
oriundas de outras localidades.
124
A cultura da pesca manifestada diariamente pelo pescador através do
entendimento do tempo e das marés, a interferência da lua e dos ventos. Atualmente
o pescado e o produto oferecido ao consumidor pelos pescadores artesanais,
geralmente são: tainha, papa-terra, bagre, peixe-rei, traíra, entre outros. Onde o
mercado consumidor é a própria comunidade, já no litoral o fluxo de vendas aumenta
no verão, com a presença de turistas e do aumento populacional nos balneários. Se
a cultura pesqueira artesanal não for valorizada pode vir a desaparecer, pois a
renovação das gerações pesqueira não vem acontecendo, uma vez que, a atividade
tem se tornado inviável economicamente.
4.1.4 A cultura do arroz
O arroz está entre os cerais mais consumidos no mundo. O Brasil é o nono
maior produtor mundial, a maior produção brasileira é no Rio Grande do Sul. Santa
Vitória do Palmar é um dos maiores produtores de arroz do país (IBGE,2013), porém
somente parte deste processo é realizado no município.
O cereal é cultivado por meio de irrigação e beneficiado por diversas arrozeiras
locais, porém o produto é manufaturado fora, no qual a mão de obra local supri
serviços de forma sazonal e é caracterizada como de baixa especialização.
Os grandes produtores agrícolas que dão início ao processo de modernização
no campo, são de origem urbana, ou seja, não se desenvolve a ideia de modernização
no campo. Consequência disso, está no fato da maior parte do arroz produzido no
município pertencer a agricultores que gerenciam seus empreendimentos fora de
Santa Vitória do Palmar, são os granjeiros que incorporam a modernização e aumento
da produção agrícola (FERREIRA, 2009), resultado disso é que a cidade e sua
população é pouco beneficiada pela produção do arroz.
4.1.5 Linguagem do povo fronteiriço
125
A linguagem verbal típica expressada pelo vitoriense é um traço marcante em
sua cultura, que permite compreender a integração deste povo com sua região. O
modo de falar está ligado a essência da vida humana, devendo ser reconhecida como
um bem cultural, representando valores que afirmam a identidade cultural do local, e
que aqui nos permite identificar um tipo de vocabulário próprio, chamado de
Mergulhonês uma espécie de glossário de palavras locais.
O contato direto com o povo uruguaio fez com que surgisse um estreitamento
de laços entre as culturas formando e dando origem a peculiar variedade
geolingüística desta região. O espanhol falado pelos uruguaios desta fronteira com
pronúncia forte e sotaque carregado, reflete no português do vitoriense, chiado e por
vezes ativo e reflexo, como exemplo a expressão “me dormi”.
Assim, a cultura do campo e os aspectos de formação histórico culturais do
município de Santa Vitória do Palmar somada a proximidade com o gaucho do
Uruguai, podem ser visualizadas em trechos do poeta local Newton Hugo Luíz Silva
(2010):
“Amigo campeiro!
Hoje quero te falar de um causo verdadeiro
Acontecido com um doutor que era fazendeiro
E que também já foi granjeiro
Mas agora é apenas um poeta galponeiro!”
“Tantos anos já passaram!
E até hoje não consigo esquecer!
Aquela noite triste que me fez sofrer!
Eu era um piazito bem campeiro!
Criado lá na zona do pastoreiro!
Sabia laçar e tirar couro de cordeiro!”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Frente ao contexto histórico cultural em que se desenvolveu o município de
Santa Vitória do Palmar, foi possível notar que o traço cultural deste povo fronteiriço
126
apresenta em sua essência a ligação com a lida no campo e influências de costumes
ligados a cultura uruguaia e do gaúcho, como será abordado no tópico a seguir
denominado reflexos culturais sobre o mergulhão.
A formação étnica da população está fundada sobre os índios guaranis e
charruas, portugueses e espanhóis (RODRIGUES, 2012). Além disso, é possível
destacar diferentes manifestações culturais que formam o perfil social e cultural do
vitoriense. A diversidade desta cultura é fortalecida pela presença de imigrantes
vindos de diferentes nações, como Itália, Holanda, Japão, entre outros, no qual o
negro e a cultura afro, até pouco tempo era descriminada (AZAMBUJA, 2001).
Compreendemos que os traços da cultura do município de Santa Vitória do Palmar,
estão intimamente relacionadas com as condições de formação histórica, localização
geográfica, estreitamento de laços familiares e culturais com o Uruguai.
Recomendamos que este material seja aprimorado e formatado de modo que
possa ser destinado as bibliotecas do município e instituições de ensino, educação e
cultura de Santa Vitória do Palmar, para fomentar e possibilitar a inserção do tema
estudado de forma transversal e interdisciplinar de maneira acessível e ilustrada.
REFERÊNCIAS
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O OLHAR DOS VISITANTES SOBRE A CIDADE DE PELOTAS/RS
SONDA, Milena Paula Sonda17 [email protected]
HALLAL, Dalila Rosa 18 [email protected]
17Bacharel em Turismo pela UFPel. 18Professora do Curso de Turismo. Faculdade de Administração e de Turismo. Universidade Federal de Pelotas.
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Resumo: O presente artigo tem como objetivos analisar a visão dos visitantes sobre Pelotas e os pelotenses; e verificar os motivos da visita.O olhar do visitante, do turista, reflete a imagem da cidade. Para atingir os objetivos do trabalho, foram realizadas 23 entrevistas com visitantes que estavam em Pelotas no período de 23 de maio á 03 de junho do ano de 2016.Verifica-se que Pelotas sob o olhar dos visitantes é cultura, história uma cidade que remete ao passado. Quanto aos pelotenses os viajantes o consideram hospitaleiros e acolhedores, e também o contrário, fechados e reservados e esnobes.
Palavras-Chave:Olhar; Visitante; Pelotas.
1 INTRODUÇÃO
Uma das maiores motivações da viagem é, sem dúvida, o destino, sendo a
imagem deste destino uma percepção mental que se tem de um dado sítio e não
apenas uma representação visual do lugar (GARROD, 2008).
Para Boullón (2002, p. 189) as cidades são ambientes criados pelo homem,
portanto um espaço cultural, cujo objetivo é a vida em sociedade. Castrogiovanni
(2001, p. 23) compreende as cidades como uma representação fiel dos
"macromovimentos sociais", entendendo as cidades como "um recorte do mundo,
onde independentemente de suas dimensões ou relevância regional, vibram e
transformam-se de acordo com as necessidades e solicitações das políticas e
movimentos sociais locais, atrelados aos universais". Isso explica as singularidades
de cada cidade por ser um ambiente criado e construído pelo homem. Para Boullón
(2002) homens diferentes construíram cidades diferentes, conforme suas
necessidades e características naturais do local. Nesse sentido, as cidades devem
ser compreendidas como representações das condições humanas, que são
representadas na arquitetura e na ordenação dos elementos urbanos, desta forma
deixando testemunhos na paisagem de tais espaços. (CASTROGIOVANNI, 2001, p.
23).
As cidades, cada uma com suas características e especificidades tornam-se
possíveis destinos turísticos para o visitante, para o turista que ao se depararem com
130
uma paisagem cheia de simbolismo e códigos, muitas vezes se sentem agredidos e
ao mesmo tempo motivados a decodificar esta paisagem.
Na literatura sócio-antropológica sobre turismo este é definido, regra geral,
como uma prática social que envolve o corte com rotinas estabelecidas do dia-a-dia,
representando assim uma ruptura no quotidiano cujo propósito é, antes de mais,
experienciar algo de extraordinário (URRY, 1990). O turismo insere-se no campo mais
vasto do lazer, na sua oposição definidora com o trabalho. Mas, para além das
diferentes ocupações dos atores envolvidos, existe também uma diferença cultural
que supostamente seria o catalisador dessa experiência extraordinária. Ou seja, as
diferentes culturas e diferentes ocupações definem, à partida, aquilo que caracteriza
o turismo (COHEN, 1979).
Desse modo, torna-se importante analisar o olhar do visitante, do turista, pois
é a partir desse olhar que a imagem da cidade em questão se forma. O olhar do turista
é primordial, pois tudo que envolve o entorno, como a paisagem, infraestrutura desde
saúde, segurança, trânsito, alimentação, saneamento básico, comunidade, dentre
outros, reflete como o turista enxerga aquela cidade.
Para Urry (1990), o olhar turístico é construído através da diferença, em relação
ao seu oposto, a formas não-turísticas de experiência social. O olhar turístico não é
uma atividade meramente individual, é socialmente organizado, na medida em que há
profissionais que ajudam a construir e desenvolver o nosso olhar enquanto turistas,
através dos guias turísticos, da publicidade, dos media ou da literatura de viagens. A
atração turística envolve, portanto, processos complexos de produção, em que
olhares turísticos são gerados e sustentados. As pessoas têm de aprender como e
para onde olhar.
O olhar do turista modificou conforme os anos foram passando, os diferentes
grupos sociais, estado espiritual e até o momento histórico em que vivem fazem
interferências de como enxergar a localidade. Cada pessoa possui uma opinião sobre
o lugar, sendo que não é o certo e nem errado, mas naquele momento para ela que
está vivenciando aquilo, é a melhor forma de reconhecer (DORNBUSCH, 1998). O
131
olhar é feito para ver certas coisas, porém para não ver outras. Berger afirma que
“somente vemos o que olhamos. E olhar é um ato voluntário” (BERGER, 1974, p.14).
O presente artigo tem como objetivos analisar a visão dos visitantes sobre
Pelotas e os pelotenses; e verificar os motivos da visita.
Para Souza (1995), a imagem da cidade vai sendo construída ao mesmo tempo
que a própria cidade vai passando por transformações estruturais, para seu
crescimento. Os aspectos vistos e vividos pelos visitantes em uma cidade, país ou
nas próprias culturas dos povos é o que realmente atraiu o olhar.
A pesquisa configura-se como descritiva e abordagem será qualitativa. Para a
coleta dos dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas em locais que
costumam ser frequentados por visitantes.
Foram realizadas 23 entrevistas com visitantes que estavam em Pelotas no
período de 23 de maio á 03 de junho do ano de 2016. Para a realização das mesmas,
alguns locais com maior movimentação de turistas foram escolhidos, tais como: Praça
Coronel Pedro Osório a qual possui alguns casarões que pertenceram a antigos
charqueadores, museu, biblioteca pública, teatros e a Prefeitura Municipal (PELOTAS,
2016); Museu da Baronesa, no qual encontramos toda nobreza das famílias que
viveram em Pelotas no século XIX e XX (PELOTAS, 2016); Mercado Público, no
mesmo podemos encontrar algumas confeitarias e lojas do comércio pelotense; e a
Feira Nacional do Doce (FENADOCE), a qual estava sendo promovida pela Câmara
de Dirigentes Lojistas (CDL) durante o período de aplicação das entrevistas.
2. PELOTAS SOB O OLHAR DOS VISITANTES
“A maneira de olhar e a construção de uma paisagem estão interligadas. As
duas possuem uma grande proximidade, sendo indispensável para a compreensão
de uma com a outra. Ver é conseguir perceber a paisagem, conseguir ter o próprio
ponto de vista” (NOBREGA,2013, p.54). “Sendo assim, a paisagem se constrói
solidamente quando conseguimos tirar quando conseguimos limitar o olhar e o mesmo
vai recortando o espaço que está na volta” (DIAS, 2006, p. 125).
132
Cada pessoa enxerga de uma forma aquilo que está olhando. Cada olhar
diferente é influenciado por vários fatores, sendo uns dos principais, o período em que
vivemos, o grupo em que se está inserido, as pessoas que estão te rodeando. Sendo
assim, cada turista enxerga aquilo que quer ver, sendo destacada a paisagem
individualizada, sendo delimitada pelo olhar, enquanto conhece a cidade com o seu
próprio tempo (MELO e CARDOZO, 2009, p.78).
A cada instante há mais do que os olhos podem ver, do que o olfato pode sentir ou do que os ouvidos podem escutar. Cada momento é repleto de sentimentos e associações a significados, portanto, há uma constante construção de significações. A cidade é o que é visto, mas mais ainda, o que pode ser sentido. (CASTROGIOVANNI, 2001, p. 25)
Isto porque uma cidade é muito mais do que simplesmente os olhos podem ver
é preciso conhecer profundamente sua história para que se possa ver as cidades com
verdadeiros "olhos de ver", não ver simplesmente suas formas, mas o que estas
formas representam e representaram para uma determinada sociedade em um
determinado período de tempo. (FERNANDES; CARDOZO e MAGANHOTTO, 2008,
s/p)
O visitante ao decidir por uma localidade como sua destinação turística é
influenciado por diversos fatores, que transformam a atividade do turismo em algo
complexo, entre os fatores destaca-se a contemplação e o imaginário coletivo, a mídia
de uma forma geral que valoriza e repassa ao seu usuário informações sobre
destinações turística, que afetam diretamente os turistas, desenvolvendo suas
motivações.
Pelotas é um município da região sul do estado do Rio Grande do Sul - Brasil.
A cidade localiza-se à 250 km de Porto Alegre (capital do Estado), 135 km da fronteira
com o Uruguai e 600 km com a fronteira da Argentina (PELOTAS, 2016).
A primeira referência histórica do surgimento do município data de junho de
1758, através da doação que Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, fez ao
Coronel Thomáz Luiz Osório, das terras que ficavam às margens da Lagoa dos Patos.
Fugindo da invasão espanhola, em 1763, muitos dos habitantes da Vila de Rio Grande
133
buscaram refúgio nas terras pertencentes à Thomáz Luiz Osório. A eles vieram juntar-
se os retirantes da Colônia do Sacramento, entregue pelos portugueses aos
espanhóis em 1777, cumprindo o tratado de Santo Ildefonso assinado entre os dois
países. (PELOTAS, 2016).
Em 1780, instala-se em Pelotas o charqueador português José Pinto Martins.
A prosperidade do estabelecimento estimulou a criação de outras charqueadas e o
crescimento da região, dando origem à povoação que demarcaria o início do município
de Pelotas. Com o sucesso desta indústria, os charqueadores, dispondo de duas
estações amenas, construíam palacetes para suas habitações e promoviam a cultura
e a educação, no ambiente urbano, exemplificado pela inauguração do Teatro Sete
de Abril, em 1831, quatro anos antes de Pelotas ser elevada à condição de cidade.
(PELOTAS, 2016).
A Freguesia de São Francisco de Paula, fundada em 07 de Julho de 1812 por
iniciativa do padre Pedro Pereira de Mesquita, foi elevada à categoria de Vila em 07
de abril de 1832. Três anos depois o Presidente da Província, Antônio Rodrigues
Fernandes Braga, outorgou à Vila os foros de cidade, com o nome de Pelotas,
sugestão dada pelo Deputado Francisco Xavier Pereira. O nome originou-se das
embarcações de varas de corticeira forradas de couro, usadas para a travessia dos
rios na época das charqueadas. (PELOTAS, 2016).
Muitos visitantes que estiveram em Pelotas e escreveram seu olhar sobre a
cidade. Segundo o historiador Magalhães (2000, p. 13), o relato de Luccock constitui-
se no depoimento mais antigo encontrado sobre a cidade de Pelotas. Ele foi escrito
às vésperas de a localidade ser elevada à Freguesia de São Francisco de Paula. Em
sua passagem pela “Fazenda de Pelotas”, o viajante inglês chama a atenção para a
presença das charqueadas, pois sua presença na região ocorrera apenas trinta anos
após ter sido estabelecida a primeira delas às margens do arroio Pelotas
(MAGALHÃES, 2000, p. 13).
[...] Uma grande extensão de terras é ali designada pelo nome de charqueadas, sendo famosa pela sua produção luxuriante e pelo seu gado numeroso e nédio. Vêem-se casas disseminadas por ali, muitas delas
134
espaçosas e algumas com certas pretensões ao luxo; existem capelas anexas a muitas delas e em volta de uma encontra-se tamanho número de habitações menores que o conjunto bem merece o nome de aldeia. A denominação de charqueadas provém do charque que esse distrito prepara e exporta. Uma vez morto e esfolado o gado, arranca-se a carne dos flancos numa só peça larga, algo de semelhante a um pano de toucinho; salpica-se em seguida ligeiramente com sal, e seca-se ao sol. Nesse estado, constitui o alimento vulgar dos camponeses das partes mais quentes do Brasil, não sendo nada de se desprezar e, como se conserva por longo tempo, constitui excelente provisão de bordo, suportando transporte para distantes regiões do mundo. (LUCCOCK, 1951, p. 141-142 apud MAGALHÃES, 2000, p. 10-11)
Os charqueadores vendiam o charque com alto custo, acumulando fortunas.
Assim construíam os primeiros casarões em moldes europeus, promoviam a cultura e
educação. Em períodos fora da safra começavam a existir melhores condições para
a dedicação ao lazer dos cidadãos pelotenses, e estas eram provenientes
principalmente pelo acúmulo de capital das charqueadas. O constante contato com a
Europa através da exportação do charque, cujos navios transportadores retornavam
com os mais variados produtos e objetos, permitiu que a sociedade pelotense
desenvolvesse práticas semelhantes àquelas que estavam presentes apenas nos
modernos países europeus.
Junto com o charque os doces começaram a surgir, porém é difícil definir
quando os doces começaram em Pelotas. Sabe-se que sua origem teve influência de
Portugal, onde sua produção era intensa. Os doces foram introduzidos pelos
portugueses por volta do início do século XIX e em Pelotas aproximadamente na
década de 1860, quando começou o período de apogeu do município de Pelotas.
(SILVEIRA, 2016)
Os saraus, companhias teatrais e as recitas musicais, tinham programações
praticamente diárias no interior da arquitetura grandiosa de prédios e casarões. Os
doces eram servidos nos intervalos destes saraus envolvidos em papéis de seda
rendados e franjados. Sua produção era realizada de maneira caseira pelas mulheres
e suas mucamas. Como existiam rigorosas regras de etiqueta na época, muitas
atividades não poderiam ser desenvolvidas ao ar livre; as mulheres passaram então
a praticar hábitos caseiros, com reconhecido destaque na culinária, bordado, música
e pintura. (PELOTAS, 2016)
135
Outro fato que também contribuiu para a grande produção e consumo de doces
em Pelotas foram as próprias charqueadas. Conforme Magalhães, (2001), a
sociedade pelotense procurou “apagar” sua imagem rústica vinculada ao charque
através da adoção de requintados costumes. Neste contexto é que o doce se insere,
embora não como protagonista principal, pois a economia estava baseada nas
charqueadas.
A partir da década de 1920, passou-se a divulgar comercialmente em todo o
Brasil a tradição doceira que até então estava somente no interior dos casarões. Nesta
mesma época, os imigrantes alemães, pomeranos e franceses que viviam em Pelotas
passaram a cultivar frutas de clima temperado − principalmente o pêssego − na região
colonial de Pelotas. Esta, e demais frutas, começaram a serem comercializadas ao
natural e também na forma de doces, geleias, conservas e pastas. Os processos que
envolveram o açúcar e o sal foram complementares para o progresso econômico e
cultural de Pelotas. Embora a indústria local de doces e conservas ainda não tenha
recuperado o desenvolvimento registrado no município entre 1860 a 1890, esta é uma
tradição a qual faz parte da formação da identidade histórica da cidade que continua
sendo estimulada em grande escala por todos.
O município tem tradição na cultura do pêssego e aspargo. A produção do leite
é o grande destaque na pecuária, constituindo a maior bacia leiteira do Estado.
Pelotas apresenta um comércio ágil e diversificado com serviços especializados e
empresas de pequeno, médio e grande porte. (PELOTAS, 2016).
Pelotas conta com instituições de ensino superior, escolas técnicas, dois
teatros, uma biblioteca, vários museus, jornais de circulação diária, emissoras de
televisão, aeroporto e porto flúvio-lacustre localizado às margens do Canal São
Gonçalo. (PELOTAS, 2016)
As zonas urbana e a rural de Pelotas contam com monumentos, paisagens que
levaram a televisão brasileira a escolher o município como cenário para suas
produções: “Incidente em Antares”, cuja locação foi feita na zona do porto; “A Casa das
Sete Mulheres”, gravada numa charqueada na zona rural, e o filme “O Tempo e o Vento”,
cujas filmagens ocorreram no fim de abril de 2012 (PELOTAS, 2016).
136
Pelotas dispõe de patrimônio cultural, que pode ser comprovado através dos
exemplares arquitetônicos e das diversas edificações tombadas ou inventariadas
como patrimônio histórico e cultural. Pelotas é patrimônio histórico e artístico nacional
e patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul. Seu belo patrimônio cultural
arquitetônico, de forte influência européia, é um dos maiores de estilo Eclético do
Brasil, em quantidade e qualidade, com 1300 prédios inventariados. No ano de 2006,
Pelotas foi eleita, pela Revista Aplauso, como a cidade "Capital da Cultura" do interior
do estado. (PELOTAS, 2016)
Conforme o relato de uma turista em um blog
http://www.imagensviagens.com/br5_pelotas.htmde viagens, Pelotas sempre esteve
entre as primeiras cidades a ser explorada pelo turismo.
Muito antes de surgir a fama de Porto Alegre ou de falarem tanto nos encantos de Gramado, antes das missões de Santo Ângelo se tornarem patrimônio universal ou dos rochedos de Torres virarem badalados points turísticos, enfim muito antes de tudo que hoje é procurado pelos turistas no sul, Pelotas já estava lá, ocupando uma posição de destaque como centro econômico e cultural do sul do país. E na esteira deste sucesso vieram palacetes, mansões, teatros, e belas histórias que merecem ser contadas e preservadas.
Assim, o interesse que determinado destino turístico desperta nos turistas pode
ir mudando de foco ao longo da história, atualmente, parece se firmar na ideia central
de que Pelotas é uma cidade histórica, que se destaca não só pelas suas
características culturais, mas também por fatores econômicos e sociais.
Quanto aos visitantes entrevistados, 15 são do gênero feminino (65%) e 8
(35%) do gênero masculino, totalizando 23 entrevistados.
Do total de visitantes, 8 entrevistados (35%) têm entre 15 a 25 anos, 8 pessoas
(35%) de 26 a 35 anos, 4 pessoas (17%) de 36 a 45 anos, 2 pessoas (9%) entre 56 a
65 anos e 1 pessoa (4%) de 46 a 55 anos.
Os visitantes que estavam em Pelotas no período de entrevistas eram
provenientes de várias localidades, porém a maior parte era do estadodo Rio Grande
do Sul, alguns visitantes são do Uruguai – UY, apenas um visitante do estado de São
Paulo (SP) e outro de Santa Catarina (SC).
137
A presença significativa de uruguaios se dá pelo fato de ser um dos países
fronteiriço com Pelotas, sendo apenas á 135 km de distância da cidade (PELOTAS,
2016, s.p).
Os entrevistados foram questionados se já haviam visitado Pelotas em alguma
outra ocasião, ou se era primeira vez na cidade. Do total, 18 (78%) relatam que já
conheciam a cidade e 5 (22%) estavam visitando Pelotas pela primeira vez.
Quanto aos motivos da vinda a Pelotas, alguns entrevistados salientaram que
vieram para a Feira Nacional do Doce – FENADOCE, evento que estava ocorrendo
na cidade no período da coleta de dados.
Em Pelotas, é realizada a Feira Nacional do Doce, festa de eventos ancorada
pelos tradicionais doces de origem portuguesa. Criada no ano de 1986 era realizada
a cada dois anos em lugares diferentes na cidade, em 1998, a feira tornou-se anual e
ganhou endereço fixo: O centro de eventos Fenadoce, o qual encontra-se próximo ao
principal trevo de entrada do município (FENADOCE, 2016).
Hoje a Fenadoce atrai mais de 300 mil pessoas, sendo visitantes de fora, tanto
do país quanto do Mercosul (FENADOCE, 2016). Durante esses dias as doceiras tem
a oportunidade de mostrar, os doces que possuem contribuições italianas, alemães,
francesas e africanas, além disso, da zona urbana com os doces finos ou de bandeja,
e da rural com os coloniais e de frutas (PELOTAS, 2016)
Os dados encontrados reforçam as colocações de Beni (2003) que ressalta que
os eventos realizados são responsáveis por grande parte da composição do produto
Turismo, e possui uma grande responsabilidade de captação, organização e
planejamento de algumas atividades específicas. Os eventos possuem em si uma
função de aumentar o tempo de permanência do visitante no local visitado, além de
diminuir a sazonalidade da atividade do Turismo naquele local.
Para o autor os eventos que são realizados nas cidades têm uma grande
importância para os locais. As feiras, festas ou congressos movimentam milhares de
pessoas para realizar algum tipo de negocio, buscar conhecimento, além de saciar a
curiosidade de conhecer novas culturas e novas aventuras. (BENI, 2003)
138
Porém, outros entrevistados relatam que o motivo da visita é encontrar
familiares ou amigos. Um dos entrevistados diz que veio a Pelotas conhecer o local
de moradia de um familiar, como podemos perceber no relato do entrevistado A: “O
motivo da minha visita na cidade é conhecer o local da residência de minha irmã”. O
entrevistado B comenta que o motivo de sua visita à cidade é visita a amigos e
parentes.
O Brasil possui muitos viajantes fazendo o turismo doméstico, que nada mais
é a viagem dentro do próprio país. Em 2011 segundo o siteDados e Fatos constatou
que muitos brasileiros viajam para cidades já conhecidas, pois possuem algum vinculo
familiar ou de amizade. Dessa forma, podemos constatar que as entrevistas
realizadas em Pelotas corroboram com a realidade brasileira, sendo que as viagens
até a cidade são feitas para reencontrar familiares e amigos.
Outro motivo salientado pelos turistas para a vinda á Pelotas é pelo fato da
cidade ser um polo educacional, possuindo duas grandes universidades, sendo uma
federal e outra particular. Uma reportagem destaca esse aspecto da cidade de
Pelotas.
Conforme o site Clic RBS (2016) a grande tradição no mundo acadêmico a
Universidade Federal (UFPel) e a Universidade Católica (UCPel) juntas, representam
um dos principais pólos de ensino do estado e o maior da região sul. As duas
universidades, somadas, possuem mais de 24 mil estudantes matriculados nos cursos
de graduação. Em função disso, a cidade possui uma grande movimentação e
importância com as universidades locais. Sendo assim, a cidade acaba tendo uma
grande migração de novos jovens. Na maioria das vezes, esses jovens são de
municípios vizinhos, em outras, estudantes de outros estados mudam sua rotina de
vida para fazer faculdade em Pelotas.
Os visitantes descrevem Pelotas como uma grande cidade em relação a sua
população, rica em cultura, patrimônio e em história:
“Pelotas é uma cidade histórica, onde há museus, charqueadas, onde há
pessoas de vários lugares estudando nas Universidades da cidade e por
Pelotas ser a cidade da FENADOCE. (entrevistado B)”
139
“É uma cidade rica em patrimônio histórico e sobre a praia de água doce
(entrevistado C)”
Aqui podemos perceber que o olhar desses visitantes sobre Pelotas é
compartilhado e reforçado pela mídia, quando destaca que Pelotas possui um
grandioso patrimônio cultural, o qual pode ser comprovado através de exemplares
arquitetônicos e das diversas edificações tombadas ou inventariadas como patrimônio
histórico e cultural. A cidade possui um belo patrimônio cultural arquitetônico, de forte
influência da Europa, é um dos maiores de estilo Eclético do Brasil (PELOTAS, 2016,
s/p). As belezas naturais da região soma-se com os belos e grandiosos casarões, os
quais são de um forte período de opulência e glória do ápice da economia de Pelotas
(IPHAN, 2016).
Os relatos destacam a importância patrimonial e cultural de Pelotas, o que
segundo o site Clic RBS (2016) está atrelada à existência de casarões e seus
elementos decorativos neoclássicos misturados ao gótico, remetendo a um ecletismo
que embeleza a cidade. Além disso, as charqueadas, os monumentos, os tesouros
arqueológicos, e as suas tradições, elencam um conjunto de elementos evidenciados
por um anexo de riquezas e grande valor patrimonial. Alguns elementos decorativos
representam verdadeiras obras de arte associadas às edificações, como pinturas
murais, mosaicos, escaiolas, elementos de marcenaria, forros decorados, vitrais,
esculturas, lustres, ou seja, bens culturais integrados que representam ressonância e
significância social. (CLIC RBS, 2016)
Quanto a praia de agua doce, o município localiza-se ás margens do Canal São
Gonçalo e possui a praia do Laranjal a cerca de 12 km do centro da cidade, é um dos
pontos turísticos principais, é banhada pela Lagoa dos Patos e possui belas paisagens
(PELOTAS TURISMO, 2016).
Além da praia e casarões, os turistas também mencionaram que Pelotas é um
grande município em relação a quantidade de habitantes e que já possuiu um centro
comercial importante pela produção do charque.
140
“É um dos maiores municípios do estado em população e um dos mais antigos.
Durante muito tempo foi importante pólo comercial para o estado por conta da
produção de charque (entrevistado C)”
Pelotas possui uma população de 342.873 habitantes, dessa forma sendo a
terceira cidade mais populosa do estado. A mesma é predominada pelas etnias
portuguesa, alemã, italiana e franceses. (PELOTAS, 2016).
A grande expansão das charqueadas fez com que Pelotas fosse considerada a
capital econômica da província. O destaque do charque na economia do município fez
a riqueza de Pelotas em tempos passados.
Os charqueadores começaram a transferir-se, se fixando na cidade de Pelotas
e aqui construindo seus palacetes para residirem, nos quais ate hoje presenteiam a
cidade com suas belezas arquitetônicas. (DOCES DE PELOTAS, 2016)
Quando se referem à comunidade local, os visitantes relatam que os pelotenses
são muito simpáticos, receptivos além de prestativos e acessíveis. Muitos
entrevistados julgam o povo extremamente educado e com orgulho de suas tradições:
“os pelotenses são receptivos” (entrevistado A); “Os mesmos são simpáticos e
prestativo” (entrevistado B), já o entrevistado C fala que “a população em geral é
educada e possuem orgulho de seus costumes”.
Desde o inicio da história de Pelotas, quando os charqueadores cediam as suas
casas para a hospedagem de visitantes, todos elogiavam a hospitalidade dos
senhores, como podemos ver abaixo alguns relatos de viajantes do século XIX:
Chegou hontem o Dr. Assis Brazil. S. Ex. hospeda-se na residência do Dr. José Gonçalves Chaves, onde lhe foi offerecido um jantar íntimo. (CORREIO MERCANTIL - C.M., 14.08.1904) Em 1885 com a princeza e nossos filhos, tive novamente o prazer de gozar da brilhante hospitalidade do digníssimo visconde de Piratinim (...), assim como de todas as attenções que sempre pressurosos nos prodigalizáram com o maior cavalheirismo seus distinctos sobrinhos, senhores Ribas. (D’EU, 1935, p. 218)
Muitos dos visitantes comentaram durante as entrevistas que Pelotas é uma
das cidades mais hospitaleira do Rio Grande do Sul. Assim, desde o século XIX ate a
atualidade os viajantes destacam a hospitalidade do povo pelotense.
141
Contudo, alguns visitantes ressaltam que os cidadãos pelotenses são fechados
e reservados, não dando abertura aos outros que querem se inserir no meio em que
estão, conforme os relatos a seguir:
“São fechados, reservados. Acredito que isso se dá em virtude da urbanidade em que a grande maioria possui prazos para tudo. Se vê pelas ruas geralmente pessoas com pressa e que, por isso, talvez não sejam tão abertas ao próximo. Contudo, por ser uma cidade universitária, Pelotas atrai vários tipos de jovens que criam um cenário cultural onde é “permitido” e possível a integração entre as pessoas (entrevistado A).”
“Como em todos os lugares, existem diversos tipos de pessoas, e em Pelotas não é diferente. De modo geral o Pelotense é amável e solícito, mas existe muito esnobe também (entrevistado B).”
Os visitantes mencionam a beleza das praças, praia, do mercado público e do
centro histórico em geral.
“Conheci os teatros, museus, praças e patrimônios da cidade, que por sua vez, nos remetem à reflexões sobre o passado e nos instigam a querer entender a história da cidade. A vida acadêmica, que ao meu ver, está muito presente na vida da população também, devido ao grande número de instituições de ensino existentes no município (entrevistado C).”
Assim, os visitantes valorizam a história e o patrimônio de Pelotas, quando
relataram sobre os museus, os casarões, a praça, as charqueadas, os doces e a vida
acadêmica.
Podemos perceber que em geral muitos dos visitantes vieram para Pelotas em
função do seu patrimônio, o que para alguns autores se configura como turismo
cultural. “O patrimônio cultural é a essência do turismo cultural, a grande motivação
para o deslocamento dos turistas e capital cultural valioso para as comunidades”.
(DIAS, 2006, p. 46 - 47)
Outros entrevistados evidenciam o amor que têm pela cidade, falando de
alguns costumes regionais e de relações que mantem aqui:
“Não consigo descrever situações específicas, mas amo estar na cidade, adoro sair e tomar um chimarrão pelas praças ou na lagoa, comer alguma coisa pelo Cruz de Malta e reunir amigos pra uma boa conversa em algum bar da cidade (entrevistado B).”
142
Podemos perceber que os visitantes entrevistados se identificam com o estilo
de vida em Pelotas, gostam de estar em Pelotas.
Nesse sentido, os dados reforçam as colocações de Urry (1990) quando
ressalta que o olhar turístico não é uma atividade meramente individual, é socialmente
organizado, na medida em que há profissionais que ajudam a construir e desenvolver
o nosso olhar enquanto turistas, através dos guias turísticos, da publicidade,
dos media ou da literatura de viagens. A atração turística envolve, portanto, processos
complexos de produção, em que olhares turísticos são gerados e sustentados. As
pessoas têm de aprender como e para onde olhar.
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desse estudo permitem concluir que o olhar dos turistas sobre
Pelotas é construído de diversas formas. O turismo cultural, patrimonial e
gastronômico está nos segmentos mais procurados na cidade, além do lazer.
Muitos visitantes estavam na cidade no propósito de visitar amigos e familiares,
outros pela Fenadoce, a qual estava ocorrendo no período de entrevistas. Esses
motivos nos fazem perceber que cada vez mais o turismo doméstico está no nosso
dia a dia, as vezes mesmo sem perceber que uma simples visita a alguém conhecido
em outra cidade, pode acabar gerando um passeio turístico.
A maioria dos turistas que estavam em Pelotas, eram provenientes do Estado
do Rio Grande do Sul, dessa forma, alguns já conheciam a cidade e os que ainda não
tinham vindo até a cidade já tinham ouvido falar sobre a mesma. Muitos entrevistados
que estavam pela primeira vez na cidade, já ouviram falar dos doces saborosos, dos
prédios históricos e das instituições universitárias.
Percebemos que em geral todos gostaram de vir á Pelotas visitar lugares que
fizeram parte da história do Rio Grande do Sul, observando que casarões históricos,
charqueadas e museus.
Os visitantes percebem que os pelotenses são extremamente hospitaleiros,
simpáticos, educados e orgulhosos de suas tradições. Contudo, alguns relatos são
143
contrários, narrando que os moradores locais não são atenciosos, são às vezes
arrogantes e desconfiados.
O olhar do turista é o mais importante da propagação da imagem de um
determinado local turístico. Algumas formas de divulgação são sobre imagens,
propagandas, folders e fotos dos próprios turistas. Todos que vieram até Pelotas
tiraram fotos de pontos turísticos e outros espaços da cidade para recordação e para
mostrar para futuros visitantes. Sendo assim, essas fotos tiradas são propagadas, é o
olhar da pessoa em forma de figuras ilustrativas.
A imagem que a cidade passa aos seus visitantes é um fator determinante na
hora em que se toma a decisão de visitar um destino turístico. Os visitantes que
passaram por aqui tiveram olhares diferentes sobre a cidade, o que deve ser
entendido como novas possibilidades de atrativos turísticos na cidade.
Por fim, acreditamos que é necessária a intervenção do poder público para a
melhoria da infra estrutura da cidade e conservação dos pontos turísticos. Porém, a
população em geral precisa saber como receber bem os visitantes e da mesma forma
os turistas respeitarem a cultura e tradição local. Com isso, valorizando a produção
cultural existente na cidade.
REFERÊNCIAS
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144
DADOS E FATOS. Disponível em: http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/. Acesso em 16.08.2016. DIAS, Reinaldo. Turismo e patrimônio cultural: recursos que acompanham o crescimento dascidades. São Paulo: Saraiva, 2006. DOCES DE PELOTAS. Disponível em: http://www.docesdepelotas.org.br. Acesso em 18.07.2016. DORNBUSCH, S.M., RITTER, P.L., LEIDERMAN, P.H., Roberts, D.F., & FRALEIGH, M.J. The relation of parenting style to adolescent school performance. Journal of Adolescent Research, 5(2), 1987, p. 143-160. FERNANDES, Diogo Lüders; CARDOZO, Poliana Fabíula; MAGANHOTTO, Ronaldo Ferreira. Espaços urbanos frente à atividade turística. Revista Partes. 2008.Disponível em: http://www.partes.com.br/turismo/poliana/espacosurbanos.asp Acesso em: 23.04.2016. GARROD, B. (2008), “Exploring perception, a photo-based analysis”, Annals of Tourism Research, 35 (2), pp. 381-401. IPHAN. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/281 Acesso em 13.06.2016. MAGALHÃES, Mario Osorio. Pelotas: Toda a Prosa – 1º Volume (1809-1871). Pelotas: Editora Armazém Literário, 2000. MELO, Alessandro de e CARDOZO, Poliana Fabiula. Patrimônio e Educação Patrimonial numa perspectiva humano-genérica. Caderno Virtual de Turismo, v. 9, n. 3, 2009. NÓBREGA, Wilker Ricardo de Mendonça. FIGUEIREDO, Silvio Lima. Planificación y gestión de las visitas al patrimonio natural y cultural y a los atractivos turísticos. Estudios y perspectivas em turismo. Volume 21, 2012. PELOTAS, CAPITAL NACIONAL DO DOCE. Disponível em: http://www.vivaocharque.com.br/culinaria/doces Acesso em 2016. PELOTAS. Pelotas 200 anos. Disponível em: http://www.docesdepelotas.org.br/foopage. Acesso em 21.07.2016. SILVEIRA, Michele Dutra da. Pelotas, Capital Nacional do docePelotas.VIVA O CHARQUE. Disponível em: http://www.vivaocharque.com.br/culinaria/doces. Acesso
145
em 23.08.2016. SOUZA, Anlene de. O estrangeiro e a cidade. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: PUC, 1995. URRY, John. O olhar do turista. Lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. São Paulo: SESC, Studio Nobel, 1996.
TURISMO E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: O CASO DO MATERIAL DIDÁTICO SOBRE AS RUÍNAS DE SÃO MIGUEL DAS MISSÕES/RS
SCHNEIDER, Ellen C. Klein19; CHAGAS, Pierre Donires dos Santos20. [email protected]
FRIO COSTA, Bruna21.
19Graduanda do Curso de Bacharelado em Turismo UFPel, e-mail: [email protected]. 20Graduando do Curso de Bacharelado em Turismo UFPel, e-mail: [email protected], Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4890535298154775. 21Orientadora do Trabalho. Bacharel em Turismo, Especialista em Gestão de Eventos e Hotelaria e Mestra em Memória Social e Patrimônio Cultural. Docente do Curso de Bacharelado em Turismo UFPel, e-mail: [email protected], Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4980650450395222.
146
Resumo: O objetivo principal deste trabalho é apresentar o material didático – em
forma de uma cartilha – sobre Educação Patrimonial utilizado por escolas públicas e
particulares, por séries iniciais na cidade de Santa Rosa – RS, antes da realização de
visitas às Ruínas de São Miguel das Missões. Atentamos para a continuidade do uso
deste material didático com as crianças, para que assim seja possível que elas se
sintam pertencentes ao contexto histórico que as rodeia. Fazendo com que assim,
sintam-se orgulhosas da sua localidade e auxiliem no desenvolvimento do turismo
receptivo daquela região. Concluímos com este trabalho a importância da Educação
Patrimonial desde muito cedo, afinal, ela trabalha para a sensibilização da
comunidade local e para memória histórica da sua localidade.
Palavras-chave: Turismo; Educação Patrimonial; Patrimônio; Memória; Cultura.
INTRODUÇÃO
O objetivo principal deste trabalho é apresentar o material didático – em forma
de uma cartilha – sobre Educação Patrimonial utilizado por escolas públicas e
particulares, por séries iniciais na cidade de Santa Rosa – RS, antes da realização de
visitas às Ruínas de São Miguel das Missões.
De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o povo
de São Miguel Arcanjo, ou das Missões, era uma das reduções do Estado Jesuítico
do Paraguai que formava, com seis outros, os Sete Povos das Missões. Era uma
reunião de grupos catequizados jesuítico-guaranis situados no nordeste do atual
147
Estado do Rio Grande do Sul, em território brasileiro, às margens do rio Uruguai. As
outras reduções dessa região se transformaram em cidades ou, simplesmente,
desapareceram: São Borja (1682), São Nicolau (1687), São Luiz Gonzaga (1687), São
Lourenço (1691), São João Batista (1697) e Santo Ângelo (1706).
A instalação de São Miguel das Missões no sítio atual data de 1687, mas teve
origem em 1632, com um aldeamento de catequizados que os padres jesuítas
fundaram em Itaiacecó, na margem direita do rio Ibicui, aos pés da serra de São
Pedro. Sua fundação é atribuída aos padres missionários Cristobal de Mendoza e
Paulo Benevides.
A partir de 1637, os ataques dos caçadores paulistas de índios aos
aldeamentos de catequizados dos jesuítas se intensificaram o que provocou o
deslocamento do Povo de São Miguel Arcanjo para as terras de Concepción. Todavia,
o novo lugar mostrou-se pouco favorável para um grupo numeroso, o que levou os
padres a buscar outro local para a missão. A escolha final recaiu sobre um sítio às
margens do Piratini onde o novo aldeamento de São Miguel foi fundado, quando já
contava com quase quatro mil índios alojados e cristianizados. As condições
econômicas da redução melhoraram neste novo local devido à qualidade do pasto
para o significativo rebanho (bovino, equino, caprino) necessário à subsistência e à
terra que se mostrou favorável à agricultura.
São Miguel foi construído em uma colina, o que favorecia o escoamento das
águas pluviais abundantes pelo excesso de chuvas do verão gaúcho. No centro da
redução e em frente à igreja foi construída uma praça quadrangular que media
aproximadamente 130 mestros de lado. O colégio, a igreja e o cemitério ocupavam o
lado norte e nos outros três lados restantes se erguiam as casas dos índios, das quais
restam apenas as ruínas das fundações construídas em blocos com telhados de
quatro águas e rodeadas por alpendres. Na parte detrás, os padres prepararam uma
quinta, inteiramente murada de pedras com jardim, pomar e horta.
A construção da Igreja de São Miguel durou dez anos e seu projeto foi inspirado
na Igreja de Gesú em Roma – principal templo jesuítico – atribuído ao arquiteto jesuíta
Gian Battista Primolli, concluída em 1745, no final do período barroco. O requinte
148
dessa concepção arquitetônica pode ser evidenciado pelas ondulações côncavas da
fachada principal e a leve inclinação dos planos externos que, por meio da correção
da perspectiva, tinha o propósito de enfatizar o caráter monumental da obra. Erguido
com pedra de cantaria, branqueada com um tipo de argila chamada tabatinga, o
edifício possuía características diferentes das demais construções missioneiras da
época: a estrutura era definida por paredes de pedra, ao invés dos comuns esqueletos
de madeira. Na falta da cal, não disponível na região, o barro era o material ligante
das alvenarias.
Seguindo a tradição da época, a Igreja de São Miguel apresentava uma rica e
colorida ornamentação interna, formada por entalhes, pinturas e esculturas com
motivos sacros. Algumas imagens, feitas em arenito, compõem o acervo do Museu
das Missões. Além dos saques ocorridos durante a Campanha Cisplatina, em 1828, a
igreja foi vítima da ação dos aventureiros que buscavam o tesouro dos jesuítas e
retiraram muitos materiais para uso em outras construções. Em 1886, a os telhados
ruíram e o pórtico desabou. O longo período de abandono levou ao crescimento de
grandes árvores no interior da nave.
As Ruínas de São Miguel das Missões, juntamente com as Missões situadas
na Argentina, foram reconhecidas pela UNESCO no ano de 1983 como Patrimônio
Cultural Mundial, fazendo com que a cultura, a memória e a identidade daquele povo
fosse mantida.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para atingir o objetivo principal, foi realizada, inicialmente uma pesquisa
bibliográfica, através de livros, artigos, dissertações e teses referentes ao tema
proposto. Em um segundo momento, foi realizada uma análise documental, a qual
“vale-se de documentos originais, que ainda não receberam tratamento analítico por
nenhum autor” (MOREIRA, 2005, p. 66). Estes documentos podem ser institucionais
conservados em arquivos, institucionais de uso restrito, pessoais como cartas ou e-
mails, fotografias, vídeos e gravações, leis, projetos, regulamentos, registros de
149
cartório, catálogos, listas, convites, peças de comunicação ou instrumentos de
comunicação institucionais, considerados cientificamente autênticos. No caso deste
trabalho utilizou-se o material didático utilizado pelas escolas públicas e particulares
de Santa Rosa – RS antes da visita pedagógica as Ruínas de São Miguel das Missões,
composto por uma cartilha.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Educação Patrimonial – definida por Grunberg (2001) como um ensino
centrado nos bens culturais, com metodologias que tomam estes bens para a prática
pedagógica – pode ser vista como um agente positivo quando estimulada e inserida
para crianças, pois acredita-se que, criar laços com a história e perceber o Patrimônio
da sua localidade desde cedo faz com que a questão de identidade fique mais
evidente.
Educação Patrimonial constitui-se de todos os processos educativos formais
e não formais que têm como foco o Patrimônio Cultural, apropriado
socialmente como recurso para a compreensão sócio-histórica das
referências culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para
seu reconhecimento, sua valorização e preservação. Considera ainda que os
processos educativos devem primar pela construção coletiva e democrática
do conhecimento, por meio do diálogo permanente entre os agentes culturais
e sociais e pela participação efetiva das comunidades detentoras e
produtoras das referências culturais, onde convivem diversas noções de
Patrimônio Cultural (IPHAN, 2014, p.19).
A educação patrimonial trata-se de um processo permanente e sistemático de
trabalho educacional centrado no patrimônio cultural como fonte primária de
conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. Significa tomar os objetos e
expressões do patrimônio cultural como ponto de partida para a atividade pedagógica,
observando-os, questionando-os e explorando todos os seus aspectos, que podem
ser traduzidos em conceitos e conhecimentos (MEDEIROS & SURYA, 2009).
150
Para Horta (1999), Educação Patrimonial nada mais é do que um instrumento
de alfabetização cultural, que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o
rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-
temporal em que está inserido.
O conhecimento crítico e a apropriação consciente por parte das comunidades
e indivíduos do seu “patrimônio” são fatores indispensáveis no processo de
preservação sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos
de identidade e cidadania.
Logo, o Patrimônio Cultural passa a ser visto como um fator importante na
educação. Para melhor compreender a Educação Patrimonial é preciso definir
Patrimônio Cultural:
O patrimônio cultural é considerado, atualmente, um conjunto de bens
materiais e não-materiais, que foram legados pelos nossos antepassados e
que, em uma perspectiva de sustentabilidade, deverão ser transmitidos aos
nossos descendentes, acrescidos de novos conteúdos e de novos
significados, os quais, provavelmente, deverão sofrer novas interpretações
de acordo com novas realidades socioculturais. (DIAS, 2006, p. 67).
Poulot (2009) afirma que a finalidade do patrimônio é de certificar a identidade
e afirmar valores, além da celebração de sentimentos, que pode ser contra a verdade
histórica. Como afirmou Tornatore (2013), o patrimônio não diz tudo do passado, mas
diz alguma coisa além do passado. De maneira simétrica ele apresenta o passado,
ele dá ao presente à dimensão do passado, ele representa o passado.
Portanto, a relação entre Educação Patrimonial e Patrimônio Cultural resulta na
sensibilização e a importância dos bens culturais para memória histórica da sua
localidade. Acreditando na importância da Educação Patrimonial e dos conceitos
básicos de patrimônio cultural, este trabalho tomou forma.
4 RESULTADOS/DISCUSSÃO
A partir de agora será feita uma descrição detalhada sobre a cartilha analisada
151
neste artigo.
Sob autoria de Iria Muller Poças, “Um Gauchinho nas Missões” (figura 1) narra,
em 32 páginas, a história da formação e demais aspectos relevantes das ruínas de
São Miguel das Missões/RS.
O personagem principal é o Gauchinho, que percorre o sítio arqueológico em
seu cavalo e relata os fatos que lá ocorreram, em primeira pessoa, de forma dinâmica
e de fácil entendimento. É importante destacar que o livro tem como público alvo
crianças, portanto, utiliza uma linguagem de fácil compreensão e conta com
ilustrações feitas por Marilia Pirillo.
O fato do Gauchinho ser uma criança, também permite que os alunos se
identifiquem com ele.
Figura 1: Livro Um Gauchinho nas Missões
152
Fonte: Arquivo Pessoal
Pode-se afirmar que a linguagem utilizada na cartilha é convidativa – fator
importante quando se trata de Educação Patrimonial, pois o leitor deve se sentir
instigado a ler e expandir seus pensamentos em relação a determinado assunto. Tal
fato é corroborado na apresentação da cartilha, feita pelo historiador Moacyr Flores:
Este livro, destinado a divulgar nossa história, contribuirá significativamente para desenvolver o gosto pela leitura e o amor por nossa terra, entre os pequenos leitores (FLORES, 2002 apud POÇAS, 2002, p.03).
Há um esforço da autora para que o personagem ficcional, o Gauchinho, esteja
inserido no contexto da história real. E, a cada relato feito, o personagem reforça seu
sentimento de pertencimento e respeito pelo povo Guarani, diante tanto de suas
conquistas quanto de derrotas. Um exemplo disto ocorre ao final do livro, quando, os
153
guaranis são dizimados por tropas portuguesas e espanholas, na Guerra Guaranítica:
(...) o pequeno viajante voltou ao presente, rasgando o véu do tempo. Agora sim, ele sabia o que havia acontecido com os guaranis e suas Missões! Secando as lágrimas, passou a mão pelos cabelos, montou no cavalo e galopou rumo ao futuro (POÇAS, 2002, p. 27).
Inúmeras são as ações e iniciativas desenvolvidas pelo Instituto de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em conjunto á Organizações Não
Governamentais e demais instituições públicas e privadas. Estas atividades permitem
a identificação de princípios que amplificam a eficácia do reconhecimento e da
apropriação de bens culturais. E a Educação Patrimonial se beneficia muito com elas,
afinal:
(...) ações pontuais e esporádicas de promoção e divulgação se acotovelam com propostas educativas continuadas, inseridas na dinâmica social das localidades; projetos e encontros, materiais de apoio, cadernos temáticos e publicações resultantes de oficinas se misturam a práticas significativas em que esses materiais não constituem um fim em si mesmo; ao contrário, compõem partes de processos educativos (IPHAN, 2014, p.19).
Dentre os agentes da Educação Patrimonial, destaca-se a comunidade local; a
qual torna-se participante efetiva de ações educativas. O saber advindo da mesma,
que é detentora de memórias e referências culturais, permite um compartilhamento
de informações que resultará na melhor compreensão da história do patrimônio e,
consequentemente, apropriação do bem cultural como elemento de formação
histórico-cultural. Acredita-se que a inserção da cartilha no currículo escolar é um
exemplo de ação, tendo em vista que envolve diferentes grupos sociais: escola,
alunos e moradores de São Miguel das Missões.
A cartilha “Um Gauchinho nas Missões” foi aplicada da seguinte forma nas
escolas: primeiramente, o estudo da mesma foi de caráter multidisciplinar, agregando
as disciplinas de História, Geografia e Língua Portuguesa.
A leitura do material foi realizada em sala de aula e, com o auxílio da professora,
foram identificados aspectos culturais, históricos e sociais do local em questão.
154
Após as atividades na escola, os alunos realizaram uma viagem ao Sítio
Arqueológico (figura 2), onde tiveram a oportunidade de conhecer pessoalmente,
todos os lugares pelos quais o Gauchinho havia passado durante a história. Foram
visitados: a antiga Igreja, colégio, oficinas, o cemitério, horta, hospital, habitações dos
índios, hospedaria e praça de convivência.
O passeio ás ruínas foi guiado por um habitante local, indígena guarani que
vive nos arredores do complexo histórico com os demais; acredita-se que tal fato
reforça a importância da comunidade na preservação da memória e construção da
identidade cultural-social do povo, visto que o mesmo soube, com destreza, relatar a
história das reduções.
Figura 2: vista aérea das Ruínas de São Miguel das Missões
Fonte:<http://ecohospedagem.com/wp-content/gallery/roteiros/41-sao-miguel-das-missoes-rio-grande-do-sul.jpg>
O último local a ser visitado foi o Museu as Missões – também visitado pelo
Gauchinho na cartilha – que está localizado juntamente aos demais monumentos no
complexo histórico e abriga a maior coleção de arte sacra do país, composto por
155
esculturas confeccionadas pelos índios guaranis e os fragmentos arquitetônicos das
antigas reduções que se encontravam espalhadas pela região.
Figura 3: Museu das Missões
Fonte: <http://museudasmissoes.blogspot.com.br/>
Ao final da visita, a turma pôde apreciar o Espetáculo Som e Luz, que, desde
1978, conta a saga jesuítico-guarani com uma trilha sonora e o apagar e acender de
luzes coloridas projetadas na fachada das ruínas, datadas do século 17.A gravação
tem texto e roteiro de Henrique Grazziotin Gazzana e narração dos atores Fernanda
Montenegro, Lima Duarte, Paulo Grancindo, Juca de Oliveira, Rolando Boldrin, Maria
Fernanda Cândido e Armando Bógus.
Após criteriosa análise do material didático, percebeu-se a importância da sua
elaboração e distribuição, uma vez que, de antemão, saber a história, o contexto e a
relevância das Ruínas de São Miguel das Missões permite que as crianças já
compreendam melhor a realidade que as cercará durante a visita.
156
Outro ponto interessante sobre o material didático é a linguagem utilizada pela
autora para discorrer sobre a história da região das Missões, contando com um
personagem principal, O Gauchinho, que através de texto e inúmeras ilustrações,
narra para novas gerações o que realmente havia acontecido com seus antepassados.
Portanto, defende-se a continuidade do uso deste material didático com as
crianças, para que assim seja possível que elas se sintam pertencentes ao contexto
histórico que as rodeia. Fazendo com que assim, sintam-se orgulhosas da sua
localidade e auxiliem no desenvolvimento do turismo receptivo daquela região.
Este trabalho ressalta como dito anteriormente, a importância da Educação
Patrimonial desde muito cedo, afinal, ela trabalha para a sensibilização da
comunidade local e para memória histórica da sua localidade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se, com o presente trabalho, que a Educação Patrimonial deve ser
incentivada, afim de que o patrimônio local se torne parte de cada indivíduo,seja por
meio de sensação de pertencimento, admiração ou orgulho.
Ações como a inserção do material didático – em forma de cartilha –para séries
iniciais de escolas públicas e particulares, na cidade de Santa Rosa – RS, resultam
em conhecimento e interesse pelo patrimônio que lhes é apresentado; além de
respeito pela história de seu povo, afinalreverenciar ao passado é compreender o
presente e enaltecer o futuro.
E o turismo sendo um fenômeno cultural, social e econômico, necessita do
suporte de todos envolvidos com a atividade, uma vez que:
O fenômeno turístico necessita do apoio da comunidade local para que se desenvolva de forma harmoniosa e atenda aos interesses de todos os segmentos nele envolvidos, especialmente o turismo voltado para os atrativos culturais da localidade. Logo, dar prioridade ao desenvolvimento cultural da comunidade, o que implica na busca da preservação da memória histórica e social e no fortalecimento constante da identidade dos povos pode potencialmente beneficiar o turismo. (SALES, 2006, p. 14).
157
Sendo assim, a Educação Patrimonial nas Missões ajuda em muito a prática
do turismo no nicho de Turismo Cultural, uma vez que a comunidade local sinta-
sepertencentes aquele patrimônio como um todo.
Por fim, como estamos lidando com atrativos culturais e históricos, o
envolvimento da comunidade local ajuda em muito a promover a divulgação e
conhecimento sobre a região para que melhor atenda os turistas.
REFERÊNCIAS
DIAS, Reinaldo. Turismo e Patrimônio Cultural: Recursos que acompanham o crescimento das cidades. 1.ed. São Paulo: Saraiva, 2006. GRUNBERG, Evelina. Educação Patrimonial: utilização dos bens culturais como recursos educacionais. (online).Disponível em: <www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo4/estudos_sociais/educacao_patrimonial.pdf.> Acesso em 16 abr. 2016. HORTA, Maria de Lourdes Parreira; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: IPHAN: Museu Imperial, 1999. IPHAN. Educação patrimonial Histórico, conceitos e processos. 2014. IPHAN. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/39> Acesso em 22 abr. 2016. MEDEIROS, M.C. & L. SURYA. A Importância da educação patrimonial para a preservação do patrimônio (online). Disponível em: http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.0135.pdf POULOT, Dominique. Uma história do patrimônio no Ocidente: séculos XVIII-XXI. São Paulo, Estação Liberdade, 2009. SALES, Fabiana de Lima. A Educação Patrimonial e o Turismo: o caso da aula no Museu Municipal de Caxias do Sul/RS. Tese de mestrado do Curso de Mestrado em Turismo – Universidade de Caxias do Sul, apresentada em 2006.
158
TURISMO CRIATIVO: UMA ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO
TURÍSTICO
159
SOARES, Pâmela Souza22
LIMA, Juliana23
Resumo:Trata-se de um estudo de caso no município de Santa Vitória do Palmar/RS. Objetiva identificar se é possível desenvolver o turismo criativo no município. Pesquisa descritiva, a partir da aplicação do instrumento questionário em ambas as fases. Como resultados do trabalho, na primeira fase têm-se os elementos culturais propícios a serem trabalhados dentro do contexto do turismo criativo: trancinhas de Natal, mergulhanês, teatro, praças do município, Porto, arroz; elencados pelos integrantes das associações de bairro; e na segunda fase têm-se duas respondentes, uma que trabalha com o elemento teatro e a outra que trabalha com o elemento culinária e artesanatos do butiá, onde ambas demonstraram disponibilidade e interesse em trabalhar o turismo criativo no município. Palavras-chave: turismo; cultura; turismo criativo; Santa Vitória do Palmar.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho trata de um tema atual, o turismo criativo. O turismo
criativo surge como uma tipologia de turismo que ganha mais espaço atualmente por
trabalhar diretamente com a experiência dos visitantes com a comunidade receptora.
O turismo criativo segundo a UNESCO (2013) “é aquele em que o turista tem
uma interação participativa com o lugar, com a sua cultura e seus residentes e assim,
sentem esses destinos como cidadãos” (UNESCO apud CAYEMAN, 2014, p. 43).
O presente trabalho é um estudo de caso e foi aplicado no município de Santa
Vitória do Palmar que é localizado no extremo sul do estado do Rio Grande do Sul,
ficando a 20 km do município do Chuí que faz fronteira com o Uruguai. Santa Vitória
do Palmar possui belezas naturais, como as Lagoas Mirim e Mangueira e também os
balneários do Hermenegildo e Barra do Chuí. Essas belezas naturais fazem de Santa
22 Bacharela em Turismo Binacional pela Universidade Federal do Rio Grande, http://lattes.cnpq.br/4425523320268255,[email protected] 23 Mestra em Turismo e Hotelaria, Bacharela em Turismo, Universidade Federal do Rio Grande-FURG, http://lattes.cnpq.br/6909023722512266, [email protected]
160
Vitória do Palmar um lugar para desfrutar do turismo de sol e praia. Porém, busca-se
a diversificação do produto turístico para o município. Ainda, o mesmo dispõe de
museus, teatro, casarões e outros, incitando, o turismo cultural.
No presente trabalho, foram desenvolvidostrês capítulos para embasamento
teórico do mesmo: um capítulo sobre cultura, outro sobre produto turístico e, por fim,
um capítulo sobre turismo criativo.
No capítulo sobre cultura são abordadas visõesde alguns autores acerca da
definição de cultura e também de manifestações culturais diversas, na qual se inserem
os elementos elencados pelos integrantes das associações de bairros.
Os bens imateriais são os saberes, fazeres, expressões, a culinária, o modo
de falar, os costumes e os lugares que abrigam essas práticas culturais coletivas,
juntamente com os seus respectivos materiais, que as comunidades reconhecem
como representativos da sua cultura.
No capítulo sobre produto turístico destacam-se, segundo o panorama dos
autores, a definição de produto turístico, seus elementos e como a cultura do
município pode ser trabalhada como um potencial produto turístico atraindo assim, um
tipo de turista específico.
No capítulo sobre turismo criativo aborda-se o que é o turismo e o turismo
criativo. Diversos autores explicamo que são as cidades criativas e como funciona a
economia criativa.
Sendo assim o presente estudo tem por objetivo geral identificar seé possível
desenvolver o turismo criativo no município de Santa Vitória do Palmar, e como
objetivos específicos identificar os elementos que a comunidade santa vitoriense
percebe como representativos de sua cultura e consultar os atores ou grupos
residentes em Santa Vitória do Palmar que trabalhariam esse potencial produto
turístico desenvolvendo o turismo criativo no município, e assim, determina-se a
pergunta norteadora do presente trabalho: “É possível desenvolver o turismo criativo
no município de Santa Vitória do Palmar/RS?”
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
161
A natureza do presente trabalho é básica porquenão tem objetivo imediato de
aplicação, mas de produzir conhecimento acerca do tema de pesquisa.
A presente pesquisa caracteriza-se como descritiva porque realiza a
descrição da opinião dos integrantes das Associações de Bairro acerca do tema da
pesquisa em sua primeira fase. A. segunda fase da pesquisa realiza a descrição das
respostas das pessoas citadas na primeira fase como atuantes com os elementos
elencados.
Este trabalho também tem característica exploratória porque desenvolve um
tema que é novo podendo servir de base para pesquisas posteriores, e identificar se
o município de Santa Vitória do Palmarpode investir em outros tipos de turismo, como
o turismo criativo.
A pesquisa é de abordagem qualitativa, visando obter o máximo de
informações, não se preocupando com número de respondentes, mas sim com a
riqueza de dados obtidos.
Esses dados foram obtidos em duas fases distintas. Em um primeiro momento
identificado qual ou quais elementos são representativos da cultura do município.
Essa primeira fase da pesquisa foi feita com os integrantes das associações de bairros
do município, no qual os mesmos deveriam informar quais elementos eles consideram
como representativos da cultura do município e após citar pessoas ou grupos que
trabalhassem com esses elementos.
Em um segundo momento, através das entrevistas com os indicados na
primeira fase será apontado a possibilidade de se trabalhar, através dessas pessoas,
com o turismo criativo no município.
Utilizou-se a técnica de pesquisa documental e de pesquisa de campo através
da realização de entrevistas semi-estruturadas. A pesquisa documental foi realizada
no dia 20 de agosto de 2015 onde foi realizado um levantamento de dados na
Prefeitura Municipal de Santa Vitória do Palmar com o secretário de Relações
Comunitárias, para verificação de quantas e quais são as associações de bairro do
município. Foi disponibilizadoum arquivo com um total de vinte e uma associações e
seus respectivos contatos, porém doze delas foram descartadas por se tratarem de
162
associações de Escolas de Samba, e outras diversas, pois não se enquadram na
pesquisa, que é feita somente com as associações de bairros.
O universo da pesquisa são os residentes do município de Santa Vitória do
Palmar e a amostra foi obtida na primeira fase, a partirdas associações de bairro do
município que foram escolhidas para a pesquisa e na segunda fase, a partir das
pessoas citadas pelos respondentes da primeira fase.
Os dados coletados através das entrevistasforam transcritos e analisados
através do uso da técnica de análise de conteúdo.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A seguir serão discutidas as temáticas cultura, produto turístico e turismo
criativo, que são a base teórica do presente trabalho.
3.1 CULTURA
Nesse subcapítulo, aborda-se o tema cultura, o que é e como se organiza
nas sociedades, servindo para identificar certas comunidades e fazendo com que as
mesmas se orgulhem da sua cultura.
Em 1871, Tylor definiu cultura como sendo “todo o comportamento
aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética, como diríamos
hoje” (TYLORapudLARAIA, 2001, p.16).
Conforme a Constituição Federal entende-se por cultura,
todas as ações por meio das quais os povos expressam suas “formas de criar, fazer e viver” (Constituição Federal de 1988, art. 216). A cultura engloba tanto a linguagem com que as pessoas se comunicam, contam suas histórias, fazem seus poemas, quanto a forma como constroem suas casas, preparam seus alimentos, rezam, fazem festas. Enfim, suas crenças, suas visões de mundo, seus saberes e fazeres(CONSTITUIÇÃO FEDERAL, s/d).
Segundo Brayner (2007, p. 07),
Durante toda a sua vida, as pessoas constroem suas identidades relacionando-se umas com as outras em diferentes contextos e situações. A identidade de uma pessoa é formada com base em muitos fatores: sua história de vida, a história de sua família, o lugar de onde veio e onde mora,
163
fala e se expressa, enfim, tudo aquilo que a torna única e diferente das demais.
“A cultura e a memória são elementos que fazem com que as pessoas se
identifiquem umas com as outras, ou seja, reconheçam que têm e partilham vários
traços em comum” (BRAYNER, 2007, p. 08). Ou seja, em uma determinada
comunidade o modo de falar pode ser o elemento que une e que faz as pessoas se
sentirem pertencentes àquele lugar.
Reconhecer que todos os povos produzem cultura e que cada um tem uma
forma diferente de se expressar é aceitar a diversidade cultural. Ou seja, é reconhecer
que não existem culturas mais importantes ou melhores, e sim culturas diferentes
(BRAYNER, 2007, p.10). Assim como o visitante deve aceitar a cultura do visitado, a
outra parte também deve reconhecê-la em seu visitante.
De acordo com o IPHAN (2007) patrimônio cultural de um povo é formadopelo
conjunto dos saberes, fazeres, expressões, práticas e seus produtos, que remetem à história, à memória e à identidade desse povo. A preservação do patrimônio cultural significa, principalmente, cuidar dos bens aos quais esses valores são associados, ou seja, cuidar de bens representativos da história e da cultura de um lugar, da história e da cultura de um grupo social, que pode (ou, mais raramente não), ocupar um determinado território. Trata-se de cuidar da conservação de edifícios, monumentos, objetos e obras de arte (esculturas, quadros), e de cuidar também dos usos, costumes e manifestações culturais que fazem parte da vida das pessoas e que se transformam ao longo do tempo(BRAYNER, 2007, p.13).
Ainda, “Os significados atribuídos aos bens culturais, assim como às práticas
a eles associadas, podem se transformar ao longo do tempo e também podem variar
de uma pessoa para outra, de uma família para outra, de um bairro para
outro”(BRAYNER, 2007, p.15). Por exemplo, uma família mora em um casarão que
era de seus antepassados. Esse casarão tem um significado para essa família que
difere do significado que qualquer outra pessoa que não é da família atribui a ele.
Brayner (2007, p. 17) diz que
Somente quando se sente parte integrante de uma cidade ou de uma comunidade é que o cidadão dá valor às suas referências culturais. Essas
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referências são chamadas de bens culturais e podem ser de natureza material ou imaterial. Os bens culturais materiais (também chamados de tangíveis) são paisagens naturais, objetos, edifícios, monumentos e documentos. Os bens culturais imateriais estão relacionados aos saberes, às
habilidades, às crenças, às práticas, aos modos de ser das pessoas.
A Constituição Federal de 1988, nos artigos 215 e 216, estabeleceu que o
patrimônio cultural brasileiro
é composto de bens de natureza material e imaterial, incluídos aí os modos de criar, fazer e viver dos grupos formadores da sociedade brasileira. Os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas e nos lugares, tais como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas (MINISTÉRIO DA CULTURA, s/d).
“O patrimônio material protegido pelo IPHAN, com base em legislações
específicas, é composto por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua
natureza, conforme os quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e
etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas” (Ministério da Cultura, s/d).
“Os bens tombados de natureza material podem ser imóveis como as cidades
históricas, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; ou móveis, como
coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos,
arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos” (Ministério da Cultura,
s/d).
Essa definição está em consonância com a Convenção da UNESCO para a
Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, ratificada pelo Brasil em 1° de março de
2006, que define como patrimônio imaterial
"as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto
com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são
associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os
indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio
cultural"(MINISTÉRIO DA CULTURA, s/d).
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O registro dos bens imateriais é diferente de tombamento. O registro é feito
em quatro livros: Livro de Registro dos Saberes, Livro de Registro das Celebrações,
Livro de Registro das Formas de Expressão e por fim o Livro de Registro de Lugares.
“O patrimônio cultural imaterial é transmitido de geração a geração e
constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente,
de sua interação com a natureza e de sua história, o que gera um sentimento de
identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade
cultural e à criatividade humana”(Ministério da Cultura, s/d).
A cultura por si só pode atrair turistas, pois ela é um potencial produto a ser
explorado por uma comunidade. Mas para a mesma se tornar um produto turístico,
precisa ser bem mais abrangente. Adentramos ao segundo capítulo esclarecendo
como podemos transformar a cultura de uma localidade em produto turístico.
3.2 PRODUTO TURÍSTICO
Começa-se esse subcapítulo definindo o que é produto, até chegar ao produto
turístico, e o que é preciso para esse produto se tornar necessário ao mercado.
Na visão de Kotler e Keller (2006, p.366), “um produto é tudo o que pode ser
oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou um desejo” (KOTLER ;
KELLER apud CARVALHAIS, 2008, p. 28). Sendo assim, o produto é oferecido ao
turista com a intenção de suprir uma necessidade.
Segundo Acerenza (1991), produto turístico é o conjunto de prestações,
materiais ou imateriais, que se oferecem com o propósito de satisfazer os desejos ou
as expectativas do turista. É composto por três elementos: atrativos, facilidades e
acesso (ACERENZA apudGUARDANI; ARUCA; ARAUJO, 1996, p.18).
Esses três elementos que vão influenciar a decisão de escolha de um destino,
por parte do turista. Esses três elementos devem estar em consonância para poder
atribuir ao visitante uma experiência de viagem agradável.
O produto turístico também não é capaz de armazenamento. Um hotel que
funciona 365 dias por ano que não for ocupado totalmente, os dias sem funcionamento
nãoserão recuperados, Isso ocorre com hotéis, agências, serviços de transportes, etc.
166
(BENI, 2002). Assim, é preciso otimizar as atividades no município a fim de que os
setores conversem entre si e possam obter lucro.
O produto turístico é um estimulador para o visitante, mas não é viável pensar
que só isso é suficiente. É necessário apresentar ao turista, de forma convidativa o
que tem-se de melhor.
Cohen (1979) elaborou o modelo cognitivo-normativo
e definiu os tipos de turistas como peregrinos modernos divididos em existenciais, que são aqueles que querem sair da rotina para um lugar que lhes dê paz espiritual; experimentais, que são aqueles que querem experimentar estilos de vida alternativos e experienciais, que são aqueles que procuram o significado da vida dos outros e a autenticidade da cultura local. (BARRETO, 2012, p. 27).
Assim, com a implementação e desenvolvimento dos elementos da cultura como
produto turístico, pode-se explorar os turistas do tipo experienciais, apresentando a
eles uma experiência autêntica com a comunidade local.
3.3 TURISMO CRIATIVO
Segundo De La Torre (1992), citado por Barreto (2012, p.12) turismo definido
pela Organização Mundial do Turismo (OMT) é a “soma de relações e de serviços
resultantes de um câmbio de residência temporário e voluntário motivado por razões
alheias a negócios ou profissionais”.
O turismo possui três características: econômicas, técnicas e holísticas. A
seguir, o quadro três apresenta essas características do turismo e suas definições.
Após a definição de turismo, têm-se também várias definições das diversas
segmentações do turismo. Dentre elas está o turismo criativo, o qual será abordado
nesse capítulo.
Strickland (2011, p. 51) define as cidades criativas como “Cidades do Futuro,
pois ela se beneficia da importância histórica, geográfica e econômica, une grupos,
afeta economias, troca ideias, concentra capital, empregos e desenvolvimento”
(STRICKLAND apud ASHTON, 2013, p. 235).
Para Reis (2008, p. 26) as cidades criativas
167
são espaços urbanos que podem ser vistos de distintas óticas: da atração de talentos e investimentos; do combate às desigualdades e violência; da revitalização de áreas degradadas; da promoção de clusters criativos, da transformação das cidades em pólos criativos mundiais; de reestruturação do tecido socioeconômico urbano baseado nas especificidades locais(REIS apud ASHTON, 2013, p. 235).
As cidades criativas são laboratório de criatividade,
possuem ambiente e atmosfera propícios à criação de bens tangíveis com valores intangíveis; o patrimônio e os bens culturais formadores do capital cultural citadino são inimitáveis; atraem e retém criativos e talentosos capazes de gerar produtos culturais com valor econômico agregado; se beneficiam da importância histórica, geográfica e sociocultural, concentram capitais gerando empregos e renda (ASHTON, 2013, p. 241).
A FECOMÉRCIO (2012)
considera aeconomia criativa fundamental para o desenvolvimento das cidades porque essas atividades possibilitam um crescimento sustentado, além do potencial para contornar períodos de crise. Para esse estudo foram adotados indicadores econômico, social e criativo e entre os resultados Porto Alegre ficou com a 9ª colocação no aspecto social, porém foi considerada entre as cidades mais criativas do Brasil com a 3ª posição, ficando atrás de Campinas e Londrina (FECOMÉRCIO apud ASHTON, 2013, p.234).
Porto Alegre foi a primeira cidade do Rio Grande do Sul a implementar o
turismo criativo como potencial desenvolvedor do turismo na cidade. Assim, com a
ideia, abriu precedentes para outras cidades do Rio Grande do Sul implementarem
esse tipo de turismo e aumentarem o seu desenvolvimento turístico.
“Podemos considerar a economia criativa como sendo a essência da
economia do conhecimento, onde consumidores e criadores se confundem, assim
como as empresas são, ao mesmo tempo, provedoras e consumidoras de serviços e
bens sofisticados” (MACHADO, 2012, p. 93). É uma constante interação,
desenvolvendo assim as habilidades tanto de quem repassa quanto de quem aprende.
É um tipo de turismo relativamente novo, como diz a definição do Programa
Porto Alegre Turismo Criativo:
168
Conceituado há pouco mais de dez anos, oTurismo Criativo, entendido como a oferta a turistas de experiências de aprendizagemde conteúdos locais, singulares e autênticos, por meio de oficinas, workshops eatividades diversas, começou a ser implantado há não mais de sete anos em algunsdestinos da Europa, em especial, e dos Estados Unidos, e hoje já está presente naÁsia, na América Central e Oceania (Programa Porto Alegre Turismo Criativo, 2013, p. 12).
Segundo Richards (2011)
Turismo criativo constitui-se como aquele tipo de turismo que oferece aos visitantes a oportunidade de desenvolver o seu potencial criativo através da participação ativa em experiências de aprendizagem que são características do destino de férias onde são levadas a cabo(tradução do autor a partir de Richards, 2011, p.65) (RICHARDS apud GONÇALVES, 2008, p. 12).
“O turismo criativo tem por base a criação de experiências que pressupõem
uma participação ativa e o envolvimento do consumidor na sua produção”
(GONÇALVES, 2008, p. 12).
Para Panosso Netto e Gaeta (2010, p.127), observa-se uma “reorientação da
experiência turística, trocando a massificação por uma experiência autêntica mais
próxima da realidade local”, já apontada por Yázigi (2009) como uma visita à alma do
lugar e, portanto das pessoas que o habitam com sua identidade, bagagem cultural e
seu patrimônio como bem maior (YÁZIGI apud PANOSSO NETTO; GAETA, 2010, p.
127). O turista atual quer desfrutar de tudo que a viagem possa lhe oferecer, tanto em
termos físicos, como a hospedagem e alimentação, mas principalmente no que diz
respeito ao ser, acrescentar algo ao seu interior.
“O novo turista é alguém que procura a sua realização pessoal pelo
desenvolvimento de novas aptidões e que deseja interagir com as populações locais”
(GONÇALVES, 2008, p. 14).
Para Richards (2011),
um dos principais pesquisadores e difusores do termo turismo criativo na comunidade científica internacional, indica em seus estudos que algumas das principais características associadas a esse termo [turismo criativo] seriam: co-produção de bens e serviços culturais e aquisição de experiências significativas, que geram aprendizagens, em comunidades autênticas que detém conhecimentos diferenciados, de interesse do turista (EMMENDOERFER; MORAES; FRAGA, 2014, p.02).
169
Ou seja, aquelas comunidades que têm um diferencial, que tem um elemento
cultural que já é popular entre os moradores, mas que não é tão conhecido, é o fator
que vai impulsionar o turista a conhecer essa comunidade.
“É um tipo de turismo desconhecido, porém, é um tipo de turismo que, é cada
vez mais procurado nas experiências de viagens” (EMMENDOERFER; MORAES;
FRAGA, 2014, p. 05).
Segundo Emmendoerfer; Moraes; Fraga (2014, p. 07)o turismo criativo
revela-se uma prática em que o turista vivencia os símbolos, valores e os hábitos das comunidades na sua maioria em ambientes urbanos, através da visitação e interação com determinados grupos. Esta ação configura sua experiência subjetiva acerca da cultura local, caracterizada pela interação
criativa com a localidade que este turista de propôs a visitar.
Richards (2011) e Emmendoerfer e Ashton (2014) consolidam as delimitações
do turismo criativo ao concebê-lo como “uma atividade que se baseia na
aprendizagem ativa dos turistas com a comunidade e no diálogo com os símbolos
presentes nas atividades locais” (EMMENDOERFER; MORAES; FRAGA, 2014, p.
09). Assim, o turista que conhece uma localidade através do turismo criativo, participa
diretamente do seu cotidiano, inclusive, aumentando a demanda nos principais
serviços turísticos da localidade.
“O turismo criativo parte da premissa de geração de valor econômico e social
através da criatividade e inventividade humana” (EMMENDOERFER; MORAES;
FRAGA, 2014, p. 09). Ou seja, a mesma experiência que atrai o turista por ser
autêntica e de valor cultural, desenvolve a localidade, pois está gerando renda para
os diversos atores envolvidos no fenômeno turístico.
“O turismo criativo trabalha em um plano onde a criatividade e a produção de
valor simbólico orientam o fluxo turístico, funcionando como uma forma de turismo
capaz de realizar a conexão de saberes, pelo intercâmbio de experimentações e
sensações, associadas a identidade do destino turístico” (EMMENDOERFER;
MORAES; FRAGA, 2014, p. 10).
170
O turista que experimenta essa tipologia de turismo experiencia uma viagem
de aprendizado, tanto em conhecimento específico, como em conhecimento do seu
próprio eu através da interação com outras culturas.
Assim, finaliza-se a base teórica que após os resultados, advindos do
desenvolvimento da pesquisa, servirá para análise e discussão dos mesmos.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
A pesquisa foi realizada em dez dias de aplicação de entrevistas com os
integrantes das associações de bairro e obtiveram-se os seguintes resultados, listados
abaixo.
As aplicações de entrevistas foram agendadas previamente e os encontros
aconteceram nas respectivas sedes das associações de bairros ou em lugares
estipulados pelos respondentes.
Em um total, foram dezoito respondentes, na faixa etária compreendida entre
18 e 65 anos, dos gêneros masculino e feminino, residentes a mais de dez anos no
município de Santa Vitória do Palmar e integrantes das associações de bairros do
município.
Os interpelados da primeira fase responderam a três perguntas que se
referiam, respectivamente, a: a) quais elementos os integrantes percebem como
representativos da cultura do município, b) quais pessoas ou grupos eles elencariam
para trabalhar com esse potencial produto e c) como contatar os mesmos. Já na
segunda fase, o indivíduo ou grupos elencados tiveram a oportunidade de expressar
a sua disponibilidade e interesse em trabalhar ou não nesse processo. Para chegar a
esse resultado, um total de seis perguntas foram feitas, que se referiam,
respectivamente, a 1) se ele(s) sabe(m) o que é o turismo criativo, 2) se ele(s)
acredita(m) que o elemento trabalhado por eles é um potencial produto turístico, 3) se
ele(s) acredita(m) que esse potencial produto turístico pode ser trabalhado como
turismo criativo no município e porque, 4) se ele(s) já trabalhou/trabalharam com
turismo, 5) se o turismo criativo fosse implantado no município, se eles se
171
disponibilizariam a trabalhar esse potencial produto turístico, 6) quais recursos eles
julgam necessários para desenvolver o turismo criativo no município.
Como resultados da primeira fase, o respondente número um elencou como
representativos da cultura do município o Mergulhanês, Trancinhas de Natal, Saberes
e fazeres com a lã de ovino, Campereadas, Praças do município, e indicou como
grupos atuantes, Carlos Munhoz, CTG, Piquetes, Ico Estrela, Amarelo; o respondente
número dois elencou como representativos da cultura do município o Arroz e indicou
como grupos atuantes Grupo Extremo Sul, localizado na Granja Mangueira e o
Condomínio Estância Rincão – Pampa Negro, localizado na Rua Justino Amonte
Anacker; o respondente número três elencou como representativos da cultura do
município o Porto; o respondente número quatro elencou como representativos da
cultura do município a Pecuária, Energia eólica e indicou como grupos atuantes Darci
Zanetti; o respondente número cinco elencou como representativos da cultura do
município a Tradição gaúcha e indicou como grupos atuantes CTG (Centro de
Tradições Gaúchas) Rodeio dos Palmares; o respondente número seis elencou como
representativos da cultura do município a Ave mergulhão e indicou como grupos
atuantes Hamilton Coelho; o respondente número sete elencou como representativos
da cultura do município Hospitalidade e receptividade; o respondente número oito
elencou como representativos da cultura do município Mergulhanês, Trancinhas de
Natal, Saberes e fazeres com as redes de pesca, A cultura gaúcha e seus diversos
costumes, o sotaque da população, O teatro municipal e indicou como grupos
atuantes Cia do butiá, Claudia Schwab, Joca D’ávila; o respondente número nove
elencou como representativos da cultura do município Arroz, agropecuária e indicou
como grupos atuantes Darci Zanetti; o respondente número dez elencou como
representativos da cultura do município Arroz, Pesca e indicou como grupos atuantes
Josapar; o respondente número onze elencou como representativos da cultura do
município Mergulhão; o respondente número doze elencou como representativos da
cultura do município Ave mergulhão e indicou como grupos atuantes Jamil Correa
Pereira; o respondente número treze elencou como representativos da cultura do
município o Porto; o respondente número quatorze elencou como representativos da
172
cultura do município Jerra, Arroz, Pecuária e indicou como grupos atuantes Darci
Zanetti; o respondente número quinze elencou como representativos da cultura do
município Agricultura e indicou como grupos atuantes Darci Zanetti; o respondente
número dezesseis elencou como representativos da cultura do município O modo de
falar característico do povo mergulhão, misturado com o espanhol; As trancinhas de
Natal; O saber benzer que passa de geração em geração; O mate doce e o mate com
leite; As idas ao Porto e aos balneários aos fins de semana; o respondente número
dezessete elencou como representativos da cultura do município O modo de falar
característico do povo mergulhão, O espanholismo característico, As trancinhas de
Natal, Os saberes de construção de barcos de pesca, das redes, da invenção dos
saberes e fazeres do butiá, Os grupos de teatro, Os piquetes, As praças e o Teatro
Municipal, Os balneários como prática de turismo sazonal e cultural e indicou como
grupos atuantes Vanessa Azambuja, Eduardo Arriada, Carlos Munhoz, grupo de
teatro Expressão, grupo de teatro municipal Informação, CTG, piquetes; o
respondente número dezoito elencou como representativos da cultura do município O
modo de falar, os grupos de teatro do município, o licor de butiá e indicou como grupos
atuantes Vanessa Azambuja, NUMA, Joca D’ávila, CTG.
Como resultado da segunda fase obtém-seos nomes das pessoas que
trabalham com os elementos culturais identificados e a disponibilidade das mesmas
em trabalhar esses elementos, potenciais produtos turísticos, como turismo criativo
no município.
A respondente número um da segunda fase é a senhora Claudia Schwab,
está na faixa etária entre 46 a 55 anos, é do gênero feminino e trabalha com o
elemento cultural teatro.
Ao ser questionada se ela sabe o que é o turismo criativo, respondeu que o
que ela conhece de turismo criativo, aprendeu na faculdade. A senhora Claudia
respondeu que é um turismo alternativo, que através da criatividade se torna inclusivo,
sustentável, diferenciado, baseado nas características locais.
Ao ser questionada se o elemento elencado com o qual ela trabalha é um
potencial produto turístico, respondeu que acredita que o teatro é um potencial produto
173
turístico, pois o próprio teatro é um atrativo, dando o exemplo de pessoas que viajam
para cidades vizinhas para assistirem peças teatrais.
Ao ser questionada se esse potencial produto turístico pode ser trabalhado
como turismo criativo no município e porquê, respondeu que acredita que o teatro
pode ser trabalhado como turismo criativo no município, dando o exemplo de um
roteiro ou uma atividade que envolva os pescadores da praia do Hermenegildo, que
os mesmos poderiam recepcionar os turistas caracterizados por personagens típicos
daquela localidade.
Ao ser questionada se já trabalhou com turismo, respondeu que não trabalhou
diretamente com o turismo, somente através de projetos da faculdade, dentre eles um
roteiro de visitação ao cemitério.
Ao ser questionada se o turismo criativo fosse implantado no município, se ela
se disponibilizaria a trabalhar esse potencial produto turístico, respondeu que se
disponibilizaria a trabalhar com o turismo criativo, se o mesmo fosse implantado no
município, dentro da sua disponibilidade de tempo.
Ao ser questionada sobre quais recursos ela julga necessários para
desenvolver o turismo criativo no município, respondeu que os recursos humanos são
essenciais para desenvolver o turismo criativo no município, fazer a comunidade
compreender o turismo, e também recursos estruturais, como acesso e saneamento
básico.
A respondente número dois é a senhora Angela Castro Lopes, da Companhia
do Butiá, está na faixa etária entre 36 a 45 anos, é do gênero feminino e trabalha com
o elemento cultural artesanatos e culinária de butiá.
Ao ser questionada se ela sabe o que é turismo criativo, respondeu que o
turismo criativo é usar o que tem na região para fazer oficinas, tentar passar o que se
pode fazer com o produto da região, nesse caso, o butiá.
Ao ser questionada se o elemento elencado com o qual ela trabalha é um
potencial produto turístico, respondeu que acredita que o butiá seja um potencial
produto turístico, pois apesar de não ter apoio, é o que o turista procura quando chega
ao município.
174
Ao ser questionada se esse potencial produto turístico pode ser trabalhado
como turismo criativo no município e porquê, respondeu que acredita que o butiá pode
ser trabalhado como turismo criativo, pois é um produto que só tem aqui.
Ao ser questionada se já trabalhou com turismo, respondeu que não trabalha
com o turismo.
Ao ser questionada se o turismo criativo fosse implantado no município, se ela
se disponibilizaria a trabalhar esse potencial produto turístico, respondeu que se
disponibilizaria a trabalhar com o butiá se o turismo criativo fosse implantado no
município, apesar das dificuldades.
Ao ser questionada quais recursos ela julga necessários para desenvolver o
turismo criativo no município, respondeu que os recursos estruturais são necessários
para desenvolver o turismo criativo no município.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho foi elaborado com a finalidade de responder a pergunta
de se era possível desenvolver o turismo criativo no município de Santa Vitória do
Palmar. Foram trabalhados referenciais de vários autores que auxiliaram na
elaboração do trabalho escrito e também na elaboração dos questionários das
entrevistas.
Os objetivos foram alcançados, pois através das entrevistas com as
associações de bairro, identificaram-se os principais elementos culturais que podem
ser trabalhados como produto turístico e também através das entrevistas com as
pessoas que foram citadas pelos respondentes da primeira fase da pesquisa,
descobriu-se que essas pessoas têm interesse em trabalhá-lo no município.
O objetivo geral foi alcançado através dos resultados da pesquisa que
sinalizam a possibilidade de desenvolver o turismo criativo no município, pois há um
sentimento de pertencimento da parte da comunidade que respondeu a pesquisa, ela
[a comunidade] enxerga o turismo criativo como um novo meio de desenvolvimento
para o município. Mas como um produto turístico não se desenvolve sozinho espera-
175
se com a pesquisa, mostrar a gestão pública e iniciativa privada que o município pode
crescer e desenvolver-se mais com a implantação do turismo criativo.
A pesquisa apresentou algumas limitações como a falta de interesse ou a
impossibilidade de contatar associações de bairropara participar da pesquisa. Outra
limitação foi a falta de interesse dos integrantes das associações em responder aos
questionários. Alguns alegavam desconhecimento sobre o tema, ou então que
realmente não tinham interesse em colaborar com a pesquisa. Outra limitação
presente no trabalho foi a dificuldade em descobrir o contato e contatar as pessoas
citadas pelos respondentes. Das pessoas a que se obteve acesso, apenas duas
tiveram interesse em participar da pesquisa, respondendo o questionário.
Para futuras pesquisas envolvendo o contexto trabalhado sugere-se que
sejam feitas reuniões com as associações, anteriores a aplicação da pesquisa, para
averiguar como os mesmos trabalham e assim poder explicar para os
entrevistadoscomo se dá o processo, buscando com que os mesmossintam-se mais
à vontade em serem entrevistados.
Outra sugestão para futuras pesquisas é fazer um levantamento da demanda
por esse tipo de turismo específico, com questionário aplicado aos visitantes ou
potenciais visitantes do município, para descobrir se haverá público-alvo para essa
tipologia de turismo.
Realizar projetos de extensão é outra sugestão para buscar a qualificação
desses atores que estariam envolvidos diretamente com o turismo criativo, pois os
mesmos detém o conhecimento na área, porém, por não trabalharem diretamente com
o turismo, precisam aprimorar as técnicas de tratamento aos visitantes.
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MEMÓRIA EM PAPEL E TINTA: AS CARTAS DE VIAGEM DE RUBENS E
MOZART ANTUNES MACIEL.
CHAGAS, Pierre24 [email protected]
FRIO COSTA, Bruna25
24Graduando do Curso de Bacharelado em Turismo UFPel, e-mail: [email protected], Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4890535298154775 25Orientadora do Trabalho. Bacharel em Turismo, Especialista em Gestão de Eventos e Hotelaria e Mestra em Memória Social e Patrimônio Cultural. Docente do Curso de Bacharelado em Turismo UFPel, e-mail: [email protected], Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4980650450395222
178
Resumo: O objetivo deste trabalho discutir as relações entre memória e escritatendo
como objeto as cartas de viagem de Rubens e Mozart Antunes Maciel escritas durante
o tour de ambos pela Europa. Dentre o material analisado temos oitenta e cinco cartas,
sendo cinquenta e três escritas por Rubens, datadas no ano de 1914 no período de
fevereiro à agosto, e trinta e quarto das oitenta e cinco cartas são escritas por Mozart,
entre outubro de 1927 e maio de 1928. Este estudo permite compreender as cartas
em diferentes sentidos: como forma de escritas ordinárias e como testemunha de uma
experiência de vida (tour europeu), além de ser consideradas suporte da lembrança
de um tempo.
Palavras-chave: Memória; Escrita; Cartas de Viagem; Rubens Antunes Maciel;
Mozart Antunes Maciel;
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tomou forma tendo como inspiração versos do poeta português
Fernando Pessoa no Livro do Desassossego (1984, p. 286), “as viagens são os
viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”.
Em meados de 2014, tivemos acesso a 85 “cartas de viagem” – pertencentes
ao acervo epistolar do Museu da Baronesa – escritas por dois jovens pelotenses,
Rubens e Mozart Antunes Maciel – netos da “Baronesa de Três Serros”, Amélia
Hartley de Brito Antunes Maciel, e filhos de Amélia Aníbal Hartley Maciel, conhecida
como “Dona Sinhá”. As escritas epistolares de Rubens e Mozart datam de 1914 e
1928, respectivamente, e ocorrem (ou ocorreram) durante tour europeu.
179
O objetivo geral deste trabalho é discutir as relações entre memória e escrita,
tendo como objeto as cartas de viagem de Rubens e Mozart Antunes Maciel.
Para começar a pensar tais cartas foi preciso compreender a escrita epistolar
como forma de comunicação à distância por mais de dois mil anos e como uma rara
oportunidade de transitar pela história de diferentes territórios da intimidade, por
relações de amor e amizade, por experiências singulares de sociabilidade (CASTRO
GOMES, 2004). Isto porque a escrita pessoal “está centrada na sensibilidade em
relação ao tempo que passa e nos esforços do escritor para dele construir uma
representação e uma memória, seja durante uma fase excepcional de sua existência
(diários de viagens), seja por motivos ligados à sua vida profissional (diários
diplomáticos, diários militares, diários médicos), seja de uma maneira mais regular
(diários-crônicas)” (HÉBRARD, 2000, p. 30).
A escrita permite moldar o sentido do “eu” ou de identidade e, dessa forma,
afeta as maneiras como as vidas são construídas. As cartas, segundo Mignot e Cunha
(2006), materializadas em papel e tinta guardam histórias individuais e familiares. Elas
são resultado da vontade de testemunhar um vivido. Escrever cartas é fazer-se
presente, mostrar-se ao outro e fazer-se ouvir. Destinada a estabelecer vínculos e
pactos de reciprocidade, a carta fixa na escrita a complexa relação de confiança
estabelecida entre remetente e destinatário.
Cartas de viagem, em especial, criam, para quem as recebe, uma imagem do
remetente e do local que, segundo Pires (2010) nunca é estática, afinal, uma viagem
denota um movimento (objetivo e subjetivo) do eu: o narrador não está fixo, ele se
relaciona com outros textos, outras pessoas, outros tempos, outros lugares e esse
relacionamento molda a imagem que ele quer de si e a imagem daquilo que ele vê e
faz.
As cartas transmitem aquilo que de melhor se leva de uma viagem: as
recordações. Conhecer, descobrir, avançar, aprender são verbos que de certa forma
irão definir as viagens na hora da escrita. “Um poeta chinês observou há muitos
séculos que recriar algo com palavras equivale a viver duas vezes” (MAYES, 2008).O
missivista deixa-se perder num lugar novo para depois se reencontrar consigo mesmo,
180
afinal, seu estado de espírito favorece um olhar mais generoso sobre o destino que
visita. O viajante deve permitir-se perceber os aromas, as atmosferas, os detalhes que
ficarão guardados em sua memória e refletirão em sua escrita.
Segundo Medeiros (2012), não há melhor maneira de “fotografar” uma viagem do que
escrever sobre ela durante o percurso: lugares visitados, refeições realizadas,
encontros, sentimentos, descobertas. Sem nenhuma intenção literária ou jornalística,
apenas rabiscos a fim de registrar a viagem em palavras, não só em imagens “quando
os releio, retorno aos lugares em que estive,lembro de cada detalhe mencionado. Uma
maneira de voltar no tempo, só que de forma mais sensitiva e menos estática do que
nas fotos” (MEDEIROS, 2012, p. 08).
Escreve-se e guarda-se pela necessidade de recordar e, nas palavras de
Candau (2012) para que não nos tornemos seres pobres e vazios, tendo em vista que
os suportes materiais da memória vão sendo destruídos pela sociedade capitalista
que, segundo Bosi (1994) bloqueia os caminhos da lembrança, arranca seus marcos
e apaga seus rastros, num momento em que “o mundo se digitaliza e a arte de
escrever cartas desaparece” (USHER, 2015, p. 14). Hein (2015) afirma que em
tempos de Whatsapp, Skype, e Instagram, a comunicação ficou muito mais rápida,
barata e precisa. Perdeu, porém, o encanto do toque pessoal, do estilo e da fluência.
Também foi perdido o precioso hábito de abrir um envelope, sabendo, de antemão,
que ali há uma voz querida cheia de vivências para contar.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Estetrabalho justifica-se pelo fato de que
no que se refere à memória (com desdobramentos para a história), passam
a ser legítimos os procedimentos de construção e guarda de uma memória
individual “comum”, e não apenas de grupo social/nacional ou de “grande”
homem (político, militar, religioso). Os argumentos que sustentam as novas
práticas derivam tanto da assertiva sociológica de que todo indivíduo é social,
quanto do reconhecimento da radical singularidade de cada um. Uma
singularidade que se traduz pela multiplicidade e fragmentação do próprio
181
indivíduo e de suas memórias através do tempo, sem que tal dinâmica torne
falso (muito pelo contrário) o desejo de uma “unidade do eu”, de uma
identidade (CASTRO GOMES, 2004, p. 16).
No momento em que a sociedade reconhece o valor de todo indivíduo e
disponibiliza instrumentos que permitem o registro de sua identidade, abre espaço
para legitimar o desejo de registro de sua memória, constituindo, então, a escrita
epistolar em grande fonte para o conhecimento histórico. Ginzburg corrobora esta
justificativa quando afirma que existe uma “relação entre o fio – o fio do relato, que
ajuda a nos orientar no labirinto da realidade – e os rastros” (GINZBURG, 2007, p.
07). Portanto, as cartas de viagem de Rubens e Mozart Maciel são o fio condutor
deste projeto.
Esta é uma pesquisa historiográfica, pois se refere às práticas da escrita da
história;
Falemos, então, de historiografia. Que ela tenha um componente subjetivo é
sabido; mas as conclusões radicais que os céticos tiraram desse dado
concreto não levaram em conta uma mudança fundamental mencionada por
Bloch nas suas reflexões metodológicas póstumas. “Hoje [1942]... até mesmo
nos testemunhos mais resolutamente voluntários”, escrevia Bloch, “aquilo
que o texto nos diz já não constitui o objeto preferido de nossa atenção”. As
Memoiresde Saint-Simon ou as vidas dos santos da alta Idade Média nos
interessam (continuava Bloch) não tanto por suas referências aos dados
concretos, volta e meia inventados, mas pela luz que lançam sobre a
mentalidade de quem escreveu esses textos (GINZBURG, 2007, p. 10).
Como metodologia, será adotada para que o objetivo principal deste projeto
seja alcançado, a análise documental. Documentos, que podem ser institucionais
conservados em arquivos, institucionais de uso restrito, pessoais como cartas ou e-
mails, fotografias, vídeos e gravações, leis, projetos, regulamentos, registros de
cartório, catálogos, listas, convites, peças de comunicação ou instrumentos de
comunicação institucionais, são considerados cientificamente autênticos.
Das oitenta e cinco cartas disponíveis, cinquenta e três são escritas por
Rubens, entre fevereiro e agosto do ano de 1914, quando:
182
fez um tour [...] por várias cidades europeias, acompanhado de (ou
acompanhando) um Guia Baedecker [...] a mãe é a correspondente usual. [...]
a maioria enviada de Paris, onde o viajante fez sua base. [...] Nas cartas que
envia aos pais, Rubens fará descrições detalhadas também das cidades e
passeios, encontros e acontecimentos que viverá em sua aventura europeia.
[...] as cartas incluem um relatório breve, sempre positivo, de sua condição
de saúde; um comentário a respeito de suas finanças e um arrazoado sobre
sua necessidade de mais dinheiro; agradecimentos sobre a oportunidade que
a família lhe proporciona com aquela viagem e o muito que está aproveitando
a experiência (GASTAUD, 2009, p. 130).
Trinta e quarto das oitenta e cinco cartas são escritas por Mozart, entre
outubro de 1927 e maio de 1928:
As cartas de Mozart dirigem-se à mãe exclusivamente [...] suas descrições
são vivas e as saudações bastante carinhosas. [...] exemplo da criativa escrita
de Mozart é a cartinha “tatibitate” escrita para o sobrinho pequeno, Aníbal,
por ocasião de seu aniversário de três anos. [...] Garantir que cheguem, esta
é uma preocupação constante para Mozart que se queixa do correio [...]
escreve sobre a Europa, [...] fala de política, [...] quer saber da casa e dos
pequenos da família. (GASTAUD, 2009, p. 138).
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A rememoração auxilia a recomposição da relação entre passado e presente,
além de ser considerada uma estratégia de sobrevivência emocional (D´ALÉSSIO,
1993). Segundo Sampaio (2012, p. 01) “lembrar-se, do francês se souvenir, passa-
nos a ideia, por conta de sua etimologia, de vir à tona o que estava submerso”.
Podemos afirmar que a memória é um fenômeno que responde pela
reelaboração do passado no presente, pois, segundo Bosi (1994, p. 48) “o passado
conserva-se e, além de conservar-se, atua no presente”, portanto, é do presente que
parte o chamado ao qual a lembrança responde (BERGSON, 1999). E, acrescenta Le
Goff (2003, p. 447), “a memória é um glorioso e admirável dom da natureza, através
do qual reevocamos as coisas passadas, abraçamos as presentes e contemplamos
as futuras, graças à sua semelhança com as passadas”.
Bergson (1999) fala também sobre dois tipos de memória: a memória-hábito,
que é a dos mecanismos motores, adquirida por esforço de atenção e repetição e que
se torna automática (caminhar, dirigir), que irão garantir a aceitação dos indivíduos
183
em grupos sociais. E também a memória-lembrança, ou lembrança propriamente dita,
que ocorre de maneira livre e leva o indivíduo que lembra a um momento único de sua
vida, uma determina ocasião, um determinado lugar e época. Este tipo permite melhor
compreender as relações entre o passado e o presente, e as interferências nos
processos das representações atuais.
Bergson entende memória como permanência do passado, que sobrevive em
estado latente no indivíduo e que pode ser convocado pelo presente sob a forma de
lembrança graças a um processo espontâneo, que associa imagens por meio de
semelhança ou de proximidade, formando um sistema próprio em cada indivíduo.
Candau (2012) afirma que a memória está vinculada a identidade do sujeito e
a sensação de pertencimento do mesmo a determinado grupo social, pois, “sem
memória o sujeito se esvazia, vive unicamente o momento presente, perde suas
capacidades conceituais e cognitivas. Sua identidade desaparece” (CANDAU, 2012,
p. 132). Muito mais do que para saber para onde vai, o sujeito é como o pássaro
Goofus Bird26, utiliza a memória para saber de onde vem.
Segundo Merlo (1997, p. 112), “o que move uma pessoa a recordar
determinados fatos do passado são as preocupações com o presente: ausência ou
presença de algo ou alguém; sentimentos submersos que podem vir à tona no ato de
lembrar ou provocar o esquecimento”. É importante salientar, porém, que “lembrar não
é reviver, mas refazer, reconstituir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as
experiências do passado” (BOSI, 1994, p. 55).
Memória é nosso senso histórico e nosso senso de identidade pessoal (sou
quem sou porque me lembro quem sou). “Há algo em comum entre todas essas
memórias: a conservação do passado através de imagens ou representações que
podem ser evocadas” (IZQUIERDO, 2002, p. 89).
A memória evoca o passado, ao mesmo tempo em que atualiza e difunde os valores
do presente. É indissociável da identidade.
26“Um pássaro que constrói seu ninho ao inverso e voa para trás, porque ele não se preocupa em saber onde vai, mas de onde vem” (BORGES & GUERRERO, 1965, p.89).
184
Enquanto estudamos questões relativas à memória, aprendemos que “o uso
das letras foi descoberto e inventado para conservar a memória das coisas” (LE
GOFF, 2003, p. 445). Devemos, portanto, escrever tudo aquilo que desejamos que
seja conservado, afinal, como o próprio Le Goff (2003) afirma, as letras duram para
sempre.
A preocupação com o esquecimento é visível nos crescentes esforços “de
preservação de práticas de escritas passadas onde se encontram possibilidades de
uma construção identitária” (CUNHA, 2013, p. 01). Acredita-se, então, que os escritos
são suportes da memória, visto que, traços do passado, lembranças dos mortos e
glórias dos vivos são fixados por meio da escrita.
Chartier (2007) acrescenta que muitos são os suportes nos quais a memória
dos homens e do tempo poderia ser inscrita: pedra, madeira, tecido, pergaminho e
papel. Seja em uma biblioteca, em um livro, ou até mesmo, em objetos mais simples,
a missão da escrita é conjurar contra a fatalidade da perda. Porém, não é uma tarefa
fácil, afinal, vive-se em um mundo onde as escritas podem ser apagadas, manuscritos
perdidos e livros ameaçados de destruição.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
Cartas de viagem, como é o caso das apresentadas neste projeto, podem
efetuar ligações afetivas através das fronteiras da ausência, porque o escrito é capaz
de carregar, “o corpo ausente, a memória, a genealogia, bem como o valor material
literal” (STALLYBRASS, 2012, p. 26).
A singularidade do escrito está associada a dois aspectos: sua capacidade de
ser permeado e transformado tanto por quem escreve quanto por quem recebe e
guarda; e sua capacidade para durar no tempo. O escrito está associado com a
memória e, de fato, é um tipo de memória.
Além disso, o escrito possui uma característica importante: ele “reflete” quem
escreve. As folhas de papel podem captar as emoções, principalmente na escrita
185
epistolar, seja através da caligrafia mais forte ou mais branda, no cuidado ao escrever
sem rasurar, em como a descrição dos fatos é feita, em suma, podem receber a
identidade de quem escreve.
A cultura escrita caracteriza um modo de organização social (BRITO, 2005, p.
15) e “vai desde o livro ou o jornal impresso até a mais ordinária, a mais cotidiana das
produções escritas, as notas feitas em um caderno, as cartas enviadas, o escrito para
si mesmo” (CHARTIER, 2001, p. 84). Escrever, de acordo com Castillo Gómez (2012,
p. 68) “sinaliza para uma atividade mais espontânea e até subjetiva”.
Ao escrever sobre as cartas de viagem de Rubens e Mozart Maciel, confere-se
importância para a preservação de documentos banais, de acordo com Mignot e
Cunha (2006). Desta forma, dotam-se de outros significados os papéis escritos. Ao
utilizar as cartas de viagem como fonte para esta pesquisa, dá-se valor às escritas
ordinárias – ou seja, de pessoas comuns - contribuindo para que a noção de
documento histórico seja ampliada e, assim, permitindo que este tipo de escrita seja
salvaguardado e conservado.
Castro Gomes diz que a escrita é uma forma de produção de memória que merece
ser guardada e lembrada e acrescenta:
Os registros de memória dos indivíduos modernos são, de forma geral e por
definição, subjetivos, fragmentados e ordinários como suas vidas. Seu valor,
como documento histórico, é identificado justamente nessas características
(2004, p. 11).
Ao tratar da escrita, devemos entender que ela está:
centrada na sensibilidade em relação ao tempo que passa e nos esforços do escritor para dele construir uma representação e uma memória, seja durante uma fase excepcional de sua existência (diários de viagens), seja por motivos ligados a sua vida profissional (diários diplomáticos, diários militares, diários médicos), seja de uma maneira mais regular (diários-crônicas) (HÉBRARD 2000, p. 30)
De acordo com Fabre (1993) as “escritas ordinárias” são aquelas produzidas
para deixar traços dos vivido. São realizadas por pessoas “comuns” e se opõem aos
186
escritos prestigiados – elaborados com vontade específica de fazer uma obra -, visto
que, tem por objetivo registrar o efêmero, o descontínuo (CUNHA, 2007).
As escritas ordinárias registram o cotidiano. De acordo com Thies (2008, p.
219) possuem “a função de deixar os traços do fazer (laisse trace)”. As cartas de
viagem de Rubens e Mozart, objetos desta pesquisa, podem ser vistas como registro
de experiência pessoal conservada pela escrita, dado seu caráter de escrita ordinária.
E, “ao iluminar estes papéis ordinários pode-se pensar na importância de uma
“memória de papel” para o reconhecimento de diferentes práticas, costumes, rituais,
ações e sociabilidades” (MIGNOT & CUNHA, 2006, p. 42).
As escritas ordinárias auxiliamnas lembranças de quem seus autores foram e
de onde vieram, como diz Thomson (2002). Além disso, acrescenta Hébrard (2000)
não devemos nos basear apenas nos objetos conservados, mas nas representações
que os autores nos dão das relações que estabelecem com seus cadernos e
cadernetas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ascartas, segundo Mignot (2003), são folhas de papel que suscitam uma
investigação sobre a escrita e despertam relações entre memória, escrita, cotidiano e
arquivamento. Ou seja, sobre esse desejo de fixar a memória e a trajetória social,
garantindo a lembrança. De acordo com Mignot e Cunha (2006), materializados em
papel e tinta, guardam histórias individuais e familiares. Aparentemente pouco
importantes, eles são resultado da vontade de testemunhar um vivido. Papéis antes
tratados principalmente pela sua utilidade (valor de uso) passam cada vez mais a
valerem pela sua capacidade de remeter a outra coisa: valor de signo.
Portanto, este estudo permite compreender as cartas em diferentes sentidos:
como forma de escritas ordinárias, como testemunha de uma experiência de vida (tour
europeu), como relíquia conectada com uma sensibilidade nostálgica, como registro
de uma trajetória e como um objeto a ser conservado e preservado como parte da
história de uma família.
