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2016

Apresentação

Editoração/Endereço para contato

Edição atual

Edição anterior (não há)

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Universidade Federal do Rio Grande – FURG

Ficha catalográfica (aguarda ISSN)

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SUMÁRIO

VI CONGRESSO INTERNACIONAL DE TURISMO DO EXTREMO SUL – CITES

COMITÊ CIENTÍFICO............................................................................................. 7

APRESENTAÇÃO...................................................................................................

8

ARTIGOS COMPLETOS.........................................................................................

9

GT 1 – TURISMO, HISTÓRIA, PATRIMÔNIO E CULTURA..................................

17

O Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar-RS, Brasil: análise de seu potencial turístico Cláudia Schwab...................................................................................................... 18 Turismo Cultural: refletindo caminhos para o ensino da história local Érica Souza Ramos................................................................................................ 39 Utilização dos livros didáticos “somos! Patrimônio cultural de Pelotas” e “pelotas uma história cultural”, nas escolas municipais Maibi da Silva Macedo, Dalila RosaHallal.............................................................. 58 Relações entre filosofia e turismo: uma abordagem do turismo cultural a partir da hermenêutica de Paul Ricoeur Renan C. V. Scarano, Alice Leoti........................................................................... 80 Residentes do balneário da Carra do Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS: nível de irritação em relação aos visitantes e ao turismo Vanessa Saraiva Sena................................................................................. 98 Traços culturais de um povo: olhar sobre Santa Vitória do Palmar-RS Nilton Cezar Cunha Varnier, Raphaella Costa Rodrigues, Yolanda F. Silva.......... 114 O Olhar Dos Visitantes Sobre A Cidade De Pelotas/RS Milena Paula Sonda, Dalila Rosa Hallal.................................................................. 130 Turismo e Educação Patrimonial: O Caso do material didático sobre as ruínas de São Miguel Das Missões/RS Ellen C. Klein Schneider, Pierre Donires dos Santos Chagas................................ 147 Turismo Criativo: uma alternativa para o desenvolvimento turístico Pâmela Souza Soares........................................................................................ 160 Memória em papel e tinta: as cartas de viagem de Rubens e Mozart Antunes Maciel Pierre Chagas, Bruna Frio Costa........................................................................ 179 Praça Da Matriz E Seu Entorno: A visão dos comerciantes e seus patrimônios Rosanna Mendonça............................................................................................... 192 Proposta de plano de ação a partir da inventariação da oferta turística do centro do município de São Lourenço do Sul, RS, Brasil Luciana Ferreira, Lucimari Pereira, Elizandra Melo, Cláudia Schwab, Jaciel Gustavo Kunz.......................................................................................................... 213

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GT 3 TURISMO, GESTÃO, PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO

235

O Carnaval de Rua de Jaguarão: Sua vulnerabilidade e impactos do turismo Pablo Colvara Machado, Alessandra Buriol Farinha............................................... 236 Ações sustentáveis dos estabelecimentos gaúchos engajados na campanha passaporte verde Gisele Pereira, Mateus Nazari, Éverton Kaiser, Luisa Longaray.......................... 252 Dinâmica dos Fluxos Socioculturais de Laguna-SC, Brasil: possibilidades para o desenvolvimento do turismo voltado para os aspectos culturais do destino Raphaella Costa Rodrigues, Nilton Cezar Cunha Varnier....................................... 271 Marcas Turísticas: Um ensaio teórico entre literatura e os artigos científicos Lucimari Acosta Pereira, Camila Belli Kraus, Antônio Carlos Benetti, Luiz Carlos da Silva.................................................................................................................... 295

GT 4 TURISMO, MARKETING E COMUNICAÇÃO...............................................

310

Motivação, Fatores “Pull” E “Push” E Las Vegas: Uma Análise do conhecimento produzido pelo seminário Anptur Sarah Minasi, Gisele Pereira.................................................................................. 311 Análise perceptual de logotipos de parques nacionais brasileiros Vagner Custódio, Fabiano Freitas, Juliana M. Vaz Pimentel, Fábio Luciano Violin. 324 A utilização da rede social Facebook na promoção de eventos culturais em Pelotas – RS Jéssica Peres, Sarah Minasi................................................................................... 342 Análise do composto de marketing na plataforma online de uma agência de viagens de grande porte Fábio Luciano Violin, Vagner Sérgio Custódio, Thaís Marques Pichi, Thamyris Nielsen Rocca........................................................................................................ 360

GT 5 TURISMO, TERRITÓRIO, ÁREAS NATURAIS E SUSTENTABILIDADES..

376

As potencialidades turísticas e de infraestrutura para o ecoturismo na Vila da Capilha, Rio Grande/RS: a percepção dos moradores Matheus Barros, Gisele Pereira.............................................................................. 377

GT 7 ALIMENTOS E BEBIDAS..............................................................................

399

A cerveja como fonte econômica para o fortalecimento de degustação e entretenimento nos espaços de lazer da cidade de Manaus Italo V. B. Jácome, Rosanna L. Mendonça............................................................. 400 Comida de chef como produto turístico: o caso Gastronomix 2016 Patrícia Lisboa, Álvaro Kosinski.............................................................................. 421 GT 9 EVENTOS E LAZER 434 A caracterização dos turistas da Festa Nacional do Doce - FENADOCE/ 2015 - Pelotas/RS Natália Garcia, Artur Gonçalves, Andyara Lima Barbosa.......................................

435

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Lazer e tempo livre: uma visão feminina de quem trabalha no comércio pelotense Fernanda Souza Freitas, Igor Moraes Rodrigues, Sarah Marroni Minasi............... 457 Qualidade de serviços em eventos, uma visão sobre o marketing: estudo de caso de uma feira Elisabeth de L. de O. P. C. Salem, Raphaella Costa Rodrigues............................. 470 GT 10 HOSPITALIDADE E DIVERSIDADES.........................................................

492

Rosana (SP): do turismo de pesca ao turista sexual: algumas considerações sobre as nuances subjetivas do processo de agenciamento do corpo Juliana Pimentel, Vagner Custódio, Fábio Luciano Violin...................................... 493 RESUMOS EXPANDIDOS 514

GT 1 – TURISMO, HISTÓRIA, PATRIMÔNIO E CULTURA 514

Os hotéis enquanto espaços de sociabilidade em Pelotas/RS no início do século XX Larissa Plamer Teixeira, Dalila Müller..................................................................... 515 Suvenir Cultural: Espaços Museais Felipe Zaltron de Sá, Susana de Araújo Gastal...................................................... 523 Turismo em cemitério e sua relação com o patrimônio e a trama morte e vida Charlene Brum Del Puerto, Maria Luiza Cardinale Baptista................................... 560 GT 2 - TURISMO, POLÍTICAS E RELAÇÕES EXTERIORES

539

Turismo na Zona De Fronteira Chuí-Chuy: Percepção de atores locais sobre as automobilidades Giovani Francisco, Jaciel Gustavo Kunz................................................................. 540 Turismo receptivo e emissivo: correlação entre receita líquida turística e taxa cambial do brasil (2001 a 2012) Fábio Marques, Eline Tosta, Stephanie Cabreira.................................................... 548 GT 4TURISMO, MARKETING E COMUNICAÇÃO................................................ 556 A imagem do Chuí (RS): o olhar da população local. Wynne Farias, Bibiana Schiavini............................................................................. 557 Mobilidades Turísticas E Novas TICs: Um estudo sobre serviços de internet na fronteira Chuí-Chuy (Brasil-Uruguai) Eline Tosta, Jaciel Gustavo Kunz............................................................................

563

GT 5 TURISMO, TERRITÓRIO, ÁREAS NATURAIS E SUSTENTABILIDADES. 572

Uma breve avaliação da travessia Cassino-Barra do Chuí, RS-Brasil sob a ótica da segmentação do turismo de aventura Maristel Pozzada, Jaciel Gustavo Kunz..................................................................

573

GT 6 TURISMO, EDUCAÇÃO E EPISTEMOLOGIA.............................................

582

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Projetos de extensão e a formação do profissional de eventos: um estudo do projeto “equipe gestora de eventos” – Furg/svp Maria do Carmo Brandão Schwab, Eliezer Montes, Alice Leoti Silva....................

583

Cruzeiros marítimos: um estudo da produção teórica de autores brasileiros Mariana Peres, Jéssica Peres, Jaciel Gustavo Kunz.............................................. 590 GT 7 ALIMENTOS E BEBIDAS.............................................................................. 599 Caindo os butiás do bolso: a importância do butiá no desenvolvimento da cultura gastronômica autóctone em Santa Vitória do Palmar/RS Jean Guilherme Florentino Corrales, Enilda Maria Fangueiro Pereira, Carlos Henrique Cardona Néry..........................................................................................

600

GT 8 TURISMO COMUNITÁRIO E DE BASE LOCAL...........................................

606

A exploração sexual pelo turismo: estudo preliminar na fronteira binacional Fabiana Bitencourt Fernandes, Raphaela Costa Rodrigues................................... 607 GT 9 EVENTOS E LAZER......................................................................................

613

A produção do conhecimento sobre educação e turismo: uma análise das publicações em eventos cientìficos de turismo Roberta Mattos Lessa, Igor Moraes Rodrigues, Leonardo Reichert.......................

614

GT 10 HOSPITALIDADE E DIVERSIDADES.........................................................

622

A hospitalidade no hibridismo cultural da fronteira seca Chuí-Chuy Milena Oliveira, Luiza Machado da Silva................................................................ 623 A hospitalidade e o acolhimento no Campus da Furg de Santa Vitória do Palmar/RS, Brasil Wagner Santos, Milena Oliveira, Letícia Indart Franzen......................................... 632 GT 11TURISMO E HOTELARIA............................................................................

641

Tecnologias de informação: uma ferramenta para a qualificação dos serviços de meios de hospedagem de Santa Vitória do Palmar/RS? Ademilso Alves Cunha, Guilherme Pinto Amaral, Mateus Pinto Amaral, Letícia Indart Franzen........................................................................................................ 642

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COMISSÃO ORGANIZADORA

Servidores Alice Leoti Silva (Coordenação Geral)

Raphaella Costa Rodrigues (Coordenação Geral) Carlos Henrique Cardona Néry

Charlene Brum Del Puerto Francieli Boaria

Jaciel Gustavo Kunz Juliana Niehues Gonçalves de Lima

Letícia Indart Franzen Siuza Monteiro Guedes

Acadêmicos

Denise L. Clavijo Torino Eliezer Montes

Eline Tosta Felipe Giane Nunes Teles Giovani Francisco Gustavo Gaucci

Josiane Delgado Josiara Schwartz Galvão

Larissa Martins Rodrigues Laura Bibiana Boada Bilhalva

Luiza Gautério Figueiredo Mari Eliza A. Leivas

Maria do Carmo Brandão Schwab Milena de Oliveira Oliveira Thalissa Pessini Barcelos Viviane da Costa Farias Viviane Rocha Teixeira

Wagner Eloy Mirapalhete dos Santos Wynne Gonçalves Farias

COMITÊ CIENTÍFICO

Avaliadores Alexandra Marcella Zottis

Alice Leoti Silva

Aline Valéria Fagundes da Silva Ana Maria Costa Beber André Riani Perinotto

Antonio Carlos Castrogiovanni

Bruno Martins Augusto Gomes

Camila Luísa Mumbach da Silva Charlene Brum Del Puerto

Claudio Alexandre de Souza

Dalila Rosa Hallal

Deise Mari Pereira Silveira

Francieli Boaria

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Francielle de Lima

Gabriela Campodónico

Geovan Martins Guimarães

Grislayne Guedes Lopes da Silva

Helena Beatriz Mascarenhas de Souza

Jaciel Gustavo Kunz

Krisciê Pertile Perini

Leidh Jeane Sampietro

Letícia Indart Franzen

Lucimari Acosta Pereira

Luiza Machado da Silva

Maguil Marsilio

Marcela Ferreira Marinho

Nilton Cezar Cunha Varnier

Oscar Iroldi

Pablo Flôres limberger

Paulo dos Santos Pires

Priscila Gayer

Priscila Vasconcellos Chiattone

Priscilla Teixeira da Silva

Rafael Lima de Souza

Raphaella Costa Rodrigues

Ricardo Saraiva Frio Rossana Campodónico Samanta Gallo Cabral

Siúza Monteiro Guedes

Tania Elisa Morales Garcia

Thaís Gomes Torres

Thamires Foletto Fiuza

Thays Cristina Domareski Ruiz

Vanessa Acosta de Azambuja

Editoração

Charlene Brum Del Puerto Giovani Francisco

Jaciel Gustavo Kunz Wynne Gonçalves Farias

Congresso bianual

Endereço para contato

Campus da FURG Santa Vitória do Palmar R. Glicério P. Carvalho, 81 – Coxilha CEP: 96.230-000 – Santa Vitória do Palmar-RS

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APRESENTAÇÃO AOS ANAIS DO

CONGRESSO INTERNACIONAL DE TURISMO DO EXTREMO SUL – CITES

O surgimento do CITES está diretamente ligada à construção de um campus

universitário, em Santa Vitória do Palmar, pela Universidade Federal do Rio Grande

(FURG), em parceria com a prefeitura da cidade, com a criação do curso de

Bacharelado em Turismo Binacional. Sua primeira edição ocorreu em 2010, com a

temática “Turismo, História e Cultura” e foi organizada pelos professores da área de

História do Instituto de Ciências Humanas e da Informação – ICHI que atuavam no

Curso.

Nas edições seguintes, a organização foi assumida pelos professores da área

do Turismo que compõem o corpo docente dos cursos de Turismo, Hotelaria e

Eventos e tratou das temáticas: Desenvolvimento Regional e o Turismo (2011),

Perspectivas para o futuro do Turismo (2012), Planejamento Regional do Turismo no

Contexto das Fronteiras (2013), A Pesquisa Cientifica no Âmbito do Turismo (2014).

Em suas cinco edições, o evento já contou com as participações de professores

do Brasil e do Uruguai, Antônio Jorge Fernándes, Carlos Renato Rocha de Souza,

Maria Luiza Cardinale Baptista, Rossana Campodónico, Susana Gastal, entre outros

nomes que se destacam na área de Turismo e Hospitalidade. Esta edição está a cargo

do Laboratório de Planejamento Turístico dos cursos de Bacharelado em Turismo

Binacional, Tecnologia em Eventos e Bacharelado em Hotelaria da FURG, e para

tanto, foram compostas equipes de trabalho envolvendo professores, técnicos e

alunos dos três cursos, trabalhando-se a temática “Planejamento de Destinos:

Políticas e Sustentabilidades”.

A Comissão Científica do VI Cites

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NORMAS PARA SUBMISSÃO E APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS

CONGRESSO INTERNACIONAL DE TURISMO DO EXTREMO SUL – CITES

A Comissão Científica torna público o regulamento para submissão, avaliação

e apresentação de trabalhos científicos do VI Congresso Internacional de Turismo do

Extremo Sul – CITES, bem como o cronograma das atividades previstas que

antecedem a realização do evento.

1 PARTICIPAÇÃO

O Congresso destina-se a docentes, pesquisadores e estudiosos do Turismo e

áreas afins, os quais poderão participar como convidados, apresentadores de trabalho

científico ou ouvintes.

2 INSCRIÇÃO

As informações sobre o processo de inscrição encontram-se disponíveis na

página web http://sinsc.furg.br/detalheseventos/452.

3 CRONOGRAMA

• 15 de agosto a 2 de outubro de 2016: Abertura do Sistema para recebimento

online das inscrições para apresentador de trabalhos e ouvintes.

• 2 de outubro de 2016: Data-limite para o encaminhamento dos trabalhos

• 02 de outubro a 30 de outubro de 2016: Período de avaliação dos trabalhos

• 2 de novembro de 2016: Divulgação, via email e publicação no site do evento,

dos trabalhos selecionados, local, sala e horários de apresentação.

• 30 de Novembro a 02 de Dezembro de 2016: VI Congresso CITES.

4 NORMAS DE SUBMISSÃO E APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS

A submissão será feita exclusivamente através do endereço de email

[email protected], até 2 de outubro de 2016. Os trabalhos deverão

ser postados, no modelo do Congresso (template disponível no site do evento), em

duas versões: uma, em arquivo PDF, sem identificação dos autores e outra, em

arquivo Word da Microsoft ou Writer do OpenOffice, com identificação dos autores.

Os trabalhos deveram ser enquadrados como resumo expandido ou artigo (conforme

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normas deste evento), bem como em idioma “português” ou “espanhol”. Os trabalhos

deverão ser inéditos, não tendo sido apresentados em outros eventos ou publicados

em periódicos científicos ou em livros.

4.1 Autoria

Cada participante poderá inscrever no evento até 3 trabalhos, sendo 1 como

autor(a) e os demais como coautor(a), incluindo artigos e resumos expandidos. Cada

trabalho poderá ter, no máximo, um autor e até quatro coautores. Membros da

Comissão Científica e Coordenadores de GT poderão submeter trabalhos para

avaliação, devendo ser respeitadas integralmente as normas deste regulamento

aplicadas aos demais autores. A submissão fora dessas condições acarretará a

rejeição de todos os trabalhos do participante.

4.2 Condições de apresentação oral

O apresentador obrigatoriamente deverá estar inscrito no evento. Cada

participante poderá apresentar oralmente até dois trabalhos. A apresentação terá

tempo de 10-15 minutos para cada trabalho.

4.3 Conteúdo

O conteúdo do trabalho deverá ser consonante com as NORMAS DE

SUBMISSÃO, o qual também pode ser acessado pelo link

http://www.cites.furg.br/index.php/pt/submissao-de-trabalhos.

4.4 Idioma

O idioma oficial do Congresso é o português, sendo que os trabalhos

submetidos ao evento poderão ser redigidos em português ou espanhol (não houve

trabalhos submetidos em espanhol). A Comissão Científica do evento não se

responsabiliza pela correção linguística dos resumos expandidos e artigos publicados,

sendo responsabilidade dos autores a correta submissão de trabalhos.

4.5 Formatação

Para a formatação dos artigos deverão ser observadas as seguintes normas:

• Tamanho do papel A4, margens superior e esquerda em 3 cm; direita e

inferior em 2 cm, fonte Arial em todo o texto.

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• Título do trabalho: Fonte Arial, corpo 12, espaçamento simples, negrito, caixa

alta.

• Nome dos autores (somente no arquivo Word ou Writer): Ter no máximo cinco

autores e/ou identificação de professor orientador quando houver. Usar apresentação

do Sobrenome em maiúscula, seguido do primeiro nome. Identificação do e-mail do

primeiro autor e do orientador. Fonte corpo 12, espaçamento simples, alinhamento à

direita. Na versão com identificação dos autores deve constar nota de rodapé

contendo: formação acadêmica, filiação profissional ou acadêmica atual (quando for

o caso), link para o Currículo Lattes e e-mail de todos os autores.

• Resumo (somente para artigos científicos): Fonte Arial, espaçamento simples,

corpo 12, margens justificadas (alinhadas à esquerda e à direita), com no máximo 10

linhas. Resumos expandidos não devem conter o resumo do trabalho. • Palavras-

chave: de três a cinco palavras-chave, na sequência, na mesma linha, separadas por

ponto e vírgula em fonte Arial, espaçamento simples, corpo 12, margens justificadas.

• Corpo do texto: fonte Arial, corpo 12, espaçamento 1,5 e margens justificadas.

Títulos de seções e subseções em fonte Arial, corpo 12, negrito, caixa alta,

espaçamento 1,5, com numeração progressiva, parágrafo com recuo de 1,5, conforme

template.

• Trabalhos fora de formatação não serão enviados para a avaliação.

4.6 Citações e referências

As citações bibliográficas e referências deverão observar as normas da

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

4.7 Extensão

Artigos deverão ter no mínimo doze (12) e no máximo vinte (20) páginas.

Resumos expandidos, por sua vez, deverão ter extensão de no mínimo cinco (5) e no

máximo oito (8) páginas.

4.8 Alocação dos trabalhos nos GTs

No ato da submissão, deverá ser indicada a Divisão e o respectivo GT nos

quais o(s) autor(es) deseja(m) que o trabalho seja inscrito e avaliado. A Comissão

Científica poderá, em função do número de artigos recebidos, desmembrar ou reunir

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os GTs, bem como, observado o conteúdo dos textos, realocá-los em outro GT,

quando julgado pertinente.

4.9 Temáticas dos grupos de trabalho (GTs)

GT 1 – TURISMO, PATRIMÔNIO, HISTÓRIA E CULTURA

EMENTA: O Grupo de Trabalho visa o diálogo entre s seguintes temas: cultura;

patrimônio; interpretação do patrimônio; história do turismo e das viagens;

museologia; preservação patrimonial; espaços de memória; debates socioculturais e

antropológicos; literatura e viagens; saberes e fazeres.

GT 2 – TURISMO, POLÍTICAS E RELAÇÕES EXTERIORES

EMENTA: Articulação entre legislação do turismo e da hospitalidade; turismo e

paradiplomacia, turismo e comércio internacional; políticas públicas; relações

exteriores e turismo; organizações; turismo e fronteiras são temáticas que estruturam

este Grupo de Trabalho.

GT 3 – TURISMO, GESTÃO, PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO

EMENTA: O presente Grupo de Trabalho visa um espaço de discussão e articulação

de práticas em relação à gestão e ao planejamento de destinos; gestão de cidades e

urbanização; formatação de produtos turísticos; planejamento de atividades turísticas;

projetos em turismo; planos de desenvolvimento turístico; formatação e

comercialização de produtos turísticos; segmentos de mercado; administração do

turismo; logística e turismo; trade turístico; sustentabilidade socioeconômica;

competitividade de destinos; gestão ambiental de empreendimentos turísticos e

hoteleiros.

GT 4 – TURISMO, MARKETING E COMUNICAÇÃO

EMENTA: A proposta deste Grupo de Trabalho visa promover o debate em relação

ao marketing de destinos turísticos; gestão de conhecimento e novas tecnologias;

comunicação em turismo; inovação e criatividade; empreendedorismo em turismo;

promoção e apoio à comercialização de produtos turísticos; relações públicas.

GT 5 – TURISMO, TERRITÓRIO, ÁREAS NATURAIS E SUSTENTABILIDADES

EMENTA: O Grupo de Trabalho acolhe reflexões, práticas e pesquisas que versem

sobre a relação entre geografia e turismo; recursos naturais e seus usos turísticos;

impactos da atividade turística no meio ambiente; regionalização do turismo;

sustentabilidades; conservação; paisagem e turismo; ecoturismo; turismo rural e

turismo em áreas naturais.

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GT 6 – TURISMO, EDUCAÇÃO E EPISTEMOLOGIA

EMENTA: Com o interesse na discussão e na reflexão das produções do

conhecimento e da consolidação do turismo como área do conhecimento estruturam

este Grupo de Trabalho para o debate a respeito da educação para o turismo;

formação e qualificação do profissional de turismo; turismo e interdisciplinaridades;

currículo e formação docente; produção e comunicação científica; métodos de ensino

em turismo; epistemologia e metodologias de pesquisa em turismo; elaboração de

currículo e cursos; produção e comunicação científica no turismo; práticas docentes

no ensino do turismo; e das suas interdisciplinaridades.

GT 7 – ALIMENTOS E BEBIDAS

EMENTA: Este Grupo de Trabalho objetiva reunir e debater experiências

desenvolvidas em gastronomia; alimentos e bebidas; serviços em gastronomia; 6

gastronomia e formatação de produto turístico; restauração; nutrição; história da

alimentação; higiene e produção de alimentos.

GT 8 – TURISMO COMUNITÁRIO E DE BASE LOCAL

EMENTA: A proposta deste Grupo de Trabalho pretende fortalecer o debate sobre

turismo de base comunitária; desenvolvimento de produtos turísticos local e regional;

políticas públicas de turismo; turismo e desenvolvimento regional; organização dos

espaços sociais para usos do turismo; arranjos produtivos locais; cooperativas

turísticas; turismo e artesanato e estudos sociológicos de turismo.

GT 9 – EVENTOS E LAZER

EMENTA: As temáticas que contemplam as discussões neste Grupo de Trabalho

versam sobre eventos como produto turístico; captação, gestão e promoção de

eventos; qualificação do profissional em eventos; logística; cerimonial e protocolo;

tipologias de eventos; ludicidade; ócio; segurança e qualidade em eventos;

entretenimento e lazer; recreação e práticas esportivas.

GT 10 – HOSPITALIDADE E DIVERSIDADES

EMENTA: O recorte deste Grupo de Trabalho oportuniza o espaço transdisciplinar

para reflexões, práticas e experiências em hospitalidade; turismo e acessibilidade;

acolhimento; questões de gênero; diversidades e pluralidades.

GT 11 – TURISMO E HOTELARIA

EMENTA: O Grupo de Trabalho visa propostas de estudos que versem sobre: meios

de hospedagem; práticas em meios de hospedagem; gestão e administração de meios

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de hospedagem; qualificação de serviços e recursos humanos em meios de

hospedagem.

GT 12 – TURISMO E PRESTADORES DE SERVIÇOS

EMENTA: Como espaço para pensar as práticas relacionadas em agências de

viagens e turismos; guias de turismo; transportadoras turísticas; locadoras de

veículos; turismo e comércio local; prestadoras de serviços e segurança e turismo

estrutura-se este Grupo de Trabalho.

5 PROCESSO DE AVALIAÇÃO

Os originais, sem qualquer identificação do(s) autor(es), serão avaliados no

sistema double blind review.

5.1 Critérios de avaliação

Nas avaliações dos artigos científicos, a Comissão Científica pautará a análise

pelos seguintes critérios:

a) Elementos pré-textuais (título, resumo e palavras-chave):

− Título: Sinalização global das ideias, relatos e discussões presentes no

texto.

− Resumo (somente para artigos científicos): apresentação resumida do

objeto e dos objetivos do trabalho, do processo metodológico (conforme a

natureza do artigo: de revisão teórica ou artigo baseado em pesquisa

empírica), dos resultados (quando for o caso) e das

conclusões/considerações finais. Resumos expandidos não deverão conter

resumo do trabalho.

− Palavras-chave: Pertinência e especificação dos termos (partindo do mais

geral para o particular) em relação ao foco do texto.

b) Elementos textuais

− Presença, na composição textual, dos elementos estruturais e sua pertinência

em relação à natureza do artigo.

− Organização textual e coerência interna: sequenciação e consonância entre

os elementos estruturais.

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− Pertinência e qualidade de figuras (quadros, gráficos, desenhos, fotografias,

organogramas, gravuras e outras) e de tabelas. c) Elementos pós-textuais −

Seleção e atualidade das referências.

− Pertinência e qualidade de apêndices e anexos.

d) Abrangência e profundidade analíticas.

e) Relevância: contribuição para o desenvolvimento científico na área.

f) Aspectos linguístico-textuais

− Adequação, ao texto científico, do padrão de linguagem utilizado.

− Coesão textual no emprego de nexos, de elementos de sequenciação, de

substituição intra e interfrases, intra e interperíodos, intra e interparágrafos.

−Observância de normas gramaticais compatíveis com o padrão de linguagem

empregado.

g) Aspectos ortográficos: conformidade com a nova ortografia da língua

portuguesa.

h) Formatação: observância das normas da ABNT.

6 APRESENTAÇÃO ORAL

O local e horário de apresentação estarão indicados por e-mail e no momento

de seu credenciamento. Cada apresentação terá duração de 10 a 15 minutos. A

Comissão Científica do evento disponibilizará computador e datashow em cada sala

de apresentação. Fica sob a responsabilidade do apresentador transferir os arquivos

necessários para sua apresentação no computador da sala antes do horário previsto

para o início da sessão. Será observada a ordem de apresentação indicada na

programação do evento. A coordenação da atividade ficará a cargo dos

coordenadores dos GTs, os quais serão assessorados por relatores. Os

coordenadores controlarão o tempo das apresentações e mediarão as discussões

posteriores.

7 CERTIFICADOS

Os certificados de participação ou de apresentação de trabalhos serão

disponibilizados através de chave de acesso no site da Furg, no endereço eletrônico

http://www.furg.br/servicos/certificados/#/

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O certificado de apresentação será entregue apenas para trabalhos

apresentados oralmente pelo autor(a) e/ou coautor(a) nos GTs.

8 PUBLICAÇÃO DOS TRABALHOS E DIREITOS AUTORAIS

Os trabalhos selecionados e apresentados oralmente serão publicados no

sistema Argo (argo.furg.br) até 30 dias após o encerramento do evento. 9 Ao

submeterem o trabalho à apreciação da Comissão Científica, os autores concordam

em ceder os direitos autorais para efeitos exclusivos de publicação nos Anais do

evento. As opiniões expressas pelos autores serão de sua exclusiva responsabilidade.

9 DISPOSIÇÕES GERAIS

Os casos omissos serão tratados e deliberados pela comissão Geral do

evento.

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ARTIGOS COMPLETOS

GT 1 – TURISMO, HISTÓRIA, PATRIMÔNIO E CULTURA

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O CEMITÉRIO CIVIL DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR- RS, BRASIL: ANÁLISE DE SEU POTENCIAL TURÍSTICO

SCHWAB, Cláudia1

[email protected]

Resumo: Este trabalho tem origem no TCC apresentado para obtenção do grau de Bacharel em Turismo Binacional pela Universidade Federal do Rio Grande em 2014 e aborda o Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar, Rio Grande do Sul, Brasil, partindo da análise de seu potencial turístico. Leva em consideração a arte tumular, a história e os elementos da cultura popular guardados entre seus muros, com vistas a uma possível transformação do espaço em um atrativo. Para tanto, foi elaborado um inventário de parte de seus túmulos mais antigos, mais ricos artisticamente ou com algum interesse cultural ou histórico para o local e a região. Registra também a relação da comunidade com o seu Cemitério e as impressões dos visitantes após a realização de um roteiro experimental. Palavras-chave: Turismo Cidadão; Turismo Cultural; Memória; Patrimônio; Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar.

1 INTRODUÇÃO

O turismo cemiterial é hoje é um importante segmento da atividade turística.

Cemitérios como La Recoleta, em Buenos Aires; o Père Lachaise em Paris; o

Cemitério Judeu, em Praga, República Tcheca ou o Highgate, em Londres são

atrativos já consolidados. No Brasil, o Cemitério da Consolação, em São Paulo, ou o

Cemitério do Bom Fim, em Belo Horizonte, possuem roteiros turísticos instituídos e

reconhecidos. O Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, instalou há pouco QR

Codes2 em 150 jazigos e realiza visitas guiadas mensais: com a nova tecnologia,

dados sobre a pessoa enterrada no mausoléu e sobre o próprio mausoléu são

1Licenciada em letras Português/Espanhol pela UNITINS e Bacharel em Turismo Binacional pela FURG. http://lattes.cnpq.br/5392093437556243 2QR Code é uma tecnologia pela qual se fotografa com um smarthphone ou tablet com acesso à internet um desenho em formato de código de barras para ter acesso a informações sobre o objeto em questão em que foi afixado o código.

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acessados via internet. No Rio Grande do Sul, é bastante conhecido o Cemitério da

Santa Casa de Porto Alegre e em Bagé, até saraus noturnos já foram realizados com

sucesso dentro do cemitério da cidade3.

Diversos são os motivos que levam à visitação de cemitérios: desde a

curiosidade mórbida relacionada à morte; passando pela visitação a túmulos de

pessoas famosas e personagens históricas, até a simples apreciação da arte

cemiterial. O objeto deste trabalho é o Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar, Rio

Grande do Sul - Brasil, mediante o inventário de seu patrimônio escultórico tumular,

registro de sua história e de elementos vinculados à cultura e à memória do município

e da região, bem como sua possível ativação turística. O objetivo é avaliar se este

espaço cemiterial pode ser transformado em um atrativo turístico. Para tanto, além

das características intrínsecas do Cemitério, também busquei identificar a relação que

o visitante tem com este espaço, o que pensa sobre a possibilidade de uso turístico

do mesmo e quais são suas impressões após a visitação.

Aqui entendi como visitante o próprio residente da comunidade, sobre quem

debrucei meu olhar, tendo em vista que o Cemitério não é um atrativo turístico

consolidado e levando em conta a opinião de que é necessário reconhecimento por

esta comunidade do valor deste espaço antes de estimular aí a visitação de turistas.

Gastal e Moesch (2007, p. 10) consideram que o turismo tem um importante papel a

cumprir mesmo em comunidades que não se caracterizam como turísticas: aliado à

cidadania, o turismo auxilia o residente a conhecer-se e a bem receber, cônscio de

seu valor. Ainda de acordo com as autoras, confrontar-se com o novo e o inesperado

leva a um processo de “mobilização subjetiva que levaria a re-olhar, a repensar, a

reavaliar, a ressignificar não só a situação, o ambiente, as práticas vivenciadas

naquele momento e naquele lugar, mas muito de suas experiências passadas”. À

parte do conceito de turista, que leva em consideração a necessidade de

deslocamento espacial para um local diferente daquele onde se reside, o cidadão que

visita outro bairro ou espaço dentro de sua cidade, em situação diferente à de sua

3Referências e notícias sobre estes Cemitérios, sua visitação e eventos são encontradas com fartura na rede mundial de computadores – web.

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rotina normal, também vivencia estes estranhamentos e desperta estas subjetividades

(GASTAL; MOESCH, 2007, p. 17-18). É através deste processo que pensei despertar

no residente de Santa Vitória do Palmar um novo olhar sobre o seu Cemitério para, a

partir daí, poder-se, quem sabe, pensar em atrair visitantes de outros lugares, turistas

na concepção mais tradicional do termo.

O município de Santa Vitória do Palmar está localizado no extremo sul do Rio

Grande do Sul, em uma península limitada pelo Oceano Atlântico a leste, Lagoa Mirim

a oeste, municípios do Chuí ao sul e de Rio Grande ao norte. Os primeiros registros

de ocupação pelo colonizador deste território datam das primeiras décadas do século

XVIII, quando o Brigadeiro José da Silva Paes recebeu ordens de tomar posse das

terras mais ao sul do Brasil, limitadas pelos Arroios Chuí e São Miguel. Em março de

1778 foi colocado o 1º marco de fronteira, na foz do Arroio Chuí. Em 19 de dezembro

de 1855 foi criada a povoação de Andréa – cuja padroeira era Santa Vitória – elevada

à categoria de Vila em 30 de outubro de 1872 e à de Cidade em 24 de dezembro de

1888 (IBGE, p.1, s.d.).

O Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar, fundado em janeiro de 1889,

possui características que me levam a acreditar ser este um dos potenciais atrativos

turísticos na região. Seu terreno foi adquirido pela municipalidade em 1884, tendo sido

inaugurada a necrópole em 1889. Antes disso, o Cemitério era localizado na atual

zona central da cidade, transferido para a Coxilha do Litígio, ponto mais alto da região,

em função do crescimento da Vila em direção ao cemitério e do receio das

contaminações pelos miasmas, crença vigente nos meados do século XVIII. Os restos

mortais já enterrados no centro foram transladados então para o cemitério novo

(AMARAL, 2010, p. 26-27).

Este artigo tem como base o Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

pela autora em 2014 para a obtenção do grau de bacharel em Turismo Binacional pela

Universidade Federal do Rio Grande 4 , tendo sido reduzido e adaptado para a

apresentação no VI Congresso Internacional de Turismo do Extremo Sul – CITES. O

4 O orientador do TCC foi o Prof. Me. Mauricio Ragagnin Pimentel.

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percurso metodológico percorrido então contemplou: pesquisa bibliográfica e

documental, entrevistas individuais semiestruturadas feitas com representantes do

poder público municipal e servidores municipais que executam atividades vinculadas

ao Cemitério, além de entrevistas aplicadas a visitantes que realizaram um roteiro

experimental elaborado para o fim específico de obtenção de dados para a pesquisa.

Realizei também pesquisa in loco, durante a qual foram feitos a identificação e o

registro fotográfico de monumentos funerários (com estatuária em mármore ou de

importância histórica, cultural, ou cuja história envolvesse alguma curiosidade). Estes

dados embasaram a elaboração de um inventário e a confecção de um mapa de

visitação, com a localização e identificação dos túmulos considerados relevantes,

além da elaboração do roteiro de visitação. O roteiro de visitação foi realizado, com o

objetivo de aplicar-se a metodologia de grupos focais com os visitantes.

Este trabalho está estruturado da seguinte forma: uma introdução; uma

fundamentação teórica que inclui a conceituação de cemitérios como espaços de

memória, turismo cultural, espaço real e espaço potencial, turista cidadão e

patrimonialização; aspectos institucionais do cemitério; a descrição do espaço; o

detalhamento da metodologia; os resultados apurados e as conclusões.

O interesse no estudo da potencialidade turística do Cemitério Civil de Santa

Vitória do Palmar surgiu de forma muito natural ao longo de minha graduação.

Localizado no caminho para a Universidade, visualizava por sobre os muros seus

anjos e cruzes, diariamente ao ir para a aula. Esta visão despertou-me a lembrança

dos inumeráveis passeios feitos com meu pai, na infância, nos cemitérios da Avenida

Oscar Pereira, em Porto Alegre, onde morávamos. Nestes passeios de domingo, meu

pai mostrava a mim, meus primos e meus irmãos a arte existente nos túmulos, os

símbolos, a beleza guardada nestes lugares comumente ligados à tristeza e à

saudade. Visitando o Cemitério de Santa Vitória, percebi em um primeiro momento a

riqueza da arte tumular ali existente e a depredação de diversos mausoléus, passando

a pensar em formas de buscar a preservação e salvaguarda do patrimônio que ali

reconheci.

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Este estudo torna-se relevante não apenas pelas possibilidades de valorização

e reconhecimento de um possível patrimônio artístico e cultural do Município e sua

consequente preservação: o Cemitério Civil é um local de livre acesso à comunidade,

independentemente de situação econômica, social ou religiosa. Guarda dentro de

seus muros um relevante conjunto artístico que pode vir a tornar-se um museu a céu

aberto para visitação não só de turistas, mas principalmente de residentes, em que

pese se encontre hoje em situação de abandono.

Este trabalho vem colaborar na ampliação da bibliografia existente sobre

turismo em cemitérios no Brasil, fornecendo dados sobre a arte cemiterial no início do

século XX, final do século XIX – período de maior riqueza na estatuária existente no

Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar. A produção especificamente no que tange

aos cemitérios do extremo sul do país ainda é um tanto restrita tendendo a aumentar,

visto que há diversas iniciativas neste sentido, incluindo um grupo de estudos

cemiteriais na Universidade Federal de Pelotas – UFPel5 . Sobre o objeto deste

trabalho não há nenhum estudo publicado, à exceção de uma monografia de

conclusão de pós-graduação lato sensu em Memória Social pela Universidade Federal

de Rio Grande - FURG, de 2010, que trata das Pompas Fúnebres no Município e

apresenta alguns dados e informações relevantes sobre este espaço (AMARAL,

2010).

2 SUBSÍDIOS TEÓRICOS: TURISMO CIDADÃO, MEMÓRIA SOCIAL E

PATRIMONIALIZAÇÃO

A concepção de turismo que adotei foi a de Boullón (2002, p. 37), que não o

define nem como uma ciência, nem como uma indústria, situando-o no setor terciário

da economia: “[...] o turismo é consequência de um fenômeno social cujo ponto de

partida é a existência do tempo livre e do desenvolvimento dos sistemas de

5Marmorabilia: Grupo de Estudos Cemiteriais da UFPel, parte do Projeto de Pesquisa do Curso de Conservação e Restauro da Universidade. <http://marmorabilia.blogspot.com.br/>

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transporte.” Como fenômeno social que é, qualquer estudo que pretenda analisar a

possibilidade de desenvolvimento turístico em uma região, ou de transformação de

um lugar em atrativo turístico deve levar em consideração a relação da sociedade com

o espaço que pretende se transformar em turístico. Aí assume relevância o conceito

de “turista cidadão”, defendido por Gastal e Moesch (2007): em um mundo onde a

urbanização é um processo crescente, onde cada vez mais e mais pessoas vivem em

cidades, o olhar cuidadoso sobre este espaço deve ser hábito não apenas para

turistas, mas também para os residentes, a fim de que compreendam sua

complexidade e possam viver aí com maior qualidade. O morador da cidade é parte

ativa dos fluxos (comportamentais, culturais e de ideias) que constituem o espaço

urbano ao lado de seus fixos (praças, monumentos, edificações). Colocar este

cidadão em movimento além de suas atividades rotineiras coloca esta pessoa na

situação de turista, podendo desta forma “apropriar-se com maior competência dos

espaços e situações, num novo exercício de cidadania” (GASTAL; MOESCH, 2007,

pp. 59-60). Ainda segundo as autoras:

Se, nas cidades, mesmo os bairros se colocam como espaços de identidade e identificação, para viver outros cenários não seria mais necessário sair dos limites urbanos, pois estes se tornaram o território da multiplicidade, permitindo ao indivíduo ser turista mesmo sem abandonar seu território. Também se estaria migrando de um conceito de turismo marcado pelas distâncias espaciais para um conceito que priorizasse a sua prática como o percorrer tempos e espaços diferentes dos rotineiros. Turismo seria menos o percurso no espaço, para tornar-se um percurso por tempos-espaços, em especial culturais, diferentes daqueles a que se esteja habituado, com ênfase nas vivências e experiências (GASTAL; MOESCH, 2007, p. 37).

Haveria no Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar, condições que

permitissem aos vitorienses a experiência deste estranhamento característico do

turismo? Em primeiro lugar, a arte tumular existente em seus jazigos, os elementos

da cultura popular, os dados históricos e as curiosidades presentes naquele local,

parecem indicá-lo como um espaço potencial para o turismo. Segundo Boullón (2002,

p. 77), quando há “possibilidade de destinar um espaço real a algum uso diferente do

atual” temos um espaço potencial, que não existe no presente, apenas na imaginação

de planejadores. Esta possibilidade poderá se efetivar se o Cemitério transformar-se

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em um atrativo turístico. Com este fim, propus estimular um novo olhar da comunidade

local sobre este espaço, a fim de que reconhecessem o patrimônio histórico e artístico

ali existente e compreendessem o uso turístico do mesmo.

A Constituição Brasileira define patrimônio cultural em seu artigo 216:

Art. 216: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, dos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

O patrimônio tem se tornado, nos últimos anos, em um dos atrativos mais

importantes do turismo, segundo Zusman (2008, p. 212). Nesta mesma obra, a autora

cita Prats, que afirma que a sacralização que caracteriza um patrimônio não é

espontânea, mas sim, política: é uma decisão política que desencadeia o processo

dentro do qual um grupo de autoridades irá construir argumentos de construção da

patrimonialização, ao mesmo tempo em que faz com que estes critérios pareçam

espontâneos e legítimos para a comunidade (ZUSMAN, 2008, p. 212).

A definição de qualquer elemento como patrimônio é, portanto, arbitrária e

ideológica, baseia-se em escolhas: optamos por ressaltar ou preservar a memória de

um elemento, em detrimento de outro. Artefatos culturais, ou elementos culturais são

simbólicos e como tal necessitam passar por um processo de construção,

desconstrução e interpretação para que apreendamos seu significado. Desta forma,

serão significativos tanto grandes bens do patrimônio nacionais já consagrados como

outros, de menor porte e de interesse local ou regional (CAMARGO, 2002, p. 9). Este

caráter arbitrário não pode deixar de ser levado em conta quando se fala em

patrimonialização, assim sendo, ao elaborar uma proposta de visitação para o

conjunto existente dentro do cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar, pretendi ter o

cuidado de incluir neste “olhar patrimonializador”, se assim podemos falar, não apenas

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os ricos jazigos de mármore italiano dos primeiros anos do século XX, mas também

os túmulos mais simples e os elementos da cultura popular.

Cemitérios são monumentos, por si sós. Segundo Camargo (2002, p. 24), em

relação a monumentos, “[...] A raiz da palavra latina nos remete a momento ou

lembrança. [...] os monumentos, na acepção comum do termo, são edificações ou

construções que pretendem perpetuar a memória de um fato, de uma pessoa, de um

povo”. Cemitérios são lugares de memória, onde repousam os restos de nossos entes

queridos, repletos de elementos que perpetuam a memória destes entes. Halbwachs

(apud BURKE, 2000, p. 19) afirma que “as memórias são construídas por grupos

sociais. São os indivíduos que lembram, no sentido literal, físico, mas são os grupos

sociais que determinam o que é ‘memorável’ e também como será lembrado”. Este

“como será lembrado” está presente dentro do espaço cemiterial: as formas de

enterramento, os rituais de adeus e de saudade, com as mudanças características de

cada época estão ali, registradas em cada uma das tumbas.

Patrícia Neuhaus, em sua dissertação de Mestrado em Arquitetura pela

Universidade Federal do Rio Grande do SUL – UFRGS (2012, p. 26) fala sobre as

relações entre sujeito (visitante), o espaço cemiterial e a morte. Apontando os

cemitérios como espaços de memória, além de espaços destinados aos cultos e

rituais de sepultamento, a autora detecta que estes locais têm como função colocar a

morte e os mortos em uma “pseudoexistência mnemônica”, que se revela tanto

externamente, nos monumentos mortuários, como internamente, nas lembranças que

cada um guarda de seus mortos. Desta forma, afirma a autora que a experiência

cemiterial comporta dois níveis de relação: a do sujeito com o espaço e a do sujeito

com o morto. Ou seja: para que a visitação se dê (e nela, a experiência do espaço), é

necessário que haja uma experiência prévia: a da memória do morto (aí a relação

sujeito-morto), além da intenção da visita. Como neste trabalho propomos a visitação

ao Cemitério com o fim turístico, devemos considerar que nem sempre o visitante terá

a memória do morto (pois que eventualmente não terá ninguém querido enterrado ali),

assim sendo, para possibilitar a efetivação da vivência, adquire importância a

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interpretação patrimonial do espaço, que deverá despertar e/ou criar memórias nos

visitantes, tendo em vista a intenção da visita, neste caso, turística.

Segundo Bellomo (2008). “A conservação da memória dos mortos é um dos

fatores de identidade e coesão das famílias, tribos e das comunidades” (BELLOMO,

2008, p. 13) desde a Pré-história. Para o autor, os cemitérios são reproduções dos

espaços sociais dos vivos, neles estão projetados os valores, crenças, estruturas

socioeconômicas e ideologias das comunidades a que pertencem. Acredito que a

visitação turística do Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar possa, pois, colaborar

para o autorreconhecimento e a compreensão da sociedade onde vivemos,

funcionando como um elemento essencial para a construção da cidadania.

Através dos vestígios e sinais encontrados nos espaços cemiteriais é possível

desvendar os sentidos e significados de uma época (MOTTA, 2009, p. 74). Assim, a

visitação aos cemitérios, além de possibilitar a contemplação da arte tumular, permite

conhecer a história e os costumes de nossos antepassados. E perceber a relação da

sociedade com este espaço hoje em dia, já que os cemitérios são espelhos da

estrutura social vigente. Dessa forma parece-me que o turismo em cemitérios carrega

muito mais consigo do que o desejo mórbido de visitar um local vinculado à morte:

inclui o interesse na arte, na cultura e nos rituais, e deve levar em consideração a

vivência diária das comunidades receptoras com a morte e com o lugar para onde são

levados os seus mortos. E, neste caso, despertar na comunidade local este interesse

sobre sua própria comunidade, ao ver naquele espaço um espelho refletindo sua

estrutura social.

3 ASPECTOS INSTITUCIONAIS DO CEMITÉRIO CIVIL DE SANTA VITÓRIA DO

PALMAR E CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO DE ESTUDO

O Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar foi fundado em janeiro de 1889,

alguns meses antes da proclamação da República. O terreno onde foi instalado foi

adquirido em 1884, especialmente para este fim. Era um quadrado de 118,80 metros

de lado, pertencente, anteriormente, ao Capitão Bernardo Rodrigues Correa e a sua

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esposa, Higina Dorothéa Souza. A partir dos anos 30 foi ampliado e sua área atual é

de aproximadamente 24.640 m². Até 1888, os enterramentos eram feitos em um

cemitério localizado na zona central da cidade, onde hoje se encontra o Colégio

Estadual Santa Vitória do Palmar (AMARAL, 2010, p. 26). A cidade cresceu em

direção ao cemitério e este crescimento provocou sua transferência de lugar.

Ferreira (2009, p. 78) assim descreve a construção da cidade:

A cidade foi traçada com 14 ruas paralelas no sentido norte/sul e 8

perpendiculares a essas, no sentido leste/oeste. As ruas tinham a largura de 18 m e o comprimento das quadras era de aproximadamente 960.000 m². Foi construída em torno de uma praça6 e de uma igreja, e nesse entorno observa-se as construções mais importantes, herança da classe social que edificou e moldou a cidade.

Entre 1875 e 1900 a cidade passou de 201 a 502 prédios urbanos, em uma

onda de crescimento impulsionada pela implantação de novas formas de produção,

de consumo ou de distribuição. Uma classe de comerciantes começou a somar-se à

dos ruralistas, que aplicavam seus excedentes em construção de prédios na cidade,

suntuosos, marcando na arquitetura o poder da elite rural. Esta marca de distinção

social a também era deixada dentro dos muros do Cemitério. Em 1910, eram já 596

os prédios urbanos e a população em 1920 passava das 11.000 almas, sendo que

4000 viviam na zona urbana (FERREIRA, 2009, pp. 82-83).

Os funerais eram eventos sociais, a morte fazia parte dos rituais sociais, mas o

surgimento das ideias higienistas vindas da Europa e que apontavam os corpos

mortos como responsáveis pela transmissão de diversas doenças, começou a tirar

este caráter de festa dos rituais da morte, interditando-os ao convívio muito próximo

do grupo social: os enterramentos dentro das igrejas foram proibidos e a

recomendação era de se instalar cemitérios em locais afastados dos centros urbanos

(PAGOTTO, 2004, p. 19). Este processo se iniciou no Brasil ainda em 1789, por ato

de Dona Maria de Portugal, tornou-se imperativo a partir de 1828, por intervenção do

Imperador Dom Pedro I e passa a ser obrigatório, finalmente, com a publicação do

6Nota da autora: A Praça General Andréa.

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decreto federal nº 789, já na Primeira República (BORGES, 2002, p. 47). A

transferência do local de enterramentos para o ponto mais alto da cidade, a Coxilha

do Lítigio, provavelmente veio satisfazer estas necessidades. Os restos mortais

enterrados no cemitério velho foram transferidos para o novo, cujo portão principal e

muro, ainda existentes, foram construídos por João Batista Almeida, que foi também

o primeiro zelador do lugar (AMARAL, 2010, p. 27-28).

O Cemitério Civil é administrado pela Prefeitura Municipal de Santa Vitória do

Palmar, mais especificamente, pela Secretaria Municipal de Obras e Serviços

Urbanos, que age na medida das solicitações da comunidade, que normalmente só

se manifesta a respeito nas vésperas do Dia de Finados – 02 de novembro, ou de

festas como o Dia dos Pais ou das Mães.

O Cemitério é cercado pelos lados sul e leste por um muro branco, de tijolos,

construído no ano de 1888, da mesma forma que o portão em ferro fundido. Por sobre

o muro veem-se, desde o lado de fora, algumas de suas esculturas tumulares e muitas

cruzes. A calçada não tem calçamento de pedras ou cimento, à exceção do trecho em

frente ao portão principal. Do lado interno, ao longo dos muros originais, há

catacumbas construídas na mesma época (algumas delas foram derrubadas, mas a

maior parte ainda é utilizada). À direita do portão principal está uma pequena sala que

serve de escritório da administração e almoxarifado. Nesta sala são guardados

equipamentos como pás, enxadas, cimento, uniformes de trabalho e documentos. O

mobiliário é restrito a uma mesa e uma cadeira velhas e em más condições de

conservação.

Há muitos mausoléus que, ao longo dos anos, foram sendo reformados e

tiveram suas características originais alteradas, com uma presença muito grande do

uso de azulejos e lajotas. Percebem-se também muitos jazigos abandonados,

cobertos de musgo e limo, incluindo lápides em mármore ilegíveis pela presença

destes elementos. A riqueza em lápides entalhadas em mármore e em fotos tumulares

é bastante para instigar estudos específicos.

A área abordada por este estudo mede aproximadamente 102,0m de frente por

55,0m de lado (5610 m²). Esta está dividida em quatro quadrantes, subdivididos cada

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qual, por sua vez, em mais quatro quadras. Este estudo limita-se apenas à zona onde

se encontram os jazigos mais antigos, aqueles transladados do cemitério desativado

e os construídos até as primeiras décadas do século XX (os dois quadrantes

sinalizados em vermelho na Figura 4).

A época em que ocorreu a inauguração do novo Cemitério coincidiu com um

período de crescimento urbano, associado a um desenvolvimento econômico

importante. A elite rural investia na construção de prédios suntuosos na zona central

da cidade e da mesma forma, atendendo aos ditames sociais do período, construía

jazigos que perpetuassem na memória da comunidade a riqueza e o status de suas

famílias. Estes jazigos estão situados justamente na área estudada. No século XIX, a

maioria eram jazigos em alvenaria, com lápides requintadas entalhadas no mármore.

Nas primeiras décadas do século XX surgiram os ricos mausoléus em mármore, com

uma estatuária composta em sua grande maioria por anjos e crucifixos, mas também

se encontram outras imagens como um Cristo, uma Sagrada Família e uma Mater

Dolorosa.

Dentro da área estudada estão sendo construídos nichos para aluguel, pela

Prefeitura Municipal, a fim de minimizar o problema de falta de jazigos disponíveis.

4 METODOLOGIA

Para atender ao objetivo de analisar o espaço cemiterial e sua atratividade

turística, realizei pesquisa de campo, fotografando os jazigos e apontando dados

descritivos e curiosidades sobre cada um deles. Também observei dados gerais sobre

o espaço: condições de acessibilidade, segurança, estrutura administrativa. Realizei,

ainda, pesquisa documental e entrevistas com servidores públicos municipais

vinculados ao Cemitério de alguma maneira, para conhecer os procedimentos de

enterramento, zeladoria, cuidado com o espaço, administração e legislação

pertinente. Para compreender a relação da comunidade com o Cemitério e as

impressões dos visitantes, elaborei um roteiro de visitação e proposta de grupos focais

com os visitantes após o passeio. A pesquisa bibliográfica deu-me o embasamento

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para analisar os dados e compreender os processos vinculados ao tipo de turismo

aqui proposto.

Uma decisão metodológica de última hora foi adotada em relação ao texto:

optei pelo uso da primeira pessoa do singular, com a intenção de estabelecer um

diálogo mais íntimo e direto com os leitores. Esta decisão encontra respaldo nos

conceitos de autopoiesis e amorosidade defendidos por Batista (2004). Não pretendo

aprofundar aqui estes conceitos, mas: Autopoiesis “[...] é um neologismo que nos

remete à idéia de autoprodução”, aos processos de criação e autocriação do ser

humano, vinculado à convivência com o outro. Amorosidade é:

[...] um traço intrínseco ao processo de comunicação [...] os fluxos

informativos não podem ser ‘mornos’ têm que estar suficientemente

aquecidos de afeto, no sentido de desacomodar o sujeito para o

reconhecimento do lugar do Outro, do fluxo que vem do Outro – seja esse

Outro uma outra pessoa, grupos, instituições, mídias...(BARBOSA, 2004,

s.p.)

A pesquisa bibliográfica teve como foco livros e artigos sobre turismo cemiterial,

arte cemiterial e simbologia, memória e patrimônio. Realizei também pesquisa em

diversos sítios na internet sobre cemitérios e turismo em cemitérios no Rio Grande do

Sul, no Brasil e no mundo. Estas leituras formaram não só a base teórica do trabalho

como também todo um conjunto de conhecimentos que facilitaram a compreensão do

objeto de estudo e a definição dos objetivos.

A pesquisa de campo incluiu visitas ao Cemitério, mapeamento e registro

fotográfico dos jazigos, além da anotação dos dados referentes aos enterramentos (a

quem pertence cada jazigo, data de enterramento mais antigo) e às características

arquitetônicas e artísticas de cada elemento registrado. A partir destes dados elaborei

as fichas de inventário, que tiveram como modelo o adotado por Bestianello (2010,

p.127). Foram inventariados apenas dos túmulos apontados no roteiro experimental

de visitação. Estes dados auxiliaram na confecção do roteiro e seu mapa.

A pesquisa documental foi feita junto à Prefeitura Municipal, após ter obtido a

devida autorização. Os documentos consultados incluem a legislação pertinente, as

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escrituras de aquisição dos terrenos ocupados hoje pelo cemitério e de uma possível

ampliação, os livros de registros de venda e sessão de terrenos.

Realizei entrevistas semiestruturadas com o Prefeito Municipal, Secretário de

Obras e com servidores da Secretaria de Obras, do Departamento de Ações

Administrativas e do Cemitério, além do Secretário de Cultura, Turismo e Desporto.

Nestas entrevistas foram registradas informações sobre a relação particular de cada

entrevistado com o Cemitério, sua relação profissional e outros dados relevantes para

a pesquisa.

Para coletar as impressões da comunidade como um todo formei grupos para

uma visitação experimental e a partir daí, coletei os dados por meio de grupos focais,

buscando um resultado qualitativo. Para tanto, foi elaborado um roteiro de visitação a

partir do qual fosse possível captar as impressões do visitante.

Para o roteiro, levei em consideração os elementos constantes do guia

elaborado pela Museums and Galleries Commission (2001), essencialmente nos

aspectos de objetivos da exposição, o que me indicou quais jazigos incluir no roteiro

e como estruturá-lo. Esta definição se deu a partir da decisão de que o que se queria

mostrar aos visitantes era: a arte tumular, sua beleza e sua simbologia; o belo em

suas diferentes formas – o grandioso e o singelo; os elementos de cultura popular e

religiosa presentes no Cemitério; a história municipal e regional guardada no espaço

cemiterial; os traços de formação cultural e étnica da sociedade local; as diferentes

formas de expressão da saudade e os riscos a que se encontra exposto o patrimônio

existente no Cemitério. O roteiro foi composto por um mapa de visitação e um texto-

guia, que indicava as paradas e incluiu uma interpretação do espaço, desde dados

históricos até elementos da simbologia da arte tumular, curiosidades, lendas e

histórias populares.

A interpretação do patrimônio é uma técnica criativa de comunicação estratégica, uma forma planejada e consciente de dirigir mensagens, desenhada para que as pessoas conheçam de maneira significativa seu patrimônio e se convertam em seus protetores e defensores. Já ao final dos anos 60, Freeman Tilden, um dos precursores da interpretação, se referia a esta disciplina como ‘uma atividade educacional que objetiva revelar significados e inter-relações mediante a utilização de objetos originais, de

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experiências de primeira mão e por meios ilustrativos, ao invés de simplesmente comunicar informações fatuais’ (DELGADO; PAZOS, 2013, p.302).

A decisão de iniciar o roteiro pelo conjunto escultórico mais rico teve como

objetivo provocar o encantamento com o belo e grandioso em seu conjunto e nos

pequenos detalhes da simbologia e das características intrínsecas de cada jazigo

para, a partir deste primeiro impacto, um olhar já um pouco “treinado”, poder perceber

o belo também nos monumentos funerários mais singelos.

Após as visitas, foram realizados os grupos focais, cuja estratégia está

embasada na interatividade. Flick (2008, p. 188) afirma que “a marca que define os

grupos focais é o uso explícito da interação do grupo para a produção de dados e

insights que seriam menos acessíveis sem a interação verificada em um grupo”. Os

dados coletados nos grupos foram compilados e analisados comparativamente aos

dados das demais entrevistas, de forma a poder embasar os resultados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos dados coletados na etapa de inventário, pesquisa documental e

entrevistas com o poder público, detectei diversos pontos fracos, essencialmente: falta

de segurança e de infraestrutura, havendo registros de vandalismo e roubo de

esculturas e negligência em relação ao acompanhamento destas ocorrências;

instalações administrativas inadequadas; inexistência de um mapa ou quaisquer

controles informatizados, bem como de regulamentação do uso do espaço; a

legislação municipal vigente prevê a demolição de túmulos abandonados, o que põe

em risco um grande número de jazigos de interesse histórico; a ação administrativa

se dá na medida dos apelo da comunidade, sem ações preventivas; documentação

de valor histórico não reconhecida como tal; jazigos de grande valor artístico sem os

cuidados devidos; portão e muro originais sem manutenção.

Como pontos altos, foi identificado um espaço rico em referências históricas,

sociais e culturais; 44 jazigos com características artísticas de destaque, 9 de

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interesse cultural, apenas entre os túmulos inventariados; arte tumular é rica e variada,

inclui obras de marmoristas conhecidos na região e no Estado do Rio Grande do Sul,

como o pelotense Ângelo Giusti e o genovês Achille Canessa. Há facilidade de acesso

ao poder público para a proposição de ações; possibilidade de desenvolver um

trabalho de sensibilização e reconhecimento da importância do espaço sem muito

custo; dedicação e zelo dos servidores que atuam diretamente no espaço; presença

de Universidades na região, que podem atuar em parceria com o Poder Público em

prol da implementação de ações de cunho patrimonial e turístico.

Importante destacar o jazigo do líder federalista Gumercindo Saraiva, figura que

desperta o interesse não só local, como também no Rio Grande do Sul e Uruguai.

Uma relevante parcela dos entrevistados fez referência a Gumercindo Saraiva, o que

nos aponta para a relevância desta figura para a comunidade.

A visitação ao Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar está vinculada à

afetividade e a eventos sociais: finados, aniversários, enterramentos, no entanto, a

visitação turística proporcionou aos sujeitos pesquisados o surgimento de um novo

olhar sobre o cemitério e uma oportunidade para reflexão sobre a cultura, história e

sociedade, bem como sobre a vida e a morte. Houve uma percepção da importância

de um roteiro como o proposto para levar conhecimento da história do município à

comunidade, bem como para valorização e reconhecimento de um conjunto artístico

que pode ser patrimonializado. Em relação ao uso turístico do espaço não há

restrições, muito pelo contrário, apesar de haver um preconceito sobre este tipo de

passeio: há uma visão positiva da presença de turistas no espaço cemiterial. A

curiosidade sobre o turismo no cemitério e sobre as características do espaço é um

motivador. Alguns entrevistados informaram que, quando em suas visitas habituais,

costumam observar aspectos históricos relacionados aos jazigos. A maioria já tinha

ouvido falar em turismo cemiterial e acreditam que o Cemitério Civil de Santa Vitória

tem potencial para tornar-se um atrativo turístico. Os agentes públicos, por sua vez, à

parte de sua relação social com o Cemitério, só preocupam-se com o mesmo na

medida de sua funcionalidade e no atendimento às necessidades da comunidade.

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A visitação despertou a afetividade e a sensibilidade dos visitantes. Os

resultados coletados, apesar de restritos, apontam para a efetividade do despertar de

um olhar diferenciado a partir da visitação mediada pelo processo de interpretação.

Como exemplo disso, é muito ilustrativo este trecho da entrevista da de uma

professora que realizou a vista no dia 20 de novembro de 2013:

Este aprendizado, mas claro, tem que ter todo um conhecimento, se não tem

um guia, alguém que te diga, olha, só este nome, não tem sobrenome, não

tem data de nascimento, não tem, mas existiu. Quem era? Existiu essa

pessoa 7 . [...] Eu acho que há todos os aspectos ali, é o cultural, é o

econômico, é o social, tudo está posto ali. Mas a gente tem que despertar

este olhar pra conseguir enxergar essas marcas deixadas ali. Tem este

“despertamento”, este chamamento, esta... levantar nossa curiosidade tu

sozinho não consegue, tu vai entrar lá no Cemitério e sempre com aquela

posição de dor, de sofrimento, e querer sair o mais rápido possível, porque é

desconfortável, tu sais da tua zona de conforto, porque tu começa a pensar:

daqui a pouco serei eu, não é? Se força a pensar na morte.

Em geral, a receptividade dos membros do poder público sobre o tema foi muito

boa, apontando para a possibilidade de proposição de ações vinculadas ao cemitério.

Em relação às visitas, foi difícil captar visitantes, porém os resultados após a visitação

apontam para a possibilidade de dar sequência a este tipo de ação. Entendo que a

dificuldade na captação dos visitantes tenha origem, em parte, no preconceito com a

morte e com o Cemitério, visto como um lugar de tristeza, de morbidez.

Foi possível concluir, então, que em relação aos aspectos artísticos, culturais e

históricos, há potencialidade para uso turístico do espaço e que há aceitação por parte

da comunidade para esta abordagem. É necessário, no entanto, que se aprofunde o

trabalho de realização de visitação pelos residentes, visando sua aproximação a este

espaço de memória, porém com uma motivação diversa da corriqueira, tendo em vista

que os resultados coletados indicam o surgimento de um novo olhar a partir da

visitação mediada pelo processo de interpretação. É preciso desenvolver estratégias

7Referência ao jazigo de Rosalina, parte do roteiro proposto e em cuja lápide não aparece nem

sobrenome nem data de nascimento ou morte.

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para atrair o visitante, quebrando o preconceito existente em relação ao cemitério,

vinculado a esta ideia de lugar de tristeza, de morte.

Outra ação necessária é a regulamentação do uso do espaço, que depende de

ato do poder executivo. A elaboração deste ato poderia iniciar-se a partir de

discussões com a comunidade e poderia incluir estratégias para preservação das

características da zona mais antiga e dos mausoléus aí localizados. Mas, quer seja

um ato criado de forma participativa e democrática, ou um ato unilateral, é necessário

que inclua instrumentos que possibilitem a salvaguarda dos elementos artísticos e

históricos presentes no Cemitério Civil.

Este trabalho tem sua relevância ancorada na importância do espaço cemiterial

para a memória afetiva e histórica da comunidade. Além disso, amplia a produção

teórica sobre estudos cemiteriais, mais especificamente os relacionados aos

cemitérios da região sul do Rio Grande do Sul, e pontualmente, sobre o Cemitério Civil

de Santa Vitória do Palmar, acerca do qual não há quase nenhuma produção

acadêmica. Apesar de restritos, os dados coletados junto à comunidade apontam para

a possibilidade e necessidade de aprofundamento das pesquisas e viabilidade de

pensar-se no uso da visitação regular ao Cemitério local como forma de

reconhecimento, valorização e salvaguarda do patrimônio ali existente, como

instrumento para o desenvolvimento de turismo-cidadão no Município e para a futura

transformação do espaço em um efetivo atrativo turístico.

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ESCRITURA S/N lavrada em 28/09/1884. Aquisição do terreno para a construção do Cemitério Civil de Santa Vitória do Palmar. SANTA VITÓRIA DO PALMAR (Município). Lei nº 1.308, de 13 de outubro de 1972. Santa Vitória do Palmar, RS, 1972. SANTA VITÓRIA DO PALMAR (Município). Lei nº 1.317, de 14 de dezembro de 1972. Santa Vitória do Palmar, RS, 1972. SANTA VITÓRIA DO PALMAR (Município). Lei nº 4268, de 04 de setembro de 2008. Santa Vitória do Palmar, RS, 2008. SANTA VITÓRIA DO PALMAR (Município). Lei nº 4611, de 05 de março de 2010. Santa Vitória do Palmar, RS, 2010.

TURISMO CULTURAL: REFLETINDO CAMINHOS PARA O ENSINO DA

HISTÓRIA LOCAL

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RAMOS, Érica Souza8

[email protected]

Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de buscar elementos do turismo para o ensino da história local. O estudo caracteriza-se por ser um levantamento bibliográfico, que busca reflexões teóricas a cerca do tema. Para isso buscou-se a interdisciplinaridade entre turismo cultural, história e ensino de história. Salienta-se que não se tem a intenção de esgotar o assunto, mas de contribuir para futuras investigações. Observa-se que o turismo cultural pode aparecer no ensino de história

como um instrumento pedagógico que permite a contextualização do conteúdo.

Palavras-chave: Turismo cultural; História local; Ensino.

1 INTRODUÇÃO

Ao falar sobre Turismo, logo se pensa na análise interdisciplinar que esta

atividade permite ao pesquisador social, Turismo e Sociologia, Turismo e Meio

Ambiente, Turismo e Direito, Turismo e Economia, Turismo e Geografia entre outras

possibilidades. A relação entre o Turismo cultural e o ensino de História, neste artigo

será dada atenção especial. Pois a História quanto ciência que permite o estudo das

representações do passado e da suas projeções no presente e no futuro, alimenta a

atividade turística.

O saber histórico permite a compreensão de questões sociais, a partir de

hipóteses sobre o passado, portanto,

O historiador, a partir de seu lugar social, sensibiliza-se por um objeto do

passado e, através de fontes documentais de variada espécie, busca

apreender esse objeto e construir, a partir de sua apreensão, uma

8Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG (2014). Mestranda no Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em História – PPGH, pela FURG.

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interpretação desveladora de acontecimentos, de ações humanas, enfim, de

culturas passadas. (MENESES, 2006, p.41).

O turismólogo vai se dedicar ao planejamento, interpretação e desenvolvimento

do turismo, neste caso para o desenvolvimento do turismo cultural, o profissional,

[...] tem sua base fundamental na interpretação de manifestações culturais

que ele apreende, inventaria, documenta e transforma em atrativo para

pessoas que buscam conhecer o outro e transformar este conhecimento em

momento de abstração e fruição prazerosa. (MENESES, 2006, p.42).

Os profissionais de turismo muitas vezes se apóiam em interpretações

históricas para constituir atrativos históricos e culturais. Sendo assim ambos

profissionais lidam com a interpretação de culturas, os historiadores as transformam

em um texto interpretativo, e os turismólogos em um plano de exploração turística.

Meneses (2006) salienta que, as utilização partilhada entre estes dois profissionais é

de significativa importância, pois, “ A produção de um serve a outro ou a interpretação

pode ser feita de forma interdisciplinar.” (p.42).

Desta forma se o esforço de um profissional serve ao outro, por que não

também servir ao ensino, neste caso ao ensino da história local. Assim este trabalhose

origina com o intuito de estabelecer uma linha tênue entre o Turismo Cultural e o

Ensino de História local. Através da discussão teórica, buscar elementos do

turismocultural para o ensino da história local.

Esta pesquisa é de relevância à medida que o ensino da história local ainda

hoje não tenha seu “lugar” definido na historiografia da história, por muito tempo a

história como disciplina ficou abarcada de grandes fatos e heróis. Além disso, nos

livros didáticos a história local não esta presente o que faz com que o professor tenha

que recorrer a outros suportes pedagógicos. O turismo neste sentido se mostra uma

importante ferramenta pedagógica de multiplicação do olhar escolar para a histórica

local, associando-a a memória, identidade e história.

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Ao estudar história, é um exercício que além do que simplesmente recordar o

passado, e sim a partir da reinterpretação do passado,

[...] dar sentido à vida pela compreensão de uma totalidade da qual fazemos

parte; dar sentido social primeiramente à pequena comunidade que nos

rodeia, depois à espécie humana como um todo e finalmente, num exercício

de imaginação, à coletividade dos seres racionais e livres do universo.

(BOSCHI, 2007, p. 24)

Para isso o turismo cultural se trabalhado nas escolas pode dar voz a história

local que cada vez esta mais próxima do presente vivido pelos professores e alunos.

Partindo de uma abordagem teórica sem a intenção de esgotar o assunto, mas de

contribuir para a produção cientifica sobre o tema, este estudo busca a

interdisciplinaridade entre turismo cultural e ensino de história local. Baseou-se no

levantamento bibliográfico, com o enfoque predominantemente qualitativo, na

tentativa desvendar quais as contribuições do turismo cultural para o ensino de história

local?

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

.

O fazer metodológico deste estudo se justifica por ser um estudo interdisciplinar

que se baseia em um levantamento bibliográfico, onde foram utilizados livros e artigos

científicos nacionais do campo da história, ensino de história e turismo para

contextualizar o tema e permitir uma reflexão a partir da abordagem teórica. Para

Dencker (1998), a pesquisa bibliográfica é aquela que é “Desenvolvida a partir de

material já elaborado: livros e artigos científicos. [..] A pesquisa bibliográfica permite

grau de amplitude maior, economia de tempo e possibilita levantamentos de dados

históricos.” (p, 152).

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Tendo como premissa buscar elementos do turismo para o ensino de história local.

Buscou-se entre as publicações dos pares da área do turismo e da história uma

comunicação teórica, a fim de realizar uma análise reflexiva e compreender as

problemáticas que envolvem o ensino e aprendizagem de história, tendo como tema

transversal o turismo cultural.

3. TURISMO CULTURAL ALGUMAS REFLEXÕES TEÓRICAS

O turismo é um fenômeno que envolve o deslocamento para um determinado

destino e a permanência no mesmo o que implica uma série de contatos sociais. Neste

movimento umas séries de atores sociais fazem parte deste processo, os turistas, a

comunidade receptora/local, o poder público e as empresas turísticas. Marco Aurélio

Avila (2009) destaca que, o fenômeno turístico é:

[...] complexo, com múltiplas facetas que envolvem aspectos econômicos,

socioculturais e ambientais, sendo uma atividade capaz de oportunizar

conhecimento, sensibilidade, percepção social, contato com pessoas e várias

culturas e que paradoxalmente, possui alto potencial em impactar

negativamente sobre as comunidades anfitriãs. (AVILA, 2009, p.19)

Mario Carlos Beni (2003) apresenta a dificuldade de se conceituar turismo

tendo em vista os mais diversos aspectos da atividade, para o autor turismo pode ser

conceituado como,

[...] um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar, onde,

como e a que preço. Nesse processo intervêm inúmeros fatores de realização

pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural, ecológica e

científica que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os meios de

transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si para a

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fruição tanto material como subjetiva dos conteúdos de sonhos, desejos, de

imaginação projetiva, de enriquecimento existencial histórico-humanístico,

profissional, e de expansão de negócios. (BENI, 2003, p.37)

Pode-se constatar que nesta conceituação de turismo, a pesar da dificuldade

de conceituação apresentada, salienta-se mais as necessidades do turista, e a

formação de um sistema turístico em torno dos deslocamentos, e das motivações dos

turistas, o autor apresenta uma visão sistêmica do turismo.

Reinaldo Dias (2008) apresenta o seu ponto de vista social do fenômeno

turístico,

[...] o turismo tem importante papel socializador, pois permite o encontro entre

pessoas de diferentes culturas; favorece a sociabilidade das pessoas que se

encontram nas viagens numa condição psicológica altamente favorável a

novos contatos sociais; contribui para o entendimento entre populações de

diferentes regiões num mesmo país; incentiva a adoção de novos valores

que, gradativamente, vão tornando-se universais; diminui as distâncias

étnicas, permitindo maior conhecimento dos outros e de seus costumes.

(p.30).

Atualmente, a atividade turística, se segmenta de acordo com os fatores

motivacionais e potencialidades do mercado. O segmento conhecido por Turismo

Cultural é tão complexo de definir quanto o fenômeno turismo, pois, está presente “em

toda prática turística que envolva a apreciação ou a vivência de qualquer tipo de

manifestação cultural, seja tangível, seja intangível, mesmo que esta não seja a

atividade principal praticada pelo viajante no destino.” (DIAS, 2006, p. 40).

Pode-se considerar então que nas mais diversas segmentações que o sistema

turístico abrange, o turismo cultural está presente. Para BENI (2003) turismo cultural,

Refere-se à afluência de turistas a núcleos receptores que oferecem como produto essencial o legado histórico do homem em distintas épocas, representando a partir do patrimônio e do acervo cultural, encontrado nas ruínas, nos monumentos, nos museus e nas obras de arte. (p.431)

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Esta segmentação da atividade turística consome de certa forma o patrimônio

histórico e os bens culturais de determinado país, região, cidade e de uma

comunidade. Para MENESES (2006),

A atividade turística assim permanece por muito tempo, e hoje, a despeito de uma setorização maior e mais ampliada, o atrativo artístico-histórico-cultural é, ainda substrato essencial do setor turístico. (p.39)

Deste modo percebe-se quanto são importantes para o turismo os bens

culturais, legados e patrimônios históricos. Desta forma é necessária a conservação

destes, além disso, as práticas turísticas devem estar voltadas para a valorização e

preservação das culturas. Levando em conta o fator educacional que o fenômeno

turístico tem intrinsecamente, o turismo de cunho cultural, assume, ou tem que

assumir, este caráter educacional, não só em relação aos turistas, mas principalmente

para a população local. Pois muitas vezes a própria comunidade desconhece seus

bens culturais, suas raízes e suas tradições.

Neste sentido deve-se levar em conta o olhar da comunidade local para seus

bens culturais, que muitas vezes acabam sendo distorcidos. Tem-se então a

importância da Educação Patrimonial ser trabalhada nas escolas, e que também pode

ser trabalhada por meio do turismo cultural. Permitindo que a comunidade local, antes

dos turistas, conheça, compreenda, valorize e sirva de guardiã de seu patrimônio

cultural. Wenceslau e Oliveira afirmam que,

Para isso, são necessários pesados investimentos em Educação Patrimonial,

com políticas públicas sérias que viabilizem a inserção dessa proposta nos

currículos das escolas de ensino fundamental e médio e também programas

pedagógicos, em que todos os níveis sociais e econômicos da população

possam discutir aprender, valorizar e preservar o patrimônio, levando-os a

um processo ativo do conhecimento. Apenas após essas medidas de

“alfabetização cultural” é que a comunidade passará a valorizar e preservar

seu patrimônio. (WENCESLAU; OLIVEIRA, 2007, p.24)

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Acredita-se que ao utilizar o turismo cultural como instrumento pedagógico, é

possível desenvolver no aluno a compreensão de seu patrimônio cultural com vistas

à democratização cultural. No caso do Brasil, a preservação do patrimônio cultural,

sempre esteve muito ligada às classes dominantes. Pedro Paulo Funari e Raquel dos

Santos Funari lembram que,

O resultado de uma sociedade baseada na escravidão é que, desde o inicio,

houve sempre dois grupos de pessoas no país: os poderosos, com sua

cultura material esplendorosa, cuja memória e monumentos são dignos de

reverencia e preservação, e os vestígios esquálidos dos subalternos, dignos

de desdém e desprezo. (FUNARI; FUNARI, 2007, p.16)

Portanto as memórias dos “dominados” eventualmente são lembradas nos

materiais didáticos e no currículo escolar. Observa-se que a memória coletiva é um

importante meio para a formação, compreensão cognitiva e afetiva da identidade

cultural nos alunos. Permitindo associar o conhecimento prévio do aluno com o saber

histórico. Portanto a relação entre a memória e o patrimônio, os lugares de memórias.

Pierre Nora apresenta que “Há locais de memória porque não há mais meios de

memória.” (NORA, 1993, p, 07) Estes espaços entre suas dialéticas, representam um

elo do passado com o presente. Tendo em vista a compreensão dos valores dados a

determinados bens culturais.

O valor simbólico que atribuímos aos objetos ou artefatos é decorrente da

importância que lhes atribui a memória coletiva. E é esta memória que nos

impele a desvendar seu significado histórico-social, refazendo o passado em

relação ao presente, e a inventar o patrimônio dentro dos limites possíveis,

estabelecidos pelo conhecimento. (CAMARGO, 2002, p.31).

Sabe-se que o turismo cada vez mais valoriza as tradições, o modo de viver

tradicional. “Alguns lugares improváveis tornaram-se centros de atração turística,

baseados na tradição” (URRY, 2001, p.144). Criam-se grandes centros de tradições,

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que são de uma significativa atratividade, mas que tradições são estas? São as

tradições que as comunidades continuam a viver em seu presente? Elas representam

a história e realidade das populações locais? Estas são problemáticas que surgem, e

podem ser abordadas em sala de aula após as saídas, instigando os alunos a uma

visão critica sobre seu universo.

Pois se sabe que em alguns casos espaços citadinos acabam perdendo

vínculos com o passado e se distanciando da identidade cultural da população, ou se

modificando, o que é um processo normal, para tanto:

Algumas cidades, assim como alguns bairros, resistem a isso, ajudados por

sua dimensão, sua morfologia, suas atividades, pela força de suas tradições,

pela simples riqueza que possuem ou pela sabedoria de suas autoridades.

Outras começam a se assemelhar tanto entre si que os turistas e empresas

multinacionais nelas se sentem em casa. (CHOAY, 2006, p.227).

Desta forma, é de relevância que se trabalhe com a memória coletiva dos

indivíduos, para que certos acontecimentos do passado façam sentido no presente.

Nesta perspectiva o turismo aparece como um instrumento que permite associar estas

problemáticas ao sair do espaço escolar. Como afirma Bonfim (2010), ao relacionar o

turismo com a educação, o turismo pedagógico aparece no ensino como uma

proposta interdisciplinar:

Vale destacar que o objetivo maior quando se realiza a atividade de turismo

pedagógico não é o lazer simplesmente, mesmo que em alguns momentos

sejam desenvolvidas ações compreendidas como de lazer. É a possibilidade

de promover o desenvolvimento social, crítico e educativo que se justifica a

utilização do turismo, enquanto atividade de lazer que serve ao ensino.

Portanto, percebe-se uma nova concepção da atividade, uma vez que o

espaço turístico se transforma em um espaço de educação extraclasse,

contribuindo para auxiliar o processo de aprendizagem com uma nova prática

pedagógica. (BOMFIM, 2010, p.123)

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Neste sentido, o turismo como prática para o ensino de história vem para colaborar

no que tange a compreensão do que foi aprendido em sala a partir da vivência em

espaços extra-classe, neste momento o espaço turístico se transforma em uma

extensão da sala de aula. Procurando estabelecer vínculos com passado trazendo

estes valores para o presente. Buscam-se novas práticas pedagógicas, para a fruição

do ensino e aprendizagem prazerosa entre professores e alunos. “Afinal, se o

professor é o elemento que estabelece a intermediação entre patrimônio cultural da

humanidade e a cultura do educando é necessário que ele conheça, da melhor forma

possível, tanto um quanto outro.” (PINSKY; PINSKY, 2010, p. 23).

É evidente que o professor deve se preparar, e ter em vista que está diante de um

grande público onde deve transmitir o conteúdo de forma que estes sejam

compreendidos e associados às mais diversas realidades existentes em uma sala de

aula. O docente “Ao ensinar uma disciplina, ele não está ensinando somente

determinados conteúdos, mas está ensinando modos de ser e estar no mundo,

atitudes em relação à realidade e à convivência social.” (VERDUM, 2013, p. 95). O

professor neste sentido deve estar ciente do seu papel disseminador de

conhecimentos e de sua responsabilidade social.

3.1 CONTEXTUALIZANDO O ENSINO DE HISTÓRIA

No Brasil, o ensino de história começa a ser desenvolvido no século XIX, baseado

em uma formação curricular européia e tendo como eixo central a formação da

identidade nacional, no período pós-independência. Apesar das significativas

mudanças no ensino, ainda é possível perceber os resquícios desta matriz

eurocêntrica no currículo escolar, “orientado por uma política nacionalista e

desenvolvimentista.” (BRASIL, 1998, p.19) A história vista como uma disciplina no

currículo escolar foi introduzida com base nos moldes franceses, glorificando os

grandes personagens da história. Então:

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AHistória como área escolar obrigatória surgiu com a criação do Colégio

Pedro II, em 1837, dentro de um programa inspirado no modelo francês.

Predominavam os estudos literários voltados para um ensino clássico e

humanístico e destinados à formação de cidadãos proprietários e escravistas.

(BRASIL, 1998, p.19)

Observa-se que o ensino, o conteúdo, estavam voltados para as camadas mais

favorecidas. O que ainda na atualidade percebe-se reflexos destas linhas de

pensamentos. Normalmente é por interesses políticos ideológicos que o ensino de

história sofre mudanças referentes ao seu currículo escolar, não só na área da história

isto acontece. Neste intento vale ressaltar que na América Latina a história se

preocupou em forjar as identidades nacionais dos estados. Conceição e Dias elucidam

que:

Sabe-se que a instituição escolar estruturou tradicionalmente o ensino de

História com base na matriz nacionalista do século XIX, cujo objetivo era

formar ‘brasileiros’, ‘argentinos’ ou ‘chilenos’ para a nova sociedade nacional

que estava forjando os Estados modernos. Apesar de todas as mudanças

sofridas pela disciplina ao longo do tempo, o ensino de História permanece

como o espaço no qual as sociedades disputam as memórias possíveis sobre

si mesmas e projetam futuros coletivos.(CONCEIÇÃO; DIAS, 2011, p. 1740)

O que no Brasil não foi diferente, e é possível perceber que traços desta

linguagem histórica ainda estão arraigados no ensino escolar. No período que

compreende a ditadura militar no Brasil, o ensino de história também acaba sendo

sufocado pelos interesses políticos, deste modo,

O ensino de Historia na educação básica brasileira foi objeto de intenso

debate, lutas políticas e teóricas no contexto de resistências a política

educacional da ditadura civil-militar brasileira (1964-1984). Isso significou

refletir sobre o estado do conhecimento histórico e do debate pedagógico,

bem como combater a disciplina “Estudos Sociais” e a desvalorização da

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Historia, os currículos fragmentados, a formação de professores em

Licenciaturas Curtas e os conteúdos dos livros didáticos difundidos naquele

momento, processo articulado às lutas contra as políticas de precarização da

profissão docente. (SILVA; FONSECA, 2010, p.13)

Neste sentido, as práticas de ensino de história e os conteúdos programáticos

sofrem mudanças. No que se refere à história local, pesquisadores e estudiosos

reúnem esforços, no percurso do tempo, para que o ensino de história não fique

centrado na mentalidade eurocêntrica e sim consiga realizar os mecanismos de

ensino e aprendizagens condizentes com a realidade dos alunos, além disso, é

essencial que estes sintam-se sujeitos formadores da história, de sua própria história.

Novos campos dentro da história permitem a descentralização do olhar da história

oficial, assim:

Os historiadores transitam em torno da Nova, da Nova História Cultural (na

qual a micro-história se insere enquanto prática) e pensadores da pós-

modernidade, ao questionarem os limites epistemológicos do iluminismo e

valorizaram interpretações que incorporam parâmetros retirados da

hermenêutica, são responsáveis, em muito, por alguns princípios que

norteiam as novas abordagens da história local. (FAGUNDES, 2006, p.93)

A história local no sistema de ensino é um conteúdo jovem no currículo escolar,

talvez por conta disso careça de materiais e procedimentos metodológicos para que

seja ensinado e apreendido em sala da aula de forma concisa.

No final da década de 1990 o interesse pela História Local no ensino cresceu

sob influência dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborado pelo

Ministério da Educação. A diretriz nacional curricular toma a História Local

como um dos eixos temáticos dos conteúdos nos anos iniciais do ensino

fundamental e como metodologia de ensino nos outros anos da escola

básica. (GERMINARI, 2014, p. 357)

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O ensino de história no Brasil recai ao descuido de ser relacionado a uma

matéria maçante, com referente acúmulo de informações e memorizações, o que

torna o conhecimento superficial, e desconecto com a realidade do aluno. “A equação

entre a necessidade de rigor e de boa comunicação desafia os professores na busca

de estratégias para propiciar a aprendizagem da história.” (ROCHA, 2014, p. 49)

Neste sentido, a história local permite que se use outros recursos além do livro

didático, permite a conexão do passado com as vivências diárias e a formação de um

aluno cidadão, consciente de seus deveres e direitos enquanto sujeito de sua história

local.

Para tanto, “A opção pela História Local tem como proposta desenvolver a

noção de pertencimento do aluno a um determinado grupo social e cultural, por meio,

do estudo da diversidade dos modos de viver no presente e no passado da localidade.”

(GERMINARI, 2014, p. 357). A história local não deve seguir a dinâmica da história

nacional, em que “A parte relevante desse conteúdo é apresentada sob a forma de

culto aos sujeitos históricos, de glorificação dos atos individuais, portanto, uma história

personalista que enfatiza determinadas datas, personalidades e fatos isolados de

patriotismo.” (BARBOSA, 2006 p.58).

A partir das quebras de paradigmas dentro das correntes históricas, é possível

se pensar em ensinar a história local associando-a ao ensino e aprendizagem com a

história vivida, relacionando ao cotidiano e às vivências presentes com o passado.

Todavia os lugares de memória podem servir como meio para manter um diálogo entre

o vivido e o ensinado, permitindo assim a compreensão do mundo a sua volta, tanto

aos alunos quanto aos professores, tendo como base as vivências cotidianas e as

memórias, na construção cognitiva do conhecimento crítico.

Ao buscar a aproximação do ensino de história com o lugar, ou melhor com os

lugares de memória, recorre-se as contribuições dos estudos de Maurice Halbwacs

para a compreensão acerca memória coletiva, o autor elucida que para a construção

de uma memória coletiva, “Não é suficiente reconstituir peça por peça a imagem de

um acontecimento do passado para se obter uma lembrança.” (HALBWACS, 1990,

p.22). É relevante que se trace uma lembrança comum entre os indivíduos,

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É necessário que esta reconstrução se opere a partir de dados ou de noções

comuns que se encontram tanto no nosso espírito como no dos outros,

porque elas passam incessantemente desses para aquele e reciprocamente,

o que só é possível se fizeram e continuam a fazer parte de uma mesma

sociedade. (HALBWACS, 1990, p.22)

Os lugares de memória propiciam a relação intangível entre os homens e os

espaços materiais. No ensino de história esta relação entre memória e espaço é de

suma importância na tentativa esclarecer as versões do passado no presente. Para

Jacques Le Goff,

A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos

em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o

homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele

representa como passadas. (LE GOFF, 1990, p.424).

Neste sentido percebe-se o caráter flexível da memória, pois enquanto a

representamos como impressões e informações passadas, realiza-se escolhas do que

lembrar e o que esquecer.

A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela

está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do

esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a

todos os usos e manipulações, suceptível de longas latências e de repentinas

revitalizações. (NORA, 1993, p. 09).

Para isso Le Goff (1990) alerta que a memória deve servir para libertar os

homens e não para escravizá-los. Neste intento as aulas de história, devem

estabelecer um dialogo entre memória e história, rompendo as fronteira entre estes

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dois campos e partindo do pressuposto, de que o espaço escolar se constitui como

um lugar formador de possíveis memórias e identidades.

Para isso, “O passado deve ser interrogado a partir de questões que nos

inquietam no presente (caso contrário, estudá-lo fica sem sentido). Portanto, as aulas

de História serão muito melhores se conseguirem estabelecer um duplo compromisso:

com o passado e o presente.” (PINSKY; PINSKY, 2010, p.23).

Contudo, no mundo globalizado, é indispensável que seja possível buscar interações

e sinergias entre as diferentes disciplinas, aproximando o conteúdo da prática,

buscando novas formas educativas que possam ser desenvolvidas dentro e fora da

escola, propiciando a aprendizagem e a sociabilização do conteúdo.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO REFLEXÕES

Através do possível dialogo teórico entre o turismo cultural e o ensino de

histórica local pode-se perceber que os elementos que tentou-se trazer a tona

para o ensino de história se inter-relacionam. Neste sentido assim como os

historiadores contribuem para a produção dos turismólogos, o resultados

destes esforços podem ser aplicados ao ensino de história local.

Na linha tênue que se estabeleceu entre o turismo cultural e o ensino de

historia, salienta-se que a memória coletiva e identidade são elementos que

aparecem durante este estudo, é conveniente destacar que tanto no ensino de

história estes temas são trabalhados como para atividade turística. Então se

forem trabalhados em conjunto, turismo e ensino, a sensibilização turística pode

aparecer em consonância contribuindo para aguçar o olhar critico do educando.

É neste viés que sente-se a necessidade a partir desta reflexão teorica,

para em pesquisas futuras, tentar-se investigar e dar voz aos professores, para

diagnosticar o que estes atores pensam sobre adotar o turismo cultural como

instrumento pedagógico, ademais perceber quais suas limitações e anseios.

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Para que seja possível cruzar as reflexões teóricas com a prática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir que o turismo cultural no seu caráter mais amplo como

segmentação turística ao evidenciar o patrimônio cultural e histórico como seu

principal produto já exerce um papel fundamental para a educação, pois, quando um

turista se desloca para certo destino a fim de conhecer suas histórias e memórias ele

esta aprendendo sobre determinado contexto histórico, ou não. Deve-se estar atento

que nem todos os atrativos são a verdadeira realidade, muitos acabam sendo

transformados em simulacros para turista ver.

Neste intento percebe-se que o turismo cultural pode servir como instrumento

facilitador de ensino, por uma história mais prazerosa e lúdica nas escolas. O turismo

cultural, neste trabalho é visto como forma de contextualizar o conteúdo, que permite

ao aluno criar seu próprio discurso acerca dos patrimônios culturais que são

elementos da história da cidade, além de valorizar o patrimônio cultural local.

O turismo cultural auxilia na percepção e a aguça o olhar crítico dos alunos

contribuindo para o ensino não só da história local, mas para a valorização e

preservação dos bens culturais, as questões relacionadas como a educação

ambiental e patrimonial, geografia e artes também podem ser desenvolvidas e

discutidas.

Abordar o turismo sob a óptica cultural é tarefa que vai além da preocupação

em se efetivar o seu entendimento, mas também de dialogar com outras

áreas tradicionais do conhecimento, como a História, Geografia, Artes,

Ciências, Biologia e outras, ampliando a percepção de mundo dos educandos

e oferecendo novos conhecimentos a serem agregados em sua formação

básica. (FONSECA FILHO, 2007, p. 07)

A introdução do turismo cultural como prática pedagógica, nas escolas é uma

via de mão dupla visto que é de relevância tanto para auxiliar as professoras na busca

de novas práticas educacionais como também para o turismo. Pois a partir deste

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trabalho na escola com vistas a favorecer o fomento do desenvolvimento turístico

sustentável pretende-se difundir um conjunto de conhecimentos e valores nos

indivíduos, a partir da sensibilização turística.

Ai esta a importância de se trabalhar o turismo cultural nas escolas para que a

comunidade esteja consciente do seu papel de sujeito histórico dentro deste processo.

Pois, “O passado fornece elementos para compreendermos o presente.” (BOSCHI,

2007, p.10). É neste sentido que se vê no turismo cultural a potencialidade de ser um

instrumento de ensino e aprendizagem para o ensino de história local e possibilitando

a comunicação dos conhecimentos com outras disciplinas.

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UTILIZAÇÃO DOS LIVROS DIDÁTICOS “SOMOS! PATRIMÔNIO CULTURAL DE

PELOTAS” E “PELOTAS UMA HISTÓRIA CULTURAL”, NAS ESCOLAS

MUNICIPAIS

MACEDO, Maibi da Silva9

[email protected]

HALLAL, Dalila Rosa10

[email protected].

9Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas.. 10Professora no Curso de Turismo, Faculdade de Administração e de Turismo, Universidade Federal de Pelotas.

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Resumo: Este trabalho teve como objetivo analisar a utilização dos livros didáticos

“Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” e “Pelotas uma História Cultural” nas escolas

municipais da cidade. Inicialmente apresentamos algumas considerações sobre

Educação Patrimonial e suas práticas. Na perspectiva do trabalho a Educação

Patrimonial deve considerar que a preservação dos bens culturais deve ser

compreendida como prática social, inserida nos contextos culturais, nos espaços da

vida das pessoas. Os dados foram coletados através de entrevistas com os

coordenadores pedagógicos e professores das escolas. Foi possível identificar a

pouca frequência no uso do livro didático nas escolas e a não utilização destes

materiais como apoio as atividades de educação patrimonial.

Palavras-chave: Educação Patrimonial; Livros didáticos; Pelotas.

1 INTRODUÇÃO

A educação é fator fundamental na formação dos indivíduos. Através dela são

forjadas competências e aptidões para o desenvolvimento e crescimento pessoal de

cada um, portanto, é preciso constante aperfeiçoamento dos sistemas educativos para

que se adéquem as novas necessidades e para que o aprendizado possa ser

contínuo. Porém, a formação dos cidadãos ultrapassa as barreiras do ambiente

escolar levando em consideração os aspectos sociais, políticos e econômicos ao qual

está inserido. (DELORS, 2010)

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN

(2014, p.29), “o processo educacional é muito mais amplo que a escolarização, não

se restringe ao ambiente escolar pelo contrário insere-se e apropria-se dos aspectos

culturais, reconhecendo a contribuição de outros agentes educativos”. Nesse sentido,

a educação patrimonial é considerada um instrumento capaz de diminuir a distância

entre a educação escolar e o cotidiano dos alunos, pois, utiliza como elemento

fundamental a compreensão do patrimônio cultural afim de valorizar a diversidade

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cultural, a identidade local e principalmente despertar nos indivíduos o sentimento de

pertencimento e reconhecimento do patrimônio que os cerca. (IPHAN, 2014).

Conforme Santos (2007, p. 01), “despertar a comunidade escolar para a

utilização do patrimônio local como ponto de partida no processo ensino-

aprendizagem implicará no fortalecimento da identidade cultural”, bem como na

formação de indivíduos que de fato compreendam o significado da palavra cidadania,

e consequentemente se tornem mais críticos em relação à sociedade a qual estão

inseridos. Conforme Ferreira (2013), “ao propor o trabalho com a história local e o

patrimônio dentro do espaço escolar é indispensável lembrar a necessidade e a

importância de elementos mediadores no processo de ensino e aprendizagem. Um

desses elementos é o livro didático”. (FERREIRA, 2013, p.11)

Assim como em diversas localidades, em Pelotas, no estado do Rio Grande

do Sul, algumas ações estão sendo desenvolvidas com o intuito de dar mais subsidio

aos professores para que abordem a temática do patrimônio em sala de aula.

No ano de 2009, foram elaborados em Pelotas dois livros didáticos sobre

Educação Patrimonial intitulados: “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” para séries

iniciais, e “Pelotas uma História Cultural” para séries avançadas. Estes livros foram

produzidos no contexto de Cooperação entre a Organização das Nações Unidas para

a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) e Programa Monumenta do Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) do Ministério da Cultura, e em

Pelotas ficou sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura (Secult) e da

Secretaria de Municipal de Educação e Desporto (SMED), estes livros tinham como

objetivos principais contar a história do município por meio de seus patrimônios,

mostrar as potencialidades da cidade e paralelo a isso remeter à cidadania.

(PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS, 2009)

Este artigo tem como objetivo analisar a utilização dos livros didáticos “Somos!

Patrimônio Cultural de Pelotas” e “Pelotas uma História Cultural” nas escolas

Municipais de Pelotas.

A pesquisa tem caráter descritivo e qualitativo, segundo Gil (2008, p. 28)

“pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características

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60

de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre

variáveis”. Para Goldenberg (1997) “a pesquisa qualitativa caracteriza-se por não se

preocupar com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da

compreensão de um grupo social, de uma organização”. (GOLDENBERG, 1997, p.

34)

Os dados foram coletados por meio de entrevistas estruturadas, com roteiro

pré-estabelecido, com os coordenadores pedagógicos e professores de algumas

Escolas Municipais de Pelotas. As entrevistas ocorreram de 02 a 15 de junho de 2016,

com a devida autorização dos entrevistados foram gravadas e transcritas. Totalizando

vinte entrevistados, destes, onze eram coordenadores pedagógicos e nove

professores.

2. UTILIZAÇÃO DOS LIVROS DIDÁTICOS “SOMOS! PATRIMÔNIO CULTURAL DE

PELOTAS” E “PELOTAS UMA HISTÓRIA CULTURAL”, NAS ESCOLAS

MUNICIPAIS.

Quando se aborda o termo educação, a representação do senso comum que

surge é a da escola já que a mesma é o meio tradicional de ensino instituído e aceito

por todos, porém, a educação está presente em todas as ações e comportamentos

humanos, e pode ser adquirida de várias maneiras além do meio tradicional ao longo

do desenvolvimento pessoal de cada indivíduo (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO

PAULO - UNIFESP, 2010).

Existem diferentes concepções e abordagens educacionais, entre elas a

educação sociocultural difundida por Paulo Freire, que trabalha na perspectiva de que

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o ser humano não pode ser compreendido fora de seu contexto, ou seja, cada sujeito

é responsável pela sua própria formação obtida a partir de suas vivências e reflexões

da realidade que o cerca. (FREIRE apud UNIFESP, 2010).

A partir desta abordagem, colocam-se no centro do processo ensino-

aprendizagem os contextos político, econômico, social e cultural onde ocorrem as

ações educativas, permitindo amplas possibilidades de reflexão e compreensão por

parte do indivíduo, sensibilizando-o como membro integrante dessa realidade e da

sociedade. (UNIFESP, 2010, p. 11). Partindo desta concepção é possível despertar o

sentimento de cidadania que segundo a Cartilha de Parâmetros Curriculares

Nacionais “deve ser compreendida como produto de histórias vividas pelos grupos

sociais, sendo, nesse processo, constituída por diferentes tipos de direitos e

instituições”. (BRASIL, 1997, p.19).

Nessa perspectiva, é possível identificar na Educação Patrimonial uma

possibilidade de potencializar tais objetivos, já que é definida como “um instrumento

de aprendizagem, que utiliza fatos, acontecimentos, objetos culturais, através da

interdisciplinaridade, com o objetivo de apreender o patrimônio de cada localidade e

valorizar a sua cultura” (SCHWANZ, 2006. p. 28).

Conforme Horta (1999. p.13), “a educação patrimonial é um processo

permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no patrimônio cultural

como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo”. A autora

ainda coloca que “a educação patrimonial consiste em provocar situações de

aprendizado sobre o processo cultural e seus produtos e manifestações, que

despertem nos alunos o interesse em resolver questões significativas para sua própria

vida pessoal e coletiva.” (HORTA, 1999. p.8)

No Brasil, a política de preservação do patrimônio histórico e artístico foi

instituída a partir de 1937 quando da criação do Serviço do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional (SPHAN), atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(IPHAN). O projeto desenvolvido para a criação do SPHAN, já constituíra um conceito

de patrimônio cultural mais amplo, onde não somente as obras de arte e os

monumentos eram considerados patrimônio cultural, mas também o folclore, o

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vocabulário, as lendas, a cultura indígena, as paisagens e outras manifestações.

(SCHWANZ, 2006).

Neste projeto do SPHAN, constavam também considerações sobre a prática

da Educação Patrimonial como uma estratégia para a proteção e preservação do

patrimônio, Mário de Andrade foi um dos incentivadores para a criação deste órgão e

desde o início apontava para a relevância do caráter pedagógico dos museus e das

imagens, a partir de então começaram as discussões, elaboração de conceitos e

metodologias de Educação Patrimonial, porém conceitos incipientes. (IPHAN, 2014).

A metodologia de educação patrimonial começou a ser difundida no Brasil em

meados da década de 1980, nesta época surgiram discussões conceituais e práticas

sobre o tema. Primeiramente foram elaborados programas didáticos nos museus onde

o objeto de estudo era o próprio museu, posteriormente estas práticas sofreram

alterações e atualmente se adequam às mais variadas manifestações culturais. É

deste período o Guia Básico de Educação Patrimonial elaborado pelo IPHAN em

parceria com o Museu Imperial que continua a ser referencia no assunto. (SCHWANZ,

2006).

O Guia Básico de Educação Patrimonial consiste em um documento que

apresenta metodologias que orientam a forma como o patrimônio deve ser vivenciado

por públicos de variadas faixas de idade, servindo de base para toda e qualquer

experimentação do patrimônio aliada à educação, tomando como conteúdos o

patrimônio cultural. (CHAVES, 2012)

Conforme Nuñez (2011), a educação patrimonial enquanto metodologia

representa uma preocupação com os procedimentos, ferramentas e caminhos com o

intuito de trabalhar a realidade cultural não apenas por meio da prática, mas também

através da teoria. Segundo a autora, todas as atividades cujo objeto seja o patrimônio

cultural, podem ser compreendidas como parte da educação patrimonial como

exemplos a autora cita: “Visitas guiadas (técnicas) a museus, teatros, igrejas, prédios

históricos; Passeios pela cidade - orientados; Atividades de Educação Ambiental;

Práticas de Turismo Cultural e Atividades que envolvam o ensino da História Local

(regional) e do Patrimônio Cultural em diferentes escalas”. (NUÑEZ, 2011. p. 26)

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O processo educativo além de levar os alunos a utilizarem suas capacidades

intelectuais para a aquisição e uso de conceitos e habilidades, deve contribuir para a

formação de cidadãos conscientes e participativos das questões sociais do ambiente

em que vivem. (HORTA, 1999). Nessa perspectiva, a abordagem do patrimônio

cultural na escola por meio da educação patrimonial, constitui-se como um mecanismo

para o reconhecimento e valorização da identidade cultural local:

Trabalhar o Patrimônio Cultural nas escolas fortalece a relação das pessoas

com suas heranças culturais, estabelecendo um melhor relacionamento destas com

estes bens, percebendo sua responsabilidade pela valorização e preservação do

Patrimônio, fortalecendo a vivência real com a cidadania, num processo de inclusão

social. (MOARES, 2005. p. 02)

Segundo Cerqueira (2005), através da prática de educação patrimonial,

busca-se sensibilizar os indivíduos sobre a importância de preservar a sua memória,

gerar uma reflexão sobre as memórias dos diferentes grupos sociais, de modo que se

perceba que patrimônio não é somente o monumento edificado que representa

algumas elites, mas que patrimônio é todo o símbolo de memória coletiva.

(CERQUEIRA, 2005). A educação patrimonial deve despertar também o sentimento

de tolerância para com a diversidade cultural, pressupõe-se que a partir da valorização

da sua cultura o indivíduo passará a admirar e respeitar a cultura do outro. Conforme

a Declaração da UNESCO sobre a Diversidade Cultural:

A educação patrimonial, ao mesmo tempo em que deve estimular o

conhecimento e valorização dos testemunhos culturais e identitários das

comunidades locais, deve também encetar nelas o sentimento de tolerância

para a diversidade cultural, a sensibilidade para admirar a cultura dos outros

povos, de outras regiões e outras épocas, cujos registros culturais expressam

a riqueza da cultura humana. (DECLARAÇÃO DA UNESCO SOBRE A

DIVERSIDADE CULTURAL, apud CERQUEIRA, 2011, p.21)

O desenvolvimento da educação patrimonial na escola, conforme Cerqueira

(2011) tem ligação com a formação da cidadania, com o fortalecimento da identidade

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cultural e desenvolvimento da criatividade e senso crítico dos alunos. A inserção da

educação patrimonial nos currículos escolares tem como base os Parâmetros

Curriculares Nacionais, tanto para o ensino de história como para a abordagem de

temas transversais. (MORAES, 2005)

Segundo Gomes et al (2012. p.89), aprender sobre o patrimônio local é “uma

tarefa a ser cumprida pela comunidade, através da escola, de atividades sócio-

culturais e também dentro da própria família, repassada de geração para geração”.

Nesse sentido, Cerqueira (2005. p.102), coloca que a partir da escola e da realidade

familiar é possível inverter a “realidade atual em que a maioria dos jovens das escolas

públicas não é capaz de situar a sua identidade cultural dentro do patrimônio público,

o que constitui uma forma de auto-exclusão cultural e identitária da cidadania e da

memória oficial”.

Moraes (2005), aponta que uma das dificuldades encontradas nas escolas

para a aplicação da metodologia de educação patrimonial é a dificuldade por parte

dos professores de pensar a interdisciplinaridade, conforme a autora isso se dá pela

própria formação compartimentada dos mesmos.

Segundo Nuñez (2011. p.12), para a apropriação do patrimônio cultural e de

todos os aspectos que o envolvem, através da educação patrimonial, nas escolas, é

fundamental que os professores tenham suporte teórico-metodológico e

conhecimento adequado sobre a temática, pois, “deverão promover estratégias de

inclusão social e, também, criar processos participativos de sensibilização dos

indivíduos para as questões culturais da sua realidade”.

Segundo Nuñez (2011), cabe ressaltar que a educação patrimonial vai além

da necessidade de preservação do patrimônio cultural, visa também à (re)apropriação

e consciente desses bens pela comunidade. Nesse sentido, a educação patrimonial

deve “orientar os indivíduos na reflexão de que o valor de um patrimônio cultural

consiste no valor que atribuímos a ele a partir do despertar de uma sensibilidade

possível através do conhecimento”. (NUÑEZ, 2011, p.29). Nesse sentido, a autora

coloca:

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Antes de pensarmos a Educação Patrimonial como sinônimo de preservação,

devemos pensá-la enquanto um “mecanismo de conhecimento”, uma

“ferramenta” para a leitura dos símbolos culturais representadas através dos

patrimônios, ou seja, antes de se "levantar a bandeira da preservação", é

preciso estimular a reflexão sobre o porquê aquilo está sendo preservado,

pois, são os valores que atribuímos aos bens culturais que justificam ou não

a necessidade de preservá-los. (NUÑEZ, 2011, p.29)

A percepção do caráter pedagógico da educação patrimonial como visto

anteriormente, foi incitada por Mário de Andrade quando da criação do Serviço do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional atual IPHAN, porém, foi só a partir da

ampliação do conceito de patrimônio através da Constituição Federal de 1988, a qual

instituiu aos órgãos públicos e a sociedade o dever de preservar o patrimônio cultural,

que a educação patrimonial passou a ser difundida como instrumento de valorização

e preservação pelo governo. (IPHAN, 2014). Segundo Chaves (2012, p.81), “o estado

passa a entender que a comunidade deve ser a melhor guardiã do patrimônio, embora

não o conheça, por isso não o preserva, necessitando ser educada para tal”.

A partir da constatação do caráter preservacionista e pedagógico da educação

patrimonial, foram desenvolvidas iniciativas com o intuito de conceituar e criar uma

metodologia de trabalho sobre a temática nos mais diversos meios, tais ações tiveram

como resultado o Guia Básico de Educação Patrimonial lançado no ano de 1999.

Desde a publicação deste livro que é considerado pioneiro na área, outros materiais

foram elaborados visando inserir a educação patrimonial tanto no sistema formal de

educação quanto informal. Tais iniciativas têm sido implementadas com o apoio do

IPHAN e dos demais órgãos públicos de preservação tanto estaduais quanto

municipais. (CHAVES, 2012).

Atualmente, uma das áreas de atuação do IPHAN é a de promoção do

Patrimônio Cultural, que desenvolve atividades de difusão, informação e editoração.

Estas ações visam promover e difundir o patrimônio cultural brasileiro, por meio da

aplicação da metodologia de educação patrimonial exercida como um processo

contínuo de envolvimento da comunidade. (TARGINO, 2007).

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Nesse sentido, inúmeros materiais veem sendo produzidos, dentre eles os

livros didáticos que tem como foco a abordagem do patrimônio cultural por meio da

educação patrimonial no sistema formal de educação.

O autor define o livro didático como um artefato cultural:

O livro didático é um artefato cultural, isto é, suas condições sociais de

produção, circulação e recepção estão definidas com referência a práticas

sociais estabelecidas na sociedade. Enquanto tal, ele possui uma história que

não está desvinculada da própria história do ensino escolar, do

aperfeiçoamento das tecnologias de produção gráfica e dos padrões mais

gerais de comunicação na sociedade. (MARTINS, 2006 p.124).

Para Carvalho (2006), cabe ainda ressaltar que as finalidades do livro didático

transcendem aos aspectos didático-pedagógico; isto é, ele atende também a outros

interesses de ordem político-ideológica, econômica e cultural. (2006.p.59)

[...] os Livros Didáticos, ao sistematizarem áreas de conhecimento,

sequenciando a transmissão de conteúdos e organizando o pensamento, não

o fazem de uma forma neutra, pois privilegiam valores e verdades que se

pretende transmitir. (OLIVEIRA apud Carvalho, 2006, p.59)

Targino (2007) considera que o pioneiro na produção de materiais didáticos

de educação patrimonial, tendo como foco as escolas, foi o Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP), que no ano de 1982 elaborou o

projeto da cartilha educativa intitulada: “Cartilha do Patrimônio: Centro Histórico de

João Pessoa”, porém, por falta de recursos, este projeto só foi concretizado no ano

de 2002, no ano seguinte foi lançada a 2ª edição desse material. Este material tinha

como objetivo “conscientizar a comunidade paraibana em geral, os estudantes em

particular, do valor da preservação do passado representado pelo patrimônio

histórico”. Segundo a autora, os textos foram elaborados com uma linguagem voltada

para as crianças, com a utilização de imagens, tornando a compreensão do tema

abordado mais acessível e prazerosa aos alunos. (TARGINO, 2007, p.55)

Conforme consta no site do IPHAN, ao longo destes anos o instituto colaborou

com a publicação de 26 obras de educação patrimonial, produzidas em sua maioria

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através de parcerias com outros órgãos públicos. Destas, doze são direcionadas para

o ensino formal sendo elas: a coleção “Patrimônio e Leitura: Catálogo Comentado de

Literatura Infanto-juvenil”; “Cadernos Temáticos de Educação Patrimonial:

Orientações ao Professor”; livro “Educação Patrimonial: Memória e Identidade da

Cidade de Goiás – Patrimônio pra que te Quero” e a “Coleção Patrimônio Contado

Alcântara, cultura e educação” (IPHAN, 2016)

São inúmeros os exemplos de materiais didáticos de educação patrimonial,

direcionados às escolas, que foram produzidos no Brasil ao longo dos últimos anos.

Tais materiais vêm ao encontro da necessidade de suprir a falta de materiais

adequados para o desenvolvimento da educação patrimonial no ambiente escolar,

estes têm por objetivo dar subsídio as escolas para a abordagem da temática do

patrimônio cultural. (GOMES et al, 2012). Nesse sentido, Targino (2007) coloca que a

partir da elaboração destes materiais é possível destacar “as tendências atuais em

relação ao crescimento da consciência sobre o patrimônio cultural”. (TARGINO, 2007,

p.93). A autora acrescenta que “a educação patrimonial com o apoio de material

didático específico e factível, desperta interesse e traz resultados”. (TARGINO, 2007,

p.80)

Com o intuito de promover a educação patrimonial em Pelotas, a Prefeitura

Municipal por meio das Secretarias de Cultura e de Educação uniram esforços e em

2009 foram produzidos dois livros didáticos de educação patrimonial em Pelotas/ RS

intitulados: “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” destinado as séries iniciais do

ensino fundamental e “Pelotas uma História Cultural” para séries finais. Tais materiais

foram distribuídos nas escolas municipais da cidade e alguns exemplares

disponibilizados para escolas estaduais e particulares do município. Estes materiais

também estão disponíveis no site da Prefeitura Municipal de Pelotas.

O livro “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” para séries iniciais traz os

conteúdos por meio de dois personagens que percorrem a cidade, durante estes

percursos encontram outros personagens que ajudam a abordar os aspectos

históricos culturais do município. O livro esta dividido em seis capítulos sendo eles:

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O que Temos e o que Somos: Apresenta noções básicas sobre o conceito de

Patrimônio Cultural e apresentação da cidade de Pelotas;

Tudo e Todos: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas relativos

a zona colonial, aos espaços públicos e aos recursos hídricos;

Nós e Eles: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas relativos a

lugares que envolvem relações sociais e pertencimento a grupos;

Fomos e Somos: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas sob

a perspectiva histórica;

Temos e Fazemos: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas

relativos às manifestações vigentes, imateriais;

Somos Responsáveis: Conclusão com mensagem de valorização e

preservação dos bens culturais. (PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS,

2010)

A forma de abordagem utilizada no livro “Somos! Patrimônio Cultural de

Pelotas” é semelhante a outros materiais de educação patrimonial como, por exemplo,

a “Cartilha do Patrimônio: Centro Histórico de João Pessoa” que segundo Targino

(2007) foi elaborada com uma “linguagem simples, clara e concisa, sob a forma de

diálogos, envolvendo personagens identificados por relações bem próximas, como os

laços existentes entre professor e alunos, avô e netos. Nesses diálogos vão se

acrescentando informações históricas”. (TARGINO, 2007, p 67)

Já o livro “Pelotas uma História Cultural” destinado às séries finais do ensino

fundamental é conduzido por três personagens que abordam os conteúdos por meio

de crônicas, este material traz de forma mais conceitual os questões relativas ao

patrimônio cultural tendo como complemento a utilização de imagens e mapas como

forma de compreensão e fixação dos conteúdos. Este material foi dividido em quatro

unidades que são:

Unidade 1: Aborda os aspectos conceituais do Patrimônio Cultural enquanto

área de conhecimento;

Unidade 2: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas sob a

perspectiva histórica e ambiental;

Unidade 3: Aborda os aspectos do Patrimônio Cultural de Pelotas sob a

perspectiva das manifestações vigentes, imateriais;

Unidade 4: Propõe exercícios de simulação como uma estratégia de

envolvimento e resgate dos conceitos desenvolvidos ao longo do livro.

(PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS, 2010)

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Podemos comparar a utilização das imagens no livro “Pelotas uma História

Cultural” com a 2ª edição da “Cartilha do Patrimônio: Centro Histórico de João Pessoa”

que conforme Targino (2007), tal edição, “utilizou-se da fotografia como forma de

favorecer a compreensão do texto e torná-lo mais criativo, para uma melhor

identificação dos núcleos tombados no contexto da temática abordada”. (TARGINO,

2007, p. 91)

Segundo a Prefeitura Municipal de Pelotas (2010), estes livros didáticos caracterizam-

se como uma proposta de conhecimento e reconhecimento interdisciplinar que resulta

na valorização e identificação do patrimônio histórico cultural local e

consequentemente sua preservação, estes materiais veem ao encontro da

necessidade de fornecer aos professores subsídio para o ensino e a interação entre

o aluno e o conteúdo abordado. (PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS, 2010)

Tal ação vai ao encontro das colocações de Gomes (2012) que destaca a

necessidade de adotar medidas no sentido de preparar os professores para a

realização e aplicação da metodologia de educação patrimonial nas escolas, o autor

exemplifica algumas atividades que podem ser feitas nesse sentido, sendo elas: “um

trabalho envolvendo especialistas e professores, realização de cursos e treinamentos;

busca de alternativas para sanar a falta de fontes e de material didático adequado”.

(GOMES et al, 2012, p.91)

Sobre o livro didático em geral, todos os entrevistados nas escolas, atestam

sobre a importância deste material no processo de ensino aprendizagem como um

auxilio pedagógico, como um instrumento de sistematização dos conteúdos, e como

um recurso de apoio aos professores para o desenvolvimento de atividades em sala

de aula. Conforme o professor 4: “o livro didático é de extrema importância né, porque

é um baita de um recurso, a gente tem um suporte” , para o coordenador 10: “o livro

é importante porque muitas vezes a gente não tem a impressão colorida, então o livro

traz”, para o professor 7 apesar de todo o avanço tecnológico o livro didático continua

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sendo uma ferramenta importante no processo educativo: “é muito importante né,

porque apesar de toda a tecnologia ainda o livro é um referencial teórico muito bom” .

Tais narrativas são compartilhadas por Carvalho (2006) quando ressalta que “o

livro didático é uma obra composta por textos, conteúdos e imagens que têm por

finalidade instrumentalizar, dar suporte, auxiliar e somar aos recursos que fazem parte

do processo de ensino aprendizagem na transmissão de conhecimentos”.

(CARVALHO, 2006, p. 59)

Apesar de reconhecerem o livro didático como uma ferramenta importante no

sistema educativo, os coordenadores pedagógicos e os professores salientam que

este não é o único recurso que deve ser utilizado no processo de ensino

aprendizagem. Para o professor 9: “é mais um recurso que a gente utiliza, mas não é

o único, a gente tem outros”, o professor 1reforça essa ideia: “o livro é uma porta de

entrada, mas tem outras ferramentas como jogos, pesquisa. O livro ele faz parte desse

processo mas não é a única ferramenta”.

As críticas aos livros didáticos durante as entrevistas foram em relação aos

conteúdos, que muitas vezes não condizem com a realidade a qual os alunos e a

escola estão inseridos, e com a falta de edições que tragam exemplos e conteúdos

regionais. Conforme o professor 4: “assim, vem textos muito longos com palavras que

eles não entendem, com frutas que eles nunca viram, porque são produzidos em

outras regiões”, para o professor 6: “o grande problema dos livros didáticos é que eles

não se encaixam com a realidade da turma, da escola e do ambiente em que eles

vivem”, o professor 3 acrescenta: “todos os livros que vem pra gente, eles não são

regionais, a linguagem que as crianças nem conhecem, então assim, tratar de Rio

Grande do Sul aqui na escola já é complicado, mas a nível de município é muito pior”.

Do total de entrevistados nas escolas, quatro desconheciam a existência dos

livros didáticos “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” e “Pelotas uma História

Cultural”, destes, três eram coordenadores pedagógicos e um professor. Com relação

a existência de exemplares destes materiais nas escolas, oito do total de onze

coordenadores pedagógicos, confirmaram que havia exemplares nas bibliotecas das

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escolas. Conforme relata o coordenador 2: “tem alguns livros, vieram poucos, tem

alguns exemplares aqui na coordenação e outros na biblioteca”. O coordenador 4

comenta que alguns exemplares se perderam ao longo dos anos: ”na verdade assim,

no início a gente dava pras crianças achando que seriam disponibilizados outros

livros, mas não veio. E ai as crianças vão utilizando, ficam com eles em casa, foi

desaparecendo”, este fato não é isolado tendo ocorrido em outras escolas.

Todos os coordenadores pedagógicos que conheciam os livros (oito),

afirmaram que estes materiais são utilizados em suas respectivas escolas, em

algumas com mais frequência que outras. Segundo os mesmos, o livro mais utilizado

nas escolas é o “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas”, que conforme relatos, é

utilizado pelos 3º e 4º anos período escolar onde é trabalhada a história da cidade,

conteúdo da disciplina de estudos sociais, também é utilizado em datas

comemorativas como, por exemplo, no aniversário da cidade, já o livro “Pelotas uma

História Cultural” quando utilizado geralmente é relacionado à disciplina de artes,

conforme relatos dos coordenadores abaixo:

Nos anos finais não são utilizados porque não se abordam o conteúdo da

cidade. Mas eu tenho a impressão que as professoras dos anos iniciais usam

alguma coisa, até porque trabalham mais datas comemorativas e estudos

sociais. (COORDENADOR 2)

Eles são utilizados nas séries iniciais na disciplina de estudos sociais, os

professores utilizam esses livros quando trabalham a cidade. O séries finais

é mais usado pelos professores de artes porque tem toda a questão dos

prédios históricos, então são eles que mais procuram. (COORDENADOR 10)

Utilizam muito pouco assim, alguns professores do 3º ano as vezes usam, do

4º ano porque é conteúdo de 4º ano, mas não é muito utilizado, não como

livro didático ao longo do ano, as professoras começam a procurar pelos

livros agora em função do aniversário da cidade porque aí todas as séries

trabalham. Porque conteúdo mesmo é do 4º ano. (COORDENADOR 4)

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A partir destes relatos podemos citar Horta (1999) que afirma que apesar da

educação patrimonial ser uma metodologia interdisciplinar, nas escolas geralmente

esta relacionada as disciplinas de história ou os estudos sociais. Moraes (2005) afirma

que uma das dificuldades encontradas nas escolas para a aplicação da metodologia

de educação patrimonial é justamente a fragmentação dos conteúdos em disciplinas

e a dificuldade por parte dos professores em pensar a interdisciplinaridade.

Dos professores entrevistados, dois afirmaram que não utilizam estes

materiais, um deles por não conhecer os livros, os demais, disseram que usam os

livros com seus alunos. Conforme os professores, o livro “Somos! Patrimônio Cultural

de Pelotas” é utilizado como auxílio para a abordagem da história da cidade em sala

de aula, pois trazem informações e ilustrações que despertam o interesse e a

curiosidade nos alunos, através do livro é possível mostrar alguns lugares da cidade

os quais as crianças podem reconhecer. Os professores entrevistados consideram

estes livros de ótima qualidade, pelo material, pela linguagem e pela parte gráfica.

Estas informações são confirmadas por algumas narrativas:

Utilizo quando a gente vai trabalhar alguma coisa relacionada a cidade né, ali

tem informações importantes, e as vezes na semana de Pelotas a gente

utiliza o livro também [...] utilizo com o objetivo de trazer mais informações,

porque assim, eu moro aqui na cidade mas tem muitas informações que a

gente desconhece né, da história, então o livro te traz esses dados mais

antigos que tu pode trabalhar na sala de aula. (PROFESSOR 1)

A gente usa pra auxiliar durante as aulas sobre o trabalho de Pelotas é muito

importante, eu acho que contribui muito e estimula bastante os alunos e

auxilia o trabalho do professor. (PROFESSOR 6)

[...] Mostro pra eles os lugares, sempre na época do aniversário de Pelotas,

com o objetivo de contar a história da cidade e mostrar, e perguntar o que

eles conhecem, o que eles não conhecem. Então são coisas assim que são

interessantes mostrar porque aí ‘Ah é aquela coisa lá no centro, aquelas

coisas lá na cidade’, eles reconhecem alguns lugares no livro. (PROFESSOR

3)

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Utilizo como forma de pesquisa com as crianças, ele é bem bom sabe, claro

que ele não é assim completo, mas é muito bom até porque assim, a

ilustração dele é muito boa e ele tem um vocabulário bom pras crianças

entenderem, eu acho que ele é de fácil acesso pras crianças. (PROFESSOR

7)

Apenas dois professores que utilizam o livro para as séries iniciais, fizeram uma

relação dos mesmos com a questão do patrimônio cultural: “eles são bem

interessantes, um recurso ótimo que a gente tem em termos de pesquisa né, sobre a

história de Pelotas. Utilizo com o objetivo do aluno conhecer mais a cidade, os

patrimônios né, porque muitos não conhecem, nem vão ao centro” (PROFESSOR 9).

O professor 1 comenta que muitas vezes não se percebe os patrimônios culturais

existentes na cidade, e através do livro é possível abordar essas questões com os

alunos:

[...] primeiro eu mostro pra eles o livro, procuro mostrar as ilustrações pra

eles conhecerem, porque eles também desconhecem muitas informações né,

a gente anda pela cidade e as vezes a gente não se da conta né, daquele

prédio, aquela construção, aquele local ele é um patrimônio cultural né, com

o livro a gente pode trabalhar essas questões também. (PROFESSOR 1)

Dos nove professores entrevistados, somente um utiliza o livro “Pelotas uma

História Cultural” na disciplina de artes, com alunos do 8º ano, ano em que segundo

este professor é trabalhado o conteúdo de patrimônio, para o mesmo tais materiais

são importantes porque são poucos os materiais didáticos específicos sobre a cidade

e que abordam as questões de patrimônio cultural:

Esse material especificamente é bárbaro, porque assim, não tinha chegado

nas minhas mãos nenhum material desse tipo, específico da cidade, tratando

de toda a história, de toda a cultura e todo ilustrado. Porque ali a criança, é

como se a criança tivesse participando do passeio pela cidade. Eu to usando

eles no 8º ano, é conteúdo patrimônio e aí eu to trabalhando com eles tudo a

partir desse livro, comecei a introduzir o conteúdo através de perguntas,

lancei primeiro o que eles entendiam por patrimônio, porque na realidade a

gente vive numa cidade histórica, mas poucos deles tem essa consciência

com relação a cultura, patrimônio, a história da nossa cidade mesmo. Então

eu deixo primeiro que eles coloquem o que entendem por patrimônio, por

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cultura, e por patrimônio cultural e ai depois eu apresento o livro e ai a gente

trabalha essas questões. (PROFESSOR 8)

Pode-se constatar que o material é pouco utilizado para a educação

patrimonial. Para Scifoni (2015) se, ao longo dos anos, as práticas em educação

patrimonial se ampliaram e se diversificaram, incrementando o campo de atuação, o

mesmo não podemos dizer que ocorreu com a fundamentação teórica e a reflexão

crítica sobre este tema e sobre essas ações, o que coloca a urgência atual do debate

e da construção coletiva desta fundamentação. Muitas ações e projetos são de caráter

meramente informativo, o que representa uma limitação desse campo: quantas são

as cartilhas, folhetos e manuais que vemos hoje e que se desdobram em esforços

para dizer o que é patrimônio ao conjunto da população “desinformada” ou então para

informá-la a respeito da sua memória. Quantos materiais se encontram hoje no

mercado buscando “educar a população” sobre como se deve preservar um

patrimônio que é dela por direito, e não por dever. Nunca se falou tanto em educação

patrimonial como hoje, entretanto, isso não significa necessariamente que a

quantidade de projetos e ações represente um processo de transformação da relação

entre a população e o seu patrimônio. O cerne da problemática está no fato de que

tais ações não transformam a realidade sobre a qual elas pretender agir, justamente

porque não foram concebidas para isso. Por isso a necessidade de uma nova

pedagogia do patrimônio. “É com o antigo que realmente se faz o novo” (BENSAID,

2008, p. 22).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da realização desta pesquisa foi possível identificar que os livros

didáticos de educação patrimonial “Somos! Patrimônio Cultural de Pelotas” e “Pelotas

uma História Cultural” foram concebidos como uma proposta de ensino interdisciplinar

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voltada para conhecimento e reconhecimento do patrimônio cultural local como forma

de valorização da identidade local.

Tais materiais foram produzidos com o objetivo de subsidiar o trabalho dos

professores das escolas municipais de Pelotas na abordagem da temática do

patrimônio cultural por meio da educação patrimonial.

Com relação ao uso destes materiais nas escolas municipais de Pelotas,

constatou-se que o livro utilizado com mais frequência é o “Somos! Patrimônio Cultural

de Pelotas” para séries iniciais, isso ocorre porque no 3º ou 4º ano do ensino

fundamental é trabalhada a história de Pelotas, quando o professor conhece este

material o utiliza como ferramenta de apoio para a abordagem deste conteúdo,

algumas vezes também é utilizado como material de pesquisa.

Foi possível identificar que o período em que mais se utiliza estes materiais nas

escolas são em datas comemorativas como, por exemplo, no aniversário da cidade.

A justificativa recorrente para a não utilização do livro “Pelotas, uma História

Cultural” é porque não se trabalha com a história do município nos anos finais. Nesse

sentido, pode-se perceber que estes materiais não são utilizados como um

instrumento de apoio ao desenvolvimento de atividades de educação patrimonial nas

escolas. São utilizados como um livro de história, como fonte de informação e

ilustração, não que isso não seja importante, porém, tais materiais foram projetados

com o objetivo de subsidiar os professores para abordagem do patrimônio cultural no

ambiente escolar, visto que a partir do patrimônio cultural é possível desenvolve a

cidadania, o fortalecimento da identidade cultural e a criatividade e senso crítico dos

alunos.

Através desta pesquisa foi possível identificar a dificuldade por parte dos

professores de trabalhar a educação patrimonial no ambiente escolar, apesar de

possuírem um material de apoio para a aplicação de atividades relacionadas ao

patrimônio cultural, não possuem os conhecimentos básicos para o desenvolvimento

da metodologia de educação patrimonial.

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RELAÇÕES ENTRE FILOSOFIA E TURISMO: UMA ABORDAGEM DO TURISMO

CULTURAL A PARTIR DA HERMENÊUTICA DE PAUL RICOEUR

SCARANO, Renan C. V.11 LEOTI, Alice12 [email protected]

Resumo: O presente trabalho busca fazer uma aproximação entre filosofia e turismo,

por intermédio de uma abordagem hermenêutica do turismo cultural, a partir da óptica

do filósofo francês Paul Ricoeur. A hermenêutica é vista como um instrumento para

interpretar a linguagem simbólica, sendo a cultura um espaço simbólico. O turismo

cultural lida com a relação entre o turista e comunidade local receptora. Com isso, a

filosofia de Ricoeur oferece uma possibilidade de interpretação da cultura através da

hermenêutica dos símbolos. A metodologia empregada foi de uma pesquisa teórica/

bibliográfica abordando as temáticas de filosofia, turismo e cultura. Este trabalho

justifica-se pela necessidade de uma análise teórica e reflexiva acerca do

comportamento humano na prática turística cultural.

Palavras-chave: Filosofia; Turismo Cultural; Cultura; Hermenêutica; Paul Ricoeur.

1 INTRODUÇÃO

11 Bacharel e licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) - 2011;

Especialista em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) – 2014; Mestre

em Política Social pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) – 2015. Email:

[email protected]. 12 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) - 2009; Especialista em

Gestão Pública e Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) - 2012;

Mestra em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) –

2013. Email: [email protected].

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O presente trabalho busca uma aproximação entre duas áreas do saber

humano: a filosofia e o turismo. Para alcançar tal propósito, pretende-se realizar uma

abordagem do turismo cultural a partir da perspectiva do filósofo francês Paul Ricoeur

(1913-2005). Para isso, o presente trabalho está estruturado da seguinte forma: na

primeira parte, apresenta-se o pensamento Ricoeur, algumas de suas influências

intelectuais. Além disso, enfatiza-se que a linguagem aparece como o centro da obra

ricoeuriana, nesse sentido, denota-se que a hermenêutica surge como a via de

interpretação dos significados e sentidos que se expressam nos símbolos, nos sinais,

na cultura, como forma indireta de acesso ao ser humano.

A prática do turismo cultural pode ser uma forma de conhecer a cultura do outro.

Enquanto fenômeno social o turismo tem como escopo conhecer outras sociedades.

E, no segmento turismo cultural, o indivíduo viajante – o turista – deseja visitar

monumentos, esculturas, museus, festivais, feiras e qualquer outro tipo de

manifestação cultural que o faça interpretar e conhecer a cultura a qual está visitando.

A metodologia utilizada neste trabalho foi baseada em uma pesquisa

bibliográfica acerca do entendimento antropológico de cultura, compreendendo-a a

partir da concepção simbólica. Ainda, teóricos e definições institucionais sobre turismo

cultural, e como este faz uso dos símbolos culturais. Finalmente, tentou-se a partir da

óptica de Paul Ricoeur e sua concepção da linguagem simbólica como fator essencial

de acesso ao sentido do humano, ligar a perspectiva do turismo cultural com a

filosofia, a partir da hermenêutica.

A relevância deste trabalho se dá na medida em que o estudo teórico sobre o

turismo cultural a partir da hermenêutica, no Brasil, ainda é pouco desenvolvida.

Nessa perspectiva, este trabalho pretende contribuir para o preenchimento desta

lacuna filosófica do turismo.

UMA INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DE PAUL RICOEUR

Paul Ricoeur nasceu na cidade de Valence, na França, em 1913. Sua formação

intelectual teve por influência o existencialismo de Gabriel Marcel (1889–1973) e de

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Karl Jaspers (1883-1969) e a fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938).

Enquanto estava preso num campo de concentração alemão, de 1940 até o fim da

Segunda Guerra Mundial, organizou um curso de filosofia para seus companheiros de

prisão. Em 1957, seu nome foi apontado para ocupar uma cadeira geral de filosofia

na Universidade de Sorbonne. Posteriormente lecionou nas universidades de Paris-

Nanterre (1967) e em Louvain, na Bélgica, a partir de 1973.

Franco (1995) afirma que a filosofia ricoeuriana está dividida em dois

momentos. Num primeiro momento, o pensador se dedica a fenomenologia estrutural.

Nessa linha, o pensador francês busca determinar “quais são as possibilidades

fundamentais do ser humano” (FRANCO, 1995, p.38). Num segundo momento,

percebe-se a marca da hermenêutica, “inaugurada em La symbolique du Mal e De

l’interprétation. Essair sur Freud” (Ibidem). Nesse segundo momento aparece uma

forma de análise que “vai direto ao domínio das experiências concretas, cristalizadas

nos símbolos e mitos” (Ibidem). De acordo com Silva (2013, p.6), essa passagem se

deu devido a insuficiência do elemento fenomenológico “para a compreensão dos

símbolos”. Desta forma, Ricoeur passa a realizar o seu projeto de “uma hermenêutica

simbólica”, introduzindo “a hermenêutica na fenomenologia” (Idem, p.7).

A obra ricoeuriana trata de uma multiplicidade de temas que vão desde a

literatura, do conhecimento, da psicanálise, do poder, da política, do símbolo além de

outros. Porém, François Dosse (2003, p.181), afirma que desde sua tese intitulada de

Philosophie de la Volonté (1949), há um mote em sua filosofia, pois, Ricoeur não

deixou de perseguir, “ não deixou de se colocar a questão do sentido da ação

humana”.

Portanto, a via hermenêutica foi o caminho pela qual Ricoeur buscou

compreender os significados da existência humana. Franco (1995), em sua obra sobre

o filósofo francês, intitulada de “Hermenêutica e Psicanálise na obra de Paul Ricoeur”,

também sugere que o objetivo da obra riocueriana é “interpretar o homem: quem é o

homem contemporâneo?”, se questiona Ricoeur. Para isso, o filósofo francês, busca

nos símbolos, no mito, na linguagem poética, os sinais que revelam o ser humano.

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O homem só se conhece indiretamente: por meio daquilo que ele deixa de

impregnado em sua própria produção, não necessariamente de modo

consciente (FRANCO, 1995, p. 25).

De forma geral, a filosofia de Ricoeur é hermenêutica, pois ela visa “uma teoria

geral da interpretação” afirma Shaefer (2008, p.60) parafraseando o filósofo de

Valence. Trata-se da busca de sentido pela via da interpretação, como sugere Franco

(1995, p.52). Nessa busca, procura-se desvelar o sentido humano e nessa

empreitada, a hermenêutica fornece as ferramentas para analisar a linguagem

humana, e é justamente essa preocupação que se torna a problemática geral da obra

ricoueriana.

A cultura é uma esfera social onde emerge a linguagem, através de símbolos e

significados, dessa forma, há sentidos manifestos e significados ocultos. Logo, a

cultura precisa da interpretação para poder ser compreendida, pois ela é uma via de

compreensão da existência humana. Ricoeur, afirma Franco (1995, p.48), “entra pelo

caminho da análise indireta do ser humano na história e na cultura. O ser humano

pode ser conhecido por meio de sua linguagem.

A cultura aparece como a grande área em que o ser humano deixa sua marca

através de símbolos e sinais que dão o que pensar. Ela representa uma forma de

acesso ao homem e ao significado de sua vida. “O mundo só é acessível, e só é, na

medida em que é ‘configurado’ na expressão, na linguagem” (SCHAEFER, 2008, p

61).

A CULTURA E O AGIR HUMANO

Fabietti (apud BARUFFA, 2005, p.36) define cultura como “uma maneira

particular do homem, como membro de uma sociedade, de organizar seu pensamento

e seu comportamento com relação ao ambiente”. Nesse processo de organização o

homem precisa da cultura para transformar-se em humano, portanto, Baruffa (2005)

defende a ideia de que a espécie do Sapiens Sapiens, é naturalmente incompleta.

Segundo ele, “o sapiens sapiens elabora formas de comportamento que prescindem,

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em grau variável, dos instintos, tendo neles um condicionamento parcial porque

controlado culturalmente” (BARUFFA, 2005, p.36). Nesse processo, argumenta

Baruffa (Ibidem), o ser humano cria a cultura e é criado por ela.

A palavra cultura provém de colere que significa cultivar, o ser humano precisa

ser cultivado, precisa ser inserido no contexto social, senão, ele não se torna ser

humano.

A criação cultural fornece ao homem os meios físicos e os instrumentos para

a sua inserção na variabilidade ambiental: a tecnologia. Condiciona as

modalidades pelas quais os indivíduos interagem entre si: a organização

social. Oferece uma explicação do mundo e da sua própria existência,

elaborando crenças e valores: a religião e a ética. Favorece a compreensão

das leis que governam a realidade física e biológica: a ciência (BARUFFA,

2005, p.36).

Cada cultura passa valores e esses valores culturais criam padrões de

comportamento. Portanto, o ser humano, aparece nessa visão como um produto da

cultura e um transmissor da mesma, sua personalidade é construída culturalmente.

Já Geertz (2008), salienta o aspecto simbólico da cultura. O sistema simbólico

expressa as relações de determinada comunidade.

Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias

de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas

teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca

de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado

(GEERTZ, 2008, p.4).

Dessa forma, Clifford Geertz insere um componente importante na discussão

sobre cultura, ele sugere que o comportamento humano é uma “ação simbólica”

(GEERTZ, 2008, p.8), e como tal, deve ser interpretada. Os símbolos são mediações

que os seres humanos desenvolvem para comunicar algo. Um símbolo pode ser a

língua utilizada para comunicação entre os nativos ou também os valores que guiam

as pessoas.

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Nesse mesmo viés, Pesavento (2006, p.46), afirma que a cultura é uma

tradução do mundo em significados. Pois ela, é “uma produção social histórica a se

expressar, através do tempo, em valores, modos de ser, objetos, práticas (...)”.

Portanto, se a evolução biológica, resultou no processo de hominização, “a cultura

junta a ‘humanização’” (BARUFFA, 2005, p.36, grifo o autor).

A cultura, além de produzir valores, ela também se dá a tarefa de passar os

valores para outras gerações. A maneira de ver o mundo, de experenciá-lo, a forma

de ver o outro e de se ver inserido no ambiente das relações humanas de uma

comunidade, enfim, tudo isso é produzido culturalmente. No entanto, os valores são

relativos, pois aquilo que possui importância para um povo, pode não ser para outro.

Logo, a cultura não é universal, pois não existe uma cultura, mas várias perspectivas

culturais.

Nesse pluriculturalismo é inevitável que haja conflitos culturais, pois na medida

em que há muitas formas de organização social, como, várias concepções de família,

de clã, de comunidade, de Estado, de religião, de línguas diferentes, de formas de

produzir os bens necessários para a sobrevivência humana, etc., enfim, muitas formas

que dão sentido e que expressam a busca humana por conferir sentido ao seu mundo.

Deste modo, o ser humano é inserido na cultura e nesse mundo simbólico, sua

resposta, pode ser de adaptação ou não, além do mais, sua resposta diante do outro

pode ter um caráter solidário, que reconheça a alteridade do outro ou etnocêntrico.

A cultura não é um conceito estático, ao contrário, trata-se de um horizonte

onde há transformações e essas, acontecem em relação a inúmeros fatores, desde

sociais, econômicos, religiosos ou outros. Nesse processo dinâmico de construção

cultural podem existir conflitos culturais, seja em civilizações ou etnias que enfrentam

processos de deslocamento de seu habitat e/ou de migração.

Porém, o ato de deslocar-se territorialmente, também pode implicar uma curiosidade

de uma existência além de seu horizonte. Assim sendo, ao descobrir as possibilidades

de deslocamento para lugares cada vez mais distantes, o homem passou a planejar

meios e formas de viajar sem suscitar desconfianças e a fim de garantir provimento

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as suas necessidades alimentares, de repouso e de transitar pacificamente

(ANDRADRE, 2008).

TURISMO CULTURAL: A INTERPRETAÇÃO CULTURAL

Há um consenso entre os autores da área de turismo em afirmarem que os

termos turismo e turista originam-se das palavras francesas TOURISME e

TOURISTE. No entanto, ressalva-se que na língua portuguesa, os termos turismo e

turista foram adotados do inglês e não diretamente da matriz francesa. O termo TOUR

foi usado pela primeira vez em 1760, na Inglaterra. A matriz do radical TOUR é o latim,

através do substantivo TORNUS, do verbo TORNARE, cujo significado é “giro, volta,

viagem ou movimento de sair e retornar ao local de partida”.

De acordo com Brasil (2010), existem dois tipos de turistas que objetivam visitar

atrativos culturais em suas viagens: a) o turista com interesse específico em cultura,

ou seja, aquele que tem na cultura a sua motivação principal para seu deslocamento;

b) o turista com interesse ocasional na cultura, que é aquele que visitam o destino por

outras motivações, mas que em algum momento acabam visitando atrativos culturais.

Este último tipo de turista que numericamente é mais expressivo, aproveita a sua hora

vaga de suas atividades – congressos, trabalho, tratamento de saúde, entre outras –

para conhecer algum atrativo cultural, como museus, monumentos, marcos históricos,

e outros. Esses turistas, geralmente, não se autoconsideram como turista cultural visto

que a motivação da sua viagem não foi especificamente a cultura.

A relação entre turismo e cultura nasce no Grand Tour europeu. A expressão

Grand Tour remete as viagens realizadas por jovens europeus de classe média, que

tinham como objetivo complementar a sua formação cultural. Os filhos das famílias

ricas, notadamente ingleses, eram enviados a países estrangeiros a fim de aprender

uma ou duas línguas, tendo o escopo de conhecer e distrair-se. Tal viagem, significava

a oportunidade do jovem de ter contato direto com monumentos, ruínas e obras-de-

arte, especialmente dos antigos gregos e romanos. Para realizar as viagens, cada

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viajante era acompanhado de um tutor, que muitas vezes era alguém conhecia muitas

culturas.

O Grand Tour tem sua origem no século XVII, mas atingiu seu auge nos séculos

XVIII e XIX, sendo impulsionados pelo advento da ferrovia em grande escala.

Posteriormente, as viagens se expandiram para além do continente europeu, usando-

se também de navios a vapor para visitar, por exemplo, o continente americano. Nesse

sentido, a realização do Grand Tour era um modo de detenção da cultura, visto que o

acesso a ela era extremamente limitado.

Deste modo, o Grand Tour remonta a origem histórica do turismo

contemporâneo, a relação cultura-turismo é uma das principais motivações para uma

viagem. O entendimento ocidental de cultura compreende uma rede de

conhecimentos, crenças, arte, lei, costumes, hábitos desenvolvidos pelo ser humano

enquanto ser social. Assim, todo o modo de fazer e o fazer humano de uma sociedade,

suas formas de expressão bem como modo de vida, coadunem em um conjunto da

produção humana, expressando a noção de cultura. O indivíduo participante do Grand

Tour ajudou a propagar uma concepção de turismo cultural, onde o viajante é

apreciador de culturas antigas e paisagens com valoração estética para a sociedade.

Nesse contexto, observa-se que a cultura é objeto de desejo do turista há

séculos. Porém, como afirma Pérez (2009, p. 108):

Ainda que a natureza cultural do turismo é já antiga, a ligação entre turismo

e cultura é relativamente recente e muito mais o conceito de “turismo cultural”.

Os profissionais da cultura tendiam, até há pouco tempo, a minusvalorar o

turismo porque entendiam-no como uma actividade banal, superficial,

aculturadora e com pouco interesse pela cultura visitada. Isto mudou muito

nas últimas décadas com a criação de pontes entre um campo e outro.

No entanto, atualmente, observa-se que o turismo é uma das atividades que

mais proporciona a interação cultural entre os diferentes povos e etnias. Dessa forma,

a atitude de abertura da pessoa é imprescindível para que ela possa experimentar

uma nova cultura, não apenas o conhecimento inteligível, mas o experimental.

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A movimentação de indivíduos por territórios diferentes ao seu de residência,

ou seja, a prática turística, pode ser compreendida como uma atividade cultural. Para

isso, é preciso que o ser humano esteja aberto ao conhecimento de novas culturas,

pois, ir ao encontro de outrem requer não apenas conhecer novos lugares e povos,

mas apreender o significado que tal cultura possui. Portanto, o turismo é permeado

pela cultura, o que nas palavras de Pérez (2009, p. 108)

turismo pode ser entendido como um acto e uma prática cultural, pelo que

falar em “turismo cultural” é uma reiteração. (...). Em termos filosóficos toda a

prática turística é cultural.

Assim como o significado de cultura, turismo cultural também é definido de

diferentes formas pelos estudiosos da área e pelas instituições do setor turístico. A

exemplo, o Ministério do Turismo (2010, p. 15) afirma que

Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência

do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e

dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e

imateriais da cultura.

Nessa perspectiva de turismo cultural, dada pelo Ministério do Turismo (MTur),

é trazida a ideia da vivência como um dos aspectos relevantes a este segmento do

turismo. Esta concepção remete a experiências sensoriais, que vão desde uma

experimentação gastronômica a assistir um festival folclórico, e que pode passar pela

contemplação de um bem cultural edificado, ou ainda, uma paisagem cultural.

Pérez (2009, p. 110) corrobora nesse sentido ao dizer que

A experiência turística integra vivências sensuais (sons, odores, cores,

ambiente), sociais (relações com os outros, hospitalidade, bem-estar,

segurança, diversão), culturais (eventos, festivais, actividades, alojamento,

restauração, enriquecimento) e económicas (relação qualidade do serviço-

preço, relação custo/benefício da vivência, acessibilidades e transportes).

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No turismo cultural o turista busca coisas novas e a interação, assim sendo este

segmento turístico tem como principal produto a experiência. O MTur (2010, p. 16)

complementa esta acepção ao narrar a correlação entre o turismo cultural e o ato de

experienciar/vivenciar, quando diz que

Vivenciar significa sentir, captar a essência, e isso se concretiza em duas

formas de relação do turista com a cultura ou algum aspecto cultural: a

primeira refere-se às formas de interação para conhecer, interpretar,

compreender e valorizar aquilo que é o objeto da visita; a segunda

corresponde às atividades que propiciam experiências participativas,

contemplativas e de entretenimento, que ocorrem em função do atrativo

motivador da visita.

Destarte, vivenciar a cultura do outro por intermédio do turismo, abarca a

experimentação de determinado momento, neste caso a viagem, de modo que o

mesmo tenha um significado profundo. Portanto,

turismo cultural é uma vivência de participação em novas e profundas

experiências culturais estéticas, intelectuais, emocionais e psicológicas

(PÉREZ, 2009, p. 109-110).

Alguns aspectos são comuns a maior parte das definições de turismo cultural,

como a motivação cultural, a necessidade de vivenciar novas culturas, novas

experiências e de conhecer o outro. O ato de conhecer faz com que a cultura do outro

seja inserida no conhecimento (memória) de alguém, o turista. E, o ato de conhecer

novas sociedades, pode proporcionar um autoconhecimento, pois, ao conhecer o

outro, o turista pode olhar para sua própria cultura, para seus costumes com um olhar

de fora. Ao mesmo tempo também, esse ato de conhecer o outro, o estranho, pode

levar o sujeito a não se fechar em si, mas abrir-se para o novo.

O turismo cultural é o tipo de turismo que se utiliza dos símbolos representantes

de uma cultura como atrativo turístico, ou seja, aquilo que possui uma carga histórico-

cultural suficiente para atrair os olhares dos turistas. Existe uma multiplicidade de

possíveis atrativos turísticos, como por exemplo: peregrinações religiosas, sítios

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arqueológicos, sítios históricos, centro históricos, monumentos, museus, quilombos,

lugares de acontecimentos históricos, lugares que recordam a vida de artistas ou

intelectuais, ópera, dança, teatro, música, cinema, festivais, celebrações locais,

ateliês, teatros, obras-de-arte, exposições, artesanato, produtos típicos, idioma,

gastronomia típica, vestimenta, trajes, edificações especiais, arquitetura, ruínas,

espaços e instituições culturais, casas de cultura, feiras, mercados tradicionais,

saberes e fazeres, causos, trabalhos manuais, eventos programados, e outros que se

enquadrem na temática cultural.

De acordo com o Avighi (2000), o turismo cultural busca a realização interior e

dá ênfase ao meio ambiente e à compreensão da cultura e da história de outros

lugares, querendo conhecer povos e se enriquecer culturalmente. Segala (2003, não

paginado), elaborou a seguinte definição de turismo cultural:

O turismo cultural é motivado pela busca de informações, de novos

conhecimentos, de interação com outras pessoas, comunidades e lugares,

da curiosidade cultural, dos costumes, da tradição e da identidade cultural.

Esta atividade turística tem como fundamento o elo entre o passado e o

presente, o contato e a convivência com o legado cultural, com tradições que

foram influenciadas pela dinâmica do tempo, mas que permaneceram; com

as formas expressivas reveladoras do ser e fazer de cada comunidade. O

turismo cultural abre perspectivas para a valorização e revitalização do

patrimônio, do revigoramento das tradições, da redescoberta de bens

culturais materiais e imateriais, muitas vezes abafadas pela concepção

moderna.

A interação com a outra cultura significa um passo dado para conhecer o outro.

Nesse sentido, é o turismo cultural que proporciona a possibilidade de ir ao encontro

do outro, de conhecer outra cultura. Contrariamente a visão de turismo cultural como

uma prática comercial, em que, as sociedades são apresentadas as outras,

dramatizando as particularidades locais de determinadas culturas, tal como o

antropólogo Manuel Delgado Ruíz analisa o turismo cultural. Para Ruíz (apud Pérez,

2009, p.116),

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...el turismo cultural se ha constituido en lugar privilegiado en el que operar

análisis acerca de cómo las sociedades humanas se presentan ante otras

sociedades y ante si mismas... el turismo cultural es una industria cuya

matéria prima es la representación dramatizada y en extremo realista, de

cualidades que se consideran de algún modo inmanentes a determinadas

agrupaciones humanas de base territorial –ciudades, regiones, países-,

reificación radical de lo que de permanente y substantivo pueda presumir una

entidad colectiva cualquiera.

Contrariamente a essa ideia de turismo cultural na óptica comercial, industrial

e expositiva das culturas, acredita-se que essa prática, pode contribuir para a

compreensão e para aproximação do outro. Diante disso, acredita-se que a

hermenêutica possa ser uma forma de ligação de duas áreas do saber humano, o

turismo e a filosofia. Pois, através da hermenêutica de Paul Ricoeur e de sua filosofia

que enfatiza o acesso ao mundo humano pela via indireta, no caso, a linguagem

cultural, espera-se realizar um diálogo com o turismo cultural buscando através dele

enfatizar a importância da interpretação do sentido refletido na linguagem humana

simbólica que as culturas trazem em si.

Para que a prática do turismo cultural não seja difundida no âmbito

mercadológico e industrial, mas que possa ser uma forma de captar o sentido humano

implicado nas manifestações culturais é necessário que a hermenêutica desenvolvida

por Paul Ricoeur seja considerada como uma parte desse diálogo.

RICOEUR E A HERMENÊUTICA: A INTERPRETAÇÃO SIMBÓLICA DA CULTURA

O ser humano produz cultura, seu comportamento social é histórico e nessa

perspectiva, ele precisa ser interpretado para ser compreendido em seu significado.

Em “O conflito das Interpretações” (1969), Ricoeur inicia fazendo uma abordagem

histórica da hermenêutica. O autor considera que a hermenêutica inicia seus estudos

com a análise dos escritos sagrados.

Não é inútil lembrar que o problema hermenêutico se colocou primeiro que

tudo nos limites da exegese, isto é, no quadro duma disciplina que se propõe

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compreender um texto, de o compreender a partir da sua intenção, sobre o

fundamento daquilo que ele quer dizer (RICOEUR, 1978, p.5).

Assim como um texto deve ser interpretado para ser compreendido, a

linguagem humana também necessita de interpretação. Hermenêutica, nessa óptica

é a teoria que preside a interpretação de um texto.

Originalmente, o conceito de texto se prendia à noção de escritura sagrada.

Hoje há um conceito de texto ampliado. O texto passa a ser todo conjunto

coerente de signos suscetível de ser lido e interpretado (FRANCO, 1995,

p.71).

O conceito de texto não se denota apenas ao texto escrito, mas a linguagem

humana e esta, possui muitos significados. De acordo com Silva (2013), a

hermenêutica, “foi primeiramente usada no domínio Teológico” para interpretar

corretamente a Bíblia. Nesse sentido, a hermenêutica “harmoniza a exegese à

tradição e à comunidade” (FRANCO, 1995, p.81). Diante de um texto, a tarefa da

hermenêutica é “superar uma distância, um afastamento cultural: o que se pretende é

aproximar o leitor, hoje de um texto que se torna estranho” (Ibidem). É no movimento

da interpretação que o ser interpretado pode ser compreendido.

Embora tenha essa origem, a hermenêutica não se encerra aos problemas dos textos

sagrados.

Atualmente, é chamada de hermenêutica uma corrente da filosofia

contemporânea, surgida pela metade do século XX e caracterizada em

grandes linhas pela ideia de que a verdade seja fruto de uma interpretação

(D’AGOSTINI, 2003, p.396).

Para Ricoeur a hermenêutica remete originariamente ao problema da

compreensão. O horizonte em que se encontra a hermenêutica é mais amplo, pois

trata-se

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do problema fundamental de ordem filosófica acerca da compreensão, ou

melhor, da possibilidade de compreensão das estruturas de significação

(SILVA, 2013, p.8).

Portanto, o que está em jogo no método hermenêutico é a verdade, o

significado e a interpretação. Nessa perspectiva a hermenêutica visa:

uma decifração dos comportamentos simbólicos do homem, a um "trabalho

de pensamento que consiste em decifrar o sentido oculto no sentido

aparente" (...) (JAPIASSU, 199, p.4, grifos do autor).

Os seres humanos estão imersos num fluxo de linguagem, “num conjunto

linguístico-temporal” (D’AGOSTINI, 2003, p.399). E, é nesse fluxo de linguagem que

o ser humano experiencia a realidade que o circunda, porém, não de modo direto.

D’Agostini (Ibidem) ressalta que

jamais encontramos as coisas de modo imediato, mas temos sempre um

certo número de informações preliminares, preconceitos, expectativas a seu

respeito, e a linguagem determina, pré-orienta o nosso juízo sobre a

realidade.

A partir de então, compreende-se que, quando Ricoeur analisa a psicanálise, o

mal ou a ideologia, o faz para “emergir o sentido humano ali implicado” (SCHAEFER,

2008, p.59). Dessa forma, Schaefer (2008), sugere que a intuição central da obra

ricoeuriana da teoria da interpretação é a de mostrar que “a realidade é simbólica e o

símbolo, precisa ser interpretado” (Idem, p.60). Para Japiassu:

É o símbolo que exprime nossa experiência fundamental e nossa situação no

ser. É ele que nos reintroduz no estado nascente da linguagem. O ser se dá

a o homem mediante as seqüências simbólicas, de tal forma que toda visão

do ser, toda existência como relação ao ser, já é uma hermenêutica

(JAPIASSU, 1990, p.3).

Essa centralidade no símbolo quer dizer que o homem, não se contenta com

sua linguagem primária para exprimir sua experiência no mundo.

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Para além da experiência das coisas e dos acontecimentos, situa-se o nível

da linguagem filosófica, linguagem interpretativa capaz de revelar uma

experiência ontológica que é relação do homem com aquilo que o constitui

homem, vale dizer, foco do sentido (JAPIASSU, 1990, p.4).

Através da análise da linguagem, Ricoeur persegue seu objetivo de “elucidar

as múltiplas funções do significar humano” (Ibidem), pois é através da linguagem que

o filósofo francês penetra na hermenêutica. Para ele, afirma Franco (1995), “o homem

é linguagem. É através da linguagem que o ser humano expressa sua curta

consciência e sua visão crítica do mundo” (FRANCO, 1995, p.49). A via da

interpretação é uma forma de buscar o sentido humano.

Portanto, Ricoeur é um filósofo que busca através da via da interpretação o

sentido humano. “É através das mediações que o ser humano pode se compreender”

(FRANCO, 1995, p.48). Ainda Franco (Ibidem), argumenta que Ricoeur, “entra pelo

caminho da análise indireta do ser humano na história e na cultura. O ser humano

pode ser conhecido por meio de sua linguagem” (Ibidem). Uma das formas de

mediação, de via indireta para o acesso ao ser humano é o símbolo, e é uma

linguagem expressa em todas as culturas.

Chamo símbolo a toda a estrutura de significação em que um sentido directo,

primário, literal, designa por acréscimo um outro sentido indirecto,

secundário, figurado, que apenas pode ser apreendido através do primeiro.

Esta circunscrição das expressões com sentido duplo constitui precisamente

o campo hermenêutico (RICOEUR, 1978, p.14).

Por ser histórico o agir humano que se expressa pela linguagem, necessita de

interpretação e essa interpretação é o encontro de dois mundos. A interpretação do

filósofo hermeneuta visa um sentido que emerge do objeto, ele “espera algo, que crê

que algo se dirige a ele através da linguagem” (FRANCO, 1995, p.74). Os símbolos

são manifestações de sentido, a linguagem simbólica porta um sentido, uma história

que precisa ser interpretada. Por interpretação, Ricoeur, entende

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o trabalho de pensamento que consiste em decifrar o sentido escondido no

sentido aparente, em desdobrar os níveis de significação implicados na

significação literal (RICOEUR, 1978, p.14).

Portanto, os símbolos são alimentos para a reflexão, da mesma forma, acredita-

se que a cultura também é um estímulo para o pensamento e necessita de

interpretação para não ser ingênua. Em sua proposta hermenêutica, Ricoeur propõe

uma dialética-interpretativa. O caráter dialético do símbolo é visto como um jogo entre

ocultar e mostrar, pois ele traz consigo um disfarce e uma revelação. Esse caráter

ambíguo do símbolo é próprio de um ser de linguagem que está inserido na cultura e

nela, ele cria valores e significados. A linguagem cultural, refletida nos sinais, nos

símbolos, nos costumes, nas diversas manifestações artísticas, como a dança, a

música, a forma das sociedades de moldar os objetos, expressa a forma como os

seres humanos fazem sua experiência de mundo em relação com os outros.

O universo cultural contemporâneo, oferece o encontro entre diferentes

culturas. E nesse encontro, existem possibilidades fazer experiências na forma de

enculturação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos grandes desafios da filosofia é não encerrar-se num monólogo consigo,

mas, estabelecer diálogos entre as áreas do saber. Nesse sentido, Paul Ricoeur

oferece, através de sua hermenêutica uma forma de interpretar o sentido da

linguagem simbólica. O artigo propôs uma relação entre turismo cultural e filosofia,

ambas, possuem em comum o aspecto da linguagem humana como fonte e objeto de

conhecimento.

Os seres humanos são imersos no ambiente simbólico da cultura e nela, eles criam

os significados para sua existência. Logo, a cultura dá o que pensar! E se ela dá o que

pensar, ela precisa de interpretação, porque carrega um mundo de significados. O

turismo cultural possibilita esse encontro com o outro, no entanto, esse encontro

cultural se dá através das trocas de linguagem. Acontece que, por vezes, o turismo

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cultural transforma a cultura do destino visitado em um objeto mercadológico e o

turista em um consumidor ávido por colecionar destinos. Deturpando os sentidos que

estão implicados na cultura e em sua linguagem simbólica, fazendo da cultural um

espetáculo.

A contribuição da hermenêutica, tal como é proposta por Ricoeur, significa

captar os sentidos, revelar os significados da comunicação simbólica. O turismo

cultural é uma prática, na qual, o deslocar do sujeito busca conhecer o outro, que se

apresenta como novo e diferente, visando uma experiência nova. No entanto,

acredita-se que o diálogo entre filosofia e turismo poderia realizar um diálogo com o

turismo cultural, visto que, o ato de conhecer outra cultura seria superado pela

perspectiva da interpretação e da interação cultural.

Superar as distâncias e buscar aproximações culturais parece ser os desafios que o

diálogo entre filosofia e turismo enfrenta nesse âmbito. Para isso, a compreensão se

faz necessária para perceber a cultura como um ambiente simbólico e não como um

ambiente que proporciona um espetáculo.

REFERÊNCIAS

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JAPIASSU, Hilton. Apresentação. In: RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias.

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RICOEUR, Paul. O conflito das interpretações: ensaios de hermenêutica. Porto:

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PESAVENTO, Sandra Jatahy. Cultura e Representações, uma trajetória. Revista

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2016.

PÉREZ, Xerardo Pereiro. Turismo Cultural. Uma Visão Antropológica. Tenerife

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SCHAEFER, Osmar Miguel. Sobre Hermenêutica e Filosofia. In: PIZZI, Jovino;

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Razão e Fé. v. 15, n. 2. Pelotas: UCPel, 2013. Disponível em:

http://www.rle.ucpel.tche.br/index.php/rrf/article/view/1322. Acesso dia 12 de outubro

de 2016.

RESIDENTES DO BALNEÁRIO DA BARRA DO CHUÍ, SANTA VITÓRIA DO

PALMAR, RS: NÍVEL DE IRRITAÇÃO EM RELAÇÃO AOS VISITANTES E AO

TURISMO.

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SENA, Vanessa Saraiva13 [email protected]

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o sentimento dos

residentes do balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS em relação

aos visitantes e como objetivo específico, classificar em qual nível de irritação turística

se encontram os residentes do balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar,

RS. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e posteriormente uma pesquisa de

caráter exploratório-descritivo com abordagem quantitativa e qualitativa, em que se

utilizou aplicação de questionário. Os resultados obtidos foram que os residentes são

receptivos e percebem indiretamente estarem no nível da euforia.

Palavras-chave: Índice de irritação turística; Residentes; Turismo; Visitantes.

1 INTRODUÇÃO

O referente estudo trata-se de um recorte do Trabalho de Conclusão de Curso

intitulado como Residentes do Balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar,

RS e o Turismo: Aceitação ou Resistência, apresentado à banca examinadora em

dezembro de 2015.

O tema do estudo se refere a relação estre os residentes da comunidade

receptora e os visitantes que ali se chegam, bem como os efeitos socioculturais,

englobando as linhas gerais em sociologia do turismo e antropologia e turismo.

Como objetivo geral foi pertinente analisar o sentimento dos residentes do

balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS em relação aos visitantes e

como objetivo específico, classificar em qual nível de irritação turística se encontram

os residentes do balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS.

13Bacharela em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=DF99049A159D1C88682C53AD 69678EB3

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O problema do estudo é baseado em que sintonia se encontram os residentes

do balneário da Barra do Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS e o Turismo, se eles

aceitam ou apresentam resistência em relação ao desenvolvimento turístico,

bem como com os visitantes que por consequência passam pela região.

Para o recorte apresentando neste estudo, foram criadas duas hipóteses,

aprimeira delas é que os residentes do balneário, jovens entre 18 e 25 anos,

demonstram mais receptividade do que os adultos e idosos, tendo em vista, a vida

social ativa, nos locais de lazer e entretenimento e a segunda hipótese é que todos os

residentes questionados no balneário têm representatividade no nível da euforia, por

se tratar ainda de um destino não consolidado em virtude do baixo desenvolvimento

turístico.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo serão abordadas todas as etapas que foram seguidas para

desenvolver metodologicamente o referente estudo, como os diferentes tipos de

pesquisa, a definição do instrumento de coleta para levantamento dos requeridos

dados e por fim a descrição completa da aplicação da pesquisa.

A definição do objetivo geral e do objetivo específico possibilitou a escolha do

objeto de estudo, que no caso, foram todos os residentes do balneário da Barra do

Chuí, Santa Vitória do Palmar, RS que se encontravam nos dias da aplicação do

questionário e que quiseram participar da investigação.

A pesquisa do estudo quanto aos objetivos é de caráter exploratório-descritivo

de abordagem qualitativa-quantitativa, que tem como objetivo proporcionar

estreitamento com o problema, constituir hipóteses e principalmente aprimorar ideias

e/ou descobrir intuições. (GIL, 2002). Em se tratando de procedimentos técnicos, a

pesquisa tem característica bibliográfica e de levantamento.

O instrumento de coleta utilizado na pesquisa foi o questionário, que para Gil

(2002) compõem as técnicas de interrogação utilizadas na coleta de dados no

levantamento, juntamente com a entrevista e o formulário.

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A composição do questionário se deu com perguntas fechadas e abertas,

começando por perguntas sobre o perfil sócio-demográfico, posteriormente sobre o

sentimento dos residentes quanto aos visitantes, a percepção dos efeitos causados

pela atividade turística e para encerrar, sobre a classificação do nível de irritação

turística da comunidade receptora do balneário em relação ao turismo e aos visitantes.

Para identificar a classificação da comunidade receptora do balneário quanto

à irritação turística, foi utilizada a escala irridex proposta por Doxey (1976), mas por

motivo de não encontrar a metodologia exata utilizada por ele, para chegar a essa tal

escala, foi criada uma abordagem indireta, ou seja, foram dispostas as possíveis

reações que os questionados teriam de acordo com o nível de irritação ao

desenvolvimento turístico e a partir da análise dos resultados, os questionados foram

classificados em nível de euforia, apatia, irritação ou antagonismo.

O estabelecimento do critério dos dias e horários de investigação foi aplicado

para alcançar um considerável número de residentes no balneário, visto que muitos

trabalham todo o dia e chegam em suas casas ao anoitecer e até mesmo se por

ventura, os residentes optassem por fazer viagens no final de semana. Em relação a

aplicação do questionário, o período da investigação datou de 25 de agosto de 2015

e 27 de setembro de 2015, entre 8h e 30min e 18h e 30min, englobando todos os dias

úteis e também alguns dias do final de semana.

De acordo com Veal (2011), as sondagens com questionários na área do lazer

e turismo podem ser classificadas em sondagens de rua, por telefone, por

correspondência, eletrônicos, usuário/visitante/de local, por grupos cativos e por

sondagem familiar, que no caso, foi a escolha para o referente estudo. A aplicação do

questionário foi diretamente nas residências, em todo o balneário, para obter uma

significativarepresentatividade, caso os residentes não fossem encontrados no

balneário ou não quisessem participar da investigação.

O total de respondentes foi de 85 residentes, com critério de possuir 18 anos

ou mais para apresentar maior confiabilidade do estudo e apenas uma pessoa foi

questionada por residência para não permitir influência nas respostas.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo serão apresentados os aportes teóricos utilizados para

fundamentar o estudo. Tendo em vista que o objeto de estudo foi a comunidade do

balneário da Barra do Chuí, a princípio apresentaremos a qual município o balneário

pertence, quais as finalidades de um balneário do ponto de vista de visitantes, a

história e as peculiaridades da criação do balneário investigado, o que se entende por

fronteiras e a formação da identidade fronteiriça, como se compreende o turismo, a

relação entre os visitantes e os visitados e os efeitos causados pela atividade turística.

O município a qual pertence o balneário investigado é Santa Vitória do Palmar,

localizado ao extremo sul do Rio Grande do Sul, tem como limites ao leste a lagoa

mangueira e ao oeste a lagoa mirim e fica cerca de 436km da capital gaúcha Porto

Alegre. (FERREIRA, 2014).

Santa Vitória do Palmar é brindada por forte potencial no que tange o turismo,

com seus bens naturais, histórias geológica e paleontológica, aspectos culturais,

arquitetura colonial deixada pelos seus colonizadores e ademais, o encanto de duas

belas praias: o Balneário da Barra do Chuí e o Balneário do Hermenegildo. (MIORIN;

BARÉA, 2009).

Dando explicações sobre a finalidade da utilização dos balneários, Urry (2001)

afirma que originaram-se devido ao cunho medicinal, para banhos e consumo, e que

no século XVIII aconteceu o ápice dos seus desenvolvimentos em toda a Europa.

Corroborando, Enke (2013, p. 18) elucida que:

O desejo de frequentar os espaços litorâneos surgiu em torno de 1750 com a

―invenção‖ de um novo lazer, a vilegiatura marítima. O ir aos banhos passou

a fazer parte do roteiro de férias da burguesia em ascensão na época,

estabelecendo uma ligação de cumplicidade do homem com o mar ao tratar

e revigorar o corpo humano com suas águas salgada e fria e curar as

ansiedades da alma.

Urry (2001) confirma que o crescimento da nova forma de lazer, foram criadas

condições para que ocorresse concentração de bens e serviços especializados,

surpreendendo o olhar do turista da época.

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O mar se torna um lugar de prazer e lazer, fidelizando mais pessoas e criando

tendências em diversas áreas, Enke (2013, p. 17) expõe a cerca disso que:

Ambiente simbólico, a praia foi e é um cenário no qual tendências de

comportamento, de moda, os esportes e os banhos de mar estão presentes

no cotidiano. O espaço praiano traz para a ―vida‖ de seus frequentadores a

―energia‖ que lhes falta.

Depois de apresentar o município a qual pertence o balneário investigado e

demonstrar as finalidades dos balneários em geral, adentraremos na história do

balneário da Barra do Chuí.

Sobre isso Azambuja (1978) discorre que na década de 1920, o senhor João

Ladriz, estancieiro de muitas posses dos Provedores (distrito que constitui o município

de Santa Vitória do Palmar), estimulou o senhor Joca Documento (João Pedro

Pereira), morador da região, a arrendar terras para depois construir um balneário,

sendo que algumas dessas terras foram adquiridas por legítimo título.

Azambuja (1978) corrobora que o senhor Joca Documento diante do sucesso que se

encontrava o balneário recém-inaugurado, decretou que as terras seriam fracionadas

e fragmentadas em lotes, para que então pudessem ser esboçadas ruas e praças.

Azambuja (1978) confirma que em uma longitude de 15 km deste importante

balneário do extremo-sul, seguindo a costa marítima, ao norte, surge a estação

balnear do Hermenegildo, mais nova que a da Barra do Chuí, porém de arquitetura

inferior e sem a relevância no contexto turístico do Estado, que esta apresenta. Na

direção Sul da Barra do Chuí, à margem direita da foz do rio fronteiriço, situa-se seu

balneário gêmeo de origem uruguaia, o balneário da Barra del Chuy, com edificações

e características semelhantes a do Hermenegildo, onde acolhe veranistas do Chuí e

suas proximidades. Os balneários gêmeos são separados por uma ponte

internacional, inaugurada em 1974, pelo Ministro dos Transportes da época e por

renomados representantes do Governo Uruguaio.

Como exposto anteriormente, o balneário da Barra do Chuí é mais velho que

o balneário do Hermenegildo, porém sua relevância é primordial no que tange o setor

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turístico do estado.Schäfer, Lanzer e Streher (2009, p.300) reforçam que a Barra do

Chuí:

É o mais antigo balneário do litoral oceânico do município localizado junto a foz do arroio Chuí, no Distrito de Atlântico. O nome significa ―Rio das Tartarugas‖ ou ―Rio Manso‖ ou ―vagaroso‖ e é o marco da fronteira entre Brasil e Uruguai, no Litoral. Além da praia, apresenta grande diversidade de atrativos, dentre eles: arroio e suas barrancas, molhes de pedras, ponte internacional do Chuí, Museu Atelier Hamilton Coelho e farol da Barra do Chuí. O balneário está 29 km distante do Centro, com acesso pela BR 471. O balneário dispõe de hotéis, campings, outros serviços. É propício aos segmentos de Turismo cultural, ecoturismo, de sol e praia e de lazer.

Em se tratando da comunidade do balneário da Barra do Chuí, Barreto (2007,

p. 59) faz uma breve explanação sobre como podem ser definidas as comunidades:“os

critérios de definição de comunidade podem ser geográficos, o que leva a definir

comunidades que correspondem aos limites territoriais e outras que se definem por

sua cultura, função social ou por seus aspectos”.

Compreendendo a situação da comunidade do balneário da Barra do Chuí, e

analisando sua composição, podemos destacar que as nacionalidades ali difusas,

brasileira e uruguaia convivem em sintonia.

Müller (2008) confirma que transitar em um espaço fronteiriço faz com que

sejam marcantes as percepções ao ouvir uma pessoa falar com a outra, cada qual

com sua língua materna - espanhol ou português -, sem que haja a preocupação de

uma “tradução ao mesmo instante”. “Apesar do diferencial, o processo comunicacional,

neste caso a conversação, efetiva-se e a mensagem é compreendida sem maiores

problemas”. (MÜLLER, 2008, p.12).

A partir disso, torna-se inevitável o destaque daqueles que visitam áreas de

fronteira, com aqueles que vivem em áreas de fronteira, ou seja, é quase impossível

distinguir quem é quem, se é brasileiro ou uruguaio, no caso, na comunidade do

balneário da Barra do Chuí.

Müller (2008) conclui que de certa forma é vantajoso deixar transparecer a

identidade cultural fronteiriça, tornando-a especial no discernimento entre o nativo -

sem interessar se esse seja brasileiro ou uruguaio- dos “forasteiros”, “dos outros”,

daqueles que não dessabem de suas particularidades, adversidades e demandas do

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espaço de fronteira.

Pessoas das duas nacionalidades dentro do balneário, se cruzam, trocam

informações e tocam suas vidas normalmente sem nenhum atrito, inclusive, agem

integradamente para solucionar problemas específicos da comunidade. Müller (2008)

apoia que os nativos desse espaço de fronteira não se sentem incomodados pelo fato

de serem de nações diferentes, mesmo quando ocorrem as trocas de relações.

Alheios a isso, comunicam-se e estabelecem espaços próprios comuns, invadem

territórios internacionais em busca de informações e produtos. Configuram um novo

espaço, originam normas e articulações para atender a demanda daquelas pessoas,

ultrapassando determinações vindas de uma instância superior.

Dorfman (2008, p.4) ainda ressalta que:

A fronteira do Brasil com o Uruguai é regulada por numerosos tratados internacionais, que ordenam desde a posição dos marcos até o controle fito-sanitário ou do crime transnacional, sendo o Mercosul1 (1991) o acordo mais importante dentre tantos outros. Nesse quadro, a institucionalização de práticas cotidianas e da região-fronteira de sua incidência surge com o ―Acordo para Permissão de Trabalho e Estudo para os Cidadãos das Localidades de Fronteira da República Oriental do Uruguai e da República Federativa do Brasil‖. Assinado em 09 de agosto de 2002, ratificado em 14 de abril de 2004, o acordo abrange uma região delimitada simetricamente a 20 Km de ambos lados da fronteira e pelos limites dos municípios/províncias. Foram estabelecidas as seguintes ―localidades vinculadas‖: 1-Chuy, 18 de Julio, La Coronilla, y Barra delChuy (Uruguai) a Chui, Santa Vitória do Palmar/Balneário Hermenegildo, (Brasil); 2-Rio Branco (Uruguai) a Jaguarão (Brasil); 3-Aceguá (Uruguai) a Aceguá (Brasil); 4-Rivera (Uruguai) a Santana do Livramento (Brasil); 5-Artigas (Uruguai) a Quaraí (Brasil); 6-Bella Unión (Uruguai) a Barra do Quaraí (Brasil). (DORFMAN, 2008, p.8-9).

Depois de ter explicado sobre a fusão da comunidade do balneário da Barra

do Chuí e da questão da integração das nacionalidades, formando uma identidade

diferente, não tem como deixar implícita a atividade que proporcionou o fluxo de

pessoas nessa fronteira, ou seja, a atividade turística.

Entre as diferentes formas de entendimento da atividade turística, tem aquela

que implica somente na decisão do que escolher em uma determinada viagem, como

conceitua Beni (2001, p. 37), o turismo é “um elaborado e complexo processo de

decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço”. Pressupõe-se que o turismo

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é a decisão da viagem, e o que realizar de atividades na pretendida viagem. “Mas, ao

contrário de outros tipos de viagens e deslocamentos, como, por exemplo, as

migrações, o turismo é uma deslocação voluntária na procura de algo – não

estritamente material’’. (PÉREZ, 2009, p.10) “O turismo permite viajar e participar em

culturas alheias à do turista [...]”. (SANTANA, 1997. p, 90).

O turismo pode ser visto como integrador dos povos, que os ajuda a conviver

em harmonia, a respeitar as diferenças desde as raciais até as culturais, embora ainda

seja dotado de alguns conflitos. De acordo com isso Dias (2008, p.125) corrobora que:

O turismo apresenta importantes implicações socioculturais, relacionadas tanto com os turistas, como com os residentes e à relação turistas-residentes. No atual processo de intensificação da globalização, o turismo tem-se revelado como uma de suas forças motrizes, contribuindo para a disseminação de valores, novos hábitos, costumes e etc. e para aumentar a tolerância com as diferenças, para o aumento da compreensão mundial e da paz.

“A relação entre visitantes e visitados varia em cada caso, em função de uma

série de circunstâncias, favoráveis ou desfavoráveis, o que obriga aos investigadores

a ter muito cuidado antes de generalizar.” (BARRETTO 2007, p.58).

Barreto (2007) discute que na atualidade há muitos níveis de relações entre

visitantes e visitados, desde contato zero, situações de intimidade, simpatia e criação

de laços de amizade, e até hostilidade. “Casos de hostilidade aberta contra turistas e

de agressão física não têm sido registrados com frequência na literatura científica”.

(BARRETTO 2007, p. 76).

Santana (1997) explica que os universos simbólicos são separados

geralmente em um mesmo espaço físico e que o turista se encontra na situação de

lazer enquanto os nativos se encontram em pautas diferentes, como por exemplo, no

contexto do trabalho.

A partir disso podem ser verificar três contextos: a interação que é quando o

turista adquire um bem ou serviço através do residente; a percepção que é o encontro

dos turistas e residentes nos lugares de lazer e a motivação quando os dois atores se

encontram face a face, a fim de trocar informações e ideias para facilitar o

entendimento.

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Krippendorf (2009) determinou a seguinte categorização, a primeira categoria

compreende os residentes em contato direto com o s turistas. São encarregados de

dar às boas-vindas aos turistas. Dependem do turismo como atividade econômica que

é fundamental nas suas vidas; a segunda categoria é formada pelos residentes

proprietários de negócios não relacionados diretamente com o turismo. Não guardam

uma relação estreita com os turistas e para eles o turismo é um assunto

exclusivamente comercial; a terceira é a dos residentes que estão em contato parcial

com os turistas e que conseguem ingressos que apenas procedem em parte do

turismo. São conscientes das vantagens do turismo, mas tem também uma atitude

mais crítica a esse respeito e advertem para as suas desvantagens; e a quarta e última

categoria é a dos residentes que não têm qualquer contato com os turistas ou cujo

contato é passageiro. Estes podem manifestar aprovação, rejeição, interesse ou

indiferença, sendo esta última a mais comum.

Por intermédio de projetos investigativos executados em Barbados, nas Índias

ocidentais, e Niágara no lago de Ontário no Canadá, Doxey (1975, p. 195) sugeriu que

efeitos inéditos entre os visitantes e os residentes poderiam ser transformados em

graus de irritação nos residentes. As irritações podem manifestar-se do número de

turistas ou nos riscos que representam para vida local da comunidade. Doxey ainda

complementa que as elucidações são distintas nos diferentes destinos, mas irão ser

alteradas no sentido unidirecional ao longo do tempo, confrontando ao ciclo de vida

do destino que é oferecido por Butler (exploração, envolvimento, desenvolvimento,

consolidação, estagnação e declínio ou rejuvenescimento). (WALL; MATHIESON,

2006).

Os graus de irritação propostos por Doxey (1976 p. 26-27) foram

fragmentados em diferenciados níveis, e são apontados na tabela seguinte:

Índice de irritação turística

Tradução autora: 1. No nível da euforia, as pessoas estão entusiasmadas e encantadas com o desenvolvimento turístico. Elas acolheram o estrangeiro e há um sentimento mútuo de satisfação. Há oportunidade de ganho econômico a partir da chegada dos turistas.

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Tradução autora: 2. No nível da apatia, à medida que as indústrias expandem, as pessoas acreditam que a vinda dos turistas está garantida. Os turistas rapidamente tornam-se um alvo de lucros e o contato pessoal torna-se mais formal.

Tradução autora: 3. No nível da irritação, a indústria está se aproximando do ponto de saturação e os moradores locais não conseguem suportar o aumento dos números, sem que haja a expansão das instalações.

Tradução autora: 4. No nível do antagonismo, as irritações tornaram-se mais evidentes. As pessoas agora veem o turista como o precursor de tudo o que é ruim. Impostos subiram por causa dos turistas. "Eles não têm respeito pela propriedade." "Eles têm corrompido a nossa juventude." "Eles estão empenhados em destruir tudo o que é bom em nossa cidade". A cordialidade deu lugar ao antagonismo e os turistas são expulsos para longe.

Tradução autora: No nível final, o ambiente acaba sendo modificado sem que haja uma interrupção da comunidade local. Os residentes esqueceram que a forma para captar os turistas provocou no destino atitudes selvagens. O que eles agora têm de aprender é a viver com o fato de que seu ecossistema nunca será o mesmo novamente. Eles ainda podem ser capazes de atrair turistas, mas de um tipo muito diferente daqueles que tão alegremente acolheu nos primeiros anos. Se o destino for grande o suficiente para lidar com o turismo de massa poderá continuar a prosperar.

A atividade turística causa efeitos nas comunidades receptoras e esses efeitos

podem ser positivos ou negativos, percebidos nos diversos âmbitos. Em relação a isso,

Santana (2009, p.154) afirma “que, embora, os atores e cenários sejam muitos, os

principais afetados pela atividade turística são as pessoas que moram nas áreas

receptoras de turismo”.

Os efeitos podem ser percebidos em diferentes âmbitos, tanto no social,

cultural, econômico, ambiental e físico. A cerca disso Barreto (2007, p. 37) corrobora

que “O turismo e os turistas provocam efeitos na cultura e na sociedade, exercem

influencias e tem repercussões de vários tipos.” Portanto, os efeitos causados pelo

turismo e pelos turistas não atingem apenas uma direção, podem ser considerados

em distintas esferas. A atividade turística estimula efeitos e estes podem ser

fracionados em três categorias: Os econômicos que são as despesas e vantagens

resultadas do uso dos bens e serviços, tal como a riqueza não explícita que é gerada

e as oportunidades e contrastes que consequentemente podem acontecer; Os físicos

e ambientais que são as variações no espaço e no meio ambiente; E os socioculturais

que são as variaçõescomunsna forma de vivência dos residentes e visitantes

(SANTANA, 1997).

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Conclui-se que o surgimento de visitantes e o contato deles com os anfitriões

podem causar diversos efeitos e de certo o contato entre os visitantes e visitados

podem ocorrer em três contextos, sendo um deles o mais pertinente no balneário da

Barra do Chuí, pois os residentes possuem ocupações relacionadas ao turismo.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos com a prática do

estudo e os mesmos serão discutidos com o aporte teórico levantado após a revisão

bibliográfica.

Dos 85 respondentes, 37 residem no balneário em um período de até 10 anos;

38 residem de 11 a 30 anos e 10 residem em um período de 31 anos ou mais no

balneário. De acordo com a origem, 49 são brasileiros e 36 são uruguaios. De acordo

com a idade, 5 têm entre 18 e 25 anos; 8 têm entre 26 e 30 anos; 6 têm entre 31 a 35

anos; 8 têm entre 36 e 40 anos; 16 têm entre 41 e 50 anos e 42 têm entre 51 ou mais.

De acordo com o estado civil, 42 sãosolteiros; 30 são casados; 10 são divorciados e

3 são viúvos. De acordo com a escolaridade, 22 têm o ensino fundamental incompleto;

25 têm o ensino fundamental completo; 27 responderam têm o ensino médio completo

e 11 têm o ensino superior completo. A maioria dos residentes do balneário são

brasileiros, mas o número de residentes uruguaios é bastante considerável. A

comunidade receptora do balneário da Barra do Chuí tem características particulares,

assim como todas as comunidades fronteiriças.

Corroborando, Müller (2009) explica que a identidade daqueles que vivem em

regiões de fronteira é completamente singular, pois consegue sobressair as

nacionalidades ali difusas; as nacionalidades se confundem entre si e destaca-se

daqueles que visitam a região. A convivência entre os residentes de fronteira é

favorável, embora aconteçam contatos e relações sociais; os nativos fronteiriços se

entendem, buscam a satisfação das suas necessidades mesmo que isso implique na

invasão de territórios internacionais e inclusive criam novas normas para atender

articuladamente a demanda de suas comunidades.(MÜLLER, 2008).

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Tiveram residentes uruguaios que deram informações a mais, dizendo que

haviam conhecido o balneário por virem anualmente em visitas e outros inclusive

disseram que através dessas visitas foi que decidiram fixar residência no balneário, a

fim de progredirem economicamente, por se tratar de um balneário de fronteira, com

considerável número de fluxo. Dorfman (2008) confirma que a fronteira entre o Brasil

e o Uruguai é dotada de inúmeros tratados, sendo o principal deles o MERCOSUL,

que objetiva oportunizar estudos e trabalho para cidadãos de ambos lados da fronteira,

em um raio de 20km.

Tiveram também residentes uruguaios que informaram fixar residências no

balneário depois de conseguirem suas aposentadorias; concluíram seus comentários

dizendo que apaixonaram-se pelo balneário, depois de muito visitá-lo, durante anos,

nas temporadas de verão. No que se refere a migração dos uruguaios para o balneário,

logo após suas aposentadorias, temos a confirmação com os resultados obtidos,

sendo que metade tem 51 anos ou mais.

A acessibilidade nas fronteiras, despertou o interesse nos uruguaios para

prática do lazer, pois de acordo com Urry (2001) os balneários primeiramente eram

vistos para práticas de cunho medicinal, mas segundo Schossler (2010) a visão dos

balneários foi atualizada, agora vistos como lugares para praticar o lazer, praticar o

entretenimento e retornando ao objetivo anterior, também para restabeler energias.

De acordo com a ocupação, 16 trabalham em seus próprios lares; 24 são

autônomos (a); 18 são aposentados (a); 5 são domésticas; 11 são comerciantes; 4

são servidores públicos; 4 são estudantes e 4 têm sua renda mensal familiar

relacionadatão somente ao setor do turismo. Entre os que são do lar, 3possuem

também sua renda mensal familiar relacionada aos Meios de hospedagem; entre os

que são autônomos, 7 possuem também sua renda mensal familiar relacionada aos

Meios de Hospedagem e 1 possui renda mensal familiar relacionada aos Meios de

Hospedagem e Setor de A&B; entre os aposentados, 5 têm sua renda mensalfamiliar

também relacionada aos Meios de hospedagem; entre os comerciantes, 4 têm sua

renda mensal também relacionada aos Meios de hospedagem e entre os estudantes,

1 tem renda mensal familiar relacionada também aos Meios de hospedagem e 1 tem

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renda mensal familiar também relacionada aos Meios de Hospedagem e Setor de A&B.

No total, 22 respondentes têm renda mensal familiar relacionada ao setor do turismo.

Desses 22 respondentes, 12 são brasileiros e 10 são uruguaios. De acordo com a

renda mensal familiar 56 têm renda de até R$ 1.576,00 e desses, 37 são brasileiros e

19 uruguaios; 26 têm renda de R$ 1.576,00 até R$ 3.152,00 e desses, 11 são

brasileiros e 15 uruguaios; e 3 têm renda de R$ 3.152,00 até R$ 7.880,00, e desses,

1 é brasileiro e 2 são uruguaios. De acordo como número de pessoas que residem na

mesma casa que o respondente, 14 moram sozinhos, 61 moram com 2 a 4 pessoas

e 10 moram com 5 ou mais pessoas. .

Nas relações entre aqueles que visitam e aqueles que são visitados, existem

três diferentes contextos que devem ser estudados: a interação, a percepção e a

motivação. (SANTANA, 1997). Se tratando do primeiro contexto, a interação,

conseguimos estreitar a teoria com a categorização sobre as diversas formas de

contato com aquele que recebe e aquele que visita proposta pelo sociólogo

Krippendorf (2009).

Através dos resultados obtidos com a investigação, foi possível analisar as

quatro categorias entre os residentes do balneário: contato direto, indireto, parcial e

nenhum contato com o setor turístico, conforme suas ocupações

De acordo com a percepção dos residentes com os efeitos causados pelo

turismo, 54 percebem efeitos positivos, 9 percebem efeitos negativos, 7 percebem

ambos efeitos e 15 não percebem efeito algum. Entre os exemplos, após essa

pergunta, foram citados como efeitos positivos o fomento da economia no balneário,

a reciprocidade de vivências entre as distintas culturas (brasileira, uruguaia, argentina,

etc.), o fluxo do balneário na temporada de veraneio, dentre outros e como efeitos

negativos, a contaminação do ambiente, a inadimplência por parte dos visitantes, a

delinquência, e por vezes o conflito cultural.

De acordo com o bom recebimento dos visitantes por parte dos residentes do

balneário, o resultado foi integral. Os 85 respondentes investigados no estudo

afirmaram veemente que os visitantes são muito bem recebidos e não são de

nenhuma forma ofendidos. A justificativa dada pelos residentes, foi de que não haveria

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motivo para destrato dos visitantes, pois esclarecem que quando viajam também

gostam de serem bem recebidos, além disso, se mostram receptivos e entendem que

dependem dos visitantes para captação de lucro, tendo em vista que muitos têm suas

ocupações relacionadas ao setor turístico.

De acordo com o sentimento dos residentes para com os visitantes do

balneário, 83 são receptivos com os visitantes e 2 são indiferentes com o surgimento

e proximidade dos visitantes. De acordo com o índice de irritação turística que se

deparam os residentes frente ao desenvolvimento turístico do balneário, 81 estão no

nível de euforia e 4 estão no nível de apatia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o desenvolvimento da pesquisa, o objetivo geral e o específico

foram alcançados, embora o instrumento de pesquisa tenha sido um pouco menos

aprofundado como querido.

O tema proposto foi sobre a relação entre os visitantes e os visitados, ou seja,

os efeitos socioculturais, e por não ter uma perspectiva antropológica, ficou quase

imperceptível encontrá-los no levantamento de dados.

Em se tratando das hipóteses que foram criadas a partir de pressupostos de

senso comum, obteve-se uma refutada e a outra confirmada.

A primeira delas é que os residentes do balneário, jovens entre 18 e 25 anos,

demonstram mais receptividade do que os adultos e idosos, tendo em vista, a vida

social ativa, nos locais de lazer e entretenimento, de fato não condiz com os resultados

obtidos, pois a maioria dos residentes têm 51 anos ou mais e são bem receptivos; e a

segunda hipótese é que os residentes questionados no balneário têm

representatividade no nível da euforia, por se tratar ainda de um destino não

consolidado em virtude do baixo desenvolvimento turístico, e com certeza foi

confirmada, pois se obteve quase que o total dos residentes no nível da euforia.

A limitação mais pertinente foi não encontrar a metodologia exata utilizada por

Doxey na criação de sua escala de irritação turística, o que incentivou a criação de

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uma metodologia diferente, para poder chegar aos resultados da escala.

A pesquisa servirá de base para próximos trabalhos acadêmicos, sobretudo

poderá ser utilizada com outro enfoque.

REFERÊNCIAS

AZAMBUJA, Péricles. História das terras e mares do Chuí. Porto Alegre: Universidade de Caxias do Sul, 1978. 264 p. BARRETTO, Margarita.Turismo y Cultura. Relaciones, contradicciones y expectativas. Tenerife - España: Aca y Pasos, Rtpc, 2007. 176 p. Incluida bibliografía. BENI, M.C. Análise estrutural do turismo, São Paulo: Senac, 2001. 556 p. DIAS, Reinaldo. Sociologia do Turismo. São Paulo: Atlas, 2008.1.ed. 2 reimpr. DORFMAN, Adriana. Nacionalidade doble-chapa: novas identidades na fronteira Brasil-Uruguai. A emergência da multiterritorialidade: a ressignificação da relação do humano com o espaço. Porto Alegre, p. 241-270, 2008. Disponível em: <http://www.retis.igeo.ufrj.br/wp-content/uploads/2008-nacionalidade-doble-chapa-AD.pdf> Acesso em: 18 set 2015. ENKE, Rebecca Guimarães.O espetáculo do mar em uma estação balneária no Rio Grande do Sul: a vilegiatura marítima na Villa Sequeira/Praia do Cassino (1885-1960). Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-13012014-110207/pt-br.php> Acesso em 11 set 2015. FERREIRA, Lenize Rodrigues. Transformações na paisagem urbana de Santa Vitória do Palmar – RS: Relações sociais, políticas habitacionais e a produção da cidade.CaderNAU, v. 4, n. 1, 2014. Disponível em: <http://www.seer.furg.br/cnau/article/view/4744/2949> Acesso em: 04 set 2015. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. 4 ed. 173 p. KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do turismo: para uma nova compreensão do lazer e das viagens. São Paulo: Aleph, 2009.272 p. 3 ed. rev. e ampli. MIORIN, V. M. F; BARÉA, N. M. M. dos. Leituras de um território: A região peninsular do Rio Grande do Sul. UFSM – Universidade Federal de Santa Maria. XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRARIA. São Paulo, 2009, p. 1-21.

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112

Disponível em: http://www.geografia.fflch.usp.br/inferior/laboratorios/agraria/Anais%20XIXENGA/artigos/Miorin_VMF.pdf> Acesso em: 04 set 2015. MÜLLER, Karla M. Intercâmbios entre a cultura local e a cultura organizacional: a Binacional ACM/ACJ Fronteira.Anuário UNESCO/Metodista de Comunicação Regional, v. 12, n. 12, p. 177-190, 2008. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/AUM/article/viewFile/1023/1068> Acesso em: 02 set 2015. PÉREZ, X. P. Turismo Cultural. Uma visão antropológica.–El Sauzal (Tenerife. España): ACA y PASOS, RTPC. 307p. Incluida bibliografía. 2009. SANTANA, A. Antropologia do turismo: analogias, encontros e relações. São Paulo: Aleph, 2009.230p. SANTANA TALAVERA, A. Antropología y turismo: ¿nuevas hordas, viejas culturas?Barcelona: Ariel, 1997.221p. SCHÄFER, A.; LANZER, R.; STREHER, A. S. Características ecológicas das lagoas costeiras. Atlas Socioambiental dos municípios de Mostardas, Tavares, São José do Norte e Santa Vitória do Palmar. Caxias do Sul: EDUCS, p. 142-157, 2009. URRY, John. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. São Paulo: Studio Nobel/SESC, 2001. VEAL, Anthony J. Metodologia de pesquisa em lazer e turismo. Tradução: Gleice Guerra, Mariana Aldrigui. São Paulo: Aleph, 2011. 544 p. WALL, Geoffrey; MATHIESON, Alister. Tourism: change, impacts, and opportunities.Pearson Education, 2006.

TRAÇOS CULTURAIS DE UM POVO: OLHAR SOBRE

SANTA VITÓRIA DO PALMAR-RS

VARNIER, Nilton C. C. 14;RODRIGUES, Raphaella C. 15.

14Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Metrando em Turismo e Hotelaria do Programa de Pós Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – PPGTURH/UNIVALI. Bolsista CAPES/[email protected]. Link currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/129931048362154. 15Bacharela em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Metranda em Turismo e Hotelaria do Programa de Pós Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí –

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113

[email protected]

SILVA, Yolanda F. 16

[email protected]

Resumo:Sobre caminhos antropológicos e culturais, este material apresenta como

objetivo geral viabilizar a compreensão dos traços da cultura do município de Santa

Vitória do Palmar. Como objetivos específicos: reconhecer as peculiaridades histórico-

culturais dos campos neutrais, e posteriormente elencar elementos culturais do

extremo sul do Brasil, olhando sobre a dinâmica imposta a comunidade de Santa

Vitória do Palmar. Quanto aos procedimentos metodológicos, esta é uma pesquisa de

natureza básica, de abordagem qualitativa de abordagem exploratória, dotado de uma

essência etnográfica, por esta permitir o aprofundamento e imersão no contexto

cultural vitoriense. Obteve como resultados o reconhecimento das peculiaridades

culturais latentes, no contexto de formação histórico e cultural da região.

Palavras-chave:Cultura; Identidade; Santa Vitória do Palmar

1 INTRODUÇÃO

A cultura, percebida em seu amplo sentido etnográfico, é este todo complexo

que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra

capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade

(TYLOR ,1871). No final do século XVIII e início do seguinte, o termo germânico Kultur

era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade,

PPGTURH/UNIVALI, docente da Universidade Federal do Rio Grande – [email protected]. Link currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3975356974332385. 16 Doutora Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria,

[email protected]. Link currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5344296091176496.

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114

enquanto a palavra francesa Civilisation referia-se principalmente às realizações

materiais de um povo (LARAIA, 1932).

O sentido abrangente da palavra cultura permite sua interpretação sobre

diversos aspectos. A antropologia, ao tentar explicar este fenômeno, visa sistematizar

a realidade encontrada de forma global, buscando caminhos que permitam interpretar

e contemplar de fora (TYLOR, 1871; SANTANA, 2009). Desta forma, buscam na

cultura encontrar algum traço identitário – encontrar raízes, da realidade estudada.

De acordo com o conceito contemporâneo de identidade esta é móvel, forma-

se e transforma-se de acordo com condicionantes biológicos, geográficos e históricos,

como a memória coletiva. Ainda, a identidade está sujeita a mudanças e inovações e

depende em grande parte da relação com os outros. A identidade manifesta-se no

pertencimento a determinados grupos religiosos ou políticos, ou a papéis sociais,

como ser mãe ou ser professor, por exemplo (BARRETO, 2007).

Sobre caminhos antropológicos e culturais, este material apresenta como

objetivo geral viabilizar a compreensão dos traços da cultura do município de Santa

Vitória do Palmar. Partindo do princípio de que todas as culturas são fundamentadas

em um conjunto de crenças, pelas quais são compartilhados conhecimentos e ideias

sobre a natureza da vida (DIAS, 2006).

O município de Santa Vitória do Palmar está situado no extremo sul do país,

distante aproximadamente 500km da capital gaúcha Porto Alegre, fazendo fronteira

com o Uruguai, possui como estimativa populacional cerca de 31 mil habitantes, e sua

área territorial é de 5.244,353(km²), no qual a região está inserida no bioma pampa de

acordo com IBGE (2014).

A zona costeira atlântica municipal possui aproximadamente 220km de uma

praia arenosa ininterrupta além de grandes lagoas e zonas de banhado, sendo

considerado um valioso bem natural com importantes atributos ecológicos

(SEELIGER, 2004). O mineralogista alemão Guilherme Von Feldner (1810) descreve

uma passagem por este trecho de terra: “A mais triste arenosa borda do mar e o olho

do navegante procura inutilmente uma perspectiva em que descansado se possa

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recrear. Sem querer, sua vista se eleva ao céu e exclama: Deus! Que mísero deserto

de areias (1810)”.

Para o melhor entendimento da temática abordada neste material, foram

propostos dois objetivos específicos que são: reconhecer as peculiaridades histórico-

culturais dos campos neutrais, e posteriormente elencar elementos culturais do

extremo sul do Brasil, olhando sobre a dinâmica imposta a comunidade de Santa

Vitória do Palmar.

Esta pesquisa surgiu após alguns questionamentos, sobre como a antropologia

sistematiza e classifica a cultura. Assim, partimos do princípio de que cada cultura tem

suas próprias e distintas formas de classificar o mundo. É pela construção de sistemas

classificatórios que a cultura nos propicia os meios pelos quais podemos dar sentido

ao mundo social e construir significados. Há, entre os membros de uma sociedade

certo grau de consenso, sobre como classificar as coisas a fim de manter alguma

ordem social. Esses sistemas partilhados de significação são na verdade o que se

entende por “cultura” (WOODWARD, 2000).

Como breves resultados podemos compreender que os traços da cultura do

município de Santa Vitória do Palmar, estão intimamente relacionadas com as

condições de formação histórica, localização geográfica, estreitamento de laços

familiares e culturais com o Uruguai. As temáticas do gaúcho desta fronteira; A

fronteira e o centro de tradição gaúcha; O universo da pesca; A cultura do arroz; e a

Linguagem do povo fronteiriço serão brevemente abordadas.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este estudo está classificado quanto a sua metodologia como de natureza

básica, pois buscou a viabilizar a compreensão da cultura de Santa Vitória do Palmar.

Para isso adotou-se uma abordagem qualitativa (SAMPIERE; COLLADO,2013), por

esta permitir o aprofundamento e imersão no contexto cultural vitoriense. Esta

pesquisa quanto aos objetivos é vista como exploratória, pois buscou o

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reconhecimento das peculiaridades culturais latentes, no contexto de formação

histórico e cultural da região.

Sendo assim os procedimentos técnicos que viabilizaram a concretização

deste estudo foram: pesquisa bibliográfica, no qual optou-se por uma seleção

bibliográfica de autores locais, além da pesquisa documental, utilizada para

reconhecer sobretudo o processo histórico e político imposto ao então, Campo Neutro

entre colônias portuguesa e espanhola, desta forma, é ainda um estudo de caso

(DENCKER, 2004) do município gaúcho de Santa Vitória do Palmar – RS, com

essência etnográfica, por buscar a compreensão sobre a interferência dos

acontecimentos históricos nas pessoas daquela comunidade, no qual foi necessário a

inserção no contexto natural para acessar as experiências, e assim descrever o

sistema de significados culturais do local.

Quanto aos procedimentos técnicos que permitiram o entendimento da realidade

estudada, foi um diário de campo para registrar o comportamento e símbolos

identificados pelo pesquisador durante imersão no universo de pesquisa. Além disso,

foi utilizada a técnica da entrevista em profundidade com o Historiador local, e o

primeiro agrônomo do município. Para Veal (2011), a entrevista em profundidade tem

por características: ser conduzida com um número relativamente pequeno de sujeitos;

guiada por um roteiro de tópicos e não por um questionário formal; são gravadas e

transcritas; demoram pelo menos meia hora e podem se estender por diversas horas.

Foi selecionada uma amostra intencional, representada por uma comunidade

tradicional pesqueira do município e outra comunidade tradicional, gravando

entrevistas com habitantes de diferentes faixas etárias para identificação de

elementos típicos do povo da fronteira. A análise do conteúdo do diário de campo e

das entrevistas foi, nesta etapa exploratória, através dos elementos mais citados,

permitindo elencar características latentes manifestadas na comunidade sobre

aspectos históricos e culturais de Santa Vitória do Palmar, cujo contato constante

entre estes habitantes resultou em uma minimização de omissão sobre o fenômeno

observado, compondo a identidade cultural de Santa Vitória do Palmar (RODRIGUES,

2012; AZAMBUJA, 1992).

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para Nardi (2002), as realizações ou modificações que o homem opera

no mundo são o resultado, consciente ou inconsciente, material e não

material, de toda a atividade intelectual, psíquica e manual do homem

aplicado ao mundo e a ele mesmo. Trata-se de tudo o que se refere ao meio-

ambiente e à sociedade, ou seja, a organização social, econômica e política

que depende da cosmovisão, da ideologia e mais fatores (NARDI, 2002). Aqui

entram as produções e manifestações culturais. À ambas correspondem as

noções de cultura popular ou erudita.

As considerações creditadas à cultura humana e a todas as suas

formas de manifestação, não podem ser formuladas seguindo padrões e

concepções teóricas, métodos rígidos que seguem determinados padrões

(FONSECA; FERREIRA, 2013). Ainda para os autores, uma vez que, as

manifestações culturais devem ser analisadas dentro de um contexto

histórico e social dinâmico, cujos padrões e aspectos que as caracterizam

estão em constante mutação ao longo dos anos ultrapassando gerações.

Desta forma, é preciso, compreender o movimento dialético das sociedades

e dos diversos grupos sociais que a compõem (FONSECA e FERREIRA,

2013).

Assim, Nardi (2002) cita que cultura constitue um conjunto de

linguagens e representações, referentes ao real ou ao irreal, isto é, a

expressão da percepção do mundo e o imaginário. As produções citadas pelo

autor incluem artes plásticas, literatura, música, estudos, contos e lendas,

cozinha; as manifestações incluem as festas, cerimônias e religiões, os mitos,

símbolos e tabus. As ciências são outra forma de realização; correspondem

aos conhecimentos e às práticas consideradas aqui como saber técnico

(NARDI, 2002).

Adentrando o campo do pensamento filosófico Chauí (2006) cita Hegel e Marx:

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Foram Hegel e, depois Marx que enfatizaram a cultura como história. Para o

primeiro, o tempo é o modo como o Espírito Absoluto ou a razão se manifesta

e se desenvolve através das obras e instituições – trabalho, religião, artes,

ciências, filosofia, instituições sociais, instituições políticas. A cada período

de sua temporalidade, o Espirito ou razão engendra uma cultura determinada,

que exprime o estágio de desenvolvimento espiritual ou racional da

humanidade em uma sequência de civilizações que se iniciam no Oriente e

terminam no Ocidente – China, Índia, Egito, Israel, Grécia, Roma, Inglaterra,

França, Alemanha seriam fases da vida do Espírito ou da razão, cada qual

exprimindo-se com uma cultura própria e ultrapassada pelas seguintes, em

um processo contínuo. Para Marx, o espiritualismo ou idealismo hegeliano é,

evidentemente, inaceitável. A história-cultura não é o desenvolvimento da

vida do Espírito Absoluto, mas o modo como, em condições determinadas e

não escolhidas por eles, os homens produzem materialmente (pela divisão

social do trabalho e pela organização econômica) sua existência e dão

sentido a essa produção material. A história-cultura não narra o movimento

temporal do Espírito, mas as lutas reais de seres humanos reais que

produzem e reproduzem suas condições materiais de existência, isto é,

produzem as relações sociais, pelas quais se distinguem da natureza e

diferenciam-se uns dos outros em classes socais antagônicas. Por este

prisma, o movimento da história-cultura é realizado pela luta das classes

sociais para vencer formas de exploração econômica, opressão social e

dominação política.

Ainda para Nardi (2002), sintetizando, podemos dizer que a cultura é um

processo cumulativo de conhecimentos e práticas resultante das interações,

conscientes e inconscientes, materiais e não-materiais, entre o homem e o mundo, a

que corresponde uma língua. O autor ainda salienta que, é um processo de

transmissão pelo homem das realizações, produções e manifestações, que ele efetua

no meio ambiente e na sociedade, por meio de linguagens, história e educação, que

formam sua psicologia e suas relações com o mundo (NARDI, 2002).

Abordando a cultura nacional, esta é um agregado de subculturas diferenciadas

- havendo quase sempre uma dominante - e da “concultura” formada pelos traços

comuns entre as subculturas, ou seja, os contatos, a vida e a história em comum dos

povos que as constituem (NARDI, 2002). A noção de identidade nacional justapõe-se

então à cultural nacional assim considerada. Conseqüentemente, existe uma cultura

“multi” ou “transnacional” com as mesmas características, mas a um nível superior de

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unidade política ou social (NARDI, 2002). A cultura ocidental, por exemplo, é

constituída de subculturas européias, latino-americanas e norte-americana, sendo

esta a subcultura dominante.

Para Chartier (1992), durante muito tempo, a concepção clássica e dominante

da cultura popular teve por base, na Europa e, talvez, nos Estados-Unidos, três ideias:

que a cultura popular podia ser definida por contraste com o que ela não era, a saber,

a cultura letrada e dominante; que era possível caracterizar como "popular". Para

Nardi (2002), em todas as circunstâncias, e independentemente de seu nível escolar,

o homem pensa primeiro na língua que fala e é através desta que ele transmite seu

pensamento. Negada a possibilidade de expressão pela língua falada na sociedade -

porque não corresponde à língua de comunicação oficial - limita-se o pensamento

(NARDI, 2002).

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

A seguir serão apresentados os traços histórico-culturais dos Campos Neutrais;

O gaúcho desta fronteira; A fronteira e o Centro de Tradições Gaúchas; O universo da

pesca, A cultura do arroz; e a Linguagem do povo fronteiriço.

4.1 TRAÇOS HISTÓRICO-CULTURAIS DOS CAMPOS NEUTRAIS

Inicialmente, o território que abrangia o município de Santa Vitória do Palmar ou antigo

Campos Neutrais foi habitada por índios, estes que sofreram com advento do branco

conquistador considerável impacto que alterou profundamente sua antiga

originalidade. A etnia Chaná e posteriormente os índios Charruas predominaram neste

território os quais dominavam as técnicas equestres (AZAMBUJA, 1978).

Santa Vitória do Palmar está localizada em uma região que historicamente foi

alvo de disputa territorial entre portugueses e espanhóis. Localizada na antiga

província do Rio Grande do Sul, este local sofria com as divisões político

administrativas ainda em discussão, o que agregou características de uma fronteira

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móvel que servia como ponto de passagem e contato entre duas culturas, permitindo

com isso o estabelecimento de uma cultura de fronteira (Alves, 2011). De forma

resumida, se pode dizer que são aspectos essenciais da vida nesta fronteira a mistura

de línguas, o fluxo de identidades e o transporte de contrabando (BALDERSTON,

2003).

O território que hoje corresponde ao município foi inicialmente denominado “Campos

Neutrais”, o que significava território neutro, no qual nem espanhóis ou portugueses

poderiam ocupá-lo. Este acontecimento se deu a partir do estabelecimento do Tratado

de Santo Idelfonso, entre as coroas lusitanas e espanholas no ano de 1777 (ALVES,

2011; AZAMBUJA, 1978; MELLO,1992).

Este contexto de controvérsias e constantes disputas exerceu um papel

decisivo que marcaria as peculiaridades da formação histórica da região (ALVES,

2011). Meio a este processo de construção histórica, política, e geográfica, se dá a

formação de um povoado com traços culturais peculiares, influenciados pela condição

da vida no campo em plena fronteira, no qual a imensidão do pampa e a produção

pecuária, atraiam saqueadores e aterrorizavam as famílias que habitavam as

estâncias (RODRIGUES, 2012).

Santa Vitória do Palmar foi fundada no ano de 1855, o pequeno povoado até

então era composto por grandes estâncias de gado e ovelhas, e um pequeno núcleo

urbano (AZAMBUJA, 1978). O acesso terrestre ao restante do Brasil era complicado,

pois na época a viagem era feita em veículos de tração animal e dependia das

condições do tempo (RODRIGUES, 2012), podendo a viagem ao munícipio brasileiro

mais próximo perdurar por 10 a 15 dias para percorrer uma distância de

aproximadamente 235 quilômetros (AZAMBUJA, 1992).

Contudo o novo município possuía vias fluviais, que permitiam através da navegação

o acesso a Pelotas e a capital Porto Alegre em menor tempo, principalmente a Lagoa

Mirim que teve a primeira embarcação a vapor com linha regular em 1909

(AZAMBUJA, 1992).

Cabe mencionar que este território pouco habitado era inóspito, devido seu

isolamento geográfico ou proximidade com o Uruguai ou pela incidência climática que

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impõe a região invernos rigorosos. Estas condições favoreceram a formação de

núcleos familiares binacionais, no qual se observa em inúmeras famílias vitorienses

em alguma raiz uruguaia em seu tronco genealógico (RODRIGUES,2012).

Características desta região era a atribuição de uma “fronteira fictícia” que não

trazia entraves para a população das duas nações, permitindo o uso compartilhado

de serviços, como o caso de atendimento médico e sobretudo pela troca cultural,

materializadas no Theatro Independência em Santa Vitória do Palmar com a exibição

de peças e espetáculos de dança em português e em espanhol, quando a cidade de

Castillos no Uruguai chegou a ser apelidada por cidade gêmea de Santa Vitória do

Palmar (RODRIGUES, 2012; AMARAL, 2008).

Alguns anos depois, a atividade agrária expandiu por toda a extensão da lagoa

Mirim, com destaque para a alta produtividade de arroz, gerando uma cultura em torno

da atividade (AZAMBUJA, 1978). Com a evolução do município, a organização política

e administrativa trataram de instituir símbolos municipais como a bandeira e brasão.

O núcleo populacional do município de Santa Vitória do Palmar, mudou

significativamente ao longo dos anos. No início de seu povoamento a configuração

territorial era essencialmente rural, com a população estabelecida nas fazendas e

estâncias, sendo o núcleo urbano pequeno e pouco populoso (AZAMBUJA,1978).

O estabelecimento da cidade na fronteira ao longo do tempo permitiu crescimento do

núcleo urbano sobretudo na década de 1960, com a expansão agrícola que repercutiu

no aumento populacional de Santa Vitória do Palmar. Em meados da década de 1970

observou-se o crescimento da população urbana diminuição da população rural.

Porém, o grande aumento populacional urbano foi na década de 1980, no qual o

município obteve um acréscimo populacional de 10.000 habitantes (IBGE,2014).

Para melhor entendimento dos elementos culturais do extremo sul do Brasil,

cujo olhar está direcionado sobre Santa Vitória do Palmar - RS, a seguir apresentamos

recursos culturais manifestados no município, com o objetivo de viabilizar a

compreensão da cultura local, sobre seus aspectos histórico culturais. Os elementos

abordados nesta pesquisa foram: “O gaúcho desta fronteira”, “A fronteira e o Centro

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de Tradição Gaúcha”, “O universo da pesca”, “A cultura do arroz”, “Linguagem do povo

fronteiriço”.

4.1.1 O gaúcho desta fronteira

Suas raízes antropológicas estão registradas pelo advento da junção étnica de

culturas ibéricas e indígenas e sua relação com a vida pastoril na pampa (RIBEIRO,

2014). No Brasil, é representado por povos oriundos do sul do país ligados a vida

cotidiana no campo, ou ainda, marcado pelo orgulho de pertencer “a esta terra”, ou

seja, ao Rio Grande do Sul. A figura do gaúcho é representada pelo chimarrão, o

churrasco, o cavalo, a vida campeira e sobretudo pelo cultivo destas tradições.

Santa Vitória do Palmar frente sua formação histórica e cultural, fez com que o

gaúcho desta fronteira obtivesse características peculiares. Aqui destaque para o

gentílico dos gaúchos nascidos no município: “Mergulhão”. Este gentílico é um dos

elementos que representa a identidade cultural do vitoriense, adquirido pela curiosa

história que gerou o apelido, bem como pela figura peculiar do pássaro típico da região

de banhados.

Esta característica se assemelhou ao contexto da formação cultural do

município, no qual observou-se no hábito da população certo temor sobre os que se

aproximavam de suas propriedades, isto devido à vida difícil em um território inóspito,

denominado Campos Neutrais. Tentando resguardar-se do perigo, as famílias que

aqui viviam mudaram seus hábitos frente a qualquer aproximação, se escondendo até

averiguar se a situação era de perigo ou não.

O Biguá (Phalacrocorax brasilianus) ou Mergulhão como é conhecido

popularmente, é uma ave aquática com plumagem de cor preta quando adulto e

marrom escuro quando juvenil. Este pássaro mergulha em busca de peixes ou em

fuga de algo desconhecido, permanecendo bom tempo em baixo da água e

reaparecendo distante do local.

4.1.2 A fronteira e o centro de tradição gaúcha

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Visando cultivar as tradições, preservar e valorizar os costumes, zelar pela

autenticidade do traje gauchesco, do folclore e da cultura sul rio-grandense em todas

as suas manifestações, está o Centro de Tradições Gaúchas – CTG. As festividades,

rodeios, concursos e palestras ressaltam os valores da formação social, histórica e

musical do Rio Grande do Sul através dos CTG’s. Com o passar dos anos e gerações

modernas surgido, foi necessário que estes centros tradicionalistas, se flexibilizassem

quanto algumas restrições, a fim de, atender ao novos hábitos e costumes de uma

população urbana. A seguir imagem de um Mergulhão, vencedor do Rodeio

Internacional Mercosul (2014), uma atividade típica dos CTG, a “Gineteada”.

A maior manifestação cultural em Santa Vitória do Palmar é a cultura gaúcha,

possuindo três centros de tradição gaúcha, que no decorrer dos anos e com a

integração eminente entre brasileiros e uruguaios, surge à cultura deste “gaúcho

diferente”, um povo mais próximo da raiz gaucha. Como marca desta região estão os

campos propícios para a lida campeira, bem como, a produção de um gado de ótima

qualidade, tanto par corte como seu couro, fazendo com que este gaúcho da fronteira

viva as suas tradições cotidianamente.

4.1.3 O universo da pesca

Santa Vitória do Palmar é banhada pelas Lagoas Mirim e Mangueira e o pelo

oceano Atlântico, vias para a manifestação da cultura da pesca no município. A pesca

artesanal é a cultura manifestada na região, onde os pescadores fabricam suas cordas

e redes, desenvolvendo todo o trabalho da pesca.

As colônias de pescadores vêm sofrendo com a falta de suporte

governamental, uma vez que, respeitando a época de procriação dos peixes, muitos

deles, chegam a ficar cerca de seis meses em um ano sem pescar. Outra atividade

que prejudica a pesca artesanal no município, é a pesca predatória por embarcações

oriundas de outras localidades.

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A cultura da pesca manifestada diariamente pelo pescador através do

entendimento do tempo e das marés, a interferência da lua e dos ventos. Atualmente

o pescado e o produto oferecido ao consumidor pelos pescadores artesanais,

geralmente são: tainha, papa-terra, bagre, peixe-rei, traíra, entre outros. Onde o

mercado consumidor é a própria comunidade, já no litoral o fluxo de vendas aumenta

no verão, com a presença de turistas e do aumento populacional nos balneários. Se

a cultura pesqueira artesanal não for valorizada pode vir a desaparecer, pois a

renovação das gerações pesqueira não vem acontecendo, uma vez que, a atividade

tem se tornado inviável economicamente.

4.1.4 A cultura do arroz

O arroz está entre os cerais mais consumidos no mundo. O Brasil é o nono

maior produtor mundial, a maior produção brasileira é no Rio Grande do Sul. Santa

Vitória do Palmar é um dos maiores produtores de arroz do país (IBGE,2013), porém

somente parte deste processo é realizado no município.

O cereal é cultivado por meio de irrigação e beneficiado por diversas arrozeiras

locais, porém o produto é manufaturado fora, no qual a mão de obra local supri

serviços de forma sazonal e é caracterizada como de baixa especialização.

Os grandes produtores agrícolas que dão início ao processo de modernização

no campo, são de origem urbana, ou seja, não se desenvolve a ideia de modernização

no campo. Consequência disso, está no fato da maior parte do arroz produzido no

município pertencer a agricultores que gerenciam seus empreendimentos fora de

Santa Vitória do Palmar, são os granjeiros que incorporam a modernização e aumento

da produção agrícola (FERREIRA, 2009), resultado disso é que a cidade e sua

população é pouco beneficiada pela produção do arroz.

4.1.5 Linguagem do povo fronteiriço

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A linguagem verbal típica expressada pelo vitoriense é um traço marcante em

sua cultura, que permite compreender a integração deste povo com sua região. O

modo de falar está ligado a essência da vida humana, devendo ser reconhecida como

um bem cultural, representando valores que afirmam a identidade cultural do local, e

que aqui nos permite identificar um tipo de vocabulário próprio, chamado de

Mergulhonês uma espécie de glossário de palavras locais.

O contato direto com o povo uruguaio fez com que surgisse um estreitamento

de laços entre as culturas formando e dando origem a peculiar variedade

geolingüística desta região. O espanhol falado pelos uruguaios desta fronteira com

pronúncia forte e sotaque carregado, reflete no português do vitoriense, chiado e por

vezes ativo e reflexo, como exemplo a expressão “me dormi”.

Assim, a cultura do campo e os aspectos de formação histórico culturais do

município de Santa Vitória do Palmar somada a proximidade com o gaucho do

Uruguai, podem ser visualizadas em trechos do poeta local Newton Hugo Luíz Silva

(2010):

“Amigo campeiro!

Hoje quero te falar de um causo verdadeiro

Acontecido com um doutor que era fazendeiro

E que também já foi granjeiro

Mas agora é apenas um poeta galponeiro!”

“Tantos anos já passaram!

E até hoje não consigo esquecer!

Aquela noite triste que me fez sofrer!

Eu era um piazito bem campeiro!

Criado lá na zona do pastoreiro!

Sabia laçar e tirar couro de cordeiro!”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frente ao contexto histórico cultural em que se desenvolveu o município de

Santa Vitória do Palmar, foi possível notar que o traço cultural deste povo fronteiriço

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apresenta em sua essência a ligação com a lida no campo e influências de costumes

ligados a cultura uruguaia e do gaúcho, como será abordado no tópico a seguir

denominado reflexos culturais sobre o mergulhão.

A formação étnica da população está fundada sobre os índios guaranis e

charruas, portugueses e espanhóis (RODRIGUES, 2012). Além disso, é possível

destacar diferentes manifestações culturais que formam o perfil social e cultural do

vitoriense. A diversidade desta cultura é fortalecida pela presença de imigrantes

vindos de diferentes nações, como Itália, Holanda, Japão, entre outros, no qual o

negro e a cultura afro, até pouco tempo era descriminada (AZAMBUJA, 2001).

Compreendemos que os traços da cultura do município de Santa Vitória do Palmar,

estão intimamente relacionadas com as condições de formação histórica, localização

geográfica, estreitamento de laços familiares e culturais com o Uruguai.

Recomendamos que este material seja aprimorado e formatado de modo que

possa ser destinado as bibliotecas do município e instituições de ensino, educação e

cultura de Santa Vitória do Palmar, para fomentar e possibilitar a inserção do tema

estudado de forma transversal e interdisciplinar de maneira acessível e ilustrada.

REFERÊNCIAS

ALVES, F. das N. Turismo, fronteira & cultura. Santa Vitória do Palmar: Universidade Federal do Rio Grande, 2011. AMARAL, A. F. O porto mais meridional do Brasil: sua história e significado. Santa Vitória do Palmar: Liberal, 2008. AZAMBUJA, P. História das Terras e Mares do Chuí. Universidade de Caxias do Sul: Porto Alegre, 1978. AZAMBUJA, P. Santa Vitória: um município do prata. Santa Vitória do Palmar: Jerivaçu,1992. AZAMBUJA, P. Tahim, a Última Divisa. Stillus Artes Gráficas: São Paulo, 2001. BALDESTON, D.; Y DEL URUGUAY, fronteras del Brasil. Gaúchos da Fronteira: Uruguai e Rio Grande Do Sul Na Obra De Borges. IN: MOREIRA, M. E. HISTÓRIAS

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O OLHAR DOS VISITANTES SOBRE A CIDADE DE PELOTAS/RS

SONDA, Milena Paula Sonda17 [email protected]

HALLAL, Dalila Rosa 18 [email protected]

17Bacharel em Turismo pela UFPel. 18Professora do Curso de Turismo. Faculdade de Administração e de Turismo. Universidade Federal de Pelotas.

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Resumo: O presente artigo tem como objetivos analisar a visão dos visitantes sobre Pelotas e os pelotenses; e verificar os motivos da visita.O olhar do visitante, do turista, reflete a imagem da cidade. Para atingir os objetivos do trabalho, foram realizadas 23 entrevistas com visitantes que estavam em Pelotas no período de 23 de maio á 03 de junho do ano de 2016.Verifica-se que Pelotas sob o olhar dos visitantes é cultura, história uma cidade que remete ao passado. Quanto aos pelotenses os viajantes o consideram hospitaleiros e acolhedores, e também o contrário, fechados e reservados e esnobes.

Palavras-Chave:Olhar; Visitante; Pelotas.

1 INTRODUÇÃO

Uma das maiores motivações da viagem é, sem dúvida, o destino, sendo a

imagem deste destino uma percepção mental que se tem de um dado sítio e não

apenas uma representação visual do lugar (GARROD, 2008).

Para Boullón (2002, p. 189) as cidades são ambientes criados pelo homem,

portanto um espaço cultural, cujo objetivo é a vida em sociedade. Castrogiovanni

(2001, p. 23) compreende as cidades como uma representação fiel dos

"macromovimentos sociais", entendendo as cidades como "um recorte do mundo,

onde independentemente de suas dimensões ou relevância regional, vibram e

transformam-se de acordo com as necessidades e solicitações das políticas e

movimentos sociais locais, atrelados aos universais". Isso explica as singularidades

de cada cidade por ser um ambiente criado e construído pelo homem. Para Boullón

(2002) homens diferentes construíram cidades diferentes, conforme suas

necessidades e características naturais do local. Nesse sentido, as cidades devem

ser compreendidas como representações das condições humanas, que são

representadas na arquitetura e na ordenação dos elementos urbanos, desta forma

deixando testemunhos na paisagem de tais espaços. (CASTROGIOVANNI, 2001, p.

23).

As cidades, cada uma com suas características e especificidades tornam-se

possíveis destinos turísticos para o visitante, para o turista que ao se depararem com

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uma paisagem cheia de simbolismo e códigos, muitas vezes se sentem agredidos e

ao mesmo tempo motivados a decodificar esta paisagem.

Na literatura sócio-antropológica sobre turismo este é definido, regra geral,

como uma prática social que envolve o corte com rotinas estabelecidas do dia-a-dia,

representando assim uma ruptura no quotidiano cujo propósito é, antes de mais,

experienciar algo de extraordinário (URRY, 1990). O turismo insere-se no campo mais

vasto do lazer, na sua oposição definidora com o trabalho. Mas, para além das

diferentes ocupações dos atores envolvidos, existe também uma diferença cultural

que supostamente seria o catalisador dessa experiência extraordinária. Ou seja, as

diferentes culturas e diferentes ocupações definem, à partida, aquilo que caracteriza

o turismo (COHEN, 1979).

Desse modo, torna-se importante analisar o olhar do visitante, do turista, pois

é a partir desse olhar que a imagem da cidade em questão se forma. O olhar do turista

é primordial, pois tudo que envolve o entorno, como a paisagem, infraestrutura desde

saúde, segurança, trânsito, alimentação, saneamento básico, comunidade, dentre

outros, reflete como o turista enxerga aquela cidade.

Para Urry (1990), o olhar turístico é construído através da diferença, em relação

ao seu oposto, a formas não-turísticas de experiência social. O olhar turístico não é

uma atividade meramente individual, é socialmente organizado, na medida em que há

profissionais que ajudam a construir e desenvolver o nosso olhar enquanto turistas,

através dos guias turísticos, da publicidade, dos media ou da literatura de viagens. A

atração turística envolve, portanto, processos complexos de produção, em que

olhares turísticos são gerados e sustentados. As pessoas têm de aprender como e

para onde olhar.

O olhar do turista modificou conforme os anos foram passando, os diferentes

grupos sociais, estado espiritual e até o momento histórico em que vivem fazem

interferências de como enxergar a localidade. Cada pessoa possui uma opinião sobre

o lugar, sendo que não é o certo e nem errado, mas naquele momento para ela que

está vivenciando aquilo, é a melhor forma de reconhecer (DORNBUSCH, 1998). O

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olhar é feito para ver certas coisas, porém para não ver outras. Berger afirma que

“somente vemos o que olhamos. E olhar é um ato voluntário” (BERGER, 1974, p.14).

O presente artigo tem como objetivos analisar a visão dos visitantes sobre

Pelotas e os pelotenses; e verificar os motivos da visita.

Para Souza (1995), a imagem da cidade vai sendo construída ao mesmo tempo

que a própria cidade vai passando por transformações estruturais, para seu

crescimento. Os aspectos vistos e vividos pelos visitantes em uma cidade, país ou

nas próprias culturas dos povos é o que realmente atraiu o olhar.

A pesquisa configura-se como descritiva e abordagem será qualitativa. Para a

coleta dos dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas em locais que

costumam ser frequentados por visitantes.

Foram realizadas 23 entrevistas com visitantes que estavam em Pelotas no

período de 23 de maio á 03 de junho do ano de 2016. Para a realização das mesmas,

alguns locais com maior movimentação de turistas foram escolhidos, tais como: Praça

Coronel Pedro Osório a qual possui alguns casarões que pertenceram a antigos

charqueadores, museu, biblioteca pública, teatros e a Prefeitura Municipal (PELOTAS,

2016); Museu da Baronesa, no qual encontramos toda nobreza das famílias que

viveram em Pelotas no século XIX e XX (PELOTAS, 2016); Mercado Público, no

mesmo podemos encontrar algumas confeitarias e lojas do comércio pelotense; e a

Feira Nacional do Doce (FENADOCE), a qual estava sendo promovida pela Câmara

de Dirigentes Lojistas (CDL) durante o período de aplicação das entrevistas.

2. PELOTAS SOB O OLHAR DOS VISITANTES

“A maneira de olhar e a construção de uma paisagem estão interligadas. As

duas possuem uma grande proximidade, sendo indispensável para a compreensão

de uma com a outra. Ver é conseguir perceber a paisagem, conseguir ter o próprio

ponto de vista” (NOBREGA,2013, p.54). “Sendo assim, a paisagem se constrói

solidamente quando conseguimos tirar quando conseguimos limitar o olhar e o mesmo

vai recortando o espaço que está na volta” (DIAS, 2006, p. 125).

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Cada pessoa enxerga de uma forma aquilo que está olhando. Cada olhar

diferente é influenciado por vários fatores, sendo uns dos principais, o período em que

vivemos, o grupo em que se está inserido, as pessoas que estão te rodeando. Sendo

assim, cada turista enxerga aquilo que quer ver, sendo destacada a paisagem

individualizada, sendo delimitada pelo olhar, enquanto conhece a cidade com o seu

próprio tempo (MELO e CARDOZO, 2009, p.78).

A cada instante há mais do que os olhos podem ver, do que o olfato pode sentir ou do que os ouvidos podem escutar. Cada momento é repleto de sentimentos e associações a significados, portanto, há uma constante construção de significações. A cidade é o que é visto, mas mais ainda, o que pode ser sentido. (CASTROGIOVANNI, 2001, p. 25)

Isto porque uma cidade é muito mais do que simplesmente os olhos podem ver

é preciso conhecer profundamente sua história para que se possa ver as cidades com

verdadeiros "olhos de ver", não ver simplesmente suas formas, mas o que estas

formas representam e representaram para uma determinada sociedade em um

determinado período de tempo. (FERNANDES; CARDOZO e MAGANHOTTO, 2008,

s/p)

O visitante ao decidir por uma localidade como sua destinação turística é

influenciado por diversos fatores, que transformam a atividade do turismo em algo

complexo, entre os fatores destaca-se a contemplação e o imaginário coletivo, a mídia

de uma forma geral que valoriza e repassa ao seu usuário informações sobre

destinações turística, que afetam diretamente os turistas, desenvolvendo suas

motivações.

Pelotas é um município da região sul do estado do Rio Grande do Sul - Brasil.

A cidade localiza-se à 250 km de Porto Alegre (capital do Estado), 135 km da fronteira

com o Uruguai e 600 km com a fronteira da Argentina (PELOTAS, 2016).

A primeira referência histórica do surgimento do município data de junho de

1758, através da doação que Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, fez ao

Coronel Thomáz Luiz Osório, das terras que ficavam às margens da Lagoa dos Patos.

Fugindo da invasão espanhola, em 1763, muitos dos habitantes da Vila de Rio Grande

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buscaram refúgio nas terras pertencentes à Thomáz Luiz Osório. A eles vieram juntar-

se os retirantes da Colônia do Sacramento, entregue pelos portugueses aos

espanhóis em 1777, cumprindo o tratado de Santo Ildefonso assinado entre os dois

países. (PELOTAS, 2016).

Em 1780, instala-se em Pelotas o charqueador português José Pinto Martins.

A prosperidade do estabelecimento estimulou a criação de outras charqueadas e o

crescimento da região, dando origem à povoação que demarcaria o início do município

de Pelotas. Com o sucesso desta indústria, os charqueadores, dispondo de duas

estações amenas, construíam palacetes para suas habitações e promoviam a cultura

e a educação, no ambiente urbano, exemplificado pela inauguração do Teatro Sete

de Abril, em 1831, quatro anos antes de Pelotas ser elevada à condição de cidade.

(PELOTAS, 2016).

A Freguesia de São Francisco de Paula, fundada em 07 de Julho de 1812 por

iniciativa do padre Pedro Pereira de Mesquita, foi elevada à categoria de Vila em 07

de abril de 1832. Três anos depois o Presidente da Província, Antônio Rodrigues

Fernandes Braga, outorgou à Vila os foros de cidade, com o nome de Pelotas,

sugestão dada pelo Deputado Francisco Xavier Pereira. O nome originou-se das

embarcações de varas de corticeira forradas de couro, usadas para a travessia dos

rios na época das charqueadas. (PELOTAS, 2016).

Muitos visitantes que estiveram em Pelotas e escreveram seu olhar sobre a

cidade. Segundo o historiador Magalhães (2000, p. 13), o relato de Luccock constitui-

se no depoimento mais antigo encontrado sobre a cidade de Pelotas. Ele foi escrito

às vésperas de a localidade ser elevada à Freguesia de São Francisco de Paula. Em

sua passagem pela “Fazenda de Pelotas”, o viajante inglês chama a atenção para a

presença das charqueadas, pois sua presença na região ocorrera apenas trinta anos

após ter sido estabelecida a primeira delas às margens do arroio Pelotas

(MAGALHÃES, 2000, p. 13).

[...] Uma grande extensão de terras é ali designada pelo nome de charqueadas, sendo famosa pela sua produção luxuriante e pelo seu gado numeroso e nédio. Vêem-se casas disseminadas por ali, muitas delas

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espaçosas e algumas com certas pretensões ao luxo; existem capelas anexas a muitas delas e em volta de uma encontra-se tamanho número de habitações menores que o conjunto bem merece o nome de aldeia. A denominação de charqueadas provém do charque que esse distrito prepara e exporta. Uma vez morto e esfolado o gado, arranca-se a carne dos flancos numa só peça larga, algo de semelhante a um pano de toucinho; salpica-se em seguida ligeiramente com sal, e seca-se ao sol. Nesse estado, constitui o alimento vulgar dos camponeses das partes mais quentes do Brasil, não sendo nada de se desprezar e, como se conserva por longo tempo, constitui excelente provisão de bordo, suportando transporte para distantes regiões do mundo. (LUCCOCK, 1951, p. 141-142 apud MAGALHÃES, 2000, p. 10-11)

Os charqueadores vendiam o charque com alto custo, acumulando fortunas.

Assim construíam os primeiros casarões em moldes europeus, promoviam a cultura e

educação. Em períodos fora da safra começavam a existir melhores condições para

a dedicação ao lazer dos cidadãos pelotenses, e estas eram provenientes

principalmente pelo acúmulo de capital das charqueadas. O constante contato com a

Europa através da exportação do charque, cujos navios transportadores retornavam

com os mais variados produtos e objetos, permitiu que a sociedade pelotense

desenvolvesse práticas semelhantes àquelas que estavam presentes apenas nos

modernos países europeus.

Junto com o charque os doces começaram a surgir, porém é difícil definir

quando os doces começaram em Pelotas. Sabe-se que sua origem teve influência de

Portugal, onde sua produção era intensa. Os doces foram introduzidos pelos

portugueses por volta do início do século XIX e em Pelotas aproximadamente na

década de 1860, quando começou o período de apogeu do município de Pelotas.

(SILVEIRA, 2016)

Os saraus, companhias teatrais e as recitas musicais, tinham programações

praticamente diárias no interior da arquitetura grandiosa de prédios e casarões. Os

doces eram servidos nos intervalos destes saraus envolvidos em papéis de seda

rendados e franjados. Sua produção era realizada de maneira caseira pelas mulheres

e suas mucamas. Como existiam rigorosas regras de etiqueta na época, muitas

atividades não poderiam ser desenvolvidas ao ar livre; as mulheres passaram então

a praticar hábitos caseiros, com reconhecido destaque na culinária, bordado, música

e pintura. (PELOTAS, 2016)

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Outro fato que também contribuiu para a grande produção e consumo de doces

em Pelotas foram as próprias charqueadas. Conforme Magalhães, (2001), a

sociedade pelotense procurou “apagar” sua imagem rústica vinculada ao charque

através da adoção de requintados costumes. Neste contexto é que o doce se insere,

embora não como protagonista principal, pois a economia estava baseada nas

charqueadas.

A partir da década de 1920, passou-se a divulgar comercialmente em todo o

Brasil a tradição doceira que até então estava somente no interior dos casarões. Nesta

mesma época, os imigrantes alemães, pomeranos e franceses que viviam em Pelotas

passaram a cultivar frutas de clima temperado − principalmente o pêssego − na região

colonial de Pelotas. Esta, e demais frutas, começaram a serem comercializadas ao

natural e também na forma de doces, geleias, conservas e pastas. Os processos que

envolveram o açúcar e o sal foram complementares para o progresso econômico e

cultural de Pelotas. Embora a indústria local de doces e conservas ainda não tenha

recuperado o desenvolvimento registrado no município entre 1860 a 1890, esta é uma

tradição a qual faz parte da formação da identidade histórica da cidade que continua

sendo estimulada em grande escala por todos.

O município tem tradição na cultura do pêssego e aspargo. A produção do leite

é o grande destaque na pecuária, constituindo a maior bacia leiteira do Estado.

Pelotas apresenta um comércio ágil e diversificado com serviços especializados e

empresas de pequeno, médio e grande porte. (PELOTAS, 2016).

Pelotas conta com instituições de ensino superior, escolas técnicas, dois

teatros, uma biblioteca, vários museus, jornais de circulação diária, emissoras de

televisão, aeroporto e porto flúvio-lacustre localizado às margens do Canal São

Gonçalo. (PELOTAS, 2016)

As zonas urbana e a rural de Pelotas contam com monumentos, paisagens que

levaram a televisão brasileira a escolher o município como cenário para suas

produções: “Incidente em Antares”, cuja locação foi feita na zona do porto; “A Casa das

Sete Mulheres”, gravada numa charqueada na zona rural, e o filme “O Tempo e o Vento”,

cujas filmagens ocorreram no fim de abril de 2012 (PELOTAS, 2016).

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Pelotas dispõe de patrimônio cultural, que pode ser comprovado através dos

exemplares arquitetônicos e das diversas edificações tombadas ou inventariadas

como patrimônio histórico e cultural. Pelotas é patrimônio histórico e artístico nacional

e patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul. Seu belo patrimônio cultural

arquitetônico, de forte influência européia, é um dos maiores de estilo Eclético do

Brasil, em quantidade e qualidade, com 1300 prédios inventariados. No ano de 2006,

Pelotas foi eleita, pela Revista Aplauso, como a cidade "Capital da Cultura" do interior

do estado. (PELOTAS, 2016)

Conforme o relato de uma turista em um blog

http://www.imagensviagens.com/br5_pelotas.htmde viagens, Pelotas sempre esteve

entre as primeiras cidades a ser explorada pelo turismo.

Muito antes de surgir a fama de Porto Alegre ou de falarem tanto nos encantos de Gramado, antes das missões de Santo Ângelo se tornarem patrimônio universal ou dos rochedos de Torres virarem badalados points turísticos, enfim muito antes de tudo que hoje é procurado pelos turistas no sul, Pelotas já estava lá, ocupando uma posição de destaque como centro econômico e cultural do sul do país. E na esteira deste sucesso vieram palacetes, mansões, teatros, e belas histórias que merecem ser contadas e preservadas.

Assim, o interesse que determinado destino turístico desperta nos turistas pode

ir mudando de foco ao longo da história, atualmente, parece se firmar na ideia central

de que Pelotas é uma cidade histórica, que se destaca não só pelas suas

características culturais, mas também por fatores econômicos e sociais.

Quanto aos visitantes entrevistados, 15 são do gênero feminino (65%) e 8

(35%) do gênero masculino, totalizando 23 entrevistados.

Do total de visitantes, 8 entrevistados (35%) têm entre 15 a 25 anos, 8 pessoas

(35%) de 26 a 35 anos, 4 pessoas (17%) de 36 a 45 anos, 2 pessoas (9%) entre 56 a

65 anos e 1 pessoa (4%) de 46 a 55 anos.

Os visitantes que estavam em Pelotas no período de entrevistas eram

provenientes de várias localidades, porém a maior parte era do estadodo Rio Grande

do Sul, alguns visitantes são do Uruguai – UY, apenas um visitante do estado de São

Paulo (SP) e outro de Santa Catarina (SC).

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A presença significativa de uruguaios se dá pelo fato de ser um dos países

fronteiriço com Pelotas, sendo apenas á 135 km de distância da cidade (PELOTAS,

2016, s.p).

Os entrevistados foram questionados se já haviam visitado Pelotas em alguma

outra ocasião, ou se era primeira vez na cidade. Do total, 18 (78%) relatam que já

conheciam a cidade e 5 (22%) estavam visitando Pelotas pela primeira vez.

Quanto aos motivos da vinda a Pelotas, alguns entrevistados salientaram que

vieram para a Feira Nacional do Doce – FENADOCE, evento que estava ocorrendo

na cidade no período da coleta de dados.

Em Pelotas, é realizada a Feira Nacional do Doce, festa de eventos ancorada

pelos tradicionais doces de origem portuguesa. Criada no ano de 1986 era realizada

a cada dois anos em lugares diferentes na cidade, em 1998, a feira tornou-se anual e

ganhou endereço fixo: O centro de eventos Fenadoce, o qual encontra-se próximo ao

principal trevo de entrada do município (FENADOCE, 2016).

Hoje a Fenadoce atrai mais de 300 mil pessoas, sendo visitantes de fora, tanto

do país quanto do Mercosul (FENADOCE, 2016). Durante esses dias as doceiras tem

a oportunidade de mostrar, os doces que possuem contribuições italianas, alemães,

francesas e africanas, além disso, da zona urbana com os doces finos ou de bandeja,

e da rural com os coloniais e de frutas (PELOTAS, 2016)

Os dados encontrados reforçam as colocações de Beni (2003) que ressalta que

os eventos realizados são responsáveis por grande parte da composição do produto

Turismo, e possui uma grande responsabilidade de captação, organização e

planejamento de algumas atividades específicas. Os eventos possuem em si uma

função de aumentar o tempo de permanência do visitante no local visitado, além de

diminuir a sazonalidade da atividade do Turismo naquele local.

Para o autor os eventos que são realizados nas cidades têm uma grande

importância para os locais. As feiras, festas ou congressos movimentam milhares de

pessoas para realizar algum tipo de negocio, buscar conhecimento, além de saciar a

curiosidade de conhecer novas culturas e novas aventuras. (BENI, 2003)

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Porém, outros entrevistados relatam que o motivo da visita é encontrar

familiares ou amigos. Um dos entrevistados diz que veio a Pelotas conhecer o local

de moradia de um familiar, como podemos perceber no relato do entrevistado A: “O

motivo da minha visita na cidade é conhecer o local da residência de minha irmã”. O

entrevistado B comenta que o motivo de sua visita à cidade é visita a amigos e

parentes.

O Brasil possui muitos viajantes fazendo o turismo doméstico, que nada mais

é a viagem dentro do próprio país. Em 2011 segundo o siteDados e Fatos constatou

que muitos brasileiros viajam para cidades já conhecidas, pois possuem algum vinculo

familiar ou de amizade. Dessa forma, podemos constatar que as entrevistas

realizadas em Pelotas corroboram com a realidade brasileira, sendo que as viagens

até a cidade são feitas para reencontrar familiares e amigos.

Outro motivo salientado pelos turistas para a vinda á Pelotas é pelo fato da

cidade ser um polo educacional, possuindo duas grandes universidades, sendo uma

federal e outra particular. Uma reportagem destaca esse aspecto da cidade de

Pelotas.

Conforme o site Clic RBS (2016) a grande tradição no mundo acadêmico a

Universidade Federal (UFPel) e a Universidade Católica (UCPel) juntas, representam

um dos principais pólos de ensino do estado e o maior da região sul. As duas

universidades, somadas, possuem mais de 24 mil estudantes matriculados nos cursos

de graduação. Em função disso, a cidade possui uma grande movimentação e

importância com as universidades locais. Sendo assim, a cidade acaba tendo uma

grande migração de novos jovens. Na maioria das vezes, esses jovens são de

municípios vizinhos, em outras, estudantes de outros estados mudam sua rotina de

vida para fazer faculdade em Pelotas.

Os visitantes descrevem Pelotas como uma grande cidade em relação a sua

população, rica em cultura, patrimônio e em história:

“Pelotas é uma cidade histórica, onde há museus, charqueadas, onde há

pessoas de vários lugares estudando nas Universidades da cidade e por

Pelotas ser a cidade da FENADOCE. (entrevistado B)”

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“É uma cidade rica em patrimônio histórico e sobre a praia de água doce

(entrevistado C)”

Aqui podemos perceber que o olhar desses visitantes sobre Pelotas é

compartilhado e reforçado pela mídia, quando destaca que Pelotas possui um

grandioso patrimônio cultural, o qual pode ser comprovado através de exemplares

arquitetônicos e das diversas edificações tombadas ou inventariadas como patrimônio

histórico e cultural. A cidade possui um belo patrimônio cultural arquitetônico, de forte

influência da Europa, é um dos maiores de estilo Eclético do Brasil (PELOTAS, 2016,

s/p). As belezas naturais da região soma-se com os belos e grandiosos casarões, os

quais são de um forte período de opulência e glória do ápice da economia de Pelotas

(IPHAN, 2016).

Os relatos destacam a importância patrimonial e cultural de Pelotas, o que

segundo o site Clic RBS (2016) está atrelada à existência de casarões e seus

elementos decorativos neoclássicos misturados ao gótico, remetendo a um ecletismo

que embeleza a cidade. Além disso, as charqueadas, os monumentos, os tesouros

arqueológicos, e as suas tradições, elencam um conjunto de elementos evidenciados

por um anexo de riquezas e grande valor patrimonial. Alguns elementos decorativos

representam verdadeiras obras de arte associadas às edificações, como pinturas

murais, mosaicos, escaiolas, elementos de marcenaria, forros decorados, vitrais,

esculturas, lustres, ou seja, bens culturais integrados que representam ressonância e

significância social. (CLIC RBS, 2016)

Quanto a praia de agua doce, o município localiza-se ás margens do Canal São

Gonçalo e possui a praia do Laranjal a cerca de 12 km do centro da cidade, é um dos

pontos turísticos principais, é banhada pela Lagoa dos Patos e possui belas paisagens

(PELOTAS TURISMO, 2016).

Além da praia e casarões, os turistas também mencionaram que Pelotas é um

grande município em relação a quantidade de habitantes e que já possuiu um centro

comercial importante pela produção do charque.

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“É um dos maiores municípios do estado em população e um dos mais antigos.

Durante muito tempo foi importante pólo comercial para o estado por conta da

produção de charque (entrevistado C)”

Pelotas possui uma população de 342.873 habitantes, dessa forma sendo a

terceira cidade mais populosa do estado. A mesma é predominada pelas etnias

portuguesa, alemã, italiana e franceses. (PELOTAS, 2016).

A grande expansão das charqueadas fez com que Pelotas fosse considerada a

capital econômica da província. O destaque do charque na economia do município fez

a riqueza de Pelotas em tempos passados.

Os charqueadores começaram a transferir-se, se fixando na cidade de Pelotas

e aqui construindo seus palacetes para residirem, nos quais ate hoje presenteiam a

cidade com suas belezas arquitetônicas. (DOCES DE PELOTAS, 2016)

Quando se referem à comunidade local, os visitantes relatam que os pelotenses

são muito simpáticos, receptivos além de prestativos e acessíveis. Muitos

entrevistados julgam o povo extremamente educado e com orgulho de suas tradições:

“os pelotenses são receptivos” (entrevistado A); “Os mesmos são simpáticos e

prestativo” (entrevistado B), já o entrevistado C fala que “a população em geral é

educada e possuem orgulho de seus costumes”.

Desde o inicio da história de Pelotas, quando os charqueadores cediam as suas

casas para a hospedagem de visitantes, todos elogiavam a hospitalidade dos

senhores, como podemos ver abaixo alguns relatos de viajantes do século XIX:

Chegou hontem o Dr. Assis Brazil. S. Ex. hospeda-se na residência do Dr. José Gonçalves Chaves, onde lhe foi offerecido um jantar íntimo. (CORREIO MERCANTIL - C.M., 14.08.1904) Em 1885 com a princeza e nossos filhos, tive novamente o prazer de gozar da brilhante hospitalidade do digníssimo visconde de Piratinim (...), assim como de todas as attenções que sempre pressurosos nos prodigalizáram com o maior cavalheirismo seus distinctos sobrinhos, senhores Ribas. (D’EU, 1935, p. 218)

Muitos dos visitantes comentaram durante as entrevistas que Pelotas é uma

das cidades mais hospitaleira do Rio Grande do Sul. Assim, desde o século XIX ate a

atualidade os viajantes destacam a hospitalidade do povo pelotense.

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Contudo, alguns visitantes ressaltam que os cidadãos pelotenses são fechados

e reservados, não dando abertura aos outros que querem se inserir no meio em que

estão, conforme os relatos a seguir:

“São fechados, reservados. Acredito que isso se dá em virtude da urbanidade em que a grande maioria possui prazos para tudo. Se vê pelas ruas geralmente pessoas com pressa e que, por isso, talvez não sejam tão abertas ao próximo. Contudo, por ser uma cidade universitária, Pelotas atrai vários tipos de jovens que criam um cenário cultural onde é “permitido” e possível a integração entre as pessoas (entrevistado A).”

“Como em todos os lugares, existem diversos tipos de pessoas, e em Pelotas não é diferente. De modo geral o Pelotense é amável e solícito, mas existe muito esnobe também (entrevistado B).”

Os visitantes mencionam a beleza das praças, praia, do mercado público e do

centro histórico em geral.

“Conheci os teatros, museus, praças e patrimônios da cidade, que por sua vez, nos remetem à reflexões sobre o passado e nos instigam a querer entender a história da cidade. A vida acadêmica, que ao meu ver, está muito presente na vida da população também, devido ao grande número de instituições de ensino existentes no município (entrevistado C).”

Assim, os visitantes valorizam a história e o patrimônio de Pelotas, quando

relataram sobre os museus, os casarões, a praça, as charqueadas, os doces e a vida

acadêmica.

Podemos perceber que em geral muitos dos visitantes vieram para Pelotas em

função do seu patrimônio, o que para alguns autores se configura como turismo

cultural. “O patrimônio cultural é a essência do turismo cultural, a grande motivação

para o deslocamento dos turistas e capital cultural valioso para as comunidades”.

(DIAS, 2006, p. 46 - 47)

Outros entrevistados evidenciam o amor que têm pela cidade, falando de

alguns costumes regionais e de relações que mantem aqui:

“Não consigo descrever situações específicas, mas amo estar na cidade, adoro sair e tomar um chimarrão pelas praças ou na lagoa, comer alguma coisa pelo Cruz de Malta e reunir amigos pra uma boa conversa em algum bar da cidade (entrevistado B).”

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Podemos perceber que os visitantes entrevistados se identificam com o estilo

de vida em Pelotas, gostam de estar em Pelotas.

Nesse sentido, os dados reforçam as colocações de Urry (1990) quando

ressalta que o olhar turístico não é uma atividade meramente individual, é socialmente

organizado, na medida em que há profissionais que ajudam a construir e desenvolver

o nosso olhar enquanto turistas, através dos guias turísticos, da publicidade,

dos media ou da literatura de viagens. A atração turística envolve, portanto, processos

complexos de produção, em que olhares turísticos são gerados e sustentados. As

pessoas têm de aprender como e para onde olhar.

3.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados desse estudo permitem concluir que o olhar dos turistas sobre

Pelotas é construído de diversas formas. O turismo cultural, patrimonial e

gastronômico está nos segmentos mais procurados na cidade, além do lazer.

Muitos visitantes estavam na cidade no propósito de visitar amigos e familiares,

outros pela Fenadoce, a qual estava ocorrendo no período de entrevistas. Esses

motivos nos fazem perceber que cada vez mais o turismo doméstico está no nosso

dia a dia, as vezes mesmo sem perceber que uma simples visita a alguém conhecido

em outra cidade, pode acabar gerando um passeio turístico.

A maioria dos turistas que estavam em Pelotas, eram provenientes do Estado

do Rio Grande do Sul, dessa forma, alguns já conheciam a cidade e os que ainda não

tinham vindo até a cidade já tinham ouvido falar sobre a mesma. Muitos entrevistados

que estavam pela primeira vez na cidade, já ouviram falar dos doces saborosos, dos

prédios históricos e das instituições universitárias.

Percebemos que em geral todos gostaram de vir á Pelotas visitar lugares que

fizeram parte da história do Rio Grande do Sul, observando que casarões históricos,

charqueadas e museus.

Os visitantes percebem que os pelotenses são extremamente hospitaleiros,

simpáticos, educados e orgulhosos de suas tradições. Contudo, alguns relatos são

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contrários, narrando que os moradores locais não são atenciosos, são às vezes

arrogantes e desconfiados.

O olhar do turista é o mais importante da propagação da imagem de um

determinado local turístico. Algumas formas de divulgação são sobre imagens,

propagandas, folders e fotos dos próprios turistas. Todos que vieram até Pelotas

tiraram fotos de pontos turísticos e outros espaços da cidade para recordação e para

mostrar para futuros visitantes. Sendo assim, essas fotos tiradas são propagadas, é o

olhar da pessoa em forma de figuras ilustrativas.

A imagem que a cidade passa aos seus visitantes é um fator determinante na

hora em que se toma a decisão de visitar um destino turístico. Os visitantes que

passaram por aqui tiveram olhares diferentes sobre a cidade, o que deve ser

entendido como novas possibilidades de atrativos turísticos na cidade.

Por fim, acreditamos que é necessária a intervenção do poder público para a

melhoria da infra estrutura da cidade e conservação dos pontos turísticos. Porém, a

população em geral precisa saber como receber bem os visitantes e da mesma forma

os turistas respeitarem a cultura e tradição local. Com isso, valorizando a produção

cultural existente na cidade.

REFERÊNCIAS

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DADOS E FATOS. Disponível em: http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/. Acesso em 16.08.2016. DIAS, Reinaldo. Turismo e patrimônio cultural: recursos que acompanham o crescimento dascidades. São Paulo: Saraiva, 2006. DOCES DE PELOTAS. Disponível em: http://www.docesdepelotas.org.br. Acesso em 18.07.2016. DORNBUSCH, S.M., RITTER, P.L., LEIDERMAN, P.H., Roberts, D.F., & FRALEIGH, M.J. The relation of parenting style to adolescent school performance. Journal of Adolescent Research, 5(2), 1987, p. 143-160. FERNANDES, Diogo Lüders; CARDOZO, Poliana Fabíula; MAGANHOTTO, Ronaldo Ferreira. Espaços urbanos frente à atividade turística. Revista Partes. 2008.Disponível em: http://www.partes.com.br/turismo/poliana/espacosurbanos.asp Acesso em: 23.04.2016. GARROD, B. (2008), “Exploring perception, a photo-based analysis”, Annals of Tourism Research, 35 (2), pp. 381-401. IPHAN. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/281 Acesso em 13.06.2016. MAGALHÃES, Mario Osorio. Pelotas: Toda a Prosa – 1º Volume (1809-1871). Pelotas: Editora Armazém Literário, 2000. MELO, Alessandro de e CARDOZO, Poliana Fabiula. Patrimônio e Educação Patrimonial numa perspectiva humano-genérica. Caderno Virtual de Turismo, v. 9, n. 3, 2009. NÓBREGA, Wilker Ricardo de Mendonça. FIGUEIREDO, Silvio Lima. Planificación y gestión de las visitas al patrimonio natural y cultural y a los atractivos turísticos. Estudios y perspectivas em turismo. Volume 21, 2012. PELOTAS, CAPITAL NACIONAL DO DOCE. Disponível em: http://www.vivaocharque.com.br/culinaria/doces Acesso em 2016. PELOTAS. Pelotas 200 anos. Disponível em: http://www.docesdepelotas.org.br/foopage. Acesso em 21.07.2016. SILVEIRA, Michele Dutra da. Pelotas, Capital Nacional do docePelotas.VIVA O CHARQUE. Disponível em: http://www.vivaocharque.com.br/culinaria/doces. Acesso

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em 23.08.2016. SOUZA, Anlene de. O estrangeiro e a cidade. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: PUC, 1995. URRY, John. O olhar do turista. Lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. São Paulo: SESC, Studio Nobel, 1996.

TURISMO E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: O CASO DO MATERIAL DIDÁTICO SOBRE AS RUÍNAS DE SÃO MIGUEL DAS MISSÕES/RS

SCHNEIDER, Ellen C. Klein19; CHAGAS, Pierre Donires dos Santos20. [email protected]

FRIO COSTA, Bruna21.

19Graduanda do Curso de Bacharelado em Turismo UFPel, e-mail: [email protected]. 20Graduando do Curso de Bacharelado em Turismo UFPel, e-mail: [email protected], Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4890535298154775. 21Orientadora do Trabalho. Bacharel em Turismo, Especialista em Gestão de Eventos e Hotelaria e Mestra em Memória Social e Patrimônio Cultural. Docente do Curso de Bacharelado em Turismo UFPel, e-mail: [email protected], Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4980650450395222.

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[email protected].

Resumo: O objetivo principal deste trabalho é apresentar o material didático – em

forma de uma cartilha – sobre Educação Patrimonial utilizado por escolas públicas e

particulares, por séries iniciais na cidade de Santa Rosa – RS, antes da realização de

visitas às Ruínas de São Miguel das Missões. Atentamos para a continuidade do uso

deste material didático com as crianças, para que assim seja possível que elas se

sintam pertencentes ao contexto histórico que as rodeia. Fazendo com que assim,

sintam-se orgulhosas da sua localidade e auxiliem no desenvolvimento do turismo

receptivo daquela região. Concluímos com este trabalho a importância da Educação

Patrimonial desde muito cedo, afinal, ela trabalha para a sensibilização da

comunidade local e para memória histórica da sua localidade.

Palavras-chave: Turismo; Educação Patrimonial; Patrimônio; Memória; Cultura.

INTRODUÇÃO

O objetivo principal deste trabalho é apresentar o material didático – em forma

de uma cartilha – sobre Educação Patrimonial utilizado por escolas públicas e

particulares, por séries iniciais na cidade de Santa Rosa – RS, antes da realização de

visitas às Ruínas de São Miguel das Missões.

De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o povo

de São Miguel Arcanjo, ou das Missões, era uma das reduções do Estado Jesuítico

do Paraguai que formava, com seis outros, os Sete Povos das Missões. Era uma

reunião de grupos catequizados jesuítico-guaranis situados no nordeste do atual

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Estado do Rio Grande do Sul, em território brasileiro, às margens do rio Uruguai. As

outras reduções dessa região se transformaram em cidades ou, simplesmente,

desapareceram: São Borja (1682), São Nicolau (1687), São Luiz Gonzaga (1687), São

Lourenço (1691), São João Batista (1697) e Santo Ângelo (1706).

A instalação de São Miguel das Missões no sítio atual data de 1687, mas teve

origem em 1632, com um aldeamento de catequizados que os padres jesuítas

fundaram em Itaiacecó, na margem direita do rio Ibicui, aos pés da serra de São

Pedro. Sua fundação é atribuída aos padres missionários Cristobal de Mendoza e

Paulo Benevides.

A partir de 1637, os ataques dos caçadores paulistas de índios aos

aldeamentos de catequizados dos jesuítas se intensificaram o que provocou o

deslocamento do Povo de São Miguel Arcanjo para as terras de Concepción. Todavia,

o novo lugar mostrou-se pouco favorável para um grupo numeroso, o que levou os

padres a buscar outro local para a missão. A escolha final recaiu sobre um sítio às

margens do Piratini onde o novo aldeamento de São Miguel foi fundado, quando já

contava com quase quatro mil índios alojados e cristianizados. As condições

econômicas da redução melhoraram neste novo local devido à qualidade do pasto

para o significativo rebanho (bovino, equino, caprino) necessário à subsistência e à

terra que se mostrou favorável à agricultura.

São Miguel foi construído em uma colina, o que favorecia o escoamento das

águas pluviais abundantes pelo excesso de chuvas do verão gaúcho. No centro da

redução e em frente à igreja foi construída uma praça quadrangular que media

aproximadamente 130 mestros de lado. O colégio, a igreja e o cemitério ocupavam o

lado norte e nos outros três lados restantes se erguiam as casas dos índios, das quais

restam apenas as ruínas das fundações construídas em blocos com telhados de

quatro águas e rodeadas por alpendres. Na parte detrás, os padres prepararam uma

quinta, inteiramente murada de pedras com jardim, pomar e horta.

A construção da Igreja de São Miguel durou dez anos e seu projeto foi inspirado

na Igreja de Gesú em Roma – principal templo jesuítico – atribuído ao arquiteto jesuíta

Gian Battista Primolli, concluída em 1745, no final do período barroco. O requinte

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dessa concepção arquitetônica pode ser evidenciado pelas ondulações côncavas da

fachada principal e a leve inclinação dos planos externos que, por meio da correção

da perspectiva, tinha o propósito de enfatizar o caráter monumental da obra. Erguido

com pedra de cantaria, branqueada com um tipo de argila chamada tabatinga, o

edifício possuía características diferentes das demais construções missioneiras da

época: a estrutura era definida por paredes de pedra, ao invés dos comuns esqueletos

de madeira. Na falta da cal, não disponível na região, o barro era o material ligante

das alvenarias.

Seguindo a tradição da época, a Igreja de São Miguel apresentava uma rica e

colorida ornamentação interna, formada por entalhes, pinturas e esculturas com

motivos sacros. Algumas imagens, feitas em arenito, compõem o acervo do Museu

das Missões. Além dos saques ocorridos durante a Campanha Cisplatina, em 1828, a

igreja foi vítima da ação dos aventureiros que buscavam o tesouro dos jesuítas e

retiraram muitos materiais para uso em outras construções. Em 1886, a os telhados

ruíram e o pórtico desabou. O longo período de abandono levou ao crescimento de

grandes árvores no interior da nave.

As Ruínas de São Miguel das Missões, juntamente com as Missões situadas

na Argentina, foram reconhecidas pela UNESCO no ano de 1983 como Patrimônio

Cultural Mundial, fazendo com que a cultura, a memória e a identidade daquele povo

fosse mantida.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para atingir o objetivo principal, foi realizada, inicialmente uma pesquisa

bibliográfica, através de livros, artigos, dissertações e teses referentes ao tema

proposto. Em um segundo momento, foi realizada uma análise documental, a qual

“vale-se de documentos originais, que ainda não receberam tratamento analítico por

nenhum autor” (MOREIRA, 2005, p. 66). Estes documentos podem ser institucionais

conservados em arquivos, institucionais de uso restrito, pessoais como cartas ou e-

mails, fotografias, vídeos e gravações, leis, projetos, regulamentos, registros de

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cartório, catálogos, listas, convites, peças de comunicação ou instrumentos de

comunicação institucionais, considerados cientificamente autênticos. No caso deste

trabalho utilizou-se o material didático utilizado pelas escolas públicas e particulares

de Santa Rosa – RS antes da visita pedagógica as Ruínas de São Miguel das Missões,

composto por uma cartilha.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Educação Patrimonial – definida por Grunberg (2001) como um ensino

centrado nos bens culturais, com metodologias que tomam estes bens para a prática

pedagógica – pode ser vista como um agente positivo quando estimulada e inserida

para crianças, pois acredita-se que, criar laços com a história e perceber o Patrimônio

da sua localidade desde cedo faz com que a questão de identidade fique mais

evidente.

Educação Patrimonial constitui-se de todos os processos educativos formais

e não formais que têm como foco o Patrimônio Cultural, apropriado

socialmente como recurso para a compreensão sócio-histórica das

referências culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para

seu reconhecimento, sua valorização e preservação. Considera ainda que os

processos educativos devem primar pela construção coletiva e democrática

do conhecimento, por meio do diálogo permanente entre os agentes culturais

e sociais e pela participação efetiva das comunidades detentoras e

produtoras das referências culturais, onde convivem diversas noções de

Patrimônio Cultural (IPHAN, 2014, p.19).

A educação patrimonial trata-se de um processo permanente e sistemático de

trabalho educacional centrado no patrimônio cultural como fonte primária de

conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. Significa tomar os objetos e

expressões do patrimônio cultural como ponto de partida para a atividade pedagógica,

observando-os, questionando-os e explorando todos os seus aspectos, que podem

ser traduzidos em conceitos e conhecimentos (MEDEIROS & SURYA, 2009).

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Para Horta (1999), Educação Patrimonial nada mais é do que um instrumento

de alfabetização cultural, que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o

rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-

temporal em que está inserido.

O conhecimento crítico e a apropriação consciente por parte das comunidades

e indivíduos do seu “patrimônio” são fatores indispensáveis no processo de

preservação sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos

de identidade e cidadania.

Logo, o Patrimônio Cultural passa a ser visto como um fator importante na

educação. Para melhor compreender a Educação Patrimonial é preciso definir

Patrimônio Cultural:

O patrimônio cultural é considerado, atualmente, um conjunto de bens

materiais e não-materiais, que foram legados pelos nossos antepassados e

que, em uma perspectiva de sustentabilidade, deverão ser transmitidos aos

nossos descendentes, acrescidos de novos conteúdos e de novos

significados, os quais, provavelmente, deverão sofrer novas interpretações

de acordo com novas realidades socioculturais. (DIAS, 2006, p. 67).

Poulot (2009) afirma que a finalidade do patrimônio é de certificar a identidade

e afirmar valores, além da celebração de sentimentos, que pode ser contra a verdade

histórica. Como afirmou Tornatore (2013), o patrimônio não diz tudo do passado, mas

diz alguma coisa além do passado. De maneira simétrica ele apresenta o passado,

ele dá ao presente à dimensão do passado, ele representa o passado.

Portanto, a relação entre Educação Patrimonial e Patrimônio Cultural resulta na

sensibilização e a importância dos bens culturais para memória histórica da sua

localidade. Acreditando na importância da Educação Patrimonial e dos conceitos

básicos de patrimônio cultural, este trabalho tomou forma.

4 RESULTADOS/DISCUSSÃO

A partir de agora será feita uma descrição detalhada sobre a cartilha analisada

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neste artigo.

Sob autoria de Iria Muller Poças, “Um Gauchinho nas Missões” (figura 1) narra,

em 32 páginas, a história da formação e demais aspectos relevantes das ruínas de

São Miguel das Missões/RS.

O personagem principal é o Gauchinho, que percorre o sítio arqueológico em

seu cavalo e relata os fatos que lá ocorreram, em primeira pessoa, de forma dinâmica

e de fácil entendimento. É importante destacar que o livro tem como público alvo

crianças, portanto, utiliza uma linguagem de fácil compreensão e conta com

ilustrações feitas por Marilia Pirillo.

O fato do Gauchinho ser uma criança, também permite que os alunos se

identifiquem com ele.

Figura 1: Livro Um Gauchinho nas Missões

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Fonte: Arquivo Pessoal

Pode-se afirmar que a linguagem utilizada na cartilha é convidativa – fator

importante quando se trata de Educação Patrimonial, pois o leitor deve se sentir

instigado a ler e expandir seus pensamentos em relação a determinado assunto. Tal

fato é corroborado na apresentação da cartilha, feita pelo historiador Moacyr Flores:

Este livro, destinado a divulgar nossa história, contribuirá significativamente para desenvolver o gosto pela leitura e o amor por nossa terra, entre os pequenos leitores (FLORES, 2002 apud POÇAS, 2002, p.03).

Há um esforço da autora para que o personagem ficcional, o Gauchinho, esteja

inserido no contexto da história real. E, a cada relato feito, o personagem reforça seu

sentimento de pertencimento e respeito pelo povo Guarani, diante tanto de suas

conquistas quanto de derrotas. Um exemplo disto ocorre ao final do livro, quando, os

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guaranis são dizimados por tropas portuguesas e espanholas, na Guerra Guaranítica:

(...) o pequeno viajante voltou ao presente, rasgando o véu do tempo. Agora sim, ele sabia o que havia acontecido com os guaranis e suas Missões! Secando as lágrimas, passou a mão pelos cabelos, montou no cavalo e galopou rumo ao futuro (POÇAS, 2002, p. 27).

Inúmeras são as ações e iniciativas desenvolvidas pelo Instituto de Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em conjunto á Organizações Não

Governamentais e demais instituições públicas e privadas. Estas atividades permitem

a identificação de princípios que amplificam a eficácia do reconhecimento e da

apropriação de bens culturais. E a Educação Patrimonial se beneficia muito com elas,

afinal:

(...) ações pontuais e esporádicas de promoção e divulgação se acotovelam com propostas educativas continuadas, inseridas na dinâmica social das localidades; projetos e encontros, materiais de apoio, cadernos temáticos e publicações resultantes de oficinas se misturam a práticas significativas em que esses materiais não constituem um fim em si mesmo; ao contrário, compõem partes de processos educativos (IPHAN, 2014, p.19).

Dentre os agentes da Educação Patrimonial, destaca-se a comunidade local; a

qual torna-se participante efetiva de ações educativas. O saber advindo da mesma,

que é detentora de memórias e referências culturais, permite um compartilhamento

de informações que resultará na melhor compreensão da história do patrimônio e,

consequentemente, apropriação do bem cultural como elemento de formação

histórico-cultural. Acredita-se que a inserção da cartilha no currículo escolar é um

exemplo de ação, tendo em vista que envolve diferentes grupos sociais: escola,

alunos e moradores de São Miguel das Missões.

A cartilha “Um Gauchinho nas Missões” foi aplicada da seguinte forma nas

escolas: primeiramente, o estudo da mesma foi de caráter multidisciplinar, agregando

as disciplinas de História, Geografia e Língua Portuguesa.

A leitura do material foi realizada em sala de aula e, com o auxílio da professora,

foram identificados aspectos culturais, históricos e sociais do local em questão.

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Após as atividades na escola, os alunos realizaram uma viagem ao Sítio

Arqueológico (figura 2), onde tiveram a oportunidade de conhecer pessoalmente,

todos os lugares pelos quais o Gauchinho havia passado durante a história. Foram

visitados: a antiga Igreja, colégio, oficinas, o cemitério, horta, hospital, habitações dos

índios, hospedaria e praça de convivência.

O passeio ás ruínas foi guiado por um habitante local, indígena guarani que

vive nos arredores do complexo histórico com os demais; acredita-se que tal fato

reforça a importância da comunidade na preservação da memória e construção da

identidade cultural-social do povo, visto que o mesmo soube, com destreza, relatar a

história das reduções.

Figura 2: vista aérea das Ruínas de São Miguel das Missões

Fonte:<http://ecohospedagem.com/wp-content/gallery/roteiros/41-sao-miguel-das-missoes-rio-grande-do-sul.jpg>

O último local a ser visitado foi o Museu as Missões – também visitado pelo

Gauchinho na cartilha – que está localizado juntamente aos demais monumentos no

complexo histórico e abriga a maior coleção de arte sacra do país, composto por

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esculturas confeccionadas pelos índios guaranis e os fragmentos arquitetônicos das

antigas reduções que se encontravam espalhadas pela região.

Figura 3: Museu das Missões

Fonte: <http://museudasmissoes.blogspot.com.br/>

Ao final da visita, a turma pôde apreciar o Espetáculo Som e Luz, que, desde

1978, conta a saga jesuítico-guarani com uma trilha sonora e o apagar e acender de

luzes coloridas projetadas na fachada das ruínas, datadas do século 17.A gravação

tem texto e roteiro de Henrique Grazziotin Gazzana e narração dos atores Fernanda

Montenegro, Lima Duarte, Paulo Grancindo, Juca de Oliveira, Rolando Boldrin, Maria

Fernanda Cândido e Armando Bógus.

Após criteriosa análise do material didático, percebeu-se a importância da sua

elaboração e distribuição, uma vez que, de antemão, saber a história, o contexto e a

relevância das Ruínas de São Miguel das Missões permite que as crianças já

compreendam melhor a realidade que as cercará durante a visita.

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Outro ponto interessante sobre o material didático é a linguagem utilizada pela

autora para discorrer sobre a história da região das Missões, contando com um

personagem principal, O Gauchinho, que através de texto e inúmeras ilustrações,

narra para novas gerações o que realmente havia acontecido com seus antepassados.

Portanto, defende-se a continuidade do uso deste material didático com as

crianças, para que assim seja possível que elas se sintam pertencentes ao contexto

histórico que as rodeia. Fazendo com que assim, sintam-se orgulhosas da sua

localidade e auxiliem no desenvolvimento do turismo receptivo daquela região.