187
Segundo Thies (2008), a escrita apresenta diversas funções em nossa
sociedade: escrita como estratégia de memória, como organização do pensamento,
como correspondência, escrita da e na vida, registro do que se fez no dia.
Rubens e Mozart podem ser entendidos, nos moldes conceituais de Barthes
(2007), como escreventes, ou seja,aqueles que utilizam a linguagem escrita como um
meio para atingir um fim, seja ensinar, explicar e, neste caso, registrar. Sendo assim,
as cartas poderiam ser consideradas suporte da lembrança de um tempo.
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190
PRAÇA DA MATRIZ E SEU ENTORNO: A VISAÇÃO DOS COMERCIANTES E
SEUS PATRIMÔNIOS
MENDONÇA, Rosanna L.27
ROCHA, Rafael A. (orientador)28
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo principal analisar a visão da
conservação dos patrimônios através do olhar dos comerciantes ao redor da Praça da
27Discente do curso de turismo da Universidade do Estado do Amazonas – UEA. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0127956372370363e-mail: [email protected] 28Docente do curso de turismo da Universidade do Estado do Amazonas – UEA. Doutor em História
Social pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7452595445737676 e-mail: [email protected]
191
Matriz e seu potencial turístico cultural. A análise dos resultados se dará por meio de
entrevistas e bibliografias referente ao tema de preservação e utilização dos
patrimônios e seu potencial turístico. A preservação do centro histórico de Manaus
vem causando grandes discussões, onde é cobrado dos órgãos públicos, onde
culpam os proprietários dos edifícios. A partir dos resultados observa-se que os
comerciantes e proprietários dos edifícios não possuem muitas informações e boa
comunicação com os órgãos públicos o que resulta em dificuldades na preservação e
manutenção dos patrimônios.
Palavras-chave: Patrimônio; centro histórico; comerciantes; órgãos públicos; turismo.
1 INTRODUÇÃO
A praça XV de Novembro, popularmente chamada de Praça da Matriz,
representou um marco para a comunidade manauara desde sua construção. Através
de seus jardins exibiu beleza a todos que chegavam em Manaus, principalmente pelo
porto da cidade. Para a população representava um lugar de lazer e recreação. Morar
perto da Praça da Matriz representava um alto poder aquisitivo durante o século XX,
pois ali se encontrava o centro econômico da capital amazonense.
No âmbito acadêmico encontram-se muitas discussões sobre a utilização da
Praça da Matriz como patrimônio e utilização para o turismo. Infelizmente é escassa
a preocupação acadêmica sobre os patrimônios edificados ao redor. A área ao redor
da Praça da Matriz é tombada desde 2012 pelo Instituto de Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN), onde foram catalogados 50 (cinquenta) edifícios de valor
histórico entre as ruas Av. Eduardo Ribeiro, Av. Sete de Setembro, Av. Floriano
Peixoto e rua 15 de novembro.
Atualmente a Praça da Matriz está passando por restauração desde 2014, sem
previsão de termino. Desde a colocação de tapumes simbolizando o início das obras,
192
os comerciantes ao redor da Praça da Matriz tem sentido diferenças negativas nos
negócios como a baixa procura por parte dos clientes, a diminuição do movimento de
pessoas naquela região e o aumento da violência.
O trabalho presente tem como objetivo principal analisar a visão da
conservação dos patrimônios através do olhar dos comerciantes ao redor da Praça da
Matriz e seu potencial turístico cultural. A pesquisa contará com inventário de bens
imóveis de importância histórica localizados ao redor da praça, analisando os usos
atuais desses bens e a relação, no que se refere às políticas públicas voltadas ao uso
turístico dos mesmos e aos possíveis projetos de restauro e conservação, entre o
poder público e a praça.
Observa-se que a busca pela cultura tem levado muitas pessoas a viajarem
para conhecer a história de outros povos e sua forma de viver, abrindo assim um
segmento turístico crescente: o turismo cultural. Alguns autores trabalham a
importância da revitalização dos centros das cidades; não para o turismo, mas para a
própria população local relembrar de onde provem suas raízes.
Atualmente, o centro histórico da cidade de Manaus encontra-se em situação
crítica, e os edifícios que retratam o final do século XIX e começo do século XX
encontram-se abandonados. O poder público executou alguns projetos de
revitalização em alguns espaços do centro histórico, e a Praça da Matriz está sendo
“contemplada” por esta revitalização desde 2014 através do Projeto de Aceleração do
Crescimento (PAC) Cidades Históricas.
Diante de um mercado de turismo cultural crescente, e o centro histórico de
Manaus passando por revitalizações, faz-se o seguinte questionamento: Qual é a
visão dos comerciantes ao redor da Praça da Matriz, referente conservação de seu
patrimônio e dos órgãos públicos responsáveis?
Tendo como base os autores Neves (2003), Barretto (2000), Barretto (2007) e
Silva (2003) que discutem a preservação dos patrimônios brasileiros, a utilização
direta e indireta para o turismo e a identidade cultural da população receptora,
acredita-se que a Praça da Matriz e seu entorno tem potencial turístico na cidade de
193
Manaus. Foi nessa região, com base em Brito (2012), que foi criado o Forte de São
José do Rio Negro, cerca do atual porto de Manaus.
A região da Praça da Matriz e seu entorno tem o grande potencial, pois foi que
se iniciou a cidade (ANDRADE, 2011). Para o turismo, a região da Praça da Matriz e
seu entorno pode ser algo de extremo valor sendo oferecida como possibilidade de
turismo cultural. Para a população manauara, a Praça, a igreja, os edifícios e o porto
são bens patrimoniais que transfiguram a história não contada verbalmente, de uma
cidade abastada durante o período áureo da borracha.
A preservação dos patrimônios nas cidades tem causado grandes discussões
no meio acadêmico, pois muitos autores defendem que a restauração dos edifícios
deve começar pelo querer preservar da população, algo que é demorado, para que
em decorrência o turista venha usufruir.
Grunberg (2000, p. 161) afirma que os monumentos são formas de “reconhecer
o passado cultural do qual o cidadão é herdeiro” (apud Santos 2012, p. 20). Autores
como Barros e Albuquerque (2010) concordam ao analisarem que observar o
patrimônio edificado restaurado ou que apresentam estar em bom estado de
conservação, torna-se algo relevante para a memória cotidiana dos habitantes da
cidade, podendo interferir de forma passiva o imaginário dos turistas que visitam o
local.
A motivação do estudo proveio da inquietação despertada em função do
abandono dos monumentos históricos edificados na cidade de Manaus e do grande
potencial turístico dessa região. Deverá ser analisada a compreensão de patrimônio,
patrimônio cultural, leis de Patrimônio Federal e Municipal, a visão do poder publico
para o futuro desses espaços e a visão dos proprietários dos imóveis ao entorno da
Praça da Matriz.
Crê-se que para a universidade o estudo seja relevante para ser cada vez mais
discutido o turismo cultural referente às edificações da cidade de Manaus, e a
utilização desses espaços para a população e para o turismo.
Em relação aos profissionais da área, considera-se salutar a importância da
população na conservação do patrimônio, a necessidade de compreender e discutir a
194
visão futura que o poder público tem sobre esses espaços e incentivar novos projetos
que contemplem a preservação desses edifícios visando o turismo.
Para o pesquisador, a pesquisa é satisfatória, pois com base nas afirmações
de vários autores das áreas de história e turismo, poderemos ter uma visão ampla da
situação em que se encontram os edifícios tombados em algumas regiões do Brasil e,
especificamente, na cidade de Manaus. O turismo é uma alternativa para a
preservação e sustentação econômica de espaços e edifícios históricos, o que resulta
bom para a população e para a economia da região.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Ométodo de investigação será a pesquisação e estudo de caso. As fontes
dos dados será através de entrevistas com os comerciantes ao redor da praça e
bibliografias sobre o tema. Característica da amostra aleatória, intencional. A coleta
de dados foi realizada com base em questionários e entrevistas gravadas. Os
resultados serão baseados na visão dos comerciantes debatendo com autores que
abordam o tema.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 HISTÓRIA DAS OBRAS PÚBLICAS NA CIDADE DE MANAUS
A região da Amazônia, nos séculos XVI e XVII, era uma região extremamente
disputada pelos europeus (Espanha, Portugal, França, Holanda e Inglaterra), que
julgavam ali encontrar riquezas como ouro e prata baseados em fantasias, mitos e
folclore. Com a necessidade de os portugueses defenderem seu território durante a
colonização do Amazonas, decidiu-se construir uma estrutura, pois havia muitos
europeus explorando o rio Orinoco e Cassiquiere em busca de terras, lugares esses
que ficam próximos ao Rio Negro. Para assegurar as terras declaradas portuguesas,
houve a necessidade de criar o forte São José do Rio Negro(GARCIA, 2010, p. 25).
195
Ao mando de D. José I (rei de Portugal) foi construído em 1669, o forte São
José do Rio Negro. Ali se encontrava um pequeno arraial que, em 1833, foi elevado a
categoria de vila com o nome de Manaós, em homenagem à tribo da mesma
denominação que se recusava a ser dominada pelos portugueses e negava ser mão
de obra escrava (para militares e religiosos). Quando recebeu o título de cidade em
24 de outubro de 1848 era um pequeno aglomerado urbano com cerca de três mil
habitantes, uma praça, 16 (dezesseis) ruas e quase 250 (duzentos e cinquenta) casas.
Em 1856 foi nomeada cidade de Manaus (GARCIA, 2010, p. 32).
Segundo Mesquita (2006, p. 53), em 1890, início do período republicano no
Brasil, existiam cidades que haviam prosperado economicamente e que ostentavam
um estilo arquitetônico neoclássico, estilo que foi oficialmente adotado pelo Império e
servia como um padrão arquitetônico, copiado pelas cidades brasileiras.
A cidade de Manaus era a capital provincial mais distante da corte e, para
chegar nela, era necessário fazer longas viagens fluviais pelo meio da selva
amazônica. No século XIX a capital da província do Amazonas era uma cidade
pequena com um vasto e rico território, mas que se encontrava em condições de
pobreza. Não havia quem trabalhasse na agricultura e o comércio era insignificante.
Ao tratar-se de obras públicas, pouco era feito apesar dos esforços de alguns
administradores, a capital exibia pouquíssimos exemplares da arquitetura tradicional
(MESQUITA, 2006, p. 53).
Foi no final do século XIX que obras de grande importância arquitetônica foram
construídas na cidade. A atribuição para a realização das obras foi o enriquecimento
provindo da venda do látex, o que contribuiu para as obras públicas e privadas de
edifícios preservados até os dias atuais.
O ciclo da borracha foi um importante momento da história econômica e social
do Brasil. Seu marco ocorreu na região amazônica, proporcionando a expansão para
o interior. Tal fato acarretou grandes transformações socioculturais, formando vilas e
povoados nas beiras dos rios, que logo se transformaram em cidades (D’AGOSTINI,
BACILIERI, VITIELLO, et al. 2013, p. 6). Outras cidades já existentes, como Manaus,
Porto Velho e Belém, tiveram a oportunidade de enriquecer expressivamente durante
196
este ciclo, aproveitando a riqueza para fazer as modificações necessárias e expressar
através de seus edifícios e monumentos o ganho da exportação da borracha.
Foi nesse momento que Manaus passou por um remodelamento arquitetônico,
urbanístico e social. Santos Júnior (2008, p.3) comenta que, assim como algumas
cidades do período da Belle Époque brasileira, Manaus passou a ser um centro
comercial exportador-importador. Logo se tornou imperativo embelezar a cidade,
adaptá-las às exigências econômicas e sociais da época e torna-la atraente àqueles
que a frequentavam a negócios ou aspirassem nela se estabelecer terminantemente.
Mesquita (2009, p. 338) observa que Manaus sofreu transformações
significativas nesse período: “a imagens da cidade de Manaus passa a apresentar um
espaço de aparência moderna e embelezada” (MESQUITA, 2009, p. 338). Manaus
necessitava passar pela transformação, de uma vila a cidade e, como Paris era o
modelo de cidade mundial, Manaus passou a adquirir estruturas europeias.
Durante esse período, grandes obras públicas foram erguidas em Manaus, com
a implantação de medidas que eram consideradas civilizadas e modernizantes
(SANTOS JÚNIOR, 2008, p. 2). Manaus já não poderia se parecer como a aldeia
citada por Mesquita (2006, p. 54), necessitava de edifícios que mostrassem que a
cidade possuía um poder aquisitivo forte e que a elegância e o conforto encontravam-
se ali. Nesse momento, a elite local iniciou uma identificação própria vista como
representação da Belle Époque, enaltecendo a cidade de uma forma ostentadora e
enquadrando-se com o que era avaliado como moderno e civilizado em eixos do
Sudeste e de fora do país. Foi com a imagem dos prédios que transformaram a cidade
de Manaus na conhecida Paris das Selvas (DAOU, 1998, p.173 apud SANTOS
JÚNIOR, 2008, p. 2).
Lemos (2007, p. 1) comenta que, durante o século XIX, Manaus teve a
oportunidade de crescer e mudar a sua paisagem. Nessa época, a cidade deparou-se
com amplos processos de reordenamento espacial que deram origens a novas ruas,
avenidas e praças, bem como a construção de prédios públicos e privados que
buscavam refletir a riqueza material da sociedade local. O autor menciona que,
durante o final do século XIX, houve um aumento da população trabalhadora em
197
Manaus não só por causa da economia gomífera, mas pela necessidade de mão de
obra para os serviços públicos que exigiam competências técnicas especificas para
trabalhos como a instalação de trilhos, encanamento subterrâneo para água, esgoto,
gás e telégrafo (LEMOS, 2007, p. 2).
Através das riquezas públicas oriunda dos tributos da goma, foram-se
investindo no reordenamento urbano com a construção de ricos prédios públicos,
abertura e pavimentação de ruas, avenidas, parques, praças e passeios públicos. As
obras de embelezamento da cidade, com a construção de jardins e boulervards,
garantiam a higienização e diversificação do espaço, criando novas áreas urbanas de
lazer que se beneficiaram largamente, primeiro com a iluminação a gás e depois à luz
elétrica, que prolongava o tempo da sociabilidade urbana para além do pôr do sol. O
Estado concentrava as infraestruturas no centro da cidade e, desde modo, produzia o
espaço urbano, atuando na sua captura e como instrumento de reprodução social
diferenciada (OLIVEIRA, 2003, p.75 apud LEMOS, 2007, p. 3).
3.2 PRAÇA DA MATRIZ.
Com as transformações urbanísticas provinda do enriquecimento da cidade
juntamente com a boa administração, priorizou-se a infraestrutura da cidade e seu
embelezamento, surgindo assim, os espaços verdes de lazer e recreação para a
população de Manaus. Segundo Mesquita (2006 p. 273) os logradouros públicos
passaram a ser essenciais para a vida urbana e muito além de seu uso tradicional,
apresentaram “diversificação de uso, valorizaram sobre tudo o comércio, o transito e
a diversão pública, revelando uma forte influência das ideias de civilização e
progresso” oriundas dos grandes centros urbanos mundiais, que objetivavam o
embelezamento e saneamento das cidades.
Como era costume durante a colonização europeia, as povoação que eram
estabelecidas necessitavam de um lugar onde realizar os cultos religioso. É então,
que surgem as capelas e igrejas em povoados Amazônicos. As igrejas Católicas que
eram fundadas apresentavam um espaço de lazer e recreação para os féis e a
população local, denominados de praças. A construção da primeira igreja na cidade
198
de Manaus trouxe consigo a necessidade de uma praça onde a população pudesse
usufruir dos festejos religiosos e praticar o lazer.
Segundo Mesquita (2006, p. 278) a primeira nomeação dada à praça em frente
à igreja da Matriz foi Lago da Olaria, pois ali anteriormente estava localizada uma
fábrica de tijolos. Com base no autor, durante o período provincial, o espaço já era
conhecido como Praça da Imperatriz, Duarte (2009, p. 19) acrescenta que foi dado
esse nome em homenagem a Teresa Cristina Maria de Bourbon-Sicília e Bragança,
esposa do Imperador Dom Pedro II.
Ao longo dos anos a praça passou a possuir diversos nomes, tanto em
documentos oficiais como popularmente, tais como Praça XV de Novembro, Praça
Oswaldo Cruz, Praça do Comércio, entre outros. Atualmente a praça é conhecida
popularmente como Praça da Matriz.
A construção da praça iniciou-se quando ainda a Igreja de Nossa Senhora da
Conceição estava sendo construída e constou com recursos provindos do Império
juntamente em parceria com comerciantes que moravam cerca do local (MESQUITA,
2006, p. 278). Conforme o autor, em 1880 foi aprovado a Lei n.º 495 autorizando a
desapropriação de casas, casebres e terrenos localizados naquela área. Como
consequência desse ato, estima-se que durante esse processo o espaço da praça
tenha sido ampliado (MESQUITA, 2006, p. 278).
Em 1893, o “Planno de Embelezamento” da cidade de Manaus, sendo
outorgado por Eduardo Ribeiro reservava algumas mudanças e melhoramento para a
praça. Dentro das mudanças que se encontrava no plano, estava o aterro do igarapé
do Espírito Santo, que estava localizado em uma das laterais da praça (MESQUITA
2006, p. 279).
Em 1894, os melhoramentos estavam em andamento e, em março de 1896, o
governador Eduardo Ribeiro (1896, p. 22 apud Mesquita, 2006, p. 279) anunciava
estar concluído o embelezamento da praça, mas deixava explicito que faltavam alguns
detalhes que não conseguiram resolver a tempo. Já se encontrava devidamente
instalada a fonte monumental, mas as obras complementares da rampa não haviam
progredido por falta de credito necessário. Segundo Mesquita (2006, p. 280) a fonte
199
monumental da qual Eduardo Ribeiro se refere é o chafariz “feito de ferro, fabricado
pela firma escocesa Sun Foundry, de Glasgow, de acordo com inscrições gravadas
em algumas peças do conjunto”.
Segundo Duarte (2009, p. 20) o primeiro jardim da praça foi inaugurado em
1896, apresentando um formato triangular e situando-se logo em frente a igreja da
Matriz. Segundo o autor, o jardim foi tão bem apreciado pela população da época que
no mesmo ano decidiram dar continuidade aos jardins laterais.
Com base em Duarte (2009, p. 19) e Mesquita (2006, p. 279) para o
embelezamento da área da praça e do porto da cidade foi autorizada a Lei 36, de 29
de julho de 1893, de desapropriação de prédios e casas situados a margem do Rio
Negro, entre a Praça da Matriz até a Praça Tenreiro Aranha.
Os jardins laterais da igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição foram
entregues em 1897 a população, em relato, o governador Fileto Pires Ferreira (1898,
p. 43 apud Mesquita, 2006, p. 280) informava ter mandado aplicar a construção dos
jardins nas áreas laterais da igreja e a obra apresentava-se estar quase concluída,
apresentando um aspecto “regular e agradável” analisando ainda que “os jardins
abertos ficariam mais bellos e seriam melhor apreciados”. Segundo Duarte (2009, p.
20) os jardins laterais foram construídos no mesmo local onde haviam sido plantadas
as palmeiras provindas de Belém, e nas proximidades das áreas que haviam sido
desapropriados casas e edifícios em 1893, ao mando do governador Eduardo Ribeiro.
Após a inauguração da Praça, a população manauara e seus visitantes
passaram a frequentar um espaço de lazer bem localizado, uma vez que a praça
estava localizada na frente do porto da cidade.
Em 1912, na administração de Jorge Moraes, realizou-se uma nova
pavimentação e a arborização de todos os jardins pertencentes à praça. Segundo
Duarte (2009, p. 21) durante a década de 1920 a praça foi remodelada pelo prefeito
Araújo Lima que constituiu mais dois jardins em sua área, aproveitando o trajeto dos
bondes que por ali passavam. O primeiro jardim foi feito em 1924 e levou o nome de
Jardim Jaú. O segundo foi construído em 1927, e levou o nome de Jardim Ajuricaba
de Menezes.
200
Em 1930, a área defronte a Igreja de Nossa Senhora as Conceição recebeu a
instalação de um aquário, que tempo depois foi transformado no Aviaquário Municipal
(DUARTE, 2009, p. 26). Em 1930, também foi instalado um parque infantil no jardim
ao lado da Avenida Eduardo Ribeiro, e refeito o calçamento com pedras toscas as
rampas que circundam a igreja.
O atrativo do Aviaquário foi tão aprazível para a população que, em 1936, o
prefeito Antonio Maia realizou, por meio do Decreto Municipal 39, a construção de um
Parque Zoológico onde estava localizado o aviaquário(DUARTE, 2009, p. 26). A
inauguração ocorreu em 21 de abril de 1937, e o novo Jardim Zoológico Municipal
passou a abrigar “um conjunto de várias espécies de animais amazônicos” e seu
funcionamento deu-se até meados da década de 1940. No final de 1950, o Jardim
Zoológico foi transferido para a Arquidiocese de Manaus. A reinstalação do Aviaquário
Municipal acontecera em 1979, com exemplares de animais variados, espaço para
venda de artesanato e um centro de artes coordenado pela Secretária Municipal de
Educação e Cultura (DUARTE, 2009, p. 26).
Segundo Duarte (2009, p. 26) a partir de 1989, a área passa a ser mencionado,
em documentos oficiais, como Parque Dom Basílio Ferreira. Ao termino dos anos de
1980, o Aviaquário já havia sido desativado.
Ao longo dos anos a Praça da Matriz vem sido reformada e adaptada,
modificando algumas de suas características originais (DUARTE, 2009, p. 26).
Monteiro (1998, p. 556) crítica que que com o passar do tempo, a Manaus de 1900
está sendo descaracterizada. Cada vez menos encontramos jardins arborizados,
ornamentação devidamente originais, entre outros. Em Manaus tudo sofre (ou sofreu)
uma reforma de prefeitos “que não possuindo nenhuma ligação sentimental conosco
também não podiam considerar a arbitrariedade cometida contra a cultura”
(MONTEIRO, 1998, p. 556).
Em 2009 a Praça da Matriz sofreu uma revitalização, mas logo em pouco tempo
já se encontrava em situação de degradação. A praça também foi contemplada pelos
projetos "Corredor Cultural" e "Reconstruindo o Centro" durante as gestões passadas
(ANDRADE, 2011, p. 91).
201
Atualmente a Praça passa por uma nova revitalização que teve início em 2014.
O projeto faz parte do o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades
Históricas onde já investiu cerca de R$ 6.554.322,14 para as obras, que ainda não
estão concluídas. Em 2014 a Prefeitura de Manaus informou que as obras levariam
cerca de 9 (nove) meses para estarem concluídas (Globo Noticias Amazonas, 01 de
julho de 2015). Neste ano houve denúncias sobre a paralisação total das obras na
praça, pois ainda segue-se investindo dinheiro e não há continuação das obras (A
Crítica, 29 de junho de 2016).
Em resposta a denúncia o Instituto Municipal de Planejamento Urbano
(IMPLURB), responsável pelas obras da praça, defendeu que as obras procedem de
uma forma lenta uma vez que os recursos estão minimizados por consequência da
crise que o país está enfrentando. O Implurb informou também que não há previsão
para o termino da obra realizada na Praça da Matriz (A Crítica, 29 de junho de 2016).
3.3 PRESERVAÇÃO E UTILIZAÇÃO DOS PATRIMÔNIOS NA CIDADE DE MANAUS
O centro histórico de Manaus é tombado pelo IPHAN desde janeiro de 2012
(IPHAN, 2012). Com base em Silva (2003, p. 89) podemos classificar Manaus como
cidade histórica viva dentro da definição de centro históricos, "onde a dimensão
espacial abrange exatamente o perímetro da cidade antiga, atualmente englobada por
uma cidade moderna".
Segundo o Decreto Municipal de 2013, o patrimônio histórico consiste em
“todos os bens culturais que possuem representatividade para história e identidade da
cidade” (Decreto Municipal nº 2.436 de 19 de julho de 2013).
Tratando-se de preservação de patrimônio histórico em Manaus
Art. 35. Consistem o patrimônio histórico, artístico e cultural de Manaus a ser
preservado, por serem testemunhos mais antigos da história do lugar e
importantes ao resguardo da identidade e memória da população local e
ainda pelas características excepcionais, os bens incluídos no Setor Especial
de Unidades de Interesse de Preservação, definido e regulamentado pelo
Poder Executivo Municipal, no Sítio Histórico e no Centro Antigo, conforme
os termos da Lei Orgânica do Município de Manaus – LOMAN, demarcados
no Mapa de Qualificação Ambiental do Plano Diretor Urbano e Ambiental de
202
Manaus ( Lei nº 672 de 04 de novembro de 2002, apud Decreto Municipal nº
2.436 de 19 de julho de 2013).
As Unidades de Interesse de Preservação Histórica são bens imóveis de valor
significativo que, de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar
as tradições e a memória da cidade (Decreto Municipal nº 2.436 de 19 de julho de
2013). As Unidades de Interesse de Preservação são classificadas em 1º Grau, 2º
Grau, Orla Portuária e Praças Históricas (Decreto Municipal nº 2.436 de 19 de julho
de 2013. Art. 4º).
Os edifícios ao redor da praça apresentam características arquitetônicas
diversas. Não são todos que apresentam estilo arquitetônicos com fachadas históricas
como descrito no Decreto Municipal nº 2.436 de 19 de julho de 2013. Cada edifício
apresenta suas características próprias, ao mesmo tempo que alguns apresentam
detalhes similares entre eles.
Embora haja edifícios que possuam e não possuam componentes de fachadas
históricas ao redor da Praça, todos estão dentro da área de preservação descrito no
Decreto nº 7176 de 10 de fevereiro de 2004, que delimita como área de interesse de
“proteção, acautelamento e programação especial” desde a “Rua Leonardo Malcher e
a orla fluvial, limitado ao Oeste, pelo igarapé de São Raimundo e, ao Leste, pelo
igarapé de Educandos, tendo como referência a Ponte Benjamin Constant.” (Art. 1.
Decreto Municipal nº 7176 de 10 de fevereiro de 2004).
A delimitação marca os bens de valor significativo que possam apresentar ou
marcar as tradições e a memória da cidade de Manaus. São classificados como bens
de valor significativos os espaços que apresente: I- paisagens; II- sítios históricos; III-
conjuntos arquitetônicos; IV – edificações de interesse cultural; V- demais unidades e
equipamentos estabelecidos pelo órgão competente do Munícipio (Art. 1. § 2º. Decreto
Municipal nº 7176 de 10 de fevereiro de 2004).
Ainda segundo o Decreto “cada unidade de interesse de preservação merecerá
tratamento específico visando adequá-las à vizinhança mais imediata e, sempre que
possível, integra-la no contexto da cidade” (Art. 3º. Decreto Municipal nº 7176 de 10 de
fevereiro de 2004).
203
Todos os bens delimitados como parte do centro histórico de Manaus, seja
possuindo classificação de 1º grau, 2º grau, orla portuária ou praças históricas, devem
obedecer as normas mais especificas sobre a preservação desses bens.
As medidas acautelatórias de proteção, caso a propriedade seja particular,
deve seguir as seguintes recomendações: caso seja necessário fazer alguma
modificação em um dos espaços delimitados como área do centro histórico, o projeto
deve ser encaminhado com antecedência para o Instituto Municipal de Planejamento
Urbano (IMPLURB), onde devem ser analisados e aprovados (Art. 15. Decreto
Municipal nº 7176 de 10 de fevereiro de 2004). As modificações descritas incluem:
restauração, recuperação ou reconstrução total do imóvel com base em dados
existentes no IMPLURB, principalmente tratando-se da fachada e da cobertura;
Construção de um novo imóvel, devendo obedecer todas as delimitações de uso e
obedecendo as normas que incluem o uso, volumetria, afastamento, recuos,
coeficiente de aproveitamento, concepção arquitetônica, taxa de ocupação do solo,
vagas para garagem, entre outros (Art. 15 Decreto Municipal nº 7176 de 10 de fevereiro
de 2004).
Segundo Silva (2003, p. 131) tratando-se da conservação relativa à proteção
do patrimônio nacional, o proprietário do imóvel possui a principal obrigação de
conservar o bem tombado. Na ocasião em que o proprietário não possuir recursos
para a conservação do bem, “deverá comunicar ao órgão competente a necessidade
da execução das obras para a sua “conservação e reparação”, sendo sua omissão
punida com multa”.
Mas impor a preservação não é uma solução. Para Neves (2003, p. 52) possuir
o patrimônio imóvel apresenta uma dimensão material que deve ser associada com o
simbolismo da cultura a qual pertence. O patrimônio é um suporte da história e da
memória dos grupos sociais, e para que isso tenha resultados positivos, deve surgir
da própria comunidade a decisão de preservação de seus produtos culturais (NEVES,
2003, p. 53).
Neves (2003, p. 53) analisa que a preservação pode ocorrer de forma individual
ou coletiva, podendo os indivíduos ou os diversos grupos sociais desenvolverem
204
mecanismos de preservação daquilo que julgarem dignos de ser preservado. Alguns
estudos de casos mencionados pelo autor destacamos uma família que resolveu
passar de geração a geração um livro de receitas gastronômicas para assim manter
vida a cultura de sua família. Também destacasse uma pequena comunidade em
Nova Olinda que decidiu realizar projetos culturais de preservação da memória
envolvendo crianças e jovens da própria comunidade, onde realizam a busca da
memória de seu local de origem, assim como de seus antepassados, os índios Cariri
(NEVES, 2003, p. 54).
Fazendo uma crítica ao pensamento da população manauara tratando-se da
conservação de patrimônios materiais da cidade, Monteiro (1998, p. 556) afirma que
O que não serve para nós que não sabemos cultivar a expressividade dos
bens patrimoniais públicos vai servir de jardins e mansões de arrivistas que
aqui chegam com uma mão na frente e outra atrás e saem de alforjes
(MONTEIRO, 1998, p. 556).
Para o autor, a população manauara não possui a cultura de preservar sua
própria cultura, mudando constantemente os hábitos e ignorando seus hábitos
antigos, permitindo que governantes façam o que achar mais convenientes com os
espaços públicos. Esses atos acarretam graves consequências nos patrimônios da
Manaus antiga, e aos poucos deixamos nossas frondosas fontes ornamentais serem
esquecidas em depósitos públicos.
O Governo tem apoiado alguns projetos para a preservação do centro histórico
de várias cidades brasileiras incluindo Manaus. Em Manaus ocorreram alguns
programas de preservação do patrimônio material. Segundo o IPHAN, o Programa
Manaus Belle Époque iniciou sua fase de implementação dos projetos no ano 2000,
onde visava a preservação do patrimônio aliando a preservação e o turismo. Em
sequência veio o Projeto Monumenta, que buscava restaurar obras, buscando
conciliar esta ação com a sustentabilidade dos sítios históricos, motivando seus usos
econômicos, cultural e social (IPHAN, 2005).
A preservação do patrimônio ocorre quando a população e os órgãos públicos
entram em acordo, em que ambas as partes se comprometem com a recuperação,
205
preservação e manutenção dos patrimônios públicos e particulares. Se não há o
consentimento da população e o “quer preservar” os projetos governamentais não
serão suficientes para que os patrimônios se mantenham, o que ocasiona em poucos
anos o desgaste e abandono do imóvel.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
4.1 EDIFICIOS AO REDOR DA PRAÇA DA MATRIZ
Dos 50 (cinquenta) edifícios catalogados ao redor da praça durante a realização
da pesquisa, observou-se que apenas o edifício do Correio situado na Av. Eduardo
Ribeiro encontrava-se sem utilização e abandonado.
Com relação aos entrevistados, todos alegaram serem locatários dos edifícios e
utiliza-lo para uso exclusivamente comercial.
Das reformas realizadas no interior e exterior dos edifícios, observou-se que
apenas 1 entrevistado respondeu que a reforma realizada no edifício é de
responsabilidade do proprietário. Outros 2 entrevistados responderam que as
reformas são realizadas por ambos, os proprietários e os locatários. Os demais
entrevistados responderam que todas as reformas realizadas no interior e no exterior
do edifício são de responsabilidade exclusiva do locatário.
Analisou-se que os edifícios visitados durante a pesquisa, todos haviam
realizado algum tipo de reforma (interna ou externa) nos últimos três anos, e
consequentemente, não estavam com previsão de uma nova reforma.
Um dos edifícios localizados na rua 15 de Novembro encontrava-se em péssimo
estado no ano de 2015, quando ocorreu uma forte chuva e a estrutura cedeu por
completo. Segundo o atual locatário do edifício, a reforma durou cerca de 8 meses e
foi de total responsabilidade do proprietário. Atualmente somente a fachada do edifício
é original, todo o interior foi refeito.
Com relação a restauração da Praça da Matriz na visão dos comerciantes
entrevistados, ressalta-se a crença de que com a obra concluída, o comércio vá
melhorar, atraindo mais compradores e turistas.
206
Todos os comerciantes demonstraram ter alguma noção básica daquilo que é
turismo e o que representa no meio econômico daquela região. Demonstraram
conhecimento da temporada de cruzeiros que ocorre de novembro a maio, todos os
anos.
Em relatos durante a entrevista, foi abordado pelos entrevistados que desde
que a praça entrou em restauro em 2015, houve prejuízo na movimentação do
comércio. Menos turistas e moradores da cidade passaram a frequentar aquela área,
aumentado os problemas sociais.
Dos problemas públicos apontados, destacou-se a pouca iluminação na praça
e ao redor, prostituição, muitos moradores de rua naquela região e principalmente a
falta de segurança. Segundo os próprios comerciantes, há um alto índice de assalto
ao redor da praça, e que a partir das 18h já não se pode transitar por conta da
insegurança.
O jornal A Crítica (29 de junho de 2016) tratando de uma reportagem realizada
ao redor da Praça da Matriz, entrevistou alguns comerciantes e em entrevista ao
jornal, informaram que a demora na reforma da Praça da Matriz trem prejudicado o
comércio, principalmente na segurança. Segundo a comerciante
Depois que as praças foram fechadas, a situação aqui nesta região ficou
complicada. Por causa disso temos perdido muitos clientes que preferem ir
aos shoppings e bairros para comprar, pois descer em uma parada no centrão
é praticamente pedir para ser assaltado.” (JORNAL A CRÍTICA, 29 DE
JUNHO DE 2016).
Dentre algumas melhorias esperadas após a restauração e inauguração da
praça, apontou-se eventos culturais para que a população voltasse a frequentar a
praça da Matriz. A idealização proposta pelos entrevistados seria que a praça da
Matriz fosse como a praça São Sebastião, localizada também no centro de Manaus,
na frente do Teatro Amazonas. Eventos culturais como música, teatro, dança,
apresentações artísticas, entre outras, seriam uma das maneiras para chamar público
e para tornar o ambiente mais agradável. Tornando assim, a Praça da Matriz um
207
ambiente de lazer para a comunidade manauara e por consequência, ao turista que
visita a capital.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Manaus foi uma importante capital econômica nos tempos da extração da
borracha na região norte do Brasil. Com o passar do tempo, a situação econômica da
capital sofreu altos e baixos, desde o declínio da borracha até a implantação do Polo
Industrial. A globalização vem influenciando a cultura em todos os aspectos
mundialmente, e não é diferente em Manaus.
Entre filosofias e pensamentos, surge a discursão entre o novo e o antigo, a
importância do preservar ou sucumbir ao atual disponível no mercado. Afinal, o que
fazer com os edifícios antigos de uma cidade que vem sendo afetada cada vez mais
pela globalização? Devemos apagar nosso passado para ter um novo futuro?
Sem dúvida o turismo planejado juntamente com a comunidade contribui com
a preservação dos patrimônios, desenvolve a identidade cultural e promove igualdade.
Observou-se que a Praça da Matriz atualmente está com dificuldades quanto ao
termino de suas obras, e com a demora provem o descontentamento da população,
religiosos e comerciantes que desenvolvem suas atividades diárias ao redor da praça.
Com a crise no país, o poder público vem buscando resguardo com a “falta de
dinheiro”, sendo que já foram investidos R$ 5.673.964,69 e a praça não está nem
perto de ser inaugurada.
O isolamento da praça vem ocasionando a diminuição do fluxo de pessoas
naquela região, o que diminui turistas e potenciais clientes para o comércio ali
estabelecido.
A pouca iluminação e segurança juntamente com a diminuição de fluxo de
pessoas vêm tornando aquela área cada vez mais perigosa, onde ocorrem frequentes
assaltos. A aparente ausência do poder público vem trazendo constantes revoltas aos
moradores e comerciantes daquela região.
208
A falta de comunicação entre os órgãos públicos responsáveis pelo patrimônio
vem trazendo serias consequências para a população com a demora das obras.
Durante a pesquisa concluiu-se que na visão dos comerciantes ao redor da Praça da
Matriz os órgãos públicos só estão para julgar e aplicar multas, e não para ajudar a
preservar o patrimônio tombado. Na visão dos entrevistados, o desejo é de um
planejamento participativo, onde os órgãos responsáveis possam ouvir as dificuldades
que a população possui quando se trata de preservação. Desejaram também, através
de do planejamento participativo possuírem mais informação sobre a preservação dos
edifícios.
Não há dúvidas de que a Praça da Matriz e seu entorno possuam potencial
turístico. Sendo que o turismo além de ser uma atividade economicamente rendável,
atribui valor a cultura de cada região, fortificando os laços da comunidade e de seu
patrimônio.
É importante ressaltar que a preservação ocorre de dentro da comunidade,
para que não seja imposta e cause consequências negativas. Para que os resultados
sejam positivos o poder público da cidade de Manaus deve passar a se comunicar e
delimitar funções a cada órgão de preservação. Devem estar prontos para ouvir a
comunidade e juntos preservarem de forma continua.
A união entre os órgãos públicos e a comunidade resultará em planejamento
de longo prazo. Assim, o turismo cultural será visto como uma forma a mais de
economia e sustentabilidade do espaço como um todo. Trazendo melhorias para o
centro histórico, embelezamento e fluxo turístico para a cidade de Manaus.
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211
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PROPOSTA DE PLANO DE AÇÃO A PARTIR DA INVENTARIAÇÃO DA OFERTA
TURÍSTICA DO CENTRO DO MUNICÍPIO DE SÃO LOURENÇO DO SUL, RS,
BRASIL
FERREIRA, Luciana29; PEREIRA, Lucimari30;MELO Elizandra31; SCHWAB, Cláudia32;
KUNZ, Jaciel Gustavo 33 [email protected]
Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar os dados da inventariação
turística realizada pela turma das disciplinas de Gestão e Planejamento do Turismo I
e II do curso de Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – FURG
nos anos de 2013 e 2014. A pesquisa se justifica, pela problemática frequentemente
levantada em outros estudos que abordam o porquê e qual a importância de se
inventariar, e como os dados de uma inventariação podem contribuir para o
planejamento e gestão de um destino em termos de turismo e desenvolvimento local
e social. O método utilizado foi o do Ministério do Turismo que dispões de formulários
e cartilhas para o pesquisador, a partir dos dados gera-se nesse trabalho propostas
de melhorias para gestão e planejamento no que se relaciona ao turismo.
29Bacharel em Turismo pela Universidade federal do Rio Grande- FURG, [email protected] 30Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande- FURG, Mestranda pelo programa de Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI, [email protected] 31 Graduanda em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande -FURG, [email protected] 32Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande- FURG, [email protected] 33Mestre em Turismo pela Universidade Caxias do Sul- UCS, Docente no Curso de Graduação em Turismo Binacional do Instituto de Ciências Humanas e da Informação da Universidade Federal do Rio Grande -FURG
212
Palavras-chave: Inventariação da Oferta Turística; Plano de Ação; São Lourenço do
Sul.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo apresentar os dados da inventariação
turística realizada pela turma das disciplinas de Gestão e Planejamento do Turismo I
e II do curso de Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – FURG
nos anos de 2013 e 2014, destacando a importância do inventário e a possibilidade
de elaboração de um plano de Ação e Gestão Turística para a área inventariada. O
inventário foi realizado na região central do município de São Lourenço do Sul e todos
dados disponíveis na web ou passíveis de serem confirmados ou atualizados por
telefone, foram atualizados no primeiro semestre de 2016.
A pesquisa se justifica, pela problemática freqüentemente levantada em
outros estudos que abordam o porquê e qual a importância de se inventariar, e como
os dados de uma inventariação podem contribuir para o planejamento e gestão de um
destino em termos de turismo e desenvolvimento local e social. Também, identificou-
se uma lacuna nos estudos sobre inventariação: pesquisando as bases de dados
Ebsco, Scielo, Publicações em Turismo e Spell, foi encontrado um número
significativamente pequeno de publicações sobre o tema o que gira em torno de 14
artigos em revistas acadêmicas, o que torna este trabalho viável e relevante.
O objetivo geral da pesquisa é gerar, a partir dos dados coletados e
atualizados, material para a elaboração de um Plano de Ação que possa auxiliar no
planejamento e gestão do referido destino turístico e que sirva de base para futuras
pesquisas cientificas que utilizam o método de inventariação do Ministério do Turismo,
como foi no presente caso.
O objeto de estudo é o Município de São Lourenço do Sul com recorte em
seu Centro Histórico. Situado na região sul do Estado do Rio Grande do Sul, em uma
localização privilegiada a 195 quilômetros da capital, Porto Alegre. Seus limites são:
213
ao norte, os municípios de Cristal e Camaquã; a oeste, Canguçu; ao sul, Turuçu e
Pelotas e a leste, a Laguna dos Patos. Sua extensão territorial é de 2036 km² divididos
em 13,9 km² de área urbana e 2022 km² de área rural e sua população é de 43111
habitantes, com uma maior concentração na zona urbana.
O clima é subtropical litorâneo característico da região, com verões quentes,
invernos frios e chuvosos e as estações intermediárias bem definidas, favorecendo a
realização do turismo náutico, passeios de barco, turismo de sol e praia
(PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO LOURENÇO, 2016). Certamente sua
localização – próximo tanto de Pelotas como da Capital, cidades que podem funcionar
como indutoras de turismo na região – e o fato de ser banhada por uma Lagoa,
intensifica o fluxo de visitantes.
Com forte influência da cultura alemã, a economia do município gira em torno,
principalmente, da agropecuária (colonial e familiar) e do setor de serviços (comércio
e turismo de verão), com uma pequena participação da indústria. Nos finais de
semana a praça central da cidade recebe uma feira colonial na qual descendentes
dos pomeranos expõem uma grande variedade de produtos artesanais, sendo este
um espaço que requer melhorias em sua infraestrutura. (PREFEITURA MUNICIPAL
DE SÃO LOURENÇO, 2016).
Os meses de maior movimento turístico são os do período de verão, que vai
de dezembro a março. Os visitantes nacionais, em sua maioria, são oriundos dos
estados de Santa Catarina, São Paulo e Paraná; os internacionais, da Argentina,
Alemanha e Uruguai e os atrativos mais visitados são as praias, a Fazenda do
Sobrado, o passeio de escuna e o Roteiro Pomerano (PREFEITURA MUNICIPAL DE
SÃO LOURENÇO, 2016).
A localidade atua nos segmentos de turismo rural, sol e praia e náutico.
Todavia, não há nenhuma atividade desenvolvida para amenizar os efeitos da
sazonalidade. Quanto à legislação, a cidade conta com um Plano Diretor que prevê
o desenvolvimento da atividade turística apenas na zona circundada pela Lagoa, além
de leis de ocupação do solo, de proteção ambiental e uma lei orgânica municipal
(PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO LOURENÇO, 2016).
214
O município faz parte do Programa de Regionalização Turística, criado em
março de 2004 pelo Ministério do Turismo como forma de iniciar a implementação do
Programa Roteiros do Brasil. Foram realizadas nos diversos estados brasileiros,
oficinas para definição das regiões turísticas prioritárias. O Rio Grande do Sul
atualmente está dividido em 27 regiões turísticas, sendo que São Lourenço do Sul
pertence à Região da Costa Doce, junto a outros 18 municípios.34
2 INVENTARIAÇÃO TURISTICA
A inventariação da oferta turística tem como objetivo registrar, relacionar,
contar e conhecer aquilo que a localidade dispõe e, a partir disso, gerar informações
para pensar como o um destino vai agir e se estruturar, visando ser competitivo frente
ao mercado turístico (Brasil, 2006).
Os dados coletados em um inventário possibilitarão a análise e qualificação
dos atrativos, equipamentos e serviços, possibilitando a definição de prioridades para
os recursos disponíveis e o incentivo ao desenvolvimento da atividade turística de
forma planejada (BRASIL, 2014; ARANDA; ALVARES; PÉREZ, 2014).
A realização do inventário da oferta turística é um instrumento que atende as
exigências e diretrizes do Governo Federal expressas no Plano Nacional do Turismo,
que são: redução das desigualdades sociais, geração e distribuição de renda, geração
de emprego e ocupação e equilíbrio da balança de pagamento (BRASIL, 2014; SILVA;
MENESES, 2011; ARANDA; ALVARES; PÉREZ, 2014; BRITO; MELLO, 2013).
O inventário da oferta turística de um município é uma importante etapa,
servindo de subsídio para a gestão pública tomar decisões quanto ao planejamento e
investimentos na atividade turística a partir dos dados gerados, a análise e
qualificação desses atrativos, equipamentos e serviços, possibilitando a definição de
prioridades para os recursos disponíveis e o incentivo ao turismo sustentável
34Fonte: Observatório do Turismo – Secretaria do Turismo, Esporte e Lazer/RS. Disponível em: <file:///D:/Users/48275190053/Downloads/20160629133030finalmapa_da_regionalizacao_do_turismo_13__de_maio_de_2016__1_%20(1).pdf> Acesso: 01/09/2016
215
(PERANTONI; SILVA; NAGABE, 2012; PACHECO, 2015; ARANDA, ÁLVAREZ;
PÉREZ, 2014; BRITO; MELLO, 2013, BRASIL, 2006).
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a elaboração deste trabalho, a metodologia empregada foi pesquisa
documental, pesquisa em meio eletrônico e pesquisa exploratória que, conforme Gil
(2008, p. 27): “[...] têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar
conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou
hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores [...]”. Utilizou-se também a pesquisa
descritiva associada a uma abordagem qualitativa e quantitativa, usando técnicas de
coleta de dados em campo com utilização dos formulários do Ministério do Turismo.
Estes formulários, que permitiram identificar e quantificar os atrativos, equipamentos
e serviços existentes são divididos em três categorias: categoria A – Infraestrutura de
apoio ao Turismo; categoria B – Serviços e Equipamentos Turísticos; categoria C –
Atrativos turísticos (BRASIL, 2014; VEAL, 2011; GIL, 2018).
Também foram realizadas entrevistas informais com gestores públicos,
empresários e comunidade local, além de registros fotográficos da região
inventariada. Posteriormente efetivou-se a descrição e tabulação dos dados do
inventário. Estas etapas foram realizadas durante a disciplina de Gestão e
Planejamento I do curso de Turismo Binacional da FURG, sob a orientação da
professora Ligia Dalchiavon, no segundo semestre de 2013.
No semestre seguinte – 1º semestre/2014 – na disciplina de Gestão e
Planejamento II, sob a coordenação do professorJaciel Gustavo Kunz, a partir dos
dados inventariados em 2013 desenvolveu-se a análise desta oferta e um
planejamento turístico para a área inventariada. Este trabalho foi elaborado tendo
como base o relatório final da disciplina, composto pelo diagnóstico, prognóstico e
plano desenvolvimento criado pelo grupo para a área central do município de São
Lourenço do Sul. Está estruturado de seguinte maneira: Uma introdução com a
descrição e detalhamento do local, informações sobre inventariação turística,
216
detalhamento da metodologia, relação dos dados coletados e sua análise e
considerações finais, que trazem um diagnóstico e um prognóstico.
Os dados inventariados em 2013 foram trabalhados pelos acadêmicos que,
divididos em grupos, analisaram a oferta disponível na zona inventariada. Desta
análise foram feitos relatórios apresentados em sala de aula e debatidos pelo grande
grupo. Destes debates resultou o relatório que deu origem a este artigo.
As informações coletadas à época da elaboração do trabalho foram
atualizadas no primeiro semestre de 2016, a fim de confirmar os dados coletados e
corrigir possíveis distorções. Esta atualização foi realizada por meio de informações
acessíveis via web ou telefônica, devido à impossibilidade de realizar-se nova
pesquisa de campo neste momento.
4 RESEULTADOS / DISCUSSÃO
O processo de inventariação, devidamente registrado nos formulários do
Ministério de Turismo, possibilitou o levantamento dos seguintes dados:
1. Serviços de energia elétrica, saneamento básico e abastecimento de água:
o fornecimento de água é efetuado pela CORSAN – Companhia Rio-grandense de
Saneamento, que atende 10500 domicílios. Não há tratamento de esgoto. O
fornecimento de energia elétrica e feito pela CEEE – Companhia Estadual de Energia
Elétrica, atendendo 10795 domicílios na área urbana e 5719 na área rural.
2. Coleta de lixo regular e seletiva: há coleta seletiva de resíduos sólidos,
realizada pela Associação Ecológica de Recicladores de São Lourenço do Sul –
ASSER. Abrange 100% da área urbana e 5% da rural. A ASSER realiza ainda a coleta
de entulho, papel, plástico, vidro, óleo e papelão. A coleta normal, realizada pela
Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo, cobre 100% da área urbana e 35% da
rural, ficando 65% desta sem nenhum tipo de coleta de lixo. Além disso, o município
conta com uma coleta programada para atender depósitos e mercados, sob a
responsabilidade da Secretária Municipal de Obras e Urbanismo, coleta de pilhas e
217
baterias realizada por uma rede de supermercados e de pneus, efetuada pela
Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente, através do ECOPONTO35.
3. Serviços de comunicação: a cidade conta com acesso à internet via rádio.
Em relação aos serviços de telefonia móvel e telefonia fixa ambas abrangem somente
parte do município. No quadrante inventariado o município possui duas rádios, sendo
uma AM e uma FM de abrangência local e região centro sul; uma revista bimestral de
distribuição gratuita, que divulga eventos, informações e serviços locais; um jornal de
edição semanal com distribuição no município e região centro sul, que elabora
anualmente um guia de verão com informações de utilidade pública tanto para os
moradores quanto para os turistas. Há ainda uma agência dos correios, com entrega
de correspondência somente na zona urbana.
4. Superestrutura e promoção turística: A cidade de São Lourenço do Sul está
inserida na região turística da Costa Doce; possui um Conselho Municipal de Turismo;
a zona marginal da lagoa dos Patos está enquadrada como área de desenvolvimento
de atividade turística pelo Plano Diretor. A promoção do município é realizada por
meio de folders, site na internet e eventos regionais como o Festival de Turismo de
Gramado, Fenadoce - Pelotas e Exporto Sul.
5. Informações turísticas: As informações a respeito da cidade podem ser
obtidas à Rua Senador Pinheiro Machado, região central, onde está localizada a
Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio que possui em seu quadro de
funcionários uma turismóloga atuando no local. Os visitantes não terão dificuldades
para localizar a Secretaria, já que existem ao longo do percurso placas de acesso e
de sinalização turística e o posto de informações é também sinalizado. No local são
disponibilizados folhetos de serviços e mapas. Todavia, os visitantes vão enfrentar
problemas, pois o material disponibilizado com os preços e serviços oferecidos em
São Lourenço do Sul não condizem com a realidade verificada, algo muito negativo
dentro da atividade turística.
35Ponto de coleta de pilhas, lâmpadas e outros materiais, promovido pela Secretaria de Meio Ambiente em parceria com só comércio local. Fonte: <http://www.saolourencodosul.rs.gov.br/noticias.php?ID_NOTICIA=4761> Acesso em: 15/08/2016.
218
O espaço onde está instalada a Secretaria não é adaptado para receber
pessoas com mobilidade reduzida e não há funcionários que dominem outras línguas,
algo fundamental em um local de informações já que a cidade recebe visitantes
estrangeiros. Outro problema é o horário de funcionamento da Secretaria que atua em
horário comercial durante o decorrer da semana e nos finais de semana permanece
fechada, algo negativo para um município que vê no turismo um meio de desenvolver
a cidade. Outro meio para entrar em contato com a secretaria é através de telefone,
por e-mail ou através da página na internet:
(Http://www.saolourencodosul.rs.gov.br/secretarias.php?ID_SECRETARIA=5). Há
ainda um posto de informações turísticas na Rodoviária, mas este se encontrava
fechado no dia da visita de campo. Segundo o Secretário de Turismo do município,
àno momento o único posto que funciona é o da Secretaria.
6. Transporte: A cidade conta com um terminal rodoviário que se situa à Rua
Almirante Barroso, número 1715, no centro da cidade. O terminal é municipalizado,
sendo que empresas privadas de transporte participam de licitações para uso do
espaço, sendo o principal serviço do terminal a venda de passagens de ônibus,
municipais e intermunicipais. A rodoviária conta com alguns serviços extras como
restaurantes, loja de eletrônicos e ponto de táxi, além de acessibilidade e banheiros
adaptados para cadeirantes. Horário Funcionamento das 05:30 h às 22:00 h. O web
site da prefeitura (http://www.saolourencodosul.rs.gov.br/index.php) informa todos os
horários de ônibus e o e-mail para contato com o administrador (um servidor público
municipal, Márcio – [email protected]).
7. Vias de acesso: Localizado na Microrregião Centro Sul do Estado do Rio
Grande do Sul, tem como vias de acesso a BR-116 e a RS-265. Tanto para quem vem
do sul como do norte, pela BR-116 tem-se o acesso à RS-265, que vem de Canguçu.
A região é muito favorável ao turismo. A seguir, informações detalhadas sobre os
acessos:
➢ A BR-116, também chamada de Régis Bittencourt, é a principal rodovia
federal do Brasil, a maior do país e totalmente pavimentada. Os municípios
que se ligam mais proximamente a São Lourenço pela BR-116 são Turuçu
219
e Pelotas. No trecho pelotas/São Lourenço do Sul há apenas um pedágio
(R$ 7,00) e entre Porto Alegre e São Lourenço, três pedágios (R$ 16,30) –
segundo informações do site <http://viajeaqui.abril.com.br> (acesso em
05/07/2014). O trecho da BR que corta o município dispõe de um posto de
combustível, serviços de alimentação e telefone público, supermercado,
posto de informação turística, borracharia, policia rodoviária, socorro
médico. A estrada encontra-se em boas condições de trânsito e também
em ótimo estado de limpeza sem lixo à beira da rodovia e nem sobre a faixa
de rodagem.
➢ A RS- 265 é uma rodovia estadual que liga a BR-116 à sede do município.
Está em obras de pavimentação de duas faixas de rolamento. Ela liga os
municípios de Pinheiro Machado, Piratini, Cancelão, Canguçu, Herval, Boa
Vista, Boqueirão, Quevedo e São Lourenço do Sul.
➢ Há ainda outros três acessos à sede, por estradas de terra municipais (Sls
060, Sls 010 e Estrada P), sem sinalização, que percorrem parte da zona
rural desde a BR-116 até a sede.
➢ Algumas distâncias de São Lourenço do Sul:
➢ Porto Alegre – 195 km (BR-116 e RS-265)
➢ Pelotas – 70 km (BR-116 e RS-265)
➢ Rio Grande – 140 km (BR-116, BR-392 e RS-265)
➢ Jaguarão – 200 km (BR-116 e RS-265)
➢ Chuí – 332 km (BR-471, BR-116 e RS-265)
➢ Santa Maria – 324 km (BR-392 e RS-265)
➢ Florianópolis – 646 km (BR 101, BR-290, BR-116 e RS-265)
➢ Curitiba – 896 km (BR 116 e RS-265)
220
Figura 2: Acessos a São Lourenço do Sul
Fonte: https://maps.google.com/
O inventário previu a análise das vias de acesso à cidade, porém não previu
um levantamento de dados acerca das condições das vias de tráfego na cidade:
condições das ruas, das calçadas, fluidez do trânsito, que também consideramos
importantes. Lamentavelmente, este é um ponto fraco do trabalho que ainda não foi
corrigido.
8. Serviços de segurança pública:
➢ Uma Companhia de Brigada Militar (2º CIA- 30BPM) situada à Rua
Humaitá, nº 196 - Tel.: 3251 1407 e 190 informações disponíveis no web
site: www.brigadamilitar.rs.gov.br. Os serviços especializados que são
oferecidos à população e eventualmente para os turistas que visitam o local
são o policiamento preventivo e ostensivo; ações de prevenção a acidentes
221
de trânsito (“Balada Segura36” é um exemplo); prevenção ao uso de drogas
(PROERD37); Operação Golfinho38 , desenvolvida durante o verão com
aumento de efetivo no policiamento e atendimento de salva-vidas nas
praias do município. Esta operação, que normalmente abrange apenas os
balneários, no caso de São Lourenço do Sul beneficia a zona central da
cidade, pela proximidade das praias com o centro.
➢ IGP (Instituto Geral de Perícias) situado à Rua Quinze de Novembro, nº
258 - Tel.: 3251 1302 (informações disponíveis no web site do IGP:
www.igp.rs.gov.br);
➢ Delegacia de Polícia Civil situada à Rua Júlio de Castilhos, nº 2190 - Tel.:
3251 3300 (informações disponíveis no web site da Polícia Civil –
www.pc.rs.gov.br), que presta serviços de investigação (polícia judiciária);
Corpo de Bombeiros (vinculado à Brigada Militar) situado à Rua Novo
Centeno, nº 151 - Tel.: 3251 1236 (informações do web site da Brigada:
www.brigadamilitar.rs.gov.br);
➢ Uma Agência da Receita Federal, situada à Rua Barão Triunfo, n° 138 -
Tel.: 3251 3411 ou 3251 3470 (informações disponíveis no web site da
RFB: www.receita.fazenda.gov.br).
9. Serviços de saúde: os seguintes estabelecimentos ligados à saúde estão
disponíveis tanto para atender tanto à população como ao turista:
➢ Farmácias: todas as farmácias, com exceção da Drogaria São Lourenço do
Sul (Farmácia Santa Casa) tem como principais serviços a venda de
medicamentos e perfumaria- o inventário não informa quais outros serviços
esta farmácia oferece. Todas aceitam cartões de crédito como forma de
pagamento; o horário de atendimento fica entre as 08h00min até às
22h30min horas, em geral. As farmácias Nativa e Nativa Filial 1 contam
36Política pública do Estado do Rs para a segurança do trânsito. Fonte: http://www.baladasegura.rs.gov.br/inicial 37Programa Nacional de Resistância às Drogas, implementado pelas polícias militares em quase todo o país. 38Operação de segurança nos balneários do RS, promovida pelo Corpo de Bombeiros.
222
também com serviço de manipulação de medicamentos. Não há no
inventário informações sobre outros serviços prestados por estes
estabelecimentos. Muitas das informações necessárias ao levantamento
de dados das farmácias dependiam da presença do farmacêutico, que não
se encontrava no momento no estabelecimento (em flagrante desrespeito
às normativas legais).
➢ Laboratórios de Análises Clínicas: os laboratórios oferecem como principal
serviço exames laboratoriais, aceitam todas as formas de pagamento e
mantém horário de atendimento das 08h00minàs11h30min e 13h00min as
18h00min.
➢ Clínicas Médicas: a Clínica Médica Vida possui como principal serviço
consultas médicas pediatria e obstetrícia. Atende das
09h00minàs11h30min e 14h00min as 18h00min. Recebe apenas em
moeda corrente e mantém convênio com Unimed, IPE e CABERGS. A
Unimed Pelotas tem como principais serviços consultas médicas e exames
laboratoriais. Atende das 08h00min às 11h30min e 13h00min as 17h00min.
Tem como formas de pagamento dinheiro, cheque e boleto bancário.
➢ Santa Casa de Misericórdia: seus principais serviços são: clínica médica,
pediatria e obstetrícia, cirurgias em geral e internações, prestando serviço
de pronto socorro, maternidade e atendimento hospitalar em geral. Atende
24 horas, sendo que 85% do atendimento é pelo Sistema Único de Saúde
– SUS, os 15 % restantes, particular. Recebe apenas em moeda corrente.
➢ Clínicas veterinárias: possuem como principais serviços, a venda produtos
e medicamentos veterinários. 07h30min as 18h00min, na sua maioria.
Aceitam todas as formas de pagamento. A veterinária São Lourenço
atende animais de grande porte.
➢ Unidade de Saúde Central – Posto Central possui serviços de equipe de
enfermagem, clínica geral, pediatria, grupos de gestantes, atendimento a
Doenças Sexualmente Transmissíveis - DST. Atende das 07h30min as
21h00min e aos sábados, das 09h00min as 11h00min. Atendimento 100
223
% pelo Sistema Único de Saúde - SUS. Verificou-se que o inventário carece
de informações sobre Dentistas e Traumatologistas, considerados
importantes para o atendimento de emergência.
10. Sistema de ensino: sob a administração da Secretaria da Educação,
Cultura e Desporto de São Lourenço do Sul, há onze escolas municipais que atendem
aproximadamente 3000 alunos. Há oito escolas estaduais, sendo que uma é técnica;
uma escola de ensino fundamental particular, um pólo de apoio ao Ensino Superior –
PAES e um Campus Avançado da FURG (Agroecologia, Licenciatura em Educação
do Campo e Tecnólogo em Gestão Ambiental). Dentro do quadrante inventariado se
encontram 3 escolas: uma estadual de ensino fundamental, municipal, e duas de
ensino médio, pertencentes à rede estadual de ensino, além de uma escola particular.
Cursos na área do turismo (bacharelado pela UFPEL e profissionalizantes pelo
SENAC) são ofertados na cidade de Pelotas, a 70 km.
11. Comércio turístico: não há um comércio específico para o turismo. Foi
localizada no centro da cidade a Foto Arte Bazar, que comercializa artesanato; há uma
floricultura (Floricultura Neiva) e uma loja de flores e frutas (Frutálica), além de uma
Feira Agro Econômica.
12. Sistema bancário: diversas agências são localizadas no centro da cidade,
dentre elas: Banco Banrisul, Banco Bradesco, Banco do Brasil, Banco Sicredi, Caixa
Econômica Federal e Santander.
13. Representações diplomáticas: as mais próximas estão localizadas na
capital do Estado, Porto Alegre.
14. Oficinas mecânicas: Mecânica Drachler, EgonHirschmann Oficina
Mecânica e Autopeças, Jr Motos, NS Moto Peças e Mecânica Azevedo, além de três
postos de combustíveis: Posto Renascer, Posto Klasen e Posto da Sinaleira.
15. Locadoras de imóveis: na região central, há quatro, que oferecem imóveis
para temporada: Andrade e Matte, Imobiliária Toni, Costa Doce e Imobiliária Alcindo
Imóveis.
224
16. Rede hoteleira: O quadrante central do município contém somente dois
hotéis, sendo que o núcleo hoteleiro concentra-se na praia, onde a demanda de
turistas é bem maior durante o período de veraneio (no restante do ano a demanda é
considerada baixa). Os hotéis do quadrante central recebem turistas, porém a maioria
de suas unidades habitacionais é ocupada por vendedores e representantes
comerciais que fazem estadia no município. Os dois hotéis têm ao todo 47 unidades
habitacionais de boa qualidade, porém não investem no marketing para turístico, pois
há um entendimento que a área da praia é onde os turistas preferem hospedar-se.
Não possuem acessibilidade, perdendo um tipo de demanda que poderia
diminuir os impactos a que a sazonalidade do destino lhes submete. Foi declarado
pelos donos destes hotéis que “este tipo de público sabe onde se concentram as
hospedagens próprias para suas necessidades”, não considerando necessário
investir em reformas para atrair este público. Somente um dos estabelecimentos está
cadastrado no Cadastur, o Plaza Center Hotel, o que faz com que este ofereça alguns
serviços que seu concorrente, por não estar cadastrado, não oferece.
O Plaza Center Hotel também possui sistema de reservas através de agências
de turismo, o que faz com que os turistas que procurem a agência e sejam
encaminhados diretamente para ele. A recepcionista do Plaza Center Hotel é
responsável por fornecer informações turísticas aos hóspedes. O Hotel Vilela recebeu
o prêmio Troféu Grand Prix Internacional de La Promoción Turística, na Espanha,
porém não possui nenhum registro sobre esta premiação.
17. Serviços de alimentos e bebidas: somente doze estabelecimentos
concordaram em participar do inventário, pois acreditam que se o fluxo de turistas
aumentar será bom para o desenvolvimento de todos os setores da economia do
município. Dentre estes doze, apenas um proprietário de restaurante está reformando
aos poucos seu estabelecimento para poder receber pessoas portadoras de
necessidades especiais.
Muitos estabelecimentos não cumprem com princípios básicos de
hospitalidade, tornando inviável receber turistas. Dentre todos os estabelecimentos,
acreditamos que nenhum está totalmente habilitado para o turismo, pois sempre
225
deixam algum item a desejar, seja na higiene, seja na infraestrutura do local, etc. Não
se utilizam do marketing turístico, pois mesmo sabendo que o aumento de público
gerará renda, se sentem satisfeitos com seu público atual.
Nenhum estabelecimento oferece em seus cardápios a gastronomia típica do
município, tampouco há parceria entre poder público e privado, o que seria essencial
na atração de turistas para a localidade.
18. Agências de viagens39: há apenas uma, Perlatur Viagens, que realiza
turismo receptivo e emissivo. Este serviço é insuficiente para atender a demanda
turística tendo em vista o crescimento deste segmento no mercado e a carência de
funcionários existentes na empresa. Não há integração entre a agência e os taxistas
que administram o roteiro chamado “Caminho Pomerano”.40 A cidade conta com dois
guias de turismo pós-graduados, com os quais não foi possível entrar em contado.
19. Táxis: Há sete taxistas capacitados para fazer o Caminho Pomerano com
disponibilidade de agendamento direto com os própios taxistas. Este grupo não possui
parcerias nem com agências de turismo nem com o poder público.
20. Entidades associativas:
➢ Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que atende a 2500 famílias. Sua base
de atuação é municipal. Criado no ano 1966, este sindicato tem 19
funcionários e se situa na zona central da cidade, atendendo ao público de
segunda a sexta-feira na parte da manhã e a tarde, prestando vários tipos
de serviços aos seus associados desde assessoria jurídica até assistência
médica. Este estabelecimento possui sinalização turística e de acesso,
além de um site na internet que possibilita ao visitante uma visualização de
seus serviços.
➢ Sindicato Rural, com abrangência regional e representatividade patronal.
Possuindo apenas dois funcionários e localizado na parte urbana da
39Quando foi realizado o inventário havia outra agência, Uptour Viagens. Uma semana após o trabalho de campo, recebemos um e-mail do responsável pela Agência para comunicar-nos seu fechamento. 40Roteiro turístico iniciado nos anos de 2006/2007, de iniciativa da Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio de SLS e explorado pela Associação Caminho dos Pomeranos (SPINDLER, SANTOS, 2013, p. 112,113)
226
cidade, seu horário de funcionamento é de segunda a sexta das 08:00 h às
18:00 h. Os principais serviços são: assessoria técnica, captação e
realização de congressos e eventos, realização de eventos abertos ao
público e oferta de cursos de capacitação. Provedor de alguns eventos do
município, este sindicato atrai uma parcela significativa de turistas
regionais, por sua atuação.
21. Entidades e elementos culturais/religiosos: Na área inventariada,
encontram-se um museu, uma biblioteca e igrejas; realiza-se a feira de produtos da
colônia, na praça central José Serpa. É na zona central da cidade, onde há o fluxo
diário de residentes, que se pode perceber alguns traços da cultura local. Por exemplo,
a língua alemã utilizada nos cultos da Igreja Luterana. Estes são elementos que,
quando bem trabalhados, podem transformar-se em atrativos. Não há, nos elementos
culturais inventariados, qualquer sinalização ou interpretação turística. Tampouco há,
nos locais visitados, pessoal com domínio de inglês ou espanhol para o atendimento
de turistas.
Estão instaladas na região central do município a Comunidade Evangélica
São Lourenço do Sul e a Igreja Evangélica de Confissão Luterana, além da Prefeitura
Municipal de São Lourenço do Sul. As igrejas abrem apenas em dias e horários de
missa ou cultos, não permanecendo abertas à visitação. A igreja católica está
localizada também na zona central, porém não foi inventariada por encontrar-se
fechada no dia da visita de campo.
O Museu Histórico de São Lourenço do Sul e a Biblioteca Pública Municipal
Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco foram os espaços culturais
encontrados na zona inventariada. A entrada é gratuita e o horário de funcionamento
normal é de segunda a sexta, porém, mediante agendamento, é possível a visitação
em finais de semana. Museu e Biblioteca funcionam no mesmo endereço.
Coral Três de Maio/Comunidade Evangélica São Lourenço do Sul – IECLB. O
Coral funciona como atração em feiras e eventos. O coral é bastante atuante perante
a sociedade com ações de cunho social e cultural.
227
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ausência de diálogo entre poder o público e os empresários e a dissociação
entre a região balneária e região central são pontos chave a serem trabalhados. No
geral, a região central apresenta uma infraestrutura satisfatória e potencial para tornar-
se atrativa turisticamente, sendo necessário adotar algumas ações visando corrigir
diversas situações aqui detectadas. A sinalização, a acessibilidade, a integração dos
comerciantes da área com o turismo, a integração do centro com o balneário, o
tratamento de esgoto, a valorização da gastronomia local e da cultura pomerana são
alguns destes elementos a serem levados em consideração.
De acordo com a análise da oferta, o centro de São Lourenço, que foi o espaço
inventariado, supre as necessidades da população local e dos turistas sazonais, uma
vez que estes são turistas de sol e praia, fazendo uso primordialmente dos serviços
oferecidos na zona dos balneários. Eles podem, porém, fazer uso dos serviços
ofertados na região central tanto quanto a população local, sem sobrecarregá-los.
No âmbito da oferta cultural, verificou-se que os atrativos existentes – Igreja
de Confissão Luterana, Museu, o Coral, são representativos da história e da cultura
do município, podendo ser, se bem trabalhados, elementos importantes para atrair
turistas na baixa temporada. A infraestrutura e os acessos a estes espaços são
adequados, faltando investimento na formação para o turismo, ensino de idiomas aos
trabalhadores que atendem ao público, melhor adequação nos horários de
atendimento, bem como sinalização turística.
A análise dos dados deixa claro que a infraestrutura e os serviços do
quadrante demarcado para o inventário não são adequados para atender aos turistas,
já que os mesmos costumam direcionar-se para a orla da Lagoa. Esta desarticulação
entre região central/orla deixa uma parcela da comunidade alijada do processo
turístico e caracteriza uma situação de subutilização do potencial turístico local, que,
se amenizada, poderá vir a ser a solução para os problemas da sazonalidade.
Verificou-se ainda que a cidade dispõe de meios de comunicação que atingem a
região centro-sul do Estado, os quais não divulgam plenamente a atratividade turística
do município.
228
O diagnóstico aponta para a necessidade de melhorias em vários aspectos,
de forma a tornar possível desenvolver o turismo no município com a eficiência
necessária para que seja sustentável. Buscar a eficácia em todas as ações,
possibilitará potencializar os atrativos turísticos no quadrante central da cidade e
integrar a comunidade desta área ao processo de desenvolvimento turístico já
existente. A oferta atual supre as necessidades básicas da população local e dos
turistas. Faz-se necessário estimular o crescimento e aprimoramento da oferta em
consonância com o estímulo ao aumento da demanda, buscando manter a
sustentabilidade turística.
Com a elaboração deste trabalho, pensa-se no desenvolvimento e ampliação
da diversidade da oferta turística, já que se identificam os segmentos turísticos de sol
e praia na região como já consolidados, podendo também ser fomentado o turismo
náutico, visto que a cidade é banhada pela Lagoa dos Patos, além do turismo
histórico-cultural enfatizando a cultura local, de base germânica e os prédios
históricos. Pode-se ainda desenvolver o turismo ecológico e rural. Todas estas
alternativas poderão ser instrumentos efetivos de inclusão e auxiliar na contenção dos
malefícios da sazonalidade existente.
Foi observado pelos acadêmicos que realizaram a etapa de inventário que o
contato com o comércio foi muito difícil, ficando perceptível a todos que, na maioria
dos casos, há uma incompreensão por parte dos comerciantes da zona inventariada
– a região central da cidade – em relação ao turismo. É importante o desenvolvimento
de ações que visem corrigir esta situação e preparar esta parcela da população para
bem receber aos turistas, inserindo-os na cadeia produtiva do turismo que já existe na
região. Identificou-se assim a necessidade de estabelecer uma parceria entre
gestores públicos e a iniciativa privada, investir na capacitação para o turismo do
empresariado em geral e de todos os envolvidos no trade turístico para melhor atender
aos turistas, ofertar cursos e oficinas nas mais diversas áreas relacionadas ao
desenvolvimento turístico, bem como cursos de línguas – espanhol e português,
essencialmente, mas também o inglês e o alemão – para a comunidade, taxistas,
policiais, funcionários públicos.
229
Ressaltamos também a necessidade de envolvimento do setor público,
privado e da comunidade local para que o turismo no quadrante central se desenvolva
de forma concisa e agradável e que cause um impacto benéfico para o local.
Interessante seria a criação de uma parceria do poder público municipal com
o Sindicato dos Trabalhadores Rurais a fim de que ofereçam formação na área
turística, de forma a capacitar o produtor rural para a atividade turística, mais
especificamente, o turismo rural em pequenas propriedades. Necessário aproximar os
taxistas das Agências receptoras, em uma parceria a fim de melhorar a qualidade dos
serviços do Caminho Pomerano, oferecido pelos taxistas.
O incentivo à cultura pomerana e estímulo à organização de feiras de produtos
coloniais e típicos da localidade e eventos gastronômicos que divulguem a cultura
local promovendo o aumento de turistas em outras épocas do ano e não somente no
verão é essencial neste processo – o Coral pode ser um elemento importante. A
valorização da gastronomia pomerana e sua implementação nos cardápios dos
restaurantes da região central, além de aproveitar a feira do produtor para realização
de eventos gastronômicos qualificaria o setor. .
Identificamos também necessidade de melhorias na infraestrutura turística,
como sinalização e interpretação dos pontos de interesse turístico, acessibilidade a
pessoas com necessidades especiais e educação voltada ao turismo nas escolas. É
preciso ainda melhorar e ampliar os serviços de comunicação para não congestionar
os que já são disponibilizados e atender os visitantes que mesmo em seu tempo de
lazer, gostam de estar bem informados.
Para a divulgação do local, sugere-se a elaboração de folders e materiais
publicitários em geral, para que se possibilite o conhecimento da localidade, seus
pontos turísticos as peculiaridades de sua cultura.
Elaboração de um calendário anual de eventos, com destaque ao período de
baixa temporada, como forma de combater a sazonalidade.
Pensando em fomentar a melhoria da qualidade da infraestrutura do trade
turístico como o setor de hotelaria, serviços e equipamentos de alimentos e bebidas
poderiam ser implantados incentivos ficais visando melhor qualidade nos serviços
230
para que o turista se sinta acolhido. Incentivos específicos para adaptações com
finalidade de acessibilidade são essenciais.
Estudar as rotas das vias municipais de acesso à cidade (Sls 060, Sls 010 e
Estrada P), com vista a inventariar possibilidades de atrativos de turismo rural na
região, de forma a potencializar a criação de roteiros rurais utilizando estas vias.
Trabalhar com a possibilidade de cooperativas de serviços turísticos específicos e
com turismo de bases comunitárias.
O tratamento de esgoto é uma questão que merece atenção, já que um dos
segmentos turísticos desenvolvidos na localidade é o turismo de sol e praia. As águas
servidas, não tratadas, acabam por desaguar na Lagoa e com a chegada dos turistas
isso tende a se agravar, colocando em risco um dos principais atrativos da localidade.
O tratamento do lixo apresenta avanços significativos, porém é preciso investir em
infraestrutura básica para não comprometer o atendimento à comunidade local com a
chegada dos turistas. Ao longo do ano, são coletadas e levadas para o aterro sanitário,
cerca de dezoito toneladas de lixo/mês e no período de dezembro a março esse
volume dobra. Colocar em prática projetos de coleta seletiva e saneamento básico e
ações educacionais neste sentido.
A implementação de um sistema de fiscalização nas farmácias se faz
necessária, tendo em vista que o diagnóstico apontou a ausência do profissional
farmacêutico na maioria delas, conforme exige a lei. Outra possibilidade seria
trabalhar por um sistema de parcerias entre a rede hoteleira e o sistema de saúde, de
forma a oferecer um serviço eficaz ao turista em caso de acidentes e imprevistos.
Apresentado o inventário, analisadas as informações coletadas e apontados
nestas considerações finais um diagnóstico e um prognóstico que não pretende ser
definitivo, têm-se um material que poderá amparar a elaboração de um Plano de
Gestão Turística para a cidade de São Lourenço do Sul, desde que para este fim, seja
realizado também o inventário da região balneária do município.
REFERÊNCIAS
231
ARANDA, Mabel Font; ÁLVAREZ, Daylen Pérez; PÉREZ, Yusleidy Alfonso. Programa recreativo Entorno y Comunidad para el campismo Faro de Maya. Retos Turísticos: Desarrollo de Produtos Turísticos, [ni], v. 2, n. 2, p.1-12, jun. 2014. BRASIL, MINISTÉRIO DO TURISMO. Inventário da Oferta Turística. Disponível em <http://www.inventario.turismo.gov.br/invtur/downloads/formularios/inventariacao_da_oferta_turistica.pdf>. Acesso em 15 de junho de 2016. BRASIL. Ministério do Turismo. Cartilha do Processo de Classificação. 2ªed. Brasília, DF: Ministério do Turismo e Fundação Universa, 2010. BRASIL. Ministério do Turismo. Dados e fatos. Estudos, pesquisas e dados sobre o setor de Turismo. Disponível em: <http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/outros_estudos/estudo_ibge_hospedagem />. Acessado em: 01/05/2016 BRASIL. Ministério do Turismo. Manual do Pesquisador - Inventário da Oferta Turística: instrumento de pesquisa/ Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico. Brasília: Ministério do Turismo, 2006. BRASIL. Ministério do Turismo. Portaria do Ministério de Estado do Turismo - MTur nº 130 de 26.07.2011. D.O.U. : 28.07.2011 BRIGADA, Militar do Rio Grande do Sul Disponível em ,< www.brigadamilitar.rs.gov.br.> Acesso em 15 de junho de 2016. BRITO, Adriana Santos; MELO, Rodrigo de Sousa. Projeto de Inventariação da Oferta Turística (INVTUR): benefícios para o planejamento e gestão do turismo, sob o ponto de vista dos pesquisadores: o caso da cidade de parnaíba (piaui - brasil). Revista de InvestigaciónEn Turismo e Desarrollo Local, [ni], v. 6, n. 15, p.1-24, dez. 2013 GIL,Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. 220 p. SILVA, E.G.; Meneses, L.F. Inventário de geossítios como subsídio para o geoturismo no Município de Gurjão (PB). Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.4, n.3, 2011, pp.361-382. PERANTONI, Alisson. Inventário Turístico: experiências acadêmicas com metodologias e práticas no planejamento do turismo no Pontal Paulista - SP. Anais Brasileiros de Estudos Turísticos, Juiz de Fora (MG), v. 3, n. 1, p. 62-70, 2013.
232
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233
GT 3 - TURISMO, GESTÃO, PLANEJAMENTO
O CARNAVAL DE RUA DE JAGUARÃO: SUA VULNERABILIDADE E IMPACTOS
DO TURISMO
234
MACHADO, Pablo Colvara41 [email protected]
FARINHA, Alessandra Buriol42
Resumo: O carnaval é uma das festas populares de maior visibilidade do país, que
compõe a cultura e identidade do Brasil. O presente estudo propõe-se a analisar o
carnaval da cidade de Jaguarão, no extremo sul do Rio Grande do Sul, localidade
atualmente reconhecida por seu carnaval de rua, organizado pela população residente
com apoio de órgãos públicos e privados. O objetivo principal é refletir sobre as
mudanças do carnaval de Jaguarão, sua vulnerabilidade enquanto uma manifestação
comunitária e relacionar alguns impactos positivos e negativos do turismo local nesta
época do ano. A metodologia utilizada foi bibliográfica, e oralidades em conversas
com representantes da prefeitura municipal, e liga das entidades carnavalescas do
município, entrevistas semiestruturadas e pesquisa de campo com registros
fotográficos no carnaval do ano de 2016.
Palavras-chave: Carnaval; Jaguarão; vulnerabilidade; turismo.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objeto de estudo o carnaval de rua do município
de Jaguarão, localizado no extremo sul do Rio Grande do Sul, fronteira com a cidade
de Rio Branco (UY). O carnaval de Jaguarãoficou conhecido, nos últimos anos, pelos
41 Discente do curso de Tecnologia em Gestão de Turismo da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/1539928144390990. 42Doutoranda em Memória Social e Patrimônio Cultural na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Docente do curso de Tecnologia em Gestão de Turismo da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). [email protected]. Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/1452590611710222.
235
desfiles de rua (blocos e escolas de samba) e pelo fato de ter introduzido trios elétricos
nos desfiles, que ocorrem na Avenida 27 de Janeiro, a principal da cidade.
Conforme dito, o carnaval é uma das mais importantes festas populares no
Brasil. De acordo com Del Priore (2000, p. 10), a função social da festa está
relacionada com o permitir aos participantes e expectadores a vivência coletiva,
entronizando valores e normas, comungando sentimentos e conhecimentos
comunitários. O objetivo principal deste artigo é refletir sobre as mudanças do carnaval
de Jaguarão e sobre sua vulnerabilidade enquanto uma manifestação comunitária.
Além disso, objetiva também relacionar alguns impactos positivos e negativos do
turismo local nesta época do ano, os quais marcam diferentes posicionamentos e
conflitos entre moradores locais.
A motivação por estudar a temática do carnaval se deu por entende-lo como
um importante campo de pesquisa que proporciona diversas variáveis a serem
analisadas. Além disso, é uma discussão hodierna na cidade, que se enquadra nos
estudos de impactos positivos e negativos do turismo, na importância do planejamento
e gestão do turismo. Identificamos na pesquisasque o carnaval no município sofreu
influência e impulso como uma possibilidade econômica, gerando mais lucro pelo
aumento de turistas no município. O artigo é uma forma de dar visibilidade ao impacto
que sofreu o carnaval de Jaguarão e como este vem impactando a comunidade.
Este artigo está estruturado da seguinte forma: procedimentos metodológicos,
breve aspectos históricos do carnaval em Jaguarão, características locais, histórico
de algumas entidades carnavalescas; aspectos sobre a situação atual do carnaval em
Jaguarão, seus impactos positivos e negativos, sua vulnerabilidade enquanto um bem
cultural e perspectivas do turismo neste contexto.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo foi baseado em pesquisa bibliográfica e empírica, a fim de
compreender a história e transformações ocorridas na cultura carnavalesca em
236
Jaguarão. A pesquisa bibliográfica se baseou no estudo do carnaval como um espaço
de socialização e integração da comunidade, e de como o turismo pode existir, de
forma a minimizar impactos nesse processo.
Foi feita também entrevistas utilizando a metodologia da história oral com
membros da prefeitura municipal e da liga das entidades carnavalescas do município
a fim de resgatar parte da memória do carnaval de Jaguarão.
Como sou morador local, foi possível fazer pesquisa in loco no carnaval do ano
2016, com observação de campo e observação participante a fim de demonstrar os
diversos impactos, principalmentenegativos gerados pelo turismo no carnaval de
Jaguarão.
3 O CARVAVAL DE RUA DE JAGUARÃO, RS
O carnaval de Jaguarão, a poucas décadas era organizado pela prefeitura
municipal juntamente com a liga das escolas de samba, os blocos e contava com a
participação da população local, formando assim diretrizes para sua execução.
Mesmo com os desfiles das escolas de samba era considerado um carnaval de rua,
num contexto que o mesmo era inteiramente das pessoas da localidade por sua vez
possuía suas particularidades quanto a manifestação cultural e no modo de fazer.
Havia no carnaval de rua de Jaguarão o desfile dos reboques,43 que eram enfeitados
por jovens e adolescentes, as escolas de samba, os blocos, os foliões que se
fantasiavam e brincavam rua a fora, e poucos trios elétricos, com destaque para o Trio
da Botica (hoje extinto) e o Trio Sociedade Amigos do Coronel (SAC). Alguns blocos
possuíam carros de som, atrás dos quais as pessoas pulavam e faziam festa. Alguns
reboques também possuíam som, tudo era planejado de uma forma que os desfiles
sempre fossem acompanhados de algum som, e neste contexto as escolas se
destacavam porque possuíam sua própria percussão.
Esse carnaval de rua de décadas atrás começava ao anoitecer, e seus protagonistas
eram, na maioria, membros da comunidade, haviam poucos turistas. Quando
43 Reboques: eram zorras puxadas por trator, enfeitadas por um grupo de pessoas para desfilar no carnaval.
237
terminava os desfiles, as pessoas começavam a se deslocar aos clubes, deixando
assim o carnaval de rua pelos bailes de carnaval. O depoente, folião Almiro Soares
Afirma que:
Preferia o carnaval de alguns anos atrás onde assistíamos muitos
fantasiados, pessoas conhecidas que usavam máscaras e mexiam conosco,
os reboques, cada um caracterizado de um jeito. Depois da meia noite íamos
para o baile no Clube Caixeral, onde dançávamos até ao amanhecer (Sr.
Almiro Soares, em entrevista concedida no dia 05 de outubro de 2016).
Atualmente o carnaval de rua de Jaguarão dura 7 dias. Começa com a noite da
seresta na quarta-feira com shows no largo das bandeiras e seguem ao longo da
semana com a apresentação dos trios e escolas de samba, terminando na terça-feira
de carnaval. A festa “se mistura” e se divide principalmente em dois tipos: o carnaval
dos trios elétricos e o carnaval tradicional, semelhante ao descrito pelo depoente Sr.
Almiro.
O carnaval dos trios elétricosocorre em todas as noites de carnaval, iniciando-
se na quinta-feira com a “noite da muamba” e o desfile do Trio elétrico do Cravo,
prosseguindo na sexta-feira com o Trio da SAC que é um dos desfiles mais famosos
e de tradição da cidade, conhecido como “Sexta da SAC”, o trio mais antigo da cidade
com 34 anos. Este trio se destaca pela indumentária masculina e feminina, que são
utilizadas de forma inversa para desfilar pela principal avenida da cidade, ocorre assim
oficialmente a abertura do carnaval na cidade. Nos dias seguintes o carnaval é feito
com o desfile das escolas de samba e blocos, intercalando os dias de desfile, pois as
escolas só apresentam-se no domingo e na terça-feira. Contudo nesses mesmos dias
em que as escolas e blocos passam na avenida, também desfilam os trios elétricos.
Atualmente o carnaval no município conta com o desfile de 3 escolas de samba
que são: Aguenta se Puder, Estrela D’alva e Palestina; com 3 blocos burlescos sendo:
Bloco do Janjão, Bloco Acadêmicos da Zona Norte e Bloco Prata da Casa; por fim
conta com o 8 trios elétricos: Acanhados, Trio do Cravo, Malandro, Trem Bala,
Choppados, SAC/Unidos do Garajão, Máfia (UY) e Marajás do Trago, de acordo com
238
os órgãos responsáveis. Com exceção do trio da SAC e do trio Máfia, os outros trios
são “descendentes” dos antigos reboques, ou seja, ouve a uma adaptação ao novo
carnaval que atualmente conta com um número elevado de turistas. O carnaval de rua
de Jaguarão, pela sua amplitudeé conhecido atualmente como um dos maiores
carnaval de rua do sul do país, chamado de “salvador do sul”44.
Foi possível perceber que o carnaval de rua da Jaguarão vem modificando-se.
Há menos de 20 anos, mais precisamente na década de 1990, as pessoas da cidade
que faziam a festa, além do carnaval de rua com os reboques, que entravam a
madrugada na avenida destacavam-se também os bailes de carnaval nos principais
clubes45 do município. Atualmente os bailes em clubes são escassos ounão ocorrem
mais durante o período de carnaval. O clube 24 de agosto promove bailes de carnaval
dias antes da data do mesmo, e sua corte desfila nos dias de carnaval. O Clube
Harmonia não promove mais bailes de carnaval e, como está localizado na Avenida
27 de Janeiro, onde ocorre o carnaval, “reparte” suas janelas e aluga como camarotes
para membros da comunidade ou turistas, e sua corte geralmente participa do
carnaval. Já o clube Jaguarense sofreu danos em sua estrutura recentemente,
passando por uma intervenção emergencial através do Instituto Patrimônio Histórico
Artístico Nacional (IPHAN) com a recuperação da cobertura e de uma parede que
cedeu. O prédio permanece interditado até que se realize nova intervenção,
recuperando totalmente a estrutura danificada. O Clube Caixeiral, ao enfrentar
problemas financeiros, foi vendido, e hoje pertence a um empresário do ramo
alimentício, que o transformou em um depósito.
Assim, houve a substituição de algumas atrações e proibição da utilização de
reboques a partir de 2009 (SECULT, 2016). Logo, para muitos moradores e visitantes
aquele o antigo carnaval de rua de Jaguarão ficou apenas na memória. Uma das
44 O termo “salvador do sul” remete, simultaneamente, a cidade de Salvador, no estado da Bahia, nordeste do Brasil, tradicionalmente conhecida por seu carnaval; e o termo “salvador” no sentido de salvar um lugar onde há certa crise no setor de geração de empregos, circulação de renda e riquezas. De acordo com a fala popular, o período do carnaval é quando a cidade é “salva” pelo incremento econômico, alguns comerciantes e empresários podem faturar mais nestes sete dias do que em seis meses de trabalho. 45 Clube 24 de Agosto, Caixeiral Navegantes, Jaguarense e Sociedade Harmonia Jaguarão.
239
evidências dessa mudança pode ser percebida através do número de escolas ainda
ativas, das seis escolas que participavam das festividades, restam três, sendo elas:
Estrela D’alva, Aguentase Puder e a Palestina. O Sr. Luis Henrique Alves, fundador
da escola de samba Palestina afirma que:
Para que a escola funcione é necessário no mínimo 200 pessoas, e nesse
carnaval não se conseguiu atingir este número, e devido a isso foi descontado
pontos da minha escola. Eu atribuo a extinção de outras escolas como a
Centenário, Bandeira Branca e Império Baiano, a falta de interesse da
comunidade em participar das escolas. Os trios elétricos vêm dominando o
carnaval, esta cada vez mais difícil manter a escola, tem momentos que tenho
vontade de desistir (Sr. Luis Henrique Alves, em entrevista concedida no dia
6 de outubro de 2016).
Conforme visto na citação acima, a tradição das escolas de samba já não é
uma prioridade para a comunidade de apreciadores do carnaval de rua de Jaguarão.
O tom do depoente Sr. Luis Henrique é de desabafo, pois precisa do coletivo para que
sua escola volte a brilhar. É um exemplo de como a tradição do carnaval se modificou
e do impacto na comunidade.
3.1 O TURISMO NO CARNAVAL DE RUA: “O SALVADOR DO SUL”
O carnaval no Brasil tem suas raízes, de acordo com Moraes filho (2005), em
comunidades primitivas, que se fantasiavam com indumentárias diferenciadas,
pintavam rostos e corpos e tinham a música e a dança como marca fundamental do
rito. Apesar da origem do carnaval não ser concreta, alguns estudiosos apontam que
o carnaval brasileiro sofreu influências de Portugal, Itália e França. Vale ressaltar que
o carnaval oficial, no período imperial do Brasil, era principalmente para a elite
participar, o carnaval dos trabalhadores ocorria separadamente. Nogueira (2008)
afirma que ele foi unificado entre o povo e a elite para formar um único carnaval, com
identidade totalmente nacional, no período republicano.
O processo de organização da nova festa carnavalesca, pautada na junção
de interesses das manifestações do Grande Carnaval e Pequeno Carnaval,
240
representados respectivamente pela elite e povo, dar-se-ia a partir do século
XX com a imposição gradativa de regulamentações cada vez mais
estruturadas por parte do poder público como, por exemplo, policiamento
ostensivo nos locais da festa, itinerário previamente definido aos grupos
carnavalescos e logradouros roteirizados (NOGUEIRA, 2008, p.52).
De acordo com Moraes Filho (2005) o carnaval ganhou força no Brasil com a
proibição do jogo do entrudo. Com isso nasceu um carnaval diferenciado e original do
Brasil, tendo assim uma identidade própria nacional. O país atualmente é conhecido
como o país do carnaval, sendo que Bruhns (2000) diz que a atividade é coletiva da
nação, que para-se as atividades por quatro dias para pular ou festejar esse grande
evento. O carnaval é considerado, especificamente na cidade do Rio de Janeiro, “a
maior festa do mundo”, pela sua representatividade social e cultural, além do número
de pessoas que se envolvem no processo.
Alguns autores destacam a importância do carnaval como identidade cultural.
Afirmam que o carnaval é vivenciado, por englobar todos os públicos, e não é somente
assistindo. Ainda nesse contexto Bakhtin (1993) afirma que;
Enquanto dura o carnaval, não se conhece outra vida senão a do carnaval.
Sendo impossível escapar a ela, pois o carnaval não tem nenhuma fronteira
espacial. Durante a realização da festa, só pode viver de acordo com suas
leis, isto é, as leis da liberdade. O carnaval possui um caráter universal, é um
estado peculiar do mundo; o seu renascimento e a sua renovação, dos quais
participa cada individuo, Essa é a própria essência do carnaval e os que
participam dos festejos sentem-no intensamente (Bakhtin 1993, p.06).
A comemoração do carnaval difere em diversas regiões do Brasil. Na região
nordeste o carnaval de rua ocorre com os trios elétricos e blocos organizados para
segui-los. Já na região sudeste a grande atração do carnaval são as escolas de
samba. No sul pode-se notar uma mescla dos dois, tendo tanto a representatividade
das escolas de samba, quanto do carnaval de rua com blocos, e em Jaguarão,
recentemente, apontam os trios elétricos.
O carnaval é uma das principais motivações para o turismo em várias cidades,
seja para participar da festa ou para fugir dela. Quando existe o turismo para o
241
carnaval é preciso que haja a preocupação do gestor em planejar este processo de
recepção e acolhimento do turista, além de demonstrar a alma do lugar, a cultura local.
Todasas práticas culturais que são tidas como especificas de cada lugar ou
região que as integram, ou ainda idênticas em nível nacional como as
atividades cotidianas e festivas de ordem sacra ou profana, de caráter popular
e folclórico, são consideradas objeto de apreciação e/ou participação turística
(BENI, 2004, p.309).
O turismo no período de carnaval, impacta na economia local gerando renda e
fluxo de turistas naquele período certo do ano, aumentando assim as oportunidades
de negócios na comunidade receptora. De acordo com Panosso Netto (2009):
Os eventos são atividades de entretenimento com grande valor social, cultural
e, sobretudo, histórico suas atividades constituem um verdadeiro mix de
marketing, entretenimento, lazer, artes e negócio. Tal a sua importância no
contexto social, cultural econômico e político da cidade e região e, em alguns
casos até mesmo do país, podemos denominá-los de agentes do patrimônio
histórico cultural(PANOSSO NETTO, 2009,p.30).
Soma-se à questão do planejamento a boa imagem que transmite um
município, quando o evento é bem organizado, priorizando-se o bem-estar da
comunidade local e de turistas. Segundo Panosso Netto (2010) o impacto no turismo
em uma região deve gerar variáveis dentre as quais se destaca a movimentação
econômica, trabalho e receitas. E mesmo assim é preciso ter responsabilidade com a
promoção e com a preservação, constituindo-se assim um instrumento de
desenvolvimento econômico e social. Na cidade de Jaguarão, esta lógica ocorre, se
percebe certa preocupação em bem receber, porém os impactos negativos causados
no período do carnaval estão tomando proporções não imaginadas.
Conforme visto, houve uma considerável mudança na forma de fazer o carnaval
e nas características da festa do povo, que é um dos elementos principais da cultura
do carnaval. Esse processo de transformação que impacta a tradição do carnavalde
Jaguarão prioriza o lucro, onde houve o aproveitamento de elementos específicos de
cultura em produtos ventáveis. Nessa abordagem destaca-se que:
242
Por trás da beleza de um desfile, a crescente comercialização de seu
processo é ampla.Participação de outros segmentos sociais
conspurcariatenazmente a pureza originária das escolas. [...] Muito difundida
entre nós, aconcepção romântica define para o popular um dilema inevitável.
Por umlado, a cultura do povo, distinta daquela das camadas cultas e da ralé,
évalorizada como primitiva, comunal e pura, abrigando a nostalgia de
umatotalidade integrada da vida com o mundo, rompida pela época moderna.
Poroutro lado, esse lugar de expressão de autenticidade está
sempreinexoravelmente ameaçado pela degradação das tradições, pela
iminência deseu desaparecimento diante do acelerado processo de
transformatrazido pela expansão do capitalismo (CAVALCANTI, 2008, p.24).
Os diversos tipos de relações comerciais fazem com que o carnaval seja viável
para o município, que preocupa-se em maneiras de atender a demanda do crescente
público que procura um produto diferencial do que está acostumado a prestigiar. A
utilização de atrativos culturais locais, para a promoção do turismo ganhou espaço
neste contexto. Pereira (2003, p. 98) afirma que eventos como festivais e celebrações
atrelados à tradição e aos costumes locais, por serem diferenciados, transformam-se
em valores referenciais, constituindo-se em catalisadores para movimentação de
visitantes.
No contexto da participação pública no planejamento e organização do evento
podemos afirmar que há a prévia implantação de banheiros químicos, reforço da
segurança e de infraestrutura para manter-se a qualidade do carnaval. Cria-se um
“ambiente próprio” para o turismo, que ocorre uma vez ao ano com esse fluxo,
deixando tudo em condições para melhor receber o turista. Mas em contrapartida
observando-se que primeiramente deveríamos pensar no morador local, e se
considerarmos que essa atuação só começou devido ao aumento do fluxo turístico,
mais uma vez percebe-se que o planejamento para minimizar impactos para a
população local não foi priorizado. Mesmo que no discurso diga-se o contrário. Fica
caracterizado que os moradores ocupam o segundo plano.
A questão que desafia é como equilibrar os interesses: comunitário, privado e
público. Além disso, deve-se observar e levar em conta que o carnaval é uma
manifestação popular, ou seja, um bem cultural do povo e da comunidade.
243
Considerando os fatores anteriores, qualquer ação de planejamento e organização
deve ter consulta prévia aos moradores locais, mantendo suas principais
reivindicações para a melhoria do seu evento, mas também deixar um legado para a
sua cidade, fazendo com que a melhoria aconteça de forma permanente e não
somente temporariamente.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
O turismo cultural, segmentação que ocorre no período do carnaval, procura
agregar valor ao que já existe, sendo que o turista pode relacionar-se a comunidade
e conhecer toda a sua complexidade. Porém com a alteração na forma de fazer e
relacionar um evento, no contexto geral da mudança há uma perda das características
particulares. Dessa forma o carnaval como fator de desenvolvimento turístico de uma
região faz com que o turista queira viver apenas uma nova experiência, não se
importando com os dados históricos da festa, da cidade, logo o fator diversão torna-
se o motivo principal para a visitação.
Dessa forma entende-se que a influência da elevada demanda de turistas vem
criando impactos no modo de fazer o carnaval no município, pois vem sendo imposto
pelo mercado. Este fenômeno vem trazendo várias transformações culturais nos
últimos tempos, desagregando valores com as perdas que ocorrem na sociedade,
como o término dos bailes de carnaval que eram direcionados a população local, a
descentralização da festa pela capacidade de carga, por exemplo.
No momento ainda não foram percebidos danos aos prédios históricos tombados que
compõem o centro histórico da cidade, mas essa questão é preocupante, pois
carnaval envolve o som com alto volume e os trios elétricos que são caminhões de
grande porte, o que em médio prazo pode ocasionar danos estruturais aos casarões,
que chegam a vibrar e as janelas a se bater, podendo ocasionar em uma perda
inestimável.
Há ainda um aumento excessivo do consumo de energia elétrica, e um alto
consumo de água, e o desabastecimento do comércio alimentício local, ocupação total
das unidades habitacionais dos diversos meios de hospedagem, alta procura de
244
imóveis para alugar para o período de carnaval, ocorrendo assim de certa forma um
abuso dos preços dos aluguéis, fazendo com que aquele turista de baixo poder
aquisitivo acabe dormindo ao relento, conforme foi registrado na Figura 01:
Figura 01: Turistas dormindo ao relento em uma manhã de carnaval de Jaguarão (2016).
Fonte:Do autor Pablo Colvara Machado.
No período do carnaval de Jaguarão, outro impacto está nos serviços de
lancherias, churrascarias, restaurantes ficam lotados. Paira no ar, em todos os dias
de carnaval o mau cheiro provocado pela urina, pois os banheiros químicos não são
suficientes para atender a demanda. Em alguns anos, houve a falta de dinheiro nos
caixas-eletrônicos da cidade. Há sobrecarga também na utilização do serviço público
de saúde emaior incidência de resíduos sólidos na área urbana conforme a Figura 02:
Figura 02: Ruas de Jaguarão no período de carnaval (2016).
245
Fonte: Do autor Pablo Colvara Machado.
Após breve abordagem com comerciantes que possuem estabelecimento no
local onde antigamente o carnaval acontecia, quando questionados sobre o
movimento de clientes, eles afirmaram que, mesmo com o grande público do carnaval
atual, a descentralização, a fragmentação ocasionou reflexos negativos, pois o seu
faturamento vem diminuindo, se comparado aos lucros de quando o carnaval era
apenas destinado à população local. O problema pode ser verificado no depoimento
do comerciante, Sr. Gilberto Subda Rodrigues:
Eu tenho um trailer onde vendo Kreps e bebidas, bem no local onde o
carnaval se concentrava alguns anos atrás, eu tinha um bom faturamento
devido ao evento. Atualmente com a descentralização do carnaval, e o
aumento da concorrência durante a festa, meu faturamento é muito menor
(Sr. Gilberto Rodrigues, em entrevista concedida no dia 05 de outubro de
2016).
Contudo, em contrapartida aos impactos negativos, e que necessitam de maior
atenção no planejamento e organização, o carnaval também traz vantagens para o
município. Como a padronização dos trios elétricos, o aumento dos vendedores
ambulantes que podem contar com um adicional de renda nesse período,
desenvolvimento econômico para o comércio, ocupação máxima dos meios de
hospedagens, restaurantes e similares.
246
A gestão de incentivo para as escolas de samba do município também é uma
nova abordagem positiva no carnaval em Jaguarão. Elas recebem verbas do poder
público municipal, uma ajuda de custo para a realização e organização dos seus
desfiles, enquanto os trios elétricos geram sua renda a partir da venda de
abadás/camisetas personalizadas.
Analisando as hipóteses que foram levantadas através da pesquisa e do evento
e suas particularidades pode-se afirmar que levando em consideração que não houve
consulta popular sobre questões pertinentes ao carnaval, ocorreram mudanças na
cultura e na forma de fazer a festa popular. Consequentemente, se pode considerar
que o mesmo está deixando de ser uma festa da comunidade local e passando a ser
um fato comercial, sem alma, sem identidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância do carnaval para o brasileiro é inegável, sendo a maior festa
popular do país, e o município de Jaguarão soube aproveitar-se deste contexto,
mesmo estando longe das principais cidades que organizam esta festa no Brasil.
Durante o carnaval de rua a cidade fica repleta de turistas, onde os mesmos tem a
possibilidade de conhecer a cultura e atrativos locais. O turismo relacionado à cultura
está ganhando cada vez mais força, pois independe de qual seja o motivo de
deslocamento do turista, existe um elemento primordial e comum a quase todas as
experiências de uma viagem turística, a procura por sanar a curiosidade do turista em
relação às culturas de outras sociedades. Portanto todo turismo é de certa forma
cultural, uma vez que todo o deslocamento de pessoas para um lugar diferente tem
por finalidade conhecer e buscar novos aprendizados culturais, novas experiências.
Logo,de acordo com o que foi exposto, pode-se afirmar que a relação do
turismo com a cultura do carnaval fundamenta-se na busca pela experiência de
vivenciar e conhecer diversas culturas. O tema foi escolhido em função do momento
atual, no qual o carnaval de rua assume um papel estratégico no futuro da cidade,
como fator de desenvolvimento local, podendo inclusive vir a despontar como
protagonista num polo de atração turística.
247
Conclui-se que as mudanças materiais e imateriais da cultura são importantes
para o desenvolvimento humano, e que quando não há mudanças parece que a
humanidade parou no tempo. No desenvolvimento dessa pesquisa foi possível
compreender o processo que levou ao término dos bailes de carnaval nos clubes, a
extinção dos reboques.
Notamos também mudanças ocasionadas pelo fenômeno do turismo, o que nos
faz refletir que o poder público deve tomar o controle e definir junto à população local
o que é melhor para o desenvolvimento da cidade sem que tenham grandes perdas
sociais, culturais, materiais e imateriais. Desta forma é possível que se consiga
aproveitar o carnaval para divulgar as potencialidades locais, mostrar outros aspectos
do município, aproveitar-se desse fluxo no local para se fazer visível ao turista, seus
atrativos, turismo cultural, turismo rural, turismo de compras, uma vez que está em
região de fronteira, fazendo com que o turismo aconteça todo ano, superando assim
a questão da sazonalidade, tendo como referência o município em um todo como fator
de turismo, e não somente uma festa em particular.
Foi possível constatar que o carnaval é considerado não só pelo poder público,
mas também pelos atores da festa como uma importante ferramenta para o
desenvolvimento turístico.A festa tem provocado um incremento no turismo e
possibilitado a participação da comunidade e a geração de renda, mas ainda há muito
a ser feito, principalmente no que tange ao aumento da capacidade de carga,
divulgação, a estrutura para bem receber. Foi possível identificar conflitos por parte
da população, onde alguns são inconformados com o seu carnaval que está perdendo
a identidade, outros deslumbrados pelos ganhos econômicos e outros indecisos,
deixando tudo nas mãos da gestão pública.
A utilização e transformação do carnaval de rua de Jaguarão em fator
meramente econômico pode acabar levando ao afastamento do residente, que deixa
de se identificar com essa representação capitalista. Além do que, o valor cobrado
pode excluí-lo de certas comemorações. Por outro lado entendemos que em uma
representação cultural criada pelo povo e gerida por ele, o planejamento e gestão do
devem ser feitos visando primordialmente à população local, para evitar impactos
248
negativos e assim bem receber com identidade, orgulho e integridade ao visitante,
consistindo assim no verdadeiro segmento de turismo cultural que deve ser
incentivado.
REFERÊNCIAS
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2005.
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jaguarao-que-agora-e-ponto-de-cultura/ consulta. Acesso em: 25 nov. 2015.
UNIPAMPA. Universidade Federal do Pampa. Disponível em:
https://www10.unipampa.edu.br//portal/resumo.php. Acesso em: 20 nov. 2015.
Entrevistas
Almiro Soares, entrevista concedida em 05 de outubro de 2016. 30m00s.
Luis Henrique Alves, entrevista concedida em 06 de outubro de 2016. 1h03m00s.
Gilberto Subda Rodrigues,entrevista concedida em 05 de outubro de 2016. 20m05s.
AÇÕES SUSTENTÁVEIS DOS ESTABELECIMENTOS GAÚCHOS ENGAJADOS
NA CAMPANHA PASSAPORTE VERDE
250
PEREIRA, Gisele46; NAZARI, Mateus47; KAIZER, Éverton48; LONGARAY, Luisa49;
Resumo: O presente estudo tem por objetivo apresentar as ações de sustentabilidade
desenvolvidas pelos empreendimentos engajados na campanha Passaporte Verde no
estado do Rio Grande do Sul, no que tange aos cinco eixos da mesma. A coleta dos
dados necessários à pesquisa deu-se por meio de levantamento, via website da
campanha Passaporte Verde, dos empreendimentos turísticos gaúchos engajados
nesta campanha e de suas ações de sustentabilidade. Os resultados permitem
concluir que os meios de hospedagem engajados contemplam, em seus websites,
informações sobre a maioria das cinco dimensões. A única exceção é a redução do
desperdício de alimentos, que não é citada em nenhum dos websites dos cinco meios
de hospedagem analisados.
Palavras-chave: Campanha Passaporte Verde; Ações sustentáveis;
Estabelecimentos engajados.
1 INTRODUÇÃO
Um passaporte pode ser visto como o primeiro passo para entrar em outro
país ou em outro momento em nossas vidas. Quando viajamos, vivenciamos
46 Bacharel em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Especialista em Gestão de
Marketing pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Doutora em Lazer, Hospitalidade e Gestão do Turismo pela Oxford Brookes University (Inglaterra). Docente no Departamento de Turismo da Faculdade de Administração e Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rua Gomes Carneiro nº 1 - 4º andar - Pelotas, RS, CEP: 96010-610 http://lattes.cnpq.br/2417134708175156 E-mail: [email protected] 47 Acadêmico de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Bolsista de Iniciação Científica (CNPq) no Núcleo de Educação, Pesquisa e Extensão em Resíduos e Sustentabilidade (NEPERS) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://lattes.cnpq.br/8312954395664621 E-mail: [email protected] 48 Acadêmico de Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://lattes.cnpq.br/8400189838557299 E-mail: [email protected] 49 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://lattes.cnpq.br/5491205135828458 E-mail: [email protected]
251
novas experiências e retornamos ao nosso dia a dia diferentes, com um novo
ritmo, novos hábitos e sentimentos, que gostaríamos de manter ao longo de
nossas vidas. Podemos ver o passaporte como um acesso a este novo estilo
de vida que gostaríamos de preservar. E, se esse Passaporte é Verde, ele
provavelmente traz consigo novos hábitos em relação à sustentabilidade.
(PASSAPORTE VERDE, 2016).
Com a finalidade de estimular práticas de consumo e produção sustentável no
turismo, a campanha Passaporte Verde éuma iniciativa global do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que visa a garantir que os recursos
naturais sejam produzidos, processados e consumidos de uma maneira mais
sustentável. Criada em 2008 e propagadaem diversos países como África do Sul,
Brasil, Coreia do Sul, Costa Rica, Equador, França e Israel, a campanha já é
referência internacional em disseminação de informações sobre turismo
sustentável.(PASSAPORTE VERDE, 2016).
No Brasil, a campanha é coordenada pelos Ministérios do Meio Ambiente e do
Turismo e tem como objetivo sensibilizar o turista quanto ao seu potencial de contribuir
com o desenvolvimento sustentável local por meio de escolhas responsáveis durante
o seu período de férias e lazer. É também uma ferramenta que os turistas têm à
disposição para conhecer melhor os impactos positivos ou negativos de suas escolhas
pessoais e de seu comportamento antes, durante e depois da viagem. Além disso, a
campanha compreende dicas que ajudam o turista a viajar como um turista
consciente, incluindo a escolha do destino, o que levar e o que não levar na bagagem,
como se locomover, onde se hospedar, onde comer, como se divertir, o que trazer e
o que não trazer, além de recomendações sobre como se comportar durante o
convívio com diferentes populações e ecossistemas. (PASSAPORTE VERDE, 2016).
Em relação aos empreendimentos turísticos, é possível que os mesmos se
engajem na campanha Passaporte Verde. Atualmente, há hotéis, pousadas, bares e
restaurantes que aderiram à campanha ao assumirem o compromisso de desenvolver
ações de sustentabilidade ligadas às seguintes dimensões do Passaporte Verde:
consumo eficiente de energia, uso racional da água, redução do desperdício de
alimentos, gestão eficiente dos resíduos e responsabilidade social. É importante
252
salientar que esta adesão é voluntária, não caracterizando, portanto, qualquer
processo de certificação formal.
Pelo Compromisso Passaporte Verde, uma ferramenta online na qual
estabelecimentos podem se comprometer voluntariamente com boas práticas
de produção e serviços, o empresário ganha a possibilidade de obter um novo
canal de promoção através do portal, do aplicativo e das redes sociais da
campanha, bem como utilizar o material promocional do Passaporte Verde
(adesivos, cartazes, displays). Ao se engajar, os estabelecimentos também
ficam disponíveis para consultas online dos consumidores via hotsite e
aplicativo. (PNUMA, 2014, p. 6).
Nesse sentido, a atuação de turistas mais conscientes é decisiva para que o
setor produtivo do turismo reavalie suas práticas de produção. A partir da demanda
de produtos e serviços turísticos mais sustentáveis bem como pela escolha de
empreendimentos turísticos comprometidos com a sustentabilidade, é possível
promover a mudança necessária nos padrões de produção e consumo.
Assim, devido à importância de uma adequada gestão ambiental e com o intuito
de sensibilizar o setor produtivo do turismo quanto ao seu potencial em contribuir para
o desenvolvimento sustentável, o presente artigo tem como objetivo apresentar as
ações de sustentabilidade desenvolvidas pelos empreendimentos engajados na
campanha Passaporte Verde no estado do Rio Grande do Sul, no que tange aos cinco
eixos da mesma: consumo eficiente de energia, uso racional da água, redução do
desperdício de alimentos, gestão eficiente dos resíduos e responsabilidade social.
Em termos de estrutura, o presente artigo está organizado da seguinte forma:
a seção 1 apresenta a introdução do trabalho e uma breve revisão de literatura sobre
o tema investigado; a seção 2 aborda a metodologia empregada; a seção 3 apresenta
e discute os resultados da pesquisa e, por fim, a seção 4 trata das considerações
finais do trabalho.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
253
No que se refere à metodologia utilizada, o estudo classifica-se como descritivo,
uma vez que estuda as relações estabelecidas entre duas ou mais variáveis de um
determinado fenômeno, sem manipulá-las (KÖCHE, 2004). Além disso, o estudo
também caracteriza-se como bibliográfico.A coleta dos dados necessários à pesquisa
deu-se por meio de levantamento, via website da campanha Passaporte Verde
(http://www.passaporteverde.org.br), dos empreendimentos turísticos do Rio Grande
do Sul engajados nesta campanha. Tal busca permitiu identificar a participação de
cinco estabelecimentos, todos caracterizados como meios de hospedagem: i)
Pousada Villa Allegro (Canela); ii) Pousada Blumenberg (Canela); iii) Cambará Eco
Hotel (Cambará do Sul); iv) Eko Residence Hotel (Porto Alegre); e v) Bangalôs da
Serra (Gramado). A seguir, verificou-se nos websites de cada estabelecimento as
ações de sustentabilidade desenvolvidas com base nos cinco eixos da campanha
Passaporte Verde: consumo eficiente de energia, uso racional da água, redução do
desperdício de alimentos, gestão eficiente dos resíduos e responsabilidade social.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 POUSADA VILLA ALLEGRO
A Pousada Villa Allegro está localizada no município de Canela e possui 11
Unidades Habitacionais (UHs), sendo uma acessível a cadeirantes, totalizando 40
leitos. (CADASTUR, 2016).
254
Segundo o conteúdo disponível no website da Pousada Villa Allegro, o
estabelecimento busca desenvolver práticas de sustentabilidade com o propósito de
(VILLA ALLEGRO, 2016):
• Preservar o meio ambiente e promover a educação ambiental;
• Colaborar com o bem-estar da comunidade local, ajudando no seu crescimento
e desenvolvimento;
• Criar uma rede de parceiros e fornecedores que respeitem os princípios da
sustentabilidade, oferecendo produtos de qualidade;
• Oferecer serviços de hospedagem com qualidade, profissionalismo e
hospitalidade, através do comprometimento com a melhoria contínua da
eficácia do sistema de gestão da sustentabilidade;
• Atender a legislação e normas vigentes.
No que tange ao consumo eficiente de energia, a Pousada incentiva os
hóspedes e os colaboradores a consumirem conscientemente energia; realiza o
monitoramento do consumo através de indicador medido mensalmente; providenciou
a instalação de condicionadores de ar tipo split quente e frio com tecnologia Inverter
(mais eficiente e econômico, agredindo menos o meio ambiente) em substituição ao
sistema de aquecimento via caldeira, o que ocasionou uma grande economia de lenha
utilizada na caldeira; utiliza lâmpadas eletrônicas de baixo consumo em todos os
ambientes da Pousada; dispõe de sensores de presença nas circulações internas, de
células fotoelétricas nas áreas externas, de equipamentos elétricos com baixo
consumo de energia (Selo Procel A, melhor nível de eficiência energética), de
economizadores de energia elétrica acionados por cartão-chave magnético em todas
as UHs, com desligamento automático na saída, de desligamento automático de
alguns equipamentos existentes nas UHs quando fora de uso; realizou a aquisição de
máquina automatizada de aspiração do pó “Pro-Acqua”, a qual utiliza água no sistema
de filtragem, gastando menos energia e garantindo maior higienização e saúde para
255
os hóspedes; possui estrutura adaptada para receber luz natural, diminuindo o
consumo de energia elétrica durante o dia. (VILLA ALLEGRO, 2016).
No que se refere ao uso racional da água, a Pousada pratica as seguintes
ações: incentivo aos hóspedes e colaboradores quanto ao consumo consciente da
água; monitoramento do consumo através de indicador medido mensalmente; uso de
vasos sanitários com caixa acoplada gerando baixo consumo de água; adoção de
redutores de vazão evitando o desperdício desnecessário; desenvolvimento de
programa de reuso de toalhas que ajuda na diminuição do volume de água residual
com detergente que deve ser reciclada na comunidade; coleta da água do enxague
na operação das máquinas de lavar roupas para reutilização na lavagem posterior;
realização de programa de manutenção preventiva executada para toda a estrutura
da Pousada; limpeza das caixas de água no prazo exigido pela legislação com laudo
técnico fornecido por empresa credenciada; acompanhamento dos indicadores de
qualidade existente na conta da empresa fornecedora da água; implantação de um
sistema de coleta da água da chuva através de calhas coletoras instalados nos
telhados onde a água é captada e armazenada em uma cisterna (esta água é utilizada
para irrigação dos jardins da Pousada e também para a lavagem da sua área externa)
(VILLA ALLEGRO, 2016).
Em termos de gestão eficiente dos resíduos, a Pousada incentiva os
hóspedes e os colaboradores a reduzirem a geração de resíduos; realiza
monitoramento da geração através de indicador medido diariamente; faz doação dos
resíduos secos como latas e garrafas pets para entidades de Canela que reutilizam o
material para reciclagem e que se transformam em renda para a comunidade; utiliza
jornais e revistas para uso na caldeira ou nas lareiras da Pousada evitando o uso de
combustível e lenha; emprega procedimentos e processos que contribuem para a
redução da geração de resíduos secos, assegurando o descarte adequado, realiza
separação seletiva em containers para papel, vidro, metal, plástico e orgânico; realiza
pesagem, registro e descarte do resíduo seco e parte do orgânico para coleta seletiva
realizada por serviço especializado de coleta do município; possui procedimentos e
processos que contribuem para a redução da geração de resíduos orgânicos,
256
assegurando o descarte adequado; faz separação seletiva em container para resíduos
orgânicos; desenvolve pesagem, registro e descarte dos resíduos orgânicos através
de compostagem na própria Pousada, para uso como adubo em seus jardins e doação
para a comunidade; realiza coleta e armazenamento dos resíduos contaminantes
conforme determina a legislação como pilhas, baterias, medicamentos, lâmpadas e
outros produtos considerados perigosos (periodicamente estes resíduos são
encaminhados para pontos de coletas em Canela, os quais encaminham a destinação
correta).(VILLA ALLEGRO, 2016).
Em relação à responsabilidade social, a Pousada desenvolve uma série de
ações quanto ao artesanato local, à culinária regional, à educação ambiental, à gestão
da sustentabilidade, às manifestações culturais, à produção local, à satisfação da
comunidade e dos clientes e ao turismo sustentável. Tais ações são detalhadas no
Quadro 1, abaixo (VILLA ALLEGRO, 2016):
Quadro 1: Ações de Responsabilidade Social desenvolvidas pela Pousada Villa
Allegro.
Área de atuação Ação
Artesanato Local 1. Divulgação do artesanato local, expondo e oferecendo produtos aos clientes e informando sobre centros artesanais existentes na região.
Culinária Regional • Oferta de alimentos típicos da gastronomia local, bem como produzidos na própria cozinha da Pousada, para o cardápio do café da manhã;
• Prioridade ao uso de produtos orgânicos produzidos no local.
Educação Ambiental • Meta de manutenção de pelo menos 8% da área total do terreno onde a Pousada está situada, com vegetação nativa;
• Participação no Festival de Turismo de Gramado na distribuição de mudas de árvores em ação de compensação de carbono do Festival;
• Ação juntamente com a comunidade da Vila Suzana de Canela na melhoria das condições de vida do bairro, em ações de combate ao mosquito e despoluição da represa situada no entorno da Pousada;
• Utilização de 100% de papel reciclado nas operações onde é necessário o uso do papel;
• Uso de amenities(cosméticos disponibilizados aos hóspedes no hotel) e produtos de limpeza de composição biodegradável. Assim, reduz-se a geração de efluentes, a contaminação da água e do solo e a geração de resíduos. Disponibilização de laudos de todos os produtos de limpeza e consumo utilizados pela Pousada;
• Controle da qualidade e procedência dos produtos utilizados;
• Instalação de placas identificadoras das espécies da flora nativa existentes na Pousada;
257
• Iniciativas de sensibilização ambiental junto a colaboradores, hóspedes e comunidade local;
• Informações sobre Turismo Sustentável nos aposentos dos hóspedes, incentivando-os sobre a sensibilização e ações praticadas;
• Incentivo aos hóspedes para conhecerem a Política de Sustentabilidade da Pousada.
Gestão da
Sustentabilidade
Sistema de gestão da sustentabilidade baseado na Norma NBR-
15401/2014 em implantação.
Manifestações
Culturais
Apoio a eventos de cunho sociocultural à entidades locais, como o Festival Internacional de Bonecos, Páscoa em Canela, Sonho de Natal, etc.
Produção Local Apoio a eventos de cunho sociocultural à entidades locais, como o Festival Internacional de Bonecos, Páscoa em Canela, Sonho de Natal, etc.
Satisfação da Comunidade
Investimento na utilização de 100% de mão de obra local, enfatizando a capacitação interna e externa dos colaboradores.
Satisfação dos Clientes
• Realização de pesquisas junto aos hóspedes, com o objetivo de monitorar a satisfação em relação aos serviços oferecidos e às boas práticas implantadas;
• Análise dos comentários recebidos e promoção de melhorias a partir dos resultados encontrados.
Turismo Sustentável Fornecimento de dicas que visam a sensibilização e conscientização das
pessoas, promovendo um comportamento responsável e boas práticas
ambientais durante sua viagem ao destino turístico e que servem para
qualquer momento. São regras que aconselham o turista o que deve ou
não fazer e as ações que poderão colocar em risco a riqueza biológica do
lugar que visita.
Fonte: Elaboração própria (2016).
Já no que se refere à redução do desperdício de alimentos, segundo o
website da Pousada Villa Allegro, não há informações sobre tais ações. (VILLA
ALLEGRO, 2016).
3.2 POUSADA BLUMENBERG
A Pousada Blumenberg está localizada no município de Canela e possui 32
Unidades Habitacionais (UHs), sendo uma acessível a cadeirantes, totalizando 64
leitos. (CADASTUR, 2016).
258
Segundo o conteúdo disponível no website do estabelecimento, a Pousada
Blumenberg tem como política promover a satisfação do cliente e o desenvolvimento
sustentável da empresa em conjunto com a comunidade. Além disso, salientam que
seus princípios de gestão respeitam a ética e a legislação vigente. Apoiam eventos e
ações de geração de renda, trabalho e qualificação profissional visando a valorização
sociocultural e ambiental da região. Buscam racionalizar o uso de insumos como
forma de preservar a natureza, minimizando eventuais impactos ambientais. A
Pousada foi auditada e certificada na NBR 15401 (Meios de Hospedagem: Sistema
de Gestão da Sustentabilidade)pelo Instituto Falcão Bauer de Qualidade (IFBQ),
através do Programa Bem Receber do Sebrae e do Ministério do Turismo. (HOTEL
BLUMENBERG, 2016).
Além disso, salientam que adotam um sistema de gestão sustentável
comprometido não só com a qualidade dos serviços prestados, mas também com os
aspectos ambientais e socioculturais gerados pelas atividades da empresa. Do ponto
de vista ambiental, divulgam sua política de sustentabilidade aos turistas, bem como
as ações de economia e proteção do uso de recursos naturais, a preferência por
fornecedores comprometidos com a sustentabilidade ambiental, a defesa, o apoio e a
divulgação da importância da conservação da biodiversidade da região e, em especial,
dos atrativos turísticos e sua participação ativa no Conselho Municipal do Meio
Ambiente de Canela. (HOTEL BLUMENBERG, 2016).
No que tange ao uso racional da água, a Pousada Blumenberg promove a
redução da geração de efluentes e o reuso de água. Já quanto à gestão eficiente
dos resíduos, as ações desenvolvidas são as seguintes: redução da geração de
resíduos; adoção de embalagens retornáveis ou maiores; separação dos resíduos
para coleta seletiva ou doação para entidades; reaproveitamento de papéis e
embalagens; compostagem (aproveitamento de resíduos orgânicos); separação e
destinação dos resíduos contaminantes; priorização de produtos biodegradáveis. Em
termos de responsabilidade social, a Pousada promove a sensibilização ambiental
de hóspedes e colaboradores; prioriza a divulgação eletrônica; participa em
campanhas e em entidades ambientais da comunidade; realiza ações permanentes
259
de qualificação e treinamento dos colaboradores; participa em iniciativas prestando
apoio financeiro ou institucional ou através de doações de produtos, equipamentos ou
horas de trabalho em instituições e eventos. Conforme informações disponíveis no
website da Pousada, não foi possível identificar ações referentes ao consumo
eficiente de energia e à redução do desperdício de alimentos. (HOTEL
BLUMENBERG, 2016). É válido ressaltar que a Pousada recebeu o prêmio Top 10
dos hotéis brasileiros com ações de sustentabilidade, em 2013, o prêmio Braztoa de
Sustentabilidade, além de possuir o selo Eco líderes: ouro 2015 do website de viagens
Tripadvisor, entre outros. (HOTEL BLUMENBERG, 2016).
3.3 CAMBARÁ ECO HOTEL
O Cambará Eco Hotel está localizado no município de Cambará do Sul e possui
37 Unidades Habitacionais (UHs), totalizando 70 leitos. (SECRETARIA DE ESTADO
DO TURISMO, 2012).
Conforme o conteúdo disponível em sua página virtual, o Cambará Eco Hotel
está comprometido em garantir a satisfação de seus clientes, parceiros e
colaboradores, através da melhoria contínua da qualidade de seus serviços e
produtos, respeitando a preservação do meio ambiente e seu entorno, apoiando o
desenvolvimento econômico e social da região, através de uma gestão sustentável
que atenda à legislação. (CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).
Nosso empenho é um processo contínuo que possibilita uma atmosfera saudável e vital para criar um novo modelo de negócio que é mais respeitoso com os recursos naturais e os seres humanos. No entanto, não seríamos capaz de cumprir os nossos objetivos sem envolver os nossos clientes e parceiros em nossas ações e programas que convidam a participar ativamente, proporcionando uma reflexão crítica baseada no respeito a todas as formas de vida e ao ecossistema.(CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).
As ações realizadas pelo Cambará Eco Hotel, quanto ao consumo eficiente
de energia, compreendem: a utilização de sensores de presença nas áreas de
circulação e de lâmpadas fluorescentes, em vez de incandescentes; o uso de
260
equipamentos eletroeletrônicos com baixo consumo de energia; a adoção de sistema
de energia solar como a principal fonte para o aquecimento da água; o aproveitamento
da iluminação natural, pelo projeto arquitetônico, com paredes envidraçadas e
ambientes abertos e bem-ventilados, dispensando, na medida do possível, a luz
artificial e o ar-condicionado (CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).
Quanto ao uso racional da água, o Hotel dispõe de chuveiros, torneiras e
vasos sanitários com baixo fluxo de água, para evitar o desperdício; promove o
reaproveitamentoda água da chuva na lavanderia, na piscina, nos sanitários, na
limpeza em geral e na irrigação dos jardins; permite ao hóspede escolher se quer ter
as toalhas trocadas diariamente ou não. No que tange à gestão eficiente dos
resíduos, o Hotel coleta e separa os resíduos que são destinados a cooperativas de
catadores de materiais recicláveis; destina o resíduo orgânico a
compostagem.(CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).
Em se tratando da responsabilidade social, as ações desenvolvidas pelo
Hotel são as seguintes: adoção de amenities biodegradáveis nos apartamentos;Hotel
100% não fumante mantendo a qualidade do ar e saúde dos hóspedes; uso
preferencial de objetos que decoram os ambientes, entre eles tapetes, rodapés,
rodaforros, móveis, feitos com material reciclado; utilização de elementos pré-
fabricados, na estrutura da construção, que permitem a eliminação de quebras e
desperdícios das instalações elétricas e hidrossanitárias, assim como o uso de
madeira de origem certificada (de reflorestamento); tratamento do esgoto em duas
centrais de tratamento; treinamento da equipe de colaboradores para aplicar as
medidas de sustentabilidade; investimento na comunidade local, contratando e
treinando os moradores das redondezas, patrocínio a projetos sociais do entorno e
incentivoaos hóspedes a interagirem com tais iniciativas; utilização de alimentos
produzidos na região e na própria cozinha do Hotel (muitas vezes, orgânicos para
compor o cardápio do café da manhã e restaurante); plantio de mais de 2000 mudas
de árvores e arbustos nativos.(CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).
De acordo com o website do Cambará Eco Hotel, não há informações relativas
à redução do desperdício de alimentos. Vale ressaltar que o estabelecimento
261
possui certificação da NBR 15401(Meios de Hospedagem: Sistema de Gestão da
Sustentabilidade), além de estar no Top 10 dos hotéis brasileiros com ações de
sustentabilidade e possuir o selo Eco líderes: ouro do website de viagens
Tripadvisor.(CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).
3.4 EKO RESIDENCE HOTEL
O Eko Residence Hotel está localizado no município de Porto Alegre e possui
97 Unidades Habitacionais (UHs), totalizando 208 leitos. (SECRETARIA DE
ESTADO DO TURISMO, 2012).
De acordo com o website do empreendimento, o Eko Residence Hotel
estabeleceu um sistema de gestão com objetivos e metas de redução de emissão de
poluentes, redução de consumo de energia elétrica e da água, redução e tratamento
de resíduos, mobilização de fornecedores e parceiros, conscientização dos
colaboradores, participação de associações, sensibilização dos hóspedes/clientes,
gestão de pessoas e satisfação dos acionistas. A partir disso, obtiveram como
resultado um desenvolvimento econômico do empreendimento através do aumento
da rentabilidade do Hotel equacionado pela redução do consumo/custos e aumento
da taxa de ocupação, consequência de uma atitude ambientalmente
responsável.(EKO RESIDENCE, 2016).
Os canais de venda "online" possuem abrangência internacional e, assim,
propagam mundialmente o Hotel e suas práticas sustentáveis. De acordo com o
website do estabelecimento, cento e quinze mil quinhentos e noventa e cinco
hóspedes nos últimos três anos puderam, sem abrir mão do conforto e da
modernidade, tomar um banho quente usando a energia solar para aquecer a água,
sentar em sofás feitos revestidos com tecido reciclado, puxar a água do vaso sanitário
cientes de que a água que estava sendo usada era da captação da água da chuva,
subir na cobertura do Hotel e apreciar a horta orgânica ou o ecotelhado. Ademais, a
comunicação com os hóspedes é também realizada através de cartazes colocados
nos elevadores, adesivos nos vasos sanitários (divulgando a captação da água da
262
chuva), adesivos nos banheiro (incentivando o reuso da roupa de cama e banho),
adesivos nas lixeiras divulgando a forma correta de separar os resíduos e nos demais
materiais do Hotel, como os porta cartões magnéticos, por exemplo.(EKO
RESIDENCE, 2016).
No que tange ao consumo eficiente de energia, o Eko Residence Hotel possui
geladeiras, ar-condicionado, lâmpadas econômicas, sensores de presença, bombas
hidráulicas e outros equipamentos, adquiridos em função de seu baixo consumo;
conta com elevadores econômicos e sincronizados; continua com a substituição do
sistema de iluminação atual por lâmpadas de LED, as quais consomem menos
energia, se comparadas com os demais tipos de lâmpadas. Quanto ao uso racional
da água, o Hotel realiza a captação de água da chuva que abastece os aparelhos
sanitários do Hotel por até 10 dias; promove campanha de incentivo aos hóspedes de
reuso das toalhas e roupas de cama. Em relação à gestão eficiente dos resíduos, o
Hotel minimiza o uso de materiais descartáveis;possui lixeiras, em todo o Hotel,
incluindo suas UHs, para separação de resíduos; possui coletor apropriado para o
descarte de pilhas; realiza tratamento do resíduo orgânico da área de alimentação;
utiliza-se do sistema de Coleta Seletiva da Prefeitura de Porto Alegre; dispõe de
dispensadores de espuma para banho e sabonete líquido, evitando o uso de
embalagens individuais de amenities (shampoos, sabonetes, etc.).(EKO
RESIDENCE, 2016).
No que se refere à responsabilidade social, o Hotel desenvolve diversas
ações, as quais são sintetizadas no Quadro 2, abaixo:
Quadro 2: Ações de Responsabilidade Social desenvolvidas pelo Eko Residence Hotel.
Ações de Responsabilidade Social
1. Implantação da Coordenação de Hospitalidade e Sustentabilidade com a contratação de uma
Coordenadora;
2. Instalação de dispensadores nos banheiros (espuma para banho e sabonete líquido) em
substituição ao uso de embalagens individuais de amenities (shampoos, sabonetes, etc.);
3. Adaptação de mais um apartamento para pessoas com necessidades especiais;
4. Redução da emissão de poluentes: menor queima de gás para água quente, através de sistema
de apoio via energia solar; jardim vertical na fachada do Hotel e utilização de eco telhado nas
263
coberturas do terraço e floreiras que visam compensar as emissões dos veículos que utilizam as
garagens;
5. Gestão de pessoas: valorização do capital humano, benefícios, oportunidade de progressão,
participação nos lucros e resultados, auxílio financeiro para educação, treinamentos,
capacitação, reuniões, festas, plano de saúde e cestas básicas. Além disso, visando o
desenvolvimento social, ambiental, educacional e econômico da região, prioriza-se a contratação
de mão de obra local;
6. Criação da Cartilha "Sustentabilidade Ambiental - Qual é seu significado? O que podemos
fazer?”. Esta cartilha pode de ser enviada via e-mail para clientes, fornecedores, estudantes e
público em geral;
7. Agendamento de visitas técnicas para estudantes e público em geral conhecerem as boas
práticas desenvolvidas pelo Eko Residence Hotel;
8. Apoio a ações sustentáveis: parceria Eko Residence Hotel e Atitude Brasil Ltda; apoio à Semana Lixo Zero.
Fonte: Elaboração própria (2016).
Conforme website do Hotel, não foi possível identificar ações relativas à
redução do desperdício de alimentos. É importante destacar que o Eko Residence
Hotel ficou em 2º lugar no Prêmio Braztoa de Sustentabilidade 2013, no qual avaliaram
a relevância sociocultural, ambiental, econômica e inovação da iniciativa do
empreendimento, além da capacidade de prover educação e de estender os
resultados dentro da empresa. (EKO RESIDENCE, 2016).
3.5 BANGALÔS DA SERRA
O Bangalôs da Serra está localizado no município de Gramado e possui 48
Unidades Habitacionais (UHs), sendo oito acessíveis a cadeirantes e 12 com
acomodação para cão-guia, totalizando 142 leitos. (CADASTUR, 2016).
Para o meio de hospedagem Bangalôs da Serra, sustentabilidade é ser
ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. O
Estabelecimento conta com as seguintes ações quanto ao consumo eficiente de
energia: equipamentos de baixo consumo; gerador eólico; aquecimento solar;
caldeira geradora de água quente, a qual é movida a resíduos de madeira da
fabricação de móveis; iluminação natural, garantida a partir do projeto arquitetônico,
com paredes envidraçadas e ambientes abertos e bem-ventilados, dispensando na
264
medida do possível a luz artificial e o ar-condicionado. No que tange ao uso racional
da água, o Hotel possui tanques de aproveitamento de água de chuva de 20.000 litros,
para regar as plantas, lavar tapetes e calçadas. Em termos de gestão eficiente dos
resíduos, há coletores em toda a propriedade de 30.000m², com a seguinte
classificação: orgânico, papel, vidro, plástico e metal.(BANGALÔS DA SERRA, 2016).
Em relação à responsabilidade social, são realizadas várias ações, as quais
são apresentadas no Quadro 3, a seguir (BANGALÔS DA SERRA, 2016):
Quadro 3: Ações de Responsabilidade Social desenvolvidas pelo Bangalôs da Serra.
Área de atuação Ação
Quartos Verdes • Papel higiênico, produtos de limpeza e sabonetes são biodegradáveis;
• O hóspede pode escolher se quer ou não trocar sua roupa de banho e cama;
• Os cobertores são feitos de garrafa Pet;
• Os papéis de escritório e impressos utilizados são de papel reciclável.
Tratamento de Efluentes • Eficiente tratamento de efluentes líquidos que passam por três fases: fossa séptica, filtro e dois sumidouros: “o hotel confirma sua preocupação com a sustentabilidade, preservando as águas subterrâneas”. (BANGALÔS DA SERRA, 2016).
Biblioteca nos Hotéis • Este projeto busca disseminar a leitura distribuindo pontos de livros em hotéis e pousadas da cidade: “Apoiar a educação e incentivar o hábito pela leitura é parte da nossa política de sustentabilidade”. (BANGALÔS DA SERRA, 2016).
Conhecendo e Entendendo a Hotelaria • Cujo foco é a capacitação em turismo sustentável voltado para as novas gerações. Como o turismo é a área que mais emprega e movimenta a economia de Gramado, esse projeto possibilita estudantes de uma escola a terem contato com todos os procedimentos de hospedagem, intercalando visitas ao hotel da Serra com aulas práticas e teóricas e noções de história do turismo em Gramado, onde itens relacionados à sustentabilidade também fazem parte das atividades.
Artesanato Gramadense • O Hotel apoia os artistas e artesãos gramadenses através da criação, fomento e divulgação do Espaço do Artesanato Gramadense em prol do desenvolvimento da comunidade. O espaço físico está localizado na
265
entrada do Hotel. “O hóspede pode apreciar, perguntar e comprar diretamente na Recepção. O dinheiro arrecadado vai integralmente para os mesmos. Esta iniciativa do Hotel sem fins lucrativos é mais uma expressão da política de sustentabilidade que envolve nosso empreendimento turístico e nossa filosofia de vida”. (BANGALÔS DA SERRA, 2016).
Hospedagem Solidária • Os turistas doam livros de literatura juvenil e infantojuvenil e obtêm descontos no valor da diária no Hotel. A missão do projeto é consolidar o desenvolvimento educativo da comunidade através do turismo.
Pais e Filhos • O objetivo deste projeto é incentivar o convívio familiar entre pais e filhos. As experiências que compõem o projeto são: Pinhão e Chimarrão, Trilha do Conhecimento e a Hora do Conto.
Orquestra Jovem de Gramado • Patrocínio da Orquestra a qual leva o ensino de música para mais jovens de Gramado.
Plante a sua Árvore • O objetivo desse Projeto é preservar as espécies frutíferas e nativas da região e proporcionar aos hóspedes uma nova experiência, uma vez que as árvores plantadas são registradas com seus nomes com a intenção de que os mesmos recebam por e-mail uma foto por ano para acompanhar o crescimento desta.
Semeando Sustentabilidade • O projeto é realizado pelo Hotel em parceria com um escola municipal com o objetivo de “fazer com que as crianças sejam capazes de perceber e identificar as diversas formas de vida que existem no meio ambiente e o verdadeiro sentido da palavra sustentabilidade”. (BANGALÔS DA SERRA, 2016).
Fonte: Elaboração própria (2016).
Sobre a redução do desperdício de alimentos, não foram localizadas
informações no website do Bangalôs da Serra. (BANGALÔS DA SERRA, 2016). É
importante destacar que o Hotel foi vencedor estadual em 2014 do destaque de
boas práticas de responsabilidade social nos serviços de turismo, entre outros.
(BANGALÔS DA SERRA, 2016).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
266
A partir da análise das informações contidas nos websites dos
estabelecimentos gaúchos engajados na campanha Passaporte Verde foi possível
identificar as ações de sustentabilidade desenvolvidas pelos mesmos com relação às
cinco dimensões da campanha: consumo eficiente de energia, uso racional da água,
redução do desperdício de alimentos, gestão eficiente dos resíduos e
responsabilidade social. Os meios de hospedagem engajados contemplam, em seus
websites, informações sobre a maioria das cinco dimensões (consumo eficiente de
energia; uso racional da água; gestão eficiente dos resíduos e responsabilidade
social). As únicas exceções são o consumo eficiente de energia que não é
apresentado no website da Pousada Blumenberg e a redução do desperdício de
alimentos, dimensão que não é citada em nenhum dos websites dos cinco meios de
hospedagem analisados.
Também é importante destacar que todos os meios de hospedagem estudados
possuem link ou aba em seus websites sobre sustentabilidade, o que reforça o
engajamento ambiental dos mesmos. Entretanto, uma lacuna foi verificada na análise
desses websites no sentido de que a campanha Passaporte Verde é mencionada na
Pousada Villa Allegro, no Cambará Eco Hotel e no Bangalôs da Serra. Nos websites
dos demais meios de hospedagem não há menção ao engajamento dos mesmos
nesta campanha. Assim, recomenda-se aos estabelecimentos a inclusão de
informações sobre seus engajamentos na campanha Passaporte Verde bem como de
informações sobre a redução do desperdício de alimentos em seus websites.
Por fim, a socialização de informações ambientais no contexto de meios de
hospedagem é importante e necessária pois sensibiliza hóspedes e demais atores
envolvidos a transformar essa informação em conduta ambientalmente correta. Além
disso, existe um grande potencial de efeito multiplicador, no sentindo de os meios de
hospedagem engajados inspirarem outros a participar da campanha Passaporte
Verde.
REFERÊNCIAS
267
BANGALÔS DA SERRA. O Hotel. Disponível em: <http://www.bangalosdaserra.com.br/o-hotel/estrutura.htm>. Acesso em: 21 set. 2016. CADASTUR. Pesquisa de prestadores. Disponível em: <http://www.cadastur.turismo.gov.br/cadastur/PesquisarEmpresas.action>. Acesso em: 25 set. 2016. CAMBARÁ ECO HOTEL. Home. Disponível em: <http://www.cambaraecohotel.com.br/>. Acesso em: 25 set. 2016. EKO RESIDENCE. O Hotel. Disponível em: <http://www.ekoresidence.com.br/>. Acesso em: 21 set. 2016. HOTEL BLUMENBERG. Pousada Blumenberg. Disponível em: <http://www.hotelblumenberg.com.br/>. Acesso em: 22 set. 2016. KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica. 22. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. PASSAPORTE VERDE. Acampanha. Disponível em: http://www.passaporteverde.org.br/campanha/sobre/. Acesso em: 18 set. 2016. PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE (PNUMA). Ecoeficiência em empreendimentos turísticos. Orientações Práticas. Disponível em:<http://www.recicloteca.org.br/wpcontent/uploads/publicacoes/108/passaporte%20verde%20(1)-8967.pdf>. Acesso em: 20 set. 2016. SECRETARIA DE ESTADO DO TURISMO. Relatório Cadastur: prestadores de serviços turísticos do Rio Grande do Sul. Disponível em: < www.setel.rs.gov.br/download/20150225152952relatorio___cadastur_08.2012.pdf>. Acesso em: 10 out. 2016. VILLA ALLEGRO. Pousada Villa Allegro. Disponível em: <http://www.villallegro.com.br/pousada/pousada.htm>. Acesso em: 15 set. 2016.
268
DINÂMICA DOS FLUXOS SOCIOCULTURAIS DE LAGUNA-SC, BRASIL:
POSSIBILIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO VOLTADO
PARA OS ASPECTOS CULTURAIS DO DESTINO
RODRIGUES, Raphaella C.50; VARNIER, Nilton C. C.51
50Bacharela em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Metranda em Turismo e Hotelaria do Programa de Pós Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – PPGTURH/UNIVALI, docente da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Link currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3975356974332385. 51Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Metrando em Turismo e Hotelaria do Programa de Pós Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – PPGTURH/UNIVALI. Bolsista CAPES/PROSUP. Link currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/129931048362154.
269
Resumo: Laguna - SC é uma cidade repleta de identidade com relevantes elementos
socioculturais que remetem aos seus colonizadores. O objetivo deste artigo foi
reconhecer as possibilidades do desenvolvimento do turismo voltado para dinâmica
dos fluxos socioculturais de Laguna como destinação. Para isso, foram delimitados os
seguintes critérios: Identificar os fluxos socioculturais do município; Contextualizar o
patrimônio histórico cultural de Laguna; Verificar diretrizes de planejamento turístico
com foco nos aspectos socioculturais. Por isso é uma pesquisa qualitativa e
essencialmente exploratória, que utilizou da pesquisa documental, bibliográfica e
visita in loco, para sua concretização. Foram elaboradas diretrizes para que através
do planejamento, o turismo contribua de forma efetiva para desenvolvimento local.
Palavras-chave:Planejamento do Turismo; Turismo Cultural; Fluxos socioculturais;
Laguna-SC.
1 INTRODUÇÃO
O turismo está alocado no setor de serviços e a partir da década de 1990 o
setor tende dominar o mundo, desde este então se observa o grande crescimento da
atividade turística a nível mundial, o que permitiu a constatação de sua interferência
positiva no quadrante econômico. Para compreender a magnitude do setor de
serviços, está o fato de que este é responsável por cerca de 40% do produto interno
bruto em países em desenvolvimento e em países em desenvolvidos
aproximadamente 65% (COOPER et al, 2007).
No que tange as potencialidades de um destino, a atividade turística em prol
de sua melhor estruturação buscou segmentar os elementos turísticos estabelecendo
sua organização conforme características. Neste contexto da segmentação está o
turismo voltado para os aspectos socioculturais do destino, um segmento que o
Ministério do Turismo compreende como aquele em que, “atividades turísticas
relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico
270
e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e
imateriais da cultura” (MTUR, 2010, p.15).
Desta forma, este estudo retrata o contexto sociocultural da cidade de Laguna
- SC, cuja ótica será direcionada sobre análise sistêmica do turismo de Anjos, Anjos
e Oliveira (2013), foco nos fluxos socioculturais de Santos (2004, 2008), auxiliada pela
análise de modelos de planejamentos turísticos de destinos, que conduziram a
concretização do objetivo deste estudo, que será reconhecer as possibilidades do
desenvolvimento do turismo voltado para aspectos culturais da destinação, sobre a
dinâmica dos fluxos socioculturais de Laguna..
Laguna integra a região turística Encantos do Sul e está localizada no litoral
sul do estado de Santa Catarina, uma cidade repleta de identidade e singularidades,
assim foram desenvolvidos os seguintes objetivos especificamente: Identificar os
fluxos socioculturais do município de Laguna; Contextualizar o patrimônio histórico
cultural de Laguna; Verificar diretrizes de planejamento turístico com foco nos
aspectos socioculturais; e a partir disso elaborar diretrizes que funcionem
efetivamente no desenvolvimento turístico cultural local.
A ideia de desenvolvimento que está atrelada ao turismo, deve-se ao fato de
ser uma atividade que tem promovido o crescimento econômico podendo propiciar a
melhoria de áreas sociais, culturais e até mesmo ambientais, se bem planejada e
monitorada (BRASIL, 2013).
Metodologicamente, esta é uma pesquisa essencialmente qualitativa e de
cunho exploratório, pois busca encontrar na cidade de Laguna elementos de cunho
sociocultural que justifiquem o desenvolvimento do turismo local, podendo ainda ser
de caráter descritivo e exploratório, por tratar minuciosamente de informações
relacionados aos aspectos culturais da localidade.
Para que o turismo atue como atividade promotora de desenvolvimento
socioeconômico do local onde se desenvolve, maximizando os impactos positivos e
minimizando negativos que a atividade pode acarretar sobre os destinos é necessário,
reconhecer os recursos de potencial interesse turístico, bem como a capacidade de
atrair e acomodar a demanda (CROUCH; RITCHIE, 2000).
271
Neste processo, os gestores do turismo devem refletir em longo prazo a
consecução da atividade turística no ambiente, o que permitirá identificar suas
potencialidades, bem como compreender suas debilidades, propiciando o correto
planejamento da atividade turística, possibilitando assim o crescimento do destino
turístico a partir do emprego de suas vantagens competitivas.
Desta forma este estudo apresentou como breves resultados, a identificação
da multiplicidade de fatores condicionantes e propensos ao desenvolvimento de
atividades turísticas relacionadas a potencialidade dos aspectos socioculturais de
Laguna. Sendo assim o estudo permitiu o levantamento de diretrizes norteadoras para
o planejamento e desenvolvimento da atividade turística de cunho sociocultural.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo realizado meio o planejamento turístico, sobre a ótica dos fluxos
socioculturais de Laguna/SC, é uma pesquisa essencialmente qualitativa por buscar
reconhecer as possibilidades do desenvolvimento do turismo voltado para aspectos
culturais da destinação. Possui cunho exploratório e essencialmente descritivo
(DENCKER, 2004), por investigar em documentos os aspectos socioculturais locais.
O objeto deste estudo a cidade de Laguna e seus fluxos socioculturais está
localizado no sul do estado de Santa Catarina, cuja estimativa populacional para o
ano de 2014, é de aproximadamente 44.316 mil habitantes (IBGE, 2010), recebendo
em média 250 mil turistas no final do ano atraídos pelo turismo de sol e mar, fundado
no ano de 1676 o município de Laguna - SC.
O reconhecimento das possibilidades para o desenvolvimento do turismo
voltado para aspectos culturais da destinação, sobre a dinâmica dos fluxos
socioculturais de Laguna. Foi embasada teoricamente, pela Abordagem Sistêmica no
Processo de Planejamento e Gestão de Territórios Urbanos Turísticosproposto por
Anjos, Anjos e Oliveira (2013), que analisa, a inferência de elementos fixos e fluxos
no destino. Porém, este estudo tem foco nos fluxos socioculturais, são aqueles que
272
segundo Santos (2004, 2008), além disso as discussões de Cooper et al. (2007),
também contribuíram para fundamentação deste estudo.
Como métodos o estudo utilizou da pesquisa documental e bibliográfica
definidas por Dencker (2004) em etapa inicial para obtenção de dados oficiais do
município e levantamento de dados, visita in loco realizada no dia 09 de junho do ano
de 2015, com o objetivo de observação de elementos que compõem o acervo histórico
e cultural da cidade. A visita foi conduzida por um arquiteto membro do IPHAN,
conduzida meio ao centro histórico de Laguna/SC, para isso utilizou-se da técnica de
observação pesquisador. Assim, para finalizar a análise foram estabelecidos critérios
para sugerir planejamento para o direcionamento na condução da atividade turística
local, fundamentados a partir de planos e projetos de planejamento turístico.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 TURISMO E ASPECTOS SOCIOCULTURAIS: COMO O PLANEJAMENTO
PODE AUXILIAR NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO
A Organização Mundial do Turismo – OMT (2001, p. 38) define que o turismo
abarca todas as atividades realizadas pelas pessoas durante uma viagem,
considerando todos os gastos ocorridos no processo de deslocamento e permanência
no destino escolhido, contanto que esta viagem ocorra por um período consecutivo
inferior a um ano, cujo objetivo de deslocamento seja motivado pelo lazer, negócios e
outros. Já o turismo cultural é aquele que em que “ a atividade turística que envolve a
realização de viagens, visitas e estadia em lugares geográficos, visando o
conhecimento do passado histórico, artístico, cultural e antropológico que fazem parte
do patrimônio cultural da humanidade” (FUNIBER, 2002, p. 333).
Buscando uma melhor aproximação do turismo com aspectos socioculturais de
um destino turístico, está a compreensão do patrimônio histórico e cultural e eventos
culturais, condicionados como diretrizes para o desenvolvimento do Turismo Cultural,
conforme o Ministério do Turismo (2010):
273
São bens culturais de valor histórico, artístico, científico, simbólico, passíveis
de se tornarem atrações turísticas: arquivos, edificações, conjuntos
urbanísticos, sítios arqueológicos, ruínas, museus e outros espaços
destinados à apresentação ou contemplação de bens materiais e imateriais,
manifestações como música, gastronomia, artes visuais e cênicas, festas e
celebrações. Os eventos culturais englobam as manifestações temporárias,
enquadradas ou não na definição de patrimônio, incluindo-se nessa categoria
os eventos gastronômicos, religiosos, musicais, de dança, de teatro, de
cinema, exposições de arte, de artesanato e outros. (BRASIL, 2010, p.16)
Frente à multiplicidade de elementos que estão envolvidos na consecução da
atividade turística pensada sobre o viés da cultura e suas múltiplas vertentes, o
planejamento é uma ferramenta primordial na busca da sinergia do complexo sistema
turístico, que exige (PETROCCHI, 2002). Neste sentido, o que realmente importa no
planejamento é sua execução integrada a “processos de mobilização e participação
comunitária, promovendo inclusão social”, processo este, capaz de incitar os
residentes quanto a cultura e o patrimônio do local onde vivem, o que acaba
repercutindo na recuperação e preservação de elementos culturais, tão valorizados
para os turistas (BRASIL, 2010, p. 83).
Um exemplo em relação ao planejamento em prol do turismo cultural, está na
preservação do patrimônio cultural aliado ao turismo, que no Reino Unido é
assegurado por dois fatores, o primeiro está na necessidade do patrimônio
arquitetônico auto sustentar-se, no sentido suportar novos usos e funções dados por
empresas que farão ao papel de conservar e preservar o patrimônio. Outro elemento
está na importante contribuição que o turismo cultural desempenha na balança de
pagamentos e geração de emprego e renda (KÖHLER, 2013, p.247).
Assim o turismo cultural proporciona ao turista vivências e experiências com o
patrimônio histórico e cultural, e eventos do gênero (ICOMOS, 1976), gerando no
visitante a percepção do seu real sentido e valor, contribuindo para a preservação.
Sendo desenvolvido com elementos socioculturais do destino, que podem ser
trabalhados e transformados em produtos turísticos. Estes que são essenciais
conforme Buhalis (2000), uma vez que considera os produtos turísticos são
274
amálgamas dos destinos turísticos, por serem capazes de proporcionar de forma
integrada a experiência em seu consumo, acrescenta ainda que, a sobrevivência do
turismo em um destino se dá entre a relação satisfatória do turista com o residente,
relação esta de suma importância para dos aspectos socioculturais para o destino
turístico.
O turismo é uma atividade que em essência é composto por um conjunto de
infraestrutura e diversificados recursos físicos, que quando utilizados para seu
desenvolvimento impõe um significativo impacto sobre o destino em que se manifesta
(COOPER ET AL, 2011). O que atribui ao planejamento fundamental importância para
o desenvolvimento do turismo em qualquer local.
Sobre a ótica operacional da atividade turística Umbrelino e Amorim (2010, p. 49),
chamam a atenção para a necessidade de que o planejador compreenda o ambiente,
buscando a implementação de ações que abarquem o máximo de elementos do local
planejado, almejando com isso contribuir efetivamente para o desenvolvimento
turístico local assegurando a longo prazo, a competitividade e sustentabilidade do
destino planejado.
A OMT (2001, p. 177) acrescenta que o planejamento da atividade turística
exige o manuseio de informações diversificadas acerca dos recursos, infra estrutura
e equipamentos da localidade, buscando a contemplação de diretrizes do
planejamento turístico para todos os nichos encontrados no local planejado. Desta
forma, as ações implementadas atingirão a demanda de visitantes e turistas, bem
como a comunidade local como forma de lazer, viabilizando assim o investimento no
turismo a longo prazo.
Segundo Ruschmann (2003, p.86) diversos autores apontam para a
necessidade do planejamento turístico para locais como Laguna, um local onde o
turismo ainda não se desenvolveu de maneira satisfatória, apesar dos recursos
disponíveis serem consideráveis. Desta forma, atento aos critérios de sustentabilidade
de um destino, faz-se necessário a viabilização de outros tipos de turismo e de
incentivos aos empresários, como o caso do turismo advindo dos fatores sócio
culturais Lagunense. Assim, o processo que envolve o planejamento turístico,
275
contendo as Variáveis do processo de planejamento turístico é apresentado de
maneira simplificada por Umbelino e Amorim (2010, p.45): Composto pela dimensão
técnica (Equipe técnica com formação acadêmica; Elaboração de planos e projetos
de desenvolvimento turístico; Planejamento a longo prazo; Levantamento e
compilação de informações da localidade e do entorno- Inventário; Criação de dados
estatísticos para dar suporte a investigação científica e tomada de decisão;
Envolvimento das instituições e empresas no processo de decisão; Análise sistêmica
do destino; e Promoção e gestão do destino), e a dimensão política (Seleção do
modelo de desenvolvimento a ser seguido; Leis e normas ligadas ao turismo;
Prioridade do turismo na agenda governamental).
São diversas as formas de se processar o planejamento, o planejamento é uma
atividade que exige a articulação de diversos setores e profissionais, uma boa
organização e o controle, para que as atividades ocorram da melhor forma o possível
(RUSCHMANN, 2003, p.84).
Desta forma, Anjos, Anjos e Oliveira (2013), versam sobre a visão sistêmica
sobre a destinação turística, buscando nesta interpretação compreender para que se
possa administrar os desafios de gestão de processos econômicos, financeiras e
mercadológicos diretamente relacionados a atividade turística.
Figura 01: Sistema turístico.
Fonte: Anjos, 2004
276
Como norteamento teórico deste estudo está a leitura do sistema turístico
apresentados pelos autores, o qual divide o destino turístico em turistas e residentes
(grupo sócio territorial) e quanto a sua estrutura, a subdivisão conta com quatro
elementos materializados em dois grupos (Fixos e fluxos), como figura (1).
Correspondem aos aspectos socioculturais, características que constituem e
caracterizam comunidades, seus costumes e hábitos que interferem na consecução
da atividade turística por serem produtos complementares do turismo local. Ainda na
análise dos fluxos socioculturais estão os fatores inerentes a questões político
institucionais que no caso do sistema turístico, relaciona-se com a forma político
administrativa em que o turismo está organizado no local (ANJOS, ANJOS E
OLIVEIRA, 2013).
Assim, para compreensão de como efetivamente o planejamento turístico se
materializa na gestão dos destinos, a seguir apresentaremos modelos de estratégias
de gestão de destinos turísticos que contemplam diretrizes de planejamento turístico
direcionados aos fluxos de destinações turísticas consolidadas.
3.2 DIRETRIZES NORTEADORAS DO TURISMO PARA DESTINOS PLANEJADOS
Traçar diretrizes de turismo para um destino, somente é possível através de
uma profunda análise consiste no planejamento da atividade turística, e para que um
destino turístico consiga se consolidar em um mercado cada vez mais competitivo,
faz-se necessário que os gestores sejam capazes de conduzir a atividade turística por
meio de ações que busquem aperfeiçoar sua estratégia de organização, para gerar
produtos que de fato sejam atrativos a demanda de visitantes e turistas (CROUCH;
RITCHIE, 2000).
Para que um produto turístico alcance as dimensões necessárias de se tornar
competitivo, alguns dos critérios fundamentais a serem seguidos para o
desenvolvimento: ser autêntico e autóctone, capaz de refletir as características
singulares existentes no destino; contar com o apoio da comunidade local, ou seja dos
residentes; respeitar os elementos naturais e socioculturais, sem propiciar danos;
diferenciar-se dos competidores, evitando ao máximo copiar ou imitar iniciativas;
277
alcançar uma amplitude que seja suficiente para que sua contribuição econômica seja
significativa, para que os recursos gerados permaneçam no local (OMT, 2013, s.p.).
Condições estas que fazem de Laguna e seus aspectos socioculturais um importante
elemento a ser trabalhado em prol do desenvolvimento do turismo neste segmento.
Analisando o Uruguai enquanto destino turístico em termos de organização da
atividade turística, está o “Plan Nacional de Turismo Sostenible 2009-2020”,
desenvolvido pelo Ministério do Turismo e Desporte, está fundamentado sobre três
diretrizes, com três variáveis cada, conforme na figura a seguir:
Figura 1: Processo de elaboração do planejamento turístico do Uruguai
Fonte: Uruguay, 2010.
Este modelo amplia as discussões apresentadas por UMBELINO e AMORIM
(2010), pois acrescenta a comunidade local, no processo de planejamento do turismo
através das jornadas de sensibilização. Este fator neste estudo é fundamental, uma
vez que o turismo cultural não pode acontecer sem o mote central que é a
comunidade, seus hábitos e costumes que trazem vida a uma destinação turística.
De forma geral, o processo de planejamento e estudo de diretrizes para o
desenvolvimento do turismo perpassa pelo processo de gestão do destino e dos
recursos humanos que o compõe. Como exemplo, o modelo de gestão do sistema
turístico espanhol que está sobre responsabilidade do poder privado e o poder público,
278
que administra com competências fragmentadas em diferentes níveis administrativos
e de áreas de gestão (ESPANHA, 2007, p.24).
O desenvolvimento do turismo cultural e de cidade na Espanha são conduzidos
pelas seguintes diretrizes: “Melhorar os processos de gestão dos destinos e
articulação dos distintos recursos que configuram a oferta cultural”; “Transmitir um
valor diferencial dos destinos culturais espanhóis em relação a outros destinos
culturais”; “Potencializar os destinos culturais e de cidade melhorando seu tempo de
acessibilidade e comodidade” (ESPANHA, 2007, p. 31)
Trazendo a visão do planejamento para uma situação mais próxima a da cidade
de Laguna está o exemplo do planejamento turístico do bairro histórico de Colonia del
Sacramento no Uruguai. Este tem por objetivo especificar os critérios de atuação,
definição de projetos, orientar e definir etapas, e determinar recursos para as ações
(MEC-IC, 2012). O projeto tem cinco programas que abarcam diversos fatores que
compõe o destino, sendo eles: “Programa de manejo ambiental e paisagístico do
patrimônio”; “Programa de planejamento urbano e patrimonial”; “Programa de difusão
e qualificação territorial das atividades turísticas”; “Programa de conhecimento e
divulgação”, “Programa de cultura, coesão social e participação”. (MEC-IC, 2012,
p.18).
4 DISCUSSÃO
4.1 FLUXOS SOCIOCULTURAIS DE LAGUNA
Reconhecendo as possibilidades do desenvolvimento do turismo voltado para
aspectos culturais da destinação, nela dinâmica dos fluxos socioculturais de Laguna-
SC, Brasil. Os aspectos culturais são advindos da cultura dos colonizadores, os
elementos culturais como o folclore, o artesanato e as festas típicas da cidade de
Laguna, estão relacionados com a navegação e a pesca, representados pelo típico
comércio de peixe seco. Na agricultura o cultivo do trigo, feijão, linho, açúcar, além
279
dos engenhos de cana e farinha movidos com o auxílio de animais, cultura herdada
dos colonizadores portugueses (EPAGRI, 2005). A vivência destas práticas culturais
pode ser percebida ao se visitar a cidade, uma riqueza cultural que pode ser um
elemento impulsionador do turismo na região. Sobre a ótica de características
culturais marcantes presentes em Laguna, deve-se salientar que, as identidades
culturais regionais expressam valores específicos de uma cultura mais ampla, encerra
qualitativos como língua comum, costumes, tradições, religiosidade, imaginário, o
saber ser e o saber fazer de um povo (ALMEIDA, et .al 2014, p. 45).
A fundação de Laguna foi datada no ano de 1676, quando em um primeiro
momento foi nomeado de Santo Antônio dos Anjos de Laguna. A população cresceu
com o avanço da pecuária no sul do país, com a imigração proveniente da Ilha de
Santa Catarina atual Florianópolis, e posteriormente com a chegada de portugueses
e paulistas (Plano Diretor Municipal Laguna, 2010).
Fato marcante para a construção da cultura e ideais do povo lagunense, foi a
invasão das tropas revolucionarias durante a Guerra dos Farrapos, que ocorreu no
município em julho de 1839, que culminou na formação da Republica Catarinense,
anteriormente nomeada Republica Juliana. É neste contexto que se destaca a
presença de Ana Maria de Jesus Ribeiro (Anita), nascida em 1821 em Morrinhos,
distrito de Laguna. Anita aos 18 anos conheceu José Garibaldi que tomou Laguna com
as tropas farroupilhas em julho de 1839, fundando a República Juliana dos 100 dias
(EPAGRI, 2005).
Laguna é uma cidade que está localizada na região sul do estado de Santa
Catarina, sua estimativa populacional para o ano de 2014, é de aproximadamente
44.316 (IBGE, 2010), recebendo em média 250mil turistas no final do ano atraídos
pelo turismo de sol e mar. No que se refere a sua população, segundo o IBGE (2010)
o município de Laguna possuía cerca de 51.562 pessoas. Neste sentido a densidade
demográfica do município é de aproximadamente 116,77 habitantes por quilometro
quadrado. Quanto à estimativa populacional para o ano de 2014, o instituto prevê
redução populacional e aponta estimativa de que aproximadamente 44.316 pessoas
que estejam residindo em Laguna. No que se refere ao rendimento domiciliar per
280
capita nominal, o valor médio calculado pelo IBGE(2010) é de R$ 620,00.
A dinâmica demográfica do município foi se modificando ao longo dos anos. Na
década de 1970 a população encontrava-se equilibradamente distribuída entre área
urbana e rural, até que no ano de 2010 cerca de 78,9% da população tem domicílio
na área urbana, enquanto 21,2% vive na área rural. Quanto ao gênero, a população
apresenta-se bem equilibrada, sendo a maioria do sexo feminino. São 49,1% do sexo
masculino e 50,1% do sexo feminino.
O IBGE (2010) identificou cerca de 17.229 unidades domiciliares no município
de Laguna, das quais cerca de 56,5% apresentam saneamento básico adequado, 41,5%
saneamento semi-adequado, e apenas 2% dos domicílios saneamento básico
inadequado. A maioria dos domicílios com saneamento semi-adequado e inadequado
estão na área rural, enquanto que o saneamento básico adequado em sua maioria se
apresenta na área urbana.
Em relação a escolaridade, o IBGE (2010) apresentou de forma precisa que
para o Ensino Fundamental completo e Médio incompleto, existem 8.179 pessoas.
Com Ensino Médio completo e superior incompleto 11.435 pessoas, e para o Ensino
Superior completo existe um total de 2.833 pessoas, apresentado um total de 22.447
para o universo amostral. Quanto a taxa de analfabetismo, o IBGE (2010) declara que
cerca de 4.450 pessoas não sabem ler e escrever, no qual a faixa etária com maior
número de pessoas analfabetas é de até 15 anos de idade com cerca de 2.270
pessoas, e a faixa etária de 60 anos ou mais, com cerca de 1.175 pessoas.
Quanto ao lazer da comunidade lagunense, o mesmo está em parte
relacionado com as riquezas naturais e com a cultura local, sobretudo a pesca.
Podemos citar inicialmente como parte do lazer a possibilidade de apreciar o pôr do
sol e à noite os reflexos das luzes sobre a Lagoa de Santo Antônio. Também estão
relacionadas as atividades de divertimento realizadas em torno da praia do Gravatá e
do Mar Grosso que atrai moradores e turistas pela beleza e o espetáculo natural dos
botos. Porém uma referência nacional do lazer local é o carnaval que está contido
dentro dos costumes da comunidade lagunense e que atrai turistas nacionais e
internacionais.
281
No que se refere aos aspectos político administrativos da cidade de Laguna,
especificamente à estrutura organizacional do turismo, esta fica designada aos
cuidados da Secretaria Municipal de Turismo e Lazer, que foi criada no ano de 2006.
Além desta, também colaboram para o desenvolvimento do turismo local Guias de
Turismo, o Conselho Municipal de Turismo - CONTUR, a Associação de Hotéis,
Restaurantes e Bares, que segundo o plano diretor municipal foram reativados no ano
de 2008.
No ano de 2007, a prefeitura municipal em parceria com o SEBRAE,
elaboraram o Planejamento Turístico e Estratégico de Laguna, o qual buscou
apresentar ao poder público local, a avaliação do cenário naquele momento, o qual
constatou a necessidade da cidade em despertar para o turismo histórico. Além disso,
como diagnostico destacou-se: a acessibilidade, a atratividade, a distância, o público
alvo, a representatividade, a sazonalidade, a sinalização, a singularidade e a temática
regional. Os turistas que visitam a cidade de laguna são em sua maioria de origem
nacional, cuja origem destes é do estado vizinho Rio Grande do Sul e de municípios
do próprio estado de Santa Catarina (SANTUR, 2007).
A Secretaria Municipal de Turismo e Lazer é coordenada pelo secretário interino
Leonardo Pascoal, a qual possui como objetivos: Executar a política de
desenvolvimento do turismo; Divulgar as potencialidades turísticas do Município;
Promover, turisticamente, as micros e pequenas empresas, mediante apoio logístico;
Elaborar o calendário turístico do Município, procurando adequá-lo ao da
região;Fortalecer o Conselho Municipal do Turismo como órgão definidor da política e
das ações dinamizadoras do setor (Prefeitura Municipal de Laguna, 2015).
Para isso a Secretaria está dividida em três departamentos: Primeiramente
Departamento de Planejamento e Organização do Turismo, composto pela
Coordenadoria de Planejamento e Projetos Turísticos; O segundo Departamento de
Integração Turística, composto pelas Coordenadoria de Divulgação e Marketing
Turístico e Coordenadoria de Receptivo e Orientações Turísticas; e pelo
Departamento de Promoção de Eventos.
Como foi possível observar são três departamentos que tratam de conduzir a
282
consecução da atividade turística na cidade de Laguna, são eles: Planejamento e
Organização do Turismo, Integração Turística e Promoção de Eventos. Entretanto, até
então a vocação turística do município de Laguna está direcionada no segmento sol
e mar, mesmo possuindo um rico patrimônio histórico edificado e uma rica cultura
imaterial advinda da colonização portuguesa, o que aponta para a necessidade do
planejamento turístico sobre o viés sociocultural da cidade.
Para caracterizar os fluxos socioculturais da demanda turística de Laguna,
foram utilizados os dados disponibilizados pela Federação do Comércio – Fecomercio,
que realiza pesquisas do carnaval. Como se pode observar o carnaval enquanto
evento apresenta destaque, sendo um evento consolidado que possui dados de
demanda turística, no qual o público quanto ao gênero é equilibrado, a faixa etária
corresponde a 29% com 31 a 40 anos de idade, 21% de 41 a 50 anos, e 16% de 26 a
30 anos. A ocupação principal desta demanda é de assalariados, seguido de
autônomos, cujo estado civil de 44% são solteiros e 49% de casados ou em união
estável. A escolaridade dos turistas é de 37% com nível superior completo, 33% com
ensino médio e aproximadamente 15% com superior incompleto (FECOMERCIO,
2015).
Assim a realização da análise que busca o reconhecimento dos fluxos
socioculturais por parte do residente, pretende identificar os elementos que de fato
caracterizam a comunidade investigada para que assim, o sistema turístico seja
planejado com o embasamento e incorporação destes elementos. Com a mesma
equidade deve ser tratado o reconhecimento dos fluxos socioculturais da demanda
turística, pois nela serão diagnosticados as vantagens e desvantagens do destino,
permitindo com isso a identificação de ações a serem implementadas no planejamento,
seja na formatação de produtos turísticos ou na melhoria da infra estrutura,
trabalhando em prol da sustentabilidade do destino turístico.
4.2 PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ASPECTOS CULTURAIS DE LAGUNA-SC, BRASIL.
A percepção acerca do patrimônio histórico cultural de Laguna-SC, foi
283
elaborada inicialmente sobre a pesquisa dos aspectos históricos de cunho
Sociocultural de Laguna, estes que são datados desde a pré-história, tempos em que
a região que abrange Laguna era ocupada por índios Carijós da raça Tupi Guarani,
fato comprovado pela existência de sambaquis (cemitérios indígenas). Com o Tratado
de Tordesilhas por volta do século XVII a expansão Portuguesa intensificou a
ocupação da área. Fatores como a existência de um porto natural e uma faixa de terra
plana junto à lagoa, permitiu a edificação de uma vila onde hoje se encontra o centro
histórico de Laguna (EPAGRI, 2005).
Neste contexto os aspectos socioculturais são elementos que remetem
características da comunidade, e na área do turismo e da hospitalidade são
fundamentais para o desenvolvimento do turismo cultural. Buscando atender o
objetivo de reconhecer o patrimônio histórico cultural de Laguna, após pesquisa
bibliográfica e documental, foi realizada uma visita técnica conduzida por um arquiteto
do IPHAN, permitindo a interpretação do patrimônio, buscando com isso o
enquadramento da pesquisa teórica com a prática, para posterior estabelecimento de
diretrizes que possam contribuir para o desenvolvimento do turismo cultural em
Laguna, a partir da situação real encontrada na localidade.
A visita teve como foco a visualização do patrimônio edificado de Laguna, que
abrangeu três pontos principais: Fonte da Carioca; Largo da Igreja Matriz; Casa de
Câmara e Cadeia, edificações de relevância histórica localizadas no centro da cidade.
Este roteiro possibilitou visualizar a heterogeneidade nas características de
construção do patrimônio edificado de Laguna. O centro histórico possui 750 imóveis
tombados pelo IPHAN, estes que possuem os mais variados estilos de construção,
em sua maioria casas térreas de estilo colonial, passando pelo ecletismo do século
XIX, art déco, até o modernismo da década de 40 e 50. Esta paisagem remonta a
perspectiva da evolução das edificações que formam o patrimônio (IPHAN, 2015).
O tombamento realizado pelo IPHAN foi ordenado sobre o contexto geográfico,
que delimitou a área de tombamento, desde o ano de 1985. Pode-se observar que
alguns imóveis que compõem o patrimônio lagunense, estão abandonados ou
sofreram alterações em suas fachadas. Um bom exemplo de ação em prol do
284
patrimônio foi a intervenção de restauração do Cine Teatro Mussi, de posse do IPHAN
e administrado pelo SESC. Porém, essa dinâmica será alterada com as obras pelo
programa PAC Cidades Históricas, no qual Laguna foi contemplada para a
requalificação urbanística do centro histórico (IPHAN, 2015).
Quanto ao patrimônio e sua relação com o turismo, uma fala do membro do
IPHAN traduz a necessidade do planejamento para o turismo cultural: “O turismo
pode virar atividade predatória nas cidades históricas se realizado de fora para dentro,
aqui o turismo tem que ser pensado de dentro para fora. Ainda culturalmente, fica
evidente como o elemento água permeia sobre o cotidiano do lagunense, pela simples
contemplação da paisagem de beleza natural ou pela pesca, repleta de singularidade
no modo de pescar com a ajuda de botos, uma atividade singular e tradicional da
comunidade verificada em poucos lugares do mundo. Outro elemento tradicional é
Festa de Santo Antônio, no qual diferentes gerações de lagunenses trabalham para a
realização da comemoração religiosa típica. Neste contexto, deve ser pensado de que
forma desenvolver o turismo favorecendo a permanência das características da
comunidade e seu patrimônio histórico no processo turístico.
4.3 DIRETRIZES PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO PLANEJADO
SOBRE OS ASPECTOS SOCIOCULTURAIS DE LAGUNA - SC, BRASIL
Para que fosse possível a elaboração de diretrizes para o desenvolvimento
do turismo voltado para aspectos culturais da destinação, destacam-se as
diretrizes de planejamento turístico com foco nos aspectos socioculturais, conforme o
exemplo do bairro histórico e turístico de Colônia do Sacramento no país vizinho
Uruguai, e o programa PAC Cidades Históricas. Inicialmente, o “Programa de
cultura, coesão social e participação” do Planejamento Turístico do bairro histórico de
Colônia do Sacramento/Uruguai, este que está fundamentado sobre a necessidade
de buscar respostas sobre a necessidade de oferecer alternativas para o uso social
do patrimônio, permitindo a construção de espaços de intervenção e difusão dos
valores próprios da comunidade, adquirindo na relação com o patrimônio histórico e
285
cultural, o estabelecimento da responsabilidade coletiva sobre a conservação dos
bens, em prol da qualidade no ambiente, e com participação democrática (MEC-IC,
2012, p.18). Este programa está voltado para a sustentabilidade do turismo no
ambiente onde a atividade se manifesta.
No Brasil o PAC Cidades Históricas elabora planos de ação para municípios
com sítios e conjuntos urbanos tombados em nível federal, com bens registrados
como patrimônio imaterial. As ações propostas viabilizaram o planejamento integrado
sobre as esferas do patrimônio cultural, compartilhado entre municípios, estados,
união e sociedade (IPHAN, 2014). As diretrizes do PAC Cidades Históricas visam entre
elas considerar o território municipal; efetuar leitura global da cidade, considerando
seus problemas e desafios na preservação; o patrimônio cultural deve ser o eixo das
diretrizes e ações propostas; garantir participação social e comprometimento dos
atores que atuam no território; considerar, dialogar e propor soluções capazes de
integrar políticas públicas; definir prioridades, metas, agentes, responsáveis e prazos
de forma objetiva.
Desta forma, foi possível verificar formas diferentes de como destinos turísticos
em esferas local e nacional, atuam em sua organização para traçar diretrizes capazes
de conduzir a atividade turística. Após feita revisão teórica e prática acerca do
planejamento turístico, a seguir, será apresentada a proposta de diretrizes para o
desenvolvimento do turismo cultural na cidade de Laguna.
Após o levantamento e diagnóstico dos fluxos socioculturais de Laguna, se
justifica a elaboração de diretrizes para o desenvolvimento do turismo cultural na
localidade, a partir da implantação de um plano que conduza o planejamento da
atividade. Com isso, se busca que o turismo atue como elemento alavancador da
economia local em longo prazo, desenvolvido de maneira planejada e sustentável,
sendo capaz de capaz de trazer muitos benefícios ao local, conforme destacado por
(UMBRELINO, AMORIN, 2010).
A partir da pesquisa documental em torno dos traços socioculturais da cidade
de Laguna frente a sua configuração territorial, o modelo de planejamento adequado
para o desenvolvimento do turismo cultural seria um modelo turístico sustentável,
286
cujos pilares devem estar focados no ambiente natural e cultural, buscando assim a
interação sinérgica de todos os elementos envolvidos direta ou indiretamente no
turismo.
Com a atuação do PAC Cidades Históricas, Laguna receberá aproximadamente
vinte milhões de reais em investimentos para requalificação urbanística do centro
histórico da cidade. Amparado pelo investimento no patrimônio cultural feito pelo PAC,
o foco no estabelecimento das diretrizes se deu sobre a premissa sociocultural da
cidade. Para isso, as diretrizes foram embasadas no planejamento turístico do Uruguai,
da Espanha e da cidade de Colônia de Sacramento, pois estes apresentaram
diretrizes que se encaixam na proposta para Laguna.
Desta forma, este estudo vem a contribuir para a compreensão do potencial
sociocultural que Laguna apresenta, o que tornou viável a elaboração cinco diretrizes
condutoras para o desenvolvimento do turismo cultural. A seguir, serão apresentadas
as diretrizes: Integração e coesão social no turismo que visa Aproximar as
comunidades locais do patrimônio histórico cultural e da atividade turística; diretriz
Ordenamento territorial e uso do solo, que visa Monitorar o ordenamento territorial e
o uso do solo de forma global, considerando problemas e desafios; diretriz de
Qualificação dos produtos e serviços de Laguna, que visa Inovar para qualificar os
produtos e serviços turísticos; diretriz Articulação de políticas no Turismo, que visa
Articular políticas entre o setor público e o setor privado em prol do turismo; e diretriz
Mobilidade urbana e turística, que visa Assegurar a mobilidade urbana dos residentes
e da demanda turística. São as propostas traçadas mediante revisão bibliográfica,
documental e visita técnica.
O foco das diretrizes está fundamentado sobre os aspectos socioculturais e sua
relação com o ambiente, conforme proposto por Anjos, Anjos e Oliveira (2013), Santos
(200 COOPER et. al (2007) devem ser implantadas de forma gradual a curto, médio
e longo prazo, e monitoradas constantemente, conduzindo estrategicamente o destino
sobre as premissas da sustentabilidade ambiental, sociocultural e econômica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
287
O objetivo deste estudo foi reconhecer as possibilidades do desenvolvimento
do turismo voltado para aspectos culturais da destinação: dinâmica dos fluxos
socioculturais de Laguna, que após densa revisão documental, uma visita técnica in
loco conduzida por representante do IPHAN e revisão bibliográfica, foi possível
verificar que a cidade possui um grande potencial turístico inexplorado no segmento
cultural. Sua viabilidade pode ser estabelecida a partir de diretrizes estabelecidas pelo
planejamento do destino fundamentado sobre o contexto sociocultural e o patrimônio
local, valorização dos aspectos socioculturais.
Foi possível verificar que o patrimônio histórico cultural de Laguna, foi
constituído em sua maioria a partir da colonização portuguesa, o que permitiu a
construção do centro da cidade as margens de uma laguna que permite o acesso ao
mar, e que hoje denota as diversas fases históricas da cidade. Além disso, a cultura
local expressa ainda hoje traços portugueses, seja pela maneira de falar, pela
gastronomia típica, suas crenças e hábitos que insistem em permanecer sobre a
dinâmica sociocultural da cidade de Laguna, manifestado cotidianamente pela
população local.
A realização do planejamento em longo prazo se torna viável e deve articular o
desenvolvimento do turismo cultural a partir da sensibilização para conscientização
da comunidade quanto ao patrimônio e as riquezas socioculturais permeada por
características territoriais, tornando o planejamento sustentável. Sendo assim, após
identificada a viabilidade para o segmento do turismo cultural em Laguna, foram
elaboradas as seguintes diretrizes para seu planejamento: Integração e coesão social
no turismo; Ordenamento territorial e uso do solo; Qualificação dos produtos e
serviços turísticos de Laguna; Articulação de políticas no Turismo; e Mobilidade
urbana e turística.
Como limitações, estão à falta de dados disponibilizados sobre a demanda
turística de Laguna para melhor adequação na elaboração das diretrizes embasadas
nos fluxos socioculturais, e o tempo limitado para reconhecer os processos
administrativos municipais sobre o viés da gestão do turismo e sua contribuição para
288
a comunidade. Assim, em pesquisas futuras recomenda-se maior inserção do
pesquisador no local pesquisado, em prol de uma melhor observação da cultura local
e suas manifestações, a fim de vivenciar a cultura e sua influência no cotidiano do
lagunense. Desta maneira, recomendamos, o aprofundamento de estudos acerca do
turismo cultural e sua demanda turística, sobre a perspectiva do processo de
planejamento do turismo em territórios dotados de acervos históricos culturais, como
é o caso de Laguna.
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292
MARCAS TURÍSTICAS: UM ENSAIO TEÓRICO ENTRE LITERATURA E OS
ARTIGOS CIENTÍFICOS
PEREIRA, Lucimari Acosta52; KRAUS, Camila Belli 53; BENETTI, Antônio Carlos54
FLORES, Luiz Carlos Da Silva55
Resumo: Frequentemente no cenário turístico a importância da marca e a mensagem
que a mesma visa passar ou transmitir através de promoções vem tomando grandes
dimensões, nesse sentido, autores mais clássicos abordam como se faz importante a
52Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande- Furg, Mestranda pelo Programa de pós-graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí- Univali. Bolsista [email protected] [email protected]. 53Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Regional de Blumenau- FURB, Especialista em Administração e Marketing pelo Grupo Universitário Internacional – UNINTER, Mestranda pelo Programa de pós-graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí- Univali. Bolsista CAPES. 54Bacharel em Gastronomia pela Universidade do Vale do Itajaí – Univali. Possui Pós-graduação em EAD em Docência no Ensino Superior, na Unicesumar / PR. Mestrando pelo Programa de em Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí-Univali. [email protected] 55Pós-doutor pela Universidade do Algarve (Portugal), na área do Turismo, Doutor em Engenharia de Produção e Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Administrador formado pela - UFSC, professor-pesquisador do Programa de Pós-graduação em nível de Mestrado e Doutorado em Turismo.
293
marca no cenário turístico em contrapartida e complementando as teorias
apresentadas que os artigos científicos abordam através de estudos mais recentes de
como é feita a utilização das marcas, como elas se fazem importantes na prática, entre
outras abordagens. Para consolidar a proposta deste ensaio fez-se a utilização de
revisão bibliográfica e pesquisa em plataformas conceituadas, como EBSCO, Scielo
e Publicações em turismo a fim de levantar artigos que abordassem a relação da
marca com o turismo, e de que forma está sendo feita sua utilização.
Palavras-chave: Turismo; Marcas Turísticas; Imagem de Destino.
1 INTRODUÇÃO
O turismo é uma experiência de consumo, o mesmo tem a capacidade de
designar faces do comportamento do consumidor que vem relacionado do
multissensorial, da fantasia onde motiva aspectos da experiência. Nesta perspectiva
a marca destino é uma ferramenta importante dentro do contexto do marketing de
destinos turísticos, onde a mesma oferece às organizações uma forma de se
diferenciar, o que se torna uma estratégia competitiva significante, pois tem como
finalidade construir uma marca positiva com ligações emocionais que interferem na
experiência percebida pelo turista. (HIRSCHMAN; HOLBROOK, 1982; KOZAK e
KOZAK, 2016, AAKER,2007).
O presente trabalho visa demonstrar através do levantamento bibliográfico os
conceitos de Marca Turística e sua importância para o turismo. Estudos científicos
apontam a importância que uma marca tem para a divulgação, promoção e formação
de uma identidade turística que será vendida para o consumidor final, o turista, o que
justifica a importância do presente estudo, além de gerar contribuições cientificas e
acadêmicas na área do turismo focalizando no marketing de destino através da marca.
Neste sentido, as marcas são um elemento da comunicação, com ela se pode
reconhecer e difundir o lugar, assim como há uma impossibilidade de patentear um
294
país, região ou cidade a marca enquanto registrada compõe um elemento com poder
de sustentar a exclusividade de mercado, a marca identifica um produto, uma empresa
ou um lugar e está relacionada com o posicionamento competitivo e o reconhecimento
das pessoas ao conteúdo da mesma. (CHIAS,2007).
O conteúdo presente em livros aponta sobre como se faz importante a
utilização de uma marca, já os artigos científicos em estudos mais recentes
demonstram na prática como uma marca é utilizada, e de que formas a mesma faz a
diferença consolidando a imagem de um destino.
Desta maneira, este ensaio teórico tem por finalidade demonstrar as
definições e conceitos abordados pela literatura e pelos artigos científicos sobre a
importância da marca e seu papel no turismo, fazendo assim, uma discussão teórica
com o que vem se falando sobre o referido tema nos livros e artigos científicos que
abordam o assunto. Para tanto a metodologia utilizada foi de pesquisa bibliográfica
em fontes secundarias abarcando artigos científicos e livros da área do marketing e
do turismo que tratam do assunto.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a consolidação do presente ensaio teórico foi utilizado método de
levantamento bibliográfico com pesquisa em fontes secundarias que são os artigos
científicos que abordam o assunto deste estudo. (GIL, 2014)
Foi feita analise bibliográfica nos artigos e livros que apresentavam conteúdo
com a temática que trazia marca e a gestão da mesma no contexto turístico, o estudo
se caracteriza neste sentido de caráter qualitativo exploratório. (VEAL, 2011).
O levantamento bibliográfico em fontes se deu através de algumas
bibliografias do turismo e do marketing, bem como em artigos científicos onde a
palavra- chaves utilizadas para pesquisa foi Marca e Marca Destino, as plataformas
utilizadas para o levantamento dos artigos científicos foram EBSCO, Pesquisa em
Turismo e Scielo.
295
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 MARCAS TURÍSTICAS
Marca é um produto ou serviço, de um fornecedor que agrega dimensões e se
diferencia de outros produtos ou serviços, desenvolvidos para satisfazer uma mesma
necessidade, estas diferenças podem ser funcionais, racionais e tangíveis quando são
relacionadas ao desempenho de um produto, e podem ser simbólicas, racionais ou
intangíveis quando se relacionam ao que a marca representa. (KOTLER; KELLER,
2006).
As mesmas compõem fenômenos históricos e sociais, baseando-se em
relações comerciais, neste sentido, uma marca precisa se posicionar em todas em
lugares e ocasiões, provando sua veracidade, identidade, ética, sua estética entre
outros fatores. (CHEVALIER; MAZZALOVO, 2007)
A concepção da marca é de cunho estratégico. Qualquer decisão tática,
somente irá gerar marcas sólidas e de valor se todas as ações convergirem para um
mesmo ponto de vista estratégico. Para que haja uma mudança radical na concepção
da marca e na percepção dos consumidores, é necessário bem mais do que apenas
poucos estímulos, descoordenados e de curta duração. Pois todas as marcas evoluem
progressivamente no tempo e lugar de forma que em dado momento, podemos
verificar que a estratégia da marca, afinal faz parte da concepção da própria marca
(MARTINS, 2006).
Uma marca é a oferta de uma fonte conhecida, ela propicia muitas
associações na mente das pessoas, essas associações formam a imagem da marca,
que muitas vezes são fruto dos esforços de uma empresa de consolidar uma marca
forte, com uma imagem de marca exclusiva, forte e favorável (KOTLER; KELLER,
2006)
A marca tem como uma de suas funções identificar o destino, lhe fornecer
uma identidade singular, fazendo a representação do produto e agregando valor ao
296
mesmo, esses fatores são fundamentais e contribuem para a escolha do destino pelo
turista potencial. (DIAS E CASSAR, 2005).
Desta maneira a imagem é resultado de todas as impressões recebidas pelos
consumidores sobre a marca, independente da fonte geradora, sendo que a opinião
formada terá um valor afetivo e sentimental que demonstrará atração ou repulsa e
poderá servir como referência no ato da compra. Dessa maneira cada indivíduo forma
sua própria imagem de um destino turístico, porque nesta formação inclui suas
memórias, ou seja, recordações, associações e a própria imaginação. (GALLARZA,
GIL; CALDERÓN 2001).
A marca de um destino turístico, se caracteriza por ser um nome, um símbolo,
um logotipo, uma palavra ou qualquer outro elemento gráfico, estes visam dar uma
identidade ao destino, diferenciando o mesmo de outros destinos competitivos,
transmitindo assim a promessa de uma experiência inesquecível que será associada
diretamente ao destino e seus elementos. (BENI, 2008).
As mesmas têm um papel importante e fundamental na divulgação e promoção
de um produto turístico, a marca não é apenas um logo, ela traz questões ligadas a
expectativa, aos sentimentos e identidade do destino onde se tem questões ligadas a
cultura e as singularidades do mesmo. (CHIAS, 2007).
Ao ser concebida, a marca deve ser estudada e elaborada detalhadamente,
uma vez que a imagem carrega componentes cognitivos e afetivos, os quais podem
causar emoções em níveis diferentes no consumidor. As marcas interagem com as
atitudes dos consumidores, no sentido de despertar sentimentos e emoções na
composição do repertório de compra é uma temática que desperta atenção. (VAZ,
1999).
Neste sentido “A força de uma marca está na sua coerência, que é
estabelecida entre ela e o produto. Uma boa marca dispensa informações
complementares, fala por si só e remete diretamente ao produto. É a sua porta-voz
em todas as situações”. (BRASIL, 2005, p.19).
Por tanto a imagem da marca turística deve ser trabalhada em cima dos
principais fatores de atratividade turística de uma localidade, da avaliação de sua
297
condição e potencialidade mercadológica, da definição das prioridades, da delimitação
dos segmentos de mercado pertinentes aos fatores de atratividade selecionados e do
seu público-alvo (VAZ, 1999).
O autor Ford (2005) aborda que o valor da marca está definido como a) o
desejo de uma marca baseia-se em todas as suas atitudes; e, b) resume-se a um
pequeno número de blocos de construção ou o resumo das avaliações.
O marketing estratégico de destinos turísticos é interpretado como um
princípio organizacional que envolve um arranjo das mensagens e experiências
associadas com o local, assegurando que as mesmas sejam tão distintas, atrativas,
memoráveis e recompensadoras quanto possível. (BAKER, 2007). As marcas bem-
sucedidas são as que permanecem na mente e coração do consumidor e se
diferenciam claramente, baseando-se numa promessa de valor que simplifica a
escolha ao consumidor. Isso deve ser considerado pelas entidades responsáveis pela
gestão da marca.
As organizações necessitam entender que a marca começa no seu interior
com uma necessária e cuidada análise da sua própria identidade, o planejamento da
marca representa ainda mais benefícios do que apenas construir uma marca forte e
coesa na mente do consumidor, dado que esse planejamento pode impelir a
organização ou destino a ter em consideração aspetos internos estratégicos como a
sua visão, objetivos, valores e posicionamento em relação aos principais
concorrentes.(HAHN, 2006).
Para Kapferer (2012), a marca, nada mais é do que um nome, que influencia
compradores e também recebe a influência de um conjunto de associações mentais
e relações afetivas que foram construídas a longo prazo entre distribuidores e clientes.
O autor sugere que o monitoramento das marcas seja feito para medir as fontes de
poder de marca; e que esse monitoramento seja contínuo, ano após ano, pois só
assim o progresso das marcas pode ser avaliado.
De acordo com Kotler e Armstrong, (2007), as marcas têm uma grande
importância pois, são mais do que nomes e símbolos, são elementos chaves e
298
representam percepções e sentimentos dos consumidores, uma marca forte forma
bases para o desenvolvimento sólido e lucrativo com o cliente.
Para Aaker (2007) uma região ou país pode desenvolver uma marca forte,
que desperte interesse, força e diferenciação para um mercado alvo, onde uma marca
país pode ser associada a outras marcas, esta cria mais do que credibilidade fornece
também vantagens emocionais e de auto expressão.
Neste sentindo a marca é um processo de busca do país pela construção de
uma identidade competitiva, a fim de posicionar o mesmo como um bom destino para
negócios, turismo e investimentos. O bom posicionamento do destino torna a marca
do mesmo com alto valor, o brand equity, estas são marcas com grande valor e efeito
diferenciador positivo que o conhecimento do nome da marca tem sobre o cliente ou
serviço (KOTLER; ARMSTRONG, 2007; IYORZA, 2004).
Jucá e Jucá (2009) discorrem sobre o termo Brand Equity, que teve suas
primeiras aparições na década de 80. Está relacionado ao fato de se obter com as
marcas um resultado diferente ao que se obteria caso o mesmo produto não fosse
identificado com determinada marca. Brand Equity tem a ver com a parcela do valor
de toda empresa que é atribuível apenas à sua marca.
O valor de marca é o resultado de tudo o que o consumidor vê, aprende, sente
e ouve sobre determinada marca, é o resultado de todas as experiências que o
consumidor teve no decorrer dos anos com a marca.
Os diversos tipos de marca geralmente selecionam dois componentes no
processo de construção do Brand Equity, que são considerados essenciais: a imagem
e a lembrança. A imagem refere-se as percepções refletidas pelas associações
guardadas na memória do consumidor. Enquanto a lembrança é definida como a força
da marca na memória do consumidor, refletida pela capacidade dos consumidores de
identificá-la em outras situações. A lembrança de marca é importante por ser um
passo fundamental para a construção de imagem de marca, pois sem conhecê-la, a
marca não significa nada para o consumidor.
De acordo com Rosa (2004, p. 43-54), existem quatro atributos que permitem
mensurar o valor da marca:
299
Quadro 1- Atributos da Marca
Lealdade à Marca É sempre mais caro conquistar um cliente novo do que conservar o atual,
especialmente quando este cliente é satisfeito.
Reconhecimento
do nome ou
Símbolo
Um nome e um logotipo que se tornam familiares são muito mais
chamativos do que uma marca desconhecida. O fator “reconhecimento” é
particularmente importante quando a marca já representa uma diferença
entre seus pares.
Qualidade
percebida
A qualidade percebida pelos clientes não se baseia necessariamente nas
especificações técnicas. Determinante na decisão de compra, a qualidade
percebida pode servir de base para uma linha de produtos mais cara ou
para uma extensão de marca. Também pode sustentar a posição desta
arquitetura do sistema no caso de haver marcas múltiplas.
Conjunto de
associações
A que ideias os consumidores associam a marca? O valor subjacente ao
nome da marca se baseia nas associações que lhe são especificas. Por
exemplo a associação da marca a um “contexto de uso”, como no caso da
Aspirina a prevenção a ataques cardíacos, gera um motivo de compra
coerente. A associação a estilo de vida pode modificar a experiência de
uso: o Jaguar transforma qualquer pessoa que o dirija em alguém diferente,
de estilo. Por esse motivo, uma marca bem posicionada é a melhor barreira
contra a concorrência.
Fonte: Rosa, 2004, adaptado pelos autores.
Os estudos demonstram a importância de se medir a eficácia da marca,
onde os mesmos abordam vários aspectos como a percepção, a associação da
marca, valor da marca, imagem da marca, demostrando assim através de estudos o
quanto a mensuração da mesma e de seu valor são importantes para as estratégias
competitivas de um destino. (KASHIF; SAMSI; SARIFUDDIN, 2015).
300
O marketing de lugares através de marcas tem grande importância, segundo
Kotler e Armstrong (2008, p.203):
O marketing de lugares implica em atividades realizadas para criar, manter
ou modificar atitudes e conduta em locais específicos. Cidades, estados,
regiões, inclusive países inteiros competem para atrair turistas, novos
residentes, convenções, escritório e fábricas de companhias. Texas anuncia:
“É como um país destino”; o estado de Nova York proclama: “Amo Nova
York”; e Michigan declara: “Grandes lagos, grandes momentos” para atrair
turistas;” Grandes lagos, grandes empregos” para atrair residentes, e
“Grandes lagos, grande localização” pra atrair grandes negócios.
De acordo com Correia e Britto (2011), quando ocorre o surgimento de uma
marca comum a uma determinada região, ocorre a geração de associações de
comunicação, nesta perspectiva o marketing tem como alvo central da sua atuação a
sustentabilidade do destino procurando evitar a erosão das fontes de diferenciação e
descobrindo novos meios de desenvolvimento.
A produção e consumo de serviços turísticos está na origem de um problema:
a sua intangibilidade. A marca vem responder especificamente a essa necessidade
de dar visibilidade e identificar o referido serviço. Sendo assim, a marca turística tem
como objetivo tornar rentável um conceito de imagem e de produto diferenciado que
atenda aos valores e desejos de um segmento de mercado. Portanto, eles são
intangíveis e vitais em um produto e de um valor irrefutável deste e agregado a isso
revelando os atributos fundamentais do produto. (MEMELSDORFF, 1998).
A imagem da marca de um destino é a imagem ou conceito que se forma e
que será referência para o consumidor na sua tomada de decisão, na escolha do
destino, essa imagem de referência afetará o consumidor, antes, durante e depois e
a imagem o afetará de forma irreversível de forma positiva ou negativa, pois haverá
um reforço da imagem que o consumidor já tinha do destino, e este levará essa visão
para seus familiares, amigos ou colegas de trabalho, (DIAS E CASSAR, 2005).
Uma marca turística é um estandarte da promoção no exterior, pode se
transformar na motivação para o conhecimento externo de um território, o que a torna
301
de grande importância, ela pode ser considerada um símbolo de identidade aceito
internacionalmente (CHIAS,2007).
Na visão de Brasil (2013, p.18):
A imagem, mensagem e marca do destino deve ser reconhecida, aprovada e
disseminada pela comunidade como um todo. É a consolidação da cidade
como produto turístico para os turistas com o aporte da comunidade local.
Sem isto podemos dizer que o inverso da hospitalidade se manifestará: a
inospitalidade. Vale também ressaltar que é incontestável a importância da
construção da imagem do destino para se estabelecer antes mesmo da
compra, ou melhor, no processo de decisão de escolha uma relação
hospitaleira entre o turista e o destino, mais do que isso, digamos que a
mensagem promovida pelo destino pode representar acolhimento entre
ambos. Definitivamente, a mensagem do destino deve reportar a troca de
experiências positivas e, consequentemente, desejadas!
A imagem positiva de um país é importante para a sua promoção, ainda há
um pequeno número de países que começaram a promover ativamente sua marca
para o mundo. A gestão da marca país vem se tornando cada vez mais importante
para compreender o que está em atividade, o turismo leva ao consumismo e ao
investimento direto do estrangeiro, e um posicionamento eficaz de marca nacional ou
internacional pode ajudar a alcançar cada um desses componentes. (ECHEVERRI;
ECHEVERRI; ROSKER, 2012).
De acordo com Churchil e Peter (2005), a utilização de uma marca faz com
que os consumidores diferenciem produtos, assim as marcas beneficiam tanto o
comprador quanto o vendedor, a imagem de uma marca que é positiva na mente dos
consumidores influencia no processo de tomada de decisão na hora da compra, esta
imagem positiva proporciona bons sentimentos que provem das associações positivas
com a marca.
A marca traz formação não apenas da imagem ou identidade, mas também
aponta a qualidade do destino em termos de valor, certifica o quando a qualidade,
onde a mesma produz benefícios promocionais e de imagem social, servindo como
elementos integradores do território. (MAQUIEIRA; CARBALLO; SOLÓRZANO,
2015).
302
A Marca é um instrumento de gestão, que visa a união da oferta e da demanda
de um país, neste sentido a gestão de marketing quando aplicado ao país é uma
ferramenta de gestão da competitividade, que possui um caráter único e leva a
geração de riqueza, o bom posicionamento do território, país ou cidade afirmando para
o mesmo uma determinada identidade que irá caracterizar o destino atraindo aqueles
que buscam a viagem através da imagem que o destino lhes remete,
consequentemente é vendida pela marca. (ECHEVERRI; ESTAY, 2013).
A marca tem como um de seus papéis formular a visão de um destino,
desenvolver a identidade do local, bem como determinar os atributos que irão
diferenciar a imagem do local e os argumentos de comunicação que irão definir
valores emocionais e racionais da marca. (CALVENTO; COLOMBO, 2009).
Todos destinos têm características diferentes, alguns compartilham de
elementos comuns, a grande diferença é a construção da identidade de sua marca,
onde pode ser composto por um conjunto de características, valores e crenças de sua
sociedade que automaticamente se diferencia das outras. (ECHEVERRI; ROSKER;
RESTREPO, 2010).
4CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados mostram que o estudo de marca vem de longa data, também
demonstram o quanto é importante a utilização da marca pois sua representação vai
além de um logotipo. Está ligado a identidade, está ligado a imagem do local, está
ligado a expectativa do cliente com o que lhe está sendo oferecido.
Apontam também uma variedade de visões que se complementam,
mostrando quanto os estudos mais antigos ainda servem como base para a
construção dos estudos atuais, principalmente no que se refere a construção de novas
fermentas para medir a marca e sua força.
A imagem da marca deve fazer parte das ações desenvolvidas pelos gestores
dos destinos, assim como o desenvolvimento de produtos ou atrações na captação
303
de visitantes. Também é uma das maneiras de influenciar o comportamento do
consumidor. Nesse contexto, o uso da imagem de um destino turístico, além de
corroborar, funciona como parte integrante do plano de marketing e oferece uma
oportunidade de analisar o turismo quanto à sua posição estratégica no mercado.
Por si só, as marcas têm de ser promotores de sinergias turísticas e geradoras
de atitudes favoráveis para o destino. Outrossim devem constituir-se como
observatórios que olhem para a demanda, a concorrência e onde se refletem os perfis
básicos da indústria turística que os acolhe.
Todas as experiências que o turista acumula durante sua estadia em um
destino formarão parte da visão de conjunto que o mesmo terá do referido destino,
sem discriminar a função de cada um dos produtos e serviços consumidos. Como se
aprecia, o conceito de destino turístico se encontra estreitamente vinculado ao de
produto turístico.
O estudo elenca também a questão ligada aos atributos da marca uma marca
é construída através de atributos que devem fazer parte da identidade do destino e
que de certa forma irão levar o destino ao sucesso e sustentar o sucesso do mesmo.
Assim, as estratégias de promoção focadas em mercados estruturados e
planejadas por meio de um trabalho baseado na construção da identidade de sua
marca, composto por um conjunto de características, valores e crenças da sociedade
local, possibilita ao destino e aos seus atores um valor de fato competitivo e mais
assertivo. Sugere-se novos estudos na área da gestão de marcas.
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307
GT 4 – TURISMO, MARKETING E COMUNICAÇÃO
308
MOTIVAÇÃO, FATORES “PULL” E “PUSH” E LAS VEGAS: UMA ANÁLISE DO CONHECIMENTO PRODUZIDO PELO SEMINÁRIO ANPTUR
MINASI, Sarah56; PEREIRA, Gisele57
Resumo: O presente estudo tem por objetivo sistematizar o conhecimento científico produzido pelo Seminário da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo (ANPTUR) quanto à motivação e aos Fatores “Pull” e “Push” associados ao destino turístico Las Vegas. No que tange à metodologia, para identificar os estudos que vem sendo produzidos pelo Seminário ANPTUR, foi realizado um levantamento de títulos e respectivos resumos dos artigos junto aos anais disponíveis no endereço eletrônico do Seminário, no período de 2005 a 2015. No total foram consultados 1741 artigos. Os resultados permitem concluir que: de 1741 artigos publicados, nenhum contempla o uso dos fatores “Pull” e “Push” na escolha do destino turístico Las Vegas.
Palavras-chave: Turismo; Motivação; Fatores “Pull” e “Push”; Las Vegas.
56Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Docente no Departamento de Turismo da Faculdade de Administração e de Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rua Gomes Carneiro nº 1 - 4º andar - Pelotas, RS, CEP: 96010-610 http://lattes.cnpq.br/2545244942377567 E-mail: [email protected]. 57 Bacharel em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Especialista em Gestão de Marketing pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Doutora em Lazer, Hospitalidade e Gestão do Turismo pela Oxford Brookes University (Inglaterra). Docente no Departamento de Turismo da Faculdade de Administração e de Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rua Gomes Carneiro nº 1 - 4º andar - Pelotas, RS, CEP: 96010-610 http://lattes.cnpq.br/2417134708175156 E-mail: [email protected]
309
1 INTRODUÇÃO
O turismo enquanto fenômeno mundial constitui-se de enorme variedade em
termos de destinos, possibilidades de atividades e tipos de turistas. Assim, fica
evidente que o campo das motivações turísticas é muito diversificado. Os motivos que
impelem um indivíduo a viajar são de reconhecida importância nas pesquisas sobre
turismo, pois colaboram para analisar a escolha dos destinos turísticos e, sobretudo,
auxiliam na compreensão do comportamento do consumidor turístico. Nesse sentido,
a revisão de literatura aponta que a resposta para a pergunta “o que faz os turistas
viajarem?” situa-se tanto no campo sociológico (DANN, 1977) quanto no psicológico.
Assim, perguntar às pessoas as razões para uma viagem conduz a um leque
amplo de fatores determinantes objetivos e subjetivos, que originam uma necessidade
que estimula uma atitude ou comportamento, isto é, a motivação. Entende-se que a
motivação surge de uma necessidade que o indivíduo desenvolve na tentativa de
alcançar a satisfação de seus desejos pela aquisição de um bem que, no caso do
turismo, refere-se ao produto turístico. Para isso, identifica-se que existem motivos
psicológicos ou sociais, que dão suporte ao desejo de realizar uma viagem. E,
também, existem aqueles que influenciam na opinião sobre o lugar a visitar, e estão
diretamente relacionados com as características do destino (fatores determinantes
objetivos).
Os trabalhos de Dann (1977) e Crompton (1979) originaram o Modelo de
Fatores Push e Pull. Segundo esses autores existem dois grupos de fatores que atuam
na motivação de um turista. De um lado os fatores “Pull", aqueles que atraem o turista
e estão relacionados com as características do destino. De outro lado, os fatores
“Push” se referem ao que empurra o turista e traduz o desejo de sair (fatores
determinantes subjetivos ou motivações turísticas).
310
Crompton e Mckay (1997) especificam sete domínios no grupo dos fatores
“Push”: 1) novidade: o desejo de procurar ou descobrir experiências novas e diferentes
através das viagens recreativas; 2) socialização: o desejo de interagir com um grupo
e os seus membros; 3) prestígio/status: o desejo de alcançar uma elevada reputação
aos olhos das outras pessoas; 4) repouso e relaxamento: desejo de se refrescar
mental e psicologicamente e de se subtrair à pressão do dia-a-dia; 5) valor
educacional ou enriquecimento intelectual: desejo de obter conhecimento e de
expandir os horizontes intelectuais; 6) reforço do parentesco e procura de relações
familiares mais intensas; e 7) regressão: desejo de reencontrar um comportamento
remanescente da juventude ou infância, e de subtrair aos constrangimentos sociais.
Quanto aos fatores “Pull”, Fakeye e Crompton (1991) identificam seis domínios:
1) oportunidades sociais e atrações; 2) amenidades naturais e culturais; 3)
acomodação e transporte; 4) infraestrutura, alimentação e povo amigável; 5)
amenidades físicas e atividades de recreação; e 6) bares e entretenimento noturno.
Os fatores Pull são também conhecidos como fatores determinantes objetivos.
Dessa forma, a presente investigação utiliza o Modelo dos Fatores Push e Pull,
já reconhecido no estudo das motivações turísticas. O modelo “push-pull” deriva um
estudo que decompõe as decisões de realizar uma viagem em duas forças
motivacionais. A motivação turística é um estado mental que leva uma pessoa ou um
grupo a viajar, o qual pode ser analisado para buscar uma explicação legítima para
essa decisão. A abordagem deste modelo consiste na decomposição da escolha do
turista por determinado destino em duas categorias de fatores motivacionais, os
fatores “pull” e os fatores “push”. (DANN, 1977).
A cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos, foi fundada em 1903 e em 1931
obteve a legalização do jogo. Contudo, somente em 1941 foi construído o primeiro
hotel temático, o Rancho Las Vegas. Na década de 1970 começaram a se instalar na
cidade as cadeias internacionais impactando com sua cobertura geográfica. A grande
maioria dos seus hotéis é temática, transcendendo a tradicional função exclusiva de
alojamento. Essa modalidade conta com diversão e entretenimento como parte
substancial do produto que oferecem.
311
Em 1998, pouco mais de 30 milhões de visitantes, que gastaram um total de 25
milhões de dólares, passaram por Las Vegas. Esse fato colocou, na época, a cidade
entre os cinco destinos que mais captam visitantes e divisas no turismo. (MOLINA,
2003; DOUGLASS; RAENTO, 2004). O turismo em Las Vegas cresce anualmente
com números prósperos, destacando-se no panorama Norte Americano. A oferta de
unidades habitacionais ultrapassa 150 mil, com uma taxa de ocupação de 89.1%,
enquanto a média dos Estados Unidos é de 64.4%. Las Vegas recebeu no ano de
2014, de acordo com o Las Vegas Convention and Visitors Authority, 41.126.512
visitantes. (LAS VEGAS CONVENTION AND VISITORS AUTHORITY, 2015). Neste
cenário, verifica-se o prognóstico de Molina (2003), o qual afirmava que Las Vegas
evoluía rapidamente rumo aos negócios mais importantes do futuro: o turismo e o
entretenimento, que estão, estrategicamente, articulados.
Com relação ao uso do Modelo de Fatores Push e Pull, foram identificados
alguns estudos que utilizaram essa metodologia em âmbito internacional, tais como
Jiao (2003) que abordou a análise das motivações push-pull em turistas chineses que
viajam para Las Vegas; Correia et al. (2007) que estudaram a motivação de turistas
portugueses em escolher destinos exóticos, segundo os fatores push-pull; Mohammad
e Som (2010) que adotaram o modelo push-pull para analisar as motivações de
viagem para a Jordânia; Turnbull e Uysal (1995) que pesquisaram as motivações dos
turistas alemães para o Caribe segundo os fatores push-pull; e, finalmente, Kanagaraj
e Bindu (2013) que realizaram um estudo das motivações push-pull de turistas
domésticos para Querala, Índia. Em âmbito nacional, ressalta-se que não foram
identificados estudos com o Modelo de Fatores “pull” e “push”.
Conforme exposto, a presente investigação propõe-se a sistematizar o
conhecimento científico produzido pelo Seminário da Associação Nacional de
Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo (ANPTUR) quanto aos fatores push-pull na
escolha do destino turístico de Las Vegas. Aliados ao objetivo geral, tem-se os
seguintes objetivos específicos: a) identificar o número de artigos publicados sobre o
tema motivação; b) verificar, dentre estes, o número de artigos que contemplam a
temática push-pull; e c) apontar o número de artigos sobre motivação e fatores push-
312
pull que contemplem Las Vegas.
O presente estudo está estruturado da seguinte forma: a seção 1 apresenta a
introdução do trabalho bem como uma breve revisão de literatura do tema investigado;
a seção 2 detalha a metodologia empregada; a seção 3 apresenta e discute os
resultados da pesquisa e, por fim, a seção 4 trata das considerações finais do trabalho.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Em termos de metodologia utilizada, o estudo classifica-se como descritivo,
uma vez que estuda as relações estabelecidas entre duas ou mais variáveis de um
determinado fenômeno, sem manipulá-las (KÖCHE, 2004). Além disso, o estudo
também caracteriza-se como bibliográfico. Segundo Köche (2004), um dos objetivos
da pesquisa bibliográfica é justamente sistematizar o estado da arte disponível em um
dado momento sobre um determinado tema. Assim, buscou-se primeiramente
identificar no endereço eletrônico da ANPTUR os anais disponíveis. Neste momento,
constatou-se que os anais presentes correspondem ao período de 2005 a 2015.
Portanto, o período de análise foi de 2005 a 2015. Após, estabeleceu-se as palavras-
chave para o levantamento: motivação, fatores push-pull e Las Vegas. A seguir, os
títulos e respectivos resumos dos artigos publicados nos anais de cada edição do
evento foram verificados com o propósito de identificar os artigos que atendiam aos
critérios estabelecidos por este estudo. No período examinado foram consultados
1741 artigos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados apresentados referem-se à análise das publicações no
Seminário da ANPTUR. Este evento é considerado de grande relevância para as
áreas abraçadas pela Associação Nacional de Pós-Graduação em Turismo –
ANPTUR, o qual ocorre anualmente desde 2002. A Associação foi criada em 2002,
com o objetivo de reunir as instituições de ensino brasileiras que possuem Programas
313
de Mestrado e/ou Doutorado nas áreas de Turismo, Hotelaria, Lazer e outras áreas
afins. Destaca-se dentre seus objetivos a formulação da política nacional de educação
e pesquisa; estabelecimento de objetivos e padrões de excelência educacional;
captação de recursos e incentivos para o desenvolvimento da pesquisa e do ensino
de pós-graduação nas instituições filiadas. (PORTAL ANPTUR, 2016).
Entre as instituições, e seus respectivos programas de pós-graduação
vinculados à área de Turismo, que integram a ANPTUR, estão as seguintes:
▪ Universidade Anhembi Morumbi (UAM) – Hospitalidade: mestrado
acadêmico (início em 2002) e doutorado (início em 2015); Gestão em
Alimentos e Bebidas: mestrado profissional (início em 2016);
▪ Universidade de Caxias do Sul (UCS) – Turismo e Hospitalidade:
mestrado acadêmico (início em 2000) e doutorado (início em 2015);
▪ Universidade de São Paulo (USP) – Turismo: mestrado acadêmico
(início em 2014);
▪ Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) – Turismo e Hotelaria:
mestrado acadêmico (início em 1997) e doutorado (início em 2013);
▪ Universidade Estadual do Ceará (UECE) – Gestão de Negócios
Turísticos: mestrado profissional (início em 2012);
▪ Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Turismo: mestrado
acadêmico (início em 2013);
▪ Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – Turismo:
mestrado acadêmico (início em 2008) e doutorado (início em 2014);
▪ Universidade Nacional de Brasília (UNB) – Turismo: mestrado
profissional (início em 2007);
▪ Universidade Federal Fluminense (UFF) – Turismo: mestrado
acadêmico (início em 2015).
Os artigos pesquisados foram classificados por temas e subtemas de estudo,
representando assim, os temas e objetos de pesquisa abordados em cada trabalho.
314
Essa classificação permitiu conhecer os subtemas mais apresentados dentro de cada
temática e elaborar a mensuração quantitativa das publicações no Seminário da
ANPTUR.
Os dados da pesquisa mostram que em 11 anos de anais analisados (2005 a
2015) o número de publicações anuais foi regular, não se distanciando da média de
158 artigos por edição do evento. A única exceção refere-se ao ano de 2005, o qual
contou com apenas 35 trabalhos publicados.
Além disso, durante o levantamento foi possível identificar que ao longo das
edições do evento optou-se pela organização das publicações em “Grupo de Trabalho
- GT”. Assim, a partir do ano de 2006, por exemplo, o evento estabeleceu 15 GT’s, no
ano seguinte esse número baixou para seis, e nos próximos anos continuou a divisão
em GT´s, porém sem apresentar um número constante.
Contudo, aduz-se que do alto índice de artigos publicados nos anais, apenas uma
pequena parte aborda o tema motivações.A motivação é um tema presente em seis
dos onze anos pesquisados, o que demonstra a existência de um número pequeno
de pesquisadores interessados nessa área. Evidencia-se que, mesmo com um
número representativo de anos com publicações sobre o tema, o melhor indicador é
o de três artigos por ano. Esse máximo é alcançado consecutivamente nos anos de
2010, 2011 e 2012.
Apesar desse número, o restante das publicações é pontual nos anos de
2008, 2014 e 2015, apresentando cada ano somente um trabalho sobre o tema
motivação.
A partir da apreciação dos trabalhos identificados, foi possível constatar
que a motivação, na maioria dos casos está relacionada à escolha de destinos
turísticos e ao comportamento do consumidor, no sentido de entender o que
influencia na sua escolha dentro do turismo.
É possível estabelecer que cinco trabalhos examinados tangenciam temas que
estão inseridos dentro do modelo dos Fatores “Pull” e “Push”, uma vez que estes
buscam identificar o que influencia na decisão do turista em termos de motivá-lo a
viajar e de escolher um destino turístico específico. Portanto, os subtemas “motivação
315
para realizar viagem” e “motivação para escolha de destino” contém cada um, 1 artigo
publicado utilizando o modelo dos Fatores “Pull” e “Push”.