Este trabalho ressalta como dito anteriormente, a importância da Educação

Patrimonial desde muito cedo, afinal, ela trabalha para a sensibilização da

comunidade local e para memória histórica da sua localidade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se, com o presente trabalho, que a Educação Patrimonial deve ser

incentivada, afim de que o patrimônio local se torne parte de cada indivíduo,seja por

meio de sensação de pertencimento, admiração ou orgulho.

Ações como a inserção do material didático – em forma de cartilha –para séries

iniciais de escolas públicas e particulares, na cidade de Santa Rosa – RS, resultam

em conhecimento e interesse pelo patrimônio que lhes é apresentado; além de

respeito pela história de seu povo, afinalreverenciar ao passado é compreender o

presente e enaltecer o futuro.

E o turismo sendo um fenômeno cultural, social e econômico, necessita do

suporte de todos envolvidos com a atividade, uma vez que:

O fenômeno turístico necessita do apoio da comunidade local para que se desenvolva de forma harmoniosa e atenda aos interesses de todos os segmentos nele envolvidos, especialmente o turismo voltado para os atrativos culturais da localidade. Logo, dar prioridade ao desenvolvimento cultural da comunidade, o que implica na busca da preservação da memória histórica e social e no fortalecimento constante da identidade dos povos pode potencialmente beneficiar o turismo. (SALES, 2006, p. 14).

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Sendo assim, a Educação Patrimonial nas Missões ajuda em muito a prática

do turismo no nicho de Turismo Cultural, uma vez que a comunidade local sinta-

sepertencentes aquele patrimônio como um todo.

Por fim, como estamos lidando com atrativos culturais e históricos, o

envolvimento da comunidade local ajuda em muito a promover a divulgação e

conhecimento sobre a região para que melhor atenda os turistas.

REFERÊNCIAS

DIAS, Reinaldo. Turismo e Patrimônio Cultural: Recursos que acompanham o crescimento das cidades. 1.ed. São Paulo: Saraiva, 2006. GRUNBERG, Evelina. Educação Patrimonial: utilização dos bens culturais como recursos educacionais. (online).Disponível em: <www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo4/estudos_sociais/educacao_patrimonial.pdf.> Acesso em 16 abr. 2016. HORTA, Maria de Lourdes Parreira; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: IPHAN: Museu Imperial, 1999. IPHAN. Educação patrimonial Histórico, conceitos e processos. 2014. IPHAN. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/39> Acesso em 22 abr. 2016. MEDEIROS, M.C. & L. SURYA. A Importância da educação patrimonial para a preservação do patrimônio (online). Disponível em: http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.0135.pdf POULOT, Dominique. Uma história do patrimônio no Ocidente: séculos XVIII-XXI. São Paulo, Estação Liberdade, 2009. SALES, Fabiana de Lima. A Educação Patrimonial e o Turismo: o caso da aula no Museu Municipal de Caxias do Sul/RS. Tese de mestrado do Curso de Mestrado em Turismo – Universidade de Caxias do Sul, apresentada em 2006.

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TURISMO CRIATIVO: UMA ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO

TURÍSTICO

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SOARES, Pâmela Souza22

[email protected]

LIMA, Juliana23

[email protected]

Resumo:Trata-se de um estudo de caso no município de Santa Vitória do Palmar/RS. Objetiva identificar se é possível desenvolver o turismo criativo no município. Pesquisa descritiva, a partir da aplicação do instrumento questionário em ambas as fases. Como resultados do trabalho, na primeira fase têm-se os elementos culturais propícios a serem trabalhados dentro do contexto do turismo criativo: trancinhas de Natal, mergulhanês, teatro, praças do município, Porto, arroz; elencados pelos integrantes das associações de bairro; e na segunda fase têm-se duas respondentes, uma que trabalha com o elemento teatro e a outra que trabalha com o elemento culinária e artesanatos do butiá, onde ambas demonstraram disponibilidade e interesse em trabalhar o turismo criativo no município. Palavras-chave: turismo; cultura; turismo criativo; Santa Vitória do Palmar.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata de um tema atual, o turismo criativo. O turismo

criativo surge como uma tipologia de turismo que ganha mais espaço atualmente por

trabalhar diretamente com a experiência dos visitantes com a comunidade receptora.

O turismo criativo segundo a UNESCO (2013) “é aquele em que o turista tem

uma interação participativa com o lugar, com a sua cultura e seus residentes e assim,

sentem esses destinos como cidadãos” (UNESCO apud CAYEMAN, 2014, p. 43).

O presente trabalho é um estudo de caso e foi aplicado no município de Santa

Vitória do Palmar que é localizado no extremo sul do estado do Rio Grande do Sul,

ficando a 20 km do município do Chuí que faz fronteira com o Uruguai. Santa Vitória

do Palmar possui belezas naturais, como as Lagoas Mirim e Mangueira e também os

balneários do Hermenegildo e Barra do Chuí. Essas belezas naturais fazem de Santa

22 Bacharela em Turismo Binacional pela Universidade Federal do Rio Grande, http://lattes.cnpq.br/4425523320268255,[email protected] 23 Mestra em Turismo e Hotelaria, Bacharela em Turismo, Universidade Federal do Rio Grande-FURG, http://lattes.cnpq.br/6909023722512266, [email protected]

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Vitória do Palmar um lugar para desfrutar do turismo de sol e praia. Porém, busca-se

a diversificação do produto turístico para o município. Ainda, o mesmo dispõe de

museus, teatro, casarões e outros, incitando, o turismo cultural.

No presente trabalho, foram desenvolvidostrês capítulos para embasamento

teórico do mesmo: um capítulo sobre cultura, outro sobre produto turístico e, por fim,

um capítulo sobre turismo criativo.

No capítulo sobre cultura são abordadas visõesde alguns autores acerca da

definição de cultura e também de manifestações culturais diversas, na qual se inserem

os elementos elencados pelos integrantes das associações de bairros.

Os bens imateriais são os saberes, fazeres, expressões, a culinária, o modo

de falar, os costumes e os lugares que abrigam essas práticas culturais coletivas,

juntamente com os seus respectivos materiais, que as comunidades reconhecem

como representativos da sua cultura.

No capítulo sobre produto turístico destacam-se, segundo o panorama dos

autores, a definição de produto turístico, seus elementos e como a cultura do

município pode ser trabalhada como um potencial produto turístico atraindo assim, um

tipo de turista específico.

No capítulo sobre turismo criativo aborda-se o que é o turismo e o turismo

criativo. Diversos autores explicamo que são as cidades criativas e como funciona a

economia criativa.

Sendo assim o presente estudo tem por objetivo geral identificar seé possível

desenvolver o turismo criativo no município de Santa Vitória do Palmar, e como

objetivos específicos identificar os elementos que a comunidade santa vitoriense

percebe como representativos de sua cultura e consultar os atores ou grupos

residentes em Santa Vitória do Palmar que trabalhariam esse potencial produto

turístico desenvolvendo o turismo criativo no município, e assim, determina-se a

pergunta norteadora do presente trabalho: “É possível desenvolver o turismo criativo

no município de Santa Vitória do Palmar/RS?”

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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A natureza do presente trabalho é básica porquenão tem objetivo imediato de

aplicação, mas de produzir conhecimento acerca do tema de pesquisa.

A presente pesquisa caracteriza-se como descritiva porque realiza a

descrição da opinião dos integrantes das Associações de Bairro acerca do tema da

pesquisa em sua primeira fase. A. segunda fase da pesquisa realiza a descrição das

respostas das pessoas citadas na primeira fase como atuantes com os elementos

elencados.

Este trabalho também tem característica exploratória porque desenvolve um

tema que é novo podendo servir de base para pesquisas posteriores, e identificar se

o município de Santa Vitória do Palmarpode investir em outros tipos de turismo, como

o turismo criativo.

A pesquisa é de abordagem qualitativa, visando obter o máximo de

informações, não se preocupando com número de respondentes, mas sim com a

riqueza de dados obtidos.

Esses dados foram obtidos em duas fases distintas. Em um primeiro momento

identificado qual ou quais elementos são representativos da cultura do município.

Essa primeira fase da pesquisa foi feita com os integrantes das associações de bairros

do município, no qual os mesmos deveriam informar quais elementos eles consideram

como representativos da cultura do município e após citar pessoas ou grupos que

trabalhassem com esses elementos.

Em um segundo momento, através das entrevistas com os indicados na

primeira fase será apontado a possibilidade de se trabalhar, através dessas pessoas,

com o turismo criativo no município.

Utilizou-se a técnica de pesquisa documental e de pesquisa de campo através

da realização de entrevistas semi-estruturadas. A pesquisa documental foi realizada

no dia 20 de agosto de 2015 onde foi realizado um levantamento de dados na

Prefeitura Municipal de Santa Vitória do Palmar com o secretário de Relações

Comunitárias, para verificação de quantas e quais são as associações de bairro do

município. Foi disponibilizadoum arquivo com um total de vinte e uma associações e

seus respectivos contatos, porém doze delas foram descartadas por se tratarem de

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associações de Escolas de Samba, e outras diversas, pois não se enquadram na

pesquisa, que é feita somente com as associações de bairros.

O universo da pesquisa são os residentes do município de Santa Vitória do

Palmar e a amostra foi obtida na primeira fase, a partirdas associações de bairro do

município que foram escolhidas para a pesquisa e na segunda fase, a partir das

pessoas citadas pelos respondentes da primeira fase.

Os dados coletados através das entrevistasforam transcritos e analisados

através do uso da técnica de análise de conteúdo.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A seguir serão discutidas as temáticas cultura, produto turístico e turismo

criativo, que são a base teórica do presente trabalho.

3.1 CULTURA

Nesse subcapítulo, aborda-se o tema cultura, o que é e como se organiza

nas sociedades, servindo para identificar certas comunidades e fazendo com que as

mesmas se orgulhem da sua cultura.

Em 1871, Tylor definiu cultura como sendo “todo o comportamento

aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética, como diríamos

hoje” (TYLORapudLARAIA, 2001, p.16).

Conforme a Constituição Federal entende-se por cultura,

todas as ações por meio das quais os povos expressam suas “formas de criar, fazer e viver” (Constituição Federal de 1988, art. 216). A cultura engloba tanto a linguagem com que as pessoas se comunicam, contam suas histórias, fazem seus poemas, quanto a forma como constroem suas casas, preparam seus alimentos, rezam, fazem festas. Enfim, suas crenças, suas visões de mundo, seus saberes e fazeres(CONSTITUIÇÃO FEDERAL, s/d).

Segundo Brayner (2007, p. 07),

Durante toda a sua vida, as pessoas constroem suas identidades relacionando-se umas com as outras em diferentes contextos e situações. A identidade de uma pessoa é formada com base em muitos fatores: sua história de vida, a história de sua família, o lugar de onde veio e onde mora,

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fala e se expressa, enfim, tudo aquilo que a torna única e diferente das demais.

“A cultura e a memória são elementos que fazem com que as pessoas se

identifiquem umas com as outras, ou seja, reconheçam que têm e partilham vários

traços em comum” (BRAYNER, 2007, p. 08). Ou seja, em uma determinada

comunidade o modo de falar pode ser o elemento que une e que faz as pessoas se

sentirem pertencentes àquele lugar.

Reconhecer que todos os povos produzem cultura e que cada um tem uma

forma diferente de se expressar é aceitar a diversidade cultural. Ou seja, é reconhecer

que não existem culturas mais importantes ou melhores, e sim culturas diferentes

(BRAYNER, 2007, p.10). Assim como o visitante deve aceitar a cultura do visitado, a

outra parte também deve reconhecê-la em seu visitante.

De acordo com o IPHAN (2007) patrimônio cultural de um povo é formadopelo

conjunto dos saberes, fazeres, expressões, práticas e seus produtos, que remetem à história, à memória e à identidade desse povo. A preservação do patrimônio cultural significa, principalmente, cuidar dos bens aos quais esses valores são associados, ou seja, cuidar de bens representativos da história e da cultura de um lugar, da história e da cultura de um grupo social, que pode (ou, mais raramente não), ocupar um determinado território. Trata-se de cuidar da conservação de edifícios, monumentos, objetos e obras de arte (esculturas, quadros), e de cuidar também dos usos, costumes e manifestações culturais que fazem parte da vida das pessoas e que se transformam ao longo do tempo(BRAYNER, 2007, p.13).

Ainda, “Os significados atribuídos aos bens culturais, assim como às práticas

a eles associadas, podem se transformar ao longo do tempo e também podem variar

de uma pessoa para outra, de uma família para outra, de um bairro para

outro”(BRAYNER, 2007, p.15). Por exemplo, uma família mora em um casarão que

era de seus antepassados. Esse casarão tem um significado para essa família que

difere do significado que qualquer outra pessoa que não é da família atribui a ele.

Brayner (2007, p. 17) diz que

Somente quando se sente parte integrante de uma cidade ou de uma comunidade é que o cidadão dá valor às suas referências culturais. Essas

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referências são chamadas de bens culturais e podem ser de natureza material ou imaterial. Os bens culturais materiais (também chamados de tangíveis) são paisagens naturais, objetos, edifícios, monumentos e documentos. Os bens culturais imateriais estão relacionados aos saberes, às

habilidades, às crenças, às práticas, aos modos de ser das pessoas.

A Constituição Federal de 1988, nos artigos 215 e 216, estabeleceu que o

patrimônio cultural brasileiro

é composto de bens de natureza material e imaterial, incluídos aí os modos de criar, fazer e viver dos grupos formadores da sociedade brasileira. Os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas e nos lugares, tais como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas (MINISTÉRIO DA CULTURA, s/d).

“O patrimônio material protegido pelo IPHAN, com base em legislações

específicas, é composto por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua

natureza, conforme os quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e

etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas” (Ministério da Cultura, s/d).

“Os bens tombados de natureza material podem ser imóveis como as cidades

históricas, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; ou móveis, como

coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos,

arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos” (Ministério da Cultura,

s/d).

Essa definição está em consonância com a Convenção da UNESCO para a

Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, ratificada pelo Brasil em 1° de março de

2006, que define como patrimônio imaterial

"as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto

com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são

associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os

indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio

cultural"(MINISTÉRIO DA CULTURA, s/d).

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O registro dos bens imateriais é diferente de tombamento. O registro é feito

em quatro livros: Livro de Registro dos Saberes, Livro de Registro das Celebrações,

Livro de Registro das Formas de Expressão e por fim o Livro de Registro de Lugares.

“O patrimônio cultural imaterial é transmitido de geração a geração e

constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente,

de sua interação com a natureza e de sua história, o que gera um sentimento de

identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade

cultural e à criatividade humana”(Ministério da Cultura, s/d).

A cultura por si só pode atrair turistas, pois ela é um potencial produto a ser

explorado por uma comunidade. Mas para a mesma se tornar um produto turístico,

precisa ser bem mais abrangente. Adentramos ao segundo capítulo esclarecendo

como podemos transformar a cultura de uma localidade em produto turístico.

3.2 PRODUTO TURÍSTICO

Começa-se esse subcapítulo definindo o que é produto, até chegar ao produto

turístico, e o que é preciso para esse produto se tornar necessário ao mercado.

Na visão de Kotler e Keller (2006, p.366), “um produto é tudo o que pode ser

oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou um desejo” (KOTLER ;

KELLER apud CARVALHAIS, 2008, p. 28). Sendo assim, o produto é oferecido ao

turista com a intenção de suprir uma necessidade.

Segundo Acerenza (1991), produto turístico é o conjunto de prestações,

materiais ou imateriais, que se oferecem com o propósito de satisfazer os desejos ou

as expectativas do turista. É composto por três elementos: atrativos, facilidades e

acesso (ACERENZA apudGUARDANI; ARUCA; ARAUJO, 1996, p.18).

Esses três elementos que vão influenciar a decisão de escolha de um destino,

por parte do turista. Esses três elementos devem estar em consonância para poder

atribuir ao visitante uma experiência de viagem agradável.

O produto turístico também não é capaz de armazenamento. Um hotel que

funciona 365 dias por ano que não for ocupado totalmente, os dias sem funcionamento

nãoserão recuperados, Isso ocorre com hotéis, agências, serviços de transportes, etc.

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(BENI, 2002). Assim, é preciso otimizar as atividades no município a fim de que os

setores conversem entre si e possam obter lucro.

O produto turístico é um estimulador para o visitante, mas não é viável pensar

que só isso é suficiente. É necessário apresentar ao turista, de forma convidativa o

que tem-se de melhor.

Cohen (1979) elaborou o modelo cognitivo-normativo

e definiu os tipos de turistas como peregrinos modernos divididos em existenciais, que são aqueles que querem sair da rotina para um lugar que lhes dê paz espiritual; experimentais, que são aqueles que querem experimentar estilos de vida alternativos e experienciais, que são aqueles que procuram o significado da vida dos outros e a autenticidade da cultura local. (BARRETO, 2012, p. 27).

Assim, com a implementação e desenvolvimento dos elementos da cultura como

produto turístico, pode-se explorar os turistas do tipo experienciais, apresentando a

eles uma experiência autêntica com a comunidade local.

3.3 TURISMO CRIATIVO

Segundo De La Torre (1992), citado por Barreto (2012, p.12) turismo definido

pela Organização Mundial do Turismo (OMT) é a “soma de relações e de serviços

resultantes de um câmbio de residência temporário e voluntário motivado por razões

alheias a negócios ou profissionais”.

O turismo possui três características: econômicas, técnicas e holísticas. A

seguir, o quadro três apresenta essas características do turismo e suas definições.

Após a definição de turismo, têm-se também várias definições das diversas

segmentações do turismo. Dentre elas está o turismo criativo, o qual será abordado

nesse capítulo.

Strickland (2011, p. 51) define as cidades criativas como “Cidades do Futuro,

pois ela se beneficia da importância histórica, geográfica e econômica, une grupos,

afeta economias, troca ideias, concentra capital, empregos e desenvolvimento”

(STRICKLAND apud ASHTON, 2013, p. 235).

Para Reis (2008, p. 26) as cidades criativas

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são espaços urbanos que podem ser vistos de distintas óticas: da atração de talentos e investimentos; do combate às desigualdades e violência; da revitalização de áreas degradadas; da promoção de clusters criativos, da transformação das cidades em pólos criativos mundiais; de reestruturação do tecido socioeconômico urbano baseado nas especificidades locais(REIS apud ASHTON, 2013, p. 235).

As cidades criativas são laboratório de criatividade,

possuem ambiente e atmosfera propícios à criação de bens tangíveis com valores intangíveis; o patrimônio e os bens culturais formadores do capital cultural citadino são inimitáveis; atraem e retém criativos e talentosos capazes de gerar produtos culturais com valor econômico agregado; se beneficiam da importância histórica, geográfica e sociocultural, concentram capitais gerando empregos e renda (ASHTON, 2013, p. 241).

A FECOMÉRCIO (2012)

considera aeconomia criativa fundamental para o desenvolvimento das cidades porque essas atividades possibilitam um crescimento sustentado, além do potencial para contornar períodos de crise. Para esse estudo foram adotados indicadores econômico, social e criativo e entre os resultados Porto Alegre ficou com a 9ª colocação no aspecto social, porém foi considerada entre as cidades mais criativas do Brasil com a 3ª posição, ficando atrás de Campinas e Londrina (FECOMÉRCIO apud ASHTON, 2013, p.234).

Porto Alegre foi a primeira cidade do Rio Grande do Sul a implementar o

turismo criativo como potencial desenvolvedor do turismo na cidade. Assim, com a

ideia, abriu precedentes para outras cidades do Rio Grande do Sul implementarem

esse tipo de turismo e aumentarem o seu desenvolvimento turístico.

“Podemos considerar a economia criativa como sendo a essência da

economia do conhecimento, onde consumidores e criadores se confundem, assim

como as empresas são, ao mesmo tempo, provedoras e consumidoras de serviços e

bens sofisticados” (MACHADO, 2012, p. 93). É uma constante interação,

desenvolvendo assim as habilidades tanto de quem repassa quanto de quem aprende.

É um tipo de turismo relativamente novo, como diz a definição do Programa

Porto Alegre Turismo Criativo:

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Conceituado há pouco mais de dez anos, oTurismo Criativo, entendido como a oferta a turistas de experiências de aprendizagemde conteúdos locais, singulares e autênticos, por meio de oficinas, workshops eatividades diversas, começou a ser implantado há não mais de sete anos em algunsdestinos da Europa, em especial, e dos Estados Unidos, e hoje já está presente naÁsia, na América Central e Oceania (Programa Porto Alegre Turismo Criativo, 2013, p. 12).

Segundo Richards (2011)

Turismo criativo constitui-se como aquele tipo de turismo que oferece aos visitantes a oportunidade de desenvolver o seu potencial criativo através da participação ativa em experiências de aprendizagem que são características do destino de férias onde são levadas a cabo(tradução do autor a partir de Richards, 2011, p.65) (RICHARDS apud GONÇALVES, 2008, p. 12).

“O turismo criativo tem por base a criação de experiências que pressupõem

uma participação ativa e o envolvimento do consumidor na sua produção”

(GONÇALVES, 2008, p. 12).

Para Panosso Netto e Gaeta (2010, p.127), observa-se uma “reorientação da

experiência turística, trocando a massificação por uma experiência autêntica mais

próxima da realidade local”, já apontada por Yázigi (2009) como uma visita à alma do

lugar e, portanto das pessoas que o habitam com sua identidade, bagagem cultural e

seu patrimônio como bem maior (YÁZIGI apud PANOSSO NETTO; GAETA, 2010, p.

127). O turista atual quer desfrutar de tudo que a viagem possa lhe oferecer, tanto em

termos físicos, como a hospedagem e alimentação, mas principalmente no que diz

respeito ao ser, acrescentar algo ao seu interior.

“O novo turista é alguém que procura a sua realização pessoal pelo

desenvolvimento de novas aptidões e que deseja interagir com as populações locais”

(GONÇALVES, 2008, p. 14).

Para Richards (2011),

um dos principais pesquisadores e difusores do termo turismo criativo na comunidade científica internacional, indica em seus estudos que algumas das principais características associadas a esse termo [turismo criativo] seriam: co-produção de bens e serviços culturais e aquisição de experiências significativas, que geram aprendizagens, em comunidades autênticas que detém conhecimentos diferenciados, de interesse do turista (EMMENDOERFER; MORAES; FRAGA, 2014, p.02).

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Ou seja, aquelas comunidades que têm um diferencial, que tem um elemento

cultural que já é popular entre os moradores, mas que não é tão conhecido, é o fator

que vai impulsionar o turista a conhecer essa comunidade.

“É um tipo de turismo desconhecido, porém, é um tipo de turismo que, é cada

vez mais procurado nas experiências de viagens” (EMMENDOERFER; MORAES;

FRAGA, 2014, p. 05).

Segundo Emmendoerfer; Moraes; Fraga (2014, p. 07)o turismo criativo

revela-se uma prática em que o turista vivencia os símbolos, valores e os hábitos das comunidades na sua maioria em ambientes urbanos, através da visitação e interação com determinados grupos. Esta ação configura sua experiência subjetiva acerca da cultura local, caracterizada pela interação

criativa com a localidade que este turista de propôs a visitar.

Richards (2011) e Emmendoerfer e Ashton (2014) consolidam as delimitações

do turismo criativo ao concebê-lo como “uma atividade que se baseia na

aprendizagem ativa dos turistas com a comunidade e no diálogo com os símbolos

presentes nas atividades locais” (EMMENDOERFER; MORAES; FRAGA, 2014, p.

09). Assim, o turista que conhece uma localidade através do turismo criativo, participa

diretamente do seu cotidiano, inclusive, aumentando a demanda nos principais

serviços turísticos da localidade.

“O turismo criativo parte da premissa de geração de valor econômico e social

através da criatividade e inventividade humana” (EMMENDOERFER; MORAES;

FRAGA, 2014, p. 09). Ou seja, a mesma experiência que atrai o turista por ser

autêntica e de valor cultural, desenvolve a localidade, pois está gerando renda para

os diversos atores envolvidos no fenômeno turístico.

“O turismo criativo trabalha em um plano onde a criatividade e a produção de

valor simbólico orientam o fluxo turístico, funcionando como uma forma de turismo

capaz de realizar a conexão de saberes, pelo intercâmbio de experimentações e

sensações, associadas a identidade do destino turístico” (EMMENDOERFER;

MORAES; FRAGA, 2014, p. 10).

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O turista que experimenta essa tipologia de turismo experiencia uma viagem

de aprendizado, tanto em conhecimento específico, como em conhecimento do seu

próprio eu através da interação com outras culturas.

Assim, finaliza-se a base teórica que após os resultados, advindos do

desenvolvimento da pesquisa, servirá para análise e discussão dos mesmos.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

A pesquisa foi realizada em dez dias de aplicação de entrevistas com os

integrantes das associações de bairro e obtiveram-se os seguintes resultados, listados

abaixo.

As aplicações de entrevistas foram agendadas previamente e os encontros

aconteceram nas respectivas sedes das associações de bairros ou em lugares

estipulados pelos respondentes.

Em um total, foram dezoito respondentes, na faixa etária compreendida entre

18 e 65 anos, dos gêneros masculino e feminino, residentes a mais de dez anos no

município de Santa Vitória do Palmar e integrantes das associações de bairros do

município.

Os interpelados da primeira fase responderam a três perguntas que se

referiam, respectivamente, a: a) quais elementos os integrantes percebem como

representativos da cultura do município, b) quais pessoas ou grupos eles elencariam

para trabalhar com esse potencial produto e c) como contatar os mesmos. Já na

segunda fase, o indivíduo ou grupos elencados tiveram a oportunidade de expressar

a sua disponibilidade e interesse em trabalhar ou não nesse processo. Para chegar a

esse resultado, um total de seis perguntas foram feitas, que se referiam,

respectivamente, a 1) se ele(s) sabe(m) o que é o turismo criativo, 2) se ele(s)

acredita(m) que o elemento trabalhado por eles é um potencial produto turístico, 3) se

ele(s) acredita(m) que esse potencial produto turístico pode ser trabalhado como

turismo criativo no município e porque, 4) se ele(s) já trabalhou/trabalharam com

turismo, 5) se o turismo criativo fosse implantado no município, se eles se

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disponibilizariam a trabalhar esse potencial produto turístico, 6) quais recursos eles

julgam necessários para desenvolver o turismo criativo no município.

Como resultados da primeira fase, o respondente número um elencou como

representativos da cultura do município o Mergulhanês, Trancinhas de Natal, Saberes

e fazeres com a lã de ovino, Campereadas, Praças do município, e indicou como

grupos atuantes, Carlos Munhoz, CTG, Piquetes, Ico Estrela, Amarelo; o respondente

número dois elencou como representativos da cultura do município o Arroz e indicou

como grupos atuantes Grupo Extremo Sul, localizado na Granja Mangueira e o

Condomínio Estância Rincão – Pampa Negro, localizado na Rua Justino Amonte

Anacker; o respondente número três elencou como representativos da cultura do

município o Porto; o respondente número quatro elencou como representativos da

cultura do município a Pecuária, Energia eólica e indicou como grupos atuantes Darci

Zanetti; o respondente número cinco elencou como representativos da cultura do

município a Tradição gaúcha e indicou como grupos atuantes CTG (Centro de

Tradições Gaúchas) Rodeio dos Palmares; o respondente número seis elencou como

representativos da cultura do município a Ave mergulhão e indicou como grupos

atuantes Hamilton Coelho; o respondente número sete elencou como representativos

da cultura do município Hospitalidade e receptividade; o respondente número oito

elencou como representativos da cultura do município Mergulhanês, Trancinhas de

Natal, Saberes e fazeres com as redes de pesca, A cultura gaúcha e seus diversos

costumes, o sotaque da população, O teatro municipal e indicou como grupos

atuantes Cia do butiá, Claudia Schwab, Joca D’ávila; o respondente número nove

elencou como representativos da cultura do município Arroz, agropecuária e indicou

como grupos atuantes Darci Zanetti; o respondente número dez elencou como

representativos da cultura do município Arroz, Pesca e indicou como grupos atuantes

Josapar; o respondente número onze elencou como representativos da cultura do

município Mergulhão; o respondente número doze elencou como representativos da

cultura do município Ave mergulhão e indicou como grupos atuantes Jamil Correa

Pereira; o respondente número treze elencou como representativos da cultura do

município o Porto; o respondente número quatorze elencou como representativos da

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cultura do município Jerra, Arroz, Pecuária e indicou como grupos atuantes Darci

Zanetti; o respondente número quinze elencou como representativos da cultura do

município Agricultura e indicou como grupos atuantes Darci Zanetti; o respondente

número dezesseis elencou como representativos da cultura do município O modo de

falar característico do povo mergulhão, misturado com o espanhol; As trancinhas de

Natal; O saber benzer que passa de geração em geração; O mate doce e o mate com

leite; As idas ao Porto e aos balneários aos fins de semana; o respondente número

dezessete elencou como representativos da cultura do município O modo de falar

característico do povo mergulhão, O espanholismo característico, As trancinhas de

Natal, Os saberes de construção de barcos de pesca, das redes, da invenção dos

saberes e fazeres do butiá, Os grupos de teatro, Os piquetes, As praças e o Teatro

Municipal, Os balneários como prática de turismo sazonal e cultural e indicou como

grupos atuantes Vanessa Azambuja, Eduardo Arriada, Carlos Munhoz, grupo de

teatro Expressão, grupo de teatro municipal Informação, CTG, piquetes; o

respondente número dezoito elencou como representativos da cultura do município O

modo de falar, os grupos de teatro do município, o licor de butiá e indicou como grupos

atuantes Vanessa Azambuja, NUMA, Joca D’ávila, CTG.

Como resultado da segunda fase obtém-seos nomes das pessoas que

trabalham com os elementos culturais identificados e a disponibilidade das mesmas

em trabalhar esses elementos, potenciais produtos turísticos, como turismo criativo

no município.

A respondente número um da segunda fase é a senhora Claudia Schwab,

está na faixa etária entre 46 a 55 anos, é do gênero feminino e trabalha com o

elemento cultural teatro.

Ao ser questionada se ela sabe o que é o turismo criativo, respondeu que o

que ela conhece de turismo criativo, aprendeu na faculdade. A senhora Claudia

respondeu que é um turismo alternativo, que através da criatividade se torna inclusivo,

sustentável, diferenciado, baseado nas características locais.

Ao ser questionada se o elemento elencado com o qual ela trabalha é um

potencial produto turístico, respondeu que acredita que o teatro é um potencial produto

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turístico, pois o próprio teatro é um atrativo, dando o exemplo de pessoas que viajam

para cidades vizinhas para assistirem peças teatrais.

Ao ser questionada se esse potencial produto turístico pode ser trabalhado

como turismo criativo no município e porquê, respondeu que acredita que o teatro

pode ser trabalhado como turismo criativo no município, dando o exemplo de um

roteiro ou uma atividade que envolva os pescadores da praia do Hermenegildo, que

os mesmos poderiam recepcionar os turistas caracterizados por personagens típicos

daquela localidade.

Ao ser questionada se já trabalhou com turismo, respondeu que não trabalhou

diretamente com o turismo, somente através de projetos da faculdade, dentre eles um

roteiro de visitação ao cemitério.

Ao ser questionada se o turismo criativo fosse implantado no município, se ela

se disponibilizaria a trabalhar esse potencial produto turístico, respondeu que se

disponibilizaria a trabalhar com o turismo criativo, se o mesmo fosse implantado no

município, dentro da sua disponibilidade de tempo.

Ao ser questionada sobre quais recursos ela julga necessários para

desenvolver o turismo criativo no município, respondeu que os recursos humanos são

essenciais para desenvolver o turismo criativo no município, fazer a comunidade

compreender o turismo, e também recursos estruturais, como acesso e saneamento

básico.

A respondente número dois é a senhora Angela Castro Lopes, da Companhia

do Butiá, está na faixa etária entre 36 a 45 anos, é do gênero feminino e trabalha com

o elemento cultural artesanatos e culinária de butiá.

Ao ser questionada se ela sabe o que é turismo criativo, respondeu que o

turismo criativo é usar o que tem na região para fazer oficinas, tentar passar o que se

pode fazer com o produto da região, nesse caso, o butiá.

Ao ser questionada se o elemento elencado com o qual ela trabalha é um

potencial produto turístico, respondeu que acredita que o butiá seja um potencial

produto turístico, pois apesar de não ter apoio, é o que o turista procura quando chega

ao município.

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Ao ser questionada se esse potencial produto turístico pode ser trabalhado

como turismo criativo no município e porquê, respondeu que acredita que o butiá pode

ser trabalhado como turismo criativo, pois é um produto que só tem aqui.

Ao ser questionada se já trabalhou com turismo, respondeu que não trabalha

com o turismo.

Ao ser questionada se o turismo criativo fosse implantado no município, se ela

se disponibilizaria a trabalhar esse potencial produto turístico, respondeu que se

disponibilizaria a trabalhar com o butiá se o turismo criativo fosse implantado no

município, apesar das dificuldades.

Ao ser questionada quais recursos ela julga necessários para desenvolver o

turismo criativo no município, respondeu que os recursos estruturais são necessários

para desenvolver o turismo criativo no município.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho foi elaborado com a finalidade de responder a pergunta

de se era possível desenvolver o turismo criativo no município de Santa Vitória do

Palmar. Foram trabalhados referenciais de vários autores que auxiliaram na

elaboração do trabalho escrito e também na elaboração dos questionários das

entrevistas.

Os objetivos foram alcançados, pois através das entrevistas com as

associações de bairro, identificaram-se os principais elementos culturais que podem

ser trabalhados como produto turístico e também através das entrevistas com as

pessoas que foram citadas pelos respondentes da primeira fase da pesquisa,

descobriu-se que essas pessoas têm interesse em trabalhá-lo no município.

O objetivo geral foi alcançado através dos resultados da pesquisa que

sinalizam a possibilidade de desenvolver o turismo criativo no município, pois há um

sentimento de pertencimento da parte da comunidade que respondeu a pesquisa, ela

[a comunidade] enxerga o turismo criativo como um novo meio de desenvolvimento

para o município. Mas como um produto turístico não se desenvolve sozinho espera-

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se com a pesquisa, mostrar a gestão pública e iniciativa privada que o município pode

crescer e desenvolver-se mais com a implantação do turismo criativo.

A pesquisa apresentou algumas limitações como a falta de interesse ou a

impossibilidade de contatar associações de bairropara participar da pesquisa. Outra

limitação foi a falta de interesse dos integrantes das associações em responder aos

questionários. Alguns alegavam desconhecimento sobre o tema, ou então que

realmente não tinham interesse em colaborar com a pesquisa. Outra limitação

presente no trabalho foi a dificuldade em descobrir o contato e contatar as pessoas

citadas pelos respondentes. Das pessoas a que se obteve acesso, apenas duas

tiveram interesse em participar da pesquisa, respondendo o questionário.

Para futuras pesquisas envolvendo o contexto trabalhado sugere-se que

sejam feitas reuniões com as associações, anteriores a aplicação da pesquisa, para

averiguar como os mesmos trabalham e assim poder explicar para os

entrevistadoscomo se dá o processo, buscando com que os mesmossintam-se mais

à vontade em serem entrevistados.

Outra sugestão para futuras pesquisas é fazer um levantamento da demanda

por esse tipo de turismo específico, com questionário aplicado aos visitantes ou

potenciais visitantes do município, para descobrir se haverá público-alvo para essa

tipologia de turismo.

Realizar projetos de extensão é outra sugestão para buscar a qualificação

desses atores que estariam envolvidos diretamente com o turismo criativo, pois os

mesmos detém o conhecimento na área, porém, por não trabalharem diretamente com

o turismo, precisam aprimorar as técnicas de tratamento aos visitantes.

REFERÊNCIAS

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Ministério da Cultura/Brasil. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/276>. Acesso em: 02 Set. 2015. Ministério da Cultura/Brasil. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/71>. Acesso em: 02 Set. 2015. Ministério da Cultura/Brasil. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/122>. Acesso em: 02 Set. 2015. NETTO, Alexandre Panosso; GAETA, Cecília. Turismo de Experiência. São Paulo: SENAC, 2010. Programa Porto Alegre Turismo Criativo – Diretrizes Básicas. Disponível em: <http://www.portoalegrecriativa.info/site/diretrizes_basicas.pdf>. Acesso em: 08 Out. 2015.

MEMÓRIA EM PAPEL E TINTA: AS CARTAS DE VIAGEM DE RUBENS E

MOZART ANTUNES MACIEL.

CHAGAS, Pierre24 [email protected]

FRIO COSTA, Bruna25

[email protected]

24Graduando do Curso de Bacharelado em Turismo UFPel, e-mail: [email protected], Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4890535298154775 25Orientadora do Trabalho. Bacharel em Turismo, Especialista em Gestão de Eventos e Hotelaria e Mestra em Memória Social e Patrimônio Cultural. Docente do Curso de Bacharelado em Turismo UFPel, e-mail: [email protected], Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4980650450395222

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Resumo: O objetivo deste trabalho discutir as relações entre memória e escritatendo

como objeto as cartas de viagem de Rubens e Mozart Antunes Maciel escritas durante

o tour de ambos pela Europa. Dentre o material analisado temos oitenta e cinco cartas,

sendo cinquenta e três escritas por Rubens, datadas no ano de 1914 no período de

fevereiro à agosto, e trinta e quarto das oitenta e cinco cartas são escritas por Mozart,

entre outubro de 1927 e maio de 1928. Este estudo permite compreender as cartas

em diferentes sentidos: como forma de escritas ordinárias e como testemunha de uma

experiência de vida (tour europeu), além de ser consideradas suporte da lembrança

de um tempo.

Palavras-chave: Memória; Escrita; Cartas de Viagem; Rubens Antunes Maciel;

Mozart Antunes Maciel;

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tomou forma tendo como inspiração versos do poeta português

Fernando Pessoa no Livro do Desassossego (1984, p. 286), “as viagens são os

viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”.

Em meados de 2014, tivemos acesso a 85 “cartas de viagem” – pertencentes

ao acervo epistolar do Museu da Baronesa – escritas por dois jovens pelotenses,

Rubens e Mozart Antunes Maciel – netos da “Baronesa de Três Serros”, Amélia

Hartley de Brito Antunes Maciel, e filhos de Amélia Aníbal Hartley Maciel, conhecida

como “Dona Sinhá”. As escritas epistolares de Rubens e Mozart datam de 1914 e

1928, respectivamente, e ocorrem (ou ocorreram) durante tour europeu.

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O objetivo geral deste trabalho é discutir as relações entre memória e escrita,

tendo como objeto as cartas de viagem de Rubens e Mozart Antunes Maciel.

Para começar a pensar tais cartas foi preciso compreender a escrita epistolar

como forma de comunicação à distância por mais de dois mil anos e como uma rara

oportunidade de transitar pela história de diferentes territórios da intimidade, por

relações de amor e amizade, por experiências singulares de sociabilidade (CASTRO

GOMES, 2004). Isto porque a escrita pessoal “está centrada na sensibilidade em

relação ao tempo que passa e nos esforços do escritor para dele construir uma

representação e uma memória, seja durante uma fase excepcional de sua existência

(diários de viagens), seja por motivos ligados à sua vida profissional (diários

diplomáticos, diários militares, diários médicos), seja de uma maneira mais regular

(diários-crônicas)” (HÉBRARD, 2000, p. 30).

A escrita permite moldar o sentido do “eu” ou de identidade e, dessa forma,

afeta as maneiras como as vidas são construídas. As cartas, segundo Mignot e Cunha

(2006), materializadas em papel e tinta guardam histórias individuais e familiares. Elas

são resultado da vontade de testemunhar um vivido. Escrever cartas é fazer-se

presente, mostrar-se ao outro e fazer-se ouvir. Destinada a estabelecer vínculos e

pactos de reciprocidade, a carta fixa na escrita a complexa relação de confiança

estabelecida entre remetente e destinatário.

Cartas de viagem, em especial, criam, para quem as recebe, uma imagem do

remetente e do local que, segundo Pires (2010) nunca é estática, afinal, uma viagem

denota um movimento (objetivo e subjetivo) do eu: o narrador não está fixo, ele se

relaciona com outros textos, outras pessoas, outros tempos, outros lugares e esse

relacionamento molda a imagem que ele quer de si e a imagem daquilo que ele vê e

faz.

As cartas transmitem aquilo que de melhor se leva de uma viagem: as

recordações. Conhecer, descobrir, avançar, aprender são verbos que de certa forma

irão definir as viagens na hora da escrita. “Um poeta chinês observou há muitos

séculos que recriar algo com palavras equivale a viver duas vezes” (MAYES, 2008).O

missivista deixa-se perder num lugar novo para depois se reencontrar consigo mesmo,

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afinal, seu estado de espírito favorece um olhar mais generoso sobre o destino que

visita. O viajante deve permitir-se perceber os aromas, as atmosferas, os detalhes que

ficarão guardados em sua memória e refletirão em sua escrita.

Segundo Medeiros (2012), não há melhor maneira de “fotografar” uma viagem do que

escrever sobre ela durante o percurso: lugares visitados, refeições realizadas,

encontros, sentimentos, descobertas. Sem nenhuma intenção literária ou jornalística,

apenas rabiscos a fim de registrar a viagem em palavras, não só em imagens “quando

os releio, retorno aos lugares em que estive,lembro de cada detalhe mencionado. Uma

maneira de voltar no tempo, só que de forma mais sensitiva e menos estática do que

nas fotos” (MEDEIROS, 2012, p. 08).

Escreve-se e guarda-se pela necessidade de recordar e, nas palavras de

Candau (2012) para que não nos tornemos seres pobres e vazios, tendo em vista que

os suportes materiais da memória vão sendo destruídos pela sociedade capitalista

que, segundo Bosi (1994) bloqueia os caminhos da lembrança, arranca seus marcos

e apaga seus rastros, num momento em que “o mundo se digitaliza e a arte de

escrever cartas desaparece” (USHER, 2015, p. 14). Hein (2015) afirma que em

tempos de Whatsapp, Skype, e Instagram, a comunicação ficou muito mais rápida,

barata e precisa. Perdeu, porém, o encanto do toque pessoal, do estilo e da fluência.

Também foi perdido o precioso hábito de abrir um envelope, sabendo, de antemão,

que ali há uma voz querida cheia de vivências para contar.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Estetrabalho justifica-se pelo fato de que

no que se refere à memória (com desdobramentos para a história), passam

a ser legítimos os procedimentos de construção e guarda de uma memória

individual “comum”, e não apenas de grupo social/nacional ou de “grande”

homem (político, militar, religioso). Os argumentos que sustentam as novas

práticas derivam tanto da assertiva sociológica de que todo indivíduo é social,

quanto do reconhecimento da radical singularidade de cada um. Uma

singularidade que se traduz pela multiplicidade e fragmentação do próprio

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indivíduo e de suas memórias através do tempo, sem que tal dinâmica torne

falso (muito pelo contrário) o desejo de uma “unidade do eu”, de uma

identidade (CASTRO GOMES, 2004, p. 16).

No momento em que a sociedade reconhece o valor de todo indivíduo e

disponibiliza instrumentos que permitem o registro de sua identidade, abre espaço

para legitimar o desejo de registro de sua memória, constituindo, então, a escrita

epistolar em grande fonte para o conhecimento histórico. Ginzburg corrobora esta

justificativa quando afirma que existe uma “relação entre o fio – o fio do relato, que

ajuda a nos orientar no labirinto da realidade – e os rastros” (GINZBURG, 2007, p.

07). Portanto, as cartas de viagem de Rubens e Mozart Maciel são o fio condutor

deste projeto.

Esta é uma pesquisa historiográfica, pois se refere às práticas da escrita da

história;

Falemos, então, de historiografia. Que ela tenha um componente subjetivo é

sabido; mas as conclusões radicais que os céticos tiraram desse dado

concreto não levaram em conta uma mudança fundamental mencionada por

Bloch nas suas reflexões metodológicas póstumas. “Hoje [1942]... até mesmo

nos testemunhos mais resolutamente voluntários”, escrevia Bloch, “aquilo

que o texto nos diz já não constitui o objeto preferido de nossa atenção”. As

Memoiresde Saint-Simon ou as vidas dos santos da alta Idade Média nos

interessam (continuava Bloch) não tanto por suas referências aos dados

concretos, volta e meia inventados, mas pela luz que lançam sobre a

mentalidade de quem escreveu esses textos (GINZBURG, 2007, p. 10).

Como metodologia, será adotada para que o objetivo principal deste projeto

seja alcançado, a análise documental. Documentos, que podem ser institucionais

conservados em arquivos, institucionais de uso restrito, pessoais como cartas ou e-

mails, fotografias, vídeos e gravações, leis, projetos, regulamentos, registros de

cartório, catálogos, listas, convites, peças de comunicação ou instrumentos de

comunicação institucionais, são considerados cientificamente autênticos.

Das oitenta e cinco cartas disponíveis, cinquenta e três são escritas por

Rubens, entre fevereiro e agosto do ano de 1914, quando:

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fez um tour [...] por várias cidades europeias, acompanhado de (ou

acompanhando) um Guia Baedecker [...] a mãe é a correspondente usual. [...]

a maioria enviada de Paris, onde o viajante fez sua base. [...] Nas cartas que

envia aos pais, Rubens fará descrições detalhadas também das cidades e

passeios, encontros e acontecimentos que viverá em sua aventura europeia.

[...] as cartas incluem um relatório breve, sempre positivo, de sua condição

de saúde; um comentário a respeito de suas finanças e um arrazoado sobre

sua necessidade de mais dinheiro; agradecimentos sobre a oportunidade que

a família lhe proporciona com aquela viagem e o muito que está aproveitando

a experiência (GASTAUD, 2009, p. 130).

Trinta e quarto das oitenta e cinco cartas são escritas por Mozart, entre

outubro de 1927 e maio de 1928:

As cartas de Mozart dirigem-se à mãe exclusivamente [...] suas descrições

são vivas e as saudações bastante carinhosas. [...] exemplo da criativa escrita

de Mozart é a cartinha “tatibitate” escrita para o sobrinho pequeno, Aníbal,

por ocasião de seu aniversário de três anos. [...] Garantir que cheguem, esta

é uma preocupação constante para Mozart que se queixa do correio [...]

escreve sobre a Europa, [...] fala de política, [...] quer saber da casa e dos

pequenos da família. (GASTAUD, 2009, p. 138).

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A rememoração auxilia a recomposição da relação entre passado e presente,

além de ser considerada uma estratégia de sobrevivência emocional (D´ALÉSSIO,

1993). Segundo Sampaio (2012, p. 01) “lembrar-se, do francês se souvenir, passa-

nos a ideia, por conta de sua etimologia, de vir à tona o que estava submerso”.

Podemos afirmar que a memória é um fenômeno que responde pela

reelaboração do passado no presente, pois, segundo Bosi (1994, p. 48) “o passado

conserva-se e, além de conservar-se, atua no presente”, portanto, é do presente que

parte o chamado ao qual a lembrança responde (BERGSON, 1999). E, acrescenta Le

Goff (2003, p. 447), “a memória é um glorioso e admirável dom da natureza, através

do qual reevocamos as coisas passadas, abraçamos as presentes e contemplamos

as futuras, graças à sua semelhança com as passadas”.

Bergson (1999) fala também sobre dois tipos de memória: a memória-hábito,

que é a dos mecanismos motores, adquirida por esforço de atenção e repetição e que

se torna automática (caminhar, dirigir), que irão garantir a aceitação dos indivíduos

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em grupos sociais. E também a memória-lembrança, ou lembrança propriamente dita,

que ocorre de maneira livre e leva o indivíduo que lembra a um momento único de sua

vida, uma determina ocasião, um determinado lugar e época. Este tipo permite melhor

compreender as relações entre o passado e o presente, e as interferências nos

processos das representações atuais.

Bergson entende memória como permanência do passado, que sobrevive em

estado latente no indivíduo e que pode ser convocado pelo presente sob a forma de

lembrança graças a um processo espontâneo, que associa imagens por meio de

semelhança ou de proximidade, formando um sistema próprio em cada indivíduo.

Candau (2012) afirma que a memória está vinculada a identidade do sujeito e

a sensação de pertencimento do mesmo a determinado grupo social, pois, “sem

memória o sujeito se esvazia, vive unicamente o momento presente, perde suas

capacidades conceituais e cognitivas. Sua identidade desaparece” (CANDAU, 2012,

p. 132). Muito mais do que para saber para onde vai, o sujeito é como o pássaro

Goofus Bird26, utiliza a memória para saber de onde vem.

Segundo Merlo (1997, p. 112), “o que move uma pessoa a recordar

determinados fatos do passado são as preocupações com o presente: ausência ou

presença de algo ou alguém; sentimentos submersos que podem vir à tona no ato de

lembrar ou provocar o esquecimento”. É importante salientar, porém, que “lembrar não

é reviver, mas refazer, reconstituir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as

experiências do passado” (BOSI, 1994, p. 55).

Memória é nosso senso histórico e nosso senso de identidade pessoal (sou

quem sou porque me lembro quem sou). “Há algo em comum entre todas essas

memórias: a conservação do passado através de imagens ou representações que

podem ser evocadas” (IZQUIERDO, 2002, p. 89).

A memória evoca o passado, ao mesmo tempo em que atualiza e difunde os valores

do presente. É indissociável da identidade.

26“Um pássaro que constrói seu ninho ao inverso e voa para trás, porque ele não se preocupa em saber onde vai, mas de onde vem” (BORGES & GUERRERO, 1965, p.89).

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Enquanto estudamos questões relativas à memória, aprendemos que “o uso

das letras foi descoberto e inventado para conservar a memória das coisas” (LE

GOFF, 2003, p. 445). Devemos, portanto, escrever tudo aquilo que desejamos que

seja conservado, afinal, como o próprio Le Goff (2003) afirma, as letras duram para

sempre.

A preocupação com o esquecimento é visível nos crescentes esforços “de

preservação de práticas de escritas passadas onde se encontram possibilidades de

uma construção identitária” (CUNHA, 2013, p. 01). Acredita-se, então, que os escritos

são suportes da memória, visto que, traços do passado, lembranças dos mortos e

glórias dos vivos são fixados por meio da escrita.

Chartier (2007) acrescenta que muitos são os suportes nos quais a memória

dos homens e do tempo poderia ser inscrita: pedra, madeira, tecido, pergaminho e

papel. Seja em uma biblioteca, em um livro, ou até mesmo, em objetos mais simples,

a missão da escrita é conjurar contra a fatalidade da perda. Porém, não é uma tarefa

fácil, afinal, vive-se em um mundo onde as escritas podem ser apagadas, manuscritos

perdidos e livros ameaçados de destruição.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

Cartas de viagem, como é o caso das apresentadas neste projeto, podem

efetuar ligações afetivas através das fronteiras da ausência, porque o escrito é capaz

de carregar, “o corpo ausente, a memória, a genealogia, bem como o valor material

literal” (STALLYBRASS, 2012, p. 26).

A singularidade do escrito está associada a dois aspectos: sua capacidade de

ser permeado e transformado tanto por quem escreve quanto por quem recebe e

guarda; e sua capacidade para durar no tempo. O escrito está associado com a

memória e, de fato, é um tipo de memória.

Além disso, o escrito possui uma característica importante: ele “reflete” quem

escreve. As folhas de papel podem captar as emoções, principalmente na escrita

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epistolar, seja através da caligrafia mais forte ou mais branda, no cuidado ao escrever

sem rasurar, em como a descrição dos fatos é feita, em suma, podem receber a

identidade de quem escreve.

A cultura escrita caracteriza um modo de organização social (BRITO, 2005, p.

15) e “vai desde o livro ou o jornal impresso até a mais ordinária, a mais cotidiana das

produções escritas, as notas feitas em um caderno, as cartas enviadas, o escrito para

si mesmo” (CHARTIER, 2001, p. 84). Escrever, de acordo com Castillo Gómez (2012,

p. 68) “sinaliza para uma atividade mais espontânea e até subjetiva”.

Ao escrever sobre as cartas de viagem de Rubens e Mozart Maciel, confere-se

importância para a preservação de documentos banais, de acordo com Mignot e

Cunha (2006). Desta forma, dotam-se de outros significados os papéis escritos. Ao

utilizar as cartas de viagem como fonte para esta pesquisa, dá-se valor às escritas

ordinárias – ou seja, de pessoas comuns - contribuindo para que a noção de

documento histórico seja ampliada e, assim, permitindo que este tipo de escrita seja

salvaguardado e conservado.

Castro Gomes diz que a escrita é uma forma de produção de memória que merece

ser guardada e lembrada e acrescenta:

Os registros de memória dos indivíduos modernos são, de forma geral e por

definição, subjetivos, fragmentados e ordinários como suas vidas. Seu valor,

como documento histórico, é identificado justamente nessas características

(2004, p. 11).

Ao tratar da escrita, devemos entender que ela está:

centrada na sensibilidade em relação ao tempo que passa e nos esforços do escritor para dele construir uma representação e uma memória, seja durante uma fase excepcional de sua existência (diários de viagens), seja por motivos ligados a sua vida profissional (diários diplomáticos, diários militares, diários médicos), seja de uma maneira mais regular (diários-crônicas) (HÉBRARD 2000, p. 30)

De acordo com Fabre (1993) as “escritas ordinárias” são aquelas produzidas

para deixar traços dos vivido. São realizadas por pessoas “comuns” e se opõem aos

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escritos prestigiados – elaborados com vontade específica de fazer uma obra -, visto

que, tem por objetivo registrar o efêmero, o descontínuo (CUNHA, 2007).

As escritas ordinárias registram o cotidiano. De acordo com Thies (2008, p.

219) possuem “a função de deixar os traços do fazer (laisse trace)”. As cartas de

viagem de Rubens e Mozart, objetos desta pesquisa, podem ser vistas como registro

de experiência pessoal conservada pela escrita, dado seu caráter de escrita ordinária.

E, “ao iluminar estes papéis ordinários pode-se pensar na importância de uma

“memória de papel” para o reconhecimento de diferentes práticas, costumes, rituais,

ações e sociabilidades” (MIGNOT & CUNHA, 2006, p. 42).

As escritas ordinárias auxiliamnas lembranças de quem seus autores foram e

de onde vieram, como diz Thomson (2002). Além disso, acrescenta Hébrard (2000)

não devemos nos basear apenas nos objetos conservados, mas nas representações

que os autores nos dão das relações que estabelecem com seus cadernos e

cadernetas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ascartas, segundo Mignot (2003), são folhas de papel que suscitam uma

investigação sobre a escrita e despertam relações entre memória, escrita, cotidiano e

arquivamento. Ou seja, sobre esse desejo de fixar a memória e a trajetória social,

garantindo a lembrança. De acordo com Mignot e Cunha (2006), materializados em

papel e tinta, guardam histórias individuais e familiares. Aparentemente pouco

importantes, eles são resultado da vontade de testemunhar um vivido. Papéis antes

tratados principalmente pela sua utilidade (valor de uso) passam cada vez mais a

valerem pela sua capacidade de remeter a outra coisa: valor de signo.

Portanto, este estudo permite compreender as cartas em diferentes sentidos:

como forma de escritas ordinárias, como testemunha de uma experiência de vida (tour

europeu), como relíquia conectada com uma sensibilidade nostálgica, como registro

de uma trajetória e como um objeto a ser conservado e preservado como parte da

história de uma família.

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Segundo Thies (2008), a escrita apresenta diversas funções em nossa

sociedade: escrita como estratégia de memória, como organização do pensamento,

como correspondência, escrita da e na vida, registro do que se fez no dia.

Rubens e Mozart podem ser entendidos, nos moldes conceituais de Barthes

(2007), como escreventes, ou seja,aqueles que utilizam a linguagem escrita como um

meio para atingir um fim, seja ensinar, explicar e, neste caso, registrar. Sendo assim,

as cartas poderiam ser consideradas suporte da lembrança de um tempo.

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PRAÇA DA MATRIZ E SEU ENTORNO: A VISAÇÃO DOS COMERCIANTES E

SEUS PATRIMÔNIOS

MENDONÇA, Rosanna L.27

[email protected]

ROCHA, Rafael A. (orientador)28

[email protected]

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo principal analisar a visão da

conservação dos patrimônios através do olhar dos comerciantes ao redor da Praça da

27Discente do curso de turismo da Universidade do Estado do Amazonas – UEA. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0127956372370363e-mail: [email protected] 28Docente do curso de turismo da Universidade do Estado do Amazonas – UEA. Doutor em História

Social pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Currículo Lattes:

http://lattes.cnpq.br/7452595445737676 e-mail: [email protected]

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Matriz e seu potencial turístico cultural. A análise dos resultados se dará por meio de

entrevistas e bibliografias referente ao tema de preservação e utilização dos

patrimônios e seu potencial turístico. A preservação do centro histórico de Manaus

vem causando grandes discussões, onde é cobrado dos órgãos públicos, onde

culpam os proprietários dos edifícios. A partir dos resultados observa-se que os

comerciantes e proprietários dos edifícios não possuem muitas informações e boa

comunicação com os órgãos públicos o que resulta em dificuldades na preservação e

manutenção dos patrimônios.

Palavras-chave: Patrimônio; centro histórico; comerciantes; órgãos públicos; turismo.

1 INTRODUÇÃO

A praça XV de Novembro, popularmente chamada de Praça da Matriz,

representou um marco para a comunidade manauara desde sua construção. Através

de seus jardins exibiu beleza a todos que chegavam em Manaus, principalmente pelo

porto da cidade. Para a população representava um lugar de lazer e recreação. Morar

perto da Praça da Matriz representava um alto poder aquisitivo durante o século XX,

pois ali se encontrava o centro econômico da capital amazonense.

No âmbito acadêmico encontram-se muitas discussões sobre a utilização da

Praça da Matriz como patrimônio e utilização para o turismo. Infelizmente é escassa

a preocupação acadêmica sobre os patrimônios edificados ao redor. A área ao redor

da Praça da Matriz é tombada desde 2012 pelo Instituto de Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional (IPHAN), onde foram catalogados 50 (cinquenta) edifícios de valor

histórico entre as ruas Av. Eduardo Ribeiro, Av. Sete de Setembro, Av. Floriano

Peixoto e rua 15 de novembro.

Atualmente a Praça da Matriz está passando por restauração desde 2014, sem

previsão de termino. Desde a colocação de tapumes simbolizando o início das obras,

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os comerciantes ao redor da Praça da Matriz tem sentido diferenças negativas nos

negócios como a baixa procura por parte dos clientes, a diminuição do movimento de

pessoas naquela região e o aumento da violência.

O trabalho presente tem como objetivo principal analisar a visão da

conservação dos patrimônios através do olhar dos comerciantes ao redor da Praça da

Matriz e seu potencial turístico cultural. A pesquisa contará com inventário de bens

imóveis de importância histórica localizados ao redor da praça, analisando os usos

atuais desses bens e a relação, no que se refere às políticas públicas voltadas ao uso

turístico dos mesmos e aos possíveis projetos de restauro e conservação, entre o

poder público e a praça.

Observa-se que a busca pela cultura tem levado muitas pessoas a viajarem

para conhecer a história de outros povos e sua forma de viver, abrindo assim um

segmento turístico crescente: o turismo cultural. Alguns autores trabalham a

importância da revitalização dos centros das cidades; não para o turismo, mas para a

própria população local relembrar de onde provem suas raízes.

Atualmente, o centro histórico da cidade de Manaus encontra-se em situação

crítica, e os edifícios que retratam o final do século XIX e começo do século XX

encontram-se abandonados. O poder público executou alguns projetos de

revitalização em alguns espaços do centro histórico, e a Praça da Matriz está sendo

“contemplada” por esta revitalização desde 2014 através do Projeto de Aceleração do

Crescimento (PAC) Cidades Históricas.

Diante de um mercado de turismo cultural crescente, e o centro histórico de

Manaus passando por revitalizações, faz-se o seguinte questionamento: Qual é a

visão dos comerciantes ao redor da Praça da Matriz, referente conservação de seu

patrimônio e dos órgãos públicos responsáveis?

Tendo como base os autores Neves (2003), Barretto (2000), Barretto (2007) e

Silva (2003) que discutem a preservação dos patrimônios brasileiros, a utilização

direta e indireta para o turismo e a identidade cultural da população receptora,

acredita-se que a Praça da Matriz e seu entorno tem potencial turístico na cidade de

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Manaus. Foi nessa região, com base em Brito (2012), que foi criado o Forte de São

José do Rio Negro, cerca do atual porto de Manaus.

A região da Praça da Matriz e seu entorno tem o grande potencial, pois foi que

se iniciou a cidade (ANDRADE, 2011). Para o turismo, a região da Praça da Matriz e

seu entorno pode ser algo de extremo valor sendo oferecida como possibilidade de

turismo cultural. Para a população manauara, a Praça, a igreja, os edifícios e o porto

são bens patrimoniais que transfiguram a história não contada verbalmente, de uma

cidade abastada durante o período áureo da borracha.

A preservação dos patrimônios nas cidades tem causado grandes discussões

no meio acadêmico, pois muitos autores defendem que a restauração dos edifícios

deve começar pelo querer preservar da população, algo que é demorado, para que

em decorrência o turista venha usufruir.

Grunberg (2000, p. 161) afirma que os monumentos são formas de “reconhecer

o passado cultural do qual o cidadão é herdeiro” (apud Santos 2012, p. 20). Autores

como Barros e Albuquerque (2010) concordam ao analisarem que observar o

patrimônio edificado restaurado ou que apresentam estar em bom estado de

conservação, torna-se algo relevante para a memória cotidiana dos habitantes da

cidade, podendo interferir de forma passiva o imaginário dos turistas que visitam o

local.

A motivação do estudo proveio da inquietação despertada em função do

abandono dos monumentos históricos edificados na cidade de Manaus e do grande

potencial turístico dessa região. Deverá ser analisada a compreensão de patrimônio,

patrimônio cultural, leis de Patrimônio Federal e Municipal, a visão do poder publico

para o futuro desses espaços e a visão dos proprietários dos imóveis ao entorno da

Praça da Matriz.

Crê-se que para a universidade o estudo seja relevante para ser cada vez mais

discutido o turismo cultural referente às edificações da cidade de Manaus, e a

utilização desses espaços para a população e para o turismo.

Em relação aos profissionais da área, considera-se salutar a importância da

população na conservação do patrimônio, a necessidade de compreender e discutir a

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visão futura que o poder público tem sobre esses espaços e incentivar novos projetos

que contemplem a preservação desses edifícios visando o turismo.

Para o pesquisador, a pesquisa é satisfatória, pois com base nas afirmações

de vários autores das áreas de história e turismo, poderemos ter uma visão ampla da

situação em que se encontram os edifícios tombados em algumas regiões do Brasil e,

especificamente, na cidade de Manaus. O turismo é uma alternativa para a

preservação e sustentação econômica de espaços e edifícios históricos, o que resulta

bom para a população e para a economia da região.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Ométodo de investigação será a pesquisação e estudo de caso. As fontes

dos dados será através de entrevistas com os comerciantes ao redor da praça e

bibliografias sobre o tema. Característica da amostra aleatória, intencional. A coleta

de dados foi realizada com base em questionários e entrevistas gravadas. Os

resultados serão baseados na visão dos comerciantes debatendo com autores que

abordam o tema.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 HISTÓRIA DAS OBRAS PÚBLICAS NA CIDADE DE MANAUS

A região da Amazônia, nos séculos XVI e XVII, era uma região extremamente

disputada pelos europeus (Espanha, Portugal, França, Holanda e Inglaterra), que

julgavam ali encontrar riquezas como ouro e prata baseados em fantasias, mitos e

folclore. Com a necessidade de os portugueses defenderem seu território durante a

colonização do Amazonas, decidiu-se construir uma estrutura, pois havia muitos

europeus explorando o rio Orinoco e Cassiquiere em busca de terras, lugares esses

que ficam próximos ao Rio Negro. Para assegurar as terras declaradas portuguesas,

houve a necessidade de criar o forte São José do Rio Negro(GARCIA, 2010, p. 25).

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Ao mando de D. José I (rei de Portugal) foi construído em 1669, o forte São

José do Rio Negro. Ali se encontrava um pequeno arraial que, em 1833, foi elevado a

categoria de vila com o nome de Manaós, em homenagem à tribo da mesma

denominação que se recusava a ser dominada pelos portugueses e negava ser mão

de obra escrava (para militares e religiosos). Quando recebeu o título de cidade em

24 de outubro de 1848 era um pequeno aglomerado urbano com cerca de três mil

habitantes, uma praça, 16 (dezesseis) ruas e quase 250 (duzentos e cinquenta) casas.

Em 1856 foi nomeada cidade de Manaus (GARCIA, 2010, p. 32).

Segundo Mesquita (2006, p. 53), em 1890, início do período republicano no

Brasil, existiam cidades que haviam prosperado economicamente e que ostentavam

um estilo arquitetônico neoclássico, estilo que foi oficialmente adotado pelo Império e

servia como um padrão arquitetônico, copiado pelas cidades brasileiras.

A cidade de Manaus era a capital provincial mais distante da corte e, para

chegar nela, era necessário fazer longas viagens fluviais pelo meio da selva

amazônica. No século XIX a capital da província do Amazonas era uma cidade

pequena com um vasto e rico território, mas que se encontrava em condições de

pobreza. Não havia quem trabalhasse na agricultura e o comércio era insignificante.

Ao tratar-se de obras públicas, pouco era feito apesar dos esforços de alguns

administradores, a capital exibia pouquíssimos exemplares da arquitetura tradicional

(MESQUITA, 2006, p. 53).

Foi no final do século XIX que obras de grande importância arquitetônica foram

construídas na cidade. A atribuição para a realização das obras foi o enriquecimento

provindo da venda do látex, o que contribuiu para as obras públicas e privadas de

edifícios preservados até os dias atuais.

O ciclo da borracha foi um importante momento da história econômica e social

do Brasil. Seu marco ocorreu na região amazônica, proporcionando a expansão para

o interior. Tal fato acarretou grandes transformações socioculturais, formando vilas e

povoados nas beiras dos rios, que logo se transformaram em cidades (D’AGOSTINI,

BACILIERI, VITIELLO, et al. 2013, p. 6). Outras cidades já existentes, como Manaus,

Porto Velho e Belém, tiveram a oportunidade de enriquecer expressivamente durante

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este ciclo, aproveitando a riqueza para fazer as modificações necessárias e expressar

através de seus edifícios e monumentos o ganho da exportação da borracha.

Foi nesse momento que Manaus passou por um remodelamento arquitetônico,

urbanístico e social. Santos Júnior (2008, p.3) comenta que, assim como algumas

cidades do período da Belle Époque brasileira, Manaus passou a ser um centro

comercial exportador-importador. Logo se tornou imperativo embelezar a cidade,

adaptá-las às exigências econômicas e sociais da época e torna-la atraente àqueles

que a frequentavam a negócios ou aspirassem nela se estabelecer terminantemente.

Mesquita (2009, p. 338) observa que Manaus sofreu transformações

significativas nesse período: “a imagens da cidade de Manaus passa a apresentar um

espaço de aparência moderna e embelezada” (MESQUITA, 2009, p. 338). Manaus

necessitava passar pela transformação, de uma vila a cidade e, como Paris era o

modelo de cidade mundial, Manaus passou a adquirir estruturas europeias.

Durante esse período, grandes obras públicas foram erguidas em Manaus, com

a implantação de medidas que eram consideradas civilizadas e modernizantes

(SANTOS JÚNIOR, 2008, p. 2). Manaus já não poderia se parecer como a aldeia

citada por Mesquita (2006, p. 54), necessitava de edifícios que mostrassem que a

cidade possuía um poder aquisitivo forte e que a elegância e o conforto encontravam-

se ali. Nesse momento, a elite local iniciou uma identificação própria vista como

representação da Belle Époque, enaltecendo a cidade de uma forma ostentadora e

enquadrando-se com o que era avaliado como moderno e civilizado em eixos do

Sudeste e de fora do país. Foi com a imagem dos prédios que transformaram a cidade

de Manaus na conhecida Paris das Selvas (DAOU, 1998, p.173 apud SANTOS

JÚNIOR, 2008, p. 2).

Lemos (2007, p. 1) comenta que, durante o século XIX, Manaus teve a

oportunidade de crescer e mudar a sua paisagem. Nessa época, a cidade deparou-se

com amplos processos de reordenamento espacial que deram origens a novas ruas,

avenidas e praças, bem como a construção de prédios públicos e privados que

buscavam refletir a riqueza material da sociedade local. O autor menciona que,

durante o final do século XIX, houve um aumento da população trabalhadora em

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Manaus não só por causa da economia gomífera, mas pela necessidade de mão de

obra para os serviços públicos que exigiam competências técnicas especificas para

trabalhos como a instalação de trilhos, encanamento subterrâneo para água, esgoto,

gás e telégrafo (LEMOS, 2007, p. 2).

Através das riquezas públicas oriunda dos tributos da goma, foram-se

investindo no reordenamento urbano com a construção de ricos prédios públicos,

abertura e pavimentação de ruas, avenidas, parques, praças e passeios públicos. As

obras de embelezamento da cidade, com a construção de jardins e boulervards,

garantiam a higienização e diversificação do espaço, criando novas áreas urbanas de

lazer que se beneficiaram largamente, primeiro com a iluminação a gás e depois à luz

elétrica, que prolongava o tempo da sociabilidade urbana para além do pôr do sol. O

Estado concentrava as infraestruturas no centro da cidade e, desde modo, produzia o

espaço urbano, atuando na sua captura e como instrumento de reprodução social

diferenciada (OLIVEIRA, 2003, p.75 apud LEMOS, 2007, p. 3).

3.2 PRAÇA DA MATRIZ.

Com as transformações urbanísticas provinda do enriquecimento da cidade

juntamente com a boa administração, priorizou-se a infraestrutura da cidade e seu

embelezamento, surgindo assim, os espaços verdes de lazer e recreação para a

população de Manaus. Segundo Mesquita (2006 p. 273) os logradouros públicos

passaram a ser essenciais para a vida urbana e muito além de seu uso tradicional,

apresentaram “diversificação de uso, valorizaram sobre tudo o comércio, o transito e

a diversão pública, revelando uma forte influência das ideias de civilização e

progresso” oriundas dos grandes centros urbanos mundiais, que objetivavam o

embelezamento e saneamento das cidades.

Como era costume durante a colonização europeia, as povoação que eram

estabelecidas necessitavam de um lugar onde realizar os cultos religioso. É então,

que surgem as capelas e igrejas em povoados Amazônicos. As igrejas Católicas que

eram fundadas apresentavam um espaço de lazer e recreação para os féis e a

população local, denominados de praças. A construção da primeira igreja na cidade

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de Manaus trouxe consigo a necessidade de uma praça onde a população pudesse

usufruir dos festejos religiosos e praticar o lazer.

Segundo Mesquita (2006, p. 278) a primeira nomeação dada à praça em frente

à igreja da Matriz foi Lago da Olaria, pois ali anteriormente estava localizada uma

fábrica de tijolos. Com base no autor, durante o período provincial, o espaço já era

conhecido como Praça da Imperatriz, Duarte (2009, p. 19) acrescenta que foi dado

esse nome em homenagem a Teresa Cristina Maria de Bourbon-Sicília e Bragança,

esposa do Imperador Dom Pedro II.

Ao longo dos anos a praça passou a possuir diversos nomes, tanto em

documentos oficiais como popularmente, tais como Praça XV de Novembro, Praça

Oswaldo Cruz, Praça do Comércio, entre outros. Atualmente a praça é conhecida

popularmente como Praça da Matriz.

A construção da praça iniciou-se quando ainda a Igreja de Nossa Senhora da

Conceição estava sendo construída e constou com recursos provindos do Império

juntamente em parceria com comerciantes que moravam cerca do local (MESQUITA,

2006, p. 278). Conforme o autor, em 1880 foi aprovado a Lei n.º 495 autorizando a

desapropriação de casas, casebres e terrenos localizados naquela área. Como

consequência desse ato, estima-se que durante esse processo o espaço da praça

tenha sido ampliado (MESQUITA, 2006, p. 278).

Em 1893, o “Planno de Embelezamento” da cidade de Manaus, sendo

outorgado por Eduardo Ribeiro reservava algumas mudanças e melhoramento para a

praça. Dentro das mudanças que se encontrava no plano, estava o aterro do igarapé

do Espírito Santo, que estava localizado em uma das laterais da praça (MESQUITA

2006, p. 279).

Em 1894, os melhoramentos estavam em andamento e, em março de 1896, o

governador Eduardo Ribeiro (1896, p. 22 apud Mesquita, 2006, p. 279) anunciava

estar concluído o embelezamento da praça, mas deixava explicito que faltavam alguns

detalhes que não conseguiram resolver a tempo. Já se encontrava devidamente

instalada a fonte monumental, mas as obras complementares da rampa não haviam

progredido por falta de credito necessário. Segundo Mesquita (2006, p. 280) a fonte

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199

monumental da qual Eduardo Ribeiro se refere é o chafariz “feito de ferro, fabricado

pela firma escocesa Sun Foundry, de Glasgow, de acordo com inscrições gravadas

em algumas peças do conjunto”.

Segundo Duarte (2009, p. 20) o primeiro jardim da praça foi inaugurado em

1896, apresentando um formato triangular e situando-se logo em frente a igreja da

Matriz. Segundo o autor, o jardim foi tão bem apreciado pela população da época que

no mesmo ano decidiram dar continuidade aos jardins laterais.

Com base em Duarte (2009, p. 19) e Mesquita (2006, p. 279) para o

embelezamento da área da praça e do porto da cidade foi autorizada a Lei 36, de 29

de julho de 1893, de desapropriação de prédios e casas situados a margem do Rio

Negro, entre a Praça da Matriz até a Praça Tenreiro Aranha.

Os jardins laterais da igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição foram

entregues em 1897 a população, em relato, o governador Fileto Pires Ferreira (1898,

p. 43 apud Mesquita, 2006, p. 280) informava ter mandado aplicar a construção dos

jardins nas áreas laterais da igreja e a obra apresentava-se estar quase concluída,

apresentando um aspecto “regular e agradável” analisando ainda que “os jardins

abertos ficariam mais bellos e seriam melhor apreciados”. Segundo Duarte (2009, p.

20) os jardins laterais foram construídos no mesmo local onde haviam sido plantadas

as palmeiras provindas de Belém, e nas proximidades das áreas que haviam sido

desapropriados casas e edifícios em 1893, ao mando do governador Eduardo Ribeiro.

Após a inauguração da Praça, a população manauara e seus visitantes

passaram a frequentar um espaço de lazer bem localizado, uma vez que a praça

estava localizada na frente do porto da cidade.

Em 1912, na administração de Jorge Moraes, realizou-se uma nova

pavimentação e a arborização de todos os jardins pertencentes à praça. Segundo

Duarte (2009, p. 21) durante a década de 1920 a praça foi remodelada pelo prefeito

Araújo Lima que constituiu mais dois jardins em sua área, aproveitando o trajeto dos

bondes que por ali passavam. O primeiro jardim foi feito em 1924 e levou o nome de

Jardim Jaú. O segundo foi construído em 1927, e levou o nome de Jardim Ajuricaba

de Menezes.

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200

Em 1930, a área defronte a Igreja de Nossa Senhora as Conceição recebeu a

instalação de um aquário, que tempo depois foi transformado no Aviaquário Municipal

(DUARTE, 2009, p. 26). Em 1930, também foi instalado um parque infantil no jardim

ao lado da Avenida Eduardo Ribeiro, e refeito o calçamento com pedras toscas as

rampas que circundam a igreja.

O atrativo do Aviaquário foi tão aprazível para a população que, em 1936, o

prefeito Antonio Maia realizou, por meio do Decreto Municipal 39, a construção de um

Parque Zoológico onde estava localizado o aviaquário(DUARTE, 2009, p. 26). A

inauguração ocorreu em 21 de abril de 1937, e o novo Jardim Zoológico Municipal

passou a abrigar “um conjunto de várias espécies de animais amazônicos” e seu

funcionamento deu-se até meados da década de 1940. No final de 1950, o Jardim

Zoológico foi transferido para a Arquidiocese de Manaus. A reinstalação do Aviaquário

Municipal acontecera em 1979, com exemplares de animais variados, espaço para

venda de artesanato e um centro de artes coordenado pela Secretária Municipal de

Educação e Cultura (DUARTE, 2009, p. 26).

Segundo Duarte (2009, p. 26) a partir de 1989, a área passa a ser mencionado,

em documentos oficiais, como Parque Dom Basílio Ferreira. Ao termino dos anos de

1980, o Aviaquário já havia sido desativado.

Ao longo dos anos a Praça da Matriz vem sido reformada e adaptada,

modificando algumas de suas características originais (DUARTE, 2009, p. 26).

Monteiro (1998, p. 556) crítica que que com o passar do tempo, a Manaus de 1900

está sendo descaracterizada. Cada vez menos encontramos jardins arborizados,

ornamentação devidamente originais, entre outros. Em Manaus tudo sofre (ou sofreu)

uma reforma de prefeitos “que não possuindo nenhuma ligação sentimental conosco

também não podiam considerar a arbitrariedade cometida contra a cultura”

(MONTEIRO, 1998, p. 556).

Em 2009 a Praça da Matriz sofreu uma revitalização, mas logo em pouco tempo

já se encontrava em situação de degradação. A praça também foi contemplada pelos

projetos "Corredor Cultural" e "Reconstruindo o Centro" durante as gestões passadas

(ANDRADE, 2011, p. 91).

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201

Atualmente a Praça passa por uma nova revitalização que teve início em 2014.

O projeto faz parte do o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades

Históricas onde já investiu cerca de R$ 6.554.322,14 para as obras, que ainda não

estão concluídas. Em 2014 a Prefeitura de Manaus informou que as obras levariam

cerca de 9 (nove) meses para estarem concluídas (Globo Noticias Amazonas, 01 de

julho de 2015). Neste ano houve denúncias sobre a paralisação total das obras na

praça, pois ainda segue-se investindo dinheiro e não há continuação das obras (A

Crítica, 29 de junho de 2016).

Em resposta a denúncia o Instituto Municipal de Planejamento Urbano

(IMPLURB), responsável pelas obras da praça, defendeu que as obras procedem de

uma forma lenta uma vez que os recursos estão minimizados por consequência da

crise que o país está enfrentando. O Implurb informou também que não há previsão

para o termino da obra realizada na Praça da Matriz (A Crítica, 29 de junho de 2016).

3.3 PRESERVAÇÃO E UTILIZAÇÃO DOS PATRIMÔNIOS NA CIDADE DE MANAUS

O centro histórico de Manaus é tombado pelo IPHAN desde janeiro de 2012

(IPHAN, 2012). Com base em Silva (2003, p. 89) podemos classificar Manaus como

cidade histórica viva dentro da definição de centro históricos, "onde a dimensão

espacial abrange exatamente o perímetro da cidade antiga, atualmente englobada por

uma cidade moderna".

Segundo o Decreto Municipal de 2013, o patrimônio histórico consiste em

“todos os bens culturais que possuem representatividade para história e identidade da

cidade” (Decreto Municipal nº 2.436 de 19 de julho de 2013).

Tratando-se de preservação de patrimônio histórico em Manaus

Art. 35. Consistem o patrimônio histórico, artístico e cultural de Manaus a ser

preservado, por serem testemunhos mais antigos da história do lugar e

importantes ao resguardo da identidade e memória da população local e

ainda pelas características excepcionais, os bens incluídos no Setor Especial

de Unidades de Interesse de Preservação, definido e regulamentado pelo

Poder Executivo Municipal, no Sítio Histórico e no Centro Antigo, conforme

os termos da Lei Orgânica do Município de Manaus – LOMAN, demarcados

no Mapa de Qualificação Ambiental do Plano Diretor Urbano e Ambiental de

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202

Manaus ( Lei nº 672 de 04 de novembro de 2002, apud Decreto Municipal nº

2.436 de 19 de julho de 2013).

As Unidades de Interesse de Preservação Histórica são bens imóveis de valor

significativo que, de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar

as tradições e a memória da cidade (Decreto Municipal nº 2.436 de 19 de julho de

2013). As Unidades de Interesse de Preservação são classificadas em 1º Grau, 2º

Grau, Orla Portuária e Praças Históricas (Decreto Municipal nº 2.436 de 19 de julho

de 2013. Art. 4º).

Os edifícios ao redor da praça apresentam características arquitetônicas

diversas. Não são todos que apresentam estilo arquitetônicos com fachadas históricas

como descrito no Decreto Municipal nº 2.436 de 19 de julho de 2013. Cada edifício

apresenta suas características próprias, ao mesmo tempo que alguns apresentam

detalhes similares entre eles.

Embora haja edifícios que possuam e não possuam componentes de fachadas

históricas ao redor da Praça, todos estão dentro da área de preservação descrito no

Decreto nº 7176 de 10 de fevereiro de 2004, que delimita como área de interesse de

“proteção, acautelamento e programação especial” desde a “Rua Leonardo Malcher e

a orla fluvial, limitado ao Oeste, pelo igarapé de São Raimundo e, ao Leste, pelo

igarapé de Educandos, tendo como referência a Ponte Benjamin Constant.” (Art. 1.

Decreto Municipal nº 7176 de 10 de fevereiro de 2004).

A delimitação marca os bens de valor significativo que possam apresentar ou

marcar as tradições e a memória da cidade de Manaus. São classificados como bens

de valor significativos os espaços que apresente: I- paisagens; II- sítios históricos; III-

conjuntos arquitetônicos; IV – edificações de interesse cultural; V- demais unidades e

equipamentos estabelecidos pelo órgão competente do Munícipio (Art. 1. § 2º. Decreto

Municipal nº 7176 de 10 de fevereiro de 2004).

Ainda segundo o Decreto “cada unidade de interesse de preservação merecerá

tratamento específico visando adequá-las à vizinhança mais imediata e, sempre que

possível, integra-la no contexto da cidade” (Art. 3º. Decreto Municipal nº 7176 de 10 de

fevereiro de 2004).

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Todos os bens delimitados como parte do centro histórico de Manaus, seja

possuindo classificação de 1º grau, 2º grau, orla portuária ou praças históricas, devem

obedecer as normas mais especificas sobre a preservação desses bens.

As medidas acautelatórias de proteção, caso a propriedade seja particular,

deve seguir as seguintes recomendações: caso seja necessário fazer alguma

modificação em um dos espaços delimitados como área do centro histórico, o projeto

deve ser encaminhado com antecedência para o Instituto Municipal de Planejamento

Urbano (IMPLURB), onde devem ser analisados e aprovados (Art. 15. Decreto

Municipal nº 7176 de 10 de fevereiro de 2004). As modificações descritas incluem:

restauração, recuperação ou reconstrução total do imóvel com base em dados

existentes no IMPLURB, principalmente tratando-se da fachada e da cobertura;

Construção de um novo imóvel, devendo obedecer todas as delimitações de uso e

obedecendo as normas que incluem o uso, volumetria, afastamento, recuos,

coeficiente de aproveitamento, concepção arquitetônica, taxa de ocupação do solo,

vagas para garagem, entre outros (Art. 15 Decreto Municipal nº 7176 de 10 de fevereiro

de 2004).

Segundo Silva (2003, p. 131) tratando-se da conservação relativa à proteção

do patrimônio nacional, o proprietário do imóvel possui a principal obrigação de

conservar o bem tombado. Na ocasião em que o proprietário não possuir recursos

para a conservação do bem, “deverá comunicar ao órgão competente a necessidade

da execução das obras para a sua “conservação e reparação”, sendo sua omissão

punida com multa”.

Mas impor a preservação não é uma solução. Para Neves (2003, p. 52) possuir

o patrimônio imóvel apresenta uma dimensão material que deve ser associada com o

simbolismo da cultura a qual pertence. O patrimônio é um suporte da história e da

memória dos grupos sociais, e para que isso tenha resultados positivos, deve surgir

da própria comunidade a decisão de preservação de seus produtos culturais (NEVES,

2003, p. 53).

Neves (2003, p. 53) analisa que a preservação pode ocorrer de forma individual

ou coletiva, podendo os indivíduos ou os diversos grupos sociais desenvolverem

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204

mecanismos de preservação daquilo que julgarem dignos de ser preservado. Alguns

estudos de casos mencionados pelo autor destacamos uma família que resolveu

passar de geração a geração um livro de receitas gastronômicas para assim manter

vida a cultura de sua família. Também destacasse uma pequena comunidade em

Nova Olinda que decidiu realizar projetos culturais de preservação da memória

envolvendo crianças e jovens da própria comunidade, onde realizam a busca da

memória de seu local de origem, assim como de seus antepassados, os índios Cariri

(NEVES, 2003, p. 54).

Fazendo uma crítica ao pensamento da população manauara tratando-se da

conservação de patrimônios materiais da cidade, Monteiro (1998, p. 556) afirma que

O que não serve para nós que não sabemos cultivar a expressividade dos

bens patrimoniais públicos vai servir de jardins e mansões de arrivistas que

aqui chegam com uma mão na frente e outra atrás e saem de alforjes

(MONTEIRO, 1998, p. 556).

Para o autor, a população manauara não possui a cultura de preservar sua

própria cultura, mudando constantemente os hábitos e ignorando seus hábitos

antigos, permitindo que governantes façam o que achar mais convenientes com os

espaços públicos. Esses atos acarretam graves consequências nos patrimônios da

Manaus antiga, e aos poucos deixamos nossas frondosas fontes ornamentais serem

esquecidas em depósitos públicos.

O Governo tem apoiado alguns projetos para a preservação do centro histórico

de várias cidades brasileiras incluindo Manaus. Em Manaus ocorreram alguns

programas de preservação do patrimônio material. Segundo o IPHAN, o Programa

Manaus Belle Époque iniciou sua fase de implementação dos projetos no ano 2000,

onde visava a preservação do patrimônio aliando a preservação e o turismo. Em

sequência veio o Projeto Monumenta, que buscava restaurar obras, buscando

conciliar esta ação com a sustentabilidade dos sítios históricos, motivando seus usos

econômicos, cultural e social (IPHAN, 2005).

A preservação do patrimônio ocorre quando a população e os órgãos públicos

entram em acordo, em que ambas as partes se comprometem com a recuperação,

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preservação e manutenção dos patrimônios públicos e particulares. Se não há o

consentimento da população e o “quer preservar” os projetos governamentais não

serão suficientes para que os patrimônios se mantenham, o que ocasiona em poucos

anos o desgaste e abandono do imóvel.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

4.1 EDIFICIOS AO REDOR DA PRAÇA DA MATRIZ

Dos 50 (cinquenta) edifícios catalogados ao redor da praça durante a realização

da pesquisa, observou-se que apenas o edifício do Correio situado na Av. Eduardo

Ribeiro encontrava-se sem utilização e abandonado.

Com relação aos entrevistados, todos alegaram serem locatários dos edifícios e

utiliza-lo para uso exclusivamente comercial.

Das reformas realizadas no interior e exterior dos edifícios, observou-se que

apenas 1 entrevistado respondeu que a reforma realizada no edifício é de

responsabilidade do proprietário. Outros 2 entrevistados responderam que as

reformas são realizadas por ambos, os proprietários e os locatários. Os demais

entrevistados responderam que todas as reformas realizadas no interior e no exterior

do edifício são de responsabilidade exclusiva do locatário.

Analisou-se que os edifícios visitados durante a pesquisa, todos haviam

realizado algum tipo de reforma (interna ou externa) nos últimos três anos, e

consequentemente, não estavam com previsão de uma nova reforma.

Um dos edifícios localizados na rua 15 de Novembro encontrava-se em péssimo

estado no ano de 2015, quando ocorreu uma forte chuva e a estrutura cedeu por

completo. Segundo o atual locatário do edifício, a reforma durou cerca de 8 meses e

foi de total responsabilidade do proprietário. Atualmente somente a fachada do edifício

é original, todo o interior foi refeito.

Com relação a restauração da Praça da Matriz na visão dos comerciantes

entrevistados, ressalta-se a crença de que com a obra concluída, o comércio vá

melhorar, atraindo mais compradores e turistas.

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Todos os comerciantes demonstraram ter alguma noção básica daquilo que é

turismo e o que representa no meio econômico daquela região. Demonstraram

conhecimento da temporada de cruzeiros que ocorre de novembro a maio, todos os

anos.

Em relatos durante a entrevista, foi abordado pelos entrevistados que desde

que a praça entrou em restauro em 2015, houve prejuízo na movimentação do

comércio. Menos turistas e moradores da cidade passaram a frequentar aquela área,

aumentado os problemas sociais.

Dos problemas públicos apontados, destacou-se a pouca iluminação na praça

e ao redor, prostituição, muitos moradores de rua naquela região e principalmente a

falta de segurança. Segundo os próprios comerciantes, há um alto índice de assalto

ao redor da praça, e que a partir das 18h já não se pode transitar por conta da

insegurança.

O jornal A Crítica (29 de junho de 2016) tratando de uma reportagem realizada

ao redor da Praça da Matriz, entrevistou alguns comerciantes e em entrevista ao

jornal, informaram que a demora na reforma da Praça da Matriz trem prejudicado o

comércio, principalmente na segurança. Segundo a comerciante

Depois que as praças foram fechadas, a situação aqui nesta região ficou

complicada. Por causa disso temos perdido muitos clientes que preferem ir

aos shoppings e bairros para comprar, pois descer em uma parada no centrão

é praticamente pedir para ser assaltado.” (JORNAL A CRÍTICA, 29 DE

JUNHO DE 2016).

Dentre algumas melhorias esperadas após a restauração e inauguração da

praça, apontou-se eventos culturais para que a população voltasse a frequentar a

praça da Matriz. A idealização proposta pelos entrevistados seria que a praça da

Matriz fosse como a praça São Sebastião, localizada também no centro de Manaus,

na frente do Teatro Amazonas. Eventos culturais como música, teatro, dança,

apresentações artísticas, entre outras, seriam uma das maneiras para chamar público

e para tornar o ambiente mais agradável. Tornando assim, a Praça da Matriz um

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ambiente de lazer para a comunidade manauara e por consequência, ao turista que

visita a capital.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Manaus foi uma importante capital econômica nos tempos da extração da

borracha na região norte do Brasil. Com o passar do tempo, a situação econômica da

capital sofreu altos e baixos, desde o declínio da borracha até a implantação do Polo

Industrial. A globalização vem influenciando a cultura em todos os aspectos

mundialmente, e não é diferente em Manaus.

Entre filosofias e pensamentos, surge a discursão entre o novo e o antigo, a

importância do preservar ou sucumbir ao atual disponível no mercado. Afinal, o que

fazer com os edifícios antigos de uma cidade que vem sendo afetada cada vez mais

pela globalização? Devemos apagar nosso passado para ter um novo futuro?

Sem dúvida o turismo planejado juntamente com a comunidade contribui com

a preservação dos patrimônios, desenvolve a identidade cultural e promove igualdade.

Observou-se que a Praça da Matriz atualmente está com dificuldades quanto ao

termino de suas obras, e com a demora provem o descontentamento da população,

religiosos e comerciantes que desenvolvem suas atividades diárias ao redor da praça.

Com a crise no país, o poder público vem buscando resguardo com a “falta de

dinheiro”, sendo que já foram investidos R$ 5.673.964,69 e a praça não está nem

perto de ser inaugurada.

O isolamento da praça vem ocasionando a diminuição do fluxo de pessoas

naquela região, o que diminui turistas e potenciais clientes para o comércio ali

estabelecido.

A pouca iluminação e segurança juntamente com a diminuição de fluxo de

pessoas vêm tornando aquela área cada vez mais perigosa, onde ocorrem frequentes

assaltos. A aparente ausência do poder público vem trazendo constantes revoltas aos

moradores e comerciantes daquela região.

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A falta de comunicação entre os órgãos públicos responsáveis pelo patrimônio

vem trazendo serias consequências para a população com a demora das obras.

Durante a pesquisa concluiu-se que na visão dos comerciantes ao redor da Praça da

Matriz os órgãos públicos só estão para julgar e aplicar multas, e não para ajudar a

preservar o patrimônio tombado. Na visão dos entrevistados, o desejo é de um

planejamento participativo, onde os órgãos responsáveis possam ouvir as dificuldades

que a população possui quando se trata de preservação. Desejaram também, através

de do planejamento participativo possuírem mais informação sobre a preservação dos

edifícios.

Não há dúvidas de que a Praça da Matriz e seu entorno possuam potencial

turístico. Sendo que o turismo além de ser uma atividade economicamente rendável,

atribui valor a cultura de cada região, fortificando os laços da comunidade e de seu

patrimônio.

É importante ressaltar que a preservação ocorre de dentro da comunidade,

para que não seja imposta e cause consequências negativas. Para que os resultados

sejam positivos o poder público da cidade de Manaus deve passar a se comunicar e

delimitar funções a cada órgão de preservação. Devem estar prontos para ouvir a

comunidade e juntos preservarem de forma continua.

A união entre os órgãos públicos e a comunidade resultará em planejamento

de longo prazo. Assim, o turismo cultural será visto como uma forma a mais de

economia e sustentabilidade do espaço como um todo. Trazendo melhorias para o

centro histórico, embelezamento e fluxo turístico para a cidade de Manaus.

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SILVA, F. F. As cidades brasileiras e o patrimônio cultural da humanidade. São Paulo: Peirópolis: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. p. 219.

SOARES, D. S.; FILIPPINI, E. Praça da Matriz: patrimônio histórico. Manaus: Programa de Fomento à Iniciação Cientifica, com o Projeto: Patrimônio-Cultural em Revisão: Revitalização do centro antigo de Manaus, 2006. p.10.

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211

ZANCHETI, Sílvio Mendes. O Financiamento da Revitalização dos Centros Históricos de Olindae Recife: 1979 – 2005. Olinda: Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada, 2007. p. 20.

PROPOSTA DE PLANO DE AÇÃO A PARTIR DA INVENTARIAÇÃO DA OFERTA

TURÍSTICA DO CENTRO DO MUNICÍPIO DE SÃO LOURENÇO DO SUL, RS,

BRASIL

FERREIRA, Luciana29; PEREIRA, Lucimari30;MELO Elizandra31; SCHWAB, Cláudia32;

[email protected]

KUNZ, Jaciel Gustavo 33 [email protected]

Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar os dados da inventariação

turística realizada pela turma das disciplinas de Gestão e Planejamento do Turismo I

e II do curso de Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – FURG

nos anos de 2013 e 2014. A pesquisa se justifica, pela problemática frequentemente

levantada em outros estudos que abordam o porquê e qual a importância de se

inventariar, e como os dados de uma inventariação podem contribuir para o

planejamento e gestão de um destino em termos de turismo e desenvolvimento local

e social. O método utilizado foi o do Ministério do Turismo que dispões de formulários

e cartilhas para o pesquisador, a partir dos dados gera-se nesse trabalho propostas

de melhorias para gestão e planejamento no que se relaciona ao turismo.

29Bacharel em Turismo pela Universidade federal do Rio Grande- FURG, [email protected] 30Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande- FURG, Mestranda pelo programa de Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI, [email protected] 31 Graduanda em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande -FURG, [email protected] 32Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande- FURG, [email protected] 33Mestre em Turismo pela Universidade Caxias do Sul- UCS, Docente no Curso de Graduação em Turismo Binacional do Instituto de Ciências Humanas e da Informação da Universidade Federal do Rio Grande -FURG

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Palavras-chave: Inventariação da Oferta Turística; Plano de Ação; São Lourenço do

Sul.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo apresentar os dados da inventariação

turística realizada pela turma das disciplinas de Gestão e Planejamento do Turismo I

e II do curso de Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – FURG

nos anos de 2013 e 2014, destacando a importância do inventário e a possibilidade

de elaboração de um plano de Ação e Gestão Turística para a área inventariada. O

inventário foi realizado na região central do município de São Lourenço do Sul e todos

dados disponíveis na web ou passíveis de serem confirmados ou atualizados por

telefone, foram atualizados no primeiro semestre de 2016.

A pesquisa se justifica, pela problemática freqüentemente levantada em

outros estudos que abordam o porquê e qual a importância de se inventariar, e como

os dados de uma inventariação podem contribuir para o planejamento e gestão de um

destino em termos de turismo e desenvolvimento local e social. Também, identificou-

se uma lacuna nos estudos sobre inventariação: pesquisando as bases de dados

Ebsco, Scielo, Publicações em Turismo e Spell, foi encontrado um número

significativamente pequeno de publicações sobre o tema o que gira em torno de 14

artigos em revistas acadêmicas, o que torna este trabalho viável e relevante.

O objetivo geral da pesquisa é gerar, a partir dos dados coletados e

atualizados, material para a elaboração de um Plano de Ação que possa auxiliar no

planejamento e gestão do referido destino turístico e que sirva de base para futuras

pesquisas cientificas que utilizam o método de inventariação do Ministério do Turismo,

como foi no presente caso.

O objeto de estudo é o Município de São Lourenço do Sul com recorte em

seu Centro Histórico. Situado na região sul do Estado do Rio Grande do Sul, em uma

localização privilegiada a 195 quilômetros da capital, Porto Alegre. Seus limites são:

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ao norte, os municípios de Cristal e Camaquã; a oeste, Canguçu; ao sul, Turuçu e

Pelotas e a leste, a Laguna dos Patos. Sua extensão territorial é de 2036 km² divididos

em 13,9 km² de área urbana e 2022 km² de área rural e sua população é de 43111

habitantes, com uma maior concentração na zona urbana.

O clima é subtropical litorâneo característico da região, com verões quentes,

invernos frios e chuvosos e as estações intermediárias bem definidas, favorecendo a

realização do turismo náutico, passeios de barco, turismo de sol e praia

(PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO LOURENÇO, 2016). Certamente sua

localização – próximo tanto de Pelotas como da Capital, cidades que podem funcionar

como indutoras de turismo na região – e o fato de ser banhada por uma Lagoa,

intensifica o fluxo de visitantes.

Com forte influência da cultura alemã, a economia do município gira em torno,

principalmente, da agropecuária (colonial e familiar) e do setor de serviços (comércio

e turismo de verão), com uma pequena participação da indústria. Nos finais de

semana a praça central da cidade recebe uma feira colonial na qual descendentes

dos pomeranos expõem uma grande variedade de produtos artesanais, sendo este

um espaço que requer melhorias em sua infraestrutura. (PREFEITURA MUNICIPAL

DE SÃO LOURENÇO, 2016).

Os meses de maior movimento turístico são os do período de verão, que vai

de dezembro a março. Os visitantes nacionais, em sua maioria, são oriundos dos

estados de Santa Catarina, São Paulo e Paraná; os internacionais, da Argentina,

Alemanha e Uruguai e os atrativos mais visitados são as praias, a Fazenda do

Sobrado, o passeio de escuna e o Roteiro Pomerano (PREFEITURA MUNICIPAL DE

SÃO LOURENÇO, 2016).

A localidade atua nos segmentos de turismo rural, sol e praia e náutico.

Todavia, não há nenhuma atividade desenvolvida para amenizar os efeitos da

sazonalidade. Quanto à legislação, a cidade conta com um Plano Diretor que prevê

o desenvolvimento da atividade turística apenas na zona circundada pela Lagoa, além

de leis de ocupação do solo, de proteção ambiental e uma lei orgânica municipal

(PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO LOURENÇO, 2016).

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O município faz parte do Programa de Regionalização Turística, criado em

março de 2004 pelo Ministério do Turismo como forma de iniciar a implementação do

Programa Roteiros do Brasil. Foram realizadas nos diversos estados brasileiros,

oficinas para definição das regiões turísticas prioritárias. O Rio Grande do Sul

atualmente está dividido em 27 regiões turísticas, sendo que São Lourenço do Sul

pertence à Região da Costa Doce, junto a outros 18 municípios.34

2 INVENTARIAÇÃO TURISTICA

A inventariação da oferta turística tem como objetivo registrar, relacionar,

contar e conhecer aquilo que a localidade dispõe e, a partir disso, gerar informações

para pensar como o um destino vai agir e se estruturar, visando ser competitivo frente

ao mercado turístico (Brasil, 2006).

Os dados coletados em um inventário possibilitarão a análise e qualificação

dos atrativos, equipamentos e serviços, possibilitando a definição de prioridades para

os recursos disponíveis e o incentivo ao desenvolvimento da atividade turística de

forma planejada (BRASIL, 2014; ARANDA; ALVARES; PÉREZ, 2014).

A realização do inventário da oferta turística é um instrumento que atende as

exigências e diretrizes do Governo Federal expressas no Plano Nacional do Turismo,

que são: redução das desigualdades sociais, geração e distribuição de renda, geração

de emprego e ocupação e equilíbrio da balança de pagamento (BRASIL, 2014; SILVA;

MENESES, 2011; ARANDA; ALVARES; PÉREZ, 2014; BRITO; MELLO, 2013).

O inventário da oferta turística de um município é uma importante etapa,

servindo de subsídio para a gestão pública tomar decisões quanto ao planejamento e

investimentos na atividade turística a partir dos dados gerados, a análise e

qualificação desses atrativos, equipamentos e serviços, possibilitando a definição de

prioridades para os recursos disponíveis e o incentivo ao turismo sustentável

34Fonte: Observatório do Turismo – Secretaria do Turismo, Esporte e Lazer/RS. Disponível em: <file:///D:/Users/48275190053/Downloads/20160629133030finalmapa_da_regionalizacao_do_turismo_13__de_maio_de_2016__1_%20(1).pdf> Acesso: 01/09/2016

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(PERANTONI; SILVA; NAGABE, 2012; PACHECO, 2015; ARANDA, ÁLVAREZ;

PÉREZ, 2014; BRITO; MELLO, 2013, BRASIL, 2006).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a elaboração deste trabalho, a metodologia empregada foi pesquisa

documental, pesquisa em meio eletrônico e pesquisa exploratória que, conforme Gil

(2008, p. 27): “[...] têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar

conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou

hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores [...]”. Utilizou-se também a pesquisa

descritiva associada a uma abordagem qualitativa e quantitativa, usando técnicas de

coleta de dados em campo com utilização dos formulários do Ministério do Turismo.

Estes formulários, que permitiram identificar e quantificar os atrativos, equipamentos

e serviços existentes são divididos em três categorias: categoria A – Infraestrutura de

apoio ao Turismo; categoria B – Serviços e Equipamentos Turísticos; categoria C –

Atrativos turísticos (BRASIL, 2014; VEAL, 2011; GIL, 2018).

Também foram realizadas entrevistas informais com gestores públicos,

empresários e comunidade local, além de registros fotográficos da região

inventariada. Posteriormente efetivou-se a descrição e tabulação dos dados do

inventário. Estas etapas foram realizadas durante a disciplina de Gestão e

Planejamento I do curso de Turismo Binacional da FURG, sob a orientação da

professora Ligia Dalchiavon, no segundo semestre de 2013.

No semestre seguinte – 1º semestre/2014 – na disciplina de Gestão e

Planejamento II, sob a coordenação do professorJaciel Gustavo Kunz, a partir dos

dados inventariados em 2013 desenvolveu-se a análise desta oferta e um

planejamento turístico para a área inventariada. Este trabalho foi elaborado tendo

como base o relatório final da disciplina, composto pelo diagnóstico, prognóstico e

plano desenvolvimento criado pelo grupo para a área central do município de São

Lourenço do Sul. Está estruturado de seguinte maneira: Uma introdução com a

descrição e detalhamento do local, informações sobre inventariação turística,

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detalhamento da metodologia, relação dos dados coletados e sua análise e

considerações finais, que trazem um diagnóstico e um prognóstico.

Os dados inventariados em 2013 foram trabalhados pelos acadêmicos que,

divididos em grupos, analisaram a oferta disponível na zona inventariada. Desta

análise foram feitos relatórios apresentados em sala de aula e debatidos pelo grande

grupo. Destes debates resultou o relatório que deu origem a este artigo.

As informações coletadas à época da elaboração do trabalho foram

atualizadas no primeiro semestre de 2016, a fim de confirmar os dados coletados e

corrigir possíveis distorções. Esta atualização foi realizada por meio de informações

acessíveis via web ou telefônica, devido à impossibilidade de realizar-se nova

pesquisa de campo neste momento.

4 RESEULTADOS / DISCUSSÃO

O processo de inventariação, devidamente registrado nos formulários do

Ministério de Turismo, possibilitou o levantamento dos seguintes dados:

1. Serviços de energia elétrica, saneamento básico e abastecimento de água:

o fornecimento de água é efetuado pela CORSAN – Companhia Rio-grandense de

Saneamento, que atende 10500 domicílios. Não há tratamento de esgoto. O

fornecimento de energia elétrica e feito pela CEEE – Companhia Estadual de Energia

Elétrica, atendendo 10795 domicílios na área urbana e 5719 na área rural.

2. Coleta de lixo regular e seletiva: há coleta seletiva de resíduos sólidos,

realizada pela Associação Ecológica de Recicladores de São Lourenço do Sul –

ASSER. Abrange 100% da área urbana e 5% da rural. A ASSER realiza ainda a coleta

de entulho, papel, plástico, vidro, óleo e papelão. A coleta normal, realizada pela

Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo, cobre 100% da área urbana e 35% da

rural, ficando 65% desta sem nenhum tipo de coleta de lixo. Além disso, o município

conta com uma coleta programada para atender depósitos e mercados, sob a

responsabilidade da Secretária Municipal de Obras e Urbanismo, coleta de pilhas e

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baterias realizada por uma rede de supermercados e de pneus, efetuada pela

Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente, através do ECOPONTO35.

3. Serviços de comunicação: a cidade conta com acesso à internet via rádio.

Em relação aos serviços de telefonia móvel e telefonia fixa ambas abrangem somente

parte do município. No quadrante inventariado o município possui duas rádios, sendo

uma AM e uma FM de abrangência local e região centro sul; uma revista bimestral de

distribuição gratuita, que divulga eventos, informações e serviços locais; um jornal de

edição semanal com distribuição no município e região centro sul, que elabora

anualmente um guia de verão com informações de utilidade pública tanto para os

moradores quanto para os turistas. Há ainda uma agência dos correios, com entrega

de correspondência somente na zona urbana.

4. Superestrutura e promoção turística: A cidade de São Lourenço do Sul está

inserida na região turística da Costa Doce; possui um Conselho Municipal de Turismo;

a zona marginal da lagoa dos Patos está enquadrada como área de desenvolvimento

de atividade turística pelo Plano Diretor. A promoção do município é realizada por

meio de folders, site na internet e eventos regionais como o Festival de Turismo de

Gramado, Fenadoce - Pelotas e Exporto Sul.

5. Informações turísticas: As informações a respeito da cidade podem ser

obtidas à Rua Senador Pinheiro Machado, região central, onde está localizada a

Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio que possui em seu quadro de

funcionários uma turismóloga atuando no local. Os visitantes não terão dificuldades

para localizar a Secretaria, já que existem ao longo do percurso placas de acesso e

de sinalização turística e o posto de informações é também sinalizado. No local são

disponibilizados folhetos de serviços e mapas. Todavia, os visitantes vão enfrentar

problemas, pois o material disponibilizado com os preços e serviços oferecidos em

São Lourenço do Sul não condizem com a realidade verificada, algo muito negativo

dentro da atividade turística.

35Ponto de coleta de pilhas, lâmpadas e outros materiais, promovido pela Secretaria de Meio Ambiente em parceria com só comércio local. Fonte: <http://www.saolourencodosul.rs.gov.br/noticias.php?ID_NOTICIA=4761> Acesso em: 15/08/2016.

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O espaço onde está instalada a Secretaria não é adaptado para receber

pessoas com mobilidade reduzida e não há funcionários que dominem outras línguas,

algo fundamental em um local de informações já que a cidade recebe visitantes

estrangeiros. Outro problema é o horário de funcionamento da Secretaria que atua em

horário comercial durante o decorrer da semana e nos finais de semana permanece

fechada, algo negativo para um município que vê no turismo um meio de desenvolver

a cidade. Outro meio para entrar em contato com a secretaria é através de telefone,

por e-mail ou através da página na internet:

(Http://www.saolourencodosul.rs.gov.br/secretarias.php?ID_SECRETARIA=5). Há

ainda um posto de informações turísticas na Rodoviária, mas este se encontrava

fechado no dia da visita de campo. Segundo o Secretário de Turismo do município,

àno momento o único posto que funciona é o da Secretaria.

6. Transporte: A cidade conta com um terminal rodoviário que se situa à Rua

Almirante Barroso, número 1715, no centro da cidade. O terminal é municipalizado,

sendo que empresas privadas de transporte participam de licitações para uso do

espaço, sendo o principal serviço do terminal a venda de passagens de ônibus,

municipais e intermunicipais. A rodoviária conta com alguns serviços extras como

restaurantes, loja de eletrônicos e ponto de táxi, além de acessibilidade e banheiros

adaptados para cadeirantes. Horário Funcionamento das 05:30 h às 22:00 h. O web

site da prefeitura (http://www.saolourencodosul.rs.gov.br/index.php) informa todos os

horários de ônibus e o e-mail para contato com o administrador (um servidor público

municipal, Márcio – [email protected]).

7. Vias de acesso: Localizado na Microrregião Centro Sul do Estado do Rio

Grande do Sul, tem como vias de acesso a BR-116 e a RS-265. Tanto para quem vem

do sul como do norte, pela BR-116 tem-se o acesso à RS-265, que vem de Canguçu.

A região é muito favorável ao turismo. A seguir, informações detalhadas sobre os

acessos:

➢ A BR-116, também chamada de Régis Bittencourt, é a principal rodovia

federal do Brasil, a maior do país e totalmente pavimentada. Os municípios

que se ligam mais proximamente a São Lourenço pela BR-116 são Turuçu

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e Pelotas. No trecho pelotas/São Lourenço do Sul há apenas um pedágio

(R$ 7,00) e entre Porto Alegre e São Lourenço, três pedágios (R$ 16,30) –

segundo informações do site <http://viajeaqui.abril.com.br> (acesso em

05/07/2014). O trecho da BR que corta o município dispõe de um posto de

combustível, serviços de alimentação e telefone público, supermercado,

posto de informação turística, borracharia, policia rodoviária, socorro

médico. A estrada encontra-se em boas condições de trânsito e também

em ótimo estado de limpeza sem lixo à beira da rodovia e nem sobre a faixa

de rodagem.

➢ A RS- 265 é uma rodovia estadual que liga a BR-116 à sede do município.

Está em obras de pavimentação de duas faixas de rolamento. Ela liga os

municípios de Pinheiro Machado, Piratini, Cancelão, Canguçu, Herval, Boa

Vista, Boqueirão, Quevedo e São Lourenço do Sul.

➢ Há ainda outros três acessos à sede, por estradas de terra municipais (Sls

060, Sls 010 e Estrada P), sem sinalização, que percorrem parte da zona

rural desde a BR-116 até a sede.

➢ Algumas distâncias de São Lourenço do Sul:

➢ Porto Alegre – 195 km (BR-116 e RS-265)

➢ Pelotas – 70 km (BR-116 e RS-265)

➢ Rio Grande – 140 km (BR-116, BR-392 e RS-265)

➢ Jaguarão – 200 km (BR-116 e RS-265)

➢ Chuí – 332 km (BR-471, BR-116 e RS-265)

➢ Santa Maria – 324 km (BR-392 e RS-265)

➢ Florianópolis – 646 km (BR 101, BR-290, BR-116 e RS-265)

➢ Curitiba – 896 km (BR 116 e RS-265)

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220

Figura 2: Acessos a São Lourenço do Sul

Fonte: https://maps.google.com/

O inventário previu a análise das vias de acesso à cidade, porém não previu

um levantamento de dados acerca das condições das vias de tráfego na cidade:

condições das ruas, das calçadas, fluidez do trânsito, que também consideramos

importantes. Lamentavelmente, este é um ponto fraco do trabalho que ainda não foi

corrigido.

8. Serviços de segurança pública:

➢ Uma Companhia de Brigada Militar (2º CIA- 30BPM) situada à Rua

Humaitá, nº 196 - Tel.: 3251 1407 e 190 informações disponíveis no web

site: www.brigadamilitar.rs.gov.br. Os serviços especializados que são

oferecidos à população e eventualmente para os turistas que visitam o local

são o policiamento preventivo e ostensivo; ações de prevenção a acidentes

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de trânsito (“Balada Segura36” é um exemplo); prevenção ao uso de drogas

(PROERD37); Operação Golfinho38 , desenvolvida durante o verão com

aumento de efetivo no policiamento e atendimento de salva-vidas nas

praias do município. Esta operação, que normalmente abrange apenas os

balneários, no caso de São Lourenço do Sul beneficia a zona central da

cidade, pela proximidade das praias com o centro.

➢ IGP (Instituto Geral de Perícias) situado à Rua Quinze de Novembro, nº

258 - Tel.: 3251 1302 (informações disponíveis no web site do IGP:

www.igp.rs.gov.br);

➢ Delegacia de Polícia Civil situada à Rua Júlio de Castilhos, nº 2190 - Tel.:

3251 3300 (informações disponíveis no web site da Polícia Civil –

www.pc.rs.gov.br), que presta serviços de investigação (polícia judiciária);

Corpo de Bombeiros (vinculado à Brigada Militar) situado à Rua Novo

Centeno, nº 151 - Tel.: 3251 1236 (informações do web site da Brigada:

www.brigadamilitar.rs.gov.br);

➢ Uma Agência da Receita Federal, situada à Rua Barão Triunfo, n° 138 -

Tel.: 3251 3411 ou 3251 3470 (informações disponíveis no web site da

RFB: www.receita.fazenda.gov.br).

9. Serviços de saúde: os seguintes estabelecimentos ligados à saúde estão

disponíveis tanto para atender tanto à população como ao turista:

➢ Farmácias: todas as farmácias, com exceção da Drogaria São Lourenço do

Sul (Farmácia Santa Casa) tem como principais serviços a venda de

medicamentos e perfumaria- o inventário não informa quais outros serviços

esta farmácia oferece. Todas aceitam cartões de crédito como forma de

pagamento; o horário de atendimento fica entre as 08h00min até às

22h30min horas, em geral. As farmácias Nativa e Nativa Filial 1 contam

36Política pública do Estado do Rs para a segurança do trânsito. Fonte: http://www.baladasegura.rs.gov.br/inicial 37Programa Nacional de Resistância às Drogas, implementado pelas polícias militares em quase todo o país. 38Operação de segurança nos balneários do RS, promovida pelo Corpo de Bombeiros.

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também com serviço de manipulação de medicamentos. Não há no

inventário informações sobre outros serviços prestados por estes

estabelecimentos. Muitas das informações necessárias ao levantamento

de dados das farmácias dependiam da presença do farmacêutico, que não

se encontrava no momento no estabelecimento (em flagrante desrespeito

às normativas legais).

➢ Laboratórios de Análises Clínicas: os laboratórios oferecem como principal

serviço exames laboratoriais, aceitam todas as formas de pagamento e

mantém horário de atendimento das 08h00minàs11h30min e 13h00min as

18h00min.

➢ Clínicas Médicas: a Clínica Médica Vida possui como principal serviço

consultas médicas pediatria e obstetrícia. Atende das

09h00minàs11h30min e 14h00min as 18h00min. Recebe apenas em

moeda corrente e mantém convênio com Unimed, IPE e CABERGS. A

Unimed Pelotas tem como principais serviços consultas médicas e exames

laboratoriais. Atende das 08h00min às 11h30min e 13h00min as 17h00min.

Tem como formas de pagamento dinheiro, cheque e boleto bancário.

➢ Santa Casa de Misericórdia: seus principais serviços são: clínica médica,

pediatria e obstetrícia, cirurgias em geral e internações, prestando serviço

de pronto socorro, maternidade e atendimento hospitalar em geral. Atende

24 horas, sendo que 85% do atendimento é pelo Sistema Único de Saúde

– SUS, os 15 % restantes, particular. Recebe apenas em moeda corrente.

➢ Clínicas veterinárias: possuem como principais serviços, a venda produtos

e medicamentos veterinários. 07h30min as 18h00min, na sua maioria.

Aceitam todas as formas de pagamento. A veterinária São Lourenço

atende animais de grande porte.

➢ Unidade de Saúde Central – Posto Central possui serviços de equipe de

enfermagem, clínica geral, pediatria, grupos de gestantes, atendimento a

Doenças Sexualmente Transmissíveis - DST. Atende das 07h30min as

21h00min e aos sábados, das 09h00min as 11h00min. Atendimento 100

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% pelo Sistema Único de Saúde - SUS. Verificou-se que o inventário carece

de informações sobre Dentistas e Traumatologistas, considerados

importantes para o atendimento de emergência.

10. Sistema de ensino: sob a administração da Secretaria da Educação,

Cultura e Desporto de São Lourenço do Sul, há onze escolas municipais que atendem

aproximadamente 3000 alunos. Há oito escolas estaduais, sendo que uma é técnica;

uma escola de ensino fundamental particular, um pólo de apoio ao Ensino Superior –

PAES e um Campus Avançado da FURG (Agroecologia, Licenciatura em Educação

do Campo e Tecnólogo em Gestão Ambiental). Dentro do quadrante inventariado se

encontram 3 escolas: uma estadual de ensino fundamental, municipal, e duas de

ensino médio, pertencentes à rede estadual de ensino, além de uma escola particular.

Cursos na área do turismo (bacharelado pela UFPEL e profissionalizantes pelo

SENAC) são ofertados na cidade de Pelotas, a 70 km.

11. Comércio turístico: não há um comércio específico para o turismo. Foi

localizada no centro da cidade a Foto Arte Bazar, que comercializa artesanato; há uma

floricultura (Floricultura Neiva) e uma loja de flores e frutas (Frutálica), além de uma

Feira Agro Econômica.

12. Sistema bancário: diversas agências são localizadas no centro da cidade,

dentre elas: Banco Banrisul, Banco Bradesco, Banco do Brasil, Banco Sicredi, Caixa

Econômica Federal e Santander.

13. Representações diplomáticas: as mais próximas estão localizadas na

capital do Estado, Porto Alegre.

14. Oficinas mecânicas: Mecânica Drachler, EgonHirschmann Oficina

Mecânica e Autopeças, Jr Motos, NS Moto Peças e Mecânica Azevedo, além de três

postos de combustíveis: Posto Renascer, Posto Klasen e Posto da Sinaleira.

15. Locadoras de imóveis: na região central, há quatro, que oferecem imóveis

para temporada: Andrade e Matte, Imobiliária Toni, Costa Doce e Imobiliária Alcindo

Imóveis.

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16. Rede hoteleira: O quadrante central do município contém somente dois

hotéis, sendo que o núcleo hoteleiro concentra-se na praia, onde a demanda de

turistas é bem maior durante o período de veraneio (no restante do ano a demanda é

considerada baixa). Os hotéis do quadrante central recebem turistas, porém a maioria

de suas unidades habitacionais é ocupada por vendedores e representantes

comerciais que fazem estadia no município. Os dois hotéis têm ao todo 47 unidades

habitacionais de boa qualidade, porém não investem no marketing para turístico, pois

há um entendimento que a área da praia é onde os turistas preferem hospedar-se.

Não possuem acessibilidade, perdendo um tipo de demanda que poderia

diminuir os impactos a que a sazonalidade do destino lhes submete. Foi declarado

pelos donos destes hotéis que “este tipo de público sabe onde se concentram as

hospedagens próprias para suas necessidades”, não considerando necessário

investir em reformas para atrair este público. Somente um dos estabelecimentos está

cadastrado no Cadastur, o Plaza Center Hotel, o que faz com que este ofereça alguns

serviços que seu concorrente, por não estar cadastrado, não oferece.

O Plaza Center Hotel também possui sistema de reservas através de agências

de turismo, o que faz com que os turistas que procurem a agência e sejam

encaminhados diretamente para ele. A recepcionista do Plaza Center Hotel é

responsável por fornecer informações turísticas aos hóspedes. O Hotel Vilela recebeu

o prêmio Troféu Grand Prix Internacional de La Promoción Turística, na Espanha,

porém não possui nenhum registro sobre esta premiação.

17. Serviços de alimentos e bebidas: somente doze estabelecimentos

concordaram em participar do inventário, pois acreditam que se o fluxo de turistas

aumentar será bom para o desenvolvimento de todos os setores da economia do

município. Dentre estes doze, apenas um proprietário de restaurante está reformando

aos poucos seu estabelecimento para poder receber pessoas portadoras de

necessidades especiais.

Muitos estabelecimentos não cumprem com princípios básicos de

hospitalidade, tornando inviável receber turistas. Dentre todos os estabelecimentos,

acreditamos que nenhum está totalmente habilitado para o turismo, pois sempre

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deixam algum item a desejar, seja na higiene, seja na infraestrutura do local, etc. Não

se utilizam do marketing turístico, pois mesmo sabendo que o aumento de público

gerará renda, se sentem satisfeitos com seu público atual.

Nenhum estabelecimento oferece em seus cardápios a gastronomia típica do

município, tampouco há parceria entre poder público e privado, o que seria essencial

na atração de turistas para a localidade.

18. Agências de viagens39: há apenas uma, Perlatur Viagens, que realiza

turismo receptivo e emissivo. Este serviço é insuficiente para atender a demanda

turística tendo em vista o crescimento deste segmento no mercado e a carência de

funcionários existentes na empresa. Não há integração entre a agência e os taxistas

que administram o roteiro chamado “Caminho Pomerano”.40 A cidade conta com dois

guias de turismo pós-graduados, com os quais não foi possível entrar em contado.

19. Táxis: Há sete taxistas capacitados para fazer o Caminho Pomerano com

disponibilidade de agendamento direto com os própios taxistas. Este grupo não possui

parcerias nem com agências de turismo nem com o poder público.

20. Entidades associativas:

➢ Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que atende a 2500 famílias. Sua base

de atuação é municipal. Criado no ano 1966, este sindicato tem 19

funcionários e se situa na zona central da cidade, atendendo ao público de

segunda a sexta-feira na parte da manhã e a tarde, prestando vários tipos

de serviços aos seus associados desde assessoria jurídica até assistência

médica. Este estabelecimento possui sinalização turística e de acesso,

além de um site na internet que possibilita ao visitante uma visualização de

seus serviços.

➢ Sindicato Rural, com abrangência regional e representatividade patronal.

Possuindo apenas dois funcionários e localizado na parte urbana da

39Quando foi realizado o inventário havia outra agência, Uptour Viagens. Uma semana após o trabalho de campo, recebemos um e-mail do responsável pela Agência para comunicar-nos seu fechamento. 40Roteiro turístico iniciado nos anos de 2006/2007, de iniciativa da Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio de SLS e explorado pela Associação Caminho dos Pomeranos (SPINDLER, SANTOS, 2013, p. 112,113)

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cidade, seu horário de funcionamento é de segunda a sexta das 08:00 h às

18:00 h. Os principais serviços são: assessoria técnica, captação e

realização de congressos e eventos, realização de eventos abertos ao

público e oferta de cursos de capacitação. Provedor de alguns eventos do

município, este sindicato atrai uma parcela significativa de turistas

regionais, por sua atuação.

21. Entidades e elementos culturais/religiosos: Na área inventariada,

encontram-se um museu, uma biblioteca e igrejas; realiza-se a feira de produtos da

colônia, na praça central José Serpa. É na zona central da cidade, onde há o fluxo

diário de residentes, que se pode perceber alguns traços da cultura local. Por exemplo,

a língua alemã utilizada nos cultos da Igreja Luterana. Estes são elementos que,

quando bem trabalhados, podem transformar-se em atrativos. Não há, nos elementos

culturais inventariados, qualquer sinalização ou interpretação turística. Tampouco há,

nos locais visitados, pessoal com domínio de inglês ou espanhol para o atendimento

de turistas.

Estão instaladas na região central do município a Comunidade Evangélica

São Lourenço do Sul e a Igreja Evangélica de Confissão Luterana, além da Prefeitura

Municipal de São Lourenço do Sul. As igrejas abrem apenas em dias e horários de

missa ou cultos, não permanecendo abertas à visitação. A igreja católica está

localizada também na zona central, porém não foi inventariada por encontrar-se

fechada no dia da visita de campo.

O Museu Histórico de São Lourenço do Sul e a Biblioteca Pública Municipal

Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco foram os espaços culturais

encontrados na zona inventariada. A entrada é gratuita e o horário de funcionamento

normal é de segunda a sexta, porém, mediante agendamento, é possível a visitação

em finais de semana. Museu e Biblioteca funcionam no mesmo endereço.

Coral Três de Maio/Comunidade Evangélica São Lourenço do Sul – IECLB. O

Coral funciona como atração em feiras e eventos. O coral é bastante atuante perante

a sociedade com ações de cunho social e cultural.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ausência de diálogo entre poder o público e os empresários e a dissociação

entre a região balneária e região central são pontos chave a serem trabalhados. No

geral, a região central apresenta uma infraestrutura satisfatória e potencial para tornar-

se atrativa turisticamente, sendo necessário adotar algumas ações visando corrigir

diversas situações aqui detectadas. A sinalização, a acessibilidade, a integração dos

comerciantes da área com o turismo, a integração do centro com o balneário, o

tratamento de esgoto, a valorização da gastronomia local e da cultura pomerana são

alguns destes elementos a serem levados em consideração.

De acordo com a análise da oferta, o centro de São Lourenço, que foi o espaço

inventariado, supre as necessidades da população local e dos turistas sazonais, uma

vez que estes são turistas de sol e praia, fazendo uso primordialmente dos serviços

oferecidos na zona dos balneários. Eles podem, porém, fazer uso dos serviços

ofertados na região central tanto quanto a população local, sem sobrecarregá-los.

No âmbito da oferta cultural, verificou-se que os atrativos existentes – Igreja

de Confissão Luterana, Museu, o Coral, são representativos da história e da cultura

do município, podendo ser, se bem trabalhados, elementos importantes para atrair

turistas na baixa temporada. A infraestrutura e os acessos a estes espaços são

adequados, faltando investimento na formação para o turismo, ensino de idiomas aos

trabalhadores que atendem ao público, melhor adequação nos horários de

atendimento, bem como sinalização turística.

A análise dos dados deixa claro que a infraestrutura e os serviços do

quadrante demarcado para o inventário não são adequados para atender aos turistas,

já que os mesmos costumam direcionar-se para a orla da Lagoa. Esta desarticulação

entre região central/orla deixa uma parcela da comunidade alijada do processo

turístico e caracteriza uma situação de subutilização do potencial turístico local, que,

se amenizada, poderá vir a ser a solução para os problemas da sazonalidade.

Verificou-se ainda que a cidade dispõe de meios de comunicação que atingem a

região centro-sul do Estado, os quais não divulgam plenamente a atratividade turística

do município.

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O diagnóstico aponta para a necessidade de melhorias em vários aspectos,

de forma a tornar possível desenvolver o turismo no município com a eficiência

necessária para que seja sustentável. Buscar a eficácia em todas as ações,

possibilitará potencializar os atrativos turísticos no quadrante central da cidade e

integrar a comunidade desta área ao processo de desenvolvimento turístico já

existente. A oferta atual supre as necessidades básicas da população local e dos

turistas. Faz-se necessário estimular o crescimento e aprimoramento da oferta em

consonância com o estímulo ao aumento da demanda, buscando manter a

sustentabilidade turística.

Com a elaboração deste trabalho, pensa-se no desenvolvimento e ampliação

da diversidade da oferta turística, já que se identificam os segmentos turísticos de sol

e praia na região como já consolidados, podendo também ser fomentado o turismo

náutico, visto que a cidade é banhada pela Lagoa dos Patos, além do turismo

histórico-cultural enfatizando a cultura local, de base germânica e os prédios

históricos. Pode-se ainda desenvolver o turismo ecológico e rural. Todas estas

alternativas poderão ser instrumentos efetivos de inclusão e auxiliar na contenção dos

malefícios da sazonalidade existente.

Foi observado pelos acadêmicos que realizaram a etapa de inventário que o

contato com o comércio foi muito difícil, ficando perceptível a todos que, na maioria

dos casos, há uma incompreensão por parte dos comerciantes da zona inventariada

– a região central da cidade – em relação ao turismo. É importante o desenvolvimento

de ações que visem corrigir esta situação e preparar esta parcela da população para

bem receber aos turistas, inserindo-os na cadeia produtiva do turismo que já existe na

região. Identificou-se assim a necessidade de estabelecer uma parceria entre

gestores públicos e a iniciativa privada, investir na capacitação para o turismo do

empresariado em geral e de todos os envolvidos no trade turístico para melhor atender

aos turistas, ofertar cursos e oficinas nas mais diversas áreas relacionadas ao

desenvolvimento turístico, bem como cursos de línguas – espanhol e português,

essencialmente, mas também o inglês e o alemão – para a comunidade, taxistas,

policiais, funcionários públicos.

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Ressaltamos também a necessidade de envolvimento do setor público,

privado e da comunidade local para que o turismo no quadrante central se desenvolva

de forma concisa e agradável e que cause um impacto benéfico para o local.

Interessante seria a criação de uma parceria do poder público municipal com

o Sindicato dos Trabalhadores Rurais a fim de que ofereçam formação na área

turística, de forma a capacitar o produtor rural para a atividade turística, mais

especificamente, o turismo rural em pequenas propriedades. Necessário aproximar os

taxistas das Agências receptoras, em uma parceria a fim de melhorar a qualidade dos

serviços do Caminho Pomerano, oferecido pelos taxistas.

O incentivo à cultura pomerana e estímulo à organização de feiras de produtos

coloniais e típicos da localidade e eventos gastronômicos que divulguem a cultura

local promovendo o aumento de turistas em outras épocas do ano e não somente no

verão é essencial neste processo – o Coral pode ser um elemento importante. A

valorização da gastronomia pomerana e sua implementação nos cardápios dos

restaurantes da região central, além de aproveitar a feira do produtor para realização

de eventos gastronômicos qualificaria o setor. .

Identificamos também necessidade de melhorias na infraestrutura turística,

como sinalização e interpretação dos pontos de interesse turístico, acessibilidade a

pessoas com necessidades especiais e educação voltada ao turismo nas escolas. É

preciso ainda melhorar e ampliar os serviços de comunicação para não congestionar

os que já são disponibilizados e atender os visitantes que mesmo em seu tempo de

lazer, gostam de estar bem informados.

Para a divulgação do local, sugere-se a elaboração de folders e materiais

publicitários em geral, para que se possibilite o conhecimento da localidade, seus

pontos turísticos as peculiaridades de sua cultura.

Elaboração de um calendário anual de eventos, com destaque ao período de

baixa temporada, como forma de combater a sazonalidade.

Pensando em fomentar a melhoria da qualidade da infraestrutura do trade

turístico como o setor de hotelaria, serviços e equipamentos de alimentos e bebidas

poderiam ser implantados incentivos ficais visando melhor qualidade nos serviços

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para que o turista se sinta acolhido. Incentivos específicos para adaptações com

finalidade de acessibilidade são essenciais.

Estudar as rotas das vias municipais de acesso à cidade (Sls 060, Sls 010 e

Estrada P), com vista a inventariar possibilidades de atrativos de turismo rural na

região, de forma a potencializar a criação de roteiros rurais utilizando estas vias.

Trabalhar com a possibilidade de cooperativas de serviços turísticos específicos e

com turismo de bases comunitárias.

O tratamento de esgoto é uma questão que merece atenção, já que um dos

segmentos turísticos desenvolvidos na localidade é o turismo de sol e praia. As águas

servidas, não tratadas, acabam por desaguar na Lagoa e com a chegada dos turistas

isso tende a se agravar, colocando em risco um dos principais atrativos da localidade.

O tratamento do lixo apresenta avanços significativos, porém é preciso investir em

infraestrutura básica para não comprometer o atendimento à comunidade local com a

chegada dos turistas. Ao longo do ano, são coletadas e levadas para o aterro sanitário,

cerca de dezoito toneladas de lixo/mês e no período de dezembro a março esse

volume dobra. Colocar em prática projetos de coleta seletiva e saneamento básico e

ações educacionais neste sentido.

A implementação de um sistema de fiscalização nas farmácias se faz

necessária, tendo em vista que o diagnóstico apontou a ausência do profissional

farmacêutico na maioria delas, conforme exige a lei. Outra possibilidade seria

trabalhar por um sistema de parcerias entre a rede hoteleira e o sistema de saúde, de

forma a oferecer um serviço eficaz ao turista em caso de acidentes e imprevistos.

Apresentado o inventário, analisadas as informações coletadas e apontados

nestas considerações finais um diagnóstico e um prognóstico que não pretende ser

definitivo, têm-se um material que poderá amparar a elaboração de um Plano de

Gestão Turística para a cidade de São Lourenço do Sul, desde que para este fim, seja

realizado também o inventário da região balneária do município.

REFERÊNCIAS

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231

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GT 3 - TURISMO, GESTÃO, PLANEJAMENTO

O CARNAVAL DE RUA DE JAGUARÃO: SUA VULNERABILIDADE E IMPACTOS

DO TURISMO

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MACHADO, Pablo Colvara41 [email protected]

FARINHA, Alessandra Buriol42

[email protected]

Resumo: O carnaval é uma das festas populares de maior visibilidade do país, que

compõe a cultura e identidade do Brasil. O presente estudo propõe-se a analisar o

carnaval da cidade de Jaguarão, no extremo sul do Rio Grande do Sul, localidade

atualmente reconhecida por seu carnaval de rua, organizado pela população residente

com apoio de órgãos públicos e privados. O objetivo principal é refletir sobre as

mudanças do carnaval de Jaguarão, sua vulnerabilidade enquanto uma manifestação

comunitária e relacionar alguns impactos positivos e negativos do turismo local nesta

época do ano. A metodologia utilizada foi bibliográfica, e oralidades em conversas

com representantes da prefeitura municipal, e liga das entidades carnavalescas do

município, entrevistas semiestruturadas e pesquisa de campo com registros

fotográficos no carnaval do ano de 2016.

Palavras-chave: Carnaval; Jaguarão; vulnerabilidade; turismo.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto de estudo o carnaval de rua do município

de Jaguarão, localizado no extremo sul do Rio Grande do Sul, fronteira com a cidade

de Rio Branco (UY). O carnaval de Jaguarãoficou conhecido, nos últimos anos, pelos

41 Discente do curso de Tecnologia em Gestão de Turismo da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/1539928144390990. 42Doutoranda em Memória Social e Patrimônio Cultural na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Docente do curso de Tecnologia em Gestão de Turismo da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). [email protected]. Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/1452590611710222.

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desfiles de rua (blocos e escolas de samba) e pelo fato de ter introduzido trios elétricos

nos desfiles, que ocorrem na Avenida 27 de Janeiro, a principal da cidade.

Conforme dito, o carnaval é uma das mais importantes festas populares no

Brasil. De acordo com Del Priore (2000, p. 10), a função social da festa está

relacionada com o permitir aos participantes e expectadores a vivência coletiva,

entronizando valores e normas, comungando sentimentos e conhecimentos

comunitários. O objetivo principal deste artigo é refletir sobre as mudanças do carnaval

de Jaguarão e sobre sua vulnerabilidade enquanto uma manifestação comunitária.

Além disso, objetiva também relacionar alguns impactos positivos e negativos do

turismo local nesta época do ano, os quais marcam diferentes posicionamentos e

conflitos entre moradores locais.

A motivação por estudar a temática do carnaval se deu por entende-lo como

um importante campo de pesquisa que proporciona diversas variáveis a serem

analisadas. Além disso, é uma discussão hodierna na cidade, que se enquadra nos

estudos de impactos positivos e negativos do turismo, na importância do planejamento

e gestão do turismo. Identificamos na pesquisasque o carnaval no município sofreu

influência e impulso como uma possibilidade econômica, gerando mais lucro pelo

aumento de turistas no município. O artigo é uma forma de dar visibilidade ao impacto

que sofreu o carnaval de Jaguarão e como este vem impactando a comunidade.

Este artigo está estruturado da seguinte forma: procedimentos metodológicos,

breve aspectos históricos do carnaval em Jaguarão, características locais, histórico

de algumas entidades carnavalescas; aspectos sobre a situação atual do carnaval em

Jaguarão, seus impactos positivos e negativos, sua vulnerabilidade enquanto um bem

cultural e perspectivas do turismo neste contexto.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo foi baseado em pesquisa bibliográfica e empírica, a fim de

compreender a história e transformações ocorridas na cultura carnavalesca em

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Jaguarão. A pesquisa bibliográfica se baseou no estudo do carnaval como um espaço

de socialização e integração da comunidade, e de como o turismo pode existir, de

forma a minimizar impactos nesse processo.

Foi feita também entrevistas utilizando a metodologia da história oral com

membros da prefeitura municipal e da liga das entidades carnavalescas do município

a fim de resgatar parte da memória do carnaval de Jaguarão.

Como sou morador local, foi possível fazer pesquisa in loco no carnaval do ano

2016, com observação de campo e observação participante a fim de demonstrar os

diversos impactos, principalmentenegativos gerados pelo turismo no carnaval de

Jaguarão.

3 O CARVAVAL DE RUA DE JAGUARÃO, RS

O carnaval de Jaguarão, a poucas décadas era organizado pela prefeitura

municipal juntamente com a liga das escolas de samba, os blocos e contava com a

participação da população local, formando assim diretrizes para sua execução.

Mesmo com os desfiles das escolas de samba era considerado um carnaval de rua,

num contexto que o mesmo era inteiramente das pessoas da localidade por sua vez

possuía suas particularidades quanto a manifestação cultural e no modo de fazer.

Havia no carnaval de rua de Jaguarão o desfile dos reboques,43 que eram enfeitados

por jovens e adolescentes, as escolas de samba, os blocos, os foliões que se

fantasiavam e brincavam rua a fora, e poucos trios elétricos, com destaque para o Trio

da Botica (hoje extinto) e o Trio Sociedade Amigos do Coronel (SAC). Alguns blocos

possuíam carros de som, atrás dos quais as pessoas pulavam e faziam festa. Alguns

reboques também possuíam som, tudo era planejado de uma forma que os desfiles

sempre fossem acompanhados de algum som, e neste contexto as escolas se

destacavam porque possuíam sua própria percussão.

Esse carnaval de rua de décadas atrás começava ao anoitecer, e seus protagonistas

eram, na maioria, membros da comunidade, haviam poucos turistas. Quando

43 Reboques: eram zorras puxadas por trator, enfeitadas por um grupo de pessoas para desfilar no carnaval.

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terminava os desfiles, as pessoas começavam a se deslocar aos clubes, deixando

assim o carnaval de rua pelos bailes de carnaval. O depoente, folião Almiro Soares

Afirma que:

Preferia o carnaval de alguns anos atrás onde assistíamos muitos

fantasiados, pessoas conhecidas que usavam máscaras e mexiam conosco,

os reboques, cada um caracterizado de um jeito. Depois da meia noite íamos

para o baile no Clube Caixeral, onde dançávamos até ao amanhecer (Sr.

Almiro Soares, em entrevista concedida no dia 05 de outubro de 2016).

Atualmente o carnaval de rua de Jaguarão dura 7 dias. Começa com a noite da

seresta na quarta-feira com shows no largo das bandeiras e seguem ao longo da

semana com a apresentação dos trios e escolas de samba, terminando na terça-feira

de carnaval. A festa “se mistura” e se divide principalmente em dois tipos: o carnaval

dos trios elétricos e o carnaval tradicional, semelhante ao descrito pelo depoente Sr.

Almiro.

O carnaval dos trios elétricosocorre em todas as noites de carnaval, iniciando-

se na quinta-feira com a “noite da muamba” e o desfile do Trio elétrico do Cravo,

prosseguindo na sexta-feira com o Trio da SAC que é um dos desfiles mais famosos

e de tradição da cidade, conhecido como “Sexta da SAC”, o trio mais antigo da cidade

com 34 anos. Este trio se destaca pela indumentária masculina e feminina, que são

utilizadas de forma inversa para desfilar pela principal avenida da cidade, ocorre assim

oficialmente a abertura do carnaval na cidade. Nos dias seguintes o carnaval é feito

com o desfile das escolas de samba e blocos, intercalando os dias de desfile, pois as

escolas só apresentam-se no domingo e na terça-feira. Contudo nesses mesmos dias

em que as escolas e blocos passam na avenida, também desfilam os trios elétricos.

Atualmente o carnaval no município conta com o desfile de 3 escolas de samba

que são: Aguenta se Puder, Estrela D’alva e Palestina; com 3 blocos burlescos sendo:

Bloco do Janjão, Bloco Acadêmicos da Zona Norte e Bloco Prata da Casa; por fim

conta com o 8 trios elétricos: Acanhados, Trio do Cravo, Malandro, Trem Bala,

Choppados, SAC/Unidos do Garajão, Máfia (UY) e Marajás do Trago, de acordo com

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os órgãos responsáveis. Com exceção do trio da SAC e do trio Máfia, os outros trios

são “descendentes” dos antigos reboques, ou seja, ouve a uma adaptação ao novo

carnaval que atualmente conta com um número elevado de turistas. O carnaval de rua

de Jaguarão, pela sua amplitudeé conhecido atualmente como um dos maiores

carnaval de rua do sul do país, chamado de “salvador do sul”44.

Foi possível perceber que o carnaval de rua da Jaguarão vem modificando-se.

Há menos de 20 anos, mais precisamente na década de 1990, as pessoas da cidade

que faziam a festa, além do carnaval de rua com os reboques, que entravam a

madrugada na avenida destacavam-se também os bailes de carnaval nos principais

clubes45 do município. Atualmente os bailes em clubes são escassos ounão ocorrem

mais durante o período de carnaval. O clube 24 de agosto promove bailes de carnaval

dias antes da data do mesmo, e sua corte desfila nos dias de carnaval. O Clube

Harmonia não promove mais bailes de carnaval e, como está localizado na Avenida

27 de Janeiro, onde ocorre o carnaval, “reparte” suas janelas e aluga como camarotes

para membros da comunidade ou turistas, e sua corte geralmente participa do

carnaval. Já o clube Jaguarense sofreu danos em sua estrutura recentemente,

passando por uma intervenção emergencial através do Instituto Patrimônio Histórico

Artístico Nacional (IPHAN) com a recuperação da cobertura e de uma parede que

cedeu. O prédio permanece interditado até que se realize nova intervenção,

recuperando totalmente a estrutura danificada. O Clube Caixeiral, ao enfrentar

problemas financeiros, foi vendido, e hoje pertence a um empresário do ramo

alimentício, que o transformou em um depósito.

Assim, houve a substituição de algumas atrações e proibição da utilização de

reboques a partir de 2009 (SECULT, 2016). Logo, para muitos moradores e visitantes

aquele o antigo carnaval de rua de Jaguarão ficou apenas na memória. Uma das

44 O termo “salvador do sul” remete, simultaneamente, a cidade de Salvador, no estado da Bahia, nordeste do Brasil, tradicionalmente conhecida por seu carnaval; e o termo “salvador” no sentido de salvar um lugar onde há certa crise no setor de geração de empregos, circulação de renda e riquezas. De acordo com a fala popular, o período do carnaval é quando a cidade é “salva” pelo incremento econômico, alguns comerciantes e empresários podem faturar mais nestes sete dias do que em seis meses de trabalho. 45 Clube 24 de Agosto, Caixeiral Navegantes, Jaguarense e Sociedade Harmonia Jaguarão.

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evidências dessa mudança pode ser percebida através do número de escolas ainda

ativas, das seis escolas que participavam das festividades, restam três, sendo elas:

Estrela D’alva, Aguentase Puder e a Palestina. O Sr. Luis Henrique Alves, fundador

da escola de samba Palestina afirma que:

Para que a escola funcione é necessário no mínimo 200 pessoas, e nesse

carnaval não se conseguiu atingir este número, e devido a isso foi descontado

pontos da minha escola. Eu atribuo a extinção de outras escolas como a

Centenário, Bandeira Branca e Império Baiano, a falta de interesse da

comunidade em participar das escolas. Os trios elétricos vêm dominando o

carnaval, esta cada vez mais difícil manter a escola, tem momentos que tenho

vontade de desistir (Sr. Luis Henrique Alves, em entrevista concedida no dia

6 de outubro de 2016).

Conforme visto na citação acima, a tradição das escolas de samba já não é

uma prioridade para a comunidade de apreciadores do carnaval de rua de Jaguarão.

O tom do depoente Sr. Luis Henrique é de desabafo, pois precisa do coletivo para que

sua escola volte a brilhar. É um exemplo de como a tradição do carnaval se modificou

e do impacto na comunidade.

3.1 O TURISMO NO CARNAVAL DE RUA: “O SALVADOR DO SUL”

O carnaval no Brasil tem suas raízes, de acordo com Moraes filho (2005), em

comunidades primitivas, que se fantasiavam com indumentárias diferenciadas,

pintavam rostos e corpos e tinham a música e a dança como marca fundamental do

rito. Apesar da origem do carnaval não ser concreta, alguns estudiosos apontam que

o carnaval brasileiro sofreu influências de Portugal, Itália e França. Vale ressaltar que

o carnaval oficial, no período imperial do Brasil, era principalmente para a elite

participar, o carnaval dos trabalhadores ocorria separadamente. Nogueira (2008)

afirma que ele foi unificado entre o povo e a elite para formar um único carnaval, com

identidade totalmente nacional, no período republicano.

O processo de organização da nova festa carnavalesca, pautada na junção

de interesses das manifestações do Grande Carnaval e Pequeno Carnaval,

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240

representados respectivamente pela elite e povo, dar-se-ia a partir do século

XX com a imposição gradativa de regulamentações cada vez mais

estruturadas por parte do poder público como, por exemplo, policiamento

ostensivo nos locais da festa, itinerário previamente definido aos grupos

carnavalescos e logradouros roteirizados (NOGUEIRA, 2008, p.52).

De acordo com Moraes Filho (2005) o carnaval ganhou força no Brasil com a

proibição do jogo do entrudo. Com isso nasceu um carnaval diferenciado e original do

Brasil, tendo assim uma identidade própria nacional. O país atualmente é conhecido

como o país do carnaval, sendo que Bruhns (2000) diz que a atividade é coletiva da

nação, que para-se as atividades por quatro dias para pular ou festejar esse grande

evento. O carnaval é considerado, especificamente na cidade do Rio de Janeiro, “a

maior festa do mundo”, pela sua representatividade social e cultural, além do número

de pessoas que se envolvem no processo.

Alguns autores destacam a importância do carnaval como identidade cultural.

Afirmam que o carnaval é vivenciado, por englobar todos os públicos, e não é somente

assistindo. Ainda nesse contexto Bakhtin (1993) afirma que;

Enquanto dura o carnaval, não se conhece outra vida senão a do carnaval.

Sendo impossível escapar a ela, pois o carnaval não tem nenhuma fronteira

espacial. Durante a realização da festa, só pode viver de acordo com suas

leis, isto é, as leis da liberdade. O carnaval possui um caráter universal, é um

estado peculiar do mundo; o seu renascimento e a sua renovação, dos quais

participa cada individuo, Essa é a própria essência do carnaval e os que

participam dos festejos sentem-no intensamente (Bakhtin 1993, p.06).

A comemoração do carnaval difere em diversas regiões do Brasil. Na região

nordeste o carnaval de rua ocorre com os trios elétricos e blocos organizados para

segui-los. Já na região sudeste a grande atração do carnaval são as escolas de

samba. No sul pode-se notar uma mescla dos dois, tendo tanto a representatividade

das escolas de samba, quanto do carnaval de rua com blocos, e em Jaguarão,

recentemente, apontam os trios elétricos.

O carnaval é uma das principais motivações para o turismo em várias cidades,

seja para participar da festa ou para fugir dela. Quando existe o turismo para o

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241

carnaval é preciso que haja a preocupação do gestor em planejar este processo de

recepção e acolhimento do turista, além de demonstrar a alma do lugar, a cultura local.

Todasas práticas culturais que são tidas como especificas de cada lugar ou

região que as integram, ou ainda idênticas em nível nacional como as

atividades cotidianas e festivas de ordem sacra ou profana, de caráter popular

e folclórico, são consideradas objeto de apreciação e/ou participação turística

(BENI, 2004, p.309).

O turismo no período de carnaval, impacta na economia local gerando renda e

fluxo de turistas naquele período certo do ano, aumentando assim as oportunidades

de negócios na comunidade receptora. De acordo com Panosso Netto (2009):

Os eventos são atividades de entretenimento com grande valor social, cultural

e, sobretudo, histórico suas atividades constituem um verdadeiro mix de

marketing, entretenimento, lazer, artes e negócio. Tal a sua importância no

contexto social, cultural econômico e político da cidade e região e, em alguns

casos até mesmo do país, podemos denominá-los de agentes do patrimônio

histórico cultural(PANOSSO NETTO, 2009,p.30).

Soma-se à questão do planejamento a boa imagem que transmite um

município, quando o evento é bem organizado, priorizando-se o bem-estar da

comunidade local e de turistas. Segundo Panosso Netto (2010) o impacto no turismo

em uma região deve gerar variáveis dentre as quais se destaca a movimentação

econômica, trabalho e receitas. E mesmo assim é preciso ter responsabilidade com a

promoção e com a preservação, constituindo-se assim um instrumento de

desenvolvimento econômico e social. Na cidade de Jaguarão, esta lógica ocorre, se

percebe certa preocupação em bem receber, porém os impactos negativos causados

no período do carnaval estão tomando proporções não imaginadas.

Conforme visto, houve uma considerável mudança na forma de fazer o carnaval

e nas características da festa do povo, que é um dos elementos principais da cultura

do carnaval. Esse processo de transformação que impacta a tradição do carnavalde

Jaguarão prioriza o lucro, onde houve o aproveitamento de elementos específicos de

cultura em produtos ventáveis. Nessa abordagem destaca-se que:

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Por trás da beleza de um desfile, a crescente comercialização de seu

processo é ampla.Participação de outros segmentos sociais

conspurcariatenazmente a pureza originária das escolas. [...] Muito difundida

entre nós, aconcepção romântica define para o popular um dilema inevitável.

Por umlado, a cultura do povo, distinta daquela das camadas cultas e da ralé,

évalorizada como primitiva, comunal e pura, abrigando a nostalgia de

umatotalidade integrada da vida com o mundo, rompida pela época moderna.

Poroutro lado, esse lugar de expressão de autenticidade está

sempreinexoravelmente ameaçado pela degradação das tradições, pela

iminência deseu desaparecimento diante do acelerado processo de

transformatrazido pela expansão do capitalismo (CAVALCANTI, 2008, p.24).

Os diversos tipos de relações comerciais fazem com que o carnaval seja viável

para o município, que preocupa-se em maneiras de atender a demanda do crescente

público que procura um produto diferencial do que está acostumado a prestigiar. A

utilização de atrativos culturais locais, para a promoção do turismo ganhou espaço

neste contexto. Pereira (2003, p. 98) afirma que eventos como festivais e celebrações

atrelados à tradição e aos costumes locais, por serem diferenciados, transformam-se

em valores referenciais, constituindo-se em catalisadores para movimentação de

visitantes.

No contexto da participação pública no planejamento e organização do evento

podemos afirmar que há a prévia implantação de banheiros químicos, reforço da

segurança e de infraestrutura para manter-se a qualidade do carnaval. Cria-se um

“ambiente próprio” para o turismo, que ocorre uma vez ao ano com esse fluxo,

deixando tudo em condições para melhor receber o turista. Mas em contrapartida

observando-se que primeiramente deveríamos pensar no morador local, e se

considerarmos que essa atuação só começou devido ao aumento do fluxo turístico,

mais uma vez percebe-se que o planejamento para minimizar impactos para a

população local não foi priorizado. Mesmo que no discurso diga-se o contrário. Fica

caracterizado que os moradores ocupam o segundo plano.

A questão que desafia é como equilibrar os interesses: comunitário, privado e

público. Além disso, deve-se observar e levar em conta que o carnaval é uma

manifestação popular, ou seja, um bem cultural do povo e da comunidade.

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243

Considerando os fatores anteriores, qualquer ação de planejamento e organização

deve ter consulta prévia aos moradores locais, mantendo suas principais

reivindicações para a melhoria do seu evento, mas também deixar um legado para a

sua cidade, fazendo com que a melhoria aconteça de forma permanente e não

somente temporariamente.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

O turismo cultural, segmentação que ocorre no período do carnaval, procura

agregar valor ao que já existe, sendo que o turista pode relacionar-se a comunidade

e conhecer toda a sua complexidade. Porém com a alteração na forma de fazer e

relacionar um evento, no contexto geral da mudança há uma perda das características

particulares. Dessa forma o carnaval como fator de desenvolvimento turístico de uma

região faz com que o turista queira viver apenas uma nova experiência, não se

importando com os dados históricos da festa, da cidade, logo o fator diversão torna-

se o motivo principal para a visitação.

Dessa forma entende-se que a influência da elevada demanda de turistas vem

criando impactos no modo de fazer o carnaval no município, pois vem sendo imposto

pelo mercado. Este fenômeno vem trazendo várias transformações culturais nos

últimos tempos, desagregando valores com as perdas que ocorrem na sociedade,

como o término dos bailes de carnaval que eram direcionados a população local, a

descentralização da festa pela capacidade de carga, por exemplo.

No momento ainda não foram percebidos danos aos prédios históricos tombados que

compõem o centro histórico da cidade, mas essa questão é preocupante, pois

carnaval envolve o som com alto volume e os trios elétricos que são caminhões de

grande porte, o que em médio prazo pode ocasionar danos estruturais aos casarões,

que chegam a vibrar e as janelas a se bater, podendo ocasionar em uma perda

inestimável.

Há ainda um aumento excessivo do consumo de energia elétrica, e um alto

consumo de água, e o desabastecimento do comércio alimentício local, ocupação total

das unidades habitacionais dos diversos meios de hospedagem, alta procura de

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imóveis para alugar para o período de carnaval, ocorrendo assim de certa forma um

abuso dos preços dos aluguéis, fazendo com que aquele turista de baixo poder

aquisitivo acabe dormindo ao relento, conforme foi registrado na Figura 01:

Figura 01: Turistas dormindo ao relento em uma manhã de carnaval de Jaguarão (2016).

Fonte:Do autor Pablo Colvara Machado.

No período do carnaval de Jaguarão, outro impacto está nos serviços de

lancherias, churrascarias, restaurantes ficam lotados. Paira no ar, em todos os dias

de carnaval o mau cheiro provocado pela urina, pois os banheiros químicos não são

suficientes para atender a demanda. Em alguns anos, houve a falta de dinheiro nos

caixas-eletrônicos da cidade. Há sobrecarga também na utilização do serviço público

de saúde emaior incidência de resíduos sólidos na área urbana conforme a Figura 02:

Figura 02: Ruas de Jaguarão no período de carnaval (2016).

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245

Fonte: Do autor Pablo Colvara Machado.

Após breve abordagem com comerciantes que possuem estabelecimento no

local onde antigamente o carnaval acontecia, quando questionados sobre o

movimento de clientes, eles afirmaram que, mesmo com o grande público do carnaval

atual, a descentralização, a fragmentação ocasionou reflexos negativos, pois o seu

faturamento vem diminuindo, se comparado aos lucros de quando o carnaval era

apenas destinado à população local. O problema pode ser verificado no depoimento

do comerciante, Sr. Gilberto Subda Rodrigues:

Eu tenho um trailer onde vendo Kreps e bebidas, bem no local onde o

carnaval se concentrava alguns anos atrás, eu tinha um bom faturamento

devido ao evento. Atualmente com a descentralização do carnaval, e o

aumento da concorrência durante a festa, meu faturamento é muito menor

(Sr. Gilberto Rodrigues, em entrevista concedida no dia 05 de outubro de

2016).

Contudo, em contrapartida aos impactos negativos, e que necessitam de maior

atenção no planejamento e organização, o carnaval também traz vantagens para o

município. Como a padronização dos trios elétricos, o aumento dos vendedores

ambulantes que podem contar com um adicional de renda nesse período,

desenvolvimento econômico para o comércio, ocupação máxima dos meios de

hospedagens, restaurantes e similares.

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246

A gestão de incentivo para as escolas de samba do município também é uma

nova abordagem positiva no carnaval em Jaguarão. Elas recebem verbas do poder

público municipal, uma ajuda de custo para a realização e organização dos seus

desfiles, enquanto os trios elétricos geram sua renda a partir da venda de

abadás/camisetas personalizadas.

Analisando as hipóteses que foram levantadas através da pesquisa e do evento

e suas particularidades pode-se afirmar que levando em consideração que não houve

consulta popular sobre questões pertinentes ao carnaval, ocorreram mudanças na

cultura e na forma de fazer a festa popular. Consequentemente, se pode considerar

que o mesmo está deixando de ser uma festa da comunidade local e passando a ser

um fato comercial, sem alma, sem identidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância do carnaval para o brasileiro é inegável, sendo a maior festa

popular do país, e o município de Jaguarão soube aproveitar-se deste contexto,

mesmo estando longe das principais cidades que organizam esta festa no Brasil.

Durante o carnaval de rua a cidade fica repleta de turistas, onde os mesmos tem a

possibilidade de conhecer a cultura e atrativos locais. O turismo relacionado à cultura

está ganhando cada vez mais força, pois independe de qual seja o motivo de

deslocamento do turista, existe um elemento primordial e comum a quase todas as

experiências de uma viagem turística, a procura por sanar a curiosidade do turista em

relação às culturas de outras sociedades. Portanto todo turismo é de certa forma

cultural, uma vez que todo o deslocamento de pessoas para um lugar diferente tem

por finalidade conhecer e buscar novos aprendizados culturais, novas experiências.

Logo,de acordo com o que foi exposto, pode-se afirmar que a relação do

turismo com a cultura do carnaval fundamenta-se na busca pela experiência de

vivenciar e conhecer diversas culturas. O tema foi escolhido em função do momento

atual, no qual o carnaval de rua assume um papel estratégico no futuro da cidade,

como fator de desenvolvimento local, podendo inclusive vir a despontar como

protagonista num polo de atração turística.

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Conclui-se que as mudanças materiais e imateriais da cultura são importantes

para o desenvolvimento humano, e que quando não há mudanças parece que a

humanidade parou no tempo. No desenvolvimento dessa pesquisa foi possível

compreender o processo que levou ao término dos bailes de carnaval nos clubes, a

extinção dos reboques.

Notamos também mudanças ocasionadas pelo fenômeno do turismo, o que nos

faz refletir que o poder público deve tomar o controle e definir junto à população local

o que é melhor para o desenvolvimento da cidade sem que tenham grandes perdas

sociais, culturais, materiais e imateriais. Desta forma é possível que se consiga

aproveitar o carnaval para divulgar as potencialidades locais, mostrar outros aspectos

do município, aproveitar-se desse fluxo no local para se fazer visível ao turista, seus

atrativos, turismo cultural, turismo rural, turismo de compras, uma vez que está em

região de fronteira, fazendo com que o turismo aconteça todo ano, superando assim

a questão da sazonalidade, tendo como referência o município em um todo como fator

de turismo, e não somente uma festa em particular.

Foi possível constatar que o carnaval é considerado não só pelo poder público,

mas também pelos atores da festa como uma importante ferramenta para o

desenvolvimento turístico.A festa tem provocado um incremento no turismo e

possibilitado a participação da comunidade e a geração de renda, mas ainda há muito

a ser feito, principalmente no que tange ao aumento da capacidade de carga,

divulgação, a estrutura para bem receber. Foi possível identificar conflitos por parte

da população, onde alguns são inconformados com o seu carnaval que está perdendo

a identidade, outros deslumbrados pelos ganhos econômicos e outros indecisos,

deixando tudo nas mãos da gestão pública.

A utilização e transformação do carnaval de rua de Jaguarão em fator

meramente econômico pode acabar levando ao afastamento do residente, que deixa

de se identificar com essa representação capitalista. Além do que, o valor cobrado

pode excluí-lo de certas comemorações. Por outro lado entendemos que em uma

representação cultural criada pelo povo e gerida por ele, o planejamento e gestão do

devem ser feitos visando primordialmente à população local, para evitar impactos

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248

negativos e assim bem receber com identidade, orgulho e integridade ao visitante,

consistindo assim no verdadeiro segmento de turismo cultural que deve ser

incentivado.

REFERÊNCIAS

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http://www.harmoniajaguarao.com.br/ Acesso em: 23 nov. 2015.

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jaguarao-que-agora-e-ponto-de-cultura/ consulta. Acesso em: 25 nov. 2015.

UNIPAMPA. Universidade Federal do Pampa. Disponível em:

https://www10.unipampa.edu.br//portal/resumo.php. Acesso em: 20 nov. 2015.

Entrevistas

Almiro Soares, entrevista concedida em 05 de outubro de 2016. 30m00s.

Luis Henrique Alves, entrevista concedida em 06 de outubro de 2016. 1h03m00s.

Gilberto Subda Rodrigues,entrevista concedida em 05 de outubro de 2016. 20m05s.

AÇÕES SUSTENTÁVEIS DOS ESTABELECIMENTOS GAÚCHOS ENGAJADOS

NA CAMPANHA PASSAPORTE VERDE

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PEREIRA, Gisele46; NAZARI, Mateus47; KAIZER, Éverton48; LONGARAY, Luisa49;

[email protected]

Resumo: O presente estudo tem por objetivo apresentar as ações de sustentabilidade

desenvolvidas pelos empreendimentos engajados na campanha Passaporte Verde no

estado do Rio Grande do Sul, no que tange aos cinco eixos da mesma. A coleta dos

dados necessários à pesquisa deu-se por meio de levantamento, via website da

campanha Passaporte Verde, dos empreendimentos turísticos gaúchos engajados

nesta campanha e de suas ações de sustentabilidade. Os resultados permitem

concluir que os meios de hospedagem engajados contemplam, em seus websites,

informações sobre a maioria das cinco dimensões. A única exceção é a redução do

desperdício de alimentos, que não é citada em nenhum dos websites dos cinco meios

de hospedagem analisados.

Palavras-chave: Campanha Passaporte Verde; Ações sustentáveis;

Estabelecimentos engajados.

1 INTRODUÇÃO

Um passaporte pode ser visto como o primeiro passo para entrar em outro

país ou em outro momento em nossas vidas. Quando viajamos, vivenciamos

46 Bacharel em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Especialista em Gestão de

Marketing pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Doutora em Lazer, Hospitalidade e Gestão do Turismo pela Oxford Brookes University (Inglaterra). Docente no Departamento de Turismo da Faculdade de Administração e Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rua Gomes Carneiro nº 1 - 4º andar - Pelotas, RS, CEP: 96010-610 http://lattes.cnpq.br/2417134708175156 E-mail: [email protected] 47 Acadêmico de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Bolsista de Iniciação Científica (CNPq) no Núcleo de Educação, Pesquisa e Extensão em Resíduos e Sustentabilidade (NEPERS) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://lattes.cnpq.br/8312954395664621 E-mail: [email protected] 48 Acadêmico de Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://lattes.cnpq.br/8400189838557299 E-mail: [email protected] 49 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://lattes.cnpq.br/5491205135828458 E-mail: [email protected]

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novas experiências e retornamos ao nosso dia a dia diferentes, com um novo

ritmo, novos hábitos e sentimentos, que gostaríamos de manter ao longo de

nossas vidas. Podemos ver o passaporte como um acesso a este novo estilo

de vida que gostaríamos de preservar. E, se esse Passaporte é Verde, ele

provavelmente traz consigo novos hábitos em relação à sustentabilidade.

(PASSAPORTE VERDE, 2016).

Com a finalidade de estimular práticas de consumo e produção sustentável no

turismo, a campanha Passaporte Verde éuma iniciativa global do Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que visa a garantir que os recursos

naturais sejam produzidos, processados e consumidos de uma maneira mais

sustentável. Criada em 2008 e propagadaem diversos países como África do Sul,

Brasil, Coreia do Sul, Costa Rica, Equador, França e Israel, a campanha já é

referência internacional em disseminação de informações sobre turismo

sustentável.(PASSAPORTE VERDE, 2016).

No Brasil, a campanha é coordenada pelos Ministérios do Meio Ambiente e do

Turismo e tem como objetivo sensibilizar o turista quanto ao seu potencial de contribuir

com o desenvolvimento sustentável local por meio de escolhas responsáveis durante

o seu período de férias e lazer. É também uma ferramenta que os turistas têm à

disposição para conhecer melhor os impactos positivos ou negativos de suas escolhas

pessoais e de seu comportamento antes, durante e depois da viagem. Além disso, a

campanha compreende dicas que ajudam o turista a viajar como um turista

consciente, incluindo a escolha do destino, o que levar e o que não levar na bagagem,

como se locomover, onde se hospedar, onde comer, como se divertir, o que trazer e

o que não trazer, além de recomendações sobre como se comportar durante o

convívio com diferentes populações e ecossistemas. (PASSAPORTE VERDE, 2016).

Em relação aos empreendimentos turísticos, é possível que os mesmos se

engajem na campanha Passaporte Verde. Atualmente, há hotéis, pousadas, bares e

restaurantes que aderiram à campanha ao assumirem o compromisso de desenvolver

ações de sustentabilidade ligadas às seguintes dimensões do Passaporte Verde:

consumo eficiente de energia, uso racional da água, redução do desperdício de

alimentos, gestão eficiente dos resíduos e responsabilidade social. É importante

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salientar que esta adesão é voluntária, não caracterizando, portanto, qualquer

processo de certificação formal.

Pelo Compromisso Passaporte Verde, uma ferramenta online na qual

estabelecimentos podem se comprometer voluntariamente com boas práticas

de produção e serviços, o empresário ganha a possibilidade de obter um novo

canal de promoção através do portal, do aplicativo e das redes sociais da

campanha, bem como utilizar o material promocional do Passaporte Verde

(adesivos, cartazes, displays). Ao se engajar, os estabelecimentos também

ficam disponíveis para consultas online dos consumidores via hotsite e

aplicativo. (PNUMA, 2014, p. 6).

Nesse sentido, a atuação de turistas mais conscientes é decisiva para que o

setor produtivo do turismo reavalie suas práticas de produção. A partir da demanda

de produtos e serviços turísticos mais sustentáveis bem como pela escolha de

empreendimentos turísticos comprometidos com a sustentabilidade, é possível

promover a mudança necessária nos padrões de produção e consumo.

Assim, devido à importância de uma adequada gestão ambiental e com o intuito

de sensibilizar o setor produtivo do turismo quanto ao seu potencial em contribuir para

o desenvolvimento sustentável, o presente artigo tem como objetivo apresentar as

ações de sustentabilidade desenvolvidas pelos empreendimentos engajados na

campanha Passaporte Verde no estado do Rio Grande do Sul, no que tange aos cinco

eixos da mesma: consumo eficiente de energia, uso racional da água, redução do

desperdício de alimentos, gestão eficiente dos resíduos e responsabilidade social.

Em termos de estrutura, o presente artigo está organizado da seguinte forma:

a seção 1 apresenta a introdução do trabalho e uma breve revisão de literatura sobre

o tema investigado; a seção 2 aborda a metodologia empregada; a seção 3 apresenta

e discute os resultados da pesquisa e, por fim, a seção 4 trata das considerações

finais do trabalho.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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No que se refere à metodologia utilizada, o estudo classifica-se como descritivo,

uma vez que estuda as relações estabelecidas entre duas ou mais variáveis de um

determinado fenômeno, sem manipulá-las (KÖCHE, 2004). Além disso, o estudo

também caracteriza-se como bibliográfico.A coleta dos dados necessários à pesquisa

deu-se por meio de levantamento, via website da campanha Passaporte Verde

(http://www.passaporteverde.org.br), dos empreendimentos turísticos do Rio Grande

do Sul engajados nesta campanha. Tal busca permitiu identificar a participação de

cinco estabelecimentos, todos caracterizados como meios de hospedagem: i)

Pousada Villa Allegro (Canela); ii) Pousada Blumenberg (Canela); iii) Cambará Eco

Hotel (Cambará do Sul); iv) Eko Residence Hotel (Porto Alegre); e v) Bangalôs da

Serra (Gramado). A seguir, verificou-se nos websites de cada estabelecimento as

ações de sustentabilidade desenvolvidas com base nos cinco eixos da campanha

Passaporte Verde: consumo eficiente de energia, uso racional da água, redução do

desperdício de alimentos, gestão eficiente dos resíduos e responsabilidade social.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 POUSADA VILLA ALLEGRO

A Pousada Villa Allegro está localizada no município de Canela e possui 11

Unidades Habitacionais (UHs), sendo uma acessível a cadeirantes, totalizando 40

leitos. (CADASTUR, 2016).

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Segundo o conteúdo disponível no website da Pousada Villa Allegro, o

estabelecimento busca desenvolver práticas de sustentabilidade com o propósito de

(VILLA ALLEGRO, 2016):

• Preservar o meio ambiente e promover a educação ambiental;

• Colaborar com o bem-estar da comunidade local, ajudando no seu crescimento

e desenvolvimento;

• Criar uma rede de parceiros e fornecedores que respeitem os princípios da

sustentabilidade, oferecendo produtos de qualidade;

• Oferecer serviços de hospedagem com qualidade, profissionalismo e

hospitalidade, através do comprometimento com a melhoria contínua da

eficácia do sistema de gestão da sustentabilidade;

• Atender a legislação e normas vigentes.

No que tange ao consumo eficiente de energia, a Pousada incentiva os

hóspedes e os colaboradores a consumirem conscientemente energia; realiza o

monitoramento do consumo através de indicador medido mensalmente; providenciou

a instalação de condicionadores de ar tipo split quente e frio com tecnologia Inverter

(mais eficiente e econômico, agredindo menos o meio ambiente) em substituição ao

sistema de aquecimento via caldeira, o que ocasionou uma grande economia de lenha

utilizada na caldeira; utiliza lâmpadas eletrônicas de baixo consumo em todos os

ambientes da Pousada; dispõe de sensores de presença nas circulações internas, de

células fotoelétricas nas áreas externas, de equipamentos elétricos com baixo

consumo de energia (Selo Procel A, melhor nível de eficiência energética), de

economizadores de energia elétrica acionados por cartão-chave magnético em todas

as UHs, com desligamento automático na saída, de desligamento automático de

alguns equipamentos existentes nas UHs quando fora de uso; realizou a aquisição de

máquina automatizada de aspiração do pó “Pro-Acqua”, a qual utiliza água no sistema

de filtragem, gastando menos energia e garantindo maior higienização e saúde para

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os hóspedes; possui estrutura adaptada para receber luz natural, diminuindo o

consumo de energia elétrica durante o dia. (VILLA ALLEGRO, 2016).

No que se refere ao uso racional da água, a Pousada pratica as seguintes

ações: incentivo aos hóspedes e colaboradores quanto ao consumo consciente da

água; monitoramento do consumo através de indicador medido mensalmente; uso de

vasos sanitários com caixa acoplada gerando baixo consumo de água; adoção de

redutores de vazão evitando o desperdício desnecessário; desenvolvimento de

programa de reuso de toalhas que ajuda na diminuição do volume de água residual

com detergente que deve ser reciclada na comunidade; coleta da água do enxague

na operação das máquinas de lavar roupas para reutilização na lavagem posterior;

realização de programa de manutenção preventiva executada para toda a estrutura

da Pousada; limpeza das caixas de água no prazo exigido pela legislação com laudo

técnico fornecido por empresa credenciada; acompanhamento dos indicadores de

qualidade existente na conta da empresa fornecedora da água; implantação de um

sistema de coleta da água da chuva através de calhas coletoras instalados nos

telhados onde a água é captada e armazenada em uma cisterna (esta água é utilizada

para irrigação dos jardins da Pousada e também para a lavagem da sua área externa)

(VILLA ALLEGRO, 2016).

Em termos de gestão eficiente dos resíduos, a Pousada incentiva os

hóspedes e os colaboradores a reduzirem a geração de resíduos; realiza

monitoramento da geração através de indicador medido diariamente; faz doação dos

resíduos secos como latas e garrafas pets para entidades de Canela que reutilizam o

material para reciclagem e que se transformam em renda para a comunidade; utiliza

jornais e revistas para uso na caldeira ou nas lareiras da Pousada evitando o uso de

combustível e lenha; emprega procedimentos e processos que contribuem para a

redução da geração de resíduos secos, assegurando o descarte adequado, realiza

separação seletiva em containers para papel, vidro, metal, plástico e orgânico; realiza

pesagem, registro e descarte do resíduo seco e parte do orgânico para coleta seletiva

realizada por serviço especializado de coleta do município; possui procedimentos e

processos que contribuem para a redução da geração de resíduos orgânicos,

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assegurando o descarte adequado; faz separação seletiva em container para resíduos

orgânicos; desenvolve pesagem, registro e descarte dos resíduos orgânicos através

de compostagem na própria Pousada, para uso como adubo em seus jardins e doação

para a comunidade; realiza coleta e armazenamento dos resíduos contaminantes

conforme determina a legislação como pilhas, baterias, medicamentos, lâmpadas e

outros produtos considerados perigosos (periodicamente estes resíduos são

encaminhados para pontos de coletas em Canela, os quais encaminham a destinação

correta).(VILLA ALLEGRO, 2016).

Em relação à responsabilidade social, a Pousada desenvolve uma série de

ações quanto ao artesanato local, à culinária regional, à educação ambiental, à gestão

da sustentabilidade, às manifestações culturais, à produção local, à satisfação da

comunidade e dos clientes e ao turismo sustentável. Tais ações são detalhadas no

Quadro 1, abaixo (VILLA ALLEGRO, 2016):

Quadro 1: Ações de Responsabilidade Social desenvolvidas pela Pousada Villa

Allegro.

Área de atuação Ação

Artesanato Local 1. Divulgação do artesanato local, expondo e oferecendo produtos aos clientes e informando sobre centros artesanais existentes na região.

Culinária Regional • Oferta de alimentos típicos da gastronomia local, bem como produzidos na própria cozinha da Pousada, para o cardápio do café da manhã;

• Prioridade ao uso de produtos orgânicos produzidos no local.

Educação Ambiental • Meta de manutenção de pelo menos 8% da área total do terreno onde a Pousada está situada, com vegetação nativa;

• Participação no Festival de Turismo de Gramado na distribuição de mudas de árvores em ação de compensação de carbono do Festival;

• Ação juntamente com a comunidade da Vila Suzana de Canela na melhoria das condições de vida do bairro, em ações de combate ao mosquito e despoluição da represa situada no entorno da Pousada;

• Utilização de 100% de papel reciclado nas operações onde é necessário o uso do papel;

• Uso de amenities(cosméticos disponibilizados aos hóspedes no hotel) e produtos de limpeza de composição biodegradável. Assim, reduz-se a geração de efluentes, a contaminação da água e do solo e a geração de resíduos. Disponibilização de laudos de todos os produtos de limpeza e consumo utilizados pela Pousada;

• Controle da qualidade e procedência dos produtos utilizados;

• Instalação de placas identificadoras das espécies da flora nativa existentes na Pousada;

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257

• Iniciativas de sensibilização ambiental junto a colaboradores, hóspedes e comunidade local;

• Informações sobre Turismo Sustentável nos aposentos dos hóspedes, incentivando-os sobre a sensibilização e ações praticadas;

• Incentivo aos hóspedes para conhecerem a Política de Sustentabilidade da Pousada.

Gestão da

Sustentabilidade

Sistema de gestão da sustentabilidade baseado na Norma NBR-

15401/2014 em implantação.

Manifestações

Culturais

Apoio a eventos de cunho sociocultural à entidades locais, como o Festival Internacional de Bonecos, Páscoa em Canela, Sonho de Natal, etc.

Produção Local Apoio a eventos de cunho sociocultural à entidades locais, como o Festival Internacional de Bonecos, Páscoa em Canela, Sonho de Natal, etc.

Satisfação da Comunidade

Investimento na utilização de 100% de mão de obra local, enfatizando a capacitação interna e externa dos colaboradores.

Satisfação dos Clientes

• Realização de pesquisas junto aos hóspedes, com o objetivo de monitorar a satisfação em relação aos serviços oferecidos e às boas práticas implantadas;

• Análise dos comentários recebidos e promoção de melhorias a partir dos resultados encontrados.

Turismo Sustentável Fornecimento de dicas que visam a sensibilização e conscientização das

pessoas, promovendo um comportamento responsável e boas práticas

ambientais durante sua viagem ao destino turístico e que servem para

qualquer momento. São regras que aconselham o turista o que deve ou

não fazer e as ações que poderão colocar em risco a riqueza biológica do

lugar que visita.

Fonte: Elaboração própria (2016).

Já no que se refere à redução do desperdício de alimentos, segundo o

website da Pousada Villa Allegro, não há informações sobre tais ações. (VILLA

ALLEGRO, 2016).

3.2 POUSADA BLUMENBERG

A Pousada Blumenberg está localizada no município de Canela e possui 32

Unidades Habitacionais (UHs), sendo uma acessível a cadeirantes, totalizando 64

leitos. (CADASTUR, 2016).

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Segundo o conteúdo disponível no website do estabelecimento, a Pousada

Blumenberg tem como política promover a satisfação do cliente e o desenvolvimento

sustentável da empresa em conjunto com a comunidade. Além disso, salientam que

seus princípios de gestão respeitam a ética e a legislação vigente. Apoiam eventos e

ações de geração de renda, trabalho e qualificação profissional visando a valorização

sociocultural e ambiental da região. Buscam racionalizar o uso de insumos como

forma de preservar a natureza, minimizando eventuais impactos ambientais. A

Pousada foi auditada e certificada na NBR 15401 (Meios de Hospedagem: Sistema

de Gestão da Sustentabilidade)pelo Instituto Falcão Bauer de Qualidade (IFBQ),

através do Programa Bem Receber do Sebrae e do Ministério do Turismo. (HOTEL

BLUMENBERG, 2016).

Além disso, salientam que adotam um sistema de gestão sustentável

comprometido não só com a qualidade dos serviços prestados, mas também com os

aspectos ambientais e socioculturais gerados pelas atividades da empresa. Do ponto

de vista ambiental, divulgam sua política de sustentabilidade aos turistas, bem como

as ações de economia e proteção do uso de recursos naturais, a preferência por

fornecedores comprometidos com a sustentabilidade ambiental, a defesa, o apoio e a

divulgação da importância da conservação da biodiversidade da região e, em especial,

dos atrativos turísticos e sua participação ativa no Conselho Municipal do Meio

Ambiente de Canela. (HOTEL BLUMENBERG, 2016).

No que tange ao uso racional da água, a Pousada Blumenberg promove a

redução da geração de efluentes e o reuso de água. Já quanto à gestão eficiente

dos resíduos, as ações desenvolvidas são as seguintes: redução da geração de

resíduos; adoção de embalagens retornáveis ou maiores; separação dos resíduos

para coleta seletiva ou doação para entidades; reaproveitamento de papéis e

embalagens; compostagem (aproveitamento de resíduos orgânicos); separação e

destinação dos resíduos contaminantes; priorização de produtos biodegradáveis. Em

termos de responsabilidade social, a Pousada promove a sensibilização ambiental

de hóspedes e colaboradores; prioriza a divulgação eletrônica; participa em

campanhas e em entidades ambientais da comunidade; realiza ações permanentes

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de qualificação e treinamento dos colaboradores; participa em iniciativas prestando

apoio financeiro ou institucional ou através de doações de produtos, equipamentos ou

horas de trabalho em instituições e eventos. Conforme informações disponíveis no

website da Pousada, não foi possível identificar ações referentes ao consumo

eficiente de energia e à redução do desperdício de alimentos. (HOTEL

BLUMENBERG, 2016). É válido ressaltar que a Pousada recebeu o prêmio Top 10

dos hotéis brasileiros com ações de sustentabilidade, em 2013, o prêmio Braztoa de

Sustentabilidade, além de possuir o selo Eco líderes: ouro 2015 do website de viagens

Tripadvisor, entre outros. (HOTEL BLUMENBERG, 2016).

3.3 CAMBARÁ ECO HOTEL

O Cambará Eco Hotel está localizado no município de Cambará do Sul e possui

37 Unidades Habitacionais (UHs), totalizando 70 leitos. (SECRETARIA DE ESTADO

DO TURISMO, 2012).

Conforme o conteúdo disponível em sua página virtual, o Cambará Eco Hotel

está comprometido em garantir a satisfação de seus clientes, parceiros e

colaboradores, através da melhoria contínua da qualidade de seus serviços e

produtos, respeitando a preservação do meio ambiente e seu entorno, apoiando o

desenvolvimento econômico e social da região, através de uma gestão sustentável

que atenda à legislação. (CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).

Nosso empenho é um processo contínuo que possibilita uma atmosfera saudável e vital para criar um novo modelo de negócio que é mais respeitoso com os recursos naturais e os seres humanos. No entanto, não seríamos capaz de cumprir os nossos objetivos sem envolver os nossos clientes e parceiros em nossas ações e programas que convidam a participar ativamente, proporcionando uma reflexão crítica baseada no respeito a todas as formas de vida e ao ecossistema.(CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).

As ações realizadas pelo Cambará Eco Hotel, quanto ao consumo eficiente

de energia, compreendem: a utilização de sensores de presença nas áreas de

circulação e de lâmpadas fluorescentes, em vez de incandescentes; o uso de

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equipamentos eletroeletrônicos com baixo consumo de energia; a adoção de sistema

de energia solar como a principal fonte para o aquecimento da água; o aproveitamento

da iluminação natural, pelo projeto arquitetônico, com paredes envidraçadas e

ambientes abertos e bem-ventilados, dispensando, na medida do possível, a luz

artificial e o ar-condicionado (CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).

Quanto ao uso racional da água, o Hotel dispõe de chuveiros, torneiras e

vasos sanitários com baixo fluxo de água, para evitar o desperdício; promove o

reaproveitamentoda água da chuva na lavanderia, na piscina, nos sanitários, na

limpeza em geral e na irrigação dos jardins; permite ao hóspede escolher se quer ter

as toalhas trocadas diariamente ou não. No que tange à gestão eficiente dos

resíduos, o Hotel coleta e separa os resíduos que são destinados a cooperativas de

catadores de materiais recicláveis; destina o resíduo orgânico a

compostagem.(CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).

Em se tratando da responsabilidade social, as ações desenvolvidas pelo

Hotel são as seguintes: adoção de amenities biodegradáveis nos apartamentos;Hotel

100% não fumante mantendo a qualidade do ar e saúde dos hóspedes; uso

preferencial de objetos que decoram os ambientes, entre eles tapetes, rodapés,

rodaforros, móveis, feitos com material reciclado; utilização de elementos pré-

fabricados, na estrutura da construção, que permitem a eliminação de quebras e

desperdícios das instalações elétricas e hidrossanitárias, assim como o uso de

madeira de origem certificada (de reflorestamento); tratamento do esgoto em duas

centrais de tratamento; treinamento da equipe de colaboradores para aplicar as

medidas de sustentabilidade; investimento na comunidade local, contratando e

treinando os moradores das redondezas, patrocínio a projetos sociais do entorno e

incentivoaos hóspedes a interagirem com tais iniciativas; utilização de alimentos

produzidos na região e na própria cozinha do Hotel (muitas vezes, orgânicos para

compor o cardápio do café da manhã e restaurante); plantio de mais de 2000 mudas

de árvores e arbustos nativos.(CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).

De acordo com o website do Cambará Eco Hotel, não há informações relativas

à redução do desperdício de alimentos. Vale ressaltar que o estabelecimento

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possui certificação da NBR 15401(Meios de Hospedagem: Sistema de Gestão da

Sustentabilidade), além de estar no Top 10 dos hotéis brasileiros com ações de

sustentabilidade e possuir o selo Eco líderes: ouro do website de viagens

Tripadvisor.(CAMBARÁ ECO HOTEL, 2016).

3.4 EKO RESIDENCE HOTEL

O Eko Residence Hotel está localizado no município de Porto Alegre e possui

97 Unidades Habitacionais (UHs), totalizando 208 leitos. (SECRETARIA DE

ESTADO DO TURISMO, 2012).

De acordo com o website do empreendimento, o Eko Residence Hotel

estabeleceu um sistema de gestão com objetivos e metas de redução de emissão de

poluentes, redução de consumo de energia elétrica e da água, redução e tratamento

de resíduos, mobilização de fornecedores e parceiros, conscientização dos

colaboradores, participação de associações, sensibilização dos hóspedes/clientes,

gestão de pessoas e satisfação dos acionistas. A partir disso, obtiveram como

resultado um desenvolvimento econômico do empreendimento através do aumento

da rentabilidade do Hotel equacionado pela redução do consumo/custos e aumento

da taxa de ocupação, consequência de uma atitude ambientalmente

responsável.(EKO RESIDENCE, 2016).

Os canais de venda "online" possuem abrangência internacional e, assim,

propagam mundialmente o Hotel e suas práticas sustentáveis. De acordo com o

website do estabelecimento, cento e quinze mil quinhentos e noventa e cinco

hóspedes nos últimos três anos puderam, sem abrir mão do conforto e da

modernidade, tomar um banho quente usando a energia solar para aquecer a água,

sentar em sofás feitos revestidos com tecido reciclado, puxar a água do vaso sanitário

cientes de que a água que estava sendo usada era da captação da água da chuva,

subir na cobertura do Hotel e apreciar a horta orgânica ou o ecotelhado. Ademais, a

comunicação com os hóspedes é também realizada através de cartazes colocados

nos elevadores, adesivos nos vasos sanitários (divulgando a captação da água da

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chuva), adesivos nos banheiro (incentivando o reuso da roupa de cama e banho),

adesivos nas lixeiras divulgando a forma correta de separar os resíduos e nos demais

materiais do Hotel, como os porta cartões magnéticos, por exemplo.(EKO

RESIDENCE, 2016).

No que tange ao consumo eficiente de energia, o Eko Residence Hotel possui

geladeiras, ar-condicionado, lâmpadas econômicas, sensores de presença, bombas

hidráulicas e outros equipamentos, adquiridos em função de seu baixo consumo;

conta com elevadores econômicos e sincronizados; continua com a substituição do

sistema de iluminação atual por lâmpadas de LED, as quais consomem menos

energia, se comparadas com os demais tipos de lâmpadas. Quanto ao uso racional

da água, o Hotel realiza a captação de água da chuva que abastece os aparelhos

sanitários do Hotel por até 10 dias; promove campanha de incentivo aos hóspedes de

reuso das toalhas e roupas de cama. Em relação à gestão eficiente dos resíduos, o

Hotel minimiza o uso de materiais descartáveis;possui lixeiras, em todo o Hotel,

incluindo suas UHs, para separação de resíduos; possui coletor apropriado para o

descarte de pilhas; realiza tratamento do resíduo orgânico da área de alimentação;

utiliza-se do sistema de Coleta Seletiva da Prefeitura de Porto Alegre; dispõe de

dispensadores de espuma para banho e sabonete líquido, evitando o uso de

embalagens individuais de amenities (shampoos, sabonetes, etc.).(EKO

RESIDENCE, 2016).

No que se refere à responsabilidade social, o Hotel desenvolve diversas

ações, as quais são sintetizadas no Quadro 2, abaixo:

Quadro 2: Ações de Responsabilidade Social desenvolvidas pelo Eko Residence Hotel.

Ações de Responsabilidade Social

1. Implantação da Coordenação de Hospitalidade e Sustentabilidade com a contratação de uma

Coordenadora;

2. Instalação de dispensadores nos banheiros (espuma para banho e sabonete líquido) em

substituição ao uso de embalagens individuais de amenities (shampoos, sabonetes, etc.);

3. Adaptação de mais um apartamento para pessoas com necessidades especiais;

4. Redução da emissão de poluentes: menor queima de gás para água quente, através de sistema

de apoio via energia solar; jardim vertical na fachada do Hotel e utilização de eco telhado nas

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coberturas do terraço e floreiras que visam compensar as emissões dos veículos que utilizam as

garagens;

5. Gestão de pessoas: valorização do capital humano, benefícios, oportunidade de progressão,

participação nos lucros e resultados, auxílio financeiro para educação, treinamentos,

capacitação, reuniões, festas, plano de saúde e cestas básicas. Além disso, visando o

desenvolvimento social, ambiental, educacional e econômico da região, prioriza-se a contratação

de mão de obra local;

6. Criação da Cartilha "Sustentabilidade Ambiental - Qual é seu significado? O que podemos

fazer?”. Esta cartilha pode de ser enviada via e-mail para clientes, fornecedores, estudantes e

público em geral;

7. Agendamento de visitas técnicas para estudantes e público em geral conhecerem as boas

práticas desenvolvidas pelo Eko Residence Hotel;

8. Apoio a ações sustentáveis: parceria Eko Residence Hotel e Atitude Brasil Ltda; apoio à Semana Lixo Zero.

Fonte: Elaboração própria (2016).

Conforme website do Hotel, não foi possível identificar ações relativas à

redução do desperdício de alimentos. É importante destacar que o Eko Residence

Hotel ficou em 2º lugar no Prêmio Braztoa de Sustentabilidade 2013, no qual avaliaram

a relevância sociocultural, ambiental, econômica e inovação da iniciativa do

empreendimento, além da capacidade de prover educação e de estender os

resultados dentro da empresa. (EKO RESIDENCE, 2016).

3.5 BANGALÔS DA SERRA

O Bangalôs da Serra está localizado no município de Gramado e possui 48

Unidades Habitacionais (UHs), sendo oito acessíveis a cadeirantes e 12 com

acomodação para cão-guia, totalizando 142 leitos. (CADASTUR, 2016).

Para o meio de hospedagem Bangalôs da Serra, sustentabilidade é ser

ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. O

Estabelecimento conta com as seguintes ações quanto ao consumo eficiente de

energia: equipamentos de baixo consumo; gerador eólico; aquecimento solar;

caldeira geradora de água quente, a qual é movida a resíduos de madeira da

fabricação de móveis; iluminação natural, garantida a partir do projeto arquitetônico,

com paredes envidraçadas e ambientes abertos e bem-ventilados, dispensando na

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medida do possível a luz artificial e o ar-condicionado. No que tange ao uso racional

da água, o Hotel possui tanques de aproveitamento de água de chuva de 20.000 litros,

para regar as plantas, lavar tapetes e calçadas. Em termos de gestão eficiente dos

resíduos, há coletores em toda a propriedade de 30.000m², com a seguinte

classificação: orgânico, papel, vidro, plástico e metal.(BANGALÔS DA SERRA, 2016).

Em relação à responsabilidade social, são realizadas várias ações, as quais

são apresentadas no Quadro 3, a seguir (BANGALÔS DA SERRA, 2016):

Quadro 3: Ações de Responsabilidade Social desenvolvidas pelo Bangalôs da Serra.

Área de atuação Ação

Quartos Verdes • Papel higiênico, produtos de limpeza e sabonetes são biodegradáveis;

• O hóspede pode escolher se quer ou não trocar sua roupa de banho e cama;

• Os cobertores são feitos de garrafa Pet;

• Os papéis de escritório e impressos utilizados são de papel reciclável.

Tratamento de Efluentes • Eficiente tratamento de efluentes líquidos que passam por três fases: fossa séptica, filtro e dois sumidouros: “o hotel confirma sua preocupação com a sustentabilidade, preservando as águas subterrâneas”. (BANGALÔS DA SERRA, 2016).

Biblioteca nos Hotéis • Este projeto busca disseminar a leitura distribuindo pontos de livros em hotéis e pousadas da cidade: “Apoiar a educação e incentivar o hábito pela leitura é parte da nossa política de sustentabilidade”. (BANGALÔS DA SERRA, 2016).

Conhecendo e Entendendo a Hotelaria • Cujo foco é a capacitação em turismo sustentável voltado para as novas gerações. Como o turismo é a área que mais emprega e movimenta a economia de Gramado, esse projeto possibilita estudantes de uma escola a terem contato com todos os procedimentos de hospedagem, intercalando visitas ao hotel da Serra com aulas práticas e teóricas e noções de história do turismo em Gramado, onde itens relacionados à sustentabilidade também fazem parte das atividades.

Artesanato Gramadense • O Hotel apoia os artistas e artesãos gramadenses através da criação, fomento e divulgação do Espaço do Artesanato Gramadense em prol do desenvolvimento da comunidade. O espaço físico está localizado na

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entrada do Hotel. “O hóspede pode apreciar, perguntar e comprar diretamente na Recepção. O dinheiro arrecadado vai integralmente para os mesmos. Esta iniciativa do Hotel sem fins lucrativos é mais uma expressão da política de sustentabilidade que envolve nosso empreendimento turístico e nossa filosofia de vida”. (BANGALÔS DA SERRA, 2016).

Hospedagem Solidária • Os turistas doam livros de literatura juvenil e infantojuvenil e obtêm descontos no valor da diária no Hotel. A missão do projeto é consolidar o desenvolvimento educativo da comunidade através do turismo.

Pais e Filhos • O objetivo deste projeto é incentivar o convívio familiar entre pais e filhos. As experiências que compõem o projeto são: Pinhão e Chimarrão, Trilha do Conhecimento e a Hora do Conto.

Orquestra Jovem de Gramado • Patrocínio da Orquestra a qual leva o ensino de música para mais jovens de Gramado.

Plante a sua Árvore • O objetivo desse Projeto é preservar as espécies frutíferas e nativas da região e proporcionar aos hóspedes uma nova experiência, uma vez que as árvores plantadas são registradas com seus nomes com a intenção de que os mesmos recebam por e-mail uma foto por ano para acompanhar o crescimento desta.

Semeando Sustentabilidade • O projeto é realizado pelo Hotel em parceria com um escola municipal com o objetivo de “fazer com que as crianças sejam capazes de perceber e identificar as diversas formas de vida que existem no meio ambiente e o verdadeiro sentido da palavra sustentabilidade”. (BANGALÔS DA SERRA, 2016).

Fonte: Elaboração própria (2016).

Sobre a redução do desperdício de alimentos, não foram localizadas

informações no website do Bangalôs da Serra. (BANGALÔS DA SERRA, 2016). É

importante destacar que o Hotel foi vencedor estadual em 2014 do destaque de

boas práticas de responsabilidade social nos serviços de turismo, entre outros.

(BANGALÔS DA SERRA, 2016).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A partir da análise das informações contidas nos websites dos

estabelecimentos gaúchos engajados na campanha Passaporte Verde foi possível

identificar as ações de sustentabilidade desenvolvidas pelos mesmos com relação às

cinco dimensões da campanha: consumo eficiente de energia, uso racional da água,

redução do desperdício de alimentos, gestão eficiente dos resíduos e

responsabilidade social. Os meios de hospedagem engajados contemplam, em seus

websites, informações sobre a maioria das cinco dimensões (consumo eficiente de

energia; uso racional da água; gestão eficiente dos resíduos e responsabilidade

social). As únicas exceções são o consumo eficiente de energia que não é

apresentado no website da Pousada Blumenberg e a redução do desperdício de

alimentos, dimensão que não é citada em nenhum dos websites dos cinco meios de

hospedagem analisados.

Também é importante destacar que todos os meios de hospedagem estudados

possuem link ou aba em seus websites sobre sustentabilidade, o que reforça o

engajamento ambiental dos mesmos. Entretanto, uma lacuna foi verificada na análise

desses websites no sentido de que a campanha Passaporte Verde é mencionada na

Pousada Villa Allegro, no Cambará Eco Hotel e no Bangalôs da Serra. Nos websites

dos demais meios de hospedagem não há menção ao engajamento dos mesmos

nesta campanha. Assim, recomenda-se aos estabelecimentos a inclusão de

informações sobre seus engajamentos na campanha Passaporte Verde bem como de

informações sobre a redução do desperdício de alimentos em seus websites.

Por fim, a socialização de informações ambientais no contexto de meios de

hospedagem é importante e necessária pois sensibiliza hóspedes e demais atores

envolvidos a transformar essa informação em conduta ambientalmente correta. Além

disso, existe um grande potencial de efeito multiplicador, no sentindo de os meios de

hospedagem engajados inspirarem outros a participar da campanha Passaporte

Verde.

REFERÊNCIAS

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BANGALÔS DA SERRA. O Hotel. Disponível em: <http://www.bangalosdaserra.com.br/o-hotel/estrutura.htm>. Acesso em: 21 set. 2016. CADASTUR. Pesquisa de prestadores. Disponível em: <http://www.cadastur.turismo.gov.br/cadastur/PesquisarEmpresas.action>. Acesso em: 25 set. 2016. CAMBARÁ ECO HOTEL. Home. Disponível em: <http://www.cambaraecohotel.com.br/>. Acesso em: 25 set. 2016. EKO RESIDENCE. O Hotel. Disponível em: <http://www.ekoresidence.com.br/>. Acesso em: 21 set. 2016. HOTEL BLUMENBERG. Pousada Blumenberg. Disponível em: <http://www.hotelblumenberg.com.br/>. Acesso em: 22 set. 2016. KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica. 22. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. PASSAPORTE VERDE. Acampanha. Disponível em: http://www.passaporteverde.org.br/campanha/sobre/. Acesso em: 18 set. 2016. PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE (PNUMA). Ecoeficiência em empreendimentos turísticos. Orientações Práticas. Disponível em:<http://www.recicloteca.org.br/wpcontent/uploads/publicacoes/108/passaporte%20verde%20(1)-8967.pdf>. Acesso em: 20 set. 2016. SECRETARIA DE ESTADO DO TURISMO. Relatório Cadastur: prestadores de serviços turísticos do Rio Grande do Sul. Disponível em: < www.setel.rs.gov.br/download/20150225152952relatorio___cadastur_08.2012.pdf>. Acesso em: 10 out. 2016. VILLA ALLEGRO. Pousada Villa Allegro. Disponível em: <http://www.villallegro.com.br/pousada/pousada.htm>. Acesso em: 15 set. 2016.

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DINÂMICA DOS FLUXOS SOCIOCULTURAIS DE LAGUNA-SC, BRASIL:

POSSIBILIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO VOLTADO

PARA OS ASPECTOS CULTURAIS DO DESTINO

RODRIGUES, Raphaella C.50; VARNIER, Nilton C. C.51

[email protected]

50Bacharela em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Metranda em Turismo e Hotelaria do Programa de Pós Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – PPGTURH/UNIVALI, docente da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Link currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3975356974332385. 51Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Metrando em Turismo e Hotelaria do Programa de Pós Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – PPGTURH/UNIVALI. Bolsista CAPES/PROSUP. Link currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/129931048362154.

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Resumo: Laguna - SC é uma cidade repleta de identidade com relevantes elementos

socioculturais que remetem aos seus colonizadores. O objetivo deste artigo foi

reconhecer as possibilidades do desenvolvimento do turismo voltado para dinâmica

dos fluxos socioculturais de Laguna como destinação. Para isso, foram delimitados os

seguintes critérios: Identificar os fluxos socioculturais do município; Contextualizar o

patrimônio histórico cultural de Laguna; Verificar diretrizes de planejamento turístico

com foco nos aspectos socioculturais. Por isso é uma pesquisa qualitativa e

essencialmente exploratória, que utilizou da pesquisa documental, bibliográfica e

visita in loco, para sua concretização. Foram elaboradas diretrizes para que através

do planejamento, o turismo contribua de forma efetiva para desenvolvimento local.

Palavras-chave:Planejamento do Turismo; Turismo Cultural; Fluxos socioculturais;

Laguna-SC.

1 INTRODUÇÃO

O turismo está alocado no setor de serviços e a partir da década de 1990 o

setor tende dominar o mundo, desde este então se observa o grande crescimento da

atividade turística a nível mundial, o que permitiu a constatação de sua interferência

positiva no quadrante econômico. Para compreender a magnitude do setor de

serviços, está o fato de que este é responsável por cerca de 40% do produto interno

bruto em países em desenvolvimento e em países em desenvolvidos

aproximadamente 65% (COOPER et al, 2007).

No que tange as potencialidades de um destino, a atividade turística em prol

de sua melhor estruturação buscou segmentar os elementos turísticos estabelecendo

sua organização conforme características. Neste contexto da segmentação está o

turismo voltado para os aspectos socioculturais do destino, um segmento que o

Ministério do Turismo compreende como aquele em que, “atividades turísticas

relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico

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e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e

imateriais da cultura” (MTUR, 2010, p.15).

Desta forma, este estudo retrata o contexto sociocultural da cidade de Laguna

- SC, cuja ótica será direcionada sobre análise sistêmica do turismo de Anjos, Anjos

e Oliveira (2013), foco nos fluxos socioculturais de Santos (2004, 2008), auxiliada pela

análise de modelos de planejamentos turísticos de destinos, que conduziram a

concretização do objetivo deste estudo, que será reconhecer as possibilidades do

desenvolvimento do turismo voltado para aspectos culturais da destinação, sobre a

dinâmica dos fluxos socioculturais de Laguna..

Laguna integra a região turística Encantos do Sul e está localizada no litoral

sul do estado de Santa Catarina, uma cidade repleta de identidade e singularidades,

assim foram desenvolvidos os seguintes objetivos especificamente: Identificar os

fluxos socioculturais do município de Laguna; Contextualizar o patrimônio histórico

cultural de Laguna; Verificar diretrizes de planejamento turístico com foco nos

aspectos socioculturais; e a partir disso elaborar diretrizes que funcionem

efetivamente no desenvolvimento turístico cultural local.

A ideia de desenvolvimento que está atrelada ao turismo, deve-se ao fato de

ser uma atividade que tem promovido o crescimento econômico podendo propiciar a

melhoria de áreas sociais, culturais e até mesmo ambientais, se bem planejada e

monitorada (BRASIL, 2013).

Metodologicamente, esta é uma pesquisa essencialmente qualitativa e de

cunho exploratório, pois busca encontrar na cidade de Laguna elementos de cunho

sociocultural que justifiquem o desenvolvimento do turismo local, podendo ainda ser

de caráter descritivo e exploratório, por tratar minuciosamente de informações

relacionados aos aspectos culturais da localidade.

Para que o turismo atue como atividade promotora de desenvolvimento

socioeconômico do local onde se desenvolve, maximizando os impactos positivos e

minimizando negativos que a atividade pode acarretar sobre os destinos é necessário,

reconhecer os recursos de potencial interesse turístico, bem como a capacidade de

atrair e acomodar a demanda (CROUCH; RITCHIE, 2000).

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Neste processo, os gestores do turismo devem refletir em longo prazo a

consecução da atividade turística no ambiente, o que permitirá identificar suas

potencialidades, bem como compreender suas debilidades, propiciando o correto

planejamento da atividade turística, possibilitando assim o crescimento do destino

turístico a partir do emprego de suas vantagens competitivas.

Desta forma este estudo apresentou como breves resultados, a identificação

da multiplicidade de fatores condicionantes e propensos ao desenvolvimento de

atividades turísticas relacionadas a potencialidade dos aspectos socioculturais de

Laguna. Sendo assim o estudo permitiu o levantamento de diretrizes norteadoras para

o planejamento e desenvolvimento da atividade turística de cunho sociocultural.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo realizado meio o planejamento turístico, sobre a ótica dos fluxos

socioculturais de Laguna/SC, é uma pesquisa essencialmente qualitativa por buscar

reconhecer as possibilidades do desenvolvimento do turismo voltado para aspectos

culturais da destinação. Possui cunho exploratório e essencialmente descritivo

(DENCKER, 2004), por investigar em documentos os aspectos socioculturais locais.

O objeto deste estudo a cidade de Laguna e seus fluxos socioculturais está

localizado no sul do estado de Santa Catarina, cuja estimativa populacional para o

ano de 2014, é de aproximadamente 44.316 mil habitantes (IBGE, 2010), recebendo

em média 250 mil turistas no final do ano atraídos pelo turismo de sol e mar, fundado

no ano de 1676 o município de Laguna - SC.

O reconhecimento das possibilidades para o desenvolvimento do turismo

voltado para aspectos culturais da destinação, sobre a dinâmica dos fluxos

socioculturais de Laguna. Foi embasada teoricamente, pela Abordagem Sistêmica no

Processo de Planejamento e Gestão de Territórios Urbanos Turísticosproposto por

Anjos, Anjos e Oliveira (2013), que analisa, a inferência de elementos fixos e fluxos

no destino. Porém, este estudo tem foco nos fluxos socioculturais, são aqueles que

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segundo Santos (2004, 2008), além disso as discussões de Cooper et al. (2007),

também contribuíram para fundamentação deste estudo.

Como métodos o estudo utilizou da pesquisa documental e bibliográfica

definidas por Dencker (2004) em etapa inicial para obtenção de dados oficiais do

município e levantamento de dados, visita in loco realizada no dia 09 de junho do ano

de 2015, com o objetivo de observação de elementos que compõem o acervo histórico

e cultural da cidade. A visita foi conduzida por um arquiteto membro do IPHAN,

conduzida meio ao centro histórico de Laguna/SC, para isso utilizou-se da técnica de

observação pesquisador. Assim, para finalizar a análise foram estabelecidos critérios

para sugerir planejamento para o direcionamento na condução da atividade turística

local, fundamentados a partir de planos e projetos de planejamento turístico.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 TURISMO E ASPECTOS SOCIOCULTURAIS: COMO O PLANEJAMENTO

PODE AUXILIAR NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

A Organização Mundial do Turismo – OMT (2001, p. 38) define que o turismo

abarca todas as atividades realizadas pelas pessoas durante uma viagem,

considerando todos os gastos ocorridos no processo de deslocamento e permanência

no destino escolhido, contanto que esta viagem ocorra por um período consecutivo

inferior a um ano, cujo objetivo de deslocamento seja motivado pelo lazer, negócios e

outros. Já o turismo cultural é aquele que em que “ a atividade turística que envolve a

realização de viagens, visitas e estadia em lugares geográficos, visando o

conhecimento do passado histórico, artístico, cultural e antropológico que fazem parte

do patrimônio cultural da humanidade” (FUNIBER, 2002, p. 333).

Buscando uma melhor aproximação do turismo com aspectos socioculturais de

um destino turístico, está a compreensão do patrimônio histórico e cultural e eventos

culturais, condicionados como diretrizes para o desenvolvimento do Turismo Cultural,

conforme o Ministério do Turismo (2010):

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São bens culturais de valor histórico, artístico, científico, simbólico, passíveis

de se tornarem atrações turísticas: arquivos, edificações, conjuntos

urbanísticos, sítios arqueológicos, ruínas, museus e outros espaços

destinados à apresentação ou contemplação de bens materiais e imateriais,

manifestações como música, gastronomia, artes visuais e cênicas, festas e

celebrações. Os eventos culturais englobam as manifestações temporárias,

enquadradas ou não na definição de patrimônio, incluindo-se nessa categoria

os eventos gastronômicos, religiosos, musicais, de dança, de teatro, de

cinema, exposições de arte, de artesanato e outros. (BRASIL, 2010, p.16)

Frente à multiplicidade de elementos que estão envolvidos na consecução da

atividade turística pensada sobre o viés da cultura e suas múltiplas vertentes, o

planejamento é uma ferramenta primordial na busca da sinergia do complexo sistema

turístico, que exige (PETROCCHI, 2002). Neste sentido, o que realmente importa no

planejamento é sua execução integrada a “processos de mobilização e participação

comunitária, promovendo inclusão social”, processo este, capaz de incitar os

residentes quanto a cultura e o patrimônio do local onde vivem, o que acaba

repercutindo na recuperação e preservação de elementos culturais, tão valorizados

para os turistas (BRASIL, 2010, p. 83).

Um exemplo em relação ao planejamento em prol do turismo cultural, está na

preservação do patrimônio cultural aliado ao turismo, que no Reino Unido é

assegurado por dois fatores, o primeiro está na necessidade do patrimônio

arquitetônico auto sustentar-se, no sentido suportar novos usos e funções dados por

empresas que farão ao papel de conservar e preservar o patrimônio. Outro elemento

está na importante contribuição que o turismo cultural desempenha na balança de

pagamentos e geração de emprego e renda (KÖHLER, 2013, p.247).

Assim o turismo cultural proporciona ao turista vivências e experiências com o

patrimônio histórico e cultural, e eventos do gênero (ICOMOS, 1976), gerando no

visitante a percepção do seu real sentido e valor, contribuindo para a preservação.

Sendo desenvolvido com elementos socioculturais do destino, que podem ser

trabalhados e transformados em produtos turísticos. Estes que são essenciais

conforme Buhalis (2000), uma vez que considera os produtos turísticos são

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amálgamas dos destinos turísticos, por serem capazes de proporcionar de forma

integrada a experiência em seu consumo, acrescenta ainda que, a sobrevivência do

turismo em um destino se dá entre a relação satisfatória do turista com o residente,

relação esta de suma importância para dos aspectos socioculturais para o destino

turístico.

O turismo é uma atividade que em essência é composto por um conjunto de

infraestrutura e diversificados recursos físicos, que quando utilizados para seu

desenvolvimento impõe um significativo impacto sobre o destino em que se manifesta

(COOPER ET AL, 2011). O que atribui ao planejamento fundamental importância para

o desenvolvimento do turismo em qualquer local.

Sobre a ótica operacional da atividade turística Umbrelino e Amorim (2010, p. 49),

chamam a atenção para a necessidade de que o planejador compreenda o ambiente,

buscando a implementação de ações que abarquem o máximo de elementos do local

planejado, almejando com isso contribuir efetivamente para o desenvolvimento

turístico local assegurando a longo prazo, a competitividade e sustentabilidade do

destino planejado.

A OMT (2001, p. 177) acrescenta que o planejamento da atividade turística

exige o manuseio de informações diversificadas acerca dos recursos, infra estrutura

e equipamentos da localidade, buscando a contemplação de diretrizes do

planejamento turístico para todos os nichos encontrados no local planejado. Desta

forma, as ações implementadas atingirão a demanda de visitantes e turistas, bem

como a comunidade local como forma de lazer, viabilizando assim o investimento no

turismo a longo prazo.

Segundo Ruschmann (2003, p.86) diversos autores apontam para a

necessidade do planejamento turístico para locais como Laguna, um local onde o

turismo ainda não se desenvolveu de maneira satisfatória, apesar dos recursos

disponíveis serem consideráveis. Desta forma, atento aos critérios de sustentabilidade

de um destino, faz-se necessário a viabilização de outros tipos de turismo e de

incentivos aos empresários, como o caso do turismo advindo dos fatores sócio

culturais Lagunense. Assim, o processo que envolve o planejamento turístico,

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contendo as Variáveis do processo de planejamento turístico é apresentado de

maneira simplificada por Umbelino e Amorim (2010, p.45): Composto pela dimensão

técnica (Equipe técnica com formação acadêmica; Elaboração de planos e projetos

de desenvolvimento turístico; Planejamento a longo prazo; Levantamento e

compilação de informações da localidade e do entorno- Inventário; Criação de dados

estatísticos para dar suporte a investigação científica e tomada de decisão;

Envolvimento das instituições e empresas no processo de decisão; Análise sistêmica

do destino; e Promoção e gestão do destino), e a dimensão política (Seleção do

modelo de desenvolvimento a ser seguido; Leis e normas ligadas ao turismo;

Prioridade do turismo na agenda governamental).

São diversas as formas de se processar o planejamento, o planejamento é uma

atividade que exige a articulação de diversos setores e profissionais, uma boa

organização e o controle, para que as atividades ocorram da melhor forma o possível

(RUSCHMANN, 2003, p.84).

Desta forma, Anjos, Anjos e Oliveira (2013), versam sobre a visão sistêmica

sobre a destinação turística, buscando nesta interpretação compreender para que se

possa administrar os desafios de gestão de processos econômicos, financeiras e

mercadológicos diretamente relacionados a atividade turística.

Figura 01: Sistema turístico.

Fonte: Anjos, 2004

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Como norteamento teórico deste estudo está a leitura do sistema turístico

apresentados pelos autores, o qual divide o destino turístico em turistas e residentes

(grupo sócio territorial) e quanto a sua estrutura, a subdivisão conta com quatro

elementos materializados em dois grupos (Fixos e fluxos), como figura (1).

Correspondem aos aspectos socioculturais, características que constituem e

caracterizam comunidades, seus costumes e hábitos que interferem na consecução

da atividade turística por serem produtos complementares do turismo local. Ainda na

análise dos fluxos socioculturais estão os fatores inerentes a questões político

institucionais que no caso do sistema turístico, relaciona-se com a forma político

administrativa em que o turismo está organizado no local (ANJOS, ANJOS E

OLIVEIRA, 2013).

Assim, para compreensão de como efetivamente o planejamento turístico se

materializa na gestão dos destinos, a seguir apresentaremos modelos de estratégias

de gestão de destinos turísticos que contemplam diretrizes de planejamento turístico

direcionados aos fluxos de destinações turísticas consolidadas.

3.2 DIRETRIZES NORTEADORAS DO TURISMO PARA DESTINOS PLANEJADOS

Traçar diretrizes de turismo para um destino, somente é possível através de

uma profunda análise consiste no planejamento da atividade turística, e para que um

destino turístico consiga se consolidar em um mercado cada vez mais competitivo,

faz-se necessário que os gestores sejam capazes de conduzir a atividade turística por

meio de ações que busquem aperfeiçoar sua estratégia de organização, para gerar

produtos que de fato sejam atrativos a demanda de visitantes e turistas (CROUCH;

RITCHIE, 2000).

Para que um produto turístico alcance as dimensões necessárias de se tornar

competitivo, alguns dos critérios fundamentais a serem seguidos para o

desenvolvimento: ser autêntico e autóctone, capaz de refletir as características

singulares existentes no destino; contar com o apoio da comunidade local, ou seja dos

residentes; respeitar os elementos naturais e socioculturais, sem propiciar danos;

diferenciar-se dos competidores, evitando ao máximo copiar ou imitar iniciativas;

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alcançar uma amplitude que seja suficiente para que sua contribuição econômica seja

significativa, para que os recursos gerados permaneçam no local (OMT, 2013, s.p.).

Condições estas que fazem de Laguna e seus aspectos socioculturais um importante

elemento a ser trabalhado em prol do desenvolvimento do turismo neste segmento.

Analisando o Uruguai enquanto destino turístico em termos de organização da

atividade turística, está o “Plan Nacional de Turismo Sostenible 2009-2020”,

desenvolvido pelo Ministério do Turismo e Desporte, está fundamentado sobre três

diretrizes, com três variáveis cada, conforme na figura a seguir:

Figura 1: Processo de elaboração do planejamento turístico do Uruguai

Fonte: Uruguay, 2010.

Este modelo amplia as discussões apresentadas por UMBELINO e AMORIM

(2010), pois acrescenta a comunidade local, no processo de planejamento do turismo

através das jornadas de sensibilização. Este fator neste estudo é fundamental, uma

vez que o turismo cultural não pode acontecer sem o mote central que é a

comunidade, seus hábitos e costumes que trazem vida a uma destinação turística.

De forma geral, o processo de planejamento e estudo de diretrizes para o

desenvolvimento do turismo perpassa pelo processo de gestão do destino e dos

recursos humanos que o compõe. Como exemplo, o modelo de gestão do sistema

turístico espanhol que está sobre responsabilidade do poder privado e o poder público,

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que administra com competências fragmentadas em diferentes níveis administrativos

e de áreas de gestão (ESPANHA, 2007, p.24).

O desenvolvimento do turismo cultural e de cidade na Espanha são conduzidos

pelas seguintes diretrizes: “Melhorar os processos de gestão dos destinos e

articulação dos distintos recursos que configuram a oferta cultural”; “Transmitir um

valor diferencial dos destinos culturais espanhóis em relação a outros destinos

culturais”; “Potencializar os destinos culturais e de cidade melhorando seu tempo de

acessibilidade e comodidade” (ESPANHA, 2007, p. 31)

Trazendo a visão do planejamento para uma situação mais próxima a da cidade

de Laguna está o exemplo do planejamento turístico do bairro histórico de Colonia del

Sacramento no Uruguai. Este tem por objetivo especificar os critérios de atuação,

definição de projetos, orientar e definir etapas, e determinar recursos para as ações

(MEC-IC, 2012). O projeto tem cinco programas que abarcam diversos fatores que

compõe o destino, sendo eles: “Programa de manejo ambiental e paisagístico do

patrimônio”; “Programa de planejamento urbano e patrimonial”; “Programa de difusão

e qualificação territorial das atividades turísticas”; “Programa de conhecimento e

divulgação”, “Programa de cultura, coesão social e participação”. (MEC-IC, 2012,

p.18).

4 DISCUSSÃO

4.1 FLUXOS SOCIOCULTURAIS DE LAGUNA

Reconhecendo as possibilidades do desenvolvimento do turismo voltado para

aspectos culturais da destinação, nela dinâmica dos fluxos socioculturais de Laguna-

SC, Brasil. Os aspectos culturais são advindos da cultura dos colonizadores, os

elementos culturais como o folclore, o artesanato e as festas típicas da cidade de

Laguna, estão relacionados com a navegação e a pesca, representados pelo típico

comércio de peixe seco. Na agricultura o cultivo do trigo, feijão, linho, açúcar, além

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dos engenhos de cana e farinha movidos com o auxílio de animais, cultura herdada

dos colonizadores portugueses (EPAGRI, 2005). A vivência destas práticas culturais

pode ser percebida ao se visitar a cidade, uma riqueza cultural que pode ser um

elemento impulsionador do turismo na região. Sobre a ótica de características

culturais marcantes presentes em Laguna, deve-se salientar que, as identidades

culturais regionais expressam valores específicos de uma cultura mais ampla, encerra

qualitativos como língua comum, costumes, tradições, religiosidade, imaginário, o

saber ser e o saber fazer de um povo (ALMEIDA, et .al 2014, p. 45).

A fundação de Laguna foi datada no ano de 1676, quando em um primeiro

momento foi nomeado de Santo Antônio dos Anjos de Laguna. A população cresceu

com o avanço da pecuária no sul do país, com a imigração proveniente da Ilha de

Santa Catarina atual Florianópolis, e posteriormente com a chegada de portugueses

e paulistas (Plano Diretor Municipal Laguna, 2010).

Fato marcante para a construção da cultura e ideais do povo lagunense, foi a

invasão das tropas revolucionarias durante a Guerra dos Farrapos, que ocorreu no

município em julho de 1839, que culminou na formação da Republica Catarinense,

anteriormente nomeada Republica Juliana. É neste contexto que se destaca a

presença de Ana Maria de Jesus Ribeiro (Anita), nascida em 1821 em Morrinhos,

distrito de Laguna. Anita aos 18 anos conheceu José Garibaldi que tomou Laguna com

as tropas farroupilhas em julho de 1839, fundando a República Juliana dos 100 dias

(EPAGRI, 2005).

Laguna é uma cidade que está localizada na região sul do estado de Santa

Catarina, sua estimativa populacional para o ano de 2014, é de aproximadamente

44.316 (IBGE, 2010), recebendo em média 250mil turistas no final do ano atraídos

pelo turismo de sol e mar. No que se refere a sua população, segundo o IBGE (2010)

o município de Laguna possuía cerca de 51.562 pessoas. Neste sentido a densidade

demográfica do município é de aproximadamente 116,77 habitantes por quilometro

quadrado. Quanto à estimativa populacional para o ano de 2014, o instituto prevê

redução populacional e aponta estimativa de que aproximadamente 44.316 pessoas

que estejam residindo em Laguna. No que se refere ao rendimento domiciliar per

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capita nominal, o valor médio calculado pelo IBGE(2010) é de R$ 620,00.

A dinâmica demográfica do município foi se modificando ao longo dos anos. Na

década de 1970 a população encontrava-se equilibradamente distribuída entre área

urbana e rural, até que no ano de 2010 cerca de 78,9% da população tem domicílio

na área urbana, enquanto 21,2% vive na área rural. Quanto ao gênero, a população

apresenta-se bem equilibrada, sendo a maioria do sexo feminino. São 49,1% do sexo

masculino e 50,1% do sexo feminino.

O IBGE (2010) identificou cerca de 17.229 unidades domiciliares no município

de Laguna, das quais cerca de 56,5% apresentam saneamento básico adequado, 41,5%

saneamento semi-adequado, e apenas 2% dos domicílios saneamento básico

inadequado. A maioria dos domicílios com saneamento semi-adequado e inadequado

estão na área rural, enquanto que o saneamento básico adequado em sua maioria se

apresenta na área urbana.

Em relação a escolaridade, o IBGE (2010) apresentou de forma precisa que

para o Ensino Fundamental completo e Médio incompleto, existem 8.179 pessoas.

Com Ensino Médio completo e superior incompleto 11.435 pessoas, e para o Ensino

Superior completo existe um total de 2.833 pessoas, apresentado um total de 22.447

para o universo amostral. Quanto a taxa de analfabetismo, o IBGE (2010) declara que

cerca de 4.450 pessoas não sabem ler e escrever, no qual a faixa etária com maior

número de pessoas analfabetas é de até 15 anos de idade com cerca de 2.270

pessoas, e a faixa etária de 60 anos ou mais, com cerca de 1.175 pessoas.

Quanto ao lazer da comunidade lagunense, o mesmo está em parte

relacionado com as riquezas naturais e com a cultura local, sobretudo a pesca.

Podemos citar inicialmente como parte do lazer a possibilidade de apreciar o pôr do

sol e à noite os reflexos das luzes sobre a Lagoa de Santo Antônio. Também estão

relacionadas as atividades de divertimento realizadas em torno da praia do Gravatá e

do Mar Grosso que atrai moradores e turistas pela beleza e o espetáculo natural dos

botos. Porém uma referência nacional do lazer local é o carnaval que está contido

dentro dos costumes da comunidade lagunense e que atrai turistas nacionais e

internacionais.

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No que se refere aos aspectos político administrativos da cidade de Laguna,

especificamente à estrutura organizacional do turismo, esta fica designada aos

cuidados da Secretaria Municipal de Turismo e Lazer, que foi criada no ano de 2006.

Além desta, também colaboram para o desenvolvimento do turismo local Guias de

Turismo, o Conselho Municipal de Turismo - CONTUR, a Associação de Hotéis,

Restaurantes e Bares, que segundo o plano diretor municipal foram reativados no ano

de 2008.

No ano de 2007, a prefeitura municipal em parceria com o SEBRAE,

elaboraram o Planejamento Turístico e Estratégico de Laguna, o qual buscou

apresentar ao poder público local, a avaliação do cenário naquele momento, o qual

constatou a necessidade da cidade em despertar para o turismo histórico. Além disso,

como diagnostico destacou-se: a acessibilidade, a atratividade, a distância, o público

alvo, a representatividade, a sazonalidade, a sinalização, a singularidade e a temática

regional. Os turistas que visitam a cidade de laguna são em sua maioria de origem

nacional, cuja origem destes é do estado vizinho Rio Grande do Sul e de municípios

do próprio estado de Santa Catarina (SANTUR, 2007).

A Secretaria Municipal de Turismo e Lazer é coordenada pelo secretário interino

Leonardo Pascoal, a qual possui como objetivos: Executar a política de

desenvolvimento do turismo; Divulgar as potencialidades turísticas do Município;

Promover, turisticamente, as micros e pequenas empresas, mediante apoio logístico;

Elaborar o calendário turístico do Município, procurando adequá-lo ao da

região;Fortalecer o Conselho Municipal do Turismo como órgão definidor da política e

das ações dinamizadoras do setor (Prefeitura Municipal de Laguna, 2015).

Para isso a Secretaria está dividida em três departamentos: Primeiramente

Departamento de Planejamento e Organização do Turismo, composto pela

Coordenadoria de Planejamento e Projetos Turísticos; O segundo Departamento de

Integração Turística, composto pelas Coordenadoria de Divulgação e Marketing

Turístico e Coordenadoria de Receptivo e Orientações Turísticas; e pelo

Departamento de Promoção de Eventos.

Como foi possível observar são três departamentos que tratam de conduzir a

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282

consecução da atividade turística na cidade de Laguna, são eles: Planejamento e

Organização do Turismo, Integração Turística e Promoção de Eventos. Entretanto, até

então a vocação turística do município de Laguna está direcionada no segmento sol

e mar, mesmo possuindo um rico patrimônio histórico edificado e uma rica cultura

imaterial advinda da colonização portuguesa, o que aponta para a necessidade do

planejamento turístico sobre o viés sociocultural da cidade.

Para caracterizar os fluxos socioculturais da demanda turística de Laguna,

foram utilizados os dados disponibilizados pela Federação do Comércio – Fecomercio,

que realiza pesquisas do carnaval. Como se pode observar o carnaval enquanto

evento apresenta destaque, sendo um evento consolidado que possui dados de

demanda turística, no qual o público quanto ao gênero é equilibrado, a faixa etária

corresponde a 29% com 31 a 40 anos de idade, 21% de 41 a 50 anos, e 16% de 26 a

30 anos. A ocupação principal desta demanda é de assalariados, seguido de

autônomos, cujo estado civil de 44% são solteiros e 49% de casados ou em união

estável. A escolaridade dos turistas é de 37% com nível superior completo, 33% com

ensino médio e aproximadamente 15% com superior incompleto (FECOMERCIO,

2015).

Assim a realização da análise que busca o reconhecimento dos fluxos

socioculturais por parte do residente, pretende identificar os elementos que de fato

caracterizam a comunidade investigada para que assim, o sistema turístico seja

planejado com o embasamento e incorporação destes elementos. Com a mesma

equidade deve ser tratado o reconhecimento dos fluxos socioculturais da demanda

turística, pois nela serão diagnosticados as vantagens e desvantagens do destino,

permitindo com isso a identificação de ações a serem implementadas no planejamento,

seja na formatação de produtos turísticos ou na melhoria da infra estrutura,

trabalhando em prol da sustentabilidade do destino turístico.

4.2 PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ASPECTOS CULTURAIS DE LAGUNA-SC, BRASIL.

A percepção acerca do patrimônio histórico cultural de Laguna-SC, foi

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283

elaborada inicialmente sobre a pesquisa dos aspectos históricos de cunho

Sociocultural de Laguna, estes que são datados desde a pré-história, tempos em que

a região que abrange Laguna era ocupada por índios Carijós da raça Tupi Guarani,

fato comprovado pela existência de sambaquis (cemitérios indígenas). Com o Tratado

de Tordesilhas por volta do século XVII a expansão Portuguesa intensificou a

ocupação da área. Fatores como a existência de um porto natural e uma faixa de terra

plana junto à lagoa, permitiu a edificação de uma vila onde hoje se encontra o centro

histórico de Laguna (EPAGRI, 2005).

Neste contexto os aspectos socioculturais são elementos que remetem

características da comunidade, e na área do turismo e da hospitalidade são

fundamentais para o desenvolvimento do turismo cultural. Buscando atender o

objetivo de reconhecer o patrimônio histórico cultural de Laguna, após pesquisa

bibliográfica e documental, foi realizada uma visita técnica conduzida por um arquiteto

do IPHAN, permitindo a interpretação do patrimônio, buscando com isso o

enquadramento da pesquisa teórica com a prática, para posterior estabelecimento de

diretrizes que possam contribuir para o desenvolvimento do turismo cultural em

Laguna, a partir da situação real encontrada na localidade.

A visita teve como foco a visualização do patrimônio edificado de Laguna, que

abrangeu três pontos principais: Fonte da Carioca; Largo da Igreja Matriz; Casa de

Câmara e Cadeia, edificações de relevância histórica localizadas no centro da cidade.

Este roteiro possibilitou visualizar a heterogeneidade nas características de

construção do patrimônio edificado de Laguna. O centro histórico possui 750 imóveis

tombados pelo IPHAN, estes que possuem os mais variados estilos de construção,

em sua maioria casas térreas de estilo colonial, passando pelo ecletismo do século

XIX, art déco, até o modernismo da década de 40 e 50. Esta paisagem remonta a

perspectiva da evolução das edificações que formam o patrimônio (IPHAN, 2015).

O tombamento realizado pelo IPHAN foi ordenado sobre o contexto geográfico,

que delimitou a área de tombamento, desde o ano de 1985. Pode-se observar que

alguns imóveis que compõem o patrimônio lagunense, estão abandonados ou

sofreram alterações em suas fachadas. Um bom exemplo de ação em prol do

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284

patrimônio foi a intervenção de restauração do Cine Teatro Mussi, de posse do IPHAN

e administrado pelo SESC. Porém, essa dinâmica será alterada com as obras pelo

programa PAC Cidades Históricas, no qual Laguna foi contemplada para a

requalificação urbanística do centro histórico (IPHAN, 2015).

Quanto ao patrimônio e sua relação com o turismo, uma fala do membro do

IPHAN traduz a necessidade do planejamento para o turismo cultural: “O turismo

pode virar atividade predatória nas cidades históricas se realizado de fora para dentro,

aqui o turismo tem que ser pensado de dentro para fora. Ainda culturalmente, fica

evidente como o elemento água permeia sobre o cotidiano do lagunense, pela simples

contemplação da paisagem de beleza natural ou pela pesca, repleta de singularidade

no modo de pescar com a ajuda de botos, uma atividade singular e tradicional da

comunidade verificada em poucos lugares do mundo. Outro elemento tradicional é

Festa de Santo Antônio, no qual diferentes gerações de lagunenses trabalham para a

realização da comemoração religiosa típica. Neste contexto, deve ser pensado de que

forma desenvolver o turismo favorecendo a permanência das características da

comunidade e seu patrimônio histórico no processo turístico.

4.3 DIRETRIZES PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO PLANEJADO

SOBRE OS ASPECTOS SOCIOCULTURAIS DE LAGUNA - SC, BRASIL

Para que fosse possível a elaboração de diretrizes para o desenvolvimento

do turismo voltado para aspectos culturais da destinação, destacam-se as

diretrizes de planejamento turístico com foco nos aspectos socioculturais, conforme o

exemplo do bairro histórico e turístico de Colônia do Sacramento no país vizinho

Uruguai, e o programa PAC Cidades Históricas. Inicialmente, o “Programa de

cultura, coesão social e participação” do Planejamento Turístico do bairro histórico de

Colônia do Sacramento/Uruguai, este que está fundamentado sobre a necessidade

de buscar respostas sobre a necessidade de oferecer alternativas para o uso social

do patrimônio, permitindo a construção de espaços de intervenção e difusão dos

valores próprios da comunidade, adquirindo na relação com o patrimônio histórico e

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285

cultural, o estabelecimento da responsabilidade coletiva sobre a conservação dos

bens, em prol da qualidade no ambiente, e com participação democrática (MEC-IC,

2012, p.18). Este programa está voltado para a sustentabilidade do turismo no

ambiente onde a atividade se manifesta.

No Brasil o PAC Cidades Históricas elabora planos de ação para municípios

com sítios e conjuntos urbanos tombados em nível federal, com bens registrados

como patrimônio imaterial. As ações propostas viabilizaram o planejamento integrado

sobre as esferas do patrimônio cultural, compartilhado entre municípios, estados,

união e sociedade (IPHAN, 2014). As diretrizes do PAC Cidades Históricas visam entre

elas considerar o território municipal; efetuar leitura global da cidade, considerando

seus problemas e desafios na preservação; o patrimônio cultural deve ser o eixo das

diretrizes e ações propostas; garantir participação social e comprometimento dos

atores que atuam no território; considerar, dialogar e propor soluções capazes de

integrar políticas públicas; definir prioridades, metas, agentes, responsáveis e prazos

de forma objetiva.

Desta forma, foi possível verificar formas diferentes de como destinos turísticos

em esferas local e nacional, atuam em sua organização para traçar diretrizes capazes

de conduzir a atividade turística. Após feita revisão teórica e prática acerca do

planejamento turístico, a seguir, será apresentada a proposta de diretrizes para o

desenvolvimento do turismo cultural na cidade de Laguna.

Após o levantamento e diagnóstico dos fluxos socioculturais de Laguna, se

justifica a elaboração de diretrizes para o desenvolvimento do turismo cultural na

localidade, a partir da implantação de um plano que conduza o planejamento da

atividade. Com isso, se busca que o turismo atue como elemento alavancador da

economia local em longo prazo, desenvolvido de maneira planejada e sustentável,

sendo capaz de capaz de trazer muitos benefícios ao local, conforme destacado por

(UMBRELINO, AMORIN, 2010).

A partir da pesquisa documental em torno dos traços socioculturais da cidade

de Laguna frente a sua configuração territorial, o modelo de planejamento adequado

para o desenvolvimento do turismo cultural seria um modelo turístico sustentável,

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286

cujos pilares devem estar focados no ambiente natural e cultural, buscando assim a

interação sinérgica de todos os elementos envolvidos direta ou indiretamente no

turismo.

Com a atuação do PAC Cidades Históricas, Laguna receberá aproximadamente

vinte milhões de reais em investimentos para requalificação urbanística do centro

histórico da cidade. Amparado pelo investimento no patrimônio cultural feito pelo PAC,

o foco no estabelecimento das diretrizes se deu sobre a premissa sociocultural da

cidade. Para isso, as diretrizes foram embasadas no planejamento turístico do Uruguai,

da Espanha e da cidade de Colônia de Sacramento, pois estes apresentaram

diretrizes que se encaixam na proposta para Laguna.

Desta forma, este estudo vem a contribuir para a compreensão do potencial

sociocultural que Laguna apresenta, o que tornou viável a elaboração cinco diretrizes

condutoras para o desenvolvimento do turismo cultural. A seguir, serão apresentadas

as diretrizes: Integração e coesão social no turismo que visa Aproximar as

comunidades locais do patrimônio histórico cultural e da atividade turística; diretriz

Ordenamento territorial e uso do solo, que visa Monitorar o ordenamento territorial e

o uso do solo de forma global, considerando problemas e desafios; diretriz de

Qualificação dos produtos e serviços de Laguna, que visa Inovar para qualificar os

produtos e serviços turísticos; diretriz Articulação de políticas no Turismo, que visa

Articular políticas entre o setor público e o setor privado em prol do turismo; e diretriz

Mobilidade urbana e turística, que visa Assegurar a mobilidade urbana dos residentes

e da demanda turística. São as propostas traçadas mediante revisão bibliográfica,

documental e visita técnica.

O foco das diretrizes está fundamentado sobre os aspectos socioculturais e sua

relação com o ambiente, conforme proposto por Anjos, Anjos e Oliveira (2013), Santos

(200 COOPER et. al (2007) devem ser implantadas de forma gradual a curto, médio

e longo prazo, e monitoradas constantemente, conduzindo estrategicamente o destino

sobre as premissas da sustentabilidade ambiental, sociocultural e econômica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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287

O objetivo deste estudo foi reconhecer as possibilidades do desenvolvimento

do turismo voltado para aspectos culturais da destinação: dinâmica dos fluxos

socioculturais de Laguna, que após densa revisão documental, uma visita técnica in

loco conduzida por representante do IPHAN e revisão bibliográfica, foi possível

verificar que a cidade possui um grande potencial turístico inexplorado no segmento

cultural. Sua viabilidade pode ser estabelecida a partir de diretrizes estabelecidas pelo

planejamento do destino fundamentado sobre o contexto sociocultural e o patrimônio

local, valorização dos aspectos socioculturais.

Foi possível verificar que o patrimônio histórico cultural de Laguna, foi

constituído em sua maioria a partir da colonização portuguesa, o que permitiu a

construção do centro da cidade as margens de uma laguna que permite o acesso ao

mar, e que hoje denota as diversas fases históricas da cidade. Além disso, a cultura

local expressa ainda hoje traços portugueses, seja pela maneira de falar, pela

gastronomia típica, suas crenças e hábitos que insistem em permanecer sobre a

dinâmica sociocultural da cidade de Laguna, manifestado cotidianamente pela

população local.

A realização do planejamento em longo prazo se torna viável e deve articular o

desenvolvimento do turismo cultural a partir da sensibilização para conscientização

da comunidade quanto ao patrimônio e as riquezas socioculturais permeada por

características territoriais, tornando o planejamento sustentável. Sendo assim, após

identificada a viabilidade para o segmento do turismo cultural em Laguna, foram

elaboradas as seguintes diretrizes para seu planejamento: Integração e coesão social

no turismo; Ordenamento territorial e uso do solo; Qualificação dos produtos e

serviços turísticos de Laguna; Articulação de políticas no Turismo; e Mobilidade

urbana e turística.

Como limitações, estão à falta de dados disponibilizados sobre a demanda

turística de Laguna para melhor adequação na elaboração das diretrizes embasadas

nos fluxos socioculturais, e o tempo limitado para reconhecer os processos

administrativos municipais sobre o viés da gestão do turismo e sua contribuição para

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288

a comunidade. Assim, em pesquisas futuras recomenda-se maior inserção do

pesquisador no local pesquisado, em prol de uma melhor observação da cultura local

e suas manifestações, a fim de vivenciar a cultura e sua influência no cotidiano do

lagunense. Desta maneira, recomendamos, o aprofundamento de estudos acerca do

turismo cultural e sua demanda turística, sobre a perspectiva do processo de

planejamento do turismo em territórios dotados de acervos históricos culturais, como

é o caso de Laguna.

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292

MARCAS TURÍSTICAS: UM ENSAIO TEÓRICO ENTRE LITERATURA E OS

ARTIGOS CIENTÍFICOS

PEREIRA, Lucimari Acosta52; KRAUS, Camila Belli 53; BENETTI, Antônio Carlos54

[email protected]

FLORES, Luiz Carlos Da Silva55

[email protected]

Resumo: Frequentemente no cenário turístico a importância da marca e a mensagem

que a mesma visa passar ou transmitir através de promoções vem tomando grandes

dimensões, nesse sentido, autores mais clássicos abordam como se faz importante a

52Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande- Furg, Mestranda pelo Programa de pós-graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí- Univali. Bolsista [email protected] [email protected]. 53Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Regional de Blumenau- FURB, Especialista em Administração e Marketing pelo Grupo Universitário Internacional – UNINTER, Mestranda pelo Programa de pós-graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí- Univali. Bolsista CAPES. 54Bacharel em Gastronomia pela Universidade do Vale do Itajaí – Univali. Possui Pós-graduação em EAD em Docência no Ensino Superior, na Unicesumar / PR. Mestrando pelo Programa de em Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí-Univali. [email protected] 55Pós-doutor pela Universidade do Algarve (Portugal), na área do Turismo, Doutor em Engenharia de Produção e Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Administrador formado pela - UFSC, professor-pesquisador do Programa de Pós-graduação em nível de Mestrado e Doutorado em Turismo.

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293

marca no cenário turístico em contrapartida e complementando as teorias

apresentadas que os artigos científicos abordam através de estudos mais recentes de

como é feita a utilização das marcas, como elas se fazem importantes na prática, entre

outras abordagens. Para consolidar a proposta deste ensaio fez-se a utilização de

revisão bibliográfica e pesquisa em plataformas conceituadas, como EBSCO, Scielo

e Publicações em turismo a fim de levantar artigos que abordassem a relação da

marca com o turismo, e de que forma está sendo feita sua utilização.

Palavras-chave: Turismo; Marcas Turísticas; Imagem de Destino.

1 INTRODUÇÃO

O turismo é uma experiência de consumo, o mesmo tem a capacidade de

designar faces do comportamento do consumidor que vem relacionado do

multissensorial, da fantasia onde motiva aspectos da experiência. Nesta perspectiva

a marca destino é uma ferramenta importante dentro do contexto do marketing de

destinos turísticos, onde a mesma oferece às organizações uma forma de se

diferenciar, o que se torna uma estratégia competitiva significante, pois tem como

finalidade construir uma marca positiva com ligações emocionais que interferem na

experiência percebida pelo turista. (HIRSCHMAN; HOLBROOK, 1982; KOZAK e

KOZAK, 2016, AAKER,2007).

O presente trabalho visa demonstrar através do levantamento bibliográfico os

conceitos de Marca Turística e sua importância para o turismo. Estudos científicos

apontam a importância que uma marca tem para a divulgação, promoção e formação

de uma identidade turística que será vendida para o consumidor final, o turista, o que

justifica a importância do presente estudo, além de gerar contribuições cientificas e

acadêmicas na área do turismo focalizando no marketing de destino através da marca.

Neste sentido, as marcas são um elemento da comunicação, com ela se pode

reconhecer e difundir o lugar, assim como há uma impossibilidade de patentear um

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país, região ou cidade a marca enquanto registrada compõe um elemento com poder

de sustentar a exclusividade de mercado, a marca identifica um produto, uma empresa

ou um lugar e está relacionada com o posicionamento competitivo e o reconhecimento

das pessoas ao conteúdo da mesma. (CHIAS,2007).

O conteúdo presente em livros aponta sobre como se faz importante a

utilização de uma marca, já os artigos científicos em estudos mais recentes

demonstram na prática como uma marca é utilizada, e de que formas a mesma faz a

diferença consolidando a imagem de um destino.

Desta maneira, este ensaio teórico tem por finalidade demonstrar as

definições e conceitos abordados pela literatura e pelos artigos científicos sobre a

importância da marca e seu papel no turismo, fazendo assim, uma discussão teórica

com o que vem se falando sobre o referido tema nos livros e artigos científicos que

abordam o assunto. Para tanto a metodologia utilizada foi de pesquisa bibliográfica

em fontes secundarias abarcando artigos científicos e livros da área do marketing e

do turismo que tratam do assunto.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a consolidação do presente ensaio teórico foi utilizado método de

levantamento bibliográfico com pesquisa em fontes secundarias que são os artigos

científicos que abordam o assunto deste estudo. (GIL, 2014)

Foi feita analise bibliográfica nos artigos e livros que apresentavam conteúdo

com a temática que trazia marca e a gestão da mesma no contexto turístico, o estudo

se caracteriza neste sentido de caráter qualitativo exploratório. (VEAL, 2011).

O levantamento bibliográfico em fontes se deu através de algumas

bibliografias do turismo e do marketing, bem como em artigos científicos onde a

palavra- chaves utilizadas para pesquisa foi Marca e Marca Destino, as plataformas

utilizadas para o levantamento dos artigos científicos foram EBSCO, Pesquisa em

Turismo e Scielo.

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295

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 MARCAS TURÍSTICAS

Marca é um produto ou serviço, de um fornecedor que agrega dimensões e se

diferencia de outros produtos ou serviços, desenvolvidos para satisfazer uma mesma

necessidade, estas diferenças podem ser funcionais, racionais e tangíveis quando são

relacionadas ao desempenho de um produto, e podem ser simbólicas, racionais ou

intangíveis quando se relacionam ao que a marca representa. (KOTLER; KELLER,

2006).

As mesmas compõem fenômenos históricos e sociais, baseando-se em

relações comerciais, neste sentido, uma marca precisa se posicionar em todas em

lugares e ocasiões, provando sua veracidade, identidade, ética, sua estética entre

outros fatores. (CHEVALIER; MAZZALOVO, 2007)

A concepção da marca é de cunho estratégico. Qualquer decisão tática,

somente irá gerar marcas sólidas e de valor se todas as ações convergirem para um

mesmo ponto de vista estratégico. Para que haja uma mudança radical na concepção

da marca e na percepção dos consumidores, é necessário bem mais do que apenas

poucos estímulos, descoordenados e de curta duração. Pois todas as marcas evoluem

progressivamente no tempo e lugar de forma que em dado momento, podemos

verificar que a estratégia da marca, afinal faz parte da concepção da própria marca

(MARTINS, 2006).

Uma marca é a oferta de uma fonte conhecida, ela propicia muitas

associações na mente das pessoas, essas associações formam a imagem da marca,

que muitas vezes são fruto dos esforços de uma empresa de consolidar uma marca

forte, com uma imagem de marca exclusiva, forte e favorável (KOTLER; KELLER,

2006)

A marca tem como uma de suas funções identificar o destino, lhe fornecer

uma identidade singular, fazendo a representação do produto e agregando valor ao

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296

mesmo, esses fatores são fundamentais e contribuem para a escolha do destino pelo

turista potencial. (DIAS E CASSAR, 2005).

Desta maneira a imagem é resultado de todas as impressões recebidas pelos

consumidores sobre a marca, independente da fonte geradora, sendo que a opinião

formada terá um valor afetivo e sentimental que demonstrará atração ou repulsa e

poderá servir como referência no ato da compra. Dessa maneira cada indivíduo forma

sua própria imagem de um destino turístico, porque nesta formação inclui suas

memórias, ou seja, recordações, associações e a própria imaginação. (GALLARZA,

GIL; CALDERÓN 2001).

A marca de um destino turístico, se caracteriza por ser um nome, um símbolo,

um logotipo, uma palavra ou qualquer outro elemento gráfico, estes visam dar uma

identidade ao destino, diferenciando o mesmo de outros destinos competitivos,

transmitindo assim a promessa de uma experiência inesquecível que será associada

diretamente ao destino e seus elementos. (BENI, 2008).

As mesmas têm um papel importante e fundamental na divulgação e promoção

de um produto turístico, a marca não é apenas um logo, ela traz questões ligadas a

expectativa, aos sentimentos e identidade do destino onde se tem questões ligadas a

cultura e as singularidades do mesmo. (CHIAS, 2007).

Ao ser concebida, a marca deve ser estudada e elaborada detalhadamente,

uma vez que a imagem carrega componentes cognitivos e afetivos, os quais podem

causar emoções em níveis diferentes no consumidor. As marcas interagem com as

atitudes dos consumidores, no sentido de despertar sentimentos e emoções na

composição do repertório de compra é uma temática que desperta atenção. (VAZ,

1999).

Neste sentido “A força de uma marca está na sua coerência, que é

estabelecida entre ela e o produto. Uma boa marca dispensa informações

complementares, fala por si só e remete diretamente ao produto. É a sua porta-voz

em todas as situações”. (BRASIL, 2005, p.19).

Por tanto a imagem da marca turística deve ser trabalhada em cima dos

principais fatores de atratividade turística de uma localidade, da avaliação de sua

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297

condição e potencialidade mercadológica, da definição das prioridades, da delimitação

dos segmentos de mercado pertinentes aos fatores de atratividade selecionados e do

seu público-alvo (VAZ, 1999).

O autor Ford (2005) aborda que o valor da marca está definido como a) o

desejo de uma marca baseia-se em todas as suas atitudes; e, b) resume-se a um

pequeno número de blocos de construção ou o resumo das avaliações.

O marketing estratégico de destinos turísticos é interpretado como um

princípio organizacional que envolve um arranjo das mensagens e experiências

associadas com o local, assegurando que as mesmas sejam tão distintas, atrativas,

memoráveis e recompensadoras quanto possível. (BAKER, 2007). As marcas bem-

sucedidas são as que permanecem na mente e coração do consumidor e se

diferenciam claramente, baseando-se numa promessa de valor que simplifica a

escolha ao consumidor. Isso deve ser considerado pelas entidades responsáveis pela

gestão da marca.

As organizações necessitam entender que a marca começa no seu interior

com uma necessária e cuidada análise da sua própria identidade, o planejamento da

marca representa ainda mais benefícios do que apenas construir uma marca forte e

coesa na mente do consumidor, dado que esse planejamento pode impelir a

organização ou destino a ter em consideração aspetos internos estratégicos como a

sua visão, objetivos, valores e posicionamento em relação aos principais

concorrentes.(HAHN, 2006).

Para Kapferer (2012), a marca, nada mais é do que um nome, que influencia

compradores e também recebe a influência de um conjunto de associações mentais

e relações afetivas que foram construídas a longo prazo entre distribuidores e clientes.

O autor sugere que o monitoramento das marcas seja feito para medir as fontes de

poder de marca; e que esse monitoramento seja contínuo, ano após ano, pois só

assim o progresso das marcas pode ser avaliado.

De acordo com Kotler e Armstrong, (2007), as marcas têm uma grande

importância pois, são mais do que nomes e símbolos, são elementos chaves e

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298

representam percepções e sentimentos dos consumidores, uma marca forte forma

bases para o desenvolvimento sólido e lucrativo com o cliente.

Para Aaker (2007) uma região ou país pode desenvolver uma marca forte,

que desperte interesse, força e diferenciação para um mercado alvo, onde uma marca

país pode ser associada a outras marcas, esta cria mais do que credibilidade fornece

também vantagens emocionais e de auto expressão.

Neste sentindo a marca é um processo de busca do país pela construção de

uma identidade competitiva, a fim de posicionar o mesmo como um bom destino para

negócios, turismo e investimentos. O bom posicionamento do destino torna a marca

do mesmo com alto valor, o brand equity, estas são marcas com grande valor e efeito

diferenciador positivo que o conhecimento do nome da marca tem sobre o cliente ou

serviço (KOTLER; ARMSTRONG, 2007; IYORZA, 2004).

Jucá e Jucá (2009) discorrem sobre o termo Brand Equity, que teve suas

primeiras aparições na década de 80. Está relacionado ao fato de se obter com as

marcas um resultado diferente ao que se obteria caso o mesmo produto não fosse

identificado com determinada marca. Brand Equity tem a ver com a parcela do valor

de toda empresa que é atribuível apenas à sua marca.

O valor de marca é o resultado de tudo o que o consumidor vê, aprende, sente

e ouve sobre determinada marca, é o resultado de todas as experiências que o

consumidor teve no decorrer dos anos com a marca.

Os diversos tipos de marca geralmente selecionam dois componentes no

processo de construção do Brand Equity, que são considerados essenciais: a imagem

e a lembrança. A imagem refere-se as percepções refletidas pelas associações

guardadas na memória do consumidor. Enquanto a lembrança é definida como a força

da marca na memória do consumidor, refletida pela capacidade dos consumidores de

identificá-la em outras situações. A lembrança de marca é importante por ser um

passo fundamental para a construção de imagem de marca, pois sem conhecê-la, a

marca não significa nada para o consumidor.

De acordo com Rosa (2004, p. 43-54), existem quatro atributos que permitem

mensurar o valor da marca:

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299

Quadro 1- Atributos da Marca

Lealdade à Marca É sempre mais caro conquistar um cliente novo do que conservar o atual,

especialmente quando este cliente é satisfeito.

Reconhecimento

do nome ou

Símbolo

Um nome e um logotipo que se tornam familiares são muito mais

chamativos do que uma marca desconhecida. O fator “reconhecimento” é

particularmente importante quando a marca já representa uma diferença

entre seus pares.

Qualidade

percebida

A qualidade percebida pelos clientes não se baseia necessariamente nas

especificações técnicas. Determinante na decisão de compra, a qualidade

percebida pode servir de base para uma linha de produtos mais cara ou

para uma extensão de marca. Também pode sustentar a posição desta

arquitetura do sistema no caso de haver marcas múltiplas.

Conjunto de

associações

A que ideias os consumidores associam a marca? O valor subjacente ao

nome da marca se baseia nas associações que lhe são especificas. Por

exemplo a associação da marca a um “contexto de uso”, como no caso da

Aspirina a prevenção a ataques cardíacos, gera um motivo de compra

coerente. A associação a estilo de vida pode modificar a experiência de

uso: o Jaguar transforma qualquer pessoa que o dirija em alguém diferente,

de estilo. Por esse motivo, uma marca bem posicionada é a melhor barreira

contra a concorrência.

Fonte: Rosa, 2004, adaptado pelos autores.

Os estudos demonstram a importância de se medir a eficácia da marca,

onde os mesmos abordam vários aspectos como a percepção, a associação da

marca, valor da marca, imagem da marca, demostrando assim através de estudos o

quanto a mensuração da mesma e de seu valor são importantes para as estratégias

competitivas de um destino. (KASHIF; SAMSI; SARIFUDDIN, 2015).

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300

O marketing de lugares através de marcas tem grande importância, segundo

Kotler e Armstrong (2008, p.203):

O marketing de lugares implica em atividades realizadas para criar, manter

ou modificar atitudes e conduta em locais específicos. Cidades, estados,

regiões, inclusive países inteiros competem para atrair turistas, novos

residentes, convenções, escritório e fábricas de companhias. Texas anuncia:

“É como um país destino”; o estado de Nova York proclama: “Amo Nova

York”; e Michigan declara: “Grandes lagos, grandes momentos” para atrair

turistas;” Grandes lagos, grandes empregos” para atrair residentes, e

“Grandes lagos, grande localização” pra atrair grandes negócios.

De acordo com Correia e Britto (2011), quando ocorre o surgimento de uma

marca comum a uma determinada região, ocorre a geração de associações de

comunicação, nesta perspectiva o marketing tem como alvo central da sua atuação a

sustentabilidade do destino procurando evitar a erosão das fontes de diferenciação e

descobrindo novos meios de desenvolvimento.

A produção e consumo de serviços turísticos está na origem de um problema:

a sua intangibilidade. A marca vem responder especificamente a essa necessidade

de dar visibilidade e identificar o referido serviço. Sendo assim, a marca turística tem

como objetivo tornar rentável um conceito de imagem e de produto diferenciado que

atenda aos valores e desejos de um segmento de mercado. Portanto, eles são

intangíveis e vitais em um produto e de um valor irrefutável deste e agregado a isso

revelando os atributos fundamentais do produto. (MEMELSDORFF, 1998).

A imagem da marca de um destino é a imagem ou conceito que se forma e

que será referência para o consumidor na sua tomada de decisão, na escolha do

destino, essa imagem de referência afetará o consumidor, antes, durante e depois e

a imagem o afetará de forma irreversível de forma positiva ou negativa, pois haverá

um reforço da imagem que o consumidor já tinha do destino, e este levará essa visão

para seus familiares, amigos ou colegas de trabalho, (DIAS E CASSAR, 2005).

Uma marca turística é um estandarte da promoção no exterior, pode se

transformar na motivação para o conhecimento externo de um território, o que a torna

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301

de grande importância, ela pode ser considerada um símbolo de identidade aceito

internacionalmente (CHIAS,2007).

Na visão de Brasil (2013, p.18):

A imagem, mensagem e marca do destino deve ser reconhecida, aprovada e

disseminada pela comunidade como um todo. É a consolidação da cidade

como produto turístico para os turistas com o aporte da comunidade local.

Sem isto podemos dizer que o inverso da hospitalidade se manifestará: a

inospitalidade. Vale também ressaltar que é incontestável a importância da

construção da imagem do destino para se estabelecer antes mesmo da

compra, ou melhor, no processo de decisão de escolha uma relação

hospitaleira entre o turista e o destino, mais do que isso, digamos que a

mensagem promovida pelo destino pode representar acolhimento entre

ambos. Definitivamente, a mensagem do destino deve reportar a troca de

experiências positivas e, consequentemente, desejadas!

A imagem positiva de um país é importante para a sua promoção, ainda há

um pequeno número de países que começaram a promover ativamente sua marca

para o mundo. A gestão da marca país vem se tornando cada vez mais importante

para compreender o que está em atividade, o turismo leva ao consumismo e ao

investimento direto do estrangeiro, e um posicionamento eficaz de marca nacional ou

internacional pode ajudar a alcançar cada um desses componentes. (ECHEVERRI;

ECHEVERRI; ROSKER, 2012).

De acordo com Churchil e Peter (2005), a utilização de uma marca faz com

que os consumidores diferenciem produtos, assim as marcas beneficiam tanto o

comprador quanto o vendedor, a imagem de uma marca que é positiva na mente dos

consumidores influencia no processo de tomada de decisão na hora da compra, esta

imagem positiva proporciona bons sentimentos que provem das associações positivas

com a marca.

A marca traz formação não apenas da imagem ou identidade, mas também

aponta a qualidade do destino em termos de valor, certifica o quando a qualidade,

onde a mesma produz benefícios promocionais e de imagem social, servindo como

elementos integradores do território. (MAQUIEIRA; CARBALLO; SOLÓRZANO,

2015).

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302

A Marca é um instrumento de gestão, que visa a união da oferta e da demanda

de um país, neste sentido a gestão de marketing quando aplicado ao país é uma

ferramenta de gestão da competitividade, que possui um caráter único e leva a

geração de riqueza, o bom posicionamento do território, país ou cidade afirmando para

o mesmo uma determinada identidade que irá caracterizar o destino atraindo aqueles

que buscam a viagem através da imagem que o destino lhes remete,

consequentemente é vendida pela marca. (ECHEVERRI; ESTAY, 2013).

A marca tem como um de seus papéis formular a visão de um destino,

desenvolver a identidade do local, bem como determinar os atributos que irão

diferenciar a imagem do local e os argumentos de comunicação que irão definir

valores emocionais e racionais da marca. (CALVENTO; COLOMBO, 2009).

Todos destinos têm características diferentes, alguns compartilham de

elementos comuns, a grande diferença é a construção da identidade de sua marca,

onde pode ser composto por um conjunto de características, valores e crenças de sua

sociedade que automaticamente se diferencia das outras. (ECHEVERRI; ROSKER;

RESTREPO, 2010).

4CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados mostram que o estudo de marca vem de longa data, também

demonstram o quanto é importante a utilização da marca pois sua representação vai

além de um logotipo. Está ligado a identidade, está ligado a imagem do local, está

ligado a expectativa do cliente com o que lhe está sendo oferecido.

Apontam também uma variedade de visões que se complementam,

mostrando quanto os estudos mais antigos ainda servem como base para a

construção dos estudos atuais, principalmente no que se refere a construção de novas

fermentas para medir a marca e sua força.

A imagem da marca deve fazer parte das ações desenvolvidas pelos gestores

dos destinos, assim como o desenvolvimento de produtos ou atrações na captação

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303

de visitantes. Também é uma das maneiras de influenciar o comportamento do

consumidor. Nesse contexto, o uso da imagem de um destino turístico, além de

corroborar, funciona como parte integrante do plano de marketing e oferece uma

oportunidade de analisar o turismo quanto à sua posição estratégica no mercado.

Por si só, as marcas têm de ser promotores de sinergias turísticas e geradoras

de atitudes favoráveis para o destino. Outrossim devem constituir-se como

observatórios que olhem para a demanda, a concorrência e onde se refletem os perfis

básicos da indústria turística que os acolhe.

Todas as experiências que o turista acumula durante sua estadia em um

destino formarão parte da visão de conjunto que o mesmo terá do referido destino,

sem discriminar a função de cada um dos produtos e serviços consumidos. Como se

aprecia, o conceito de destino turístico se encontra estreitamente vinculado ao de

produto turístico.

O estudo elenca também a questão ligada aos atributos da marca uma marca

é construída através de atributos que devem fazer parte da identidade do destino e

que de certa forma irão levar o destino ao sucesso e sustentar o sucesso do mesmo.

Assim, as estratégias de promoção focadas em mercados estruturados e

planejadas por meio de um trabalho baseado na construção da identidade de sua

marca, composto por um conjunto de características, valores e crenças da sociedade

local, possibilita ao destino e aos seus atores um valor de fato competitivo e mais

assertivo. Sugere-se novos estudos na área da gestão de marcas.

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307

GT 4 – TURISMO, MARKETING E COMUNICAÇÃO

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308

MOTIVAÇÃO, FATORES “PULL” E “PUSH” E LAS VEGAS: UMA ANÁLISE DO CONHECIMENTO PRODUZIDO PELO SEMINÁRIO ANPTUR

MINASI, Sarah56; PEREIRA, Gisele57

[email protected]

Resumo: O presente estudo tem por objetivo sistematizar o conhecimento científico produzido pelo Seminário da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo (ANPTUR) quanto à motivação e aos Fatores “Pull” e “Push” associados ao destino turístico Las Vegas. No que tange à metodologia, para identificar os estudos que vem sendo produzidos pelo Seminário ANPTUR, foi realizado um levantamento de títulos e respectivos resumos dos artigos junto aos anais disponíveis no endereço eletrônico do Seminário, no período de 2005 a 2015. No total foram consultados 1741 artigos. Os resultados permitem concluir que: de 1741 artigos publicados, nenhum contempla o uso dos fatores “Pull” e “Push” na escolha do destino turístico Las Vegas.

Palavras-chave: Turismo; Motivação; Fatores “Pull” e “Push”; Las Vegas.

56Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Docente no Departamento de Turismo da Faculdade de Administração e de Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rua Gomes Carneiro nº 1 - 4º andar - Pelotas, RS, CEP: 96010-610 http://lattes.cnpq.br/2545244942377567 E-mail: [email protected]. 57 Bacharel em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Especialista em Gestão de Marketing pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Doutora em Lazer, Hospitalidade e Gestão do Turismo pela Oxford Brookes University (Inglaterra). Docente no Departamento de Turismo da Faculdade de Administração e de Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rua Gomes Carneiro nº 1 - 4º andar - Pelotas, RS, CEP: 96010-610 http://lattes.cnpq.br/2417134708175156 E-mail: [email protected]

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309

1 INTRODUÇÃO

O turismo enquanto fenômeno mundial constitui-se de enorme variedade em

termos de destinos, possibilidades de atividades e tipos de turistas. Assim, fica

evidente que o campo das motivações turísticas é muito diversificado. Os motivos que

impelem um indivíduo a viajar são de reconhecida importância nas pesquisas sobre

turismo, pois colaboram para analisar a escolha dos destinos turísticos e, sobretudo,

auxiliam na compreensão do comportamento do consumidor turístico. Nesse sentido,

a revisão de literatura aponta que a resposta para a pergunta “o que faz os turistas

viajarem?” situa-se tanto no campo sociológico (DANN, 1977) quanto no psicológico.

Assim, perguntar às pessoas as razões para uma viagem conduz a um leque

amplo de fatores determinantes objetivos e subjetivos, que originam uma necessidade

que estimula uma atitude ou comportamento, isto é, a motivação. Entende-se que a

motivação surge de uma necessidade que o indivíduo desenvolve na tentativa de

alcançar a satisfação de seus desejos pela aquisição de um bem que, no caso do

turismo, refere-se ao produto turístico. Para isso, identifica-se que existem motivos

psicológicos ou sociais, que dão suporte ao desejo de realizar uma viagem. E,

também, existem aqueles que influenciam na opinião sobre o lugar a visitar, e estão

diretamente relacionados com as características do destino (fatores determinantes

objetivos).

Os trabalhos de Dann (1977) e Crompton (1979) originaram o Modelo de

Fatores Push e Pull. Segundo esses autores existem dois grupos de fatores que atuam

na motivação de um turista. De um lado os fatores “Pull", aqueles que atraem o turista

e estão relacionados com as características do destino. De outro lado, os fatores

“Push” se referem ao que empurra o turista e traduz o desejo de sair (fatores

determinantes subjetivos ou motivações turísticas).

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Crompton e Mckay (1997) especificam sete domínios no grupo dos fatores

“Push”: 1) novidade: o desejo de procurar ou descobrir experiências novas e diferentes

através das viagens recreativas; 2) socialização: o desejo de interagir com um grupo

e os seus membros; 3) prestígio/status: o desejo de alcançar uma elevada reputação

aos olhos das outras pessoas; 4) repouso e relaxamento: desejo de se refrescar

mental e psicologicamente e de se subtrair à pressão do dia-a-dia; 5) valor

educacional ou enriquecimento intelectual: desejo de obter conhecimento e de

expandir os horizontes intelectuais; 6) reforço do parentesco e procura de relações

familiares mais intensas; e 7) regressão: desejo de reencontrar um comportamento

remanescente da juventude ou infância, e de subtrair aos constrangimentos sociais.

Quanto aos fatores “Pull”, Fakeye e Crompton (1991) identificam seis domínios:

1) oportunidades sociais e atrações; 2) amenidades naturais e culturais; 3)

acomodação e transporte; 4) infraestrutura, alimentação e povo amigável; 5)

amenidades físicas e atividades de recreação; e 6) bares e entretenimento noturno.

Os fatores Pull são também conhecidos como fatores determinantes objetivos.

Dessa forma, a presente investigação utiliza o Modelo dos Fatores Push e Pull,

já reconhecido no estudo das motivações turísticas. O modelo “push-pull” deriva um

estudo que decompõe as decisões de realizar uma viagem em duas forças

motivacionais. A motivação turística é um estado mental que leva uma pessoa ou um

grupo a viajar, o qual pode ser analisado para buscar uma explicação legítima para

essa decisão. A abordagem deste modelo consiste na decomposição da escolha do

turista por determinado destino em duas categorias de fatores motivacionais, os

fatores “pull” e os fatores “push”. (DANN, 1977).

A cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos, foi fundada em 1903 e em 1931

obteve a legalização do jogo. Contudo, somente em 1941 foi construído o primeiro

hotel temático, o Rancho Las Vegas. Na década de 1970 começaram a se instalar na

cidade as cadeias internacionais impactando com sua cobertura geográfica. A grande

maioria dos seus hotéis é temática, transcendendo a tradicional função exclusiva de

alojamento. Essa modalidade conta com diversão e entretenimento como parte

substancial do produto que oferecem.

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311

Em 1998, pouco mais de 30 milhões de visitantes, que gastaram um total de 25

milhões de dólares, passaram por Las Vegas. Esse fato colocou, na época, a cidade

entre os cinco destinos que mais captam visitantes e divisas no turismo. (MOLINA,

2003; DOUGLASS; RAENTO, 2004). O turismo em Las Vegas cresce anualmente

com números prósperos, destacando-se no panorama Norte Americano. A oferta de

unidades habitacionais ultrapassa 150 mil, com uma taxa de ocupação de 89.1%,

enquanto a média dos Estados Unidos é de 64.4%. Las Vegas recebeu no ano de

2014, de acordo com o Las Vegas Convention and Visitors Authority, 41.126.512

visitantes. (LAS VEGAS CONVENTION AND VISITORS AUTHORITY, 2015). Neste

cenário, verifica-se o prognóstico de Molina (2003), o qual afirmava que Las Vegas

evoluía rapidamente rumo aos negócios mais importantes do futuro: o turismo e o

entretenimento, que estão, estrategicamente, articulados.

Com relação ao uso do Modelo de Fatores Push e Pull, foram identificados

alguns estudos que utilizaram essa metodologia em âmbito internacional, tais como

Jiao (2003) que abordou a análise das motivações push-pull em turistas chineses que

viajam para Las Vegas; Correia et al. (2007) que estudaram a motivação de turistas

portugueses em escolher destinos exóticos, segundo os fatores push-pull; Mohammad

e Som (2010) que adotaram o modelo push-pull para analisar as motivações de

viagem para a Jordânia; Turnbull e Uysal (1995) que pesquisaram as motivações dos

turistas alemães para o Caribe segundo os fatores push-pull; e, finalmente, Kanagaraj

e Bindu (2013) que realizaram um estudo das motivações push-pull de turistas

domésticos para Querala, Índia. Em âmbito nacional, ressalta-se que não foram

identificados estudos com o Modelo de Fatores “pull” e “push”.

Conforme exposto, a presente investigação propõe-se a sistematizar o

conhecimento científico produzido pelo Seminário da Associação Nacional de

Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo (ANPTUR) quanto aos fatores push-pull na

escolha do destino turístico de Las Vegas. Aliados ao objetivo geral, tem-se os

seguintes objetivos específicos: a) identificar o número de artigos publicados sobre o

tema motivação; b) verificar, dentre estes, o número de artigos que contemplam a

temática push-pull; e c) apontar o número de artigos sobre motivação e fatores push-

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312

pull que contemplem Las Vegas.

O presente estudo está estruturado da seguinte forma: a seção 1 apresenta a

introdução do trabalho bem como uma breve revisão de literatura do tema investigado;

a seção 2 detalha a metodologia empregada; a seção 3 apresenta e discute os

resultados da pesquisa e, por fim, a seção 4 trata das considerações finais do trabalho.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Em termos de metodologia utilizada, o estudo classifica-se como descritivo,

uma vez que estuda as relações estabelecidas entre duas ou mais variáveis de um

determinado fenômeno, sem manipulá-las (KÖCHE, 2004). Além disso, o estudo

também caracteriza-se como bibliográfico. Segundo Köche (2004), um dos objetivos

da pesquisa bibliográfica é justamente sistematizar o estado da arte disponível em um

dado momento sobre um determinado tema. Assim, buscou-se primeiramente

identificar no endereço eletrônico da ANPTUR os anais disponíveis. Neste momento,

constatou-se que os anais presentes correspondem ao período de 2005 a 2015.

Portanto, o período de análise foi de 2005 a 2015. Após, estabeleceu-se as palavras-

chave para o levantamento: motivação, fatores push-pull e Las Vegas. A seguir, os

títulos e respectivos resumos dos artigos publicados nos anais de cada edição do

evento foram verificados com o propósito de identificar os artigos que atendiam aos

critérios estabelecidos por este estudo. No período examinado foram consultados

1741 artigos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados apresentados referem-se à análise das publicações no

Seminário da ANPTUR. Este evento é considerado de grande relevância para as

áreas abraçadas pela Associação Nacional de Pós-Graduação em Turismo –

ANPTUR, o qual ocorre anualmente desde 2002. A Associação foi criada em 2002,

com o objetivo de reunir as instituições de ensino brasileiras que possuem Programas

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313

de Mestrado e/ou Doutorado nas áreas de Turismo, Hotelaria, Lazer e outras áreas

afins. Destaca-se dentre seus objetivos a formulação da política nacional de educação

e pesquisa; estabelecimento de objetivos e padrões de excelência educacional;

captação de recursos e incentivos para o desenvolvimento da pesquisa e do ensino

de pós-graduação nas instituições filiadas. (PORTAL ANPTUR, 2016).

Entre as instituições, e seus respectivos programas de pós-graduação

vinculados à área de Turismo, que integram a ANPTUR, estão as seguintes:

▪ Universidade Anhembi Morumbi (UAM) – Hospitalidade: mestrado

acadêmico (início em 2002) e doutorado (início em 2015); Gestão em

Alimentos e Bebidas: mestrado profissional (início em 2016);

▪ Universidade de Caxias do Sul (UCS) – Turismo e Hospitalidade:

mestrado acadêmico (início em 2000) e doutorado (início em 2015);

▪ Universidade de São Paulo (USP) – Turismo: mestrado acadêmico

(início em 2014);

▪ Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) – Turismo e Hotelaria:

mestrado acadêmico (início em 1997) e doutorado (início em 2013);

▪ Universidade Estadual do Ceará (UECE) – Gestão de Negócios

Turísticos: mestrado profissional (início em 2012);

▪ Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Turismo: mestrado

acadêmico (início em 2013);

▪ Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – Turismo:

mestrado acadêmico (início em 2008) e doutorado (início em 2014);

▪ Universidade Nacional de Brasília (UNB) – Turismo: mestrado

profissional (início em 2007);

▪ Universidade Federal Fluminense (UFF) – Turismo: mestrado

acadêmico (início em 2015).

Os artigos pesquisados foram classificados por temas e subtemas de estudo,

representando assim, os temas e objetos de pesquisa abordados em cada trabalho.

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314

Essa classificação permitiu conhecer os subtemas mais apresentados dentro de cada

temática e elaborar a mensuração quantitativa das publicações no Seminário da

ANPTUR.

Os dados da pesquisa mostram que em 11 anos de anais analisados (2005 a

2015) o número de publicações anuais foi regular, não se distanciando da média de

158 artigos por edição do evento. A única exceção refere-se ao ano de 2005, o qual

contou com apenas 35 trabalhos publicados.

Além disso, durante o levantamento foi possível identificar que ao longo das

edições do evento optou-se pela organização das publicações em “Grupo de Trabalho

- GT”. Assim, a partir do ano de 2006, por exemplo, o evento estabeleceu 15 GT’s, no

ano seguinte esse número baixou para seis, e nos próximos anos continuou a divisão

em GT´s, porém sem apresentar um número constante.

Contudo, aduz-se que do alto índice de artigos publicados nos anais, apenas uma

pequena parte aborda o tema motivações.A motivação é um tema presente em seis

dos onze anos pesquisados, o que demonstra a existência de um número pequeno

de pesquisadores interessados nessa área. Evidencia-se que, mesmo com um

número representativo de anos com publicações sobre o tema, o melhor indicador é

o de três artigos por ano. Esse máximo é alcançado consecutivamente nos anos de

2010, 2011 e 2012.

Apesar desse número, o restante das publicações é pontual nos anos de

2008, 2014 e 2015, apresentando cada ano somente um trabalho sobre o tema

motivação.

A partir da apreciação dos trabalhos identificados, foi possível constatar

que a motivação, na maioria dos casos está relacionada à escolha de destinos

turísticos e ao comportamento do consumidor, no sentido de entender o que

influencia na sua escolha dentro do turismo.

É possível estabelecer que cinco trabalhos examinados tangenciam temas que

estão inseridos dentro do modelo dos Fatores “Pull” e “Push”, uma vez que estes

buscam identificar o que influencia na decisão do turista em termos de motivá-lo a

viajar e de escolher um destino turístico específico. Portanto, os subtemas “motivação

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315

para realizar viagem” e “motivação para escolha de destino” contém cada um, 1 artigo

publicado utilizando o modelo dos Fatores “Pull” e “Push”.

Cabe destacar que dos 12 artigos publicados no Seminário da ANPTUR sobre

motivação, entre os anos de 2005 a 2015, o uso do modelo dos Fatores “Pull” e “Push”,

dentro do estudo das motivações, representa um número muito baixo de ocorrências,

apenas duas publicações (as quais são apresentadas a seguir). O que demonstra a

pouca aplicação do modelo como forma de estudar as questões que levam o turista a

viajar (push) e optar por determinado destino turístico (pull).

O artigo intitulado “Motivadores de uma Viagem de Lazer/Turismo”,

apresentado em 2010, destaca os fatores motivadores para a realização de uma

viagem de lazer ou turismo. Para isso, expõe como objetivo central levantar, identificar

e quantificar as principais variáveis que podem impelir o indivíduo a realizar uma

viagem de lazer/turismo. (MARTINS; GUAGLIARDI, 2010).

Já o segundo artigo foi publicado em 2012 com o título “Análise das Motivações

para o Lazer e a Atitude dos Jovens Brasileiros em Relação à Nova Zelândia como

Destino Turístico”, o qual busca contribuir para o entendimento do que motiva os

jovens brasileiros a realizarem viagens de turismo, além de avaliar as atitudes destes

potenciais turistas em relação à Nova Zelândia como um país receptor de jovens

turistas brasileiros. Tal pesquisa tem como objetivo central avaliar os motivos pelos

quais os jovens turistas brasileiros viajam ao exterior, além de avaliar as atitudes

destes potenciais turistas em relação à Nova Zelândia como um destino turístico.

(MOYANO et al., 2012).

É importante destacar que apenas o estudo de Moyano et al. (2012) contempla

o modelo de forma completa, analisando ambos grupos de fatores.

A seguir é apresentada a visão geral dos temas pesquisados: motivação,

Fatores “Pull” e “Push” e Las Vegas, e a relação com o total de artigos publicados

(1741) no período compreendido entre os anos de 2005 a 2015. Evidencia-se que ao

todo foram 15 que atenderam aos temas selecionados para a pesquisa, um número

baixo quando se adota como referência a abrangência do evento. Dentre essas 15

publicações, apenas dois artigos abordam o modelo de Fatores “Pull” e “Push”, um

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316

número baixo de publicações quando se refere a este levantamento, mas ainda mais

inexpressível quando se toma como referencial o total de publicação, tanto no que diz

respeito às parciais anuais como no que se refere ao período de 11 anos de

levantamento.

Cabe destacar, ainda, que nenhuma publicação se repete em termos de

autoria, apresentando cada uma combinação de autores singular.