Cabe destacar que dos 12 artigos publicados no Seminário da ANPTUR sobre
motivação, entre os anos de 2005 a 2015, o uso do modelo dos Fatores “Pull” e “Push”,
dentro do estudo das motivações, representa um número muito baixo de ocorrências,
apenas duas publicações (as quais são apresentadas a seguir). O que demonstra a
pouca aplicação do modelo como forma de estudar as questões que levam o turista a
viajar (push) e optar por determinado destino turístico (pull).
O artigo intitulado “Motivadores de uma Viagem de Lazer/Turismo”,
apresentado em 2010, destaca os fatores motivadores para a realização de uma
viagem de lazer ou turismo. Para isso, expõe como objetivo central levantar, identificar
e quantificar as principais variáveis que podem impelir o indivíduo a realizar uma
viagem de lazer/turismo. (MARTINS; GUAGLIARDI, 2010).
Já o segundo artigo foi publicado em 2012 com o título “Análise das Motivações
para o Lazer e a Atitude dos Jovens Brasileiros em Relação à Nova Zelândia como
Destino Turístico”, o qual busca contribuir para o entendimento do que motiva os
jovens brasileiros a realizarem viagens de turismo, além de avaliar as atitudes destes
potenciais turistas em relação à Nova Zelândia como um país receptor de jovens
turistas brasileiros. Tal pesquisa tem como objetivo central avaliar os motivos pelos
quais os jovens turistas brasileiros viajam ao exterior, além de avaliar as atitudes
destes potenciais turistas em relação à Nova Zelândia como um destino turístico.
(MOYANO et al., 2012).
É importante destacar que apenas o estudo de Moyano et al. (2012) contempla
o modelo de forma completa, analisando ambos grupos de fatores.
A seguir é apresentada a visão geral dos temas pesquisados: motivação,
Fatores “Pull” e “Push” e Las Vegas, e a relação com o total de artigos publicados
(1741) no período compreendido entre os anos de 2005 a 2015. Evidencia-se que ao
todo foram 15 que atenderam aos temas selecionados para a pesquisa, um número
baixo quando se adota como referência a abrangência do evento. Dentre essas 15
publicações, apenas dois artigos abordam o modelo de Fatores “Pull” e “Push”, um
316
número baixo de publicações quando se refere a este levantamento, mas ainda mais
inexpressível quando se toma como referencial o total de publicação, tanto no que diz
respeito às parciais anuais como no que se refere ao período de 11 anos de
levantamento.
Cabe destacar, ainda, que nenhuma publicação se repete em termos de
autoria, apresentando cada uma combinação de autores singular.
Sobre a temática Las Vegas, o único artigo encontrado durante o levantamento, foi a
publicação de Ferrari, a qual apresentou e publicou o artigo chamado “Las Vegas all
in: enfiando o pé na jaca sem culpa: sociabilidades de viagem e o ideal de jogar na
revista viagem e turismo”, no ano de 2013. A pesquisa consiste em uma reflexão sobre
o imaginário turístico do ideal de jogar e as máscaras identitárias que produzem
espaços relacionais para práticas de sociabilidades de viagem, a partir das ideias de
Rachid Amirou (2007). Para isso, tal estudo apresenta como objetivo geral investigar
como os imaginários construídos pelas revistas de turismo impulsionam os leitores a
se projetarem nas viagens e tendem a produzir novas formas de sociabilidades ligadas
fortemente aos valores do consumo contemporâneo. (FERRARI, 2013).
Diante disso, ressalta-se que o artigo examinado não contempla a temática
preferencialmente pesquisada, uma vez que, embora aborde o destino turístico Las
Vegas não se relaciona com as motivações que levam os turistas a escolherem esse
local, tampouco utiliza o modelo dos Fatores “Pull” e “Push” como forma de
caracterizar as influências dessa escolha.
Após examinar o conteúdo de cada artigo relativo à motivação, percebe-se novamente
a existência de uma lacuna no que tange à consideração do modelo dos Fatores “Pull”
e “Push” e Las Vegas, já que nenhum dos artigos analisados contemplou os três
temas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
317
É preciso lembrar que, embora o conteúdo dos anais do Seminário da ANPTUR
seja o objeto deste estudo, não é possível estender essa análise para todos os anais
de eventos ou periódicos científicos da área de Turismo no Brasil.
A análise dos artigos publicados nos anais do Seminário ANPTUR de 2005 a 2015
permitiu identificar o que tem sido pesquisado sobre motivação, fatores “Pull” e “Push”,
e Las Vegas no Brasil. Essa análise possibilita que sejam identificadas tendências de
estudos de diferentes pesquisadores do País sobre essas temáticas. Ainda, realizar
essa observação permite evidenciar possíveis lacunas de produção científica na área.
Os resultados obtidos permitem concluir que:
• De 1741 artigos publicados, apenas 12 referem-se a motivação;
• De 12 artigos publicados sobre motivação, apenas dois abordam o modelo de
Fatores “Pull” e “Push”;
• De dois artigos publicados sobre motivação e o uso do modelo de Fatores “Pull”
e “Push”, somente um trata o modelo de forma completa, analisando ambos
grupos de fatores;
• De 15 artigos publicados sobre as temáticas de interesse pesquisadas
(motivação, Fatores “Pull” e “Push” e Las Vegas), exclusivamente um trata de
Las Vegas, ainda sim sob outra abordagem que não a deste estudo;
• De 1741 artigos publicados, nenhum contempla o uso dos fatores “Pull” e
“Push” na escolha do destino turístico Las Vegas.
Com base nos resultados deste estudo, evidencia-se a importância e a
necessidade de incentivar a realização de pesquisas e a produção de novos
conhecimentos sobre os temas motivação, Fatores “Pull” e “Push” e Las Vegas. É
preciso produzir conhecimento que considere a análise da composição dos aspectos
que motivam os turistas a escolher determinados destinos turísticos, e sugere-se
ainda que seja incentivado estudos de destinos representativos, como por exemplo
Las Vegas.
318
O turismo em Las Vegas apresenta um índice expressivo de crescimento anual,
o qual destaca-se não só no cenário da atividade turística norte-americana como
também mundial, recebendo mais turistas que, por exemplo, o Brasil com um total de
aproximadamente 6 milhões de turistas por ano. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2016)
Esse fato coloca Las Vegas entre os destinos que mais captam visitantes e divisas no
turismo.
O conhecimento produzido a partir de novas pesquisas na área também é
relevante do ponto de vista socioeconômico, uma vez que permite identificar a
composição dos fatores que influenciam na escolha de destinos, o que faz o
consumidor do turismo agir em relação ao campo psicológico e também sociológico.
Para além disso, novas pesquisas contribuem para que os próprios destinos turísticos
consigam traças o perfil de sua demanda, proporcionando a possibilidade de
(re)direcionamento e (re)posicionamento estratégico e de planejamento turístico.
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ANÁLISE PERCEPTUAL DE LOGOTIPOS DE PARQUES NACIONAIS BRASILEIROS
321
CUSTÓDIO, Vagner58; FREITAS, Fabiano59; PIMENTEL, Juliana M. Vaz60; VIOLIN,
Fábio Luciano61.
Resumo: O presente trabalho teve como objetivo analisar a correlação dos Parques
Nacionais (PN) selecionados para esta pesquisa e seus respectivos logotipos, através
de uma análise perceptual de categoria e magnitude nos atributos representatividade
e conhecido. Para aplicação dos testes foram selecionados 40 discentes do curso de
Turismo. Os resultados apontaram os logotipos dos Parques nacionais da Tijuca, de
Fernando de Noronha e do Monte Roraima os três melhores avaliados, e os
Saint/Hilaire-Lange, Ubajara e Serra do Cipó os três piores avaliados. Dessa forma,
visou-se contribuir na utilização desta metodologia para posteriores estudos e para
processo criativo destas imagens, buscando excelêncianas ações de divulgação e
fidelização da imagem das localidades turísticas.
Palavras-chave: Percepção; Logotipos; Turismo; Parques Nacionais.
1 INTRODUÇÃO
No turismo a construção da imagem de um destino é de suma importância,
uma vez que ao adquirir o produto turístico o turista não tem como avaliar fisicamente
o que está comprando, usufruindo de sua aquisição apenas num momento posterior
ao da compra, ou seja, ele adquire primeiramente a imagem daquele destino que
58Doutor em Educação. Professor do curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista. 59Discente do curso de: Turismo da Universidade Estadual Paulista 60Doutora e docente do curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista 61Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Coordenador do curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista.
322
pretende visitar, que se apresenta por meio de fotografias, cartões-postais, logotipos,
entre outros.
Os Parques Nacionais (PN‘s) compõe uma categoria de área natural protegida
difundida mundialmente e que no sistema brasileiro fazem parte do grupo de unidades
de Proteção Integral, onde não deve haver exploração direta dos recursos naturais,
porém, há permissão para o desenvolvimento de atividades de uso público como
pesquisa, atividades de educação ambiental, e também, turismo ecológico. As
Unidades de Conservação, mas principalmente, os Parques Nacionais são
reconhecidos por abrigarem inúmeras belezas cênicas, que se tornam grandes
atrativos turísticos.
Nesse contexto, para que a construção da imagem desses parques seja eficaz
no imaginário do visitante, é necessário, que além de ser atrativa, a imagem se vincule
fidedignamente com a realidade daquilo que representa e nessa perspectiva, a
construção de um logotipo vinculado a uma destinação turística,será o principal
elemento gráfico de representatividade, ou seja, sua marca.
Uma das principais falhas que pode ocorrer na construção de logotipos para
o turismo, é que muitas vezes estes não são submetidos a testes perceptuais no
público alvo antes de serem divulgados. Os testes perceptuais podem auxiliar os
profissionais envolvidos no processo criativo a não correrem o risco de criarem
imagens que não sejam representativas para determinado local, e por consequência,
não obterem o resultado desejado para atrair visitantes e potenciais visitantes.
A partir do exposto, levantou-se a seguinte questão: Os logotipos dos Parques
Nacionais são representativos e conhecidos perante a percepção dos sujeitos
testados?
Nessa perspectiva, esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a
correlação dos Parques Nacionais e seus logotipos perante a percepção dos sujeitos
testados, e como objetivos específicos, aplicar teste perceptual de categoria, de
estimação de magnitude e teste cognitivo; Organizar, quantificar e tabular os dados
coletados nos testes realizados; Analisar os resultados obtidos nos dados tabelados,
323
possibilitando refletir sobre a correlação dos Parques Nacionais e seus logotipos,
perante a percepção dos sujeitos testados.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a realização da pesquisa foram selecionados 14 Parques Nacionais
brasileiros que possuíssem um logotipo oficial, deu-se preferência pela escolha de
parques das 5 regiões brasileiras e que estivessem abertos à visitação. Além disso, a
partir dos dados de quantificação sobre a visitação que foi possível obter, buscou-se
parques que divergissem em relação ao fluxo de visitantes. São eles: PN das
Araucárias (SC), PN da Serra do Cipó (MG), PN de Ubajara (CE), PN do Monte
Roraima (RR), PN de Anavilhanas (AM), PN da Chapada dos Guimarães (MT), PN da
Tijuca (RJ), PN do Iguaçu (PR), PN do Pantanal Matogrossense (MT), PN dos Lençóis
Maranhenses (MA), PN Saint-Hilaire/Lange (PR), PN da Restinga de Jurubatiba (RJ),
PN do Jaú (AM) e PN Marinho de Fernando de Noronha (PE).
Os testes perceptuais aplicados nesta pesquisa foram o teste de categoria, que
segundo Ferraz (2005) permite classificar em uma escala ordinal se certo objeto de
estudo possui mais do determinado atributo do que outros, permitindo categorizá-los
e classificá-los em uma ordem e o teste de estimação de magnitude, que se trata de
um processo de julgamento, em que os observadores emparelham números a
diferentes níveis de sua própria impressão perceptiva, e dessa forma expressam uma
razão à sensação atribuída. Os logotipos foram avaliados pelos sujeitos nos atributos
representatividade e conhecido. Além disso, foi realizado um teste cognitivo com
objetivo de avaliar a capacidade dos sujeitos testados de ligar as características
apresentadas no logotipo com seus respectivos parques. Para aplicação dos testes
foram selecionados 40 discentes do curso de turismo da Universidade Estadual
Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ (UNESP) do campus de Rosana, sendo 20 do
gênero feminino e 20 do gênero masculino, com média de idade de 24 anos, sendo o
mais velho com 43 anos, e 20 do sexo feminino, com média de idade de 20 anos,
sendo a mais velha com 26 anos. E a média de idade geral dos 40 alunos foi de 22
324
anos. Essa situação foi relevante para qualificar um público alvo mais específico que
possui proximidade com os assuntos abordados, devido às disciplinas ministradas no
curso de turismo. Dos 40 sujeitos testados 5 já visitaram algum dos Parques
Nacionais.
Alguns critérios foram adotados para elaboração dos testes para realização
da coleta de dados, sendo eles:
A escolha de 14 Parques Nacionais que possuíssem logotipos oficiais,
adotando para cada Parque Nacional um número correspondente de 1 a 14.
Quadro 1 – Ordenação numérica utilizada na pesquisa para os Parques Nacionais.
Fonte: Autores
325
Posteriormente à seleção e organização dos logotipos, elaborou-se os testes
perceptuais. São eles:
- Teste de categoria;
- Teste de estimação de magnitude;
- Teste cognitivo.
Para confeccionar os testes, utilizou-se 7 folhas em tamanho A4. Sendo que,
em 5 delas, foram expostos os 14 logotipos dos Parques Nacionais pré-selecionados
(com imagens coloridas e com os nomes dos Parques Nacionais e demais
informações apagadas), divididos em: folha 1, com os logotipos numerados de 1 a 3;
folha 2, com os logotipos numerados de 4 a 7; folha 3, com os logotipos numerados
de 8 a 10; folha 4, com os logotipos numerados 11 e 12; e folha 5, com os logotipos
numerados 13 e 14. Na folha número 6, foi elaborado o método de ranque de
categorias, onde em uma tabela, foram mencionados e explanados, paralelamente e
alternadamente em colunas verticais, o teste de categoria e seus 2 atributos
selecionados para estudo, representatividade e conhecido, e o teste de estimação de
magnitude destes atributos, além de constar ficha de controle para preenchimento dos
sujeitos nos itens nome, idade e gênero, possibilitando para os pesquisadores, a
organização dos dados através da identificação dos nomes dos sujeitos, e por
conseguinte seus gêneros e idades para caracterização de faixa etária da amostra;
na folha número 7, foi desenvolvido o teste cognitivo, onde para identificação, uma
lacuna era preenchida novamente com os nomes dos respectivos sujeitos, e também,
para realização do teste, havia 2 colunas, uma com os números ordenados de 1 a 14,
respeitando o número de logotipos estudados, e outra com os nomes dos 14 Parques
Nacionais ordenados de forma aleatória, sendo as 2 colunas perfiladas paralelamente
na vertical e com devido espaçamento, proporcionando para o sujeito testado
relacionar com um lápis ou caneta o número do logotipo exposto com o Parque
Nacional correspondente
326
Figura 1 – Ficha modelo do teste de categoria e teste de magnitude.
Fonte: Autores
327
Figura 2 – Ficha modelo do teste cognitivo.
Fonte: Autores
No primeiro momento da aplicação dos testes, perfilou-se perante os sujeitos
todas as 5 folhas com os 14 logotipos estampados e foi entregue para os mesmos a
folha 6, onde na parte superior da folha, foram preenchidas as informações de controle
e posteriormente, logo abaixo, em uma tabela, foram executados os testes da seguinte
maneira: com as imagens dos 14 logotipos e a ficha de aplicação ao lado das imagens,
foi perguntado aos sujeitos qual dos logotipos era mais representativo, após o
apontamento do primeiro perguntou-se quem era o segundo mais representativo, e
assim por diante até a décima quarta posição.
Esta situação citada acima configura o teste de categoria, que obteve o ranque
de todos os logotipos de Parques Nacionais conforme o atributo representatividade.
E depois dos sujeitos categorizarem este atributo, foi perguntado o seguinte: quanto
que o primeiro colocado que você elencou é mais representativo que o segundo? Com
isto respondido, perguntou-se quanto que o segundo é mais representativo que o
328
terceiro? E assim por diante, até chegar-se do décimo terceiro colocado para o décimo
quarto, sendo que para este último colocado é adotado o valor zero.
Essas questões configuram o teste de magnitude, que é definido por Stevens
(1975) como um emparelhamento numérico‘, e que visou quantificar subjetivamente a
intensidade perceptiva acerca da representatividade entre os logotipos dos Parques
Nacionais. É de suma importância nesse teste fundamentar que, o método de
estimação de magnitude é frequentemente empregado para que se consigam análises
psicofísicas, como também para escalonar diferentes modalidades perceptivas devido
à rapidez e à fácil compreensão deste por observadores. (FERRAZ, 2005).
Logo após esta aplicação, o mesmo procedimento foi realizado, mas desta vez
sendo perguntado a respeito do atributo conhecido, isto é, qual é mais conhecido e o
quanto é mais conhecido em relação ao outro? Lembrando que o valor atribuído pelo
sujeito é livre.
Por fim, foi entregue aos sujeitos a folha 7, contendo o teste cognitivo, para
execução da última etapa da aplicação da pesquisa, na qual foi preenchido novamente
o nome para identificação do sujeito, e na sequência, respondido o teste, relacionando
os números que representavam cada logotipo em uma coluna, com os nomes das
sedes de cada Parque Nacional em outra coluna.
Tal teste foi aplicado com objetivo de identificar por meio da cognição qual o
conhecimento dos sujeitos sobre os Parques Nacionais e seus logotipos, observando-
se sempre a capacidade de cada sujeito ligar características dos logotipos e remeter
ao Parque Nacional correspondente.
Posteriormente à realização dos testes, foram agrupados os dados da pesquisa
organizadamente e tabulados em planilhas do Excel, propiciando ao pesquisador
percepções específicas durante o desenvolvimento das análises.
Posteriormente ao preenchimento das planilhas com os dados dos testes,
buscou-se estabelecer a média geral de posições para cada logotipo, ou seja,
estabelecendo a média e com os resultados, foi estabelecido o ranque de posições
para os dois atributos, sendo que os logotipos foram classificados ordenadamente do
menor valor de média para o maior, isto é, os que obtiveram menores valores na
329
média, foram os melhores colocados. A outra ferramenta utilizada foi desvio padrão,
que foi utilizado para desempatar o posicionamento no ranque, ou seja,
ocorrendoempate no cálculo da média de dois logotipos ou mais, leva-se em contao
menor desvio.
Seguindo com a mesma estrutura, confeccionou-se as planilhas para o teste
de estimação de magnitude, com a separação dos gêneros mantida. Porém, neste
teste, foi realizado um cálculo que consistiu na soma de todos os valores respondidos
pelo sujeito para todos logotipos na coluna do teste de estimação de magnitude e
posteriormente, subtrai-se do valor total, adotado para o primeiro colocado no ranque
deste atributo, o valor atribuído originalmente para o primeiro colocado, e o resultado
da subtração é adotado no lugar do valor original do segundo colocado. Este
procedimento é realizado sucessivamente até subtrair o valor readotado pelo décimo
terceiro colocado e subtraí-lo pelo valor original, e finalmente, resultando no valor zero
para o décimo quarto colocado, assim como era originalmente.
Realizada a transformação dos valores e redistribuídos nas planilhas,
calculou-se o valor das médias e desvios padrão da mesma maneira com que foi
trabalhado no teste de categorias, mas observando-se na estimação de magnitude,
que os logotipos são classificados ordenadamente do maior valor de média para o
menor, isto é, os que obtiveram maiores valores na média, foram os melhores
colocados no ranque. Já no cálculo do desvio padrão, todos os passos seguidos foram
os mesmos praticados no teste de categoria.
Assim, terminada a etapa de tabulação dos dados, chegou-se ao número de
8 planilhas confeccionadas, sendo 4 planilhas para cada gênero, e destas 4 planilhas,
2 são dos atributos do teste de categoria e as outras 2 são do teste de estimação de
magnitude (um para cada atributo).
Além destas 8 planilhas, foi tabulado também, em 3 planilhas simples, uma
para cada gênero e outra sem separação de gêneros, ou seja, geral, o ranque de
acertos do teste cognitivo, que foi ordenada com os logotipos de Parques Nacionais
que obtiveram o maior número de acertos, ficando nas primeiras posições, e os que
obtiveram menor número de acertos, nas últimas posições.
330
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
TURISMO EM PARQUES NACIONAIS
A corrente ambientalista internacional nascida por volta da década de 1970
alertou a sociedade no sentido de um despertar para as causas ambientais, refletindo-
se também no turismo, que na era pós-Revolução Industrial e com os ganhos sociais
da classe trabalhadora se intensificou ganhando o status de turismo de massas. Este
tipo de turismo então passa a ser criticado por ―suas consequências mais negativas
e danosas recaindo sobre a estrutura social e econômica das comunidades
receptoras, assim como sobre a qualidade ambiental dos destinos consagrados por
esse modelo de turismo. (PIRES, 2002, p. 35).
Começam a surgir, então, experiências diferenciadas daquelas propostas pelo
turismo convencional de massas, que estava principalmente relacionado ao sol e
praia. Assim, estas novas experiências passam a ser concebidas como turismo
alternativo e, como tal, a expressão passa a designar as novas modalidades da
atividade turística. A busca pelo alternativo começa na segunda metade da década de
70, mas é na década de 80 que se iniciam estas práticas, concedendo novas
expressões para o turismo como: turismo cultural; turismo na natureza; turismo de
safári; turismo de aventura; turismo ecológico, entre outras (PIRES, 2002).
Entretanto, é na década de 1990 que a tendência relacionando o turismo aos
espaços naturais cresce, consolidando uma destas várias segmentações, o turismo
ecológico ou o ecoturismo, que encontra nas áreas naturais, protegida ou não, o
ambiente perfeito para sua reprodução.
De acordo com Kinker (2002, p. 18), três fatores são fundamentais para que
a atividade turística possa ser chamada de ecoturismo: ―a conservação do ambiente
visitado, seja ele natural ou cultural; a conscientização ambiental, tanto do turista
como da comunidade receptora; e o desenvolvimento local e regional integrado‖.
Pires (2002) também aponta algumas premissas para que as atividades
recebam o status de ecoturismo, como serem desenvolvidas em ambientes naturais
aos quais se agregam os valores culturais de reconhecida autenticidade que se
331
manifestam em seu entorno e também que se comprometa com os aspectos de
manejo e conservação dos recursos naturais, incluindo a participação ativa das
comunidades locais e difundindo a consciência ecológica pelo advento da educação
ambiental.
É neste sentido que Serrano (2000) propõe que, apesar da multiplicidade de
definições para o ecoturismo, há um consenso em torno do caráter educativo da
atividade, de seu compromisso com a modificação de comportamentos e com a
criação de uma consciência ambientalista. Por isso, o ecoturismo, é a vertente da
atividade turística sugerida para o desenvolvimento em áreas naturais protegidas.
Contudo, segundo Kinker (2002), apesar deste fato, ―torna-se fundamental o
desenvolvimento de políticas adequadas de incentivo à atividade e que permitam que
os recursos adquiridos sejam aplicados nas áreas visitadas.
Assim como o ecoturismo pode tornar-se uma fonte de renda para a
manutenção destas áreas, é relativamente grande a preocupação que se emprega
com os possíveis impactos negativos da atividade, pois muitas vezes o ecoturismo é
vendido associado com outras atividades de aventura, tais como: caminhada
(trekking) em trilhas, acampamento, rapel, rafting, montanhismo, ciclismo, escalada,
passeios de buggy e veículos 4x4, mergulho, entre outros.
Figuram entre os potenciais impactos negativos causados pelo ecoturismo
nas áreas protegidas: superlotação; excesso na infraestrutura construída pelo homem;
veículos convencionais e off-road circulando em alta velocidade; barulho; alimentação
de animais silvestres; produção de lixo; propagação de doenças e pragas; uso dos
recursos naturais de maneira inadequada; uso descuidado do fogo; coleta de
suvenires; esgoto sem tratamento; entre outros (KINKER, 2002).
Kinker (2002) cita ainda outras questões importantes, pois a administração da
área protegida, acreditando que esta serve para gerar lucro, pode acabar colocando
estes objetivos acima da conservação. Além disso, o governo, procurando maximizar
o retorno econômico dos parques, pode implantar estruturas impróprias para o
ecoturismo como grandes hotéis, autoestradas, piscinas, entre outros, correndo o riso
de transformar a atividade em turismo de massa. Também podem ocorrer mudanças
332
no comportamento das populações locais devido ao contato excessivo com turistas,
que por vezes chegam a se imaginar superiores às comunidades visitadas.
Com base neste escopo, torna-se muito importante que a visitação pública
nos Parques Nacionais esteja sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano
de Manejo da unidade, que deve conter um Plano de Uso Público, às normas
estabelecidas pelo órgão gestor e, ainda, àquelas previstas no Regulamento dos
Parques Nacionais Brasileiros, o que tende a minimizar estes possíveis impactos
negativos e potencializar os positivos.
No entanto, não podemos deixar de lado a grande dificuldade de se lidar com
o uso público nos Parques Nacionais brasileiros. Conforme explana Pardini (2012), o
uso público é na grande maioria das vezes um enorme desafio para os gestores das
unidades. Para o autor,
Na impossibilidade de oferecer mínimas condições de visitação, as unidades
ou estão fechadas, ou oferecem uma frustrante experiência ao visitante. As unidades
fechadas passam a lidar com atividades de visitação irregulares e/ou com pressão
para abertura. As unidades abertas, mas sem condições de manejo do usuário, não
conseguem controlar ou dimensionar o fluxo, correm grande risco de arcar com as
consequências de incidentes, acidentes, danos à vida, ao meio ambiente e ao
patrimônio causados pela falta de pessoal ou mesmo mecanismos de gestão
(PARDINI, 2012, p. 128).
Neste sentido, torna-se essencial para a própria manutenção das unidades de
conservação que as atividades de ecoturismo e uso público estejam fundamentadas
e planejadas em bases rigorosas, capazes de impor limites e regras aos envolvidos
nas atividades de ecoturismo, como nos propõe Kinker (2002, 56-57),
Sem a cobrança de ingressos, sem planilhas que organizem as visitas e o
número de visitantes para cada área, e sem normas que sejam cumpridas por
operadores, guias, turistas e administradores das unidades, não pode haver controle
sobre as atividades. E sem controle, não há chance de educar e informar, nem de
gerar renda para o manejo da visitação. A mesma coisa acontece com o potencial que
333
o turismo oferece de criar alternativas de renda e outros benefícios indiretos para a
população local.
Do mesmo modo, também constitui fator essencial a imagem que será
atribuída para a unidade perante seus visitantes. Atualmente, há inúmeras formas de
divulgação turística, como vimos anteriormente. Entretanto, o logotipo será a imagem
que criará um vínculo com o visitante e potencial visitante. Desta forma, ele é
essencialmente importante e deve ser cuidadosamente elaborado, sendo ponderado
e autêntico com a representação da localidade.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
Os dados foram relacionados, chegandopor meio deles nos resultados finais e
nasconsiderações. Comessa perspectiva, as tabelas explanadas nos
tópicosabaixopossuem as informações referentes aos testes descritos nas legendas.
São elas:
Tabela 1 - Ranqueintergruposcom a posição final para o teste de categoria
334
O resultado final intergrupos, para o teste de categoria, (tabela 1)
apontanaprimeiracolocação o Parque Nacional da Tijuca (RJ) e na segunda
colocaçãoo Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PE). E constatou-se
também, empate na última colocação do ranque, mas que no critério de desempate,
ponderado pelo desviopadrão, apontana última colocação, o logotipo do Parque
Nacional de Ubajara (CE)
335
Tabela 7 - Ranque intergrupos com a posição final para o teste de magnitude
A posição final do teste de magnitude (tabela 7) explicita o quanto é mais
perceptivo os dois primeiros colocados: Parque Nacional da Tijuca (RJ) em primeiro
no ranque e Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PE) em segundo. E
o quanto foi ineficaz, pouco perceptivo, o décimo quarto e último colocado, Parque
Nacional de Ubajara (CE). Mais uma vez faz-se necessário ressaltar que os resultados
do teste de magnitude e teste de categoria foram similares, e, portanto, confirma que
os logotipos possuem nos atributos, uma intensa percepção.
336
Tabela 8 - Ranque final intergrupos para o teste cognitivo
No ranque final do teste cognitivo, os dois logotipos mais perceptíveis ficaram
com a primeira colocação dividida. PN da Tijuca (RJ) e PNM de Fernando de Noronha
337
(PE) obtiveram 31 acertos cada. Enquanto, o PN do Pantanal Matogrossense (MT) e
o PN Saint Hilaire/Lange (PR) dividiram a última colocação no ranque, com 2 acertos
cada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fim de tecer considerações acerca da tabela final, buscou-se, primeiramente,
descrever e analisar o ranque final entre os três testes aplicados. Na primeira posição
do ranque final, ficou o logotipo do Parque Nacional da Tijuca (RJ), que em todos os
atributos pesquisados esteve sempre em evidência, mas que sempre teve em
segundo colocado, o logotipo do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha
338
(PE), com avaliações similares, principalmente no teste cognitivo, quando empataram
na primeira posição na classificação final.
O logotipo do Parque Nacional do Monte Roraima (RR), que não obteve
posições de ranque extremas, mostrou-se com boa intensidade perceptiva. Sujeitos
de ambos os gêneros chegaram a reconhecer seu logotipo logo no início da aplicação
dos testes ou durante. Mesmo quem não reconheceu, classificou-o em posições
consideráveis. Além disso, o logotipo recebeu pouquíssimas colocações inferiores no
ranque, obtendo boa média em toda a pesquisa, o que lhe rendeu, ao final, a terceira
posição geral no ranque. Sua imagem é simples, clara, de fácil identificação e
fidedigna à realidade pode ter sido aspectos essenciais que possibilitaram a
percepção dos sujeitos.
O logotipo do PN da Chapada dos Guimarães (MT) traz em sua imagem, dois
cartões postais, sendo um deles a cachoeira Véu de Noiva e o outro os paredões
rochosos característicos do relevo da região. Isso é um ponto forte, todavia, a
composição do logotipo merece a única ressalva de que talvez pudesse apresentar
uma fluidez visual melhor, pois a imagem aparenta estar recortada ao meio,
mostrando-se um tanto desconexa.
Porém, é um logotipo atraente. Harmonia foi o que o logotipo do Parque
Nacional do Iguaçu (PR) possivelmente tentou divulgar, entre a onça pintada, que
impressionantemente tem um alcance de imagem incrível, e as cataratas, que não
mais do que dois sujeitos conseguiram identificá-la. Sujeitos enxergaram até dentes,
mas não cachoeira.
Este caso provavelmente explicita a falta de percepção na idealização desta
ferramenta chamada logotipo, pois o grau de fidedignidade que a imagem das
cataratas passa é muito confusa. O destaque para o logotipo do Parque Nacional dos
Lençóis Maranhense (MA), fica na extrema dificuldade que os sujeitos aparentaram
em perceber as dunas do parque na imagem. As cores das curvas dificilmente
conseguiriam alcançar o imaginário dos sujeitos.
339
Apenas as curvas das dunas não se mostraram suficientes e a representação
da areia ficou deficitária. Comentou-se até mesmo que parecia um logotipo de
prefeitura ou projeto verão de governos do litoral. O logotipo se mostrou, nesse caso,
ineficaz. No caso do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense (MT) a harmonia
da imagem também foi destaque, mas negativo. Com uma imagem confusa, era
complicado focar na figura e definir exatamente o que estava sendo transmitido ali.
Tanto que os sujeitos percebiam o PN do Pantanal Matogrossense no logotipo do PN
do Iguaçu. Para o Parque Nacional do Jaú (AM), apesar de ser um logotipo que
apresenta técnica e conceito de criação, a principal observação a ser feita segue o
viés da confusão que os sujeitos fizeram em relação ao logotipo. Muitos que erraram
o teste cognitivo comentavam, posteriormente ao término da aplicação do teste, que
atribuíram o logotipo do PN do Jaú erroneamente ao Parque Nacional da Serra do
Cipó (MG), possivelmente em associação ao macaco. Já para o logotipo do Parque
Nacional de Anavilhanas (AM), aparenta ter faltado clareza e boa pregnância da forma
que facilitassem a identificação da imagem, pois é uma unidade que possui
considerável divulgação e a imagem apresentada no logotipo é um cartão postal do
local. E por fim, o logotipo com pior avaliação foi do Parque Nacional Saint-
Hilaire/Lange (PR), que numa escala de posições no ranque que variava de 1 a 14,
ficou, após análise de três testes, com média de 13. Muito próximo da pior posição
final, chegando até a tomar a última colocação no ranque final do teste de magnitude,
ficou o logotipo do Parque Nacional de Ubajara (CE), terminando com média final de
12, na décima terceira posição. Enfim, os dois logotipos foram pouco perceptíveis e
ineficazes.
Nesta perspectiva, este artigo visou contribuir na utilização dessa metodologia
em posteriores estudos no âmbito dos testes perceptuais em território brasileiro,
buscando melhor eficácia não apenas nos atributos trabalhados, mas em qualquer
outro que se julguem relevantes/pertinentes pelos idealizadores do processo criativo
das respectivas imagens, buscando consequentemente, excelência nas ações de
divulgação e fidelização de sua imagem.
340
REFERÊNCIAS
FERRAZ, M. A. A preferência pela prática de atividades físicas e esportivas: uma abordagem psicofísica. Tese de doutorada, apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP, 2005. KINKER, S. Ecoturismo e conservação da natureza em parques nacionais. Campinas, SP: Papirus, 2002. PARDINI, H. O desafio do uso público nas unidades de conservação brasileiras. Em: NEXUS (org.).Unidades de Conservação: o caminho da gestão para resultados. São Carlos: Rima Editora, 2012. p. 125 – 133. PIRES, M. J. Turismo no Brasil: imagem e comunicação. Turismo em Análise, v. 8, n. 2, p. 7 – 12, 1997. PIRES, P. dos S. Dimensões do ecoturismo. São Paulo: SENAC São Paulo, 2002. SERRANO, C. A educação pelas pedras: uma introdução. Em: SERRANO, Célia (org.). A educação pelas pedras: ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000. p. 07- 24. STEVENS, S. S. Psychophysic. New York: Wiley, 1975.
341
A UTILIZAÇÃO DA REDE SOCIAL FACEBOOK NA PROMOÇÃO DE EVENTOS
CULTURAIS EM PELOTAS - RS
PERES, Jéssica.62
MINASI, Sarah.63
Resumo: Este estudo tem por objetivo analisar a rede social Facebook como uma
ferramenta de promoção de eventos culturais e atividade turística no município de
Pelotas/RS. Trata-se de uma pesquisa exploratória, de abordagem qualiquantitativa.
Desse modo, realizou-se pesquisa bibliográfica e foi disponibilizado um questionário
online composto por perguntas abertas e fechadas. A partir da análise de dados,
inferiu-se que o Facebook é frequentemente utilizado na promoção de eventos
culturais, sendo considerado pelos participantes da pesquisa mais ágil que os demais
meios de comunicação e capaz de promover a atividade turística no município, bem
como alavancar os eventos culturais existentes.
Palavras-chave: Turismo; Redes Sociais; Facebook; Eventos Culturais.
1 INTRODUÇÃO
Com o nascimento da comunicação facilitada pelo computador, as pessoas
passaram a procurar novas formas de estabelecer relações e de formar comunidades
já que muitas vezes não conseguem estabelecer interação social presencial em seu
cotidiano (RECUERO, 2009).
62Acadêmica do Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4497561P7. 63Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul. Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas. Professora no Departamento de Turismo na Faculdade de Administração e de Turismo (FAT) na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4350065Y2.
342
De acordo com Recuero (2009), o aparecimento das redes sociais na internet
proporcionou às pessoas a possibilidade de difundirem informações de forma mais
rápida e interativa. Com isso, foram criados novos canais e, ao mesmo tempo, uma
pluralidade de novas informações passaram a circular nos grupos sociais.
Nesse sentido, desde 2006, a rede social Facebook permite que qualquer
usuário com e-mail e acesso à internet possa cadastrar um perfil criado na página, e
ainda interagir com outros usuários através de publicações, vídeos, chats e outros
aplicativos fornecidos pelo site (COMM, 2009).
Com o intuito de dar às pessoas o poder de compartilhar informações, fazendo
do mundo um lugar mais conectado, em 2015, a rede social atingiu a marca de 1
bilhão de usuários. (FACEBOOK, 2016).
Sendo assim, o uso dessas ferramentas com fins relacionados a viagens tem
crescido bastante, sendo o Facebook, um dos mais populares em número de
visitantes mensais (PHOCUSWRIGHT, 2010).
Ao longo dos últimos anos assiste-se à construção de um novo modelo social,
designado sociedade em rede (RODRIGUES, et al., 2009). Nesse sentido, a
comunicação em rede transcende fronteiras pois a sociedade em rede é global,
baseada em redes globais, alcançando países de todo o planeta e difundindo-se
através do poder integrado nas redes globais de capital, bens, serviços, comunicação,
informação, ciência e tecnologia (CASTELLS, 2005).
Castells (2005), afirma ainda, que na sociedade em rede, a virtualidade é a
refundação da realidade através de novas formas de comunicação. Tendo isso em
vista, a internet interage com a sociedade, transformando decisivamente os meios de
comunicação. Para Oliveira et al. apud Rebelo (2011), a internet processa a
virtualidade e transforma a sociedade, constituindo a sociedade em rede, que é a
sociedade em que vivemos.
A Internet trouxe diversas mudanças para a sociedade. Entre essas
mudanças, Recuero (2009) apresenta algumas fundamentais. Uma das mais
significativas referenciadas pela autora, é a possibilidade de expressão e
sociabilização das ferramentas de comunicação através do computador. Essas
343
ferramentas permitem aos utilizadores, interagir e comunicar uns com outros,
deixando, na rede de computadores, registros que permitem o reconhecimento dos
padrões das suas conexões e a visualização das suas redes sociais através desses
registros. O aparecimento dessa possibilidade de estudos de interação e conversação
através da Internet dá uma nova perspectiva de estudo sobre
as redes sociais, a partir do início da década de 1990. É, neste âmbito, que a rede
como metáfora estrutural para a compreensão dos grupos expressos na Internet, é
utilizada através da perspectiva de rede social.
Tendo em vista a grande visibilidade que a rede social possui na troca ágil de
informações e promoção da atividade turística, este estudo justifica-se pela carência
de estudos semelhantes no município de Pelotas/RS.
Nesse sentido, buscou-se entender se o Facebooké frequentemente utilizado
como uma ferramenta para promoção e comunicação de eventos culturais e da
atividade turística de forma mais ágil que os demais meios de comunicação,
principalmente aqueles mais tradicionais como a televisão, o rádio e o jornal. Para
isso, delimitou-se como objetivo geral analisar a rede social Facebook como uma
ferramenta de promoção e comunicação de eventos culturais e atividade turística no
município de Pelotas/RS. Desse modo, realizou-se pesquisa bibliográfica e foi
disponibilizado um questionário online, criado a partir da ferramenta Formulários
Google, o qual era composto por perguntas abertas e fechadas referentes a temática
proposta. Nesse sentido, o questionário foi disponibilizado de 4 a 6 de outubro de
2016. A divulgação foi feita por e-mail, Whatsapp e Facebook. A pesquisa contou com
a participação de 76 respondentes. Por fim, foi realizada a análise dos dados a partir
das respostas dos participantes, de forma quali-quantitativa, levando em conta todas
as considerações feitas.
344
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente trabalho buscou entender se o Facebook é frequentemente
utilizado como uma ferramenta para promoção e comunicação de eventos culturais e
da atividade turística de forma mais ágil que os demais meios de comunicação,
principalmente aqueles mais tradicionais como a televisão, o rádio e o jornal. Para
isso, delimitou-se como objetivo geral analisar a rede social Facebook como uma
ferramenta de promoção e comunicação de eventos culturais e atividade turística no
município de Pelotas/RS. Desse modo, o procedimento metodológico utilizado
caracteriza-se por um estudo de caso de caráter exploratório. Segundo Dencker
(2003, p.124), “a pesquisa exploratória procura aprimorar ideias ou descobrir
intuições, envolvendo em geral levantamento bibliográfico, entrevista com pessoas
experientes e análise de exemplos similares”. Nesse contexto, o trabalho foi
desenvolvido a partir de livros e artigos científicos referentes ao assunto que o
caracterizam como uma pesquisa bibliográfica.
Em um segundo momento, foi disponibilizado um questionário online, criado
a partir da ferramenta Formulários Google, o qual era composto por perguntas abertas
e fechadas referentes a temática proposta. As perguntas se referiam a utilização da
rede social Facebook; frequência da utilização e outros aspectos que permitissem
inferir se esta rede social é frequentemente utilizada como uma ferramenta de
promoção e comunicação de eventos culturais e atividade turística no município de
Pelotas. Nesse sentido, o questionário foi disponibilizado de 4 a 6 de outubro de 2016.
A divulgação foi feita por e-mail, Whatsapp e Facebook. A pesquisa contou com a
participação de 76 respondentes. Por fim, foi realizada a análise dos dados a partir
das respostas dos participantes, de forma qualiquantitativa, levando em conta os
dados estatísticos gerados pela ferramenta Google Formulários e todas
considerações feitas pelos respondentes.
345
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 TURISMO, REDE SOCIAIS E FACEBOOK
De acordo com a Organização Mundial do Turismo (2001), o turismo engloba
as atividades das pessoas que viajam e permanecem em lugares fora de seu ambiente
usual durante não mais do que um ano consecutivo.
Nesse sentido, a opinião dos turistas é de grande relevância para a atividade
turística, pois estes documentam a partir de fotos e vídeos suas experiências em uma
determinada localidade. Tendo em vista a facilidade de acesso à internet, estas
experiências, são compartilhadas em redes sociais e são capazes de promover
positiva ou negativamente um destino. De acordo com Brushaapud Cruz et al. (2012),
existem algumas oportunidades que devem ser consideradas na utilização das redes
Sociais na área do turismo: comunicação efetiva, pois a partir das redes sociais é
possível cativar e potencializar a relação das empresas com atuais e potenciais
clientes, passando uma imagem de credibilidade e confiança; e passa-palavra,
chamado de “wordofmouth”, um poderosa fonte de divulgação na área do turismo,
pois as pessoas que estão nas redes sociais buscam informações relevantes e
originais, e quando obtêm, facilmente a passam a outras pessoas.
A internet permitiu ao sujeito a possibilidade de conectar-se. Este sujeito
assume o papel de utilizador nas plataformas online. Neste contexto, que coloca o
utilizador de um lado e o sistema computacional do outro, emergiram as redes sociais,
ambientes virtuais, permitindo aos utilizadores estabelecer relações, trocar
impressões e experiências utilizando mecanismos de interação e decisão em tempo
real (LOPES, 2010).
Desse modo, a primeira rede social foi lançada em 1997 e tinha o nome de
SixDegrees. De acordo com Morais apud Cruz et. a (2012), essa rede social permitia
aos usuários criarem perfis e listar seus amigos, mas restringia o acesso de forma que
um usuário não poderia ver o perfil de outros. O serviço não conseguiu sustentação
financeira, em 2000, saiu do ar. Além da SixDegees outras redes surgiram e dentre
as principais redes sociais que surgiram está o Facebook.
346
O Facebook foi criado no ano de 2004 pelo americano Mark Zuckerberg, ex-
estudante de Harvard. No início, tinha como objetivo conectar alunos dos Estados
Unidos que estavam saindo do ensino médio e ingressando na faculdade. Para
participar era necessário que a instituição fosse cadastrada (RECUERO, 2009). Já em
2006, o Facebook abriu espaço para que qualquer usuário com e-mail e acesso à
internet pudesse cadastrar-se por meio dos perfis que são criados na página, e ainda
interagir com outros internautas e outros aplicativos fornecidos pelo site (COMM,
2009). Em 2015, o Facebook atingiu a marca de 1 bilhão de usuários. (FACEBOOK,
2016). O Facebooké capaz de integrar várias funcionalidades como postagem de
vídeos, fotos, criação de perfil e páginas, além de oferecer espaço para anúncios
(SANTOS, 2014).
Sendo assim, a dinâmica de interação na rede se dá entre perfis e páginas. A
partir da linha do tempo pessoal, o perfil é direcionado às pessoas e são mantidos
pelo nome de um usuário, sendo possível criar uma rede de amigos ao adicioná-los.
Já as páginas, conhecidas como fanpages, constituem um espaço que reúne públicos
com interesses em comum, sendo utilizadas por artistas, empresas, marcas,
organizações, entre outras finalidades. Por isso, o Facebook pode ser considerado
uma ótima ferramenta de marketing digital (SANTOS, 2014).
3.3 EVENTOS CULTURAIS E EVENTOS CULTURAIS EM PELOTAS
Para Marques apud Rodrigues (2012), os eventos culturais estão associados a
motivações culturais, artísticas, educativas e turísticas. Além disso, ocorrem em locais
específicos e em determinados momentos; têm público em número significativo e têm
uma série de agentes que são afetados pelos eventos. Nesse sentido, os agentes
podem ser indivíduos ou grupos com interesse ou investimento (cultural, financeiro,
político ou outro) no evento.
Como produto turístico, os eventos culturais conseguem aumentar a
atratividade de uma cidade ou região e captar mais turistas.
De acordo com o Ministério do Turismo (2010), os eventos culturais englobam
as manifestações temporárias, enquadradas ou não na definição de patrimônio, como
347
os eventos gastronômicos, religiosos, musicais, de dança, de teatro, de cinema, entre
outros. Em muitos casos, estes eventos ajudam à preservação do património histórico
e cultural, pois são eles o centro da atração turística. Ainda, a utilização turística dos
bens culturais contribui para a valorização, promoção e manutenção da sua dinâmica
e permanência no tempo como símbolos de memória e de identidade. Tais bens
permitem que haja maior interesse da comunidade e dos turistas, reconhecendo a
importância da cultura e da sua preservação (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010).
Nesse sentido, Pelotas dispõe de um grandioso patrimônio cultural, que pode
ser comprovado através dos exemplares arquitetônicos e das diversas edificações
tombadas ou inventariadas como patrimônio histórico e cultural. O belo patrimônio
cultural arquitetônico, de forte influência europeia, é um dos maiores de estilo Eclético
do Brasil, contando com 1300 prédios inventariados. No ano de 2006, Pelotas foi
eleita, pela Revista Aplauso, como a cidade "Capital da Cultura" do interior do estado
(Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Pelotas, 2016).
No que se refere a promoção de eventos culturais, a cidade de Pelotas realiza
a Feira Nacional do Doce (Fenadoce) desde 1986, e tem como objetivo promover a
cultura doceira da cidade para o Brasil e o mundo. Nas primeiras edições o evento
ocorria a cada dois anos e em locais diferentes, com o tempo o evento ganhando
destaque e, a partir de 2000 a feira tornou-se anual, passando a ser realizada no
Centro de Eventos Fenadoce, consolidando-se como o principal evento turístico-
gastronômico da cidade de Pelotas.
No entanto, cabe destacar que Pelotas não limita-se culturalmente apenas a
realização da Fenadoce. O município de Pelotas conta com diversos eventos culturais
apoiados ou não pelos órgãos públicos.
Segundo o Jornal Diário Popular (2014), desde 2013, o número de eventos
culturais em Pelotas aumentou. Com o Programa de Municipal de Incentivo à Cultura
(Procultura), iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura foram homologados 17
projetos relacionados à produção cultural em Pelotas. Dentre os eventos apoiados
pelo Procultura, por exemplo, estão o Sofá na Rua contando com produções
audiovisuais e teatrais, promovido pela Casa Fora do Eixo Pelotas (responsável pela
348
realização de vários eventos do gênero na cidade) e o Piquenique Cultural,
acontecendo desde 2010 em espaços públicos de Pelotas, caracterizado pela mistura
de elementos de um tradicional piquenique, como toalhas quadriculadas na grama de
um parque, com a cultura, através de apresentações artísticas (JORNAL DIÁRIO
POPULAR, 2014).
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
Tendo em vista a importância do Facebook enquanto meio de comunicação
capaz de conectar indivíduos de diferentes extremidades no mundo, o objetivo geral
desse trabalho é analisar a rede social Facebook como uma ferramenta de promoção
e comunicação de eventos culturais e atividade turística no município de Pelotas/RS.
Desse modo, realizou-se pesquisa bibliográfica e foi disponibilizado um questionário
online, criado a partir da ferramenta Formulários Google, o qual era composto por
perguntas abertas e fechadas referentes a temática proposta. A pesquisa contou com
a participação de 76 respondentes. Por fim, foi realizada a análise dos dados a partir
das respostas dos participantes, de forma quali-quantitativa, levando em conta todas
as considerações feitas.
Nesse sentido, a primeira pergunta questionava se os respondentes
utilizavam a rede social Facebook. Dos 76 respondentes, todos alegaram utilizar o
Facebook, ou seja 100% dos participantes da pesquisa. A seguir, a segunda pergunta
se referia à frequência a qual o respondente costumava utilizar-se do Facebook.
Nesse sentido, 75 indivíduos (98,7%) alegaram utilizar a rede social diariamente e
apenas 1 pessoa (1,3%) assinalou a opção “algumas vezes na semana”. Esta
pergunta permitia ainda, que os respondentes optassem pelas alternativas: “somente
nos finais de semana”; “uma vez por semana” e “nunca pois não utilizo a rede social
Facebook”. A partir de tais resultados, fica evidente a presença do Facebook no
cotidiano dos indivíduos, denotando claramente a configuração de uma sociedade em
rede.
Nesse sentido, os resultados da terceira pergunta ajudam a reforçar a ideia
de que o Facebook está cada vez mais presente no cotidiano dos indivíduos pois ao
349
fazer referência aos motivos que levavam o respondente a utilizar o Facebook, dentre
as motivações listadas estão aspectos comuns à vida social, como: lazer; conversar
com amigos; sair do tédio; socializar e estabelecer contatos. Foram listadas ainda: ver
publicações, vídeos, fotos e eventos que estão acontecendo tanto de amigos quanto
páginas em geral; acesso fácil a comunicação; informação ágil; atualização de notícias
e eventos; lembretes de aniversário; falta do que fazer; facilidade, ótima capacidade
de comunicação e socialização; acesso a informações, grupos e materiais
acadêmicos; diversão; entretenimento; facilidade ao direcionar o conteúdo que chega
ao usuário, de acordo com interesse. Também, surgiram respostas como “todo mundo
usa” e “o que as pessoas não te contam, elas postam no Facebook...”.Logo, percebe-
se que o Facebook estabelece múltiplos vínculos entre os usuários, a partir das mais
variadas motivações, e a comunicação é citada explícita ou implicitamente.
Tendo em vista, o conhecimento ou participação de eventos culturais como
motivação para acessar a página de divulgação dos eventos, os respondentes foram
questionados se recebem convites para eventos culturais em seu perfil ou página.
Nesse sentido, dos 76 participantes, 73 (96,1%) disseram que sim, e apenas 3 (3,9%)
disseram que não, evidenciando que os organizadores de eventos conhecem o
potencial da rede social como uma opção de promoção e divulgação de eventos.
Após, foi questionada a frequência a qual o respondente recebe convites para
eventos culturais via Facebook. Do total de participantes, 17 respondentes (22,4%)
alegaram receber convites diariamente; 22 (28,9%) recebem convites mais de uma
vez por semana; 24 (31,6%) ao menos uma vez por semana; 8 (10,5%) uma vez por
mês; 5 (6,6%) raramente recebem convites e nenhum respondente assinalou o item
“nunca”. Portanto, observa-se que a maioria dos participantes da pesquisa recebem
frequentemente convites culturais via Facebook, pois os itens “uma vez por mês”,
“raramente” e “nunca” correspondem apenas à 17% dos respondentes, evidenciando
a importância do Facebook na promoção de eventos culturais.
A próxima pergunta fazia menção a eventos na cidade de Pelotas, dos quais os
respondentes tem conhecimento ou tivessem participado. Para tanto, foram elencadas
as seguintes opções: “Sofá na Rua”; “Piquenique Cultural”; “Fenadoce”; “Semana do
350
Patrimônio” e “Outros” (este item permitia ao respondente relatar mais de um evento
citado que tivesse tido conhecimento ou participado, bem como citar outros ou
declarar que não havia recebido convites). As quatro primeiras opções foram
elencadas devido a presença destes eventos no calendário municipal de eventos da
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo do município. Cabe
lembrar, que muitos outros eventos compõem o calendário, no entanto, foram
elencados apenas alguns no intuito de que os participantes citassem outros eventos
a partir da opção “Outros”. Desse modo, 18 (23,7%) respondentes disseram ter tido
conhecimento ou participado exclusivamente do evento Sofá na Rua; 18 (23,7%) do
evento Piquenique Cultural; 18 (23,7%) da Fenadoce; 5 (6,6%) da Semana do
Patrimônio e 17 (22,4%) escolheram a opção “Outros”. Dos 17 respondentes que
assinalaram a opção “outros”, 11 mencionaram ter conhecimento ou participado de
todos eventos citados anteriormente (Sofá na Rua, Piquenique Cultural, Fenadoce e
Semana do Patrimônio); 1 citou todos eventos elencados pelo questionário e ainda o
evento “Sete ao entardecer”; 1 elencou todos eventos citados, mencionando ainda o
Cine UFPel, Bendito Porto, Subjetivas e Fora Temer; 1 destacou Foodtruck e
manifestações; 1 alegou receber convites de festas da cidade e 1 disse não ter
conhecimento via Facebook ou ter participado de eventos culturais em Pelotas.
No que se refere ao fato de receber convites para eventos culturais de outros
meios de comunicação, a maioria (42) relatou não receber convites de outros meios
de comunicação, correspondendo a 55,3% dos respondentes. Aqueles que disseram
receber (34), correspondem a 44,7% dos respondentes.
A pergunta seguinte solicitava que os participantes da pesquisa assinalassem
outros meios pelos quais costumavam ser convidados para eventos culturais. Nesse
sentido, foram dispostos os seguintes itens: “Mídia Impressa”; “Rádio”; “Sites em
geral”; “Não recebo convites de outros meios” e “Outros” (este item permitia ao
respondente relatar mais de um meio de comunicação citado o qual recebesse
convites para eventos, bem como citar outros que não foram lembrados pela
pesquisa). Desse modo, 15 (19,7%) respondentes disseram ter tido conhecimento ou
participado exclusivamente pela mídia impressa; 5 (6,6%) pelo rádio; 12 (15,8%)
351
através de sites em geral; 10 escolheram o item “outros”, dos quais 2 mencionaram
exclusivamente o aplicativo Whatsapp; 3 citaram televisão; 4 e-mail; 1 citou e-mail e
televisão. E, por fim, 34 (44,7%) disseram não receber convites de outros meios de
comunicação. Essa alternativa foi disposta, tendo em vista que aqueles que não
recebem convites de outros meios, não poderiam assinalar alternativas de outros
meios de comunicação propostos pela pesquisa. Observa-se, no entanto, que esse
número não se manteve igual ao obtido na pergunta anterior (55,3%), talvez pela
distração dos respondentes.
Foi abordada também, a frequência a qual os respondentes são convidados
para eventos culturais a partir de outros meios de comunicação. A respeito disso, 4
respondentes (5,3%) alegaram ser convidados diariamente através de outros meios
de comunicação; 5 (6,6%) recebem convites mais de uma vez por semana; 13 (17,1%)
ao menos uma vez por semana; 8 (10,5%) uma vez por mês; 24 (31,6%) raramente
recebem convites e, por fim, 22 (28,9%) nunca são convidados por outros meios de
comunicação. Esta resposta, assim como a pergunta anterior, apresentou índice de
porcentagem díspar em relação ao recebimento de convites para eventos culturais
provenientes de outros meios de comunicação.
Outro aspecto considerado pela pesquisa, foi quanto à satisfação das
informações e fotos pelos eventos em suas páginas oficiais. Nesse sentido 68
participantes (89,5%) consideram-se satisfeitos e apenas 8 (10,5%) estão insatisfeitos.
Tal resultado demonstra que os participantes consideram que as informações e fotos
apresentam-se de forma satisfatória.
A pesquisa também abordava se os participantes acreditavam que o Facebook
proporciona comunicação mais rápida e precisa que os demais meios de comunicação,
implicando em um maior alcance de público dos eventos culturais em Pelotas e qual
a justificativa de sua resposta. Nesse sentido, a maioria (72) disse que sim; apenas 3
disseram que não, desses, 2 alegaram que muitas pessoas não utilizam o Facebook
ou nem sempre acessam e 1 não justificou o motivo; e apenas 1 respondente não
manifestou opinião. Aqueles que disseram acreditar na precisão e agilidade no
Facebook, justificaram de várias formas, dentre as quais: a maioria das pessoas tem
352
acesso ao Facebook; comunicação mais direta com o público alvo e alcance maior de
público pois os eventos já estão direcionados para determinado público; possibilidade
de ver quais eventos os amigos estão interessados, saber se comparecerão ou tem
interesse, para convidá-los; compartilhamento de informação ágil; possibilidade de
sanar dúvidas e obter retorno em alguns minutos; os convites geralmente chegam aos
usuários no mesmo instante no mesmo tempo em que são enviados, repleto de
informações e fotos; o Facebook tem grande alcance pois éum meio de comunicação
utilizado universalmente, entre outros.
Após, foi questionado se o Facebook auxilia na promoção e desenvolvimento
da atividade turística no município de Pelotas e por quais razões. Nesse sentido, 10
respondentes disseram que não. Dentre as justificativas, destacam-se: falta de
divulgação sobre a atividade turística em Pelotas; divulgação apenas da Fenadoce.
Foi citado também, que o turismo de Pelotas é voltado para o Pelotense pois os
museus não abrem no final de semana, lugares turísticos não possuem infraestrutura
e o Facebook não teria impulsionado mudança frente a essa situação. Já, os demais
respondentes acreditam que o Facebook promove o desenvolvimento da atividade
turística. Alguns apesar de acreditarem, não listaram motivos. Aqueles acreditam e
listaram motivos, frisaram que há mais informações sobre eventos disponíveis no
Facebook do que no site da Secretaria de Turismo da cidade; amigos de perfil que
trabalham em agências de viagens, costumam expor o seu trabalho mostrando
destinos turísticos de várias partes do mundo, incluindo Pelotas e lugares
desconhecidos; ajuda a fomentar eventos que já existem, como a Fenadoce; os
eventos costumam atingir um número grande de usuários, pois muitos não costumam
utilizar outros meios de comunicação; e, ainda, a maioria das pessoas podem acessar
o Facebook pelo celular a qualquer horário e lugar, multiplicando, dessa forma cada
vez mais informações, conhecimento sobre atividades, festas, eventos que ocorrem
na cidade, contribuindo para a popularização de eventos em geral entre moradores e
visitantes.
A penúltima pergunta questionava aos respondentes se estes acreditavam que
o Facebook proporciona aos usuários a oportunidade de feedback com os
353
organizadores do evento e o porquê. Dos 76 respondentes, 60 alegaram que sim,
destacando aspectos como a existência de um espaço aberto para comentários tanto
de aspectos positivos quanto negativos e recebimento instantâneo de mensagens e
comentários sobre o evento; possibilidade contribuição de sugestões para os
próximos eventos e a facilidade em contatar os organizadores dos eventos. Os demais
respondentes disseram que não, assinalando, por exemplo, que geralmente os
organizadores não sabem lidar com as críticas e muitas vezes não são os
organizadores que sanam dúvidas sobre o evento, e sim, qualquer usuário da rede
social
Por fim, a última questão perguntava se havia alguma crítica ou sugestão para
o aprimoramento do Facebook. Nesse sentido, dos 76 participantes, 66 não
manifestaram críticas ou sugestões. Já os demais elencaram os seguintes pontos:
poder ter maior controle sobre o conteúdo da linha do tempo pois há publicações que
fogem do interesse do usuário; possibilidade de sistema de fóruns, em que as
discussões são alimentadas por dias ou meses e crítica quanto a quantidade de
publicações, causando o congestionamento do aplicativo.
Desse modo, a partir da análise de dados inferiu-se desde a primeira até a
última pregunta, que a rede social Facebook é frequentemente utilizada na promoção
de eventos culturais, sendo considerado pelos participantes da pesquisa mais ágil que
os demais meios de comunicação e capaz de promover a atividade turística no
município, bem como alavancar os eventos culturais existentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De maneira geral, os resultados mostraram que, segundo os participantes da
pesquisa o Facebook é um meio de comunicação muito utilizado e que tem
capacidade suficiente para dar continuidade na promoção de eventos culturais e da
atividade turística. Nota-se que as informações circulam de maneira ágil, aproximando
pessoas de extremidades diferentes, bem como incentiva que os organizadores de
eventos se utilizem dessa rede social com maior frequência.
354
Além disso, os eventos culturais têm um papel importante nas cidades,
principalmente nas comunidades, pois esses eventos, enquanto produto turístico,
movimentam a economia local, reduzem a sazonalidade e contribuem para a
valorização e preservação do patrimônio histórico, cultural e natural. Cabe ressaltar
ainda, que o Facebook se consolida como uma rede social responsável por
estabelecer conexões das mais variadas formas, seja cultural, social ou
economicamente. Dessa forma, compete ao gestores e agentes da atividade turística
do município de Pelotas/RS encontrar maneiras para que esta se desenvolva e se
consolide a partir dessas possibilidades. Entidades culturais e profissionais das áreas
de comunicação e marketing, também, devem apostar mais na promoção dos seus
eventos através destas novas ferramentas de gestão de comunicação, como o
Facebook.
Nesse sentido, a produção científica sobre redes sociais e Turismo deve ter
continuidade pois apesar da existência de diversos estudos sobre a internet e as redes
sociais, observa-se que a produção está focada na utilização das redes sociais em
ações de marketing de outros produtos e serviços. De acordo com as pesquisas
realizadas para a construção desse trabalho, foram encontrados poucos estudos que
fizessem referência a utilização das redes sociais na promoção de eventos culturais e
da atividade turística. Ainda, apesar dos resultados deste trabalho serem
considerados positivos, a realização deste estudo apresentou algumas limitações
como a impossibilidade de generalizar as conclusões frente ao número reduzido de
respostas obtido.
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do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de
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356
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http://www.pelotasturismo.com.br/atrativos-turisticos/pelotas-cultural/>. Acesso em:
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ANÁLISE DO COMPOSTO DE MARKETING NA PLATAFORMA ONLINE DE UMA
AGÊNCIA DE VIAGENS DE GRANDE PORTE
357
VIOLIN, Fábio Luciano64; CUSTÓDIO, Vagner Sérgio65; PICHI, Thaís Marques66;
ROCCA, Thamyris Nilsen67
Resumo: O estudo retrata a análise do composto de Marketing em plataforma online
de uma agência de viagens de porte nacional. O trabalho foi desenvolvido a partir da
análise de dados disponíveis no site, nos quais foram analisados os preços, os
produtos, a praça e as promoções. Também realizou-se análise geral do conteúdo e
interface disponibilizado no website através da vinculação dos elementos do website
com as variáveis do composto de Marketing. Com a análise, observou-se que a
plataforma trabalha de modo robusto os quatro elementos que contemplam o
composto mercadológico, apresentando diferenciais competitivos em níveis refinados.
Palavras-chave: Marketing, Turismo, Composto de Marketing, Online Travel Agency.
1 INTRODUÇÃO
A realização das viagens, envolve, entre outros elementos, a prestação de
diversos serviços, como meios de hospedagem, deslocamento, alimentação entre
outros. Tais serviços podem ser oferecidos de forma direta no mercado e o
consumidor tem a oportunidade de aquisição de modo direto, ou seja, sem a
necessidade de intermediários. As agências de viagens são de grande importância no
intermédio de serviços turísticos, pois facilitam a compra dos serviços que compõe
64 Professor Assistente Doutor da UNESP - Campus de Rosana/SP. E-mail:[email protected] Lattes:http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4759436Z1 65 Professor Assistente Doutor da UNESP - Campus de Rosana/SP. E-mail:[email protected] Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4756234D8 66 Graduanda do curso de Turismo da UNESP - Campus de Rosana/SP. E-mail:[email protected] Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8131571T8 67 Graduanda do curso de Turismo da UNESP - Campus de Rosana/SP. E-mail:[email protected] Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8505646H5
358
uma viagem, mas a forma de atuação dessas organizações tem se alterado a olhos
vistos nas últimas décadas.
Segundo a OMT (2001) as agências de viagem “são o canal mais clássico de
comercialização turística” e podem ser conceituadas como
Empresas de serviços e sua função principal é a intermediação, das quais
derivam outras funções que vão desde a informação e o assessoramento ao cliente,
até a organização de todo tipo de atividade relacionada ao setor de viagens e turismo”
(OMT, 2001, p.139).
Candioto (2012) aponta que “desde o seu surgimento as agências de turismo
são empresas que buscam aperfeiçoar a maneira de viajar, facilitando a aquisição e
a utilização dos serviços e equipamentos turísticos”. Contudo, com os avanços
tecnológicos, especialmente a Internet, os consumidores passam a dispensar alguns
intermediários quando compram serviços de viagens e turismo.
Contemporaneamente, a rapidez do serviço e economia de tempo tornaram-
se importantes referenciais competitivos, surgiram as agências de turismo online (OTA
- Online Travel Agency), responsáveis por comercializar e distribuir serviços online
através da internet (MARÍN, 2004). Nesse sentido, passa a fazer parte do cotidiano
dessas organizações a noção de busca por diferenciais competitivos. Swarbrooke e
Horner (2002), apontam que é preciso a compreensão do comportamento do
consumidor, pois é ele quem define a eficácia das atividades mercadológicas
realizadas pela empresa.
Entender cada vez mais e melhor as variáveis que influenciam a
competitividade no turismo, tornaram-se, a exemplo de outras áreas, questão crucial
para a manutenção ou crescimento das organizações em mercados cada vez mais
complexos e competitivos.
Por fim, destaca-se que o objetivo desse estudo foi o de analisar o composto
de marketing na plataforma online de uma agência de viagens de grande porte.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
359
O trabalho por sua natureza traz as caraterísticas descritivas na análise dos
dados valendo-se da observação de elementos presentes ou ausentes em website,
dentro do contexto da organização analisada.
Os elementos de análise foram os itens que compõem o composto de
Marketing, ou seja, analisou-se os elementos ligados ao preço, as características dos
produtos, os itens relacionados a logística e, por fim, a comunicação.
A organização analisada foi selecionada por ser de porte grande e
abrangência nacional figurando como a maior operadora de viagens da América
Latina, sendo ainda a primeira agência no país a possuir uma plataforma online para
venda de seus produtos de modo estruturado, entendendo assim, que a mesma
apresenta uma proposta de negócio robusta.
A coleta de dados ocorreu em Novembro de 2015, tendo uma segunda coleta
em Agosto de 2016. Por nãos e ter autorização da empresa analisada, optou-se por
não inserir seus dados e nem caracterizá-la.
Como modo de apresentar elementos mínimos, aponta-se que a empresa tem
mais de 40 anos de existência e se mostra consolida como importante operadora de
turismo, apresentando-se como a maior em seu ramo na América latina, tendo sido a
primeira a fretar aviões, a investir em diferentes canais de distribuição, a implantar
lojas em shoppings centers e hipermercados e também a oferecer facilidades de
parcelamentos para seus clientes e política de preços diferenciadas.
Destaca-se, então, que o estudo é um primeiro esforço para qualificar o
entendimento a respeito dos elementos pertinentes a análise.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Agências Online de Turismo – OTA
A rede mundial de comunicação foi criada na década de 1970, e a princípio era
utilizada apenas para fins militares, vinte anos depois, passou a ser distribuída para
toda a população (CANDIOTO, 2012). Após a popularização da rede internacional de
informações, a World Wibe Web, em 1994, as empresas começaram a disponibilizar
360
informações de suas empresas na Internet através de sites e a partir daí realizar
transações eletrônicas de bens e serviços, é o chamado e-commerce.
No turismo, as vendas pela internet foram feitas inicialmente, por companhias
aéreas americanas. Com o passar do tempo surgiram as agências de turismo online,
que comercializam diversos produtos através da rede (MARÍN, 2002).
De acordo com Travel Click (2015) agências de viagens online, são sites que
oferecem compras de viagens e reservas para os consumidores. As agências virtuais
apareceram com a promessa de oferecer melhores serviços, mais flexíveis e
vantajosos para os consumidores, com maior rapidez, informações mais precisas e
menor preço.
A relação entre o marketing tradicional e o marketing digital
A atuação do Marketing vai além do conceito de vendas e propaganda. Estes
dois itens são somente uma parte de todo processo. Entre suas atividades, o
Marketing tem por objetivo trabalhar as características de uma oferta, sua forma de
disponibilização aos consumidores dentro de faixas de preço adequadas ao canal e
valendo-se de comunicação adequada. Para tanto, é necessário conhecer as
características e comportamentos de consumo de seus usuários, para que se possa
adequar a oferta de um modo que atenda às suas necessidades ou desejos
(WESTWOOD, 1996).
Ambrosio (2007) diz que o marketing é a arte que tem por objetivo satisfazer os
desejos e necessidades do mercado consumidor, com o intuito de gerar resultados.
Com o passar do tempo, os avanços tecnológicos acelerados, novos e mais
fluídos meios de difusão de informações aliados a um cenário mercadológico volátil,
gerou grandes impactos na forma das organizações se relacionarem com seu(s)
mercado(s) de interesse (KOTLER, 2005).
Indubitavelmente, um dos maiores influenciadores desse processo, foi o
advento da internet, a qual alterou de modo substancial a maneira das organizações
relacionarem-se com seus consumidores, especialmente no turismo. Uma das áreas
que melhor exemplificam isso, é o meio de se chegar até as informações, pois essa é
361
uma das essências do marketing, e com o crescimento da internet o fluxo de
informações se tornou mais intenso, em decorrência de mudanças no modo de vida
da atual sociedade e automaticamente no modo em que o mercado atua.
Com as evoluções tecnológicas,
[...] a Internet criou uma revolução nos meios de comunicação global; está alterando dramaticamente as possibilidades de se transacionar comercialmente em todo o mundo. A Web está cada dia se consolidando como canal mais eficiente de interligação entre empresas e consumidores, sejam eles indivíduos ou outras organizações. (DINIZ, 1999, p. 83)
Kotler (2000) acredita que o marketing digital possui vantagens em relação ao
marketing tradicional, pois é possível tanto para as grandes empresas quanto para as
menores fazerem uso da rede por um custo justo.
Além disso, seu espaço de promoção não é limitado, já que a facilidade de
encontrar informações permite um fácil acesso por parte do cliente e uma recuperação
eficiente de informações sem que haja fronteiras, o mundo inteiro pode estar a um
click do seu público.
Para demonstrar a eficiência da internet no quesito fluxo de informações, Souza
et al. (2012) destaca que as empresas usam as redes virtuais como um meio de
transmitir mensagens publicitarias de forma espontânea, já que qualquer informação
lançada no meio eletrônico tem sua propagação de forma natural e rápida, sendo
assim um meio muito eficiente de ser aplicado em estratégias organizacionais.
E com toda a revolução tecnológica, o marketing sofreu mudanças notáveis,
ainda no fim do século XX, e nesta época era possível perceber que empresas novas
que surgiam em paralelo a evolução digital que tentavam aplicar conceitos tradicionais
de marketing sofriam dificuldades em faze-lo (LAS CASAS, 2001).
Em um momento anterior, em que a expansão da internet, ainda estavam em
curso chegando a um número substancialmente inferior ao da atualidade, a
intensidade de ações mercadológicas era relativamente baixa. Houve um tempo em
que o processo de planejamento era mais lento, permitindo uma margem entre o
pensar e o realizar nas organizações de modo consideravelmente menos complexo
362
do que a atualidade. Contemporaneamente, o processamento de informações tende
a ser mais rápido, estabelecendo um senso de ação imediato, mas com planeamento
estruturada, para não se incorrer em erro retumbante (KOTLER, 2005).
No que se diz respeito ao acesso à informação por parte do consumidor, Kotler
e Armstrong (2000) destacam que o processo de decisão de compra surge após um
longo tempo de busca por informações. Esse processo é formado por cinco estágios:
percepção de necessidade ou desejo, a busca de informação sobre o produto, análise
de opções, a tomada de decisão em si e a satisfação no período pós- compra.
E como as estratégias de abordagem ao consumidor, tendem a atender essa
nova busca por informações de modo rápido, a internet surgiu como um local onde
isso pode ser feito com maior eficiência no que se diz respeito à interação entre
mercado e consumidor final, por poder ser utilizada como meio de pesquisa, para lazer
e para uso profissional (PEPPERS, 1994).
Diante da grande utilização da internet pela sociedade, é possível conectar o
mundo em um único local, o que decorreu no desenvolvimento de um ambiente aberto
de comunicação que acabou dando a oportunidade ao consumidor em escolher o local
de compra, de qual empresa comprar, a data em que gostaria de receber o produto,
e também basear a sua escolha de acordo com o valor que estaria disposto a pagar.
E foi assim que surgiu um novo local de comercialização, o e-commerce (MAYA;
OTERO, 2002).
O e-commerce que em tradução livre, pode ser dito como comércio eletrônico
é qualquer tipo de transação comercial de compra e venda realizada em meio
eletrônico ou com o auxílio do mesmo (NAKAMURA, 2001). Em relação ao comércio
eletrônico, destaca-se que o mesmo é
[...] a realização de toda a cadeia de valor dos processos de negócio num ambiente eletrônico, por meio da aplicação intensa das tecnologias de comunicação e de informação, atendendo aos objetivos de negócio. Os processos podem ser realizados de forma completa ou parcial, incluindo as transações negócio-a-negócio, negócio-a-consumidor e intra - organizacional, numa infraestrutura predominantemente pública de fácil e livre acesso e baixo custo (ALBERTIN, 2002, p. 89).
363
A rede mundial de comunicação, ao mesmo tempo em que traz possibilidades
quase infindáveis de informações, também traz a necessidade de pensamento
estratégico mais elaborado, pois, o concorrente direto que antes estava na mesma
cidade ou região agora encontra-se em virtualmente qualquer parte do mundo.
Os 4Ps aplicados as agências de viagens
Uma das formas de conhecer o mercado e seus consumidores é utilizar o
composto de marketing. O composto foi formulado por Mccarthy em seu livro Basic
Marketing (1960) e entende-se como um conjunto de ferramentas que a empresa usa
para atingir seus objetivos no mercado alvo, o mesmo também é formado por um
conjunto de variáveis que influenciam as pessoas em relação à compra. As agências
e as operadoras usam o composto ou mix de marketing para o lançamento de um
novo produto, para relançar um produto antigo, para melhorar as vendas, atrair novos
clientes, saber onde e tudo mais que se relaciona com o mercado, o produto e o
cliente.
McCarthy (2013) classificou quatro tipos de ferramentas, os quais denominou
os quatro Ps do marketing: produto, preço, ponto de venda e promoção. Esses fatores
são inter-relacionados e decisões em uma área afetam a outra.
Na variável produto são analisados aspectos como formulação, características,
produção, qualidade, marca, design entre outros. O mesmo pode ser composto de
partes tangíveis e intangíveis. Kotler (1998, p. 28) define produto como “algo que pode
ser oferecido para satisfazer uma necessidade ou desejo”. O marketing influencia os
consumidores em relação aos seus desejos, o que inclui a escolha do destino de sua
viagem.
Já o preço, afeta diretamente o volume de venda do produto. Quanto maior o
benefício percebido do produto para a satisfação de sua necessidade, maior o preço
que o consumidor estará disposto a pagar para ter acesso a ele.
364
O ponto de venda ou canal de distribuição é o meio pelo qual o produto chega
até o consumidor, sendo assim considerada um intermediário. Aponta-se que:
Quanto maior a quantidade de canais, maior a cobertura de mercado da empresa e
mais altos os índices de crescimento de suas vendas. Qualquer que seja a quantidade
de canais utilizados pela empresa, é preciso integra-los para construir um sistema de
fornecimento eficiente [...] (KOTLER, 2003, p.52).
Nem sempre a distribuição é direta do produtor para o consumidor. Este é o
caso das operadoras, que se utilizam das agências para comercializar seus produtos.
As tarefas de promoção visam promover o consumo dos serviços e inclui
propaganda, publicidade, relações públicas e refere-se aos diferentes métodos de
promoção do produto, marca ou empresa. Enfatiza-se que:
A promoção de vendas consiste em um conjunto diversificado de ferramentas
de incentivo, em sua maioria a curto prazo, que visa estimular a compra mais rápida
de produtos/serviços específicos por consumidores. (KOTLER, 2012, p. 345)
A promoção é fundamental para as empresas atraírem a atenção do
consumidor alvo. Ela é a relação estabelecida entre o comprador e o consumidor, a
fim de concretizar a compra e satisfazer as necessidades tanto do cliente quanto da
empresa.
Além dos 4ps abordaremos também três critérios para avaliação do website da
empresa, os quais são: conteúdo, qualidade do conteúdo e design que se aplicam
diretamente nas negociações do setor do turismo.
Os conteúdos dos websites disponibilizam um grande número de informações
e serviços sobre a empresa e diversas informações, com foco nas necessidades dos
usuários/consumidores.
A qualidade do conteúdo dos websites pode ser mensurada de acordo com a
atualização, adequação, facilidade na utilização, compreensão, inovação sendo os
itens mais importantes quando se fala em qualidade de conteúdo de um website de
turismo.
365
O design representa para um website, a fluidez das informações e o conforto
visual, podendo ser considerado como um dos itens fundamentais para a experiência
do usuário.
4 RESULTADOS
O primeiro P analisado do website foi o produto, estudou-se a página inicial do
site, bem como suas sub categorias. Logo na página inicial, aparecem os pacotes
mais procurados nacionais e internacionais, sendo que os nacionais aparecem
apenas destinos de sol e praia, como por exemplo, Rio de Janeiro, Maceió, Fortaleza
e Camboriú. Já os internacionais aparecem destinos com segmentos variados, como,
Punta Cana, Madri, Buenos Aires e Orlando. Apresenta-se também na página inicial,
sub itens de produtos como, passagens aéreas, hotéis, resorts, cruzeiros, circuitos,
intercâmbios, ingressos, vale viagens, destinos e listas de casamento. No sub item
pacotes, os produtos ofertados em promoção aparecem logo no início da página,
contendo valores e formas de pagamento, facilitando a escolha e interesse do cliente.
Figura 1: Produtos em promoção que aparecem na página inicial da organização analisada
366
Fonte: site da agência online analisada
Nos sub itens passagens aéreas, hotéis e resorts aparecem os produtos que
estão em promoção e em destaque, no qual o cliente seleciona conforme sua
preferência e quando selecionado, apresenta maiores detalhamentos sobre o produto
escolhido.
No sub item cruzeiros, o mesmo apresenta a busca pelas companhias, navios,
mês de embarque e porto de embarque sendo que em sua página inicial são
apresentados alguns cruzeiros e maiores detalhamentos, no qual não há possibilidade
de compra online e nem média de preços, no qual só pode ser adquiro pelo telefone
ou por ida a uma agência física.
No sub item circuitos, no qual o mesmo refere-se à uma viagem por vários
países em um único pacote ou vários atrativos de um mesmo país acompanhado de
um guia, é abordado no site todas as cidades, o que está incluso no pacote contudo
não há valores dos produtos oferecidos, sendo assim, o cliente deve ligar em uma
agência ou procurar a mesma para maiores informações.
O sub item intercâmbio aborda apenas as cidades que são oferecidos os
pacotes, divididos em país, idioma, não abordando preços, fazendo com que o cliente
também tenha que entrar em contato com a agência por telefone ou pela sua loja
física.
Há o sub item ingressos, no qual é possível ver parques temáticos, passeios,
shows e eventos esportivos de todo o mundo e os tipos de ingresso, sendo que o
mesmo só pode ser comprado via telefone ou loja física.
No sub item vale presentes, o cliente pode escolher um valor de no mínimo
200 reais para presentear alguém, no qual pode realizar toda a compra pela internet.
O sub item destinos, contem para o cliente informações de todos os destinos
que a empresa opera, sendo possível maiores informações sobre o mesmo, como
fotos, pontos turísticos e pacotes que são vendidos pela empresa.
A empresa tem um diferencial no que se refere a produtos pois oferece além
de pacotes e serviços, uma lista de casamento, na qual, os noivos selecionam o
367
destino que pretendem passar a lua de mel e os convidados adquirem cotas para os
recém casados utilizarem no pagamento da viagem.
Nota-se nesse primeiro P analisado que a empresa possui diversos tipos de
serviços e produtos, no qual o cliente pode elaborar toda a sua viagem, desde a
compra de pacotes fechados até mesmo personalizar sua viagem, no qual monta toda
a viagem ao seu gosto. A mesma também contém um diferencial das demais, pois
oferece uma lista de casamento, fazendo com que fique mais fácil os recém casados
usufruírem de sua lua de mel, já que cada convidado pode oferecer uma cota para o
pagamento da mesma.
O segundo P, refere-se ao preço, no qual feito a análise observou-se que há
acessibilidade de todos os públicos, no qual são oferecidos desde pacotes parcelados
em 10 vezes de 60 reais como pacotes exclusivos, os quais tendem ao preço ser mais
elevado. Constata-se que pacotes diferenciados não são expostos os preços no site,
fazendo com que o cliente tenha que entrar em contato com a empresa via telefone
ou loja física. Em relação ao pagamento, observou-se que é possível, nos pacotes
com preços mais acessíveis, realizar toda a compra pelo website, inclusive assinar o
termo de compromisso, facilitando toda a transação e assim, permitindo comodidade
ao cliente.
O terceiro P, é o ponto de venda ou canal de distribuição. No caso da
operadora, como o canal de venda estudado é via internet por seu website, a mesma
contempla um grande número de consumidores, uma vez que oferece todos os seus
serviços no website, fazendo com que o mesmo conheça e pesquise seus produtos,
porém, não são todos os serviços oferecidos que estão disponíveis para compra
imediata, os personalizados estão disponíveis pela compra apenas pelo telefone ou
em uma agência mais próxima. Pela mesma possuir um canal de venda virtual, a
empresa passa a ter uma visibilidade maior já que é possível o acesso de qualquer
parte do mundo, contudo o site só está disponível em português, não possuindo outra
plataforma de idiomas.
O último P, refere-se a promoção, no qual percebe que os websites contem
plataforma em diversas redes sociais, sendo publicada fotos de destinos, promoções
368
e experiências de seus clientes em suas viagens. Constata-se que a empresa tem
forte divulgação nas redes sociais, uma vez que, faz divulgação de seus destinos,
deixando seus clientes com a vontade de usufruir de novas experiências.
No que se diz respeito ao conteúdo disponibilizado no website, pode-se dizer
que o mesmo é completo, abordando todos os serviços que a empresa oferece e
também auxilia na escolha do melhor destino de acordo com os desejos de seu cliente.
Figura 2: Interface da página inicial da empresa analisada
Fonte: site da agência online analisada
Chama-se a atenção para o ícone na lateral inferior direita. Ele representa
uma evolução entre a tomada de informações do ano de 2015 e o de 2016.
Anteriormente, esse tipo de serviço não estava disponível. Infere-se que tal postura
representa um esforço para inserir dentro do contexto segmentos ou nichos antes não
almejados, seja qual for o objetivo, indubitavelmente tal cenário e forma de oferta
apontam para a busca estratégica de entendimento e inserção de consumidores ao
longo de toda cadeia de oferta e uso.
369
Por fim, quando analisado o design do website, o mesmo possui uma interface
neutra, com as cores da empresa, com uma boa apresentação visual. Com relação a
facilidade na utilização, é de fácil acesso, já que todos os produtos estão separados
em sub categorias e a finalização da compra não demanda grande número de tempo,
pois logado com seu usuário cadastrado anteriormente a empresa já possui todas as
informações. Relacionado a acessibilidade do site, a mesma é inexistente, pois não
possui acesso para pessoas com deficiência visual e o mesmo não adota padrões
internacionais de acessibilidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A distribuição de produtos/serviços na indústria do turismo por meio da
Internet está sofrendo uma revolução, uma vez que o produtor pode entregar o produto
diretamente ao consumidor sem necessidade da intermediação, agilizando desta
maneira todo o processo de entrega do produto, com diminuição dos custos,
beneficiando o consumidor.
Com base na análise da plataforma online da agência, observou-se que a
mesma compreende de forma satisfatória o Composto Mix de Marketing, uma vez que,
o site apresenta todos os produtos disponíveis para o cliente, com preços condizentes
com seu público alvo.
Contudo, não são todos os pacotes que são disponibilizados os preços no
site, pacotes com maior exclusividade, que possivelmente possuem um preço mais
elevado, a compra só pode ser realizada via loja física.
Esses produtos estão disponíveis desde a loja física como na plataforma
online, sendo que a empresa investe na propaganda de seu produto, já que está
presente na rede televisiva e em mídias sociais, atingindo seu público alvo.
A qualidade do conteúdo é relevante, uma vez que a página é atualizada
semanalmente, sendo de fácil acesso, pois todos os serviços estão separados em sub
itens, facilitando na escolha e na compra. Contudo, quando analisado, o site não
possui outro idioma além do português, fazendo com que um estrangeiro que não
possua o domínio da língua não consiga usufruir do mesmo.
370
Observou-se como diferencial em relação as outras agências online, que a
empresa analisada, possui uma lista de casamento, na qual a cota adquirida pelos
convidados é revertida em um destino para a lua de mel.
Visto que a plataforma online da organização, foi pioneira no país, a mesma
já está consolidada e contempla todos os requisitos necessários para o sucesso no
mercado, uma vez que o mesmo tende a ficar cada vez mais competitivo e são os
pequenos diferenciais que irão destaca-la no ramo.
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372
GT 5 – TURISMO, TERRITÓRIO, ÁREAS NATURAIS E SUSTENTABILIDADES
373
AS POTENCIALIDADES TURÍSTICAS E DE INFRAESTRUTURA PARA O
ECOTURISMO NA VILA DA CAPILHA, RIO GRANDE/RS: A PERCEPÇÃO DOS
MORADORES
BARROS, Matheus68; PEREIRA, Gisele69
Resumo: Este estudo objetivou realizar um diagnóstico das potencialidades turísticas
e de infraestrutura básica e turística existente na Vila da Capilha (Rio Grande/RS),
além de conhecer a percepção de moradores quanto ao ecoturismo no local. A
escolha da Vila da Capilha, para a realização do trabalho, foi devido ao local estar
sendo bastante difundido pela mídia, por ser uma comunidade pequena e possuir
abundante natureza e possível potencial turístico. Para tanto, foi realizada uma
pesquisa descritiva de tipo levantamento, através de entrevistas com moradores da
Vila, e também observação direta intensiva para a obtenção dos dados necessários.
Percebeu-se grande potencialidade para o ecoturismo na localidade, além da
motivação da comunidade local para que isso se concretize.
68Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). [email protected]
69 Bacharel em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Especialista em Gestão de
Marketing pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Mestre em Turismo pela Universidade de
Caxias do Sul (UCS). Doutora em Lazer, Hospitalidade e Gestão do Turismo pela Oxford Brookes
University (Inglaterra). Docente no Departamento de Turismo da Faculdade de Administração e Turismo
da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Rua Gomes Carneiro nº 1 - 4º andar - Pelotas, RS, CEP: 96010-610
http://lattes.cnpq.br/2417134708175156
E-mail: [email protected]
374
Palavras-chave: potencialidades turísticas; ecoturismo; infraestrutura básica e
turística; Vila da Capilha.
1 INTRODUÇÃO
O planejamento da atividade turística é um dos fatores primordiais para iniciar
o processo de desenvolvimento de uma região, além de contribuir para a estruturação
do território, como gerador de crescente produtividade da atividade econômica,
enaltecendo os olhares tanto de moradores quanto de visitantes. No caso de tratar-se
do planejamento turístico em áreas naturais, envolve também a preservação
ambiental, auxiliando no cuidado do seu território (OLIVEIRA, 2004).
Caracteriza-se o turismo como um fenômeno social, ambiental, econômico e
cultural que abrange o deslocamento de pessoas de seu habitat natural para outro.
Beni (2001, p.36) define Turismo como: [...] a soma dos fenômenos e das relações
resultantes da viagem e da permanência não-residente, na medida em que não leva
a residência permanente e não está relacionada a nenhuma atividade remuneratória.
(BENI, 2001, p. 36).
O turismo abrange uma grande diversidade de tipologias. Segundo Barros
(2013), quando voltado para o meio ambiente e atribuído aos aspectos
preservacionistas, denomina-se ecoturismo, o qual tende a aprimorar a educação
ambiental e engrandecer o conhecimento tanto dos visitantes quanto da comunidade
receptora, contribuindo para a compreensão de uma identidade ambiental e a
preservação desta herança.
Contudo, para identificar se é possível desenvolver o turismo, necessita-se de
estudos sobre a potencialidade turística do local em questão. Esse potencial turístico
se distingue em verificar e estabelecer fatores atuantes de forma positiva e negativa
que contribuem com a verdadeira caracterização do espaço em questão. Tal potencial
pode ser caracterizado pelo aproveitamento e utilização de forma engenhosa da
estrutura atribuída de forma conciliadora ao patrimônio local (ALMEIDA, 2006).
375
Quando voltado para a natureza, o potencial turístico, estipulado como patrimônio
natural, é caracterizado por seu ambiente, como praias e toda a diversificação da flora
e fauna. Esses fatores que particularizam o território e salientam uma visão diferente
de maneira que o objetivo seja o uso destes potenciais para o turismo, utilizando-se
da ideia de preservação da cultura e do meio ambiente (IPHAN, 2004).
Precisa-se também atentar tanto à infraestrutura básica, que é caracterizada
pelos serviços de água, eletricidade, saneamento, segurança, saúde, educação,
quanto também à infraestrutura turística, a qual refere-se aos meios de hospedagem,
aos restaurantes, às agências de turismo, ao comércio turístico, para assim sanar o
atendimento ao residente e ao turista (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010).
Diante do que foi exposto, o presente estudo tem por objetivos: I) realizar um
diagnóstico das potencialidades turísticas e de infraestrutura básica e turística
existente na Vila da Capilha; e II) conhecer a percepção de moradores quanto ao
ecoturismo na localidade.
A Vila da Capilha está situada no território do Taim, onde são encontrados
banhados, fauna e flora diversificadas. Nele, está localizada a Estação Ecológica do
Taim, que proporciona a preservação e estudo deste habitat. A Vila da Capilha por
ficar a poucos quilômetros desta Estação tem distintos traços ambientais, rica fauna e
flora, uma praia com área total de 10km², onde são avistados em média 60 tipos de
aves, possuindo também em sua encosta falésias (espécie de parede gerada através
do acúmulo de areia fina com o passar do tempo) (DIAS, 2006). Outras informações
pertinentes sobre a Vila são fornecidas na seção 3 (Metodologia) do presente trabalho.
O presente estudo está estruturado da seguinte forma: a seção 1 apresenta a
introdução do trabalho; a seção 2 aborda o referencial teórico utilizado, contemplando
o ecoturismo e o turismo sustentável; a seção 3 detalha a metodologia empregada,
em termos de métodos de coleta e de análise dos dados; a seção 4 apresenta e
discute os resultados da pesquisa e, por fim, a seção 5 trata das considerações finais
do trabalho.
376
2 ECOTURISMO E TURISMO SUSTENTÁVEL
Conforme o Ministério do Turismo (2007), os segmentos turísticos podem ser
estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta e também das
características e variáveis da demanda. No que se refere à oferta, o Brasil apresenta
recursos ímpares que, aliados à criatividade do povo brasileiro, possibilitam o
desenvolvimento de diferentes experiências que definem tipos de turismo. A
transformação de recursos em atrativos pode constituir roteiros e produtos turísticos.
Trabalhando de forma a correlacionar meio ambiente ao turismo, destaca-se o
ecoturismo, especificado como o turismo que utiliza recursos da natureza,
promovendo o incentivo à conservação e possibilitando a concepção de uma
consciência ambiental por meio da interação e interpretação do ambiente,
caracterizado em realizar atividades que oportunizam a vivência e conhecimento
detalhado da natureza e sua proteção (CUNHA, 2006). Segundo Cunha (2006), é um
tipo de turismo mais seletivo baseado em princípios sustentáveis, tal turismo ocorre
sobre a ótica de um tripé: interpretação, conservação e sustentabilidade.
Em virtude disso, percebe-se que o ecoturismo está diretamente relacionado
com o conceito de turismo sustentável, que considera as necessidades dos turistas e
das regiões receptoras, protegendo e promovendo a criação de oportunidades para o
futuro, além de contemplar a gestão dos recursos econômicos e sociais e
necessidades estéticas, mantendo a integridade cultural, os processos ecológicos
essenciais, a diversidade biológica e os sistemas de suporte à vida (MINISTÉRIO DO
TURISMO, 2007).
O ecoturismo, de acordo com Pires (1998), expressa um conjunto variado de
atividades e atitudes no ramo de viagens que se posicionam na interface turismo e
ambiente, este último compreendendo especialmente ambientes naturais pouco
alterados juntamente com as culturas autóctones presentes em seu entorno.
Pires (1998, p.48) destaca que os princípios do ecoturismo são distintos em
cinco quesitos:
377
1) Viagens responsáveis para áreas de valor natural, com finalidade de maior entendimento das questões ambientais; 2) Apoio à conservação ambiental, com uso sustentável dos recursos; 3) Interação da população local para obtenção de benefícios econômicos do turismo de maneira racional; 4) Diminuição dos possíveis impactos físicos e culturais que possam ser gerado; 5) Educação Ambiental com a intenção de formação e aprofundamento da consciência ecológica e respeito aos valores culturais, tanto para a comunidade anfitriã, quanto para os turistas. (PIRES, 1998, p.48).
Conforme Rodrigues (2003), o princípio básico do ecoturismo consiste em
oferta de atividades para pequenos grupos, empreendido por pequenas empresas.
Este, muitas vezes, é extrapolado por empreendimentos e produtos, os quais fogem
ao ideário do verdadeiro ecoturismo.
Boo (1990 apud SCHIAVETTI; MORAES, 1997) afirma que dois princípios
básicos embasam o ecoturismo: a proteção dos recursos naturais das áreas visitadas,
e o envolvimento e beneficiamento das populações vizinhas às áreas envolvidas com
o ecoturismo.
Adicionando à afirmação, Silva e Santos (2010) concluem que algumas
comunidades veem no ecoturismo um agente que possibilita o desenvolvimento,
explorando, para isso, os seus recursos naturais, como forma de geração de renda e
aprimoramento econômico para os moradores. Os autores também argumentam que
é imprescindível uma maior atenção aos espaços naturais carentes de preservação,
e ao lidar-se com estes espaços, deve-se atentar-se à possibilidade de uma
exploração predatória que possa acabar por destruir o equilíbrio local. Assim sendo,
em maior ou menor grau, toda atividade ecoturística tem o poder de causar
modificações no âmbito onde é desenvolvida, necessitando, portanto, de um
gerenciamento qualificado junto da fiscalização e manutenção dos ecossistemas que
assim contribuirão com a disseminação de práticas educativas e sociais.
Conforme Pires (1998), há muitos vieses sobre o ecoturismo. Para ele, os
ambientalistas concordam que o ecoturismo tem preocupação com os impactos
socioambientais e com a sustentabilidade dos recursos utilizados, enquanto prioriza a
geração de benefícios providos de atividades para as comunidades locais, prezando
o seu bem-estar.
378
Para Costa (2002), o ecoturismo, antes de qualquer coisa, encerra em si um
posicionamento de conservação ambiental e cultural das pessoas que o praticam.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (1999), o ecoturismo se difere do
turismo convencional, porque considera que o ambiente não deve ser transformado a
fim de atender às expectativas dos visitantes, ao contrário, eles é que devem estar
preparados para experienciar a visitação.
O ecoturismo deve ser trabalhado com uma forma do turismo sustentável que,
segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2003), deve ser aquele que
salvaguarda o ambiente e os recursos naturais, garantindo o crescimento econômico
da atividade, ou seja, capaz de satisfazer as necessidades das presentes e futuras
gerações, conforme explanado anteriormente.
O desenvolvimento do turismo de forma sustentável depende de uma
economia viável que seja socialmente justa e ambientalmente responsável, atendendo
as necessidades econômicas, sociais e ecológicas da sociedade. A OMT destaca no
artigo 3º do Código de Ética Mundial para o Turismo que:
Se concederá a infra-estrutura e se programarão as atividades turísticas de forma que se proteja o patrimônio natural que constituem os ecossistemas e a diversidade biológica, e que se preservem as espécies em perigo da fauna e da flora silvestre. [...] O turismo de natureza e o ecoturismo se reconhecem como formas de turismo particularmente enriquecedoras e valorizadoras, sempre que respeitem o patrimônio natural e a população local e se ajustem à capacidade de carga dos lugares turísticos. (CÓDIGO DE ÉTICA MUNDIAL PARA O TURISMO, 1999).
De acordo com Ramos et al. (2013), o turismo sustentável deve acima de tudo
buscar a compatibilização entre os anseios dos turistas e os das regiões receptoras,
garantindo não somente a proteção do meio ambiente, mas também estimulando o
desenvolvimento da atividade em consonância com a sociedade local envolvida.
3 METODOLOGIA
O presente estudo, de corte qualitativo, foi realizado através de uma pesquisa
descritiva de tipo levantamento, o qual tem o objetivo de descrever as características
379
de determinada população ou fenômeno, utilizando de técnicas que investigam as
opiniões, atitudes e crenças da população em foco (GIL, 2002).
A Vila da Capilha, local onde foi realizado o estudo, está localizada no município
de Rio Grande – RS, a 60 km do centro da cidade. Situada no Km 471 na estrada de
Rio Grande para Santa Vitória do Palmar – RS, a pequena comunidade tem por volta
de 1,5 km² de área, com um restaurante, alguns bares e residências, em sua maioria
simples. Há dois campings em funcionamento e uma pousada em fase de construção.
A escolha da Vila da Capilha, para a realização do trabalho, foi por ser um local
que vem sendo bastante difundido pela mídia como atrativo turístico, ser uma
comunidade pequena, com abundante natureza e possível potencial turístico.
A Vila possui aproximadamente 800 moradores, conforme dados do site da
Prefeitura Municipal do Rio Grande (2013), tendo como principal fonte de renda a
pesca e a agricultura. Ela está às margens da Lagoa Mirim, a qual é de água doce,
com características de ser límpida e calma.
Um dos métodos de coleta de dados utilizado para a realização da pesquisa foi
a entrevista semi-estruturada junto aos moradores e trabalhadores da Vila da Capilha.
Além da entrevista, a fim de proporcionar um melhor entendimento da Vila da Capilha,
foi utilizado também outro método de coleta de dados, a observação direta intensiva.
A observação direta foi realizada nos mês de maio de 2015 na Vila da Capilha
e em sua praia. Também no mês de maio de 2015 foram realizadas cinco entrevistas
semiestruturadas junto à comunidade. Foram escolhidos alguns representantes da
economia local (proprietário do camping, proprietário do bar e pescador), de
moradores não comerciantes e da Brigada Militar. Os tópicos que nortearam tanto a
observação direta quanto a entrevista semiestruturada foram os seguintes:
potencialidades turísticas, ecoturismo e infraestrutura básica e turística.
No que tange aos métodos de análise dos dados, as entrevistas foram
gravadas e transcritas. Após a transcrição, as mesmas foram codificadas.
Posteriormente os dados coletados foram analisados mediante a técnica de análise
de conteúdo. Os dados coletados a partir da observação direta também foram
codificados e analisados conforme a técnica de análise de conteúdo.
380
A metodologia foi aplicada de maneira a correlacionar as informações coletadas
através das entrevistas, com o observado na Vila, através da observação direta. Com
a análise dos dados pretendeu-se ter a compreensão de um possível potencial para o
ecoturismo. Tal processo aconteceu em três momentos, os quais se discriminam em:
I – Observar toda a infraestrutura básica e turística da Vila e de sua praia; II – identificar
a percepção de uma parcela da comunidade, utilizando entrevistas, em relação ao
meio em que vivem e aos cuidados prestados ao meio ambiente, e à empregabilidade
do ecoturismo como fonte de renda; III – promover discussão a partir da triangulação
dos dados coletados com as entrevistas e com a observação direta, com o intuito de
identificar uma possível potencialidade turística para o ecoturismo e a percepção dos
moradores quanto a isto.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A presente seção apresenta e discute os resultados da pesquisa. As entrevistas
foram realizadas com moradores e trabalhadores da Vila da Capilha, esses,
classificados de acordo com seus papéis dentro desta comunidade, como: morador,
proprietário do camping, proprietário do bar, agente de segurança e pescador, os
quais são citados no decorrer desta discussão. Para Lickorish e Jenkins (2000) é
imprescindível conhecer a opinião da população local, pois eles fazem parte da
herança cultural e, portanto, deve-se saber sua percepção quanto ao turismo e suas
atividades, para que trabalhado com a integração da população tenha maior
abrangência e melhores resultados positivos.
No que tange às vias de acesso à Vila da Capilha, a partir da realização
da observação direta, pôde-se constatar a existência de uma estrada de terra, com
buracos e pedras que fornecem dificuldade no acesso, mas sem o limitar. O morador
entrevistado comenta “que é meio complicado, uma estrada boa, um saibro, mas tá
muito bom assim, a gente também não pode querer demais”, morador esse que
fornece serviços de limpeza na Vila para a Prefeitura do Rio Grande. Outro
respondente, um pescador, também relata que seria bom arrumar as vias, pois com a
381
passagem de veículos há muita areia e pó e as casas que se situam ali perto são
afetadas por esses, trazendo prejuízos no que diz respeito à saúde dos moradores, e
à integridade de seus bens materiais, devido ao acúmulo de sujeira diariamente.
Para o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER, 1981),
atual Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), deve haver
manutenção constante das vias não pavimentadas, com o intuito de conservar a
superfície de rolamento, minimizar as irregularidades, deixá-la firme e livre da perda
excessiva de material solto, também é imprescindível manter o declive da estrada
apropriado, para que ocorra devidamente o escoamento superficial da água das
chuvas. O tráfego deve ser controlado quanto à velocidade permitida, o ideal para vias
rurais não pavimentadas é de 40 a 50 km/h para que assim não haja degradação da
via e levante poeira. (CAETANO, 2014).
Segundos dados da observação direta, foi possível constatar que a maioria das
residências possui caixas d'água aparentes, fato que com a realização das entrevistas
foi esclarecido. Conforme o morador entrevistado, as mesmas estão ali para
armazenar a água que abastece as casas, a qual é provinda de poços artesianos.
Verificou-se a precariedade do esgoto da Vila, pois é improvisado em fossas sépticas.
Por meio da entrevista com o agente de segurança pôde-se constatar que cada
morador é responsável por abrir o poço artesiano e construir a fossa em seu terreno.
O agente de segurança também relata que a disposição da fossa e poço é próxima.
De acordo com Garcêz (2007), a água subterrânea que é coletada através de
poços artesianos, quando feitos pelos próprios moradores, podem ter como
consequência a contaminação pelo esgoto. Os dejetos contaminam o solo e atingem
o lençol freático. Na grande maioria das vezes as fossas são construídas próximas
aos poços artesianos, mas nem sempre são bem impermeabilizadas, nos períodos de
chuva, o nível do lençol freático aumenta, ocorrendo a saturação do solo. Neste
momento quando o esgoto retorna se mistura com a água do poço. O esgoto da fossa,
por não possuir um tratamento adequado, traz consigo milhares de micro-organismos
que oferecem danos à saúde. Eles contaminam a água neste processo de mistura.
382
Nesse sentido, o proprietário do camping comentou que a Prefeitura do Rio
Grande tem o intuito de promover o saneamento básico, porém, ele não é a favor
desta proposta, pois com isso haveria mais uma taxa a ser paga. Além do proprietário
do camping, o proprietário do bar e o pescador, entrevistados, concordam, que seria
um “prejuízo” pagar taxas de saneamento, já que para eles não há problemas na
maneira que funcionam o abastecimento de água e o despejo do esgoto na Vila. O
proprietário do camping complementa: “[...] e não adianta mesmo a Prefeitura fazer
uma coisa, tu vai ter ainda que paga água aqui, se criemo aqui, quanta gente tá
morrendo de velho aí, nunca teve problema”. A única pessoa entrevistada que é a
favor de um saneamento qualificado é o agente de segurança, alegando que a água
é de má qualidade e o sistema de fossa, arcaico. Sua opinião vai ao encontro da Lei
nº 11.445, de 5 de Janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o
saneamento básico. Em seu artigo 3º, destacam-se relevantes o abastecimento de
água potável e o esgotamento sanitário:
a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição; b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente; [...]. (BRASIL, 2007, s.p.).
Em pesquisa realizada no site da Prefeitura Municipal do Rio Grande (2013),
pôde-se verificar que através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do município,
em outubro de 2013, foi elaborado o Plano Municipal de Saneamento Básico com foco
na concepção de programas, projetos e ações em saneamento. Nele está exposto
que no prazo de um a cinco anos será realizado cadastro dos poços de captação
individual de água na Vila da Capilha e, posteriormente, implantado o programa
“Poços Monitorados” que visa garantir a qualidade da água para a população do
pequeno centro rural, por este local não possuir sistema público de abastecimento de
água e não ter garantia de que a água consumida atende os padrões de potabilidade.
383
Tal Plano também realizará estudo sobre o esgotamento sanitário na Vila da
Capilha, definindo um padrão de fossa séptica ecológica, com prazo de até um ano,
e, posteriormente, no prazo de até cinco anos implantará o programa “Fossas
Monitoradas”, que segundo o Plano Municipal de Saneamento Básico (PREFEITURA
MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 2013, p. 27) é caracterizado por
Visar o atendimento das regiões com menor densidade populacional, área rural, pequenos centros urbanos e as áreas urbanas que não dispõe de rede coletora de esgotos. Neste programa é previsto o auxílio técnico e econômico para instalação de Fossas Sépticas dentro dos padrões previamente estabelecidos e a limpeza periódica destas fossas, sendo o lodo das fossas tratado em uma ETE específica, a qual deverá ser licenciada para este fim. A limpeza das fossas deverá ser feita pela própria concessionária dos serviços de esgotamento sanitário ou por empresa subcontratada. A proposição deste programa leva em conta que as fossas sépticas existentes no município, na maior parte dos casos, não são corretamente dimensionadas e/ou operadas, além de não apresentar a eficiência adequada à manutenção da qualidade ambiental, bem como o fato da universalização da cobertura do sistema de esgotamento sanitário nas áreas urbanas do Rio Grande estar prevista para o longo prazo. (PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 2013, p.27).
A partir da observação direta pôde-se verificar que a infraestrutura básica nas
suas demais atribuições é funcional para a demanda da população local. O Ministério
do Turismo (2010) caracteriza a infraestrutura básica como o conjunto de obras de
instalações de estrutura física que cria condições para o desenvolvimento de possível
unidade turística, tais como sistema de transporte, comunicações, abastecimento de
água, luz, esgoto e limpeza pública. Na Vila da Capilha há rede elétrica e esta funciona
de acordo com a necessidade local. O morador comenta que certas vezes há falta de
luz, porém, diz ser normal como em qualquer outra localidade. Através das entrevistas
com os moradores identifica-se que a telefonia só é encontrada na forma móvel e de
uma determinada operadora. Não existe telefonia fixa, todo morador ou visitante que
quiser contatar alguém pode contar apenas com o celular, e este sendo da operadora
Vivo. A partir da observação pôde-se constatar ser a única que tem antena próxima a
Vila, o que vai contra as instalações adequadas fomentadas pelo Ministério do
Turismo (2010), afirmando que em um destino turístico, não pode haver restrições de
acesso à comunicação da população e turistas.
384
Outro quesito observado foi à segurança, a qual é efetuada por um único
agente que mora em Rio Grande/RS, a 60 km da Vila, indo todos os dias às 7h e
acabando seu turno e retornando a Rio Grande às 18h, o que deixa os moradores
sem segurança formal durante toda a noite. O agente de segurança relatou em
entrevista que no período do verão são destinados mais um ou dois policiais para
suprir a demanda de turistas, e também que é preciso haver melhorias na maneira
como a segurança acontece na Vila, pois o policiamento não serve como salva-vidas,
e caso aconteça algum acidente na lagoa, não há pessoal qualificado para o
atendimento. O Ministério do Turismo (2010) descreve ser um parâmetro para a
infraestrutura básica a existência de um sistema de segurança com além de
policiamento, bombeiros e salva-vidas de prontidão, quando o destino turístico for
litoral.
Sobre a saúde, na Vila, há apenas uma Unidade Básica de Saúde, a qual
somente é aberta na parte da manhã de segunda a sexta-feira. Ali são disponibilizadas
20 fichas para atendimento da população a cada dia. O relato do pescador ressalta
que quando acontece algo grave, como já aconteceu em sua família, quando seu filho
se machucou, é preciso levar o paciente até um dos hospitais no centro da cidade de
Rio Grande para se ter um atendimento, tendo que se deslocar em média uma hora.