Sobre a temática Las Vegas, o único artigo encontrado durante o levantamento, foi a

publicação de Ferrari, a qual apresentou e publicou o artigo chamado “Las Vegas all

in: enfiando o pé na jaca sem culpa: sociabilidades de viagem e o ideal de jogar na

revista viagem e turismo”, no ano de 2013. A pesquisa consiste em uma reflexão sobre

o imaginário turístico do ideal de jogar e as máscaras identitárias que produzem

espaços relacionais para práticas de sociabilidades de viagem, a partir das ideias de

Rachid Amirou (2007). Para isso, tal estudo apresenta como objetivo geral investigar

como os imaginários construídos pelas revistas de turismo impulsionam os leitores a

se projetarem nas viagens e tendem a produzir novas formas de sociabilidades ligadas

fortemente aos valores do consumo contemporâneo. (FERRARI, 2013).

Diante disso, ressalta-se que o artigo examinado não contempla a temática

preferencialmente pesquisada, uma vez que, embora aborde o destino turístico Las

Vegas não se relaciona com as motivações que levam os turistas a escolherem esse

local, tampouco utiliza o modelo dos Fatores “Pull” e “Push” como forma de

caracterizar as influências dessa escolha.

Após examinar o conteúdo de cada artigo relativo à motivação, percebe-se novamente

a existência de uma lacuna no que tange à consideração do modelo dos Fatores “Pull”

e “Push” e Las Vegas, já que nenhum dos artigos analisados contemplou os três

temas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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317

É preciso lembrar que, embora o conteúdo dos anais do Seminário da ANPTUR

seja o objeto deste estudo, não é possível estender essa análise para todos os anais

de eventos ou periódicos científicos da área de Turismo no Brasil.

A análise dos artigos publicados nos anais do Seminário ANPTUR de 2005 a 2015

permitiu identificar o que tem sido pesquisado sobre motivação, fatores “Pull” e “Push”,

e Las Vegas no Brasil. Essa análise possibilita que sejam identificadas tendências de

estudos de diferentes pesquisadores do País sobre essas temáticas. Ainda, realizar

essa observação permite evidenciar possíveis lacunas de produção científica na área.

Os resultados obtidos permitem concluir que:

• De 1741 artigos publicados, apenas 12 referem-se a motivação;

• De 12 artigos publicados sobre motivação, apenas dois abordam o modelo de

Fatores “Pull” e “Push”;

• De dois artigos publicados sobre motivação e o uso do modelo de Fatores “Pull”

e “Push”, somente um trata o modelo de forma completa, analisando ambos

grupos de fatores;

• De 15 artigos publicados sobre as temáticas de interesse pesquisadas

(motivação, Fatores “Pull” e “Push” e Las Vegas), exclusivamente um trata de

Las Vegas, ainda sim sob outra abordagem que não a deste estudo;

• De 1741 artigos publicados, nenhum contempla o uso dos fatores “Pull” e

“Push” na escolha do destino turístico Las Vegas.

Com base nos resultados deste estudo, evidencia-se a importância e a

necessidade de incentivar a realização de pesquisas e a produção de novos

conhecimentos sobre os temas motivação, Fatores “Pull” e “Push” e Las Vegas. É

preciso produzir conhecimento que considere a análise da composição dos aspectos

que motivam os turistas a escolher determinados destinos turísticos, e sugere-se

ainda que seja incentivado estudos de destinos representativos, como por exemplo

Las Vegas.

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318

O turismo em Las Vegas apresenta um índice expressivo de crescimento anual,

o qual destaca-se não só no cenário da atividade turística norte-americana como

também mundial, recebendo mais turistas que, por exemplo, o Brasil com um total de

aproximadamente 6 milhões de turistas por ano. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2016)

Esse fato coloca Las Vegas entre os destinos que mais captam visitantes e divisas no

turismo.

O conhecimento produzido a partir de novas pesquisas na área também é

relevante do ponto de vista socioeconômico, uma vez que permite identificar a

composição dos fatores que influenciam na escolha de destinos, o que faz o

consumidor do turismo agir em relação ao campo psicológico e também sociológico.

Para além disso, novas pesquisas contribuem para que os próprios destinos turísticos

consigam traças o perfil de sua demanda, proporcionando a possibilidade de

(re)direcionamento e (re)posicionamento estratégico e de planejamento turístico.

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ANÁLISE PERCEPTUAL DE LOGOTIPOS DE PARQUES NACIONAIS BRASILEIROS

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321

CUSTÓDIO, Vagner58; FREITAS, Fabiano59; PIMENTEL, Juliana M. Vaz60; VIOLIN,

Fábio Luciano61.

[email protected]

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo analisar a correlação dos Parques

Nacionais (PN) selecionados para esta pesquisa e seus respectivos logotipos, através

de uma análise perceptual de categoria e magnitude nos atributos representatividade

e conhecido. Para aplicação dos testes foram selecionados 40 discentes do curso de

Turismo. Os resultados apontaram os logotipos dos Parques nacionais da Tijuca, de

Fernando de Noronha e do Monte Roraima os três melhores avaliados, e os

Saint/Hilaire-Lange, Ubajara e Serra do Cipó os três piores avaliados. Dessa forma,

visou-se contribuir na utilização desta metodologia para posteriores estudos e para

processo criativo destas imagens, buscando excelêncianas ações de divulgação e

fidelização da imagem das localidades turísticas.

Palavras-chave: Percepção; Logotipos; Turismo; Parques Nacionais.

1 INTRODUÇÃO

No turismo a construção da imagem de um destino é de suma importância,

uma vez que ao adquirir o produto turístico o turista não tem como avaliar fisicamente

o que está comprando, usufruindo de sua aquisição apenas num momento posterior

ao da compra, ou seja, ele adquire primeiramente a imagem daquele destino que

58Doutor em Educação. Professor do curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista. 59Discente do curso de: Turismo da Universidade Estadual Paulista 60Doutora e docente do curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista 61Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Coordenador do curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista.

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322

pretende visitar, que se apresenta por meio de fotografias, cartões-postais, logotipos,

entre outros.

Os Parques Nacionais (PN‘s) compõe uma categoria de área natural protegida

difundida mundialmente e que no sistema brasileiro fazem parte do grupo de unidades

de Proteção Integral, onde não deve haver exploração direta dos recursos naturais,

porém, há permissão para o desenvolvimento de atividades de uso público como

pesquisa, atividades de educação ambiental, e também, turismo ecológico. As

Unidades de Conservação, mas principalmente, os Parques Nacionais são

reconhecidos por abrigarem inúmeras belezas cênicas, que se tornam grandes

atrativos turísticos.

Nesse contexto, para que a construção da imagem desses parques seja eficaz

no imaginário do visitante, é necessário, que além de ser atrativa, a imagem se vincule

fidedignamente com a realidade daquilo que representa e nessa perspectiva, a

construção de um logotipo vinculado a uma destinação turística,será o principal

elemento gráfico de representatividade, ou seja, sua marca.

Uma das principais falhas que pode ocorrer na construção de logotipos para

o turismo, é que muitas vezes estes não são submetidos a testes perceptuais no

público alvo antes de serem divulgados. Os testes perceptuais podem auxiliar os

profissionais envolvidos no processo criativo a não correrem o risco de criarem

imagens que não sejam representativas para determinado local, e por consequência,

não obterem o resultado desejado para atrair visitantes e potenciais visitantes.

A partir do exposto, levantou-se a seguinte questão: Os logotipos dos Parques

Nacionais são representativos e conhecidos perante a percepção dos sujeitos

testados?

Nessa perspectiva, esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a

correlação dos Parques Nacionais e seus logotipos perante a percepção dos sujeitos

testados, e como objetivos específicos, aplicar teste perceptual de categoria, de

estimação de magnitude e teste cognitivo; Organizar, quantificar e tabular os dados

coletados nos testes realizados; Analisar os resultados obtidos nos dados tabelados,

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323

possibilitando refletir sobre a correlação dos Parques Nacionais e seus logotipos,

perante a percepção dos sujeitos testados.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a realização da pesquisa foram selecionados 14 Parques Nacionais

brasileiros que possuíssem um logotipo oficial, deu-se preferência pela escolha de

parques das 5 regiões brasileiras e que estivessem abertos à visitação. Além disso, a

partir dos dados de quantificação sobre a visitação que foi possível obter, buscou-se

parques que divergissem em relação ao fluxo de visitantes. São eles: PN das

Araucárias (SC), PN da Serra do Cipó (MG), PN de Ubajara (CE), PN do Monte

Roraima (RR), PN de Anavilhanas (AM), PN da Chapada dos Guimarães (MT), PN da

Tijuca (RJ), PN do Iguaçu (PR), PN do Pantanal Matogrossense (MT), PN dos Lençóis

Maranhenses (MA), PN Saint-Hilaire/Lange (PR), PN da Restinga de Jurubatiba (RJ),

PN do Jaú (AM) e PN Marinho de Fernando de Noronha (PE).

Os testes perceptuais aplicados nesta pesquisa foram o teste de categoria, que

segundo Ferraz (2005) permite classificar em uma escala ordinal se certo objeto de

estudo possui mais do determinado atributo do que outros, permitindo categorizá-los

e classificá-los em uma ordem e o teste de estimação de magnitude, que se trata de

um processo de julgamento, em que os observadores emparelham números a

diferentes níveis de sua própria impressão perceptiva, e dessa forma expressam uma

razão à sensação atribuída. Os logotipos foram avaliados pelos sujeitos nos atributos

representatividade e conhecido. Além disso, foi realizado um teste cognitivo com

objetivo de avaliar a capacidade dos sujeitos testados de ligar as características

apresentadas no logotipo com seus respectivos parques. Para aplicação dos testes

foram selecionados 40 discentes do curso de turismo da Universidade Estadual

Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ (UNESP) do campus de Rosana, sendo 20 do

gênero feminino e 20 do gênero masculino, com média de idade de 24 anos, sendo o

mais velho com 43 anos, e 20 do sexo feminino, com média de idade de 20 anos,

sendo a mais velha com 26 anos. E a média de idade geral dos 40 alunos foi de 22

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324

anos. Essa situação foi relevante para qualificar um público alvo mais específico que

possui proximidade com os assuntos abordados, devido às disciplinas ministradas no

curso de turismo. Dos 40 sujeitos testados 5 já visitaram algum dos Parques

Nacionais.

Alguns critérios foram adotados para elaboração dos testes para realização

da coleta de dados, sendo eles:

A escolha de 14 Parques Nacionais que possuíssem logotipos oficiais,

adotando para cada Parque Nacional um número correspondente de 1 a 14.

Quadro 1 – Ordenação numérica utilizada na pesquisa para os Parques Nacionais.

Fonte: Autores

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325

Posteriormente à seleção e organização dos logotipos, elaborou-se os testes

perceptuais. São eles:

- Teste de categoria;

- Teste de estimação de magnitude;

- Teste cognitivo.

Para confeccionar os testes, utilizou-se 7 folhas em tamanho A4. Sendo que,

em 5 delas, foram expostos os 14 logotipos dos Parques Nacionais pré-selecionados

(com imagens coloridas e com os nomes dos Parques Nacionais e demais

informações apagadas), divididos em: folha 1, com os logotipos numerados de 1 a 3;

folha 2, com os logotipos numerados de 4 a 7; folha 3, com os logotipos numerados

de 8 a 10; folha 4, com os logotipos numerados 11 e 12; e folha 5, com os logotipos

numerados 13 e 14. Na folha número 6, foi elaborado o método de ranque de

categorias, onde em uma tabela, foram mencionados e explanados, paralelamente e

alternadamente em colunas verticais, o teste de categoria e seus 2 atributos

selecionados para estudo, representatividade e conhecido, e o teste de estimação de

magnitude destes atributos, além de constar ficha de controle para preenchimento dos

sujeitos nos itens nome, idade e gênero, possibilitando para os pesquisadores, a

organização dos dados através da identificação dos nomes dos sujeitos, e por

conseguinte seus gêneros e idades para caracterização de faixa etária da amostra;

na folha número 7, foi desenvolvido o teste cognitivo, onde para identificação, uma

lacuna era preenchida novamente com os nomes dos respectivos sujeitos, e também,

para realização do teste, havia 2 colunas, uma com os números ordenados de 1 a 14,

respeitando o número de logotipos estudados, e outra com os nomes dos 14 Parques

Nacionais ordenados de forma aleatória, sendo as 2 colunas perfiladas paralelamente

na vertical e com devido espaçamento, proporcionando para o sujeito testado

relacionar com um lápis ou caneta o número do logotipo exposto com o Parque

Nacional correspondente

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Figura 1 – Ficha modelo do teste de categoria e teste de magnitude.

Fonte: Autores

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327

Figura 2 – Ficha modelo do teste cognitivo.

Fonte: Autores

No primeiro momento da aplicação dos testes, perfilou-se perante os sujeitos

todas as 5 folhas com os 14 logotipos estampados e foi entregue para os mesmos a

folha 6, onde na parte superior da folha, foram preenchidas as informações de controle

e posteriormente, logo abaixo, em uma tabela, foram executados os testes da seguinte

maneira: com as imagens dos 14 logotipos e a ficha de aplicação ao lado das imagens,

foi perguntado aos sujeitos qual dos logotipos era mais representativo, após o

apontamento do primeiro perguntou-se quem era o segundo mais representativo, e

assim por diante até a décima quarta posição.

Esta situação citada acima configura o teste de categoria, que obteve o ranque

de todos os logotipos de Parques Nacionais conforme o atributo representatividade.

E depois dos sujeitos categorizarem este atributo, foi perguntado o seguinte: quanto

que o primeiro colocado que você elencou é mais representativo que o segundo? Com

isto respondido, perguntou-se quanto que o segundo é mais representativo que o

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328

terceiro? E assim por diante, até chegar-se do décimo terceiro colocado para o décimo

quarto, sendo que para este último colocado é adotado o valor zero.

Essas questões configuram o teste de magnitude, que é definido por Stevens

(1975) como um emparelhamento numérico‘, e que visou quantificar subjetivamente a

intensidade perceptiva acerca da representatividade entre os logotipos dos Parques

Nacionais. É de suma importância nesse teste fundamentar que, o método de

estimação de magnitude é frequentemente empregado para que se consigam análises

psicofísicas, como também para escalonar diferentes modalidades perceptivas devido

à rapidez e à fácil compreensão deste por observadores. (FERRAZ, 2005).

Logo após esta aplicação, o mesmo procedimento foi realizado, mas desta vez

sendo perguntado a respeito do atributo conhecido, isto é, qual é mais conhecido e o

quanto é mais conhecido em relação ao outro? Lembrando que o valor atribuído pelo

sujeito é livre.

Por fim, foi entregue aos sujeitos a folha 7, contendo o teste cognitivo, para

execução da última etapa da aplicação da pesquisa, na qual foi preenchido novamente

o nome para identificação do sujeito, e na sequência, respondido o teste, relacionando

os números que representavam cada logotipo em uma coluna, com os nomes das

sedes de cada Parque Nacional em outra coluna.

Tal teste foi aplicado com objetivo de identificar por meio da cognição qual o

conhecimento dos sujeitos sobre os Parques Nacionais e seus logotipos, observando-

se sempre a capacidade de cada sujeito ligar características dos logotipos e remeter

ao Parque Nacional correspondente.

Posteriormente à realização dos testes, foram agrupados os dados da pesquisa

organizadamente e tabulados em planilhas do Excel, propiciando ao pesquisador

percepções específicas durante o desenvolvimento das análises.

Posteriormente ao preenchimento das planilhas com os dados dos testes,

buscou-se estabelecer a média geral de posições para cada logotipo, ou seja,

estabelecendo a média e com os resultados, foi estabelecido o ranque de posições

para os dois atributos, sendo que os logotipos foram classificados ordenadamente do

menor valor de média para o maior, isto é, os que obtiveram menores valores na

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329

média, foram os melhores colocados. A outra ferramenta utilizada foi desvio padrão,

que foi utilizado para desempatar o posicionamento no ranque, ou seja,

ocorrendoempate no cálculo da média de dois logotipos ou mais, leva-se em contao

menor desvio.

Seguindo com a mesma estrutura, confeccionou-se as planilhas para o teste

de estimação de magnitude, com a separação dos gêneros mantida. Porém, neste

teste, foi realizado um cálculo que consistiu na soma de todos os valores respondidos

pelo sujeito para todos logotipos na coluna do teste de estimação de magnitude e

posteriormente, subtrai-se do valor total, adotado para o primeiro colocado no ranque

deste atributo, o valor atribuído originalmente para o primeiro colocado, e o resultado

da subtração é adotado no lugar do valor original do segundo colocado. Este

procedimento é realizado sucessivamente até subtrair o valor readotado pelo décimo

terceiro colocado e subtraí-lo pelo valor original, e finalmente, resultando no valor zero

para o décimo quarto colocado, assim como era originalmente.

Realizada a transformação dos valores e redistribuídos nas planilhas,

calculou-se o valor das médias e desvios padrão da mesma maneira com que foi

trabalhado no teste de categorias, mas observando-se na estimação de magnitude,

que os logotipos são classificados ordenadamente do maior valor de média para o

menor, isto é, os que obtiveram maiores valores na média, foram os melhores

colocados no ranque. Já no cálculo do desvio padrão, todos os passos seguidos foram

os mesmos praticados no teste de categoria.

Assim, terminada a etapa de tabulação dos dados, chegou-se ao número de

8 planilhas confeccionadas, sendo 4 planilhas para cada gênero, e destas 4 planilhas,

2 são dos atributos do teste de categoria e as outras 2 são do teste de estimação de

magnitude (um para cada atributo).

Além destas 8 planilhas, foi tabulado também, em 3 planilhas simples, uma

para cada gênero e outra sem separação de gêneros, ou seja, geral, o ranque de

acertos do teste cognitivo, que foi ordenada com os logotipos de Parques Nacionais

que obtiveram o maior número de acertos, ficando nas primeiras posições, e os que

obtiveram menor número de acertos, nas últimas posições.

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330

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

TURISMO EM PARQUES NACIONAIS

A corrente ambientalista internacional nascida por volta da década de 1970

alertou a sociedade no sentido de um despertar para as causas ambientais, refletindo-

se também no turismo, que na era pós-Revolução Industrial e com os ganhos sociais

da classe trabalhadora se intensificou ganhando o status de turismo de massas. Este

tipo de turismo então passa a ser criticado por ―suas consequências mais negativas

e danosas recaindo sobre a estrutura social e econômica das comunidades

receptoras, assim como sobre a qualidade ambiental dos destinos consagrados por

esse modelo de turismo. (PIRES, 2002, p. 35).

Começam a surgir, então, experiências diferenciadas daquelas propostas pelo

turismo convencional de massas, que estava principalmente relacionado ao sol e

praia. Assim, estas novas experiências passam a ser concebidas como turismo

alternativo e, como tal, a expressão passa a designar as novas modalidades da

atividade turística. A busca pelo alternativo começa na segunda metade da década de

70, mas é na década de 80 que se iniciam estas práticas, concedendo novas

expressões para o turismo como: turismo cultural; turismo na natureza; turismo de

safári; turismo de aventura; turismo ecológico, entre outras (PIRES, 2002).

Entretanto, é na década de 1990 que a tendência relacionando o turismo aos

espaços naturais cresce, consolidando uma destas várias segmentações, o turismo

ecológico ou o ecoturismo, que encontra nas áreas naturais, protegida ou não, o

ambiente perfeito para sua reprodução.

De acordo com Kinker (2002, p. 18), três fatores são fundamentais para que

a atividade turística possa ser chamada de ecoturismo: ―a conservação do ambiente

visitado, seja ele natural ou cultural; a conscientização ambiental, tanto do turista

como da comunidade receptora; e o desenvolvimento local e regional integrado‖.

Pires (2002) também aponta algumas premissas para que as atividades

recebam o status de ecoturismo, como serem desenvolvidas em ambientes naturais

aos quais se agregam os valores culturais de reconhecida autenticidade que se

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manifestam em seu entorno e também que se comprometa com os aspectos de

manejo e conservação dos recursos naturais, incluindo a participação ativa das

comunidades locais e difundindo a consciência ecológica pelo advento da educação

ambiental.

É neste sentido que Serrano (2000) propõe que, apesar da multiplicidade de

definições para o ecoturismo, há um consenso em torno do caráter educativo da

atividade, de seu compromisso com a modificação de comportamentos e com a

criação de uma consciência ambientalista. Por isso, o ecoturismo, é a vertente da

atividade turística sugerida para o desenvolvimento em áreas naturais protegidas.

Contudo, segundo Kinker (2002), apesar deste fato, ―torna-se fundamental o

desenvolvimento de políticas adequadas de incentivo à atividade e que permitam que

os recursos adquiridos sejam aplicados nas áreas visitadas.

Assim como o ecoturismo pode tornar-se uma fonte de renda para a

manutenção destas áreas, é relativamente grande a preocupação que se emprega

com os possíveis impactos negativos da atividade, pois muitas vezes o ecoturismo é

vendido associado com outras atividades de aventura, tais como: caminhada

(trekking) em trilhas, acampamento, rapel, rafting, montanhismo, ciclismo, escalada,

passeios de buggy e veículos 4x4, mergulho, entre outros.

Figuram entre os potenciais impactos negativos causados pelo ecoturismo

nas áreas protegidas: superlotação; excesso na infraestrutura construída pelo homem;

veículos convencionais e off-road circulando em alta velocidade; barulho; alimentação

de animais silvestres; produção de lixo; propagação de doenças e pragas; uso dos

recursos naturais de maneira inadequada; uso descuidado do fogo; coleta de

suvenires; esgoto sem tratamento; entre outros (KINKER, 2002).

Kinker (2002) cita ainda outras questões importantes, pois a administração da

área protegida, acreditando que esta serve para gerar lucro, pode acabar colocando

estes objetivos acima da conservação. Além disso, o governo, procurando maximizar

o retorno econômico dos parques, pode implantar estruturas impróprias para o

ecoturismo como grandes hotéis, autoestradas, piscinas, entre outros, correndo o riso

de transformar a atividade em turismo de massa. Também podem ocorrer mudanças

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no comportamento das populações locais devido ao contato excessivo com turistas,

que por vezes chegam a se imaginar superiores às comunidades visitadas.

Com base neste escopo, torna-se muito importante que a visitação pública

nos Parques Nacionais esteja sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano

de Manejo da unidade, que deve conter um Plano de Uso Público, às normas

estabelecidas pelo órgão gestor e, ainda, àquelas previstas no Regulamento dos

Parques Nacionais Brasileiros, o que tende a minimizar estes possíveis impactos

negativos e potencializar os positivos.

No entanto, não podemos deixar de lado a grande dificuldade de se lidar com

o uso público nos Parques Nacionais brasileiros. Conforme explana Pardini (2012), o

uso público é na grande maioria das vezes um enorme desafio para os gestores das

unidades. Para o autor,

Na impossibilidade de oferecer mínimas condições de visitação, as unidades

ou estão fechadas, ou oferecem uma frustrante experiência ao visitante. As unidades

fechadas passam a lidar com atividades de visitação irregulares e/ou com pressão

para abertura. As unidades abertas, mas sem condições de manejo do usuário, não

conseguem controlar ou dimensionar o fluxo, correm grande risco de arcar com as

consequências de incidentes, acidentes, danos à vida, ao meio ambiente e ao

patrimônio causados pela falta de pessoal ou mesmo mecanismos de gestão

(PARDINI, 2012, p. 128).

Neste sentido, torna-se essencial para a própria manutenção das unidades de

conservação que as atividades de ecoturismo e uso público estejam fundamentadas

e planejadas em bases rigorosas, capazes de impor limites e regras aos envolvidos

nas atividades de ecoturismo, como nos propõe Kinker (2002, 56-57),

Sem a cobrança de ingressos, sem planilhas que organizem as visitas e o

número de visitantes para cada área, e sem normas que sejam cumpridas por

operadores, guias, turistas e administradores das unidades, não pode haver controle

sobre as atividades. E sem controle, não há chance de educar e informar, nem de

gerar renda para o manejo da visitação. A mesma coisa acontece com o potencial que

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o turismo oferece de criar alternativas de renda e outros benefícios indiretos para a

população local.

Do mesmo modo, também constitui fator essencial a imagem que será

atribuída para a unidade perante seus visitantes. Atualmente, há inúmeras formas de

divulgação turística, como vimos anteriormente. Entretanto, o logotipo será a imagem

que criará um vínculo com o visitante e potencial visitante. Desta forma, ele é

essencialmente importante e deve ser cuidadosamente elaborado, sendo ponderado

e autêntico com a representação da localidade.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

Os dados foram relacionados, chegandopor meio deles nos resultados finais e

nasconsiderações. Comessa perspectiva, as tabelas explanadas nos

tópicosabaixopossuem as informações referentes aos testes descritos nas legendas.

São elas:

Tabela 1 - Ranqueintergruposcom a posição final para o teste de categoria

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O resultado final intergrupos, para o teste de categoria, (tabela 1)

apontanaprimeiracolocação o Parque Nacional da Tijuca (RJ) e na segunda

colocaçãoo Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PE). E constatou-se

também, empate na última colocação do ranque, mas que no critério de desempate,

ponderado pelo desviopadrão, apontana última colocação, o logotipo do Parque

Nacional de Ubajara (CE)

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Tabela 7 - Ranque intergrupos com a posição final para o teste de magnitude

A posição final do teste de magnitude (tabela 7) explicita o quanto é mais

perceptivo os dois primeiros colocados: Parque Nacional da Tijuca (RJ) em primeiro

no ranque e Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PE) em segundo. E

o quanto foi ineficaz, pouco perceptivo, o décimo quarto e último colocado, Parque

Nacional de Ubajara (CE). Mais uma vez faz-se necessário ressaltar que os resultados

do teste de magnitude e teste de categoria foram similares, e, portanto, confirma que

os logotipos possuem nos atributos, uma intensa percepção.

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Tabela 8 - Ranque final intergrupos para o teste cognitivo

No ranque final do teste cognitivo, os dois logotipos mais perceptíveis ficaram

com a primeira colocação dividida. PN da Tijuca (RJ) e PNM de Fernando de Noronha

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(PE) obtiveram 31 acertos cada. Enquanto, o PN do Pantanal Matogrossense (MT) e

o PN Saint Hilaire/Lange (PR) dividiram a última colocação no ranque, com 2 acertos

cada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fim de tecer considerações acerca da tabela final, buscou-se, primeiramente,

descrever e analisar o ranque final entre os três testes aplicados. Na primeira posição

do ranque final, ficou o logotipo do Parque Nacional da Tijuca (RJ), que em todos os

atributos pesquisados esteve sempre em evidência, mas que sempre teve em

segundo colocado, o logotipo do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha

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(PE), com avaliações similares, principalmente no teste cognitivo, quando empataram

na primeira posição na classificação final.

O logotipo do Parque Nacional do Monte Roraima (RR), que não obteve

posições de ranque extremas, mostrou-se com boa intensidade perceptiva. Sujeitos

de ambos os gêneros chegaram a reconhecer seu logotipo logo no início da aplicação

dos testes ou durante. Mesmo quem não reconheceu, classificou-o em posições

consideráveis. Além disso, o logotipo recebeu pouquíssimas colocações inferiores no

ranque, obtendo boa média em toda a pesquisa, o que lhe rendeu, ao final, a terceira

posição geral no ranque. Sua imagem é simples, clara, de fácil identificação e

fidedigna à realidade pode ter sido aspectos essenciais que possibilitaram a

percepção dos sujeitos.

O logotipo do PN da Chapada dos Guimarães (MT) traz em sua imagem, dois

cartões postais, sendo um deles a cachoeira Véu de Noiva e o outro os paredões

rochosos característicos do relevo da região. Isso é um ponto forte, todavia, a

composição do logotipo merece a única ressalva de que talvez pudesse apresentar

uma fluidez visual melhor, pois a imagem aparenta estar recortada ao meio,

mostrando-se um tanto desconexa.

Porém, é um logotipo atraente. Harmonia foi o que o logotipo do Parque

Nacional do Iguaçu (PR) possivelmente tentou divulgar, entre a onça pintada, que

impressionantemente tem um alcance de imagem incrível, e as cataratas, que não

mais do que dois sujeitos conseguiram identificá-la. Sujeitos enxergaram até dentes,

mas não cachoeira.

Este caso provavelmente explicita a falta de percepção na idealização desta

ferramenta chamada logotipo, pois o grau de fidedignidade que a imagem das

cataratas passa é muito confusa. O destaque para o logotipo do Parque Nacional dos

Lençóis Maranhense (MA), fica na extrema dificuldade que os sujeitos aparentaram

em perceber as dunas do parque na imagem. As cores das curvas dificilmente

conseguiriam alcançar o imaginário dos sujeitos.

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Apenas as curvas das dunas não se mostraram suficientes e a representação

da areia ficou deficitária. Comentou-se até mesmo que parecia um logotipo de

prefeitura ou projeto verão de governos do litoral. O logotipo se mostrou, nesse caso,

ineficaz. No caso do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense (MT) a harmonia

da imagem também foi destaque, mas negativo. Com uma imagem confusa, era

complicado focar na figura e definir exatamente o que estava sendo transmitido ali.

Tanto que os sujeitos percebiam o PN do Pantanal Matogrossense no logotipo do PN

do Iguaçu. Para o Parque Nacional do Jaú (AM), apesar de ser um logotipo que

apresenta técnica e conceito de criação, a principal observação a ser feita segue o

viés da confusão que os sujeitos fizeram em relação ao logotipo. Muitos que erraram

o teste cognitivo comentavam, posteriormente ao término da aplicação do teste, que

atribuíram o logotipo do PN do Jaú erroneamente ao Parque Nacional da Serra do

Cipó (MG), possivelmente em associação ao macaco. Já para o logotipo do Parque

Nacional de Anavilhanas (AM), aparenta ter faltado clareza e boa pregnância da forma

que facilitassem a identificação da imagem, pois é uma unidade que possui

considerável divulgação e a imagem apresentada no logotipo é um cartão postal do

local. E por fim, o logotipo com pior avaliação foi do Parque Nacional Saint-

Hilaire/Lange (PR), que numa escala de posições no ranque que variava de 1 a 14,

ficou, após análise de três testes, com média de 13. Muito próximo da pior posição

final, chegando até a tomar a última colocação no ranque final do teste de magnitude,

ficou o logotipo do Parque Nacional de Ubajara (CE), terminando com média final de

12, na décima terceira posição. Enfim, os dois logotipos foram pouco perceptíveis e

ineficazes.

Nesta perspectiva, este artigo visou contribuir na utilização dessa metodologia

em posteriores estudos no âmbito dos testes perceptuais em território brasileiro,

buscando melhor eficácia não apenas nos atributos trabalhados, mas em qualquer

outro que se julguem relevantes/pertinentes pelos idealizadores do processo criativo

das respectivas imagens, buscando consequentemente, excelência nas ações de

divulgação e fidelização de sua imagem.

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REFERÊNCIAS

FERRAZ, M. A. A preferência pela prática de atividades físicas e esportivas: uma abordagem psicofísica. Tese de doutorada, apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP, 2005. KINKER, S. Ecoturismo e conservação da natureza em parques nacionais. Campinas, SP: Papirus, 2002. PARDINI, H. O desafio do uso público nas unidades de conservação brasileiras. Em: NEXUS (org.).Unidades de Conservação: o caminho da gestão para resultados. São Carlos: Rima Editora, 2012. p. 125 – 133. PIRES, M. J. Turismo no Brasil: imagem e comunicação. Turismo em Análise, v. 8, n. 2, p. 7 – 12, 1997. PIRES, P. dos S. Dimensões do ecoturismo. São Paulo: SENAC São Paulo, 2002. SERRANO, C. A educação pelas pedras: uma introdução. Em: SERRANO, Célia (org.). A educação pelas pedras: ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000. p. 07- 24. STEVENS, S. S. Psychophysic. New York: Wiley, 1975.

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A UTILIZAÇÃO DA REDE SOCIAL FACEBOOK NA PROMOÇÃO DE EVENTOS

CULTURAIS EM PELOTAS - RS

PERES, Jéssica.62

[email protected]

MINASI, Sarah.63

[email protected]

Resumo: Este estudo tem por objetivo analisar a rede social Facebook como uma

ferramenta de promoção de eventos culturais e atividade turística no município de

Pelotas/RS. Trata-se de uma pesquisa exploratória, de abordagem qualiquantitativa.

Desse modo, realizou-se pesquisa bibliográfica e foi disponibilizado um questionário

online composto por perguntas abertas e fechadas. A partir da análise de dados,

inferiu-se que o Facebook é frequentemente utilizado na promoção de eventos

culturais, sendo considerado pelos participantes da pesquisa mais ágil que os demais

meios de comunicação e capaz de promover a atividade turística no município, bem

como alavancar os eventos culturais existentes.

Palavras-chave: Turismo; Redes Sociais; Facebook; Eventos Culturais.

1 INTRODUÇÃO

Com o nascimento da comunicação facilitada pelo computador, as pessoas

passaram a procurar novas formas de estabelecer relações e de formar comunidades

já que muitas vezes não conseguem estabelecer interação social presencial em seu

cotidiano (RECUERO, 2009).

62Acadêmica do Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4497561P7. 63Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul. Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas. Professora no Departamento de Turismo na Faculdade de Administração e de Turismo (FAT) na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4350065Y2.

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De acordo com Recuero (2009), o aparecimento das redes sociais na internet

proporcionou às pessoas a possibilidade de difundirem informações de forma mais

rápida e interativa. Com isso, foram criados novos canais e, ao mesmo tempo, uma

pluralidade de novas informações passaram a circular nos grupos sociais.

Nesse sentido, desde 2006, a rede social Facebook permite que qualquer

usuário com e-mail e acesso à internet possa cadastrar um perfil criado na página, e

ainda interagir com outros usuários através de publicações, vídeos, chats e outros

aplicativos fornecidos pelo site (COMM, 2009).

Com o intuito de dar às pessoas o poder de compartilhar informações, fazendo

do mundo um lugar mais conectado, em 2015, a rede social atingiu a marca de 1

bilhão de usuários. (FACEBOOK, 2016).

Sendo assim, o uso dessas ferramentas com fins relacionados a viagens tem

crescido bastante, sendo o Facebook, um dos mais populares em número de

visitantes mensais (PHOCUSWRIGHT, 2010).

Ao longo dos últimos anos assiste-se à construção de um novo modelo social,

designado sociedade em rede (RODRIGUES, et al., 2009). Nesse sentido, a

comunicação em rede transcende fronteiras pois a sociedade em rede é global,

baseada em redes globais, alcançando países de todo o planeta e difundindo-se

através do poder integrado nas redes globais de capital, bens, serviços, comunicação,

informação, ciência e tecnologia (CASTELLS, 2005).

Castells (2005), afirma ainda, que na sociedade em rede, a virtualidade é a

refundação da realidade através de novas formas de comunicação. Tendo isso em

vista, a internet interage com a sociedade, transformando decisivamente os meios de

comunicação. Para Oliveira et al. apud Rebelo (2011), a internet processa a

virtualidade e transforma a sociedade, constituindo a sociedade em rede, que é a

sociedade em que vivemos.

A Internet trouxe diversas mudanças para a sociedade. Entre essas

mudanças, Recuero (2009) apresenta algumas fundamentais. Uma das mais

significativas referenciadas pela autora, é a possibilidade de expressão e

sociabilização das ferramentas de comunicação através do computador. Essas

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ferramentas permitem aos utilizadores, interagir e comunicar uns com outros,

deixando, na rede de computadores, registros que permitem o reconhecimento dos

padrões das suas conexões e a visualização das suas redes sociais através desses

registros. O aparecimento dessa possibilidade de estudos de interação e conversação

através da Internet dá uma nova perspectiva de estudo sobre

as redes sociais, a partir do início da década de 1990. É, neste âmbito, que a rede

como metáfora estrutural para a compreensão dos grupos expressos na Internet, é

utilizada através da perspectiva de rede social.

Tendo em vista a grande visibilidade que a rede social possui na troca ágil de

informações e promoção da atividade turística, este estudo justifica-se pela carência

de estudos semelhantes no município de Pelotas/RS.

Nesse sentido, buscou-se entender se o Facebooké frequentemente utilizado

como uma ferramenta para promoção e comunicação de eventos culturais e da

atividade turística de forma mais ágil que os demais meios de comunicação,

principalmente aqueles mais tradicionais como a televisão, o rádio e o jornal. Para

isso, delimitou-se como objetivo geral analisar a rede social Facebook como uma

ferramenta de promoção e comunicação de eventos culturais e atividade turística no

município de Pelotas/RS. Desse modo, realizou-se pesquisa bibliográfica e foi

disponibilizado um questionário online, criado a partir da ferramenta Formulários

Google, o qual era composto por perguntas abertas e fechadas referentes a temática

proposta. Nesse sentido, o questionário foi disponibilizado de 4 a 6 de outubro de

2016. A divulgação foi feita por e-mail, Whatsapp e Facebook. A pesquisa contou com

a participação de 76 respondentes. Por fim, foi realizada a análise dos dados a partir

das respostas dos participantes, de forma quali-quantitativa, levando em conta todas

as considerações feitas.

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344

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho buscou entender se o Facebook é frequentemente

utilizado como uma ferramenta para promoção e comunicação de eventos culturais e

da atividade turística de forma mais ágil que os demais meios de comunicação,

principalmente aqueles mais tradicionais como a televisão, o rádio e o jornal. Para

isso, delimitou-se como objetivo geral analisar a rede social Facebook como uma

ferramenta de promoção e comunicação de eventos culturais e atividade turística no

município de Pelotas/RS. Desse modo, o procedimento metodológico utilizado

caracteriza-se por um estudo de caso de caráter exploratório. Segundo Dencker

(2003, p.124), “a pesquisa exploratória procura aprimorar ideias ou descobrir

intuições, envolvendo em geral levantamento bibliográfico, entrevista com pessoas

experientes e análise de exemplos similares”. Nesse contexto, o trabalho foi

desenvolvido a partir de livros e artigos científicos referentes ao assunto que o

caracterizam como uma pesquisa bibliográfica.

Em um segundo momento, foi disponibilizado um questionário online, criado

a partir da ferramenta Formulários Google, o qual era composto por perguntas abertas

e fechadas referentes a temática proposta. As perguntas se referiam a utilização da

rede social Facebook; frequência da utilização e outros aspectos que permitissem

inferir se esta rede social é frequentemente utilizada como uma ferramenta de

promoção e comunicação de eventos culturais e atividade turística no município de

Pelotas. Nesse sentido, o questionário foi disponibilizado de 4 a 6 de outubro de 2016.

A divulgação foi feita por e-mail, Whatsapp e Facebook. A pesquisa contou com a

participação de 76 respondentes. Por fim, foi realizada a análise dos dados a partir

das respostas dos participantes, de forma qualiquantitativa, levando em conta os

dados estatísticos gerados pela ferramenta Google Formulários e todas

considerações feitas pelos respondentes.

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345

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 TURISMO, REDE SOCIAIS E FACEBOOK

De acordo com a Organização Mundial do Turismo (2001), o turismo engloba

as atividades das pessoas que viajam e permanecem em lugares fora de seu ambiente

usual durante não mais do que um ano consecutivo.

Nesse sentido, a opinião dos turistas é de grande relevância para a atividade

turística, pois estes documentam a partir de fotos e vídeos suas experiências em uma

determinada localidade. Tendo em vista a facilidade de acesso à internet, estas

experiências, são compartilhadas em redes sociais e são capazes de promover

positiva ou negativamente um destino. De acordo com Brushaapud Cruz et al. (2012),

existem algumas oportunidades que devem ser consideradas na utilização das redes

Sociais na área do turismo: comunicação efetiva, pois a partir das redes sociais é

possível cativar e potencializar a relação das empresas com atuais e potenciais

clientes, passando uma imagem de credibilidade e confiança; e passa-palavra,

chamado de “wordofmouth”, um poderosa fonte de divulgação na área do turismo,

pois as pessoas que estão nas redes sociais buscam informações relevantes e

originais, e quando obtêm, facilmente a passam a outras pessoas.

A internet permitiu ao sujeito a possibilidade de conectar-se. Este sujeito

assume o papel de utilizador nas plataformas online. Neste contexto, que coloca o

utilizador de um lado e o sistema computacional do outro, emergiram as redes sociais,

ambientes virtuais, permitindo aos utilizadores estabelecer relações, trocar

impressões e experiências utilizando mecanismos de interação e decisão em tempo

real (LOPES, 2010).

Desse modo, a primeira rede social foi lançada em 1997 e tinha o nome de

SixDegrees. De acordo com Morais apud Cruz et. a (2012), essa rede social permitia

aos usuários criarem perfis e listar seus amigos, mas restringia o acesso de forma que

um usuário não poderia ver o perfil de outros. O serviço não conseguiu sustentação

financeira, em 2000, saiu do ar. Além da SixDegees outras redes surgiram e dentre

as principais redes sociais que surgiram está o Facebook.

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O Facebook foi criado no ano de 2004 pelo americano Mark Zuckerberg, ex-

estudante de Harvard. No início, tinha como objetivo conectar alunos dos Estados

Unidos que estavam saindo do ensino médio e ingressando na faculdade. Para

participar era necessário que a instituição fosse cadastrada (RECUERO, 2009). Já em

2006, o Facebook abriu espaço para que qualquer usuário com e-mail e acesso à

internet pudesse cadastrar-se por meio dos perfis que são criados na página, e ainda

interagir com outros internautas e outros aplicativos fornecidos pelo site (COMM,

2009). Em 2015, o Facebook atingiu a marca de 1 bilhão de usuários. (FACEBOOK,

2016). O Facebooké capaz de integrar várias funcionalidades como postagem de

vídeos, fotos, criação de perfil e páginas, além de oferecer espaço para anúncios

(SANTOS, 2014).

Sendo assim, a dinâmica de interação na rede se dá entre perfis e páginas. A

partir da linha do tempo pessoal, o perfil é direcionado às pessoas e são mantidos

pelo nome de um usuário, sendo possível criar uma rede de amigos ao adicioná-los.

Já as páginas, conhecidas como fanpages, constituem um espaço que reúne públicos

com interesses em comum, sendo utilizadas por artistas, empresas, marcas,

organizações, entre outras finalidades. Por isso, o Facebook pode ser considerado

uma ótima ferramenta de marketing digital (SANTOS, 2014).

3.3 EVENTOS CULTURAIS E EVENTOS CULTURAIS EM PELOTAS

Para Marques apud Rodrigues (2012), os eventos culturais estão associados a

motivações culturais, artísticas, educativas e turísticas. Além disso, ocorrem em locais

específicos e em determinados momentos; têm público em número significativo e têm

uma série de agentes que são afetados pelos eventos. Nesse sentido, os agentes

podem ser indivíduos ou grupos com interesse ou investimento (cultural, financeiro,

político ou outro) no evento.

Como produto turístico, os eventos culturais conseguem aumentar a

atratividade de uma cidade ou região e captar mais turistas.

De acordo com o Ministério do Turismo (2010), os eventos culturais englobam

as manifestações temporárias, enquadradas ou não na definição de patrimônio, como

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os eventos gastronômicos, religiosos, musicais, de dança, de teatro, de cinema, entre

outros. Em muitos casos, estes eventos ajudam à preservação do património histórico

e cultural, pois são eles o centro da atração turística. Ainda, a utilização turística dos

bens culturais contribui para a valorização, promoção e manutenção da sua dinâmica

e permanência no tempo como símbolos de memória e de identidade. Tais bens

permitem que haja maior interesse da comunidade e dos turistas, reconhecendo a

importância da cultura e da sua preservação (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010).

Nesse sentido, Pelotas dispõe de um grandioso patrimônio cultural, que pode

ser comprovado através dos exemplares arquitetônicos e das diversas edificações

tombadas ou inventariadas como patrimônio histórico e cultural. O belo patrimônio

cultural arquitetônico, de forte influência europeia, é um dos maiores de estilo Eclético

do Brasil, contando com 1300 prédios inventariados. No ano de 2006, Pelotas foi

eleita, pela Revista Aplauso, como a cidade "Capital da Cultura" do interior do estado

(Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Pelotas, 2016).

No que se refere a promoção de eventos culturais, a cidade de Pelotas realiza

a Feira Nacional do Doce (Fenadoce) desde 1986, e tem como objetivo promover a

cultura doceira da cidade para o Brasil e o mundo. Nas primeiras edições o evento

ocorria a cada dois anos e em locais diferentes, com o tempo o evento ganhando

destaque e, a partir de 2000 a feira tornou-se anual, passando a ser realizada no

Centro de Eventos Fenadoce, consolidando-se como o principal evento turístico-

gastronômico da cidade de Pelotas.

No entanto, cabe destacar que Pelotas não limita-se culturalmente apenas a

realização da Fenadoce. O município de Pelotas conta com diversos eventos culturais

apoiados ou não pelos órgãos públicos.

Segundo o Jornal Diário Popular (2014), desde 2013, o número de eventos

culturais em Pelotas aumentou. Com o Programa de Municipal de Incentivo à Cultura

(Procultura), iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura foram homologados 17

projetos relacionados à produção cultural em Pelotas. Dentre os eventos apoiados

pelo Procultura, por exemplo, estão o Sofá na Rua contando com produções

audiovisuais e teatrais, promovido pela Casa Fora do Eixo Pelotas (responsável pela

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realização de vários eventos do gênero na cidade) e o Piquenique Cultural,

acontecendo desde 2010 em espaços públicos de Pelotas, caracterizado pela mistura

de elementos de um tradicional piquenique, como toalhas quadriculadas na grama de

um parque, com a cultura, através de apresentações artísticas (JORNAL DIÁRIO

POPULAR, 2014).

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

Tendo em vista a importância do Facebook enquanto meio de comunicação

capaz de conectar indivíduos de diferentes extremidades no mundo, o objetivo geral

desse trabalho é analisar a rede social Facebook como uma ferramenta de promoção

e comunicação de eventos culturais e atividade turística no município de Pelotas/RS.

Desse modo, realizou-se pesquisa bibliográfica e foi disponibilizado um questionário

online, criado a partir da ferramenta Formulários Google, o qual era composto por

perguntas abertas e fechadas referentes a temática proposta. A pesquisa contou com

a participação de 76 respondentes. Por fim, foi realizada a análise dos dados a partir

das respostas dos participantes, de forma quali-quantitativa, levando em conta todas

as considerações feitas.

Nesse sentido, a primeira pergunta questionava se os respondentes

utilizavam a rede social Facebook. Dos 76 respondentes, todos alegaram utilizar o

Facebook, ou seja 100% dos participantes da pesquisa. A seguir, a segunda pergunta

se referia à frequência a qual o respondente costumava utilizar-se do Facebook.

Nesse sentido, 75 indivíduos (98,7%) alegaram utilizar a rede social diariamente e

apenas 1 pessoa (1,3%) assinalou a opção “algumas vezes na semana”. Esta

pergunta permitia ainda, que os respondentes optassem pelas alternativas: “somente

nos finais de semana”; “uma vez por semana” e “nunca pois não utilizo a rede social

Facebook”. A partir de tais resultados, fica evidente a presença do Facebook no

cotidiano dos indivíduos, denotando claramente a configuração de uma sociedade em

rede.

Nesse sentido, os resultados da terceira pergunta ajudam a reforçar a ideia

de que o Facebook está cada vez mais presente no cotidiano dos indivíduos pois ao

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fazer referência aos motivos que levavam o respondente a utilizar o Facebook, dentre

as motivações listadas estão aspectos comuns à vida social, como: lazer; conversar

com amigos; sair do tédio; socializar e estabelecer contatos. Foram listadas ainda: ver

publicações, vídeos, fotos e eventos que estão acontecendo tanto de amigos quanto

páginas em geral; acesso fácil a comunicação; informação ágil; atualização de notícias

e eventos; lembretes de aniversário; falta do que fazer; facilidade, ótima capacidade

de comunicação e socialização; acesso a informações, grupos e materiais

acadêmicos; diversão; entretenimento; facilidade ao direcionar o conteúdo que chega

ao usuário, de acordo com interesse. Também, surgiram respostas como “todo mundo

usa” e “o que as pessoas não te contam, elas postam no Facebook...”.Logo, percebe-

se que o Facebook estabelece múltiplos vínculos entre os usuários, a partir das mais

variadas motivações, e a comunicação é citada explícita ou implicitamente.

Tendo em vista, o conhecimento ou participação de eventos culturais como

motivação para acessar a página de divulgação dos eventos, os respondentes foram

questionados se recebem convites para eventos culturais em seu perfil ou página.

Nesse sentido, dos 76 participantes, 73 (96,1%) disseram que sim, e apenas 3 (3,9%)

disseram que não, evidenciando que os organizadores de eventos conhecem o

potencial da rede social como uma opção de promoção e divulgação de eventos.

Após, foi questionada a frequência a qual o respondente recebe convites para

eventos culturais via Facebook. Do total de participantes, 17 respondentes (22,4%)

alegaram receber convites diariamente; 22 (28,9%) recebem convites mais de uma

vez por semana; 24 (31,6%) ao menos uma vez por semana; 8 (10,5%) uma vez por

mês; 5 (6,6%) raramente recebem convites e nenhum respondente assinalou o item

“nunca”. Portanto, observa-se que a maioria dos participantes da pesquisa recebem

frequentemente convites culturais via Facebook, pois os itens “uma vez por mês”,

“raramente” e “nunca” correspondem apenas à 17% dos respondentes, evidenciando

a importância do Facebook na promoção de eventos culturais.

A próxima pergunta fazia menção a eventos na cidade de Pelotas, dos quais os

respondentes tem conhecimento ou tivessem participado. Para tanto, foram elencadas

as seguintes opções: “Sofá na Rua”; “Piquenique Cultural”; “Fenadoce”; “Semana do

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350

Patrimônio” e “Outros” (este item permitia ao respondente relatar mais de um evento

citado que tivesse tido conhecimento ou participado, bem como citar outros ou

declarar que não havia recebido convites). As quatro primeiras opções foram

elencadas devido a presença destes eventos no calendário municipal de eventos da

Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo do município. Cabe

lembrar, que muitos outros eventos compõem o calendário, no entanto, foram

elencados apenas alguns no intuito de que os participantes citassem outros eventos

a partir da opção “Outros”. Desse modo, 18 (23,7%) respondentes disseram ter tido

conhecimento ou participado exclusivamente do evento Sofá na Rua; 18 (23,7%) do

evento Piquenique Cultural; 18 (23,7%) da Fenadoce; 5 (6,6%) da Semana do

Patrimônio e 17 (22,4%) escolheram a opção “Outros”. Dos 17 respondentes que

assinalaram a opção “outros”, 11 mencionaram ter conhecimento ou participado de

todos eventos citados anteriormente (Sofá na Rua, Piquenique Cultural, Fenadoce e

Semana do Patrimônio); 1 citou todos eventos elencados pelo questionário e ainda o

evento “Sete ao entardecer”; 1 elencou todos eventos citados, mencionando ainda o

Cine UFPel, Bendito Porto, Subjetivas e Fora Temer; 1 destacou Foodtruck e

manifestações; 1 alegou receber convites de festas da cidade e 1 disse não ter

conhecimento via Facebook ou ter participado de eventos culturais em Pelotas.

No que se refere ao fato de receber convites para eventos culturais de outros

meios de comunicação, a maioria (42) relatou não receber convites de outros meios

de comunicação, correspondendo a 55,3% dos respondentes. Aqueles que disseram

receber (34), correspondem a 44,7% dos respondentes.

A pergunta seguinte solicitava que os participantes da pesquisa assinalassem

outros meios pelos quais costumavam ser convidados para eventos culturais. Nesse

sentido, foram dispostos os seguintes itens: “Mídia Impressa”; “Rádio”; “Sites em

geral”; “Não recebo convites de outros meios” e “Outros” (este item permitia ao

respondente relatar mais de um meio de comunicação citado o qual recebesse

convites para eventos, bem como citar outros que não foram lembrados pela

pesquisa). Desse modo, 15 (19,7%) respondentes disseram ter tido conhecimento ou

participado exclusivamente pela mídia impressa; 5 (6,6%) pelo rádio; 12 (15,8%)

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através de sites em geral; 10 escolheram o item “outros”, dos quais 2 mencionaram

exclusivamente o aplicativo Whatsapp; 3 citaram televisão; 4 e-mail; 1 citou e-mail e

televisão. E, por fim, 34 (44,7%) disseram não receber convites de outros meios de

comunicação. Essa alternativa foi disposta, tendo em vista que aqueles que não

recebem convites de outros meios, não poderiam assinalar alternativas de outros

meios de comunicação propostos pela pesquisa. Observa-se, no entanto, que esse

número não se manteve igual ao obtido na pergunta anterior (55,3%), talvez pela

distração dos respondentes.

Foi abordada também, a frequência a qual os respondentes são convidados

para eventos culturais a partir de outros meios de comunicação. A respeito disso, 4

respondentes (5,3%) alegaram ser convidados diariamente através de outros meios

de comunicação; 5 (6,6%) recebem convites mais de uma vez por semana; 13 (17,1%)

ao menos uma vez por semana; 8 (10,5%) uma vez por mês; 24 (31,6%) raramente

recebem convites e, por fim, 22 (28,9%) nunca são convidados por outros meios de

comunicação. Esta resposta, assim como a pergunta anterior, apresentou índice de

porcentagem díspar em relação ao recebimento de convites para eventos culturais

provenientes de outros meios de comunicação.

Outro aspecto considerado pela pesquisa, foi quanto à satisfação das

informações e fotos pelos eventos em suas páginas oficiais. Nesse sentido 68

participantes (89,5%) consideram-se satisfeitos e apenas 8 (10,5%) estão insatisfeitos.

Tal resultado demonstra que os participantes consideram que as informações e fotos

apresentam-se de forma satisfatória.

A pesquisa também abordava se os participantes acreditavam que o Facebook

proporciona comunicação mais rápida e precisa que os demais meios de comunicação,

implicando em um maior alcance de público dos eventos culturais em Pelotas e qual

a justificativa de sua resposta. Nesse sentido, a maioria (72) disse que sim; apenas 3

disseram que não, desses, 2 alegaram que muitas pessoas não utilizam o Facebook

ou nem sempre acessam e 1 não justificou o motivo; e apenas 1 respondente não

manifestou opinião. Aqueles que disseram acreditar na precisão e agilidade no

Facebook, justificaram de várias formas, dentre as quais: a maioria das pessoas tem

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acesso ao Facebook; comunicação mais direta com o público alvo e alcance maior de

público pois os eventos já estão direcionados para determinado público; possibilidade

de ver quais eventos os amigos estão interessados, saber se comparecerão ou tem

interesse, para convidá-los; compartilhamento de informação ágil; possibilidade de

sanar dúvidas e obter retorno em alguns minutos; os convites geralmente chegam aos

usuários no mesmo instante no mesmo tempo em que são enviados, repleto de

informações e fotos; o Facebook tem grande alcance pois éum meio de comunicação

utilizado universalmente, entre outros.

Após, foi questionado se o Facebook auxilia na promoção e desenvolvimento

da atividade turística no município de Pelotas e por quais razões. Nesse sentido, 10

respondentes disseram que não. Dentre as justificativas, destacam-se: falta de

divulgação sobre a atividade turística em Pelotas; divulgação apenas da Fenadoce.

Foi citado também, que o turismo de Pelotas é voltado para o Pelotense pois os

museus não abrem no final de semana, lugares turísticos não possuem infraestrutura

e o Facebook não teria impulsionado mudança frente a essa situação. Já, os demais

respondentes acreditam que o Facebook promove o desenvolvimento da atividade

turística. Alguns apesar de acreditarem, não listaram motivos. Aqueles acreditam e

listaram motivos, frisaram que há mais informações sobre eventos disponíveis no

Facebook do que no site da Secretaria de Turismo da cidade; amigos de perfil que

trabalham em agências de viagens, costumam expor o seu trabalho mostrando

destinos turísticos de várias partes do mundo, incluindo Pelotas e lugares

desconhecidos; ajuda a fomentar eventos que já existem, como a Fenadoce; os

eventos costumam atingir um número grande de usuários, pois muitos não costumam

utilizar outros meios de comunicação; e, ainda, a maioria das pessoas podem acessar

o Facebook pelo celular a qualquer horário e lugar, multiplicando, dessa forma cada

vez mais informações, conhecimento sobre atividades, festas, eventos que ocorrem

na cidade, contribuindo para a popularização de eventos em geral entre moradores e

visitantes.

A penúltima pergunta questionava aos respondentes se estes acreditavam que

o Facebook proporciona aos usuários a oportunidade de feedback com os

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organizadores do evento e o porquê. Dos 76 respondentes, 60 alegaram que sim,

destacando aspectos como a existência de um espaço aberto para comentários tanto

de aspectos positivos quanto negativos e recebimento instantâneo de mensagens e

comentários sobre o evento; possibilidade contribuição de sugestões para os

próximos eventos e a facilidade em contatar os organizadores dos eventos. Os demais

respondentes disseram que não, assinalando, por exemplo, que geralmente os

organizadores não sabem lidar com as críticas e muitas vezes não são os

organizadores que sanam dúvidas sobre o evento, e sim, qualquer usuário da rede

social

Por fim, a última questão perguntava se havia alguma crítica ou sugestão para

o aprimoramento do Facebook. Nesse sentido, dos 76 participantes, 66 não

manifestaram críticas ou sugestões. Já os demais elencaram os seguintes pontos:

poder ter maior controle sobre o conteúdo da linha do tempo pois há publicações que

fogem do interesse do usuário; possibilidade de sistema de fóruns, em que as

discussões são alimentadas por dias ou meses e crítica quanto a quantidade de

publicações, causando o congestionamento do aplicativo.

Desse modo, a partir da análise de dados inferiu-se desde a primeira até a

última pregunta, que a rede social Facebook é frequentemente utilizada na promoção

de eventos culturais, sendo considerado pelos participantes da pesquisa mais ágil que

os demais meios de comunicação e capaz de promover a atividade turística no

município, bem como alavancar os eventos culturais existentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De maneira geral, os resultados mostraram que, segundo os participantes da

pesquisa o Facebook é um meio de comunicação muito utilizado e que tem

capacidade suficiente para dar continuidade na promoção de eventos culturais e da

atividade turística. Nota-se que as informações circulam de maneira ágil, aproximando

pessoas de extremidades diferentes, bem como incentiva que os organizadores de

eventos se utilizem dessa rede social com maior frequência.

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Além disso, os eventos culturais têm um papel importante nas cidades,

principalmente nas comunidades, pois esses eventos, enquanto produto turístico,

movimentam a economia local, reduzem a sazonalidade e contribuem para a

valorização e preservação do patrimônio histórico, cultural e natural. Cabe ressaltar

ainda, que o Facebook se consolida como uma rede social responsável por

estabelecer conexões das mais variadas formas, seja cultural, social ou

economicamente. Dessa forma, compete ao gestores e agentes da atividade turística

do município de Pelotas/RS encontrar maneiras para que esta se desenvolva e se

consolide a partir dessas possibilidades. Entidades culturais e profissionais das áreas

de comunicação e marketing, também, devem apostar mais na promoção dos seus

eventos através destas novas ferramentas de gestão de comunicação, como o

Facebook.

Nesse sentido, a produção científica sobre redes sociais e Turismo deve ter

continuidade pois apesar da existência de diversos estudos sobre a internet e as redes

sociais, observa-se que a produção está focada na utilização das redes sociais em

ações de marketing de outros produtos e serviços. De acordo com as pesquisas

realizadas para a construção desse trabalho, foram encontrados poucos estudos que

fizessem referência a utilização das redes sociais na promoção de eventos culturais e

da atividade turística. Ainda, apesar dos resultados deste trabalho serem

considerados positivos, a realização deste estudo apresentou algumas limitações

como a impossibilidade de generalizar as conclusões frente ao número reduzido de

respostas obtido.

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do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de

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http://www.pelotasturismo.com.br/atrativos-turisticos/pelotas-cultural/>. Acesso em:

06 out. 2016.

ANÁLISE DO COMPOSTO DE MARKETING NA PLATAFORMA ONLINE DE UMA

AGÊNCIA DE VIAGENS DE GRANDE PORTE

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357

VIOLIN, Fábio Luciano64; CUSTÓDIO, Vagner Sérgio65; PICHI, Thaís Marques66;

ROCCA, Thamyris Nilsen67

[email protected]

Resumo: O estudo retrata a análise do composto de Marketing em plataforma online

de uma agência de viagens de porte nacional. O trabalho foi desenvolvido a partir da

análise de dados disponíveis no site, nos quais foram analisados os preços, os

produtos, a praça e as promoções. Também realizou-se análise geral do conteúdo e

interface disponibilizado no website através da vinculação dos elementos do website

com as variáveis do composto de Marketing. Com a análise, observou-se que a

plataforma trabalha de modo robusto os quatro elementos que contemplam o

composto mercadológico, apresentando diferenciais competitivos em níveis refinados.

Palavras-chave: Marketing, Turismo, Composto de Marketing, Online Travel Agency.

1 INTRODUÇÃO

A realização das viagens, envolve, entre outros elementos, a prestação de

diversos serviços, como meios de hospedagem, deslocamento, alimentação entre

outros. Tais serviços podem ser oferecidos de forma direta no mercado e o

consumidor tem a oportunidade de aquisição de modo direto, ou seja, sem a

necessidade de intermediários. As agências de viagens são de grande importância no

intermédio de serviços turísticos, pois facilitam a compra dos serviços que compõe

64 Professor Assistente Doutor da UNESP - Campus de Rosana/SP. E-mail:[email protected] Lattes:http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4759436Z1 65 Professor Assistente Doutor da UNESP - Campus de Rosana/SP. E-mail:[email protected] Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4756234D8 66 Graduanda do curso de Turismo da UNESP - Campus de Rosana/SP. E-mail:[email protected] Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8131571T8 67 Graduanda do curso de Turismo da UNESP - Campus de Rosana/SP. E-mail:[email protected] Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8505646H5

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358

uma viagem, mas a forma de atuação dessas organizações tem se alterado a olhos

vistos nas últimas décadas.

Segundo a OMT (2001) as agências de viagem “são o canal mais clássico de

comercialização turística” e podem ser conceituadas como

Empresas de serviços e sua função principal é a intermediação, das quais

derivam outras funções que vão desde a informação e o assessoramento ao cliente,

até a organização de todo tipo de atividade relacionada ao setor de viagens e turismo”

(OMT, 2001, p.139).

Candioto (2012) aponta que “desde o seu surgimento as agências de turismo

são empresas que buscam aperfeiçoar a maneira de viajar, facilitando a aquisição e

a utilização dos serviços e equipamentos turísticos”. Contudo, com os avanços

tecnológicos, especialmente a Internet, os consumidores passam a dispensar alguns

intermediários quando compram serviços de viagens e turismo.

Contemporaneamente, a rapidez do serviço e economia de tempo tornaram-

se importantes referenciais competitivos, surgiram as agências de turismo online (OTA

- Online Travel Agency), responsáveis por comercializar e distribuir serviços online

através da internet (MARÍN, 2004). Nesse sentido, passa a fazer parte do cotidiano

dessas organizações a noção de busca por diferenciais competitivos. Swarbrooke e

Horner (2002), apontam que é preciso a compreensão do comportamento do

consumidor, pois é ele quem define a eficácia das atividades mercadológicas

realizadas pela empresa.

Entender cada vez mais e melhor as variáveis que influenciam a

competitividade no turismo, tornaram-se, a exemplo de outras áreas, questão crucial

para a manutenção ou crescimento das organizações em mercados cada vez mais

complexos e competitivos.

Por fim, destaca-se que o objetivo desse estudo foi o de analisar o composto

de marketing na plataforma online de uma agência de viagens de grande porte.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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359

O trabalho por sua natureza traz as caraterísticas descritivas na análise dos

dados valendo-se da observação de elementos presentes ou ausentes em website,

dentro do contexto da organização analisada.

Os elementos de análise foram os itens que compõem o composto de

Marketing, ou seja, analisou-se os elementos ligados ao preço, as características dos

produtos, os itens relacionados a logística e, por fim, a comunicação.

A organização analisada foi selecionada por ser de porte grande e

abrangência nacional figurando como a maior operadora de viagens da América

Latina, sendo ainda a primeira agência no país a possuir uma plataforma online para

venda de seus produtos de modo estruturado, entendendo assim, que a mesma

apresenta uma proposta de negócio robusta.

A coleta de dados ocorreu em Novembro de 2015, tendo uma segunda coleta

em Agosto de 2016. Por nãos e ter autorização da empresa analisada, optou-se por

não inserir seus dados e nem caracterizá-la.

Como modo de apresentar elementos mínimos, aponta-se que a empresa tem

mais de 40 anos de existência e se mostra consolida como importante operadora de

turismo, apresentando-se como a maior em seu ramo na América latina, tendo sido a

primeira a fretar aviões, a investir em diferentes canais de distribuição, a implantar

lojas em shoppings centers e hipermercados e também a oferecer facilidades de

parcelamentos para seus clientes e política de preços diferenciadas.

Destaca-se, então, que o estudo é um primeiro esforço para qualificar o

entendimento a respeito dos elementos pertinentes a análise.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Agências Online de Turismo – OTA

A rede mundial de comunicação foi criada na década de 1970, e a princípio era

utilizada apenas para fins militares, vinte anos depois, passou a ser distribuída para

toda a população (CANDIOTO, 2012). Após a popularização da rede internacional de

informações, a World Wibe Web, em 1994, as empresas começaram a disponibilizar

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informações de suas empresas na Internet através de sites e a partir daí realizar

transações eletrônicas de bens e serviços, é o chamado e-commerce.

No turismo, as vendas pela internet foram feitas inicialmente, por companhias

aéreas americanas. Com o passar do tempo surgiram as agências de turismo online,

que comercializam diversos produtos através da rede (MARÍN, 2002).

De acordo com Travel Click (2015) agências de viagens online, são sites que

oferecem compras de viagens e reservas para os consumidores. As agências virtuais

apareceram com a promessa de oferecer melhores serviços, mais flexíveis e

vantajosos para os consumidores, com maior rapidez, informações mais precisas e

menor preço.

A relação entre o marketing tradicional e o marketing digital

A atuação do Marketing vai além do conceito de vendas e propaganda. Estes

dois itens são somente uma parte de todo processo. Entre suas atividades, o

Marketing tem por objetivo trabalhar as características de uma oferta, sua forma de

disponibilização aos consumidores dentro de faixas de preço adequadas ao canal e

valendo-se de comunicação adequada. Para tanto, é necessário conhecer as

características e comportamentos de consumo de seus usuários, para que se possa

adequar a oferta de um modo que atenda às suas necessidades ou desejos

(WESTWOOD, 1996).

Ambrosio (2007) diz que o marketing é a arte que tem por objetivo satisfazer os

desejos e necessidades do mercado consumidor, com o intuito de gerar resultados.

Com o passar do tempo, os avanços tecnológicos acelerados, novos e mais

fluídos meios de difusão de informações aliados a um cenário mercadológico volátil,

gerou grandes impactos na forma das organizações se relacionarem com seu(s)

mercado(s) de interesse (KOTLER, 2005).

Indubitavelmente, um dos maiores influenciadores desse processo, foi o

advento da internet, a qual alterou de modo substancial a maneira das organizações

relacionarem-se com seus consumidores, especialmente no turismo. Uma das áreas

que melhor exemplificam isso, é o meio de se chegar até as informações, pois essa é

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uma das essências do marketing, e com o crescimento da internet o fluxo de

informações se tornou mais intenso, em decorrência de mudanças no modo de vida

da atual sociedade e automaticamente no modo em que o mercado atua.

Com as evoluções tecnológicas,

[...] a Internet criou uma revolução nos meios de comunicação global; está alterando dramaticamente as possibilidades de se transacionar comercialmente em todo o mundo. A Web está cada dia se consolidando como canal mais eficiente de interligação entre empresas e consumidores, sejam eles indivíduos ou outras organizações. (DINIZ, 1999, p. 83)

Kotler (2000) acredita que o marketing digital possui vantagens em relação ao

marketing tradicional, pois é possível tanto para as grandes empresas quanto para as

menores fazerem uso da rede por um custo justo.

Além disso, seu espaço de promoção não é limitado, já que a facilidade de

encontrar informações permite um fácil acesso por parte do cliente e uma recuperação

eficiente de informações sem que haja fronteiras, o mundo inteiro pode estar a um

click do seu público.

Para demonstrar a eficiência da internet no quesito fluxo de informações, Souza

et al. (2012) destaca que as empresas usam as redes virtuais como um meio de

transmitir mensagens publicitarias de forma espontânea, já que qualquer informação

lançada no meio eletrônico tem sua propagação de forma natural e rápida, sendo

assim um meio muito eficiente de ser aplicado em estratégias organizacionais.

E com toda a revolução tecnológica, o marketing sofreu mudanças notáveis,

ainda no fim do século XX, e nesta época era possível perceber que empresas novas

que surgiam em paralelo a evolução digital que tentavam aplicar conceitos tradicionais

de marketing sofriam dificuldades em faze-lo (LAS CASAS, 2001).

Em um momento anterior, em que a expansão da internet, ainda estavam em

curso chegando a um número substancialmente inferior ao da atualidade, a

intensidade de ações mercadológicas era relativamente baixa. Houve um tempo em

que o processo de planejamento era mais lento, permitindo uma margem entre o

pensar e o realizar nas organizações de modo consideravelmente menos complexo

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do que a atualidade. Contemporaneamente, o processamento de informações tende

a ser mais rápido, estabelecendo um senso de ação imediato, mas com planeamento

estruturada, para não se incorrer em erro retumbante (KOTLER, 2005).

No que se diz respeito ao acesso à informação por parte do consumidor, Kotler

e Armstrong (2000) destacam que o processo de decisão de compra surge após um

longo tempo de busca por informações. Esse processo é formado por cinco estágios:

percepção de necessidade ou desejo, a busca de informação sobre o produto, análise

de opções, a tomada de decisão em si e a satisfação no período pós- compra.

E como as estratégias de abordagem ao consumidor, tendem a atender essa

nova busca por informações de modo rápido, a internet surgiu como um local onde

isso pode ser feito com maior eficiência no que se diz respeito à interação entre

mercado e consumidor final, por poder ser utilizada como meio de pesquisa, para lazer

e para uso profissional (PEPPERS, 1994).

Diante da grande utilização da internet pela sociedade, é possível conectar o

mundo em um único local, o que decorreu no desenvolvimento de um ambiente aberto

de comunicação que acabou dando a oportunidade ao consumidor em escolher o local

de compra, de qual empresa comprar, a data em que gostaria de receber o produto,

e também basear a sua escolha de acordo com o valor que estaria disposto a pagar.

E foi assim que surgiu um novo local de comercialização, o e-commerce (MAYA;

OTERO, 2002).

O e-commerce que em tradução livre, pode ser dito como comércio eletrônico

é qualquer tipo de transação comercial de compra e venda realizada em meio

eletrônico ou com o auxílio do mesmo (NAKAMURA, 2001). Em relação ao comércio

eletrônico, destaca-se que o mesmo é

[...] a realização de toda a cadeia de valor dos processos de negócio num ambiente eletrônico, por meio da aplicação intensa das tecnologias de comunicação e de informação, atendendo aos objetivos de negócio. Os processos podem ser realizados de forma completa ou parcial, incluindo as transações negócio-a-negócio, negócio-a-consumidor e intra - organizacional, numa infraestrutura predominantemente pública de fácil e livre acesso e baixo custo (ALBERTIN, 2002, p. 89).

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363

A rede mundial de comunicação, ao mesmo tempo em que traz possibilidades

quase infindáveis de informações, também traz a necessidade de pensamento

estratégico mais elaborado, pois, o concorrente direto que antes estava na mesma

cidade ou região agora encontra-se em virtualmente qualquer parte do mundo.

Os 4Ps aplicados as agências de viagens

Uma das formas de conhecer o mercado e seus consumidores é utilizar o

composto de marketing. O composto foi formulado por Mccarthy em seu livro Basic

Marketing (1960) e entende-se como um conjunto de ferramentas que a empresa usa

para atingir seus objetivos no mercado alvo, o mesmo também é formado por um

conjunto de variáveis que influenciam as pessoas em relação à compra. As agências

e as operadoras usam o composto ou mix de marketing para o lançamento de um

novo produto, para relançar um produto antigo, para melhorar as vendas, atrair novos

clientes, saber onde e tudo mais que se relaciona com o mercado, o produto e o

cliente.

McCarthy (2013) classificou quatro tipos de ferramentas, os quais denominou

os quatro Ps do marketing: produto, preço, ponto de venda e promoção. Esses fatores

são inter-relacionados e decisões em uma área afetam a outra.

Na variável produto são analisados aspectos como formulação, características,

produção, qualidade, marca, design entre outros. O mesmo pode ser composto de

partes tangíveis e intangíveis. Kotler (1998, p. 28) define produto como “algo que pode

ser oferecido para satisfazer uma necessidade ou desejo”. O marketing influencia os

consumidores em relação aos seus desejos, o que inclui a escolha do destino de sua

viagem.

Já o preço, afeta diretamente o volume de venda do produto. Quanto maior o

benefício percebido do produto para a satisfação de sua necessidade, maior o preço

que o consumidor estará disposto a pagar para ter acesso a ele.

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O ponto de venda ou canal de distribuição é o meio pelo qual o produto chega

até o consumidor, sendo assim considerada um intermediário. Aponta-se que:

Quanto maior a quantidade de canais, maior a cobertura de mercado da empresa e

mais altos os índices de crescimento de suas vendas. Qualquer que seja a quantidade

de canais utilizados pela empresa, é preciso integra-los para construir um sistema de

fornecimento eficiente [...] (KOTLER, 2003, p.52).

Nem sempre a distribuição é direta do produtor para o consumidor. Este é o

caso das operadoras, que se utilizam das agências para comercializar seus produtos.

As tarefas de promoção visam promover o consumo dos serviços e inclui

propaganda, publicidade, relações públicas e refere-se aos diferentes métodos de

promoção do produto, marca ou empresa. Enfatiza-se que:

A promoção de vendas consiste em um conjunto diversificado de ferramentas

de incentivo, em sua maioria a curto prazo, que visa estimular a compra mais rápida

de produtos/serviços específicos por consumidores. (KOTLER, 2012, p. 345)

A promoção é fundamental para as empresas atraírem a atenção do

consumidor alvo. Ela é a relação estabelecida entre o comprador e o consumidor, a

fim de concretizar a compra e satisfazer as necessidades tanto do cliente quanto da

empresa.

Além dos 4ps abordaremos também três critérios para avaliação do website da

empresa, os quais são: conteúdo, qualidade do conteúdo e design que se aplicam

diretamente nas negociações do setor do turismo.

Os conteúdos dos websites disponibilizam um grande número de informações

e serviços sobre a empresa e diversas informações, com foco nas necessidades dos

usuários/consumidores.

A qualidade do conteúdo dos websites pode ser mensurada de acordo com a

atualização, adequação, facilidade na utilização, compreensão, inovação sendo os

itens mais importantes quando se fala em qualidade de conteúdo de um website de

turismo.

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O design representa para um website, a fluidez das informações e o conforto

visual, podendo ser considerado como um dos itens fundamentais para a experiência

do usuário.

4 RESULTADOS

O primeiro P analisado do website foi o produto, estudou-se a página inicial do

site, bem como suas sub categorias. Logo na página inicial, aparecem os pacotes

mais procurados nacionais e internacionais, sendo que os nacionais aparecem

apenas destinos de sol e praia, como por exemplo, Rio de Janeiro, Maceió, Fortaleza

e Camboriú. Já os internacionais aparecem destinos com segmentos variados, como,

Punta Cana, Madri, Buenos Aires e Orlando. Apresenta-se também na página inicial,

sub itens de produtos como, passagens aéreas, hotéis, resorts, cruzeiros, circuitos,

intercâmbios, ingressos, vale viagens, destinos e listas de casamento. No sub item

pacotes, os produtos ofertados em promoção aparecem logo no início da página,

contendo valores e formas de pagamento, facilitando a escolha e interesse do cliente.

Figura 1: Produtos em promoção que aparecem na página inicial da organização analisada

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366

Fonte: site da agência online analisada

Nos sub itens passagens aéreas, hotéis e resorts aparecem os produtos que

estão em promoção e em destaque, no qual o cliente seleciona conforme sua

preferência e quando selecionado, apresenta maiores detalhamentos sobre o produto

escolhido.

No sub item cruzeiros, o mesmo apresenta a busca pelas companhias, navios,

mês de embarque e porto de embarque sendo que em sua página inicial são

apresentados alguns cruzeiros e maiores detalhamentos, no qual não há possibilidade

de compra online e nem média de preços, no qual só pode ser adquiro pelo telefone

ou por ida a uma agência física.

No sub item circuitos, no qual o mesmo refere-se à uma viagem por vários

países em um único pacote ou vários atrativos de um mesmo país acompanhado de

um guia, é abordado no site todas as cidades, o que está incluso no pacote contudo

não há valores dos produtos oferecidos, sendo assim, o cliente deve ligar em uma

agência ou procurar a mesma para maiores informações.

O sub item intercâmbio aborda apenas as cidades que são oferecidos os

pacotes, divididos em país, idioma, não abordando preços, fazendo com que o cliente

também tenha que entrar em contato com a agência por telefone ou pela sua loja

física.

Há o sub item ingressos, no qual é possível ver parques temáticos, passeios,

shows e eventos esportivos de todo o mundo e os tipos de ingresso, sendo que o

mesmo só pode ser comprado via telefone ou loja física.

No sub item vale presentes, o cliente pode escolher um valor de no mínimo

200 reais para presentear alguém, no qual pode realizar toda a compra pela internet.

O sub item destinos, contem para o cliente informações de todos os destinos

que a empresa opera, sendo possível maiores informações sobre o mesmo, como

fotos, pontos turísticos e pacotes que são vendidos pela empresa.

A empresa tem um diferencial no que se refere a produtos pois oferece além

de pacotes e serviços, uma lista de casamento, na qual, os noivos selecionam o

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destino que pretendem passar a lua de mel e os convidados adquirem cotas para os

recém casados utilizarem no pagamento da viagem.

Nota-se nesse primeiro P analisado que a empresa possui diversos tipos de

serviços e produtos, no qual o cliente pode elaborar toda a sua viagem, desde a

compra de pacotes fechados até mesmo personalizar sua viagem, no qual monta toda

a viagem ao seu gosto. A mesma também contém um diferencial das demais, pois

oferece uma lista de casamento, fazendo com que fique mais fácil os recém casados

usufruírem de sua lua de mel, já que cada convidado pode oferecer uma cota para o

pagamento da mesma.

O segundo P, refere-se ao preço, no qual feito a análise observou-se que há

acessibilidade de todos os públicos, no qual são oferecidos desde pacotes parcelados

em 10 vezes de 60 reais como pacotes exclusivos, os quais tendem ao preço ser mais

elevado. Constata-se que pacotes diferenciados não são expostos os preços no site,

fazendo com que o cliente tenha que entrar em contato com a empresa via telefone

ou loja física. Em relação ao pagamento, observou-se que é possível, nos pacotes

com preços mais acessíveis, realizar toda a compra pelo website, inclusive assinar o

termo de compromisso, facilitando toda a transação e assim, permitindo comodidade

ao cliente.

O terceiro P, é o ponto de venda ou canal de distribuição. No caso da

operadora, como o canal de venda estudado é via internet por seu website, a mesma

contempla um grande número de consumidores, uma vez que oferece todos os seus

serviços no website, fazendo com que o mesmo conheça e pesquise seus produtos,

porém, não são todos os serviços oferecidos que estão disponíveis para compra

imediata, os personalizados estão disponíveis pela compra apenas pelo telefone ou

em uma agência mais próxima. Pela mesma possuir um canal de venda virtual, a

empresa passa a ter uma visibilidade maior já que é possível o acesso de qualquer

parte do mundo, contudo o site só está disponível em português, não possuindo outra

plataforma de idiomas.

O último P, refere-se a promoção, no qual percebe que os websites contem

plataforma em diversas redes sociais, sendo publicada fotos de destinos, promoções

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e experiências de seus clientes em suas viagens. Constata-se que a empresa tem

forte divulgação nas redes sociais, uma vez que, faz divulgação de seus destinos,

deixando seus clientes com a vontade de usufruir de novas experiências.

No que se diz respeito ao conteúdo disponibilizado no website, pode-se dizer

que o mesmo é completo, abordando todos os serviços que a empresa oferece e

também auxilia na escolha do melhor destino de acordo com os desejos de seu cliente.

Figura 2: Interface da página inicial da empresa analisada

Fonte: site da agência online analisada

Chama-se a atenção para o ícone na lateral inferior direita. Ele representa

uma evolução entre a tomada de informações do ano de 2015 e o de 2016.

Anteriormente, esse tipo de serviço não estava disponível. Infere-se que tal postura

representa um esforço para inserir dentro do contexto segmentos ou nichos antes não

almejados, seja qual for o objetivo, indubitavelmente tal cenário e forma de oferta

apontam para a busca estratégica de entendimento e inserção de consumidores ao

longo de toda cadeia de oferta e uso.

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Por fim, quando analisado o design do website, o mesmo possui uma interface

neutra, com as cores da empresa, com uma boa apresentação visual. Com relação a

facilidade na utilização, é de fácil acesso, já que todos os produtos estão separados

em sub categorias e a finalização da compra não demanda grande número de tempo,

pois logado com seu usuário cadastrado anteriormente a empresa já possui todas as

informações. Relacionado a acessibilidade do site, a mesma é inexistente, pois não

possui acesso para pessoas com deficiência visual e o mesmo não adota padrões

internacionais de acessibilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A distribuição de produtos/serviços na indústria do turismo por meio da

Internet está sofrendo uma revolução, uma vez que o produtor pode entregar o produto

diretamente ao consumidor sem necessidade da intermediação, agilizando desta

maneira todo o processo de entrega do produto, com diminuição dos custos,

beneficiando o consumidor.

Com base na análise da plataforma online da agência, observou-se que a

mesma compreende de forma satisfatória o Composto Mix de Marketing, uma vez que,

o site apresenta todos os produtos disponíveis para o cliente, com preços condizentes

com seu público alvo.

Contudo, não são todos os pacotes que são disponibilizados os preços no

site, pacotes com maior exclusividade, que possivelmente possuem um preço mais

elevado, a compra só pode ser realizada via loja física.

Esses produtos estão disponíveis desde a loja física como na plataforma

online, sendo que a empresa investe na propaganda de seu produto, já que está

presente na rede televisiva e em mídias sociais, atingindo seu público alvo.

A qualidade do conteúdo é relevante, uma vez que a página é atualizada

semanalmente, sendo de fácil acesso, pois todos os serviços estão separados em sub

itens, facilitando na escolha e na compra. Contudo, quando analisado, o site não

possui outro idioma além do português, fazendo com que um estrangeiro que não

possua o domínio da língua não consiga usufruir do mesmo.

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Observou-se como diferencial em relação as outras agências online, que a

empresa analisada, possui uma lista de casamento, na qual a cota adquirida pelos

convidados é revertida em um destino para a lua de mel.

Visto que a plataforma online da organização, foi pioneira no país, a mesma

já está consolidada e contempla todos os requisitos necessários para o sucesso no

mercado, uma vez que o mesmo tende a ficar cada vez mais competitivo e são os

pequenos diferenciais que irão destaca-la no ramo.

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372

GT 5 – TURISMO, TERRITÓRIO, ÁREAS NATURAIS E SUSTENTABILIDADES

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373

AS POTENCIALIDADES TURÍSTICAS E DE INFRAESTRUTURA PARA O

ECOTURISMO NA VILA DA CAPILHA, RIO GRANDE/RS: A PERCEPÇÃO DOS

MORADORES

BARROS, Matheus68; PEREIRA, Gisele69

[email protected]

Resumo: Este estudo objetivou realizar um diagnóstico das potencialidades turísticas

e de infraestrutura básica e turística existente na Vila da Capilha (Rio Grande/RS),

além de conhecer a percepção de moradores quanto ao ecoturismo no local. A

escolha da Vila da Capilha, para a realização do trabalho, foi devido ao local estar

sendo bastante difundido pela mídia, por ser uma comunidade pequena e possuir

abundante natureza e possível potencial turístico. Para tanto, foi realizada uma

pesquisa descritiva de tipo levantamento, através de entrevistas com moradores da

Vila, e também observação direta intensiva para a obtenção dos dados necessários.

Percebeu-se grande potencialidade para o ecoturismo na localidade, além da

motivação da comunidade local para que isso se concretize.

68Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). [email protected]

69 Bacharel em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Especialista em Gestão de

Marketing pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Mestre em Turismo pela Universidade de

Caxias do Sul (UCS). Doutora em Lazer, Hospitalidade e Gestão do Turismo pela Oxford Brookes

University (Inglaterra). Docente no Departamento de Turismo da Faculdade de Administração e Turismo

da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Rua Gomes Carneiro nº 1 - 4º andar - Pelotas, RS, CEP: 96010-610

http://lattes.cnpq.br/2417134708175156

E-mail: [email protected]

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Palavras-chave: potencialidades turísticas; ecoturismo; infraestrutura básica e

turística; Vila da Capilha.

1 INTRODUÇÃO

O planejamento da atividade turística é um dos fatores primordiais para iniciar

o processo de desenvolvimento de uma região, além de contribuir para a estruturação

do território, como gerador de crescente produtividade da atividade econômica,

enaltecendo os olhares tanto de moradores quanto de visitantes. No caso de tratar-se

do planejamento turístico em áreas naturais, envolve também a preservação

ambiental, auxiliando no cuidado do seu território (OLIVEIRA, 2004).

Caracteriza-se o turismo como um fenômeno social, ambiental, econômico e

cultural que abrange o deslocamento de pessoas de seu habitat natural para outro.

Beni (2001, p.36) define Turismo como: [...] a soma dos fenômenos e das relações

resultantes da viagem e da permanência não-residente, na medida em que não leva

a residência permanente e não está relacionada a nenhuma atividade remuneratória.

(BENI, 2001, p. 36).

O turismo abrange uma grande diversidade de tipologias. Segundo Barros

(2013), quando voltado para o meio ambiente e atribuído aos aspectos

preservacionistas, denomina-se ecoturismo, o qual tende a aprimorar a educação

ambiental e engrandecer o conhecimento tanto dos visitantes quanto da comunidade

receptora, contribuindo para a compreensão de uma identidade ambiental e a

preservação desta herança.

Contudo, para identificar se é possível desenvolver o turismo, necessita-se de

estudos sobre a potencialidade turística do local em questão. Esse potencial turístico

se distingue em verificar e estabelecer fatores atuantes de forma positiva e negativa

que contribuem com a verdadeira caracterização do espaço em questão. Tal potencial

pode ser caracterizado pelo aproveitamento e utilização de forma engenhosa da

estrutura atribuída de forma conciliadora ao patrimônio local (ALMEIDA, 2006).

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Quando voltado para a natureza, o potencial turístico, estipulado como patrimônio

natural, é caracterizado por seu ambiente, como praias e toda a diversificação da flora

e fauna. Esses fatores que particularizam o território e salientam uma visão diferente

de maneira que o objetivo seja o uso destes potenciais para o turismo, utilizando-se

da ideia de preservação da cultura e do meio ambiente (IPHAN, 2004).

Precisa-se também atentar tanto à infraestrutura básica, que é caracterizada

pelos serviços de água, eletricidade, saneamento, segurança, saúde, educação,

quanto também à infraestrutura turística, a qual refere-se aos meios de hospedagem,

aos restaurantes, às agências de turismo, ao comércio turístico, para assim sanar o

atendimento ao residente e ao turista (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010).

Diante do que foi exposto, o presente estudo tem por objetivos: I) realizar um

diagnóstico das potencialidades turísticas e de infraestrutura básica e turística

existente na Vila da Capilha; e II) conhecer a percepção de moradores quanto ao

ecoturismo na localidade.

A Vila da Capilha está situada no território do Taim, onde são encontrados

banhados, fauna e flora diversificadas. Nele, está localizada a Estação Ecológica do

Taim, que proporciona a preservação e estudo deste habitat. A Vila da Capilha por

ficar a poucos quilômetros desta Estação tem distintos traços ambientais, rica fauna e

flora, uma praia com área total de 10km², onde são avistados em média 60 tipos de

aves, possuindo também em sua encosta falésias (espécie de parede gerada através

do acúmulo de areia fina com o passar do tempo) (DIAS, 2006). Outras informações

pertinentes sobre a Vila são fornecidas na seção 3 (Metodologia) do presente trabalho.

O presente estudo está estruturado da seguinte forma: a seção 1 apresenta a

introdução do trabalho; a seção 2 aborda o referencial teórico utilizado, contemplando

o ecoturismo e o turismo sustentável; a seção 3 detalha a metodologia empregada,

em termos de métodos de coleta e de análise dos dados; a seção 4 apresenta e

discute os resultados da pesquisa e, por fim, a seção 5 trata das considerações finais

do trabalho.

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2 ECOTURISMO E TURISMO SUSTENTÁVEL

Conforme o Ministério do Turismo (2007), os segmentos turísticos podem ser

estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta e também das

características e variáveis da demanda. No que se refere à oferta, o Brasil apresenta

recursos ímpares que, aliados à criatividade do povo brasileiro, possibilitam o

desenvolvimento de diferentes experiências que definem tipos de turismo. A

transformação de recursos em atrativos pode constituir roteiros e produtos turísticos.

Trabalhando de forma a correlacionar meio ambiente ao turismo, destaca-se o

ecoturismo, especificado como o turismo que utiliza recursos da natureza,

promovendo o incentivo à conservação e possibilitando a concepção de uma

consciência ambiental por meio da interação e interpretação do ambiente,

caracterizado em realizar atividades que oportunizam a vivência e conhecimento

detalhado da natureza e sua proteção (CUNHA, 2006). Segundo Cunha (2006), é um

tipo de turismo mais seletivo baseado em princípios sustentáveis, tal turismo ocorre

sobre a ótica de um tripé: interpretação, conservação e sustentabilidade.

Em virtude disso, percebe-se que o ecoturismo está diretamente relacionado

com o conceito de turismo sustentável, que considera as necessidades dos turistas e

das regiões receptoras, protegendo e promovendo a criação de oportunidades para o

futuro, além de contemplar a gestão dos recursos econômicos e sociais e

necessidades estéticas, mantendo a integridade cultural, os processos ecológicos

essenciais, a diversidade biológica e os sistemas de suporte à vida (MINISTÉRIO DO

TURISMO, 2007).

O ecoturismo, de acordo com Pires (1998), expressa um conjunto variado de

atividades e atitudes no ramo de viagens que se posicionam na interface turismo e

ambiente, este último compreendendo especialmente ambientes naturais pouco

alterados juntamente com as culturas autóctones presentes em seu entorno.

Pires (1998, p.48) destaca que os princípios do ecoturismo são distintos em

cinco quesitos:

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1) Viagens responsáveis para áreas de valor natural, com finalidade de maior entendimento das questões ambientais; 2) Apoio à conservação ambiental, com uso sustentável dos recursos; 3) Interação da população local para obtenção de benefícios econômicos do turismo de maneira racional; 4) Diminuição dos possíveis impactos físicos e culturais que possam ser gerado; 5) Educação Ambiental com a intenção de formação e aprofundamento da consciência ecológica e respeito aos valores culturais, tanto para a comunidade anfitriã, quanto para os turistas. (PIRES, 1998, p.48).

Conforme Rodrigues (2003), o princípio básico do ecoturismo consiste em

oferta de atividades para pequenos grupos, empreendido por pequenas empresas.

Este, muitas vezes, é extrapolado por empreendimentos e produtos, os quais fogem

ao ideário do verdadeiro ecoturismo.

Boo (1990 apud SCHIAVETTI; MORAES, 1997) afirma que dois princípios

básicos embasam o ecoturismo: a proteção dos recursos naturais das áreas visitadas,

e o envolvimento e beneficiamento das populações vizinhas às áreas envolvidas com

o ecoturismo.

Adicionando à afirmação, Silva e Santos (2010) concluem que algumas

comunidades veem no ecoturismo um agente que possibilita o desenvolvimento,

explorando, para isso, os seus recursos naturais, como forma de geração de renda e

aprimoramento econômico para os moradores. Os autores também argumentam que

é imprescindível uma maior atenção aos espaços naturais carentes de preservação,

e ao lidar-se com estes espaços, deve-se atentar-se à possibilidade de uma

exploração predatória que possa acabar por destruir o equilíbrio local. Assim sendo,

em maior ou menor grau, toda atividade ecoturística tem o poder de causar

modificações no âmbito onde é desenvolvida, necessitando, portanto, de um

gerenciamento qualificado junto da fiscalização e manutenção dos ecossistemas que

assim contribuirão com a disseminação de práticas educativas e sociais.

Conforme Pires (1998), há muitos vieses sobre o ecoturismo. Para ele, os

ambientalistas concordam que o ecoturismo tem preocupação com os impactos

socioambientais e com a sustentabilidade dos recursos utilizados, enquanto prioriza a

geração de benefícios providos de atividades para as comunidades locais, prezando

o seu bem-estar.

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Para Costa (2002), o ecoturismo, antes de qualquer coisa, encerra em si um

posicionamento de conservação ambiental e cultural das pessoas que o praticam.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (1999), o ecoturismo se difere do

turismo convencional, porque considera que o ambiente não deve ser transformado a

fim de atender às expectativas dos visitantes, ao contrário, eles é que devem estar

preparados para experienciar a visitação.

O ecoturismo deve ser trabalhado com uma forma do turismo sustentável que,

segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2003), deve ser aquele que

salvaguarda o ambiente e os recursos naturais, garantindo o crescimento econômico

da atividade, ou seja, capaz de satisfazer as necessidades das presentes e futuras

gerações, conforme explanado anteriormente.

O desenvolvimento do turismo de forma sustentável depende de uma

economia viável que seja socialmente justa e ambientalmente responsável, atendendo

as necessidades econômicas, sociais e ecológicas da sociedade. A OMT destaca no

artigo 3º do Código de Ética Mundial para o Turismo que:

Se concederá a infra-estrutura e se programarão as atividades turísticas de forma que se proteja o patrimônio natural que constituem os ecossistemas e a diversidade biológica, e que se preservem as espécies em perigo da fauna e da flora silvestre. [...] O turismo de natureza e o ecoturismo se reconhecem como formas de turismo particularmente enriquecedoras e valorizadoras, sempre que respeitem o patrimônio natural e a população local e se ajustem à capacidade de carga dos lugares turísticos. (CÓDIGO DE ÉTICA MUNDIAL PARA O TURISMO, 1999).

De acordo com Ramos et al. (2013), o turismo sustentável deve acima de tudo

buscar a compatibilização entre os anseios dos turistas e os das regiões receptoras,

garantindo não somente a proteção do meio ambiente, mas também estimulando o

desenvolvimento da atividade em consonância com a sociedade local envolvida.

3 METODOLOGIA

O presente estudo, de corte qualitativo, foi realizado através de uma pesquisa

descritiva de tipo levantamento, o qual tem o objetivo de descrever as características

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de determinada população ou fenômeno, utilizando de técnicas que investigam as

opiniões, atitudes e crenças da população em foco (GIL, 2002).

A Vila da Capilha, local onde foi realizado o estudo, está localizada no município

de Rio Grande – RS, a 60 km do centro da cidade. Situada no Km 471 na estrada de

Rio Grande para Santa Vitória do Palmar – RS, a pequena comunidade tem por volta

de 1,5 km² de área, com um restaurante, alguns bares e residências, em sua maioria

simples. Há dois campings em funcionamento e uma pousada em fase de construção.

A escolha da Vila da Capilha, para a realização do trabalho, foi por ser um local

que vem sendo bastante difundido pela mídia como atrativo turístico, ser uma

comunidade pequena, com abundante natureza e possível potencial turístico.

A Vila possui aproximadamente 800 moradores, conforme dados do site da

Prefeitura Municipal do Rio Grande (2013), tendo como principal fonte de renda a

pesca e a agricultura. Ela está às margens da Lagoa Mirim, a qual é de água doce,

com características de ser límpida e calma.

Um dos métodos de coleta de dados utilizado para a realização da pesquisa foi

a entrevista semi-estruturada junto aos moradores e trabalhadores da Vila da Capilha.

Além da entrevista, a fim de proporcionar um melhor entendimento da Vila da Capilha,

foi utilizado também outro método de coleta de dados, a observação direta intensiva.

A observação direta foi realizada nos mês de maio de 2015 na Vila da Capilha

e em sua praia. Também no mês de maio de 2015 foram realizadas cinco entrevistas

semiestruturadas junto à comunidade. Foram escolhidos alguns representantes da

economia local (proprietário do camping, proprietário do bar e pescador), de

moradores não comerciantes e da Brigada Militar. Os tópicos que nortearam tanto a

observação direta quanto a entrevista semiestruturada foram os seguintes:

potencialidades turísticas, ecoturismo e infraestrutura básica e turística.

No que tange aos métodos de análise dos dados, as entrevistas foram

gravadas e transcritas. Após a transcrição, as mesmas foram codificadas.

Posteriormente os dados coletados foram analisados mediante a técnica de análise

de conteúdo. Os dados coletados a partir da observação direta também foram

codificados e analisados conforme a técnica de análise de conteúdo.

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A metodologia foi aplicada de maneira a correlacionar as informações coletadas

através das entrevistas, com o observado na Vila, através da observação direta. Com

a análise dos dados pretendeu-se ter a compreensão de um possível potencial para o

ecoturismo. Tal processo aconteceu em três momentos, os quais se discriminam em:

I – Observar toda a infraestrutura básica e turística da Vila e de sua praia; II – identificar

a percepção de uma parcela da comunidade, utilizando entrevistas, em relação ao

meio em que vivem e aos cuidados prestados ao meio ambiente, e à empregabilidade

do ecoturismo como fonte de renda; III – promover discussão a partir da triangulação

dos dados coletados com as entrevistas e com a observação direta, com o intuito de

identificar uma possível potencialidade turística para o ecoturismo e a percepção dos

moradores quanto a isto.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A presente seção apresenta e discute os resultados da pesquisa. As entrevistas

foram realizadas com moradores e trabalhadores da Vila da Capilha, esses,

classificados de acordo com seus papéis dentro desta comunidade, como: morador,

proprietário do camping, proprietário do bar, agente de segurança e pescador, os

quais são citados no decorrer desta discussão. Para Lickorish e Jenkins (2000) é

imprescindível conhecer a opinião da população local, pois eles fazem parte da

herança cultural e, portanto, deve-se saber sua percepção quanto ao turismo e suas

atividades, para que trabalhado com a integração da população tenha maior

abrangência e melhores resultados positivos.

No que tange às vias de acesso à Vila da Capilha, a partir da realização

da observação direta, pôde-se constatar a existência de uma estrada de terra, com

buracos e pedras que fornecem dificuldade no acesso, mas sem o limitar. O morador

entrevistado comenta “que é meio complicado, uma estrada boa, um saibro, mas tá

muito bom assim, a gente também não pode querer demais”, morador esse que

fornece serviços de limpeza na Vila para a Prefeitura do Rio Grande. Outro

respondente, um pescador, também relata que seria bom arrumar as vias, pois com a

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passagem de veículos há muita areia e pó e as casas que se situam ali perto são

afetadas por esses, trazendo prejuízos no que diz respeito à saúde dos moradores, e

à integridade de seus bens materiais, devido ao acúmulo de sujeira diariamente.

Para o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER, 1981),

atual Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), deve haver

manutenção constante das vias não pavimentadas, com o intuito de conservar a

superfície de rolamento, minimizar as irregularidades, deixá-la firme e livre da perda

excessiva de material solto, também é imprescindível manter o declive da estrada

apropriado, para que ocorra devidamente o escoamento superficial da água das

chuvas. O tráfego deve ser controlado quanto à velocidade permitida, o ideal para vias

rurais não pavimentadas é de 40 a 50 km/h para que assim não haja degradação da

via e levante poeira. (CAETANO, 2014).

Segundos dados da observação direta, foi possível constatar que a maioria das

residências possui caixas d'água aparentes, fato que com a realização das entrevistas

foi esclarecido. Conforme o morador entrevistado, as mesmas estão ali para

armazenar a água que abastece as casas, a qual é provinda de poços artesianos.

Verificou-se a precariedade do esgoto da Vila, pois é improvisado em fossas sépticas.

Por meio da entrevista com o agente de segurança pôde-se constatar que cada

morador é responsável por abrir o poço artesiano e construir a fossa em seu terreno.

O agente de segurança também relata que a disposição da fossa e poço é próxima.

De acordo com Garcêz (2007), a água subterrânea que é coletada através de

poços artesianos, quando feitos pelos próprios moradores, podem ter como

consequência a contaminação pelo esgoto. Os dejetos contaminam o solo e atingem

o lençol freático. Na grande maioria das vezes as fossas são construídas próximas

aos poços artesianos, mas nem sempre são bem impermeabilizadas, nos períodos de

chuva, o nível do lençol freático aumenta, ocorrendo a saturação do solo. Neste

momento quando o esgoto retorna se mistura com a água do poço. O esgoto da fossa,

por não possuir um tratamento adequado, traz consigo milhares de micro-organismos

que oferecem danos à saúde. Eles contaminam a água neste processo de mistura.

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Nesse sentido, o proprietário do camping comentou que a Prefeitura do Rio

Grande tem o intuito de promover o saneamento básico, porém, ele não é a favor

desta proposta, pois com isso haveria mais uma taxa a ser paga. Além do proprietário

do camping, o proprietário do bar e o pescador, entrevistados, concordam, que seria

um “prejuízo” pagar taxas de saneamento, já que para eles não há problemas na

maneira que funcionam o abastecimento de água e o despejo do esgoto na Vila. O

proprietário do camping complementa: “[...] e não adianta mesmo a Prefeitura fazer

uma coisa, tu vai ter ainda que paga água aqui, se criemo aqui, quanta gente tá

morrendo de velho aí, nunca teve problema”. A única pessoa entrevistada que é a

favor de um saneamento qualificado é o agente de segurança, alegando que a água

é de má qualidade e o sistema de fossa, arcaico. Sua opinião vai ao encontro da Lei

nº 11.445, de 5 de Janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o

saneamento básico. Em seu artigo 3º, destacam-se relevantes o abastecimento de

água potável e o esgotamento sanitário:

a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição; b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente; [...]. (BRASIL, 2007, s.p.).

Em pesquisa realizada no site da Prefeitura Municipal do Rio Grande (2013),

pôde-se verificar que através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do município,

em outubro de 2013, foi elaborado o Plano Municipal de Saneamento Básico com foco

na concepção de programas, projetos e ações em saneamento. Nele está exposto

que no prazo de um a cinco anos será realizado cadastro dos poços de captação

individual de água na Vila da Capilha e, posteriormente, implantado o programa

“Poços Monitorados” que visa garantir a qualidade da água para a população do

pequeno centro rural, por este local não possuir sistema público de abastecimento de

água e não ter garantia de que a água consumida atende os padrões de potabilidade.

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Tal Plano também realizará estudo sobre o esgotamento sanitário na Vila da

Capilha, definindo um padrão de fossa séptica ecológica, com prazo de até um ano,

e, posteriormente, no prazo de até cinco anos implantará o programa “Fossas

Monitoradas”, que segundo o Plano Municipal de Saneamento Básico (PREFEITURA

MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 2013, p. 27) é caracterizado por

Visar o atendimento das regiões com menor densidade populacional, área rural, pequenos centros urbanos e as áreas urbanas que não dispõe de rede coletora de esgotos. Neste programa é previsto o auxílio técnico e econômico para instalação de Fossas Sépticas dentro dos padrões previamente estabelecidos e a limpeza periódica destas fossas, sendo o lodo das fossas tratado em uma ETE específica, a qual deverá ser licenciada para este fim. A limpeza das fossas deverá ser feita pela própria concessionária dos serviços de esgotamento sanitário ou por empresa subcontratada. A proposição deste programa leva em conta que as fossas sépticas existentes no município, na maior parte dos casos, não são corretamente dimensionadas e/ou operadas, além de não apresentar a eficiência adequada à manutenção da qualidade ambiental, bem como o fato da universalização da cobertura do sistema de esgotamento sanitário nas áreas urbanas do Rio Grande estar prevista para o longo prazo. (PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 2013, p.27).

A partir da observação direta pôde-se verificar que a infraestrutura básica nas

suas demais atribuições é funcional para a demanda da população local. O Ministério

do Turismo (2010) caracteriza a infraestrutura básica como o conjunto de obras de

instalações de estrutura física que cria condições para o desenvolvimento de possível

unidade turística, tais como sistema de transporte, comunicações, abastecimento de

água, luz, esgoto e limpeza pública. Na Vila da Capilha há rede elétrica e esta funciona

de acordo com a necessidade local. O morador comenta que certas vezes há falta de

luz, porém, diz ser normal como em qualquer outra localidade. Através das entrevistas

com os moradores identifica-se que a telefonia só é encontrada na forma móvel e de

uma determinada operadora. Não existe telefonia fixa, todo morador ou visitante que

quiser contatar alguém pode contar apenas com o celular, e este sendo da operadora

Vivo. A partir da observação pôde-se constatar ser a única que tem antena próxima a

Vila, o que vai contra as instalações adequadas fomentadas pelo Ministério do

Turismo (2010), afirmando que em um destino turístico, não pode haver restrições de

acesso à comunicação da população e turistas.

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Outro quesito observado foi à segurança, a qual é efetuada por um único

agente que mora em Rio Grande/RS, a 60 km da Vila, indo todos os dias às 7h e

acabando seu turno e retornando a Rio Grande às 18h, o que deixa os moradores

sem segurança formal durante toda a noite. O agente de segurança relatou em

entrevista que no período do verão são destinados mais um ou dois policiais para

suprir a demanda de turistas, e também que é preciso haver melhorias na maneira

como a segurança acontece na Vila, pois o policiamento não serve como salva-vidas,

e caso aconteça algum acidente na lagoa, não há pessoal qualificado para o

atendimento. O Ministério do Turismo (2010) descreve ser um parâmetro para a

infraestrutura básica a existência de um sistema de segurança com além de

policiamento, bombeiros e salva-vidas de prontidão, quando o destino turístico for

litoral.

Sobre a saúde, na Vila, há apenas uma Unidade Básica de Saúde, a qual

somente é aberta na parte da manhã de segunda a sexta-feira. Ali são disponibilizadas

20 fichas para atendimento da população a cada dia. O relato do pescador ressalta

que quando acontece algo grave, como já aconteceu em sua família, quando seu filho

se machucou, é preciso levar o paciente até um dos hospitais no centro da cidade de

Rio Grande para se ter um atendimento, tendo que se deslocar em média uma hora.

Durante a observação foi possível constatar que não há nenhum estabelecimento que

forneça produtos farmacêuticos.

Conforme Declaração de Alma-Ata (UNICEF, 1978), saúde não é simplesmente

a ausência de doença, e sim, a busca pela qualidade de vida. Para isso, exige pessoas

informadas sobre os cuidados de saúde e com capacidade pessoal para melhorar as

condições físicas e psicossociais nos espaços onde residem. Coelho (2001) também

disserta sobre a compreensão de saúde como sendo a condição para a cidadania que

implica na dinamização de ações que potencializam o bem-estar e a qualidade de vida

das pessoas. Assim sendo, estruturar serviços e ações em saúde que vão ao encontro

às necessidades dos habitantes é fundamental.

A limpeza da Vila e da praia é realizada por dois funcionários contratados

pela Prefeitura do Rio Grande. O morador entrevistado, que faz parte deste serviço

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de limpeza, relatou que há cooperação tanto dos moradores quanto de turistas, que

ambos recolhem os resíduos em sacolas e os deixam separado. Já o dono do camping

diz que há jovens que deixam lixo, mas a maioria limpa sua sujeira. Outro ponto de

vista sobre o aspecto da limpeza foi o relatado pelo agente de segurança durante a

entrevista, o qual disse que lhe frustra quando turistas fazem dos tonéis, que são

designados para colocação de resíduos, de churrasqueiras, essa atitude acaba por

destruir esse equipamento. Segundo Brito (2000) o turista deve ter uma consciência

ambiental quanto ao local visitado, deve estar ciente de preservar o ambiente e utilizar

o espaço com sabedoria, tendo sempre em mente uma atitude sustentável.

Tratando de infraestrutura turística, o Ministério do Turismo (2010) expõe que

a infraestrutura deve ser gerida pelo setor público e os serviços e equipamentos, pela

iniciativa privada. Pôde-se observar que há dois campings na Vila, ambos com

banheiros equipados com chuveiros elétricos e com extensões de tomadas de

energia. Em um dos campings há um mercado, caso os campistas necessitem de

algo. Com relação a meios de hospedagens essa é a única possibilidade. Tratando-

se de meios de hospedagens como parte dos serviços turísticos, o Ministério do

Turismo (2010) evidencia ser ideal a existência de locais para hospedagem de

turistas, como hotel ou pousada que possuam unidades habitacionais, conservadas e

preferencialmente modernizadas, além da já existente hospedagem alternativa, ou

seja, os campings situados na Vila da Capilha.

Há bares por toda a Vila, onde vendem o básico como: refrigerantes, salgados

e mantimentos. Há também um restaurante, que oferece comida caseira em um buffet.

Sobre esse, o proprietário do camping diz: “a proprietária do restaurante não pode se

contar, sábado e domingo fecha, durante a semana oito horas da noite, chega lá e

não tem mais nada, tá fechado também, tem que ter um horário, vamos supor, fim de

semana, aí mesmo, até a meia-noite ficar aberto pra gente ter, chega dez horas da

noite quer fazer um lanche não tem lugar nenhum mais”. O Ministério do Turismo

(2010) também idealiza que o serviço de alimentação deve trabalhar de forma que

priorize a adequada manipulação e higiene das suas refeições e que atenda as

necessidades dos moradores e turistas. Barroco (2008) acrescenta que é de extrema

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importância oferecer aos visitantes pratos que contenham a gastronomia típica, o

integrando ao meio que está visitando e tornando essa visita singular.

A partir da realização de observação, pôde-se notar na praia, que a Prefeitura

disponibiliza alguns banheiros químicos. Silva e Santos (2010) completam que é

imprescindível haver um bom gerenciamento público. O morador entrevistado relatou

que há dezoito banheiros químicos na praia junto aos coletores de resíduos, além

desses, também é disponibilizado um banheiro na Praça da Vila, onde está situada a

Igreja. O proprietário do camping se incomoda com o mau cheiro vindo dos banheiros

químicos, fato que é confirmado em seu relato: “Tchê, o que precisa aí mesmo, aí na

praça é um banheiro, o químico vem limpar ao meio-dia, não tem quem ature o fedor,

a limpeza desses banheiros é incalculável, não tem quem aguente o mau cheiro, tem

que fazer um de material, dois ali, principalmente na igreja”.

Ainda na parte da infraestrutura turística, com a observação pôde-se verificar

um ponto que as pessoas utilizam frequentemente para fazer a travessia da Vila para

a praia, uma passarela de madeira, a qual está situada perto da Igreja, local que é

muito visitado por turistas. Da travessia é possível observar a praia por um ângulo

amplo, e é utilizada para tirar fotos e até mesmo ver o pôr do sol. A Capela e a ponte

se encontram no centro da Vila, e são identificadas, juntamente com a praia, os

principais atrativos turísticos da localidade.

A Capela de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1785, foi um dos

primeiros monumentos religiosos e de edificação a ser construído na fronteira sul do

Brasil pelos espanhóis, da mesma forma que demarcavam seu território expunham

sua religiosidade e conceitos (VEIGA, 2013). Segundo relatos deste monumento,

originou-se o nome da Vila, pois Capela em espanhol se escreve “Capilla” e ao traduzir

os moradores pronunciaram Capilha.

Com a observação dos cuidados dos moradores da Vila com o meio ambiente,

verifica-se que a maioria dos entrevistados se preocupa em armazenar o seus

resíduos para a coleta posteriormente, porém sem a separação em orgânicos e secos.

Segundo Kapper (2013) atitude essa positiva, pois a comunidade precisa ter uma

consciência ambiental, evitando os danos ao meio ambiente que a degradação do lixo

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pode provocar. Os resíduos fora de uma armazenagem adequada são raros, mas

existentes, pois se pôde observar latas e lixo espalhados em certo ponto isolado da

Vila, onde também se encontravam três carcaças de carros.

Conforme observação, a praia estava limpa, com a presença de barcos de

pescadores, em toda a extensão da praia, alguns agrupados. O pescador relata que

todos os participantes da Associação de Pescadores da Vila respeitam a época de

reprodução dos peixes, período em que a pesca é proibida, se não fosse assim,

haveria dificuldade na pesca posteriormente, e que todos os pescadores da Vila

trabalham de forma a respeitar o meio onde trabalham. Conforme pesquisado, tal

atitude está de acordo com normativas impostas pela Lei nº 7.679, de novembro de

1988, fomentada através do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis). Porém, por meio da observação, verificou-se que

utilizam redes de pesca, e tal ferramenta vai contra a lei, tendo proibição, passível de

multa e apreensão de todo equipamento.

Na Vila da Capilha, o turismo seria trabalhado na forma de ecoturismo, este

classificado como uma opção de turismo que utiliza recursos da natureza,

promovendo o incentivo à conservação e possibilitando a concepção de uma

consciência ambiental por meio da interação e interpretação do ambiente. Tal turismo

é identificado por realizar atividades que oportunizam a vivência e conhecimento

detalhado da natureza e sua proteção por meio dos visitantes (CUNHA, 2006). Com

a observação percebe-se rica fauna e flora que contribuem em uma área distinta, fato

que é complementado pelo relato do proprietário do camping: “claro, tem uma

excelente praia, pra que deixar aí só para os pescadores e o gado tomar água, tem

que vir pessoas”. Quando questionados sobre o que entendiam por ecoturismo, o

proprietário do camping respondeu que entende como um turismo que é feito “pra

fora”, “no mato”, tal resposta determina um conhecimento básico sobre o assunto. O

agente de segurança com entendimento específico, explicou entender como o turismo

em áreas de natureza e que foca na preservação do meio ambiente, este mais

alinhado com a definição de Cunha (2006): um tipo de turismo mais seletivo, baseado

em princípios sustentáveis, o qual ocorre sobre a ótica de um tripé: interpretação,

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conservação e sustentabilidade. Os demais entrevistados, o proprietário do bar, o

morador e o pescador não souberam responder tal questionamento.

Visando as vantagens da atividade turística na Vila da Capilha, o proprietário

do camping, o morador, o agente de segurança e o proprietário do bar, se mostram

favoráveis a vinda de turistas, pois esta atividade influencia de forma positiva na renda

dos empreendedores locais. O agente de segurança intensifica a importância do

turismo com seu relato: “Trabalho aqui desde 2010, nesse ano observava mais ou

menos uns 80 carros no final de semana e nesse verão de 2014/2015, um domingo,

só na metade da praia contei 1000 carros, o pessoal procura por ser tranquilo, e teve

muita visibilidade depois da reportagem na RBS e a propaganda boca a boca”.

A emissora gaúcha RBS TV realizou uma reportagem sobre a praia da Capilha,

conforme relatou o agente de segurança, a caracterizando como um paraíso

descoberto e retratando os aspectos ambientais que chamam a atenção dos turistas,

como a água cristalina e calma da Lagoa Mirim. Outro aspecto evidenciado é a

calmaria quando comparada à praia do Cassino que é um local movimentado e

barulhento.

O Ministério do Turismo (2006) aborda que para o desenvolvimento de região

com potencial turístico é primordial que haja integração e planejamento dos agentes

idealizadores e participantes. Além disso, é imprescindível o levantamento de

informações turísticas e complementares fidedignas para a construção de um

pensamento estratégico sobre o destino.

Em entrevista, o agente de segurança relata que um rapaz de Rio Grande que

trabalha como guia de turismo, pela região do Taim, faz visitas no entorno da área da

Estação Ecológica do Taim, Estação essa que segundo a Prefeitura Municipal do Rio

Grande (2013) tem a finalidade de preservar um vasto viveiro natural onde são

encontrados animais e vegetais distribuídos em banhados, campos, lagoas, praias

arenosas e dunas litorâneas. A ideologia da Estação Ecológica do Taim é, “Conhecer

e ajudar a preservar o Taim, é garantir a sobrevivência do ambiente e das espécies,

legando às gerações futuras um ecossistema de inestimável valor científico,

econômico e social” (PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 2013).

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389

Seguindo relato do agente de segurança, o guia de turismo eventualmente conduz

grupos de visitantes para caminhar pela praia da Capilha, para ver a paisagem, as

falésias, as figueiras, e aves que por lá frequentemente passam.

O único entrevistado que vê desvantagens é o pescador, o qual disse que a

vinda de turistas atrapalhou a pesca na praia onde era um lugar bem visado para

conseguir boa quantidade de peixes, agora não é mais.

Lickorish e Jenkins (2000) enfatizam ser necessário reconhecer que a

população local é parte fundamental da herança cultural do destino, portanto deve-se

focar no bem dela e atrair o desenvolvimento do destino, pensando no bem de toda a

comunidade.

Conforme verificado através da pesquisa, as opiniões dos entrevistados e o que

se observou convergem para a mesma percepção, no que se refere às

potencialidades turísticas na Vila da Capilha. Elas são a Capela, a praia, a fauna e a

flora. A primeira devido ao seu valor histórico local e patrimônio cultural brasileiro

(VEIGA, 2013). A praia por sua beleza natural com água limpa e calma, além de

figueiras que abrangem toda sua extensão e as aves migratórias que por lá passam

(DIAS, 2006).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O turismo como atividade pode trazer consigo inúmeros resultados, tanto

positivos quanto negativos para o destino. Esse quando trabalhado em uma pequena

comunidade, necessita de eficiente planejamento para que ocorra em constante

sintonia com a percepção e participação dos moradores, dando ênfase ao bem-estar

da comunidade e priorizando os cuidados com o meio ambiente para que haja

harmonia entre o desenvolvimento local e sua sustentabilidade.

A realização do trabalho viabilizou obter informações para a realização de um

diagnóstico das potencialidades turísticas e de infraestrutura básica e turística

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existente na Vila da Capilha, bem como para o conhecimento da percepção de

moradores quanto ao ecoturismo na localidade.

A Vila da Capilha, por ser uma localidade de interior, e sem trânsito de muitas

pessoas, possui a infraestrutura básica e turística bastante rudimentar. A saúde e a

segurança, aspectos fundamentais para uma vida tranquila, necessitam ser

aprimoradas, sendo necessário viajar uma hora para resolução de casos mais

complexos nesses âmbitos. Além desses, aspectos como abastecimento de água,

esgotamento sanitário, acesso e comunicações também precisam ser melhorados.

Para quem procura um lugar longe da agitação da cidade e que tenha contato com a

natureza os campings proporcionam esta experiência, havendo apenas luz e

banheiros, longe dos confortos de hotéis, mas, perfeitos para os aventureiros.

Através da realização deste trabalho foi possível identificar uma praia de água

doce, limpa e calma que chama a atenção de veranistas. Nela pode-se praticar a

pesca tanto para geração de renda, como para o lazer, mas é preciso respeitar as leis

existentes no que se refere a esta prática. Constata-se também evidente valor

histórico e patrimônio cultural referente à Capela, esta que deve sofrer processo de

restauro urgente, para que a história não caia em esquecimento e para que possa

atrair outros tipos de turismo, como o religioso.

Os moradores estão de acordo com a realização do turismo na Vila, pois,

conforme suas percepções, ele influencia de forma positiva na economia local e isto

poderá atrair os olhares do governo para o desenvolvimento estrutural da Vila, pois, a

mesma apresenta uma infraestrutura mínima para receber os turistas.

A praia, a Capela, cujo valor histórico é reconhecido, o camping, o estilo

interiorano, a calmaria, são grandes potenciais para a realização do ecoturismo na

Vila, pois aqui pela região Sul do Rio Grande do Sul este é um dos lugares que

proporcionam descanso e tranquilidade aos visitantes. O ecoturismo se torna

importante porque além de gerar renda, valoriza e preserva a beleza que existe de

forma natural no meio ambiente.

Se o turismo continuar em ascensão na Vila da Capilha, o poder público deverá

investir tanto na infraestrutura básica quanto turística, para oportunizar melhor

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qualidade de vida aos moradores e viabilizar maior fluxo de visitantes na localidade,

levando em conta a sustentabilidade ambiental da Vila.

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GT 7 – ALIMENTOS E BEBIDAS

A CERVEJA COMO FONTE ECONÔMICA PARA O FORTALECIMENTO DE

DEGUSTAÇÃO E ENTRETENIMENTO NOS ESPAÇOS DE LAZER DA CIDADE

DE MANAUS

JÁCOME, Italo V. B.;70 MENDONÇA, Rosanna L.71

[email protected]

TEIXEIRA, Maria Adriana S. B. (orientadora).72

70Discente do curso de turismo da Universidade do Estado do Amazonas – UEA.Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2063145533681371 e-mail:[email protected] 71Discente do curso de turismo da Universidade do Estado do Amazonas – UEA. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0127956372370363e-mail: [email protected] 72 Doutora em Educação pela Universidade De La Empresa – UDE; Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul – UCS; Especialista em Metodologia pelo Centro Universitário do Norte-

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e-mail:[email protected]

RESUMO: Observa-se o surgimento em Manaus de bares que oferecem cervejas especiais, tanto nacionais como internacionais. O estudo presente tem o objetivo geral de analisar a cerveja como fonte econômica para o fortalecimento, degustação e entretenimento nos espaços de lazer da cidade de Manaus. Os objetivos específicos são: Pesquisar o processo histórico do segmento de cervejaria na capital amazonense; Avaliar o processo de elevação da cerveja na capital; Averiguar a razão dos espaços de lazer em diversificar tipos de cervejas; Observar a qualidade, marcas e fatores que influenciaram a venda de cervejas através da lente de especialistas e Identificar o perfil dos apreciadores de cervejas diversificados. Conclui-se que o segmento de cervejas especiais tende a crescer em Manaus.

Palavras-chave: A&B; Cerveja; Marca; Lazer; Manaus.

1 INTRODUÇÃO

O segmento de Alimentos e Bebidas (A&B) tem crescido no Brasil nos últimos

anos. O “degustar” passou a ser mais acessível para a população, atraindo milhares

de pessoas e abrindo bares e restaurantes de todos os estilos e gosto. Analisando o

processo histórico das cervejas na capital amazonense percebemos a forte ligação

com os europeus colonizadores, onde traziam consigo barricas de cervejas para a

nova terra inexplorada até então. Desde a fundação da cervejaria Miranda Corrêa até

os dias atuas, percebemos a evolução na correlação do lazer e o degustar na cidade

de Manaus.

Deste modo, observa-se também o crescimento de novos estilos de bares na

capital, que oferecem espaço de lazer e um cardápio variado onde se destaca a venda

de cervejas especiais, nacionais e internacionais. Diante deste contexto, se fez a

seguinte problemática de pesquisa: De que forma a cerveja serve como fonte

econômica para o fortalecimento de degustação e entretenimento nos espaços de

lazer da cidade de Manaus?

UNINORTE; Graduada em Turismo pela UNINORTE. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7305750465493497 e-mail [email protected]

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Acredita-se que a cerveja seja uma bebida que está ligada culturalmente com

o povo manauara, promovendo a degustação, entretenimento e lazer através dos

bares presentes em toda cidade.

Portanto o objetivo geral visa analisar a cerveja como fonte econômica para o

fortalecimento, degustação e entretenimento nos espaços de lazer da cidade de

Manaus. Os objetivos específicos são: Pesquisar o processo histórico do segmento

de cervejaria na capital amazonense; Avaliar o processo de elevação da cerveja na

capital; Averiguar a razão dos espaços de lazer em diversificar tipos de cervejas;

Observar a qualidade, marcas e fatores que influenciaram a venda de cervejas através

da lente de especialistas; e, Identificar o perfil dos apreciadores de cervejas

diversificadas.

A motivação para pesquisa é por avaliar que este tipo de temática ainda não é

tão trabalhada como cunho científico na Universidade do Estado do Amazonas- UEA.

Outro fator para o desenvolvimento deste estudo é por analisar que nos últimos

anos ocorreu uma ampliação de cervejas em diversos segmentos de A&B. Isto porque

a cinco anos atrás era comum somente encontrar as cervejas tradicionais tais como:

Skoll; Brama; Antarctica e outras.

Quanto aos pesquisadores é pertinente a problemática devido a acreditar que

servirá de base teórica para os pesquisadores da área como, também, o prazer em

desvendar um assunto de pouco conhecimento científico na região.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A forma de abordagem é qualitativa, pois visa fazer uma interpretação profunda

do objetivo geral citado acima. Os objetivos metodológicos são de cunho exploratório

e descritivo. Todavia é exploratório por desejar conhecer melhor a temática em

questão. Compreende-se como descritivo devido explicar o porquê dos objetivos

específicos enfatizados acima. Amostra de estudo é não probabilística intencional. A

coleta de dados procedeu por meio de entrevistas semiestruturadas com os

proprietários de bares, garçons e outros.

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Os procedimentos técnicos são de cunho bibliográfico e estudo de caso. Logo

o estudo de caso procedeu em alguns bares conhecidos como pontos de diversidades

cervejeiras na capital amazonense. Os materiais bibliográficos utilizados foram: Livros

de A&B; Lazer; artigos; dissertações e outros.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Relata-se que a fundamentação é o alicerce teórico com base nos objetivos

específicos, pois segundo o autor Koche (2004) não existe estudo sem suporte

teórico.

3.1 O PROCESSO HISTÓRICO DAS CERVEJARIAS NA CAPITAL AMAZONENSE

A história da cerveja na capital amazonense possui intima ligação com a

colonização dos europeus. A região da Amazônia, nos séculos XVI e XVII, foi uma

região extremamente disputada pelos europeus, que julgavam ali encontrar riquezas

como ouro e prata, baseados em fantasias, mitos e folclore (GARCIA, 2010, p. 25).

Quando as superpotências europeias começaram a viajar para o Novo Mundo

no século XVI, portavam consigo a desconfiança da água e sua própria cerveja como

uma bebida segura (MANUAL DA CERVEJA EM CASA, 2015, p. 7).

Para proteção de seu território de possíveis ataques inimigos, o rei de Portugal

Dom José I mandou construir o forte de São José do Rio Negro, em 1699. Formou-se

então uma vila ao redor do forte que em 1833 levou o nome de Manaós, em

homenagem à tribo indígena da mesma denominação. Em 1856 foi nomeada cidade

de Manaus (GARCIA, 2010, p. 32).

Sobre os espaços de comercio onde a cerveja era negociada na capital

amazonense, há registros da Mercearia Braguinha, onde era comercializado “vinhos

finos e do pasto, licores, cerveja de deferentes marcas (...)” (A EPOCHA, 1889, p.4).

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Ainda sobre o comercio da cerveja, o AlmanachAdm Histórico Estatístico e

Mercantil da Província do Amazonas (1884, p. 210) reporta sobre o custo do envio de

“barrica ou caixa” de cerveja de Manaus para Santarém – PA.

Dos espaços de lazer oferecidos na cidade de Manaus, há registro da

Mercearia Abelha de Ouro onde oferecia a seus clientes “um local muito arejado onde

os apreciadores podem tomar seu copo de cerva a sua satisfação” (AMAZONAS

COMMERCIAL, 1895, p. 3).

Com o comércio se aquecendo pela economia gomiféra no final do século XIX,

e o aumento do consumo da cerveja na cidade, Antônio Carlos Miranda Corrêa

juntamente com outros três irmãos, idealizaram a construção de uma cervejaria. A

família Miranda Corrêa já possuía a fábrica “Gelo Cristal” em 1903 e resolveram

expandir os negócios em 1905 (AMAZONAS, 1985, p. 31).

A chegada das cervejas em Manaus se dava pelos barcos europeus, que

traziam barricas para comercializar na cidade. Os principais fornecedores de cervejas

eram os navios alemães, que traziam chope. A família Miranda Corrêa comprava os

barris e os armazenavam na fábrica de gelo (AMAZONAS, 1985, p. 31).

Com a ideia de montar uma cervejaria no Amazonas, Antônio Carlos de

Miranda Corrêa viaja para a Alemanha em busca de conhecimento das melhores

práticas na especialidade de cervejarias. Ao voltar para Manaus de sua viagem, traz

consigo dois técnicos e o melhor mecanismo da época (BAZE, 1997, p. 59). Em

homenagem a família, decidiu-se colocar o nome da empresa Cervejaria Miranda

Correa S. A (CORRÊA, 1995 apud BAZE, 1997, p. 63).

A cervejaria ficava localizada no bairro de Aparecida, a margem do Rio Negro

e ao lado do igarapé do São Raimundo (CORRÊA, 1969, p. 50). O edifício apresentava

o estilo das cervejarias alemãs, com riquezas de detalhes e de construção “industrial

familiar” (CORRÊA, 1969, p. 50).

A pedra fundamental do edifício foi posta em 1910, e a cervejaria foi inaugurada

em 12 de outubro de 1912 (AMAZONAS, 1985, p. 31).

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400

A fabricação da cerveja obedecia aos princípios gerais já conhecidos, tendo

como base a cevada e o lúpulo. Da matéria prima utilizada para a fabricação da

cerveja destaca-se

[...] uma matéria açucarada ou amilacea, transformável em alcool, (quasi sempre é o amido); um princípio amargo (lupulina, determinada pelas brácteas do lúpulo); um fermento organizado que transforma a matéria açucarada em álcool, ácido carbônico e agua que deve ser puríssima. (SIMÕES COELHO apud BAZE, 1997, p. 61).

A água utilizada para a fabricação da cerveja era retirada do Rio Negro, “sendo

submetida a processos de filtração curiosos” (SIMÕES COELHO, 1912 apud BAZE,

1997, p. 60).

Segundo José Simões de Coelho (1912 apud BAZE, 1997, p. 62) o que era

notável na qualidade da cerveja amazonense era sua cristalização, algo que não era

comum em outras marcas de cervejas da época. Ainda segundo o autor, a

cristalização da cerveja recebeu a atenção do famoso bacteriologista brasileiro Dr.

Carlos Chagas, escrevendo que

Assistimos a analises químicas rigorosas, todas demonstrativos da ausencia de substancias nocivas ao organismo humano; apreciámos a fermentação do líquido, examinámos as condições do fermento e observámos os processos de conservação e acondicionamento da cerveja. Em tudo notámos o mesmo zelo e o mesmo rigor de técnica que presidem a todos os trabalhos d’aquella indústria, organisada sob os moldes mais modernos das similares da Alemanha. (SIMÕES COELHO, 1912, apud BAZE, 1997, p. 62).

Após a morte de Antônio Carlos, seu irmão, Luiz Miranda Corrêa assume a

gerencia da cervejaria. A firma familiar Miranda Corrêa & Cia. resolve comprar o

cinema Odeon, e ao lado constroem a “Casa do Chope”, lançando os novos produtos

no mercado, tais como: Cerveja Ouro sobre Azul, Topázio, Cerveja Preta, Cerveja

XPTO e Guaraná Legítimo (AMAZONAS, 1985, p. 31).

A publicidade utilizada por Luiz Miranda Corrêa era feitaprincipalmente por

meio de carros alegóricos na época de carnaval (AMAZONAS, 1985, p. 31).

Alguns anos mais tarde a cervejaria foi vendida para Brahma, que atuou no

local por cerca de 30 anos. A Brahma vendeu o espaço para a cervejaria Heineken,

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401

que em 2013 fechou suas portas na cidade de Manaus por causa da crise econômica

do país.

3.2 SEGMENTO DE LAZER ATRAVÉS DO SETOR DE A & B

Os desejos e as necessidades são os responsáveis pelo desencadeamento de

esforços no sentido de poder satisfazê-los. Tais esforços, quando transformados em

atividades produtivas, constituem o denominador comum e a real condição de vida

(BACAL, 2003, p.29).

Compreende que o trabalho possui uma finalidade essencial que é o de

consumo de bens para a satisfação das necessidades.

O tempo liberado, então, engloba o tempo livre, porque as atividades por ele

envolvidas apresentam-se, essencialmente, como destituídas de obrigatoriedade

(BACAL, 2003, p.33- 35).

Por meio das palavras do autor, entende-se que o conceito de tempo livre

pressupõe a liberdade, a ausência de coação, isto é, entende-se como o tempo em

que nossas atividades apenas se subordinam ás nossas necessidades básicas.

Destaca-se que foi diante do tempo livre que as pessoas buscam atividades de

lazer que causem satisfação. Todavia o lazer é fruto de uma sociedade urbano-

industrial e, dialeticamente, incide sobre ela como gerador de novos valores que a

contestam.

Assimila que o tempo livre surgiu com a transformação das sociedades

denominada de período pós industrial. Todavia este segmento surgiu com o advento

do consumo de massas que requer tempo livre para o consumo denominada de

sociedade de consumo.

Marcellino (2007, p.13), menciona que a realização de qualquer atividade de

lazer envolve a satisfação de aspirações de seus praticantes.

Entende por meio do autor que as atividades de lazer devem procurar e atender

as pessoas no seu todo, pois é necessário que os profissionais conheçam as

atividades que satisfaçam os vários interesses.

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Identifica-se que diante do tempo livre as pessoas passaram a conhecer as

diversidades culturais, o qual envolve o segmento de A&B que segundo o autor

Camara (2011, p.12) destaca que o setor de alimentos e bebidas passa a cada dia

por diversas mudanças, seja nas inúmeras maneiras de atender, de servir, como

também, na forma de preparar os alimentos, sempre com novas técnicas e

descobertas que contribuem para a realização de um casamento perfeito entre a

qualidade do serviço fornecido e a demanda.

O autor enfatiza que este setor surgiu não apenas para assegurar os lucros aos

empresários, e sim é um setor imprescindível para satisfazer, atender e superar as

expectativas e necessidades dos clientes.

A autora ressalta que a atividade deste setor envolve desde o atendimento

pessoal até proporcionar o prazer de saborear um bom prato e a degustar uma

excelente bebida, seja ao lado da família, dos amigos, ou de pessoas novas que se

pretende conhecer. O Setor de Alimentos e Bebidas é responsável pela chegada,

permanência e volta de novos clientes.

Visualiza que o segmento de A&B vem se diversificando com a introduçãode

novas bebidas em especial no segmento de cervejas.

3.3 PRINCIPAIS TIPOS DE CERVEJA

Segundo Beltramelli (2014, p. 56) durante o século XIX, as cervejarias

necessitavam se instalar próximas a fontes de água abundante e límpida. A água,

além de outros fatores, determinava o sabor da cerveja. Logo, se essa mesma cerveja

fosse produzida em outro lugar com uma fonte de água diferente, a bebida

apresentaria sabor diferente, pois a água influenciaria no seu gosto. Após o início do

século XX, vários métodos facilitaram a fabricação das cervejas, inclusive o método

da filtragem que possibilita a obtenção do sabor desejado.

Outro fator a ser considerado na fabricação da cerveja é a variante de sabores,

aromas e afins. São as escolas cervejeiras que são entendidas como as nações

responsáveis pela base de cervejas em todo mundo, com suas técnicas de fabricação

(JORNAL G1, 2016).

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Segundo a BBC Brasil (2016),no ano de 2016 é comemorado 500 anos da lei

de pureza alemã. Lei esta que determinava que os únicos ingredientes para se

produzir uma cerveja são lúpulo, malte e água, sendo seguido fervorosamente até

hoje pela escola cervejeira alemã.

Bem como a escola alemã de produção de cervejas, temos a escola belga, que

visa a variação de sabores de cervejas, utilizando ingredientes tradicionais até outros

cereais, frutas e condimentos variados, garantindo gostos diversificados (JORNAL G1,

2016). Menciona-se também a escola britânica, que aloca-se em um meio termo entre

as escolas alemã e belga, visando um amargor mais presente em consequência do

lúpulo e a utilização de leveduras para fermentação. (JORNAL G1, 2016).

Tratando-se do Brasil, encontramos a lei nº 8.918 de 14 de julho de 1994 e o

Decreto 2.314 de 04 de setembro de 1997, que baseiaa fabricação da cerveja no país.

O Decreto tem como objetivo padronizar a fabricação de cervejas no Brasil

demonstrando as porcentagens de açucares, cereais não maltados, produtos

químicos e corantes naturais.

Baseando-se nisso, interpreta-se que cada país possui seus métodos para

fabricação de cerveja, utilizando características singulares ou implementando outras,

para assim produzir os mais variados tipos de cerveja.

Segundo o Completo Manual da Cerveja (2015, p. 88), os tipos de cervejas

classificam-se em quatro principais: Ale, Larger, Cervejas de trigo e Cervejas hibridas,

que por sua vez, apresentam subtipos.

Os tipos de cervejas mais consumidos no Brasil possuem como ingredientes

principais trigo, milho ou cevada. Dentre as cervejarias brasileiras em produção de

larga escala, o ingrediente mais comum é o milho. As cervejas brasileiras são, na sua

maioria, classificadas como Largerpor possuírem um sabor leve. É considerada uma

bebida amena, sentindo-se geralmente certa dificuldade de detectar aromas de malte

e lúpulo. Seu consumo é de temperaturas baixas, servindo-se como uma opção

refrescante para o clima tropical brasileiro.