Durante a observação foi possível constatar que não há nenhum estabelecimento que
forneça produtos farmacêuticos.
Conforme Declaração de Alma-Ata (UNICEF, 1978), saúde não é simplesmente
a ausência de doença, e sim, a busca pela qualidade de vida. Para isso, exige pessoas
informadas sobre os cuidados de saúde e com capacidade pessoal para melhorar as
condições físicas e psicossociais nos espaços onde residem. Coelho (2001) também
disserta sobre a compreensão de saúde como sendo a condição para a cidadania que
implica na dinamização de ações que potencializam o bem-estar e a qualidade de vida
das pessoas. Assim sendo, estruturar serviços e ações em saúde que vão ao encontro
às necessidades dos habitantes é fundamental.
A limpeza da Vila e da praia é realizada por dois funcionários contratados
pela Prefeitura do Rio Grande. O morador entrevistado, que faz parte deste serviço
385
de limpeza, relatou que há cooperação tanto dos moradores quanto de turistas, que
ambos recolhem os resíduos em sacolas e os deixam separado. Já o dono do camping
diz que há jovens que deixam lixo, mas a maioria limpa sua sujeira. Outro ponto de
vista sobre o aspecto da limpeza foi o relatado pelo agente de segurança durante a
entrevista, o qual disse que lhe frustra quando turistas fazem dos tonéis, que são
designados para colocação de resíduos, de churrasqueiras, essa atitude acaba por
destruir esse equipamento. Segundo Brito (2000) o turista deve ter uma consciência
ambiental quanto ao local visitado, deve estar ciente de preservar o ambiente e utilizar
o espaço com sabedoria, tendo sempre em mente uma atitude sustentável.
Tratando de infraestrutura turística, o Ministério do Turismo (2010) expõe que
a infraestrutura deve ser gerida pelo setor público e os serviços e equipamentos, pela
iniciativa privada. Pôde-se observar que há dois campings na Vila, ambos com
banheiros equipados com chuveiros elétricos e com extensões de tomadas de
energia. Em um dos campings há um mercado, caso os campistas necessitem de
algo. Com relação a meios de hospedagens essa é a única possibilidade. Tratando-
se de meios de hospedagens como parte dos serviços turísticos, o Ministério do
Turismo (2010) evidencia ser ideal a existência de locais para hospedagem de
turistas, como hotel ou pousada que possuam unidades habitacionais, conservadas e
preferencialmente modernizadas, além da já existente hospedagem alternativa, ou
seja, os campings situados na Vila da Capilha.
Há bares por toda a Vila, onde vendem o básico como: refrigerantes, salgados
e mantimentos. Há também um restaurante, que oferece comida caseira em um buffet.
Sobre esse, o proprietário do camping diz: “a proprietária do restaurante não pode se
contar, sábado e domingo fecha, durante a semana oito horas da noite, chega lá e
não tem mais nada, tá fechado também, tem que ter um horário, vamos supor, fim de
semana, aí mesmo, até a meia-noite ficar aberto pra gente ter, chega dez horas da
noite quer fazer um lanche não tem lugar nenhum mais”. O Ministério do Turismo
(2010) também idealiza que o serviço de alimentação deve trabalhar de forma que
priorize a adequada manipulação e higiene das suas refeições e que atenda as
necessidades dos moradores e turistas. Barroco (2008) acrescenta que é de extrema
386
importância oferecer aos visitantes pratos que contenham a gastronomia típica, o
integrando ao meio que está visitando e tornando essa visita singular.
A partir da realização de observação, pôde-se notar na praia, que a Prefeitura
disponibiliza alguns banheiros químicos. Silva e Santos (2010) completam que é
imprescindível haver um bom gerenciamento público. O morador entrevistado relatou
que há dezoito banheiros químicos na praia junto aos coletores de resíduos, além
desses, também é disponibilizado um banheiro na Praça da Vila, onde está situada a
Igreja. O proprietário do camping se incomoda com o mau cheiro vindo dos banheiros
químicos, fato que é confirmado em seu relato: “Tchê, o que precisa aí mesmo, aí na
praça é um banheiro, o químico vem limpar ao meio-dia, não tem quem ature o fedor,
a limpeza desses banheiros é incalculável, não tem quem aguente o mau cheiro, tem
que fazer um de material, dois ali, principalmente na igreja”.
Ainda na parte da infraestrutura turística, com a observação pôde-se verificar
um ponto que as pessoas utilizam frequentemente para fazer a travessia da Vila para
a praia, uma passarela de madeira, a qual está situada perto da Igreja, local que é
muito visitado por turistas. Da travessia é possível observar a praia por um ângulo
amplo, e é utilizada para tirar fotos e até mesmo ver o pôr do sol. A Capela e a ponte
se encontram no centro da Vila, e são identificadas, juntamente com a praia, os
principais atrativos turísticos da localidade.
A Capela de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1785, foi um dos
primeiros monumentos religiosos e de edificação a ser construído na fronteira sul do
Brasil pelos espanhóis, da mesma forma que demarcavam seu território expunham
sua religiosidade e conceitos (VEIGA, 2013). Segundo relatos deste monumento,
originou-se o nome da Vila, pois Capela em espanhol se escreve “Capilla” e ao traduzir
os moradores pronunciaram Capilha.
Com a observação dos cuidados dos moradores da Vila com o meio ambiente,
verifica-se que a maioria dos entrevistados se preocupa em armazenar o seus
resíduos para a coleta posteriormente, porém sem a separação em orgânicos e secos.
Segundo Kapper (2013) atitude essa positiva, pois a comunidade precisa ter uma
consciência ambiental, evitando os danos ao meio ambiente que a degradação do lixo
387
pode provocar. Os resíduos fora de uma armazenagem adequada são raros, mas
existentes, pois se pôde observar latas e lixo espalhados em certo ponto isolado da
Vila, onde também se encontravam três carcaças de carros.
Conforme observação, a praia estava limpa, com a presença de barcos de
pescadores, em toda a extensão da praia, alguns agrupados. O pescador relata que
todos os participantes da Associação de Pescadores da Vila respeitam a época de
reprodução dos peixes, período em que a pesca é proibida, se não fosse assim,
haveria dificuldade na pesca posteriormente, e que todos os pescadores da Vila
trabalham de forma a respeitar o meio onde trabalham. Conforme pesquisado, tal
atitude está de acordo com normativas impostas pela Lei nº 7.679, de novembro de
1988, fomentada através do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis). Porém, por meio da observação, verificou-se que
utilizam redes de pesca, e tal ferramenta vai contra a lei, tendo proibição, passível de
multa e apreensão de todo equipamento.
Na Vila da Capilha, o turismo seria trabalhado na forma de ecoturismo, este
classificado como uma opção de turismo que utiliza recursos da natureza,
promovendo o incentivo à conservação e possibilitando a concepção de uma
consciência ambiental por meio da interação e interpretação do ambiente. Tal turismo
é identificado por realizar atividades que oportunizam a vivência e conhecimento
detalhado da natureza e sua proteção por meio dos visitantes (CUNHA, 2006). Com
a observação percebe-se rica fauna e flora que contribuem em uma área distinta, fato
que é complementado pelo relato do proprietário do camping: “claro, tem uma
excelente praia, pra que deixar aí só para os pescadores e o gado tomar água, tem
que vir pessoas”. Quando questionados sobre o que entendiam por ecoturismo, o
proprietário do camping respondeu que entende como um turismo que é feito “pra
fora”, “no mato”, tal resposta determina um conhecimento básico sobre o assunto. O
agente de segurança com entendimento específico, explicou entender como o turismo
em áreas de natureza e que foca na preservação do meio ambiente, este mais
alinhado com a definição de Cunha (2006): um tipo de turismo mais seletivo, baseado
em princípios sustentáveis, o qual ocorre sobre a ótica de um tripé: interpretação,
388
conservação e sustentabilidade. Os demais entrevistados, o proprietário do bar, o
morador e o pescador não souberam responder tal questionamento.
Visando as vantagens da atividade turística na Vila da Capilha, o proprietário
do camping, o morador, o agente de segurança e o proprietário do bar, se mostram
favoráveis a vinda de turistas, pois esta atividade influencia de forma positiva na renda
dos empreendedores locais. O agente de segurança intensifica a importância do
turismo com seu relato: “Trabalho aqui desde 2010, nesse ano observava mais ou
menos uns 80 carros no final de semana e nesse verão de 2014/2015, um domingo,
só na metade da praia contei 1000 carros, o pessoal procura por ser tranquilo, e teve
muita visibilidade depois da reportagem na RBS e a propaganda boca a boca”.
A emissora gaúcha RBS TV realizou uma reportagem sobre a praia da Capilha,
conforme relatou o agente de segurança, a caracterizando como um paraíso
descoberto e retratando os aspectos ambientais que chamam a atenção dos turistas,
como a água cristalina e calma da Lagoa Mirim. Outro aspecto evidenciado é a
calmaria quando comparada à praia do Cassino que é um local movimentado e
barulhento.
O Ministério do Turismo (2006) aborda que para o desenvolvimento de região
com potencial turístico é primordial que haja integração e planejamento dos agentes
idealizadores e participantes. Além disso, é imprescindível o levantamento de
informações turísticas e complementares fidedignas para a construção de um
pensamento estratégico sobre o destino.
Em entrevista, o agente de segurança relata que um rapaz de Rio Grande que
trabalha como guia de turismo, pela região do Taim, faz visitas no entorno da área da
Estação Ecológica do Taim, Estação essa que segundo a Prefeitura Municipal do Rio
Grande (2013) tem a finalidade de preservar um vasto viveiro natural onde são
encontrados animais e vegetais distribuídos em banhados, campos, lagoas, praias
arenosas e dunas litorâneas. A ideologia da Estação Ecológica do Taim é, “Conhecer
e ajudar a preservar o Taim, é garantir a sobrevivência do ambiente e das espécies,
legando às gerações futuras um ecossistema de inestimável valor científico,
econômico e social” (PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 2013).
389
Seguindo relato do agente de segurança, o guia de turismo eventualmente conduz
grupos de visitantes para caminhar pela praia da Capilha, para ver a paisagem, as
falésias, as figueiras, e aves que por lá frequentemente passam.
O único entrevistado que vê desvantagens é o pescador, o qual disse que a
vinda de turistas atrapalhou a pesca na praia onde era um lugar bem visado para
conseguir boa quantidade de peixes, agora não é mais.
Lickorish e Jenkins (2000) enfatizam ser necessário reconhecer que a
população local é parte fundamental da herança cultural do destino, portanto deve-se
focar no bem dela e atrair o desenvolvimento do destino, pensando no bem de toda a
comunidade.
Conforme verificado através da pesquisa, as opiniões dos entrevistados e o que
se observou convergem para a mesma percepção, no que se refere às
potencialidades turísticas na Vila da Capilha. Elas são a Capela, a praia, a fauna e a
flora. A primeira devido ao seu valor histórico local e patrimônio cultural brasileiro
(VEIGA, 2013). A praia por sua beleza natural com água limpa e calma, além de
figueiras que abrangem toda sua extensão e as aves migratórias que por lá passam
(DIAS, 2006).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O turismo como atividade pode trazer consigo inúmeros resultados, tanto
positivos quanto negativos para o destino. Esse quando trabalhado em uma pequena
comunidade, necessita de eficiente planejamento para que ocorra em constante
sintonia com a percepção e participação dos moradores, dando ênfase ao bem-estar
da comunidade e priorizando os cuidados com o meio ambiente para que haja
harmonia entre o desenvolvimento local e sua sustentabilidade.
A realização do trabalho viabilizou obter informações para a realização de um
diagnóstico das potencialidades turísticas e de infraestrutura básica e turística
390
existente na Vila da Capilha, bem como para o conhecimento da percepção de
moradores quanto ao ecoturismo na localidade.
A Vila da Capilha, por ser uma localidade de interior, e sem trânsito de muitas
pessoas, possui a infraestrutura básica e turística bastante rudimentar. A saúde e a
segurança, aspectos fundamentais para uma vida tranquila, necessitam ser
aprimoradas, sendo necessário viajar uma hora para resolução de casos mais
complexos nesses âmbitos. Além desses, aspectos como abastecimento de água,
esgotamento sanitário, acesso e comunicações também precisam ser melhorados.
Para quem procura um lugar longe da agitação da cidade e que tenha contato com a
natureza os campings proporcionam esta experiência, havendo apenas luz e
banheiros, longe dos confortos de hotéis, mas, perfeitos para os aventureiros.
Através da realização deste trabalho foi possível identificar uma praia de água
doce, limpa e calma que chama a atenção de veranistas. Nela pode-se praticar a
pesca tanto para geração de renda, como para o lazer, mas é preciso respeitar as leis
existentes no que se refere a esta prática. Constata-se também evidente valor
histórico e patrimônio cultural referente à Capela, esta que deve sofrer processo de
restauro urgente, para que a história não caia em esquecimento e para que possa
atrair outros tipos de turismo, como o religioso.
Os moradores estão de acordo com a realização do turismo na Vila, pois,
conforme suas percepções, ele influencia de forma positiva na economia local e isto
poderá atrair os olhares do governo para o desenvolvimento estrutural da Vila, pois, a
mesma apresenta uma infraestrutura mínima para receber os turistas.
A praia, a Capela, cujo valor histórico é reconhecido, o camping, o estilo
interiorano, a calmaria, são grandes potenciais para a realização do ecoturismo na
Vila, pois aqui pela região Sul do Rio Grande do Sul este é um dos lugares que
proporcionam descanso e tranquilidade aos visitantes. O ecoturismo se torna
importante porque além de gerar renda, valoriza e preserva a beleza que existe de
forma natural no meio ambiente.
Se o turismo continuar em ascensão na Vila da Capilha, o poder público deverá
investir tanto na infraestrutura básica quanto turística, para oportunizar melhor
391
qualidade de vida aos moradores e viabilizar maior fluxo de visitantes na localidade,
levando em conta a sustentabilidade ambiental da Vila.
REFERÊNCIAS
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394
395
GT 7 – ALIMENTOS E BEBIDAS
A CERVEJA COMO FONTE ECONÔMICA PARA O FORTALECIMENTO DE
DEGUSTAÇÃO E ENTRETENIMENTO NOS ESPAÇOS DE LAZER DA CIDADE
DE MANAUS
JÁCOME, Italo V. B.;70 MENDONÇA, Rosanna L.71
TEIXEIRA, Maria Adriana S. B. (orientadora).72
70Discente do curso de turismo da Universidade do Estado do Amazonas – UEA.Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2063145533681371 e-mail:[email protected] 71Discente do curso de turismo da Universidade do Estado do Amazonas – UEA. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0127956372370363e-mail: [email protected] 72 Doutora em Educação pela Universidade De La Empresa – UDE; Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul – UCS; Especialista em Metodologia pelo Centro Universitário do Norte-
396
e-mail:[email protected]
RESUMO: Observa-se o surgimento em Manaus de bares que oferecem cervejas especiais, tanto nacionais como internacionais. O estudo presente tem o objetivo geral de analisar a cerveja como fonte econômica para o fortalecimento, degustação e entretenimento nos espaços de lazer da cidade de Manaus. Os objetivos específicos são: Pesquisar o processo histórico do segmento de cervejaria na capital amazonense; Avaliar o processo de elevação da cerveja na capital; Averiguar a razão dos espaços de lazer em diversificar tipos de cervejas; Observar a qualidade, marcas e fatores que influenciaram a venda de cervejas através da lente de especialistas e Identificar o perfil dos apreciadores de cervejas diversificados. Conclui-se que o segmento de cervejas especiais tende a crescer em Manaus.
Palavras-chave: A&B; Cerveja; Marca; Lazer; Manaus.
1 INTRODUÇÃO
O segmento de Alimentos e Bebidas (A&B) tem crescido no Brasil nos últimos
anos. O “degustar” passou a ser mais acessível para a população, atraindo milhares
de pessoas e abrindo bares e restaurantes de todos os estilos e gosto. Analisando o
processo histórico das cervejas na capital amazonense percebemos a forte ligação
com os europeus colonizadores, onde traziam consigo barricas de cervejas para a
nova terra inexplorada até então. Desde a fundação da cervejaria Miranda Corrêa até
os dias atuas, percebemos a evolução na correlação do lazer e o degustar na cidade
de Manaus.
Deste modo, observa-se também o crescimento de novos estilos de bares na
capital, que oferecem espaço de lazer e um cardápio variado onde se destaca a venda
de cervejas especiais, nacionais e internacionais. Diante deste contexto, se fez a
seguinte problemática de pesquisa: De que forma a cerveja serve como fonte
econômica para o fortalecimento de degustação e entretenimento nos espaços de
lazer da cidade de Manaus?
UNINORTE; Graduada em Turismo pela UNINORTE. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7305750465493497 e-mail [email protected]
397
Acredita-se que a cerveja seja uma bebida que está ligada culturalmente com
o povo manauara, promovendo a degustação, entretenimento e lazer através dos
bares presentes em toda cidade.
Portanto o objetivo geral visa analisar a cerveja como fonte econômica para o
fortalecimento, degustação e entretenimento nos espaços de lazer da cidade de
Manaus. Os objetivos específicos são: Pesquisar o processo histórico do segmento
de cervejaria na capital amazonense; Avaliar o processo de elevação da cerveja na
capital; Averiguar a razão dos espaços de lazer em diversificar tipos de cervejas;
Observar a qualidade, marcas e fatores que influenciaram a venda de cervejas através
da lente de especialistas; e, Identificar o perfil dos apreciadores de cervejas
diversificadas.
A motivação para pesquisa é por avaliar que este tipo de temática ainda não é
tão trabalhada como cunho científico na Universidade do Estado do Amazonas- UEA.
Outro fator para o desenvolvimento deste estudo é por analisar que nos últimos
anos ocorreu uma ampliação de cervejas em diversos segmentos de A&B. Isto porque
a cinco anos atrás era comum somente encontrar as cervejas tradicionais tais como:
Skoll; Brama; Antarctica e outras.
Quanto aos pesquisadores é pertinente a problemática devido a acreditar que
servirá de base teórica para os pesquisadores da área como, também, o prazer em
desvendar um assunto de pouco conhecimento científico na região.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A forma de abordagem é qualitativa, pois visa fazer uma interpretação profunda
do objetivo geral citado acima. Os objetivos metodológicos são de cunho exploratório
e descritivo. Todavia é exploratório por desejar conhecer melhor a temática em
questão. Compreende-se como descritivo devido explicar o porquê dos objetivos
específicos enfatizados acima. Amostra de estudo é não probabilística intencional. A
coleta de dados procedeu por meio de entrevistas semiestruturadas com os
proprietários de bares, garçons e outros.
398
Os procedimentos técnicos são de cunho bibliográfico e estudo de caso. Logo
o estudo de caso procedeu em alguns bares conhecidos como pontos de diversidades
cervejeiras na capital amazonense. Os materiais bibliográficos utilizados foram: Livros
de A&B; Lazer; artigos; dissertações e outros.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Relata-se que a fundamentação é o alicerce teórico com base nos objetivos
específicos, pois segundo o autor Koche (2004) não existe estudo sem suporte
teórico.
3.1 O PROCESSO HISTÓRICO DAS CERVEJARIAS NA CAPITAL AMAZONENSE
A história da cerveja na capital amazonense possui intima ligação com a
colonização dos europeus. A região da Amazônia, nos séculos XVI e XVII, foi uma
região extremamente disputada pelos europeus, que julgavam ali encontrar riquezas
como ouro e prata, baseados em fantasias, mitos e folclore (GARCIA, 2010, p. 25).
Quando as superpotências europeias começaram a viajar para o Novo Mundo
no século XVI, portavam consigo a desconfiança da água e sua própria cerveja como
uma bebida segura (MANUAL DA CERVEJA EM CASA, 2015, p. 7).
Para proteção de seu território de possíveis ataques inimigos, o rei de Portugal
Dom José I mandou construir o forte de São José do Rio Negro, em 1699. Formou-se
então uma vila ao redor do forte que em 1833 levou o nome de Manaós, em
homenagem à tribo indígena da mesma denominação. Em 1856 foi nomeada cidade
de Manaus (GARCIA, 2010, p. 32).
Sobre os espaços de comercio onde a cerveja era negociada na capital
amazonense, há registros da Mercearia Braguinha, onde era comercializado “vinhos
finos e do pasto, licores, cerveja de deferentes marcas (...)” (A EPOCHA, 1889, p.4).
399
Ainda sobre o comercio da cerveja, o AlmanachAdm Histórico Estatístico e
Mercantil da Província do Amazonas (1884, p. 210) reporta sobre o custo do envio de
“barrica ou caixa” de cerveja de Manaus para Santarém – PA.
Dos espaços de lazer oferecidos na cidade de Manaus, há registro da
Mercearia Abelha de Ouro onde oferecia a seus clientes “um local muito arejado onde
os apreciadores podem tomar seu copo de cerva a sua satisfação” (AMAZONAS
COMMERCIAL, 1895, p. 3).
Com o comércio se aquecendo pela economia gomiféra no final do século XIX,
e o aumento do consumo da cerveja na cidade, Antônio Carlos Miranda Corrêa
juntamente com outros três irmãos, idealizaram a construção de uma cervejaria. A
família Miranda Corrêa já possuía a fábrica “Gelo Cristal” em 1903 e resolveram
expandir os negócios em 1905 (AMAZONAS, 1985, p. 31).
A chegada das cervejas em Manaus se dava pelos barcos europeus, que
traziam barricas para comercializar na cidade. Os principais fornecedores de cervejas
eram os navios alemães, que traziam chope. A família Miranda Corrêa comprava os
barris e os armazenavam na fábrica de gelo (AMAZONAS, 1985, p. 31).
Com a ideia de montar uma cervejaria no Amazonas, Antônio Carlos de
Miranda Corrêa viaja para a Alemanha em busca de conhecimento das melhores
práticas na especialidade de cervejarias. Ao voltar para Manaus de sua viagem, traz
consigo dois técnicos e o melhor mecanismo da época (BAZE, 1997, p. 59). Em
homenagem a família, decidiu-se colocar o nome da empresa Cervejaria Miranda
Correa S. A (CORRÊA, 1995 apud BAZE, 1997, p. 63).
A cervejaria ficava localizada no bairro de Aparecida, a margem do Rio Negro
e ao lado do igarapé do São Raimundo (CORRÊA, 1969, p. 50). O edifício apresentava
o estilo das cervejarias alemãs, com riquezas de detalhes e de construção “industrial
familiar” (CORRÊA, 1969, p. 50).
A pedra fundamental do edifício foi posta em 1910, e a cervejaria foi inaugurada
em 12 de outubro de 1912 (AMAZONAS, 1985, p. 31).
400
A fabricação da cerveja obedecia aos princípios gerais já conhecidos, tendo
como base a cevada e o lúpulo. Da matéria prima utilizada para a fabricação da
cerveja destaca-se
[...] uma matéria açucarada ou amilacea, transformável em alcool, (quasi sempre é o amido); um princípio amargo (lupulina, determinada pelas brácteas do lúpulo); um fermento organizado que transforma a matéria açucarada em álcool, ácido carbônico e agua que deve ser puríssima. (SIMÕES COELHO apud BAZE, 1997, p. 61).
A água utilizada para a fabricação da cerveja era retirada do Rio Negro, “sendo
submetida a processos de filtração curiosos” (SIMÕES COELHO, 1912 apud BAZE,
1997, p. 60).
Segundo José Simões de Coelho (1912 apud BAZE, 1997, p. 62) o que era
notável na qualidade da cerveja amazonense era sua cristalização, algo que não era
comum em outras marcas de cervejas da época. Ainda segundo o autor, a
cristalização da cerveja recebeu a atenção do famoso bacteriologista brasileiro Dr.
Carlos Chagas, escrevendo que
Assistimos a analises químicas rigorosas, todas demonstrativos da ausencia de substancias nocivas ao organismo humano; apreciámos a fermentação do líquido, examinámos as condições do fermento e observámos os processos de conservação e acondicionamento da cerveja. Em tudo notámos o mesmo zelo e o mesmo rigor de técnica que presidem a todos os trabalhos d’aquella indústria, organisada sob os moldes mais modernos das similares da Alemanha. (SIMÕES COELHO, 1912, apud BAZE, 1997, p. 62).
Após a morte de Antônio Carlos, seu irmão, Luiz Miranda Corrêa assume a
gerencia da cervejaria. A firma familiar Miranda Corrêa & Cia. resolve comprar o
cinema Odeon, e ao lado constroem a “Casa do Chope”, lançando os novos produtos
no mercado, tais como: Cerveja Ouro sobre Azul, Topázio, Cerveja Preta, Cerveja
XPTO e Guaraná Legítimo (AMAZONAS, 1985, p. 31).
A publicidade utilizada por Luiz Miranda Corrêa era feitaprincipalmente por
meio de carros alegóricos na época de carnaval (AMAZONAS, 1985, p. 31).
Alguns anos mais tarde a cervejaria foi vendida para Brahma, que atuou no
local por cerca de 30 anos. A Brahma vendeu o espaço para a cervejaria Heineken,
401
que em 2013 fechou suas portas na cidade de Manaus por causa da crise econômica
do país.
3.2 SEGMENTO DE LAZER ATRAVÉS DO SETOR DE A & B
Os desejos e as necessidades são os responsáveis pelo desencadeamento de
esforços no sentido de poder satisfazê-los. Tais esforços, quando transformados em
atividades produtivas, constituem o denominador comum e a real condição de vida
(BACAL, 2003, p.29).
Compreende que o trabalho possui uma finalidade essencial que é o de
consumo de bens para a satisfação das necessidades.
O tempo liberado, então, engloba o tempo livre, porque as atividades por ele
envolvidas apresentam-se, essencialmente, como destituídas de obrigatoriedade
(BACAL, 2003, p.33- 35).
Por meio das palavras do autor, entende-se que o conceito de tempo livre
pressupõe a liberdade, a ausência de coação, isto é, entende-se como o tempo em
que nossas atividades apenas se subordinam ás nossas necessidades básicas.
Destaca-se que foi diante do tempo livre que as pessoas buscam atividades de
lazer que causem satisfação. Todavia o lazer é fruto de uma sociedade urbano-
industrial e, dialeticamente, incide sobre ela como gerador de novos valores que a
contestam.
Assimila que o tempo livre surgiu com a transformação das sociedades
denominada de período pós industrial. Todavia este segmento surgiu com o advento
do consumo de massas que requer tempo livre para o consumo denominada de
sociedade de consumo.
Marcellino (2007, p.13), menciona que a realização de qualquer atividade de
lazer envolve a satisfação de aspirações de seus praticantes.
Entende por meio do autor que as atividades de lazer devem procurar e atender
as pessoas no seu todo, pois é necessário que os profissionais conheçam as
atividades que satisfaçam os vários interesses.
402
Identifica-se que diante do tempo livre as pessoas passaram a conhecer as
diversidades culturais, o qual envolve o segmento de A&B que segundo o autor
Camara (2011, p.12) destaca que o setor de alimentos e bebidas passa a cada dia
por diversas mudanças, seja nas inúmeras maneiras de atender, de servir, como
também, na forma de preparar os alimentos, sempre com novas técnicas e
descobertas que contribuem para a realização de um casamento perfeito entre a
qualidade do serviço fornecido e a demanda.
O autor enfatiza que este setor surgiu não apenas para assegurar os lucros aos
empresários, e sim é um setor imprescindível para satisfazer, atender e superar as
expectativas e necessidades dos clientes.
A autora ressalta que a atividade deste setor envolve desde o atendimento
pessoal até proporcionar o prazer de saborear um bom prato e a degustar uma
excelente bebida, seja ao lado da família, dos amigos, ou de pessoas novas que se
pretende conhecer. O Setor de Alimentos e Bebidas é responsável pela chegada,
permanência e volta de novos clientes.
Visualiza que o segmento de A&B vem se diversificando com a introduçãode
novas bebidas em especial no segmento de cervejas.
3.3 PRINCIPAIS TIPOS DE CERVEJA
Segundo Beltramelli (2014, p. 56) durante o século XIX, as cervejarias
necessitavam se instalar próximas a fontes de água abundante e límpida. A água,
além de outros fatores, determinava o sabor da cerveja. Logo, se essa mesma cerveja
fosse produzida em outro lugar com uma fonte de água diferente, a bebida
apresentaria sabor diferente, pois a água influenciaria no seu gosto. Após o início do
século XX, vários métodos facilitaram a fabricação das cervejas, inclusive o método
da filtragem que possibilita a obtenção do sabor desejado.
Outro fator a ser considerado na fabricação da cerveja é a variante de sabores,
aromas e afins. São as escolas cervejeiras que são entendidas como as nações
responsáveis pela base de cervejas em todo mundo, com suas técnicas de fabricação
(JORNAL G1, 2016).
403
Segundo a BBC Brasil (2016),no ano de 2016 é comemorado 500 anos da lei
de pureza alemã. Lei esta que determinava que os únicos ingredientes para se
produzir uma cerveja são lúpulo, malte e água, sendo seguido fervorosamente até
hoje pela escola cervejeira alemã.
Bem como a escola alemã de produção de cervejas, temos a escola belga, que
visa a variação de sabores de cervejas, utilizando ingredientes tradicionais até outros
cereais, frutas e condimentos variados, garantindo gostos diversificados (JORNAL G1,
2016). Menciona-se também a escola britânica, que aloca-se em um meio termo entre
as escolas alemã e belga, visando um amargor mais presente em consequência do
lúpulo e a utilização de leveduras para fermentação. (JORNAL G1, 2016).
Tratando-se do Brasil, encontramos a lei nº 8.918 de 14 de julho de 1994 e o
Decreto 2.314 de 04 de setembro de 1997, que baseiaa fabricação da cerveja no país.
O Decreto tem como objetivo padronizar a fabricação de cervejas no Brasil
demonstrando as porcentagens de açucares, cereais não maltados, produtos
químicos e corantes naturais.
Baseando-se nisso, interpreta-se que cada país possui seus métodos para
fabricação de cerveja, utilizando características singulares ou implementando outras,
para assim produzir os mais variados tipos de cerveja.
Segundo o Completo Manual da Cerveja (2015, p. 88), os tipos de cervejas
classificam-se em quatro principais: Ale, Larger, Cervejas de trigo e Cervejas hibridas,
que por sua vez, apresentam subtipos.
Os tipos de cervejas mais consumidos no Brasil possuem como ingredientes
principais trigo, milho ou cevada. Dentre as cervejarias brasileiras em produção de
larga escala, o ingrediente mais comum é o milho. As cervejas brasileiras são, na sua
maioria, classificadas como Largerpor possuírem um sabor leve. É considerada uma
bebida amena, sentindo-se geralmente certa dificuldade de detectar aromas de malte
e lúpulo. Seu consumo é de temperaturas baixas, servindo-se como uma opção
refrescante para o clima tropical brasileiro.
404
3.4 QUALIDADE, MARCAS E FATORES QUE INFLUENCIAM A VENDA DE
CERVEJAS
Para os especialistas em Marketing de mercado, a marca é um fator
predominante na escolha do produto. A marca pode ser definida como a união de
atributos tangíveis e intangíveis, geridos de forma a agregarem valor ao produto.
Apresentando um sistema integrado que criam o desejo de consumo nas pessoas
(MARTINS, 2006, p. 8).
Silva (2004, apud SILVA, 2008, p. 31) analisa a marca sobre dois aspectos:
como mediadora entre a corporação e o mercado e a marca como transmissora de
valor para novos produtos. O aspecto mediador que a marca exerce entre a
corporação e o mercado também é defendido por Gronsroos (2003). O autor
apresenta três principais funções da imagem através da marca, sendo elas: comunicar
expectativas; filtrar e influenciar as percepções; servir de catalisador das experiências,
assim como das expectativas do cliente. Para Beltramelli (2014, p. 192) um dos mais
importantes ingredientes de uma cerveja é sua propaganda.
Para Silva (2008, p. 31) as cervejas brasileiras possuem um processo de
fabricação similar, uma vez que utilizam os mesmos ingredientes. Analisa-se que,
para uma cerveja ganhar destaque no mercado brasileiro, é necessário que a marca
agrade o cliente.
Segundo Rosa, Cosenza e Leão (apud SILVA, 2008, p. 21) a procura pela
cerveja no país se mostra de forma sazonal, uma vez que apresenta os ápices de
consumo no início e final do ano, e quedas abruptas no meio do ano. Os autores
também concluem que as classes sociais C e D são os que mais consomem cervejas
no Brasil. Entretanto, o Brasil apresenta um número ínfimo de vendas comparados a
outros países que possuem tradição cervejeira.
Em 2008, não se acreditava na chance de cervejas especiais importadas
ganharem espaço no mercado brasileiro (BRASIL apud SILVA, 2006, p. 22).
Felizmente nos últimos anos essa afirmação vem se mostrando contraditória, com o
405
surgimento de empreendimentos que se mostram favoráveis a fazer usufruto de um
mercado tão vasto das cervejas especiais.
Em 1999, duas grandes empresas de cervejas brasileiras, Brahma e
Antarctica, se juntaram (MARTINS, 1999 apud MARTINS 2006, p. 32). A abundancia
da cerveja tipo pilsen habituou os consumidores brasileiros, de modo a abrir espaço
para o crescimento de outras marcas como Kaiser, Skol, Schin, e até cervejas
importadas como Budweiser, Heineken, Miller e Corona que vinham com o interesse
de competir por espaço mediante as cervejas pilsen e premium.
Segundo Silva (2008, p. 22) a empresa Inbev chegou a dominar com 67% o
consumo da cerveja no mercado brasileiro, colocando entre as empresas que mais
vendem cervejas no mundo. Segundo a empresa, isso provém da tática utilizada na
criação de valor de suas quatro marcas principais Skol, Brahma, Antarctica e
Bohemia. Outras empresas como o Grupo Primo Schincariol, trabalham uma
estratégia composta, conquistando os consumidores por preços populares com um
catálogo de marcas como Nova Schin e Nobel, porem também de forma à atuar
buscando estrategicamente um público mais abastado com produtos tais como
Devassa, Erdinger e a Baden Baden.
Dessa forma, acredita-se que tudo que está ligado a cerveja é de suma importância
para a decisão do consumidor em escolher uma determinada marca. Uma boa
impressão ao consumidor é o que dá a oportunidade para o produto. Segundo Ross
Buswell e JohannaBasford, ambos designers de rótulos, a marca deve apresentar
uma experiência gratificantemente prazerosa aos consumidores, através da
embalagem e seus adornos (MANUAL DA CERVEJA 2015, p. 79). Assim sendo,
entende-se que as cervejarias estejam inclinadas a gastarem tempo na fabricação do
produto, assim como na criação da marca, tornando um elemento fundamental para a
distribuição da cerveja.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
Os resultados desse trabalho tendem a conflitar entre pesquisa bibliográfica e
406
entrevistas, demonstrando uma diferença de fatores referentes ao período de
consumo das cervejas no Brasil e o aumento da procura de cervejas especiais na
cidade de Manaus.
4.1 PERCEPÇÃO DO PROCESSO DE ELEVAÇÃO DA CERVEJA NA CAPITAL
Para compreensão, trataremos os nomes dos bares como estabelecimento A,
B e C. O nome dos estabelecimentos será tratado em sigilo, uma vez que os
proprietários assinaram o termo de cooperação para a pesquisa presente.
Para início da entrevista, perguntou-se se os estabelecimentos trabalhavam
com cervejas nacionais. Os três estabelecimentos entrevistados responderam que
sim, oferecem em seu catalogo cervejas nacionais. Dessa forma o estabelecimento A
oferece cervejas nacionais artesanais e de produção em massa como por exemplo a
Original da Antarctica. Já o estabelecimento B disponibiliza cervejas artesanais, tal
como Colorado e cervejas internacionais com fabricas no Brasil como a Heineken,
porem a escolha das cervejas se dá por produtos de puto malte, que não levem milho.
Bem como o empreendimento C, o qual oferece cervejas nacionais, mas não as
produzidas em massa. O estabelecimento prefere as cervejas nacionais artesanais tal
qual a Tupiniquim.
Diante disso podemos perceber que nem todos os empreendimentos possuem
a mesma visão de mercado. Assim é observado que dentre os três, um
estabelecimento trabalha com cervejas nacionais de larga escala, enquanto o outro
possui seu foco em cervejas nacionais artesanais, com uma pequena exceção da
cerveja Heineken, porem a cervejaria não é brasileira. O estabelecimento C possui
um foco semelhante ao estabelecimento B, onde trabalha com cervejas nacionais,
mas apenas se tratando de artesanais. Esses fatores mostram que cada
estabelecimento, por mais que busquem apresentar variações de cervejas a seus
clientes, possuem visão de mercado diferente.
Analisa-se por tanto, que os três bares possuem o objetivo de vender cervejas
especiais, apresentando em seu cardápio cervejas nacionais produzidas em larga
407
escala bem como as artesanais, mostrando que não se deve excluir um nicho de
mercado.
Para ser entendida a necessidade de vender cerveja, foi perguntado “Quando
surgiu a ideia de vender cervejas diversificadas? E por que?” Diante desse
questionamento o estabelecimento A explicitou que já era um bar antes de vender
cervejas especiais. Entretanto, seus clientes solicitavam diferentes tipos de cervejas,
com sabores exóticos e texturas mais encorpadas. Com isso passaram a oferecer
produtos nacionais artesanais e até importados. De maneira totalmente distinta, os
proprietários do estabelecimento B iniciaram pesquisas antes de fundar o bar e
comercializar cervejas especiais. Após meses de pesquisas, e testes de fabricação
de cerveja caseira, decidiu-se abrir o bar, oferecendo variados rótulos de cervejas
nacionais e internacionais. Já o estabelecimento C percebeu o mercado que estava
praticamente inexplorado, observou uma oportunidade e com isso começou a fazer
usufruto dela.
Segundo Beltramelli (2014, p. 193), esse tipo de estabelecimento vem
ganhando espaço no mercado brasileiro com o passar dos anos, e prevê crescimento.
Esse aumento provém dos diferentes tipos de cervejas que ganham a admiração dos
brasileiros. As cervejas especiais vem de encontro com o tipo “pilsenbrasileiro”,
chegando ao Brasil através das importações e das cervejas artesanais. Para o autor,
a diversidade de cervejas vem transformando cada vez mais o modo de degustação
dos brasileiros “mudando hábitos de consumo que antes eram considerados
imutáveis” (BELTRAMELLI, 2014, p. 193).
À vista disso, é observado que os estabelecimentos entrevistados tiveram algo
em comum, todos perceberam a oportunidade do mercado cervejeiro manauara. No
caso do estabelecimento A, os clientes já estavam pedindo diferenciações nas
cervejas, e assim passaram a oferecer aquilo que os clientes pediam. De outro modo,
o estabelecimento B e C, notaram uma brecha no mercado, percebendo a variedade
de produtos para se trabalhar.
4.2 A RAZÃO DOS ESPAÇOS DE LAZER EM DIVERSIFICAR TIPOS DE CERVEJAS
408
Sobre o entretenimento oferecido no local, os estabelecimentos A e C não
oferecem nenhum tipo de entretenimento. Entretanto o proprietário do
estabelecimento A informou que estão providenciando oferecer música ao vivo.
Diferentemente do estabelecimento B que apresenta música ao vivo ao menos quatro
vezes por semana. Além de disponibilizar mesas de sinuca, transmitem jogos de
futebol americano, series, e lutas.
Dessa forma, mediante a essas perguntas o único estabelecimento que tem
uma grade de programação estabelecida salientou que essas formas de lazer
disponibilizadas resultaram em aumento significativos da clientela. Chegando a
passar da lotação de mesas, e por assim dizer corroborando para melhorar a venda
das cervejas. No caso dos estabelecimentos que não possuem essa grade não há
maneira de se inferir se esses aspectos.
Na visão dos proprietários, a ligação do lazer levando em consideração a
degustação e entretenimento ligados à cerveja, provém da busca dos clientes por um
local tranquilo para conversar e degustar alimentos e bebidas. Segundo a proprietário
do estabelecimento A, os clientes utilizam-se do produto que é a cerveja como uma
forma de confraternização e um meio de relaxar. Já o estabelecimento B entende que
esse quesito está diretamente ligado ao que o estabelecimento possui de diferencial,
seja através do entretenimento ou de produtos. Principalmente quando se trata de
algo relativamente novo no mercado brasileiro. Logo essas formas de atrair o cliente
acabam por seu um vínculo entre o lazer de beber. Assim como o estabelecimento A,
o estabelecimento C acredita ser uma forma de confraternizar e relaxar para o cliente.
Isto posto, entende-se que diante das informações coletadas, o ato de beber
cervejas especiais se classifica como uma forma de confraternizar. A utilização de
produtos não habituais no mercado brasileiro causa a curiosidade e o deleite nos
clientes por estarem tomando bebidas novas ou favoritas. Para Beltramelli (2014, p.
193) a definição proposta para os consumidores de cervejas especiais são as
experiências gastronômicas que dispensam o consumo exagerado.
409
É importante salientar que, como os produtos são importados e não habituais,
chegam ao consumidor com preços onerosos. Dessa forma, seria algo a mais
oferecer para os clientes algum tipo de entretenimento, não tratando-se de algo
prejudicial ao negócio em questão ou ao mercado de cervejas, mas sim uma maneira
de apresentar esse produto ao público.
4.3 PROCESSO DA QUALIDADE, MARCAS E FATORES QUE INFLUENCIARAM A
VENDA DE CERVEJAS ATRAVÉS DA LENTE DE ESPECIALISTAS
Para muitos autores, a marca tem mais influência no produto do que o próprio
produto. Para Beltramelli (2014, p. 192) um dos mais importantes ingredientes de uma
cerveja é a sua propaganda.
Para entendermos como o empreendimento está reputando a forma de
divulgação das cervejarias, analisamos a partir do seguinte questionamento: “A seu
ver, o marketing dos fabricantes de cervejas influencia diretamente nas vendas em
seu empreendimento?”.
O estabelecimento A afirmou que o marketing dos fabricantes afeta diretamente
nas vendas do estabelecimento. Uma vez que as propagandas de cervejas dispostas
no local, tal qual as propagandas na televisão e em outros meios de comunicação
tendem a incitar a procura dos clientes em conhecer aquela determinada cerveja, o
que beneficia a venda no local. De maneira contraria, o proprietário do
estabelecimento B afirmou que a influência muito se dá por meio a sugestão do
garçom que é treinado para conhecer todas as cervejas do portfólio, possuindoa
habilidade de entender o que o cliente quer e recomendar o produto, já que a maior
parte dos produtos são importados. No caso C, as propagandas diversas auxiliam na
venda dos produtos, pelo fato de serem representantes oficiais de algumas marcas
no Amazonas.
Isto posto, é notado que mediante os estabelecimentos apresentarem produtos
parecidos, percebemos que o marketing afeta-os de maneiras diferentes. Tendo em
410
vista que todos vendem cervejas, cada local interpreta a propaganda cerveja de modo
distinto.
Analisando em cada estabelecimento qual a marca de cerveja mais vendida foi
tido como resposta a Original da Antárctica no estabelecimento A. Isso por conta do
bar se tratar de um local que iniciou suas atividades comercializando estritamente
cervejas nacionais. Contrastando com o estabelecimento B que tem como mais
vendida a cerveja Colorado, em detrimento de ser uma das cervejas artesanais
brasileiras mais antigas, portanto, muito conhecida entre os frequentadores. No caso
do estabelecimento C, a maior venda se baseia na cerveja Tupiniquim, isso se dá pelo
bar ser o representante da cerveja em Manaus.
Segundo Beltramelli (2014, p. 192) as cervejarias brasileiras que produzem em
larga escala investem em excessivas propagandas, o que resulta em um apelo
exagerado ao consumidor. Isso acaba criando “torcedores de rótulos”, ou seja,
consumidores fanáticos por determinada marca de cerveja.
Ao analisarmos a afirmação acima, percebemos que esse tipo de consumidor
possui maior dificuldade em experimentar novos tipos de cervejas. Isso provém das
propagandas massivas de cervejas populares, o que acaba delimitando o olhar do
consumidor a um só tipo de cerveja.
Mediante ao questionamento de como são entendidos os fatores que
influenciam na venda das cervejas, todos os estabelecimentos foram consonantes em
afirmar que as taxas de importação são exorbitantes, e consagram-se como um
aspecto negativo que acaba por reduzir a margem de lucro. Resultando no repasse
das taxas para o cliente, tornando difícil a popularização de alguns produtos.
Para o estabelecimento C, os fatores que influencia a venda da cerveja é a
variedade de marcas que oferecem, pois assim permitem que os clientes sintam-se à
vontade para escolher ou pedir sugestões ao garçom.
4.4 IDENTIFICAÇÃO DO PERFIL DOS APRECIADORES DE CERVEJAS
DIVERSIFICADAS
411
Para entender esse tópico foi perguntado aos estabelecimentos qual é o perfil
dos consumidores e apreciadores desses produtos. O estabelecimento A foi enfático
em responder que 90% dos consumidores são homens, e já sabem o que querem,
possuindo algum conhecimento sobre cerveja. Observa-se que esses clientes se
tratam de frequentadoresdo bar quando fornecia apenas cervejas nacionais, e com
isso os clientes que já frequentavam o estabelecimento evoluíram junto com ele.
No caso do estabelecimento B, o público é mais variado. Casais dos mais novos
aos mais velhos, famílias com filhos, além de pessoas que conhecem ou não esse
nicho de cervejas especiais. Tendo isso em vista, observa-se que o público do
estabelecimento é um tanto quanto difuso e heterogêneo, não obstante percebemos
que essa questão se dá por conta da programação do local apresentando jogos,
transmitindo esportes e series. Tornando-se um atrativo para o público em geral.
Já o estabelecimento C salientou que seu público se trata da classe A, na faixa
dos 28 aos 30 anos, e em geral homens. Analisa-se que este bar tem o público mais
restrito. Observa-se que isso se dá pelo estabelecimento oferecer exclusivamente
cervejas especiais importadas e artesanais nacionais, sem margem para produtos
industrializados em larga escala. Dessa forma acabam por atrair um público mais
seleto.
Para Beltramelli (2014, p. 193) as cervejas especiais buscam clientes adeptos
e não “torcedores de rótulos”. Esse segmento busca atingir consumidores mais
maduros e conscientes, que estejam dispostos a pagar mais por melhores produtos,
visando ter maior qualidade de vida no novo habito de beber menos.
No entanto, é imprescindível entender os critérios que os empreendedores
acreditam ser fundamentais para a escolha do cliente. Logo, o estabelecimento A
apontou que o sabor é um fator determinante, pois a escolha do cliente se dá pelo da
gustação da cerveja, além da indicação do garçom mediante o que o cliente procure.
O estabelecimento B Informou que nesses casos se trata de indicação, seja de amigos
ou do garçom. Podendo também ser peloconhecimento do cliente sobre cerveja. Já o
estabelecimento C indicou que isso se dá por meio da curiosidade do cliente e pela
indicação do garçom.
412
Para Beltramelli (2014, p. 5) cada pessoa possui seu gosto para cerveja, e é
nesse ponto que os novos empreendimentos cervejeiros em Manaus buscam
resguardo, oferecendo diversos rótulos.
Desse modo podemos entender que todos os estabelecimentos foram
consonantes em afirmar que o critério para a escolha é algo muito pessoal e difícil de
ser explicado, logo todos os estabelecimentos também corroboraram para a ideia de
que o garçom é uma peça fundamental para identificar e oferecer o que o consumidor
necessita.
Com relação ao período de maior consumo da cerveja, o estabelecimento A
informou que o consumo está nitidamente ligado ao verão de Manaus, que
constituem-se dos meses de julho até novembro. Já o estabelecimento B informou
que o maior fluxo acontece durante o segundo semestre do ano, entre setembro até
janeiro. Após esses meses, segue-se uma queda gradual que se prolonga até
alcançar o segundo semestre novamente. Porém, em 2016, tratou-se de um ano
atípico onde houve alta no mês de março e uma queda de 30% nos meses seguintes,
onde as vendas só voltaram a se reestabelecer em setembro.
O estabelecimento C possui um fluxo elevado em dezembro, junho e outubro e
a menor taxa durante fevereiro. Logo, interpreta-se que os meses de maior fluxo se
dão por conta das férias e o oktoberfest e o menor se dá por conta do período de
carnaval.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O surgimento de novos bares com cervejas especiais tem atraído a atenção do
público manauara. O caráter revolucionário assumido por esses bares em não
somente vender cervejas especiais, mas em oferecer também uma diversidade de
cervejas internacionais das melhores escolas cervejeiras do mundo.
Dessa forma, acredita-se que a cerveja seja uma bebida que está ligada
culturalmente com o povo manauara, promovendo a degustação, entretenimento e
lazer através dos bares presentes em toda a cidade de Manaus
413
A hipótese desse artigo acredita que a cerveja seja uma bebida ligada
culturalmente ao manauara. Mediante pesquisas bibliográficas, mostrou-se serem
fatos históricos, ligados a vinda dos colonizadores europeus que portavam a própria
cerveja. Durante o final do século XIX e início do XX as mercearias comercializavam
cerveja e chope provindos de navios, os quais abasteciam a cidade durante o período
áureo da borracha. Observando essa oportunidade a família Miranda Correa por sua
vez fundou a Cervejaria Miranda Correa S.A que foi responsável por disponibilizar
vários rótulos de cervejas durante o século XX.
Constatou-se então, que a cerveja é uma fonte econômica na cidade de
Manaus. Com base nas entrevistas, o habito de degustar produtos especiais, como
cervejas artesanais e importadas é uma forma de fortalecer esse mercado, tendo em
vista ser tida por seus apreciadores como um meio de confraternizar e relaxar. A
cerveja também é entendida como um complemento a outras atividades de lazer como
assistir esportes, ver series ou jogar sinuca nos bares. Logo, podendo ser assimilada
como um meio de lazer nos bares estudados e não somente como mais uma bebida.
Diante disso, por meio de entrevista nos bares estudados, consegue-se
discernir o processo de elevação da cerveja, tendo em vista esse mercado que são
as cervejas especiais. Logo, foram observadas por todos os bares como uma
oportunidade de explorar um nicho de mercado que se mostrava praticamente
inexplorado em Manaus. Bem como a razão de diversificar as cervejas, pois se trata
de um mercado tênue que não está amplamente difundido na cidade. Já o perfil dos
consumidores são percebidos como um público muito difuso considerando as
explicitações dos três bares quanto a isso, porém os três apresentam uma gama de
consumidores que conhecem sobre cervejas especiais. A qualidade das marcas, além
de outros fatores que influenciam na venda das cervejas, foram entendidos como
pontos negativos os impostos exorbitantes que dificultam a margem de vendas, e
como positivos a variedade de rótulos que podem ser trabalhados além da influência
da propaganda diretamente ligada a maioria dos estabelecimentos.
Dessa forma, conclui-se que o mercado de cervejas especiais vem crescendo
na cidade de Manaus, onde a procura por parte dos consumidores ainda se mostra
414
tímida, porem crescente. Logo, se entende por meio de todas as diretrizes utilizadas,
que a cerveja especial se aplica como uma bebida que favorece a economia. Estando
intimamente ligada a um habito cultural, os novos espaços disponibilizam a
degustação de cervejas diferenciadas, oferecendo entretenimento nos espaços de
lazer da cidade de Manaus.
REFERÊNCIAS
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416
COMIDA DE CHEF COMO PRODUTO TURÍSTICO: O CASO GASTRONOMIX
2016
LISBOA, Patrícia73 ; KOSINSKI, Álvaro74 [email protected]
Resumo: Pelo evento gastronômico o Turismo proporciona uma experiência do gosto, apresentado e saboreado em condições e locais especiais. O Gastronomix, uma das atrações do Festival de Curitiba, reúne a cada edição, desde 2009, diferentes chefs de cozinha que oferecem pratos especiais para o público. Dentro deste contexto, o objetivo da pesquisa é identificar o que leva os chefsa participar do eventoA pesquisa caracteriza-se como um estudo exploratório-descritivo. Os resultados permitem afirmar de forma geral que enquanto os chefs locais tiveram uma motivação predominantemente econômica, os chefs de fora apresentaram diferentes razões.
73Nutricionista pela UFPR; especialista em Gerenciamento de Unidades de Alimentação e Nutrição pela PUC-PR; mestre em Turismo e Hotelaria pela UNIVALI-SC. Link currículo lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4279077Z6 e-mail: [email protected] 74Bacharel em Direito pela PUC-PR; especialista em Gestão de Pessoas pela UNIVALI-SC. Link currículo lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4440174D3 e-mail: [email protected]
417
Palavras-chave: Turismo; Evento Gastronômico; Gastronomix
1 INTRODUÇÃO
Porque a comida é o resultado de um longo processo histórico-social que se
inicia no plantio e chega até ao serviço, passando pelas escolhas dos alimentos,
preparos e harmonizações, a gastronomia que dela decorre pode ser reconhecida
como um patrimônio cultural, passível de exploração como produto turístico.
Nesse sentido, a gastronomia ganha importância, segundo Gastal e Pertile
(2013), pelos cuidados e sofisticação dispensados aos seus apreciadores que, em
retribuição, passam a reconhecê-la, de acordo com Gimenes (2012), como uma
experiência, algo capaz de fazer com que se envolvam de uma maneira pessoal,
emocionando-se e aprendendo com as vivências de consumo.
No centro desse contexto está o chef de cuisine, profissional da área da
Alimentação responsável pela concepção, confecção e pelo serviço a ser prestado ao
cliente e que por isso deve considerar todos estes elementos.
Inserido na programação do Festival de Curitiba em 2009 (atual denominação do
Festival de Teatro de Curitiba), o Gastronomix (Gmix) é um evento gastronômico realizado
nos dois últimos dias do Festival de Curitiba,com a premissa de refletir nas artes culinárias
o que se buscanas artes cênicas: apresentar ao público uma amostra rica e diversificada
de produções; ser local e global ao mesmo tempo, isto é, partir das produções locais
para uma visão global, e, ao mesmo tempo, trazer um olhar mais universal para o
contexto local.
Neste campo de estudos que envolvem a gastronomia como um produto
turístico, especialmente em eventos com esta finalidade, o objetivo desta pesquisa é
identificar o que leva os chefs, atores principais deste enredo,a participar do evento.
A este objetivo precedeu a necessidade de descrever o Gastronomixpara
compreendê-lo enquanto evento e, então, obter dos participantes,via entrevistas, as
razões determinantes para o aceite.
418
O estudo caracteriza-se como exploratório-descritivo, pois, como dizem
Richardson (1999) e Vergara; Caldas (2005) que a pesquisa é exploratória quando
não se têm informações sobre determinado tema, há pouco conhecimento acumulado
ou sistematizado sobre ele, mas se busca conhecê-lo. E é descritiva, segundo
Merriam (1998), a investigação cujo objetivo é descrever as características de
determinada população ou fenômeno, propiciando, em alguns casos, descobrir
associações entre variáveis que levem a uma compreensão mais ampla do problema.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente trabalho é uma pesquisa de abordagem qualitativa básica (GODOY,
1995) através da qual se analisa o fenômeno que se observa, que se serviu da técnica
de entrevista, com a formulação de perguntas que seriam básicas para o tema a ser
investigado (LALANDA, 1998).
Segundo Alberti (2004), a escolha de entrevistados deve ser orientada pela
posição do entrevistado no grupo ou por sua experiência. Por isso, as entrevistas
foram realizadas nos dias dois e três de abril, com chefs de cozinha, locais e de outras
regiões do Brasil, participantes da edição de 2016 do Gastronomix, respeitando
condições essenciais à entrevista qualitativa, descrita por Godoi e Mattos (2006).
O material passou pelo método de análise de conteúdo Campos (2004), de
forma a estabelecer-se um melhor entendimento dos temas abordados. De acordo
com Minayo (1999), esse tipo de análise pode ser utilizado em qualquer tipo de
pesquisa qualitativa e tem como principal objetivo agrupar ideias, elementos ou
expressões obtidas a partir da interação das pessoas envolvidas com o fenômeno
pesquisado.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A comida, dizem Ferraccioli e Silveira (2010), é algo que se ingere
prazerosamente, conforme as normas da comunhão e comensalidade; um meio pelo
qual as pessoas se comunicam umas com as outras, segundo Foster e Anderson
419
(1978), a personificação dessa comunicação em si; uma forma de expressão dos
desejos humanos que deve dar prazer e possuir um prestígio, conforme Carneiro
(2003) e Poulain (2004); algo que define, de acordo com Da Matta (1987), um domínio
e uma identidade, visto que é preparada a partir de um ou vários tipos de alimentos,
tem um ritual que a define, uma sequência de informações que vai do cultivo ao
preparo.
Conforme dizem Lemos (2000) e Giustina e Selau (2009), a identidade de um
povo pode ser qualificada pelos sabores, mas também, pelo saber fazer ou
transformar um produto a partir de recursos disponíveis que podem ser representados
por alimentos, utensílios, equipamentos, artefatos, entre outros.
Já Gimenes (2006) afirma que a abrangência da relação alimentação/cultura
não se restringe aos processos relacionados com a manipulação da iguaria a ser
digerida, mas se estende aos modos à mesa, bem como aos locais e às maneiras
com que a degustação ocorre, fazendo com que o complexo fenômeno da
alimentação humana tenha, conforme assevera Ceretta (2012), marcas de mudanças
sociais, econômicas e tecnológicas, todos eles representativos de um determinado
momento histórico.
A diversidade gastronômica brasileira, segundo Milagres e Gomes (2014),
envolve um conjunto de cores, aromas e sabores variados, o que permite a elaboração
de pratos que vão além da função alimentar; marcam a identidade cultural do
brasileiro, constituindo-se, de acordo com Gimenes (2015), em elemento fundamental
no contexto turístico, pois que extrapola o universo da oferta técnica e se consolida
como integrante da oferta original e diferencial de um destino quando reconhecida
como patrimônio cultural imaterial.
Atualmente, falam Medeiros e Santos (2009), nota-se uma valorização da
culinária como oferta turística principal, uma forma de atrair turistas em épocas de
menor ocupação. Ela surge, segundo Marujo (2014), como uma ‘arma’ para identificar
um destino, melhorar a imagem do lugar ou combater a sazonalidade.
Nesse sentido, Martins, Matias e Paes (2012) dizem que os eventos
gastronômicos são importantes para o turismo e para a gastronomia que pode ganhar
420
novos talentos ou então preservar suas tradições culinárias e históricas; contribuem
para ampliar e socializar o conceito da gastronomia, ainda vista por muitos como algo
destinado apenas às classes mais altas da sociedade; uma forma de entrar em contato
com as novas tendências, conhecer de perto como os chefs concebem suas criações,
como utilizam os conceitos da gastronomia regional e os ingredientes da terra em
pratos mais sofisticados.
Como resultado do processo de transformação da gastronomia em atrativo
turístico, afirma ainda Gimenes (2012) que a interação do visitante com o local visitado
deve propiciar a vivência de experiências potencialmente inesquecíveis, criando
memórias que irão influenciar positivamente a relação do consumidor com aquilo que
é consumido. E de acordo com Silva (2013) porque podem proporcionar experiências
únicas e memoráveis, com apelo aos cinco sentidos, os chefs desempenham um
papel predominante no que respeita ao binómio turismo-gastronomia, sobretudo
quando se está diante da economia das experiências.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
4.1 O evento (Gastronomix 2016)
Divulgado como uma Quermesse Responsável, que valoriza o produto e o
produtor, reúne chefs que naturalmente seguem os princípios da Gastronomia
Responsável, ou seja, a utilização de alimentos orgânicos e regionais, o evento
apresenta pratos servidos em porções que variam em torno de 150 gramas, o que
possibilita às pessoas experimentarem mais de uma preparação.
Com entrada no valor de R$ 12,00 (crianças até 05 anos não pagam) o Gmix
contou com pratos cujos preços variaram entre R$ 8,00 e R$ 20,00, de acordo com o
fixado por cada chef. O evento ocorreu nos dias 02 e 03 de abril – sábado e domingo
– entre 11 e 17 horas, na área térrea, externa e jardim,totalizando treze mil metros
quadrados, do Museu Oscar Niemayer no Centro Cívico – Curitiba. Foram
disponibilizados pela organização 1787 lugares sentados, sendo 619 lugares no piso
superior, dos quais 512 lugares em cadeiras, 72 lugares em bancos e 35 lugares em
421
louges, e 1168 lugares no piso inferior, sendo 900 lugares cobertos em cadeiras e 268
lugares sentados descobertos, incluindo área de pique nique.
Na edição de 2016 o Gmix contou com a participação dos seguintes chefs
(restaurantes - prato): Ana Luiza Trajano (Brasil a Gosto - São Paulo/SP – Carne de
panela com baião de dois); Chef Caju (Kantinho do Japa – Curitiba/PR – Combinado
Chef Caju - sushis); Claudio Couto (Desfrutary – Curitiba/PR – Paletas gourmet);
Emmanuel Bassoleil(Skye – São Paulo/SP – Arroz de pato a moda do chef); Fabiano
Marcolini (MarcoliniAlimentari – Curitiba/PR – Pão no vaso); Felipe Niyake e Mayra
Batista (La Varenne – Curitiba/PR –Steaktartar); Felipe Schaedler (Banzeiro –
Manaus/AM – Bisque de tucupi com pirarucu curado e farinha de uarini); Fernanda
Zacarias (RagúRotisseria& CO. – Curitiba/PR – Quirera da Lapa com confit de leitão);
Flavia Soni Rogoski (Bon Vivant -Curitiba/PR – Burrata com pão artesanal e prato
de queijos brasileiros); Francesco Carli (RJ Country Club – Rio de Janeiro/RJ –
Codorna trufada sobre cama de spaetzle de couve mineira); Giuliano
Hahn(Restaurante Armazém Santo Antônio – Curitiba/PR –Arroz de bacalhau com
tapenade de azeitonas); Lênin Palhano(Nômade – Curitiba /PR – Quarteto
snacksNomade); Bia Araújo (SucréPatisserie – Fortaleza/CE– Sanduiche de Cookies
de chocolate da Amazônia e nutella com sorvete de banana e baunilha fresca); Lucas
Cintra (Pizza – Curitiba/PR – Marguerita); Marcelo Cabral (Mercado 153 –
Curitiba/PR – Sanduíche de mortadela com queijo); Marcos Bortolozo(MarbôBakery
– Curitiba/PR– Sanduíche de pernil suíno com musselina de banana-da-terra, cebola
dourada e rúcula no pão de limão com gengibre); Mariana Salata (Mary Ann Factory
–Curitiba/PR – Maçãs carameladas); Maurício Fontana (Gordo e Magro Gastrobar –
Curitiba/PR – ESTICA, hamburguer de costela bovina angus, cheddar, picles,
maionese artesanal e pão crocante especial); Polyana Rodrigues (GruéChocolateria
– Curitiba/PR – torta de caramelo com castanha do Pará e damasco); Reinhard
Pfeiffer (Restaurante Expedito – Lapa/PR – Risoto mulatinho de linguiça defumada
guarnecido com mandioca cremosa e pastel de milho crioulo); Renata Ferrian
Canabrava (BellaBanoffi – Curitiba/PR – Torta Banoffi); Rodrigo Martins (La Palme
– Londrina/PR –Cassoulet de vitelo;Mukeka – Curitiba/PR – Moqueca paranaense
422
com camarão, pescado e pinhão; e The MeatpackHouse – Curitiba/PR –Pão com
linguiça de carneiro, purê de grão de bico e cebola crocante); VaneskaBerçani
Rodrigues (Restaurante Velho Oriente – Curitiba/PR –Falafel) e Vinícius D’Agostin
(Cantina Vini D’Agostin – Curitiba/PR –Sucos naturais agroecológicos. Laranja com
manga, melancia com gengibre, abacaxi com hortelã e uva).
O evento contou também com a participação das empresas Cini, Porto a Porto,
Suco e Só, Way Beer, Cachaçaria Vô Milano, BeerManiacs e Hop’nRoll, vendendo
bebidas; dos patrocinadores Melitta, Electrolux e Cielo; dos apoiadores Vapza,
Thermo King e Compagás; dos parceiros PUCPR, Bergerson Presentes e Celso Freire
Gastronomia; e da Oxford Porcelanas com a louça oficial.
A escolha dos chefs (restaurantes) é feita pelo curador do Gastronomix que
verifica dentre os restaurantes da cidade e de outros estados e/ou países, quais atuam
conforme os princípios do movimento gastronomia responsável. Aceito o convite pelo
chef, coube à produção de cozinha do evento o contato para alinhar o produto a ser
servido às diretrizes do Gmix, uma vez que há risco de se repetirem total ou
parcialmente as preparações e haver distorções nas quantidades dos pratos a serem
servidos. Além disso, ficou estabelecido o número de credenciais para a equipe de
cada um dos chefs e a necessidade de que cada barraca providenciasse um número
aproximado de 800 porções a serem servidas por dia.
O evento ofereceu a cada convidadoparticipante uma barraca coberta com 2,3
x 2,3m, identificada com o nome do chef, do prato a ser servido e do restaurante
correspondente, instalada sob uma tenda branca calhada para proteção contra
eventuais chuvas. Dentro de cada barraca foram disponibilizados dois pontos elétricos
de 220v, um fogão de alta pressão de duas bocas e o gás necessário para o seu
funcionamento, além de e uma mesa de 1,80 x 0,90m para apoio. Os demais
equipamentos específicos, eventualmente necessários para compor a barraca,
deveriam ser providenciados pelo chef convidado.
Além disso, a organização disponibilizou uma equipe de cozinha composta por
quatro grupos distintos com funções específicas. A equipe de produção de cozinha,
composta por um produtor, um maquinista, um motorista e um estudante voluntário
423
de Gastronomia. A equipe operacional, composta por trinta e um estudantes
voluntários de um curso superior de Tecnologia em Gastronomia e um professor
responsável que os acompanhou no sábado e no domingo. A equipe de limpeza,
composta por sete auxiliares de serviços gerais, responsáveis pela higienização dos
pratos e demais louças da cozinha, além do ambiente de produção. E, por fim, a
equipe de traslado, composta por seis colaboradores, responsáveis por transportar os
pratos sujos para as cozinhas de apoio e repor os pratos limpos nas barracas dos
chefs.
Durante o evento houve programação paralela com oficinas, aulas show,
programação infantil e apresentações musicais de artistas locais.
Considerando os envolvidos com o evento e os que adquiriram ingresso, o
Gmix teve um público de aproximadamente dez mil pessoas – quatro mil no sábado e
seis mil no domingo.O pico de movimento ocorreu sempre entre as 12 e 14 horas. No
sábado, nenhuma barraca fechou antecipadamente, mas no domingo, dez barracas
encerraram suas atividades antes do horário defechamento por terem vendido todos
os seus produtos.
4.2 RAZÕES QUE LEVARAM OS CHEFS A ACEITAR PARTICIPAR DO EVENTO
Dos vinte e três chefs participantes, onze aceitaram responder à entrevista,
sendo os números 1, 2, 3, 5, 6, 8, 10 e 11 chefs locais, e os números 4, 7 e 9
representando os chefs convidados de outros estados.
Os outros doze não atenderam ao pedido de entrevista por diferentes razões:
por apresentar grande movimento na barraca; ter outro compromisso após o
encerramento; necessidade de atender sua equipe para produzir mais; retorno
programado para logo após o fechamento, domingo.
O motivomais citado pelos chefslocais para a participação foi a possibilidade de
ganho financeiro, através do aumento das vendas de seus produtos.
1 –“Ao aceitar participar do Gastronomix objetivamos aumentar as vendas, pois, devido à crise, já percebemos uma diminuição do movimento no
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restaurante de cerca de 40% em relação ao mesmo período do ano passado (2015). E embora o formato do evento não nos permita ter o mesmo retorno financeiro que temos em nossa casa, acreditamos que uma boa comida aqui, desperta a curiosidade do público para conhecer ou voltar ao restaurante”. 6 – “A participação no Gastronomix para nós foi vista como a oportunidade de um reforço no caixa. A crise tem feito muitas casas encerrarem suas atividades desde o final do ano passado e esse temor ronda muitos estabelecimentos atualmente. Por isso, escolhemos uma receita simples, de fácil execução e finalização para vendermos bastante. Estamos muito satisfeitos porque tivemos uma ótima aceitação do público”. 11 – “Uma oportunidade para vender mais, expor a marca, ver a concorrência, ter contato direto com o público são alguns dos motivos que nos fizeram aceitar as condições de estar no Gastronomix. Como conseguimos realizar nossa operação no próprio local, com uma base pronta vinda do restaurante, sem interferir no serviço da casa, acreditamos no potencial do evento que já é tradicional do Festival de Teatro”.
Ainda que não ligada diretamente à expectativa de faturamento, a questão
financeira surge como um fator determinante para o aceite:
10 – Acreditamos que para a marca do estabelecimento ter participado desta edição do Gastronomix foi importante porque vendemos em dois dias 80% do que vendemos em um mês. Mesmo não tendo o mesmo retorno financeiro, pensamos que esse ‘giro’ nos deixa com mais credibilidade junto aos nossos fornecedores em um momento de crise como o que estamos passando. Vimos aqui algumas oportunidades de parceria, principalmente com as marcas que venderam bebidas. A receptividade do nosso produto pelo público foi muito boa, tivemos muitos elogios. Foi uma ótima experiência também de processos e procedimentos dentro da cozinha para preparar tantos pratos em tão pouco tempo.
Já os chefs que vieram de outros estados deram diferentes razões para aceitar
participar:
4 –“Vir para Curitiba e trazer a nossa culinária para nós foi um desafio. Já tínhamos informações positivas sobre o evento de pessoas que participaram em anos anteriores e isso foi importante para aceitar o convite. Ainda se fala muito que o povo curitibano é muito exigente, queríamos nos colocar à prova. E como o convite se deu com bastante antecedência pudemos programar alguns passeios para conhecer lugares que ainda não conhecíamos. Estamos tendo uma ótima impressão, tanto em relação a organização quanto ao público que vem prestigiarTirar fotos, conversar com os clientes, interagir com outras barraquinhas são pontos fortes do evento.”
425
7 – “Estar em Curitiba e participar do Gastronomix com uma preparação brasileira tradicional é muito gratificante. Quando recebi o convite e ‘as regras do jogo’ vi uma ótima oportunidade de mostrar essa culinária. A receptividade do público tem sido dentro do que esperávamos. Não tivemos grandes filas durante o período de mais movimento, o que nos possibilitou um contato com o cliente um pouquinho mais demorado do que o de costume. Percebi que uma boa parte das pessoas vem com essa intenção, mais até do que provar a nossa comida. Hoje vendemos 90% de nossas porções e isso é bom para o evento. Agora, na parte final do dia, é uma ótima oportunidade para ‘trocar figurinhas’ com outroschefs”. 9 – “Este evento coloca em primeiro plano ochefde cozinha. Assim, não podia deixar de participar. Prestigiar esse evento é prestigiar minha profissão”.
Dentre os novatos – participantes pela primeira vez do evento – a afirmação
da marca junto ao público surge como o motivo determinante, embora o chef 2 tenha
mencionado a mídia espontânea do próprio Festival a via para atingir tal pretensão
enquanto a chef 5 tenha citado o cuidado na escolha e preparo do prato a ser servido:
2 – “Ainda somos um estabelecimento novo na cidade, em um ramo de muita concorrência (sanduíches). Então estar no mix de participantes, para nós, foi uma oportunidade de divulgar a marca para um público diferenciado que participa do evento, uma vez que, diferente de outros eventos, aqui paga-se para entrar, além do valor da comida. Além disso, a mídia espontânea que vem junto com o festival, inclusive nas redes sociais, já nos indicou o acerto na escolha. Isso porque a página do estabelecimento já recebeu muitas curtidas nesses dois dias”.
5 – “Como ‘plateia’ já tinha participado do Gastronomix em anos anteriores. Quando recebemos o convite nos sentimos lisonjeados porque sempre háchefse casas muito conhecidas. Por isso escolhemos com muito cuidado o prato a ser servido, contamos, inclusive, com a colaboração do evento para evitar algum desacordo com as normas do evento. Nesse processo, já conseguimos perceber que a rentabilidade não deveria ser o foco de nossa participação. Optamos, assim, pela qualidade, para que o público perceba que a comida que se faz aqui é tão boa quanto a dos melhoreschefsdo Brasil, já que o festival oportuniza grandes preparações a preços bastante acessíveis”.
Por fim, dentre os entrevistados que já participaram de outros eventos (mais
experientes) outras razões surgem como motivadoras para querer participar:
3 - Já é a terceira vez que participo do Gastronomix. O evento propicia um contato muito direto com o público, diferente do que normalmente acontece no restaurante. Como nossas preparações veem prontas, nos resta apenas finalizá-las, aproveitamos o momento para atender pessoalmente as pessoas, explicando a receita e respondendo a curiosidades das pessoas.
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Nesse sentido, alguns perguntam se existe algum segredo ou sobre a possiblidade de trocar algum elemento do prato. 8 – Diferente de outras feiras e eventos que já participei, o Gastronomix tem uma pegada mais de confraternização. Lógico que sempre tem uma disputa para ver quem vende mais ou tem sua barraca encerrada antes, mas aqui isso, sem dúvida, fica em segundo plano. Talvez seja resultado do formato do evento, com porções menores e preços reduzidos. Os que participam já sabem que não vão ficar ricos aqui. O que também difere este evento são as atividades que ocorrem em paralelo, com palestras, aulas show, oficinas, apresentações teatrais e área com espetáculos para crianças. Acredito que isso chega até a influenciar o público visitante porque não é um ‘vir, comer e ir embora. Dá pra pessoa passar o dia inteiro aqui, se quiser’.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo evento gastronômico o Turismo proporciona uma experiência do gosto de
um prato, saboreado em condições e locais especiais. Fixa, assim, na memória do
turista um momento, um relacionamento, além de beneficiar econômica e
emocionalmente a comunidade que o proporciona, seja por lhe trazer dividendos, seja
por lhe aumentar a autoestima de ser capaz de oferecer uma experiência única.
Conforme o objetivo específico proposto a pesquisa descreveu, sob o ponto de
vista da produção de cozinha, o evento Gastronomix. Nesse sentido puderam-se
verificar as condições operacionais oferecidas aos chefs participantes.
Já sob o objetivo geral de identificar os motivos que conduziram os chefs
convidados a aceitar participar do Gmix, embora não tenha sido citado como a
principal razão, o histórico do evento – compor o conhecido Festival de Curitiba e as
informações colhidas de anos anteriores com conhecidos – foi mencionado por mais
de um participante, pelo que se pode concluir que é um fator considerado relevante.
Demais disso emerge a questão financeira – sob diferentes aspectos – como a
razão mais citada, demonstrando que os estabelecimentos locais passam por
dificuldades para se manter.
E em relação aos chefs convidados de outros locais, o fato de terem diferentes
motivos, que não econômicos, revela uma condição especial no mercado
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gastronômico brasileiro, indicando, assim, que estão menos suscetíveis a aspectos
mercadológicos.
Como principal limitação há que se considerar que a pesquisa não incluiu os
chefs que não aceitaram o convite, ou seja, não houve uma abordagem dos motivos
que impediram o aceite por parte de alguns convidados.
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GT 9 – EVENTOS E LAZER
430
CARACTERIZAÇÃO DO TURISTA DA FESTA NACIONAL DO DOCE - FENADOCE/2015 – PELOTAS/RS
GARCIA, Natália75;GONÇALVES, Artur76. [email protected]
BARBOSA, Andyara Lima77. [email protected]
Resumo: Este artigo tem como objetivo caracterizar os turistas da 23ª edição da FENADOCE, realizada em Pelotas/RS. Através de revisão bibliográfica trabalhou-se um referencial teórico sobre turismo de eventos, eventos e sua tipologia, apresentando também, uma breve contextualização da Festa Nacional do Doce. Os resultados foram obtidos através documentação direta com pesquisa de campo e os resultados estão apresentados de forma descritiva. Para tanto, a pesquisa utilizou procedimentos metodológicos quali-quantitativos com coleta de dados através de entrevista, evidenciando, entre outros, que os turistas que visitaram a FENADOCE 2015 são, principalmente, oriundos do Rio Grande do Sul, a maioria já conhecia e Festa e pretende voltar para as próximas edições. Palavras-chave: Evento; FENADOCE; Caracterização; Turista.
75Estudante do curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas. Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/6928303885295684. 76Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas. Currículo Lattes em: Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/7773036258683670. 77Graduada em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica/RS, atualmente é professora do curso de bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas. Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/5388185410659175.
431
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, eventos como feiras78 e exposições79, tanto de lazer como de
negócios e profissionais, vem absorvendo uma grande massa populacional e, com
isso, o turismo cada vez ganha mais espaço e divulgação, pois engloba um mercado
amplo de produtos e serviços com os seus atrativos naturais e culturais. Neste
contexto, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), junto com órgãos públicos, realiza a
Festa Nacional do Doce que, em sua 23ª edição, foi realizada de 27 de maio a 14 de
junho de 2015, no Centro de Eventos FENADOCE no município de Pelotas/Rio
Grande do Sul.
O principal objetivo dos organizadores de eventos deve ser agradar o público
que o frequenta e a melhor alternativa para alcançar este objetivo é conhecer este
grupo de pessoas. Pensando nesta necessidade, surgiu a vontade de traçar um perfil
do visitante da Festa Nacional do Doce, para conhecermos quem são estes visitantes
e o que pensam sobre o evento.
Através da caracterização do público e de como este avalia o evento,
poderemos oferecer aos visitantes o que eles esperam, o que é determinante no
sucesso do evento. Devemos entender também que, para os organizadores, um
objetivo fundamental deve ser agregar renda e gerar empregos diretos e indiretos com
o evento. Além dos valores econômicos agregados à comunidade receptora, o evento
também pode deixar um legado ao município que o sedia e, pensando desta maneira,
Viana (2004, s/p.) afirma que:
Eventos podem contribuir na reflexão sobre a reorganização da cidade, na qualidade de vida, nas facilidades e assim contribuírem para o melhoramento das condições de vida do habitante local. Permitem, portanto, mobilizar toda a estrutura de uma cidade, começando pelo poder público, que às vezes deve colocar em prática uma série de medidas de melhorias que vão possibilitar que uma localidade sedie um evento, mas que depois são aproveitadas em benefícios da comunidade.
78 Feiras: evento organizado com o objetivo de vender algo ao público. 79 Exposição: evento organizado com o objetivo exclusivo de divulgação de produtos e serviços.
432
Além dos benefícios sócio-econômicos que os eventos podem oferecer à
comunidade, é necessário ressaltar a importância destes em função do lazer que
oportunizam aos moradores e aos visitantes, em função da preservação cultural que
podem fomentar e em função de oferecerem espaços para a interação e o
conhecimento entre as pessoas.
Assim, oferecer um evento de qualidade, onde a sua organização e objetivo
estejam focados nos vários publicos por ele afetados, pode ser uma saída para as
dificuldades que uma região enfrenta, pois oportuniza renda, conhecimento,
reconhecimento, podendo gerar um legado que, se bem aproveitado, deve passar a
ser uma fonte de recurso materiais e imateriais permanente.
Do mesmo modo, para que um evento seja considerado um sucesso, sabemos
que é importante que as instituições que trabalham com o turismo e eventos,
desenvolvam um trabalho permanente de compilação de informações e montagem de
banco de dados estatísticos sobre os visitantes, utilizando-se, entre outras estratégias,
de pesquisas de campo e coleta de dados dos usuários dos meios de hospedagem,
terminais de transporte, eventos e demais atrativos turísticos. (MINISTÉRIO DO
TURISMO - MTur, 2009).
De posse dessas informações, é possível identificar os principais mercados
emissores de turistas - visitantes temporários que permanecem no país (núcleo
receptor) por mais de 24 horas e menos de 03 meses, por qualquer razão que não
inclua trabalho (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO – OMT; SANCHO, 2001),
excursionistas e visitantes, além do tipo de turismo que é mais frequente (lazer,
negócios, eventos, etc.).
Neste sentido, um sistema de informação sobre o visitante deve realizar
estudos científicos quantitativos e qualitativos, objetivando conhecer e analisar a
demanda turística real e potencial80 a fim de melhor planejar e adequar o produto
80 Demanda real - conjunto de turistas e os resultados econômicos que os deslocamentos destes grupos geraram. Demanda potencial - conjunto de turistas com condições de viajar e gerar resultados econômicos em seus deslocamentos. (LAGE; MILONE, 2000).
433
turístico, entre eles os eventos, a esta demanda visando a sua satisfação e a da
comunidade anfitriã e, desta forma, minimizar prejuízos e maximizar benefícios
provenientes da atividade turística. (OMT, 1994).
Afora isto, conhecer os visitantes é importante porque este conhecimento
permite acompanhar a marcha dinâmica e a propensão do setor turístico; identificar
as correntes turísticas e o impacto no conjunto das variáveis socioeconômicas e
ambientais da região atingida; comprovar ou não objetivos fixados; controlar a
evolução do setor; servir de instrumento para a tomada de decisões baseadas em
dados reais, permitindo um melhor conhecimento da realidade turística local. (VIANA,
2004, s/p.).
Sabemos que existem dados sobre o turismo e a demanda turística em termos
mundiais, através das publicações anuais da OMT; em termos nacionais através das
publicações do Ministério do Turismo e, em nível do estado, as informações são
disponibilizadas através de secretarias de estado ou similares. Estes informes são
úteis e importantes em termos de análises de macroambiente, porém, como sabemos,
o turismo é uma atividade socioeconômica-cultural cujo lócus de ocorrência é o
município e esse lócus é carente de dados que possam permitir análises de
microambiente. Ressente-se, portanto, de dados e informações úteis para planejar e
gerir o fenômeno turístico.
Para entender como atrair e manter o público, os organizadores de evento
precisam, primeiramente, saber quem é o seu frequentador e o que ele deseja. As
pesquisas envolvendo o perfil do visitante são o meio mais eficiente de conhecer o
público do evento e o que ele espera encontrar. Assim, cabe às organizações a tarefa
de montar um banco de dados sobre os visitantes, pois assim, será possível
proporcionar retornos satisfatórios a todos os envolvidos com a realização do evento.
Neste escopo, os objetivos deste artigo são: caracterizar os turistas que
visitaram a FENADOCE do ano de 2015, tanto em termos de idade, sexo, ocupação,
grau de instrução e grupo de renda, quanto em termos de procedência, permanência,
gastos, meio de transporte e número de acompanhantes. Para tanto, a pesquisa
utilizou procedimentos quali-quantitativos, que passamos a detalhar.
434
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Dentro do processo metodológico realizou-se pesquisa documental que se vale
de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou que ainda podem
ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa; e bibliográfica que é
desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros
e artigos científicos. (GIL, 2008). A pesquisa documental foi utilizada para a coleta de
dados sobre a FENADOCE e a bibliográfica encaminhou as reflexões teóricas sobre
a temática dos eventos e outras relevantes. Além dos métodos citados, para atender
os objetivos propostos na pesquisa, os procedimentos metodológicos adotados foram
à coleta de dados, que se fez através do método de documentação direta com
pesquisa de campo realizada através da observação direta intensiva com entrevista
pessoal e estruturada com questões fechadas e abertas.
Marconi e Lakatos (2010) definem, basicamente, dois tipos de técnicas de
pesquisa: a documentação indireta, que pode ser realizada na forma de pesquisa
documental ou pesquisa bibliográfica (ou de fontes secundárias). Quanto à
documentação direta, pode ser observação direta intensiva (realizada através de
observação e entrevista) ou extensiva (que se realiza através do questionário, do
formulário, de medidas de opinião e atitudes e de técnicas mercadológicas). Na
documentação direta o levantamento dos dados é feito no próprio local onde os
fenômenos ocorrem e estes podem ser obtidos através da pesquisa de campo ou da
pesquisa de laboratório. (MARCONI; LAKATOS, 2010). A pesquisa sobre a
caracterização do turista da FENADOCE se valeu tanto da pesquisa indireta quanto
da direta, conforme já citado.
Com relação à documentação direta, a fixação do número de entrevistas para
a amostragem deu-se com base na expectativa de 300 mil visitantes (FENADOCE,
2014). Assim, a amostra admitida foi da ordem de 1,27%, totalizando uma total de 380
entrevistas, cuja margem de erro foi de 5%. A abordagem dos entrevistados se deu
na frequência de um para cada três visitantes e o tipo de amostra utilizada foi a “não
435
probabilística por conveniência ou ocasional”, onde o elemento pesquisado é
selecionado por estar disponível no momento em que a pesquisa estava sendo
realizada. (GOMES; ARAÚJO, 2005). Este tipo de amostragem é usado em estudos
quali-quantitativos que não exigem alto grau de precisão, sendo utilizada tanto em
estudos exploratórios do tipo quali-quantitativos como em estudos qualitativos.
O campo científico aponta uma tendência para o surgimento de um novo
paradigma metodológico. Um modelo que consiga atender plenamente as
necessidades dos pesquisadores. Essa dicotomia positivista x interpretativo,
quantitativo x qualitativo, parece estar cedendo lugar a um modelo alternativo
de pesquisa, o chamado quanti-qualitativo, ou o inverso, quali-quantitativo,
dependendo do enfoque do trabalho. (GOMES, ARAÚJO, 2005, p. 07).
A pesquisa quali-quantitativa está diretamente ligada às pesquisas científicas
tradicionais, pois unifica e oferece uma nova forma de realizar um trabalho de
pesquisa, onde o principal foco é avaliar a qualidade e a quantidade do objeto de
estudo - neste caso, o turista visitante da FENADOCE 2015.
Diferente da pesquisa quali-quantitativa, a qualitativa faz um estudo mais
aprofundado nos dados que estão sendo analisados, estimulando os entrevistados a
pensar livremente sobre algum tema, objeto ou conceito. Mostra aspectos subjetivos
e atinge motivações não explícitas, ou mesmo conscientes, de maneira espontânea.
É utilizada quando se busca a percepção e entendimento sobre a natureza geral de
uma questão, abrindo espaço para a interpretação. (NEVES, 1996, p.01).
Neves (1996) afirma ainda que a pesquisa quantitativa considera que tudo pode
ser quantificável, o que significa traduzir em números as opiniões e informações para
classificá-las e analisá-las. Pode requerer, conforme o porte da pesquisa, o uso de
recursos e de técnicas estatísticas.
Assim sendo, a pesquisa de campo foi realizada no período de 27 de maio a
14 de junho de 2015, durante duas semanas, com a atuação de 11 pesquisadores.
Foram realizadas 20 entrevistas nas segundas-feiras e 21 entrevistas nos demais dias
da semana, com horários alternando entre a tarde e a noite, ocorrendo nos portões
de saída do Centro de Eventos FENADOCE.
Das 380 entrevistas realizadas, foram descartadas para este artigo, as de
moradores de Pelotas e recreacionistas - pessoa do país, estado, região ou do próprio
436
local que visita determinado atrativo turístico ou área de lazer, permanecendo menos
de 24 horas (OMT; SANCHO, 2001) - presentes no evento, restando 40 entrevistas
cujos respondentes afirmaram que permaneceriam no município por mais de 24 horas,
principal qualificativo técnico do turista.
A análise dos dados se deu de maneira quantitativa descritiva e sua
apresentação é igualmente descritiva, como apresentado na seção quatro deste
artigo.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 TURISMO DE EVENTOS
Para a OMT, o turismo se carateriza como as “(...) atividades que as pessoas
realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por
um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e
outros”. (Apud FAGUNDES; CASTRO, 2010, p.46). Nos escritos de De La Torre,
turismo é:
(...) um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem atividades lucrativas ou remuneradas, gerando múltiplas inter-relações de importância social,
econômica e cultural. (Apud FAGUNDES; CASTRO, p. 46).
Na atualidade, o turismo é considerado uma das principais ferramentas para o
fortalecimento das localidades, pois engloba uma série de recursos e oportunidades
de lazer e negócios, desenvolve a região e proporciona o (re) conhecimento cultural e
social dos anfitriões, através de uma vasta possibilidade de atrativos que moldam os
mais variados tipos de turismo.
As tipologias do turismo divergem de um autor para outro. Barretto (apud
MEZZALIRA, 2008, p.27) propõe diversas tipologias de turismo de acordo com os
diferentes critérios a serem considerados, como por exemplo: por sua própria
natureza, ele pode ser emissivo ou receptivo; de acordo com a nacionalidade dos
437
turistas, o turismo pode ser classificado como nacional ou estrangeiro; considerando
o volume, de massa ou de minorias. A autora destaca ainda, como principal
classificação do turismo, a modalidade que o considera quanto às motivações:
descanso, lazer, cura, desportivo, gastronômico, religioso, profissional ou de
eventos.
O segmento de eventos no turismo, na atualidade, vem se tornando um dos
principais geradores de conhecimento e renda e eventos como a Copa Do Mundo no
Brasil em 2014 e as Olimpíadas no Rio de Janeiro de 2016, são oportunidades que o
setor tem para agregar valores econômicos, pessoais e culturais a toda sociedade.
O evento também é utilizado como elemento de geração de benefícios diversos para a comunidade. Dependendo da natureza do evento (seja social, político e cultural), são gerados benefícios específicos para os habitantes e visitantes. Do ponto de vista econômico, os benefícios se traduzem em venda de ingressos, formação de grupos culturais, venda de produtos e serviços. Nesse aspecto, o evento é visto como agente de agregação de valor social, cultural, político e econômico do patrimônio histórico-cultural. (NETO, 2007, p. 60).
O desenvolvimento deste setor promove o reconhecimento de grande parte da
sociedade envolvida, pois:
A participação do segmento de eventos no setor turístico vem se mostrando e se confirmando, a cada dia, como sendo um dos segmentos com a maior lógica de crescimento. É um segmento do amplo universo do turismo que possui características muito peculiares e especiais, resultante da estreita ligação em eventos e turismo, com os seguintes pontos positivos: é uma área pouco atingida em época de crise; não depende do regime governamental; gera divisas e empregos; é motivador de investimentos e de melhorias e não é influenciado pela sazonalidade81 da atividade turística. (DIAS, 2000, p.13).
Podemos dizer que o evento pode ser um grande colaborador para o
fortalecimento social de uma localidade, estado ou país, proporcionando não somente
o seu próprio reconhecimento, pois agrega valores em outros setores da economia.
81É a alternância entrealta e baixa temporada, sendo a alta temporada o período em que os locais turísticos recebem um maior fluxo de visitantes; neste período é permitido à população tempo livre com as férias escolares e profissionais, além dos feriados prolongados. Na baixa temporada há pouco fluxo de turistas, devido a seus compromissos com escola e trabalho, entre outros.
438
Hoje, com a facilidade de comunicação e divulgação, os eventos estão
ganhando destaque não só pelos visitantes e turistas que atraem, mas também
chamam a atenção do empresariado local, movimentando setores como o hoteleiro, o
de alimentação e o comércio em geral, conseguindo, por vezes, minimizar ou, até
mesmo, eliminar o período de baixa temporada. Isto, sem contar à facilidade que este
tipo de evento proporciona ao turista, pois em um único ambiente é possível encontrar
o que necessita desfrutar em termos de lazer e entretenimento, compreendendo mais
sobre os aspectossocioculturais da localidade.
3.2 TIPOLOGIA DOS EVENTOS
Os eventos apresentam uma enorme diversidade de dimensões, facetas e
propósitos; para entendermos todas estas peculiaridades, precisamos nos deter na
classificação tipológica dos eventos.
A abordagem tipologica se dá a partir da modalidade82de classificação e, dentro
da modalidade, suas respectivas tipologias componentes; salientando que as
modalidades e tipologias que classificam os eventos não são excludentes e que um
mesmo evento pode se enquadrar em uma ou mais classificação.
Segundo Buendia (1996), Cesca (1997), Nichols (1989) e Miyamoto (1987), as
classificações que o evento recebe estão divididas por conta do seu caráter, tamanho,
acesso, lócus ou localização, objetivos, escopo83, funcionamento, timingou frequência
de realização, participantes e a área ou natureza.
Assim, podemos dizer que quanto ao caráter os eventos podem ser divididos
em duas tipologias: evento formal e informal.A formal é quando se faz presente uma
ou mais autoridades devido ao cargo que ocupa, pode ser um servidor público, forças
armadas, entidade privada ou religiosa; já na informal, não está presente nenhuma
autoridade ou que esteja, mas que não represente a sua função. (BUENDIA, 1996).
82Modalidade: categoria de classificação que reúne uma variável. 83Escopo: refere-se ao foco (alvo/mira) de destinação do evento.
439
Em questão de tamanho, o evento pode ser classificado conforme o seu porte,
em pequeno com capacidade de até 200 pessoas, médio com até 1000 pessoas,
grande com o máximo de 3000 pessoas e os mega eventos que recebe acima de 3000
participantes. (NICHOLS, 1989).
A divisão do acesso está composta da seguinte maneira: aberto, evento
acessível a todos, podendo ser com ou sem cobrança de ingresso; fechado, com
acesso restrito onde somente são aceitos convidados, associados, autoridades,
imprensa ou público com interesse específico; e o misto que se caracteriza como um
evento com datas e horários pré-estabelecido quando então, é permito o acesso do
grande público.
Já Matias (2013) escreve que:
Os eventos em relação ao público que atingem podem ser classificados em: eventos fechados: ocorrem dentro de determinadas situações específicas e com público-alvo definido, que é convocado e/ou convidado a participar; eventos abertos: propostos a um público, podem ser divididos em evento aberto por adesão e evento aberto em geral. O evento aberto por adesão é aquele apresentado e sujeito a um determinado segmento de público, que tem a opção de aderir mediante inscrição gratuita e/ou pagamento de taxa de participação. O evento aberto em geral é aquele que atinge todas as classes de público.(MATIAS, 2013, p. 116)
O lócus ou localização é a classificação conforme o local: regional; regional em
nível estadual; regional em nível nacional; regional em nível internacional (este
envolve no mínimo três países); mundial que envolve a participação de todos os
continentes e global, que tem a participação de diversos países e atrai a atenção
mundial. Os eventos classificados como mundial e global são, igualmente,
denominados de mega eventos, não necessariamente atrelados a um acontecimento
esportivo, mas porque como esses, atraem a atenção do mundo.
Quanto aos objetivos, os eventos podem ser classificados como comerciais e
não comerciais: o primeiro envolve eventos de venda direta como feiras e exposições,
o segundo: eventos informativos, educativos, comemorativos entre outros, e nesses,
os objetivos são ditos qualitativos. (CESCA, 1997).
440
Com relação ao escopo, os eventos são ditos de massa e nicho: os de massa
são destinados ao grande público; já os de nicho são determinados a certo público,
podendo ser um único público “nicho específico” ou para mais de um público de um
mesmo setor “nicho dirigido”. (NICHOLS, 1989).
Na classificação quanto ao funcionamento, os eventos podem ser de
contemplação e assistência: onde as pessoas não interagem, só assistem de forma
contemplativa; já nos de participação e interação as pessoas interagem e participam
das atividades propostas. (MIYAMOTO,1987).
O timing ou freqüência de realização dos eventos dividi-se em especial ou único,
permanente-periódico, esporádico e de oportunidades: o especial ou único ocorre
conforme a necessidade, como batizados, primeira comunhão; o permanente-
periódico ocorre de uma forma periódica - anual, semestral; o esporádico, são os
eventos não periódicos que acontecem em intervalos de tempo irregular e o de
oportunidades são eventos que aproveitam datas comemorativas e históricas.
(CESCA, 1997).
Já com relação aos participantes, os eventos podem ser turísticos, quando têm
a capacidade de trazer turistas para a localidade; e não turístico onde os visitantes
são moradores locais, da mesma região de realização do evento ou de outra próxima,
mas que não permanecem mais de 24 horas na cidade onde o mesmo é realizado.
Por último e talvez a mais importante, temos a classificação dos eventos quanto
à natureza, onde estão inclusos eventos como o gastronômico, sociais, técnico
cientifico, negócios, artístico-culturais, esportivos, cívicos, políticos, religiosos e de
natureza diversas.
Com relação aos eventos gastronômicos, esses tanto podem ser eventos cuja
tônica sejam os alimentos e as bebidas, quanto fazerem parte da programação de um
evento maior, na forma de cooffees breaks, por exemplo. Ou ainda, serem a parte
principal de um evento social, como por exemplo, os aniversários.
Muitos locais turísticos têm o seu reconhecimento não só pela paisagem ou por
seus aspectos históricos culturais, mas o seu destaque também pode ser composto
pela gastronomia. Essa pode transformar a localidade em um grande atrativo turístico,
441
divulgando diversos setores ligados a produção e ao consumo de alimentos e bebida,
promovendo a satisfação e a lembrança dos momentos agradáveis que o anfitrião
pode oferecer ao turista.
[...] a alimentação continua tendo meramente papel funcional e os atrativos relacionados a ela são vistos apenas como oferta técnica [funcional]. Para outras pessoas, no entanto, a alimentação passa a ter função muito mais experimental do que funcional quando é parte de uma viagem. Mesmo a refeição mais básica pode ser guardada na memória para sempre, adquirindo caráter mais atrativo. (FAGLIARI, 2005, p.9).
-Eventos sociais: são manifestações tradicionais, particulares ou populares,
que acontecem em datas fixas ou móveis.
-Eventos técnicos científico-profissionais: são acontecimentos que oportunizam
o acesso a novos conhecimentos e informações, pois
A comunidade científica vista como produtora e disseminadora de novos
conhecimentos científicos precisam estar constantemente em busca de
informações atualizadas e, para isso, precisa fazer uso dos mais diversos
canais de comunicação científica que permitam a identificação dos
conhecimentos já existentes. (CARMO; PRADO, 2005, p.131).
-Eventos de negócios: eventos de mercado que propiciam cenários de vendas
diretos ou indiretos, espaços especiais para o fomento, a geração e a realização
setorial de um negócio.
Segundo Beni (apud BRAGA, 2013, p. 88)
Deslocamento de executivos e homens de negócios, portanto turistas potenciais, que afluem aos grandes centros empresariais e cosmopolitas, a fim de efetuar transações e atividades profissionais, comerciais e industriais, empregando seu tempo livre no consumo de recreação e entretenimento típicos desses grandes centros, incluindo-se também a frequência a restaurantes com gastronomia típica e internacional.
-Eventos artístico-culturais: realizações que envolvem manifestações culturais
eruditas, de massas e populares, podendo acontecer na forma de solenidades de
aberturas que marcam o inicio ou o encerramento de outros eventos.
442
-Eventos esportivos: atividades cuja finalidade é demonstrar os desempenhos
físicos, num conjunto de exercícios que se desenvolvem e forma individual ou
coletiva.Segundo Andrade (apud CARNEIRO, 2000, p. 72).
[...] o próprio turismo, segundo o sentido atual do termo, teve seus princípios
comprovados como turismo desportivo, na Grécia Antiga, no ano 776 a.C.
com a realização dos primeiros Jogos Olímpicos, que, embora de natureza
religiosa em homenagem a Júpiter, apresentavam como seu ponto mais alto
as várias competições atléticas.
-Eventos cívicos: organizados em datas comemorativas de cunho patriótico,
essas comemorações pode acontecer no formato de hora cívica que são momentos
de aprendizado, de respeito e de amor à pátria.
-Eventos políticos: manifestações populares que, frequentemente, serve para
manifestar a adesão ou repudio as reivindicações populares relativas às decisões
tomadas pelo poder público.
-Eventos religiosos: acontecimentos organizados ou espontâneos que ocorrem
em função da fé e das crenças religiosas ou místicas das pessoas.
O turismo religioso apresenta características que coincidem com o turismo
cultural, devido à visita que ocorre num entorno considerado como patrimônio
cultural, os eventos religiosos constituem-se em expressões culturais de
determinados grupos sociais ou expressam uma realidade histórico-cultural
expressiva e representativa de determinada região (DIAS, 2003, p. 17).
-Eventos de naturezas diversas: concursos, que são eventos caracterizados
pela competição, pode essa ser artística, cultural, esportivas cientifica, de moda, essa
modalidade deve priorizar o regulamento, premiação e o júri.
Classificar o evento não é inserir uma definição estanque do mesmo, pois como
vimos, os eventos podem se enquadrar em duas ou mais tipologias. O que se deve
salientar é o fato de que as divisões apresentadas nos trazem o resumo de tudo que
o turismo de eventos pode nos oferecer, pois através dos eventos é possível propiciar
a localidade um fomento único, onde o lado cultural, histórico e gastronômico entre
443
outros, são a oportunidade de divulgação e a possibilidade de reestruturação e
organização da mesma.
3.3 CARATERIZAÇÃO DA FENADOCE
A Festa Nacional do Doce surgiu no ano de 1986, em uma parceria público-
privada e, atualmente, é organizada pela Câmara de Dirigentes Lojistas. O evento
ocorre anualmente no Centro de Eventos FENADOCE, sede da festa desde 1988 e
tem como objetivo principal promover a tradição doceira de Pelotas e a diversidade
presente na cidade, expressa nos modos de fazer e nos ingredientes utilizados na
produção dos doces. A Festa Nacional do Doce é um dos maiores eventos do Rio
Grande do Sul, tendo vários anos de tradição econstantemente vem inovando em sua
programação, trazendo atrativos variados para agradar diferentes tipos de público.
(FENADOCE, 2014).
No ano em que a pesquisa foi realizada, além das clássicas doçarias, o evento
contava com mais de 300 estandes comerciais, praça de alimentação, parque de
diversões, cinema em seis dimensões (6D) e um espaço denominado “Cidade do
Doce”, onde os doces artesanais e em calda eram produzidos em frente ao visitante.
Durante a edição de 2015, ocorreram o Festival de Gastronomia da FENADOCE, com
o foco na culinária regional; o Festival Doce Cultura, que contou com mais de 500
apresentações culturais e o Museu Itinerante do Videogame. Esta edição foi também,
o primeiro ano do Projeto FENADOCE Digital, que desenvolveu um aplicativo com
informações da Festa e dois jogos digitais: o “Quindim Crush” e o “Na trilha do doce”.
(FENADOCE, 2014).
A partir dos autores citados na seção anterior, podemos caracterizar a Festa
Nacional do Doce classificando-a como um evento formal e informal, dependendo do
momento, pois a festa recebe autoridades em sua solenidade de abertura. Em termos
de tamanho, seria classificada como um mega evento, devido ao grande público que
a visita; pode ser considerada também, como um evento de lócus nacional.
444
A FENADOCE pode, ainda, ser classificada como um evento aberto, pois é
acessível a todos mediante pagamento de ingresso e um evento de massa destinado
ao grande público, além de ser de nicho dirigido, pois a 23ª edição foi voltada para
mais de um público do mesmo setor, tendo em vista a realização do Festival
Gastronômico com ampla programação técnica. A Festa, quanto ao funcionamento, é
considerada um evento de contemplação e assistência, oferecendo também
oportunidades de participação e interação, como o Museu do Vídeo Game, parque de
diversões e o cinema em seis dimensões. Quanto à frequência de realização, a festa
é permanente-periódica.
Além destes enquadramentos teóricos, com relação à área ou natureza é
possível afirmar que a FENADOCE é um evento com várias áreas de interesse, entre
elas as áreas artístico-cultural, folclórica, de lazer e promocional, devido à diversidade
presente no programa da 23ª edição. A Festa Nacional do Doce integra gastronomia,
comércio, lazer e entretenimento, o que a torna um polo atrativo de pessoas vindas
de outras localidades, sendo que estes podem ser divididos entre recreacionistas e
turistas. Com relação aos frequentadores, pode ser dito preliminarmente, que o evento
é, em sua maioria, não turístico, o que será evidenciado no decorrer da próxima seção.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Traçar o perfil do turista que veio à Pelotas para visitar a 23ª edição da
FENADOCE é o objetivo principal deste artigo. Para isso, os quesitos abordados
foram: idade, sexo, estado civil, ocupação, grau de instrução, grupo de renda,
procedência, meio de hospedagem e transporte utilizados, número de passageiros
por veículo, como tomou conhecimento do evento, gastos realizados na festa, se já
haviam participado do evento e se pretendiam voltar.
Do total de 380 visitantes entrevistados, cerca de 40% (150
respondentes) afirmaram ser procedentes de outras localidades. Para estes 150
respondentes foi perguntado o tempo de permanência em visita a
FENADOCE/Pelotas, onde obtivemos que: 73% (110 entrevistados) permaneceriam
445
menos de 24 horas e 27% (40 entrevistados) permaneceriam mais de24 horas na
cidade, sendo esses, teoricamente, considerados turistas. Sendo assim, estão aqui
representados de forma descritiva, os resultados da pesquisa realizada com os 40
turistas que responderam ao questionário.
Quanto à idade dos turistas, foram registrados um respondente menor de 16
anos e um acima de 65 anos (2% para cada), quatro entrevistados na faixa que vai
dos 46 a 55 anos, sete com idades entre 16 e 25 anos e sete de 56 a 65 anos (18%
para cada), 10 pessoas entre 26 e 35 anos e entre 36 e 45 anos (somando 50% dos
turistas).
No que tange ao sexo dos turistas, constatou-se que a maioria, ou seja, 60%
(24 respondentes) é do sexo feminino. No que se referente ao estado civil dos
entrevistados, foram registrados 18 solteiros (45%), 15 casados (36%), quatro
divorciados (10%), um viúvo, uma pessoa que marcou a opção ‘Outro’ e um formulário
sem resposta (representando 3% cada).
Com relação à ocupação dos turistas, professores e estudantes estão entre as
principais ocupações (ambas com cinco respondentes). As outras profissões citadas
foram: comerciante (três pessoas), aposentada e contadora (ambas com duas
citações), empresário, pedagoga, gerente, costureira, consultora empresarial,
montagem, operador e montador, profissional de vendas, advogado, representante,
veterinário, colunista, funcionária pública, cozinheira, professora aposentada, dona de
casa, educadora física, engenheiro, porteiro, engenheiro mecânico, militar, técnico em
mecânica e sem resposta, todos com uma citação.
Quanto à escolaridade dos turistas entrevistados, as respostas foram variadas:
quatro pessoas tinham o ensino fundamental completo (10%), oito terminaram o
ensino médio (20%), nove tinham o nível superior incompleto (22%), 10 completaram
o nível superior (25%) e nove possuíam pós-graduação (23%).
A renda declarada pelos turistas variou entre: de 1 a 3 salários mínimos – 18
respondentes (45%); de 4 a 6 salários – nove pessoas (22%); de 6 a 10 salários –
cinco turistas (13%); quatro pessoas disseram receber de 10 a 15 salários e quatro
deixaram esta pergunta sem resposta (representando 10% cada).
446
No que diz respeito à procedência, os turistas chegaram das seguintes regiões
turísticas, cidades e estados:
• Grande Porto Alegre – Esteio (um) e Porto Alegre (12), totalizando 13
dos 40 turistas entrevistados, sendo 32,5% dos respondentes;
• Costa Doce – São Lourenço (quatro), Rio Grande e Santa Vitória do
Palmar (dois), Canguçu, Camaquã, Arroio Grande, Pinheiro Machado
(um respondente de cada município), totalizaram 12 turistas, ou seja,
30% do total;
• Região Central – Santa Maria, com três turistas; ou seja, 7,5 % do total;
• Região do Pampa – Uruguaiana, Dom Pedrito e Santana do Livramento
(cada cidade com um respondente), totalizando três turistas, ou seja,
7,5% do total de 40 turistas;
• De outros estados - registrou-se (cinco) visitantes oriundos de Brusque,
Chapecó e Salete (Santa Catarina), de Curitiba (Paraná) e Recife
(Pernambuco), ou seja, 12,5% do total de 40 turistas.
• Outras regiões turísticas e cidades - Litoral Norte - Capão da Canoa
(um); Serra Gaúcha - Uva e Vinho – Caxias do Sul (um); Região dos
Vales - Santa Cruz do Sul (um); Hidrominerais - Getúlio Vargas (um),
totalizando quatro turistas, ou seja, 10% do total de 40 turistas.
Quanto ao meio de hospedagem mais utilizado pelos turistas, 15 afirmaram
que ficariam em casa de familiares (36%), 12 ficariam em hotel (30%), quatro ficariam
na casa de amigos e outros quatro não responderam à pergunta (cada uma das
respostas com 10%), e pousada, alojamento e quartel receberam uma resposta
(representando 3% cada).
O meio de transporte mais utilizado pelos turistas foi o carro, citado por 67%
deles (27 respondentes). O ônibus foi o segundo meio de transportes com maior
número de respondentes, mencionado por 24% dos entrevistados (10 pessoas).
Táxi, caminhão e carona tiveram 3% das respostas cada modalidade, com apenas
uma menção.
447
O número de passageiros por veículo variou em: veículos com um
passageiro foram citados por três pessoas (7%), com dois passageiros foram oito
(20%), com três ocupantes foram sete (17%), com quatro pessoas foram cinco
citações (13%), quatro disseram que o veículo tinha cinco passageiros (10%), dois
disseram que o veículo tinha seis pessoas (5%) e 11 não responderam à pergunta
(28%). Devido a este elevado número de abstenções nesta questão, seria impreciso
fazer uma média de passageiros por carro.
Quanto ao meio pelo qual tomaram conhecimento do evento, 42% disseram
ter sido pela televisão (17 respondentes), 15% através de amigos e parentes (seis),
13% por outros meios não citados nas alternativas e 13% pela internet (cinco
pessoas em cada), 10% por jornal (quatro) e 7% pelo rádio (três).
Quando perguntados se haviam realizado algum gasto dentro do Centro de
Eventos FENADOCE, 85% (34 respondentes) afirmaram que sim. Os turistas o
fizeram com alimentação, doces e bebidas, lembrando que esta questão admitia mais
de uma resposta. Os turistas que gastaram com alimentação foram 38% (15
respondentes), os que consumiram doces e alimentação foram 30% (12), os que
compraram somente o doce foram 27% (11) e os que compraram doces e bebida
foram 5% (dois).
Dos turistas entrevistados, 77% (31 dos 40 respondentes) afirmaram já ter
visitado outras edições da Festa Nacional do Doce e 95% pretendem voltar nos
próximos anos, o que significa que a FENADOCE é um evento que os agrada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como já foi dito anteriormente, é fundamental que os organizadores
conheçam o público frequentador que o evento recebe para poder escolher meios de
divulgação e atrações adequados. Como a satisfação do visitante e o contentamento
dos demais envolvidos são os quesitos que garantem o sucesso de um evento,
resumimos o perfil do turista que frequentou a FENADOCE 2015, da maneira que se
segue: A maioria dos entrevistados é do sexo feminino; sendo, principalmente, jovens-
adultos com idades variando entre 26 e 45 anos. A metade dos turistas entrevistados
448
se declarou solteira, entretanto, a presença dos casados representam 37% dos
entrevistados. Os turistas apresentaram escolaridade distribuída, principalmente,
entre o ensino superior completo, a pós-graduação e o ensino superior incompleto,
sendo relevante considerar o percentual de respondentes com o ensino médio (20%).
No que toca à suas ocupações, professores e estudantes foram as mais citadas entre
os turistas e quanto ao rendimento médio, calculado com base na maioria das
respostas, é de três salários mínimos; a maior parte afirmou ter gasto com alimentos,
doces e bebidas.
No que diz respeito à procedência dos turistas, a maioria deles vieram da
cidade de Porto Alegre e de outras cidades do Rio Grande do Sul. De outros estados
vieram de Santa Catarina, do Paraná e de Pernambuco. A maior parte foi de carro
ao evento. Quanto à hospedagem, grande parte dos turistas se alojou em casa de
amigos e familiares. Quanto à utilização dos meios de hospedagem 30% se alojaram
em hotéis e 2,5% em pousada. Tomaram conhecimento do evento, principalmente,
através da televisão e grande parte deles, afirmaram já ter visitado outras edições do
evento. A maioria pretende voltar para as próximas edições da Festa, o que nos
permite afirmar que o evento os agrada.
O fato de os turistas voltarem e pretenderem voltar pode se dar pelo fato de a
FENADOCE estar sempre se renovando. Espera-se, portanto, que o evento continue
inovando em seus atrativos, contribuindo como forma de lazer para os visitantes e
como forma de geração de recursos para todos os envolvidos com a sua realização.
Sobretudo, espera-se que os organizadores revejam as suas estratégias de promoção
da Festa de forma a atrair mais turistas e visitantes, provendo-a mais efetivamente e
maximizando os benefícios socioeconômicos e culturais dos eventos e do turismo de
eventos para Pelotas e região.
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LAZER E TEMPO LIVRE: UMA VISÃO FEMININA DE QUEM TRABALHA NO
COMÉRCIO PELOTENSE
452
FREITAS, Fernanda Souza84; RODRIGUES, Igor Moraes85; [email protected]
MINASI, Sarah Marroni86; [email protected]
Resumo: Pelotas como polo comercial é referência no sul do Brasil, possui cerca de
7.507 estabelecimentos, incluindo lojas, agências bancárias, seguradoras, casas de
câmbio e empresas de transporte. Os trabalhadores do comércio desempenham uma
expressiva carga horária de trabalho semanal, restando-lhes um único dia para
descanso. O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o significado do lazer
para os trabalhadores do comércio. Foi utilizada uma abordagem metodológica de
pesquisa quali-quantitativa, através de pesquisa de campo, observação direta e
aplicação de questionários com funcionários do comércio que atendem ao público
interno e externo. Evidencia-se uma ausência do entendimento, entre os participantes
da pesquisa, sobre os temas abordados.
Palavras-chave: Lazer; Trabalho; Tempo livre; Comerciárias pelotenses.
1 INTRODUÇÃO
O lazer é visto por uma grande parte das pessoas como um mero passatempo,
o que não os permite perceber o quanto o lazer interfere diretamente nas relações
84Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). 85Acadêmico de Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://lattes.cnpq.br/4062311697186945 E-mail: [email protected] 86 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Docente no Departamento de Turismo da Faculdade de Administração e de Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rua Gomes Carneiro nº 1 - 4º andar - Pelotas, RS, CEP: 96010-610 http://lattes.cnpq.br/2545244942377567
453
familiares, políticas, religiosas, e até mesmo nas relações de trabalho. Desde o início
do século XIX o lazer vem progredindo em tempo e importância, com as reivindicações
dos movimentos sindicais pela redução na jornada de trabalho. (CAMARGO, 1999).
Segundo Dumazedier (2008), o fenômeno do lazer é fruto da tensão entre
classes sociais e concorrência de controle e adequação. O tempo livre, fenômeno
considerado por Bacal (2003), como complementar e justificado ao tempo de trabalho,
é o período no qual os trabalhadores desfrutam do lazer, (ou deveriam) e por
exigências da evolução humana, a busca por qualidade de vida se torna cada vez
mais presente nos momentos de lazer.
Pelotas é um município da região Sul do Estado do Rio Grande do Sul, com
população de aproximadamente 328.275 habitantes (IBGE, 2010) e é considerado o
terceiro município mais populoso do Estado. O município conta com um grande centro
comercial que proporciona aos pelotenses e aos seus visitantes inúmeras opções de
compras, com diversas lojas distribuídas pelos seus “calçadões” (Ruas Andrade
Neves, Quinze de Novembro e Sete de Setembro) e galerias. (PREFEITURA
MUNICIPAL, 2014).
Pelotas como polo comercial é referência no sul do Brasil, contribui em grande
parte para o desenvolvimento, gerando renda para município e emprego para a
população. Possui cerca de 7.507 estabelecimentos de comércio, incluindo lojas,
agências bancárias, seguradoras, casas de câmbio e empresas de transporte, que
ocupam aproximadamente 60% da população ativa. (PREFEITURA MUNICIPAL,
2015).
O que motivou a realização desta pesquisa não são os clientes ou os lojistas,
mas sim as comerciárias, trabalhadoras do comércio que desempenham uma
expressiva carga horária de trabalho semanal, restando-lhes um único dia para
descanso. Dia este que pode ser destinado às atividades lazer, mas que em sua
realidade tende a ser divido entre tarefas domésticas (arrumação e limpeza da casa),
dedicação aos estudos, ou até mesmo pelo lazer aqui em questão, junto à afeição a
família e filhos. Isto é, a dupla jornada se faz presente, e, por conseguinte essas
trabalhadoras acabam não dispondo de tempo para lazer, e vivem em função do
454
trabalho e da família podendo influenciar ainda na falta de tempo para dedicação ao
estudo e qualificação.
Para isso, esta pesquisa tem como objetivo geral analisar o significado do
lazer e tempo livre para as trabalhadoras do comércio pelotense.
Este artigo é resultado da monografia “Lazer e os comerciários pelotenses”
apresentada em julho de 2016, como requisito parcial para conclusão do Curso de
Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas. A pesquisa
monográfica desenvolvida integra o projeto de pesquisa “A realidade dos
trabalhadores do comércio pelotense na perspectiva da relação entre lazer, qualidade
de vida e trabalho”, do Departamento de Turismo da UFPel, que tem como objetivo
geral analisar a relação entre lazer e qualidade de vida e sua importância na
perspectiva dos trabalhadores do comércio da cidade de Pelotas.
A pesquisa desenvolvida não teve qualquer intenção ou escolha em atingir somente
o público feminino, mas pós a realização do trabalho detecta se um grande percentual
de mulheres trabalhando no comércio da cidade de Pelotas, o que nos leva a
desenvolver este artigo numa visão feminina da pesquisa.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para desenvolvimento do trabalho foi utilizada uma abordagem metodológica
de pesquisa quali-quantitativa. O presente estudo qualificou-se como uma pesquisa
exploratória, capaz de proporcionar maior familiaridade com o problema (especificá-
lo); e pesquisa descritiva por descrever as características de determinadas
populações ou fenômenos. (GIL, 2008). Ainda, através de pesquisa de campo,
observação direta e aplicação de questionários foi possível realizar a coleta dos
dados.
Com relação à coleta de dados, os instrumentos escolhidos para a efetuação
da pesquisa foi o questionário, que por sua vez foi aplicado com perguntas abertas e
fechadas, junto à técnica de observação direta, que quando realizada com preparo do
observador pode se coletar evidências sobre o estudo em questão. “Estas evidências
455
geralmente são úteis para prover informações adicionais sobre o tópico em estudo”.
(YIN, 1989, p.91).
A empresa selecionada para realização do estudo de caso tem experiência
de 15 anos no ramo do comércio varejista, o referido estabelecimento comercial tem
sua origem e localização na cidade Pelotas, conta com aproximadamente 200
funcionários distribuídos por diversos departamentos.
Os questionários foram aplicados junto aos trabalhadores do comércio de
Pelotas com idade acima de 18 anos. A amostragem de caráter não probabilística
aplicada, no que toca à escolha dos sujeitos da pesquisa, foi de abordar funcionários
que atendem diretamente ao público e funcionários que não atendem diretamente o
público. Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos,
em que não é requerido elevado nível de precisão. A empresa hoje conta com
aproximadamente 200 funcionários distribuídos em 21 setores diferentes.
Sendo assim, e com base na totalidade de funcionários que trabalham no
referido estabelecimento comercial, foi selecionada uma amostra de 17% da
representação deste universo totalizando a aplicação de 34 questionários. Esta
porcentagem de amostra foi delimitada de acordo com a metodologia prevista no
projeto “A realidade dos trabalhadores do comércio pelotense na perspectiva da
relação entre lazer, qualidade de vida e trabalho”. A amostragem no que se refere ao
sexo masculino e feminino foi escolhida aleatoriamente.
Os dados coletados foram organizados e tabulados e a análise foi realizada a
partir de métodos indutivos e comparativos de figuras, gráficos e nuvens de palavras.
No caso deste artigo os dados foram analisados de forma descritiva.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 LAZER: CONCEITOS BÁSICOS E CLASSIFICAÇÕES
456
O lazer de hoje pode ser claramente definido, visto e discutido por qualquer
pessoa, de diferentes perfis sócio-demográficos. A indústria do lazer e do
entretenimento faz deste um assunto constantemente transmitido pelos meios de
comunicação existentes. (MELO; ALVES, 2003).
Segundo Dumazedier, (2008, p.31), “o lazer é definido, nos dias de hoje,
sobretudo, por oposição ao conjunto das necessidades e obrigações da vida
cotidiana”. São inúmeras as funções exercidas pelas pessoas em seu momento de
lazer, dentre elas três se destacam: a função de descanso, como um reparador das
tensões decorrentes das obrigações diárias em especialmente do trabalho; a função
de divertimento, recreação e entretenimento, que age como um amenizador da
melancolia e de oportunidade de fuga das tarefas cotidianas; e a função de
desenvolvimento, fator transformador das capacidades de aprendizagem,
participação e integração social e voluntária as práticas diárias. (DUMAZEDIER,
2008).
O lazer quando compreendido e praticado é capaz de proporcionar liberação,
das tensões do trabalho ou até mesmo da rotina sedentária, e uma busca por prazer,
obtendo um relaxamento e sensações posteriores. (CAMARGO, 1999). Sendo assim,
Dumazedier (2008, p.34) conceitua lazer como,
Um conjunto de ocupações as quais o indivíduo pode entregar-se de livre
vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou,
ainda pra desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua
participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou
desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.
Segundo a afirmação Chemin (2008) a atual época de globalização é possível
analisar o lazer sob duas perspectivas: a da falta de possibilidade de usufruir o tempo
livre com o lazer; e a de intimidação do desemprego, o que acaba por desencorajar
trabalhadores a lutarem pela conquista do tempo livre tão desejado.
Na visão de Marcelino (2008) o que ocorre é um paradoxo entre o tempo livre e o
tempo de trabalho, pois para desfrutar do lazer existe a necessidade de que haja
tempo livre suficiente para tal atividade, mas opostamente, o consumo do lazer requer,
457
normalmente, mais gastos, assim sendo, mais dinheiro e consequentemente uma
exigência de maior tempo dedicado ao trabalho.
Ainda conforme Marcelino (2008, p.58) “o lazer como resultado da experiência
cultural construída, é um dos meios pelo qual a pessoa pode se desenvolver
existencialmente como ser humano e cidadão responsável de uma comunidade”.
Dessa forma, o lazer pode ser refletido em nossa sociedade como fator decoerção
social e de desenvolvimento humano.
O tempo disponível é resultado da evolução da economia e da sociedade. A
vida humana está dividida em quatro períodos de tempo livre: no fim do dia; no fim de
semana; no fim do ano (nas férias); e no fim da vida (na aposentadoria).
(DUMAZEDIER, 2008).
Nesses períodos de tempo livre o indivíduo pode e deve realizar-se através de
infinitas atividades de lazer. Lazeres do tipo físicos, envolvendo movimento e/ou
exercício físico; práticos, de manipulação e habilidades; artísticos, que são capazes
de mexer com emoções e sentimentos; intelectuais, que envolve realidade, raciocínio
e objetividade; e social referente a relacionamentos e convívio social. Todos ao
encontro das necessidades e interesses de cada pessoa. (DUMAZEDIER, 2008).
Dumazedier, (2008) caracteriza dois campos distintos das propriedades do
lazer de forma clara e compreensiva, as negativas que se relacionam com as
obrigações impostas pelas instituições de base da sociedade, decaráter liberatório
ecaráter desinteressado ligadas a liberdade de escolha e a gratuidade; e as positivas
definidas através das necessidades da personalidade, de caráter hedonístico e caráter
pessoal envolvendo a busca do prazer e a liberação da rotina.
3.2 A PARTICIPAÇÃO FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO
As melhorias das condições de vida bem como a busca pela independência e
reconhecimento levaram a mulher a buscar pela inserção no mercado de trabalho. A
partir da empregabilidade do sexo feminino, distribuída principalmente nos setores da
458
administração pública, serviços e comércio (MINISTÉRIO DO TRABALHO E
EMPREGO, 2016), fez com que a mulher tenha que se desdobrar entre os afazeres
domésticos e a vida profissional. Logo, o tempo livre que poderia ser destinado ao
lazer é ocupado com outras atividades obrigatórias, não lhe sobra, seu dia-a-dia
tempo suficiente para desempenhar as duplas ou triplas jornadas de trabalho.
É importante ressaltar a discussão proposta por Batthyány (2004) apontando
que a divisão das responsabilidades econômicas dentro dos lares não é sendo
acompanhada pela divisão das responsabilidades domésticas. As mulheres realizam
suas jornadas de trabalho remunerado assim como os homens, porém nos afazeres
domésticos elas não recebem o auxílio do homem. As mulheres têm agora mais
trabalho do que nunca, realizam no mesmo dia, uma jornada dentro e outra fora de
casa.
Às mulheres cabe conseguir equilibrar as atividades de sua dupla, e as vezes
tripla jornada. A conciliação entre as inúmeras atividades diárias sem maiores
problemas, por exemplo, aliando a profissão com a maternidade, tarefa muitas vezes
complicada já que o tempo disponível para o cuidado dos filhos é subtraído pela
extensa carga horária de trabalho, o que resulta na falta do acompanhamento do
desenvolvimento dos filhos.
Nesse contexto, acaba sendo natural que as mulheres abdiquem o tempo com
os filhos e família. Abrem mão do período destinado ao descanso, tanto ao fim da
jornada de trabalho diária como nos dias de folga, para assim poder realizar as tarefas
domésticas e garantir o atendimento das necessidades básicas dos membros de sua
composição familiar.
3.3 A JORNADA DE TRABALHO NO COMÉRCIO
Em todas as civilizações o trabalho sempre foi bastante estimado, por sua
capacidade de gerar não só riquezas materiais, mas também conhecimentos e
459
satisfação pessoal, e é claro desenvolvimento econômico. É através dele que as
sociedades, de modo geral, conseguiram se desenvolver até a atualidade.
Algumas questões sociais como convívio com outras pessoas, as diferenças
existentes, as ações coletivas e não individuais, podem ser despertadas com o
trabalho fazendo com que o homem aprenda a lidar com diferentes situações
demonstrando suas habilidades, ações e iniciativas.
Vista também como uma forma de expressão, o trabalho propicia ao homem
realizar sonhos, atingir metas e objetivos de vida. Segundo De Masi, (2000) apenas
quem trabalha consegue socializar-se, amadurecer, realizar-se, e redimir se do
pecado original e alcançar o paraíso, este caso em uma visão mais religiosa.
A organização social atual enaltece o trabalho como único direito de obter uma
retribuição, isso faz com que as pessoas fiquem desesperadas por qualquer tipo de
emprego, mesmo detestando certas funções ou até condições de trabalho elas se
submetem a tal emprego. (DEMASI, 2000).
No Brasil, a jornada de trabalho é regulamentada pela Constituição Federal de
1988, que estabeleceu o limite de 8 horas diárias ou 44 horas semanais de trabalho,
podendo ser acrescida uma jornada extraordinária de 2 horas por dia. As limitações
do período de trabalho provêm do direito à vida, uma vez que o excesso de horas de
trabalho restringe à qualidade de vida do trabalhador. (BRASIL, 1988).
Observa-se atualmente, a tendência do comércio expandir seu horário de
funcionamento para a abertura em domingos e feriados. Ao analisar do ponto de vista
da população consumidora, essa é uma oportunidade de realizar suas compras, tendo
em vista a escassez de tempo durante os dias úteis. Por outro lado, tem-se a
perspectiva do empresariado, este tem nesta expansão uma conjuntura favorável para
maximizar suas vendas e por consequência seus lucros. Contudo, ressalta-se aqui
outro ângulo de observação, considerando o que é o foco deste trabalho, a classe
trabalhadora do comércio, particularmente a mulher comerciária.
Evidencia-se a necessidade de descanso do trabalhador, seja ele de qualquer
ramo. O tempo para recomposição e descanso é considerado fundamental para o
bem-estar físico e mental, um período para recompor as energias gastas na realização
460
da jornada de trabalho. Inclui-se a importância de dispor de horas diárias para
atividades como o lazer.
O estudo realizado por Miranda (2005) observa os efeitos do chamado livre
horário do comércio na vida das mulheres comerciárias. De acordo com a autora essa
prática leva a fragmentação das relações familiares, uma vez que domingos e feriados
são os dias em que as famílias costumam se reunir e quem trabalha nestes dias acaba
não participando destes momentos. Como consequência, podem surgir atritos
conjugais, afastando a mulher do convívio com os filhos e das relações familiares.
Além disso, Miranda (2005) destaca que na sua folga semanal o restante da
família não se encontra em casa, pois, durante a semana os filhos estudam ou estão
na creche e os cônjuges também trabalham.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
Inicialmente a monografia desenvolvida não teve uma preocupação quanto ao
sexo na escolha dos participantes, mas posteriormente observou se que dentre os
comerciários que participaram da pesquisa 88% são do sexo feminino, uma
expressiva representação. Isso pode ser associado ao fato de cada vez mais as
mulheres vêm ganhando seu espaço no mercado de trabalho e, assim aglutinam
tarefas tradicionais de ser mãe, esposa e executar as tarefas do lar.
O perfil dos trabalhadores do comércio pelotense participantes da pesquisa
resume-se na maioria em mulheres, solteiras com faixa etária de 18 a 39 anos, tendo
crianças e adolescentes em sua composição familiar, realizando uma jornada de
trabalho de 6 dias na semana, e com média de 6 a 10 anos de experiência no
comércio.
Diante do resultado das perguntas abertas expostas no questionário
preenchidos pelos trabalhadores do comércio pelotense, pode se notar que todas as
questões foram respondidas conforme conhecimento de cada um, assim como a
influência da realidade vivenciada em relação aos temas abortados.
461
Nas respostas dos participantes sobre o que é entendido por lazer, é possível
notar a predominância da relação com a família. Observa-se que para os comerciários
pesquisados, o lazer é desfrutar de momentos com a família e amigos, e vale ressaltar,
que a família é colocada sempre junto a atividades a serem realizadas neste período
promovendo a integração social. Esse aspecto é encontrado na função de
desenvolvimento atribuída ao conceito de lazer apontado por DUMAZEDIER (2008),
assim como “poder dormir” e “descansar” que remete a função de descanso. E a
opção “passear”, “sair” e “viajar”, que são atividades amenizadoras de melancolia,
com função de divertimento.
Nas respostas dos colaboradores da pesquisa em relação ao entendimento
sobre o que é o tempo livre, os trabalhadores responderam em sua maioria descansar,
fazer o quiser, o que remete indiretamente ao “tempo sem atividades obrigatórias”,
como ressaltada por ANDRADE (2000) apud RAMOS (2012) como período em que
não é necessário trabalhar, período este visto por BACAL (2003), como fenômeno
complementar e justificado ao tempo de trabalho. Destacam-se, também, os que
responderam que é o tempo para “fazer o que quiser”, seja, “descansar”, “dormir”,
“sair”, “divertir”, incluindo a família em seus momentos de realização aos domingos e
após o trabalho.
Algumas das atividades de lazer realizadas pelos comerciários no seu tempo
livre ganham destaque em suas respostas como “estar com os filhos”, “comer e
dormir”, “dormir e brincar com os filhos”, “passear com a família”, “ficar com a família”,
“dormir”, mais uma vez a família é ponto marcante nas atividades realizadas fora do
período de trabalho. Segundo Dumazedier (2008) nos períodos de tempo livre o
indivíduo pode e deve realizar-se através das atividades de lazer escolhidas ao
encontro das necessidades e interesses de cada pessoa, seja ele do tipo físico,
prático, artístico, intelectual ou social.
Diante da relação entre as atividades realizadas pelos participantes em seu
tempo livre e a contribuição para o bem-estar, é possível perceber que 62% das
respostas dos participantes discordam completamente da afirmação. A divergência de
462
21 comerciários expressa a necessidade de haver mais tempo livre para a realização
de múltiplas atividades no momento em que não estão trabalhando.
Considero o lazer como algo determinante na minha qualidade de vida e em
minhas relações de trabalho. Somente 3% dos colaboradores da pesquisa concordam
com tal afirmação o que demonstra que os comerciários veem o lazer como algo
incapaz de interferir em suas relações, o que de fato foi ressaltado por Camargo
(1999), ao dizer que o lazer é tratado pelas pessoas como um simples passatempo o
que não os permite perceber o quanto influencia em suas relações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa abordou a relação entre lazer e tempo livre numa visão feminina
de quem trabalha no comércio da cidade de Pelotas - RS. Assim, foi proposto como
objetivo analisar o significado de lazer e tempo livre para as trabalhadoras do comércio
pelotense. Nesse sentido, foi possível observar que as comerciárias não atribuem à
importância devida aos temas. O simples fato de serem mulheres acaba por implicar
ou mais priorizar mais algumas coisas do que outras. A dupla ou às vezes até tripla
jornada de trabalho dentro e fora de casa, faz com que o sexo feminino hoje bem
aceito no mercado de trabalho, tenha certas limitações. São mulheres, são solteiras e
com filhos, cheias de preocupações e muitas responsabilidades. O lazer para elas é
quase que um “luxo” e o tempo livre é bastante reduzido para ser desfrutado com o
lazer.
O pouco tempo livre que resta, após trabalho, segundo os participantes é
dividido sobretudo, com a família, pois foi colocada em primeiro lugar em quase todas
as respostas, o que demonstra uma clara sensação de que dos comerciários passam
mais tempo no trabalho do que com a família. Isso implica no fato de sentirem a
necessidade de suprir essa falta se dedicando a atividades que envolvam o núcleo
familiar.
A banalidade com que são tratados os temas, por falta de mais tempo livre ou
por desconhecimento dos efeitos benéficos resultantes da prática de atividades de
lazer, faz com que trabalhadores do comércio pelotense abordados por esta pesquisa
463
não estabeleçam uma conexão entre a qualidade de vida e as atividades de lazer,
logo, não associando o lazer com bem-estar tampouco com a qualidade de vida no
trabalho. Pela observação dos aspectos analisados, embora que se viva em uma
sociedade na qual se cultue o trabalho como antigamente e não valorize o lazer, é
importante que se tenha um equilíbrio adequado entre o trabalho e o lazer.
REFERÊNCIAS
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Universidade Federal de Santa Catarina, 2005.
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RAMOS, A. Alojamento de floresta no Amazonas: uma análise para classificação. 2012. 145 p. Dissertação (Programa de Pós-graduação Strictu Senso em Turismo e Hotelaria – Mestrado acadêmico em turismo) Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, SC, 2012.
YIN, Robert K. Case Study Research: Design and Methods. USA: Sage Publications Inc., 1989.
QUALIDADE DE SERVIÇOS EM EVENTOS, UMA VISÃO SOBRE O MARKETING:
ESTUDO DE CASO DE UMA FEIRA
465
SALEM87, Elisabeth de L. de O. P. C.; RODRIGUES88, Raphaella C.
Resumo: O mercado de eventos vemsedesenvolvendo nos últimos anos devido à procura por atividades culturais, de lazer e divertimento e o desejo pela comunicação com maior número de pessoas, além dos eventos científicos e os voltados para a comercialização e lançamento de produtos. O objetivo deste trabalho é avaliar a qualidade da prestação de serviços de uma feira Agropecuária, Comercial, Industrial e Artesanal ocorrida no ano de 2015.A metodologia utilizada na pesquisa foide análise estatística percentual essencialmente descritiva, aplicação de questionários, testando a escala (RSQ), de abordagem mista. Como resultado, identificou pontos fortes e fracos no evento, podendo contribuir para seu aprimoramento e mensuração da qualidade na prestação de serviços em eventos.
Palavras-chave: Eventos; Feira; Marketing; Prestação de serviços; Qualidade.
1 INTRODUÇÃO
O mercado de eventos tem crescido rapidamente nas últimas décadas, no país
e no mundo, devido às preocupações com seus clientes, com a concorrência e a
competitividade, as organizações estão cada vez mais dedicadas com a satisfação
dos clientes, buscando conhecer suas necessidades e desejos.Neste sentido,
Giacaglia(2012), explica que os eventos têm como finalidade expandir
relacionamentos, podendo ser os mais variados tipos de acontecimentos e comas
mais diversas finalidades, que nos últimos anos vem se tornando uma força distinta e
influenciando em todos os campos da economia, passando a ser aceito como um
instrumento eficaz para formação e sustentação de diversos negócios, tendo inclusive
87Tecnóloga em Eventos pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) – Campus Santa Vitória do Palmar/RS. E-mail: [email protected] 88Mestranda em Turismo e Hotelaria pela UNIVALI. Bacharela em Turismo - Binacional, pela Universidade Federal do Rio Grande. Professora substituta dos cursos de Bacharelado em Turismo Binacional, Bacharelado em Hotelaria e Tecnologia em Eventos pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) – Campus Santa Vitória do Palmar/RS. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3975356974332385
466
expandido o conceito nos mais variados tipos de organização (SHIMOYAMA; ZELA,
2002).
Segundo ABEOC- Associação Brasileira de Empresa de Eventos, o mercado
brasileiro de eventos gerou, em 2013, R$209,2 bilhões, em um total de 590 mil
eventos realizados. É um segmento que arrecada R$ 48,7 bilhões em impostos, gera
7,5 milhões de empregos e representa 4,3% do PIB do Brasil.
O último relatório da ICCA, lançado em maio de 2015, o número de eventos
internacionais no Brasil passou de 62 para 291 entre 2003 e 2014, um aumento de
469%. No mesmo período, o número de cidades brasileiras que sediaram esse tipo
de evento subiu 177%, passando de 22 para 61 (ABEOC, 2016).
A qualidade na prestação de serviços em eventos advém do crescimento do
mercado e da necessidade de satisfazer os desejos dos clientes. Neste sentido,
Brambilla, Pereira e Pereira (2010) mencionam que o marketing de relacionamento,
voltados para consumidores de eventos, pode resultar em relações duradouras entre
a empresa gestora e os clientes, através da confiança adquirida ao longo do tempo.
Sallby (1997) aponta nesta modalidade do marketing, a premissa de que o
cliente deixa de ser apontado como número e passa a ser parte integrante da empresa
fazendo com que ele participe do desenvolvimento de novos produtos e serviços e
crie vínculos com o evento.
Conforme Kotler (2003) as empresas (aqui tratadas como gestores e
prestadores de serviços em eventos), para aumentar sua produtividade procuram
descobrir maneiras de tornarem os serviços mais tangíveis e aumentar a
produtividade de quem os está executando com a necessidade de padronizar as
condições diante da variabilidade, aprimorar as oscilações da demanda e as
capacidades de oferta focando a atenção tanto nos clientes como em seus
funcionários. No qual, o tema da Qualidade em Serviço vem evoluindo ao longo dos
anos, e a constituição de um olhar favorável para a qualidade no aspecto de serviços
tem-se declarado um tema difícil uma vez que está propenso a fatores relacionados
tanto ao prestador de serviço, quanto ao cliente (SILVA,2009).
467
Meio a problemática da subjetividade implícita na qualidade de prestação de
serviços em eventos, que este artigo apresenta como o objetivo geral, avaliara
qualidade da prestação de serviços de uma feira Agropecuária, Comercial, Industrial
e Artesanal ocorrida no ano de 2015 do extremo sul brasileiro.Para isso, desenvolveu
como os objetivos específicos: Reconhecer como se deu o surgimento do evento;
identificar a percepção dos visitantes sobre os serviços e layout da Feira; reconhecer
a opinião dos usuários do evento sobre aprestação dos serviços; apreciara qualidade
dos produtos pelos visitantes.
Os fatores que motivaram e justificam a realização desta pesquisa sobre uma
perspectiva técnica dos eventos e neles as feiras,se percebe o potencial que o evento
possui dentro do segmento de mercado que atua e a carência de estudos relacionados
a sua importância e relevância. Neste contexto, a pesquisa através das contribuições
teóricas a cerca do marketing pode auxiliar na qualificação do evento, atuando como
um importante canal de comunicação para o estabelecimento da venda e
comercialização de serviços e produtos em eventos, no qual, a feira se mostra como
um interessante objeto de estudo.
Uma das recomendações para uma posterior pesquisa está fundamentada
sobre a limitação encontrada na aplicação de uma escala de seis pontos ao testar a
escala de valoração (RSQ). Assim, desde já, recomenda-se a realização de novas
pesquisas utilizando a escala (RSQ) para análise da qualidade da prestação de
serviços em eventos, buscando com isso, o aprimoramento sobre a interpretação das
relações existentes na prestação de serviços em eventos.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa teve como intuito avaliar a qualidade de uma Feira no extremo sul
do Brasil, um dos eventos mais antigos do município e com um valor extraordinário,
na Fronteira do extremo sul brasileira.Esta pesquisa é uma pesquisa
aplicadaessencialmente descritivaenvolve levantamento bibliográfico e documental e
estudos de caso, as mesmas são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão
geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato, neste caso a questão dos
468
serviços prestados pela feira (GIL, 2014), deabordagem quali-quantitativa, o método
quantitativo se caracteriza, tanto na coleta de informações, quanto no tratamento
dessas através de técnicas estatísticas, representando a intenção de garantir a
precisão dos resultados, impedindo os defeitos de análise e interpretação, permitindo,
consequentemente, uma margem de segurança. O método quantitativo é aplicado nos
estudos descritivos, para descobrir e classificar a relação entre as variáveis e a relação
de causalidade entre fenômenos (RICHARDSON, 1989). Utiliza da técnica de
pesquisa bibliográficaé ampliada a partir de material já preparado e existente em livros
e artigos científicos (GIL, 2014), doestudo de casocomo um estudo que permite o
conhecimento em profundidade do processo e das relações sociais, sendo esse um
estudo exaustivo, sendo indicadoprimeiramente como uma investigação, para
construção de suposições ou reformulação dos problemas, onde o pesquisador deve
estar bem treinado e experiente (DENCKER, 1998), com a aplicação de questionário
com a escala RSQ (Retail Service Quality)pois é um tipo de investigação que busca
sua utilização imediata para sanar problemas reais e específicos Veal (2011), e que
neste caso, procura analisar através de uma escala em que situação se encontra a
satisfação dos usuários da feira a partir da prestação de serviços (VEAL, 2011), para
elaboração da pesquisa.
Utiliza de 27 itens da escala RSQ, utilizando apenas da interpretação
estatística percentual para sua análise.O qual resultou num questionário contendo 27
perguntas acerca da qualidade de serviços ordenadas a partir de uma escala de
valoração de 1 a 6.
Para a elaboração do questionário que avaliaria a qualidade percebida do
serviço da feira, apresentava nas 4 primeiras perguntas foco no ambiente da feira, ou
seja se a feira possuía: ambiente e material de apoio agradável, sala de descanso e
limpeza dos sanitários. A 5ª e a 6ª pergunta abrangeram sobre o layout da feiracomo:
a facilidade dos visitantes se locomoverem e de encontrarem o que precisavam.Da 7ª
a 11ª pergunta se referem a qualidade de serviço da feira de modo que: os prazos, as
promessas, prestação de serviço, a disponibilidade da mercadoria, os registros de
transações, estão sendo realizados de maneira correta.
469
As perguntas 12ª a 23ª estão voltadas para a qualidade do atendimento,
identificando o quantos os funcionários estão preparados para: sanar dúvidas, inspira
confiança, realizar transações comerciais, disponibilidade ao atender os visitantes,
informações corretas sobre os prazos em que os serviços serão realizados,
atendimento personalizado, cordialidade no atendimento e ao atender ao telefone,
facilidade na troca e devolução das mercadorias, interesse na resolução de
problemas, Os empregados da feira são habilitados a solucionar pessoalmente as
dúvidas e reclamações.
A pergunta 24ª está relacionada a qualidade, onde pergunta sobre a qualidade
dos produtos da feira. A pergunta 25ª estárelacionada à infraestrutura na feira, onde
analisa a disponibilidade do estacionamento. A 26ª e a 27ª avaliam os horários de
atendimento, e a utilização do cartão de crédito. As três últimas questões são para
identificar os dados sócios demográficos dos respondentes.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 FEIRAS UM EVENTO CONSOLIDADO
O homem moderno vive numa época de exaustão emocional coletiva. A luta
pela estabilidade financeira e o reconhecimento profissional, vem tornando o ser
humano cada vez mais individualista e egoísta. Justamente neste alvo que os eventos
tem o seu grau de justificativa e o objetivo de aproximar as pessoas, buscando novos
relacionamentos, proporcionando uma nova existência social e pública, acendendo
emoções conjuntas (COUTINHO, COUTINHO 2007).
Segundo Melo (2001), os eventos têm como propósitos o divertimento, ou seja,
a primeira coisa que vem à mente quando se fala em eventos é festa, comemoração
e diversão. Nos tempos atuais os eventos estão sendo vistos como novas
oportunidades, tornando-se um mix de atividades e serviços, podendo tornar-se uma
arrebatadora oportunidade econômica e de desenvolvimento, trazendo benefícios
para todas as partes envolvidas, inclusive as cidades onde serão sede do evento uma
470
ampla oportunidade de aquecer sua economia e se desenvolver, destacando a rede
hoteleira e o comércio local.
Nos tempos modernos os eventos tomaram uma nova forma de serem vistos,
adquirindo uma nova visão de mundo, novos conhecimentos, nova experiência,
deixando um legado em nossas vidas. Para Beni (2011) os eventos estão sendo
realizados e movimentando vários setores da economia através da origem de
empregos, renda e circulação de pessoas.
Para Mattos (2011) os eventos são eficazes para economia das empresas,
acendendo a cada ano maior grau de satisfação para os empresários, tornando-se
estratégias de comunicação para divulgar produtos e marcas, conseguindo trazer
clientes para suas empresas, transmitindo emoções compartilhadas grandes na
coletividade que tributam para a vida social do ser humano, fazendo com que a marca
não seja mais esquecida.
Segundo Beni (2011) os eventos estão se tornando cada vez mais atraentes, e
crescendo cada vez mais no mercado, uma das causas é tendência de viagens em
família que, enquanto executivos participam de feiras, exposições, congressos e
convenções, programadores de eventos devem estar atentos em atender as famílias,
porque pode se advertir que esse tipo de turista é o que mais participa de eventos e o
que mais gasta, podendo se transformar esse campo na mais respeitável atividade
econômica mundial.
Para Giacaglia (2011), os eventos vêm se desenvolvendo muito rápido no
Brasil. Nos tempos modernos os eventos tomaram uma nova forma de serem vistos,
adquirindo uma nova visão de mundo, novos conhecimentos, nova experiências
(COUTINHO; COUTINHO, 2007).
A segmentação do mercado conforme Giacaglia (2011) é uma tendência da
área de eventos que tem atribuído aos gestores posicionar-se de forma estratégica
perante o vasto e competitivo mercado de eventos. Os eventos de negócios vêm
sofrendomodificações significativas, sobretudo quando observadas grandes feiras de
negócios, de impacto mundial (GIACAGLIA, 2011). Desta maneira, observemos um
471
breve panorama sobre a evolução das feiras desde atividade básica e cultural até
eventos de grande porte e importância econômica,
As primeiras feiras tiveram sua origem na Europa no período da Idade Média,
onde os mercadores se encontravam próximo as igrejas e ali realizavam suas trocas
de mercadorias. Ao contar desse período passaram por várias transformações e se
espalhando pelo mundo, desenvolvendo várias cidades em seu entorno. As feiras
tornam-se mais de cunho profissional a partir da década de 1970 e mais voltada para
área econômica, muito além do ponto de encontro da oferta e da demanda, foram
cada vez tornando-se mais sofisticadas e nos dias atuais são acompanhadas por
seminários, workshops e congressos, com durabilidade de três a cinco dias, podendo
ser realizadas semestralmente, anualmente,bienalmente ou num período de mais
tempo, usando o mesmo local, ou rotativas como as feiras têxteis que acontecem
alternadamente em Milão, Paris e Londres (TENAN, 2002).
Mattos (2011) define feiras como dia de festa, sua origem vem do latim feria, e
tem como a finalidade exposição de produtos que foram instituídas pelos fenícios por
serem eles a distribuírem múltiplos pontos de comércio. Seriam as primeiras
informações da realização de feiras.
As feiras livres desenvolvem atividades que ainda estão na memória de um
povo, como o boneco de barro, o chapéu de couro, predominantes nas feiras
nordestinas, e uma variedade de atrativos culturais e etnias de um povo,
acrescentadas a uma relação de camaradagem, fidelidade, e de amizade entre os
compradores e os vendedores na feira tornando o lugar preferido de muitos
consumidores. A tradição cultural, saudosismo e lembranças são trazidas por antigos
feirantes, a sensação de estar em um lugar privilegiado, tornando a feira um museu
vivo da cidade (MIRANDA, 2009).
Mesmo com o passar dos anos as feiras continuam a existir, só com uma nova
roupagem com um novo seguimento, muitas já perderam as características familiares,
muitas vezes realizadas por trabalhadores assalariados e por produtos chegados de
outros produtores, e com inovações em suas estruturas para melhor servir os seus
clientes (MATTOS, 2011).
472
Tenan (2002) conceitua feiras como uma exposição de produtos para venda,
aberta ao público com a probabilidade de realizar negócios e manter contatos com a
concorrência. Podendo ser classificadas em: comercial, industrial ou promocional.
Enquanto que Censi (2004) relata que as feiras de negócios são usadas na
comunicação integrada, vantagens e oportunidades presentes neste tipo de evento,
sempre tendo em vista uma finalidade a ser alcançada, sempre deve ser feita uma
avaliação pós-evento, e coletados os dados dos visitantes para que no futuro tornem-
se novos clientes.
No Brasil, no estado de São Paulo as feiras tiveram seu início no final da
Primeira Guerra Mundial no ano de 1917, com características sociais e políticas,
realizadas no Palácio das Indústrias denominadas “Exposição Industrial da Cidade de
São Paulo”. No final da década de 1950 sofrem uma grande transformação tornando-
se um grande acontecimento, com shows e comparecimento da população em massa,
e o aparecimento a I Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit), o I Salão do Automóvel
e a Feira de Utensílios Domésticos (UD). Segundo o autor as feiras no Brasil,
propriamente em São Paulo, estão passando por um momento histórico de evolução
e crescimento na infraestrutura (CENSI, 2004).
As feiras tornam-se mais de cunho profissional a partir da década de 1970 e
mais voltada para área econômica, muito além do ponto de encontro da oferta e da
demanda, foram cada vez tornando-se mais sofisticadas e nos dias atuais são
acompanhadas por seminários, workshops e congressos, com durabilidade de três a
cinco dias, podendo ser realizadas anuais, ou de dois anos ou num período de mais
tempo, usando o mesmo local, ou rotativas como as feiras têxtil que acontecem
alternadamente em Milão, Paris e Londres (TENAN, 2002).
Já de acordo com Mattos (2011) os benefícios das feiras são:Apresentar as
inovações e lançamento de novos produtos;Fazer esclarecimento de novos produtos
e a utilidade do mesmo; Conseguir novos representantes e treinar o pessoal das
vendas; Trocar conhecimentos; Encontrar novos mercados; Avaliar a concorrência;
Constatar se qualidades dos produtos para uma futura exportação; Estabelecer
canais de distribuição encontrar novos clientes; Medir as políticas de preços e formas
473
de pagamentos; Dar início a uma nova aliança de táticas, acordos e cooperação;
Vender o produto.
Neste capitulo buscamos conceituar eventos apresentando sua importância e
benefícios quando bem planejado, assim apresentamos o exemplo do Fórum Social
Mundial como um exemplo de evento bem sucedido. Finalizando com o tema das
feiras, seu surgimento evolução ao longo dos anos, a seguir exporemos um capítulo
sobreMarketing e a Qualidade Percebida dos Serviços.
3.2 MARKETING E A QUALIDADE PERCEBIDA DOS SERVIÇOS
O marketing e a qualidade percebida dos serviços são facilmente detectados
como fatores responsáveis para a satisfação do cliente. O marketing consiste na
satisfação das necessidades e desejos dos consumidores, a abrangência, a previsão
e a alcance do comportamento deles são vistos como serviços centrais do emprego
de marketing de uma organização. Para satisfazer as necessidades dos clientes,
torna-se necessário que a organização alcance as razões subjacentes às escolhas de
seus consumidores, que estão constantemente tomando decisões podendo ser elas
positivas ou negativas, podendo adiar ou rejeitar uma compra, pois são variadas as
tomadas de decisões, onde os consumidores buscam adquirir o produto que mais
perfeito corresponda suas perspectivas e satisfação (PEREIRA, 2011).
Segundo (Cobra 1990, p. 29) o marketing “é uma forma de sentir o mercado
e adaptar produtos ou serviços – é um compromisso com a busca da melhoria da
qualidade de vida das pessoas”. Já quando se refere ao marketing de relacionamento
os clientes deixam de ser apontados como número e passam a ser parte integrante
da empresa fazendo com eles participem do desenvolvimento de novos produtos e
serviços e possa criar vínculos com a empresa (SALLBY, 1997).
De acordo com Brambilla, Pereira, Pereira (2010) relata que o marketing
chegou ao Brasil no governo de Juscelino Kubitschek, com a abertura do país ao
capital estrangeiro e as Empresas norte americanas e européias que já dominavam
as técnicas de Marketing, ainda ignoradas no Brasil, fazendo com que asempresas
474
brasileiras se adequassem com a nova realidade, e buscassem se especializar. O
marketing no Brasil encontra-se bastante desfocado em sua conceituação, associado
à venda de produto muitas vezes desnecessária.
O ambiente empresarial mundial vem sofrendo transformações muito rápidas
na forma de se fazer negócios devendo as empresas como conceito de sobrevivência
aumentar a sua produtividade e competitividade. Com clientes exigindo mais
qualidade e menos preços é fundamental que os empresários compreendam o
aumento das exigências, por parte dos clientes, exigência essa que vem ocorrendo
pela crescente diversidade e quantidade de produtos e serviços ofertados e pela
crescente concorrência global (SALLBY, 1997).
O marketing de serviços vem se tornando um dos principais diferenciais
competitivos e sua utilização pode ser essencial na melhoria da satisfação dos
clientes, atendendo suas necessidades e desejos tratando cada cliente como se fosse
único, criando para as empresas vantagens de formas lucrativas (HOFFMAN,2012).
Já para (Serra, 2005) o futuro das empresas pode ser apontado pela qualidade,
empresas com má qualidade têm sua imagem prejudicada.
Conforme Serra (2009) as empresas devem ampliar a qualidade e fazer parte
tanto quanto o orçamento, auditoria e projetos de produtos. Melhorando as áreas de
treinamento dos funcionários e a satisfação dos clientes, pois e dessa satisfação que
depende a sobrevivência da empresa.
A satisfação consiste na consideração do cliente após ter suas perspectivas
atendidas, ou seja, um cliente satisfeito é aquele que recebeu da empresa exatamente
o que esperava receber. Se as perspectivas do cliente foram maiores do que a
empresa entregou em termos de serviços então teremos um cliente insatisfeito, a
empresa deve sempre se preocupar em reparar seus erros, pois sabemos que um
cliente insatisfeito pode falar mal da empresa. A empresa que entregar ao cliente mais
do que ele esperava, o encantamento do cliente será positivo, além de tornar-se leal
indicará a empresa para seus amigos, parentes fazendo propaganda boca a boca. A
empresa nunca deve prometer o que não pode cumprir, pode ser um erro gravíssimo,
podendo prejudicar o desempenho da mesma (KOTLER, 2003).
475
De acordo com Silva (2009) o tema da Qualidade em Serviço vem evoluindo
ao longo dos anos. A constituição de um olhar favorável para a qualidade no aspecto
de serviços tem-se declarado um tema difícil uma vez que está propenso a fatores
relacionados tanto ao prestador de serviço, quanto ao cliente.
As empresas que tem como foco a satisfação dos clientes devem gerar
serviços de qualidade. Devem de utilizar as seguintes lacunas no interior das
empresas prestadoras de serviços que incluem (ZEITHAML 2014):Lacuna da
Compreensão do Cliente:É a lacuna da compreensão do cliente é a diferença entre
as expectativas do cliente para com o serviço e a abrangência que a empresa tem
dessas expectativas;Lacuna do Projeto e dos Padrões de Serviço:É a lacuna das
expectativas dos clientes é um fator eficaz, mas não suficiente para a realização de
um serviço de qualidade.É a lacuna que quando os projetos e padrões de serviço
foram deliberados pode parecer que a empresa esteja a caminho de apresentar
serviços de qualidade; Lacuna da Comunicação; Lacuna do Desempenho do
Serviço:É a lacuna que ilustra a altercação entre as comunicações abrangendo a
execução do serviço e as comunicações externas da empresa prestadora.
Dependendo da expansão das lacunas em empresas, os clientes passam a
perceber a deficiência na qualidade do serviço prestado, funcionando a lacuna como
base para melhorar a qualidade de serviço e o marketing de serviço, se aplicado a um
evento por exemplo.
O aperfeiçoamento das empresas na prestação de serviços, em harmonia
com aspectos dos clientes, onde os bens são similares a concorrência torna-se um
desafio para se individualizar em meia abundância de marcas, a fonte de
caracterização para conquistá-los e mantê-los pode estar justamente nos serviços
agregados (URDAN; ZUÑIGA, 2001).
De acordo com Nóbrega et al. (2010) o desenvolvimento dos processos
produtivos e com a globalização, as empresas tiveram que buscar novas estratégias
para garantir a continuidade de seus empreendimentos direcionando esforços,
tendendo acabar a utilização de recursos com o intuito de maximizar lucros
empreendimentos.
476
Serra (2005) cita cinco tipos de qualidade técnicas e humanas no
departamento de produtos ou serviços:Qualidade Pessoal; Qualidade departamental;
Qualidade de produtos; Qualidade de serviços; e Qualidade da empresa.Todos os
projetos realizados pelas empresas devem incluir melhoramento em todas as áreas,
tendo em vista à melhora da qualidade global da mesma.
As formas de reconhecimento da qualidade dependem da propaganda
tradicional permanente como uma forma de divulgação a constatação da qualidade
dos produtos recebidos pela empresa, e serviços pelos clientes como a certificação
de sistema de gestão de qualidade.
Nessa perspectiva, sugiram novas preocupações que os gestores, sejam do
setor do comércio, da indústria ou de serviços precisam direcionar valores visando
completar a utilização de expediente com o desígnio de definições para qualidade,
sejam elas pessoais, de produtos, de serviços, de empresas, dentre outras, buscando
sempre a dignidade de seus produtos ou serviços. Torna-se difícil definir qualidade
pelo fato das suas amplas extensões, padrões, cores e expectativas, dependendo do
estado de espírito momentâneo do cliente.
4 RESULTADOS
Buscando analisar a qualidade dos serviços da Feira 2015, optou-se por testar
a escala (RSQ) de avaliação da qualidade de serviços. Como resultado a amostra
apresentou maior participação do público masculino 83 homens e 67mulheres, maior
concentração na faixa de idade entre 20 a 40 anos. A renda mensal se deu entre
R$3.000 e R$4000.
Desde os tempos primitivos já eram realizados eventos, com o surgimento do
fogo, o homem reunia-se a volta do mesmo para contemplá-lo e realizar suas refeições
(PACHECO, 2010). Tornando um aprimoramento em sua alimentação e introduzindo
a carne através da caça e já naera paleolítico média é efetuada a prática do abate,
em animais de grande porte, tornando possível o agrupamento de pessoas para o
compartilhamento do alimento, estabelecendo vínculos sociais inconscientemente,
exercendo a teoria sustentada pelo tripé “dar”, “receber” e “retribuir” (NAKANE, 2013).
477
Com a Revolução Industrial, e a mudança da economia manual em
mecanizada, surgiram os eventos científicos e técnicos, Além de reforçar a sequência
das feiras comerciais. Os eventos científicos que estão atrelados às ciências naturais
e biológicas com encontros como: mesas-redondas, simpósios, seminários,
conferências, cursos, painéis, congressos e etc. Os eventos técnicos que abordam as
ciênciasexatas e sociais possuem características semelhantes aos eventoscientíficos
(MATIAS, 2013).
Quanto ao objetivo de verificar os serviços e layout da feira, a seguir,
analisaremos as questões “Serviços e LayoutdaFeira em 2015”. Buscando a opinião
dos visitantes do evento em relação visitante, cumprimento de prazos, cumprimento
de promessas, prestação de serviços corretamente, disponibilidade de mercadorias,
registros de transações no evento.
Para abranger clientes motivados, é necessário que a Feira 2015 cumpra com
suas expectativas em relação a disposição dos produtos. Conforme relata Pereira
(2011) apreocupação dos profissionais de marketing e gestores empresariais pode
detectar conveniências e advertências aos seus negócios com o possível
descontentamento ou renúncia de seus clientes, pois os mesmos estão se tornando
cada vez mais exigentes na hora da compra, entendê-los passa a ser prioridade para
atender com maior eficiência e eficácia, sobretudo no que tange o layout, que pode
atrair o cliente perante conveniência ou inclinação em consumir um evento.
A partir dos resultados, sobre o layout da Feira2015, (33%) concordam que o
mesmo facilita o visitante encontrar o que necessitam. Ainda referente ao layout da
Feira, agora quanto a facilitação deste quanto a locomoção do visitante, a partir dos
dados obtidos, conclui-se que a maioria, ou seja, 49 pessoas responderam que
concordam totalmente sobre o layout da Feira 2015 facilitar a locomoção do visitante.
Tendo em vista que facilitar a locomoção de seus visitantes suprir as necessidades
específicas de cada cliente, pressupõe-se que o evento esteja adaptado para melhor
servir os clientes (KOTLER, 2003).
Um cliente satisfeito é aquele que ao ir a um evento têm suas expectativas
atendidas exatamente o que esperava, na concepção de Miranda (2009) as feiras
478
também pode apresentardiversas formas de layout, de forma que estes acarretem em
diversas consequências a os espaços onde estão sendo realizadas.
Quanto a Feira prometer e cumprir dentro do prazo informado, analisando os
resultados da pesquisa obtém os seguintes que, 39 pessoas concordamque a Feira
2015 promete e cumpre com sua programação e atividades dentro do prazo
informado.A função de o marketing estabelecer ligação da empresa com as normas e
valores do evento com relação à sociedade em geral.
As expectativas dos clientes são os padrões ou ponto de referência do serviço,
as empresas que tem como foco a satisfação do mesmo devem gerar serviços de
qualidade e dentro dos prazos (ZEITHAML, 2014).
Sobre os serviços serem realizados de maneira correta na primeira vez,
conforme os resultados da pesquisa, 49 pessoas responderam concordam.Quanto a
disponibilidade de mercadorias da Feira 2015, 50 pessoas responderam que
concordam que a mesma mantém disponíveis as mercadorias que os visitantes
desejam.
No que se refere à qualidade do atendimento da feira, nos gráficos a seguir
analisaremos as questões “Prestação de Serviço” da Feira 2015. Buscando a opinião
dos visitantes do evento em relação as transações comerciais, atendimento,
prestação de informações, troca e devolução de mercadoria, resolução de problemas,
solução de dúvidas e reclamações, disponibilidade dos empregados no evento.
Sobre os empregados da Feira 2015 apresentarem condições de sanar as
dúvidas dos visitantes, conforme análise 63 pessoas, ou seja, a maioria concorda que
os empregados da Feira estão aptos a sanar dúvidas dos visitantes. Quanto
aovisitante se sentir seguro em realizar transações comerciais com na Feira, conforme
os resultados da pesquisa foram constatados que a maioria das pessoas, ou seja, 59
responderam que concordam e que realizar transações comerciais com a Feira 2015
sentiram-se seguros.
Gráfico 01: Segurança nas transações comerciais
479
Fonte: Pesquisa direta, 2015.
As estratégias de marketing precisam estar relacionadas ademonstrar seus
valores aos clientes, ou seja, como cada produto satisfaz as necessidades dos
mesmos Zeilthaml (2014) relata que a segurança das transações comerciais são parte
da função primária do marketing, no qual o processo de comercialização é assegurado
a partir dos valores e normas da sociedade.
Conforme Zeithaml (2014, p. 35), a “Lacuna de Desempenho do Serviço”,
referente a deliberação dos serviços, se remete a condução dos projetos e padrões
de serviços, de forma que a empresa esteja direcionada a apresentar serviços de
qualidade para que os clientes sintam-se seguros em realizar transações comerciais.
O Gráfico 01apresenta os seguintes resultados: 37% concordam, que o
visitante se sente seguro em realizar transações comerciais com a Feira 2015.De
acordo com os resultados podemos constatar que os visitantes sentiram-se seguros
ao realizar transações comerciais na Feira 2015.
A seguir, procurou-se saber se quando o visitante tem um problema se a Feira
mostra interesse em resolver, segundo análise dos visitante: 47 pessoas responderam
que concordam.
2%3%
10%
37%35%
13%
DISCORDO TOTALMENTE
DISCORDO
NÃO CONCORDO NEM DISCORDO
CONCORDO
CONCORDO TOTALMENTE
NÃO SE APLICA
480
Gráfico 02: Resolução de problemas
Fonte: Pesquisa direta, 2015.
Conscientes de um ambiente empresarial cada vez mais competitivo, ao se
mostrar interessado em resolver um problema que o visitante tem ao visitar a Feira
2015, o gestor demonstra primor pela qualidade atravésda compreensão das
exigências e necessidades de seus clientes (SALLBY 1997).
A disposição para ajudar o cliente e proporcionar a solução de problemas os
funcionários da Feira 2015, segundo Santos (2004, p. 3) explica que estamos num
tempo de reação às mudanças concedidas em um mundo de incertezas e com
resolução de problemas, muitasvezes inesperados, paraamenizar os mesmos é
necessário treinar funcionários que formem uma equipe composto por vários níveis
da empresa com um fluxo de comunicação ágil para resolução de eventuais
problemas.
Conforme o gráfico acima, podemos analisar os seguintes dados, quando se
refere Resolução de problemas da Feira 2015: 30% concordam. De acordo com o
resultado da pesquisa pode se concluir que os visitantes da Feira 2015 concordam
que os funcionários mostram interesse em resolver problemas.
As reclamações e dúvidas dos clientes devem encontrar um porto seguro
dentro das organizações, no atendimento, e certificando a satisfação de todos os
clientes, Zeithaml (2014, p. 35) identifica em sua obra a Lacuna 1 que é “Lacuna da
Compreensão do Cliente”, lacuna esta que relata sobre compreensão do cliente é a
diferença entre as expectativas do cliente para com o serviço e a abrangência que a
empresa tem como solucionar dúvidas e reclamações.Sobre a habilidade de
3% 6%
26%
30%
21%
14%DISCORDO TOTALMENTE
DISCORDO
NÃO CONCORDO NEM DISCORDO
CONCORDO
CONCORDO TOTALMENTE
NÃO SE APLICA
481
solucionar pessoalmente as dúvidas e reclamações, (29%) dizem que concordam e
em contraponto (27%) discordam totalmente que a feira possui habilidade em
solucionar dúvidas e reclamações, enquanto que (24%) se mantém neutros, nem
concordam nem discordam. Brambilla, Pereira, Pereira (2010) ressalta a importância
sobre a identificação de relações duradouras entre a empresa e os clientes, sendo o
marketing de relacionamento uma importante ferramenta de relacionamento com
seus clientes.
Quanto a qualidade dos produtos, de acordo com os dados obtidos na pesquisa
obtemos o seguinte resultado: 51 pessoas responderam que concordam totalmente.
Gráfico 03: Qualidade dos produtos
Fonte: Pesquisa direta, 2015.
Segundo Serra (2005, p. 7) a consciência de qualidade está crescendo em todo
mundo, devido às exigências dos clientes. Mais empresas estão reconhecendo a
necessidade de investir em qualidade, uma aquisição com lucro garantido e uma
produção em: Menos defeitos; Produtos melhores; Posição financeira melhor; Maior
bem estar; Menor giro de pessoal; Menos absenteísmo; Clientes satisfeitos; e Imagem
melhor, podemos observar no referencial teóricoque a qualidade dos produtos e
desempenho dos funcionários induz à satisfação dos clientes.
2%
6%
16%
30%32%
14%
DISCORDO TOTALMENTE
DISCORDO
NÃO CONCORDO NEM DISCORDO
CONCORDO
CONCORDO TOTALMENTE
NÃO SE APLICA
482
Nesta questão o objetivo foi e avaliar a satisfação dos clientes da Feira 2015
quanto à qualidade do produto oferecidos, em que a maioria dos clientes, ou seja,32%
concordam totalmente que os produtos oferecidos são de alta qualidade.Segundo
Loverlock (2006) a lacuna do Projeto e dos Padrões de Serviço é a lacuna das
expectativas dos clientes é um fator eficaz, mas não suficiente para a realização de
um serviço de qualidade.A Feira 2015 atingiu seus objetivos quanto as expectativas
dos seus clientes, respectivos a qualidade dos produtos oferecidos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho apresentou como objetivo avaliar a qualidade dos serviços
prestados em uma Feira Agropecuária, Comercial, e Artesanal do extremo sul do
Brasil. Para isso, foi realizada uma pesquisa com 160 visitantes que estiveram nesta
edição do evento.
O crescimento do mercado de eventos nos últimos anos devido a procura por
atividades culturais, de lazer e divertimento e o desejo pela comunicação com maior
número de pessoas. Os atributos percebidos nos serviços que são apresentados
nesses episódios, também são um fator importante para a satisfação dos clientes.
O grau de qualidade do serviço recompensado em um evento relacionado à
satisfação dos clientes, quando for realizado com qualidade, trará muitos benefícios
para os envolvidos. A satisfação consiste na consideração do cliente após ter suas
perspectivas atendidas, ou seja, um cliente satisfeito é aquele que recebeu no evento
exatamente o que esperava receber. Se as perspectivas cliente forem maiores do que
a percebida então terá um cliente insatisfeito.
A organizadora do evento deve sempre se preocupar em reparar seus erros,
pois sabemos que um cliente insatisfeito repercute negativamente sobre a imagem do
evento. Mas se o evento for mais do que o esperado, o encantamento do cliente será
positivo, além de tornar-se um participante assíduo e leal e indicará o mesmo para
seus amigos, parentes fazendo propaganda boca a boca. A organizadora nunca deve
prometer o que não pode cumprir, pode ser um erro gravíssimo, podendo prejudicar o
desempenho do mesmo.
483
Como resultado, primeiramente foi reconhecido como se desenvolveu da Feira,
o contexto que permitiu seu surgimento. No qual foi identificado que o evento é um
dos mais importantes eventosdo extremo sul do Brasil e de grande significado cultural,
para a região esta desde seu início teve como objetivo fortalecer a identidade cultural
do Rio Grande do Sul, além de fomentar a comercialização dos arranjos produtivos
locais e rodadas de negócios, identificando assim, novos mercados potenciais.
Quanto a qualidade dos serviços prestados pelaFeira 2015, conforme análise
dos resultados, mostrou-se que os visitantes estão satisfeitos com o “Ambiente da
Feira”. Em relação aos “Serviços e Layout da Feira 2015, a opinião dos visitantes do
evento em relação a Layout, cumprimento de promessas, prestação de serviços
corretamente, disponibilidade de mercadorias, registros de transações no evento, foi
possível identificar que os visitantes estão satisfeitos, apenas o item cumprimento de
prazo deixou a desejar.
Para posteriores estudos se destacam alguns pontos principais. Inicialmente,
identifica-se a necessidade de continuar a pesquisas no evento Feira 2015, pois a
prática contínua permite a identificação dosvisitantes, do atendimento, qualidade dos
serviços e o ambiente da mesma, visando identificar o que se deve melhorar e quais
os objetivos atingidos. Futuras pesquisas devem ser aplicadas em outros eventos.
A pesquisaoptou pela aplicação da escala (RSQ) em que observou como
limitação a utilização da escala intervalar de seis pontos, quando submetida a análise
de dados de forma exploratória em softwares estatísticos, sendo assim visando o
aprimoramentoda escala apresentamos esta limitação no instrumento.
Para a realização de um evento de sucesso é necessário que o layout seja
adequado a tipologia do evento, e um dos fatores mais importantes está ligado ao
visual e ao atendimento dos funcionários, oferecendo empatia e conforto aos
visitantes.
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486
ZEITHAML, V. A., Marketing em serviços: a empresa com foco nos clientes. -
6.ed.-Porto Alegre: AMGH, 2014.
487
GT 10 – HOSPITALIDADE E DIVERSIDADES
ROSANA (SP): DO TURISMO DE PESCA AO TURISTA SEXUAL: ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES SOBRE AS NUANCES SUBJETIVAS DO PROCESSO DE
AGENCIAMENTO DO CORPO
488
PIMENTEL, Juliana89; CUSTÓDIO, Vagner90; VIOLIN, Fábio Luciano91.
Resumo: O presente texto busca evidenciar os aspectos subjetivos que permeiam
diferentes tipologias do turismo que ocorre na cidade de Rosana (SP). O município é
contemplado pela presença dos rios Paraná e Paranapanema, belezas naturais que
exerce a atração de turistas que chegam de diferentes regiões para a prática do
turismo de pesca. Por já conhecerem a dinâmica da abertura da pesca, nesse período,
ocorre também, a entrada de garotas de programa. No entanto, o turismo de pesca,
oculta a prática do turismo sexual que, por sua vez, é invisibilizado pelos dirigentes
municipais e por uma parcela da população que (in) diretamente acaba por aumentar
a sua renda por meio de diferentes serviços voltados a turistas e garotas de programa.
Palavras-chave: Turismo Sexual; Turismo de Pesca; Agenciamento do Corpo.
1 INTRODUÇÃO
No presente artigo buscamos fazer uma breve análise dos aspectos subjetivos
que permeiam o turismo sexual no município de Rosana (SP). Diante dessa realidade,
apontamos como o agenciamento do corpo é imbuído por códigos, identidades e
representações que dão notoriedade tanto à garota de programa quanto ao seu cliente
– o turista. Esses aspectos simbólicos acabam por diferenciá-los dos moradores
locais.
Os meses de março a outubro correspondem à alta temporada da pesca.
Durante esses meses ocorre uma reconfiguração da dinâmica da economia urbana
no município. Essa realidade pode ser justificada devido ao aumento da circulação de
turistas do gênero masculino que chegam para a prática da pesca e, também, pela
entrada de garotas de programa que objetivam prestar seus serviços aos turistas.
89 Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados. Professora substituta do curso de Turismo na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, Campus Rosana. E-mail: [email protected]. 90 Doutor em Educação sexual. Professor do curso de Turismo na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, Campus Rosana. E-mail: vagnercustó[email protected] 91Doutor em Administração. Professor do curso de Turismo na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, Campus Rosana. E-mail: [email protected]
489
No entanto, o marketing do turismo no município sempre foca as belas
paisagens, o pôr do sol, um ambiente natural e sossegado como maneira de idealizar
Rosana como um lugar interessante para sair do cotidiano conturbado das médias e
grandes cidades, para relaxar e praticar o turismo de pesca.
Segundo os dirigentes municipais o que determina a entrada de turistas no
município é o turismo de pesca, no entanto, essa prática oculta o turismo sexual.
Dessa forma, o objetivo da presente pesquisa, visa compreender quais são as
condicionantes de ordens subjetivas que permeiam o Turismo sexual e quais são os
processos que envolvem o agenciamento do corpo na alta temporada da pesca.
Nesses termos, consideramos que garotas de programa, assim como os
turistas, transformam-se em sujeitos essenciais dos processos que condicionam o
turismo sexual. Dentro dessa lógica também estão inseridos sujeitos que,
indiretamente, tornam-se coadjuvantes na manutenção dessa prática.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a realização da pesquisa foi utilizada a metodologia da pesquisa
qualitativa, especificamente, a observação participante. Optamos por essa
metodologia, por considerarmos que “a forma como as pessoas gerenciam e
interpretam suas vidas cotidianas é uma condição importante para o entendimento de
uma cena social” (MAY, 2004, p. 184). Os trabalhos de campo foram realizados no
cerne das casas noturnas e nos territórios da prostituição de rua entre o período de
2011 a 2012 e 2014 ao primeiro semestre de 2016. Portanto, a metodologia da
observação participante serviu como escopo para balizar os trabalhos de campo e,
este por sua vez, tornou-se a principal fonte de coleta de dados para a produção dos
resultados da pesquisa. Cabe ressaltar que o trabalho de campo norteou a escolha
dos referenciais teóricos que respaldaram a estrutura teórica do texto.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
490
No tocante ao turismo sexual e, em conformidade com nossas pesquisas de
campo, procuramos considerá-lo como uma vertente da atividade turística que deve
ser analisada com maior rigor científico dada a sua complexidade, sobretudo, no que
tange ao enfoque econômico. A estrutura que sustenta essa vertente do turismo é
engendrada por uma vasta rede de sujeitos que, direta ou indiretamente, auferem
rendas por intermédio de turistas e garotas de programa.
Autores como Bem (2015; 2005); Dias (2005); Monni (2004) e Silveira (2007)
analisam as circunstâncias quanto à forma como o turismo sexual se desenvolveu nos
países periféricos e no Brasil. Salientam que a disseminação dessa prática atrela-se
ao modo como a atividade turística foi se perpetuando mediante a ausência de um
planejamento que viabilizasse um turismo ordenado nas cidades em quese
desenvolveu. Além disso, o turismo sexual serviu como estratégia para superar crises
econômicas, pelas quais passaram muitos países periféricos ao longo dos séculos
XIX e XX92.
Em vista dessa problemática, esses autores ainda mencionam que a raiz do
turismo sexual vincula-se a diversos fatores como, por exemplo, desemprego, baixos
salários, disparidades sociais, desestrutura familiar, que expõe mulheres e menores a
situações de risco; questões de gênero, colonialismo, entre outros. Essas raízes nos
dão evidências de que o turismo sexual é composto por um conjunto de engrenagens
que se processam simultaneamente, produzindo, dessa forma, (des)arranjos
econômicos e sociais no que tange à produção do espaço urbano.
Com relação ao Brasil, o país recebe todos os anos milhares de turistas que
praticam o turismo sexual e está no ranking das rotas mais procuradas por turistas
sexuais estrangeiros. Uma matéria publicada pelo Correio Braziliense, em 201293,
apresenta uma pesquisa realizada pela OMT em 2005 que levantou dados acerca do
perfil do turista sexual e os destinos mais procurados por eles.
92 Para maiores informações ver: Bem (2005). 93 Encontramos essa matéria publicada em um site da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS) http://renas.org.br/2012/01/23/o-turismo-sexual-no-brasil/. Não conseguimos acessar a reportagem diretamente da página do Correio Brasiliense.
491
Entre os principais destinos do turismo sexual no continente estão México,
Cuba e Brasil.[...] Ele é na maioria das vezes de classe média, tem entre 20
e 40 anos de idade, viaja desacompanhado e com outros homens. Italianos,
portugueses, holandeses e norte-americanos lideram o ranking dos turistas
sexuais. Em menor número aparecem ingleses, alemães e latinos
americanos [...]. A avaliação do Ministério do turismo é de que a atividade
está dispersa e já não é possível fazer uma delimitação rígida dos estados e
municípios onde se concentra. Regiões de praia, fronteiras estaduais e
internacionais, capitais e destinos turísticos famosos de uma forma geral são,
hoje, as áreas propícias a abrigar a pratica no País. Um dos levantamentos
mais recentes sobre os locais onde a atividade turística com fins sexuais tem
acontecido no Brasil foi feito pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) da Exploração Sexual de Crianças e adolescentes, que funcionou
entre 2003 e 2004 e percorreu 22 estados brasileiros. Foi detectada pelos
integrantes a existência de turismo sexual no Amazonas e na região do
Pantanal mato-grossense, áreas turísticas bastante conhecidas que não
costumavam ser focos tradicionais de viagens com fins sexuais. [...] (Jornal
Correio Braziliense, 2012).
Ao compararmos os resultados da pesquisa elaborada pela OMT (2005), no
que se refere ao perfil dos turistas que chegam ao Brasil para fins de turismo sexual,
podemos equiparar os resultados com o tipo de turista que chega a Rosana na alta
temporada da pesca. Embora os turistas que procuram o município não sejam
estrangeiros e tão pouco jovens, na faixa etária dos 20 anos; eles podem ser inseridos
na classe média-alta, são do gênero masculino e visitam o município em grupos como
menciona a matéria publicada pelo jornal Correio Brasiliense.
Quando são questionados sobre os motivos que os levaram a procurar Rosana,
respondem rapidamente que foram motivados pela pesca. Porém, alguns sorriem e
dão continuidade a suas falas dizendo que vieram para “curtir as belezas naturais”;
“pescar piranha”; “ver as mulheres bonitas da cidade” (Conversa informal com turistas,
realizada em 2012).
O Ministério do turismo cita que atualmente o destino dos turistas sexuais não
se restringe somente às cidades litorâneas e que não é possível fazer uma delimitação
rígida quanto à maneira pela qual esse tipo de turismo se consolida. Conforme aponta
a avaliação da pesquisa, o turismo sexual está presente em vários municípios
brasileiros, inclusive nos que possuem riquezas hídricas. O Ministério do Turismo
revelou que essas são rotas realizadas para a prática do turismo de pesca; mas,
492
entretanto, é o turismo sexual que se mostra como uma atividade de grande procura
nesses locais.
Em Rosana o discurso de motivação do turista da alta temporada é o turismo
de pesca. Todavia, o turismo de pesca mascara existência do turismo sexual. ,
Um bom planejamento baseado no modelo de desenvolvimento tecno-
economicista do turismo só pode reproduzir modelos de ação reducionistas.
O melhor exemplo é o próprio turismo sexual, que, não sendo objeto de
planejamento, e, portanto, não devendo estar inscrito no espaço sociocultural
como prática, foge completamente à gestão tecnocentrada dos planejadores.
O turismo sexual escapa aos planejadores turísticos, porque estes não olham
para o movimento da sociedade e não questionam o modelo no qual estão
operando. Por essa razão, o planejamento turístico contribui também, embora
silenciosamente, para que o turismo sexual se reproduza e se utilize –
ironicamente – da mesma infraestrutura por ele criada (BEM, 2005, p.97).
A colocação feita por Bem (2005) de fato se verifica em Rosana. Desde o
término das obras das usinas hidrelétricas que ocorreu no final da década de 1990,
uma das atividades que mais ganhou expressão na dinâmica econômica da cidade foi
o turismo sexual. Em nenhum dos mandatos políticos municipais houve ao menos
discussões que buscassem minimizar essa atividade. Isso pode ser interpretado pelo
o prisma de que as autoridades locais estão conscientes da influência que o “setor do
sexo” exerce. Portanto, o turismo sexual em Rosana dinamiza o comércio local,
sobretudo, no período da abertura da pesca94.
Em se tratando das garotas de programa que agenciam seus corpos, pudemos
verificar que seu perfil pode também ser enquadrado nos estudos de Bem (2005,
p.78), que as considera como sendo integrantes de: “grupos sociais em situações
estruturais e conjunturais bastante específicas que participam das ofertas constituídas
no mercado das trocas sexuais dinamizadas pela atividade turística”.
As garotas de programa que entrevistamos contaram os motivos que as
levaram a entrar no comércio sexual. Suas histórias são permeadas por episódios de
94O período em que a pesca encontra-se aberta no município dá-se entre 1º de março a 31 de outubro.
493
desestruturação familiar, pais adictos, violência doméstica, abusos sexuais, pobreza,
abandono da escola e falta de oportunidades de emprego.
Nessa acepção, os sujeitos envolvidos nos mecanismos que engendram o
turismo sexual na cidade estão inseridos em “situações estruturais e conjunturais
específicas”. Nesse sentido, o próximo desdobramento da nossa discussão refere-se
às circunstâncias de como se consolida essa prática no município de Rosana (SP).
3.1 O TURISMO SEXUAL NO MUNICÍPIO ROSANA (SP)
A presença de recursos naturais em um determinado local possibilita o
desenvolvimento de atividades turísticas que passam a representar meios de
ampliação de fonte de renda e criam expectativas para a geração de novos postos de
trabalho.
Nesse sentido, ainda que ainda necessite de um planejamento que desenvolva
setor turístico, que incremente a economia urbana e transforme o turismo de
pesca/turismo sexual em turismo familiar e sustentável, Rosana possui um vasto
atributo natural, dada a sua localização entre rios, permitindo fazer da pesca uma
alternativa de renda.
Segundo o Ministério do Turismo (2010), a definição de Turismo de Pesca
“compreende as atividades turísticas decorrentes da prática da pesca amadora, ou
seja, atividade praticada com a finalidade do lazer, turismo ou desporto, sem finalidade
comercial”.
Ao analisarmos o site da prefeitura municipal de Rosana, com o intento de
buscar informações da gestão sobre o turismo de pesca, verificamos a seguinte
apresentação:
Cercada por dois grandes rios brasileiros, o Paraná e o Paranapanema,
Rosana é sinônimo de diversão dentro da água. Para os amantes da pesca
não existe lugar mais indicado. A pesca esportiva é um esporte muito
praticado na cidade atraindo a cada ano mais turistas em busca das belezas
naturais oferecidas pelos rios. Os principais peixes encontrados aqui são
piapara, dourado, tilápia, sardela, traira, tucunaré entre outros que vão deixar
a sua pesca ainda mais emocionante! (www.rosana.sp.gov.br/turismo-de-
pesca)
494
A descrição não deixa de ser verdadeira, no que se refere às “belezas naturais
oferecidas pelos rios” e “para os amantes da pesca não existe lugar mais indicado”.
Porém, a “pesca esportiva” se torna apenas um subterfúgio para a prática do turismo
sexual que, por sua vez, é invisibilizada pelos dirigentes municipais e por uma parcela
da população que, direta ou indiretamente, é beneficiada pelos rendimentos que
provêm de diferentes serviços voltados aos turistas, pois o turismo “inclui de um lado
o planejamento e, de outro, a comercialização” (BARRETO, 2007, p.12).
No município estudado (Rosana)95, a pesca sempre foi um atrativo para seus
visitantes, e mesmo que as belezas naturais estejam à disposição de todos,
é necessário que algumas alterações sejam realizadas para que a prática
seja bem desempenhada. À medida que a procura pela pesca foi crescendo
de forma desordenada, e sem nenhum tipo de planejamento por parte de
órgãos responsáveis pelo município, cresceram também fenômenos de
ordem social, como o caso da prostituição (NASCIMENTO, 2011, p.45).
O marketing do turismo no município sempre foca as belas paisagens, o pôr do
sol, um ambiente natural e sossegado como maneira de idealizar Rosana como um
lugar interessante para sair do cotidiano conturbado das médias e grandes cidades,
para relaxar e praticar o turismo de pesca.
Além de todo esse propagandístico, quando o turista chega a Rosana encontra
vários tipos de serviços96 a sua disposição. Os munícipes já se preparam para a sua
chegada, pois o sujeito-turista representa uma oportunidade de auferir rendimentos
que, no período da baixa temporada, não foi possível conseguir, haja vista que,
conforme já colocado, o movimento do comércio local e do “circuito inferior da
economia urbana” sofre um declínio considerável com o fim do fechamento da pesca.
Porém, a ação dos turistas, deve ser compreendida e investigada como
condição e resultado de processos sociais que mascaram relações complexas e que
por vezes, se materializam no espaço sob as estruturas que engendram o turismo
sexual.
95 O nome do município foi inserido por nós. 96 Isso não quer dizer que em Rosana exista um planejamento turístico que contemple tanto os turistas quanto a comunidade.
495
Muito embora, o turista chegue a Rosana com a finalidade de praticar a pesca
esportiva e, com isso, se insira na definição proposta pelo Ministério do Turismo (2010)
de praticante de uma atividade com a “finalidade do lazer, turismo ou desporto, sem
finalidade comercial”, a maior parte deles vem para o município para praticar também
outro tipo de lazer: o turismo sexual. Dessa forma, ocorre uma duplicidade quanto ao
papel que o turista exerce na produção do espaço urbano, pois esse sujeito passa da
posição do turista de pesca para a condição de turista sexual.
Turista aqui não vem só pra pesca não vem atrás de garota, vem atrás de
turismo sexual, na época que a pesca tá fecha isso daqui é um breu, não tem
nada na cidade, quando tem é os turistas e as garotas que desenvolve
alguma coisa [...] (Parente de uma das proprietárias das casas noturnas,
entrevista realizada em 22/05/2015).
A OMT (1995) define o turismo sexual como: “viagens organizadas dentro do
seio do setor turístico ou fora dele, utilizando, no entanto as suas estruturas e redes,
com a intenção primária de estabelecer contatos sexuais com os residentes do
destino”. Nesse perfil enquadra-se o turista que chega a Rosana. E ele não chega só!
Existe uma espécie de organização entre os turistas no momento de partida dos seus
locais de origem. Quando chegam, sempre em grupo, geralmente ranchos, pousadas,
barcos, diárias de barqueiros já estão todos agendados; sem contar, os contatos já
pré-estabelecidos com as garotas de programa, pois se faz necessário ter uma mulher
para cada homem.
Assim, estabelecem o número de garotas de programa, o dia, a hora e o local
em que elas deverão estar quando o grupo chegar, instituindo, dessa maneira, o
comércio sexual segundo a lógica do turismo sexual.
Estabelece-se no sistema turístico o costumeiro intercâmbio entre
vendedor/prestador de serviços e o cliente como eixo de grande parte dos
encontros, em que prima a obtenção do máximo benefício para o primeiro e
o dispêndio compensado pela satisfação para o segundo. Isso implica e
justifica que os habitantes do destino, com o intuito de garantir benefícios
econômicos, possam se submeter aos desejos do turista em mais casos do
que o esperado. E tais desejos nem sempre serão vistos, de fora do destino,
como honrados. Costumam estar vinculados ao desenvolvimento turístico o
496
surgimento e o aumento da prostituição e do turismo sexual [...] (SANTANA,
2009, p. 163).
No excerto acima mencionado e relacionado ao nosso campo de pesquisa,
consideramos como prestadores de serviços todos os tipos de sujeitos envolvidos (in)
diretamente com a pesca esportiva. Dentre eles, podemos citar: hotéis, pousadas,
restaurantes, lanchonetes, quiosques do balneário municipal, pirangueiros, isqueiros,
pescadores, cabeleireiras, manicures, proprietários de ranchos, dentre outros sujeitos
que se preparam para recepcionar os turistas no período da alta temporada.
Em nossa pesquisa, damos relevância, para além do turista, às garotas de
programa, pelo fato de poderem administrar a forma como irão agenciar ou não seus
corpos. Algumas entrevistadas disseram que optam pela escolha do cliente, pois nem
todos os turistas se enquadram nos padrões estabelecidos por elas. Quando abre a
pesca tem um monte de turista aqui, aí dá pra escolhe né! Eu não fico com qualquer
um não! Agora quando o movimento tá baixo não dá pra escolher muito não! (Garota
de programa, entrevista realizada em 2012).
A possibilidade de decisão quanto ao cliente que mais se adequa ao perfil de
escolha das garotas de programa se restringe àquelas que trabalham na rua. Nas
casas noturnas, essa exigência não existe em virtude das garotas de programa serem
instruídas para que a atenção seja dada igualitariamente a todos os clientes. Portanto,
raramente uma garota de programa que exerce sua função em casas noturnas deixa
de agenciar o corpo em função de não apreciar o perfil do seu cliente.
No caso, garotas de program 97 que atuam nas ruas atestaram suas
preferências por ranchos pela possibilidade de usufruírem ao máximo das regalias
proporcionadas pelo turista/cliente. Por conta disso, a prestação de seus serviços se
faz mais duradoura quando equiparada ao tempo do programa estabelecido pelas
garotas de programa que atuam nas casas noturnas.
97 As garotas de programa relataram que nos ranchos é possível aproveitar as partes internas do local voltadas para o lazer. Afirmaram que quando os turistas promovem churrascos, existe uma variedade de bebidas, carnes e peixes. Além disso, elas podem aproveitar para tomar sol e usar a piscina.
497
É no rancho que o turista pode demonstrar seu poder aquisitivo. Nesse local,
não poupam dinheiro como forma de ostentar seu poder de compra e, até mesmo,
seu poder de domínio sobre as garotas. Embora os turistas acreditem ter poder de
escolha sobre as garotas de programa, nossas pesquisas demonstraram que são elas
quem escolhem os clientes que preferem atender. “Eu só saio com quem eu quero,
eu escolho! Não é o cliente que tem que querer eu, eu que tenho que querer o cliente”
(Ex-garota de programa. Entrevista realizada em 25/05/2012). Esse aspecto
performático de subjetivação dos serviços prestados por elas aponta para as
circunstâncias específicas em que ocorre o turismo sexual em Rosana.
Portanto, consideramos que a garota de programa98 é também um sujeito ativo
na construção dos processos que condicionam o turismo sexual. Essa prática está
imbuída por códigos, identidades, representações e questões de ordem financeira que
perpassam algumas literaturas concernentes à prostituição sob uma óptica valorativa,
moral, que coloca a garota de programa como vítima da sociedade ou como sujeito
submisso e incapaz de tomar suas próprias decisões.
Assim, ao longo do trabalho pudemos notar que turistas e garotas de programa
transitam facilmente nos extremos da relação binomial dominado e dominador. Nessa
relação, ora garotas de programa encontram-se no patamar de sujeitos dominados,
ora executam seguramente o papel de dominadoras, reforçando, desta maneira, a
presença de um micropoder que se corporifica na ação dos sujeitos que materializam
a prostituição.
Diante desse quadro, Silva e Blanchete (2005, p.179), ao trabalharem com a
intersecção de turismo, prostituição e migração, afirmam que garotas de programa
não podem ser vistas como simples vítimas, já que possuem um controle sobre suas
ações e representatividade, deliberando sobre suas vidas o poder de direcioná-las.
98 Em nossas discussões, trataremos a garota de programa como sujeito detentor da sua força de
trabalho e possuidor do poder de decisão sobre todos os fatores que possam envolver o
agenciamento do seu corpo.
498
Muitos relatos atentam para uma ascensão socioeconômica empreendida por elas
como uma melhoria nas suas condições de vida.
Nesse aspecto, a garota de programa cria condições propícias para que seu
cliente possa desempenhar o papel performático de “homem dominador”.
Desmistifica-se dessa maneira, a sua condição de submissa em relação ao cliente,
pois faz parte de sua atuação profissional permitir que seu cliente manifeste as
subjetividades que não podem ser mostradas ou reveladas dentro da sua casa, no
trabalho ou perante a sociedade.
Eu só saio com turista, não saio com homem aqui da cidade não. São tudo pobre, tem uns que nem carro tem, aí se vem pro meu lado eu já coloco o valor do meu programa bem alto porque eu sei que ele não vai pode pagá. Eu quero é saí com home rico, com os turista que vem pra cá, eles sim tem dinheiro. Tomo whisky do bom, Red Bull, cerveja da melhor, chopp, comida então, só picanha, carne da melhor, peixe, de tudo tem! Os quarto com ar condicionado, fora que eles paga o táxi ou eles mesmo leva a gente embora. E sempre rola um presentinho, um agradinho e as vezes vira até um namorinho. Eles trata a gente muito bem. Que trabalho que eu ia tê tudo isso em? (Garota de Programa. Entrevista realizada em 12/12/2012).
A fala da garota de programa evidencia que “o dispêndio compensado pela
satisfação” pessoal do turista, juntamente de seu poder de compra e da possibilidade
de proporcionar à garota de programa o melhor bem estar possível em troca da sua
prestação de serviços, acaba se tornando um dos critérios para que a garota se sinta
estimulada à prestar seus serviços e não procure exercer outro tipo de atividade
laboral.
Essa realidade vivenciada por ambos os sujeitos – garotas de programa
e turistas - nos dá indícios de que essa interação realizada em locais específicos, seja
nas lanchonetes, balneário, hotéis, pousadas, motel, ranchos na cidade e nas ilhas,
se traduz em papéis complementares. Muito embora a garota de programa esteja
cumprindo com suas obrigações dentro de um contrato verbal estabelecido entre ela
e o turista, ambos não deixam de estar consumindo no comércio local direta ou
indiretamente, de forma similar, mesmo que esse consumo se dê por meio de uma
499
relação contratual que faça parte de um processo mercantil de agenciamento do
corpo.
Na relação turista e garota de programa está travada muito mais que uma
relação mercadológica. Esses contratos são pautados em laços subjetivos que
interferem no sentido de toda a performance que a garota de programa deve
desenvolver para atrair o seu cliente, seja por meio de seus gestos corporais,
expressões faciais, maquiagem, roupas, ornamentos, sapatos e toda a desenvoltura
performática sensual e sexual que irá diferenciá-la das outras garotas; e por exercer
uma relação de domínio sobre o seu cliente, que se realizada com eficácia, poderá
culminar em presentes e, até quem sabe, em um “namoro”, com direito a depósitos
bancários.
Goffman (2011) faz uma análise das relações interpessoais e das interações
que ocorrem entre as pessoas, visando compreender a forma como os sujeitos
analisam seu interlocutor e, a partir dessa análise desenvolvem performances que
visam superar a expectativa daquele com que é estabelecido o diálogo, mesmoque
seja por meio de umalinguagem corporal. Essa perspectiva pode ser observada e
apreendida entre os turistas e as garotas de programa no momento que antecede o
agenciamento do corpo.
Em presença de outros, o indivíduo geralmente inclui em sua atividade sinais
que acentuam e configuram de modo impressionante fatos confirmatórios
que, sem isso, poderiam permanecer despercebidos ou obscuros. Pois se a
atividade do indivíduo em de tornar-se significativa para os outros, ele precisa
mobilizá-la de modo tal que expresse durante a interação, o que ele precisa
transmitir (GOFFMAN, 2001, p. 36).
Nesta perspectiva, outro ponto de discussão dentro da abordagem do turismo,
e que nos é relevante, diz respeito ao sujeito-turista. Esse sujeito também carrega
consigo seu lado performático que o destaca perante os outros munícipes. O turista
faz-se muito perceptível quando transita pelas ruas da cidade ou quando entra em
qualquer estabelecimento comercial.
500
Ao tirar algumas fotos das cercanias do balneário municipal, em um trabalho
de campo, fomos abordadas por dois turistas que ao nos verem tirando fotos de um
estabelecimento comercial, pararam a caminhonete, com som muito alto, no meio da
rua. O motorista saiu e ficou em pé sobre a entrada da porta do condutor, por conta
disso, os carros que saíam e entravam no balneário tiveram que desviar da
caminhonete. Porém, o motorista pouco se importou se estava acarretando algum tipo
de transtorno às pessoas que também necessitavam passar por aquela única avenida
que dá acesso ao balneário. Sem considerar essa situação, ele começou a perguntar
o que eu fazia ali e para quê serviam aquelas fotos. Ao dizer a finalidade das fotos e
do trabalho, ele deixou que eu tirasse fotos deles e começou a discorrer sobre sua
vida. Disse que vinha do Paraná, que adorava Rosana por tudo: pela atenção dada
pelos moradores, pela calmaria da cidade e, principalmente, pelas “belezas naturais”.
Quando usou essa expressão, os dois turistas deram risada, nos dando indícios de
que esse termo não expressa apenas os rios, a fauna e a flora, mas também as
garotas de programa da cidade. “Eu venho pra Rosana pra pescá, só que eu acabo
pescando só piranha, piranha é o que mais tem aqui” (Turista. Conversa informal em
22/02/2014).
Esses termos ambíguos e pejorativos geralmente são utilizados pelos turistas
e se inserem nos aspectos simbólicos incorporados na forma como esses sujeitos se
apropriam do lugar; pois, “são as relações que criam o sentido dos ‘lugares’”, onde
este, só é produzido “por um conjunto de sentidos, impressos pelo uso do corpo”
(CARLOS, 2007, p.18).
E assim, turistas transitam pelas ruas, geralmente em caminhonetes (modelo
Hilux ou Amarok). Frequentemente, trazem um barco acoplado à traseira e trafegam
pelas ruas com som alto de uma dupla sertaneja do momento ou de funk. As risadas
e as falas altas não os deixam passar despercebidos. O exibicionismo quanto ao poder
de compra é evidente. Esses são os três elementos primordiais que definem o
estereótipo dos turistas que circulam pelo município, a partir de primeiro de março.
Há, portanto, um processo de apropriação do espaço urbano por parte dos
turistas que os diferencia, essencialmente, dos moradores. Assim, podemos nos
501
pautar na referência de Carlos (2007, p.18) que discorre sobre a tríade cidadão-
identidade-lugar apontando para a “necessidade de considerar o corpo, pois é através
dele que o homem habita e se apropria do espaço (através dos modos de uso)”.
O turismo sexual, em todas as suas versões, é possível porque o turista perde
parte da identidade originária, da organização, dos usos e modos diários. O
lazer, a aventura, a recreação, o descanso, o descobrimento entre outras
motivações individuais consideradas ou em qualquer combinação possível,
envolverão atividades e comportamentos, bem como serão refletidos neles
em seu momento. O turista situa-se em uma condição ambígua, em que as
características socioculturais de partida estão disfarçadas, quase invisíveis,
como o que escapa das classificações que possam ser aplicadas em uma
situação e posição convencional. Ocorre que, quase de surpresa embora no
fundo se espere que seja assim – o turista está em um ambiente que o incita
a se desinibir, a se expressar por intermédio de diversas manifestações e
comportamentos distantes aos que podem ser frequente, mas que, nesse
novo ambiente – por outro lado já conhecido - , são corriqueiros. Mudam,
quase de forma casual, as formas de vestir, comer beber, relacionar-se,
divertir-se, além de evidentemente seus horários. [...] Por um momento, o
turista suspende a ordem e a estrutura social cotidiana e, assim como altera
aqueles modos, também costuma deixar para trás as proibições, os tabus e
os medos. É, por uma temporada, um personagem preeminente a quem
certos luxos e excentricidades são permitidos e que, exclusivamente dentro
dos limites legais do destino, está limitado somente por sua capacidade de
gasto (SANTANA, 2009, p.166-167).
Ao compartilhar alguns locais públicos e privados de Rosana o turista
desempenha um comportamento muito diferente daquele do seu local de origem e
que acaba por legitimar o seu papel de turista.
Esse fato é decorrente de dois motivos: o primeiro estaria ligado à liberdade
que ele possui em exibir quem ele é no seu íntimo; pois no lugar do “outro”, isto é, no
lugar onde ninguém o conhece a não ser pelo codinome de turista, ele pode dar vazão
ao seu “eu”, que em muitos momentos e situações do seu cotidiano deve ser ocultado,
para que não ocorram retaliações ou julgamentos negativos quanto ao seu
comportamento por parte da sociedade da qual faz parte.
Longe de casa, o turista pratica atos que seriam impensáveis em sua própria
terra. É a relação com a alteridade que se transforma. O outro é o nativo
pobre, o servidor turístico que pode proporcionar determinados prazeres, é
502
mercadoria que se compra. Do ponto de vista dos que interagem a rede de
exploração, o turista é o cliente que tudo pode (BATISTA; NEVES; MOREIRA,
2008, p.214).
As considerações dos autores, vem ao encontro do perfil dos turistas que
procuram a cidade todos os anos. Prestadores de serviços voltados a atendê-los
tentam ao máximo superar as suas expectativas, visando futuramente conquistar um
cliente fixo, seja para locar um barco, levá-los para pescar, alugar um rancho, vender
um peixe, fazer uma faxina, cozinhar etc. Assim, o turista é visto pelos munícipes como
aquele que realmente pode pagar pelo que almejar e necessitar.
Quando os turistas chegam, fazem questão de exibir o seu poder de compra,
ainda mais se estiverem na presença das garotas de programa. Em trabalho de campo
nas casas noturnas, pudemos presenciar o fechamento da casa por parte dos turistas
como parte de um atendimento exclusivo, a compra de garrafas de whisky fechadas,
o pagamento de rodadas de bebidas para todas as garotas da casa, pagamento de
programas para pirangueiros que os levaram para conhecer as casas etc. Quando
estão em locais públicos, fazem questão de dizer abertamente: “fulana (se referindo à
garçonete) põe aqui na mesa uma garrafa de whisky fechada”. Nessa fala estão
introjetados vários códigos e aspectos simbólicos que representam a abertura para
um diálogo com as garotas de programa que estão nas proximidades da mesa do
turista99.
Essa performance logo é compreendida pelas garotas de programa que, sem
demora, começam a se aproximar e estabelecer uma conversa em que, rapidamente,
são convidadas a se sentarem a mesa junto aos turistas.
O comportamento das pessoas é orientado através de comunicações e
cognições que, ao contrário do que convencionalmente se supõe, não
operam sob bases cognitivas, mas sim emocionais. As pessoas não precisam
saber o significado preciso das expressões simbólicas que utilizam para
acioná-las em suas interações. É suficiente, para elas, sentirem que estão
dirigindo tais expressões a parceiros de uma coalizão específica: a pessoas
99Vale destacar que os turistas raramente chegam sozinhos, aparecem nos espaços públicos acompanhados por mais um “amigo de pesca” e com o passar das horas, novos companheiros vão chegando e compondo a mesa do bar.
503
que vão reagir de acordo com uma normalidade assumida. Tal reação se
verificará desde que as expressões sejam acionadas em um contexto
adequado, ou seja, desde que quem as utiliza reconheça as regras de sua
utilização [...]; e desde que haja entre os interlocutores, um mínimo grau de
afeição comum [...] (FREITAS, 1985, p.14).
Portanto, antes que haja o efetivo diálogo entre garotas de programa e turistas,
primeiramente, ocorrem interações simbólicas que só se fazem perceptíveis para
aqueles que estão inseridos no jogo da sedução performática. Ambos estabelecem
um código de expressões, gestos, formas de andar e movimentar o corpo que dão
indícios que estão abertos para uma conversa, iniciando dessa forma, o agenciamento
do corpo, elemento primordial inerente aos processos que engendram o turismo
sexual no município.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
Os resultados dos dados levantados durante os trabalhos de campo nos
evidenciaram que, garotas de programa, além de receberem pelos serviços prestados
aos clientes, possuem acesso a certo poder de compra e consumo que, se estivessem
inseridas em trabalhos como domésticas e faxineiras, não teriam como manter.
“Quando vou pro rancho só como coisa boa, carne de primeira, tomo só whisky bom,
Redbull, água de coco, tem de tudo. Se eu trabalhasse de faxineira você acha que eu
ia pode compra essas coisas? (Garota de programa. Entrevista realizada em 2012).
Dessa forma, acabam tendo oportunidades de vivenciar experiências, mesmo
que por um curto tempo, que se enquadram em realidades opostas às quais elas se
deparam diariamente. A realidade da vida é permeada por uma série de problemas
de desestrutura familiar, violência, alcoolismo, falta de oportunidades, até mesmo,
dificuldades em pagar contas na farmácia, mercado e suprir a necessidade de seus
filhos. Uma boa parte delas é arrimo de suas famílias e não recebem nenhum tipo de
auxílio financeiro dos pais de seus filhos.
Algumas garotas de programa relataram que os pais de seus filhos são turistas
e que, mesmo sabendo da existência das crianças, nunca voltaram para contribuir
com suas despesas e muito mesmos com sua educação. São elas que arcam com
504
todas as reponsabilidades do lar e ainda necessitam pagar babás para cuidar de seus
filhos para que possam ir trabalhar. Outras deixam seus filhos com as avós e, por isso,
acabam ajudando a manter uma segunda casa.
Essa realidade revela uma faceta contraditória. Parte das garotas de programa
entrevistadas declarou separar muito bem o lado profissional do sentimental, pois
sabem que os turistas que procuram por serviços sexuais só querem se divertir,
extravasar e que quase todos são casados, prezam por seus casamentos e dizem
respeitar suas esposas.
Apesar das garotas de programa afirmarem que são bem tratadas pelos
clientes, e que nessa profissão podem desfrutar dos hábitos alimentares de pessoas
que possuem um padrão de vida elevado, além de adquirir bens materiais que em
outra profissão não conquistariam, existe uma contradição nas relações entre turistas
e garotas de programa que pode ser compreendida dentro da perspectiva do “espaço
como produto social”, proposta por Carlos (2007).
Se, por um lado, os turistas propiciam às garotas um sentimento de inserção
em padrões de consumo que não competem às suas realidades; por outro, quando
partem, fazem questão de deixar para trás declarações de possíveis sentimentos
afetivos. Assim, no momento da partida, esses sujeitos se destituem de suas
performances. Há até aqueles que tiram fotos com os peixes (como se eles os
tivessem pescado, mas, que, na verdade, foram pescados pelos pescadores) como
forma de confirmar sua “pescaria”.
As garotas de programa, muitas vezes, também destituindo-se de sua
performances, retornam às suas casas e aos seus filhos ou mesmo voltam para o
ponto de prostituição para encontrar mais um cliente, pois, como foi dito: “Eu sou
profissional e não quero ficar lembrando nome de cliente não, eu só quero que me
paguem o que foi combinado. (Garota de programa. Entrevista realizada em
22/02/2012).
Os aspectos simbólicos que permeiam as relações entre turistas e garotas de
programa podem ser percebidos rapidamente pelos munícipes ou visitantes que
505
sabem onde estão localizados os pontos de prostituição ou que já conhecem a cidade
pela sua fama relacionada à prostituição.
A alta temporada da pesca em Rosana possui um significado muito mais
abrangente do que concerne ao turismo de pesca. Garotas de programa e turistas,
mesmo aqueles que não utilizam os serviços prestados pelas garotas de programa,
conhecem as condicionantes que dão sentido à abertura da pesca.
Para garotas de programa, a alta temporada da pesca significa a possibilidade
de auferir maiores rendimentos, aproveitar as oportunidades de entretenimento junto
aos seus clientes/turistas nos ranchos e, possivelmente ganhar um presente ou, até
mesmo, adquirir um utensílio doméstico que estejam necessitando.
No tocante aos turistas, estar em Rosana é “poder desfrutar da liberdade longe
da família”. É estar na companhia dos amigos e dar vazão ao seu verdadeiro “eu”.
Suas identidades são anônimas e, uma vez não reveladas, ninguém os conhece, a
não ser de outras temporadas. Os aspectos subjetivos que permeiam esses sujeitos
os diferenciam da comunidade local e, ao serem visibilizados como turistas, passam
a ressiguinificar os espaços dos quais estão se apropriando. Os munícipes veem em
seu lado performático, oportunidade de trabalho e renda. Nesse sentido, no que tange
à questão do turismo sexual no município de Rosana, podemos considerar que esse
processo é dotado de nuances objetivas e subjetivas que dão sentido a toda uma
estrutura que engendra essa atividade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que tange o turismo sexual em Rosana (SP) pudemos verificar que os
aspectos simbólicos de interação entre turistas e garotas de programa anunciam o
princípio do agenciamento do corpo, pois as garotas de programa ao sentarem-se à
mesa e, diante de algumas falas, logo estabelecem os valores do programa, a
duração, o lugar onde o programa se concretizará, entre outros acordos verbais.
A descrição de tais situações visa apenas situar o leitor sobre os possíveis
códigos de fala, expressões e gestos que abarcam os aspectos simbólicos das
relações mercantis travadas entre turistas e garotas de programa. Embora seja um
506
detalhamento elementar, este processo de agenciamento do corpo está inserido em
uma complexa estrutura econômica, em que turistas e garotas de programa tornam-
se protagonistas de uma rede intrincada que envolve o turismo sexual no município e
que, portanto, merece maior atenção e análise.
Nessa rede estão envolvidos “elementos fixos” e também os “fluxos”, que
Santos (1996, p.50) considera como sendo: “elementos fixos, fixados em cada lugar,
permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que
recriam as condições ambientais e as sociais, e redefinem cada lugar”. No caso dos
pontos de prostituição de rua em Rosana, podemos considerar os fixos como sendo
os locais que indiretamente auferem renda com o turismo sexual. No entanto, a cada
ano, novas práticas redefinem novos locais para o encontro de turistas e garotas de
programa, criando assim, uma reconfiguração dos pontos de prostituição no município
de Rosana. Nesse sentido, podemos compreender que o turismo sexual em Rosana
não pode ser reduzido apenas ao mero agenciamento do corpo, travado entre turista
e garota de programa. Nesse arranjo estão envolvidos “fluxos e fixos” que acabam por
redefinir formas e funções que atuam na reprodução da economia urbana.
REFERÊNCIAS BARRETTO, Margarita. Cultura e turismo: discussões contemporâneas.Campinas: Papirus, 2007. BATISTA, Anália S; NEVES, Eliane M, R; MOREIRA, Thais A. Turismo e exploração sexual de crianças e adolescentes na região Centro-Oeste: característica da rede social de proteção. In: TENÓRIO, Fernando G; BARBOSA, Luiz G, M. (orgs). O setor turístico versus exploração sexual na infância e na escola. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.p.201-244. BEM, Arim S.do. A dialética do turismo sexual. Campinas, SP: Papirus, 2005. BRASIL. Turismo de Pesca. Orientações Básicas. 2ª Ed. Brasília, 2010. Disponível em:http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/oministerio/publicacoes/downloadspublicacoes/TurismodePescaVersxoFinalIMPRESSxO.pdf. Acesso em: 29/04/2015
507
______. Ministério do Turismo. Marcos Conceituais. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Marcos_Conceituais.pdf.Acesso em: 05/06/2015. CARLOS, Ana F A. O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007. FREITAS, Renan S. Bordel Bordeis: negociando identidade. Petrópolis: Vozes,1985. GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, Vozes, 2011. MAY, T. Pesquisa social: questões, métodos e processos. Porto Alegre: ARTMed, 2004. NASCIMENTO, Berta l. X. Exploração sexual de crianças e adolescentes e o turismo: estudo de caso no município de Rosana. Primavera, 2011. Monografia. Universidade Estadual Paulista. SANTANA, Augustin. Antropologia do turismo: analogias, encontros e relações. São Paulo: Aleph, 2009. SILVA, Ana Paula da; BLANCHETE, Thaddeus. “Nossa Senhora da Help: sexo, turismo e deslocamento transnacional em Copacabana. Cadernos Pagu, jul./dez. 2005, n.25.p.249-280.
508
RESUMOS EXPANDIDOS
GT 1 – TURISMO, HISTÓRIA E CULTURA
509
OS HOTÉIS ENQUANTO ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE EM PELOTAS/RS NO
INÍCIO DO SÉCULO XX
TEIXEIRA, Larissa Plamer100; MÜLLER, Dalila101. [email protected]
Palavras-chave: Hotelaria; Espaços de Sociabilidade; Sociabilidade Semiformal;
Pelotas; Reuniões sociais.
1 INTRODUÇÃO
O objetivo principal deste trabalho é analisar a utilização dos hotéis em
funcionamento na cidade de Pelotas nas quatro primeiras décadas do século XX,
como espaços de sociabilidade da sociedade pelotense.
Durante a segunda metade do século XIX e no início do século XX os hotéis
ofereciam hospedagem para viajantes, excursionistas, “passeiantes” que vinham para
Pelotas. Mas, além da hospedagem, sediavam reuniões sociais da sociedade
pelotense. Assim, os hotéis podem ser considerados espaços de sociabilidade, pois
as pessoas não iam nestes estabelecimentos apenas para estadias, mas também
para jantares, chás dançantes, almoços, banquetes, bailes, entre outras festas que
eram realizadas ali.
A cidade de Pelotas se desenvolveu durante o século XIX e o início do século
XX, principalmente, pela atividade charqueadora, iniciada no final do século XVIII.
100Graduanda em Turismo – Universidade Federal de Pelotas. http://lattes.cnpq.br/0832324831412384. E-mail: [email protected]. 101Doutora em História; Mestre em Turismo; Graduada em Ciências Sociais. Professora Associada da Universidade Federal de Pelotas. http://lattes.cnpq.br/3450137421308599. E-mail: [email protected].
510
José Pinto Martins instalou a primeira charqueada à margem direita do arroio Pelotas
no final da década de 1770. No ano de 1820 estavam em funcionamento 22
charqueadas e em 1873 35 charqueadas funcionavam na cidade (MÜLLER, 2004),
demonstrando o crescimento desta atividade, transformando a região de Pelotas no
grande centro saladeiril do Estado.
A exploração da charqueada possibilitou o aumento da população,
principalmente pela chegada dos imigrantes europeus; o estabelecimento de fábricas
e atividades comerciais e a formação de um povoado, vila e cidade. A sociedade
pelotense se destacoutambém pelas atividades sociais e culturais desenvolvidas
durante os séculos XIX e XX.
Nesse contexto, os hotéis são abertos na cidade, se destacando, não só como
espaços de hospedagem, mas também como espaços de sociabilidade da população
pelotense, com o oferecimento de locais para reuniões sociais, como festas, bailes,
ceias e banquetes.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este trabalho consiste em uma pesquisa histórica, desenvolvida a partir da
coleta de informações nos jornais de Pelotas, principalmente no jornal Diário Popular,
disponíveis na Biblioteca Pública Pelotense. Os exemplares das quatro primeiras
décadas do século XX foram pesquisados de forma sistemática, levantando-se as
informações dia a dia. Os jornais impressos concentravam um papel fundamental no
registro da vida social da cidade, pois, como diz Loner (1998, p. 7), numa cidade
pequena e requintada como Pelotas, “coisas que normalmente hoje não seriam
reproduzidas [...] eram contadas nos mínimos detalhes, permitindo conhecer tanto o
pitoresco do fato, quanto o lado cotidiano da vida das pessoas daquela época”.
As informações sobre os hotéis foram identificadas e copiadas dos jornais,
organizando-se um banco de dados. A partir dessas informações, selecionou-se, para
este trabalho, as matérias referentes às reuniões sociais desenvolvidos nos hotéis, o
que os caracteriza como espaços de sociabilidade. Assim, as informações foram
analisadas descritivamente, utilizando a cópia literal das reportagens.
511
Destaca-se que as informações utilizadas neste trabalho foram coletadas no
projeto de pesquisa “A História da Hotelaria em Pelotas na primeira metade do século
XX” do Curso de Bacharelado em Turismo da UFPel, financiado pelo edital
MCTI/CNPq Nº 14/2014.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Maurice Agulhon (1992) a sociabilidade é a qualidade do ser
sociável, estando relacionada ao comportamento coletivo em espaços formais ou
informais definidos. Nestes espaços, o homem estabelece vínculos, busca os
aspectos agradáveis das relações humanas, a fruição da presença do outro, a
reciprocidade. Os estudos da sociabilidade procuram compreender as diversas
maneiras pelas quais os homens se relacionam, as expressões e manifestações, mais
ou menos formalizadas, da vida em sociedade, de coletividades definidas no tempo,
no espaço e na escala social.