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404

3.4 QUALIDADE, MARCAS E FATORES QUE INFLUENCIAM A VENDA DE

CERVEJAS

Para os especialistas em Marketing de mercado, a marca é um fator

predominante na escolha do produto. A marca pode ser definida como a união de

atributos tangíveis e intangíveis, geridos de forma a agregarem valor ao produto.

Apresentando um sistema integrado que criam o desejo de consumo nas pessoas

(MARTINS, 2006, p. 8).

Silva (2004, apud SILVA, 2008, p. 31) analisa a marca sobre dois aspectos:

como mediadora entre a corporação e o mercado e a marca como transmissora de

valor para novos produtos. O aspecto mediador que a marca exerce entre a

corporação e o mercado também é defendido por Gronsroos (2003). O autor

apresenta três principais funções da imagem através da marca, sendo elas: comunicar

expectativas; filtrar e influenciar as percepções; servir de catalisador das experiências,

assim como das expectativas do cliente. Para Beltramelli (2014, p. 192) um dos mais

importantes ingredientes de uma cerveja é sua propaganda.

Para Silva (2008, p. 31) as cervejas brasileiras possuem um processo de

fabricação similar, uma vez que utilizam os mesmos ingredientes. Analisa-se que,

para uma cerveja ganhar destaque no mercado brasileiro, é necessário que a marca

agrade o cliente.

Segundo Rosa, Cosenza e Leão (apud SILVA, 2008, p. 21) a procura pela

cerveja no país se mostra de forma sazonal, uma vez que apresenta os ápices de

consumo no início e final do ano, e quedas abruptas no meio do ano. Os autores

também concluem que as classes sociais C e D são os que mais consomem cervejas

no Brasil. Entretanto, o Brasil apresenta um número ínfimo de vendas comparados a

outros países que possuem tradição cervejeira.

Em 2008, não se acreditava na chance de cervejas especiais importadas

ganharem espaço no mercado brasileiro (BRASIL apud SILVA, 2006, p. 22).

Felizmente nos últimos anos essa afirmação vem se mostrando contraditória, com o

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surgimento de empreendimentos que se mostram favoráveis a fazer usufruto de um

mercado tão vasto das cervejas especiais.

Em 1999, duas grandes empresas de cervejas brasileiras, Brahma e

Antarctica, se juntaram (MARTINS, 1999 apud MARTINS 2006, p. 32). A abundancia

da cerveja tipo pilsen habituou os consumidores brasileiros, de modo a abrir espaço

para o crescimento de outras marcas como Kaiser, Skol, Schin, e até cervejas

importadas como Budweiser, Heineken, Miller e Corona que vinham com o interesse

de competir por espaço mediante as cervejas pilsen e premium.

Segundo Silva (2008, p. 22) a empresa Inbev chegou a dominar com 67% o

consumo da cerveja no mercado brasileiro, colocando entre as empresas que mais

vendem cervejas no mundo. Segundo a empresa, isso provém da tática utilizada na

criação de valor de suas quatro marcas principais Skol, Brahma, Antarctica e

Bohemia. Outras empresas como o Grupo Primo Schincariol, trabalham uma

estratégia composta, conquistando os consumidores por preços populares com um

catálogo de marcas como Nova Schin e Nobel, porem também de forma à atuar

buscando estrategicamente um público mais abastado com produtos tais como

Devassa, Erdinger e a Baden Baden.

Dessa forma, acredita-se que tudo que está ligado a cerveja é de suma importância

para a decisão do consumidor em escolher uma determinada marca. Uma boa

impressão ao consumidor é o que dá a oportunidade para o produto. Segundo Ross

Buswell e JohannaBasford, ambos designers de rótulos, a marca deve apresentar

uma experiência gratificantemente prazerosa aos consumidores, através da

embalagem e seus adornos (MANUAL DA CERVEJA 2015, p. 79). Assim sendo,

entende-se que as cervejarias estejam inclinadas a gastarem tempo na fabricação do

produto, assim como na criação da marca, tornando um elemento fundamental para a

distribuição da cerveja.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

Os resultados desse trabalho tendem a conflitar entre pesquisa bibliográfica e

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406

entrevistas, demonstrando uma diferença de fatores referentes ao período de

consumo das cervejas no Brasil e o aumento da procura de cervejas especiais na

cidade de Manaus.

4.1 PERCEPÇÃO DO PROCESSO DE ELEVAÇÃO DA CERVEJA NA CAPITAL

Para compreensão, trataremos os nomes dos bares como estabelecimento A,

B e C. O nome dos estabelecimentos será tratado em sigilo, uma vez que os

proprietários assinaram o termo de cooperação para a pesquisa presente.

Para início da entrevista, perguntou-se se os estabelecimentos trabalhavam

com cervejas nacionais. Os três estabelecimentos entrevistados responderam que

sim, oferecem em seu catalogo cervejas nacionais. Dessa forma o estabelecimento A

oferece cervejas nacionais artesanais e de produção em massa como por exemplo a

Original da Antarctica. Já o estabelecimento B disponibiliza cervejas artesanais, tal

como Colorado e cervejas internacionais com fabricas no Brasil como a Heineken,

porem a escolha das cervejas se dá por produtos de puto malte, que não levem milho.

Bem como o empreendimento C, o qual oferece cervejas nacionais, mas não as

produzidas em massa. O estabelecimento prefere as cervejas nacionais artesanais tal

qual a Tupiniquim.

Diante disso podemos perceber que nem todos os empreendimentos possuem

a mesma visão de mercado. Assim é observado que dentre os três, um

estabelecimento trabalha com cervejas nacionais de larga escala, enquanto o outro

possui seu foco em cervejas nacionais artesanais, com uma pequena exceção da

cerveja Heineken, porem a cervejaria não é brasileira. O estabelecimento C possui

um foco semelhante ao estabelecimento B, onde trabalha com cervejas nacionais,

mas apenas se tratando de artesanais. Esses fatores mostram que cada

estabelecimento, por mais que busquem apresentar variações de cervejas a seus

clientes, possuem visão de mercado diferente.

Analisa-se por tanto, que os três bares possuem o objetivo de vender cervejas

especiais, apresentando em seu cardápio cervejas nacionais produzidas em larga

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escala bem como as artesanais, mostrando que não se deve excluir um nicho de

mercado.

Para ser entendida a necessidade de vender cerveja, foi perguntado “Quando

surgiu a ideia de vender cervejas diversificadas? E por que?” Diante desse

questionamento o estabelecimento A explicitou que já era um bar antes de vender

cervejas especiais. Entretanto, seus clientes solicitavam diferentes tipos de cervejas,

com sabores exóticos e texturas mais encorpadas. Com isso passaram a oferecer

produtos nacionais artesanais e até importados. De maneira totalmente distinta, os

proprietários do estabelecimento B iniciaram pesquisas antes de fundar o bar e

comercializar cervejas especiais. Após meses de pesquisas, e testes de fabricação

de cerveja caseira, decidiu-se abrir o bar, oferecendo variados rótulos de cervejas

nacionais e internacionais. Já o estabelecimento C percebeu o mercado que estava

praticamente inexplorado, observou uma oportunidade e com isso começou a fazer

usufruto dela.

Segundo Beltramelli (2014, p. 193), esse tipo de estabelecimento vem

ganhando espaço no mercado brasileiro com o passar dos anos, e prevê crescimento.

Esse aumento provém dos diferentes tipos de cervejas que ganham a admiração dos

brasileiros. As cervejas especiais vem de encontro com o tipo “pilsenbrasileiro”,

chegando ao Brasil através das importações e das cervejas artesanais. Para o autor,

a diversidade de cervejas vem transformando cada vez mais o modo de degustação

dos brasileiros “mudando hábitos de consumo que antes eram considerados

imutáveis” (BELTRAMELLI, 2014, p. 193).

À vista disso, é observado que os estabelecimentos entrevistados tiveram algo

em comum, todos perceberam a oportunidade do mercado cervejeiro manauara. No

caso do estabelecimento A, os clientes já estavam pedindo diferenciações nas

cervejas, e assim passaram a oferecer aquilo que os clientes pediam. De outro modo,

o estabelecimento B e C, notaram uma brecha no mercado, percebendo a variedade

de produtos para se trabalhar.

4.2 A RAZÃO DOS ESPAÇOS DE LAZER EM DIVERSIFICAR TIPOS DE CERVEJAS

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Sobre o entretenimento oferecido no local, os estabelecimentos A e C não

oferecem nenhum tipo de entretenimento. Entretanto o proprietário do

estabelecimento A informou que estão providenciando oferecer música ao vivo.

Diferentemente do estabelecimento B que apresenta música ao vivo ao menos quatro

vezes por semana. Além de disponibilizar mesas de sinuca, transmitem jogos de

futebol americano, series, e lutas.

Dessa forma, mediante a essas perguntas o único estabelecimento que tem

uma grade de programação estabelecida salientou que essas formas de lazer

disponibilizadas resultaram em aumento significativos da clientela. Chegando a

passar da lotação de mesas, e por assim dizer corroborando para melhorar a venda

das cervejas. No caso dos estabelecimentos que não possuem essa grade não há

maneira de se inferir se esses aspectos.

Na visão dos proprietários, a ligação do lazer levando em consideração a

degustação e entretenimento ligados à cerveja, provém da busca dos clientes por um

local tranquilo para conversar e degustar alimentos e bebidas. Segundo a proprietário

do estabelecimento A, os clientes utilizam-se do produto que é a cerveja como uma

forma de confraternização e um meio de relaxar. Já o estabelecimento B entende que

esse quesito está diretamente ligado ao que o estabelecimento possui de diferencial,

seja através do entretenimento ou de produtos. Principalmente quando se trata de

algo relativamente novo no mercado brasileiro. Logo essas formas de atrair o cliente

acabam por seu um vínculo entre o lazer de beber. Assim como o estabelecimento A,

o estabelecimento C acredita ser uma forma de confraternizar e relaxar para o cliente.

Isto posto, entende-se que diante das informações coletadas, o ato de beber

cervejas especiais se classifica como uma forma de confraternizar. A utilização de

produtos não habituais no mercado brasileiro causa a curiosidade e o deleite nos

clientes por estarem tomando bebidas novas ou favoritas. Para Beltramelli (2014, p.

193) a definição proposta para os consumidores de cervejas especiais são as

experiências gastronômicas que dispensam o consumo exagerado.

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409

É importante salientar que, como os produtos são importados e não habituais,

chegam ao consumidor com preços onerosos. Dessa forma, seria algo a mais

oferecer para os clientes algum tipo de entretenimento, não tratando-se de algo

prejudicial ao negócio em questão ou ao mercado de cervejas, mas sim uma maneira

de apresentar esse produto ao público.

4.3 PROCESSO DA QUALIDADE, MARCAS E FATORES QUE INFLUENCIARAM A

VENDA DE CERVEJAS ATRAVÉS DA LENTE DE ESPECIALISTAS

Para muitos autores, a marca tem mais influência no produto do que o próprio

produto. Para Beltramelli (2014, p. 192) um dos mais importantes ingredientes de uma

cerveja é a sua propaganda.

Para entendermos como o empreendimento está reputando a forma de

divulgação das cervejarias, analisamos a partir do seguinte questionamento: “A seu

ver, o marketing dos fabricantes de cervejas influencia diretamente nas vendas em

seu empreendimento?”.

O estabelecimento A afirmou que o marketing dos fabricantes afeta diretamente

nas vendas do estabelecimento. Uma vez que as propagandas de cervejas dispostas

no local, tal qual as propagandas na televisão e em outros meios de comunicação

tendem a incitar a procura dos clientes em conhecer aquela determinada cerveja, o

que beneficia a venda no local. De maneira contraria, o proprietário do

estabelecimento B afirmou que a influência muito se dá por meio a sugestão do

garçom que é treinado para conhecer todas as cervejas do portfólio, possuindoa

habilidade de entender o que o cliente quer e recomendar o produto, já que a maior

parte dos produtos são importados. No caso C, as propagandas diversas auxiliam na

venda dos produtos, pelo fato de serem representantes oficiais de algumas marcas

no Amazonas.

Isto posto, é notado que mediante os estabelecimentos apresentarem produtos

parecidos, percebemos que o marketing afeta-os de maneiras diferentes. Tendo em

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vista que todos vendem cervejas, cada local interpreta a propaganda cerveja de modo

distinto.

Analisando em cada estabelecimento qual a marca de cerveja mais vendida foi

tido como resposta a Original da Antárctica no estabelecimento A. Isso por conta do

bar se tratar de um local que iniciou suas atividades comercializando estritamente

cervejas nacionais. Contrastando com o estabelecimento B que tem como mais

vendida a cerveja Colorado, em detrimento de ser uma das cervejas artesanais

brasileiras mais antigas, portanto, muito conhecida entre os frequentadores. No caso

do estabelecimento C, a maior venda se baseia na cerveja Tupiniquim, isso se dá pelo

bar ser o representante da cerveja em Manaus.

Segundo Beltramelli (2014, p. 192) as cervejarias brasileiras que produzem em

larga escala investem em excessivas propagandas, o que resulta em um apelo

exagerado ao consumidor. Isso acaba criando “torcedores de rótulos”, ou seja,

consumidores fanáticos por determinada marca de cerveja.

Ao analisarmos a afirmação acima, percebemos que esse tipo de consumidor

possui maior dificuldade em experimentar novos tipos de cervejas. Isso provém das

propagandas massivas de cervejas populares, o que acaba delimitando o olhar do

consumidor a um só tipo de cerveja.

Mediante ao questionamento de como são entendidos os fatores que

influenciam na venda das cervejas, todos os estabelecimentos foram consonantes em

afirmar que as taxas de importação são exorbitantes, e consagram-se como um

aspecto negativo que acaba por reduzir a margem de lucro. Resultando no repasse

das taxas para o cliente, tornando difícil a popularização de alguns produtos.

Para o estabelecimento C, os fatores que influencia a venda da cerveja é a

variedade de marcas que oferecem, pois assim permitem que os clientes sintam-se à

vontade para escolher ou pedir sugestões ao garçom.

4.4 IDENTIFICAÇÃO DO PERFIL DOS APRECIADORES DE CERVEJAS

DIVERSIFICADAS

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Para entender esse tópico foi perguntado aos estabelecimentos qual é o perfil

dos consumidores e apreciadores desses produtos. O estabelecimento A foi enfático

em responder que 90% dos consumidores são homens, e já sabem o que querem,

possuindo algum conhecimento sobre cerveja. Observa-se que esses clientes se

tratam de frequentadoresdo bar quando fornecia apenas cervejas nacionais, e com

isso os clientes que já frequentavam o estabelecimento evoluíram junto com ele.

No caso do estabelecimento B, o público é mais variado. Casais dos mais novos

aos mais velhos, famílias com filhos, além de pessoas que conhecem ou não esse

nicho de cervejas especiais. Tendo isso em vista, observa-se que o público do

estabelecimento é um tanto quanto difuso e heterogêneo, não obstante percebemos

que essa questão se dá por conta da programação do local apresentando jogos,

transmitindo esportes e series. Tornando-se um atrativo para o público em geral.

Já o estabelecimento C salientou que seu público se trata da classe A, na faixa

dos 28 aos 30 anos, e em geral homens. Analisa-se que este bar tem o público mais

restrito. Observa-se que isso se dá pelo estabelecimento oferecer exclusivamente

cervejas especiais importadas e artesanais nacionais, sem margem para produtos

industrializados em larga escala. Dessa forma acabam por atrair um público mais

seleto.

Para Beltramelli (2014, p. 193) as cervejas especiais buscam clientes adeptos

e não “torcedores de rótulos”. Esse segmento busca atingir consumidores mais

maduros e conscientes, que estejam dispostos a pagar mais por melhores produtos,

visando ter maior qualidade de vida no novo habito de beber menos.

No entanto, é imprescindível entender os critérios que os empreendedores

acreditam ser fundamentais para a escolha do cliente. Logo, o estabelecimento A

apontou que o sabor é um fator determinante, pois a escolha do cliente se dá pelo da

gustação da cerveja, além da indicação do garçom mediante o que o cliente procure.

O estabelecimento B Informou que nesses casos se trata de indicação, seja de amigos

ou do garçom. Podendo também ser peloconhecimento do cliente sobre cerveja. Já o

estabelecimento C indicou que isso se dá por meio da curiosidade do cliente e pela

indicação do garçom.

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Para Beltramelli (2014, p. 5) cada pessoa possui seu gosto para cerveja, e é

nesse ponto que os novos empreendimentos cervejeiros em Manaus buscam

resguardo, oferecendo diversos rótulos.

Desse modo podemos entender que todos os estabelecimentos foram

consonantes em afirmar que o critério para a escolha é algo muito pessoal e difícil de

ser explicado, logo todos os estabelecimentos também corroboraram para a ideia de

que o garçom é uma peça fundamental para identificar e oferecer o que o consumidor

necessita.

Com relação ao período de maior consumo da cerveja, o estabelecimento A

informou que o consumo está nitidamente ligado ao verão de Manaus, que

constituem-se dos meses de julho até novembro. Já o estabelecimento B informou

que o maior fluxo acontece durante o segundo semestre do ano, entre setembro até

janeiro. Após esses meses, segue-se uma queda gradual que se prolonga até

alcançar o segundo semestre novamente. Porém, em 2016, tratou-se de um ano

atípico onde houve alta no mês de março e uma queda de 30% nos meses seguintes,

onde as vendas só voltaram a se reestabelecer em setembro.

O estabelecimento C possui um fluxo elevado em dezembro, junho e outubro e

a menor taxa durante fevereiro. Logo, interpreta-se que os meses de maior fluxo se

dão por conta das férias e o oktoberfest e o menor se dá por conta do período de

carnaval.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O surgimento de novos bares com cervejas especiais tem atraído a atenção do

público manauara. O caráter revolucionário assumido por esses bares em não

somente vender cervejas especiais, mas em oferecer também uma diversidade de

cervejas internacionais das melhores escolas cervejeiras do mundo.

Dessa forma, acredita-se que a cerveja seja uma bebida que está ligada

culturalmente com o povo manauara, promovendo a degustação, entretenimento e

lazer através dos bares presentes em toda a cidade de Manaus

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A hipótese desse artigo acredita que a cerveja seja uma bebida ligada

culturalmente ao manauara. Mediante pesquisas bibliográficas, mostrou-se serem

fatos históricos, ligados a vinda dos colonizadores europeus que portavam a própria

cerveja. Durante o final do século XIX e início do XX as mercearias comercializavam

cerveja e chope provindos de navios, os quais abasteciam a cidade durante o período

áureo da borracha. Observando essa oportunidade a família Miranda Correa por sua

vez fundou a Cervejaria Miranda Correa S.A que foi responsável por disponibilizar

vários rótulos de cervejas durante o século XX.

Constatou-se então, que a cerveja é uma fonte econômica na cidade de

Manaus. Com base nas entrevistas, o habito de degustar produtos especiais, como

cervejas artesanais e importadas é uma forma de fortalecer esse mercado, tendo em

vista ser tida por seus apreciadores como um meio de confraternizar e relaxar. A

cerveja também é entendida como um complemento a outras atividades de lazer como

assistir esportes, ver series ou jogar sinuca nos bares. Logo, podendo ser assimilada

como um meio de lazer nos bares estudados e não somente como mais uma bebida.

Diante disso, por meio de entrevista nos bares estudados, consegue-se

discernir o processo de elevação da cerveja, tendo em vista esse mercado que são

as cervejas especiais. Logo, foram observadas por todos os bares como uma

oportunidade de explorar um nicho de mercado que se mostrava praticamente

inexplorado em Manaus. Bem como a razão de diversificar as cervejas, pois se trata

de um mercado tênue que não está amplamente difundido na cidade. Já o perfil dos

consumidores são percebidos como um público muito difuso considerando as

explicitações dos três bares quanto a isso, porém os três apresentam uma gama de

consumidores que conhecem sobre cervejas especiais. A qualidade das marcas, além

de outros fatores que influenciam na venda das cervejas, foram entendidos como

pontos negativos os impostos exorbitantes que dificultam a margem de vendas, e

como positivos a variedade de rótulos que podem ser trabalhados além da influência

da propaganda diretamente ligada a maioria dos estabelecimentos.

Dessa forma, conclui-se que o mercado de cervejas especiais vem crescendo

na cidade de Manaus, onde a procura por parte dos consumidores ainda se mostra

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tímida, porem crescente. Logo, se entende por meio de todas as diretrizes utilizadas,

que a cerveja especial se aplica como uma bebida que favorece a economia. Estando

intimamente ligada a um habito cultural, os novos espaços disponibilizam a

degustação de cervejas diferenciadas, oferecendo entretenimento nos espaços de

lazer da cidade de Manaus.

REFERÊNCIAS

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COMIDA DE CHEF COMO PRODUTO TURÍSTICO: O CASO GASTRONOMIX

2016

LISBOA, Patrícia73 ; KOSINSKI, Álvaro74 [email protected]

Resumo: Pelo evento gastronômico o Turismo proporciona uma experiência do gosto, apresentado e saboreado em condições e locais especiais. O Gastronomix, uma das atrações do Festival de Curitiba, reúne a cada edição, desde 2009, diferentes chefs de cozinha que oferecem pratos especiais para o público. Dentro deste contexto, o objetivo da pesquisa é identificar o que leva os chefsa participar do eventoA pesquisa caracteriza-se como um estudo exploratório-descritivo. Os resultados permitem afirmar de forma geral que enquanto os chefs locais tiveram uma motivação predominantemente econômica, os chefs de fora apresentaram diferentes razões.

73Nutricionista pela UFPR; especialista em Gerenciamento de Unidades de Alimentação e Nutrição pela PUC-PR; mestre em Turismo e Hotelaria pela UNIVALI-SC. Link currículo lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4279077Z6 e-mail: [email protected] 74Bacharel em Direito pela PUC-PR; especialista em Gestão de Pessoas pela UNIVALI-SC. Link currículo lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4440174D3 e-mail: [email protected]

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Palavras-chave: Turismo; Evento Gastronômico; Gastronomix

1 INTRODUÇÃO

Porque a comida é o resultado de um longo processo histórico-social que se

inicia no plantio e chega até ao serviço, passando pelas escolhas dos alimentos,

preparos e harmonizações, a gastronomia que dela decorre pode ser reconhecida

como um patrimônio cultural, passível de exploração como produto turístico.

Nesse sentido, a gastronomia ganha importância, segundo Gastal e Pertile

(2013), pelos cuidados e sofisticação dispensados aos seus apreciadores que, em

retribuição, passam a reconhecê-la, de acordo com Gimenes (2012), como uma

experiência, algo capaz de fazer com que se envolvam de uma maneira pessoal,

emocionando-se e aprendendo com as vivências de consumo.

No centro desse contexto está o chef de cuisine, profissional da área da

Alimentação responsável pela concepção, confecção e pelo serviço a ser prestado ao

cliente e que por isso deve considerar todos estes elementos.

Inserido na programação do Festival de Curitiba em 2009 (atual denominação do

Festival de Teatro de Curitiba), o Gastronomix (Gmix) é um evento gastronômico realizado

nos dois últimos dias do Festival de Curitiba,com a premissa de refletir nas artes culinárias

o que se buscanas artes cênicas: apresentar ao público uma amostra rica e diversificada

de produções; ser local e global ao mesmo tempo, isto é, partir das produções locais

para uma visão global, e, ao mesmo tempo, trazer um olhar mais universal para o

contexto local.

Neste campo de estudos que envolvem a gastronomia como um produto

turístico, especialmente em eventos com esta finalidade, o objetivo desta pesquisa é

identificar o que leva os chefs, atores principais deste enredo,a participar do evento.

A este objetivo precedeu a necessidade de descrever o Gastronomixpara

compreendê-lo enquanto evento e, então, obter dos participantes,via entrevistas, as

razões determinantes para o aceite.

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O estudo caracteriza-se como exploratório-descritivo, pois, como dizem

Richardson (1999) e Vergara; Caldas (2005) que a pesquisa é exploratória quando

não se têm informações sobre determinado tema, há pouco conhecimento acumulado

ou sistematizado sobre ele, mas se busca conhecê-lo. E é descritiva, segundo

Merriam (1998), a investigação cujo objetivo é descrever as características de

determinada população ou fenômeno, propiciando, em alguns casos, descobrir

associações entre variáveis que levem a uma compreensão mais ampla do problema.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho é uma pesquisa de abordagem qualitativa básica (GODOY,

1995) através da qual se analisa o fenômeno que se observa, que se serviu da técnica

de entrevista, com a formulação de perguntas que seriam básicas para o tema a ser

investigado (LALANDA, 1998).

Segundo Alberti (2004), a escolha de entrevistados deve ser orientada pela

posição do entrevistado no grupo ou por sua experiência. Por isso, as entrevistas

foram realizadas nos dias dois e três de abril, com chefs de cozinha, locais e de outras

regiões do Brasil, participantes da edição de 2016 do Gastronomix, respeitando

condições essenciais à entrevista qualitativa, descrita por Godoi e Mattos (2006).

O material passou pelo método de análise de conteúdo Campos (2004), de

forma a estabelecer-se um melhor entendimento dos temas abordados. De acordo

com Minayo (1999), esse tipo de análise pode ser utilizado em qualquer tipo de

pesquisa qualitativa e tem como principal objetivo agrupar ideias, elementos ou

expressões obtidas a partir da interação das pessoas envolvidas com o fenômeno

pesquisado.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A comida, dizem Ferraccioli e Silveira (2010), é algo que se ingere

prazerosamente, conforme as normas da comunhão e comensalidade; um meio pelo

qual as pessoas se comunicam umas com as outras, segundo Foster e Anderson

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(1978), a personificação dessa comunicação em si; uma forma de expressão dos

desejos humanos que deve dar prazer e possuir um prestígio, conforme Carneiro

(2003) e Poulain (2004); algo que define, de acordo com Da Matta (1987), um domínio

e uma identidade, visto que é preparada a partir de um ou vários tipos de alimentos,

tem um ritual que a define, uma sequência de informações que vai do cultivo ao

preparo.

Conforme dizem Lemos (2000) e Giustina e Selau (2009), a identidade de um

povo pode ser qualificada pelos sabores, mas também, pelo saber fazer ou

transformar um produto a partir de recursos disponíveis que podem ser representados

por alimentos, utensílios, equipamentos, artefatos, entre outros.

Já Gimenes (2006) afirma que a abrangência da relação alimentação/cultura

não se restringe aos processos relacionados com a manipulação da iguaria a ser

digerida, mas se estende aos modos à mesa, bem como aos locais e às maneiras

com que a degustação ocorre, fazendo com que o complexo fenômeno da

alimentação humana tenha, conforme assevera Ceretta (2012), marcas de mudanças

sociais, econômicas e tecnológicas, todos eles representativos de um determinado

momento histórico.

A diversidade gastronômica brasileira, segundo Milagres e Gomes (2014),

envolve um conjunto de cores, aromas e sabores variados, o que permite a elaboração

de pratos que vão além da função alimentar; marcam a identidade cultural do

brasileiro, constituindo-se, de acordo com Gimenes (2015), em elemento fundamental

no contexto turístico, pois que extrapola o universo da oferta técnica e se consolida

como integrante da oferta original e diferencial de um destino quando reconhecida

como patrimônio cultural imaterial.

Atualmente, falam Medeiros e Santos (2009), nota-se uma valorização da

culinária como oferta turística principal, uma forma de atrair turistas em épocas de

menor ocupação. Ela surge, segundo Marujo (2014), como uma ‘arma’ para identificar

um destino, melhorar a imagem do lugar ou combater a sazonalidade.

Nesse sentido, Martins, Matias e Paes (2012) dizem que os eventos

gastronômicos são importantes para o turismo e para a gastronomia que pode ganhar

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novos talentos ou então preservar suas tradições culinárias e históricas; contribuem

para ampliar e socializar o conceito da gastronomia, ainda vista por muitos como algo

destinado apenas às classes mais altas da sociedade; uma forma de entrar em contato

com as novas tendências, conhecer de perto como os chefs concebem suas criações,

como utilizam os conceitos da gastronomia regional e os ingredientes da terra em

pratos mais sofisticados.

Como resultado do processo de transformação da gastronomia em atrativo

turístico, afirma ainda Gimenes (2012) que a interação do visitante com o local visitado

deve propiciar a vivência de experiências potencialmente inesquecíveis, criando

memórias que irão influenciar positivamente a relação do consumidor com aquilo que

é consumido. E de acordo com Silva (2013) porque podem proporcionar experiências

únicas e memoráveis, com apelo aos cinco sentidos, os chefs desempenham um

papel predominante no que respeita ao binómio turismo-gastronomia, sobretudo

quando se está diante da economia das experiências.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

4.1 O evento (Gastronomix 2016)

Divulgado como uma Quermesse Responsável, que valoriza o produto e o

produtor, reúne chefs que naturalmente seguem os princípios da Gastronomia

Responsável, ou seja, a utilização de alimentos orgânicos e regionais, o evento

apresenta pratos servidos em porções que variam em torno de 150 gramas, o que

possibilita às pessoas experimentarem mais de uma preparação.

Com entrada no valor de R$ 12,00 (crianças até 05 anos não pagam) o Gmix

contou com pratos cujos preços variaram entre R$ 8,00 e R$ 20,00, de acordo com o

fixado por cada chef. O evento ocorreu nos dias 02 e 03 de abril – sábado e domingo

– entre 11 e 17 horas, na área térrea, externa e jardim,totalizando treze mil metros

quadrados, do Museu Oscar Niemayer no Centro Cívico – Curitiba. Foram

disponibilizados pela organização 1787 lugares sentados, sendo 619 lugares no piso

superior, dos quais 512 lugares em cadeiras, 72 lugares em bancos e 35 lugares em

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louges, e 1168 lugares no piso inferior, sendo 900 lugares cobertos em cadeiras e 268

lugares sentados descobertos, incluindo área de pique nique.

Na edição de 2016 o Gmix contou com a participação dos seguintes chefs

(restaurantes - prato): Ana Luiza Trajano (Brasil a Gosto - São Paulo/SP – Carne de

panela com baião de dois); Chef Caju (Kantinho do Japa – Curitiba/PR – Combinado

Chef Caju - sushis); Claudio Couto (Desfrutary – Curitiba/PR – Paletas gourmet);

Emmanuel Bassoleil(Skye – São Paulo/SP – Arroz de pato a moda do chef); Fabiano

Marcolini (MarcoliniAlimentari – Curitiba/PR – Pão no vaso); Felipe Niyake e Mayra

Batista (La Varenne – Curitiba/PR –Steaktartar); Felipe Schaedler (Banzeiro –

Manaus/AM – Bisque de tucupi com pirarucu curado e farinha de uarini); Fernanda

Zacarias (RagúRotisseria& CO. – Curitiba/PR – Quirera da Lapa com confit de leitão);

Flavia Soni Rogoski (Bon Vivant -Curitiba/PR – Burrata com pão artesanal e prato

de queijos brasileiros); Francesco Carli (RJ Country Club – Rio de Janeiro/RJ –

Codorna trufada sobre cama de spaetzle de couve mineira); Giuliano

Hahn(Restaurante Armazém Santo Antônio – Curitiba/PR –Arroz de bacalhau com

tapenade de azeitonas); Lênin Palhano(Nômade – Curitiba /PR – Quarteto

snacksNomade); Bia Araújo (SucréPatisserie – Fortaleza/CE– Sanduiche de Cookies

de chocolate da Amazônia e nutella com sorvete de banana e baunilha fresca); Lucas

Cintra (Pizza – Curitiba/PR – Marguerita); Marcelo Cabral (Mercado 153 –

Curitiba/PR – Sanduíche de mortadela com queijo); Marcos Bortolozo(MarbôBakery

– Curitiba/PR– Sanduíche de pernil suíno com musselina de banana-da-terra, cebola

dourada e rúcula no pão de limão com gengibre); Mariana Salata (Mary Ann Factory

–Curitiba/PR – Maçãs carameladas); Maurício Fontana (Gordo e Magro Gastrobar –

Curitiba/PR – ESTICA, hamburguer de costela bovina angus, cheddar, picles,

maionese artesanal e pão crocante especial); Polyana Rodrigues (GruéChocolateria

– Curitiba/PR – torta de caramelo com castanha do Pará e damasco); Reinhard

Pfeiffer (Restaurante Expedito – Lapa/PR – Risoto mulatinho de linguiça defumada

guarnecido com mandioca cremosa e pastel de milho crioulo); Renata Ferrian

Canabrava (BellaBanoffi – Curitiba/PR – Torta Banoffi); Rodrigo Martins (La Palme

– Londrina/PR –Cassoulet de vitelo;Mukeka – Curitiba/PR – Moqueca paranaense

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com camarão, pescado e pinhão; e The MeatpackHouse – Curitiba/PR –Pão com

linguiça de carneiro, purê de grão de bico e cebola crocante); VaneskaBerçani

Rodrigues (Restaurante Velho Oriente – Curitiba/PR –Falafel) e Vinícius D’Agostin

(Cantina Vini D’Agostin – Curitiba/PR –Sucos naturais agroecológicos. Laranja com

manga, melancia com gengibre, abacaxi com hortelã e uva).

O evento contou também com a participação das empresas Cini, Porto a Porto,

Suco e Só, Way Beer, Cachaçaria Vô Milano, BeerManiacs e Hop’nRoll, vendendo

bebidas; dos patrocinadores Melitta, Electrolux e Cielo; dos apoiadores Vapza,

Thermo King e Compagás; dos parceiros PUCPR, Bergerson Presentes e Celso Freire

Gastronomia; e da Oxford Porcelanas com a louça oficial.

A escolha dos chefs (restaurantes) é feita pelo curador do Gastronomix que

verifica dentre os restaurantes da cidade e de outros estados e/ou países, quais atuam

conforme os princípios do movimento gastronomia responsável. Aceito o convite pelo

chef, coube à produção de cozinha do evento o contato para alinhar o produto a ser

servido às diretrizes do Gmix, uma vez que há risco de se repetirem total ou

parcialmente as preparações e haver distorções nas quantidades dos pratos a serem

servidos. Além disso, ficou estabelecido o número de credenciais para a equipe de

cada um dos chefs e a necessidade de que cada barraca providenciasse um número

aproximado de 800 porções a serem servidas por dia.

O evento ofereceu a cada convidadoparticipante uma barraca coberta com 2,3

x 2,3m, identificada com o nome do chef, do prato a ser servido e do restaurante

correspondente, instalada sob uma tenda branca calhada para proteção contra

eventuais chuvas. Dentro de cada barraca foram disponibilizados dois pontos elétricos

de 220v, um fogão de alta pressão de duas bocas e o gás necessário para o seu

funcionamento, além de e uma mesa de 1,80 x 0,90m para apoio. Os demais

equipamentos específicos, eventualmente necessários para compor a barraca,

deveriam ser providenciados pelo chef convidado.

Além disso, a organização disponibilizou uma equipe de cozinha composta por

quatro grupos distintos com funções específicas. A equipe de produção de cozinha,

composta por um produtor, um maquinista, um motorista e um estudante voluntário

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de Gastronomia. A equipe operacional, composta por trinta e um estudantes

voluntários de um curso superior de Tecnologia em Gastronomia e um professor

responsável que os acompanhou no sábado e no domingo. A equipe de limpeza,

composta por sete auxiliares de serviços gerais, responsáveis pela higienização dos

pratos e demais louças da cozinha, além do ambiente de produção. E, por fim, a

equipe de traslado, composta por seis colaboradores, responsáveis por transportar os

pratos sujos para as cozinhas de apoio e repor os pratos limpos nas barracas dos

chefs.

Durante o evento houve programação paralela com oficinas, aulas show,

programação infantil e apresentações musicais de artistas locais.

Considerando os envolvidos com o evento e os que adquiriram ingresso, o

Gmix teve um público de aproximadamente dez mil pessoas – quatro mil no sábado e

seis mil no domingo.O pico de movimento ocorreu sempre entre as 12 e 14 horas. No

sábado, nenhuma barraca fechou antecipadamente, mas no domingo, dez barracas

encerraram suas atividades antes do horário defechamento por terem vendido todos

os seus produtos.

4.2 RAZÕES QUE LEVARAM OS CHEFS A ACEITAR PARTICIPAR DO EVENTO

Dos vinte e três chefs participantes, onze aceitaram responder à entrevista,

sendo os números 1, 2, 3, 5, 6, 8, 10 e 11 chefs locais, e os números 4, 7 e 9

representando os chefs convidados de outros estados.

Os outros doze não atenderam ao pedido de entrevista por diferentes razões:

por apresentar grande movimento na barraca; ter outro compromisso após o

encerramento; necessidade de atender sua equipe para produzir mais; retorno

programado para logo após o fechamento, domingo.

O motivomais citado pelos chefslocais para a participação foi a possibilidade de

ganho financeiro, através do aumento das vendas de seus produtos.

1 –“Ao aceitar participar do Gastronomix objetivamos aumentar as vendas, pois, devido à crise, já percebemos uma diminuição do movimento no

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restaurante de cerca de 40% em relação ao mesmo período do ano passado (2015). E embora o formato do evento não nos permita ter o mesmo retorno financeiro que temos em nossa casa, acreditamos que uma boa comida aqui, desperta a curiosidade do público para conhecer ou voltar ao restaurante”. 6 – “A participação no Gastronomix para nós foi vista como a oportunidade de um reforço no caixa. A crise tem feito muitas casas encerrarem suas atividades desde o final do ano passado e esse temor ronda muitos estabelecimentos atualmente. Por isso, escolhemos uma receita simples, de fácil execução e finalização para vendermos bastante. Estamos muito satisfeitos porque tivemos uma ótima aceitação do público”. 11 – “Uma oportunidade para vender mais, expor a marca, ver a concorrência, ter contato direto com o público são alguns dos motivos que nos fizeram aceitar as condições de estar no Gastronomix. Como conseguimos realizar nossa operação no próprio local, com uma base pronta vinda do restaurante, sem interferir no serviço da casa, acreditamos no potencial do evento que já é tradicional do Festival de Teatro”.

Ainda que não ligada diretamente à expectativa de faturamento, a questão

financeira surge como um fator determinante para o aceite:

10 – Acreditamos que para a marca do estabelecimento ter participado desta edição do Gastronomix foi importante porque vendemos em dois dias 80% do que vendemos em um mês. Mesmo não tendo o mesmo retorno financeiro, pensamos que esse ‘giro’ nos deixa com mais credibilidade junto aos nossos fornecedores em um momento de crise como o que estamos passando. Vimos aqui algumas oportunidades de parceria, principalmente com as marcas que venderam bebidas. A receptividade do nosso produto pelo público foi muito boa, tivemos muitos elogios. Foi uma ótima experiência também de processos e procedimentos dentro da cozinha para preparar tantos pratos em tão pouco tempo.

Já os chefs que vieram de outros estados deram diferentes razões para aceitar

participar:

4 –“Vir para Curitiba e trazer a nossa culinária para nós foi um desafio. Já tínhamos informações positivas sobre o evento de pessoas que participaram em anos anteriores e isso foi importante para aceitar o convite. Ainda se fala muito que o povo curitibano é muito exigente, queríamos nos colocar à prova. E como o convite se deu com bastante antecedência pudemos programar alguns passeios para conhecer lugares que ainda não conhecíamos. Estamos tendo uma ótima impressão, tanto em relação a organização quanto ao público que vem prestigiarTirar fotos, conversar com os clientes, interagir com outras barraquinhas são pontos fortes do evento.”

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7 – “Estar em Curitiba e participar do Gastronomix com uma preparação brasileira tradicional é muito gratificante. Quando recebi o convite e ‘as regras do jogo’ vi uma ótima oportunidade de mostrar essa culinária. A receptividade do público tem sido dentro do que esperávamos. Não tivemos grandes filas durante o período de mais movimento, o que nos possibilitou um contato com o cliente um pouquinho mais demorado do que o de costume. Percebi que uma boa parte das pessoas vem com essa intenção, mais até do que provar a nossa comida. Hoje vendemos 90% de nossas porções e isso é bom para o evento. Agora, na parte final do dia, é uma ótima oportunidade para ‘trocar figurinhas’ com outroschefs”. 9 – “Este evento coloca em primeiro plano ochefde cozinha. Assim, não podia deixar de participar. Prestigiar esse evento é prestigiar minha profissão”.

Dentre os novatos – participantes pela primeira vez do evento – a afirmação

da marca junto ao público surge como o motivo determinante, embora o chef 2 tenha

mencionado a mídia espontânea do próprio Festival a via para atingir tal pretensão

enquanto a chef 5 tenha citado o cuidado na escolha e preparo do prato a ser servido:

2 – “Ainda somos um estabelecimento novo na cidade, em um ramo de muita concorrência (sanduíches). Então estar no mix de participantes, para nós, foi uma oportunidade de divulgar a marca para um público diferenciado que participa do evento, uma vez que, diferente de outros eventos, aqui paga-se para entrar, além do valor da comida. Além disso, a mídia espontânea que vem junto com o festival, inclusive nas redes sociais, já nos indicou o acerto na escolha. Isso porque a página do estabelecimento já recebeu muitas curtidas nesses dois dias”.

5 – “Como ‘plateia’ já tinha participado do Gastronomix em anos anteriores. Quando recebemos o convite nos sentimos lisonjeados porque sempre háchefse casas muito conhecidas. Por isso escolhemos com muito cuidado o prato a ser servido, contamos, inclusive, com a colaboração do evento para evitar algum desacordo com as normas do evento. Nesse processo, já conseguimos perceber que a rentabilidade não deveria ser o foco de nossa participação. Optamos, assim, pela qualidade, para que o público perceba que a comida que se faz aqui é tão boa quanto a dos melhoreschefsdo Brasil, já que o festival oportuniza grandes preparações a preços bastante acessíveis”.

Por fim, dentre os entrevistados que já participaram de outros eventos (mais

experientes) outras razões surgem como motivadoras para querer participar:

3 - Já é a terceira vez que participo do Gastronomix. O evento propicia um contato muito direto com o público, diferente do que normalmente acontece no restaurante. Como nossas preparações veem prontas, nos resta apenas finalizá-las, aproveitamos o momento para atender pessoalmente as pessoas, explicando a receita e respondendo a curiosidades das pessoas.

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Nesse sentido, alguns perguntam se existe algum segredo ou sobre a possiblidade de trocar algum elemento do prato. 8 – Diferente de outras feiras e eventos que já participei, o Gastronomix tem uma pegada mais de confraternização. Lógico que sempre tem uma disputa para ver quem vende mais ou tem sua barraca encerrada antes, mas aqui isso, sem dúvida, fica em segundo plano. Talvez seja resultado do formato do evento, com porções menores e preços reduzidos. Os que participam já sabem que não vão ficar ricos aqui. O que também difere este evento são as atividades que ocorrem em paralelo, com palestras, aulas show, oficinas, apresentações teatrais e área com espetáculos para crianças. Acredito que isso chega até a influenciar o público visitante porque não é um ‘vir, comer e ir embora. Dá pra pessoa passar o dia inteiro aqui, se quiser’.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo evento gastronômico o Turismo proporciona uma experiência do gosto de

um prato, saboreado em condições e locais especiais. Fixa, assim, na memória do

turista um momento, um relacionamento, além de beneficiar econômica e

emocionalmente a comunidade que o proporciona, seja por lhe trazer dividendos, seja

por lhe aumentar a autoestima de ser capaz de oferecer uma experiência única.

Conforme o objetivo específico proposto a pesquisa descreveu, sob o ponto de

vista da produção de cozinha, o evento Gastronomix. Nesse sentido puderam-se

verificar as condições operacionais oferecidas aos chefs participantes.

Já sob o objetivo geral de identificar os motivos que conduziram os chefs

convidados a aceitar participar do Gmix, embora não tenha sido citado como a

principal razão, o histórico do evento – compor o conhecido Festival de Curitiba e as

informações colhidas de anos anteriores com conhecidos – foi mencionado por mais

de um participante, pelo que se pode concluir que é um fator considerado relevante.

Demais disso emerge a questão financeira – sob diferentes aspectos – como a

razão mais citada, demonstrando que os estabelecimentos locais passam por

dificuldades para se manter.

E em relação aos chefs convidados de outros locais, o fato de terem diferentes

motivos, que não econômicos, revela uma condição especial no mercado

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gastronômico brasileiro, indicando, assim, que estão menos suscetíveis a aspectos

mercadológicos.

Como principal limitação há que se considerar que a pesquisa não incluiu os

chefs que não aceitaram o convite, ou seja, não houve uma abordagem dos motivos

que impediram o aceite por parte de alguns convidados.

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GT 9 – EVENTOS E LAZER

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CARACTERIZAÇÃO DO TURISTA DA FESTA NACIONAL DO DOCE - FENADOCE/2015 – PELOTAS/RS

GARCIA, Natália75;GONÇALVES, Artur76. [email protected]

BARBOSA, Andyara Lima77. [email protected]

Resumo: Este artigo tem como objetivo caracterizar os turistas da 23ª edição da FENADOCE, realizada em Pelotas/RS. Através de revisão bibliográfica trabalhou-se um referencial teórico sobre turismo de eventos, eventos e sua tipologia, apresentando também, uma breve contextualização da Festa Nacional do Doce. Os resultados foram obtidos através documentação direta com pesquisa de campo e os resultados estão apresentados de forma descritiva. Para tanto, a pesquisa utilizou procedimentos metodológicos quali-quantitativos com coleta de dados através de entrevista, evidenciando, entre outros, que os turistas que visitaram a FENADOCE 2015 são, principalmente, oriundos do Rio Grande do Sul, a maioria já conhecia e Festa e pretende voltar para as próximas edições. Palavras-chave: Evento; FENADOCE; Caracterização; Turista.

75Estudante do curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas. Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/6928303885295684. 76Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas. Currículo Lattes em: Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/7773036258683670. 77Graduada em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica/RS, atualmente é professora do curso de bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas. Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/5388185410659175.

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente, eventos como feiras78 e exposições79, tanto de lazer como de

negócios e profissionais, vem absorvendo uma grande massa populacional e, com

isso, o turismo cada vez ganha mais espaço e divulgação, pois engloba um mercado

amplo de produtos e serviços com os seus atrativos naturais e culturais. Neste

contexto, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), junto com órgãos públicos, realiza a

Festa Nacional do Doce que, em sua 23ª edição, foi realizada de 27 de maio a 14 de

junho de 2015, no Centro de Eventos FENADOCE no município de Pelotas/Rio

Grande do Sul.

O principal objetivo dos organizadores de eventos deve ser agradar o público

que o frequenta e a melhor alternativa para alcançar este objetivo é conhecer este

grupo de pessoas. Pensando nesta necessidade, surgiu a vontade de traçar um perfil

do visitante da Festa Nacional do Doce, para conhecermos quem são estes visitantes

e o que pensam sobre o evento.

Através da caracterização do público e de como este avalia o evento,

poderemos oferecer aos visitantes o que eles esperam, o que é determinante no

sucesso do evento. Devemos entender também que, para os organizadores, um

objetivo fundamental deve ser agregar renda e gerar empregos diretos e indiretos com

o evento. Além dos valores econômicos agregados à comunidade receptora, o evento

também pode deixar um legado ao município que o sedia e, pensando desta maneira,

Viana (2004, s/p.) afirma que:

Eventos podem contribuir na reflexão sobre a reorganização da cidade, na qualidade de vida, nas facilidades e assim contribuírem para o melhoramento das condições de vida do habitante local. Permitem, portanto, mobilizar toda a estrutura de uma cidade, começando pelo poder público, que às vezes deve colocar em prática uma série de medidas de melhorias que vão possibilitar que uma localidade sedie um evento, mas que depois são aproveitadas em benefícios da comunidade.

78 Feiras: evento organizado com o objetivo de vender algo ao público. 79 Exposição: evento organizado com o objetivo exclusivo de divulgação de produtos e serviços.

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Além dos benefícios sócio-econômicos que os eventos podem oferecer à

comunidade, é necessário ressaltar a importância destes em função do lazer que

oportunizam aos moradores e aos visitantes, em função da preservação cultural que

podem fomentar e em função de oferecerem espaços para a interação e o

conhecimento entre as pessoas.

Assim, oferecer um evento de qualidade, onde a sua organização e objetivo

estejam focados nos vários publicos por ele afetados, pode ser uma saída para as

dificuldades que uma região enfrenta, pois oportuniza renda, conhecimento,

reconhecimento, podendo gerar um legado que, se bem aproveitado, deve passar a

ser uma fonte de recurso materiais e imateriais permanente.

Do mesmo modo, para que um evento seja considerado um sucesso, sabemos

que é importante que as instituições que trabalham com o turismo e eventos,

desenvolvam um trabalho permanente de compilação de informações e montagem de

banco de dados estatísticos sobre os visitantes, utilizando-se, entre outras estratégias,

de pesquisas de campo e coleta de dados dos usuários dos meios de hospedagem,

terminais de transporte, eventos e demais atrativos turísticos. (MINISTÉRIO DO

TURISMO - MTur, 2009).

De posse dessas informações, é possível identificar os principais mercados

emissores de turistas - visitantes temporários que permanecem no país (núcleo

receptor) por mais de 24 horas e menos de 03 meses, por qualquer razão que não

inclua trabalho (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO – OMT; SANCHO, 2001),

excursionistas e visitantes, além do tipo de turismo que é mais frequente (lazer,

negócios, eventos, etc.).

Neste sentido, um sistema de informação sobre o visitante deve realizar

estudos científicos quantitativos e qualitativos, objetivando conhecer e analisar a

demanda turística real e potencial80 a fim de melhor planejar e adequar o produto

80 Demanda real - conjunto de turistas e os resultados econômicos que os deslocamentos destes grupos geraram. Demanda potencial - conjunto de turistas com condições de viajar e gerar resultados econômicos em seus deslocamentos. (LAGE; MILONE, 2000).

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turístico, entre eles os eventos, a esta demanda visando a sua satisfação e a da

comunidade anfitriã e, desta forma, minimizar prejuízos e maximizar benefícios

provenientes da atividade turística. (OMT, 1994).

Afora isto, conhecer os visitantes é importante porque este conhecimento

permite acompanhar a marcha dinâmica e a propensão do setor turístico; identificar

as correntes turísticas e o impacto no conjunto das variáveis socioeconômicas e

ambientais da região atingida; comprovar ou não objetivos fixados; controlar a

evolução do setor; servir de instrumento para a tomada de decisões baseadas em

dados reais, permitindo um melhor conhecimento da realidade turística local. (VIANA,

2004, s/p.).

Sabemos que existem dados sobre o turismo e a demanda turística em termos

mundiais, através das publicações anuais da OMT; em termos nacionais através das

publicações do Ministério do Turismo e, em nível do estado, as informações são

disponibilizadas através de secretarias de estado ou similares. Estes informes são

úteis e importantes em termos de análises de macroambiente, porém, como sabemos,

o turismo é uma atividade socioeconômica-cultural cujo lócus de ocorrência é o

município e esse lócus é carente de dados que possam permitir análises de

microambiente. Ressente-se, portanto, de dados e informações úteis para planejar e

gerir o fenômeno turístico.

Para entender como atrair e manter o público, os organizadores de evento

precisam, primeiramente, saber quem é o seu frequentador e o que ele deseja. As

pesquisas envolvendo o perfil do visitante são o meio mais eficiente de conhecer o

público do evento e o que ele espera encontrar. Assim, cabe às organizações a tarefa

de montar um banco de dados sobre os visitantes, pois assim, será possível

proporcionar retornos satisfatórios a todos os envolvidos com a realização do evento.

Neste escopo, os objetivos deste artigo são: caracterizar os turistas que

visitaram a FENADOCE do ano de 2015, tanto em termos de idade, sexo, ocupação,

grau de instrução e grupo de renda, quanto em termos de procedência, permanência,

gastos, meio de transporte e número de acompanhantes. Para tanto, a pesquisa

utilizou procedimentos quali-quantitativos, que passamos a detalhar.

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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Dentro do processo metodológico realizou-se pesquisa documental que se vale

de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou que ainda podem

ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa; e bibliográfica que é

desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros

e artigos científicos. (GIL, 2008). A pesquisa documental foi utilizada para a coleta de

dados sobre a FENADOCE e a bibliográfica encaminhou as reflexões teóricas sobre

a temática dos eventos e outras relevantes. Além dos métodos citados, para atender

os objetivos propostos na pesquisa, os procedimentos metodológicos adotados foram

à coleta de dados, que se fez através do método de documentação direta com

pesquisa de campo realizada através da observação direta intensiva com entrevista

pessoal e estruturada com questões fechadas e abertas.

Marconi e Lakatos (2010) definem, basicamente, dois tipos de técnicas de

pesquisa: a documentação indireta, que pode ser realizada na forma de pesquisa

documental ou pesquisa bibliográfica (ou de fontes secundárias). Quanto à

documentação direta, pode ser observação direta intensiva (realizada através de

observação e entrevista) ou extensiva (que se realiza através do questionário, do

formulário, de medidas de opinião e atitudes e de técnicas mercadológicas). Na

documentação direta o levantamento dos dados é feito no próprio local onde os

fenômenos ocorrem e estes podem ser obtidos através da pesquisa de campo ou da

pesquisa de laboratório. (MARCONI; LAKATOS, 2010). A pesquisa sobre a

caracterização do turista da FENADOCE se valeu tanto da pesquisa indireta quanto

da direta, conforme já citado.

Com relação à documentação direta, a fixação do número de entrevistas para

a amostragem deu-se com base na expectativa de 300 mil visitantes (FENADOCE,

2014). Assim, a amostra admitida foi da ordem de 1,27%, totalizando uma total de 380

entrevistas, cuja margem de erro foi de 5%. A abordagem dos entrevistados se deu

na frequência de um para cada três visitantes e o tipo de amostra utilizada foi a “não

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probabilística por conveniência ou ocasional”, onde o elemento pesquisado é

selecionado por estar disponível no momento em que a pesquisa estava sendo

realizada. (GOMES; ARAÚJO, 2005). Este tipo de amostragem é usado em estudos

quali-quantitativos que não exigem alto grau de precisão, sendo utilizada tanto em

estudos exploratórios do tipo quali-quantitativos como em estudos qualitativos.

O campo científico aponta uma tendência para o surgimento de um novo

paradigma metodológico. Um modelo que consiga atender plenamente as

necessidades dos pesquisadores. Essa dicotomia positivista x interpretativo,

quantitativo x qualitativo, parece estar cedendo lugar a um modelo alternativo

de pesquisa, o chamado quanti-qualitativo, ou o inverso, quali-quantitativo,

dependendo do enfoque do trabalho. (GOMES, ARAÚJO, 2005, p. 07).

A pesquisa quali-quantitativa está diretamente ligada às pesquisas científicas

tradicionais, pois unifica e oferece uma nova forma de realizar um trabalho de

pesquisa, onde o principal foco é avaliar a qualidade e a quantidade do objeto de

estudo - neste caso, o turista visitante da FENADOCE 2015.

Diferente da pesquisa quali-quantitativa, a qualitativa faz um estudo mais

aprofundado nos dados que estão sendo analisados, estimulando os entrevistados a

pensar livremente sobre algum tema, objeto ou conceito. Mostra aspectos subjetivos

e atinge motivações não explícitas, ou mesmo conscientes, de maneira espontânea.

É utilizada quando se busca a percepção e entendimento sobre a natureza geral de

uma questão, abrindo espaço para a interpretação. (NEVES, 1996, p.01).

Neves (1996) afirma ainda que a pesquisa quantitativa considera que tudo pode

ser quantificável, o que significa traduzir em números as opiniões e informações para

classificá-las e analisá-las. Pode requerer, conforme o porte da pesquisa, o uso de

recursos e de técnicas estatísticas.

Assim sendo, a pesquisa de campo foi realizada no período de 27 de maio a

14 de junho de 2015, durante duas semanas, com a atuação de 11 pesquisadores.

Foram realizadas 20 entrevistas nas segundas-feiras e 21 entrevistas nos demais dias

da semana, com horários alternando entre a tarde e a noite, ocorrendo nos portões

de saída do Centro de Eventos FENADOCE.

Das 380 entrevistas realizadas, foram descartadas para este artigo, as de

moradores de Pelotas e recreacionistas - pessoa do país, estado, região ou do próprio

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local que visita determinado atrativo turístico ou área de lazer, permanecendo menos

de 24 horas (OMT; SANCHO, 2001) - presentes no evento, restando 40 entrevistas

cujos respondentes afirmaram que permaneceriam no município por mais de 24 horas,

principal qualificativo técnico do turista.

A análise dos dados se deu de maneira quantitativa descritiva e sua

apresentação é igualmente descritiva, como apresentado na seção quatro deste

artigo.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 TURISMO DE EVENTOS

Para a OMT, o turismo se carateriza como as “(...) atividades que as pessoas

realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por

um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e

outros”. (Apud FAGUNDES; CASTRO, 2010, p.46). Nos escritos de De La Torre,

turismo é:

(...) um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem atividades lucrativas ou remuneradas, gerando múltiplas inter-relações de importância social,

econômica e cultural. (Apud FAGUNDES; CASTRO, p. 46).

Na atualidade, o turismo é considerado uma das principais ferramentas para o

fortalecimento das localidades, pois engloba uma série de recursos e oportunidades

de lazer e negócios, desenvolve a região e proporciona o (re) conhecimento cultural e

social dos anfitriões, através de uma vasta possibilidade de atrativos que moldam os

mais variados tipos de turismo.

As tipologias do turismo divergem de um autor para outro. Barretto (apud

MEZZALIRA, 2008, p.27) propõe diversas tipologias de turismo de acordo com os

diferentes critérios a serem considerados, como por exemplo: por sua própria

natureza, ele pode ser emissivo ou receptivo; de acordo com a nacionalidade dos

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turistas, o turismo pode ser classificado como nacional ou estrangeiro; considerando

o volume, de massa ou de minorias. A autora destaca ainda, como principal

classificação do turismo, a modalidade que o considera quanto às motivações:

descanso, lazer, cura, desportivo, gastronômico, religioso, profissional ou de

eventos.

O segmento de eventos no turismo, na atualidade, vem se tornando um dos

principais geradores de conhecimento e renda e eventos como a Copa Do Mundo no

Brasil em 2014 e as Olimpíadas no Rio de Janeiro de 2016, são oportunidades que o

setor tem para agregar valores econômicos, pessoais e culturais a toda sociedade.

O evento também é utilizado como elemento de geração de benefícios diversos para a comunidade. Dependendo da natureza do evento (seja social, político e cultural), são gerados benefícios específicos para os habitantes e visitantes. Do ponto de vista econômico, os benefícios se traduzem em venda de ingressos, formação de grupos culturais, venda de produtos e serviços. Nesse aspecto, o evento é visto como agente de agregação de valor social, cultural, político e econômico do patrimônio histórico-cultural. (NETO, 2007, p. 60).

O desenvolvimento deste setor promove o reconhecimento de grande parte da

sociedade envolvida, pois:

A participação do segmento de eventos no setor turístico vem se mostrando e se confirmando, a cada dia, como sendo um dos segmentos com a maior lógica de crescimento. É um segmento do amplo universo do turismo que possui características muito peculiares e especiais, resultante da estreita ligação em eventos e turismo, com os seguintes pontos positivos: é uma área pouco atingida em época de crise; não depende do regime governamental; gera divisas e empregos; é motivador de investimentos e de melhorias e não é influenciado pela sazonalidade81 da atividade turística. (DIAS, 2000, p.13).

Podemos dizer que o evento pode ser um grande colaborador para o

fortalecimento social de uma localidade, estado ou país, proporcionando não somente

o seu próprio reconhecimento, pois agrega valores em outros setores da economia.

81É a alternância entrealta e baixa temporada, sendo a alta temporada o período em que os locais turísticos recebem um maior fluxo de visitantes; neste período é permitido à população tempo livre com as férias escolares e profissionais, além dos feriados prolongados. Na baixa temporada há pouco fluxo de turistas, devido a seus compromissos com escola e trabalho, entre outros.

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Hoje, com a facilidade de comunicação e divulgação, os eventos estão

ganhando destaque não só pelos visitantes e turistas que atraem, mas também

chamam a atenção do empresariado local, movimentando setores como o hoteleiro, o

de alimentação e o comércio em geral, conseguindo, por vezes, minimizar ou, até

mesmo, eliminar o período de baixa temporada. Isto, sem contar à facilidade que este

tipo de evento proporciona ao turista, pois em um único ambiente é possível encontrar

o que necessita desfrutar em termos de lazer e entretenimento, compreendendo mais

sobre os aspectossocioculturais da localidade.

3.2 TIPOLOGIA DOS EVENTOS

Os eventos apresentam uma enorme diversidade de dimensões, facetas e

propósitos; para entendermos todas estas peculiaridades, precisamos nos deter na

classificação tipológica dos eventos.

A abordagem tipologica se dá a partir da modalidade82de classificação e, dentro

da modalidade, suas respectivas tipologias componentes; salientando que as

modalidades e tipologias que classificam os eventos não são excludentes e que um

mesmo evento pode se enquadrar em uma ou mais classificação.

Segundo Buendia (1996), Cesca (1997), Nichols (1989) e Miyamoto (1987), as

classificações que o evento recebe estão divididas por conta do seu caráter, tamanho,

acesso, lócus ou localização, objetivos, escopo83, funcionamento, timingou frequência

de realização, participantes e a área ou natureza.

Assim, podemos dizer que quanto ao caráter os eventos podem ser divididos

em duas tipologias: evento formal e informal.A formal é quando se faz presente uma

ou mais autoridades devido ao cargo que ocupa, pode ser um servidor público, forças

armadas, entidade privada ou religiosa; já na informal, não está presente nenhuma

autoridade ou que esteja, mas que não represente a sua função. (BUENDIA, 1996).

82Modalidade: categoria de classificação que reúne uma variável. 83Escopo: refere-se ao foco (alvo/mira) de destinação do evento.

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Em questão de tamanho, o evento pode ser classificado conforme o seu porte,

em pequeno com capacidade de até 200 pessoas, médio com até 1000 pessoas,

grande com o máximo de 3000 pessoas e os mega eventos que recebe acima de 3000

participantes. (NICHOLS, 1989).

A divisão do acesso está composta da seguinte maneira: aberto, evento

acessível a todos, podendo ser com ou sem cobrança de ingresso; fechado, com

acesso restrito onde somente são aceitos convidados, associados, autoridades,

imprensa ou público com interesse específico; e o misto que se caracteriza como um

evento com datas e horários pré-estabelecido quando então, é permito o acesso do

grande público.

Já Matias (2013) escreve que:

Os eventos em relação ao público que atingem podem ser classificados em: eventos fechados: ocorrem dentro de determinadas situações específicas e com público-alvo definido, que é convocado e/ou convidado a participar; eventos abertos: propostos a um público, podem ser divididos em evento aberto por adesão e evento aberto em geral. O evento aberto por adesão é aquele apresentado e sujeito a um determinado segmento de público, que tem a opção de aderir mediante inscrição gratuita e/ou pagamento de taxa de participação. O evento aberto em geral é aquele que atinge todas as classes de público.(MATIAS, 2013, p. 116)

O lócus ou localização é a classificação conforme o local: regional; regional em

nível estadual; regional em nível nacional; regional em nível internacional (este

envolve no mínimo três países); mundial que envolve a participação de todos os

continentes e global, que tem a participação de diversos países e atrai a atenção

mundial. Os eventos classificados como mundial e global são, igualmente,

denominados de mega eventos, não necessariamente atrelados a um acontecimento

esportivo, mas porque como esses, atraem a atenção do mundo.

Quanto aos objetivos, os eventos podem ser classificados como comerciais e

não comerciais: o primeiro envolve eventos de venda direta como feiras e exposições,

o segundo: eventos informativos, educativos, comemorativos entre outros, e nesses,

os objetivos são ditos qualitativos. (CESCA, 1997).

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Com relação ao escopo, os eventos são ditos de massa e nicho: os de massa

são destinados ao grande público; já os de nicho são determinados a certo público,

podendo ser um único público “nicho específico” ou para mais de um público de um

mesmo setor “nicho dirigido”. (NICHOLS, 1989).

Na classificação quanto ao funcionamento, os eventos podem ser de

contemplação e assistência: onde as pessoas não interagem, só assistem de forma

contemplativa; já nos de participação e interação as pessoas interagem e participam

das atividades propostas. (MIYAMOTO,1987).

O timing ou freqüência de realização dos eventos dividi-se em especial ou único,

permanente-periódico, esporádico e de oportunidades: o especial ou único ocorre

conforme a necessidade, como batizados, primeira comunhão; o permanente-

periódico ocorre de uma forma periódica - anual, semestral; o esporádico, são os

eventos não periódicos que acontecem em intervalos de tempo irregular e o de

oportunidades são eventos que aproveitam datas comemorativas e históricas.

(CESCA, 1997).

Já com relação aos participantes, os eventos podem ser turísticos, quando têm

a capacidade de trazer turistas para a localidade; e não turístico onde os visitantes

são moradores locais, da mesma região de realização do evento ou de outra próxima,

mas que não permanecem mais de 24 horas na cidade onde o mesmo é realizado.

Por último e talvez a mais importante, temos a classificação dos eventos quanto

à natureza, onde estão inclusos eventos como o gastronômico, sociais, técnico

cientifico, negócios, artístico-culturais, esportivos, cívicos, políticos, religiosos e de

natureza diversas.

Com relação aos eventos gastronômicos, esses tanto podem ser eventos cuja

tônica sejam os alimentos e as bebidas, quanto fazerem parte da programação de um

evento maior, na forma de cooffees breaks, por exemplo. Ou ainda, serem a parte

principal de um evento social, como por exemplo, os aniversários.

Muitos locais turísticos têm o seu reconhecimento não só pela paisagem ou por

seus aspectos históricos culturais, mas o seu destaque também pode ser composto

pela gastronomia. Essa pode transformar a localidade em um grande atrativo turístico,

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divulgando diversos setores ligados a produção e ao consumo de alimentos e bebida,

promovendo a satisfação e a lembrança dos momentos agradáveis que o anfitrião

pode oferecer ao turista.

[...] a alimentação continua tendo meramente papel funcional e os atrativos relacionados a ela são vistos apenas como oferta técnica [funcional]. Para outras pessoas, no entanto, a alimentação passa a ter função muito mais experimental do que funcional quando é parte de uma viagem. Mesmo a refeição mais básica pode ser guardada na memória para sempre, adquirindo caráter mais atrativo. (FAGLIARI, 2005, p.9).

-Eventos sociais: são manifestações tradicionais, particulares ou populares,

que acontecem em datas fixas ou móveis.

-Eventos técnicos científico-profissionais: são acontecimentos que oportunizam

o acesso a novos conhecimentos e informações, pois

A comunidade científica vista como produtora e disseminadora de novos

conhecimentos científicos precisam estar constantemente em busca de

informações atualizadas e, para isso, precisa fazer uso dos mais diversos

canais de comunicação científica que permitam a identificação dos

conhecimentos já existentes. (CARMO; PRADO, 2005, p.131).

-Eventos de negócios: eventos de mercado que propiciam cenários de vendas

diretos ou indiretos, espaços especiais para o fomento, a geração e a realização

setorial de um negócio.

Segundo Beni (apud BRAGA, 2013, p. 88)

Deslocamento de executivos e homens de negócios, portanto turistas potenciais, que afluem aos grandes centros empresariais e cosmopolitas, a fim de efetuar transações e atividades profissionais, comerciais e industriais, empregando seu tempo livre no consumo de recreação e entretenimento típicos desses grandes centros, incluindo-se também a frequência a restaurantes com gastronomia típica e internacional.

-Eventos artístico-culturais: realizações que envolvem manifestações culturais

eruditas, de massas e populares, podendo acontecer na forma de solenidades de

aberturas que marcam o inicio ou o encerramento de outros eventos.

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-Eventos esportivos: atividades cuja finalidade é demonstrar os desempenhos

físicos, num conjunto de exercícios que se desenvolvem e forma individual ou

coletiva.Segundo Andrade (apud CARNEIRO, 2000, p. 72).

[...] o próprio turismo, segundo o sentido atual do termo, teve seus princípios

comprovados como turismo desportivo, na Grécia Antiga, no ano 776 a.C.

com a realização dos primeiros Jogos Olímpicos, que, embora de natureza

religiosa em homenagem a Júpiter, apresentavam como seu ponto mais alto

as várias competições atléticas.

-Eventos cívicos: organizados em datas comemorativas de cunho patriótico,

essas comemorações pode acontecer no formato de hora cívica que são momentos

de aprendizado, de respeito e de amor à pátria.

-Eventos políticos: manifestações populares que, frequentemente, serve para

manifestar a adesão ou repudio as reivindicações populares relativas às decisões

tomadas pelo poder público.

-Eventos religiosos: acontecimentos organizados ou espontâneos que ocorrem

em função da fé e das crenças religiosas ou místicas das pessoas.

O turismo religioso apresenta características que coincidem com o turismo

cultural, devido à visita que ocorre num entorno considerado como patrimônio

cultural, os eventos religiosos constituem-se em expressões culturais de

determinados grupos sociais ou expressam uma realidade histórico-cultural

expressiva e representativa de determinada região (DIAS, 2003, p. 17).

-Eventos de naturezas diversas: concursos, que são eventos caracterizados

pela competição, pode essa ser artística, cultural, esportivas cientifica, de moda, essa

modalidade deve priorizar o regulamento, premiação e o júri.

Classificar o evento não é inserir uma definição estanque do mesmo, pois como

vimos, os eventos podem se enquadrar em duas ou mais tipologias. O que se deve

salientar é o fato de que as divisões apresentadas nos trazem o resumo de tudo que

o turismo de eventos pode nos oferecer, pois através dos eventos é possível propiciar

a localidade um fomento único, onde o lado cultural, histórico e gastronômico entre

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443

outros, são a oportunidade de divulgação e a possibilidade de reestruturação e

organização da mesma.

3.3 CARATERIZAÇÃO DA FENADOCE

A Festa Nacional do Doce surgiu no ano de 1986, em uma parceria público-

privada e, atualmente, é organizada pela Câmara de Dirigentes Lojistas. O evento

ocorre anualmente no Centro de Eventos FENADOCE, sede da festa desde 1988 e

tem como objetivo principal promover a tradição doceira de Pelotas e a diversidade

presente na cidade, expressa nos modos de fazer e nos ingredientes utilizados na

produção dos doces. A Festa Nacional do Doce é um dos maiores eventos do Rio

Grande do Sul, tendo vários anos de tradição econstantemente vem inovando em sua

programação, trazendo atrativos variados para agradar diferentes tipos de público.

(FENADOCE, 2014).

No ano em que a pesquisa foi realizada, além das clássicas doçarias, o evento

contava com mais de 300 estandes comerciais, praça de alimentação, parque de

diversões, cinema em seis dimensões (6D) e um espaço denominado “Cidade do

Doce”, onde os doces artesanais e em calda eram produzidos em frente ao visitante.

Durante a edição de 2015, ocorreram o Festival de Gastronomia da FENADOCE, com

o foco na culinária regional; o Festival Doce Cultura, que contou com mais de 500

apresentações culturais e o Museu Itinerante do Videogame. Esta edição foi também,

o primeiro ano do Projeto FENADOCE Digital, que desenvolveu um aplicativo com

informações da Festa e dois jogos digitais: o “Quindim Crush” e o “Na trilha do doce”.

(FENADOCE, 2014).

A partir dos autores citados na seção anterior, podemos caracterizar a Festa

Nacional do Doce classificando-a como um evento formal e informal, dependendo do

momento, pois a festa recebe autoridades em sua solenidade de abertura. Em termos

de tamanho, seria classificada como um mega evento, devido ao grande público que

a visita; pode ser considerada também, como um evento de lócus nacional.

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444

A FENADOCE pode, ainda, ser classificada como um evento aberto, pois é

acessível a todos mediante pagamento de ingresso e um evento de massa destinado

ao grande público, além de ser de nicho dirigido, pois a 23ª edição foi voltada para

mais de um público do mesmo setor, tendo em vista a realização do Festival

Gastronômico com ampla programação técnica. A Festa, quanto ao funcionamento, é

considerada um evento de contemplação e assistência, oferecendo também

oportunidades de participação e interação, como o Museu do Vídeo Game, parque de

diversões e o cinema em seis dimensões. Quanto à frequência de realização, a festa

é permanente-periódica.

Além destes enquadramentos teóricos, com relação à área ou natureza é

possível afirmar que a FENADOCE é um evento com várias áreas de interesse, entre

elas as áreas artístico-cultural, folclórica, de lazer e promocional, devido à diversidade

presente no programa da 23ª edição. A Festa Nacional do Doce integra gastronomia,

comércio, lazer e entretenimento, o que a torna um polo atrativo de pessoas vindas

de outras localidades, sendo que estes podem ser divididos entre recreacionistas e

turistas. Com relação aos frequentadores, pode ser dito preliminarmente, que o evento

é, em sua maioria, não turístico, o que será evidenciado no decorrer da próxima seção.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Traçar o perfil do turista que veio à Pelotas para visitar a 23ª edição da

FENADOCE é o objetivo principal deste artigo. Para isso, os quesitos abordados

foram: idade, sexo, estado civil, ocupação, grau de instrução, grupo de renda,

procedência, meio de hospedagem e transporte utilizados, número de passageiros

por veículo, como tomou conhecimento do evento, gastos realizados na festa, se já

haviam participado do evento e se pretendiam voltar.

Do total de 380 visitantes entrevistados, cerca de 40% (150

respondentes) afirmaram ser procedentes de outras localidades. Para estes 150

respondentes foi perguntado o tempo de permanência em visita a

FENADOCE/Pelotas, onde obtivemos que: 73% (110 entrevistados) permaneceriam

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445

menos de 24 horas e 27% (40 entrevistados) permaneceriam mais de24 horas na

cidade, sendo esses, teoricamente, considerados turistas. Sendo assim, estão aqui

representados de forma descritiva, os resultados da pesquisa realizada com os 40

turistas que responderam ao questionário.

Quanto à idade dos turistas, foram registrados um respondente menor de 16

anos e um acima de 65 anos (2% para cada), quatro entrevistados na faixa que vai

dos 46 a 55 anos, sete com idades entre 16 e 25 anos e sete de 56 a 65 anos (18%

para cada), 10 pessoas entre 26 e 35 anos e entre 36 e 45 anos (somando 50% dos

turistas).

No que tange ao sexo dos turistas, constatou-se que a maioria, ou seja, 60%

(24 respondentes) é do sexo feminino. No que se referente ao estado civil dos

entrevistados, foram registrados 18 solteiros (45%), 15 casados (36%), quatro

divorciados (10%), um viúvo, uma pessoa que marcou a opção ‘Outro’ e um formulário

sem resposta (representando 3% cada).

Com relação à ocupação dos turistas, professores e estudantes estão entre as

principais ocupações (ambas com cinco respondentes). As outras profissões citadas

foram: comerciante (três pessoas), aposentada e contadora (ambas com duas

citações), empresário, pedagoga, gerente, costureira, consultora empresarial,

montagem, operador e montador, profissional de vendas, advogado, representante,

veterinário, colunista, funcionária pública, cozinheira, professora aposentada, dona de

casa, educadora física, engenheiro, porteiro, engenheiro mecânico, militar, técnico em

mecânica e sem resposta, todos com uma citação.

Quanto à escolaridade dos turistas entrevistados, as respostas foram variadas:

quatro pessoas tinham o ensino fundamental completo (10%), oito terminaram o

ensino médio (20%), nove tinham o nível superior incompleto (22%), 10 completaram

o nível superior (25%) e nove possuíam pós-graduação (23%).

A renda declarada pelos turistas variou entre: de 1 a 3 salários mínimos – 18

respondentes (45%); de 4 a 6 salários – nove pessoas (22%); de 6 a 10 salários –

cinco turistas (13%); quatro pessoas disseram receber de 10 a 15 salários e quatro

deixaram esta pergunta sem resposta (representando 10% cada).

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446

No que diz respeito à procedência, os turistas chegaram das seguintes regiões

turísticas, cidades e estados:

• Grande Porto Alegre – Esteio (um) e Porto Alegre (12), totalizando 13

dos 40 turistas entrevistados, sendo 32,5% dos respondentes;

• Costa Doce – São Lourenço (quatro), Rio Grande e Santa Vitória do

Palmar (dois), Canguçu, Camaquã, Arroio Grande, Pinheiro Machado

(um respondente de cada município), totalizaram 12 turistas, ou seja,

30% do total;

• Região Central – Santa Maria, com três turistas; ou seja, 7,5 % do total;

• Região do Pampa – Uruguaiana, Dom Pedrito e Santana do Livramento

(cada cidade com um respondente), totalizando três turistas, ou seja,

7,5% do total de 40 turistas;

• De outros estados - registrou-se (cinco) visitantes oriundos de Brusque,

Chapecó e Salete (Santa Catarina), de Curitiba (Paraná) e Recife

(Pernambuco), ou seja, 12,5% do total de 40 turistas.

• Outras regiões turísticas e cidades - Litoral Norte - Capão da Canoa

(um); Serra Gaúcha - Uva e Vinho – Caxias do Sul (um); Região dos

Vales - Santa Cruz do Sul (um); Hidrominerais - Getúlio Vargas (um),

totalizando quatro turistas, ou seja, 10% do total de 40 turistas.

Quanto ao meio de hospedagem mais utilizado pelos turistas, 15 afirmaram

que ficariam em casa de familiares (36%), 12 ficariam em hotel (30%), quatro ficariam

na casa de amigos e outros quatro não responderam à pergunta (cada uma das

respostas com 10%), e pousada, alojamento e quartel receberam uma resposta

(representando 3% cada).

O meio de transporte mais utilizado pelos turistas foi o carro, citado por 67%

deles (27 respondentes). O ônibus foi o segundo meio de transportes com maior

número de respondentes, mencionado por 24% dos entrevistados (10 pessoas).

Táxi, caminhão e carona tiveram 3% das respostas cada modalidade, com apenas

uma menção.

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447

O número de passageiros por veículo variou em: veículos com um

passageiro foram citados por três pessoas (7%), com dois passageiros foram oito

(20%), com três ocupantes foram sete (17%), com quatro pessoas foram cinco

citações (13%), quatro disseram que o veículo tinha cinco passageiros (10%), dois

disseram que o veículo tinha seis pessoas (5%) e 11 não responderam à pergunta

(28%). Devido a este elevado número de abstenções nesta questão, seria impreciso

fazer uma média de passageiros por carro.

Quanto ao meio pelo qual tomaram conhecimento do evento, 42% disseram

ter sido pela televisão (17 respondentes), 15% através de amigos e parentes (seis),

13% por outros meios não citados nas alternativas e 13% pela internet (cinco

pessoas em cada), 10% por jornal (quatro) e 7% pelo rádio (três).

Quando perguntados se haviam realizado algum gasto dentro do Centro de

Eventos FENADOCE, 85% (34 respondentes) afirmaram que sim. Os turistas o

fizeram com alimentação, doces e bebidas, lembrando que esta questão admitia mais

de uma resposta. Os turistas que gastaram com alimentação foram 38% (15

respondentes), os que consumiram doces e alimentação foram 30% (12), os que

compraram somente o doce foram 27% (11) e os que compraram doces e bebida

foram 5% (dois).

Dos turistas entrevistados, 77% (31 dos 40 respondentes) afirmaram já ter

visitado outras edições da Festa Nacional do Doce e 95% pretendem voltar nos

próximos anos, o que significa que a FENADOCE é um evento que os agrada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como já foi dito anteriormente, é fundamental que os organizadores

conheçam o público frequentador que o evento recebe para poder escolher meios de

divulgação e atrações adequados. Como a satisfação do visitante e o contentamento

dos demais envolvidos são os quesitos que garantem o sucesso de um evento,

resumimos o perfil do turista que frequentou a FENADOCE 2015, da maneira que se

segue: A maioria dos entrevistados é do sexo feminino; sendo, principalmente, jovens-

adultos com idades variando entre 26 e 45 anos. A metade dos turistas entrevistados

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448

se declarou solteira, entretanto, a presença dos casados representam 37% dos

entrevistados. Os turistas apresentaram escolaridade distribuída, principalmente,

entre o ensino superior completo, a pós-graduação e o ensino superior incompleto,

sendo relevante considerar o percentual de respondentes com o ensino médio (20%).

No que toca à suas ocupações, professores e estudantes foram as mais citadas entre

os turistas e quanto ao rendimento médio, calculado com base na maioria das

respostas, é de três salários mínimos; a maior parte afirmou ter gasto com alimentos,

doces e bebidas.

No que diz respeito à procedência dos turistas, a maioria deles vieram da

cidade de Porto Alegre e de outras cidades do Rio Grande do Sul. De outros estados

vieram de Santa Catarina, do Paraná e de Pernambuco. A maior parte foi de carro

ao evento. Quanto à hospedagem, grande parte dos turistas se alojou em casa de

amigos e familiares. Quanto à utilização dos meios de hospedagem 30% se alojaram

em hotéis e 2,5% em pousada. Tomaram conhecimento do evento, principalmente,

através da televisão e grande parte deles, afirmaram já ter visitado outras edições do

evento. A maioria pretende voltar para as próximas edições da Festa, o que nos

permite afirmar que o evento os agrada.

O fato de os turistas voltarem e pretenderem voltar pode se dar pelo fato de a

FENADOCE estar sempre se renovando. Espera-se, portanto, que o evento continue

inovando em seus atrativos, contribuindo como forma de lazer para os visitantes e

como forma de geração de recursos para todos os envolvidos com a sua realização.

Sobretudo, espera-se que os organizadores revejam as suas estratégias de promoção

da Festa de forma a atrair mais turistas e visitantes, provendo-a mais efetivamente e

maximizando os benefícios socioeconômicos e culturais dos eventos e do turismo de

eventos para Pelotas e região.

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LAZER E TEMPO LIVRE: UMA VISÃO FEMININA DE QUEM TRABALHA NO

COMÉRCIO PELOTENSE

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452

FREITAS, Fernanda Souza84; RODRIGUES, Igor Moraes85; [email protected]

MINASI, Sarah Marroni86; [email protected]

Resumo: Pelotas como polo comercial é referência no sul do Brasil, possui cerca de

7.507 estabelecimentos, incluindo lojas, agências bancárias, seguradoras, casas de

câmbio e empresas de transporte. Os trabalhadores do comércio desempenham uma

expressiva carga horária de trabalho semanal, restando-lhes um único dia para

descanso. O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o significado do lazer

para os trabalhadores do comércio. Foi utilizada uma abordagem metodológica de

pesquisa quali-quantitativa, através de pesquisa de campo, observação direta e

aplicação de questionários com funcionários do comércio que atendem ao público

interno e externo. Evidencia-se uma ausência do entendimento, entre os participantes

da pesquisa, sobre os temas abordados.

Palavras-chave: Lazer; Trabalho; Tempo livre; Comerciárias pelotenses.

1 INTRODUÇÃO

O lazer é visto por uma grande parte das pessoas como um mero passatempo,

o que não os permite perceber o quanto o lazer interfere diretamente nas relações

84Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). 85Acadêmico de Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://lattes.cnpq.br/4062311697186945 E-mail: [email protected] 86 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Docente no Departamento de Turismo da Faculdade de Administração e de Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rua Gomes Carneiro nº 1 - 4º andar - Pelotas, RS, CEP: 96010-610 http://lattes.cnpq.br/2545244942377567

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familiares, políticas, religiosas, e até mesmo nas relações de trabalho. Desde o início

do século XIX o lazer vem progredindo em tempo e importância, com as reivindicações

dos movimentos sindicais pela redução na jornada de trabalho. (CAMARGO, 1999).

Segundo Dumazedier (2008), o fenômeno do lazer é fruto da tensão entre

classes sociais e concorrência de controle e adequação. O tempo livre, fenômeno

considerado por Bacal (2003), como complementar e justificado ao tempo de trabalho,

é o período no qual os trabalhadores desfrutam do lazer, (ou deveriam) e por

exigências da evolução humana, a busca por qualidade de vida se torna cada vez

mais presente nos momentos de lazer.

Pelotas é um município da região Sul do Estado do Rio Grande do Sul, com

população de aproximadamente 328.275 habitantes (IBGE, 2010) e é considerado o

terceiro município mais populoso do Estado. O município conta com um grande centro

comercial que proporciona aos pelotenses e aos seus visitantes inúmeras opções de

compras, com diversas lojas distribuídas pelos seus “calçadões” (Ruas Andrade

Neves, Quinze de Novembro e Sete de Setembro) e galerias. (PREFEITURA

MUNICIPAL, 2014).

Pelotas como polo comercial é referência no sul do Brasil, contribui em grande

parte para o desenvolvimento, gerando renda para município e emprego para a

população. Possui cerca de 7.507 estabelecimentos de comércio, incluindo lojas,

agências bancárias, seguradoras, casas de câmbio e empresas de transporte, que

ocupam aproximadamente 60% da população ativa. (PREFEITURA MUNICIPAL,

2015).

O que motivou a realização desta pesquisa não são os clientes ou os lojistas,

mas sim as comerciárias, trabalhadoras do comércio que desempenham uma

expressiva carga horária de trabalho semanal, restando-lhes um único dia para

descanso. Dia este que pode ser destinado às atividades lazer, mas que em sua

realidade tende a ser divido entre tarefas domésticas (arrumação e limpeza da casa),

dedicação aos estudos, ou até mesmo pelo lazer aqui em questão, junto à afeição a

família e filhos. Isto é, a dupla jornada se faz presente, e, por conseguinte essas

trabalhadoras acabam não dispondo de tempo para lazer, e vivem em função do

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trabalho e da família podendo influenciar ainda na falta de tempo para dedicação ao

estudo e qualificação.

Para isso, esta pesquisa tem como objetivo geral analisar o significado do

lazer e tempo livre para as trabalhadoras do comércio pelotense.

Este artigo é resultado da monografia “Lazer e os comerciários pelotenses”

apresentada em julho de 2016, como requisito parcial para conclusão do Curso de

Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas. A pesquisa

monográfica desenvolvida integra o projeto de pesquisa “A realidade dos

trabalhadores do comércio pelotense na perspectiva da relação entre lazer, qualidade

de vida e trabalho”, do Departamento de Turismo da UFPel, que tem como objetivo

geral analisar a relação entre lazer e qualidade de vida e sua importância na

perspectiva dos trabalhadores do comércio da cidade de Pelotas.

A pesquisa desenvolvida não teve qualquer intenção ou escolha em atingir somente

o público feminino, mas pós a realização do trabalho detecta se um grande percentual

de mulheres trabalhando no comércio da cidade de Pelotas, o que nos leva a

desenvolver este artigo numa visão feminina da pesquisa.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para desenvolvimento do trabalho foi utilizada uma abordagem metodológica

de pesquisa quali-quantitativa. O presente estudo qualificou-se como uma pesquisa

exploratória, capaz de proporcionar maior familiaridade com o problema (especificá-

lo); e pesquisa descritiva por descrever as características de determinadas

populações ou fenômenos. (GIL, 2008). Ainda, através de pesquisa de campo,

observação direta e aplicação de questionários foi possível realizar a coleta dos

dados.

Com relação à coleta de dados, os instrumentos escolhidos para a efetuação

da pesquisa foi o questionário, que por sua vez foi aplicado com perguntas abertas e

fechadas, junto à técnica de observação direta, que quando realizada com preparo do

observador pode se coletar evidências sobre o estudo em questão. “Estas evidências

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geralmente são úteis para prover informações adicionais sobre o tópico em estudo”.

(YIN, 1989, p.91).

A empresa selecionada para realização do estudo de caso tem experiência

de 15 anos no ramo do comércio varejista, o referido estabelecimento comercial tem

sua origem e localização na cidade Pelotas, conta com aproximadamente 200

funcionários distribuídos por diversos departamentos.

Os questionários foram aplicados junto aos trabalhadores do comércio de

Pelotas com idade acima de 18 anos. A amostragem de caráter não probabilística

aplicada, no que toca à escolha dos sujeitos da pesquisa, foi de abordar funcionários

que atendem diretamente ao público e funcionários que não atendem diretamente o

público. Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos,

em que não é requerido elevado nível de precisão. A empresa hoje conta com

aproximadamente 200 funcionários distribuídos em 21 setores diferentes.

Sendo assim, e com base na totalidade de funcionários que trabalham no

referido estabelecimento comercial, foi selecionada uma amostra de 17% da

representação deste universo totalizando a aplicação de 34 questionários. Esta

porcentagem de amostra foi delimitada de acordo com a metodologia prevista no

projeto “A realidade dos trabalhadores do comércio pelotense na perspectiva da

relação entre lazer, qualidade de vida e trabalho”. A amostragem no que se refere ao

sexo masculino e feminino foi escolhida aleatoriamente.

Os dados coletados foram organizados e tabulados e a análise foi realizada a

partir de métodos indutivos e comparativos de figuras, gráficos e nuvens de palavras.

No caso deste artigo os dados foram analisados de forma descritiva.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 LAZER: CONCEITOS BÁSICOS E CLASSIFICAÇÕES

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456

O lazer de hoje pode ser claramente definido, visto e discutido por qualquer

pessoa, de diferentes perfis sócio-demográficos. A indústria do lazer e do

entretenimento faz deste um assunto constantemente transmitido pelos meios de

comunicação existentes. (MELO; ALVES, 2003).

Segundo Dumazedier, (2008, p.31), “o lazer é definido, nos dias de hoje,

sobretudo, por oposição ao conjunto das necessidades e obrigações da vida

cotidiana”. São inúmeras as funções exercidas pelas pessoas em seu momento de

lazer, dentre elas três se destacam: a função de descanso, como um reparador das

tensões decorrentes das obrigações diárias em especialmente do trabalho; a função

de divertimento, recreação e entretenimento, que age como um amenizador da

melancolia e de oportunidade de fuga das tarefas cotidianas; e a função de

desenvolvimento, fator transformador das capacidades de aprendizagem,

participação e integração social e voluntária as práticas diárias. (DUMAZEDIER,

2008).

O lazer quando compreendido e praticado é capaz de proporcionar liberação,

das tensões do trabalho ou até mesmo da rotina sedentária, e uma busca por prazer,

obtendo um relaxamento e sensações posteriores. (CAMARGO, 1999). Sendo assim,

Dumazedier (2008, p.34) conceitua lazer como,

Um conjunto de ocupações as quais o indivíduo pode entregar-se de livre

vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou,

ainda pra desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua

participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou

desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

Segundo a afirmação Chemin (2008) a atual época de globalização é possível

analisar o lazer sob duas perspectivas: a da falta de possibilidade de usufruir o tempo

livre com o lazer; e a de intimidação do desemprego, o que acaba por desencorajar

trabalhadores a lutarem pela conquista do tempo livre tão desejado.

Na visão de Marcelino (2008) o que ocorre é um paradoxo entre o tempo livre e o

tempo de trabalho, pois para desfrutar do lazer existe a necessidade de que haja

tempo livre suficiente para tal atividade, mas opostamente, o consumo do lazer requer,

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normalmente, mais gastos, assim sendo, mais dinheiro e consequentemente uma

exigência de maior tempo dedicado ao trabalho.

Ainda conforme Marcelino (2008, p.58) “o lazer como resultado da experiência

cultural construída, é um dos meios pelo qual a pessoa pode se desenvolver

existencialmente como ser humano e cidadão responsável de uma comunidade”.

Dessa forma, o lazer pode ser refletido em nossa sociedade como fator decoerção

social e de desenvolvimento humano.

O tempo disponível é resultado da evolução da economia e da sociedade. A

vida humana está dividida em quatro períodos de tempo livre: no fim do dia; no fim de

semana; no fim do ano (nas férias); e no fim da vida (na aposentadoria).

(DUMAZEDIER, 2008).

Nesses períodos de tempo livre o indivíduo pode e deve realizar-se através de

infinitas atividades de lazer. Lazeres do tipo físicos, envolvendo movimento e/ou

exercício físico; práticos, de manipulação e habilidades; artísticos, que são capazes

de mexer com emoções e sentimentos; intelectuais, que envolve realidade, raciocínio

e objetividade; e social referente a relacionamentos e convívio social. Todos ao

encontro das necessidades e interesses de cada pessoa. (DUMAZEDIER, 2008).

Dumazedier, (2008) caracteriza dois campos distintos das propriedades do

lazer de forma clara e compreensiva, as negativas que se relacionam com as

obrigações impostas pelas instituições de base da sociedade, decaráter liberatório

ecaráter desinteressado ligadas a liberdade de escolha e a gratuidade; e as positivas

definidas através das necessidades da personalidade, de caráter hedonístico e caráter

pessoal envolvendo a busca do prazer e a liberação da rotina.

3.2 A PARTICIPAÇÃO FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO

As melhorias das condições de vida bem como a busca pela independência e

reconhecimento levaram a mulher a buscar pela inserção no mercado de trabalho. A

partir da empregabilidade do sexo feminino, distribuída principalmente nos setores da

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administração pública, serviços e comércio (MINISTÉRIO DO TRABALHO E

EMPREGO, 2016), fez com que a mulher tenha que se desdobrar entre os afazeres

domésticos e a vida profissional. Logo, o tempo livre que poderia ser destinado ao

lazer é ocupado com outras atividades obrigatórias, não lhe sobra, seu dia-a-dia

tempo suficiente para desempenhar as duplas ou triplas jornadas de trabalho.

É importante ressaltar a discussão proposta por Batthyány (2004) apontando

que a divisão das responsabilidades econômicas dentro dos lares não é sendo

acompanhada pela divisão das responsabilidades domésticas. As mulheres realizam

suas jornadas de trabalho remunerado assim como os homens, porém nos afazeres

domésticos elas não recebem o auxílio do homem. As mulheres têm agora mais

trabalho do que nunca, realizam no mesmo dia, uma jornada dentro e outra fora de

casa.

Às mulheres cabe conseguir equilibrar as atividades de sua dupla, e as vezes

tripla jornada. A conciliação entre as inúmeras atividades diárias sem maiores

problemas, por exemplo, aliando a profissão com a maternidade, tarefa muitas vezes

complicada já que o tempo disponível para o cuidado dos filhos é subtraído pela

extensa carga horária de trabalho, o que resulta na falta do acompanhamento do

desenvolvimento dos filhos.

Nesse contexto, acaba sendo natural que as mulheres abdiquem o tempo com

os filhos e família. Abrem mão do período destinado ao descanso, tanto ao fim da

jornada de trabalho diária como nos dias de folga, para assim poder realizar as tarefas

domésticas e garantir o atendimento das necessidades básicas dos membros de sua

composição familiar.

3.3 A JORNADA DE TRABALHO NO COMÉRCIO

Em todas as civilizações o trabalho sempre foi bastante estimado, por sua

capacidade de gerar não só riquezas materiais, mas também conhecimentos e

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459

satisfação pessoal, e é claro desenvolvimento econômico. É através dele que as

sociedades, de modo geral, conseguiram se desenvolver até a atualidade.

Algumas questões sociais como convívio com outras pessoas, as diferenças

existentes, as ações coletivas e não individuais, podem ser despertadas com o

trabalho fazendo com que o homem aprenda a lidar com diferentes situações

demonstrando suas habilidades, ações e iniciativas.

Vista também como uma forma de expressão, o trabalho propicia ao homem

realizar sonhos, atingir metas e objetivos de vida. Segundo De Masi, (2000) apenas

quem trabalha consegue socializar-se, amadurecer, realizar-se, e redimir se do

pecado original e alcançar o paraíso, este caso em uma visão mais religiosa.

A organização social atual enaltece o trabalho como único direito de obter uma

retribuição, isso faz com que as pessoas fiquem desesperadas por qualquer tipo de

emprego, mesmo detestando certas funções ou até condições de trabalho elas se

submetem a tal emprego. (DEMASI, 2000).

No Brasil, a jornada de trabalho é regulamentada pela Constituição Federal de

1988, que estabeleceu o limite de 8 horas diárias ou 44 horas semanais de trabalho,

podendo ser acrescida uma jornada extraordinária de 2 horas por dia. As limitações

do período de trabalho provêm do direito à vida, uma vez que o excesso de horas de

trabalho restringe à qualidade de vida do trabalhador. (BRASIL, 1988).

Observa-se atualmente, a tendência do comércio expandir seu horário de

funcionamento para a abertura em domingos e feriados. Ao analisar do ponto de vista

da população consumidora, essa é uma oportunidade de realizar suas compras, tendo

em vista a escassez de tempo durante os dias úteis. Por outro lado, tem-se a

perspectiva do empresariado, este tem nesta expansão uma conjuntura favorável para

maximizar suas vendas e por consequência seus lucros. Contudo, ressalta-se aqui

outro ângulo de observação, considerando o que é o foco deste trabalho, a classe

trabalhadora do comércio, particularmente a mulher comerciária.

Evidencia-se a necessidade de descanso do trabalhador, seja ele de qualquer

ramo. O tempo para recomposição e descanso é considerado fundamental para o

bem-estar físico e mental, um período para recompor as energias gastas na realização

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460

da jornada de trabalho. Inclui-se a importância de dispor de horas diárias para

atividades como o lazer.

O estudo realizado por Miranda (2005) observa os efeitos do chamado livre

horário do comércio na vida das mulheres comerciárias. De acordo com a autora essa

prática leva a fragmentação das relações familiares, uma vez que domingos e feriados

são os dias em que as famílias costumam se reunir e quem trabalha nestes dias acaba

não participando destes momentos. Como consequência, podem surgir atritos

conjugais, afastando a mulher do convívio com os filhos e das relações familiares.

Além disso, Miranda (2005) destaca que na sua folga semanal o restante da

família não se encontra em casa, pois, durante a semana os filhos estudam ou estão

na creche e os cônjuges também trabalham.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

Inicialmente a monografia desenvolvida não teve uma preocupação quanto ao

sexo na escolha dos participantes, mas posteriormente observou se que dentre os

comerciários que participaram da pesquisa 88% são do sexo feminino, uma

expressiva representação. Isso pode ser associado ao fato de cada vez mais as

mulheres vêm ganhando seu espaço no mercado de trabalho e, assim aglutinam

tarefas tradicionais de ser mãe, esposa e executar as tarefas do lar.

O perfil dos trabalhadores do comércio pelotense participantes da pesquisa

resume-se na maioria em mulheres, solteiras com faixa etária de 18 a 39 anos, tendo

crianças e adolescentes em sua composição familiar, realizando uma jornada de

trabalho de 6 dias na semana, e com média de 6 a 10 anos de experiência no

comércio.

Diante do resultado das perguntas abertas expostas no questionário

preenchidos pelos trabalhadores do comércio pelotense, pode se notar que todas as

questões foram respondidas conforme conhecimento de cada um, assim como a

influência da realidade vivenciada em relação aos temas abortados.

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461

Nas respostas dos participantes sobre o que é entendido por lazer, é possível

notar a predominância da relação com a família. Observa-se que para os comerciários

pesquisados, o lazer é desfrutar de momentos com a família e amigos, e vale ressaltar,

que a família é colocada sempre junto a atividades a serem realizadas neste período

promovendo a integração social. Esse aspecto é encontrado na função de

desenvolvimento atribuída ao conceito de lazer apontado por DUMAZEDIER (2008),

assim como “poder dormir” e “descansar” que remete a função de descanso. E a

opção “passear”, “sair” e “viajar”, que são atividades amenizadoras de melancolia,

com função de divertimento.

Nas respostas dos colaboradores da pesquisa em relação ao entendimento

sobre o que é o tempo livre, os trabalhadores responderam em sua maioria descansar,

fazer o quiser, o que remete indiretamente ao “tempo sem atividades obrigatórias”,

como ressaltada por ANDRADE (2000) apud RAMOS (2012) como período em que

não é necessário trabalhar, período este visto por BACAL (2003), como fenômeno

complementar e justificado ao tempo de trabalho. Destacam-se, também, os que

responderam que é o tempo para “fazer o que quiser”, seja, “descansar”, “dormir”,

“sair”, “divertir”, incluindo a família em seus momentos de realização aos domingos e

após o trabalho.

Algumas das atividades de lazer realizadas pelos comerciários no seu tempo

livre ganham destaque em suas respostas como “estar com os filhos”, “comer e

dormir”, “dormir e brincar com os filhos”, “passear com a família”, “ficar com a família”,

“dormir”, mais uma vez a família é ponto marcante nas atividades realizadas fora do

período de trabalho. Segundo Dumazedier (2008) nos períodos de tempo livre o

indivíduo pode e deve realizar-se através das atividades de lazer escolhidas ao

encontro das necessidades e interesses de cada pessoa, seja ele do tipo físico,

prático, artístico, intelectual ou social.

Diante da relação entre as atividades realizadas pelos participantes em seu

tempo livre e a contribuição para o bem-estar, é possível perceber que 62% das

respostas dos participantes discordam completamente da afirmação. A divergência de

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21 comerciários expressa a necessidade de haver mais tempo livre para a realização

de múltiplas atividades no momento em que não estão trabalhando.

Considero o lazer como algo determinante na minha qualidade de vida e em

minhas relações de trabalho. Somente 3% dos colaboradores da pesquisa concordam

com tal afirmação o que demonstra que os comerciários veem o lazer como algo

incapaz de interferir em suas relações, o que de fato foi ressaltado por Camargo

(1999), ao dizer que o lazer é tratado pelas pessoas como um simples passatempo o

que não os permite perceber o quanto influencia em suas relações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa abordou a relação entre lazer e tempo livre numa visão feminina

de quem trabalha no comércio da cidade de Pelotas - RS. Assim, foi proposto como

objetivo analisar o significado de lazer e tempo livre para as trabalhadoras do comércio

pelotense. Nesse sentido, foi possível observar que as comerciárias não atribuem à

importância devida aos temas. O simples fato de serem mulheres acaba por implicar

ou mais priorizar mais algumas coisas do que outras. A dupla ou às vezes até tripla

jornada de trabalho dentro e fora de casa, faz com que o sexo feminino hoje bem

aceito no mercado de trabalho, tenha certas limitações. São mulheres, são solteiras e

com filhos, cheias de preocupações e muitas responsabilidades. O lazer para elas é

quase que um “luxo” e o tempo livre é bastante reduzido para ser desfrutado com o

lazer.

O pouco tempo livre que resta, após trabalho, segundo os participantes é

dividido sobretudo, com a família, pois foi colocada em primeiro lugar em quase todas

as respostas, o que demonstra uma clara sensação de que dos comerciários passam

mais tempo no trabalho do que com a família. Isso implica no fato de sentirem a

necessidade de suprir essa falta se dedicando a atividades que envolvam o núcleo

familiar.

A banalidade com que são tratados os temas, por falta de mais tempo livre ou

por desconhecimento dos efeitos benéficos resultantes da prática de atividades de

lazer, faz com que trabalhadores do comércio pelotense abordados por esta pesquisa

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não estabeleçam uma conexão entre a qualidade de vida e as atividades de lazer,

logo, não associando o lazer com bem-estar tampouco com a qualidade de vida no

trabalho. Pela observação dos aspectos analisados, embora que se viva em uma

sociedade na qual se cultue o trabalho como antigamente e não valorize o lazer, é

importante que se tenha um equilíbrio adequado entre o trabalho e o lazer.

REFERÊNCIAS

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BATTHYÁNY, Karina. Cuidado Infantil y Trabajo: un desafio exclusivamente femenino? Montevideo: Cinterfor, 2004. Disponível em:

http://www.ilo.org/public/spsnish/region/ampro/cinterfor/publ/bathhya/index.htmAcesso em: 30 de set. 2016.

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CAMARGO, L. O. O que é lazer? Coleção primeiros passos. São Paulo: Editora Brasiliense, 1999.

CHEMIN, Beatris Francisca. Políticas Públicas de Lazer: O papel dosMunicípios na sua Implementação. Curitiba: Juruá, 2008.

DE MASI, Domenico. O Futuro do Trabalho: fadiga e ócio na sociedadepós-industrial.3.ed. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: UnB, 2000.

DUMAZEDIER, J. Sociologia Empírica do Lazer. São Paulo. 3. Ed. Perspectiva 2008.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2008.

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MARCELLINO, Nelson (Org). Lazer e Sociedade: Múltiplas Relações. Campinas, SP: Alínea, 2008 a.

MELO, Vitor Andrade de; ALVES, Edmundo de Drummond. Introdução ao Lazer. Barueri, SP: Manole, 2003.

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MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. 2016. Disponível em: http://trabalho.gov.br/ Acessado em 14 de outubro de 2016.

MIRANDA, Rosemar. O impacto do horário livre do comércio na vida e na família das

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(Graduação em Ciências Econômicas) - Curso de Ciências Econômicas. Florianópolis:

Universidade Federal de Santa Catarina, 2005.

PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS. Pelotas Comercial. 2014. Disponível em: <http://www.pelotasturismo.com.br/atrativos-turisticos/pelotas-comercial/> Acesso em 14 de outubro de 2015.

Pelotas em números. Disponível em: <http://www.pelotas.rs.gov.br/cidade/dados-gerais.php> Acesso em 29 de novembro de 2015.

RAMOS, A. Alojamento de floresta no Amazonas: uma análise para classificação. 2012. 145 p. Dissertação (Programa de Pós-graduação Strictu Senso em Turismo e Hotelaria – Mestrado acadêmico em turismo) Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, SC, 2012.

YIN, Robert K. Case Study Research: Design and Methods. USA: Sage Publications Inc., 1989.

QUALIDADE DE SERVIÇOS EM EVENTOS, UMA VISÃO SOBRE O MARKETING:

ESTUDO DE CASO DE UMA FEIRA

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SALEM87, Elisabeth de L. de O. P. C.; RODRIGUES88, Raphaella C.

[email protected]

Resumo: O mercado de eventos vemsedesenvolvendo nos últimos anos devido à procura por atividades culturais, de lazer e divertimento e o desejo pela comunicação com maior número de pessoas, além dos eventos científicos e os voltados para a comercialização e lançamento de produtos. O objetivo deste trabalho é avaliar a qualidade da prestação de serviços de uma feira Agropecuária, Comercial, Industrial e Artesanal ocorrida no ano de 2015.A metodologia utilizada na pesquisa foide análise estatística percentual essencialmente descritiva, aplicação de questionários, testando a escala (RSQ), de abordagem mista. Como resultado, identificou pontos fortes e fracos no evento, podendo contribuir para seu aprimoramento e mensuração da qualidade na prestação de serviços em eventos.

Palavras-chave: Eventos; Feira; Marketing; Prestação de serviços; Qualidade.

1 INTRODUÇÃO

O mercado de eventos tem crescido rapidamente nas últimas décadas, no país

e no mundo, devido às preocupações com seus clientes, com a concorrência e a

competitividade, as organizações estão cada vez mais dedicadas com a satisfação

dos clientes, buscando conhecer suas necessidades e desejos.Neste sentido,

Giacaglia(2012), explica que os eventos têm como finalidade expandir

relacionamentos, podendo ser os mais variados tipos de acontecimentos e comas

mais diversas finalidades, que nos últimos anos vem se tornando uma força distinta e

influenciando em todos os campos da economia, passando a ser aceito como um

instrumento eficaz para formação e sustentação de diversos negócios, tendo inclusive

87Tecnóloga em Eventos pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) – Campus Santa Vitória do Palmar/RS. E-mail: [email protected] 88Mestranda em Turismo e Hotelaria pela UNIVALI. Bacharela em Turismo - Binacional, pela Universidade Federal do Rio Grande. Professora substituta dos cursos de Bacharelado em Turismo Binacional, Bacharelado em Hotelaria e Tecnologia em Eventos pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) – Campus Santa Vitória do Palmar/RS. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3975356974332385

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466

expandido o conceito nos mais variados tipos de organização (SHIMOYAMA; ZELA,

2002).

Segundo ABEOC- Associação Brasileira de Empresa de Eventos, o mercado

brasileiro de eventos gerou, em 2013, R$209,2 bilhões, em um total de 590 mil

eventos realizados. É um segmento que arrecada R$ 48,7 bilhões em impostos, gera

7,5 milhões de empregos e representa 4,3% do PIB do Brasil.

O último relatório da ICCA, lançado em maio de 2015, o número de eventos

internacionais no Brasil passou de 62 para 291 entre 2003 e 2014, um aumento de

469%. No mesmo período, o número de cidades brasileiras que sediaram esse tipo

de evento subiu 177%, passando de 22 para 61 (ABEOC, 2016).

A qualidade na prestação de serviços em eventos advém do crescimento do

mercado e da necessidade de satisfazer os desejos dos clientes. Neste sentido,

Brambilla, Pereira e Pereira (2010) mencionam que o marketing de relacionamento,

voltados para consumidores de eventos, pode resultar em relações duradouras entre

a empresa gestora e os clientes, através da confiança adquirida ao longo do tempo.

Sallby (1997) aponta nesta modalidade do marketing, a premissa de que o

cliente deixa de ser apontado como número e passa a ser parte integrante da empresa

fazendo com que ele participe do desenvolvimento de novos produtos e serviços e

crie vínculos com o evento.

Conforme Kotler (2003) as empresas (aqui tratadas como gestores e

prestadores de serviços em eventos), para aumentar sua produtividade procuram

descobrir maneiras de tornarem os serviços mais tangíveis e aumentar a

produtividade de quem os está executando com a necessidade de padronizar as

condições diante da variabilidade, aprimorar as oscilações da demanda e as

capacidades de oferta focando a atenção tanto nos clientes como em seus

funcionários. No qual, o tema da Qualidade em Serviço vem evoluindo ao longo dos

anos, e a constituição de um olhar favorável para a qualidade no aspecto de serviços

tem-se declarado um tema difícil uma vez que está propenso a fatores relacionados

tanto ao prestador de serviço, quanto ao cliente (SILVA,2009).

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Meio a problemática da subjetividade implícita na qualidade de prestação de

serviços em eventos, que este artigo apresenta como o objetivo geral, avaliara

qualidade da prestação de serviços de uma feira Agropecuária, Comercial, Industrial

e Artesanal ocorrida no ano de 2015 do extremo sul brasileiro.Para isso, desenvolveu

como os objetivos específicos: Reconhecer como se deu o surgimento do evento;

identificar a percepção dos visitantes sobre os serviços e layout da Feira; reconhecer

a opinião dos usuários do evento sobre aprestação dos serviços; apreciara qualidade

dos produtos pelos visitantes.

Os fatores que motivaram e justificam a realização desta pesquisa sobre uma

perspectiva técnica dos eventos e neles as feiras,se percebe o potencial que o evento

possui dentro do segmento de mercado que atua e a carência de estudos relacionados

a sua importância e relevância. Neste contexto, a pesquisa através das contribuições

teóricas a cerca do marketing pode auxiliar na qualificação do evento, atuando como

um importante canal de comunicação para o estabelecimento da venda e

comercialização de serviços e produtos em eventos, no qual, a feira se mostra como

um interessante objeto de estudo.

Uma das recomendações para uma posterior pesquisa está fundamentada

sobre a limitação encontrada na aplicação de uma escala de seis pontos ao testar a

escala de valoração (RSQ). Assim, desde já, recomenda-se a realização de novas

pesquisas utilizando a escala (RSQ) para análise da qualidade da prestação de

serviços em eventos, buscando com isso, o aprimoramento sobre a interpretação das

relações existentes na prestação de serviços em eventos.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa teve como intuito avaliar a qualidade de uma Feira no extremo sul

do Brasil, um dos eventos mais antigos do município e com um valor extraordinário,

na Fronteira do extremo sul brasileira.Esta pesquisa é uma pesquisa

aplicadaessencialmente descritivaenvolve levantamento bibliográfico e documental e

estudos de caso, as mesmas são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão

geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato, neste caso a questão dos

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serviços prestados pela feira (GIL, 2014), deabordagem quali-quantitativa, o método

quantitativo se caracteriza, tanto na coleta de informações, quanto no tratamento

dessas através de técnicas estatísticas, representando a intenção de garantir a

precisão dos resultados, impedindo os defeitos de análise e interpretação, permitindo,

consequentemente, uma margem de segurança. O método quantitativo é aplicado nos

estudos descritivos, para descobrir e classificar a relação entre as variáveis e a relação

de causalidade entre fenômenos (RICHARDSON, 1989). Utiliza da técnica de

pesquisa bibliográficaé ampliada a partir de material já preparado e existente em livros

e artigos científicos (GIL, 2014), doestudo de casocomo um estudo que permite o

conhecimento em profundidade do processo e das relações sociais, sendo esse um

estudo exaustivo, sendo indicadoprimeiramente como uma investigação, para

construção de suposições ou reformulação dos problemas, onde o pesquisador deve

estar bem treinado e experiente (DENCKER, 1998), com a aplicação de questionário

com a escala RSQ (Retail Service Quality)pois é um tipo de investigação que busca

sua utilização imediata para sanar problemas reais e específicos Veal (2011), e que

neste caso, procura analisar através de uma escala em que situação se encontra a

satisfação dos usuários da feira a partir da prestação de serviços (VEAL, 2011), para

elaboração da pesquisa.

Utiliza de 27 itens da escala RSQ, utilizando apenas da interpretação

estatística percentual para sua análise.O qual resultou num questionário contendo 27

perguntas acerca da qualidade de serviços ordenadas a partir de uma escala de

valoração de 1 a 6.

Para a elaboração do questionário que avaliaria a qualidade percebida do

serviço da feira, apresentava nas 4 primeiras perguntas foco no ambiente da feira, ou

seja se a feira possuía: ambiente e material de apoio agradável, sala de descanso e

limpeza dos sanitários. A 5ª e a 6ª pergunta abrangeram sobre o layout da feiracomo:

a facilidade dos visitantes se locomoverem e de encontrarem o que precisavam.Da 7ª

a 11ª pergunta se referem a qualidade de serviço da feira de modo que: os prazos, as

promessas, prestação de serviço, a disponibilidade da mercadoria, os registros de

transações, estão sendo realizados de maneira correta.

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As perguntas 12ª a 23ª estão voltadas para a qualidade do atendimento,

identificando o quantos os funcionários estão preparados para: sanar dúvidas, inspira

confiança, realizar transações comerciais, disponibilidade ao atender os visitantes,

informações corretas sobre os prazos em que os serviços serão realizados,

atendimento personalizado, cordialidade no atendimento e ao atender ao telefone,

facilidade na troca e devolução das mercadorias, interesse na resolução de

problemas, Os empregados da feira são habilitados a solucionar pessoalmente as

dúvidas e reclamações.

A pergunta 24ª está relacionada a qualidade, onde pergunta sobre a qualidade

dos produtos da feira. A pergunta 25ª estárelacionada à infraestrutura na feira, onde

analisa a disponibilidade do estacionamento. A 26ª e a 27ª avaliam os horários de

atendimento, e a utilização do cartão de crédito. As três últimas questões são para

identificar os dados sócios demográficos dos respondentes.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 FEIRAS UM EVENTO CONSOLIDADO

O homem moderno vive numa época de exaustão emocional coletiva. A luta

pela estabilidade financeira e o reconhecimento profissional, vem tornando o ser

humano cada vez mais individualista e egoísta. Justamente neste alvo que os eventos

tem o seu grau de justificativa e o objetivo de aproximar as pessoas, buscando novos

relacionamentos, proporcionando uma nova existência social e pública, acendendo

emoções conjuntas (COUTINHO, COUTINHO 2007).

Segundo Melo (2001), os eventos têm como propósitos o divertimento, ou seja,

a primeira coisa que vem à mente quando se fala em eventos é festa, comemoração

e diversão. Nos tempos atuais os eventos estão sendo vistos como novas

oportunidades, tornando-se um mix de atividades e serviços, podendo tornar-se uma

arrebatadora oportunidade econômica e de desenvolvimento, trazendo benefícios

para todas as partes envolvidas, inclusive as cidades onde serão sede do evento uma

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ampla oportunidade de aquecer sua economia e se desenvolver, destacando a rede

hoteleira e o comércio local.

Nos tempos modernos os eventos tomaram uma nova forma de serem vistos,

adquirindo uma nova visão de mundo, novos conhecimentos, nova experiência,

deixando um legado em nossas vidas. Para Beni (2011) os eventos estão sendo

realizados e movimentando vários setores da economia através da origem de

empregos, renda e circulação de pessoas.

Para Mattos (2011) os eventos são eficazes para economia das empresas,

acendendo a cada ano maior grau de satisfação para os empresários, tornando-se

estratégias de comunicação para divulgar produtos e marcas, conseguindo trazer

clientes para suas empresas, transmitindo emoções compartilhadas grandes na

coletividade que tributam para a vida social do ser humano, fazendo com que a marca

não seja mais esquecida.

Segundo Beni (2011) os eventos estão se tornando cada vez mais atraentes, e

crescendo cada vez mais no mercado, uma das causas é tendência de viagens em

família que, enquanto executivos participam de feiras, exposições, congressos e

convenções, programadores de eventos devem estar atentos em atender as famílias,

porque pode se advertir que esse tipo de turista é o que mais participa de eventos e o

que mais gasta, podendo se transformar esse campo na mais respeitável atividade

econômica mundial.

Para Giacaglia (2011), os eventos vêm se desenvolvendo muito rápido no

Brasil. Nos tempos modernos os eventos tomaram uma nova forma de serem vistos,

adquirindo uma nova visão de mundo, novos conhecimentos, nova experiências

(COUTINHO; COUTINHO, 2007).

A segmentação do mercado conforme Giacaglia (2011) é uma tendência da

área de eventos que tem atribuído aos gestores posicionar-se de forma estratégica

perante o vasto e competitivo mercado de eventos. Os eventos de negócios vêm

sofrendomodificações significativas, sobretudo quando observadas grandes feiras de

negócios, de impacto mundial (GIACAGLIA, 2011). Desta maneira, observemos um

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471

breve panorama sobre a evolução das feiras desde atividade básica e cultural até

eventos de grande porte e importância econômica,

As primeiras feiras tiveram sua origem na Europa no período da Idade Média,

onde os mercadores se encontravam próximo as igrejas e ali realizavam suas trocas

de mercadorias. Ao contar desse período passaram por várias transformações e se

espalhando pelo mundo, desenvolvendo várias cidades em seu entorno. As feiras

tornam-se mais de cunho profissional a partir da década de 1970 e mais voltada para

área econômica, muito além do ponto de encontro da oferta e da demanda, foram

cada vez tornando-se mais sofisticadas e nos dias atuais são acompanhadas por

seminários, workshops e congressos, com durabilidade de três a cinco dias, podendo

ser realizadas semestralmente, anualmente,bienalmente ou num período de mais

tempo, usando o mesmo local, ou rotativas como as feiras têxteis que acontecem

alternadamente em Milão, Paris e Londres (TENAN, 2002).

Mattos (2011) define feiras como dia de festa, sua origem vem do latim feria, e

tem como a finalidade exposição de produtos que foram instituídas pelos fenícios por

serem eles a distribuírem múltiplos pontos de comércio. Seriam as primeiras

informações da realização de feiras.

As feiras livres desenvolvem atividades que ainda estão na memória de um

povo, como o boneco de barro, o chapéu de couro, predominantes nas feiras

nordestinas, e uma variedade de atrativos culturais e etnias de um povo,

acrescentadas a uma relação de camaradagem, fidelidade, e de amizade entre os

compradores e os vendedores na feira tornando o lugar preferido de muitos

consumidores. A tradição cultural, saudosismo e lembranças são trazidas por antigos

feirantes, a sensação de estar em um lugar privilegiado, tornando a feira um museu

vivo da cidade (MIRANDA, 2009).

Mesmo com o passar dos anos as feiras continuam a existir, só com uma nova

roupagem com um novo seguimento, muitas já perderam as características familiares,

muitas vezes realizadas por trabalhadores assalariados e por produtos chegados de

outros produtores, e com inovações em suas estruturas para melhor servir os seus

clientes (MATTOS, 2011).

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Tenan (2002) conceitua feiras como uma exposição de produtos para venda,

aberta ao público com a probabilidade de realizar negócios e manter contatos com a

concorrência. Podendo ser classificadas em: comercial, industrial ou promocional.

Enquanto que Censi (2004) relata que as feiras de negócios são usadas na

comunicação integrada, vantagens e oportunidades presentes neste tipo de evento,

sempre tendo em vista uma finalidade a ser alcançada, sempre deve ser feita uma

avaliação pós-evento, e coletados os dados dos visitantes para que no futuro tornem-

se novos clientes.

No Brasil, no estado de São Paulo as feiras tiveram seu início no final da

Primeira Guerra Mundial no ano de 1917, com características sociais e políticas,

realizadas no Palácio das Indústrias denominadas “Exposição Industrial da Cidade de

São Paulo”. No final da década de 1950 sofrem uma grande transformação tornando-

se um grande acontecimento, com shows e comparecimento da população em massa,

e o aparecimento a I Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit), o I Salão do Automóvel

e a Feira de Utensílios Domésticos (UD). Segundo o autor as feiras no Brasil,

propriamente em São Paulo, estão passando por um momento histórico de evolução

e crescimento na infraestrutura (CENSI, 2004).

As feiras tornam-se mais de cunho profissional a partir da década de 1970 e

mais voltada para área econômica, muito além do ponto de encontro da oferta e da

demanda, foram cada vez tornando-se mais sofisticadas e nos dias atuais são

acompanhadas por seminários, workshops e congressos, com durabilidade de três a

cinco dias, podendo ser realizadas anuais, ou de dois anos ou num período de mais

tempo, usando o mesmo local, ou rotativas como as feiras têxtil que acontecem

alternadamente em Milão, Paris e Londres (TENAN, 2002).

Já de acordo com Mattos (2011) os benefícios das feiras são:Apresentar as

inovações e lançamento de novos produtos;Fazer esclarecimento de novos produtos

e a utilidade do mesmo; Conseguir novos representantes e treinar o pessoal das

vendas; Trocar conhecimentos; Encontrar novos mercados; Avaliar a concorrência;

Constatar se qualidades dos produtos para uma futura exportação; Estabelecer

canais de distribuição encontrar novos clientes; Medir as políticas de preços e formas

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de pagamentos; Dar início a uma nova aliança de táticas, acordos e cooperação;

Vender o produto.

Neste capitulo buscamos conceituar eventos apresentando sua importância e

benefícios quando bem planejado, assim apresentamos o exemplo do Fórum Social

Mundial como um exemplo de evento bem sucedido. Finalizando com o tema das

feiras, seu surgimento evolução ao longo dos anos, a seguir exporemos um capítulo

sobreMarketing e a Qualidade Percebida dos Serviços.

3.2 MARKETING E A QUALIDADE PERCEBIDA DOS SERVIÇOS

O marketing e a qualidade percebida dos serviços são facilmente detectados

como fatores responsáveis para a satisfação do cliente. O marketing consiste na

satisfação das necessidades e desejos dos consumidores, a abrangência, a previsão

e a alcance do comportamento deles são vistos como serviços centrais do emprego

de marketing de uma organização. Para satisfazer as necessidades dos clientes,

torna-se necessário que a organização alcance as razões subjacentes às escolhas de

seus consumidores, que estão constantemente tomando decisões podendo ser elas

positivas ou negativas, podendo adiar ou rejeitar uma compra, pois são variadas as

tomadas de decisões, onde os consumidores buscam adquirir o produto que mais

perfeito corresponda suas perspectivas e satisfação (PEREIRA, 2011).

Segundo (Cobra 1990, p. 29) o marketing “é uma forma de sentir o mercado

e adaptar produtos ou serviços – é um compromisso com a busca da melhoria da

qualidade de vida das pessoas”. Já quando se refere ao marketing de relacionamento

os clientes deixam de ser apontados como número e passam a ser parte integrante

da empresa fazendo com eles participem do desenvolvimento de novos produtos e

serviços e possa criar vínculos com a empresa (SALLBY, 1997).

De acordo com Brambilla, Pereira, Pereira (2010) relata que o marketing

chegou ao Brasil no governo de Juscelino Kubitschek, com a abertura do país ao

capital estrangeiro e as Empresas norte americanas e européias que já dominavam

as técnicas de Marketing, ainda ignoradas no Brasil, fazendo com que asempresas

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474

brasileiras se adequassem com a nova realidade, e buscassem se especializar. O

marketing no Brasil encontra-se bastante desfocado em sua conceituação, associado

à venda de produto muitas vezes desnecessária.

O ambiente empresarial mundial vem sofrendo transformações muito rápidas

na forma de se fazer negócios devendo as empresas como conceito de sobrevivência

aumentar a sua produtividade e competitividade. Com clientes exigindo mais

qualidade e menos preços é fundamental que os empresários compreendam o

aumento das exigências, por parte dos clientes, exigência essa que vem ocorrendo

pela crescente diversidade e quantidade de produtos e serviços ofertados e pela

crescente concorrência global (SALLBY, 1997).

O marketing de serviços vem se tornando um dos principais diferenciais

competitivos e sua utilização pode ser essencial na melhoria da satisfação dos

clientes, atendendo suas necessidades e desejos tratando cada cliente como se fosse

único, criando para as empresas vantagens de formas lucrativas (HOFFMAN,2012).

Já para (Serra, 2005) o futuro das empresas pode ser apontado pela qualidade,

empresas com má qualidade têm sua imagem prejudicada.

Conforme Serra (2009) as empresas devem ampliar a qualidade e fazer parte

tanto quanto o orçamento, auditoria e projetos de produtos. Melhorando as áreas de

treinamento dos funcionários e a satisfação dos clientes, pois e dessa satisfação que

depende a sobrevivência da empresa.

A satisfação consiste na consideração do cliente após ter suas perspectivas

atendidas, ou seja, um cliente satisfeito é aquele que recebeu da empresa exatamente

o que esperava receber. Se as perspectivas do cliente foram maiores do que a

empresa entregou em termos de serviços então teremos um cliente insatisfeito, a

empresa deve sempre se preocupar em reparar seus erros, pois sabemos que um

cliente insatisfeito pode falar mal da empresa. A empresa que entregar ao cliente mais

do que ele esperava, o encantamento do cliente será positivo, além de tornar-se leal

indicará a empresa para seus amigos, parentes fazendo propaganda boca a boca. A

empresa nunca deve prometer o que não pode cumprir, pode ser um erro gravíssimo,

podendo prejudicar o desempenho da mesma (KOTLER, 2003).

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475

De acordo com Silva (2009) o tema da Qualidade em Serviço vem evoluindo

ao longo dos anos. A constituição de um olhar favorável para a qualidade no aspecto

de serviços tem-se declarado um tema difícil uma vez que está propenso a fatores

relacionados tanto ao prestador de serviço, quanto ao cliente.

As empresas que tem como foco a satisfação dos clientes devem gerar

serviços de qualidade. Devem de utilizar as seguintes lacunas no interior das

empresas prestadoras de serviços que incluem (ZEITHAML 2014):Lacuna da

Compreensão do Cliente:É a lacuna da compreensão do cliente é a diferença entre

as expectativas do cliente para com o serviço e a abrangência que a empresa tem

dessas expectativas;Lacuna do Projeto e dos Padrões de Serviço:É a lacuna das

expectativas dos clientes é um fator eficaz, mas não suficiente para a realização de

um serviço de qualidade.É a lacuna que quando os projetos e padrões de serviço

foram deliberados pode parecer que a empresa esteja a caminho de apresentar

serviços de qualidade; Lacuna da Comunicação; Lacuna do Desempenho do

Serviço:É a lacuna que ilustra a altercação entre as comunicações abrangendo a

execução do serviço e as comunicações externas da empresa prestadora.

Dependendo da expansão das lacunas em empresas, os clientes passam a

perceber a deficiência na qualidade do serviço prestado, funcionando a lacuna como

base para melhorar a qualidade de serviço e o marketing de serviço, se aplicado a um

evento por exemplo.

O aperfeiçoamento das empresas na prestação de serviços, em harmonia

com aspectos dos clientes, onde os bens são similares a concorrência torna-se um

desafio para se individualizar em meia abundância de marcas, a fonte de

caracterização para conquistá-los e mantê-los pode estar justamente nos serviços

agregados (URDAN; ZUÑIGA, 2001).

De acordo com Nóbrega et al. (2010) o desenvolvimento dos processos

produtivos e com a globalização, as empresas tiveram que buscar novas estratégias

para garantir a continuidade de seus empreendimentos direcionando esforços,

tendendo acabar a utilização de recursos com o intuito de maximizar lucros

empreendimentos.

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476

Serra (2005) cita cinco tipos de qualidade técnicas e humanas no

departamento de produtos ou serviços:Qualidade Pessoal; Qualidade departamental;

Qualidade de produtos; Qualidade de serviços; e Qualidade da empresa.Todos os

projetos realizados pelas empresas devem incluir melhoramento em todas as áreas,

tendo em vista à melhora da qualidade global da mesma.

As formas de reconhecimento da qualidade dependem da propaganda

tradicional permanente como uma forma de divulgação a constatação da qualidade

dos produtos recebidos pela empresa, e serviços pelos clientes como a certificação

de sistema de gestão de qualidade.

Nessa perspectiva, sugiram novas preocupações que os gestores, sejam do

setor do comércio, da indústria ou de serviços precisam direcionar valores visando

completar a utilização de expediente com o desígnio de definições para qualidade,

sejam elas pessoais, de produtos, de serviços, de empresas, dentre outras, buscando

sempre a dignidade de seus produtos ou serviços. Torna-se difícil definir qualidade

pelo fato das suas amplas extensões, padrões, cores e expectativas, dependendo do

estado de espírito momentâneo do cliente.

4 RESULTADOS

Buscando analisar a qualidade dos serviços da Feira 2015, optou-se por testar

a escala (RSQ) de avaliação da qualidade de serviços. Como resultado a amostra

apresentou maior participação do público masculino 83 homens e 67mulheres, maior

concentração na faixa de idade entre 20 a 40 anos. A renda mensal se deu entre

R$3.000 e R$4000.

Desde os tempos primitivos já eram realizados eventos, com o surgimento do

fogo, o homem reunia-se a volta do mesmo para contemplá-lo e realizar suas refeições

(PACHECO, 2010). Tornando um aprimoramento em sua alimentação e introduzindo

a carne através da caça e já naera paleolítico média é efetuada a prática do abate,

em animais de grande porte, tornando possível o agrupamento de pessoas para o

compartilhamento do alimento, estabelecendo vínculos sociais inconscientemente,

exercendo a teoria sustentada pelo tripé “dar”, “receber” e “retribuir” (NAKANE, 2013).

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477

Com a Revolução Industrial, e a mudança da economia manual em

mecanizada, surgiram os eventos científicos e técnicos, Além de reforçar a sequência

das feiras comerciais. Os eventos científicos que estão atrelados às ciências naturais

e biológicas com encontros como: mesas-redondas, simpósios, seminários,

conferências, cursos, painéis, congressos e etc. Os eventos técnicos que abordam as

ciênciasexatas e sociais possuem características semelhantes aos eventoscientíficos

(MATIAS, 2013).

Quanto ao objetivo de verificar os serviços e layout da feira, a seguir,

analisaremos as questões “Serviços e LayoutdaFeira em 2015”. Buscando a opinião

dos visitantes do evento em relação visitante, cumprimento de prazos, cumprimento

de promessas, prestação de serviços corretamente, disponibilidade de mercadorias,

registros de transações no evento.

Para abranger clientes motivados, é necessário que a Feira 2015 cumpra com

suas expectativas em relação a disposição dos produtos. Conforme relata Pereira

(2011) apreocupação dos profissionais de marketing e gestores empresariais pode

detectar conveniências e advertências aos seus negócios com o possível

descontentamento ou renúncia de seus clientes, pois os mesmos estão se tornando

cada vez mais exigentes na hora da compra, entendê-los passa a ser prioridade para

atender com maior eficiência e eficácia, sobretudo no que tange o layout, que pode

atrair o cliente perante conveniência ou inclinação em consumir um evento.

A partir dos resultados, sobre o layout da Feira2015, (33%) concordam que o

mesmo facilita o visitante encontrar o que necessitam. Ainda referente ao layout da

Feira, agora quanto a facilitação deste quanto a locomoção do visitante, a partir dos

dados obtidos, conclui-se que a maioria, ou seja, 49 pessoas responderam que

concordam totalmente sobre o layout da Feira 2015 facilitar a locomoção do visitante.

Tendo em vista que facilitar a locomoção de seus visitantes suprir as necessidades

específicas de cada cliente, pressupõe-se que o evento esteja adaptado para melhor

servir os clientes (KOTLER, 2003).

Um cliente satisfeito é aquele que ao ir a um evento têm suas expectativas

atendidas exatamente o que esperava, na concepção de Miranda (2009) as feiras

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também pode apresentardiversas formas de layout, de forma que estes acarretem em

diversas consequências a os espaços onde estão sendo realizadas.

Quanto a Feira prometer e cumprir dentro do prazo informado, analisando os

resultados da pesquisa obtém os seguintes que, 39 pessoas concordamque a Feira

2015 promete e cumpre com sua programação e atividades dentro do prazo

informado.A função de o marketing estabelecer ligação da empresa com as normas e

valores do evento com relação à sociedade em geral.

As expectativas dos clientes são os padrões ou ponto de referência do serviço,

as empresas que tem como foco a satisfação do mesmo devem gerar serviços de

qualidade e dentro dos prazos (ZEITHAML, 2014).

Sobre os serviços serem realizados de maneira correta na primeira vez,

conforme os resultados da pesquisa, 49 pessoas responderam concordam.Quanto a

disponibilidade de mercadorias da Feira 2015, 50 pessoas responderam que

concordam que a mesma mantém disponíveis as mercadorias que os visitantes

desejam.

No que se refere à qualidade do atendimento da feira, nos gráficos a seguir

analisaremos as questões “Prestação de Serviço” da Feira 2015. Buscando a opinião

dos visitantes do evento em relação as transações comerciais, atendimento,

prestação de informações, troca e devolução de mercadoria, resolução de problemas,

solução de dúvidas e reclamações, disponibilidade dos empregados no evento.

Sobre os empregados da Feira 2015 apresentarem condições de sanar as

dúvidas dos visitantes, conforme análise 63 pessoas, ou seja, a maioria concorda que

os empregados da Feira estão aptos a sanar dúvidas dos visitantes. Quanto

aovisitante se sentir seguro em realizar transações comerciais com na Feira, conforme

os resultados da pesquisa foram constatados que a maioria das pessoas, ou seja, 59

responderam que concordam e que realizar transações comerciais com a Feira 2015

sentiram-se seguros.

Gráfico 01: Segurança nas transações comerciais

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Fonte: Pesquisa direta, 2015.

As estratégias de marketing precisam estar relacionadas ademonstrar seus

valores aos clientes, ou seja, como cada produto satisfaz as necessidades dos

mesmos Zeilthaml (2014) relata que a segurança das transações comerciais são parte

da função primária do marketing, no qual o processo de comercialização é assegurado

a partir dos valores e normas da sociedade.

Conforme Zeithaml (2014, p. 35), a “Lacuna de Desempenho do Serviço”,

referente a deliberação dos serviços, se remete a condução dos projetos e padrões

de serviços, de forma que a empresa esteja direcionada a apresentar serviços de

qualidade para que os clientes sintam-se seguros em realizar transações comerciais.

O Gráfico 01apresenta os seguintes resultados: 37% concordam, que o

visitante se sente seguro em realizar transações comerciais com a Feira 2015.De

acordo com os resultados podemos constatar que os visitantes sentiram-se seguros

ao realizar transações comerciais na Feira 2015.

A seguir, procurou-se saber se quando o visitante tem um problema se a Feira

mostra interesse em resolver, segundo análise dos visitante: 47 pessoas responderam

que concordam.

2%3%

10%

37%35%

13%

DISCORDO TOTALMENTE

DISCORDO

NÃO CONCORDO NEM DISCORDO

CONCORDO

CONCORDO TOTALMENTE

NÃO SE APLICA

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480

Gráfico 02: Resolução de problemas

Fonte: Pesquisa direta, 2015.

Conscientes de um ambiente empresarial cada vez mais competitivo, ao se

mostrar interessado em resolver um problema que o visitante tem ao visitar a Feira

2015, o gestor demonstra primor pela qualidade atravésda compreensão das

exigências e necessidades de seus clientes (SALLBY 1997).

A disposição para ajudar o cliente e proporcionar a solução de problemas os

funcionários da Feira 2015, segundo Santos (2004, p. 3) explica que estamos num

tempo de reação às mudanças concedidas em um mundo de incertezas e com

resolução de problemas, muitasvezes inesperados, paraamenizar os mesmos é

necessário treinar funcionários que formem uma equipe composto por vários níveis

da empresa com um fluxo de comunicação ágil para resolução de eventuais

problemas.

Conforme o gráfico acima, podemos analisar os seguintes dados, quando se

refere Resolução de problemas da Feira 2015: 30% concordam. De acordo com o

resultado da pesquisa pode se concluir que os visitantes da Feira 2015 concordam

que os funcionários mostram interesse em resolver problemas.

As reclamações e dúvidas dos clientes devem encontrar um porto seguro

dentro das organizações, no atendimento, e certificando a satisfação de todos os

clientes, Zeithaml (2014, p. 35) identifica em sua obra a Lacuna 1 que é “Lacuna da

Compreensão do Cliente”, lacuna esta que relata sobre compreensão do cliente é a

diferença entre as expectativas do cliente para com o serviço e a abrangência que a

empresa tem como solucionar dúvidas e reclamações.Sobre a habilidade de

3% 6%

26%

30%

21%

14%DISCORDO TOTALMENTE

DISCORDO

NÃO CONCORDO NEM DISCORDO

CONCORDO

CONCORDO TOTALMENTE

NÃO SE APLICA

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solucionar pessoalmente as dúvidas e reclamações, (29%) dizem que concordam e

em contraponto (27%) discordam totalmente que a feira possui habilidade em

solucionar dúvidas e reclamações, enquanto que (24%) se mantém neutros, nem

concordam nem discordam. Brambilla, Pereira, Pereira (2010) ressalta a importância

sobre a identificação de relações duradouras entre a empresa e os clientes, sendo o

marketing de relacionamento uma importante ferramenta de relacionamento com

seus clientes.

Quanto a qualidade dos produtos, de acordo com os dados obtidos na pesquisa

obtemos o seguinte resultado: 51 pessoas responderam que concordam totalmente.

Gráfico 03: Qualidade dos produtos

Fonte: Pesquisa direta, 2015.

Segundo Serra (2005, p. 7) a consciência de qualidade está crescendo em todo

mundo, devido às exigências dos clientes. Mais empresas estão reconhecendo a

necessidade de investir em qualidade, uma aquisição com lucro garantido e uma

produção em: Menos defeitos; Produtos melhores; Posição financeira melhor; Maior

bem estar; Menor giro de pessoal; Menos absenteísmo; Clientes satisfeitos; e Imagem

melhor, podemos observar no referencial teóricoque a qualidade dos produtos e

desempenho dos funcionários induz à satisfação dos clientes.

2%

6%

16%

30%32%

14%

DISCORDO TOTALMENTE

DISCORDO

NÃO CONCORDO NEM DISCORDO

CONCORDO

CONCORDO TOTALMENTE

NÃO SE APLICA

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482

Nesta questão o objetivo foi e avaliar a satisfação dos clientes da Feira 2015

quanto à qualidade do produto oferecidos, em que a maioria dos clientes, ou seja,32%

concordam totalmente que os produtos oferecidos são de alta qualidade.Segundo

Loverlock (2006) a lacuna do Projeto e dos Padrões de Serviço é a lacuna das

expectativas dos clientes é um fator eficaz, mas não suficiente para a realização de

um serviço de qualidade.A Feira 2015 atingiu seus objetivos quanto as expectativas

dos seus clientes, respectivos a qualidade dos produtos oferecidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho apresentou como objetivo avaliar a qualidade dos serviços

prestados em uma Feira Agropecuária, Comercial, e Artesanal do extremo sul do

Brasil. Para isso, foi realizada uma pesquisa com 160 visitantes que estiveram nesta

edição do evento.

O crescimento do mercado de eventos nos últimos anos devido a procura por

atividades culturais, de lazer e divertimento e o desejo pela comunicação com maior

número de pessoas. Os atributos percebidos nos serviços que são apresentados

nesses episódios, também são um fator importante para a satisfação dos clientes.

O grau de qualidade do serviço recompensado em um evento relacionado à

satisfação dos clientes, quando for realizado com qualidade, trará muitos benefícios

para os envolvidos. A satisfação consiste na consideração do cliente após ter suas

perspectivas atendidas, ou seja, um cliente satisfeito é aquele que recebeu no evento

exatamente o que esperava receber. Se as perspectivas cliente forem maiores do que

a percebida então terá um cliente insatisfeito.

A organizadora do evento deve sempre se preocupar em reparar seus erros,

pois sabemos que um cliente insatisfeito repercute negativamente sobre a imagem do

evento. Mas se o evento for mais do que o esperado, o encantamento do cliente será

positivo, além de tornar-se um participante assíduo e leal e indicará o mesmo para

seus amigos, parentes fazendo propaganda boca a boca. A organizadora nunca deve

prometer o que não pode cumprir, pode ser um erro gravíssimo, podendo prejudicar o

desempenho do mesmo.

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Como resultado, primeiramente foi reconhecido como se desenvolveu da Feira,

o contexto que permitiu seu surgimento. No qual foi identificado que o evento é um

dos mais importantes eventosdo extremo sul do Brasil e de grande significado cultural,

para a região esta desde seu início teve como objetivo fortalecer a identidade cultural

do Rio Grande do Sul, além de fomentar a comercialização dos arranjos produtivos

locais e rodadas de negócios, identificando assim, novos mercados potenciais.

Quanto a qualidade dos serviços prestados pelaFeira 2015, conforme análise

dos resultados, mostrou-se que os visitantes estão satisfeitos com o “Ambiente da

Feira”. Em relação aos “Serviços e Layout da Feira 2015, a opinião dos visitantes do

evento em relação a Layout, cumprimento de promessas, prestação de serviços

corretamente, disponibilidade de mercadorias, registros de transações no evento, foi

possível identificar que os visitantes estão satisfeitos, apenas o item cumprimento de

prazo deixou a desejar.

Para posteriores estudos se destacam alguns pontos principais. Inicialmente,

identifica-se a necessidade de continuar a pesquisas no evento Feira 2015, pois a

prática contínua permite a identificação dosvisitantes, do atendimento, qualidade dos

serviços e o ambiente da mesma, visando identificar o que se deve melhorar e quais

os objetivos atingidos. Futuras pesquisas devem ser aplicadas em outros eventos.

A pesquisaoptou pela aplicação da escala (RSQ) em que observou como

limitação a utilização da escala intervalar de seis pontos, quando submetida a análise

de dados de forma exploratória em softwares estatísticos, sendo assim visando o

aprimoramentoda escala apresentamos esta limitação no instrumento.

Para a realização de um evento de sucesso é necessário que o layout seja

adequado a tipologia do evento, e um dos fatores mais importantes está ligado ao

visual e ao atendimento dos funcionários, oferecendo empatia e conforto aos

visitantes.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESA DE EVENTOS – ABEOC. Disponível em: <https:// http://www.abeoc.org.br/>. Acessado em 14 de abril de 2016.

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GT 10 – HOSPITALIDADE E DIVERSIDADES

ROSANA (SP): DO TURISMO DE PESCA AO TURISTA SEXUAL: ALGUMAS

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS NUANCES SUBJETIVAS DO PROCESSO DE

AGENCIAMENTO DO CORPO

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PIMENTEL, Juliana89; CUSTÓDIO, Vagner90; VIOLIN, Fábio Luciano91.

[email protected]

Resumo: O presente texto busca evidenciar os aspectos subjetivos que permeiam

diferentes tipologias do turismo que ocorre na cidade de Rosana (SP). O município é

contemplado pela presença dos rios Paraná e Paranapanema, belezas naturais que

exerce a atração de turistas que chegam de diferentes regiões para a prática do

turismo de pesca. Por já conhecerem a dinâmica da abertura da pesca, nesse período,

ocorre também, a entrada de garotas de programa. No entanto, o turismo de pesca,

oculta a prática do turismo sexual que, por sua vez, é invisibilizado pelos dirigentes

municipais e por uma parcela da população que (in) diretamente acaba por aumentar

a sua renda por meio de diferentes serviços voltados a turistas e garotas de programa.

Palavras-chave: Turismo Sexual; Turismo de Pesca; Agenciamento do Corpo.

1 INTRODUÇÃO

No presente artigo buscamos fazer uma breve análise dos aspectos subjetivos

que permeiam o turismo sexual no município de Rosana (SP). Diante dessa realidade,

apontamos como o agenciamento do corpo é imbuído por códigos, identidades e

representações que dão notoriedade tanto à garota de programa quanto ao seu cliente

– o turista. Esses aspectos simbólicos acabam por diferenciá-los dos moradores

locais.

Os meses de março a outubro correspondem à alta temporada da pesca.

Durante esses meses ocorre uma reconfiguração da dinâmica da economia urbana

no município. Essa realidade pode ser justificada devido ao aumento da circulação de

turistas do gênero masculino que chegam para a prática da pesca e, também, pela

entrada de garotas de programa que objetivam prestar seus serviços aos turistas.

89 Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados. Professora substituta do curso de Turismo na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, Campus Rosana. E-mail: [email protected]. 90 Doutor em Educação sexual. Professor do curso de Turismo na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, Campus Rosana. E-mail: vagnercustó[email protected] 91Doutor em Administração. Professor do curso de Turismo na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, Campus Rosana. E-mail: [email protected]

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No entanto, o marketing do turismo no município sempre foca as belas

paisagens, o pôr do sol, um ambiente natural e sossegado como maneira de idealizar

Rosana como um lugar interessante para sair do cotidiano conturbado das médias e

grandes cidades, para relaxar e praticar o turismo de pesca.

Segundo os dirigentes municipais o que determina a entrada de turistas no

município é o turismo de pesca, no entanto, essa prática oculta o turismo sexual.

Dessa forma, o objetivo da presente pesquisa, visa compreender quais são as

condicionantes de ordens subjetivas que permeiam o Turismo sexual e quais são os

processos que envolvem o agenciamento do corpo na alta temporada da pesca.

Nesses termos, consideramos que garotas de programa, assim como os

turistas, transformam-se em sujeitos essenciais dos processos que condicionam o

turismo sexual. Dentro dessa lógica também estão inseridos sujeitos que,

indiretamente, tornam-se coadjuvantes na manutenção dessa prática.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a realização da pesquisa foi utilizada a metodologia da pesquisa

qualitativa, especificamente, a observação participante. Optamos por essa

metodologia, por considerarmos que “a forma como as pessoas gerenciam e

interpretam suas vidas cotidianas é uma condição importante para o entendimento de

uma cena social” (MAY, 2004, p. 184). Os trabalhos de campo foram realizados no

cerne das casas noturnas e nos territórios da prostituição de rua entre o período de

2011 a 2012 e 2014 ao primeiro semestre de 2016. Portanto, a metodologia da

observação participante serviu como escopo para balizar os trabalhos de campo e,

este por sua vez, tornou-se a principal fonte de coleta de dados para a produção dos

resultados da pesquisa. Cabe ressaltar que o trabalho de campo norteou a escolha

dos referenciais teóricos que respaldaram a estrutura teórica do texto.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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No tocante ao turismo sexual e, em conformidade com nossas pesquisas de

campo, procuramos considerá-lo como uma vertente da atividade turística que deve

ser analisada com maior rigor científico dada a sua complexidade, sobretudo, no que

tange ao enfoque econômico. A estrutura que sustenta essa vertente do turismo é

engendrada por uma vasta rede de sujeitos que, direta ou indiretamente, auferem

rendas por intermédio de turistas e garotas de programa.

Autores como Bem (2015; 2005); Dias (2005); Monni (2004) e Silveira (2007)

analisam as circunstâncias quanto à forma como o turismo sexual se desenvolveu nos

países periféricos e no Brasil. Salientam que a disseminação dessa prática atrela-se

ao modo como a atividade turística foi se perpetuando mediante a ausência de um

planejamento que viabilizasse um turismo ordenado nas cidades em quese

desenvolveu. Além disso, o turismo sexual serviu como estratégia para superar crises

econômicas, pelas quais passaram muitos países periféricos ao longo dos séculos

XIX e XX92.

Em vista dessa problemática, esses autores ainda mencionam que a raiz do

turismo sexual vincula-se a diversos fatores como, por exemplo, desemprego, baixos

salários, disparidades sociais, desestrutura familiar, que expõe mulheres e menores a

situações de risco; questões de gênero, colonialismo, entre outros. Essas raízes nos

dão evidências de que o turismo sexual é composto por um conjunto de engrenagens

que se processam simultaneamente, produzindo, dessa forma, (des)arranjos

econômicos e sociais no que tange à produção do espaço urbano.

Com relação ao Brasil, o país recebe todos os anos milhares de turistas que

praticam o turismo sexual e está no ranking das rotas mais procuradas por turistas

sexuais estrangeiros. Uma matéria publicada pelo Correio Braziliense, em 201293,

apresenta uma pesquisa realizada pela OMT em 2005 que levantou dados acerca do

perfil do turista sexual e os destinos mais procurados por eles.

92 Para maiores informações ver: Bem (2005). 93 Encontramos essa matéria publicada em um site da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS) http://renas.org.br/2012/01/23/o-turismo-sexual-no-brasil/. Não conseguimos acessar a reportagem diretamente da página do Correio Brasiliense.

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Entre os principais destinos do turismo sexual no continente estão México,

Cuba e Brasil.[...] Ele é na maioria das vezes de classe média, tem entre 20

e 40 anos de idade, viaja desacompanhado e com outros homens. Italianos,

portugueses, holandeses e norte-americanos lideram o ranking dos turistas

sexuais. Em menor número aparecem ingleses, alemães e latinos

americanos [...]. A avaliação do Ministério do turismo é de que a atividade

está dispersa e já não é possível fazer uma delimitação rígida dos estados e

municípios onde se concentra. Regiões de praia, fronteiras estaduais e

internacionais, capitais e destinos turísticos famosos de uma forma geral são,

hoje, as áreas propícias a abrigar a pratica no País. Um dos levantamentos

mais recentes sobre os locais onde a atividade turística com fins sexuais tem

acontecido no Brasil foi feito pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito

(CPMI) da Exploração Sexual de Crianças e adolescentes, que funcionou

entre 2003 e 2004 e percorreu 22 estados brasileiros. Foi detectada pelos

integrantes a existência de turismo sexual no Amazonas e na região do

Pantanal mato-grossense, áreas turísticas bastante conhecidas que não

costumavam ser focos tradicionais de viagens com fins sexuais. [...] (Jornal

Correio Braziliense, 2012).

Ao compararmos os resultados da pesquisa elaborada pela OMT (2005), no

que se refere ao perfil dos turistas que chegam ao Brasil para fins de turismo sexual,

podemos equiparar os resultados com o tipo de turista que chega a Rosana na alta

temporada da pesca. Embora os turistas que procuram o município não sejam

estrangeiros e tão pouco jovens, na faixa etária dos 20 anos; eles podem ser inseridos

na classe média-alta, são do gênero masculino e visitam o município em grupos como

menciona a matéria publicada pelo jornal Correio Brasiliense.

Quando são questionados sobre os motivos que os levaram a procurar Rosana,

respondem rapidamente que foram motivados pela pesca. Porém, alguns sorriem e

dão continuidade a suas falas dizendo que vieram para “curtir as belezas naturais”;

“pescar piranha”; “ver as mulheres bonitas da cidade” (Conversa informal com turistas,

realizada em 2012).

O Ministério do turismo cita que atualmente o destino dos turistas sexuais não

se restringe somente às cidades litorâneas e que não é possível fazer uma delimitação

rígida quanto à maneira pela qual esse tipo de turismo se consolida. Conforme aponta

a avaliação da pesquisa, o turismo sexual está presente em vários municípios

brasileiros, inclusive nos que possuem riquezas hídricas. O Ministério do Turismo

revelou que essas são rotas realizadas para a prática do turismo de pesca; mas,

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entretanto, é o turismo sexual que se mostra como uma atividade de grande procura

nesses locais.

Em Rosana o discurso de motivação do turista da alta temporada é o turismo

de pesca. Todavia, o turismo de pesca mascara existência do turismo sexual. ,

Um bom planejamento baseado no modelo de desenvolvimento tecno-

economicista do turismo só pode reproduzir modelos de ação reducionistas.

O melhor exemplo é o próprio turismo sexual, que, não sendo objeto de

planejamento, e, portanto, não devendo estar inscrito no espaço sociocultural

como prática, foge completamente à gestão tecnocentrada dos planejadores.

O turismo sexual escapa aos planejadores turísticos, porque estes não olham

para o movimento da sociedade e não questionam o modelo no qual estão

operando. Por essa razão, o planejamento turístico contribui também, embora

silenciosamente, para que o turismo sexual se reproduza e se utilize –

ironicamente – da mesma infraestrutura por ele criada (BEM, 2005, p.97).

A colocação feita por Bem (2005) de fato se verifica em Rosana. Desde o

término das obras das usinas hidrelétricas que ocorreu no final da década de 1990,

uma das atividades que mais ganhou expressão na dinâmica econômica da cidade foi

o turismo sexual. Em nenhum dos mandatos políticos municipais houve ao menos

discussões que buscassem minimizar essa atividade. Isso pode ser interpretado pelo

o prisma de que as autoridades locais estão conscientes da influência que o “setor do

sexo” exerce. Portanto, o turismo sexual em Rosana dinamiza o comércio local,

sobretudo, no período da abertura da pesca94.

Em se tratando das garotas de programa que agenciam seus corpos, pudemos

verificar que seu perfil pode também ser enquadrado nos estudos de Bem (2005,

p.78), que as considera como sendo integrantes de: “grupos sociais em situações

estruturais e conjunturais bastante específicas que participam das ofertas constituídas

no mercado das trocas sexuais dinamizadas pela atividade turística”.

As garotas de programa que entrevistamos contaram os motivos que as

levaram a entrar no comércio sexual. Suas histórias são permeadas por episódios de

94O período em que a pesca encontra-se aberta no município dá-se entre 1º de março a 31 de outubro.

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desestruturação familiar, pais adictos, violência doméstica, abusos sexuais, pobreza,

abandono da escola e falta de oportunidades de emprego.

Nessa acepção, os sujeitos envolvidos nos mecanismos que engendram o

turismo sexual na cidade estão inseridos em “situações estruturais e conjunturais

específicas”. Nesse sentido, o próximo desdobramento da nossa discussão refere-se

às circunstâncias de como se consolida essa prática no município de Rosana (SP).

3.1 O TURISMO SEXUAL NO MUNICÍPIO ROSANA (SP)

A presença de recursos naturais em um determinado local possibilita o

desenvolvimento de atividades turísticas que passam a representar meios de

ampliação de fonte de renda e criam expectativas para a geração de novos postos de

trabalho.

Nesse sentido, ainda que ainda necessite de um planejamento que desenvolva

setor turístico, que incremente a economia urbana e transforme o turismo de

pesca/turismo sexual em turismo familiar e sustentável, Rosana possui um vasto

atributo natural, dada a sua localização entre rios, permitindo fazer da pesca uma

alternativa de renda.

Segundo o Ministério do Turismo (2010), a definição de Turismo de Pesca

“compreende as atividades turísticas decorrentes da prática da pesca amadora, ou

seja, atividade praticada com a finalidade do lazer, turismo ou desporto, sem finalidade

comercial”.

Ao analisarmos o site da prefeitura municipal de Rosana, com o intento de

buscar informações da gestão sobre o turismo de pesca, verificamos a seguinte

apresentação:

Cercada por dois grandes rios brasileiros, o Paraná e o Paranapanema,

Rosana é sinônimo de diversão dentro da água. Para os amantes da pesca

não existe lugar mais indicado. A pesca esportiva é um esporte muito

praticado na cidade atraindo a cada ano mais turistas em busca das belezas

naturais oferecidas pelos rios. Os principais peixes encontrados aqui são

piapara, dourado, tilápia, sardela, traira, tucunaré entre outros que vão deixar

a sua pesca ainda mais emocionante! (www.rosana.sp.gov.br/turismo-de-

pesca)

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A descrição não deixa de ser verdadeira, no que se refere às “belezas naturais

oferecidas pelos rios” e “para os amantes da pesca não existe lugar mais indicado”.

Porém, a “pesca esportiva” se torna apenas um subterfúgio para a prática do turismo

sexual que, por sua vez, é invisibilizada pelos dirigentes municipais e por uma parcela

da população que, direta ou indiretamente, é beneficiada pelos rendimentos que

provêm de diferentes serviços voltados aos turistas, pois o turismo “inclui de um lado

o planejamento e, de outro, a comercialização” (BARRETO, 2007, p.12).

No município estudado (Rosana)95, a pesca sempre foi um atrativo para seus

visitantes, e mesmo que as belezas naturais estejam à disposição de todos,

é necessário que algumas alterações sejam realizadas para que a prática

seja bem desempenhada. À medida que a procura pela pesca foi crescendo

de forma desordenada, e sem nenhum tipo de planejamento por parte de

órgãos responsáveis pelo município, cresceram também fenômenos de

ordem social, como o caso da prostituição (NASCIMENTO, 2011, p.45).

O marketing do turismo no município sempre foca as belas paisagens, o pôr do

sol, um ambiente natural e sossegado como maneira de idealizar Rosana como um

lugar interessante para sair do cotidiano conturbado das médias e grandes cidades,

para relaxar e praticar o turismo de pesca.

Além de todo esse propagandístico, quando o turista chega a Rosana encontra

vários tipos de serviços96 a sua disposição. Os munícipes já se preparam para a sua

chegada, pois o sujeito-turista representa uma oportunidade de auferir rendimentos

que, no período da baixa temporada, não foi possível conseguir, haja vista que,

conforme já colocado, o movimento do comércio local e do “circuito inferior da

economia urbana” sofre um declínio considerável com o fim do fechamento da pesca.

Porém, a ação dos turistas, deve ser compreendida e investigada como

condição e resultado de processos sociais que mascaram relações complexas e que

por vezes, se materializam no espaço sob as estruturas que engendram o turismo

sexual.

95 O nome do município foi inserido por nós. 96 Isso não quer dizer que em Rosana exista um planejamento turístico que contemple tanto os turistas quanto a comunidade.

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Muito embora, o turista chegue a Rosana com a finalidade de praticar a pesca

esportiva e, com isso, se insira na definição proposta pelo Ministério do Turismo (2010)

de praticante de uma atividade com a “finalidade do lazer, turismo ou desporto, sem

finalidade comercial”, a maior parte deles vem para o município para praticar também

outro tipo de lazer: o turismo sexual. Dessa forma, ocorre uma duplicidade quanto ao

papel que o turista exerce na produção do espaço urbano, pois esse sujeito passa da

posição do turista de pesca para a condição de turista sexual.

Turista aqui não vem só pra pesca não vem atrás de garota, vem atrás de

turismo sexual, na época que a pesca tá fecha isso daqui é um breu, não tem

nada na cidade, quando tem é os turistas e as garotas que desenvolve

alguma coisa [...] (Parente de uma das proprietárias das casas noturnas,

entrevista realizada em 22/05/2015).

A OMT (1995) define o turismo sexual como: “viagens organizadas dentro do

seio do setor turístico ou fora dele, utilizando, no entanto as suas estruturas e redes,

com a intenção primária de estabelecer contatos sexuais com os residentes do

destino”. Nesse perfil enquadra-se o turista que chega a Rosana. E ele não chega só!

Existe uma espécie de organização entre os turistas no momento de partida dos seus

locais de origem. Quando chegam, sempre em grupo, geralmente ranchos, pousadas,

barcos, diárias de barqueiros já estão todos agendados; sem contar, os contatos já

pré-estabelecidos com as garotas de programa, pois se faz necessário ter uma mulher

para cada homem.

Assim, estabelecem o número de garotas de programa, o dia, a hora e o local

em que elas deverão estar quando o grupo chegar, instituindo, dessa maneira, o

comércio sexual segundo a lógica do turismo sexual.

Estabelece-se no sistema turístico o costumeiro intercâmbio entre

vendedor/prestador de serviços e o cliente como eixo de grande parte dos

encontros, em que prima a obtenção do máximo benefício para o primeiro e

o dispêndio compensado pela satisfação para o segundo. Isso implica e

justifica que os habitantes do destino, com o intuito de garantir benefícios

econômicos, possam se submeter aos desejos do turista em mais casos do

que o esperado. E tais desejos nem sempre serão vistos, de fora do destino,

como honrados. Costumam estar vinculados ao desenvolvimento turístico o

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surgimento e o aumento da prostituição e do turismo sexual [...] (SANTANA,

2009, p. 163).

No excerto acima mencionado e relacionado ao nosso campo de pesquisa,

consideramos como prestadores de serviços todos os tipos de sujeitos envolvidos (in)

diretamente com a pesca esportiva. Dentre eles, podemos citar: hotéis, pousadas,

restaurantes, lanchonetes, quiosques do balneário municipal, pirangueiros, isqueiros,

pescadores, cabeleireiras, manicures, proprietários de ranchos, dentre outros sujeitos

que se preparam para recepcionar os turistas no período da alta temporada.

Em nossa pesquisa, damos relevância, para além do turista, às garotas de

programa, pelo fato de poderem administrar a forma como irão agenciar ou não seus

corpos. Algumas entrevistadas disseram que optam pela escolha do cliente, pois nem

todos os turistas se enquadram nos padrões estabelecidos por elas. Quando abre a

pesca tem um monte de turista aqui, aí dá pra escolhe né! Eu não fico com qualquer

um não! Agora quando o movimento tá baixo não dá pra escolher muito não! (Garota

de programa, entrevista realizada em 2012).

A possibilidade de decisão quanto ao cliente que mais se adequa ao perfil de

escolha das garotas de programa se restringe àquelas que trabalham na rua. Nas

casas noturnas, essa exigência não existe em virtude das garotas de programa serem

instruídas para que a atenção seja dada igualitariamente a todos os clientes. Portanto,

raramente uma garota de programa que exerce sua função em casas noturnas deixa

de agenciar o corpo em função de não apreciar o perfil do seu cliente.

No caso, garotas de program 97 que atuam nas ruas atestaram suas

preferências por ranchos pela possibilidade de usufruírem ao máximo das regalias

proporcionadas pelo turista/cliente. Por conta disso, a prestação de seus serviços se

faz mais duradoura quando equiparada ao tempo do programa estabelecido pelas

garotas de programa que atuam nas casas noturnas.

97 As garotas de programa relataram que nos ranchos é possível aproveitar as partes internas do local voltadas para o lazer. Afirmaram que quando os turistas promovem churrascos, existe uma variedade de bebidas, carnes e peixes. Além disso, elas podem aproveitar para tomar sol e usar a piscina.

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É no rancho que o turista pode demonstrar seu poder aquisitivo. Nesse local,

não poupam dinheiro como forma de ostentar seu poder de compra e, até mesmo,

seu poder de domínio sobre as garotas. Embora os turistas acreditem ter poder de

escolha sobre as garotas de programa, nossas pesquisas demonstraram que são elas

quem escolhem os clientes que preferem atender. “Eu só saio com quem eu quero,

eu escolho! Não é o cliente que tem que querer eu, eu que tenho que querer o cliente”

(Ex-garota de programa. Entrevista realizada em 25/05/2012). Esse aspecto

performático de subjetivação dos serviços prestados por elas aponta para as

circunstâncias específicas em que ocorre o turismo sexual em Rosana.

Portanto, consideramos que a garota de programa98 é também um sujeito ativo

na construção dos processos que condicionam o turismo sexual. Essa prática está

imbuída por códigos, identidades, representações e questões de ordem financeira que

perpassam algumas literaturas concernentes à prostituição sob uma óptica valorativa,

moral, que coloca a garota de programa como vítima da sociedade ou como sujeito

submisso e incapaz de tomar suas próprias decisões.

Assim, ao longo do trabalho pudemos notar que turistas e garotas de programa

transitam facilmente nos extremos da relação binomial dominado e dominador. Nessa

relação, ora garotas de programa encontram-se no patamar de sujeitos dominados,

ora executam seguramente o papel de dominadoras, reforçando, desta maneira, a

presença de um micropoder que se corporifica na ação dos sujeitos que materializam

a prostituição.

Diante desse quadro, Silva e Blanchete (2005, p.179), ao trabalharem com a

intersecção de turismo, prostituição e migração, afirmam que garotas de programa

não podem ser vistas como simples vítimas, já que possuem um controle sobre suas

ações e representatividade, deliberando sobre suas vidas o poder de direcioná-las.

98 Em nossas discussões, trataremos a garota de programa como sujeito detentor da sua força de

trabalho e possuidor do poder de decisão sobre todos os fatores que possam envolver o

agenciamento do seu corpo.

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Muitos relatos atentam para uma ascensão socioeconômica empreendida por elas

como uma melhoria nas suas condições de vida.

Nesse aspecto, a garota de programa cria condições propícias para que seu

cliente possa desempenhar o papel performático de “homem dominador”.

Desmistifica-se dessa maneira, a sua condição de submissa em relação ao cliente,

pois faz parte de sua atuação profissional permitir que seu cliente manifeste as

subjetividades que não podem ser mostradas ou reveladas dentro da sua casa, no

trabalho ou perante a sociedade.

Eu só saio com turista, não saio com homem aqui da cidade não. São tudo pobre, tem uns que nem carro tem, aí se vem pro meu lado eu já coloco o valor do meu programa bem alto porque eu sei que ele não vai pode pagá. Eu quero é saí com home rico, com os turista que vem pra cá, eles sim tem dinheiro. Tomo whisky do bom, Red Bull, cerveja da melhor, chopp, comida então, só picanha, carne da melhor, peixe, de tudo tem! Os quarto com ar condicionado, fora que eles paga o táxi ou eles mesmo leva a gente embora. E sempre rola um presentinho, um agradinho e as vezes vira até um namorinho. Eles trata a gente muito bem. Que trabalho que eu ia tê tudo isso em? (Garota de Programa. Entrevista realizada em 12/12/2012).

A fala da garota de programa evidencia que “o dispêndio compensado pela

satisfação” pessoal do turista, juntamente de seu poder de compra e da possibilidade

de proporcionar à garota de programa o melhor bem estar possível em troca da sua

prestação de serviços, acaba se tornando um dos critérios para que a garota se sinta

estimulada à prestar seus serviços e não procure exercer outro tipo de atividade

laboral.

Essa realidade vivenciada por ambos os sujeitos – garotas de programa

e turistas - nos dá indícios de que essa interação realizada em locais específicos, seja

nas lanchonetes, balneário, hotéis, pousadas, motel, ranchos na cidade e nas ilhas,

se traduz em papéis complementares. Muito embora a garota de programa esteja

cumprindo com suas obrigações dentro de um contrato verbal estabelecido entre ela

e o turista, ambos não deixam de estar consumindo no comércio local direta ou

indiretamente, de forma similar, mesmo que esse consumo se dê por meio de uma

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relação contratual que faça parte de um processo mercantil de agenciamento do

corpo.

Na relação turista e garota de programa está travada muito mais que uma

relação mercadológica. Esses contratos são pautados em laços subjetivos que

interferem no sentido de toda a performance que a garota de programa deve

desenvolver para atrair o seu cliente, seja por meio de seus gestos corporais,

expressões faciais, maquiagem, roupas, ornamentos, sapatos e toda a desenvoltura

performática sensual e sexual que irá diferenciá-la das outras garotas; e por exercer

uma relação de domínio sobre o seu cliente, que se realizada com eficácia, poderá

culminar em presentes e, até quem sabe, em um “namoro”, com direito a depósitos

bancários.

Goffman (2011) faz uma análise das relações interpessoais e das interações

que ocorrem entre as pessoas, visando compreender a forma como os sujeitos

analisam seu interlocutor e, a partir dessa análise desenvolvem performances que

visam superar a expectativa daquele com que é estabelecido o diálogo, mesmoque

seja por meio de umalinguagem corporal. Essa perspectiva pode ser observada e

apreendida entre os turistas e as garotas de programa no momento que antecede o

agenciamento do corpo.

Em presença de outros, o indivíduo geralmente inclui em sua atividade sinais

que acentuam e configuram de modo impressionante fatos confirmatórios

que, sem isso, poderiam permanecer despercebidos ou obscuros. Pois se a

atividade do indivíduo em de tornar-se significativa para os outros, ele precisa

mobilizá-la de modo tal que expresse durante a interação, o que ele precisa

transmitir (GOFFMAN, 2001, p. 36).

Nesta perspectiva, outro ponto de discussão dentro da abordagem do turismo,

e que nos é relevante, diz respeito ao sujeito-turista. Esse sujeito também carrega

consigo seu lado performático que o destaca perante os outros munícipes. O turista

faz-se muito perceptível quando transita pelas ruas da cidade ou quando entra em

qualquer estabelecimento comercial.

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500

Ao tirar algumas fotos das cercanias do balneário municipal, em um trabalho

de campo, fomos abordadas por dois turistas que ao nos verem tirando fotos de um

estabelecimento comercial, pararam a caminhonete, com som muito alto, no meio da

rua. O motorista saiu e ficou em pé sobre a entrada da porta do condutor, por conta

disso, os carros que saíam e entravam no balneário tiveram que desviar da

caminhonete. Porém, o motorista pouco se importou se estava acarretando algum tipo

de transtorno às pessoas que também necessitavam passar por aquela única avenida

que dá acesso ao balneário. Sem considerar essa situação, ele começou a perguntar

o que eu fazia ali e para quê serviam aquelas fotos. Ao dizer a finalidade das fotos e

do trabalho, ele deixou que eu tirasse fotos deles e começou a discorrer sobre sua

vida. Disse que vinha do Paraná, que adorava Rosana por tudo: pela atenção dada

pelos moradores, pela calmaria da cidade e, principalmente, pelas “belezas naturais”.

Quando usou essa expressão, os dois turistas deram risada, nos dando indícios de

que esse termo não expressa apenas os rios, a fauna e a flora, mas também as

garotas de programa da cidade. “Eu venho pra Rosana pra pescá, só que eu acabo

pescando só piranha, piranha é o que mais tem aqui” (Turista. Conversa informal em

22/02/2014).

Esses termos ambíguos e pejorativos geralmente são utilizados pelos turistas

e se inserem nos aspectos simbólicos incorporados na forma como esses sujeitos se

apropriam do lugar; pois, “são as relações que criam o sentido dos ‘lugares’”, onde

este, só é produzido “por um conjunto de sentidos, impressos pelo uso do corpo”

(CARLOS, 2007, p.18).

E assim, turistas transitam pelas ruas, geralmente em caminhonetes (modelo

Hilux ou Amarok). Frequentemente, trazem um barco acoplado à traseira e trafegam

pelas ruas com som alto de uma dupla sertaneja do momento ou de funk. As risadas

e as falas altas não os deixam passar despercebidos. O exibicionismo quanto ao poder

de compra é evidente. Esses são os três elementos primordiais que definem o

estereótipo dos turistas que circulam pelo município, a partir de primeiro de março.

Há, portanto, um processo de apropriação do espaço urbano por parte dos

turistas que os diferencia, essencialmente, dos moradores. Assim, podemos nos

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pautar na referência de Carlos (2007, p.18) que discorre sobre a tríade cidadão-

identidade-lugar apontando para a “necessidade de considerar o corpo, pois é através

dele que o homem habita e se apropria do espaço (através dos modos de uso)”.

O turismo sexual, em todas as suas versões, é possível porque o turista perde

parte da identidade originária, da organização, dos usos e modos diários. O

lazer, a aventura, a recreação, o descanso, o descobrimento entre outras

motivações individuais consideradas ou em qualquer combinação possível,

envolverão atividades e comportamentos, bem como serão refletidos neles

em seu momento. O turista situa-se em uma condição ambígua, em que as

características socioculturais de partida estão disfarçadas, quase invisíveis,

como o que escapa das classificações que possam ser aplicadas em uma

situação e posição convencional. Ocorre que, quase de surpresa embora no

fundo se espere que seja assim – o turista está em um ambiente que o incita

a se desinibir, a se expressar por intermédio de diversas manifestações e

comportamentos distantes aos que podem ser frequente, mas que, nesse

novo ambiente – por outro lado já conhecido - , são corriqueiros. Mudam,

quase de forma casual, as formas de vestir, comer beber, relacionar-se,

divertir-se, além de evidentemente seus horários. [...] Por um momento, o

turista suspende a ordem e a estrutura social cotidiana e, assim como altera

aqueles modos, também costuma deixar para trás as proibições, os tabus e

os medos. É, por uma temporada, um personagem preeminente a quem

certos luxos e excentricidades são permitidos e que, exclusivamente dentro

dos limites legais do destino, está limitado somente por sua capacidade de

gasto (SANTANA, 2009, p.166-167).

Ao compartilhar alguns locais públicos e privados de Rosana o turista

desempenha um comportamento muito diferente daquele do seu local de origem e

que acaba por legitimar o seu papel de turista.

Esse fato é decorrente de dois motivos: o primeiro estaria ligado à liberdade

que ele possui em exibir quem ele é no seu íntimo; pois no lugar do “outro”, isto é, no

lugar onde ninguém o conhece a não ser pelo codinome de turista, ele pode dar vazão

ao seu “eu”, que em muitos momentos e situações do seu cotidiano deve ser ocultado,

para que não ocorram retaliações ou julgamentos negativos quanto ao seu

comportamento por parte da sociedade da qual faz parte.

Longe de casa, o turista pratica atos que seriam impensáveis em sua própria

terra. É a relação com a alteridade que se transforma. O outro é o nativo

pobre, o servidor turístico que pode proporcionar determinados prazeres, é

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mercadoria que se compra. Do ponto de vista dos que interagem a rede de

exploração, o turista é o cliente que tudo pode (BATISTA; NEVES; MOREIRA,

2008, p.214).

As considerações dos autores, vem ao encontro do perfil dos turistas que

procuram a cidade todos os anos. Prestadores de serviços voltados a atendê-los

tentam ao máximo superar as suas expectativas, visando futuramente conquistar um

cliente fixo, seja para locar um barco, levá-los para pescar, alugar um rancho, vender

um peixe, fazer uma faxina, cozinhar etc. Assim, o turista é visto pelos munícipes como

aquele que realmente pode pagar pelo que almejar e necessitar.

Quando os turistas chegam, fazem questão de exibir o seu poder de compra,

ainda mais se estiverem na presença das garotas de programa. Em trabalho de campo

nas casas noturnas, pudemos presenciar o fechamento da casa por parte dos turistas

como parte de um atendimento exclusivo, a compra de garrafas de whisky fechadas,

o pagamento de rodadas de bebidas para todas as garotas da casa, pagamento de

programas para pirangueiros que os levaram para conhecer as casas etc. Quando

estão em locais públicos, fazem questão de dizer abertamente: “fulana (se referindo à

garçonete) põe aqui na mesa uma garrafa de whisky fechada”. Nessa fala estão

introjetados vários códigos e aspectos simbólicos que representam a abertura para

um diálogo com as garotas de programa que estão nas proximidades da mesa do

turista99.

Essa performance logo é compreendida pelas garotas de programa que, sem

demora, começam a se aproximar e estabelecer uma conversa em que, rapidamente,

são convidadas a se sentarem a mesa junto aos turistas.

O comportamento das pessoas é orientado através de comunicações e

cognições que, ao contrário do que convencionalmente se supõe, não

operam sob bases cognitivas, mas sim emocionais. As pessoas não precisam

saber o significado preciso das expressões simbólicas que utilizam para

acioná-las em suas interações. É suficiente, para elas, sentirem que estão

dirigindo tais expressões a parceiros de uma coalizão específica: a pessoas

99Vale destacar que os turistas raramente chegam sozinhos, aparecem nos espaços públicos acompanhados por mais um “amigo de pesca” e com o passar das horas, novos companheiros vão chegando e compondo a mesa do bar.

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que vão reagir de acordo com uma normalidade assumida. Tal reação se

verificará desde que as expressões sejam acionadas em um contexto

adequado, ou seja, desde que quem as utiliza reconheça as regras de sua

utilização [...]; e desde que haja entre os interlocutores, um mínimo grau de

afeição comum [...] (FREITAS, 1985, p.14).

Portanto, antes que haja o efetivo diálogo entre garotas de programa e turistas,

primeiramente, ocorrem interações simbólicas que só se fazem perceptíveis para

aqueles que estão inseridos no jogo da sedução performática. Ambos estabelecem

um código de expressões, gestos, formas de andar e movimentar o corpo que dão

indícios que estão abertos para uma conversa, iniciando dessa forma, o agenciamento

do corpo, elemento primordial inerente aos processos que engendram o turismo

sexual no município.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

Os resultados dos dados levantados durante os trabalhos de campo nos

evidenciaram que, garotas de programa, além de receberem pelos serviços prestados

aos clientes, possuem acesso a certo poder de compra e consumo que, se estivessem

inseridas em trabalhos como domésticas e faxineiras, não teriam como manter.

“Quando vou pro rancho só como coisa boa, carne de primeira, tomo só whisky bom,

Redbull, água de coco, tem de tudo. Se eu trabalhasse de faxineira você acha que eu

ia pode compra essas coisas? (Garota de programa. Entrevista realizada em 2012).

Dessa forma, acabam tendo oportunidades de vivenciar experiências, mesmo

que por um curto tempo, que se enquadram em realidades opostas às quais elas se

deparam diariamente. A realidade da vida é permeada por uma série de problemas

de desestrutura familiar, violência, alcoolismo, falta de oportunidades, até mesmo,

dificuldades em pagar contas na farmácia, mercado e suprir a necessidade de seus

filhos. Uma boa parte delas é arrimo de suas famílias e não recebem nenhum tipo de

auxílio financeiro dos pais de seus filhos.

Algumas garotas de programa relataram que os pais de seus filhos são turistas

e que, mesmo sabendo da existência das crianças, nunca voltaram para contribuir

com suas despesas e muito mesmos com sua educação. São elas que arcam com

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todas as reponsabilidades do lar e ainda necessitam pagar babás para cuidar de seus

filhos para que possam ir trabalhar. Outras deixam seus filhos com as avós e, por isso,

acabam ajudando a manter uma segunda casa.

Essa realidade revela uma faceta contraditória. Parte das garotas de programa

entrevistadas declarou separar muito bem o lado profissional do sentimental, pois

sabem que os turistas que procuram por serviços sexuais só querem se divertir,

extravasar e que quase todos são casados, prezam por seus casamentos e dizem

respeitar suas esposas.

Apesar das garotas de programa afirmarem que são bem tratadas pelos

clientes, e que nessa profissão podem desfrutar dos hábitos alimentares de pessoas

que possuem um padrão de vida elevado, além de adquirir bens materiais que em

outra profissão não conquistariam, existe uma contradição nas relações entre turistas

e garotas de programa que pode ser compreendida dentro da perspectiva do “espaço

como produto social”, proposta por Carlos (2007).

Se, por um lado, os turistas propiciam às garotas um sentimento de inserção

em padrões de consumo que não competem às suas realidades; por outro, quando

partem, fazem questão de deixar para trás declarações de possíveis sentimentos

afetivos. Assim, no momento da partida, esses sujeitos se destituem de suas

performances. Há até aqueles que tiram fotos com os peixes (como se eles os

tivessem pescado, mas, que, na verdade, foram pescados pelos pescadores) como

forma de confirmar sua “pescaria”.

As garotas de programa, muitas vezes, também destituindo-se de sua

performances, retornam às suas casas e aos seus filhos ou mesmo voltam para o

ponto de prostituição para encontrar mais um cliente, pois, como foi dito: “Eu sou

profissional e não quero ficar lembrando nome de cliente não, eu só quero que me

paguem o que foi combinado. (Garota de programa. Entrevista realizada em

22/02/2012).

Os aspectos simbólicos que permeiam as relações entre turistas e garotas de

programa podem ser percebidos rapidamente pelos munícipes ou visitantes que

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sabem onde estão localizados os pontos de prostituição ou que já conhecem a cidade

pela sua fama relacionada à prostituição.

A alta temporada da pesca em Rosana possui um significado muito mais

abrangente do que concerne ao turismo de pesca. Garotas de programa e turistas,

mesmo aqueles que não utilizam os serviços prestados pelas garotas de programa,

conhecem as condicionantes que dão sentido à abertura da pesca.

Para garotas de programa, a alta temporada da pesca significa a possibilidade

de auferir maiores rendimentos, aproveitar as oportunidades de entretenimento junto

aos seus clientes/turistas nos ranchos e, possivelmente ganhar um presente ou, até

mesmo, adquirir um utensílio doméstico que estejam necessitando.

No tocante aos turistas, estar em Rosana é “poder desfrutar da liberdade longe

da família”. É estar na companhia dos amigos e dar vazão ao seu verdadeiro “eu”.

Suas identidades são anônimas e, uma vez não reveladas, ninguém os conhece, a

não ser de outras temporadas. Os aspectos subjetivos que permeiam esses sujeitos

os diferenciam da comunidade local e, ao serem visibilizados como turistas, passam

a ressiguinificar os espaços dos quais estão se apropriando. Os munícipes veem em

seu lado performático, oportunidade de trabalho e renda. Nesse sentido, no que tange

à questão do turismo sexual no município de Rosana, podemos considerar que esse

processo é dotado de nuances objetivas e subjetivas que dão sentido a toda uma

estrutura que engendra essa atividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No que tange o turismo sexual em Rosana (SP) pudemos verificar que os

aspectos simbólicos de interação entre turistas e garotas de programa anunciam o

princípio do agenciamento do corpo, pois as garotas de programa ao sentarem-se à

mesa e, diante de algumas falas, logo estabelecem os valores do programa, a

duração, o lugar onde o programa se concretizará, entre outros acordos verbais.

A descrição de tais situações visa apenas situar o leitor sobre os possíveis

códigos de fala, expressões e gestos que abarcam os aspectos simbólicos das

relações mercantis travadas entre turistas e garotas de programa. Embora seja um

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detalhamento elementar, este processo de agenciamento do corpo está inserido em

uma complexa estrutura econômica, em que turistas e garotas de programa tornam-

se protagonistas de uma rede intrincada que envolve o turismo sexual no município e

que, portanto, merece maior atenção e análise.

Nessa rede estão envolvidos “elementos fixos” e também os “fluxos”, que

Santos (1996, p.50) considera como sendo: “elementos fixos, fixados em cada lugar,

permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que

recriam as condições ambientais e as sociais, e redefinem cada lugar”. No caso dos

pontos de prostituição de rua em Rosana, podemos considerar os fixos como sendo

os locais que indiretamente auferem renda com o turismo sexual. No entanto, a cada

ano, novas práticas redefinem novos locais para o encontro de turistas e garotas de

programa, criando assim, uma reconfiguração dos pontos de prostituição no município

de Rosana. Nesse sentido, podemos compreender que o turismo sexual em Rosana

não pode ser reduzido apenas ao mero agenciamento do corpo, travado entre turista

e garota de programa. Nesse arranjo estão envolvidos “fluxos e fixos” que acabam por

redefinir formas e funções que atuam na reprodução da economia urbana.

REFERÊNCIAS BARRETTO, Margarita. Cultura e turismo: discussões contemporâneas.Campinas: Papirus, 2007. BATISTA, Anália S; NEVES, Eliane M, R; MOREIRA, Thais A. Turismo e exploração sexual de crianças e adolescentes na região Centro-Oeste: característica da rede social de proteção. In: TENÓRIO, Fernando G; BARBOSA, Luiz G, M. (orgs). O setor turístico versus exploração sexual na infância e na escola. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.p.201-244. BEM, Arim S.do. A dialética do turismo sexual. Campinas, SP: Papirus, 2005. BRASIL. Turismo de Pesca. Orientações Básicas. 2ª Ed. Brasília, 2010. Disponível em:http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/oministerio/publicacoes/downloadspublicacoes/TurismodePescaVersxoFinalIMPRESSxO.pdf. Acesso em: 29/04/2015

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______. Ministério do Turismo. Marcos Conceituais. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Marcos_Conceituais.pdf.Acesso em: 05/06/2015. CARLOS, Ana F A. O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007. FREITAS, Renan S. Bordel Bordeis: negociando identidade. Petrópolis: Vozes,1985. GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, Vozes, 2011. MAY, T. Pesquisa social: questões, métodos e processos. Porto Alegre: ARTMed, 2004. NASCIMENTO, Berta l. X. Exploração sexual de crianças e adolescentes e o turismo: estudo de caso no município de Rosana. Primavera, 2011. Monografia. Universidade Estadual Paulista. SANTANA, Augustin. Antropologia do turismo: analogias, encontros e relações. São Paulo: Aleph, 2009. SILVA, Ana Paula da; BLANCHETE, Thaddeus. “Nossa Senhora da Help: sexo, turismo e deslocamento transnacional em Copacabana. Cadernos Pagu, jul./dez. 2005, n.25.p.249-280.

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RESUMOS EXPANDIDOS

GT 1 – TURISMO, HISTÓRIA E CULTURA

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OS HOTÉIS ENQUANTO ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE EM PELOTAS/RS NO

INÍCIO DO SÉCULO XX

TEIXEIRA, Larissa Plamer100; MÜLLER, Dalila101. [email protected]

Palavras-chave: Hotelaria; Espaços de Sociabilidade; Sociabilidade Semiformal;

Pelotas; Reuniões sociais.

1 INTRODUÇÃO

O objetivo principal deste trabalho é analisar a utilização dos hotéis em

funcionamento na cidade de Pelotas nas quatro primeiras décadas do século XX,

como espaços de sociabilidade da sociedade pelotense.

Durante a segunda metade do século XIX e no início do século XX os hotéis

ofereciam hospedagem para viajantes, excursionistas, “passeiantes” que vinham para

Pelotas. Mas, além da hospedagem, sediavam reuniões sociais da sociedade

pelotense. Assim, os hotéis podem ser considerados espaços de sociabilidade, pois

as pessoas não iam nestes estabelecimentos apenas para estadias, mas também

para jantares, chás dançantes, almoços, banquetes, bailes, entre outras festas que

eram realizadas ali.

A cidade de Pelotas se desenvolveu durante o século XIX e o início do século

XX, principalmente, pela atividade charqueadora, iniciada no final do século XVIII.

100Graduanda em Turismo – Universidade Federal de Pelotas. http://lattes.cnpq.br/0832324831412384. E-mail: [email protected]. 101Doutora em História; Mestre em Turismo; Graduada em Ciências Sociais. Professora Associada da Universidade Federal de Pelotas. http://lattes.cnpq.br/3450137421308599. E-mail: [email protected].

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José Pinto Martins instalou a primeira charqueada à margem direita do arroio Pelotas

no final da década de 1770. No ano de 1820 estavam em funcionamento 22

charqueadas e em 1873 35 charqueadas funcionavam na cidade (MÜLLER, 2004),

demonstrando o crescimento desta atividade, transformando a região de Pelotas no

grande centro saladeiril do Estado.

A exploração da charqueada possibilitou o aumento da população,

principalmente pela chegada dos imigrantes europeus; o estabelecimento de fábricas

e atividades comerciais e a formação de um povoado, vila e cidade. A sociedade

pelotense se destacoutambém pelas atividades sociais e culturais desenvolvidas

durante os séculos XIX e XX.

Nesse contexto, os hotéis são abertos na cidade, se destacando, não só como

espaços de hospedagem, mas também como espaços de sociabilidade da população

pelotense, com o oferecimento de locais para reuniões sociais, como festas, bailes,

ceias e banquetes.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho consiste em uma pesquisa histórica, desenvolvida a partir da

coleta de informações nos jornais de Pelotas, principalmente no jornal Diário Popular,

disponíveis na Biblioteca Pública Pelotense. Os exemplares das quatro primeiras

décadas do século XX foram pesquisados de forma sistemática, levantando-se as

informações dia a dia. Os jornais impressos concentravam um papel fundamental no

registro da vida social da cidade, pois, como diz Loner (1998, p. 7), numa cidade

pequena e requintada como Pelotas, “coisas que normalmente hoje não seriam

reproduzidas [...] eram contadas nos mínimos detalhes, permitindo conhecer tanto o

pitoresco do fato, quanto o lado cotidiano da vida das pessoas daquela época”.

As informações sobre os hotéis foram identificadas e copiadas dos jornais,

organizando-se um banco de dados. A partir dessas informações, selecionou-se, para

este trabalho, as matérias referentes às reuniões sociais desenvolvidos nos hotéis, o

que os caracteriza como espaços de sociabilidade. Assim, as informações foram

analisadas descritivamente, utilizando a cópia literal das reportagens.

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Destaca-se que as informações utilizadas neste trabalho foram coletadas no

projeto de pesquisa “A História da Hotelaria em Pelotas na primeira metade do século

XX” do Curso de Bacharelado em Turismo da UFPel, financiado pelo edital

MCTI/CNPq Nº 14/2014.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com Maurice Agulhon (1992) a sociabilidade é a qualidade do ser

sociável, estando relacionada ao comportamento coletivo em espaços formais ou

informais definidos. Nestes espaços, o homem estabelece vínculos, busca os

aspectos agradáveis das relações humanas, a fruição da presença do outro, a

reciprocidade. Os estudos da sociabilidade procuram compreender as diversas

maneiras pelas quais os homens se relacionam, as expressões e manifestações, mais

ou menos formalizadas, da vida em sociedade, de coletividades definidas no tempo,

no espaço e na escala social.

Navarro (2006) considera que os espaços e formas de sociabilidade são

múltiplos e variados, coexistindo manifestações estruturadas e formalmente

estabelecidas e vertentes carentes desse grau de institucionalização. A partir desse

conceito, é possível organizar a sociabilidade em três níveis, de acordo com o grau

de formalização. A sociabilidade formal envolve espaços fechados, organizados

formalmente, com a presença de sócios e local específico (MÜLLER, 2010). A

sociabilidade informal envolve espaços abertos, sem regulamentos e normas

institucionalizadas, seus frequentadores são habituais e as relações são efêmeras

(MÜLLER, 2010).

Em um nível intermediário estão os espaços semiformais, nos quais é possível

perceber as relações espontâneas dos espaços abertos e as manifestações próximas

da vida associativa. Nesse nível estão os hotéis, que são espaços abertos a todos,

mas que pertencem a um proprietário e possuem normas implícitas de funcionamento,

que restringem a entrada de alguns (MÜLLER, 2010).

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

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Como afirmado, os hotéis podem ser considerados espaços semiformais de

sociabilidade, uma vez que ofereciam, além de hospedagem, salas, salões,

restaurantes para a realização de diversos eventos. Era nesses espaços que os

pelotenses se relacionavam, formavam grupos; onde os rituais de sociabilidade

transcorriam com um a certa intimidade e exclusivismo, um lugar de ver e ser visto e

de frequência entre iguais.

Os eventos identificados que eram realizados nos espaços dos hotéis foram

agrupados em nove categorias, que são: banquetes, que podem ser políticos, íntimos

e ou dançantes; recepções; exposições; almoços; festas íntimas, ou seja, as reuniões

particulares; chás, que se dividem em literários, dançante e de arrecadação de fundos;

bailes; reuniões sociais; jantares, que se dividem em dançantes e de confraternização.

Essas atividades eram desenvolvidas nos hotéis desde o século XIX e, durante

as décadas estudadas, identificou-se sete hotéis que possuíam espaços destinados

para estes eventos. Os hotéis eram: Hotel Aliança, Grande Hotel, Hotel Brasil, Hotel

Grindler, Hotel Lagache, Hotel Schaffer e Hotel Universal. Ressalta-se que todos estes

hotéis estavam localizados na área central de Pelotas, principalmente na rua XV de

Novembro e Andrade Neves e na Praça Cel. Pedro Osório.

Os eventos eram destacados nas páginas do jornal Diário Popular, inicialmente

informando sobre a realização do mesmo e, quando cabível, convidando o público

para participar e, posteriormente, comentando sobre o mesmo. Quando o evento era

mais expressivo, envolvendo grandes nomes da cidade ou de fora dela, envolvendo

um grande público, as matérias eram veiculadas em mais de um número.

Club Caixeiral Reina muito enthusiasmo para a festa que o distincto Club Caixeiral realisará, domingo, em commemoração ao 10º anniversario de sua excellente banda musical. Aquella associação offerecerá lauto banquete, no Hotel Grindler, ás commissões das sociedades que virão do Rio Grande. (DIÁRIO POPULAR, 13.08.1908, p. 2) Festa íntima. Ontem, no Hotel Universal, o estimável jovem Agilberto Conceição, ativo empregado do Armazém Central, por motivo de seu natalício, ofereceu um jantar a um grupo de amigos. (DIÁRIO POPULAR, 16.02.1909, p. 2).

Dentre os hotéis citados, os que mais se destacam, ou seja, em que foram

encontradas mais informações sobre reuniões sociais,são o Hotel Aliança e o Grande

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Hotel. Desde o início do século XX foram identificadas várias reportagens sobre as

“grandes” festas, “chás dançantes”, banquetes, etc. que estes estabelecimentos

realizavam. Nas reportagens, as festas mais destacadas pela imprensa são sediadas

nestes dois estabelecimentos.

Durante a segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século

XX o Hotel Aliança foi um importante espaço de sociabilidade da população pelotense.

O Hotel Aliança foi pioneiro no oferecimento de banquetes na cidade, já na década de

1850 (MÜLLER, 2010).

No início do século XX o Hotel Aliança continuava se destacando no

oferecimento de espaços para as reuniões sociais, como mostra a reportagem a

seguir:

Almoço. Os proprietários de barracas de frutos do país, desta cidade, ofereceram, ontem, no ALIANÇA, lauto almoço aos seus dignos colegas que aqui se acham e que vieram tratar de um convênio. Durante o almoço reinou a mais íntima cordialidade, correndo o serviço perfeitamente, como sempre sucede no conceituado ALIANÇA. (DIÁRIO POPULAR, 14.01.1909, p. 2)

Do ano de 1901 até 1928foi encontrado o registro de 18 eventos no Hotel

Aliança. As principais reportagens referem-se aos banquetes, jantares e almoços

realizados nas suas salas, salões e no restaurante.

O Hotel Aliança sempre foi muito elogiado pelos jornais e pela população

pelotense pela sua “excelente gastronomia”, as pessoas destacavam a diversificada

e saborosa comida, o serviço e o atendimento perfeito. Essa “fama” do hotel

influenciou muito para a realização destes tipos de eventos.

Além da culinária, a sua localização contribuiu para seu destaque. O Hotel se

localizava na Rua XV de Novembro, Nº 666, em um ponto central da cidade, na área

comercial, social e cultural da cidade. Todas essas características fizeram o hotel se

destacar e ser escolhido para sediar os mais diversos eventos.

Porém, a partir da década de 1930, encontra-se a reportagem de apenas um

evento realizado no Hotel Aliança. Este declínio da utilização do Hotel para estas

atividades sociais pode estar relacionado à inauguração do Grande Hotel, em 1928.

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O Grande Hotel foi planejado e construído para ser estabelecimento hoteleiro,

representando a “maioridade da hotelaria pelotense”, uma vez que “possuía um prédio

construído exclusivamente para a finalidade de prestar serviços hoteleiros e possuía

tamanho e arquitetura ousados para a época” (MÜLLER, 2004, p. 85).

Assim, a partir do final da década de 1920, encontrou-se um número grande de

reportagens sobre as reuniões sociais realizadas no Grande Hotel.

Baile da Associação dos Antigos Alunos do Ginasio Gonzaga Tera logar, no

próximo sábado, no “hall” do Grande Hotel, uma prometedora reunião

dansante, promovida pela Associação dos Antigos Alunos do Ginasio

Gonzaga, e para a qual reina a mais viva animação em nosso meio social.

Para assisti-la, recebemos amavel convite, pelo que ficamos gratos. (DIÁRIO

POPULAR, 22.11.1934, p. 4).

Um desfile de elegância, numa festa de nobre finalidade, esta noite no

“Grande Hotel”. O “Chá das Violetas”, pelas pessoas que o prestigiam e pelo

seu objetivo- agasalho para os vendedores de jornais- marcara êxito sem

precedentes na crônica social da cidade fidalga. (...)Assim, dentro de algumas

horas, o “hall” do “Grande Hotel”, estará reunindo o que de mais elegante

possui a nossa sociedade para assinalar um dos mais expressivos sucessos

registrados em reuniões dessa natureza e para confirmar ainda uma vez que

Pelotas é a terra por excelência caritativa e boa. (DIÁRIO POPULAR,

15.06.1940, p. 4).

Com a inauguração do Grande Hotel, as reuniões sociais passaram a ser

realizadas principalmente neste hotel, que se localizava na Praça Coronel Pedro

Osório, e era o maior hotel da cidade, possuindo um imenso salão principal, um bar e

um restaurante.

Dos anos de 1931 a 1949 tem-se o registro de 13 reuniões realizadas no

Grande Hotel. As principais reuniões eram bailes, chás dançantes, jantares e festas

intimas. As reuniões que ocorriam no Hotel eram festas da alta sociedade pelotense,

onde geralmente iam as famílias de renome. Muitas festas eram divertidas com Jazz

e seguiam até a noite. Realizava-se também chás dançantes e literários pelas

“senhorinhas” da sociedade Pelotense, que geralmente possuíam intuito de arrecadar

fundos para fundações carentes.

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Comemoram, hoje, o “Dia do Viajante”. Jantar de confraternização, à noite, no “Grande Hotel”. Será, hoje, condignamente comemorado em todo o estado o “Dia do Viajante”, consagrando a laboriosa classe dos representantes comerciais que viajam. Nesta cidade, a data não passaria despercebida. Os viajantes que atualmente aqui se acham, comerarão o dia consagrado à classe que pertencem, com um jantar de confraternização, que se realizará no “Grande Hotel”. Para tomar parte no ágape troxeram-nos gentil convite os srs. Antonio Augusto Marvão, da firma Pereira e Queiroz, de São Paulo e Mauricio Guerelman do Editorial Labor do Brasil S.A., do Rio de Janeiro. (DIÁRIO POPULAR, 01.10.41, p. 2) Festa de fundo beneficente, no “Grande Hotel”: O grande interesse que vem despertando em nosso meio social a chá-dansante organizado por um grupo de professoras em beneficio das caixas escolares dos grupos estaduais, localizados nesta cidade, é o indice mais seguro de que essa reunião social será coroada do mais franco êxito. E outra cousa não seria licito esperar, não só levando em conta as elevadas finalidades da prometedora festa, como a circunstância de ser ela organizada por um grupo de distintos elementos da nossa sociedade. O chá-dansante em apreço terá lugar, amanhã, no “hall” do “Grande Hotel”, com inicio ás 21:30 horas. (DIÁRIO POPULAR, 07.08.42, p. 4).

Desse modo, observa-se que os hotéis identificados no período estudado eram

utilizados para a sociabilidade, oferecendo salas, salões e restaurantes para reuniões

sociais. Porém, nas primeiras décadas do século XX o Hotel Aliança se destaca no

oferecimento destas atividades e após a inauguração do Grande Hotel, no final da

década de 1920, este passa a ser o espaço de sociabilidade preferido da sociedade

pelotense.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise das informações contatou-se que os hotéis eram

importantes espaços de sociabilidade semiformal da sociedade pelotense da

época.Muitas foram as reuniões sociaisrealizadas nestes estabelecimentos, como

banquetes, recepções, almoços, festas íntimas, bailes, jantares, entre outras.

O Hotel Aliança se destacou no oferecimento destas atividades nas primeiras

décadas do século XX. Com a inauguração do Grande Hotel, os outros

estabelecimentos, inclusive o Hotel Aliança, perdem o destaque na realização destes

eventos, já que o Grande Hotel foi considerado o grande salão de festas da cidade de

Pelotas.

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Assim, os hotéis no início do século XX, além de espaços de hospedagem

eram espaços de sociabilidade, sendo palco de reuniões sociais, pois, dentro deles a

sociedade pelotense se divertia, se relacionava, era um lugar de encontro e de

convívio.

REFERÊNCIAS

AGULHON, Maurice. La Sociabilidad como Categoría Histórica. In: FUNDACION MARIO GONGORA. Formas de Sociabilidad em Chile 1840-1940. Santiago do Chile: Vivaria, 1992. LONER, Beatriz Ana. Jornais Pelotenses Diários na República Velha. Ecos Revista, EDUCAT – Universidade Católica de Pelotas, Pelotas, v. 2, n. 1, p. 5-34, abril de 1998. MÜLLER, D. “Feliz a população que tantas diversões e comodidades goza”:

espaços de sociabilidade em Pelotas (1840-1870). 2010. 338f. Tese (Doutorado em

História). Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo. 2010. p. 183-210.

MÜLLER, Dalila. A Hotelaria em Pelotas e sua Relação com o Desenvolvimento da Região: 1843 a 1928. 2004. 158 f. Dissertação (Mestrado em Turismo) – Universidade de Caxias do Sul – UCS, Caxias do Sul, 2004. NAVARRO, Javier Navarro. Sociabilidad e Historiografía: Trajectorias, Perspectivas y Reto. SAITABI. Revista de la Facultat de Geografia i Història, Universidad de Valência, Valência, n. 56, p. 99-120, 2006.

SUVENIR CULTURAL: ESPAÇOS MUSEAIS

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DE SÁ, Felipe Zaltron102

[email protected]

GASTAL, Susana de Araújo103

[email protected]

Palavras-chave: Memória; Suvenir Cultural; Cultura; Museu; Pós-Modernidade.

1 INTRODUÇÃO

A reflexão aqui proposta apoia-se nas teorizações no âmbito da Pós-

Modernidade sobre Cultura, especialmente por Harvey (1992) e Jameson (1996), em

que o conceito é ampliado temporal e tipologicamente, e incluso como expressão

econômica; e sobre Memória, considerando os autores Bosi (1994) e LeGoff (1996),

que a tratam para além de lógicas associadas ao passado e à simples rememoração.

Neste artigo, busca-se repensar conceitualmente o suvenir, de objeto memorialístico

e presença turística, vendo-o agora como suvenir cultural, ou seja, como objeto

cultural. Na nova condição, o suvenir está presente em diferentes espaços e serviços

culturais, como museus [aqui destacados], livrarias, centros culturais, espetáculos

musicais, peça teatrais, e mesmo em espaço turísticos.

Olhando a partir do turismo, este sempre associou a memória como insumo

importante. Em retrospectiva, é possível ver a participação de itens memorialísticos

como componente na composição de produtos turísticos, quer como museus ou

prédios históricos, quer como folclore ou artesanatos tradicionais. Por outra, há uma

preocupação recorrente entre os viajantes, no sentido de registrar os lugares por onde

passam e os eventos dos quais participam. Essa construção de memória pode dar-se

102Felipe Zaltron de Sá – Graduando do curso de Bacharel em Turismo no Programa de Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul-RS. Bolsista IC-CNPq. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0363951380330385 103Susana Gastal – Doutor. Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul-RS. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8360075869351902

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na forma de registros fotográficos ou em vídeo, ou na compra de cartões-postais,

artesanato e suvenires. (GASTAL, 2012)

A introdução do suvenir cultural é mais recente, introduzida inicialmente em

lojas associadas à equipamentos culturais, como forma de garantir a sustentação

econômica dos mesmos mas, mesmo nesse caso, o aspecto memorialístico estará

presente, na sua associação com o espaço ou mesmo com o local, e, na medida em

que acompanham o adquirente, semantiza-se também como memorialísticos. A

memória, desta maneira, será uma questãofundamental na reflexão do suvenir, seja

espontânea – quando expressa a subjetividade pessoal ou coletiva em uma peça de

artesanato ou de design –, seja ela induzida, quando o suvenir busca colocar-se como

parte da experiência do e no lugar, ou da viagem.

Nesses termos, o objetivo desse trabalho é o de abrir a discussão sobre a

presença do suvenir turístico e do suvenir cultural, no âmbito memorialístico, e na sua

possível contribuindo com espaços museais.

2 MUSEU MEMÓRIA SUVENIR

A origem etimológica da palavra “museu” deriva do grego “mousêion” que

significa “templo das musas”104, ou seja, um espaço sagrado e de onde provinha a

criatividade dos artistas e intelectuais. Ela esta inteiramente ligada à origem da palavra

memória que deriva da mitologia greco-romana, na figura da “deusa Mnemosyne, mãe

das Musas” (CHAUI, 2000, p.159), que protege então as Artes e a História, nessa

perspectiva colocam-se as formas de expressão, como a escrita e poesia, o desenho

e a pintura, o artesanato, o design e a arte, sob o manto da memória, já que “a deusa

Memória dava aos poetas e adivinhos o poder de voltar ao passado e de lembrá-lo

para a coletividade” (Idem).

Com a Biblioteca de Alexandria, no século IV aC, que tinha associado um

Museu, nasce a concepção da necessidade de salvaguardar a memória coletiva,

104Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/24234/origem-do-museu> Acesso em: 20 SET 2016.

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mesmo que isso não fosse evidente na época. Retomando as palavras gregas para

museu e memória, “sua função seria servir à instrução da sociedade, especialmente

os valores nacionais, ensinando civismo, história, artes e técnicas” 105 . Na última

década do século XVIII, o museu recebe a denominação, sua institucionalização vai

consolidar a conservação material das artes plásticas, como pinturas, esculturas e

objetos de arte antigos, e abrir o precedente para a salvaguarda dos monumentos

arquitetônicos (CHOAY, 2001).

Arquitetura, museus e folclore, na Modernidade, expressariam a identidade

nacional a ser construída, no âmbito da ‘invenção’ do estado nação. Neste cenário, os

prédios e os museus representam papel fundamental, como síntese do passado e da

história local a ser construída como um passado coletivo. Com o tempo, segundo

Gastal (2010, p. 89) “o museunacional, com as peças de seu acervo tratadas como

documento, é o espaço deconservação, expressão e construção de significados que

alimentariam as identidades locais.” Por isso, cada vez mais, as peças acervada

ganham aura de sacralidade.

Na atualidade, os acervos dos museus são mais rigorosos na constituição de

acervo, mesmo com a ampliação temporal e tipológica do que possa ser tratado como

patrimônio histórico cultural. Isso porque, nas instituições, há maior consciência da

importância como instâncias de validação dos processos e objetos memorialísticos, o

que envolve a seleção rigorosa do que será ou não conservado, o que se transformará

ou não em memória, o que deverá, ou não, demarcar a identidade local e regional,

para não dizer aquela associada a nacionalidade. Igual lógica atingirá a arquitetura,

nos denominados prédios históricos, tombados como patrimônio pelo poder público.

A palavra memória ainda tem outra origem etimológica que podemos melhor

entender na discussão sobre Museus. Trata-se de memor, do latim, que refere aquele

que lembra106. A lembrança está presente no convívio social e aquele que lembra,

lembra-se de algo, o que é fundamental para manutenção dos processos

105Disponível em: <http://www.museus.art.br/historia.htm>. Acesso em: 20 SET 2016. 106Etimologias. Disponível em < http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/memoria/. >Acesso em:

23 Set. 2016.

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socioculturais. Mas, aquele que lembra, não pode depender apenas dos processos

bio-psíquico internos, mas necessitará de suportes expertos ou de outros sujeitos,

para garantir e ativar tais processos em longo prazo, daí, por exemplo, os viajantes

tradicionalmente produzirem objetos de lembranças [fotos, vídeos, diários de viagem

e suvenires] em seus deslocamentos.

Para Gastal (2010, p. 96), “antes deste contexto de valorização dos suportes

externos de memórias, o Museu era a instituição encarregada de lidar com o passado

e, portanto, de organizar tanto as memórias coletivas como asindividuais”. Por isso, o

Museu em seu formato tradicional, aquele que foi constituído no princípio, teria três

grandes funções: guardar/acervar documentos, pesquisar para constituir

conhecimento a partir dos documentos em acervo, e divulgar acervo e pesquisas pela

publicação de livros, montagemde exposição, realização de cursos, etc.

Neste contexto, nota-se que os museus deixam de somente, acervar, guardar,

catalogar acervos e passam a intensidade, tudo tem que ser intenso,

espetacularizado, retirando a função de tornar real o passado, para reforçar a

experiência desse passado. Mostra-se ai, o crescimento da interpretação patrimonial

nos espaços museais fazendo com que os visitantes vivenciem a história do local no

local.

Para tal, Gordon (1986, p. 135) diz que o suvenir é “como um objeto real,

concretiza ou torna tangível o que seria, caso contrário, apenas um estado

intangível107”, o suvenir passa a ser peça chave em espaços museais, representando

o local. Para o turista que o adquire, além de ser uma expressão da cultura visitada,

ele significaria recordação: um objeto memorialístico a alimentar amemória da viagem,

no retorno ao lar. Isso "ajuda a localizar, definir e congelar no tempo uma experiência

passageira, transitória, e trazer de volta para experimentar algo ordinário da qualidade

de uma experiência extraordinária108” (Idem).

107Tradução dos autores para: “As an actual object, it concretizes or makes tangible what was otherwise only an intangible state.” 108Tradução dos autores para: “helps locate, define, and freeze in time a fleeting, transitory experience, and bring back into ordinary experience something of the quality of an extraordinary experience.”

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Gordon (1986, p. 139), propõe uma diferenciação e caracteriza os suvenires a

partir do ponto de vista memorialístico; segundo ela, quando se acrescenta ‘souvenir

de...’, cria-se uma memória do local visitado, o que o leva a classificá-los em: (a)

PictorialImages109 são as fotos, cartões postais, vídeos e até mesmo guias turísticos,

sendo os suvenires mais comuns no momento contemporâneo pela facilidade de

acesso e/ou consumo. Notoriamente, são eles que mais se destacam e repercutem

criando maior parte da vivência posterior ao local, por serem peças em sua maioria

intangíveis, mas que marcam um momento específico. (b) Pieces-of-the-rock são

objetos salvos do meio natural ou retirado de um ambiente construído, normalmente

encontrados como suvenires de jardins botânicos ou sítios históricos, mas que

reforçam a sustentabilidade local. (c) Symbolic Shorthand são miniaturas fabricadas

de objetos em grandes dimensões, maioria dos suvenires turísticos comercializados,

por serem chaveiros, brinquedos e demais objetos que são transportados facilmente.

(d) Markers objetos que em si mesmo não tem qualquer referência a um lugar ou

evento específico, mas são inscritos com palavras que as localize no tempo e espaço.

(e) Local Products: são os objetos da cultura local, como comidas, roupas e peças

étnicas associados ao aspecto econômico pela necessidade do ambiente.

O suvenir cultural dessa forma classificado expandi a compreensão quanto

objeto cultural, mantendo as marcas do lugar e da identidade do local, ou, nas palavras

de Santana (1997), o conotar simbolicamente a área visitada. Ou seja, constitui-se

como concentração de memória sobre o lugar, a qual se soma uma segunda camada

de rememoração: a experiência pessoal da viagem do turista.

3 PROVISORIAMENTE

109Escolheu-se a não tradução dos conceitos.

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Como visto, o Museu tem suas origens atreladas a memória e à necessidade

de um [re]conhecimento significativo por parte dos sujeitos visitantes. Áreas

associadas ao lazer, principalmente quando colocadas em espaços urbanos que

carecem deste tipo de atividade é transposta para espaços culturais, ajusta-se o foco,

mas não se vê abandonada a aspiração a uma experiência que mobilize

sensibilidades, intelectos e afetos.

A experiência de grandes Museus, em especial o Louvre sinaliza caminhos

para serem seguidos. Mas o importante é considerar que a memória – e o

colecionismo de objetos que ajudem a demarcar momentos e lugares – é parte

integrante do nosso modo de ser. Assim, poderíamos dizer que estamos qualificando

o antigo colecionismo de cartazes de cinema, de programa de teatro ou mesmo dos

tickets de ingresso, com novos objetos memorialísticos. A área cultural precisa tratar

dessas questões com carinho, para que não sejamos vítimas de intervenções

puramente mercadológicas, que em vez de ampliar a presença do fato cultural,

precarizam a sua inserção no rol das memórias pessoais e coletivas.

Esta situação da Cultura, que de ‘mera’ significação como expressão criativa

ou como acúmulo histórico patrimonial de bens materiais e imateriais, tornou-se um

importante segmento de econômico, exige que a área passe a considerar outros

parâmetros para sua sustentabilidade, mesmo quando frente a proposta sem fins

lucrativos.

REFERÊNCIAS

BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças dos velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática,2000. Disponível em: http://home.ufam.edu.br/andersonlfc/Economia São Paulo _Etica/Convite%20%20Filosofia%20-%20Marilena%20Chaui.pdf. Acesso em: 10 fev. 2016. CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. Lisboa: Edições 70, 2000.

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GASTAL, S. Museu E Turismo: A Complexa Relação com o Tempo e a Memória. Revista Eletrônica de Turismo Cultural, v. 4, n. 1, 2010, p. 85-103. Disponívelem: http<://www.revistas.usp.br/turismocultural/article/view/98420/97129>. Acessoem: 10 OUT 2016. GASTAL, S. O tempo na tessitura pós-moderna: entre o museu-acontecimento e o souvenir-memória, 2012. Anais... Disponível em: http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/82485475616077616163715567597342740708.pdf.Acesso em: 10 out. 2016. GORDON, B. The Souvenir: Messenger of the Extraordinary. Journal of Popular Culture, Winter, p. 135-146, 1986. HARVEY, D. A condiçãopós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992. JAMESON, F. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 1996. LEGOFF, J. História e Memória. Campinas, SP, Ed Unicamp, 1996. SANTANA, A. Antropología y turismo:nuevas hordas, viejas culturas. Barcelona: Ariel Antropología, 1997.

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TURISMO EM CEMITÉRIO E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO E A TRAMA

MORTE E VIDA

DEL PUERTO, Charlene Brum110; BAPTISTA, Maria Luza Cardinale111 [email protected]

Palavras-chave: turismo em cemitério; patrimônio; trama morte e vida

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho traz dados da pesquisa feita no mestrado em Turismo da

Universidade de Caxias do Sul concluído em 2016. O objetivo geral de estudo foi

analisar o cemitério como um atrativo turístico considerando seu patrimônio e a trama

morte e vida nas necrópoles. Como objetivos específicos buscou-se apresentar

características do cemitério, demonstrando a sua condição de bem patrimonial

material e imaterial; discutir os conceitos existentes e a prática do turismo nos

cemitérios e; apresentar a discussão relativa aos dispositivos de potencialização do

turismo em cemitério, considerando a ambivalência morte-vida.

É um estudo que contempla o turismo em cemitérios, com dados coletados no

Cemitério da Consolação em São Paulo/SP, o qual se constituiu como objeto empírico.

O estudo envolveu conceitos sobre turismo, turismo em cemitério, morte, patrimônio

e trama morte vida, para entender a relação entre as temáticas. Foi utilizado como

proposição teórico/metodológica, a ‘Cartografia dos Saberes’ de Baptista (2014). O

trabalho justifica-se pela necessidade de entender as novas formas de uso dos

110 Mestra em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Professora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Cursando Especialização em Gestão Pública e Desenvolvimento Regional na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Integrante do Amorcomtur! Grupo de Estudos em Comunicação, Turismo, Amorosidade e Autopoiese (CNPq-UCS) [email protected] 111Doutora em Ciências da Comunicação, pela ECA/USP. Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade da UCS (BRASIL). Pesquisadora com apoio CNPq. Coordenadora do Amorcomtur! Grupo de Estudos em Comunicação, Turismo, Amorosidade e Autopoiese (CNPq-UCS) e integrante do Filocom (ECA/USP). Pós-doutoranda e Pesquisadora visitante sênior da Universidade Federal do Amazonas (UFA UFAM), com apoio FAPEAM. Pesquisadora Iberoamericana (edital UCS/SANTANDER). [email protected]

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espaços cemiteriais, como é o caso do turismo ali praticado. Além disto, há pouca

produção acadêmica sobre o turismo em cemitério, principalmente quantoà dimensão

de vida. Há ainda reducionismo nas expressões sobre a atividade: darktourism,

turismo cemiterial, turismo de fait divers, turismo necrófilo e turismo mórbido, dão

conotação majoritariamente fúnebre o que não auxilia a pensar na potência de vida

existente nas necrópoles. Debater sobre a morte, para além do senso comum,

também é um indício da importância desta pesquisa, já que a morte tornou-se um

assunto marginalizado socialmente.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada na pesquisa tem caráter transdisciplinar e

orientaçãoqualitativa exploratória, com utilização da Cartografia dos Saberes proposta

por Baptista (2014). Esta proposição está ancorada na ciência contemporânea, que

segundo a autora é marcada pela incerteza, e por ações que surgem durante a

pesquisa. Para ela, o que está posto é a mobilizaçãodesejante dos produtores de

conhecimento em Turismo, coerente com o cenário ‘caosmótico’ (BAPTISTA, 2014).

A Cartografia dos Saberes é composta por 3 trilhas:a dos Saberes Pessoais,

em que o pesquisador expõe seu conhecimento sobre o assunto; a dos Saberes

Teóricos, nas quais as teorias envolvidas são discutidas; e a terceira é o Laboratório

de Pesquisa, ou Usina de Produção, momento em que ocorre a prática da pesquisa,

através de observação sistemática, conversas informais, exploração de materiais e/ou

documentos, consideradas estas, técnicas de aproximação com o que será estudado

(BAPTISTA, 2014). Há ainda os Pensamentos Picados, sendo estes, ideias que

surgem e que podem ser desenvolvidas na proposição da pesquisa.

No eixo teórico, a pesquisa foi realizada com discussão sobre as temáticas de

turismo, turismo em cemitério, morte, patrimônio, trama morte e vida; e demais

temáticas auxiliares (arte fúnebre, subjetividade, entre outras.). Após pesquisa feita

no banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior –CAPES, partiu-se para o eixo operacional.No eixo operacional foi feita, ao

Serviço Funerário de São Paulo, a solicitação de pesquisa em campo no Cemitério da

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Consolação, e após a permissão, realizou-se: visita ao cemitério, entrevista com

Francisvaldo Gomes (condutor das visitas na guiadas), conversas com gestores,

funcionários, prestadores de serviço e visitantes, bem como registro de imagens,

(autorizadas)e análise de documentos informativos (material com dados sobre

sepultamentos e guia de visitação do cemitério).As pessoas entrevistadas receberam

o nome de deuses mitológicos da morte. A pesquisa em campo foi feita de 16 a 20

de agosto de 2015, tendo sido observados:disposição espacial do cemitério, arte,

iconografias, estado de conservação das sepulturas e das vias de acesso dentro do

cemitério, iluminação, limpeza, placas informativas. De modo subjetivo foram

observados os sujeitos visitantes (atitudes, falas, gestos, etc.)

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O trabalho debateu autores em distintas temáticas. No que tangue ao turismo,

em uma área transdisciplinare complexa, adota-se entre outros autores, Moesch

(2002) que menciona a atividade turística, como uma combinação complexa de

relação entre produção e serviços, integrando-se como uma prática cultural embasada

na cultura, história e com relações sociais de características objetivas e subjetivas.

Para Moesch e Gastal (2007) o embate entre o novo e inesperado produz uma

mobilização que leva a repensar, re-olhar, reavaliar e ressignificar a situação, o

ambiente e as vivências experiências passadas. ParaBoiteux e Werner (2009), a

atividade turística transpassao consumo, rompe estilos e propõe uma interação,

através da experiência, contribuindo assim, para o desenvolvimento pessoal. Ainda

que, elementos estruturais constituam o turismo, é a relação turismo-subjetividade que

dão sustentação a uma reflexão mais profunda à atividade turística.

Com o turismo em cemitério, não é diferente. A subjetividade se faz presente

em múltiplas instâncias, principalmente se o cemitério for entendido como um espaço

de representação social. O turismo nas necrópoles contribui para ressaltar a cultura,

o patrimônio da arte tumular e a memória das personalidades ali sepultadas o que dá

ênfase ao registro das vidas ali inumadas. Esta contribuição é marcada,pelo retorno

ao passado e também pelo encontro que serve de inspiração a um devir, sinalizando

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ações futuras a partir da ‘vida que foi’.Borges (2002, p.148) destaca que o turismo nos

cemitérios iniciou na década de 1980, quando, “[...] surgiu o modismo de se visitar

cemitérios importantes na Europa e nos Estados Unidos. As agências de turismo

procuraram criar pacotes turísticos específicos para esse novo cliente”. No entanto,

para Queiroz (2007), o aumento pela visitação turística nos cemitérios começa a partir

da década de 1990.Queiroz menciona que, no século XIX, surgem os primeiros

cemitérios do período Romântico, que “[...] foram concebidos precisamente para

serem visitados e admirados pelas obras de arte neles contidas, obras essas que eram

muitas vezes representativas do que de melhor se fazia na época” (QUEIROZ, 2009,

p.1). No final deste período, o cemitério deixa de ser uma área de passeio, o que

contribuiu para a deterioração dos espaços. A partir da segunda metade do século XX

(década de 1960), ressurge o interesse nos cemitérios como uma herança patrimonial

e cultural.

No Brasil, os cemitérios mais conhecidos pela prática turística são: Cemitério

São João Batista, situado no Rio de Janeiro; e Cemitérios da Consolação e Araçá, em

São Paulo. Além da história, arte e personalidade, a fé provoca o deslocamento até

às necrópoles devido aos santos populares. Em São Paulo há o Antoninho da Rocha

Marmo e Maria Judith de Barros no Cemitério da Consolação, São Bento do

Portão no Cemitério de Santo Amaro, Felisbina Muller no Cemitério da Quarta

Parada, Júlio Cézar Rodrigues no Cemitério da Penha, Menina Izildinha no

Cemitério São Paulo, e Menino Guga no Cemitério do Araçá (GARCIA, 2014). No

Rio Grande do Sul, há santos populares, nas cidades de São Gabriel, Pelotas, Passo

Fundo e Bagé(CORREIO DO POVO, 1998).Mundialmente, os cemitérios mais

utilizados pelo turismo são: o Cemitério de Arlington/Estados Unidos; Cemitério

Highgate/Londres; Cemitério Staglieno/Itália; Cemitério Judeu de Praga/República

Checa; Cemitério Săpânţa/Romênia; La Recoleta/Argentina; Necrópoles Cristóbal

Colón/Cuba; PèreLachaise/França; Cemitério de Poblenau/Espanha; entre outros112.

Em termos conceituais, o turismo em cemitério também é mencionado como

112 Os locais citados foram pesquisados em blogues de viagens, ou especializados em cemitérios/turismo cemiterial e em páginas online de agências de viagens em novembro de 2014.

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turismo fúnebre, turismo macabro, necroturismo, turismo de fait divers113, entre outras

designações que trazem um sentido mórbido. Pressuposto insuficiente para a

abordagem do trabalho, visto que a proposta da pesquisa, confirmada em campo foi

a de reconhecer o cemitério também como campo de ressignificação da vida.

Quanto ao patrimônio utilizou-se entre outras obras, Choay (2006) a qual

menciona que o patrimônio, relaciona-se diretamente com a vida social, sendo

“constituída pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se

congregam por seu passado comum: obras [...] trabalhos e produtos de todos os

saberes e savoir-faire dos seres humanos”. (CHOAY, 2006, p. 11). Silva expõe que

patrimônio trata-se “de ícones do não-dito, de representações, de costumes, de

tradições e/ou de saberes, [...]” (SILVA, 2011, p.1). Entende-se assim,a característica

mutável do patrimônioquanto aos seus usos e significações o que corrobora com o uso

do cemitério no turismo. NoInstituto do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional

(IPHAN), há desde a década de 1930, ações de preservação de cemitério, portões de

entrada, túmulos, esculturas e inscrições tumulares. Conforme Castro (2008) existem

15 itens fúnebres tombados pelo IPHAN, permanecendo assim, atualmente.

Referente à Trama Morte Vida, há uma dificuldade social em aceitar a finitude,

pois a morte é colocada em oposição à vida e não como um processo inerente a ela.O

sepultamento, o luto, o velório e outros aspectos concernentes à finitude sempre

estiveram presentes e foram sendo alteradas em um longo processo social. Schimitt

(1999) explica que “[...] as crenças e o imaginário dependem antes de tudo das

estruturas e do funcionamento da sociedade e da cultura em uma época dada”. Na

Era Medieval (séc. V ao XV), segundo Schmitt (1999, p. 18), “a proximidade das

sepulturas e das casas sustentava e justificava a preocupação mais intensa que os

vivos tinham com seus defuntos”, oque indica uma relação mais estreita dos vivos

com a morte. No entanto, Da Matta expõe que o luto não é mais coletivo, mas sim

isolado. “É esse contexto de individualismo, como o princípio básico da vida social,

113A expressão “fait divers” do francês “fatos diversos”, é um jargão jornalístico que indica assuntos que não são categorizados nas edições tradicionais dos veículos de comunicação. A explicação sobre a expressão foi feita pela orientadora da pesquisa,conforme Diário de Campo (2014).

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que faz com que a morte apareça como um problema” (DAMATTA, 1977, p. 145).

Porém, o turismonesses espaços, pode ser um modo de repensar a própria morte

através do patrimônio e da ‘vida que foi’, em uma relação simbiótica de ressignificação.

Isto quer dizer que há uma potencialização da vida não mais existente, demarcada

através das lápides, do patrimônio fúnebre, e também dos visitantes que utilizam a

necrópole para dar outros sentidos a sua própria vida.

Para a valorização da vida que foi, é necessário, conforme Baptista (1997), uma

afetivação, no sentido de afetividade, “mas isso não implica em um afeto como o termo

é costumeiramente utilizado, ou seja, relacionado com carinho [...]. Falo do que afeta,

do que toca, do que mexe com os sentimentos do sujeito” (BAPTISTA, 1997, p. 6).Para

Baptista (1999), é preciso racionalidade frente aos sentimentos que poderiam conduzir

os cemitérios, ao que ela denomina de “mar de sentidos”:

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

A fundamentação teórica serviu para pensar os cemitérios de modo geral, no

entanto, foi utilizado como campo de pesquisa o Cemitério da Consolação localizado

em São Paulo. Os dados coletados indicam que a necrópole é salvaguardada pelo

Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico

(CONDEPHAAT), no entanto, este órgão não fornece aos funcionários da necrópole,

preparo técnico para a conservação/manutenção das sepulturas e da arte

tumular.Quanto à segurança, apesar da presença da Guarda Municipal, há

dificuldades em conter furtos e depredações devido à extensão da área e também,

por ser um espaço público, de livre acesso e sem controle de entrada.

A organização da atividade turística e a solicitação para a visitação é feita

através do Serviço Funerário, após, as informações são transmitidas ao condutor das

visitas guiadas, o que dificulta a dinamização do roteiro e o fluxo de visitantes, pois o

condutor fica dependente das informações repassadas a ele. Não há um trabalho

sobre capacidade de carga, registro minucioso da quantidade e do perfil dos visitantes,

tampouco,apoio financeiro da Secretaria de Turismo de São Paulo (SPTuris), a qual

apenas divulga o roteiro. As vias de acesso estão em condições razoáveis,

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necessitando de manutenção em determinados lugares. Há vias com numeração

indicativa para os locais de visitação, no entanto, estas não estão totalmente

organizadas. Nelas há a inserção de QR-Code para a localização das sepulturas

dispostas no guia de visitação. Há estacionamento para aproximadamente 30 carros,

serviço que pode ser utilizado mediante pagamento prévio. Há banheiros em boas

condições de uso, disponibilizados aos visitantes. As fotografias não são permitidas,

apenas com solicitação e autorização do Serviço Funerário. Além das visitações o

Cemitério realiza dentro da necrópole, momentos solenes em homenagens a falecidos,

apresentações de peças de teatros, apresentações musicais e demais ações de modo

público e gratuito.

O material gráfico organizado inicialmente pelo professor Délio Freire, contou

com o apoio do atual condutor Francisvaldo Gomes.Atualmente o cemitério está

catalogando a flora e fauna da necrópole o que pressupõe outra dimensão de vida em

um espaço majoritariamente de morte. Os funcionários da necrópole em sua maioria

relataram, sobre a tranquilidade de trabalhar no cemitério e da necessidade de que

ele se mantenha, bem como da necessidade da morte, para que outras vidas possam

existir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O entendimento que se tem sobre a morte é imprescindível para a

compreensão do turismo realizado nas necrópoles. Se os cemitérios forem

compreendidos como um espaço de cidadania, cultura e urbanidade é possível

perceber a dimensão de vida existente no espaço fúnebre. No caso do cemitério da

Consolação, o trabalho feito pelos funcionários, a catalogação de fauna e flora

permitem que o espaço tenha a dimensão de vida tramada com a morte, indicando a

trama morte-vida, proposta no trabalho. Observa-se, contudo, a necessidade de maior

ênfase nas ações do CONDEPHAAT, quanto à manutenção dos bens fúnebres para

que estes continuem legitimados como patrimônio e salvaguardados como tal.

Quanto à organização das atividades, destaca-se a importância de maior

autonomia na tomada de decisões pelo Cemitério da Consolação frente ao Serviço

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Funerário, em relação ao turismo. A segurança necessita de melhorias, visto que a

presença da Guarda Municipal e as ações presentes, não dão conta de salvaguardar

a necrópole. O registro dos visitantes, bem como um estudo de capacidade de carga

são necessários para pensar a continuidade das ações frente aos espaços fúnebres.

Isto indica que a atividade turística nas necrópoles carece de maiores estudos e

pesquisas para seu adequado desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, Maria Luiza Cardinale. Cartografia de Saberes na Pesquisa em Turismo:

Proposições Metodológicas para uma Ciência em Mutação. Rosa dos Ventos, v. 6,

p. 342-355, 2014b.

BOITEUX, Bayard do Couto; WERNER, Maurício. Introdução ao Estudo do

Turismo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

BORGES, Maria Elizia. Imagens Devocionais nos Cemitérios do Brasil. In: XIEncontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 2001, São Paulo. ANPAP na Travessia das Artes - São Paulo: ANPAP, 2001. v.01. p. 10-15.

________. Arte funerária no Brasil (1890-1930): ofício de marmoraristas Italianos

em Ribeirão Preto. Belo Horizonte: Editora C/ARTE, 2002.

CASTRO, Elisiana Trilha. Aqui também jaz um patrimônio: identidade, memória e

preservação patrimonial a partir do tombamento de um cemitério (o caso do

Cemitério do Imigrante de Joinville/SC, 1962-2008). 2008. 210 f. Dissertação

(Mestrado) - Curso de Arquitetura & Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade,

Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.

CHOAY, Françoise. A Alegoria do patrimônio. Trad. Luciano Vieira Machado. São

Paulo: Estação Liberdade/ Editora UNESP, 2006.

CORREIO DO POVO

DAMATTA, Roberto. A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil.

Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

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532

GARCIA, Glaucia. Os Santos populares paulistanos. Disponível em:

<http://www.saopauloantiga.com.br/santos-populares/>. Acesso em: 15 nov. 2014.

GASTAL, Susana; MOESCH, Marutschka Martini. Turismo, Políticas Públicas e

Cidadania. São Paulo, Aleph, 2007.

MOESCH, Marutschka Martini (2002). A produção do saber turístico (2. ed.) . São

Paulo: Contexto

QUEIROZ, Francisco. Os cemitérios históricos e o seu potencial turístico em Portugal. 2007. Disponível em: <http://21gramas.pt/Uploads/17480711200709.pdf>. Acesso em Maio de 2012.

SCHIMITT, Jean Claude. Os vivos e os mortos na sociedade medieval. São

Paulo: Cia. Das Letras, 1999. 300p.

SILVA, Paulo Sérgio da. Patrimônio cultura imaterial: conceito e instrumentos legais

de tutela na atual ordem jurídica brasileira.In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de

História – ANPUH. São Paulo, julho 2011.

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GT 2 – TURISMO, POLÍTICAS E RELAÇÕES EXTERIORES

TURISMO NA ZONA DE FRONTEIRA CHUÍ-CHUY: PERCEPÇÃO DE ATORES LOCAIS SOBRE AS AUTOMOBILIDADES

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FRANCISCO, Giovani114 [email protected]

KUNZ, Jaciel Gustavo [email protected]

Palavras-chave: Turismo; Automobilidades; Fronteira Chuí-Chuy.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é parte integrante do projeto de pesquisa “Mobilidade turística na

fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai” ainda em andamento. A primeira etapa do projeto

se baseou em pesquisa bibliográfica e documental. Na etapa atual, pretende-se

coletar dados de campo para compreender e melhor discutir as automobilidades

através da perspectiva de determinados atores da fronteira.

A zona de fronteira conformada pelas cidades-gêmeas do Chuí-RS (sede

municipal mais meridional do Brasil) e do Chuy (localizada no departamento de Rocha,

no Uruguai). Fica próxima dos balneários Barra do Chuí (Brasil) e Barra del Chuy

(Uruguai), banhados pelo oceano Atlântico. Aspectos de sua constituição/formação

territorial, econômica, histórica, aliados à contiguidade espacial do tecido urbano, por

sua vez ligados aos fluxos de turismo de compras e de veraneio (formado por

brasileiros uruguaios, principalmente), apontam para a área como sendo um objeto

empírico promissor para o estudo das mobilidades turísticas (KUNZ; FELIPE, 2016),

apesar/em razão de ser uma área de fronteira, em que há relativa fluidez.

A recente disseminação de estudos sob a perspectiva ou “paradigma” das

mobilidades turísticas, trabalhada por teóricos como Urry e Sheller (2007), requer que

114Acadêmico do Curso de Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – FURG e voluntário do projeto de pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai”. 115Graduado em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Mestre em Turismo pela Universidade Caxias do Sul (UCS). Docente no Curso de Turismo da Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Coordenador do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai”. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4294176D2.

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se abarque elementos sociais, culturais, espaciais das mobilidades. Em geral, tais

estudos são empreendidos em grandes cidades. Entende-se, por outro lado, que as

fronteiras são áreas diferenciadas e plurais e, como tais, complexificam, teórica e

metodologicamente, o estudo das mobilidades turísticas (KUNZ; PIMENTEL; TOSTA,

2014).

O objetivo deste trabalho é apresentar dados preliminares acerca do seguinte

questionamento: pautando-se pelo que se entende por automobilidades116, qual a

percepção de determinados agentes, de distintos segmentos, nem sempre

evidenciados pelas pesquisas, acerca da performance dos fluxos turísticos por/nessa

zona de fronteira? A confrontação dos dados bibliográficos com os da observação

empírica levantará novos questionamentos e ajudará no embasamento de

determinadas questões acerca do tema.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa possui caráter qualitativo, de caráter exploratório e descritivo. Para

operacionalizá-la, optou-se por entrevistas in loco com roteiro semiestruturado, com

agentes de segmentos previamente estabelecidos. Os respondentes foram: três

“flanelinhas” (guardadores de carro) 117 que atuam na linha de fronteira, no lado

brasileiro; dois frentistas de postos de combustíveis, que atuam em dois postos

distintos, também localizados na rodovia de acesso; e, dois gerentes dos referidos

postos de combustíveis.

O recorte espacial é a rodovia de acesso à cidade brasileira (entre a aduana

brasileira e o limite internacional) e a avenida “Internacional”, que se trata da Av.

Uruguai, limítrofe à cidade uruguaia, num espaço de sete quarteirões, centrais, que

concentram estacionamentos para automóveis e numerosas casa de comércio, tanto

no lado brasileiro quanto no uruguaio. Saímos a campo em quatro dias alternados

(maio e junho de 2016), sempre na parte da tarde, com duração de aproximadamente

116A automobilidade refere-se à realização simultânea da autonomia e da mobilidade (HANNAM; BUTLER; PARIS, 2014). 117A entrevista com um deles foi tida apenas como pré-teste.

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2 meses, em período conhecido como de baixa temporada (a alta temporada são os

meses de verão) e em período de câmbio desfavorável ao turista de compras

brasileiro.

Os guardadores foram escolhidos ao acaso na saída de campo, os maiores de

idade que estavam presentes atuando no recorte e na data prevista. Os gerentes de

postos combustíveis estavam no local no dia em que fomos ao local. Os frentistas

foram autorizados e indicados pelos gerentes. Foram feitas anotações das respostas

dadas.

A análise dos dados está em curso. Neste trabalho, apresentamos os dados já

coletados e analisados. Entendemos a necessidade de utilizar nomes fictícios dos

entrevistados, a fim de manter resguardado seu anonimato.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O fenômeno do turismo depende do da mobilidade; ou, ainda, turismo é

mobilidade, na medida em que pressupõe deslocamento (KUNZ, 2015). Quanto se

trata de atrelar o turismo à viagem (não cotidiana) e aos sistemas de transportes,

diríamos que estes são condição para o turismo e sua explicação, porém não

suficiente. Desse modo, “o turismo é visto como uma parte ou sub-conjunto de um

vasto e heterogêneo complexo de mobilidades globais” (COHEN; COHEN, 2012, p.

2181). Porém, no ponto de vista de Hannam et al. (2014), o turismo não se constitui

somente como uma categoria específica de mobilidade, pois consideram que

diferentes mobilidades encontram-se nele imbricadas.

A mobilidade, para o géografo Lèvy (1999), é reconhecida como a “relação

social ligada à mudança de lugar” (p. 1), sendo, também “individualmente vivida e

intersubjetivamente repartida” (p. 4). Portanto, “relações espaciais entre pessoas e

lugares [...] situam a acessibilidade e a mobilidade no núcleo da interação humana”

(SHAW; SIDAWAY, 2010, p. 515), inserem-se aí as mobilidades turísticas

contemporâneas, as quais “movem-se em velocidade rápida e ainda desigual,

cruzando muitas fronteiras” (SHELLER; URRY, 2007, p. 6). Há desigualdades em

termos de mobilidade: “Alguns podem agora mover-se para fora da localidade –

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qualquer localidade – quando quiserem. Outros observam, impotentes, a única

localidade que habitam movendo-se sob seus pés.” (BAUMAN, 1999, p. 25).

O movimento das pessoas é crescente mas não incontido: fronteiras, polícia e

seguranças filtram os “verdadeiros” turistas na transposição de limites nacionais

(SHELLER; URRY, 2007). Porém, tais pausas no movimento, se dão de forma

desigual ao considerarmos as fronteiras dos blocos econômicos que determinados

países que formam, a exemplo da União Europeia, cujas fronteiras que têm sido

reconfiguradas, mas não propriamente extintas (COHEN; COHEN, 2012). Tal

mobilidade que corresponde à crescente rapidez do fluxo físico de pessoas, turistas e

migrantes, o que não vale a todos os grupos de pessoas, como os refugiados.

É necessário estudar redes e sistemas que comumente (re)produzem lugares

para a performance das mobilidades. Turistas e moradores estão envoltos em

múltiplas performances. Os lugares consistem-se de movimento e, também, de

materialidades e são montados em configurações temporárias, (re)criando-se como

lugares de movimento e em movimento (SHELLER; URRY, 2007). Parece-nos que

tais características são especialmente válidas quando se estuda o turismo de/nas

fronteiras, tema complexo e que não poderá ser esgotado neste trabalho.

Um dos artigos mais atuais e relevantes sobre as mobilidades turísticas

(HANNAM; BUTLER; PARIS, 2014), trata do fenômeno a partir de três categorias-

chave, quais sejam, materialidades, automobilidades e novas tecnologias da

informação e comunicação (TICs). Embora interdependentes, optamos por ora lançar

nosso olhar sobre as automobilidades observadas no recorte espacial deste estudo.

A automobilidade é permitida pelo veículo automotor. O carro seria um “avatar”

da mobilidade e símbolo do movimento, de um ponto de vista ocidental. Ele

proporciona confiabilidade e flexibilidade, garantindo, a motoristas e passageiros,

sentimentos e percepções de escapismo, anonimato e solidão (HANNAM; BUTLER;

PARIS, 2014). Porém, não é tão fácil possuir um carro. Os proprietários de veículos

comumente estão sujeitos a leis e normas específicas, além de terem de providenciar

manutenção e abastecimento de seus carros, bem como pagar impostos. Há aspectos

de imobilidade vinculados a tal mobilidade autônoma, aparentemente desimpedida:

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vigilância de velocidade por câmeras, pedágios e os encargos de estacionamento,

sem contar os congestionamentos. O sentimento de liberdade associado ao

automóvel é por vezes substituído pelo da apatia e da irritação (HANNAM; BUTLER;

PARIS, 2014).

No caso do Brasil, cabe contextualizar a política de mobilidade urbana

historicamente implementadas, tidas, por Vasconcellos (2013), como excludentes. O

transporte de passageiros intra e interurbanos são pautados pelo modal rodoviário. O

“rodoviarismo” foi promovido, por um lado, pela expansão do sistema viário a partir

dos anos 1940-50 e, por outro, pelo apoio irrestrito à implantação da indústria

automobilística no país, à mesma época (PEREIRA, 2014; VASCONCELLOS, 2013).

Até a década de 1990, a maioria das viagens se dava por transporte coletivo (ônibus),

situação que se inverteu. O automóvel as motocicletas – cujo acesso tornou-se

facilitado – tomaram a dianteira (VASCONCELLOS, 2013).

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

As automobilidades turísticas na fronteira Chuí/Chuy se dão com carro

próprio, motor homes e motocicletas, diferentes formas de locomoção utilizando motor

e que proporcionam aos motoristas/turistas e seus passageiros a autonomia no

tráfego. Na pesquisa de campo na qual ouviram-se alguns atores/agentes que

acompanham de perto essa movimentação, perceberam-se características comuns

dos turistas nas suas preferências, estilos, maneiras e entendimento da fronteira em

si.

Um dos responsáveis pelos postos de combustíveis pesquisados, gerente há

cinco anos no local, nota que o destino dos brasileiros é Montevidéu e dos uruguaios

é Santa Catarina (litoral), sendo que a época do ano com maior fluxo são os meses

de dezembro e janeiro. Afirma que o maior movimento nos feriadões são de excursões

(ônibus). As motocicletas são na maioria de brasileiros; os uruguaios em geral utilizam

automóvel. No caso das motocicletas, um dos gerentes observou que a época do ano

pesquisada (junho) “não é para carro 1.0” (uma alusão aos carros populares), devido

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à crise econômica no Brasil, que permitiria viagens turísticas apenas aos de maior

poder aquisitivo. Ainda, informou que o predomínio é de uruguaios entrando no Brasil.

Noutro posto de combustíveis pesquisado, entrevistou-se uma responsável

que atua há oito anos, que corrobora a questão: atualmente, o fluxo de uruguaios em

direção ao dentro do Brasil é o maior que o de brasileiros para o Uruguai. Ela também

entende que turistas preferem o carro pela locomoção ser facilitada e que a opção por

ônibus de excursão se dá pelos custos mais baixos. Diferentemente do outro gerente,

ela percebe o fluxo de motocicletas aumentou nos últimos anos. Outras observações

fez em relação a desorientação dos turistas brasileiros ao retornar do Uruguai: é

recorrente o fato de estes que não darem saída daquele País e precisarem voltar à

aduana/imigração para fazê-la, isso porque a sinalização da área não deixa clara essa

obrigatoriedade.

No trabalho de campo, também se entrevistou guardadores de carro, que tem

no seu dia a dia o contato direto com os turistas em trânsito pela fronteira. Para dois

deles, que são irmãos e dividem espaço no mesmo quarteirão da Avenida Uruguai

(Chuí-RS, Brasil), brasileiros e uruguaios viajam muito durante as férias, em carros

ocupados por cinco pessoas. Ali estacionariam “toda a classe de carro”, disse um

deles, em referência ao padrão dos veículos. Motocicletas também circulam, “motos

grandes” disse um deles, fazendo menção ao estacionamento exclusivo para esse

veículo na limite dos municípios. Também percebem que os turistas do Uruguai viajam

mais, seja para férias, seja para compras, em direção ao lado brasileiro.

Para uma terceira guardadora que carros, que atua há 10 anos no local, expõe

ideias semelhantes, porém, complementando com sua percepção desse turista de

fronteira, ela informa que aos finais de semana “é um loqueio” (loucura), com muito

movimento. Turistas brasileiros que passam nessa época (da entrevista) pela fronteira

é porque tem dinheiro. Uruguaios, segundo ela, vem às compras nos supermercados

brasileiros onde tudo seria mais barato, buscam, em especial determinadas marcas

de refrigerante, chocolate e café, algumas globais, outras, brasileiras. A guardadora

de carro também informou sobre problemas do trânsito intenso de veículos na

fronteira. Ela nota que autoridades brasileiras têm dificuldade de organizar filas duplas

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e o estacionamento, que por vezes ocorre em locais proibidos. Uma peculiaridade

também por observada é a questão da desorientação do turista, em especial o

brasileiro, quanto ao fato de estar no Brasil ou Uruguai. Para ela, é o turista brasileiro

e não o uruguaio que possui era curiosidade ou desorientação.

Outros atores entrevistados partilham de visões muito parecidas: é o caso dos

frentistas de postos entrevistados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Importante notar que diferentes atores performam as automobilidades

turísticas da área de fronteira Chuí-Chuy, alguns ligados ao comércio formal, outros,

a atividades mais informais, outros, ainda, oficiais (como seriam as autoridades de

trânsito, a serem ouvidas posteriormente). Estudos dessa natureza permitem aos

sujeitos pesquisados expressarem-se de forma mais livre, a partir de seus pontos de

vista e, até mesmo, a partir de seu repertório de linguagem. Caberia, em outro

momento, incluir os turistas, motoristas ou passageiros de automóveis.

O estudo vêm corroborando com autores como Vasconcellos (2013) e Pereira

(2014) no que diz respeito à histórica e eminente predominância da matriz rodoviária

de transportes de passageiros e cargas no Brasil, tanto nas estradas de rodagem,

quanto na mobilidade urbana, em especial, as automobilidades, conforme concepção

de Hannam, Butler e Paris (2014). Por razões de delimitação do escopo, novos

resultados serão analisados e apresentados em publicações futuras.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. COHEN; COHEN. Current sociological issues and theories in tourism research. Annals of Tourism Research, v. 39, n. 4, 2014, p. 2177-2202.

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541

HANNAM, K.; BUTLER, G.; PARIS, C. M. Developments and key issues in tourism mobilities. Annals of Tourism Research, v. 44, n. 1, 2014, p. 171-185.

KUNZ, J. G.; FELIPE, E. T. Fronteira Chuí-RS, Brasil / Chuy, Uruguai: potencialidades empíricas de estudo das mobilidades turísticas. In: SEMINÁRIO DA ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM TURISMO – ANPTUR, 13., 2016, São Paulo. Anais… São Paulo: Aleph, 2016 (no prelo).

PEREIRA, V. de B. Transportes: história, crises e caminhos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. URRY, J.; SHELLER, M. Tourism mobilities. Londres: Routledge, 2007.

VASCONCELLOS, E. A. Políticas de transporte no Brasil: a construção da

mobilidade excludente. Barueri: Manole, 2013.

TURISMO RECEPTIVO E EMISSIVO: CORRELAÇÃO ENTRE RECEITA LÍQUIDA

TURÍSTICA E TAXA CAMBIAL DO BRASIL (2001 a 2012)

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542

MARQUES, Fábio118; TOSTA, Eline119; CABREIRA, Stephanie120.

[email protected]

Palavras-chave: Renda turística brasileira; Turismo; Câmbio; Receita cambial

turística líquida.

1 INTRODUÇÃO

O mercado turístico atualmente contribui com um quinto de toda a produção

brasileira. Devido à globalização dos mercados e à internacionalização do dólar

enquanto moeda comercial, o turismo pode ser tanto voltado para fora (emissivo)

como para dentro (receptivo).

Sendo assim, o intuito deste trabalho é analisar a contribuição da receita

cambial turística à renda brasileira do período de 2001 a 2012. Para isso, buscou-se

estudar também a influência da taxa de câmbio sobre a renda turística. Para tal,

utilizaram-se documentos dos principais órgãos públicos como Ministério do Turismo,

Sistema de Análises de Comércio Exterior e Banco Central do Brasil.

O presente estudo justifica-se pelas escassas abordagens do tema na área

do turismo e pela contribuição que pode proporcionar na mesma área. Além disso, é

uma oportunidade de inserir o Turismo nas discussões e planejamento da área da

Economia e Comércio Exterior.

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS

118Graduando do Curso de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). [email protected]. 119Graduanda do Curso de Bacharelado em Turismo Binacional pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Bolsista do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai” (2014) http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8747823P5. [email protected]. 120Graduanda do Curso de Comércio Exterior pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Bolsista do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai” (2016); [email protected].

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543

A pesquisa tem por enfoque analisar a influência da oscilação do câmbio

sobre as receitas e despesas cambiais turísticas e a contribuição econômica do

turismo à economia nacional. Através de um caráter exploratório e quantitativo,

utilizou-se de fontes secundárias para a coleta de dados.

Para a análise, calculou-se a variação anual de todas as variáveis

encontradas. Os anos foram divididos, então, em três períodos, sendo eles P1 (2001

a 2004), P2 (2005 a 2008) e P3 (2009 a 2012) para facilitar o estudo de

comportamento das variáveis. A fim de calcular a oscilação do real frente ao dólar,

adotou-se a seguinte relação:

• PTAX > 1: desvalorização do real;

• PTAX < 1: valorização do real;

• PTAX = 1: equidade ou paridade das moedas.

Para explicar a oscilação das variáveis durante os três períodos, utilizou-se da

análise quantitativa percentual, fazendo um comparativo do aglomerado quadrienal.

Vale frisar que o intuito desta pesquisa é analisar os efeitos da variação cambial

sobre a receita turística. Dessa forma, o objetivo não ateve-se à oscilação nominal do

fluxo turístico, mas apenas à contribuição econômica. Não será estudado, portanto, a

oscilação da quantidade de turistas no Brasil, mas sim sua contribuição econômica

em analogia à taxa de câmbio.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

O turismo pode ser considerado como um fenômeno que acarreta a

transferência de capital de um país a outro ou de uma localidade à outra através da

movimentação de turistas que demandam um certo produto turístico (ARENDIT,

2002).

Além disso, pode-se afirmar a existência de uma interdependência estrutural

da atividade turística com todos os setores econômicos produtivos, que, por sua vez,

gera um efeito multiplicador que pode ser maior a outros setores da economia

(ARENDIT, 2002; LAGE, MILONE 2009). Além disso, a ampla diversidade das

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tipologias e de consumo, o consumo turístico é difícil de mensurar (MATIAS, 2007).

Matias (2007) destaca que uma das singularidades do fenômeno turístico é a de criar

consumos turísticos a partir de bens não propriamente turísticos.

Também é necessário ressaltar que o turismo deve ser entendido como uma

atividade complexa pois comercializa outras riquezas que não a monetária, como o

patrimônio cultural e natural, e envolve aspectos políticos, sociais, ambientais,

culturais, entre outros (LAGE; MILONE, 2009).

A contribuição da conta turismo no balanço de pagamentos dá-se pela geração

de divisas, de modo que as receitas cambias são consideradas como exportações e

contabilizadas no item viagens internacionais na conta nacional (VALENÇA et al.,

2015). De acordo com o Ministério do Turismo (2015), estas geraram em torno de US$

70 bilhões nos últimos quinze anos.

O mercado cambial tem efeito distinto nas receitas e nos gastos cambiais no

turismo. Destarte, o turismo, com contribuição direta, indireta e induzida, compõe um

quinto de toda a economia nacional segundo a Conselho Mundial de Turismo e

Viagem (WTTC, 2015).

A (des)valorização da moeda nacional tem impacto direto na renda nacional. A

despeito da desvalorização, ela possui relação inversa com as exportações líquidas.

Quanto maior for a quantidade de dólares na economia, mais vantajosa tornam-se as

exportações, contribuindo para um superávit no balanço de pagamentos (VALENÇA

et al, 2015).

Enquanto exportação de serviços, o mercado turístico corresponde a um nicho

do mercado internacional. Este, por sua vez, controla e é controlado pelo nível geral

de preços, o qual tem relação inversa ao poder de compra. À medida que aquele

aumenta, este diminui (KADOTA; SANTOS, 2012, p. 308). Assim, um aumento no

nível geral de preços pela inflação diminui a renda disponível do consumidor

doméstico.

O fluxo turístico de estrangeiros em restaurantes, lanchonetes, supermercados,

shoppings, centros históricos, lojas de conveniência, postos de combustíveis, hotéis e

afins possibilita o contato e a troca constante de moedas por produtos e serviços.

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545

Porém, nos últimos quinze anos, a receita turística apresentou receitas líquidas

deficitárias, na medida em que a taxa de câmbio PTAX variou de R$ 2,00 a R$ 3,00

(BACEN, 2015).

A taxa PTAX, segundo o Banco Central (BACEN, 2015), diz respeito à paridade

da moeda nacional frente ao dólar, calculada diariamente pela própria instituição.

Enquanto moeda comercial, o dólar afeta os gastos dos turistas brasileiros e dos

estrangeiros residente e estrangeiro (VALENÇA et al, 2015). Destarte, os gastos

daqueles no exterior aumentam a despesa cambial turística, sendo contabilizada na

forma de importações. Por sua vez, os gastos destes no Brasil são contabilizados

como receita cambial turística, contribuindo para o aumento das exportações

(VALENÇA et al, 2015). A receita cambial turística líquida corresponde à subtração da

receita cambial sobre a despesa cambial, caracterizando em déficit (despesa > receita

= saldo negativo) ou superávit (despesa < receita = saldo positivo).

4 RESULTADOS

A receita cambial líquida mostrou-se deficitária em todo o período da análise,

a exceção dos anos de 2003 e 2004. De acordo com a Tabela 1, a oscilação em P1

da receita líquida foi negativa, tendo passado de um déficit de US$-1.468,03 milhões

em 2001 para um superávit de US$350,77 milhões em 2004. Em P2 houve uma

variação de 503,2% no déficit, passando de US$-858,42 milhões a US$-5.177,60

milhões. No último período, P3, ainda em déficit, houve aumento de 179,9%, de US$-

5.593,60 milhões a US$-15.660,66 milhões.

O real frente ao dólar sofreu desvalorização de 24,4% em P1, tendo passado

de R$2,3522 a R$2,9257 em 2004. Não obstante, de P2 até P3, houve valorização da

moeda nacional, de R$2,4341 em 2005 a R$1,9550 em 2012. Em síntese, o câmbio

valorizado alavancou os gastos dos turistas brasileiros no exterior mais do que os

gastos dos turistas estrangeiros no Brasil em P1.

Tabela 1 – Receita, despesa e receita cambial líquida turística, taxa de câmbio

e variação entre os anos de 2001 a 2012 (em milhões de dólares e %)

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Período ∆PTAX ∆% R ∆% D ∆% RL ∆% PTAX

P1 1,2438143 86,2 -10,2 -123,9 24,4

P2 0,7548991 49,8 132,3 503,2 -24,5

P3 0,9806872 20,2 102,2 179,9 -1,9

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério do Turismo e BACEN, 2016.

De acordo com a Tabela 1, houve valorização do real frente ao dólar durante

o período da análise. A variação do câmbio foi mais intensa de P1 para P2, mas as

causas para tal efeito não foram analisadas neste presente estudo.

Gráfico 1 – Variação da receita, despesa e receita líquida do turismo brasileiro

de P1 a P3

Fonte: Elaboração própria dos autores (2016).

O Gráfico 1 permite identificar o comportamento da variação percentual da

receita, despesa e câmbio sobre a receita líquida em virtude da oscilação do câmbio

nos três períodos. Em todo o período a variação da receita foi inferior à variação da

despesa, contudo a receita líquida teve comportamento desregular.

Gráfico 2 – Variação da taxa de câmbio de P1 a P3

∆% R ∆% D ∆% RL

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Fonte: Elaboração própria dos autores (2016).

Pela leitura do Gráfico 2, no período P1 temos que, sendo PTAX maior que 1,

a variação da receita turística é maior que a da despesa, contribuindo para uma

receita cambial turística superavitária. Já em P2 e P3, estando PTAX menor que 1, a

variação da despesa turística é maior que a da receita. A receita líquida, por sua

vez, é deficitária.

Tabela 2 – Consequências da correlação das variáveis nos três períodos determinados

Período Situação

P1 ∆PTAX > 1→ ∆%R > ∆%PTAX > ∆%D → RL > 0

P2 ∆PTAX < 1→ ∆%D > ∆%R > ∆%PTAX → RL < 0

P3 ∆PTAX < 1→ ∆%D > ∆%R > ∆%PTAX → RL < 0

Fonte: Elaboração própria dos autores, 2016.

De acordo com a tabela 2, podemos observar um efeito em escala da variação

cambial no agregado turístico. Em todos os períodos, a taxa de câmbio foi a que teve

menor variação. Durante o período P1, a receita teve um crescimento superior à taxa

cambial e às despesas, incorrendo em uma receita líquida positiva. Já em P2 e P3, a

variação das despesas superou as receitas, num período de desvalorização cambial.

P1 P2 P3

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do estudo realizado é possível estabelecer que, no período analisado,

a taxa de câmbio possui maior influência sobre a despesa cambial do que sobre a

receita cambial turística. Estes resultados condizem com a literatura abordados no

estudo de Valença et al (2015).

Esta pesquisa poderá servir de base, portanto, para o desenvolvimento de

políticas de fomento ao turismo receptivo internacional, visto que este possui menor

influência do câmbio. Sendo o turismo brasileiro um mercado pouco competitivo e

estando a economia monetária em instabilidade, o mercado brasileiro deve promover

ações de contingência para evitar o protecionismo pela desvalorização, acarretando

em excesso de demanda e aumento do nível geral de preços.

Considerando-se um estudo inicial e, em vista da quantidade de pesquisas na

área da economia do turismo, os resultados aqui apresentados devem ser

aprofundados, levando em conta outras variáveis além do próprio câmbio. A fim de

não perder-se competitividade no mercado internacional e para diminuir o déficit das

receitas turísticas, deve ser feita uma análise do mercado turístico para fomentar a

demanda de turistas estrangeiros no país.

REFERÊNCIAS

ARENDT, Ednilson José. Introdução à economia do Turismo. 3 ed. Campinas:

Alínea, 2002.

BANCO Central do Brasil. Taxa PTAX de 2001 a 2012. Disponível em:

<http://www4.bcb.gov .br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao>. Acesso em:

26 mar. 2016.

______. Balanço de pagamentos anual do Brasil. Disponível em:

<http://www.bcb.gov.br /?SERIEBALPAG>. Acesso em: 26 mar. 2016.

BRASIL. Ministério do Turismo. Receita e despesa cambial turística, e superavit

ou déficit, segundo os meses - Janeiro 1990 - Janeiro 2016. Disponível em:

<http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/estatisticas_indicadores

/receita_cambial/>. Acesso em: 26 mar. 2016.

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KADOTA, Décio Katsushigue; SANTOS, Glauber Eduardo de Oliveira. Economia do

Turismo. São Paulo: Aleph, 2012, 456 p.

LAGE, Beatriz Helena Gelas; MILONE, Paulo Cesar. Economia do Turismo. 7. ed.

São Paulo: Atlas, 2009.

MATIAS, Álvaro. Economia do Turismo: Teoria e prática. Lisboa: Instituto Piagte,

2007.

ORGANIZACIÓN Mundial del Turismo. Panorama OMT del turismo internacional:

Edición 2015. OMT: Madri, 2015. Disponível em: <http://www.e-

unwto.org/doi/pdf/10.18 111/9789284416875>. Acesso em: 31 mar. 2016.

VALENÇA, Marilia Nunes; MELO, André de Souza; SOBRAL, Marcos Felipe Falcão;

XAVIER, Maria Gilca Pinto. Relação entre a taxa de câmbio e o setor de turismo:

análise por vetores autorregressivos. Turismo: Visão e ação, Eletrônica, v. 17, n. 3,

p. 737-757, set. 2015. Disponível em:

<http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rtva/article/view/8319/4678>. Acesso em:

26 mar. 2016.

WTTC. World Tourism and Travel Council. Travel & Tourism: Economic Impact

2016 Brazil. Disponível em:< http://www.wttc.org/-

/media/files/reports/economic%20impact%20research

/countries%202016/brazil2016.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2016.

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GT 4 – TURISMO, MARKETING E COMUNICAÇÃO

A IMAGEM DO CHUÍ (RS): O OLHAR DA POPULAÇÃO LOCAL

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FARIAS, Wynne121 [email protected]

SCHIAVINI, Bibiana122

[email protected]

Palavras-chave: Imagem; Concurso fotográfico; Chuí (RS) Brasil; Identidade.

1 INTRODUÇÃO

O projeto de extensão “A imagem do Chuí (RS), sobre o olhar da população

local”, é a continuação do trabalho “A Imagem de Santa Vitória do Palmar (RS), sobre

o olhar da população local”. Desta vez, o presente trabalho objetiva encontrar imagens

turísticas com foco no município do Chuí (RS), Brasil. A equipe do projeto de extensão

contou com dois bolsistas e uma voluntária, do curso de Turismo Binacional da

Universidade Federal do Rio Grande – FURG, além de uma orientadora e co-

orientadora.

A iniciativa visa diagnosticar, a partir do olhar da população local, a imagem

que representa o destino turístico no município do Chuí (RS) Brasil. Os objetivos

específicos foram: realizar pesquisas bibliográficas e científicas sobre a imagem de

destinos turísticos, diagnosticar o olhar da população local relacionada a identidade

do município, através de um 'Concurso Fotográfico' intitulado “Olhares sobre o Chuí

(RS), Brasil”, caracterizando a imagem turística do Chuí.

A pesquisa tornou-se relevante, visto que fornece ferramentas para o

desenvolvimento no município do Chuí, buscando resgatar e valorizar o município e o

seu patrimônio histórico e cultural, através da realização de um concurso de

fotografias. Além disso, serve como ferramenta de estudo para os gestores privados,

121Técnica em Eventos pela Etec Camargo Aranha – CA. Bacharelanda em Turismo Binacional, pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Petiana do Grupo Pet de Turismo na Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8319897T9 122Bacharel em Turismo pelo Centro Universitário Franciscano – Unifra. Especialista em gerenciamento de projetos pela Fundação Getúlio Vargas – FGV. Técnica do Laboratório de Pesquisa em Turismo – Latur na Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4445518E0

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e também, para gestores públicos, obterem mais informação sobre a imagem turística

do município do Chuí (RS).

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O projeto caracterizou-se por ser um estudo exploratório e descritivo, com um

enfoque teórico-conceitual de caráter qualitativo. Utilizando como ferramenta a

pesquisa bibliográfica sobre a imagem de destino turístico através de artigos,

publicações nas áreas de imagem, identidade e patrimônio turístico. Uma ferramenta

importante foi a realização do ‘Concurso Fotográfico – Olhares sobre o Chuí (RS),

Brasil’ que caracterizaa imagem turística do município.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Diversas são as definições para o termo turismo, para Herman Von Schullard

(GOELDNER, 2003, p.12) define turismo como “uma adição de exercícios envolvendo

economia eo deslocamento de pessoas, saindo ou entrando em uma cidade, região

ou país”.Para O turismo é a “soma das empresas prestadoras de serviços, governo, o

localreceptor interagindo com o turista” (GOELDNER,2003, p.13). Porém, será

utilizado a definição de Barretto, (2012, p.15) que afirma que a palavra turismo: “surge

de um verbo to tour que significa “dar uma volta”, com uma conotação diferente, To

make a toursignifica “ida e volta” com atributos diferentes, em relação ao local visitado,

o tempo que fica neste local e as motivações para a viagem”. Endente-se então, o

turismo, como o deslocamento de uma pessoa ou grupo para um local que não seja

do seu cotidiano.

Em relação ao turismo cultural, segue a definição da OMT:

Turismo cultural abarcava movimentos de pessoas em busca de

motivações culturais, tais como excursões de estudo, teatralizações e

excursões culturais, viagens para festivais e outros eventos culturais,

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visitas a localidades e monumentos, viagens para estudar a natureza,

folclore ou arte e peregrinação (apud CAMARGO& CRUZ, 2009 p.26).

Segundo Motta (2007), cultura é um processo antropológico e sociológico que

define a forma pela qual uma sociedade satisfaz suas necessidades matérias e

psicossociais. Para Bacal (2006, p.23) cultura é “um conjunto de valores, normas e

hábitos que regem a vida humana em sociedade”.

O turismo cultural tem diversos impactos, positivos ou negativos. Dentre os

impactos gerados pela atividade turística destacam-se os socioculturais que são a

valorização da herança de uma localidade. Todavia, destaca-se o orgulho ético

proporcionado pelo ato de viajar e conhecer novas culturas (RUSCHMANN, 1997).

A identidade é formada a partir do sentimento de pertencer. Assim como define

Martins (2003, p.42) “Identidade seria em linhas gerais, esse sentimento de pertencer

que as pessoas trazem enquanto seres simbólicos que são”. Porém, Martins, ainda

traz outros tipos de identidade, mas que continua com a essência de pertencimento,

sendo elas identidade social e identidade ética.

Segundo Barreto, os pensadores pós modernos veem a identidade como algo

mutável, pois sofre a influência do conhecimento do outro em outras perspectivas da

realidade (2001 apud SILVA; SANT’ANNA, 2015).

O imaginário é social, pois para a construção de um imaginário requer

conhecimento, desta forma, terá que ter contato com o mundo e com outras pessoas,

tendo algo em comum com a coletividade. Assim como afirma Maffesoli:

Pode-se falar em ‘meu’ ou ‘teu’ imaginário, mas, quando se examina a

situação de quem fala assim, vê-se que o ‘seu’ imaginário corresponde ao

imaginário de um grupo no qual se encontra inserido. O imaginário é o estado

de espírito de um grupo, de um país, de um Estado-nação, de uma

comunidade, etc. O imaginário estabelece um vínculo. É cimento social. Logo,

se o imaginário liga, une numa mesma atmosfera, não pode ser individual

(apud GASTAL, 2005, p.76-77).

Segundo Durand, (2007, p.33) a imaginação está “estreitamente motivada seja

pela língua, seja pelas funções sociais, se modele sobre essas matrizes sociológicas,

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quer genes raciais intervenham bastante misteriosamente para estruturar os conjuntos

simbólicas”.

Conforme Gastal, (2005, p.36) “Por mais que pensamos que aquilo que vemos

em uma foto é o mundo real, trata-se, antes, de uma leitura muito particular de alguém

e de um recorte do mundo”. A imagem fotográfica é a documentação reforçada da

história visualmente, registrando particularidades (BITTENCOURT 1998, p. 199 apud

RIBEIRO, 2014).

Porém, uma imagem usada como representação de algo em especifico é

determinante para a compra de um produto turístico, mas além disso, há também

avaliações através do conhecimento, sendo comentário de amigos, ou pesquisas na

internet, imagens em sites entre outros, avaliando também desejos, necessidade e

possibilidades, desta forma cada pessoa tem uma imagem diferente de um mesmo

local, referindo a imagem imaginada (BIGNAMI, 2003 p.11-12).

É importante ter uma imagem de destino conhecido para o auxílio da escolha

de destino do viajante. Desta forma, conhecendo os itens que influenciam a imagem,

pode auxiliar com estratégias de marketing para o mercado.A ciência do marketing é

utilizada num conjunto de conceitos e técnicas de planejamento e organização, e

consequentemente a aplicação destes procedimentos, para assim exercer com

sucesso a atividade (MELO, 2013 p.18). Para Jenkis (1999) entender as diferentes

imagens de um destino turístico contribui positivamente para as estratégias de

marketing a serem planejadas para uma determinada comunidade. Desta forma, o

método de planejamento turístico do local, pode auxiliar sua divulgação.

Sendo assim, a influência da imagem percebida de uma destinação turística

impacta diretamente com a identidade cultural e a gestão do turismo de um espaço

turístico.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

O concurso fotográfico “Olhares sobre o Chuí (RS), Brasil” foi uma ferramenta

de extrema importância para alcançar o objetivo do projeto.

Para a realização do concurso fotográfico, foi elaborado um regulamento

explicando as regras gerais do concurso. O regulamento foi divulgado nas mídias

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virtuais como na página do concurso no facebook, site da Instituição FURG -

Universidade Federal do Rio Grande e no site do curso de Turismo Binacional, além

de outras mídias, como Rádio Chuí FM, Rádio América FM e Canal 4. Na sequência

ocorreu o período de inscrição e homologação das inscrições e posteriormente a

seleção das dez imagens feita por uma comissão julgadora composta por um

professor da instituição e dois fotógrafos profissionais do Chuí e dois fotógrafos de

Santa Vitória do Palmar. Com as 10 imagens selecionadas a equipe do projeto

percorreu o município do Chuí, com cédula para população local votar na imagem que

representasse o destino turístico Chuí.

Contudo, ocorreram obstáculos para a realização do projeto. Destaca-se a

logística, porque tanto os bolsistas como a orientadora, moram no município de Santa

Vitória do Palmar, e a distância é de 20 km de uma cidade para a outra impossibilitava

a presença da equipe diariamente no local, dificultando a divulgação e incentivo de

inscrições, pois nem sempre o veículo da instituição FURG estava disponível, além

disso, a equipe era pequena para desenvolver todas as atividades em contato direto

com a comunidade, quando necessário trabalhou-se em escala, para que não

sobrecarregasse nenhum membro da equipe. Um resultado importante do projeto

foram os registros fotográficos serem realizados por naturais do local, pois a cidade

foi emancipada a 21 anos da cidade de Santa Vitória do Palmar, desta forma muitos

cidadãos eram registrados como vitorienses. Então, optou-se em aceitar inscrições no

concurso fotográfico dos residentes do local, independente da naturalidade.

A comunidade foi bem receptiva ao projeto, além de auxiliar na divulgação nos

canais de comunicação como rádio, tv, compartilhando o projeto no facebooke até

mesmo colando o cartaz do projeto nas lojas do Chuí, onde há maior movimentação.

O concurso fotográfico obteve 15 inscritos totalizando 44 imagens em que cada

participante poderia concorrer com até três fotos. A votação ocorreu durante sete dias,

neste período houve 258 votos válidos. Assim, as três fotos vencedoras têm a mesma

identificação, não o mesmo local, mas o mesmo representativo, que é o marco

divisório Brasil e Uruguai, desta forma, pode ser explorado como um atrativo turístico.

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Entretanto, não deixando de mostrar outras possibilidades que surgiu no

concurso, como o churrasco (Turismo gastronômico) e a avenida principal (Turismo

de Compras).

As imagens turísticas selecionadas estão relacionadas com a identidade

local porque se tem o sentimento de pertencimento coletivo, pois as três imagens

vencedoras foram de um monumento que faz parte da história do Chuí, se não os

identificassem, o marco nem surgiria no concurso, pois das 44 imagens 7 são do

marco divisório. A Mostra Fotográfica “Olhares sobre o Chuí ocorreu no dia 25 de

novembro de 2015 no SESC Chuí, com a premiação dos 3 vencedores do concurso.

A vencedora do concurso foi Katia Segovia Chuax, segundo lugar Denilson Nunes e

o terceiro lugar foi a fotografia de Luiz Paulo Pires Brongar.

Ao analisar o concurso fotográfico “Olhares sobre o Chuí (RS), Brasil” com o

“Olhares sobre Santa Vitória”, os moradores do Chuí (RS) tiveram maior interesse,

comparando o número de participantes com o número de habitantes, pois Santa

Vitória do Palmar tem 33.304 mil habitantes com 33 participantes, por outro lado o

Chuí contou com 15 participantes contendo 5.917 mil habitantes segundo os dados

do IBGE.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto de extensão identificou a imagem de destino turístico do município do

Chuí (RS), Brasil, através da realização do concurso fotográfico intitulado “Olhares

sob o Chuí’, onde os autóctones definiram o “Marco Divisório – Brasil e Uruguai” como

a imagem que representa a comunidade Chuiense. Sendo o marco divisório entre o

Brasil e Uruguai, uma identidade para os moradores esta iniciativa de extensão fica

de ferramenta tanto para o setor público como o privado com intuito de criar políticas

e projetos que auxiliem o desenvolvimento e fomento turístico do município, que pode

ir além do turismo de compras.

Com isso, considerou-se o material de imagem inscritas e selecionadas durante

o projeto, através de uma fotografia, são valiosos materiais para pesquisas futuras,

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considerando a exploração da imagem em outras formas de cultura no fortalecimento

dos laços fronteiriços dos países Brasil e Uruguai.

REFERÊNCIAS BACAL, Sarah. Lazer e o universo dos possíveis. São Paulo: Aleph, 2003. BARRETTO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do Turismo. 20. ed.

Campinas - SP – Papirus, 2003. 160 p.

_______. Cultura e turismo: discussões contemporâneas. Campinas – SP: Papirus,

2007. 175 p.

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vantagens competitivas. 2° edição. São Paulo. Aleph. 2005. 139 p.

CAMARGO, Patrícia. CRUZ, Gustavo. Turismo Cultural. Bahia. Editora da UESC.

2009. 424 p.

DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à

arquetipologia geral. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 551 p.

GASTAL, Susana. Turismo, Imagens e Imaginários. São Paulo. Aleph. 2005. 90 p.

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<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=430543> Acesso em 08 de out.

2016

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<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=431730&search=rio-

grande-do-sul|santa-vitoria-do-palmar> Acesso em 08 de out. 2016

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205 p.

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MOTTA, Fernando C. Prestes. Cultura Organizacional e cultura brasileira. 1ºed.

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RIBEIRO. Jakson. Ensaiando dizeres sobre o uso da fotografia como

documento. REGIT, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 64-71, 2014. Disponível em:

<http://www.fatecitaqua.edu.br/revista/index.php/regit/article/view/REGIT2-A6>

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RUSCHMANN, Doris Van de Meene. Turismo e planejamento sustentável: a

proteção do meio ambiente. 12. ed. Campinas, SP: Papirus, 1997. 199 p.

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Disponível em: <http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur/article/viewFile/1511/1305>

Acesso em: 08 de out. 2016.

MOBILIDADES TURÍSTICAS E NOVAS TICs: UM ESTUDO SOBRE SERVIÇOS DE INTERNET

NA FRONTEIRA CHUÍ-CHUY (BRASIL-URUGUAI)

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TOSTA, Eline123

[email protected]

KUNZ, Jaciel124

[email protected]

Palavras-chave: Turismo; Mobilidade; Tecnologias da Informação e da Comunicação

– TICs; Internet; Fronteira Chuí-Chuy.

1 INTRODUÇÃO

A relação entre Mobilidade Turística e Tecnologia da Informação e

Comunicação (TICs) se dá a partir da contribuição tecnológica ao deslocamento dos

turistas. Entretanto, tal relação entre turismo e mobilidade pode ter algumas

dificuldades em regiõescomo as fronteiriças, pois tais espaços podem oferecer

obstáculos à mobilidade do capital, de mercadorias e pessoas, incluindo os turistas

(HISSA, 2002).

Sendo assim, entende-se que a disponibilidade de recursos tecnológicos é

essencial na prestação de serviços aos consumidores turísticos, principalmente em

regiões que podem estar às margens do processo de globalização, de inclusão e

igualdade nos processos tecnológico, econômicoe social. A indisponibilidade ou

ineficácia desses serviços podem oferecer obstáculos à mobilidade turística.