Navarro (2006) considera que os espaços e formas de sociabilidade são
múltiplos e variados, coexistindo manifestações estruturadas e formalmente
estabelecidas e vertentes carentes desse grau de institucionalização. A partir desse
conceito, é possível organizar a sociabilidade em três níveis, de acordo com o grau
de formalização. A sociabilidade formal envolve espaços fechados, organizados
formalmente, com a presença de sócios e local específico (MÜLLER, 2010). A
sociabilidade informal envolve espaços abertos, sem regulamentos e normas
institucionalizadas, seus frequentadores são habituais e as relações são efêmeras
(MÜLLER, 2010).
Em um nível intermediário estão os espaços semiformais, nos quais é possível
perceber as relações espontâneas dos espaços abertos e as manifestações próximas
da vida associativa. Nesse nível estão os hotéis, que são espaços abertos a todos,
mas que pertencem a um proprietário e possuem normas implícitas de funcionamento,
que restringem a entrada de alguns (MÜLLER, 2010).
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
512
Como afirmado, os hotéis podem ser considerados espaços semiformais de
sociabilidade, uma vez que ofereciam, além de hospedagem, salas, salões,
restaurantes para a realização de diversos eventos. Era nesses espaços que os
pelotenses se relacionavam, formavam grupos; onde os rituais de sociabilidade
transcorriam com um a certa intimidade e exclusivismo, um lugar de ver e ser visto e
de frequência entre iguais.
Os eventos identificados que eram realizados nos espaços dos hotéis foram
agrupados em nove categorias, que são: banquetes, que podem ser políticos, íntimos
e ou dançantes; recepções; exposições; almoços; festas íntimas, ou seja, as reuniões
particulares; chás, que se dividem em literários, dançante e de arrecadação de fundos;
bailes; reuniões sociais; jantares, que se dividem em dançantes e de confraternização.
Essas atividades eram desenvolvidas nos hotéis desde o século XIX e, durante
as décadas estudadas, identificou-se sete hotéis que possuíam espaços destinados
para estes eventos. Os hotéis eram: Hotel Aliança, Grande Hotel, Hotel Brasil, Hotel
Grindler, Hotel Lagache, Hotel Schaffer e Hotel Universal. Ressalta-se que todos estes
hotéis estavam localizados na área central de Pelotas, principalmente na rua XV de
Novembro e Andrade Neves e na Praça Cel. Pedro Osório.
Os eventos eram destacados nas páginas do jornal Diário Popular, inicialmente
informando sobre a realização do mesmo e, quando cabível, convidando o público
para participar e, posteriormente, comentando sobre o mesmo. Quando o evento era
mais expressivo, envolvendo grandes nomes da cidade ou de fora dela, envolvendo
um grande público, as matérias eram veiculadas em mais de um número.
Club Caixeiral Reina muito enthusiasmo para a festa que o distincto Club Caixeiral realisará, domingo, em commemoração ao 10º anniversario de sua excellente banda musical. Aquella associação offerecerá lauto banquete, no Hotel Grindler, ás commissões das sociedades que virão do Rio Grande. (DIÁRIO POPULAR, 13.08.1908, p. 2) Festa íntima. Ontem, no Hotel Universal, o estimável jovem Agilberto Conceição, ativo empregado do Armazém Central, por motivo de seu natalício, ofereceu um jantar a um grupo de amigos. (DIÁRIO POPULAR, 16.02.1909, p. 2).
Dentre os hotéis citados, os que mais se destacam, ou seja, em que foram
encontradas mais informações sobre reuniões sociais,são o Hotel Aliança e o Grande
513
Hotel. Desde o início do século XX foram identificadas várias reportagens sobre as
“grandes” festas, “chás dançantes”, banquetes, etc. que estes estabelecimentos
realizavam. Nas reportagens, as festas mais destacadas pela imprensa são sediadas
nestes dois estabelecimentos.
Durante a segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século
XX o Hotel Aliança foi um importante espaço de sociabilidade da população pelotense.
O Hotel Aliança foi pioneiro no oferecimento de banquetes na cidade, já na década de
1850 (MÜLLER, 2010).
No início do século XX o Hotel Aliança continuava se destacando no
oferecimento de espaços para as reuniões sociais, como mostra a reportagem a
seguir:
Almoço. Os proprietários de barracas de frutos do país, desta cidade, ofereceram, ontem, no ALIANÇA, lauto almoço aos seus dignos colegas que aqui se acham e que vieram tratar de um convênio. Durante o almoço reinou a mais íntima cordialidade, correndo o serviço perfeitamente, como sempre sucede no conceituado ALIANÇA. (DIÁRIO POPULAR, 14.01.1909, p. 2)
Do ano de 1901 até 1928foi encontrado o registro de 18 eventos no Hotel
Aliança. As principais reportagens referem-se aos banquetes, jantares e almoços
realizados nas suas salas, salões e no restaurante.
O Hotel Aliança sempre foi muito elogiado pelos jornais e pela população
pelotense pela sua “excelente gastronomia”, as pessoas destacavam a diversificada
e saborosa comida, o serviço e o atendimento perfeito. Essa “fama” do hotel
influenciou muito para a realização destes tipos de eventos.
Além da culinária, a sua localização contribuiu para seu destaque. O Hotel se
localizava na Rua XV de Novembro, Nº 666, em um ponto central da cidade, na área
comercial, social e cultural da cidade. Todas essas características fizeram o hotel se
destacar e ser escolhido para sediar os mais diversos eventos.
Porém, a partir da década de 1930, encontra-se a reportagem de apenas um
evento realizado no Hotel Aliança. Este declínio da utilização do Hotel para estas
atividades sociais pode estar relacionado à inauguração do Grande Hotel, em 1928.
514
O Grande Hotel foi planejado e construído para ser estabelecimento hoteleiro,
representando a “maioridade da hotelaria pelotense”, uma vez que “possuía um prédio
construído exclusivamente para a finalidade de prestar serviços hoteleiros e possuía
tamanho e arquitetura ousados para a época” (MÜLLER, 2004, p. 85).
Assim, a partir do final da década de 1920, encontrou-se um número grande de
reportagens sobre as reuniões sociais realizadas no Grande Hotel.
Baile da Associação dos Antigos Alunos do Ginasio Gonzaga Tera logar, no
próximo sábado, no “hall” do Grande Hotel, uma prometedora reunião
dansante, promovida pela Associação dos Antigos Alunos do Ginasio
Gonzaga, e para a qual reina a mais viva animação em nosso meio social.
Para assisti-la, recebemos amavel convite, pelo que ficamos gratos. (DIÁRIO
POPULAR, 22.11.1934, p. 4).
Um desfile de elegância, numa festa de nobre finalidade, esta noite no
“Grande Hotel”. O “Chá das Violetas”, pelas pessoas que o prestigiam e pelo
seu objetivo- agasalho para os vendedores de jornais- marcara êxito sem
precedentes na crônica social da cidade fidalga. (...)Assim, dentro de algumas
horas, o “hall” do “Grande Hotel”, estará reunindo o que de mais elegante
possui a nossa sociedade para assinalar um dos mais expressivos sucessos
registrados em reuniões dessa natureza e para confirmar ainda uma vez que
Pelotas é a terra por excelência caritativa e boa. (DIÁRIO POPULAR,
15.06.1940, p. 4).
Com a inauguração do Grande Hotel, as reuniões sociais passaram a ser
realizadas principalmente neste hotel, que se localizava na Praça Coronel Pedro
Osório, e era o maior hotel da cidade, possuindo um imenso salão principal, um bar e
um restaurante.
Dos anos de 1931 a 1949 tem-se o registro de 13 reuniões realizadas no
Grande Hotel. As principais reuniões eram bailes, chás dançantes, jantares e festas
intimas. As reuniões que ocorriam no Hotel eram festas da alta sociedade pelotense,
onde geralmente iam as famílias de renome. Muitas festas eram divertidas com Jazz
e seguiam até a noite. Realizava-se também chás dançantes e literários pelas
“senhorinhas” da sociedade Pelotense, que geralmente possuíam intuito de arrecadar
fundos para fundações carentes.
515
Comemoram, hoje, o “Dia do Viajante”. Jantar de confraternização, à noite, no “Grande Hotel”. Será, hoje, condignamente comemorado em todo o estado o “Dia do Viajante”, consagrando a laboriosa classe dos representantes comerciais que viajam. Nesta cidade, a data não passaria despercebida. Os viajantes que atualmente aqui se acham, comerarão o dia consagrado à classe que pertencem, com um jantar de confraternização, que se realizará no “Grande Hotel”. Para tomar parte no ágape troxeram-nos gentil convite os srs. Antonio Augusto Marvão, da firma Pereira e Queiroz, de São Paulo e Mauricio Guerelman do Editorial Labor do Brasil S.A., do Rio de Janeiro. (DIÁRIO POPULAR, 01.10.41, p. 2) Festa de fundo beneficente, no “Grande Hotel”: O grande interesse que vem despertando em nosso meio social a chá-dansante organizado por um grupo de professoras em beneficio das caixas escolares dos grupos estaduais, localizados nesta cidade, é o indice mais seguro de que essa reunião social será coroada do mais franco êxito. E outra cousa não seria licito esperar, não só levando em conta as elevadas finalidades da prometedora festa, como a circunstância de ser ela organizada por um grupo de distintos elementos da nossa sociedade. O chá-dansante em apreço terá lugar, amanhã, no “hall” do “Grande Hotel”, com inicio ás 21:30 horas. (DIÁRIO POPULAR, 07.08.42, p. 4).
Desse modo, observa-se que os hotéis identificados no período estudado eram
utilizados para a sociabilidade, oferecendo salas, salões e restaurantes para reuniões
sociais. Porém, nas primeiras décadas do século XX o Hotel Aliança se destaca no
oferecimento destas atividades e após a inauguração do Grande Hotel, no final da
década de 1920, este passa a ser o espaço de sociabilidade preferido da sociedade
pelotense.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise das informações contatou-se que os hotéis eram
importantes espaços de sociabilidade semiformal da sociedade pelotense da
época.Muitas foram as reuniões sociaisrealizadas nestes estabelecimentos, como
banquetes, recepções, almoços, festas íntimas, bailes, jantares, entre outras.
O Hotel Aliança se destacou no oferecimento destas atividades nas primeiras
décadas do século XX. Com a inauguração do Grande Hotel, os outros
estabelecimentos, inclusive o Hotel Aliança, perdem o destaque na realização destes
eventos, já que o Grande Hotel foi considerado o grande salão de festas da cidade de
Pelotas.
516
Assim, os hotéis no início do século XX, além de espaços de hospedagem
eram espaços de sociabilidade, sendo palco de reuniões sociais, pois, dentro deles a
sociedade pelotense se divertia, se relacionava, era um lugar de encontro e de
convívio.
REFERÊNCIAS
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espaços de sociabilidade em Pelotas (1840-1870). 2010. 338f. Tese (Doutorado em
História). Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo. 2010. p. 183-210.
MÜLLER, Dalila. A Hotelaria em Pelotas e sua Relação com o Desenvolvimento da Região: 1843 a 1928. 2004. 158 f. Dissertação (Mestrado em Turismo) – Universidade de Caxias do Sul – UCS, Caxias do Sul, 2004. NAVARRO, Javier Navarro. Sociabilidad e Historiografía: Trajectorias, Perspectivas y Reto. SAITABI. Revista de la Facultat de Geografia i Història, Universidad de Valência, Valência, n. 56, p. 99-120, 2006.
SUVENIR CULTURAL: ESPAÇOS MUSEAIS
517
DE SÁ, Felipe Zaltron102
GASTAL, Susana de Araújo103
Palavras-chave: Memória; Suvenir Cultural; Cultura; Museu; Pós-Modernidade.
1 INTRODUÇÃO
A reflexão aqui proposta apoia-se nas teorizações no âmbito da Pós-
Modernidade sobre Cultura, especialmente por Harvey (1992) e Jameson (1996), em
que o conceito é ampliado temporal e tipologicamente, e incluso como expressão
econômica; e sobre Memória, considerando os autores Bosi (1994) e LeGoff (1996),
que a tratam para além de lógicas associadas ao passado e à simples rememoração.
Neste artigo, busca-se repensar conceitualmente o suvenir, de objeto memorialístico
e presença turística, vendo-o agora como suvenir cultural, ou seja, como objeto
cultural. Na nova condição, o suvenir está presente em diferentes espaços e serviços
culturais, como museus [aqui destacados], livrarias, centros culturais, espetáculos
musicais, peça teatrais, e mesmo em espaço turísticos.
Olhando a partir do turismo, este sempre associou a memória como insumo
importante. Em retrospectiva, é possível ver a participação de itens memorialísticos
como componente na composição de produtos turísticos, quer como museus ou
prédios históricos, quer como folclore ou artesanatos tradicionais. Por outra, há uma
preocupação recorrente entre os viajantes, no sentido de registrar os lugares por onde
passam e os eventos dos quais participam. Essa construção de memória pode dar-se
102Felipe Zaltron de Sá – Graduando do curso de Bacharel em Turismo no Programa de Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul-RS. Bolsista IC-CNPq. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0363951380330385 103Susana Gastal – Doutor. Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul-RS. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8360075869351902
518
na forma de registros fotográficos ou em vídeo, ou na compra de cartões-postais,
artesanato e suvenires. (GASTAL, 2012)
A introdução do suvenir cultural é mais recente, introduzida inicialmente em
lojas associadas à equipamentos culturais, como forma de garantir a sustentação
econômica dos mesmos mas, mesmo nesse caso, o aspecto memorialístico estará
presente, na sua associação com o espaço ou mesmo com o local, e, na medida em
que acompanham o adquirente, semantiza-se também como memorialísticos. A
memória, desta maneira, será uma questãofundamental na reflexão do suvenir, seja
espontânea – quando expressa a subjetividade pessoal ou coletiva em uma peça de
artesanato ou de design –, seja ela induzida, quando o suvenir busca colocar-se como
parte da experiência do e no lugar, ou da viagem.
Nesses termos, o objetivo desse trabalho é o de abrir a discussão sobre a
presença do suvenir turístico e do suvenir cultural, no âmbito memorialístico, e na sua
possível contribuindo com espaços museais.
2 MUSEU MEMÓRIA SUVENIR
A origem etimológica da palavra “museu” deriva do grego “mousêion” que
significa “templo das musas”104, ou seja, um espaço sagrado e de onde provinha a
criatividade dos artistas e intelectuais. Ela esta inteiramente ligada à origem da palavra
memória que deriva da mitologia greco-romana, na figura da “deusa Mnemosyne, mãe
das Musas” (CHAUI, 2000, p.159), que protege então as Artes e a História, nessa
perspectiva colocam-se as formas de expressão, como a escrita e poesia, o desenho
e a pintura, o artesanato, o design e a arte, sob o manto da memória, já que “a deusa
Memória dava aos poetas e adivinhos o poder de voltar ao passado e de lembrá-lo
para a coletividade” (Idem).
Com a Biblioteca de Alexandria, no século IV aC, que tinha associado um
Museu, nasce a concepção da necessidade de salvaguardar a memória coletiva,
104Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/24234/origem-do-museu> Acesso em: 20 SET 2016.
519
mesmo que isso não fosse evidente na época. Retomando as palavras gregas para
museu e memória, “sua função seria servir à instrução da sociedade, especialmente
os valores nacionais, ensinando civismo, história, artes e técnicas” 105 . Na última
década do século XVIII, o museu recebe a denominação, sua institucionalização vai
consolidar a conservação material das artes plásticas, como pinturas, esculturas e
objetos de arte antigos, e abrir o precedente para a salvaguarda dos monumentos
arquitetônicos (CHOAY, 2001).
Arquitetura, museus e folclore, na Modernidade, expressariam a identidade
nacional a ser construída, no âmbito da ‘invenção’ do estado nação. Neste cenário, os
prédios e os museus representam papel fundamental, como síntese do passado e da
história local a ser construída como um passado coletivo. Com o tempo, segundo
Gastal (2010, p. 89) “o museunacional, com as peças de seu acervo tratadas como
documento, é o espaço deconservação, expressão e construção de significados que
alimentariam as identidades locais.” Por isso, cada vez mais, as peças acervada
ganham aura de sacralidade.
Na atualidade, os acervos dos museus são mais rigorosos na constituição de
acervo, mesmo com a ampliação temporal e tipológica do que possa ser tratado como
patrimônio histórico cultural. Isso porque, nas instituições, há maior consciência da
importância como instâncias de validação dos processos e objetos memorialísticos, o
que envolve a seleção rigorosa do que será ou não conservado, o que se transformará
ou não em memória, o que deverá, ou não, demarcar a identidade local e regional,
para não dizer aquela associada a nacionalidade. Igual lógica atingirá a arquitetura,
nos denominados prédios históricos, tombados como patrimônio pelo poder público.
A palavra memória ainda tem outra origem etimológica que podemos melhor
entender na discussão sobre Museus. Trata-se de memor, do latim, que refere aquele
que lembra106. A lembrança está presente no convívio social e aquele que lembra,
lembra-se de algo, o que é fundamental para manutenção dos processos
105Disponível em: <http://www.museus.art.br/historia.htm>. Acesso em: 20 SET 2016. 106Etimologias. Disponível em < http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/memoria/. >Acesso em:
23 Set. 2016.
520
socioculturais. Mas, aquele que lembra, não pode depender apenas dos processos
bio-psíquico internos, mas necessitará de suportes expertos ou de outros sujeitos,
para garantir e ativar tais processos em longo prazo, daí, por exemplo, os viajantes
tradicionalmente produzirem objetos de lembranças [fotos, vídeos, diários de viagem
e suvenires] em seus deslocamentos.
Para Gastal (2010, p. 96), “antes deste contexto de valorização dos suportes
externos de memórias, o Museu era a instituição encarregada de lidar com o passado
e, portanto, de organizar tanto as memórias coletivas como asindividuais”. Por isso, o
Museu em seu formato tradicional, aquele que foi constituído no princípio, teria três
grandes funções: guardar/acervar documentos, pesquisar para constituir
conhecimento a partir dos documentos em acervo, e divulgar acervo e pesquisas pela
publicação de livros, montagemde exposição, realização de cursos, etc.
Neste contexto, nota-se que os museus deixam de somente, acervar, guardar,
catalogar acervos e passam a intensidade, tudo tem que ser intenso,
espetacularizado, retirando a função de tornar real o passado, para reforçar a
experiência desse passado. Mostra-se ai, o crescimento da interpretação patrimonial
nos espaços museais fazendo com que os visitantes vivenciem a história do local no
local.
Para tal, Gordon (1986, p. 135) diz que o suvenir é “como um objeto real,
concretiza ou torna tangível o que seria, caso contrário, apenas um estado
intangível107”, o suvenir passa a ser peça chave em espaços museais, representando
o local. Para o turista que o adquire, além de ser uma expressão da cultura visitada,
ele significaria recordação: um objeto memorialístico a alimentar amemória da viagem,
no retorno ao lar. Isso "ajuda a localizar, definir e congelar no tempo uma experiência
passageira, transitória, e trazer de volta para experimentar algo ordinário da qualidade
de uma experiência extraordinária108” (Idem).
107Tradução dos autores para: “As an actual object, it concretizes or makes tangible what was otherwise only an intangible state.” 108Tradução dos autores para: “helps locate, define, and freeze in time a fleeting, transitory experience, and bring back into ordinary experience something of the quality of an extraordinary experience.”
521
Gordon (1986, p. 139), propõe uma diferenciação e caracteriza os suvenires a
partir do ponto de vista memorialístico; segundo ela, quando se acrescenta ‘souvenir
de...’, cria-se uma memória do local visitado, o que o leva a classificá-los em: (a)
PictorialImages109 são as fotos, cartões postais, vídeos e até mesmo guias turísticos,
sendo os suvenires mais comuns no momento contemporâneo pela facilidade de
acesso e/ou consumo. Notoriamente, são eles que mais se destacam e repercutem
criando maior parte da vivência posterior ao local, por serem peças em sua maioria
intangíveis, mas que marcam um momento específico. (b) Pieces-of-the-rock são
objetos salvos do meio natural ou retirado de um ambiente construído, normalmente
encontrados como suvenires de jardins botânicos ou sítios históricos, mas que
reforçam a sustentabilidade local. (c) Symbolic Shorthand são miniaturas fabricadas
de objetos em grandes dimensões, maioria dos suvenires turísticos comercializados,
por serem chaveiros, brinquedos e demais objetos que são transportados facilmente.
(d) Markers objetos que em si mesmo não tem qualquer referência a um lugar ou
evento específico, mas são inscritos com palavras que as localize no tempo e espaço.
(e) Local Products: são os objetos da cultura local, como comidas, roupas e peças
étnicas associados ao aspecto econômico pela necessidade do ambiente.
O suvenir cultural dessa forma classificado expandi a compreensão quanto
objeto cultural, mantendo as marcas do lugar e da identidade do local, ou, nas palavras
de Santana (1997), o conotar simbolicamente a área visitada. Ou seja, constitui-se
como concentração de memória sobre o lugar, a qual se soma uma segunda camada
de rememoração: a experiência pessoal da viagem do turista.
3 PROVISORIAMENTE
109Escolheu-se a não tradução dos conceitos.
522
Como visto, o Museu tem suas origens atreladas a memória e à necessidade
de um [re]conhecimento significativo por parte dos sujeitos visitantes. Áreas
associadas ao lazer, principalmente quando colocadas em espaços urbanos que
carecem deste tipo de atividade é transposta para espaços culturais, ajusta-se o foco,
mas não se vê abandonada a aspiração a uma experiência que mobilize
sensibilidades, intelectos e afetos.
A experiência de grandes Museus, em especial o Louvre sinaliza caminhos
para serem seguidos. Mas o importante é considerar que a memória – e o
colecionismo de objetos que ajudem a demarcar momentos e lugares – é parte
integrante do nosso modo de ser. Assim, poderíamos dizer que estamos qualificando
o antigo colecionismo de cartazes de cinema, de programa de teatro ou mesmo dos
tickets de ingresso, com novos objetos memorialísticos. A área cultural precisa tratar
dessas questões com carinho, para que não sejamos vítimas de intervenções
puramente mercadológicas, que em vez de ampliar a presença do fato cultural,
precarizam a sua inserção no rol das memórias pessoais e coletivas.
Esta situação da Cultura, que de ‘mera’ significação como expressão criativa
ou como acúmulo histórico patrimonial de bens materiais e imateriais, tornou-se um
importante segmento de econômico, exige que a área passe a considerar outros
parâmetros para sua sustentabilidade, mesmo quando frente a proposta sem fins
lucrativos.
REFERÊNCIAS
BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças dos velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática,2000. Disponível em: http://home.ufam.edu.br/andersonlfc/Economia São Paulo _Etica/Convite%20%20Filosofia%20-%20Marilena%20Chaui.pdf. Acesso em: 10 fev. 2016. CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. Lisboa: Edições 70, 2000.
523
GASTAL, S. Museu E Turismo: A Complexa Relação com o Tempo e a Memória. Revista Eletrônica de Turismo Cultural, v. 4, n. 1, 2010, p. 85-103. Disponívelem: http<://www.revistas.usp.br/turismocultural/article/view/98420/97129>. Acessoem: 10 OUT 2016. GASTAL, S. O tempo na tessitura pós-moderna: entre o museu-acontecimento e o souvenir-memória, 2012. Anais... Disponível em: http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/82485475616077616163715567597342740708.pdf.Acesso em: 10 out. 2016. GORDON, B. The Souvenir: Messenger of the Extraordinary. Journal of Popular Culture, Winter, p. 135-146, 1986. HARVEY, D. A condiçãopós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992. JAMESON, F. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 1996. LEGOFF, J. História e Memória. Campinas, SP, Ed Unicamp, 1996. SANTANA, A. Antropología y turismo:nuevas hordas, viejas culturas. Barcelona: Ariel Antropología, 1997.
524
TURISMO EM CEMITÉRIO E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO E A TRAMA
MORTE E VIDA
DEL PUERTO, Charlene Brum110; BAPTISTA, Maria Luza Cardinale111 [email protected]
Palavras-chave: turismo em cemitério; patrimônio; trama morte e vida
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho traz dados da pesquisa feita no mestrado em Turismo da
Universidade de Caxias do Sul concluído em 2016. O objetivo geral de estudo foi
analisar o cemitério como um atrativo turístico considerando seu patrimônio e a trama
morte e vida nas necrópoles. Como objetivos específicos buscou-se apresentar
características do cemitério, demonstrando a sua condição de bem patrimonial
material e imaterial; discutir os conceitos existentes e a prática do turismo nos
cemitérios e; apresentar a discussão relativa aos dispositivos de potencialização do
turismo em cemitério, considerando a ambivalência morte-vida.
É um estudo que contempla o turismo em cemitérios, com dados coletados no
Cemitério da Consolação em São Paulo/SP, o qual se constituiu como objeto empírico.
O estudo envolveu conceitos sobre turismo, turismo em cemitério, morte, patrimônio
e trama morte vida, para entender a relação entre as temáticas. Foi utilizado como
proposição teórico/metodológica, a ‘Cartografia dos Saberes’ de Baptista (2014). O
trabalho justifica-se pela necessidade de entender as novas formas de uso dos
110 Mestra em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Professora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Cursando Especialização em Gestão Pública e Desenvolvimento Regional na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Integrante do Amorcomtur! Grupo de Estudos em Comunicação, Turismo, Amorosidade e Autopoiese (CNPq-UCS) [email protected] 111Doutora em Ciências da Comunicação, pela ECA/USP. Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade da UCS (BRASIL). Pesquisadora com apoio CNPq. Coordenadora do Amorcomtur! Grupo de Estudos em Comunicação, Turismo, Amorosidade e Autopoiese (CNPq-UCS) e integrante do Filocom (ECA/USP). Pós-doutoranda e Pesquisadora visitante sênior da Universidade Federal do Amazonas (UFA UFAM), com apoio FAPEAM. Pesquisadora Iberoamericana (edital UCS/SANTANDER). [email protected]
525
espaços cemiteriais, como é o caso do turismo ali praticado. Além disto, há pouca
produção acadêmica sobre o turismo em cemitério, principalmente quantoà dimensão
de vida. Há ainda reducionismo nas expressões sobre a atividade: darktourism,
turismo cemiterial, turismo de fait divers, turismo necrófilo e turismo mórbido, dão
conotação majoritariamente fúnebre o que não auxilia a pensar na potência de vida
existente nas necrópoles. Debater sobre a morte, para além do senso comum,
também é um indício da importância desta pesquisa, já que a morte tornou-se um
assunto marginalizado socialmente.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia utilizada na pesquisa tem caráter transdisciplinar e
orientaçãoqualitativa exploratória, com utilização da Cartografia dos Saberes proposta
por Baptista (2014). Esta proposição está ancorada na ciência contemporânea, que
segundo a autora é marcada pela incerteza, e por ações que surgem durante a
pesquisa. Para ela, o que está posto é a mobilizaçãodesejante dos produtores de
conhecimento em Turismo, coerente com o cenário ‘caosmótico’ (BAPTISTA, 2014).
A Cartografia dos Saberes é composta por 3 trilhas:a dos Saberes Pessoais,
em que o pesquisador expõe seu conhecimento sobre o assunto; a dos Saberes
Teóricos, nas quais as teorias envolvidas são discutidas; e a terceira é o Laboratório
de Pesquisa, ou Usina de Produção, momento em que ocorre a prática da pesquisa,
através de observação sistemática, conversas informais, exploração de materiais e/ou
documentos, consideradas estas, técnicas de aproximação com o que será estudado
(BAPTISTA, 2014). Há ainda os Pensamentos Picados, sendo estes, ideias que
surgem e que podem ser desenvolvidas na proposição da pesquisa.
No eixo teórico, a pesquisa foi realizada com discussão sobre as temáticas de
turismo, turismo em cemitério, morte, patrimônio, trama morte e vida; e demais
temáticas auxiliares (arte fúnebre, subjetividade, entre outras.). Após pesquisa feita
no banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior –CAPES, partiu-se para o eixo operacional.No eixo operacional foi feita, ao
Serviço Funerário de São Paulo, a solicitação de pesquisa em campo no Cemitério da
526
Consolação, e após a permissão, realizou-se: visita ao cemitério, entrevista com
Francisvaldo Gomes (condutor das visitas na guiadas), conversas com gestores,
funcionários, prestadores de serviço e visitantes, bem como registro de imagens,
(autorizadas)e análise de documentos informativos (material com dados sobre
sepultamentos e guia de visitação do cemitério).As pessoas entrevistadas receberam
o nome de deuses mitológicos da morte. A pesquisa em campo foi feita de 16 a 20
de agosto de 2015, tendo sido observados:disposição espacial do cemitério, arte,
iconografias, estado de conservação das sepulturas e das vias de acesso dentro do
cemitério, iluminação, limpeza, placas informativas. De modo subjetivo foram
observados os sujeitos visitantes (atitudes, falas, gestos, etc.)
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O trabalho debateu autores em distintas temáticas. No que tangue ao turismo,
em uma área transdisciplinare complexa, adota-se entre outros autores, Moesch
(2002) que menciona a atividade turística, como uma combinação complexa de
relação entre produção e serviços, integrando-se como uma prática cultural embasada
na cultura, história e com relações sociais de características objetivas e subjetivas.
Para Moesch e Gastal (2007) o embate entre o novo e inesperado produz uma
mobilização que leva a repensar, re-olhar, reavaliar e ressignificar a situação, o
ambiente e as vivências experiências passadas. ParaBoiteux e Werner (2009), a
atividade turística transpassao consumo, rompe estilos e propõe uma interação,
através da experiência, contribuindo assim, para o desenvolvimento pessoal. Ainda
que, elementos estruturais constituam o turismo, é a relação turismo-subjetividade que
dão sustentação a uma reflexão mais profunda à atividade turística.
Com o turismo em cemitério, não é diferente. A subjetividade se faz presente
em múltiplas instâncias, principalmente se o cemitério for entendido como um espaço
de representação social. O turismo nas necrópoles contribui para ressaltar a cultura,
o patrimônio da arte tumular e a memória das personalidades ali sepultadas o que dá
ênfase ao registro das vidas ali inumadas. Esta contribuição é marcada,pelo retorno
ao passado e também pelo encontro que serve de inspiração a um devir, sinalizando
527
ações futuras a partir da ‘vida que foi’.Borges (2002, p.148) destaca que o turismo nos
cemitérios iniciou na década de 1980, quando, “[...] surgiu o modismo de se visitar
cemitérios importantes na Europa e nos Estados Unidos. As agências de turismo
procuraram criar pacotes turísticos específicos para esse novo cliente”. No entanto,
para Queiroz (2007), o aumento pela visitação turística nos cemitérios começa a partir
da década de 1990.Queiroz menciona que, no século XIX, surgem os primeiros
cemitérios do período Romântico, que “[...] foram concebidos precisamente para
serem visitados e admirados pelas obras de arte neles contidas, obras essas que eram
muitas vezes representativas do que de melhor se fazia na época” (QUEIROZ, 2009,
p.1). No final deste período, o cemitério deixa de ser uma área de passeio, o que
contribuiu para a deterioração dos espaços. A partir da segunda metade do século XX
(década de 1960), ressurge o interesse nos cemitérios como uma herança patrimonial
e cultural.
No Brasil, os cemitérios mais conhecidos pela prática turística são: Cemitério
São João Batista, situado no Rio de Janeiro; e Cemitérios da Consolação e Araçá, em
São Paulo. Além da história, arte e personalidade, a fé provoca o deslocamento até
às necrópoles devido aos santos populares. Em São Paulo há o Antoninho da Rocha
Marmo e Maria Judith de Barros no Cemitério da Consolação, São Bento do
Portão no Cemitério de Santo Amaro, Felisbina Muller no Cemitério da Quarta
Parada, Júlio Cézar Rodrigues no Cemitério da Penha, Menina Izildinha no
Cemitério São Paulo, e Menino Guga no Cemitério do Araçá (GARCIA, 2014). No
Rio Grande do Sul, há santos populares, nas cidades de São Gabriel, Pelotas, Passo
Fundo e Bagé(CORREIO DO POVO, 1998).Mundialmente, os cemitérios mais
utilizados pelo turismo são: o Cemitério de Arlington/Estados Unidos; Cemitério
Highgate/Londres; Cemitério Staglieno/Itália; Cemitério Judeu de Praga/República
Checa; Cemitério Săpânţa/Romênia; La Recoleta/Argentina; Necrópoles Cristóbal
Colón/Cuba; PèreLachaise/França; Cemitério de Poblenau/Espanha; entre outros112.
Em termos conceituais, o turismo em cemitério também é mencionado como
112 Os locais citados foram pesquisados em blogues de viagens, ou especializados em cemitérios/turismo cemiterial e em páginas online de agências de viagens em novembro de 2014.
528
turismo fúnebre, turismo macabro, necroturismo, turismo de fait divers113, entre outras
designações que trazem um sentido mórbido. Pressuposto insuficiente para a
abordagem do trabalho, visto que a proposta da pesquisa, confirmada em campo foi
a de reconhecer o cemitério também como campo de ressignificação da vida.
Quanto ao patrimônio utilizou-se entre outras obras, Choay (2006) a qual
menciona que o patrimônio, relaciona-se diretamente com a vida social, sendo
“constituída pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se
congregam por seu passado comum: obras [...] trabalhos e produtos de todos os
saberes e savoir-faire dos seres humanos”. (CHOAY, 2006, p. 11). Silva expõe que
patrimônio trata-se “de ícones do não-dito, de representações, de costumes, de
tradições e/ou de saberes, [...]” (SILVA, 2011, p.1). Entende-se assim,a característica
mutável do patrimônioquanto aos seus usos e significações o que corrobora com o uso
do cemitério no turismo. NoInstituto do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional
(IPHAN), há desde a década de 1930, ações de preservação de cemitério, portões de
entrada, túmulos, esculturas e inscrições tumulares. Conforme Castro (2008) existem
15 itens fúnebres tombados pelo IPHAN, permanecendo assim, atualmente.
Referente à Trama Morte Vida, há uma dificuldade social em aceitar a finitude,
pois a morte é colocada em oposição à vida e não como um processo inerente a ela.O
sepultamento, o luto, o velório e outros aspectos concernentes à finitude sempre
estiveram presentes e foram sendo alteradas em um longo processo social. Schimitt
(1999) explica que “[...] as crenças e o imaginário dependem antes de tudo das
estruturas e do funcionamento da sociedade e da cultura em uma época dada”. Na
Era Medieval (séc. V ao XV), segundo Schmitt (1999, p. 18), “a proximidade das
sepulturas e das casas sustentava e justificava a preocupação mais intensa que os
vivos tinham com seus defuntos”, oque indica uma relação mais estreita dos vivos
com a morte. No entanto, Da Matta expõe que o luto não é mais coletivo, mas sim
isolado. “É esse contexto de individualismo, como o princípio básico da vida social,
113A expressão “fait divers” do francês “fatos diversos”, é um jargão jornalístico que indica assuntos que não são categorizados nas edições tradicionais dos veículos de comunicação. A explicação sobre a expressão foi feita pela orientadora da pesquisa,conforme Diário de Campo (2014).
529
que faz com que a morte apareça como um problema” (DAMATTA, 1977, p. 145).
Porém, o turismonesses espaços, pode ser um modo de repensar a própria morte
através do patrimônio e da ‘vida que foi’, em uma relação simbiótica de ressignificação.
Isto quer dizer que há uma potencialização da vida não mais existente, demarcada
através das lápides, do patrimônio fúnebre, e também dos visitantes que utilizam a
necrópole para dar outros sentidos a sua própria vida.
Para a valorização da vida que foi, é necessário, conforme Baptista (1997), uma
afetivação, no sentido de afetividade, “mas isso não implica em um afeto como o termo
é costumeiramente utilizado, ou seja, relacionado com carinho [...]. Falo do que afeta,
do que toca, do que mexe com os sentimentos do sujeito” (BAPTISTA, 1997, p. 6).Para
Baptista (1999), é preciso racionalidade frente aos sentimentos que poderiam conduzir
os cemitérios, ao que ela denomina de “mar de sentidos”:
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
A fundamentação teórica serviu para pensar os cemitérios de modo geral, no
entanto, foi utilizado como campo de pesquisa o Cemitério da Consolação localizado
em São Paulo. Os dados coletados indicam que a necrópole é salvaguardada pelo
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico
(CONDEPHAAT), no entanto, este órgão não fornece aos funcionários da necrópole,
preparo técnico para a conservação/manutenção das sepulturas e da arte
tumular.Quanto à segurança, apesar da presença da Guarda Municipal, há
dificuldades em conter furtos e depredações devido à extensão da área e também,
por ser um espaço público, de livre acesso e sem controle de entrada.
A organização da atividade turística e a solicitação para a visitação é feita
através do Serviço Funerário, após, as informações são transmitidas ao condutor das
visitas guiadas, o que dificulta a dinamização do roteiro e o fluxo de visitantes, pois o
condutor fica dependente das informações repassadas a ele. Não há um trabalho
sobre capacidade de carga, registro minucioso da quantidade e do perfil dos visitantes,
tampouco,apoio financeiro da Secretaria de Turismo de São Paulo (SPTuris), a qual
apenas divulga o roteiro. As vias de acesso estão em condições razoáveis,
530
necessitando de manutenção em determinados lugares. Há vias com numeração
indicativa para os locais de visitação, no entanto, estas não estão totalmente
organizadas. Nelas há a inserção de QR-Code para a localização das sepulturas
dispostas no guia de visitação. Há estacionamento para aproximadamente 30 carros,
serviço que pode ser utilizado mediante pagamento prévio. Há banheiros em boas
condições de uso, disponibilizados aos visitantes. As fotografias não são permitidas,
apenas com solicitação e autorização do Serviço Funerário. Além das visitações o
Cemitério realiza dentro da necrópole, momentos solenes em homenagens a falecidos,
apresentações de peças de teatros, apresentações musicais e demais ações de modo
público e gratuito.
O material gráfico organizado inicialmente pelo professor Délio Freire, contou
com o apoio do atual condutor Francisvaldo Gomes.Atualmente o cemitério está
catalogando a flora e fauna da necrópole o que pressupõe outra dimensão de vida em
um espaço majoritariamente de morte. Os funcionários da necrópole em sua maioria
relataram, sobre a tranquilidade de trabalhar no cemitério e da necessidade de que
ele se mantenha, bem como da necessidade da morte, para que outras vidas possam
existir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O entendimento que se tem sobre a morte é imprescindível para a
compreensão do turismo realizado nas necrópoles. Se os cemitérios forem
compreendidos como um espaço de cidadania, cultura e urbanidade é possível
perceber a dimensão de vida existente no espaço fúnebre. No caso do cemitério da
Consolação, o trabalho feito pelos funcionários, a catalogação de fauna e flora
permitem que o espaço tenha a dimensão de vida tramada com a morte, indicando a
trama morte-vida, proposta no trabalho. Observa-se, contudo, a necessidade de maior
ênfase nas ações do CONDEPHAAT, quanto à manutenção dos bens fúnebres para
que estes continuem legitimados como patrimônio e salvaguardados como tal.
Quanto à organização das atividades, destaca-se a importância de maior
autonomia na tomada de decisões pelo Cemitério da Consolação frente ao Serviço
531
Funerário, em relação ao turismo. A segurança necessita de melhorias, visto que a
presença da Guarda Municipal e as ações presentes, não dão conta de salvaguardar
a necrópole. O registro dos visitantes, bem como um estudo de capacidade de carga
são necessários para pensar a continuidade das ações frente aos espaços fúnebres.
Isto indica que a atividade turística nas necrópoles carece de maiores estudos e
pesquisas para seu adequado desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
BAPTISTA, Maria Luiza Cardinale. Cartografia de Saberes na Pesquisa em Turismo:
Proposições Metodológicas para uma Ciência em Mutação. Rosa dos Ventos, v. 6,
p. 342-355, 2014b.
BOITEUX, Bayard do Couto; WERNER, Maurício. Introdução ao Estudo do
Turismo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
BORGES, Maria Elizia. Imagens Devocionais nos Cemitérios do Brasil. In: XIEncontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 2001, São Paulo. ANPAP na Travessia das Artes - São Paulo: ANPAP, 2001. v.01. p. 10-15.
________. Arte funerária no Brasil (1890-1930): ofício de marmoraristas Italianos
em Ribeirão Preto. Belo Horizonte: Editora C/ARTE, 2002.
CASTRO, Elisiana Trilha. Aqui também jaz um patrimônio: identidade, memória e
preservação patrimonial a partir do tombamento de um cemitério (o caso do
Cemitério do Imigrante de Joinville/SC, 1962-2008). 2008. 210 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Arquitetura & Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.
CHOAY, Françoise. A Alegoria do patrimônio. Trad. Luciano Vieira Machado. São
Paulo: Estação Liberdade/ Editora UNESP, 2006.
CORREIO DO POVO
DAMATTA, Roberto. A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil.
Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
532
GARCIA, Glaucia. Os Santos populares paulistanos. Disponível em:
<http://www.saopauloantiga.com.br/santos-populares/>. Acesso em: 15 nov. 2014.
GASTAL, Susana; MOESCH, Marutschka Martini. Turismo, Políticas Públicas e
Cidadania. São Paulo, Aleph, 2007.
MOESCH, Marutschka Martini (2002). A produção do saber turístico (2. ed.) . São
Paulo: Contexto
QUEIROZ, Francisco. Os cemitérios históricos e o seu potencial turístico em Portugal. 2007. Disponível em: <http://21gramas.pt/Uploads/17480711200709.pdf>. Acesso em Maio de 2012.
SCHIMITT, Jean Claude. Os vivos e os mortos na sociedade medieval. São
Paulo: Cia. Das Letras, 1999. 300p.
SILVA, Paulo Sérgio da. Patrimônio cultura imaterial: conceito e instrumentos legais
de tutela na atual ordem jurídica brasileira.In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de
História – ANPUH. São Paulo, julho 2011.
533
GT 2 – TURISMO, POLÍTICAS E RELAÇÕES EXTERIORES
TURISMO NA ZONA DE FRONTEIRA CHUÍ-CHUY: PERCEPÇÃO DE ATORES LOCAIS SOBRE AS AUTOMOBILIDADES
534
FRANCISCO, Giovani114 [email protected]
KUNZ, Jaciel Gustavo [email protected]
Palavras-chave: Turismo; Automobilidades; Fronteira Chuí-Chuy.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho é parte integrante do projeto de pesquisa “Mobilidade turística na
fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai” ainda em andamento. A primeira etapa do projeto
se baseou em pesquisa bibliográfica e documental. Na etapa atual, pretende-se
coletar dados de campo para compreender e melhor discutir as automobilidades
através da perspectiva de determinados atores da fronteira.
A zona de fronteira conformada pelas cidades-gêmeas do Chuí-RS (sede
municipal mais meridional do Brasil) e do Chuy (localizada no departamento de Rocha,
no Uruguai). Fica próxima dos balneários Barra do Chuí (Brasil) e Barra del Chuy
(Uruguai), banhados pelo oceano Atlântico. Aspectos de sua constituição/formação
territorial, econômica, histórica, aliados à contiguidade espacial do tecido urbano, por
sua vez ligados aos fluxos de turismo de compras e de veraneio (formado por
brasileiros uruguaios, principalmente), apontam para a área como sendo um objeto
empírico promissor para o estudo das mobilidades turísticas (KUNZ; FELIPE, 2016),
apesar/em razão de ser uma área de fronteira, em que há relativa fluidez.
A recente disseminação de estudos sob a perspectiva ou “paradigma” das
mobilidades turísticas, trabalhada por teóricos como Urry e Sheller (2007), requer que
114Acadêmico do Curso de Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – FURG e voluntário do projeto de pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai”. 115Graduado em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Mestre em Turismo pela Universidade Caxias do Sul (UCS). Docente no Curso de Turismo da Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Coordenador do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai”. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4294176D2.
535
se abarque elementos sociais, culturais, espaciais das mobilidades. Em geral, tais
estudos são empreendidos em grandes cidades. Entende-se, por outro lado, que as
fronteiras são áreas diferenciadas e plurais e, como tais, complexificam, teórica e
metodologicamente, o estudo das mobilidades turísticas (KUNZ; PIMENTEL; TOSTA,
2014).
O objetivo deste trabalho é apresentar dados preliminares acerca do seguinte
questionamento: pautando-se pelo que se entende por automobilidades116, qual a
percepção de determinados agentes, de distintos segmentos, nem sempre
evidenciados pelas pesquisas, acerca da performance dos fluxos turísticos por/nessa
zona de fronteira? A confrontação dos dados bibliográficos com os da observação
empírica levantará novos questionamentos e ajudará no embasamento de
determinadas questões acerca do tema.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa possui caráter qualitativo, de caráter exploratório e descritivo. Para
operacionalizá-la, optou-se por entrevistas in loco com roteiro semiestruturado, com
agentes de segmentos previamente estabelecidos. Os respondentes foram: três
“flanelinhas” (guardadores de carro) 117 que atuam na linha de fronteira, no lado
brasileiro; dois frentistas de postos de combustíveis, que atuam em dois postos
distintos, também localizados na rodovia de acesso; e, dois gerentes dos referidos
postos de combustíveis.
O recorte espacial é a rodovia de acesso à cidade brasileira (entre a aduana
brasileira e o limite internacional) e a avenida “Internacional”, que se trata da Av.
Uruguai, limítrofe à cidade uruguaia, num espaço de sete quarteirões, centrais, que
concentram estacionamentos para automóveis e numerosas casa de comércio, tanto
no lado brasileiro quanto no uruguaio. Saímos a campo em quatro dias alternados
(maio e junho de 2016), sempre na parte da tarde, com duração de aproximadamente
116A automobilidade refere-se à realização simultânea da autonomia e da mobilidade (HANNAM; BUTLER; PARIS, 2014). 117A entrevista com um deles foi tida apenas como pré-teste.
536
2 meses, em período conhecido como de baixa temporada (a alta temporada são os
meses de verão) e em período de câmbio desfavorável ao turista de compras
brasileiro.
Os guardadores foram escolhidos ao acaso na saída de campo, os maiores de
idade que estavam presentes atuando no recorte e na data prevista. Os gerentes de
postos combustíveis estavam no local no dia em que fomos ao local. Os frentistas
foram autorizados e indicados pelos gerentes. Foram feitas anotações das respostas
dadas.
A análise dos dados está em curso. Neste trabalho, apresentamos os dados já
coletados e analisados. Entendemos a necessidade de utilizar nomes fictícios dos
entrevistados, a fim de manter resguardado seu anonimato.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O fenômeno do turismo depende do da mobilidade; ou, ainda, turismo é
mobilidade, na medida em que pressupõe deslocamento (KUNZ, 2015). Quanto se
trata de atrelar o turismo à viagem (não cotidiana) e aos sistemas de transportes,
diríamos que estes são condição para o turismo e sua explicação, porém não
suficiente. Desse modo, “o turismo é visto como uma parte ou sub-conjunto de um
vasto e heterogêneo complexo de mobilidades globais” (COHEN; COHEN, 2012, p.
2181). Porém, no ponto de vista de Hannam et al. (2014), o turismo não se constitui
somente como uma categoria específica de mobilidade, pois consideram que
diferentes mobilidades encontram-se nele imbricadas.
A mobilidade, para o géografo Lèvy (1999), é reconhecida como a “relação
social ligada à mudança de lugar” (p. 1), sendo, também “individualmente vivida e
intersubjetivamente repartida” (p. 4). Portanto, “relações espaciais entre pessoas e
lugares [...] situam a acessibilidade e a mobilidade no núcleo da interação humana”
(SHAW; SIDAWAY, 2010, p. 515), inserem-se aí as mobilidades turísticas
contemporâneas, as quais “movem-se em velocidade rápida e ainda desigual,
cruzando muitas fronteiras” (SHELLER; URRY, 2007, p. 6). Há desigualdades em
termos de mobilidade: “Alguns podem agora mover-se para fora da localidade –
537
qualquer localidade – quando quiserem. Outros observam, impotentes, a única
localidade que habitam movendo-se sob seus pés.” (BAUMAN, 1999, p. 25).
O movimento das pessoas é crescente mas não incontido: fronteiras, polícia e
seguranças filtram os “verdadeiros” turistas na transposição de limites nacionais
(SHELLER; URRY, 2007). Porém, tais pausas no movimento, se dão de forma
desigual ao considerarmos as fronteiras dos blocos econômicos que determinados
países que formam, a exemplo da União Europeia, cujas fronteiras que têm sido
reconfiguradas, mas não propriamente extintas (COHEN; COHEN, 2012). Tal
mobilidade que corresponde à crescente rapidez do fluxo físico de pessoas, turistas e
migrantes, o que não vale a todos os grupos de pessoas, como os refugiados.
É necessário estudar redes e sistemas que comumente (re)produzem lugares
para a performance das mobilidades. Turistas e moradores estão envoltos em
múltiplas performances. Os lugares consistem-se de movimento e, também, de
materialidades e são montados em configurações temporárias, (re)criando-se como
lugares de movimento e em movimento (SHELLER; URRY, 2007). Parece-nos que
tais características são especialmente válidas quando se estuda o turismo de/nas
fronteiras, tema complexo e que não poderá ser esgotado neste trabalho.
Um dos artigos mais atuais e relevantes sobre as mobilidades turísticas
(HANNAM; BUTLER; PARIS, 2014), trata do fenômeno a partir de três categorias-
chave, quais sejam, materialidades, automobilidades e novas tecnologias da
informação e comunicação (TICs). Embora interdependentes, optamos por ora lançar
nosso olhar sobre as automobilidades observadas no recorte espacial deste estudo.
A automobilidade é permitida pelo veículo automotor. O carro seria um “avatar”
da mobilidade e símbolo do movimento, de um ponto de vista ocidental. Ele
proporciona confiabilidade e flexibilidade, garantindo, a motoristas e passageiros,
sentimentos e percepções de escapismo, anonimato e solidão (HANNAM; BUTLER;
PARIS, 2014). Porém, não é tão fácil possuir um carro. Os proprietários de veículos
comumente estão sujeitos a leis e normas específicas, além de terem de providenciar
manutenção e abastecimento de seus carros, bem como pagar impostos. Há aspectos
de imobilidade vinculados a tal mobilidade autônoma, aparentemente desimpedida:
538
vigilância de velocidade por câmeras, pedágios e os encargos de estacionamento,
sem contar os congestionamentos. O sentimento de liberdade associado ao
automóvel é por vezes substituído pelo da apatia e da irritação (HANNAM; BUTLER;
PARIS, 2014).
No caso do Brasil, cabe contextualizar a política de mobilidade urbana
historicamente implementadas, tidas, por Vasconcellos (2013), como excludentes. O
transporte de passageiros intra e interurbanos são pautados pelo modal rodoviário. O
“rodoviarismo” foi promovido, por um lado, pela expansão do sistema viário a partir
dos anos 1940-50 e, por outro, pelo apoio irrestrito à implantação da indústria
automobilística no país, à mesma época (PEREIRA, 2014; VASCONCELLOS, 2013).
Até a década de 1990, a maioria das viagens se dava por transporte coletivo (ônibus),
situação que se inverteu. O automóvel as motocicletas – cujo acesso tornou-se
facilitado – tomaram a dianteira (VASCONCELLOS, 2013).
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
As automobilidades turísticas na fronteira Chuí/Chuy se dão com carro
próprio, motor homes e motocicletas, diferentes formas de locomoção utilizando motor
e que proporcionam aos motoristas/turistas e seus passageiros a autonomia no
tráfego. Na pesquisa de campo na qual ouviram-se alguns atores/agentes que
acompanham de perto essa movimentação, perceberam-se características comuns
dos turistas nas suas preferências, estilos, maneiras e entendimento da fronteira em
si.
Um dos responsáveis pelos postos de combustíveis pesquisados, gerente há
cinco anos no local, nota que o destino dos brasileiros é Montevidéu e dos uruguaios
é Santa Catarina (litoral), sendo que a época do ano com maior fluxo são os meses
de dezembro e janeiro. Afirma que o maior movimento nos feriadões são de excursões
(ônibus). As motocicletas são na maioria de brasileiros; os uruguaios em geral utilizam
automóvel. No caso das motocicletas, um dos gerentes observou que a época do ano
pesquisada (junho) “não é para carro 1.0” (uma alusão aos carros populares), devido
539
à crise econômica no Brasil, que permitiria viagens turísticas apenas aos de maior
poder aquisitivo. Ainda, informou que o predomínio é de uruguaios entrando no Brasil.
Noutro posto de combustíveis pesquisado, entrevistou-se uma responsável
que atua há oito anos, que corrobora a questão: atualmente, o fluxo de uruguaios em
direção ao dentro do Brasil é o maior que o de brasileiros para o Uruguai. Ela também
entende que turistas preferem o carro pela locomoção ser facilitada e que a opção por
ônibus de excursão se dá pelos custos mais baixos. Diferentemente do outro gerente,
ela percebe o fluxo de motocicletas aumentou nos últimos anos. Outras observações
fez em relação a desorientação dos turistas brasileiros ao retornar do Uruguai: é
recorrente o fato de estes que não darem saída daquele País e precisarem voltar à
aduana/imigração para fazê-la, isso porque a sinalização da área não deixa clara essa
obrigatoriedade.
No trabalho de campo, também se entrevistou guardadores de carro, que tem
no seu dia a dia o contato direto com os turistas em trânsito pela fronteira. Para dois
deles, que são irmãos e dividem espaço no mesmo quarteirão da Avenida Uruguai
(Chuí-RS, Brasil), brasileiros e uruguaios viajam muito durante as férias, em carros
ocupados por cinco pessoas. Ali estacionariam “toda a classe de carro”, disse um
deles, em referência ao padrão dos veículos. Motocicletas também circulam, “motos
grandes” disse um deles, fazendo menção ao estacionamento exclusivo para esse
veículo na limite dos municípios. Também percebem que os turistas do Uruguai viajam
mais, seja para férias, seja para compras, em direção ao lado brasileiro.
Para uma terceira guardadora que carros, que atua há 10 anos no local, expõe
ideias semelhantes, porém, complementando com sua percepção desse turista de
fronteira, ela informa que aos finais de semana “é um loqueio” (loucura), com muito
movimento. Turistas brasileiros que passam nessa época (da entrevista) pela fronteira
é porque tem dinheiro. Uruguaios, segundo ela, vem às compras nos supermercados
brasileiros onde tudo seria mais barato, buscam, em especial determinadas marcas
de refrigerante, chocolate e café, algumas globais, outras, brasileiras. A guardadora
de carro também informou sobre problemas do trânsito intenso de veículos na
fronteira. Ela nota que autoridades brasileiras têm dificuldade de organizar filas duplas
540
e o estacionamento, que por vezes ocorre em locais proibidos. Uma peculiaridade
também por observada é a questão da desorientação do turista, em especial o
brasileiro, quanto ao fato de estar no Brasil ou Uruguai. Para ela, é o turista brasileiro
e não o uruguaio que possui era curiosidade ou desorientação.
Outros atores entrevistados partilham de visões muito parecidas: é o caso dos
frentistas de postos entrevistados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Importante notar que diferentes atores performam as automobilidades
turísticas da área de fronteira Chuí-Chuy, alguns ligados ao comércio formal, outros,
a atividades mais informais, outros, ainda, oficiais (como seriam as autoridades de
trânsito, a serem ouvidas posteriormente). Estudos dessa natureza permitem aos
sujeitos pesquisados expressarem-se de forma mais livre, a partir de seus pontos de
vista e, até mesmo, a partir de seu repertório de linguagem. Caberia, em outro
momento, incluir os turistas, motoristas ou passageiros de automóveis.
O estudo vêm corroborando com autores como Vasconcellos (2013) e Pereira
(2014) no que diz respeito à histórica e eminente predominância da matriz rodoviária
de transportes de passageiros e cargas no Brasil, tanto nas estradas de rodagem,
quanto na mobilidade urbana, em especial, as automobilidades, conforme concepção
de Hannam, Butler e Paris (2014). Por razões de delimitação do escopo, novos
resultados serão analisados e apresentados em publicações futuras.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. COHEN; COHEN. Current sociological issues and theories in tourism research. Annals of Tourism Research, v. 39, n. 4, 2014, p. 2177-2202.
541
HANNAM, K.; BUTLER, G.; PARIS, C. M. Developments and key issues in tourism mobilities. Annals of Tourism Research, v. 44, n. 1, 2014, p. 171-185.
KUNZ, J. G.; FELIPE, E. T. Fronteira Chuí-RS, Brasil / Chuy, Uruguai: potencialidades empíricas de estudo das mobilidades turísticas. In: SEMINÁRIO DA ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM TURISMO – ANPTUR, 13., 2016, São Paulo. Anais… São Paulo: Aleph, 2016 (no prelo).
PEREIRA, V. de B. Transportes: história, crises e caminhos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. URRY, J.; SHELLER, M. Tourism mobilities. Londres: Routledge, 2007.
VASCONCELLOS, E. A. Políticas de transporte no Brasil: a construção da
mobilidade excludente. Barueri: Manole, 2013.
TURISMO RECEPTIVO E EMISSIVO: CORRELAÇÃO ENTRE RECEITA LÍQUIDA
TURÍSTICA E TAXA CAMBIAL DO BRASIL (2001 a 2012)
542
MARQUES, Fábio118; TOSTA, Eline119; CABREIRA, Stephanie120.
Palavras-chave: Renda turística brasileira; Turismo; Câmbio; Receita cambial
turística líquida.
1 INTRODUÇÃO
O mercado turístico atualmente contribui com um quinto de toda a produção
brasileira. Devido à globalização dos mercados e à internacionalização do dólar
enquanto moeda comercial, o turismo pode ser tanto voltado para fora (emissivo)
como para dentro (receptivo).
Sendo assim, o intuito deste trabalho é analisar a contribuição da receita
cambial turística à renda brasileira do período de 2001 a 2012. Para isso, buscou-se
estudar também a influência da taxa de câmbio sobre a renda turística. Para tal,
utilizaram-se documentos dos principais órgãos públicos como Ministério do Turismo,
Sistema de Análises de Comércio Exterior e Banco Central do Brasil.
O presente estudo justifica-se pelas escassas abordagens do tema na área
do turismo e pela contribuição que pode proporcionar na mesma área. Além disso, é
uma oportunidade de inserir o Turismo nas discussões e planejamento da área da
Economia e Comércio Exterior.
2 ASPECTOS METODOLÓGICOS
118Graduando do Curso de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). [email protected]. 119Graduanda do Curso de Bacharelado em Turismo Binacional pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Bolsista do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai” (2014) http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8747823P5. [email protected]. 120Graduanda do Curso de Comércio Exterior pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Bolsista do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai” (2016); [email protected].
543
A pesquisa tem por enfoque analisar a influência da oscilação do câmbio
sobre as receitas e despesas cambiais turísticas e a contribuição econômica do
turismo à economia nacional. Através de um caráter exploratório e quantitativo,
utilizou-se de fontes secundárias para a coleta de dados.
Para a análise, calculou-se a variação anual de todas as variáveis
encontradas. Os anos foram divididos, então, em três períodos, sendo eles P1 (2001
a 2004), P2 (2005 a 2008) e P3 (2009 a 2012) para facilitar o estudo de
comportamento das variáveis. A fim de calcular a oscilação do real frente ao dólar,
adotou-se a seguinte relação:
• PTAX > 1: desvalorização do real;
• PTAX < 1: valorização do real;
• PTAX = 1: equidade ou paridade das moedas.
Para explicar a oscilação das variáveis durante os três períodos, utilizou-se da
análise quantitativa percentual, fazendo um comparativo do aglomerado quadrienal.
Vale frisar que o intuito desta pesquisa é analisar os efeitos da variação cambial
sobre a receita turística. Dessa forma, o objetivo não ateve-se à oscilação nominal do
fluxo turístico, mas apenas à contribuição econômica. Não será estudado, portanto, a
oscilação da quantidade de turistas no Brasil, mas sim sua contribuição econômica
em analogia à taxa de câmbio.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
O turismo pode ser considerado como um fenômeno que acarreta a
transferência de capital de um país a outro ou de uma localidade à outra através da
movimentação de turistas que demandam um certo produto turístico (ARENDIT,
2002).
Além disso, pode-se afirmar a existência de uma interdependência estrutural
da atividade turística com todos os setores econômicos produtivos, que, por sua vez,
gera um efeito multiplicador que pode ser maior a outros setores da economia
(ARENDIT, 2002; LAGE, MILONE 2009). Além disso, a ampla diversidade das
544
tipologias e de consumo, o consumo turístico é difícil de mensurar (MATIAS, 2007).
Matias (2007) destaca que uma das singularidades do fenômeno turístico é a de criar
consumos turísticos a partir de bens não propriamente turísticos.
Também é necessário ressaltar que o turismo deve ser entendido como uma
atividade complexa pois comercializa outras riquezas que não a monetária, como o
patrimônio cultural e natural, e envolve aspectos políticos, sociais, ambientais,
culturais, entre outros (LAGE; MILONE, 2009).
A contribuição da conta turismo no balanço de pagamentos dá-se pela geração
de divisas, de modo que as receitas cambias são consideradas como exportações e
contabilizadas no item viagens internacionais na conta nacional (VALENÇA et al.,
2015). De acordo com o Ministério do Turismo (2015), estas geraram em torno de US$
70 bilhões nos últimos quinze anos.
O mercado cambial tem efeito distinto nas receitas e nos gastos cambiais no
turismo. Destarte, o turismo, com contribuição direta, indireta e induzida, compõe um
quinto de toda a economia nacional segundo a Conselho Mundial de Turismo e
Viagem (WTTC, 2015).
A (des)valorização da moeda nacional tem impacto direto na renda nacional. A
despeito da desvalorização, ela possui relação inversa com as exportações líquidas.
Quanto maior for a quantidade de dólares na economia, mais vantajosa tornam-se as
exportações, contribuindo para um superávit no balanço de pagamentos (VALENÇA
et al, 2015).
Enquanto exportação de serviços, o mercado turístico corresponde a um nicho
do mercado internacional. Este, por sua vez, controla e é controlado pelo nível geral
de preços, o qual tem relação inversa ao poder de compra. À medida que aquele
aumenta, este diminui (KADOTA; SANTOS, 2012, p. 308). Assim, um aumento no
nível geral de preços pela inflação diminui a renda disponível do consumidor
doméstico.
O fluxo turístico de estrangeiros em restaurantes, lanchonetes, supermercados,
shoppings, centros históricos, lojas de conveniência, postos de combustíveis, hotéis e
afins possibilita o contato e a troca constante de moedas por produtos e serviços.
545
Porém, nos últimos quinze anos, a receita turística apresentou receitas líquidas
deficitárias, na medida em que a taxa de câmbio PTAX variou de R$ 2,00 a R$ 3,00
(BACEN, 2015).
A taxa PTAX, segundo o Banco Central (BACEN, 2015), diz respeito à paridade
da moeda nacional frente ao dólar, calculada diariamente pela própria instituição.
Enquanto moeda comercial, o dólar afeta os gastos dos turistas brasileiros e dos
estrangeiros residente e estrangeiro (VALENÇA et al, 2015). Destarte, os gastos
daqueles no exterior aumentam a despesa cambial turística, sendo contabilizada na
forma de importações. Por sua vez, os gastos destes no Brasil são contabilizados
como receita cambial turística, contribuindo para o aumento das exportações
(VALENÇA et al, 2015). A receita cambial turística líquida corresponde à subtração da
receita cambial sobre a despesa cambial, caracterizando em déficit (despesa > receita
= saldo negativo) ou superávit (despesa < receita = saldo positivo).
4 RESULTADOS
A receita cambial líquida mostrou-se deficitária em todo o período da análise,
a exceção dos anos de 2003 e 2004. De acordo com a Tabela 1, a oscilação em P1
da receita líquida foi negativa, tendo passado de um déficit de US$-1.468,03 milhões
em 2001 para um superávit de US$350,77 milhões em 2004. Em P2 houve uma
variação de 503,2% no déficit, passando de US$-858,42 milhões a US$-5.177,60
milhões. No último período, P3, ainda em déficit, houve aumento de 179,9%, de US$-
5.593,60 milhões a US$-15.660,66 milhões.
O real frente ao dólar sofreu desvalorização de 24,4% em P1, tendo passado
de R$2,3522 a R$2,9257 em 2004. Não obstante, de P2 até P3, houve valorização da
moeda nacional, de R$2,4341 em 2005 a R$1,9550 em 2012. Em síntese, o câmbio
valorizado alavancou os gastos dos turistas brasileiros no exterior mais do que os
gastos dos turistas estrangeiros no Brasil em P1.
Tabela 1 – Receita, despesa e receita cambial líquida turística, taxa de câmbio
e variação entre os anos de 2001 a 2012 (em milhões de dólares e %)
546
Período ∆PTAX ∆% R ∆% D ∆% RL ∆% PTAX
P1 1,2438143 86,2 -10,2 -123,9 24,4
P2 0,7548991 49,8 132,3 503,2 -24,5
P3 0,9806872 20,2 102,2 179,9 -1,9
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério do Turismo e BACEN, 2016.
De acordo com a Tabela 1, houve valorização do real frente ao dólar durante
o período da análise. A variação do câmbio foi mais intensa de P1 para P2, mas as
causas para tal efeito não foram analisadas neste presente estudo.
Gráfico 1 – Variação da receita, despesa e receita líquida do turismo brasileiro
de P1 a P3
Fonte: Elaboração própria dos autores (2016).
O Gráfico 1 permite identificar o comportamento da variação percentual da
receita, despesa e câmbio sobre a receita líquida em virtude da oscilação do câmbio
nos três períodos. Em todo o período a variação da receita foi inferior à variação da
despesa, contudo a receita líquida teve comportamento desregular.
Gráfico 2 – Variação da taxa de câmbio de P1 a P3
∆% R ∆% D ∆% RL
547
Fonte: Elaboração própria dos autores (2016).
Pela leitura do Gráfico 2, no período P1 temos que, sendo PTAX maior que 1,
a variação da receita turística é maior que a da despesa, contribuindo para uma
receita cambial turística superavitária. Já em P2 e P3, estando PTAX menor que 1, a
variação da despesa turística é maior que a da receita. A receita líquida, por sua
vez, é deficitária.
Tabela 2 – Consequências da correlação das variáveis nos três períodos determinados
Período Situação
P1 ∆PTAX > 1→ ∆%R > ∆%PTAX > ∆%D → RL > 0
P2 ∆PTAX < 1→ ∆%D > ∆%R > ∆%PTAX → RL < 0
P3 ∆PTAX < 1→ ∆%D > ∆%R > ∆%PTAX → RL < 0
Fonte: Elaboração própria dos autores, 2016.
De acordo com a tabela 2, podemos observar um efeito em escala da variação
cambial no agregado turístico. Em todos os períodos, a taxa de câmbio foi a que teve
menor variação. Durante o período P1, a receita teve um crescimento superior à taxa
cambial e às despesas, incorrendo em uma receita líquida positiva. Já em P2 e P3, a
variação das despesas superou as receitas, num período de desvalorização cambial.
P1 P2 P3
548
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do estudo realizado é possível estabelecer que, no período analisado,
a taxa de câmbio possui maior influência sobre a despesa cambial do que sobre a
receita cambial turística. Estes resultados condizem com a literatura abordados no
estudo de Valença et al (2015).
Esta pesquisa poderá servir de base, portanto, para o desenvolvimento de
políticas de fomento ao turismo receptivo internacional, visto que este possui menor
influência do câmbio. Sendo o turismo brasileiro um mercado pouco competitivo e
estando a economia monetária em instabilidade, o mercado brasileiro deve promover
ações de contingência para evitar o protecionismo pela desvalorização, acarretando
em excesso de demanda e aumento do nível geral de preços.
Considerando-se um estudo inicial e, em vista da quantidade de pesquisas na
área da economia do turismo, os resultados aqui apresentados devem ser
aprofundados, levando em conta outras variáveis além do próprio câmbio. A fim de
não perder-se competitividade no mercado internacional e para diminuir o déficit das
receitas turísticas, deve ser feita uma análise do mercado turístico para fomentar a
demanda de turistas estrangeiros no país.
REFERÊNCIAS
ARENDT, Ednilson José. Introdução à economia do Turismo. 3 ed. Campinas:
Alínea, 2002.
BANCO Central do Brasil. Taxa PTAX de 2001 a 2012. Disponível em:
<http://www4.bcb.gov .br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao>. Acesso em:
26 mar. 2016.
______. Balanço de pagamentos anual do Brasil. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br /?SERIEBALPAG>. Acesso em: 26 mar. 2016.
BRASIL. Ministério do Turismo. Receita e despesa cambial turística, e superavit
ou déficit, segundo os meses - Janeiro 1990 - Janeiro 2016. Disponível em:
<http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/estatisticas_indicadores
/receita_cambial/>. Acesso em: 26 mar. 2016.
549
KADOTA, Décio Katsushigue; SANTOS, Glauber Eduardo de Oliveira. Economia do
Turismo. São Paulo: Aleph, 2012, 456 p.
LAGE, Beatriz Helena Gelas; MILONE, Paulo Cesar. Economia do Turismo. 7. ed.
São Paulo: Atlas, 2009.
MATIAS, Álvaro. Economia do Turismo: Teoria e prática. Lisboa: Instituto Piagte,
2007.
ORGANIZACIÓN Mundial del Turismo. Panorama OMT del turismo internacional:
Edición 2015. OMT: Madri, 2015. Disponível em: <http://www.e-
unwto.org/doi/pdf/10.18 111/9789284416875>. Acesso em: 31 mar. 2016.
VALENÇA, Marilia Nunes; MELO, André de Souza; SOBRAL, Marcos Felipe Falcão;
XAVIER, Maria Gilca Pinto. Relação entre a taxa de câmbio e o setor de turismo:
análise por vetores autorregressivos. Turismo: Visão e ação, Eletrônica, v. 17, n. 3,
p. 737-757, set. 2015. Disponível em:
<http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rtva/article/view/8319/4678>. Acesso em:
26 mar. 2016.
WTTC. World Tourism and Travel Council. Travel & Tourism: Economic Impact
2016 Brazil. Disponível em:< http://www.wttc.org/-
/media/files/reports/economic%20impact%20research
/countries%202016/brazil2016.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2016.
550
GT 4 – TURISMO, MARKETING E COMUNICAÇÃO
A IMAGEM DO CHUÍ (RS): O OLHAR DA POPULAÇÃO LOCAL
551
FARIAS, Wynne121 [email protected]
SCHIAVINI, Bibiana122
Palavras-chave: Imagem; Concurso fotográfico; Chuí (RS) Brasil; Identidade.
1 INTRODUÇÃO
O projeto de extensão “A imagem do Chuí (RS), sobre o olhar da população
local”, é a continuação do trabalho “A Imagem de Santa Vitória do Palmar (RS), sobre
o olhar da população local”. Desta vez, o presente trabalho objetiva encontrar imagens
turísticas com foco no município do Chuí (RS), Brasil. A equipe do projeto de extensão
contou com dois bolsistas e uma voluntária, do curso de Turismo Binacional da
Universidade Federal do Rio Grande – FURG, além de uma orientadora e co-
orientadora.
A iniciativa visa diagnosticar, a partir do olhar da população local, a imagem
que representa o destino turístico no município do Chuí (RS) Brasil. Os objetivos
específicos foram: realizar pesquisas bibliográficas e científicas sobre a imagem de
destinos turísticos, diagnosticar o olhar da população local relacionada a identidade
do município, através de um 'Concurso Fotográfico' intitulado “Olhares sobre o Chuí
(RS), Brasil”, caracterizando a imagem turística do Chuí.
A pesquisa tornou-se relevante, visto que fornece ferramentas para o
desenvolvimento no município do Chuí, buscando resgatar e valorizar o município e o
seu patrimônio histórico e cultural, através da realização de um concurso de
fotografias. Além disso, serve como ferramenta de estudo para os gestores privados,
121Técnica em Eventos pela Etec Camargo Aranha – CA. Bacharelanda em Turismo Binacional, pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Petiana do Grupo Pet de Turismo na Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8319897T9 122Bacharel em Turismo pelo Centro Universitário Franciscano – Unifra. Especialista em gerenciamento de projetos pela Fundação Getúlio Vargas – FGV. Técnica do Laboratório de Pesquisa em Turismo – Latur na Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4445518E0
552
e também, para gestores públicos, obterem mais informação sobre a imagem turística
do município do Chuí (RS).
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O projeto caracterizou-se por ser um estudo exploratório e descritivo, com um
enfoque teórico-conceitual de caráter qualitativo. Utilizando como ferramenta a
pesquisa bibliográfica sobre a imagem de destino turístico através de artigos,
publicações nas áreas de imagem, identidade e patrimônio turístico. Uma ferramenta
importante foi a realização do ‘Concurso Fotográfico – Olhares sobre o Chuí (RS),
Brasil’ que caracterizaa imagem turística do município.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Diversas são as definições para o termo turismo, para Herman Von Schullard
(GOELDNER, 2003, p.12) define turismo como “uma adição de exercícios envolvendo
economia eo deslocamento de pessoas, saindo ou entrando em uma cidade, região
ou país”.Para O turismo é a “soma das empresas prestadoras de serviços, governo, o
localreceptor interagindo com o turista” (GOELDNER,2003, p.13). Porém, será
utilizado a definição de Barretto, (2012, p.15) que afirma que a palavra turismo: “surge
de um verbo to tour que significa “dar uma volta”, com uma conotação diferente, To
make a toursignifica “ida e volta” com atributos diferentes, em relação ao local visitado,
o tempo que fica neste local e as motivações para a viagem”. Endente-se então, o
turismo, como o deslocamento de uma pessoa ou grupo para um local que não seja
do seu cotidiano.
Em relação ao turismo cultural, segue a definição da OMT:
Turismo cultural abarcava movimentos de pessoas em busca de
motivações culturais, tais como excursões de estudo, teatralizações e
excursões culturais, viagens para festivais e outros eventos culturais,
553
visitas a localidades e monumentos, viagens para estudar a natureza,
folclore ou arte e peregrinação (apud CAMARGO& CRUZ, 2009 p.26).
Segundo Motta (2007), cultura é um processo antropológico e sociológico que
define a forma pela qual uma sociedade satisfaz suas necessidades matérias e
psicossociais. Para Bacal (2006, p.23) cultura é “um conjunto de valores, normas e
hábitos que regem a vida humana em sociedade”.
O turismo cultural tem diversos impactos, positivos ou negativos. Dentre os
impactos gerados pela atividade turística destacam-se os socioculturais que são a
valorização da herança de uma localidade. Todavia, destaca-se o orgulho ético
proporcionado pelo ato de viajar e conhecer novas culturas (RUSCHMANN, 1997).
A identidade é formada a partir do sentimento de pertencer. Assim como define
Martins (2003, p.42) “Identidade seria em linhas gerais, esse sentimento de pertencer
que as pessoas trazem enquanto seres simbólicos que são”. Porém, Martins, ainda
traz outros tipos de identidade, mas que continua com a essência de pertencimento,
sendo elas identidade social e identidade ética.
Segundo Barreto, os pensadores pós modernos veem a identidade como algo
mutável, pois sofre a influência do conhecimento do outro em outras perspectivas da
realidade (2001 apud SILVA; SANT’ANNA, 2015).
O imaginário é social, pois para a construção de um imaginário requer
conhecimento, desta forma, terá que ter contato com o mundo e com outras pessoas,
tendo algo em comum com a coletividade. Assim como afirma Maffesoli:
Pode-se falar em ‘meu’ ou ‘teu’ imaginário, mas, quando se examina a
situação de quem fala assim, vê-se que o ‘seu’ imaginário corresponde ao
imaginário de um grupo no qual se encontra inserido. O imaginário é o estado
de espírito de um grupo, de um país, de um Estado-nação, de uma
comunidade, etc. O imaginário estabelece um vínculo. É cimento social. Logo,
se o imaginário liga, une numa mesma atmosfera, não pode ser individual
(apud GASTAL, 2005, p.76-77).
Segundo Durand, (2007, p.33) a imaginação está “estreitamente motivada seja
pela língua, seja pelas funções sociais, se modele sobre essas matrizes sociológicas,
554
quer genes raciais intervenham bastante misteriosamente para estruturar os conjuntos
simbólicas”.
Conforme Gastal, (2005, p.36) “Por mais que pensamos que aquilo que vemos
em uma foto é o mundo real, trata-se, antes, de uma leitura muito particular de alguém
e de um recorte do mundo”. A imagem fotográfica é a documentação reforçada da
história visualmente, registrando particularidades (BITTENCOURT 1998, p. 199 apud
RIBEIRO, 2014).
Porém, uma imagem usada como representação de algo em especifico é
determinante para a compra de um produto turístico, mas além disso, há também
avaliações através do conhecimento, sendo comentário de amigos, ou pesquisas na
internet, imagens em sites entre outros, avaliando também desejos, necessidade e
possibilidades, desta forma cada pessoa tem uma imagem diferente de um mesmo
local, referindo a imagem imaginada (BIGNAMI, 2003 p.11-12).
É importante ter uma imagem de destino conhecido para o auxílio da escolha
de destino do viajante. Desta forma, conhecendo os itens que influenciam a imagem,
pode auxiliar com estratégias de marketing para o mercado.A ciência do marketing é
utilizada num conjunto de conceitos e técnicas de planejamento e organização, e
consequentemente a aplicação destes procedimentos, para assim exercer com
sucesso a atividade (MELO, 2013 p.18). Para Jenkis (1999) entender as diferentes
imagens de um destino turístico contribui positivamente para as estratégias de
marketing a serem planejadas para uma determinada comunidade. Desta forma, o
método de planejamento turístico do local, pode auxiliar sua divulgação.
Sendo assim, a influência da imagem percebida de uma destinação turística
impacta diretamente com a identidade cultural e a gestão do turismo de um espaço
turístico.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
O concurso fotográfico “Olhares sobre o Chuí (RS), Brasil” foi uma ferramenta
de extrema importância para alcançar o objetivo do projeto.
Para a realização do concurso fotográfico, foi elaborado um regulamento
explicando as regras gerais do concurso. O regulamento foi divulgado nas mídias
555
virtuais como na página do concurso no facebook, site da Instituição FURG -
Universidade Federal do Rio Grande e no site do curso de Turismo Binacional, além
de outras mídias, como Rádio Chuí FM, Rádio América FM e Canal 4. Na sequência
ocorreu o período de inscrição e homologação das inscrições e posteriormente a
seleção das dez imagens feita por uma comissão julgadora composta por um
professor da instituição e dois fotógrafos profissionais do Chuí e dois fotógrafos de
Santa Vitória do Palmar. Com as 10 imagens selecionadas a equipe do projeto
percorreu o município do Chuí, com cédula para população local votar na imagem que
representasse o destino turístico Chuí.
Contudo, ocorreram obstáculos para a realização do projeto. Destaca-se a
logística, porque tanto os bolsistas como a orientadora, moram no município de Santa
Vitória do Palmar, e a distância é de 20 km de uma cidade para a outra impossibilitava
a presença da equipe diariamente no local, dificultando a divulgação e incentivo de
inscrições, pois nem sempre o veículo da instituição FURG estava disponível, além
disso, a equipe era pequena para desenvolver todas as atividades em contato direto
com a comunidade, quando necessário trabalhou-se em escala, para que não
sobrecarregasse nenhum membro da equipe. Um resultado importante do projeto
foram os registros fotográficos serem realizados por naturais do local, pois a cidade
foi emancipada a 21 anos da cidade de Santa Vitória do Palmar, desta forma muitos
cidadãos eram registrados como vitorienses. Então, optou-se em aceitar inscrições no
concurso fotográfico dos residentes do local, independente da naturalidade.
A comunidade foi bem receptiva ao projeto, além de auxiliar na divulgação nos
canais de comunicação como rádio, tv, compartilhando o projeto no facebooke até
mesmo colando o cartaz do projeto nas lojas do Chuí, onde há maior movimentação.
O concurso fotográfico obteve 15 inscritos totalizando 44 imagens em que cada
participante poderia concorrer com até três fotos. A votação ocorreu durante sete dias,
neste período houve 258 votos válidos. Assim, as três fotos vencedoras têm a mesma
identificação, não o mesmo local, mas o mesmo representativo, que é o marco
divisório Brasil e Uruguai, desta forma, pode ser explorado como um atrativo turístico.
556
Entretanto, não deixando de mostrar outras possibilidades que surgiu no
concurso, como o churrasco (Turismo gastronômico) e a avenida principal (Turismo
de Compras).
As imagens turísticas selecionadas estão relacionadas com a identidade
local porque se tem o sentimento de pertencimento coletivo, pois as três imagens
vencedoras foram de um monumento que faz parte da história do Chuí, se não os
identificassem, o marco nem surgiria no concurso, pois das 44 imagens 7 são do
marco divisório. A Mostra Fotográfica “Olhares sobre o Chuí ocorreu no dia 25 de
novembro de 2015 no SESC Chuí, com a premiação dos 3 vencedores do concurso.
A vencedora do concurso foi Katia Segovia Chuax, segundo lugar Denilson Nunes e
o terceiro lugar foi a fotografia de Luiz Paulo Pires Brongar.
Ao analisar o concurso fotográfico “Olhares sobre o Chuí (RS), Brasil” com o
“Olhares sobre Santa Vitória”, os moradores do Chuí (RS) tiveram maior interesse,
comparando o número de participantes com o número de habitantes, pois Santa
Vitória do Palmar tem 33.304 mil habitantes com 33 participantes, por outro lado o
Chuí contou com 15 participantes contendo 5.917 mil habitantes segundo os dados
do IBGE.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto de extensão identificou a imagem de destino turístico do município do
Chuí (RS), Brasil, através da realização do concurso fotográfico intitulado “Olhares
sob o Chuí’, onde os autóctones definiram o “Marco Divisório – Brasil e Uruguai” como
a imagem que representa a comunidade Chuiense. Sendo o marco divisório entre o
Brasil e Uruguai, uma identidade para os moradores esta iniciativa de extensão fica
de ferramenta tanto para o setor público como o privado com intuito de criar políticas
e projetos que auxiliem o desenvolvimento e fomento turístico do município, que pode
ir além do turismo de compras.
Com isso, considerou-se o material de imagem inscritas e selecionadas durante
o projeto, através de uma fotografia, são valiosos materiais para pesquisas futuras,
557
considerando a exploração da imagem em outras formas de cultura no fortalecimento
dos laços fronteiriços dos países Brasil e Uruguai.
REFERÊNCIAS BACAL, Sarah. Lazer e o universo dos possíveis. São Paulo: Aleph, 2003. BARRETTO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do Turismo. 20. ed.
Campinas - SP – Papirus, 2003. 160 p.
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558
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<http://www.fatecitaqua.edu.br/revista/index.php/regit/article/view/REGIT2-A6>
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proteção do meio ambiente. 12. ed. Campinas, SP: Papirus, 1997. 199 p.
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Disponível em: <http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur/article/viewFile/1511/1305>
Acesso em: 08 de out. 2016.
MOBILIDADES TURÍSTICAS E NOVAS TICs: UM ESTUDO SOBRE SERVIÇOS DE INTERNET
NA FRONTEIRA CHUÍ-CHUY (BRASIL-URUGUAI)
559
TOSTA, Eline123
KUNZ, Jaciel124
Palavras-chave: Turismo; Mobilidade; Tecnologias da Informação e da Comunicação
– TICs; Internet; Fronteira Chuí-Chuy.
1 INTRODUÇÃO
A relação entre Mobilidade Turística e Tecnologia da Informação e
Comunicação (TICs) se dá a partir da contribuição tecnológica ao deslocamento dos
turistas. Entretanto, tal relação entre turismo e mobilidade pode ter algumas
dificuldades em regiõescomo as fronteiriças, pois tais espaços podem oferecer
obstáculos à mobilidade do capital, de mercadorias e pessoas, incluindo os turistas
(HISSA, 2002).
Sendo assim, entende-se que a disponibilidade de recursos tecnológicos é
essencial na prestação de serviços aos consumidores turísticos, principalmente em
regiões que podem estar às margens do processo de globalização, de inclusão e
igualdade nos processos tecnológico, econômicoe social. A indisponibilidade ou
ineficácia desses serviços podem oferecer obstáculos à mobilidade turística.
Sendo assim, o presente trabalhotem como objetivo detectar a satisfação dos
clientes dos estabelecimentos hoteleiros da fronteira Chuí/Brasil-Chuy/Uruguai em
relação ao serviço de internet. O recorte dos hotéis se deve a fato de estes serem
estabelecimentos dos mais utilizados por turistas que permanecem mais tempo nos
123Acadêmica do Curso de Bacharelado em Turismo Binacional pela Universidade Federal do Rio
Grande (FURG). Bolsista do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai” (2014) http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8747823P5. [email protected]. 124Graduado em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Mestre em Turismo pela Universidade Caxias do Sul (UCS). Docente no Curso de Turismo Binacional da Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Coordenador do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai”. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4294176D2. [email protected]
560
destinos. Tal estudo justifica-se pela importância de compreender a tendência de
incorporar turistas e espaços por meio da tecnologia (SHELLER, 2011), mais
precisamente, através da prestação de serviços de internet de qualidade em
estabelecimentos hoteleiros.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Quanto aos objetivos, a atual pesquisa pode ser considerada
comoexploratória e quanto à abordagem como quantitativa. O levantamento realizado
se deu a partir de consulta à página web TripAdvisor, considerando os comentários
dos usuários relacionados à internet nos 7 estabelecimentos hoteleiros situados
próximos à linha-limite entre os dois países, numa área de maior concentração desses
estabelecimentos, área essa com funções comerciais no centro da conurbação das
cidades-gêmeas.
A coleta de dados foi realizada em 18 de setembro de 2016, sem filtro de
período de postagem. Ou seja, considerou-se todos os comentários realizados na
página sobre os 7 hotéis da faixa de fronteira, obtendo-se 502 resultados. A coleta de
dados considerou a menção à internet dos usuários dos estabelecimentos hoteleiros,
sendo registrando-se o número de comentários positivos e negativos.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Os municípios Chuí (Rio Grande do Sul/Brasil) e Chuy (Rocha/Uruguai) são
cidades gêmeas, ou seja, se caracterizam pela integração urbana e funcional entre
cidades de países vizinhos. Chuí/RS possui cerca de 5.917 habitantes (IBGE, 2014).
O município de Chuy, por sua vez, possui cerca de 9.675 habitantes (URUGUAY,
2014). O acesso a ambas cidades se dá através da rodovia brasileira BR-471 e das
Ruta 19 e Ruta 9 pelo Uruguai.
561
Figura 1: Localização geográfica fronteira Chuí/Brasil – Chuy/Uruguai
Fonte: Google Maps (2016).
O comércio é a principal atividade econômica destas cidades. Os free shops
do lado uruguaio da fronteira, além dos estabelecimentos brasileiros (como
supermercados)são os principais atrativos e os maiores fator de movimento de turistas
em ambos os lados da fronteira – além de ser uma rota de passagem para viajantes
e mercadorias, além do veraneio em praias próximas.Castrogiovanni (2012, p.37)
afirma que “no caso da fronteira entre Brasil e Uruguai [por exemplo] a atratividade
parece estar cada vez mais relacionada à oferta trazida pelos free shops e à diferença
cambial”. Esse parece ser o caso da fronteira Chuí-Chuy em que é possível verificar
essa variação de fluxo de pessoas conforme a variação cambial.
3.2 MOBILIDADES, TURISMO E NOVAS TICs
A mobilidade é um traço característico da globalização, uma vez que, “sem os
sistemas extensivos de mobilidade – e globalistas, ou neoliberais, reivindicações pela
abertura dos mercados e Estados para fluxos externos – processos sociais poderiam
não acontecer em escala global nem ser imaginados como tais” (SHELLER, 2011, p.2,
tradução nossa). Para Beni (2011, p.29) o processo da globalização “provocou uma
maior disponibilização e acessibilidade em amplitude mundial dos produtos, das
instalações e dos serviços turísticos”.
562
Entretanto, o processo de globalização não ocorre de forma homogênea no
território, ou seja,ocorre de forma desigual e provoca exclusões – tecnológicas,
econômicas, sociais – que são reforçadas, a diferentes escalas(OSÓRIO, 1998). Por
este motivo, considera-se essencial o estudo das fronteiras e suas dinâmicas para
compreender como acontece a mobilidade – de pessoas, mercadorias e informações.
Sheller e Urry (2007, p.6) afirmam que“tais mobilidades movem-se em velocidade
rápida e ainda desigual, cruzando muitas fronteiras”.
No caso das TICs, Sheller(2011) destaca que a tecnologia incorpora pessoas
e espaços e, também, elementos que conectam pessoas a/e espaços. Augé (2010,
p.20), por sua vez, afirma que “as tecnologias da informação parecem suprimir, cada
dia mais, os obstáculos ligados ao espaço e ao tempo”.Hannam, Butler e Paris (2014)
apontam como categorias de análise das mobilidades turísticas, as materialidades, as
automobilidades (realização simultânea da autonomia com a mobilidade, por meio de
automóveis privados) e, por fim, do papel que as novas TICs possuem na mobilidade
dos fluxos de turísticos, incluindo-as como um componente importante da experiência
da mobilidade dos turistas
No caso da oferta turística, a tecnologia desempenha um papel complementário
importante para o novo turismo, um setor caracterizado por ser altamente competitivo
(OIT, 2001; TURBAN; VOLONINO, 2013). A evolução das tecnologias de informação
e os efeitos da internet foram essenciais para aumento da competitividade no setor
empresarial (GARRIGÓS; NARANGAJAVANA, 2006).
O setor turístico foi pioneiro nas inovações tecnológicas, configurando-se um
dos líderes em compras através da rede (GARRIGÓS; NARANGAJAVANA, 2006).
Nesse âmbito, deve destacar a atual relevância da página web TripAdvisor no
processo de decisão de compra dos clientes. Atualmente, o TripAdvisor é o maior site
de viagens do mundo com a finalidade de auxiliar viajantes na escolha de hotéis,
destinos, restaurantes, atrações, entre outros (TRIP ADVISOR, 2016). Juntas às
páginas web do TripAdvisor operam em 48 mercados em todo o mundo, formando,
assim, a maior comunidade de viagens do mundo, com cerca de 350 milhões de
visitantes por mês e 385 milhões de avaliações e opiniões publicadas cobrindo 6,6
563
milhões de acomodações, restaurantes e atrações (TRIP ADVISOR, 2016). Dessa
forma, o TripAdvisor pode ser considerado como uma ferramenta consolidada de
busca de informações entre viajantes, contribuindo tanto com a difusão de imagens
de empresas, tanto positivas, quanto negativas.
4 RESULTADOS
Dos 502 comentários contabilizados, foi detectado que 63 faziam menção à
internet dos estabelecimentos hoteleiros, ou seja, 12,5%. Do total de 63 comentários
com referência à oferta de sinal wi-fi, 39 postagens eram negativas, ou seja, 61% do
total declarou estar insatisfeito. As principais queixas estão relacionadas à qualidade
do sinal, à indisponibilidade da rede e diferença de qualidade em quartos distantes da
recepção. Um usuário comentou em 23 de outubro de 2015: “minha única reclamação
é que, como meu quarto era o último do corredor, eu sequer encontrava o sinal de wi-
fi, então tive que ficar na recepção para acessar internet”. Outro usuário comentou em
5 de dezembro de 2015: “como o hotel está sempre cheio o dono não se sente
motivado a melhorar, apesar das inumeras [sic] reclamações dos hospedes”.
Do total de comentários que mencionam internet, obteve-se 24 com
comentários positivos e satisfeitos com o serviço, ou seja, 39%. Um dos comentários
positivos é de 14 de janeiro de 2013 em que afirma que “ainternet funciona muito
bem”.
Pode-se observar que apesar do número de comentários sobre a conexão de
internet não ser representativo frente ao número total de comentários no TripAdvisor
sobre os hotéis na fronteira Chuí/Brasil-Chuy/Uruguay, a maioria dos clientes declarou
não estar satisfeita com os serviços de conexão wi-fi.
O registro da insatisfação dos clientes pode influenciar clientes que priorizam a
qualidade de internet no processo de decisão do meio de hospedagem. Porém, como
detectado na pesquisa, a insatisfação quanto à conexão wi-fi não é um problema
interno de um hotel, mas sim de todos os estabelecimentos hoteleiros da fronteira, o
que pode ser também um fator de influência na decisão de escolha do destino ou de
pernoitar no destino.
564
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sentimento de permanecer em um lugar específico passou a ser intrigante
e constante, e passamos a ser instigados a desafiar os limites quase anulados graças
à globalização e tecnologias facilitadores do deslocamento e da comunicação
(BAUMAN, 1999). Dessa forma, buscou-se detectar de que forma as TICs podem ser
um fator de interferência na satisfação dos clientes dos hotéis da fronteira Chuí-Chuy.
Pode-se perceber que, segundo os comentários no site TripAdvisor, os
clientes optaram por avaliar outros elementos que não a internet. Porém, entre os que
avaliaram a conexão wi-fi, percebeu-se que a maioria dos usuários declarou-se
insatisfeita.
Para os futuros estudos, recomenda-se ampliar a pesquisa aos comentários
de restaurantes da mesma região, assim como entrar em contato com os
estabelecimentos para conhecer as limitações dos mesmos em relação à contratação
de planos de internet tentando-se compreender o porquê das limitações no serviço,
se de fato se tratam de questões infraestruturais locais, específicas de uma área de
fronteira.
REFERÊNCIAS
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HANNAM, Kevin; BUTLER, Gareth; PARIS, Cody Morris. Developments and key issues in tourism mobilities. Annals of Tourism Research, v. 44, n. 1, p.171–185, jan. 2014. HISSA, Cassio Eduardo Viana. A mobilidade das fronteiras: inserções da geografia na crise da modernidade. Belo Horizonte: EdUFMG, 2002.
565
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566
GT 5 – TURISMO, TERRITÓRIO, ÁREAS NATURAIS E SUSTENTABILIDADE
UMA BREVE AVALIAÇÃO DA TRAVESSIA CASSINO-BARRA DO CHUÍ, RS-
BRASIL SOB A ÓTICA DA SEGMENTAÇÃO DO TURISMO DE AVENTURA
567
POZZADA, Maristel125
E-mail: [email protected]
KUNZ, Jaciel Gustavo(Orientador)126
E-mail: [email protected]
Palavras-chave: Segmentação dos produtos turísticos; Turismo de aventura;
Travessia Cassino-Barra do Chuí.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem o objetivo de analisar o produto turístico “Travessia
Cassino-Barra do Chuí” 127 (que ocorre no extremo-sul do Brasil), na ótica da
segmentação do Turismo de Aventura (TA). Por meio da avaliação de elementos de
um estudo de caso específico, propõe-se observar a(s) atividade(s) de aventura
desenvolvida, o que envolve equipamentos necessários, serviço de guias durante
essa travessia,confrontando a prática proposta com diretrizes da literatura do TA e do
Ministério do Turismo.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O trabalho caracteriza-se por ser de caráter descritivo-exploratório, com
fontes de dados secundárias (documental) e coleta de dados primários através de
125Acadêmica do Curso de Bacharelado em Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Campus Santa Vitória do Palmar. 126Bacharel e Mestre em Turismo. Docente no Curso de Bacharelado em Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Campus Santa Vitória do Palmar. 127Cabe esclarecer que a empresa que comercializa o produto por vezes o chama de “Travessia da Maior Praia do Mundo – Praia do Cassino ao Chuí”, embora a travessia não percorra o território do município do Chuí-RS. O ponto final são os molhes da barra do Arroio Chuí, que, nessa área, são o limite entre Brasil e o Uruguai e o ponto mais meridional no Brasil, num percurso de 220km. A Barra do Chuí é uma localidade (balneário) pertencente ao município de Santa Vitória do Palmar. Assim, o trajeto percorre áreas deste município e do de Rio Grande (Cassino).
568
entrevista como roteiro estruturado, com perguntas abertas. Tal entrevista foi
realizada por intermédio de e-mails com um dos organizadores da travessia e guia de
turismo,Fernando Souza Neto.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo será caracterizado primeiramente o objeto empírico de estudo
do referente trabalho e posteriormente serão mostradas as definições dos conceitos
trabalhados no estudo acerca de autores que discorrem sobre esse segmento
turístico.
A planície costeira do Rio Grande do Sul se desenvolveu sob a influência das
variações climáticas e das flutuações do nível relativo do mar no Quaternário128,
acumulando sedimentos em dois tipos principais de sistemas deposicionais: um
sistema de leques aluviais, que ocupa uma faixa ao longo da parte mais interna da
planície; e, quatro distintos sistemas deposicionais transgressivo-regressivos do tipo
“laguna-barreira”. Essas quatro grandes mudanças no nível do mar resultaram em
numerosas depressões ocupadas por lagunas, lagoas e banhados, além de
acumulações de areia formando cordões de dunas paralelas à costa (SHÄFER,et al.,
2009).
Os ventos predominantes que partem do nordeste (NE)atuam sobre a essa
área e desempenham importante papel na dinâmica dos ecossistemas, na
movimentação das dunas migratórias e, assim, na forma de lagoas. A vegetação
responde aos efeitos dos ventos, assumindo feições particulares chamadas
anamorfose. Uma de suas características são as árvores “em bandeira”, com todos
os galhos orientados no mesmo sentido. As anamorfoses devem-se à destruição de
indivíduosjovens de espécies expostos ao vento, que provoca sua dessecação rápida
e sua morte, pela ação do spray de água salgada. Isso pode se estender por muitos
quilômetros ao longo do litoral.(SHÄFER, et al., 2009).
128Na escala de tempo geológico, o Quaternário é o período da era Cenozóica, a qual congregava as épocas do Pleistoceno e doHoloceno. O período Quartenário inicia há 1,8 milhões de anos e dura até os dias atuais.
569
No que tange ao TA, estabelece-se que este consiste nos movimentos
turísticos constituídos pelos deslocamentos e estadas que envolvam a efetivação de
atividades tradicionalmente ditas turísticas (hospedagem, alimentação, transporte,
recreação e entretenimento, recepção e condução de turistas, operação e
agenciamento), as quais só existem em função da prática de atividades de aventura.
Entende-se, portanto, que as atividades de aventura, nesse caso, também são
consideradas intrinsecamente turísticas (BRASIL, 2008).
É possível distinguir quatro tópicos do TA: viagem independente, que se
qualifica como turismo no sentido das estatísticas econômicas, envolvendo no mínimo
algum transporte e acomodação comerciais e também atividades que os viajantes
considerem como de aventura;pacotes comerciais completos de TA, com serviços de
guias, que se originam em datas e lugares específicos; com atividades de aventura
disponíveis tanto para turistas quanto para moradores locais, mas nas quais a
proporção mais significativa da clientela seja composta por turistas – estações de
esqui são bons exemplos; empresas e segmentos econômicos auxiliares que estão
relacionados ao TA por vários mecanismos, notadamente os setores de equipamentos
recreativos, roupas de marcas esportivas e uma proporção significativa do mercado
imobiliário ligado à migração motivada por esse estilo de vida, esses setores
atendendo pessoas que visitaram a área anteriormente e depois se mudam para
essas áreas permanentemente (BUCKLEY; UVINHA, 2011).
Inicialmente entendido como uma atividade voltada ao ecoturismo, o TA
atualmente possui características estruturais e mercadológicas próprias.
Consequentemente, seu crescimento vem trazendoum novo leque de ofertas,
possibilidades e questionamentos, que precisam ser compreendidos para a
viabilização da oferta do segmento com qualidade. O TAjá foi considerado uma mera
forma de estar em contato com a natureza, mesmo em tempos em que esse tipo de
atividade poderia ser visto com estranheza por alguns setores da sociedade. O
segmento nasceu com pequenos grupos dispersos geograficamente, de diferentes
classes sociais e idades, que começaram a desenvolver atividades junto ao meio
570
natural, passando a visualizar a possibilidade de fazer daquilo seu meio de
vida(BRASIL,2008).
A primeira definição de TA teria sido elaborada no Brasil, em 2001,na Oficina
para a Elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável do TA,
realizada em Caeté-MG. Após, em 2003, o Ministério do Turismo inicia o debate sobre
a criação de um marco regulatório para o segmento. No mesmo ano, foi elaborado um
diagnóstico nacional e internacional que visava identificar experiências de
normalização, certificação e regulamentação da área, sendo posteriormente definido
um novo conceito conforme expresso a seguir: “Turismo de Aventura compreende os
movimentos turísticos decorrentes da prática de atividade de aventura de caráter
recreativo e não competitivo.” (BRASIL, 2008, p.14).
Embora haja cuidado com a manutenção do ambiente natural, tem como foco
a prática de esportes de risco controlado e a possibilidade da execução dessa
atividade em um espaço natural, o qual servirá como cenário para a atividade física.
Esse desenvolvimento tem gerado um número cada vez maior de feiras e encontros,
que possibilitam troca de experiências, definição de roteiros e atividades e a busca de
uma linguagem única, Por ser um segmento novo, o TA ainda necessita se estruturar
melhor e identificar suas características e exigências. Suas atividades englobam
modalidades de: água, como rafting, canoagem e hidrospeed129; ar, como paraglider,
paraquedismo e balonismo, e, terra, como rapel, cascade e caminhadas.
O turismo de aventura é a modalidade em que o turista protagoniza atividades
de aventura – entendidas como “experiências físicas e sensoriais recreativas que
envolvem desafios e que podem proporcionar sensações diversas como liberdade,
prazer e superação” (MACHADO, 2005) – como canoagem, ciclismo, arborismo,
caminhadas e mergulho. As práticas podem ocorrer em diversos espaços (natural,
construído, urbano, rural) e são de caráter recreativo e não competitivo – quando
há competição, é considerado Turismo de Esportes.
129Hidrospeed é uma atividade que se assemelha a um bodyboard na água. Nele, o praticamente fica
em cima de uma pequena prancha e, deitado, enfrenta a correnteza do rio, seguindo o fluxo d'água.
571
Já o ecoturismo é um segmento (ou mais que isso) que considera viagens a
áreas naturais como uma atividade responsável, que incentiva a conservação do
patrimônio natural e cultural e promove o bem-estar das populações locais e a
sensibilização ambiental dos turistas. Por isso, o ecoturismo pressupõe atividades
que promovem a reflexão e a integração entre ser humano e ambiente natural, com
envolvimento do turista nas questões relacionadas à conservação dos recursos do
destino escolhido, que deve ser aproveitado de forma “ecologicamente suportável”em
longo prazo, além de economicamente viável, assim como ética e socialmente justo
para as comunidades residentes (MACHADO, 2005, p.27).
Este estudo vai se ater à caminhada no Turismo de Aventura que é uma
atividade em ambiente natural, que pode ter diversos graus de dificuldade, buscando
a superação mais ativa dos limites pessoais e procurando realizar trilhas longas, com
obstáculos, diferenciando-se, assim, das trilhas mais contemplativas do ecoturismo. A
atividade pode ser realizada por qualquer pessoa, em qualquer idade, e deve estar
sempre acompanhada de alguma motivação física ou psíquica (MACHADO, 2005).
Segundo Machado (2005), os equipamentos necessários para percorrer trilhas mais
longas necessitam de uma quantidade maior de roupas (no mínimo duas trocas
completas), material para cozinha, lanternas, fogareiro, barraca, saco de dormir,
bússola,canivete,muita água, boné protetor solar, repelentes de insetos, kit de
primeiros socorros, tênis ou bota para caminhada.
Para Martins (2005 apud MACHADO, 2005), não é preciso ser atleta para
praticar este tipo de esporte; "para fazer trilhas, basta ter disposição e bom humor",
avalia o autor, classificando o trekking em caminhada de travessia, realizada entre
dois pontos, na qual o objetivo é atingir o local proposto, podendo durar vários dias.
Um grupo de pessoas opera/realiza esta travessia Cassino-Barra do Chuíhá
quatro anos em meio a ambiente natural da costa oceânica do Atlântico no extremo
sul do Brasil 130 . São aproximadamente sete dias e seis noites de isolamento
130Site consultado <http://pisa.tur.br/pacote/travessia-da-maior-praia-do-mundo-praia-do-cassino-ao-
chui> Acesso em: 15 de setembro de 2016.
572
esocialização, “um desafio físico e mental de elevação espiritual”,segundo seus
organizadores. Segundo o idealizador e guia da travessia entrevistado, Souza Neto
(2016), graduado em Odontologia, o limite de participantes é de doze pessoas mais a
equipe de trabalho, que normalmente é de cinco pessoas.
No caso da Travessia Cassino-Barra do Chuí (O caminho dos Faróis)
conforme material de divulgação, o check-listinclui: materiais dehigiene e
medicaçãocompreferencialmente biodegradáveis;colírio, xampu, escova/creme e fio
dental, desodorante, sabonete, agulha, tesourinha, linha de costura, faixas tipo gaze,
esparadrapos (em boa quantidade), protetor solar e labial, repelente, curativo auto-
adesivo,relaxante muscular (que não cause sonolência), creme hidratante para pele,
pomada contra assaduras, vaselina (gelatina de petróleo) para evitar bolhas,
medicamentos de uso contínuo ou para primeiras necessidades, papel higiênico
elenços umedecidos.
A empresa recomenda ainda que se deve separar: roupas de dormir e roupas
de caminhada. Roupas de dormirsempre serão as mesmas, recomendam os
organizadores. Solicita-se, ainda:sandália para descanso nos acampamentos, pares
de meias para dormir,calça de dormir (pijama ou abrigo), bermuda,roupas
íntimas,blusas (de preferência de mangas compridas), blusa e calça “segunda pele”,
casaco de frio (de preferência não muito pesado ou volumoso), touca de lã, lenço de
pescoço ou fralda de tecido para cobrir durante a caminhada, pequeno travesseiro
inflável, roupas de banho, toalha, um pano tipo fralda e acessórios relacionados, pano
para limpeza mais pesada como para limpar a areia dos pés ou da mochila.
A empresa indica que, quanto às roupas recomendadas, o ideal é utilizar tênis
de caminhada, de preferência com amortecedores, e que não sejam justas na ponta
dos pés, pois incham bastante durante um dia de caminhada na areia e se houver
descuido, a perda de unhas pode acontecer.
573
De acordo com o site da Roraima Brasil131 – que realiza a travessia – é
aconselhável evitar tênis com tecido de trama aberta (furadinhos), pois pode entrar
areia e isso pode causar desconforto e bolhas. Deve-se levar quatro pares de meias
(duas finas e duas grossas), calça leve para caminhada, bermuda,camisetas para as
caminhada, canga grande de tecido leve, bandana tubular.Em momento algum
quaisquer pessoas teriam tido restrições alguma a essa travessia, pelo contrário;
exige que as pessoas emitam um seguro-viagem para participar e se elas solicitarem,
a contratação se faz por intermédio da empresa. Dois guias acompanham a travessia.
Quanto aos atrativos com os quais os aventureiros se deparam, há quatro
faróis durante a travessia.Dois são desabitados: Farol Verga e Farol Sarita. Dois são
habitados: o imponente e isolado Farol de Albardão e Farol do Chuí, na fronteira com
o Uruguai. Quem cuida e neles vive é representante da Marinha brasileira. O vista
obtida da parte superior farol de Albardão costuma impressionar visitantese permite
que se tenha uma ideia clara da quão deserta é a região. Já de cima do farol do Chuí,
tem-se uma vista da fronteira sul e das praias uruguaias. Um dos momentos “pontos
altos” do caminho é o acampamento próximo ao Albardão. A visita ao interior dos
faróis está vinculada a autorização da Marinha Brasileira e não pode ser garantida
pelos organizadores.
Nos primeiros 20 km de caminhada, encontra-se o “Fotogênico Altair”, um
navio encalhado nesta praia desde 1976. São mais de 200 naufrágios registrados na
costa “gaúcha”, sendo muitos deles nesta região. Mas, independentemente do que
possa ser observado, cada local ou objeto possui sua história ou evolução. As dunas
são uma presença constante durante a caminhada, porém, durante quase 100km elas
formam um cenário diferenciado.Particularmente próximo à região do Farol de
Albardão, elas se estendem sem vegetação por 4 km, em direção à Lagoa Mangueira
e por 40km no sentido Norte/Sul.Em noite de lua cheia, a iluminação extra pode
permitir uma contemplação distinta. Observam-se árvores, boias marinhas plásticas
131 Disponível em: <<http://www.roraimabrasil.com.br/cassino-ao-chui-travessia-da-maior-praia-
mundo/> Acesso em: 10 de setembro 2016>. Acesso em 15 out. 2016.
574
de meio quilo, bóias marinhas de ferro com mais de uma tonelada, pranchas de
madeira trabalhadas pelo mar durante anos, carapaças de tartarugas gigantes, vivas
e mortas, além de muitas conchas. O responsável garante que o mar vai depositar
“surpresas”no interior de cada participante da caminhada.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
Foi possível analisar através da literatura existente sobre turismo de aventura
a travessia Cassino-Barra do Chuí. Dentre os quatro tipos ou componentes diferentes
do turismo de aventura, o que caracteriza melhor esta atividade é o segundo tipo:
pacotes comerciais completos de turismo de aventura, com serviços de guias, que se
originam em datas e lugares específicos. A travessia é realizada anualmente nos
meses mais amenos da primavera, utilizando sempre o mesmo trajeto. A faixa de areia
contínua de 220km (com cerca de 180km desertos) que se estende à fronteira extremo
sul do Brasil, com o oceano Atlântico à esquerda e a Estação Ecológica do Taim e
Lagoa da Mangueira à direita, margeando praias de difícil acesso, compõe o cenário
e os atrativos oferecidos e experenciados pelos turistas praticantes da aventura.