Sendo assim, o presente trabalhotem como objetivo detectar a satisfação dos

clientes dos estabelecimentos hoteleiros da fronteira Chuí/Brasil-Chuy/Uruguai em

relação ao serviço de internet. O recorte dos hotéis se deve a fato de estes serem

estabelecimentos dos mais utilizados por turistas que permanecem mais tempo nos

123Acadêmica do Curso de Bacharelado em Turismo Binacional pela Universidade Federal do Rio

Grande (FURG). Bolsista do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai” (2014) http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8747823P5. [email protected]. 124Graduado em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Mestre em Turismo pela Universidade Caxias do Sul (UCS). Docente no Curso de Turismo Binacional da Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Coordenador do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai”. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4294176D2. [email protected]

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destinos. Tal estudo justifica-se pela importância de compreender a tendência de

incorporar turistas e espaços por meio da tecnologia (SHELLER, 2011), mais

precisamente, através da prestação de serviços de internet de qualidade em

estabelecimentos hoteleiros.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Quanto aos objetivos, a atual pesquisa pode ser considerada

comoexploratória e quanto à abordagem como quantitativa. O levantamento realizado

se deu a partir de consulta à página web TripAdvisor, considerando os comentários

dos usuários relacionados à internet nos 7 estabelecimentos hoteleiros situados

próximos à linha-limite entre os dois países, numa área de maior concentração desses

estabelecimentos, área essa com funções comerciais no centro da conurbação das

cidades-gêmeas.

A coleta de dados foi realizada em 18 de setembro de 2016, sem filtro de

período de postagem. Ou seja, considerou-se todos os comentários realizados na

página sobre os 7 hotéis da faixa de fronteira, obtendo-se 502 resultados. A coleta de

dados considerou a menção à internet dos usuários dos estabelecimentos hoteleiros,

sendo registrando-se o número de comentários positivos e negativos.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Os municípios Chuí (Rio Grande do Sul/Brasil) e Chuy (Rocha/Uruguai) são

cidades gêmeas, ou seja, se caracterizam pela integração urbana e funcional entre

cidades de países vizinhos. Chuí/RS possui cerca de 5.917 habitantes (IBGE, 2014).

O município de Chuy, por sua vez, possui cerca de 9.675 habitantes (URUGUAY,

2014). O acesso a ambas cidades se dá através da rodovia brasileira BR-471 e das

Ruta 19 e Ruta 9 pelo Uruguai.

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Figura 1: Localização geográfica fronteira Chuí/Brasil – Chuy/Uruguai

Fonte: Google Maps (2016).

O comércio é a principal atividade econômica destas cidades. Os free shops

do lado uruguaio da fronteira, além dos estabelecimentos brasileiros (como

supermercados)são os principais atrativos e os maiores fator de movimento de turistas

em ambos os lados da fronteira – além de ser uma rota de passagem para viajantes

e mercadorias, além do veraneio em praias próximas.Castrogiovanni (2012, p.37)

afirma que “no caso da fronteira entre Brasil e Uruguai [por exemplo] a atratividade

parece estar cada vez mais relacionada à oferta trazida pelos free shops e à diferença

cambial”. Esse parece ser o caso da fronteira Chuí-Chuy em que é possível verificar

essa variação de fluxo de pessoas conforme a variação cambial.

3.2 MOBILIDADES, TURISMO E NOVAS TICs

A mobilidade é um traço característico da globalização, uma vez que, “sem os

sistemas extensivos de mobilidade – e globalistas, ou neoliberais, reivindicações pela

abertura dos mercados e Estados para fluxos externos – processos sociais poderiam

não acontecer em escala global nem ser imaginados como tais” (SHELLER, 2011, p.2,

tradução nossa). Para Beni (2011, p.29) o processo da globalização “provocou uma

maior disponibilização e acessibilidade em amplitude mundial dos produtos, das

instalações e dos serviços turísticos”.

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Entretanto, o processo de globalização não ocorre de forma homogênea no

território, ou seja,ocorre de forma desigual e provoca exclusões – tecnológicas,

econômicas, sociais – que são reforçadas, a diferentes escalas(OSÓRIO, 1998). Por

este motivo, considera-se essencial o estudo das fronteiras e suas dinâmicas para

compreender como acontece a mobilidade – de pessoas, mercadorias e informações.

Sheller e Urry (2007, p.6) afirmam que“tais mobilidades movem-se em velocidade

rápida e ainda desigual, cruzando muitas fronteiras”.

No caso das TICs, Sheller(2011) destaca que a tecnologia incorpora pessoas

e espaços e, também, elementos que conectam pessoas a/e espaços. Augé (2010,

p.20), por sua vez, afirma que “as tecnologias da informação parecem suprimir, cada

dia mais, os obstáculos ligados ao espaço e ao tempo”.Hannam, Butler e Paris (2014)

apontam como categorias de análise das mobilidades turísticas, as materialidades, as

automobilidades (realização simultânea da autonomia com a mobilidade, por meio de

automóveis privados) e, por fim, do papel que as novas TICs possuem na mobilidade

dos fluxos de turísticos, incluindo-as como um componente importante da experiência

da mobilidade dos turistas

No caso da oferta turística, a tecnologia desempenha um papel complementário

importante para o novo turismo, um setor caracterizado por ser altamente competitivo

(OIT, 2001; TURBAN; VOLONINO, 2013). A evolução das tecnologias de informação

e os efeitos da internet foram essenciais para aumento da competitividade no setor

empresarial (GARRIGÓS; NARANGAJAVANA, 2006).

O setor turístico foi pioneiro nas inovações tecnológicas, configurando-se um

dos líderes em compras através da rede (GARRIGÓS; NARANGAJAVANA, 2006).

Nesse âmbito, deve destacar a atual relevância da página web TripAdvisor no

processo de decisão de compra dos clientes. Atualmente, o TripAdvisor é o maior site

de viagens do mundo com a finalidade de auxiliar viajantes na escolha de hotéis,

destinos, restaurantes, atrações, entre outros (TRIP ADVISOR, 2016). Juntas às

páginas web do TripAdvisor operam em 48 mercados em todo o mundo, formando,

assim, a maior comunidade de viagens do mundo, com cerca de 350 milhões de

visitantes por mês e 385 milhões de avaliações e opiniões publicadas cobrindo 6,6

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milhões de acomodações, restaurantes e atrações (TRIP ADVISOR, 2016). Dessa

forma, o TripAdvisor pode ser considerado como uma ferramenta consolidada de

busca de informações entre viajantes, contribuindo tanto com a difusão de imagens

de empresas, tanto positivas, quanto negativas.

4 RESULTADOS

Dos 502 comentários contabilizados, foi detectado que 63 faziam menção à

internet dos estabelecimentos hoteleiros, ou seja, 12,5%. Do total de 63 comentários

com referência à oferta de sinal wi-fi, 39 postagens eram negativas, ou seja, 61% do

total declarou estar insatisfeito. As principais queixas estão relacionadas à qualidade

do sinal, à indisponibilidade da rede e diferença de qualidade em quartos distantes da

recepção. Um usuário comentou em 23 de outubro de 2015: “minha única reclamação

é que, como meu quarto era o último do corredor, eu sequer encontrava o sinal de wi-

fi, então tive que ficar na recepção para acessar internet”. Outro usuário comentou em

5 de dezembro de 2015: “como o hotel está sempre cheio o dono não se sente

motivado a melhorar, apesar das inumeras [sic] reclamações dos hospedes”.

Do total de comentários que mencionam internet, obteve-se 24 com

comentários positivos e satisfeitos com o serviço, ou seja, 39%. Um dos comentários

positivos é de 14 de janeiro de 2013 em que afirma que “ainternet funciona muito

bem”.

Pode-se observar que apesar do número de comentários sobre a conexão de

internet não ser representativo frente ao número total de comentários no TripAdvisor

sobre os hotéis na fronteira Chuí/Brasil-Chuy/Uruguay, a maioria dos clientes declarou

não estar satisfeita com os serviços de conexão wi-fi.

O registro da insatisfação dos clientes pode influenciar clientes que priorizam a

qualidade de internet no processo de decisão do meio de hospedagem. Porém, como

detectado na pesquisa, a insatisfação quanto à conexão wi-fi não é um problema

interno de um hotel, mas sim de todos os estabelecimentos hoteleiros da fronteira, o

que pode ser também um fator de influência na decisão de escolha do destino ou de

pernoitar no destino.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sentimento de permanecer em um lugar específico passou a ser intrigante

e constante, e passamos a ser instigados a desafiar os limites quase anulados graças

à globalização e tecnologias facilitadores do deslocamento e da comunicação

(BAUMAN, 1999). Dessa forma, buscou-se detectar de que forma as TICs podem ser

um fator de interferência na satisfação dos clientes dos hotéis da fronteira Chuí-Chuy.

Pode-se perceber que, segundo os comentários no site TripAdvisor, os

clientes optaram por avaliar outros elementos que não a internet. Porém, entre os que

avaliaram a conexão wi-fi, percebeu-se que a maioria dos usuários declarou-se

insatisfeita.

Para os futuros estudos, recomenda-se ampliar a pesquisa aos comentários

de restaurantes da mesma região, assim como entrar em contato com os

estabelecimentos para conhecer as limitações dos mesmos em relação à contratação

de planos de internet tentando-se compreender o porquê das limitações no serviço,

se de fato se tratam de questões infraestruturais locais, específicas de uma área de

fronteira.

REFERÊNCIAS

AUGÉ, Marc. Por uma antropologia da mobilidade. Maceió: Edufal/Unesp, 2010. BENI, Mário Carlos. Globalização do Turismo. 3. ed. São Paulo: Aleph, 2011. GARRIGÓS Fernando José; NARANGAJAVANA, Simón Yeamduan. Capacidades directivas y nuevas tecnologías en el sector turístico. Castelló de la Plana: Universitat Jaume I, 2006.

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GT 5 – TURISMO, TERRITÓRIO, ÁREAS NATURAIS E SUSTENTABILIDADE

UMA BREVE AVALIAÇÃO DA TRAVESSIA CASSINO-BARRA DO CHUÍ, RS-

BRASIL SOB A ÓTICA DA SEGMENTAÇÃO DO TURISMO DE AVENTURA

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POZZADA, Maristel125

E-mail: [email protected]

KUNZ, Jaciel Gustavo(Orientador)126

E-mail: [email protected]

Palavras-chave: Segmentação dos produtos turísticos; Turismo de aventura;

Travessia Cassino-Barra do Chuí.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem o objetivo de analisar o produto turístico “Travessia

Cassino-Barra do Chuí” 127 (que ocorre no extremo-sul do Brasil), na ótica da

segmentação do Turismo de Aventura (TA). Por meio da avaliação de elementos de

um estudo de caso específico, propõe-se observar a(s) atividade(s) de aventura

desenvolvida, o que envolve equipamentos necessários, serviço de guias durante

essa travessia,confrontando a prática proposta com diretrizes da literatura do TA e do

Ministério do Turismo.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho caracteriza-se por ser de caráter descritivo-exploratório, com

fontes de dados secundárias (documental) e coleta de dados primários através de

125Acadêmica do Curso de Bacharelado em Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Campus Santa Vitória do Palmar. 126Bacharel e Mestre em Turismo. Docente no Curso de Bacharelado em Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Campus Santa Vitória do Palmar. 127Cabe esclarecer que a empresa que comercializa o produto por vezes o chama de “Travessia da Maior Praia do Mundo – Praia do Cassino ao Chuí”, embora a travessia não percorra o território do município do Chuí-RS. O ponto final são os molhes da barra do Arroio Chuí, que, nessa área, são o limite entre Brasil e o Uruguai e o ponto mais meridional no Brasil, num percurso de 220km. A Barra do Chuí é uma localidade (balneário) pertencente ao município de Santa Vitória do Palmar. Assim, o trajeto percorre áreas deste município e do de Rio Grande (Cassino).

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entrevista como roteiro estruturado, com perguntas abertas. Tal entrevista foi

realizada por intermédio de e-mails com um dos organizadores da travessia e guia de

turismo,Fernando Souza Neto.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo será caracterizado primeiramente o objeto empírico de estudo

do referente trabalho e posteriormente serão mostradas as definições dos conceitos

trabalhados no estudo acerca de autores que discorrem sobre esse segmento

turístico.

A planície costeira do Rio Grande do Sul se desenvolveu sob a influência das

variações climáticas e das flutuações do nível relativo do mar no Quaternário128,

acumulando sedimentos em dois tipos principais de sistemas deposicionais: um

sistema de leques aluviais, que ocupa uma faixa ao longo da parte mais interna da

planície; e, quatro distintos sistemas deposicionais transgressivo-regressivos do tipo

“laguna-barreira”. Essas quatro grandes mudanças no nível do mar resultaram em

numerosas depressões ocupadas por lagunas, lagoas e banhados, além de

acumulações de areia formando cordões de dunas paralelas à costa (SHÄFER,et al.,

2009).

Os ventos predominantes que partem do nordeste (NE)atuam sobre a essa

área e desempenham importante papel na dinâmica dos ecossistemas, na

movimentação das dunas migratórias e, assim, na forma de lagoas. A vegetação

responde aos efeitos dos ventos, assumindo feições particulares chamadas

anamorfose. Uma de suas características são as árvores “em bandeira”, com todos

os galhos orientados no mesmo sentido. As anamorfoses devem-se à destruição de

indivíduosjovens de espécies expostos ao vento, que provoca sua dessecação rápida

e sua morte, pela ação do spray de água salgada. Isso pode se estender por muitos

quilômetros ao longo do litoral.(SHÄFER, et al., 2009).

128Na escala de tempo geológico, o Quaternário é o período da era Cenozóica, a qual congregava as épocas do Pleistoceno e doHoloceno. O período Quartenário inicia há 1,8 milhões de anos e dura até os dias atuais.

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No que tange ao TA, estabelece-se que este consiste nos movimentos

turísticos constituídos pelos deslocamentos e estadas que envolvam a efetivação de

atividades tradicionalmente ditas turísticas (hospedagem, alimentação, transporte,

recreação e entretenimento, recepção e condução de turistas, operação e

agenciamento), as quais só existem em função da prática de atividades de aventura.

Entende-se, portanto, que as atividades de aventura, nesse caso, também são

consideradas intrinsecamente turísticas (BRASIL, 2008).

É possível distinguir quatro tópicos do TA: viagem independente, que se

qualifica como turismo no sentido das estatísticas econômicas, envolvendo no mínimo

algum transporte e acomodação comerciais e também atividades que os viajantes

considerem como de aventura;pacotes comerciais completos de TA, com serviços de

guias, que se originam em datas e lugares específicos; com atividades de aventura

disponíveis tanto para turistas quanto para moradores locais, mas nas quais a

proporção mais significativa da clientela seja composta por turistas – estações de

esqui são bons exemplos; empresas e segmentos econômicos auxiliares que estão

relacionados ao TA por vários mecanismos, notadamente os setores de equipamentos

recreativos, roupas de marcas esportivas e uma proporção significativa do mercado

imobiliário ligado à migração motivada por esse estilo de vida, esses setores

atendendo pessoas que visitaram a área anteriormente e depois se mudam para

essas áreas permanentemente (BUCKLEY; UVINHA, 2011).

Inicialmente entendido como uma atividade voltada ao ecoturismo, o TA

atualmente possui características estruturais e mercadológicas próprias.

Consequentemente, seu crescimento vem trazendoum novo leque de ofertas,

possibilidades e questionamentos, que precisam ser compreendidos para a

viabilização da oferta do segmento com qualidade. O TAjá foi considerado uma mera

forma de estar em contato com a natureza, mesmo em tempos em que esse tipo de

atividade poderia ser visto com estranheza por alguns setores da sociedade. O

segmento nasceu com pequenos grupos dispersos geograficamente, de diferentes

classes sociais e idades, que começaram a desenvolver atividades junto ao meio

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natural, passando a visualizar a possibilidade de fazer daquilo seu meio de

vida(BRASIL,2008).

A primeira definição de TA teria sido elaborada no Brasil, em 2001,na Oficina

para a Elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável do TA,

realizada em Caeté-MG. Após, em 2003, o Ministério do Turismo inicia o debate sobre

a criação de um marco regulatório para o segmento. No mesmo ano, foi elaborado um

diagnóstico nacional e internacional que visava identificar experiências de

normalização, certificação e regulamentação da área, sendo posteriormente definido

um novo conceito conforme expresso a seguir: “Turismo de Aventura compreende os

movimentos turísticos decorrentes da prática de atividade de aventura de caráter

recreativo e não competitivo.” (BRASIL, 2008, p.14).

Embora haja cuidado com a manutenção do ambiente natural, tem como foco

a prática de esportes de risco controlado e a possibilidade da execução dessa

atividade em um espaço natural, o qual servirá como cenário para a atividade física.

Esse desenvolvimento tem gerado um número cada vez maior de feiras e encontros,

que possibilitam troca de experiências, definição de roteiros e atividades e a busca de

uma linguagem única, Por ser um segmento novo, o TA ainda necessita se estruturar

melhor e identificar suas características e exigências. Suas atividades englobam

modalidades de: água, como rafting, canoagem e hidrospeed129; ar, como paraglider,

paraquedismo e balonismo, e, terra, como rapel, cascade e caminhadas.

O turismo de aventura é a modalidade em que o turista protagoniza atividades

de aventura – entendidas como “experiências físicas e sensoriais recreativas que

envolvem desafios e que podem proporcionar sensações diversas como liberdade,

prazer e superação” (MACHADO, 2005) – como canoagem, ciclismo, arborismo,

caminhadas e mergulho. As práticas podem ocorrer em diversos espaços (natural,

construído, urbano, rural) e são de caráter recreativo e não competitivo – quando

há competição, é considerado Turismo de Esportes.

129Hidrospeed é uma atividade que se assemelha a um bodyboard na água. Nele, o praticamente fica

em cima de uma pequena prancha e, deitado, enfrenta a correnteza do rio, seguindo o fluxo d'água.

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Já o ecoturismo é um segmento (ou mais que isso) que considera viagens a

áreas naturais como uma atividade responsável, que incentiva a conservação do

patrimônio natural e cultural e promove o bem-estar das populações locais e a

sensibilização ambiental dos turistas. Por isso, o ecoturismo pressupõe atividades

que promovem a reflexão e a integração entre ser humano e ambiente natural, com

envolvimento do turista nas questões relacionadas à conservação dos recursos do

destino escolhido, que deve ser aproveitado de forma “ecologicamente suportável”em

longo prazo, além de economicamente viável, assim como ética e socialmente justo

para as comunidades residentes (MACHADO, 2005, p.27).

Este estudo vai se ater à caminhada no Turismo de Aventura que é uma

atividade em ambiente natural, que pode ter diversos graus de dificuldade, buscando

a superação mais ativa dos limites pessoais e procurando realizar trilhas longas, com

obstáculos, diferenciando-se, assim, das trilhas mais contemplativas do ecoturismo. A

atividade pode ser realizada por qualquer pessoa, em qualquer idade, e deve estar

sempre acompanhada de alguma motivação física ou psíquica (MACHADO, 2005).

Segundo Machado (2005), os equipamentos necessários para percorrer trilhas mais

longas necessitam de uma quantidade maior de roupas (no mínimo duas trocas

completas), material para cozinha, lanternas, fogareiro, barraca, saco de dormir,

bússola,canivete,muita água, boné protetor solar, repelentes de insetos, kit de

primeiros socorros, tênis ou bota para caminhada.

Para Martins (2005 apud MACHADO, 2005), não é preciso ser atleta para

praticar este tipo de esporte; "para fazer trilhas, basta ter disposição e bom humor",

avalia o autor, classificando o trekking em caminhada de travessia, realizada entre

dois pontos, na qual o objetivo é atingir o local proposto, podendo durar vários dias.

Um grupo de pessoas opera/realiza esta travessia Cassino-Barra do Chuíhá

quatro anos em meio a ambiente natural da costa oceânica do Atlântico no extremo

sul do Brasil 130 . São aproximadamente sete dias e seis noites de isolamento

130Site consultado <http://pisa.tur.br/pacote/travessia-da-maior-praia-do-mundo-praia-do-cassino-ao-

chui> Acesso em: 15 de setembro de 2016.

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esocialização, “um desafio físico e mental de elevação espiritual”,segundo seus

organizadores. Segundo o idealizador e guia da travessia entrevistado, Souza Neto

(2016), graduado em Odontologia, o limite de participantes é de doze pessoas mais a

equipe de trabalho, que normalmente é de cinco pessoas.

No caso da Travessia Cassino-Barra do Chuí (O caminho dos Faróis)

conforme material de divulgação, o check-listinclui: materiais dehigiene e

medicaçãocompreferencialmente biodegradáveis;colírio, xampu, escova/creme e fio

dental, desodorante, sabonete, agulha, tesourinha, linha de costura, faixas tipo gaze,

esparadrapos (em boa quantidade), protetor solar e labial, repelente, curativo auto-

adesivo,relaxante muscular (que não cause sonolência), creme hidratante para pele,

pomada contra assaduras, vaselina (gelatina de petróleo) para evitar bolhas,

medicamentos de uso contínuo ou para primeiras necessidades, papel higiênico

elenços umedecidos.

A empresa recomenda ainda que se deve separar: roupas de dormir e roupas

de caminhada. Roupas de dormirsempre serão as mesmas, recomendam os

organizadores. Solicita-se, ainda:sandália para descanso nos acampamentos, pares

de meias para dormir,calça de dormir (pijama ou abrigo), bermuda,roupas

íntimas,blusas (de preferência de mangas compridas), blusa e calça “segunda pele”,

casaco de frio (de preferência não muito pesado ou volumoso), touca de lã, lenço de

pescoço ou fralda de tecido para cobrir durante a caminhada, pequeno travesseiro

inflável, roupas de banho, toalha, um pano tipo fralda e acessórios relacionados, pano

para limpeza mais pesada como para limpar a areia dos pés ou da mochila.

A empresa indica que, quanto às roupas recomendadas, o ideal é utilizar tênis

de caminhada, de preferência com amortecedores, e que não sejam justas na ponta

dos pés, pois incham bastante durante um dia de caminhada na areia e se houver

descuido, a perda de unhas pode acontecer.

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De acordo com o site da Roraima Brasil131 – que realiza a travessia – é

aconselhável evitar tênis com tecido de trama aberta (furadinhos), pois pode entrar

areia e isso pode causar desconforto e bolhas. Deve-se levar quatro pares de meias

(duas finas e duas grossas), calça leve para caminhada, bermuda,camisetas para as

caminhada, canga grande de tecido leve, bandana tubular.Em momento algum

quaisquer pessoas teriam tido restrições alguma a essa travessia, pelo contrário;

exige que as pessoas emitam um seguro-viagem para participar e se elas solicitarem,

a contratação se faz por intermédio da empresa. Dois guias acompanham a travessia.

Quanto aos atrativos com os quais os aventureiros se deparam, há quatro

faróis durante a travessia.Dois são desabitados: Farol Verga e Farol Sarita. Dois são

habitados: o imponente e isolado Farol de Albardão e Farol do Chuí, na fronteira com

o Uruguai. Quem cuida e neles vive é representante da Marinha brasileira. O vista

obtida da parte superior farol de Albardão costuma impressionar visitantese permite

que se tenha uma ideia clara da quão deserta é a região. Já de cima do farol do Chuí,

tem-se uma vista da fronteira sul e das praias uruguaias. Um dos momentos “pontos

altos” do caminho é o acampamento próximo ao Albardão. A visita ao interior dos

faróis está vinculada a autorização da Marinha Brasileira e não pode ser garantida

pelos organizadores.

Nos primeiros 20 km de caminhada, encontra-se o “Fotogênico Altair”, um

navio encalhado nesta praia desde 1976. São mais de 200 naufrágios registrados na

costa “gaúcha”, sendo muitos deles nesta região. Mas, independentemente do que

possa ser observado, cada local ou objeto possui sua história ou evolução. As dunas

são uma presença constante durante a caminhada, porém, durante quase 100km elas

formam um cenário diferenciado.Particularmente próximo à região do Farol de

Albardão, elas se estendem sem vegetação por 4 km, em direção à Lagoa Mangueira

e por 40km no sentido Norte/Sul.Em noite de lua cheia, a iluminação extra pode

permitir uma contemplação distinta. Observam-se árvores, boias marinhas plásticas

131 Disponível em: <<http://www.roraimabrasil.com.br/cassino-ao-chui-travessia-da-maior-praia-

mundo/> Acesso em: 10 de setembro 2016>. Acesso em 15 out. 2016.

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de meio quilo, bóias marinhas de ferro com mais de uma tonelada, pranchas de

madeira trabalhadas pelo mar durante anos, carapaças de tartarugas gigantes, vivas

e mortas, além de muitas conchas. O responsável garante que o mar vai depositar

“surpresas”no interior de cada participante da caminhada.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

Foi possível analisar através da literatura existente sobre turismo de aventura

a travessia Cassino-Barra do Chuí. Dentre os quatro tipos ou componentes diferentes

do turismo de aventura, o que caracteriza melhor esta atividade é o segundo tipo:

pacotes comerciais completos de turismo de aventura, com serviços de guias, que se

originam em datas e lugares específicos. A travessia é realizada anualmente nos

meses mais amenos da primavera, utilizando sempre o mesmo trajeto. A faixa de areia

contínua de 220km (com cerca de 180km desertos) que se estende à fronteira extremo

sul do Brasil, com o oceano Atlântico à esquerda e a Estação Ecológica do Taim e

Lagoa da Mangueira à direita, margeando praias de difícil acesso, compõe o cenário

e os atrativos oferecidos e experenciados pelos turistas praticantes da aventura.

Os serviços e equipamentos disponibilizados – que incluem:pensão completa

(café da manhã, almoço de trilha e jantar);kit primeiros socorros; equipamentos

paracamping (barracas, lonas, material de cozinha);guiamento; cozinheiro e

auxiliar;veículo de apoio durante todo o trajeto da caminhada; seguro-viagem –

apontam para um produto de TA completo, profissionalizado e orientado ao segmento

de mercado que propõe atender, sem constituir ainda em produto de massa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A caminhada no TA é uma atividade em ambiente natural, que pode ter

diversos graus de dificuldade, buscando trilhas longas e por meio delas a superação

dos limites pessoais. É o que os turistas podem encontrarna travessia Cassino-Barra

do Chuí, conhecida como a da maior praia do mundo. No trajeto não há hospedagem,

urbanização, sinal para telecomunicações, tampouco preocupações do dia a dia que

ocupam a maioria das pessoas. A experiência é peculiar dentro do segmento de TA

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ao propor passar-se sete dias caminhando numa praia praticamente deserta, em meio

a ambiente com pouca interferência, onde estão presentes conchas, dunas, navios

naufragados e faróis, distante de determinados supérfluos, por vezes impostos pelo

cotidiano. A travessia permite tal experiênciade naturezacom auxílio do grupo de apoio

fornecendo todos os equipamentos necessários.

Estudos posteriores poderão pesquisar as percepções dos turistas, bem como

realizar estudos de mercado (sobre perfil do consumidor), ou, ainda, sobre possíveis

impactos negativos dessa prática de TA em ecossistemas da área.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo de aventura: orientações básicas.Brasília: Ministério do Turismo, 2008. ______. Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais. Brasília: Ministério do

Turismo, 2006.

MACHADO, A. Ecoturismo, um produto viável: a experiência do Rio Grande do Sul. São Paulo: Senac, 2005. BUCKLEY, R.; UVINHA, R. R..Turismo de Aventura: Gestão e Atuação

Profissional. Rio de Janeiro:Elsevier, 2011.

SHÄFER, A. et al.Atlas Socioambiental: municípios de Mostardas, Tavares, São

José do Norte, Santa Vitória do Palmar. Caxias do Sul: Educs, 2009.

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GT 6 – TURISMO, EDUCAÇÃO E EPISTEMOLOGIA

PROJETOS DE EXTENSÃO E A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EVENTOS:

UM ESTUDO DO PROJETO “EQUIPE GESTORA DE EVENTOS” – FURG/SVP

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SCHWAB, Maria do Carmo Brandão132 MONTES, Eliezer133 [email protected]

LEOTI, Alice134

[email protected]

Palavras-chave: Eventos; Gestão; Formação Profissional; Projeto de Extensão;

Prática Profissional.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância de projetos

de extensão no âmbito universitário que propiciem aos alunos a oportunidade da

vivência prática dos conceitos abordado nas aulas teóricas. Como estudo de caso,

aborda-se o projeto desenvolvido pelo Laboratório de Eventos do Curso de Tecnologia

em Evento-FURG, intitulado de “Equipe Gestora de Eventos” e seus desdobramentos,

o qual propiciou, em sua primeira edição no ano de 2015/2016, a participação de

quatro discentes dos cursos de Tecnologia em Eventos e um do curso de Bacharelado

em Turismo Binacional. Já na sua segunda edição, a participação de discente tem se

dado de forma exclusiva para os discentes do curso de Tecnologia em Eventos.

Partindo-se da premissa que curso de formação em nível superior de profissionais na

área de eventos, são em sua maioria bastante recentes no meios acadêmico. Portanto,

observa-se que ainda há uma lacuna na formação e produção acadêmica, voltada

especificamente, para a análise e aprofundamento do processo pedagógico na área

de gestão de eventos.

132Licenciada em História -FURG e graduanda em Tecnologia em Eventos- FURG. 133Graduando em Tecnologia em Eventpos- FURG. 134Especialista em Gestão Pública e Desenvcolvimento Regional – UFPEL, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural –UFPEL. Atua como técnica do Laboratório de Eventos – FURG..http://lattes.cnpq.br/6646557323996742

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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O projeto “Equipe Gestora de Eventos”, criado no ano de 2015, como atividade

de extensão, foi formalizado através do Programa Institucional de Desenvolvimento

do Estudante – PDE/FURG, Subprograma de Formação Ampliada – Bolsas de

Pesquisa, Extensão e Cultura. Ele é realizado no Campus da Universidade Federal

de Rio Grande (FURG) em Santa Vitória do Palmar. Oportunizou a participação de

discentes do curso de Tecnologia em Eventos e do curso de Turismo Binacional,

visando atender as necessidades destes em aplicar conceitos apreendidos nas

disciplinas de “Organização de Eventos I, II ,II, IV e V”, e na disciplina de “Cerimonial

e Protocolo” áreas estas diretamente vinculadas com os eventos.

O projeto desenvolveu-se através da realização de diferentes ações nas

quais, os acadêmicos, foram incumbidos de diferentes tarefas ligadas à

operacionalização de eventos realizados no campus Santa Vitória do Palmar e aos

eventos externos ao campus, demandados pela comunidade local. Podendo ser

citados os seguintes eventos: ciclos de palestras, reuniões administrativas, semana

nacional dos museus entre outros. Nesse contexto, ocorreram encontros para estudos

e discussão de temas referentes à operacionalização de eventos, como as normativas

que regem a ordem de precedência das bandeiras, a composição de uma mesa

diretiva, preparação de mestre de cerimônia, princípios da hospitalidade, composição

e decoração de coffee break e coquetéis, entre outras atividades correlacionadas à

temática e sempre que houvesse demanda para operacionalizar eventos. Nestes

encontros eram divididas tarefas e responsabilidades sempre sob a supervisão direta

da coordenadora do projeto.

Logo após, a realização de cada evento eram realizadas reuniões, fase esta

denominada de pós-evento, com o objetivo de avaliação do desempenho da equipe.

Tal atividade permitia aos discentes a reflexão de seu desempenho, do

desenvolvimento da atividade embasada na teoria já adquirida nas aulas teóricas, e

principalmente refletir sobre a complexidade do trabalho em equipe. Além de pensar

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579

as relações interpessoais que se estabelecem num momento de tensão, que

geralmente envolve o trabalho em eventos.

Em seu segundo ano, como desdobramento de suas atividades, o projeto,

promoveu o curso “Som, Luz, Ação’’ que consistiu em atividade com duração de 20h.

E, teve como objetivo preencher uma lacuna na formação dos discentes do curso de

Tecnologia em Eventos, visto que os componentes curriculares não contemplam o

conhecimento prático no manuseio de equipamentos eletrônicos, som e luz essenciais

para a produção de um evento. Oportunizando assim o aperfeiçoamento profissional

dos discentes.

Durante este curso, os discentes participantes tiveram contato direto com

terminologias específicas de equipamentos usados na produção de eventos, mas que

até então eram desconhecidos para eles. Apesar do conhecimento teórico ser

relevante, o ápice do curso se deu nos momentos em que os participantes tiveram a

oportunidade de montar toda a aparelhagem sonora e de iluminação para a gravação

de um vídeo promocional.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Pensar a formação de um tecnólogo em eventos exige a abordagem de

diferentes conceitos e implicações. O que é um evento? Quais suas implicações na

sociedade enquanto produto? Quais suas relações com outras áreas? Como deve

ocorrer esta formação? Estes são alguns dos aspectos que devem pontuar o processo

de formação de um profissional capaz de planejar e desenvolver um evento em todas

as suas etapas.

Segundo Barros e Fontes (2002) os eventos são acontecimentos resultante

de ações planejadas que visam atingir resultados preestabelecidos. Para Giacaglia

(2003) os eventos caracterizam-se pela sua extraordinariedade. Já Zanella (2012),

aponta para as fortes emoções que um evento provoca em seus participantes e

organizadores, e, portanto, impõe a exigência de muito planejamento, iniciativa,

criatividade, competência e resultado em seu processo de organização.

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O crescimento econômico do setor de eventos nos últimos anos, segundo

pesquisa Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos do Brasil (2013),

realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)

e a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (ABEOC), o Brasil registra um

faturamento total de 209,2 bilhões e 48,7 bilhões de impostos. Estes valores

representaram 4,32% do PIB brasileiro e se traduziram em mais de 590mil eventos

que geraram 7,5 milhões de empregos. Estes dados são, sem dúvida, suficientemente

para justificar a necessidade de formar especialistas capazes de atuar no mercado de

eventos.

O Ministério do Turismo em sua publicação “Turismo de Negócios & Eventos:

Orientações Básicas (2010) aponta para a importância da profissionalização do setor

de formas a garantir desenvolvimento tecnológico e científico, e são fatores

preponderantes para se impulsionar o crescimento do segmento de turismo de

eventos. O setor de eventos é apontado como estratégico para a mitigação dos efeitos

da sazonalidade, proporcionado a não dependência de atrativos naturais ou culturais.

Assim, na medida em que o mercado de eventos cresce e se consolida no Brasil, há

uma necessidade de profissionais capacitados para gerir e atuar no setor.

Para a formação de profissionais capazes de atuar neste vasto mercado, é

necessário considerar que ele deve desenvolver habilidades de forma ativa e crítica,

deve estar sempre bem informado, ser ágil e tenha apto a mudanças dadas à dinâmica

e as complexidades que envolvem a gestão de um evento. Segundo Zanella (2012),

o organizador de um evento deve demonstrar arte e competência para corresponder

aos anseios do cliente, garantindo um serviço eficiente que supere as expectativas.

Para tanto, sua formação deverá estar embasada no conhecimento teórico

associado ao exercício prático que lhe permitirá o desenvolvimento da realidade e de

seu potencial. Paulo Freire afirma em sua obra “Pedagogia da Autonomia” (2016), que

a reflexão crítica da prática é importante para a relação teoria/ prática, uma vez que

sem a qual a teoria se torna apenas palavras, e a prática, ativismo. Destarte, criar

possibilidades para que os alunos dos cursos possam desenvolver atividades práticas

vivenciando os conceitos trabalhados, experimentando e principalmente

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autoavaliando seu desempenho, torna-se crucial.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

Tal atuação permitiu aos discentes a participação efetiva na organização de

diferentes eventos de portes e classificação variada, tais como reuniões, encontros

culturais, semanas acadêmicas, palestras, entre outros. Atuando em diversos setores:

A&B, recepção, cerimonial, setor operacional todos realizados no próprio campus

entre outros, no Campus de Santa Vitória do Palmar.

A realização do projeto “Equipe Gestora de Eventos” permitiu aos discentes a

plena compreensão da complexidade do processo de organização de um evento em

suas etapas pré, trans e pós-evento. Gerir espaços observando os fluxos, cumprir com

o protocolo exigido – como o posicionamento de bandeiras, execução de hinos,

disposição de autoridades a mesa –, elaborar o cerimonial, organizar e servir coffee

break, atendimento de recepção foram algumas das tarefas desempenhadas.

Cabe mencionar que as atividades acima descritas são estudadas em sala de

aula e praticadas durante o projeto. Porém, vivenciar e experienciar a postura formal

exigida a um profissional de eventos, bem como a resolução de conflitos internos, e,

ainda lidar com imprevistos na execução do evento, só podem ser interiorizadas pelos

discentes através do exercício prático. O projeto permitiu a construção de um manual

de uso prático do miniauditório do Campus, manual este entregue aos discentes do

curso de Tecnologia em Eventos e todos os docentes e técnicos da Universidade

Federal do Rio Grande (FURG), campus de Santa Vitória do Palmar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A participação do projeto permitiu aos discentes compreenderem a dimensões

do processo de organização de um evento. As tensões geradas pela necessidade de

garantir a realização de um momento único e especial, assim expondo o grupo as

dificuldades do trabalho de equipe, e também as exigências de um grande

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autocontrole de suas emoções em diferentes situações de pressão. A experiência no

projeto proporcionou o desenvolvimento da capacidade de desempenhar funções

mantendo postura e eficiência, dinamismo e trabalho em equipe suprindo ou

solucionando de forma rápida todo e qualquer tipo de imprevisto que possa acontecer

durante a realização de um evento.

A atuação do no referido projeto tornou-se por tanto a oportunidade de avaliar

e demonstrar a importância deste tipo de atividade prática no processo de formação

acadêmica dos discentes de Tecnologia em Eventos. O projeto com sua continuidade

vêm permitindo desdobramentos, como o caso do curso de “Som, Luz e Ação”,

estendendo a possibilidade de atingir o maior número de discentes. Bem como a

possibilidade da realização de outros cursos similares em áreas como, por exemplo,

fotografia. Momentos estes que permitem uma maior troca de conhecimento,

aprendizagem e prática além do exercício da interação social no desenvolvimento do

exercício profissional.

REFERÊNCIAS ABEOC,SEBRAI.II Dimensionamento Econômico da Industria de Eventos no Brasil- 2013. Disponível em: file:///E:/art%20mpu.cites/II-dimensionamento-setor-eventos-abeoc-sebrae-171014.pdf. acesso em 2 out 2016. BRASIL . Ministério do Turismo. Turismo de negócios e eventos: orientações básicas. / Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação-Geral de Segmentação. – 2.ed – Brasília: Ministério do Turismo, 2010. Disponível em: file:///E:/art%20mpu.cites/Turismo_de_Negocios_e_Eventos_Orientacoes_Basicas%20(1).pdf. Acesso em 5 out 2016. BRITO, Janaina; FONTES, Nena. Estratégia para eventos: uma ótica de marketing e do turismo. São Paulo: Aleph, 2002. CARDOSO, Claudete da Cruz, BATTESTIN, Claudia e CUELLAR, Jorge Orlando Educação Dialógica e Participativa. Disponível em: http://www.unifra.br/eventos/jornadaeducacao2006/2006/pdf/artigos/pedagogia/EDUCA%C3%87%C3%83O%20DIAL%C3%93GICA%20E%20PARTICIPATIVA.pdf .acesso em 1 set 2016

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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa.34ªed. São Paulo: 2016. GIACAGLIA, Maria Cecília. Organização de Eventos: Teoria e Prática. São Paulo:

Cengage Learning, 2003.

GONÇALVES, Rithiele (et AL.).A importância das atividades práticas nas disciplinas básicas para a formação em saúde. SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO,

PESQUISA E EXTENSÃO. Anais... Disponível em: http://seer.unipampa.edu.br/index.php/siepe/article/view/5834 . Acesso em 30 de

agosto de 2016.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena.Estágio e docência: diferentes concepções. Disponível em http://www.cead.ufla.br/portal/wp-content/uploads/2013/10/Arquivo_referente_ao_Anexo_V_do_Edital_CEAD_06_2013.pdf . Acesso em 30 ago 2016. PRIGOL, Sintia; GIANNOTTI, Sandra Morais. A Importância da utilização da prática no processo de ensino-aprendizagem de ciências naturais enfocando a morfologia da flor. SIMPÓSIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 1. Cascavel. Anais... VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Docênca univesitária na educação superior. Disponível em file:///E:/art%20mpu.cites/Docencia%20na%20educação%20superior%2030-08.pdf. Acesso em 5 de outubro de 2016. ZANELLA, Luiz Carlos. Manual de Organização de Eventos: Planejamento e

Operacionalização. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.

CRUZEIROS MARÍTIMOS: UM ESTUDO DA PRODUÇÃO TEÓRICA DE

AUTORES BRASILEIROS

PERES, Mariana135;PERES, Jéssica.136 [email protected]

135Acadêmica do Curso de Bacharelado em Turismo Binacional da Universidade Federal do Rio Grande – (FURG). 136Acadêmica do Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4497561P7.

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KUNZ, Jaciel137 [email protected]

Palavras-chave: Transporte aquaviário; Conceitos; Cruzeiros

1 INTRODUÇÃO

O transporte marítimo passou por diversas transformações, desde a sua

origem como transporte de linha regular, utilizado para transporte de cargas e

pessoas, até o conceito que temos atualmente das viagens de Cruzeiro.

Foi dentro do processo de um movimento migratório, com pessoas que

migravam para países da América do Sul com pretensão de chegar a determinado

destino em busca de uma nova oportunidade de estilo de vida, que surgiram os

cruzeiros marítimos no Brasil (AMARAL, 2006).

A partir dos 1960 houve uma quebra de paradigmas, que se deu

principalmente nos países centrais, como Estados Unidos e Europa, na qual o

transporte marítimo passa a não ser mais questão central, e há uma ampliação da

oferta de serviços e entretenimento a bordo (AMARAL, 2006). Nesse sentido, a partir

de então, deu-se início a nova modalidade de viagem em navios, quando os cruzeiros

começaram a ganhar a roupagem turística associada aos serviços oferecidos

anteriormente.

Entre as temporadas 2004/2005 e 2010/2011, houve um aumento considerável

da quantidade de navios e de cruzeiristas no país, o que demonstra a importância dos

cruzeiros marítimos no mercado nacional. Mesmo que tal evolução tenha sofrido uma

inversão dos resultados desde então, o número de cruzeiristas que viajaram no Brasil,

ainda foi significativo (CLIA ABREMAR BRASIL/FGV; 2015).

137Graduado em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Mestre em Turismo pela Universidade Caxias do Sul (UCS). Docente no Curso de Turismo Binacional da Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Coordenador do Projeto de Pesquisa “Mobilidade turística na fronteira Chuí-Brasil/Chuy-Uruguai”.http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4294176D2.

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O estudo sobre os cruzeiros marítimos ainda é recente, não apenas no Brasil,

mas também no mundo.Além disso, há certa escassez de referências em nosso país,

apesar de ter havido algum crescimento. No entanto, ainda que escassa, a bibliografia

disponível auxiliou para a análise a respeito dos conceitos de Cruzeiros Marítimos.

Tendo isto em vista, o presente trabalho tem por objetivo apresentar conceitos

sobre cruzeiros marítimos de alguns autores da literatura brasileira, no intuito de

contribuir para o embasamento teórico de projetos que estudem as relações entre a

atividade turística e cruzeiros marítimos, bem como fomentar a continuidade de

publicações científicas sobre o tema.

Para tanto, esta pesquisa caracteriza-se por ser exploratória e bibliográfica.

Nesse sentido, a metodologia empregada baseia-se na realização de uma revisão

teórica dos autores que se convencionou tratar os principais da área de Turismo que

fazem menção aos cruzeiros marítimos assim como de autores que escreveram

exclusivamente sobre o tema. Além disso, comentaram-se os respectivos conceitos

abordados em cada obra, discutindo-os, numa visão abrangente.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa caracteriza-se, quanto aos objetivos, como sendo de

caráter exploratório, já que buscou explorar conceitos de cruzeiros no intuito de

contribuir para o embasamento teórico de projetos que estudem as relações entre a

atividade turística e cruzeiros marítimos, bem como fomentar a continuidade de

publicações científicas sobre o tema.

Sendo assim, para este estudo realizou-se pesquisa bibliográfica a partir de

investigação emlivros de autores especializados no tema e na área do Turismo

referente transportes turísticos e cruzeiros marítimos a fim de encontrar conceitos

sobre cruzeiros. Segundo Marconi e Lakatos, (2010) a pesquisa bibliográfica, ou de

fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema

do estudo, seja publicações avulsas, livros, pesquisas, monografias, boletins, teses,

jornais, revistas e etc.

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Para o embasamento teórico da pesquisa realizou-se revisão de literatura

sobre o conceito de cruzeiros marítimos, no qual é realizado um busca dos principais

autores na área de Turismo que fazem menção a eles, destacando os conceitos

abordados em cada obra, e apresentando diversas visões sobre a definição.

Segundo Marconi e Lakatos (2010) a ciência lida com conceitos e para que

se possa esclarecer um fenômeno ou fato que se está investigando e de comunicá-lo

de forma não ambígua, é indispensável defini-lo com precisão. Além disso, os autores

destacam que se deve considerar que os conceitos podem ter significados diferentes

conforme com o quadro de referência ou ciência que os emprega, assim como uma

mesma palavra pode ter vários significados. Desta maneira, a definição dos termos

visa informar e indicar o emprego dos conceitos na pesquisa, o que será feito com as

definições de “cruzeiros marítimos” neste trabalho.

3 DISCUSSÕES TEÓRICAS ACERCA DOS CRUZEIROS MARÍTIMOS E SEUS

CONCEITOS

O transporte marítimo passou por significativas mudanças ao longo do tempo.

Primeiramente, baseava-se num transporte de linha regular, e foi evoluindo até o

conceito que temos atualmente das viagens de Cruzeiro.

De acordo com Amaral (2006), somente a partir dos anos 1960 há uma

ampliação da oferta de serviços e entretenimento a bordo, fazendo com o que os

cruzeiros começassem a ganhar uma proposta mais ligada ao turismo de lazer.

Tendo isso em vista, Amaral (2006) afirma que um navio de cruzeiros é um “resort

flutuante” pela variedade de opções de lazer, pelo conforto e pela qualidade das

acomodações que oferece.

Neste conceito o autor se refere ao navio não apenas como um meio de

transportar o passageiro, mas também de proporcionar diversas possibilidades de

lazer garantindo o conforto e colocando à disposição outros elementos necessários

para uma boa viagem, tais como, shows, festas, cassino, restaurantes, bares e etc.

Palhares (2002), também afirma que os navios transformaram-se em verdadeiros

resorts flutuantes de alto padrão. Segundo ele, estes passaram a enfocar não só seus

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destinos turísticos, mas também incorporando vários atrativos e atividades a bordo,

em contrapartida ao transporte marítimo convencional, cuja função última é

transportar pessoas. Para este autor, o objetivo do cruzeiros é em grande parte fazer

com que seus hóspedes desfrutem das infraestruturas que os navios oferecem além

de visitarem destinos e atrativos ao longos da viagem.

Já para Lohmann, Fraga e Castro (2013) os navios de cruzeiros se

transformaram em verdadeiros “destinos turísticos flutuantes” que proporcionam,

numa só viagem, uma experiência altamente satisfatória de hospedagem,

gastronomia, lazer, compras e entretenimento. Acerca disso,abordam a questão das

empresas passaram a priorizar não somente os itinerários com suas escalas (destinos

turísticos nos quais se desembarca), mas também o navio, incorporando vários

equipamentos e atividades a bordo a fim de transformar o navio em seu maior e

principal destino.

Montenajo (2001) considera os navios de cruzeiro meio de transporte mais

cômodos já que tanto os de serviços marítimos quanto fluviais são verdadeiros “hotéis

flutuantes”. Para o autor, o navio se converte não apenas em um transporte turístico,

mas também em um hotel flutuante com hospedagem, alimentação, entretenimento,

atividades de lazer e animação sociocultural, sendo um meio de transporte

essencialmente turístico.

Na visão mercadológica, de acordo com Saabe Ribeiro (2006)os cruzeiros

marítimos são equiparados a um “resort flutuante”, devido aos diversos serviços e

atividades de lazer oferecidos, como aulas de ginástica, infraestrutura aquática

(piscina) e outros esportes. Os atrativos noturnos são variados, podendo ser

destacados os bares (com música ao vivo), teatros e cassinos, além da realização de

festas. Tendo isso em vista, percebe-se uma procura por novos destinos turísticos,

aliada ao fato de os navios utilizados para cruzeiros marítimos contarem com uma

ampla infraestrutura de serviços. Com isso, os turistas sentem-se cada vez mais

motivados a optarem por uma viagem de cruzeiro, na qual a diversão é a palavra-

chave desse negócio.

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No que se refere à sofisticação dos antigos transatlânticos que marcaram

época, ao luxo e conforto fazendo alusão aos meios de hospedagem, Beni (2008)

afirma que o navio era um verdadeiro “hotel de lazer flutuante”. Já, atualmente a

navegação marítima para turismo limita-se a cruzeiros com navios modernos,

amplos, verdadeiros complexos turísticos de alojamento flutuantes e, além disso,

aborda o fato do tráfego turístico, por via marítima, estar bastante diferenciado

atualmente.

Outro autor que se refere ao luxo é Andrade (2004), este apresenta os navios

como um meio de hospedagem que, apesar de possuir tamanho reduzido de

apartamentos e não ter janelas em algumas cabines, pode ter luxo e conforto em seu

projeto do interior e do mobiliário. Afirma, ainda, que os cruzeiros podem ser

considerados como autossuficientes, por agregarem todas as necessidades do turista

a bordo.

Para Pellegrini Filho (2000), os cruzeiros são vistos como uma viagem por

mares e oceanos, realizada em grandes navios, que apresentam enorme

infraestrutura de hospedagem e lazer, como lojas, quadras poliesportivas, recreação

infantil, shows, restaurantes, bares, atividades sociais etc. Este conceito traz variáveis

observadas não mencionadas como a recreação infantil, lojas e existência de quadras

poliesportivas.

Para Di Roná (2002) “os cruzeiros marítimos são uma atividade econômica

realizada na navegação exterior mais particularmente na navegação marítima de

cabotagem”. Esse conceito, aborda somente a questão econômica da atividade de

cruzeiros, entretanto, este conceito não expõe as principais nuances dos cruzeiros e

não explica os mesmos no que diz respeito às suas principais características – lazer

e entretenimento o dia todo, hospedagem, alimentos e bebidas, e, serviços.

Segundo a Organização Mundial do Turismo –OMT (2001), os Cruzeiros

Marítimos são como uma “fórmula de férias” que oferecem inúmeras atividades de

diversão a bordo, apresentam ampla variedade de destinos e a oportunidade de visitar

diferentes pontos turísticos em um único meio, em uma mesma viagem e por um único

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preço. Segundo esse conceito, o meio de transporte também pode ser considerado

em si uma atração turística, pois ele também faz parte da experiência turística.

Para Torre (2002), o cruzeiro um tipo de embarcação que realiza uma viagem,

fundamentalmente de prazer com diversão a bordo e excursões nas costas e portos

do percurso, que segue estritamente um itinerário. A partir desse conceito percebe-se

o foco no entretenimento, não fazendo referência a outros serviços inerentes ao tema.

Já Paolillo e Rejowski (2006), além de mencionarem o entretenimento,

esmiúçam outros serviços que envolvem os cruzeiros. Estes afirmam que um cruzeiro

pode ser entendido como um “pacote turístico” que inclui transporte, alojamento,

alimentação, recreação, entretenimento e outros serviços oferecidos a um preço único

e conjunto.

E por fim, Amaral (2006), considera que o conceito poderia ter evoluído para

“Destino turístico itinerante”, devido à sua grande estrutura e também pelo fato de se

voltar para uma viagem com menor número de escalas e maior permanência dos

hóspedes no cruzeiro. No entanto, novo conceito não foi bem-aceito pelo mercado,

pois os clientes prefeririam as viagens com mais escalas. E também não foi bem aceito

pelas próprias companhias de Cruzeiro, pois o consumo a bordo aumentaria muito.

A partir do exposto anteriormente, verifica-se que alguns autores definem os

cruzeiros como meios de hospedagem. Nesse sentido Amaral (2006), Palhares (2002)

e Saab e Ribeiro (2006) abordam os navios como resorts flutuantes, ressaltando a

importância do lazer e entretenimento à bordo.

Montenajo (2001) e Beni (2008) tratam cruzeiros como hotéis, o primeiro como

“hotéis flutuantes” e o segundo como “hotel de lazer flutuante”.Já Andrade (2004),

define apenas como meio de hospedagem autossuficiente, sem estabelecer uma

categoria específica.

Di Roná (2002) ao definir cruzeiros marítimos limita-se a tratá-los como uma

atividade econômica sem listar aspectos estruturais e referentes ao lazer.

Por outro lado, Pellegrini Filho (2000) e Torre (2002) trazem em seus conceitos

o entretenimento e lazer como premissa nos cruzeiros. No entanto, o primeiro autor

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entende os cruzeiros como uma viagem por mares e oceanos e o segundo como uma

embarcação que realiza viagens.

Para Paolillo e Rejowski (2006) os cruzeiros são como um pacote turístico, o

qual inclui os mais variados serviços, desde a alimentação à hospedagem. Já de

acordo com a OMT (2001) o transporte pode ser o atrativo turístico em si por fazer

parte da experiência turística.

Por fim, Lohmann, Fraga e Castro (2013) e Amaral (2006) abordam cruzeiros

como destinos,o primeiros como “destinos turísticos flutuantes” e o segundo como

“destinos turísticos itinerantes” não sendo bem-aceito pelo mercado.

Desse modo, percebe-se que as concepções acerca de cruzeiros marítimos

variam de autor para autor, algumas focando em aspectos estruturais e econômicos,

outras focando no entretenimento e lazer e há ainda conceitos que conseguem aliar

todos aspectos citados anteriormente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir deste estudo, evidenciou-se, que o Cruzeiro Marítimo é entendido, de

maneira geral pelos autores como um meio de hospedagem móvel autossuficiente,

que se desloca por meio aquático, e que se transforma no próprio motivo da viagem,

sendo, inclusive o principal destino do turista por representar a experiência turística

em si. No entanto, ainda existem autores que ao definirem cruzeiro marítimo se limitam

ao aspecto estrutural e econômico, não abordando o viés motivacional e de lazer.

Tendo em vista o significativo número de cruzeiristas que viajam no Brasil, e

que muitas vezes a viagem é sinônimo da realização de um sonho, é de suma

importância que sejam realizadas, por exemplo, pesquisas referentes a atuação dos

profissionais do lazer e hospedagem que vão atuar nos cruzeiros e maneira como

estes influenciam na experiência como um todo, pois os esses profissionais são

responsáveis por manter a diversificação das atividades e sustentar a expectativa dos

passageiros.

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Tendo isso em vista, espera-se que a socialização desse conhecimento, gere

novas pesquisas acerca do tema, pois este estudo demonstra a necessidade de trazer

para o ambiente acadêmico, discussões pertinentes ao tema de cruzeiros marítimos,

visto que esse segmento ainda é carente de estudos mais aprofundados e é de suma

relevância para a atividade turística.

REFERÊNCIAS

AMARAL, Ricardo. Cruzeiros Marítimos. São Paulo: Manole, 2006 ANDRADE, José Vicente de. Turismo: Fundamentos e dimensões.8. Ed. São Paulo: Ática, 2004 BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. Senac, 2008. CLIA-ABREMAR. (2015). Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas. Acesso em 25 setembro de 2016, disponível em Temporadas 2010/2011 - 2011/2012 – 2012/2013 - 2014/2015. São Paulo: http://www.abremar.com.br/temporadas. LOHMANN, Guilherme; FRAGA, Carla; CASTRO, Rafael. Transportes e destinos turísticos: planejamento e gestão. 1. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. MARKONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da metodologia científica. 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2010. MONTEJANO, Jordi Montaner. Estrutura do mercado turístico. 2. Ed. São Paulo: Roca, 2001 OMT, Organização Mundial do Turismo. Introdução ao Turismo. São Paulo: Roca, 2001 PALHARES, Guilherme Lohmann. Transportes turísticos. 2. Ed. rev. São Palo: Aleph, 2002. PAOLILLO, André, REJOWSKI, Miriam. Transporte. São Paulo. Aleph, 2006. PELLEGRINI FILHO, Américo. Dicionário Enciclopédico de Ecologia e Turismo. Manole, 2000. RONÁ, Ronaldo di. Transportes no turismo. Manole, 2002.

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SAAB, W. G. L., RIBEIRO, R. M. Breve panorama sobre o mercado de cruzeiros marítimos. Caderno Virtual de Turismo, v. 4, n. 1, 2006. TORRE, Francisco de la. Sistema de transporte turístico. São Paulo: Roca, 2002

GT 7 – ALIMENTOS E BEBIDAS

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CAINDO OS BUTIÁS DO BOLSO: A IMPORTÂNCIA DO BUTIÁ NO

DESENVOLVIMENTO DA CULTURA GASTRONÔMICA AUTÓCTONE EM SANTA

VITÓRIA DO PALMAR/RS

CORRALES, Jean Guilherme Florentino138;PEREIRA, Enilda Maria Fangueiro139 [email protected]

NÉRY, Carlos Henrique Cardona140. [email protected]

Palavras-chave: butiá; gastronomia; cultura; cultura gastronômica; Santa Vitória do

Palmar.

138Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG, acadêmico do curso de Hotelaria da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, http://lattes.cnpq.br/0234302114328632,[email protected] 139 Acadêmica do curso de Hotelaria da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, http://lattes.cnpq.br/5482025268790130,[email protected] 140Docente Mestre dos cursos de hospitalidade da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, http://lattes.cnpq.br/9150351034980149, [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

O presente estudo visa compreender se o fruto da espécie butia capitata (butiá)

firmou-se como inculturador gastronômico no município de Santa Vitória do

Palmar/RS, localizado geograficamente ao extremo meridional do país e do estado do

Rio Grande do Sul, a 20km da fronteira com o Uruguai, tendo ao norte a divisa com o

município de Rio Grande, ao leste o oceano atlântico, ao oeste a lagoa mirim e ao sul

o município do Chuí. (IBGE, 2016)

A discussão torna-se pertinente a partir do momento em que a importância da

iguaria, outrora abundante na região, foi subestimada em nome de outros cultivos,

com maior interesse mercantil, tal como o cultivo do arroz. Com isto, aos poucos

perdeu-se a relevância de iniciativas ligadas a um vegetal encontrado em abundância

na forma silvestre.

Contudo, atualmente há alguns grupos na cidade, dispostos a retomar o butiá

como parte integrante da cultura vitoriense, assim como os indígenas que faziam uso

desta planta para vários fins. Para este fim, os grupos desenvolvem trabalhos de

artesanato e culinária, tendo o citado fruto como protagonista. O estudo procura

elucidar também se os esforços destes grupos estão sendo exitosos para o alcance

desta meta.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Durante a pesquisa, foram utilizadas fontes bibliográficas, acessos a páginas

web, demais canais midiáticos e saídas de campo no período compreendido entre 21

de setembro e 14 de outubro de 2016, tendo-se como população da pesquisa os três

grupos da cidade que realizam a manufatura do butiá, utilizando-se método dialético

para a discussão dos dados angariados.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A gastronomia é um elemento de grande representatividade e serve como um

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ícone. Muitas pessoas podem demonstrar, por meio dela, manifestações de uma

identidade cultural, pois trata-se de uma estruturação imaginária, em que as pessoas

conseguem materializar e demonstrar características bem próprias. (SCHLÜTER,

2003).

Ainda para Schlüter (2003) comenta que é notório, por meios dos registros

bibliográficos, o destaque que recebe a gastronomia e como ela ocupa seu devido

lugar e grau de importância, representando um produto para o turismo cultural. A

gastronomia local está sendo cada vez mais valorizada como um elemento de difusão

e de identidade em relação ao patrimônio intangível dos povos.

O ato de alimentar-se é dotado de muito simbolismo, e no que tange à cultura,

não poderia ser diferente: representa um modo de vida. Passa a ter estreitamentos

familiares e sociais, mais acentuados. Passa a ter um caráter de sociabilização e

fraternidade, no qual é o vetor de comunicação entre várias pessoas. (TRIGO, 2000).

Inicialmente, é mister ressaltar que o butiá apresenta várias formas de ser

manufaturado, aparecendo na literatura disponível sobre o fruto como

[...] uma alternativa econômica para muitas pessoas, como extrativistas, vendedores em beira de estrada, artesãos e pequenas agroindústrias, que produzem e comercializam alimentos e artesanato a partir do fruto, coquinhos e folhas destas palmeiras. (BARBIERI, 2015, p. 38)

A cultura que se pretende discutir deve ser entendida como o conjunto de “(...)

nossas crenças, tabus, religião, entre outros fatores (...)” (RECINE; RADAELLI, s.d.,

p. 8) que “(...) influencia diretamente a escolha dos nossos alimentos diários.” (op. cit.,

idem, ibidem) Outrossim, conforme Barretto,

[...] cultura é a combinação dos produtos materiais e espirituais que uma determinada sociedade cria ao longo de sua existência, o que abrange modo de vida, sistema alimentar, opções de lazer. (BARRETTO, 2000 p. 47)

De igual forma, parte-se da premissa segundo a qual a alimentação “(...)

sempre esteve e ainda está bastante relacionada à história dos diferentes povos.” (op.

cit., idem, p. 11)

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De acordo com Maria Leonor Moraes, a autora afirma que “Cozinhar é uma

ação cultural que nos liga sempre ao que fomos, somos e seremos e, também, com o

que produzimos, cremos, projetamos e sonhamos”. (apud RIBEIRO; PAOLUCCI,

2006, p. 4)

Um dos meios de divulgar e preservar a cultura de um povo –em especial nas

comunidades interioranas– é através dos eventos, cuja justificativa é a de

constituírem-se numa opção para preservar a memória regional de uma população.

Ou seja, “a base de sustentação da festa está nos valores culturais das etnias

presentes, fazendo com que se mantenha o estilo único”. (SANTOS; PIRETE, 2000,

p. 72).

Com base nestes conceitos, passa-se à investigação do tema, conforme

segue.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

Os três grupos analisados nesta pesquisa são: Butiá dos Campos Neutrais,

Butiá Sabor e Arte e Companhia do Butiá. Cada um deles possui suas páginas em

mídias sociais (blogs, perfis de Facebook) que mostram o trabalho desenvolvido,

alguns sujeitos consultados, porém, sem a ferramenta de uma pesquisa na coleta dos

dados.

O primeiro, tido como o mais antigo de Santa Vitória do Palmar, desenvolve um

ofício mais focado no artesanato que na culinária. As opções gastronômicas

oferecidas, conforme constam nas mídias sociais do grupo, são licor, suco, cuca, bolo

e geleia.

O segundo, por sua vez, além da variedade anterior, apresenta produtos

culinários mais elaborados, como farofa de nozes cobrindo a cuca – farofa esta

também oriunda da amêndoa, o endocarpo do butiá, a fruta cristalizada, cupcake com

ou sem farofa de nozes, mousse, pudim e uma espécie de “quindim” aromatizado com

butiá.

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Por fim, o terceiro grupo possui variedade semelhante à do primeiro, apenas

com sutis diferenças na apresentação das iguarias.

As práticas de todos eles parecem vir de um mesmo ponto referencial, em

virtude da semelhança observada a partir das fotos disponíveis em ambiente virtual.

Nas saídas de campo, o grupo Butiá Sabor e Arte – único com o qual se

conseguiu um contato pessoal – mostrou-se receptivo à proposta de pesquisa e

forneceu todas as informações necessárias, incluindo degustação de alguns produtos

feitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante todo o exposto, conclui-se que o butiá começa a firmar-se como elemento

inculturador na gastronomia vitoriense, a partir do trabalho realizado pelos grupos

estudados, que paulatinamente vêm logrando resultados do ofício desempenhado.

Verifica-se, outrossim, que os produtos culinários seguem a mesma linha de

variedade, com uma ou outra diferenciação, faltando buscar outras alternativas para

desenvolvimento de novos pratos que poderiam fazer-se utilizando o butiá. Como

sugestões, podem ser citados chutney, crepe francês, ambrosia cítrica sem lactose e

farofa com a amêndoa de butiá para pratos salgados.

O referido trabalho ainda é merecedor de maiores informações e não tem como

proposta ser conclusivo, pois, sendo necessária maiores investigações acerca do

tema, e um aprofundamento, porém, já foi notório o envolvimento da comunidade e

dos setores econômico e gastronômico tendo o fruto do butiazeiro e seus derivados,

como um dos ícones gastronômicos no município de Santa Vitória do Palmar.

REFERÊNCIAS

BARBIERI, Rosa Lía (org.). Vida no Butiazal. Brasília: Embrapa, 2015.

BARRETTO, M. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2000.

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598

BUTIÁ dos Campos Neutrais. Fanpage Facebook. [S.l.], 2016. Disponível em

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_____. 5ª FêButiá (2011), Geléias, Licor e cachaça de butiá do grupo "Butiá dos

Campos Neutrais". Blog. [S.l.], 01 fev. 2012. Disponível em <http:// butiacamposneutrais.blogspot.com.br/2012/02/5-febutia-2011-geleias-licor-e-cachac a.html> Acesso em 14/10/2016.

BUTIÁ Sabor e Arte. Fanpage Facebook. [S.l.], 2014. Disponível em <https://www.

facebook.com/BUTI%C3%81-SABOR-E-ARTE-1444182199164343/> Acesso em

14/10/2016.

_____. Produtos que Estavam Expostos na 6ª Febutiá em Santa Vitória do

Palmar.Blog. [S.l.], 09abr. 2012. Disponível em<http://butiasaborearte.blogspot.

com.br/2012/04/produtos-que-estavam-expostos-na-6.html>Acesso em 14/10/2016.

COMPANIA Butiá. Perfil Facebook. [S.l.], 2012. Disponível em <https://www.

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IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em

<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=431730&search=rio-

grand e-do-sul|santa-vitoria-do-palmar|infograficos:-informacoes-completas> Acesso

em 16/10/2016.

RECINE, Elisabetta; RADAELLI, Patrícia. Alimentação e Cultura. Brasília: UnB, s.d.

Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ alimentacao_cultura.pdf

> Acesso em 14/10/2016.

RIBEIRO, Carlos Manoel Almeida; PAOLUCCI, Luciana. Gastronomia, Interação

cultural e Turismo: estudo sobre a dispersão da culinária nipônica na Cidade de São

Paulo – 100 anos da imigração japonesa no Brasil. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA

EM TURISMO DO MERCOSUL. 4., 2006, Caxias do Sul. Anais... Caxias do Sul:

UCS, 2006. Disponível em: <http://www.ucs.br/ucs/tplSemMenus/

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Acesso em 14/10/2016.

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SANTOS, R. J; PIRETE,M. J. Espaço rural e as perspectivas para o turismo de

eventos. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES E BACHARÉIS DE

TURISMO, 20., 2000, Natal. Anais... Natal, 2000, P. 75 a 87.

SCHLÜTER, R. G. Gastronomia e turismo. São Paulo: Aleph. 2003. (Coleção

ABC).

TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. A sociedade Pós-Industrial e o Profissional em

Turismo. São Paulo: Papirus, 2000.

GT 8 – TURISMO COMUNITÁRIO E DE BASE LOCAL

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A EXPLORAÇÃO SEXUAL PELO TURISMO: ESTUDO PRELIMINAR NA

FRONTEIRA BINACIONAL

FERANDES, Fabiana, Bitencourt¹ [email protected]

RODRIGUES, Raphaella, Costa² [email protected]

Palavras-chave: Exploração Sexual, Turismo, Turismo Sexual, Fronteira.

1 INTRODUÇÃO

O trabalho pretende abordar um tema bastante polêmico e pouco divulgado

na mídia, a prática da exploração sexual no turismo, fator que envolve o cenário

turístico e que vem crescendo de forma clandestina, mas significativamente no Brasil

e no mundo. Um tema tratado com omissão e por consequência configura uma

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atividade paralela ao turismo. Estas condicionantes apontam para o problema deste

trabalho, qual a relação entre o turismo e a exploração sexual na fronteira binacional?

Tem como objetivos sensibilizar a população sobre a importância do combate

à exploração sexual no turismo, especificamente na região da fronteira dos países

Brasil e Uruguai, na delimitação das cidades Santa Vitória do Palmar, Chuí (Brasil) e

Chuy (Uruguai). Como objetivos específicos busca-se verificar se o fluxo de pessoas

na região favorece a busca por esta prática, diagnosticar quais os fatores sociais

condicionantes das vítimas à exploração sexual e propor campanhas educativas e

preventivas à exploração sexual direcionada à sociedade em geral.

Justifica-se a elaboração deste trabalho devido ao escasso número de

pesquisas acerca do turismo sexual em regiões fronteiriças e diante da relevância

social dentro do turismo. Propõem-se ações que contribuam com a sociedade como

___________________________________________________________________

¹Fabiana Bitencourt Fernandes – Graduanda em Turismo Binacional pela Universidade Federal de Rio Grande – FURG. Link Currículo Lates http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do ²Raphaella Costa Rodrigues – Bacharela em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Mestranda em Turismo e Hotelaria do Programa de Pós Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – PPGTURH/UNIVALI. Docente da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Link Currículo Lates: H2385TTP://lates.cnpq.br/397535697433

um todo frente à situação detectada. No intuito de esclarecer a comunidade e de

mobilizar os órgãos públicos para o combate à exploração sexual, será elaborada uma

cartilha educativa.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia será baseada no desenvolvimento de uma pesquisa

exploratória com base em Gil (2014). A base metodológica será a história oral,

compreendida por um conjunto de atividades anteriores e posteriores à gravação dos

depoimentos. Na definição de Corrêa (1978), entende-se por história oral, um conjunto

de técnicas utilizadas na coleção, preparo e utilização de memórias gravadas para

servirem de fonte primária a historiadores e cientistas sociais.

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602

Será utilizada ainda a técnica de entrevistas semiestruturadas e, para a

análise das entrevistas, será utilizada a análise de conteúdo (BARDIN, 2009). Foram

realizadas onze entrevistas, com pessoas ligadas ao ramo da prostituição,

profissionais de saúde e assistência social, durante os meses de agosto e setembro

de 2016.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Uma abordagem pertinente à proposta social deste trabalho, é trazer a

definição de turismo a partir de Moesch (2002), que define turismo como:uma

combinação complexa de inter-relacionamentos entre produção e serviços, que

integra uma prática social a um meio ambiente diverso com relações sociais de

hospitalidade e troca de informações interculturais.

Através de uma outra ótica, Oliveira (2000), menciona que o Brasil por ser um

país com grande riqueza natural e variedades regionais consegue aglomerar vários

atrativos turísticos, com excelência e encanto inigualáveis, adicionando ainda todo o

seu processo cultural e histórico concedendo exuberância ao seu povo. A presença

dessas variedades turísticas atraem para seu interior as rotas do turismo sexual, seja

ele nacional ou internacional o que agrega o abuso de menores, prostituição entre

ambos os sexos, hetero ou homossexual.

Com a força da globalização este nicho é reforçado por um maior fluxo da

economia e por um intercâmbio cada vez maior entre diferentes culturas, afetando a

chamada indústria ou mercado do sexo. Agustin (2005) e Bernstein (2008) apontam

um número crescente deste segmento do sexo e para a diversificação dos serviços,

produtos e locais relacionados: bordéis, boates, bares, saunas, linhas telefônicas

eróticas, sexo virtual através da internet, casas de massagem, serviços de

acompanhantes, motéis, cinemas e revistas pornôs, filmes e vídeos, entre outros que

também são consumidos em nossa fronteira.

No que cerne as diferentes vertentes sociais e comportamentais tratadas nas

relações humanas é imprescindíveis à abordagem do controle sexual masculino sobre

as mulheres que ainda faz parte da vida social moderna (SCOTT, 2002).

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603

O turismo enquanto fomentador da liberação social, motiva novos

comportamentos, ao se caracterizar por um momento de afastamento social e cultural

como uma válvula de escape para manifestar desejos e impulsos normalmente

reprimidos (Krippendorf, 1989) reforçados pelas imagens que podem trazer

sensações, propostas e oportunidades.

Por muito tempo, tentou-se explorar o exotismo, confundido com o erotismo,

fato que contribuiu para a colocação do Brasil na rota do turismo sexual mundial. O

próprio Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), criado em 1966, e, desde então,

responsável pela promoção turística do país no exterior, se utilizou desse tipo de

imagem em campanhas publicitárias, assim como também da presença de mulatas

em feiras e visitas de divulgação do destino Brasil.

Com a consolidação definitiva do turismo nas décadas seguintes, muitos

locais tornaram-se alvo do turismo sexual, cuja definição de Piscitelli (2002), refere-se

a “qualquer experiência de viagem na qual a utilização de serviços sexuais prestados

pela população local, em troca de recompensas monetárias e não monetárias, é um

elemento crucial para o sucesso da viagem”.

Porém, o turismo sexual, não pode ser considerado um segmento a mais da

atividade turística (por pressupor a existência de um mercado configurado), mas uma

nociva deformação. Sua existência reflete a preexistência de problemas bem mais

profundos, ancorados na sociedade (BEM, 2005).

Cabe destacar que um fator propulsor ao turismo sexual é a mídia, pois, sites

de relacionamentos, redes sociais, páginas de acompanhantes, vídeos, blogs e

propagandas difundidas na internet, mostram as mulheres brasileiras de forma

insinuante, estampando seus atributos físicos (FERREIRA, 2011). Na mesma esfera,

a má utilização da internet e dos meios de comunicação pode acarretar a

disseminação da prostituição pelo do turismo sexual, puramente comercial, como

ferramenta para facilitar o encontro de pessoas e até mesmo para a exploração sexual

e a pedofilia (PISCITELLI, 2005).

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

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604

Dados preliminares sobre o turismo sexual foram obtidos através de relatos

de moradores da cidade do Chuí. Dados referentes à população foram obtidos através

de consulta ao site do IBGE.Os índices apontam que 829 domicílios têm mulheres

como responsáveis, em sua maioria sem cônjuge com um filho ou dois. Dados

alarmantes informam que a taxa de abandono escolar precoce das mulheres é de

52,1% (18 a 24 anos). O índice de mulheres entre 10 e 17 anos que não frequentam

a escola é de 8,7% e mulheres entre 16 ou 17 anos o índice é de 37,2%.

Ainda relacionando aos objetivos propostos, procuramos identificar

evidências que nos mostrassem a aplicação de campanhas promovidas por órgãos

públicos alertando sobre a exploração sexual. Visitamos postos de saúde, secretarias

de saúde, assistência social e secretarias de educação, entre outros e verificamos que

não existe nenhum cartaz ou outro tipo de publicidade abordando o tema ou alertando

a população a esse respeito. Embora saibamos que o Ministério do Turismo promove

ações e campanhas educativas sobre o tema, ainda assim, não há uma preocupação

com a temática nas cidades da fronteira, escolhidas para o estudo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O turismo contribui com o desenvolvimento dos destinos turísticos, ampliando

as fontes de renda e proporcionando interações culturais, mas a falta de planejamento

pode acarretar problemas sociais, entre eles, a exploração sexual pelo turismo entre

as camadas vulneráveis da comunidade local.

Frente às correlações que influenciam esta prática, propõem-se ações que

contribuam com a sociedade como um todo frente à situação detectada. No intuito de

esclarecer a comunidade e de mobilizar os órgãos públicos para o combate à

exploração sexual, será elaborada uma cartilha educativa. Esta ação tem como

escopo o enfrentamento dos problemas sociais presentes na região e demais

temáticas atreladas de forma transversal à prostituição no turismo.

O desenvolvimento desta pesquisa possibilita um diagnóstico da situação no

território delimitado, servindo de parâmetro inicial para a realização de políticas

públicas voltadas aos problemas atrelados ao turismo sexual.

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605

REFERÊNCIAS

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Cadernos Pagu (25), julho-dezembro de 2005, pp.107-128.

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA,

2009.

BEM, Arim. A Dialética do Turismo Sexual. Campinas: Papirus, 2005.

BERNSTEIN, Elizabeth. O significado da compra: desejo, demanda e o comércio do

sexo. Cadernos Pagu, 2008, pp.315-362, 2008.

CORRÊA, Carlos Humberto P. História oral, teoria e técnica. Florianópolis:

UFSC, 1978.

FERREIRA, L. R. Discurso, Estereótipo e Imaginário: A Comunicação e o Turismo

Sexual na Convergência das Mídias. Rosa dos Ventos, Caxias do Sul, v. 3, n. 3,

2011. Disponível em:

<http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/1198/pdf_54>.

Acesso em 19 set 2016

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo:

Atlas, 2014.

KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do Turismo: para uma nova compreensão do

lazer e das viagens. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989, 236p.

SCOTT, Joan W. A cidadã paradoxal: as feministas francesas e os direitos do

homem. Trad. Élvio A. Funck. Florianópolis: Editora Mulheres, 2002.

MOESCH, Marutschka Martini (2002). A produção do saber turístico. 2. ed . São

Paulo: Contexto, 2002

PISCITELLI, Adriana. Re-criando a categoria mulher, In: A prática feminista e o

conceito de gênero. Campinas: IFCH/UNICAMP, 2002.

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606

PISCITELLI, Adriana.Viagens e sexo on-line: a Internet na geografia do turismo

sexual. Cadernos Pagu, n. 25, Campinas. 2005.

GT 9 – EVENTOS E LAZER

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607

A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE EDUCAÇÃO E TURISMO: UMA

ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES EM EVENTOS CIENTÌFICOS DE TURISMO

LESSA, Roberta Mattos141; RODRIGUES, Igor Moraes142 [email protected]

REICHERT, Leonardo143 [email protected]

Palavras-chave: Educação; Turismo; Conhecimento científico; Eventos Científicos.

141Graduanda do Curso de Bacharelado em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas –UFPel http://lattes.cnpq.br/2108180656427736 142Graduando do Curso de Bacharelado em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas – UFPel http://lattes.cnpq.br/4062311697186945 143Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas - UFPel. Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul - UCS.Professor do Curso de Bacharelado em Turismo – UFPelhttp://lattes.cnpq.br/5422185547490750

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608

1 INTRODUÇÃO

O turismo é um fenômeno que vem ganhando espaço na sociedade brasileira

nas últimas décadas – tanto economicamente quanto em termos de importância

acadêmica. A educação apresenta uma direta ligação com esse fenômeno, uma vez

que o turismo pressupõe relações sociais, trocas de informação e aprendizado.

O turismo enquanto fenômeno social pode ser entendido como uma complexa

combinação entre produção e serviços que se integram em uma prática social com

base cultural, herança histórica, relações sociais de hospitalidade e trocas de

informações interculturais (MOESCH, 2002). De acordo com o Código de Ética

Mundial para o Turismo, o mesmo deve ser entendido como um instrumento de

desenvolvimento pessoal e coletivo: “Quando vivenciado com a abertura de espírito

necessária, é um fator insubstituível de autoeducação, tolerância mútua e

aprendizagem das legítimas diferenças entre povos, culturas e sua diversidade”

(OMT, 1999, p. 4).

Acreditando na relação indissociável entre turismo e educação, o estudo em

questão apresenta resultados parciais de uma pesquisa desenvolvida com o propósito

de identificar o atual estado da arte do tema em questão: Educação e Turismo. No

presente estudo foi-se utilizado como principal fonte de dados os artigos (e resumos)

publicados em anais de três eventos da área do turismo, são eles:Fórum Internacional

de Turismo do Iguassu, Semintur e Semintur Jr.

Desta forma, o presente estudo tem por objetivo identificar a produção do

conhecimento sobre o tema “Educação e Turismo” publicada em anais de eventos

científicos de turismo.Como objetivos específicos esta pesquisa visa: analisar a

quantidade de estudos existentes e os principais enfoques abordados em relação à

educação e turismo, além de sistematizar o conhecimento produzido, auxiliando

futuros estudos sobre o tema em questão.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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609

Para a realização desta pesquisa foi-se utilizado como principal fonte de

dados os estudos publicados em anais de três importantes eventos da área do

turismo: Fórum Internacional de Turismo do Iguassu, Semintur e Semintur Jr.

O Fórum Internacional de Turismo do Iguassu, realizado em paralelo ao

Festival de Turismo das Cataratas (Foz do Iguaçu – PR), está consolidado como um

dos principais eventos técnico-científicos em turismo no Brasil, assumindo um

importante papel na iniciação científica em turismo e hospitalidade144. O SeminTUR –

Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL, evento científico organizado pelo

Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade (Mestrado e Doutorado) da

Universidade de Caxias do Sul – UCS, reúne pesquisadores (doutores, mestres,

doutorandos ou mestrandos) dedicados ao estudo acadêmico do turismo e da

hospitalidade 145 . O Semintur Jr., por sua vez, organizado por mestrandos e

doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade da UCS,

apresenta-se como um espaço de incentivo à pesquisa na graduação, ao dar espaço

e visibilidade a essa produção146.

Na coleta de dadosfoi-se utilizado os sites oficiais dos respectivos eventos

científicos de turismo. A partir da pesquisa nos sites, foram identificados estudos que

continham em seu título ou palavras-chave os termos “educação” e/ou “ensino”. Todos

os resultados foram agrupados em uma planilha com finalidade de facilitar a análise

dos dados. Foram excluídos da pesquisa estudos que não tratavam diretamente de

educação e turismo, bem como, estudos que não se encontravam disponíveis para

acesso nos sites.

Posterior a isso, já na fase de análise dos dados, os resultados foram

agrupados de acordo com o seu enfoque dentro do tema educação e turismo. Como

resultado dessa classificação foram geradas seis diferentes categorias: Ensino

144 Disponível em <http://festivaldeturismodascataratas.com/atividades/eventos-complementares/forum-internacional/>. Acesso em: 05 set. 2016. 145Disponível em <http://www.ucs.br/site/pos-graduacao/formacao-stricto-sensu/turismo-e-hospitalidade/eventos-e-anais/>. Acesso em: 05 set. 2016. 146Disponível em <http://www.ucs.br/site/pos-graduacao/formacao-stricto-sensu/turismo-e-hospitalidade/eventos-e-anais/>. Acesso em: 05 set. 2016.

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610

Superior e Técnico em Turismo (e Hotelaria); Educação Ambiental; Educação

Patrimonial; Educação para o Turismo; Educação pelo Turismo; e Relação entre a

Educação e o Turismo.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Considera-se fundamental analisar a relação entre educação e turismo, pois

esta correlação é um elemento importante no desenvolvimento humano, sendo visto

como uma possível forma de inclusão social, preservação patrimonial e conservação

ambiental.

Segundo Souza e Silva (2010) a educação é um dos aportes fundamentais de

estímulo e desenvolvimento de qualquer tipo de atividade. Percebe-se, entretanto, o

subaproveitamento dessa ferramenta no desenvolvimento turístico. Azevedo (1999)

defende que existe a comunicação entre educação e turismo, mostrando os principais

pontos de aproximação entre esses campos. Esse autor ainda destaca fatores como

a natureza humana, as relações sociais, a interdisciplinaridade, a relação existente

entre o espaço e a cultura no universo do turismo e a educação ambiental, a qual pode

estar inserida no turismo como potencial atrativo ou como método aplicável em áreas

turísticas.

Por meio da presente pesquisa, pretende-se identificar se existe essa relação

entre a educação e o turismo em estudos já publicados em anais de eventos

importantes na área do turismo, além de analisar em quais aspectos essa relação

acontece.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

O evento Semintur, o mais antigo entre os relacionados para esta pesquisa,

teve sua primeira edição no ano de 2003 e apresentou um total de 921 estudos no

decorrer de todas as suas edições. Entre estes estudos, 68 tinham como tema

principal educação e turismo, o que representa 7,4% do total de estudos. O ano de

2006 foi a edição que apresentou o maior número de publicações sobre o tema

educação e turismo, foi-se identificado 19 estudos neste ano. No ano de 2006, o

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611

Semintur foi realizado em conjunto com o seminário da ANPTUR – Associação

Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo, tal fato pode ter sido

responsável por alavancar as publicações sobre o tema neste ano. Nos anos

seguintes este número diminuiu consideravelmente. Destaca-se que nos anos de

2007, 2009, 2011, 2013 e 2014 não houve edições do Semintur, pois o evento passou

a acontecer bianualmente a partir de 2006.

O evento Semintur Jr., que nasceu da necessidade de se admitir trabalhos

oriundos dos cursos de graduação em Turismo, teve sua primeira edição no ano de

2010. No decorrer de suas edições foi identificado um total de 188 estudos e somente

8 desses estudos tratavam da relação entre educação e turismo, o que representa um

percentual de 4,2% da totalidade de estudos. A primeira edição do evento (ano de

2010) foi a que apresentou o maior número de publicações sobre o tema, com 4

estudos.

Por sua vez, o Fórum Internacional de Turismo do Iguassu, teve sua primeira

edição no ano de 2007. Totalizando 499 estudos publicados em seus anais, um

percentual de 6,6% dos estudos abordam a temática Educação e Turismo, o que

corresponde a 33 estudos. O ano que apresentou o maior número de estudos sobre

o tema foi 2015, com um total de 8 artigos. Os anais da última edição do evento (2016)

ainda não estão disponíveis no site.

Os estudos analisados, independente do evento que foram apresentados,

foram agrupados em diferentes categorias de acordo com suas abordagens. A

categoria que apresentou maior número de publicações foi Ensino Superior e Técnico

em Turismo (e Hotelaria) com 40 resultados (36%). Essa categoria é formada pelos

estudos que possuem como temática principal a educação formal em turismo e/ou

hotelaria nos níveis superior e técnico. Alguns estudos tratam sobre a formação do

profissional do turismo, outros relatam a importância e as contribuições dos cursos de

turismo, entre outros assuntos. O ensino do turismo é de extrema importância, porque

de acordo com a OMT é preciso dispor de uma educação turística com qualidade e

eficiência para a qualidade e eficiência do próprio setor de turismo (OMT, 1997).

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612

Educação ambiental foi a segunda categoria que mais apresentou resultados,

totalizando 36 estudos sobre a temática em questão (32%). Sabe-se que a

preocupação com o meio ambiente vem crescendo nos últimos tempos e o turismo,

uma atividade tradicionalmente impactante em decorrência da ocupação de espaços

naturais, pode utilizar a educação ambiental como meio de sensibilização e

conscientização tanto dos visitantes quanto da comunidade local para a conservação

dos recursos naturais. Os estudos presentes nesta categoria apontam diversos

aspectos sobre a educação ambiental e sua relação com o turismo. De acordo com

os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais (2001), a educação ambiental é capaz

de transformar o pensamento do homem em relação à natureza. O ser humano

através da educação ambiental pode vir a valorizar a natureza, utilizando-a com o

mínimo de impacto possível. Os estudos presentes nesta categoria apontam diversos

aspectos sobre a educação ambiental e sua relação com o turismo.

Educação Patrimonial apresentou 11 estudos do total de resultados (10%). A

educação patrimonial é um instrumento utilizado pelo turismo com o objetivo de

salvaguardar o patrimônio de determinada localidade e elevar o sentimento de

pertencimento da comunidade local para/com o patrimônio coletivo. Muitos turistas

viajam com a intenção de conhecer diferentes patrimônios – tanto materiais quanto

imateriais. Tais patrimônios podem ser danificados por turistas que não entendem o

real valor para determinada localidade e até mesmo os próprios moradores locais

acabam por não dar valor, justamente por não identificarem a importância de tal

patrimônio. Segundo Sales e Gastal (2005) a educação patrimonial pode ser um

instrumento de alfabetização cultural, à medida que ela possibilita que o indivíduo

envolvido faça uma leitura diferenciada do meio em que vive, sua realidade

sociocultural e histórica, entendendo melhor sua trajetória (como membro de uma

comunidade) passada e presente. Os estudos presentes nesta categoria falam

basicamente sobre essa importância da educação patrimonial para o turismo.

Educação para o Turismo foi a quarta categoria que apresentou maior número

de resultados – 10 estudos, representando 9% do total. A educação para o turismo

pode ser descrita basicamente como o ato de sensibilizar e educar uma comunidade

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613

para trabalhar com a atividade turística. A educação para o turismo é muito importante

na medida em que, segundo Ribas (2002), educar para o turismo é uma necessidade

para que o desenvolvimento da atividade turística não seja responsável pela extinção

da mesma, pois, sem o planejamento necessário, o turismo pode ocorrer de modo que

a constante presença humana venha a esgotar os recursos e atrativos que compõem

a matéria-prima da atividade.

Educação pelo Turismo representou 6% do total das publicações, com 7

estudos. É importante diferenciar essa categoria da anterior. A educação pelo turismo

é caracterizada quando a atividade turística cumpre o seu papel enquanto instrumento

de desenvolvimento pessoal e coletivo. Ainda que não restrito a educação formal, o

turismo pedagógico e as visitas técnicas são exemplos da educação pelo turismo.

A última categoria formada foi Relação entre a Educação e o Turismo. Os

estudos englobados nesta categoria mostram diferentes conexões entre a educação

e a atividade turística, a exemplo do presente estudo. Alguns autores apresentam a

visão dos estudantes de turismo, enquanto outros tratam da educação ligada a outros

temas do turismo, como a hospitalidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos aspectos mencionados, foi possível identificar a produção do

conhecimento, acerca do tema Educação e Turismo, publicada em anais dos três

eventos científicos de turismo selecionados como fonte de dados para esta pesquisa.

Com base nos resultados desta pesquisa reafirma-se a importância da educação para

o turismo que, segundo a Organização Mundial do Turismo, deve ser entendido como

um instrumento de desenvolvimento pessoal e coletivo.

Acredita-se, desta forma, na importância do desenvolvimento de produtos e

atividades que aliem o turismo e a educação. Mais que isso, considera-se necessária

uma mudança de atitude geral para que o turismo seja percebido menos enquanto

consumo econômico e mais como um instrumento de autodesenvolvimento.

Esta pesquisa sistematiza o conhecimento produzido acerca da educação e do

turismo, servindo de base para novos estudos, tanto neste tema como em outros

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tantos. Futuros estudos poderão ser desenvolvidos com a mesma temática,

englobando, no entanto, outros aspectos, como consulta em periódicos

científicosinternacionais, monografias, dissertações e teses.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, João. Enraização de propostas turísticas. In: RODRIGUES, Adyr Balastreri (Org). Turismo e Desenvolvimento Local. São Paulo: Hucitec, 1999. p. 147-163. FESTIVAL DE TURISMO DAS CATARATAS. Fórum Internacional de Turismo do Iguassu.Disponível em <http://festivaldeturismodascataratas.com/atividades/eventos-complementares/forum-internacional/>. Acesso em: 05 set. 2016. MOESCH, Marutschka. A produção do saber turístico. São Paulo: Contexto, 2002. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO – OMT. Código de Ética Mundial para o Turismo. Santiago do Chile: OMT, 1999. Disponível em <http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/home/programas/Imagens_programas_home/VersoFinalAERI.pdf>. Acesso em: 02 set. 2016. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO – OMT. Introducción a Tedqual: uma metodologia para la calidad en educación y formación turísticas. Madrid: OMT, 1997. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS - PCNS. Meio Ambiente e Saúde. Brasília: Ministério da Educação,2001. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TURISMO E HOSPITALIDADE. Eventos e Anais.Disponível em <http://www.ucs.br/site/pos-graduacao/formacao-stricto-sensu/turismo-e-hospitalidade/eventos-e-anais/>. Acesso em: 05 set. 2016. RIBAS, Mariná Holzmann. Educação para o turismo. Revista olhar de professor. Ponta Grossa, v.5, n.1, p.9-20. 2002. Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/olhardeprofessor/article/view/1372/1016>. Acesso em 28 set. 2016. SALES, F.D.L; GASTAL, S. O Patrimônio Cultural Sob a Ótica da Indústria Cultural e da Educação Patrimonial. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM TURISMO – SEMINTUR, 3., 2005, Caxias do Sul. Anais... Caxias do Sul: Semintur, 2005. p. 1-12.

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615

SOUZA, I. C. A. S; SILVA.F. P. S. Educação Para o Turismo: Uma Análise das Práticas Pedagógicas no Ensino Fundamental. In: ENCONTRO SEMINTUR JUNIOR, 1., Caxias do Sul. Anais... Caxias do Sul: Semintur Jr., 2010. p. 1-14.

GT 10 – HOSPITALIDADE E DIVERSIDADES

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A HOSPITALIDADE NO HIBRIDISMO CULTURAL DA FRONTEIRA SECA CHUÍ-

CHUY

OLIVEIRA, Milena147

SILVA, LuizaMachado da148

Palavras-chave: Hospitalidade; Fronteira; Hibridismo; Cultura; Hotéis.

1 INTRODUÇÃO

A noção de turismo e hospedagem/hospitalidade perpassa pela confluência

de diferentes culturas. Quando alguém viaja para outra cidade, estado ou país – por

lazer ou a trabalho –, o deslocamento não é apenas físico, o olhar sobre o outro sofre,

também, um deslocamento. As noções de igualdade e diferença são(des)

(re)construídas pelas infinitasredes culturais que envolvem o sujeito viajante.

147Graduanda do curso de Bacharelado em Hotelaria da FURG e graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia UNOPAR. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9200845727976785. 148Professora Assistente de Língua Espanhola e Produção Textual da FURG, doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Letras, área de concentração em Linguística Aplicada, da UCPel e Pesquisadora Membro do GELFIC – Grupo de Estudos de Linguagens, Fronteiras, Identidades e Culturas. E-mail: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9162131458495123.

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617

Tendo em vista esta noção de deslocamento, no seu mais amplo sentido, a

seguinte pesquisa visa a ingressar no universo da hospitalidade nas cidades Chuí

(Brasil) e Chuy (Uruguai), municípios vizinhos e que definem adivisa entreBrasil e

Uruguai no extremo sul do Rio Grande do Sul.

Por tratar-se de uma zona de fronteira, onde asdiferentes culturas e

identidadesingenuamente vão compondo um espaço de hibridismo, um terceiro

espaço se constitui e é irrepetível por agregar duas nacionalidades que transcendem

as suas características, buscamos saber se os serviços de recepção dos hotéis, em

ambas as cidades,apresentam, como sua própria população, diferenças – já que se

tratam de cidades de distintos países – e semelhanças – por seus habitantes

residiremnum espaço geográfico em que as únicas barreiras são os documentos

oficiais.

A partir da realização de entrevistas com trabalhadores do setor hoteleiro,

verifica-se que a complexidade que envolve a vida em uma fronteira é refletida

também nos serviços de um hotel e seus protocolos de hospedagem.

Esta fronteira Chuí-Chuy tem por limite geográfico uma avenida (a avenida

principal das cidades dos dois países) em que não há uma aduana que controle ou

regule a ida e vinda de uruguaios e brasileiros. A “fronteira seca” permite aos cidadãos

o tráfego físico livre e, ainda, lhes confere uma maior mobilidade identitária, cultural,

social e econômica, diferentemente de outras fronteiras nas quais o Estado atua como

regulador da vida desses habitantes.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho une diferentes áreas do conhecimento: Hotelaria, Estudos

Culturais e Linguística Aplicada. O caráter interdisciplinar desta pesquisa, justifica-se

pelo fato de tratar-se de uma pesquisa qualitativa em que serão observados os

protocolos de hospedagem das cidades que compõem a fronteira Chuí-Chuy, sem

mensurá-los objetivamente; ao contrário, o intuito de verificar a recepção no setor

hoteleiro não pode ser entendida como mensurável, mas subjetiva, na medida em que

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618

o nosso objetivo é analisar e interpretar a linguagem que constitui (e que é constituída

por) os meios de hospedagem na divisa entre dois países.

Além dos pressupostos teóricos sobre protocolos de hospedagem, da área da

Hotelaria, utilizamos a concepção dialógica de linguagem de Bakhtin e as

contribuições advindas dos Estudos Culturais, que nos auxiliam a compreender as

questões identitárias e culturais que buscamos ao estudar o setor hoteleiro na

fronteira.

A realização do estudo leva em consideração as questões de Ética de

Pesquisa com seres humanos. Para a realização da pesquisa de campo, realizou-se

um levantamento dos estabelecimentos de hospedagem das cidades fronteiriças Chuí

e Chuy, para que pudéssemos realizar as entrevistas para a obtenção dos dados. Este

trabalho apresenta as análises e interpretações de entrevistas realizadas em quatro

hotéis (dois brasileiros e dois uruguaios) que aceitaram participar da pesquisa.

Os pressupostos teóricos estudados nos auxiliaram na organização de um

questionário semiestruturado para a realização das entrevistas (GASKELL, 2002)com

os recepcionistas ou gerentes dos hotéis. A escolha por um questionário

semiestruturado vai ao encontro do tipo de pesquisa a que nos propomos: perguntas

abertas que possibilitem ao interlocutor (neste caso, aos profissionais do setor

hoteleiro) discorrer sobre os assuntos tratados de forma mais livre, sem limites de

tempos de fala (BAUER;GASKELL, 2002), inclusive porque as entrevistas foram

registradas em áudio, para posterior transcrição.

Após a realização das entrevistas, que foram obtidas em setembro de 2016,

realizamos a transcrição dos dados, o que nos possibilitou realizar a análise e,

finalmente, a interpretação de acordo com o referencial teórico estudado.

Para finalizar a parte metodológica, é importante ressaltar que os nomes dos

estabelecimentos serão ocultados e receberão os nomes fantasia: B1 (Hotel Brasileiro

1), B2 (Hotel Brasileiro 2), U1 (Hotel Uruguaio 1) e U2 (Hotel Uruguaio 2). Este

tratamento é dado por questões éticas, já que se trata de uma pesquisa em que os

sujeitos investigados desvelam opiniões pessoais e impressões ao serem

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entrevistados, e a garantia do anonimato contribui para que os sujeitos não sejam

reconhecidos pela comunidade.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesta seção, apontaremos brevemente parte do referencial teórico que

sustenta a nossa pesquisa. Primeiro, é essencial falar da questão identitária,

justamente porque pesquisamos uma região de extrema complexidade identitária-

cultural. Hall discorre sobre a identidade desde o Iluminismo, escreve sobre como as

identidades do homem moderno eram bem definidas e localizadas no mundo social e

cultural. Com o passar do tempo, essas identidades culturais de classes,

sexualidades, etnias, raças e nacionalidades, se antes eram bem sólidas, nas quais

todos se encaixavam socialmente, hoje em dia se encontram em fronteiras indefinidas,

que provocam crisesno sujeito que podem partir, por exemplo, do conceito de etnia:

A etnia é o termo que utilizamos para nos referimos às características

culturais – língua, religião, costume, tradições, sentimentos de “lugar”- que

são partilhadas por um povo. As nações modernas são, todas, híbridos

culturais. (HALL, 2006, p. 62)

Os híbridos culturais, mencionados pelo autor,são as fronteiras que perpassam

nosso trabalho. Ao habitar uma fronteira o indivíduo perde, silencia parte de sua

nacionalidade e agrega outras identidades retiradasdas prateleiras das diferenças,

tornando-se um ser único e irrepetível, inclusive em termos culturais

[...] o que é significativo é o leque e a sobreposição de sentidos. O complexo de significados indica uma argumentação complexa sobre as relações entre desenvolvimento humano geral e um modo específico de vida, e entre ambos e as práticas da arte e da inteligência. (WILLIAMS, 2007, p. 122)

Da mesma forma, a linguagem constitui e é constituída por quem a enuncia.

Para a realização das análises e legitimação das nossas interpretações sobre os

dizeres dos sujeitos da pesquisa, utilizamos o filósofo da linguagem Mikhail Bakhtin

(2003), que concebe a linguagem como forma de interação humana,

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[...]como algo dito por um locutor que espera uma resposta do seu interlocutor. O autor propõe que sempre que se enuncia, o enunciado requer uma resposta, porque não é da natureza humana aceitar um enunciado de forma passiva, o interlocutor não é um mero receptor que cala ao ouvir. Mesmo o silêncio é uma resposta ao que está sendo dito. (SILVA, 2014, p. 45-46)

Caberiam neste espaço muitos outros teóricos que trabalhamos, mas

acreditamos que este breve referencial sinaliza a posição de onde falamos e

observamos os nossos sujeitos.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

O estudo investigou, como já dito anteriormente, quatro hotéis da fronteira sul

do Brasil, das cidades Chuí brasileiro e Chuy uruguaio. Nossa atenção especial esteve

relacionada às culturalidades encontradas nas informações sobre o serviço de

recepção e suas diferenças de protocolo. Os hotéis foram escolhidos levando em

conta seu porte e público alvo.Dois (B1 e U2) com infraestrutura bem amplase

diversos serviços oferecidos e os outros dois (B2 e U1)comuma infraestrutura mais

modesta,bastante aconchegantes e com menos serviços ofertados.

Alguns aspectos que consideramos importantes foram observados ao

ingressarmos nos hotéis; é o caso da facilidade de acesso, visão dos letreiros

informativos, iluminação, conforto, hall, influência americana e europeia, visão das

diárias, acessibilidade, tarifa balcão à vista, praticidade operacional e televisão.

Um único meio de hospedagem (B1) tinha acessibilidade e faz parte de uma

rede do lado brasileiro. É interessante lembrar que há leis que garantem a

acessibilidade em lugares públicos no Brasil, mas nem sempre a população que

necessita da acessibilidade encontra seus direitos. Talvez a fronteira seja um lugar

que, pelo fato de concentrar as leis de duas nacionalidades, muito das diferentes

legislações dos Estados Nacionais se confunda e se perda.

Todos os hotéis possuíam fácil acesso às recepções. Apenas o B1apresentava

letreiros informativos aos seus hóspedes. Outra característica que nos chamou a

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atenção é a de que todas as hospedagens visitadas apresentaram boa iluminação,

um hall espaçoso e confortável.

Na entrevista semiestruturada realizada, uma das diferenças entre ambos

países que nos pareceu bastante curiosa, foi o fato de que as entrevistas realizadas

no B1 e B2 foram respondidas pelosprofissionais responsáveis pelo setor

questionado, demostrando, assim, uma confiança dos proprietários e gerentes dos

estabelecimentos em seus funcionários. No U1 e U2, diferentemente, os proprietários

dos estabelecimentos, ainda que seus funcionários estivessem presentes e dispostos,

optarampor responder à entrevista.Isto sugere que quando se trata de responder algo

que influencie a imagem da empresa – neste caso, tratava-se de uma pesquisa

científica que seria publicada –, os proprietários uruguaios prefiram, eles próprios,

fornecer as informações de seus estabelecimentos.Esta é uma questão de diferença

cultural em relação ao modo de gerência dos hotéis brasileiros, que não têm

problemas em ceder os funcionários que teriam uma maior legitimidade para falar do

setor em que trabalham. Ademais, a pesquisa realizada por Bohn e Silva (2016), que

investiga a linguagem da diferença no entre-lugar desta mesma fronteira, utilizando-

se da discursividades constitutivas de seus habitantes brasileiros e uruguaios, aponta

para o fato de que os uruguaios se veem muito mais desconfiados e fechados do que

os brasileiros. Podemos, então, relacionar este dado, trazido por Bohn e Silva, ao fato

de que talvez, os proprietários dos hotéis uruguaios estejam muito mais presentes em

seus estabelecimentos.

A questão da diferença estende-se, também, ao treinamento que cada

recepcionista recebe ao ingressar na empresa. No B1 e B2, os sujeitos relataram que

a empresa oferece treinamentos e orientações a seus empregados, além da

necessidade de que os contratados precisam ter cursos para ocupar seus cargos. Nos

hotéis U1 e U2, os sujeitos disseram que não fornecem nenhum tipo de treinamento,

porque quando contratam o pretendente ao cargo tem que estar capacitado. Neste

ponto observamos outra característica apontada por Bohn e Silva (2016) em seu

estudo. Aparece fortemente nos discursos de seus fronteiriços de ambas as

nacionalidades, a receptividade brasileira, o brasileiro como um povo que está sempre

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se aperfeiçoando e faz muito esforço para agradar a todos. Nesse sentido, vê-se que

a rede hoteleira brasileira pesquisada busca constante aperfeiçoamento dos seus

funcionários, treina seus funcionários para que seu estabelecimento possa conferir

uma marca singular e coesa na prestação de seus serviços.

Os procedimentos de check-in apresentam diferenças nos hotéis estudados.

No Brasil, o B1 e B2 exigem o documento de identidade ou passaporte (para

estrangeiros). As crianças acompanhadas por adultos não são cadastradas como

hóspedes e tampouco são requisitados seus documentos no check-in. No Brasil, o

preenchimento da FNRH (Ficha Nacional de Registro de Hóspede) é obrigatório e

serve de controle para o Ministério do Turismo sobre a entrada de estrangeiros no

país. Embora seja uma importante forma de controle, o B2 não conhecia a FNRH.

Percebemos, primeiramente, que há uma falta de fiscalização e até de auxílio por

parte do Ministério do Turismo e Secretarias Estadual e Municipalde Turismo

brasileiras. Outro aspecto que chama a atenção é o fato de que as crianças não

precisam ser registradas: como o país quer controlar a entrada e saída de estrangeiros

e gerenciar os deslocamentos das pessoas, se desconsidera as crianças como

turistas?

Os hotéis uruguaios (U1 e U2)não possuem a FNRH, mas o seu protocolo de

check-in conta com um instrumento ainda melhor do que a FNRH. A ficha de registro

no Hotel é preenchida manualmente e, independentemente da idade, só são

hospedados aqueles que apresentem a documentação (identidade ou passaporte).

Pode-se perceber que o registro, em termos de números de turistas, neste caso, é

real, já que as crianças são consideradas e registradas como hóspedes. Esta ficha é

a que vai ficar no hotel, para o controle do próprio estabelecimento. No check-in há

ainda, outro registro, obrigatório no território uruguaio para qualquer estabelecimento

de hospedagem, que se trata de um sistema integrado no qualsão digitados todos os

dados dos hóspedesque vão para do Ministério do Interior. O Ministério do Interior

recebe e gerencia esses dados e, ainda, os envia à Interpol, que controla criminosos

fugitivos nos cinco continentes do planeta.

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Apresentamos, neste espaço, apenas algumas análises e interpretações das

muitas que constituem esta pesquisa. A seguir, escreveremos algumas considerações

importantes acerca do nosso estudo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O título do nosso trabalho fala em hibridismo cultural na fronteira seca que

pesquisamos, um hibridismo verificado em muitas pesquisas sobre a população que

coabita esta região, um hibridismo que desafia os professores nas escolas, que

desafia a linguagem e a forma como ela deve ser abordada.

Diferentemente do que pensamos no começo deste estudo, o hibridismo

perpassa os sujeitos que trabalham no setor hoteleiro, mas as diferenças na maneira

de executar os serviços, de realizar os protocolos de hospedagem e o próprio olhar

em relação ao hóspede acusam um divórcio entre as culturas brasileiras e uruguaias.

Parece-nos que as diferenças no setor hoteleiro, especialmente nos protocolos

de hospedagem que tratamos neste trabalho, é, em parte, resultado das distintas

burocracias do Uruguai e do Brasil. Por outro lado, ainda que haja um hibridismo

cultural, existe, por parte dos brasileiros, um comportamento quase que subserviente

para agradar aos hóspedes nacionais e estrangeiros. Essa característica está muito

ligada à constituição do povo brasileiro e ao fato de que, ainda hoje, mantemos

resquícios da colonização muito fortemente observados nos contatos com outras

culturas.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BAUER, M. W; GASKELL, G. (Ed.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Trad. Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. BOHN, H. I; SILVA, L. M. A linguagem da diferença no “entre-lugar” da fronteira Chuí-Chuy. Apresentação oral no Simposio Internacional Lenguajes,

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Identidades,Corpo(reidades) y Cultura Fronterizas. Montevideo, 13-14 de outubro, 2016. GASKELL, G. Entrevistas individuais e grupais. In: BAUER, M. W; GASKELL, G. (Ed.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Trad. Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. p. 64-89. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Trad. Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. SILVA, L. M. A língua constitui o professor: identidades (conflitantes) de professores de línguas Estrangeiras. Novas Edições Acadêmicas: Saarbrücken, 2014. WILLIAMS, R. Cultura. In: WILLIAMS, R. Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. Trad. De Sandra Guardini Vasconcelos. São Paulo: Boitempo, 2007.

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A HOSPITALIDADE E O ACOLHIMENTO NO CAMPUS DA FURG DE SANTA

VITÓRIA DO PALMAR/RS, BRASIL

SANTOS, Wagner149;OLIVEIRA, Milena150.

[email protected]

FRANZEN, Letícia Indart151 [email protected]

Palavras-chave: Hospitalidade, Acolhimento, Campus, Santa Vitória do Palmar/RS.

1 INTRODUÇÃO

Para muitos jovens a oportunidade de ingressar no ensino superior em uma

universidade é uma oportunidade única e extremamente rara. Várias são as formas

de se ter acesso a essa forma de ensino, porém é um processo longo. Pode até

mesmo ser estressante, pois o acadêmico, ao chegar na universidade passa por

149Bacharelando no curso de Bacharelado em Hotelaria. Universidade Federal do Rio Grande (FURG). E-mail: [email protected] 150Bacharelanda no curso de Bacharelado em Hotelaria. Universidade Federal do Rio Grande (FURG). E-mail: [email protected] 151Turismóloga. Mestre em Turismo e Hotelaria. Docente na Universidade Federal do Rio Grande (FURG). E-mail: [email protected].

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várias mudanças em sua rotina, diferentemente do que acontecia em sua rotina

escolar. A universidade pode se tornar “um bicho de sete cabeças” para os recém

ingressantes. Neste cenário, o acolhimento destes ingressantes é de extrema

importância.

A hospitalidade das universidades brasileiras varia muito em que região elas

estão inseridas e a cultura de cada lugar. Este trabalho apresenta dados que fazem

parte de um projeto de pesquisa que conta com acadêmicos voluntários. Esta fase da

pesquisa foi desenvolvida entre os meses de setembro e outubro de 2016 e ainda está

em fase de execução. Este trabalho tem por finalidade identificar a hospitalidade e

acolhimento do campus da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) localizado

na cidade de Santa Vitoria do Palmar/RS, Brasil na visão dos discentes do 1º ano de

graduação dos cursos de Turismo, Hotelaria e Tecnologia em Eventos.

Para esta pesquisa foi utilizado um Questionário de Vivências Acadêmicas

(QVA- adaptado), criado por Almeida e Ferreira (1997), para identificar de que forma

se dá a hospitalidade entre diversos aspectos, na visão dosdiscentes.Considerando

que o campus de Santa Vitoria do Palmar/RS recebe muitos alunos de outras cidades

do estado e de outros estados do Brasil, tem no fator cultural, um influenciadorna

convivência e adaptação desses alunos no ambiente acadêmico.Os alunos de fora da

cidade, quando chegam em Santa Vitoria do Palmar, se deparam com uma cidade

pequena, sem muitos atrativos.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo realizado utilizou oQuestionário de Vivencias Acadêmicas (QVA-

adaptado) criado por Almeida e Ferreira (1997), aplicado nas turmas dos 2º semestre

dos cursos de Hotelaria, Turismo Binacional e Tecnólogo em Eventos, a análise desse

questionário foi feita de maneira quantitativa e qualitativa. No campus da FURG da

cidade de Santa Vitória do Palmar/RS existem matriculados, nos três cursos de

Bacharelado em Hotelaria, Turismo Binacional e Tecnólogo em Eventos,

aproximadamente 125 alunos matriculados, porém apenas 62 alunos são frequentes,

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deste total 59 acadêmicos responderam a esta pesquisa, alunos do 2º semestre.O

período da pesquisa foi nos dias entre 27 de setembro à 05 de outubro de 2016.

Primeiramente foi realizada pesquisa bibliográfica referente ao tema

“hospitalidade/acolhimento” no contexto universitário. Para isso utilizou-se o site

“publicações de turismo” onde foram encontrados artigos científicos com essa

temática. Em seguida, utilizando como referência as dimensões analisadas no

Questionário de Vivências Acadêmicas construído por Almeida e Ferreira (1997),

foram confeccionadas afirmativas que deveriam ser avaliadas pelos discentes que

participaram desta pesquisa em uma escala likert (de 1 a 5).

As dimensões criadas por Almeida e Ferreira (1997) e utilizadas nesta pesquisa

foram: Adaptação à instituição; Envolvimento em atividades extracurriculares;

Relacionamento com colegas; Adaptação ao curso; Relacionamento com os

professores; Métodos de estudo; Bases de conhecimento; Autoconfiança; Gestão dos

recursos econômicos. Foi incluída, para esta pesquisa, a dimensão “Comunicação”.

Para o trabalho apresentado aqui, será analisada apenas a dimensão deAdaptação à

instituição. As demais serão analisadas e os resultados apresentados em trabalhos

futuros.

O processo de coleta de dados foi realizado em sala de aula, procurando as

datas que grande parte dos alunos estivessem presentes. Para tanto, foram

escolhidas as datas de provas e atividades avaliativas.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Inúmeras são as dificuldades que os acadêmicos se deparam ao ingressar na

universidade. Algumas estão relacionadas a fatores internos aos alunos, como por

exemplo, “sentimentos de tristeza pela ausência da família, problemas nos

relacionamentos interpessoais, na organização do tempo de estudo, no entendimento

dos conteúdos, no reconhecimento dos espaços da instituição” (GHIRALDELLO;

MERCURI, 2015, p. 406). Em outros casos essas dificuldades estão relacionadas com

a falta de planejamentos dos espaços acadêmicos.

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Dentro das dimensões da hospitalidade criadas por Camargo (2003, 2004):

hospitalidade doméstica, pública, virtual e comercial, não há nenhuma que fale

claramente sobre a hospitalidade em ambientes acadêmicos. Porém, para este

estudo, considerou-se as definições da hospitalidade pública e virtual para entender a

hospitalidade acadêmica.

Para Grinover (2007, p. 127) “a hospitalidade da cidade passa, ainda, pelo

ordenamento geral das paisagens urbanas e pela organização dos lugares públicos”.

Neste caso, cabe à universidade planejar e organizar seus espaços públicos de

circulação para bem receber seus estudantes.

Além disso, é importante que a universidade ofereça informações adequadas

para aqueles que chegam, tendo em vista que essas informações conduzem o

estudante pelo campus sem se perder. Para Grinover (2007, p. 126), “é o que

poderia ser chamado de hospitalidade “informada”, “oferecida” pelas autoridades

públicas e administrativas [...]”.

A hospitalidade pública de uma cidade pode ser percebida por meio da

organização espacial e de mobilidade urbana (CAMARGO 2003; 2004). Em um

ambiente universitário tal organização proporciona aos discentes, livre acesso,

autonomia e segurança, facilitando a circulação dos acadêmicos. Implica assegurar

ao acadêmico o direito de ir e vir.

A hospitalidade virtual, segundo Camargo (2003), ocorre nos ambientes virtuais

da internet. Emissor e receptor da mensagem do site eletrônico são, respectivamente,

anfitrião e visitante. No caso das universidades, este tipo de hospitalidade pode ser

verificado por meio dos sites dos campi, dos cursos e demais instituições relacionadas

à universidade. As informações divulgadas neste tipo de mídia devem estar em

conformidade com a realidade, devem ser atualizadas, estar explicitas e ser de fácil

acesso.

Diante disso, essa pesquisa procura entender de forma os acadêmicos se

sentem em relação à universidade onde estão estudando, na busca de tentar

identificar possíveis modificações que poderão ser feitas para evitar que esses jovens

e adultos abandonem os estudos.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Conforme dito anteriormente, esta pesquisa ainda está em andamento e

pretende-se expor alguns dados preliminares referentes à percepção dos discentes

referente ao acolhimento do campus da FURG localizado na cidade de Santa Vitória

do Palmar/RS, Brasil.

Em relação às afirmações propostas no questionário QVA (adaptado) verificou-

se que em relação aos 54 entrevistados, na afirmação “sinto-me bem na instituição”

constatou-se que 2% discorda totalmente, 5% discorda parcialmente, 4% é

indiferente, 33% concorda parcialmente e 55% concorda totalmente. As respostas a

essa afirmativa indicam que boa parte dos acadêmicos dos cursos de Turismo,

Hotelaria e Tecnologia em Eventos afirmam que estão se sentindo bem no ambiente

da universidade,ponto importante que reflete a hospitalidade deste local.

A mesma situação se repete ao responderem a afirmação “sinto-me acolhido

na instituição”, pois foi verificado que 4% discorda totalmente, 5% discordo

parcialmente, 4% é indiferente, 31% concordo parcialmente, 56% concorda

totalmente. A resposta desta afirmação confirma a resposta da afirmativa anterior,

ambas representam o sentimento de hospitalidade e de acolhimento destas pessoas

no campus, pois sentir-se bem e acolhido é um dos princípios da hospitalidade.

Em relação à questão “na primeira vez que entrei no Campus consegui me

deslocar facilmente e encontrei as salas que precisava” constatou-se que 10%

discorda totalmente, 15% discorda parcialmente, 10% é indiferente, 27% concorda

parcialmente 38%concorda totalmente. Boa parte dos respondentes (65%) concorda

parcialmente ou totalmente com essa afirmação, ou seja, conseguiram se deslocar

facilmente e com autonomia pelo campus, estando com conformidade com a

hospitalidade pública, que prevê o livre acesso e circulação pelos espaços. Porém

ainda há uma parte dos acadêmicos destes cursos que ainda teve dificuldades de

exercer o seu direito de acesso e livre circulação, aproximadamente 25%. Nesse caso

ainda é necessário fazer mudanças por meio de maior sinalização dos espaços, com

cartazes, placas, etc.

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A adaptação dos horários de funcionamento dos serviços disponibilizados no

campus (secretaria, coordenação, PRAE, biblioteca, laboratórios, xerox, lancheria,

etc) em relação aos horários de aula dos acadêmicos é importante para a sensação

de bem-estar e acolhimento, pois o acadêmico pode usufruir destes serviços de forma

plena e autônoma. Neste caso, o questionário possuía a seguinte afirmação “estou

adaptado aos horários e ao funcionamento dos serviços”, 37% discorda (totalmente

ou parcialmente), 13% é indiferente, 50% concorda (parcialmente ou totalmente).

Percebe-se que as respostas são dispersas, parte dos acadêmicos (50%) acredita

que estão adaptados aos horários de funcionamento destes serviços no campus. Essa

resposta pode estar relacionada ao período do ano em que esse questionário foi

aplicado, ou seja, no segundo semestre do ano letivo, já tendo passado alguns meses

do inicio do semestre, isso facilita a adaptação com o passar do tempo.

Gostar do local onde o acadêmico passa, em muitos casos, a maior parte do

seu dia é de extrema importância para a percepção do acolhimento e o sentimento de

pertencer àquele local. Em relação a isso foi feita a seguinte afirmação “gosto da

instituição que frequento e do ambiente circundante”, as respostas foram as seguintes:

5% discorda totalmente, 7% discorda parcialmente, 2% é indiferente, 31% concorda

parcialmente e 55% concorda totalmente. Percebe-se que a maior parte dos

acadêmicos entrevistados (86%) afirma gostar dos espaços físicos da FURG, diante

disso, pode-se afirmar que, em relação ao espaço físico do campus, é possível

perceber uma atmosfera de acolhimento e de hospitalidade pública deste espaço.

Ainda em relação ao espaço físico do campus, foi afirmado “Meu deslocamento

no Campus até as salas de aula, da administração, da secretaria, da coordenação, da

PRAE, etc, é acessível”. A maior parte, 89%, respondeu que concorda (parcialmente

ou totalmente) com essa afirmação, 2% respondeu ser indiferente a esta questão, e 9

% discordou da afirmação, ou seja, não acha que o deslocamento pelo campus seja

acessível. Vale ressaltar que alguns alunos do campus possuem alguns tipos de

deficiências visuais, isso pode ter contribuído pela avaliação negativa do acesso.

Os ambientes da cidade de Santa Vitória do Palmar percorridos pelo acadêmico

até chegar ao campus também foram avaliados pelo acadêmico. Dessa forma, foi

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afirmado “a entrada da cidade até o campus possui sinalização adequada”, 37%

discorda totalmente, 17% discordo parcialmente, 9% é indiferente, 26% concorda

parcialmente e 11% concorda parcialmente. Neste quesito, boa parte dos acadêmicos

entrevistados (54%) discorda que exista sinalização adequada da entrada da cidade

até o campus, essa afirmativa está relacionada à hospitalidade pública da cidade de

Santa Vitória do Palmar, que não planejou seus espaços públicos considerando a

sinalização urbana da cidade com relação ao campus. É preciso investir em placas,

outdoors, etc. informando a existência do campus e suas direções, para que não só

os acadêmicos possam achar a localização do campus, mas também toda a

comunidade da cidade.

Na afirmativa “encontro facilmente os cursos da FURG no Campus SVP”, boa

parte dos entrevistados se mostrou indiferente (29%), 18% discorda (totalmente ou

parcialmente), e a maior parte (53%) concorda (parcialmente ou totalmente).A última

afirmativa a ser analisada nesta pesquisa é “Entendo ser importante ter Restaurante

Universitário (RU) no Campus de SVP”. Essa afirmativa se justifica pelo fato do

campus ainda ser novo e não possuir um RU. Diante disso, 88% afirmou ser

importante ter um RU no campus, 4% discordo totalmente, 8% é indiferente, 2%. As

aulas dos cursos de Turismo, Hotelaria e Tecnologia em Eventos são nos turnos da

tarde e noite, muitos acadêmicos chegam no campus muito cedo e não há nenhum

serviço de alimentação gratuito ou de baixo custo perto do campus. Para os

acadêmicos esse serviço será de grande importância, pois transforma-se em uma

forma de acolhimento, por meio da alimentação fornecida e por ser mais um espaço

de convivência entre os acadêmicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Depois de fazer a análise dos dados verificou-se que boa parte dos acadêmicos

dos cursos de Turismo, Hotelaria e Tecnologia em Eventos afirmam que estão se

sentindo bem no ambiente da universidade, ponto importante que reflete a

hospitalidade deste local.

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Boa parte dos respondentes consegue se deslocar facilmente e com autonomia

pelo campus, estando com conformidade com a hospitalidade pública, que prevê o

livre acesso e circulação pelos espaços. Porém ainda há uma parte dos acadêmicos

destes cursos que ainda tem dificuldades de exercer o seu direito de acesso e livre

circulação. Nesse caso, ainda é necessário fazer mudanças por meio de maior

sinalização dos espaços, com cartazes, placas, etc.

Metade dos acadêmicos acredita que estão adaptados aos horários de

funcionamento destes serviços no campus. Essa resposta pode estar relacionada ao

período do ano em que esse questionário foi aplicado, ou seja, no segundo semestre

do ano letivo, já tendo passado alguns meses do inicio do semestre, isso facilita a

adaptação com o passar do tempo. Destaca-se neste quesito que há hospitalidade

por parte do campus em adequar seus horários às necessidades dos alunos destes 3

cursos.

Gostar do local onde o acadêmico passa, em muitos casos, a maior parte do

seu dia é de extrema importância para a percepção do acolhimento e o sentimento de

pertencer àquele local, a maior parte dos entrevistados (86%) afirma gostar dos

espaços físicos da FURG, diante disso, pode-se afirmar que, em relação ao espaço

físico do campus, é possível perceber uma atmosfera de acolhimento e de

hospitalidade pública deste espaço.

Com todas essas analises feitas verifica-se que o campus tem algumas

necessidades, contudo analisa-se que é um Campus em que sua infraestrutura física

é hospitaleira. Salienta-se que esta é uma pesquisa em andamento e que em

pesquisas posteriores serão analisados de outros parâmetros, como a comunicação,

relação interpessoal entre alunos e professores e etc.

REFERÊNCIAS

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ANDRADE, D. A.C.; MACEDO, T. W. M. A extensão e a busca pela hospitalidade na cidade universitária. Revista Hospitalidade. São Paulo, v. 12, n. 2, p. 158 - 179, dez. 2014. CAMARGO, L. O. L. Os Domínios da Hospitalidade. In: DENCKER, A. F. M.; BUENO. M. S. Hospitalidade: cenários e oportunidades. (Orgs..). São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. _________. Hospitalidade. São Paulo: Aleph, 2004.

GHIRALDELLO, L. e MERCURI, E. N. G. S. Integração Acadêmica de Estudantes do Ensino Superior: um estudosobre ingressantes de um curso de turismo. Turismo em Análise, v. 26, n. 2, São Paulo, p. 403-425, 2015.

GRINOVER. L. A hospitalidade, a cidade e o turismo. São Paulo: Aleph, 2007.

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GT 11 – TURISMO E HOTELARIA

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TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO: UMA FERRAMENTA PARA A

QUALIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE MEIOS DE HOSPEDAGEM DE SANTA

VITÓRIA DO PALMAR/RS?

CUNHA, AdemilsoAlves152; AMARAL, Guilherme Pinto153; AMARAL, Mateus

Pinto154.

[email protected]

FRANZEN, Letícia Indart155.

[email protected]

Palavras-chave: Internet; Qualificação de serviços; Tecnologias de informação.

1 INTRODUÇÃO

O turismo vem crescendo notoriamente nos últimos anos, assim como a

internet e suas ferramentas de comunicação. Todos os segmentos da sociedade são

afetados pelas mudanças que a internet proporciona, e entre tantas possibilidades que

se apresentam para serem exploradas, está o uso das tecnologias de informação

como aliada dos meios de hospedagem na impulsão de suas vendas, através da

qualificação dos serviços prestados ocasionados pelo uso de tais ferramentas.

A utilização dessas ferramentas torna-se uma prática relevante no atual

mercado e é utilizada por todos os segmentos. Mostra-se de grande importância para

aproximar os clientes das organizações, divulgar os produtos que a empresa

152Discente do 6º semestre do curso de bacharelado em hotelariana Universidade Federal do Rio Grande. E-mail: [email protected] 153Discente do 6º semestre do curso de bacharelado em hotelaria na Universidade Federal do Rio Grande. E-mail:[email protected] 154Discente do 6º semestre do curso de bacharelado em hotelaria na Universidade Federal do Rio Grande. E-mail:[email protected] 155 Turismóloga. Mestre em Turismo e Hotelaria. Docente na Universidade Federal do Rio Grande.Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4383012Z1 E-mail:[email protected]

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comercializa e também possibilita que o cliente possa se inteirar sobre detalhes antes

mesmo de ter o contato físico com a empresa hoteleira.

Os meios de hospedagem podem utilizar várias ferramentas como forma de

divulgação e contato com os hóspedes na internet, como os serviços de e-mail, criação

de site do próprio do hotel, utilização das redes sociais como o Facebook, Twitter,

Youtube, entre outros, inclusive algumas sem custos. Neste contexto, o objetivo desta

pesquisa é identificar quais as ferramentas de tecnologias de informação os meios de

hospedagem de Santa Vitória do Palmar têm utilizado no contato, vendas e divulgação

de seus produtos e serviços. Em um segundo momento, tem-se como objetivo avaliar

se tal prática tem impactado na qualificação dos serviços prestados.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Em termos metodológicos, foi elaborada uma pesquisa bibliográfica para

obter-se embasamento teórico, onde foram pesquisados artigos científicos no site

“Publicações de Turismo”, utilizando as seguintes palavras-chave: internet; meios de

hospedagem; tecnologias de informação. Este tipo de pesquisa tem como finalidade

colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito sobre o assunto

(MARCONI; LAKATOS, 2010).

Foi efetuada uma pesquisa de campo no setor hoteleiro de Santa Vitória do

Palmar/RS, através de questionário estruturado, com uma abordagem quantitativa e

posteriormente foi feita a interpretação dos dados coletados. Foram feitos contatos

com cinco meios de hospedagem em Santa Vitória do Palmar/RS, porém quatro

aceitaram participar da pesquisa.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A internet desde seu surgimento vem mudando o mundo, aproximando

pessoas, facilitando e otimizando a prestação de informações, auxiliando na compra

de produtos e também servindo de ferramenta para obtenção de contato e

informações sobre aquisições de serviços e produtos.

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Segundo Caiçara Junior (2007), o serviço de Internet surgiu durante o período

da Guerra Fria, entre as décadas de 1960, 1970 e meados dos anos 1980. Ainda

segundo o mesmo autor, dentre “as principais tecnologias surgidas nos últimos anos,

nenhuma causou mais impacto para a humanidade do que a internet” (CAIÇARA

JUNIOR, 2007, p.129).

A Internet, segundo Barbalho (2004), é uma realidade cada vez mais integrada

ao cotidiano da sociedade, possibilitando novos serviços, facilidades de uso e maior

interação com o usuário como meio de comunicação, transmissão de dados e

instrumento de trabalho. Em anos recentes, a Internet vem mostrando ser uma

ferramenta estratégica de impacto, causando mudanças e levando as empresas a

repensarem seus modelos de negócios e seu posicionamento no mercado, destaque

para as novas tecnologias da informação e comunicação, que tem se tornando uma

ferramenta fundamental para a divulgação de serviços e produtos nos mais

diversificados setores da economia.

Uma prática que tem ganhado destaque dentro do contexto turístico são os

sites de relacionamentos onde as empresas possuem páginas e perfis oficiais,

proporcionando aos hóspedes de meios de hospedagens opinarem sobre as

experiências vivenciadas durante a estadia.

Chiavelli (2013) menciona que é importante que os gestores conheçam a

opinião desses hóspedes sobre a prestação dos serviços. Desta forma, será possível

melhorar os pontos fracos e potencializar os pontos fortes, fazendo com que o

hóspede tenha uma experiência satisfatória e além de voltar a se hospedar, dissemine

sua opinião positiva a outras pessoas.

O conteúdo gerado pelo usuário na internet e mais precisamente, a avaliação

de desempenho de empresas tem transformado a visão das empresas na internet. Os

consumidores não precisam mais coletar informações somente em órgãos oficiais ou

imprensa especializada. Graças às novas tecnologias, o aumento do número de

usuário fez com que uma rede de avaliação se criasse permitindo o aumento do fluxo

de informações sobre determinado serviço.

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Na hotelaria, a forma como os serviços são prestados são avaliados pelos

clientes constantemente, na esfera virtual, comentários, reclamações e as avaliações

de hóspedes podem ser efetuadas em sites como o TripAdvisor, essa prática tem

impactado na reputação dos meios de hospedagem tanto positiva como

negativamente. Sites como o TripAdvisor, de conteúdo gerado por usuário, permitem

que estas informações cheguem a outros turistas avaliando a qualidade do serviço

prestado e influenciando na decisão de novos hóspedes.

Percebe-se que a evolução da internet facilitou a vida dos turistas, agindo como

uma ferramenta para capitação de informações e contato entre os gestores dos meios

de hospedagem e seus hóspedes.

4 RESULTADOS / DISCUSSÃO

Para a elaboração desse estudo foram pesquisados quatro meios de

hospedagem de Santa Vitória do Palmar/RS, levou-se em consideração o conteúdo

coletado através de entrevista com questionário estruturado. Os meios de

hospedagem entrevistados foram chamados de A, B, C e D, para assim preservar a

imagem de cada um deles. Quando perguntados sobre a utilização de site/blog para

a divulgação de informações sobre o meio de hospedagem, apenas o Hotel D não

utiliza esse tipo de ferramenta. O Hotel A utiliza esta ferramenta há 6 anos, o Hotel B

há 3 anos e o Hotel C há 1 ano e 5 meses. Dos 3 hotéis que disseram ter site/blog

apenas o Hotel B o utiliza para efetuar reservas, promoções e como alternativa de

contato com os hóspedes. O Hotel A e o Hotel B acreditam que a adoção do site pelo

meio de hospedagem qualificou o atendimento e a prestação de serviços entre

empresa e o hóspede. O Hotel C, apesar de tem site, não acredita que essa

ferramenta é uma forma de qualificação dos serviços. A resposta do Hotel D é muito

interessante, pois este afirma que a utilização de um site não qualifica o atendimento

e a forma como presta o serviço, diante disso, confirma-se o fato deste ser o único

hotel, entre os respondentes, que não possui um site.

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Quando foram questionados se haviam observado aumento na taxa de

ocupação e satisfação dos hóspedes após criação do site/blog pelo meio de

hospedagem os mesmos responderam que não ou não souberam responder.

Também foram feitas perguntas referente às redes sociais das empresas

hoteleiras entrevistadas. Observou-se que apenas o Hotel A e o Hotel B possuem

páginas ou perfil próprio em redes sociais, porém nenhum dos meios de hospedagem

onde à pesquisa foi aplicada utiliza tais ferramentas para efetuar reservas, promoções

ou como uma alternativa de contato para os hóspedes. O Hotel A possui rede social

há 2 anos, já o Hotel B tem um perfil em rede social mesmo antes de possuir um

site/blog na internet.

Quando perguntados sobre tempo que demoram em média para responder os

questionamentos dos hóspedes pelas redes sociais, nenhum dos meios de

hospedagem afirmou saber responder tais questionamentos, assim como também os

meios de hospedagem entrevistados relatam não acreditar que a adoção das redes

sociais qualificou o atendimento e a prestação de serviços entre empresa e hóspedes.

Nenhum dos hotéis respondentes perceberam um aumento na taxa de ocupação e na

satisfação dos hóspedes após implementação das páginas em redes sociais. Dos

quatro meios de hospedagem entrevistados, somente o Hotel A possui perfil oficial no

site TripAdvisor.

Quando questionados sobre os motivos que levaram o meio de hospedagem a

ter um site ou rede social na internet, as alternativas de resposta eram “Expectativa

no aumento de vendas”; “Ofertar um melhor atendimento ao hóspede”; “Proporcionar

melhores serviços de pré-vendas e pós-vendas”. O Hotel A considerou importante,

pois seria uma maneira de ofertar um melhor atendimento ao hóspede. O Hotel B

considerou que houvesse uma expectativa no aumento de vendas, porém o meio de

hospedagem não identificou nenhum aumento na taxa de ocupação. O Hotel C

considerou as duas situações expectativa no aumento de vendas e ofertar melhor

atendimento ao hóspede. O Hotel D, por não possuir nenhuma página na internet não

respondeu a esta questão. Nenhum dos gestores entrevistados assinalou o item

“proporcionar melhores serviços de pré-vendas e pós-vendas”.

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Fica perceptível a falta de uso dos gestores quanto à utilização de mídias

digitais em seus meios de hospedagem, uma vez que basicamente os mesmos se

apoiam apenas no site e no uso do e-mail, de modo que a utilização das redes sociais

e sites como o TripAdvisor são quase que inexistentes no setor hoteleiro da cidade. É

de suma importância ressaltar que com o uso das ferramentas da internet o hotel pode

obter variados resultados, assim como a qualificação dos serviços prestados, porém

isso implica na forma de atuação do hotel, no público-alvo do hotel, na qualidade das

informações e na própria noção que o hotel tem quanto à importância dessas

ferramentas, o que pode influenciar no sucesso ou fracasso dessas ações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como objetivo identificar quais as ferramentas de tecnologias

de informação os meios de hospedagem de Santa Vitória do Palmar têm utilizado no

contato, vendas e divulgação de seus produtos e serviços. . Diante disso, foi possível

identificar que apenas um dos hotéis pesquisados faz uso do espaço digital, porém

ainda de forma principiante. Um dos hotéis pesquisados não faz nenhum uso das

mídias sociais, os outros dois hotéis fazem algum tipo de divulgação digital, porém

ainda pouco aprofundado em sua totalidade.

Em um segundo momento, tem-se como objetivo avaliar se tal prática tem

impactado na qualificação dos serviços prestados. Nesse sentido, observou-se que

os meios de hospedagem que utilizam as mídias digitais fazem isso de forma

extremamente superficial. Os gestores entrevistados não percebem nas mídias

sociais um canal de comunicação direto com seus clientes, também não percebem

que a internet pode ser uma fonte de informação importante entre hóspede e empresa.

Sugere-se a realização de um minicurso ministrado pelos alunos do curso de

Bacharelado em Hotelaria, da Universidade Federal do Rio Grande – FURG sobre a

utilização de mídias digitais pelos gestores dos meios de hospedagem de Santa

Vitória do Palmar/RS para que possam usufruir de grande parte dos recursos que

essas mídias ofertam.

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Alguns gestores acreditam que o simples fato do hotel estar presente no

mundo virtual pode impulsionar seus negócios, porém caso não tenha estratégias

formadas e bom domínio dessas ferramentas antes de atuar no ambiente virtual,

definindo o que querem, a implementação de tais mídias pode acarretar em um efeito

contrário, ao invés de qualificar os serviços os gestores estarão obtendo uma baixa

na qualidade dos serviços prestados, fato esse que ocorre decorrente do mau uso das

mídias digitais.

REFERÊNCIAS

BARBALHO, C.R.S. Portais eletrônicos: estudo comparativo da oferta emComunicação. ENDOCOM – ENCONTRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 16., Porto Alegre, 2004. Anais… .Disponívelem: <www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/errata/barbalho.pdf>. Acessoem: 26.09. 2016. CAIÇARA JUNIOR, C. Informática, Internet e aplicativos. Curitiba: Ibpex, 2007. Chiavelli, F. (2013). A influência da qualidade dos serviçosnaexperiência vivenciada pelos hóspedes nos hotéismidleclass de Curitiba. Monografia de Conclusão de Curso de Graduação, UFPR. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodología científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.