Os serviços e equipamentos disponibilizados – que incluem:pensão completa
(café da manhã, almoço de trilha e jantar);kit primeiros socorros; equipamentos
paracamping (barracas, lonas, material de cozinha);guiamento; cozinheiro e
auxiliar;veículo de apoio durante todo o trajeto da caminhada; seguro-viagem –
apontam para um produto de TA completo, profissionalizado e orientado ao segmento
de mercado que propõe atender, sem constituir ainda em produto de massa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A caminhada no TA é uma atividade em ambiente natural, que pode ter
diversos graus de dificuldade, buscando trilhas longas e por meio delas a superação
dos limites pessoais. É o que os turistas podem encontrarna travessia Cassino-Barra
do Chuí, conhecida como a da maior praia do mundo. No trajeto não há hospedagem,
urbanização, sinal para telecomunicações, tampouco preocupações do dia a dia que
ocupam a maioria das pessoas. A experiência é peculiar dentro do segmento de TA
575
ao propor passar-se sete dias caminhando numa praia praticamente deserta, em meio
a ambiente com pouca interferência, onde estão presentes conchas, dunas, navios
naufragados e faróis, distante de determinados supérfluos, por vezes impostos pelo
cotidiano. A travessia permite tal experiênciade naturezacom auxílio do grupo de apoio
fornecendo todos os equipamentos necessários.
Estudos posteriores poderão pesquisar as percepções dos turistas, bem como
realizar estudos de mercado (sobre perfil do consumidor), ou, ainda, sobre possíveis
impactos negativos dessa prática de TA em ecossistemas da área.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo de aventura: orientações básicas.Brasília: Ministério do Turismo, 2008. ______. Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais. Brasília: Ministério do
Turismo, 2006.
MACHADO, A. Ecoturismo, um produto viável: a experiência do Rio Grande do Sul. São Paulo: Senac, 2005. BUCKLEY, R.; UVINHA, R. R..Turismo de Aventura: Gestão e Atuação
Profissional. Rio de Janeiro:Elsevier, 2011.
SHÄFER, A. et al.Atlas Socioambiental: municípios de Mostardas, Tavares, São
José do Norte, Santa Vitória do Palmar. Caxias do Sul: Educs, 2009.
576
GT 6 – TURISMO, EDUCAÇÃO E EPISTEMOLOGIA
PROJETOS DE EXTENSÃO E A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EVENTOS:
UM ESTUDO DO PROJETO “EQUIPE GESTORA DE EVENTOS” – FURG/SVP
577
SCHWAB, Maria do Carmo Brandão132 MONTES, Eliezer133 [email protected]
LEOTI, Alice134
Palavras-chave: Eventos; Gestão; Formação Profissional; Projeto de Extensão;
Prática Profissional.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância de projetos
de extensão no âmbito universitário que propiciem aos alunos a oportunidade da
vivência prática dos conceitos abordado nas aulas teóricas. Como estudo de caso,
aborda-se o projeto desenvolvido pelo Laboratório de Eventos do Curso de Tecnologia
em Evento-FURG, intitulado de “Equipe Gestora de Eventos” e seus desdobramentos,
o qual propiciou, em sua primeira edição no ano de 2015/2016, a participação de
quatro discentes dos cursos de Tecnologia em Eventos e um do curso de Bacharelado
em Turismo Binacional. Já na sua segunda edição, a participação de discente tem se
dado de forma exclusiva para os discentes do curso de Tecnologia em Eventos.
Partindo-se da premissa que curso de formação em nível superior de profissionais na
área de eventos, são em sua maioria bastante recentes no meios acadêmico. Portanto,
observa-se que ainda há uma lacuna na formação e produção acadêmica, voltada
especificamente, para a análise e aprofundamento do processo pedagógico na área
de gestão de eventos.
132Licenciada em História -FURG e graduanda em Tecnologia em Eventos- FURG. 133Graduando em Tecnologia em Eventpos- FURG. 134Especialista em Gestão Pública e Desenvcolvimento Regional – UFPEL, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural –UFPEL. Atua como técnica do Laboratório de Eventos – FURG..http://lattes.cnpq.br/6646557323996742
578
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O projeto “Equipe Gestora de Eventos”, criado no ano de 2015, como atividade
de extensão, foi formalizado através do Programa Institucional de Desenvolvimento
do Estudante – PDE/FURG, Subprograma de Formação Ampliada – Bolsas de
Pesquisa, Extensão e Cultura. Ele é realizado no Campus da Universidade Federal
de Rio Grande (FURG) em Santa Vitória do Palmar. Oportunizou a participação de
discentes do curso de Tecnologia em Eventos e do curso de Turismo Binacional,
visando atender as necessidades destes em aplicar conceitos apreendidos nas
disciplinas de “Organização de Eventos I, II ,II, IV e V”, e na disciplina de “Cerimonial
e Protocolo” áreas estas diretamente vinculadas com os eventos.
O projeto desenvolveu-se através da realização de diferentes ações nas
quais, os acadêmicos, foram incumbidos de diferentes tarefas ligadas à
operacionalização de eventos realizados no campus Santa Vitória do Palmar e aos
eventos externos ao campus, demandados pela comunidade local. Podendo ser
citados os seguintes eventos: ciclos de palestras, reuniões administrativas, semana
nacional dos museus entre outros. Nesse contexto, ocorreram encontros para estudos
e discussão de temas referentes à operacionalização de eventos, como as normativas
que regem a ordem de precedência das bandeiras, a composição de uma mesa
diretiva, preparação de mestre de cerimônia, princípios da hospitalidade, composição
e decoração de coffee break e coquetéis, entre outras atividades correlacionadas à
temática e sempre que houvesse demanda para operacionalizar eventos. Nestes
encontros eram divididas tarefas e responsabilidades sempre sob a supervisão direta
da coordenadora do projeto.
Logo após, a realização de cada evento eram realizadas reuniões, fase esta
denominada de pós-evento, com o objetivo de avaliação do desempenho da equipe.
Tal atividade permitia aos discentes a reflexão de seu desempenho, do
desenvolvimento da atividade embasada na teoria já adquirida nas aulas teóricas, e
principalmente refletir sobre a complexidade do trabalho em equipe. Além de pensar
579
as relações interpessoais que se estabelecem num momento de tensão, que
geralmente envolve o trabalho em eventos.
Em seu segundo ano, como desdobramento de suas atividades, o projeto,
promoveu o curso “Som, Luz, Ação’’ que consistiu em atividade com duração de 20h.
E, teve como objetivo preencher uma lacuna na formação dos discentes do curso de
Tecnologia em Eventos, visto que os componentes curriculares não contemplam o
conhecimento prático no manuseio de equipamentos eletrônicos, som e luz essenciais
para a produção de um evento. Oportunizando assim o aperfeiçoamento profissional
dos discentes.
Durante este curso, os discentes participantes tiveram contato direto com
terminologias específicas de equipamentos usados na produção de eventos, mas que
até então eram desconhecidos para eles. Apesar do conhecimento teórico ser
relevante, o ápice do curso se deu nos momentos em que os participantes tiveram a
oportunidade de montar toda a aparelhagem sonora e de iluminação para a gravação
de um vídeo promocional.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Pensar a formação de um tecnólogo em eventos exige a abordagem de
diferentes conceitos e implicações. O que é um evento? Quais suas implicações na
sociedade enquanto produto? Quais suas relações com outras áreas? Como deve
ocorrer esta formação? Estes são alguns dos aspectos que devem pontuar o processo
de formação de um profissional capaz de planejar e desenvolver um evento em todas
as suas etapas.
Segundo Barros e Fontes (2002) os eventos são acontecimentos resultante
de ações planejadas que visam atingir resultados preestabelecidos. Para Giacaglia
(2003) os eventos caracterizam-se pela sua extraordinariedade. Já Zanella (2012),
aponta para as fortes emoções que um evento provoca em seus participantes e
organizadores, e, portanto, impõe a exigência de muito planejamento, iniciativa,
criatividade, competência e resultado em seu processo de organização.
580
O crescimento econômico do setor de eventos nos últimos anos, segundo
pesquisa Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos do Brasil (2013),
realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)
e a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (ABEOC), o Brasil registra um
faturamento total de 209,2 bilhões e 48,7 bilhões de impostos. Estes valores
representaram 4,32% do PIB brasileiro e se traduziram em mais de 590mil eventos
que geraram 7,5 milhões de empregos. Estes dados são, sem dúvida, suficientemente
para justificar a necessidade de formar especialistas capazes de atuar no mercado de
eventos.
O Ministério do Turismo em sua publicação “Turismo de Negócios & Eventos:
Orientações Básicas (2010) aponta para a importância da profissionalização do setor
de formas a garantir desenvolvimento tecnológico e científico, e são fatores
preponderantes para se impulsionar o crescimento do segmento de turismo de
eventos. O setor de eventos é apontado como estratégico para a mitigação dos efeitos
da sazonalidade, proporcionado a não dependência de atrativos naturais ou culturais.
Assim, na medida em que o mercado de eventos cresce e se consolida no Brasil, há
uma necessidade de profissionais capacitados para gerir e atuar no setor.
Para a formação de profissionais capazes de atuar neste vasto mercado, é
necessário considerar que ele deve desenvolver habilidades de forma ativa e crítica,
deve estar sempre bem informado, ser ágil e tenha apto a mudanças dadas à dinâmica
e as complexidades que envolvem a gestão de um evento. Segundo Zanella (2012),
o organizador de um evento deve demonstrar arte e competência para corresponder
aos anseios do cliente, garantindo um serviço eficiente que supere as expectativas.
Para tanto, sua formação deverá estar embasada no conhecimento teórico
associado ao exercício prático que lhe permitirá o desenvolvimento da realidade e de
seu potencial. Paulo Freire afirma em sua obra “Pedagogia da Autonomia” (2016), que
a reflexão crítica da prática é importante para a relação teoria/ prática, uma vez que
sem a qual a teoria se torna apenas palavras, e a prática, ativismo. Destarte, criar
possibilidades para que os alunos dos cursos possam desenvolver atividades práticas
vivenciando os conceitos trabalhados, experimentando e principalmente
581
autoavaliando seu desempenho, torna-se crucial.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
Tal atuação permitiu aos discentes a participação efetiva na organização de
diferentes eventos de portes e classificação variada, tais como reuniões, encontros
culturais, semanas acadêmicas, palestras, entre outros. Atuando em diversos setores:
A&B, recepção, cerimonial, setor operacional todos realizados no próprio campus
entre outros, no Campus de Santa Vitória do Palmar.
A realização do projeto “Equipe Gestora de Eventos” permitiu aos discentes a
plena compreensão da complexidade do processo de organização de um evento em
suas etapas pré, trans e pós-evento. Gerir espaços observando os fluxos, cumprir com
o protocolo exigido – como o posicionamento de bandeiras, execução de hinos,
disposição de autoridades a mesa –, elaborar o cerimonial, organizar e servir coffee
break, atendimento de recepção foram algumas das tarefas desempenhadas.
Cabe mencionar que as atividades acima descritas são estudadas em sala de
aula e praticadas durante o projeto. Porém, vivenciar e experienciar a postura formal
exigida a um profissional de eventos, bem como a resolução de conflitos internos, e,
ainda lidar com imprevistos na execução do evento, só podem ser interiorizadas pelos
discentes através do exercício prático. O projeto permitiu a construção de um manual
de uso prático do miniauditório do Campus, manual este entregue aos discentes do
curso de Tecnologia em Eventos e todos os docentes e técnicos da Universidade
Federal do Rio Grande (FURG), campus de Santa Vitória do Palmar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A participação do projeto permitiu aos discentes compreenderem a dimensões
do processo de organização de um evento. As tensões geradas pela necessidade de
garantir a realização de um momento único e especial, assim expondo o grupo as
dificuldades do trabalho de equipe, e também as exigências de um grande
582
autocontrole de suas emoções em diferentes situações de pressão. A experiência no
projeto proporcionou o desenvolvimento da capacidade de desempenhar funções
mantendo postura e eficiência, dinamismo e trabalho em equipe suprindo ou
solucionando de forma rápida todo e qualquer tipo de imprevisto que possa acontecer
durante a realização de um evento.
A atuação do no referido projeto tornou-se por tanto a oportunidade de avaliar
e demonstrar a importância deste tipo de atividade prática no processo de formação
acadêmica dos discentes de Tecnologia em Eventos. O projeto com sua continuidade
vêm permitindo desdobramentos, como o caso do curso de “Som, Luz e Ação”,
estendendo a possibilidade de atingir o maior número de discentes. Bem como a
possibilidade da realização de outros cursos similares em áreas como, por exemplo,
fotografia. Momentos estes que permitem uma maior troca de conhecimento,
aprendizagem e prática além do exercício da interação social no desenvolvimento do
exercício profissional.
REFERÊNCIAS ABEOC,SEBRAI.II Dimensionamento Econômico da Industria de Eventos no Brasil- 2013. Disponível em: file:///E:/art%20mpu.cites/II-dimensionamento-setor-eventos-abeoc-sebrae-171014.pdf. acesso em 2 out 2016. BRASIL . Ministério do Turismo. Turismo de negócios e eventos: orientações básicas. / Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação-Geral de Segmentação. – 2.ed – Brasília: Ministério do Turismo, 2010. Disponível em: file:///E:/art%20mpu.cites/Turismo_de_Negocios_e_Eventos_Orientacoes_Basicas%20(1).pdf. Acesso em 5 out 2016. BRITO, Janaina; FONTES, Nena. Estratégia para eventos: uma ótica de marketing e do turismo. São Paulo: Aleph, 2002. CARDOSO, Claudete da Cruz, BATTESTIN, Claudia e CUELLAR, Jorge Orlando Educação Dialógica e Participativa. Disponível em: http://www.unifra.br/eventos/jornadaeducacao2006/2006/pdf/artigos/pedagogia/EDUCA%C3%87%C3%83O%20DIAL%C3%93GICA%20E%20PARTICIPATIVA.pdf .acesso em 1 set 2016
583
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa.34ªed. São Paulo: 2016. GIACAGLIA, Maria Cecília. Organização de Eventos: Teoria e Prática. São Paulo:
Cengage Learning, 2003.
GONÇALVES, Rithiele (et AL.).A importância das atividades práticas nas disciplinas básicas para a formação em saúde. SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO,
PESQUISA E EXTENSÃO. Anais... Disponível em: http://seer.unipampa.edu.br/index.php/siepe/article/view/5834 . Acesso em 30 de
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PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena.Estágio e docência: diferentes concepções. Disponível em http://www.cead.ufla.br/portal/wp-content/uploads/2013/10/Arquivo_referente_ao_Anexo_V_do_Edital_CEAD_06_2013.pdf . Acesso em 30 ago 2016. PRIGOL, Sintia; GIANNOTTI, Sandra Morais. A Importância da utilização da prática no processo de ensino-aprendizagem de ciências naturais enfocando a morfologia da flor. SIMPÓSIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 1. Cascavel. Anais... VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Docênca univesitária na educação superior. Disponível em file:///E:/art%20mpu.cites/Docencia%20na%20educação%20superior%2030-08.pdf. Acesso em 5 de outubro de 2016. ZANELLA, Luiz Carlos. Manual de Organização de Eventos: Planejamento e
Operacionalização. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.
CRUZEIROS MARÍTIMOS: UM ESTUDO DA PRODUÇÃO TEÓRICA DE
AUTORES BRASILEIROS
PERES, Mariana135;PERES, Jéssica.136 [email protected]
135Acadêmica do Curso de Bacharelado em Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – (FURG). 136Acadêmica do Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4497561P7.
584
KUNZ, Jaciel137 [email protected]
Palavras-chave: Transporte aquaviário; Conceitos; Cruzeiros
1 INTRODUÇÃO
O transporte marítimo passou por diversas transformações, desde a sua
origem como transporte de linha regular, utilizado para transporte de cargas e
pessoas, até o conceito que temos atualmente das viagens de Cruzeiro.
Foi dentro do processo de um movimento migratório, com pessoas que
migravam para países da América do Sul com pretensão de chegar a determinado
destino em busca de uma nova oportunidade de estilo de vida, que surgiram os
cruzeiros marítimos no Brasil (AMARAL, 2006).
A partir dos 1960 houve uma quebra de paradigmas, que se deu
principalmente nos países centrais, como Estados Unidos e Europa, na qual o
transporte marítimo passa a não ser mais questão central, e há uma ampliação da
oferta de serviços e entretenimento a bordo (AMARAL, 2006). Nesse sentido, a partir
de então, deu-se início a nova modalidade de viagem em navios, quando os cruzeiros
começaram a ganhar a roupagem turística associada aos serviços oferecidos
anteriormente.
Entre as temporadas 2004/2005 e 2010/2011, houve um aumento considerável
da quantidade de navios e de cruzeiristas no país, o que demonstra a importância dos
cruzeiros marítimos no mercado nacional. Mesmo que tal evolução tenha sofrido uma
inversão dos resultados desde então, o número de cruzeiristas que viajaram no Brasil,
ainda foi significativo (CLIA ABREMAR BRASIL/FGV; 2015).
137Graduado em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Mestre em Turismo pela Universidade Caxias do Sul (UCS). Docente no Curso de Turismo Binacional da Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Coordenador do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai”.http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4294176D2.
585
O estudo sobre os cruzeiros marítimos ainda é recente, não apenas no Brasil,
mas também no mundo.Além disso, há certa escassez de referências em nosso país,
apesar de ter havido algum crescimento. No entanto, ainda que escassa, a bibliografia
disponível auxiliou para a análise a respeito dos conceitos de Cruzeiros Marítimos.
Tendo isto em vista, o presente trabalho tem por objetivo apresentar conceitos
sobre cruzeiros marítimos de alguns autores da literatura brasileira, no intuito de
contribuir para o embasamento teórico de projetos que estudem as relações entre a
atividade turística e cruzeiros marítimos, bem como fomentar a continuidade de
publicações científicas sobre o tema.
Para tanto, esta pesquisa caracteriza-se por ser exploratória e bibliográfica.
Nesse sentido, a metodologia empregada baseia-se na realização de uma revisão
teórica dos autores que se convencionou tratar os principais da área de Turismo que
fazem menção aos cruzeiros marítimos assim como de autores que escreveram
exclusivamente sobre o tema. Além disso, comentaram-se os respectivos conceitos
abordados em cada obra, discutindo-os, numa visão abrangente.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa caracteriza-se, quanto aos objetivos, como sendo de
caráter exploratório, já que buscou explorar conceitos de cruzeiros no intuito de
contribuir para o embasamento teórico de projetos que estudem as relações entre a
atividade turística e cruzeiros marítimos, bem como fomentar a continuidade de
publicações científicas sobre o tema.
Sendo assim, para este estudo realizou-se pesquisa bibliográfica a partir de
investigação emlivros de autores especializados no tema e na área do Turismo
referente transportes turísticos e cruzeiros marítimos a fim de encontrar conceitos
sobre cruzeiros. Segundo Marconi e Lakatos, (2010) a pesquisa bibliográfica, ou de
fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema
do estudo, seja publicações avulsas, livros, pesquisas, monografias, boletins, teses,
jornais, revistas e etc.
586
Para o embasamento teórico da pesquisa realizou-se revisão de literatura
sobre o conceito de cruzeiros marítimos, no qual é realizado um busca dos principais
autores na área de Turismo que fazem menção a eles, destacando os conceitos
abordados em cada obra, e apresentando diversas visões sobre a definição.
Segundo Marconi e Lakatos (2010) a ciência lida com conceitos e para que
se possa esclarecer um fenômeno ou fato que se está investigando e de comunicá-lo
de forma não ambígua, é indispensável defini-lo com precisão. Além disso, os autores
destacam que se deve considerar que os conceitos podem ter significados diferentes
conforme com o quadro de referência ou ciência que os emprega, assim como uma
mesma palavra pode ter vários significados. Desta maneira, a definição dos termos
visa informar e indicar o emprego dos conceitos na pesquisa, o que será feito com as
definições de “cruzeiros marítimos” neste trabalho.
3 DISCUSSÕES TEÓRICAS ACERCA DOS CRUZEIROS MARÍTIMOS E SEUS
CONCEITOS
O transporte marítimo passou por significativas mudanças ao longo do tempo.
Primeiramente, baseava-se num transporte de linha regular, e foi evoluindo até o
conceito que temos atualmente das viagens de Cruzeiro.
De acordo com Amaral (2006), somente a partir dos anos 1960 há uma
ampliação da oferta de serviços e entretenimento a bordo, fazendo com o que os
cruzeiros começassem a ganhar uma proposta mais ligada ao turismo de lazer.
Tendo isso em vista, Amaral (2006) afirma que um navio de cruzeiros é um “resort
flutuante” pela variedade de opções de lazer, pelo conforto e pela qualidade das
acomodações que oferece.
Neste conceito o autor se refere ao navio não apenas como um meio de
transportar o passageiro, mas também de proporcionar diversas possibilidades de
lazer garantindo o conforto e colocando à disposição outros elementos necessários
para uma boa viagem, tais como, shows, festas, cassino, restaurantes, bares e etc.
Palhares (2002), também afirma que os navios transformaram-se em verdadeiros
resorts flutuantes de alto padrão. Segundo ele, estes passaram a enfocar não só seus
587
destinos turísticos, mas também incorporando vários atrativos e atividades a bordo,
em contrapartida ao transporte marítimo convencional, cuja função última é
transportar pessoas. Para este autor, o objetivo do cruzeiros é em grande parte fazer
com que seus hóspedes desfrutem das infraestruturas que os navios oferecem além
de visitarem destinos e atrativos ao longos da viagem.
Já para Lohmann, Fraga e Castro (2013) os navios de cruzeiros se
transformaram em verdadeiros “destinos turísticos flutuantes” que proporcionam,
numa só viagem, uma experiência altamente satisfatória de hospedagem,
gastronomia, lazer, compras e entretenimento. Acerca disso,abordam a questão das
empresas passaram a priorizar não somente os itinerários com suas escalas (destinos
turísticos nos quais se desembarca), mas também o navio, incorporando vários
equipamentos e atividades a bordo a fim de transformar o navio em seu maior e
principal destino.
Montenajo (2001) considera os navios de cruzeiro meio de transporte mais
cômodos já que tanto os de serviços marítimos quanto fluviais são verdadeiros “hotéis
flutuantes”. Para o autor, o navio se converte não apenas em um transporte turístico,
mas também em um hotel flutuante com hospedagem, alimentação, entretenimento,
atividades de lazer e animação sociocultural, sendo um meio de transporte
essencialmente turístico.
Na visão mercadológica, de acordo com Saabe Ribeiro (2006)os cruzeiros
marítimos são equiparados a um “resort flutuante”, devido aos diversos serviços e
atividades de lazer oferecidos, como aulas de ginástica, infraestrutura aquática
(piscina) e outros esportes. Os atrativos noturnos são variados, podendo ser
destacados os bares (com música ao vivo), teatros e cassinos, além da realização de
festas. Tendo isso em vista, percebe-se uma procura por novos destinos turísticos,
aliada ao fato de os navios utilizados para cruzeiros marítimos contarem com uma
ampla infraestrutura de serviços. Com isso, os turistas sentem-se cada vez mais
motivados a optarem por uma viagem de cruzeiro, na qual a diversão é a palavra-
chave desse negócio.
588
No que se refere à sofisticação dos antigos transatlânticos que marcaram
época, ao luxo e conforto fazendo alusão aos meios de hospedagem, Beni (2008)
afirma que o navio era um verdadeiro “hotel de lazer flutuante”. Já, atualmente a
navegação marítima para turismo limita-se a cruzeiros com navios modernos,
amplos, verdadeiros complexos turísticos de alojamento flutuantes e, além disso,
aborda o fato do tráfego turístico, por via marítima, estar bastante diferenciado
atualmente.
Outro autor que se refere ao luxo é Andrade (2004), este apresenta os navios
como um meio de hospedagem que, apesar de possuir tamanho reduzido de
apartamentos e não ter janelas em algumas cabines, pode ter luxo e conforto em seu
projeto do interior e do mobiliário. Afirma, ainda, que os cruzeiros podem ser
considerados como autossuficientes, por agregarem todas as necessidades do turista
a bordo.
Para Pellegrini Filho (2000), os cruzeiros são vistos como uma viagem por
mares e oceanos, realizada em grandes navios, que apresentam enorme
infraestrutura de hospedagem e lazer, como lojas, quadras poliesportivas, recreação
infantil, shows, restaurantes, bares, atividades sociais etc. Este conceito traz variáveis
observadas não mencionadas como a recreação infantil, lojas e existência de quadras
poliesportivas.
Para Di Roná (2002) “os cruzeiros marítimos são uma atividade econômica
realizada na navegação exterior mais particularmente na navegação marítima de
cabotagem”. Esse conceito, aborda somente a questão econômica da atividade de
cruzeiros, entretanto, este conceito não expõe as principais nuances dos cruzeiros e
não explica os mesmos no que diz respeito às suas principais características – lazer
e entretenimento o dia todo, hospedagem, alimentos e bebidas, e, serviços.
Segundo a Organização Mundial do Turismo –OMT (2001), os Cruzeiros
Marítimos são como uma “fórmula de férias” que oferecem inúmeras atividades de
diversão a bordo, apresentam ampla variedade de destinos e a oportunidade de visitar
diferentes pontos turísticos em um único meio, em uma mesma viagem e por um único
589
preço. Segundo esse conceito, o meio de transporte também pode ser considerado
em si uma atração turística, pois ele também faz parte da experiência turística.
Para Torre (2002), o cruzeiro um tipo de embarcação que realiza uma viagem,
fundamentalmente de prazer com diversão a bordo e excursões nas costas e portos
do percurso, que segue estritamente um itinerário. A partir desse conceito percebe-se
o foco no entretenimento, não fazendo referência a outros serviços inerentes ao tema.
Já Paolillo e Rejowski (2006), além de mencionarem o entretenimento,
esmiúçam outros serviços que envolvem os cruzeiros. Estes afirmam que um cruzeiro
pode ser entendido como um “pacote turístico” que inclui transporte, alojamento,
alimentação, recreação, entretenimento e outros serviços oferecidos a um preço único
e conjunto.
E por fim, Amaral (2006), considera que o conceito poderia ter evoluído para
“Destino turístico itinerante”, devido à sua grande estrutura e também pelo fato de se
voltar para uma viagem com menor número de escalas e maior permanência dos
hóspedes no cruzeiro. No entanto, novo conceito não foi bem-aceito pelo mercado,
pois os clientes prefeririam as viagens com mais escalas. E também não foi bem aceito
pelas próprias companhias de Cruzeiro, pois o consumo a bordo aumentaria muito.
A partir do exposto anteriormente, verifica-se que alguns autores definem os
cruzeiros como meios de hospedagem. Nesse sentido Amaral (2006), Palhares (2002)
e Saab e Ribeiro (2006) abordam os navios como resorts flutuantes, ressaltando a
importância do lazer e entretenimento à bordo.
Montenajo (2001) e Beni (2008) tratam cruzeiros como hotéis, o primeiro como
“hotéis flutuantes” e o segundo como “hotel de lazer flutuante”.Já Andrade (2004),
define apenas como meio de hospedagem autossuficiente, sem estabelecer uma
categoria específica.
Di Roná (2002) ao definir cruzeiros marítimos limita-se a tratá-los como uma
atividade econômica sem listar aspectos estruturais e referentes ao lazer.
Por outro lado, Pellegrini Filho (2000) e Torre (2002) trazem em seus conceitos
o entretenimento e lazer como premissa nos cruzeiros. No entanto, o primeiro autor
590
entende os cruzeiros como uma viagem por mares e oceanos e o segundo como uma
embarcação que realiza viagens.
Para Paolillo e Rejowski (2006) os cruzeiros são como um pacote turístico, o
qual inclui os mais variados serviços, desde a alimentação à hospedagem. Já de
acordo com a OMT (2001) o transporte pode ser o atrativo turístico em si por fazer
parte da experiência turística.
Por fim, Lohmann, Fraga e Castro (2013) e Amaral (2006) abordam cruzeiros
como destinos,o primeiros como “destinos turísticos flutuantes” e o segundo como
“destinos turísticos itinerantes” não sendo bem-aceito pelo mercado.
Desse modo, percebe-se que as concepções acerca de cruzeiros marítimos
variam de autor para autor, algumas focando em aspectos estruturais e econômicos,
outras focando no entretenimento e lazer e há ainda conceitos que conseguem aliar
todos aspectos citados anteriormente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir deste estudo, evidenciou-se, que o Cruzeiro Marítimo é entendido, de
maneira geral pelos autores como um meio de hospedagem móvel autossuficiente,
que se desloca por meio aquático, e que se transforma no próprio motivo da viagem,
sendo, inclusive o principal destino do turista por representar a experiência turística
em si. No entanto, ainda existem autores que ao definirem cruzeiro marítimo se limitam
ao aspecto estrutural e econômico, não abordando o viés motivacional e de lazer.
Tendo em vista o significativo número de cruzeiristas que viajam no Brasil, e
que muitas vezes a viagem é sinônimo da realização de um sonho, é de suma
importância que sejam realizadas, por exemplo, pesquisas referentes a atuação dos
profissionais do lazer e hospedagem que vão atuar nos cruzeiros e maneira como
estes influenciam na experiência como um todo, pois os esses profissionais são
responsáveis por manter a diversificação das atividades e sustentar a expectativa dos
passageiros.
591
Tendo isso em vista, espera-se que a socialização desse conhecimento, gere
novas pesquisas acerca do tema, pois este estudo demonstra a necessidade de trazer
para o ambiente acadêmico, discussões pertinentes ao tema de cruzeiros marítimos,
visto que esse segmento ainda é carente de estudos mais aprofundados e é de suma
relevância para a atividade turística.
REFERÊNCIAS
AMARAL, Ricardo. Cruzeiros Marítimos. São Paulo: Manole, 2006 ANDRADE, José Vicente de. Turismo: Fundamentos e dimensões.8. Ed. São Paulo: Ática, 2004 BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. Senac, 2008. CLIA-ABREMAR. (2015). Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas. Acesso em 25 setembro de 2016, disponível em Temporadas 2010/2011 - 2011/2012 – 2012/2013 - 2014/2015. São Paulo: http://www.abremar.com.br/temporadas. LOHMANN, Guilherme; FRAGA, Carla; CASTRO, Rafael. Transportes e destinos turísticos: planejamento e gestão. 1. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. MARKONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da metodologia científica. 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2010. MONTEJANO, Jordi Montaner. Estrutura do mercado turístico. 2. Ed. São Paulo: Roca, 2001 OMT, Organização Mundial do Turismo. Introdução ao Turismo. São Paulo: Roca, 2001 PALHARES, Guilherme Lohmann. Transportes turísticos. 2. Ed. rev. São Palo: Aleph, 2002. PAOLILLO, André, REJOWSKI, Miriam. Transporte. São Paulo. Aleph, 2006. PELLEGRINI FILHO, Américo. Dicionário Enciclopédico de Ecologia e Turismo. Manole, 2000. RONÁ, Ronaldo di. Transportes no turismo. Manole, 2002.
592
SAAB, W. G. L., RIBEIRO, R. M. Breve panorama sobre o mercado de cruzeiros marítimos. Caderno Virtual de Turismo, v. 4, n. 1, 2006. TORRE, Francisco de la. Sistema de transporte turístico. São Paulo: Roca, 2002
GT 7 – ALIMENTOS E BEBIDAS
593
CAINDO OS BUTIÁS DO BOLSO: A IMPORTÂNCIA DO BUTIÁ NO
DESENVOLVIMENTO DA CULTURA GASTRONÔMICA AUTÓCTONE EM SANTA
VITÓRIA DO PALMAR/RS
CORRALES, Jean Guilherme Florentino138;PEREIRA, Enilda Maria Fangueiro139 [email protected]
NÉRY, Carlos Henrique Cardona140. [email protected]
Palavras-chave: butiá; gastronomia; cultura; cultura gastronômica; Santa Vitória do
Palmar.
138Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG, acadêmico do curso de Hotelaria da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, http://lattes.cnpq.br/0234302114328632,[email protected] 139 Acadêmica do curso de Hotelaria da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, http://lattes.cnpq.br/5482025268790130,[email protected] 140Docente Mestre dos cursos de hospitalidade da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, http://lattes.cnpq.br/9150351034980149, [email protected]
594
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo visa compreender se o fruto da espécie butia capitata (butiá)
firmou-se como inculturador gastronômico no município de Santa Vitória do
Palmar/RS, localizado geograficamente ao extremo meridional do país e do estado do
Rio Grande do Sul, a 20km da fronteira com o Uruguai, tendo ao norte a divisa com o
município de Rio Grande, ao leste o oceano atlântico, ao oeste a lagoa mirim e ao sul
o município do Chuí. (IBGE, 2016)
A discussão torna-se pertinente a partir do momento em que a importância da
iguaria, outrora abundante na região, foi subestimada em nome de outros cultivos,
com maior interesse mercantil, tal como o cultivo do arroz. Com isto, aos poucos
perdeu-se a relevância de iniciativas ligadas a um vegetal encontrado em abundância
na forma silvestre.
Contudo, atualmente há alguns grupos na cidade, dispostos a retomar o butiá
como parte integrante da cultura vitoriense, assim como os indígenas que faziam uso
desta planta para vários fins. Para este fim, os grupos desenvolvem trabalhos de
artesanato e culinária, tendo o citado fruto como protagonista. O estudo procura
elucidar também se os esforços destes grupos estão sendo exitosos para o alcance
desta meta.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Durante a pesquisa, foram utilizadas fontes bibliográficas, acessos a páginas
web, demais canais midiáticos e saídas de campo no período compreendido entre 21
de setembro e 14 de outubro de 2016, tendo-se como população da pesquisa os três
grupos da cidade que realizam a manufatura do butiá, utilizando-se método dialético
para a discussão dos dados angariados.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A gastronomia é um elemento de grande representatividade e serve como um
595
ícone. Muitas pessoas podem demonstrar, por meio dela, manifestações de uma
identidade cultural, pois trata-se de uma estruturação imaginária, em que as pessoas
conseguem materializar e demonstrar características bem próprias. (SCHLÜTER,
2003).
Ainda para Schlüter (2003) comenta que é notório, por meios dos registros
bibliográficos, o destaque que recebe a gastronomia e como ela ocupa seu devido
lugar e grau de importância, representando um produto para o turismo cultural. A
gastronomia local está sendo cada vez mais valorizada como um elemento de difusão
e de identidade em relação ao patrimônio intangível dos povos.
O ato de alimentar-se é dotado de muito simbolismo, e no que tange à cultura,
não poderia ser diferente: representa um modo de vida. Passa a ter estreitamentos
familiares e sociais, mais acentuados. Passa a ter um caráter de sociabilização e
fraternidade, no qual é o vetor de comunicação entre várias pessoas. (TRIGO, 2000).
Inicialmente, é mister ressaltar que o butiá apresenta várias formas de ser
manufaturado, aparecendo na literatura disponível sobre o fruto como
[...] uma alternativa econômica para muitas pessoas, como extrativistas, vendedores em beira de estrada, artesãos e pequenas agroindústrias, que produzem e comercializam alimentos e artesanato a partir do fruto, coquinhos e folhas destas palmeiras. (BARBIERI, 2015, p. 38)
A cultura que se pretende discutir deve ser entendida como o conjunto de “(...)
nossas crenças, tabus, religião, entre outros fatores (...)” (RECINE; RADAELLI, s.d.,
p. 8) que “(...) influencia diretamente a escolha dos nossos alimentos diários.” (op. cit.,
idem, ibidem) Outrossim, conforme Barretto,
[...] cultura é a combinação dos produtos materiais e espirituais que uma determinada sociedade cria ao longo de sua existência, o que abrange modo de vida, sistema alimentar, opções de lazer. (BARRETTO, 2000 p. 47)
De igual forma, parte-se da premissa segundo a qual a alimentação “(...)
sempre esteve e ainda está bastante relacionada à história dos diferentes povos.” (op.
cit., idem, p. 11)
596
De acordo com Maria Leonor Moraes, a autora afirma que “Cozinhar é uma
ação cultural que nos liga sempre ao que fomos, somos e seremos e, também, com o
que produzimos, cremos, projetamos e sonhamos”. (apud RIBEIRO; PAOLUCCI,
2006, p. 4)
Um dos meios de divulgar e preservar a cultura de um povo –em especial nas
comunidades interioranas– é através dos eventos, cuja justificativa é a de
constituírem-se numa opção para preservar a memória regional de uma população.
Ou seja, “a base de sustentação da festa está nos valores culturais das etnias
presentes, fazendo com que se mantenha o estilo único”. (SANTOS; PIRETE, 2000,
p. 72).
Com base nestes conceitos, passa-se à investigação do tema, conforme
segue.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
Os três grupos analisados nesta pesquisa são: Butiá dos Campos Neutrais,
Butiá Sabor e Arte e Companhia do Butiá. Cada um deles possui suas páginas em
mídias sociais (blogs, perfis de Facebook) que mostram o trabalho desenvolvido,
alguns sujeitos consultados, porém, sem a ferramenta de uma pesquisa na coleta dos
dados.
O primeiro, tido como o mais antigo de Santa Vitória do Palmar, desenvolve um
ofício mais focado no artesanato que na culinária. As opções gastronômicas
oferecidas, conforme constam nas mídias sociais do grupo, são licor, suco, cuca, bolo
e geleia.
O segundo, por sua vez, além da variedade anterior, apresenta produtos
culinários mais elaborados, como farofa de nozes cobrindo a cuca – farofa esta
também oriunda da amêndoa, o endocarpo do butiá, a fruta cristalizada, cupcake com
ou sem farofa de nozes, mousse, pudim e uma espécie de “quindim” aromatizado com
butiá.
597
Por fim, o terceiro grupo possui variedade semelhante à do primeiro, apenas
com sutis diferenças na apresentação das iguarias.
As práticas de todos eles parecem vir de um mesmo ponto referencial, em
virtude da semelhança observada a partir das fotos disponíveis em ambiente virtual.
Nas saídas de campo, o grupo Butiá Sabor e Arte – único com o qual se
conseguiu um contato pessoal – mostrou-se receptivo à proposta de pesquisa e
forneceu todas as informações necessárias, incluindo degustação de alguns produtos
feitos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ante todo o exposto, conclui-se que o butiá começa a firmar-se como elemento
inculturador na gastronomia vitoriense, a partir do trabalho realizado pelos grupos
estudados, que paulatinamente vêm logrando resultados do ofício desempenhado.
Verifica-se, outrossim, que os produtos culinários seguem a mesma linha de
variedade, com uma ou outra diferenciação, faltando buscar outras alternativas para
desenvolvimento de novos pratos que poderiam fazer-se utilizando o butiá. Como
sugestões, podem ser citados chutney, crepe francês, ambrosia cítrica sem lactose e
farofa com a amêndoa de butiá para pratos salgados.
O referido trabalho ainda é merecedor de maiores informações e não tem como
proposta ser conclusivo, pois, sendo necessária maiores investigações acerca do
tema, e um aprofundamento, porém, já foi notório o envolvimento da comunidade e
dos setores econômico e gastronômico tendo o fruto do butiazeiro e seus derivados,
como um dos ícones gastronômicos no município de Santa Vitória do Palmar.
REFERÊNCIAS
BARBIERI, Rosa Lía (org.). Vida no Butiazal. Brasília: Embrapa, 2015.
BARRETTO, M. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2000.
598
BUTIÁ dos Campos Neutrais. Fanpage Facebook. [S.l.], 2016. Disponível em
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> Acesso em 14/10/2016.
_____. 5ª FêButiá (2011), Geléias, Licor e cachaça de butiá do grupo "Butiá dos
Campos Neutrais". Blog. [S.l.], 01 fev. 2012. Disponível em <http:// butiacamposneutrais.blogspot.com.br/2012/02/5-febutia-2011-geleias-licor-e-cachac a.html> Acesso em 14/10/2016.
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facebook.com/BUTI%C3%81-SABOR-E-ARTE-1444182199164343/> Acesso em
14/10/2016.
_____. Produtos que Estavam Expostos na 6ª Febutiá em Santa Vitória do
Palmar.Blog. [S.l.], 09abr. 2012. Disponível em<http://butiasaborearte.blogspot.
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IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em
<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=431730&search=rio-
grand e-do-sul|santa-vitoria-do-palmar|infograficos:-informacoes-completas> Acesso
em 16/10/2016.
RECINE, Elisabetta; RADAELLI, Patrícia. Alimentação e Cultura. Brasília: UnB, s.d.
Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ alimentacao_cultura.pdf
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RIBEIRO, Carlos Manoel Almeida; PAOLUCCI, Luciana. Gastronomia, Interação
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Paulo – 100 anos da imigração japonesa no Brasil. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA
EM TURISMO DO MERCOSUL. 4., 2006, Caxias do Sul. Anais... Caxias do Sul:
UCS, 2006. Disponível em: <http://www.ucs.br/ucs/tplSemMenus/
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Acesso em 14/10/2016.
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SANTOS, R. J; PIRETE,M. J. Espaço rural e as perspectivas para o turismo de
eventos. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES E BACHARÉIS DE
TURISMO, 20., 2000, Natal. Anais... Natal, 2000, P. 75 a 87.
SCHLÜTER, R. G. Gastronomia e turismo. São Paulo: Aleph. 2003. (Coleção
ABC).
TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. A sociedade Pós-Industrial e o Profissional em
Turismo. São Paulo: Papirus, 2000.
GT 8 – TURISMO COMUNITÁRIO E DE BASE LOCAL
600
A EXPLORAÇÃO SEXUAL PELO TURISMO: ESTUDO PRELIMINAR NA
FRONTEIRA BINACIONAL
FERANDES, Fabiana, Bitencourt¹ [email protected]
RODRIGUES, Raphaella, Costa² [email protected]
Palavras-chave: Exploração Sexual, Turismo, Turismo Sexual, Fronteira.
1 INTRODUÇÃO
O trabalho pretende abordar um tema bastante polêmico e pouco divulgado
na mídia, a prática da exploração sexual no turismo, fator que envolve o cenário
turístico e que vem crescendo de forma clandestina, mas significativamente no Brasil
e no mundo. Um tema tratado com omissão e por consequência configura uma
601
atividade paralela ao turismo. Estas condicionantes apontam para o problema deste
trabalho, qual a relação entre o turismo e a exploração sexual na fronteira binacional?
Tem como objetivos sensibilizar a população sobre a importância do combate
à exploração sexual no turismo, especificamente na região da fronteira dos países
Brasil e Uruguai, na delimitação das cidades Santa Vitória do Palmar, Chuí (Brasil) e
Chuy (Uruguai). Como objetivos específicos busca-se verificar se o fluxo de pessoas
na região favorece a busca por esta prática, diagnosticar quais os fatores sociais
condicionantes das vítimas à exploração sexual e propor campanhas educativas e
preventivas à exploração sexual direcionada à sociedade em geral.
Justifica-se a elaboração deste trabalho devido ao escasso número de
pesquisas acerca do turismo sexual em regiões fronteiriças e diante da relevância
social dentro do turismo. Propõem-se ações que contribuam com a sociedade como
___________________________________________________________________
¹Fabiana Bitencourt Fernandes – Graduanda em Turismo Binacional pela Universidade Federal de Rio Grande – FURG. Link Currículo Lates http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do ²Raphaella Costa Rodrigues – Bacharela em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Mestranda em Turismo e Hotelaria do Programa de Pós Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – PPGTURH/UNIVALI. Docente da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Link Currículo Lates: H2385TTP://lates.cnpq.br/397535697433
um todo frente à situação detectada. No intuito de esclarecer a comunidade e de
mobilizar os órgãos públicos para o combate à exploração sexual, será elaborada uma
cartilha educativa.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia será baseada no desenvolvimento de uma pesquisa
exploratória com base em Gil (2014). A base metodológica será a história oral,
compreendida por um conjunto de atividades anteriores e posteriores à gravação dos
depoimentos. Na definição de Corrêa (1978), entende-se por história oral, um conjunto
de técnicas utilizadas na coleção, preparo e utilização de memórias gravadas para
servirem de fonte primária a historiadores e cientistas sociais.
602
Será utilizada ainda a técnica de entrevistas semiestruturadas e, para a
análise das entrevistas, será utilizada a análise de conteúdo (BARDIN, 2009). Foram
realizadas onze entrevistas, com pessoas ligadas ao ramo da prostituição,
profissionais de saúde e assistência social, durante os meses de agosto e setembro
de 2016.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Uma abordagem pertinente à proposta social deste trabalho, é trazer a
definição de turismo a partir de Moesch (2002), que define turismo como:uma
combinação complexa de inter-relacionamentos entre produção e serviços, que
integra uma prática social a um meio ambiente diverso com relações sociais de
hospitalidade e troca de informações interculturais.
Através de uma outra ótica, Oliveira (2000), menciona que o Brasil por ser um
país com grande riqueza natural e variedades regionais consegue aglomerar vários
atrativos turísticos, com excelência e encanto inigualáveis, adicionando ainda todo o
seu processo cultural e histórico concedendo exuberância ao seu povo. A presença
dessas variedades turísticas atraem para seu interior as rotas do turismo sexual, seja
ele nacional ou internacional o que agrega o abuso de menores, prostituição entre
ambos os sexos, hetero ou homossexual.
Com a força da globalização este nicho é reforçado por um maior fluxo da
economia e por um intercâmbio cada vez maior entre diferentes culturas, afetando a
chamada indústria ou mercado do sexo. Agustin (2005) e Bernstein (2008) apontam
um número crescente deste segmento do sexo e para a diversificação dos serviços,
produtos e locais relacionados: bordéis, boates, bares, saunas, linhas telefônicas
eróticas, sexo virtual através da internet, casas de massagem, serviços de
acompanhantes, motéis, cinemas e revistas pornôs, filmes e vídeos, entre outros que
também são consumidos em nossa fronteira.
No que cerne as diferentes vertentes sociais e comportamentais tratadas nas
relações humanas é imprescindíveis à abordagem do controle sexual masculino sobre
as mulheres que ainda faz parte da vida social moderna (SCOTT, 2002).
603
O turismo enquanto fomentador da liberação social, motiva novos
comportamentos, ao se caracterizar por um momento de afastamento social e cultural
como uma válvula de escape para manifestar desejos e impulsos normalmente
reprimidos (Krippendorf, 1989) reforçados pelas imagens que podem trazer
sensações, propostas e oportunidades.
Por muito tempo, tentou-se explorar o exotismo, confundido com o erotismo,
fato que contribuiu para a colocação do Brasil na rota do turismo sexual mundial. O
próprio Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), criado em 1966, e, desde então,
responsável pela promoção turística do país no exterior, se utilizou desse tipo de
imagem em campanhas publicitárias, assim como também da presença de mulatas
em feiras e visitas de divulgação do destino Brasil.
Com a consolidação definitiva do turismo nas décadas seguintes, muitos
locais tornaram-se alvo do turismo sexual, cuja definição de Piscitelli (2002), refere-se
a “qualquer experiência de viagem na qual a utilização de serviços sexuais prestados
pela população local, em troca de recompensas monetárias e não monetárias, é um
elemento crucial para o sucesso da viagem”.
Porém, o turismo sexual, não pode ser considerado um segmento a mais da
atividade turística (por pressupor a existência de um mercado configurado), mas uma
nociva deformação. Sua existência reflete a preexistência de problemas bem mais
profundos, ancorados na sociedade (BEM, 2005).
Cabe destacar que um fator propulsor ao turismo sexual é a mídia, pois, sites
de relacionamentos, redes sociais, páginas de acompanhantes, vídeos, blogs e
propagandas difundidas na internet, mostram as mulheres brasileiras de forma
insinuante, estampando seus atributos físicos (FERREIRA, 2011). Na mesma esfera,
a má utilização da internet e dos meios de comunicação pode acarretar a
disseminação da prostituição pelo do turismo sexual, puramente comercial, como
ferramenta para facilitar o encontro de pessoas e até mesmo para a exploração sexual
e a pedofilia (PISCITELLI, 2005).
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
604
Dados preliminares sobre o turismo sexual foram obtidos através de relatos
de moradores da cidade do Chuí. Dados referentes à população foram obtidos através
de consulta ao site do IBGE.Os índices apontam que 829 domicílios têm mulheres
como responsáveis, em sua maioria sem cônjuge com um filho ou dois. Dados
alarmantes informam que a taxa de abandono escolar precoce das mulheres é de
52,1% (18 a 24 anos). O índice de mulheres entre 10 e 17 anos que não frequentam
a escola é de 8,7% e mulheres entre 16 ou 17 anos o índice é de 37,2%.
Ainda relacionando aos objetivos propostos, procuramos identificar
evidências que nos mostrassem a aplicação de campanhas promovidas por órgãos
públicos alertando sobre a exploração sexual. Visitamos postos de saúde, secretarias
de saúde, assistência social e secretarias de educação, entre outros e verificamos que
não existe nenhum cartaz ou outro tipo de publicidade abordando o tema ou alertando
a população a esse respeito. Embora saibamos que o Ministério do Turismo promove
ações e campanhas educativas sobre o tema, ainda assim, não há uma preocupação
com a temática nas cidades da fronteira, escolhidas para o estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O turismo contribui com o desenvolvimento dos destinos turísticos, ampliando
as fontes de renda e proporcionando interações culturais, mas a falta de planejamento
pode acarretar problemas sociais, entre eles, a exploração sexual pelo turismo entre
as camadas vulneráveis da comunidade local.
Frente às correlações que influenciam esta prática, propõem-se ações que
contribuam com a sociedade como um todo frente à situação detectada. No intuito de
esclarecer a comunidade e de mobilizar os órgãos públicos para o combate à
exploração sexual, será elaborada uma cartilha educativa. Esta ação tem como
escopo o enfrentamento dos problemas sociais presentes na região e demais
temáticas atreladas de forma transversal à prostituição no turismo.
O desenvolvimento desta pesquisa possibilita um diagnóstico da situação no
território delimitado, servindo de parâmetro inicial para a realização de políticas
públicas voltadas aos problemas atrelados ao turismo sexual.
605
REFERÊNCIAS
AGUSTIN, Laura (2005). La industriadel sexo, los migrantes y la família europea.
Cadernos Pagu (25), julho-dezembro de 2005, pp.107-128.
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sexo. Cadernos Pagu, 2008, pp.315-362, 2008.
CORRÊA, Carlos Humberto P. História oral, teoria e técnica. Florianópolis:
UFSC, 1978.
FERREIRA, L. R. Discurso, Estereótipo e Imaginário: A Comunicação e o Turismo
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606
PISCITELLI, Adriana.Viagens e sexo on-line: a Internet na geografia do turismo
sexual. Cadernos Pagu, n. 25, Campinas. 2005.
GT 9 – EVENTOS E LAZER
607
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE EDUCAÇÃO E TURISMO: UMA
ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES EM EVENTOS CIENTÌFICOS DE TURISMO
LESSA, Roberta Mattos141; RODRIGUES, Igor Moraes142 [email protected]
REICHERT, Leonardo143 [email protected]
Palavras-chave: Educação; Turismo; Conhecimento científico; Eventos Científicos.
141Graduanda do Curso de Bacharelado em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas –UFPel http://lattes.cnpq.br/2108180656427736 142Graduando do Curso de Bacharelado em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas – UFPel http://lattes.cnpq.br/4062311697186945 143Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas - UFPel. Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul - UCS.Professor do Curso de Bacharelado em Turismo – UFPelhttp://lattes.cnpq.br/5422185547490750
608
1 INTRODUÇÃO
O turismo é um fenômeno que vem ganhando espaço na sociedade brasileira
nas últimas décadas – tanto economicamente quanto em termos de importância
acadêmica. A educação apresenta uma direta ligação com esse fenômeno, uma vez
que o turismo pressupõe relações sociais, trocas de informação e aprendizado.
O turismo enquanto fenômeno social pode ser entendido como uma complexa
combinação entre produção e serviços que se integram em uma prática social com
base cultural, herança histórica, relações sociais de hospitalidade e trocas de
informações interculturais (MOESCH, 2002). De acordo com o Código de Ética
Mundial para o Turismo, o mesmo deve ser entendido como um instrumento de
desenvolvimento pessoal e coletivo: “Quando vivenciado com a abertura de espírito
necessária, é um fator insubstituível de autoeducação, tolerância mútua e
aprendizagem das legítimas diferenças entre povos, culturas e sua diversidade”
(OMT, 1999, p. 4).
Acreditando na relação indissociável entre turismo e educação, o estudo em
questão apresenta resultados parciais de uma pesquisa desenvolvida com o propósito
de identificar o atual estado da arte do tema em questão: Educação e Turismo. No
presente estudo foi-se utilizado como principal fonte de dados os artigos (e resumos)
publicados em anais de três eventos da área do turismo, são eles:Fórum Internacional
de Turismo do Iguassu, Semintur e Semintur Jr.
Desta forma, o presente estudo tem por objetivo identificar a produção do
conhecimento sobre o tema “Educação e Turismo” publicada em anais de eventos
científicos de turismo.Como objetivos específicos esta pesquisa visa: analisar a
quantidade de estudos existentes e os principais enfoques abordados em relação à
educação e turismo, além de sistematizar o conhecimento produzido, auxiliando
futuros estudos sobre o tema em questão.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
609
Para a realização desta pesquisa foi-se utilizado como principal fonte de
dados os estudos publicados em anais de três importantes eventos da área do
turismo: Fórum Internacional de Turismo do Iguassu, Semintur e Semintur Jr.
O Fórum Internacional de Turismo do Iguassu, realizado em paralelo ao
Festival de Turismo das Cataratas (Foz do Iguaçu – PR), está consolidado como um
dos principais eventos técnico-científicos em turismo no Brasil, assumindo um
importante papel na iniciação científica em turismo e hospitalidade144. O SeminTUR –
Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL, evento científico organizado pelo
Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade (Mestrado e Doutorado) da
Universidade de Caxias do Sul – UCS, reúne pesquisadores (doutores, mestres,
doutorandos ou mestrandos) dedicados ao estudo acadêmico do turismo e da
hospitalidade 145 . O Semintur Jr., por sua vez, organizado por mestrandos e
doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade da UCS,
apresenta-se como um espaço de incentivo à pesquisa na graduação, ao dar espaço
e visibilidade a essa produção146.
Na coleta de dadosfoi-se utilizado os sites oficiais dos respectivos eventos
científicos de turismo. A partir da pesquisa nos sites, foram identificados estudos que
continham em seu título ou palavras-chave os termos “educação” e/ou “ensino”. Todos
os resultados foram agrupados em uma planilha com finalidade de facilitar a análise
dos dados. Foram excluídos da pesquisa estudos que não tratavam diretamente de
educação e turismo, bem como, estudos que não se encontravam disponíveis para
acesso nos sites.
Posterior a isso, já na fase de análise dos dados, os resultados foram
agrupados de acordo com o seu enfoque dentro do tema educação e turismo. Como
resultado dessa classificação foram geradas seis diferentes categorias: Ensino
144 Disponível em <http://festivaldeturismodascataratas.com/atividades/eventos-complementares/forum-internacional/>. Acesso em: 05 set. 2016. 145Disponível em <http://www.ucs.br/site/pos-graduacao/formacao-stricto-sensu/turismo-e-hospitalidade/eventos-e-anais/>. Acesso em: 05 set. 2016. 146Disponível em <http://www.ucs.br/site/pos-graduacao/formacao-stricto-sensu/turismo-e-hospitalidade/eventos-e-anais/>. Acesso em: 05 set. 2016.
610
Superior e Técnico em Turismo (e Hotelaria); Educação Ambiental; Educação
Patrimonial; Educação para o Turismo; Educação pelo Turismo; e Relação entre a
Educação e o Turismo.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Considera-se fundamental analisar a relação entre educação e turismo, pois
esta correlação é um elemento importante no desenvolvimento humano, sendo visto
como uma possível forma de inclusão social, preservação patrimonial e conservação
ambiental.
Segundo Souza e Silva (2010) a educação é um dos aportes fundamentais de
estímulo e desenvolvimento de qualquer tipo de atividade. Percebe-se, entretanto, o
subaproveitamento dessa ferramenta no desenvolvimento turístico. Azevedo (1999)
defende que existe a comunicação entre educação e turismo, mostrando os principais
pontos de aproximação entre esses campos. Esse autor ainda destaca fatores como
a natureza humana, as relações sociais, a interdisciplinaridade, a relação existente
entre o espaço e a cultura no universo do turismo e a educação ambiental, a qual pode
estar inserida no turismo como potencial atrativo ou como método aplicável em áreas
turísticas.
Por meio da presente pesquisa, pretende-se identificar se existe essa relação
entre a educação e o turismo em estudos já publicados em anais de eventos
importantes na área do turismo, além de analisar em quais aspectos essa relação
acontece.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
O evento Semintur, o mais antigo entre os relacionados para esta pesquisa,
teve sua primeira edição no ano de 2003 e apresentou um total de 921 estudos no
decorrer de todas as suas edições. Entre estes estudos, 68 tinham como tema
principal educação e turismo, o que representa 7,4% do total de estudos. O ano de
2006 foi a edição que apresentou o maior número de publicações sobre o tema
educação e turismo, foi-se identificado 19 estudos neste ano. No ano de 2006, o
611
Semintur foi realizado em conjunto com o seminário da ANPTUR – Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo, tal fato pode ter sido
responsável por alavancar as publicações sobre o tema neste ano. Nos anos
seguintes este número diminuiu consideravelmente. Destaca-se que nos anos de
2007, 2009, 2011, 2013 e 2014 não houve edições do Semintur, pois o evento passou
a acontecer bianualmente a partir de 2006.
O evento Semintur Jr., que nasceu da necessidade de se admitir trabalhos
oriundos dos cursos de graduação em Turismo, teve sua primeira edição no ano de
2010. No decorrer de suas edições foi identificado um total de 188 estudos e somente
8 desses estudos tratavam da relação entre educação e turismo, o que representa um
percentual de 4,2% da totalidade de estudos. A primeira edição do evento (ano de
2010) foi a que apresentou o maior número de publicações sobre o tema, com 4
estudos.
Por sua vez, o Fórum Internacional de Turismo do Iguassu, teve sua primeira
edição no ano de 2007. Totalizando 499 estudos publicados em seus anais, um
percentual de 6,6% dos estudos abordam a temática Educação e Turismo, o que
corresponde a 33 estudos. O ano que apresentou o maior número de estudos sobre
o tema foi 2015, com um total de 8 artigos. Os anais da última edição do evento (2016)
ainda não estão disponíveis no site.
Os estudos analisados, independente do evento que foram apresentados,
foram agrupados em diferentes categorias de acordo com suas abordagens. A
categoria que apresentou maior número de publicações foi Ensino Superior e Técnico
em Turismo (e Hotelaria) com 40 resultados (36%). Essa categoria é formada pelos
estudos que possuem como temática principal a educação formal em turismo e/ou
hotelaria nos níveis superior e técnico. Alguns estudos tratam sobre a formação do
profissional do turismo, outros relatam a importância e as contribuições dos cursos de
turismo, entre outros assuntos. O ensino do turismo é de extrema importância, porque
de acordo com a OMT é preciso dispor de uma educação turística com qualidade e
eficiência para a qualidade e eficiência do próprio setor de turismo (OMT, 1997).
612
Educação ambiental foi a segunda categoria que mais apresentou resultados,
totalizando 36 estudos sobre a temática em questão (32%). Sabe-se que a
preocupação com o meio ambiente vem crescendo nos últimos tempos e o turismo,
uma atividade tradicionalmente impactante em decorrência da ocupação de espaços
naturais, pode utilizar a educação ambiental como meio de sensibilização e
conscientização tanto dos visitantes quanto da comunidade local para a conservação
dos recursos naturais. Os estudos presentes nesta categoria apontam diversos
aspectos sobre a educação ambiental e sua relação com o turismo. De acordo com
os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais (2001), a educação ambiental é capaz
de transformar o pensamento do homem em relação à natureza. O ser humano
através da educação ambiental pode vir a valorizar a natureza, utilizando-a com o
mínimo de impacto possível. Os estudos presentes nesta categoria apontam diversos
aspectos sobre a educação ambiental e sua relação com o turismo.
Educação Patrimonial apresentou 11 estudos do total de resultados (10%). A
educação patrimonial é um instrumento utilizado pelo turismo com o objetivo de
salvaguardar o patrimônio de determinada localidade e elevar o sentimento de
pertencimento da comunidade local para/com o patrimônio coletivo. Muitos turistas
viajam com a intenção de conhecer diferentes patrimônios – tanto materiais quanto
imateriais. Tais patrimônios podem ser danificados por turistas que não entendem o
real valor para determinada localidade e até mesmo os próprios moradores locais
acabam por não dar valor, justamente por não identificarem a importância de tal
patrimônio. Segundo Sales e Gastal (2005) a educação patrimonial pode ser um
instrumento de alfabetização cultural, à medida que ela possibilita que o indivíduo
envolvido faça uma leitura diferenciada do meio em que vive, sua realidade
sociocultural e histórica, entendendo melhor sua trajetória (como membro de uma
comunidade) passada e presente. Os estudos presentes nesta categoria falam
basicamente sobre essa importância da educação patrimonial para o turismo.
Educação para o Turismo foi a quarta categoria que apresentou maior número
de resultados – 10 estudos, representando 9% do total. A educação para o turismo
pode ser descrita basicamente como o ato de sensibilizar e educar uma comunidade
613
para trabalhar com a atividade turística. A educação para o turismo é muito importante
na medida em que, segundo Ribas (2002), educar para o turismo é uma necessidade
para que o desenvolvimento da atividade turística não seja responsável pela extinção
da mesma, pois, sem o planejamento necessário, o turismo pode ocorrer de modo que
a constante presença humana venha a esgotar os recursos e atrativos que compõem
a matéria-prima da atividade.
Educação pelo Turismo representou 6% do total das publicações, com 7
estudos. É importante diferenciar essa categoria da anterior. A educação pelo turismo
é caracterizada quando a atividade turística cumpre o seu papel enquanto instrumento
de desenvolvimento pessoal e coletivo. Ainda que não restrito a educação formal, o
turismo pedagógico e as visitas técnicas são exemplos da educação pelo turismo.
A última categoria formada foi Relação entre a Educação e o Turismo. Os
estudos englobados nesta categoria mostram diferentes conexões entre a educação
e a atividade turística, a exemplo do presente estudo. Alguns autores apresentam a
visão dos estudantes de turismo, enquanto outros tratam da educação ligada a outros
temas do turismo, como a hospitalidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos aspectos mencionados, foi possível identificar a produção do
conhecimento, acerca do tema Educação e Turismo, publicada em anais dos três
eventos científicos de turismo selecionados como fonte de dados para esta pesquisa.
Com base nos resultados desta pesquisa reafirma-se a importância da educação para
o turismo que, segundo a Organização Mundial do Turismo, deve ser entendido como
um instrumento de desenvolvimento pessoal e coletivo.
Acredita-se, desta forma, na importância do desenvolvimento de produtos e
atividades que aliem o turismo e a educação. Mais que isso, considera-se necessária
uma mudança de atitude geral para que o turismo seja percebido menos enquanto
consumo econômico e mais como um instrumento de autodesenvolvimento.
Esta pesquisa sistematiza o conhecimento produzido acerca da educação e do
turismo, servindo de base para novos estudos, tanto neste tema como em outros
614
tantos. Futuros estudos poderão ser desenvolvidos com a mesma temática,
englobando, no entanto, outros aspectos, como consulta em periódicos
científicosinternacionais, monografias, dissertações e teses.
REFERÊNCIAS
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615
SOUZA, I. C. A. S; SILVA.F. P. S. Educação Para o Turismo: Uma Análise das Práticas Pedagógicas no Ensino Fundamental. In: ENCONTRO SEMINTUR JUNIOR, 1., Caxias do Sul. Anais... Caxias do Sul: Semintur Jr., 2010. p. 1-14.
GT 10 – HOSPITALIDADE E DIVERSIDADES
616
A HOSPITALIDADE NO HIBRIDISMO CULTURAL DA FRONTEIRA SECA CHUÍ-
CHUY
OLIVEIRA, Milena147
SILVA, LuizaMachado da148
Palavras-chave: Hospitalidade; Fronteira; Hibridismo; Cultura; Hotéis.
1 INTRODUÇÃO
A noção de turismo e hospedagem/hospitalidade perpassa pela confluência
de diferentes culturas. Quando alguém viaja para outra cidade, estado ou país – por
lazer ou a trabalho –, o deslocamento não é apenas físico, o olhar sobre o outro sofre,
também, um deslocamento. As noções de igualdade e diferença são(des)
(re)construídas pelas infinitasredes culturais que envolvem o sujeito viajante.
147Graduanda do curso de Bacharelado em Hotelaria da FURG e graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia UNOPAR. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9200845727976785. 148Professora Assistente de Língua Espanhola e Produção Textual da FURG, doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Letras, área de concentração em Linguística Aplicada, da UCPel e Pesquisadora Membro do GELFIC – Grupo de Estudos de Linguagens, Fronteiras, Identidades e Culturas. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9162131458495123.
617
Tendo em vista esta noção de deslocamento, no seu mais amplo sentido, a
seguinte pesquisa visa a ingressar no universo da hospitalidade nas cidades Chuí
(Brasil) e Chuy (Uruguai), municípios vizinhos e que definem adivisa entreBrasil e
Uruguai no extremo sul do Rio Grande do Sul.
Por tratar-se de uma zona de fronteira, onde asdiferentes culturas e
identidadesingenuamente vão compondo um espaço de hibridismo, um terceiro
espaço se constitui e é irrepetível por agregar duas nacionalidades que transcendem
as suas características, buscamos saber se os serviços de recepção dos hotéis, em
ambas as cidades,apresentam, como sua própria população, diferenças – já que se
tratam de cidades de distintos países – e semelhanças – por seus habitantes
residiremnum espaço geográfico em que as únicas barreiras são os documentos
oficiais.
A partir da realização de entrevistas com trabalhadores do setor hoteleiro,
verifica-se que a complexidade que envolve a vida em uma fronteira é refletida
também nos serviços de um hotel e seus protocolos de hospedagem.
Esta fronteira Chuí-Chuy tem por limite geográfico uma avenida (a avenida
principal das cidades dos dois países) em que não há uma aduana que controle ou
regule a ida e vinda de uruguaios e brasileiros. A “fronteira seca” permite aos cidadãos
o tráfego físico livre e, ainda, lhes confere uma maior mobilidade identitária, cultural,
social e econômica, diferentemente de outras fronteiras nas quais o Estado atua como
regulador da vida desses habitantes.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este trabalho une diferentes áreas do conhecimento: Hotelaria, Estudos
Culturais e Linguística Aplicada. O caráter interdisciplinar desta pesquisa, justifica-se
pelo fato de tratar-se de uma pesquisa qualitativa em que serão observados os
protocolos de hospedagem das cidades que compõem a fronteira Chuí-Chuy, sem
mensurá-los objetivamente; ao contrário, o intuito de verificar a recepção no setor
hoteleiro não pode ser entendida como mensurável, mas subjetiva, na medida em que
618
o nosso objetivo é analisar e interpretar a linguagem que constitui (e que é constituída
por) os meios de hospedagem na divisa entre dois países.
Além dos pressupostos teóricos sobre protocolos de hospedagem, da área da
Hotelaria, utilizamos a concepção dialógica de linguagem de Bakhtin e as
contribuições advindas dos Estudos Culturais, que nos auxiliam a compreender as
questões identitárias e culturais que buscamos ao estudar o setor hoteleiro na
fronteira.
A realização do estudo leva em consideração as questões de Ética de
Pesquisa com seres humanos. Para a realização da pesquisa de campo, realizou-se
um levantamento dos estabelecimentos de hospedagem das cidades fronteiriças Chuí
e Chuy, para que pudéssemos realizar as entrevistas para a obtenção dos dados. Este
trabalho apresenta as análises e interpretações de entrevistas realizadas em quatro
hotéis (dois brasileiros e dois uruguaios) que aceitaram participar da pesquisa.
Os pressupostos teóricos estudados nos auxiliaram na organização de um
questionário semiestruturado para a realização das entrevistas (GASKELL, 2002)com
os recepcionistas ou gerentes dos hotéis. A escolha por um questionário
semiestruturado vai ao encontro do tipo de pesquisa a que nos propomos: perguntas
abertas que possibilitem ao interlocutor (neste caso, aos profissionais do setor
hoteleiro) discorrer sobre os assuntos tratados de forma mais livre, sem limites de
tempos de fala (BAUER;GASKELL, 2002), inclusive porque as entrevistas foram
registradas em áudio, para posterior transcrição.
Após a realização das entrevistas, que foram obtidas em setembro de 2016,
realizamos a transcrição dos dados, o que nos possibilitou realizar a análise e,
finalmente, a interpretação de acordo com o referencial teórico estudado.
Para finalizar a parte metodológica, é importante ressaltar que os nomes dos
estabelecimentos serão ocultados e receberão os nomes fantasia: B1 (Hotel Brasileiro
1), B2 (Hotel Brasileiro 2), U1 (Hotel Uruguaio 1) e U2 (Hotel Uruguaio 2). Este
tratamento é dado por questões éticas, já que se trata de uma pesquisa em que os
sujeitos investigados desvelam opiniões pessoais e impressões ao serem
619
entrevistados, e a garantia do anonimato contribui para que os sujeitos não sejam
reconhecidos pela comunidade.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nesta seção, apontaremos brevemente parte do referencial teórico que
sustenta a nossa pesquisa. Primeiro, é essencial falar da questão identitária,
justamente porque pesquisamos uma região de extrema complexidade identitária-
cultural. Hall discorre sobre a identidade desde o Iluminismo, escreve sobre como as
identidades do homem moderno eram bem definidas e localizadas no mundo social e
cultural. Com o passar do tempo, essas identidades culturais de classes,
sexualidades, etnias, raças e nacionalidades, se antes eram bem sólidas, nas quais
todos se encaixavam socialmente, hoje em dia se encontram em fronteiras indefinidas,
que provocam crisesno sujeito que podem partir, por exemplo, do conceito de etnia:
A etnia é o termo que utilizamos para nos referimos às características
culturais – língua, religião, costume, tradições, sentimentos de “lugar”- que
são partilhadas por um povo. As nações modernas são, todas, híbridos
culturais. (HALL, 2006, p. 62)
Os híbridos culturais, mencionados pelo autor,são as fronteiras que perpassam
nosso trabalho. Ao habitar uma fronteira o indivíduo perde, silencia parte de sua
nacionalidade e agrega outras identidades retiradasdas prateleiras das diferenças,
tornando-se um ser único e irrepetível, inclusive em termos culturais
[...] o que é significativo é o leque e a sobreposição de sentidos. O complexo de significados indica uma argumentação complexa sobre as relações entre desenvolvimento humano geral e um modo específico de vida, e entre ambos e as práticas da arte e da inteligência. (WILLIAMS, 2007, p. 122)
Da mesma forma, a linguagem constitui e é constituída por quem a enuncia.
Para a realização das análises e legitimação das nossas interpretações sobre os
dizeres dos sujeitos da pesquisa, utilizamos o filósofo da linguagem Mikhail Bakhtin
(2003), que concebe a linguagem como forma de interação humana,
620
[...]como algo dito por um locutor que espera uma resposta do seu interlocutor. O autor propõe que sempre que se enuncia, o enunciado requer uma resposta, porque não é da natureza humana aceitar um enunciado de forma passiva, o interlocutor não é um mero receptor que cala ao ouvir. Mesmo o silêncio é uma resposta ao que está sendo dito. (SILVA, 2014, p. 45-46)
Caberiam neste espaço muitos outros teóricos que trabalhamos, mas
acreditamos que este breve referencial sinaliza a posição de onde falamos e
observamos os nossos sujeitos.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
O estudo investigou, como já dito anteriormente, quatro hotéis da fronteira sul
do Brasil, das cidades Chuí brasileiro e Chuy uruguaio. Nossa atenção especial esteve
relacionada às culturalidades encontradas nas informações sobre o serviço de
recepção e suas diferenças de protocolo. Os hotéis foram escolhidos levando em
conta seu porte e público alvo.Dois (B1 e U2) com infraestrutura bem amplase
diversos serviços oferecidos e os outros dois (B2 e U1)comuma infraestrutura mais
modesta,bastante aconchegantes e com menos serviços ofertados.
Alguns aspectos que consideramos importantes foram observados ao
ingressarmos nos hotéis; é o caso da facilidade de acesso, visão dos letreiros
informativos, iluminação, conforto, hall, influência americana e europeia, visão das
diárias, acessibilidade, tarifa balcão à vista, praticidade operacional e televisão.
Um único meio de hospedagem (B1) tinha acessibilidade e faz parte de uma
rede do lado brasileiro. É interessante lembrar que há leis que garantem a
acessibilidade em lugares públicos no Brasil, mas nem sempre a população que
necessita da acessibilidade encontra seus direitos. Talvez a fronteira seja um lugar
que, pelo fato de concentrar as leis de duas nacionalidades, muito das diferentes
legislações dos Estados Nacionais se confunda e se perda.
Todos os hotéis possuíam fácil acesso às recepções. Apenas o B1apresentava
letreiros informativos aos seus hóspedes. Outra característica que nos chamou a
621
atenção é a de que todas as hospedagens visitadas apresentaram boa iluminação,
um hall espaçoso e confortável.
Na entrevista semiestruturada realizada, uma das diferenças entre ambos
países que nos pareceu bastante curiosa, foi o fato de que as entrevistas realizadas
no B1 e B2 foram respondidas pelosprofissionais responsáveis pelo setor
questionado, demostrando, assim, uma confiança dos proprietários e gerentes dos
estabelecimentos em seus funcionários. No U1 e U2, diferentemente, os proprietários
dos estabelecimentos, ainda que seus funcionários estivessem presentes e dispostos,
optarampor responder à entrevista.Isto sugere que quando se trata de responder algo
que influencie a imagem da empresa – neste caso, tratava-se de uma pesquisa
científica que seria publicada –, os proprietários uruguaios prefiram, eles próprios,
fornecer as informações de seus estabelecimentos.Esta é uma questão de diferença
cultural em relação ao modo de gerência dos hotéis brasileiros, que não têm
problemas em ceder os funcionários que teriam uma maior legitimidade para falar do
setor em que trabalham. Ademais, a pesquisa realizada por Bohn e Silva (2016), que
investiga a linguagem da diferença no entre-lugar desta mesma fronteira, utilizando-
se da discursividades constitutivas de seus habitantes brasileiros e uruguaios, aponta
para o fato de que os uruguaios se veem muito mais desconfiados e fechados do que
os brasileiros. Podemos, então, relacionar este dado, trazido por Bohn e Silva, ao fato
de que talvez, os proprietários dos hotéis uruguaios estejam muito mais presentes em
seus estabelecimentos.
A questão da diferença estende-se, também, ao treinamento que cada
recepcionista recebe ao ingressar na empresa. No B1 e B2, os sujeitos relataram que
a empresa oferece treinamentos e orientações a seus empregados, além da
necessidade de que os contratados precisam ter cursos para ocupar seus cargos. Nos
hotéis U1 e U2, os sujeitos disseram que não fornecem nenhum tipo de treinamento,
porque quando contratam o pretendente ao cargo tem que estar capacitado. Neste
ponto observamos outra característica apontada por Bohn e Silva (2016) em seu
estudo. Aparece fortemente nos discursos de seus fronteiriços de ambas as
nacionalidades, a receptividade brasileira, o brasileiro como um povo que está sempre
622
se aperfeiçoando e faz muito esforço para agradar a todos. Nesse sentido, vê-se que
a rede hoteleira brasileira pesquisada busca constante aperfeiçoamento dos seus
funcionários, treina seus funcionários para que seu estabelecimento possa conferir
uma marca singular e coesa na prestação de seus serviços.
Os procedimentos de check-in apresentam diferenças nos hotéis estudados.
No Brasil, o B1 e B2 exigem o documento de identidade ou passaporte (para
estrangeiros). As crianças acompanhadas por adultos não são cadastradas como
hóspedes e tampouco são requisitados seus documentos no check-in. No Brasil, o
preenchimento da FNRH (Ficha Nacional de Registro de Hóspede) é obrigatório e
serve de controle para o Ministério do Turismo sobre a entrada de estrangeiros no
país. Embora seja uma importante forma de controle, o B2 não conhecia a FNRH.
Percebemos, primeiramente, que há uma falta de fiscalização e até de auxílio por
parte do Ministério do Turismo e Secretarias Estadual e Municipalde Turismo
brasileiras. Outro aspecto que chama a atenção é o fato de que as crianças não
precisam ser registradas: como o país quer controlar a entrada e saída de estrangeiros
e gerenciar os deslocamentos das pessoas, se desconsidera as crianças como
turistas?
Os hotéis uruguaios (U1 e U2)não possuem a FNRH, mas o seu protocolo de
check-in conta com um instrumento ainda melhor do que a FNRH. A ficha de registro
no Hotel é preenchida manualmente e, independentemente da idade, só são
hospedados aqueles que apresentem a documentação (identidade ou passaporte).
Pode-se perceber que o registro, em termos de números de turistas, neste caso, é
real, já que as crianças são consideradas e registradas como hóspedes. Esta ficha é
a que vai ficar no hotel, para o controle do próprio estabelecimento. No check-in há
ainda, outro registro, obrigatório no território uruguaio para qualquer estabelecimento
de hospedagem, que se trata de um sistema integrado no qualsão digitados todos os
dados dos hóspedesque vão para do Ministério do Interior. O Ministério do Interior
recebe e gerencia esses dados e, ainda, os envia à Interpol, que controla criminosos
fugitivos nos cinco continentes do planeta.
623
Apresentamos, neste espaço, apenas algumas análises e interpretações das
muitas que constituem esta pesquisa. A seguir, escreveremos algumas considerações
importantes acerca do nosso estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O título do nosso trabalho fala em hibridismo cultural na fronteira seca que
pesquisamos, um hibridismo verificado em muitas pesquisas sobre a população que
coabita esta região, um hibridismo que desafia os professores nas escolas, que
desafia a linguagem e a forma como ela deve ser abordada.
Diferentemente do que pensamos no começo deste estudo, o hibridismo
perpassa os sujeitos que trabalham no setor hoteleiro, mas as diferenças na maneira
de executar os serviços, de realizar os protocolos de hospedagem e o próprio olhar
em relação ao hóspede acusam um divórcio entre as culturas brasileiras e uruguaias.
Parece-nos que as diferenças no setor hoteleiro, especialmente nos protocolos
de hospedagem que tratamos neste trabalho, é, em parte, resultado das distintas
burocracias do Uruguai e do Brasil. Por outro lado, ainda que haja um hibridismo
cultural, existe, por parte dos brasileiros, um comportamento quase que subserviente
para agradar aos hóspedes nacionais e estrangeiros. Essa característica está muito
ligada à constituição do povo brasileiro e ao fato de que, ainda hoje, mantemos
resquícios da colonização muito fortemente observados nos contatos com outras
culturas.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BAUER, M. W; GASKELL, G. (Ed.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Trad. Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. BOHN, H. I; SILVA, L. M. A linguagem da diferença no “entre-lugar” da fronteira Chuí-Chuy. Apresentação oral no Simposio Internacional Lenguajes,
624
Identidades,Corpo(reidades) y Cultura Fronterizas. Montevideo, 13-14 de outubro, 2016. GASKELL, G. Entrevistas individuais e grupais. In: BAUER, M. W; GASKELL, G. (Ed.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Trad. Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. p. 64-89. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Trad. Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. SILVA, L. M. A língua constitui o professor: identidades (conflitantes) de professores de línguas Estrangeiras. Novas Edições Acadêmicas: Saarbrücken, 2014. WILLIAMS, R. Cultura. In: WILLIAMS, R. Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. Trad. De Sandra Guardini Vasconcelos. São Paulo: Boitempo, 2007.
625
A HOSPITALIDADE E O ACOLHIMENTO NO CAMPUS DA FURG DE SANTA
VITÓRIA DO PALMAR/RS, BRASIL
SANTOS, Wagner149;OLIVEIRA, Milena150.
FRANZEN, Letícia Indart151 [email protected]
Palavras-chave: Hospitalidade, Acolhimento, Campus, Santa Vitória do Palmar/RS.
1 INTRODUÇÃO
Para muitos jovens a oportunidade de ingressar no ensino superior em uma
universidade é uma oportunidade única e extremamente rara. Várias são as formas
de se ter acesso a essa forma de ensino, porém é um processo longo. Pode até
mesmo ser estressante, pois o acadêmico, ao chegar na universidade passa por
149Bacharelando no curso de Bacharelado em Hotelaria. Universidade Federal do Rio Grande (FURG). E-mail: [email protected] 150Bacharelanda no curso de Bacharelado em Hotelaria. Universidade Federal do Rio Grande (FURG). E-mail: [email protected] 151Turismóloga. Mestre em Turismo e Hotelaria. Docente na Universidade Federal do Rio Grande (FURG). E-mail: [email protected].
626
várias mudanças em sua rotina, diferentemente do que acontecia em sua rotina
escolar. A universidade pode se tornar “um bicho de sete cabeças” para os recém
ingressantes. Neste cenário, o acolhimento destes ingressantes é de extrema
importância.
A hospitalidade das universidades brasileiras varia muito em que região elas
estão inseridas e a cultura de cada lugar. Este trabalho apresenta dados que fazem
parte de um projeto de pesquisa que conta com acadêmicos voluntários. Esta fase da
pesquisa foi desenvolvida entre os meses de setembro e outubro de 2016 e ainda está
em fase de execução. Este trabalho tem por finalidade identificar a hospitalidade e
acolhimento do campus da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) localizado
na cidade de Santa Vitoria do Palmar/RS, Brasil na visão dos discentes do 1º ano de
graduação dos cursos de Turismo, Hotelaria e Tecnologia em Eventos.
Para esta pesquisa foi utilizado um Questionário de Vivências Acadêmicas
(QVA- adaptado), criado por Almeida e Ferreira (1997), para identificar de que forma
se dá a hospitalidade entre diversos aspectos, na visão dosdiscentes.Considerando
que o campus de Santa Vitoria do Palmar/RS recebe muitos alunos de outras cidades
do estado e de outros estados do Brasil, tem no fator cultural, um influenciadorna
convivência e adaptação desses alunos no ambiente acadêmico.Os alunos de fora da
cidade, quando chegam em Santa Vitoria do Palmar, se deparam com uma cidade
pequena, sem muitos atrativos.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo realizado utilizou oQuestionário de Vivencias Acadêmicas (QVA-
adaptado) criado por Almeida e Ferreira (1997), aplicado nas turmas dos 2º semestre
dos cursos de Hotelaria, Turismo Binacional e Tecnólogo em Eventos, a análise desse
questionário foi feita de maneira quantitativa e qualitativa. No campus da FURG da
cidade de Santa Vitória do Palmar/RS existem matriculados, nos três cursos de
Bacharelado em Hotelaria, Turismo Binacional e Tecnólogo em Eventos,
aproximadamente 125 alunos matriculados, porém apenas 62 alunos são frequentes,
627
deste total 59 acadêmicos responderam a esta pesquisa, alunos do 2º semestre.O
período da pesquisa foi nos dias entre 27 de setembro à 05 de outubro de 2016.
Primeiramente foi realizada pesquisa bibliográfica referente ao tema
“hospitalidade/acolhimento” no contexto universitário. Para isso utilizou-se o site
“publicações de turismo” onde foram encontrados artigos científicos com essa
temática. Em seguida, utilizando como referência as dimensões analisadas no
Questionário de Vivências Acadêmicas construído por Almeida e Ferreira (1997),
foram confeccionadas afirmativas que deveriam ser avaliadas pelos discentes que
participaram desta pesquisa em uma escala likert (de 1 a 5).
As dimensões criadas por Almeida e Ferreira (1997) e utilizadas nesta pesquisa
foram: Adaptação à instituição; Envolvimento em atividades extracurriculares;
Relacionamento com colegas; Adaptação ao curso; Relacionamento com os
professores; Métodos de estudo; Bases de conhecimento; Autoconfiança; Gestão dos
recursos econômicos. Foi incluída, para esta pesquisa, a dimensão “Comunicação”.
Para o trabalho apresentado aqui, será analisada apenas a dimensão deAdaptação à
instituição. As demais serão analisadas e os resultados apresentados em trabalhos
futuros.
O processo de coleta de dados foi realizado em sala de aula, procurando as
datas que grande parte dos alunos estivessem presentes. Para tanto, foram
escolhidas as datas de provas e atividades avaliativas.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Inúmeras são as dificuldades que os acadêmicos se deparam ao ingressar na
universidade. Algumas estão relacionadas a fatores internos aos alunos, como por
exemplo, “sentimentos de tristeza pela ausência da família, problemas nos
relacionamentos interpessoais, na organização do tempo de estudo, no entendimento
dos conteúdos, no reconhecimento dos espaços da instituição” (GHIRALDELLO;
MERCURI, 2015, p. 406). Em outros casos essas dificuldades estão relacionadas com
a falta de planejamentos dos espaços acadêmicos.
628
Dentro das dimensões da hospitalidade criadas por Camargo (2003, 2004):
hospitalidade doméstica, pública, virtual e comercial, não há nenhuma que fale
claramente sobre a hospitalidade em ambientes acadêmicos. Porém, para este
estudo, considerou-se as definições da hospitalidade pública e virtual para entender a
hospitalidade acadêmica.
Para Grinover (2007, p. 127) “a hospitalidade da cidade passa, ainda, pelo
ordenamento geral das paisagens urbanas e pela organização dos lugares públicos”.
Neste caso, cabe à universidade planejar e organizar seus espaços públicos de
circulação para bem receber seus estudantes.
Além disso, é importante que a universidade ofereça informações adequadas
para aqueles que chegam, tendo em vista que essas informações conduzem o
estudante pelo campus sem se perder. Para Grinover (2007, p. 126), “é o que
poderia ser chamado de hospitalidade “informada”, “oferecida” pelas autoridades
públicas e administrativas [...]”.
A hospitalidade pública de uma cidade pode ser percebida por meio da
organização espacial e de mobilidade urbana (CAMARGO 2003; 2004). Em um
ambiente universitário tal organização proporciona aos discentes, livre acesso,
autonomia e segurança, facilitando a circulação dos acadêmicos. Implica assegurar
ao acadêmico o direito de ir e vir.
A hospitalidade virtual, segundo Camargo (2003), ocorre nos ambientes virtuais
da internet. Emissor e receptor da mensagem do site eletrônico são, respectivamente,
anfitrião e visitante. No caso das universidades, este tipo de hospitalidade pode ser
verificado por meio dos sites dos campi, dos cursos e demais instituições relacionadas
à universidade. As informações divulgadas neste tipo de mídia devem estar em
conformidade com a realidade, devem ser atualizadas, estar explicitas e ser de fácil
acesso.
Diante disso, essa pesquisa procura entender de forma os acadêmicos se
sentem em relação à universidade onde estão estudando, na busca de tentar
identificar possíveis modificações que poderão ser feitas para evitar que esses jovens
e adultos abandonem os estudos.
629
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Conforme dito anteriormente, esta pesquisa ainda está em andamento e
pretende-se expor alguns dados preliminares referentes à percepção dos discentes
referente ao acolhimento do campus da FURG localizado na cidade de Santa Vitória
do Palmar/RS, Brasil.
Em relação às afirmações propostas no questionário QVA (adaptado) verificou-
se que em relação aos 54 entrevistados, na afirmação “sinto-me bem na instituição”
constatou-se que 2% discorda totalmente, 5% discorda parcialmente, 4% é
indiferente, 33% concorda parcialmente e 55% concorda totalmente. As respostas a
essa afirmativa indicam que boa parte dos acadêmicos dos cursos de Turismo,
Hotelaria e Tecnologia em Eventos afirmam que estão se sentindo bem no ambiente
da universidade,ponto importante que reflete a hospitalidade deste local.
A mesma situação se repete ao responderem a afirmação “sinto-me acolhido
na instituição”, pois foi verificado que 4% discorda totalmente, 5% discordo
parcialmente, 4% é indiferente, 31% concordo parcialmente, 56% concorda
totalmente. A resposta desta afirmação confirma a resposta da afirmativa anterior,
ambas representam o sentimento de hospitalidade e de acolhimento destas pessoas
no campus, pois sentir-se bem e acolhido é um dos princípios da hospitalidade.
Em relação à questão “na primeira vez que entrei no Campus consegui me
deslocar facilmente e encontrei as salas que precisava” constatou-se que 10%
discorda totalmente, 15% discorda parcialmente, 10% é indiferente, 27% concorda
parcialmente 38%concorda totalmente. Boa parte dos respondentes (65%) concorda
parcialmente ou totalmente com essa afirmação, ou seja, conseguiram se deslocar
facilmente e com autonomia pelo campus, estando com conformidade com a
hospitalidade pública, que prevê o livre acesso e circulação pelos espaços. Porém
ainda há uma parte dos acadêmicos destes cursos que ainda teve dificuldades de
exercer o seu direito de acesso e livre circulação, aproximadamente 25%. Nesse caso
ainda é necessário fazer mudanças por meio de maior sinalização dos espaços, com
cartazes, placas, etc.
630
A adaptação dos horários de funcionamento dos serviços disponibilizados no
campus (secretaria, coordenação, PRAE, biblioteca, laboratórios, xerox, lancheria,
etc) em relação aos horários de aula dos acadêmicos é importante para a sensação
de bem-estar e acolhimento, pois o acadêmico pode usufruir destes serviços de forma
plena e autônoma. Neste caso, o questionário possuía a seguinte afirmação “estou
adaptado aos horários e ao funcionamento dos serviços”, 37% discorda (totalmente
ou parcialmente), 13% é indiferente, 50% concorda (parcialmente ou totalmente).
Percebe-se que as respostas são dispersas, parte dos acadêmicos (50%) acredita
que estão adaptados aos horários de funcionamento destes serviços no campus. Essa
resposta pode estar relacionada ao período do ano em que esse questionário foi
aplicado, ou seja, no segundo semestre do ano letivo, já tendo passado alguns meses
do inicio do semestre, isso facilita a adaptação com o passar do tempo.
Gostar do local onde o acadêmico passa, em muitos casos, a maior parte do
seu dia é de extrema importância para a percepção do acolhimento e o sentimento de
pertencer àquele local. Em relação a isso foi feita a seguinte afirmação “gosto da
instituição que frequento e do ambiente circundante”, as respostas foram as seguintes:
5% discorda totalmente, 7% discorda parcialmente, 2% é indiferente, 31% concorda
parcialmente e 55% concorda totalmente. Percebe-se que a maior parte dos
acadêmicos entrevistados (86%) afirma gostar dos espaços físicos da FURG, diante
disso, pode-se afirmar que, em relação ao espaço físico do campus, é possível
perceber uma atmosfera de acolhimento e de hospitalidade pública deste espaço.
Ainda em relação ao espaço físico do campus, foi afirmado “Meu deslocamento
no Campus até as salas de aula, da administração, da secretaria, da coordenação, da
PRAE, etc, é acessível”. A maior parte, 89%, respondeu que concorda (parcialmente
ou totalmente) com essa afirmação, 2% respondeu ser indiferente a esta questão, e 9
% discordou da afirmação, ou seja, não acha que o deslocamento pelo campus seja
acessível. Vale ressaltar que alguns alunos do campus possuem alguns tipos de
deficiências visuais, isso pode ter contribuído pela avaliação negativa do acesso.
Os ambientes da cidade de Santa Vitória do Palmar percorridos pelo acadêmico
até chegar ao campus também foram avaliados pelo acadêmico. Dessa forma, foi
631
afirmado “a entrada da cidade até o campus possui sinalização adequada”, 37%
discorda totalmente, 17% discordo parcialmente, 9% é indiferente, 26% concorda
parcialmente e 11% concorda parcialmente. Neste quesito, boa parte dos acadêmicos
entrevistados (54%) discorda que exista sinalização adequada da entrada da cidade
até o campus, essa afirmativa está relacionada à hospitalidade pública da cidade de
Santa Vitória do Palmar, que não planejou seus espaços públicos considerando a
sinalização urbana da cidade com relação ao campus. É preciso investir em placas,
outdoors, etc. informando a existência do campus e suas direções, para que não só
os acadêmicos possam achar a localização do campus, mas também toda a
comunidade da cidade.
Na afirmativa “encontro facilmente os cursos da FURG no Campus SVP”, boa
parte dos entrevistados se mostrou indiferente (29%), 18% discorda (totalmente ou
parcialmente), e a maior parte (53%) concorda (parcialmente ou totalmente).A última
afirmativa a ser analisada nesta pesquisa é “Entendo ser importante ter Restaurante
Universitário (RU) no Campus de SVP”. Essa afirmativa se justifica pelo fato do
campus ainda ser novo e não possuir um RU. Diante disso, 88% afirmou ser
importante ter um RU no campus, 4% discordo totalmente, 8% é indiferente, 2%. As
aulas dos cursos de Turismo, Hotelaria e Tecnologia em Eventos são nos turnos da
tarde e noite, muitos acadêmicos chegam no campus muito cedo e não há nenhum
serviço de alimentação gratuito ou de baixo custo perto do campus. Para os
acadêmicos esse serviço será de grande importância, pois transforma-se em uma
forma de acolhimento, por meio da alimentação fornecida e por ser mais um espaço
de convivência entre os acadêmicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois de fazer a análise dos dados verificou-se que boa parte dos acadêmicos
dos cursos de Turismo, Hotelaria e Tecnologia em Eventos afirmam que estão se
sentindo bem no ambiente da universidade, ponto importante que reflete a
hospitalidade deste local.
632
Boa parte dos respondentes consegue se deslocar facilmente e com autonomia
pelo campus, estando com conformidade com a hospitalidade pública, que prevê o
livre acesso e circulação pelos espaços. Porém ainda há uma parte dos acadêmicos
destes cursos que ainda tem dificuldades de exercer o seu direito de acesso e livre
circulação. Nesse caso, ainda é necessário fazer mudanças por meio de maior
sinalização dos espaços, com cartazes, placas, etc.
Metade dos acadêmicos acredita que estão adaptados aos horários de
funcionamento destes serviços no campus. Essa resposta pode estar relacionada ao
período do ano em que esse questionário foi aplicado, ou seja, no segundo semestre
do ano letivo, já tendo passado alguns meses do inicio do semestre, isso facilita a
adaptação com o passar do tempo. Destaca-se neste quesito que há hospitalidade
por parte do campus em adequar seus horários às necessidades dos alunos destes 3
cursos.
Gostar do local onde o acadêmico passa, em muitos casos, a maior parte do
seu dia é de extrema importância para a percepção do acolhimento e o sentimento de
pertencer àquele local, a maior parte dos entrevistados (86%) afirma gostar dos
espaços físicos da FURG, diante disso, pode-se afirmar que, em relação ao espaço
físico do campus, é possível perceber uma atmosfera de acolhimento e de
hospitalidade pública deste espaço.
Com todas essas analises feitas verifica-se que o campus tem algumas
necessidades, contudo analisa-se que é um Campus em que sua infraestrutura física
é hospitaleira. Salienta-se que esta é uma pesquisa em andamento e que em
pesquisas posteriores serão analisados de outros parâmetros, como a comunicação,
relação interpessoal entre alunos e professores e etc.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. S.; SOARES, A. P. C.;FERREIRA, J. A.Questionário de Vivências acadêmicas (QVA – r): Avaliação do ajustamento dos estudantes universitários. Avaliação Psicológica/ Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica, v. 1, n. 1, São Paulo, 2002. São Paulo: IBAP: Casa do Psicólogo, 2002, p. 81-93.
633
ANDRADE, D. A.C.; MACEDO, T. W. M. A extensão e a busca pela hospitalidade na cidade universitária. Revista Hospitalidade. São Paulo, v. 12, n. 2, p. 158 - 179, dez. 2014. CAMARGO, L. O. L. Os Domínios da Hospitalidade. In: DENCKER, A. F. M.; BUENO. M. S. Hospitalidade: cenários e oportunidades. (Orgs..). São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. _________. Hospitalidade. São Paulo: Aleph, 2004.
GHIRALDELLO, L. e MERCURI, E. N. G. S. Integração Acadêmica de Estudantes do Ensino Superior: um estudosobre ingressantes de um curso de turismo. Turismo em Análise, v. 26, n. 2, São Paulo, p. 403-425, 2015.
GRINOVER. L. A hospitalidade, a cidade e o turismo. São Paulo: Aleph, 2007.
634
GT 11 – TURISMO E HOTELARIA
635
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO: UMA FERRAMENTA PARA A
QUALIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE MEIOS DE HOSPEDAGEM DE SANTA
VITÓRIA DO PALMAR/RS?
CUNHA, AdemilsoAlves152; AMARAL, Guilherme Pinto153; AMARAL, Mateus
Pinto154.
FRANZEN, Letícia Indart155.
Palavras-chave: Internet; Qualificação de serviços; Tecnologias de informação.
1 INTRODUÇÃO
O turismo vem crescendo notoriamente nos últimos anos, assim como a
internet e suas ferramentas de comunicação. Todos os segmentos da sociedade são
afetados pelas mudanças que a internet proporciona, e entre tantas possibilidades que
se apresentam para serem exploradas, está o uso das tecnologias de informação
como aliada dos meios de hospedagem na impulsão de suas vendas, através da
qualificação dos serviços prestados ocasionados pelo uso de tais ferramentas.
A utilização dessas ferramentas torna-se uma prática relevante no atual
mercado e é utilizada por todos os segmentos. Mostra-se de grande importância para
aproximar os clientes das organizações, divulgar os produtos que a empresa
152Discente do 6º semestre do curso de bacharelado em hotelariana Universidade Federal do Rio Grande. E-mail: [email protected] 153Discente do 6º semestre do curso de bacharelado em hotelaria na Universidade Federal do Rio Grande. E-mail:[email protected] 154Discente do 6º semestre do curso de bacharelado em hotelaria na Universidade Federal do Rio Grande. E-mail:[email protected] 155 Turismóloga. Mestre em Turismo e Hotelaria. Docente na Universidade Federal do Rio Grande.Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4383012Z1 E-mail:[email protected]
636
comercializa e também possibilita que o cliente possa se inteirar sobre detalhes antes
mesmo de ter o contato físico com a empresa hoteleira.
Os meios de hospedagem podem utilizar várias ferramentas como forma de
divulgação e contato com os hóspedes na internet, como os serviços de e-mail, criação
de site do próprio do hotel, utilização das redes sociais como o Facebook, Twitter,
Youtube, entre outros, inclusive algumas sem custos. Neste contexto, o objetivo desta
pesquisa é identificar quais as ferramentas de tecnologias de informação os meios de
hospedagem de Santa Vitória do Palmar têm utilizado no contato, vendas e divulgação
de seus produtos e serviços. Em um segundo momento, tem-se como objetivo avaliar
se tal prática tem impactado na qualificação dos serviços prestados.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Em termos metodológicos, foi elaborada uma pesquisa bibliográfica para
obter-se embasamento teórico, onde foram pesquisados artigos científicos no site
“Publicações de Turismo”, utilizando as seguintes palavras-chave: internet; meios de
hospedagem; tecnologias de informação. Este tipo de pesquisa tem como finalidade
colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito sobre o assunto
(MARCONI; LAKATOS, 2010).
Foi efetuada uma pesquisa de campo no setor hoteleiro de Santa Vitória do
Palmar/RS, através de questionário estruturado, com uma abordagem quantitativa e
posteriormente foi feita a interpretação dos dados coletados. Foram feitos contatos
com cinco meios de hospedagem em Santa Vitória do Palmar/RS, porém quatro
aceitaram participar da pesquisa.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A internet desde seu surgimento vem mudando o mundo, aproximando
pessoas, facilitando e otimizando a prestação de informações, auxiliando na compra
de produtos e também servindo de ferramenta para obtenção de contato e
informações sobre aquisições de serviços e produtos.
637
Segundo Caiçara Junior (2007), o serviço de Internet surgiu durante o período
da Guerra Fria, entre as décadas de 1960, 1970 e meados dos anos 1980. Ainda
segundo o mesmo autor, dentre “as principais tecnologias surgidas nos últimos anos,
nenhuma causou mais impacto para a humanidade do que a internet” (CAIÇARA
JUNIOR, 2007, p.129).
A Internet, segundo Barbalho (2004), é uma realidade cada vez mais integrada
ao cotidiano da sociedade, possibilitando novos serviços, facilidades de uso e maior
interação com o usuário como meio de comunicação, transmissão de dados e
instrumento de trabalho. Em anos recentes, a Internet vem mostrando ser uma
ferramenta estratégica de impacto, causando mudanças e levando as empresas a
repensarem seus modelos de negócios e seu posicionamento no mercado, destaque
para as novas tecnologias da informação e comunicação, que tem se tornando uma
ferramenta fundamental para a divulgação de serviços e produtos nos mais
diversificados setores da economia.
Uma prática que tem ganhado destaque dentro do contexto turístico são os
sites de relacionamentos onde as empresas possuem páginas e perfis oficiais,
proporcionando aos hóspedes de meios de hospedagens opinarem sobre as
experiências vivenciadas durante a estadia.
Chiavelli (2013) menciona que é importante que os gestores conheçam a
opinião desses hóspedes sobre a prestação dos serviços. Desta forma, será possível
melhorar os pontos fracos e potencializar os pontos fortes, fazendo com que o
hóspede tenha uma experiência satisfatória e além de voltar a se hospedar, dissemine
sua opinião positiva a outras pessoas.
O conteúdo gerado pelo usuário na internet e mais precisamente, a avaliação
de desempenho de empresas tem transformado a visão das empresas na internet. Os
consumidores não precisam mais coletar informações somente em órgãos oficiais ou
imprensa especializada. Graças às novas tecnologias, o aumento do número de
usuário fez com que uma rede de avaliação se criasse permitindo o aumento do fluxo
de informações sobre determinado serviço.
638
Na hotelaria, a forma como os serviços são prestados são avaliados pelos
clientes constantemente, na esfera virtual, comentários, reclamações e as avaliações
de hóspedes podem ser efetuadas em sites como o TripAdvisor, essa prática tem
impactado na reputação dos meios de hospedagem tanto positiva como
negativamente. Sites como o TripAdvisor, de conteúdo gerado por usuário, permitem
que estas informações cheguem a outros turistas avaliando a qualidade do serviço
prestado e influenciando na decisão de novos hóspedes.
Percebe-se que a evolução da internet facilitou a vida dos turistas, agindo como
uma ferramenta para capitação de informações e contato entre os gestores dos meios
de hospedagem e seus hóspedes.
4 RESULTADOS / DISCUSSÃO
Para a elaboração desse estudo foram pesquisados quatro meios de
hospedagem de Santa Vitória do Palmar/RS, levou-se em consideração o conteúdo
coletado através de entrevista com questionário estruturado. Os meios de
hospedagem entrevistados foram chamados de A, B, C e D, para assim preservar a
imagem de cada um deles. Quando perguntados sobre a utilização de site/blog para
a divulgação de informações sobre o meio de hospedagem, apenas o Hotel D não
utiliza esse tipo de ferramenta. O Hotel A utiliza esta ferramenta há 6 anos, o Hotel B
há 3 anos e o Hotel C há 1 ano e 5 meses. Dos 3 hotéis que disseram ter site/blog
apenas o Hotel B o utiliza para efetuar reservas, promoções e como alternativa de
contato com os hóspedes. O Hotel A e o Hotel B acreditam que a adoção do site pelo
meio de hospedagem qualificou o atendimento e a prestação de serviços entre
empresa e o hóspede. O Hotel C, apesar de tem site, não acredita que essa
ferramenta é uma forma de qualificação dos serviços. A resposta do Hotel D é muito
interessante, pois este afirma que a utilização de um site não qualifica o atendimento
e a forma como presta o serviço, diante disso, confirma-se o fato deste ser o único
hotel, entre os respondentes, que não possui um site.
639
Quando foram questionados se haviam observado aumento na taxa de
ocupação e satisfação dos hóspedes após criação do site/blog pelo meio de
hospedagem os mesmos responderam que não ou não souberam responder.
Também foram feitas perguntas referente às redes sociais das empresas
hoteleiras entrevistadas. Observou-se que apenas o Hotel A e o Hotel B possuem
páginas ou perfil próprio em redes sociais, porém nenhum dos meios de hospedagem
onde à pesquisa foi aplicada utiliza tais ferramentas para efetuar reservas, promoções
ou como uma alternativa de contato para os hóspedes. O Hotel A possui rede social
há 2 anos, já o Hotel B tem um perfil em rede social mesmo antes de possuir um
site/blog na internet.
Quando perguntados sobre tempo que demoram em média para responder os
questionamentos dos hóspedes pelas redes sociais, nenhum dos meios de
hospedagem afirmou saber responder tais questionamentos, assim como também os
meios de hospedagem entrevistados relatam não acreditar que a adoção das redes
sociais qualificou o atendimento e a prestação de serviços entre empresa e hóspedes.
Nenhum dos hotéis respondentes perceberam um aumento na taxa de ocupação e na
satisfação dos hóspedes após implementação das páginas em redes sociais. Dos
quatro meios de hospedagem entrevistados, somente o Hotel A possui perfil oficial no
site TripAdvisor.
Quando questionados sobre os motivos que levaram o meio de hospedagem a
ter um site ou rede social na internet, as alternativas de resposta eram “Expectativa
no aumento de vendas”; “Ofertar um melhor atendimento ao hóspede”; “Proporcionar
melhores serviços de pré-vendas e pós-vendas”. O Hotel A considerou importante,
pois seria uma maneira de ofertar um melhor atendimento ao hóspede. O Hotel B
considerou que houvesse uma expectativa no aumento de vendas, porém o meio de
hospedagem não identificou nenhum aumento na taxa de ocupação. O Hotel C
considerou as duas situações expectativa no aumento de vendas e ofertar melhor
atendimento ao hóspede. O Hotel D, por não possuir nenhuma página na internet não
respondeu a esta questão. Nenhum dos gestores entrevistados assinalou o item
“proporcionar melhores serviços de pré-vendas e pós-vendas”.
640
Fica perceptível a falta de uso dos gestores quanto à utilização de mídias
digitais em seus meios de hospedagem, uma vez que basicamente os mesmos se
apoiam apenas no site e no uso do e-mail, de modo que a utilização das redes sociais
e sites como o TripAdvisor são quase que inexistentes no setor hoteleiro da cidade. É
de suma importância ressaltar que com o uso das ferramentas da internet o hotel pode
obter variados resultados, assim como a qualificação dos serviços prestados, porém
isso implica na forma de atuação do hotel, no público-alvo do hotel, na qualidade das
informações e na própria noção que o hotel tem quanto à importância dessas
ferramentas, o que pode influenciar no sucesso ou fracasso dessas ações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como objetivo identificar quais as ferramentas de tecnologias
de informação os meios de hospedagem de Santa Vitória do Palmar têm utilizado no
contato, vendas e divulgação de seus produtos e serviços. . Diante disso, foi possível
identificar que apenas um dos hotéis pesquisados faz uso do espaço digital, porém
ainda de forma principiante. Um dos hotéis pesquisados não faz nenhum uso das
mídias sociais, os outros dois hotéis fazem algum tipo de divulgação digital, porém
ainda pouco aprofundado em sua totalidade.
Em um segundo momento, tem-se como objetivo avaliar se tal prática tem
impactado na qualificação dos serviços prestados. Nesse sentido, observou-se que
os meios de hospedagem que utilizam as mídias digitais fazem isso de forma
extremamente superficial. Os gestores entrevistados não percebem nas mídias
sociais um canal de comunicação direto com seus clientes, também não percebem
que a internet pode ser uma fonte de informação importante entre hóspede e empresa.
Sugere-se a realização de um minicurso ministrado pelos alunos do curso de
Bacharelado em Hotelaria, da Universidade Federal do Rio Grande – FURG sobre a
utilização de mídias digitais pelos gestores dos meios de hospedagem de Santa
Vitória do Palmar/RS para que possam usufruir de grande parte dos recursos que
essas mídias ofertam.
641
Alguns gestores acreditam que o simples fato do hotel estar presente no
mundo virtual pode impulsionar seus negócios, porém caso não tenha estratégias
formadas e bom domínio dessas ferramentas antes de atuar no ambiente virtual,
definindo o que querem, a implementação de tais mídias pode acarretar em um efeito
contrário, ao invés de qualificar os serviços os gestores estarão obtendo uma baixa
na qualidade dos serviços prestados, fato esse que ocorre decorrente do mau uso das
mídias digitais.
REFERÊNCIAS
BARBALHO, C.R.S. Portais eletrônicos: estudo comparativo da oferta emComunicação. ENDOCOM – ENCONTRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 16., Porto Alegre, 2004. Anais… .Disponívelem: <www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/errata/barbalho.pdf>. Acessoem: 26.09. 2016. CAIÇARA JUNIOR, C. Informática, Internet e aplicativos. Curitiba: Ibpex, 2007. Chiavelli, F. (2013). A influência da qualidade dos serviçosnaexperiência vivenciada pelos hóspedes nos hotéismidleclass de Curitiba. Monografia de Conclusão de Curso de Graduação, UFPR. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodología científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.